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DIÁLOGO E INTERAÇÃO
volume 6 (2012) - ISSN 2175-3687
http://www.faccrei.edu.br/dialogoeinteracao/
INTRO
VINDICATION OF THE RIGHTS OF WOMAN:
REPRESENTAÇÃO DA PALAVRA E PODER NA LITERATURA
Me. Sirlene Cristófano (FLUP)1
RESUMO: Entre muitas obras de Wollstonecraft, Vindication of the Rights of
Woman (1992) é a obra mais conhecida pelos ideais femininos, que unem, denunciam e
contestam as questões familiares, educacional e sexual. Abordaremos alguns aspectos
considerados fundamentais da contemporaneidade histórica da escritora, com uma breve
apresentação da obra e dos pontos considerados essenciais, bem como duma referência
às propostas da autora que, criadas a partir das suas necessidades sentidas e vividas,
lutou por uma sociedade mais justa e livre.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Feminino. Identidade.
ABSTRACT: Among the many works of Wollstonecraft Vindication of the Rights of
Woman (1992) is the best-known work with the feminine ideals that unite, denounce
and deny family issues and sexual education. Discuss some fundamental aspects in the
contemporary historical writer, with a brief presentation of the work, and items
considered essential, as well as a reference to proposals that the author, created from the
needs felt and lived, fought for a fairer society and free.
KEYWORDS: Literature. Female. Identity.
"É possível que eu provoque o riso ao fazer a seguinte insinuação, em
que penso existirá no futuro: creio realmente que as mulheres deveriam
ter seus representantes, em lugar de ver-se virtualmente governadas, sem
que as permitam ter nenhuma participação directa nas deliberações do
governo"
Mary Wollstonecraft,
Vindication of the Rights of Woman, 1792
1.INTRODUÇÃO
1
Doutoranda em Estudos de Literaturas e Culturas Românicas Faculdade de Letras da Universidade do
Porto – FLUP. Investigadora do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e
Memória financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no
âmbito do projecto PEst-OE/HIS/UI4059/2011. [email protected]
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Mary Wollstonecraft é absolutamente uma grande figura de destaque na luta
pelos direitos das mulheres. Mesmo que outras antes dela tivessem já abordado o
assunto, sem dúvida, no que diz respeito á educação, Wollstonescraft foi quem mais
falou sobre a questão feminina em finais do século XVIII, através de sua escrita, ao
denunciar as opressões sofridas, ao reivindicar novas regras sociais e assim, exigir a
plena cidadania para as mulheres.
Entre muitas obras de Wollstonecraft, Vindication of the Rights of Woman
(1992), é a obra mais conhecida pelos ideais femininos, que unem, denunciam e
contestam as questões familiares, educacional e sexual. Abordaremos alguns aspectos
considerados fundamentais da contemporaneidade histórica da escritora, com uma breve
apresentação da obra, e dos pontos considerados essenciais, bem como duma referência
às propostas da autora que, criadas a partir das suas necessidades sentidas e vividas,
lutou por uma sociedade mais justa e livre.
1. VIVENCIANDO A DIFÍCIL CONDIÇÃO FEMININA: UM ESTÍMULO
PARA LUTAR
Mary Wollstonecraft nasceu em Spitalfieds, subúrbios de Londres, no ano de
1739, no seio de uma abastada família de empresários, mas cuja riqueza não estava
destinada para a instrução das jovens. A educação formal de Mary foi bastante limitada,
mas um de seus amigos de Houston, uma cidade nos arreadores de Londres, tinha uma
biblioteca respeitável, e Mary dedicou um tempo considerável a explorá-la.
Por meio desses amigos conheceu Fanny Blood, que era dois anos mais velha
que ela e que a inspirou em assumir a responsabilidade de cultivar sua mente.
Estimulada pelos problemas financeiros da família, Mary decidiu que
encontraria um meio de seguir o próprio caminho. Ela aproveitou as oportunidades
abertas às moças pobres e inteligentes e assim, aos dezenove anos, conseguiu um
emprego como empregada na casa de uma viúva rica que terminou por se mostrar uma
patroa difícil.
Wollstonecraft viveu sempre com dificuldades econômicas, partilhando os seus
problemas com a sua amiga de sempre, Fanny Blood e a sua irmã Elisa, que havia
decidido separar-se do marido trazendo consigo a filha. As 3 mulheres decidiram viver
juntas e começaram a realizar trabalhos artesanais. Mary tentou também abrir uma
escola mas não conseguiu.
