alfabetização solidária - Mário Salimon Aperiódico

Transcrição

alfabetização solidária - Mário Salimon Aperiódico
Comunidade
Solidária 2002
O DESENVOLVIMENTO DE UM BRASIL CIDADÃO
Comunidade
Solidária 2002
O DESENVOLVIMENTO DE UM BRASIL CIDADÃO
PATROCINOU ESTA OBRA
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Comunidade
Solidária 2002
O DESENVOLVIMENTO DE UM BRASIL CIDADÃO
EXPEDIENTE
Esta é uma publicação do Conselho da Comunidade Solidária, executada pelo Núcleo de Comunicação do
Conselho da Comunidade Solidária – NuCom/CCS.
Coordenação geral: Mário Salimon e Lola Berlinck.
Realização: CDN - Companhia de Notícias, Unidade de Comunicação Interativa e Publicações.
Diretor: Gerson Penha. Coordenação editorial: Marcelo Morales; edição de textos: Ricardo Marques;
reportagem: Anacarolina Garcia, Denise Gustavsen, Lauro Mesquita, Renato Miranda, Rubem Barros,
Sílvio Fudissaku; projeto gráfico e direção de arte: Renato Akimasa Yakabe, ilustração: Rafael Ziegelmaier
CRÉDITOS DE FOTOS
Capas, ensaio Xingó e páginas 8, 20, 23, 24, 25, 26, 30, 56, 61, 62, 63, 66, 68, 69: Marcelo Soubhia/Fotosite;
páginas 9, 16, 17, 18, 19, 22, 27, 28, 29, 64, 65, 70, 71, 72, 73, 75 e 76: Divulgação; páginas 12, 13, 14, 15, 58: Pisco
Del Gaiso/Fotosite; página 57: Eduardo Monteiro/Fotosite; página 74: Monica Zarattini/AE
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PROGRAMAS
CONSELHEIROS
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
www.alfabetizacao.org.br
Superintendente Executiva: Regina Célia Vasconcelos Esteves
AGOP KAYAYAN
AUGUSTO CÉSAR ANTUNES DE FRANCO
BARJAS NEGRI
BORIS FAUSTO
CÉSAR SOARES DOS REIS
CESARE DE FLORIO LA ROCCA
EDDA MAYER BERGMANN
EDUARDO EUGÊNIO GOUVEIA VIEIRA
FERNANDA BORNHAUSEN SÁ
GILBERTO PASSOS GIL MOREIRA
HORÁCIO LAFER PIVA
JOAQUIM DE ARRUDA FALCÃO NETO
JOSÉ ROSA ABREU VALE
JÚLIO SÉRGIO DE MAYA PEDROSA MOREIRA
LADISLAU DOWBOR
MANOEL DANTAS BARRETO FILHO
MARIA ALICE SETUBAL
MARIA DO CARMO BRANT DE CARVALHO
MARIA JOSÉ MOTTA
MIGUEL DARCY DE OLIVEIRA
NEYLAR COELHO VILAR LINS
PAULO JOBIM FILHO
PAULO RENATO SOUZA
PAULO SÉRGIO DE MORAES SARMENTO PINHEIRO
PEDRO MOREIRA SALLES
PEDRO PULLEN PARENTE
RUBEM CÉSAR FERNANDES
RUTH CORRÊA LEITE CARDOSO
SÉRGIO EDUARDO ARBULU MENDONÇA
SÔNIA MIRIAM DRAIBE
VIVIANE SENNA LALLI
ZILDA ARNS NEUMANN
ARTESANATO SOLIDÁRIO
www.artesol.org.br
Coordenadora atual: Helena Sampaio
Adriana de Médicis 1998-1999
Regina Dunlop 2000- 2002
CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA
www.pcs.org.br
Superintendente Executiva atual: Maria Helena Berlinck
Célia de Ávila 1997-2002
REDE JOVEM
www.redejovem.org.br
Coordenadora Nacional: Renata Affonso
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
www.unisol.org.br
Coordenadora Nacional: Elisabeth Vargas
COMUNIDADE ATIVA
www.comunidadeativa.planalto.gov.br
Secretário Executivo atual: Ludgério Monteiro Corrêa
Ana Maria Pelianno 1995-1999
Milton Seligman 1999
Osmar Gasparini Terra 1999-2001
PROGRAMA VOLUNTÁRIOS
www.portaldovoluntario.org.br
Coordenador Nacional atual: Miguel Darcy de Oliveira
Mónica Corullón 1997-2001
RITS
www.rits.org.br
Secretário Executivo atual: Paulo Lima
Sérgio Goes 1997-2001
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SUMÁRIO
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A P R E S E N TA Ç Ã O
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
ARTESANATO SOLIDÁRIO
CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA
REDE JOVEM
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
X I N G Ó – SOLIDARIEDADE CONVERGENTE
AUTONOMIA SOCIAL
EMPREENDEDORISMO
NOVA MENTALIDADE
TERCEIRO SETOR
INTERLOCUÇÃO POLÍTICA
LEGISLAÇÃO
MICROCRÉDITO
RITS
COMUNICAÇÃO
ALÉM DAS FRONTEIRAS
OS PARCEIROS
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Apresentação
os novos caminhos do
desenvolvimento social
ESTE RELATÓRIO APRESENTA VÁRIOS CAMINHOS PERCORRIDOS
PELO COMUNIDADE SOLIDÁRIA EM SEUS 8 ANOS DE EXISTÊNCIA.
SÃO ESTRADAS ABERTAS PELOS PROGRAMAS PARA ALCANÇAR OS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE CADA UM, MAS QUE SE ENTRECRUZAM COM FREQÜÊNCIA PORQUE TAMBÉM TÊM TRAÇOS COMUNS.
Dona Ruth Cardoso:
ao lado da
sociedade civil
disposta a colaborar
para a solução dos
problemas derivados
da pobreza
Cada um responde a uma necessidade reconhecida: alfabetizar, capacitar jovens,
oferecer oportunidade de troca de experiências entre universitários e comunidades, cultivar o artesanato para gerar renda, apoiar o trabalho voluntário ou oferecer aos jovens oportunidade de inclusão no mundo da internet, ao mesmo tempo
em que se promove o desenvolvimento local integrado e sustentável.
Mas o modo de pôr em prática esses programas atende a orientações comuns que
os colocam como parte de uma mesma família. Em primeiro lugar, todas as ações
resultam da construção de parcerias variadas, que mobilizam diferentes atores e
ampliam o âmbito de atuação dos programas. Esse papel articulador foi o principal
exercício desenvolvido pelo Comunidade Solidária, que impulsionou a parceria entre o Estado, as organizações civis e as empresas. Todos os programas e ações
desenvolvidos incluíram esses três setores em sua execução, procurando aproveitar
as oportunidades abertas por uma sociedade civil atuante e responsável, disposta
a participar e colaborar para a solução dos problemas derivados da pobreza.
Essas parcerias não representam a diminuição da atuação dos governos nem a
extensão do assistencialismo tradicional. Pelo contrário, aportam novas metodologias de intervenção que garantem mais sucesso e verdadeiro desenvolvimento social para as comunidades. As limitações e os custos das ações estatais são conhe9
Apresentação
cidos. E as formas convencionais de aliviar a pobreza têm muitas vezes contribuído
para reproduzi-la.
O Comunidade Solidária, contando com muitos apoios, procurou parcerias para
inovar e usar receitas coerentes com as propostas contemporâneas. Executou um
planejamento preciso, com que todos estavam comprometidos. Foi com essa fórmula que enfrentamos os caminhos que descrevemos aqui e dela derivam os aspectos comuns de nossas ações.
Por um lado, vemos que os diferentes programas iniciam suas atividades pela mobilização da comunidade e promoção da participação colaborativa. O principal
objetivo consiste em mostrar as capacidades existentes, mas para as quais faltam
oportunidades. Toda comunidade tem saberes e talentos que podem e devem ser
aproveitados.
Por outro lado, as parcerias promovem um trabalho sem clientelismos, assistencialismos ou partidarismos, quer porque reúnem atores de diferentes origens e concepções, mas que se consideram unidos em torno de objetivos precisos; quer porque a comunidade organizada torna-se refratária às condutas que pretendem uma
manipulação política. É a isenção política e religiosa que garante a participação e
o crescimento de todos neste processo.
O trabalho com parceiros garante um desempenho com maior eficiência, transparência e flexibilidade, o que resulta em custos mais baixos que os de ações isoladas. Estas são características que a leitura dos depoimentos tornará visíveis.
As atividades aqui apresentadas partem do princípio que uma ação que pretende
promover o desenvolvimento social sustentável deve criar as condições para a autonomia local. Encontraremos durante a leitura vários exemplos bem-sucedidos nos
quais a autogestão já esta sendo praticada: os centros de voluntários, centros de
jovens participantes da Rede Jovem, associações de artesãos etc.
Dentro desse mesmo espírito, buscamos garantir a independência e a continuidade
de nosso trabalho. Desde o início, cada programa é gerido por uma associação civil
e, portanto, sua continuidade está garantida. Para evitar a fragmentação da família
que se desenvolveu a partir do Comunidade Solidária, todos os programas fazem
parte de uma rede – RedeSol – em que a comunicação entre eles será ampla e todos
poderão aprender com as experiências comuns.
Foram oito anos durante os quais as parcerias deram força para experiências inovadoras que, ao demonstrarem bons resultados, puderam ser ampliadas, alcançando
resultados em quantidade e qualidade muito relevantes.
Ruth Cardoso
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P R O G R A M A S I N OVA D O R E S
Perto de 4 milhões de pessoas já participaram dos Programas do Comunidade Solidária graças a uma abordagem original no modo de implantar ações sociais. Tirando partido
das potencialidades já existentes na sociedade brasileira,
estabelecendo rotas de convergência inéditas e buscando
sempre a sustentabilidade e a capacidade de propagação
das iniciativas, os programas criaram um padrão novo na
busca da inserção social.
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Alfabetização Solidária
Alfabetização Solidária:
uma aula prática de cidadania
Em 1997, o município de Japurá, em plena Floresta Amazônica, registrava índices alarmantes de analfabetismo.
Mais de 70% dos habitantes não sabiam ler nem escrever.
Cinco anos depois, a taxa de analfabetos caiu para 30%,
numa das maiores reduções já registradas no país, apesar
das dificuldades de logística típicas da região. Não por
coincidência, Japurá fez parte do projeto-piloto do Alfabetização Solidária, no primeiro semestre de 1997, e desde
então vem sendo atendido pelo programa.
Casos como esse representam o trabalho desenvolvido
pelo Alfabetização Solidária nas regiões mais carentes.
Criado pelo Conselho da Comunidade Solidária, o programa
iniciou sua atuação nas regiões Norte e Nordeste, em municípios que concentravam os maiores índices de analfabetismo do país, de acordo com censo do IBGE de 1991. A
mais recente atualização do censo indicou que a redução
dos índices de analfabetismo foi maior nas comunidades
rurais: “Ou seja, justamente a população que o programa
prioriza”, explica Regina Célia Vasconcelos Esteves, superintendente executiva do Alfabetização Solidária.
No primeiro semestre de atividades, em 1997, o programa atuou em 38 municípios e atendeu cerca de 9,2 mil
alunos. Em dezembro de 2001 já eram 2,4 milhões de
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Alfabetização Solidária
alunos em 1.578 municípios. No final do primeiro semestre de 2002, os números impressionavam ainda mais:
3.137.847 alunos em 2.010 municípios de 21 estados.
Por trás dos números, contudo, há muito mais: vidas que
se modificaram para melhor, pessoas mais conscientes e
críticas, comunidades mais desenvolvidas e, especialmente, a multiplicação do conceito de cidadania.
O trabalho do Alfabetização Solidária apóia-se em parcerias com universidades, empresas, pessoas físicas, governos estaduais e municipais e com o Ministério da Educação. “Houve uma evolução no modelo de parceria”, afirma Regina Esteves. “No começo do programa as empresas financiavam 50% do custo e o Ministério da Educação, os outros 50%. Com o novo modelo nós conseguimos envolver outros segmentos, como os governos estaduais, que passaram a ‘adotar’ grupos de alunos, o que
tornou possível expandir ainda mais o programa.”
Outra comprovação da eficácia do novo modelo de parceria é a produção das universidades, explica Regina. “No
início, com a mobilização das instituições universitárias,
esperava-se o fortalecimento da produção de temas acadêmicos sobre a educação de jovens e adultos. Hoje isso
é um fato consumado, e o programa acabou estimulando
outras ações na universidade.”
Os alfabetizadores
No primeiro semestre de 2002 o programa contava com
mais de 135 mil alfabetizadores. Peças-chave no processo, eles são selecionados nas próprias comunidades onde
vivem e respondem também pelo efeito multiplicador do
programa. Capacitados pelas universidades parceiras, recebem uma bolsa-auxílio e podem ser incorporados, posteriormente, à rede oficial de ensino.
O alfabetizador tem liberdade para seguir um modelo de
trabalho que melhor se adapte às características de sua
comunidade e da cultura local. No Parque Novo Mundo,
zona norte de São Paulo, uma sala da escola Fundação
O Alfabetização
Solidária
envolve hoje
vários
segmentos da
sociedade: o
próprio governo
federal,
empresas,
universidades,
pessoas físicas e
os poderes
públicos
municipal e
estadual, o que
amplia seu
alcance
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Alfabetização Solidária
A alfabetizadora
Flávia incluiu a
mãe na sua turma
na zona norte de
São Paulo para
melhorar a
dinâmica das aulas
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Lar de São Bento – Casa do Macário
abriga uma classe do programa e
serve de exemplo desse modelo pedagógico. “Vejo as necessidades da
turma e aplico as atividades de acordo com suas dificuldades. No começo fiquei receosa, achando que
eles não sabiam nada, mas conforme fui dando exercícios vi que eles
sabiam alguma coisa, que não eram
totalmente analfabetos”, conta a alfabetizadora Flávia Guilherme da Silva. Aos 23 anos, professora de português formada em Letras, ela começou a trabalhar com
o Alfabetização Solidária em agosto, no período noturno.
“No começo foi meio complicado, havia muita resistência
e eu não sabia direito como tratar os alunos. Eles eram
desanimados, diziam que não iam aprender. A sala tinha
poucos alunos, mas um foi chamando o outro e em setembro havia mais gente. Fui conversando, mostrando a
eles a importância do aprendizado. Quando descobriam
que podiam, ficavam radiantes. A auto-estima deles melhorou. Estão mais seguros e participativos.”
Flávia confessa ainda que o arsenal de “truques” dos alfabetizadores é inesgotável: “No começo os alunos não perguntavam nada. Minha mãe, que também é minha aluna,
me dá assessoria. Apesar de ter estudado até a 4a série
ela não lembrava de muita coisa, então veio para a aula e
pergunta tudo o que não entende, ajudando os mais tímidos a tirar as dúvidas. Quando ela quer ir embora mais
cedo, dizendo que está cansada, os colegas ficam bravos,
dizem que ela não quer estudar”. A mãe, Maria Dulce dos
Santos Lima, confirma: “Não tenho vergonha de perguntar. Se não entendo, peço para a professora explicar quantas vezes for preciso. Puxo o coro. Não adianta falar que
entendeu se não entendeu. E com isso faço o pessoal
perder a vergonha de perguntar”.
Além das aulas convencionais de segunda a quarta-feira, às quintas os
alunos estudam na sala de informática. “A cada semana o resultado é melhor. Aprenderam que as palavras escritas errado no computador ficam sublinhadas em vermelho, e antes de me chamar tentam
corrigir. Só quando realmente não
conseguem é que pedem socorro”,
diz Flávia. “Estamos chegando no
final do módulo e os alunos estão
preocupados por não saber onde
vão continuar os estudos. Eles não querem parar.”
Josivan dos Santos, 23 anos, é um dos que não pensam
em deixar a escola. Nascido em Nova Açores, Bahia, e há
cinco anos em São Paulo, ele conta: “Estudei uns tempos
no Nordeste, mas não aprendi nada. A bagunça era muita, nem meu nome aprendi direito. Voltei a estudar porque via todo mundo lendo e ficava com inveja, queria ler
também. Hoje sei até conta. Faço de cabeça. Muita coisa
eu sei. Tudo melhorou. Não sabia nem pegar condução,
hoje de longe já sei qual é. Cansei de me perder. As pessoas não ajudam, já ouvi
muito ‘se vira, rapaz!’. Hoje
estou feliz. A pior coisa é ver
uma carta e não poder ler.
Chegava carta em casa, lá na
Bahia, e não tinha quem lesse. A gente não sabia nem
para quem era. Hoje faço carta, faço tudo. Já fiz três móMaria Dulce passou a freqüentar as
aulas a pedido da filha e é quem
mais pergunta: “não adianta falar
que entendeu se não entendeu”
Alfabetização Solidária
dulos e quando este acabar vou procurar outro. Não
quero mais parar.”
Baiana como Josivan, Maria Teresa Nunes Cerqueira
dos Santos, 49 anos, é de Maracás e veio para São
Paulo há mais de 25 anos. Estudou um pouco quando
jovem e parou para trabalhar: “Esqueci tudo. Voltei a
estudar agora porque estou com os filhos grandes.
Sentia dificuldade em assinar o nome e ficava com
vergonha da minha letra feia. Estou aqui tem um
mês e já melhorou a minha escrita e a leitura”.
Seu colega Altair Bezerra de Melo, 18 anos, eletricista, também chegou a estudar, mas pouco aprendeu.
“Aqui é melhor do que a outra escola, e estou conseguindo. Já estou lendo. Além disso, tenho amigos
com quem converso bastante. Quando terminar o módulo vou tentar fazer estamparia aqui na escola mesmo”, ele conta.
O Alfabetização Solidária é uma porta de entrada para
a escola e a possibilidade de reiniciar os estudos.
Porém, para otimizar os resultados, é preciso dar continuidade ao aprendizado. Um dos caminhos é o projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA), resultado
de uma articulação da coordenação nacional com o
ministério da Educação. O ministério abre linhas de
crédito para as prefeituras, possibilitando a formação de alfabetizadores e a impressão do material didático. Entre os anos 2000 e 2002 foi registrado um
crescimento de 250,83% no número de matrículas
efetuadas nos cursos do EJA. No Projeto Recomeço,
a parceria com o Ministério do Trabalho assegura a
realização de cursos profissionalizantes com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
“Um ponto fundamental no programa é o fortalecimento da oferta pública de educação para jovens e
adultos, para dar continuidade ao processo de alfabetização dos alunos. Isso não estava previsto no modelo inicial, mas hoje nós já temos uma proposta conso-
Josivan, Maria Teresa e Altair estão superando a
vergonha de não saber ler e escrever e já pensam
em como dar continuidade à alfabetização
lidada. O quadro de analfabetismo será efetivamente
reduzido se conseguirmos alfabetizar o aluno e, ao
mesmo tempo, proporcionar a continuidade dos estudos. É o que vem ocorrendo”, afirma Regina Esteves.
Projetos paralelos
O Alfabetização Solidária envolve ainda uma série de
projetos paralelos, vinculados ao processo de alfabetização, para fortalecer o processo de aprendizagem.
O programa Grandes Centros Urbanos, por exemplo,
iniciou-se em 1999, com recursos captados por meio
de doações de pessoas físicas, atendendo 20 mil alunos nas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio.
Depois foram incluídos o Distrito Federal, Goiânia,
Fortaleza, São Luís e Belo Horizonte. Até o primeiro
semestre de 2002 foram atendidas 188.260 pessoas.
O Projeto Incentivo à Leitura mobiliza parceiros para
a organização de kits com livros e revistas para a
formação de bibliotecas nos municípios. O Projeto
Ver destina-se a reduzir uma das principais causas de
evasão escolar – problemas de visão dos alunos – , e
de 2000 a 2002 foram distribuídos mais de 90 mil
pares de óculos. O Rádio Escola foi criado em 2001
pela Secretaria de Educação à Distância do MEC, em
parceria com o AlfaSol, para enriquecer o conteúdo
das aulas. O Alfabetização Digital, elaborado em parceria com 20 instituições de ensino superior, está
presente em 20 municípios do Norte e Nordeste, para
democratizar o uso da informática e beneficiar os
alunos e a comunidade. O Projeto Promoção da Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, visa à
melhoria da qualidade de vida nas comunidades.
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Artesanato Solidário
Artesanato Solidário: talento e
tradição por uma vida mais digna
O artesanato praticado há gerações
transformou-se numa preciosa fonte
de renda de comunidades pobres
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Como diz o povo do interior, uma coisa sempre leva à
outra – e de repente descobrem-se tesouros onde parecia
haver pouco mais do que penúria. Foi mais ou menos isso
o que aconteceu com o Programa Artesanato Solidário.
Em 1998, equipes do Comunidade Solidária atuavam em
regiões atingidas pela seca no Nordeste e no norte de
Minas Gerais, em busca de alternativas que assegurassem
a subsistência das comunidades, com um alcance maior
do que a ajuda das frentes de emergência. Logo se percebeu que ali, nas casas simples e pobres dos sertanejos,
estava a matéria-prima de uma fonte de trabalho, de renda e, acima de tudo, de dignidade: o artesanato praticado há gerações, sem pretensões além de seu imediato
valor utilitário, mas repleto de sentido e de tradição.
Logo o Artesanato Solidário criava surpreendentes rotas
de convergência, ligando cidades tão distantes quanto a
mineira Urucuia e a paraense Abaetetuba. De Parati, no
litoral fluminense, desenhou-se uma linha que passava
por São Mateus, no Espírito Santo; Berilo e Turmalina,
em Minas; Esperança e Ibimirim, em Pernambuco; Pedro
II, em Sergipe, até lá no alto, em Santarém, no Pará,
algumas entre as mais de seis dezenas de outras localidades onde o programa fincou sua bandeira.
Artesanato Solidário
E as pessoas que traçam esse mapa têm nome e profissão: a mineira dona Antônia Resende que faz doces e os
embala na palha do buriti; a jovem Andréia de Andrade
que estuda para o vestibular e cria lindas bonecas de
cerâmica; Marta Cardoso de Lima que faz doces e é tesoureira da Associação do Artesão de Urucuia; Hosana dos
Santos e suas panelas e moringas de barro e argila; Waldelly Costa Alves que “brinca de fazer brinquedo” com
madeira de miriti e não troca por nada o seu ofício. São
representantes de uma legião de cerca de 3 mil artesãos,
cujo trabalho envolve também as famílias, o que amplia
o alcance do programa para cerca de 15 mil pessoas.
Paraense de Abaetetuba, 32 anos, Waldelly integrou-se
de corpo e alma ao Artesanato Solidário: “Mergulhei de cabeça e está dando certo demais”,
afirma. Antes da implantação do programa,
os artesãos de Abaetetuba produziam apenas
para a festa do Círio de Nazaré e não tinham
noção de que esse podia ser um meio de vida.
Hoje o trabalho deles é reconhecido como arte
e conta com uma sala de venda permanente
no Museu Emilio Goeldi, em Belém. Peças
como as cobras, os jacarés e os pássaros de
Waldelly ajudaram a melhorar a vida da comunidade. Ele está realizando um sonho: “Estou terminando minha casa, de alvenaria, com
um cômodo na frente para uma lojinha”, diz.
