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Impresso fechado,
pode ser aberto pela ECT
Publicação do Sistema Federação das Indústrias do
Estado do Ceará Ano VII No 76 SETEMBRO/2013
POR UM PAÍS INTEGRADO
Seminário que fechou a primeira fase do Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo,
movimento do setor produtivo do Nordeste liderado pela CIC e FIEC, reuniu estudiosos,
empresários e políticos em torno da construção de um documento
estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais
/sistemafiec
@fieconline
Setembro de 2013
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Setembro de 2013
JOSÉ SOBRINHO
Publicação do Sistema Federação das
Indústrias do Estado do Ceará
SETEMBRO 2013 | No 76
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CAPA
Integra Brasil
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Seminário reúne pensadores, empresários e políticos
em torno da construção de documento estratégico de
ação para reduzir as desigualdades regionais do país
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30 ANOS DE HISTÓRIA
Sindicato comemora
três décadas em meio
às transformações pelas
quais passa o setor
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PARCERIA FIEC E SEJUS
Egressos do sistema
penal terão apoio
para a reinserção no
mercado de trabalho
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Sindibrita
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Mão de obra carcerária
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SESI INAUGURA NÚCLEO
Empresas de base nacional
com unidades no Ceará
passam a contar com
espaço de SST
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Trabalho
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CARLOS PRADO
Vice-presidente da FIEC
recebe título pelos serviços
prestados ao estado ao
longo de 40 anos
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Cidadão cearense
OLHANDO PARA AS ORIGENS
Fireso desenvolve há
13 anos ações voltadas
para a preservação
da cultura indígena
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Cultura indígena
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Notas & Fatos...................................6
Inovações & Descobertas.............46
POR UM PAÍS MELHOR
Seminário que fechou a primeira fase do Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo,
movimento do setor produtivo do Nordeste liderado pela CIC e FIEC, reuniu estudiosos,
empresários e políticos em torno da construção de um documento
estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais
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Mensagem da Presidência.................
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INOVAÇÃO
Sindcerâmica comemora
40 anos de atividades
com crescimento e
de olho no futuro
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Seções
Publicação do Sistema Federação das Indústrias do
Estado do Ceará Ano VII No 76 SETEMBRO/2013
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Setor cerâmico
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Impresso fechado,
pode ser aberto pela ECT
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Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC
DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1º Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-Presidente Carlos Prado, Jorge Alberto Vieira
Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo Adjunto José Ricardo
Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha Pereira Filho
Diretores Antônio Lúcio Carneiro, Fernando Antônio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa Fernandes, Geraldo
Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José Agostinho Carneiro de Alcântara,
José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque,
Marcus Venícius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro,
Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando Antônio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica
Maria Rocha Perdigão Delegados da CNI Titulares Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo
e Carlos Roberto Carvalho Fujita Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho.
Serviço Social da Indústria – SESI
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Marcos Silva Montenegro,
Alexandre Pereira Silva, Carlos Roberto Carvalho Fujita, Cláudio Sidrim Targino Suplentes Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo, Marcus
Venicius Coutinho Rodrigues, Ricardo Nóbrega Teixeira, Vicente de Paulo Vale Mota Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego
Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes do Governo do Estado do Ceará
Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado
do Ceará Efetivo Elisa Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes dos Trabalhadores da Indústria no Estado
do Ceará Efetivo Pedro Valmir Couto Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Aluísio da Silva Ramalho,
Ricard Pereira Silveira, Edgar Gadelha Pereira Filho, Ricardo Pereira Sales Suplentes Luiz Eugênio Lopes Pontes, Francisco Túlio Filgueiras
Colares, Paula Andréa Cavalcante da Frota, Luiz Francisco Juaçaba Esteves Representantes do Ministério da Educação Suplente Samuel
Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca do Estado do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto
Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina
Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes dos Trabalhadores da Indústria do Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio
Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Fernando Ribeiro de Melo Nunes
Instituto Euvaldo Lodi – IEL
Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales
Instituto de Desenvolvimento Industrial – INDI
Presidente Roberto Proença de Macêdo Diretor Corporativo Carlos Matos
Instituto FIEC de Responsabilidade Social – FIRESO
Presidente Roberto Proença de Macêdo Vice-presidente Wânia Cysne de Medeiros Dummar
Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Camila Gadelha ([email protected]), Gevan Oliveira
([email protected]), Luiz Henrique Campos ([email protected] e Ana Paola Vasconcelos Campelo ([email protected])
Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Glaymerson Moises/GMS Studio Coordenação gráfica Marcograf Endereço e
Redação Av. Barão de Studart, 1980 - Térreo - Fortaleza-CE - CEP 60.120-024 Telefones (85) 3421 5435 e 3421 5436 Fax (85) 3421 5437
Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC
Gerente da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421 5434 / 9187 5063
[email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec
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Mensagem da Presidência
Roberto Proença de Macêdo
O Nordeste e um Brasil
desenvolvidos
É grande a minha satisfação de ver que será realizado nos dias também crucial para que a mobilização iniciada tenha um caráter
27 a 29 de agosto, no Centro de Eventos, em Fortaleza, o Seminário permanente, evitando-se que todo o esforço se esgote na realização
Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, ponto culmi- dos eventos e na elaboração de documentos.
nante de mobilizações ocorridas nos últimos meses em vários estados
O verdadeiro produto desse movimento é a ação conjunta resulbrasileiros. Ao observar esses primeiros frutos de tantos esforços tante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes da
despendidos, recordo-me dos nossos sentimentos de preocupação, iniciativa privada, do Estado e da sociedade, para a promoção do
quando o CIC trouxe a ideia dessa iniciativa para a FIEC, pelo tama- desenvolvimento regional como parte indispensável do desenvolvinho e responsabilidade desse desafio.
mento nacional. À medida que avanceNo entanto, o desejo de fazer algo efemos nesse processo, descortinando horitivo para contribuir com a correção dos
zontes, aumentaremos a força que nos fará
Estou convencido de que
desequilíbrios regionais no desenvolvicada vez mais reconhecidos e respeitados.
o
Nordeste,
não
como
um
mento do nosso país superou em muito
É natural que em uma região, estados
todos os obstáculos que realisticamente bloco, mas como parte integrante concorram pela atração de novos investivisualizávamos. Neste aspecto, foram decimentos e pela conquista de recursos, mas
do
continente
Brasil,
utilizando
sivas a disposição e a competência da equié um desperdício de oportunidade quanpe montada pelo CIC, braço político da instrumentos de cooperação
do não percebem os ganhos que podenossa Federação, na conquista de apoio e supraestaduais e suprapartidários, riam resultar das convergências de intena mobilização dos mais diversos agentes
resses. Se a cooperação é possível entre
será uma região desenvolvida de
econômicos, políticos e sociais, nas esferas
nações soberanas, como no exemplo da
um
país
desenvolvido.
regional e nacional.
União Europeia (EU), com seus 27 países,
O entusiasmo manifestado pelos parti25 línguas oficiais e 500 milhões de pescipantes dos eventos ocorridos em todos os estados nordestinos soas, por que não seria no caso do Nordeste, com nossos nove
expressou o quanto é forte a vontade de união de forças ativas do estados, uma só língua e 58 milhões de habitantes?
Nordeste, para integrar a região no contexto nacional, numa persLanço mão da referência à UE, tendo em conta o seu desempepectiva de federação cooperativa, em prol do desenvolvimento equi- nho no enfrentamento da sua atual crise socioeconômica, que pôs à
librado do país. Viu-se em todas as partes empresários, parlamenta- prova os seus propósitos básicos de mais eficiência, mais democrares, membros dos poderes executivos e acadêmicos propondo solu- cia, mais transparência, mais união e mais segurança. Diferenças à
ções para problemas, estratégias para aproveitamento de oportuni- parte, estou convencido de que o Nordeste, não como um bloco,
dades e alternativas para o desenvolvimento integrado.
mas como parte integrante do continente Brasil, utilizando instruA ação do setor produtivo como motor econômico do país e da mentos de cooperação supraestaduais e suprapartidários, será uma
região é indispensável para a superação de tendências isolacionistas região desenvolvida de um país desenvolvido.
e dispersivas, tradicionalmente retardadoras do progresso. Ela é
O sucesso do Integra Brasil depende de cada um e de todos nós!
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PANIFICAÇÃO
DIA DO NUTRICIONISTA
PASSEIO CICLÍSTICO
CAPACITAÇÃO
DE EMPRESAS
Sindicatos comemoram
data com almoço
EVENTO
COMEMORA
O DIA NACIONAL
DO SORVETE
OS SINDICATOS das Indústrias de Massas Alimentícias e Biscoito do Estado do Ceará (Sindmassas) e das Indústrias do
Trigo nos Estados do Pará, Paraíba, Ceará e Rio Grande do
Norte (Sindtrigo) comemoraram o Dia do Nutricionista (31
de agosto) com um almoço na FIEC. A iniciativa faz parte da
busca por aproximação com os profissionais que lidam diretamente com a questão da alimentação saudável e de qualidade, procurando desmistificar conceitos erroneamente propagados na sociedade, como a restrição de pães e outras
massas. O presidente do Sindmassas e Sindtrigo, Luiz Eugênio Pontes, ressaltou a necessidade de estreitar os laços entre
as universidades e a indústria, visando promover a inovação
das práticas produtivas e também o desenvolvimento de
novos produtos. A ideia, segundo Pontes, é que tanto o setor
industrial como a academia e os profissionais de nutrição
passem a pensar de forma unificada sobre a importância
da cadeia produtiva à qual estão vinculados.
GIOVANNI SANTOS
O SINDICATO das Indústrias de
Panificação e Confeitaria do Estado
do Ceará (Sindpan), o Sindmassas
e o Sebrae, lançaram em 10 de
setembro, na FIEC, o projeto
Encadeamento Produtivo do Segmento de Panificação. O projeto
irá beneficiar 200 empresas (40 de
forma direta) por meio de consultorias, capacitações e diagnóstico,
em prol do desenvolvimento das
micro e pequenas empresas, fornecedores e distribuidores. O projeto, que terá o apoio do SENAI,
do IEL e dos moinhos instalados
no Ceará, deverá durar até junho
de 2015. O objetivo é que as unidades produtivas participantes
aumentem as vendas de produtos
panificados e de conveniência,
otimizem os processos produtivos,
reduzindo o desperdício, registrem
crescimento no faturamento,
melhorem a qualificação dos
funcionários e as negociações com
fornecedores, agreguem valor aos
produtos e serviços e promovam
a sustentabilidade do negócio.
O SINDICATO das Indústrias
de Sorvete do Estado do Ceará (Sindsorvetes) realizou em
22 de setembro o 4o Passeio
Ciclístico Sindsorvetes. A concentração foi realizada no
Centro Cultural Dragão do
Mar, indo pela Beira Mar,
Via Expressa, sentido AldeotaCentro até a Catedral, quando
ocorreu o retorno ao Dragão
do Mar. O evento, tradicional
no calendário ciclístico de Fortaleza, é promovido em comemoração ao Dia Nacional do
Sorvete, celebrado em 23 de
setembro. Houve sorteios de
kits da marca Ferrovia e distribuição de 8 000 sorvetes e picolés, além de trio elétrico
para animar o percurso de
aproximadamente 14,7 quilômetros. No Ceará, a média de
consumo é de quatro a cinco
litros de sorvete por ano.
AGENTES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
SESI REALIZA AULA INAUGURAL DA 11a TURMA
O NÚCLEO de Responsabilidade Social Empresarial do
SESI/CE realizou em 10 de setembro a aula inaugural da
11a turma do curso de Formação de Agentes de Responsabilidade Social, na sede da FIEC. A intenção do núcleo é
formar lideranças com foco na sustentabilidade para implantação de ferramentas de responsabilidade social e
mobilização de recursos que gerem maior impacto social
nas empresas e organizações. O programa de agentes foi
lançado em 2006 com o objetivo de ampliar a atuação das
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empresas cearenses nesse campo. Desde então, acima de
200 profissionais foram formados, oriundos de mais de
140 empresas em todo o estado.
A formação dos agentes utiliza a metodologia Teia da
Vida, que sensibiliza os participantes a buscarem suas próprias soluções. Após a capacitação, passam a atuar como
multiplicadores na empresa e no ambiente no qual estão
inseridos. A 11ª turma conta com 17 participantes. Informações: (85) 3421 5852 / 3421 5854 / [email protected].
MANIFESTAÇÕES
SÃO POSITIVAS,
DIZ ROBERTO
MACÊDO
O PRESIDENTE da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, disse
na manhã do dia 9 de setembro, em solenidade nos jardins
da Casa da Indústria em homenagem ao Dia da Independência, que as manifestações que
continuam ocorrendo no Brasil
são "imensamente positivas,
desde que ordeiras e sem violência, pois representam, também, a inquebrantável esperança que temos em ver este país
finalmente se abrir às grandes
perspectivas de futuro que se
colocam à sua frente". Ele destacou que, em qualquer outro
país, "os desmandos aqui constatados teriam detonado uma
convulsão social, em vez de legítimas manifestações". Na visão
do presidente da FIEC, em todos os momentos de crise ética,
os vínculos emocionais do povo
com o país são enfraquecidos,
gerando sentimentos e desalentos de decepção. Para Roberto
Macêdo, as manifestações "geraram uma consciência de que
o bem-estar e os frutos do crescimento econômico precisam
alcançar toda a população”.
INDI/SINDIQUÍMICA
CURTAS
Diretores são
homenageados
O DIRETOR corporativo do INDI, Carlos Matos, e o diretor de
Inovação do Sindiquímica, José Dias de Vasconcelos, foram homenageados pelo Conselho Regional de Administração do Ceará (CRA/CE) durante solenidade comemorativa do Dia do Administrador, realizada em 9 de setembro. Matos e José Dias foram escolhidos como administradores do ano em uma lista de
cinco agraciados pelo CRA e pela Assembleia Legislativa do Estado
do Ceará (AL/CE). O presidente do CRA/CE, Ilailson Araújo, parabenizou os homenageados e afirmou que os administradores
são visionários e possuem um papel importante para mudar o
modelo brasileiro
de gestão. "Deixamos de dar saltos
significativos,
como outros países, por falta de
gestão." A ocasião
também comemorou os 48 anos
de criação da Lei
4769, que dispõe
sobre o exercício
legal da profissão
de administrador
no Brasil, com palestra sobre “Gestão Corporativa:
uma visão internacional”, do empreendedor e especialista em gestão de conflitos,
Ryan Boothe.
AGENDA
“O FUTURO que vamos construir juntos” é o lema do 85º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), iniciativa da CBIC com a realização do Sinduscon/CE, que será realizado de 2 a 4 de
outubro, em Fortaleza. No evento, que visa buscar soluções inovadoras por meio de debates, discussões e trocas de experiências, serão abordados temas ligados às comissões de relações trabalhistas,
imobiliária, obras públicas, privatizações e concessões, materiais, tecnologia, qualidade e produtividade, meio ambiente, ação social e cidadania, dentre outros. Uma das novidades para esta edição
é a participação de estudantes universitários na programação. Inscrições: www.enic.org.br.
JOSÉ SOBRINHO
DIA DA INDEPENDÊNCIA
O CENTRO Internacional
de Negócios (CIN/CE) da
FIEC realizou dia 19 de setembro os Encontros de Comércio Exterior (Encomex
2013), organizados pela
Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC). O objetivo foi fomentar o desenvolvimento da
exportação nos setores de
indústria, comércio, serviços, agropecuária e turismo
e promover a entrada em
novos mercados por meio do
acesso às informações sobre
as políticas, ações e estrutura do comércio exterior,
palestras, oficinas, encontros de negócios e cursos.
O IEL/CE, por meio do
programa Inova Talentos,
está recebendo adesão de
empresas interessadas em
desenvolver ações de pesquisa e desenvolvimento e
inovação. As empresas selecionadas entram como parceiras do programa por 14
meses. Trainees - estudantes do último ano da graduação e profissionais com até
três anos de graduação –
serão inseridos nas empresas, por indicação da companhia ou escolhidos a partir de processo realizado
pelo IEL/CE. A entidade oferece ainda assessoria técnica para elaboração e encaminhamento do projeto à
comissão nacional. Informações: 3421 6530 ou
www.inovatalentos.com.br.
