Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da
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Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da
Expediente O sinal mais visível de que o agronegócio brasileiro tem reagido positivamente à crise financeira mundial, apesar de o quadro de dificuldades e de previsões pessimistas, é a manutenção do dinamismo do setor, que sendo a base econômica de mais de quatro mil municípios, proporciona o superávit da balança comercial e, ainda, financia o déficit dos demais setores da nossa economia. Mesmo sob o impacto da crise, o Brasil plantou uma área equivalente a do ano anterior e tem a estimativa de queda na produção de 8%, o que significa voltar ao nível da penúltima safra. O recuo se dará, principalmente, na produtividade, devido à diminuição do uso de tecnologia e de fertilizantes. Vale lembrar, no entanto, que a seca no Sul do País, no início de 2009, também contribuiu para esse resultado. Com a intenção de garantir renda ao produtor, o governo federal reforçou o orçamento que dá cobertura às operações de apoio à comercialização para 2009. Com aporte suplementar de R$ 1,5 bilhão, o total disponível passa a ser de R$ 5,2 bilhões, o que permitirá a garantia dos preços mínimos aos produtores evitando que uma redução dos preços no mercado possa comprometer a situação financeira da agropecuária. Nesta edição, divulgamos o comportamento do mercado do agronegócio brasileiro e indicamos alguns exemplos de como os produtores brasileiros estão usando a pesquisa agropecuária e a experiência para superar os efeitos da crise. Conselho Editorial Wilma Annete Cesar Gonçalves, Neuza Arantes Silva, Tony Geraldo Carneiro, Jorge Caetano Junior, Helinton José Rocha, Débora de Freitas Oliveira Pinheiro, Marconni Sobreira, Eliana Maria Martins Ferreira. Redação Editor Executivo Adélia Azeredo Editor Rosa Reis Projeto Gráfico SLA Propaganda / Mauro YBarros Fotografia Antônio Carlos, Nilton Matos da Silva Impressão Gráfica Brasil Colaboradores Eline Santos, Hilda Guimarães, Inez De Podestà, Jean Peverari, Kelly Beltrão, Laila Muniz, Liz Weingartner, Paulo Henrique Tavares, Regina Rabelo, Suely Frota, Thiago Ferreira. Circulação Nacional Tiragem: 50 mil exemplares Distribuição Assessoria de Comunicação Social [email protected] Central de Relacionamento 0800-704199 © 2009 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é do autor. Catalogação na Fonte Biblioteca Nacional de Agricultura – BINAGRI Terra Brasil. Ano 1, nº 1 (dez. 2008) - . – Brasília : Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento V. ; 27 cm. Quadrimestral ISSN 1984-204X 1. Agricultura. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Assessoria de Comunicação Social. II. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGRIS A01 CDU 630 SUMÁRIO 03 ESPECIAL 08 POLÍTICA AGRÍCOLA 15 PESQUISA E TECNOLOGIA 24 DEFESA SANITÁRIA 35 PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL 41 COMÉRCIO E MERCADOS Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da maior planície alagável do mundo Brasil é o quarto país que mais contrata seguro rural. Foram destinados R$ 176 milhões para o ano de 2009 Há 20 anos a vassoura-de-bruxa mudou a realidade social no sul da Bahia. A pesquisa é a esperança daqueles que não desistiram do cacau Brasil amplia controle de resíduos e contaminantes em produtos de origem vegetal Produto orgânico contribui para qualidade de vida A crise e as oportunidades para o agronegócio brasileiro 3 Terra Brasil Abril/2009 ESPECIAL Evaldo Rosa aprimorou o trabalho, graças ao Navega Pantanal Boas práticas agropecuárias com educação e inclusão digital Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da maior planície alagável do mundo D espertar com o alvorecer, tomar um café da manhã reforçado extraído do campo e ir para a lida até a chegada da noite. Essa é a rotina do homem pantaneiro, sujeito simples de vestes típicas, bem- humorado e com vigor para o trabalho. O que não é difícil em se tratando do cenário, um dos mais belos do mundo, o Pantanal. Lugar que seu Evaldo Rosa conhece como ninguém, afinal são 64 anos morando no sul-mato-grossesense, com a mulher e filhas. Capataz da fazenda Rancharia (Corumbá/MS), não pôde estudar pelas dificuldades da vida. Agora, aprimora seu “ofício” com as aulas interativas do projeto Navega Pantanal. 4 Terra Brasil Abril/2009 “A gente já sabia fazer muitas coisas no dia-a-dia, mas nem sempre do jeito certo”, declarou ao se referir a Doma Racional de Bovinos, um dos módulos do projeto. “Eu também aprendi a fazer o casqueamento dos cavalos do jeito certo. Antes fazia com o facão e hoje uso só ferramentas adequadas”, afirmou. De olhos voltados para o conhecimento, a governanta da fazenda, esposa de seu Evaldo, Josefina Diniz, 56, a “dona Fióca”, também fez questão de retornar à escola e aprender técnicas de poda de árvores frutíferas, artesanato, cultivo de hortaliças e plantas. Ela expandiu a horta cultivada na propriedade, deu vida e cores à fachada de sua casa, com flores cultivadas com o adubo caseiro. 5 Terra Brasil Abril/2009 O uso da internet contribuiu ainda para aumentar a auto-estima dos trabalhadores, que passaram a se sentir importantes para a sociedade. “ Tô até com um projeto para ervas medicinais como aprendi no curso”, complementa Fióca que, como o marido, teve de abandonar cedo os estudos para trabalhar. Nascida no Pantanal sul-matogrossense, Fióca estampa um sorriso de orgulho e satisfação ao falar do lugar onde mora, apesar das dificuldades da região. Ela conta que os computadores utilizados para as aulas já ajudaram a salvar a vida de uma adolescente de 15 anos. “A menina começou a sentir uma forte dor no peito, durante os ensaios da festa junina da escola. O sinal do rádio amador tava ruim e sem telefone. Usamos o computador para pedir ajuda. Um avião de Rio Verde, município mais perto daqui, veio buscar a moça para levar pro hospital”, relatou. Além facilitar a comunicação na região, a internet auxiliou na aprendizagem dos alunos, na revisão e nas pesquisas e conversas com moradores de outras localidades. “A gente aprendeu brincando. Tinha muitas fotos e desenhos. Era fácil entender o que o professor ensinava”, disse o adolescente Luís Otávio Arruda da Silva, 14. “As aulas eram interessantes, dava para ver muita coisa, pesquisar na internet e tirar dúvidas”, completou o jovem Leandro Correia Ferreira, 14. Com metodologia desenvolvida para a região, o projeto atendeu alunos de várias faixas etárias, inclusive nãoalfabetizados. O peão, Cícero Zacarias de Melo, 31, aprendeu a zelar pela higiene na hora de vacinar o rebanho. “Antes a gente só lavava a seringa, não sabíamos esterilizar corretamente. Agora aprendemos que é preciso limpar ela certo para aplicar os medicamentos”, disse. A mudança desse e de outros comportamentos dos agricultores trouxe tranquilidade ao pecuarista, Luciano Leite de Barros, 49, para administrar sete mil cabeças de gado orgânico, em 14 mil hectares. Os 15 funcionários da fazenda Rancharia, incluindo o proprietário, assistiram as aulas com os temas de interesse de cada um. “Eles entenderam que fazem parte da fazenda e começaram a tomar conta que precisavam anotar tudo o que faziam, desde o nascimento do bezerro ao número da vaca. Isso me deu mais confiança de deixar a propriedade nas mãos deles, já que venho pra cá só duas vezes por mês”, enfatizou Barros ao ressaltar que todo o rebanho é rastreado seguindo as normas sanitárias. Segundo o pecuarista, o uso da internet contribuiu ainda para aumentar a autoestima dos trabalhadores, que passaram a se sentir importantes para a sociedade. “Às vezes eu fico sabendo das notícias da fazenda através do MSN dos meninos. Eu tô lá em Campo Grande e entra o Tiaguinho na internet e diz: “oi tio!” Daí eu pergunto: “o que Barco transportando equipamentos e utensílios 6 Terra Brasil Abril/2009 7 Terra Brasil Abril/2009 o povo fez no campo hoje?” E ele responde todo feliz: “Isso não tem preço”, concluiu Barros. Para esse trabalho, 25 bases foram montadas em escolas públicas municipais e estaduais na região pantaneira de Mato Grosso do Sul (ver gráfico). Todas são informatizadas, com sinais de satélite para voz, imagem e dados, possibilitando a todos participarem de aulas interativas, internet e vídeos didáticos. As aulas virtuais, que tratavam de assuntos relacionados ao agronegócio, foram ministradas na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp/Anhanguera), em Campo Grande/MS. Os 67 módulos trabalhados seguiram cinco eixos temáticos: Práticas Agropecuárias, Inclusão Digital, Fortalecimento de Práticas Pedagógicas, Empreendedorismo e Administração e Melhoria da Qualidade de Vida. O projeto Navega Pantanal, uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento (Mapa) e da Fundação Manoel de Barros (FMB), seria para o setor agropecuário, prejudicado pela distância e falta de fluxo das informações, acabou por incluir a questão social das famílias ribeirinhas, uma vez que as temporadas de cheias dificultam o deslocamento dos moradores e a prática de atividades essenciais para a população e a economia daquela região. “Já estamos sentindo falta das aulas. Ainda temos muito que aprender”, reclama Fióca. 8 Terra Brasil Abril/2009 Pequena história A realidade das famílias pantaneiras é condicionada à distância entre as fazendas e ilhas em relação às cidades mais próximas e ao ciclo das cheias, que ocorre de novembro a março. Durante esse período, as águas da parte alta da bacia (pla-nalto) escoam para a parte baixa (planície) formando lagos, conhecidos como baías. Para romper o isolamento geográfico e tecnológico das comunidades e setores produtivos do Pantanal sul-mato-grossense foi criado o Projeto Navega Pantanal. Idealizado em 2006, foi executado em 2007 e 2008. “O projeto nasceu com muita descrença e a participação da comunidade surpreendeu”, ressaltou o professor Celso de Souza Martins, 49. As bases funcionavam em escolas públicas das prefeituras ou pelo governo estadual, em propriedades rurais. Os alunos se deslocavam por mais de 70 quilômetros a cavalo ou remando barcos, durante mais de quatro horas. As aulas eram aos sábados, mas durante a semana os participantes acesssam o programa. Foram trabalhados 67 módulos. O canal estabelecido com o homem pantaneiro supriu a carência de meios de comunicação na região, já que o sinal de telefone celular praticamente inexiste e o rádio amador é precário. Nas bases do Navega Pantanal, os moradores contaram com um canal aberto 24 horas para dialogar, obter informações e tirar dúvidas sobre as aulas. Em 2007, foram realizadas 14 mil capacitações. Os professores Eloty Schleder e Gustavo Nadeu Bijos apresentaram os módulos Apicultura Básica e Divisão de Enxames, no ciclo evolutivo das abelhas. A médica veterinária Melissa Amin mostrou as alternativas de aproveitamento do leite, conscientizando sobre a importância dos cuidados com a higiene, desde a ordenha até a fabricação do queijo, no módulo Produção de Queijo Minas Frescal. O Pantanal é a maior planície alagada do planeta, com área de 150 mil quilômetros quadrados, concentrados em Mato Grosso do Sul (65%) e Mato Grosso (35%), habitada por aproximadamente 650 espécies de aves, 264 espécies de peixes, 50 de répteis, 80 de mamíferos e vasta vegetação. A professora Silvia Gervásio coordenou o módulo Manejo do Lixo Doméstico no Ambiente Pantaneiro. Os alunos aprenderam também sobre Manejo de Vaca de Cria e o Mexilhão-Dourado na Bacia do Rio Paraguai e o Uso do Fogo no Pantanal. Segundo o professor Martins, a diferença de comportamento e interesse das comunidades ficou evidente, sentiram-se valorizadas e assistidas. “Isso gerou resultados em sistemas de produção alternativos e aperfeiçoamento das técnicas aplicadas”, informa Martins. O Mapa e a FMB contaram com os parceiros Pró-Reitoria de Extensão da Universidade para o Desenvolvimento do estado e da Região do Pantanal (Uniderp/Anhanguera), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Administração Regional de Mato Grosso do Sul (Senar-Ar/MS), Embrapa Gado de Corte, Embrapa Pantanal, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Parque Regional do Pantanal, Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de MS (Famasul), Secretaria Estadual de Educação e prefeituras dos municípios de Aquidauana, Corguinho, Corumbá, Miranda, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso. “Foi uma experiência única em áreas longínquas no País e no mundo.” 