Manual Especializado 3 - ENSINAR CRIANÇAS
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Manual Especializado 3 - ENSINAR CRIANÇAS
Adotar a Diversidade: Ferramenta para criar ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem Manual especializado 3 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Teaching Children with Disabilities in Inclusive Settings Bangkok: UNESCO Bangkok, 2009. 109 pág. no original (Adotar a diversidade: Ferramenta para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem - Manual especializado 3) 1. Educação inclusiva. 2. Salas de aula. 3. Guia para professores. ISBN 978-92-9223-243-6 (Print version) ISBN 978-92-9223-244-3 (Electronic version) Chief Editor: Caroline Haddad Design/Layout: Pongsuda Vongsingha © UNESCO 2009 Publicado por: UNESCO Departamento Regional para a Ásia e Pacífico 920 Sukhumvit Rd., Prakanong, Bangkok 10110, Tailândia Impresso na Tailândia As designações utilizadas e a apresentação do material ao longo da publicação não implicam, de modo algum, a expressão de qualquer opinião por parte da UNESCO sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou área ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites. Texto traduzido do Inglês por Ana Cachado, Dinah Mendonça, Ana Maria Bénard e José Vaz Pinto Revisão e arranjo gráfico de José Vaz Pinto Capa de Valdemar Lopes Associação Cidadãos do Mundo – Rede Inclusão - Portugal Ano de 2014 - Março APL/08/OS/057-1200 Prefácio O direito à educação é universal e compreende todas as crianças, jovens e adultos com Incapacidades. Este direito está consagrado na Convenção dos Direitos da Criança (1989) e na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (2008). Ele é ainda abordado em várias declarações internacionais importantes, nomeadamente a Declaração Mundial da Educação para Todos (1990), a Declaração e Orientações para a Ação de Salamanca (1994), e as Orientações para a Ação de Dakar (2000). O assegurar o direito à educação é uma missão central da UNESCO, que é também confirmada e reconhecida pelos seus Estados Membros. Esta educação deve ser uma educação de qualidade. Assim, a UNESCO dá primazia não só ao mero direito à educação, mas também particularmente ao direito à qualidade da educação para todos. A maioria das crianças com incapacidades nos países em desenvolvimento neste momento estão fora da escola, e os que a frequentam não estão a fazer aprendizagens. Os pré-requisitos para cumprir a Educação para Todos são o remover de barreiras para que as pessoas com incapacidades acedam à educação e à aprendizagem. Para garantir que todas as crianças têm acesso a uma educação de qualidade, as políticas e as práticas educativas têm de ser inclusivas para todos os alunos, haver encorajamento para a plena participação de todos, e fomentar a diversidade como um recurso, em vez de a considerar um obstáculo. A educação inclusiva para todos abrirá o caminho para a prosperidade dos indivíduos e para a sociedade, em geral. Esta prosperidade, por seu lado, conduzirá a um desenvolvimento da humanidade mais pacífico e sustentável. A publicação da UNESCO – Adotar a Diversidade: Ferramenta para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da Aprendizagem (AIAA) proporciona um meio global e prático para fazer das escolas e salas de aula meios mais inclusivos, amigos da aprendizagem e sensíveis ao género Este guia, que complementa as Ferramentas AIAA, centra-se em questões específicas que necessitam de ser consideradas ao ensinar pessoas com incapacidades. Este guia apresenta linhas de orientação par o ensino adequado de crianças com incapacidades sem comprometer a qualidade. Estas orientações realçam o uso de práticas amigas da aprendizagem que ajudam as crianças com incapacidades a atingir o seu máximo potencial. Este guia é realmente um produto cooperativo. Foi feito um esboço e depois revisto por Mr. Terje Watterdal do “International Development Partner”, que também trabalhou como consultor da UNESCO sobre educação inclusiva, bem como consultor de educação inclusiva para diversas organizações de apoio ao desenvolvimento na Asia. Ele também foi enriquecido com os comentários e sugestões de professores de todo o mundo. UNESCO Bangkok gostaria de agradecer a todos eles pelas suas contribuições. Johan Lindeberg, Assistant Programme Officer at UNESCO’s Asia and Pacific Regional Bureau for Education, coordenou o projeto, e a equipa de publicações da UNESCO, Caroline Haddad and Pongsuda Vongsingha, adaptaram este recurso para impressão em papel. Gwang-jo Kim Director, UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education Preâmbulo Fiquei cego aos cinco anos devido a uma doença e fui enviado para uma escola especial para cegos com a idade de 9 anos em 1960. A escola era em Bandung, cerca de 80 Km de minha casa. Passei os meus primeiros dias na escola especial a chorar por causa da separação dos meus pais, irmãos, amigos de infância e da aldeia natal. Se eu pudesse ter ido para a escola da minha terra, esta penosa experiência não me teria acontecido. Apesar de tudo, o resto da minha vida escolar foi bom. Havia materiais de aprendizagem especialmente concebidos para alunos cegos. Os professores davam uma atenção individualizada porque as turmas eram pequenas. O ambiente social era amigável uma vez que a comunidade era composta essencialmente por pessoas cegas e pessoas com visão com uma compreensão adequada acerca da cegueira. O ambiente físico era acessível, uma vez que foi geralmente desenhado tendo em consideração a orientação e mobilidade dos cegos, além de nos ser dado treino de orientação e mobilidade (OM). Outro aspeto que nos ajudava bastante era o facto de podermos contactar facilmente com modelos bemsucedidos de adultos cegos. Contudo, quando chegou para mim o momento de deixar a comunidade fechada da escola especial para cegos, deparei-me nos primeiros tempos com algumas dificuldades e frustrações ao entrar na vida social real na comunidade regular. Por um lado, existia uma falta de compreensão sobre a natureza da cegueira na maior parte dos membros da sociedade e, por outro lado, eu não tinha sido preparado para lidar com os riscos sociais. Noutro caso, conheci um aluno que foi para um programa educativo integrado durante 1980. Quando frequentava o primeiro ano da escola secundária regular o projeto acabou e o programa também. Embora ele continuasse a ser bem recebido na escola não tinha acesso ao apoio na aprendizagem que necessitava. O seu professor de educação especial cessou a colaboração com os professores da turma. Por isso, ele não tinha livros em Braille, o seu professor de turma não sabia como lhe ensinar matemática, não conseguia integrar-se nas aulas de educação física, etc. Os seus pais decidiram colocá-lo de volta na escola especial para cegos. O exemplo destes casos mostra-nos que uma boa escola para os alunos com défice visual – e para alunos com qualquer incapacidade – é aquela que não só propicia a aprendizagem académica, mas mais importante ainda proporciona a aprendizagem para viver no ambiente social – um mundo com diversidade. Uma escola inclusiva é o melhor lugar para preparar os jovens para a vida num mundo diversificado. Para que os alunos com incapacidades aprendam junto com os seus colegas de forma significativa e frutuosa, tem de existir um sistema de apoio. Este sistema de apoio assegura a existência de um acesso equitativo para todos os alunos a todos os recursos disponíveis na escola. Deste modo, os alunos com incapacidades podem participar plenamente em todas as atividades de aprendizagem juntamente com os colegas sem incapacidades. Este livro mostra aos professores como providenciar um acesso equitativo e plena participação dos alunos com diferentes capacidades num ambiente inclusivo e, assim, garantir plenamente os seus direitos. Didi Tarsidi President Indonesian Blind Union (PERTUNI) Índice Introdução .................................................................................... 1 Definir “Incapacidade” ...................................................................... 5 Barreiras à Aprendizagem, ao Desenvolvimento e à Participação e Como as Ultrapassar ................................................................................................ 8 O que é que se entende por barreiras à aprendizagem ao desenvolvimento e à participação? ................................................................................................................................. 8 Barreiras ambientais (e de atitude) ...................................................................................... 8 Barreiras individuais ................................................................................................................... 9 Identificar barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação ......... 13 Sugestões práticas para remover barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação.............................................................................................................................. 13 Ambientes escolares acessíveis–Princípios Universais do Design ......................... 18 Os 7 princípios do design universal ......................................................................................20 Défice auditivo .............................................................................. 27 Importância de intervenção precoce e adequada ............................................................28 Modos e meios de comunicação .............................................................................................28 Défice visual................................................................................. 41 Défice Físico – Défice Motor e de Mobilidade ........................................... 52 Paralisia cerebral .......................................................................................................................56 Défice do Desenvolvimento / Intelectual .................................................. 58 Sindrome de down ..................................................................................................................... 61 Dificuldades Específicas de Aprendizagem ................................................ 66 Discalculia ....................................................................................................................................66 Disgrafia.......................................................................................................................................67 Dislexia .........................................................................................................................................67 Dispraxia ......................................................................................................................................73 Outros défices e incapacidades ............................................................ 74 PHDA - Perturbação de hiperatividade com défice de atenção..................................74 Perturbação do espectro do autismo (PEA).......................................................................77 Epilepsia........................................................................................................................................80 Sindrome de Tourette ............................................................................................................. 81 Dificuldades Sociais, Emocionais e de Comportamento ................................... 83 Surdocegueira ............................................................................... 87 Défices Múltiplos ............................................................................ 90 Défice múltiplo ...........................................................................................................................90 Onde Aprender Mais – Recursos de Internet ............................................. 92 Contatos e Publicações ..................................................................... 95 Glossário ..................................................................................... 96 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 1 Introdução Concebemos este manual para que os leitores possam identificar e remover com sucesso barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação enfrentadas por muitos alunos com incapacidades. Não vamos ignorar todas as aptidões destas crianças; contudo, o nosso principal objetivo consiste em oferecer um vasto leque de informação acerca de diversas incapacidades e do modo como os pais, os professores e os técnicos da educação podem responder duma maneira eficiente às necessidades desses alunos. A seguir, na maioria dos capítulos, apresentamos uma lista com várias sugestões práticas sobre como ensinar crianças com diferentes incapacidades em ambientes inclusivos. Estas crianças não constituem um grupo homogéneo em que “uma solução serve para todas”. Por conseguinte, é importante que tentemos diferentes estratégias para encontrar aquelas que resultam para nós e para os nossos alunos. Todos sabemos que cada criança é única e diferente, com capacidades diferentes, com estilos de aprendizagem diferentes e com ritmos diferentes. Assim, devem-se criar em todas as escolas e comunidades por todo o mundo ambientes inclusivos, amigos da aprendizagem e sem barreiras, para que todas as crianças possam desenvolver ao máximo as suas potencialidades académicas, sociais, emocionais e físicas. É importante lembrar que o potencial académico de uma criança não se pode desenvolver separadamente do seu potencial social, emocional e físico, uma vez que estes são aspetos interdependentes do seu desenvolvimento. Sem acesso a um amplo sistema de apoio, muitas crianças com incapacidades não podem matricular-se na escola, desistem, ou frequentam a escola sem contudo poderem atingir o seu máximo potencial. O acompanhamento individual deve ser dado em primeiro lugar pelo professor da aula. No entanto, pode ser necessária a ajuda de professores de apoio fixos na escola e itinerantes para assegurar que os alunos em questão tenham um apoio de qualidade baseado nas suas necessidades individuais de aprendizagem. O sistema de apoio ideal ofereceria professores de apoio fixos na escola, especialistas da comunidade e uma variedade de equipamentos auxiliares. Os livros em Braille, as cadeiras de rodas, os aparelhos auditivos e os quadros para mensagens seriam grátis ou de baixo custo. Um amplo sistema de apoio ofereceria também avaliações e serviços médicos. Muitas crianças com Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 2 incapacidades beneficiariam de operações que pudessem reduzir ou mesmo eliminar os efeitos do seu problema. As crianças com cataratas constituem um dos grupos que beneficiariam de cuidados oftalmológicos pediátricos de qualidade. Infelizmente, estes serviços raramente se encontram nos países em vias de desenvolvimento e, quando existem, são caros e apenas acessíveis a um pequeno número de privilegiados. Nos países em vias de desenvolvimento, a maioria das crianças com incapacidades não frequenta a escola, enquanto muitas daquelas que estão na escola se encontram matriculadas em escolas especiais, longe das famílias, dos amigos e dos colegas. Porém, há cada vez mais crianças com incapacidades que se matriculam em escolas regulares onde brincam, aprendem e crescem com os colegas não deficientes (educação inclusiva). Para garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade numa escola regular, devíamos rever de uma maneira crítica as políticas e as práticas escolares para termos a certeza de que encorajam e facilitam o desenvolvimento e a participação de todos os alunos. Há muitos professores, administradores escolares e pais que ficam apreensivos com as consequências de matricular estas crianças nas suas escolas. Preocupa-os a ideia de que possam afetar o desempenho dos outros alunos, uma vez que se encontram em competição com outras escolas para conseguirem matrículas, fundos e apoios (esta é a realidade em muitas escolas por todo o mundo). No entanto, se todas as escolas se tornassem inclusivas e amigas da aprendizagem e recebessem todas as crianças das comunidades vizinhas, estes receios teriam muito menos importância porque todas as escolas estariam a competir em pé de igualdade. Por conseguinte, a educação inclusiva e amiga da criança devia ser encarada como uma maisvalia para melhorar a escola: a inclusão consiste em tornar a educação de qualidade acessível a todos. Há muitos exemplos de como a implementação da educação inclusiva e a matrícula de crianças com incapacidades e outras necessidades educativas especiais ajudam a melhorar a qualidade da educação oferecida a todos os alunos que frequentam a escola. Uma escola básica inclusiva da cidade de Payakumbuh na ilha de Samatra, Indonésia, melhorou o grau de desempenho académico (medido de acordo com testes nacionais) depois de crianças com incapacidades e outras necessidades educativas especiais terem começado a matricular-se nessa escola. Em 2003, a escola decidiu receber todas as crianças (sem exceção) da comunidade em redor. Os professores tornaram-se rapidamente mais sensíveis e abertos às necessidades de todas as crianças da escola, e a participação da comunidade aumentou. Atualmente, na escola de Payakumbuh há cerca de 20% de alunos Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 3 com uma incapacidade ou qualquer outra necessidade educativa especial. O resultado destes esforços traduz-se no facto de o número de crianças que abandonam a escola ter diminuído de oito em 2004 para quatro em 2005 e para zero em 2006 e 2007. Por esta razão, o objetivo da câmara municipal de Payakumbuh é que todas as suas escolas se tornem inclusivas, amigas das crianças e acolhedoras. Chegaram à conclusão de que uma escola inclusiva é uma escola de qualidade. Para que as crianças com incapacidades alcancem todo o seu potencial intelectual, social, emocional e físico é essencial que a deteção, e a identificação do problema assim como a respetiva intervenção sejam feitas precocemente. Em muitos casos, os pais precisam do apoio de educadores de infância, de profissionais da educação e da saúde, pois muitos deles não se sentem seguros sobre a maneira como devem educar uma criança nesta situação. Mais do que concentrarem-se nas incapacidades, os pais devem ser incentivados a olhar para os filhos primeiro que tudo como crianças, aprendendo a descobrir e a valorizar as suas capacidades. Devem poder confiar nos seus instintos como pais, ainda que precisem de aprender algumas técnicas e competências básicas para melhor comunicarem com os filhos e os ajudarem no seu desenvolvimento. Este manual foca algumas das muitas questões que tanto pais como professores consideram difíceis quando se está a criar e a educar estas crianças. Já verificámos que as crianças com incapacidades não constituem um grupo homogéneo. Tal como as outras crianças, têm necessidades individuais e enfrentam diferentes barreiras, algumas das quais estão ligadas às suas incapacidades, outras não. É importante recordar que este manual é apenas uma introdução e vai ser necessária mais informação. Por isso, no fim do manual, acrescentámos uma lista de recursos baseada na web que se pode descarregar gratuitamente. Infelizmente, a maior parte não se encontra em inglês. Além disso, são poucos os livros bons ou qualquer outro material impresso sobre educação de crianças com incapacidades em ambientes inclusivos que sejam grátis. Quase todos têm que se comprar em livrarias ou encomendar pela Internet. A UNESCO também tem material disponível. Para mais informação contacte o “Regional Bureau for Education” da UNESCO Ásia e Pacífico (a morada está indicada no fim do manual), a agência da UNESCO mais próxima ou a sua Comissão Nacional para a UNESCO. Se tem uma criança com uma incapacidade na sua aula, ou na sua escola e quer saber mais sobre incapacidades do que o que pode aprender com este manual, contacte a escola ou a universidade mais próxima para formação/educação de professores. Muitas escolas, universidades, Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 4 departamentos governamentais e organizações não-governamentais oferecem cursos curtos, bem como programas de pós-graduação de educação inclusiva e de necessidades especiais. Os boletins e os grupos de discussão do “Enabling Education Network” (EENET) – tanto o que tem base na Ásia como os da África, do Brasil e da Europa – oferecem troca de informação prática entre professores, pais e teóricos da educação sobre como implementar com sucesso a educação inclusiva. Para mais informação, contacte [email protected] ou escreva para o EENET Ásia em Jakarta para a morada indicada no fim deste manual. Mais importante do que tudo, confie nos seus instintos, dê especial atenção a todas as capacidades e ao potencial das crianças com incapacidades, observe e escute os alunos, deixe que eles o ensinem e use a sua criatividade. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 5 Definir “Incapacidade” Definir o que é incapacidade permanece problemático uma vez que há diversos grupos de incapacidade e, dentro desses grupos, há imensas diferenças individuais. Assim, tentar definir incapacidade é complexo e, muitas vezes, controverso. Muitas pessoas com défices não consideram que têm uma incapacidade. Algumas pessoas com défices auditivos e que usam a língua gestual como a sua principal forma de comunicação, não se definem como tendo uma incapacidade, mas como membros de uma minoria linguística (línguas gestuais), que sofre a mesma forma de descriminação que outros grupos linguísticos minoritários, outros preferem o termo “difabled” ou “differently abled” (com uma capacidade diferente). O termo incapacidade (disabled) está muitas vezes associado a formas mais visíveis de incapacidade. Contudo, independentemente da maneira como o termo incapacidade é usado, é importante recordar que as crianças são sobretudo crianças quer tenham ou não uma incapacidade. A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) define “incapacidade” como resultado da interação entre uma pessoa com défice e as barreiras ambientais e de atitude que essa pessoa pode ter que enfrentar.1 Assim, de acordo com a definição da CIF, uma criança com défices físicos, que depende de uma cadeira de rodas para a mobilidade e que vai para uma escola sem rampas e/ou sem instalações sanitárias acessíveis, tem claramente uma incapacidade como resultado das barreiras ambientais que enfrenta. No entanto, uma criança cega com acesso a livros e outro material em Braille, com apoio educativo de professores itinerantes e numa escola amiga, inclusiva e acessível a todas as crianças tem um défice mas não necessariamente uma incapacidade porque não enfrenta barreiras ambientais e de atitude. Há confusão e desacordo (tanto entre especialistas da educação como entre organizações que representam pessoas com incapacidades) relativamente aos termos “impairment” (défice), “disability (incapacidade) e “handicap”, assim como relativamente a quando e como se deve usar cada um destes 1 Disabled People International. (2005) “DPI Position Paper on the Definition of Disability” na página URL: http://v1.dpi.org/lang-en/resources/details.php? Página=74 (15 Nov. 2007). Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 6 termos. Para muitos, incapacidade é um termo largamente compreendido na ordem que abaixo se indica:2 Défice > Incapacidade > Handicap O défice pode gerar uma incapacidade, a qual, por sua vez, pode levar a um handicap. Um handicap conduz frequentemente a mais exclusão social e económica. Quanto maior é a exclusão, menos consciente e preocupada com as necessidades das pessoas com incapacidades e com as barreiras que elas enfrentam fica a comunidade. A alienação leva a um maior fosso na compreensão das crianças com incapacidades e das suas necessidades. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu défice, incapacidade e handicap3 da seguinte maneira: Défice Qualquer perda temporária ou permanente ou anomalia da estrutura ou função de um corpo quer seja fisiológica ou psicológica. Um défice é uma perturbação que afeta funções que podem ser mentais (memória e perceção) ou sensoriais, internas (coração, rim), ou externas (a cabeça, o tronco ou os membros). Incapacidade Uma restrição ou incapacidade para executar uma atividade da maneira ou dentro do limite considerado normal para um ser humano, sobretudo devido a um défice. Handicap Trata-se do resultado de um défice ou incapacidade que limita ou impede a execução de uma ou várias tarefas consideradas normais, consoante a idade, o sexo e fatores sociais e culturais. 2 n.a. (2004) Understanding Disability: Attitude and Behaviour Change for Social Inclusion, Ahmedabad: UNNATI – Organization for Development Education and Handicap International, p. 4-5. 