Coordenadora do programa desde abril de 2002,
Helena Sampaio recorre a esses exemplos para
dizer que os efeitos produzidos nas comunidades não podem ser medidos apenas por indicadores sócio-econômicos: “Há também mudança de atitudes, de comportamento, além
do aumento da auto-estima, que é fundamental. Trabalhar com os artesãos é um desafio
permanente, que requer tempo e amadurecimento, pois a proposta é observar e usar o
potencial local para revitalizar uma arte que estava morrendo ou não era devidamente valorizada. Não há caráter
assistencialista e não queremos ensinar nada. O que existe
é a utilização dos recursos naturais de cada região e o
repasse espontâneo das técnicas, de geração a geração”.
A artesã Emília Nunes de Souza, 63 anos “mais ou menos”, nasceu em Candeal, Minas Gerais, e sabe o que significa repasse espontâneo. Ela aprendeu com a mãe o
delicado ofício de ceramista e hoje ensina aos mais jovens: “Antes do programa a gente trabalhava cada qual
na sua casa, fazia as louças e vendia tudo a troco de
bestagem. Trabalhava muito e não vingava. Cada um tinha seu forno. Agora melhorou muita coisa, fizemos casas melhores. A minha
casa era de pau-a-pique
e agora é de adobe e coberta de telha. Comprei
móveis, cama, fogão”.
Dona Emília vende a compradores do Rio e de São
Paulo, cidades que já visitou para expor suas peças e ensinar adultos e
crianças a trabalhar com
cerâmica. Em Candeal, ela
cumpre a tradição e trans-
Waldelly produzia
cobras e outros
animais em miriti
para a festa do
Círio de Nazaré.
Descobriu que
podia ganhar a
vida com a
atividade e já está
contruindo sua
casa, em alvenaria
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Artesanato Solidário
mite sua arte à neta de 12 anos, para que tudo recomece.
Em situação inversa está Andréia Pereira de Andrade, 21
anos, uma quase universitária que aprendeu o ofício de
ceramista com os pais e a avó Isabel, em Santana do
Araçuaí, Minas Gerais. Andréia diz que a semente mais
importante do Artesanato Solidário é o incentivo aos artesãos e à arte em si: “Muitas pessoas que estavam paradas estão produzindo, vendendo e divulgando o trabalho.
E estão sendo reconhecidas como artistas”. A avó e mestra Isabel faz coro e é prova de que o artesanato de tradição encontrou a ferramenta certa para se multiplicar.
Esse repasse do saber, conforme Helena Sampaio, faz parte
da primeira das três trocas ou diálogos que o programa
estimula. O diálogo inicial se dá entre os próprios artesãos, para propiciar condições de associativismo, desenvolvimento do trabalho coletivo, troca de conhecimento e
aprendizado coletivo. “O programa estimula a organização
dos artesãos como categoria profissional e como cidadãos
que detêm um conhecimento específico”, diz Helena.
18
Andréia aprendeu
ofício de ceramista
com a avó em
Santana do Araçuaí
e diz que o artista
agora se sente
valorizado,
produzindo,
vendendo e
divulgando o
trabalho
O segundo diálogo ocorre entre o artesão e seu produto,
a fim de aprimorar a qualidade da peça, sem interferir no
processo criativo. Um exemplo, segundo a coordenadora
do Artesanato Solidário, ocorre com as bordadeiras, que
quando solicitadas trazem para as reuniões toalhinhas
surradas tiradas do baú das mães ou das avós, “verdadeiras preciosidades, às vezes mostrando um ponto que ninguém conhecia e pode ser resgatado”.
Por fim, o programa incrementa o diálogo entre o artesão
e o mercado. “É uma troca difícil, porque muitas vezes as
peças chegam ao mercado por atravessadores, que pagam um preço insignificante. Contra isso o programa oferece oficinas de adequação e de formação de preços, em
parceria com ONGs e com os Sebraes estaduais, e amplia
os canais de acesso ao mercado consumidor, destacando
o valor cultural agregado ao artesanato de tradição.”
As oficinas de adequação destinam-se a promover pequenas adaptações do produto às demandas do mercado, sem
interferir nas técnicas ou na tradição. “Ninguém vai mexer
nas cores das roupas do mamulengo, na técnica de entalhe
na madeira ou no processo centenário de decorar cerâmicas. Mas existem alguns produtos de tecelagem e bordado
que precisam se adequar à funcionalidade do mundo moderno. Um jogo americano, por exemplo, tem uma medida
internacional”, explica Helena Sampaio.
O trabalho de precificação é mais objetivo. Sempre que
possível as oficinas usam estruturas regionais já existentes, como o Sebrae, num esforço para baratear custos. Utilizam-se planilhas, calcula-se quanto é gasto com insumos, computam-se horas trabalhadas e criam-se indicadores que são discutidos pelos artesãos para que decidam o
preço final de cada peça. O resultado é a valorização do
trabalho, como diz Waldelly, o paraense de Abaetetuba:
“Hoje vendo uma sucuri por R$ 70,00, um jacaré por R$
50,00. Tem mês que tiro R$ 500,00, outro tiro R$ 800,00”.
Em relação a preços e distribuição, a Central ArteSol tende a adquirir relevo. Localizada em São Paulo e inaugura-
Artesanato Solidário
Para Benita o
programa foi uma
benção: “a gente
vendia as peças em
troca de arroz ou
feijão. Agora já fiz
uma casinha,
comprei guardaroupa, fogão”
da em setembro de 2002, essa organização civil trabalha
lado a lado com o Comunidade Solidária e comercializa os
produtos dos núcleos que integram o programa. Compra à
vista das associações de artesãos e distribui os produtos
em lojas, hotéis, para paisagistas e decoradores. É mais
um elo da corrente que busca a ligação entre o artesão e
o consumidor. Os artesãos de Porto do Sauípe, por exemplo, já vendem seus produtos pela internet – situação
difícil de imaginar quando o programa começou, em 1998.
Na primeira fase, o Artesanato Solidário estabeleceu-se
em 26 núcleos, para um trabalho de paciência e conquista da confiança da comunidade. Numa segunda etapa, no
final de 2001, foram incorporados 42 novos projetos, o
que elevou para 68 o número de municípios envolvidos. A
primeira onda beneficiou artesãos como Maria Benita Pinheiro, ceramista de Candeal, que hoje afirma que o programa foi uma “benção”. “A vida era muito sofrida. A gente
fazia umas peças e recebia arroz ou feijão como pagamento. Depois que o programa chegou já consegui fazer
O programa
estimula a
associação dos
artesãos como
categoria
profissional e como
cidadãos que
detêm um
conhecimento
específico
uma casinha para mim. Comprei móveis, guarda-roupa,
roupa de cama, fogão. Agora espero ser mais feliz ainda.”
Conterrânea de Maria Benita, a artesã Nilda Muniz Farias,
26 anos, é um caso à parte. Antes do Artesanato Solidário ela não vendia suas cerâmicas: “Eu sabia fazer, minha
avó me ensinou, mas quando ela não agüentou e parou,
parei também. Conheci o programa e voltamos ao artesanato, começamos a vender, reformamos a casa, compramos geladeira e roupas”. Melhor: Nilda já vendeu criações
em vários estados e participou de uma exposição no Sesc
Pompéia, em São Paulo, com direito a um curso para os
interessados. De um modo ou de outro, Nilda – assim
como as Martas, Antônias, Emílias e Benitas e os Waldellys que mexem com o barro, a madeira, o bordado ou a
palha pelo Brasil afora – multiplica um conhecimento
que se situa no campo da arte e representa o ideal de um
programa que tem um longo caminho a percorrer.
Atualmente o Artesanato Solidário é vinculado à Comunitas – Parcerias para o Desenvolvimento Solidário, organização da sociedade civil sem fins lucrativos e de interesse
público, que dá continuidade e busca expandir a estratégia desenvolvida pelo Comunidade Solidária. “Foi tudo pensado para que o programa tivesse continuidade”, observa
Helena Sampaio, que já tem objetivos para o futuro: “A
meta quantitativa é chegar a 75 núcleos de artesanato,
além de consolidar uma tecnologia social, uma maneira de
fazer um programa social. É para isso que o programa está
caminhando, com a idéia de trabalhar com educação continuada, envolvendo os agentes locais e os
gerentes regionais. Queremos fortalecer um modo de trabalhar que
se transforme num modelo a ser
replicado, uma referência de projeto de geração de renda por meio de
uma atividade cultural”, completa
a coordenadora.
19
Fortalecer a auto-estima, desenvolver a sociabilidade, a capacidade
de comunicação e o protagonismo juvenil também são objetivos
do programa Capacitação Solidária
20
Capacitação Solidária
Capacitação Solidária: o caminho da
inclusão social passa pela profissão
Cansada de vender as frutas que comprava
no Mercado Central de Aracaju e juntar
alguns trocados para ajudar na cesta básica da família, a estudante Fernanda dos
Santos, de 18 anos, se agarrou com unhas
e dentes à oportunidade do curso de pintura automotiva financiado pelo Capacitação Solidária. À primeira vista, podia parecer estranho uma adolescente vaidosa
arregaçando as mangas num ambiente de
trabalho tipicamente masculino. Mas Fernanda não se intimidou. Acostumada a
olhar o pai, um chapista autônomo, ela inicialmente foi movida pelo dinheiro da bolsa que poderia ganhar durante a formação. Depois das primeiras aulas, no entanto, a jovem percebeu
que era uma boa oportunidade de trabalho. Não estava errada.
Hoje chefia uma equipe de quatro homens no setor de pintura
de uma revendedora Ford da cidade. “Ganhei confiança porque
sou mais caprichosa que meus companheiros”, diz a garota.
Com o salário inicial de R$ 250,00 mensais, Fernanda continua
ajudando em casa, mas agora vai apostar suas fichas num futuro mais interessante – está terminando o ensino médio e
quer entrar numa faculdade de pedagogia. “Sei que meu su-
cesso depende de mim, se eu não me esforçar, a coisa não acontece”, sentencia.
Fernanda faz parte do grupo de mais de
124 mil jovens que já receberam treinamento profissional através do programa Capacitação Solidária. Destes, 37% conseguiram se inserir no mercado de trabalho logo
ao final dos cinco meses de duração das
aulas, ministradas por organizações da sociedade civil. O maranhense Edelson Carvalho Torres, de 21 anos, também integra
esse time de vencedores. Da época de desempregado no Rio de Janeiro, com segundo grau incompleto, ele nem quer lembrar. As dificuldades ficaram para trás no
dia que, por indicação de uma tia, acabou num curso de padaria, confeitaria e cozinha. Em dezembro de 2001, quando as
aulas terminaram, Edelson conseguiu um estágio no restaurante Garcia e Rodrigues, no Leblon, especializado em cozinha francesa. Em agosto, foi contratado como ajudante encarregado de preparar as folhas para as saladas e organizar os
alimentos. Agora subiu de posto e já virou cozinheiro. Ele
prepara canapés e decora os pratos frios. “Cozinhar é uma
arte e, a cada dia, aprendo mais e mais...”, diz o novo chef.
21
Capacitação Solidária
Para quem antes do curso não encarava o fogão nem para
fritar um ovo, o avanço foi meteórico.
A grande preocupação do Capacitação Solidária é justamente ampliar a perspectiva de futuro de milhares de
jovens entre 16 e 21 anos, como Edelson e Fernanda, que
têm baixa escolaridade e vivem nos grandes bolsões de
miséria das regiões metropolitanas do país. “São pessoas
fragilizadas, que vivem no fio da navalha e acabam se
tornando alvo fácil para a marginalização”, salienta Elisabeth Braz, gerente de comunicação do programa. Criado em 1996, época em que pouquíssimas ONGs desenvolFernanda não se
intimidou com o
universo
tradicionalmente
masculino das
oficinas de pintura
e hoje chefia uma
equipe de cinco
profissionais
22
viam trabalhos voltados aos adolescentes, o Capacitação
Solidária montou uma estratégia única de ação a partir
de uma proposta pedagógica desenhada especificamente
para o jovem. “O jovem tem uma série de angústias características dessa faixa etária”, destaca Elisabeth. “Não
dá então para repetir uma estrutura de ensino monótono, que não os envolva.”
Os cursos foram estruturados em dois módulos: um básico
e um específico. A idéia, primeiro, é fortalecer a autoestima e desenvolver a sociabilidade, a capacidade de comunicação e o protagonismo juvenil – para que o jovem
entenda a importância de se envolver nas lutas de sua
comunidade. No restante das aulas e na vivência prática,
ocorre a formação profissional. “É uma pedagogia empreendedora, voltada para o crescimento integral do indivíduo”,
analisa Elisabeth. A metodologia desenvolvida pelo programa foi repassada para as entidades parceiras, que têm o
compromisso de desenvolver seu trabalho dentro dessa proposta pedagógica. “As ONGs capacitam os jovens e nós
capacitamos as ONGs.” A concepção do programa estimula
a participação de organizações da sociedade civil, possibilita a descoberta de novos nichos de mercado e respeita as
particularidades culturais das regiões onde atua.
Para uma entidade entrar para o time de parceiros do Capacitação precisa cumprir uma série de exigências. Primeiro, é preciso vencer um desafio: passar por um concurso
onde são selecionados aqueles que exibem um planejamento profissional. Devem conhecer bem a comunidade
onde vão atuar e o público-alvo, além, é claro, de saber
explicar a importância da proposta e apresentar um cronograma de ação, de desembolso de recursos e execução do
projeto. O critério, que à primeira vista poderia soar como
empecilho, acabou tornando-se a espinha dorsal de um
modelo de gestão democrático e transparente, capaz de
encorajar cada vez mais a participação de organizações
como associações, sindicatos, centros comunitários, universidades e empresas. “A metodologia de concursos e o
Capacitação Solidária
monitoramento das ações garante a transparência e a qualidade do programa”, avalia Elisabeth.
Do escritório instalado em São Paulo, o Capacitação Solidária comanda sua rede de parcerias com resultados surpreendentes. De 1996 a outubro de 2002, foram investidos R$
123 milhões na capacitação de jovens, 76% desse valor foram destinados às ONGs executoras dos 4.203 cursos e 24%
à bolsa-auxílio de R$ 50,00 por mês para cada jovem, que
recebe também alimentação e transporte. Em seminários,
oficinas e cursos para capacitação de cerca de 8 mil profissionais da área social foram investidos em torno de R$ 3 milhões. Desde 1996, o programa já financiou 2.537 ONGs.
Cada uma delas iniciou seu projeto com uma cartela média
de três parcerias. No final das oficinas e seminários onde
trocam e fornecem informações de caráter conceitual e técnico-pedagógico, ampliaram para nove o número de parceiros,
o que consolida seu trabalho nas regiões em que atua.
Essas entidades ainda têm ainda a possibilidade de melhorar o desempenho no curso de Gestão Social oferecido
pelo Capacitação. Saem dele mais preparadas para competir pelos recursos públicos e privados – uma briga cada
vez mais acirrada, já que a iniciativa privada está mais
seletiva na escolha dos parceiros. O curso, gratuito, dá
uma ampla visão do mercado nas 80 horas-aula e ensina
temas diversos como ética/transparência, administração
financeira (quando aprendem que a relação custo-benefício de cada centavo investido é sempre preocupação prioritária) e avaliação de projetos sociais. No curso de Planejamento e Gestão de Microempreendimentos, com 16
horas de duração, ensina-se até o cálculo do preço do
produto a partir do seu custo.
Correr atrás de resultados, porém, não é mais a única
preocupação do Capacitação. “Agora é um momento de
avaliação para acompanhar a trajetória dos jovens que
receberam treinamento”, afirma Elisabeth. Se depender
de Priscila Aline Bento, de 22 anos, não há com o que se
preocupar. Depois de concluir um curso de cabeleireiro
coordenado por uma ONG como a melhor aluna, ela acabou aterrissando no MG Hair, um dos salões mais sofisticados de São Paulo. Priscila passa suas horas de trabalho
cuidando do cabelo de uma clientela de elite. Ela foi contratada em outubro como assistente de cabeleireiro e já
está embolsando um salário de R$ 1,5 mil. “Quero mais,
quero reconhecimento profissional”, avisa a ex-jogadora
de basquete, que foi cortada do time porque era baixa
demais. Ela já sonha até com curso em Paris. Por enquanto, soma esforços com os dois irmãos para construir a
casa da família. “Compramos o terreno, estamos construindo e já trocamos os eletrodomésticos”, conta Priscila.
“O programa é extremamente inovador”, explica a socióloga Maria Helena Berlinck Martins, superintendente executiva do Capacitação Solidária. “Foi consolidado e mudado a partir de avaliações e hoje é uma referência para
nossa satisfação.” Sobre mudanças de rota, ela é taxativa. “É possível melhorar tudo, mas em linhas gerais a
estratégia é essa.”
Priscila iniciou
sua carreira como
cabeleireira
num curso do
Capacitação
Solidária, arrumou
um bom emprego
e já sonha em se
aprimorar em Paris
23
Rede Jovem
Rede Jovem: um atalho para
a inclusão digital
Emerson Carlos Ferraz sempre teve grande interesse por
informática e tecnologia. Corria atrás dos cursos sobre o
assunto oferecidos gratuitamente por ONGs e entidades
de Santo André (onde vive com sua família) e de outras
cidades da Grande São Paulo. Mas, sem computador em
casa devido à baixa renda familiar, não tinha como praticar seus conhecimentos até começar a freqüentar, nos
No Espaço
Jovem, Emerson
fez cursos,
praticou o que
aprendeu e
preparou-se
para um salto
qualitativo em
sua vida
24
primeiros meses de 2001, o Centro de Referência da Juventude (CRJ) da prefeitura de Santo André. Lá funciona
um Espaço Jovem, telecentro que é resultado de uma
parceria entre o programa Rede Jovem, o próprio município e a www.jovem-crj, ONG da cidade. Emerson fez cursos, praticou o que aprendeu, conheceu gente com interesses comuns e acabou conseguindo fazer com que sua
vida desse um enorme salto qualitativo.
Fundou junto com alguns colegas a Coopdesign, uma cooperativa que presta serviços de informática – como o
desenvolvimento de páginas para a internet –, e sua empresa já soma mais de 15 clientes na região do ABC. Além
disso, acabou se tornando instrutor de Inclusão Digital
do próprio Espaço Jovem.
Esses telecentros com computadores, programas e acesso
à internet à disposição de jovens da comunidade são o
lado prático do Rede Jovem, programa criado no âmbito
do Conselho da Comunidade Solidária em janeiro de 2001
com a inauguração de sete espaços nos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Bahia, graças a parcerias
com entidades comunitárias e prefeituras.
O programa oferece toda a tecnologia necessária e treinamento para os monitores e coordenadores dos projetos
Rede Jovem
em cada localidade. As entidades parceiras se responsabilizam pelo espaço físico, pela organização e
coordenação das atividades. Nos primeiros 18 meses de
funcionamento do espaço, o programa se responsabiliza
inclusive pelos salários dos monitores. Os parceiros são
incentivados e orientados a obter recursos para a operação posterior a esse prazo. Os telecentros ficam abertos
todos os dias, durante oito horas.
O sucesso da iniciativa pode ser comprovado pelo seu
crescimento. Hoje os Espaços Jovens
somam 18 unidades em funcionamento, e a iniciativa já chegou aos estados
de Minas Gerais, Pernambuco, Espírito
Santo e ao Distrito Federal.
www.redejovem.com.br
Os mais de 25 mil adolescentes que já
passaram por esses “centros de tecnologia” participam de listas de discussão, bate-papos e eventos nos próprios
espaços e na rede mundial de computadores. Nesses encontros online, eles
têm contato com outros jovens em distantes pontos do país.
“Graças à Rede Jovem, conheci pessoas
como eu, que têm paixão por computadores e informática, e não só de Santo
André, mas de outras cidades como São
Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e até
mesmo em Aquiraz, que fica no Ceará”,
conta Emerson.
O site www.redejovem.com.br conta
com dois chats semanais. O Chat e Ação,
organizado pela coordenação do programa, acontece toda terça-feira e sempre traz um convidado para conversar
com os freqüentadores dos espaços. O
Telecentros com
computadores e
acesso à internet
já atraíram 25 mil
jovens que
rascunham um novo
futuro; na foto de
baixo, Márcia
Furquim,
coordenadora do CRJ
de Santo André
outro bate-papo é organizado pelo Espaço Jovem de Salvador e gira em torno dos mais variados assuntos: tecnologia, gravidez na adolescência, mercado de trabalho.
O veículo também permite que os usuários insiram notícias, coloquem suas músicas preferidas, indicações de leitura etc. “O site é quase uma transposição da Rede Jovem para a internet. Por meio dele, os freqüentadores
dos espaços podem informar-se e trocar experiências. O
veículo é bastante interativo e estimula os jovens a atuar
diretamente na internet”, afirma Alice Gismonti, coordenadora do Rede Jovem.
Os monitores trocam experiências diariamente por meio de listas de discussão. A idéia é que o aprendizado seja
enriquecido no intenso diálogo de quem
acompanha o dia-a-dia de cada um dos
espaços.
Administração jovem
Os monitores são os responsáveis pelos cursos e pela organização das atividades nos diferentes locais. Eles são
treinados pelo Comunidade Solidária e,
no geral, recrutados entre os jovens da
localidade. Segundo Márcia Furquim,
coordenadora do CRJ de Santo André,
“com o passar do tempo, os freqüentadores sentem vontade de participar
mais ativamente do projeto. Um bom
número dos atuais monitores começou
a trabalhar voluntariamente nas entidades”. Isso mostra que o Rede Jovem
alcança seu objetivo de não apenas
estimular a ação integrada entre os Espaços Jovens, mas também de proporcionar uma nova maneira de agir sobre
a comunidade.
25
Universidade Solidária
Universidade Solidária: uma
troca em que todos têm a ganhar
Vivian, da Unicsul, ajudou a criar uma praça em Itaquera, zona leste de São Paulo
26
Major Isidoro é o nome de uma pequena cidade situada
na região da bacia leiteira de Alagoas, e São Miguel
Paulista fica na gigantesca região metropolitana de São
Paulo. Porém, embora separadas por uma distância de
quase 3 mil quilômetros, desde 1998 as duas localidades
têm em comum muito mais do que as dificuldades que as
cercam. Naquele ano, um grupo de alunos da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), instalada em São Miguel
Paulista, viajaram até Major Isidoro para realizar um trabalho que iria mudar profundamente a vida de todos os
envolvidos, de ambos os lados.
O objetivo inicial era a capacitação de professores primários, pois a prefeitura do município alagoano não estava conseguindo selecionar docentes entre os 17 mil
habitantes. Abrira um concurso e só cinco candidatos
haviam sido aprovados. Mas, quando chegou lá, a equipe
da universidade paulista encontrou muitos outros problemas, como desnutrição e péssimas condições de saúde
pública. Um ano depois, Major Isidoro já não era a mesma cidade. Mais de 150 professores haviam sido capacitados e a qualidade de vida dos habitantes melhorara de
modo notável. Do outro lado, a experiência em Alagoas
representou um marco para a Unicsul, que desde então
Universidade Solidária
passou a investir com intensidade nas parcerias com a
comunidade. Além disso, o contato com a sabedoria e a
história dos moradores de Major Isidoro enriqueceu o saber acadêmico e o senso de cidadania dos universitários
paulistas, que adquiriram uma nova visão de mundo. Houve
um intenso intercâmbio entre duas culturas e todos saíram ganhando.