9 Terra Brasil Abril/2009 Bases de atividade do Projeto Navega Pantanal no Mato Grosso do Sul Rompendo barreiras Na base de Paraguai-Mirim, muitas crianç as e adultos nunca tinham visto um aparelho de televi são. “Foi um ganho social para a comunidade. Eles navegaram na internet, trocando informações, global izados. Nós fizemos um link e a imagem voltou e quando eles se viram na tela ficaram maravilha dos”, conta o professor, Júlio César de Albuqu erque Setti, 52, coordenador pedagógico do pro jeto. Na comunidade indígena dos Guatós, div isa com Mato Grosso, a instalação da base foi uma verdadeira aventura, com o acesso apenas por barco ou avião. No local já tinha escola, um telefone público, mas não havia sinal de internet. “Quando começamos a trabalhar e divulgar alguma coisa na internet, a comunidade nos procurou. Os índios se inc luíram no projeto. Eles são apicultores, trabalham com a pes ca, cultivam banana, arroz irrigado, melancia e abóbora, par a a subsistência da comunidade, que vive na ilha de Insua” , destacou Setti. No final do ano passado, as comunidades ribeirinhas do rio Paraguai participaram de aulas sobre apr oveitamento da carne do peixe. Na falta de energia elétri ca para armazenar as iscas e os peixes utilizados para o con sumo e vendidos para turistas, abriam, filetavam e salgavam os pescados, que eram desidratados com o sal. “Através de par ceria com a UFMS nós levamos módulos de saúde, pois constatam os que a maioria das pessoas era hipertensa, com dieta muito rica em sal. Falamos outras maneiras de armazenar o pescado e da agroindústria de linguiça de peixe e peixe defumado. Com isso, eles agregaram valor ao que estavam venden do, além de contarem com formas saudáveis de alimentação “, explicou Setti. Entrevista A professora Maria Valéria Mello Vieira Toniazzo é presidente da Fundação Manoel de Barros, que tem o projeto Navega Pantanal como carro-chefe. Em entrevista à revista Terra Brasil ela fala sobre o trabalho com as comunidades, desenvolvimento e valorização das atividades agropecuárias no Pantanal, parceria com o Mapa e a proposta do novo projeto. Terra Brasil - O que pôde ser constatado em termos de melhorias junto às comunidades trabalhadas ao longo do projeto? A autoestima. Hoje eles se sentem parte do mundo, pois obtêm informações e se comunicam com todos os lugares. O projeto possibilita se tornarem iguais aos outros. Hoje têm interesse em se instruírem, tanto que a própria comunidade apresenta demanda de mais de 300 módulos e nós só executamos 67. Terra Brasil - A principal fonte de renda e subsistência das famílias ribeirinhas está no setor agropecuário. Quais foram os principais temas abordados nesse sentido e que atividades foram desenvolvidas? A bovinocultura desponta, mas existem também a fruticultura e a horticultura, além de outras culturas. Nós pensamos em propriedades rurais e sustentáveis. E quando a gente fala em trabalhar isso, falamos em técnicas de produção da banana, por exemplo, e no aproveitamento total da fruta com receitas culinárias da casca e da fibra da bananeira. O artesanato também tem forte manifestação no Pantanal. Na questão da melhoria da qualidade de vida, falamos muito de saúde, porque não temos médicos. Passamos orientações sobre saneamento básico, higiene pessoal e procedimentos para acidentes domésticos ou com animais peçonhentos. Terra Brasil - O projeto foi desenvolvido junto com o Mapa. Qual é a avaliação dessa parceria? O Ministério da Agricultura acreditou no projeto inovador, sem precedentes, e aportou recursos para o Navega Pantanal. Imagina pedir recursos para uma coisa que ninguém nunca fez? Manter uma estrutura tecnológica em 25 lugares, com o ciclo das águas e estradas mudando a cada estação e levar informação à distância? O ministério acreditou, apoiou, esteve presente nas ações. Não existiria o projeto Navega Pantanal sem o Mapa, até porque é dele o conhecimento da agropecuária que muitas vezes tivemos que recorrer. Terra Brasil - O projeto inicial termina em março. Existe uma nova proposta encaminhada ao Mapa. Algum novo projeto? Sim. A demanda é grande para expansão do projeto. Hoje temos 25 bases e vamos aumentar para 35 nos próximos dois anos. O governo de Mato Grosso nos procurou para instalar algumas bases-piloto no estado. É outra realidade e nós pensamos em iniciar com cinco bases de fácil acesso para a fundação. Os assuntos são de interesse comum: comunidades mato-grossenses no Pantanal. Pretendemos reformular o site para oferecer os vídeos das aulas aos alunos. Estamos detalhando a ampliação do Navega Pantanal em 2009/2010, com o orçamento de cerca de R$ 4 milhões, maior que o da primeira etapa, com de R$ 1,4 milhão. 12 Terra Brasil Abril/2009 Reconhecimento exterior Os resultados do projeto Navega Pantanal surpreendem lideranças políticas, sociais e rurais do País e do mundo, como a Exposição Internacional sobre Água e Desenvolvimento Sustentável (Expo Zaragoza), realizada na Espanha, no segundo semestre do ano passado. Os 100 países participantes apresentaram experiências científicas, tecnológicas e sociais inseridas em um projeto global, eficaz e solidário. O Brasil retratou o Pantanal, o Nordeste e regiões que cultivam matérias-primas para a produção de biocombustíveis. O Navega Pantanal, experiência em gestão de recursos hídricos e participação cidadão apresentada pelo Brasil, impressionou os europeus pelos princípios conceituais e pelas imagens. O projeto tem formato ousado, uma iniciativa histórica de difusão de tecnologias e conhecimento nas comunidades O Navega rurais. Pantanal mostrou que o A probrasileiro faz posta jus à fama de chamou criativo e que a atenção está investindo internapositivamente cional em suas pela moreservas tivação ambientais de comunidades isoladas. Também foi destaque a inserção dessas comunidades em temas atuais. Entrevista Márcio Portocarrero é Secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa e um dos entusiastas do projeto. Sempre acreditou em alternativas que ultrapassam os domínios do ministério para se tornar instrumento privado e público da cidadania das comunidades. Em entrevista à Terra Brasil, ele fala sobre a decisão do Mapa em apoiar o projeto, avalia abrangência e resultados do Navega Pantanal. Terra Brasil - O que levou o Mapa a se tornar parceiro do Navega Pantanal? Em primeiro lugar, o que nos levou a decidir pelo Pantanal foi o isolamento dos agricultores da região, que provoca o êxodo rural e a busca de oportunidades e de conhecimento. Outro motivo foi a necessidade de estabelecer canais de comunicação com produtores rurais, empregados e gerentes para transferir informações sobre questões sanitárias, dos animais e plantas, as boas práticas agropecuárias, o manejo dos rebanhos e alimentação. Terra Brasil - A princípio, o projeto seria para o setor agropecuário, mas acabou abrangendo as famílias ribeirinhas proporcionando a inclusão digital. Como o Mapa avalia isso? A nossa preocupação ao avaliar o projeto foi quanto aos objetivos específicos, ou seja, apresentou disciplinas técnicas e serviu de canal de comunicação para transmitir informações o agronegócio. Ao constatar que o programa fez mais, dinamizou a comunicação na região, como “janela digital para o mundo”, nos sentimos duplamente realizados, pois os recursos destinados ao projeto extrapolaram os benefícios propostos. Terra Brasil - Um novo projeto deverá ser aprovado. Qual é a posição do Mapa? A parceria envolvendo outros ministérios deve acontecer para dar continuidade à iniciativa? Qual a previsão do trabalho? Estamos estudando a proposta do novo projeto e pretendemos apoiálo financeiramente. O projeto foi divulgado nos ministérios, como os da Integração e da Ciência e Tecnologia, demonstraram interesse em parceria. Entendemos que o modelo aprovado deve ser estendido à toda região pantaneira e no MT, e pode servir de instrumento balizador para outras comunidades isoladas do Brasil, como as do semiárido nordestino e da Região Amazônica. Terra Brasil – Por ser mais abrangente, a nova proposta para o Pantanal sul-matogrossense e em Mato Grosso, propõe além da aquisição de mais equipamentos, contratação de pessoal, entre outras novidades. Como o ministério encara as mudanças? Existem recursos disponíveis? Qual seria o repasse público? O ministério avalia o novo projeto como um aperfeiçoamento do primeiro e é natural que tais mudanças impliquem em melhorias. Quanto aos recursos, poderemos ampliar mais nessa etapa, pois aguardamos o descontigenciamento dos recursos do governo federal para dar andamento ao processo de contratação e participação dos ministérios da Integração e da Ciência e Tecnologia, inclusive no orçamento. Ainda não foi definido o valor de repasse para o novo projeto. 13 Terra Brasil Abril/2009 POLÍTICA AGRÍCOLA Governo e produtor assumem prêmio do Seguro Rural Brasil é o quarto país que mais contrata seguro rural. Foram destinados R$ 176 milhões nesta modalidade para o ano de 2009 A s adversidades climáticas podem ocorrer a qualquer momento. Nenhum produtor está imune à ocorrência de chuvas, granizo ou seca nas lavouras. Para se prevenir desses eventos da natureza existe o seguro rural. Como o risco da agricultura é elevado, o governo subvenciona parte do pagamento do prêmio desse seguro. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), permite a cobertura de 76 culturas nas modalidades agrícola, pecuária, florestal e aquícola. No município de Maringá, no Paraná, o engenheiro agrônomo Flávio de Araújo Vieira, de 37 anos, contratou o seguro rural há cinco meses e segurou 455 hectares de milho e soja. “Considero essa ação primordial para prevenção de sinistros. No meu caso, o seguro é feito por meio da média da produtividade do município. Por exemplo, se a média é de três mil quilos por hectare e colho 1,5 mil, tenho o restante coberto”, explicou. Vieira ressaltou, ainda, o aumento da subvenção paga pelo governo a partir desta safrinha de milho, que subiu de 60% para 70%. “Esse percentual é muito bom e os procedimentos para fazer o seguro são simples. Pedi financiamento no banco, passei pela análise de crédito e pela vistoria de um agente, que verificou o plantio da lavoura. Vale ressaltar que esse financiamento não é obrigatório para conseguir contratar o seguro”, enfatizou. Em alguns casos os agricultores recebem indenização. Foi o que ocorreu com Antônio Silvio Agustini, de 46 anos, proprietário de uma fazenda no município de São Pedro do Ivaí/PR. “Desde que adotei o seguro, há doze anos, já tive que acioná-lo quatro vezes. “Em 2004, minha lavoura foi vítima de geada. Em 2005, 2006 e 2008 o plantio de soja apresentou baixa produtividade”, informou. Hoje, o Brasil já é o quarto país que mais contrata o seguro rural, ao somar o sistema privado e a garantia oferecida pela União por meio do Proagro e Proagro Mais. Os primeiros lugares estão com os Estados Unidos, Canadá e Espanha. De 2007 a 2008, as adesões ao programa passaram de 31,6 mil para 60,1 mil. A modalidade agrícola foi a de maior adesão, com 59,7 mil contratos, seguida da florestal, 200 e pecuária, 182. As regiões que mais contrataram o seguro foram a Sul, com 37,9 mil operações, e a Sudeste, 12,5 mil. No ranking dos estados mais assistidos destacam-se o Paraná, com 21,8 mil, Rio Grande do Sul, 10,5 mil, e São Paulo, 8,2 mil. No que se refere 15 Terra Brasil Abril/2009 aos valores segurados, houve salto de R$ 2,7 bilhões, em 2007, para R$ 7,2 bilhões, em 2008. Desses, a soja contribuiu com R$ 3,1 bilhões, o milho com R$ 1,2 bilhão e o arroz com R$ 550,5 milhões, o que representou a cobertura de 4,8 milhões de hectares. O Ministério da Agricultura aplicou em subvenção do seguro rural, em 2008, R$ 157,5 milhões, o que representa mais que o dobro do investido em 2007, (R$ 61 milhões) e cinco vezes mais que a quantia desembolsada em 2006, R$ 30 milhões. Dessa forma, o programa contribuiu para o aumento dos produtores beneficiados, que passou de 16,7 mil, em 16 Terra Brasil Abril/2009 2006, para 44 mil, em 2008. Em 2009, foram destinados recursos orçamentários de R$ 176 milhões, com demanda apresentada pelas seguradoras de R$ 272 milhões. Para possibilitar a cobertura suplementar de resseguro e aumentar a oferta por parte das seguradoras, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 374 de 2008, que cria o Fundo de Catástrofe. De acordo com o diretor do Departamento de Gestão de Risco Rural do Mapa, Welington Soares de Almeida, essa é uma ferramenta importante que contribuirá para que seguradoras e resseguradoras aumentem suas aplicações. “Prin- cipalmente nos estados de clima mais instável, como é o caso do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, em que as responsabilidades desses estabelecimentos irão até um limite. A partir de determinado percentual, passará a ser coberto pelo fundo”, explicou. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães, ressalta que hoje as seguradoras são responsáveis por até 15% do risco das adversidades climáticas e as resseguradoras por 85%, mas ainda existe a possibilidade de catástrofes, que podem ocorrer num estado inteiro, potencializando o prejuízo das segura17 Terra Brasil Abril/2009 doras. “Com isso, a criação do fundo será fundamental para dar segurança ao sistema. A nossa meta é agir em conjunto com as seguradoras e resseguradoras e aumentar, neste ano, em 80% a área coberta pelo seguro rural, que alcançou, em 2008, 7%, dos 66 milhões de hectares cultivados com culturas anuais e permanentes. Quando a cobertura está relacionada aos seguros públicos e privados, o número chega a 11 milhões de hectares, o que representa cerca de 20% da área”, destacou. Para o produtor fazer o seguro rural e ter acesso à subvenção é indispensável seguir o zoneamento agrícola. Seguradoras No País oito seguradoras atuam no ramo do seguro rural. Nos Estados Unidos já são 16. A que liderou o número de adesões, em 2008, foi a Aliança do Brasil, ao contratar 37,6 mil operações. De acordo com o diretor técnico dessa companhia de seguros, Wady Cury, a importância segurada chegou a R$ 4,5 bilhões, com cobertura de 3,6 milhões de hectares, o que representa 63% do mercado. “Os agricultores interessados em contratar o seguro rural podem fazer isso por meio das cooperativas, que têm corretoras atuando no sistema. No nosso caso, operamos por intermédio do Banco do Brasil e o processo é feito junto à obtenção do financiamento para custeio”, destacou. Zoneamento O SETOR EM NÚMEROS Para ter direito à subvenção ao prêmio do seguro rural, o produtor deve seguir as indicações do zoneamento agrícola de risco climático. Estudo capaz de minimizar os efeitos de perda da produção. O sistema analisa informações sobre solo, clima e cultivares, indicando a possibilidade de determinado evento climático não coincidir com as fases mais sensíveis das culturas. O estudo é elaborado todos os anos, de acordo com a cultura e unidade da federação. Para verificar se o clima é favorável ao plantio de determinado produto são utilizadas séries históricas com, no mínimo, 20 anos de dados sobre chuvas coletadas de 3,5 mil estações pluviométricas de instituições públicas e privadas no País. Para o produtor fazer o seguro rural e ter acesso à subvenção é indispensável seguir o zoneamento agrícola. Além disso, as financeiras se valem desses estudos para diminuir os riscos de sua carteira de crédito. Veja o desempenho do seguro rural no Brasil nos últimos anos. A nova fase do seguro rural no Brasil, que começou em 2005, teve crescimento acelerado nos últimos três anos. O Governo Federal assumiu valor equivalente a quase metade do prêmio dos produtores no ano passado. “Eles têm papel fundamental na hora de contratar o seguro. Cobrimos as perdas efetivas decorrentes dos efeitos climáticos, mas o agricultor tem que fazer a parte dele que é plantar de forma adequada, utilizar as sementes recomendadas, fazer a correção do solo e, principalmente, no período recomendado pelo zoneamento agrícola”, explicou Wady Cury. 18 Terra Brasil Abril/2009 Programa Criado em 2003 pela Lei nº. 10.823, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural garante o pagamento de parte do prêmio do seguro rural contratado pelo produtor. A subvenção, na modalidade agrícola, varia de 40% a 70% do valor do prêmio do seguro, limitada a R$ 96 mil por ano. No caso da pecuária, florestas e aquicultura, o percentual de subvenção é de 30% do valor do prêmio, limitado a R$ 32 mil por ano. O seguro agrícola cobre, principalmente, perdas decorrentes de adversidades climáticas. A modalidade de pecuária indeniza as mortes de animais destinados ao consumo, reprodução, cria, recria, engorda e trabalho por tração. Já o seguro aquícola cobre morte e outros riscos de animais aquáticos. 