I.2.1. Geologia As unidades litoestratigráficas aflorantes no

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I.2.1. Geologia As unidades litoestratigráficas aflorantes no
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I.2.1. Geologia
As unidades litoestratigráficas aflorantes no Pontal do Paranapanema são
constituídas por rochas sedimentares e ígneas da bacia do Paraná, de idade
mesozóica, e depósitos sedimentares recentes, de idade cenozóica:
•
Grupo São Bento (Mesozóico): Formação Serra Geral (JKsg);
•
Grupo Bauru (Mesozóico): formações Caiuá (Kc), Santo Anastácio (Ksa) e
Adamantina (Ka);
•
Depósitos Cenozóicos (Qa).
Estas formações geológicas estão representadas no Desenho 2, Volume III,
em escala 1:250.000, uma compilação dos mapa geológicos apresentados por IPT
(1981a) e IPT (1987).
A Figura I.2.1.a traz a coluna estratigráfica aqui adotada, de IPT (1981a) e o
Quadro I.2.1.a mostra a distribuição destas unidades em porcentagem de área de
afloramento no Pontal do Paranapanema. Estes números demonstram que do total
de 11.838 km2, 7.680,8 km2, ou 64,9%, correspondem ao Grupo Bauru (28,7%, 2,6%
e 62,3%, respectivamente, às formações Caiuá, Santo Anastácio e Adamantina),
504 km2, ou 4,3%, às rochas do Grupo São Bento (Formação Serra Geral) e 254,2
km2 (2,1%) a terrenos cenozóicos.
Quadro I.2.1.a. Percentual de área de afloramento das unidades litoestratigráficas
presentes no Pontal do Paranapanema.
Unidade
litoestratigráfica
principal
% de área de
afloramento no PP
Formações geológicas
% de área de
afloramento no
PP
Terrenos Cenozóicos
2,1%
Sedimentos aluvionares
2,1%
Grupo
93,6%
Formação Adamantina
62,2 %
Bauru
Formação Santo Anastácio
2,7 %
(IPT, 1981a, 1987)
Formação Caiuá
28,7 %
Formação Serra Geral
4,3 %
Grupo São Bento
4,3%
I.2.1.1. Bacia do Paraná
A bacia do Paraná é uma unidade geotectônica estabelecida sobre a
Plataforma Sul-Americana a partir do Devoniano Inferior, senão mesmo do Siluriano
(IPT, 1981a), e possui, dentro do território brasileiro, uma área aproximada de
1.100.000km² (Figura I.2.1.b). Está presente ao longo de toda extensão do Pontal
do Paranapanema.
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Figura I.2.1.a. Coluna litoestratigráfica da bacia do Paraná (IPT, 1981a).
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Figura I.2.1.b. Localização e limites da bacia do Paraná (IPT, 1981a).
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I.2.1.2. Origem e compartimentação tectônica
A bacia do Paraná é considerada uma bacia de comportamento relativamente
estável, dissociada de efeitos tectono-térmicos mais agudos, quando comparada a
outras bacias de margem continental. Trata-se de uma bacia intracratônica sulamericana, desenvolvida totalmente sobre crosta continental, na qual o registro
lítico-sedimentar a magmático abrange do Mesopaleozóico ao Cenozóico (Cabral Jr.,
1991).
Loczy (1966) realizou um dos primeiros trabalhos enfocando a formação das
bacias paleozóicas brasileiras e propôs como evento gerador, movimentações de
caráter epirogenético associadas a falhamentos de gravidade.
Soares (1978) sugeriu que o desenvolvimento da bacia obedeceu a um
processo de flexura da placa litosférica, condicionada a esforços compressivos no
embasamento crustal.
Outros trabalhos tratam da evolução da bacia de uma maneira mais
complexa, supondo ter ocorrido um rifteamento num estágio inicial (tafrogênese)
(Fúlfaro et al., 1982; Cordani et al., 1984), porém ainda não há evidências suficientes
segundo os dados geológicos disponíveis (Zalán et al., 1987).
I.2.1.3. Unidades litoestratigráficas
Grupo São Bento
Sob a designação “Série de São Bento”, White (1908) reuniu um conjunto de
arenitos predominantemente vermelhos encimados pelas “Eruptivas da Serra Geral”.
A parte do pacote arenítico, o mesmo autor denominou São Bento, e as camadas
vermelhas, de Rio do Rasto.
Posteriormente todo pacote foi denominado de Grupo São Bento, constituído
pelas formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral (IPT, 1981a).
No Pontal do Paranapanema, as formações Pirambóia e Botucatu ocorrem
apenas sub-superficialmente, entretanto apresentam grande importância, por
constituir, notadamente a Formação Botucatu, aqüífero confinado de excelente
potencial de explotação.
1.2.1.3.1. Formação Pirambóia (TrJp)
Os sedimentos da Formação Pirambóia constituem a porção basal da
seqüência mesozóica de Soares (1975) e, em SP e estendem-se desde a divisa de
MG até o Estado do PR, em uma faixa com largura variável, de 5 a 50 km e
espessura máxima em torno de 300m (Landim et al.,1980 in Brighetti, 1994).
Diversos estudos realizados nas décadas de 20 e 40 apresentam-se
conflitantes entre si, ora separando o pacote de arenitos Pirambóia-Botucatu em
duas unidades, ora definindo todo o conjunto com o nome de uma delas (Campos,
1889; Oliveira, 1889; Pacheco, 1927; Oliveira, 1930; Florence & Pacheco, 1929 e
Oliveira & Leonardos, 1943 in IPT, op. cit.).
Almeida & Barbosa (1953) admitiram que as duas formações representavam
um ciclo único de sedimentação, refletindo condições climáticas que de quentes e
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úmidas evoluíram para desérticas. Distinguiram um membro inferior, o Arenito
Pirambóia, de caráter predominantemente aquoso, e outro eólico, compreendendo o
Arenito Botucatu.
Mapeamentos efetuados pela Petrobrás na década de 1970 na região centrosul do Estado de São Paulo mostraram viabilidade de separar as duas unidades.
Neste sentido, Soares (1972) propôs, com base em critérios sedimentológicos e
estratigráficos, a denominação de formações Botucatu e Pirambóia, individualizandoas. Entretanto, a unidade ainda é alvo de controvérsias, tanto em nível estratigráfico,
quanto sedimentológico.
Soares (op. cit.) divide a Formação Pirambóia em dois membros, um inferior,
correspondente a fácies mais argilosas, com predomínio de estratificações planoparalelas e cruzadas acanaladas de pequeno porte. No membro superior, foram
descritos bancos de arenitos pouco argilosos, sucedidos por outros muito argilosos,
lamitos e argilitos arenosos, cíclicos.
Baseada na análise faciológica em escala regional, a maioria dos estudos das
décadas de 1970 e 80 sugerem que a sedimentação do Pirambóia teria ocorrido em
ambiente flúvio-lacustre, com discreta influência eólica. Segundo Lavina (1989),
houvera crescente desertificação na transição destes para os depósitos da
Formação Botucatu, considerados tipicamente eólicos.
Segundo Brighetti (1994), atualmente se busca, através da análise faciológica
em escala de detalhe, a identificação das fácies com vistas à caracterização
genética dos sedimentos. Neste sentido, Caetano-Chang et al. (1991) e CaetanoChang & Wu (1993) identificaram, com base nos processos sedimentares
dominantes, fácies de sub-ambientes eólicos desde a base até o topo da unidade.
