A Cesar o que e de Cesar Jesus foi Socialista

Transcrição

A Cesar o que e de Cesar Jesus foi Socialista
A César o que é de César
Jesus foi Socialista?
Lawrence W. Reed
Uma versão anterior deste ensaio foi publicada como parte da série
Clichês Progressistas em fee.org em janeiro de 2015 (no Brasil também
traduzido
por
mim
e
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Tradução, Revisão e Edição Flávio Ghetti
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Nota do Editor: Como uma organização não afiliada a nenhuma fé em
particular, a FEE (Foundation for Economic Education) encoraja outras
perspectivas em tais matérias. O Sr Reed deseja que os leitores entendam
que sua perspectiva pessoal não tem intenção de fazer proselitismo para
nenhuma fé ou igreja em particular, mas simplesmente iluminar sua
interpretação da dimensão moral e econômica de Cristo.
Em 16 de junho de 1992 o Daily Telegraph, de Londres,
publicou este audacioso e espantoso comentário do antigo líder
soviético Mikhail Gorbachev: “Jesus foi o primeiro socialista, o
primeiro a buscar uma vida melhor para a humanidade”1.
Talvez devêssemos pegar leve com Gorbachev aqui. Um
homem que ascendeu ao topo de um império estridentemente
ateísta, com uma trajetória lamentável nos registros a violações
dos direitos humanos, provavelmente não era um estudioso da
Bíblia. Mas obviamente ele sabia que se o socialismo é nada mais
do que a busca de “uma vida melhor para a humanidade”, então
Jesus dificilmente poderia ter sido seu primeiro defensor. Ele
seria, na verdade, apenas mais um entre bilhões.
Você não precisa ser um Cristão para apreciar os erros no
embuste de Gorbachev. Você pode ser uma pessoa de qualquer fé,
ou de nenhuma fé afinal. Você deve apenas apreciar fatos, história
e lógica. Você pode até mesmo ser um socialista (mas um com
olhos abertos) e perceber que Jesus não estava no seu “grupo”.
Vamos primeiro definir o termo socialismo, que o comentário
de Gorbachev apenas obscurece. Socialismo não se define por
pensamentos felizes, fantasias nebulosas, meras boas intenções ou
crianças compartilhando seus doces de Halloween. Num moderno
contexto político, econômico e social, socialismo não é uma
opção voluntária como um grupo de escoteiros. Sua característica
central é a concentração de poder para realizar à força um ou mais
1 London Daily Telegraph, 16 de Junho de 1992.
destes propósitos (ou usualmente todos): planejamento central da
economia, posse governamental da propriedade e redistribuição
de riqueza. Nenhuma quantidade de retórica do tipo “fazemos
tudo por você” ou “é para o seu próprio bem” ou “estamos
ajudando pessoas” pode apagar isto. O que faz do socialismo
socialismo é o fato de que você não pode dizer não, uma questão
eloquentemente construída por David Boaz do Cato Institute:
“Uma diferença entre libertarianismo, um
sistema baseado na liberdade e em escolhas
pessoais, e socialismo é que uma sociedade
socialista não pode tolerar grupos de pessoas
praticando a liberdade, mas uma sociedade
libertária pode confortavelmente permitir que
pessoas escolham voluntariamente o socialismo.
Se um grupo de pessoas (mesmo um grupo
muito grande) desejasse adquirir terra e possuíla em comum, eles seriam livres pra isto. A
ordem legal libertária exigiria apenas que
ninguém fosse coagido a associar-se ou a
renunciar a sua propriedade2.
O governo, seja grande ou pequeno, é o único ente na sociedade
que possui o monopólio legal sobre o uso da força. Quanto mais
força ele implementa contra o povo, mais ele subordina as
escolhas dos governados aos caprichos dos governantes, isto é,
mais socialista ele se torna. Um leitor pode objetar a esta
2 David Boaz, “The Coming Libertarian Age”, Cato Policy Report (Jan/Fev 1997).
descrição pela insistência de que “socializar” algo é simplesmente
“compartilhar” e “ajudar pessoas” no processo, mas isto é
conversa para bebês. É como você faz que define o sistema. Fazêlo pelo uso da força é socialismo. Fazê-lo através de persuasão,
livre arbítrio e respeito aos direitos de propriedade, é algo
inteiramente diferente.
Então, Jesus foi realmente um socialista? Em relação ao foco
principal deste ensaio, Ele pediu ao estado que redistribuísse
renda seja para punir os ricos ou para ajudar os pobres?