Em 1785 fez uma viagem a Lisboa onde assistiu à morte por problema de parto
da sua amiga Fanny. Wollstonecraft sempre foi muito atenta e observadora da difícil
condição feminina, pois nesta época, na Europa Ocidental no século XVIII, as mulheres
solteiras tinham pouca proteção da lei e as casadas perdiam sua identidade legal. Além
disto, as mulheres também não podiam contratar advogados, assinar contratos, herdar
propriedades, votar ou ter direitos sobre seus filhos.
Então, Wollstonecraft, cheia de coragem provocou polêmicas com seu livro A
Vindication of the Rights of Woman (1792), em que afirmava que tanto os homens
quanto as mulheres são seres humanos dotados de direitos à vida, à liberdade e à busca
pela felicidade. Falava que as mulheres deviam receber educação, ter o direito de abrir
negócios, seguir carreiras profissionais e se quisessem, de votar. Wollstonecraft
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inspirava as pessoas, porque falava com o coração e embora fosse razoavelmente bemeducada, fazia uso da sua própria experiência de vida difícil.
Ela ousou fazer o que nenhuma mulher fizera, seguir uma carreira como
escritora profissional em tempo integral, tratando de assuntos sérios, sem o patrocínio
de nenhum aristocrata. Foi uma luta dura, pois as mulheres tradicionalmente eram
louvadas por suas habilidades domésticas e não pela sua inteligência.
Wollstonecraft escreveu um panfleto sobre educação e enviou-o a Joseph
Johnson, o editor radical que era dono de uma livraria, um homem reconhecido como
um empreendedor de visão e que já publicara obras de Joseph Priestley e de poetas
como William Cowper e William Wordsworth. Johnson disse a Wollstonecraft que ela
tinha talento e então Mary publicou seu panfleto em 1786 com o título Thoughts on the
Education of Daughters.
A partir de 1788, Wollstonecraft conheceu outros radicais como William Blake,
Henry Fuseli, também Thomas Paine, o inglês que ajudara a inspirar a revolução
americana ao escrever Common Sense e o filósofo William Godwin. Grávida de
Golwin, Wollstonecraft casa-se e, 1797 e em Agosto seguinte dará à luz Mary Shelley,
autora de Frankenstein.
Em 1791, o antigo bispo de Autun, Maurice Charles, que foi um dos arquitetos
do sistema nacional da educação para a França renovada, defendeu que as escolas
estatais deveriam terminar na oitava série para as garotas, mas que fosse adiante para os
rapazes.
Isso deixou claro para Wollstonecraft que, apesar de toda a conversa sobre
direitos iguais, os revolucionários franceses não tinham a intenção de ajudar as
mulheres. Começou então a planejar seu livro mais famoso A Vindication of the
Rights of Woman e passou mais de três meses escrevendo, terminando-o no dia 3 de
Janeiro de 1792 e Johnson o publicou em três volumes.
Wollstonecraft lançou uma das primeiras reivindicações pelo sufrágio feminino
e atacou aqueles que, como Jean-Jacques Rousseau, queriam manter as mulheres
submissas.
Wollstonecraft ressalta que a grande maioria das mulheres eram afetadas pela
repressão patriarcal e por isto, reclamava em Vindication of the Rights of Woman,
oportunidades justas na educação, no trabalho e na política, solicitando a mulheres para
que “deixe as suas capacidades ter espaço, abrir-se, e as suas virtudes ganharão força, e
elas determinarão qual o sexo deve estar no intelectual” (ABRAMS, 1979: 130). Ela
escrevera que Rousseau, em Émile, tenta alertar as mulheres de que se elas forem
criadas como os homens, principalmente em termos intelectuais, elas poderão perder
seu poder sensual sobre eles:
Educar a mulher como homem, diz Rousseau, e quanto mais se parecerem com o nosso
sexo, menos poder de sedução terão sobre nós. Este é o ponto em que estou a alertar.
Não desejo que elas tenham o poder sobre mim; mas que tenham sobre elas mesmas.
(ABRAMS, 1979: 133)
Wollstonecraft acreditava que a educação poderia ser a salvação das mulheres: o
exercício do entendimento é necessário; não há outro fundamento para a independência
de carácter, que as mulheres deveriam estudar assuntos sérios, como leitura, escrita,
aritmética, botânica, história natural e filosofia moral e recomendava também exercícios
físicos vigorosos para auxiliar o estímulo da mente.
