Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da

Transcrição

Projeto Navega Pantanal capacita população ribeirinha da
Expediente
O
sinal mais visível de que o agronegócio
brasileiro tem reagido positivamente à crise
financeira mundial, apesar de o quadro de
dificuldades e de previsões pessimistas, é
a manutenção do dinamismo do setor, que sendo a
base econômica de mais de quatro mil municípios,
proporciona o superávit da balança comercial e, ainda,
financia o déficit dos demais setores da nossa economia.
Mesmo sob o impacto da crise, o Brasil plantou uma
área equivalente a do ano anterior e tem a estimativa
de queda na produção de 8%, o que significa voltar
ao nível da penúltima safra. O recuo se dará,
principalmente, na produtividade, devido à diminuição
do uso de tecnologia e de fertilizantes. Vale lembrar,
no entanto, que a seca no Sul do País, no início de
2009, também contribuiu para esse resultado.
Com a intenção de garantir renda ao produtor, o
governo federal reforçou o orçamento que dá cobertura
às operações de apoio à comercialização para 2009.
Com aporte suplementar de R$ 1,5 bilhão, o total
disponível passa a ser de R$ 5,2 bilhões, o que permitirá
a garantia dos preços mínimos aos produtores evitando
que uma redução dos preços no mercado possa
comprometer a situação financeira da agropecuária.
Nesta edição, divulgamos o comportamento do
mercado do agronegócio brasileiro e indicamos
alguns exemplos de como os produtores brasileiros
estão usando a pesquisa agropecuária e a
experiência para superar os efeitos da crise.
Conselho Editorial
Wilma Annete Cesar Gonçalves, Neuza
Arantes Silva, Tony Geraldo Carneiro, Jorge
Caetano Junior, Helinton José Rocha, Débora
de Freitas Oliveira Pinheiro, Marconni
Sobreira, Eliana Maria Martins Ferreira.
Redação
Editor Executivo
Adélia Azeredo
Editor
Rosa Reis
Projeto Gráfico
SLA Propaganda / Mauro YBarros
Fotografia
Antônio Carlos, Nilton Matos da Silva
Impressão
Gráfica Brasil
Colaboradores
Eline Santos, Hilda Guimarães, Inez De Podestà,
Jean Peverari, Kelly Beltrão, Laila Muniz,
Liz Weingartner, Paulo Henrique Tavares,
Regina Rabelo, Suely Frota, Thiago Ferreira.
Circulação Nacional
Tiragem: 50 mil exemplares
Distribuição
Assessoria de Comunicação Social
[email protected]
Central de Relacionamento
0800-704199
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Catalogação na Fonte
Biblioteca Nacional de Agricultura – BINAGRI
Terra Brasil. Ano 1, nº 1 (dez. 2008) - . – Brasília : Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
V. ; 27 cm.
Quadrimestral
ISSN 1984-204X
1. Agricultura. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Assessoria de Comunicação Social. II. Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
AGRIS A01
CDU 630
SUMÁRIO
03
ESPECIAL
08
POLÍTICA AGRÍCOLA
15
PESQUISA E TECNOLOGIA
24
DEFESA SANITÁRIA
35
PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
41
COMÉRCIO E MERCADOS
Projeto Navega Pantanal capacita
população ribeirinha da maior
planície alagável do mundo
Brasil é o quarto país que
mais contrata seguro rural.
Foram destinados R$ 176
milhões para o ano de 2009
Há 20 anos a vassoura-de-bruxa mudou a
realidade social no sul da Bahia. A pesquisa é a
esperança daqueles que não desistiram do cacau
Brasil amplia controle de
resíduos e contaminantes em
produtos de origem vegetal
Produto orgânico contribui
para qualidade de vida
A crise e as oportunidades
para o agronegócio brasileiro
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ESPECIAL
Evaldo Rosa
aprimorou o
trabalho, graças
ao Navega
Pantanal
Boas práticas
agropecuárias com
educação e inclusão
digital
Projeto Navega Pantanal capacita população
ribeirinha da maior planície alagável do mundo
D
espertar com o
alvorecer, tomar
um café da manhã
reforçado extraído do campo e
ir para a lida até
a chegada da noite. Essa é a
rotina do homem pantaneiro, sujeito simples de vestes
típicas, bem- humorado e
com vigor para o trabalho. O
que não é difícil em se tratando do cenário, um dos mais
belos do mundo, o Pantanal.
