o altruísmo pode reduzir a insatisfação conjugal

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o altruísmo pode reduzir a insatisfação conjugal
O ALTRUÍSMO PODE REDUZIR A INSATISFAÇÃO
CONJUGAL1
Paulo Raimundo Carneiro
Bacharel em Teologia pelo UNASP – Centro Universitário Adventista de São
Paulo
Conselheiro Educacional e Familiar pelo UNASP – Campus de Engenheiro
Coelho
[email protected]
Resumo: O presente artigo contemplará o tema de que o altruísmo pode reduzir a
insatisfação conjugal. Pois ao longo de mais de duas décadas temos realizado
entrevistas e aconselhamentos com centenas de casais, em cidades do estado de S.
Paulo, e temos observado que são preocupantes os índices de insatisfação no
casamento. Nosso objetivo é dar uma contribuição para a pesquisa e o estudo deste
assunto tão relevante, para se identificar as principais causas de insatisfação e
principalmente propor alternativas práticas que possam diminuir a insatisfação e
promover a satisfação conjugal. Neste trabalho se fez um levantamento de registro
bibliográfico sobre o tema e uma pesquisa de campo para levantamento de dados.
Igualmente se levou em conta as inúmeras entrevistas realizadas ao longo de todos
estes anos, no trabalho de aconselhamento para casais.
Palavras chave: insatisfação; altruísmo; romantismo; satisfação; conjugal.
Abstract: This article will address the theme of that altruism can reduce the marital
dissatisfaction. Because over more than two decades we have conducted interviews
and advice with hundreds of couples, in cities, towns and villages in Sao Paulo states
and we have found that are worrying rates of dissatisfaction in marriage. Our goal is
to give a contribution to the research and the study of this subject as relevant, to
identify the main causes of dissatisfaction and mainly propose alternatives that can
reduce the dissatisfaction practices and promote marital satisfaction. This work
became a bibliographic record survey on the topic and a field survey for data
1
Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Aconselhamento
Educacional e Familiar – Centro Universitário Adventista de São Paulo- Campus 2, na cidade de
Engenheiro Coelho, 2012, sob a orientação da Profª. Dra. Marinalva Imaculada Cuzin.
1
collection. It also took into account the numerous interviews over the years, the work
of advice for couples.
Key words: dissatisfaction; altruism; romanticism; satisfaction; married.
Introdução
A complexidade que envolve as necessidades emocionais dentro de uma
relação requer cuidadoso estudo e discussão. O relacionamento conjugal está
diretamente relacionado ao processo de satisfação e insatisfação. Importantes
estudos sobre este tema tem sido feitos nas últimas décadas: Hicks & Platt (1970);
McNamara & Bahr (1980); Spainer & Lews (1980); Dela Coleta (1989); Farias
(1994); Sharlin, Kaslow & Hammerschmidt (2000); Norgren & Souza (2004). É
fundamental para que este relacionamento seja eficaz, que ambos os sujeitos
envolvidos compreendam os sinais que determinam estas relações, seja pelas
ações ou expressões.
O casamento é uma das relações sociais mais antigas que existe, é uma
preciosa instituição Divina. É à base da sociedade. Veloso (1987) confirma isto ao
afirmar que o casamento é o fundamento da sociedade humana e uma bênção para
a humanidade.
Conforme Collins (1986), a construção de casamentos e famílias melhores
começa no lar e permeia a sociedade. E sobre esta construção de uma sociedade
melhor fundamentada nos casamentos Apolinário (1987, pp. 294-295) constata que:
A formação do lar é o acontecimento de maior transcendência na vida do
ser humano, e se for bem orientada, contribui para o melhoramento da
humanidade, formando uma barreira contra os vícios e corrupções, e
constitui um oásis de paz, em meio das tormentas que agitam a existência
do homem.
O homem é um ser social, com a capacidade de se relacionar, interagir e
viver em associação. Alguém que muito aprecia a afetividade, o senso de pertencer
a alguém e valoriza a família.
Crabb (1995, p. 23) escreveu:
Todos nós temos necessidades de cultivar relacionamentos... os
relacionamentos nos proporcionam dois elementos de que precisamos para
viver ... São eles: a segurança de sabermos que somos amados e aceitos e
2
o senso de valor que decorre do fato de exercermos um papel importante,
sério e duradouro na vida de outrem.
No casamento, o homem haveria de amar e ser amado. Nele o ser humano
poderia se desenvolver cada vez mais nas áreas: física, intelectual, emocional e
espiritual. Realizaria sonhos e aspirações. Além de desfrutar de: companheirismo,
satisfação, prazer e felicidade.
O matrimônio é uma comunidade de amor doadora de vida, conforme Veloso
(1987).
Embora as relações humanas tenham sido grandemente afetadas pelo
processo de entropia existente no mundo, o casamento poderia ser “resiliente” a
esta degeneração, com a graça de Deus somada a um conjunto de atitudes
positivas por parte de ambos os cônjuges. Logo, o fortalecimento e a harmonia da
família tornar-se-iam um poderoso fator de proteção para o indivíduo e para a
sociedade.
Assim, o matrimônio deveria perdurar por toda a vida, e não seria somente:
“eterno enquanto durasse”, como afirmam os céticos.
Apesar de tudo isto, temos que reconhecer que são altos os índices de
divórcio.
As
pesquisas
revelam
números
alarmantes.
Mesmo
em
países
desenvolvidos como os Estados Unidos, para cada dois casamentos estabelecidos,
um resulta em divórcio.
Conforme dados do IBGE de 2008, em levantamento feito junto ao Registro
Civil, no Brasil ocorre um divórcio para cada quatro casamentos.
Por mais de 20 anos, procurando ajudar casais, temos identificado que entre
as principais causas de divórcio estão:

Infidelidade

Abuso e violência física

Violência psicológica

Crises

Dívidas

Insatisfação
3
Porém, igualmente preocupantes são os índices de insatisfação no
casamento que temos verificado.
Como então reverter este quadro? Que propostas temos para se reduzir a
insatisfação e promover a satisfação conjugal?
Insatisfação no casamento
Se
ainda
pudéssemos
considerar
que
a
maioria
dos
matrimônios
prevalecesse com satisfação, ficaríamos em parte confortados. Mas infelizmente a
realidade é bem diferente.
Através de entrevistas e pesquisa de campo realizadas entre os dias 29 e
30/10/2011, com cerca de 40 pessoas casadas, representando uma comunidade de
classe média da zona leste da cidade de São Paulo, obtivemos os seguintes
resultados:
1.
Quantos consideram seus casamentos:
Toleráveis – 85% das pessoas
Bons – 10% das pessoas
Realmente Felizes – 05% das pessoas
2.
Que nota você daria para o seu casamento?
Homens – nota 07 (média)
Mulheres – nota 04 (média)
3.
Quantos se sentem insatisfeitos no casamento?
Homens – 30 %
Mulheres – 61 %
Pois, mesmo entre àqueles que permanecem casados e não procuram o
divórcio como uma “solução” para a sua infelicidade, há falta de qualidade nos
relacionamentos. Isto tem provocado:
1. Discussão que questiona se o casamento ainda funciona nos dias de hoje;
2. Incredulidade quanto à possibilidade de ser feliz num casamento vitalício;
4
3. Infidelidade conjugal.
Há ainda os “divórcios psicológicos”, onde alguns cônjuges vivem debaixo do
mesmo teto, mas, separados psicológica, sentimental, emocional e até fisicamente.
Por outro lado, há aqueles que embora juntos, experimentam insatisfação e
decepções em sua relação.
A pessoa divorciada psicologicamente mergulha num mar de mágoas e
amargor, quase se conformando com a sua desventura, contribuindo assim para a
insatisfação de seu cônjuge e tornando-se incrédula e cada vez mais distante da
possibilidade de ser feliz.
Segundo a psicóloga Giovana Pestim, da Universidade de Brasília, a
insatisfação é maior entre as mulheres e a infidelidade é maior entre os homens.
Percebe-se então, um ciclo definido: a contribuição de um para a insatisfação
emocional do outro, pode comprometer o interesse e diminuir a qualidade das horas
íntimas, e a insatisfação sexual pode induzir à busca da satisfação sexual fora do
casamento. O que resulta na infidelidade e esta traz consequências muito ruins.
Segundo pesquisa divulgada pela revista Veja (16/01/2002 p. 76), através da
articulista Daniela Pinheiro, no artigo intitulado “Traição e Culpa” – O índice de
infidelidade para os entrevistados é de:
60 % dos homens procuraram relação extra conjugal.
47% das mulheres buscaram relação fora do casamento.
Segundo Souza (2000, p. 14) “a infidelidade dói muito e é um desastre para
ambos. Para evitá-la é fundamental que haja diálogo freqüente e sincero, quando a
pessoa pode falar do que lhe frustra ao cônjuge que precisa aprender a ouvir e
satisfazer as necessidades vitais do outro.”
Na verdade o curso deveria ser completamente outro:
Uma esposa satisfeita por receber amor romântico teria maior interesse e
participação nas horas íntimas. Já o marido que desfruta de qualidade e satisfação
na intimidade teria maior motivação para desenvolver ainda mais o lado romântico e
permanecer fiel.
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As causas de insatisfação
É bem verdade que a insatisfação também está relacionada com as
expectativas que cada um tem em relação ao cônjuge, e como este se sensibiliza
em relação a elas, bem como, as próprias expectativas que cada pessoa cria em
torno do casamento. Mas por mais de duas décadas, realizando entrevistas e
aconselhamentos com centenas de casais, em cidades do estado de S. Paulo e
também na capital, temos observado que entre as principais causas de insatisfação
no matrimônio estão:

