As concepções alternativas sobre efeito estufa - Pós

Transcrição

As concepções alternativas sobre efeito estufa - Pós
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EDUCAÇÃO
PARA A CIÊNCIA E O ENSINO DE MATEMÁTICA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
AS CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS DE ALUNOS DA
8ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O FENÔMENO DO
EFEITO ESTUFA
ANA CRISTINA LEANDRO DA SILVA LIBANORE
Maringá
2007
1
ANA CRISTINA LEANDRO DA SILVA LIBANORE
AS CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS DE ALUNOS DA
8ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O FENÔMENO DO
EFEITO ESTUFA
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Educação para a
Ciência e o Ensino de Matemática da
Universidade Estadual de Maringá como
requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre.
Orientadora: Profª. Dra. Ana Tiyomi Obara.
Maringá
2007
2
ANA CRISTINA LEANDRO DA SILVA LIBANORE
AS CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS DE ALUNOS DA
8ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O FENÔMENO DO
EFEITO ESTUFA
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Educação para a
Ciência e o Ensino de Matemática da
Universidade Estadual de Maringá como
requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre.
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Ana Tiyomi Obara
DBI/UEM-Orientadora
Profª. Drª. Ana Maria Caldeira
UNESP
Profª. Drª. Maria Júlia Corazza Nunes
DBI/UEM
3
Dedico este trabalho
Ao melhor presente que
recebi durante este ano:
meu filho Mauro que acabou de chegar .
Ao meu esposo, que sempre me apoiou
sendo amigo e companheiro.
À minha mãe e amigos,
que compartilharam comigo deste sonho.
As minhas primas Sonia e Marli,
pelas contribuições e conselhos.
4
AGRADECIMENTOS
Sou grata a Deus por me conceder o dom da vida e a oportunidade de participar
do Programa de Mestrado que tanto almejei.
Agradeço, de maneira toda especial, à professora Dra. Ana Tiyomi Obara que,
além de ser uma excelente orientadora, soube compreender minhas dificuldades
e limitações revelando-se uma adorável amiga.
Às professoras, Dra. Ana Maria Caldeira, Dra. Geiva Carolina Calsa, Dra. Maria
Julia Corazza Nunes e Dra. Regina Pavanello pelo tempo dedicado à leitura do
trabalho e, também, pelas preciosas contribuições.
Aos professores do Mestrado, pela dedicação ao Programa, pelas correções e por
compartilhar seus saberes e experiências.
À minha melhor amiga Elisângela, que perseverou comigo no sonho de
conseguir uma vaga para cursar o Mestrado.
Aos meus familiares: esposo, mãe, irmão Rafael, amigo-irmão Carlos Ricardo,
sogro, sogra, primos e tios, que sempre me incentivaram.
Aos meus colegas de Mestrado, que considero um presente que a vida me
ofereceu, especialmente à Sandra, Solange, Silvia e André, que demonstraram
uma amizade sincera e fraterna.
Ao coordenador do Programa Dr. Marcos César Danhoni Neves, pela
competência e dedicação ao Programa; à secretária Vânia que, com sua
simpatia, sempre colaborou no atendimento e solução das tarefas solicitadas.
Aos alunos, às professoras e à escola que aceitaram participar dessa pesquisa,
contribuindo de forma importantíssima para a realização deste trabalho.
5
Nunca e Sempre
“Sempre cheguei tarde
ou cedo demais.
Não vi a felicidade acontecer.
Nunca floresceram
em minha primavera
as rosas que sonhei colher.
Mas sempre os passarinhos
cantaram e fizeram ninhos
pelos beirais
do meu viver”.
Helena Kolody- 1990
6
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................8
ABSTRACT.........................................................................................................9
INTRODUÇÃO.................................................................................................10
0.1 REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS CONTEMPORÂNEO................ 10
1 UM OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENSINO DE
CIÊNCIAS NO BRASIL...................................................................................16
1.1 COMO O ENSINO BRASILEIRO FOI ESTRUTURADO QUANDO AINDA ERA
COLONIA PORTUGUESA.....................................................................................................16
1.2 A HISTÓRIA DO ENSINO DE
CIENCIAS
NO
BRASIL E SEUS
CONTRAPONTOS.................................................................................................................. 21
1.3 CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS E MUDANÇA CONCEITUAL: UM POUCO
DE SUA HISTÓRIA.................................................................................................................27
2
CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS E MUDANÇA CONCEITUAL:
UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIENCIAS.................................35
2.1 O OLHAR DE DIVERSOS AUTORES
SOBRE A DEFINIÇÃO DAS
CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS.........................................................................................35
2.2 COMO LIDAR COM AS CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS E COM A
MUDANÇA CONCEITUAL...................................................................................................41
2.3 A EVOLUÇÃO DA CIENCIAS E SEUS OBSTACULOS EPISTEMOLÓGICOS.....43
3
O EFEITO ESTUFA..................................................................................51
3.1 O EFEITO ESTUFA: UM FENÔMENO NATURAL QUE ACONTECE EM
NOSSO PLANETA..................................................................................................................51
3.2 O AQUECIMENTO GLOBAL: UM FENÔMENO OCASIONADO PELA
EXACERBAÇÃO DOS GASES QUE GERAM O EFEITO ESTUFA..................................53
4
A PESQUISA..............................................................................................66
4.1 PROBLEMÁTICA QUE DESENCADEOU A RESPECTIVA PESQUISA................66
7
4.2 OBJETIVOS DESSE TRABALHO DE PESQUISA......................................................66
4.3 A METODOLOGIA DA PESQUISA.............................................................................67
4.4 PERFIL DOS ALUNOS PARTICIPANTES DA PESQUISA.......................................72
4.5 PERFIL DOS PROFESSORES PARTICIPANTES DA PESQUISA.............................72
4.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS.......................................................73
5 APRESENTAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DOS ESTUDANTES E
DOS PROFESSORES A RESPEITO DO FENÔMENO DO EFEITO
ESTUFA.............................................................................................................79
5.1 OS ALUNOS..................................................................................................................79
5.1.1 Onde e quando os alunos ouviram falar sobre efeito estufa........................................79
5.1.2 As concepções alternativas sobre o efeito estufa.........................................................81
5.2 PROFESSORES DE CIENCIAS E DE GEOGRAFIA E O LIVRO DIDÁTICO......101
5.2.1 Fontes de pesquisa desses educadores e as dificuldades que julgam permear
a aprendizagem dos educandos..............................................................................................101
6
DISCUTINDO AS INFLUÊNCIAS NA CONTRUÇÃO DAS
CONCEPÇÕES DOS EDUCANDOS SOBRE EFEITO ESTUFA............113
6.1 DISCUSSÃO GERAL SOBRE AS CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS..................113
6.2 COMO TRABALHAR EM SALA DE AULA COM AS CONCEPÇÕES
ALTERNATIVAS DOS ALUNOS........................................................................................119
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................121
REFERÊNCIAS..............................................................................................125
APÊNDICES....................................................................................................133
8
RESUMO
Elucidar o processo de ensino e aprendizagem sempre foi um desafio para todos os
pesquisadores e educadores em geral. Na atualidade, vem crescendo o número de pesquisas
voltadas para o ensino de Ciências, já que, segundo estudos recentes, o aluno formula várias
concepções diferentes das científicas durante o processo de ensino e aprendizagem em sala de
aula. Tais formulações construídas pelos estudantes acabam interferindo de maneira negativa
na aprendizagem dos conhecimentos científicos. Além disso, os professores parecem não
saber como trabalhar os conhecimentos prévios dos alunos ao ensinar os conhecimentos
científicos escolares. Diante dessa realidade, este trabalho analisa as concepções de estudantes
da 8ª série do Ensino Fundamental sobre o efeito estufa, tema que faz parte do currículo das
disciplinas de Ciências e Geografia deste nível de ensino. A pesquisa envolveu 40 alunos e
duas professoras das disciplinas de Ciências e de Geografia do Ensino Fundamental de uma
escola particular de um município da região Noroeste do Estado do Paraná. Para a coleta de
dados, os alunos responderam a um questionário e as professoras foram entrevistadas. Com
base na análise dos dados, seguindo os pressupostos da análise de conteúdo de Bardin,
constatou-se que tanto os alunos como as professoras possuem idéias alternativas a respeito
do efeito estufa, concebendo esse fenômeno como conseqüência da ação antrópica ao poluir e
destruir a natureza. Também ficou manifesto que para eles efeito estufa e aquecimento global
são sinônimos, pois o aumento de câncer de pele e o derretimento das geleiras foram
explicados como conseqüências do efeito estufa. Outras concepções predominantes foram que
os buracos na camada de ozônio geram o efeito estufa e que o nosso planeta é comparado a
uma estufa justamente por causa dos raios ultravioletas que penetram pelos buracos da
camada de ozônio e aumentam a temperatura na Terra. Analisando o livro didático adotado
pela escola quando esses estudantes fizeram a 5ª série na disciplina de Geografia, também se
constataram algumas dessas idéias alternativas. Dessa forma, a análise dos dados realizada
indica que a confusão conceitual manifestada pelos educandos e educadores tem suas raízes
no processo de ensino e aprendizagem e interfere nitidamente na qualidade do ensino de
Ciências.
Palavras-Chave: Ensino de Ciências. Concepções Alternativas. Análise de Conteúdo. Efeito
Estufa.
9
ABSTRACT
To elucidate education and learning always went in general a challenge for all researchers and
educators. Nowadays, the number of researches about sciences is growing, since, according to
recent studies, the student formulates different conceptions from the scientific, during the
teaching-learning process in the classroom. Such formulations built by students, interfering in
a negative way for learning of the scientific knowledge. Besides, the teachers not seem to
know as to approach the previous knowledge of students, when teaching at school scientific
knowledge. Due to that reality, this work analyzes the students of the 8th series of
Fundamental Teaching conceptions on the effect stove, theme that makes part of the
curriculum and the subjects are: Sciences and Geography of this teaching level. The research
involved 40 students and two teachers, that teaching Sciences and Geography of the
Fundamental Teaching of private school of a municipal district of the Northwest area of the
State Paraná. For collection of data, the students answered to a questionnaire and the teachers
were interviewed. With base the analysis of data, it was verified that so much students as the
teachers possess alternative ideas, regarding the effect stove, conceiving that phenomenon as
a consequence of the human action, when polluting and to destroy the nature. It was also
obvious that for them effect stove and global heating are synonymous, because the increase of
skin cancer and the melting of the glaciers were explained as consequences of the effect stove.
Others predominant conceptions were that the holes in the layer of ozone generate the effect
stove and that our planet is compared exactly to a stove, because of the ultraviolet rays that
penetrate for the holes of the layer of ozone and they increase the temperature in the Earth.
Analyzing the didactic book adopted by the school, when those students did to 5th series in the
subject is Geography, some of those alternative ideas were also verified. In that way, the
analysis of the accomplished data indicates that the conceptual confusion manifested by the
students and educators has it is roots in the teaching process and learning and it interferes
sharply in the quality of the teaching of Sciences.
Word-key: Teaching of Science. Alternative conceptions. Analysis of Content. Effect Stove.
10
INTRODUÇÃO
É incontestável que os saberes da Ciência exercem uma influência cada vez
maior no cotidiano das pessoas, exigindo sua compreensão para melhor interpretar os
fenômenos no mundo contemporâneo. As pessoas vivem inseridas em uma sociedade cada
vez mais tecnológica, fruto de uma industrialização e de uma evolução científica que tomou
proporções inimagináveis nos dois últimos séculos.
Drásticas mudanças vêm ocorrendo no modo de vida das pessoas, vindo a
influenciar diretamente o meio ambiente e, consequentemente, a sociedade como um todo.
Um exemplo é a emissão em grande escala dos gases na atmosfera, por meio de processos
industriais, sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, que tem influenciado vários
processos naturais, como o efeito estufa. O efeito estufa é um “fenômeno natural” responsável
pela manutenção da temperatura constante na Terra, contudo, seu aumento tem gerado um
aquecimento global acima do nível esperado que pode causar prejuízos irrecuperáveis para o
clima e para várias regiões do nosso Planeta.
De acordo com Alley (2004), o espectro da mudança climática abrupta tem
estimulado estudos científicos sérios há mais de uma década. Apesar das conseqüências,
potencialmente gigantescas, de uma alteração repentina no clima, a maioria esmagadora das
pesquisas e das políticas públicas na área têm se dedicado a alertar sobre a necessidade de
mudanças graduais como, por exemplo, a redução nas emissões de carbono para desacelerar o
aquecimento global.
Para outro cientista americano, Hansen (2004), a questão dominante no
aquecimento global é a mudança no nível do mar e a rapidez com que os mantos de gelo
podem desintegrar-se. Grande parte da população mundial vive a poucos metros do nível do
mar, com trilhões de dólares de infra-estrutura. A necessidade de preservar as linhas de costa
11
globais estabelece um limite inferior para o aquecimento global de modo a não constituir uma
interferência antropogênica perigosa.
Há, então, uma grande exposição dos cidadãos a notícias sobre esses
fenômenos ambientais, que vão desde um programa jornalístico sério aos mais variados filmes
de ficção. No entanto, poucos são aqueles que conseguem ultrapassar a impressão imediata de
espanto e preocupação. Em geral, não é possível ao cidadão comum - aquele não
especializado nas áreas científicas - entender o que realmente ocorre com o clima e o meio
ambiente. Faltam-lhe conhecimentos científicos, capazes de permitir leituras sobre
acontecimentos e fenômenos ambientais que estão sendo divulgados pelos meios de
comunicação.
Durante a minha trajetória profissional e pessoal na área da educação,
especificamente com o ensino de Ciências, observei que vários conhecimentos científicos
transmitidos pela mídia não eram compreendidos corretamente pelos alunos do Ensino
Fundamental. Como professora da disciplina de Ciências, percebi, após alguns anos, que os
alunos da 8ª série tinham elaborado, ao longo dos três últimos anos de escolarização (5ª, 6ª e
7ª séries), várias concepções diferentes das científicas sobre o fenômeno do efeito estufa.
Como esse assunto é trabalhado tanto pela disciplina de Ciências como pela de Geografia,
fiquei curiosa em entender como tantas concepções alternativas (o significado de
“alternativas”, na pesquisa, é utilizado como diferente do conceito tido como consenso atual
da Ciência) foram formuladas por esses alunos.
Outro acontecimento que favoreceu a escolha deste tema ocorreu durante uma
aula de Ciências em uma turma da 8ª série quando se iniciou uma discussão sobre o tratado de
Kyoto. Durante a interação discursiva, percebeu-se que os alunos confundiam a destruição da
camada de ozônio e o aquecimento global com o fenômeno do efeito estufa, demonstrando
uma verdadeira confusão de idéias, muitas informações equivocadas e a construção de várias
12
concepções alternativas. Os alunos mencionavam o efeito estufa como sendo essencialmente
maléfico ao nosso Planeta.
Vale notar que, dentro da escola e também, fora dela os alunos recebem
estímulos de diversos setores da sociedade, que acabam por mantê-los em contato com os
assuntos discutidos pelo campo da ciência. Filmes, internet, revistas, programas de televisão,
entre outros aproximam os estudantes do mundo da ciência e da tecnologia sem, no entanto,
fornecer princípios e bases conceituais para compreendê-lo. Nesse processo, é comum que se
criem idéias alternativas sobre fenômenos e o fazer científico, sendo muitas vezes
inadequadas cientificamente, as quais os alunos levarão por toda a vida.
Tais idéias alternativas, geralmente, não coincidem com o conhecimento
produzido pela ciência. Também são tenazes e não se modificam facilmente
mediante o ensino, tendo sido identificadas não apenas em crianças e
adolescentes, mas também em adultos, mesmo universitários. (VIENNOT,
apud FERRAZ; TERRAZZAN, 2002, p.42).
Os autores Giordan e Vecchi (1996) comentam que o fato de os alunos
possuírem idéias alternativas coerentes com seus conhecimentos e necessidades diárias parece
ser justamente a razão maior que faz com que essas idéias alternativas dificilmente sejam
abandonadas. Se as idéias prévias do aluno, ainda que cientificamente inaceitáveis, têm se
mostrado úteis na vida cotidiana, no sentido de satisfazer necessidades de explicação de fatos
ou de permitir previsões que auxiliem a escolha de modos de ação frente à realidade, estando,
por outro lado, firmemente assentadas na experiência pessoal, então, é difícil que as práticas
escolares “tradicionais” consigam transformá-las.
Muitos pesquisadores, como Pozo (1998) e Cachapuz (2000), explicam o
surgimento dessas concepções alternativas pela questão da subjetividade, isto é, pela
interpretação pessoal de cada indivíduo. Justificam que tudo depende de como o aprendiz
interpreta uma frase dita pelo professor ou de como ele compreende o que está escrito no
13
livro. Outros, como Moura e Moretti (2000), atribuem ao meio social
e cultural o
desenvolvimento conceitual dos estudantes.
Trabalhos recentes têm discutido e comprovado a construção de concepções
alternativas por parte de estudantes e professores nas diferentes áreas da Ciência. Oliveira
(2002), em seu estudo, constata concepções alternativas sobre fibra muscular em alunos do
Ensino Superior. Lacanallo (2005) verifica que os professores em formação inicial e
continuada não têm clareza sobre o conceito de ensino e de aprendizagem de Ciências no
Ensino Fundamental. Schroeder (2005) defende em seu trabalho a importância das
concepções alternativas dos alunos servirem de referencial para o planejamento de aulas de
Ciências. Silva (2005) consta concepções alternativas em alunos do 1º ano do curso de
Química em relação aos estados de agregação da matéria, solubilidade, a expansão térmica do
ar. Haddad (2005) detecta concepções alternativas, em estudantes, sobre hidrólise salina. Peter
(2005) apresenta as concepções alternativas que crianças de uma segunda série do Ensino
Fundamental possuem sobre o planeta Terra.
Um outro aspecto preocupante é que pesquisas atuais vêm demonstrando um
grande índice de analfabetismo científico. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(PISA), exame de caráter internacional realizado em 2000 e que avalia o desempenho na área
de Ciências, publicou que o Brasil obteve classificação inferior a quarenta países no requisito
sobre o desempenho dos estudantes de Educação Básica na área de Ciências. (LESSA, 2005,
p. 1)
Segundo os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB), publicado pelo Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (2002), os alunos vêm
apresentando defasagem cada vez maior entre a série em que se encontram e os
conhecimentos que dominam. A situação do Ensino Médio não se mostrou diferente desses
14
dados, pois, de acordo com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) realizado em 2003, o
rendimento dos alunos é muito baixo.
O desempenho insatisfatório dos alunos pode ser explicado, entre outros
aspectos, pela ineficiência das metodologias de ensino de Ciências que vêm sendo utilizadas
pelas escolas (WEISSMANN, 1998; KRASILCHIK, 2004). Segundo Terrazzan (1992, p.
608):
Os currículos das escolas brasileiras têm permanecido tradicionais e
inalterados em sua estrutura básica. Na grande maioria das vezes, não
passam de meras listas de conteúdos e os planejamentos correspondentes se
constituem em uma cópia de índice dos livros didáticos mais adotados. Estes
currículos costumam vir prontos para o consumo dos professores, aos quais
resta apenas a função de executá-los “acriticamente” em sala de aula.
A importância de uma proposta curricular capaz de propiciar uma educação
geral, fornecendo condições para que os alunos exerçam plenamente sua cidadania e, ao
mesmo tempo, os capacite a entender as temáticas atuais sobre as Ciências Naturais é um
grande desafio a ser enfrentado pelos professores em conjunto com a comunidade de
pesquisadores em ensino de Ciências. A necessidade de uma revisão curricular e
metodológica, que passe a trabalhar com as idéias alternativas dos alunos, já são requeridas no
ensino de Ciências há várias décadas por muitos pesquisadores (GIORDAN; VECCHI, 1996).
De acordo com Levy e Lima (2003), “conjuntamente com as questões
pedagógicas, devemos considerar, ainda, a intrincada relação entre a ciência, a tecnologia e a
sociedade”, uma vez que a expansão do conhecimento científico e do desenvolvimento
tecnológico descreve a sociedade atual. As autoras mencionam que esse tema já vem sendo
discutido pelo movimento ciência, tecnologia e sociedade (CTS), que questiona o
distanciamento entre o desenvolvimento científico, tecnológico e o bem-estar social, o qual,
ao estabelecer claramente relações entre ciência, tecnologia e sociedade, deve ser uma das
preocupações do ensino de Ciências atual. A problemática tecnológica contemporânea está
15
marcada pela falta de reflexões éticas sobre suas finalidades. E os educadores devem refletir
sobre os valores que estão definindo, as prioridades e os impactos tecnológicos no mundo
atual.
Por fim, é preciso ampliar as discussões dos temas atuais referentes ao meio
ambiente abordados no ensino de Ciências bem como o seu verdadeiro significado para o
aluno, lembrando que se faz necessário transpor as idéias alternativas para as científicas.
Como afirmam Rainho e Feital (2004), “se a escola pretende estar em consonância com as
demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de questões que interferem na vida diária
dos alunos, contribuindo para a formação do cidadão participativo e consciente de seu papel
na sociedade”.
A idéia central desse trabalho se baseia na análise das concepções alternativas
dos alunos do Ensino Fundamental sobre o efeito estufa. O objetivo é entender as possíveis
causas do surgimento dessas idéias alternativas, verificando se os professores e o livro
didático também contribuíram para a sua elaboração.
16
1 UM OLHAR SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENSINO DE
CIÊNCIAS NO BRASIL
O ensino de Ciências no Brasil não se manteve neutro e muito menos
dissociado dos acontecimentos que ocorreram paralelamente à sua história, ao contrário, foi
alvo de influência política, econômica, cultural e social. Por isso, para compreender melhor a
sua evolução, é fundamental identificar os principais fatos históricos nacionais e
internacionais que aconteceram no desenrolar do desenvolvimento do país. É importante,
também, ter consciência de que o ensino de Ciências, fazendo parte das políticas
educacionais, foi muito influenciado pelas tendências pedagógicas e pelos movimentos
educacionais. Sendo assim, é relevante ressaltar que a história do ensino de Ciências não é
algo linear, com fatos estáticos e descontextualizados, e que a descrença ou a crise de uma
tendência pedagógica não significa que esta foi abandonada por completo do panorama
pedagógico.
Impossível pensar a educação fora do espectro da contradição que põe lado a
lado a mudança e a permanência, que impõe novas formas de trabalho no
interior da mesma relação de produção, que aciona velhas atitudes apenas
maquiadas pelo velho dogma do mercado (NAGEL, 2001, p. 99).
As primeiras referências ao ensino no Brasil estão ligadas aos jesuítas, que
vieram para a colônia portuguesa no ano de 1549 com o interesse de catequizar os índios
mediante uma imposição cultural.
Paiva (1982, p. 102) escreve que “o instrumento de
ajustamento cultural usado pela colonização foi, sobretudo, a ação dos jesuítas”. Eles
iniciaram com a base, isto é, com a alfabetização dos filhos dos índios e portugueses. De
acordo com Varela (2002, apud CEZAR, 2005), o modelo seguido pelos jesuítas tornou-se
conhecido como Pedagogia Tradicional. Os jesuítas foram os responsáveis pela organização
17
dos conteúdos e procedimentos de ensino da escola moderna; graças a eles, os conteúdos
passaram a ser organizados por grau de dificuldade do simples para o mais complexo –
modelo que é seguido até hoje. Cezar (2005) comenta que para essa pedagogia, as crianças
nasciam com índole má e, por isso, as bases de sua aprendizagem era a de seguir modelos de
homens considerados “bons”. Depois da expulsão dos jesuítas do território brasileiro em 1759
foram criadas as aulas régias (que não pertenciam a nenhuma escola) para disciplinas
isoladas, visando, em particular a alfabetização e as operações matemáticas.
Somente após uma década de indecisões foram fundadas nas maiores
cidades as primeiras “Escolas e Aulas Régias”. Trata-se de escolas isoladas
de latim, grego e retórica. Mas eram insignificantes em número, em
qualidade e em resultados (BERGER, 1976, p. 166).
Com a Independência, ocorrida em 1822, surge a preocupação do governo em
criar escolas superiores e de organizar o acesso aos seus cursos, porém a educação, nesse
período, privilegiava exclusivamente a classe rica, sendo poucas as pessoas que tinham acesso
a esse tipo de escolarização.
Em 1837, com a criação do Colégio Pedro II, ocorre a
organização do ensino secundário regular. Este nível de ensino seguiu o modelo seriado de
alta qualidade, contemplando, em seus currículos enciclopédicos, as disciplinas científicas, os
quais possibilitavam o ingresso em qualquer curso superior, porém por meio de exames
seletivos parcelados. Berger (1976) comenta que, durante esse período, o ensino no Brasil
reata a tradição colonial com uma excessiva prepotência clássica, literária, teórica e
intelectualista. A educação está voltada mais para a elite do que para a formação básica da
população em geral e o ensino de Ciências fica em prejuízo.
Com a implantação do regime republicano, a educação entra em crise na
década de 1920 e os educadores começaram a reivindicar um sistema de ensino nacional
chamado Lei de Diretrizes e Base (LDB). O ensino secundário foi reformado pelo Ministro da
18
Educação Francisco Campos em 1931 e dividido em duas partes: ensino fundamental, com
duração de cinco anos e comum a todos, e o complementar, de dois anos, para a preparação ao
ensino superior (BRETONES, 2005).
A década de 1920 foi marcada pelo ensino tradicional, na qual o professor era
o centro do processo, a autoridade inquestionável na sala de aula. O ensino das disciplinas
acontecia por transmissão e recepção passiva, sendo tarefa dos alunos decorar para as provas
o que era transmitido pelo professor. A preocupação era com a quantidade de conteúdos
trabalhados, e estes eram centrados nos conhecimentos científicos produzidos por gerações
passadas. Em relação a este aspecto, Melo (2005, p. 2) acrescenta que “a prática comum no
ensino de Ciências, no Brasil, parecia estar alicerçada em pressupostos que levavam em
consideração aspectos puramente acadêmicos, ou seja, bem distantes da realidade que cercava
os alunos”.
Cachapuz (2000) classifica esse período da história da educação em Ciências
de “Ensino por Transmissão”, no qual a finalidade do ensino era a aquisição de conceitos com
ênfase na instrução. O aluno era considerado uma “tábula rasa”, termo usado para explicar
que ao chegar à escola o aluno não sabia nada a respeito do que iria aprender.
O
conhecimento científico era visto como mecânico, acumulativo, absoluto e exterior aos
alunos. O papel do professor era o de transmitir os conteúdos aos alunos e estes deveriam
armazená-los na sua mente. Dessa maneira, o ensino estava centrado nos conteúdos, tendo o
seu auge nas exposições orais feitas pelo mestre, ou seja, quanto mais eloqüente fosse o
docente melhor exerceria sua função. Essa pedagogia, além de ser repetitiva e de caráter
memorístico, não atendia às diferenças dos alunos, pois o manual escolar adotado
determinava as ações em sala que culminavam com uma avaliação normativa e classificatória.
Berger (1976, p.170) comenta que, no período de 1889 a 1930, o sistema
educacional brasileiro nada mais representou do que uma seqüência de tentativas frustradoras
19
de experiências reformistas, já que foram fundadas algumas escolas superiores, construíram
muitas escolas primárias e secundárias, mas nenhuma das reformas induzidas trouxe os frutos
esperados; nenhuma idéia pedagógica se desenvolveu adequadamente.
Após a Primeira Guerra Mundial, Berger (1976, p. 171) explica que
desencadeou-se entre os intelectuais uma discussão sobre a “escola ativa”, idéias pedagógicas
defendidas por Dewey. Muitos dos participantes dessa discussão haviam estudado nos EUA e
tentavam transferir os conhecimentos lá adquiridos para aplicá-los à realidade brasileira. Da
discussão, resultou um grupo que iniciou uma campanha pública em favor da “Escola Nova”,
planejando e reformando, em nível estadual e municipal, o setor de escolas primárias e
normais. “Inicia-se uma fase que, pela primeira vez na história brasileira, traz consigo uma
abertura das chances educacionais para camadas populacionais mais amplas”.