Lugar que seu Evaldo Rosa
conhece como ninguém,
afinal são 64 anos morando
no sul-mato-grossesense,
com a mulher e filhas.
Capataz da fazenda Rancharia (Corumbá/MS), não pôde
estudar pelas dificuldades
da vida. Agora, aprimora seu
“ofício” com as aulas interativas
do projeto Navega Pantanal.
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“A gente já sabia fazer muitas
coisas no dia-a-dia, mas nem
sempre do jeito certo”, declarou ao se referir a Doma
Racional de Bovinos, um
dos módulos do projeto. “Eu
também aprendi a fazer o
casqueamento dos cavalos do
jeito certo. Antes fazia com o
facão e hoje uso só ferramentas adequadas”, afirmou.
De olhos voltados para o conhecimento, a governanta
da fazenda, esposa de seu
Evaldo, Josefina Diniz, 56,
a “dona Fióca”, também fez
questão de retornar à escola
e aprender técnicas de poda
de árvores frutíferas, artesanato, cultivo de hortaliças e
plantas. Ela expandiu a horta
cultivada na propriedade, deu
vida e cores à fachada de sua
casa, com flores cultivadas
com o adubo caseiro.
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O uso da internet
contribuiu ainda para
aumentar a auto-estima
dos trabalhadores,
que passaram a se
sentir importantes
para a sociedade.
“ Tô até com um
projeto para ervas
medicinais como
aprendi no curso”,
complementa Fióca
que, como o marido,
teve de abandonar cedo os estudos
para trabalhar.
Nascida no Pantanal sul-matogrossense, Fióca estampa um
sorriso de orgulho e satisfação ao
falar do lugar onde mora, apesar das
dificuldades da região. Ela conta que
os computadores utilizados para as
aulas já ajudaram
a salvar a vida de
uma adolescente de
15 anos. “A menina
começou a sentir
uma forte dor no
peito, durante os ensaios da festa
junina da escola. O sinal do rádio
amador tava ruim e sem telefone.
Usamos o computador para pedir
ajuda. Um avião de Rio Verde,
município mais perto daqui, veio
buscar a moça para levar pro hospital”, relatou.
Além facilitar a comunicação na
região, a internet auxiliou na aprendizagem dos alunos, na revisão
e nas pesquisas e conversas com
moradores de outras localidades. “A
gente aprendeu brincando. Tinha
muitas fotos e desenhos. Era fácil
entender o que o professor ensinava”, disse o adolescente Luís Otávio
Arruda da Silva, 14. “As aulas eram
interessantes, dava para ver muita
coisa, pesquisar na internet e
tirar dúvidas”, completou o jovem
Leandro Correia Ferreira, 14.
Com metodologia desenvolvida para
a região, o projeto atendeu alunos de
várias faixas etárias, inclusive nãoalfabetizados. O peão, Cícero Zacarias de Melo, 31, aprendeu a zelar
pela higiene na hora de vacinar o
rebanho. “Antes a gente só lavava a
seringa, não sabíamos esterilizar
corretamente. Agora aprendemos
que é preciso limpar ela certo para
aplicar os medicamentos”, disse.
A mudança desse e de outros comportamentos dos agricultores
trouxe tranquilidade ao pecuarista,
Luciano Leite de Barros, 49, para
administrar sete mil cabeças de
gado orgânico, em 14 mil hectares.
Os 15 funcionários da fazenda
Rancharia, incluindo o proprietário, assistiram as aulas com os
temas de interesse de cada um.
“Eles entenderam que fazem parte
da fazenda e começaram a tomar
conta que precisavam anotar tudo
o que faziam, desde o nascimento
do bezerro ao número da vaca. Isso
me deu mais confiança de deixar a
propriedade nas mãos deles, já que
venho pra cá só duas vezes por mês”,
enfatizou Barros ao ressaltar que
todo o rebanho é rastreado seguindo as normas sanitárias.