19 Terra Brasil Abril/2009 É tempo de colheita de milho, soja e arroz. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá produzir 57,2 milhões de toneladas de soja na safra 2008/2009, em 21,4 milhões de hectares de área plantada. Com isso, permanecerá em segundo lugar no ranking de produção mundial, atrás dos Estados Unidos, que têm previsão de plantio de 80,5 milhões de toneladas. Para o milho, estima-se produção de 50,3 milhões de toneladas e, para o arroz, 12,4 milhões de toneladas. Tempo de colheita para as culturas de milho, soja e arroz 20 Terra Brasil Abril/2009 21 Terra Brasil Abril/2009 Calendário do Plantio e Colheita da Soja torno de R$ 32 a saca de 50 quilos. “Esse valor é conside- rado rentável pelos produtores. Em termos de estoques, o governo tem 600 mil toneladas. Portanto, é possível realizar, no segundo semestre de 2009, leilões de estoque, mas não de intervenção de preços”, explicou. Arroz A colheita de arroz começou na região centro-sul em março e deve terminar em abril. Nas regiões Norte e Nordeste, tem início em abril e deverá ser finalizada em junho. A chuva contribui para a germinação do grão, principalmente no plantio irrigado. Recomenda-se que o solo tenha entre cinco e dez centímetros de água e que a temperatura registre mais de 15ºC. Esses fatores concorrem para o florescimento da planta. O período entre as fases vegetativa e reprodutiva pode ser superior a 120 dias. Por apresentar sensibilidade às adversidades climáticas, os produtores de arroz devem aderir à técnica do zoneamento agroecológico. Assim, é possível identificar a melhor época de plantio para não perder a lavoura. Para o coordenador-geral de Cereais e Culturas Anuais, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Sílvio Farnese, a queda na produção de arroz na Argentina e Uruguai permitirá que os preços do produto per ma neça m no p at a m a r d e 20 0 8, em 22 Terra Brasil Abril/2009 Soja A soja é um grão versátil, com produtos e subprodutos usados pela agroindústria, indústria química e de alimentos. Na alimentação humana pode ser encontrada na fabricação de chocolate e temperos para saladas. Já a proteína de soja está nos ingredientes de massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para bebês e produtos dietéticos. Proveniente da Ásia, a soja começou a ser plantada no Brasil na década de 1970. “Tornou-se a cultivar mais produzida por ser uma commodity economicamente vantajosa para o País, que tem tecnologia e clima favoráveis. Hoje, como segundo maior exportador, nosso maior mercado é Europa, Ásia e China”, ressaltou. De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, José de Barros França Neto, o primeiro passo para um bom plantio é tratar a semente com fungicidas, que protegem de doenças como a ferrugem da soja e de fungos do solo. “Depois, é importante manter a temperatura do solo acima de 18ºC. Além disso, não pode haver chuvas torrenciais no plantio. A colheita ideal é no período sem chuva, que favorece a secagem natural da soja. O ciclo dura até 130 dias. No caso da variedade precoce pode ser de 110 dias”, explicou. Para armazenar o grão é importante que a umidade esteja inferior a 13%. Caso contrário, haverá deterioração da qualidade, pois diminui a quantidade de proteína, que é de 40%, e de óleo, 60%. “Para obter máxima produtividade a melhor época de plantio é no final de outubro e início de novembro, porque a maioria das variedades de soja está mais adaptada ao clima desse período. Os estados do Paraná e Mato Grosso, os maiores produtores, conseguem alcançar três mil quilos por hectare”, enfatizou França Neto. Milho Hoje, 80% da produção de milho se destina à ração animal, especialmente de suínos e aves, e o Brasil é o terceiro maior produtor, atrás dos Estados Unidos e China. De acordo com o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, José Carlos Cruz, a colheita de milho ocorre de 120 a 160 dias após o plantio e o atraso na colheita pode ocasionar a quebra ou tombamento do milho, devido à ocorrência de ventos. “Além disso, há possibilidade de ocorrência de pragas, o que contribuirá para o aumento das perdas e redução da produtividade. Para tanto, o ideal é o produtor colher o grão com 20 a 25% de umidade e efetuar o processo de secagem antes de armazená-lo com umidade de 13 a 14%”, explicou. Sílvio Farnese explica que mais de 20% do patamar do milho foi corrigido em 2008 e a expectativa do Ministério da Agricultura é que o mercado, este ano, gire acima do preço mínimo. O milho 1ª safra está concentrado nos estados do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na região Centro-Sul, a colheita começa em fevereiro com previsão de término em abril. Nas regiões Norte e Nordeste, o início é em maio e o término em julho. Já a safra de inverno é plantada nos meses de janeiro e fevereiro e colhida entre junho e setembro. 23 Terra Brasil Abril/2009 VITICULTURA Produção Vinícola Valduga (Bento Gonçalves/RS) Vinhos: A tradição da Serra Gaúcha C ompanhia agradável e conversas interessantes sugerem um bom vinho. Seja ele branco, tinto, rosé ou espumante, o que importa é a preferência de cada brasileiro. Para isso, é necessário degustá-lo de forma moderada. No município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, é possível encontrar vinícolas em altitudes superiores a 700 metros e acompanhar todo o processo de produção, desde a colheita da uva até o engarrafamento do vinho. 24 Terra Brasil Abril/2009 Além disso, os interessados podem participar de cursos de degustação para saber como segurar uma taça e apurar o paladar. A viticultura brasileira ocupa área de 71 mil hectares, com vinhedos desde o extremo sul do Brasil até regiões próximas à linha do Equador. O Rio Grande do Sul se destaca por contribuir, em média, com 500 milhões de quilos de uva por ano. 25 Terra Brasil Abril/2009 Produção da Vinícola Don Giovanni (Bento Gonçalves/RS) Produção da Vinícola Valduga (Bento Gonçalves/RS) Uma pequena parte é destinada ao consumo in natura e o restante à elaboração de 350 milhões de litros de vinho, o que representa mais de 90% da produção do vinho nacional. Ao todo, 20 mil famílias gaúchas têm, na uva, o salário anual. Depois de escolher o restaurante e a comida, muitos brasileiros ficam indecisos sobre o vinho para tomar. Sóciogerente de uma churrascaria em Bento Gonçalves, Milton Santin, dá algumas dicas: “Para acompanhar massas ou carne vermelha, sugiro os tintos e secos. No caso de carnes brancas, como galeto e peixe, o vinho branco é a melhor pedida. Já para os iniciantes, aconselho vinhos jovens com, no máximo um ano, que são mais leves”, explicou. Segundo Santin, é possível encontrar 150 rótulos de vinhos nas 20 vinícolas da cidade. Os maiores consumidores são homens de 30 a 50 anos. A preferência feminina é pelo vinho espumante doce Moscatel, com teor alcoólico de 7%. “Esses também são os mais utilizados para happy hour e comemorações como formaturas e casamentos. Os preços dos mais vendidos variam de R$ 15 a R$ 30”, explicou. Métodos de elaboração do vinho espumante (em açúcar por litro): 26 Terra Brasil Abril/2009 O período que a uva fica no vinhedo pode variar de acordo com o tipo e destinação do vinho desejado. O diretor-presidente de vinícola Valduga, Joarez Valduga, diz que nos 140 hectares de seus vinhedos, as uvas permanecem seis meses na parreira para produção de vinhos brancos ou tintos jovens. Já no caso dos espumantes, são necessários 24 meses no primeiro estágio. “Isso garantirá a qualidade dos produtos. Em 2008, produzimos 1,2 milhão de litros de vinho, 7% foram exportados para países como Alemanha, República Checa, Suíça e Hong Kong”, enfatizou. No mercado interno, a média anual de consumo é de dois litros por pessoa. Uma das metas do setor para 2009 é aumentar essa quantidade. Segundo o gerente de produção da Vinícola Cave de Amadeu, Ignácio Geisse, 14 hectares de sua propriedade são destinados ao plantio de uva. A produção alcança 126 mil quilos, o que corresponde à colheita de nove mil quilos por hectare. “Os maiores consumidores nacionais são Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo”, ressaltou. Na vinícola Cave de Amadeu os funcionários atuam como sócios e se sentem donos do negócio. “Isso contribui para aumentar a renda, já que não precisam se preocupar com moradia”, explica o engenheiro agrônomo, Mario Geisse. Para dar suporte à fiscalização e ao desenvolvimento da uva e do vinho foi criado o cadastro vitícola. Em 2007, o Rio Grande do Sul registrou 38,5 mil hectares de área cultivada. Teve destaque a cultivar Isabel, que cobriu 10,6 mil hectares. “Podemos usá-la na fabricação de suco, vinho de mesa e consumo in natura. Em segundo lugar aparece a cultivar Bordô, que ocupa 6,7 mil hectares”, explicou a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Loiva Ribeiro de Mello. Selo fiscal A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados aprovou, neste ano, a adoção do selo fiscal para vinhos nacionais e importados. Entretanto, os representantes do setor apresentaram algumas ressalvas. Entre elas, o estabelecimento do prazo de dois anos para avaliação da medida, a colocação do selo dos vinhos importados pelo país de origem (e não nos pontos de internalização do produto), a redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para os produtos genuínos (vinhos) e aumento de tributo para os derivados da uva e do vinho. Entre os benefícios da adoção do selo destacam-se: facilidade na identificação dos produtos, inclusive nos postos de distribuição, controle dos volumes comercializados pelas empresas, inibição da sonegação fiscal e combate à concorrência desleal do setor. Para os desafios de 2009, o presidente da Câmara Setorial, Hermes Zaneti, ressalta a importância de impedir o contrabando, reduzir a carga tributária e intensificar a fiscalização dos produtos. 27 Terra Brasil Abril/2009 Certificação de Armazéns: Brasil tem regulamentação de vanguarda O s prestadores de serviços de armazenagem deverão se adequar, a partir de 1º de janeiro de 2010, às condições estabelecidas pelo Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras (SNCUA), coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A certificação é o reconhecimento da competência técnica e logística para serviços específicos, prestados dentro de um padrão mínimo de qualidade, com requisitos legais estabelecidos para o exercício da atividade. Entre as vantagens da certificação está o aprimoramento técnico das unidades, não só pela qualificação dos seus serviços, mas pela avaliação dos usuários e a sustentabilidade do negócio. 