Esse é o espírito do Programa Universidade Solidária (UniSol), criado em 1996 no âmbito do Conselho da Comunidade Solidária. Estudantes, professores e pesquisadores de
universidades formam equipes e viajam para as mais distantes regiões do país, a fim de abordar problemas específicos e transmitir informações sobre saúde, educação, meio
ambiente, organização comunitária e cidadania.
Em seus sete anos de atividades de campo, o UniSol já
levou suas ações de cidadania para cerca de mil municípios, com o envolvimento de quase 20 mil estudantes de
todo Brasil. Em 1996, no primeiro ano, houve a participação de mil estudantes e 99 professores de 58 universidades, que atuaram em 98 municípios do Nordeste e de
Minas Gerais.
Até 1998 o transporte das equipes era feito pelas Forças
Armadas, que também ofereciam quartéis para o alojamento dos estudantes. A partir de 1999 foram fechados
acordos com companhias aéreas comerciais, ampliando o
raio de ação do UniSol. Em 2001 o programa dobrou o
número de alunos e professores,
totalizando 5 mil participantes.
Em 2002, movimentou um contingente de mais de 4 mil estudantes e professores oriundos de 191
universidades, com ações em 227
localidades.
Somente no módulo nacional, que
ocorre nas regiões Norte e Nordeste em municípios com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
muito baixo, cerca de 1.200 estudantes e professores levaram as
ações do UniSol a 106 municípios.
No módulo regional, foram inscritos 271 projetos e selecionados
86, em igual número de municípios, com a presença de 90 universidades.
Atualmente o UniSol tem apoio de várias instituições no
financiamento de suas ações. No módulo nacional, a
Petrobras contribui anualmente com R$ 1,2 milhão. As entidades de fomento à pesquisa Capes e CNPQ entram com
R$ 700 mil como auxílio-alimentação. O Banco Real destina R$ 300 mil para a visita precursora, feita pelo coordenador do projeto à comunidade, para o planejamento da
ação. A Fundação Ford contribui com outros US$ 60 mil
Em 2002 o UniSol
movimentou uma
legião de mais de
4 mil estudantes e
professores de
191 universidades,
beneficiando
227 municípios, em
diversas áreas
27
Universidade Solidária
como apoio à coordenação. O MEC participa com R$ 1,5
milhão para financiar os módulos regionais. Há, ainda, uma
extensa lista de parceiros, como várias companhias aéreas
(Varig, Transbrasil, TAM, Rio Sul e Nordeste), Sebrae, Sul
América Seguros, Unesco, Caixa Econômica Federal, Grupo
Takano, Instituto Kaplan e Klabin.
Modelo de intervenção
Para além das estatísticas, uma das principais conquistas
do UniSol é o fortalecimento da ação comunitária nas
universidades brasileiras. A coordenadora nacional do projeto, a socióloga Elisabeth Vargas, ex-militante em movimentos sociais e feministas e uma das pioneiras na articulação dos grupos autônomos, embriões das ONGs no
final dos anos 70, explica: “Nas universidades públicas
sempre se falou no tripé ensino-pesquisa-extensão. Porém, cada escola fazia extensão de um jeito. Qualquer
coisa que abrisse as portas da universidade era considerada extensão. O UniSol criou um modelo, facilitou uma
forma de intervenção, de entrar na comunidade”.
Elisabeth Vargas dá um exemplo das redes de relacionamento: “O pessoal da Unicsul, para transformar um lixão
em praça pública, teve de trilhar vários caminhos, conseguir a concessão do terreno de uma empresa pública, a
autorização da prefeitura; enfim precisou descobrir outros caminhos. As universidades públicas que já tinham
28
um departamento de extensão acabaram criando um nicho de trabalho comunitário, que na maioria dos casos se
chama Universidade Solidária. As escolas privadas, que
não tinham nada disso, criaram junto com a gente. Hoje
todas têm uma sala chamada Universidade Solidária, às
vezes sem nenhuma relação conosco, mas atuando nas
comunidades”.
Elisabeth Vargas afirma que o grande mérito do UniSol é
contribuir para a formação dos estudantes universitários:
“Do ponto de vista da ação social, não existe nenhum
engajamento mais voluntário e espontâneo. Os estudantes
mergulham no trabalho, estão lá para o que der e vier. A
grande frustração é que todos querem voltar outras vezes.
Muitos, então, criam ONGs e continuam fazendo trabalhos
comunitários. Esse é o resultado mais maravilhoso”.
Ocorrem também progressos não-mensuráveis, como relata Elisabeth: “Há um município na Bahia, Caetité, que
fica sobre uma mina de urânio administrada por um órgão do Ministério de Minas e Energia. O município é rico,
pois a empresa que explora paga royalties altíssimos, mas
a comunidade nem sequer sabia que está montada numa
mina de urânio, com todos os riscos que isso significa.
Depois daquele acidente com o petróleo na baía de Guanabara, a empresa de mineração nos procurou para propor uma ação de cidadania. Convidamos duas universidades da Bahia – Uneb e Uesc, que são nossas parceiras e
Exemplo de
articulação:
comunidade de
Itaquera constrói
praça pública onde
antes havia um
depósito de lixo
Universidade Solidária
não tinham nenhum trabalho na área de geologia, mas
tinham na área de cidadania. Também chamamos a Unicamp e ao longo de um ano e meio essas três universidades trabalharam juntas e conseguiram realizar ações muito
significativas”.
Rompendo barreiras
Em 2001, o módulo especial do UniSol realizou sua primeira experiência internacional. Em acordo com o Ministério da Juventude de Moçambique, um grupo de estudantes de várias universidades passou três semanas em
Moamba, pequena localidade perto da capital Maputo.
Trabalhando em comunidades paupérrimas, repassaram a
universitários locais os princípios fundadores do UniSol,
mostrando como interagir com as comunidades sem utilização de grandes recursos financeiros, elevando sua autoestima e fazendo-os agentes da própria mudança.
Reuniões em
escolas discutem
desde mutirões
comunitários até
questões ligadas à
sexualidade dos
adolescentes
Nessa experiência foi desenvolvido o projeto Mala de Leitura, uma pequena biblioteca ambulante, com cerca de
60 títulos, todos com abordagem bem simples de questões do universo local. A idéia era que essas bibliotecas
itinerantes circulassem por aldeias da região e se fossem
renovando. Serviriam inclusive como estímulo ao aprendizado da leitura em uma região com índices de até 50%
de analfabetismo.
A geógrafa Vivian Fiori, coordenadora do UniSol na Unicsul – aquela mesma universidade que atuou em Major
Isidoro –, foi uma das pessoas que trabalharam em Moçambique e não esquece os efeitos da experiência. “Muitas vezes a pessoa fica dentro de seu espaço, de seu
mundo, e não consegue interagir. O UniSol contribuiu
para que mudássemos isso. Ajudou a integrar alunos de
várias disciplinas, que hoje estão mais maduros e contribuem nas discussões e propostas”, resume Vivian.
Para uma universidade constituída há apenas nove anos,
programas como o UniSol representam um verdadeiro
paradigma em projetos de extensão universitária. Não
por acaso, a Unicsul foi selecionada pelo terceiro ano
consecutivo para receber o Prêmio Banco Real/Universidade Solidária, que desde 1996 destina cotas anuais de
R$ 20 mil a cinco projetos de extensão universitária sobre
saúde e qualidade de vida, a serem executados em áreas
com indicadores sociais baixos.
Em 2002, o projeto apresentado, “Transformando os Espaços do Jardim Popular”, aproveitou experiências anteriores de criação de áreas de lazer e preservação ambiental, como as realizadas em 2001 no Jardim Vila Nova, em
Itaquera, e dois anos atrás no Parque Santa Rita, em São
Miguel Paulista.
O resultado é que a escola vem discutindo a incorporação
desse tipo de atividade como matéria optativa a constar
do currículo da universidade. “Temos discutido muito como
essa experiência pode ser incorporada. Muitas monografias são escritas a partir dos trabalhos de campo. Profes-
Instituições de
ensino superior
participantes
do UniSol
1
Acre
2
Alagoas
2
Amazonas
7
Bahia
5
Ceará
Distrito Federal 3
2
Espírito Santo
6
Goiás
2
Maranhão
21
Minas Gerais
Mato Grosso do Sul 4
1
Mato Grosso
4
Pará
3
Paraíba
7
Pernambuco
2
Piauí
13
Paraná
Rio de Janeiro 17
Rio Grande do Norte 5
1
Rondônia
1
Roraima
Rio Grande do Sul 20
Santa Catarina 13
2
Sergipe
46
São Paulo
1
Tocantins
29
Universidade Solidária
sores e alunos estão envolvidos e trazem o resultado de
suas vivências para a sala de aula”, diz Vivian.
A dentista Sheila Santos Vieira, 25 anos, está vivendo
intensamente essa experiência. Desde fevereiro de 2002
ela faz parte da reduzida comunidade médica de Atalaia
do Norte, município de 9.500 habitantes no estado do
Amazonas, a 1.500 quilômetros de Manaus. Uma terça
parte da população é constituída por indígenas de 22
aldeias de cinco etnias (Marubo, Matiz, Kanarkari, Kulina
e Mayoruna). Sheila mora em São José dos Campos, interior
de São Paulo, e trocou sua próspera cidade por uma
localidade distante, com 52,51% de analfabetos e uma
taxa de mortalidade infantil de 27,09 por mil nascimentos.
Atalaia não tem teatro, não tem cinema, não tinha sequer
um dentista até 2001.
Foi naquele ano que, integrando um grupo da UniSol,
Sheila teve seu primeiro contato com a região amazônica. “Eu morava com meus pais e irmãos e nunca tinha
30
A universitária
Fernanda
Guimarães, 19
anos, está disposta
a trocar São Paulo
por Belém de Maria
e registrar a vida
das comunidades
do sertão
pernambucano
saído de São José dos Campos para trabalhar ou estudar.
Eu só conhecia a realidade da TV. Vim para Atalaia duas
vezes, e na segunda passei quase o tempo todo na área
indígena da etnia Mayoruna, onde não havia energia elétrica, dormíamos em rede e comíamos carne de caça. Voltei e resolvi mudar para cá depois que me formasse”,
relembra Sheila.
Depois de formada, Sheila pediu a seu professor Alberto
Monteiro, coordenador do UniSol em sua universidade,
que fizesse um contato com a prefeitura. Hoje ela está
contratada e atua principalmente na prevenção de problemas odontológicos em crianças e adolescentes de Atalaia do Norte. Está decidida a ficar no Amazonas. Sente
que é útil, que seu trabalho é fundamental para a comunidade. “Em São Paulo você é apenas mais um, tem um
dentista em cada esquina. Aqui não, somos apenas dois.
Fazemos a diferença.”
Se não mudou de cidade, a paulistana Fernanda Guimarães, 19 anos, estudante de comunicação social da Escola
Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo, também foi muito influenciada por sua experiência no UniSol. Em julho de 2002 Fernanda foi uma das 12 selecionadas de sua escola para integrar o Projeto Banana em
Belém de Maria, Pernambuco. Problemas não faltavam,
mas Fernanda conta o que esse período de 23 dias significou para ela: “Eu achava que tinha uma visão ampla do
Brasil. Só quando cheguei lá é que passei a ver o que é o
mundo real. Eu chorava muito, tinha vontade de fazer
algo melhor na vida dessas pessoas. Voltei obstinada a
tentar mudar essa realidade. Na faculdade, apresentamos
vídeos, fizemos palestras e o número de inscritos no UniSol dobrou”.
Antes de participar do Universidade Solidária, Fernanda
ainda não sabia que carreira seguir dentro da comunicação social. Agora pensa formar-se em rádio e televisão e
trabalhar na realização de filmes sobre comunidades que
necessitam de apoio, como a de Belém de Maria.
XINGÓ – SOLIDARIEDADE CONVERGENTE
Reportagem e Edição Marcelo Morales - Fotos Marcelo Soubhia/FOTOSITE
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
31
Semi-árido nordestino é alvo de ações
que valorizam capital social
Região das hidrelétricas do rio São Francisco gera a energia que abastece oito estados do Nordeste brasileiro,
mas suas carências históricas persistem e são alvo de iniciativas na contramão do assistencialismo
Adeildes, Alice, Ana Lúcia, Ataíde, Edna,
Florival, Genilda, Giovanni, Givaldo, Jacqueline, Jessica, José Menegildo, José Rafael,
Maria Daniely, Maria dos Prazeres e Sheila
são participantes dos programas do Comunidade Solidária que vivem na microrregião
do Xingó. Eles estão aprendendo ou ensi-
nando a ler, escrever e contar, organizando-se para tornar mais rentável sua produção, discutindo maneiras de resolver problemas do dia-a-dia e, principalmente, conquistando a auto-estima, a capacidade de
acreditar que modificar para melhor suas
vidas é algo que eles mesmos podem fazer.
Usina de desafios
Xingó engloba
quatro estados
29 municípios da
Bahia, Pernambuco,
Sergipe e Alagoas
formam a
microrregião do
Xingó. São as
cidades onde existem
usinas, terras
alagadas ou projetos
de reassentamento
de populações
desalojadas pelos
lagos
32
Caatinga e rio São
Francisco marcam a
paisagem do Xingó
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
As cidades da microrregião
do Xingó estão na área de
influência direta dos lagos das
usinas hidrelétricas de Xingó,
Paulo Afonso e Itaparica, no
vale do rio São Francisco.
O clima é quente e seco, as
temperaturas médias anuais
ficam em torno de 25°C
e a vegetação predominante
é a caatinga. São 40 mil
quilômetros quadrados onde
cerca de 600 mil brasileiros
convivem com carências
históricas, como miséria,
desemprego, índices elevados
de analfabetismo, mortalidade
infantil e baixa atividade
econômica. O analfabetismo
em Piranhas (AL), por
exemplo, chegava a quase 35%
em 1998, segundo o IBGE
O perfil histórico de miséria acabou atraindo para a região iniciativas de diversas organizações, sejam do governo, sejam nãogovernamentais, com o objetivo de promover o desenvolvimento regional. Entre as
ações, figuram os vários programas do Comunidade Solidária, o Programa Comunidade Ativa, o Programa Regional de Desenvolvimento Local Sustentável (Pnud/Sudene), o Programa Farol do Desenvolvimento
(Banco do Nordeste), além de outras iniciativas ligadas aos poderes públicos municipal, estadual e federal.
A novidade é que, ao contrário do modelo
assistencialista historicamente empregado
pelo poder público para reduzir as conseqüências da pobreza na região, o que hoje
se observa são ações nos moldes do DLIS
(Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável). Em vez impor às pessoas que vivem
na região uma relação que as condena à
dependência da ajuda do poder público (que
pode vir na forma de cestas básicas, por
exemplo), o objetivo das várias ações que
se entrelaçam no Xingó é oferecer condições para que essas pessoas possam elas
mesmas carimbar seu passaporte para a cidadania, criando capital social para impul-
sionar seu desenvolvimento. A idéia é prover essas populações de meios para que elas
mesmas possam ser agentes de sua inclusão social e econômica.
De acordo com Augusto de Franco, conselheiro do Comunidade Solidária, “os programas de oferta estatal transformam as populações em beneficiários passivos e permanentes de programas assistenciais. São
programas que se alimentam da pobreza e
alimentam a pobreza”. Para ele, o empreendedorismo individual e coletivo, o protagonismo cooperativo e a participação democrática são os meios para tornar viável a
inserção social das populações carentes.
No Xingó, a fórmula experimenta seus primeiros passos e já mostra resultados em
campos como a educação e a geração de
renda. O sem-terra Ataíde está escrevendo
as primeiras letras em uma escola improvisada, o pedreiro José Menegildo aprendeu
a calcular a quantidade correta de tijolos
para levantar uma parede, as bordadeiras
de Entremontes fazem o mesmo que suas
mães e avós, só que ganham algum dinheiro com isso, a estudante Maria Daniely conquistou nova perspectiva de futuro e a funcionária pública Jacqueline quer incentivar
o turismo e criar empregos com sua pousada. Mas o que mais chama a atenção é a
tomada de consciência de que a melhoria
da vida das pessoas dessas comunidades depende de sua ação. Essa nova mentalidade
é fundamental para vencer as dificuldades
e brilhar, como sonha Alice, participante
do Programa Protagonistas Juvenis em Pão
de Açúcar (AL).
A ENERGIA DA CHESF - De
1946 a 1996 a empresa
construiu na região do
Xingó oito usinas hidrelétricas, que representam
uma potência geradora de
8.926 MW, ou 96% de
toda a geração da empresa, que beneficia mais de
40 milhões de habitantes
em oito estados
A usina de Xingó
é a segunda maior
barragem do país,
com 141 metros de
altura, atrás apenas
de Tucuruí, no Pará
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
33
O CÂNION DO SÃO FRANCISCO - A paisagem cinematográfica, com vista para a cidade histórica de
Piranhas, é considerada um poderoso elemento
para incentivar o turismo na região. A vocação
econômica, no entanto, esbarra nas carências
de infra-estrutura
Instituto Xingó é fruto de parcerias
Entidade reúne universidades, ONGs, empresas e governo
Entre 1946 e 1996 a Chesf (Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco) construiu
em um trecho de 108 km do rio São Francisco oito usinas, que hoje respondem por
mais de 90% de sua produção de energia
elétrica. Ao longo desses 50 anos, a empresa foi a principal geradora de empregos e renda da microrregião do Xingó. Em
1993, porém, a Chesf percebeu que a topografia do rio já fora explorada por
completo e que o ciclo de construção de
usinas se encerraria com Xingó. “É como
se tivéssemos uma dívida moral com as
comunidades da região, pois a usina em
funcionamento não emprega nem 10% da
mão-de-obra necessária para sua constru34
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
ção”, explica João Paulo Maranhão de
Aguiar, adjunto da presidência da Chesf.
Essa constatação foi o ponto de partida para
a criação do Instituto Xingó, uma das iniciativas na região que reúne diversos parceiros
em torno da idéia de desenvolvimento local.
O Programa Xingó foi criado em 1996 por
iniciativa da Chesf, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Comunidade Solidária. Três anos
mais tarde, diante da necessidade de uma
entidade jurídica para administrá-lo, foi lançado o Instituto. Em 2001 tornou-se uma
Oscip (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público). A Chesf investiu R$ 3
milhões no Instituto nos últimos dois anos.
Hoje a organização conta também com a
participação do Sebrae (Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),
Coep (Comitê de Entidades no Combate à
Fome e pela Vida), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica), Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária), das universidades federais de Alagoas, Bahia,
Pernambuco, Sergipe, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade
Estadual da Bahia e Universidade Estadual
de Feira de Santana. “As universidades têm
objetivos de pesquisa e extensão e os outros parceiros querem com a iniciativa incentivar a geração de renda e trabalho,
além de proporcionar melhorias efetivas e
permanentes na qualidade de vida da comunidade”, explica Aguiar.
O Instituto Xingó desenvolve atividades
que vão desde a caprinocultura, implantação de hortas comunitárias e cultivo e
beneficiamento de peixes até o apoio à
pesquisa arqueológica, fomento ao turismo, educação e organização de associações e cooperativas.
Alfabetização Solidária ensina a ler, escrever e contar e devolve
orgulho para pessoas que nunca tiveram acesso à alfabetização
O sem-terra Ataíde Alves Monteiro, 51 anos,
mora há quatro no acampamento de Picos,
na zona rural de Piranhas (AL), e está aprendendo a ler, escrever e contar desde fevereiro de 2002 com o programa Alfabetização Solidária. Nas eleições de 2002, pela
primeira vez na vida, ele conseguiu assinar
o nome para o mesário antes de se dirigir à
urna e exercer o direito do voto. “Senti um
orgulho danado quando escrevi meu nome
na frente de outras pessoas. Agora meu novo
sonho é conseguir escrever uma cartinha
para os parentes”, conta.
Nascido em Pernambuco, Ataíde pertence a
uma das 32 famílias do acampamento do
MST que esperam pela desapropriação da
fazenda que invadiram. Os sem-terra de Picos vivem em condições bastante precárias
e se sustentam de pequenas plantações nas
proximidades do acampamento. Moram em
palhoças construídas com galhos retorcidos
e cobertas por plástico preto. Muitos de seus
filhos não têm sequer um colchão onde dormir. Ainda assim, o aprendizado é um ca-
minho para quem sonha com um futuro mais
digno. Ataíde conta que já passou muita
vergonha por não saber escrever nem seu
nome. “Já tive problema para retirar dinheiro
no banco e para me candidatar a emprego
quando morei em São Paulo, há 25 anos.
O sem-terra Ataíde freqüenta as aulas
noturnas do Alfabetização Solidária em
uma sala de aula improvisada
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
35
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
O sonho de escrever
a própria cidadania
Por causa disso comprei um caderno e pedi
a um colega alfabetizado que escrevesse
meu nome. Então treinei bastante até conseguir fazer igualzinho. Mas não é como
hoje. Antes eu desenhava as letras e agora
não sou mais analfabeto”, conta. Ele é um
dos 39 alunos adultos que freqüentam regularmente, três vezes por semana, o barracão coberto de palha improvisado em sala
de aula para deixar para o passado a condição de analfabeto.
A iniciativa de levar o curso aos sem-terra
foi da educadora Genilda Paulino de Brito,
ou simplesmente Gil, coordenadora do programa para a zona rural de Piranhas. Nas
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
aulas para alguns dos filhos dos sem-terra
percebeu neles uma maior dificuldade de
aprendizado que nas outras crianças. Acabou descobrindo que o fato de os pais serem analfabetos funcionava como um grande complicador para a evolução pedagógica. “As crianças não tinham como tirar dúvidas em casa. Como os pais não sabiam ler
e escrever, elas acabavam considerando o
aprendizado como algo pouco importante,
ficavam muito desmotivadas”, explica Gil.
A partir dessa constatação ela convenceu
os líderes do acampamento da importância
de serem alfabetizados e deu início às atividades. “Começamos a trabalhar no chão
mesmo. Entrei em contato com a Secretaria
Municipal de Educação, que cedeu as carteiras, depois uma lousa. Dependemos muito de parcerias para levar as coisas para a
frente. A Secretaria da Saúde do município
também já nos ajudou muito”, conta.
A cidade de Piranhas tem cerca de 20 mil
habitantes e conta com 13 salas de aula do
Alfabetização Solidária, de acordo com Gil.
“Só na área rural são seis escolas”, diz.
Desde julho de 2002 as aulas no acampamento de Picos estão a cargo de outra professora, Sheila Mendes.
