A MULHER E A DEFESA DA VIDA “Não existe mãe solteira, existe

Transcrição

A MULHER E A DEFESA DA VIDA “Não existe mãe solteira, existe
A MULHER E A DEFESA DA VIDA
Hamilton Werneck*
“Não existe mãe solteira, existe mãe” - frase atribuída
ao Papa Francisco e divulgada no Facebook.
Foram inúmeros os casos com que lidei, como professor, orientador ou
coordenador em escolas, envolvendo parturientes, menores de idade e que
conceberam antes do casamento, ou então, que praticaram a “produção
independente”, ou ainda, que seus namorados não desejassem o casamento e
sequer assumir a criança.
Costumo dizer que ganhei batalhas e perdi algumas. O caso da adolescente que
me fora solicitado pela própria mãe para que a orientasse a evitar filhos e que
veio à revelia de todos os conselhos, praticar o aborto, falecendo devido a uma
infecção generalizada, pode ser considerado um caso perdido. Pude, sim,
ajudar ao primeiro filho dela, quando aos dezessete anos solicitou-me uma
bolsa de estudos. Formou-se e, hoje, tem uma vida dedicada à família.
Outros casos foram batalhas ganhas, mesmo contra clérigos, pais de
adolescentes e opinião pública, daquelas que se vestem de falso moralismo.
Conheci pessoas que ficavam perscrutando tudo o que fosse possível para ver
se conseguiam descobrir quem estava grávida na escola. Sempre considerei
que tal atitude atentava, indiretamente, contra a vida, fazia parte, sim, de
sensacionalismo ou de tentativa de se passar por pessoa adepta de boa moral e
bons costumes diante de algum grupo social ou religioso.
Certa vez segurei quanto pude, mesmo contra a vontade do pai de uma
adolescente, um aborto que ele desejava que a filha fizesse. Ela, convicta, não
o praticou. Casou-se no dia do batismo da criança e fui o padrinho deste
casamento. Fico feliz de ver, hoje, aquela criança transformada pela vida, em
profissional de renome atuando no trabalho.
Considero abomináveis essas atitudes de recriminar as ações como se fossem
caminhos para desestimular as outras adolescentes a fazer o mesmo. Nenhuma
atitude de defesa da mãe e da vida pode significar apoio às possíveis
transgressões.
Abominável e falta de conhecimento é a atitude de diretores de escola que não
aceitam os diagnósticos e prescrições médicas quanto ao repouso de uma
adolescente gestante e tudo fazem para que não saibam dos direitos que a
legislação define quanto aos trabalhos domiciliares e criam um ambiente de alta
pressão que podem levar ao aborto.
Tenho certeza que perdi minha paciência quando telefonei ao superior de um
clérigo que pressionava uma funcionária de uma escola porque tinha
engravidado antes do casamento. Tais eram as “condenações”, aprovadas pela
coordenação pensando que assim garantiria mais o próprio emprego que
fulminei no telefonema: - excelência reverendíssima, se esta criança for
abortada por processo natural ou artificial, quem levou a mãe ou seu organismo
a este ato, foi uma pessoa do clero e a Igreja é responsável. Como as pressões
pararam de imediato e já naquela mesma tarde, creio, que o telefonema surtiu
efeito e que o superior tinha uma visão de defesa da vida.
Quantas adolescentes foram aconselhadas a deixar a escola para não
escandalizar as demais colegas! Quantas famílias enviaram suas filhas para
casas de proteção para que tivessem a criança que seria, mais tarde, oferecida
na famigerada “roda” para ser adotada. Jamais esta criança conheceria sua
mãe e vice-versa.
Esta era a prática de quem lia em textos sagrados “amai-vos uns aos outros,
como eu vos amei”! Grande frase o do Papa Francisco, cheia de bondade e de
acolhimento que me conforta no ponto mais extremo de defesa da vida e da
mãe: “não existe mãe solteira, existe mãe”! Aí está o grande valor da mulher
que diante de todas as vicissitudes foi capaz de defender a vida e isto não tem
preço, nem pode ser avaliado aos olhos do Criador.
Muitos anos se passaram para que me sentisse reconfortado com frase tão
singela e, ao mesmo tempo, tão grávida de conhecimento e amor humanos.
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*O professor Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.