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Líbano 01. ASPECTOS GEOGRÁFICOS: Com uma área de 10.452 km², a República Libanesa é um país do Oriente Médio localizado entre a Síria e Israel e banhado a oeste pelo mar Mediterrâneo. Na região litorânea estende-se uma planície interrompida pela cordilheira do Líbano, que abriga o ponto culminante do país, o monte Qurnat as Sawda, de pouco mais de 3 mil metros de altitude. A leste desse sistema se encontra o vale de Bekaa. Na fronteira com a Síria ergue-se outra cordilheira: o Antilíbano. Sua capital é Beirute (2.022.350 de habitantes). O maior rio, e único navegável, é o Litani, que corre através do vale de Bekaa. Os demais só possuem água durante o inverno, estação de chuvas abundantes e temperaturas moderadas. Quanto à vegetação, somente nas zonas montanhosas restam florestas. As principais espécies são carvalhos, pinheiros, ciprestes e o cedro do Líbano, símbolo da identidade nacional. 02. ASPECTOS ECONÔMICOS: O PIB libanês é de US$ 4,8 bilhões, mas a economia do Líbano ainda se recupera da longa guerra civil que devastou o país entre 1975 e 1990. A agricultura produz trigo, cevada, milho, azeitona, uva e outras frutas. A pecuária abrange a criação de bovinos, caprinos e aves. Há reservas não muito abundantes de ferro, sais, carvão, cobre e gesso. A indústria compreende os ramos siderúrgico, têxtil, alimentício, madeireiro e de jóias, entre outros. Toda a eletricidade disponível é gerada em usinas termelétricas. São importantes, ainda, o turismo e o sistema financeiro. Sua moeda é a libra libanesa. 03. POPULAÇÃO: O Líbano se caracteriza por grande diversidade étnica e religiosa. O árabe é a língua oficial, e também são falados francês, curdo e armênio. Os árabes constituem mais de 80% dos 4,8 milhões de habitantes. Entre eles, a maioria é libanesa, seguida por sírios (17,5%) e palestinos (1,5%). Estes últimos são em grande parte refugiados do conflito árabe-israelense. Há também grupos de curdos e armênios (1%). No que se refere à religião, a mais popular é o islamismo (59,2%), entre os grupos muçulmanos estão o dos sunitas o dos xiitas e uma pequena comunidade da seita dos drusos. Os cristãos (36,2%) se dividem principalmente em católicos, maronitas (maior comunidade cristã) e ortodoxos. Outros grupos cristãos são o grego ortodoxo, o grego católico e o armênio. Tomando-se como base o censo de 1932, que apontava os cristãos como 54% da população, foi estabelecido um acordo em 1943 segundo o qual cargos executivos e legislativos devem ser distribuídos a uma razão de seis cristãos para cinco muçulmanos. As cadeiras no Parlamento distribuemse por divisões religiosas. Pelo arranjo, o presidente deve ser sempre cristão maronita; o primeiro-ministro é muçulmano sunita; e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Com a fundação do Estado de Israel, em 1948, o país passa a abrigar também grande número de refugiados palestinos. 04. ASPECTOS HISTÓRICOS: O território que corresponde ao atual Líbano é o berço dos fenícios, cuja cultura floresceu por mais de 2 mil anos, a partir de 2700 a.C. Invadido por muitos povos (hititas, egípcios e persas), o território é conquistado por Alexandre, o Grande em 332 a.C., ficando sob domínio helênico até 63 a.C., quando se torna província romana. Em 395 passa a fazer parte do Império Bizantino. Os árabes muçulmanos anexam a região entre 636 e 705. Apoiados pela parcela cristã maronita da população, os cruzados tomam o país no fim do século XI, lá permanecendo até serem expulsos pelos muçulmanos, em 1291. Sob o comando de Selim I, o Império Turco-Otomano incorpora o Líbano em 1516. a) Controle francês Após a derrota dos turcos na I Guerra Mundial, o território correspondente à Síria e ao Líbano atuais fica sob mandato francês, cuja divisão administrativa dará origem aos dois Estados. A Constituição de 1926, patrocinada pela França, torna o país uma República parlamentarista. Durante a II Guerra Mundial, em 1941, a França concede independência ao Líbano. Os nacionalistas vencem as eleições de 1943 e tentam eliminar o controle francês na região, mas as tropas da França só abandonam o país em 1947. A relação estreita com a Síria vem do fato de os sírios considerarem o Líbano parte de seu