No mesmo período, década de 1930, Anísio Teixeira começava uma forte
campanha contra a comercialização do ensino, contra as escolas confessionais e contra as
universidades gregas para terminar com o monopólio educacional. Nessa época, com a
expansão das idéias da Escola Nova, que considerava o aluno como o centro do processo de
ensino-aprendizagem e o professor como mediador desses conhecimentos, há uma
preocupação não mais com a quantidade de conteúdos, mas com a qualidade, ou seja, os
processos de se obter conhecimentos estão articulados com o processo de desenvolvimento da
Ciência. Defende-se, ainda, de acordo com a Escola Nova, que o aluno para aprender
precisava de aulas experimentais e muitos materiais audiovisuais.
Para a Pedagogia Nova, o processo de ensino-aprendizagem estava centrado no
conhecimento científico que priorizava o desenvolvimento do método científico: observação,
levantamento de hipóteses, experimentos e conclusão. Os interesses do aluno eram
despertados quando ele se deparava com as dificuldades de explicação do próprio método.
20
Cachapuz (2000) retrata as vertentes epistemológicas desse período histórico
como sendo um conhecimento derivado exclusivamente da experiência, em que a construção
em ciência segue um processo indutivo, pois o conhecimento científico é visto como
acumulativo, linear, invariável e universal e que, para ser atingido, bastava seguir o método
científico. Essa perspectiva foi denominada de “Ensino por Descoberta”, porque se acreditava
que os alunos aprendiam os conteúdos científicos orientando-se pela observação ingênua dos
fenômenos, ou seja, indutivamente. Ainda se enfatizava a instrução, só que pautada em
processos científicos, e o professor assumia um papel de organizador das situações de
aprendizagem, direcionando as descobertas que os alunos deveriam fazer. O mestre
funcionava como facilitador da aprendizagem e a verdade não estava centrada somente em
seu saber. As atividades experimentais eram do tipo indutivo e o que acabava acontecendo era
uma deficiente integração dos saberes adquiridos pelos alunos em um todo coerente que
finalizava com a avaliação dos processos científicos.
Ainda de acordo com Cachapuz (2000), o “Ensino por Descoberta” cometeu
três erros cruciais: primeiro, por considerar ciência como sinônimo de indutivismo; segundo,
a ciência passou a ser ensinada com base em métodos e manuais, e, por último, predominava
uma visão ingênua ao considerar que, para o aluno se tornar um cientista, bastava seguir o
método científico.
Bretones (2005) explica que, caracterizado como “Governo Novo” de Getúlio
Vargas, o ensino primário e secundário foi reestruturado pelo Ministro Gustavo Capanema em
1942. Nessa reforma, as disciplinas de Astronomia e Cosmografia deixaram de ser específicas
e seus conteúdos passaram a fazer parte das disciplinas de Ciências, Física e Geografia.
De acordo com Villani, Pacca e Freitas (2002) durante a década de 1950, a
escola secundária no Brasil era considerada um instrumento de ascensão social, visto que,
para ingressar nela, o aluno precisava fazer um exame que funcionava praticamente como é o
21
atual vestibular. O exame ocorria entre a 4ª série primária e a 1ª série ginasial. A
industrialização no Brasil apontava para um futuro mais moderno e favorecia o início da
abertura e expansão do ensino secundário e as classes populares estavam se organizando
melhor e focalizando suas reivindicações para criação de novas vagas. Devido a esses
acontecimentos, o número de matrículas no ensino secundário dobrou entre os anos de 1950 a
1960.
Krasilchik (2000) explica que o crescente interesse pelo curso secundário foi
devido ao desenvolvimento de projetos internacionais relacionados ao ensino de Ciências,
entre 1950 e 1985, na época da Guerra Fria, caracterizada pelo grande desenvolvimento
industrial, científico e tecnológico. Neste período histórico, buscando conquistar a vitória na
corrida espacial contra o bloco soviético, os norte-americanos assumiram a liderança do
movimento pela reforma do ensino de Ciências.
O lançamento do primeiro satélite artificial chamado Sputnik em 1957, pela
União Soviética, foi um evento importante para o campo educacional. Os Estados Unidos
interpretaram esse avanço como ocasionado por uma política educacional fortemente
focalizada no ensino das Ciências.
Villani, Pacca e Freitas (2002) esclarecem que com o final da Segunda Guerra
Mundial, uma verdadeira guerra tecnológica instalou-se no mundo, inclusive no Brasil, que
também promoveu mudanças nos sistemas educativos. Em decorrência desse movimento,
projetos curriculares passaram a nortear-se pelos princípios metodológicos da Escola Nova. A
meta do progresso tecnológico garantiu o apoio explícito de governos e grandes fundações
privadas de várias partes do mundo ao ensino de Ciências. Nos Estados Unidos, isso
aconteceu de forma muito rígida, porque eles queriam garantir a hegemonia ocidental e o
progresso tecnológico.
22
Para dar conta do progresso tecnológico, buscavam orientações na escola, ou
seja, a escola é que deveria dar conta de preparar os cientistas. Neste cenário, como relatam
Villani, Pacca e Freitas (2002), para viabilizar a proposta de renovação foram criadas várias
instituições, entre elas o Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura (IBECC). Este
instituto, sob a liderança de Isaias Raw, já no inicio da década de 1950, congregou um grupo
de professores universitários com a tarefa específica de promover o ensino das Ciências,
sobretudo no ensino fundamental, ou seja, implementar a iniciação científica das crianças.
Com igual importância, esses grupos independentes criaram a Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC), uma organização que visava promover
as Ciências no ensino secundário. A organização também ficou incumbida da tarefa de
preparar manuais para os professores.
Devido a esses acontecimentos, propagação das idéias da Escola Nova,
situação Pós-Guerra e o processo de industrialização, a educação em Ciências no Brasil
passou a ver o aluno como um cientista em miniatura que precisava aprender os
conhecimentos acadêmicos para potencializar os projetos instituídos no país. Foi um contexto
propício à expansão de laboratórios e de aulas práticas.
È importante ressaltar que, na década de 1950, os debates exigindo a LDB
foram se intensificando, já que era uma solicitação de professores desde 1822. Assim, em
1961, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/ LDB 4024, que deixava nítida
a preocupação com a formação científica dos alunos. Ela explicitava que a educação não seria
um privilégio de poucos, mas precisava ser um direito de todos. A primeira LDB
regulamentava que os primeiros quatro anos eram obrigatórios e a complementaridade de
mais dois anos era facultativa. Torna-se obrigatório o ensino de Ciências em todas as séries do
curso ginasial com o objetivo de possibilitar aos alunos a vivência do método científico.
Ocorreu um aumento na carga horária das disciplinas científicas Física, Biologia e Química.
23
Krasilchik (2004, p. 14) comenta três fatores que modificaram o ensino na
década de 1960:
Na década de 1960, a situação se modificou por ação de três grupos de
fatores: o progresso da biologia, a constatação internacional e nacional da
importância do ensino de Ciências como fator de desenvolvimento, e a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1961, que
descentralizou as decisões curriculares, até então responsabilidade da
administração federal.
Embora os projetos educacionais desenvolvidos no Brasil e nos Estados
Unidos fossem diferentes, tinham algumas semelhanças, pois eram liderados por cientistas
preocupados com a formação dos jovens que entrariam nas universidades. Krasilchick (2004)
relata que esses jovens eram considerados os futuros cientistas, daí a necessidade de um
ensino mais atualizado e mais eficiente para tal fim. Além disso, em 1963, foi criado o Centro
de Ciências com a finalidade de treinar os professores de Ciências de modo a possibilitar o
conhecimento das inovações, atualizando-os, mas, só em 1965, o movimento realmente se
difundiu para outros estados do país, não ficando somente em São Paulo.
Entre os anos de 1950 e 1960, o ensino de Ciências no Brasil tinha como
objetivo maior a transmissão de informação, memorização de conceitos, observação de
fenômenos como algo descontextualizado. Berger (1976) afirma que o movimento da Escola
Nova no Brasil não conseguiu cumprir com os seus objetivos, não só porque pretendia uma
reforma educacional radical como, também, devido à ditadura. Saviani (2003) complementa
ao escrever que a implantação da Pedagogia Nova trouxe problemas ao sistema educacional
brasileiro por conta do desenvolvimento do seu método de ensino. E, por causa disso, acabou
sendo utilizada no ensino de elite, deixando a maioria da população sem acesso a esse tipo de
educação.
24
Após o golpe militar de 1964, época de muita opressão em todos os setores,
inclusive na educação, houve a participação dos jovens filiados à União Nacional dos
Estudantes (UNE), que saíram às ruas protestando e reivindicando seus direitos. Muitas
mudanças significativas começaram a ocorrer para estruturar e regulamentar um melhor
funcionamento da educação nacional. Muitas das mudanças aconteceram devido ao
descontentamento dos professores com as idéias escolanovistas e por causa do novo regime
político de ditadura que queria o controle e a hegemonia ideológica da nação (BRETONES,
2005).
Durante o período da ditadura militar e da crise energética (crise do petróleo)
que se instalou no mundo, entrou em vigor a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 5692/ 1971. Esta promoveu muitas transformações no ensino elementar e médio ao
assumir um caráter tecnicista, que tinha como objetivo o ensino profissionalizante e a
formação cívica dos educandos. Passou a enfatizar o ensino de Ciências Naturais e de
Matemática e reduziu as aulas das disciplinas de Ciências Humanas como Sociologia,
Psicologia e Filosofia, que foram retiradas do currículo por serem consideradas uma ameaça
ao regime político do momento.
De acordo com Souza, Brito e Bozzini (2004, p. 03) “o currículo começou a
apresentar disciplinas profissionalizantes, determinando a fragmentação e diminuindo as
disciplinas científicas”. Os defensores da industrialização conseguiram impor as suas idéias e
os seus interesses, passando a predominar a uma outra tendência pedagógica chamada de
Pedagogia Tecnicista, com a finalidade de solucionar o problema da formação de mão-deobra industrial e urbana. Essa pedagogia teve como principal objetivo a reorganização do
processo educativo com o estilo mecanizado e cristalizado oferecido pelos livros didáticos.
Ocorreu, então, a universalização do uso do livro didático nas escolas que, de certa forma,
substitui-a a figura do professor na apresentação dos conteúdos escolares. Os professores
25
passaram a ser avaliados pela quantidade de conteúdos transmitidos aos alunos e aprender
passou a significar saber fazer sem que, necessariamente, o aluno precisasse compreender os
conceitos e procedimentos envolvidos nas tarefas. (SAVIANI, 2003, p. 13)
Krasilchik (2004, p. 16) complementa que:
Na década de 1970, o projeto nacional da ditadura militar que estava no
poder era o de modernizar e desenvolver o país. O ensino de ciências era
considerado importante componente para a preparação de um corpo
qualificado de trabalhadores, conforme foi estipulado na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, promulgada em 1971. Esse período foi caracterizado por
uma série de fatores contraditórios, pois ao mesmo tempo em que o texto
legal valorizava as disciplinas científicas, na prática elas eram
profundamente prejudicadas pelo atravancamento do currículo por
disciplinas que pretendiam ligar o aluno ao mundo do trabalho [...].
Krasilchik (1987) acrescenta que o currículo foi atravancado por disciplinas
chamadas instrumentais ou profissionalizantes, as quais ocasionaram a fragmentação e o
esfacelamento das disciplinas científicas sem que houvesse um correspondente benefício na
formação profissional.
A formação dos professores foi comprometida em virtude da fragmentação do
currículo escolar e devido à crescente demanda de ensino para todos voltado às massas
populares, repercutindo em profissionais desqualificados que começaram a trabalhar nas
escolas. Com isso, os manuais didáticos foram, aos poucos, tornando-se o centro do processo
de ensino-aprendizagem em todas as disciplinas.
Villani, Pacca e Freitas (2002) explicam que os Grandes Projetos Institucionais
(Geração do ensino de Física, Química, Biologia e Matemática para o ensino médio) da época
eram
caracterizados
por
uma
visão
empirista
do
conhecimento
científico
que,
progressivamente, deixava mais clara a distinção entre a minoria que conseguia se apropriar
desse espírito e a maioria que desistia dessa mudança. Somente no final da década é que se
26
observaram os primeiros sinais de recuperação da importância e autoridade do professor na
condução do processo de ensino.
As universidades não aceitavam o regime de ditadura, o que acabou gerando
uma repressão violenta. Muitas lutas foram travadas entre as universidades e o governo
ditador. A luta contra a Lei 5692 e suas conseqüências se iniciou com a exigência de um
ensino mais democrático. Então, o governo resolveu instituir os Ginásios Polivalentes, que
juntavam a formação geral e técnica, obrigatória até a 8ª série. Essa mudança fez com que as
matrículas quase triplicassem no início da década seguinte e exigisse um número maior de
profissionais. Para suprir essa demanda de professores, o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) aprovou a licenciatura de curta duração e ocorreu à proliferação desses cursos em
faculdades públicas e particulares, deteriorando ainda mais a qualidade do ensino, inclusive
do ensino de Ciências.
No final da década de 1970, com o surgimento de muitas discussões sobre o
processo de industrialização e suas conseqüências para o meio ambiente, os livros didáticos
de Ciências e Biologia começaram a acrescentar temas como lixo, poluição e desmatamento.
Mais tarde efeito estufa, aquecimento global, camada de ozônio e outros são abordados pelos
livros didáticos com o intuito de viabilizar essas discussões em sala de aula.
O desenvolvimento do conhecimento cientifico e a construção de uma
ciência internacional trouxeram à tona a emergente globalidade dos
problemas ambientais. O avanço da ecologia e de ciências correlatas
apresentavam-se insuficientes para orientar a tomada de decisões sobre os
problemas ambientais que eclodem nesta época. (VILLANI; PACCA;
FREITAS, 2002 p. 5)
Ainda no final da década, começa a aparecer, na literatura de Ciências, um
grande número de estudos preocupados com a relação entre as idéias dos estudantes e os
conceitos científicos aprendidos na escola. Assim, os resultados dessas pesquisas
27
contribuíram para fortalecer o que se denominou de uma orientação construtivista do ensino e
da aprendizagem, que, até recentemente, parecia dominar a área de ensino de Ciências.
Apesar da diversidade de abordagens desenvolvidas sobe o rótulo do construtivismo, é
possível identificar ao menos duas características principais que parecem ser compartilhadas:
a primeira é que a aprendizagem se dá pelo ativo envolvimento do aprendiz na construção do
conhecimento e a outra é que as idéias prévias dos estudantes desempenham um papel
importante no processo da aprendizagem. (MORTIMER, 2000)
Paralelamente, surge na área de educação em Ciências, primeiro nos EUA e
mais tarde no Brasil, um novo programa de pesquisa denominado de Movimento das
Concepções Alternativas (MCA). Revelou, mediante pesquisas realizadas por essa
perspectiva, que as concepções espontâneas dos estudantes são fortemente influenciadas pelo
contexto social e cultural em que estes alunos estão inseridos e permanecem resistentes a
mudanças mesmo após o processo de ensino-aprendizagem.
Villani, Pacca e Freitas (2002) complementam que o MCA teve uma influência
significativa na tentativa de resgate do professor, sobretudo de Ciências. O trabalho do
professor foi privilegiado, pois ele teria como tarefa de maior prioridade investigar os
conhecimentos prévios dos alunos para organizar estratégias de ensino capazes de se
constituírem como ponte entre a estrutura cognitiva prévia do aluno e o conhecimento a ser
aprendido.
Neste mesmo período, no Centro de Epistemologia Genética na Suíça,
Piaget e colaboradores aprofundavam sua teoria da equilibração, explicando
os mecanismos de assimilação e acomodação de maneira a tornar mais
plausíveis suas idéias construtivistas na relação sujeito-conhecimento. Estas
idéias teriam um papel importante na década seguinte, interagindo
fortemente com o modelo de Mudança Conceitual e todo o movimento
construtivista. (VILLANI; PACCA; FREITAS, 2002, p. 6).
28
De acordo com os esses autores, o paradigma do construtivismo começa a
suplantar o do behaviorismo, especificando novas demandas sobre a formação de professores.
No caso das Ciências, apareceram pressões para ampliar o conteúdo ensinado, modificar a
metodologia de ensino, introduzir uma nova concepção da profissão e expandir a demanda
para o ensino médio.
A década de 1980, segundo a autora Krasilchik (1987), foi um período de
recessão econômica, queda do regime de ditadura e o início de um processo de redemocratização. No Brasil, o processo de re-democratização culminou com a mudança da
Constituição em 1988 e a primeira eleição livre para presidente da República em 1989. O
clima econômico era de inflação crescente e falência dos planos em vigor, gerando
descontentamento social, caracterizado por um intenso movimento de participação popular.
Sarney (apud NOGUEIRA, FIGUEIREDO E DEITOS, 2001) descreve que era
paradoxal a situação brasileira nesse momento, porque, de um lado, a economia parecia
próxima à maturidade industrial e, de outro, revelava uma estrutura social injusta que
submetia uma grande parcela da população a condições de vida lastimável, que só eram
compatíveis às nações mais pobres do mundo. Em 1984, cerca de 38% das famílias brasileiras
recebiam menos de dois salários mínimos, encontrando-se, portanto, na faixa de pobreza
absoluta.
Krasilchik (2000) explica que houve um início da preocupação com as
implicações sociais dos processos de desenvolvimento científico e tecnológico e com a
educação ambiental além de ter havido um investimento maior na formação em serviço do
professor das áreas de Ciências.
Souza, Britto e Bozzini (2004) destacam que a idéia de que o conhecimento
científico era neutro acabava sendo fortemente abalada. O ensino de Ciências ganhava, então,
29
mais espaço de discussão, envolvendo questões relativas à ciência, tecnologia e sociedade
(CTS), educação para a saúde e iniciava-se a educação ambiental.
Em relação às características metodológicas utilizadas na década de 1980, foi
atribuída uma ênfase especial ao desenvolvimento de materiais que levavam ao exercício da
tomada de decisões, como jogos e o uso de computadores no ensino. Essas características,
segundo Villani, Pacca e Freitas (2002), configuravam-se como influências do movimento
CTS, que privilegiou o direito de uma alfabetização científica dos educandos, que não podiam
ignorar o papel fundamental da ciência e da tecnologia na sociedade contemporânea.
Conforme Mortimer (2005), o movimento CTS surgiu em contraposição ao
pressuposto cientificista que valorizava a ciência por si mesma, depositando uma crença cega
em seus resultados positivos. A crítica a tais concepções levou a uma nova filosofia e
sociologia da ciência, que passou a reconhecer as limitações, responsabilidades e
cumplicidades dos cientistas, enfocando a ciência e a tecnologia como processos sociais.
Trabalhar as Ciências com enfoque em CTS exige do professor uma mudança de atitude, no
sentido de incorporar às suas aulas discussões sobre temas sociais, envolvendo aspectos
ambientais, culturais, econômicos, políticos e éticos relacionados à ciência e à tecnologia,
com atividades de engajamento social dos alunos por meio de ações concretas e discussão dos
valores envolvidos.
Neste período, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) divulgou uma proposta de “ciência para todos”, discutindo a
“acriticidade” dos alunos com relação aos conteúdos trabalhados em sala de aula.
Mortimer (2005) comenta que, nesta década de 1980, paralelo ao movimento
das Concepções Alternativas, emerge o modelo de Mudança Conceitual (MMC) que
praticamente se tornou sinônimo de ensino de Ciências. Esse modelo era fundamentado na
hipótese de que uma mudança de idéia exigiria que o aprendiz experimentasse alguma
30
insatisfação em relação às idéias alternativas correntes e que as novas concepções fossem
realmente científicas.
Cachapuz (2000) acrescenta, sobre esse período da história da educação em
Ciências, que o “Ensino por Mudança Conceitual” deu ênfase na instrução. O conhecimento
científico passou a ser encarado como um percurso descontínuo e incerto, dinâmico, dialético
e pouco estruturado, que acolhia o pluralismo metodológico. Como o erro era interpretado
como um fator de progresso no conhecimento científico do aluno, o papel do professor era o
de diagnosticar as concepções alternativas dos alunos e, com base nelas, organizar estratégias
de conflito cognitivo para promover aprendizagens adequadas. “São, pois, os alunos que
constroem e (re)constroem os seus conhecimentos, que transformam a informação em
conhecimento e que, de forma progressiva, desenvolvem instrumentos para pensar melhor”
(CACHAPUZ, 2000, p. 19).
Durante 1990, a comunidade dos pesquisadores da área de ensino de Ciências
tentou, de muitas formas, aperfeiçoar esse modelo (EMC) e utilizá-lo na formação de
professores. A comunidade acadêmica também divulgou o movimento CTS, que passou a
influenciar as diretrizes curriculares na tentativa de formar pessoas capacitadas em tomar
decisões conscientes da influência da ciência no bem comum de uma sociedade.
A derrubada do muro de Berlim, no final de 1980, marcou o fim da guerra fria
e impulsionou fortemente o processo de globalização, junto com o desenvolvimento acelerado
dos meios de comunicação. Durante a década de 1990, várias estratégias modernizantes no
campo político, econômico e administrativo foram utilizadas como remédio para enfrentar a
crise dos anos 80, que fora uma conseqüência do funcionamento irregular do Estado. A
implementação das reformas reduziu a atuação do Estado por intermédio da: privatização,
publicização e terceirização. Os projetos das décadas de 1980 e 1990 incluíam mudanças na
31
relação do Estado com as políticas sociais, inclusive no setor educacional, pela via da acepção
neoliberal de “Estado Mínimo” (NOGUEIRA; FIGUEIREDO; DEITOS, 2001).
Durante esse mesmo período, os objetivos expressos nos documentos oficiais
LDB-9394/96, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), Plano Decenal de Educação para
Todos, Projetos da UNESCO foram os de garantir uma educação de qualidade e acesso a
todos. Por conta disso, Krasilchik (2004) explica que o ensino de Ciências se fortaleceu ainda
mais na grade curricular de todos os níveis de ensino, já que se acreditava que não era
possível formar um cidadão crítico sem o domínio do saber científico. Considerava-se que,
por meio deste saber, os homens aumentariam sua capacidade de participação e emancipação
social.
Os PCNs foram criados pelo MEC em 1998, com a justificativa de que o
currículo tradicional estava defasado por não tratar de assuntos como Ecologia, Direitos do
Cidadão, Educação Sexual, Ética na política e na vida pública, racismo e tantos outros que
estavam sendo muito comentados pelos meios de comunicação do momento. Também
ressaltavam a necessidade de uma educação que preparasse para o mercado de trabalho, o
qual se tornara muito competitivo (BRASIL, 2001, p. 23).
Os PCNs para o Ensino Fundamental na área de Ciências deixam claro que a
meta do professor deve ser mostrar a Ciência como uma elaboração humana, que auxilie o
aluno na compreensão do mundo. É necessário que o educador favoreça a postura reflexiva e
investigativa e colabore para a construção da autonomia do pensamento e da ação. “O ensino
de Ciências Naturais não pode ser voltado para um futuro distante. Conhecer Ciências é
ampliar a possibilidade de participação social e desenvolvimento mental e, assim, capacitar o
aluno a exercer desde já seu papel de cidadão no mundo” (BRASL, 2001, p.24)
Segundo Krasilshick (2004), a divulgação dos PCNs evidencia um esforço para
se implantar um currículo nacional, embora houvesse ressalvas, informando que não era um
32
modelo curricular homogêneo e impositivo. No âmbito do ensino de Ciências, pretendia-se
enfatizar temas como saúde, ética, pluralidade cultural e meio ambiente, que são aspectos do
cotidiano dos alunos. Estes temas foram denominados de temas transversais, cuja proposta
enfatizava que os mesmos deviam ser trabalhados em todas as disciplinas e de acordo com a
realidade de cada escola.
Na mesma época, o modelo do “Professor Reflexivo e Pesquisador” adquiriu
destaques mais amplos com as contribuições de autores como Nóvoa (1992), que focalizou,
de maneira sistemática, o desenvolvimento pessoal do professor. Assim, a prática reflexiva
tornou-se uma proposta para enfrentar a complexidade crescente da sala de aula, por meio da
reflexão e da pesquisa. Perrenoud (2000) ampliou o conceito de formação reflexiva ao
focalizar o desenvolvimento das competências adquiridas pelos professores no exercício e na
reflexão sobre sua prática como necessárias para enfrentar os problemas da escola.
Com relação à classificação descrita por Cachapuz (2000), ele comenta:
“estamos supostamente em condições de desenvolver algumas idéias em torno de um novo
enquadramento para o ensino de Ciências” que foi denominado de “Ensino por Pesquisa”.
Sendo assim, o objetivo desse ensino é a construção de conceitos, competências, atitudes e
valores dando ênfase na educação. Ocorre a valorização da História da Ciência em contextos
sócio-culturais de produção de conhecimento, valorizando uma perspectiva global da Ciência.
Para aprender, o aluno precisa superar as situações-problemas de modo ativo e pesquisador. O
professor é que organiza a problematização dos saberes, utilizando a interação, a reflexão
crítica e atividades inter e transdisciplinariedade. A avaliação da aprendizagem engloba
conceitos, capacidades, atitudes e valores e é parte integrante do ensino que está agora
organizado em ciclos. Sendo assim, tanto o aluno como o professor precisam assumir uma
posição de pesquisa frente ao conhecimento.
33
Com a chegada do terceiro milênio, as discussões sobre ensino para todos
foram retomadas pelo governo federal e diversos programas foram criados para reorganizar a
educação brasileira quer em nível de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior. Os PCNs e a LDB 9394/96 passam a vigorar e o Brasil se une à UNESCO
para melhorar a qualidade do ensino de Ciências e da Matemática por meio de programas
especiais para as diferentes regiões do país.
De acordo com Lessa (2005, p. 01), há quase uma década o governo repassou
boa parte do orçamento da educação para o ensino fundamental. Houve aumento no número
de matrículas, mas os resultados não são perceptíveis quando se avalia a formação global do
aluno. Em 2000, o Brasil amargou o último lugar no Programa Internacional de Avaliação de
Alunos (PISA) da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Foram avaliados alunos de 15 anos de escolas públicas e particulares de 32 países e os
brasileiros tiveram dificuldades para responder a questões que pediam para diferenciar, por
exemplo, a função do médico com a do enfermeiro. Essa publicação demonstra o estado
alarmante do analfabetismo científico no país e a incapacidade do sistema educacional fazer
com que os avanços da ciência façam parte do cotidiano.
Para Krasilchik (2001), as mudanças repentinas nas diretrizes curriculares têm
confundido o professor, tornando-o inseguro e despreparado, porque, cada vez que ocorre
uma mudança na legislatura ou no currículo, o educador se sente pressionado a abandonar as
suas crenças e práticas pedagógicas anteriores. Sem mencionar ainda o problema das péssimas
condições de trabalho, da falta de material e da falta de qualificação do professor.
Melo (2005) comenta que a prática comum no ensino de Ciências no Brasil
parece estar alicerçada em pressupostos que levam em consideração aspectos puramente
acadêmicos, ou seja, bem distantes da realidade que cerca os alunos. Essa maneira de educar
pode privilegiar um ensino que pouco contribui para a formação do indivíduo enquanto
34
cidadão, ou melhor, pouco significativo para o desenvolvimento de competências e
habilidades para compreender o que os avanços científicos podem determinar para uma
sociedade. Dentre os fatores que contribuem para esta postura, como já enfatizado
anteriormente, está a formação deficiente de professores.
Se pensarmos em um ensino de Ciências puramente acadêmico, que não leve
em conta as necessidades e as realidades dos alunos além de seu interesse e
curiosidade, não podemos sequer pensar que estamos ensinando Ciências.
[...] e antes de qualquer coisa criar condições para que a criança de hoje seja
no amanhã uma pessoa ciente nos diversos aspectos (MELO, 2005, p. 1).