29 Terra Brasil Abril/2009 Certificação lificar os armazéns destinados à guarda e conservação de produtos A assessora de Gestão Estratégica agropecuários. do Mapa, Denise Deckers, confirma que a certificação aumenta O armazenador deixa de ser um a credibilidade brasileira frente prestador de serviços de guarda aos mercados externos. As novas e conservação de estoques para regras estão baseadas em requisitos se tornar um agente de mercado, técnicos obrigatórios e outros reco- parceiro de seus clientes, com mendados. Ela explica que algumas liberdade para comercializar medidas indispensáveis na vistoria mercadorias próprias ou de terda unidade armazenadora, como ceiros, neste caso quando autoripor exemplo, balança rodoviária, zados pelo depositante, afirmou sistema de prevenção a incêndios, a coordenadora de Logística da equipamentos de proteção indi- Produção Agropecuária, da Sevidual, sistema de pré-limpeza e cretaria de Desenvolvimento acompanhamento por responsável Agropecuário e Cooperativismo técnico. do Mapa, Maria Auxiliadora Domingues de O sistema exige comSouza. “A certificação provação do manejo restituirá a credibiliadotado durante o dade do sistema arO sistema de período de armazenamazenador brasileiro, armazenagem é um mento: da recepção à oferecendo condições dos principais elos expedição do produto, de competitividade no entre a produção e passando pelo contromercado globalizado”, o comércio. A safra le de entrada, secagem, acrescenta Souza. brasileira tem peso operações fitossanitásignificativo na rias e controles especíO coordenador da balança comercial ficos para auditorias. Comissão Consultiva e no Produto do SNCUA , Pedro Deckers lembra que Interno Bruto (PIB) Beskow, acredita que os requisitos técnicos e precisa de um as novidades, impleforam definidos para suporte moderno mentadas pela nova os armazéns de grãos e eficiente para e fibras, em ambiente guardar e conservar legislação, vão modernizar e profissionanatural (sem refrigeraa mercadoria. lizar o setor de armação). Já as regras para zenagem e propiciar o armazenamento de produtos agropecuámeios para reduzir rios e seus derivados, as perdas que ainda subprodutos e resíduos, estocados ocorrem. A exigência de certificana forma líquida e em ambiente ção de produtos é uma tendência artificial (refrigerados), serão defi- mundial. “A cada ano, os países nidas posteriormente. importadores, principalmente, O SNCUA vem para exigir regras e europeus e asiáticos, passam a procedimentos de gestão que qua- exigir o processo de informação lificam e habilitam os armazéns. mais detalhado sobre a produção O Mapa aprovou as condições e armazenagem dos produtos técnicas e operacionais para qua- agrícolas”, informa. 30 Terra Brasil Abril/2009 Rastreabilidade Para Beskow chegará o momento de exigência da rastreabilidade total da cadeia agroalimentar. “Quando isso ocorrer, o SNCUA já estará implantado e em condições de atender as exigências do armazenamento”. São atividades que vão desde a definição de requisitos de guarda e conservação, registro das operações da unidade, capacitação técnica dos operadores das estruturas, práticas adequadas de procedimento das operações até as recomendações de controle da qualidade dos produtos, principalmente, no tocante a resíduos tóxicos e microtoxinas. Beskow acredita que essas questões colocam a regulamentação do armazenamento nacional à frente dos praticados nos outros países. “O resultado será um produto de melhor qualidade, tanto para exportação, como para consumo nacional e uma redução sensível das perdas decorrentes dessa atividade”, declara. Pela normativa, a certificação será obrigatória para as pessoas jurídicas que prestam serviços remunerados de armazenagem de produtos a terceiros, inclusive de estoques públicos. De acordo com Deckers, o Mapa pode ampliar a exigência para outras unidades armazenadoras, conforme prevê a legislação. Já unidades armazenadoras não certificadas ficam impedidas da atividade remunerada. O SNCUA será submetido às avaliações periódicas pela Comissão Técnica Consultiva, formada por representantes do Mapa e armazenadores. O sistema de armazenagem no Brasil possui 16,7 mil unidades públicas e privadas, com capacidade para guardar até 127 milhões de toneladas. 31 Terra Brasil Abril/2009 Construção da eclusa no Rio Tucuruí, no Pará Hidrovias reforçam escoamento de cereais e carne para exportação 32 Terra Brasil Abril/2009 As alternativas para escoar a produção agrícola permitem que os agricultores comercializem a preços competitivos e conquistem mercados externos, como Estados Unidos e Europa. A tendência de utilizar ferrovias e hidrovias é crescente em várias regiões do País, do Tocantins ao Rio Grande do Sul. Recentemente, uma cooperativa agropecuária de Tocantins procurou a Companhia Docas do Pará (CDP) para arrendar um terminal de armazenamento e de embarque no porto de Vila do Conde, no município de Barcarena, a 120 quilômetros de Belém. A diretora de Gestão Portuária da CDP, Maria do Socorro Pirâmides Soares, acredita que o arrendamento de espaço físico nos portos públicos para embarcar a produção para outros países facilita a rotina dos produtores e evita a contratação de atravessadores. “A operação portuária sai a preço de custo para o cooperado e sua mercadoria chega ao destino a preços atrativos”, explica a diretora, acrescentando que metade dos 190 hectares de área do porto está disponível para arrendamento. Porto de Vila do Conde Estratégico por sua localização e importância econômica, esse porto é responsável por 75% do movimento de carga do Pará. Está a 7.741 km do porto de Roterdã (Holanda), enquanto o de Santos/SP fica a 10.741 km e o de Paranaguá/PR, a 11.041 km. A capacidade operacional do complexo portuário vai aumentar com obras previstas obras no Programa mento, Biramar Nunes de Lima, o planejamento estratégico do governo prevê que, até 2023, as hidrovias deverão escoar 29% das cargas, as ferrovias, 32%, e as rodovias apenas 33%. “A expectativa é que, em dez anos, tenha-mos uma matriz mais Nova opção de escoamento da produção de grãos e carne com o Porto Vila de Conde (Barcarena/PA) de Aceleração do Crescimento (PAC) orçadas em R$ 100 milhões, destacando-se a dragagem dos berços que permitirá acesso a navios de maior porte. O sistema está recebendo reforço com a construção da rampa roll-on/roll-off, que vai possibilitar a operação de comboio de barcaças fluviais, que transportam cargas provenientes da rede de hidrovias do interior do Pará e de outros estados. O Ministério da Agricultura mantém uma equipe de fiscais da Unidade de Vigilância Agropecuária (Uvagro), que inspecionam a entrada e saída dos produtos do agronegócio no porto. Além de Vila do Conde, o Pará possui os portos de Belém, Miramar, Santarém, Altamira, Itaiuba e Óbidos. 34 Terra Brasil Abril/2009 Cargas refrigeradas Pecuaristas da região Sul mostraram interesse em instalar três plantas de frigoríficos no Pará para exportar carne congelada. O porto está equipado com um terminal de contêineres, o Convicon, para atender à demanda de carga que necessita ser congelada para manter a qualidade essencial do produto. Animais vivos O porto tem estrutura para embarcar também animais vivos. Só no ano passado, mais de três mil búfalos foram transportados para a Venezuela, além de outras remessas para o Líbano. equilibrada, com mais investimentos em ferrovias e hidrovias”, enfatiza o diretor. O uso das hidrovias vem aumentando gradativamente. Dos 42 mil quilômetros de rios navegáveis no Brasil, 8,5 mil (20%) são efetivamente uti- lizados. Pelos cálculos da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga (Anut), 74 milhões de toneladas de grãos foram transportados pelas rodovias brasileiras, 47 milhões pelas estradas de ferro e nove milhões pelas vias fluviais, em 2008. Hidrovias, a navegação interior O uso das vias fluviais no transporte de grãos torna o agronegócio brasileiro mais competitivo. Segundo o técnico da Antaq, José Renato Ribas Fialho, além de transportar grandes quantidades de carga, barcaças e comboios são mais econômicos. “Além disso, as hidrovias são menos poluentes, com emissões de 74 gramas de monóxido de carbono (CO2) a cada mil toneladas por quilômetro, enquanto no modal rodoviário esse número sobe para 219 e, no ferroviário, 104 gramas”, explica. De acordo com o diretor de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- Eclusas da UHETucuruí O reinício das obras das duas eclusas e do canal intermediário no rio Tocantins vai restabelecer a navegabilidade interrompida pela Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT). A eclusa é uma obra de engenharia hidráulica, que facilita a navegação em locais onde há desníveis, como barragens, quedas de água e corredeiras. Na opinião do gerente de Programação e Planejamento das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte), Francisco Eufrantz Fernandes, as eclusas vão vencer um desnível de 72 metros de altura e permitir o tráfego de comboios de até 20 mil toneladas de carga. “A região apresenta grande potencial econômico, em função do desenvolvimento agropecuário e agroindustrial, jazidas minerais e recursos naturais que poderão ser transportados por via fluvial”, informa. Benefícios para a região Para o gerente de Desenvolvimento e Regulação da Navegação Interior, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), do Ministério dos Transportes, Adalberto Tokarski, o projeto vai possibilitar o escoamento de minérios e de cereais para a exportação. “É um importante investimento para a economia da região compreendida entre o sul do Pará e o nordeste de Mato Grosso, que exporta grande parte dos produtos pelos portos de Paranaguá/PR ou de Santos/SP, via modal rodoviário, e pequena parte pela ferrovia Norte-Sul, até o porto de Itaqui/MA. “A expectativa é diminuir o custo do frete no deslocamento de grãos, principalmente, no chamado corredor centro-norte do País” acrescenta. O corredor envolve cinco estados com potencial agrícola - Mato Grosso, Pará, Tocantins (nordeste), Piauí (sudeste) e Maranhão (sul). 35 Terra Brasil Abril/2009 PESQUISA E TECNOLOGIA O Amargo do Chocolate Há 20 anos a vassoura-de-bruxa se instalou e se espalhou nos cacaueiros e mudou a realidade social no sul da Bahia. A pesquisa é a esperança daqueles que não desistiram do cacau “D inheiro perdeu a importância’, costumava dizer o coronel Maneca Dantas tempos depois. Ilhéus e a zona do cacau nadaram em ouro, se banharam em champagne, dormiram com francesas chegadas do Rio de Janeiro”. O trecho do livro São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado, narra a fase de ouro do cacau no sul da Bahia, em meados de 1940. Muita coisa mudou na terra do baiano Jorge Amado, depois que a vassoura-de-bruxa dizimou os cacaueiros (o galho da planta atacada fica com aspecto de uma vassoura, daí o nome). A praga precisa de vento e umidade para se espalhar. E encontrou na 37 Terra Brasil Abril/2009 frutos de ouro Bahia o ambiente propício. Em cinco anos infestou as plantações de cacau. Entretanto, naquela região, restam aqueles personagens, diferentes dos coronéis descritos por Jorge Amado. Em Itabuna/BA, Roberto Pereira - usa roupas comuns e botas de borracha - mostra sua proprieda- 38 Terra Brasil Abril/2009 de com 30 hectares que sobraram após a vassoura-de-bruxa. “Vendi cabeças de gado, imóveis e continuo com esta pequena área. Minha vida é o cacau”, enfatiza. Pereira presenciou o declínio das colheitas que passaram de 460 mil toneladas por ano para menos de um quarto do total. As dele, que colheram três mil arrobas ao ano, agora totalizam 400. Mais de 200 mil pessoas ficaram sem emprego e 100 mil hectares trocaram o cacau pelo pasto. A economia despencou e deixou de circular US$ 1,5 bilhão na região de Ilhéus. Em 1983, o Brasil vendia 55% de cacau em amêndoas passando a exportar apenas 1% em 2007. As processadoras exportaram, em 1979, US$ 956 milhões de cacau e em amêndoas, líquor, (produto extraído da moagem das amêndoas), manteiga e pó, declinando para US$ 158 milhões em 1999. Hoje, o agronegócio do cacau envolve ainda 47 mil propriedades agrícolas, em seis estados brasileiros, sendo quase 30 mil no sul da Bahia. De acordo com o boletim trimestral de estatísticas de cacau da Organização Internacional do Cacau (ICCO, sigla em inglês), a safra brasileira 2007/2008 alcançou 160 mil toneladas em amêndoas. O declínio após a vassoura-debruxa trouxe um novo comportamento ao País em relação ao cacau, que passou a exportar produtos semi-industrializados ou processa- dos em amêndoas com maior valor agregado. Entre 1983 e 2007, a exportação da manteiga de cacau passou de 12% para 39%. O líquor saiu de 19% para 15%. A torta de cacau se manteve estável em 10% e o cacau em pó passou de 4% para 35%. A exportação de cacau e derivados totalizou mais de R$ 421 milhões em 2007, envolvendo cinco indústrias processadoras e as chocolateiras, representadas por 98 fábricas filiadas à Associação Brasileira dos Chocolateiros (Abicab), que juntas faturaram R$ 7,2 bilhões. No mercado internacional, o cacau está favorecido pelos déficits de produção registrados nos últimos anos. A cotação na bolsa de Nova York atualmente se situa em torno de US$ 2,5 mil a arroba/tonelada. Em preços internos, R$ 90 a arroba ou R$ 6 o quilo de cacau seco. Clonagem A recuperação da cacauicultura que vem ocorrendo, se deve à implantação de tecnologias de convivência com a vassoura-de-bruxa. Os trabalhos de melhoramento tecnológico voltaram, quase que exclusivamente para encontrar fontes de resistência ao fungo, desde que se instalou no sul da Bahia. Entre as técnicas aplicadas, a que mais apresenta resultados positivos é a clonagem. Os primeiros clones foram desenvolvidos e lançados em 1995, por agrônomos da Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac). A técnica consiste em uma variedade de cacau melho- O cacaueiro é orig floresta pluviais da inário de regiões de até hoje, é encontra América Tropical onde, desde o Peru até o Mdo em estado silvestre, acreditam que o cacaéxico. Os botânicos ceiras do rio Amazonu é originário das cabeduas direções princi as e se expandiu em grupos importante pais, originando dois s, o criollo e o foraster o. O criollo se espalhou ao norte, ingressandem direção Central e sul do Méxo na América frutos grandes, com ico. Produz enrugada, as semen superfície tes grandes, com o inte são ri ou violeta pálido. Foor branco i o tipo de cacau cultivado pe índios Astecas e Mai los as. Já o forastero se es pela bacia amazônicpalhou abaixo e em direção a Guianas. É consider às verdadeiro cacau br ado o asileiro rada, pelo homem ou pela natureza, que é multiplicada assexuadamente e apresenta as mesmas características da planta matriz. Na cadeia produtiva do cacau, o