Ouvi pela primeira vez que “Jesus foi um socialista” e que
“Jesus foi redistribucionista” há cerca de quarenta anos. Fiquei
perplexo. Sempre tinha entendido a mensagem de Jesus como
sendo a decisão mais importante que uma pessoa faria em seu
tempo de vida terrestre, era aceitá-lo ou rejeitá-lo como um
Salvador. Esta decisão é claramente uma escolha muito pessoal,
uma escolha individual e voluntária. Ele constantemente destacou
a renovação espiritual interior como mais crítica para o bem estar
do que coisas materiais. Perguntei-me: “Como poderia o mesmo
Jesus defender o uso da força para tomar coisas de alguns e dá-las
a outros”? Eu apenas não conseguia imaginá-lo apoiando uma
sentença de multa ou prisão para pessoas que não desejam
entregar seu dinheiro para programas de alimentação.
“Espere um momento!” você diz. “Jesus não respondeu “Dai a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” quando os
Fariseus tentaram pegá-lo no truque de denunciar os impostos
Romanos”? Sim, de fato ele disse isto. É encontrado no
Evangelho de Mateus 22:15-22, e depois no Evangelho de
Marcos, 12: 13-17. Mas observe que tudo depende apenas do que
realmente pertence a César e o que não, o que é verdadeiramente
uma adesão bastante poderosa aos direitos de propriedade. Jesus
não disse nada como “isto pertence a César se César
simplesmente disser que pertence, não importa quanto ele queira,
como ele obtém ou como ele escolhe gastar”.
O fato é que alguém pode passar um pente fino nas Escrituras e
não encontrará nenhuma palavra de Jesus que apoie a
redistribuição forçada de riqueza por autoridades políticas.
Nenhuma sentença.
“Mas Cristo não disse que veio confirmar a lei?” Você pergunta.
Sim, em Mateus 5:17-20, Ele declara, “Não pensem que Eu vim
para abolir a lei dos Profetas. Não vim para aboli-los, mas para
levá-los à perfeição”. Em Lucas 24:44, Ele esclarece quando diz
“... Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era
necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei
de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Ele não estava dizendo:
“Qualquer lei que o governo aprove, Eu apoio”. Ele estava
falando especificamente da Lei de Moisés (primeiramente os Dez
Mandamentos) e das profecias de Sua vinda.
Considere o oitavo dos Dez Mandamentos: “Não roubarás”.
Observe o período após a palavra “roubarás”. Esta admonição não
é lida como “Não roubarás a menos que a outra pessoa tenha mais
que você”, ou “Não roubarás a menos que você esteja
absolutamente certo de poder gastar melhor que a pessoa de quem
você roubou”. Nem se diz “Não roubarás mas tudo bem se
empregar alguém, como um político, para fazer isso por você”.
No caso das pessoas ainda estarem tentadas a roubar, o
décimo mandamento corta o mal pela raiz num dos principais
motivos para o roubo (e para redistribuição): “Não cobiçarás a
casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem
o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma de teu próximo”. Em outras palavras: se não é
seu, mantenha suas mãos longe.
Em Lucas 12:13-15, Cristo é confrontado com uma
solicitação de redistribuição. Um homem com uma queixa
aproxima-se Dele e reclama, “Mestre, fale com meu irmão e façao dividir sua herança comigo”. O Filho de Deus, o mesmo
Homem que realizou curas milagrosas e acalmou as ondas,
respondeu deste modo: “Homem, quem fez de mim juiz ou árbitro
entre vós? Tenha cuidado e abstenha-se de controvérsias, a
riqueza de um homem não consiste na abundância material que
ele possui”. Uau! Ele poderia ter igualado a riqueza dos dois
homens com um movimento de Suas mãos, mas em vez disso, Ele
escolheu denunciar a inveja.
“E a respeito da história do bom samaritano? Ela não
representa um exemplo de programa de bem estar governamental,
senão diretamente de redistribuição?” você pergunta. A resposta é
um enfático NÃO! Considere os detalhes da estória, como
descrita em Lucas 10:29-37: Um viajante encontra um homem
caído às margens da estrada. O homem tinha sido surrado,
roubado e deixado semimorto. O que o viajante fez? Ajudou o
homem, ele próprio, no local, com seus próprios recursos. Ele não
disse “escreva uma carta ao imperador” ou “vá procurar sua
assistente social” e foi embora. Se ele tivesse feito isso, ele seria
conhecido hoje como o “bom pra nada samaritano”, se ele fosse
de fato lembrado.
