material e métodos - Bayer CropScience Portugal

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material e métodos - Bayer CropScience Portugal
Contributo para a discussão de estratégias de combate ao oídio da videira
Uncinula necator (Schw.) Burr na Região Demarcada do Douro
Fernando ALVES1; Fernanda ALMEIDA1
RESUMO
A estratégia de combate ao oídio segue preferencialmente um modelo que privilegia o efeito
preventivo dos tratamentos, principalmente entre a floração e fecho dos cachos, apesar de o viticultor
assumir a colocação dos tratamentos contra esta doença numa fase mais precoce.
Neste trabalho, é apresentada uma breve revisão sobre a sistemática, sintomatologia, biologia e
epidemiologia do oídio e discutem-se as estratégias de luta propostas.
Com vista a verificar o interesse da realização de tratamentos fitossanitários na fase entre o
abrolhamento e a pré-floração, bem como sobre o interesse de posicionar um IBE, à saida das folhas
para controlar eventuais infecções primárias numa fase de pouca eficiência de enxofre em pó devido
à baixa temperatura, realizou-se um ensaio com recurso a enxofre em pó e IBE (tebuconazol)
aplicados na fase 4-5 folhas e ao início da floração.
Os resultados apontam para a possibilidade de não realizar intervenções antes da pré-floração e
reforçam o interesse do posicionamento de um IBE, imediatamente antes desta fase.
Palavras chave: oídio, IBE, enxofre em pó, posicionamento das intervenções.
INTRODUÇÃO
O oídio e o míldio são as doenças causadas por fungos que maiores problemas colocam à viticultura
portuguesa, existindo em todas as regiões e causando prejuízos avultados. Enquanto que a
incidência do míldio é irregular e associada às características climáticas do ano, o oídio tem uma
presença mais regular com ataques graves em diversas regiões, com destaque para o Ribatejo,
Oeste, Alentejo e Douro (Júlio, 1999).
A doença pode atacar qualquer órgão verde da planta e a gravidade do ataque depende do momento
em que é realizada infecção, reduzindo o crescimento, o vigor e a fertilidade das cepas. Sob
condições favoráveis, quando o ataque é precoce pode originar a perda total da produção (Tomáz
1984; Amaro, 2001). Por outro lado os ataques localizados de oídio, para além de abrirem a porta
para a entrada da podridão cinzenta (Botrytis cinerea), dão origem a uma diminuição importante, quer
do potencial produtivo, pela perda de peso e rendimento, devido à percentagem de bagos mais
pequenos e redução do seu número por cacho (Calonnec et al, 2001; Gadoury et al., 2001), quer um
efeito depressivo no potencial qualitativo dos vinhos, na acumulação de açúcar, na acidez e na
intensidade da cor (Collet, 1999; Gadoury et al. 2001). Para Calonnec et al. (2001) os efeitos no
conteúdo de açúcar são contraditórios nos anos estudados, mas o teor de antocianas e 3 mercaptohexanol, respectivamente em Cabernet sauvignon e Sauvignon blanc, diminuíram forma significativa.
Sistemática e descrição - O oídio da videira é devido a um fungo filamentoso ectotrófico, obrigatório
do género Vitis, que na forma teleomorfa ou sexuada é conhecido por Uncinula necator (Schw.) Burr
e na forma anamorfa ou assexuada, por Oïdium tuckeri Berk. Com base nas características
1
ADVID - Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense
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1
morfológicas e na tipologia dos ascos e corpo frutífero, U. necator está inscrito na divisão Eumycota,
classe Ascomycetes, ordem Erysiphales e família Erysiphaceae (Cortesi e Miazzi, 2000).
A forma perfeita (Uncinula necator), caracteriza-se pelas cleistotecas, formadas pela fusão de duas
hifas compatíveis (Pearson et al, 1988). As cleistotecas, que se encontram na superfície dos órgãos
atacados, são órgãos esféricos fechados (desprovidos de ostiolo), de cor inicialmente branca,
evoluem para amarelo e atingem o castanho escuro à maturação (84-115 µm) (Dubos, 1999). São
providas de apêndices, cilíndricos, hialinos com uma curvatura característica na sua extremidade,
quando ficam maduras. Cada cleistoteca contém entre 4 a 6 ascos (50-60 x 25-40 µm) dispostos em
ramalhete e cada asco contém 4 a 8 ascósporos unicelulares, hialinos e de forma ovóide (10-14 x 1525 µm).(Dubos, 1999).