território histórico, a "grande Síria", que teria sido desmembrado pela ação da França Nos anos seguintes, o Líbano recebe 170 mil refugiados palestinos, depois da derrota dos exércitos árabes, entre os quais o libanês, na guerra pela criação do Estado de Israel (1948/1949). b) Guerra Fria Na década de 1950, a Guerra Fria entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) refletese na política interna libanesa e soma-se a antigas diferenças étnicas e religiosas. Insurreições muçulmanas contra o presidente maronita, Camille Chamoun (pró-EUA), eclodem em 1958, com inspiração nos regimes pró-soviéticos da Síria e do Egito. Tropas dos EUA desembarcam no país e provocam imediato protesto soviético. A crise é contornada com a substituição de Chamoun e a retirada norte-americana. c) Palestinos Nova derrota árabe na Guerra dos Seis Dias contra Israel, em 1967, e o massacre dos palestinos na Jordânia durante o Setembro Negro, em 1970, fazem aumentar para mais de 300 mil o número de refugiados palestinos no Líbano. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) estabelece seu quartel-general em Beirute e começa a atacar Israel da fronteira libanesa. A presença da OLP rompe o frágil equilíbrio entre as forças políticas no país. Os palestinos são apoiados pelos setores de esquerda, por muçulmanos e nacionalistas, e hostilizados pelos conservadores e pela parte cristã. d) Guerra Civil Em abril de 1975, as tensões explodem numa guerra civil que opõe uma coalizão muçulmana (sunitas, xiitas e drusos), aliada dos palestinos, a uma aliança maronita cristã de direita. O Exército libanês fragmenta-se em facções rivais, e o governo praticamente deixa de funcionar. Em 1976, diante da iminente vitória do bloco esquerdista, a Síria invade o país para defender os cristãos, mas a aliança desses com Israel leva os sírios a mudar de lado. Durante o conflito, a Síria troca de aliados várias vezes e passa a dominar o território e as instituições libanesas. e) Invasão Israelense Em junho de 1982, com o apoio das milícias cristãs, Israel invade o Líbano e chega a Beirute, com o propósito de aniquilar as forças palestinas. Após dois meses de intensos bombardeios israelenses, negocia-se a saída da OLP da capital libanesa, o que viria a ocorrer no ano seguinte. Em 16 de setembro, com permissão israelense, milícias cristãs libanesas invadem os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, em Beirute, massacrando pelo menos 800 civis (algumas fontes falam em 2 mil), em retaliação pelo assassinato, dois dias antes, do presidente cristão Bachir Gemayel. Um acordo entre Israel e Líbano, assinado em 1983, determina a retirada das tropas israelenses do território. Em contrapartida, o Líbano deveria comprometer-se a não abrigar grupos armados anti-Israel. Em 1985, as tropas israelenses se retiram para o sul, numa estreita faixa ao longo da fronteira entre Israel e Líbano, onde continuam apoiando a milícia cristã ali atuante. As três principais facções militares libanesas - a milícia drusa, a Amal (xiita) e a Falange (cristã) - assinam acordo de cessar-fogo. O pacto é boicotado pelo Hezbollah, grupo xiita apoiado pelo Irã e pela Síria, pela Murabitun (milícia muçulmana sunita) e por setores da comunidade cristã. Em outubro de 1989, a Assembléia Nacional Libanesa, reunida em At Ta'if, na Arábia Saudita, aprova o tratado de paz. A guerra só termina em outubro de 1990, deixando um saldo de 150 mil mortes, quase 5% da população. f) Domínio sírio A Síria consolida seu domínio sobre o Líbano e instala 30 mil soldados no país. Todas as milícias são desarmadas, menos as que atuam no sul - onde o Hezbollah continua a combater as tropas israelenses com respaldo sírio. O Parlamento elege, em 1998, o novo presidente do país, o comandante do Exército Émile Lahoud. Em 2000, Israel retira suas tropas do sul do Líbano, sob pressão da opinião pública israelense, cansada das baixas de soldados israelenses no país vizinho. O governo libanês, porém, ainda reivindica uma área de 25 km², conhecida como fazendas de Shabaa, que Israel anexa desde 1967. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a área pertence à Síria. Partidos muçulmanos e não-religiosos de oposição, apoiados pelo ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, saem vitoriosos nas eleições parlamentares de 2000. O presidente Lahoud, adversário de Hariri, convoca-o para chefiar o gabinete. 