clone permite a reprodução das características desejáveis como resistência a doenças e pragas, alta produtividade, tamanho da semente (peso e número), arquitetura da planta, porte e outras características. Hoje são 38 clones disponíveis ao produtor. Alguns, como o CCN 16 e o Ipiranga 1 são muito superiores aos primeiros clones. Já o CCN 51 produz de 21 a 26 sementes por fruto, com 2 gramas cada semente. O cacau tradicional produz cerca de 35 sementes, com 1 grama cada. e se caracteriza por superfície lisa, impefrutos ovóides, como ou enrugada. O inte rceptivelmente sulcada violeta escuro ou, al rior de suas sementes é gumas vezes, quase preto. Oficialmente, o culti vo do cacau começou no Brasil em 1679, at ravés da Carta Régi que autorizava, os co a em suas terras. Com lonizadores a plantá-lo Pará para concretizaeçou inicialmente no sou, principalmente r essa diretriz fracasdaquela região. Apes, pela pobreza dos solos 1780, o Pará produz ar disso por volta de cacau. O cultivo, en ia mais de 100 arrobas de beleceu naquele temtretanto, não se estasimples atividade ex po e permaneceu uma trativa até anos rece ntes. Em 1752 foram feito s os pr im ei ro s plantios na região de Ilh adaptou bem ao climéus/BA. O cacau se Bahia, região que pr a e solo do sul da 75% do cacau brasileoduz hoje cerca de Santo com 3% e a A iro, ficando o Espírito mazônia em 22%. Fonte: COMCAUBA/ACB. “O plantio clonal é mais uniforme, facilitando o uso das práticas culturais. Além disso, diminui os custos e aumenta a produtividade”, explica João Dantas das Virgens, extensionista rural que atende a mais de 103 fazendas no sul baiano. Dívidas A falta de domínio das técnicas para combater o fungo da vassourade-bruxa trouxe, junto o empobrecimento da região e o endividamento do produtor. Em duas décadas, os cacauicultores somam mais de R$ 960 milhões em empréstimos bancários não- pagos. A recuperação da lavoura cacaueira recebeu investimento por meio do Plano de Desenvolvimento do Agronegócio na Região Cacaueira do Estado da Bahia (PAC do Cacau), que vai investir R$ 2,4 bilhões até 2016. Os recursos são direcionados às dívidas rurais, pesquisas e incremento na produção consorciada com seringueira e dendê. 39 Terra Brasil Abril/2009 Biofungicida A vassoura-de-bruxa na Amazônia ataca espécies dos Endêmica na Amazônia, a vassoura-de-bruxa ária. Além desses gêneros Theobroma e Herrania na floresta prim strado atacando hospedeiros, o causador da praga tem sido regi outros vegetais como o cipó e urucuzeiro. stro mais antigo De acordo com o pesquisador Pedrito Silva, o regi de 1885, pelo data icas da ocorrência da praga em áreas amazôn io de viagem diár seu no pesquisador Alexandre Rodrigues Ferreira rmando que info o, Negr Rio Phylosophica pela Capitania de São José do zônia, coAma da os ueir já em 1785 tal doença era comum nos caca nhecida, vulgarmente, por lagartão. clonagem do caAssim como no sul da Bahia, as pesquisas com ltados. Mais de 100 caueiro na Amazônia estão trazendo bons resu diversos ecossiscombinações híbridas de cacau foram testadas em pos de produção temas. Cerca de 15 híbridos fazem parte dos cam aos agricultores da de sementes de cacau, distribuídos anualmente idade e resistência região, com resultados satisfatórios por produtiv à vassoura-de-bruxa. 40 Terra Brasil Abril/2009 As ações governamentais equacionam dívidas dos produtores, estimulam a implantação de pequenas fábricas de chocolate e cacau fino nas propriedades, por meio de associações e cooperativas. “Dentro de pouco tempo o Brasil voltará a atingir níveis de produção compatíveis com o parque industrial do País”, preconiza Jay Wallace da Silva e Motta, diretor da Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac). A expectativa é que as ações resultem em um significativo impacto nos níveis de produção do principal pólo produtor do País. Outro avanço importante, será proporcionado pela instalação de pequenos projetos de processamento de cacau, que estão sendo desenvolvidos nas regiões produtoras, permitindo a exploração de um mercado com preços mais remuneradores ao produtor. Roberto Pereira é um dos 30 mil produtores da Bahia que acreditam que o cacau trará de novo a riqueza. “Eu fui o único Como parte do controle integrado, os pesquisadores da Ceplac desenvolveram o biofungicida Tricovab. O produto biológico é obtido pela multiplicação natural do fungo Trichoderma stromaticum dentro de um processo tecnológico que envolve pesquisas de laboratório em diversas áreas. Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a vassourade-bruxa ataca inicialmente frutos, brotos e almofadas florais, causando queda da produção, desenvolvimento anormal e até a morte da planta em situações de extremos da doença. A pesquisa teve início na Amazô- nia e, em 1995, os estudos foram implementados no município de Urucuça/BA (primeiro foco da vassoura-de-bruxa detectado no estado). Os testes mostraram que o fungo benéfico Trichoderma stromaticum controla o fungo maléfico Moniliophthora perniciosa, reduzindo o poder de reprodução e disseminação. A aplicação do Tricovab é feita com pulverizações sobre vassouras removidas das plantas infectadas deixadas no solo, em período de chuvas. Deve ser realizada em intervalos de 30 dias em quatro etapas, diluindo dois quilos de Tricovab em 320 dos dez irmãos que continuou com a lavoura. Era o mais rico e hoje sou o mais pobre”, diz ao lembrar que já colheu de 50 a 70 arrobas por hectare, ganhando US$ 4 mil por tonelada. Hoje, colhe 10 a 18 arrobas por hectare e recebe, no máximo, US$ 1,8 mil por tonelada. A lição de casa é feita diariamente com manejo integrado da lavoura e clonagem do cacaueiro. A esperança de que tempos melhores virão, está litros de água. “A eficácia pode chegar a 90%”, explica João de Cássia do Bomfim Costa, pesquisador da Ceplac. A praga morre porque o fungo antagônico vence a disputa por alimento e espaço, diminuindo a capacidade de sobrevivência do fungo. O Tricovab ainda não é comercializado porque está em processo de registro, atendendo às exigências dos órgãos fiscalizadores. “Será um produto comercial à disposição do produtor de cacau como mais uma ferramenta tecnológica para o controle da vassoura-debruxa”, explica João de Cássia. em cada cacaueiro de Pereira – que ganham nome como as novilhas de um pecuarista. Nessa realidade, é possível confundir o cacauicultor com algum personagem do livro São Jorge dos Ilhéus, que o autor Jorge Amado intitulou A terra muda de dono. “..a última parte deste livro é o começo de um novo romance que os homens do cacau estão vivendo dramaticamente, e que eu não sei quem escreverá”. 41 Terra Brasil Abril/2009 Laboratórios Agropecuários: muito além do diagnóstico O trabalho do Laboratório Nacional Agropecuário é referência na garantia da qualidade dos alimentos consumidos no Brasil e no exterior 42 Terra Brasil Abril/2009 A o comprar uma carne no supermercado, a garantia de que é segura para consumo é comprovada por meio de inspeção nos abatedouros e frigoríficos. Mas poucos imaginam que para assegurar a qualidade do produto, muitas vezes, o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) precisa entrar em ação. Esse trabalho é fundamental, no caso das carnes, para investigar a fundo a suspeita de doença, os resíduos de medicamentos veterinários, a qualidade da ração ingerida pelo animal e, inclusive, averiguar se o produto comercializado é o mesmo mencionado no rótulo. Essas são apenas algumas das várias análises realizadas por um serviço que, a princípio, pode parecer de bastidor, mas é estratégico na defesa agropecuária do Brasil. Nesse contexto, o trabalho dos Lanagros garantem segurança alimentar aos consumidores nos aspectos de inocuidade, qualidade e identidade dos produtos e subprodutos de origem animal e vegetal, além da qualidade dos insumos agropecuários promovendo, assim, a sanidade animal e vegetal. 43 Terra Brasil Abril/2009 Em 2008, a Rede Nacional de Laboratórios realizou mais de 20 milhões de análises. Laboratório Nacional de Agricultura (Pedro Leopoldo/MG) Para o coordenador-geral de Apoio Laboratorial, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa), Abrahão Buchatsky, os laboratórios definem ações e conferem qualidade aos serviços que o Ministério da Agricultura desenvolve. “Os resultados que os laboratórios emitem norteiam o trabalho das demais áreas da Defesa para fomentar o agronegócio brasileiro”, enfatiza. No município mineiro de Pedro Leopoldo, situado ao norte de Belo Horizonte, está uma das seis unidades do Lanagro. Nos 24 mil metros quadrados do complexo laboratorial, em meio a microscópios, balanças de precisão e tubos de ensaio, veterinários, agrônomos, farmacêuticos, químicos e físicos realizam ensaios cuja duração pode variar de minutos a meses. Entre diferentes procedimentos, são diagnosticadas doenças que acometem os animais, como brucelose e tuberculose. Uma vez dentro do Laboratório de Diagnóstico de Doenças Bacterianas, o recipiente é aberto e, por se tratar de uma zoonose, o procedimento é feito em condições seguras. Os técnicos registram o material a ser processado. O preparo da amostra leva um dia inteiro e o resultado para a tuberculose é obtido, em média, em dois meses e meio. Em 2008, o setor realizou cerca de 600 amostras, com previsão de crescimento para este ano. Por dia, a equipe realiza uma média de 20 análises. Diagnóstico de tuberculose bovina Durante o processamento, a amostra Ao entrar no Laboratório de Diagnóstico de Doenças Bacterianas do Lanagro/ passa por avaliação macroscópica, MG, o controle é rigoroso. Para evitar contaminação, os visitantes devem vestir para identificar a presença de lesão. avental e calçar pró-pé, uma espécie de sapatilha descartável. Acompanhamos Em caso positivo, chega a vez de isolar um diagnóstico bacteriológico de tuberculose bovina. Logo na porta, o aviso de a bactéria e, para isso, a amostra é descontaminada com ácido sulfúrico que aquele é um ambiente de risco biológico. 6%, que elimina os O coordenador de Biossegurança do Lanagro/MG, Pedro outros microorganMota, explica que o material suspeito de lesão de tuberculose “Os Laboratórios, não somente ismos e deixa vivo normalmente vem de frigoríficos onde há atuação do Serviço importantes, são estratégicos apenas o Mycobacde Inspeção Federal (SIF), mas, em situações eventuais, pode terium bovis, agente e definem ações, conferindo ser encaminhado por veterinários autônomos. A amostra susetiológico da tuberqualidade aos serviços do peita, obtida a partir de tecido do animal – normalmente fragculose bovina. Ministério da Agricultura.” mentos de pulmão - chega ao setor de recepção, é identificada Em seg u id a , é Abrahão Buchatsky e encaminhada ao local onde ocorre o diagnóstico. “A amostra feita uma série Coordenador-geral de Apoio deve ser levada ao laboratório conservada em gelo, obedecendo de lavagens para Laboratorial do Mapa todos os critérios de cuidado”, afirma. retirar o ácido e Para o trabalho a ser realizado, é importante que o material preparar o inóculo esteja acompanhado de formulário com seu histórico complea ser corado em lâmina pelo método to. “Tudo é muito bem documentado, aquela amostra deve ter uma rastreabili- Ziehl-Neelsen. A técnica é a mesma dade; por isso, precisamos saber de onde ela veio. Epidemiologicamente, é mais usada para detectar a tuberculose do relevante saber a propriedade de onde o animal saiu do que o estabelecimento ser humano. Quando introduzido nos que o abateu”, completa Mota. meios de cultura, o crescimento do 44 Terra Brasil Abril/2009 Mycobacterium bovis será observado por 10 semanas. Caso não haja crescimento, pode significar que o resultado foi negativo para a doença. De cada 100 amostras com lesões características de tuberculose, aproximadamente 70 podem ser isoladas em meio de cultura. A etapa final do procedimento vem após o crescimento da bactéria. Nela, ocorrem as provas bioquímicas que confirmam o isolamento do Mycobacterium bovis. O trabalho da equipe de Pedro Mota dá respaldo técnico aos fiscais do SIF. “Existem algumas lesões que são parecidas com as provocadas pela tuberculose e, dependendo da intensidade, a carcaça deve ser condenada. Então, os colegas do serviço de inspeção precisam do respaldo laboratorial para averiguar se aquelas lesões são mesmo de tuberculose”, esclarece. Como tantos outros procedimentos nos Lanagros, essa é uma das ações que preserva a saúde do consumidor. “O ser humano não pode consumir carnes ou lácteos contaminados por Mycobacterium bovis, agente etiológico da tuberculose em bovinos, pois a bactéria causa as mesmas lesões do Mycobacterium tuberculosis, agente etiológico da tuberculose humana”, adverte. Atendendo ao agronegócio A rede de Laboratórios Agropecuários tem unidades oficiais em Campinas/SP, Pedro Leopoldo/MG, Goiânia/GO, Recife/PE, Belém/PA e Porto Alegre/RS. Ainda que estrategicamente localizados nas cinco regiões brasileiras, a ação laboratorial tem o apoio de doze unidades avançadas e 878 laboratórios credenciados e fiscalizados periodicamente pelo Ministério da Agricultura. “Quanto maior a capilaridade da rede, maior agilidade no atendimento à demanda e maior atenção à saúde podemos conferir, principalmente, em um país com as dimensões continentais do Brasil”, diz Abrahão Buchatsky. Para o coordenador, a ideia é ter laboratórios distribuídos de maneira a atender as necessidades do agronegócio. Dessa forma, os Lanagros são fundamentais também na hora da exportação de produtos agropecuários. Por exemplo, exigentes parceiros comerciais do Brasil auditam as unidades oficiais e credenciadas da rede e inspecionam o trabalho feito nesses