IMAGEM

Transcrição

IMAGEM
CISC
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE SEMIÓTICA DA CULTURA E DA MÍDIA
IMAGEM
Dietmar Kamper
A passagem de IPERIONE (Oh o homem é um deus quando sonha
e um mendigo quando reflete) representa, se tomada ao pé da letra,
uma boa introdução ao significado ambivalente da palavra alemã
para “imagem”, Bild.
Mesmo
etimologicamente
se
podem
confrontar
apenas
ambiguidades: bilidi (antigo alto alemão) significa, de um lado,
“sinal”, “essência”, ”forma” e de outro, “imagem, cópia, reprodução”
(é de novo controverso se a raiz, assim como em billig, econômico,
Bilwis, já alude a “reto” “justo”). De um lado se sublinha, portanto,
aquilo através do qual algo recebe sua forma, alcança sua
essência, chega ao pleno desdobramento de sua força miraculosa.
De outro, aquilo que tal imagem originária reproduz, apresenta,
desenha.
Essa posição mutável entre uma ordem mágica da plena presença
na qual a imagem é idêntica àquilo que mostra e uma ordem da
representação que tende ao vazio, no qual, no melhor dos casos, é
semelhante(uma impressão, um espelho, uma semelhança…),
nunca se perdeu de todo.
Costuma-se admitir, porém, uma passagem histórica e biográfica da
magia à representação, do “realismo da imagem” que compreende
a realidade como um “ser na imagem”, à moderna doutrina dos
sinais, que percebe enfim apenas nexos de “reenvio”(e a isso se
refere a passagem de Hölderlin); todavia, resistem obstinadamente
mesmo em tempos iluminados, restos mágicos, como, por exemplo,
a tradição dos ícones da igreja oriental, o sacrifício da missa
2
católica, algumas correntes da poesia e da arte figurativa mais
recente.
A partir disso se pode concluir a favor de uma realidade sagrada
não perfeitamente eliminável da imagem e, por outro lado, existe a
possibilidade de compreender melhor os enormes efeitos que
brotam da profusão de imagens exatamente na época da perfeita
abstração.
O vértice que nasce ao centro das imagens através do vazio não
pode mais ser preenchido pelos resultados da razão que produz os
sinais.
Tendo em vista que quase ninguém é capaz de resistir ao horror
vacui(medo do vazio), daí deriva a sucessão circular de substitutos
que procura
supri-los com uma aceleração crescente de
substituição.
Um evento que não se verifica nunca, mas, tem efeito mais
profundo que uma ato mágico completo.
Nos artigos do Historisches Wörterbuch der Philosophi fica clara a
irritação que se produziu na história do espírito como reação ao
significado mutável de “imagem”. É possível determinar a posição
dos diversos fluxos de tradições ou correntes relevando a sua
proximidade ou distância da magia e da representação.
Até no grego eikon e no latim imago se conservou o mesmo sentido
duplo do antigo alto alemão bilidi, ainda que o trabalho teórico da
3
filosofia grega e da exegese bíblica-judaica tenha precisado
acelerar o afastamento da compreensão mágica da imagem.
Já Platão - com sua desconfiança nas comparações dos poetasseparou nitidamente idéia e imagem e com isso acrescentou
suspeita à fantasia, acentuando-lhe a fisionomia de ilusão.
As influências gnósticas, porém, puderam de novo interromper esse
desenvolvimento com suas hierarquias da semelhança.
Decisiva para o destino ocidental das imaginações foi acima de tudo
a doutrina da “imago dei”(imagem de deus) judaica cristã que
recebeu seus impulsos decisivos da especulação paulina sobre o
“primeiro” e o “último Adão”.
Eikon, significa, como imago, a efígie impressa de um selo, a
imagem refletida, e ainda a sombra de uma pessoa; portanto,
relações nas quais existem graduações de semelhança. Assim se
pode falar de um filho como o eikon do pai. Esse é o sentido a que
São Paulo recorre quando chama
Cristo de “o último Adão” a
definição de “imagem de deus” e o coloca em relação com o
homem do éden antes da queda.
Com isso se traça um esboço da história da salvação cristã, que no
começo e no fim
tem como signo supremo uma determinada versão da imagem(e
precisamente a sua função de espelho que, quando vazio, reflete a
plenitude) e no meio postula uma queda da realidade da imagem e
uma reaproximação a ela.