Atitudes egoístas

Críticas e Mágoas

Carência de atitudes românticas e expressões de afeto

Falta de qualidade na intimidade

Quebra de confiança

Desrespeito e perda de admiração

Falta de cooperação no lar

Desequilíbrio financeiro
Ainda como resultado de nossa pesquisa de campo e entrevistas com o grupo
de 40 pessoas casadas, de uma comunidade de classe média, obtivemos os
seguintes resultados:
A insatisfação dos casais é maior a partir da faixa de dez anos de matrimônio.
A insatisfação entre as mulheres realmente é maior.
Os três fatores mais causadores de insatisfação entre as mulheres são:
1.
Atitudes egoístas
2.
Carências de atitudes românticas
3.
Falta de cooperação no lar.
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Os três fatores mais relevantes entre os homens são:
1.
Falta de qualidade na intimidade
2.
Incompatibidade e conflitos
3.
Desequilíbrio Financeiro
A essência – o egoismo
Na essência, o egoísmo tem sido a razão principal de insatisfação no
casamento e causa principal de divórcio. Certamente ele tem sido um veneno para a
relação matrimonial.
Para Stephen; Kendrick (2009, p. 11):
Vivemos em um mundo dominado pelo egoísmo. A cultura ao nosso redor
nos ensina a priorizar nossa aparência, sentimento e desejos pessoais. Ao
que parece, o objetivo é buscar o nível mais elevado possível de felicidade.
Porém, o perigo desse pensamento se torna visivelmente doloroso, uma vez
dentro do casamento.
Pois, cada um almeja quase sempre receber, pensando principalmente em si
e desejando que sejam satisfeitas todas as suas expectativas e desejos, algumas
vezes até em detrimento ao outro. O egoísmo tem tornado as pessoas cada vez
mais insensíveis em relação às necessidades do outro.
As atitudes egoístas têm sufocado a alegria e a saúde do casamento.
Infelizmente muitos relacionamentos já são constituídos nesta base.
A Bíblia afirma: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de
quase todos.” (Mat. 24: 12. - iniqüidade = pecado – A essência do pecado é o
egoísmo).
A proposta altruísta
Há uma proposta muito melhor para o casamento, ela consiste no cultivo de
atitudes altruístas. O altruísmo é o oposto do egoísmo. Nele a prioridade é o outro.
Aqui se descobre que podemos ser mais felizes dando do que recebendo. Pois,
seremos felizes promovendo a felicidade do outro.
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Van Pelt (1994, p. 39):
A chave para colocar em prática o princípio do amor genuíno é altruísmo.
Quando a pessoa se desvencilha do próprio eu e parte para um
relacionamento de amor genuíno, pode-se dizer que alcançou a plenitude
num relacionamento de amor absoluto... Se você quer um relacionamento
de amor mais profundo, comece dando mais amor. Ao invés de esperar que
seu cônjuge demonstre afeto por você, seja o primeiro a tomar esta atitude.
Descubra as necessidades de seu cônjuge, e comece a preenchê-las agora.
Conforme pesquisas de Sharlin; Kaslow; Hammerschmidth (2000), em vários
países, casais satisfeitos destacam: ser sensível aos sentimentos e necessidades do
cônjuge e possuir habilidade para dar e receber.
Doar o tempo, a atenção, a energia, as afeições, enfim, a própria vida, em
favor da felicidade da pessoa amada.
Para Dobson (1993, p. 97):
O amor verdadeiro, em contraste com a idéia popular; é uma expressão de
profundo apreço por outro ser humano; é um conhecimento intenso das
necessidades e dos anseios do outro parceiro, referentes ao passado,
presente e futuro. É absolutamente altruísta, sempre cheio de interesse e
sempre pronto a dar.
Algumas vezes nos perguntamos: Quem ganha o maior benefício, a esposa
ao receber amor e carinho por parte do marido, ou o esposo que vê a felicidade da
companheira como resultado de suas atitudes? Há aqui um verdadeiro “feedback”.
Pois quando ele percebe que foi um instrumento que produziu bem estar e
satisfação, ele mesmo se sentirá satisfeito.