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GIOVANNI SANTOS
Saúde e segurança do trabalho
Atendimento
personalizado
Georgette Brandão e Francisco das Chagas
Magalhães (à esq.) inauguram o Espaço
de Saúde e Segurança do Trabalho
Espaço de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) no Núcleo de
Atendimento às Empresas do SESI Barra do Ceará é direcionado
para atender às empresas de base nacional com unidade no estado
Serviço Social da Indústria (SESI/CE), com o objetivo
de criar ambientes de trabalho seguros e saudáveis e
melhorar a qualidade de vida do trabalhador da indústria, inaugurou em 12 de agosto o Espaço de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), no Núcleo de Atendimento às
Empresas localizado no SESI da Barra do Ceará. O novo espaço é
voltado ao atendimento personalizado dos trabalhadores das empresas cadastradas na base nacional da entidade. No momento,
são assistidas as filiais cearenses da OI, Cobra, CAW, Positivo Informática, Boticário e BR Foods (Sadia e Perdigão), dentre outras.
O
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Segundo o superintendente do SESI/CE, Francisco das Chagas
Magalhães, a criação do núcleo atende exatamente ao que a indústria vem exigindo cada vez mais da entidade: serviços de maior
complexidades e especializados. “O SESI é uma instituição que faz
a diferença na qualidade de vida do trabalhador e também na
competitividade da indústria. É um provedor de soluções integradas para a indústria e para o trabalhador.” Magalhães diz que a
entidade dá uma contribuição muito importante ao promover, no
país, ações na área de segurança do trabalho. Isso porque, acrescenta, são cerca de 700 000 acidentes de trabalho por ano no Brasil,
provocando um prejuízo de 70 bilhões de
reais à nação “Isso por si só já seria um motivo muito relevante para a nossa atuação.”
A gerente do SESI Barra do Ceará, Georgette Brandão, reitera que na nova unidade
serão atendidos os trabalhadores de empresas de base nacional, ou seja, colaboradores
de empreendimentos com atuação nacional
e que possuem sede no estado: “Mas os serviços oferecidos vão além. Contemplam ginástica laboral e atividades de lazer”. A criação do núcleo, diz, é decorrente da crescente
demanda por serviços de SST e, por isso, o
SESI decidiu ampliar a sua capacidade de atendimento na área.
Serviços disponíveis no SST
Consulta médica ocupacional: emissão de ASO (atestado de saúde ocupacional); atendimento
clínico ocupacional individual; exames ocupacionais (admissional, periódico, mudança de função,
retorno ao trabalho e demissional).
Consulta de enfermagem: pré-análise clínica (medição de peso e altura, cálculo do índice de
massa corpórea e verificação da pressão arterial) e avaliação dos resultados; processo de
enfermagem do trabalho; investigação de queixas e absenteísmo; orientações individualizadas
referente à saúde do trabalhador; monitoramento dos atestados; referenciamento médico;
monitoramento das ações do Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO);
implantação e implementação da NR-32.
Exames: audiometria, espirometria, eletrocardiograma (ECG) e laboratório de análises clínicas
(Laboratório Pasteur).
Programas: PCMSO – elaboração, acompanhamento, avaliação e relatório anual; Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) – elaboração, acompanhamento, avaliação e relatório anual.
SERVIÇO: Núcleo de Negócios do SESI Barra do Ceará - Av. Francisco Sá, 6623 - Inf.: (85) 3455 6237.
Descentralização
om a crescente demanda dos serviços de SST, o SESI
sentiu a necessidade de ampliar a sua capacidade de
atendimento nessa área no estado. A partir de 2011, o
Núcleo de Assessoria Técnica em Saúde, alinhado aos objetivos
estratégicos do SESI Nacional, optou por fazer uma reestruturação da oferta dos serviços na área, de forma a viabilizar maior
agilidade e adequação à situação de cada indústria cliente.
Alguns dos serviços que estavam sendo realizados exclusivamente pelo Núcleo de Referência em Saúde (NR/Saúde –
Centro de Fortaleza) foram distribuídos para outras
unidades do SESI, de acordo com as quatro frentes de atendimento em SST do SESI/CE: Programa SST e auxílio diagnóstico, ações
educativas/campanhas, contratos
corporativos de base nacional
e atendimento ao
JOSÉ SOBRINHO
C
Pecém e apoio à linha Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).
Na vertente do Programa SST e auxílio diagnóstico, em Fortaleza, o NR Saúde é o responsável pelo atendimento. Em Maracanaú, a unidade Albano Franco está encarregada. Para as ações
educativas e campanhas, a referência é o Núcleo de Negócios
Parangaba. Para atender aos contratos corporativos de base nacional e Pecém, o Núcleo de Negócios Barra do Ceará é o indicado.
O suporte à linha SESMT é dado pelo Núcleo de Negócios Horizonte. Os Núcleos de Negócio de
Juazeiro e de Sobral atuam
de forma integrada em todas
as quatro vertentes de
atendimento.
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JOSÉ SOBRINHO
Carlos Prado
Deputados Antônio Balhmann e Tin Gomes e
Alexandre Pereira entregam título de Cidadão Cearense
a Carlos Prado pelos 40 anos de atividade no estado
Cidadão
cearense O
O empresário, vice-presidente
da FIEC, recebeu o título da
Assembleia Legislativa por
sua contribuição ao estado
do Ceará e ao povo cearense
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vice-presidente da Federação das Indústrias do
Estado do Ceará (FIEC), Carlos Prado, cearense
de coração, desde o dia 6 de setembro passou a
ser de direito cidadão cearense, reconhecido, em
sessão solene, pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. O título, concedido a brasileiros ou estrangeiros não
naturalizados que tenham contribuído com o desenvolvimento
socioeconômico ou cultural do Ceará, foi proposto pelo deputado estadual Tin Gomes (PHS/CE).
Carlos Prado está no Ceará há 40 anos, desde que fundou,
em 1973, a empresa Cemag – Ceará Máquinas Agrícolas Ltda.
Também deu início, em 1975, às atividades da Nagroar –
Nordeste Aviação Agrícola e, em 1983, à Itaueira Agropecuária
S/A, segunda maior produtora de melão do Brasil.
Tin Gomes ressaltou a contribuição do empresário para o
desenvolvimento do Ceará e do povo cearense: “Carlos Prado é dono de um espírito empreendedor, que sempre lutou
pelos seus ideais. Fez muitas benfeitorias e contribuiu com a
do Ministério da Agricultura e Pecuária e a Comissão
Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); e é secretário executivo da Frente Parlamentar Mista da Fruticultura, no
Congresso Nacional.
Na vice-presidência da FIEC, fez questão de destacar, conheceu pessoas que se tornaram bons amigos.
“Tenho tido o prazer de conviver com gente honesta,
como o presidente Roberto Macêdo e os amigos que
compõem a diretoria. Gente de quem me orgulho
pela honestidade, ética e retidão. Essas situações mostram que este país tem jeito.”
Um projeto tem tido especial atenção do empresário, o Integra Brasil: Fórum Nordeste no Brasil e no
Mundo (ver matéria na página 20). “Empreendo nessa
região há 40 anos e sei o quanto é difícil. Não se mantém unidade federativa com tanta desigualdade. Um
empresário do Nordeste está preparado para ser empresário em qualquer lugar do mundo.” Um documento está sendo preparado a partir das diversas contribuições reunidas ao longo de 15 meses de atuação
do movimento para ser apresentado à sociedade e ao
poder público nas esferas estadual e federal. “A partir
desse momento, dependerá da nossa capacidade de
articulação”, disse.
Para além da vida empresarial e institucional, Carlos
Prado sabe que foi no seio familiar que se construíram
os valores e a base de sua vida. Ele é pai de sete filhos e
exalta a esposa, Rosarita Prado, como o pilar da família e companheira de toda a vida.
JOSÉ SOBRINHO
nossa economia, ajudando no equilíbrio da nossa balança comercial”. Tin Gomes confidenciou o desejo de
Carlos Prado de viver até os 130 anos: “Pelo seu histórico, determinação e coragem, ninguém ousa duvidar
que ele conseguirá”.
Em seu discurso, Carlos Prado disse sentir-se honrado por receber o título. “Pude me tornar cearense por
opção, por ter escolhido esta região para viver. Persisti
na caminhada de tentar sempre encontrar um caminho novo neste estado com muito potencial. Tudo isso
é resultado de anos trabalhando no semiárido, acompanhando as dificuldades dessa região e desse povo.”
As pessoas que encontrou ao longo da caminhada
foram essenciais para o sucesso, acredita o empresário, mas também foram muitos os momentos de luta
ensinando lições que não se aprendem nos livros, e
sim no caminhar diário. Do mesmo modo que conheceu bons companheiros, pessoas não tão boas assim
também passaram pelo caminho, lembra Carlos Prado. É caso do ex-presidente José Sarney. Sua política
econômica refletiu negativamente nos negócios quando lançou o Plano Cruzado, que congelou os preços.
“Congelou preços, mas não congelou as dívidas, e vimos nossas empresas quebrando. Sarney causou um
desastre muito grande, mas continua em atividade até
hoje. Ele e muitos outros.”
Além da vida empresarial, Carlos Prado se empenha com afinco no setor corporativo e na atuação
associativa. Além de vice-presidente da FIEC, preside
a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Fruticultura
Carlos Prado: “Pude me tornar cearense por opção, por ter escolhido esta região para viver”
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JOSÉ SOBRINHO
Setor ceramista
Gestão,
sustentabilidade
e inovação
G
Sindcerâmica comemora
40 anos com crescimento
e olhando para o futuro ao
investir em inovação tecnológica
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Setembro de 2013
estão, sustentabilidade e inovação para gerir com eficiência e incrementar o desenvolvimento das empresas do setor cerâmico cearense foram os principais
temas de discussão do seminário realizado para comemorar os 40 anos do Sindicato da Indústria Cerâmica do Estado do Ceará (Sindcerâmica), ligado à Federação das Indústrias do
Estado do Ceará (FIEC), entre os dias 22 e 24 de agosto, na sede da
FIEC. Também foi promovida uma feira com 15 expositores de
máquinas e equipamentos de todo o país. “Nosso objetivo com a
comemoração vai além de festejar os 40 anos. Quisemos reunir os
empresários do setor para conhecer produtos novos e discutir
tecnologias para o desenvolvimento das empresas e aproximar
ainda mais a entidade dos associados”, disse o presidente do sindicato, Fernando Antônio Ibiapina Cunha.
inovação e tecnologia para tornar as empresas mais
sustentáveis e produtivas. “O Sindcerâmica tem
procurado ao longo desses 40 anos representar
dignamente os ceramistas e os números e fatos
mostram que temos cumprido nossa missão.”
A maioria das empresas ceramistas se localiza
no interior do estado, levando o desenvolvimento
para a região, apesar da dificuldade com mão de
obra. Mas a grande preocupação hoje é com o
projeto de lei que altera o atual Código de Mineração e cria o Conselho Nacional de Política Mineral e
a Agência Nacional de Mineração (ANM) por causa
das mudanças em relação ao aumento de alíquotas,
estabelecimento de prazos para pesquisa e lavra de
minério e criação de novas taxas, dentre outras questões. O presidente do Sindcerâmica repudia o novo
marco e afirma que o texto do projeto “apenará
consideravelmente as pequenas mineradoras das
quais as cerâmicas fazem parte”. O presidente da
Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer),
César Vergílio, lembrou aos empresários ligados
ao setor que é estratégico estar junto da FIEC para
cobrar mudanças no projeto que chamou de
esdrúxulo. “É importante que cada empresário esteja lutando por uma mínima melhoria.”
Também citada por Fernando Ibiapina como
dificuldade têm sido a substituição de produtos na
construção civil. Ele alertou que algumas unidades
habitacionais do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida em Fortaleza e Sobral estão
sendo construídas com blocos de concreto, material
que gera desconforto térmico. Uma campanha da
Anicer tem alertado o consumidor por meio de
vídeos e artigos com dicas e informações acerca das
diferenças de conforto e segurança de uma casa
construída com materiais cerâmicos e concreto.
Fernando Ibiapina:
“Respeito ambiental é
marca do setor no Ceará”
JOSÉ SOBRINHO
Durante a solenidade, ele registrou o histórico
do sindicato, citando os presidentes e os destaques
de seus mandatos. Lembrou a evolução do setor
após o ano 2000, com a padronização dos blocos
cerâmicos em todo o país, o início do processo de
reestruturação das empresas e a criação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no
Habitat (PBQP). Nos últimos dez anos, disse Fernando Ibiapina, o setor progrediu muito e vários
foram os fatores que influenciaram essa evolução,
como a criação do Simples Nacional, do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha
Casa, Minha Vida, além do incremento do setor da
construção civil.
A abertura do seminário foi marcada pela palestra do arquiteto, consultor e pós-graduado em
Gestão de Marketing, Paulo Angelim, sobre comportamentos empresariais para gerar novos resultados. Em resumo, o consultor ressaltou que,
para ser a empresa que se pretende, é necessário
sacrificar paradigmas e processos antigos e criar
espaços para a inovação.
Com grande potencial de expansão, o setor
cerâmico do Ceará está distribuído em todo o estado e tem na eficiência energética e na evolução tecnológica fatores essenciais e estratégicos nos seus esforços de desenvolvimento e conquista de novos
mercados, de acordo com o Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do
Estado do Ceará, encomendado pelo Sindcerâmica,
patrocinado pelo Banco do Nordeste (BNB) e executado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE). No
estado, duas áreas se destacam na produção de produtos cerâmicos: a região metropolitana de Fortaleza e o Baixo Jaguaribe. O volume total de indústrias identificadas em atividade foi de 412, distribuídas em 93 municípios. De acordo com Fernando
Ibiapina, o respeito ao meio ambiente e a preocupação em aumentar a produtividade das empresas
por meio da atualização constante de maquinário é
uma marca do segmento no Ceará. [A pesquisa foi
abordada pela Revista da FIEC na edição anterior,
agosto 2013, páginas 39 a 41.]
O crescimento do setor está sendo respaldado
pelas empresas cerâmicas, segundo Fernando
Ibiapina, mediante mais investimentos em seus
parques fabris, a construção de fornos mais econômicos e mais sustentáveis (por usarem menos
combustível), a compra de novas máquinas, a constante preocupação em investir no processo produtivo e na gestão, além dos investimentos em
Setembro de 2013
15
JOSÉ SOBRINHO
Homenageados do Troféu Ceramista 2013,
acompanhados do presidente do Sindcerâmica,
Fernando Ibiapina: Hermano Franck, Ricardo
Cavalcante (representando o presidente da FIEC,
Roberto Macêdo) e João Marcos (representando a
família de Marcos Aurélio Campelo Maia)
Produção mais Limpa
e acordo com dados da Superintendência Estadual
do Meio Ambiente do Ceará (Semace), há atualmente no estado 261 planos de manejo florestal,
sendo que grande parte dessa produção é absorvida pelas
indústrias ceramistas. O fato revela uma preocupação cada
vez maior do setor quanto à questão da sustentabilidade e
sobrevivência do próprio negócio, diz Fernando Ibiapina. O
tema foi destaque durante o seminário. Para o consultor do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE)
do bairro Jacarecanga, Cândido Bezerra, essa preocupação
se insere também nas exigências do mercado, que tem nas
construtoras um dos principais clientes dos ceramistas.
Segundo Bezerra, nunca se falou tanto em inovação e
sustentabilidade como nos últimos anos, e a tendência é
que esse conceito seja aprofundado largamente. Por isso,
diz, o empresário do setor terá de se adequar ao conceito
de Produção Mais Limpa (P+L), pensando em utilizar menos
recursos naturais como forma de ter menos custos. "A verdade é que a indústria ceramista está mudando, e a P+L
não é mais uma coisa de outro mundo. Dela dependerá a
sustentabilidade do setor". Para o consultor, não há mais
espaço para quem alega incompatibilidade entre sustentabilidade e rentabilidade econômica: "A venda e o preço de
D
16
Setembro de 2013
um produto quem define é o mercado, mas a eficiência
produtiva eu posso definir, e, dela, dependerá meu custo
e meu lucro".
Nesse sentido, o conceito de P+L, explica Bezerra, trabalha a redução dos resíduos gerados pela produção, aumentando o desempenho ambiental das empresas. "Falamos
muito em concorrentes externos, mas um dos nossos maiores concorrentes é interno, e refere-se ao desperdício da
nossa matéria-prima, que são os recursos naturais." Nesse
aspecto, recorre a Michael Porter [Michael Eugene Porter
é um professor da Harvard Business School, com interesse
nas áreas de Administração e Economia. É autor de diversos
livros sobre estratégias de competitividade], para quem
"poluição nada mais é do que a baixa eficiência no aproveitamento dos recursos naturais". A necessidade da adoção do
P+L no setor é uma preocupação do Sindcerâmica, que está
formando turmas de empresas para a realização de cursos
pelo SENAI voltados ao assunto.