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A escritora defendeu a eliminação dos obstáculos ao sucesso das mulheres e
antevia um futuro em que as mulheres seriam livres para seguir qualquer oportunidade
profissional. Mary Wollstonecraft entrou em uma categoria própria. Ela foi além de
Catherine Macaulay, sua contemporânea, entre outras, ao escrever apaixonadamente
sobre a educação das mulheres.
Cabe-nos aqui lembrar, que no século XX, Virgínia Wollf defenderia também a
mesma causa, agora como condição essencial à autonomia da arte feminina, em A
Room of one’s Own. Catherine Macaulay, a autora de Letter on Education (1790) foi
referida com elogios em Vindication of the Rights of Woman, no momento em que
Wollstonecraft escreve que, “ […] Um exemplo de aquisição intelectual supôs ser
incompatível com o medo do seu sexo” (WOLLSTONECRAFT, 1992: 290).
Mesmo lutando pelos direitos da mulher, Mary Wollstonecraft não pretendia
com seu texto proclamar a supremacia feminina em qualquer instância. Infelizmente,
aplicar essas ideias à sua própria vida foi muito difícil.
Ela ficou atraída por Henry Fuseli, um homem casado que a deixou de lado
depois de um demorado flirte. Quando ainda estava na França, ela se apaixonou por
Gilbert Imla. Eles tiveram uma filha, Fanny, mas ele perdeu o interesse pelas duas e as
abandonou. Wollstonecraft tentou se suicidar duas vezes. Depois da segunda tentativa,
ao ser retirada do Tamisa, ela recobrou sua força de vontade.
Enquanto se recuperava do desespero de ter sido abandonada por Imlay escreveu
uma das suas obras mais tocantes, Letters Written During a Short Residence in
Sweden, Norway and Denmark. Depois de ter testemunhado o Terror francês, ela
amaneirou as suas esperanças por transformações sociais. Ao longo do livro,
Wollstonecraft se esforça para lidar com a tristeza de ter perdido Imlay, transmitindo
uma ternura e uma franqueza que tocam o coração.
Mary Wollstonecraft, uma entusiasta das conquistas igualitárias e fraternas da
Revolução Francesa de 1789, contagiada pelo ambiente que encontrou em Paris, quando
lá esteve em 1792, não demorou muito em dar-se conta que as mulheres, ativíssimas nos
tumultos que culminaram na queda a monarquia absolutista de Luís XVI, estavam longe
de serem contempladas pelos tão proclamados direitos de cidadania. Em vista disso
elaborou o que podemos chamar de primeira carta do feminismo moderno.
Onze dias depois de ter dado à luz uma menina, também chamada, Mary
Wollstonecraft faleceu em consequência do difícil parto, em 10 de Setembro de 1797,
com apenas 38 anos.
2. O PODER DA ESCRITA
Mary Wollstonecraft consagrara-se com um memorável ensaio a favor da
emancipação feminina, Em defesa dos direitos da mulher": Vindication of the Rights
of Woman reclama um destino próprio ao seu sexo e para a dificuldade da vida
feminina. Segundo Wollstonecraft o ideal da emancipação feminina e a igualdade entre
homens e mulheres não era visto como um valor em si própria.
Para Wollstonecraft as mulheres devem sair da sua prisão, do arquétipo formal
de “feminilidade” que é a submissão. A mulher deve adquirir, segundo ela, o ideal da
razão, ou seja: não mais “amantes sedutoras”, mas sim “mulheres afetuosas e mães
racionais”.
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Os vícios das mulheres do seu tempo são censurados por Wollstonecraft. O
intelecto e a virtude são inseparáveis, e não poderá haver verdadeira moralidade se,
porventura o intelecto é fraco e está mal aproveitado. Á mulher exige-se um intelecto
firme e é sobre ele que poderá fundar a sua própria moralidade e felicidade.
A superstição é coisa totalmente contrária à razoabilidade da religião cristã. A
frivolidade e o sentimentalismo são induzidos às jovens pela literatura novelesca. O
apego afetivo mórbido ao marido resulta da sua subordinação intelectual. A
incapacidade de educar bem os filhos é possível tanto nas mulheres como nos homens.
A ignorância, no seu sentido mais enfático, tem a raiz na inferioridade e na instabilidade
psíquica das mulheres.