4
A extraordinária fecundidade dessa concepção não deve porém
iludir sobre o fato de que, por causa de sua “falta de substância”- é
pura relação!- ela , ao contrário, não apenas se abre à cunha(que
deveria
repelir
)
da
abstração(veja-se
a
metáfora
do
reespelhamentos continuados em Niccoló Cusano ou a concepção
leibniziana do ente indivisível como un miroir de l ´univers,( um
espelho do universo), mas tem ,de certo, aconselhado a
tabuizzazione das imagens
(não há em português: transformação em tabu ; em linguística isso
significa que o nome acompanha a coisa e acaba se unificando a
ela. É um recurso típico dos povos primitivos que viviam em estreita
dependência de seus deus e de um mundo mágico e , por alguns
aspectos, misterioso. Acreditava-se então que os conhecimento dos
vocábulos conferisse um poder real sobre as coisas e sobre os
homens e que pronunciar um certo nome poderia desencadear uma
reação sobrenatural)
Na história da filosofia a partir da Idade Média uma formalização da
doutrina da “imago dei” segue junto à tempestade de imagens que
se inflam e desinflam, sem que
se possa falar de prejuízo do
discurso.
Da interrupção violenta da idolatria das imagens se pode para
sempre reconstruir uma demonstração negativa da potência do
mágico, que foi também tema público até a Revolução Francesa:
5
“os Girondini achavam que o mundo execrável dos reis não teria
acabado se tivesse continuado a viver só da imagem” (Shrader
1965,p.15).Assim se chegou a decapitar os ídolos de pedra
da soberania.
Por outro lado, Francis Bacon, com sua conotação dos idola como
idola fori , ou seja, os erros que derivam do uso da linguagem, da
vida social, introduziram a história da ideologia, na qual era
prenunciada a tentativa da superação científica de um mundo da
mera aparência.
O Iluminismo se colocou contra as obrigações mágicas que eram
vistas como fetiches dependentes em primeiro lugar “pessoal” e
depois “material” da burguesia.
Se tal sucesso do intento de interpenetrar teoricamente poder e
mercado é colocado em dúvida, pois até a crítica à ideologia mais
avançada, a marxista(com sua hipótese de uma aparência
socialmente necessária) foi alcançada pelo modelo universalista de
uma teoria da reprodução ou do reespelhamento, que relembra de
modo entediante a especulação cristã.
Se, ao contrário, não se quer falar de uma “simulação” que
teoricamente não se pode propor, como da noz vazia do real, como
acontece de novo na arqueologia estruturalista da modernidade,
então talvez fosse aceitável a proposta de Walter Benjamin de
recorrer a “imagens do pensamento”(Denkibilder) que permitem
decifrar também a existência profana como figura enigmática.
6
As
imagens
que
como
um
choque
rasgam
determinadas
constelações históricas têm o coração temporal de uma “dialética"
em estado de sossego”(Dialektik im Stillstand) e consentem a
quebra de alianças com os vencedores da história.
A imagem tem, logo, de acordo com o seu significado, pelo menos
três funções: a de presença mágica, a de representação artística e
a de simulação técnica, entre as quais existem múltiplas
intersecções e superposições.
Os homens hoje vivem no mundo. Não vivem nem na linguagem.
Vivem na verdade nas imagens do mundo, de si próprios e dos
outros homens que foram feitos, nas imagens do mundo, deles
próprios e dos outros homens que foram feitos para eles.
E vivem mais mal do que bem nessa imanência (permanência)
imaginária. Morrem por isso. No ápice da produção de imagens
existem maciços distúrbios. Existem distúrbios das imagens que
tornam enormemente ambígua a vida das imagens e a morte pelas
imagens.
Se difunde uma condição do tipo “morto–vivo”, “vida morta”.
Essa impossibilidade de decidir se se está ainda vivo ou morto
adere às imagens, pelo menos no momento da sua pura simulação
sem referência.
O convite a utilizá-las como estações intensivas da experiência se
pode aceitar apenas provisoriamente.
7
Uma oscilação que se estenda no tempo é difícil de suportar.
Já é tempo, então, de sair da autoproduzida caverna das imagens
que está se fechando. Não é uma coisa fácil. A via de subida, da
própria nova proibição das imagens, não parece possível.