Tato e técnica
Gil explica que a abordagem de um grupo
de adultos requer tato e técnica. A metodologia ela aprendeu em um curso de capacitação para educadores que fez na Universidade Anhembi Morumbi, na capital paulista, em dezembro de 2001. “A partir do
livro que serviu de base para o curso, pude36
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
A educadora Gil: adaptação de metodologia aos interesses do grupo de alunos para favorecer o aprendizado
mos adaptar a maneira de nos aproximar de
alunos que são muito desconfiados. Eles têm
muita vergonha por não saber”, relata. Ela
diz que muitas vezes, para “quebrar o gelo”,
jogava dominó com a turma e estimulava
os alunos a contar os seus versos prediletos. “A atenção aumenta muito quando a
gente consegue tratar de assuntos de interesse do grupo”, explica.
A sensibilidade se faz necessária no dia-adia, para encontrar o ritmo mais adequado
para o grupo. Os alunos mais jovens, por
exemplo, têm mais facilidade para escrever,
de acordo com a educadora. Já os mais velhos encontram mais dificuldade de coor-
denação motora. Mesmo assim, ela conta
que uma de suas turmas, em determinado
momento do curso de alfabetização, reivindicou o aprendizado em caligrafia cursiva.
“Os alunos disseram que a letra de fôrma
era coisa de criança”, diverte-se. Gil se dedica agora à pesquisa de campo, para encontrar novas comunidades com necessidades de alfabetização.
Em regiões como o Xingó, é comum o entrecruzamento de ações de diferentes programas em uma mesma localidade. No acampamento de Picos foi assim. Gil detectou
problemas de higiene e de saúde entre os
moradores do local e acionou Gutemberg Ol-
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
JOSÉ MENEGILDO, PEDREIRO - “Antes,
quando eu precisava fazer um
muro, tinha muita dificuldade para
acertar a quantidade de tijolos que
seria necessária para o trabalho.
Ou sobrava ou faltava. Agora dificilmente erro na conta”
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
37
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
dack Barbosa, professor de língüística e português da Universidade Estadual de Feira de
Santana, na Bahia, e coordenador de um
grupo do Universidade Solidária, com quem
havia feito um curso de capacitação. “Encontramos no acampamento uma situação
de carência extrema”, diz ele. Entre os problemas estava, por exemplo, a ausência de
escovação de dentes. Havia no grupo do
UniSol coordenado por Gutemberg uma estudante de odontologia que ensinou às pessoas da comunidade a importância da higiene bucal. “Como não tínhamos escovas de
dentes, improvisamos a feitura de uma com
material que podia ser extraído da própria
vegetação da região, a bucha-do-mato,
amarrada a um pedaço de madeira. O importante disso é que as pessoas da comunidade podiam continuar fazendo direito mesmo depois de termos ido embora”, explica
Gutemberg. Nessa visita foi feita aplicação
de flúor e houve também diversas orientações na área da saúde e do meio ambiente.
Do outro lado do rio
Em Canindé do São Francisco, SE, do outro
lado do rio, no endereço do Portal do Alvorada, organização para ação social do governo federal, funcionam três salas do Alfabetização Solidária no período noturno. Em
uma delas estuda o pedreiro José Menegildo dos Santos, 45 anos e quatro filhos. Para
ele, mais importante do que as letras são os
números. “Aprender a calcular está me ajuEducadores de Canindé do São Francisco foram
capacitados em faculdade de Aracaju
38
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
dando muito no trabalho. Antes, quando eu
precisava fazer um muro, tinha muita dificuldade para acertar a quantidade de tijolos que seria necessária para o trabalho. Ou
sobrava ou faltava. Agora dificilmente erro
na conta”, orgulha-se. José Menegildo explica que pode contar com a ajuda dos filhos, já alfabetizados, na hora que tem dúvidas. Quando precisa viajar, o pedreiro também sente as vantagens da alfabetização.
“Consigo tomar o ônibus certo sem fazer
perguntas para ninguém”, diz.
Também de Canindé do São Francisco, a alfabetizadora Ana Lúcia Ribeiro, 19 anos,
teve sua primeira oportunidade de trabalho
no Alfabetização Solidária. Foi primeiro selecionada para fazer um curso de capacitação em Aracaju, na Faculdade Integrada Tiradentes, motivada principalmente pela
oportunidade de começar a ganhar seu próprio dinheiro. Lá conheceu outros jovens
residentes em Canindé que hoje também
exercem a função de educadores. Eles acabaram formando um grupo unido, que enfrenta problemas comuns. Ela dá aulas de
português para 19 alunos com idade entre
30 e 58 anos e já pegou gosto pela atividade: “Você ganha o dia quando um aluno com
muita dificuldade de aprendizado consegue
assinar o nome pela primeira vez”.
Bordadeiras de Entremontes se reúnem em associação e passam a produzir mais
e melhor em região de baixa atividade econômica e poucas opções de trabalho
Jessica Bezerra da Silva tem 11 anos, está
na 4ª série e é uma das criadoras da “cooperativinha de bordado de Entremontes”,
distrito da cidade de Piranhas (AL) com
cerca de 600 habitantes. O grupo tem 20
meninas que se reúnem fora do período escolar na casa de uma delas para bordar nos
retalhos de tecido que sobram do trabalho
de suas mães. “A gente ainda espeta o dedo,
mas consegue fazer guardanapos bem bonitos”, diz a aprendiz. Jessica é filha de
Edna Bezerra da Silva – a presidente da Casa
do Bordado de Entremontes, cooperativa que
reúne 68 bordadeiras da localidade – e é
um exemplo singelo e bem-acabado da empolgação que uma boa idéia pode causar.
Criada em março de 1999 sob a coordenação do Programa Artesanato Solidário, a
associação das bordadeiras já se tornou uma
importante fonte de renda para as artesãs
locais. É bom não esquecer que as principais atividades econômicas da região são a
pesca no rio São Francisco e a agricultura –
ambas em crise. “Hoje conseguimos manter
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
39
ARTESANATO SOLIDÁRIO
Cooperativismo resgata técnicas
tradicionais e gera rendas
Jessica (em primeiro
plano) criou uma
cooperativa infantil
para dar os primeiros
passos no bordado
ARTESANATO SOLIDÁRIO
nossos filhos na escola, calçados e vestidos, e muitas vezes somos nós também
quem colocamos comida na geladeira”, diz
Edna. As artesãs costumam faturar de R$
50 a R$ 100 por mês, dependendo das vendas de sua produção individual.
Esse dinheiro pode ser importantíssimo para
o sustento familiar, como no caso de Maria
dos Prazeres Capela de Sousa, 27 anos e
três filhos. Ela ficou viúva em agosto de
2002. “Eu já bordava, mas não para vender. A Casa do Bordado foi uma tábua de
salvação para mim. Não tenho emprego e
daqui tiro meu pão”, diz. Como boa parte
das outras artesãs, Maria dos Prazeres trabalha das 8 até as 18 horas.
Se hoje a casa onde funciona a cooperativa
vive cheia de artesãs, no princípio foi mais
difícil. A presidente Edna explica que uma
coordenadora do Artesanato Solidário chegou à região e iniciou visitas porta a porta,
para marcar uma reunião inicial entre as
bordadeiras com o objetivo de lançar a idéia
da associação, que de início reuniu 20 artesãs. “Nós já tínhamos tentado nos associar
antes sem sucesso”, diz Edna. “Mas com a
presença do ArteSol as coisas ficaram mais
fáceis. Eles fizeram algumas oficinas e ensinaram a padronizar nossos produtos, a administrar, a chegar ao preço final.”
A cooperativa produz bandejas, toalhas, jogos americanos, lençóis e caminhos de mesa
usando a técnica de bordado redendê, tradicional entre as artesãs do local, ou o ponto
cruz. Esse, aliás, é um dos objetivos do programa Artesanato Solidário: resgatar técnicas de produção de artesanato em locais
carentes e organizar associações que sejam
capazes de transformar em rentável essa
atividade. Em outubro de 2002, por exemplo, Edna e suas colegas estavam com uma
grande encomenda para ser entregue nos
dias seguintes: 202 peças para o Empório
Santa Maria, na distante capital paulista.
“Recebemos encomendas de quem conheceu nossos bordados por meio do catálogo
do Artesanato Solidário”, conta Edna. Também de São Paulo, a associação já atendeu
um pedido grande do Rubayat, restaurante
badalado da cidade.
Um dos segredos do sucesso, de acordo com
Edna, é a democracia. Na Casa do Bordado
todas as decisões importantes são submetidas ao voto. A cooperação entre as artesãs também envolve uma organização rigorosa. Um quadro na parede traz em letras
grandes a escala da limpeza durante a semana. “Temos de cuidar de nosso espaço,
não é verdade?”, diz Edna.
A vida individual da presidente da associação também ganhou novos horizontes. Sua
responsabilidade acabou fazendo com que
viagens para exposições, por exemplo, se
Edna preside a Casa do Bordado de
Entremontes: “Aprendemos a
administrar nosso negócio”
40
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
tornassem freqüentes. “Eu era uma pessoa
muito acomodada, agora não consigo mais
ficar quieta. Só quem não gosta muito é
meu marido”, brinca.
Agulha na mão, Iracema Araújo Sarmento,
a dona Xodô, não revela a idade e é uma
das artesãs mais populares da associação.
Ela conta que sua vida melhorou muito graças ao cooperativismo. “Bordo desde os oito
anos, mas só agora não preciso tentar vender de porta em porta. Trabalhar sozinha é
muito difícil, acabava vendendo o produto
barato demais, não ganhava nada. Agora,
além de tudo, a gente tem uma convivência
muito boa”, comenta.
Desde junho, Florival José de Souza Filho é
gerente regional do programa em várias comunidades no Sergipe e Alagoas. Ele explica que a cooperativa de Entremontes está
entre aquelas experiências bastante consolidadas. “São os nossos cartões de visita.
Seu sucesso acaba sendo um ótimo argu-
mento na hora de mobilizar outras comunidades”, diz. Segundo ele, muitas vezes a
produção artesanal de certas comunidades
é toda comprada por atravessadores, que
pagam quantias indignas pelos produtos. “As
pessoas já têm uma relação com os atravessadores e ficam desconfiadas quando
chega alguém de fora. Têm medo que os
agentes locais do programa desapareçam e
elas percam o pouquinho que possuem. Estamos mudando isso”, explica.
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
41
ARTESANATO SOLIDÁRIO
DEMOCRACIA - Todas as decisões
importantes da cooperativa
são tomadas com base no
voto das 68 bordadeiras. A
organização também é fundamental: existe uma escala
de artesãs responsáveis pela
limpeza e cada peça leva uma
etiqueta identificando a autora, que fatura somente no
momento da venda
CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA
O aprendizado que
leva à auto-estima
Combater a pobreza pode passar pelo desenvolvimento pessoal.
Capacitação mudou a atitude de estudante em Canindé do São Francisco
Não é novidade para ninguém que o rio
São Francisco é vital no semi-árido nordestino. Ele nasce na Serra da Canastra
(MG) e está a pouco mais de 200 quilômetros de sua foz, dividindo os estados de
Sergipe e Alagoas, quando chega a Canindé do São Francisco (SE), depois de percorrer 2.600 quilômetros do território brasileiro. Ali o rio gera energia elétrica na
usina de Xingó, traz a preciosa água para
uma região marcada pela seca, torna possível a agricultura e fornece os peixes que
ainda sustentam comunidades de pescadores. A beleza do cânion já atrai os ecoturistas para a região e pode se tornar um
importantíssimo meio de geração de renda
em uma localidade que tem baixa atividade econômica.
Também não é novidade que o São Francisco encontra-se sob ameaça. Seu represamento para a geração de energia, por
exemplo, mudou algumas de suas características originais – e já não existem tantos
peixes como em outros tempos, dizem os
pescadores. A poluição, no entanto, é a
grande ameaça ao curso d’água mais importante do Nordeste. Não só a causada
42
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
pelas indústrias, mas especialmente os
estragos feitos pelas populações ribeirinhas, que não são servidas por redes de
saneamento básico e carecem de consciência ambiental.
Cuidar do São Francisco, então, é algo que
deve ser ensinado desde muito cedo para
as populações que vivem a sua volta. E é
justamente isso o que vem fazendo Maria
Daniely Alves dos Santos, 18 anos e cursando a 2ª série do ensino médio no Colégio Estadual Delmiro de Miranda Brito, em
Canindé do São Francisco. Ela é uma das
cinco agentes jovens do Portal da Alvorada da cidade e coordena o grupo de estudantes Amigos do Rio, que busca a conscientização na região. “Percorremos as escolas, conversamos com os estudantes,
explicamos para eles a importância de cuidar bem do meio ambiente para o futuro
de todos nós”, relata. Para cumprir essa
função, a estudante foi capacitada pelo
curso Desenvolvimento de Habilidades Interpessoais e Administrativas, do Programa Capacitação Solidária.
O Portal do Alvorada é um projeto do governo federal que prevê parcerias com es-
TOMADA DE CONSCIÊNCIA - A estudante Maria
Daniely tornou-se uma das cinco agentes
jovens do Portal do Alvorada em sua cidade depois de passar por um curso de
capacitação que prioriza o desenvolvimento de habilidades interpessoais. Agora
ela se considera uma pessoa muito mais
participativa
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
43
CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA
tados, municípios e com a sociedade civil
organizada para reduzir a pobreza e as desigualdades regionais no Brasil. Seu foco
são os estados do Acre, Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins e microrregiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Em 2001 o Capacitação
Solidária estruturou o curso para apoiar o
Portal do Alvorada.
Maria Daniely conta que o fato de ter passado pela capacitação modificou até memesmo o seu jeito de ser. “Eu era uma pessoa muito retraída, estava desinteressada
pela escola e agora consigo me expressar
melhor, aprendi que não posso desistir
diante de qualquer obstáculo. Quero também me formar, mas ainda não decidi se
vou estudar para ser veterinária ou engenheira química”, explica.
Além disso, Maria Daniely conta que assumiu outra postura na convivência familiar.
Mais velha de oito irmãos, ela tomou para
si novas responsabilidades e ajuda a mãe
na educação dos mais novos. “Já consegui
convencer minha irmã a não parar de estudar”, alegra-se. Agora seu desafio é coordenar um grupo de cinco agentes jovens e
levar a mensagem da preservação ambiental para o maior número de pessoas que
puder, com a segurança de que seus argumentos têm mais força e podem contribuir
para garantir a integridade e a perenidade
do rio São Francisco e, em conseqüência,
dos milhares de habitantes cujas vidas
dependem dele.
FÓRUM DLIS
Desenvolvimento local
e empreendedorismo
Problemas sociais de regiões pobres podem ser enfrentados por
comunidades capazes de andar com as próprias pernas
Estúdio da Jaciobá FM, em Pão de Açúcar
(AL), distante 239 quilômetros da capital
Maceió. Pontualmente às 10 e às 15 horas,
de segunda a sexta-feira, duas jovens estudantes, Alice Melo, 18 anos, e Rosteane da
Silva Santos, 17, assumem os microfones
da rádio durante 10 minutos para falar sobre temas como sexualidade, cidadania, proteção ao meio ambiente, drogas e saúde.
As antenas da emissora irradiam suas mensagens para 80 municípios dos estados de
Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe. Alice e Rosteane pertencem ao grupo de 27
jovens de 14 a 22 anos participantes do
grupo Protagonistas Juvenis da cidade, que
conseguiu o espaço na grade de programação da Jaciobá negociando descontos com
o departamento comercial da emissora e um
patrocínio junto à prefeitura.
“Tomamos essa iniciativa porque sentimos
a necessidade muito forte de divulgar nossas idéias para sensibilizar os moradores de
nossa comunidade”, diz Alice. O programa
estreou em 10 de junho de 2002 e o contrato tem seis meses de duração. O grupo
Protagonistas Juvenis foi criado no âmbito
do Fórum DLIS (Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável) de Pão de Açúcar e
44
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
tem como tutor o poeta e educador Givaldo
dos Anjos Vieira, 40 anos, que ganhou o
apelido de Túlio nos campinhos de futebol.
“Essa é uma maneira de trazer o jovem para
dentro do Fórum DLIS, para que ele possa
cada vez mais se sentir sujeito do processo
de desenvolvimento local”, diz Túlio. Ele
conta que, em Pão de Açúcar, a iniciativa
teve grande efeito multiplicador por conta
do envolvimento dos jovens.
O programa Protagonistas Juvenis aconteceu em todos os municípios da área de
abrangência do Instituto Xingó e contou
com o apoio do Sebrae. “Durante 90 dias,
em dois encontros semanais de quatro horas, 30 jovens da comunidade se reuniam
com um educador e o grupo escolhia um
tema a ser abordado, como gravidez na adolescência, problema grave na região e que
aflorou no grupo de Pão de Açúcar. O grande objetivo é sensibilizar e mobilizar a população local, em especial a parcela mais
jovem, para a resolução dos grandes problemas da localidade”, explica Túlio. Estudar é condição obrigatória para ser um protagonista juvenil.
Depois da ação inicial do educador, que segue para outra localidade, o grupo passa a
ser acompanhado por um tutor, no caso o
próprio Túlio. Uma das ações decorrentes
das reuniões em Pão de Açúcar foi uma campanha de prevenção à gravidez nas escolas
da cidade.
O Fórum DLIS é o instrumento local do programa Comunidade Ativa, lançado em 1999
pelo governo federal para combater a pobreza e promover o desenvolvimento do país.
A estratégia é fomentar o desenvolvimento
local integrado e sustentável para enfrentar os problemas sociais e econômicos de
localidades pobres, estimulando o surgimento de comunidades sustentáveis capazes de
caminhar com as próprias pernas, dependendo cada vez menos do governo. Coordenado pela Secretaria Executiva do Comunidade Solidária, o programa já está implantado em mais de 700 localidades em todos
os estados brasileiros.
A implementação do programa segue um
roteiro de 14 passos que começa com a capacitação das lideranças locais que fazem
um diagnóstico dos problemas, dos obstáculos a serem vencidos e das vocações da
localidade. Depois, elabora-se um plano de
desenvolvimento local e são estabelecidas
as prioridades do lugar. Com base nessa
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
45
FÓRUM DLIS
HORIZONTE - O poeta e educador Túlio tem o perfil
típico de um agente de desenvolvimento: foi tutor
de um grupo de Protagonistas Juvenis que já se lançou a diversas ações para melhorar a vida em sua
cidade, Pão de Açúcar (AL)
FÓRUM DLIS
agenda local, preparada por um fórum formado por representantes de diversos setores sociais, é feita a negociação entre a oferta dos programas (federais, estaduais e municipais) e a demanda da localidade. A etapa seguinte é o Pacto de Desenvolvimento
Local assinado por todos os parceiros para
cumprimento de metas e prazos.
De acordo com Túlio, o Fórum DLIS de Pão
de Açúcar começou a ser implantado em
abril de 2001 e reúne representantes dos
Orientação sexual, compra de votos e meio
ambiente na pauta de Rosteane (de boné) e Alice
46
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
poderes executivo e legislativo municipais,
igrejas evangélica e católica, sindicato de
trabalhadores rurais, federação de associações comunitárias, associações comunitárias independentes, colônias de pescadores,
sindicatos de funcionários públicos municipais, estaduais e federais. “O número de
participantes varia um pouco, mas fica em
torno de 30”, revela.
Túlio é um exemplo vivo do que Augusto de
Franco, conselheiro do Comunidade Solidária, define como agente de desenvolvimento. “São pessoas diferentes do militante
político tradicional, são agentes do Brasil
que dá certo, são muito mais proativos do
que reativos. Estão preocupados em fazer e
inventar coisas e comovidos pelo poder
transformador da inovação. Estão conscientes de que só é possível avançar humana,
social e economicamente se desenvolverem
suas potencialidades”, resume Franco.
Uma das características mais marcantes desses agentes é seu poder multiplicador. “O
DLIS é como um vírus”, define Túlio. A estudante e radialista Alice se considera contagiada. “A gente precisa agir para trazer o
desenvolvimento para cá”, diz. Junto com
outros protagonistas juvenis de Pão de Açú-
FÓRUM DLIS
car, animou o festival de arte e cultura da
cidade e participou de uma campanha no
período que antecedeu as eleições de outubro, contra a compra de votos – fato corriqueiro no sertão alagoano. Sua empolgação é tanta que até já perdeu uma raríssima
oportunidade de emprego para seguir se
dedicando ao protagonismo juvenil.
A baixa atividade econômica, aliás, é um
problema que afeta a todas as comunidades do Xingó e essa é uma das questões
mais constantes nas reuniões dos fóruns.
Em Piranhas, por exemplo, tem gente se
articulando para aproveitar o potencial turístico da região, que é enorme. A paisagem da cidade é privilegiada, tem a seu lado
o cânion do rio São Francisco, que nessa
altura é navegável, e sua topografia é um
prato cheio para os amantes de esportes
radicais e ecoturismo. A cidade tem um centro histórico com arquitetura colonial belíssima e uma história rica, que começa no
século XVIII com a criação de um pequeno
arraial, que ganha impulso com a navegação a vapor, em 1867, e com a chegada da
ferrovia em 1881, ligando o lugarejo ao
baixo São Francisco e à cachoeira de Paulo
Afonso. Piranhas tornou-se o principal entreposto comercial da região e, em 1930,
alcançou a condição administrativa de cidade. No centro histórico, na edificação da
antiga estação ferroviária, localiza-se o
Museu do Sertão, que abriga pertences de
Lampião e de outros cangaceiros de seu
bando. Aliás, a Grota do Angico, nas redondezas, é o local de refúgio e morte do rei do
cangaço pela volante. A cidade foi ainda
Jacqueline está articulando a criação de infra-estrutura turística na cidade de Piranhas no fórum DLIS
cenário de filmes como Bye Bye, Brasil e
Baile Perfumado.
“O problema é que nós não temos infraestrutura para receber o turista”, lamenta
Jacqueline Rodrigues, participante do Fórum DLIS de Piranhas. Em 2001 ela concluiu um curso de turismo pelo Centro Federativo Tecnológico e, além de dar expediente no único hospital de Piranhas, já trabalha na área, em uma pousada que fica na
sede da Fazenda Remanso, “onde foi planejada pelo tenente Bezerra a emboscada que
liquidou Lampião”. Jacqueline conta que tem
sete apartamentos e quer chegar a 15, para
hospedar principalmente pequenos grupos
de estudiosos com interesse na caatinga.
Hoje ela emprega duas pessoas e acredita
que brevemente possa gerar pelo menos 12
postos de trabalho com seu negócio. Mas,
para chegar lá, diz que as ações do fórum
são fundamentais.
“Nosso primeiro passo é a formalização dos
negócios, e estamos articulando isso em
conjunto com outros cinco donos de pousadas locais. Depois é preciso capacitar a
mão-de-obra, que é muito deficiente”, revela. “O pessoal da comunidade ainda está
acostumado a receber o prato feito, mas
dando um passo depois do outro vamos chegar lá”, aposta.
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
47
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
Universitários se engajam
em projeto de resgate social
Equipes de alunos e professores cruzam o país e empregam seus
conhecimentos para melhorar a qualidade de vida da população
Gutemberg Oldack Barbosa, 33 anos, é professor de português e lingüística da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFES), na Bahia, e já foi coordenador de três
equipes do módulo especial do Programa
Universidade Solidária na área do Xingó.
“Encontrei uma região repleta de problemas, principalmente na zona rural. Existem
muitas carências na área da saúde, os postos de atendimento ficam muito distantes.