laboratórios, exigindo, inclusive, a equivalência de algumas metodologias. É o caso do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, que tem o reconhecimento da União Europeia e dos Estados Unidos. “Ao fazer uma análise para exportação, você melhora, consequentemente, o mercado interno”, opina o coordenador do Lanagro/MG, Ricardo Nascimento. Segundo ele, com instrumentos de análises e metodologias exigidas por outros mercados, a fiscalização interna se aprimora a cada dia. Por se tratar de segmento extremamente especializado, com atividades de precisão, a rede de laboratórios oficiais e credenciados, conta com pessoal qualificado. São 861 funcionários nas unidades oficiais e, só no ano passado, toda a rede foi responsável mais de 20 milhões de análises. Cada Lanagro, além das análises de rotina, possui uma determinada expertise. O laboratório de Campinas, por exemplo, é referência no Mercosul para identificação de enfermidades avícolas como doença de New Castle e influenza aviária, enquanto que o de Belém realiza o diagnóstico da febre aftosa. O de Porto Alegre, por sua vez, controla 100% das vacinas produzidas contra a febre aftosa. Em Recife, o destaque é para o diagnóstico da encefalopatia espongiforme bovina (BSE) e, no laboratório de Goiânia, são analisados fertilizantes e sementes. Em 1995, o Ministério da Agricultura determinou, pela Portaria nº 177, em 27 de outubro de 1994, que não seria mais permitida a manipulação do vírus da febre aftosa em laboratórios sem segurança biológica. Foram estabelecidas normas de construção e funcionamento dos laboratórios para a manipulação do vírus da febre aftosa. O Brasil conta com quatro laboratórios particulares de alta segurança, todos fiscalizados pelo Mapa. O Lanagro/MG abriga uma unidade de segurança biológica nível 3+. As instalações e equipamentos atendem aos requisitos internacionais para trabalho com agentes patogênicos de alta periculosidade. Na unidade, são manipulados organismos de qualquer natureza, inclusive, aqueles inexistentes no Brasil, pois está situada em uma área total de 1.720 metros quadrados com dispositivos que não permitem a fuga de microorganismos. O ambiente é totalmente hermético e a pressão interna, negativa. O investimento nessa área de biossegurança é fundamental para controlar agentes patogênicos de alto risco, que poderiam restringir a comercialização de produtos brasileiros, especialmente, no mercado internacional. A criação da área é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e faz parte das ações do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA). DEFESA SANITÁRIA Brasil amplia controle de resíduos e contaminantes em produtos de origem vegetal E ste ano, o Brasil contará com mais uma ação para resguardar a qualidade dos alimentos que chegam às mesas dos consumidores. O Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), para produtos de origem vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), vai monitorar 17 produtos para verificar os níveis de agrotóxicos e a presença de salmonela e aflatoxinas. O principal objetivo do plano é garantir a segurança alimentar dos produtos consumidos internamente e dos que são destinados ao mercado externo. Além do mamão e da maçã, monitorados desde 2006, o PNCRC vai controlar a produção de melão, morango, uva, abacaxi, alface, banana, limão, manga, tomate, batata, pimentado-reino, milho, arroz, amendoim e castanha do Brasil. Será a primeira vez que a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), avaliará a presença de contaminantes microbiológicos em produtos de origem animal como a salmonela, no caso da pimenta-do-reino, e quanto aos níveis de aflatoxinas, no arroz, milho e castanha do Brasil. Inicialmente serão coletadas 30 amostras de cada produto. “Num primeiro momento, as análises vão nos dar um panorama da situação no Brasil quanto aos níveis de agrotóxicos e contaminantes nesses alimentos”, explica o chefe da Divisão Vegetal da Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes (CCRC), Carlos Venâncio. Caso sejam constatados níveis de substâncias nocivas acima dos estabelecidos, a SDA encaminhará equipes de fiscalização para desenvolver campanhas educativas ou mesmo punir os produtores que agem, comprovadamente, de má-fé na região. Coleta No dia 16 de janeiro deste ano, o Mapa e a Companhia de Entrepostos e Armazéns 46 Terra Brasil Abril/2009 Gerais de São Paulo (Ceagesp) assinaram termo de cooperação técnica para a coleta de amostras. O acordo permite também que a CCRC faça o rastreamento do produto, uma vez que os fornecedores da Ceagesp são obrigados a informar a origem dos alimentos. O entreposto de São Paulo envia alimentos para 26 unidades federativas. As estratégias serão diferenciadas para coleta de amostras. As maçãs, por exemplo, que têm sua produção maior na região Sul do País, serão coletadas nas chamadas packing houses, agroindústrias de beneficiamento onde as frutas são preparadas e embaladas. As amostras de alface e tomate, por sua vez, serão recolhidas nos cinturões verdes das grandes cidades em que são produzidos. No segundo semestre deste ano, técnicos do escritório de Alimentação e Veterinária (FVO) da União Europeia (UE) virão ao Brasil para avaliar o PNCRC para produtos de origem vegetal. Em 2008, a missão da UE testou e comprovou a equivalência do PNCRC para produtos de origem animal, com os padrões europeus. O parecer técnico encaminhado à SDA também destacou a estratégia brasileira para o desenvolvimento dos laboratórios oficiais, ressaltando que “resultou em avanços no processo preparatório para reconhecimento e validação dos métodos analíticos”. Laboratórios de Análises Dos cinco laboratórios responsáveis pelas análises das amostras do PNCRC para produtos vegetais, três são credenciados e dois oficiais. Os Lanagros de Minas Gerais e Goiás analisam a presença de aflatoxina e salmonela e os outros três, os índices de agrotóxico. Os limites para a presença dessas substâncias são estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 47 Terra Brasil Abril/2009 Produção Sustentável Produto orgânico contribui para qualidade de vida I ogurte, suco de pêssego e pão orgânicos. Esse é o cardápio preferido para o café da manhã da estudante brasiliense Nohane Müller, de 18 anos, que decidiu, em 2005, fazer uma reeducação alimentar. A taxa alta de colesterol no sangue pesou na decisão, pois estava 20% acima dos níveis considerados normais. “Minha nutricionista sugeriu incluir os orgânicos na minha dieta. Após um ano, refiz o exame e o resultado me surpreendeu: reduzi de 220 miligramas para 170 miligramas”, comemorou. Com isso, a jovem, que sonha em casar e ter dois filhos, também incentivou o pai a fazer o mesmo e disse que passará esse hábito de vida para as próximas gerações. Os brasileiros estão, cada vez mais, em busca de bem-estar. Para isso, decidem se alimentar de forma saudável e praticar esportes. Itens que contribuíram para que Cláudia Maria de Souza Penuchi, de 38 anos, tivesse uma gestação tranquila. “Quando engravidei, optei pelos orgânicos e comprei muitas 48 Terra Brasil Abril/2009 verduras, legumes, frutas e arroz integral. Isso fez diferença, já que consegui manter os meus gêmeos, Eduardo e Henrique, hoje com dois meses, por 38 semanas. Quando não estiver mais amamentando vou alimentá-los com leite em pó orgânico”, ressaltou. Para o aposentado do Tribunal de Contas da União (TCU), Expedito Pereira da Costa, de 72 anos, o hábito de ter produtos orgânicos em casa foi adquirido aos poucos, por ele e seus 22 irmãos. “Há três anos fiz essa opção. Para ter produtos fresquinhos, levanto todos os dias cedo e vou ao supermercado. O meu único esforço é pegar a embalagem e colocá-la no carrinho”, explicou. Selo Para facilitar a vida dos consumidores na hora de identificar se um produto é de qualidade, que passou por processo rigoroso de inspeção, será lançado, no primeiro semestre de 2010, o Selo do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica. Para usá-lo, os agricultores deverão se 49 Terra Brasil Abril/2009 o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias. verificar o processo de produção representantes de supermercados e certificadoras fazem inspeções anuais. Produção regularizar no Ministério da Agricultura, até o dia 28 de dezembro de 2009. Para os agricultores familiares serão fornecidas carteiras de identificação de produtor orgânico e cada um será responsável por verificar a qualidade dos alimentos vendidos pelos “companheiros” em feiras e Ceasas. Esse sentimento de confiança, adquirido com o tempo, é o que resume a relação entre a corretora de imóveis, Carmen Figueiredo, de 59 anos, e o produtor que vende alimentos orgânicos na “feirinha da Asa Norte em Brasília”. “Frequento o mesmo lugar há mais de 15 anos e sinto como se o agricultor fosse meu vizinho. Antes, tinha uma chácara e, desde que vim para cidade, escolhi os orgânicos. O sabor da banana é diferente, mais docinho”, enfatizou. A adoção do selo também vai contribuir para dados estatísticos. Será possível ter informações sobre o número de produtores brasileiros, a área ocupada com esse tipo de plantação e quanto é produzido. “Hoje o que temos é uma estimativa de 15 mil produtores que cultivam área de 800 mil hectares”, explicou 50 Terra Brasil Abril/2009 Trabalhar com produtos orgânicos requer cuidado e preparação. Antes de começar a plantar é necessário passar pelo “período de conversão”. Trata-se do tempo adequado para um produtor deixar a forma convencional e iniciar a produção orgânica. Para isso, precisa adotar práticas como substituição de insumos, criação de nova biodiversidade e elaboração de plano de manejo. O período da mudança do sistema convencional para o orgânico depende da quantidade de insumos utilizada e do grau de conhecimento dos produtores em relação à agricultura orgânica. No plantio de hortaliças, os produtos passam pelas fases de desenvolvimento vegetativo, formação do fruto e colheita. O período pode variar de 30 dias (no caso da rúcula) a 90 dias (cenoura). Após esse processo, são identificados com data, cultura, setor, lote, número de caixas e peso. Quando são produtos in natura seguem para o setor de embalagem e, no caso dos processados, passam pela prélavagem. O objetivo é retirar insetos e terra. Durante a armazenagem, as hortícolas devem permanecer em temperatura entre 6°C e 8°C. Na fazenda Malunga - Pecuária e Agricultura Ecológica, a 75 quilômetros de Brasília, 150 profissionais atuam nos setores de verduras, legumes, pecuária e comercialização, distribuídos em 140 hectares, 40 só de hortícolas. Para distribuídas pelo Brasil, contamos com nutricionistas que verificam a qualidade, refrigeração, rastreabilidade, armazenagem e distribuição dos produtos nas gôndolas”, explicou. De acordo com a gerente comercial de Frutas, Legumes e Verduras de um grupo de supermercados, Sandra Caíres, os orgânicos representam 2,5% do total das vendas de hortifrutis e os maiores consumidores estão nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal. “Em 2008 tivemos uma receita de R$ 40 milhões e, nos últimos cinco anos, temos apresentado crescimento de 20%”, ressaltou. Na fazenda Malunga a receita, em 2007, foi de R$ R$ 4 milhões e, em 2008, de R$ 4,8 milhões. “A expectativa é crescermos 25% neste ano. Vale ressaltar que os nossos funcionários se sentem donos do negócio, ao receberem 30% do lucro, além disso, temos o sistema de metas. Quando o número é alcançado, todos saem ganhando”, explicou a sócia-gerente da propriedade, Clevane Ribeiro Pereira Vale. Histórico Em 2003, foi publicada a Lei nº. 10.831, que trata da produção de orgânicos no Brasil. No dia 28 de dezembro de 2007, os produtos orgânicos foram regulamentados, por meio do Decreto n°. 