Segundo o pecuarista, o uso da
internet contribuiu ainda para aumentar a autoestima dos trabalhadores, que passaram a se sentir
importantes para a sociedade. “Às
vezes eu fico sabendo das notícias
da fazenda através do MSN dos
meninos. Eu tô lá em Campo Grande
e entra o Tiaguinho na internet e
diz: “oi tio!” Daí eu pergunto: “o que
Barco transportando
equipamentos e utensílios
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o povo fez no campo hoje?” E ele
responde todo feliz: “Isso não tem
preço”, concluiu Barros.
Para esse trabalho, 25 bases foram
montadas em escolas públicas municipais e estaduais na região pantaneira de Mato Grosso do Sul (ver
gráfico). Todas são informatizadas,
com sinais de satélite para voz,
imagem e dados, possibilitando a
todos participarem de aulas interativas, internet e vídeos didáticos.
As aulas virtuais, que tratavam de
assuntos relacionados ao agronegócio, foram ministradas na Universidade para o Desenvolvimento
do Estado e da Região do Pantanal
(Uniderp/Anhanguera), em Campo
Grande/MS. Os 67 módulos trabalhados seguiram cinco eixos
temáticos: Práticas Agropecuárias,
Inclusão Digital, Fortalecimento de
Práticas Pedagógicas, Empreendedorismo e Administração e Melhoria da Qualidade de Vida.
O projeto Navega Pantanal, uma
iniciativa do Ministério da
Agricultura, Pecuária
e Desenvolvimento
(Mapa) e da Fundação
Manoel de Barros
(FMB), seria para
o setor agropecuário, prejudicado
pela distância e
falta de fluxo das
informações,
acabou por
incluir a questão
social das famílias ribeirinhas,
uma vez que as temporadas de
cheias dificultam o deslocamento
dos moradores e a prática de atividades essenciais para a população
e a economia daquela região. “Já
estamos sentindo falta das aulas.
Ainda temos muito que aprender”,
reclama Fióca.
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Pequena história
A
realidade das famílias
pantaneiras é condicionada à distância entre
as fazendas e ilhas em
relação às cidades mais
próximas e ao ciclo das cheias, que
ocorre de novembro a março. Durante
esse período, as águas da parte alta
da bacia (pla-nalto) escoam para
a parte baixa (planície) formando
lagos, conhecidos como baías.
Para romper o isolamento geográfico
e tecnológico das comunidades e
setores produtivos do Pantanal
sul-mato-grossense foi criado o
Projeto Navega Pantanal. Idealizado
em 2006, foi executado em 2007 e
2008. “O projeto nasceu com muita
descrença e a participação da comunidade surpreendeu”, ressaltou o
professor Celso de Souza Martins, 49.
As bases funcionavam em escolas
públicas das prefeituras ou pelo
governo estadual, em propriedades
rurais. Os alunos se deslocavam por
mais de 70 quilômetros a cavalo ou
remando barcos, durante mais de
quatro horas. As aulas eram aos
sábados, mas durante a semana os
participantes acesssam o programa.
Foram trabalhados 67 módulos.
O canal estabelecido com o homem
pantaneiro supriu a carência de
meios de comunicação na região,
já que o sinal de telefone celular
praticamente inexiste e o rádio
amador é precário. Nas bases do
Navega Pantanal, os moradores
contaram com um canal aberto 24
horas para dialogar, obter informações e tirar dúvidas sobre as aulas.
Em 2007, foram realizadas 14 mil
capacitações. Os professores Eloty
Schleder e Gustavo Nadeu Bijos
apresentaram os módulos Apicultura Básica e Divisão de Enxames, no
ciclo evolutivo das abelhas. A médica
veterinária Melissa Amin mostrou
as alternativas de aproveitamento
do leite, conscientizando sobre a
importância dos cuidados com
a higiene, desde a ordenha até a
fabricação do queijo, no módulo
Produção de Queijo Minas Frescal.
O Pantanal é a maior
planície alagada do
planeta, com área de
150 mil quilômetros
quadrados, concentrados
em Mato Grosso do Sul
(65%) e Mato Grosso
(35%), habitada por
aproximadamente 650
espécies de aves, 264
espécies de peixes, 50 de
répteis, 80 de mamíferos e
vasta vegetação.
A professora Silvia Gervásio coordenou o módulo Manejo do Lixo
Doméstico no Ambiente Pantaneiro.