3 Barbotte, E. / Guillemin, F. / Chau, N. / Lorhandicap Group. (2001) “Prevalence of Impairments, Disabilities, Handicaps and Quality of Life in the General Population: A Review of Recent Literature.” In Bulletin of the World Health Organization. Vol. 79, No. 11, p. 1047.URL: http://www.unnati.org/pdfs/books/research-eng.pdf [11 Jan. 2008]. 7 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos As definições acima indicadas são ainda usadas e referidas por muitos governos e organizações. Continuam a ser preferidas relativamente a definição (definições) mais recentes apresentadas por algumas pessoas relevantes envolvidas neste assunto. Contudo, o termo “handicap” é considerado por muitos, discriminatório e fora de moda. Muitos dos efeitos incapacitantes dos défices podem ser reduzidos se as crianças tiverem a oportunidade de: Interagir na sua comunidade com amigos, colegas e adultos. Experimentar uma variedade de ambientes que minimizem o impacto do défice, por exemplo, edifícios sem degraus. Ser ensinados por pais e professores que os ajudem a aprender novas competências.4 Conhecer e aprender com outras pessoas com incapacidades que possam tornar-se modelos e fontes de inspiração. Eu próprio encontrei o meu modelo na escola secundária. Era um estudante universitário cego que também foi educado numa escola regular e que conheceu os meus pais através de uma rede de pais com filhos cegos em escolas do ensino regular. Este estudante foi contratado para me dar aulas em casa e me ajudar na matemática e na química porque estas disciplinas requerem códigos Braille especiais. Trocámos impressões sobre alguns problemas específicos que não são compreendidos pelos meus amigos que têm visão. Por exemplo, conversámos sobre a dificuldade em começar a falar num grupo grande ou reconhecer pessoas apenas pela voz. Quando apanhei um comboio com ele, aprendi a pedir ajuda na estação.5 Kentaro Fukuchi 4 UNESCO. (2003) Understanding and Responding to Children’s Needs in Inclusive Classrooms. Paris: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, p. 23. 5 Fukuchi, K. (2008) “How do we learn together? A Practice of Inclusion in Japan,” in EENET Asia Newsletter No. 5 Jakarta, Indonesia: EENET Asia. pp. 22-23. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 8 Barreiras à Aprendizagem, ao Desenvolvimento e à Participação e Como as Ultrapassar O QUE É QUE SE ENTENDE POR BARREIRAS À APRENDIZAGEM AO DESENVOLVIMENTO E À PARTICIPAÇÃO? As barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação com que as crianças se defrontam variam de criança para criança. É importante compreendermos que todas as crianças – com ou sem incapacidades enfrentam barreiras. Se estas barreiras não forem convenientemente tratadas, as crianças não conseguirão alcançar todo o seu potencial académico, social, emocional e físico. Assim, estas barreiras podem ser sentidas temporária ou permanentemente, dependendo da eficiência com que são tratadas e eliminadas. As crianças com incapacidades enfrentam tanto barreiras ambientais como individuais.6 Estas duas formas de barreiras estão intimamente interrelacionadas. Combinadas, criam um conjunto de barreiras que devem ser reduzidas e, se possível, eliminadas pelas escolas, famílias e comunidades de maneira a que as crianças em causa desenvolvam o seu máximo potencial. BARREIRAS AMBIENTAIS (E DE ATITUDE) 6 Acesso limitado ou falta de acesso a programas de intervenção precoce – o efeito incapacitante do défice multiplica-se a não ser que haja acesso a programas de intervenção precoce de qualidade (sistemas de apoio). Professores, administradores e inspetores escolares – se descriminarem as crianças diferentes da maioria dos seus colegas. Sistemas legais e de segregarem e excluírem. regulamentação – se descriminarem, Johnsen, B.H. /SkjortenSKior, M.D. (2001) Education – Special Needs Education – An Introduction; Oslo: Unipub Forlag, p. 31. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 9 Currículos – se forem rígidos e se não corresponderem à diversidade de competências, necessidades e circunstâncias dos alunos. Métodos de ensino e material de ensino/aprendizagem – se não forem amigos da aprendizagem nem corresponderem à diversidade de necessidades e competências dos alunos. Apreciação e sistema de avaliação – se avaliarem exclusivamente ou principalmente o grau académico das crianças de acordo com padrões gerais, mais do que o seu progresso individual – idealmente o desenvolvimento académico, social, emocional e físico deve ser apreciado e avaliado. Ambientes da escola e da sala de aula – quando não são inclusivos, amigos da aprendizagem ou mesmo fisicamente acessíveis. Condições económicas, sociais e políticas. BARREIRAS INDIVIDUAIS Comunicação – se uma criança tem uma primeira língua diferente da língua da maioria dos outros colegas, do professor e/ou do material existente na escola (isto inclui crianças cuja primeira língua é a língua gestual assim como as que usam Braille na linguagem escrita). Fraca motivação – se as crianças têm pouca ou nenhuma motivação para aprender, devido a diversos fatores muitas vezes relacionados com barreiras ambientais e de atitude acima referidas. Insegurança, baixa autoestima e falta de autoconfiança – isto é provavelmente resultante da combinação de barreiras ambientais, de atitude e barreiras individuais, algumas das quais foram acima referidas. Abuso – é muito provável que crianças que sofrem de abuso psicológico, físico e/ou sexual experimentem sérias barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Isto pode evitar-se se houver uma intervenção global das escolas e das famílias, assim como um sistema de apoio (profissionais da educação e da saúde). As crianças com incapacidades (especialmente as que vivem em instituições segregadas de educação) são particularmente vulneráveis ao abuso. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 10 Sessenta e cinco por cento das crianças que frequentam a escola e que alegadamente enfrentaram castigos físicos (…) Mais de 50% que sofreram mais do que uma forma de abuso sexual (…) Crianças na rua, no trabalho e em instituições são aquelas em que incide um número mais elevado de assédio sexual.7 Género – as meninas com incapacidades encontram muitas das mesmas barreiras que as mulheres e as meninas sem incapacidades, mas o seu isolamento social e a sua dependência das famílias frequentemente agravam estas barreiras e as suas consequências. As mulheres e meninas com incapacidades progridem menos na maior parte dos indicadores de sucesso educativo, profissional, financeiro e social do que os seus homólogos femininos sem incapacidades e masculinos com incapacidades.8 Existe uma falta de consciência geral e de aceitação relativamente aos surdos. Frequentemente, há muitas crianças surdas que se sentem isoladas, mesmo dentro as suas próprias famílias. No Afeganistão, as raparigas e as mulheres surdas sentem-se muitas vezes duplamente em desvantagem devido à falta de equipamentos educativos apropriados e às suas poucas perspetivas de casamento. Abdul Ghaffar (2005)9 7 Falta de competência social – muitas crianças experimentam dificuldades sociais, dificuldades que podem criar barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação e, em última análise, marginalização na escola e até mesmo exclusão. Outras dificuldades incluem: interagir e brincar com as outras crianças, comunicar, comportar-se de formas consideradas social e culturalmente “aceitáveis”; dificuldades em aceitar limites (alguns dos quais estão relacionados com barreiras ambientais e de atitude, assim como com défices). Kacker, L. (2007) “Study on Child Abuse: Índia 2007”, in EENET Ásia Newsletter No. 4. Jakarta, Indonesia: EENET Asia,pp. 155-16. 8 Human Rights Watch. (2007) “Women and Girls with Disabilities.” URL: http://www. hrw.org/women/disabled.html [4 Aug 2008]. 9 Ahuja, A. / Watterdal, T.M. (2006) “EENET Asia Interview: Sign Language.html [4 Aug] Development – An Inclusion and Rights’ Issue, in EENET Asia Newsletter No. 2. Jakarta, Indonesia:EENET Asia, pp. 34-35. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 11 Temperamento – se uma criança tem mau humor e é irritável, se é introvertida e tem dificuldade em comunicar com os colegas (assim como com os pais e os professores), é-lhe difícil adaptar-se a situações novas e a mudanças, distrai-se com facilidade, tem períodos curtos de atenção e reage muito intensamente tanto a experiências positivas como a experiências negativas (muitos destes exemplos de temperamento/comportamento estão relacionados com barreiras ambientais e de atitude assim como com défices). Estudantes de primeira geração – se uma criança é a primeira da família a frequentar a escola, pode ser necessário um apoio extra (sistema de apoio) para evitar que surjam problemas de aprendizagem. Minorias culturais, linguísticas e religiosas – muitas crianças pertencentes a grupos minoritários enfrentam enormes barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Sem um apoio específico e sem um ambiente inclusivo e amigo da aprendizagem, as barreiras que estas crianças enfrentam podem tornar-se permanentes. As crianças com incapacidades pertencentes a um meio minoritário enfrentam ainda mais barreiras, e as consequências das barreiras que enfrentam são muitas vezes mais severas do que as dos seus colegas sem incapacidades. Fiquei muito preocupada quando duas raparigas deste grupo vieram para a minha aula (…) Estavam magras, um pouco “sujas” e tinham um aspeto “selvagem”. Fiquei a pensar no que ia acontecer. Elas podiam realmente ser incluídas? Seriam capazes de seguir o que eu ensinava? Os outros alunos iriam aceitá-las? Eram estas as minhas grandes preocupações. Contudo, quando as conheci, fiquei impressionada com o seu gosto em participar em atividades e a sua inocência. Cumprimentaram-me com graça e falaram-me da sua experiência na escola anterior. Foi a “inocência” delas que me “acalmou” e as aproximou das outras crianças que até se ofereceram para as ajudar. Fiquei extremamente feliz quando um Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 12 dos pais perguntou se também podia fazer qualquer coisa para ajudar as miúdas.10 Comentários de uma Professora do Vietname. Défices – muitas crianças com défices enfrentam barreiras específicas de acordo com o seu défice, tais como: dificuldades de comunicação, porque os professores e os colegas não sabem usar língua gestual; falta de livros em Braille ou casas de banho que não são acessíveis a utilizadores de cadeiras de rodas. Condições de saúde – se uma criança está infetada e/ou afetada por VHI, tem epilepsia (uma condição de saúde e, ao mesmo tempo, uma incapacidade), malária reincidente, ou qualquer outra condição de saúde que possa conduzir a descriminação ou afastar a criança de escola (doente em casa ou no hospital). Estas são apenas algumas das muitas barreiras individuais com que as crianças têm que se defrontar nas escolas e comunidades em todo o mundo. Nascer numa família mono parental, pertencer a uma casta mais baixa, ser sem abrigo, ter sofrido e passado por uma guerra ou um desastre natural, ter que trabalhar para ganhar a vida antes e/ou depois da escola, e ser refugiado são fatores que também conduzem muitas vezes a barreiras intransponíveis à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Por conseguinte, é de uma importância vital que nós como professores, como pais e como técnicos da educação criemos ambientes nas nossas escolas e comunidades em que as crianças se sintam bem recebidas, sejam valorizadas e respeitadas – independentemente da sua capacidade, classe social ou situação – para conseguirmos reduzir e remover estas barreiras para as crianças em causa. Como professores, pais, técnicos da educação ou formadores de professores, é provável que nos sintamos incapazes de reduzir ou remover todas as barreiras acima mencionadas. A nossa influência no currículo ou nas condições económico-sociais das nossas comunidades pode ser muito limitada. Contudo, é importante que tenhamos consciência de como estas barreiras afetam as crianças nas nossas escolas e comunidades, e influenciam a sua capacidade de se desenvolverem académica, social e fisicamente. Se conseguirmos criar ambientes inclusivos 10 Hanh, T. (2007) “Inclusive and Rights-based Approaches to Education: An Example of Good Practice from Ho Chi Minh City in Viet Nam,” in EENET Ásia Newsletter, No. 4. Jakarta, Indonesia: EENET Asia, pp. 30-31. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 13 e amigos da aprendizagem nas nossas escolas e comunidades, somos muitas vezes capazes de reduzir as consequências das barreiras ambientais (ou sistémicas). IDENTIFICAR BARREIRAS À DESENVOLVIMENTO E À PARTICIPAÇÃO APRENDIZAGEM, AO A deteção precoce (identificação) de barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação é essencial para que intervenções posteriores sejam bem-sucedidas. As crianças com más notas são constantemente classificadas como tendo dificuldades de aprendizagem, muitas vezes sem uma avaliação correta sobre a razão que as leva a terem que enfrentar barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Algumas destas barreiras podem mesmo ser causadas por condições da sala de aula com um número muito elevado de alunos, currículos e sistemas de exame inflexíveis, material de aprendizagem sem relevância para muitas crianças, ou falta de métodos de ensino amigos da criança e centrados na criança. Por isso, no que respeita a inclusão e a educação para todos, é muito importante questionar-se o facto de se etiquetar crianças com base em avaliações incompetentes e arbitrárias. A lista de barreiras acima mencionada pode ser usada na identificação de desafios ambientais, de atitude e individuais que as crianças com incapacidades enfrentam nas nossas salas de aula, escolas e comunidades. A maneira como ensinámos as crianças com incapacidades no passado foi muitas vezes determinada pelo seu diagnóstico médico. Achávamos que as crianças com diagnósticos semelhantes deviam ser ensinadas da mesma maneira. Hoje sabemos que a aprendizagem é influenciada por muitos outros fatores para além do défice que a criança possa ter.11 SUGESTÕES PRÁTICAS PARA REMOVER BARREIRAS APRENDIZAGEM, AO DESENVOLVIMENTO E À PARTICIPAÇÃO 11 À Criar um ambiente em que as crianças se sintam igualmente valorizadas. As crianças devem poder comunicar na sua primeira língua, mesmo quando esta é diferente da língua de instrução usada na escola, quer se trate de língua gestual ou de outra língua de uma minoria. Se você ou nenhum dos outros professores da escola falar a Johnsen / Skjorten, p. 31 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 14 primeira língua da criança (língua mãe), tente encontrar alguém que a fale, como por exemplo alguém da família ou da comunidade. Aprender na escola é difícil porque não sei falar a língua nacional. Se nos ensinassem primeiro na nossa língua, depois aprendíamos.12 Comentários de Crianças Bunong do Camboja. 12 As crianças deviam ter tempo para expressar os seus pensamentos e opiniões. Muitas crianças com incapacidades precisam de mais tempo do que outras crianças para se exprimirem. Procure fazer perguntas às crianças (especialmente às que estão a lutar com a aprendizagem académica) quando tem a certeza de que elas são capazes de responder. Isto cria confiança e motiva as crianças para continuarem a sua aprendizagem. Seja generoso, genuíno e honesto nos elogios. Isto ajuda as crianças a criarem confiança e a desenvolverem uma autoestima saudável. As crianças devem ser encorajadas a emitir a sua opinião e nós devemos procurar usar as suas sugestões no que for possível. Devemos encorajar tanto os rapazes como as meninas a envolveremse em todas as atividades curriculares e extra curriculares. Se uma criança muda subitamente de comportamento ou atua de uma maneira diferente da habitual, devemos tentar descobrir por que razão isso acontece. Se suspeitarmos que esta situação pode ser causada por abuso (verbal, emocional, físico ou sexual), devemos procurar conselho e ajuda junto de organizações que trabalham com os direitos das crianças e com a sua proteção. Estas organizações encontram-se na maioria das comunidades por todo o mundo. Os escritórios mais próximos do “Save the Children” e da UNICEF também podem ajudar. Unesco. (2007) DVD on Promoting Mother Tongue-based Multilingual Education. Bangkok: UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 15 Devemos avaliar o desenvolvimento (progresso) académico, social, emocional e físico das crianças em vez de medir apenas o seu rendimento em comparação com outros. O progresso das crianças deve ser avaliado com base nos seus planos individuais de aprendizagem. Estes planos devem ser elaborados tendo em atenção as possíveis barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e participação que a criança pode enfrentar. Organize a sala de aula e sente as crianças de forma a otimizar as oportunidades de comunicação, interação e aprendizagem para todas as crianças – com enfoque especial nas que enfrentam barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Nas nossas salas de aula, trabalhamos em pares, em pequenos grupos e em conjunto. Gastamos muito tempo a criar atividades e jogos interativos. Agora não me preocupo tanto com as lições como antigamente. No meu grupo tenho crianças com incapacidades. Eu costumo dizer que todas as crianças podem aprender, que todas têm capacidades, …”13 Comentários de uma professora do Quirguistão Faça com que todas as crianças da aula saibam que se preocupa com elas e com as suas necessidades. Identifique pelo menos uma boa qualidade que todos os alunos tenham demonstrado ter durante o mês anterior – Veja a Lista de Qualidades e Virtudes que se segue.14 ATIVIDADE Escrever uma pequena carta aos pais, elogiando os filhos. É importante que o elogio seja verdadeiro e não se refira ao desempenho académico, pois isso já foi feito nos relatórios dos exames, dos vários anos 13 Torobekova, F. (2006) “Practice and Do Not Be Afraid,” in EENET Asia Newsletter No. 2. Jakarta, Indonésia: EENET Asia, pp. 20-21. 14 Astani / Watterdal, pp. 1-4. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 16 escolares e do desempenho. Os professores podem usar a seguinte lista de qualidades e virtudes: Qualidades e Virtudes: As coisas boas que encerram Autoconfiança Espírito de ajuda Calma Solicitude Honestidade Religiosidade Limpeza Honra Determinação Compaixão Humildade Fidelidade Confiança Idealismo Respeito Consideração Capacidade de Inovação Responsabilidade Coragem Alegria Reverência Cortesia Justiça Autodisciplina Criatividade Delicadeza Serviço Determinação Amor Solidariedade Diligência Lealdade Firmeza Empatia Piedade Tato Entusiasmo Moderação Gratidão Fidelidade Modéstia Tolerância Flexibilidade Obediência Fidelidade Afabilidade Organização Autenticidade Generosidade Paciência Unidade Gentileza Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 17 A carta para os pais pode ser como se segue: Caros Pais, Durante o mês passado, a Raheela tem-me ajudado muito a mim e aos seus amigos na aula, o que todos nós agradecemos. Esperamos descobrir mais qualidades da vossa filha nos próximos meses e anos. Cumprimentos, A professora O que esperamos conseguir com esta atividade: Explorar as qualidades positivas de todas as crianças, o que vai reduzir a frustração que muitos professores sentem quando estão a ensinar crianças que enfrentam barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação. Por vezes, esta frustração leva mesmo ao abuso verbal, emocional e físico das crianças. Apesar da Convenção sobre os Direitos da Criança e da legislação sobre a proteção da criança (que existe na maior parte dos países), muitas escolas continuam a aplicar castigo físico às crianças. Aumentar o respeito pela criança independentemente das suas capacidades. Dar oportunidade às crianças de serem bem-sucedidas e de se sentirem apreciadas, o que vai aumentar a autoestima e a autoconfiança de todas as crianças da escola e aumentar a sua motivação para aprender e fazer. Motivar as crianças para praticarem boas ações para com os outros, comportarem-se bem e aperfeiçoarem a autodisciplina. Melhorar a comunicação entre escolas e pais e, desta maneira, criar um sentimento de posse e de participação. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 18 Ambientes escolares acessíveis– Princípios Universais do Design De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, design universal significa o design de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas o mais possível, sem a necessidade de adaptação ou de design especializado. “Design Universal” não exclui equipamento de ajuda que seja necessário para determinados grupos de pessoas com incapacidades.15 A primeira coisa em que reparamos na maior parte dos edifícios públicos é nas escadas que se têm que subir antes de se entrar no edifício. As escadas são muitas vezes a primeira barreira para crianças e adultos terem acesso a escolas ou outros edifícios públicos e beneficiarem dos serviços que estas instalações têm para oferecer. Por vezes há apenas dois ou três degraus, outras vezes há muitos mais. Algumas escadas têm corrimãos mas a maioria não tem. Por conseguinte, todos os edifícios públicos deviam dispor de meios alternativos de entrar. Na maioria dos casos, é fácil e relativamente pouco dispendioso construir rampas (pelo menos em edifícios de 1 andar), o que ajuda muita gente. Assim, deviam-se acrescentar rampas a todas as escolas e outros edifícios públicos existentes. Quando se está a planear novos edifícios escolares e a projetar design, é preciso ter-se a certeza de que eles são igualmente acessíveis para todos. As rampas e as passagens devem ser incorporadas no design de maneira a que não pareçam equipamentos especiais para crianças/professores/pais com incapacidades, mulheres grávidas e pessoas idosas mas apresentem caminhos de acesso alternativos e atraentes para todos os utentes. O espaço, a luz, os materiais e mesmo a cor afetam a maneira como nós encaramos a educação. As escolas podem fazer um uso excelente destes elementos ao criarem edifícios e espaços que reflitam as necessidades e os desejos dos alunos e dos funcionários mas, infelizmente, as escolas são muitas vezes projetadas e construídas 15 United Nations. (2006) Convention for the Rights of Persons with Disabilities – Article 2. New York: United Nations. URL:http://www.un.org/disabilities/convention/conventionfull.shtml [11 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 19 sem se considerar com todo o pormenor as necessidades de quem as utiliza. Ian Kaplan (2007)16 Assim, o Design Universal não inclui apenas acesso mas também a criação de um ambiente na escola mais inclusivo e amigo da aprendizagem. As escolas que são construídas com base em princípios de design universal serão pois mais eficientes porque darão às crianças a possibilidade de aprenderem, de se desenvolverem e de participarem em vez de as “incapacitarem” criando barreiras ao seu desenvolvimento e participação. Thnoeng Sokha da região de Samlot no Camboja é paraplégica desde os cinco anos e nunca pensou poder ir à escola porque não podia andar sozinha. A casa onde vive fica a 3Km da escola e a condição da estrada é muito má. Porém, recebeu de uma organização internacional duas cadeiras de rodas – uma está em casa e a outra está na escola. A princípio ela tinha que atravessar um riacho que não tinha ponte e isso era especialmente difícil devido ao terreno escorregadio e à lama durante a estação das chuvas. Agora a viagem para a escola está facilitada porque a comunidade construiu uma ponte de madeira básica para atravessar o riacho e a estrada também foi reparada. Por outro lado, as instalações da escola básica melhoraram recentemente porque se fez uma rampa para melhorar o acesso às salas de aula e também se construiu um novo bloco de casa de banho com rampa. A Sokha está agora muito mais confiante e espera continuar os estudos na escola secundária. Está-se a construir uma nova escola secundária mais perto da casa dela – que, de acordo com as novas regras do Ministério da Educação deve ser completamente acessível.17 16 Kaplan, I. (2007) “Inclusive School Design: Lombok, Indonésia,” in EENET Ásia Newsletter No. 4, Jakarta, Indonesia:EENET Asia, pp. 18-19. 17 Sophal, K. / Fox, S. (2006) “Physical Accessibility & Education,” in EENET Asia Newsletter No. 4, Jakarta, Indonesia: EENET Asia, pp. 14-15. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 20 OS 7 PRINCÍPIOS DO DESIGN UNIVERSAL18 PRINCÍPIO 1: UTILIZAÇÃO EQUITATIVA Este tipo de design é útil e comercializável para pessoas com diferentes capacidades (pessoas com e sem incapacidades). Pode-se implementar igual acesso às escolas para todas as crianças e instalações escolares com soluções simples e relativamente baratas. Linhas de Orientação: a) Oferecer os mesmos meios de utilização a todos os utentes: sempre que possível idênticos; equivalentes quando não for possível. b) Evitar segregar ou estigmatizar quaisquer utentes. c) Tomar precauções para que todos os utentes possam ter igual acesso a privacidade, bem-estar e segurança. d) Tornar o design atraente para todos os utentes. Presentemente o design para as casas de banho das escolas que participam no programa WASH (Água, Higiene e Educação para a Saúde) está a ser refeito para assegurar uma melhor acessibilidade para as crianças com incapacidades. O novo design vai tornar as casas de banho mais amigas do utente para todas as crianças da escola porque, como são mais espaçosas, continuará a haver espaços separados (e entradas) para raparigas e rapazes e o novo design vai continuar a adotar a mesma filosofia de baixo custo dos design anteriores.19 PRINCÍPIO 2: FLEXIBILIDADE NA UTILIZAÇÃO O design satisfaz uma vasta gama de preferências e de capacidades individuais. 18 The Center for Universal Design, North Carolina State University. (1997) “The Principles of Universal Design” na página URL: http://www.design.ncsu.edu/cud/about_ ud/udprinciplestext.htm [16 Nov. 2007] 19 UNICEF. (2008) “Guidelines for Universal and Energy Efficient Design,” Dushanbe: UNICEF, p. 11. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 21 Linhas de Orientação: a) Oferecer escolha nos métodos de utilização. b) Providenciar acesso e utilização para destros e esquerdinos. c) Facilitar a exatidão e a precisão dos utentes. d) Proporcionar adaptabilidade ao ritmo do utente. Foi construído em Lombok (Indonésia) um novo edifício escolar com rampas de acesso, códigos de cor nas paredes e portas, marcas de cor e desenhos tácteis no chão. O edifício foi planeado e desenhado por professores da escola e o diretor monitorizou o processo de construção para ter a certeza de que o trabalho era feito conforme as especificações e se mantinha dentro do orçamento que foi feito de acordo com os valores estabelecidos pelo governo da Indonésia para edifícios escolares.20 PRINCÍPIO 3: UTILIZAÇÃO SIMPLES E INTUITIVA É fácil perceber como utilizar o design, independentemente da experiência, do conhecimento, da capacidade linguística ou do nível de concentração. Linhas de Orientação: a) Eliminar complexidade desnecessária. b) Atender às expectativas e intuição do utente. c) Proporcionar uma larga gama de competências em termos de literacia e de língua. d) Apresentar informação compatível com a sua importância. Utilizar designs tradicionais que se adaptem às necessidades das crianças com incapacidades ajuda a criar edifícios acessíveis e familiares para todas as crianças da comunidade – mesmo para as que têm pouca ou nenhuma experiência escolar. 20 Kaplan, I. (2007) “Inclusive School Design: Lombok, Indonésia” in EENET Ásia Newsletter No. 4. Jakarta: EENET Asia, pp. 18-19. 22 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Na Escola O.B. Montessori em Manila (Filipinas) ensina-se artesanato numa “Bahay Kubo”, uma casa tradicional filipina de aldeia. O ambiente tradicional reduz as barreiras à aprendizagem e à participação de todas as crianças., mas especialmente das crianças e jovens com incapacidades e outras necessidades especiais de educação. Como são ensinadas num ambiente tradicional (e familiar) é mais fácil para as crianças ligarem o que aprendem na escola com o que fazem em casa.21 PRINCÍPIO 4: PERCETIBILIDADE DA INFORMAÇÃO O design comunica bem a necessária informação ao utente, independentemente das condições ambientais ou das capacidades sensoriais do utente. É importante que os livros escolares sejam fornecidos numa impressão regular a tinta preta, assim como em Braille. A impressão a tinta deve ser de boa qualidade com boas cores contrastantes. Deve usar-se um tamanho do tipo de letra mínimo de 12. Se os livros forem impressos com tamanhos inferiores, têm que ser fornecidos numa impressão em tamanho grande para crianças com baixa visão. Linhas de Orientação: a) Usar diferentes técnicas (picturais, apresentar a informação essencial. verbais, tácteis) para b) Fazer um contraste adequado entre informação essencial e acessória. c) Maximizar a “legibilidade” da informação essencial (i.e., torná-la compreensível para todos os utentes tanto na linguagem como no design). d) Diferenciar informações de maneira a poder fazer-se a sua descrição (por orientações). 21 exemplo, tornar fácil dar instruções Soliven, P. (2008) “Helping People, Help Themselves” in EENET Asia Newsletter No. 5. Jakarta: EENET Asia, pp. 8-9. ou Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 23 e) Garantir compatibilidade com uma variedade de técnicas ou equipamentos usados pelas pessoas com limitações sensoriais. Eu tive uma infância fantástica em Osaka, com todo o apoio dos professores, dos meus pais, de voluntários locais, e também de amigos. Paixão, flexibilidade e fé na diversidade são as palavras que podem descrever os meus professores. Embora para eles fosse a primeira experiência que tiveram a ensinar uma criança cega, experimentaram várias maneiras de me incluírem na sala de aula. Aprenderam Braille e ensinaram-me Braille, pois este é o meio mais eficaz de instrução para o meu caso. Atribuíram-me um professor de apoio para aulas como aritmética, ciências e educação física. Na aula de aritmética, por exemplo, o professor de apoio explicava figuras e gráficos no quadro usando um papel especial chamado Raise Writer. Põe-se um papel especial no quadro e desenha-se linhas com uma caneta. Com ajuda financeira dos órgãos de educação local, voluntários locais produziram manuais em Braille. Este ambiente fez com que eu de facto aprendesse.22 PRINCÍPIO 5: TOLERÂNCIA EM RELAÇÃO AO ERRO Este tipo de design adaptado minimiza os riscos e as consequências adversas de ações acidentais ou involuntárias. Linhas de Orientação: a) Organizar os componentes de maneira a minimizar quaisquer riscos e erros: os componentes mais usados, mais acessíveis; componentes de risco eliminados, isolados ou protegidos. b) Avisar dos riscos e erros. c) Providenciar estruturas seguras. d) Desencorajar ações inconscientes em tarefas que requeiram vigilância. 22 Fukuchi, K. (2008) “How Do We Learn Together? A Practice of Inclusion in Japan,” in EENET Asia Newsletter No. 5, Jakarta, Indonesia: EENET Asia, pp. 22-23. 24 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos As flores e os arbustos do pátio de recreio da nossa escola costumavam ter em volta pedras e azulejos decorativos. Quando começámos a implementar a educação inclusiva e amiga da criança, percebemos que estas pedras podiam magoar as crianças se elas caíssem ou tropeçassem nelas durante as atividades de recreio e de desporto. Por isso, resolvemos tirá-las e já não nos preocupamos tanto com as flores, interessa-nos mais a segurança das crianças.23 PRINCÍPIO 6: POUCO ESFORÇO FÍSICO O design pode ser utilizado eficiente e confortavelmente, com um mínimo de fadiga. Linhas de Orientação: a) Deixar que os utentes mantenham uma posição corporal neutra. b) Ter um número razoável de funcionários. c) Minimizar ações repetidas. d) Minimizar esforço físico continuado. Sugestões Práticas para tornar as salas de aula acessíveis: 24 Deve-se instalar portas fáceis de abrir que não requeiram demasiada força (substituindo a pouco e pouco as portas antigas). Deve-se instalar portas sem patamares que permitam acesso livre a utilizadores de cadeiras de rodas. As portas devem ser suficientemente largas para as cadeiras de rodas passarem com facilidade. As rampas para utilizadores de cadeiras de rodas (não devem ser demasiadamente inclinadas – idealmente 1:12 com 12 cm de largura para cada aumento de 1 cm na altura). 23 24 Watterdal / Tahir, p. 2. Watterdal / Tahir, pp. 4-5. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 25 Na entrada deve-se colocar marcas tácteis para os pés para avisar que há portas (porque elas podem abrir-se e magoar as crianças na entrada, especialmente se têm deficiência visual). Os interruptores da luz devem ser colocados ao alcance das crianças de diferentes alturas. As tomadas e os pontos de eletricidade devem ser instalados no mesmo lugar em todas as salas de aula e idealmente à altura da mesa (próximo dos interruptores da luz) para fácil acesso, particularmente das crianças com deficiência visual ou com deficiência motora/de mobilidade. A proteção da criança deve ter em conta as tomadas elétricas, evitando que as crianças ponham os dedos na tomada e sejam eletrocutadas. Deve-se usar cores contrastantes para criar ambientes amigos da aprendizagem e acessíveis. Deve-se reduzir os níveis de som/ruído usando cortinas, decorações têxteis de parede e outros materiais que abafem o som. Deve-se usar códigos de cor para identificar as diferentes salas de aula, para facilitar a orientação das crianças com baixa visão ou com problemas de desenvolvimento. Isso vai também tornar a escola mais alegre para todos. Todas as portas devem ser marcadas com Braille ou outros símbolos tácteis para facilitar a orientação das crianças com deficiência visual. PRINCÍPIO 7: TAMANHO E ESPAÇO APROPRIADOS Estipula-se um tamanho e um espaço apropriados para acesso, alcance, manipulação e utilização, independentemente da estatura do utente, da sua postura ou da sua mobilidade. Linhas de Orientação: a) Proporcionar uma linha clara de visão dos elementos importantes a qualquer utente sentado ou de pé. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 26 b) Tornar confortável o acesso a todos os componentes para qualquer utente sentado ou de pé. c) Ter em conta as diferenças no tamanho das pegas. d) Providenciar um espaço adequado para a utilização de equipamento de apoio ou de ajuda pessoal. Deve-se garantir também mobiliário especialmente concebido para quem precisar de cadeiras e mesas diferentes do mobiliário padrão da sala de aula. Isto não precisa de ser dispendioso. As cadeiras que dão a possibilidade às crianças com diferentes estaturas de ler e escrever confortavelmente podem ser feitas de acordo com modelos locais, como o que aconteceu no exemplo abaixo ilustrado.25 Cadeira normal para crianças da escola primária Modificada com um descanso para os pés Modificada com um descanso para os pés e um assento mais alto Fonte: IDP Noruega 25 Estas cadeiras foram concebidas por uma pessoa dos recursos do Braillo Norway em ligação com o programa que desenvolveram na Indonésia “Melhoria na Qualidade da Educação de Crianças com Deficiência visual” (1998 a 2OO5). Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 27 Défice auditivo Défice auditivo é o termo geralmente usado para descrever a perda total ou parcial de audição. Défice Auditivo Dificuldade auditiva Surdez (perda parcial de audição) (perda total de audição) O défice auditivo pode ser difícil de identificar porque todos os bebés, mesmo os que nascem surdos – usam a sua voz. O seu palrar ou balbuciar está frequentemente sincronizado com os seus cuidadores em resultado da expressão facial, tensão corporal ou movimento.26 O maior desafio que as pessoas com défice auditivo enfrentam é o da comunicação, porque a maior parte das pessoas utiliza sobretudo formas de comunicação oral. Mesmo enquanto professores e pais, esquecemos muitas vezes que a comunicação inclui movimento e expressão facial tanto como som. É por isso importante que enquanto pais, cuidadores e professores comuniquemos de forma que nos pareça natural, usando todos os modos de comunicação: movimento, expressão facial, som e palavras. No Reino Unido, uma em cada 1.000 crianças estão sinalizadas com surdez profunda na idade de 3 anos.27 Nos Estados Unidos uma em 1.000 crianças nascem com surdez profunda e duas a três em 1.000 nascem com surdez parcial.28 Estes números podem ser ainda mais elevados nos países em desenvolvimento devido à falta de acesso a serviços de saúde com qualidade. Em alguns locais do Paquistão rural estima-se que mais de uma criança em 26 Skjørten / Sletmo, p. 5. Royal National Institute for the Deaf. (2008) “Statistics” na página URL: http://www.rnid.org.uk/information_resources/aboutdeafness/statistics/?ciid=214722#b aby[4 Jan. 2008]. 28 American Speech-Language Hearing Association. (n.a.) “Facts on Hearing Loss in Children” na página URL: www.asha.org/NR/rdonlyres/3CDA7F66-0F0C-4BB2-8E5785D7F7391401/0/HrngLossChldrn.pdf [4 Jan. 2008]. 27 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 28 cada 12 sofra de défice auditivo (o que em parte se pensa ser devido a defeitos genéticos relacionados com casamentos entre familiares próximos).29 IMPORTÂNCIA DE INTERVENÇÃO PRECOCE E ADEQUADA Quando as crianças com défice auditivo não são identificadas cedo e não lhes é dada a assistência necessária, terão de ser disponibilizados serviços de apoio adicionais (educação especial) para além do que seria necessário, durante os anos de escolarização (e talvez até mais tarde). Mesmo as crianças com défice auditivo moderado podem perder muita da informação oral e do que é discutido na sala de aula a não ser que nós estejamos alertados para o seu problema e façamos alterações na forma de ensinar e de interagir com elas. Muitas crianças com défice auditivo são rotuladas inapropriadamente como tendo “problemas de comportamento” ou “dificuldades de aprendizagem”. É importante tomar consciência da dificuldade que é, para muitas crianças com surdez profunda, aprender uma língua (mesmo a língua gestual) a não ser que tenham acesso a programas de intervenção precoce, instrutores de língua gestual e tutorias (idealmente feitas por crianças com surdez severa mas com boas competências em língua gestual). MODOS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO As pessoas que têm défice auditivo usam formas de comunicação oral ou manual ou uma combinação de ambas. A comunicação oral inclui a fala (Comunicação oral), leitura dos lábios e uso da audição residual, enquanto a comunicação manual inclui língua gestual e soletrar com os dedos. A comunicação total é uma combinação da comunicação oral e manual. LÍNGUA GESTUAL E SOLETRAÇÃO COM OS DEDOS (COMUNICAÇÃO GESTUAL/MANUAL) A língua gestual é a primeira língua para as crianças com surdez profunda, assim como para muitas crianças com surdez moderada/severa ou severa. Nós tendemos muitas vezes a esquecer que o movimento é o primeiro meio de comunicação para a maioria das crianças. 29 Elahi, M.M.; Elahi, F.; Elahi, A.; and Elahi, S.B. (1998) “Paediatric Hearing Loss in Rural Pakistan,” study conducted for the Department of Otolaryngology, McGill University Teaching Hospitals, Montreal. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 29 Cada língua deve ter os seus próprios sinais e existem também sinais para dialetos de algumas línguas. (Ver o exemplo ilustrado na página 30 do “Dialeto Yogyakarta” da Indonésia). Tanto a gramática como a estrutura frásica da língua gestual são muito diferentes das da língua falada, com as suas regras de fonologia, morfologia, sintaxe e pragmática. Eis um exemplo da Língua Gestual Americana: A Língua Gestual Americana (ASL) tem o seu próprio sistema gramatical, diferente do inglês falado na América. Em geral as frases em ASL seguem uma organização que parte de um “tópico” e “comentário”. Quando se trata de acontecimentos no passado ou no futuro estabelece-se uma moldura temporal antes do resto da frase. Isso dá-nos o tópico “tempo” e a estrutura do comentário. Por exemplo, a frase: Na semana passada lavei a minha bicicleta (em Americano falado) transforma-se em ‘semana passada’ ‘eu’ ‘lavar minha bicicleta’ em Língua Gestual Americana.30 O fato da gramática e da estrutura frásica na língua gestual serem tão diferentes da nossa língua falada e escrita vai afetar a capacidade das crianças com surdez severa ou profunda (e que dependam da língua gestual para comunicar) para aprender a ler e a escrever ao mesmo ritmo das outras crianças. Soletrar com os dedos Todas as letras do alfabeto inglês podem ser mostradas usando uma ou ambas as mãos. O “alfabeto manual” ou o “soletrar com os dedos” é usado para soletrar nomes de pessoas ou de localidades que não tenham um sinal próprio. Há alfabetos para soletrar com uma mão ou com as duas. Isto é diferente em línguas que utilizam carateres em vez de letras. Por exemplo, na Língua Gestual Japonesa (JSL) não se usa muito soletrar na conversação normal. Para nomes de pessoas e locais há um conjunto de sinais “Kanji” que permitem que os utilizadores da língua gestual possam soletrar os seus nomes.31 30 American Sign Language University. (2008) “American Sign Language: Grammar” na página URL: http://www.lifeprint.com/asl101/pages-layout/grammar.htm [5 Jan.2008]. 31 Nakamura, K. (2002) “About Japanese Sign Language” na página URL: http://www. deaflibrary.org/jsl.html [8 Apr. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Alfabeto para usar com uma mão32 32 30 33 Indonesian Ministry of National Education. (2000) “Sistem Isyarat Bahasas Indonesia (Indonesian Sign Language)”. Jakarta: Departmen Pendidikan Nasional (Ministry of National Education), p. xxxi. 33 Comentário dos autores: O alfabeto gestural Inglês foi adaptado pelo Ministério da Educação Nacional Indonésio e agora faz parte da Língua Gestual da Indonésia Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Alfabeto para usar com as duas mãos34 34 Waterfall Rainbows. (2008) “Fingerspelling” na página URL: http://www.britishsign.co.uk/fingerspelling.php [14 Apr. 2008]. Source: IDP 31 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Língua Gestual - Alguns exemplos35 32 36 Para fazer o sinal de “mãe” colocar o polegar da mão direita contra o queixo. A mão deve estar aberta (Língua Gestual Americana) Há dois sinais para “mãe” no dialeto Yogyakarta da Língua Gestual Indonésia de Bahasa. O primeiro é feito movendo a mão fechada (punho) em direção à parte de trás da cabeça (uma vez que as mulheres usam tradicionalmente o cabelo apanhado atrás), o segundo é feito colocando dois dedos contra o lado direito da face (junto da orelha) O sinal de “pai” faz-se colocando o polegar da mão direita contra a testa. A mão deve estar aberta. Algumas pessoas movem ligeiramente os dedos ao fazer os sinais de mãe e pai, mas não é necessário fazê-lo. (Língua Gestual Americana) Há dois sinais para “pai” no “dialeto Yogykarta” da Língua Gestual de Bahasa Indonésia. O primeiro é feito colocando o indicador direito horizontalmente debaixo do nariz. O segundo é feito movendo o polegar e o indicador do nariz até aos dois lados da boca. Ambos os sinais indicam um bigode. 35 American Sign Language University. (2008) “American Sign Language: Grammar” na página URL: http://www.lifeprint.com/asl101/pages-signs/m/momdad.htm [5 Jan.2008]. 36 Matahariku. (2004) “Jogjakarta Sign Language - 2nd Edition”. Jogjakarta:Matakariku, p. 61. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 33 A fala (Comunicação oral) A fala pode ser utilizada por crianças com défice auditivo moderado, moderado/severo ou profundo como uma segunda língua. As crianças com défice auditivo não devem ser obrigadas a aprender a falar. Em muitas escolas, as crianças surdas passam horas sem fim a aprender a falar (e a cantar) enquanto pouca atenção é dada às outras disciplinas. Isso vai criar, em vez de retirar, barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação destas crianças. Esta abordagem deixou por isso de ser considerada aceitável. Não devemos esquecer que uma criança que não ouve bem não poderá falar com clareza. Isto porque ela não consegue ouvir e mima as palavras que as outras pessoas pronunciam. Leitura labial A leitura labial é vista como “ver o som do discurso”- os movimentos dos lábios e da língua. As expressões faciais e linguagem corporal também são significativas para o leitor labial. É difícil para uma criança – especialmente para quem nunca ouviu – aprender a fazer leitura labial. Se a criança tem alguma audição e usa quer sinais quer palavras, aprender a fazer leitura labial vai ajudá-la. Muitas palavras não serão ouvidas corretamente e a leitura labial vai ajudar a criança a perceber o que foi dito. Perda de som e de audição O som é medido pelo seu volume ou intensidade (medido em unidades chamadas decibéis, dB) e pela sua frequência ou altura (medido em unidades chamadas hertz, Hz).Os défices auditivos podem ocorrer num ouvido apenas, ou nos dois. O défice auditivo é em geral designado por leve, moderado, moderado/severo ou profundo, dependendo da capacidade de ouvir intensidades (dB) ou frequências (Hz) associadas à fala. As crianças e adultos com perda de audição superior a 90 decibéis são em geral consideradas surdas. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 34 Grau de Perda de Audição e Efeitos Potenciais37 Os efeitos potenciais da perda de audição dependem de muitos fatores, incluindo o grau de perda (ver abaixo), mas também dependem da despistagem precoce, da amplificação, da intervenção precoce, do envolvimento parental e dos professores, assim como da altura em que ocorreu a perda de audição, se foi antes ou depois da comunicação básica ou da aquisição da linguagem. Implantes Cocleares Os implantes cocleares vão influenciar a educação de muitas crianças com défice auditivo, no futuro. É já hoje assim em muitos países do mundo, incluindo países em vias de desenvolvimento. No passado, os implantes cocleares eram caros. Contudo, desde que o primeiro implante coclear “indígena” surgiu na Índia em 2005,38 cada vez mais pessoas com défice auditivo podem ter expectativas de poderem adquirir esta recente e inovadora tecnologia. Um implante coclear é um aparelho eletrónico cirurgicamente implantado que possibilita uma sensação de audição a pessoas com surdez profunda ou severa. Como resultado algumas crianças que nunca ouviram antes vão ter a sua primeira experiência sonora. Estas crianças vão precisar ter terapia da fala e acompanhamento. Muitas crianças e adultos precisam de meses e até anos para se habituarem ao som, uma vez que alguns sons podem ser sentidos como intrusivos e desconfortáveis. Desde que foi aprovado para testes em 1985, o implante coclear suscitou controvérsia sobretudo nas “comunidades de surdos”. Será que o implante coclear coloca uma séria ameaça à cultura dos surdos? Podem de facto as pessoas com implantes cocleares funcionar como membros plenos do mundo 37 Hands & Voices. (2005) “Description of Degree of Hearing Loss Versus Potential Effects” na página URL:http://www.handsandvoices.org/resources/coGuide/05_Lossvseffct.htm [11 Jan. 2008]. 38 The Hindu Online. (2005) “Indigenous Cochlear Implant to Hit the Market Soon” na página URL http://www.hindu.com/2005/11/25/stories/2005112502220900.htm [2 Aug. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 35 dos ouvintes? Será que os resultados justificam as despesas com a cirurgia e terapia? Apesar da controvérsia, calcula-se que mais de 8.000 crianças no mundo têm implantes cocleares,39 incluindo um crescente número de crianças dos países em vias de desenvolvimento. Os efeitos da perda de audição dependem da intensidade (dB) necessária para ouvir sons com diferentes frequências (Hz).Algumas crianças com défice auditivo precisam da mesma intensidade para ouvir sons com diferentes alturas. Sons baixos e altos podem ser igualmente difíceis de ouvir. Outras crianças com défice auditivo podem ser capazes de ouvir sons de baixa altura sem problemas (audição normal) mas não conseguem ouvir sons muito altos (surdez profunda). A altura da fala é de 500-3000 Hz. Contudo isto varia muito de língua para língua porque os diferentes fonemas (as unidades mínimas que constituem as palavras) têm diferentes frequências consoante as línguas. Os resultados de um teste de audição são gravados num audiograma (ver o exemplo em baixo) As linhas verticais no audiograma representam a altura ou frequência e as linhas horizontais representam a altura ou intensidade. Fonte: IDP Noruega Este audiograma representa a audição de um indivíduo com audição normal no que se refere a baixas frequências e com perda de audição severa para 39 Public Broadcasting Services. (2008) “Cochlear Implants” na página URLURL http://www. pbs.org/wnet/soundandfury/cochlear/index.html [9 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 36 frequências altas, no ouvido esquerdo (X) e moderada a severa no ouvido direito (O). O X indica os limiares para o ouvido direito e para o ouvido esquerdo. Ligeira: 16-35 dB – a criança pode ter dificuldades em ouvir falar em voz baixa ou à distância. Pode perder até 10% do que é emitido quando o falante está a uma distância superior a um metro ou se houver ruído ambiente. É provável que a criança sinta dificuldade tanto na comunicação como nas aprendizagens escolares em geral. A necessidade de auxiliar na audição e algum tipo de intervenção devem ser consideradas. Moderada: 36-50 dB – A criança compreenderá uma conversa à distância de um ou dois metros. A amplificação (auxiliar auditivo) pode possibilitar a audição e a descriminação de todos os sons. Sem amplificação, a criança irá perder entre 50% e 100% do discurso. Moderada /Severa: 51-70 dB – A conversação tem de ser muito clara e em voz alta para ser ouvida sem amplificação. Uma perda de 55dB pode significar que 100% do discurso se perde. A criança pode ter dificuldades em situações que requeiram comunicação verbal (sobretudo em grupos grandes) incluindo salas de aula e recreios. A aprendizagem da língua falada será atrasada e a capacidade de compreender o discurso oral será reduzida se não houver intervenção e amplificação. Severa; 71-90 dB - Se a perda for pré-lingual (antes da aquisição da linguagem) a linguagem falada pode não se desenvolver espontaneamente, ou pode ser muito atrasada se não forem feitas intervenções.Com uma amplificação otimizada (um auxiliar auditivo) a criança poderá percecionar todos os sons da fala e identificar os sons ambientais. Sem amplificação, a criança ouvirá vozes altas a 30 centímetros do ouvido e tenderá a depender exclusivamente da visão para comunicar, com língua gestual e leitura labial ou a combinação de ambas. Profunda: 91 db ou mais – A criança sente vibrações mais do que padrão tonal. Muitas crianças dependem completamente da visão e não da audição para comunicar e aprender – uso exclusivo de língua gestual (possivelmente aliado a leitura dos lábios). A fala e a linguagem oral não se desenvolvem espontaneamente sem modificações e intervenção. A capacidade de compreender a fala é muitas vezes muito reduzida e é normal que haja uma qualidade Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 37 atonal da voz. A audição residual pode beneficiar de amplificação (auxílio auditivo). Algumas crianças com surdez profunda podem beneficiar de um implante coclear apesar de este recurso ser muito contestado na comunidade de surdos. Perda unilateral da audição ou perda de audição apenas num ouvido – A criança pode estar em risco de ter atrasos na aquisição da linguagem e/ou experimentar outras barreiras nas aprendizagens escolares. As crianças com surdez unilateral podem ter dificuldade em ouvir falar do lado onde têm défice, em localizar a origem de um som, em saber de onde parte um determinado som e em compreender um discurso se houver um ambiente ruidoso. Algumas destas crianças têm poucas ou nenhumas barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação, enquanto outras são muito mais afetadas. Pouco se sabe sobre o porquê destas diferenças.40 Se a perda for total, completa, isso também é referido como surdez unilateral, em inglês “single-sided deafness” (SSD). Remover Barreiras à Aprendizagem, Desenvolvimento e Participação Relacionadas com Défice Auditivo A perda parcial de audição não afeta a capacidade intelectual nem as competências para aprender. Contudo, as crianças surdas ou com algum défice auditivo requerem de um modo geral alguns serviços de ensino especial- disponibilizados num contexto de inclusão – de forma a receberem o ensino adequado. Estes serviços podem incluir41: 40 Intervenção precoce Ensino com Língua Gestual Treino com especialista da fala, língua e audição Sistemas de amplificação – incluindo aparelhos auxiliares da audição Uma equipa de investigação do “University of Colorado Boulder” está atualmente a recolher informação sobre o desenvolvimento das crianças com perda unilateral da audição. 41 National Dissemination Center for Children with Disabilities. (2004) “Disability Fact Sheet — No. 3” na página Washington: National Dissemination Center for Children with Disabilities URL: http://www.nichcy.org/pubs/factshe/fs3.pdf [4 Jan. 2008]. 38 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Serviço de um intérprete para os estudantes que usem a língua gestual como primeira língua. Localização adequada dentro da sala de aula que facilite a leitura labial. Filmes, vídeos e DVDs com legendas. Informação aos professores, pais e pares sobre alternativos de comunicação, como a língua gestual. Uso consistente, consciencioso e visível de formas de comunicação (tais como língua gestual, soletrar com os dedos), e/ou amplificação e treino áudio/oral. Aconselhamento e acompanhamento – para muitas crianças, é difícil lidar com a marginalização social e exclusão a que muitas vezes os deficientes auditivos estão sujeitos, a não ser que tenham amigos com deficiência auditiva ou que os seus colegas ouvintes saibam comunicar em língua gestual. Sugestões Práticas para Ensinar Crianças com Défice Auditivo42 42 métodos 43 Organize a sala de aula para que as crianças se sentem em U. Desta maneira as crianças podem ver-se umas às outras, o que tornará mais fácil para as crianças com défice auditivo usarem língua gestual, ler os lábios e perceber a mímica, possibilitando assim a participação ativa em debates e atividades da aula. Empregue algum tempo a dar informações frente-a-frente, uma vez que as situações grupais podem ser muito difíceis para as crianças com défice auditivo. Olhe para a criança (com défice auditivo) enquanto falar com ela. Fale devagar e com clareza, mas não demasiado alto. German Association of the Deaf. (2008) “Was ist Gehörlos? - Tipps für die Verständigung” (What is Hearing Impairment? Practical Ideas for Communication) na página URL http://www.gehoerlosen-bund.de/gebaerdensprache/gl_tipps.htm [5 Jan. 2008]. 43 Sletmo, E. (2004) Teaching Children with Hearing Impairment in Inclusive Settings. Jakarta: University of Oslo and Braillo Norway, p. 7 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 39 Use frases curtas, simples, e claras. Seja consistente no uso da língua. Use mímica e gestos explícitos. Use sinais “naturais” (para palavras como cansado, com sono, comer, beber, por exemplo), se não souber usar a língua gestual formal. Peça à criança (se ela tiver linguagem oral) para repetir o que compreendeu. Escreva as palavras-chave da informação transmitida durante a aula e forneça-as diariamente, no final da aula. Trabalhe com um audiologista (se disponível) para ensinar e encorajar a criança a usar a sua audição residual na sua máxima extensão, mesmo que o meio de comunicação preferido seja a língua gestual. Reduza todo o ruído desnecessário, uma vez que múltiplas fontes sonoras tornam mais difícil a utilização da audição residual. Isto é também importante para a criança que possua um amplificador. Se algumas das salas de aula forem mais ruidosas do que outras (ruido de tráfico na rua, comboios, aeroportos ou fábricas) a escola deve ser flexível e mudar a turma com crianças com défice auditivo para uma sala com menos ruído (também para as crianças com défice visual ou outro). Seja flexível com o tempo, uma vez que a maioria das crianças surdas ou com dificuldades auditivas não conseguem compreender tudo o que se passa na sala de aula, devido ao seu défice auditivo. Valorize mais o conteúdo do que a gramática ao classificar os trabalhos escritos das crianças que usam a língua gestual para comunicar. Porque a gramática da língua gestual é diferente da das línguas escritas, e estas crianças escrevem de fato numa “segunda” língua. Por favor tenha em consideração: Pelo facial - as barbas ou bigodes (usados pelos professores) podem dificultar a leitura labial assim como a compreensão da mímica facial pelas crianças com défice auditivo. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 40 Cara tapada - os véus que cobrem os olhos, as sobrancelhas, o nariz, a boca e as faces (usadas por professores ou alunos) vão afetar a capacidade das crianças fazerem leitura labial ou compreenderem a mímica. A maioria das crianças surdas (com perda profunda de audição) nasce de pais ouvintes. A escola deverá também procurar sensibilizar os pais para as implicações da surdez no seio da família. Uma criança surda pode precisar de mais tempo para aprender do que as outras crianças. Isto porque ela tem que aprender a ler e a escrever numa “segunda” língua – uma língua diferente da sua “primeira” língua. A criança com défice auditivo pode também precisar de mais tempo do que as outras para aprender porque não consegue ouvir o professor nem percebe o que os outros alunos estão a dizer na aula. Assim, grande parte da informação dada na aula vai perder-se. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 41 Défice visual Défice visual é um termo abrangente usado para descrever a perda parcial ou total da visão. Défice visual Baixa visão Cegueira (perda parcial de visão) (perda total ou severa da visão) Os maiores desafios que as crianças com défice visual enfrentam são dificuldades de mobilidade (movimentar-se de um lado para outro de forma independente), dificuldades de compreensão e uso da comunicação nãoverbal (expressões faciais e linguagem corporal) e dificuldades na comunicação escrita (dado que a maioria dos seus pares leem e escrevem de forma normal). Os efeitos da perda de visão dependem dum número de fatores, incluindo o grau de perda (cegueira versus baixa visão), mas também da precocidade do despiste (quando a falta de visão foi identificada) serviços de intervenção precoce (quando é que a criança começou a ter apoio) envolvimento dos pais e professores, assim como a altura em que a perda de visão teve lugar, se antes ou depois da aquisição de comunicação básica e se houve desenvolvimento da linguagem e reconhecimento visual. É importante perceber que uma criança que nasceu cega (ou apenas com visão residual) ou que perdeu a vista muito cedo, tem necessidades diferentes e enfrenta barreiras diferentes das crianças que perderam a visão total ou parcialmente mais tarde. O verdadeiro problema da cegueira não é a perda da visão. O verdadeiro problema é a falta de informação e as incompreensões que Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 42 existem. Se uma pessoa cega tiver o treino adequado e oportunidades, a cegueira pode ser reduzida a um transtorno físico.44 Cegueira: uma pessoa cega tem um grau elevado de perda de visão. Cerca de 18% das pessoas cegas são completamente cegas – os restantes 82% conseguem distinguir claro e escuro.45 Baixa Visão: a perda parcial de visão que não pode ser corrigida pelos meios correntes (óculos ou lentes de contacto) causa um défice visual conhecido como “baixa visão”. Uma pessoa com baixa visão tem uma acuidade visual muito reduzida, um campo visual significativamente diminuído, sensibilidade ao contraste ou os três fatores em conjunto. A definição da Organização Mundial de Saúde para baixa visão é uma acuidade de menos de 6/18 e igual ou mais de 3/60 no olho melhor, com boa correção. Causas da Deficiência Visual46 44 47 48 49 Albinismo – as pessoas com albinismo nascem com pouca ou nenhuma cor (ou pigmento), nos olhos, pele e cabelo. Isto significa que terão cabelo loiro muito claro e pele muito branca (mesmo que isso não seja comum no seu grupo étnico). O albinismo afeta a visão destes indivíduos. Catarata - é um enevoamento da lente ocular que impede a passagem da luz. Embora a maioria das cataratas estejam relacionadas com o processo de envelhecimento, há também crianças que nascem com cataratas, ou que as podem desenvolver a partir de ferimentos, inflamações ou outras doenças dos olhos. A National Federation of the Blind. (2007) “NFB Homepage” na página URL http://www.nfb.org/nfb/Default.asp [12 Dec. 2008]. 45 BBC. (2007) “What is the Definition of Blindness” na página URL: http://www.bbc.co.uk/health/conditions/blindness1.shtml. [10 Oct. 2008]. 46 World Health Organization. (2008) “Priority Eye Diseases” na página URL http://www.who.int/blindness/causes/priority/en/index.html [11 Jan. 2008]. 47 Lighthouse International. (2008) “Eye Disorders” na página URL http://www.lighthouse.org/medical/eye-disorders [05 Jan. 2008]. 48 Royal National Institute for the Blind. (2008) “Eye Conditions” na página URL http://www.sortit.org.uk/eyecond_astigmatism.htm [11 Jan. 2008]. 49 All About Vision. (2007) “Retinitis Pigmentosa” na página URL http://www.allaboutvision.com/conditions/retinapigment.htm [04 Aug. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 43 catarata infantil está muito espalhada em muitas partes do mundo. Em alguns casos, a catarata infantil passa de pais para filhos (hereditária). Quando isto acontece, a criança pode ter olhos ligeiramente mais pequenos do que o habitual. As infeções durante a gravidez também podem causar cataratas. Doenças dos olhos relacionadas com diabetes: estão entre as principais causas de deficiência visual em muitos países. A diabetes pode desencadear doenças dos olhos tais como a retinopatia diabética (a mais comum), o glaucoma e cataratas. Glaucoma: ocorre quando o nervo ótico que conduz a informação da área do olho que é sensível à luz, chamada retina, diretamente para o cérebro fica danificado, geralmente por tensão ocular elevada. Os olhos precisam de um certa pressão para manterem a sua forma, trabalhar bem e manterem-se saudáveis. Quando a pressão é demasiado elevada, a criança pode sentir desconfronto com luzes muito brilhantes, ou com a luz solar, (fotofobia) e tem os olhos ligeiramente maiores do que é normal. A criança poderá também apresentar “olhos tortos” (quando os olhos olham em direções diferentes) ou um “olho preguiçoso” (quando um olho é mais fraco do que o outro) ou os olhos podem ficar molhados com mais frequência. Oncocercose ou Cegueira dos Rios: é uma doença transmitida por moscas que vivem em zonas junto de rios. As lesões oculares podem situar-se nos tecidos internos do olho onde causam inflamação e derrames e outras complicações que acabam em cegueira. Noventa e nove por cento das pessoas afetadas vivem em África, as restantes 1% no Iémen, México, Guatemala, Equador, Colômbia, Venezuela e Brasil. Erros de refração: incluindo miopia e hipermetropia com ou sem astigmatismo. O astigmatismo é quando uma imagem se forma em vários focos que se encontram em eixos diferentes e é causada por formato irregular da córnea e do cristalino. Causa um desajuste em que a luz se refrata por vários pontos da retina em vez de se focar em apenas um. Retinite pigmentar (RP): é um grupo de doenças hereditárias da retina. Os primeiros sinais da retinite pigmentar ou pigmentosa ocorrem na infância, quando os dois olhos são geralmente afetados. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 44 A visão noturna pode ser diminuída e o campo visual pode começar a ficar mais estreito. Em etapas mais avançados apenas uma área central da visão se mantém com uma ligeira visão periférica. A RP é uma das mais comuns doenças em países e culturas em que existem casamentos entre membros da mesma família. Tracoma: é causado por um micro-organismo e espalha-se por contaminação de pessoas infetadas através de toalhas, lenços, dedos, etc. e por transmissão por moscas dos olhos. Após anos de infeções repetidas, o interior da pálpebra pode ficar com tantas cicatrizes que a pálpebra se volta para dentro e as pestanas roçam os olhos, o que pode ferir a córnea e levar à cegueira. Os símbolos apresentados a seguir podem ser usados para testar a visão dos seus alunos, se tiver suspeitas de que alguns poderão ter visão reduzida. Este teste é apenas um de muitos que devem ser usados para determinar visão residual ou funcional de uma pessoa. O campo visual também deve ser testado porque determina a que ponto pode usar a visão residual. Em 1992, a Organização Mundial de Saúde ofereceu uma definição alternativa de baixa visão como deficiência do funcionamento da visão mesmo depois de tratamento e/ou correção refrativa padrão, em que a visão de campo fica abaixo dos 10 graus do ponto de fixação, mas em que a visão é usada para planear ou executar uma tarefa para a qual a visão é essencial. Braille é o principal método de leitura e escrita para os cegos e para os que têm baixa visão (apenas para aqueles que não consigam ler textos adaptados ou que não beneficiem de aparelhos óticos). Braille é uma escrita táctil, baseada numa combinação de um a seis pontos, num quadro de seis pontos. Há um código Braille para a maioria das línguas na Ásia, não só para os que utilizam o alfabeto latino (como no exemplo abaixo) mas também para os carateres usados na China, Japão e Coreia, assim como para os alfabetos arábico, cirílico, hindi, cingalês, tâmil e thai (só para mencionar alguns). Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 45 Teste de acuidade visual ao longe 6/18 O primeiro número (6) é a distância usada para fazer o teste (6 metros) O segundo número (18) é a medida do símbolo. Se estes símbolos (letra E) puderem ser vistos a uma distância de 6 metros, com correção (óculos), a pessoa testada tem uma “visão normal”. Se não conseguir ver o símbolo tem “baixa visão”. 6/60 Se este símbolo, (letra E), não puder ser visto a metade da distância (3 metros) no olho com melhor correção (visto que a visão difere de um olho para o outro) a pessoa é considerada cega Fonte: IDP Noruega Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 46 Alfabeto Braille (Inglês) Respostas Visuais e Capacidades num Desenvolvimento Visual Normal50 Entre os quatro e os sete anos, uma criança com uma visão normal: 50 Descrimina, identifica e reproduz símbolos e figuras abstratas. Traça, copia e desenha imagens. Escolhe imagens semelhantes por apenas um detalhe. Identifica e reconhece relações em imagens, desenhos abstratos e símbolos. Identifica detalhes que faltem numa gravura. Identifica, perceciona e reproduz símbolos em formas isoladas ou em conjunto (letras e palavras). Identifica letras em diferentes estilos de impressão. Reproduz símbolos abstratos de memória. Identifica palavras pela visão. Centre for Eye Research Australia - University of Melbourne. (2008) “Visual Development” na página http://www.lowvisiononline.unimelb.edu.au/Assessment/ development.htm [11 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 47 Sugestões Práticas para Ensinar Crianças com Deficiência Visual51 “De acordo com experiências adquiridas nos programas de baixa visão na Indonésia, India e Nepal, uma boa avaliação das crianças em idade escolar com baixa visão tem vindo a mostrar que a maior parte delas pode usar os livros escolares normais. Leem com ou sem ajuda de óticas tais como lupas, lentes de aumentar. Isto reduziu muito a necessidade de aumentar os carateres impressos dos livros. Os alunos que ainda precisem de carateres aumentados, na maioria das vezes não precisam do livro todo mas apenas de secções, que na maior parte das vezes podem ser fotocopiados e aumentados…” Karin van Dijk (2004) 51 Escolha livros com boa qualidade de impressão e bons arranjos gráficos. O texto deve estar alinhado à esquerda (com uma margem justificada/ alinhada do lado esquerdo e não alinhada/justificada no lado direito). Isto torna mais fácil a leitura para as crianças com baixa visão, com um mínimo de alterações. Também poderá beneficiar outras crianças com dificuldades na leitura. Os livros e outros materiais de leitura devem ser disponibilizados em Braille, para os alunos que dependam do Braille para ler e escrever. Os livros devem ser gratuitos ou ao mesmo preço dos livros das crianças que veem. As crianças que escrevem Braille devem ter acesso aos utensílios necessários, de forma gratuita, ou ao mesmo preço das canetas e lápis. Dispositivos visuais apropriados devem ser dados às crianças com baixa visão de acordo com as suas necessidades individuais e com a disponibilidade existente. Treino de orientação e mobilidade (O&M) deve ser disponibilizado – como deslocar-se com uma bengala branca, usar técnicas específicas, de tato e de proteção, uso de sinais (incluindo sons e eco) técnicas de guia (guia humano) assim como técnicas de movimento livre no espaço. Watterdal and Tahir, pp. 4-6. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 48 Atividade Experimental - Movimento Primeiro tape os olhos com uma venda. Coloque-se de costas para a parede num espaço aberto e tente andar em linha reta. Quando tiver andado 8 ou 10 metros, retire a venda e veja até que ponto virou para a esquerda ou para a direita. Esta simples atividade vai mostrar-lhe como é difícil para as crianças cegas movimentarem-se sem terem um bom treino de orientação e mobilidade. Atividades de perceção do espaço – possibilitam às crianças com deficiência visual moverem-se num espaço aberto de forma a ganharem segurança, a sentirem-se confiantes e com controlo sobre o seu corpo e movimentos. Atividades de vida diária - muitas crianças com défice visual precisam de treino para a execução de tarefas de rotina diária que a maioria das crianças aprende mimando e copiando os seus pais, irmãos e pares. Estas são entre outras: ir à casa de banho, lavar-se, vestir-se, abotoar os sapatos, comer e beber sem entornar, encher um copo com água, usar os talheres (ou pauzinhos) Atividade experimental - Comer Coloque uma venda nos olhos antes de começar a tomar o pequeno-almoço. Tente encher um copo com água, ou uma chávena de chá, ou pôr manteiga ou compota na sua torrada, tudo sem usar a visão. Se tiver massa (noodles) para comer tente comê-la com pauzinhos mantendo os olhos vendados. Provavelmente vai fazer um grande chiqueiro. Esta atividade vai servir para lhe mostrar porque é que algumas crianças vão levar mais tempo do que outras a aprender a comer sem entornar a comida, a vestirem-se ou a irem à casa de banho sozinhas. Se tiver crianças na sua sala com albinismo certifique-se de que elas protegem os seus olhos e pele do sol, enquanto brincarem no exterior ou tiverem aulas de Educação Física. Devem usar mangas e calças compridas, saias com meias, bonés e óculos de sol porque a sua pele queima-se facilmente. As crianças albinas são por isso extremamente vulneráveis ao cancro da pele. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 49 Sente as crianças com défice visual, de maneira que elas possam ouvir bem porque dependem mais da audição do que a maioria das outras crianças, tanto para aprender como para participar. Se algumas salas da escola forem mais ruidosas do que outras – (ruído do trânsito na rua, comboios, aeroportos ou fábricas) a escola deve ser flexível e trocar a sala das crianças com deficiência visual (assim como as que têm crianças com défice auditivo ou outro tipo de deficiência) para uma sala menos ruidosa. As crianças com baixa visão devem ficar sentadas de modo a maximizar a sua visão residual e a evitar o reflexo da luz do sol ou de outras fontes luminosas. Há crianças cegas que percecionam alguma luminosidade e sentem-se incomodadas com a luz, enquanto outras beneficiarão com a luz porque podem usá-la para ajuda na mobilidade. Os lugares na sala de aula devem ser fixos, ou pelo menos não devem ser mudados frequentemente, para as crianças se orientarem e encontrarem o seu lugar sem precisarem de ajuda, assim como para saberem onde estão sentados os seus amigos. Evite que a sala de aula, especialmente no chão, esteja atravancada, para facilitar a mobilidade destas crianças e evitar acidentes e ferimentos. De igual modo, os objetos mais importantes na aula (livros, materiais escolares não devem ser muito mexidos, mudados de lugar, para que as crianças deficientes visuais possam encontrá-los sozinhos, sem ajuda. Estabeleça um objetivo para a criança com deficiência visual (o que tem de aprender até ao final do ano letivo) e procure encontrar formas e estratégias para ajudar a criança a atingir esse objetivo. Isso vai ajudá-lo a planear a ajuda externa, de um professor itinerante ou de um professor de apoio (se tal for possível), ou a ajuda de outras crianças da sala, assim como a escolha e o tipo de materiais de ensino adaptados que vão ser necessários. Lembre-se que pode levar algum tempo a receber livros em Braille, um ábaco ou outros materiais, se for possível obtê-los. Disponha de algum tempo, para explicar à criança com défice visual, como vai ser feita a aprendizagem, antes de começar a aula Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 50 especialmente em aulas que tenham uma série de atividades diferentes, tais como experiências de ciências, educação física, culinária, ou trabalhos manuais. É também importante explicar e mostrar como funcionam os diversos equipamentos utilizados nas aulas porque as crianças com deficiência visual podem não ser capazes de seguir as instruções gerais. Leia tudo o que for escrito no quadro devagar e em voz alta. Procure falar de frente para as crianças e perto delas, porque as crianças com deficiência visual dependem em grande parte do sentido da audição para receber informações, e precisam de ouvir o professor com clareza. Envolva os outros alunos da aula na ajuda à criança com défice visual. Explicar um conceito visual a uma pessoa que não vê é um desafio interessante para a maioria das crianças que veem (e adultos). Pode ajudá-los a ver as coisas de diferentes perspetivas e aprofundar a sua compreensão das formas, das cores e das funções. Ajudar os amigos com deficiência visual vai contribuir para o seu desenvolvimento social, emocional e académico e vai ser enriquecedor para ambos. Encoraje/incentive a turma a pensar sobre como incluir os seus pares com deficiência visual em programas de educação física. A inclusão não é apenas responsabilidade dos professores mas também dos estudantes. Este é um dos pontos mais importantes na educação inclusiva porque as crianças com deficiência tendem a ser excluídas da maioria das atividades circum-escolares apesar de estarem incluídos nas atividades regulares de sala de aula. Produza, construa, materiais táteis de aprendizagem como parte de “projetos de turma”. Se os alunos construírem mapas táteis, por exemplo, isso vai ajudar todas as crianças a aprender melhor a geografia, especialmente as crianças que dependem de informação oral e tátil para aprenderem. Use objetos reais que a criança possa palpar e pegar, em vez de trabalhar de forma abstrata com papel e caneta. Isto é importante para todas as crianças mas é-o especialmente para crianças deficientes. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 51 É difícil para uma criança com deficiência visual ter a noção de “coisas”, especialmente muito grandes ou muito pequenas. Assim, deverá dar tantas oportunidades quanto possível às crianças de tocarem em ”coisas” diferentes. Se uma árvore grande tiver caído ou sido cortada num local perto da escola, leve a criança lá para ela ver e palpar. Isto vai proporcionar uma compreensão melhor da medida, altura e comprimento a todas as crianças e não só às que têm défice visual. Lembre-se que leva muito mais tempo a escrever carateres em Braille do que letras com uma caneta – um carater pode ter até cinco pontos. Estes pontos são feitos separadamente, usando um estilete. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 52 Défice Físico – Défice Motor e de Mobilidade Muitas crianças com défice físico são excluídas da escola. A maioria das escolas permanecem fisicamente inacessíveis para as crianças que dependem de cadeira de rodas, canadianas ou muletas para se moverem. As crianças que têm dificuldades com a fala ou com a comunicação escrita, devido à sua incapacidade física, também são muitas vezes excluídas da escolaridade, ou marginalizadas na escola. É, portanto, essencial tornar as escolas mais acessíveis para as crianças com deficiência motora ou física. Segundo numerosas convenções52 e acordos internacionais53 todas as crianças devem ter direito a uma educação de qualidade num ambiente inclusivo (ou integrado) nas suas comunidades de origem. Uma História sobre o Acesso e o Enriquecimento Mútuo Murod54 é um menino de 6 anos de idade, de Dushanbe, no Tajiquistão, que acaba de ser matriculado num jardim-de-infância inclusivo na periferia da cidade. Não há muitos jardins-de-infância no Tajiquistão que recebam crianças com deficiência, mas o jardim-de-infância do Murod adota esta atitude. 52 United Nations. (2006) “Convention on the Rights of Persons with Disabilites” na página URL: http://www.un.org/disabilities/convention/conventionfull.shtml [11 Jan. 2008]. 53 United Nations. (1993) “The Standard Rules on the Equalization of Opportunities for Persons with Disabilities” na página URL: http://www.un.org/esa/socdev/enable/ dissre00.htm [11 Jan. 2008]. 54 Para proteger a privacidade da criança Murod é um nome fictício. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 53 Há mais de 20 crianças na classe de Murod, meninos e meninas. Murod tem paralisia cerebral, precisa de uma cadeira de rodas para se mover e, por isso, o jardim-de-infância para se tornar mais acessível construiu uma rampa. É um pouco íngreme e só vai até ao primeiro andar, mas ajuda o Murod a participar em algumas das atividades juntamente com as outras crianças. Murod precisa de muito exercício. Durante as aulas e os recreios, vai ter oportunidade de praticar a marcha e de receber treino básico de fisioterapia. Um dos seus amigos tem TDAH. Ele tem muita energia e precisa se mover mais do que outras crianças da classe. Por esta razão, frequentemente ajuda o Murod quando este precisa de fazer exercício. Assim, aprender, brincar e fazer coisas em conjunto é bom para o Murod e para os seus colegas. O que é o Défice Motor? Um défice motor é uma incapacidade que afeta a capacidade de controlar o movimento muscular, o que geralmente limita a mobilidade. São exemplos a paralisia cerebral, artrite, paralisia, perda de membros e redução funcional de um ou mais membros. O impacto destas condições na aprendizagem, no desenvolvimento e na participação social variam de criança para criança. Muitas crianças com défice motor irão também sentir dificuldades na interação social com outras crianças (e adultos), na atenção, bem como bem como no seu desenvolvimento cognitivo e de linguagem55. Isto reforça a necessidade de uma colaboração alargada entre os departamentos da educação, saúde e segurança social, aquando da organização de serviços de apoio por professores, escolas e autoridades educacionais. O que é um défice de Mobilidade A mobilidade pode ser prejudicada por um certo número de condições. Algumas são de carater permanente, outras são de natureza temporária. Incluem a paralisia cerebral, a artrite, a distrofia muscular, a esclerose 55 Iversen, S. (2006) ”Tverrfaglig tilnærming til barn med utviklingsproblematikk” (Holistic Approach to Working with Children with Developmental Problems ) na página URL: http://www.helse-bergen.no/forskning/doktoravhandlinger/Iversen+doktorgrad.htm Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 54 múltipla (EM)56 e a doença de Parkinson Juvenil. As lesões também podem afetar a mobilidade de forma temporária ou permanente. Sugestões práticas para ensinar as crianças com Défices Físicos 56 As salas de aula e as instalações escolares (bibliotecas, casas de banho, campos desportivos e áreas de lazer) devem ser fisicamente acessíveis a todas as crianças. Consulte o Capítulo 3 " Ambientes escolares acessíveis -Princípios Universais do Design” As crianças que utilizem para se mover cadeiras de rodas, canadianas ou muletas podem achar difícil movimentar-se dentro de uma sala de aula tradicional bloqueada por fileiras de cadeiras e mesas. Por conseguinte, é importante que se organize a sala de aula de tal maneira que todas as crianças se possam mover livremente. As crianças não devem ter acesso físico apenas para sua mesa, mas também para outras partes da sala de aula, para atividades em grupo ou para ir buscar alguma coisa numa prateleira ou num armário, ou para colar um desenho na parede. As crianças que se cansam facilmente, e necessitem de descansar mais, podem ter dificuldade em chegar à escola a horas ou permanecer na escola todo o dia. Devemos, portanto, repetir as informações importantes, uma ou duas vezes para nos certificarmos de que todas as crianças as terão ouvido. Isso também irá beneficiar as crianças com PHDA e as crianças que podem ter tido dificuldade em compreender a informação à primeira. Algumas crianças com défices físicos podem às vezes querer/necessitar de usar os seus próprios móveis, como cadeiras ergonómicas e tampos inclinadas. Isto deve ser proporcionado sem que se criem problemas para as outras crianças. O mobiliário desenhado especialmente deve, se possível, ser disponibilizado para aqueles que precisam de cadeiras e mesas que diferem do mobiliário escolar padrão. Isto não tem que ser caro. As cadeiras podem ser desenhadas com base em modelos locais (ver ilustrações na pág. 26) A Esclerose Múltipla é mais comum nos adultos; contudo, também pode afetar as crianças e jovens. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 57 55 Algumas crianças estarão mais confortáveis se estiveram em pé em vez de sentadas - especialmente as que têm lesões nas costas. Esta situação deverá ser contemplada na sala de aula. As crianças com défice motor, ou que não tenham um ou ambos os braços/mãos, podem necessitar de usar um gravador de fita ou um dispositivo eletrônico para tomar notas durante as aulas. Elas também devem ter a opção de apresentar os seus trabalhos de casa gravados numa fita/cassete ou impressos a partir de um computador com software de reconhecimento de voz.57 Muitas crianças com incapacidade física deverão ter um tempo adicional para ler, escrever ou tomar notas. Isso pode afetar a sua participação na sala de aula, bem como o tempo necessário para concluir as suas tarefas. Os professores e gestores escolares (assim como os inspetores escolares e supervisores) devem certificar-se de que as crianças em causa dispõem do tempo que precisam para mostrar corretamente o que aprenderam na escola. Isso é importante para todas as crianças, com e sem incapacidades. É particularmente importante que seja dado tempo extra durante os exames. Algumas crianças com défices físicos podem precisar de mais tempo sempre que os trabalhos de casa e da sala de aula envolvam localizar e usar recursos da biblioteca. Os professores devem, portanto, bem antes do início da atividade, fornecer listas de leitura, uma lista de coisas para fazer e material de aprendizagem necessário, de modo a que as crianças se possam preparar adequadamente. As atividades que ocorrem fora da escola (como visitas a museus, galerias e atividades desportivas), devem ser planeadas e implementadas para que todas as crianças possam participar e beneficiar delas. Se a turma for visitar um museu ou uma exposição deve previamente saber-se se os locais são fisicamente acessíveis. Se são organizadas atividades desportivas, devem ser planeadas de tal maneira que sejam adequadas a todas as crianças, de acordo com o seu potencial e as suas capacidades. BBC. (2005) “Voice Recognition Software – An Introduction” na página URL: http://www.bbc.co.uk/accessibility/factsheets/pdf/vr_intro.pdf. [8 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 56 As outras crianças da turma devem ser incentivados a ajudar e apoiar os seus colegas com incapacidade/deficiência como parte do seu desenvolvimento social, emocional e académico, o que será mutuamente enriquecedor. PARALISIA CEREBRAL A paralisia cerebral é causada por uma lesão em partes do cérebro que controlam o movimento, durante as fases iniciais de desenvolvimento. Na maioria dos casos, esta lesão ocorre durante a gravidez. No entanto, às vezes pode ocorrer durante o parto e no início da infância (por falta de oxigênio numa situação de quase afogamento, meningite, traumatismo craniano ou pelo facto de ser abanada fortemente). Estima-se que 2 crianças em cada 1.000 têm paralisia cerebral. As crianças com paralisia cerebral podem ter dificuldades em: Movimentar partes do corpo ou o corpo inteiro. Falar fluentemente, ter uma comunicação não-verbal (as expressões faciais nem sempre podem revelar verdadeiras emoções - ou seja, a criança pode parecer estar sorrindo, mas estar muito irritada ou triste). Ter movimentos musculares involuntários (espasmos). Comer e beber. Fraqueza muscular ou rigidez. No equilíbrio e coordenação. Postura correta (capacidade de colocar o corpo numa determinada posição e assim permanecer). Atenção e concentração. Sugestões práticas para ensinar crianças com Paralisia Cerebral Se a criança consegue falar, devemos ser pacientes e permitir-lhe todo o tempo de que necessita para perguntar ou responder a perguntas ou fazer comentários. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 57 Devemos dar oportunidade à criança de se mover no seu espaço. As crianças com paralisia cerebral precisam de estimulação muscular para desenvolver as suas capacidades motoras. Algumas crianças com paralisia cerebral cansam-se facilmente. Deveremos, portanto, permitir-lhes tempo para descansar na escola. De facto, a escola deve ter um lugar para este descanso. Se a escola tem acesso a um computador, este deve ser proporcionado às crianças com paralisia cerebral porque muitas têm dificuldades com comunicação escrita (além de comunicação oral) devido às suas dificuldades na motricidade fina. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 58 Défice do Desenvolvimento / Intelectual O Desenvolvimento intelectual deficitário pode consistir num défice congénito (presente no nascimento) ou num défice cognitivo58 adquirido nos primeiros tempos de vida. Défice do desenvolvimento é um termo comum para um número de situações ou diagnósticos diferentes. A característica comum consiste no facto da capacidade de aprender e de lidar com a sociedade se encontrar limitada.59 Nos Estados Unidos, o termo "défice do desenvolvimento" é usado para descrever as pessoas com "atraso mental",60 paralisia cerebral,61 perturbações do espectro de autismo, perturbações várias de ordem genética e cromossómica (incluindo a síndrome de Down), e Desordens do Espectro Alcoólico Fetal (DEAF). No Reino Unido, é utilizado com o mesmo significado do termo “incapacidade de aprendizagem”. 58 Um défice cognitivo relaciona-se com o processo de ser consciente, conhecer, pensar, aprender e julgar. 59 The Norwegian Association for the Developmentally Disabled. (2005) “Strategy for NFU’s Work for International Solidarity - 2006 and Beyond.” Oslo: Norsk Forbund for Utviklingshemmede 60 O conceito de ”atraso mental” deixou de ser usado em muitos outros países dado ser visto como um estigma e uma forma de discriminação. Esta é também a visão de cada vez mais gente nos Estados Unidos 61 Isto é controverso porque muitas pessoas com paralisia cerebral – bem como as suas organizações – não gostam de ser apelidados como tendo “deficiência de desenvolvimento” que é associado de forma imediata com “deficiência intelectual”. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 59 Em outros lugares, é usado principalmente para descrever o que também é referido como "deficiência intelectual", e por isso é que usamos o termo "défice de desenvolvimento" neste manual. O “défice de desenvolvimento" é uma das formas mais comuns de défice 62 estimada grosseiramente em cerca de 1% da população infantil. A grande maioria situa-se num grau ligeiro ou moderado. Em muitos países, as crianças com défice de desenvolvimento são agrupadas estritamente de acordo com o seu quociente de inteligência (QI). Neste manual optamos por evitar referências ao QI porque questionamos a validade e a utilidade de testes padronizados medidores do QI e, consequentemente, os seus resultados. Nos Estados Unidos, os testes de QI já há bastante tempo que são criticados pela distorção em função dos fatores da raça e da cultura.63 Verificou-se que os testes de QI medem a capacidade que foi desenvolvida em vez da capacidade inata (congénita ou existente desde o nascimento) e, por conseguinte, ser influenciados por fatores culturais, sociais, religiosos e económicos. É provável que testes utilizados noutros países também possam ser tendenciosos, contra as pessoas pertencentes a minorias. É, portanto, provável que tenham um resultado com efeitos negativos, com falta de " objetividade ", tal como os resultados de alguns estudos realizados nos Estados Unidos. Além disso, o uso abusivo dos testes de QI levou muitas vezes, no passado, à estigmatização e discriminação de certos grupos de crianças, o que resultou na sua classificação como “não educáveis” (incapazes de serem educadas) e excluídas de todas as formas de escolaridade. Em muitos países em todo o mundo, estas crianças permanecem marginalizadas ou excluídas da escolarização formal. Esta prática está em absoluta violação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1990), bem como da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). O défice do desenvolvimento pode ser dividido em quatro níveis gerais: 62 Défice do Desenvolvimento Ligeiro – A criança poderá ouvir e falar, mas apresenta algumas dificuldades em compreender alguns conceitos e apresenta algumas limitações na linguagem expressiva. De uma forma geral poderá ter uma boa adaptação social (se UNESCO. (2003) “Understanding and Responding to Children’s Needs in Inclusive Classrooms.” Paris: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, p. 23. 63 Jencks, C. / Phillips, M. (1998) The Black-White Test Score Gap. Washington, DC: Brookings Institution, pp. 1-51. Brookings Institution, pp. 1-51. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 60 estiver integrado numa comunidade inclusiva), e ser capaz de ter uma vida autónoma após completar a sua escolarização. 64 Défice do Desenvolvimento Moderado – A criança pode falar, comunicar e participar ativamente nas atividades escolares. Ela pode também necessitar e beneficiar da aprendizagem de atividades da vida diária (AVD), ou atividades de autonomia, bem como atividades sociais. Défice do Desenvolvimento Severo – A criança pode compreender através de uma comunicação simples baseada em sinais e mímica, mas terá uma capacidade reduzida em se expressar através da linguagem falada. Apesar de muitas destas crianças demonstrarem grandes dificuldades em ter uma vida independente, conseguem adquirir algum nível de independência. Défice do Desenvolvimento Profundo - Grande limitação na comunicação. Esta geralmente é conseguida através de sons nãoverbais. Contudo, algumas crianças conseguem ter uma capacidade limitada para falar. A maioria destas crianças necessita de cuidados e atenção dia e noite (24 horas). É importante lembrar que todas as crianças podem aprender (se a aprendizagem for entendida como um conceito mais amplo do que a leitura, escrita e aritmética) e que todas as crianças têm direito à educação, assistência e proteção num ambiente inclusivo e amigo da criança. O que Causa o Défice do Desenvolvimento? 64 Problemas na gravidez: Uma infeção na mãe durante a gravidez pode causar lesões no feto (exemplo a Rubéola), tentativas falhadas de aborto (em alguns países, são praticados tentativas de abortos com ervas ou massagens tradicionais que podem ser mal sucedidas e por vezes causam lesões ao feto), má nutrição durante a gravidez, abuso de álcool e drogas durante a gravidez, vírus VIH, se não for adequadamente tratado com drogas antirretrovirais (ARV), podem também lesar o crescimento do cérebro do feto. Rognhaug / Gomnes. (2008) ”Spesialpedagogikk” (Special Needs Pedagogy). Oslo: Gyldendal, p. 307. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 61 Problemas no nascimento: Falta de oxigénio durante o trabalho de parto, prematuridade, baixo peso ao nascer, e icterícia podem todos eles causar défice do desenvolvimento. Problemas com a nutrição: deficiência de iodo e má nutrição (na infância) pode levar ao défice do desenvolvimento. Problemas de saúde e do ambiente: A tosse convulsa, sarampo e meningite, bem como a exposição à água contaminada e veneno (chumbo e mercúrio), pode levar ao impar do desenvolvimento. Problemas/causas sociais: O abuso físico, mental ou sexual, a privação de amor e afeto, e a institucionalização negligente podem causar défice do desenvolvimento. Condições genéticas: Entre muitos outros, a síndrome de Down (bem como os extremamente casos raros: síndrome do X frágil, síndrome Phelan-McDermid, síndrome Mowat-Wilson e a fenilcetonuria). SINDROME DE DOWN A síndrome de Down é uma das formas mais conhecida de défice do desenvolvimento, apesar de outras formas serem mais comuns. Um em cada 1000 bebés nascidos (no RU) terá síndrome de Down.65 A síndrome de Down afeta rapazes e meninas de todas as raças, de todas as religiões e origens culturais, socias e económicas. A síndrome de Down tem origem em material genético extra no cromossoma 21. Isto poderá resultar do processo designado por não-disjunção, no qual materiais genéticos não se dividem na parte crucial da formação dos gametas, dando origem a um cromossoma extra (designado trissomia 21). A causa da não-disjunção não é conhecida, embora esteja correlacionada com a idade da mulher. Este material adicional resultante influencia o desenvolvimento e resulta na condição conhecida como síndrome de Down.66 As crianças com síndrome de Down não exibem um tipo particular de personalidade – são indivíduos como quaisquer outros. Contudo, as crianças 65 Down’s Syndrome Association. (nd) “FAQs – General” na página URL: http://www.downssyndrome.org.uk/DSA_Faqs.aspx#faq45. [13 Jan. 2008]. 66 World Health Organization. (2008) “Genes and Human Disease: Genes and Chromosomal Diseases” na página URL: http://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html [9 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 62 com síndrome de Down são mais propensas a certas estratégias de relacionamento. Por exemplo:67 As crianças com síndrome de Down recorrem frequentemente à rotina, à ordem e às mesmas coisas, como forma de racionalizar e controlar suas vidas. As crianças com síndrome de Down podem também utilizar o solilóquio como forma de orientar o seu comportamento, expressar os seus sentimentos e dar sentido ao que por vezes é um mundo muito confuso. A mudança pode ser bastante perturbadora, especialmente para a criança com síndrome de Down ou outra forma de défice do desenvolvimento. No passado as crianças com síndrome de Down têm, por vezes, sido apresentadas como sendo teimosas. A teimosia e a recusa em cooperar pode ser um sinal de sujeitos que não estejam a compreender completamente o que se espera deles. A teimosia pode também ser sintomática de um indivíduo que procura ter o controlo sobre a sua vida. A melhor maneira de ajudar alguém é tentar e descobrir nele qual o problema que o atormenta. Como Identificar as Crianças com Défice do Desenvolvimento Relativamente a algumas crianças, o seu défice de desenvolvimento é fácil e óbvio de constatar; contudo, existem condições e défices físicos que fazem uma criança “parecer” ter um défice de desenvolvimento. No caso de muitas crianças, o seu défice de desenvolvimento é identificado inicialmente depois de ter sido observado em situações de sala de aula. Mesmo assim, pode ser difícil ter a certeza. Mais importante do que o tipo de défice que a criança apresente é a forma como identificamos e suprimimos as barreiras à aprendizagem, desenvolvimento e participação que ela enfrenta na escola, em casa e na comunidade. Estes são alguns dos sinais que poderão indicar que a criança apresenta um défice de desenvolvimento – a criança que tenha um ou dois destes sinais não significa necessariamente que ela tenha um défice do desenvolvimento. 67 Down’s Syndrome Association, ibid Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 63 Estes sinais devem ser encarados com cuidado, dado a variedade no desenvolvimento das crianças:68 68 A criança denota dificuldades de compreensão do que os professores dizem enquanto todas as outras não demonstram dificuldades. A criança fala de forma distinta dos outros colegas da turma, ou não fala de todo. A criança movimenta-se, fala e aprende de forma mais lenta do que a maioria dos seus colegas. A fala da criança não é entendida a não ser pelos familiares mais chegados. A criança não brinca nem interage naturalmente com as outras crianças da sua idade. A criança apresenta uma coordenação motora fraca, é desajeitado e move-se de modo bastante diferente das crianças da sua idade. A criança tem uma atenção dispersa. A criança tem uma memória de curto e longo prazo fraca. A criança é hiperativa, agressiva e perturbadora. A criança é apática e indiferente. A criança manifesta dificuldade em copiar formas, como círculos e quadrados. A criança confunde as letras (embora isto seja comum nos primeiros tempos de escola). A criança demonstra problemas em resolver puzzles simples e outros jogos afins. UNESCO (2003), pp. 55-56. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 64 Sugestões práticas para ensinar as crianças com défice de desenvolvimento69 70 69 Ao dar instruções use palavras e frases simples e verifique se ela entendeu. Use objetos que a criança possa sentir e manejar, em vez de trabalhar apenas com papel e caneta. Isto é importante para todas as crianças, especialmente para as que têm incapacidades. Dê à criança uma atividade de cada vez. Faça uma demarcação clara entre uma atividade que acabou e a outra que vai começar. Divida as atividades em pequenos passos ou objetivos de aprendizagem. A criança deve começar com uma atividade que já saiba realizar antes de passar para outra mais difícil. Retroceda para uma tarefa mais fácil se a criança sentir problemas. Tente relacionar as atividades com experiências da vida quotidiana da criança. (Isto é importante para todas as crianças). Possibilite a prática extra repetindo a tarefa várias vezes. Isto possibilita que a criança domine completamente a competência a aprender. Isto ajuda-a a melhorara a sua autoconfiança; mas, as repetições não devem ser demasiadas. Repita algumas atividades importantes com alguns intervalos de modo que se tornem um” hábito” por forma a evitar o seu esquecimento. Peça a outras crianças (que sejam boas na parte académica) para ajudar e apoiar os seus colegas com défice do desenvolvimento como algo que contribui também para o seu desenvolvimento social, emocional e académico, e algo que é mutuamente enriquecedor. Seja generoso com os elogios (elogios honestos) e incentive a criança se ela está a ser bem-sucedida, assim como quando a tarefa é difícil. Ibid., pp. 57-58. Hagen, K.J. (2003) “En kort orientering om mennesker med utviklingshemming,” (A Brief Orientation about Persons with Developmental Impairment) Elverum: Hedmark University College, p. 35. 