Para Stephen; Kendrick (2009, p. 12):
O amor também leva a uma alegria interior. Quando você prioriza o bem
estar do seu cônjuge, uma satisfação interior, que não pode ser adquirida
através de ações egoístas, nasce dentro de você. Esse é um benefício
criado por Deus e reservado para aqueles que verdadeiramente
demonstram amor.
Amar envolve mais que sentimento e emoção, envolve razão, escolha e
decisão de não se conformar com o egoísmo.
Como o casamento é uma via de duas mãos, aquele que faz alguém feliz,
certamente vai ter este alguém procurando fazê-lo (a) feliz também.
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"Em vossa união vitalícia, as afeições deverão ser tributárias à felicidade
mútua. Cada um deve promover a felicidade do outro. Esta é a vontade de Deus a
vosso respeito." (WHITE, 1976, v. III, p. 95)
Para a autora (1973, p. 106):
Embora possam surgir dificuldades, perplexidades e descoroçoamentos,
nem o marido nem a esposa abrigue o pensamento de que sua união é um
erro ou uma decepção. Resolva cada qual ser para o outro tudo o que é
possível. Continuai as primeiras atenções. De todos os modos, anime um
ao outro nas lutas da vida. Procure cada um promover a felicidade do outro.
Belvedere, em seu livro As Revelações do Apocalipse (1980, p. 30),
discorrendo sobre o tema “Soteriologia”, ilustra o amor altruísta ao descrever a
história de um casal que viveu no século passado. Porém, esta história parece
elucidar com clareza a proposta deste artigo.
João e Délia, pessoas humildes e simples que muito se amavam.
Ela era costureira e planejou através de suas economias surpreender ao seu
marido com um presente.
Na verdade ele possuía um lindo relógio de ouro que recebera como herança
de seu avô. Mas a pulseira já havia se perdido pelo tempo. Assim, não podia usá-lo
devidamente.
Logo, ela julgou que o agradaria grandemente presenteando-o com uma
pulseira folheada a ouro.
Então, passou a juntar as suas economias para adquirir o presente.
Foi quando anunciou ao marido um jantar especial para a próxima noite.
Logo pela manhã foi até a joalheria. No entanto, descobriu que o valor
economizado ainda não era suficiente. O que fazer então?
Encontrou por ali uma fábrica de perucas que anunciava comprar cabelo
natural e pagar um bom valor.
Dona de uma linda cabeleira não hesitou, permitiu que lhe cortassem o cabelo
e o vendeu.
Ao final do dia, bem arrumada, com o jantar preparado e uma caixinha nas
mãos, aguardava o retorno do marido.
Logo na chegada, ele tomou um grande susto ao vê-la com o cabelo curtinho.
Mas antes de dar qualquer explicação, ela entregou-lhe o presente. Porém, para sua
surpresa ele também trazia um presente em suas mãos.
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Que cena linda! Era o momento de ambos abrirem os pacotes com alegria.
Mas que surpresa! Ele havia dado para ela uma presilha revestida de ouro.
Porém, ela já não podia usar, pois não tinha mais cabelo.
Por sua vez ele ganhou a pulseira, contudo, havia vendido o relógio para
comprar a presilha.
Que incrível! Ambos não puderam desfrutar do presente recebido. Mas
deixaram para nós um exemplo maravilhoso do que é o amor altruísta – dar a si
mesmo.
Aliás, este é um dos principais segredos do sucesso para a vida a dois –
procurar sufocar as atitudes egoístas e cultivar as altruístas.
Enquanto muitos estavam esperando que seus cônjuges lhes fizessem
alguma coisa para que se sentissem satisfeitos, João e Délia procuravam agir, falar
ou fazer algo para ver a felicidade sendo desfrutada pelo outro. Sim, de diferentes
formas o amor deve ser sempre expressado, principalmente de modo prático.
Para Reis (2002, p. 16):
A motivação da vida é o amor. Algumas pessoas acham que se tornaria
muito comum ficar repetindo sempre “eu te amo”... Essas pessoas privam o
seu cônjuge do efeito saudável para a saúde física e emocional que