Os alunos aprenderam também
sobre Manejo de Vaca de Cria e o
Mexilhão-Dourado na Bacia do Rio
Paraguai e o Uso do Fogo no Pantanal.
Segundo o professor Martins, a
diferença de comportamento e
interesse das comunidades ficou
evidente, sentiram-se valorizadas
e assistidas. “Isso gerou resultados
em sistemas de produção alternativos e aperfeiçoamento das técnicas
aplicadas”, informa Martins.
O Mapa e a FMB contaram com os
parceiros Pró-Reitoria de Extensão
da Universidade para o Desenvolvimento do estado e da Região do
Pantanal (Uniderp/Anhanguera),
Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural - Administração Regional de
Mato Grosso do Sul (Senar-Ar/MS),
Embrapa Gado de Corte, Embrapa
Pantanal, Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS),
Parque Regional do Pantanal,
Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de MS (Famasul),
Secretaria Estadual de Educação
e prefeituras dos municípios de
Aquidauana, Corguinho, Corumbá,
Miranda, Porto Murtinho e
Rio Verde de Mato Grosso. “Foi
uma experiência única em áreas
longínquas no País e no mundo.”
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Bases de atividade do Projeto Navega Pantanal
no Mato Grosso do Sul
Rompendo barreiras
Na base de Paraguai-Mirim, muitas crianç
as e adultos
nunca tinham visto um aparelho de televi
são. “Foi
um ganho social para a comunidade. Eles
navegaram
na internet, trocando informações, global
izados.
Nós fizemos um link e a imagem voltou e
quando
eles se viram na tela ficaram maravilha
dos”,
conta o professor, Júlio César de Albuqu
erque
Setti, 52, coordenador pedagógico do pro
jeto.
Na comunidade indígena dos Guatós, div
isa com Mato
Grosso, a instalação
da base foi uma verdadeira aventura,
com o acesso apenas por barco ou avião.
No local já tinha escola,
um telefone público, mas não havia sinal
de internet. “Quando
começamos a trabalhar e divulgar alguma
coisa na internet, a
comunidade nos procurou. Os índios se inc
luíram no projeto.
Eles são apicultores, trabalham com a pes
ca, cultivam banana,
arroz irrigado, melancia e abóbora, par
a a subsistência da
comunidade, que vive na ilha de Insua”
, destacou Setti.
No final do ano passado, as comunidades
ribeirinhas do rio
Paraguai participaram de aulas sobre apr
oveitamento da
carne do peixe. Na falta de energia elétri
ca para armazenar
as iscas e os peixes utilizados para o con
sumo e vendidos para
turistas, abriam, filetavam e salgavam
os pescados, que eram
desidratados com o sal. “Através de par
ceria com a UFMS nós
levamos módulos de saúde, pois constatam
os que a maioria das
pessoas era hipertensa, com dieta muito
rica em sal. Falamos
outras maneiras de armazenar o pescado
e da agroindústria
de linguiça de peixe e peixe defumado. Com
isso, eles
agregaram valor ao que estavam venden
do, além de contarem
com formas saudáveis de alimentação “,
explicou Setti.
Entrevista
A professora Maria Valéria Mello Vieira Toniazzo
é presidente da Fundação Manoel de Barros, que tem o
projeto Navega Pantanal como carro-chefe. Em entrevista à revista Terra Brasil ela fala sobre o trabalho com
as comunidades, desenvolvimento e valorização das
atividades agropecuárias no Pantanal, parceria com o
Mapa e a proposta do novo projeto.
Terra Brasil - O que pôde ser constatado em termos de melhorias junto
às comunidades trabalhadas ao longo do projeto?
A autoestima. Hoje eles se sentem parte do mundo, pois obtêm informações
e se comunicam com todos os lugares. O projeto possibilita se tornarem
iguais aos outros. Hoje têm interesse em se instruírem, tanto que a própria
comunidade apresenta demanda de mais de 300 módulos e nós só executamos 67.
Terra Brasil - A principal fonte de renda e subsistência das famílias ribeirinhas está no setor agropecuário. Quais foram os principais temas
abordados nesse sentido e que atividades foram desenvolvidas?