Se proíbe dentro de certos auto limites, já que no fin de siécle de
uma pro¡bição da pro¡bição não se pode proibir nada. Se
prenunciaria, então, a via oposta do êxtase extremo
Procura-se a saída abrindo caminho entre as imagens.
Procura-se algo além das imagens nas próprias imagens.
Dado, porém , que as imagens são “planas”, essa busca de
profundidade não é fácil e os mencionados distúrbios das imagens
podem ajudar.
O exagero da ambiguidade do homem como living dead vai acabar
numa image killing , num injurioso fragmentar, multiplicar,
funcionalizar, num analisar, um banalizar, um canalizar, um ABC
que requer de fato muito prática.
A evasão da caverna das imagens, da permanência do imaginário,
seja agressivo ou reflexivo, tem em si também uma outra
dificuldade.
O outro lado da moeda das imagens é possuído pelo monstruoso e
por cada evadido daquelas que exatamente lhe dão mais medo.
Por ele nenhum conceito universal está tão à altura.
8
Até discursos mais refinados não se impõem(ou não reinam). Os
únicos adversários dos monstros que nascem do sono da razão e
que dependem do regime de uma fantasia de poder são figuras,
figuras da dissimulação.
Contra o imaginário ajuda apenas a imaginação, e precisamente
uma das figuras, das formas, dos rostos que não pertencem ao
homem singular e que trabalham de acordo com o princípio da
criação de uma vida capaz de procriar.
A percepção do monstruoso significa por isso, ao contrário, a
invenção de figuras que fazem um espetáculo que dura toda a vida
no palco da vida. O Cenário tem valor cognitivo. Não é um outro
domínio do imaginário, mas o princípio de uma relação crítica com
as imagens que não pode ser instaurada de nenhum outro modo.
Ocorrem duas premissas para se chegar à definição de que coisa é
uma imagem, de que coisa são as imagens. Contra o medo da
morte os homens só têm a possibilidade de fazer uma imagem dela.
Por isso às imagens se prendem os desejos de imortalidade. Por
isso a órbita do imaginário é regida sobre o “eterno”, e por isso os
homens sofrem hoje o destino de já serem mortos em vida.
Uma tentativa de fugir disso deveria abolir as imagens, deveria
alcançar um ponto para lá das imagens do qual não é possível um
retorno à imortalidade.
9
Também esse ponto tem que ser alcançado. A dupla premissa é
muito simples: como imagens os homens seriam imortais, sem
imagens talvez pudessem ser mortais.
As consequências, porém, são pesadas, por causa da assimetria e
por causa dos efeitos retroativos.
A primeira imagem nasce do medo da morte, mais precisamente do
medo de dever morrer sem ser vivo, muito antes do surgimento da
consciência.
Tem o objetivo de cobrir a ferida da qual provêm os homens. Esse
escopo porém não pode ser cumprido.
Cada lembrança de cobertura(ou disfarce) ao mesmo tempo
lembra. Por isso cada imagem é, no fundo, sexual, mesmo que seja
profundamente religiosa no primeiro movimento. A partir disso se
pode chamar a imagem-como faz Rolland Barthes- “a morte em
pessoa”.
Por meio do medo a imagem tem o papel principal no desvio do
desejo humano. Substitui a indiferença experimentada na origem.
Está no lugar do primeiro mal. Prolonga acima de tudo a esperança
de que a voz da mãe transpareça através de todas as
ambivalências. Se volta, aliás, do sacro ao banal. De fato , o
segundo capítulo na superação do medo se chama reprodução. A
imagem deve se perder nas imagens. A ilusão depois de duas
páginas soa assim:” quem reencontra a imagem está na origem”.
Também isso está do avesso. O primeiro é um segundo.
10
O corpo vem antes da imagem(e da consciência); “quem destrói a
imagem perdeu o medo”. Também isso está do avesso. De fato a
própria imagem já é uma estratégia do medo. O prazer que quer
eternidade vale para as imagens, mas também para a vingança
que lança no imaginário para desterrar(ou extrair) da vida aquilo
que não pode amar. Fazer-se uma imagem do corpo humano
significa torná-lo imortal, significa alinhá-lo na falange dos mortos
vivos, do espectros e fantasmas. Transformar a imagem que está
no lugar da ferida da mortalidade em milagre e sinal, que são
eternos, é pura ilusão. Então o prazer estaria errado e a vingança
estaria na obscuridão daquilo que acontece e que se faz? Mais ou
menos.