O processo de ensino e aprendizagem de Ciências exige muito mais mudanças
do que fazer um novo plano curricular, mudar leis, tecer propostas; ele precisa fortalecer a
relação entre professor, aluno, e entre o conhecimento científico. É necessário que esteja de
acordo com um saber que procure formar o cidadão para a vida em sociedade, capaz de
entender todos os aspectos que norteiam e influenciam a Ciência contextualizada e
globalizada. O ensino de Ciência no Brasil precisa vencer os arcabouços de sua própria
história para conseguir uma maior autonomia frente às suas obrigações e necessidades
vigentes.
35
2 CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS E MUDANÇA CONCEITUAL: UMA
PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS.
Como já foi mencionado no capítulo anterior, por volta das décadas de 1970 e
1980, surge na área de ensino de Ciências, primeiro nos Estados Unidos e, depois,
disseminando-se para os outros países, um novo programa de pesquisa, denominado
Movimento das Concepções Alternativas (MCA). Mortimer (1996) traça comentários sobre
esse acontecimento ao relatar que, a partir da década de 1970 começou a aparecer na literatura
de Ciências um grande número de estudos preocupados, especificamente, com os conteúdos
das idéias dos estudantes em relação aos diversos conceitos científicos aprendidos na escola.
Ele esclarece que esse programa de pesquisa, rotulado como Alternative Concepts Movement
(ACM) por Gilbert e Swift em 1985 teve grande influência nos últimos anos e que o grande
número de estudos realizados nesta área resultou no aumento do conhecimento empírico sobre
as concepções dos estudantes.
O período favoreceu discussões sobre a importância do educador ter
conhecimento das concepções prévias, também chamadas de concepções espontâneas, que os
seus educandos trazem para a sala de aula antes de iniciar a sua tarefa como mediador do
processo de ensino-aprendizagem. Justifica que um trabalho em sala de aula que considere
essas concepções prévias motiva mais os alunos, despertando maior interesse para a
aprendizagem.
Segundo Mortimer (1996), o resultado das pesquisas baseadas no MCA
contribuiu para fortalecer a visão construtivista de ensino-aprendizagem que até muito
recentemente parecia dominar a área de Educação em Ciências e Matemática. Defendida por
muitos professores e pesquisadores, a abordagem construtivista de ensino-aprendizagem
enfatiza a participação ativa dos estudantes na aprendizagem e a importância de seus
36
conhecimentos prévios na construção de novos conhecimentos. Isso significa que as idéias e
crenças que os educandos trazem para a escola terão forte influência na interpretação e
compreensão daquilo que é ensinado. A aprendizagem então ocorre quando um novo
conhecimento tem uma conexão com o conhecimento prévio do aluno, passando, assim, a ter
um significado para ele. O professor, nesta perspectiva, passa a ser o mediador que seleciona
as experiências apropriadas e encoraja o aprendiz a construir seus significados de modo a
ampliar o conhecimento inicial.
Becker (2001, p.25) ressalta que o construtivismo explica o conhecimento ao
relatar:
O conhecimento melhor dito, suas estruturas ou as condições a priori de todo
conhecer, não é dado nem na bagagem hereditária nem nas estruturas dos
objetos: é processo de interação radical entre o sujeito e o meio, processo
ativado pela ação do sujeito, mas de forma nenhuma independente da
estimulação do meio.
Derval (1998) esclarece que o construtivismo constitui, sobretudo, uma
posição epistemológica, isto é, refere-se à forma como o conhecimento se origina e se
modifica. Como tal, não deve ser confundido com uma posição pedagógica. Uma posição
construtivista consistente encontra fortes resistências devido à crença de senso comum
solidamente enraizada, mas que não resiste à análise lógica de que a realidade está dada em si
mesma e o que fazemos é aproximar-nos cada vez mais dela. Segundo este mesmo autor, na
visão construtivista, o sujeito constrói conhecimentos não podendo recebê-los construídos de
outros, porque o conhecimento é produto da vida social, dependendo de uma posição
interacionista e ontológica.
Bastos (1998, p. 11) complementa essa idéia ao escrever que o conhecimento
adquirido pelo aluno resulta de uma síntese pessoal, sendo, portanto, reelaboração daquilo que
está registrado no livro-texto. De acordo com esta visão não-empirista, os conhecimentos
37
atuais do aluno e as informações e experiências proporcionadas pela escola funcionam como
matéria prima por meio da qual o aluno irá construir conhecimentos que serão de caráter
pessoal.
É relevante esclarecer que o conhecimento terá um caráter pessoal porque ele
depende da interação entre o aluno, que é o sujeito da aprendizagem, e os objetos de estudo
que está em contato. Na interação, a vivência sóciocultural tem um papel importante na leitura
de mundo e na interpretação que o aluno faz de cada situação para construir suas concepções.
De acordo com Santos (1998), os dois grandes teóricos Piaget e Ausubel, além
de serem pesquisadores de forte influência para o construtivismo, podem ser considerados os
principais referenciais, com relação á base teórica e metodológica, do MCA. O autor destaca
que tanto um como o outro deixam claro que acreditam que a ação do sujeito é determinante
para a organização e estruturação do seu próprio conhecimento. Enquanto Ausubel acredita
que o conteúdo só é aprendido se fizer parte dos esquemas cognitivos do aluno, portanto ele
só aprende a partir daquilo que conhece, Piaget postula que a aprendizagem de um conteúdo
está relacionada com as etapas de desenvolvimento cognitivo dos alunos, descritas como:
Sensório-Motora, Pré-Operatória, Operatório-Concreta e Operatório Formal, mas independe
destas etapas pelos processos de assimilação e acomodação do conhecimento. Sendo assim,
para Piaget, a aprendizagem que ocorre por meio de esquemas já existentes é facilitada, pois
se realiza por meio de esquemas assimilativos. A aprendizagem que vai além dos esquemas de
assimilação exige esquemas acomodativos.
Nesta pesquisa, adotou-se a definição de “concepção alternativa” descrita por
Santos (1998) como uma idéia individual do significado de um conceito, no qual, em alguns
aspectos, é contrária ou inconsistente com o conceito científico. Atualmente, existem muitas
vertentes do MCA que foram surgindo em defesa de alguns argumentos adotados por
pesquisadores da área, porém a vertente defendida por este trabalho é clara ao entender que a
38
própria palavra alternativa não procura nada de extraordinário e fora do comum, mas,
diferente de tudo isso, ela propõe o que o significado da palavra expressa “alternativa” algo
opcional entre duas coisas distintas. Neste contexto, então, alternativas são as concepções que,
de alguma maneira, estão diferentes das concepções científicas, porque são construções do
sujeito com a finalidade de explicar os fenômenos naturais e suas implicações.
Durante o processo de ensino-aprendizagem escolar, o aluno pensa a respeito
de fenômenos que acontecem ao seu redor: a sua religião, suas concepções de homem,
natureza e mundo e é pautado nesse emaranhado de informações que vai formulando seus
conceitos, interpretando o conhecimento escolar e fazendo associações entre o que ele já sabia
e o que aprendeu. Tal processo está mais que comprovado por vários pesquisadores. Na
escola ocorre a chamada transposição didática, explicada por Chevallard (1985, apud
WEISSMANN, 1998, p. 19) como: “a ciência escolar não é a ciência dos cientistas, pois
existe um processo de transposição didática do conhecimento científico ao ser transmitido no
contexto escolar de ensino”. Ou seja, com o objetivo do aluno entender o conhecimento
científico o professor e o livro didático fazem transposição didática, pois transmitem a matéria
estudada empregando uma linguagem mais acessível ao aluno e fazendo uso de analogias.
Então, quando se fala de ciência escolar procura-se discriminar um conhecimento escolar que,
embora tome como referência o conhecimento científico, não se identifica totalmente com ele.
Sendo assim, o educando em contato com esse conhecimento científico escolar mediado pela
escola e fazendo relações com o seu pré-conhecimento, constrói um novo conhecimento que
pode apresentar-se diferente do conhecimento científico. Diz-se, por isso, que ele elaborou
concepções alternativas, já que não estão de acordo com as concepções defendidas na
atualidade pela ciência.
Arnay (1998) escreve que o papel do conhecimento científico na escola ainda
não foi definido porque não existe um conhecimento científico escolar específico. E que, para
39
adaptar a Ciência a uma cultura científica escolar, é necessário tratar de dois aspectos: o que
se entende por cultura escolar e quais são os conteúdos escolares que estão relacionados a essa
cultura.
Para caracterizar as concepções que os aprendizes possuem e que são muitas
vezes diferentes daquelas consideradas corretas pela Ciência, Oliveira (2002) faz um
levantamento bibliográfico e reúne as diferentes denominações, atribuídas por diferentes
pesquisadores, como: pré-concepções, idéias intuitivas, idéias prévias, pré-conceitos, erros
conceituais, conceitos alternativos, conhecimentos prévios, e por fim, concepções
alternativas.
De acordo com Mortimer (1996), os trabalhos realizados por autores
vinculados ao movimento das concepções alternativas têm fornecido surpreendentes
conclusões, como: os alunos, com base em suas experiências de vida, constroem por si
mesmos várias teorias acerca das coisas da natureza que explicam os fenômenos naturais com
coerência do ponto de vista pessoal, mas incoerente cientificamente; as teorias que os alunos
trazem consigo podem divergir quase que totalmente dos conhecimentos da ciência hoje; as
teorias não-cientificas dos alunos podem ser muito resistentes a mudanças, pois são
consideradas mais plausíveis do que as teorias científicas; as teorias dos alunos que divergem
do saber científico podem funcionar como importantes obstáculos à aprendizagem; o ensino
escolar em diferentes países do mundo tem sido ineficaz em fazer com que os alunos
construam conceitos cientificamente aceitáveis e o
ensino escolar pode estimular o
surgimento de idéias imprevistas e indesejáveis como as concepções alternativas.
Uma outra maneira do educando elaborar concepções alternativas na escola,
que tem preocupado muito os educadores, é quando ele acredita ser um conhecimento de
difícil aprendizagem e, então, tenta simplificar o conceito, elaborando idéias alternativas
sobre o assunto (ARNAY, 1998).
40
Pesquisadores como Bastos (1998) e Cachapuz (2000) explicam o surgimento
dessas concepções alternativas pela questão da subjetividade, ou seja, a interpretação pessoal
de cada indivíduo, justificando que tudo depende de como o aprendiz interpreta uma frase dita
pelo professor ou de como ele compreende o que está escrito no livro. Outros, como Moura e
Moretti (2000, p. 68), descrevem que “o meio social constitui o manancial no qual se baseia o
desenvolvimento conceitual das crianças”. E o fato das idéias alternativas dos alunos serem
coerentes com o seu meio social, as suas necessidades e a maneira deles explicarem os
acontecimentos ao seu redor parece ser justamente a razão maior pelas quais tais idéias
dificilmente são abandonadas.
Se as idéias dos alunos, ainda que cientificamente inaceitáveis, têm-se
mostrado úteis na vida cotidiana no sentido de satisfazer necessidades de
explicação de fatos ou de permitir previsões que auxiliem a escolha de
modos de ação frente à realidade, estando por outro lado, firmemente
assentadas na experiência pessoal, então é difícil que as práticas escolares
tradicionais consigam transformá-las (OSBORNE E WITTROCK, apud
BASTOS,1998, p. 18).
Mortimer (2000) esclarece que Ausubel diferenciou as concepções alternativas
dos conceitos científicos enfocando suas atribuições. De acordo com Ausubel, as concepções
alternativas são menos estruturadas que os conceitos científicos, elas representam uma
explicação pessoal de um conhecimento; a concepção alternativa é figurativa enquanto o
conhecimento científico é operativo por ter uma finalidade; ela pertence aos fenômenos
cotidianos e o conhecimento científico aos fenômenos e teorias fundamentadas em uma
comunidade científica; a concepção alternativa é formada por idéias abstratas e a científica
por idéias lógicas; ela se relaciona à causa como conseqüência, enquanto a científica ao que
desencadeou a situação, ao passo que as concepções alternativas ligam-se às explicações
egocêntricas, ou seja, são explicações que satisfazem a compreensão pessoal.
41
Pozo (1998) caracteriza as idéias alternativas descrevendo que elas procuram a
utilidade acima da verdade, uma vez que são construções pessoais compartilhadas por várias
pessoas e que possuem coerência do ponto de vista pessoal e não da ciência. O autor também
ressalta que, para acontecer um processo de aprendizagem eficiente, é necessário que o
educador saiba quais são as concepções alternativas que os alunos, com os quais está
trabalhando, possuem.
Para este mesmo autor, as concepções dos alunos podem ser classificadas, de
acordo com as interações, em três tipos: concepções espontâneas, que se formam na tentativa
de darem significado as atividades cotidianas e se baseiam essencialmente no uso de regras
mediante processos sensoriais e perceptivos; concepções induzidas, originadas na relação
aluno e meio social, cujas idéias prevalecem às do aluno, mas foram induzidas pelo seu
contexto social; e as concepções analógicas, que usam de analogias, comparações para dar
significado a esse domínio, visto que as analogias permitem que a aprendizagem tome como
ponto de partida conhecimentos que os alunos possuem sobre outros assuntos, que não são
aqueles relacionados diretamente ao conteúdo.
Como citado anteriormente, paralelo à visão do movimento das concepções
alternativas, surge, na década de 1980, um modelo de ensino que tem por finalidade maior
trabalhar com as concepções dos estudantes e transformá-las em conceitos científicos. Essa
nova forma de pensar o ensino de Ciências foi denominada de Modelo de Mudança
Conceitual (MMC). De acordo com Ferraz e Terrazzan (2002), a mudança conceitual é
explicada por múltiplas perspectivas, porque existem pesquisadores, como Strike e Posner,
que explicam a mudança conceitual pela substituição da concepção ingênua do aluno pela
científica e outros, como Driver e Mortimer (2000), que propõem a idéia de que podem
coexistir diferentes modos de pensar um mesmo conceito em diferentes domínios sem exigir
que um modo deva substituir o outro.
42
O MMC baseia-se em uma analogia entre mudanças, que caracterizam a
evolução do pensamento científico, como concebidas por Kuhn (1998), Lakatos (1989, apud
Chalmers, 1993), Feyerabend (1979) e Bachelard (1996), e a mudança das idéias dos alunos
de senso comum para científicas.
Kuhn (1998) privilegia os aspectos históricos e sociológicos na análise da
prática científica, desvalorizando os aspectos lógicos e metodológicos que ainda encontramos
no discurso de Popper. Sua idéia central é que o conhecimento científico não cresce de modo
cumulativo e contínuo, ao contrário, esse crescimento é descontínuo e opera por saltos
qualitativos. Thomas Kuhn acredita que o progresso da ciência depende das transformações
que podem ocorrer sobre os paradigmas vigentes, ou seja, por meio de revoluções em que
uma teoria pode ser substituída por uma nova mais compatível com o paradigma dominante.
Sendo assim, uma teoria científica é substituída por outra quando as idéias compartilhadas por
uma comunidade científica não estão conseguindo responder aos problemas propostos.
“Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria
ciência”.
Para Chalmers (1993), Lakatos desenvolveu sua descrição da ciência como
uma tentativa de melhorar o falsificacionismo popperiano as teorias são falsificáveis; quando
ela não consegue se falsificar, ela é aceita como válida e superar as objeções a ele. Ele,
também, defende que as teorias mais recentes, para serem aceitas por uma comunidade
científica, devem superar as mais velhas.
Chalmers
(1993)
faz
comentários
a
respeito
de
Popper
sobre
o
falsificacionismo, pois, para Popper, as novas teorias substituem as anteriores, embora os
conhecimentos anteriores sirvam de referência para o avanço da ciência. Para este mesmo
autor, Feyerabend é descrito como um anarquista porque ele argumenta de forma convincente
que as metodologias da ciência fracassaram ao fornecer regras adequadas para orientar as
43
atividades dos cientistas. Além do mais, Feyerabend (1979) sugere que, dada a complexidade
da história, é extremamente implausível esperar que a ciência seja explicável com base em
algumas poucas regras metodológicas simples. Assim, ele argumenta, com sucesso, contra o
método ao mostrar que não é aconselhável que as escolhas e decisões dos cientistas sejam
restringidas por regras estabelecidas ou implícitas nas metodologias da ciência.
Desta forma, Chalmers (1993), ao comparar as idéias desses pesquisadores,
destaca que Popper tem uma grande proximidade com Lakatos e Kuhn com Feyerabend, mas
os quatro têm algo em comum porque recorrem à evolução da história da ciência para
justificar as mudanças que acontecem no processo de construção da ciência. Bastos (1998,
p.18) complementa ao defender que “o processo de produção de conhecimentos na ciência
envolve a reformulação ou substituição de hipóteses e teorias anteriormente vigentes, isto é,
ele não se dá de modo linear por mero acúmulo de conhecimentos, mas envolve rupturas e
mudanças de rumo”.
Bachelard (1996, p. 26) reforça a necessidade de “aceitar uma verdadeira
ruptura entre o conhecimento sensível e o conhecimento científico”, como uma das condições
para a formação do espírito científico. E, de acordo com as suas palavras, “quando se
procuram as condições psicológicas do progresso da ciência, logo se chega às convicções de
que é em termos de obstáculos que o problema do conhecimento científico deve ser colocado”
(p. 26). Para ele, esses obstáculos não são externos, é no íntimo do próprio ato de conhecer
que aparecem as lentidões e conflitos. Os obstáculos epistemológicos são as causas de
estagnação, de regressão e de inércia do conhecimento científico. Sendo assim, a noção de
obstáculo epistemológico pode ser estudada sob dois âmbitos: do desenvolvimento histórico
do pensamento científico e da prática educativa. Bastos (1998) considera ainda que as idéias
dos alunos podem funcionar como obstáculos epistemológicos ao processo de aprendizagem.
44
Segundo Bachelard (1996), para que ocorra aprendizagem, é necessário que o
professor esteja ciente de que o aluno pode não entender suas explicações ou a do próprio
livro didático. O avanço científico acontece via cognitivo-afetivo do indivíduo e cabe à
instituição escolar superar os obstáculos epistemológicos já sedimentados. As idéias da teoria
de Bachelard são importantes para a aprendizagem escolar, já que de acordo com essa teoria,
o aluno terá sucesso em sua aprendizagem quando superar os seus próprios obstáculos. Arnay
(1998) comenta que há várias evidências empíricas que o conhecimento cotidiano é um
obstáculo sério para a aquisição de outros conceitos mais elaborados, porque o conhecimento
cotidiano resiste à mudança.
Bachelard (1978) define perfil epistemológico como as diferentes formas de se
conceber e representar uma mesma realidade, em que cada conceito difere de um indivíduo
para outro, sendo fortemente influenciado pelas diferentes experiências e raízes culturais que
cada pessoa tem. Ele também descreve a formação do perfil epistemológico, enfatizando que
esta formação segue uma ordem genética que reproduz a história da ciência: realismoempirismo-racionalismo. Dessa maneira, tal formação apresenta uma hierarquia de suas
gêneses e é constituída de estágios distintos, que se iniciam pelo senso comum (realismo),
passando por um empirismo claro e positivista (empirismo) até chegar a um pensamento mais
rebuscado e racional (racionalismo dialético).
Mortimer (1996-2000), adaptando-se à proposta do perfil epistemológico de
Bachelard (1978), propõe a noção de perfil conceitual, que descreve a evolução dos conceitos
na escola e apresenta algumas características em comum ao perfil epistemológico. Bachelard
ressalta o pluralismo da cultura filosófica após a constatação de que um conhecimento
científico particular atravessa diversas doutrinas na sua evolução histórica. A noção de perfil
conceitual de Mortimer compartilha a idéia de que um único conceito pode estar disperso
45
entre vários tipos de pensamento filosófico, e, como no perfil epistemológico, está organizado
em diferentes zonas dispostas segundo uma hierarquia de suas origens.
Mortimer (1996) considera que a aprendizagem de um conceito científico
envolve aspectos ontológicos e epistemológicos que são distintos entre si. Ele explica que,
para aprender, é necessário que ocorram mudanças nas concepções pessoais dos sujeitos que
estão arraigadas à história individual ou coletiva. Segundo ele, esses aspectos determinam o
conhecimento individual e acrescenta que esse conhecimento pode ter um caráter supraindividual. Neste aspecto, é acentuada a relevância da vivência de situações em que o sujeito
toma consciência do seu próprio perfil conceitual. Se isso não acontecer, o aluno poderá
generalizar seu conceito anterior que, por lhe ser mais familiar, é usado com mais segurança.
Para a elaboração do perfil conceitual, Mortimer estruturou as idéias em
diversas zonas: perceptiva/intuitiva; empírica; empírica/perceptiva, empírica/científica e
racionalista, que representam as diferenças ontológicas e epistemológicas do conhecimento.
Tais zonas permitem ao sujeito pensar e compreender, de diferentes maneiras e em diferentes
níveis, os fatos e fenômenos da realidade física e social.
[...] as zonas do perfil conceitual não são constituídas somente a partir de
diferentes aspectos epistemológicos e estão relacionadas com diferentes
visões de mundo que um indivíduo pode apresentar. Algumas zonas do
perfil representam idéias que fazem parte do contexto cultural e o perfil
conceitual assume um estatuto supra-individual, considerando que as
mesmas zonas podem ser encontradas em indivíduos diferentes, numa
mesma cultura ou em culturas diferentes (MORTIMER, 2000, p. 18).
Sendo assim, a noção de perfil conceitual fornece elementos para entender a
permanência das idéias prévias entre estudantes que passaram por um processo de ensino de
noções científicas. Ao mesmo tempo, muda-se a expectativa em relação ao destino dessas
idéias, já que se reconhece que elas podem permanecer e conviver com as idéias científicas,
cada qual usada em contextos apropriados. Além disso, a noção de perfil conceitual tem
46
várias conseqüências para o estabelecimento de estratégias de ensino e para a análise do
processo de evolução conceitual em sala de aula (MORTIMER, 1996).
A possibilidade de o aluno saber conviver com as duas concepções, científica e
alternativa, vem sendo defendida por vários pesquisadores, como Driver (1989) e Mortimer
(2000), que acreditam que se o aluno tiver consciência de possuir idéias sobre determinados
conhecimentos, as quais não são realmente científicas, e se, após esse momento de tomada de
consciência, ele estiver em contato com as idéias científicas, saberá quando utilizá-las.
Retornando ao segundo aspecto do modelo de mudança conceitual, é relevante
ressaltar que muitos educadores construtivistas, motivados por esse modelo, têm feito
pesquisas embasadas sobretudo em Hewson e Thorley. De acordo com estes autores (apud
BASTOS, 1998), a mudança conceitual é um processo em que a concepção alternativa do
aluno perde status e a concepção científica apresentada pelo professor ganha status. As
concepções que o aluno tende a conservar são aquelas que ele considera como mais
inteligíveis, plausíveis e proveitosas. A tarefa do professor é, então, fazer com que o aluno
passe a ver as concepções científicas como inteligíveis e ao mesmo tempo mais plausíveis e
proveitosas que as concepções alternativas. Para que ocorra essa transformação, no entanto, o
professor precisará criar situações em que o aluno se torne insatisfeito com suas concepções
atuais, isto é, situações em que as concepções atuais do aluno se tornem pouco plausíveis e
pouco proveitosas.
Nesse mesmo contexto, Cachapuz (2000) comenta que as concepções
alternativas não devem ser encaradas como momentâneas ou como resultado de um contexto
atual, mas como idéias que podem permear, por muito tempo, a maneira de o aprendiz ver e
explicar muitos fenômenos do mundo. Acrescenta que a adequação das estratégias de ensino
às idéias prévias dos alunos é uma posição que enriquece o trabalho do professor e contribui
47
para que, em fases posteriores, ocorra a apropriação de conhecimentos significativos para a
vida dos educandos.
Muitos pesquisadores atuais têm defendido a importância do professor fazer o
levantamento das concepções prévias de seus alunos e utilizar esse levantamento como ponto
de partida para a abordagem dos conhecimentos científicos. Libanore, Zolin, Corazza Nunes, Moreira e Fusinato (2005) pesquisaram as concepções prévias sobre o ar atmosférico
em alunos da 5ª série do Ensino Fundamental. Bonzanini e Bastos (2005) analisaram as
concepções prévias de alunos do 2º ano do Ensino Médio sobre clonagem, organismos
transgênicos e projeto genoma humano. Proença e Bissagio (2005) avaliaram as concepções
prévias dos agentes de saúde do Município de Niterói sobre vermes, areia e saúde. Sá, Jófili e
Leão (2005) identificaram as concepções prévias de alunos da 4ª série do Ensino Fundamental
sobre respiração pulmonar. Estes trabalhos enfatizaram que o conhecimento é construído com
base em conhecimentos anteriores dos alunos, por isso a relevância do educador conhecer as
pré-concepções de seus educandos e trabalhar para que concepções alternativas não sejam
construídas.
Giordan e Vecchi (1996) complementam que nem sempre é possível
“desmontar” as idéias alternativas dos alunos, pois a familiaridade com elas faz com que
resistam a qualquer prova de mudança, mesmo quando parece evidente a incoerência dessas
idéias alternativas. Para esses autores, o melhor é apoiar-se nas concepções prévias dos alunos
para superar os obstáculos durante a aprendizagem escolar.
Para conseguir esta metamorfose conceitual, Bastos (1998) faz algumas
pontuações sobre o que o professor precisa fazer:
•
Criar argumentos convincentes que contradizam as idéias não
científicas dos alunos;
48
•
Descobrir situações reais (acessíveis a todos os alunos) nas quais as
teorias dos alunos não sejam aplicáveis;
•
Identificar, entre as idéias prévias dos alunos, pontos de partida
consistentes para a construção das idéias cientificamente corretas;
•
Propor currículos em que os argumentos e situações reais mencionados
acima sejam utilizados consistentemente no sentido de favorecer a
mudança conceitual nos alunos.
Pozo (1998) acrescenta que um dos fatores que precisa ser levado em conta
para promover a aprendizagem escolar valendo-se dos conhecimentos prévios dos alunos é
proporcionar, em primeiro lugar, a tomada de consciência aos alunos com relação às suas
próprias idéias, já que, só fazendo-as explícitas e sendo conscientes delas, conseguem
modificá-las. Ele ressalta que uma das formas de ajudar os alunos a modificarem suas idéias
prévias é apresentar o conhecimento escolar em situações e contextos próximos à sua vida
cotidiana, de maneira que o conhecimento científico se mostre útil para explicar as situações e
fenômenos reais da vida do aluno.
Weissmann (1998, p. 23) sobre os conhecimentos prévios dos alunos,
constatou que:
Em todos os casos procura-se modificar esses conhecimentos prévios para
aproximá-los dos conhecimentos científicos que se pretende ensinar; no
entanto existem diferentes estratégias didáticas para consegui-lo. Essas
estratégias didáticas possuem suposições epistemológicas e psicológicas
diferentes, e é em virtude delas que são retrabalhados os conhecimentos
prévios.
Em relação à construção de conceitos pelos alunos, Natadze argumenta que:
[...] a maior dificuldade para uma criança reside na descoberta dos aspectos
essenciais de um conceito e na compreensão de sua importância. Uma
criança pode facilmente identificar e abstrair as propriedades visuais
49
comuns a certo número de objetos, ou antes, assimilar na prática conceitos
concretos, mas só muito tempo depois poderá assimilar as características
essenciais de um conceito como tal (NATADZE, 1991, p. 27).
Hewson (1992, apud OLIVEIRA, 2002) propõe três tipos diferentes de
mudança conceitual. O primeiro é denominado de mudança como substituição das
concepções, ou seja, o aluno, após o processo de aprendizagem, substitui completamente suas
concepções prévias pelas aprendidas com caráter científico. O segundo tipo é de mudança
como captura conceitual; neste caso, não ocorre substituição, mas a aquisição de conceitos, ou
seja, as novas concepções não se integram dentro das anteriores. E, no terceiro, ocorre à
mudança por intercâmbio entre as concepções alternativas; esses intercâmbios podem ser
analogias do conhecimento anterior com o aprendido ou intercâmbio no sentido de trocas de
conhecimento. Esse mesmo autor classifica a mudança conceitual em dois níveis cognitivos:
um deles implica na mudança em grande escala, efetivada nas estruturas mentais do
indivíduo, e o outro opera por meio de uma mudança superficial dos conteúdos específicos.