A bovinocultura desponta, mas existem também a fruticultura e a horticultura, além de outras culturas. Nós pensamos em propriedades rurais e sustentáveis. E quando a gente fala em trabalhar isso, falamos em técnicas de
produção da banana, por exemplo, e no aproveitamento total da fruta com
receitas culinárias da casca e da fibra da bananeira. O artesanato também
tem forte manifestação no Pantanal. Na questão da melhoria da qualidade de vida, falamos muito de saúde, porque não temos médicos. Passamos
orientações sobre saneamento básico, higiene pessoal e procedimentos para
acidentes domésticos ou com animais peçonhentos.
Terra Brasil - O projeto foi desenvolvido junto com o Mapa. Qual é a
avaliação dessa parceria?
O Ministério da Agricultura acreditou no projeto inovador, sem precedentes, e aportou recursos para o Navega Pantanal. Imagina pedir recursos para
uma coisa que ninguém nunca fez? Manter uma estrutura tecnológica em
25 lugares, com o ciclo das águas e estradas mudando a cada estação e levar
informação à distância? O ministério acreditou, apoiou, esteve presente nas
ações. Não existiria o projeto Navega Pantanal sem o Mapa, até porque é dele
o conhecimento da agropecuária que muitas vezes tivemos que recorrer.
Terra Brasil - O projeto inicial termina em março. Existe uma nova
proposta encaminhada ao Mapa. Algum novo projeto?
Sim. A demanda é grande para expansão do projeto. Hoje temos 25 bases
e vamos aumentar para 35 nos próximos dois anos. O governo de Mato
Grosso nos procurou para instalar algumas bases-piloto no estado. É outra
realidade e nós pensamos em iniciar com cinco bases de fácil acesso para a
fundação. Os assuntos são de interesse comum: comunidades mato-grossenses no Pantanal. Pretendemos reformular o site para oferecer os vídeos
das aulas aos alunos. Estamos detalhando a ampliação do Navega Pantanal
em 2009/2010, com o orçamento de cerca de R$ 4 milhões, maior que o da
primeira etapa, com de R$ 1,4 milhão.
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Terra Brasil
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Reconhecimento exterior
Os resultados do projeto
Navega Pantanal surpreendem
lideranças políticas, sociais
e rurais do País e do mundo,
como a Exposição Internacional sobre Água e Desenvolvimento Sustentável
(Expo Zaragoza), realizada na
Espanha, no segundo semestre do ano passado. Os
100 países participantes
apresentaram experiências
científicas, tecnológicas e
sociais inseridas em um projeto
global, eficaz e solidário. O
Brasil retratou o Pantanal, o
Nordeste e regiões que cultivam matérias-primas para a
produção de biocombustíveis.
O Navega Pantanal, experiência em gestão de recursos
hídricos e participação cidadão
apresentada pelo Brasil,
impressionou os europeus
pelos princípios conceituais
e pelas imagens. O projeto
tem formato ousado, uma
iniciativa histórica de difusão
de tecnologias e conhecimento
nas comunidades
O Navega
rurais.
Pantanal
mostrou que o A probrasileiro faz
posta
jus à fama de
chamou
criativo e que
a atenção
está investindo internapositivamente cional
em suas
pela moreservas
tivação
ambientais
de comunidades
isoladas. Também foi destaque
a inserção dessas comunidades em temas atuais.
Entrevista
Márcio Portocarrero é Secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa e um dos entusiastas do
projeto. Sempre acreditou em alternativas que ultrapassam os
domínios do ministério para se tornar instrumento privado e
público da cidadania das comunidades. Em entrevista à Terra
Brasil, ele fala sobre a decisão do Mapa em apoiar o projeto,
avalia abrangência e resultados do Navega Pantanal.
Terra Brasil - O que levou o
Mapa a se tornar parceiro
do Navega Pantanal?
Em primeiro lugar, o que nos
levou a decidir pelo Pantanal foi
o isolamento dos agricultores da
região, que provoca o êxodo rural
e a busca de oportunidades e de
conhecimento. Outro motivo foi a
necessidade de estabelecer canais de
comunicação com produtores rurais,
empregados e gerentes para transferir informações sobre questões
sanitárias, dos animais e plantas,
as boas práticas agropecuárias, o
manejo dos rebanhos e alimentação.