05. SÉCULO XXI - ATUALIDADES: A Síria retira suas forças de Beirute em 2001, mas continua mantendo 27 mil soldados em outras regiões do país. A retirada parcial é uma tentativa de reduzir a pressão dos cristãos maronitas contra a presença estrangeira. O Hezbollah continua a atacar as forças de Israel na região de Shabaa. A pressão internacional sobre o governo libanês aumenta em setembro de 2004, com a aprovação, pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, da Resolução 1.559, apresentada pelos EUA e pela França, que exige a retirada das forças estrangeiras - ou seja, da Síria - do país, a manutenção da eleição presidencial em novembro de 2004 e o desarmamento das milícias locais. O Parlamento libanês, com maioria pró-Síria, ignora a resolução e prorroga o mandato de Lahoud (apoiado pela SÍria) por três anos. Em outubro, Rafik Hariri renuncia ao cargo de primeiro ministro e passa a ser identificado com o movimento contrário à permanência da Síria no país. Em fevereiro de 2005, Hariri morre, vítima de atentado a bomba. O assassinato desestabiliza o governo libanês e desencadeia protestos internos e externos. A Síria é imediatamente apontada como suspeita de ser mandante do crime. Milhares de libaneses vão às ruas exigir a saída dos soldados sírios. Há também manifestações favoráveis ao país vizinho. Saad Hariri, filho de Rafik, assume a liderança dos protestos contra os sírios, num movimento que fica conhecido como Revolução dos Cedros. A pressão aumenta, com apoio dos EUA e da França, e em abril o governo sírio retira os 14 mil soldados que ainda mantinha em território libanês. Nas eleições parlamentares, realizadas em maio/junho, a aliança contrária à influência da Síria sai vencedora, pela primeira vez desde a guerra civil. A Lista Mártir Rafik Hariri, liderada pelo filho do ex-premiê, Saad Hariri, obtém maioria no Parlamento. Em consequência, Lahoud indica para primeiro-ministro Fouad Siniora, ex-ministro e assessor de Rafik Hariri. Do lado pró-sírio, a surpresa nas eleições é a conquista expressiva do Bloco Resistência e Desenvolvimento, encabeçado pelo Hezbollah, que passa a ocupar 35 cadeiras do Legislativo e, em seguida, ingressa no ministério. Os confrontos entre Israel e o Hezbollah se intensificam no decorrer do ano. Em outubro, a ONU divulga um documento em que aponta a participação de integrantes do governo libanês e do sírio no atentado em que morreu Hariri. A Síria nega. O país é atacado por Israel em julho de 2006. A ofensiva militar é urna resposta à captura, por parte do Hezbollah, de dois soldados de Israel, em operação na qual outros oito militares israelenses morreram. Os bombardeios, além de vitimar civis, destroem a infra-estrutura de Beirute e do sul do país. Israel impõe também um bloqueio aéreo e marítimo. Em resposta, o Hezbollah lança foguetes contra várias cidades do norte de Israel. O governo libanês pede ao CS da ONU um cessar-fogo imediato e o fim do bloqueio, mas o organismo não aprova a proposta. O presidente dos EUA, George W. Bush, afirma que "Israel tem o direito de se defender", mas pede também que o Estado judeu tenha cuidado e não enfraqueça o governo do Líbano. Israel mantém os bombardeios e ocupa parte do sul do Líbano. Um cessar-fogo entra em vigor em agosto, com base em proposta aprovada por unanimidade no Conselho de Segurança da ONU. Depois de mais de um mês de intensas batalhas, calcula-se que aproximadamente 1,2 mil libaneses tenham morrido no conflito, em sua maioria civis. Há também 970 mil pessoas obrigadas a se deslocar de sua casa. Do lado israelense, são cerca de 150 mortes. O anúncio do cessar-fogo é comemorado no Líbano por centenas de milhares de pessoas nas ruas. O xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, afirma que o grupo obteve "vitória estratégica e histórica" contra Israel. O primeiro ministro israelense, Ehud Olmert, de outro lado, recebe críticas internas pelo resultado do conflito, em que não se obteve a libertação dos soldados sequestrados e o Hezbollah não foi desarmado. A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), existente