Krasilchik (2004) acrescenta que o trabalho dos professores, por sua vez, é
influenciado pela sua concepção de escola, ensino, aprendizado; pelo seu conhecimento dos
conteúdos que deve ensinar. Desta forma, um primeiro passo para conseguir a mudança
conceitual é o professor ter domínio do conhecimento científico e proporcionar discussões em
sala para que os alunos tenham dúvidas sobre as propriedades de seus conceitos, gerando
insatisfação sobre o que sabe e proporcionando motivação pela aprendizagem.
É importante lembrar que a mudança conceitual não deve ser entendida como
um processo de substituição de alguns conhecimentos por outros, e sim como um processo de
evolução que não é instantâneo, requer tempo para que as idéias dos alunos possam ter
coerência e compreensão ampla para os mesmos. É necessário que os professores estejam
50
atentos à enorme distância entre o mundo da ciência e o mundo cotidiano, distância esta que
se torna mais exagerada com o academicismo dos conteúdos escolares.
Em síntese, as estratégias metodológicas em sala de aula, com o intuito de
propiciar situações que favoreçam a evolução conceitual dos aprendizes, estão caracterizadas
por três idéias principais. A primeira consiste em fazer com que os alunos tenham consciência
de suas idéias e esquemas conceituais. Em seguida, proporcionar situações problema em que
os alunos confrontem suas idéias, gerando conflitos cognitivos, e a última, os professores
precisam conhecer e trabalhar com os conhecimentos prévios dos estudantes durante todo o
processo de ensino-aprendizagem.
51
3 O EFEITO ESTUFA
O efeito estufa é um fenômeno que, na atualidade, vem sendo muito
comentado e discutido pelos meios de comunicação com o objetivo de levar ao conhecimento
das pessoas como ele acontece na natureza e para conscientizá-las sobre as conseqüências da
exacerbação dos gases estufa. Percebe-se que o modo como o assunto é tratado pela mídia
tem gerado muitas idéias equivocadas do ponto de vista científico e ocasionado uma grande
confusão entre o que é o efeito estufa e o aquecimento global. Por esses motivos, propõe-se
uma abordagem científica das questões que explicam e justificam sua ocorrência na natureza,
desmistificando seu papel de herói ou vilão no Planeta.
O efeito estufa é um fenômeno atmosférico natural, ou seja, existe na natureza,
é independente da ação do homem e das atividades que o homem realiza em interação com o
meio ambiente. Ele acontece porque alguns gases que compõem a atmosfera funcionam como
um vidro de uma estufa, que deixa passar a luz solar para seu interior, mas aprisiona o calor
gerado dentro da estufa. Molion (1995, p. 2) define esse acontecimento da seguinte maneira:
A atmosfera terrestre é constituída de gases que permitem a passagem da
radiação do sol e absorvem grande parte do calor (a radiação infravermelha
térmica) emitido pela superfície aquecida da Terra. Essa propriedade é
conhecida como efeito estufa.
Mozeto (2001), ao escrever sobre o efeito estufa, define o fenômeno como
sendo o aumento da temperatura da atmosfera global que ocorre naturalmente na Terra. “O
efeito estufa em si refere-se a uma contenção de calor (representada pelo redirecionamento da
radiação IV á superfície terrestre), que é promovido pelos gases estufa” (p. 45).
Tolentino e Rocha (1998) explicam que algumas características do planeta
Terra o tornam único no Sistema Solar. Os pesquisadores citam, como exemplo, a atmosfera
52
da Terra que, devido à sua composição e estrutura, interage com a radiação solar e a
superfície terrestre, estabelecendo um sistema de trocas de energia que explica muitos
fenômenos que afetam a vida no Planeta. Da radiação que afeta a Terra, cerca de 70 por cento
é absorvida, essa fração aquece o globo e provoca reações químicas e transformações físicas.
Em outras palavras, o efeito estufa é um fenômeno natural que mantém as
temperaturas terrestres constantes. Como a atmosfera da Terra é altamente transparente à luz
solar, cerca de 30% da radiação que recebe vai ser refletida de novo para o espaço, ficando os
outros 70% retidos nela. Isto se deve particularmente ao efeito sobre os raios infravermelhos
de gases, como o Dióxido de Carbono, Metano, Óxidos de Nitrogênio e Ozônio, presentes na
atmosfera (totalizando menos de 1% desta), que vão reter esta radiação na Terra, permitindo o
efeito calorífico dos mesmos.
Sem a ajuda do efeito estufa, o Sol não conseguiria aquecer a Terra o suficiente
para que ela fosse habitável, uma vez que a temperatura média do planeta estaria em torno de
18º C negativos e sua superfície coberta de gelo. O efeito estufa garante que a temperatura
média do planeta esteja atualmente próxima aos 15º C, portanto mais ou menos 33º C acima
do que seria sem ele.
Tolentino e Rocha (1998) complementam essa idéia ao explicar que o planeta
irradia para o espaço uma quantidade de energia igual à que absorve do Sol. E essa irradiação
ocorre na forma de radiação eletromagnética, sendo que a Terra funciona como um irradiador
infravermelho que iria todo para o espaço se não fosse a presença na atmosfera de alguns
gases que absorvem grande parte dessa radiação e, conseqüentemente, a mantém aquecida.
De certo modo, a atmosfera transforma-se numa enorme estufa. Se
compararmos as temperaturas existentes em Marte, poderemos avaliar o
papel de verdadeiro “cobertor” que a atmosfera representa. No planeta
vermelho, cuja atmosfera é muito rarefeita, a temperatura média na
superfície é de – 53º C, somente 3º C acima da temperatura de irradiação de
-56º C. (TOLENTINO; ROCHA, 1998, p. 10).
53
Molion (1995) também esclarece que o efeito estufa é benéfico ao planeta
porque cria condições para a existência de vida, mas alerta para os riscos relacionados à sua
possível intensificação, causada por ações antrópicas. Segundo ele, do ponto de vista da física,
a hipótese de intensificação do efeito estufa é fácil de ser compreendida, quanto maior for a
concentração de gases, maior será o aprisionamento de calor e, conseqüentemente, mais alta a
temperatura do globo terrestre. Em decorrência da intensificação do efeito estufa pelas
atividades humanas, ocorre o aquecimento global.
Normalmente, o termo efeito estufa é utilizado com uma conotação negativa,
indicando que algo de errado está acontecendo com a atmosfera. Para se ter uma idéia da
importância do efeito estufa, pode-se exemplificar a Terra comparada com a Lua. Enquanto a
temperatura da camada de ar que envolve o nosso planeta se mantém entre extremos
aproximados de -10º C e 50º C, a temperatura da Lua apresenta extremos de -150º C a noite e
100º C na superfície exposta ao Sol. Estas diferenças existem apesar de a Terra e a Lua se
encontrarem praticamente à mesma distância do Sol. Tais diferenças são compreendidas
porque a Terra possui uma camada de gases capazes de absorver parte da radiação emitida
pelo Sol. A luz ultravioleta é absorvida na estratosfera e provoca seu aquecimento. A energia
absorvida faz com que as moléculas de certos gases vibrem e promovam a produção de calor
que, em parte, acaba sendo remetido para o espaço e, em outra, é responsável pela
manutenção da vida na superfície terrestre.
Os gases da atmosfera responsáveis pelo efeito estufa têm como agente
principal o vapor de água, cuja quantidade contida no ar varia muito no tempo e no espaço. O
segundo em importância é o gás carbônico (CO2). Além desses existem o metano (CH4),
ozônio (O3) e o óxido nitroso (N2O). Os compostos de clorofluorcarbono ou
clorofluorcarbonetos (CFCs), fabricados pelo homem, também são capazes de aprisionar
calor.
54
[...] os gases de efeito estufa produzidos pelo homem, especialmente o
dióxido de carbono e clorofluorcarbonetos (CFCs), estão se acumulando na
atmosfera. Esses gases são uma "forçante" climática, uma perturbação
imposta sobre o balanço de energia do planeta. Como um cobertor, eles
absorvem radiação infravermelha (calor) que de outra forma escaparia da
superfície da Terra e da atmosfera para o espaço (HANSEN, 2004, p. 32).
Dentre os gases comumente presentes na atmosfera, o gás carbônico, mesmo
sendo o segundo gás em importância, já que sua concentração na Terra é 30 a 200 vezes
inferior à do vapor d’ água, é o que vem causando maior polêmica em relação ao efeito estufa,
porque sua concentração, embora baixa, está crescendo a uma taxa de 0,4% ao ano
(MOLION, 1995). A estimativa é de que cerca de sete bilhões de toneladas de gás carbônico
são lançadas por ano na atmosfera, sendo 5,5 GtC dessas toneladas provenientes da queima de
combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral, e 1,5 GtC da queima da vegetação
natural, especialmente florestas tropicais. Calcula-se que 540 milhões de toneladas de gás
carbônico cabem ao Brasil, isto é, 35% do total mundial de queima de biomassa. Isso
acontece por causa das queimadas na floresta amazônica, queimadas de campos, cerrados e de
canaviais, as quais são muito empregadas no manuseio de culturas.
Devido à liberação de gás carbônico para a atmosfera, em função de
processos industriais (queima de combustíveis fósseis), tem sido observado
um aumento na concentração desse gás, o que vem sendo correlacionado
com o aumento da temperatura média da atmosfera. Segundo vários
pesquisadores, a exacerbação do aquecimento global é um efeito que já vem
ocorrendo há algum tempo (MOZETO, 2001, p. 45).
A figura abaixo mostra o aumento da pressão parcial do gás carbônico na
troposfera da Terra para anos recentes segundo dados sistematicamente levantados pelo
Observatório de Mauna Loa, no Hawaii.
55
Figura 1: Variações na concentração do gás CO2 da
troposfera determinadas pelo Laboratório de Oak Ridge
em Mauna Loa, Hawaii. Fonte: Mozeto (2001).
Doney (2006) explica que o aumento de dióxido de carbono na atmosfera traz
prejuízos para o oceano, visto que altera o equilíbrio ácido-básico da água do mar,
repercutindo na vida marinha. De acordo com este cientista, o gás carbônico reage com a água
do mar produzindo ácido carbônico, o que diminui o pH naturalmente alcalino da água. “Essa
alteração para condições mais ácidas reduz a capacidade de crescimento dos corais e muitos
outros organismos marinhos.” (DONEY, 2006, p. 59). “Muitos recifes de corais já estão em
processo de declínio, e a acidificação do oceano pode levar alguns deles à beira da extinção”
(p. 65).
O metano, embora presente em concentrações muito pequenas, na ordem de
1,6 partes por milhão, também teve um aumento significativo de 1% ao ano. Os demais gases
comparecem em concentrações muito menores, porém estão aumentando.
Tolentino e Rocha (1998, p. 10) afirmam que “a retenção de energia pelos
gases-estufa decorre de um mecanismo físico-químico, bem diferente daquele que ocorre nas
56
estufas agrícolas”. Além disso, entendem que o aumento do teor dos gases que ocasionam o
efeito estufa na atmosfera pode causar uma exacerbação desse efeito e, conseqüentemente, um
aquecimento global.
Esses autores complementam a idéia de Molion (1995) ao dizerem que o
dióxido de carbono “tem sido apontado como o grande vilão do efeito estufa, já que sua
presença na atmosfera decorre, em grande parte, de atividades humanas” (TOLENTINO;
ROCHA, 1998, p. 11). E informam que o metano, sendo um hidrocarboneto, tem origem em
depósitos ou em processos de extração e utilização de combustíveis fósseis ou na
decomposição anaeróbica de substâncias orgânicas, em particular a celulose. Seu teor
atmosférico atual é superior a 1,7 ml/m3 e estima-se que essa emissão atinja um total de pelo
menos 515 milhões de toneladas por ano.
Sobre o gás óxido nitroso, estudos sugerem que sua origem pode ser natural
por descargas elétricas na atmosfera, por reações fotoquímicas entre componentes de
aerossóis ou antrópica, decorrente da queima de carvão e outros combustíveis fósseis em
motores a explosão, uso de adubos nitrogenados, etc. Estima-se que o teor desse gás pode
aumentar já que seu tempo de residência na atmosfera é longo.
Os clorofluorcarbonetos ou freons, produzidos artificialmente pelo homem,
“são considerados potentes gases-estufa; uma molécula de CFC-12, por exemplo, tem o
mesmo impacto de cerca de dez mil moléculas de CO2” (TOLENTINO; ROCHA, 1998, p.
12). Os CFCs são produzidos, sobretudo, para uso em compressores para refrigeração
doméstica e para expansão de polímeros. A produção, uso e emissão desses gases diminuíram
nos últimos anos em decorrência do Tratado de Montreal em 1987.
A tabela 1 mostra informações sobre alguns dos mais importantes gases estufa
da atmosfera. Pode-se ver que alguns dos compostos têm tempos de residência
suficientemente altos na atmosfera, o que torna o risco ainda maior.
57
Tabela 1: Gases estufa da atmosfera terrestre (Baird, 1998)
Gases
Abundância atual Taxa de aumento(%) Tempo de Residência (anos)
CO2
365 ppm
0,4
50-200
CH4
1,72 ppm
0,5
12
N2O
312 ppb
0,3
206
CFC
0,27 ppb
0
12.400
Halon-1301
0,002 ppb
7
16.000
HCFC-22
0,11 ppb
5
11.000
HFC-134a
2 ppt
Nd
9.400
Nd= não determinado.
Fonte: Baird (1998, apud Mozeto, 2001)
A Figura 2 esquematiza como os gases aprisionam o calor e causam o efeito
estufa. Ela representa os processos atmosféricos, a radiação terrestre refletida e a radiação
solar absorvida.
(Figura 2: Título: Efeito Estufa. Fonte: sitehttp//educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/efeitoestufa)
Milori e Martin (2006) comentam que antes da Revolução Industrial, havia um
equilíbrio de emissão e absorção dos gases do efeito estufa na Terra, isto é, o fluxo de entrada
58
dos gases para a atmosfera era igual ao de saída, estabilizando a temperatura terrestre. Estimase que em 1850, época da disseminação da Revolução Industrial, a quantidade de CO2 na
atmosfera era de 270 ppm (1. ppm = partes por milhão _ uma quantidade de 100 ppm equivale
a 0,01%). Hoje, essa quantidade é de aproximadamente 360 ppm, um aumento de 33% . A
utilização de combustíveis fósseis (carvão, óleo e gás natural) e a prática do desmatamento
realizadas em função da crescente demanda de energia no mundo levaram este ciclo a um
desequilíbrio. Cientistas avaliam que o aumento anual na concentração destes gases na
atmosfera, atualmente, seja cerca de 0,5% para o CO2, 0,8% para o CH4 e 1% para o N2O.
Os mesmos autores explicam que o aumento da concentração dos gases
absorverdores (clorofluorcarbonetos) de radiação infravermelha tem sido relacionado ao
aumento de aproximadamente 0,03º C ao ano na temperatura do Planeta. Acredita-se que, se
nenhuma atitude for tomada até os meados deste século, a temperatura da Terra terá
incremento de 4 a 5° C em relação à sua temperatura no período anterior à Revolução
Industrial.
Hansen (2004) revela que os aerossóis (partículas finas no ar) são a outra
principal forçante humana do clima. Seu efeito é mais complexo. Alguns aerossóis "brancos",
tais como sulfatos provenientes do enxofre nos combustíveis fósseis, são altamente refletivos
e, portanto, reduzem o aquecimento solar da Terra; porém o negro, de carbono (fuligem), um
produto da combustão incompleta dos combustíveis fósseis, biocombustíveis e queima de
biomassa a céu aberto, absorve a luz solar, aquecendo a atmosfera. A forçante climática direta
pelos aerossóis tem pelo menos 50% de imprecisão, em parte porque as quantidades de
aerossol não são bem medidas e em parte por causa de sua complexidade.
A maior mudança das forçantes climáticas nos séculos recentes é causada
por gases de efeito estufa produzidos pelo homem. Esses gases na atmosfera
absorvem a radiação térmica em vez de deixá-la escapar para o espaço. Com
efeito, tornam o proverbial cobertor mais grosso, devolvendo mais calor para
o solo. Dessa forma, a Terra está irradiando menos calor para o espaço do
59
que absorve do Sol. Este desequilíbrio energético planetário temporário está
gradualmente aquecendo o planeta (HANSEN, 2004, p. 33).
Com relação ao desequilíbrio energético da Terra, Hansen (2004) explica que a
energia da Terra está em equilíbrio quando o calor que sai do planeta se iguala à energia que
chega do Sol. Atualmente, o balanço de energia não está equilibrado. Aerossóis produzidos
pelo homem têm aumentado a reflexão da luz solar pela Terra, mas essa reflexão é mais que
compensada pelo aprisionamento de radiação térmica pelos gases do efeito estufa. “O
excedente de energia – cerca de 1W/m – aquece o oceano e derrete o gelo.” Esse desequilíbrio
prenuncia o aquecimento global futuro, já a caminho (HANSEN, 2004, p. 37).
O desequilíbrio energético pode provocar mudanças climáticas significativas
para a manutenção da vida como se conhece. De acordo com simulações de computador,
alterações de temperatura, que são relativamente pequenas para o homem (por exemplo, 1 ou
2 graus centígrados a mais na média mundial), podem produzir alterações climáticas drásticas
devido, especialmente, à possibilidade de descongelamento de parte da água que se encontra
em forma de gelo nos pólos. A presença de maior proporção de água líquida na atmosfera não
somente aumentaria os níveis de água nos oceanos, mas faria com que os regimes de chuvas
de várias regiões se alterassem. Paralelamente, os próprios efeitos do aumento de temperatura
fariam com que os movimentos de massas de ar se alterassem, influenciando os regimes de
chuvas.
Tolentino e Rocha (1998, p.13) argumentam que, se os níveis de gás carbônico
continuarem a aumentar, modificações poderão ocorrer em ecossistemas aquáticos ou
terrestres, como:
•
Elevação do nível dos mares como resultado da dilatação térmica da
massa de água oceânica e do aumento do seu volume causando
60
alterações nos ecossistemas costeiros e a perda de superfície em
regiões banhadas pelo mar.
•
Aumento de tempestades, das ondas de calor e alterações nos índices
pluviométricos.
•
Aumento da biomassa terrestre e oceânica, sensível aumento dos
organismos com exoesqueleto formados por carbonato de cálcio.
•
Mudanças profundas na vegetação de algumas regiões.
•
Aumento nos incêndios florestais.
•
Aumento de doenças e proliferação de mosquitos nocivos ou vetores
de doenças.
Felício (2004) escreve sobre as conseqüências do aquecimento global depois
de estudos minuciosos realizados na Antártida. Ele explica que, na Antártida, os fenômenos
de grande porte, como ventos muito intensos, estavam associados a temperaturas mais altas,
esse pode ser um indício de que a Antártida não vai ceder simplesmente suas baixas
temperaturas ao fenômeno do aquecimento global.
A aceleração do aquecimento global já dá sinais de estar interferindo nesse
sistema, como no caso do furacão Catarina, que atingiu o sul do Brasil,
tornando ainda mais importante a compreensão desse fenômeno nessas
regiões (FELÍCIO, 2004, p. 34).
Grossman (2004) descreve que estudos recentes estão avaliando os efeitos do
aquecimento global sobre as relações entre plantas e animais nos ecossistemas. As pesquisas
estão demonstrando que, em alguns casos, temperaturas em elevação estão degradando os elos
das cadeias alimentares e a adaptabilidade de algumas criaturas viverem em seu habitat.
61
Muitas espécies, como certos pássaros e insetos, já estão reagindo e provavelmente
continuarão a reagir ao aquecimento global, deslocando-se mais para o norte ou para maiores
elevações. Tais pesquisas indicam que o aquecimento global deverá extinguir várias espécies
de seres vivos dentro de 15 anos.
Em 1988, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e
a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) constituíram o Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC), encarregado de apoiar com trabalhos científicos as
negociações da Convenção. Segundo o IPCC, a radiação solar é absorvida de maneira natural
pela superfície da Terra e redistribuída pela circulação atmosférica e oceânica para depois ser
radiada para o espaço, em comprimento de ondas mais longo, processo denominado radiação
"terrestre" ou "infravermelha".
Em média, para a Terra como um todo, a energia solar que chega é equilibrada
pela radiação terrestre que sai. Qualquer fator que venha a alterar esse processo ou mesmo a
redistribuição da energia dentro da atmosfera e na relação atmosfera-terra-oceanos pode afetar
o clima. O aumento nas concentrações de gases de efeito estufa tende a reduzir a eficiência
com que a Terra se resfria.
A radiação terrestre e as concentrações de gases de efeito estufa resultam na
intensificação do efeito que naturalmente já se processa na atmosfera da Terra há bilhões de
anos pela presença de vapor d'água, nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono, monóxido de
carbono, metano, óxido nitroso, óxido nítrico e ozônio. O aquecimento total depende da
relação entre a magnitude do aumento da concentração de cada gás associado ao efeito estufa,
de suas propriedades radiativas e de suas concentrações já presentes na atmosfera. Dados
obtidos em amostras de árvores, corais, glaciais e outros métodos indiretos sugerem que as
atuais temperaturas da superfície da Terra estão mais quentes do que em qualquer época dos
últimos 600 anos.
62
Rosella (2004) explica que da emissão de CO2 pela queima de combustíveis
fósseis, os países industrializados contribuem com mais de 75% do total. Os Estados Unidos,
com apenas 5% da população mundial, é responsável por 25% da emissão total, valor
semelhante à emissão atribuída a todos os países em desenvolvimento juntos. Há, entretanto,
processos naturais que absorvem parte destes gases. A fotossíntese, nas plantas verdes
superiores, por exemplo, está associada à formação de glicose por meio do dióxido de
carbono (CO2), água (H2O) e luz (radiação solar). Parte do carbono, todavia, retorna para a
atmosfera em função da respiração de microorganismos que decompõem a matéria orgânica
do solo.
Em termos quantitativos, levando-se em conta as emissões e os processos
naturais de absorção, anualmente, a atmosfera ganha aproximadamente 5.000 Tg (1Tg=1012
gramas) de carbono que não será absorvida, acumulando-se na atmosfera. Este excedente é
originado, em particular, da queima de combustíveis fósseis. A situação se agrava muito
quando se soma a este dado o fato de que há muito mais carbono armazenado em
combustíveis fósseis na terra do que na atmosfera. A queima em larga escala destes
reservatórios levaria à sérias mudanças na atmosfera terrestre, especialmente se isto ocorrer
numa escala de tempo muito mais rápida do que os processos naturais de reciclagem
(ROSELLA, 2004)
Há muitas décadas que se sabe da capacidade que o dióxido de carbono tem
para reter a radiação infravermelha do Sol na atmosfera, estabilizando a temperatura terrestre
por meio do efeito estufa, mas, ao que parece, isto em nada preocupou a humanidade que
continuou a produzir enormes quantidades deste e de outros gases de efeito estufa.
Segundo Meira Filho (2006, p. 2):
O aumento da temperatura média global neste século não tem precedente na
história recente, nos últimos cerca de dez mil anos. E esta é uma razão
importante para preocupação. Os danos são de uma certa forma
proporcionais à taxa de mudança, mais do que à magnitude da mudança em
63
si, já que nos adaptamos lentamente ao clima, sempre que a taxa da mudança
não seja maior do que a nossa capacidade de adaptação.
O debate internacional sobre mudanças climáticas tem se intensificado desde
1988, com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Dois
anos depois, o IPCC divulgou seu primeiro relatório, confirmando a ameaça das mudanças
climáticas e recomendando um tratado global para discussão do problema. Em 1992, no Rio
de Janeiro, durante a Conferência Eco 92, foi realizada a chamada Cúpula da Terra, quando
175 países assinaram a Convenção sobre Mudanças Climáticas com o objetivo comum de
reduzir à níveis seguros as concentrações de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Sobre isso, Molion (1995, p.28) postula que:
È fundamental que sejam tomadas medidas para controlar as mudanças
aceleradas que o ambiente está sofrendo. Tais medidas, porém, não devem
partir de falsas bases científicas, que apregoam o catastrofismo, e sim da
incerteza sobre os impactos que o homem inadvertidamente estaria causando
no ambiente.
Outro acontecimento que vem demonstrando a preocupação de algumas nações
com o aquecimento global é a elaboração do Protocolo de Kyoto, adotado em 1997 como um
componente da Convenção marco sobre Mudanças Climáticas, que continha, pela primeira
vez, um acordo vinculante que obrigava os países industrializados a reduzir suas emissões de
GEE em 5,2% entre 2008 e 2012 em relação aos níveis verificados em 1990.
Assim, as negociações em torno do Protocolo se estenderam até 2004, quando
a Rússia ratificou o documento. Para entrar em vigor passando a ser um Tratado era
necessária a aprovação de um número de países que representasse pelo menos 55% das
emissões mundiais de carbono. O Tratado de Kyoto entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de
2005.
64
Com o Protocolo de Kyoto, cria-se um mercado mundial de crédito de
carbono. Os países que não conseguirem reduzir suas emissões de GEE poderão comprar
créditos dos países que contribuem para retirar esses gases da atmosfera em quantidade maior
do que emitem. Esse Protocolo abrange seis gases de efeito estufa produzidos por atividades
humanas: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos
(HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6).
Em 19 de março de 2002, o Ministério do Ambiente da Holanda divulgou em
uma nota à imprensa que o senado holandês aprovou por unanimidade a ratificação do
Protocolo de Kyoto, sendo o primeiro país da União Européia a transformar em lei o
protocolo (ROSELLA, 2004).
Os Estados Unidos que, mesmo sendo a nação que mais lança os GEE devido a
sua alta industrialização, se nega a assinar o tratado. O Brasil foi o 77º a ratificar o Protocolo
de Kyoto em 23 de agosto de 2002. Faltavam a Rússia e a Polônia que confirmaram sua
adesão tardiamente. O Canadá aderiu ao tratado durante a reunião de Johannesburgo,
(Rio+10) (ROSELLA, 2004).
Tolentino e Rocha (1998, p.14) confirmam a importância do Protocolo de
Kyoto ao mencionarem que “o cumprimento dos protocolos é fundamental para minimizar
previsíveis mudanças do clima e para que a humanidade consiga um desenvolvimento
sustentável que garanta a continuidade da vida no planeta”.
A revista Scientific American de outubro de 2006 publicou vários artigos sobre
como combater o aquecimento global sem prejudicar a economia, com soluções energéticas
para um mundo sustentável. De acordo com vários pesquisadores, a diversificação energética
é a melhor estratégia para se combater o aquecimento global. Essa diversificação pode ser
realizada com a adoção da energia nuclear de nova geração, com o carvão limpo, com baterias
solares fotovoltaica, ou com fontes alternativas como: biocombustíveis, energia solar,
65
hidrogênio e energia eólica para descartar o uso do carbono. A tarefa de evitar que a Terra se
transforme em sauna será provavelmente um dos maiores desafios científicos e técnicos a ser
enfrentado pela sociedade contemporânea.
Stix (2006) comenta que o Tratado de Kyoto pode ser o primeiro passo
necessário para desencadear outras propostas que consigam estabilizar as emissões de
carbono.
Portanto, é relevante entender as diferenças entre o efeito estufa e o
aquecimento global, bem como entender as complexas relações políticas e econômicas que
envolvem esta problemática ambiental.
Os pesquisadores são enfáticos ao dizerem que o aquecimento global precisa
ser combatido logo, antes que estes problemas climáticos se tornem irreversíveis. Pensando
em toda esta problemática, escolheu-se o assunto efeito estufa como alvo de estudo nesta
pesquisa, pois é um tema que gera polêmicas e debates, envolve uma questão ambiental
extremamente urgente de ser resolvida e é de fundamental importância que a sociedade tenha
informações científicas precisas para lidar com o assunto, entender o que realmente está
acontecendo para poder opinar e decidir em comunidade. É por isso, e por acreditar que a
escola deve ser o local onde o conhecimento científico deve propiciar uma tomada de
consciência por parte dos cidadãos é que decidiu-se investigar as concepções que os
estudantes têm sobre o efeito estufa.