Na minha especialidade, educação, encontramos professores com qualificação muito
baixa, e pouquíssimos deles possuem nível
superior”, relata.
Gutemberg conheceu a região ainda como
estudante, em 1997, por conta de um convênio entre a universidade onde estudava e
hoje é professor e o Instituto Xingó, ainda
sem relação com o UniSol. “Passei 45 dias
na localidade para elaborar um diagnóstico
da educação”, conta. De lá para cá, seus
laços com o Xingó só fizeram se estreitar. A
diretora da Escola Municipal Padre José
Augusto, do distrito de Piau, em Piranhas
(AL), lembra a importância da visita que o
grupo de estudantes liderado por Gutemberg fez em meados de abril de 2001. “O
pessoal realizou uma série de palestras aqui
48
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
Populações carentes no Xingó se beneficiam das
ações multidisciplinares das equipes do UniSol
em nossa escola, sobre temas como medicina caseira, higiene e orientação sexual.
Exibiram fitas de vídeo e provocaram muito
interesse, principalmente entre os jovens.
Às vezes nos sentimos muito abandonados
por aqui e esse tipo de ação é muito importante”, afirma.
Gutemberg conta que iniciou um de seus
trabalhos mais marcantes justamente na
comunidade de Piau, no mesmo ano de
2001. É muito grande a presença de idosos
na localidade. Sem ocupação e muitas vezes doentes, eles levavam uma vida sem
perspectivas. “Era essencial recuperar a
auto-estima daquelas pessoas”, lembra ele.
O grupo do UniSol contava com três estudantes de enfermagem que partiram para
uma série de visitas domiciliares, as VDs.
Fizeram exames e descobriram muitas pessoas diabéticas e hipertensas, que foram
orientadas sobre os cuidados com alimentação e sobre remédios caseiros para reduzir os problemas. “Como eles não contam
com renda para se alimentar durante todo o
mês, muitos tinham também problemas de
desnutrição. Ensinamos a população a fazer a munjica, que é um caldo à base de
sobra de galinha”, diz Gutemberg.
O mais importante, porém, foi a criação de
um grupo de convivência da terceira idade.
“Havia pessoas em nossa equipe com capacitação em relações interpessoais e elas
promoveram alguns encontros entre os idosos, que ficaram muito felizes”, diz. A iniciativa acabou chamando a atenção do poder público municipal, que resolveu ceder
espaço em uma escola para a criação de um
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
centro de convivência. “Quando terminou o
período de nossa estada, houve muita emoção, com direito a muita choradeira”, relembra Gutemberg.
Ao chegar ao Xingó no ano seguinte, no
entanto, a decepção. As atividades do centro de convivência haviam sido interrompidas. O grupo do UniSol tratou então de reativar a iniciativa, que dessa vez acabou contando com maior participação. “A UEFES
mantém a Universidade Aberta da Terceira
Idade, que tem especialização em trabalhos
com idosos. Fizemos a ponte entre a instituição e as autoridades municipais e foi estabelecido um convênio cuja operação deve
ser iniciada em 2003”, diz ele.
Outro trabalho importante da UniSol acontecido no Xingó teve lugar no acampamento do MST em Picos, Piranhas (ver pág. 35).
A coordenadora do AlfaSol Genilda Paulino
de Brito acionou o grupo universitário para
uma ação junto aos sem-terra. “A família
Sol funciona assim. Sempre que necessário,
um apela para o outro”, explica Gutemberg.
Esse entrecruzamento de ações de participantes dos programas do Conselho da Comunidade Solidária é, aliás, uma saudável
conseqüência de sua atuação. Adeildes Bezerra dos Santos, 22 anos, assistente do
Portal do Alvorada em Canindé do São Francisco durante o dia e educador do Alfabetização Solidária à noite, tomou conhecimento
de um curso de capacitação na Universidade Tiradentes, em Aracaju em uma palestra
realizada pelo grupo do UniSol. Inscreveuse, foi selecionado e seguiu com outros 21
jovens de sua cidade para a capital, onde
“FAMÍLIA SOL” - O espírito de solidariedade entre os participantes dos diversos programas
acaba muitas vezes gerando
ações entrecruzadas, em que
um agente recorre à competência do outro para o desenvolvimento de atividades mais
efetivas. O educador Adeildes
(à esq.) participa de vários
programas
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
49
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
Policial civil e poeta, Giovanni publicou seus poemas
pela primeira vez em 2002 em uma antologia com
autores de sua cidade editada pela UniVap, como uma
ação do Universidade Solidária
50
COMUNIDADE SOLIDÁRIA
permaneceu por 12 dias. Hoje, Adeildes dos
Santos é responsável pela alfabetização de
15 adultos.
De acordo com Givaldo dos Anjos Vieira, o
Túlio, que faz parte do DLIS de Pão de Açúcar (AL), a atuação do fórum em sua cidade tornou mais eficazes as ações do UniSol. “A equipe procura logo o fórum, que
já tem uma radiografia dos problemas locais e das demandas da população e pode
fornecer os subsídios necessários para uma
atuação da equipe, que permanece nas localidades por um tempo relativamente curto”, explica.
Pão de Açúcar está incluída entre
os municípios que recebem módulos especiais do programa UniSol. Isso significa que uma universidade, no caso a Universidade
do Vale do Paraíba (UniVap), que
possui campi nas cidades de São
José dos Campos e Jacareí, ambas em São Paulo, pode fazer um
trabalho continuado na região.
Além de realizar trabalhos nas
áreas de meio ambiente, orientação sexual e técnicas de cultivo
em hortas comunitárias, a equipe
do UniSol que esteve na cidade
em 2001 ajudou a criar a União
dos Artistas de Pão de Açúcar, em
conjunto com o fórum DLIS. Como
conseqüência, ainda em 2001, o
programa ajudou a produzir uma
coletânea de poetas da cidade, entre eles o próprio Túlio, publicada
em livro no ano seguinte.
Outro dos poetas publicados é Giovanni Silva Fialho, 35 anos e policial civil que mora
de frente para o rio São Francisco. “Já escrevi uns 80 poemas, mas não costumava
mostrá-los a ninguém. Essa iniciativa acabou aproximando bastante os autores, que
deixaram de ser anônimos”, relata. Depois
disso, Giovanni já foi procurado por alunos de escolas da cidade para entrevistas
e viu crescer o interesse pela poesia na
cidade. “Tem mais gente fazendo poesia
em Pão de Açúcar hoje em dia. E isso só
pode fazer bem para os indivíduos e para a
coletividade”, alegra-se.
A PRÁTICA DA AÇÃO SOCIAL
O Conselho da Comunidade Solidária saiu a campo para
mudar o modelo assistencialista de ação social com iniciativas no campo legal, na construção de novas metodologias de atuação, no estabelecimento de canais inéditos de
diálogo com os diversos setores da sociedade, na criação
de instrumentos de crédito não-convencionais. Encontrou
eco na nova mentalidade de empresários, governo e cidadãos, que hoje formam um vibrante terceiro setor no país.
51
Autonomia Social
Correr atrás do sonho – e realizá-lo
AUGUSTO DE FRANCO, CONSELHEIRO DO COMUNIDADE SOLIDÁRIA, ANALISA A INESGOTÁVEL
POLÊMICA QUE CONTRAPÕE O ASSISTENCIALISMO À IDÉIA DO CAPITAL SOCIAL
Nós, no Comunidade Solidária, não gostamos de programas de oferta estatal porque eles transformam as populações em beneficiárias passivas e permanentes de programas assistenciais. O Estado deve encorajar as populações a superar problemas e obstáculos usando sua própria criatividade e seus próprios recursos, em vez de criar
um festival de programas que acaba condenando o indivíduo à dependência. As pessoas só se desenvolvem quando geram um dinamismo próprio a partir de sua identidade, descobrindo uma vocação, correndo atrás dela, tendo
sonhos e tentando realizá-los. Mas não é fácil convencer
dois extremos. De um lado estão os economistas que
acham que tudo isso é política de segunda linha, pois o
que resolve o problema é a economia. Do outro estão os
assistencialistas que acham que é preciso fazer programas para compensar as defasagens de inserção de quem
não foi incluído pela economia.
Não somos nem assistencialistas nem economistas. Achamos que o desenvolvimento é um fenômeno sistêmico,
não um fenômeno econômico. A economia é uma parte
do todo, mas não é determinante, como se acredita. Como
a economia não resolve o problema na prática, entra a
turma do assistencialismo que quer compensar as defasa52
gens de inserção. Desestimulam-se o empreendedorismo,
o cooperativismo, a conexão horizontal entre as pessoas
para decidir o que vão fazer e a participação democrática. Desenvolvimento é o oposto. Significa mais empreendedores, mais gente abrindo negócio, mais ações coletivas, ampliação social, cooperação, reciprocidade, ajuda
mútua, solidariedade. Democracia, rede, cooperação e empreendedorismo são espécies de aminoácidos desse grande fenômeno que chamamos de desenvolvimento.
Todo desenvolvimento é local. Cada localidade tem que
escolher uma vocação, descobrir as suas potencialidades e
organizar-se para explorá-las. Essa escolha deve ser feita
pela comunidade e por suas lideranças. Elabora-se um diagnóstico, depois um plano, e desse plano é extraída uma
agenda de prioridades dividida em duas partes: uma agenda local para realizar com recursos endógenos e outra para
negociar com outras esferas supralocais – o governo estadual, o governo federal, as organizações civis.
Não pretendemos ser candidatos a condutores de rebanhos. O que nos interessa é estimular. Cada inovação é
uma pequena revolução, cada mudança de comportamento
é uma revolução. Esse processo possibilitou a expansão
do terceiro setor. Todo programa social é dinâmico e de-
Autonomia Social
sencadeia inovações. Essas inovações retroagem sobre
o programa e modificam seu desenho original. Ele está
vivo porque novos fatos mudam o seu desenho. Além
disso, é focalizado, porque sem foco não se resolvem os
problemas. Por exemplo, programas universais tratam
igualmente os desiguais, mas é preciso tratar desigualmente os desiguais. Por que hoje grande parte do gasto
social brasileiro vai para os setores médios, e não para o
povo? Porque os setores médios têm mais acesso. Então, pratica-se uma política igual para um conjunto que
é muito desigual. Aquele que tem menos acesso não
consegue usufruir da mesma parcela daquele que tem
mais acesso.
vidros, tirar o lixo, os pneus? Vocês têm condições de
arrumar isso?” “Temos”, o povo responde. “E por que vocês não fazem?” Ninguém responde nada. Se a pessoa
perguntar quantos analfabetos existem, eles respondem:
“Ah, não sei, uns 300”. “E vocês não têm aí alguém que
possa ensinar esses meninos a ler e escrever, alguma professora aposentada?” “Temos.” “E por que vocês não organizam umas turmas para alfabetizar esses meninos?”
De novo o silêncio. Eles vão dizer: “Nós somos fracos e o
governo não ajuda”. Falam as mesmas frases no Acre, na
metade sul pobre do Rio Grande do Sul, no Ceará ou no
litoral do Espírito Santo. Não é apenas o mesmo conteúdo, são frases literais. Já fiz
esse teste mil vezes.
Se alguém quiser fazer uma
coisa diferente, os amigos
vão dizer a ele: “Rapaz, não
se meta nisso”. “Não, eu vou
abrir um negócio, criar peixe, conseguir um empréstimo no banco.” E os amigos:
“Você vai é ficar endividado
e se ferrar no banco”. Assim
é a cultura: se a ajuda não vem de cima, poucos tomam a
iniciativa. Isso está enraizado, está nas células. É essa
maneira de pensar e agir que faz o Brasil ser como é. Está
no DNA cultural.
Como se muda essa cultura? A pessoa tem que fazer alguma coisa que dê certo, tem que ocorrer uma pequena
vitória, tem que acreditar. “Olha só, eu fiz e deu certo!”
Ou então a união de um grupo tem que mostrar que produziu alguma coisa realmente positiva, que a pessoa não
estava ali só para tirar da outra. O governo, por sua vez,
tem que entender que isso é bom para ele.
Essa cultura política precisa ser quebrada, e a única maneira de fazer isso de forma eficiente é quebrar lá na
ponta, onde ela tem suas raízes, e não em Brasília.
“Programas universais
tratam igualmente os
desiguais, mas é preciso
tratar desigualmente os
desiguais”
Mudança cultural
Tudo envolve mudança cultural. Cultura é uma transmissão não-genética de
comportamentos, são padrões de comportamento que
a sociedade mantêm. A cultura se modifica quando
muda o padrão que é replicado para outras regiões do tempo. Mas mudar o padrão
não é simples, porque há resistências. Impõe-se um
padrão novo, mas logo volta o velho. É como o executivo que manda todo mundo da empresa fazer um curso
de reengenharia. O funcionário faz o curso e uma semana depois volta a agir exatamente como agia antes, porque a rotina e o padrão velho resistem, sobrevivem.
A cultura é assim. Em qualquer município pobre no Brasil, logo que se chega, vêem-se casas com vidro basculante quebrado, pneu velho, parede descascando, arame
retorcido, lixo, terra removida de algum lugar. Aí alguém chega, junta um grupo de pessoas e pergunta por
que aquilo está daquele jeito. “Será que vocês não podem, num domingo de manhã, vir para cá e trocar os
53
Empreendedorismo
Menos empregados, mais empregadores
SÉRGIO MOREIRA, PRESIDENTE DO SEBRAE NACIONAL, DÁ A RECEITA PARA TRANSFORMAR
NOVOS NEGÓCIOS EM UMA EFICIENTE FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO NACIONAL
A chave para o desenvolvimento sócio-econômico do
Brasil pode ser acionada pelo empreendedorismo. Mas,
para que o país possa beneficiar-se plenamente de um
mercado de novos negócios com potencial de crescimento, é preciso promover uma mudança cultural que crie
condições para o florescimento de empresas inovadoras.
Segundo relatórios da Global Entrepreneurship Monitor
(GEM), uma das principais ações de qualquer governo
para promover o crescimento econômico consiste em estimular e apoiar o empreendedorismo.
“O fermento do empreendedorismo é o elemento potencializador das transformações de que o país necessita”,
diz o presidente do Sebrae Nacional, Sérgio Moreira. “A
ação empreendedora pode acelerar a construção de um
país digno e mais justo.”
O grande problema, porém, é que a motivação para se
tornar um empresário vem da necessidade e não da oportunidade. Ser um empreendedor no Brasil não é uma opção desejada por boa parcela da sociedade, ainda apegada ao modelo tradicional de que ser bem-sucedido significa carteira de trabalho assinada em uma grande empresa. E esse descaso social é um enorme desperdício. “Embora sejamos um dos povos que mais empreendem no
54
mundo, segundo a GEM, o contexto cultural brasileiro é
restritivo à maior disseminação da cultura empreendedora”, analisa Moreira. “A universidade ainda forma para o
emprego de carteira assinada, que está acabando.”
Mudar esse cenário não é simples. Seria preciso alavancar uma transformação cultural e sustentá-la a partir da
criação de um sistema educacional voltado para a formação de empregadores, e não de empregados – e, dessa
forma, valorizá-los a partir do seu papel social na geração e distribuição de renda. A construção do ambiente
favorável aos pequenos negócios passa pela introdução
do empreendedorismo nos currículos escolares, além da
consolidação de políticas públicas que priorizem a pequena produção. “O Brasil está sentado em cima de uma
das maiores riquezas naturais do mundo ainda relativamente pouco exploradas: o potencial criativo do seu povo”,
lembra o presidente do Sebrae.
Por enquanto, o empreendedor no Brasil está sendo obrigado a tirar leite de pedra. O ambiente hostil aos pequenos negócios é gerado pelo excesso de impostos e de burocracia e pela falta de acesso ao crédito, à tecnologia e à
informação. O Sebrae, segundo Sérgio Moreira, está tentando mudar essa situação com programas de difusão da
Empreendedorismo
cultura empreendedora. Alguns dos parceiros da entidade
nessa complexa empreitada são a Escola Técnica de Formação Gerencial, em Minas Gerais; a Universidade Sebrae
de Negócios, no Rio Grande do Sul, e o Centro Profissional
de Empreendedorismo da Amazônia, no Pará. Além disso,
num acordo com o MEC, o Sebrae já capacitou 10 mil professores das escolas técnicas federais para espalhar essa
cultura junto aos 350 mil alunos da rede. Em outro acordo
com o ministério, vai implantar noções de empreendedorismo nas 20 mil escolas públicas do ensino médio.
A disseminação do conceito pode romper os muros da
prisão cultural em que vive o setor. Afinal, garante Moreira, todo mundo tem um
empreendedor dentro de si.
Muitos, porém, acabam sendo influenciados por uma
ideologia que não tem o trabalho empreendedor como
algo positivo. Nesse sentido,
a rede amarrada pelo Sebrae
pode abrir os olhos da sociedade para a importância dessa atitude – que envolve autonomia, proatividade e comprometimento. Atualmente, são características necessárias a profissionais em qualquer atividade. Mesmo no
emprego formal – que Moreira faz questão de salientar
que está em extinção –, o perfil empreendedor tem sido
cada vez mais exigido nos processos de seleção.
Fora do Brasil, o ensino de empreendedorismo está nas
salas de aula há muito tempo. Na Harvard Business School,
nos Estados Unidos, faz parte do currículo há 50 anos.
Aqui tornou-se disciplina nas escolas de administração
há uma década. A visão acadêmica, no entanto, é mais
instrumental do que o conceito adotado pelo Sebrae. “O
empreendedorismo que queremos e estimulamos implica
atitudes de ousadia do indivíduo na relação com a sociedade”, explica Moreira. “Essa postura favorece os proces-
sos de criatividade e realização, resultando em ganhos
econômicos e sociais.”
Trata-se do conceito aplicado de acordo com uma visão
contemporânea de desenvolvimento, entendido, sobretudo, pela promoção da qualidade de vida das pessoas. É
justamente esse o tema central do empreendedorismo: o
desenvolvimento humano, econômico e social, capaz de
reduzir as desigualdades e promover a inclusão. E, na
busca dessa meta, o Sebrae luta pelo fortalecimento da
pequena produção. “O empreendedor é alguém que transforma a realidade da sua comunidade”, analisa Sérgio
Moreira. Esse olhar cruza com os objetivos do Comunidade Solidária. O Programa Sebrae de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
surgiu por meio de uma parceria entre o Comunidade e
o próprio Sebrae. “Operamos
o DLIS em cerca de 2 mil municípios, dos quais 700 (35%)
em parceria com o Comunidade Solidária via Comunidade Ativa.” Depois da instalação dos Fóruns de Desenvolvimento, o programa patrocina para seus integrantes um
curso específico, o Saber Empreender, que, entre outras
iniciativas, estimula a capacidade de mobilização.
A difusão dos projetos de empreendedorismo depende
de uma ferramenta poderosa para sua implementação: o
microcrédito. E o Sebrae tem também atuado fortemente nessa área. Nada menos do que 89 projetos foram
selecionados no primeiro edital de apoio a instituições
de microcrédito do Sebrae. O resultado aumentará em
36% a quantidade de instituições de microcrédito no
país. “Nosso apoio se dá tanto no aporte financeiro direto, para a formação de carteira via empréstimo em
condições favorecidas, quanto na capacitação e assistência técnica.”
“O empreendedorismo que
estimulamos implica atitudes
de ousadia do indivíduo na
relação com a sociedade”
55
56
Nova Mentalidade
Sociedade vira o jogo e impõe novas
regras de participação comunitária
Está em curso uma mudança radical no comportamento
da sociedade brasileira. Diante de problemas nacionais
que insistem em se perpetuar, fatias cada vez maiores da
população vêm despertando para o fato de que a transformação da realidade é um sonho possível – só depende
do empenho de cada um. O país assiste à redefinição
geral dos papéis de seus agentes sociais. O Estado renuncia às ações assistencialistas isoladas e passa ao combate sistêmico e racional das raízes da exclusão social. A
sociedade civil se redescobre e potencializa sua capacidade de induzir ao desenvolvimento comunitário: empresários chamam para si responsabilidades que estão para
além dos muros corporativos, enquanto a solidariedade
passa a ser uma prática cotidiana de legiões de cidadãos
comuns de todos os cantos do Brasil.
Participação é o nome do jogo criado por essa nova mentalidade. Cada vez mais familiarizados com o processo
democrático, os brasileiros vêm resgatando os valores da
cidadania e, com eles, o desejo de participar da construção de seu próprio destino. Nesse contexto, as organizações da sociedade civil não só induziram a esse desejo
como contribuem para torná-lo produtivo, por meio do
voluntariado. Só a Pastoral da Criança, por exemplo, conta
Cláudio Pereira da Silva, na Maré, Rio de Janeiro: um repórter que fala de sua própria comunidade
57
Nova Mentalidade
com 133 mil líderes comunitários atuando voluntariamente em benefício de mais de 1,1 milhão de famílias carentes em todo o Brasil – isso sem contar profissionais de diversas áreas, de professores a contabilistas, que doam parte de seu tempo a uma das
mais de 6.648 equipes de apoio, coordenação, capacitação e acompanhamento a serviço da entidade.
Entre diversas iniciativas de incentivo ao voluntariado, o Conselho da Comunidade Solidária ajudou a criar
mais de 40 Centros de Voluntários nas principais cidades brasileiras. Neles, qualquer pessoa – independentemente de formação ou condição social – pode
se candidatar a ajudar o próximo, aportando o melhor de sua competência no trabalho voluntário.
É o que faz, por exemplo, o comerciário Cláudio Pereira da Silva, do Rio de Janeiro, colaborador do site
www.vivafavela.com.br, criado e mantido pela ONG
Viva Rio. Embora não tenha curso superior de jornalista, Cláudio teve seu aguçado poder de observação
requisitado para abastecer o site com reportagens
sobre a comunidade da Maré, onde mora. “Minha maior
satisfação é saber que sou responsável por retratar
de forma clara e simples o que a comunidade pensa e
o que nenhuma outra mídia quis ouvir. Hoje sou conhecido como a pessoa que leva a voz da comunidade para fora dela, pela internet”, conta. Cláudio exemplifica o poder multiplicador do terceiro setor: exbeneficiário de uma ONG, a Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), onde cursou oficina
literária, hoje aplica o que aprendeu em reportagens
que focam sobretudo as questões de cidadania e da
auto-estima dos moradores de sua comunidade.
Às iniciativas individuais da população soma-se o cada
vez mais sólido engajamento de pessoas jurídicas às
boas causas do terceiro setor. Seja como patrocinadoras ou apoiadoras de entidades beneficentes ou
filantrópicas, seja como membros de organizações
58
Nova Mentalidade
A empresária
Bassy Arcuschin
Machado:
“O trabalho social
repercute na vida
pessoal.
Passamos a
valorizar o tempo
em família e a
qualidade de vida
e damos mais
atenção às
crianças”
dedicadas à difusão do investimento social responsável,
as empresas brasileiras deram um formidável salto qualitativo quanto a seus compromissos sociais. Na livre iniciativa moderna, diminui sensivelmente o espaço para a indiferença com os problemas públicos. Segundo a pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Ipea nas cinco regiões brasileiras, 59% dos estabelecimentos com um
ou mais empregados promovem, em caráter voluntário,
algum tipo de ação social comunitária. Isso corresponde
a 462 mil empresas, que, em 2000, ano-base do levantamento, aplicaram R$ 4,7 bilhões em investimentos sociais. As companhias de maior porte, com mais de 500
empregados, são percentualmente as que mais participam: 88% delas declaram aplicar recursos na área, contra
54% das micro e pequenas empresas.