Isso se faz necessário, conta Fernando Ibiapina, em virtude de a indústria ceramista no Nordeste caracterizar-se
como “nativa”, com estrutura de gestão marcadamente
familiar, onde a presença das micro e pequenas olarias é
predominante. Assim, apesar de depender da exploração de
jazidas, que envolve questões delicadas como, por exemplo,
o conhecimento geológico, a posse das jazidas e a legalização da exploração nos órgãos competentes, constata-se que
muitas dessas indústrias sobrevivem na informalidade. Ao
mesmo tempo, com grande potencial de expansão, o setor
cerâmico do Ceará está distribuído em todo o estado e tem
na eficientização energética e na evolução tecnológica fatores essenciais e estratégicos nos seus esforços de desenvolvimento e conquista de novos mercados.
ados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em 2008, últimos divulgados sobre as olarias no Brasil, revelam que a
produção de tijolos no país chega a 4 trilhões de peças
por mês (10 000 toneladas). Desse total, cerca de 4%
a 5% são perdidos no processo de produção. Dentre os
motivos para a formação desses resíduos estão a escolha inadequada dos fornos e da matéria-prima. Durante
o evento que comemorou os 40 anos do Sindcerâmica,
o professor do SENAI Mario Amato, em São Bernardo
do Campo, São Paulo, Amando Alves de Oliveira, explicou que muitas empresas começam errando no momento em que copiam o forno do vizinho. Falha repetida pelos mais experientes, em razão do regionalismo,
que leva muitos empreendedores a optarem por fornos
que seus colegas usam.
“Ao iniciar o negócio, alguns empresários contratam
aquele pedreiro que construiu um forno funcional para
uma olaria próxima. O problema em repetir a mesma
obra é que todos os cálculos estruturais precisam ser
refeitos, algo que necessita de um engenheiro ou técnico especializado”, disse Amando Alves. Segundo ele,
os primeiros passos passam pelo conhecimento de todos os fornos disponíveis no mercado, além do planejamento das atividades e as características que serão
desenvolvidas na olaria.
Com mais de 30 anos de experiência em cerâmica
vermelha, o professor explicou que a escolha do equipamento de queima deve levar em consideração o tipo
de produto que será fabricado (telhas, tijolos, blocos,
etc.) e as características da argila. Antes de optar por
um modelo de forno, ele recomenda que o ceramista
pense na eficiência energética. “O layout da indústria,
a produção e os combustíveis a serem usados na queima são outros aspectos que precisam de análises.”
D
Tecnologia e
combustível
No que diz respeito à tecnologia
utilizada pelas empresas,
64,2%
das empresas possuem forno
do tipo abóbada.
JOSÉ SOBRINHO
Qual o forno certo?
O layout
da indústria,
a produção e os
combustíveis a serem
usados na queima
são aspectos que
precisam de
análises.
Amando Alves,
professor do SENAI
Mario Amato, de São Paulo
Amando Alves também apresentou os principais fornos utilizados no Brasil, destacando os pontos positivos
e as falhas de cada um. Dentre os mais eficientes no mercado, segundo ele, está o forno Túnel. Este modelo ganhou a admiração dos empreendedores por apresentar
baixo consumo energético, aliado à uniformidade de
queima, resultando em produtos com a mesma tonalidade e qualidade. O forno Paulistinha é outro que ganhou
comentários positivos, “por ser econômico e de fácil
operação, e de se adaptar bem a qualquer combustível”.
O cuidado que se deve ter com tal modelo passa pela
velocidade de aquecimento, a alimentação das fornalhas e as condições dos componentes mecânicos.
Com relação à forma de fabricação adotada pelo setor,
27,4%
das empresas possuem algum sistema
de controle no processo de queima, onde
se destaca o uso de termopares.
Para todas as cerâmicas cearenses, o principal tipo
de combustível utilizado ainda é a madeira, com
origem de manejos florestais e da poda do caju.
A adoção de programas de produção
mais limpa é prática ainda pouco
utilizada pelos ceramistas, pois
95,3%
não possuem. Por outro lado,
72,3%
manifestaram interesse em
participar de algum P+L.
Fonte: IEL/CE - Pesquisa primária, Ceará - outubro/2012
Setembro de 2013
17
Forno Paulistinha
Forno Abóbada
Ficha técnica: é retangular e conta
com queimadores laterais. É muito utilizado para a queima de telhas, mas pode
ser considerado um forno pouco econômico e difícil de trabalhar.
Ficha técnica: ainda que conviva com
alguns problemas voltados à produtividade e à qualidade, é um dos melhores
para a queima de telhas. É econômico,
adapta-se bem a qualquer combustível
e é de fácil operação.
Para ficar atento: é importante observar o aproveitamento e a distribuição do
calor, que pode gerar peças com colorações e resistências distintas. Cabe analisar se o uso em excesso de combustíveis
está valendo a pena financeiramente.
Para bons resultados: mantenha a
velocidade de queima o mais constante
possível, faça uso de termopares e trabalhe com boquetas e cinzeiros fechados.
Fornos disponíveis
Para ficar atento: o forno Abóbada não
oferece fogo nas laterais e a velocidade
de aquecimento é muito alta. Há risco de
requeima de material e ainda ausência
de controle de registros, prejudicando
o processo como um todo.
Para bons resultados: controle os
registros desde o início do esquente,
garantindo a velocidade de aquecimento. Mantenha constante a alimentação
das fornalhas e verifique periodicamente
as condições dos crivos e das fornalhas.
Veja um resumo dos principais fornos disponíveis no mercado brasileiro. O trabalho,
produzido pela Anicer, aborda características
e dá dicas para um melhor aproveitamento
do potencial de cada modelo, bem como os
cuidados que se deve ter no manuseio.
Forno Hoffmann
Fornos Contínuos
Forno Túnel
Ficha técnica: é largamente utilizado
pelos fabricantes de blocos, especialmente pelo fácil manuseio, economia
e boa produtividade, além do baixo
consumo de energia.
Ficha técnica: são econômicos e de
fácil operação, pela forma sem interrupções em que atuam tanto no carregamento quanto no descarregamento das peças.
Ficha técnica: oferece elevado rendimento operacional e energético. Neste
modelo, o ar quente que está deixando a
zona de resfriamento pode ser usado como
ar de combustão ou ainda para secagem
das peças.
Para ficar atento: podem ocorrer
requeimas na soleira e falta de queima
no teto. Os produtos podem ainda obter
machas laterais causadas pela falta de
oxigenação. Existem casos de vazamento
nos canais e peças com trincas de secagem e choque térmico.
Para bons resultados: controle as passagens de ar quente situadas nas soleiras,
trabalhe com registros desde o início da
queima, verifique regularmente a passagem de fogo e mantenha observação
constante durante a queima.
18
Setembro de 2013
Para ficar atento: o pré-aquecimento
pode apresentar problemas, gerando
trincas e deformações. Também podem
aparecer machas ou bolhas nas peças que
estão relacionadas à zona de oxigenação.
É um tipo de forno que exige conhecimento técnico dos operadores para a regulagem das diferentes zonas.
Para bons resultados: regule periodicamente os registros de controle de ar e
mantenha as portas fechadas para não
gerar alterações na curva de queima.
Evite a entrada de materiais úmidos.
Para ficar atento: é necessário que a
saída da chaminé esteja sempre limpa e
em perfeito estado de funcionamento.
Também é preciso cuidar da manutenção
interna do forno para evitar barreiras que
atrapalhem a circulação das vagonetas.
Para bons resultados: procure distribuir
a densidade da carga e tenha cuidado para
não alterar a queima de curva dos produtos.
Mantenha constante a alimentação do
combustível, evitando altos e baixos.
Setembro de 2013
19
Desigualdades regionais
Por um
Brasil
melhor
Movimento do CIC Integra Brasil – Fórum
Nordeste no Brasil e no Mundo, apoiado
fortemente pela FIEC, reuniu estudiosos,
empresários e políticos em torno da construção de um documento estratégico de
ação para reduzir as desigualdades regionais
onstituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento
nacional e erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” Fixando análise em alguns números sobre a região Nordeste do
Brasil, nota-se que é necessário caminhar de forma mais rápida
e a passos mais firmes para alcançar os objetivos aos quais se
referem os princípios fundamentais da Constituição Federal. Não
apenas os números fazem chegar a esta conclusão. Empresários,
pesquisadores, políticos e estudantes deram suas contribuições
ao Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, iniciativa do Centro Industrial do Ceará (CIC) apoiada pela Federa-
“C
20
Setembro de 2013
ção das Indústrias
do Estado do Ceará (FIEC) que, durante os últimos 15
meses, reuniu os diversos atores da sociedade nordestina e brasileira em torno deste movimento cuja ideia é construir e implementar um plano estratégico de ação política que ataque estruturalmente as desigualdades regionais no país.
O objetivo é construir um documento para ser apresentado à
sociedade civil organizada e aos poderes Legislativo e Executivo
federais e estaduais, com caráter afirmativo, assertivo, sem discurso de súplica e miséria. Para o presidente da FIEC, Roberto
Proença de Macêdo,
a união da sociedade em
torno desse objetivo é que irá
gerar os resultados esperados:
“O verdadeiro produto desse
movimento é a ação conjunta resultante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes
da iniciativa privada, do estado e
da sociedade, para a promoção
do desenvolvimento regional
como parte indispensável do desenvolvimento nacional”.
Roberto Macêdo faz questão de
frisar como indispensável a atuação
Primeiro workshop
ocorrido na FIEC
GIOVANNI SANTOS
do setor produtivo como motor econômico do país
e da região para a superação de tendências isolacionistas e dispersas, no que classifica como tradicionalmente retardadoras do progresso. Ele se refere
às disputas regionais internas, que julga como normais. “É natural que, em uma região, estados concorram pela atração de novos investimentos e pela
conquista de recursos, mas é um desperdício de
oportunidade quando não percebem os ganhos que
poderiam resultar das convergências de interesses.”
A presidente do CIC, Nicolle Barbosa, acredita
que as mudanças necessárias partem de
um novo poder, mais transparente e
comprometido com a sustentabilidade em seu sentido lato: “O modelo
pensado no Integra Brasil entende que
as mudanças desejadas, efetivamente, deverão sair de cada um e de todos os estados nordestinos”. Movidos pela indignação da posição desigual do Nordeste, o intuito é construir uma agenda do que a região
tem de bom para se colocar em posição de negociar uma nova relação com
o resto do Brasil.
O movimento nasceu de uma reunião
realizada entre a FIEC e o CIC visando discutir uma medida provisória relativa a aportes
de recursos para o Nordeste. Na ocasião, recordou-se a realização do seminário O Nordeste no
país: avaliação e perspectivas, realizado pelo CIC
em 1981, quando Amarílio Macêdo era seu presidente. O evento reuniu governadores, parlamentares, ministros e discutiu, sobretudo, as desigualdades da região e propôs ações que repercutiram
em todo o país.
Setembro de 2013
21
ARQUIVO CIC
Workshop em
Recife foi o segundo
A região Nordeste tem 18,2% da área do território brasileiro, 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB), 27,8% da população, mas apenas 48,6% do PIB per capita do país. A Organização das Nações Unidas (ONU), no primeiro relatório sobre o
Projeto do Milênio, coloca a região, ao lado do oeste da China,
do sul do México e dos estados do norte da Índia, entre os
quatro principais bolsões de pobreza mundiais. Como país, o
Nordeste seria, nas Américas, o quarto em população, o quinto em área e o sexto em PIB, com os Estados Unidos em
primeiro, restante do Brasil (segundo), México (terceiro), Canadá (quarto) e Argentina (quinto).
Há a visão, tanto nos grandes mercados mundiais como no
Sudeste do Brasil, de forma mais atenuada, mas ainda presente, do Nordeste como região assolada pela seca e pelo atraso
econômico, político e social. O economista e consultor do CIC,
Cláudio Ferreira Lima, acredita que esse processo pode ser
revertido com a construção de um novo discurso. “É hora de
o Brazil com “z” conhecer mais o Brasil com “s”, inteirando-se
do que é o Nordeste; e de o Brasil de baixo conhecer mais o
Brasil de cima e vice-versa, acabando com a desinformação e,
consequentemente, com os estereótipos. E, para isso, tem de
ser construído um novo discurso que ressalte não as vulnerabilidades, mas, isso sim, as potencialidades da região”.
Workshops
O documento final do Integra Brasil começou a ser construído há 15 meses, no início das reuniões e discussões, mas
efetivamente foi ganhando contribuições nos workshops realizados no Nordeste e no Rio de Janeiro. O primeiro ocorreu
na FIEC, em Fortaleza, em 4 de junho, sob o tema “Aspectos
Político-Institucionais do Desenvolvimento do Nordeste”. O
evento contou com palestras dos professores Ricardo Ismael,
Paulo Lopo Saraiva, Valmir Pontes Filho e Fernando Rezende.
Transformar o texto constitucional escrito em realidade
por meio do enfrentamento no campo político. Este é um dos
22
Setembro de 2013
principais problemas que o Brasil precisa
superar para mudar o quadro da desigualdade regional que deixa os estados menos
desenvolvidos em posição de pedintes das
benesses federais do estado. Esta foi a síntese do pensamento do professor Ricardo
Ismael. Diante de tal cenário, como é que as
regiões menos favorecidas podem voltar a
exercer a sua expressão política?, questionou Ricardo Ismael, para quem o primeiro
ponto é passar a exercer o poder de veto por
meio da classe política. Outro aspecto é que
os estados decidam se articular em torno de
uma agenda em defesa de interesses comuns.
O problema, disse, é que grande parte dos
próprios estados não quer lutar por ações coletivas entre eles.
O relatório final do primeiro workshop, compilado pelo
advogado Alcimor Rocha Neto, trata da necessidade de mudar a política. “Como, então, reformar a política para que ela
seja mais atraente e confiável à sociedade é uma questão que
se mostra necessária de ser respondida e a resposta está no
fato de que é necessário reavivar o interesse dos cidadãos pelo
debate público, voltar a restabelecer a credibilidade do poder,
reformar as regras do jogo político que estimulam o imobilismo
ou o clientelismo e retomar o diálogo sobre nossas visões do
mundo futuro. É necessário mudar a política”, coloca o texto.
A cidade escolhida para a realização do segundo workshop,
em 26 de julho, sobre o tema “Aspectos Estratégicos do Desenvolvimento do Nordeste”, foi Recife. O evento ocorreu na
sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco
(Fiepe) com a presença do presidente da instituição, deputado
federal Jorge Corte Real, e do governador Eduardo Campos.
O líder da Fiepe afirmou que o desenvolvimento deve ser
construído tendo como base as cadeias produtivas, a infraestrutura e a melhor distribuição regional do crescimento. Para os
objetivos do Integra Brasil serem alcançados, Corte Real apontou a necessidade de criação de um plano de desenvolvimento
regional, desenvolvimento da política energética nacional, concessões de ferrovias e rodovias, ampliando a infraestrutura e a
logística do país, e desenvolvimento de uma ligação direta
Nordeste-Mercosul. Discutiu ainda temas como produtividade, fatores de competitividade (educação, infraestrutura,
inovação e tributação) e perfil socioeconômico brasileiro.