Com as imagens não é possível nem recordar nem esquecer. Sobre
esse limite se trabalha continuamente.
Em outras palavras, o imaginário é aquele querer esquecer que
recorda e aquele querer recordar que esquece. E precisamente
quanto menos imagens(a favor de uma única imagem) melhor a
lembrança, e quanto mais imagens, menor a memória, mas a
diferença entre imagem e imagens remete à secundariedade do
eterno. Primário é o corpo mortal. Esse se pode experimentar.
A imagem que está no lugar da ferida, deve ter sido transformada
ela própria numa ferida para que a saída do imaginário se tornasse
visível.
Isso acontece depois da proibição das imagens. Há uma voz atrás
do espelho que está atrás da cortina. Uma voz calada pelas
religiões que proíbem imagens ou melhor, elas tentaram calá-la.
11
Sua construção da unidade obrigou aquilo que é mortal à repulsão
pelo corpo, à ruína do discurso, que os homens são. A voz ressoa
para além do prazer(proibido) e da vingança(consentida).
A coisa mais difícil é, sem dúvida, uma existência sem imagem.
Tem o aspecto de um “ser desaparecido” e não se pode inserir nos
caminhos da vida, que são comuns.
A mortalidade não é um programa e não é um projeto.
A
existência
sem
imagem
é
falência,
insistência
na
incomensurabilidade.
Ancoradouro da palavra, da palavra ouvida e pronunciada, que se
leva ao limite do insensato, ancoradouro da materialidade da voz,
não daquilo que ela diz. O risco elevado provém do fato que as
religiões que proíbem imagens fizeram um pacto com o sentido
desde o início.
Mortalidade significa, porém, pegar uma saída do imaginário
diferente daquela permitida pelo medo, retorno a uma realidade que
nunca existiu.
Ambígua desde o começo, “imagem” significa, entre outras coisas,
presença, representação e simulação de uma coisa ausente. Se se
admitem diversas combinações históricas com diversas pronúncias
, a situação oferece motivos
suficientes
para distinções mais
precisas. “Presença” é a dimensão mágica, “representação” reune
forças da imitação, da capacidade de colocar as imagens como
imagens, o inteiro arsenal dos disfarces engenhosos e “simulação”
é um assunto da ilusão, incluída a auto-ilusão, que em contato com
12
as leis de mercado e da abstração da troca tem atualmente sua
conjectura favorável.
A cooperação e o contraste entre presença, representação e
simulação “constituem” ao mesmo tempo o objeto e o horizonte da
reflexão, onde o objeto não tem em si nada de objetivo e o
horizonte tem em si pouco de definido.
Se poderia esboçar uma teoria da decadência das imagens, de
maneira que se verifique ou seja verificada uma queda da presença
plena ao presente morto, vazio, simulado ou fingido.
Há porém, também argumentos para uma cotemporaneidade,
pesada de carregar e difícil de explicar, dos três
significados
fundamentais, que, provavelmente, se realizou através de uma
violação simulativa da realidade.
Em todo caso, seria muito fácil falar apenas de épocas históricas
das imagens, sem considerar como uma mistura atual de produções
e recepções
de imagens
pré-histórica/pré-moderna/
e pós-
moderna/pó-shistórica influencia a percepção. Atrás do horizonte e
no objeto cabe (ou paira ameaça de ) um abissal horror vacui. O
material ao qual correspondem as imagens na sua versão é uma
ausência, uma falta fundamental, se assim se quiser, é a perda do
ambiente do seio materno, que atarefará ( dará trabalho) o homem
para toda vida como parto prematuro.
O fato de que ele tenha nascido e que deva morrer oferece os
pressupostos para a experiência da perda, que parece insuperável,
13
mas pode ser substituída. As imagens são, assim consideradas,
substitutas daquilo que falta, que é ausente, sem nunca alcançar a
dignidade daquilo que substituem. Essa mesma insuficiência é o
motivo para as variantes e para a reflexão. Dado que as imagens
permanecem porém ímpares e não podem existir duplicatas
perfeitas, há um movimento histórico no sentido dos ordenamentos
experimentais dos quais faz parte também a mesma prestação de
contas. O pensamento provém da mesma fonte da criação das
imagens, é compelido pela necessidade e também composto de
modo similar. A voz primitiva “ imaginação” não cumpre nem
mesmo de longe as diferenciações que foram dadas historicamente.