Brighetti (op. cit.) descreve a Formação Pirambóia como constituída por
sedimentos tipicamente eólicos e subordinadamente flúvio-eólicos, depositados em
ambiente desértico. Segundo a mesma autora, a sucessão sedimentar estudada
revelou que, num estágio inicial, predominam os depósitos de dunas associados a
interdunas e amplos lençóis de areia, seguidos por uma sedimentação em campo de
dunas, onde depósitos de dunas e de inúmeras interdunas interagem com um
sistema fluvial temporário. No topo da unidade, os depósitos de interdunas são raros
e a sedimentação dá-se em campo de dunas de grande porte.
1.2.1.3.2. Formação Botucatu (JKb)
Segundo IPT (1981a), a Formação Botucatu constitui-se quase inteiramente
de arenitos de granulação fina a média, uniforme, com boa seleção de grãos foscos
com alta esfericidade. São avermelhados e exibem estratificação cruzada tangencial
de médio a grande porte, característica de dunas caminhantes. Representa os
diversos sub-ambientes de um grande deserto climático de aridez crescente.
1.2.1.3.3. Formação Serra Geral (JKsg)
As “Eruptivas da Serra Geral” (White, 1908) compreendem um conjunto de
derrames de basaltos toleíticos entre os quais se intercalam arenitos com as
mesmas características dos pertencentes à Formação Botucatu. Associam-se-lhes
corpos intrusivos de mesma composição, constituindo sobretudo diques e sills.
De acordo com IPT (op cit.), os derrames afloram em São Paulo na parte
superior das escarpas das cuestas basálticas e de morros testemunhos destas,
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isolados devido ao processo de erosão. Nos planaltos de rebordo destas cuestas,
podem cobrir grandes extensões. Penetram pelos vales que drenam o Planalto
Ocidental, expondo-se principalmente nos dos rios Paranapanema, Tietê, MojiGuaçu e Grande.
No Pontal do Paranapanema, a Formação Serra Geral ocorre na região
sudeste da bacia. A Foto I.2.1.a traz um afloramento desta Formação; as Fotos
I.2.1.b e c apresentam, em caráter de exemplificação, aspectos petrográficos de
uma amostra coletada neste local.
A Formação Serra Geral é recoberta em discordância angular, geralmente
muito disfarçada, pelas várias formações que constituem o Grupo Bauru, ou
depósitos cenozóicos. Localmente a discordância é observada em afloramento,
podendo ser bem acentuada, tendo mesmo levado à total erosão dos basaltos,
quando aquele grupo repousa sobre rochas paleozóicas, como é o caso da região
próxima a Bauru. A superfície basal do Grupo Bauru, desenvolveu-se à custa da
erosão de espessura não conhecida, possivelmente considerável, da Formação
Serra Geral, após ter sido esta deformada por falhas.
A máxima espessura, descrita através de uma sondagem feita em Presidente
Epitácio (Pontal do Paranapanema) próxima à margem do rio Paraná, é de 1.529 m.
As espessuras expostas no restante de São Paulo, nas cuestas basálticas e bordas
do Planalto Ocidental do Médio Paranapanema, possivelmente não alcançam um
terço desse valor, mas não há elementos seguros para estimá-la.
Os derrames são formados por rochas de cor cinza escura a negra com
textura afanítica até fanerítica fina. Têm espessura individual variável, desde poucos
a 50 metros, até mesmo 100m (Leinz, 1949). Sua extensão horizontal, a julgar-se
pelo exame de exposição nas escarpas das serras, no vale do rio Grande e por
análise de fotografias aéreas, pode ultrapassar 10 km.
Nos derrames mais espessos, a zona central é maciça, microcristalina,
fraturada por juntas subverticais de contração, dividindo a rocha em colunas. A parte
superior do derrame, numa espessura que pode alcançar 20m (Leinz et al., 1966)
nos mais espessos, adquire aspecto melafírico, aparecendo vesículas amígdalas,
com freqüência alongadas horizontalmente, e sendo aí maior a porcentagem de
matéria vítrea na rocha.
As amígdalas são parcial ou inteiramente preenchidas por calcedônia,
quartzo, calcita e zeólita nontronita, mineral que lhes imprime cor verde. Grandes
geodos de quartzo e calcedônia podem existir parte mais profunda dessa zona
melafírica. Também na zona basal dos derrames apresentam-se aspectos
semelhantes, porém em espessura e abundância sensivelmente mais reduzidas.
Tanto nas porções basais, quanto no topo dos grandes derrames, há juntas
horizontais, o que seria pelo menos em parte, devido ao escoamento laminar da lava
no interior dos derrames (Bagolini, 1971). Estruturas fluidais raramente se observam.
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Foto I.2.1.a. Afloramento de basalto da Formação Serra Geral (JKsg), localizado no
município de Taciba. Foto: Carlos F. C. Alves.
Foto I.2.1.b. Textura intergranular, com ripas de plagioclásio e cristais intersticiais
de clinopiroxênio. Lâmina delgada com lamínula, de amostra de basalto da
Formação Serra Geral (JKsg), coletada no afloramento da foto anterior. NC,
aumento de 10x. Fotomicrografia e breve descrição petrográfica: André Luiz
Bonacin Silva.
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Foto I.2.1.c. Textura intergranular, com ripas de plagioclásio e cristais intersticiais
de clinopiroxênio. Lâmina delgada com lamínula, de amostra de basalto da
Formação Serra Geral (JKsg), coletada no afloramento da foto anterior. ND,
aumento de 10x. Fotomicrografia e breve descrição petrográfica: André Luiz
Bonacin Silva.
Arenitos intertrapianos apresentam-se intercalados entre derrames ou grupos
de derrames. Têm as mesmas características que os da Formação Botucatu,
geralmente mostrando estruturas tipicamente dunares, outrora manifestando
natureza hidroclástica. Podem mostrar-se silicificados em espessuras de alguns
metros. A espessura dessas intercalações varia de centímetros ou decímetros, até
50 m.
Numerosos diques acompanharam, em sua formação, as efusões das lavas,
para as quais certamente muitos serviram de conduto. Apresentam espessuras
variadas, de centímetros a mais de 200 m. São mais numerosos em zonas que
sofreram arqueamentos, a cujo eixo são subparalelos. Os diques são geralmente
simples, mas exemplos de diques múltiplos existem. Preenchem fendas de tração,
sendo paralelas suas paredes. Podem associar-se a sills e cortarem derrames. São
aproximadamente verticais.
Mineralogicamente, os basaltos da Formação Serra Geral apresentam
composição muito simples, essencialmente constituída de plagioclásio (labradorita
zonada) associada a clinopiroxênios (augita e, às vezes, também pigeonita).
Acessoriamente, mostram-se titano-magnetita, apatita, quartzo e raramente olivina
ou seus produtos de transformação. Matéria vítrea, ou produtos de desvitrificação,
podem ser abundantes, sobretudo às bordas dos derrames. A textura destes é
intergranular ou intersertal, fina a muito fina, às vezes microlítica, com estrutura
fluidal podendo manifestar-se. Os diques e sills têm granulação mais grossa, são
holocristalinos e freqüentemente apresentam textura ofítica. Nas bordas, contudo,
texturas e estruturas semelhantes às dos derrames são às vezes observadas em
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diques e sills, em pequena espessura. A pouca freqüência com que se manifestam
estruturas fluidais faz pensar que as lavas cessaram de correr quando ainda muito
líquidas, o que implica em rápida intrusão, escoamento e represamento (IPT,
1981a).