O governador Eduardo Campos defendeu a ideia de planejar para longo prazo. Apresentou dados e deduziu que
mesmo com o esforço recente, que julgou importante, de
atenção para com o Nordeste, a participação da região continua modesta no contexto nacional. Para sair dessa situação,
disse o governador, a região precisa crescer a taxas maiores do
que as do Brasil por 16 anos seguidos, olhando também para
as desigualdades intrarregionais. Ele defendeu o uso da
ARQUIVO CIC
tecnologia para a promoção da segurança hídrica e a expansão des Intrarregionais na Economia Nordestina: soluções e encada agricultura familiar no semiárido. Enfatizou, ainda, a neces- minhamentos”, realizada em Campina Grande (PB), em 18 de
sidade de integração regional por meio de grandes eixos ro- julho. Para colaborar com a discussão da problemática regiodoviários, ferroviários, portos e malha aeroviária. Para corri- nal, a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep)
gir possíveis distorções agravantes das desigualdades na polí- elaborou o documento A Paraíba e as desigualdades regiotica de concessões de obras e serviços públicos, defendeu a nais, com informações, estatísticas, sugestões e encaminhamentos. Um dos parâmetros utilizados foi um estudo realizaadoção de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
O terceiro workshop foi realizado na Federação do Co- do anualmente pela Federação das Indústrias do Estado do
mércio, Serviços e Turismo do Estado da Bahia, em 15 de Rio de Janeiro (Firjan), denominado Índice Firjan de Desenjulho. Na ocasião, foram debatidas linhas estratégicas para o volvimento Municipal (IFDM), de metodologia semelhante
desenvolvimento da região baseadas no tema “Nordeste: si- ao do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os resultuação atual e transformações recentes”. No relatório final, tados mostraram que as características econômicas revelam
dois assuntos de destaque foram as características das trans- um quadro secular de desigualdades. Este fenômeno tamformações em curso na região e a possibilidade de um proces- bém se manifesta quanto aos indicadores sociais. Apenas seis
so de desenvolvimento sustentável para o Brasil que prove- estados se situam acima da média do Brasil: São Paulo, Paraná,
nha expansão do mercado interno nordestino. Fatores se des- Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do
tacaram como decisivos aos olhos dos especialistas que parti- Sul. Entre a mediana (0,7161) e a média nacional (0,7899) estão
ciparam da rodada de discussões, dentre eles uma melhor sete estados, dos quais dois do Nordeste (Ceará e Pernamburedistribuição dos recursos constitucionais destinados à re- co). E, finalmente, abaixo da mediana os outros sete estados
gião, bem como dos financiamentos de instituições de fomen- da região, com a Paraíba em 20º e Alagoas na última posição.
O documento sugere algumas linhas de ação, nas quais
to ao desenvolvimento como o Banco Nacional de Desenvolsejam seguidas diretrizes de estabelecimento de políticas de
vimento Econômico e Social (BNDES).
Adicionalmente, foram sublinhadas como de suma ur- desenvolvimento descentralizado, instituição de programa de
gência questões como a inclusão da região Nordeste no plane- mobilidade urbana nos centros populacionais e novas formas
jamento governamental em escala latino-americana e a prio- de formação profissional, dentre outras. O texto sugere ainda:
rização de investimentos em seus modais de transporte, me- “Talvez trilhando caminhos mais simples, a partir da instituididas estas que devem vir acompanhadas de mais recursos ção, em respeito à Constituição Federal, do pacto federativo
destinados à qualificação do nordestino e melhora de seus de que tanto se fala, mas nunca existiu, possa se construir uma
indicadores educacionais. Um dos convidados do workshop nova realidade no longo prazo. Afinal, não seria ocioso pedir
foi o deputado federal e ex-coordenador da bancada do Nor- compromisso e ação aos responsáveis pelos destinos da redeste na Câmara dos Deputados Zezéu Ribeiro (PT/BA), que gião – sociedade, governo e empresários –, todos agindo em
se comprometeu a entrar em contato com as presidências da comum pela mesma causa”.
O último workshop foi realizado em 19 de agosto, na sede
Câmara e do Senado para formar uma comissão especial a
fim de discutir a questão nordestina, desejando levar os resulta- do BNDES, no Rio de Janeiro, a fim de discutir como o Nordos do encontro como incentivo a uma discussão na bancada. deste é visto de fora. As contribuições dos participantes levaOutro participante foi o professor da Universidade Federal ram à conclusão de que para mudar a região o momento é de
da Bahia (UFBA) e ex-secretário do Planejamento do estado, atualizar as ambições.
Armando Avena, para quem, além dos
condicionantes históricos, dez fatores recenWorkshop realizado na
Federação do Comércio da Bahia
tes ajudam a explicar por que não houve
maior redução das desigualdades no país,
como a manutenção do hiato educacional e
na renda domiciliar; esvaziamento da representação política do Nordeste; ocorrência de
secas recorrentes; concentração da malha
urbana do Sul e Sudeste e concentração dos
investimentos em infraestrutura e pesquisa e
desenvolvimento também nessas regiões.
Atendendo a pedidos do setor produtivo
dos estados da região, houve uma mesa-redonda para discutir o tema “As Desigualda-
Setembro de 2013
23
JOSÉ SOBRINHO
Nicolle Barbosa abre o
seminário Integra Brasil
no Centro de Eventos
Integra Brasil
JOSÉ SOBRINHO
Os resultados e relatórios dos workshops, encontros e reuniões foram levados ao seminário Integra Brasil realizado entre os dias 27 e 29 de agosto, em Fortaleza. Em seu discurso de
abertura, Nicolle Barbosa disse que todos estavam ali reunidos para fazer política, na forma de pensar mudanças e criar
condições para torná-las efetivas. Ao longo desse processo,
acredita a presidente do CIC, é preciso abandonar a posição
passiva, que aceita e obedece aos desígnios da natureza e aos
ditames das políticas federais, e passar a agir como uma região
ativa, articulada e dinâmica, ciente de que e do quanto participa da contabilidade nacional, valorizando-se para saber reivindicar e, se preciso, impor suas demandas.
Nicolle Barbosa destacou o pedido da organização do movimento para que cada estado elabore, a partir de características próprias, alternativas de desenvolvimento que contemplem as preocupações de ordem social, ecológica, cultural e
econômica: “Isso feito, o movimento se compromete a articu-
É preciso
pensar
para o Nordeste
um plano de
incentivo fiscal
inversamente
proporcional
ao PIB.
Alexandre Pereira,
secretário do Cede
24
Setembro de 2013
lar e integrar essas alternativas em um
projeto único de afirmação regional".
Durante a abertura do seminário, o
vice-presidente da FIEC e conselheiro da
presidência do CIC, Carlos Prado, relatou seu descontentamento com a situação atual: “É a indignação de quem vive e
empreende aqui há 40 anos”, contou ao se
referir à posição do Nordeste de responsável por 65% do superávit comercial da
região Sudeste. “Precisamos partir para
uma atitude mais negocial. Não se mantém um país com tanta desigualdade. Somos mercado cativo da zona mais desenvolvida do país e qual o tratamento que o
resto do país nos dá?”, questionou.
Para o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, é preciso buscar novos caminhos para o Nordeste e para o Brasil,
por meio da educação e da tecnologia, principalmente. “Investimento em educação e tecnologia muda uma região, um país.
No Nordeste, o investimento do governo federal em educação é de 11,4%. No Centro-Sul é de 60,1%. Em ciência e
tecnologia, apenas 5% são investidos no Nordeste, enquanto
73% vão para o Sudeste e São Paulo recebe 50% desse total. Aí
está a razão por que estamos no mesmo lugar.”
Apesar dos repasses do BNDES para o Nordeste terem
aumentado nos últimos anos, e isso refletir o patamar do
Nordeste na economia brasileira, o chefe do Departamento
Regional Nordeste do BNDES, Paulo Ferraz Guimarães, não
enxerga continuidade a ponto de garantir a diminuição das
desigualdades históricas. “É necessário um processo de coordenação e integração na região e acredito que este fórum é a
grande oportunidade de isso acontecer.”
Representando o governador Cid Gomes na solenidade de
abertura do seminário, o secretário do Conselho Estadual do
Desenvolvimento Econômico (Cede), Alexandre Pereira, afirmou que o governo vem fazendo seu papel executando ou se
empenhando em atrair as obras e empreendimentos que o
estado precisa, como o Complexo Industrial e Portuário do
Pecém (CIPP) e a siderúrgica. Segundo ele, é preciso pensar
para o Nordeste um plano de incentivo fiscal inversamente
proporcional ao PIB. Alexandre Pereira acredita que os assuntos debatidos e o documento final do Integra Brasil deverão estar na pauta das eleições de 2014. “É importante cobrar
dos candidatos um compromisso diferente para o Nordeste.”
O deputado federal Artur Bruno (PT/CE) exaltou a iniciativa do CIC e lamentou a pouca presença de parlamentares e
de membros do Executivo. “Procurarei ansiosamente o resultado dos trabalhos para tentarmos pôr em prática algumas
dessas soluções que estão sendo elaboradas, pensadas, pelo
Integra Brasil, ouvindo e debatendo com as melhores cabeças
JOSÉ SOBRINHO
Procurarei o
resultado desses
trabalhos para
tentarmos pôr
em prática
algumas dessas
soluções.
Artur Bruno,
deputado federal (PT/CE)
movimento será levado para a pauta das eleições de 2014. Será
organizada uma caravana para conhecer as grandes obras
estruturantes de interesse da região e de posse do documento
final que está sendo elaborado, explicou, o movimento visitará governadores e a bancada federal, além de divulgar no
meio produtivo de estados como São Paulo.
“A eficácia da implementação dessa agenda dependerá
visceralmente do envolvimento e do comprometimento de
governadores, senadores e deputados. Afinal, são eles que
detêm a voz e manuseiam as canetas”, cobra Nicolle Barbosa,
que também acredita no poder da sociedade civil organizada,
motor do Integra Brasil: “Mas somos nós, a sociedade, que
detemos a energia provedora e renovadora do desenvolvimento, seja ele político, econômico, ecológico, cultural ou social e entendemos que somente da sincronia desses poderes é
que haveremos de conseguir dar ao Nordeste o papel que
acreditamos lhe seja devido”.
JOSÉ SOBRINHO
do Nordeste em cada setor, em cada política pública.” Na opinião do deputado, “as forças políticas devem levar esse debate
para o Congresso Nacional e também para a Presidência da
República, para os ministérios, a fim de discutirmos nos próximos orçamentos iniciativas que estão sendo aqui debatidas”.
O deputado federal Danilo Forte (PMDB/CE) defendeu
que qualquer política de desenvolvimento, seja econômica,
social, industrial ou tecnológica, passa por indução política. “O
Nordeste chegou a crescer no ano passado mais que o dobro
da média nacional e está provado que a competitividade da
capacidade produtiva da região é boa e é grande.” Lembrou a
posição geográfica estratégica da região em relação ao Brasil
do ponto de vista das exportações, haja vista que, com a duplicação do Canal do Panamá, a região ficará mais perto da Ásia
e já é mais próxima da Europa. “Temos de voltar a logística de
exportação do Brasil para o Nordeste. Para isso, é preciso
investir na duplicação de todas as rodovias ligadas aos portos.
Nesse ponto, a Transnordestina é fundamental na interligação,
a fim de que o escoamento da produção saia pelo Nordeste
para baratear o custo da exportação brasileira.”
Para a viabilização desses projetos, acredita o deputado, é
preciso inserir o debate no contexto político do poderes
Legislativo e Executivo federais. “Há uma distância muito grande e uma falta de comunicação entre deputados, senadores e
governadores.” Danilo Forte conta que tem sofrido críticas
por ter incluído a Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene) na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
de 2014, da qual é relator. “Questionam como é necessário um
órgão regional dentro de uma lei de diretrizes para a união. Tal
visão é míope. Ela começa a ser ampliada a partir do peso
político”, avalia, para concluir: “Nossa economia não é mais
agropecuária. Temos de partir para a industrialização e no
Nordeste ela é fundamental. Trata-se de uma decisão política.
Estou incorporado a esse sentimento porque é isso que vai
gerar emprego e distribuição de renda”.
Em 10 de julho, o senador Inácio Arruda (PCdoB/CE) presidiu reunião dos organizadores do Integra Brasil na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, em
Brasília. Participaram também os senadores Antônio Carlos
Valadares (PSB/SE), José Pimentel (PT/CE), Lídice Da Mata
(PSB/BA) e Maria do Carmo Alves (DEM/SE). Em 8 de agosto, foi a vez de os parlamentares da bancada federal do Nordeste na Câmara dos Deputados serem integrados nas discussões do Integra Brasil.
Os três dias de seminário discutiram temas para a formação de uma agenda comum, com o objetivo de unir verdadeiramente o Nordeste tanto internamente quanto em relação
ao resto do país, aproximando os parlamentos e os governos
da sociedade. “O Integra Brasil não termina aqui, ao contrário, ele apenas começa”, afirmou a presidente Nicolle Barbosa durante a solenidade de encerramento. Segundo ela, o
Temos
de voltar
a logística de
exportação do
Brasil para o
Nordeste.
Danilo Forte,
deputado federal
(PMDB/CE)
Setembro de 2013
25
Aspectos sociais e ambientais
ransformações social, urbana e ambiental do
Nordeste foi o tema discutido no painel moderado pelo ex-governador do Ceará, Gonzaga Mota,
durante o seminário Integra Brasil. O economista, professor e coordenador da unidade de inteligência industrial do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI) da
FIEC, Carlos Manso, apresentou dados compilados nos
últimos dez anos que comprovam a evolução da renda
per capita no Nordeste. Os motivos para tal evolução,
segundo ele, foram o mercado de trabalho aquecido, o
dinheiro dos programas de transferência de renda e a
valorização do salário mínimo.
Partindo de uma base fixa em 2003, ou seja, do mesmo patamar, a renda do nordestino cresceu em 51,98%
desde 2003, enquanto os números do Brasil aumentaram 29,25% e os do Sudeste 19,73%. “Todos os setores
populacionais nordestinos tiveram aumento de renda nos últimos
dez anos. O Brasil tem experimentado redução das desigualdades”,
disse Carlos Manso. A proporção de pobres na região Nordeste em
1995 era de 49%, enquanto no Brasil era de 27% e no Sudeste de
16,2%. Em 2011, o Nordeste registrou 24,7%, o Brasil, 12,5% e a
região Sudeste, 6,4%. Houve também melhora no Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios nordestinos e de redução daqueles vulneráveis à pobreza.
A região foi a que mais contribuiu para a expansão da classe média.
Esta nova parcela da população tem consumido mais, conforme analisa o professor, devido a carências ainda não atendidas e à abertura à
experimentação de novas marcas. “Estas foram o que eu chamo de
vitórias recentes, mas há vitórias ainda mais fortes a serem buscadas, como o aumento de escolaridade, por exemplo”, analisa Carlos
Manso, para quem a região ainda está na metade do caminho para
chegar ao patamar da região Sudeste em renda e produtividade.
“Ainda há muito espaço para desenvolvimento.”
São dificuldades determinantes para escolhas futuras, o que é prejudicial ao desenvolvimento industrial, analisa o professor. Na indústria, está o cerne do desenvolvimento, da inovação. “Na verdade, o
grande motor do desenvolvimento econômico é o ser humano. Muitas
das mazelas que existem é porque não se pensou no nordestino, não
se deu atenção para que as habilidades individuais dele fossem desenvolvidas, com base na educação. Educação é transversal para
toda uma sociedade ser melhor”, defende Carlos Manso.
A temática ambiental foi discutida pelo professor, ambientalista
e diretor do Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Acadêmicas e
Tecnológicas (Isepat), Rafael Santos Silva. Segundo ele, o desenvolvimento econômico deve ser baseado nos pilares social e ambiental:
“Sem observar esses aspectos, qualquer processo de desenvolvimento, de modernização, será pautado no subdesenvolvimento”.
Rafael Silva chamou a atenção para a desigualdade social nas
capitais nordestinas, especialmente em Fortaleza, e para a violência,
que, disse ele, acontece contra jovens de até 25 anos, pobres e moradores da periferia. Conforme o professor, a sociedade vive uma crise
das instituições: “É importante que as instituições, governos, religiões,
sindicatos, empresas, etc., sejam capazes de perceber necessidades
e potencializar capacidades mínimas do seu público”.
26
JOSÉ SOBRINHO
T
Setembro de 2013
Gonzaga Mota
moderou o painel
Gonzaga Mota, como moderador do painel, ressaltou a necessidade
de retomada da elaboração de planejamentos estratégicos no país e
defendeu a educação como uma política de estado e a instalação do Estado Democrático de Justiça em substituição ao Estado Democrático de
Direito, que considera injusto e permissivo com privilégios e desníveis.
A seca que esteriliza capital
onviver com a seca tem sido um desafio que até hoje nenhum governo foi capaz de superar. Cerca de 60% do território nordestino
está no semiárido, região que permanece atrasada em vários
aspectos. Para o economista e professor da Universidade Federal da Bahia,
Armando Avena, o Brasil se acostumou com o fenômeno da seca, que
desestrutura periodicamente a economia nordestina e esteriliza capital.