A história do Bom Samaritano defende a ajuda voluntária a uma
pessoa necessitada por amor ou compaixão. Não há nenhuma
sugestão de que o Samaritano “devesse” qualquer coisa ao
homem em necessidade ou que fosse obrigação de um político
distante ajudar com o dinheiro de outras pessoas.
Além do mais, Jesus nunca proclamou pela igualdade de
riqueza material, muito menos o uso de força política para realizála, mesmo em situações de terrível necessidade. Em seu livro,
Biblical Economics, o teólogo R. C. Sproul Jr. observa que Jesus
“deseja que os pobres sejam ajudados” mas não sob a mira de
uma arma, o que é essencialmente do que se trata a força do
governo:
“Estou convencido de que medidas políticas e
econômicas envolvendo distribuição forçada de
riqueza via intervenção governamental não são
corretas nem seguras. Tais medidas são anti
éticas e ineficazes... Na superfície pareceria que
estes socialistas estão ao lado de Deus.
Infelizmente, seus programas e seus meios
provocam grande pobreza apesar de seus
corações permanecerem fiéis à eliminação da
pobreza. A trágica falácia que invade o
pensamento socialista é que exista uma conexão
causal necessária entre a riqueza dos ricos e a
pobreza dos pobres. Os socialistas assumem que
a riqueza de um homem seja baseada na pobreza
de outro, portanto para impedir a pobreza e
ajudar
o
homem
pobre,
devemos
ter
socialismo”.
Ao comentário de Sproul eu acrescentaria um adendo: algumas
vezes uma pessoa torna-se rica inteira ou parcialmente devido a
suas conexões políticas. Assegura favores especiais e subsídios do
governo, ou utiliza o governo para desabilitar seus competidores.
Nenhum pensador consistentemente lógico que defenda a
liberdade e os direitos de propriedade, seja Cristão ou não, apoia
tais práticas. Elas são formas de roubo, e sua origem é o poder
político, a coisa verdadeiramente debilitante, e que os
progressistas e socialistas defendem mais e mais.
A riqueza legítima é obtida voluntariamente. Provém da criação
de valor, benefício mútuo e trocas voluntárias. Ela não surge de
poder político que redistribui ao contrário, tomando do pobre e
dando ao rico. Empreendedores econômicos são uma benção para
a sociedade, empreendedores políticos são, unicamente, um outro
animal. Todos nos beneficiamos quando Steve Jobs inventa um
iPhone, mas quando o Festival de Poesia Cowboy em Nevada
obtém subsídio federal devido ao Senador Harry Reid, ou quando
o Goldman Sachs obtém resgate financeiro às custas dos
pagadores de impostos (no Brasil os equivalentes são a Lei
Rouanet e as empresas “amigas” dos políticos), milhões de nós
sofremos danos e temos que pagar por isso.
E a respeito da referência, nos Atos dos Apóstolos, dos
primeiros
Cristãos
vendendo
seus
bens
mundanos
e
compartilhando este procedimento comunitariamente? Isto soa
como uma utopia socialista. Analisando de perto, entretanto, fica
claro que aqueles Cristãos não venderam tudo que tinham e não
foram obrigados a fazer isso. Eles continuaram encontrando-se
em suas próprias casas, por exemplo. Em seu capítulo de
contribuição ao livro “For the Least of These: A Biblical Answer
to Poverty” de 2014, Art Lindsey do Institute for Faith, Work and
Economics escreve:
“Novamente, na passagem dos Atos dos
Apóstolos, não há menção ao estado sob
qualquer condição. Estes primeiros crentes
contribuíram com seus bens livremente, sem
coerção,
voluntariamente.
Alhures
nas
Escrituras nós vemos que os Cristãos são
instruídos a doar somente desta maneira,
livremente, “Dê cada um conforme o impulso
de
seu
coração,
sem
tristeza
nem
constrangimento. Deus ama o que dá com
alegria” (2 Coríntios 9:7). Há abundância de
indicação de que os direitos de propriedade
ainda estavam valendo...”
Isto pode frustar os socialistas a aprender que as palavras e
feitos de Cristo, repetidamente sustentadas desta maneira
criticamente importante, referem-se às virtudes do capitalismo
como contrato, lucro e propriedade privada. Por exemplo,
considere a “Parábola dos Talentos”. Dos muitos homens na
história, o único que pega o dinheiro e o enterra é repreendido,
enquanto o que investiu e gerou maior retorno é aplaudido e
recompensado.