A uniformidade dos derrames, a vasta extensão que cobrem, a associação a
diques contemporâneos, a preservação local de morfologia das dunas e a raridade
de produtos piroclásticos indicam que os basaltos da Formação Serra Geral
originaram-se do extravasamento rápido de lava muito fluida através de geoclases e
menores falhas. Produtos de erosão dos basaltos não são conhecidos no interior da
formação, parecendo indicar não ter havido hiatos significativos durante o processo
vulcânico. A persistência das condições desérticas durante o vulcanismo é
comprovada pela existência das intercalações eólicas (IPT, op. cit.).
Grupo Bauru
As várias unidades litoestratigráficas cretáceas supra-basálticas da bacia do
Paraná tiveram sua distribuição geográfica fortemente controlada pelo arcabouço
estrutural regional, isto é, depositaram-se na área delimitada pelo arco da Canastra,
a nordeste do Estado de São Paulo, arco da Serra do Mar, a sudeste, e arco de
Ponta Grossa, a sudoeste. Além disso, conforme indicam os estudos de
paleocorrentes deposicionais do Grupo Bauru, os depocentros da bacia Bauru
migraram com o tempo. Não menos importantes foram os fatores paleoambientais e
paleoclimáticos, que se superimpuseram aos controles tectônicos na definição das
características litológicas dos sedimentos (IPT, op. cit.).
Cessados os derrames de lavas da Formação Serra Geral, que marcaram o
final dos eventos deposicionais e vulcânicos generalizados na área da bacia do
Paraná, observou-se uma tendência geral para o soerguimento epirogênico em toda
a Plataforma Sul-Americana em território brasileiro. A porção norte da bacia do
Paraná, entretanto, comportou-se como área negativa relativamente aos
soerguimentos marginais e à zona central da bacia, marcando o início de uma fase
de embaciamentos localizados em relação à área da bacia como um todo. Nessa
área deprimida acumulou-se o Grupo Bauru, no Cretáceo Superior, que aparece em
grande parte do oeste do Estado de São Paulo (Figura I.2.1.c).
Com a reativação wealdeniana e conseqüente estabelecimento das bacias
marginais, o interior continental brasileiro foi alvo de tensas manifestações
tectônicas, que modelaram o embasamento basáltico pré-Bauru. Horsts e grabens,
definindo um padrão de falhamentos normais, formaram-se no interior do "campo de
lavas" da Formação Serra Geral. Esta sofreu uma subsidência mais acentuada na
área do Pontal do Paranapanema em virtude da maior espessura de derrames
basálticos naquela área.
Segundo Suguio (1980), o ciclo inicial de sedimentação Bauru parece ter-se
processado, portanto, sobre um relevo profundamente irregular favorecendo a
formação de ambientes eminentemente lacustres. Esta fase, que naturalmente não
apresentava ainda uma drenagem muito organizada e correspondera à etapa de
assoreamento das irregularidades da superfície basáltica, propiciou a sedimentação
das Formações Caiuá e Santo Anastácio na área do Pontal do Paranapanema e da
Formação Araçatuba na região, que tem aproximadamente como centro a cidade
homônima, localizada na bacia do Baixo Tietê. Tendo sido depositada em ambiente
essencialmente lacustre raso, a principal causa da diferenciação textural entre essas
unidades litoestratigráficas deve ser atribuída às fontes, predominantemente
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arenosa (arenito Botucatu) para as duas primeiras e predominantemente sílticoargilosa (basalto Serra Geral) para a última.
Segundo Cabral Jr. et al. (1990), o Grupo Bauru apresenta-se como um dos
mais promissores, em termos prospectivos, das áreas da bacia do Paraná no Estado
de São Paulo, constituindo o principal conjunto litofáciológico suprabasáltico,
envolvendo um pacote sedimentar da ordem de 200 m de espessura. Destacam-se
as seguintes possibilidades de mineralizações: argilas para diversos fins - bentonita
(esmectita e atapulgita), argilas refratárias (caulinita e gibsita), agregado leve (illita),
fertilizantes termo-fosfato potássico (illita) e cerâmica vermelha; rochas
carbonatadas - corretivo do solo; sais evaporíticos - trona; diamantes; metais (Cu, U)
etc.
Desde a introdução do seu nome na literatura geológica nacional, o "Grés de
Bauru” de Campos (1905) e os "delta-like sandstones" ou "Cayuá sandstone" de Baker
(1923) e Washburne (1930), o Grupo Bauru passou por várias transformações,
subindo e descendo na hierarquia estratigráfica e abrangendo diferentes unidades
litoestratigráficas com o intuito de interpretar a interrelação das diversas unidades
sedimentares suprabasálticas cretáceas. Setzer (1943) apresenta subdivisão da
"Formação Bauru" em "Bauru Superior" e "Bauru Inferior", a partir de estudos
pedológicos da região noroeste do Estado. Almeida & Barbosa (1953), estudando a
"série Bauru" na região das serras de Rio Claro, Itaqueri, Santana, São Carlos e
Cuscuzeiro, propõem sua divisão em Formação ltaqueri (inferior) e Formação Marília
(superior). Freitas (1955) distingue o membro inferior ou Itaqueri e o membro
superior ou Bauru. Posteriormente Freitas (1964) sugere o abandono da designação
ltaqueri.
Figura I.2.1.c. Distribuição do Grupo Bauru e unidades correlatas no Estado de
São Paulo (IPT, 1981a).
Mezzalira & Arruda (1965), com base em observações geológicas na região
do Pontal do Paranapanema, foram os primeiros a admitir a possibilidade do arenito
Caiuá vir a ser considerado como fácies do Grupo Bauru. Os mapeamentos
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geológicos regionais do oeste do Estado, realizados a partir de 1975, permitiram
uma melhor definição da estratigrafia dos depósitos suprabasálticos. Suguio et al.
(1977) subdividiram a "Formação Bauru" em três litofácies distintas. Landim &
Soares (1976) pela primeira vez utilizaram a denominação Santo Anastácio,
referindo-se a sedimentos encontrados no vale do rio homônimo, no extremo oeste
do Estado, considerados como pertencentes a uma fácies de transição entre as
formações Caiuá e Bauru. Soares et al. (1979) e Stein et al. (1979) redescrevem os
arenitos Santo Anastácio, e os mapeiam por grande extensão da porção oeste do
Estado de São Paulo. Soares et al. (1980) e Almeida et al. (1980b) propõem que a
designação Grupo Bauru abranja as formações Caiuá, Santo Anastácio,
Adamantina.
O Grupo Bauru, conforme a acepção de Suguio (1980), abrange as seguintes
unidades litoestratigráficas: Formação Caiuá (Washburne, 1930), Formação Santo
Anastácio (Landim & Soares, 1976 a e b), Formação Araçatuba (Suguio et al., 1977),
Formação São José do Rio Preto (Suguio et al., 1977), Formação Uberaba (Hasui,
1968) e Formação Marília (Almeida & Barbosa, 1953). Segundo este autor, todas
essas unidades litoestratigráficas satisfazem aos critérios exigidos pelo Código de
Nomenclatura Estratigráfica de 1961 (Krumbein & Sloss, 1963), principalmente por
apresentarem propriedades litológicas distintas entre si, reconhecíveis no campo, e
serem mapeáveis na escala 1:25.000.