A solução hidraúlica não resolveu, as políticas do Grupo de Trabalho
para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) destinada ao campo não
foram implementadas e nunca houve um efetivo programa de convivência com a estiagem. Armando Avena disse, no seminário Integra Brasil,
que as secas que se sucedem periodicamente desorganizam a produção
regional, reduzem a capacidade de investimento, aumentando o nível de
JOSÉ SOBRINHO
C
ARQUIVO SUDENE
Novo papel da Sudene
m 1959, a fim de promover e coordenar o desenvolvimento do Nordeste, foi criada a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Para
inserir a região rumo ao desenvolvimento, o então presidente Juscelino Kubitschek contou com as ideias e estratégias de atuação do economista Celso Furtado, que assumiu a superintendência do órgão, uma autarquia subordinada diretamente à Presidência da República, com conselho deliberativo de governadores e ministros de estado e
planos diretores aprovados pelo Congresso Nacional.
A partir de 1964, o órgão foi incorporado ao novo Ministério do Interior e teve autonomia, recursos e objetivos enfraquecidos. Em 2001, foi extinto a partir de denúncias
para ser recriado em 2007, novamente como autarquia,
mas agora vinculado ao Ministério da Integração Nacional. De acordo com especialistas, a Sudene falhou, pois não contribuiu para resolver os problemas estruturais da região.
O diretor de gestão de Fundos e Incentivos e de Investimentos da
Sudene, Henrique Jorge Tinoco de Aguiar, representante da instituição no seminário Integra Brasil, acredita que a Superintendência
precisa se adaptar aos tempos atuais e aos novos desafios: “Antiga-
E
JOSÉ SOBRINHO
endividamento, e são responsáveis pela manutenção de baixos índices de
produtividade agrícola.
Embora existam projetos importantes, como o da Transposição do Rio São
Francisco, Avena considera que as ações em curso são pontuais. “O país
nunca teve um plano estratégico e articulado para evitar que um fenômeno
previsível fosse minimizado, sem desestruturar o sistema produtivo.” Apenas na Bahia, por exemplo, as perdas diretas com a seca em 2012 foram de
4,6 bilhões de reais. Se contabilizados efeitos no comércio, indústria e outros
setores, as perdas são muito maiores, mostram estudos realizados pela
Federação de Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia.
O que mantém e movimenta a economia dessas localidades atingidas pela
estiagem no semiárido são os programas de transferência de renda do governo e as aposentadorias de parte da população. Cerca de 52% dos recursos do
Bolsa Família, segundo o economista, estão no Nordeste: “O Bolsa Família é
ótimo, é político, mas não é transformador”. O dinamismo econômico regional
é localizado e os programas de transferência de renda, bem como o aumento
do salário mínimo, não são capazes de transformar a base produtiva, especialmente por conta da seca e do quadro fundiário, opina Armando Avena.
Para ele, os programas de transferência de renda devem continuar, mas
precisam ser reformulados e integrados aos processos produtivos. “Grande
parte do dinamismo econômico no Nordeste se localiza nas chamadas
‘ilhas de modernidade’ concentradas nas capitais e regiões metropolitanas
e em áreas localizadas de expansão agrícola e industrial.”
A desregionalização das políticas públicas transforma a seca em apenas um
problema localizado, quando se trata de algo regionalizado, que une os estados sob uma mesma bandeira, e que precisa ser tratado no âmbito de uma
política regional. “O Nordeste requer um programa moderno de convivência
com a seca, que é previsível e se repete ao longo dos anos. É preciso uma política federal e tecnologicamente avançada para enfrentar essa questão.”
mente, a Sudene era um braço do governo federal para todos os assuntos relativos ao Nordeste, desde açudes até obras contra a seca.
Hoje, a realidade é diferente. Temos de nos ajustar a esses novos desafios, que também são os desafios do Integra Brasil: Fórum Nordeste
no Brasil e no Mundo, para realmente termos um papel de protagonistas nesse cenário”.
O diretor garantiu que a Sudene poderá ajudar bastante o movimento, já que também é objetivo da entidade que os programas federais
tenham viés regional. “Por exemplo, um programa de infraestrutura do
Brasil tem de ter um capítulo do Nordeste, assim como um programa de
banda larga, um programa de inovação. Temos características próprias,
bem específicas e desafios de reduzir essas disparidades.”
Jorge Tinoco chamou a atenção para a questão da desigualdade
intrarregional: “Temos o litoral do Nordeste desenvolvido e as cidades do interior com problemas de terceiro mundo. Esse é um dever
de casa para o qual também temos de ter a capacidade de fazer”.
Ele exaltou a competência da iniciativa privada na atração de investimentos e desenvolvimento das regiões, mas também atentou para a
necessidade dos investimentos públicos. “Precisamos da contrapartida da agenda que é de natureza pública: infraestrutura, comunicação, educação e incentivo à tecnologia.”
“As empresas estão preparadas para vir para a região sob a ótica
estrita de mercado. O crescimento está aqui”, disse, referindo-se ao
fato de o Nordeste ter apresentado maior crescimento que o Brasil
nos últimos períodos e
ser um grande mercado
consumidor. “O Nordeste
poderia estar dando uma
grande contribuição a
toda essa situação de
enfrentamento da crise
econômica pela nossa
capacidade de gerar consumo, de gerar produção,
de trazer empresas. Precisamos pilotar melhor
essas variáveis a fim de
que possamos sair desse
terremoto econômico
com ganhos.”
Jorge Tinoco
Setembro de 2013
27
o painel Infraestrutura para o Desenvolvimento do Nordeste, do
seminário Integra Brasil, o tom dos debates girou em torno do
precário sistema logístico de transportes dos produtos nordestinos, apontado como um dos principais causadores do atraso em relação
aos demais estados da federação. Dentre as soluções apresentadas pelos conferencistas a navegação de cabotagem e a união de todos os estados para cobrar dos governos a eficiência dos demais modais, especialmente ferrovias e estradas, foram apontadas como saídas para melhorar
a competitividade da região.
Na visão do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, os nove estados
devem unir forças a fim de exigir soluções mais eficientes para o escoamento da produção. Fato que atualmente passa pelo sistema aquaviário.
"É extremamente relevante o uso em larga escala desse modal para o
desenvolvimento de qualquer região. Nesse sentido, afirmo que a navegação de cabotagem, transporte que ocorre entre portos da mesma região,
é uma excelente saída para integrar ainda mais os eixos produtores.”
Sérgio Machado, que disse se sentir à vontade e feliz por debater novamente os rumos da região em um encontro do CIC, entidade presidida
por ele em 1982, contou que o Nordeste tem de se unir para cobrar evolução aos demais modais a fim de beneficiar a população. “Temos de brigar pela Transnordestina, a eficiência do São Francisco, além, claro, das
ferrovias, que há muito foram deixadas para trás, mas que hoje poderiam
contribuir sobremaneira para diminuir as desigualdades regionais.”
Para o presidente da Transpetro, também falta na região maior investimento em novas tecnologias. Segundo ele, 86% das indústrias instaladas
são de baixa tecnologia e não agregam valor aos produtos, resultando em
baixo retorno financeiro. Citou uma pesquisa mostrando que das mil maiores
empresas do país, apenas 7,20% estão no Nordeste, representando apenas 4,79% do faturamento: “A cadeia produtiva não tem vindo com as indús-
JOSÉ SOBRINHO
Mais logística e união entre os estados
N
trias que atraímos. Este fator diminui o lucro efetivo e os ganhos aos estados
em termos de impostos e geração de emprego. É mais um motivo para
pressionarmos os governos para investir recursos tecnológicos na região”.
Na opinião de Sérgio Machado, há atualmente uma perceptível “desunião entre os estados”, fato que contribui para aumentar as desigualdades locais, e em relação às regiões Sul e Sudeste. Conforme ele, a intercessão de forças e ideias tem o poder de promover uma maior integração
econômica, além de reduzir as desigualdades sociais. “Essa discussão
aqui pode nos levar a um novo paradigma, com novos valores para o
Reorientando a economia nordestina
mbora venha crescendo um pouco acima da média nacional, a região
Nordeste sofre, segundo especialistas, de uma estagnação há quase
50 anos, em relação ao resto do país. Com um PIB de 437,7 bilhões
de reais, o que representa 13,5% do PIB nacional, a região é a terceira do
país e, não bastasse a grande distância em relação ao desenvolvimento do
Sul e do Sudeste, ainda sofre com desigualdades intrarregionais. Nos painéis Reorientação da Economia Nordestina e A Questão Político-Institucional
e do Desenvolvimento do Nordeste, do Integra Brasil, foram discutidas alternativas e apresentados desafios para que o Nordeste consiga aproveitar o
seu potencial e cresça, superando os desafios da seca e da pobreza.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Regional do Ministério da
Integração Nacional, Sérgio Duarte de Castro, a reversão das desigualdades regionais ainda é muito tímida. “Mantido este ritmo de crescimento, o
PIB per capita do Nordeste só chegará a 75% da marca nacional em 2074.
Podemos esperar 50 anos?”, questionou. Somente os estados da Bahia,
Pernambuco e Ceará, acrescentou Sérgio Duarte, detêm 64,5% do PIB do
Nordeste, contra 35,5% referentes ao Piauí, Maranhão, Alagoas, Paraíba,
Rio Grande do Norte e Sergipe.
E
28
Setembro de 2013
Uma das grandes deficiências da região, para o secretário, são os investimentos em infraestrutura, embora nos últimos anos venham melhorando
muito. Ele disse que a expectativa do governo federal é de duplicar a participação dos investimentos em infraestrutura nos próximos anos e isso tem
um enorme efeito multiplicador se aproveitado do ponto de vista de política industrial, já que serve como estratégia visando atrair investimentos
para o desenvolvimento regional.
Mas para conseguir crescer, na visão de Sérgio Duarte, é preciso que a
região supere desafios nas áreas da educação e capacitação profissional,
infraestrutura, ciência, tecnologia e inovação, desenvolvimento produtivo,
saúde e serviços básicos, como esgoto, água e gerenciamento dos resíduos
sólidos, além da sustentabilidade.
É preciso uma nova política nacional de desenvolvimento para o país,
defende o secretário: “O Brasil vem construindo desde o pós-guerra uma
série de instrumentos tidos como clássicos, como os fundos de desenvolvimento e incentivos fiscais. Mas, quando olhada a estrutura de desenvolvimento das regiões brasileiras, percebemos que não são pensadas como
forma de estratégia de desenvolvimento regional. Queremos um pacto de
Confederação Nacional da
Indústria (CNI), em parceria
com as federações de indústrias dos nove estados
nordestinos, para diagnosticar os principais gargalos na
infraestrutura de transportes da região) já está em
execução visando diminuir
os custos com o transporte
em 6 bilhões de reais anualmente: “O primeiro passo a
ser dado é fortalecer a técnica de cabotagem, que vai
representar uma economia de 1 bilhão de reais no transporte na região”.
Na sequência de prioridades, o melhoramento das ferrovias e, por
último, a reestruturação das estradas. “As rodovias também são extremamente relevantes. Isso porque, até 500 quilômetros, não existe
transporte mais barato e rápido para as cargas. Sendo assim, as rodovias
devem continuar ligando os estados nordestinos, mas com eficiência",
esclareceu Renato Casali.
Nordeste e o país. O que
desejamos é um Brasil com
equidade social e regional.”
As desigualdades interregionais e estaduais também foram destacadas pelo
Secretário de Planejamento
da Paraíba, e presidente do
Conselho Nacional de Secretários de Estado do Planejamento (Conseplan), Gustavo
Maurício. Ele acredita que as
diferenças são motivadas
por questões políticas que
se arrastam há décadas. "Os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará
concentram os maiores investimentos na logística da região, deixando
os outros seis para trás. Essa característica centralizadora precisa acabar. Precisamos, em primeiro lugar, resolver nossas desigualdades para,
depois, competir com os estados das regiões Sul e Sudeste.”
Gustavo disse que, mesmo com a abertura de novas oportunidades
de negócio e o aumento do emprego formal, que colaboraram para o Nordeste aumentar sua participação no PIB, chegando a 13,5% em 2009,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado ainda é muito aquém do potencial da região, implicando mais investimentos para consolidar o crescimento regional. “Precisamos de mais
investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, infraestrutura
energética, rede de dados e comunicação, dentre outros indutores do
progresso. Temos de buscar isso de forma coesa, não por interesses
particulares, mas sim regionais.”
De acordo com o presidente da Macrologística Consultoria, Renato
Casali Pavani, o estudo Nordeste Competitivo (levantamento feito pela
federação não só no ambiente do governo federal, mas também nos estados
e municípios, em torno de metas muito concretas”.
De acordo com Sérgio Duarte, observadas as transferências obrigatórias
desses fundos, vê-se que a capacidade de arrecadação do Nordeste é cerca de
50% menor do que a média nacional e menos de um terço da de São Paulo.
E mesmo quando se comparam todas as transferências, em níveis estaduais
e municipais, disse o secretário, a receita disponível per capita do Nordeste
é de 2 414 reais, contra 3 107 reais no Brasil e 3 941 reais em São Paulo.
“Imagine que a cidade de Paulínia (SP) tem receita de 9 068 reais, valor
quase 13 vezes maior que Campo Alegre (AL), com 719 reais.”
GIOVANNI SANTOS
Sérgio Duarte
Indústria naval e cabotagem
Após algumas décadas de estagnação, a indústria naval brasileira
retomou o fôlego no final da década de 1990 e encontra-se em situação
bem melhor. Atualmente, há 353 obras encomendadas para serem
entregues até 2020, ao custo total estimado de 100 bilhões de dólares,
sendo 80 bilhões para a construção de plataformas, 14 bilhões para
embarcações de apoio e 7 bilhões na fabricação de navios.
Contudo, navios e barcos estrangeiros ainda dominam o comércio de
cabotagem no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas do Setor Naval e Offshore (Abenav), o Brasil gasta cerca de 15 bilhões de
dólares com fretes em transportes ao longo da sua costa. Dados da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), de setembro de 2012, apontam que do total de embarcações brasileiras, apenas 11,7%, ou seja, 150
operam na costa. As demais transportadoras são estrangeiras.
Outro dado que também preocupa foi divulgado pela Confederação
Nacional dos Transportes (CNT) em julho deste ano. Segundo a Pesquisa
CNT de Transporte Aquaviário – Cabotagem 2013, entre 2010 e 2012,
os investimentos públicos federais em transporte marítimo tiveram
redução de 56%. O valor efetivamente pago passou de 816 milhões
de reais para 357 milhões de reais.
Outro ponto negativo destacado pela CNT é o baixo percentual do
valor executado, ao se comparar o montante autorizado nas Leis Orçamentárias Anuais com o total pago no período. Em 2012, por exemplo,
ano no qual foi aprovado 1,1 bilhão de reais no orçamento, apenas 816
milhões de reais foram pagos. No total, nos últimos dez anos, a CNT alerta que dos 5,9 bilhões de reais autorizados, apenas 3,2 bilhões de reais
foram destinados efetivamente a melhorias nos portos – navegação de
longo curso e cabotagem.
Números de 2013 mostram que a indústria naval no Brasil responde
hoje por mais de 70 000 empregos gerados em três setores: plataformas e sondas, embarcações especializadas e construção de navios. Os
postos de trabalho estão concentrados nos estados do Rio de Janeiro (com
50% das atividades), Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Setembro de 2013
29
Questões-chave para o novo Nordeste
om a experiência de já ter sido
vice-governador e secretário
de Planejamento do Estado, o
engenheiro Francisco Maia Júnior defendeu, durante o painel Infraestrutura
e Desenvolvimento do Nordeste, do seminário Integra Brasil, a construção de
um futuro de desenvolvimento para a
região, com a consolidação de um novo
Nordeste. Segundo ele, a região carece
há muitos anos de uma transformação.
"Isso não tem acontecido somente
pelo aspecto burocrático, mas também
político." O Nordeste, para ele, nunca
se uniu em torno dessa transformação.
"Não me conformo em ver o Nordeste
como região problema, sendo sempre
tratado mediante questões pontuais.
No governo Tasso, pensou-se o Ceará
como projeto de estado, mas não
estamos fora de um contexto regional, e principalmente nacional.”