Esta é a lista dos males que as mulheres padecem, especialmente as burguesas,
que tinham alguma possibilidade de se ilustrarem e na visão de Mary Wollstonecraft,
que rebela-se e sugere que as mulheres “ […] em voz alta reclamem por JUSTIÇA para
a raça humana” (WOLLSTONECRAFT, 1992: 89), assim como a escritora também
reivindica os princípios de igualdade em Vindication of the Rights of Woman.
O interesse pedagógico de Wollstonecraft reside na sua visão geral da evolução
do mundo feminino com base na ideia do progresso intelectual e moral. A educação
feminina deve ser, pois, renovada e igual à do homem, de acordo com os princípios da
razão.
A escritora foi gritante ao reprimir as teorias discriminatórias sobre a educação
das mulheres defendidas por Rousseau, o que a levou a reclamar os mesmos princípios
de justiça e igualdade a favor da população feminina.
Em Vindication of the Rights of Woman, escrito às pressas, apenas em seis
semanas, a escritora demonstra os ideais revolucionários ao escrever que “um desejo
revolucionário acabara de surgir do meu [Mary] coração, e não o sufocarei, embora ele
possa excitar um riso de cavalo […] (WOLLSTONECRAFT, 1992: 102).
A desigualdade entre o homem e a mulher com base na inferioridade intelectual
e física será então, tema principal em Vindication of the Rights of Woman e a
justificação de que Deus criou a mulher inferior ao homem é para Mary uma violação
dos princípios básicos da humanidade.
Wollstonecraft em Vindication of the Rights of Woman, contesta a
arbitrariedade da sucessão hereditária e que “ a natureza da razão deve ser totalmente a
mesma, ao pensarmos no laço que une a criação ao Criador […]
(WOLLSTONECRAFT, 1992: 143).
E assim ao contestar, a escritora une o feminismo à luta pelas reformas políticas
e sociais afirmando que qualquer tirania masculina deveria acabar em nome da razão.
Com isso, reclama que, a autoridade hierárquica corrompe a si e impossibilita o
desenvolvimento racional das vítimas:
As distinções irracionais da hierarquia, que dão a civilização uma maldição, dividindo o
mundo entre tiranos voluptuosos e dependentes invejosos e corruptos, quase igualmente a
toda as classes das pessoas, respectivamente não são vinculados à descarga dos duetos
relativos da vida, mas a estação. E quando os deveres não completam os afectos, não
conseguem ganhar a força suficiente para fortificar a virtude da qual eles são a recompensa
natural. (WOLLSTONECRAFT, 1992: 262).
Wollstonecraft denuncia em Vindication of the Rights of Woman os efeitos da
desigualdade e ressalta que a mulher é vítima da tradição e das leis que anulam a sua
personalidade jurídica em favor dos homens e escreve que “as leis […] fazem uma
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unidade absurda de um homem e sua esposa; e logo, pela fácil transição de somente
considerá-lo como responsável, ela é reduzida a uma mera cifra”
(WOLLSTONECRAFT, 1992: 262).
Ela ressalta que a mulher dependente do homem empobrece a sua capacidade
mental, de raciocínio e estimula a sua inutilidade, considerando ser surpreendente a
duração que as mulheres têm sido dependentes” (WOLLSTONECRAFT, 1992: 181).
De acordo com a situação vivida por Wollstonecraft, esta defende também a
situação econômica da mulher, como uma maneira de conquistar a autonomia e libertarse do jugo do homem, pois ela própria a conquistara prematuramente quando saiu de
casa e foi trabalhar como dama de companhia de idosos.
Ela faz uma apologia ao trabalho e evidencia a qualidade da mulher profissional,
ao escrever, que “Muito mais respeitável é a mulher que ganha seu próprio pão,
cumprindo qualquer dever, do que a mais dotada de inteligência!”
(WOLLSTONECRAFT, 1992: 268).
Acreditando no progresso individual e nas reformas e crente que as mulheres são
seres humanos antes de seres femininos, Wollstonecraft faz uma revolução do mundo
feminino ao escrever que “é tempo para restaurar a dignidade perdida”
(WOLLSTONECRAFT, 1992: 133).