Dois dos trabalhos mais recentes e importantes são os de Fernandes (1998) e
Fernandes & Coimbra (1998), sobre a estratigrafia e evolução geológica do Bauru
em sua porção oriental. Estes autores dão a denominação de Bacia Bauru, formada
entre o Coniaciano e o Maastrichtiano (Ks), abrangendo dois grupos: Caiuá e Bauru.
Nesta configuração, o Grupo Bauru reúne as formações Vale do Rio do Peixe,
Presidente Prudente (propostas neste trabalho), São José do Rio Preto, Araçatuba
(redefinidas), Marília e Uberaba. Abriga, ainda, os analcimitos Taiúva, rochas
vulcânicas localmente intercaladas na seqüência. As passagens entre as unidades
dos grupos Caiuá e Bauru são graduais e interdigitadas.
O Quadro I.2.1.b apresenta uma síntese das características litológicas e
contexto deposicional das unidades litoestratigráficas propostas por Fernandes
(1998) e Fernandes & Coimbra (1998). A Figura I.2.1.d traz as relações
estratigráficas na parte oriental da Bacia Bauru propostas por estes trabalhos.
Grupo Bauru e unidades correlatas na UGRHI - 22
Neste Relatório Técnico, foi utilizada a subdivisão do Grupo Bauru de IPT
(1981a, 1987), com quatro formações (Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e
Marília), além da subdivisão da Formação Adamantina em unidades de mapeamento
proposta por Almeida et al. (1981) e IPT (1987). Compilando estas referências, o
Grupo Bauru apresenta ampla extensão aflorante no Pontal do Paranapanema,
correspondente a 93,6% do total (vide Desenho 2, Volume III).
Certamente outros levantamentos mais específicos, a exemplo dos trabalhos
de Fernandes (1998), Fernandes & Coimbra (1998), dentre outros efetuados na
região, poderão ser utilizados como obras de referência para projetos na UGRHI-22
que demandem maior detalhamento.
A seguir, é apresentado síntese bibliográfica das principais unidades
litoestratigráficas do Grupo Bauru.
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1.2.1.3.4. Formação Caiuá (Kc)
A Formação Caiuá, constituída essencialmente de arenitos, representa a base
do Grupo Bauru, em um embaciamento ainda restrito, sobrepondo-se às eruptivas
da Formação Serra Geral. Sua área de afloramento no Estado de São Paulo
compreende principalmente a região do Pontal do Paranapanema, estendendo-se
para norte por uma estreita faixa na margem esquerda do rio Paraná, mapeável até
a confluência com o rio do Peixe. Tem continuidade nos estados do Paraná e Mato
Grosso do Sul.
Em termos de área de afloramento no Pontal do Paranapanema, corresponde
a cerca de 3.399,1 km2, ou 28,7% do total, constituindo a segunda unidade
litoestratigráfica de maior representatividade territorial. As Fotos I.2.1.d e e,
apresentam um afloramento da Fm. Caiuá no município de Presidente Epitácio, na
barranca do rio Paraná.
Foto I.2.1.e. Afloramento de arenito da Formação Caiuá (Kc), localizado em barranca do rio Paraná, na área de influência do
reservatório de Porto Primavera, município de Presidente Epitácio ( Escala: 1:100). Notar estratificações cruzadas de médio/grande
porte. Foto: André Luiz Bonacin Silva.
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Foto I.2.1.e. Detalhe de intercepto de estratificação cruzada da Foto I.2.1.e afloramento de arenito da Formação Caiuá (Kc), localizado em barranca do rio
Paraná, na área de influência do reservatório de Porto Primavera, município de
Presidente Epitácio. Foto: André Luiz Bonacin Silva.
Caiuá
Bauru
Grupo
Arenitos finos a muito finos, submaturos, de cores marrom avermelhado a cinza arroxeado, em estratos tabulares de
espessura decimétrica, intercalados, maciços ou com estratificação cruzada acanalada de médio a pequeno porte.
Arenitos finos a muito finos, de cor marrom claro, em estratos tabulares de aspecto maciço de espessura em geral
decimétrica.
Sto. Anastácio
(Ksta)
Arenitos finos a muito finos, de cor marrom avermelhado a arroxeado, bem selecionados, com notável estratificação
cruzada de médio a grande porte.
Rio Paraná (Krpa)
Goio Erê (Kgoe)
Pantanal interior
Siltitos e arenitos muito finos, de cor cinza esverdeado, em estratos tabulares de aspecto maciço, em geral de
espessura decimétrica.
Araçatuba (Karç)
Lençóis de areia
Complexos de dunas eólicas
e grande porte (draas), parte
central de sand sea interior
Zona periférica de sand sea,
dunas eólicas médias e
interdunas
Lençóis de areia com campos
de dunas baixas, com
depósitos de loesse e de
wadis
Arenitos muito finos a finos, seleção moderada a boa, de cores marrom claro, rosado a alaranjado; em estratos
tabulares maciços ou com estratificação grosseira, intercalados com unidades de espessura submétrica, com
estratificação cruzada e de lamitos arenosos maciços.
Vale do Rio do
Peixe (Kvpx)
Sistema fluvial meandrante
arenoso fino, de canais rasos
Rios entrelaçados, de baixa a
média sinuosidade
Sistema fluvial entrelaçado,
partes medianas de leques
aluviais
Sistema fluvial entrelaçado,
partes medianas de leques
aluviais
Zonas distais de leques
aluviais
Vulcânica extrusiva
Contexto deposicional
Sistema fluvial entrelaçado
arenoso
Arenitos muito finos/lamitos siltosos (com grãos de perovskita), matriz argilo arenosa verde; intercalações secundárias
de siltitos e argilitos; em estratos tabulares a lenticulares. Inclui materiais derivados de retrabalhamento de rochas
ígneas efusivas e intrusiva (básicas, ultrabásicas, intermediárias e alcalinas).
Arenitos muito finos a finos de seleção moderada a má, matriz lamítica, de cores marrom-avermelhado claro a bege, e
lamitos argilosos marrom-escuro (chocolate); feições de preenchimento de canais rasos, com estratificação cruzada
acanalada; corpos tabulares com estratificação sigmoidal interna, e com estratificação plano-paralela e estruturas de
fluxo aquoso de regime inferior dominante e maciços.
Arenitos e arenitos conglomeráticos imaturos, de cor amarelo-pálido a avermelhado; em estratos lenticulares, com
freqüente estratificação cruzada tabular a acanalada de médio a pequeno porte; de lentes de conglomerados e lamitos.
Rocha ígnea de natureza alcalina, marrom-claro a avermelhado, textura afanítica. Algumas vezes apresentam
amígdalas e fraturas preenchidas por calcita.
Arenitos finos a médios imaturos, com fração grossa e grânulos, de cores bege a rosa (pálidas), em unidades de
aspecto maciço com intensa cimentação e nodulação carbonáticas, de espessura média de 1m; podem ocorrer
discreta concentração de clastos e intercalações de lentes de lamitos arenosos.
Arenitos imaturos, lentes de conglomerados (casco-de-burro) e de lamitos, todos intensamente cimentados por
carbonato (calcários impuros); acizentados; de aspecto geral homogêneo (maciço). Podem ser separados três litotipos
básicos: 1)calcário arenoso de aspecto maciço, 2)calcário conglomerático de matriz arenosa, e 3) calcário fino
fragmentado (pseudobrecha).