Na visão de Maia Júnior, o Nordeste, sobretudo sua porção
semiárida, requer atenção diferenciada do governo federal, baseada
em ações firmes e inovadoras. Em primeiro lugar, é preciso romper
com a visão ultrapassada, "que só enxerga na região problemas e se
resigna a propor ações assistencialistas, que jamais avançam na superação de desafios". Para isso, coloca como questões-chave: qual é
o equilíbrio regional a ser atacado?, qual a meta de redução desse
desequilíbrio? e quais os instrumentos para alcançar essa meta?
Com relação ao primeiro questionamento, considera que o desequilíbrio regional deve ser definido de forma objetiva a partir do Índice
de Desenvolvimento Social (IDS). "É preciso decisão firme voltada à
destinação de boa soma de recursos fruto da riqueza nacional para
as regiões menos favorecidas. Maia Júnior cita, por exemplo, como
erro, a proposta de distribuição dos recursos do pré-sal de forma
igualitária, por significar a perpetuação dessas desigualdades. "Não
pode ser igualitária. Tinha de ser para a educação, mas a destinação
não poderia ter sido dessa forma."
Em relação à meta de redução dos
desequilíbrios, Maia Júnior sugere que o
novo Nordeste deve ter como foco reduzir
a sua disparidade social a um ritmo superior ao do crescimento econômico nacional. "Nosso índice de desenvolvimento
social é pequeno. Nossos empregos têm
baixo valor agregado e assim não conseguimos reter talentos. Outro aspecto é
que ainda há gente passando fome no
Nordeste." Para ele, há dois vetores fundamentais a se levar em conta para se
mudar tal quadro: capital humano e
infraestrutura. "E nós não vamos quebrar esses paradigmas em termos de indicadores sem a união da classe política.
C
30
Setembro de 2013
JOSÉ SOBRINHO
Infelizmente, o que se vê por parte da representação política da região
é uma disputa de balcão, por questões pontuais. E isso, segundo ele,
mantém o sistema federativo fragilizado.
No que diz respeito à terceira questão-chave, ele indica algumas
propostas prioritárias. Uma delas é o conjunto integrado de políticas
decenais que trabalhem o semiárido não como uma região problema, mas rica em potenciais econômicos inexplorados. O novo semiárido, como propõe, seria o governo assumindo papel permanente e
emancipador, em contraponto ao atual modelo emergencial e clientelista. Como ações nesse sentido, um plano decenal de logística de
recursos hídricos, com participação integrada dos estados e do governo federal; política agressiva de inovação e empreendedorismo;
política de capacitação da população local; política de crédito diferenciado; política de infraestrutura específica; política de transferência de renda com mecanismos de contrapartida da parte dos
beneficiários; sistema de alerta de vulnerabilidade futura e um
arcabouço institucional de suporte.
Outras iniciativas seriam voltadas
ao desenvolvimento de uma logística de
Maia Júnior
infraestrutura integrada, composta, dentre outras, pela duplicação das rodovias
que ligam as capitais nordestinas, formando o corredor turístico Costa Dourada; conclusão da interligação da malha
de gasodutos Sudeste-Nordeste (Gasene) e a construção de gasoduto MeioNorte, alcançando o Maranhão; diversificação e ampliação da capacidade de geração da matriz energética da região do
biodiesel, álcool, energia eólica e gás
importado; implantação de uma rede de
telecomunicações baseada em internet
banda larga e a implantação de uma
rede de intermodais de carga.
Os desafios da inovação
D
GIOVANNI SANTOS
outor em economia aplicada
pela Universidade de Campinas
e técnico em planejamento do
Ipea, Aristides Monteiro Neto apontou,
por ocasião do painel Educação, Ciência,
Tecnologia & Inovação e Cultura para o
Desenvolvimento do Nordeste, no seminário Integra Brasil, que, para haver avanços
significativos na região, é preciso articular
três frentes, associando as bases científica
e tecnológica existentes com a base produtiva (e suas interrelações). Para ele, todavia, ciência e tecnologia não são apenas laboratório: "O saber fazer em suas
estruturas material e imaterial também
faz parte disso, quadro que, de certa forma, foi abandonado com a desregionalização das estruturas produtivas". A partir
do conceito da articulação entre as três frentes, porém, Aristides
aponta dois conjuntos de iniciativa.
Uma delas seria o apoio a segmentos específicos da estrutura produtiva regional, ao que chamou de dimensão vertical. A outra se refere à transposição do conhecimento (dimensão horizontal). Quanto
à transposição do conhecimento, Aristides indica, como principais
desafios, associar tecnologia, educação e
negócios; ter como principal função a articulação e mobilização de competências;
e estar organizado em estruturas flexíveis,
compatíveis com as especificidades do setor econômico e da base institucional de
educação e C&T da região onde se instalem. Sobre o aspecto relacionado ao apoio
a segmentos específicos, os desafios seriam
modernizar atividades tradicionais (fruticultura, apicultura, algodão, aquicultura,
avicultura, ovinocapricultura, açúcar e álcool, biodiesel, fertilizantes, têxtil e confecções, couro e calçados), bem como setores
econômicos de grande potencial para aumentar intensidade tecnológica da estruAristides Monteiro
tura produtiva regional (fármacos, equipamentos de base tecnológica e software).
Para superar esses desafios, sugere, dentre outras ações, promover
uma relação estreita entre governos, academia, instituições de pesquisa e o tecido produtivo, além de buscar uma relação recorrente das
empresas com a inovação. Outra transformação deve ocorrer no âmbito das instituições de fomento, com as instituições tradicionais
(Sudene e BNB, etc.) tendo de se reorientar para esse novo enfoque.
Transposição para garantir reserva hídrica
maior instrumento de combate à seca é a construção de adutoras por vários aspectos. Não polui, a
água não evapora e o efeito é a extensão mais
capilarizada de distribuição dos recursos hídricos. A opinião
foi exposta pelo ex-secretário de Recursos Hídricos do Ceará
e atualmente diretor-presidente da IBC Engenharia Consultiva, Hypérides Macedo, ao participar da temática recursos
hídricos, dentro do painel Infraestrutura para o Desenvolvimento do Nordeste, no seminário Integra Brasil. Segundo
ele, nesse aspecto, o Ceará foi pioneiro na construção de
adutoras de grande porte na região da Ibiapaba. "Lá, a experiência foi um sucesso, tanto que hoje só existe um carro-pipa
na região em plena seca".
O Ceará, ao todo, tem 1 500 quilômetros de adutora, o
que para o ex-secretário ainda é pouco. "O grande projeto
para enfrentar as secas teriam sido as adutoras, mas isso não
ocorreu. O certo era ter vindo muita tubulação, porque água
nós temos." Nesse sentido, entende, a transposição das
águas do Rio São Francisco é necessária porque garante
uma reserva hídrica para ser usada quando for necessário. Hypérides
exemplifica com uma metáfora sobre o uso de um pneu sobressalente,
dizendo que, por garantia, é preciso ter. Por outro lado, acrescentou, a
água parada se perde na evaporação, sendo muito mais interessante que
O
Adutora em
Canindé, no Ceará
seja usada de forma racional. "Agora, não se pode trazer a água sem um
sistema de ramificação capilarizado. A transposição das águas do Rio
São Francisco é como irrigar a mão. Mas é preciso que se chegue aos dedos. Sem isso, não terá grandes efeitos."
Setembro de 2013
31
Progresso centrado em três estados
esquisa divulgada em março deste
ano pela Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento revela que o
ano de 2012 foi positivo para a economia
dos três principais estados do Nordeste –
Bahia, Pernambuco e Ceará. O PIB apresentou crescimento real de 2,3% em
Pernambuco, de 3,1% na Bahia e de 3,7%
no Ceará. Índices superiores ao aumento
do PIB nacional no ano passado, de 0,90%.
Outro dado que mostra o deslocamento da
economia da região dos demais estados
brasileiros foi apresentado durante o primeiro Exame Fórum Nordeste, realizado
em Recife, em agosto passado. O evento
destacou que o Nordeste tem poder de
compra estimado em quase 450 bilhões de
reais, valor que corresponde à economia de
países como Peru e República Checa, de
acordo com matéria da revista Exame. “Ali,
onde vive mais de um quarto da população
brasileira, a classe média foi engrossada em 20 pontos percentuais na
última década, alcançando 42% dos habitantes. A classe A também ganhou agregados e saltou de 5% para 9% desde 2002”, diz a reportagem.
Segundo a economista Tânia Bacelar, sócia-diretora da Ceplan e uma
das palestrantes do painel Estratégias para o Desenvolvimento do Nordeste, realizado no último dia do Integra Brasil, a economia do Nordeste de fato
está evoluindo, em termos gerais, acima da nacional, embora a região continue sofrendo os efeitos de mais um longo período de estiagem, ocasionando quebras de safras e reduções significativas no PIB agropecuário. Já a
indústria nordestina apresentou elevação, com um aumento de 1,7% na
produção, enquanto a produção industrial nacional caiu 2,7%. Na Bahia, o
PIB industrial cresceu 3,8%, em Pernambuco, 3,7% e no Ceará, 2,6%.
Para Tânia Bacelar, o bom desempenho é resultado da atração, nos
últimos anos, de importantes investimentos, com destaque para aqueles
que se destinam ao setor industrial. Outro elemento que explica o crescimento da economia nordestina é o aumento dos investimentos em
infraestrutura, em especial aqueles realizados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Tais investimentos, com os
avanços do Programa Minha Casa, Minha
Vida coincidindo com a fase de implantação
dos investimentos industriais, têm assegurado dinamismo à atividade da construção civil, que também resiste a ceder a movimento
mais grave de desaceleração”, explicou.
Apesar da euforia em relação ao Nordeste,
a economista se mostra cautelosa e destaca
que as maiores forças produtivas do país e os
principais institutos de pesquisa e educação
se encontram no Sul e Sudeste, o que acaba
limitando o desenvolvimento da região. “Temos atraído refinarias, siderúrgicas e montadoras de veículos, dentre outros investimentos
GIOVANNI SANTOS
P
Tânia Bacelar
32
Setembro de 2013
significativos, mas vale lembrar que estas conquistas ainda não bastam
para levarmos o desenvolvimento além do nosso litoral.” Tânia Bacelar
adverte que o progresso do Nordeste ainda está centrado nos três maiores
estados: “Para haver um crescimento homogêneo, beneficiando periferia
e capital, é preciso sair dos grandes centros e avançar para o interior”.
Cidade médias
Os painelistas concordaram que existe uma “perigosa” centralização no
desenvolvimento do Nordeste, especialmente nas capitais dos três estados mais importantes (Bahia, Pernambuco e Ceará). Uma das saídas apresentadas para este problema foi a criação de polos industriais e centros de
educação nas cidades do interior, especialmente nas de médio porte, com
população variando entre 100 000 e 300 000 habitantes. O objetivo é
descentralizar os investimentos e diminuir as desigualdades na região.
“Os investimentos em polos industriais, aliados à implantação de centros
tecnológicos de educação em cidades médias, vão conseguir descentralizar as produções do litoral e desenvolver a região
de forma igualitária”, acredita Tânia Bacelar.
Para ela, essas cidades são importantes pelo
papel de atuarem no desenvolvimento de outras que estão ao seu redor. A economista cita,
como exemplo a ser seguido, as cidades de
Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, no Ceará;
Mossoró, no Rio Grande do Norte; e Caruaru, no
Pernambuco. “Quando essas cidades médias se
estabelecem, temos de investir em planejamento urbano, transporte público e saneamento para que cresçam. É mais fácil projetá-las
para se desenvolver do que fazer isso em grandes metrópoles como Recife e Fortaleza.”
A descentralização dos investimentos para o
interior como forma de beneficiar toda a população do estado, e não apenas os grandes centros
Paulo Ferraz
GIOVANNI SANTOS
GIOVANNI SANTOS
Maria Lúcia
bolsos do BNDES continuem concentrados
apenas nos estados mais importantes”.
Segundo Paulo Guimarães, o banco financiou até agosto deste ano 11 bilhões de
reais e planeja elevar o patamar do que foi
custeado em 2012. “Nosso foco são projetos de longo prazo para buscarmos estimular
a competitividade entre os estados.” O Programa de Apoio ao Investimento dos Estados
(Proinveste) já investiu 1,087 bilhão de reais
no Ceará, de um total de 7 bilhões de reais
para o Nordeste em 2013.
Semiárido
urbanos, também foi defendida pela secretária do Desenvolvimento
Urbano de Sergipe, Maria Lúcia Falcón, para quem esse assunto passa
pela construção de uma relação de confiança entre estado e sociedade:
“Pensando no coletivo, precisamos incentivar a instalação de indústrias
no interior dos estados, bem como de centros de educação. Isso vai gerar
emprego de qualidade e aumento na renda”.
Um dos exemplos que citou foi o planejamento participativo de
Sergipe. Lá, o governo criou um canal de diálogo com diversos segmentos da sociedade para descobrir as reais demandas da população em
cada município, resultando no Programa Sergipe Cidades. Tendo como
parceiro o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), e demandado pela sociedade civil organizada, o Sergipe Cidades vem realizando centenas de obras por todo o estado. Atualmente,
o programa é tido como modelo nacional de planejamento urbano
territorial. “O Sergipe Cidades é um programa pensado, elaborado e
executado com a participação de várias instâncias e parceiros. Para o seu sucesso, foram necessárias a pactuação
com prefeitos e sociedade e a parceria com o BNDES”, contou Maria Lúcia.
O chefe do Departamento Regional Nordeste do BNDES,
Paulo Ferraz Guimarães, aproveitou o exemplo de Sergipe
para dizer que o banco tem interesse em financiar ideias
que promovam o desenvolvimento, mas existe a dificuldade
em encontrar bons projetos, sobretudo em municípios de
médio porte. “O exemplo de Sergipe é emblemático. O
projeto foi uma escolha do estado, pactuado com a população, e deu muito certo, tanto que hoje temos um caso de
sucesso nacional. Ainda há o que avançar, mas a lição é que
é possível fazer um projeto como esse.”
Por causa dessa falta de bons projetos, Paulo Guimarães não se mostra otimista quanto à melhoria da distribuição da riqueza na região: “O Nordeste necessita de investimentos para o aumento da competitividade regional,
mas, por causa da baixa capacidade de gestão e de investimento de muitos municípios, a tendência é que os desem-
A necessidade de preservação e de desenvolvimento do semiárido nordestino foi
destacada pelo presidente do Comitê Científico da Convenção das Nações Unidas para
Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos de Secas, economista Antônio Rocha Magalhães, para quem a
saída para o semiárido nordestino é a economia verde. Nesse cenário, as
ações humanas são neutras em relação aos impactos ambientais adversos
como a emissão de gases de efeito estufa e poluição do ar, água e solo.
A exploração do semiárido hoje, segundo o economista, está além da
capacidade de regeneração do ambiente: sua população necessita ser
inserida no contexto econômico das áreas mais desenvolvidas da região
por meio da qualificação e melhoria da infraestrutura. “O sertão nordestino já se encontra no limite do clima e sofre com as secas periódicas.
Qualquer variação do clima acarreta redução na produção agrícola, perdas de rebanhos, aumento da pobreza e desertificação. Sendo assim, sua
população precisa ser assistida. O Nordeste como um todo precisa estar
preparado para competir com os demais estados, mas temos também de
criar oportunidades para os mais pobres. Isso é promover a integração
social”, disse Rocha Magalhães.
Setembro de 2013
33
GIOVANNI SANTOS
Responsabilidade social
Roberto Sérgio, em
nome da FIEC, ao
lado da secretária
Mariana Lobo,
assina convênio
com a Sejus
Futuro a cores
Parceria entre FIEC e Sejus permite captar mão de obra carcerária
pela indústria. Já o projeto Cores da Liberdade, desenvolvido
pela Hidracor, qualifica e profissionaliza detentos em pintura
Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC)
e a Secretaria de Justiça do Estado do Ceará (Sejus)
vão atuar em conjunto para oferecer a oportunidade
de qualificação e emprego para egressos do sistema
prisional nas indústrias cearenses. A parceria foi firmada durante
solenidade ocorrida em 3 de setembro no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza, por intermédio da assinatura de termo
de cooperação técnica entre as duas entidades. Durante o evento, foi apresentado o projeto Cores da Liberdade, desenvolvido
pela indústria Tintas Hidracor S/A, cujo objetivo é qualificar e
A
34
Setembro de 2013
profissionalizar em pintura 250 detentos em dez unidades de
privação provisória de liberdade no estado.