66
4 A PESQUISA
4.1 PROBLEMÁTICA QUE DESENCADEOU A RESPECTIVA PESQUISA
O problema que mobilizou toda a pesquisa bibliográfica e a pesquisa
qualitativa para a realização desta dissertação revelou-se que durante a prática pedagógica da
pesquisadora. Como professora de Ciências, a professora/pesquisadora observou que os
alunos da 8ª série do Ensino Fundamental tinham elaborado ao longo dos três últimos anos de
escolarização (5ª, 6ª e 7ª séries) várias concepções diferentes das científicas sobre o fenômeno
do efeito estufa. Como esse assunto é trabalhado tanto pela disciplina de Ciências como pela
de Geografia, a professora/pesquisadora ficou instigada em entender como tantas concepções
alternativas (o significado de “alternativas” na pesquisa é utilizado como diferente do
conceito científico) haviam sido formuladas pelos alunos.
Os alunos dessa faixa etária confundiam efeito estufa com outros assuntos,
como destruição da camada de ozônio, chuva ácida e aquecimento global, e referiam-se ao
fenômeno como algo maléfico a Terra.
4.2 OBJETIVOS DESTE TRABALHO DE PESQUISA
Fundamentados nos suportes teóricos apresentados por este trabalho, os
objetivos do estudo obedecem à seguinte configuração:
- Geral
67
•
Identificar e analisar as concepções alternativas que alunos do Ensino Fundamental
possuem sobre o fenômeno do efeito estufa, verificando a relação dessas concepções
com o ensino de Ciências.
- Específicos
•
Diagnosticar como os alunos de uma 8ª série interpretam o fenômeno do efeito estufa.
•
Verificar as idéias dos educadores desses alunos sobre o fenômeno e a abordagem do
livro didático referente ao tema, a fim de compreender se as mesmas têm correlação
com as concepções dos alunos.
•
Contribuir com o trabalho do professor de Ciências e de Biologia.
4.3 A METODOLOGIA DA PESQUISA
Durante os últimos anos, as pesquisas voltadas ao ensino de Ciências têm
aumentado progressivamente, a julgar pelas inúmeras teses, dissertações, livros e artigos
publicados, e realizações de congressos na área. Porém, mais importante para o crescimento
da área, não é apenas o aumento no número de artigos, mas a sua qualidade. Em relação a
esses aspectos, surgiram muitas críticas aos trabalhos produzidos sobre o ensino de Ciências,
dentre elas se destacam os sérios problemas metodológicos e problemas com a análise dos
resultados, que colocam em dúvida a autenticidade de tais estudos. Neste sentido, é uma
preocupação desta pesquisa definir a metodologia tomando-se por base os objetivos e o
referencial teórico adotado.
Para a realização da pesquisa, optou-se por uma abordagem qualitativa,
porque, sendo ela interpretativa e subjetiva, responde melhor às questões sobre o processo de
68
ensino e aprendizagem. Além disso, a pesquisa qualitativa não se preocupa diretamente com a
generalização dos fatos estudados e nem com a representatividade estatística da amostragem,
fatores não prioritários quando se faz análise de concepções de um dado grupo. André e
Ludke (1986) caracterizam a pesquisa qualitativa ao afirmarem que:
A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os pesquisadores
não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas
antes do início dos estudos. As abstrações se formam ou se consolidam
basicamente a partir da inspeção dos dados num processo de baixo para
cima.
Segundo Bogdan e Biklen (1994), o significado tem importância vital na
pesquisa qualitativa. O significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida é a preocupação
essencial na abordagem qualitativa. Este tipo de abordagem aprofunda-se no mundo dos
significados das ações e das relações humanas que, não são captáveis em números, médias e
estatísticas. Chizzotti (2000, p.78) ressalta que: “[...] a complexidade e as contradições de
fenômenos singulares, a imprevisibilidade e a originalidade são criadoras das relações
interpessoais e sociais”. E são essas relações que enriquecem a pesquisa qualitativa.
Bogdan e Biklen (1994) destacam cinco características da investigação
qualitativa: (1) a fonte direta de dados é o ambiente natural e o investigador é o instrumento
principal de coleta de dados; (2) os dados recolhidos são descritivos; (3) o interesse do
investigador centra-se, sobretudo, nos processos; (4) a análise dos dados é feita pelo
investigador de uma forma indutiva; (5) o investigador interessa-se por compreender o
significado que os participantes atribuem às suas experiências. Estas características, apesar de
poderem não estar presentes de igual modo num estudo, determinam em grande medida o tipo
de investigação que está a ser feita. Eles destacam, ainda, sobre a relevância de realizar as
investigações dos fenômenos em contexto natural.
69
Outro aspecto que favoreceu a escolha por uma pesquisa qualitativa é que,
nesta abordagem, a maior preocupação não é com o produto, mas sim com o processo do
trabalho de pesquisa, porque a qualidade está acima da quantidade de uma amostragem.
Sendo assim, dentre as vertentes da pesquisa qualitativa, optou-se pelo questionário por ser
um instrumento capaz de investigar as concepções dos alunos sobre efeito estufa. No entanto,
o nível desta pesquisa é exploratório e o seu delineamento é levantamento de dados.
Antes da aplicação dos questionários, todo o projeto de pesquisa foi
encaminhado ao Comitê de Ética da Universidade Estadual de Maringá (UEM) do
departamento de pesquisa com seres humanos para a obtenção da aprovação do trabalho de
pesquisa, inclusive os termos de consentimento dos participantes da pesquisa (APÊNDICES
A e B) e do diretor da escola (APÊNDICE C).
Os questionários foram aplicados mediante contato inicial da pesquisadora
com a escola escolhida, com o intuito de apresentar à direção os objetivos da pesquisa e
agendar datas e horários para a aplicação dos mesmos. Durante os contatos, foram definidas
as regras para a aplicação dos questionários: tempo de preenchimento, presença da
pesquisadora durante a aplicação, local e forma de preenchimento. Os questionários foram
preenchidos em horário de aula dos alunos.
No caso dos alunos, o questionário elaborado foi composto por cinco questões
abertas referentes ao assunto efeito estufa, sendo que na última questão foi solicitada a
elaboração de um desenho com a representação do fenômeno (APÊNDICE D). As questões
buscaram identificar os meios em que ocorreu a aprendizagem dos alunos sobre o tema
investigado, como foi essa aprendizagem, o que realmente aprenderam e as concepções que
foram elaborando durante seus anos de escolarização.
Muitos pesquisadores ressaltam a importância de um questionário aberto. Pozo
(1998) explica que um questionário com questões de múltipla escolha, em que o aluno deve
70
apresentar a resposta correta sobre a questão proposta, faz com que o pesquisador perca
muitas informações na análise; por outro lado, o questionário aberto permite que os alunos
evidenciem suas concepções a respeito do tópico em questão. O autor ressalta a importância
na aplicação do questionário, para que os sujeitos da pesquisa não fiquem intimidados de
expor seus pontos de vista, escrevendo realmente o que sabem e pensam sobre os assuntos.
Chizzotti (2000) faz outros comentários muito pertinentes sobre a aplicação do
questionário. Ele comenta que é de grande importância que os participantes da pesquisa
estejam bem esclarecidos sobre o objetivo do pesquisador, bem como a finalidade do trabalho.
Levando-se em consideração todas as recomendações lidas sobre a aplicação de um
questionário, foram realizados dois estudos-piloto com aplicação e modificação sucessiva dos
questionários por meio das respostas obtidas com sujeitos de características similares aos da
amostra da pesquisa.
A escolha de alunos de uma escola particular para a coleta de dados deveu-se à
disponibilidade da pesquisadora e por ser a escola onde ela levantou as primeiras impressões
de concepções alternativas com relação ao assunto do efeito estufa. Como ela trabalha nessa
escola, ficou mais fácil organizar os horários para a realização da pesquisa.
Assim, a coleta de dados foi realizada obedecendo aos seguintes
procedimentos:
•
Inicialmente, fez-se a apresentação pessoal da pesquisadora como participante de um
programa de pesquisa na área educacional; incentivou-se a classe a participar da pesquisa sem
intimidar os participantes com o uso de palavras difíceis ou desconhecidas, foram esclarecidos
sobre os objetivos da pesquisa e explicada a importância da colaboração de todos para a
realização satisfatória do trabalho.
•
Em seguida, foi entregue um questionário para cada aluno da classe e procedeu-se a
leitura em voz alta das questões, solicitando que respondessem com seriedade o que
71
lembrassem sobre os assuntos perguntados, e orientou-se para que chamassem a pesquisadora
caso tivessem alguma dúvida na maneira como as questões estavam redigidas.
•
Após o preenchimento, o material foi recolhido pela pesquisadora que agradeceu aos
participantes a colaboração que deram à pesquisa.
No segundo momento da pesquisa, realizou-se entrevistas com os professores
de Ciências e Geografia que ministraram aulas para esta turma de alunos na ocasião que eles
estavam na 5ª série, para compreender melhor as idéias dos educandos. A escolha da
entrevista aconteceu por ela possibilitar um diálogo mais amplo com os professores. .
A entrevista com os professores foi do tipo semi-diretiva, não foi inteiramente
aberta e nem direcionada por um grande número de perguntas precisas. O entrevistador fez
uso de uma série de perguntas guias, que dispensam uma ordem específica para aplicação,
proporcionando, dessa forma, liberdade para o entrevistado se expressar.
Desse modo, foi elaborado um roteiro com 15 questões a fim de verificar as
concepções dos professores sobre o fenômeno analisado e suas reflexões a respeito do tema
em questão (APÊNDICE E).
Foi verificada a disponibilidade dos professores em participar da pesquisa, já
que não trabalhavam mais nessa escola. Depois, eles foram informados de que se tratava de
uma pesquisa de pós-graduação em nível de Mestrado e que os dados coletados seriam
sigilosos, mantendo-se o anonimato. Eles assinaram um termo de consentimento e
colaboraram com a pesquisa, respondendo as perguntas e emprestando o livro-didático que
utilizaram na época.
As entrevistas foram realizadas em local reservado, com duração média de 50
minutos, ocasião em que os depoimentos dos professores foram gravados em fita cassete e,
posteriormente, transcritos na íntegra como segue nos Apêndices F e G.
72
Embora o objetivo principal deste estudo não tenha sido a análise do livrodidático, ele foi utilizado para compreender melhor as concepções dos alunos e a dos
professores, já que ambos mencionaram a utilização deste material em sala de aula. Tanto os
professores como os alunos deixaram evidente que as aulas obedeciam à seqüência do livro
didático.
4.4 PERFIL DOS ALUNOS PARTICIPANTES DA PESQUISA
Este estudo foi realizado com 40 alunos, de ambos os sexos, da 8ª série do
Ensino Fundamental, que estudam no período diurno de uma escola particular de uma cidade
do Noroeste do Estado do Paraná. Esses alunos encontram-se na faixa etária de 13 a 15 anos
de idade, sendo que a maioria da sala possuía 14 anos. Muitos deles têm Internet em casa e
todos podem acessá-la na escola; além disso, têm fácil acesso a revistas, jornais, livros e a
diversos programas de televisão.
4.5 PERFIL DOS PROFESSORES PARTICIPANTES DA PESQUISA
A professora de Geografia (PG) da 5ª série desses estudantes se formou em
Estudos Sociais, em 1989, e terminou a complementação em Geografia no ano de 1990,
ambos em uma mesma Faculdade Estadual do Noroeste do Paraná. Realizou Especialização
em Didática e Metodologia do Ensino em 1998, em uma Faculdade Particular do Estado.
Sobre sua experiência profissional, explicou que leciona há oito anos as disciplinas de
Geografia e Ensino Religioso; trabalhou em escola particular, atualmente, trabalha em duas
escolas públicas, uma estadual, no Ensino Médio, e outra municipal, onde leciona para o
Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série.
73
A professora de Ciências (PC) da 5ª série desses educandos fez a sua
graduação em Ciências com Habilitação em Matemática em uma Faculdade Estadual do
Noroeste do Paraná e concluiu em 1997. Especializou-se em três áreas: Didática e
Metodologia do Ensino, em uma Universidade Particular em 1999; Biologia, em uma
Universidade Pública do Estado do Paraná, em 2001; e em Educação Especial, no ano de
2003, na faculdade em que concluiu sua graduação. Ela começou a lecionar em 1996, como
professora de 1ª a 4ª série, depois foi trabalhar com Ciências de 5ª a 8ª série e, atualmente,
dedica-se ao ensino de Matemática e Educação Especial. Já trabalhou durante mais ou menos
quatro anos em uma escola particular, no momento trabalha em escola pública a
aproximadamente três anos.
4.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
Para a análise das respostas obtidas dos questionários, das falas das professoras
de Ciências e de Geografia à entrevista e do conteúdo do livro didático de Ciências e de
Geografia, optou-se pelos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Conteúdo de
Bardin (1977), porque é uma técnica muito significativa para as pesquisas qualitativas,
auxiliando o pesquisador a retirar do texto escrito seu conteúdo manifesto ou latente.
Por ser um instrumento de análise interpretativa, é uma das técnicas de
pesquisa mais antigas – a sua história registra que, por volta de 1787, nos Estados Unidos,
começaram a empregar esse método nos departamentos de ciências políticas. Mas a sua
emergência como método de estudo aconteceu nas décadas de 20 e 30 do século passado, com
o desenvolvimento das Ciências Sociais. Laurence Bardin (1977) também comenta que, desde
a hermenêutica, arte de interpretar os textos sagrados ou misteriosos, o homem praticava a
interpretação como forma de colocar a sua observação sobre um dado fenômeno.
74
Oliveira et al. (2006) relatam que outro fator importante na história da Análise
de Conteúdo foram os problemas suscitados pela segunda guerra mundial que favoreceram os
estudos empíricos que utilizaram a técnica de Análise de Conteúdo no campo da política, sob
a forma de pesquisas pragmáticas. Na atualidade, as pesquisas em educação têm buscado, na
Análise de Conteúdo, um referencial para orientar e organizar os resultados encontrados.
Tal método se baseia na junção de um conjunto de técnicas de análise dos
relatos, no qual são utilizados procedimentos bem determinados para interpretar o conteúdo
das mensagens. Bardin explica que o termo “Análise de Conteúdo” reúne:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1977, p. 42).
Oliveira et al. (2006) acrescentam que a finalidade da Análise de Conteúdo é
explicar e sistematizar o conteúdo da mensagem e o significado desse conteúdo por meio de
deduções lógicas e justificadas, tendo como referência sua origem e o contexto da mensagem
ou os efeitos dessa mensagem. Ela pretende superar as dúvidas e enaltecer a compreensão de
um texto, mediante regras para a fragmentação do mesmo. Tais regras, determinantes de
categorias, devem ser homogêneas, exaustivas, objetivas e pertinentes.
Assim, essa metodologia começa com uma leitura flutuante, na qual o
pesquisador, num trabalho gradual de apropriação do texto, estabelece vários momentos de
idas e voltas entre o documento analisado e as suas anotações, até que comecem a surgir as
suas primeiras unidades de registro. As unidades de registro, que podem ser palavras,
conjunto de palavras ou temas geradores, são definidas passo a passo pelo pesquisador e
servem de guia na busca das informações contidas no texto. A definição precisa e a ordenação
rigorosa das unidades de registro ajudarão o pesquisador a controlar suas próprias
75
perspectivas, ideologias e crenças, controlando sua subjetividade a favor de uma reconhecida
sistematização que levará à objetividade e generalização dos resultados.
A terceira etapa da pesquisa consiste na definição das categorias. É uma etapa
muito importante, porque a qualidade de uma Análise de Conteúdo depende de suas
categorias. A pesquisadora Bardin (1977) define a categorização como uma operação de
classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente,
por reagrupamento, segundo o gênero que tenha critérios anteriormente definidos. As
categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título
genérico. Estas podem ter critérios semânticos, os quais são categorias temáticas que utilizam
o tema como unidade de registro.
Neste trabalho, a análise temática ou análise categorial foi utilizada como uma
das dimensões da Análise de Conteúdo, por ser uma das técnicas deste tipo de análise mais
utilizada na prática.
Para realizar a categorização obedeceram-se as seguintes condições
recomendadas por Bardin (1977):
•
A exclusão mútua – estipula que cada elemento não pode existir em mais de uma
divisão.
•
A homogeneidade – princípio de exclusão mútua que depende da homogeneidade das
categorias, na qual diferentes níveis de análise devem ser separados em outras tantas análises
sucessivas.
•
A pertinência – determina que, para uma categoria ser considerada pertinente, deve
estar adaptada ao material de análise escolhido e pertencer ao quadro teórico definido.
•
A objetividade e a fidelidade - as diferentes partes de um mesmo material devem ser
codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a várias análises.
76
•
A produtividade – um conjunto de categorias é produtiva se fornecer resultados férteis
em hipóteses novas e em dados exatos.
Para a análise dos dados coletados, primeiro realizou-se a pré-análise,
procedendo com a transcrição literal que resultou no documento para a realização da leitura
flutuante. Os dados coletados foram lidos várias vezes, com anotações sobre os temas
abordados nas questões.
Seguiu-se, então, com a exploração do material, extraindo unidades de
significado do texto, enumerando-as e organizando-as de maneira que fosse fácil manusear
todas essas anotações, que se constituíram nas unidades de registro.
Depois da exploração do material coletado, começou a categorização, fase na
qual as unidades de registro passaram a dar lugar à organização em categorias e subcategorias,
constituindo os eixos temáticos para a análise.
Os resultados foram apresentados por meio de um texto de modo que
expressasse o conjunto de significado que cada categoria se propôs a representar.
Por fim, foi realizada a interpretação das categorias, objetivando a
compreensão profunda do conteúdo pesquisado. Todo este aparato metodológico serviu de
fundamento teórico para que as conclusões do trabalho tenham seriedade e estejam coerentes
com o desenvolvimento do mesmo.
O esquema abaixo foi extraído de Bardin (1977, p. 102) e demonstra as etapas
que foram seguidas durante a análise dos resultados obtidos na pesquisa.
77
DESENVOLVIMENTO DE UMA ANÁLISE
PRÉ-ANÁLISE
Leitura flutuante
Escolha do
documento
formulação
das hipóteses e
objetivos
Elaboração dos
indicadores
Preparação do
material
Dimensões e
direções de análise
Regras de
recorte de
categorização
EXPLORAÇÃO DO MATERIAL
Administração das
técnicas sobre
o corpus
TRATAMENTO DOS RESULTADOS E INTERPRETAÇÕES
Operações estatísticas
Síntese e seleção dos
resultados
Inferências
Interpretação
Outras orientações
para uma nova análise
Utilização dos resultados
de análise com fins teóricos
ou pragmáticos
Figura 3 – Esquema Ilustrativo da Análise de Conteúdo.Fonte: Bardin (1977).
Com relação aos desenhos elaborados pelos alunos, a análise dos mesmos permite
conhecer melhor a percepção que cada um tem sobre o fenômeno do efeito estufa. Muitos
pesquisadores e estudiosos de representação gráfica de crianças explicam que os desenhos dos
alunos não representam as percepções do que eles vêem, mas, do que eles conhecem.
78
Alguns autores, estudando e analisando os desenhos de crianças, como Luquet
(1969, apud RAMIRES E GUIMARÃES, 2004, p.13-14) chegaram a seguinte conclusão:
“[...] a criança ao desenhar tem uma intenção realista”, e que para a criança,
esse realismo intelectual é traduzido através do seguinte pensamento:
“desenho para ser parecido, deve conter todos os elementos reais do objeto,
mesmo invisíveis”.
Os autores Ramires e Guimarães (2004) acrescentam que Lowenfeld e Brittain
explicam que a criança expressa seus pensamentos, seus sentimentos e seus interesses nos
desenhos e pinturas que realiza.
Vygotsky (1991), em seus trabalhos sobre as concepções das crianças através
dos desenhos, afirmou que o desenho para a criança é como se fosse uma narração gráfica.
Goldberg, Yunes e Freitas, (2005, p. 1) complementam que:
O desenho infantil é um dos aspectos mais importantes para o
desenvolvimento integral do indivíduo e constitui-se num elemento
mediador de conhecimento e autoconhecimento. A partir do desenho a
criança organiza informações, processa experiências vividas e pensadas,
revela seu aprendizado e pode desenvolver um estilo de representação
singular do mundo.
É necessário esclarecer que uma análise mais aprofundada dos desenhos das
crianças requer habilidades específicas. Nesta pesquisa procurou-se identificar nas
representações gráficas elementos que expressassem as percepções dos alunos em relação ao
efeito estufa. Portanto, análises mais apuradas poderão ser realizadas em trabalhos futuros.
79
5 APRESENTAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DOS ESTUDANTES E
DOS PROFESSORES A RESPEITO DO FENÔMENO “EFEITO
ESTUFA”
Neste capítulo, são apresentados os dados obtidos por meio da aplicação dos
instrumentos de pesquisa. Os resultados, aqui discutidos, em alguns momentos, são
confrontados com as reflexões de estudiosos e pesquisadores em ensino de Ciências. Para
facilitar o entendimento do leitor, as falas dos alunos estão organizadas em categorias
temáticas que obedecem ao referencial teórico da Análise de Conteúdo de Bardin (1977),
constituindo os eixos norteadores para as reflexões realizadas e para a análise temática
propriamente dita.
5.1 OS ALUNOS
Todos os alunos participaram prontamente da pesquisa, respondendo o
questionário sem reclamar. Alguns apresentaram dificuldade em lembrar a série em que
tinham estudado o assunto do efeito estufa e, também, as disciplinas que trabalharam esse
tema.
5.1.1
Onde e quando os alunos ouviram falar sobre o efeito estufa
De um modo geral, os estudantes responderam que aprenderam sobre o
fenômeno do efeito estufa na escola, durante as aulas das disciplinas de Ciências e Geografia.
A grande maioria mencionou, também, que ouviu falar sobre esse tema na televisão, em
particular assistindo a programas jornalísticos. Outros alunos mencionaram a internet, leitura
80
de livros (livros didáticos e outros), jornais e revistas, ou seja, os meios de comunicação não
acadêmicos estão educando esses estudantes.
Na escola, na TV, na Internet, em livros e etc. (E-2)
Estudando por meio didático de livros e assistindo TV no programa informativo
Jornal Nacional (JN). (E-4)
Eu já ouvi falar sobre o efeito estufa pela televisão, falando no jornal as suas
conseqüências. (E-3)
Na escola, nos livros, na Internet, através das aulas, lendo e pesquisando na Internet.
(E-8)
Prevendo a resposta “na escola”, os alunos foram questionados sobre a série e
disciplinas em que discutiram o tema, e as respostas foram: 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries, porém o que
predominou foi que aprenderam sobre efeito estufa na 5ª série, nas disciplinas de Ciências e
Geografia, como se observa nas falas destes estudantes:
O efeito estufa foi discutido na 5ª série, nas matérias de Ciências e Geografia, e agora
retomando na 8ª série. (E-8)
Na 5ª série. Ciências e Geografia. (E-11)
Nas séries 5ª e 6ª onde foi mais discutido. Em Ciências e um pouco em Geografia. (E14)
O interessante é que, conversando com as professoras de Ciências e Geografia
dos alunos e verificando os planejamentos anuais das duas disciplinas, constatou-se que eles
aprenderam sobre esse tema na 5ª série tanto em Ciências como em Geografia e que foi
retomado o conteúdo no final da 8ª série, novamente nas duas disciplinas. Esses alunos
ouviram, discutiram e tornaram a ouvir e discutir em duas disciplinas diferentes e, mesmo
assim, muitos se confundiram sobre a série em que aprenderam sobre esse fenômeno e qual a
disciplina que abordou o tema.
81
5.1.2
As concepções alternativas sobre o efeito estufa
Após várias leituras e interpretações do questionário respondido pelos 40
alunos, foram construídas as categorias de análise (TABELA 2), com base nas hipóteses
anteriormente definidas. As perguntas do questionário foram:
1- Você já ouviu falar sobre o “efeito estufa”? ( ) Sim. Por qual(is) meio(s)
e como? ( ) Não.
2- Na escola, em que(ais) série(s) e qual(is) matéria(s) foi discutido o “efeito
estufa”?
3- Escreva tudo o que você sabe sobre o “efeito estufa” e como ocorre.
4- Quais as implicações do “efeito estufa”?
5- Faça um desenho que represente o “efeito estufa” em nosso Planeta.
As categorias são os eixos norteadores da análise temática e estão
estruturadas de acordo com o propósito da pesquisa, que foi o de investigar as concepções
alternativas dos estudantes sobre “efeito estufa”.
Tabela 2: Categorias da Análise de Conteúdo dos Dados Coletados
Quantidade
de alunos
Porcentagem
das respostas
Categoria 1- A poluição atmosférica gera o efeito estufa.
30
75%
Categoria 2-Os buracos na camada de ozônio são
responsáveis pelo efeito estufa.
33
82,5%
Categoria 3- O efeito estufa acontece devido ao
aprisionamento dos raios ultravioletas na Terra.
22
55%
Categorias de Análise de Conteúdo
82
Categoria 4- Efeito estufa é sinônimo de aquecimento
global.
25
62,5%
Categoria 5- O efeito estufa acontece em conseqüência da
ação humana na natureza.
16
40%
Categoria 6- O fenômeno provoca câncer de pele nos seres
humanos.
15
37,5%
Categoria 7- O efeito estufa ocasiona o derretimento das
geleiras comprometendo o meio ambiente.
16
40%
Categoria 8- Preocupação com o efeito estufa levou as
nações a elaborarem o Tratado de Kyoto.
8
20%
Estas categorias resultaram da síntese dos conteúdos do questionário aplicado
aos alunos da 8ª série, bem como da predominância de idéias dos respectivos sujeitos
pesquisados.
Categoria 1 - A poluição atmosférica gera o efeito estufa
A primeira categoria abrange as respostas dos alunos que evidenciaram ser a
poluição do ar a grande causadora do efeito estufa. Durante a leitura dos questionários, ficou
manifesto que todos os alunos vêem esse fenômeno como maléfico e prejudicial ao nosso
Planeta. A preocupação com as queimadas das matas, os carros que poluem a atmosfera e com
os gases clorofluorcarbonetos, mais conhecidos como CFCs, é algo predominante nas
respostas desses aprendizes. Até os fumantes que poluem o ar com os seus cigarros são
considerados por eles como responsáveis pela ocorrência desse efeito.
83
De acordo com Mozeto (2001), o efeito estufa não é um fenômeno ocasionado
pelo homem, ao contrário, ele acontece naturalmente na Terra por causa da contenção de calor
promovida por alguns dos gases que fazem parte da atmosfera terrestre.
Ao ler as respostas dos alunos, encontra-se a concepção alternativa de que o
efeito estufa começa a acontecer em decorrência da poluição do ar. Por isso, eles acreditam
que, em cidades maiores, ou melhor, nos países desenvolvidos, onde há mais indústrias, o
fenômeno ocorre de maneira mais intensa. Já que para os estudantes o efeito estufa é o grande
vilão, a poluição é a sua parceira que acarreta tudo isso e precisa ser controlada. A explicação
desses aprendizes assume outros direcionamentos, quando relacionam a poluição como a
grande destruidora da camada de ozônio e os buracos nessa camada permitem que os raios do
sol entrem com mais “força”, gerando a sensação de que estamos vivendo dentro de uma
estufa. Daí a satisfatória explicação (para os alunos) de como a poluição gera esse fenômeno.
O efeito estufa é causado por gases produzidos pela geladeira, pela fabricação de
isopor, pelas fumaças das fábricas e dos carros, e o gás que mais destrói é um gás
chamado CFC, que além de destruir a camada de ozônio, ele aprisiona os raios do sol.
