Autossuficiência dos refugiados é tema de projeto social no Paraná

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Autossuficiência dos refugiados é tema de projeto social no Paraná
Departamento de Direitos Humanos e Cidadania - DEDIHC -
Autossuficiência dos refugiados é tema de projeto social no Paraná
DEDIHC
Enviado por: [email protected]
Postado em:04/04/2016
© ACNUR/ Michele Bravos
Os irmãos sírios Said e Hazuam Kanoush* são, respectivamente, engenheiro e dentista. Mas na
semana passada assumiram o papel de chefs de cozinha, ensinando ao público brasileiros como
preparar uma típica comida árabe. A aula, que aconteceu em Curitba (PR), não foi apenas um
compartilhar de saberes, mas marcou o lançamento do Projeto Linyon, que tem o objetivo de
promover a autossuficiência de refugiados que vivem no Brasil, associada ao desenvolvimento das
comunidades onde eles se encontram. © ACNUR/ Michele Bravos Os irmãos - refugiados do
conflito sírio, vivendo no Brasil - explicam que querem trabalhar com comidas árabes (atendendo por
encomenda ou realizando jantares típicos a domicílio) enquanto não for possível atuar em suas
áreas de especialização. “Nesta noite, estamos divulgando o que sabemos fazer e
conhecendo outras pessoas da cidade”, conta Hazuam. Ainda que muitos refugiados
possuam diplomas universitários, a integração econômica no Brasil tem sido difícil. O processo de
revalidação desses diplomas leva tempo. Por isso, mesmo aqueles considerados mão de obra
qualificada, com graduação acadêmica, têm que trabalhar em áreas diferentes da sua formação. A
internacionalista Marcela Milano, idealizadora do Projeto Linyon, conta que o projeto está focado em
fomentar o empreendedorismo e contribuir para uma cultura integrativa. “Queremos gerar
empatia entre os refugiados e os que já vivem na cidade, possibilitando uma quebra de
preconceito”. Marcela percebe que alternativas de geração de renda são uma opção para
esta população. “Os refugiados precisam ter sua autonomia financeira e se integrarem ao
novo país”. Este primeiro evento foi dedicado à promoção da cultura árabe. Mas o Projeto
Linyon também tem trabalhado com outras populações, como haitianos e migrantes vindos do
continente africano. Mobilização virtual – Said, hoje com 30 anos, foi o primeiro dos irmãos a
chegar ao Brasil, em 2014. Nos primeiros meses, resolveu abrir um restaurante árabe, porém não
tinha consciência do processo burocrático que isso envolvia, nem da dificuldade que seria para criar
uma clientela. Ao ver o restaurante vazio, a escrivã Deborah Torres, 37 anos, resolveu divulgar o
local em um grupo no Facebook. “Pensei que precisava fazer alguma coisa para movimentar
aquele lugar e ajudar os refugiados”, diz Deborah. Logo, formou-se uma rede que abraçou a
causa dessa família síria. Mas com pouco tempo de negócio aberto, o restaurante foi assaltado,
deixando um enorme prejuízo para Said. Com a ajuda de uma rede de apoio, Said conseguiu se
estabilizar e até trazer o seu irmão Hazuam para o Brasil. “Nós conseguimos arrecadar 6 mil
reais para trazer o irmão de Said. Vendemos muitas rifas! ”, conta Deborah. O objetivo agora
é trazer a mãe dos rapazes e a esposa grávida de Hazuam. A busca pela autossuficiência cria
novas perspectivas para Said e Hazuam, vítimas de um conflito que já dura mais de cinco anos e
que já gerou quase 5 milhões de refugiados em todo o mundo. Said deixou seu país por se recusar
a integrar as forças armadas. “Não queria lutar. Não queria morrer”, conta. Após
deixar a Síria, foi para o Líbano e conseguiu apoio em uma igreja local. Por meio de contatos desta
instituição, acabou vindo para o Brasil e se estabeleceu no Paraná. Atualmente, ele trabalha em
uma lanchonete no centro da cidade, das 19h às 5h. Em seguida, após descansar um pouco, vai
para a segunda jornada de trabalho, das 10h às 19h. Dessa vez, como vendedor de pão sírio,
http://www.dedihc.pr.gov.br
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distribuindo o produto nos restaurantes; e como vendedor de roupa, as quais busca em São Paulo.
Até que o diploma seja revalidado e ele possa atuar como engenheiro, Said está confiante na
possibilidade de também trabalhar com as encomendas de comida árabe. O dentista sírio Hazuam
Kanoush, 35 anos, sempre teve os olhos voltados para o mundo e sonhos que extrapolavam as
fronteiras de seu país. Logo que se formou em odontologia, em 2003, mudou-se para o Canadá
para poupar dinheiro para a construção do seu consultório. Quatro anos depois, retornou ao país de
origem e realizou o seu desejo. “Sabe quando você passa toda a sua vida para realizar um
sonho? Sinto que eu dediquei mais da metade dela para os estudos, para alcançar o que eu
queria”. Mas a guerra em seu país destruiu seus sonhos, e ele acabou deixando a Síria
novamente – desta vez, para viver como refugiado no Brasil, onde chegou no começo deste
ano. Dentro de algumas semanas, Hazuam será pai de sua primeira filha, que se chamará Nicolli.
“Quando você vai ser pai, você quer que seu bebê cresça em um ambiente melhor. Eu tenho
esperança nisso, por isso estou aqui”. *Os nomes dos refugiados nesta matéria foram
alterados a pedido dos mesmos. Por Michele Bravos, de Curitiba (PR). Por: ACNUR
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