O dado reflete a atenção que as grandes empresas dedicam ao investimento socialmente responsável. O estudo
Investimento Social Privado no Brasil, realizado em 2000
entre 48 associados do Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas (Gife), detectou que 72,9% das entidades – em
sua maioria ligadas a grandes grupos empresariais – elaboram planos estratégicos para orientar sua ação social.
Mais: 91,7% avaliam os resultados dos projetos e acompanham a execução orçamentária do investimento. Ou
seja, além de recursos financeiros, essas entidades também vêm transferindo tecnologia de gestão avançada para
o terceiro setor. Em outro estudo, Investimento Social na
Idade da Mídia, o Gife, em parceria com a Agência de
Notícias dos Direitos da Infância (Andi), pesquisou a cobertura do tema pelos meios de comunicação. Entre outras descobertas, o levantamento mostrou que em 65,22%
dos artigos e reportagens analisados o empresariado aponta a responsabilidade social como principal motivação de
seu investimento. Outros motivos relacionados foram o
altruísmo (21,74%) e razões mercadológicas (10,14%).
Abraçar a responsabilidade social significa sobretudo
aprender, segundo a empresária Bassy Arcuschin Machado,
59
Nova Mentalidade
de São Paulo: “Nesse intercâmbio, o empresário também
aprende que a responsabilidade social é um processo que
necessariamente começa de dentro para fora da empresa.
Estar atento à auto-estima e à valorização dos empregados, por exemplo, é um pré-requisito para uma atuação
mais ampla”, explica. Bassy é diretora da Origami Arquitetura de Papéis, pequena empresa que cria e desenvolve
cartões tridimensionais com a técnica japonesa da arte
de dobradura de papéis. A venda de produtos com parte
da renda revertida para entidades sociais (como a Fundação Abrinq, o Lar das Crianças da Congregação Israelita
Paulista e a Associação de Assistência
à Criança Deficiente – AACD) marca a
ação social da Origami. A empresa também participa da introdução de jovens
no mercado profissional, por meio do
programa Educação para o Trabalho do
Senac-SP, e tem parceria com a Oficina
Abrigada de Trabalho (OAT), que desenvolve projetos com portadores de deficiência mental. “O trabalho social também repercute na vida pessoal: a gente passa a revalorizar o tempo em família, a qualidade de vida, e preocupa-se mais em dar
atenção às crianças”, aponta Bassy.
Em grande parte responsáveis por sensibilizar tanto o
empresariado quanto o cidadão para as causas sociais do
bem comum, as organizações civis têm igualmente estabelecido um novo estágio de relacionamento com o governo. Mais do que cobrar ações, essas entidades voltamse ao trabalho em sinergia com o poder executivo, tanto
no diagnóstico de problemas como na formulação de soluções. Tome-se como exemplo o Programa Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq – destinado a mobilizar, comprometer e apoiar as administrações municipais
na implementação de políticas públicas de proteção a
crianças e adolescentes –, que conta com a adesão es-
pontânea de 1.542 municípios brasileiros. Por meio do
programa, realiza-se o projeto Mapa da Criança e do Adolescente. Trata-se do mapeamento das realidades de cada
município no que se refere a suas populações infantojuvenis. “A importância do projeto é levar os prefeitos a
assumirem compromissos com políticas que privilegiem
a melhora da situação da criança e do adolescente”, informa Rose Pavan, da Secretaria de Assistência Social (SAS)
da prefeitura de São Paulo.
Sob a coordenação da titular da SAS, a secretária municipal Aldaíza Sposati, um grupo executivo coletou dados
em outras pastas (Educação, Saúde, Esportes, Trabalho) e em organizações da
sociedade civil para obter uma inédita
radiografia da população infanto-juvenil da maior cidade do Brasil. Alguns
resultados chamam a atenção: crianças e jovens de até 19 anos somam mais
de 3,5 milhões de habitantes, ou quase 35% dos paulistanos. “Houve um
boom de natalidade na década de 80, e
os efeitos se fazem sentir hoje. Não por
acaso, a formulação de uma política
para a juventude é o grande desafio da SAS”, aponta Rose
Pavan, membro do grupo executivo que desenvolveu o
Mapa. Os investimentos do município em benefício da
infância e da adolescência, que chegavam a R$ 1 bilhão
em 2000, praticamente triplicaram em 2002.
“Quando fechamos os números, ficamos perplexos com a
quantidade de ações direcionadas a esse público. Ainda
assim, há muito a fazer”, diz Rose. Para tanto, as parcerias com o terceiro setor são fundamentais. Essa união
permite um aprendizado mútuo, com troca de experiências
e o aporte de um novo olhar sobre algumas questões. “Os
parceiros nos pautam e nós também pautamos os parceiros na busca de ações que atendam às demandas da sociedade”, conclui a assessora técnica da SAS.
As parcerias permitem o
aprendizado mútuo, com
troca de experiências e o
aporte de um novo olhar
sobre velhas questões
60
Terceiro Setor
Organizações civis: uma usina de
propostas que não pára de produzir
Definido como a mobilização de
recursos privados para fins públicos, o terceiro setor representa
hoje uma dinâmica usina de propostas, ações e soluções para o
desenvolvimento social brasileiro.
Em suas bases estão um poder público com renovada abordagem
diante de suas demandas mais críticas, um empresariado cada vez
mais comprometido com suas responsabilidades comunitárias e
uma sociedade que aprende rapidamente a se articular para defender suas causas mais legítimas. É
da ação coordenada dessa tríplice
aliança que têm derivado inéditos avanços do país em questões-chave, como a redução dos efeitos de uma herança histórica de desigualdades sociais.
“A sociedade, aos poucos, está compreendendo o verdadeiro
sentido da responsabilidade social, que significa participação,
compromisso, união de esforços por um só objetivo: colaborar
para um mundo mais justo e fraterno”, afirma Zilda Arns Neu-
mann, médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora
nacional da Pastoral da Criança,
programa social que atua em 32
mil comunidades carentes em 64%
dos municípios brasileiros. A emergência do terceiro setor é um fenômeno relativamente recente no
Brasil e se desenvolveu nas últimas três décadas. Sua formação
está relacionada com o gradual
fortalecimento da sociedade civil
a partir dos anos de chumbo da
ditadura militar. Quando o autoritarismo restringiu as liberdades individuais e isolou a esfera pública
da participação popular, a sociedade reagiu articulando-se em
movimentos de reivindicação – por direitos humanos, pela
anistia a exilados políticos, pela volta da democracia. Ao mesmo
tempo, o agravamento da dívida social nesse período expôs
as lacunas da atuação estatal, tornando imprescindível o trabalho de entidades focadas no atendimento à população carente. Essas duas vertentes (de um lado, a restituição da cida61
Terceiro Setor
dania; de outro, a causa da solidariedade) desembocaram no
surgimento das primeiras organizações não-governamentais.
O florescimento definitivo do terceiro setor guarda relação
direta com a redemocratização do país. O voto livre não só
estabeleceu no poder público um novo modelo de comprometimento com a sociedade como também conscientizou os eleitores da imensa responsabilidade de suas escolhas. O próprio
exercício da democracia, assim, fez surgir a noção de que todos somos co-participantes da orientação de nossos destinos.
“Cada setor da sociedade precisa assumir sua responsabilidade, pois a construção de uma cultura de paz beneficia a todos.
Na verdade, o que está no cerne de toda essa discussão é a
soma de esforços. A sociedade está descobrindo e valorizando
a importância de colocar habilidades à disposição do outro,
do grupo, da comunidade”, explica Zilda Arns, que também é
representante titular da Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) no Conselho Nacional de Saúde e integra o Conselho da Comunidade Solidária.
A consolidação do terceiro setor no Brasil acompanha uma
tendência mundial. Segundo
pesquisa divulgada em 2000
pela Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos, o
conjunto de ações do terceiro setor em 22 países movimenta cerca de US$ 1,1 trilhão. Caso se tratasse de um
país, seria a oitava economia
do mundo. Não menos imponente é a força de trabalho
que impulsiona essa “indústria do bem”, que emprega
um total estimado de 19 milhões de pessoas nas nações
pesquisadas – o número não
inclui as legiões de trabalhadores voluntários. Também
62
em 2000, a Fundação Getúlio Vargas revelou que o terceiro
setor brasileiro participava com 1,5% do PIB, respondendo
pela ocupação de 2,2% das vagas do mercado nacional de
empregos. Ambos os índices têm amplo espaço para crescer,
de acordo com a FGV: nos países desenvolvidos, essa mesma
“indústria” movimenta em média 4% do PIB e emprega 6%
dos trabalhadores. A título de comparação, 12,5% da população economicamente ativa da Holanda atua no segmento.
O investimento social privado é a força impulsionadora de tais
índices. À parte seu papel essencial de gerar riqueza, as empresas brasileiras têm revelado forte grau de conscientização.
Pesquisa feita pelo Ipea em 2000 mostra que 67% das empresas da região Sudeste (que concentra a maior atividade econômica do país) realizam algum tipo de ação comunitária, o
que totaliza cerca de 300 mil pessoas jurídicas. Mais um sinal
inequívoco da evolução geral nos modos de pensar e agir de
toda a sociedade, o que resultou no rico panorama atual do
terceiro setor brasileiro, no qual a vanguarda das ONGs divide
espaço com a filantropia empresarial, as associações beneficentes e recreativas, as iniciativas das igrejas e instituições religiosas. Fundamental para esse contexto é a
expansão do trabalho voluntário, especialmente a partir
de 2001, Ano Internacional
do Voluntário.
“O Brasil passou a valorizar
o trabalho voluntário como
nunca. Os milhões de voluntários que já doavam seu
tempo e talento para o bem
comum viram seu papel se
fortalecer, ao mesmo tempo
que outros milhões de brasileiros foram atraídos para o
voluntariado. Segundo o Ibo-
Terceiro Setor
pe, fechamos o ano com 30 milhões de brasileiros se dedicando a causas voluntárias”,
comemora Milú Vilela, que liderou o Comitê
Brasileiro para o Ano Internacional do Voluntário e é presidente do Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário. Ela menciona outro
dado interessante: segundo recente pesquisa do Datafolha, 83% dos brasileiros consideram o trabalho voluntário estratégico para
o país. “Demos saltos olímpicos no que diz
respeito a formar uma cultura voluntária no
país. Mas os desafios ainda são significativos. Precisamos formar voluntários desde o
ensino fundamental”, afirma Milú.
O Conselho da Comunidade Solidária (CCS)
exerceu papel preponderante para que o terceiro setor emergisse com a força que hoje
se verifica. “Foi uma experiência propulsora
de novos modelos de atuação do governo na
área social, saindo do assistencialismo secular para o desenvolvimento humano e solidário, tendo como perspectiva a inclusão
social e a auto-sustentação”, diz Zilda Arns.
O modelo nacional de desenvolvimento social sofreu mudanças drásticas a partir da “reunião de pessoas
do governo, de entidades não-governamentais e movimentos
sociais, todas com grande experiência em diferentes áreas para
discutirem temas relevantes e concluírem as linhas a serem
seguidas pelo governo”. Milú Villela também elogia a capacidade aglutinadora do CCS. “O terceiro setor muitas vezes deixa de ser eficaz justamente porque lhe falta organização estratégica e uma política abrangente de alianças. O Comunidade trouxe esse pilar fundamental. Passamos a formar uma verdadeira rede de colaboração em todo o Brasil”, acrescenta.
Ciente da importância do segmento, o Conselho criou em 1997
o Programa de Fortalecimento da Sociedade Civil, que abrange
três frentes: o Programa Voluntários, para difusão da ética da
solidariedade; a Rede de Informações do Terceiro Setor, para produção e difusão de conhecimentos sobre as Oscips; e o Marco Legal do Terceiro Setor, que propôs a revisão
da legislação que regula o voluntariado e a
ação das entidades.
Na contramão da tradição assistencialista
estatal brasileira, marcada por políticas centralizadoras e ineficiência, o Conselho da
Comunidade Solidária implantou ainda um
inédito modelo de atuação na área social,
embasado na mobilização das populações e
na promoção de parcerias entre governo e
sociedade, especialmente para o combate à
pobreza e à exclusão social. Seus projetos
inovadores – Universidade Solidária, Alfabetização Solidária, Capacitação Solidária e
Artesanato Solidário – buscam o efetivo envolvimento das comunidades, a autonomia
na gestão e a administração profissional. A
auto-sustentabilidade é uma meta constantemente perseguida, de modo a manter e
multiplicar o alcance de cada iniciativa.
Num contexto em que “parceria” é palavra
de ordem, o Conselho buscou manter as portas permanentemente abertas para o diálogo com todos os agentes envolvidos no desenvolvimento social do país. Em nome dos objetivos de interesse comum, representou um Estado empenhado
em se alinhar com a sociedade civil e o mercado, a fim de
somar recursos, esforços e competências específicas para a
construção de uma nação definitivamente mais solidária. “Há
uma convicção no mundo todo de que os governos não conseguem combater sozinhos todas as demandas sociais existentes, mas a sociedade civil soube encontrar um caminho para
atuar no processo. Hoje, a ‘indústria do bem’ vive um momento de prosperidade e tem de atuar ao lado do governo para
transformar a realidade”, afirma Milú Villela.
63
Interlocução Política
Engenharia do diálogo: a conexão
entre o Estado e a sociedade civil
De um lado, a sociedade civil e suas múltiplas representações. Do outro, o governo e
as ramificações que compõem a multifacetada figura do Estado. Entre esses dois pontos é comum encontrar modos de trabalhar
que não se harmonizam, lógicas diferentes, visões conflitantes. É imprescindível,
portanto, encontrar formas de consenso que
estabeleçam canais de relacionamento e
pavimentem caminhos para o diálogo produtivo – e é aí que entra a Interlocução
Política do Comunidade Solidária.
“A articulação política é uma tecnologia que precisa ser
elaborada e formatada a partir de prioridades básicas”,
define Augusto de Franco, conselheiro do Comunidade e
coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED).
Desde que foi criada como programa, em junho de 1996,
a Interlocução Política estabeleceu uma série de consensos e propostas de ação indispensáveis para o desenvolvimento do Comunidade. Esse trabalho se realiza por meio
de rodadas que envolvem desde ministros de Estado e
especialistas até empresários e acadêmicos.
64
Crianças e
adolescentes
compõem parte
importante dos
programas do
Comunidade, que
requerem um
intrincado trabalho
de articulação
política
Franco explica o processo: “É um jogo de
paciência que começa muitos meses antes
da decisão final e compreende três fases
distintas”. Primeiro, assim que se define um
tema, são escolhidos os interlocutores, em
geral pessoas com capacidade de decisão e
especialistas em sua área. Esses interlocutores recebem um documento de consulta e
o respondem. A partir dessas respostas fazse uma primeira versão do documento-base,
ponto de partida para a discussão coletiva,
já presumindo alguns pontos consensuais.
Os interlocutores fazem suas emendas e então é elaborado o documento final, e daí se extrai um conjunto de
medidas práticas que materializa os consensos obtidos
nas discussões.
O documento final deve ser amplamente divulgado, para
que os desdobramentos permitam a expansão do processo de interlocução; ou seja, encaminhamentos concretos, com responsáveis e cronograma de execução. Um
comitê setorial monitora a execução das propostas.
Franco dá um exemplo de consenso: “Um documento conclui que não é possível fazer reforma agrária se não hou-
Interlocução Política
ver, simultaneamente, um fortalecimento da agricultura familiar. E qual é a medida capaz de materializar esse consenso? Em geral, a rodada tem muitos
consensos. Aí se colocam sugestões de medidas a
serem adotadas, os consensos, os dissensos e promove-se a reunião plenária. Nessa reunião os interlocutores vão batendo o martelo em cada um dos
pontos, e então saem comissões de encaminhamento, tanto do governo como da sociedade. Em geral,
essas plenárias têm a participação de ministros e, às
vezes, do próprio presidente da República, e por isso
há muita capacidade de encaminhamento. Muitas leis
e programas novos saíram dessas reuniões”.
Os temas em debate no âmbito da Interlocução Política abrangem um leque de atividades que praticamente define o campo de atuação do Comunidade
Solidária: educação, saúde, desenvolvimento rural
(incluindo reforma agrária e agricultura familiar),
minorias sociais, aplicação de recursos públicos, legislação do terceiro setor, distribuição de renda,
desenvolvimento local e sustentável, segurança alimentar e nutricional, criança e adolescente e alternativas de ocupação e de renda, entre outros.
As rodadas da Interlocução Política contabilizam uma
longa relação de conquistas. Partiu dali, por exemplo, a proposta que conseguiu a aprovação do registro civil gratuito, que mobilizou a sociedade, apesar
da campanha contrária movida pelos cartórios. Na
reforma agrária, a Interlocução propôs a distribuição de cestas básicas em acampamentos de trabalhadores rurais, providência que foi realizada em
parceria com a Conab, beneficiando milhares de famílias. Outra conquista importante envolveu a revisão das leis que disciplinam as atividades do terceiro setor, com avanços significativos que permitiram
ampliar a atuação das organizações da sociedade civil
e o trabalho voluntário.
Igualmente decisivas foram as rodadas da Interlocução Política que discutiram o desenvolvimento local
integrado e sustentável. O consenso aprovado partiu do princípio de que as regiões e localidades possuem deficiências e vocações específicas que precisam ser claramente definidas antes que se estabeleça uma política de desenvolvimento, conforme explica Augusto de Franco.
A criação de alternativas
de ocupação e renda,
como o artesanato de
tradição, é um dos temas
das rodadas da
Interlocução Política
Parcerias delicadas
As comissões de encaminhamento definidas na reunião plenária – o ponto culminante de uma rodada de
discussão – acabam ganhando autonomia. Porém, até
que isso ocorra, a Interlocução precisa arquitetar um
intrincado processo de diálogo e parcerias.
Contudo, a parceria não deve ser feita apenas para a
execução de um projeto determinado nem se configura como uma terceirização ou uma privatização
clássica, como explica Franco: “Uma privatização não
ocorre só por interesses econômicos. Política clientelista e interesse corporativo também são formas
de privatizar. Por exemplo, grande parte do funcionamento do Estado é opaca, sem transparência, sem
os critérios daquilo que poderia ser atribuído ao que
é público. Por quê? Os burocratas se reúnem, decidem e o povo não fica sabendo. Quem é que desenhou esse programa? Por que é que desenhou? Quem
é que deu palpite? Como é que ele vai ser executado? Está no Estado, é chamado de público, mas trata-se de um engano, da mesma maneira como não
era pública a folha de pagamento das estatais. Então o fato de ser estatal não significa necessariamente que é público”.
Tornar públicos os procedimentos, segundo Augusto
de Franco, é conceito-chave da Interlocução Política. Assim se torna possível transferir ações do Estado para a sociedade civil, que “sempre faz melhor”.
65
Legislação
Avanços importantes na reforma
do Marco Legal do Terceiro Setor
Ainda há muito a conquistar, mas
ao longo de cinco anos de debates a sociedade civil vem colhendo importantes resultados no esforço de regulamentar as atividades das entidades que a representam de forma cada vez mais dinâmica. Desde 1997 o Conselho da
Comunidade Solidária estimula as
discussões sobre legislação com
autoridades, o governo e a sociedade civil, e parte significativa da agenda tem sido a
necessidade de mudança nas leis que regem o setor.
O objetivo central é a reforma do Marco Legal do Terceiro
Setor. “Avançamos muito nos últimos anos, e agora o fundamental é adaptar as leis, normas e os regulamentos às
inovações legais promovidas pela rodadas da Interlocução
Política”, diz Elisabete Ferrarezi, assessora do Conselho da
Comunidade Solidária. “Agora as ações devem ser estratégicas, para a consolidação e a adaptação das inovações
promovidas. Um exemplo do que ainda precisa ser feito é
um censo do terceiro setor, já em andamento, e promover
incentivos para doações como os Fundos Dotais.”
66
Elisabete afirma que a experiência da Interlocução Política tornou clara a vantagem da abertura
permanente para o diálogo entre
governo e sociedade civil, contrariando visões preconceituosas de
ambas as partes. “No caso da Lei
9.790, se não fosse a atuação do
Conselho na articulação dos parceiros governamentais e da sociedade, não teriam ocorrido os resultados que se vêem hoje. A implementacão do termo de
parceria depende do acolhimento de ministérios e órgãos
públicos, e nesse sentido o Conselho vem desempenhando papel fundamental, informando e gerando entendimentos sobre dúvidas e polêmicas a respeito da interpretação das normas e esclarecendo dúvidas para criar um
ambiente favorável.”
O trabalho está no início, mas o acelerado crescimento
das Oscip, Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público (em 1999 eram 131, e até outubro de 2002 já
somavam 707) e as conquistas do terceiro setor revelam
que a sociedade civil brasileira avança a passos largos.
Legislação
Os principais resultados
• Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998 – Regulamentou o
trabalho voluntário no país. Criada com o apoio do Conselho da
Comunidade Solidária, a lei definiu serviço voluntário como atividade não-remunerada, realizada por pessoa física para entidades
(públicas ou privadas) sem fins lucrativos.
As entidades privadas que desejam contar com o apoio de voluntários devem ter objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social. De acordo com a lei, o
trabalho voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigações
trabalhistas ou previdenciárias.
• Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999 – Cria o título de Oscip
- Organização da Sociedade Civil de Interesse Público para as associações privadas sem fins lucrativos (ONGs) que possuem finalidade pública. Com isso, pela primeira vez o Estado reconhece o caráter público das organizações não-governamentais (ONGs).
Passo inicial na regulamentação das relações entre a sociedade
civil e o Estado, a lei instituiu o termo de parceria, pelo qual
governos e instituições públicas podem repassar dinheiro às Oscip
para a realização de programas de interesse da sociedade.
As Oscip também podem atuar como fomentadoras e até mesmo
como coordenadoras de ações sociais em parceria com empresas,
governo e sociedade civil.
• Medida Provisória nº 2.172-32, de 23 de agosto de 2001 –
Regulamenta a participação das Oscip que se dedicam aos sistemas alternativos de crédito (microcréditoDessa forma, as Oscip
não precisam limitar a taxa de juros de seus contratos a 12% ao
ano (Lei da Usura)
• Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001 –
Permite que as Oscip tenham acesso a doações dedutíveis do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, até o limite de 2% do lucro
operacional. Assim, as empresas que dão apoio financeiro às Oscip
têm incentivo fiscal de acordo com a Lei nº 9.249/95.
• Medida Provisória nº 2.216-37, de 31 de agosto de 2001 –
Estendeu o prazo de acumulação da qualificação de Oscip e outros
títulos federais até março de 2004.
• Portaria nº 256, de 15 de agosto de 2002 – Incluiu as Oscip
entre as organizações autorizadas a receber bens apreendidos pela
Secretaria da Receita Federal. Antes, essas mercadorias só podiam ser
doadas a entidades portadoras da Declaração de Utilidade Pública.