desde 1978, tem seus efetivos aumentados e fica responsável por patrulhar, ao lado do Exército libanês, o sul do Líbano. a) Polarização Política Em setembro, o Hezbollah organiza grande ato em Beirute, com milhares de pessoas, em favor da renúncia do primeiro-ministro Fouad Siniora e da constituição de um "governo de unidade nacional". Em novembro, cinco ministros xiitas (do Hezbollah e do Movimento Amal) renunciam, pressionando pelo fim do governo de Siniora Um ministro cristão pró-Síria também renuncia. No mesmo mês, o assassinato de Pierre Gemayel, representante de minoria cristã maronita no governo, agrava a crise política no país. Seu enterro se transforma numa grande manifestação, com milhares de pessoas, que protestam contra a Síria e o Hezbollah. A polarização cresce no início de dezembro. O Hezbollah e o grupo cristão Movimento Patriótico Livre, do general Michel Aoun, convocam grandes atos para pedir a saída de Siniora. Em janeiro de 2007, uma greve geral, também convocada pelo Hezbollah e pelo grupo de Aoun, paralisa boa parte do país. Há conflitos, nos quais três pessoas morrem e 100 outras são feridas. Além de protestar contra o que consideram a posição pró-Ocidente de Siniora, os manifestantes criticam seu projeto de recuperação econômica, que prevê privatizações, aumento de impostos e contenção de gastos públicos. Em maio, o CS da ONU aprova a criação de tribunal internacional para julgar os suspeitos pelo assassinato do ex-primeiro-ministro Hariri. O Hezbollah critica a decisão, afirmando que viola a soberania do Líbano. A mesma posição é adotada pelo governo da Síria. b) Cerco ao Fatah al-Islam Também em maio de 2007, tem início grande confronto entre o Exército libanês e o grupo palestino radical Fatah al-Islam, acusado de vinculações com a rede terrorista Al Qaeda. Os integrantes da milícia islâmica têm sua base de operações no campo de refugiados palestinos de Nahr al-Bared, nas proximidades de Trípoli. Os combates prosseguem até setembro, quando os últimos remanescentes do grupo são mortos ou presos. Segundo dados oficiais, 157 soldados e pelo menos 120 milicianos morrem durante os conflitos, além de aproximadamente 40 civis. O país, já abalado com os assassinatos de Rafik Hariri (2005) e Pierre Gemayel (2006), vê o número de políticos anti-Síria mortos aumentar em 2007. Em junho, um atentado a bomba mata Walid Eido, deputado do Movimento do Futuro. Em setembro, em circunstâncias semelhantes, morre Antoine Ghanem, parlamentar do Partido Falange Cristã. Em ambos os casos, os funerais dos políticos transformam-se em atos contra a Síria, que nega qualquer responsabilidade por esses crimes e pelos anteriores. A partir de setembro, surge novo impasse, porque governo e oposição não chegam a acordo para a eleição do novo presidente. Pela Constituição, o chefe de Estado deve ser cristão maronita e sua eleição precisa dos votos de dois terços dos deputados. Ao término de seu mandato, em novembro, o presidente Émile Lahoud é substituído interinamente pelo primeiro-ministro Siniora, o que causa intranquilidade entre os cristãos maronitas. A eleição é adiada sucessivas vezes, mesmo depois de surgir um candidato de consenso: o comandante das Forcas Armadas, Michel Suleiman. Até meados de dezembro, a eleição não se realiza, porque a legalidade da candidatura de Suleiman dependia de mudanças constitucionais, o que só ocorrerá em maio de 2008. c) Hezbollah no poder Em maio de 2008, uma medida do governo contra a rede de telecomunicações, do Hezbollah é o estopim de sangrentas batalhas de rua em Beirute. Guerrilheiros do Hezbollah esmagam os militantes próHariri na mais grave explosão de violência sectária desde o fim da guerra civil. No mesmo mês, um acordo entre as principais facções políticas, mediado pela Liga Árabe, estabelece um governo de união nacional. A oposição, liderada pelo Hezbollah, assume 11 dos 30 ministérios, o que lhe garante poder de veto. O Parlamento elege Michel Suleiman presidente da República, que mantém Siniora como primeiro-ministro. As eleições parlamentares de maio 2009 cristalizam a oposição entre, uma coalizão sunita (Aliança 14 de Março), apoiada por EUA, União Europeia e Arábia Saudita; e uma coalizão de xiitas e cristãos liderada pelo