(E-1)
Efeito estufa é a degradação do meio ambiente e que acaba muito com a camada de
ozônio. Ocorre com a poluição e nós poluímos o meio ambiente a toda hora até
quando jogamos um papel de bala no chão nós poluímos.(E-2)
O efeito estufa é conhecido também como aquecimento global, é causado pela
emissão de gases poluentes e resíduos que destroem a camada de ozônio. (E-3)
O efeito estufa ocorre quando o oxigênio do ar se choca com os gases poluentes
contidos na fumaça solta nas indústrias e nos automóveis, esses gases poluentes
afetam a natureza, os animais, os seres humanos, causando doenças pulmonares. (E-4)
O efeito estufa é causado pelos lixos, fumaça das fábricas, gás da geladeira e o CFC.
Esses produtos e fumaças fazem buracos na camada de ozônio e isso é muito ruim. (E5)
84
O efeito estufa está existente a partir do início da industrialização, quando as
indústrias lançaram fumaça a partir da poluição na atmosfera. (E-6)
Efeito estufa é quando a camada de ozônio estufa ocorre o efeito e quando sai ocorre a
poluição no ar. (E-7)
Ele ocorre por causa da poluição do ar causada por indústrias, automóveis, fumantes,
queimadas e CFCs. (E-8)
Os desenhos feitos pelos mesmos alunos reforçam suas idéias ao representarem
graficamente fábricas lançando seus poluentes, automóveis e o desmatamento. Os desenhos
deixam evidente que, para eles, o efeito estufa só acontece por causa da poluição. Um ciclo
de idéias parece associar a poluição atmosférica, a destruição da camada de ozônio e o efeito
estufa. Há, ainda, um outro posicionamento nitidamente explícito nos desenhos: esses
acontecimentos são ocasionados pelo homem, pois é ele que constrói as fábricas, inventa os
automóveis, faz as queimadas e, conseqüentemente, o efeito estufa.
A figura 4 é uma representação da poluição lançada por fábricas que causa o
efeito estufa. Já a figura 5 retrata o acúmulo de poluição na atmosfera da Terra. A figura 6
acrescenta carros e caminhões como agentes responsáveis pelos poluentes. E a figura 7
representa que toda poluição atmosférica sobe até a camada de ozônio e destrói essa camada,
gerando os “buracos” na camada de ozônio.
85
Figura 4 – Representação de uma fábrica por A.B., menino de 14 anos.
Figura 5 – Representação em cinza da poluição por L.S., menina de 15 anos.
86
Figura 6- Representação da poluição lançada por carros, indústrias e queimadas, da aluna
M.A. de 14 anos.
Figura 7- Desenho que retrata a poluição por G.G., menino de 14 anos.
87
Categoria 2 - Os buracos na camada de ozônio são responsáveis pelo efeito estufa
Para os estudantes, os buracos que existem na camada de ozônio explicam o
acontecimento do efeito estufa, porque, segundo eles, por esses buracos que os raios
ultravioletas do Sol entram na atmosfera da Terra e fazem o superaquecimento do Planeta.
Muitos associam a camada de ozônio ao vidro de uma estufa de plantas, ou seja, é ela a
grande gerenciadora desse fenômeno e de tantos outros que acontecem na Terra. Tais
explicações são contrárias às científicas porque, de acordo com Molion (1995), o efeito estufa
aquece a Terra devido ao redirecionamento da radiação UV à superfície terrestre, que é
realizada por gases que fazem parte da atmosfera da Terra.
O efeito estufa ocorre quando a poluição quebra a camada de ozônio deixando os raios
ultravioletas entrarem. (E-13)
O efeito estufa ocorre porque os gases destroem a camada de ozônio e os raios fortes
do sol conseguem passar, e o gás CFC aprisiona os raios dentro do planeta,
esquentando-o, fazendo as geleiras derreterem e causando outros males como calor e
maior porcentagem de pegar câncer de pele. (E-1)
Efeito estufa é o que acontece quando a poluição, principalmente o gás CFC, destrói a
camada de ozônio. Daí os raios-ultravioletas entram na atmosfera pelos buracos da
camada de ozônio. (E-11)
Esse aquecimento exagerado ocorre devido à deteriorização da camada de ozônio (a
camada em volta do planeta que neutraliza os raios ultravioletas lançados pelo sol).
Essa deteriorização ocorre devido ao excesso de poluição de gases tóxicos pelas
chaminés das fábricas, escapamentos dos carros que em contato com a camada de
ozônio perfuram-na, furando sua neutralização desta forma deixando entrar os raios
ultravioletas em contato com o planeta, gerando o efeito estufa entre a Terra e a
camada de ozônio. (E-14)
Com o efeito estufa acontece a mesma coisa, pois a camada de ozônio vai sendo
destruída e os raios ultravioletas penetram na Terra, ocorrendo o aquecimento global,
fazendo com que a Terra vai se esquentando. (E-15)
88
De acordo com alguns alunos, a destruição da camada de ozônio desencadeia o
efeito estufa. Segundo a interpretação dada pelos estudantes, os raios do sol passam pelos
buracos da camada de ozônio sem serem filtrados, em contato com a Terra vão esquentando o
Planeta e, impossibilitados de sair, vão intensificando ainda mais o calor. Esta idéia está
contida nas descrições gráficas das figuras 8 e 9. A figura 8, também, retrata a destruição da
camada de ozônio ocasionando o derretimento de geleiras por causa dos raios ultravioletas do
Sol.
Figura 8- Representação dos buracos na camada de ozônio, raios ultravioletas e do
derretimento das geleiras, por M.Y., menino de 14 anos.
89
Figura 9- Representação do buraco na camada de ozônio e do efeito estufa, por V.A., menino
de 14 anos.
Categoria 3 - O efeito estufa acontece devido ao aprisionamento dos raios ultravioletas
na Terra
Quando os alunos se referem aos raios ultravioletas do Sol, eles o definem
como o causador do câncer de pele e do derretimento das calotas polares. Esclarecem que os
raios do Sol fazem com que a Terra se pareça com uma estufa devido ao calor gerado.
Efeito estufa é uma reação do meio ambiente devido à poluição que destrói a camada
de ozônio e depois não se reconstrói, então os raios ultravioletas do sol passam com
maior intensidade sobre a camada de ozônio e chegam mais fortes na terra e
prejudicam os seres humanos. (E-17)
A causa do efeito estufa é a destruição da camada de ozônio por meio de gases
industriais e a poluição, além dos carros e gases de geladeira. Com a destruição da
camada de ozônio, abrem-se buracos na atmosfera e os raios ultravioletas atingem a
terra e derretem geleiras e aquecem o planeta, aumentando a temperatura e
interferindo na natureza. (E-18)
O efeito estufa ocorre pelo sol quando emite radiação junto aos poluentes. (E-19)
90
Os raios ultravioletas entram na atmosfera pelos buracos da camada de ozônio. Isso se
chama efeito estufa porque é como se o mundo fosse uma estufa e que se os raios
entrarem as plantas podem morrer. Assim, podem acontecer com nós, esses raios
ultravioletas podem ser prejudiciais para nós, além de causar o derretimento das
geleiras, desequilíbrios e aquecimento global. (E-11)
O efeito estufa ocorre quando a poluição quebra a camada de ozônio deixando os raios
ultravioletas entrarem. (E-13)
O efeito estufa acontece por causa de muita emissão de CO2 isto é poluição. Então os
raios ultravioletas do sol entram e não conseguem sair tornando o ambiente mais
quente. (E-19)
Os desenhos das Figuras 10 e 11 retratam as representações dos alunos de que
pelos buracos na camada de ozônio os raios ultravioletas do sol conseguem entrar e aquecem,
de forma intensa, a superfície terrestre.
Figura 10- Representação dos raios ultravioletas do sol que entram na Terra por E.S., menino
de 14 anos.
91
Figura 11- Representação dos raios ultravioletas do sol que entram pelos buracos da camada
de ozônio, por K.A., menina de 14 anos.
Categoria 4 - Efeito estufa é sinônimo de aquecimento global
Os alunos foram categóricos ao afirmarem que, para eles, efeito estufa e
aquecimento global são sinônimos.
O efeito estufa é um aquecimento geral no território global, sendo ocasionado pelas
falhas na camada de ozônio que estão havendo na Terra. (E-12)
O efeito estufa é o aquecimento exagerado da temperatura que nos últimos anos vem
aumentando muito e afetando mais o nosso dia-a-dia. Esse aquecimento exagerado
ocorre devido a deteriorização da camada de ozônio... (E-14)
Com o efeito estufa acontece a mesma coisa, pois a camada de ozônio vai sendo
destruída e os raios ultravioletas penetram na Terra, ocorrendo o aquecimento global,
fazendo com que a Terra vai se esquentando. (E-15)
Para mim, efeito estufa é o aquecimento global da Terra. (E-20)
92
È uma camada de ar quente que vem sobre a terra. Ela chega ao Planeta em reação do
buraco na camada de ozônio. Isso faz com que aconteça um aquecimento global,
fazendo com que haja mais desastres na Terra. Esse aquecimento acontece pelos raios
do sol que a camada de ozônio não consegue reter a sua força. (E-25)
O efeito estufa é causado pelo aquecimento da atmosfera pelo deslocamento das
camadas (as geleiras). Ele ocorre com o superaquecimento global, devido as
queimadas, poluição, essas coisas que alteram o planeta. (E-30)
Ele é conhecido também como aquecimento global e é causado pela emissão de gases
poluentes, e resíduos que destroem a camada de ozônio. (E-3)
As descrições gráficas da figura 12 retratam que o efeito estufa é como se a
Terra fosse colocada em uma grande frigideira e levada ao fogo a ponto de fritá-la com
pimenta e sal.
Figura 12- O desenho retrata uma grande frigideira, por L.P., menino de 14 anos.
A Figura 13 exemplifica a idéia de efeito estufa como sinônimo de
aquecimento global.
93
Figura 13- Representação do Aquecimento Global, por M.S., menino de 14 anos.
Vários cientistas, como Mozeto (2001) e Molion (1995), são claros ao
explicarem que é a exacerbação dos gases que ocasiona um aumento do efeito estufa, que gera
o aquecimento global. Tolentino e Rocha (1998) confirmam que aquecimento global e efeito
estufa são fenômenos distintos, um ocorre devido a ações antrópicas e o outro é natural.
Moura e Moretti (2000) esclarecem que o meio social é a fonte na qual se
baseiam as concepções dos alunos.
O fato de a televisão, revistas e jornais estarem
associando, de maneira errônea, o efeito estufa ao aquecimento global pode estar contribuindo
para que os alunos elaborem essas idéias alternativas. A revista Veja de 25 de março de 2005
escreveu:
Tudo indica que por trás do fenômeno está o aquecimento global causado
pela concentração na atmosfera de dióxido de carbono, o gás poluente
emitido pela fumaça de fábricas e automóveis em todo o mundo. A camada
de CO2 impede que parte da radiação solar que chega a Terra volte ao espaço
e se disperse, criando-se assim o efeito estufa, que já elevou em 1 grau a
temperatura média do planeta nas últimas décadas. (KOSTMAN, 2005, p.58
e 59)
94
O título do artigo na revista é: “A prova do efeito estufa”, mais um dado para
comprovar o grande equívoco entre esse fenômeno e o aquecimento global. Equívoco esse
que continua a se manifestar quando o autor diz: “A cobertura de neve do Kilimanjaro, cartãopostal da África, desaparece no mesmo ritmo do aquecimento global” (p.58). Este artigo
explica de maneira confusa os fenômenos do efeito estufa e do aquecimento global, a neve do
Kilimanjaro está derretendo por causa do aquecimento global e não do efeito estufa como
descrito no texto.
Categoria 5 - O efeito estufa acontece em conseqüência da ação humana na natureza
Esta categoria se refere à idéia dos educandos de que o efeito estufa só
acontece por causa das atitudes humanas, que exploram a natureza sem medir as
conseqüências. O fato de o homem poluir e destruir o meio ambiente são afirmações (dos
alunos) usadas para explicar como surgiu o fenômeno e porque, na opinião dos mesmos, está
se intensificando cada vez mais. Além disso, há uma grande ênfase na idéia de que, se o
homem parar de poluir, o efeito estufa também pode parar de acontecer. Nesta categoria, fica
evidente a discordância dos alunos com a ciência, que é enfática em explicar efeito estufa
como um fenômeno natural e benéfico.
O efeito estufa é uma realidade ruim para nosso mundo, o efeito estufa é causado por
buracos na camada de ozônio feitos pela poluição do nosso mundo. (E-28)
O efeito estufa é um aquecimento geral no Território global, sendo ocasionado pelas
falhas da camada de ozônio que está havendo na Terra, ocasionada pelo homem que
está destruindo a natureza e construindo indústrias. Essas indústrias soltam seus gases,
falhando a camada que protege a Terra dos raios solares, assim causando um
aquecimento global e ocasionando o efeito estufa que aquece a Terra. (E-12)
O efeito estufa está existente a partir do início da industrialização, quando as
indústrias lançaram fumaças a partir da produção na atmosfera. (E-6)
95
O efeito estufa é algo ameaçador ao nosso planeta, ele ocorre da seguinte maneira: o
mundo é cada vez mais desenvolvido, com mais meios tecnológicos e que poluem
mais o meio ambiente e o ar. Este ar estando poluído acaba cada vez mais abrindo a
camada de ozônio... Os maiores responsáveis são os países desenvolvidos, sendo estes
os maiores poluentes. (E-32)
Como é causado o efeito estufa: pelo desenvolvimento tecnológico e com a
tecnologia, a criação de máquinas, indústrias, carros, tudo isso polui e hoje a maior
poluição é a destruição da camada de ozônio além da degradação da natureza. (E-33)
Nesta categoria, observa-se uma grande ênfase dada à ação humana como
correlata à exploração e degradação do ambiente. Para esses alunos, o efeito estufa, como
fenômeno natural que independe da ação humana, jamais existiu, entendem que esse
fenômeno só acontece por causa da falta de consciência dos homens com o meio natural.
Categoria 6 - O fenômeno provoca câncer de pele nos seres humanos
Alguns alunos (37,5%) afirmaram com grande convicção que o efeito estufa
causa câncer de pele nos seres humanos, demonstrando a concepção de que o efeito é
provocado pelos raios ultravioletas do Sol. O fato de assistirem a propagandas que transmitem
a preocupação do Ministério da Saúde com o aumento de câncer de pele provocados pelos
raios ultravioletas do Sol, pode estar contribuindo para que os alunos associem as duas idéias
e chegarem à conclusão que é o fenômeno do efeito estufa o grande causador da doença.
Outras doenças, como queimaduras de pele, insolações, foram mencionadas, porém por
poucos alunos. Um outro fato curioso foi que a maioria dos alunos, ao explicar que o efeito
estufa causa doenças como câncer de pele, acrescentou o “etc”, sugerindo que mais doenças
ou mais problemas podem ser decorrentes do fenômeno.
O efeito estufa pode ocasionar várias secas, prejudicando, assim, as produções
agrícolas e doenças como o câncer de pele. (E-32)
96
O efeito estufa causa maior porcentagem de câncer de pele e uma grande mudança no
ecossistema [...] (E-1)
A principal conseqüência do efeito estufa é que devido aos diversos gases poluentes
na atmosfera a camada de ozônio está se deteriorando e assim, pouco a pouco,
poderemos ficar sem proteção contra o sol, causando mais calor, câncer de pele e
insolações. ( E-40)
Os problemas são diversos como: o aumento dos raios solares, o aumento do grau de
temperatura, a destruição das camadas polares, aumentando o nível do mar, causando
mais queimaduras nas peles das pessoas, causando mais problemas de câncer de pele
entre as pessoas, podendo fazer incêndios em florestas e em outros lugares com a alta
temperatura causada pelo efeito estufa. (E-16)
O efeito estufa causa derretimento das geleiras, doenças no ser humano, causadas
pelos raios ultravioletas emitidos pelo Sol, principalmente câncer de pele, aumento
significativo da temperatura, modificações na natureza e interferência no processo dos
fenômenos naturais. (E-18)
Pode ocasionar problemas de pele: câncer, queimaduras e etc. (E-3)
Que o efeito estufa causa doença na pele como câncer de pele e várias outras doenças.
(E-8)
As implicações de efeito estufa são muito graves para a vida do ecossistema e da vida
humana no planeta Terra, pois querendo ou não as pessoas vão se prejudicar, gerando
doenças como câncer de pele e etc. (E-12)
Categoria 7 - O efeito estufa ocasiona o derretimento das geleiras comprometendo o
meio ambiente
Os alunos não deixaram de mencionar um acontecimento que, para eles, é
conseqüência do efeito estufa: o derretimento das geleiras. Como esses educandos acreditam
que o efeito estufa é sinônimo de aquecimento global, responsabilizam-no pelo derretimento
das geleiras, ou seja, as mudanças na temperatura do Planeta, ou o aumento da temperatura,
fazem com que geleiras, calotas polares e icebergs derretam, comprometendo o equilíbrio da
97
natureza e, conseqüentemente, a vida humana. Além de fazerem menção a esse
acontecimento, referiram-se às possíveis catástrofes que as geleiras derretidas podem
ocasionar, como o aumento do nível dos oceanos e mares, a destruição de cidades litorâneas,
destruição de fauna ao comprometer o habitat de vários animais, destruição de cadeias
alimentares e geração de acidentes naturais como tempestades.
Com o efeito estufa, o planeta fica mais quente e derrete as geleiras e faz o nível de
água subir e destruir várias cidades e destruiria a fauna. (E-28)
Ele causa alterações climáticas e fenômenos e desastres naturais em escala mundial,
além do aumento de temperatura no mundo, descongelamento das geleiras, doenças
como câncer de pele e incidentes naturais, como queimadas, seca, tempestades e etc.
(E-6)
As implicações do efeito estufa são muito graves para a vida da Terra. Algumas das
causas de efeito estufa é o aquecimento global da Terra, podendo matar seres vivos do
planeta, ecossistemas, etc. Podem aparecer outras doenças como câncer de pele e pode
provocar o derretimento de geleiras. (E-15)
Prejudica as geleiras que se derretem com o ar quente. E aumenta o nível do mar. (E25)
Suas implicações são o derretimento das camadas glaciais (geleiras) porque se
continuarmos assim as geleiras irão derreter por causa do que o homem faz para
contribuir com o efeito estufa. (E-30)
O efeito estufa pode esquentar a Terra, e as geleiras, icebergs irão derreter e inundar
várias cidades, isso irá provocar um grande desequilíbrio na natureza, pois irão morrer
vários animais terrestres e provoca um grande desequilíbrio na cadeia alimentar. (E37)
Com o aquecimento do planeta, as calotas polares já começaram a se derreter,
causando um aumento dos oceanos. Pode ocasionar problemas de pele: câncer,
queimaduras, etc. (E-3)
O efeito estufa causa derretimento das geleiras, doenças no ser humano causadas pelos
raios ultravioletas emitidos pelo Sol, principalmente câncer de pele, aumento
significativo da temperatura; modificações na natureza e interferência no processo dos
fenômenos naturais. (E-18)
98
As implicações que acontecem não são boa para as pessoas, causa: câncer de pele,
derretimento das geleiras e muito calor no mundo inteiro e o desequilíbrio global. Isso
acontece porque a camada de ozônio deixa os raios ultravioletas entrarem. (E-13)
Esta categoria representa idéia alternativa dos alunos, porque o derretimento
das geleiras é ocasionado pelo aquecimento global e não pelo efeito estufa. Felício (2004)
explica que as alterações do clima global, nas últimas décadas, são conseqüências do
aquecimento global, podendo descongelar as geleiras polares e ocasionar impactos em outros
fenômenos, como os ciclones.
Hansen (2004) comenta que, dada a incomum taxa de aquecimento global que
ocorre no planeta, pode-se esperar que o derretimento das geleiras se expandirá sobre
maiores áreas da Groenlândia e nas margens da Antártida. E, embora a formação das geleiras
seja lenta, sua destruição pode ser espetacularmente rápida, uma vez que o manto de gelo
começa a entrar em colapso. Parece claro que, além de um certo limite, o aquecimento global
criará uma grande mudança no nível do mar para as futuras gerações e a maioria das zonas
costeiras globais será inundada.
O desequilíbrio energético planetário induzido pelo homem fornece um
amplo suprimento de energia para o derretimento do gelo. Além disso, esta
fonte de energia é suplementada pela crescente absorção da luz solar pelos
mantos de gelo escurecidos por aerossóis fuliginosos e pelo processo de
feedback quando a água de fusão escurece a superfície de gelo. [...] No
entanto, suspeito que uma elevação significativa do nível do mar poderia
começar dentro de décadas, caso o desequilíbrio energético planetário
continue a aumentar. (HANSEN, 2004, p. 36)
Os desenhos feitos pelos alunos também buscam retratar o derretimento das
geleiras, como mostra a Figura 14.
99
Figura 14- Representação do derretimento das geleiras, por J.F., menino de 13 anos.
Categoria 8 - Preocupação com o efeito estufa levou as nações a elaborarem o Tratado
de Kyoto
Uma proporção de 20% dos alunos apontou o Tratado de Kyoto como a
alternativa ideal e sensata que deve ser adotada pelos países para evitar possíveis
complicações com o efeito estufa. O que esses alunos desconhecem é que o Tratado de Kyoto
foi proposto para tentar solucionar os problemas gerados pelo aquecimento global.
Muitos países já se preocuparam com isso (efeito estufa) e fizeram o Tratado de
Kyoto, mas os Estados Unidos e a Austrália não assinaram. (E-1)
100
Existem algumas pessoas preocupadas com o futuro da vida humana na Terra. E então
fizeram o Tratado de Kyoto, esse tratado é para os países pararem com tanta poluição.
Os países assinaram, é claro, com algumas exceções, os Estados Unidos, por exemplo,
não querem assinar o tratado, pois se assinar estará assinando a decadência da sua
economia. Se esse tratado não entrar em vigor, a camada de ozônio irá se deteriorar
cada vez mais e cada vez o calor será pior até nos derretermos pelos raios do sol, pois
estaremos sem proteção. (E-40)
Para solucionar esse problema criaram o Tratado de Kyoto, mas alguns países não
quiseram assinar esse tratado como: os Estados Unidos, a China, a Austrália e outros.
(E-39)
O efeito estufa são os raios ultravioletas que passam pelos buracos da atmosfera.
Vários países fizeram um tratado chamado tratado de Kyoto que faz parar um pouco
de industrializar para deixar um pouco a atmosfera se recompor, mas teve países como
Austrália e USA que não entraram nesse tratado. (E-8)
Medidas já foram tomadas para conter o efeito estufa como o Tratado de Kyoto,
porém não alteraram a realidade, ou seja, não deu certo. (E-6)
Para diminuir as implicações do efeito estufa foi feito o Tratado de Kyoto para que
cada país diminua seu índice de poluição, porém muitos países, como USA, não
quiseram assinar. (E-14)
Fizeram o Tratado de Kyoto, que é para não poluir, mas nem todos aceitaram porque
poderia atrapalhar a economia de alguns países. (E-11)
Diante das respostas dadas pelos alunos percebe-se a preocupação dos mesmos
com os problemas ambientais gerados pelo aquecimento global; apesar dos estudantes
acreditarem que esses problemas são ocasionados diretamente pelo efeito estufa. Sobre o
Tratado de Kyoto, muitos acreditam ser a opção mais correta a ser adotada pelos países com a
meta de diminuir a poluição atmosférica, possibilitando a recomposição da camada de ozônio
e evitando o aquecimento da Terra. Esses mesmos aprendizes demonstram insatisfação com a
posição de alguns países que não querem assinar o Tratado para não se comprometer com
medidas que priorizem a resolução desse problema.
101
Com base no que foi apresentado, pode-se afirmar que, em nenhum momento,
os educandos caracterizam o efeito estufa como um fenômeno natural e benéfico ao planeta
Terra, por ter a função de manter as temperaturas terrestres favoráveis a presença de vida.
Portanto, as categorias levantadas possibilitam uma reflexão sobre as idéias
que comprometem a aprendizagem dos conceitos científicos dos alunos sobre o efeito estufa,
servindo de alerta e contribuição aos professores que abordam o assunto em suas aulas, quer
de Ciências, Biologia, Geografia, Física ou mesmo Química.
5.2 PROFESSORES DE CIÊNCIAS E DE GEOGRAFIA E O LIVRO-DIDÁTICO
5.2.1 Fontes de pesquisa desses educadores e as dificuldades que julgam permear a
aprendizagem dos educandos
Quando as professoras de Ciências e de Geografia foram entrevistadas sobre
quais as fontes de pesquisa que utilizaram para preparar suas aulas sobre o efeito estufa,
ambas mencionaram primeiro o livro didático e depois a Internet.
Livros didáticos, pesquisas na Internet, jornais, telejornais e tudo que seja
correlacionado com essas mudanças climáticas, tudo que está envolvendo, que são
comentários e os conhecimentos prévios dos alunos, então tudo isso vai, a gente vai
fazendo um apanhado geral e trabalhando com os alunos. (PG)
Além do livro didático que eu tinha eu sempre pesquisava em outros livros de
ciências e na Internet, na globo ciências, revistas que tinha muito ou sempre alguma
coisa. (PC)
Percebe-se o apego ao livro didático, e que esse é utilizado em sala de aula sem
que, na maioria das vezes, seja verificada a veracidade de seu conteúdo, se está atualizado
diante das descobertas da Ciência e se a transposição didática feita pelo seu autor não
102
prejudicou o conhecimento científico nele contido. O livro-didático tem sido utilizado como
um manual de instrução que é seguido sem resistência em sala de aula pelos educadores e
muito respeitado pelos educandos.
Verificando o livro que foi utilizado por essas professoras para trabalhar a
temática do efeito estufa na 5ª série, constatou-se que a professora de Geografia utilizou com
os alunos o livro: “Espaço em Construção”, publicado em 1999. Nesse livro, o assunto efeito
estufa consta no Capítulo 10, que trata da Atmosfera e do Clima. No mesmo capítulo, são
abordados assuntos como: a atmosfera faz a Terra, as zonas térmicas, tempo e clima, poluição
atmosférica, destruição da camada de ozônio, chuva ácida e, por último, o efeito estufa que se
encontra no final da página 123 e continua na página 124.
O outro livro adotado foi o de Ciências: “O Planeta Terra”, publicado em 2001.
Nele o assunto efeito estufa encontra-se no capítulo 15, com o título: A Atmosfera. No mesmo
capítulo, são abordados os assuntos: as camadas da atmosfera, efeito estufa, aquecimento
global e destruição da camada de ozônio. O tema efeito estufa é explicado na página 163.
No livro adotado pela professora de Geografia, verifica-se uma linguagem
muito confusa, pois ao mesmo tempo em que fala sobre o efeito estufa, também parece estar
falando sobre o aquecimento global, como se os dois fossem sinônimos. Muitas categorias
que deram origem à análise temática dos estudantes são adequadas à linguagem desse livro
didático.
Categoria 1 - A poluição atmosférica gera o efeito estufa.
O livro começa explicando que é a queima de combustíveis fósseis e outras
queimadas que liberam gases como o gás carbônico e que, junto com outros gases emitidos
pelas indústrias, vão atuar como uma estufa de plantas que permite a entrada dos raios solares,
103
mas impedem a devolução do calor para o espaço. Em nenhum momento o efeito estufa é
colocado diante dos alunos como um acontecimento natural, que ocorre devido às
características da atmosfera terrestre, como a presença de alguns gases, e que, quando esse
fenômeno começa a se intensificar pela presença exacerbada dos GEE, um outro fenômeno
começa a acontecer, ou seja, o aquecimento global.
Categoria 4 - Efeito estufa é sinônimo de aquecimento global.
Várias frases do livro e até mesmo o desenho que ilustra o assunto remetem ao
efeito estufa características do aquecimento global. Não há distinção entre os dois fenômenos
e todas as conseqüências e implicações comentadas pelo livro são atribuições do aquecimento
global e não do efeito estufa, como evidenciam as frases abaixo.