Principais características
Arenitos finos a muito finos, com frações de areia média a grossa, freqüentemente conglomerático, de seleção
moderada a má, cor marrom claro a bege, com estratificação cruzada acanalada a tabular tangencial na base (padrão
festonado). Podem ocorrer intercalações subordinadas de arenitos a siltitos com estratificação plano-paralela e
estruturas de fluxo aquoso de regime inferior.
Serra da
Galga
(Ksga)
Ponte Alta
(Kpta)
Echaporã
(Kech)
Membro
São José do Rio
Preto (Kvpx)
Presidente
Prudente (Kppr)
Uberaba (Kube)
Marília
Analcimitos Taiuva
(Ktu)
Formação
Unidade litoestratigráfica
Quadro I.2.1.b. Síntese das características litológicas e contexto deposicional das unidades litoestratigráficas dos Grupos Bauru e
Caiuá (Fernandes, 1998).
34
Figura I.2.1.d. Relações estratigráficas na parte oriental da Bacia Bauru. Siglas: Krpa = Fm. Rio Paraná
Fm. Santo Anastácio (Gr. Caiuá); Krpx = Fm. Vale do Rio Peixe, Karç = Fm. Araçatuba, Kube = Fm. U
galga, Kpta = Mb. Ponte Alta, Kech = Mb. Echaporã, Ksrp = Fm. São José do Rio Preto, Kppr = Fm
analcimitos Taiúva (Gr. Bauru); Ksg = Fm. Serra Geral (Gr. São Bento) (Fernandes, 1998).
36
A primeira referência aos arenitos mais tarde denominados Caiuá foi feita por
Baker (1923), que mencionou a existência de arenitos com estratificação fortemente
inclinada, muito semelhantes a deltaicos em natureza, observáveis ao longo do rio
Paraná desde o norte de Porto Tibiriçá até Sete Quedas. Na Carta Geológica do
Estado de São Paulo (Florence & Pacheco, 1929), a unidade denominada "Cayuá"
aparece ocupando uma grande extensão do oeste do Estado, mas a sua primeira
descrição formal só foi apresentada por Washburne (1930), que atesta a existência
do "Cayuá sandstone" através de extenso perfil realizado ao longo do rio Paraná,
entre Jupiá e Guaíra. Considera-o como uma formação distinta, posterior às lavas
mais jovens e mais antiga que o Bauru, sendo constituído inteiramente por arenitos
eólicos.
Nos afloramentos existentes no Estado de São Paulo, a Formação Caiuá
caracteriza-se por apresentar notável uniformidade litológica. É constituída
predominantemente por arenitos de coloração arroxeada com marcante
estratificação cruzada de grande porte, tangencial na base, de granulação fina a
média, bem selecionados ao longo da mesma lâmina ou estrato, com grãos
arredondados a subarredondados. A composição dos arenitos apresenta quartzo,
feldspatos, calcedônia e opacos, definindo-se tipos quartzosos, ocasionalmente com
caráter subarcosiano. É muito comum ocorrer pequena quantidade de matriz fina,
enquanto só ocasionalmente se apresenta cimento carbonático ou silicoso. A
espessura máxima conhecida do Arenito Caiuá no Estado de São Paulo é de cerca
de 200 m.
De acordo com Suguio (1980), a Formação Caiuá parece ter resultado do
preenchimento de um paleolago, na região de Pontal do Paranapanema, talvez
originado por alteração de nível de base do proto-rio Paraná, a jusante deste local,
por sedimentos essencialmente arenosos de origem deltaica (Baker, 1923; Freitas,
1973; Landim & Soares, 1976b). As medidas de camadas frontais de estratificações
cruzadas forneceram os sentidos das paleocorrentes deposicionais, que fluíram
predominantemente de leste para oeste, conforme Freitas (op. cit.) e Landim &
Soares (op. cit.). Os valores relativamente altos (70 a 90%) do fator de consistência
dessas medidas são muito sugestivos de transporte subaquoso pois, normalmente o
transporte e deposição eólicos, hipótese defendida por outros (Washburne, 1930),
originariam estratificações cruzadas com maior dispersão nas atitudes das camadas
frontais. A natureza predominantemente psamítica e os altos graus de seleção
granulométrica e de arredondamento das partículas arenosas oro sugestivas de uma
fonte tipo Botucatu localiza da a leste, fato comprovado por Freitas (op. cit.), através
do estudo de minerais pesados.
Segundo Barcelos (1990) a Formação Caiuá resultou, provavelmente, do
preenchimento de uma depressão na região do Pontal do Paranapanema, por
sedimentos arenosos de frente progradacional tipo deltáica. O assoreamento do
substrato basáltico continuou na fase Santo Anastácio, quando os processos de
distribuição destes sedimentos foram responsáveis pela agradação desta superfície.
O ambiente fluvio-deltáico submetido a clima quente e seco deu lugar a um sistema
de drenagem melhor organizado, com direção preferencial de escoamento para
oeste-sudeste, com canais anastomosados e carga sedimentar psamítica. Nestas
condições paleoambientais e paleoclimáticas encerrou-se o ciclo sedimentar basal
do Grupo Bauru e iniciou-se a sedimentação das seqüências superiores
(Adamantina/Marília).
37
Durante a sedimentação da Formação Caiuá, o efeito do paleoclima
desértico, que prevaleceu em épocas prévias (Grupo São Bento), ainda se fazia
sentir. Desta maneira, com alguma atividade eólica e em ambiente bastante
oxidante, de águas rasas e alcalinas, parecem ter sido originados os sedimentos que
constituem essas formações. A prova disso é que, embora a sedimentação tenha
sido predominantemente lacustre, ambiente em geral favorável à preservação de
matéria orgânica, não foi constatada a presença de qualquer tipo de sedimento
carbonoso em virtude das características físico-químicas (Eh e pH) das águas
desses lagos.
Em conseqüência do desconhecimento de fósseis que permitam uma datação
mais precisa, a idade da Formação Caiuá tem sido interpretada a partir das relações
de contato com as unidades datadas, situada cronologicamente próximas. O hiato
erosivo em relação à Formação Serra Geral indica idade pós-neocomiana (120
m.a.), que é a idade conhecida dos últimos derrames basálticos (Amaral et al., 1966).
Por outro lado, a Formação Adamantina, situada em posição estratigráfica mais
elevada, apresenta fósseis atribuídos ao final do Senoniano (Huene, 1927, 1939
apud Mezzalira, 1974), o que indica para a Formação Caiuá uma idade
compreendida entre o final do Neocomiano e o Senoniano. Dada a inexistência de
hiatos deposicionais durante a sedimentação das formações Caiuá, Santo Anastácio
e Adamantina, parece mais verossímil admitir-se idade senoniana também para a
Formação Caiuá.
1.2.1.3.5. Formação Santo Anastácio (Ksa)
Os arenitos desta formação afloram na área objeto dos estudos, em áreas
que acompanham as cotas mais baixas dos vales dos rios Aguapeí e Peixe,
próximos ao rio Paraná. Em subsuperflcie, litologias atribuíveis à Formação Santo
Anastácio estendem-se para leste, até a região de Mariápolis na bacia do rio do
Peixe e Salmorão no rio Aguapeí. Esta distribuição indica que o embaciamento em
que se acumulou esta formação transgrediu sobre o embaciamento Caiuá, embora
em continuidade tectônica e sedimentar. Encontra-se o Arenito Santo Anastácio
jazendo ora sobre o Caiuá, ora recobrindo diretamente o embasamento basáltico.