A forma imperfeita, Oïdium tuckeri Berk, desenvolve um micélio hialino, septado (4-5 µm de diâmetro)
e ramificado, na superfície do órgãos a contaminar. Este mícélio emite apressórios que asseguram a
sua fixação sobre o suporte e a nutrição a partir do substracto do hospedeiro (Dubos, 1999). Depois
da penetração na cutícula e na membrana celular, forma-se dentro da célula epidérmica um haustório
globoso (Pearson et al, 1988).
A reprodução assexuada efectua-se por conidióforos (10-400 µm de comprimento), formados
perpendicularmente sobre as hifas. Cada um possui uma curta cadeia de conídios (3 a 5), hialinos e
cilindro-ovoides (27-47 x 14-21 µm) (Dubos, 1999).
Sintomatologia - O oídio pode infectar todos os tecidos verdes da videira. Penetra apenas nas
células da epiderme, nas quais introduz os haustórios para absorver nutrientes. A presença de
micélio, com conídios e conidióforos, na superfície dos tecidos dá origem a um aspecto pulverulento
de cor branca-acinzentada (Pearson et al, 1988). As folhas de qualquer idade são sensíveis à
infecção, assumindo as folhas jovens (mais sensíveis que as velhas), um aspecto crispado (Dubos,
1999). Nos bagos atacados, as células acabam por necrosar e assim a película, constituída por
células mortas, não se desenvolve e fendilha sob a pressão das células da polpa, que continuam o
seu desenvolvimento (Dubos, 1999), deixando aparecer as grainhas de forma característica (Tomáz,
1992). O grau de susceptibilidade a este agente patogénico varia também com as castas, sendo
muito sensível no Douro a Tinta Roriz (Amaro, 2001).
Biologia e epidemiologia - O ciclo biológico do fungo compreende duas fases diferentes que
coincidem com o desenvolvimento da planta (Pearson et al. 1988). Durante a fase activa da videira, o
fungo reproduz-se e dissemina-se graças á formação de conídios, numa sucessão de ciclos de
infecção (Clerjeau et al, 1998), e na fase de repouso vegetativo, o fungo sobrevive, conservando-se
sobre duas formas: a via assexuada, a partir do micélio nos gomos dormentes, ou a via sexuada, sob
a forma de cleistotecas (Cortesi, et al, 1997; Gadoury e Pearson, 1987, 1988), alojadas
principalmente no ritidoma da videira (Cortesi, et al, 1995).
As contaminações primárias podem ter origem quer pela germinação do micélio dormente nos
gomos, dando origem ao aparecimento de “drapeaux”, quer através da projecção de ascósporos
pelas cleitotecas, não necessitando de temperatura e humidade bem definidas como no caso do
míldio (Clerjeau, 1999; Gadoury e Pearson, 1988).).
Nas infecções secundárias, os conídios podem germinar a partir de 5ºC, mas são incapazes de
formar haustórios, o crescimento do micélio apenas é possível a temperaturas compreendidas entre
10 e 30 ºC, com um óptimo que se situa entre os 20 e 25ºC (Molot, et al, 1996). A germinação dos
conídios é inibida a partir de 35ºC e cessa a 40ºC. A formação de haustórios é limitada na presença
de um filme de água, necessitando por outro lado, de uma forte humidade relativa (40 a 100%), à
superfície das folhas (Pearson et al, 1988¸ Willocquet et al 1998a, Dubos, 1999). Forte luminosidade
inibe a germinação dos conídios, sendo estes favorecidos por uma luz difusa (Willocquet et al, 1996,
in Dubos, 1999). A libertação e disseminação dos conídios é também favorecida pelo vento (a partir
de 2-3 m.s-1, com máximo observado por volta de 10 m.s-1), bem como pelo efeito mecânico das
gotas de chuva e qualquer operação cultural, que dê origem a vibrações, como por exemplo as
pulverizações (Willocquet et al 1998a, 1998b).