6.323. Com isso, os alimentos passaram a ter regras de produção, armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização de produtos. Em outubro de 2008 começaram a ser publicadas as Instruções Normativas para assuntos específicos. Entre eles, a implementação da Comissão Nacional de Produção Orgânica, e a Regulamentação dos Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal. Neste ano, será escolhido o selo oficial dos produtos orgânicos com implementação prevista para o primeiro semestre de 2010. Mercado É possível encontrar produtos orgânicos nos supermercados todos os dias, não apenas no “Dia do Orgânico”. Além disso, uma vez por semana, a população pode conferir, nos estandes das redes de supermercados, explicações sobre os processos de produção e amostras para degustar. O diretor regional de supermercados do Distrito Federal, Onofre Silva, diz que a qualidade do produto é primordial. “Temos uma equipe de seis profissionais que fica na central de distribuição para cuidar da segurança alimentar. Em cada uma das 600 lojas Consumidor escolhe produto orgânico 51 Terra Brasil Abril/2009 “N Frutas com certificação oficial de qualidade Produtores de melão investem no cultivo com boas práticas agrícolas, respeitam princípios da sustentabilidade e garantem alimento seguro na mesa do brasileiro 52 Terra Brasil Abril/2009 esta área de 180 hectares eu colho quatro mil toneladas de melão por ano e emprego 150 funcionários com carteira assinada”, diz o produtor José Héliton Almeida, percorrendo a fazenda que lembra uma empresa com regras e normas para visita. Almeida, agrônomo por formação, vive em Mossoró/RN, município localizado entre as duas capitais Fortaleza/CE e Natal/RN. Em 2008, o Rio Grande do Norte, responsável por 80% da produção nacional de melão, exportou US$ 190 milhões para o Reino Unido, Espanha, Holanda e Estados Unidos. Para vender o melão para outros países, José Héliton mudou a gestão de sua propriedade e hoje garante produtos seguros aos consumidores, com impacto negativo ao meio ambiente e promove a segurança dos trabalhadores rurais. Adotou regras de produção sustentável, empregando tecnolo-gias para controle efetivo, com monitoramento de todas as etapas, desde a aquisição dos insumos até a entrega ao consumidor. Os profissionais trabalham em condições de higiene e segurança adequadas, controlam os insumos, o manejo integrado de solo com preservação do meio ambiente. O sistema de logística permite rastrear o produto da saída da fazenda, embalado e refrigerado, à gôndola do supermercado. A propriedade de José Héliton, a 93 quilômetros de Mossoró, na cidade cearense de Aracati, a fazenda Itaueira produz melão ainda maior em escala. São 500 hectares e colheita de 27 mil to-neladas/ano e 650 empregados. Apenas a metade da produção fica no mercado interno. O agrônomo responsável, João José Brasil, mostra as condições de trabalho respeitadas, aponta o carro com água refrigerada para os trabalhadores no campo e banheiros químicos instalados a cada 400 metros. Chegando à sede da fazenda, diz orgulhoso: “O bom é descobrir que o pulo do gato é fazer a coisa certa”. O agrônomo João Brasil (Aracati/CE) em plantação de melão. Os produtores de melão vivem a realidade de fruticultores brasileiros, que se adequaram aos requisitos dos mercados nacional e internacional, exigidos pela globalização, crescimento populacional do mundo e motivação para a segurança alimentar. Concluíram que a concorrência é grande e é preciso provar a qualidade da fruta brasileira. Mercado O comércio mundial fruticultor movimenta US$ 21 bilhões ao ano e boa parte da demanda é dirigida às frutas de clima temperado, típicas do hemisfério norte, embora seja alto o potencial de mercado para as frutas tropicais. Incluídas as processadas, esses valores superam US$ 55 bilhões. O Brasil vende 1,8% da sua produção de frutas in natura e ocupa o 20º lugar entre os exportadores. A tendência é de aumentar o comércio externo nos próximos anos, o que torna o momento atual oportuno para a conquista dos mercados internacionais. Para isso, o País precisa arcar com a manutenção e ampliação do agronegócio de frutas e derivados, focando na oferta de frutas frescas ou processadas, de acordo com a demanda. A guinada dos fruticultores brasileiros ocorreu em 1998/1999, quando a Cadeia Produtiva da Maçã, pressionada pela União Europeia, procurou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O principal motivo da mobilização foram as exigências de garantias do processo produtivo da fruta: compradores europeus ameaçavam não importar maçãs produzidas pelo sistema convencional adotado. Assim, o Brasil precisava de um instrumento para orientar e garantir o processo produtivo da fruta. Um sistema de produção que, ao mesmo tempo, atendesse às exigências dos mercados compradores e fosse condizente com a realidade brasileira. E principalmente, considerasse a credibilidade e a confiabilidade do sistema e dos trabalhos que seriam desenvolvidos no País. Sistema O modelo padronizado pela Produção Integrada de Frutas (PIF) foi utilizado como referência pelo Mapa para instituir o Sistema Agropecuário de Produção Integrada (Sapi). A meta é o estabelecimento de Normativas Reguladoras de Produção Integrada (NRPI), para outras cadeias similares. As frutas são certificadas por empresas auditoras nas propriedades adeptas ao sistema e que recebem o selo com chancela do Ministério da Agricultura e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A certificação de produto integrado facilita a identificação e oferece garantias ao consumidor. O sistema produz alimentos de alta qualidade, emprega mecanismos reguladores para diminuir os insumos e contaminantes e, ainda, assegurar a produção sustentável. Ou seja, garante a cadeia produtiva, em todas as etapas, com respeito ao meio ambiente, segurança aos trabalhadores e qualidade do produto. Para o coordenador-geral de Sistemas de Produção Integrada do Mapa, Luiz Carlos Bhering Nasser, entre as normas obrigatórias e recomendadas estão informações sobre boas práticas agrícolas, organização de produtores, comercialização, processos de empacotamento de alimentos seguros, educação ambiental, recursos naturais, nutrição de plantas, irrigação, colheita e pós-colheita. Nasser enfatiza a utilização de insumos recomendados e de tecnologias apropriadas ao manejo. “Com isso, o produtor consegue, no fim da safra, produtos de qualidade, competitivos no mercado nacional e internacional”, explica. Resultados Em 2008, a Produção Integrada de Frutas (PIF) atingiu um número Melão Os melocultores tiveram as regras definidas em junho de 2008, pela Instrução Normativa No. 36 que estabeleceu os critérios para o manejo do solo até as técnicas de colheita, que garantem produtos seguros e certificados. Com o apoio da Empresa Brasileira de maior de produtores, inclusive os melocultores do Ceará e Rio Grande do Norte. Eles engordam os números brasileiros de adesão às exigências do mercado. São 56 projetos e 42 culturas em 18 estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal. O total corresponde a mais de 2,3 mil adesões de produtores e empresas, 64 mil hectares e 1,6 milhão de toneladas de frutos colhidos. Além do melão, o programa tem normas técnicas publicadas para as culturas da banana, caju, caqui, coco, figo, goiaba, laranja, lima ácida tahiti, lima da pérsia, maçã, mamão, manga, maracujá, morango, pêssego, citros e uva. Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Agroindústria Tropical, em Fortaleza, os agricultores participaram de capacitação para as normas técnicas da produção integrada no cultivo do melão. As exigências vão desde a organização dos produtores, capacitação de mão-de-obra ao planejamento ambiental. Por meio de auditorias, os Consumidor Em 2001, apenas a lg umas frutas estavam incluídas no sistema de produção integrada. Aos poucos, estão sendo incorporados grãos, café, raízes, hortícolas, flores, carnes e leite. Para 2009, serão instalados projetos para as culturas de cana-de-açúcar, milho, espécies agroflorestais da Amazônia, plantas medicinais e caprinocultura leiteira. O resultado vai além de frutas para exportação. Hoje, o consumidor brasileiro tem outro perfil, com exigências de qualidade, origem e respeito ambiental na produção da fruta que ele leva para casa. A fazenda Itaueira, em Aracati, fornece metade da produção para o mercado interno e produtores comprovam o respeito às normas, antes de receber o selo de conformidade das safras colhidas. “Pode significar aumento de exportação para países que restringem o comércio de produtos sem garantia de processo”, explica Raimundo Braga Sobrinho, pesquisador da Embrapa e coordenador da produção integrada de melão. tem atitude diferenciada. “Recebi uma correspondência do cliente devolvendo o melão porque não estava tão doce quanto imaginava”, conta o agrônomo João José Brasil. “Assim como nas indústrias alimentícias, enviamos outros melões com a qualidade exigida pelo consumidor”. Essa realidade é, segundo o pesquisador da Embrapa, José Eduardo Borges de Carvalho, resultado do Sapi. Ele justifica a preocupação do consumidor com as frutas produzidas pelas boas práticas agrícolas e respeito ao meio ambiente. “A resposta da produção integrada estabelece, principalmente, uma relação de confiança do produtor com o consumidor”. 55 Terra Brasil Abril/2009 Integração Lavoura Pecuária Silvicultura Brasil pode aumentar capacidade produtiva do agronegócio recuperando áreas degradadas “A quilo ali é o resultado de mais de 50 anos de exploração desregrada do solo”, denuncia o produtor rural Ovídeo Müller, apontando para o alto de um morro onde a terra está tomando o lugar da vegetação. Há mais de duas décadas Müller, um gaúcho de 59 anos, migrou para Mato Grosso do Sul, onde possui uma fazenda de 700 hectares para criação de gado de corte, em São Gabriel do Oeste. Há cerca de três meses tomou a decisão de implantar a produção integrada de sistemas agropecuários como forma de aumentar 56 Terra Brasil Abril/2009 a produtividade, recuperar áreas degradadas e aproveitar um córrego que atravessa sua propriedade. A técnica implantada na fazenda de Ovídeo foi a silvipastoril (SSP), uma combinação de árvores e pastagem de gado manejados de forma integrada numa mesma área. De acordo com o pesquisador da Embrapa Florestas e doutorando pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Vanderley Porfírio, a criação de animais com árvores na pastagem ajuda a reduzir o processo de erosão do solo e proporciona bem-estar aos animais. “A recuperação do solo vai formar um pasto com mais nutrientes para o gado, com isso os animais engordam mais rápido e a madeira das árvores é alternativa de renda ao produtor que pode vendêla para indústria de celulose e outras”, explica o pesquisador. A expectativa do produtor rural é que a experiência de criar gado com plantação de eucaliptos torne os pastos mais produtivos para aumentar a lotação atual de 0,5 para 2,5 animais por hectare/ano. A pastagem de boa qualidade reduz, em cerca de um ano, o desenvolvimento do animal, 57 Terra Brasil Abril/2009 Vanderley Porfírio, pesquisador da Embrapa Florestas, mostrando sistema lavoura-silvicultura hectares da propriedade. “A melhor soja que colhi aqui da fazenda foi desse pedaço de terra”, orgulha-se o produtor, que diminuiu em 25% a aplicação de agrotóxico. , “Em termos de controle de ervas daninhas e combate à praga é bem mais fácil”, afirma. A estimativa é de que a produtividade da soja colhida nessa parte da fazenda tenha aumentado em cerca de 15%. Voçoroca do nascimento até abate. À medida que uns são abatidos, outros ocupam seu lugar, ciclo que aumenta o giro de animais por pasto. O sistema SSP é executado em caráter experimental nos 21 hectares da fazenda. Com os resultados positivos, o sistema integrado de produção será implantado em toda a propriedade. Assistência técnica O projeto de produção integrada na fazenda de Ovídeo Müller tem assistência do Comitê Técnico Gestor (CTG) de São Gabriel do Oeste/MS, e é formado por pesquisadores, produtores rurais da região, servidores da prefeitura e técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Outros CTGs prestam assistência em estados, como o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. O sistema de produção que, além da pecuária e da floresta, inclui a lavoura, é chamado sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Silvicultura (ILPS) ou agrosilvipastoril. Cada região deve optar pelo mais adequado às suas características. Segundo o professor Aníbal de Moraes, no cerrado a integração é 58 Terra Brasil Abril/2009 Diante dos bons resultados, o produtor quer ampliar a produção integrada na propriedade. Em outros 22 hectares vai desenvolver o reforçada pela rotação de culturas, sistema lavoura, árvore e pasto e, em recuperação dos solos e das pasta- 21 hectares, a experiência será com pasto e floresta. “Pelo que vi, posso gens degradadas. falar com segurança que a produção Já na região Sul do Brasil o enfoque integrada é um bom negócio”, diz tem sido na rotação e diversificação Brusamarello. Além dos benefícios de culturas, mas principalmente econômicos, a plantação de árvores como alternativa de renda e uso das nativas e eucaliptos no pasto freou o terras em períodos intermediários avanço de uma voçoroca (formação às lavouras de verão. “Os benefícios de grandes buracos de erosão), de 28 da produção integrada lavoura e metros de profundidade por 32 de pecuária têm sido aslargura, que preocusociados, invariavelpava o fazendeiro. mente à redução de Pastos degradados Aliada às práticas custos, aumento da e baixa produção asconservacionistas eficiência do uso do sociados à pequena como o plantio direto, a solo, da prevenção de rentabilidade foram ILPS é uma alternativa pragas e de doenças, os mot ivos que econômica e sustentável além do aumento de levaram o gerente para recuperar áreas liquidez e renda ao Adilson Kazuo, da degradadas e diversificar produtor”, afirma o Fazenda Modelo as atividades econômicas professor Aníbal. 