Hezbollah (Aliança 8 de Março), que tem o suporte da Síria e do Irã. A Aliança 14 de Março, da qual faz parte o Movimento Futuro, de Saad Hariri, elege 71 deputados, e Aliança 8 de Março obtém 57 assentos. Hariri forma um governo de união nacional. Em agosto de 2009, Suleiman indica para primeiro-ministro o magnata das telecomunicações Najib Mikati, um sunita que tem o apoio do Hezbollah. Seguem-se protestos de ativistas pró-Hariri, embora Mikati também seja considerado um político moderado e de consenso. O gabinete liderado por Mikati toma posse em 13 de junho. Mikati refuta as acusações da Aliança 14 de Março de que o Hezbollah controla o novo governo. Isso porque o grupo mais numeroso é o dos cristãos (15 pastas), enquanto os xiitas (Hezbollah e Amal) ficam com dois ministérios cada um. Internacionalmente, a percepção é a de que o pêndulo de poder no Líbano se desloca na direção da Síria e do Irã, após anos de governo pró-Ocidente. No fim de junho, o TEL pede a prisão de quatro membros do Hezbollah suspeitos pelo atentado que matou Rafik Hariri, apesar dos temores de que a acusação contra a mais poderosa organização xiita do Líbano possa jogar o pais em nova crise. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, refuta o indiciamento. Afirma que a corte não passa de um "projeto americano-israelense para semear a discórdia no Líbano" e anuncia que os acusados nunca serão entregues ao TEL. No fim de julho, o TEL torna público os nomes, as fotos e outras informações dos acusados, na tentativa de facilitar a sua captura. No inicio de novembro, a Corte considerava a possibilidade de realizar um julgamento "in absentia", diante da negativa do governo libanês de entregar os acusados. O Hezbollah pressiona Saad Hariri a interromper a cooperação com o TEL, mas ele se recusa. Em represália, a M8 deixa o gabinete, provocando a queda de Saad Hariri, em janeiro de 2011. Suleiman indica para primeiro-ministro o magnata Najib Miqati, um sunita moderado, e a M8 fica com 18 ministérios, tornando o Hezbollah a principal força do novo governo libanês. Em junho de 2011 o TEL emite ordem de prisão contra quatro membros do Hezbollah. Hassan Nasrallah, líder do grupo, refuta o indiciamento. Os acusados não são entregues ao TEL, que anuncia em 2012 um julgamento in absentia. d) Contágio Sírio A relação entre sunitas e xiitas sofre novos abalos sob a influência dos eventos na Síria, que mergulha na guerra civil entre a ditadura alauíta (seita do ramo xiita) de Bashar al-Assad e rebeldes sunitas. A cidade de Trípoli é palco de choques entre as facções pró e anti-Assad, a partir de março de 2012. Em outubro, a explosão de um carro-bomba em Beirute mata o chefe de inteligência libanesa, um sunita favorável à insurgência síria. Os sunitas culpam a Síria e o Hezbollah, e saem às ruas em protesto. A guerra chega à fronteira entre os dois países. As forças de Assad atacam com morteiros vilas sunitas no Líbano que abrigam refugiados sírios e oferecem armas e proteção aos rebeldes. Em março de 2013, aviões sírios bombardeiam o Líbano, atingindo Arsal, simpática aos rebeldes. e) Renúncia do Premiê Em março de 2013, Miqati renuncia ao cargo por resistir à pressão do Hezbollah para mudar a lei eleitoral e também por discordar da decisão dos ministros da M8 de não prorrogar o mandato do chefe da polícia nacional, o último protetor dos interesses sunitas nas forças de segurança. O sunita moderado Tammam Salam é indicado para primeiro-ministro. No entanto, até meados de dezembro, Miqati permanecia como premiê porque Salam ainda não havia formado o novo gabinete. f) Hezbollah na Síria Desde o início do conflito sírio, o Hezbollah oferece treinamento e suporte às tropas de Assad e envia secretamente guerrilheiros para o país vizinho. Em maio de 2013, o apoio velado se torna público. Nasrallah declara que milhares de militantes do Hezbollah se juntaram às forças sírias na batalha de Al Qusair, um enclave rebelde na rota de abastecimento de armas para a oposição síria vindas do Líbano. Membros da milícia também lutam em Damasco e Aleppo. g) Reação Sunita A intervenção aberta do Hezbollah na Síria agrava a crise no governo, que defende a neutralidade no conflito, e acirra as tensões sectárias no Líbano. Clérigos