A duração da incubação em condições controladas varia de 7 dias a 19ºC, até 5 dias para
temperaturas entre 22 e 27ºC. Em condições de campo, é contudo corrente observarem-se
incubações de 14 dias e por vezes mais, quando os ciclos ocorrem no período entre a alimpa e o
fecho dos cachos (Dubos, 1999; Galet, 1977)
Na fase final do ciclo da doença, formam-se as cleistotecas, após a fusão de duas hifas miceliais
compatíveis. A temperatura elevada parece ser o único factor limitante à sua formação, e a sua
2
presença nos cachos ou nas folhas em determinada época, estará mais relacionada com este factor
do que com uma eventual receptividade da planta. Estas cleistotecas podem começar a libertar
ascósporos numa quantidade variável, de acordo as condições climáticas e região vitícola. Estas
projecções tem lugar em Março, Abril e Maio, durante períodos com precipitação, a partir de 2 mm,
com um óptimo a 6 mm e duração de humectação de 2,5 a 8 h, sob temperatura superiore a 11ºC
(Jailloux, 1999). Os sintomas da doença surgem pelo menos um mês após esta projecção de
ascósporos (Molot, et al, 1996). Na região do Douro, sob orientação da Estação de Avisos, estão já
em curso trabalhos relacionados com esta problemática (J. Freitas, comunicação pessoal).
O início da dispersão de esporos, ocorre durante um período consecutivo de dias sem chuva. No
início do ciclo vegetativo, quando a vegetação é pouco densa, mesmo uma ligeira precipitação, pode
provocar lavagem de conídios. Contudo uma chuva ocorrida antes do início da dispersão de esporos,
pode dar origem à libertação de ascosporos. O momento do início da epidemia no cacho, parece
fortemente relacionado com o estado fenológico da planta hospedeira (Willoquet e Clrejeau, 1998).
A progressão da epidemia no tempo segue uma lei exponencial, com uma primeira fase mais longa,
cerca de 40 dias, em que a doença é muito discreta, com menos de 10 % das folhas infectadas e
sintomas localizados na face inferior. Esta fase é seguida por uma progressão epidémica da doença,
em que esta pode passar de 10 a 70 % num período de 13 dias e a quase totalidade em 80 a 90 dias.
Todos os cachos são tocados pela doença, mas os estragos mais severos limitam-se à proximidade
dos focos primários. (Cartolaro e Calonnec 2001)
Segundo (Calonnec e Cartolaro, 1999), ajustando as curvas da doença a um modelo matemático é
possível caracterizar a progressão da doença a partir de um foco, a qual pode apresentar uma
velocidade média de 0,29 a 0,40 m/dia , mais de acordo com a direcção do vento, do que com a
orientação da parede de vegetação.
De uma forma generalizada, atribuía-se aos “drapeaux” um papel preponderante no desenvolvimento
de uma epidemia de oídio, com excepção para as vinhas do estado de New York (Estados Unidos),
onde este papel cabe apenas às cleistotecas (Pearson e Gadoury, 1987). No entanto para Cortesi
(1995), a falta de observação de “drapeaux”, constatada em diversas vinhas italianas, poderá ficar a
dever-se a um início lento do abrolhamento, à falta de observação específica, ou à exiguidade da
superfície controlada.
Recentemente tem sido atribuída uma importância crescente á presença de cleistotecas em vinhas
Europeias. Para algumas, as cleistotecas, parecem ser a única fonte de inoculum primário e
constituem uma fonte adicional nas situações em que o fungo inverna na forma micelial (Cortesi e
Bisiachi, 1997)
Os sintomas foliares devidos á infecção por ascósporos, são muito distintos dos provocados pelo
mícélio dormente nos gomos. As infecções primárias são discretas, difíceis de localizar, apresentamse de forma muito aleatória na vinha e pouco visíveis. Manifestam-se como umas pequenas manchas
cloróticas e translúcidas visíveis à contraluz, na maior parte das vezes junto à margem, na página
inferior das folhas basais dos sarmentos, as mais próximas das projecções das cleistotecas situadas
no ritidoma (Pearson e Gadoury, 1987; Cortesi et.al., 1995; Cortesi et al., 1997).
Os sintomas resultantes do micélio nos gomos, apresentam um aspecto mais conhecido. O micélio
latente retoma o crescimento ao mesmo tempo do sarmento, cobrindo-o total ou parcialmente. No
primeiro caso os sintomas são mais evidentes, traduzidos nas “drapeaux”, enquanto que no segundo
caso, apenas cobre parte do sarmento, dando lugar a um “drapeaux” atípica (Pearson e Goheen,
1998).
Estratégia de protecção - Não considerando no âmbito deste trabalho as medidas indirectas, a
estratégia de protecção química contra o oídio deve ter em conta os estados fenológicos da vinha e
os modos de acção dos diferentes fungicidas (Dubos, 1999), estando em fase de desenvolvimento e
adaptação diferentes modelos de previsão (Gubler et al, 1999).