A denominação Santo Anastácio foi utilizada pela primeira vez por Landim &
Soares (1976b), para referir-se a sedimentos encontrados no vale do rio homônimo,
no extremo oeste do Estado. Esses sedimentos, então denominados "Fácies Santo
Anastácio", foram considerados como um pacote fluvial que representaria a
transição entre a Formação Caiuá e a formação sobreposta, então denominada
Bauru. Soares et al. (1979) estendem a área de ocorrência dos termos litológicos
englobados sob a denominação de Santo Anastácio por uma grande porção do
extremo oeste do Estado, tal como representado no mapa do DAEE (1979).
Conforme a redefinição proposta, o termo Santo Anastácio englobaria
litologias anteriormente já destacadas por alguns autores ("litofácies arenitos
vermelhos" de Brandt Neto, 1977 e os arenitos cor vinho da "Litofácies Araçatuba"
de Suguio et al., 1977). A partir de mapeamentos regionais em grande área,
abrangendo o oeste de São Paulo e Paraná e o sudeste do Mato Grosso do Sul,
Stein et al. (1979) propõem a passagem do anteriormente denominado membro ou
fácies Santo Anastácio para a categoria de formação. Estes autores justificam a
proposição com base na vasta distribuição em área dos termos litológicos
característicos desta unidade, e na sua posição estratigráfica bem definida, entre os
38
arenitos Caiuá e "Bauru". Mais recentemente a unidade Santo Anastácio foi
definitivamente consagrada como uma formação individualizada, pertencente ao
Grupo Bauru, situada estratigraficamerite entre as formações Caiuá e Adamantina
(Soares et al., 1980; Almeida et al., 1980b, 1981).
A litologia mais característica da Formação Santo Anastácio é representada
por arenitos marrom-avermelhados a arroxeados, de granulação fina a média,
seleção geralmente regular a ruim, com grãos arredondados a subarredondados,
cobertos por película limonítica. Mineralogicamente constituem-se essencialmente
de quartzo, ocorrendo subordinadamente feldspatos, calcedônia e opacos. Caráter
subarcosiano é freqüente. Localmente ocorrem cimento e nódulos carbonáticos
preservados, sendo comum orifícios atribuídos à dissolução destes nódulos. As
estruturas sedimentares observadas são muito pouco pronunciadas. Predominam
bancos maciços com espessuras métricas e decimétricas, ocorrendo também
incipiente estratificação plano-paralela ou cruzada. Localmente, principalmente
quando depositado diretamente sobre os basaltos da Formação Serra Geral, o
Arenito Santo Anastácio apresenta algumas diferenciações litológicas. A granulação
é mais fina, ocorrendo arenitos siltosos e arenitos argilosos. A seleção é pior, e às
vezes encontram-se delgadas intercalações de lentes argilosas, de espessura
decimétrica.
Almeida et al. (1980) fixam o alto vale do rio Tietê como um limite natural entre
ás áreas de ocorrência do Santo Anastácio mais típico, a sul, e da variedade mais
fina, a norte. Esta diferenciação textural, no entanto, pode refletir também a
influência da atividade tectônica ao longo do "alinhamento estrutural do Tietê",
definido por Coimbra et al. (1977), na deposição da Formação Santo Anastácio, a
exemplo da influência desse alinhamento na deposição da Formação Adamantina,
subdividida em duas sub-bacias com diferentes índices de maturidade mineralógica
(Coimbra, 1976).
A Formação Santo Anastácio apresenta espessura máxima compreendida
entre 80 e 100 metros na região dos vales dos rios Santo Anastácio e Pirapozínho,
no oeste do Estado, já próximo ao Pontal do Paranapanema. Dessa região para
leste esta formação adelgaça-se rapidamente, deixando de existir à altura de
Paraguaçu Paulista. Para norte o adelgaçamento é mais lento, estendendo-se a
área de afloramento do Santo Anastácio até pouco antes das margens do rio
Grande. Em direção ao Estado do Paraná, a sul, e Mato Grosso do Sul, a oeste,
observa-se também adelgaçamento da unidade. A posição do depocentro da
Formação Santo Anastácio, indicada pela área de ocorrência das maiores
espessuras, revela um deslocamento para nordeste em relação ao depocentro da
Formação Caiuá, além do aumento da extensão do embaciamento.
O contato inferior da Formação Santo Anastácio dá-se ora com o Arenito
Caiuá, transicionalmente, ora diretamente com os basaltos da Formação Serra
Geral. Nestes casos de ausência do Caiuá, no contato Santo Anastácío / Serra Geral
observa-se delgado horizonte de brecha basal, Mezzalira (1974) e Barcha (1980).
Este horizonte de brecha basal do Santo Anastácio em muito se assemelha àquele
da base do Caiuá. Já o contato superior da Formação Santo Anastácio com a base
da Formação Adamantina sobrejacente é transicional e interdigitado, localmente
contatos bruscos entre as duas unidades (Almeida et al., 1980b).
A exemplo da Formação Caiuá, a Formação Santo Anastácio, da qual não se
conhecem fósseis, tem sido datada com base nas relações estratigráficas com as
39
unidades vizinhas. A passagem transicional para a Formação Caiuá sugere idade
imediatamente posterior, enquanto a interdigitação com a Formação Adamantina
indica anterioridade e mesmo um sincronismo parcial com esta unidade. Estas
relações indicam para a Formação Santo Anastácio uma idade mais provável
compreendida num intervalo de tempo contido no Senoniano, que se estenderia no
máximo até o final do Campaniano.
O ambiente de deposição da Formação Santo Anastácio ainda não foi
suficientemente esclarecido. Soares et al. (1980) admitem um modelo deposicional
fluvial rneandrante a transicional para anastomosado, com fonte de material
essencialmente psamítico. Entretanto, a participação dos produtos de alteração do
basalto como uma das fontes da Formação Santo Anastácio é indiscutível,
principalmente nas áreas em que o embasamento desta última é a própria Formação
Serra Geral. Este fato, associado às características da textura e das estruturas
sedimentares da Formação Santo Anastácio, sugerem ambiente fluvial
predominantemente anastomosado para a deposição desta unidade, resultando no
pronunciado conteúdo arenoso e na raridade das fácies de transbordamento e de
diques marginais. As áreas-fonte do material constituinte da Formação Santo
Anastácio foram basicamente as mesmas do Arenito Caiuá, juntamente com os
produtos de alteração e retrabalhamento dos basaltos. Principalmente na região da
calha do rio Tietê e para norte, observa-se contribuição de áreas do embasamento
pré-cambriano. Segundo estudos do IPT (1981a), observa-se que "houve da base
para o topo uma diminuição gradual da energia do ambiente de deposição. Essa
diminuição de energia do ambiente deposicional é atestada tanto pelas estruturas
observadas como pela diminuição granulométrica que ocorre rumo ao topo".
1.2.1.3.6. Formação Adamantina (Ka)
Esta formação aflora em vasta extensão do oeste do Estado de São Paulo,
recobrindo as unidades pretéritas do Grupo Bauru (formações Caiuá e Santo
Anastácio) e da Formação Serra Geral. É recoberta em parte pela Formação Marília
e em parte por depósitos cenozóicos.
