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Impresso fechado, pode ser aberto pela ECT Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará Ano VII No 76 SETEMBRO/2013 POR UM PAÍS INTEGRADO Seminário que fechou a primeira fase do Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, movimento do setor produtivo do Nordeste liderado pela CIC e FIEC, reuniu estudiosos, empresários e políticos em torno da construção de um documento estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais /sistemafiec @fieconline Setembro de 2013 1 2 Setembro de 2013 JOSÉ SOBRINHO Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará SETEMBRO 2013 | No 76 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 20 CAPA Integra Brasil ○ ○ Seminário reúne pensadores, empresários e políticos em torno da construção de documento estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais do país ○ ○ ○ ○ ○ 42 ○ ○ ○ ○ ○ ○ 30 ANOS DE HISTÓRIA Sindicato comemora três décadas em meio às transformações pelas quais passa o setor ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PARCERIA FIEC E SEJUS Egressos do sistema penal terão apoio para a reinserção no mercado de trabalho ○ ○ ○ 34 ○ Sindibrita ○ Mão de obra carcerária ○ SESI INAUGURA NÚCLEO Empresas de base nacional com unidades no Ceará passam a contar com espaço de SST ○ 10 ○ Trabalho ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ CARLOS PRADO Vice-presidente da FIEC recebe título pelos serviços prestados ao estado ao longo de 40 anos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 12 ○ Cidadão cearense OLHANDO PARA AS ORIGENS Fireso desenvolve há 13 anos ações voltadas para a preservação da cultura indígena ○ ○ ○ ○ 38 ○ ○ ○ Cultura indígena ○ 5 Notas & Fatos...................................6 Inovações & Descobertas.............46 POR UM PAÍS MELHOR Seminário que fechou a primeira fase do Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, movimento do setor produtivo do Nordeste liderado pela CIC e FIEC, reuniu estudiosos, empresários e políticos em torno da construção de um documento estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Mensagem da Presidência................. /sistemafiec @fieconline ○ INOVAÇÃO Sindcerâmica comemora 40 anos de atividades com crescimento e de olho no futuro ○ 14 Seções Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará Ano VII No 76 SETEMBRO/2013 ○ Setor cerâmico ○ ○ Impresso fechado, pode ser aberto pela ECT Setembro de 2013 3 Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1º Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-Presidente Carlos Prado, Jorge Alberto Vieira Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo Adjunto José Ricardo Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha Pereira Filho Diretores Antônio Lúcio Carneiro, Fernando Antônio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa Fernandes, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José Agostinho Carneiro de Alcântara, José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque, Marcus Venícius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro, Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando Antônio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica Maria Rocha Perdigão Delegados da CNI Titulares Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo e Carlos Roberto Carvalho Fujita Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho. Serviço Social da Indústria – SESI CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Marcos Silva Montenegro, Alexandre Pereira Silva, Carlos Roberto Carvalho Fujita, Cláudio Sidrim Targino Suplentes Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo, Marcus Venicius Coutinho Rodrigues, Ricardo Nóbrega Teixeira, Vicente de Paulo Vale Mota Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes do Governo do Estado do Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Efetivo Pedro Valmir Couto Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Aluísio da Silva Ramalho, Ricard Pereira Silveira, Edgar Gadelha Pereira Filho, Ricardo Pereira Sales Suplentes Luiz Eugênio Lopes Pontes, Francisco Túlio Filgueiras Colares, Paula Andréa Cavalcante da Frota, Luiz Francisco Juaçaba Esteves Representantes do Ministério da Educação Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca do Estado do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes dos Trabalhadores da Indústria do Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Fernando Ribeiro de Melo Nunes Instituto Euvaldo Lodi – IEL Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales Instituto de Desenvolvimento Industrial – INDI Presidente Roberto Proença de Macêdo Diretor Corporativo Carlos Matos Instituto FIEC de Responsabilidade Social – FIRESO Presidente Roberto Proença de Macêdo Vice-presidente Wânia Cysne de Medeiros Dummar Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Camila Gadelha ([email protected]), Gevan Oliveira ([email protected]), Luiz Henrique Campos ([email protected] e Ana Paola Vasconcelos Campelo ([email protected]) Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Glaymerson Moises/GMS Studio Coordenação gráfica Marcograf Endereço e Redação Av. Barão de Studart, 1980 - Térreo - Fortaleza-CE - CEP 60.120-024 Telefones (85) 3421 5435 e 3421 5436 Fax (85) 3421 5437 Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC Gerente da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421 5434 / 9187 5063 [email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec 4 Setembro de 2013 Mensagem da Presidência Roberto Proença de Macêdo O Nordeste e um Brasil desenvolvidos É grande a minha satisfação de ver que será realizado nos dias também crucial para que a mobilização iniciada tenha um caráter 27 a 29 de agosto, no Centro de Eventos, em Fortaleza, o Seminário permanente, evitando-se que todo o esforço se esgote na realização Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, ponto culmi- dos eventos e na elaboração de documentos. nante de mobilizações ocorridas nos últimos meses em vários estados O verdadeiro produto desse movimento é a ação conjunta resulbrasileiros. Ao observar esses primeiros frutos de tantos esforços tante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes da despendidos, recordo-me dos nossos sentimentos de preocupação, iniciativa privada, do Estado e da sociedade, para a promoção do quando o CIC trouxe a ideia dessa iniciativa para a FIEC, pelo tama- desenvolvimento regional como parte indispensável do desenvolvinho e responsabilidade desse desafio. mento nacional. À medida que avanceNo entanto, o desejo de fazer algo efemos nesse processo, descortinando horitivo para contribuir com a correção dos zontes, aumentaremos a força que nos fará Estou convencido de que desequilíbrios regionais no desenvolvicada vez mais reconhecidos e respeitados. o Nordeste, não como um mento do nosso país superou em muito É natural que em uma região, estados todos os obstáculos que realisticamente bloco, mas como parte integrante concorram pela atração de novos investivisualizávamos. Neste aspecto, foram decimentos e pela conquista de recursos, mas do continente Brasil, utilizando sivas a disposição e a competência da equié um desperdício de oportunidade quanpe montada pelo CIC, braço político da instrumentos de cooperação do não percebem os ganhos que podenossa Federação, na conquista de apoio e supraestaduais e suprapartidários, riam resultar das convergências de intena mobilização dos mais diversos agentes resses. Se a cooperação é possível entre será uma região desenvolvida de econômicos, políticos e sociais, nas esferas nações soberanas, como no exemplo da um país desenvolvido. regional e nacional. União Europeia (EU), com seus 27 países, O entusiasmo manifestado pelos parti25 línguas oficiais e 500 milhões de pescipantes dos eventos ocorridos em todos os estados nordestinos soas, por que não seria no caso do Nordeste, com nossos nove expressou o quanto é forte a vontade de união de forças ativas do estados, uma só língua e 58 milhões de habitantes? Nordeste, para integrar a região no contexto nacional, numa persLanço mão da referência à UE, tendo em conta o seu desempepectiva de federação cooperativa, em prol do desenvolvimento equi- nho no enfrentamento da sua atual crise socioeconômica, que pôs à librado do país. Viu-se em todas as partes empresários, parlamenta- prova os seus propósitos básicos de mais eficiência, mais democrares, membros dos poderes executivos e acadêmicos propondo solu- cia, mais transparência, mais união e mais segurança. Diferenças à ções para problemas, estratégias para aproveitamento de oportuni- parte, estou convencido de que o Nordeste, não como um bloco, dades e alternativas para o desenvolvimento integrado. mas como parte integrante do continente Brasil, utilizando instruA ação do setor produtivo como motor econômico do país e da mentos de cooperação supraestaduais e suprapartidários, será uma região é indispensável para a superação de tendências isolacionistas região desenvolvida de um país desenvolvido. e dispersivas, tradicionalmente retardadoras do progresso. Ela é O sucesso do Integra Brasil depende de cada um e de todos nós! Setembro de 2013 5 PANIFICAÇÃO DIA DO NUTRICIONISTA PASSEIO CICLÍSTICO CAPACITAÇÃO DE EMPRESAS Sindicatos comemoram data com almoço EVENTO COMEMORA O DIA NACIONAL DO SORVETE OS SINDICATOS das Indústrias de Massas Alimentícias e Biscoito do Estado do Ceará (Sindmassas) e das Indústrias do Trigo nos Estados do Pará, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte (Sindtrigo) comemoraram o Dia do Nutricionista (31 de agosto) com um almoço na FIEC. A iniciativa faz parte da busca por aproximação com os profissionais que lidam diretamente com a questão da alimentação saudável e de qualidade, procurando desmistificar conceitos erroneamente propagados na sociedade, como a restrição de pães e outras massas. O presidente do Sindmassas e Sindtrigo, Luiz Eugênio Pontes, ressaltou a necessidade de estreitar os laços entre as universidades e a indústria, visando promover a inovação das práticas produtivas e também o desenvolvimento de novos produtos. A ideia, segundo Pontes, é que tanto o setor industrial como a academia e os profissionais de nutrição passem a pensar de forma unificada sobre a importância da cadeia produtiva à qual estão vinculados. GIOVANNI SANTOS O SINDICATO das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Ceará (Sindpan), o Sindmassas e o Sebrae, lançaram em 10 de setembro, na FIEC, o projeto Encadeamento Produtivo do Segmento de Panificação. O projeto irá beneficiar 200 empresas (40 de forma direta) por meio de consultorias, capacitações e diagnóstico, em prol do desenvolvimento das micro e pequenas empresas, fornecedores e distribuidores. O projeto, que terá o apoio do SENAI, do IEL e dos moinhos instalados no Ceará, deverá durar até junho de 2015. O objetivo é que as unidades produtivas participantes aumentem as vendas de produtos panificados e de conveniência, otimizem os processos produtivos, reduzindo o desperdício, registrem crescimento no faturamento, melhorem a qualificação dos funcionários e as negociações com fornecedores, agreguem valor aos produtos e serviços e promovam a sustentabilidade do negócio. O SINDICATO das Indústrias de Sorvete do Estado do Ceará (Sindsorvetes) realizou em 22 de setembro o 4o Passeio Ciclístico Sindsorvetes. A concentração foi realizada no Centro Cultural Dragão do Mar, indo pela Beira Mar, Via Expressa, sentido AldeotaCentro até a Catedral, quando ocorreu o retorno ao Dragão do Mar. O evento, tradicional no calendário ciclístico de Fortaleza, é promovido em comemoração ao Dia Nacional do Sorvete, celebrado em 23 de setembro. Houve sorteios de kits da marca Ferrovia e distribuição de 8 000 sorvetes e picolés, além de trio elétrico para animar o percurso de aproximadamente 14,7 quilômetros. No Ceará, a média de consumo é de quatro a cinco litros de sorvete por ano. AGENTES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL SESI REALIZA AULA INAUGURAL DA 11a TURMA O NÚCLEO de Responsabilidade Social Empresarial do SESI/CE realizou em 10 de setembro a aula inaugural da 11a turma do curso de Formação de Agentes de Responsabilidade Social, na sede da FIEC. A intenção do núcleo é formar lideranças com foco na sustentabilidade para implantação de ferramentas de responsabilidade social e mobilização de recursos que gerem maior impacto social nas empresas e organizações. O programa de agentes foi lançado em 2006 com o objetivo de ampliar a atuação das 6 Setembro de 2013 empresas cearenses nesse campo. Desde então, acima de 200 profissionais foram formados, oriundos de mais de 140 empresas em todo o estado. A formação dos agentes utiliza a metodologia Teia da Vida, que sensibiliza os participantes a buscarem suas próprias soluções. Após a capacitação, passam a atuar como multiplicadores na empresa e no ambiente no qual estão inseridos. A 11ª turma conta com 17 participantes. Informações: (85) 3421 5852 / 3421 5854 / [email protected]. MANIFESTAÇÕES SÃO POSITIVAS, DIZ ROBERTO MACÊDO O PRESIDENTE da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, disse na manhã do dia 9 de setembro, em solenidade nos jardins da Casa da Indústria em homenagem ao Dia da Independência, que as manifestações que continuam ocorrendo no Brasil são "imensamente positivas, desde que ordeiras e sem violência, pois representam, também, a inquebrantável esperança que temos em ver este país finalmente se abrir às grandes perspectivas de futuro que se colocam à sua frente". Ele destacou que, em qualquer outro país, "os desmandos aqui constatados teriam detonado uma convulsão social, em vez de legítimas manifestações". Na visão do presidente da FIEC, em todos os momentos de crise ética, os vínculos emocionais do povo com o país são enfraquecidos, gerando sentimentos e desalentos de decepção. Para Roberto Macêdo, as manifestações "geraram uma consciência de que o bem-estar e os frutos do crescimento econômico precisam alcançar toda a população”. INDI/SINDIQUÍMICA CURTAS Diretores são homenageados O DIRETOR corporativo do INDI, Carlos Matos, e o diretor de Inovação do Sindiquímica, José Dias de Vasconcelos, foram homenageados pelo Conselho Regional de Administração do Ceará (CRA/CE) durante solenidade comemorativa do Dia do Administrador, realizada em 9 de setembro. Matos e José Dias foram escolhidos como administradores do ano em uma lista de cinco agraciados pelo CRA e pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (AL/CE). O presidente do CRA/CE, Ilailson Araújo, parabenizou os homenageados e afirmou que os administradores são visionários e possuem um papel importante para mudar o modelo brasileiro de gestão. "Deixamos de dar saltos significativos, como outros países, por falta de gestão." A ocasião também comemorou os 48 anos de criação da Lei 4769, que dispõe sobre o exercício legal da profissão de administrador no Brasil, com palestra sobre “Gestão Corporativa: uma visão internacional”, do empreendedor e especialista em gestão de conflitos, Ryan Boothe. AGENDA “O FUTURO que vamos construir juntos” é o lema do 85º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), iniciativa da CBIC com a realização do Sinduscon/CE, que será realizado de 2 a 4 de outubro, em Fortaleza. No evento, que visa buscar soluções inovadoras por meio de debates, discussões e trocas de experiências, serão abordados temas ligados às comissões de relações trabalhistas, imobiliária, obras públicas, privatizações e concessões, materiais, tecnologia, qualidade e produtividade, meio ambiente, ação social e cidadania, dentre outros. Uma das novidades para esta edição é a participação de estudantes universitários na programação. Inscrições: www.enic.org.br. JOSÉ SOBRINHO DIA DA INDEPENDÊNCIA O CENTRO Internacional de Negócios (CIN/CE) da FIEC realizou dia 19 de setembro os Encontros de Comércio Exterior (Encomex 2013), organizados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O objetivo foi fomentar o desenvolvimento da exportação nos setores de indústria, comércio, serviços, agropecuária e turismo e promover a entrada em novos mercados por meio do acesso às informações sobre as políticas, ações e estrutura do comércio exterior, palestras, oficinas, encontros de negócios e cursos. O IEL/CE, por meio do programa Inova Talentos, está recebendo adesão de empresas interessadas em desenvolver ações de pesquisa e desenvolvimento e inovação. As empresas selecionadas entram como parceiras do programa por 14 meses. Trainees - estudantes do último ano da graduação e profissionais com até três anos de graduação – serão