Como parte do termo de cooperação firmado em setembro,
a Sejus ficará responsável por recrutar a mão de obra necessária
e qualificada para atender às demandas das empresas; fornecer
lista dos internos aptos a trabalhar, que estejam com a carteira de
identidade e o CPF regularizados, além de dados e informações
a respeito do cumprimento da pena, bem como da habilitação
profissional. A ideia é ensejar a capacitação dos internos participantes, preparando-os para retornar ao convívio social e ao mercado de trabalho. A FIEC, por meio do Núcleo de Responsabilidade
Social Empresarial (NRSE) do Serviço Social da Indústria (SESI/CE), compromete-se a informar e intermediar nas empresas o acesso à captação de mão de obra,
além de articular os meios necessários à realização desse
trabalho compartilhado.
A parceria com a Sejus surgiu após encontro da
secretária Mariana Lobo com a direção da FIEC no
primeiro semestre de 2013, quando expôs as iniciativas desenvolvidas pela pasta. Na ocasião, o presidente
Roberto Proença de Macêdo disse que a instituição
iria se empenhar em procurar nos sindicatos filiados o
apoio para adequar os egressos do sistema penitenciário
encaminhados pela secretaria dentro das necessida-
des das empresas. Um dos pontos ressaltados por
Mariana Lobo é que eles são selecionados e acompanhados por meio de equipe multidisciplinar (composta por assistentes sociais, advogados, agentes penitenciários e psicólogos da secretaria).
Na seleção para escolher os que estão aptos a participar dos projetos, são avaliados, segundo Mariana
Lobo, grau de sociabilidade, capacidade técnica, comportamento e vontade de reinserção social. Caso não
haja profissionais com o perfil que a empresa precisa
naquele momento, poderá ser formada uma capacitação específica dentro da área de interesse. Para formar
os egressos, a Sejus vem promovendo cursos de
Cores da Liberdade profissionaliza presos
IPPOO II é a quarta unidade prisional do estado a receber o projeto Cores da Liberdade.
Serão capacitadas em pintura 25 pessoas.
O projeto terminou na Penitenciária Francisco Hélio
Viana de Araújo, em Pacatuba, na Casa de Privação
Provisória de Liberdade I (CPPL I) e no Instituto Penal
Feminino Auri Moura Costa (IPF). Até o final do ano,
mais seis unidades serão beneficiadas, profissionalizando 250 detentos em Pintura Imobiliária Básica.
O Cores da Liberdade é uma parceria entre a Sejus e a
Tintas Hidracor que, além de profissionalizar, permite
oferecer nova atmosfera às unidades prisionais por
meio da pintura dos locais de vivência dos presos.
O Cores da Liberdade, segundo Cristiane Gadelha,
coordenadora de Inclusão Social do Preso e Egresso
(Cispe) da Sejus, tem foco na promoção da reinserção
social, a pacificação das vivências e melhoria na autoestima dos aprisionados. Cada apenado, ao terminar
As unidades prisionais
recebem cores vivas,
mudando a atmosfera
GIOVANNI SANTOS
O
o curso, recebe o certificado e um kit pintura, composto por instrumentos de trabalho para iniciar a carreira
como pintor. Ela ressalta ainda que, além da educação
direcionada em pintura imobiliária, o projeto traz novas cores às áreas comuns dos presídios, promovendo
o bem-estar no ambiente antes marcado pelo cinza e
preto, para além da limpeza, renovação e proteção das
paredes e grades. O projeto conta com o apoio da empresa Pincéis Atlas, que reforça a parceria entre as iniciativas pública e privada.
“A Hidracor, uma empresa genuinamente cearense
que completa 50 anos em 2013, tem como valor a
crença que o homem pode fazer a diferença. Por isso,
investe em projetos que a engrandecem enquanto agente social produtivo. Esperamos que o projeto Cores da
Liberdade ultrapasse o limiar de negócio da empresa
e passe a gerar transformação na vida dos detentos,
levando um pouco mais de cor às unidades prisionais
e formando pessoas para o mercado de trabalho",
diz David Emerson, gerente de Marketing da Hidracor.
Segundo o diretor-geral, Marcos Correia, fazer parte
do projeto é uma experiência marcante para os profissionais envolvidos porque se trata de uma ação com
reflexo direto na mudança de vida das pessoas.
Já Augusto Figueiredo, da Pincéis Atlas, conta que
se sente honrado em participar da iniciativa. Ele usou
uma metáfora durante a solenidade no IPPOO II, lembrando que a estrada da vida nem sempre é reta: “Muitas vezes, essa estrada é cheia de curvas, e nem sempre podemos contar com quebra-molas para poder refletir em alguns momentos”. No caso do Cores da Liberdade, considerou ser um desses instantes em que se
pode pensar em um novo recomeço, refletindo a respeito dos erros cometidos e nos passos que poderão
ser dados em busca de um futuro melhor e mais digno.
Setembro de 2013
35
GIOVANNI SANTOS
Formandos do curso
de pintura promovido
pela Hidracor
capacitação nas seguintes funções: artífices da construção civil, armador de estrutura de concreto, eletricista
de instalações, pedreiro e bombeiro hidráulico. Ao todo,
400 vagas dentro e fora do presídio estão sendo ofertadas em 33 cursos que serão ministrados até o final do ano
por meio de convênio firmado com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). As empresas
que tiverem interesse poderão conveniar-se com a Sejus
para desenvolver programas de ressocialização, seja
mediante termos específicos para a instalação de módulos da empresa dentro de unidades prisionais, ou por
meio de convênio direto para a contratação de mão de
obra fora das unidades (regimes semiaberto e aberto).
Durante a solenidade de assinatura do termo de
parceria no IPPOO II, Mariana Lobo fez questão de
destacar o empenho da FIEC desde o primeiro contato
com a direção da entidade, abrindo as portas para o
projeto, dando exemplo à sociedade de que é possível
propiciar nova chance aos que em algum momento da
vida cometeram erros. Ela destacou que a ação da instituição mostra que a iniciativa da Sejus em tentar oferecer oportunidades de recuperação aos detentos está no
rumo certo. “Gostaria de agradecer a toda a sociedade,
aqui representada pela FIEC, que tem acreditado na
nossa luta de dar um novo começo às pessoas que estão
36
Setembro de 2013
encarceradas. Todas as pessoas merecem um novo recomeço e é este o sistema penitenciário que queremos:
um espaço de recuperação e transformação social.”
Ao se dirigir aos internos, a secretária lançou um
desafio: "Abracem esta oportunidade. A responsabilidade de vocês é muito grande. O projeto está dando
certo porque vocês se envolveram nele. Mostrem que
valeu a pena e abram as portas para que outras empresas possam dar mais chances a quem está lá dentro
esperando o mesmo. Vocês tem a responsabilidade de
mostrar que cometeram um erro, pagaram o preço
que a Justiça aplicou, mas que estão dispostos a mudar
e recomeçar. Eu e a equipe da Sejus estaremos do lado
de todos que quiserem construir uma vida nova lá fora”,
assegurou Mariana Lobo.
O vice-presidente da FIEC, Roberto Sérgio Oliveira
Ferreira, que assinou o termo de compromisso, destacou a garra e a perseverança de Mariana Lobo em relação à reinserção de egressos do sistema prisional na
sociedade. "Existem gestores, e gestores que fazem a
diferença", referindo-se a ela. Roberto Sérgio saudou os
internos como futuros profissionais: “Nós, do Sistema
FIEC, estamos fazendo a nossa parte, a sociedade está
dando oportunidade e ajudando o estado. Agora é a vez
de vocês mostrarem que têm este potencial”.
GIOVANNI SANTOS
Lauro Martins, presidente do Sindpan, conhece instalações do IPPOO II
Sindpan estuda
implantação de
unidades na CPPL II
Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do
Estado do Ceará (Sindpan) está avaliando a possibilidade de instalar unidades produtoras na Casa de Privação Provisória II (CPPL II), em Itaitinga. O presidente da entidade, Lauro Martins, esteve no final de agosto visitando as instalações da unidade prisional para iniciar a elaboração do projeto. A implantação das unidades produtoras se daria por meio
de operação consorciada entre as padarias, visando baratear
custos. De acordo com o dirigente classista, antes mesmo da
ideia, o sindicato já estava estudando com empresas filiadas
como criar um modelo de operação no qual houvesse o aproveitamento conjunto dos recursos por parte dos interessados.
Lauro Martins explica que, em termos de logística, a instalação das unidades produtoras na CPPL II não traria dificuldades,
pois ali seria fabricada a massa, posteriormente congelada.
Depois, dependendo da demanda, seria enviada às padarias
para ser assada em forma de pão e comercializada. Conforme
o presidente do Sindpan, cerca de oito padarias demonstraram
interesse em se instalar no local, número que deverá ser ampliado. Como vantagem direta aos interessados em aderir ao
consórcio, Lauro cita o custo zero com água e energia, que
ficaria a cargo da CPPL II.
O
Condições de trabalho
O preso tem o direito social ao trabalho
(art. 6º da Constituição Federal).
Ao Estado incumbe o dever de dar trabalho ao
condenado em cumprimento de pena privativa de
liberdade, ou àquele a quem se impôs medida de
segurança detentiva.
O trabalho do preso, conforme artigo 28, parágrafo 2º da Lei de Execução Penal, não está sujeito
ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), mas a atividade laboral permite abreviar o
tempo de duração da sentença (remição).
A contagem do tempo para o fim de remição será
feita em razão de um dia de pena por três de trabalho
(art. 126 da LEP).
O preso recebe ¾ do salário mínimo.
Setembro de 2013
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SEBASTIÃO ALVES
Responsabilidade social
Olhar para as origens
Há 13 anos, Fireso realiza o programa Difusão da Cultura Indígena:
Memória e Patrimônio Artístico, que incentiva a manutenção e a
sustentabilidade das culturas indígenas de diferentes etnias no Ceará
ontribuir para o desenvolvimento comunitário das
etnias indígenas do Ceará, promovendo a equidade
social por meio do fortalecimento da identidade social
e cultural das comunidades atendidas. Esta é a missão
do Programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio
Artístico, implantado há 13 anos pelo Instituto FIEC de Responsabilidade Social (Fireso). Atendendo às etnias Tremembé, JenipapoKanindé, Kanindé de Aratuba, Tapeba e Pitaguary nos municípios
de Itarema, Itapipoca, Aratuba, Aquiraz, Maracanaú, Pacatuba e
Caucaia, o programa realiza atividades que promovem a sustentabilidade cultural e incentivam a geração de renda nas comunidades.
A realização de oficinas nas próprias comunidades é a principal
atividade do programa. No último mês de julho, o Fireso promo-
C
38
Setembro de 2013
veu oficinas em vários municípios. João Evangelista, professor de
serigrafia, ministrou oficina para a etnia Tremembé da comunidade de São José e Buriti, em Itapipoca. A artesã Telma Félix realizou
a oficina de tapete étnico também para os tremembés da localidade Itapera, em Itarema. Este ano, foram seis oficinas até agora.
Cada oficina atendeu a cerca de 20 pessoas objetivando
desenvolver técnicas artesanais para aperfeiçoar a qualidade do
artesanato produzido pelos indígenas. Os produtos são vendidos nas próprias comunidades, em feiras e eventos, e também
na loja Toré, Torem mantida pelo Instituto, em parceria com o
governo do estado, na Central de Artesanato Luiza Távora
(Ceart), em Fortaleza.
Idealizado por Wânia Dummar, presidente do Conselho de
Em algumas localidades, certas práticas culturais
ancestrais não faziam mais parte da rotina dos indígenas, postas de lado por conta das influências da vida
moderna. “Nosso trabalho é resgatar essa arte que
estava adormecida”, afirma Ana Célia. O intercâmbio
e a troca de técnicas de artesanato entre as etnias também são estimulados pelo Fireso, visando diversificar
a atividade e conhecimentos. “Multiplicadores indígenas loucistas e ceramistas levam seus fazeres a outras
etnias, promovendo a troca de conhecimentos.”
Um dos projetos futuros do Fireso na área de memória e preservação do acervo cultural é a criação do Centro de Referência da Cultura Indígena, um espaço que
passa por estudo de viabilidade para exposição, informação e formação de novas opiniões e mentalidades
para pesquisadores e alunos interessados na questão.
O programa Difusão da Cultura Indígena é realizado com a ajuda de parceiros, como Marisol, Associação Missão Tremembé, Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (Copice), Secretaria do Trabalho e do
Desenvolvimento Social, Serviço Social da Indústria
(SESI/CE) e Conselho Nacional do SESI.
O Fireso busca potencializar ações socialmente responsáveis e promover boas práticas de responsabilidade social em parceria com a sociedade civil, estimulando a formação de redes de colaboração. Um braço
executor da área social da FIEC, a entidade desenvolve
suas ações em quatro programas prioritários: Formação Cidadã, Difusão da Cultura Indígena, Segurança
Pública e Voluntariado.
SEBASTIÃO ALVES
Responsabilidade Social (Cores), diretora de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e vice-presidente do Fireso, o programa presta um importante serviço à sociedade, à
medida que privilegia a manutenção das culturas mediante a preservação das práticas artísticas e artesanais.
Segundo a analista responsável pelo programa Difusão da Cultura Indígena, Ana Célia Freitas, todas as
ações realizadas com as comunidades são discutidas
de forma coletiva antes de serem realizadas. “Existe
uma grande preocupação em respeitar as culturas, com
conteúdos que não interfiram na sua dinâmica.”
As oficinas são voltadas a jovens e adultos. Para as
crianças, são realizadas as de desenho e criatividade, a
fim de estimular talentos. Geralmente, explica Ana Célia,
as atividades da oficina de artesanato ocorrem com grupos produtivos, ou ainda com artesãos isolados. “Não
se restringem somente à questão da técnica, para manutenção da memória ancestral, mas também a conteúdos que os capacitem para a gestão de negócios.”
Outro foco das oficinas é a preocupação com o
meio ambiente. Isso porque, conta a analista, os materiais utilizados nos artesanatos são encontrados dentro da própria comunidade, e existe a preocupação
para que não ocorra a degradação do meio ambiente
na extração da matéria-prima. “Procuramos focar em
materiais que existem em abundância. Um exemplo é
a utilização dos resíduos de cascas de coco, sementes
nativas e corantes naturais, como o toá extraído dos
barrancos dos rios.”
Fireso realiza oficinas nas
próprias comunidades indígenas
Setembro de 2013
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Entrevista
Wânia Dummar
“Descoberta do outro
é um trabalho de
transformação social”
A Revista da FIEC conversou com Wânia Dummar sobre a base conceitual
do Programa Difusão da Cultura Indígena e as perspectivas das ações do
programa nas comunidades indígenas do Ceará. Veja a entrevista
Por que o Fireso optou por trabalhar com a temática
indígena? Pelo desafio de trabalhar com as diferenças
sociais profundas, com o “outro invisível” que habita o
nosso mesmo chão. Esse programa possibilitou um novo
olhar por parte do empresariado cearense de como enfrentar o problema das desigualdades sociais, desenvolvendo um papel que não pode ser exercido somente
pelo poder público, ou organizações não governamentais isoladamente. A FIEC, por meio de algumas empresas, buscou esse diferencial em suas estratégias conectando os seus atores e setores, dirigindo suas ações além
dos muros das fábricas. Dessa forma, a entidade e as
empresas assumiram a liderança da responsabilidade
social empresarial no estado, na linha de olhar a nossa
população menos estimulada como gente capaz de produzir riquezas e gerar conhecimentos. Focando esse capital social sem muita visibilidade, promoveram a inserção
no mercado de grupos produtivos visando fomentar as
atividades das cadeias produtivas e o empreendedorismo
sustentável nesses grupos.
Como é a percepção das comunidades com o trabalho
realizado pelo Fireso nas comunidades indígenas?
Imagine um grupo “não índio” chegando às aldeias
de uma demarcação indígena nas serras de Aratuba e
Pacatuba ou nas praias de Itarema, Caucaia e Aquiraz
com um projeto nas mãos e objetivos na cabeça? Primeiro foi o estranhamento, depois o entendimento, por
fim foi selada a confiança, por sinal inabalável. Mas o
40
Setembro de 2013
que é a FIEC? Martelavam na cabeça! Hoje, qual o cacique, pajé ou lideranças indígenas que não conhecem o
nome FIEC, o trabalho que realizamos com eles? Elaboramos um projeto feito com as índias da etnia Tremembé na área de tecelagem e serigrafia e elas receberam o
prêmio Cretã de Culturas Indígenas patrocinado pelo
Ministério da Cultura em 2007. Uma índia chamada
Navegante teve trabalhos expostos na Bienal Naïf de
São Paulo em 2008 e publicados no catálogo oficial da
bienal. A descoberta do outro é um trabalho de transformação social, com ganhos tangíveis e intangíveis.