O período de maior sensibilidade à doença decorre do início da floração até ao fecho dos cachos, o
qual deve estar protegido preventivamente. Collet et al. (1998) referem não haver interesse em
tratamentos mais precoces, em vinhas sem a presença de “drapeaux”, enquanto que para Steva et al.
(1997) nas parcelas mais sensíveis, uma luta contínua desde o estado cachos visíveis permite obter,
ganhos de eficácia de 20 a 50%, nos tratamentos realizados no período mais sensível, Para os
mesmos autores, estes ganhos poderão ser de valor semelhante, com apenas um tratamento na fase
2-3 folhas. Por outro lado, após o fecho do cacho, apenas se verifica interesse na continuação dos
tratamentos, para situações em que se observam mais de 30 % de cachos tocados pela doença
(Speich et al., 2001)
3
Para situações de vinhas fortemente atacadas, com “drapeaux” , Ypema e Gubler (2000), verificaram
que um método combinado de tratamentos, com início logo após o abrolhamento e a pronta
eliminação de “drapeaux”, constitui a melhor medida para reduzir gradualmente a presença de oídio.
Com a realização deste trabalho, é nosso objectivo testar e propor a discussão de estratégias de
posicionamento das primeiras intervenções para o oídio da videira. Procura-se também verificar, a
possibilidade utilização de uma aplicação de IBE (Inibidor da Biossintese do Ergosterol), após o
abrolhamento, até aos cachos visíveis, de modo a poder beneficiar de um eventual poder curativo
sobre possíveis infecções, resultantes de projecções de ascósporos, numa fase em que o
funcionamento do enxofre possa ser mais limitada.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi estabelecido em 2002 numa parcela da casta Tinta Roriz enxertada em R110, situada na
Quinta do Seixo, Valença do Douro, plantada em 1980. O solo é franco-limoso derivado de xisto,
segundo uma sistematização do terreno para “vinha ao alto”, com declive médio de 45 %, exposição
a Norte e compasso de 1,6m x 1,0m. A vinha está conduzida segundo um Guyot duplo, com uma
carga à poda de 10 gomos por videira, e um embardamento de 3 arames que distam do solo, 0,6m,
0,9m e 1,30m , respectivamente.
O delineamento estatístico adoptado foi o de blocos casualizados com cinco modalidades e quatro
repetições. Cada modalidade foi constituída por parcelas com quatro bardos de 20 videiras. As
substâncias activas, o seu tipo de formulação e doses utilizadas figuram no Quadro 1. As cinco
modalidades em estudo correspondem a diferentes programas de tratamento, que figuram no Quadro
2.
Quadro 1 - Substâncias activas, formulações, doses de aplicação usadas nas diferentes modalidades
Substância activa
Nome Comercial
Formulação
enxofre
Bago de Ouro
pó
tebuconazol
Horizon
eoa
Família
Triazóis
Dose / ha
Símbolo
25-50 kg
EP
40 mL
IBE
No primeiro tratamento utilizaram-se sacos para aplicação do enxofre em pó (25-30 kg/ha) e a calda
foi aplicada com um pulverizador de dorso com um débito de 1000l. As caldas fúngicas do segundo
tratamento foram aplicadas com pulverizador pneumático que debitou um volume de calda de
500l/ha, e o enxofre em pó foi aplicado com recurso a torpilha (40-50 kg/ha).
Quadro 2 – Programas de tratamento para as cinco modalidades
Modalidades
Programas de tratamento
14 de Abril
16 de Maio
A
IBE
IBE
B
EP
IBE
Testemunha
C
IBE
D
EP
Reconhecendo a boa eficácia do enxofre em pó no combate à doença (Vernet, 1994), a sua utilização
é sempre que possível recomendada nos seguintes estados: cachos visíveis; à floração-alimpa e
antes do fecho do cacho (Boubals, 1991).
As aplicações de enxofre devem contudo, ter em conta a temperatura do ar, uma vez que este não
funciona, por falta de emissão de vapores a menos de 14ºC e tem eficácia reduzida a 18ºC (Tomáz,
1994). Por outro lado pode levar ao aparecimento de riscos de fitotoxicidade, quando utilizadas sob
condições de temperaturas superiores a 32ºC (Tomáz, 1992).
A utilização dos fungicidas do tipo IBE deve ser limitado a um máximo de três aplicações anuais, em
virtude do uso excessivo desta família de produtos, ter conduzido ao aparecimento de estirpes
resistentes, levando a uma diminuição de eficácia (Steva et al, 1988; Gomes da Silva, et al, 1992).