inseridos nas empresas, por indicação da companhia ou escolhidos a partir de processo realizado pelo IEL/CE. A entidade oferece ainda assessoria técnica para elaboração e encaminhamento do projeto à comissão nacional. Informações: 3421 6530 ou www.inovatalentos.com.br. Setembro de 2013 7 8 Setembro de 2013 Setembro de 2013 9 GIOVANNI SANTOS Saúde e segurança do trabalho Atendimento personalizado Georgette Brandão e Francisco das Chagas Magalhães (à esq.) inauguram o Espaço de Saúde e Segurança do Trabalho Espaço de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) no Núcleo de Atendimento às Empresas do SESI Barra do Ceará é direcionado para atender às empresas de base nacional com unidade no estado Serviço Social da Indústria (SESI/CE), com o objetivo de criar ambientes de trabalho seguros e saudáveis e melhorar a qualidade de vida do trabalhador da indústria, inaugurou em 12 de agosto o Espaço de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), no Núcleo de Atendimento às Empresas localizado no SESI da Barra do Ceará. O novo espaço é voltado ao atendimento personalizado dos trabalhadores das empresas cadastradas na base nacional da entidade. No momento, são assistidas as filiais cearenses da OI, Cobra, CAW, Positivo Informática, Boticário e BR Foods (Sadia e Perdigão), dentre outras. O 10 Setembro de 2013 Segundo o superintendente do SESI/CE, Francisco das Chagas Magalhães, a criação do núcleo atende exatamente ao que a indústria vem exigindo cada vez mais da entidade: serviços de maior complexidades e especializados. “O SESI é uma instituição que faz a diferença na qualidade de vida do trabalhador e também na competitividade da indústria. É um provedor de soluções integradas para a indústria e para o trabalhador.” Magalhães diz que a entidade dá uma contribuição muito importante ao promover, no país, ações na área de segurança do trabalho. Isso porque, acrescenta, são cerca de 700 000 acidentes de trabalho por ano no Brasil, provocando um prejuízo de 70 bilhões de reais à nação “Isso por si só já seria um motivo muito relevante para a nossa atuação.” A gerente do SESI Barra do Ceará, Georgette Brandão, reitera que na nova unidade serão atendidos os trabalhadores de empresas de base nacional, ou seja, colaboradores de empreendimentos com atuação nacional e que possuem sede no estado: “Mas os serviços oferecidos vão além. Contemplam ginástica laboral e atividades de lazer”. A criação do núcleo, diz, é decorrente da crescente demanda por serviços de SST e, por isso, o SESI decidiu ampliar a sua capacidade de atendimento na área. Serviços disponíveis no SST Consulta médica ocupacional: emissão de ASO (atestado de saúde ocupacional); atendimento clínico ocupacional individual; exames ocupacionais (admissional, periódico, mudança de função, retorno ao trabalho e demissional). Consulta de enfermagem: pré-análise clínica (medição de peso e altura, cálculo do índice de massa corpórea e verificação da pressão arterial) e avaliação dos resultados; processo de enfermagem do trabalho; investigação de queixas e absenteísmo; orientações individualizadas referente à saúde do trabalhador; monitoramento dos atestados; referenciamento médico; monitoramento das ações do Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO); implantação e implementação da NR-32. Exames: audiometria, espirometria, eletrocardiograma (ECG) e laboratório de análises clínicas (Laboratório Pasteur). Programas: PCMSO – elaboração, acompanhamento, avaliação e relatório anual; Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) – elaboração, acompanhamento, avaliação e relatório anual. SERVIÇO: Núcleo de Negócios do SESI Barra do Ceará - Av. Francisco Sá, 6623 - Inf.: (85) 3455 6237. Descentralização om a crescente demanda dos serviços de SST, o SESI sentiu a necessidade de ampliar a sua capacidade de atendimento nessa área no estado. A partir de 2011, o Núcleo de Assessoria Técnica em Saúde, alinhado aos objetivos estratégicos do SESI Nacional, optou por fazer uma reestruturação da oferta dos serviços na área, de forma a viabilizar maior agilidade e adequação à situação de cada indústria cliente. Alguns dos serviços que estavam sendo realizados exclusivamente pelo Núcleo de Referência em Saúde (NR/Saúde – Centro de Fortaleza) foram distribuídos para outras unidades do SESI, de acordo com as quatro frentes de atendimento em SST do SESI/CE: Programa SST e auxílio diagnóstico, ações educativas/campanhas, contratos corporativos de base nacional e atendimento ao JOSÉ SOBRINHO C Pecém e apoio à linha Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Na vertente do Programa SST e auxílio diagnóstico, em Fortaleza, o NR Saúde é o responsável pelo atendimento. Em Maracanaú, a unidade Albano Franco está encarregada. Para as ações educativas e campanhas, a referência é o Núcleo de Negócios Parangaba. Para atender aos contratos corporativos de base nacional e Pecém, o Núcleo de Negócios Barra do Ceará é o indicado. O suporte à linha SESMT é dado pelo Núcleo de Negócios Horizonte. Os Núcleos de Negócio de Juazeiro e de Sobral atuam de forma integrada em todas as quatro vertentes de atendimento. Setembro de 2013 11 JOSÉ SOBRINHO Carlos Prado Deputados Antônio Balhmann e Tin Gomes e Alexandre Pereira entregam título de Cidadão Cearense a Carlos Prado pelos 40 anos de atividade no estado Cidadão cearense O O empresário, vice-presidente da FIEC, recebeu o título da Assembleia Legislativa por sua contribuição ao estado do Ceará e ao povo cearense 12 Setembro de 2013 vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Carlos Prado, cearense de coração, desde o dia 6 de setembro passou a ser de direito cidadão cearense, reconhecido, em sessão solene, pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. O título, concedido a brasileiros ou estrangeiros não naturalizados que tenham contribuído com o desenvolvimento socioeconômico ou cultural do Ceará, foi proposto pelo deputado estadual Tin Gomes (PHS/CE). Carlos Prado está no Ceará há 40 anos, desde que fundou, em 1973, a empresa Cemag – Ceará Máquinas Agrícolas Ltda. Também deu início, em 1975, às atividades da Nagroar – Nordeste Aviação Agrícola e, em 1983, à Itaueira Agropecuária S/A, segunda maior produtora de melão do Brasil. Tin Gomes ressaltou a contribuição do empresário para o desenvolvimento do Ceará e do povo cearense: “Carlos Prado é dono de um espírito empreendedor, que sempre lutou pelos seus ideais. Fez muitas benfeitorias e contribuiu com a do Ministério da Agricultura e Pecuária e a Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); e é secretário executivo da Frente Parlamentar Mista da Fruticultura, no Congresso Nacional. Na vice-presidência da FIEC, fez questão de destacar, conheceu pessoas que se tornaram bons amigos. “Tenho tido o prazer de conviver com gente honesta, como o presidente Roberto Macêdo e os amigos que compõem a diretoria. Gente de quem me orgulho pela honestidade, ética e retidão. Essas situações mostram que este país tem jeito.” Um projeto tem tido especial atenção do empresário, o Integra Brasil: Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo (ver matéria na página 20). “Empreendo nessa região há 40 anos e sei o quanto é difícil. Não se mantém unidade federativa com tanta desigualdade. Um empresário do Nordeste está preparado para ser empresário em qualquer lugar do mundo.” Um documento está sendo preparado a partir das diversas contribuições reunidas ao longo de 15 meses de atuação do movimento para ser apresentado à sociedade e ao poder público nas esferas estadual e federal. “A partir desse momento, dependerá da nossa capacidade de articulação”, disse. Para além da vida empresarial e institucional, Carlos Prado sabe que foi no seio familiar que se construíram os valores e a base de sua vida. Ele é pai de sete filhos e exalta a esposa, Rosarita Prado, como o pilar da família e companheira de toda a vida. JOSÉ SOBRINHO nossa economia, ajudando no equilíbrio da nossa balança comercial”. Tin Gomes confidenciou o desejo de Carlos Prado de viver até os 130 anos: “Pelo seu histórico, determinação e coragem, ninguém ousa duvidar que ele conseguirá”. Em seu discurso, Carlos Prado disse sentir-se honrado por receber o título. “Pude me tornar cearense por opção, por ter escolhido esta região para viver. Persisti na caminhada de tentar sempre encontrar um caminho novo neste estado com muito potencial. Tudo isso é resultado de anos trabalhando no semiárido, acompanhando as dificuldades dessa região e desse povo.” As pessoas que encontrou ao longo da caminhada foram essenciais para o sucesso, acredita o empresário, mas também foram muitos os momentos de luta ensinando lições que não se aprendem nos livros, e sim no caminhar diário. Do mesmo modo que conheceu bons companheiros, pessoas não tão boas assim também passaram pelo caminho, lembra Carlos Prado. É caso do ex-presidente José Sarney. Sua política econômica refletiu negativamente nos negócios quando lançou o Plano Cruzado, que congelou os preços. “Congelou preços, mas não congelou as dívidas, e vimos nossas empresas quebrando. Sarney causou um desastre muito grande, mas continua em atividade até hoje. Ele e muitos outros.” Além da vida empresarial, Carlos Prado se empenha com afinco no setor corporativo e na atuação associativa. Além de vice-presidente da FIEC, preside a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Fruticultura Carlos Prado: “Pude me tornar cearense por opção, por ter escolhido esta região para viver” Setembro de 2013 13 JOSÉ SOBRINHO Setor ceramista Gestão, sustentabilidade e inovação G Sindcerâmica comemora 40 anos com crescimento e olhando para o futuro ao investir em inovação tecnológica 14 Setembro de 2013 estão, sustentabilidade e inovação para gerir com eficiência e incrementar o desenvolvimento das empresas do setor cerâmico cearense foram os principais temas de discussão do seminário realizado para comemorar os 40 anos do Sindicato da Indústria Cerâmica do Estado do Ceará (Sindcerâmica), ligado à Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), entre os dias 22 e 24 de agosto, na sede da FIEC. Também foi promovida uma feira com 15 expositores de máquinas e equipamentos de todo o país. “Nosso objetivo com a comemoração vai além de festejar os 40 anos. Quisemos reunir os empresários do setor para conhecer produtos novos e discutir tecnologias para o desenvolvimento das empresas e aproximar ainda mais a entidade dos associados”, disse o presidente do sindicato, Fernando Antônio Ibiapina Cunha. inovação e tecnologia para tornar as empresas mais sustentáveis e produtivas. “O Sindcerâmica tem procurado ao longo desses 40 anos representar dignamente os ceramistas e os números e fatos mostram que temos cumprido nossa missão.” A maioria das empresas ceramistas se localiza no interior do estado, levando o desenvolvimento para a região, apesar da dificuldade com mão de obra. Mas a grande preocupação hoje é com o projeto de lei que altera o atual Código de Mineração e cria o Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de Mineração (ANM) por causa das mudanças em relação ao aumento de alíquotas, estabelecimento de prazos para pesquisa e lavra de minério e criação de novas taxas, dentre outras questões. O presidente do Sindcerâmica repudia o novo marco e afirma que o texto do projeto “apenará consideravelmente as pequenas mineradoras das quais as cerâmicas fazem parte”. O presidente da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), César Vergílio, lembrou aos empresários ligados ao setor que é estratégico estar junto da FIEC para cobrar mudanças no projeto que chamou de esdrúxulo. “É importante que cada empresário esteja lutando por uma mínima melhoria.” Também citada por Fernando Ibiapina como dificuldade têm sido a substituição de produtos na construção civil. Ele alertou que algumas unidades habitacionais do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida em Fortaleza e Sobral estão sendo construídas com blocos de concreto, material que gera desconforto térmico. Uma campanha da Anicer tem alertado o consumidor por meio de vídeos e artigos com dicas e informações acerca das diferenças de conforto e segurança de uma casa construída com materiais cerâmicos e concreto. Fernando Ibiapina: “Respeito ambiental é marca do setor no Ceará” JOSÉ SOBRINHO Durante a solenidade, ele registrou o histórico do sindicato, citando os presidentes e os destaques de seus mandatos. Lembrou a evolução do setor após o ano 2000, com a padronização dos blocos cerâmicos em todo o país, o início do processo de reestruturação das empresas e a criação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP). Nos últimos dez anos, disse Fernando Ibiapina, o setor progrediu muito e vários foram os fatores que influenciaram essa evolução, como a criação do Simples Nacional, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida, além do incremento do setor da construção civil. A abertura do seminário foi marcada pela palestra do arquiteto, consultor e pós-graduado em Gestão de Marketing, Paulo Angelim, sobre comportamentos empresariais para gerar novos resultados. Em resumo, o consultor ressaltou que, para ser a empresa que se pretende, é necessário sacrificar paradigmas e processos antigos e criar espaços para a inovação. Com grande potencial de expansão, o setor cerâmico do Ceará está distribuído em todo o estado e tem na eficiência energética e na evolução tecnológica fatores essenciais e estratégicos nos seus esforços de desenvolvimento e conquista de novos mercados, de acordo com o Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará, encomendado pelo Sindcerâmica, patrocinado pelo Banco do Nordeste (BNB) e executado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE). No estado, duas áreas se destacam na produção de produtos cerâmicos: a região metropolitana de Fortaleza e o Baixo Jaguaribe. O volume total de indústrias identificadas em atividade foi de 412, distribuídas em 93 municípios. De acordo com Fernando Ibiapina, o respeito ao meio ambiente e a preocupação em aumentar a produtividade das empresas por meio da atualização constante de maquinário é uma marca do segmento no Ceará. [A pesquisa foi abordada pela Revista da FIEC na edição anterior, agosto 2013, páginas 39 a 41.] O crescimento do setor está sendo respaldado pelas empresas cerâmicas, segundo Fernando Ibiapina, mediante mais investimentos em seus parques fabris, a construção de fornos mais econômicos e mais sustentáveis (por usarem menos combustível), a compra de novas máquinas, a constante preocupação em investir no processo produtivo e na gestão, além dos investimentos em Setembro de 2013 15 JOSÉ SOBRINHO Homenageados do Troféu Ceramista 2013, acompanhados do presidente do Sindcerâmica, Fernando Ibiapina: Hermano Franck, Ricardo Cavalcante (representando o presidente da FIEC, Roberto Macêdo) e João Marcos (representando a família de Marcos Aurélio Campelo Maia) Produção mais Limpa e acordo com dados da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), há atualmente no estado 261 planos de manejo florestal, sendo que grande parte dessa produção é absorvida pelas indústrias ceramistas. O fato revela uma preocupação cada vez maior do setor quanto à questão da sustentabilidade e sobrevivência do próprio negócio, diz Fernando Ibiapina. O tema foi destaque durante o seminário. Para o consultor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE) do bairro Jacarecanga, Cândido Bezerra, essa preocupação se insere também nas exigências do mercado, que tem nas construtoras um dos principais clientes dos ceramistas. Segundo Bezerra, nunca se falou tanto em inovação e sustentabilidade como nos últimos anos, e a tendência é que esse conceito seja aprofundado largamente. Por isso, diz, o empresário do setor terá de se adequar ao conceito de Produção Mais Limpa (P+L), pensando em utilizar menos recursos naturais como forma de ter menos custos. "A verdade é que a indústria ceramista está mudando, e a P+L não é mais uma coisa de outro mundo. Dela dependerá a sustentabilidade do setor". Para o consultor, não há mais espaço para quem alega incompatibilidade entre sustentabilidade e rentabilidade econômica: "A venda e o preço de D 16 Setembro de 2013 um produto quem define é o mercado, mas a eficiência produtiva eu posso definir, e, dela, dependerá meu custo e meu lucro". Nesse sentido, o conceito de P+L, explica Bezerra, trabalha a redução dos resíduos gerados pela produção, aumentando o desempenho ambiental das empresas. "Falamos muito em concorrentes externos, mas um dos nossos maiores concorrentes é interno, e refere-se ao desperdício da nossa