acompanha uma declaração de amor, um gesto de carinho, uma delicada
carícia.
Por esta razão não devemos continuar esperando que a pessoa amada nos faça
algo de bom, nós é quem devemos tomar a iniciativa e procurar agir em favor da
pessoa que amamos.
O cultivo do amor romântico
A Bíblia em I Coríntios 13 apresenta o amor de Deus, do original grego
“ágape” (Códice Sinaítico). O amor incondicional. O maior de todos os dons. A força
motivadora da vida e dos relacionamentos. Aquele que “jamais acaba” e “tudo
espera e tudo suporta”. No entanto, é comum casais diante do altar, ouvindo lindas
palavras fundamentadas nestes versos, sentirem-se seguros com a idéia de que seu
amor será indestrutível e jamais acabará. Mas com o passar dos anos, alguns
destes cônjuges já desgastados, insatisfeitos e infelizes em seu casamento, diante
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de um juiz, perguntam a si mesmos: O que foi que aconteceu com aquele amor que
parecia não ter fim?
Na verdade o casamento não é constituído exatamente deste amor.
A relação conjugal depende grandemente do amor romântico. E este não é o
que suporta tudo e não acaba nunca. Logo, ele precisa ser alimentado, cultivado,
desenvolvido e fortalecido, pois é este o combustível do casamento. Somos
desafiados a resgatar e a manter as atitudes e expressões desenvolvidas durante o
período de namoro. Pois, elas formam a linguagem romântica: Elogios, presentes,
bilhetes, ligações por telefone, mensagens eletrônicas, demonstrações de carinho e
afeto, jantar romântico, passeio a dois, expressões públicas de apreço, e outros.
Pois serão muito valiosos e recompensadores.
É sempre bom lembrar que o uso positivo do elemento surpresa é na maioria
das vezes, muito estimulante nas relações afetivas. Portanto, se você deseja abrir as
portas do coração de uma mulher, surpreenda-a.
Para Kemp (1983, p. 43):
O amor é expressivo! E, às vezes, o nosso amor morre porque não fazemos
nada. O amor é dinâmico e não estático. Ele é como uma planta que precisa
ser cultivada. A melhor maneira de deixar seu casamento esfriar e o amor
morrer é não fazer nada. É o caso de muita gente. Quando isto acontece, o
casamento se torna chato, monótono, cheio de conflitos e brigas. O amor se
expressa de maneiras práticas e, às vezes, pequenas, como uma palavra
de elogio, um presentinho no aniversário, um bife feito do jeito que ele
gosta, etc. Sem essas expressões pequenas no dia a dia, o relacionamento
esfria.”
Há muita profundidade no pensamento popular que afirma: “Casados, mas
eternos namorados”.
Segundo o escritor Pedro Apolinário, professor de grego antigo, em seu livro
intitulado Estudo de Passagens Com Problemas de Interpretação, na língua grega
há pelo menos, quatro diferentes e principais palavras para expressar as várias
formas de se amar. Além do amor incondicional, já mencionado, há também o amor
“filéo” (amor fraternal). Há ainda o amor “eros” (amor romântico que envolve atração
física e sensualidade). E finalmente o amor “estergo” (amor entre cônjuges ou amor
de família).
O amor conjugal parece ser uma amálgama formada por: “filéo”, “eros” e
“estergo”.
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Mas também é verdade que o amor incondicional (o amor de Deus)
desenvolvido no coração será uma força motivadora em todas as áreas da vida,
inclusive no casamento e no cultivo das atitudes românticas, pois devemos
desenvolvê-las, mesmo sem esperar nada em troca.
Para McDowel (2001, pp. 205-206).
Quando se chega a um ponto em que a felicidade, segurança e crescimento
do outro é mais importante que a força que o impulsiona para alcançar sua
própria felicidade, segurança e crescimento, trata-se de um amor
amadurecido... O amor amadurecido é o crescer de uma posição que
recebe muito e dá pouco, para uma posição de dar tudo com alegria sem
exigir nada em troca... Creio que a maioria dos problemas que afligem o