Isso provoca o chamado “efeito estufa” que está começando a elevar a média
global de temperatura [...]
O aumento do nível dos mares, a ampliação de zonas áridas, a mudança de
climas (mais quentes e mais secos em algumas áreas, ou mais frios e mais
úmidos em outras), a intensificação de fenômenos como tempestades e
tufões são algumas das conseqüências do “efeito estufa” que acarretam
graves desequilíbrios para as comunidades costeiras, para a produção de
alimentos, fornecimento de água, áreas de pesca, etc.
O comentário da figura 15 que consta no livro é “há intensa emissão de gases
na atmosfera pelas atividades humanas”, ou seja, o esquema explicativo transmite a idéia de
que o fenômeno do efeito estufa é causado pela poluição que o homem lança na atmosfera.
104
Figura 15- Esquema explicativo extraído da página 124 do livro-didático de Geografia.
Em nenhum parágrafo do livro, o efeito estudado é colocado como algo
benéfico ao Planeta, pois graças a ele tem-se as temperaturas equilibradas e a possibilidade da
presença de seres vivos. Pelo contrário, a explicação do livro relembra as idéias dos alunos
contidas nas categorias 7 – “efeito estufa ocasiona o derretimento das geleiras
comprometendo o meio ambiente” e 5 – “O efeito estufa acontece em conseqüência da ação
humana exploratória na natureza”.
Parece que as idéias dos estudantes têm fundamentos, muitas delas estão
evidenciadas no próprio livro utilizado como apoio em sala de aula.
No livro de Ciências, o autor introduz o assunto do efeito estufa justificando
que a atmosfera da Terra permite que a temperatura no planeta esteja, em média, à cerca de
15º C, depois ele explica o funcionamento de uma estufa de plantas feita com vidro e compara
essa estufa ao que acontece na Terra. Veja a seguir a explicação extraída da página 163 do
livro de Ciências.
105
Os raios do Sol atravessam a atmosfera e esquentam a Terra. Parte desse
calor volta e atravessa a atmosfera, escapando para o espaço, mas outra parte
é absorvida por certos gases da atmosfera, como o gás carbônico e o metano,
e é novamente enviada para a Terra, aquecendo o planeta e mantendo a
temperatura média nos níveis atuais. Esse efeito da atmosfera sobre a
temperatura da Terra é chamado de efeito estufa porque pode ser comparado
ao que acontece nas estufas de vidro.
A figura que ilustra o efeito estufa no livro de Ciências (Figura 16) é um
esquema que traz como comentário: “Neste esquema, para facilitar a visualização, os astros e
a distância entre eles foram representados fora da proporção real”, mas, mesmo assim, a
ilustração não traz informações suficientes para entender de maneira clara o efeito.
Figura 16- Título: efeito estufa. Extraído da página 163 do livro-didático de Ciências.
Abaixo dessa figura no livro, segue um texto que traz exemplos de planetas
vizinhos à Terra que, possuem atmosferas diferentes da atmosfera terrestre, temperaturas ou
altíssima como Vênus ou baixíssima como Marte.
Chama à atenção a diferença na explicação desse assunto pelos dois livros. Os
alunos provavelmente não perceberam as idéias contraditórias, já que as professoras
afirmaram, na entrevista, que eles não tinham dificuldades para compreender o fenômeno. Se
os alunos não questionaram as diferentes explicações que existem entre o livro de Geografia e
o livro de Ciências, é questionável que eles não tenham claro o fenômeno.
106
Eu acho que eles têm uma certa dificuldade de entender as camadas da atmosfera,
como que isso acontece. Quando você fala do buraco da camada de ozônio, então, pro
aluno é abstrato, mesmo que você mostra, vai pra esquema, às vezes eu tinha um CD
ROM de Ciências que mostrava, mas mesmo assim é uma coisa abstrata, porque você
não vê, você não pega, você imagina. (PC)
A única dificuldade mencionada pela PC é que ela considera o assunto muito
abstrato para os alunos, apesar de ela ter falado, também, sobre as camadas da atmosfera.
Talvez a parte mais conceitual de como explicar eles até entendem o significado, o
que é efeito estufa. Eles entendem quem causa isso, o que causa efeito estufa. É mais
se você pedir, por exemplo, uma definição da palavra, do tema efeito estufa eles já
têm uma certa dificuldade talvez de interpretação, mas eles entendem o que é eles tem
dificuldade talvez de colocar a maneira mais escrita de como interpretar, de como
colocar no papel mesmo, mas dizer o que é, eles sabem sim. Não têm dificuldade
não.(PG)
De acordo com o relato da PG, as dificuldades dos alunos se manifestavam na
escrita, mas quando solicitados oralmente conseguiam explicar com facilidade.
Mas é importante retornar à indagação: Como esses alunos puderam conviver
com dois livros que explicavam de forma tão distinta o mesmo assunto e não questionaram as
professoras? Será que eles aceitaram prontamente esta grande contradição? Uma explicação,
talvez, reside em uma das falas da professora de Ciências.
Não, não tinha assim dificuldade porque, na verdade, em Ciências, a gente não
acabava se aprofundando, dava sim uma noção do que era o efeito estufa, ali, no caso
das camadas da atmosfera. Então, você não se aprofundava. (PC)
Outro aspecto interessante foi que as duas educadoras mencionaram sobre os
recursos que o professor tem acesso na escola, em particular recursos materiais, e que podem
estar ajudando a diminuir as dificuldades para se trabalhar com essa temática.
As dificuldades que eu vejo, que todo profissional tem nessa área seria de duas
maneiras. A primeira dependendo do local onde você trabalha, numa escola particular
107
como você tem mais recursos audiovisuais pra eles e também pela informação que
eles têm via televisiva, o jornal e revistas ficam mais fáceis de você trabalhar, então,
eles têm uma maneira mais rápida de assimilar de entender e de compreender o
assunto. Numa escola pública, devido às dificuldades que nós temos a acesso a livros,
à Internet e também por eles não terem assim acesso a jornais, telejornais, mesmo
porque eles não entendem a linguagem do jornal, então, já fica mais difícil, mais
complicado de trabalhar. Então você tem e é nessa maneira de trabalhar é que eu vejo
a dificuldade. (PG)
[...] mesmo que você mostra, vai pra esquema, às vezes eu tinha um CD-ROM de
Ciências que mostrava, mas mesmo assim é uma coisa abstrata. (PC)
Pautando-se em seus depoimentos, nota-se que falta formação científica para a
professora de Ciências, porque suas falas deixam transparecer que para conseguir informação
sobre os assuntos discutidos pela Ciência ela utiliza os mesmos meios de comunicação dos
alunos, como a Internet, livros didáticos, revistas, jornais e programas de televisão; por isso
sua formação científica deve ser questionada, pois não se menciona a utilização de revistas
científicas, artigos, dissertações e teses para planejar e preparar as suas aulas.
Percebe-se pela entrevista que as educadoras não se referem às dificuldades
dos alunos em compreender realmente, sobre o assunto estudado. Na verdade, parece que elas
não tinham noção das concepções alternativas que foram construídas por seus alunos e da
grande confusão conceitual que construíram com relação aos fenômenos estudados.
5.2.1
As concepções dos professores de Ciências e de Geografia sobre o “efeito estufa”
Durante a entrevista realizada com as professoras, percebeu-se que elas
também concebem o efeito estufa como um fenômeno ocasionado pelas atitudes
inconseqüentes do homem e como um acontecimento que prejudica a vida na Terra.
108
•
Professora de Ciências da 5ª série
Suas respostas coincidem com as categorias, 4 e 5, que explicam a concepção
de efeito estufa da PC.
Categoria 4 - Efeito estufa é sinônimo de aquecimento global.
O que você entende por “efeito estufa”?
Seria um aquecimento global da Terra com o aprisionamento da temperatura na
atmosfera. (PC)
Para ela, efeito estufa é o aquecimento global, porque a atmosfera tem a
finalidade de prender a temperatura, ou seja, o calor.
Categoria 5 - O efeito estufa acontece em conseqüência da ação humana exploratória na
natureza.
Como se observa, a fala que segue abaixo denota o fenômeno como uma das
conseqüências negativas da ação do homem sobre a natureza, especialmente quando as ações
são puramente econômicas. Mazzotti (1997, p. 94) comenta que os professores consideram
que o problema ambiental que se tem no dia-a-dia resulta da ação do homem. Ele produz o
descontrole e o desequilíbrio da natureza.
A gente acaba falando dos desgastes do próprio homem, que esse efeito estufa, o que
acontece, ele é relacionado com a própria falta de estrutura do homem em preservar o
meio ambiente, por isso tanto desgaste assim da Terra, como se acaba trazendo as
conseqüências, a destruição, o desmatamento. (PC)
109
•
Professora de Geografia da 5ª série.
Durante a entrevista, a PG comentou mais sobre o assunto, mencionando
trabalhar durante várias aulas com essa temática, utilizando desenhos e maquetes. Ficou mais
fácil para entender muitas das concepções alternativas que os alunos construíram durante seu
processo de ensino e aprendizagem, uma vez que elas fazem parte da própria concepção da
educadora. Pelas falas da PG, identificam-se quase todas as categorias que predominaram nas
respostas dos alunos, exceto a categoria 3.
Categoria 1 - A poluição atmosférica gera o efeito estufa
É importante considerar que as concepções que as educadoras possuem sobre
esse efeito propiciaram uma postura na prática pedagógica de sala de aula. A idéia de que os
gases emitidos por atividades humanas, de que a poluição atmosférica de modo geral causa o
efeito estufa é relatada várias vezes, como se pode constatar a seguir:
Sim, já trabalhei, é nas 5ª séries, apesar de trabalhar em todas as séries, sempre estar
comentando sobre esse fenômeno causado pelos gases que o homem emite na camada
de ozônio. (PG)
Bom, efeito estufa, ele é um fenômeno, uma poluição causada pelos gases que o
homem emite através dos escapamentos dos carros, das indústrias e que provoca um
aquecimento global que pode causar efeitos maléficos tanto em todos os seres vivos,
tanto em seres macrobióticos ou microbióticos. (PG)
Sim, eu correlaciono a chuva ácida, a poluição atmosférica, a mudança do clima, a
destruição da camada de ozônio e também a gente, eu trabalho de uma maneira de
como é que o homem poderia reverter esse processo de destruição da camada de
ozônio e do efeito estufa. A gente trabalha também inversão térmica, ilhas de calor,
então, assuntos que podem estar sendo ligados com o efeito estufa. (PG)
Em São Paulo que seria algo que a gente tem mais próximo pra estar explicando essa
questão, eles não conhecem esse lado de uma cidade grande, de como é que ela polui,
110
então eles imaginam e a imaginação deles não vai além daquilo que eles já conhecem,
então, essa é a dificuldade maior. (PG)
Categoria 2 - Os buracos na camada de ozônio são os responsáveis pelo efeito estufa
A idéia de que a poluição destrói a camada de ozônio e que esses buracos
permitem que a Terra se transforme em uma grande estufa é evidente nas suas falas:
Sim, já trabalhei, é nas 5ª séries, apesar de trabalhar em todas as séries, sempre estar
comentando sobre esse fenômeno causado pelos gases que o homem emite na camada
de ozônio. (PG)
Sim, eu correlaciono a chuva ácida, a poluição atmosférica, a mudança do clima, a
destruição da camada de ozônio e também a gente, eu trabalho de uma maneira de
como é que o homem poderia reverter esse processo de destruição da camada de
ozônio e do efeito estufa. (PG)
Categoria 4 - Efeito estufa é sinônimo de aquecimento global
Em nenhum momento o aquecimento global é comentado como um outro
fenômeno que está acontecendo na Terra, mas as explicações dadas para o efeito estufa
atribuem a ele características próprias do aquecimento global.
Bom, efeito estufa, ele é um fenômeno, uma poluição causada pelos gases que o
homem emite através dos escapamentos dos carros, das indústrias e que provoca um
aquecimento global que pode causar efeitos maléficos tanto em todos os seres vivos,
tanto em seres macrobióticos ou microbióticos. (PG)
Categoria 5 - O efeito estufa acontece em conseqüência da ação humana na natureza
A educadora explica sem contestar que o homem é o causador deste fenômeno
que torna a Terra semelhante a uma estufa de plantas. Entende que é a poluição produzida por
ele e outras atitudes que permitem que esse efeito aconteça.
111
Então, é justamente isso; então, tentar fazer com que eles relacionem algo que está
sendo gerado pelo homem que é o efeito estufa por causa dos gases e que está
afetando diretamente a nossa vida e sempre trabalhar algo que é mais concreto para
eles, algo que eles entendam.(PG)
Então, a gente, hoje, as questões que são discutidas em sala de aula já são, já se
conhecem mais sobre efeito estufa e o que se trabalha sobre efeito estufa é: Quais são
os países que mais produzem esse lixo? E o que as futuras gerações poderão estar
fazendo em relação a isso, então não é só a questão conceitual da definição do que é
efeito estufa, mas hoje a gente estuda quem são e o que será feito a partir de hoje.(PG)
A preocupação da professora em salientar que os países desenvolvidos e as
cidades grandes poluem mais e são os grandes causadores desse efeito é percebida nos relatos
de sua entrevista.
Categoria 6 - O fenômeno provoca câncer de pele nos seres humanos
Novamente aparece a idéia que predominou nas respostas dos alunos de que o
efeito estufa é maléfico e causa doenças como o câncer de pele.
Inclusive, e aí, a gente pode puxar pra questão do câncer de pele, da proteção que nos
devemos ter em questão ao sol, os horários, porque que eles assistem na televisão,
porque das 10 às 4 horas da tarde a gente tem que se prevenir passar um filtro solar.
(PG)
Categoria 7 - O efeito estufa ocasiona o derretimento das geleiras comprometendo o
meio ambiente
A mesma confusão dos alunos foi feita pela professora que atribuiu ao efeito
estufa as conseqüências do aquecimento global. Além do derretimento das geleiras, outros
problemas ambientais foram mencionados como implicações desse fenômeno, apontado como
o vilão de fatos concretos que estão acontecendo no Planeta.
112
As implicações, pelo que a gente tem estudado e pesquisado, é esses efeitos podem
implicar na destruição de algumas espécies, na contaminação do solo, na
contaminação do ar é na mutação de algumas espécies, na deficiência, na qualidade do
ar, na implicação da qualidade do ar e no derretimento das calotas polares. Então,
seria uma mudança na biologia tanto terrestre quanto marinha. (PG)
Categoria 8 - Preocupação com o efeito estufa levou nações a elaborarem o Tratado de
Kyoto
O protocolo de Kyoto é mencionado pela professora como uma alternativa
precisa para solucionar e resgatar debates que levem a população a tomar consciência do que
é necessário fazer para resolver o problema da poluição e, por decorrência, resolver a questão
do efeito estufa.
[...] Protocolo de Kyoto que é algo que está voltando à tona e eles começam a fazer
ligação. Quais são os países que são mais poluidores? São os países desenvolvidos em
relação aos subdesenvolvidos, então, a gente volta à questão do consumo do
consumismo que também é muito trabalhado. Então, a gente nota, assim, que as
dificuldades de trabalhar hoje, e da maneira de como se trabalhar hoje talvez a gente
tem mais recursos porque tá se falando muito mais sobre isso. Então, o que foi falado
na 5ª série a respeito do efeito estufa era algo que estava começando; hoje, nós
trabalhamos efeito estufa; hoje, tem muito mais material para trabalhar do que há
quatro anos atrás e, hoje, já se nota que, quando se fala para uma 8ª serie sobre efeito
estufa, eles já têm um conhecimento talvez pela maturidade deles e pelos recursos
bem maior do que há quatro anos atrás. (PG)
113
6 DISCUTINDO AS INFLUÊNCIAS NA CONSTRUÇÃO DAS CONCEPÇÕES DOS
EDUCANDOS SOBRE O “EFEITO ESTUFA”
Este capítulo pretende refletir sobre as concepções alternativas dos estudantes
da 8ª série sobre o efeito estufa, buscando subsídios nas concepções dos seus professores e no
conteúdo dos livros didáticos utilizado sobre essa temática. Os dados coletados demonstram
uma intensa similaridade entre as concepções dos alunos e as dos seus educadores, que
colaboraram com a pesquisa. Outra reflexão relevante é que, embora tais educandos e seus
educadores tenham passado por um longo caminho de escolarização, percebe-se a
permanência de conceitos alternativos entre ambos, demonstrando sua resistência à mudança.
O estudo realizado nos livros didáticos de Ciências e de Geografia, utilizados
por esses alunos quando cursaram a 5ª série, possibilitou verificar que o livro de Ciências,
mesmo trazendo, de maneira bem sucinta, o assunto sobre o efeito estufa não cometeu
nenhum erro conceitual. No entanto, o livro de Geografia cometeu vários erros conceituais ao
escrever sobre o tema, sobretudo apresentando o aquecimento global e o efeito estufa como
sinônimos. Outros erros verificados nesse livro e muito semelhantes às explicações dadas
pelos alunos é que o efeito estufa ocorre devido à poluição do ar, ou seja, são as ações do
homem que destroem e prejudicam a natureza que geram esse fenômeno. Outra idéia
equivocada encontrada no livro é que o efeito estufa faz com que as geleiras derretam, causa
tempestades, tufões e acarreta graves desequilíbrios para as comunidades costeiras.
Outro aspecto a ser enfatizado é que, tanto educador como educandos possuem
a mesma visão sobre o fenômeno estudado. Ambos consideram-no maléfico ao meio
ambiente, causador de doenças, de catástrofes que prejudicam o bem-estar do homem e, além
disso, ninguém mencionou ser um fenômeno natural. Todos afirmaram, com convicção, que o
efeito ocorre devido às atitudes da humanidade em explorar a natureza.
114
Diante das falas e respostas dos aprendizes e de seus mestres, encontram-se as
seguintes idéias alternativas sobre o efeito estufa: que é um fenômeno ocasionado por causa
da poluição do ar; que a destruição da camada de ozônio provoca a ocorrência desse
fenômeno; que aquecimento global e efeito estufa são os mesmos fenômenos; que o câncer de
pele e o derretimento das geleiras são conseqüências do efeito estufa e a única alternativa para
resolver esse problema seria o Protocolo de Kyoto.
Para entender essa confusão conceitual dos educandos e educadores, Pozo
(1998) explica que as idéias alternativas procuram a utilidade acima da verdade por serem
construções pessoais compartilhadas por várias pessoas e que possuem coerência do ponto de
vista pessoal e não da ciência. Observa-se que o modo como ambos explicam o efeito estufa
tem muita coerência e é o suficiente para que entendam o que a mídia passa e o que acontece
no seu cotidiano. Santos (1998) confirma que as concepções alternativas surgem com base em
construções pessoais, cuja finalidade é explicar os fenômenos naturais e as suas implicações.
É justamente por cumprir com essa finalidade que esses alunos da 8ª série e seus professores
evidenciam satisfação com as suas explicações sobre o fenômeno do efeito estufa.
Pacheco (1996) entende que o ensino de Ciências deixa de considerar diversas
possibilidades de interpretação dos fenômenos do ambiente, por parte dos alunos, porque
direciona conceitualmente o pensamento de forma linear. A hierarquia conceitual conduz a
um pensamento linear e não dialético, modo natural de as crianças pensarem sobre os
fenômenos.
Para Granell (1998), o pensamento cotidiano é fruto da experiência direta e se
adquire mediante participação nas práticas culturais habituais em determinada sociedade. Já a
aquisição do conhecimento científico envolve a aprendizagem de métodos, forma de discurso,
que não é natural e que exige um esforço consciente e sistemático de racionalização. Por isso,
a escola é a instituição encarregada de colocar os indivíduos em contato com o conhecimento
115
científico e ajudá-los a construir o tipo de discurso que lhe é próprio. Tarefa essa que, diante
das respostas dadas pelos alunos, se apresenta difícil, pois o pensamento cotidiano prevalece
nas idéias dos alunos inviabilizando o pensamento científico.
Sob esse ponto de vista, Chevallard (1985, apud WEISSMANN, 1998)
comenta sobre a transposição didática que acontece em sala de aula quando o professor está
mediando um conhecimento. Segundo o pesquisador, a ciência escolar não é a mesma dos
cientistas, justamente porque, ao ser transmitido na escola, o conhecimento científico sofre
algumas alterações que podem comprometer a sua estrutura. Esse é um outro aspecto que
merece atenção uma vez que, dependendo da ênfase dada pelo educador, da linguagem
utilizada durante a explicação, das analogias empregadas, pode sugerir outras interpretações
pelos educandos.
Para compreender melhor como os alunos elaboram suas concepções
alternativas, Pozo (1998) as classifica em três tipos, dependendo da sua interação. Elas podem
ser concepções espontâneas quando surgem como uma tentativa do individuo em dar
significado às suas atividades cotidianas e estão fundamentadas em processos sensoriais e
perceptivos. Outro tipo são as induzidas porque sofrem a indução do meio social do próprio
aluno. E o último, que melhor explica a idéia dos alunos de que o efeito estufa causa câncer
de pele e derrete as geleiras, é a concepção analógica, que usam de analogias para dar
significado a esse domínio, no sentido de associar ou de buscar pontos de semelhança entre
duas coisas diferentes. De acordo com o autor, as analogias permitem que a aprendizagem
tome como ponto de partida conhecimentos que os alunos possuem sobre outros assuntos que
não são aqueles relacionados diretamente ao conteúdo.
Outro aspecto que merece discussão reside na interpretação que esses
aprendizes fazem durante o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, como associaram os
dados prévios que tinham sobre o assunto com as informações veiculadas pela escola. Pozo
116
(1998) acrescenta que as concepções alternativas dos alunos dependem da sua própria
interpretação em sala de aula. Bastos (1998), com um posicionamento similar, afirma que o
construtivismo explica o surgimento dessas concepções alternativas, porque o conhecimento
adquirido pelo aluno resulta de uma síntese pessoal, sendo uma reelaboração daquilo que ele
ouviu, leu e presenciou em sala de aula. Cachapuz (2000) ressalta que:
Já não se aceita a idéia de um sujeito pré-constituído, mas um sujeito a
constituir-se, que se auto-regula e auto-transforma à medida que reconstrói e
transforma os seus conceitos, que modifica a sua estrutura conceitual que
muda a maneira de observar e de pensar fenômenos. Passa a estar agora em
condições de desenvolver novas atitudes a respeito dos seus próprios
conceitos, num diálogo entre o anterior e o presente. (CACHAPUZ, 2000,
p.19)
Mortimer e Scott (2006) explicam as interações discursivas em sala de aula
com base em vários estudos sobre a forma como os significados e entendimentos são
desenvolvidos no contexto social da sala de aula. Evidenciam que o processo de
aprendizagem é visto como a negociação de novos significados num espaço comunicativo, no
qual há o encontro entre diferentes perspectivas culturais, num processo de crescimento
mútuo. Esclarecem que as interações discursivas são consideradas como constituintes do
processo de construção de significados.
As interações discursivas ajudam a compreender como surgiram as concepções
alternativas dos alunos da 8ª série, porque, de acordo com essa perspectiva, a elaboração de
novos conceitos pelos estudantes acontece pelas diferentes formas com que os professores
interagem com seus estudantes ao falar sobre os conteúdos científicos, o discurso do professor
e as interações professor e aluno resultam na construção de significados em sala de aula de
Ciências e Geografia.
117
Dificilmente alguém discordaria da importância central do discurso de
professores e alunos na sala de aula de ciências para a elaboração de novos
significados pelos estudantes. No entanto, relativamente pouca atenção tem
sido dada a esse aspecto, tanto entre professores, formadores de professores
e investigadores da área. (MORTIMER e SCOTT, 2006, p. 2)
Os dados coletados durante a realização da pesquisa demonstram que as
concepções dos alunos e professores trazem informações encontradas na mídia, em revistas de
informação, em alguns livros-didáticos, mas não estão de acordo com o conhecimento
científico. Isto consiste em um problema, como afirma Weissmann (1998 p. 31), porque “o
ensino de Ciências Naturais também é afetado pelo modo e pela qualidade da formação inicial
dos professores”. Essa mesma autora explica que, entre os problemas abordados em relação
ao ensino de Ciências, o mais preocupante está em refletir sobre o que os educadores ensinam
“mais concretamente, sobre qual é a natureza e a congruência entre o que alguns professores
dizem ensinar, dizem querer ensinar e finalmente ensinam”.
Weissmann (1998) ressalta, ainda, que um grande obstáculo para ensinar
Ciências é a falta de domínio e atualização dos professores no que se refere aos conteúdos
escolares e que, para esse obstáculo, não existe proposta didática inovadora que obtenha
sucesso e que possa vencer a falta de conhecimento do professor.
Verificando nas professoras de Ciências e de Geografia as mesmas idéias
alternativas que a princípio foi observada nos alunos, surge a seguinte pergunta: será que a
temática em questão foi trabalhada durante a graduação dessas professoras? Ou melhor, a
graduação conseguiu despertar a necessidade de o professor ser um pesquisador ao invés de
ser um reprodutor dos materiais didáticos? Sabe-se que é só pensando na formação dos
professores, em suas diversas instâncias, na graduação, no espaço escolar e no seu convívio
social é que se estará entendendo o problema em sua totalidade.
A formação de professoras e professores dá-se em processo permanente que
se inicia desde a formação escolar elementar quando o indivíduo está em
118
contato com o seu primeiro professor ou primeira professora, formando, na
vivência, as primeiras idéias ou o conceito de “ser professor” e de ser
“professora”. (GIL PEREZ; CARVALHO, 1995 apud MALDANER;
SCHNETZLER, 2001, p.198).
Maldaner e Schnetzler (2001) explicam que a desatualização do professor ainda
acontece porque muitas pesquisas não chegam aos professores que, efetivamente, conduzem e
produzem as aulas. Segundo os autores, os professores têm acesso muito restrito as
publicações mais atualizadas, tanto em livros recentes como em revistas nacionais e
estrangeiras. Esse tipo de publicação não circula e nem existe no ambiente escolar, pois são
raras as escolas que mantêm assinaturas de revistas científicas.
Outro aspecto verificado durante esta pesquisa é a má utilização do livro
didático, ou seja, ele é adotado sem que haja um questionamento sobre a sua abordagem ao
tema do efeito estufa. E, sobre isso, Silva (1996) explica que a escravidão ao livro didático faz
parte de um conjunto de fatores que empobrecem as condições para que se tenha um ensino
de qualidade. Este mesmo autor descreve que a adoção de livros didáticos no Brasil se iniciou
na década de 1970, e o objetivo principal da escola na época era a rápida formação da classe
trabalhadora, por isso, o apego sem discussão a este material, afinal, não havia preocupação
com o ensino de conteúdos.
Essa história começa a ser assim no início da década de 70: a ideologia
tecnicista sedimentou a crença de que os “bons” didáticos, os módulos
certinhos, os alphas e as betas, as receitas curtas e bem ilustradas, os
manuais à Disney etc... seriam capazes – por si só – de assumir a
responsabilidade docente que os professores passavam a cumprir cada vez
menos. (SILVA, 1996, p. 11)
Lajolo (1996) entende que, atualmente, a adoção dos livros didáticos tem como
finalidade determinar os conteúdos e procedimentos que os professores devem seguir tendo
em vista a escassez da organização do sistema educacional. Ela salienta que:
119
[...] não há livro que seja à prova de professor: o pior livro pode ficar bom na
sala de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau
professor. Pois o melhor livro, [...], é apenas um livro, instrumento auxiliar
da aprendizagem. Nenhum livro didático, por melhor que seja, pode ser
utilizado sem adaptações. (LAJOLO, 1996, p. 8).
Nesse sentido, o mais sofisticado dos livros pode tornar-se péssimo se utilizado
de maneira catequética. Quanto à desatualização e fragmentação dos livros didáticos, em
especial dos livros de Ciências, Machado (1996) atribui a insistência das editoras e de alguns
profissionais em apresentar o conteúdo escolar como “ciência” em seu sentido estrito, pois, de
acordo com Pozo (1999) e Arnay (1998), esta postura acaba gerando uma “pseudo ciência”,
pois a escola é o lugar de introduzir os alunos em um “cultura científica” e não é lugar de
fazer ciência.