matéria-prima, que são os recursos naturais." Nesse aspecto, recorre a Michael Porter [Michael Eugene Porter é um professor da Harvard Business School, com interesse nas áreas de Administração e Economia. É autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade], para quem "poluição nada mais é do que a baixa eficiência no aproveitamento dos recursos naturais". A necessidade da adoção do P+L no setor é uma preocupação do Sindcerâmica, que está formando turmas de empresas para a realização de cursos pelo SENAI voltados ao assunto. Isso se faz necessário, conta Fernando Ibiapina, em virtude de a indústria ceramista no Nordeste caracterizar-se como “nativa”, com estrutura de gestão marcadamente familiar, onde a presença das micro e pequenas olarias é predominante. Assim, apesar de depender da exploração de jazidas, que envolve questões delicadas como, por exemplo, o conhecimento geológico, a posse das jazidas e a legalização da exploração nos órgãos competentes, constata-se que muitas dessas indústrias sobrevivem na informalidade. Ao mesmo tempo, com grande potencial de expansão, o setor cerâmico do Ceará está distribuído em todo o estado e tem na eficientização energética e na evolução tecnológica fatores essenciais e estratégicos nos seus esforços de desenvolvimento e conquista de novos mercados. ados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2008, últimos divulgados sobre as olarias no Brasil, revelam que a produção de tijolos no país chega a 4 trilhões de peças por mês (10 000 toneladas). Desse total, cerca de 4% a 5% são perdidos no processo de produção. Dentre os motivos para a formação desses resíduos estão a escolha inadequada dos fornos e da matéria-prima. Durante o evento que comemorou os 40 anos do Sindcerâmica, o professor do SENAI Mario Amato, em São Bernardo do Campo, São Paulo, Amando Alves de Oliveira, explicou que muitas empresas começam errando no momento em que copiam o forno do vizinho. Falha repetida pelos mais experientes, em razão do regionalismo, que leva muitos empreendedores a optarem por fornos que seus colegas usam. “Ao iniciar o negócio, alguns empresários contratam aquele pedreiro que construiu um forno funcional para uma olaria próxima. O problema em repetir a mesma obra é que todos os cálculos estruturais precisam ser refeitos, algo que necessita de um engenheiro ou técnico especializado”, disse Amando Alves. Segundo ele, os primeiros passos passam pelo conhecimento de todos os fornos disponíveis no mercado, além do planejamento das atividades e as características que serão desenvolvidas na olaria. Com mais de 30 anos de experiência em cerâmica vermelha, o professor explicou que a escolha do equipamento de queima deve levar em consideração o tipo de produto que será fabricado (telhas, tijolos, blocos, etc.) e as características da argila. Antes de optar por um modelo de forno, ele recomenda que o ceramista pense na eficiência energética. “O layout da indústria, a produção e os combustíveis a serem usados na queima são outros aspectos que precisam de análises.” D Tecnologia e combustível No que diz respeito à tecnologia utilizada pelas empresas, 64,2% das empresas possuem forno do tipo abóbada. JOSÉ SOBRINHO Qual o forno certo? O layout da indústria, a produção e os combustíveis a serem usados na queima são aspectos que precisam de análises. Amando Alves, professor do SENAI Mario Amato, de São Paulo Amando Alves também apresentou os principais fornos utilizados no Brasil, destacando os pontos positivos e as falhas de cada um. Dentre os mais eficientes no mercado, segundo ele, está o forno Túnel. Este modelo ganhou a admiração dos empreendedores por apresentar baixo consumo energético, aliado à uniformidade de queima, resultando em produtos com a mesma tonalidade e qualidade. O forno Paulistinha é outro que ganhou comentários positivos, “por ser econômico e de fácil operação, e de se adaptar bem a qualquer combustível”. O cuidado que se deve ter com tal modelo passa pela velocidade de aquecimento, a alimentação das fornalhas e as condições dos componentes mecânicos. Com relação à forma de fabricação adotada pelo setor, 27,4% das empresas possuem algum sistema de controle no processo de queima, onde se destaca o uso de termopares. Para todas as cerâmicas cearenses, o principal tipo de combustível utilizado ainda é a madeira, com origem de manejos florestais e da poda do caju. A adoção de programas de produção mais limpa é prática ainda pouco utilizada pelos ceramistas, pois 95,3% não possuem. Por outro lado, 72,3% manifestaram interesse em participar de algum P+L. Fonte: IEL/CE - Pesquisa primária, Ceará - outubro/2012 Setembro de 2013 17 Forno Paulistinha Forno Abóbada Ficha técnica: é retangular e conta com queimadores laterais. É muito utilizado para a queima de telhas, mas pode ser considerado um forno pouco econômico e difícil de trabalhar. Ficha técnica: ainda que conviva com alguns problemas voltados à produtividade e à qualidade, é um dos melhores para a queima de telhas. É econômico, adapta-se bem a qualquer combustível e é de fácil operação. Para ficar atento: é importante observar o aproveitamento e a distribuição do calor, que pode gerar peças com colorações e resistências distintas. Cabe analisar se o uso em excesso de combustíveis está valendo a pena financeiramente. Para bons resultados: mantenha a velocidade de queima o mais constante possível, faça uso de termopares e trabalhe com boquetas e cinzeiros fechados. Fornos disponíveis Para ficar atento: o forno Abóbada não oferece fogo nas laterais e a velocidade de aquecimento é muito alta. Há risco de requeima de material e ainda ausência de controle de registros, prejudicando o processo como um todo. Para bons resultados: controle os registros desde o início do esquente, garantindo a velocidade de aquecimento. Mantenha constante a alimentação das fornalhas e verifique periodicamente as condições dos crivos e das fornalhas. Veja um resumo dos principais fornos disponíveis no mercado brasileiro. O trabalho, produzido pela Anicer, aborda características e dá dicas para um melhor aproveitamento do potencial de cada modelo, bem como os cuidados que se deve ter no manuseio. Forno Hoffmann Fornos Contínuos Forno Túnel Ficha técnica: é largamente utilizado pelos fabricantes de blocos, especialmente pelo fácil manuseio, economia e boa produtividade, além do baixo consumo de energia. Ficha técnica: são econômicos e de fácil operação, pela forma sem interrupções em que atuam tanto no carregamento quanto no descarregamento das peças. Ficha técnica: oferece elevado rendimento operacional e energético. Neste modelo, o ar quente que está deixando a zona de resfriamento pode ser usado como ar de combustão ou ainda para secagem das peças. Para ficar atento: podem ocorrer requeimas na soleira e falta de queima no teto. Os produtos podem ainda obter machas laterais causadas pela falta de oxigenação. Existem casos de vazamento nos canais e peças com trincas de secagem e choque térmico. Para bons resultados: controle as passagens de ar quente situadas nas soleiras, trabalhe com registros desde o início da queima, verifique regularmente a passagem de fogo e mantenha observação constante durante a queima. 18 Setembro de 2013 Para ficar atento: o pré-aquecimento pode apresentar problemas, gerando trincas e deformações. Também podem aparecer machas ou bolhas nas peças que estão relacionadas à zona de oxigenação. É um tipo de forno que exige conhecimento técnico dos operadores para a regulagem das diferentes zonas. Para bons resultados: regule periodicamente os registros de controle de ar e mantenha as portas fechadas para não gerar alterações na curva de queima. Evite a entrada de materiais úmidos. Para ficar atento: é necessário que a saída da chaminé esteja sempre limpa e em perfeito estado de funcionamento. Também é preciso cuidar da manutenção interna do forno para evitar barreiras que atrapalhem a circulação das vagonetas. Para bons resultados: procure distribuir a densidade da carga e tenha cuidado para não alterar a queima de curva dos produtos. Mantenha constante a alimentação do combustível, evitando altos e baixos. Setembro de 2013 19 Desigualdades regionais Por um Brasil melhor Movimento do CIC Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, apoiado fortemente pela FIEC, reuniu estudiosos, empresários e políticos em torno da construção de um documento estratégico de ação para reduzir as desigualdades regionais onstituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento nacional e erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” Fixando análise em alguns números sobre a região Nordeste do Brasil, nota-se que é necessário caminhar de forma mais rápida e a passos mais firmes para alcançar os objetivos aos quais se referem os princípios fundamentais da Constituição Federal. Não apenas os números fazem chegar a esta conclusão. Empresários, pesquisadores, políticos e estudantes deram suas contribuições ao Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, iniciativa do Centro Industrial do Ceará (CIC) apoiada pela Federa- “C 20 Setembro de 2013 ção das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) que, durante os últimos 15 meses, reuniu os diversos atores da sociedade nordestina e brasileira em torno deste movimento cuja ideia é construir e implementar um plano estratégico de ação política que ataque estruturalmente as desigualdades regionais no país. O objetivo é construir um documento para ser apresentado à sociedade civil organizada e aos poderes Legislativo e Executivo federais e estaduais, com caráter afirmativo, assertivo, sem discurso de súplica e miséria. Para o presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, a união da sociedade em torno desse objetivo é que irá gerar os resultados esperados: “O verdadeiro produto desse movimento é a ação conjunta resultante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes da iniciativa privada, do estado e da sociedade, para a promoção do desenvolvimento regional como parte indispensável do desenvolvimento nacional”. Roberto Macêdo faz questão de frisar como indispensável a atuação Primeiro workshop ocorrido na FIEC GIOVANNI SANTOS do setor produtivo como motor econômico do país e da região para a superação de tendências isolacionistas e dispersas, no que classifica como tradicionalmente retardadoras do progresso. Ele se refere às disputas regionais internas, que julga como normais. “É natural que, em uma região, estados concorram pela atração de novos investimentos e pela conquista de recursos, mas é um desperdício de oportunidade quando não percebem os ganhos que poderiam resultar das convergências de interesses.” A presidente do CIC, Nicolle Barbosa, acredita que as mudanças necessárias partem de um novo poder, mais transparente e comprometido com a sustentabilidade em seu sentido lato: “O modelo pensado no Integra Brasil entende que as mudanças desejadas, efetivamente, deverão sair de cada um e de todos os estados nordestinos”. Movidos pela indignação da posição desigual do Nordeste, o intuito é construir uma agenda do que a região tem de bom para se colocar em posição de negociar uma nova relação com o resto do Brasil. O movimento nasceu de uma reunião realizada entre a FIEC e o CIC visando discutir uma medida provisória relativa a aportes de recursos para o Nordeste. Na ocasião, recordou-se a realização do seminário O Nordeste no país: avaliação e perspectivas, realizado pelo CIC em 1981, quando Amarílio Macêdo era seu presidente. O evento reuniu governadores, parlamentares, ministros e discutiu, sobretudo, as desigualdades da região e propôs ações que repercutiram em todo o país. Setembro de 2013 21 ARQUIVO CIC Workshop em Recife foi o segundo A região Nordeste tem 18,2% da área do território brasileiro, 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB), 27,8% da população, mas apenas 48,6% do PIB per capita do país. A Organização das Nações Unidas (ONU), no primeiro relatório sobre o Projeto do Milênio, coloca a região, ao lado do oeste da China, do sul do México e dos estados do norte da Índia, entre os quatro principais bolsões de pobreza mundiais. Como país, o Nordeste seria, nas Américas, o quarto em população, o quinto em área e o sexto em PIB, com os Estados Unidos em primeiro, restante do Brasil (segundo), México (terceiro), Canadá (quarto) e Argentina (quinto). Há a visão, tanto nos grandes mercados mundiais como no Sudeste do Brasil, de forma mais atenuada, mas ainda presente, do Nordeste como região assolada pela seca e pelo atraso econômico, político e social. O economista e consultor do CIC, Cláudio Ferreira Lima, acredita que esse processo pode ser revertido com a construção de um novo discurso. “É hora de o Brazil com “z” conhecer mais o Brasil com “s”, inteirando-se do que é o Nordeste; e de o Brasil de baixo conhecer mais o Brasil de cima e vice-versa, acabando com a desinformação e, consequentemente, com os estereótipos. E, para isso, tem de ser construído um novo discurso que ressalte não as vulnerabilidades, mas, isso sim, as potencialidades da região”. Workshops O documento final do Integra Brasil começou a ser construído há 15 meses, no início das reuniões e discussões, mas efetivamente foi ganhando contribuições nos workshops realizados no Nordeste e no Rio de Janeiro. O primeiro ocorreu na FIEC, em Fortaleza, em 4 de junho, sob o tema “Aspectos Político-Institucionais do Desenvolvimento do Nordeste”. O evento contou com palestras dos professores Ricardo Ismael, Paulo Lopo Saraiva, Valmir Pontes Filho e Fernando Rezende. Transformar o texto constitucional escrito em realidade por meio do enfrentamento no campo político. Este é um dos 22 Setembro de 2013 principais problemas que o Brasil precisa superar para mudar o quadro da desigualdade regional que deixa os estados menos desenvolvidos em posição de pedintes das benesses federais do estado. Esta foi a síntese do pensamento do professor Ricardo Ismael. Diante de tal cenário, como é que as regiões menos favorecidas podem voltar a exercer a sua expressão política?, questionou Ricardo Ismael, para quem o primeiro ponto é passar a exercer o poder de veto por meio da classe política. Outro aspecto é que os estados decidam se articular em torno de uma agenda em defesa de interesses comuns. O problema, disse, é que grande parte dos próprios estados não quer lutar por ações coletivas entre eles. O relatório final do primeiro workshop, compilado pelo advogado Alcimor Rocha Neto, trata da necessidade de mudar a política. “Como, então, reformar a política para que ela seja mais atraente e confiável à sociedade é uma questão que se mostra necessária de ser respondida e a resposta está no fato de que é necessário reavivar o interesse dos cidadãos pelo debate público, voltar a restabelecer a credibilidade do poder, reformar as regras do jogo político que estimulam o imobilismo ou o clientelismo e retomar o diálogo sobre nossas visões do mundo futuro. É necessário mudar a política”, coloca o texto. A cidade escolhida para a realização do segundo workshop, em 26 de julho, sobre o tema “Aspectos Estratégicos do Desenvolvimento do Nordeste”, foi Recife. O evento ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) com a presença do presidente da instituição, deputado federal Jorge Corte Real, e do governador Eduardo Campos. O líder da Fiepe afirmou que o desenvolvimento deve ser construído tendo como base as cadeias produtivas, a infraestrutura e a melhor distribuição regional do crescimento. Para os objetivos do Integra Brasil serem alcançados, Corte Real apontou a necessidade de criação de um plano de desenvolvimento regional, desenvolvimento da política energética nacional, concessões de ferrovias e rodovias, ampliando a infraestrutura e a logística do país, e desenvolvimento de uma ligação direta Nordeste-Mercosul. Discutiu ainda temas como produtividade, fatores de competitividade (educação, infraestrutura, inovação e tributação) e perfil socioeconômico brasileiro. O governador Eduardo Campos defendeu a ideia de planejar para longo prazo. Apresentou dados e deduziu que mesmo com o esforço recente, que julgou importante, de atenção para com o Nordeste, a participação da região continua modesta no contexto nacional. Para sair dessa situação, disse o governador, a região precisa crescer a taxas maiores do que as do Brasil por 16 anos seguidos, olhando também para as desigualdades intrarregionais. Ele defendeu o uso da ARQUIVO CIC tecnologia para a promoção da segurança hídrica e a expansão des Intrarregionais na Economia Nordestina: soluções e encada agricultura familiar no