mundo hoje seriam solucionados se tivéssemos uma atitude de
despreendimento, dando prioridade às necessidades do outro. Quase todos
os casamentos e relacionamentos familiares seriam restaurados por uma
mudança profunda em nossas atitudes.”
Quando a satisfação e a felicidade da outra pessoa são tão reais para você
quanto as suas próprias, você ama verdadeiramente esta pessoa.
Fica evidente então que as atitudes altruístas estimulam, alimentam e
fortalecem o amor romântico, tão essencial para a satisfação conjugal e para a
longevidade e manutenção do matrimônio.
Atitudes positivas e a graça de Deus
As pessoas nos perguntam: Por que somos tão diferentes? Por que homens e
mulheres possuem características tão desiguais?
Há beleza na diversidade. Somos diferentes e possuímos características
diferentes. Deus assim nos fez. Ele deve ter distribuído as características de Sua
personalidade entre o homem e a mulher. Portanto, viver em harmonia no
casamento pode significar revelar a harmonia do Deus criador.
As diferenças entre os cônjuges no início do relacionamento até podem os
atrair. Mas com o passar do tempo, estas mesmas diferenças podem os afastar,
caso não sejam trabalhadas. Portanto, é necessário que as conheçamos,
compreendamos, respeitemos e aceitemos.
Segundo White (1976, v. III, p. 95):
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Mas, ao mesmo tempo que vos deveis unir em um só ser, nenhum de vós
deverá perder na do outro, sua própria individualidade. Deus é o dono de
vossa individualidade. A Ele deveis perguntar: Que é direito? Que é errado?
Como poderei eu melhor cumprir o propósito de minha criação?
Segundo Smalley (1982, p. 10, 1982):
As diferenças emocionais e mentais entre os homens e as mulheres podem
tornar-se obstáculos insuperáveis a um relacionamento duradouro e
satisfatório quando ignoradas ou mal compreendidas. Todavia, essas
mesmas diferenças, quando reconhecidas e apreciadas, podem
transformar-se em degraus para uma relação significativa e satisfatória.
O casamento é um sistema muito dinâmico que requer mudanças,
adaptações e atitudes positivas. De uma forma geral, as pessoas estão sempre
esperando que os outros mudem. No entanto, no casamento não devemos ficar
esperando que o outro mude, nós é quem devemos buscar estas mudanças em nós
mesmos. Precisamos estar dispostos a mudar para melhor.
Para Souza, Casamento (2000, p. 12):
Mudar o que você é significa melhorar suas reações emocionais, ou seja,
aprender a se acalmar quando o natural é ficar facilmente nervoso,
aprender a falar quando o natural é ficar calado demais, aprender a perdoar,
evitar ficar emburrado horas e dias seguidos, expondo o que lhe magoou
sem atacar a pessoa e tantas outras coisas. Esta mudança que é
necessária, é necessária não só para o bem estar da outra pessoa e do
relacionamento, mas para você mesmo. No caminho da felicidade
precisamos mudar.
A harmonia e a qualidade da intimidade sexual no casamento é fator vital.
Mas para que a sexualidade promova satisfação e prazer mútuos é necessário,
sobretudo se comunicar.
É impressionante como em plena era cibernética, com a tecnologia e os
recursos disponíveis, que se propõem facilitar a comunicação, acabaram reduzindo
a qualidade da comunicação de um casal.
Parece faltar tempo para uma boa conversa e um diálogo aberto. Se faz então
necessário resgatar esta ferramenta preciosa. É necessário dedicar tempo para a
comunicação eficaz, mesmo que seja preciso, de forma altruísta, abrir mão de
alguma coisa.
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A boa comunicação e o romantismo alimentarão o interesse e a qualidade da
intimidade sexual, e esta produzirá satisfação emocional. Portanto, é necessário que
haja uma verdadeira entrega , uma doação do próprio ser em favor do outro.
Segundo a conselheira matrimonial e escritora Nancy Van Pelt (1994, p.88) “a