Terra Brasil - A princípio, o
projeto seria para o setor agropecuário, mas acabou abrangendo
as famílias ribeirinhas proporcionando a inclusão digital.
Como o Mapa avalia isso?
A nossa preocupação ao avaliar o
projeto foi quanto aos objetivos
específicos, ou seja, apresentou
disciplinas técnicas e serviu de canal
de comunicação para transmitir
informações o agronegócio. Ao
constatar que o programa fez mais,
dinamizou a comunicação na
região, como “janela digital para
o mundo”, nos sentimos duplamente realizados, pois os recursos
destinados ao projeto extrapolaram os benefícios propostos.
Terra Brasil - Um novo projeto
deverá ser aprovado. Qual é a
posição do Mapa? A parceria
envolvendo outros ministérios deve acontecer para dar
continuidade à iniciativa?
Qual a previsão do trabalho?
Estamos estudando a proposta do
novo projeto e pretendemos apoiálo financeiramente. O projeto foi
divulgado nos ministérios, como os
da Integração e da Ciência e Tecnologia, demonstraram interesse em
parceria. Entendemos que o modelo
aprovado deve ser estendido à toda
região pantaneira e no MT, e pode
servir de instrumento balizador
para outras comunidades isoladas
do Brasil, como as do semiárido
nordestino e da Região Amazônica.
Terra Brasil – Por ser mais
abrangente, a nova proposta
para o Pantanal sul-matogrossense e em Mato Grosso,
propõe além da aquisição de
mais equipamentos, contratação de pessoal, entre outras
novidades. Como o ministério
encara as mudanças? Existem
recursos disponíveis? Qual
seria o repasse público?
O ministério avalia o novo projeto
como um aperfeiçoamento do
primeiro e é natural que tais mudanças impliquem em melhorias.
Quanto aos recursos, poderemos
ampliar mais nessa etapa, pois
aguardamos o descontigenciamento
dos recursos do governo federal
para dar andamento ao processo
de contratação e participação
dos ministérios da Integração e da
Ciência e Tecnologia, inclusive no
orçamento. Ainda não foi definido o
valor de repasse para o novo projeto.
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Terra Brasil
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POLÍTICA AGRÍCOLA
Governo e produtor
assumem prêmio do
Seguro Rural
Brasil é o quarto país que mais contrata seguro rural. Foram
destinados R$ 176 milhões nesta modalidade para o ano de 2009
A
s adversidades climáticas podem ocorrer
a qualquer momento.
Nenhum produtor
está imune à ocorrência de chuvas, granizo ou seca nas
lavouras. Para se prevenir desses
eventos da natureza existe o seguro
rural. Como o risco da agricultura
é elevado, o governo subvenciona
parte do pagamento do prêmio
desse seguro. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), por meio do Programa de
Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural
(PSR), permite a cobertura de 76
culturas nas modalidades agrícola,
pecuária, florestal e aquícola.
No município de Maringá, no
Paraná, o engenheiro agrônomo
Flávio de Araújo Vieira, de 37 anos,
contratou o seguro rural há cinco
meses e segurou 455 hectares de
milho e soja. “Considero essa ação
primordial para prevenção de
sinistros. No meu caso, o seguro é
feito por meio da média da produtividade do município. Por exemplo,
se a média é de três mil quilos por
hectare e colho 1,5 mil, tenho o restante coberto”, explicou.
Vieira ressaltou, ainda, o aumento
da subvenção paga pelo governo
a partir desta safrinha de milho,
que subiu de 60% para 70%. “Esse
percentual é muito bom e os procedimentos para fazer o seguro são
simples. Pedi financiamento no
banco, passei pela análise de crédito
e pela vistoria de um agente, que
verificou o plantio da lavoura. Vale
ressaltar que esse financiamento
não é obrigatório para conseguir
contratar o seguro”, enfatizou.
Em alguns casos os agricultores
recebem indenização. Foi o que
ocorreu com Antônio Silvio Agustini, de 46 anos, proprietário de uma
fazenda no município de São Pedro
do Ivaí/PR. “Desde que adotei o
seguro, há doze anos, já tive que
acioná-lo quatro vezes. “Em 2004,
minha lavoura foi vítima de geada.
Em 2005, 2006 e 2008 o plantio de
soja apresentou baixa produtividade”, informou.