No Pontal do Paranapanema, é a unidade litoestratigráfica com maior
extensão de afloramento (62,2%, ou seja, quase 2/3 do total). A Foto I.2.1.f
apresenta um afloramento da Formação Adamantina no Pontal do Paranapanema.
As Fotos I.2.1.g e h mostram, em caráter de exemplificação, aspectos petrográficos
de uma amostra desta Formação coletada na UGRHI - 22.
O contato entre a Formação Adamantina e os basaltos da Formação Serra
Geral é marcado por discordância erosiva, apresentando às vezes, delgados níveis
de brecha basal.
De maneira geral, seus sedimentos são granulometricamente mais finos e
melhor selecionados do que os da Formação Santo Anastácio. Freqüentemente
contêm micas, e mais raramente, feldspatos, sílica amorfa e minerais opacos, bem
como exibem uma grande variedade de estruturas sedimentares (IPT, 1981a).
As maiores espessuras da Formação Adamantina ocorrem geralmente nas
porções ocidentais dos espigões entre os grandes rios. Atinge 160 m entre os rios
São José dos Dourados e Peixe, 190 m entre os rios Santo Anastácio e
Paranapanema, e 100 a 150 m entre os rios Peixe e Turvo (UGRHI 15 - Turvo-
40
Grande), adelgaçando-se dessas regiões em sentido a leste e nordeste (Soares et
al., 1980).
Foto I.2.1.f. Afloramento de arenito da Formação Adamantina (Ka), localizado no
município de Marabá Paulista. Foto: Carlos F. C. Alves.
Foto I.2.1.g. Arenito com microclínio e plagioclásio. Lâmina delgada com lamínula,
de amostra de rocha psamítica, sustentada por grãos, coletada em afloramento da
Formação Adamantina (Ka) no Pontal do Paranapanema (UGRHI - 22). Aspectos
texturais: granulação (escala de Wentworth, 1922) fina-média; moderadamente
selecionada (seg. classes de Pettijohn et al., 1987), com certa bimodalidade;
predominância de grãos sub-angulosos e esfericidade intermediária (seg. os
esquemas de Powers, 1953 apud Scholle, 1979). Maturidade textural (seg. critérios
de Folk, 1951): submatura. Cimentação carbonática e pequenos nódulos
carbonáticos presentes. NC, aumento de 2,5x. Fotomicrografia e breve descrição
petrográfica: André L. Bonacin Silva.
41
Foto I.2.1.h. Arenito com microclínio e plagioclásio, idem anterior. ND, aumento de
2,5x. Fotomicrografia: André Luiz Bonacin Silva.
No Estado de São Paulo, os depósitos atribuíveis à Formação Adamantina
transgridem do embasamento basáltico por sobre unidades infrabasálticas
(Formação Botucatu) somente em áreas muito localizadas. Várias destas áreas
estão situadas nas cercanias dos vales dos rios Jacaré-Guaçu e Jacaré-Pepira
(bacia do Tietê-Jacaré). Estas áreas estão sobre o "alinhamento estrutural do Tietê",
descrito como "uma feição proeminente na região durante todo o Mesozóico", e que
"comportou-se como uma sela de rnenor negatividade em relação às áreas situadas
ao norte e ao sul" (Coimbra et al., 1977).
Este alinhamento estrutural separou duas sub-bacias na época da deposição
da Formação Adamantina, como indicam as áreas distintas com diferentes índices
de maturidade mineralógica determinadas por Coimbra (1976). Intensa atividade
tectônica anterior, contemporânea e possivelmente também posterior à deposição do
Grupo Bauru, manifestada na zona do alinhamento do Tietê, seria a responsável
pelas falhas normais, escarpas e basculamentos de blocos, identificáveis sobretudo
nas unidades pré-Bauru, na área dos rios Jacaré-Guaçu e Jacaré-Pepira (Fúlfaro et
al., 1967; Bjornberg et al., 1970, 1971; Soares, 1974; Coimbra et al., op. cit. e Brandt
Neto et al., 1980 in IPT, op. cit.). O tectonismo na área do alinhamento teria sido o
responsável pela omissão dos basaltos na base do Adamantina.
Suguio et al. (1977) referem-se a um grande horst na região de Bauru-Agudos
formado por uma tectônica pré-Adamantina, ali depositando-se esta formação
diretamente sobre o Botucatu. Trabalhos de detalhamento realizados posteriormente
(Couto et al., 1980) confirmaram a existência no local de um alto estrutural nas
proximidades de Piratininga, área em que afloram rochas da "Formação Estrada
Nova" (Formação Teresina) e da Formação Pirambóia, havendo dados de
subsuperfície que mostram a Formação Adamantina repousando diretamente sobre
estas duas unidades mais antigas.
42
De acordo com Mezzalira (1974) os primeiros achados de fósseis cretáceos
no oeste do Estado de São Paulo datam do começo do século. São dentes de
dinossauro e carapaças de tartaruga encontrados em camadas hoje atribuídas à
Formação Adamantina, primeiramente descritos por Ihering (1911). Desde então têm
sido relatados achados de grande variedade de fósseis nas camadas Bauru no
Estado de São Paulo, hoje atribuídas à Formação Adamantina. Mezzalira (1980)
apresenta um estudo de síntese sobre a paleocologia da "Formação Bauru", e lista
os fósseis conhecidos até então. Entre a flora, cita algas (charales) e coníferas
(gymnospermae). Entre a fauna cita crustáceos, ostracódios, conchostráceos,
moluscos (bivalves e gastrópodes), peixes e répteis (quelônios, crocodilianos e
dinossáurios).
As fácies deposicionais encontradas na Formação Adamantina refletem,
segundo Soares et al. (1980), deposição "em um extenso sistema fluvial meandrante
dominantemente pelítico a sul, gradando para psamítico a leste e norte e
parcialmente nessas regiões com transição para anastomosado". Suguio et al. (op
cit.) admitem que inicialmente, para a parte inferior da Formação Adamantina, a
drenagem era pouco organizada, e o ambiente deposicional de menor energia,
formado por uma predominância de lagos rasos. Já para a parte superior da
formação predominaria um sistema fluvial com rios de maior porte e maior energia,
responsáveis pelas freqüentes estruturas hidrodinâmicas.
Com base na correlação do conteúdo paleontológico da Formação
Adamantina com os fósseis similares de sedimentos da Patagônia, Huene (1927 e
1939) apud Mezzalira (1974) atribuiu-lhe idade senoniana. Essa idade é confirmada
pelo fato de que no Triângulo Mineiro (MG), depósitos correlacionáveis à Formação
Adamantina repousem em discordância sobre a Formação Uberaba (Hasui, 1968 e
Suguio, 1973), esta apresentando tufos indicativos de contemporaneidade com o
magmatismo alcalino da região, datado entre 85 e 55 m.a. (Soares & Landim, 1976).
A denominação Formação Adamantina nomeia os depósitos originalmente
designados "Gréz de Bauru” (Campos, 1905), posteriormente denominados arenito
Bauru (Pacheco, 1913), Formação Bauru (Washburne, 1930; Moraes Rego, 1930),
Série Bauru (Almeida & Barbosa, 1953) ou Grupo Bauru (Freitas, 1964).