Ainda que não seja central à história, boas lições de oferta e
demanda bem como a santidade do contrato, são evidentes em
Cristo na “Parábola dos Trabalhadores na Vinícola”. Um
proprietário de terras oferece salário para atrair trabalhadores para
um dia de trabalho urgente na colheita de uvas. Próximo ao fim
do dia, ele percebe que precisa rapidamente empregar mais gente,
e oferece por uma hora de trabalho o que havia previamente
oferecido pagar aos primeiros trabalhadores por um dia de
serviço. Quando um dos que tinham trabalhado o dia todo
queixou-se, o proprietário de terras respondeu: “eu não estou
sendo injusto com você, amigo. Você não concordou em trabalhar
por um denário? Pegue seu pagamento e vá. Eu quero dar ao que
foi empregado por último o mesmo que dei a você. Eu não tenho
o direito de fazer o que quero com meu dinheiro? Ou você está
com inveja porque estou sendo generoso?”
A bem conhecida “Regra de Ouro” veio dos lábios do
próprio Cristo, em Mateus 7:12. “Então em tudo, faça aos outros
o que você gostaria que fizessem a você, porque esta é a lei dos
profetas”. Em Mateus 19:18, Cristo diz: “... ame a teu próximo
como a ti mesmo”. Em nenhuma outra parte Ele remotamente
sugeriu que você repugnasse seu próximo por sua riqueza, ou que
procurasse tomar a riqueza dele. Se você não deseja que sua
propriedade seja confiscada (e muitas pessoas não desejam, e não
precisariam de um ladrão à disposição para dividir com ele de
maneira alguma), então claramente você não deveria querer
confiscar a propriedade de outros.
A doutrina Cristã adverte contra a ganância. Como o faz em
nossos dias o economista Thomas Sowell: “eu nunca entendi
porque é “ganância” possuir o dinheiro que você mereceu mas
não é ganância querer tirar o dinheiro de outros”. Utilizar o poder
do governo para roubar a propriedade de outra pessoa não é
exatamente altruístico. Cristo nunca sugeriu que acumular riqueza
através do comércio pacífico era de alguma forma errado. Ele
simplesmente suplicou às pessoas que não permitissem que a
riqueza os dominasse ou corrompesse seu caráter. Por isto seu
grande Apóstolo Paulo não disse que o dinheiro era mal na
famosa referência em 1Timóteo 6:10. Aqui vai o que Paulo
verdadeiramente disse: “Porque a raiz de todos os males é o amor
ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se
enredaram em muitas aflições”. De fato, os próprios socialistas
não abandonaram o dinheiro de modo abnegado, eles estão
clamando é pelo dinheiro de outras pessoas, especialmente o dos
“ricos”.
Em Mateus 19:23, Cristo diz: “Em verdade vos digo, é
difícil para um rico entrar no Reino dos Céus”. Um socialista
poderia dizer: “Eureka! Aqui está! Ele não gosta de pessoas ricas”
e então distorce a observação depois de reconhecer a justificativa
de qualquer esquema “roube Pedro para pagar Paulo” que põe a
montanha abaixo. Mas este conselho é inteiramente consistente
com tudo que Cristo falou. Não é um convite para invejar os
ricos, para tomar dos ricos e dar celulares “grátis” aos pobres. É
um conselho para o caráter. É uma observação de que muitas
pessoas deixam-se dominar pela riqueza, tanto quanto por outros
meios em torno. É um alerta contra tentações (as quais vêm de
muitas formas, não só pela riqueza material). Todos nós já não
notamos que entre os ricos, como igualmente entre os pobres,
existem boas e más pessoas? Todos nós já não vimos celebridades
corrompidas por sua fama e fortuna, enquanto outros, entre os
ricos, levam vidas dignas? Todos nós já não temos visto pessoas
que permitem que a pobreza as desmoralize e debilite, enquanto
outros, entre os pobres, veem a pobreza como um incetivo para
melhorar suas vidas e a de suas comunidades?
Quando a primeira versão deste ensaio surgiu em janeiro de
2015, diversos amigos “progressistas” levantaram Romanos 13:17 como evidência contrária a minha tese. (Sentimentos similares
são expressos em 1 Pedro 2:13-20 e Tito 3: 1-3). Na passagem 13
de Romanos o Apóstolo Paulo encoraja a submissão às
autoridades governamentais e aconselha contra a rebelião. Ele
também diz que se você deve impostos, pague seus impostos.