satisfação sexual sadia é o resultado da harmonia reinante em outras áreas do
casamento.”
Sobre a satisfação sexual feminina os autores Tim e Beverly Lahaye (1986, p.
88) escreveram: “o marido inteligente considerará a satisfação sexual da esposa
uma das principais prioridades desde o princípio do casamento, para que ambos
lucrem com a satisfação dela”.
Ainda segundo as pesquisas de Sharlin; Kaslow; Hammerschmidth (2000), os
casais satisfeitos também destacam as seguintes atitudes positivas:
 Expressões de afeto
 Habilidade para solucionar conflitos
 Confiança mútua
 Compromisso mútuo
 Apreciação e respeito mútuo
 Comunicação aberta e honesta
 Valores e interesses comuns
 Autoridade compartilhada
 Responsabilidade
 Tempo e diversão juntos
 Ser amigos
 Capacidade de adaptação
 Valorização da sexualidade
 Crença no casamento vitalício
 Experiência Religiosa
Portanto, ainda há tempo para recomeçar, não é tarde demais para fazê-lo.
Recomeçar agora mesmo. Pedindo perdão pelo nosso egoísmo e pelas atitudes
negativas. Pedir perdão e perdoar.
Podemos ressignificar o casamento – com altruísmo e romantismo.
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Para que a proposta altruísta contribua na redução da insatisfação conjugal é
importante:
1.
Que a promoção da felicidade do cônjuge seja uma decisão
espontânea, resultante da conscientização que transforma e leva a uma mudança
nas atitudes, e não apenas seja vista como fruto de uma pressão para que se
carregue um pesado fardo.
2.
Que seja uma iniciativa e uma experiência praticada e desfrutada por
ambos os cônjuges.
Sufocar o egoísmo para que se desenvolva o altruísmo não será uma tarefa
tão simples, senão com a ajuda de Deus. Portanto, o fortalecimento da religiosidade
no casamento será vital para que se possa desfrutar da graça Divina.
Metodologia
A pesquisa bíbliografica foi feita através de levantamento de informação em
literatura pertinente sobre o tema, com caráter exploratório, segundo Marconi e
Lakatos (2008), de natureza qualitativa para embasamento teórico. Com enfoque na
busca de alternativas práticas para se cumprir o propósito principal do artigo. Já a
pesquisa de campo foi realizada entre os dias 29 e 30 de outubro de 2011, com
cerca de 40 pessoas casadas, representando uma comunidade de classe média da
zona leste da cidade de São Paulo – SP. Pesquisa de natureza quantitativa, objetiva
e concisa para levantamento de dados que apresenta uma amostra clara de
resultados, conforme Piccoli (2006), com perguntas objetivas para assinalar
alternativas de forma simples e que puderam ser respondidas com facilidade.
Considerações finais
Embora céticos e formadores de opinião possam defender a idéia de que hoje
o matrimônio esteja obsoleto, podemos testificar de que esta preciosa instituição
Divina ainda funciona, e que é possível ser feliz e obter satisfação num casamento
duradouro. Pois o altruísmo pode reduzir a insatisfação conjugal e promover o
cultivo das atitudes românticas.
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Pois, somente nele há o compromisso de se promover e produzir felicidade,
construir uma vida em família, compartilhar experiências, desfrutar de alegrias e
realizações e superar as adversidades.
Para Harley Junior (2001, p. 233):
A cura mais rápida da incompatibilidade e o caminho mais curto para nos
tornarmos irresistíveis é satisfazer as necessidades emocionais mais
importantes um do outro. Os casais felizes já se conscientizaram deste
princípio e sabem fazer do seu casamento uma prioridade em todo o tempo.
Uma relação assim fundamentada poderá ser duradoura. Nela a satisfação e
a felicidade poderão ser reais. Tal relação será como precioso perfume, cuja
fragrância será sentida pela comunidade e despertará nos demais a convicção de
que isto é possível. Assim, outros desejarão seguir este exemplo.
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