semiárido. Enfatizou, ainda, a neces- minhamentos”, realizada em Campina Grande (PB), em 18 de sidade de integração regional por meio de grandes eixos ro- julho. Para colaborar com a discussão da problemática regiodoviários, ferroviários, portos e malha aeroviária. Para corri- nal, a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep) gir possíveis distorções agravantes das desigualdades na polí- elaborou o documento A Paraíba e as desigualdades regiotica de concessões de obras e serviços públicos, defendeu a nais, com informações, estatísticas, sugestões e encaminhamentos. Um dos parâmetros utilizados foi um estudo realizaadoção de Parcerias Público-Privadas (PPPs). O terceiro workshop foi realizado na Federação do Co- do anualmente pela Federação das Indústrias do Estado do mércio, Serviços e Turismo do Estado da Bahia, em 15 de Rio de Janeiro (Firjan), denominado Índice Firjan de Desenjulho. Na ocasião, foram debatidas linhas estratégicas para o volvimento Municipal (IFDM), de metodologia semelhante desenvolvimento da região baseadas no tema “Nordeste: si- ao do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os resultuação atual e transformações recentes”. No relatório final, tados mostraram que as características econômicas revelam dois assuntos de destaque foram as características das trans- um quadro secular de desigualdades. Este fenômeno tamformações em curso na região e a possibilidade de um proces- bém se manifesta quanto aos indicadores sociais. Apenas seis so de desenvolvimento sustentável para o Brasil que prove- estados se situam acima da média do Brasil: São Paulo, Paraná, nha expansão do mercado interno nordestino. Fatores se des- Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do tacaram como decisivos aos olhos dos especialistas que parti- Sul. Entre a mediana (0,7161) e a média nacional (0,7899) estão ciparam da rodada de discussões, dentre eles uma melhor sete estados, dos quais dois do Nordeste (Ceará e Pernamburedistribuição dos recursos constitucionais destinados à re- co). E, finalmente, abaixo da mediana os outros sete estados gião, bem como dos financiamentos de instituições de fomen- da região, com a Paraíba em 20º e Alagoas na última posição. O documento sugere algumas linhas de ação, nas quais to ao desenvolvimento como o Banco Nacional de Desenvolsejam seguidas diretrizes de estabelecimento de políticas de vimento Econômico e Social (BNDES). Adicionalmente, foram sublinhadas como de suma ur- desenvolvimento descentralizado, instituição de programa de gência questões como a inclusão da região Nordeste no plane- mobilidade urbana nos centros populacionais e novas formas jamento governamental em escala latino-americana e a prio- de formação profissional, dentre outras. O texto sugere ainda: rização de investimentos em seus modais de transporte, me- “Talvez trilhando caminhos mais simples, a partir da instituididas estas que devem vir acompanhadas de mais recursos ção, em respeito à Constituição Federal, do pacto federativo destinados à qualificação do nordestino e melhora de seus de que tanto se fala, mas nunca existiu, possa se construir uma indicadores educacionais. Um dos convidados do workshop nova realidade no longo prazo. Afinal, não seria ocioso pedir foi o deputado federal e ex-coordenador da bancada do Nor- compromisso e ação aos responsáveis pelos destinos da redeste na Câmara dos Deputados Zezéu Ribeiro (PT/BA), que gião – sociedade, governo e empresários –, todos agindo em se comprometeu a entrar em contato com as presidências da comum pela mesma causa”. O último workshop foi realizado em 19 de agosto, na sede Câmara e do Senado para formar uma comissão especial a fim de discutir a questão nordestina, desejando levar os resulta- do BNDES, no Rio de Janeiro, a fim de discutir como o Nordos do encontro como incentivo a uma discussão na bancada. deste é visto de fora. As contribuições dos participantes levaOutro participante foi o professor da Universidade Federal ram à conclusão de que para mudar a região o momento é de da Bahia (UFBA) e ex-secretário do Planejamento do estado, atualizar as ambições. Armando Avena, para quem, além dos condicionantes históricos, dez fatores recenWorkshop realizado na Federação do Comércio da Bahia tes ajudam a explicar por que não houve maior redução das desigualdades no país, como a manutenção do hiato educacional e na renda domiciliar; esvaziamento da representação política do Nordeste; ocorrência de secas recorrentes; concentração da malha urbana do Sul e Sudeste e concentração dos investimentos em infraestrutura e pesquisa e desenvolvimento também nessas regiões. Atendendo a pedidos do setor produtivo dos estados da região, houve uma mesa-redonda para discutir o tema “As Desigualda- Setembro de 2013 23 JOSÉ SOBRINHO Nicolle Barbosa abre o seminário Integra Brasil no Centro de Eventos Integra Brasil JOSÉ SOBRINHO Os resultados e relatórios dos workshops, encontros e reuniões foram levados ao seminário Integra Brasil realizado entre os dias 27 e 29 de agosto, em Fortaleza. Em seu discurso de abertura, Nicolle Barbosa disse que todos estavam ali reunidos para fazer política, na forma de pensar mudanças e criar condições para torná-las efetivas. Ao longo desse processo, acredita a presidente do CIC, é preciso abandonar a posição passiva, que aceita e obedece aos desígnios da natureza e aos ditames das políticas federais, e passar a agir como uma região ativa, articulada e dinâmica, ciente de que e do quanto participa da contabilidade nacional, valorizando-se para saber reivindicar e, se preciso, impor suas demandas. Nicolle Barbosa destacou o pedido da organização do movimento para que cada estado elabore, a partir de características próprias, alternativas de desenvolvimento que contemplem as preocupações de ordem social, ecológica, cultural e econômica: “Isso feito, o movimento se compromete a articu- É preciso pensar para o Nordeste um plano de incentivo fiscal inversamente proporcional ao PIB. Alexandre Pereira, secretário do Cede 24 Setembro de 2013 lar e integrar essas alternativas em um projeto único de afirmação regional". Durante a abertura do seminário, o vice-presidente da FIEC e conselheiro da presidência do CIC, Carlos Prado, relatou seu descontentamento com a situação atual: “É a indignação de quem vive e empreende aqui há 40 anos”, contou ao se referir à posição do Nordeste de responsável por 65% do superávit comercial da região Sudeste. “Precisamos partir para uma atitude mais negocial. Não se mantém um país com tanta desigualdade. Somos mercado cativo da zona mais desenvolvida do país e qual o tratamento que o resto do país nos dá?”, questionou. Para o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, é preciso buscar novos caminhos para o Nordeste e para o Brasil, por meio da educação e da tecnologia, principalmente. “Investimento em educação e tecnologia muda uma região, um país. No Nordeste, o investimento do governo federal em educação é de 11,4%. No Centro-Sul é de 60,1%. Em ciência e tecnologia, apenas 5% são investidos no Nordeste, enquanto 73% vão para o Sudeste e São Paulo recebe 50% desse total. Aí está a razão por que estamos no mesmo lugar.” Apesar dos repasses do BNDES para o Nordeste terem aumentado nos últimos anos, e isso refletir o patamar do Nordeste na economia brasileira, o chefe do Departamento Regional Nordeste do BNDES, Paulo Ferraz Guimarães, não enxerga continuidade a ponto de garantir a diminuição das desigualdades históricas. “É necessário um processo de coordenação e integração na região e acredito que este fórum é a grande oportunidade de isso acontecer.” Representando o governador Cid Gomes na solenidade de abertura do seminário, o secretário do Conselho Estadual do Desenvolvimento Econômico (Cede), Alexandre Pereira, afirmou que o governo vem fazendo seu papel executando ou se empenhando em atrair as obras e empreendimentos que o estado precisa, como o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e a siderúrgica. Segundo ele, é preciso pensar para o Nordeste um plano de incentivo fiscal inversamente proporcional ao PIB. Alexandre Pereira acredita que os assuntos debatidos e o documento final do Integra Brasil deverão estar na pauta das eleições de 2014. “É importante cobrar dos candidatos um compromisso diferente para o Nordeste.” O deputado federal Artur Bruno (PT/CE) exaltou a iniciativa do CIC e lamentou a pouca presença de parlamentares e de membros do Executivo. “Procurarei ansiosamente o resultado dos trabalhos para tentarmos pôr em prática algumas dessas soluções que estão sendo elaboradas, pensadas, pelo Integra Brasil, ouvindo e debatendo com as melhores cabeças JOSÉ SOBRINHO Procurarei o resultado desses trabalhos para tentarmos pôr em prática algumas dessas soluções. Artur Bruno, deputado federal (PT/CE) movimento será levado para a pauta das eleições de 2014. Será organizada uma caravana para conhecer as grandes obras estruturantes de interesse da região e de posse do documento final que está sendo elaborado, explicou, o movimento visitará governadores e a bancada federal, além de divulgar no meio produtivo de estados como São Paulo. “A eficácia da implementação dessa agenda dependerá visceralmente do envolvimento e do comprometimento de governadores, senadores e deputados. Afinal, são eles que detêm a voz e manuseiam as canetas”, cobra Nicolle Barbosa, que também acredita no poder da sociedade civil organizada, motor do Integra Brasil: “Mas somos nós, a sociedade, que detemos a energia provedora e renovadora do desenvolvimento, seja ele político, econômico, ecológico, cultural ou social e entendemos que somente da sincronia desses poderes é que haveremos de conseguir dar ao Nordeste o papel que acreditamos lhe seja devido”. JOSÉ SOBRINHO do Nordeste em cada setor, em cada política pública.” Na opinião do deputado, “as forças políticas devem levar esse debate para o Congresso Nacional e também para a Presidência da República, para os ministérios, a fim de discutirmos nos próximos orçamentos iniciativas que estão sendo aqui debatidas”. O deputado federal Danilo Forte (PMDB/CE) defendeu que qualquer política de desenvolvimento, seja econômica, social, industrial ou tecnológica, passa por indução política. “O Nordeste chegou a crescer no ano passado mais que o dobro da média nacional e está provado que a competitividade da capacidade produtiva da região é boa e é grande.” Lembrou a posição geográfica estratégica da região em relação ao Brasil do ponto de vista das exportações, haja vista que, com a duplicação do Canal do Panamá, a região ficará mais perto da Ásia e já é mais próxima da Europa. “Temos de voltar a logística de exportação do Brasil para o Nordeste. Para isso, é preciso investir na duplicação de todas as rodovias ligadas aos portos. Nesse ponto, a Transnordestina é fundamental na interligação, a fim de que o escoamento da produção saia pelo Nordeste para baratear o custo da exportação brasileira.” Para a viabilização desses projetos, acredita o deputado, é preciso inserir o debate no contexto político do poderes Legislativo e Executivo federais. “Há uma distância muito grande e uma falta de comunicação entre deputados, senadores e governadores.” Danilo Forte conta que tem sofrido críticas por ter incluído a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014, da qual é relator. “Questionam como é necessário um órgão regional dentro de uma lei de diretrizes para a união. Tal visão é míope. Ela começa a ser ampliada a partir do peso político”, avalia, para concluir: “Nossa economia não é mais agropecuária. Temos de partir para a industrialização e no Nordeste ela é fundamental. Trata-se de uma decisão política. Estou incorporado a esse sentimento porque é isso que vai gerar emprego e distribuição de renda”. Em 10 de julho, o senador Inácio Arruda (PCdoB/CE) presidiu reunião dos organizadores do Integra Brasil na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, em Brasília. Participaram também os senadores Antônio Carlos Valadares (PSB/SE), José Pimentel (PT/CE), Lídice Da Mata (PSB/BA) e Maria do Carmo Alves (DEM/SE). Em 8 de agosto, foi a vez de os parlamentares da bancada federal do Nordeste na Câmara dos Deputados serem integrados nas discussões do Integra Brasil. Os três dias de seminário discutiram temas para a formação de uma agenda comum, com o objetivo de unir verdadeiramente o Nordeste tanto internamente quanto em relação ao resto do país, aproximando os parlamentos e os governos da sociedade. “O Integra Brasil não termina aqui, ao contrário, ele apenas começa”, afirmou a presidente Nicolle Barbosa durante a solenidade de encerramento. Segundo ela, o Temos de voltar a logística de exportação do Brasil para o Nordeste. Danilo Forte, deputado federal (PMDB/CE) Setembro de 2013 25 Aspectos sociais e ambientais ransformações social, urbana e ambiental do Nordeste foi o tema discutido no painel moderado pelo ex-governador do Ceará, Gonzaga Mota, durante o seminário Integra Brasil. O economista, professor e coordenador da unidade de inteligência industrial do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI) da FIEC, Carlos Manso, apresentou dados compilados nos últimos dez anos que comprovam a evolução da renda per capita no Nordeste. Os motivos para tal evolução, segundo ele, foram o mercado de trabalho aquecido, o dinheiro dos programas de transferência de renda e a valorização do salário mínimo. Partindo de uma base fixa em 2003, ou seja, do mesmo patamar, a renda do nordestino cresceu em 51,98% desde 2003, enquanto os números do Brasil aumentaram 29,25% e os do Sudeste 19,73%. “Todos os setores populacionais nordestinos tiveram aumento de renda nos últimos dez anos. O Brasil tem experimentado redução das desigualdades”, disse Carlos Manso. A proporção de pobres na região Nordeste em 1995 era de 49%, enquanto no Brasil era de 27% e no Sudeste de 16,2%. Em 2011, o Nordeste registrou 24,7%, o Brasil, 12,5% e a região Sudeste, 6,4%. Houve também melhora no Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios nordestinos e de redução daqueles vulneráveis à pobreza. A região foi a que mais contribuiu para a expansão da classe média. Esta nova parcela da população tem consumido mais, conforme analisa o professor, devido a carências ainda não atendidas e à abertura à experimentação de novas marcas. “Estas foram o que eu chamo de vitórias recentes, mas há vitórias ainda mais fortes a serem buscadas, como o aumento de escolaridade, por exemplo”, analisa Carlos Manso, para quem a região ainda está na metade do caminho para chegar ao patamar da região Sudeste em renda e produtividade. “Ainda há muito espaço para desenvolvimento.” São dificuldades determinantes para escolhas futuras, o que é prejudicial ao desenvolvimento industrial, analisa o professor. Na indústria, está o cerne do desenvolvimento, da inovação. “Na verdade, o grande motor do desenvolvimento econômico é o ser humano. Muitas das mazelas que existem é porque não se pensou no nordestino, não se deu atenção para que as habilidades individuais dele fossem desenvolvidas, com base na educação. Educação é transversal para toda uma sociedade ser melhor”, defende Carlos Manso. A temática ambiental foi discutida pelo professor, ambientalista e diretor do Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Acadêmicas e Tecnológicas (Isepat), Rafael Santos Silva. Segundo ele, o desenvolvimento econômico deve ser baseado nos pilares social e ambiental: “Sem observar esses aspectos, qualquer processo de desenvolvimento, de modernização, será pautado no subdesenvolvimento”. Rafael Silva chamou a atenção para a desigualdade social nas capitais nordestinas, especialmente em Fortaleza, e para a violência, que, disse ele, acontece contra jovens de até 25 anos, pobres e moradores da periferia. Conforme o professor, a sociedade vive uma crise das instituições: “É importante que as instituições, governos, religiões, sindicatos, empresas, etc., sejam capazes de perceber necessidades e potencializar capacidades mínimas do seu público”. 