Depois de se constatar que são vários os fatores que contribuem para que o
aluno construa concepções alternativas durante a aprendizagem escolar, é necessário explorar
como se pode trabalhar com essas idéias alternativas, a fim de que o aluno tenha consciência e
conhecimento das idéias científicas. Giordan e Vecchi (1996) afirmam que as concepções
alternativas devem evoluir à medida que se constrói o conhecimento. Dessa forma, para esses
autores, elas não devem ser destruídas, mas, sim, utilizadas como ponto de partida para o
entendimento dos conceitos científicos. Isso tem muito em comum com as idéias de
Bachelard (1996) sobre os obstáculos epistemológicos. De acordo com essa perspectiva, o
aluno aprende a partir do seu erro, ou seja, as concepções alternativas funcionam como um
obstáculo para a aprendizagem do conhecimento científico, e a tarefa do professor é
proporcionar situações para que o aprendiz consiga vencer esses obstáculos.
A mudança conceitual é explicada por múltiplas perspectivas. Pesquisadores
como Strike e Posner (1992) explicam a mudança conceitual pela substituição da concepção
ingênua do aluno pela científica e outros, como Driver (1989) e Mortimer (2000), propõem a
120
idéia de que podem coexistir diferentes modos de pensar um mesmo conceito em diferentes
domínios sem exigir que um modo deva substituir o outro (FERRAZ; TERRAZZAN, 2002).
Retornando ao outro aspecto do modelo de mudança conceitual, é relevante
ressaltar que muitos educadores construtivistas, motivados por esse modelo, têm feito
pesquisas, embasadas, sobretudo, em Hewson e Thorley (1989, apud BASTOS 1998), que
retratam a mudança conceitual como um processo em que a concepção alternativa do aluno
perde status e a concepção científica apresentada pelo professor ganha status. Ou seja, a
aprendizagem deve funcionar como um processo em que o aluno irá substituir as suas
concepções alternativas pelas científicas.
Diante dos dados coletados e das discussões realizadas, algumas reflexões
devem ser tecidas, como o confronto das idéias dos alunos com a dos seus respectivos
mestres. Reflexões que permitam compreender a complexidade das relações entre ensinoaprendizagem, que podem gerar problemas conceituais de longas datas, ou seja, que são
transmitidos de professores para alunos no decorrer da vida pedagógica.
Sobre isso, Villani (1999, p. 10) tece alguns comentários muito pertinentes:
Acreditamos que, se os futuros professores não experimentarem
pessoalmente as mudanças que levam a um compromisso com o saber
científico e educacional, não estarão em condições de auxiliar seus alunos no
processo de aprendizagem.
Portanto, é essencial que os professores tenham “sede pelo saber”, gosto pela
educação e amor pela profissão de educador, comprometendo-se com a prática pedagógica no
sentido de buscar novos conhecimentos, estar atualizado e entender que o seu conhecimento
não é uma verdade absoluta, mas precisa ser averiguado e contestado. Só assim é que se
conseguirá vencer os obstáculos do ensino de Ciências.
121
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo identificar e analisar as concepções
alternativas dos alunos do Ensino Fundamental de uma escola particular sobre o efeito estufa,
verificando ainda como alguns livros didáticos abordam o tema e como os professores que
trabalharam essa temática com a mesma turma a concebem. Os resultados obtidos sugerem
que as concepções alternativas dos estudantes são similares às concepções encontradas em
seus professores de Ciências e de Geografia. Tanto nos alunos como nos educadores, percebese que prevaleceu o conhecimento cotidiano sobre o efeito estufa, porque as respostas
estavam embasadas no conteúdo transmitido pela mídia, por revistas não-científicas e pelo
que se tem em alguns livros didáticos.
Esses resultados evidenciam a urgência da melhoria na preparação científica
dos professores, porque os mesmos estão buscando os conceitos científicos nos meios de
comunicação e com isso acabam tendo as mesmas idéias alternativas dos seus alunos.
A pesquisa constatou que as idéias alternativas sobre o efeito estufa
compartilhadas por esses alunos e seus professores mostram uma confusão conceitual entre
aquecimento global, destruição da camada de ozônio, raios ultravioletas e efeito estufa. As
respostas analisadas evidenciaram que para muitos alunos o efeito estufa acontece porque os
buracos na camada de ozônio, frutos da poluição humana, permitem a passagem dos raios
solares ultravioletas, os quais por serem muito “intensos” estão ocasionando o aquecimento da
Terra. Evidenciaram ainda que para os alunos o aquecimento é muito prejudicial aos seres
vivos, pois causa câncer de pele e faz as geleiras derreterem, comprometendo o meio
ambiente. Outro aspecto evidente nas falas dos participantes da pesquisa é que para eles o
efeito estufa pode ser interrompido se o homem parar de poluir e destruir a natureza.
122
Nos depoimentos da professora de Geografia e dos alunos, fica manifesto que
o tema efeito estufa foi trabalhado em sala de aula com base, quase que exclusivamente, no
livro-didático. No livro de Geografia, tal conteúdo é abordado de maneira confusa, em um
capítulo em que apresenta vários assuntos sobre a atmosfera terrestre, mas confunde efeito
estufa com aquecimento global.
Embora o livro didático devesse exercer uma função mediadora entre o
conhecimento científico escolar e o conhecimento cotidiano, ao simplificar e distorcer esses
conceitos durante a transposição didática, acaba por promover uma confusão conceitual. Este
tipo de abordagem mostra que o livro didático não está exercendo seu papel de forma
satisfatória e, portanto, não deveria estar sendo considerado pelos professores como seu único
referencial para o ensino de Ciências.
Do mesmo modo que o livro-didático, as professoras de Ciências e de
Geografia evidenciam em seus depoimentos confusão conceitual. Os dados confirmam a
hipótese de que essa confusão seja decorrente do uso do livro didático que, segundo as
professoras, é a referência principal para o desenvolvimento das suas aulas.
Os resultados sugerem que a relação – professores e livros didáticos – não tem
propiciado de maneira satisfatória a formação de conceitos científicos pelos alunos. Por isso,
uma das contribuições dessa pesquisa é no sentido de alertar os professores sobre a
importância de se avaliar com rigor o livro-didático adotado para as suas aulas.
O ensino de Ciências atual precisa estar atento às diversas dimensões que
primam por um ensino de qualidade. Assombrado com o alto índice de analfabetismo
científico, o ensino de Ciências no Brasil necessita traçar estratégias que permitam a
valorização do ser humano, para que as escolas tenham cidadãos mais críticos, mais sensíveis
e mais conscientes da sua aprendizagem.
123
Além disso, é importante discutir que a escola está imersa em uma cultura
social, na qual tem a função de transformar as informações veiculadas pelos meios de
comunicação em conhecimento científico, pois a escola é o elemento de formação da cultura
científica na sociedade. E para a escola garantir sua tarefa social precisa oferecer aos
professores uma atualização científica continuada através de cursos, simpósios e congressos,
organizar grupos de estudos e também criar espaços de educação científica, como por
exemplo, os clubes de Ciências, possibilitando que estes profissionais, junto com seus alunos,
dialoguem e pesquisem assuntos relacionados à Ciência e seu cotidiano, de maneira
prazerosa.
Diante dos dados discutidos e das reflexões realizadas por este trabalho de
pesquisa, constatou-se que as concepções alternativas dos alunos sobre efeito estufa não
surgiram por acaso, nem são frutos de sua imaginação, mas, pelo contrário, possuem suas
raízes no próprio processo de aprendizagem em sala de aula e no seu convívio social. Ou seja,
quem é o responsável pelo aluno aprender conceitos tão necessários para sua vida de maneira
equivocada: É o professor? O livro didático? O próprio aluno? Não se pode atribuir esta
responsabilidade a um único fator, mas sim, a um sistema de ensino que precisa refletir sobre
a prática educacional, considerando todos os aspectos sociais e culturais que interferem nesse
processo.
O objetivo deste trabalho se cumpre quando o educador, preocupado com o seu
compromisso de educar, estiver sensibilizado em pensar e refletir sempre sobre os seus alunos
e sobre as concepções que estes estão construindo dia após dia. Se o professor estiver disposto
a compreender como as concepções alternativas dos seus alunos (CACHAPUZ, 2000) e as
suas próprias dificultam a implantação e consolidação das mudanças necessárias no ensino de
Ciências, um grande passo estará dado para alcançar verdadeiras mudanças.
124
Sendo assim, esta pesquisa aponta que o trabalho em sala de aula seja
desenvolvido pelo professor com o intuito de proporcionar aos alunos atividades que
favoreçam
a
consciência de
suas
concepções
alternativas
(MORTIMER,
2000),
compreendendo as concepções científicas, a fim de serem capazes de utilizá-las quando for
necessário. Outra necessidade é a melhoria dos cursos de formação dos professores (NOVOA,
1992), já que muitos dos cursos de licenciatura pecam na preparação pedagógica e científica
do educador. Muitas questões sobre a aprendizagem escolar que deveriam ser discutidas nesta
fase (como formação de conceitos no aluno, o emprego do livro didático e outras) não fazem
parte dos conteúdos estudados nas licenciaturas.
Dessa forma, tem-se a convicção de que as reflexões e as conclusões
elaboradas durante este trabalho de pesquisa não representam verdades conclusivas, mas
sugerem possibilidades para um ensino em Ciências mais consistente e dinâmico, pois são
contribuições que objetivam uma prática educativa mais democrática e mais significativa.
125
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133
APÊNDICES
134
APÊNDICE _ A
TERMO DE CONSENTIMENTO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA ALUNO
Título: Análise das Concepções Alternativas sobre Efeito Estufa Entre Alunos do Ensino
Fundamental.
Declaro que fui satisfatoriamente esclarecido(a) pelo pesquisador em relação à minha
participação na pesquisa que norteará a dissertação de MESTRADO EM EDUCAÇÃO PARA A
CIÊNCIA O ENSINO DE MATEMÁTICA, da Universidade Estadual de Maringá - Centro de Ciências
Exatas, na qual serei submetido(a) aos seguintes procedimentos: preenchimento de um
questionário, que visará responder aos objetivos da pesquisa: Identificar as concepções
alternativas que os alunos possuem de efeito estufa relacionando ao Ensino de Ciências.
Estou ciente e autorizo a realização dos procedimentos acima citados e a utilização
dos dados originados destes procedimentos para fins didáticos e de divulgação em
revistas científicas brasileiras ou estrangeiras, desde que o anonimato seja mantido em
todos os níveis de divulgação dos resultados. Podendo em qualquer momento entrar em
contato com o pesquisador responsável e/ou com seus orientadores ((44)-3252-8065 ou
(44) 3261-4720) caso haja alguma dúvida.
Assim sendo, eu, __________________________________________________, após ter
lido e entendido as informações e esclarecido todas as minhas dúvidas referentes a este
estudo com a Professora Dra. Ana Tyiomi Obara, CONCORDO VOLUNTARIAMENTE e
dou meu total consentimento, sem ter sido submetido a qualquer tipo de pressão ou coação
em participar da pesquisa.
________________________________________________
Data: ____/____/______
Assinatura (do pesquisado ou responsável) ou impressão datiloscópica
Eu, Prof. Dra. Ana Tyiomi Obara, declaro que forneci todas as informações
referentes ao estudo ao pesquisado.
Equipe (Incluindo pesquisador responsável):
1- Nome: Ana Cristina Leandro da Silva Libanore
Telefone: (44) 3252-8065
Endereço Completo: Rua Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, 206
Cep: 87600-000- Nova Esperança-PR
2- Nome: Ana Tyiomi Obara
Telefone: (44) 3261-4720
Endereço Completo: Rua Marechal Deodoro, 549.
Ed. Lagoa Dourada. Ap. 401
Maringá-PR
Qualquer dúvida ou maiores esclarecimentos procurar um dos membros da equipe do
projeto ou o Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP)
da Universidade Estadual de Maringá – Bloco 035 – Campus Central – Telefone: (44) 32614444.
135
APÊNDICE _ B
TERMO DE CONSENTIMENTO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA PROFESSORA
Título: Análise das Concepções Alternativas sobre Efeito Estufa Entre Alunos do Ensino
Fundamental.
Declaro que fui satisfatoriamente esclarecido(a) pelo pesquisador em relação à minha
participação na pesquisa que norteará a dissertação de MESTRADO EM EDUCAÇÃO PARA A
CIÊNCIA O ENSINO DE MATEMÁTICA, da Universidade Estadual de Maringá - Centro de Ciências
Exatas, na qual serei submetido(a) aos seguintes procedimentos: participação em uma
entrevista, que visará responder aos objetivos da pesquisa: Identificar as concepções
alternativas que os alunos possuem de Efeito Estufa relacionando ao Ensino de Ciências.
Estou ciente e autorizo a realização dos procedimentos acima citados e a utilização
dos dados originados destes procedimentos para fins didáticos e de divulgação em
revistas científicas brasileiras ou estrangeiras, desde que o anonimato seja mantido em
todos os níveis de divulgação dos resultados. Podendo em qualquer momento entrar em
contato com o pesquisador responsável e/ou com seus orientadores ((44)-3252-8065 ou
(44) 3261-4720) caso haja alguma dúvida.
Assim sendo, eu, __________________________________________________, após ter
lido e entendido as informações e esclarecido todas as minhas dúvidas referentes a este
estudo com a Professora Dra. Ana Tyiomi Obara, CONCORDO VOLUNTARIAMENTE e
dou meu total consentimento, sem ter sido submetido a qualquer tipo de pressão ou coação
em participar da pesquisa.
________________________________________________
Data: ____/____/______
Assinatura (do pesquisado ou responsável) ou impressão datiloscópica
Eu, Prof. Dra. Ana Tyiomi Obara, declaro que forneci todas as informações
referentes ao estudo ao pesquisado.
Equipe (Incluindo pesquisador responsável):
1- Nome: Ana Cristina Leandro da Silva Libanore
Telefone: (44) 3252-8065
Endereço Completo: Rua Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, 206
Cep: 87600-000- Nova Esperança-PR
2- Nome: Ana Tyiomi Obara
Telefone: (44) 3261-4720
Endereço Completo: Rua Marechal Deodoro, 549.
Ed. Lagoa Dourada. Ap. 401
Maringá-PR
Qualquer dúvida ou maiores esclarecimentos procurar um dos membros da equipe do
projeto ou o Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (COPEP)
da Universidade Estadual de Maringá – Bloco 035 – Campus Central – Telefone: (44) 32614444.
136
APÊNDICE _ C
Questionário
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
MESTRADO EM EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIAS E O ENSINO DE
MATEMÁTICA
PROJETO DE PESQUISA
PESQUISADORA: Ana Cristina Leandro da Silva Libanore
1- Você já ouviu falar sobre o “Efeito Estufa”?
( ) Sim Por qual (is) meio(s) e como?______________________________
_____________________________________________________________
( ) Não
2- Na escola, em que(ais) série(s) e qual(is) matéria(s) foi discutido o “Efeito Estufa”?
________________________________________________________________________
3- Escreva tudo o que você sabe sobre o “Efeito Estufa” e como ocorre.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
4- Quais as implicações do “Efeito Estufa”?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
137
6-Faça um desenho que represente o Efeito Estufa em nosso Planeta.
138
APÊNDICE _ D
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
MESTRADO EM EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIAS E O ENSINO DE
MATEMÁTICA
PROJETO DE PESQUISA
PESQUISADORA: Ana Cristina Leandro da Silva Libanore
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1- Qual a sua formação acadêmica?
Eu fiz Ciências com habilitação em matemática
2- Em que ano você concluiu a graduação?
Em 97
3- Qual o nome da instituição onde fez sua graduação?
Fafipa
4- Fez alguma pós-graduação? Em qual instituição e em qual área?
Eu fiz em, terminei em 99 é Didática e Metodologia de Ensino da Unopar, depois em 2001 eu
fiz a minha pós-graduação em biologia na UEM. E depois agora em 2003 eu fiz a
especialização em Educação Especial na Fafipa.
5- Há quanto tempo leciona? Com quais disciplinas você trabalha?
Eu leciono desde 96, agora atualmente o que eu estou lecionando, já atuei como professora de
ciências, de 1ª a 4ª, mas já a 4 anos que eu venho atuando só com matemática e educação
especial.
6- Quais os estabelecimentos de ensino em que trabalha? (Escola pública,
particular).
Atualmente eu estou trabalhando na escola pública di com o Ensino Médio em Matemática e
na Apae com educação especial. Já trabalhei na particular no Colégio Coração de Jesus
durante 3 anos com ciências.
7- Há quanto tempo trabalha com o ensino de ciências?
Atualmente não estou trabalhando, mas já trabalhei durante uns 3 a 4 anos.
8- Você trabalha ou já trabalhou com o conteúdo “Efeito Estufa” com os seus
alunos? Em quais séries?
139
Na 5ª serie né que você quando você vai trabalhar as camadas da atmosfera que você entra
um pouco da camada do efeito estufa
9- O que você entende por “Efeito Estufa”?
Seria um aquecimento né global da Terra né com o aprisionamento da temperatura na
atmosfera.
10- Quais as implicações do “Efeito Estufa” para os seres vivos?
Essas implicações seriam mais ou menos o desgaste a o desequilíbrio ecológico que vai
causar na natureza, causando o desequilíbrio ecológico conseqüentemente atinge os seres
vivos que não está em um ambiente agradável para se desenvolver, crescer né?
11- Para preparar suas aulas sobre esse tema, quais são as suas fontes de pesquisa?
Além do livro didático que eu tinha eu sempre pesquisava em outros livros de ciências e
na Internet, na globo ciências, revistas né que tinha muito ou sempre alguma coisa.
12- Como você explica ou trabalha o “Efeito Estufa” com os seus alunos?
A gente utiliza muito o esquema do da estufa de plantas, porque é uma maneira fácil de
você ta explicando e você tem como você ta mostrando na pratica ta construindo uma
estufa né pra você ta mostrando como que é esse aprisionamento dessa temperatura dentro
da estufa né. Ai você pode ta construindo com o aluno ou ate ta levando propriamente nas
estufas feitas pra ele ta vendo como que é esse aquecimento.
13- Quando você trabalha esse assunto com os seus alunos tem mais algum conteúdo
que você acaba correlacionando?
A gente acaba falando dos desgastes né do próprio homem que esse efeito estufa o que
acontece ele é relacionado com a própria falta de estrutura do homem em preservar o meio
ambiente, por isso tanto desgaste assim da Terra como se acaba trazendo as
conseqüências, a destruição, o desmatamento né?
14- Você acha que os alunos têm alguma dificuldade para compreender o fenômeno
do“Efeito Estufa”? Que tipo de dificuldade?
Eu acho que eles têm uma certa dificuldade de entender as camadas da atmosfera, como que
isso acontece, quando você fala do buraco da camada de ozônio então pro aluno é abstrato,
mesmo que você mostra vai pra esquema, as vezes eu tinha um CD room de ciências que
mostrava lá você, mas mesmo assim é uma coisa abstrata, porque você não vê você não pega,
você imagina né?
15- E você, tem dificuldades para trabalhar com esse conteúdo? Quais?
140
Não, não tinha assim dificuldade porque na verdade em ciências a gente não acabava se
aprofundando né, dava sim uma noção do que era o Efeito Estufa ali no caso das camadas da
atmosfera. Então você não se aprofundava assim né.
141
APÊNDICE _ E
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
MESTRADO EM EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIAS E O ENSINO DE
MATEMÁTICA
PROJETO DE PESQUISA
PESQUISADORA: Ana Cristina Leandro da Silva Libanore
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1- Qual a sua formação acadêmica?
Eu sou formada em Estudos Sociais e Geografia.
2- Em que ano você concluiu a graduação?
Em 1990, Estudos Sociais em 1989 e a complementação em geografia em 1990.
3- Qual o nome da instituição onde fez sua graduação?
Fafipa em Paranavaí
4- Fez alguma pós-graduação? Em qual instituição e em qual área?
Fiz pela Unopar em 1998 e a graduação em especialização em Didática e Metodologia do
Ensino.
5- Há quanto tempo leciona? Com quais disciplinas você trabalha?
Leciono a 8 anos, nas disciplinas de geografia e Ensino Religioso.
6- Quais os estabelecimentos de ensino em que trabalha? (Escola pública,
particular).
Eu trabalho em duas escolas publicas, uma Estadual que é a Escola São Vicente de Paula em
Ensino Médio e de 5ª a 8ª e em uma escola pública Municipal Escola Vereador Jorge Faneco.
Na particular trabalhei durante 5 anos que é a Escola Coração de Jesus.
7- Há quanto tempo trabalha com o ensino de ciências?
Há 8 anos
8- Você trabalha ou já trabalhou com o conteúdo “Efeito Estufa” com os seus
alunos? Em quais séries?
142
Sim já trabalhei, é nas 5ª séries apesar de trabalhar em todas as séries, sempre estar
comentando sobre esse fenômeno né causado pelos gases que o homem emitem na
camada de ozônio.
9- O que você entende por “Efeito Estufa”?
Bom Efeito Estufa ele é um fenômeno uma poluição causada pelos gases que o homem emite
através dos escapamentos dos carros das indústrias e que provoca um aquecimento global que
pode causar efeitos maléficos tanto, em todos os seres vivos, tanto em seres macrobióticos né
ou microbióticos.
10- Quais as implicações do “Efeito Estufa” para os seres vivos?
As implicações pelo que a gente tem estudado e pesquisado é esses efeitos podem implicar na
destruição de algumas espécies, na contaminação do solo, na contaminação do ar é na
mutação de algumas espécies, na deficiência, na qualidade do ar né, na implicação da
qualidade do ar e no derretimento das calotas polares. Então seria uma mudança na biologia
tanto terrestre quanto marinha.
11- Para preparar suas aulas sobre esse tema, quais são as suas fontes de pesquisa?
Livros didáticos, pesquisas na Internet, jornais, telejornais e tudo que seja correlacionado com
essas mudanças climáticas, né tudo que está envolvendo, que são comentários e os
conhecimentos prévios dos alunos né então tudo isso vai, a gente vai fazendo um apanhado
geral e trabalhando com os alunos.
12- Como você explica ou trabalha o “Efeito Estufa” com os seus alunos?
Eu uso o recurso que eu tenho disponível os livros, pesquisas, parto do conhecimento prévios
como eu já disse é pergunto pra eles a partir, explico a partir por exemplo do nome estufa né
fazendo uma correlação com o fogão né que é a estufa que antigamente a gente utilizava, que
a mãe guardava o alimento ate mais tarde, então eu vou utilizando aquilo que eles já
conhecem então a partir disso eu vou construindo a idéia do que é o Efeito Estufa.
13- Quando você trabalha esse assunto com os seus alunos tem mais algum conteúdo
que você acaba correlacionando?
Sim eu correlaciono a chuva ácida, né a poluição atmosférica, a mudança do clima, a
destruição da camada de ozônio e também a gente, eu trabalho de uma maneira de como é
que o homem poderia reverter esse processo de destruição da camada de ozônio e do Efeito
Estufa. A gente trabalha também inversão térmica, ilhas de calor, então assuntos que podem
estar sendo ligados com o efeito estufa.
Inclusive i aí a gente pode puxar pra questão do câncer de pele, da proteção que nos devemos
ter em questão ao sol ne os horários, porque que eles assistem na televisão, porque das 10 as 4
horas da tarde a gente tem que se previnir passar um filtro solar, então justamente isso, então
tentar fazer com que eles relacionem algo que está sendo gerado pelo homem que é o Efeito
estufa por causa dos gases e que está afetando diretamente a nossa vida e sempre trabalhar
algo que é mais concreto para eles, algo que eles entendam.
143
14- Você acha que os alunos têm alguma dificuldade para compreender o fenômeno
do “Efeito Estufa”? Que tipo de dificuldade?
Talvez a parte mais conceitual de como explicar, eles até eles entendem o significado o que é
Efeito Estufa, eles entendem quem causa isso, o que causa Efeito Estufa é mais se você pedir
por exemplo, uma definição da palavra, do tema Efeito Estufa eles já tem uma certa
dificuldade talvez de interpretação, mas eles entendem o que é eles tem dificuldade talvez de
colocar a maneira mais escrita de como interpretar de como colocar no papel mesmo, mas
dizer o que é eles sabem sim. Não tem dificuldade não.
15- E você, tem dificuldades para trabalhar com esse conteúdo? Quais?
As dificuldades que eu vejo que todo profissional tem nessa área seria de duas maneiras. A
primeira dependendo do local onde você trabalha, numa escola particular como você tem mais
recursos audiovisuais pra eles e também pela informação que eles tem via televisiva, o jornal
e revistas fica mais fácil de você trabalhar então eles tem uma maneira mais rápida de
assimilar de entender e de compreender o assunto. Numa escola publica devido as
dificuldades que nos temos a acesso a livros, a Internet e também por eles terem assim acesso
a jornais, telejornais, mesmo porque eles não entendem a linguagem do jornal então já fica
mais difícil mais complicado de trabalhar, então você tem e é nessa maneira de trabalhar é que
eu vejo a dificuldade, porque daí a gente tem que montar uma maquete que muitas vezes ela
não condiz com a realidade quando se fala em efeito estufa em chuva ácida em São Paulo que
seria algo que a gente tem mais próximo pra estar explicando essa questão eles não conhecem
esse lado di uma cidade grande di como é que ela polui, então eles imaginam e a imaginação
deles não vai alem daquilo que eles já conhecem então essa é a dificuldade maior.
O trabalho que era feito era mais a partir de desenhos, então a gente trabalhava desenhos e
também maquetes e eles a partir disso eles também explicavam porque eu sempre busquei o
seguinte, é eles explicarem com as palavras deles aquilo que eles entendiam que eram por
exemplo a questão do CFC na época que eu trabalhei o CFC ainda era um produto que vinha
nos desodorantes e aerossóis hoje ele já esta sendo barrado a questão também que foi citado
por eles do Protocolo de Kyoto que é algo que está voltando a tona i ai eles começam a fazer
ligação quais são os paises que são mais poluidores, são os paises desenvolvidos em relação
aos subdesenvolvidos então a gente volta a questão do consumo do consumismo que também
é muito trabalhado então a gente nota assim que as dificuldades de trabalhar hoje e da maneira
de como se trabalhar hoje hoje talvez a gente tem mais recursos porque ta se falando muito
mais sobre isso. Então o que foi falado na 5ª série a respeito do Efeito Estufa era algo que
estava começando, hoje nós trabalhamos Efeito Estufa, hoje tem muito mais material para
trabalhar do que a quatro anos atrás né e hoje já se nota que quando se fala para uma 8ª serie
sobre Efeito Estufa eles já tem um conhecimento talvez pela maturidade deles e pelos
recursos bem maior do que a quatro anos atrás. Então hoje a preocupação é a diminuição da
poluição e hoje já se trabalha quem são os verdadeiros poluidores e faz-se uma correlação de
se os paises subdesenvolvidos tivessem um grau de desenvolvimento ou de consumismo igual
aos dos países desenvolvidos o que isso estaria acarretando, por exemplo na natureza? Então a
gente, hoje as questões que são discutidas em sala de aula já são já se conhecem mais sobre
Efeito Estufa e o que se trabalha sobre Efeito Estufa é: Quais são os países que mais
produzem esse lixo né? E o que as futuras gerações poderão estar fazendo em relação a isso,
então não é só a questão conceitual né da definição do que é Efeito Estufa, mas hoje a gente
estuda quem são e o que será feito a partir de hoje.
144
APÊNDICE _ F
AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA
Eu,
_____________________________________________________,
do________________________________________________________,
autorizo
diretor
a
acadêmica da Universidade Estadual de Maringá, Ana Cristina Leandro da Silva Libanore,
R.A nº 42550, do Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência e o Ensino de
Matemática, desenvolver sua pesquisa de campo nesta instituição de ensino, realizando
entrevistas com professores e aplicando questionários com os alunos do Ensino Fundamental.
Atenciosamente
_______________________________
Diretor:

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