Então um socialista ou “progressista” de hoje pode dizer que isto
abençoa todo tipo de coisas incluindo redistribuição, um estado de
bem estar social, ou tudo o mais que o estado deseje fazer, seja
por você ou apesar de você. Isto é inteiramente uma extrapolação.
Aqui, como em outras partes da Bíblia, o contexto é importante.
Paulo estava falando para os primeiros Cristãos num ambiente
que fervia de sentimento anti Romano. Ele indubitavelmente não
desejava que o crescimento do Cristianismo fosse desviado pela
violência ou outras provocações aos Romanos, que seriam
brutalmente reprimidas. Ele estava tentando fixar a visão das
pessoas naquilo que ele considerou como as coisas mais elevadas,
de maior importância imediata.
Mas é um grande erro extrapolar o que Paulo disse para
justificar uma perspectiva particular da função do governo, a
saber, um “progressista” ou “socialista”. Suponha que as
“autoridades governamentais” aprovassem um estado mínimo
com restrição Constitucional e garantias de liberdades pessoais e
propriedade privada. Suponha, além disso, que as regras deste
arranjo claramente informasse aos governados: “Nós protegemos
vocês de agressões contra seus direitos e propriedades, mas por
outro lado nós não damos a vocês coisas grátis. Vocês têm direito
a suas liberdades, para dedicarem-se a caridade e comércio
privado e voluntário, para negociarem entre si pacificamente, para
viver como escolherem desde que não causem danos a outros.
Mas nós no governo não roubaremos Pedro para dar a Paulo”.
Não há nada em Romanos 13:1-7 que diga que estas “autoridades
governamentais” devam ser menos respeitadas do que se fossem
redistribucionistas do estado de bem estar social.
Logo, os versos de Romanos 13:1-7 afirmam a legitimidade do
governo per si, mas não ordenam o que demandam progressistas e
socialistas de hoje. A Bíblia, na verdade, é cheia de histórias sobre
pessoas que resistiram bravamente e justificadamente a exageros
de governos. Alguém realmente acredita que se Jesus estivesse
pregando imediatamente antes do êxodo dos Judeus do Egito ele
teria declarado: “O faraó exige que vocês fiquem, logo desfaçam
a bagagem e voltem ao trabalho”?
Norman Horn, um engenheiro químico, cientista pesquisador e
fundador do LibertarianChristians.com observa que ambos, Novo
e Velho Testamento, proveem numerosos exemplos elogiosos de
desobediência ao estado:
“Os Hebreus resistindo aos decretos do Faraó
para assassinarem seus recém-nascidos (Êxodo
1); Rahab mentindo ao Rei de Jericó a respeito
dos espiões Hebreus (Josué 2); Ehud enganando
os ministros do rei e assassinando o rei (Juízes
3); Daniel, Sadraque, Mesaque e Abednego
recusando-se a cumprir o decreto do rei, e sendo
miraculosamente salvos duas vezes por fazerem
isto (Daniel 3 e 6); o Mago do Oriente
desobedecendo às ordens diretas de Herodes
(Mateus 2); e Pedro e João escolhendo obedecer
a Deus em vez de obedecer aos homens (Atos
5).
Com o risco de abusar do assunto neste ponto, compartilho
estes comentários perspicazes de uma conversa com meu colega
Jeffrey Tucker da Foundation for Econimic Education:
“Maria, Jesus e José fugiram de Belém ao
invés de submeterem-se às ordens de Heródoto
para que se matassem todos os recém-nascidos.
Se Romanos 13 significasse que todos devem se
submeter sempre, Jesus teria sido assassinado
nas semanas após seu nascimento... Resistência,
é claro, pode ser moral. O Cristianismo tem
inspirado resistência ao estado através da
história e nos tempos modernos, da Revolução
Americana aos protestos pelos direitos civis, na
resistência Polonesa contra o Comunismo. O
próprio Jesus deu o exemplo: Ele evitou o
governo quando pôde, resistiu de maneira
prudente quando foi possível, e finalmente
obedeceu quando teve que obedecer”.