70 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 65 Motive as outras crianças da turma a incluir a criança com défice de desenvolvimento em jogos e atividades desportivas, algo que é mutuamente enriquecedor. Se a criança está a ter um comportamento indesejável para chamar a sua atenção, ignore essa situação. Elogie a criança quando o seu comportamento é bom. Os três princípios fundamentais do ensino de crianças com défice de desenvolvimento: 1. Decomponha as tarefas de aprendizagem e desenvolvimento em pequenos passos e permita uma progressão lenta. 2. Faça repetições com frequência. 3. Motive a criança e elogie-a com frequência. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 66 Dificuldades Específicas de Aprendizagem As crianças com fraco rendimento escolar são frequentemente “classificadas” como tendo dificuldades de aprendizagem – muitas vezes sem ter havido qualquer tipo de avaliação adequada. Isto pode estar correto; todavia, as barreiras que estas crianças experimentam podem também ter origem nas condições de aprendizagem: salas de aula sobrelotadas (ver o conjunto de ferramentas AIAA – Manual Especializado 2 - Dicas para o Ensino de Turmas Numerosas)71, assim como currículos e sistemas de avaliação rígidos, não flexíveis, ou falta de estratégias de ensino amigável e centrado na criança. As crianças com uma língua materna diferente da língua de ensino, as que não têm casa, as que têm que trabalhar à tarde ou à noite, as que não são bem alimentadas, as que sofrem abusos, terão com certeza barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e participação. A seguir se apresentam as dificuldades específicas de aprendizagem que temos abordado neste manual.72 DISCALCULIA As crianças com discalculia têm dificuldades de aprendizagem nos aspetos mais básicos das competências em aritmética. A dificuldade reside na receção, compreensão, produção de informação quantitativa e espacial (a localização de objetos e as relações métricas entre eles). As crianças com discalculia podem ter dificuldade em compreender conceitos numéricos simples, faltar-lhes a apreensão intuitiva dos números e terem problemas na aprendizagem dos procedimentos e factos numéricos. A discalculia é, em alguns aspetos, como uma "dislexia para os números.” Sabe-se muito pouco sobre a incidência, a causa ou o tratamento da discalculia. A maioria das crianças com discalculia tem capacidades 71 Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive Learning-Friendly Environments Specialized Booklet 2 – Practical Tips for Teaching Large Classes pode ser consultado em URL: www2.unescobkk.org/elib/publications/095/Teaching_Large_Classes.pdf 72 The University of Warwick. (nd) “Specific Learning Difficulties” na página URL: http://www2.warwick.ac.uk/services/tutors/disability/splds/. [13 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 67 cognitivas e linguísticas que são consideradas dentro do nível “normal”. Podem mesmo estar acima da média nas áreas “não matemáticas”. DISGRAFIA A “disgrafia" é uma dificuldade de aprendizagem resultante da dificuldade em expressar pensamentos por escrito e graficamente. Traduz-se geralmente numa má caligrafia. É um distúrbio neurológico que consiste numa incapacidade na escrita. Em concreto, esta perturbação conduz a que a escrita da pessoa seja distorcida ou incorreta. A doença geralmente surge nas crianças quando estas são introduzidas pela primeira vez na escrita. Fazem letras com dimensões ou espaços inadequados ou escrevem com erros ortográficos apesar de terem instrução. As crianças com este problema podem ter outras dificuldades de aprendizagem mas, no entanto, não têm dificuldades de ordem social ou académica Nos adultos os casos de disgrafia ocorrem geralmente após um trauma. Além de má caligrafia, a disgrafia é caracterizada por uma grafia errada e uso de palavras incorretas (por exemplo, escrever "rapaz" em vez de "criança"). As causas deste distúrbio são desconhecidas. O tratamento da disgrafia varia e pode incluir o tratamento dos distúrbios motores para ajudar a controlar os movimentos de escrita. Outros tratamentos podem dirigir-se ao treino da memória ou a aspetos neurológicos. Alguns médicos recomendam que as pessoas com disgrafia devem usar computadores para evitar as dificuldades da escrita manual. Há pessoas com disgrafia que conseguem melhorar a sua competência de escrita, mas para outros a disfunção persiste. DISLEXIA As crianças com dislexia têm dificuldades que afetam a aprendizagem, os processos de alfabetização e, às vezes, a matemática. Podem também ser identificados problemas na memória de curto prazo, na velocidade de processamento da compreensão, na capacidade de sequenciamento auditivo, na perceção visual, na linguagem falada e nas capacidades motoras. “I have blond her, Blue eys and an infeckshos smill. Pealpie tell mum haw gorgus I am and is ent she looky to have me. But under the surface I live in a tumoyl. Words look like swigles and riting storys is a disaster area because of spellings. There were no ply times at my old school untill work was fineshed wich ment no plytims at all. Thechers sead I was clevor but just didn't try. Shouting was the only way the techors comuniccatid with Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 68 me. Uther boys made fun of me and so I beckame lonly and mishroboll. it was like being jon a decert island lost and alone. Life was life and sckooll was sckool. Tings cangd when I moved to my new sckooll. I am the same inside new as I am out side. I can not reed and spell, well all most. I have frens and the teckhors all most never shout. They treet me as an intellejent person and not a zomby. I wish I new my fythor. I wonder wot will hapon to me when I have to leve. Will my in side sty the same as my out side. Wat will be Beneath my Surface. I wish I new.” 73 Alexander Parsonage – 9 years old (1989) Compusição Os desprortos Eu gosto de jugar fotebol comos meuculegas. Eu gosto do físico proque nos saltemos no trempelim. E o setor e miuta sume proque ule deixa jogar o que nos quizremo. As aulas pudeim ser um derproto seos professores fossen menes agressivos e amasem mais a sua profissão. As aulas de E.V.T. erem buas se o setror o professores forem menos agresivos. Digo isto prorque eles responde male deposto com as minha faltes de matrial. Alem de pestu de vasquete, gosto de eletresidade e no feturo queria ser eletresista prorque queria ganhir dinheiro pura a minha familía. Eu que riu que o profesores contratasem um medico pura resulver o meu proberma. Transcrito de um texto manuscrito de um aluno supostamente com dislexia (1999) 73 Dyslexichelp.co.uk. (nd) “How Does It Feel?” na página http://fp03-146.web.dircon. net/new_page_9.h. [14 Jan. 2008]. Nota de tradução: Não fazendo sentido traduzir este texto, optámos por o manter inalterado, com o acrescento de um texto em português que pretende demonstrar o mesmo que o texto original. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 69 Muitas crianças com dislexia, para além de se depararem com barreiras, apresentam, simultaneamente, capacidades especiais, que incluem: competências viso-espaciais, pensamento criativo e compreensão intuitiva. Estas capacidades ajudam a reduzir as barreiras à aprendizagem que enfrentam. Atividade de Descodificação Os sons que compõem o alfabeto são representados por letras. A maior parte das pessoas ouvem automaticamente, por exemplo, que o som cabelo compõe-se de três sons: “ca”, “bê” e “lo”. Ler implica a capacidade de ligar os fonemas (pequenos sons que formam palavras) que ouvimos nas letras numa página e vice-versa. Mas o que acontece quando esta capacidade básica que chamamos “descodificação” não surge automaticamente? Imagine a luta que é exigida para distinguir o som de cada palavra porque não se conseguem distinguir os diferentes fonemas. Durante uns momentos familiarize-se com a chave de tradução de fonemas. Em seguida utilize-os para ler a passagem seguinte. Chave de tradução fonemas (pequenos sons que formam palavras) Ao ver Pronuncie como z m p b d t o (corda) i (sino) e (léria) U (uva) Leia em voz alta para si, ou numa sala com colegas seus, a seguinte passagem: O que u o EENET? U uza rete te bartilha te infirzação que se tetica às cizunitates, escilas e universitates que valorizaz e reconhecez as cabacitates te totas as crianças e te iutros que bricuraz abrenter - brozovento uza igualtate te acusso a uza etucação te qualitate bara totos. O nisso ibjetivo consiste ez envilver totos Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 70 os baíses ta Ásia e bossivelzente to Bacífico nos nissos esfirços e nas nissas ativitates. Aqui está a tradução: O que é o EENET? É uma rede de partilha de informação que se dedica às comunidades, escolas e universidades que valorizam e reconhecem as capacidades de todas as crianças e de outros que procuram aprender - promovendo uma igualdade de acesso a uma educação de qualidade para todos. O nosso objetivo consiste em envolver todos os países da Ásia e possivelmente do Pacífico nos nossos esforços e nas nossas atividades. Então como se saiu a fazer isto? Achou este exercício difícil (era essa a intenção)? Considere que apenas cinco de entre os possíveis quarenta e quatro fonemas da língua estavam disfarçados e imaginem que isto não era um jogo, mas uma realidade para um disléxico.74 Identificar Crianças com Dislexia e Outras Dificuldades de Leitura e de Escrita Ao longo da sua escolaridade, uma criança com dislexia pode75: 74 Parecer inteligente e capaz, mas não conseguir transmitir os seus pensamentos no papel Ter áreas em que tem sucesso, particularmente no teatro, na arte e em debates Ser desajeitada Agir como “o palhaço da aula” para mascarar o que sentem como falhanço académico Ficar metida consigo e isolada, sentar-se no fundo da sala e não participar na aula Public Broadcasting Services. (2008) “Misunderstood Minds” na página http://www. pbs.org/wgbh/misunderstoodminds/experiences/readexp1a.html [12 Jan. 2008]. 75 British Dyslexia Association. (2008) “Dyslexia Friendly Schools Campaign” na página http://www.bdadyslexia.org.uk/downloads/wholedocument.pdf. [14 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 71 Ser capaz de fazer uma coisa de cada vez, mas não se lembrar de toda uma lista de tarefas Parecer “vidrada” quando se fala muito depressa Ir para casa exausta ao fim dum dia normal porque teve que fazer imenso esforço para aprender Ser vítima de bulling A Dislexia não pode ser diagnosticada a partir de um simples teste. Pode ser ligeira, moderada, severa ou profunda. O efeito da dislexia será diferente de criança para criança. Embora a dislexia seja uma das causas mais comuns das dificuldades na leitura, ortografia ou composição escrita, é importante saber que não é a única causa. Sugestões Práticas para o Ensino de Crianças com Dislexia O professor deve certificar-se de que todas as crianças na turma se sentem valorizadas e importantes – incluindo as que têm dificuldades de aprendizagem, de desenvolvimento e participação. Encoraje e motive todas as crianças na turma a darem o máximo, a fazerem o melhor que consigam. Tenha expectativas altas no que se refere à estimulação intelectual, (não subestime as crianças disléxicas) mas mantenha expectativas moderadas para as competências de escrita e leitura. Explique as coisas várias vezes e de maneiras diferentes – umas vezes para toda a turma, outras vezes para um grupo mais pequeno de crianças (porque muitas tirarão daí benefícios) ou ainda individualmente para a criança disléxica. Quando der instruções, seja ponderado e use poucas palavras, mas corretas e frases simples. Dê tempo para que as palavras sejam “interiorizadas”. Certifique-se de que todas as crianças compreenderam, pedindo-lhes que elas lhe expliquem a si, ou a outra criança, o que foi ensinado. Ensine as crianças a fazer as tarefas de forma sistemática. As crianças disléxicas precisam muitas vezes que lhes seja ensinado aquilo que outras crianças aprendem automaticamente, sem ajuda (o que vai também beneficiar muitas outras crianças com barreiras à Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 72 aprendizagem). Isto pode incluir, por exemplo, como arrumar a sua mesa; guardar os livros de que já não precisa; vestir-se com roupa limpa; lembrar-lhes que procurem coisas que não arrumaram no sítio certo; arrumar a mochila, o saco da escola; e ate-lhes os sapatos. É importante que você (como professor) e os pais reconheçam a importância de despender algum tempo a ensinar estas competências numa rotina calma, sistemática e repetida. Procure fazer a avaliação dos trabalhos escritos em conjunto com a criança: (conteúdo, ortografia, gramática, estrutura frásica). Escolha alguns dos erros mais importantes e concentre-se nesses, em vez de “esmagar” a criança com muitas correções. Quando fizer a avaliação de um trabalho escrito sem a presença da criança, use duas cores para as correções e sugestões – uma para o conteúdo e outra para a ortografia e apresentação. Só as palavras cuja grafia tenha sido objeto de aprendizagem devem ser corrigidas. Enquanto estiver a ver o trabalho da criança, procure perceber as razões dos seus erros e dê-lhes a possibilidade de explicarem as suas dificuldades. Isto vai ajudá-lo a perceber o que precisam de aprender ou têm que praticar. Fique em alerta, tome atenção aos sinais de perda de confiança e autoestima. Dê a todas as crianças da turma a possibilidade de mostrarem as suas capacidades e conhecimentos. Deixe que partilhem os seus interesses com os amigos, contem histórias e participem em representações e danças. As crianças disléxicas muitas vezes “brilham” na oralidade – os professores deviam encorajá-las para ganharem confiança e aumentarem a autoestima. Lembre-se que as crianças disléxicas têm que trabalhar muito mais do que muitas crianças na turma. Procure sinais de fadiga e certifique-se que elas têm o descanso suficiente, dando-lhes tarefas que dominem bem, e com as quais se sintam confortáveis. Seja generoso nos elogios (elogios honestos) e no encorajamento quando a criança tem êxito, mostra progressos e domina novas competências, assim como quando ela se está a esforçar e a Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 73 trabalhar muito (mesmo se os resultados esperados não se concretizem) DISPRAXIA As crianças com dispraxia são afetadas por um défice ou imaturidade da organização do movimento, parecendo muitas vezes desajeitadas. Tanto a motricidade grossa (relacionada com o equilíbrio e a coordenação) como a motricidade fina (relacionada com a manipulação de objetos) são para estas crianças difíceis de aprender, reter e generalizar. O ato de escrever é particularmente difícil e lento. Os teclados dos computadores são também difíceis de utilizar, assim como tocar flauta e outros instrumentos musicais. A dicção pode também ser afetada, e as pessoas com dispraxia podem ser híper ou hipo sensíveis ao ruído, à luz e ao tato. Podem ter pouca consciência da postura corporal e podem perceber mal os sinais sociais. Podem ainda partilhar muitas das características comuns a outras crianças com dificuldades específicas de aprendizagem. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 74 Outros défices e incapacidades PHDA - PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE COM DÉFICE DE ATENÇÃO O PHDA é uma perturbação neurológica relacionada, em parte, com a química e a anatomia do cérebro. A PHDA manifesta-se por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade que ocorre com mais frequência e de forma mais severa do que o que é observado em pessoas no mesmo nível de desenvolvimento.76 A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PDHA) é uma perturbação que surge em algumas crianças no pré-escolar e nos primeiros anos de escolaridade. É difícil para estas crianças controlar o seu comportamento e/ou prestar atenção. Estima-se que 3 a 5 por cento das crianças têm PDHA. Isto significa que numa turma de 30 alunos é provável que pelo menos um dos alunos tenha PHDA. As principais características da PHDA são: Falta de atenção Hiperatividade Impulsividade Estes sintomas aparecem cedo na vida da criança. Há muitas outras que podem apresentar estes sintomas (mas a um baixo grau) ou os sintomas podem ter origem noutras disfunções. É por isso importante que a criança seja observada e diagnosticada cuidadosamente, por um profissional bem qualificado. Pode ser difícil para os pais e professores distinguir entre falta de atenção e agitação, irrequietude. Muitas crianças pequenas têm dificuldade em ficar sentadas e quietas, estar atentas ou concentrar-se em tarefas teóricas – isto não quer dizer que tenham PHDA. 76 ADHD Information from Eli Lilly and Company. (2007) “What is ADHD?” na página URL: http://www.adhd.com/parents/parents_adhd.jsp [16 Nov. 2007]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 75 A dieta da criança pode também afetar o desenvolvimento da PHDA. Algumas crianças deviam evitar consumir produtos conservados artificialmente, químicos, glúten e leite. Aspetos positivos da PHDA As crianças com PHDA são muitas vezes crianças criativas com ideias muito interessantes. São boas a tomar iniciativas e o seu nível elevado de atividade muitas vezes ajuda-as a concretizar coisas que para outros podem ser mais difíceis. Muitas pessoas com PHDA têm facilidade em fazer novos conhecimentos e amizades. Alguns líderes políticos e grandes empresários têm PHDA. Diagnóstico precoce77 Ao falar com pais de crianças com PHDA, eles muitas vezes dizem que começaram a aperceber-se de que havia alguma coisa diferente com o seu filho logo nos primeiros tempos de vida. Talvez a criança tivesse cólicas, dificuldade em adormecer ou até em alimentar-se. Alguns pais tinham ficado preocupados com o desenvolvimento da linguagem ou da motricidade. Por vezes a agitação da criança manifestava-se logo nos primeiros meses após o nascimento, e algumas mães notaram que a gravidez tinha sido diferente das gravidezes anteriores. A preocupação que muitos pais sentem quando os seus filhos com PHDA são pequenos, aumenta à medida que eles crescem. Enquanto as outras crianças começam a brincar bem com os amigos, os seus filhos podem irritar-se, bater nas outras crianças, brincar sozinhos, destruir os jogos e brincadeiras dos outros e desenvolvem uma visível irrequietude. Muitos destas crianças têm fúrias e fazem birras que duram horas. No jardim infantil, os pais muitas vezes preocupam-se com o desenvolvimento da socialização, com a falta de jeito para brincar e interagir com as outras crianças e com a persistência da sua irrequietude. Algumas, especialmente as meninas não se mostram irrequietas, mas falam sem parar. Enquanto as crianças são pequenas (em idade pré-escolar), é difícil muitas vezes para os pais perceber o que está errado e como podem ajudar os seus 77 Lommelegen. (2007) “Hva er ADHD” (What is ADHD) na página URL: http://www. lommelegen.no/php/art.php?id=322943 [13 Apr. 2008]. 76 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos filhos. Nesta fase as crianças desenvolvem-se rapidamente, e algumas irão acalmar (perder a sua irrequietude) e conseguem acompanhar as outras crianças, sobretudo se as suas energias forem bem geridas pelos pais e professores. Noutros casos, os sintomas irão aumentar e tornar-se mais visíveis à medida que vão crescendo e as exigências em casa e na escola aumentarem. Sugestões Práticas para o Ensino das Crianças com PHDA78 79 Permita que as crianças com PHDA se movimentem enquanto aprendem. Muitas crianças com PHDA precisam de se movimentar enquanto escutam. Se exigirmos que as crianças fiquem sentadas e quieta, toda a sua concentração será focada em ficarem sentadas e quietas e pouca ou nenhuma atenção vão dar ao que está a ser ensinado. Mas se por outro lado, deixarmos que elas escolham a sua forma de se movimentarem, é quase certo que isso vai levar a que professores e outros alunos da sala se distraiam. É por isso importante a escolha das atividades para estas crianças. Permita que as crianças com PHDA respondam oralmente. Escrever é para muitas delas uma verdadeira tortura. Na matemática, passar da parte do cérebro do” cálculo matemático” para a parte de “pôr por escrito os pensamentos” pode em muitos casos tornar-se uma tarefa impossível. A criança pode pegar numa parte da escrita e copiá-la sem problemas. Pode ditar cada um dos passos de um problema complicado com grande facilidade, no entanto juntar os dois pode fazer com que uma tarefa de 5 minutos possa durar 45 minutos. Integre o movimento nas atividades de aprendizagem. Ao aprender a escrever e a contar, as crianças podem fazer um jogo em que se põem em fila de acordo com o tamanho dos seus nomes: TAUFIK ficará à frente de BUDI e IIS porque o seu nome tem 6 letras, mas MUHAMMAD ficará à frente de TAUFIK porque o seu nome tem 8 letras, KARTINI terá de ficar entre MUHAMMAD e TAUFIK porque o seu nome tem 7 letras, e assim sucessivamente. 78 Carol’s Web Corner. “Top 10 Tips for Teaching ADHD/ADD Children” na página URL: http://www.westfieldacademy.org/adhd/ [13 Apr. 2008]. 79 Watterdal, T./ Tokhai, S. (2008) “Innovation and Intervention in Primary School Education – Inclusive and Child Friendly Education.” Quetta: Balochistan Department of Ed Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 77 É um bom jogo para ajudar as crianças na matemática e na escrita, ao mesmo tempo que estão a ter uma atividade física. O jogo pode ser jogado dentro da sala de aula ou no recreio da escola. Dê aos alunos uma lista das coisas que precisam de ser feitas todos os dias. Isto ajuda as crianças com PHDA a tornarem-se responsáveis. Muitas destas crianças querem saber o que é que vai acontecer a seguir. Não apreciam necessariamente surpresas e dálhes grande satisfação e um sentimento de realização quando podem assinalar na sua lista as tarefas que foram executadas. PERTURBAÇÃO DO ESPECTRO DO AUTISMO (PEA) A designação perturbação do espectro do autismo é um conceito abrangente que compreende a designação de autismo, síndrome de Asperger (também conhecido por autismo de alto desempenho) perturbação autista e autismo clássico (também conhecido por autismo de Kanner). A informação deste capítulo abordada as crianças com autismo e síndrome de Asperger. Todas as crianças (e adultos) com perturbação do espectro do autismo apresentam dificuldades em três áreas principais, como se explicita na Figura 1. Contudo, as formas como estes três défices se manifestam variam enormemente de uma criança para outra. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 78 Figura 1: A Tríade de Défices. Perturbação do Espectro do Autismo Compreensão Social e Comportamento Comunicação Social Dificuldade em: Dificuldade em processar e reter a informação verbal e não-verbal Compreender as relações e os limites dessas diversas relações que estabelecemos com os outros Gerir as partes não estruturadas do dia Trabalhar de forma cooperativa Compreender as situações, pessoas, lugares que eles próprios não tenham experimentado Compreender o sentido do “eu” Dificuldade com: A ironia, piadas e sarcasmo Uso social da linguagem Interpretação literal Linguagem corporal, expressão facial e gesto Ter sensibilidade diferente para os 5 Compreender a causa e o efeito sentidos, por exemplo, hipersensível para sons específicos que podem provocar sensação de dor Rigidez de Pensamento e Dificuldades com a Imaginação Social Dificuldade: Em lidar com as mudanças de rotinas Com os conceitos relativos ao tempo Com a empatia Com a generalização Estas três grandes áreas são também referidas como “a tríade de défices”, ou “os três défices”: Compreensão social e comportamento social Comunicação social (verbal e não-verbal) Rigidez de pensamento e dificuldades com a imaginação social. Estes tipos de comportamento também podem ser observados individualmente em crianças não-autistas de vez em quando, mas a perturbação do espectro do autismo somente é aplicada como diagnóstico quando o comportamento da criança compreende todos os três défices. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 79 Algumas crianças com outro tipo de défice, nomeadamente de défice auditivo e défice do desenvolvimento, podem desenvolver comportamento autista se forem excessivamente não-estimulados e/ou sofrerem abuso. As crianças que sofram de depressão, ou que vivam em situações de stresse extremo (guerra, fome, desastres naturais, etc.) podem também desenvolver comportamento autista a menos que as suas necessidades sejam satisfeitas adequadamente por casas, escolas e comunidades. As causas da perturbação do espectro do autismo, em muitos casos, não são conhecidas. E podem ser também diferentes de uma criança para outra. Mais recentemente, tem vindo a aumentar o número de crianças diagnosticadas com autismo. Não se sabe porque isso tem acontecido. Poderá refletir uma melhor compreensão médica do PEA e, assim, dar mais força a este diagnóstico; um aumento efetivo na incidência da perturbação do espectro do autismo; o ser diagnosticado com autismo seja mais "aceitável" para muitos pais do que défice do desenvolvimento; ou pode ser uma combinação de todos estes três fatores. A maioria das crianças com a perturbação do espectro do autismo vive com as suas famílias. Muitas destas famílias estão sob uma grande pressão e stresse. Os pais estão em cuidado cada hora do dia (nos casos em que não são aceites na escola), noite, fins-de-semana e férias. Idealmente, eles necessitariam de serviços de apoio constante para poderem gozar uma boa qualidade de vida. Muitas crianças com autismo exigem uma supervisão permanente. Sugestões Práticas para o Ensino de Crianças com PEA e Como Fazer que as Escolas sejam Amigas do PEA Todos os professores deverão encarar como sendo da sua responsabilidade o responder às necessidades de todas as crianças, especialmente as necessidades das crianças com incapacidade – incluindo as necessidades das crianças com perturbação do espectro do autismo. Um professor deve disponibilizar-se como uma pessoa de recurso da escola. Nomear um professor (o ideal é que seja voluntário) que se constitua o ponto de referência para a perturbação do espectro do autismo. Ele deve receber formação e, posteriormente, fornecer orientações aos colegas que tenham contato com ou ensinem crianças com perturbação do espectro do autismo. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 80 Encorajar os professores com conhecimento e experiência no ensino e no trabalho com crianças com perturbação do espectro do autismo a partilhar o seu conhecimento com outras pessoas dentro e fora da escola - incluindo programas de sensibilização da comunidade - bem como com as autoridades educacionais e em outras escolas próximas. Atualizar continuamente a escola com um "banco de informações" sobre os novos desenvolvimentos relacionados com a perturbação do espectro do autismo para o uso de professores, administradores escolares e os pais. Consultar pessoal especializado - professores de apoio de unidades de apoio ou de centros de recursos. Estimular a criação de um sistema de apoio dinâmico. Assegurar que as crianças com PEA tenham planos individuais de aprendizagem feitos para satisfazer as suas necessidades. Promover oportunidades para as crianças com PEA poderem generalizar as capacidades aprendidas num dado ambiente para outras situações ou ambientes. EPILEPSIA A epilepsia é uma situação médica que produz crises afetando várias funções mentais e físicas. Uma pessoa que tenha duas ou mais crises é considerado como tendo epilepsia. Uma crise acontece quando uma breve e forte onda de atividade elétrica afeta parte ou todo o cérebro. As crises podem durar de poucos segundos a alguns minutos. Elas podem ter muitos sintomas, desde convulsões e perda de consciência a algo que não é sempre reconhecido como convulsão pela pessoa que as sofreu ou pelos profissionais de cuidados saúde: olhar no vazio, tremer os lábios, ou movimentos bruscos dos braços e pernas.80 Isto pode parecer muito assustador - e por isso é que a "bruxaria" está associada com esta condição em muitas culturas e tradições. Abaixo encontra uma lista com aquilo que deve e não deve fazer: 81 80 Epilepsy Foundation. (2008) “About Epilepsy - What Is Epilepsy?” na página URL: http://www.epilepsyfoundation.org/about/ [8 Jan. 2008]. 81 Epilepsy Support Association, Uganda. (2005) Epilepsy Torch. Vol. 1, Issue 1, July 2005. Kampala: EASU, p. 11 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 81 Mantenha a calma Proteja a cabeça da criança protegendo-a com uma almofada ou pondo as mãos à sua volta para que a criança não se magoe. Certifique-se de que não há objetos à volta (como cadeiras, mesas, etc.) que possam provocar ferimentos. Deite a criança de lado para que a saliva não caia para a garganta e provoque asfixia. Afrouxe roupas apertadas. Permaneça junto à criança até que ela recupere a consciência plena. Ajude a criança a sentir-se seguro quando recuperar a consciência. NÃO dar nada à criança para beber antes de ela tem "recuperado". NÃO por nada entre os dentes. NÃO limitar os movimentos dos membros. Se possível, encaminhar a criança para um hospital. Se a criança estiver medicada, é muito importante que ela tome a medicamentação todos os dias nas doses e tempo previstos. SINDROME DE TOURETTE A síndrome de Tourette (ST) é uma condição médica reconhecida. Geralmente é hereditária, mas a causa não ainda compreendida. Existem tratamentos; contudo, como na maioria das condições médicas crónicas, não há cura. È uma condição bastante complexa, mas pode ser descrita como uma perturbação do movimentos, uma condição neurológica, ou uma condição neuropsiquiátrica. Afeta todos os aspetos da vida, incluindo a educação. 82 Os sintomas da síndrome de Tourette são tiques, movimentos e sons repetidos – crónicos e involuntários. Uma pessoa com a síndrome de Tourette pode ser capaz de os anular por algum tempo, mas eventualmente acaba por ter de “libertar” os tiques. Os tiques começam geralmente pela idade dos 7 anos e provavelmente persistirão ao longo da vida, embora os 82 Tourette Syndrome (UK) Association. (2008) “TS Facts” na página URL: http://www. tsa.org.uk/ [8 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 82 sintomas geralmente decresçam no final da adolescência. Os primeiros sintomas são geralmente tiques faciais, como movimentos rápidos de piscar os olhos, ou contrações musculares da boca. A síndrome de Tourette pode também iniciar-se com sons, como pigarrear e cheirar, ou mesmo com múltiplos tiques de movimentos e sons. Mesmo na mesma pessoa, os tiques podem variar de diferentes formas: Eles aumentam e diminuem - eles ficam melhor e pior ao longo do tempo. Eles mudam - para um tique e começa a outro. Eles podem ser agravados pelo stresse e pela ansiedade. Eles podem ser acalmados com a relaxação ou a concentração numa tarefa absorvente. Sugestões Práticas no Ensino de Crianças com Síndrome de Tourette A maioria destas sugestões foi sendo discutida anteriormente nos capítulos relativos a outras incapacidades, bem como nos manuais n° 1, n° 4, n° 5 e nº 6 das Ferramentas dos AIAA. Além disso, estas são estratégias para ajudar todas as crianças a aprender melhor e, portanto, irão favorecer o ambiente geral de aprendizagem das nossas salas de aula. Devemos usar estilos de ensino flexíveis. Devemos usar estratégias de aprendizagem de pares e de cooperação. Devemos criar um ambiente de sala de aula acolhedor, amigo da aprendizagem. Devemos tentar reduzir os níveis de stresse, tanto quanto possível, especialmente em relação a testes e exames. Devemos fazer pausas curtas e frequentes durante o ensino. Devemos proporcionar um lugar seguro para as crianças com a síndrome de Tourette para libertar os seus tiques. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 83 Dificuldades Sociais, Emocionais e de Comportamento “Dificuldades sociais, emocionais e de comportamento” é um conceito abrangente e impreciso, e por isso difícil de definir com precisão. Contudo, muitas das crianças e jovens referenciadas com este termo têm dificuldades complexas e crónicas, que as colocam em risco de exclusão da escola e da sociedade.83 O que é considerado um comportamento socialmente aceitável varia grandemente de uma cultura, contexto religioso e de tradições para outra. As dificuldades sociais, emocionais e de comportamento são, por isso, fortemente influenciadas pelas raízes e onde vive a criança em causa. As crianças com diferentes incapacidades podem desenvolver dificuldades sociais, emocionais e comportamentais, se as suas necessidades individuais (principais) não são solucionadas adequadamente pelos pais e professores. O que carateriza as crianças com dificuldades sociais, emocionais e de comportamento?84 85 83 As crianças com dificuldades sociais deparam-se com obstáculos no contacto, jogo e interação com as outras crianças e/ou adultos. As crianças com dificuldades emocionais debatem-se com os seus sentimentos (entre outros: medos, tristeza, solidão, mau humor e depressão). As crianças com dificuldades comportamentais debatem-se com dificuldades no controle de seu próprio comportamento, sendo os Social Emotional and Behavioural Difficulties Association. (2006) “Definitions - SEBD and Its Overlap with Disruptive and Anti-Social Behaviour, Mental Health Difficulties and ADHD” na página http://www.sebda.org/resources/articles/DefiningSEBD.pdf. [14 Jan. 2008]. 84 Anderson, R. (2007) “Mappeoppgave i spesialpedagogikk” (Paper on “Special Pedagogy”) na página URL: http://engel.stud.hive.no/5%20semester/spes%20ped. html [14 Jan. 2008]. 85 Kinge, E. (2000) “Empati hos vuxna som möter barn med särskilda behov“ (Paper on “Empathy Among Adults who Interact with Children with Special Needs”). Stockholm: Studentlitteratur AB. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 84 pais e professores muitas vezes desafiados e provocados pelo comportamento impulsivo, agressivo e imprevisível. As crianças com dificuldades sociais, emocionais e de comportamento: Geralmente comportam-se de forma não habitual Poderão reagir de uma forma inesperada a uma variedade de circunstâncias sociais, pessoais, emocionais ou físicas Ter uma autoimagem negativa, ansiedade, depressão e isolamento Podem evidenciar ressentimento, vingança ou provocação Pode ser calada ou pode ameaçar, interromper, discutir ou protestar Pode ter uma atuação pegajosa ou recusar contato Pode faltar às aulas, ou não ir à escola com frequência Pode deixar de cumprir as regras ou ser perturbador, destrutivo, agressivo ou violento Com frequência pode ser incapaz ou rejeitar trabalhar sem ter uma supervisão direta É inquieto e incapaz de se concentrar Muitas vezes é incapaz e/ou rejeita acabar as tarefas e cumprir as instruções dadas Sugestões práticas para o Ensino de Crianças com Dificuldades Sociais, Emocionais e de Comportamento86 87 86 Devemos tentar descobrir a razão por que a criança sente dificuldades. É importante responder com base numa avaliação informada da situação. Deveremos analisá-la com a criança e, se necessário, com os seus pais de forma a tentar chegar a uma estratégia para juntos resolver o problema. Gateakudemiet. (2007) “Om konsekvenspedagogikk” (About Consequence Pedagogy) na página URL: http://www.gateakademiet.com/content/view/20/35/ [20 Apr. 2008]. 87 Astani / Watterdal, p. 2. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 88 85 As crianças devem ser estimuladas (intelectualmente, socialmente, emocionalmente e fisicamente) de acordo com as suas capacidades individuais. Se propomos sistematicamente à criança tarefas demasiado complicadas para ela as realizar, ou demasiado fáceis, aborrecidas, ou irrelevantes para as suas vidas, algumas crianças poderão reagir com “mau comportamento” para provocar uma resposta, chamar a atenção ou criar uma distração para o seu sentimento de “incompetência”. Devemos estar cientes de que todas as crianças se sentem apreciadas e valorizados independentemente das suas capacidades, incapacidades ou origens sociais. Se as crianças se sentirem ignoradas, algumas podem "comportar-se mal" para chamar a atenção. Devemos explicar claramente as consequências que o comportamento e ações diferentes terão. Dessa forma, as crianças vão perceber/entender que elas não só escolhem o seu comportamento, mas também influenciam a resposta a esse comportamento. A responsabilidade da resposta é, portanto, transferida dos pais e professores para as próprias crianças, porque elas vão ter que experimentar as consequências de suas ações. A resposta deve ser aferida e estar de acordo com as informações que as crianças receberam antes de elas tomarem a decisão de agir de determinada maneira. (Por favor consulte o Boletim Especializado nº 1 - Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem88 para ter ideia das consequências alternativas diferentes para o comportamento destrutivo e negativo - comportamento que é auto destrutivo ou interfere e limita a liberdade dos outros. Devemos desenvolver um conjunto de regras ajustáveis para cada uma das crianças da turma. Comece com apenas alguns, porque de outra forma eles ficarão fartos. Estas regras devem ser desenvolvidas em colaboração com a criança e seus pais. UNESCO Bangkok. (2007) Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive LearningFriendly Environments Specialized Booklet 1 – Positive Discipline in the Inclusive, Learning –Friendly Classroom. Bangkok: UNESCO. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 86 Cada criança deve ter as suas regras para cumprir, que exijam diferentes níveis de autocontrolo e disciplina tendo em conta as suas capacidades para controlar o seu próprio comportamento. Comportamento - Atividade Na Segunda-Feira cada criança pendura na parede uma folha de papel com o seu nome escrito. Cada um corta cinco pedaços de papel colorido diferente, que podem ter uma forma recortada diferente (carro, casa, flor, animal, pessoa, ou algo similar). Cada dia em que eles conseguem cumprir as suas regras, são autorizados a colar uma das peças recortadas no papel com seu nome. No final da semana eles terão um quadro completo. O professor escreverá uma mensagem para os pais nas costas do papel que comenta de forma construtiva o desempenho da criança, por exemplo, Esta semana a Zara cumpriu todas as regras e seu comportamento melhorou. Isto dá à criança uma oportunidade para ter sucesso e poder ter controlo sobre o seu próprio comportamento. Com esta atividade os alunos também aprendem quais as consequências de cumprir ou quebrar as regras. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 87 Surdocegueira A surdocegueira, que também é designada por défice sensorial duplo, é mais do que uma “mera” combinação de défice visual e auditivo. As pessoas com surdocegueira podem não ser totalmente surdos e totalmente cegos. Muitas pessoas com surdocegueira têm alguma audição e visão residual, enquanto outros tem uma perda praticamente total dos dois sentidos.89 Quando uma pessoa tem um défice de ambos os sentidos, audição e visão, ela tem dificuldades com os sentidos principais que nos ajudam a desenvolver a comunicação, interagir com os outros, e aprender sobre o que nos rodeia. Noventa e cinco por cento daquilo que aprendemos acerca de nós próprios e do mundo que nos rodeia chega-nos através da visão e da audição. A perda destes dois sentidos significa que a mobilidade da pessoa, a comunicação e o acesso à informação são seriamente afetados. A surdocegueira tem muitas causas. Quando alguém nasce com dificuldades conjuntas de visão e audição isto é designado por “surdocegueira congénita” A causa mais comum da surdocegueira ocorre quando a mulher grávida é afetada com o vírus da rubéola nos primeiros três meses de gravidez. Nos países em que os bebés e jovens meninas são imunizados contra o vírus da Rubéola, nascem menos crianças com surdocegueira. Se estes problemas ocorrem mais tarde, são designados por “surdocegueira adquirida”. Isto pode ser devido (entre outras razões) a acidentes ou doenças (Incluindo a meningite), condições genéticas ou envelhecimento. Em alguns casos, as pessoas podem nascer com uma predisposição, como na síndrome de Usher, em que se vai progressivamente perdendo a visão e a audição. A pessoa com Usher tem uma condição genética em que podem nascer com surdez ou dificuldades auditiva e gradualmente começar a perder a visão.90 A grande maioria das pessoas que são surdo-cegas têm alguma audição e/ou visão residual e utilizam esses sentidos, complementando-os com língua gestual, dactilologia e/ou Braille, para comunicar. 89 A-Z to Deafblindness. (2002) “Information About Deafblindness” na página http://www.deafblind.com/info-db.html [13 Apr. 2008]. 90 Sense. (2008) “About Deafblindness” na página http://www.sense.org.uk/aboutdeafblindness/index.htm [7 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 88 Se a perda de audição e visão acontece antes de se ter aprendido um alfabeto regular, as letras (não baseadas no alfabeto escrito) e as palavras podem ser transmitidas por sinais na palma da mão, como um meio de comunicação. Se uma criança perde a audição e a visão, depois de ter aprendido um alfabeto regular, as letras podem ser transmitidas por sinais na palma da sua mão, como um método de comunicação. No entanto, se uma criança nasce surdo-cego ou perde a visão e/ou audição antes de ser alfabetizado (com letras regulares), deve recorrer-se uma linguagem gestual diferente.91 Quando aprendemos, as nossas experiências auditivas corroboram as nossas experiências sensoriais visuais e outras, criando assim uma compreensão mais holística. Crianças nascidas com surdocegueira aprendem de forma diferente, porque eles não têm os dois sentidos intactos. Isto é diferente para os alunos que são cegos, mas ouvem, ou aqueles que são surdos, mas podem ver. As crianças que nascem com surdocegueira necessitam de um ensino especialmente adaptado. Sugestões Práticas para o Ensino de Crianças com Surdocegueira92 91 O primeiro passo será descobrir qual a audição e/ou a visão residual que a criança tem, se for o caso. Se a criança tem visão e/ou audição residual, será necessário tentar fazer uso dela para desenvolver a comunicação e incentivar a aprendizagem, o desenvolvimento e a participação. Devemos tentar atrair e desenvolver a comunicação oferecendo nossas mãos sob as mãos da criança, em vez de apenas delinear nas suas mãos sinais formais. Os sinais poderão não ter ainda qualquer significado para ela. Se a criança se oferece para compartilhar os seus brinquedos connosco, nós devemos seguir o que as suas mãos estão fazendo e compartilhar a exploração da criança. Devemos oferecer as nossas mãos à criança, ao lado das dela, e permitir que a criança as use, em vez de nós conduzirmos as suas mãos. The Interpreter’s Friend. (2001) “Teaching Deafblind Children” na página http:// www.theinterpretersfriend.com/db/tchg-db-chldrn.html [4 Aug. 2008]. 92 Ibid. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 89 Devemos seguir o exemplo da criança. Devemos identificar e tentar interpretar os esforços de comunicação da criança, antes de podermos esperar que a criança entenda os nossos sinais formais. Se uma criança manifestar muito poucos sinais, devemos aceitar os seus sinais imitando-os sob as suas mãos, em seguida, repetir o sinal para o que achamos que ela nos está tentando dizer (mais uma vez com as nossas mãos debaixo das dela). Se a criança tem uma visão funcional suficiente, devemos modelar os sinais dentro do seu campo de visão. Devemos tentar construir sobre a comunicação da própria criança um sistema mais formal assim que a criança esteja pronta. Esta abordagem irá promover também uma relação de confiança com a criança, dando mais controlo â criança e permitindo que ela aprenda o poder da sua comunicação. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 90 Défices Múltiplos Os alunos com défices múltiplos têm uma combinação de dois ou mais dos seguintes défices:93 Défice auditivo Défice visual Défice físico Défice desenvolvimento/intelectual Perturbação do espectro do autismo Défice da fala-linguagem A população de alunos com défices múltiplos é extremamente pequena. Contudo, cada aluno tem necessidades individuais e específicas. Os obstáculos que as crianças com dois ou mais défices enfrentam são geralmente mais complexos e desafiantes do que os obstáculos com que as pessoas com um défice se debatem. DÉFICE MÚLTIPLO94 O termo "défice múltiplo" não se limita a identificar apenas “qualquer combinação" de dois défices. "Défice múltiplo" pode ser resultante de uma combinação de défices físicos, sensoriais e/ou cognitivos que levam a dificuldades graves de interação, comunicação e aprendizagem. A surdocegueira também é considerada um défice múltiplo. Uma criança que perdeu as suas pernas, usa uma cadeira de rodas para se movimentar e tem baixa visão, por esta definição, não é considerado uma criança com défice múltiplo. No entanto, uma criança que nasce com défice auditivo, tem baixa visão, e um défice grave de desenvolvimento (portanto, altamente diminuída em comunicação, movimento e compreensão do ambiente) tem um défice múltiplo. 93 Queensland Study Authority. (2008) “Multiple Impairment” na página URL: www.qsa. qld.edu.au/yrs1to10/special-needs/docs/multiple-impairment.pdf [9 Jan. 2008]. 94 Skjørten/Sletmo/Watterdal, p. 5. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 91 A criança com paralisia cerebral grave, défice do desenvolvimento, e défice visual também tem um défice múltiplo. As oportunidades de aprendizagem desta criança são reduzidas porque ela não pode se movimentar para explorar o seu ambiente físico. Os processos cognitivos são limitados por causa do défice de desenvolvimento e a compreensão visual do mundo é reduzida por causa da má visão e da pobre capacidade de processar a informação visual. A compreensão de que a criança ouve, mesmo que a audição não esteja afetada, vai, contudo, ser limitada porque a capacidade de processar a informação auditiva é prejudicada (défice do desenvolvimento). Tudo isto vai levar a uma redução da qualidade de vida, a menos que seja proporcionada uma educação sensata e bem adequada à situação. Para uma criança com défice múltiplo, cada défice que a criança tenha agrava o impacto dos restantes. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 92 Onde Aprender Mais – Recursos de Internet Muitas paginais Web com informação interessante relativa à educação de crianças com diferentes capacidades em ambientes inclusivos têm um acesso restrito ou infelizmente cobram para se poder aceder aos seus recursos materiais. As páginas seguintes possibilitam um acesso grátis a muito do seu material apresentado na página: Informações Gerais sobre Incapacidade e Informações Específicas Sobre Muitas Incapacidades Diferentes British Stammering Association http://www.stammering.org/ National Centre for Promotion of Employment for Disabled People (India) http://www.ncpedp.org/ Child Rights Information Network http://www.crin.org Disability News and Information Service (India) http://www.dnis.org/ Disabled People International http://www.dpi.org/ Enabling Education Network http://www.eenet.org.uk Inter-Agency Network for Education in Emergencies http://www.ineesite.org Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos IDP Norway http://idp-europe.org National Center for Learning Disabilities http://www.ncld.org/ National Dissemination Center for Children with Disabilities http://www.nichcy.org/ Public Broadcasting Service http://www.pbs.org/wgbh/misunderstoodminds/ The University of Warwick http://www2.warwick.ac.uk/services/tutors/disability/ ADHD Attention Deficit Disorder Resources http://www.addresources.org/ Autism TeacherNet - Autistic Spectrum Disorder http://www.teachernet.gov.uk/wholeschool/sen/asds/ Deaf-Blindness Sense http://www.sense.org.uk/ Hearing Impairment American Sign Language http://www.lifeprint.com/ British Sign Language http://www.british-sign.co.uk/signing.php Pacific Audiology Center http://www.drmehr.org/index.html 93 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Public Broadcasting Services (PBS) Sound and Fury http://www.pbs.org/wnet/soundandfury/index.html Royal National Institute for the Deaf (RNID) http://www.rnid.org.uk/ Special Learning Difficulties Mencap http://www.mencap.org.uk/ Visual Impairment Lighthouse International http://www.lighthouse.org/ Centre for Eye Research Australia - University of Melbourne http://www.lowvisiononline.unimelb.edu.au/index.htm Royal National Institute for the Blind (RNIB) Sort-it is a web page for visually-impaired children who are ages 11 to 16. http://www.sortit.org.uk/welcome.htm 94 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Contatos e Publicações UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education Asia-Pacific Programme for Education for All (APPEAL) 920 Sukhumvit Road Prakanong Bangkok 10110 Thailand EENET Asia Jalan Panglima Polim X No. 9 Kebayoran baru Jakarta Selatan 12160 Indonesia Enabling Education Network C/O Educational Support and Inclusion School of Education, University of Manchester Oxford Road Manchester M13 9PL UK UNICEF Regional Office for East Asia and Pacific (EAPRO) P.O. Box 2-154 Bangkok 10200 Thailand UNICEF Regional Office for South Asia (ROSA) P.O. Box 5815 Lekhnath Marg Kathmandu Nepal 95 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 96 Glossário PHDA A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção é uma categoria neurológica relacionada, em parte, com a química e anatomia cerebral. O PHDA manifesta-se através de um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade que ocorre com mais frequência e com mais severidade do que observado normalmente nas pessoas com níveis de desenvolvimento equivalentes.95 Audiograma O audiograma é uma “fotografia” da sua audição. Os resultados da sua audição são registados num audiograma. As linhas verticais de um audiograma representam o tom ou frequência. As linhas horizontais representam o volume ou intensidade.96 (Ver exemplo na página 35) Comunicação A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é um Aumentativa e termo usado para descrever processos extra de ajudar as Alternativa pessoas que tenham dificuldades em comunicar pela fala ou escrita. O CAA ajuda-os a comunicar mais facilmente. O CAA compreende meios diferentes: Sinais e gestos, cartões com imagens, livros e computadores especiais. O CAA pode ajudar as pessoas a compreender o que lhes é dito bem como poderem expressar aquilo que desejam.97 Autismo/Perturbação O autismo é uma incapacidade do desenvolvimento ao longo do Espectro do da vida. Faz parte do espectro do autismo e por vezes é Autismo descrita como uma perturbação do espectro do autismo (PEA). A palavra “espectro” é utilizada porque, enquanto todas as pessoas com autismo partilham três áreas principais de dificuldade, no seu caso ou situação é afetada de maneiras muito diferentes. As três áreas 95 ADHD Information from Eli Lilly and Company. (2007) “What is ADHD?” na página URL: http://www.adhd.com/parents/parents_adhd.jsp [16 Nov. 2007]. 