radicais sunitas passam a convocar seus seguidores a lutarem ao lado dos rebeldes na Síria e a lançarem ofensivas contra o Hezbollah no Líbano. Em Sidon, no sul, choques entre homens do influente xeque sunita, Ahmad Assir, e o Exército libanês (próHezbollah) matam dezenas de pessoas em junho. Nova onda de confrontos sectários atinge Trípoli e, no Vale do Bekaa, rebeldes sírios apoiados por milícias sunitas libanesas atacam posições do Hezbollah. A deterioração da segurança leva o Parlamento a adiar, em maio, as eleições gerais para novembro de 2014. Em julho e agosto, o sul de Beirute, bastião do Hezbollah, é alvo de atentados à bomba, matando dezenas de pessoas. O Hezbollah responsabiliza extremistas sunitas. Também em agosto, o grupo é apontado como mentor de atentados à bomba contra mesquitas sunitas em Trípoli que matam 45 pessoas. Em novembro, duas explosões suicidas junto à embaixada do Irã em Beirute matam 22 pessoas, incluindo um diplomata iraniano. A milícia extremista sunita, Brigada Abdullah Azzam, vinculada à Al Qaeda, assume a autoria do ataque em retaliação ao apoio de Teerã à ditadura síria e ao Hezbollah. Em dezembro, Hassan Lakkis, um proeminente líder do Hezbollah, é morto a tiros. O grupo acusa o governo israelense, que nega qualquer participação no assassinato. Em mais um sinal de instabilidade, a explosão de um carro-bomba em Beirute mata seis pessoas, incluindo o ex-ministro das finanças e membro da coalizão 14 de março Muhammad Shattah. O regime sírio e o Hezbollah, acusados pelo atentado, negam envolvimento. Em janeiro de 2014, a brasileira Malak Zahwe, de 17 anos, é uma das cinco vítimas fatais de um atentado a bomba em Beirute, num reduto do Hezbollah, agravando ainda mais a tensão social. No mesmo mês, tem início em Haia, na Holanda, o Tribunal Especial para o Líbano, que irá julgar quatro membros do Hezbollah, acusados pela morte do ex-premiê Rafiq Hariri, assassinado em 2005. Outra fonte de instabilidade interna é o enorme contingente de refugiados sírios no Líbano: são 864 mil em fevereiro, ou 20% dos libaneses. HEZBOLLAH: RADICALISMO E TRABALHO SOCIAL O Hezbollah, que significa "Partido de Deus” em árabe, é um grupo fundamentalista islâmico libanês do ramo xiita, vinculado à Síria e ao Irã. A exemplo do Hamas, nos territórios palestinos, combina um amplo trabalho social entre a população e posições radicais contra o Estado de Israel. O grupo manteve sua base no sul do Líbano, após o fim da guerra civil (1975/1990), e se enraizou na população local. Para muitos libaneses, o Hezbollah foi o único que assumiu sua defesa contra os soldados israelenses que ocupavam essa faixa do território do país. A manutenção dos ataques do Hezbollah contra as tropas de Israel causou muitas baixas e elevou as críticas entre os próprios israelenses quanto à manutenção dessa ocupação. Em 2000, Israel decide retirar-se do sul do Líbano. Do ponto de vista ideológico, o grupo inspira-se na Revolução Islâmica iraniana de 1979, liderada pelos xiitas. O armamento do Hezbollah, que o governo de Israel e o dos EUA atribuem ao Irã, fez de grupo uma poderosa organização militar como demonstrou nos combates contra Israel em 2006. Sua força, até mesmo no plano eleitoral, decorre também de atendimento que presta às pessoas carentes, por meio da construção de escolas ambulatórios e creches. Ao promover um amplo trabalho social entre a população e adotar posições radicais contra o Estado de Israel, o Hezbollah assemelha-se ao movimento palestino Hamas, com o qual admite manter vínculos estreitos. Por outro lado, acusações sobre o envolvimento do grupo em atentados, como o que matou o premiê Hafiq Hariri, em 2005, minam a credibilidade do grupo. Em julho de 2013, a União Europeia inclui o braço militar do Hezbollah na lista de organizações terroristas. A intervenção na guerra civil síria, em 2013, evidencia a nova prioridade na agenda política e militar do grupo: a manutenção da ditadura síria, vista como um pilar da sua própria sobrevivência. * COMPILAÇÃO FEITA A PARTIR DE: - Almanaque Abril 2014, 40ª ed. São Paulo: Ed. Abril, 2014. - Arruda, J. e Piletti, N. Toda a História, 4ª ed. São Paulo: Ática, 1996. - Atlas National Geografic: Ásia. São Paulo: Ed. Abril, 2008. - www.wikipedia.org