26 JOSÉ SOBRINHO T Setembro de 2013 Gonzaga Mota moderou o painel Gonzaga Mota, como moderador do painel, ressaltou a necessidade de retomada da elaboração de planejamentos estratégicos no país e defendeu a educação como uma política de estado e a instalação do Estado Democrático de Justiça em substituição ao Estado Democrático de Direito, que considera injusto e permissivo com privilégios e desníveis. A seca que esteriliza capital onviver com a seca tem sido um desafio que até hoje nenhum governo foi capaz de superar. Cerca de 60% do território nordestino está no semiárido, região que permanece atrasada em vários aspectos. Para o economista e professor da Universidade Federal da Bahia, Armando Avena, o Brasil se acostumou com o fenômeno da seca, que desestrutura periodicamente a economia nordestina e esteriliza capital. A solução hidraúlica não resolveu, as políticas do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) destinada ao campo não foram implementadas e nunca houve um efetivo programa de convivência com a estiagem. Armando Avena disse, no seminário Integra Brasil, que as secas que se sucedem periodicamente desorganizam a produção regional, reduzem a capacidade de investimento, aumentando o nível de JOSÉ SOBRINHO C ARQUIVO SUDENE Novo papel da Sudene m 1959, a fim de promover e coordenar o desenvolvimento do Nordeste, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Para inserir a região rumo ao desenvolvimento, o então presidente Juscelino Kubitschek contou com as ideias e estratégias de atuação do economista Celso Furtado, que assumiu a superintendência do órgão, uma autarquia subordinada diretamente à Presidência da República, com conselho deliberativo de governadores e ministros de estado e planos diretores aprovados pelo Congresso Nacional. A partir de 1964, o órgão foi incorporado ao novo Ministério do Interior e teve autonomia, recursos e objetivos enfraquecidos. Em 2001, foi extinto a partir de denúncias para ser recriado em 2007, novamente como autarquia, mas agora vinculado ao Ministério da Integração Nacional. De acordo com especialistas, a Sudene falhou, pois não contribuiu para resolver os problemas estruturais da região. O diretor de gestão de Fundos e Incentivos e de Investimentos da Sudene, Henrique Jorge Tinoco de Aguiar, representante da instituição no seminário Integra Brasil, acredita que a Superintendência precisa se adaptar aos tempos atuais e aos novos desafios: “Antiga- E JOSÉ SOBRINHO endividamento, e são responsáveis pela manutenção de baixos índices de produtividade agrícola. Embora existam projetos importantes, como o da Transposição do Rio São Francisco, Avena considera que as ações em curso são pontuais. “O país nunca teve um plano estratégico e articulado para evitar que um fenômeno previsível fosse minimizado, sem desestruturar o sistema produtivo.” Apenas na Bahia, por exemplo, as perdas diretas com a seca em 2012 foram de 4,6 bilhões de reais. Se contabilizados efeitos no comércio, indústria e outros setores, as perdas são muito maiores, mostram estudos realizados pela Federação de Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia. O que mantém e movimenta a economia dessas localidades atingidas pela estiagem no semiárido são os programas de transferência de renda do governo e as aposentadorias de parte da população. Cerca de 52% dos recursos do Bolsa Família, segundo o economista, estão no Nordeste: “O Bolsa Família é ótimo, é político, mas não é transformador”. O dinamismo econômico regional é localizado e os programas de transferência de renda, bem como o aumento do salário mínimo, não são capazes de transformar a base produtiva, especialmente por conta da seca e do quadro fundiário, opina Armando Avena. Para ele, os programas de transferência de renda devem continuar, mas precisam ser reformulados e integrados aos processos produtivos. “Grande parte do dinamismo econômico no Nordeste se localiza nas chamadas ‘ilhas de modernidade’ concentradas nas capitais e regiões metropolitanas e em áreas localizadas de expansão agrícola e industrial.” A desregionalização das políticas públicas transforma a seca em apenas um problema localizado, quando se trata de algo regionalizado, que une os estados sob uma mesma bandeira, e que precisa ser tratado no âmbito de uma política regional. “O Nordeste requer um programa moderno de convivência com a seca, que é previsível e se repete ao longo dos anos. É preciso uma política federal e tecnologicamente avançada para enfrentar essa questão.” mente, a Sudene era um braço do governo federal para todos os assuntos relativos ao Nordeste, desde açudes até obras contra a seca. Hoje, a realidade é diferente. Temos de nos ajustar a esses novos desafios, que também são os desafios do Integra Brasil: Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, para realmente termos um papel de protagonistas nesse cenário”. O diretor garantiu que a Sudene poderá ajudar bastante o movimento, já que também é objetivo da entidade que os programas federais tenham viés regional. “Por exemplo, um programa de infraestrutura do Brasil tem de ter um capítulo do Nordeste, assim como um programa de banda larga, um programa de inovação. Temos características próprias, bem específicas e desafios de reduzir essas disparidades.” Jorge Tinoco chamou a atenção para a questão da desigualdade intrarregional: “Temos o litoral do Nordeste desenvolvido e as cidades do interior com problemas de terceiro mundo. Esse é um dever de casa para o qual também temos de ter a capacidade de fazer”. Ele exaltou a competência da iniciativa privada na atração de investimentos e desenvolvimento das regiões, mas também atentou para a necessidade dos investimentos públicos. “Precisamos da contrapartida da agenda que é de natureza pública: infraestrutura, comunicação, educação e incentivo à tecnologia.” “As empresas estão preparadas para vir para a região sob a ótica estrita de mercado. O crescimento está aqui”, disse, referindo-se ao fato de o Nordeste ter apresentado maior crescimento que o Brasil nos últimos períodos e ser um grande mercado consumidor. “O Nordeste poderia estar dando uma grande contribuição a toda essa situação de enfrentamento da crise econômica pela nossa capacidade de gerar consumo, de gerar produção, de trazer empresas. Precisamos pilotar melhor essas variáveis a fim de que possamos sair desse terremoto econômico com ganhos.” Jorge Tinoco Setembro de 2013 27 o painel Infraestrutura para o Desenvolvimento do Nordeste, do seminário Integra Brasil, o tom dos debates girou em torno do precário sistema logístico de transportes dos produtos nordestinos, apontado como um dos principais causadores do atraso em relação aos demais estados da federação. Dentre as soluções apresentadas pelos conferencistas a navegação de cabotagem e a união de todos os estados para cobrar dos governos a eficiência dos demais modais, especialmente ferrovias e estradas, foram apontadas como saídas para melhorar a competitividade da região. Na visão do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, os nove estados devem unir forças a fim de exigir soluções mais eficientes para o escoamento da produção. Fato que atualmente passa pelo sistema aquaviário. "É extremamente relevante o uso em larga escala desse modal para o desenvolvimento de qualquer região. Nesse sentido, afirmo que a navegação de cabotagem, transporte que ocorre entre portos da mesma região, é uma excelente saída para integrar ainda mais os eixos produtores.” Sérgio Machado, que disse se sentir à vontade e feliz por debater novamente os rumos da região em um encontro do CIC, entidade presidida por ele em 1982, contou que o Nordeste tem de se unir para cobrar evolução aos demais modais a fim de beneficiar a população. “Temos de brigar pela Transnordestina, a eficiência do São Francisco, além, claro, das ferrovias, que há muito foram deixadas para trás, mas que hoje poderiam contribuir sobremaneira para diminuir as desigualdades regionais.” Para o presidente da Transpetro, também falta na região maior investimento em novas tecnologias. Segundo ele, 86% das indústrias instaladas são de baixa tecnologia e não agregam valor aos produtos, resultando em baixo retorno financeiro. Citou uma pesquisa mostrando que das mil maiores empresas do país, apenas 7,20% estão no Nordeste, representando apenas 4,79% do faturamento: “A cadeia produtiva não tem vindo com as indús- JOSÉ SOBRINHO Mais logística e união entre os estados N trias que atraímos. Este fator diminui o lucro efetivo e os ganhos aos estados em termos de impostos e geração de emprego. É mais um motivo para pressionarmos os governos para investir recursos tecnológicos na região”. Na opinião de Sérgio Machado, há atualmente uma perceptível “desunião entre os estados”, fato que contribui para aumentar as desigualdades locais, e em relação às regiões Sul e Sudeste. Conforme ele, a intercessão de forças e ideias tem o poder de promover uma maior integração econômica, além de reduzir as desigualdades sociais. “Essa discussão aqui pode nos levar a um novo paradigma, com novos valores para o Reorientando a economia nordestina mbora venha crescendo um pouco acima da média nacional, a região Nordeste sofre, segundo especialistas, de uma estagnação há quase 50 anos, em relação ao resto do país. Com um PIB de 437,7 bilhões de reais, o que representa 13,5% do PIB nacional, a região é a terceira do país e, não bastasse a grande distância em relação ao desenvolvimento do Sul e do Sudeste, ainda sofre com desigualdades intrarregionais. Nos painéis Reorientação da Economia Nordestina e A Questão Político-Institucional e do Desenvolvimento do Nordeste, do Integra Brasil, foram discutidas alternativas e apresentados desafios para que o Nordeste consiga aproveitar o seu potencial e cresça, superando os desafios da seca e da pobreza. Segundo o secretário de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional, Sérgio Duarte de Castro, a reversão das desigualdades regionais ainda é muito tímida. “Mantido este ritmo de crescimento, o PIB per capita do Nordeste só chegará a 75% da marca nacional em 2074. Podemos esperar 50 anos?”, questionou. Somente os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, acrescentou Sérgio Duarte, detêm 64,5% do PIB do Nordeste, contra 35,5% referentes ao Piauí, Maranhão, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe. E 28 Setembro de 2013 Uma das grandes deficiências da região, para o secretário, são os investimentos em infraestrutura, embora nos últimos anos venham melhorando muito. Ele disse que a expectativa do governo federal é de duplicar a participação dos investimentos em infraestrutura nos próximos anos e isso tem um enorme efeito multiplicador se aproveitado do ponto de vista de política industrial, já que serve como estratégia visando atrair investimentos para o desenvolvimento regional. Mas para conseguir crescer, na visão de Sérgio Duarte, é preciso que a região supere desafios nas áreas da educação e capacitação profissional, infraestrutura, ciência, tecnologia e inovação, desenvolvimento produtivo, saúde e serviços básicos, como esgoto, água e gerenciamento dos resíduos sólidos, além da sustentabilidade. É preciso uma nova política nacional de desenvolvimento para o país, defende o secretário: “O Brasil vem construindo desde o pós-guerra uma série de instrumentos tidos como clássicos, como os fundos de desenvolvimento e incentivos fiscais. Mas, quando olhada a estrutura de desenvolvimento das regiões brasileiras, percebemos que não são pensadas como forma de estratégia de desenvolvimento regional. Queremos um pacto de Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com as federações de indústrias dos nove estados nordestinos, para diagnosticar os principais gargalos na infraestrutura de transportes da região) já está em execução visando diminuir os custos com o transporte em 6 bilhões de reais anualmente: “O primeiro passo a ser dado é fortalecer a técnica de cabotagem, que vai representar uma economia de 1 bilhão de reais no transporte na região”. Na sequência de prioridades, o melhoramento das ferrovias e, por último, a reestruturação das estradas. “As rodovias também são extremamente relevantes. Isso porque, até 500 quilômetros, não existe transporte mais barato e rápido para as cargas. Sendo assim, as rodovias devem continuar ligando os estados nordestinos, mas com eficiência", esclareceu Renato Casali. Nordeste e o país. O que desejamos é um Brasil com equidade social e regional.” As desigualdades interregionais e estaduais também foram destacadas pelo Secretário de Planejamento da Paraíba, e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado do Planejamento (Conseplan), Gustavo Maurício. Ele acredita que as diferenças são motivadas por questões políticas que se arrastam há décadas. "Os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará concentram os maiores investimentos na logística da região, deixando os outros seis para trás. Essa característica centralizadora precisa acabar. Precisamos, em primeiro lugar, resolver nossas desigualdades para, depois, competir com os estados das regiões Sul e Sudeste.” Gustavo disse que, mesmo com a abertura de novas oportunidades de negócio e o aumento do emprego formal, que colaboraram para o Nordeste aumentar sua participação no PIB, chegando a 13,5% em 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado ainda é muito aquém do potencial da região, implicando mais investimentos para consolidar o crescimento regional. “Precisamos de mais investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, infraestrutura energética, rede de dados e comunicação, dentre outros indutores do progresso. Temos de buscar isso de forma coesa, não por interesses particulares, mas sim regionais.” De acordo com o presidente da Macrologística Consultoria, Renato Casali Pavani, o estudo Nordeste Competitivo (levantamento feito pela federação não só no ambiente do governo federal, mas também nos estados e municípios, em torno de metas muito concretas”. De acordo com Sérgio Duarte, observadas as transferências obrigatórias desses fundos, vê-se que a capacidade de arrecadação do Nordeste é cerca de 50% menor do que a média nacional e menos de um terço da de São Paulo. E mesmo quando se comparam todas as transferências, em níveis estaduais e municipais, disse o secretário, a receita disponível per capita do Nordeste é de 2 414 reais, contra 3 107 reais no Brasil e 3 941 reais em São Paulo. “Imagine que a cidade de Paulínia (SP) tem receita de 9 068 reais, valor quase 13 vezes maior que Campo Alegre (AL), com 719 reais.” GIOVANNI SANTOS Sérgio Duarte Indústria naval e cabotagem Após algumas décadas de estagnação, a indústria naval brasileira retomou o fôlego no final da década de 1990 e encontra-se em situação bem melhor. Atualmente, há 353 obras encomendadas para serem entregues até 2020, ao custo total estimado de 100 bilhões de dólares, sendo 80 bilhões para a construção de plataformas, 14 bilhões para embarcações de apoio e 7 bilhões na fabricação de navios. Contudo, navios e barcos estrangeiros ainda dominam o comércio de cabotagem no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas do Setor Naval e Offshore (Abenav), o Brasil gasta cerca de 15 bilhões de dólares com fretes em transportes ao longo da sua costa. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), de setembro de 2012, apontam que do total de embarcações brasileiras, apenas 11,7%, ou seja, 150 operam na costa. As demais transportadoras são estrangeiras. Outro dado que também preocupa foi divulgado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em julho deste ano. Segundo a Pesquisa CNT de Transporte Aquaviário – Cabotagem 2013, entre 2010 e 2012, os investimentos públicos federais em transporte marítimo tiveram redução de 56%. O valor efetivamente pago passou de 816 milhões de reais para 357 milhões de reais. Outro ponto negativo destacado pela CNT é o baixo percentual do valor executado, ao se comparar o montante autorizado nas Leis Orçamentárias Anuais com o total pago no período. Em 2012, por exemplo, ano no qual foi aprovado 1,1 bilhão de reais no orçamento, apenas 816 milhões de reais foram pagos. No total, nos últimos dez anos, a CNT alerta que dos 5,9 bilhões de reais autorizados, apenas 3,2 bilhões de reais foram destinados efetivamente a melhorias nos portos – navegação de longo curso e cabotagem. Números de 2013 mostram que a indústria naval no Brasil responde hoje por mais de 70 000 empregos gerados em três setores: plataformas e sondas, embarcações especializadas e construção de navios. Os postos de trabalho estão concentrados nos estados do Rio de Janeiro (com 50% das atividades), Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Setembro de 2013 29 Questões-chave para o novo Nordeste om a experiência de já ter sido vice-governador e secretário de Planejamento do Estado, o engenheiro Francisco Maia Júnior defendeu, durante o painel Infraestrutura e Desenvolvimento do Nordeste, do seminário Integra Brasil, a construção de um futuro de desenvolvimento para a região, com a consolidação de um novo Nordeste. Segundo ele, a região carece há muitos anos de uma transformação. "Isso não tem acontecido somente pelo aspecto burocrático, mas também político." O Nordeste, para ele, nunca se uniu em torno dessa transformação. "Não me conformo em ver o Nordeste como região problema, sendo sempre tratado mediante questões pontuais. No governo Tasso, pensou-se o Ceará como projeto de estado, mas não estamos fora de um contexto regional, e principalmente nacional.” Na visão de Maia Júnior, o Nordeste, sobretudo sua porção semiárida, requer atenção diferenciada do governo federal, baseada em ações firmes e inovadoras. Em primeiro lugar, é preciso romper com a visão ultrapassada, "que só enxerga na região problemas e se resigna a propor ações assistencialistas, que jamais avançam na superação de desafios". Para isso, coloca como questões-chave: qual é o equilíbrio regional a ser atacado?, qual a meta de redução desse desequilíbrio? e quais os instrumentos para alcançar essa meta? Com relação ao primeiro questionamento, considera que o desequilíbrio regional deve ser definido de forma objetiva a partir do Índice de Desenvolvimento Social (IDS). "É preciso decisão firme voltada à destinação de boa soma de recursos fruto da riqueza nacional para as regiões menos favorecidas. Maia Júnior cita, por exemplo, como erro, a proposta de distribuição dos recursos do pré-sal de forma igualitária, por significar a perpetuação dessas desigualdades. "Não pode ser igualitária. Tinha de ser para a educação, mas a destinação não poderia ter sido dessa forma." Em relação à meta de redução dos desequilíbrios, Maia Júnior sugere que o novo Nordeste deve ter como foco reduzir a sua disparidade social a um ritmo superior ao do crescimento econômico nacional. "Nosso índice de desenvolvimento social é pequeno. Nossos empregos têm baixo valor agregado e assim não conseguimos reter talentos. Outro aspecto é que ainda há gente passando fome no Nordeste." Para ele, há dois vetores fundamentais a se levar em conta para se mudar tal quadro: capital humano e infraestrutura. "E nós não vamos quebrar esses paradigmas em termos de indicadores sem a união da classe política. C 30 Setembro de 2013 JOSÉ SOBRINHO Infelizmente, o que se vê por parte da representação política da região é uma disputa de balcão, por questões pontuais. E isso, segundo ele, mantém o sistema federativo fragilizado. No que diz respeito à terceira questão-chave, ele indica algumas propostas prioritárias. Uma delas é o conjunto integrado de políticas decenais que trabalhem o semiárido não como uma região problema, mas rica em potenciais econômicos inexplorados. O novo semiárido, como propõe, seria o governo assumindo papel permanente e emancipador, em contraponto ao atual modelo emergencial e clientelista. Como ações nesse sentido, um plano decenal de logística de recursos hídricos, com participação integrada dos estados e do governo federal; política agressiva de inovação e empreendedorismo; política de capacitação da população local; política de crédito diferenciado; política de infraestrutura específica; política de transferência de renda com mecanismos de contrapartida da parte dos beneficiários; sistema de alerta de vulnerabilidade futura e um arcabouço institucional de suporte. Outras iniciativas seriam voltadas ao desenvolvimento de uma logística de Maia Júnior infraestrutura integrada, composta, dentre outras, pela duplicação das rodovias que ligam as capitais nordestinas, formando o corredor turístico Costa Dourada; conclusão da interligação da malha de gasodutos Sudeste-Nordeste (Gasene) e a construção de gasoduto MeioNorte, alcançando o Maranhão; diversificação e ampliação da capacidade de geração da matriz energética da região do biodiesel, álcool, energia eólica e gás importado; implantação de uma rede de telecomunicações baseada em internet banda larga e a implantação de uma rede de intermodais de carga. Os desafios da inovação D GIOVANNI SANTOS outor em economia aplicada pela Universidade de Campinas e técnico em planejamento do Ipea, Aristides Monteiro Neto apontou, por ocasião do painel Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação e Cultura para o Desenvolvimento do Nordeste, no seminário Integra Brasil, que, para haver avanços significativos na região, é preciso articular três frentes, associando as bases científica e tecnológica existentes com a base produtiva (e suas interrelações). Para ele, todavia, ciência e tecnologia não são apenas laboratório: "O saber fazer em suas estruturas material e imaterial também faz parte disso, quadro que, de certa forma, foi abandonado com a desregionalização das estruturas produtivas". A partir do conceito da articulação entre as três frentes, porém, Aristides aponta dois conjuntos de iniciativa. Uma delas seria o apoio a segmentos específicos da estrutura produtiva regional, ao que chamou de dimensão vertical. A outra se refere à transposição do conhecimento (dimensão horizontal). Quanto à transposição do conhecimento, Aristides indica, como principais desafios, associar tecnologia, educação e negócios; ter como principal função a articulação e mobilização de competências; e estar organizado em estruturas flexíveis, compatíveis com as especificidades do setor econômico e da base institucional de educação e C&T da região onde se instalem. Sobre o aspecto relacionado ao apoio a segmentos específicos, os desafios seriam modernizar atividades tradicionais (fruticultura, apicultura, algodão, aquicultura, avicultura, ovinocapricultura, açúcar e álcool, biodiesel, fertilizantes, têxtil e confecções, couro e calçados), bem como setores econômicos de grande potencial para aumentar intensidade tecnológica da estruAristides Monteiro tura produtiva regional (fármacos, equipamentos de base tecnológica e software). Para superar esses desafios, sugere, dentre outras ações, promover uma relação estreita entre governos, academia, instituições de pesquisa e o tecido produtivo, além de buscar uma relação recorrente das empresas com a inovação. Outra transformação deve ocorrer no âmbito das instituições de fomento, com as instituições tradicionais (Sudene e BNB, etc.) tendo de se reorientar para esse novo enfoque. Transposição para garantir reserva hídrica maior instrumento de combate à seca é a construção de adutoras por vários aspectos. Não polui, a água não evapora e o efeito é a extensão mais capilarizada de distribuição dos recursos hídricos. A opinião foi exposta pelo ex-secretário de Recursos Hídricos do Ceará e atualmente diretor-presidente da IBC Engenharia Consultiva, Hypérides Macedo, ao participar da temática recursos hídricos, dentro do painel Infraestrutura para o Desenvolvimento do Nordeste, no seminário Integra Brasil. Segundo ele, nesse aspecto, o Ceará foi pioneiro na construção de adutoras de grande porte na região da Ibiapaba. "Lá, a experiência foi um sucesso, tanto que hoje só existe um carro-pipa na região em plena seca". O Ceará, ao todo, tem 1 500 quilômetros de adutora, o que para o ex-secretário ainda é pouco. "O grande projeto para enfrentar as secas teriam sido as adutoras, mas isso não ocorreu. O certo era ter vindo muita tubulação, porque água nós temos." Nesse sentido, entende, a transposição das águas do Rio São Francisco é necessária porque garante uma reserva hídrica para ser usada quando for necessário. Hypérides exemplifica com uma metáfora sobre o uso de um pneu sobressalente, dizendo que, por garantia, é preciso ter. Por outro lado, acrescentou, a água parada se perde na evaporação, sendo muito mais interessante que O Adutora em Canindé, no Ceará seja usada de forma racional. "Agora, não se pode trazer a água sem um sistema de ramificação capilarizado. A transposição das águas do Rio São Francisco é como irrigar a mão. Mas é preciso que se chegue aos dedos. Sem isso, não terá grandes efeitos." Setembro de 2013 31 Progresso centrado em três estados esquisa divulgada em março deste ano pela Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento revela que o ano de 2012 foi positivo para a economia dos três principais estados do Nordeste – Bahia, Pernambuco e Ceará. O PIB apresentou crescimento real de 2,3% em Pernambuco, de 3,1% na Bahia e de 3,7% no Ceará. Índices superiores ao aumento do PIB nacional no ano passado, de 0,90%. Outro dado que mostra o deslocamento da economia da região dos demais estados brasileiros foi apresentado durante o primeiro Exame Fórum Nordeste, realizado em Recife, em agosto passado. O evento destacou que o Nordeste tem poder de compra estimado em quase 450 bilhões de reais, valor que corresponde à economia de países como Peru e República Checa, de acordo com matéria da revista Exame. “Ali, onde vive mais de um quarto da população brasileira, a classe média foi engrossada em 20 pontos percentuais na última década, alcançando 42% dos habitantes. A classe A também ganhou agregados e saltou de 5% para 9% desde 2002”, diz a reportagem. Segundo a economista Tânia Bacelar, sócia-diretora da Ceplan e uma das palestrantes do painel Estratégias para o Desenvolvimento do Nordeste, realizado no último dia do Integra Brasil, a economia do Nordeste de fato está evoluindo, em termos gerais, acima da nacional, embora a região continue sofrendo os efeitos de mais um longo período de estiagem, ocasionando quebras de safras e reduções significativas no PIB agropecuário. Já a indústria nordestina apresentou elevação, com um aumento de 1,7% na produção, enquanto a produção industrial nacional caiu 2,7%. Na Bahia, o PIB industrial cresceu 3,8%, em Pernambuco, 3,7% e no Ceará, 2,6%. Para Tânia Bacelar, o bom desempenho é resultado da atração, nos últimos anos, de importantes investimentos, com destaque para aqueles que se destinam ao setor industrial. Outro elemento que explica o crescimento da economia nordestina é o aumento dos investimentos em infraestrutura, em especial aqueles realizados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Tais investimentos, com os avanços do Programa Minha Casa, Minha Vida coincidindo com a fase de implantação dos investimentos industriais, têm assegurado dinamismo à atividade da construção civil, que também resiste a ceder a movimento mais grave de desaceleração”, explicou. Apesar da euforia em relação ao Nordeste, a economista se mostra cautelosa e destaca que as maiores forças produtivas do país e os principais institutos de pesquisa e educação se encontram no Sul e Sudeste, o que acaba limitando o desenvolvimento da região. “Temos atraído refinarias, siderúrgicas e montadoras de veículos, dentre outros investimentos GIOVANNI SANTOS P Tânia Bacelar 32 Setembro de 2013 significativos, mas vale lembrar que estas conquistas ainda não bastam para levarmos o desenvolvimento além do nosso litoral.” Tânia Bacelar adverte que o progresso do Nordeste ainda está centrado nos três maiores estados: “Para haver um crescimento homogêneo, beneficiando periferia e capital, é preciso sair dos grandes centros e avançar para o interior”. Cidade médias Os painelistas concordaram que existe uma “perigosa” centralização no desenvolvimento do Nordeste, especialmente nas capitais dos três estados mais importantes (Bahia, Pernambuco e Ceará). Uma das saídas apresentadas para este problema foi a criação de polos industriais e centros de educação nas cidades do interior, especialmente nas de médio porte, com população variando entre 100 000 e 300 000 habitantes. O objetivo é descentralizar os investimentos e diminuir as desigualdades na região. “Os investimentos em polos industriais, aliados à implantação de centros tecnológicos de educação em cidades médias, vão conseguir descentralizar as produções do litoral e desenvolver a região de forma igualitária”, acredita Tânia Bacelar. Para ela, essas cidades são importantes pelo papel de atuarem no desenvolvimento de outras que estão ao seu redor. A economista cita, como exemplo a ser seguido, as cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, no Ceará; Mossoró, no Rio Grande do Norte; e Caruaru, no Pernambuco. “Quando essas cidades médias se estabelecem, temos de investir em planejamento urbano, transporte público e saneamento para que cresçam. É mais fácil projetá-las para se desenvolver do que fazer isso em grandes metrópoles como Recife e Fortaleza.” A descentralização dos investimentos para o interior como forma de beneficiar toda a população do estado, e não apenas os grandes centros Paulo Ferraz GIOVANNI SANTOS GIOVANNI SANTOS Maria Lúcia bolsos do BNDES continuem concentrados apenas nos estados mais importantes”. Segundo Paulo Guimarães, o banco financiou até agosto deste ano 11 bilhões de reais e planeja elevar o patamar do que foi custeado em 2012. “Nosso foco são projetos de longo prazo para buscarmos estimular a competitividade entre os estados.” O Programa de Apoio ao Investimento dos Estados (Proinveste) já investiu 1,087 bilhão de reais no Ceará, de um total de 7 bilhões de reais para o Nordeste em 2013. Semiárido urbanos, também foi defendida pela secretária do Desenvolvimento Urbano de Sergipe, Maria Lúcia Falcón, para quem esse assunto passa pela construção de uma relação de confiança entre estado e sociedade: “Pensando no coletivo, precisamos incentivar a instalação de indústrias no interior dos estados, bem como de centros de educação. Isso vai gerar emprego de qualidade e aumento na renda”. Um dos exemplos que citou foi o planejamento participativo de Sergipe. Lá, o governo criou um canal de diálogo com diversos segmentos da sociedade para descobrir as reais demandas da população em cada município, resultando no Programa Sergipe Cidades. Tendo como parceiro o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e demandado pela sociedade civil organizada, o Sergipe Cidades vem realizando centenas de obras por todo o estado. Atualmente, o programa é tido como modelo nacional de planejamento urbano territorial. “O Sergipe Cidades é um programa pensado, elaborado e executado com a participação de várias instâncias e parceiros. Para o seu sucesso, foram necessárias a pactuação com prefeitos e sociedade e a parceria com o BNDES”, contou Maria Lúcia. O chefe do Departamento Regional Nordeste do BNDES, Paulo Ferraz Guimarães, aproveitou o exemplo de Sergipe para dizer que o banco tem interesse em financiar ideias que promovam o desenvolvimento, mas existe a dificuldade em encontrar bons projetos, sobretudo em municípios de médio porte. “O exemplo de Sergipe é emblemático. O projeto foi uma escolha do estado, pactuado com a população, e deu muito certo, tanto que hoje temos um caso de sucesso nacional. Ainda há o que avançar, mas a lição é que é possível fazer um projeto como esse.” Por causa dessa falta de bons projetos, Paulo Guimarães não se mostra otimista quanto à melhoria da distribuição da riqueza na região: “O Nordeste necessita de investimentos para o aumento da competitividade regional, mas, por causa da baixa capacidade de gestão e de investimento de muitos municípios, a tendência é que os desem- A necessidade de preservação e de desenvolvimento do semiárido nordestino foi destacada pelo presidente do Comitê Científico da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas, economista Antônio Rocha Magalhães, para quem a saída para o semiárido nordestino é a economia verde. Nesse cenário, as ações humanas são neutras em relação aos impactos ambientais adversos como a emissão de gases de efeito estufa e poluição do ar, água e solo. A exploração do semiárido hoje, segundo o economista, está além da capacidade de regeneração do ambiente: sua população necessita ser inserida no contexto econômico das áreas mais desenvolvidas da região por meio da qualificação e melhoria da infraestrutura. “O sertão nordestino já se encontra no limite do clima e sofre com as secas periódicas. Qualquer variação do clima acarreta redução na produção agrícola, perdas de rebanhos, aumento da pobreza e desertificação. Sendo assim, sua população precisa ser assistida. O Nordeste como um todo precisa estar preparado para competir com os demais estados, mas temos também de criar oportunidades para os mais pobres. Isso é promover a integração social”, disse Rocha Magalhães. Setembro de 2013 33 GIOVANNI SANTOS Responsabilidade social Roberto Sérgio, em nome da FIEC, ao lado da secretária Mariana Lobo, assina convênio com a Sejus Futuro a cores Parceria entre FIEC e Sejus permite captar mão de obra carcerária pela indústria. Já o projeto Cores da Liberdade, desenvolvido pela Hidracor, qualifica e profissionaliza detentos em pintura Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e a Secretaria de Justiça do Estado do Ceará (Sejus) vão atuar em conjunto para oferecer a oportunidade de qualificação e emprego para egressos do sistema prisional nas indústrias