Hoje, o Brasil já é o quarto país
que mais contrata o seguro rural,
ao somar o sistema privado e a
garantia oferecida pela União por
meio do Proagro e Proagro Mais.
Os primeiros lugares estão com os
Estados Unidos, Canadá e Espanha.
De 2007 a 2008, as adesões ao programa passaram de 31,6 mil para
60,1 mil. A modalidade agrícola
foi a de maior adesão, com 59,7 mil
contratos, seguida da florestal, 200
e pecuária, 182. As regiões que mais
contrataram o seguro foram a Sul,
com 37,9 mil operações, e a Sudeste,
12,5 mil.
No ranking dos estados mais assistidos destacam-se o Paraná, com 21,8
mil, Rio Grande do Sul, 10,5 mil, e
São Paulo, 8,2 mil. No que se refere
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Terra Brasil
Abril/2009
aos valores segurados, houve salto
de R$ 2,7 bilhões, em 2007, para
R$ 7,2 bilhões, em 2008. Desses, a
soja contribuiu com R$ 3,1 bilhões,
o milho com R$ 1,2 bilhão e o arroz
com R$ 550,5 milhões, o que representou a cobertura de 4,8 milhões
de hectares.
O Ministério da Agricultura aplicou
em subvenção do seguro rural, em
2008, R$ 157,5 milhões, o que representa mais que o dobro do investido
em 2007, (R$ 61 milhões) e cinco
vezes mais que a quantia desembolsada em 2006, R$ 30 milhões. Dessa
forma, o programa contribuiu para
o aumento dos produtores beneficiados, que passou de 16,7 mil, em
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Terra Brasil
Abril/2009
2006, para 44 mil, em 2008. Em
2009, foram destinados recursos
orçamentários de R$ 176 milhões,
com demanda apresentada pelas
seguradoras de R$ 272 milhões.
Para possibilitar a cobertura suplementar de resseguro e aumentar a
oferta por parte das seguradoras,
está em tramitação no Congresso
Nacional o Projeto de Lei nº 374
de 2008, que cria o Fundo de Catástrofe. De acordo com o diretor do
Departamento de Gestão de Risco
Rural do Mapa, Welington Soares
de Almeida, essa é uma ferramenta
importante que contribuirá para
que seguradoras e resseguradoras
aumentem suas aplicações. “Prin-
cipalmente nos estados de clima
mais instável, como é o caso do Rio
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul,
em que as responsabilidades desses
estabelecimentos irão até um limite.
A partir de determinado percentual,
passará a ser coberto pelo fundo”,
explicou.
O secretário de Política Agrícola do
Ministério da Agricultura, Edilson
Guimarães, ressalta que hoje as
seguradoras são responsáveis por
até 15% do risco das adversidades
climáticas e as resseguradoras
por 85%, mas ainda existe a possibilidade de catástrofes, que podem
ocorrer num estado inteiro, potencializando o prejuízo das segura17
Terra Brasil
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doras. “Com isso, a criação do fundo será fundamental
para dar segurança ao sistema. A nossa meta é agir em
conjunto com as seguradoras e resseguradoras e aumentar, neste ano, em 80% a área coberta pelo seguro rural,
que alcançou, em 2008, 7%, dos 66 milhões de hectares
cultivados com culturas anuais e permanentes. Quando
a cobertura está relacionada aos seguros públicos e privados, o número chega a 11 milhões de hectares, o que
representa cerca de 20% da área”, destacou.
Para o produtor
fazer o seguro
rural e ter acesso
à subvenção é
indispensável
seguir o
zoneamento
agrícola.
Seguradoras
No País oito seguradoras atuam no ramo do seguro
rural. Nos Estados Unidos já são 16. A que liderou o
número de adesões, em 2008, foi a Aliança do Brasil, ao
contratar 37,6 mil operações. De acordo com o diretor
técnico dessa companhia de seguros, Wady Cury, a importância segurada chegou a R$ 4,5 bilhões, com cobertura de 3,6 milhões de hectares, o que representa 63%
do mercado. “Os agricultores interessados em contratar
o seguro rural podem fazer isso por meio das cooperativas,
que têm corretoras atuando no sistema. No nosso
caso, operamos por intermédio do Banco do
Brasil e o processo é feito junto
à obtenção do financiamento
para custeio”, destacou.