O Fireso tem como foco a sustentabilidade e a preservação das culturas. Como se dá isso conceitualmente
por meio das atividades? Mediante o fortalecimento
dos grupos produtivos locais, de qualificação dos artesãos, de oficinas e cursos de desenvolvimento de técnicas
e qualificação teóricas na área do empreendedorismo,
resultando na melhoria e qualidade do produto. Para
tanto, temos parceria com a Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social (STDS), o Conselho Nacional
do SESI e o SESI/CE. Os produtos estão à venda na loja
Toré, Torem na Central de Artesanato Luiza Távora
(Ceart) para o escoamento dos produtos oriundos das
aldeias, tudo isso agregando valor à economia local,
potencializando sua comercialização e ampliando suas
cadeias produtivas. O ganho maior é proporcionar ao
artesão a oportunidade de uma profissão, uma vez que
eles são cadastrados oficialmente pela STDS.
SEBASTIÃO ALVES
Como as empresas podem apoiar a iniciativa?
Quem não gostaria de participar de um “case” de
economia criativa aplicada e testada? A pertinência
do Instituto FIEC de Responsabilidade Social em
realizar um trabalho de apoio aos programas de
combate às desigualdades sociais do estado deve-se
às parcerias que acreditaram que somando as partes
– sociedade, empresas e governo – melhoraríamos o
todo. Poder contar com um número maior de parceiros viabilizaria o reconhecimento dos costumes,
saberes e fazeres desses povos, incentivando-os à
conquista de sua sustentabilidade.
Podemos adiantar algum assunto do Centro de Referência da Cultura Indígena? O Centro de Referência da Cultura Indígena é um equipamento que está
ainda em fase de estudos e implantação pelo secretário de Turismo Bismark Maia, o qual cederá um espaço na Emcetur para abrigar o acervo do Programa
Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio
Artístico a partir de uma proposta de trabalho baseada
na parceria da Secretaria de Turismo e Fireso, e possivelmente da Secretaria de Cultura do Estado do
Ceará. O Centro será uma casa de exposição/informação e formação de novas opiniões e mentalidades
para pesquisadores, alunos e pessoas interessadas
no conhecimento das questões indígenas cearenses.
Programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio Artístico
Objetivos específicos
Ações implementadas
Promover o fortalecimento dos produtores artesanais, por meio
do resgate de técnicas tradicionais, sua multiplicação, revitalização
e aperfeiçoamento dos saberes, mediante a vivência em oficinas de
produção autogestoras.
Cadeias produtivas – Possuem o objetivo de fortalecer
os grupos produtivos já existentes, por meio da produção de
artefatos de artesanato e da implantação de novos grupos.
Qualificar os artesãos na produção de artigos artesanais
específicos, incorporando as matérias-primas e técnicas regionais,
de forma a criar produtos qualificados para serem reproduzidos
pelos grupos de produção organizados em cadeias solidárias locais.
Realizar ações socioeducativas e culturais para disseminar
a cultura do empreendedorismo entre os jovens e adolescentes.
Contribuir para a disseminação dos valores da cultura da
sustentabilidade.
Estimular o engajamento das lideranças locais das comunidades
atendidas na realização de oficinas de artesanato, pintura e cerâmica
com os jovens e adolescentes.
Ações socioeducativas – Realização de atividades com o
objetivo de disseminar a cultura e os valores de uma educação
para a sustentabilidade, estimulando a participação comunitária
em torno das atividades realizadas no Centro de Artes Indígenas.
Memória e patrimônio cultural – Projetos voltados à
disseminação e difusão da cultura indígena, respaldados
no resgate histórico das tradições e sua importância para
a constituição da cultura cearense. Destaca-se o Projeto
Exposição Arte Indígena e o acervo composto por mais de
600 peças de diferentes tipologias de artesanato.
SERVIÇO: Instituto FIEC de Responsabilidade Social (Fireso) –
(85) 3421 5845.
Setembro de 2013
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JOSÉ SOBRINHO
Sindibrita
30 anos
de história
Sindicato comemora três décadas
de atuação em defesa do setor
e das empresas, lança livro,
mas não esconde a preocupação
com o novo Código de Mineração
pós 30 anos desde que empresários do setor mineral
uniram-se para criar o Sindicato da Indústria da Extração de Mármore, Calcários e Pedreiras do Estado do
Ceará com o intuito de valorizar e fortalecer suas atividades produtivas, o setor comemorou no final de agosto, na Casa da
Indústria, a maturidade e o engajamento das empresas associadas.
O agora denominado Sindicato das Indústrias de Extração e
Beneficiamento de Rochas para Britagem do Estado do Ceará
(Sindibrita), entidade associada à Federação das Indústrias do
Estado do Ceará (FIEC), possui 14 empresas filiadas que movimentam cerca de 26 milhões de reais por mês. Segundo o presidente, Abdias Veras Neto, a entidade tem atuado para unir as
indústrias do setor em torno de benefícios comuns. “Sempre que
fomos provocados a vencer desafios conjunturais, políticos, culturais ou sociais que envolviam o setor de britagem do Ceará foi
a união em torno do sindicato que permitiu o encontro de soluções adequadas à superação dos mais diferentes problemas.”
Nos últimos anos, conta Abdias Veras, houve uma mudança
no perfil do setor, com a chegada de empreendimentos de fora.
Um ponto, para ele, que pode mudar para pior o cenário da
britagem são as possíveis transformações no segmento da mineração trazidas pelo novo Código da Mineração em tramitação no
Congresso Nacional. Ele explica que, caso o Código seja aprovado sem o acolhimento das várias emendas propostas pela área,
haverá uma mudança radical no Ceará e em todo o país, a partir
do desaparecimento de pequenas e médias empresas.
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“Da forma como está posto, ele não possibilita a competitividade entre os grandes e os pequenos e médios empreendimentos”, alerta Abdias Veras. Mesmo assim, destaca que são boas as
expectativas de negócio propiciadas pelas obras que chegam ao
estado. “As empresas se prepararam e estão aptas para atender
às demandas. Mas os grandes projetos estruturantes precisam
acontecer, ser executados, saindo do papel”.
O presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, exaltou a
experiência adquirida pelo sindicato nesses 30 anos de trabalho
associativo. O vice-presidente da FIEC e presidente do Sindicato
da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon/CE),
Roberto Sérgio, ressaltou a qualidade do produto cearense e da
logística estruturada pelos britadores locais.
As comemorações de 30 anos do sindicato incluíram também
a entrega do Troféu Sindibrita 30 Anos às empresas filiadas. Receberam a homenagem Abner Veras Neto (Britacet), Sebastião
Soares Cavalcante (Pedraleza), Orlando Carneiro de Siqueira
(OCS), Clésio José de Carvalho (Pyla), Hugo Moreira Sales (Tecbrita), José Ricardo Montenegro Cavalcante (Pedreira Itaitinga),
Fabio Jonson (Polimix-Ift), Antônio Alexandre da Costa dos Santos (Ponta Da Serra), Antonio Holanda de Oliveira Neto (Itatiba),
José Cleber Gonzaga da Silva (Estrela Britagem), Roberto Paiva
de Oliveira (Natasha), Clóvis Cabral Viana Júnior (Nordbrita),
Arlene Correia (Pedreira Aracati) e Antônio Carlos Cavalcante
Oliveira (CeBrita). Foram laureados também Roberto Macêdo e
Roberto Sérgio, além de Abdias Veras Neto.
JOSÉ SOBRINHO
JOSÉ SOBRINHO
Um dos pontos altos das comemorações foi o descerramento de uma placa
comemorativa nos jardins da Casa da Indústria, realizado pelo presidente Abdias
Veras Neto, acompanhado do empresário Orlando Siqueira e de Roberto Macêdo
Ricardo Cavalcante, que falou em nome dos homenageados, iniciou nos negócios de
britagem em sociedade com o irmão, ainda jovem. No meio associativista, foi o primeiro
presidente do Sindibrita, com atuação voltada para congregar associados em torno de
questões comuns. Uma delas foi a defesa pela legalidade das empresas do segmento
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Sindicato lança
livro comemorativo
urante a solenidade, foi realizado o lançamento do livro
“Sindibrita: 30 anos, um relato sobre a história do sindicato”, uma retrospectiva do setor e das empresas ao
longo desses anos. O presidente Abdias Veras considera a publicação importante para todos os que se dedicam à atividade:
“Em cada página está a fibra de quem contribuiu para esta história”. O livro remete a uma época em que as pedreiras em
nada lembravam as modernas indústrias de britagem de hoje.
Época nem tão antiga assim. As primeiras pedreiras verdadeiramente mecanizadas começaram a proliferar já em meados do
século 20. No Ceará, pela necessidade de se ampliar a produção de pedra para a construção do Porto do Mucuripe, a Pedreira de Munguba foi modernizada ainda na década de 1930.
Com o passar dos anos, as empresas foram se espalhando
pelo estado. Na década de 1980, a economia brasileira buscava retomar o crescimento de forma consistente e duradoura.
Era um cenário no qual a construção civil, em especial, perdia
muito de sua força econômica. Nesse contexto, um grupo de
empreendedores cearenses ligados a um insumo importante
dessa cadeia, a brita, resolve unir forças entendendo a importância do trabalho coletivo para a superação dos desafios.
Orlando Carneiro de Siqueira e Abdias Veras Filho se juntam
com outros empresários que formavam o setor de mineração e
britagem do Ceará e criam a Associação Profissional da Indústria de Extração de Mármores, Calcários e Pedreiras do Estado
do Ceará (Acebrita).
O então presidente da Acebrita, Orlando Carneiro de Siqueira,
após contato com sindicatos da indústria da mineração da região
Sul e Sudeste, retorna a Fortaleza provocando os empresários
a também se reunirem em sindicato. Começava a se desenvolver um movo modelo de atuação. “Àquela época, começamos a
frequentar com mais intensidade a FIEC. Lá, aprendemos que era
preciso envolver mais e melhor nossos negócios com os demais
segmentos da indústria, como forma de fortalecer o espírito
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associativo entre nossas empresas, beneficiando-as através dos
laços sindicais. Foi quando, com o apoio do presidente da Federação, José Flávio Costa Lima, transformamos a associação em um
sindicato”, relata Orlando Siqueira no livro.
O sindicato se articulou com o Serviço Social da Indústria
(SESI) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI) a fim de capacitar e qualificar melhor tanto a gestão
quanto a produção das empresas. Dez anos depois, diante da
diversidade e da multiplicidade de interesses envolvidos nos setores que compunham o sindicato, as lideranças decidiram criar
duas novas organizações: o Sindicato das Indústrias de Mármores
e Granitos do Estado do Ceará (Simagran) e o atual Sindibrita.
O setor alcançou os objetivos traçados já no primeiro ano,
quando conseguiu dobrar o faturamento. O conceito de sustentabilidade foi um fator que contribuiu de forma marcante para a
intensificação da participação do sindicato nas ações cotidianas
das usinas de britagem do estado. A partir de uma relação mais
próxima com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente
(Semace), por intermédio do sindicato, os empresários se aproximaram de soluções que lhes permitissem seguir empreendendo de forma harmonizada, numa relação sustentável com o ambiente com o qual se relacionam, nos âmbitos social e ambiental.
A partir do ano 2000, o Sindibrita se mostrou ainda mais necessário diante das transformações tecnológicas presentes em
todos os campos da atividade humana. As máquinas e equipamentos do setor de britagem adquiridos nas últimas décadas já não
atendiam ao novo momento. O trabalho braçal havia ficado para
trás. O novo momento exigia saber operar rompedores hidráulicos. Atualmente, no Ceará, o segmento atua nas mesmas condições que os maiores centros consumidores de brita do mundo,
com equipamentos de porte, marca e tecnologia mundiais.
Segundo informações do secretário de Geologia, Mineração e
Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Carlos
Nogueira da Costa Júnior, contidas no livro, a produção nacional
de agregados para a construção civil foi de cerca de 70 000 toneladas em 2012, ocupando o primeiro lugar da produção mineral
brasileira, em volume. Apesar dos altos números, ainda há muito
espaço para crescer, garante o secretário. “Embora tenha apresentado o maior crescimento percentual na produção de
agregados nos últimos anos, a região Nordeste é a que possui o menor consumo per capita entre todas as regiões brasileiras. Ainda há muito espaço para a expansão e sustentabilidade da produção de agregados no Brasil. E os estados
na região Nordeste figuram dentre aqueles com maior potencial
de expansão da produção e do mercado de agregados.”
Preocupação constante dos empresários que fazem o Sindibrita
é buscar meios para manter a indústria da brita como um negócio sócio e ambientalmente responsável, capaz de permitir que
as gerações futuras possam usufruir de sua produção tanto,
ou melhor, que as atuais.
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Inovações &
Descobertas
Equipamento diz se
fruta está doce ou azeda
Um equipamento criado pela equipe
do pesquisador Luiz Alberto Colnago,
da Embrapa Instrumentação, em São
Carlos (SP), revela imediatamente se
uma fruta está doce ou azeda. As frutas
são catalogadas após passarem por um
túnel, levadas por uma esteira. A inovação utiliza a ressonância magnética, a
mesma usada no diagnóstico de diversos tipos de traumas e doenças, para
mensurar a quantidade de açúcar em
uma fruta, catalogando cada unidade.
Segundo a pesquisa, o equipamento
também detecta outras substâncias,
identificando, por exemplo, se sucos
ou leite foram adulterados. Pode ainda
ser ajustado para avaliar o teor de álcool
no vinho ou o de gordura em sementes
de amendoim ou carnes e embutidos.
Além de ser útil na indústria ou na catalogação de alimentos em centros distribuidores, o equipamento é pequeno o
suficiente para ser oferecido em supermercados. A previsão é que a tecnologia esteja disponível diretamente ao
consumidor em até dois anos. Uma
empresa argentina, parceira da Embrapa e que ajudou a financiar o desenvolvimento, patenteou parte da tecnologia
usada no equipamento.
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Capacete para tratar calvície
Uma empresa americana lançou um
capacete que promete acabar com a calvície. O iGrow usa 51 raios laser vermelhos
de baixa intensidade e LEDs capazes de
energizar as células dos folículos capilares.
O aparelho, que demonstrou aumentar
o crescimento do cabelo em 39% após 16
semanas, foi aprovada pela agência americana Food and Drug Administration.
O aparelho é voltado ao tratamento da
alopécia androgenética, doença que causa a calvície masculina. O iGrow está sendo
comercializado por cerca de 690 dólares, vem com fones de ouvido, permitindo ouvir música durante o uso. O tratamento não tem efeito colateral, diz a empresa.
Água potável na garrafa
Cerveja que evita ressaca
Cientistas australianos do Instituto de Saúde Griffith apresentaram um tipo de cerveja
que evita ressaca. Segundo os pesquisadores,
a ressaca é causada, principalmente, pela desidratação. Quando a pessoa se embebeda, o
corpo perde minerais chamados de eletrólitos. A inovação consistiu em criar uma fórmula de cerveja que inclui eletrólitos. O teor
alcoólico também sofreu uma redução. Isso
porque a cerveja com eletrólitos e menos álcool foi 30% mais eficaz em evitar a ressaca
que as demais. Para chegar a essa conclusão,
os cientistas acrescentaram o ingrediente em
quatro cervejas com teores alcoólicos distintos. Eles garantem que o sabor não muda.
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Um inventor americano residente no Japão
lançou um filtro portátil que purifica a água
na própria garrafa, e ainda adiciona magnésio,
mineral que, segundo a Organização Mundial
da Saúde, falta na dieta de 70% da população.
Para usar o WaterBean, basta inseri-lo numa
garrafa vazia, enchê-la de água, até da torneira, e agitar. Quando a água sair, já estará tratada. Disponível nas cores azul, vermelho,
amarelo e verde, o acessório também evitar
o cúmulo de lixo na natureza, é fabricado
de fibra de carbono feita da casca do coco.
O filtro pode ser usado em qualquer garrafa
e purifica até 140 litros de água.
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