cearenses. A parceria foi firmada durante solenidade ocorrida em 3 de setembro no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza, por intermédio da assinatura de termo de cooperação técnica entre as duas entidades. Durante o evento, foi apresentado o projeto Cores da Liberdade, desenvolvido pela indústria Tintas Hidracor S/A, cujo objetivo é qualificar e A 34 Setembro de 2013 profissionalizar em pintura 250 detentos em dez unidades de privação provisória de liberdade no estado. Como parte do termo de cooperação firmado em setembro, a Sejus ficará responsável por recrutar a mão de obra necessária e qualificada para atender às demandas das empresas; fornecer lista dos internos aptos a trabalhar, que estejam com a carteira de identidade e o CPF regularizados, além de dados e informações a respeito do cumprimento da pena, bem como da habilitação profissional. A ideia é ensejar a capacitação dos internos participantes, preparando-os para retornar ao convívio social e ao mercado de trabalho. A FIEC, por meio do Núcleo de Responsabilidade Social Empresarial (NRSE) do Serviço Social da Indústria (SESI/CE), compromete-se a informar e intermediar nas empresas o acesso à captação de mão de obra, além de articular os meios necessários à realização desse trabalho compartilhado. A parceria com a Sejus surgiu após encontro da secretária Mariana Lobo com a direção da FIEC no primeiro semestre de 2013, quando expôs as iniciativas desenvolvidas pela pasta. Na ocasião, o presidente Roberto Proença de Macêdo disse que a instituição iria se empenhar em procurar nos sindicatos filiados o apoio para adequar os egressos do sistema penitenciário encaminhados pela secretaria dentro das necessida- des das empresas. Um dos pontos ressaltados por Mariana Lobo é que eles são selecionados e acompanhados por meio de equipe multidisciplinar (composta por assistentes sociais, advogados, agentes penitenciários e psicólogos da secretaria). Na seleção para escolher os que estão aptos a participar dos projetos, são avaliados, segundo Mariana Lobo, grau de sociabilidade, capacidade técnica, comportamento e vontade de reinserção social. Caso não haja profissionais com o perfil que a empresa precisa naquele momento, poderá ser formada uma capacitação específica dentro da área de interesse. Para formar os egressos, a Sejus vem promovendo cursos de Cores da Liberdade profissionaliza presos IPPOO II é a quarta unidade prisional do estado a receber o projeto Cores da Liberdade. Serão capacitadas em pintura 25 pessoas. O projeto terminou na Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba, na Casa de Privação Provisória de Liberdade I (CPPL I) e no Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa (IPF). Até o final do ano, mais seis unidades serão beneficiadas, profissionalizando 250 detentos em Pintura Imobiliária Básica. O Cores da Liberdade é uma parceria entre a Sejus e a Tintas Hidracor que, além de profissionalizar, permite oferecer nova atmosfera às unidades prisionais por meio da pintura dos locais de vivência dos presos. O Cores da Liberdade, segundo Cristiane Gadelha, coordenadora de Inclusão Social do Preso e Egresso (Cispe) da Sejus, tem foco na promoção da reinserção social, a pacificação das vivências e melhoria na autoestima dos aprisionados. Cada apenado, ao terminar As unidades prisionais recebem cores vivas, mudando a atmosfera GIOVANNI SANTOS O o curso, recebe o certificado e um kit pintura, composto por instrumentos de trabalho para iniciar a carreira como pintor. Ela ressalta ainda que, além da educação direcionada em pintura imobiliária, o projeto traz novas cores às áreas comuns dos presídios, promovendo o bem-estar no ambiente antes marcado pelo cinza e preto, para além da limpeza, renovação e proteção das paredes e grades. O projeto conta com o apoio da empresa Pincéis Atlas, que reforça a parceria entre as iniciativas pública e privada. “A Hidracor, uma empresa genuinamente cearense que completa 50 anos em 2013, tem como valor a crença que o homem pode fazer a diferença. Por isso, investe em projetos que a engrandecem enquanto agente social produtivo. Esperamos que o projeto Cores da Liberdade ultrapasse o limiar de negócio da empresa e passe a gerar transformação na vida dos detentos, levando um pouco mais de cor às unidades prisionais e formando pessoas para o mercado de trabalho", diz David Emerson, gerente de Marketing da Hidracor. Segundo o diretor-geral, Marcos Correia, fazer parte do projeto é uma experiência marcante para os profissionais envolvidos porque se trata de uma ação com reflexo direto na mudança de vida das pessoas. Já Augusto Figueiredo, da Pincéis Atlas, conta que se sente honrado em participar da iniciativa. Ele usou uma metáfora durante a solenidade no IPPOO II, lembrando que a estrada da vida nem sempre é reta: “Muitas vezes, essa estrada é cheia de curvas, e nem sempre podemos contar com quebra-molas para poder refletir em alguns momentos”. No caso do Cores da Liberdade, considerou ser um desses instantes em que se pode pensar em um novo recomeço, refletindo a respeito dos erros cometidos e nos passos que poderão ser dados em busca de um futuro melhor e mais digno. Setembro de 2013 35 GIOVANNI SANTOS Formandos do curso de pintura promovido pela Hidracor capacitação nas seguintes funções: artífices da construção civil, armador de estrutura de concreto, eletricista de instalações, pedreiro e bombeiro hidráulico. Ao todo, 400 vagas dentro e fora do presídio estão sendo ofertadas em 33 cursos que serão ministrados até o final do ano por meio de convênio firmado com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). As empresas que tiverem interesse poderão conveniar-se com a Sejus para desenvolver programas de ressocialização, seja mediante termos específicos para a instalação de módulos da empresa dentro de unidades prisionais, ou por meio de convênio direto para a contratação de mão de obra fora das unidades (regimes semiaberto e aberto). Durante a solenidade de assinatura do termo de parceria no IPPOO II, Mariana Lobo fez questão de destacar o empenho da FIEC desde o primeiro contato com a direção da entidade, abrindo as portas para o projeto, dando exemplo à sociedade de que é possível propiciar nova chance aos que em algum momento da vida cometeram erros. Ela destacou que a ação da instituição mostra que a iniciativa da Sejus em tentar oferecer oportunidades de recuperação aos detentos está no rumo certo. “Gostaria de agradecer a toda a sociedade, aqui representada pela FIEC, que tem acreditado na nossa luta de dar um novo começo às pessoas que estão 36 Setembro de 2013 encarceradas. Todas as pessoas merecem um novo recomeço e é este o sistema penitenciário que queremos: um espaço de recuperação e transformação social.” Ao se dirigir aos internos, a secretária lançou um desafio: "Abracem esta oportunidade. A responsabilidade de vocês é muito grande. O projeto está dando certo porque vocês se envolveram nele. Mostrem que valeu a pena e abram as portas para que outras empresas possam dar mais chances a quem está lá dentro esperando o mesmo. Vocês tem a responsabilidade de mostrar que cometeram um erro, pagaram o preço que a Justiça aplicou, mas que estão dispostos a mudar e recomeçar. Eu e a equipe da Sejus estaremos do lado de todos que quiserem construir uma vida nova lá fora”, assegurou Mariana Lobo. O vice-presidente da FIEC, Roberto Sérgio Oliveira Ferreira, que assinou o termo de compromisso, destacou a garra e a perseverança de Mariana Lobo em relação à reinserção de egressos do sistema prisional na sociedade. "Existem gestores, e gestores que fazem a diferença", referindo-se a ela. Roberto Sérgio saudou os internos como futuros profissionais: “Nós, do Sistema FIEC, estamos fazendo a nossa parte, a sociedade está dando oportunidade e ajudando o estado. Agora é a vez de vocês mostrarem que têm este potencial”. GIOVANNI SANTOS Lauro Martins, presidente do Sindpan, conhece instalações do IPPOO II Sindpan estuda implantação de unidades na CPPL II Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado do Ceará (Sindpan) está avaliando a possibilidade de instalar unidades produtoras na Casa de Privação Provisória II (CPPL II), em Itaitinga. O presidente da entidade, Lauro Martins, esteve no final de agosto visitando as instalações da unidade prisional para iniciar a elaboração do projeto. A implantação das unidades produtoras se daria por meio de operação consorciada entre as padarias, visando baratear custos. De acordo com o dirigente classista, antes mesmo da ideia, o sindicato já estava estudando com empresas filiadas como criar um modelo de operação no qual houvesse o aproveitamento conjunto dos recursos por parte dos interessados. Lauro Martins explica que, em termos de logística, a instalação das unidades produtoras na CPPL II não traria dificuldades, pois ali seria fabricada a massa, posteriormente congelada. Depois, dependendo da demanda, seria enviada às padarias para ser assada em forma de pão e comercializada. Conforme o presidente do Sindpan, cerca de oito padarias demonstraram interesse em se instalar no local, número que deverá ser ampliado. Como vantagem direta aos interessados em aderir ao consórcio, Lauro cita o custo zero com água e energia, que ficaria a cargo da CPPL II. O Condições de trabalho O preso tem o direito social ao trabalho (art. 6º da Constituição Federal). Ao Estado incumbe o dever de dar trabalho ao condenado em cumprimento de pena privativa de liberdade, ou àquele a quem se impôs medida de segurança detentiva. O trabalho do preso, conforme artigo 28, parágrafo 2º da Lei de Execução Penal, não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas a atividade laboral permite abreviar o tempo de duração da sentença (remição). A contagem do tempo para o fim de remição será feita em razão de um dia de pena por três de trabalho (art. 126 da LEP). O preso recebe ¾ do salário mínimo. Setembro de 2013 37 SEBASTIÃO ALVES Responsabilidade social Olhar para as origens Há 13 anos, Fireso realiza o programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio Artístico, que incentiva a manutenção e a sustentabilidade das culturas indígenas de diferentes etnias no Ceará ontribuir para o desenvolvimento comunitário das etnias indígenas do Ceará, promovendo a equidade social por meio do fortalecimento da identidade social e cultural das comunidades atendidas. Esta é a missão do Programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio Artístico, implantado há 13 anos pelo Instituto FIEC de Responsabilidade Social (Fireso). Atendendo às etnias Tremembé, JenipapoKanindé, Kanindé de Aratuba, Tapeba e Pitaguary nos municípios de Itarema, Itapipoca, Aratuba, Aquiraz, Maracanaú, Pacatuba e Caucaia, o programa realiza atividades que promovem a sustentabilidade cultural e incentivam a geração de renda nas comunidades. A realização de oficinas nas próprias comunidades é a principal atividade do programa. No último mês de julho, o Fireso promo- C 38 Setembro de 2013 veu oficinas em vários municípios. João Evangelista, professor de serigrafia, ministrou oficina para a etnia Tremembé da comunidade de São José e Buriti, em Itapipoca. A artesã Telma Félix realizou a oficina de tapete étnico também para os tremembés da localidade Itapera, em Itarema. Este ano, foram seis oficinas até agora. Cada oficina atendeu a cerca de 20 pessoas objetivando desenvolver técnicas artesanais para aperfeiçoar a qualidade do artesanato produzido pelos indígenas. Os produtos são vendidos nas próprias comunidades, em feiras e eventos, e também na loja Toré, Torem mantida pelo Instituto, em parceria com o governo do estado, na Central de Artesanato Luiza Távora (Ceart), em Fortaleza. Idealizado por Wânia Dummar, presidente do Conselho de Em algumas localidades, certas práticas culturais ancestrais não faziam mais parte da rotina dos indígenas, postas de lado por conta das influências da vida moderna. “Nosso trabalho é resgatar essa arte que estava adormecida”, afirma Ana Célia. O intercâmbio e a troca de técnicas de artesanato entre as etnias também são estimulados pelo Fireso, visando diversificar a atividade e conhecimentos. “Multiplicadores indígenas loucistas e ceramistas levam seus fazeres a outras etnias, promovendo a troca de conhecimentos.” Um dos projetos futuros do Fireso na área de memória e preservação do acervo cultural é a criação do Centro de Referência da Cultura Indígena, um espaço que passa por estudo de viabilidade para exposição, informação e formação de novas opiniões e mentalidades para pesquisadores e alunos interessados na questão. O programa Difusão da Cultura Indígena é realizado com a ajuda de parceiros, como Marisol, Associação Missão Tremembé, Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (Copice), Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social, Serviço Social da Indústria (SESI/CE) e Conselho Nacional do SESI. O Fireso busca potencializar ações socialmente responsáveis e promover boas práticas de responsabilidade social em parceria com a sociedade civil, estimulando a formação de redes de colaboração. Um braço executor da área social da FIEC, a entidade desenvolve suas ações em quatro programas prioritários: Formação Cidadã, Difusão da Cultura Indígena, Segurança Pública e Voluntariado. SEBASTIÃO ALVES Responsabilidade Social (Cores), diretora de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e vice-presidente do Fireso, o programa presta um importante serviço à sociedade, à medida que privilegia a manutenção das culturas mediante a preservação das práticas artísticas e artesanais. Segundo a analista responsável pelo programa Difusão da Cultura Indígena, Ana Célia Freitas, todas as ações realizadas com as comunidades são discutidas de forma coletiva antes de serem realizadas. “Existe uma grande preocupação em respeitar as culturas, com conteúdos que não interfiram na sua dinâmica.” As oficinas são voltadas a jovens e adultos. Para as crianças, são realizadas as de desenho e criatividade, a fim de estimular talentos. Geralmente, explica Ana Célia, as atividades da oficina de artesanato ocorrem com grupos produtivos, ou ainda com artesãos isolados. “Não se restringem somente à questão da técnica, para manutenção da memória ancestral, mas também a conteúdos que os capacitem para a gestão de negócios.” Outro foco das oficinas é a preocupação com o meio ambiente. Isso porque, conta a analista, os materiais utilizados nos artesanatos são encontrados dentro da própria comunidade, e existe a preocupação para que não ocorra a degradação do meio ambiente na extração da matéria-prima. “Procuramos focar em materiais que existem em abundância. Um exemplo é a utilização dos resíduos de cascas de coco, sementes nativas e corantes naturais, como o toá extraído dos barrancos dos rios.” Fireso realiza oficinas nas próprias comunidades indígenas Setembro de 2013 39 Entrevista Wânia Dummar “Descoberta do outro é um trabalho de transformação social” A Revista da FIEC conversou com Wânia Dummar sobre a base conceitual do Programa Difusão da Cultura Indígena e as perspectivas das ações do programa nas comunidades indígenas do Ceará. Veja a entrevista Por que o Fireso optou por trabalhar com a temática indígena? Pelo desafio de trabalhar com as diferenças sociais profundas, com o “outro invisível” que habita o nosso mesmo chão. Esse programa possibilitou um novo olhar por parte do empresariado cearense de como enfrentar o problema das desigualdades sociais, desenvolvendo um papel que não pode ser exercido somente pelo poder público, ou organizações não governamentais isoladamente. A FIEC, por meio de algumas empresas, buscou esse diferencial em suas estratégias conectando os seus atores e setores, dirigindo suas ações além dos muros das fábricas. Dessa forma, a entidade e as empresas assumiram a liderança da responsabilidade social empresarial no estado, na linha de olhar a nossa população menos estimulada como gente capaz de produzir riquezas e gerar conhecimentos. Focando esse capital social sem muita visibilidade, promoveram a inserção no mercado de grupos produtivos visando fomentar as atividades das cadeias produtivas e o empreendedorismo sustentável nesses grupos. Como é a percepção das comunidades com o trabalho realizado pelo Fireso nas comunidades indígenas? Imagine um grupo “não índio” chegando às aldeias de uma demarcação indígena nas serras de Aratuba e Pacatuba ou nas praias de Itarema, Caucaia e Aquiraz com um projeto nas mãos e objetivos na cabeça? Primeiro foi o estranhamento, depois o entendimento, por fim foi selada a confiança, por sinal inabalável. Mas o 40 Setembro