4
Por outro lado a aplicação dos IBE não deve ocorrer tardiamente, uma vez que foi demonstrada a
indução acrescida a fenómenos de resistência quando aplicados próximo do fecho do cacho até ao
pintor (Gomes da Silva, et al, 1995). A boa capacidade curativa recomenda o seu posicionamento na
fase floração-alimpa (Amaro, 2001).
As observações incidiram apenas nos dois bardos interiores, para eliminar possíveis efeitos de
bordadura das modalidades adjacentes, foram realizadas em 20 de Junho, ao início do fecho do
cacho, em 50 cachos por modalidade. Quantificaram-se os estragos do oídio, efectuando-se os
registos da percentagem média de ataque segundo a escala e orientações da EPPO (1981).
Os valores observados, foram submetidos a análise de variância, após transformação pelo arcsen √%
realizando-se a separação de médias com recurso ao teste de Duncam para p≤0,05
(ºC)
Abrolhamento
35
Floração
30
1º tratamento
Fecho de cacho
2º tratamento
(mm)
40
35
Observações
30
25
25
20
20
15
15
10
10
29/6
19/6
09/6
30/5
20/5
10/5
30/4
20/4
10/4
31/3
21/3
0
11/3
5
0
01/3
5
Figura 1 - Evolução da temperatura, precipitação e estados fenológicos, durante a realização do ensaio.
O ano vitícola de 2002, decorreu muito seco e quente, com menos 53 % de precipitação
relativamente à média, registando-se apenas 24 mm entre a data do primeiro tratamento e a
observação dos estragos (Figura 1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas condições em que decorreu o ensaio, observa-se que a percentagem de ataque nas diferentes
modalidades (Quadro 3), apesar de uma evolução da doença, inferior às expectativa, devido às
condições climáticas do ano vitícola, com menos humidade e redução do vigor das plantas, as
diferentes estratégias de posicionamento dos tratamentos, apresentaram uma evolução positiva
relativamente à testemunha (T), sem qualquer intervenção.
Quanto às estratégias testadas, as modalidades A, B e C, apresentaram diferenças significativas
relativamente à testemunha, enquanto que a modalidade D, apesar de evidenciar uma redução da
intensidade da doença, não difere de forma significativa, devendo neste caso ser considerado, que a
aplicação de enxofre em pó à floração, poderá ter sido afectada, pelas condições climáticas
posteriores, sobretudo pela precipitação de 14 mm, em 4 dias sucessivos, ocorrida 3 dias após esta
intervenção.
Quadro 3 - Valores médios das percentagens de ataque nas diferentes modalidades
Modalidade
Percentagem de ataque
Teste Duncan
Testemunha
A (IBE/IBE)
B (EP/IBE)
C (IBE)
D (EP)
12,095
1,695
0,194
0,452
6,174
b*
a
a
a
ab
*As médias seguidas pela mesma letra, não diferem significativamente para p≤0,05, pelo teste de Duncan.
Nestas condições, a não realização de uma intervenção na fase anterior à pré-floração, não se
mostrou determinante, quando nesta fase se recorre a uma aplicação de IBE (tebuconazol), o qual
apresentou menos limitações de funcionamento, quando comparado com o enxofre em pó (EP). Por
5
outro lado, não se verificaram diferenças entre posicionar após o abrolhamento, no estado 4-5 folhas
um IBE ou EP.
Observou-se também um comportamento distinto dos diferentes blocos (Quadro 4), possivelmente
influenciados pela disposição no terreno, uma vez que o bloco IV, estava mais exposto aos ventos
dominantes que incidiam sobre a parcela, promovendo uma melhor drenagem atmosférica.
Quadro 4 – Valores médios das percentagens de ataque nos blocos
Blocos
Percentagem de ataque
Teste Duncan
I
II
III
IV
2,370
2,230
5,380
0,140
b*
b
c
a
*As médias seguidas pela mesma letra, não diferem significativamente para p≤0,05, pelo teste de Duncan
Na monitorização da emissão de ascósporos, realizada por Jailloux et al (1999), foi observado que
pequenos estragos de oídio podem resultar de emissões precoces de ascósporos, enquanto que uma
grande severidade da doença pode resultar de emissões tardias. Por outro lado, não é verificada uma
relação entre o número de emissões de ascósporos e a severidade da doença nos cachos.