A evidência empírica esmagadora hoje é de que, como
observou Montesquieu há dois séculos: “Países bem cultivados
não são os férteis, mas os livres”. As Nações que possuem mais
liberdade econômica (e governos menores) têm taxas de
crescimento econômico e prosperidade no longo prazo mais
elevadas do que aquelas envolvidas em práticas socialistas e
redistributivas. Os países com menores níveis de liberdade
econômica também têm os padrões de vida mais baixos. Países
livres e seus povos são os maiores doadores para caridade,
enquanto que, no saldo líquido, os socialistas são decisivamente a
ponta receptora. Por que isto é relevante? Porque você não pode
redistribuir nada a ninguém se não houver sido criado por alguém
em primeiro lugar, e a evidência indica, fortemente, que a única
coisa durável que arranjos socialistas e redistributivos fazem pelas
pessoas pobres é dar a elas um monte de companheiros.
Nos ensinamentos de Cristo e em muitas outras partes do novo
testamento, os Cristãos, de fato todas as pessoas, são
aconselhados a serem “espíritos generosos”, a cuidar da família
de alguém, a ajudar os pobres, assistir as viúvas e os órfãos, a
revelar bondade e manter altivez de caráter. Como tudo isso pode
ser traduzido no negócio sujo de coerção, compra de votos e
esquemas de redistribuição politicamente dirigidos é um problema
para prevaricadores com agenda. Não é um problema para
estudiosos do que a Bíblia verdadeiramente diz ou não diz.
Examine sua consciência. Considere as evidências. Seja
atento aos fatos. E pergunte-se: “Desejando ajudar os pobres,
Cristo preferiria doar livremente seu dinheiro ao Exército da
Salvação (ou a qualquer outra instituição de caridade) ou, na mira
de uma de arma, ao departamento de assistência social?
Cristo não era estúpido. Ele não estava interessado em
profissionais públicos da caridade, atividades nas quais Fariseus
legalistas e hipócritas estavam engajados. Ele repudiou sua
conversa fiada interesseira. Ele sabia que ela era sempre fingida,
raramente indicativa de como eles conduziam seus afazeres
pessoais, e sempre um fim de linha com abundância de enganos e
desilusões pelo caminho. Dificilmente faria sentido para Ele
defender os pobres apoiando políticas que minam o processo de
criação de riqueza, processo necessário para ajudá-los. Numa
análise final: Ele nunca endossaria um esquema que não funciona
e é orientado pela inveja e pelo roubo. A despeito das tentativas
dos socialistas modernos em transformá-lo num redistribucionista
do bem estar social, Ele nunca foi desse tipo.
Lawrence W. Reed
Leituras Recomendadas:
Bandow, Doug. Beyond Good Intentions: A Biblical View of
Economics.Westchester, IL: Crossway Books, 1988.
Bandow, Doug. “Biblical Foundations of Limited
Government.” Work & Economics.
http://tifwe.org/resources/biblical-foundations-of-limitedgovernment/.
Bradley, Anne and Art Lindsley, eds. For the Least of These:
A Biblical Answer to Poverty.Bloomington, IN: Westbow
Press, 2014.
Hendrickson, Mark W. “Christian Charity and the Welfare
State.” Vision and Values Paper (April 13, 2011). http://
www.visionandvalues.org/2011/04/christian-charity-andthewelfare-state/ .
Horn, Norman. “Theology Doesn’t Begin and End With
Romans 13.” LibertarianChristians.com, April 2, 2013. http://
libertarianchristians.com/2013/04/02/theology-doesnt-beginand-end-with-romans-13/.
Mahaffey, Francis. “Socialism: Spiritual or Secular?” The
Freeman(May 1, 1960). (http://fee.org/freeman/detail/socialismspiritual-or-secular.)
Reed, Lawrence W. “Cliché #20: Government Can Be
a Compassionate Alternative to the Harshness of the
Marketplace.” Clichés of Progressivism (August 29, 2014).
(http://fee.org/freeman/detail/20-government-can-bea-
compassionate-alternative-to-the-harshness-of-themarketplace)
“Lawrence Reed on The Platform.” (A short video interview
on income redistribution, the welfare state, and Christianity,
available online at https://www.youtube.com/watch?v=reo0p9N1p4A.)
Richards, Jay W. Money, Greed, and God: Why Capitalism
Is the Solution and Not the Problem.New York: HarperOne,
2009.
Sirico, Robert. “The Parable of the Talents: The Bible and
Entrepreneurs.” The Freeman(July 1, 1994). (http://fee.org/
freeman/detail/the-parable-of-the-talents-the-bible-andentrepreneurs.)
Sproul, R. C., Jr. Biblical Economics: A Commonsense Guide
to Our Daily Bread.White Hall, WV: Tolle Lege Press, 2008.
Heritage Foundation. “The 2015 Index of Economic Freedom.”
http://www.heritage.org/index/