96 Mehr, A. (n.d.) “Audiograms - Understanding Your Audiogram” na página URL: http://www.drmehr.org/audiograms.html [9 Jan. 2008]. 97 International Society for Augmentative & Alternative Communication. (n.d.) “What is AAC” na página URL: http://www.isaac-online.org/en/aac/what_is.html [19 Feb. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 97 principais de dificuldade que todas as pessoas com autismo partilham são por vezes designadas como a “tríade de défices” São elas: Dificuldade coma comunicação social Dificuldade com a interação social Dificuldade com a imaginação social É algo difícil construir uma noção clara da perturbação do espectro do autismo porque as pessoas com esta condição não “parecem” incapacitadas. Os pais de crianças com PEA dizem muitas vezes que as outras pessoas pensam simplesmente que o seu filho é algo travesso; e aos adultos autistas pensam que eles são incompreendidos.98 Braille Braille é um sistema de leitura e escrita para pessoas que são cegas e para alguns que têm baixa visão. O Braille é composto por pontos em relevo dispostos uniformemente em espaços ou células de letras quadrangulares. Em cada célula é possível colocar seis pontos – três na vertical e dois na horizontal. Escolhendo de um a vários pontos numa posição ou combinação determinada, podemos fazer 63 caracteres diferentes. Para ajudar a definir estes carateres pelos seus pontos, os seis pontos da célula são numerados de 1, 2, 3 de cima para baixo na parte esquerda e 4, 5, 6, de cima para baixo na parte direita. O Braille compreende oficialmente dois níveis. O Braille nível 1 é completamente escrito por extenso, consistindo do alfabeto, pontuação, números e sinais específicos do Braille. O Braille nível 2 (Braille Abreviado) compreende o nível 1, bem como palavras abreviadas e letras representando palavras). Existem códigos Braille para a grande maioria de línguas da Ásia. Para além das que usam letras latinas, as línguas que usam os carateres Chineses, Japoneses e Coreanos, bem como outros alfabetos diferentes como o Árabe, Cirílico, Hindi, Cingalês, Tâmil e Tailandês (só para mencionar algumas) também existe código Braille para elas. 98 The National Autistic Society. (2008) “Autism: What Is It?” na página URL: http://www.nas.org.uk/nas/jsp/polopoly.jsp?d=211 [16 Nov. 2007]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 98 Paralisia Cerebral A paralisia cerebral resulta de uma lesão de parte do cérebro, durante os primeiros estádios de desenvolvimento, que controla os movimentos. Em muitos casos, ocorre durante a gravidez. Contudo, também pode ocorrer durante o nascimento ou de lesões cerebrais na primeira infância (como faltas de oxigénio por quase afogamento, meningite, traumatismo craniano ou quedas). As crianças com paralisia cerebral podem ter dificuldades em: Mover partes do corpo ou todo o corpo. Falar bem como comunicar não verbalmente (as expressões faciais podem não revelar as verdadeiras emoções – ou seja, a criança parece sorrir, mas está realmente zangada ou triste). Movimentos involuntários dos membros (espasmos). Comer e beber. Fraqueza ou tensão dos músculos. Equilíbrio e coordenação. Postura (capacidade em assumir uma posição corporal determinada e mantê-la). Implante Coclear Um dispositivo eletrónico que fornece sentido de audição a surdos congénitos ou crianças, adolescentes e adultos surdos na pré-linguagem. É um tipo de ajuda auditiva sofisticado. O recetor é cirurgicamente implantado atrás do ouvido com elétrodos no ouvido interno (cóclea). A parte externa do dispositivo compreende um microfone e um transmissor. Os elétrodos são posicionados no ouvido interno para fazerem contato com partes não danificadas do nervo auditivo.99 Comunicação A comunicação inclui línguas (incluindo a língua gestual), painéis de texto, Braille, comunicação tátil, texto aumentado, multimédia acessível, bem como meios de comunicação escritos, áudio, de linguagem simples, aumentativa e alternativa, tal como podem ser 99 Skådalen Resource Centre. (2007) “Glossary of Hearing-related Terms.” Oslo: Skådalen Kompetansesenter, p. 12. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 99 processados através de tecnologias de informação e comunicação.100 Surdez Em termos audiológicos, uma pessoa diz-se surda se tem uma perda de tal modo severa, (mesmo usando ajudas para a audição ou outro equipamento técnico) que lhe dificulta tanto a perceção auditiva da fala como o controle de sua própria voz. Em termos culturais, Surdo (com S maiúsculo) indica uma pessoa que prefere comunicar principalmente através de língua gestual.101 Surdocegueira A Surdocegueira (também conhecida por défice sensorial duplo) é mais do que uma combinação do défice visual e auditivo. As pessoas com surdocegueira podem não ser totalmente surdas e totalmente cegas. Muitas pessoas surdo-cegas dispõem de alguns resíduos de audição e visão, enquanto outros têm uma perda praticamente completa de ambos os sentidos. Noventa e cinco por cento do que aprendemos sobre nós e o mundo que nos rodeia chega-nos através da visão e audição. Com a falta destes dois sentidos, a mobilidade, a comunicação e o acesso à informação é profundamente afetado.102 Decibel O decibel (dB) é a unidade usada para medir a intensidade do som (volume ou sonoridade). O ouvido humano pode ouvir tudo desde o seu dedo a raspar suavemente sobre a pele a um ruidoso motor a jato. Na escala de decibéis, o som audível mais baixo (perto do silêncio total) é de 1 dB. Um som 10 vezes mais forte terá 10 dB. Um som 100 vezes mais forte do que o som a rondar o silêncio é de 20 dB. Um som 1000 vezes mais forte do que o som a rondar o silêncio total é de 30 dB. Qualquer som acima dos 85 dB (ou seja, um cortador de relva, a buzina de um carro ou um concerto rock) pode causar perda de audição, sendo a perda relacionada tanto com a intensidade do som como o tempo de exposição a esse som.103 O decibel, relacionado com o défice de audição, deverá ser relacionado com o 100 United Nations. (2006) “Convention on the Rights of Persons with Disabilities - Article 2” na página http://www.un.org/disabilities/convention/conventionfull.shtml [11 Jan. 2008]. 101 Skådalen Resource Centre, p. 14. 102 A-Z to Deafblindness. (2002) “Information about Deafblindness” na página URL: http://www.deafblind.com/info-db.html [13 Apr. 2008]. 103 How Stuff Works. (2008) “What Is a Decibel and How Is It Measured?” page on URL: http://www.howstuffworks.com/question124.htm [5 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 100 Hertz (frequência ou sonoridade) porque os dois em conjunto dão uma medida mais adequada da perda de audição. Défice do Défice do desenvolvimento compreende um défice desenvolvimento cognitivo congénito (presente ao nascimento) ou um défice cognitivo adquirido precocemente. O défice do desenvolvimento é um termo coletivo para um conjunto diverso de condições ou diagnósticos com a característica comum de que a capacidade para aprender e lidar com a sociedade é deficiente.104 Incapacidade A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) define a incapacidade como uma resultante da interação entre a pessoa com défice e as barreiras ambientais e de atitude que pode enfrentar.105 Ou: Uma limitação ou incapacidade para desempenhar uma atividade de uma forma ou dentro de parâmetros considerados normais para o ser humano, maioritariamente resultante do défice.106 Síndrome de Down A síndrome de Down é causada por material genético extra no cromossoma 21. Isto pode ser devido a um processo chamado de não disjunção, em que os materiais genéticos não se conseguem separar durante uma parte fundamental da formação de gâmetas, resultando num cromossoma extra (chamado, trissomia 21). A causa desta não disjunção não é conhecida, embora por vezes esteja correlacionada com a idade da mulher. O material adicional presente influencia o desenvolvimento e conduz ao estado conhecido como síndrome de Down. O nome “síndrome de Down” vem do médico, Dr. Langdon Down, que primeiro escreveu sobre as suas descobertas em 104 The Norwegian Association for the Developmentally Disabled. (2005) Strategy for NFU’s Work for International Solidarity - 2006 and Beyond . Oslo: Norsk Forbund for Utviklingshemmede. 105 Disabled People International. (2005) “DPI Position Paper on the Definition of Disability” na página URL: http://v1.dpi.org/lang-en/resources/details.php?page=74 [15 Nov. 2007]. 106 Barbotte et al, p. 1047. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 101 1866. Em 1959, a trissomia 21 foi identificada como a causa da síndrome de Down.107 Discalculia A discalculia é um défice na capacidade para calcular e resolver problemas matemáticos. A dificuldade reside na receção, compreensão e produção de informação quantitativa e espacial (a localização física dos objetos e as relações métricas entre os objetos). Dislexia A dislexia é um défice na capacidade para ler. Afeta o processo de aprendizagem entre as crianças, jovens e adultos nos aspetos de literacia e por vezes “numeracia”. Pode identificar-se também uma fragilidade persistente na memória de curto termo e de trabalho, velocidade de processamento, competências sequenciais, perceção auditiva e/ou visual, linguagem falada e aptidões motoras. Disgrafia A disgrafia é um défice na capacidade de escrever, fazendo com que a escrita da pessoa seja distorcida ou incorreta. Nas crianças, o problema geralmente aparece quando fazem iniciação à escrita. Fazem as letras de tamanhos e com espaços desadequados, ou escrevem palavras incorretas ou com erros, apesar de receberam toda a instrução. 108 Dispraxia A dispraxia é um défice ou imaturidade na organização do movimento. As capacidades motoras grosseiras e finas (relacionadas com o equilíbrio e coordenação) e motricidade fina (relacionada com a manipulação de objetos) são difíceis de aprender e difíceis de reter e generalizar. Escrever torna-se particularmente difícil e leva muito tempo; o domínio do teclado do computador também é difícil de adquirir, com o é a manipulação de muitos instrumentos musicais. Intervenção precoce A intervenção precoce consiste em serviços multidisciplinares proporcionados às crianças do nascimento aos 5 anos de idade para promover a saúde e 107 World Health Organization. (2008) “Genes and Human Disease: Genes and Chromosomal Diseases” na página URL: http://www.who.int/genomics/public/geneticdiseases/en/index1.html [9 Jan. 2008]. 108 National Institute of Neurological Disorders and Stroke. (2007) “What is Dysgraphia” na página URL: http://www.ninds.nih.gov/disorders/dysgraphia/dysgraphia.htm [18 Apr. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 102 bem-estar da criança, fortalecer as competências emergentes, minimizar atrasos no desenvolvimento, corrigir incapacidades existentes ou emergentes, prevenir a deterioração funcional, e promover a parentalidade adaptativa e funcionamento global da família. Estes objetivos serão conseguidos através de uma ação educativa gradual e individualizada, e serviços terapêuticos para as crianças associadas a intervenções conjuntamente planeadas com as suas famílias.109 Epilepsia Epilepsia é uma situação médica que provoca crises, que como consequência afetam uma variedade de funções mentais e físicas. Quando uma pessoa tem duas ou mais crises, considera-se que tem epilepsia. Uma crise sucede quando uma descarga breve e forte de atividade elétrica afeta parte ou todo o cérebro. As crises podem durar de poucos segundos a poucos minutos. Elas podem ter diferentes manifestações, desde convulsões e perda de consciência, até algo que não é geralmente reconhecido como crise pela pessoa que as tem (nem por profissionais de cuidados de saúde): olhar no vazio, tremer dos lábios, ou movimentos involuntários dos braços e pernas.110 Handicap A consequência social ou ambiental do défice físico ou de (desvantagem) desenvolvimento. Ninguém tem um handicap. Porém, muitas sociedades tendem a fazer as pessoas com handicap (com défice ou défice visto como tal) ao criar obstáculos ou rejeição, discriminação e preconceito que os inibe de fazer escolhas e tomar decisões que afetam as suas vidas. Por isso, um handicap está relacionado com incapacidades (limitações) de uma comunidade ou sistema, e não com as capacidades de um indivíduo. O termo “handicap” já não é considerado adequado porque é estigmatizador e discriminativo.111 Hemofilia Uma qualquer de uma série de doenças hereditárias, em que a normal coagulação do sangue esteja deteriorada. Os hemofílicos sofrem de hemorragias prolongadas em feridas pequenas, bem como hemorragias internas 109 Shonkoff, J./Meisels, S. (2007) Handbook of Early Childhood Intervention. Cambridge: Cambridge University Press, p. XVIII. 110 Epilepsy Foundation. (2008) “About Epilepsy - What Is Epilepsy?” na página URL: http://www.epilepsyfoundation.org/about/ [8 Jan. 2008]. 111 Watterdal/Tahir, p. 4. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 103 dolorosas sem causa aparente. A hemofilia está geralmente associada com o género biológico da pessoa. É transmitida somente através da linha feminina para as crianças masculinas. As pessoas do género masculino afetadas pela forma mais comum são incapazes de sintetizar o Fator VIII, uma proteína implicada na coagulação do sangue. Apesar do tratamento existente, os hemofílicos estão em risco perante o menor incidente de hemorragia. A doença é dolorosa e pode causar deformação das articulações de que resulta défice físico.112 Deficiência Auditiva O termo usado para definir um grau de perda auditiva (de ligeiro a profundo) e que geralmente é atenuado através de amplificação. A maior parte das pessoas com deficiência auditiva são falantes (comunicam usando a sua voz), embora um pequeno número aprenda língua gestual. Geralmente participam socialmente recorrendo à sua audição residual com ajudas auditivas, leitura labial e dispositivos de apoio para facilitar a comunicação.113 As pessoas com deficiência auditiva e as pessoas surdas são também designadas como pessoas com défice auditivo. Défice auditivo Défice auditivo é um termo global utilizado para referir a perda completa de audição (surdez) ou perda parcial de audição (deficiência auditiva) Défice Qualquer perda ou perturbação temporária ou permanente de uma estrutura ou função do corpo, seja ela fisiológica ou psicológica. Um défice é uma perturbação que afeta funções que são essencialmente mentais (memória, consciência) ou sensoriais, órgãos internos (coração, rim), a cabeça, o tronco ou os membros. 114 Défice intelectual O défice intelectual é um termo usado para descrever um conjunto de condições que compreendem a deficiência no funcionamento cognitivo e nas competências adaptativas. Por outras palavras, o défice intelectual pode afetar a capacidade da pessoa para raciocinar e compreender, para adquirir competências e dominar etapas do 112 Watterdal/Tahir, p. 4 Deafness Research Foundation. (2002) “Glossary of Medical Terms” na página URL: http://www.drf.org/hh_dictionary/glossary.htm [18 Apr. 2008]. 114 Barbotte et al., p. 1047. 113 Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 104 desenvolvimento dentro de faixas etárias “padrão”, para resolver problemas e adaptar-se a novas situações, e para aprender e recordar tão facilmente como os outros.115 Neste manual utilizamos os termos “défice intelectual” e “défice do desenvolvimento” para referir o mesmo conjunto de situações. Inválido Este conceito não deverá continuar a ser usado porque é discriminador e estigmatizante. No passado era muito usado referindo pessoas com défice físico (motora e mobilidade). Infelizmente “entrou” em muitas línguas diferentes a partir do Inglês e continua a ser usado em bastantes países, muitas vezes sem os utilizadores perceberem bem o que o termo realmente significa. Ele deve por isso ser imediatamente substituído por: “crianças ou pessoas com incapacidade”, ou mais especificamente por: “crianças/pessoas com défice físico, défice motor ou défice de mobilidade.” Linguagem A linguagem compreende as línguas faladas e de sinais, bem como outras formas de linguagem não faladas.116 Baixa Visão A baixa visão é uma redução significativa da função visual que não pode ser totalmente corrigida por óculos usuais, lentes de contacto, tratamento médico e ou intervenção cirúrgica. A baixa visão afeta pessoas de todas as idades em casa, no trabalho e na escola. Tem repercussões nas atividades diárias como ler, escrever, movimentar, praticar desporto e ver televisão. As pessoas com baixa visão severa podem ser classificadas como legalmente cegas.117 Atraso mental O conceito de “atraso mental” é entendido por muitos como sendo discriminatório e estigmatizador. Por isso tem sido substituído em muitos países como termos “défice intelectual” ou “défice do desenvolvimento”. 115 Play C.A.R.E. (2002) “What is Intellectual Impairment.” na página URL: http://www.playcare.unitingchurch.org.au/intellectual.html [18 Apr. 2008]. 116 United Nations. (2006) “Convention on the Rights of Persons with Disabilities - Article 2“ na página URL: http://www.un.org/disabilities/convention/conventionfull.shtml [11 Jan. 2008]. 117 CPS – The Centre for the Partially Sighted. (2008) “Low Visioon Library: About Low Vision” na página URL: http://www.low-vision.org/?dispage=10 [18 Apr. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 105 Défice de mobilidade A mobilidade pode ser deficitária por um leque diverso de situações. Umas são de natureza permanente e outras temporárias. Estas incluem paralisia cerebral, artrite, distrofia muscular, esclerose múltipla (EM)118 e doença de Parkinson juvenil. As lesões também podem afetar temporariamente ou permanentemente a mobilidade. Défice motor O défice motor é uma incapacidade que afeta a capacidade de controlar o movimento muscular, geralmente limitando a mobilidade. São exemplos a paralisia cerebral, artrite, paralisia, perda de membros e função diminuída em um ou mais membros. O impacto destas condições na aprendizagem, no desenvolvimento e na participação social varia de criança para criança. Enriquecimento Ao promover a inclusão, estamos a reconhecer que a mútuo diversidade é um enriquecimento para todos os implicados. A experiência demonstra que a diversidade proporciona: Enriquecimento para todas as crianças implicadas, nomeadamente os que se debatem com obstáculos e necessidades temporárias e/ou permanentes Enriquecimento para todos os professores que estão direta ou indiretamente implicados Enriquecimento para todos os pais e famílias envolvidas Enriquecimento para a comunidade escolar com um todo Enriquecimento para a comunidade em geral.119 Narcolepsia A narcolepsia é uma disfunção do sistema cerebral que regula o sono/vigília, que até há pouco tempo era de origem desconhecida. A sua manifestação mais comum é a sonolência excessiva e ataques de sono diurnos. Outro sintoma observável é uma perda súbita de controlo muscular desencadeada por diversão, raiva ou excitação, a que se chama cataplexia. Outros sintomas da narcolepsia são: Paralisia temporária depois de adormecer ou acordar. 118 A esclerose múltipla é mais comum entre os adultos, contudo, também pode surgir em crianças e jovens.. 119 Uganda Ministry of Education and Sports. (2008) Towards Inclusive Education in Uganda – A Right-Based Education for All. Kampala: Ministry of Education and Sports, p. 17. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 106 Alucinações – imagens e sons claros – depois de adormecer ou acordar. Momentos (por vezes períodos mais longos) de comportamento de transe em que atividades rotineiras são repetidas em “piloto automático” (comportamento automático). Interrupções frequentes do sono noturno por períodos de vigília, nos quais ocorre aceleração da frequência cardíaca, estado de alerta, ondas de calor, agitação, e um desejo intenso por doces.120 Paraplegia A paraplegia implica a perda da sensibilidade e movimento das pernas e em parte, ou em todo, o tronco (costas). Isto varia de acordo com o nível da lesão. Geralmente, quanto mais inferior for a lesão menor é a perda de movimento e sensibilidade. A paraplegia geralmente resulta de uma lesão na espinal medula na parte central ou inferior.121 Défice físico O défice físico é uma condição músculo-esquelética (implicando as articulações, membros e músculos associados) e/ou neurológica (implicando o sistema nervoso central, ou seja, o cérebro a espinal medula ou nervos periféricos) que afeta a capacidade de mover ou coordenar os movimentos voluntário.122 Tinito O tinito é a perceção de som nos ouvidos ou cabeça sem a presença de estímulo externo presente. Há quem lhe chame “zumbido nos ouvidos” ou “barulho na cabeça”. Ninguém mais pode ouvir o som a não ser a pessoa que sofre de tinito. Os sons que a cada pessoa experiencia podem variar, desde um único som, a uma mistura parecida com assobio, som de campainha, zumbido ou apito. Se eles forem suficientemente intensos, podem interferir com a vida do dia-a-dia da pessoa. Muitas pessoas com défice de audição sofrem de tinito. O tinito pode também afetar de 120 Narcolepsy Association UK. (n.d.) “What is It?” na página URL: http://www.narcolepsy.org.uk/narcolepsy/whatisit/show_page [20 Feb. 2008]. 121 Combo AG. (2007) “Definition” na página URL: http://paraplegiconline.com/edefinition01.htm [9 Jan. 2008]. 122 Queensland Government. (n.d.) “What is Physical Impairment?” na página URL: http://education.qld.gov.au/studentservices/learning/disability/generalinfo/physical/pi2. html [18 Apr. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos 107 forma permanente a audição dos que sofrem desta condição.123,124 Síndrome de A síndrome de Tourette (ST) deve o seu nome ao Dr. Tourette George Gilles de la Tourette, um neurologista Francês que primeiro o relatou na literatura médica em 1885. É uma condição médica reconhecida, que é muitas vezes hereditária, mas cuja causa não é ainda compreendida. Existem tratamentos, mas não a cura, como acontece com muitas condições médicas crónicas. È uma condição muito complexa e pode ser descrita -- com igual precisão - como um distúrbio de movimento, uma condição neurológica, ou de uma condição neuropsiquiátrica. O ST afeta todos os aspetos da vida, como a educação, as relações e a empregabilidade.125 Princípios do Design Desenho universal significa que a conceção de produtos, Universal ambientes, programas e serviços devem ser utilizáveis por todas as pessoas, na maior medida possível, sem a necessidade de adaptação ou design especializado. “O design universal” não deve rejeitar os dispositivos de apoio para grupos específicos de pessoas com incapacidade quando isso for necessário.126 Défice visual Défice visual é um conceito alargado para descrever a perda completa ou parcial da visão. 123 A-Z to Deafblindness. (2002) “Tinnitus” na página URL: http://www.deafblind.com/ tinnitus.html [13 Apr. 2008]. 124 American Tinnitus Association. (2007) “About Tinnitus” na página URL: http://www. ata.org/abouttinnitus/index.php [13 Apr. 2008]. 125 Tourette Syndrome (UK) Association. (2008) “TS Facts“ na página URL: http://www.tsa.org.uk/ [8 Jan. 2008]. 126 United Nations. (2006) “Convention on the Rights of Persons with Disabilities Article 2” na página http://www.un.org/disabilities/convention/conventionfull.shtml [11 Jan. 2008]. Ensinar Crianças com Incapacidades em Ambientes Inclusivos Unesco Bangkok Programa Ásia-Pacífico de Educação Para Todos Mom Luang Pin Malakul Centenary Building 920 Sukhumvit Road, Prakanong, Bangkok 10110, Tailândia E.mail: [email protected] Website: www.unesco.org/bangkok Tel +66 2 3910577 Fax : +66 2 3910866 108