•
Medida Provisória nº 66, de 29 de agosto de 2002 – No
artigo 37, determinou que as Oscip que remuneram seus dirigentes
devem ter isenção do Imposto de Renda, desde que recebam valor
não superior ao limite estabelecido para a remuneração dos funcionários do poder executivo federal. Também estendeu a essas organizações o acesso a doações dedutíveis do Imposto de Renda das
empresas doadoras. Antes da edição dessa MP, a entidade que remunerava seus dirigentes perdia esses benefícios fiscais.
Alteração do Decreto 99.658/90 – Permite que as OSCIP também
sejam beneficiárias de doações de bens móveis da União. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão apresentou proposta
de alteração do Decreto que será publicado em breve.
• Lei 9.636/98 – Oscip têm direito à cessão de uso de imóveis
da União de acordo com o artigo 18 e a Portaria nº 144/01 do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
• Fundos Dotais (endowments) - O Ministério da Fazenda vem
envidando esforços no sentido de viabilizar a formação de Fundos
Dotais no Brasil. Estão sendo analisados mecanismos legais e institucionais que vialibilizem a sua constituição.
67
Microcrédito
A arte de transformar pequenos
empréstimos em renda e emprego
Há dois anos, o marceneiro José Arivaldo Carvalho, 54
anos, resolveu trocar a plaina e o serrote por algo mais
rentável. Aprendeu a fabricar frutas e flores de cerâmica
e resolveu montar um negócio. Arregimentou a esposa, a
ex-bancária Vera Lúcia Anitelli, e organizou um ateliê na
própria casa. A idéia deu certo. Logo Arivaldo e Vera abasteciam lojas e shoppings de São Paulo e Santo André,
onde vivem. O grande problema era entregar as encomendas – de ônibus ou a pé. Cansados e frustrados pela
impossibilidade de ampliar a produção, resolveram pedir
R$ 1,5 mil no Banco do Povo de Santo André e compraram um Fiat 147, ano 1978. “Foi um alívio”, lembra o
marceneiro. Hoje, o casal produz 2 mil peças a cada 15
dias e já recebeu pedidos até de lojas sofisticadas, como
a tradicional Cleusa Presentes. “Tem muito mercado para
o meu produto”, comemora. Tanto assim que ele já pensa
em ir atrás de outro empréstimo nas mesmas condições.
“Quero uns R$ 10 mil para construir um galpão com forno
para secar as frutas e aumentar a produção.” O artesão
está de olho até no mercado externo. Acredita que poderá ganhar muitos dólares com as bananas, maçãs, peras,
figos e goiabas que faz. “Os estrangeiros adoram, acham
o trabalho muito bonito”, garante.
68
O carrinho ano 78 já rodou muito, mas está
pago e ajudou a mudar a vida de Vera Lúcia
e José Arivaldo: “Agora queremos R$ 10 mil
para construir um galpão com forno”
Microcrédito
Se o empreendimento de Arivaldo crescer nas proporções que ele imagina, logo estará empregando outras pessoas. E, em última análise, dando mostras do
potencial dos programas de microcrédito, um instrumento importante para os países em desenvolvimento,
na medida em que permite que um número expressivo de cidadãos consiga desenvolver atividades econômicas por conta própria e ainda gerar emprego com
um baixo volume de investimentos. A quantidade de
dinheiro envolvida no microcrédito no Brasil ainda é
uma gota d’água no oceano se comparada aos US$ 3
bilhões e 2,3 milhões de clientes do Grameen, banco
popular criado em Bangladesh há 25 anos. Nos últimos sete anos, foram disponibilizados R$ 130 milhões para 150 mil contratos no país. O número de
brasileiros que poderiam ser atendidos por esse tipo
de crédito é, no entanto, muito maior – chega a 6
milhões de pessoas. “Ainda estamos muito distantes
de atender à demanda potencial”, admite Augusto
de Franco, do Conselho da Comunidade Solidária.
No Brasil, existem dois grandes modelos de microcrédito. Um é com juros subsidiados, como, por exemplo, o Banco do Povo Paulista e o de Goiás, ambos
com juros mensais de 1% e recursos oriundos do Tesouro estadual. O outro é o modelo adotado pelo CrediAmigo do Banco do Nordeste, Viva Cred no Rio e
Ceape de Pernambuco, entre outros. Nestes, as instituições não buscam lucro com a operação, mas partem do princípio de que ela deve ser auto-sustentada e gerar recursos para que seja mantida e possa
operar novos empréstimos. Nesse caso, os juros ficam entre 3% e 4%. A filosofia do microcrédito é
facilitar a vida de quem não cumpre os requisitos
que os bancos comerciais exigem. Muitas vezes, são
pessoas excluídas dos serviços bancários convencionais e que, em geral, pertencem àquele grupo de brasileiros pouco escolarizado e pouco qualificado; ou
Graças ao microcrédito,
as flores e frutas
de cerâmica de Vera Lúcia e
José Arivaldo já conquistaram
clientes sofisticados,
e o próximo passo do casal
é “faturar em dólares”
seja, o dos 34% mais pobres do país. Para esses, trata-se de uma política de resgate da cidadania.
Os recursos emprestados são usados para capital de
giro, para pequenas reformas ou investimento em máquinas e equipamentos, como no caso do artesão Arivaldo. Os prazos variam de três a 18 meses e muitas
instituições pedem apenas a garantia de um avalista
solidário – parentes, vizinhos ou amigos com nome
limpo na praça – ou de um bem – carro, terreno, máquinas. A inadimplência é baixa: a média é de 2%.
O grande problema é a necessidade de reformulação
do atual modelo. O Comunidade Solidária está empenhado na criação de uma nova regulamentação para
colocar em prática as cooperativas de desenvolvimento, com capacidade de praticar o crédito sob uma
ótica territorial e não mais por setor econômico ou
por ramo de atividade.
A prática não é novidade em outros países da América Latina, como Peru, Bolívia e Colômbia. Nesses lugares, 40% dos empréstimos fazem parte de operações de microcrédito. Existem programas similares
espalhados por 60 países, inclusive em alguns desenvolvidos, como Canadá e Estados Unidos. Por aqui,
algumas experiências isoladas adotaram o modelo.
Em 1997, o Comunidade Solidária encampou a idéia
e promoveu uma rodada de discussões em torno de
alternativas de ocupação e renda. Em 1999, aconteceu a primeira regulamentação para resolução do
Conselho Monetário Nacional e, em seguida, por uma
medida provisória que virou lei. “Até então o microcrédito era ilegal no Brasil”, diz Franco.
Outro ponto de interrogação diz respeito à saúde financeira dos programas de microcrédito. Discute-se a
diferença entre ser sustentável e auto-suficiente. “Estamos empenhados em arrumar uma maneira de fazer
com que os custos dessa operação sejam pagos pela
comunidade, mas não em dinheiro”, explica Franco.
69
Rits
Rede de solidariedade encontra
espaço no mundo virtual
Como integrar e tornar disponível um imenso volume de informações e tecnologias que
interessam a mais de 3 mil organizações da sociedade civil
e entidades públicas e privadas? Como fazer para que instituições que lidam com os
mais diversos assuntos, em diferentes lugares, troquem experiências e se fortaleçam? A
resposta surgiu em 1997 com
a criação, por iniciativa do
Conselho da Comunidade Solidária, da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits),
uma organização privada, autônoma e sem fins lucrativos, que tem por objetivo gerar e promover o diálogo e a
troca de informações e conhecimentos entre essas instituições, por meio da internet (www.rits.org.br).
“A Rits registra hoje cerca de 30 mil usuários dos boletins
de atualização de seus serviços de informação online e
cerca de 2 milhões de page views no conjunto de sites
hospedados em quase trinta servidores”, afirma Paulo
70
Lima, secretário executivo da
Rits. Ele diz que “a vitória mais
significativa da Rits é a articulação de uma grande rede de
atores sociais das ONGs, das
fundações empresariais, das
agências de cooperação internacional e de uma parcela muito importante do universo do
terceiro setor brasileiro, que
participa, estimula, troca informações e idéias, unindo-se
para a construção de um país
melhor e mais justo”.
Atualmente mais de 200 entidades filiadas e milhares de
associações se beneficiam da parceria com a Rits, usufruindo de facilidades proporcionadas pela internet (e-mail,
chats, websites, comércio eletrônico, listas de discussão, teletrabalho e educação à distância, entre outras)
para interagir, trocar experiências e informações e buscar
alternativas para fortalecer a sociedade civil.
Marcos José Pereira da Silva, da Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais (Abong), associada
Rits
desde 1997, explica: “A Rits nos incentiva a usar cada
vez mais a internet. Graças a isso, nossa relação com as
entidades melhorou muito. Passamos a contar com uma
série de formas de apoio para desenvolver nossos trabalhos, agilizamos o contato dos diretores regionais com a
direção nacional e barateamos custos. O armazenamento
e o fluxo de informações ficaram mais fáceis, e cresceu
bastante a possibilidade de acompanhar a legislação e as
políticas públicas”, completa Marcos.
Mas a Rits oferece mais do que isso: instalação de sites,
anúncio gratuito de domínios, consultoria em programas
de internet, Livelink Intranet (um sistema avançado de
gerenciamento do conhecimento e do trabalho colaborativo), CiberFórum Civil (serviço de fóruns em que os associados criam grupos de conferências virtuais e debates), Correio Rits (correio eletrônico), quadro de avisos,
servidores exclusivos e o Publique!, um serviço de publicações online. Os associados contam ainda com cursos,
assessoria jurídica, administrativa e financeira, dicas sobre parcerias, metodologias de trabalho, comunicação e
marketing, bibliografia com lançamentos, indicação de
fontes e autores referentes aos interesses da organização
e a Revista do Terceiro Setor (Rets).
Resolvido o conteúdo, há outro desafio a ser considerado: como fazer a articulação dos integrantes do terceiro
setor? Conforme explica Paulo
Lima, esse é um trabalho desenvolvido em larga escala, que exige tempo e maturidade. “Passa
pelo esforço diário de selecionar
boas pautas para a Rets, bons temas para as questões ligadas a
gestão, legislação e articulação
em redes. Envolve também uma
participação constante em fóruns,
palestras, reuniões e articulações
de ONGs e fundações empresariais,
publicação de artigos e apresentação das atividades da
Rits em encontros nacionais
e internacionais”.
Lima lembra ainda que a Rits
participa das principais articulações do terceiro setor,
como o Fórum Social Mundial,
ações regionais diversas e
internacionais, como o Global Community Network
(http://www.globalcn.org), e
a preparação para a Cúpula da Sociedade da Informação,
que acontecerá em Genebra, em dezembro de 2003, e em
Túnis, em 2005.
Para os próximos anos a Rits espera ampliar o número de
participantes e o conjunto de informações geradas e, principalmente, trabalhar em projetos de inclusão social e
digital no Brasil. “Estamos aprimorando nosso parque tecnológico, aumentando o número de colaboradores, consolidando as atividades no campo da capacitação para o
uso das tecnologias de informação e comunicação, objetivando o fortalecimento da sociedade civil”, explica o
secretário executivo da Rede.
No âmbito do Comunidade Solidária, Paulo Lima acredita
que foi atingida a missão original
de auxiliar as organizações não-governamentais em ações mais profissionalizadas e preocupadas com
a avaliação criteriosa do trabalho.
“A Rits conseguiu também reunir
um valioso acervo de informações
estratégicas, com o qual se torna
possível desenhar um panorama
real do terceiro setor brasileiro e
montar um catálogo completo de
organizações”, acrescenta.
A Abong associouse à Rits em 1997
e descobriu como
usar a internet
para ampliar sua
atuação; embaixo,
a página de
abertura da Revista
do Terceiro Setor
71
Comunicação
Divulgação amplia a ressonância
das ações nos quatro cantos do país
Pouca gente sabe, mas num pequeno município na
vastidão da Amazônia, colado na fronteira com o
Peru, vivem dois gaúchos de Bagé que cruzaram o
país de sul a norte para se tornarem os únicos profissionais de veterinária naquela imensa região. Da
mesma maneira, são poucos os que conhecem o comovente trabalho realizado por universitários e professores brasileiros em cidades africanas assoladas
pela pobreza, como Moamba, em Moçambique. A
marca por trás dessas ações, contudo, já é recorrente sempre que se fala de terceiro setor ou em sociedade civil organizada: o Comunidade Solidária.
Fazer com que essas ações se tornassem conhecidas
não vem sendo a única tarefa complexa para a comunicação dos programas do Conselho da Comunidade Solidária (CCS). De início, quando o Conselho foi criado, o
grande desafio foi contrastar e diferenciar suas atividades do assistencialismo que sempre foi uma espécie de
marca registrada dos programas ligados às primeiras-damas
no Brasil. Era preciso fazer entender que Ruth Cardoso,
como presidente do Conselho, não comandava a distribuição de cestas básicas no país. Ela integrava uma organização que propunha uma nova maneira de articular go72
Uma das revistas
editadas pelo
Comunidade,
com foco no
trabalho realizado
no Timor Leste
verno e sociedade civil em torno de um projeto de
desenvolvimento para o país. Com esse objetivo, a
Coordenação de Comunicação do CCS investiu na criação de uma imagem pública para os programas, com
a publicação de boletins e relatórios. Entre os destaques estão o vídeo e a revista Conselho da Comunidade Solidária – 3 anos.
Em fins de 1998, a Coordenação de Comunicação
mudou seus rumos com o objetivo de alcançar maior
efetividade. Em vez de uma estrutura de coordenação centralizada, adotou a formação de uma rede de
profissionais de comunicação na qual o núcleo mantinha funções consultiva, convocatória e compatibilizadora. O novo modelo espelha com maior fidelidade a autonomia dos programas em relação ao Conselho.
Essa equipe recebeu o nome de Núcleo de Comunicação
(NuCom) do Sistema CCS, e suas principais tarefas foram
a mudança de uma comunicação predominantemente impressa para virtual e a horizontalização e articulação dos
relacionamentos com os programas. Dentro da mesma iniciativa, foi criado também o Grupo de Comunicação, para
garantir a unidade, a cooperação e a integração nas ações
de comunicação dos diversos programas.
Comunicação
O início não foi fácil, como demonstrou uma sondagem
realizada em 1999 com um grupo de 11 jornalistas dos
principais veículos impressos do país, dos quais 67% acreditavam que o Conselho era responsável pela distribuição
de cestas básicas em situações de emergência. A organização de frentes de trabalho em regiões atingidas pela
seca foi apontada por 54% dos jornalistas como o objetivo do Comunidade Solidária.
Ações falam por si
Porém, passo a passo, o trabalho de comunicação organizado de forma mais objetiva e, acima de tudo, a
própria ressonância das iniciativas dos diversos programas do Comunidade
Solidária passaram a produzir o efeito desejado. “Deixar que as ações falem por
si é, sem dúvida, a grande
prova de eficiência do programa. Os resultados são visíveis e falam por nós“, diz
Miguel Darcy de Oliveira, um dos
três integrantes do comitê executivo do Comunidade Solidária.
Segundo Oliveira, o sucesso do Comunidade Solidária apoiou-se
mais em ações concretas do que em marketing.
O desafio de formatar e desenvolver o Comunidade Solidária acabou trazendo um valor novo para o terceiro setor: a implantação de mecanismos de gerenciamento semelhantes em eficiência aos utilizados na iniciativa privada. Embora a organização não tenha inicialmente centrado esforços na divulgação do próprio trabalho, a multiplicação de parcerias, a crescente mobilização de recursos privados para fins públicos e resultados de iniciativas
cada vez mais surpreendentes acabaram por tornar-se uma
irrepreensível ação de divulgação do Comunidade. “Aí co-
As publicações do
programa sempre
têm como
protagonistas os
representantes da
sociedade civil que
tornam possíveis
os avanços sociais
meçamos a aparecer para a sociedade civil”, afirma Oliveira, que é também coordenador do Programa Voluntários. “O que nos deu legitimidade foram os resultados.”
O cardápio de programas sociais desenvolvidos com eficiência, escala e transparência atraiu, por exemplo, o empresariado, que ampliou seu exercício de cidadania. A
mesma receita aproximou até ONGs “concorrentes”, pois
os critérios democráticos acalmaram
animosidades. Somam-se a essa estratégia os cursos de gerenciamento de recursos fornecidos pelo programa às ONGs, para que elas desenvolvam competência administrativa e ganhem eficácia e capacidade de captação de recursos. No final das contas,
todo mundo sai lucrando,
inclusive os próprios programas do Comunidade, hoje geridos
por associações autônomas e capazes de
andar com as próprias pernas.
De acordo com o jornalista Francisco de Almeida Lins, que
atua na área de redes e parcerias da organização, o trabalho de comunicação do Comunidade Solidária exerce também o papel de agente de interligação. “Existe um voluntariado muito vibrante e espontâneo no Brasil, grupos que
a gente até desconhece e que se ajudam mutuamente por
necessidade de sobrevivência. A questão é divulgar um
pouco mais esse esforço e criar conexões”, diz ele.
Hoje, achar parceiros para implementar boas idéias de norte a sul do país não é mais um problema. Da mesma maneira, os veterinários de Bagé que foram para a Amazônia já
identificam um ponto de convergência com os projetos
realizados pelos estudantes paulistas que se aventuraram
em Moçambique. E, aos poucos, o Brasil inteiro começa a
ter conhecimento desse gigantesco trabalho voluntário e
a se influenciar por seus efeitos multiplicadores.
73
Além das Fronteiras
Programas do Comunidade servem
de parâmetro para outras nações
Xanana Gusmão, primeiro presidente do Timor Leste: ajuda para a construção de um novo país
74
O Comunidade Solidária tornou-se exportador de tecnologia de ação social. Programas criados para o Brasil, especialmente o Alfabetização Solidária, produziram resultados tão significativos que se transformaram em parâmetro para projetos aplicados em cinco países, quatro
dos quais de língua portuguesa. “Hoje o Alfabetização
Solidária cede seu exemplo bem-sucedido para Timor Leste,
Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e agora
também para a Guatemala, país de língua espanhola que
está aproveitando o modelo de mobilização social para
atender essa forma de exclusão social que é o analfabetismo”, explica Regina Célia Vasconcelos Esteves, superintendente executiva do Alfabetização Solidária. O próximo país a entrar nessa rede de cooperação será Angola,
onde o programa está em fase de implantação.
No âmbito do Universidade Solidária (UniSol), o trabalho
realizado em Moçambique também adquiriu um caráter
exemplar de solidariedade internacional. A geógrafa Vivian
Fiori, coordenadora do UniSol na Universidade Cruzeiro do
Sul, de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, comandou um grupo de 11 estudantes de universidades públicas e privadas que foi a Moçambique para “exportar a
tecnologia social” do UniSol. Sua equipe ficou 21 dias em
Além das Fronteiras
Moamba, pequena comunidade distante uma hora da capital Maputo.
Foi o tempo suficiente para executar
um projeto-piloto que mostrasse
como operacionalizar ações comunitárias, mas não faltaram surpresas.
No início geraram muita desconfiança de autoridades locais, pois não havia custos nem necessidade de lugares especiais para hospedagem. Cinco
lideranças universitárias locais os acompanharam para
ver quais os segredos que o grupo trazia. Utilizando recursos musicais e de teatro e uma biblioteca itinerante,
ganharam a confiança e o interesse de uma população
devastada pela Aids. As estatísticas oficiais apontam que
16% dos moçambicanos estão contaminados, mas estima-se que o número seja maior.
Com as mulheres, foram formados grupos de teatro e coral, recorrendo a uma linguagem simples para abordar o
tema da prevenção. Foi o suficiente para deslumbrá-las,
pois estavam acostumadas a ouvir especialistas de organismos internacionais que enveredavam por caminhos muito técnicos e pouco humanos. “Elas nos diziam que esses
especialistas vinham falar de coisas complicadas para pessoas que não sabiam nem como o corpo humano funcionava”, relembra Vivian Fiori.
Ensinando a fazer
Regina Esteves observa que a proposta do Alfabetização
Solidária é bem mais abrangente do que a simples transferência de tecnologia: “Em Moçambique, por exemplo, o
programa serve de exemplo para a iniciativa de um projeto-piloto destinado à expansão da estratégia nacional de
educação de jovens e adultos. O programa está servindo
como um modelo para que o governo se estruture numa
política nacional maior. A cooperação é voltada para esse
apoio técnico à estruturação de uma política nacional de
alfabetização e educação. Nós fornecemos desde treina-
Vivian (segunda à direita): na periferia
de São Paulo ou na África, sempre com o
mesmo idealismo que caracteriza o
voluntariado
mento de alfabetizadores locais até assessoria técnica à
equipe do Ministério da Educação ou a outra área encarregada.”
Em Moçambique, o Alfabetização Solidária começou atendendo 40 salas no projeto-piloto. Seis meses depois o
programa já envolvia 7 milhões de pessoas, num sinal da
dedicação e da mobilização do governo local.
No Timor Leste, país que só conseguiu sua independência
em maio de 2002, o programa foi iniciado em 2000, no
momento em que as Nações Unidas respondiam por toda
a gestão do governo que se iniciava. Hoje são atendidos
3.250 alunos. “Já existe uma diretoria de educação nacional que começa a se estruturar justamente como uma
política de alfabetização e educação de jovens e adultos”, conta Regina. “Os brasileiros que participam são
professores voluntários que vão para o Timor Leste para
treinar alfabetizadores, mas todo o programa é executado
Música e
fraternidade:
adolescentes
de Moçambique
e, na parede do
fundo, a bandeira
brasileira
75
Além das Fronteiras
PROJETOS INTERNACIONAIS
Timor Leste
• Implantação: novembro 2000
• Primeira fase: em Dili, 300 alunos, 11 salas e capacitação de
alfabetizadores e técnicos
• Fase de expansão, setembro 2001: 141 salas, 13 distritos, capacitação
de 150 novos alfabetizadores e coordenadores distritais
• Universidades parceiras: Universidade Santa Cecília, Universidade do
Rio de Janeiro, Universidade Estadual de Montes Claros,
Universidade Mackenzie e Faculdade Interlagos
• Resultados alcançados: 180 alfabetizadores e coordenadores
capacitados, 3.500 alunos atendidos, 141 salas
Moçambique
• Implantação: julho 2001
• Primeira fase: 40 salas, 1.000 alunos, 5 províncias do país
• Universidades parceiras: Universidade do Vale do Paraíba, Universidade
Metodista de Piracicaba, Universidade Estadual da Bahia, PUC-RJ
• Resultados alcançados: 280 alfabetizadores e coordenadores
capacitados, 7.000 alunos atendidos, 240 salas
São Tomé e Príncipe
• Implantação: segundo semestre de 2001
• Primeira fase: 10 salas de aulas, 250 alunos
Segunda fase (julho 2002): 100 novos alfabetizadores
• Universidades parceiras: Braz Cubas, UFPR, PUC-RS, PUC-MG
• Resultados alcançados: 120 alfabetizadores e coordenadores
capacitados, 2.500 alunos atendidos, 100 salas
Cabo Verde
• Início: julho de 2002.