de 2013 que é a FIEC? Martelavam na cabeça! Hoje, qual o cacique, pajé ou lideranças indígenas que não conhecem o nome FIEC, o trabalho que realizamos com eles? Elaboramos um projeto feito com as índias da etnia Tremembé na área de tecelagem e serigrafia e elas receberam o prêmio Cretã de Culturas Indígenas patrocinado pelo Ministério da Cultura em 2007. Uma índia chamada Navegante teve trabalhos expostos na Bienal Naïf de São Paulo em 2008 e publicados no catálogo oficial da bienal. A descoberta do outro é um trabalho de transformação social, com ganhos tangíveis e intangíveis. O Fireso tem como foco a sustentabilidade e a preservação das culturas. Como se dá isso conceitualmente por meio das atividades? Mediante o fortalecimento dos grupos produtivos locais, de qualificação dos artesãos, de oficinas e cursos de desenvolvimento de técnicas e qualificação teóricas na área do empreendedorismo, resultando na melhoria e qualidade do produto. Para tanto, temos parceria com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), o Conselho Nacional do SESI e o SESI/CE. Os produtos estão à venda na loja Toré, Torem na Central de Artesanato Luiza Távora (Ceart) para o escoamento dos produtos oriundos das aldeias, tudo isso agregando valor à economia local, potencializando sua comercialização e ampliando suas cadeias produtivas. O ganho maior é proporcionar ao artesão a oportunidade de uma profissão, uma vez que eles são cadastrados oficialmente pela STDS. SEBASTIÃO ALVES Como as empresas podem apoiar a iniciativa? Quem não gostaria de participar de um “case” de economia criativa aplicada e testada? A pertinência do Instituto FIEC de Responsabilidade Social em realizar um trabalho de apoio aos programas de combate às desigualdades sociais do estado deve-se às parcerias que acreditaram que somando as partes – sociedade, empresas e governo – melhoraríamos o todo. Poder contar com um número maior de parceiros viabilizaria o reconhecimento dos costumes, saberes e fazeres desses povos, incentivando-os à conquista de sua sustentabilidade. Podemos adiantar algum assunto do Centro de Referência da Cultura Indígena? O Centro de Referência da Cultura Indígena é um equipamento que está ainda em fase de estudos e implantação pelo secretário de Turismo Bismark Maia, o qual cederá um espaço na Emcetur para abrigar o acervo do Programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio Artístico a partir de uma proposta de trabalho baseada na parceria da Secretaria de Turismo e Fireso, e possivelmente da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. O Centro será uma casa de exposição/informação e formação de novas opiniões e mentalidades para pesquisadores, alunos e pessoas interessadas no conhecimento das questões indígenas cearenses. Programa Difusão da Cultura Indígena: Memória e Patrimônio Artístico Objetivos específicos Ações implementadas Promover o fortalecimento dos produtores artesanais, por meio do resgate de técnicas tradicionais, sua multiplicação, revitalização e aperfeiçoamento dos saberes, mediante a vivência em oficinas de produção autogestoras. Cadeias produtivas – Possuem o objetivo de fortalecer os grupos produtivos já existentes, por meio da produção de artefatos de artesanato e da implantação de novos grupos. Qualificar os artesãos na produção de artigos artesanais específicos, incorporando as matérias-primas e técnicas regionais, de forma a criar produtos qualificados para serem reproduzidos pelos grupos de produção organizados em cadeias solidárias locais. Realizar ações socioeducativas e culturais para disseminar a cultura do empreendedorismo entre os jovens e adolescentes. Contribuir para a disseminação dos valores da cultura da sustentabilidade. Estimular o engajamento das lideranças locais das comunidades atendidas na realização de oficinas de artesanato, pintura e cerâmica com os jovens e adolescentes. Ações socioeducativas – Realização de atividades com o objetivo de disseminar a cultura e os valores de uma educação para a sustentabilidade, estimulando a participação comunitária em torno das atividades realizadas no Centro de Artes Indígenas. Memória e patrimônio cultural – Projetos voltados à disseminação e difusão da cultura indígena, respaldados no resgate histórico das tradições e sua importância para a constituição da cultura cearense. Destaca-se o Projeto Exposição Arte Indígena e o acervo composto por mais de 600 peças de diferentes tipologias de artesanato. SERVIÇO: Instituto FIEC de Responsabilidade Social (Fireso) – (85) 3421 5845. Setembro de 2013 41 JOSÉ SOBRINHO Sindibrita 30 anos de história Sindicato comemora três décadas de atuação em defesa do setor e das empresas, lança livro, mas não esconde a preocupação com o novo Código de Mineração pós 30 anos desde que empresários do setor mineral uniram-se para criar o Sindicato da Indústria da Extração de Mármore, Calcários e Pedreiras do Estado do Ceará com o intuito de valorizar e fortalecer suas atividades produtivas, o setor comemorou no final de agosto, na Casa da Indústria, a maturidade e o engajamento das empresas associadas. O agora denominado Sindicato das Indústrias de Extração e Beneficiamento de Rochas para Britagem do Estado do Ceará (Sindibrita), entidade associada à Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), possui 14 empresas filiadas que movimentam cerca de 26 milhões de reais por mês. Segundo o presidente, Abdias Veras Neto, a entidade tem atuado para unir as indústrias do setor em torno de benefícios comuns. “Sempre que fomos provocados a vencer desafios conjunturais, políticos, culturais ou sociais que envolviam o setor de britagem do Ceará foi a união em torno do sindicato que permitiu o encontro de soluções adequadas à superação dos mais diferentes problemas.” Nos últimos anos, conta Abdias Veras, houve uma mudança no perfil do setor, com a chegada de empreendimentos de fora. Um ponto, para ele, que pode mudar para pior o cenário da britagem são as possíveis transformações no segmento da mineração trazidas pelo novo Código da Mineração em tramitação no Congresso Nacional. Ele explica que, caso o Código seja aprovado sem o acolhimento das várias emendas propostas pela área, haverá uma mudança radical no Ceará e em todo o país, a partir do desaparecimento de pequenas e médias empresas. A 42 Setembro de 2013 “Da forma como está posto, ele não possibilita a competitividade entre os grandes e os pequenos e médios empreendimentos”, alerta Abdias Veras. Mesmo assim, destaca que são boas as expectativas de negócio propiciadas pelas obras que chegam ao estado. “As empresas se prepararam e estão aptas para atender às demandas. Mas os grandes projetos estruturantes precisam acontecer, ser executados, saindo do papel”. O presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, exaltou a experiência adquirida pelo sindicato nesses 30 anos de trabalho associativo. O vice-presidente da FIEC e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon/CE), Roberto Sérgio, ressaltou a qualidade do produto cearense e da logística estruturada pelos britadores locais. As comemorações de 30 anos do sindicato incluíram também a entrega do Troféu Sindibrita 30 Anos às empresas filiadas. Receberam a homenagem Abner Veras Neto (Britacet), Sebastião Soares Cavalcante (Pedraleza), Orlando Carneiro de Siqueira (OCS), Clésio José de Carvalho (Pyla), Hugo Moreira Sales (Tecbrita), José Ricardo Montenegro Cavalcante (Pedreira Itaitinga), Fabio Jonson (Polimix-Ift), Antônio Alexandre da Costa dos Santos (Ponta Da Serra), Antonio Holanda de Oliveira Neto (Itatiba), José Cleber Gonzaga da Silva (Estrela Britagem), Roberto Paiva de Oliveira (Natasha), Clóvis Cabral Viana Júnior (Nordbrita), Arlene Correia (Pedreira Aracati) e Antônio Carlos Cavalcante Oliveira (CeBrita). Foram laureados também Roberto Macêdo e Roberto Sérgio, além de Abdias Veras Neto. JOSÉ SOBRINHO JOSÉ SOBRINHO Um dos pontos altos das comemorações foi o descerramento de uma placa comemorativa nos jardins da Casa da Indústria, realizado pelo presidente Abdias Veras Neto, acompanhado do empresário Orlando Siqueira e de Roberto Macêdo Ricardo Cavalcante, que falou em nome dos homenageados, iniciou nos negócios de britagem em sociedade com o irmão, ainda jovem. No meio associativista, foi o primeiro presidente do Sindibrita, com atuação voltada para congregar associados em torno de questões comuns. Uma delas foi a defesa pela legalidade das empresas do segmento Setembro de 2013 43 Sindicato lança livro comemorativo urante a solenidade, foi realizado o lançamento do livro “Sindibrita: 30 anos, um relato sobre a história do sindicato”, uma retrospectiva do setor e das empresas ao longo desses anos. O presidente Abdias Veras considera a publicação importante para todos os que se dedicam à atividade: “Em cada página está a fibra de quem contribuiu para esta história”. O livro remete a uma época em que as pedreiras em nada lembravam as modernas indústrias de britagem de hoje. Época nem tão antiga assim. As primeiras pedreiras verdadeiramente mecanizadas começaram a proliferar já em meados do século 20. No Ceará, pela necessidade de se ampliar a produção de pedra para a construção do Porto do Mucuripe, a Pedreira de Munguba foi modernizada ainda na década de 1930. Com o passar dos anos, as empresas foram se espalhando pelo estado. Na década de 1980, a economia brasileira buscava retomar o crescimento de forma consistente e duradoura. Era um cenário no qual a construção civil, em especial, perdia muito de sua força econômica. Nesse contexto, um grupo de empreendedores cearenses ligados a um insumo importante dessa cadeia, a brita, resolve unir forças entendendo a importância do trabalho coletivo para a superação dos desafios. Orlando Carneiro de Siqueira e Abdias Veras Filho se juntam com outros empresários que formavam o setor de mineração e britagem do Ceará e criam a Associação Profissional da Indústria de Extração de Mármores, Calcários e Pedreiras do Estado do Ceará (Acebrita). O então presidente da Acebrita, Orlando Carneiro de Siqueira, após contato com sindicatos da indústria da mineração da região Sul e Sudeste, retorna a Fortaleza provocando os empresários a também se reunirem em sindicato. Começava a se desenvolver um movo modelo de atuação. “Àquela época, começamos a frequentar com mais intensidade a FIEC. Lá, aprendemos que era preciso envolver mais e melhor nossos negócios com os demais segmentos da indústria, como forma de fortalecer o espírito D 44 Setembro de 2013 associativo entre nossas empresas, beneficiando-as através dos laços sindicais. Foi quando, com o apoio do presidente da Federação, José Flávio Costa Lima, transformamos a associação em um sindicato”, relata Orlando Siqueira no livro. O sindicato se articulou com o Serviço Social da Indústria (SESI) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) a fim de capacitar e qualificar melhor tanto a gestão quanto a produção das empresas. Dez anos depois, diante da diversidade e da multiplicidade de interesses envolvidos nos setores que compunham o sindicato, as lideranças decidiram criar duas novas organizações: o Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran) e o atual Sindibrita. O setor alcançou os objetivos traçados já no primeiro ano, quando conseguiu dobrar o faturamento. O conceito de sustentabilidade foi um fator que contribuiu de forma marcante para a intensificação da participação do sindicato nas ações cotidianas das usinas de britagem do estado. A partir de uma relação mais próxima com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), por intermédio do sindicato, os empresários se aproximaram de soluções que lhes permitissem seguir empreendendo de forma harmonizada, numa relação sustentável com o ambiente com o qual se relacionam, nos âmbitos social e ambiental. A partir do ano 2000, o Sindibrita se mostrou ainda mais necessário diante das transformações tecnológicas presentes em todos os campos da atividade humana. As máquinas e equipamentos do setor de britagem adquiridos nas últimas décadas já não atendiam ao novo momento. O trabalho braçal havia ficado para trás. O novo momento exigia saber operar rompedores hidráulicos. Atualmente, no Ceará, o segmento atua nas mesmas condições que os maiores centros consumidores de brita do mundo, com equipamentos de porte, marca e tecnologia mundiais. Segundo informações do secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Carlos Nogueira da Costa Júnior, contidas no livro, a produção nacional de agregados para a construção civil foi de cerca de 70 000 toneladas em 2012, ocupando o primeiro lugar da produção mineral brasileira, em volume. Apesar dos altos números, ainda há muito espaço para crescer, garante o secretário. “Embora tenha apresentado o maior crescimento percentual na produção de agregados nos últimos anos, a região Nordeste é a que possui o menor consumo per capita entre todas as regiões brasileiras. Ainda há muito espaço para a expansão e sustentabilidade da produção de agregados no Brasil. E os estados na região Nordeste figuram dentre aqueles com maior potencial de expansão da produção e do mercado de agregados.” Preocupação constante dos empresários que fazem o Sindibrita é buscar meios para manter a indústria da brita como um negócio sócio e ambientalmente responsável, capaz de permitir que as gerações futuras possam usufruir de sua produção tanto, ou melhor, que as atuais. Setembro de 2013 45 Inovações & Descobertas Equipamento diz se fruta está doce ou azeda Um equipamento criado pela equipe do pesquisador Luiz Alberto Colnago, da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), revela imediatamente se uma fruta está doce ou azeda. As frutas são catalogadas após passarem por um túnel, levadas por uma esteira. A inovação utiliza a ressonância magnética, a mesma usada no diagnóstico de diversos tipos de traumas e doenças, para mensurar a quantidade de açúcar em uma fruta, catalogando cada unidade. Segundo a pesquisa, o equipamento também detecta outras substâncias, identificando, por exemplo, se sucos ou leite foram adulterados. Pode ainda ser ajustado para avaliar o teor de álcool no vinho ou o de gordura em sementes de amendoim ou carnes e embutidos. Além de ser útil na indústria ou na catalogação de alimentos em centros distribuidores, o equipamento é pequeno o suficiente para ser oferecido em supermercados. A previsão é que a tecnologia esteja disponível diretamente ao consumidor em até dois anos. Uma empresa argentina, parceira da Embrapa e que ajudou a financiar o desenvolvimento, patenteou parte da tecnologia usada no equipamento. 46 Capacete para tratar calvície Uma empresa americana lançou um capacete que promete acabar com a calvície. O iGrow usa 51 raios laser vermelhos de baixa intensidade e LEDs capazes de energizar as células dos folículos capilares. O aparelho, que demonstrou aumentar o crescimento do cabelo em 39% após 16 semanas, foi aprovada pela agência americana Food and Drug Administration. O aparelho é voltado ao tratamento da alopécia androgenética, doença que causa a calvície masculina. O iGrow está sendo comercializado por cerca de 690 dólares, vem com fones de ouvido, permitindo ouvir música durante o uso. O tratamento não tem efeito colateral, diz a empresa. Água potável na garrafa Cerveja que evita ressaca Cientistas australianos do Instituto de Saúde Griffith apresentaram um tipo de cerveja que evita ressaca. Segundo os pesquisadores, a ressaca é causada, principalmente, pela desidratação. Quando a pessoa se embebeda, o corpo perde minerais chamados de eletrólitos. A inovação consistiu em criar uma fórmula de cerveja que inclui eletrólitos. O teor alcoólico também sofreu uma redução. Isso porque a cerveja com eletrólitos e menos álcool foi 30% mais eficaz em evitar a ressaca que as demais. Para chegar a essa conclusão, os cientistas acrescentaram o ingrediente em quatro cervejas com teores alcoólicos distintos. Eles garantem que o sabor não muda. Setembro de 2013 Um inventor americano residente no Japão lançou um filtro portátil que purifica a água na própria garrafa, e ainda adiciona magnésio, mineral que, segundo a Organização Mundial da Saúde, falta na dieta de 70% da população. Para usar o WaterBean, basta inseri-lo numa garrafa vazia, enchê-la de água, até da torneira, e agitar. Quando a água sair, já estará tratada. Disponível nas cores azul, vermelho, amarelo e verde, o acessório também evitar o cúmulo de lixo na natureza, é fabricado de fibra de carbono feita da casca do coco. O filtro pode ser usado em qualquer garrafa e purifica até 140 litros de água. Setembro de 2013 47 48 Setembro de 2013