A influência das condições climáticas na Primavera podem ajudar a compreender este contraste de
resultados, uma vez que segundo Leclerc et al. (1995), estragos podem ser elevados quando a
Primavera é quente e seca, e baixos perante situações de maior humidade. Segundo Jailloux et al.
(1999), os anos de fraca intensidade da doença, são caracterizados por elevadas precipitações e
baixa temperatura em Abril, enquanto que os anos de grande intensidade da doença, apresentaram
precipitações reduzidas e temperatura elevada.
Os trabalhos realizados sobre estratégias de posicionamento de tratamentos, assumem algumas
discordâncias, quanto às orientações a seguir. Por um lado, os tratamentos antes da floração, em
situações de vinhas cuja fonte de inoculo provém de cleistotecas, ou não são necessários (Collet et
al. 1998) ou então, bastará um tratamento no estado 2-3 folhas, no caso de vinhas com forte
presença de “drapeaux” (Speich et al. 2001). Por outro lado, Clerjeau et al. (1998) demonstram uma
relação entre as infecções primárias e a intensidade da doença em fases mais adiantadas,
nomeadamente entre a precocidade das infecções primárias e a severidade da doença observada no
cacho, enquanto que para (Steva et al. 1997) um tratamento no estado 3-5 folhas, pode reduzir a
severidade da doença nos cachos entre 20-40 %, sendo estas teses reforçadas por Gadoury et al.
(1995) ao afirmar que os períodos de emissão de ascósporos entre o abrolhamento e a floração,
podem ser duas vezes superiores, em anos de elevada severidade da doença.
Na região vitícola do Douro, o aparecimento de “drapeaux” é muito raro, pelo que provavelmente a
principal fonte de inóculo primário será constituída por ascósporos emitidos pelas cleistotecas.
Pela análise do historial da protecção fitossanitária na Região, com recurso aos avisos emitidos
desde 1965 até 2002, e procedendo a sua interpretação de acordo com a fase fenológica, verifica-se
que até meados da década de 80 a doença era tratada preferencialmente até à alimpa, realizando-se
em média 1 tratamento após esta fase (Figura 2)
10
Número de avisos
até alimpa
após alimpa
8
6
4
2
0
65
67
69
71
73
75
77
79
81
83
85
87
89
91
93
95
97
99
01
Fig. 2- Evolução do número de avisos para tratamento do oídio no Douro (Fonte: Estação de Avisos do Douro)
6
Posteriormente, o aumento de encepamentos da casta Tinta Roriz (15 % do total), as novas
sistematizações do terreno, a diminuição da densidade de plantação, a utilização de porta enxertos
vigorosos e diminuição da realização de espampas, levaram a um aumento do vigor das plantas.
Este, associado a um aumento da humidade resultante das novas albufeiras, fez crescer a
agressividade do oídio, tendo como consequência o aumento do número de tratamentos
aconselhados. Porém apenas recentemente, começou a ser adoptada para a Região uma estratégia
de controlo preventivo, na totalidade do período entre a floração e o fecho do cacho.
Observa-se no entanto alguma inércia de reacção para a realização das intervenções nesta fase,
uma vez que grande parte das intervenções fitossanitárias são realizadas em conjunto com os
produtos anti-míldio.
Deste modo importará reforçar a rede de observações sobre o posicionamento dos tratamentos na
Região, de modo a apoiar o viticultor numa eventual alteração de estratégia, que possa priveligiar as
intervenções desde a floração, em detrimento das intervenções em fases anteriores, com excepções
para a intervenção tradicionalmente realizada com enxofre nas 2-3 folhas, a qual deverá ser orientada
e posicionada para abranger outros fins (doenças do lenho, escoriose, ácaros), permitindo ganhos de
eficácia e redução de custos associados á aquisição de fitofármacos.
Por outro lado a adopção de uma estratégia de máxima eficiência no período pré-floral / fecho do
cacho, depende da definição clara do conceito “pré-floral”, uma vez que se encontra referido por
diversos autores como “inflorescências completamente desenvolvidas”, “botões florais separados” ou
“pré-floração”, podendo abranger um intervalo relativamente lato. Os trabalhos realizados por Speich
et al. (2001), dão um contributo ao precisar a semana anterior à plena floração, como a ideal para o
posicionamento deste tratamento.
Por fim, importará referir que o sucesso da protecção química contra o oídio, nos períodos de maior
sensibilidade, dependerá das condições de utilização e eficiência das diferentes famílias de produtos,
que o viticultor dispõe actualmente.
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