• Universidades parceiras: Unicamp, Universidade do Vale do Acaraú
• Fase I: Aulas tiveram início em novembro de 2002
• Resultados alcançados: 10 salas de aula, 20 alfabetizadores e técnicos
capacitados, atendimento a 250 alunos.
Guatemala
• Projeto encontra-se em fase inicial
• Missão realizada: visita de dois técnicos do MONALF/ Guatemala ao
Programa
• Universidades parceiras: Universidade de Fortaleza, Universidade
Católica de Pelotas
• Atualidade: visita gerencial a ser realizada
76
Para conquistar a confiança das mulheres de Moçambique, o grupo
brasileiro do UniSol recorreu a atividades com teatro e coral
pelo próprio governo local. Assim como no Brasil, o que
fazemos é capacitar agentes locais para que a própria
comunidade desenvolva o projeto.”
Embora o português seja o idioma oficial na maioria dos
países apoiados pelo Alfabetização Solidária, existem
muitas línguas regionais. “Há um processo de adaptação
feito por lingüistas brasileiros. É um trabalho fantástico”, diz Regina. “Todos esses projetos de cooperação
passam por uma comissão bilateral de especialistas brasileiros e dos países atendidos. Eles estão estudando a
produção de um material de alfabetização próprio para
cada país”, acrescenta a superintendente.
Os parceiros
ABC (Agência Brasileira de Cooperação); ABECS (Associação Brasileira
das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços); Abreu Retto &
Associados – São Paulo; ABTA (Associação Brasileira de
Telecomunicações por Assinatura); Academia de Polícia Civil - Recife;
Aché Laboratórios Farmacêuticos; Advanstar Editora e Comunicações
Ltda.; Agas (Associação Gaúcha de Supermercados); Água Mineral
Santa Clara – Recife; Akros Fortilit; Akzo Nobel Organon; Alcatel
Telecomunicações; Amana-key; Ambev (Companhia de Bebidas das
Américas); American Express; Americel; Ammirati Puris Lintas; Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica); Aplub (Associação dos
Profissionais Liberais Universitários do Brasil); Armazéns Gerais
Colúmbia – São Paulo; Associação dos Profissionais de Serviço Social –
Bragança Paulista, SP; Associação Riograndense de Obras Públicas;
Astória Papéis Ltda.; AstraZeneca; Atlântica Serviços Gerais – São Luís;
Augusta Palace Hotel – São Paulo; Avape (Associação para Valorização
e Promoção dos Excepcionais); Avipal S.A.; Avon; Bag Shop Comercial;
Ballet Stagium; Banas Calçados e Componentes Ltda.; Banco Alemão;
Banco BBA; Banco Bradesco; Banco CCF Brasil S.A. (Credit Commercial
de France); Banco da Amazônia S.A.; Banco de Investimento Credit
Suisse First Boston Garantia S.A.; Banco do Brasil S.A.; Banco do
Nordeste; Banco Indusval; Banco Itaú S.A.; Banco J. P. Morgan; Banco
Mercantil de São Paulo/Finasa; Banco Real ABN Amro Bank; Banco
Regional Malcon S.A. Comercial e de Crédito ao Consumidor; Banco
UBS Warburg S.A.; BankBoston; Banrisul S.A.; Basa (Banco da
Amazônia); Bates Brasil; Banco BBA Creditanstalt; Bermas; BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento); Blockbuster Brasil; BM&F (Bolsa
de Mercados e Futuro); BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social); Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo); BR
Petrobrás Distribuidora S.A.; Brasília Guaíba Obras Públicas S.A.;
Brasiltelecom; Brasmotor S.A.; Brazil Business Center; BSH Continental
Eletrodomésticos; Buffet Charlô; Caixa Econômica Federal; Calçados
Aniger Nordeste Ltda.; Calçados Azaléia S.A.; Câmara de Cultura;
Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaparica; Canandé Calçados Ltda.;
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior);
Carioca Engenharia; Carwin; Casa de Encontros Santa Terezinha –
Aracaju; Casa Dico S.A. Comércio e Indústria; CBA – Grupo Votorantim;
CCE da Amazônia; Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica); Celi
Praia Hotel – Aracaju; Cemec (Centro Acadêmico de Engenharia
Mecânica) – Faculdade de Engenharia Industrial (FEI); Cenpec (Centro
de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária);
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás; Centrais Elétricas de
Furnas; Centro de Convenções do Estado da Bahia; Centro de
Convenções do Estado de Sergipe; Centro de Criação e Imagem
Popular; Centro de Criatividade Odylo Costa Filho – São Luís; Centro de
Ensino Médio Liceu Maranhense – São Luís; Centro de Estudos em
Administração do Terceiro Setor (CEATS/USP); Centro de Estudos
Técnicos do Pará; Centro de Referência Maurice Prate – Fortaleza;
Centro de Treinamento da Secretaria de Educação – Prefeitura do
Recife; Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão; Centro
Federal de Educação Tecnológica – Belém; Cesep (Centro Sergipano de
Educação Popular); Cesp (Companhia Energética de São Paulo); Chesf
(Companhia Hidro Elétrica do São Francisco); Chocolates Garoto S.A.;
Chrysler do Brasil; Cia. Brasileira de Lítio; Cia. Ultragaz S.A.; Ciacorp –
Administração Participações Ltda.; Cida – Canadian International
Development Agency; CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) –
São Paulo; Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo);
Citibank; CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) – Pastoral
da Criança; CNC (Confederação Nacional do Comércio) – Sesc e Senac;
CNI (Confederação Nacional da Indústria) Sesi e Senai; CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Coca-Cola;
Coelba; Colégio Manoel Devoto – Salvador; Colégio Nossa Senhora do
Carmo; Coliseu Comercial; Comissão de Funcionários da Abril; Comissão
Pastoral da Terra – Salvador; Companhia de Águas e Esgotos de
Roraima; Companhia Energética de Roraima; Companhia Vale do Rio
Doce; Compaq Brasil Ltda.; Competence Comércio e Marketing Ltda.;
Complexo Educacional Governador Edson Lobão; Complexo Educacional
Manoel Beckman; Comunidade Ativa; Comunidade Evangélica Luterana
de São Paulo; Conab (Companhia Nacional de Abastecimento); Condor
Empreendimentos Imobiliários S.A.; Conselho dos Reitores das
Universidades Brasileiras; Conservas Ritter S.A.; Construtora Sultepa
S.A.; Cooperativa dos Profissionais da Área de Educação e Informática
– Rio de Janeiro; Coopers & Lybrand Biedermann, Bordasch; Copene;
Copesul (Cia. Petroquímica do Sul); Corpo de Bombeiros de Salvador;
Correios; Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista); Cotene; CPRM
(Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais); Cruzada de Ação Social
do Estado de Pernambuco; CTEEP (Companhia de Transmissão de
Energia Elétrica Paulista); Dakota; Dana Albarus S.A. Indústria e
Comércio; Del Mar Hotel – Aracaju; DenisonBates; DenisonBrasil;
Deutsche Bank S.A.; Dilly; Dinâmica Promoções Culturais; Diners Club
International; Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga S.A.;
Editora Nova Cultural; Electrolux do Brasil; Eletrobrás; Eletropaulo
Metropolitana – Eletricidade de São Paulo; Elevadores Sur S.A.
Indústria e Comércio; Eliane Revestimentos Cerâmicos; Elo Atacadista
Distribuidor Ltda.; Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.);
Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A.); Embratur
(Empresa Brasileira de Turismo S.A.); Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos; Empresas de Petróleo Ipiranga; Endomed; Grupo Eni;
Equador Produções Cinematográficas; Equatorial Palace – Belém;
Ericsson; Escola de Música do Maranhão Lilah Lisboa; Escola Estadual
Oliveira Lima – Recife; Escola Municipal Orsina da Fonseca; Escola
Olívio Montenegro (Epom) – Recife; Esplanada Praia Hotel – Fortaleza
e Belém; Euroflex; Expresso Mercúrio S.A.; Extra Supermercados; F.J.T.
Consultoria e Empreendimentos; FAHECE (Fundação de Apoio ao
Hemosc/Cepon); Farmácias Pague Menos; FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador); Fazenda 3P; Fazenda Barreiro; Fazenda Barreiro/
Instituto Mellon de Paula; Febraban (Federação Brasileira das
Associações de Bancos); Federação Israelita do Estado de São Paulo;
Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos
Automotores); Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros
Privados de Capitalização); Fiat; Fiec (Federação das Indústrias do
Estado do Ceará); Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais); Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do
Sul) – Senai/RS e Sesi/RS; Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das
Indústrias do Estado de São Paulo); Fininvest S.A.; Fiocruz; Fiori;
Fiotex Industrial; Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro) – Senai/RJ e Sesi/RJ; FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação); Ford; Formisa; Fortilit Tubos e
Conexões S.A.; Fórum de Debates do Terceiro Setor de Petrolina;
Funarte (Fundação Nacional de Arte); Fundação Acesita; Fundação
Banco do Brasil; Fundação Bradesco; Fundação Carlos Chagas;
Fundação Cidade da Criança – Fortaleza; Fundação CSN para o
Desenvolvimento Social e Construção da Cidadania; Fundação Cultural
do Estado da Bahia/Biblioteca Pública – Salvador; Fundação Cultural
do Maranhão; Fundação Cultural Palmares; Fundação da Memória
Republicana; Fundação de Assistência Social do Estado de Rondônia;
Fundação Filantrópica Safra; Fundação Ford; Fundação Itaú Social;
Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho; Fundação Municipal de Cultura –
São Luís; Fundação Odebrecht; Fundação Orsa; Fundação Oswaldo Cruz;
Fundação Padre Anchieta; Fundação Projeto Travessia; Fundação
Roberto Marinho; Fundação Salvador Arena; Fundação Santista;
Fundação Telefônica; Fundação Vale do Rio Doce; Fundação Victor
Civita; Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho); Fundación Catalana de Gás; Gad Design; Gatti –
Transportes Turísticos Ltda.; GE do Brasil; General Motors; Gerência do
Estado de Desenvolvimento Social – São Luís; Gessy Lever; Gife (Grupo
de Institutos, Fundações e Empresas); Ginásio de Pernambuco;
Globo.com; Globosat (GNT, Multishow, SPORTV, TC Premium, USA
Brasil); Gol; Golden Park Hotel – Salvador; Governo do Acre; Governo
do Estado de Goiás; Governo do Estado de Pernambuco – Empresa
Pernambucana de Turismo – Centro de Convenções de Pernambuco;
Governo do Estado de Rondônia; Governo do Estado de Roraima;
Governo do Estado do Ceará; Governo do Estado do Espírito Santo;
Governo do Estado do Maranhão; Gráfica Brasil; Grand Hotel Ca’d’oro –
São Paulo; Grande Hotel da Barra – Salvador; Grande Hotel – Aracaju;
Grendene; Grupo Gerdau; Grupo NewcommBates; Grupo Novo de
Cinema e TV; Grupo Takano; Grupo VR; Gtech Brasil; HBO; HewlettPackard Brasil S.A.; Hotel Bahia do Sol – Salvador; Hotel Barreira Roxa
– Natal; Hotel Beira-Mar – Aracaju e Fortaleza; Hotel Beira-Rio –
77
Os Parceiros
Belém; Hotel Blue Tree Towers – São Paulo; Hotel Braston – São Paulo;
Hotel Calhau Praia – São Luís; Hotel Carlton – Brasília; Hotel
Embaixador – Porto Alegre; Hotel Enseada Praia – Natal; Hotel
Esplanada – Fortaleza; Hotel Everest – Porto Alegre; Hotel Glória – Rio
de Janeiro; Hotel La Ravardiere – São Luís; Hotel Marina Palace – Rio
de Janeiro; Hotel Monte Rey – MG; Hotel Nacional – Brasília; Hotel
Ouro Branco Praia – João Pessoa; Hotel Parque dos Coqueiros –
Aracaju; Hotel Plaza São Rafael – Porto Alegre; Hotel Plaza – Porto
Alegre; Hotel Regente – Belém; Hotel Thamisa – São Paulo; Hotel
Tropical da Bahia – Salvador; Hotel Umbu – Porto Alegre; Hotel Vila
Rica – São Luís e Belém; HSBC; Hwag Hanseatisches Wertpapierhd; IBC
do Brasil; IBM; IEE (Instituto de Estudos Especiais) – PUC/SP; INB
(Indústrias Nucleares do Brasil); Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária); Indaiá Águas; Indecs (Instituto
Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde do Rio de Janeiro);
Indústrias Klabin; Indústrias Micheletto S.A.; Institut of the Americas
General I – EUA; Institute for International Research do Brasil Ltda.;
Instituto Antonio Sanches Larragoiti Júnior; Instituto Cultural
Brasileiro Norte-Americano; Instituto Cultural General Motors; Instituto
Cultural Mauricio de Souza; Instituto de Ciências e Saúde de Salvador;
Instituto Ethos; Instituto Kaplan; Instituto Meninadança – Itabira;
Instituto Souza Cruz; Instituto Voluntários em Ação; Instituto Xingó;
Internews Comunicação Empresarial e Editora; Intral S.A. Indústria de
Materiais Elétricos; IOB – Cursos de Legislação Empresarial; Ipad
(Instituto de Planejamento e Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico e
Científico); IQF Schering Plought; Itautec Philco S.A.; Jorge Paulo
Lemann; Jornal Correio Brasiliense; Jornal Correio do Povo; Jornal de
Brasília; Jornal Diário de São Paulo; Jornal Diário do Grande ABC;
Jornal do Brasil; Jornal Folha de S. Paulo; Jornal Gazeta Mercantil;
Jornal O Estado de S. Paulo; Jornal O Globo; Jornal Valor Econômico;
Jornal Zero Hora; Josapar (Joaquim de Oliveira S.A. Participações);
Kaiser; Klabin Fábrica de Papel e Celulose S.A.; Kodak; Kraft Foods
Brasil; Kubitschek Plaza – Brasília; Kwikaisair Cargas Expressas S.A.;
Laboratórios Biosintética; Laticínios CCGL S.A.; LC Barreto Produções
Cinematográficas; LG Electronics; Liceu de Artes e Ofícios do Rio de
Janeiro; Light – Serviços de Eletricidade S.A.; Lightex Comercial
Metalight; Livraria Cultural da Guanabara Ltda.; Lojas Colombo; Lojas
Pompéia – Lins Ferrão e Cia. Ltda.; Long Life Assistência Médica;
Lupaquai; M. Dias Branco S.A.; Marcopolo S.A.; Marisol S.A;
Mastercard; McCann Erikson; Melson Tumelero S.A.; Menphis S.A.
Industrial; Merrill Lynch; Microsoft Informática; Microsys Informática;
Microtec Vision Systems; Ministério da Aeronáutica; Ministério da
Cultura; Ministério da Educação e do Desporto; Ministério da Justiça –
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos; Ministério da Marinha;
Ministério da Saúde; Ministério do Exército; Ministério do Trabalho –
FAT/Sefor; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério dos
Transportes; Moto Honda Amazônia Ltda.; Motorola do Brasil Ltda.;
Móveis Carraro S.A.; Multibrás S.A. Eletrodomésticos; Museu da Arte e
do Som – Fortaleza; Museu da Imagem e do Som – Fortaleza; Museu
Histórico Nacional do Rio de Janeiro; Nassau; Nationwide Marítima;
Natura; Nec do Brasil S.A.; NEPP (Núcleo de Estudos e Políticas
Públicas da Unicamp); Nestlé Brasil Ltda.; Netwark Eventos Ltda.;
78
Network Associates; New Class Turismo; Nordeste – Linhas Aéreas
Regionais S.A.; Norsa; Novell do Brasil Software; Novo Hotel – Belém;
Núcleo de Desenvolvimento de RH e Educação em Saúde – DIR XII –
Campinas; Ogilvy & Mather; ONS (Operador Nacional do Sistema
Elétrico); Osram do Brasil – Lâmpadas Elétricas Ltda.; Otamar
Empreendimentos Imobiliários e Participações Ltda.; Ouro e Prata
Cargas S.A.; Paquetá Calçados Ltda.; Park Hotel Atibaia – São Paulo;
Park Hotel – Recife; Pastoral da Criança; Paulista Wall Street – São
Paulo; Paulo D’Arrigo Velhinho; Pepsico & Cia Ltda.; Petrobras –
Petróleo Brasileiro S.A.; Petropar S.A.; Philip Morris Brasil; Philip
Morris/Kibon; Philip Morris/Lacta; Philip Morris/Suchard; Philips do
Brasil S.A.; Pirelli; Plano Editorial; Poema (Programa Pobreza e Meio
Ambiente da Amazônia); Point Suture; Porto Seguro Cia. de Seguros
Gerais; Pousada do Francês – São Luís; Praia Mansa Hotel – Fortaleza;
Praiamar Hotel – Salvador; Praiano Palace Hotel – Fortaleza; Prefeitura
do Município de Atibaia; Prefeitura do Município de Cubatão;
Prefeitura do Município de Franca; Prefeitura do Município de Jandira;
Prefeitura do Município de Ribeirão Pires; Prefeitura do Município de
São Paulo; Prefeitura Municipal de Aracaju; Prefeitura Municipal de
Teresina; Primeira Igreja Batista de Aracaju; Primeira Igreja Batista em
São Paulo; Programa Xingó; Projeto Alvorada; Promon; Pronaf
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); Quarto
Crescente; R.S. Escala Comunicações Ltda.; Rádio e Televisão
Bandeirantes; Rádio Bandeirantes AM; Rádio CBN; Rádio Eldorado;
Rádio Jovem Pan AM; Revista Caras; Revista Dirigente Lojista; Revista
Época; Revista Exame; Revista Forbes Brasil; Revista Galileu; Revista
Globo Rural; Revista IstoÉ; Revista IstoÉ Dinheiro; Revista PEGN
(Pequenas Empresas Grandes Negócios); Revista Quem; Revista RI –
Relações com Investidores; Revista Saúde; Raychem Produtos
Irradiados Ltda.; Recife Palace Lucsin; Recrusul; Refinaria de Petróleo
Ipiranga S.A.; Regente Hotel - Belém, PA; Renato Magalhães Gouvea;
Renault; Renna; Requinte Recepções; Restaurante Spot; Revestimentos
Cerâmicos; Rigesa; Rio Sul Linhas Aéreas; Riocell S.A.; Rosset & Cia.
Ltda.; Royal Park Hotel – Piracicaba, SP; RVM; S.A. Indústria
Votorantim; S.A. Usina Coruripe Sadia S.A.; SLC John Deere S.A.; SLM
Comunicação e Marketing Ltda.; Santa Rita Têxtil; São Paulo
Alpargatas S.A.; Sasse Seguros Gerais; SBT (Sistema Brasileiro de
Televisão); Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados); Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas); Sebrae
Multicenter – São Luís; Sebrae/PE; Sebrae/RS; Secaf Empreendimentos
e Participações; Secretaria de Educação de Salvador, Colégio Manoel
Devoto – Colégio Central; Secretaria de Integração Social – Jundiaí
(SP); Secretaria de Segurança Pública de Salvador; Secretaria de
Trabalho e Ação Social do Estado do Ceará; Secretaria de Trabalho e
Ação Social do Estado do Rio de Janeiro; Secretaria do Bem-Estar
Social de Jacareí; Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado do
Ceará; Secretaria Municipal de Ação Social de Benevides (PA);
Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo; Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Social do Rio de Janeiro; Secretaria
Municipal de Esportes de São Paulo; Security S.A; Seminário de
Educação Cristã; Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; Senac
(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) – São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador, Belém, Fortaleza, São Luís, Aracaju e Recife; Senai
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); Senai – RJ, SP, RS e
PE; Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) – São Luís; Senat
(Serviço Nacional de Aprendizagem no Transporte) – Fortaleza e São
Luís; Serki Fundações Ltda.; Sesc (Serviço Social do Comércio) – São
Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Fortaleza, São Luís, Aracaju e
Recife; Sesi (Serviço Social da Indústria) – RJ, SP, RS, PE, Fortaleza,
Salvador e São Luís; Sest (Serviço Social de Transportes), Fortaleza e
São Luís; Sharp do Brasil S.A. Indústria de Equipamentos Eletrônicos;
Shopping Center Penha; Siemens Ltda.; Sindicato das Indústrias de
Artefatos de Couro do Rio Grande do Sul; Sindicato das Indústrias de
Materiais Plásticos do Rio Grande do Sul; Sindicato das Indústrias de
Panificação e Confeitarias do Rio Grande do Sul; Sindicato das
Indústrias de Papel, Papelão e Cortiças do Rio Grande do Sul;
Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico
de Canoas; Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do
Rio Grande do Sul; Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no
Estado do Rio Grande do Sul; Sindicato das Indústrias de Fiação e
Tecelagem no Estado do Rio Grande do Sul; Sindicato das Indústrias
Gráficas no Estado do Rio Grande do Sul; Sindicato dos Bancários de
Salvador; Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços
de Saúde de São Paulo; Sítio da Trindade – Prefeitura de Recife; SOC
Palcos; Sony Brasil; Souza Cruz; Springer Carrier S.A.; Sudameris;
Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste); Sul
América Aetna – Sul América Companhia Nacional de Seguros; Super
Festas e Decorações Ltda.; Suzano – Companhia Suzano de Papel e
Celulose; TAM – Transportes Aéreos Regionais S.A.; Telebrás;
Telebrasília Brasil Telecom; Telefônica; Telemar; Tese Transportes
Sensíveis S.A.; Tevah Vestuário Masculino Ltda.; Texaco; Tilibra;
Timken do Brasil Com. Ind. Ltda.; Timken International Fund; Toniolo
Busnello S.A.; Total Service Gestão Empresarial; Trading Light
Iluminação e Comércio; Transbrasil S.A. Linhas Aéreas; Transportes
Única Petrópolis Ltda.; Trevisan Auditores; Tropical da Bahia –
Salvador; Trópice; TV Cultura – Fundação Padre Anchieta; TV Futura;
TV Globo; TV Viva; Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura); Unibanco; Unibes (União BrasileiroIsraelita de Bem-Estar Social); Unicef (Fundo das Nações Unidas para
a Infância); Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos); Unitec
– Cooperativa dos Profissionais das Áreas de Ensino, Treinamento e
Informática; Universidade da Amazônia – Belém; USP – Universidade
de São Paulo; Uneb – Universidade Estadual da Bahia; Uesc –
Universidade Estadual de Santa Cruz – Bahia; UFBA –Universidade
Federal da Bahia – Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceafro) e
Faculdade de Administração; UFSE – Universidade Federal de Sergipe;
UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco; UOL (Universo
Online); Usina Coruripe; VP Lab. Sistemas Comércio e Serviço;
Valisère; Varig – Viação Aérea Rio Grandense S.A.; Varig Cargo; Vasp –
Viação Aérea São Paulo; Viação Normandi do Triângulo Ltda.; Visa do
Brasil; Visteon Sistemas Automotivos Ltda.; Vitae – Apoio à Cultura,
Educação e Promoção Social; Volkswagem Brasil; Vonpar Refrescos
S.A.; Xerox doBrasil; Yázigi – Centro de Ensino e Cultura; Zamprogna
S.A. Importação Comércio e Indústria.
www.comunidadesolidaria.org.br