FÁTIMA MISSIONÁRIA JUNHO 2009 ACTUALIDADE final, as
Transcrição
FÁTIMA MISSIONÁRIA JUNHO 2009 ACTUALIDADE final, as
ACTUALIDADE Triunfo da Índia plur A maior democracia do mundo mobilizou como primeiro-ministro, mas dentro de um 714 milhões de eleitores e demorou um mês ou dois anos é provável que ceda o lugar a Rahul a escolher um novo parlamento e um novo Gandhi, herdeiro da mais famosa dinastia política governo. Acabou por reeleger o Partido do indiana e para já convidado para ser ministro. Congresso, a histórica formação que conduziu O discurso extremista da oposição nacionalista o país à independência dos britânicos, em 1947, hindu recebeu a rejeição da população e que tem dominado a vida política nestas seis e a aposta renovada no Congresso confirma décadas. Manmohan Singh deverá manter-se o ideal de pluralidade que define a Índia texto Leonídio Paulo Ferreira* foto Lusa final, as gentes da Índia sabem o que é bom para elas e sempre escolhem o melhor”, declarou Sónia Gandhi, a líder do Partido do Congresso, numa conferência de imprensa conjunta em Nova Deli com o primeiro-ministro Manmohan Singh. As duas figuras mostram bem aquela que é a força do Congresso, a sua mensagem de uma Índia plural. Ela, apesar de chefiar a mais famosa dinastia política do país, é uma católica que nasceu em Itália. Ele, um tecnocrata prestigiado, pertence à religião sikh, que representa apenas três por cento dos 1.100 milhões de indianos. Nos últimos cinco anos, souberam formar uma dupla invencível. Viúva de Rajiv Gandhi, um ex-primeiro-ministro Eleitores indianos, em Deli, escolheram 85 deputados entre 1.315 candidatos, incluindo 119 mulheres. Ao lado: Sónia Ghandi, líder do Partido do Congresso, felicita Manmohan Singh eleito líder parlamentar do seu partido 10 FÁTIMA MISSIONÁRIA JUNHO 2009 assassinado, Sónia conduziu o Congresso à vitória em 2004, depois de uma década na oposição, mas resistiu à tentação de chefiar o executivo. Sabia que as suas origens estrangeiras poderiam causar polémica e por isso preferiu que fosse Singh a assumir o governo. A fórmula resultou tão bem que, nas legislativas que decorreram entre meados de Abril ACTUALIDADE ural e meados de Maio (714 milhões de eleitores obrigam a espaçar a ida às urnas), o Congresso reforçou a sua votação e, juntamente com os aliados, dispõe agora de uma maioria sólida no Lok Sabha, a câmara baixa do parlamento indiano. Ao mesmo tempo, os seus rivais do Partido Barathiya Janata sofreram uma pesada derrota, com os indianos claramente a rejeitarem a sua ideologia nacionalista hindu, apesar de oito em cada dez habitantes do país seguirem essa religião politeísta com milhões de deuses. Dos 545 assentos do Lok Sabha, 204 deverão ser ocupados por membros do Congresso (eram 145). E no seu conjunto, a Aliança Progressista Unida, que apoia Singh, controlará 260 lugares. Fica perto da maioria absoluta e, sobretudo, muito menos refém da simpatia dos partidos comunistas do que antes. Os nacionalistas hindus, por seu lado, passam de 122 deputados para 118, muito por culpa do seu actual líder, Lal Krishna Advani, um octogenário que ficou célebre por ter incentivado, em 1992, à destruição da mesquita de Ayodhya, um incidente que causou enormes tensões entre a maioria hindu e a minoria muçulmana, cerca de 13 por cento da população, mas mesmo assim uns 150 milhões de pessoas. No passado, os nacionalistas hindus chegaram a estar no governo, mas o seu chefe era Atal Vajpayee, um poeta com fama de moderado que até conseguiu que a economia indiana se modernizasse, aproveitando as primeiras reformas lançadas em 1991 por Singh quando era ministro das Finanças de um anterior governo do Partido do Congresso. Contudo, os nacionalistas hindus nunca conseguiram que o sucesso económico da sua governação liberal, com taxas de crescimento anual de nove por cento atingissem as camadas mais pobres (700 milhões de pessoas, sobretudo das chamadas castas baixas). Isso acabou por ditar o regresso do centro-esquerda ao poder em 2004, decidido a combater A família que se confunde com a nação Apesar do nome, não descendem do Mahatma Gandhi, mas sim do seu grande companheiro e primeiro primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru. Os Gandhi, ou os Nehru-Gandhi, deram já três primeiros-ministros ao país e preparam-se para ter um quarto, se se confirmar que Rahul sucederá, no próximo ano, a Manmohan Singh. Aos 38 anos, o filho de Rajiv e Sónia é já uma figura popular na política nacional. E não é de descartar que a sua irmã Pryianka, até agora dedicada a criar os dois filhos, também se aventure, um dia, na política. Afinal, a história da família e a da nação confundem-se e de forma dramática. Nehru, primeiro-ministro durante quase duas décadas, foi o único a morrer de forma natural. A sua filha Indira Gandhi (apelido do marido) foi assassinada em 1984 pelos guarda- a contradição do aclamado país dos génios da informática ser também o dos bairros-de-lata miseráveis com esgotos a correrem a céu aberto. Com a Índia ainda a tentar recuperar dos atentados terroristas que no ano passado fizeram quase 200 mortos em Bombaim e a enfrentar os desafios da crise económica mundial, Singh prepara-se para uma tarefa difícil. Mas suspeita-se -costas sikhs. E o neto, Rajiv, foi morto por uma terrorista tamil, em 1991, quando fazia campanha para voltar a ser primeiro-ministro. Nos últimos anos tem sido Sónia, viúva de Rajiv, a li derar a família e o Partido do Congresso, mas por ser italiana evitou sempre cargos governativos, esperando a hora dos filhos assumirem o seu destino. Desavindos com o Partido do Congresso, dois outros Gandhi estão hoje no Parlamento, mas nas fileiras dos nacionalistas hindus: são Maneka, viúva do outro filho de Indira, Sanjay, e o filho de ambos, Varun, que na campanha se destacou pelo discurso anti-islâmico que choca com a tradição de pluralismo da família, não só política como pessoal (apesar de Nehru ser um hindu e brâmane, o marido de Indira, Feroz, era um zoroastrista e Sónia é católica). que em 2010 este homem de 78 anos poderá passar o testemunho a Rahul Gandhi, filho de Sónia, que foi agora convidado a integrar o executivo como ministro. O Congresso governou a Índia durante 50 dos 62 anos de independência e quase sempre com um membro da dinastia Nehru-Gandhi à sua frente. Tudo aponta que em breve voltará a acontecer. *jornalista do Diário de Notícias JUNHO 2009 FÁTIMA MISSIONÁRIA 11
Documentos relacionados
Rajiv Gandhi - Cultura de Paz
convidado oficial do governo em Tóquio, logo após seu discurso sobre a política no parlamento japonês em 29 de novembro de 1985. Em seu discurso, ele disse: "Vamos banir as diferenças ideológicas q...
Leia mais