Vindication of the Rights of Woman exemplifica o grande desejo e sonho da
educação para as mulheres como maneira de melhorar o mundo e a sociedade, forma de
atingir a plena felicidade através da justiça e da igualdade. A escritora propõe mudanças
na educação para os dois sexos, preparando os educandos para um mundo mais perfeito:
Nesta educação da constituição de meninos […] que agora fazem homens tão egoístas,
ou meninas fracas por indolência, frívolo e perseguições […] pressuponho, que tal grau
da igualdade deveria ser estabelecido entre os sexos como campo aberto e deixar fora os
galanteios e ainda permitir a amizade e gosto de temperar a liberdade e deveres.
(WOLLSTONECRAFT, 1992: 294).
E ao apresentar propostas para uma educação igual a ambos os sexos,
Wollstonecraft apela para que os homens reconheçam a importância da mudança e
demonstra que chegaríamos a uma sociedade mais livre e justa e que todos os cidadãos
seriam beneficiados e ainda que,
Poderiam os homens generosamente quebrar as nossas correntes e ficarmos com a
amizade racional em vez da obediência escrava, assim nos encontraria filhas mais
vigilantes, irmãs mais afectuosas, esposas mais fiéis, mães mais razoáveis – em palavras
melhores cidadãs. (WOLLSTONECRAFT, 1992: 269)
E assim, estimulada pela revolução que abre as portas da emancipação para
todos os oprimidos, Wollstonecraft reivindica em Vindication of the Rights of
Woman iguais oportunidades na educação, no trabalho e na política às mulheres, que
até então não tinham direito.
O Intelecto, a Virtude e a Liberdade são as três caras da razão iluminada que
Mary Wollstonecraft tomou como os princípios do seu pensamento. O seu objetivo é a
criação de uma “nova civilização” em que humanidade seja virtuosa e feliz.
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A via de acesso é aberta pela Razão, uma razão que é reforçada pela fé:
“firmemente persuadida de que não existe o mal no mundo fora do desígnio divino,
construo a minha fé sobre a perfeição de Deus”. É a religião da Razão.
3. CONCLUSÃO
Em 1792, apareceu em Londres um livro que iniciou o alerta de que a liberdade
necessita da igualdade entre homens e mulheres: A Vindication of the Rights of
Woman, de Mary Wollstonecraft.
Um texto popular e provocativo que desencadeou diferentes reações do público,
mas, posteriormente, foi celebrado como o trabalho precursor da teoria política
feminista e sua autora como a primeira pensadora, de real importância, da condição
social e política da mulher na sociedade.
Mary Wollstonecraft fez muitas escolhas perigosas, tanto nas suas ações
pessoais quanto políticas. Isto levou-nos a estudar a sua vida pública e privada a fim de
entendê-las melhor e consequentemente, obter uma compreensão mais profunda de seu
livro.
A leitura desta obra é moldada no contexto de vidas tangíveis. Neste caso, a vida
da mulher de classe média baixa inglesa com pouca educação formal, que sonhara com
o dia em que os homens e as mulheres se tratariam um ao outro como iguais. “O homem
que se contenta em viver com uma companheira bela e útil, mas sem cérebro, perdeu o
gosto por satisfações mais refinadas em favor das gratificações voluptuosas. Ele nunca
sentiu a tranquila satisfação, que refresca o coração como um orvalho divino, de ser
amado por alguém que o pode entender”.
Wollstonecraft agita a bandeira da educação, como um argumento único de toda
a sua teoria e luta feminina, exaltando as vantagens do amor, com determinação e
revolta, lutando por mudanças e conquistas femininas alcançadas – democratização da
educação, direito ao voto e liberdade sexual – outras ainda por serem alcançadas através
do sonho humano inesgotável, através de outras “muitas” Wollstonescrafts através do
poder da escrita e da palavra.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ABRAMS, M.H. The Norton Anthology of English Literature. New York: Norton,
1979.
ALVES, Hélio Osvaldo. The Adam of a New World: Documents illustrating radical
political activity in England 1789-1805. Braga: Universidade do Minho, 1985.
BADINTER, Elisabeth. O amor incerto. Tradução de Miguel Serras Pereira, Lisboa:
Relógio de Água, 1980.
FRANKLIN, Benjamin. Autobiography and Other Writings. Oxford and New York:
Oxford University Press, 1993.
SHOWALTER, Elaine. The New Feminist Criticism. London: Virago Press, 1986.
WOLLSTONEGRAFT, Mary. A Vindication of the Rights of Woman. London:
Penguin [1792], 1992.
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