Os depósitos da Formação Adamantina apresentam algumas variações
regionais que têm determinado a adoção de denominações informais como
membros, facies, litofácies ou unidades de mapeamento, para designar conjuntos
litológicos com características distintas. Estas propostas de subdivisões já vêm
sendo apresentadas há muito tempo para os depósitos denominados "Bauru",
correspondentes a Adamantina. Na maioria dos casos, entretanto, as subdivisões
propostas adaptam-se melhor a variações litológicas mais ou menos localizadas,
não havendo ainda um consenso a respeito de uma subdivisão que possa ser aceita
regionalmente, para a Formação Adamantina como um todo.
Almeida et al. (1980), mapeando o oeste paulista, adotam a mesma divisão do
Grupo Bauru em quatro formações em concordância com Soares et al. (1980), mas
subdividem a Formação Adamantina em cinco “unidades de mapeamento” (KaI, KaII,
KaIII, KaIV, KaV), de caráter informal, com base em variações litológicas.
Posteriormente, Almeida et al. (1981), mapeando com maior detalhe áreas do Pontal
do Paranapanema, confirmam a caracterização, extensão e interrelação das
"unidades de mapeamento" propostas anteriormente, e definiram melhor as
43
unidades KaI e KaIV que aí afloram. A seguir, uma breve descrição, compiliada de
IPT (1987), das unidades KaI, KaIV e KaV, aflorantes no Pontal do Paranapanema.
Unidade de mapeamento KaI
Almeida et al. (1980) descrevem a unidade KaI da Formação Adamantina
como basal, ocorrendo entre os rios Paranapanema e do Peixe. No Pontal do
Paranapanema, corresponde a cerca de 37% do total em área aflorante, ou seja, a
unidade geológica de maior expressão territorial da UGRHI.
A unidade KaI é formada por arenitos finos a muito finos, siltitos arenosos,
arenitos finos argilosos e subordinadamente de arenitos médios. Os arenitos são
constituídos principalmente de quartzo, apresentando porcentagens variadas de
feldspatos, ocorrendo até arcóseos. É comum a presença de matriz siltosa e
argilosa, bem como a presença de bancos com cimentação carbonática. Na região
do Pontal do Paranapanema, Almeida et al. (1981) observam que a cimentação
aparece na forma de bancos com estrutura maciça, ou com estratificação planoparalela, e subordinadamente com estratificação cruzada de pequeno e médio porte.
Estes bancos têm coloração rósea, marrom e cinza.
Mineralogicamente, a unidade KaI apresenta depósitos semelhantes à
Formação Santo Anastácio, porém normalmente a unidade KaI possui termos mais
finos, grau de seleção melhor e uma sucessão de tipos com diferentes
granulometrias.
Localmente pode ocorrer interdigitação entre as unidades KaI e KaV. Contatos
marcados por discordância erosiva com os basaltos da Formação Serra Geral
também são observados.
Unidade de mapeamento KaIV
A área de ocorrência da unidade KaIV é amplamente distribuída na área de
estudo, embora seja relativamente descontínua. Corresponde a 20,4% (cerca de 1/5)
da área total aflorante do Pontal do Paranapanema.
A unidade KaIV interdigita-se com a Formação Santo Anastácio, recobrindo-a,
bem como a unidade KaI, com a qual apresenta também contatos graduais. Almeida
et al. (1981) observaram contatos bruscos entre a unidade KaI e KaIV na região do
Pontal do Paranapanema.
Esta unidade de mapeamento é constituída de arenitos finos a muito finos
dispostos em espessos bancos alternados, apresentando intercalações e lentes de
argilitos, siltitos e, mais restritamente, arenitos com pelotas de argila. Os arenitos
são constituídos de quartzo, pequena quantidade de feldspato e sílica amorfa,
minerais opacos e micas. Apresentam boa seleção. A matriz é argilosa, em
porcentagens variadas. Ocorre cimentação carbonática e raros nódulos
carbonáticos. A coloração é avermelhada.
Apresenta algumas variações litológicas: no interflúvio Peixe-Aguapeí
(UGRHIs 20 e 21), predominam bancos maciços de arenitos finos, bem
selecionados, sem intercalações de outras litologias, com cores rosadas. Na região
do Pontal do Paranapanema, Almeida et al. (1981) descrevem a unidade KaIV como
siltitos arenosos a argilosos e arenitos muito finos com matriz argilosa. Neste local,
44
os siltitos arenosos a argilosos, de cor vermelho escuro a rosada, apresentam
grande quantidade de pelotas de argila de cor de chocolate.
Unidade de Mapeamento KaV
A unidade KaV apresenta contatos basais interdigitados e transicionais com a
unidade KaIV. São arenitos finos e muito finos, de coloração bege ou cinza, dispostos
em bancos pouco espessos, ao contrário da unidade KaIV. Apresentam, com
freqüência, cimentação carbonática, com ocorrência local de nódulos carbonáticos.
No Pontal do Paranapanema, correspondem a cerca de 4,8% da área
aflorante da UGRHI.
I.2.1.3.7. Terrenos Cenozóicos (Qa)
São englobados sob esta designação genérica, os depósitos em terraços
suspensos, cascalheiras e aluviões pré-atuais, e os depósitos recentes de encostas
e associados às calhas atuais, que são coberturas coluvionares e aluvionares,
respectivamente.
As cascalheiras ocorrem associadas principalmente às calhas dos rios
Paranapanema e afluentes de sua margem direita, suspensas em relação ao nível
de base atual. São depósitos de pequena expressão em área, que variam de
decímetros a metros de espessura. Podem apresentar predominância de clastos de
natureza quartzítica, ou então de sílica amorfa. Em ambas, seixos de quartzo e de
arenitos completam a constituição básica das cascalheiras, sempre com a presença,
em porcentagens variadas, de matriz arenosa.
Em posições de meia encosta aparecem depósitos aluviais pré-atuais. São
ocorrências restritas, constituídas por intercalações de leitos arenosos e argilosos.
Apresentam-se por toda a área da bacia estudada. Em algumas calhas de rede de
drenagem, principalmente na Depressão Periférica, raríssimos depósitos são mais
desenvolvidos, constituindo pacotes com algumas dezenas de metros de espessura.
Níveis mais possantes de cascalho também são encontrados nos domínios dessa
província geomorfológica. As principais ocorrências associam-se a afluentes do
Paranapanema.
Os colúvios são constituídos por areias, siltes e argilas, freqüentemente com
grânulos e seixos associados. A predominância de um dos tipos granulométricos,
bem como de minerais constituintes, respondem diretamente à natureza do
substrato rochoso. No Planalto Ocidental a predominância é de colúvio arenoso com
porcentagens subordinadas de silte e argila. No cristalino do Planalto Atlântico, e
nas seqüências sedimentares da Depressão Periférica, a constituição básica é
bastante variada. Na área de exposição das rochas basálticas as coberturas com
termos mais argilosos, ou argilo-arenosos quando próximo a arenitos, têm
distribuição mais facilmente controlável.
Aos principais cursos d’água estão associados os depósitos aluviais mais
desenvolvidos, tanto maiores quanto mais interiores à área do domínio da Bacia do
Paraná. São bastante restritos na região cristalina, geralmente condicionados a
soleiras. A constituição mais arenosa é sempre encontrada, bem como níveis de
cimentação limonítica. Cascalheiras e intercalações de outros termos são
45
ocasionais, porém sempre presentes. A maior parte da rede de drenagem reentalha
seus próprios depósitos.