2, no município de na propriedade, Ribas do Rio Pardo/ A s vantagens do com redução dos MS, a implantar o sistema de produção riscos econômicos sistema de produção integ rad a já são para o produtor. integrada. A procomprovadas pelo priedade produz produtor V i l son soja, milho, feijão Brusamarello, 50 anos, dono de uma fazenda de mil e madeira, além de trabalhar com hectares, também em São Gabriel gado de corte. As lavouras seguem do Oeste/MS. Há cinco anos, Brusa- o sistema de plantio direto na palha marello começou a alternar o plantio (SPD). “A presença da palha influende soja no verão com a criação de cia diretamente na conservação da gado no inverno, “num talho” de 85 umidade do solo”, explica Kazuo. A integração lavoura-pecuária oferece mais flexibilidade no investimento. Se uma atividade apresenta melhor perspectiva pode-se investir mais e ter mais cautela na outra. Para saber no que é melhor investir, é feita uma análise dos custos de produção por hectare, das previsões climáticas e da expectativa dos preços do mercado. O sistema agrosilvipastoril começa com a lavoura intercalada com floresta. Depois da colheita, planta-se o capim para a criação do gado, favorecendo o bem-estar animal. A melhora da fertilidade do solo se deve ao acúmulo de matéria orgânica, que renova o ciclo de nutrientes e aumenta a eficiência dos fertilizantes. A curto prazo, o produtor conta com a renda da agricultura; em médio prazo, com a pecuária. Mais adiante, dependendo da escolha, poderá vender a madeira para indústrias ou carvoarias. Recuperação do solo Brusamarello mostra plantação de soja em sistema ILP As experiências de Ovídio Müller, Vilson Brusamarello e Adilson Kazuo mostram como o sistema de produção integrada, além de proporcionar ganhos financeiros, também permite a recuperação de solos degradados. O ILPS é um sistema nacional de uso racional do solo, em que interagem lavoura, animal e árvore na preservação do solo e da água, promovendo o desenvolvimento sustentável. A recuperação de áreas degradadas por meio do sistema de produção integrada é, reconhecidamente, a melhor forma de aumentar a agropecuária no País, sem a necessidade de ampliar a fronteira agrícola. O Brasil tem como desafio recuperar cerca de 40 milhões de hectares de áreas degradadas. O sistema ILPS otimiza o uso do solo, aumenta a produção em áreas usualmente de pastagens e, ao mesmo tempo, incrementa a renovação do solo e o aproveitamento da adubação residual da lavoura de grãos. Sistema de Plantio Direto para o desenvolvimento sustentável Aliado à produção de sistemas agropecuários integrados (ILPS), o Sistema de Plantio Direto (SPD) é uma prática conservacionista voltada para o desenvolvimento sustentável da agricultura. O SPD é um conjunto de técnicas integradas que melhoram as condições ambientais (água-solo-clima), para explorar da melhor forma possível o potencial de produção das culturas. Respeitando os três requisitos mínimos - não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de culturas de cobertura para formação de palhada, associada ao manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas - o plantio direto não deve ser visto como uma receita universal, mas como um sistema que exige adaptações locais. O sistema permite também o cumprimento do calendário agrícola, validando as recomendações do zoneamento e sendo um atrativo para as seguradoras, que viabiliza a atividade agrícola. Por suas reconhecidas características, comprovadas amplamente pela pesquisa agropecuária brasileira, o plantio direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações da conferência da Organização das Nações Unidas (Eco-92) e da Agenda 21 brasileira, indo ao encontro do que foi acordado na assinatura do Protocolo Verde. * Com informações da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (www.febrapdp.org.br). 59 Terra Brasil Abril/2009 REGISTRO DE NASCIMENTO COMÉRCIO e MERCADOS QUE DA DIREITOS A crise e as oportunidades para o agronegócio brasileiro UM DIREITO MOBILIZAÇÃO NACIONAL PARA O REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO E DOCUMENTAÇÃO BÁSICA A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República trabalha para que todos os brasileiros e brasileiras possam ter registro civil de nascimento e acesso à documentação básica. A mobilização nacional tem o objetivo de fazer com que todos e todas se engajem na campanha por um Brasil com nome e sobrenome. Você é essencial para o sucesso desta campanha! Saiba mais em www.direitoshumanos.gov.br 60 Terra Brasil Abril/2009 C om mais de 6,5 bilhões de habitantes, o mundo parece não ter sucumbido às previsões negativas de Thomas Robert Malthus em relação à situação alimentar. No século 18, o economista e demógrafo britânico publicou teoria segundo a qual a população cresceria em proporções geométricas, enquanto os alimentos seriam produzidos em proporções aritméticas. No cenário projetado pelo estudioso, a fome assolaria o planeta. De 1798 para cá, o cenário agrícola mostrou-se resistente à projeção, principalmente em países como o Brasil, cuja produção de grãos fechou em 144,1 milhões na safra 2007/2008. No começo do ano passado, a disparada dos preços das commodities agrícolas, aliada ao forte crescimento da renda nos países pobres, pressionou os gastos com alimentação. Os baixos estoques provocados por quebras de safras e os altos preços dos insumos, causados em parte pela alta do petróleo, agravaram a situação. Importar se fez necessário e os excedentes da produção brasileira foram destinados a mais de 180 países nos cinco continentes. 61 Terra Brasil Abril/2009 Apelidado por Principais compradores em 2008 esteve ligeiramente mais Exportações de carne de frango – ativa, tentando renovar especialistas ) (kg ido Líqu o Pes parte dos estoques”, resde “celeiro do $) Valor (US saltou. mundo”, o Brasil 3.436.648.521 .764 243 53. 6.3 bateu recorde nas al Tot De acordo com Alves, 422.180.562 exportações do 0 .01 591 67. 1.1 que também é professor Japão agronegócio, em 424 73. 0.3 de economia da Escola 40 741.444.597 2008, e a balança Arábia Saudita Superior de Agricultura comercial do setor 415.246.708 43 0.8 .79 563 Luiz de Queiroz, da UniHong Kong registrou superávit 54 0.5 versidade de São Paulo .62 316 531.433.148 de US$ 60 bilhões. Venezuela (ESALQ/USP), a expor129.247.143 11 9.3 .24 410 tação de açúcar deve ter A crise financeira Países Baixos grande oportunidade que o mundo viu de ampliação. Isso porque a Índia, nascer no segundo perante as moedas dos países desenque é um dos maiores produtores e semestre provocou queda generalizavolvidos”, destacou. consumidores do produto, deve sofrer da no preço das commodities agrícolas. quebra de safra de cana-de-açúcar De acordo com a Comissão EconôMelhora na situação pelo segundo ano consecutivo. Prova mica para a América Latina e Caribe disso é que, em janeiro de 2009, a (Cepal), a evolução dos preços interPrevisões para os preços das comexportação brasileira de açúcar bruto nacionais dos alimentos implica em modities dependem de vários fatores, praticamente dobrou, em relação ao uma desaceleração inflacionária na entre eles o clima e as especulações de mesmo período do último ano, tendo região, passando de 8,5%, em 2008, mercado. Entretanto as perspectivas, a China como um dos principais para 6%, em 2009. até o momento, favoráveis para procompradores, o que não era visto por dutos como soja, carne, açúcar, feijão e Nesse contexto, o economista e sepelo menos três anos. O aumento do arroz mostram que a agropecuária nacretário de Relações Internacionais volume de açúcar refinado, enviado cional deve atravessar a crise, abastedo Agronegócio, do Ministério da para outros países, foi de 8,5% cendo o mercado interno e ampliando Agricultura, Pecuária e Abastecimentambém na comparação entre janeiro as exportações. to (Mapa), Célio Porto, acredita que deste ano e do anterior. 2009 pode ser de oportunidades para O pesquisador do Centro de Estudos O milho também apresentará bom a expansão do agronegócio brasileiro Avançados em Economia Aplicada cenário para exportação neste ano. no comércio mundial. “Qualquer (Cepea), Lucilio Alves, afirma que “o O alto excedente interno e a seca que país consegue exportar com os altos agronegócio sempre foi a sustentação atingiu a Argentina devem direcionar preços praticados em 2008. Todavia, da balança comercial”. Segundo ele, a boa parte da demanda ao Brasil. Dados quando há uma baixa de preços, os recuperação do preço de algumas compaíses menos competitivos são os modities indica que a situação poderá do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apontam primeiros a se retirarem do mercado”, se manter em 2009. “A demanda, no que, durante a safra 2008/09, o Brasil afirmou. início de 2009, tomará o lugar do país vizinho e será, Ainda na opinião de Porto, pela primeira vez, o segundo maior o Brasil é competitivo e essa Participação de produtos do exportador mundial da commodity. O io característica fará com que peragronegócio brasileiro no comérc produto agrícola é de grande impormaneça e, inclusive, amplie sua mundial tância pelos subprodutos gerados, participação no mercado inter8 destinados à alimentação humana e à 201 8 200 nacional dos principais produtos Produtos cadeia animal, especialmente de aves agropecuários. “A história mostra 60,6% 31% rne Bovina e suínos. Ca que o agronegócio brasileiro tem 0% 21, 10,1% A questão climática também afetou sido muito eficiente para ocupar Carne Suína a venda da soja argentina e, com isso, espaço no mercado internacional 89,7% Aves 44,6% o Brasil já registrou incremento nas quando ocorrem crises, respon- Carne de 40,0% 36% vendas do complexo, principalmente, dendo sempre de maneira posi- Soja do farelo de soja (46%) no comparatitiva quanto o real se desvaloriza 73,5% 63% Óleo de Soja 21,4% 13% Milho 62 74,3% 58,4% Terra Brasil Açúcar Abril/2009 vo entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009. Alternativa barata A retração na venda externa de carne bovina fez crescer a demanda de uma opção mais barata, o frango. No primeiro mês de 2009, as exportações do produto apresentaram alta de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa uma boa alternativa para que os embarques de produtos agropecuários se mantenham nos patamares de 2008. No final do ano passado, a China habilitou 22 plantas frigoríficas brasileiras para a exportação de carne de frango in natura e a expectativa do Ministério da Agricultura, que conduz os entendimentos técnicos para a abertura de novos mercados, é acessar países como Estados Unidos, Malásia e México, que estão na prioridade da pasta este ano. A intenção também é ampliar as vendas para Chile, Colômbia e Filipinas. pessoas passaram a comprar comida em vez de plantála. E é naquele país que se observa o maior processo de migração da área rural para a urbana da história. Dessa forma, a importação de soja da China foi impulsionada pelo aumento do consumo de carnes, que dependem de rações de cereais. No entanto, o Brasil quer incrementar as vendas para o país asiático. “Uma das preocupações do Mapa é diversificar a pauta de exportações para a China, hoje, muito concentrada na soja”, comenta Célio Porto. Ainda que, com a crise no setor industrial, a população chinesa sinalize um retorno ao meio rural, o pesquisador acredita que o fato não comprometerá as importações chinesas, já que, segundo ele, o espaço para plantio é pequeno no País. Grande notável Um território de imensas dimensões e com 1,33 bilhão de habitantes é a grande aposta nas exportações de produtos agropecuários. A China é hoje o primeiro país de destino nas vendas internacionais do agronegócio brasileiro e o segundo maior parceiro comercial. Este ano, as duas nações completam 35 anos de relações diplomáticas. A economia da potência chinesa cresceu, no último ano, 9%, com US$ 4,3 trilhões no Produto Interno Bruto. Até a década de 90, a maioria das atividades chinesas era no campo, mas, nos últimos 20 anos, a população migrou para a cidade e milhões de Projeções 2008/09 a 2018/19 para exportação Produto unidade 2007/08 2018/19 Milho var. (%) mil toneladas Soja 11.553,7 22.907,5 98,3 mil toneladas Suco de Laranja 25.750 36.461,4 41,6 mil toneladas Carne de Frango 2.136,3 2.796,8 30,9 mil. ton. equiv. carcaça Carne Bovina 3.615,5 6.602 82,6 mil. ton. equiv. carcaça Carne Suína 2.400 4.626,6 92,8 mil. ton. equiv. carcaça Açúcar 625 1.113,5 78,2 mil toneladas Etanol 21.000 32.637,1 55,4 bilhões de litros Algodão 3,5 8,9 153,8 mil toneladas Farelo de Soja 520 686,7 32,1 mil toneladas Óleo de Soja 13.200 15.030,6 13,9 mil toneladas Leite 2.120 2.972 40,2 milhões de litros 1.051,5 2.087,3 98,5 Fonte: AGE / Mapa - 2008 63 Terra Brasil Abril/2009 Projeções futuras Estudo realizado pelo Assessoria de Gestão Estratégica (AGE), do Ministério da Agricultura aponta que, nos próximos 10 anos, os produtos com maior potencial de crescimento são soja, trigo, carnes, etanol, farelo de soja, óleo de soja e leite. A análise levou em conta uma série histórica de 32 anos, que incorporou efeitos de crises econômicas ocorridas no período. A produção dos principais grãos, como soja, milho, trigo, arroz e feijão, deverá passar de 139,7 milhões de toneladas, em 2007/2008, para 180 milhões, em 2018/2019, crescimento de 28,7%. Já a produção de carnes (bovina, suína e de aves) deverá aumentar em 12,6 milhões de toneladas, totalizando acréscimo de 51%, em relação à produção de 2008. Outros itens com alto potencial de crescimento são: açúcar (mais 14,5 milhões de toneladas); etanol (37 bilhões de litros); e leite (9 bilhões de litros). Segundo a pesquisa, o Brasil manterá sua posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina e de frango. Em uma análise mais ampla, haverá expressiva mudança de posição do País no mercado mundial. A relação entre as vendas externas brasileiras e o comércio mundial mostra que, em 2018/2019, as exportações de carne bovina representarão 60,6% do comércio mundial, as de carne suína, 21% e as de carne de frango, 89,7%. Quanto a outros produtos, o Brasil deve melhorar sua posição no comércio mundial, pela relação entre quantidade de exportações e comércio mundial. Para a soja deverá sair de 36% em 2008, para 40% em 2018/2019; para o óleo de soja, de 63% para 73,5 %; para o milho, de 13% para 21,4%; e para o açúcar, de 58,4% para 74,3%. 65 Terra Brasil Abril/2009 Café é Saúde. ói r e h er p u s te: r Um o f te n e r m a l r a u e g r se e u g . conse noite toda a ção. ê c o v posi is dis dá ma uper. cido Café onhe s c é é fé im e , o ca gent Isso s uita culos Fonte: OIC – Organização Internacional do Café. sé em ra uitos O qu . m e to pa á d n a H o d i r an tá p hum de le es e e pela fé po u a q c é .O abe esmo não s m mo o s is as, co e É ç . r n a e d s do ajud , além vária e r i d n a id o preve obes e o ção e ã s a r s t e o r n e dep ou nã conc É a . s r e ora leta re qu melh de at p o m h e fé. ói? S mpen a ca o her dese r b i e e d le. B verda om e c é um e t on sar, c preci Para um consumo saudável, 66 até 4 xícaras de café por dia. beba Terra Brasil Abril/2009