Se trata de levar em consideração com urgência três variantes das
quais
a fantasia e a imaginação, em suas várias acepções,
participam de um modo ainda indistinto:
um presente do espírito no sentido de uma percepção radical que
não tem nada a ver com a “verdade”, mas tem muito a ver com a
awareness (a conscientização), com a advertência sobre o traço
corpóreo da vida, com a atenção ao perigo e com a atenção como
veneração.
Uma lembrança, que não significa retorno a um estado de salvação,
mas significa a capacidade de colocar alguma coisa como alguma
coisa, portanto ficção, invenção que pode fazer ver também as
imagens como imagens.
Uma ilusão, estratégias lúdicas que aparecem no jogo e incluem a
disponibilidade para iludir e para se fazer iludir, que colocam em
cena as imagens como simulacro e levam em conta uma simulação
em diversas camadas.
14
Presença, representação, simulação de uma ausência têm diversos
resultados que continuam a agir numa interdependência multiforme.
No entanto, o mecanismo suficientemente conhecido
de uma
criação sucessiva da imagem autêntica a partir da cópia ou da
junção de simulação e presença, que vai contra a valoração
diferenciada da força da representação, são apenas duas das
muitas figuras do processo que estão em jogo e que teriam que ser
delineadas. Por isso se deve assumir como tema a interface que
corre sobre o limite entre o visível e o invisível e que, de modo
surpreendente, tem forma de cruz.
A imagem tem uma estrutura fundamental de quiasma
(em forma de x ou +; Cruzamento ou decussão de duas formações
anatômicas; quiasma ótico: pequena formação quadrangular em
formato de x na qual os nervos ópticos parcialmente se juntam ou
se cruzam.)
Quiasma significa aqui- seguindo alguns raciocínios de MerleauPonty- o cruzamento de tendências principais que se excluem
reciprocamente, que se percebem à superfície do corte de imagens
e corpo. Se deve voltar a atenção que atualmente cabe às imagens
da moldura das imagens(borda externa) e do apoio das
imagens(fundo) à forma de cruz que estrutura as imagens “por
dentro”.
Assim ,provavelmente, a história se faz pensar primeiro, depois e ao
lado
da
Idade
moderna,
na
“época
das
imagens
do
mundo”(Heidegger), pela primeira vez bastante e abundantemente.
15
A ampla tensão das tendências cruzadas quiasmaticamente que ,
porém, não deve estar de acordo apenas cronologicamente, vai da
imagem interior como ilha da lembrança que lembra uma mítica
lembrança originária do passado(tradição
da anamnesis e da
aletheia ) até a “imagem exterior” que , na pura repetição que não
terá nunca repetido nada, pratica um esquecer o esquecer, ou seja,
a tabula rasa
( filos. No empirismo mais radical, estado de indeterminação
completa, vazio total, que caracteriza a mente antes de qualquer
experiência).
É difícil pensar que a amplitude de tensão desses tempos seja
válida sempre, não apenas na diacronia mas também na sincronia.
Espaço e tempo na Europa foram sempre construídos como cruz,
como
templum
e
tempus,
o
espaço
com
a
cruz
das
coordenadas(veja-se o rito da fundação das cidades), o tempo com
a cruz ereta, levantada do Gólgota (veja-se a profecia de um sinal
no qual vencerá).
Ambas as cruzes - como marcas (ou assinaturas) da terra habitada e do corpo
humano sinalizado - vêm à luz contemporaneamente. Fundam as imagens de
dentro. Parece que são o próprio sinal. Poderiam ,quando estiverem visíveis,
ser consumidas e trabalhadas a fundo, para que cesse sua obrigação secular e
os homens aprendam finalmente a relação de abandono que corresponde aos
sujeitos das imagens.
Este texto foi extraído do livro “Cosmo, Corpo, Cultura. Enciclopedia
CISC - Centro
Interdisciplinar
de Semiotica
da Cultura
Signatu
re Not
Verified
Digitally signed
by CISC Centro
Interdisciplinar
de Semiotica
da Cultura
DN: cn=CISC Centro
Interdisciplinar
de Semiotica
da Cultura,
c=BR
Date:
2003.05.13
21:54:04
-03'00'
Antropologica. A cura di Christoph Wulf. Ed. Mondadori. Milano. Italia. 2002.
16