Zoneamento
O SETOR EM NÚMEROS
Para ter direito à subvenção ao
prêmio do seguro rural, o produtor
deve seguir as indicações do zoneamento agrícola de risco climático.
Estudo capaz de minimizar os efeitos
de perda da produção. O sistema
analisa informações sobre solo, clima
e cultivares, indicando a possibilidade
de determinado evento climático
não coincidir com as fases mais sensíveis das
culturas. O estudo é elaborado todos os anos,
de acordo com a cultura e unidade da federação.
Para verificar se o clima é favorável ao plantio
de determinado produto são utilizadas séries
históricas com, no mínimo, 20 anos de dados
sobre chuvas coletadas de 3,5 mil estações pluviométricas de instituições públicas e privadas
no País.
Para o produtor fazer o seguro rural e ter acesso
à subvenção é indispensável seguir o zoneamento agrícola. Além disso, as financeiras se
valem desses estudos para diminuir os riscos
de sua carteira de crédito.
Veja o desempenho do
seguro rural no Brasil nos
últimos anos.
A nova fase do seguro rural no
Brasil, que começou em 2005,
teve crescimento acelerado nos
últimos três anos.
O Governo Federal assumiu valor equivalente a quase
metade do prêmio dos produtores no ano passado.
“Eles têm papel fundamental na
hora de contratar o seguro. Cobrimos as perdas efetivas decorrentes
dos efeitos climáticos, mas o agricultor tem que fazer a parte dele
que é plantar de forma adequada,
utilizar as sementes recomendadas, fazer a correção do solo e, principalmente, no período recomendado pelo zoneamento agrícola”,
explicou Wady Cury.
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Terra Brasil
Abril/2009
Programa
Criado em 2003 pela Lei nº. 10.823,
o Programa de Subvenção ao Prêmio do
Seguro Rural garante o pagamento de
parte do prêmio do seguro rural contratado pelo produtor. A subvenção,
na modalidade agrícola, varia de 40%
a 70% do valor do prêmio do seguro,
limitada a R$ 96 mil por ano. No caso
da pecuária, florestas e aquicultura,
o percentual de subvenção é de 30%
do valor do prêmio, limitado a R$ 32
mil por ano. O seguro agrícola cobre,
principalmente, perdas decorrentes de adversidades climáticas. A
modalidade de pecuária indeniza
as mortes de animais destinados ao
consumo, reprodução, cria, recria,
engorda e trabalho por tração. Já o
seguro aquícola cobre morte e outros
riscos de animais aquáticos.
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Terra Brasil
Abril/2009
É
tempo de colheita de milho, soja e arroz. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá produzir 57,2 milhões de toneladas de soja na safra 2008/2009, em 21,4 milhões de hectares de área plantada.
Com isso, permanecerá em segundo lugar no ranking de produção mundial,
atrás dos Estados Unidos, que têm previsão de plantio de 80,5 milhões de
toneladas. Para o milho, estima-se produção de 50,3 milhões de toneladas
e, para o arroz, 12,4 milhões de toneladas.
Tempo de colheita
para as culturas
de milho, soja
e arroz
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Terra Brasil
Abril/2009
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Terra Brasil
Abril/2009
Calendário do Plantio e Colheita da Soja
torno de R$ 32 a saca de 50 quilos.
“Esse valor é conside- rado rentável
pelos produtores. Em termos de
estoques, o governo tem 600 mil
toneladas. Portanto, é possível realizar, no segundo semestre de 2009,
leilões de estoque, mas não de intervenção de preços”, explicou.
Arroz
A colheita de arroz começou na
região centro-sul em março e deve
terminar em abril. Nas regiões
Norte e Nordeste, tem início em
abril e deverá ser finalizada em
junho. A chuva contribui para a germinação do grão, principalmente
no plantio irrigado. Recomenda-se
que o solo tenha entre cinco e dez
centímetros de água e que a temperatura registre mais de 15ºC. Esses
fatores concorrem para o florescimento da planta. O período entre
as fases vegetativa e reprodutiva
pode ser superior a 120 dias.
Por apresentar sensibilidade às adversidades climáticas, os produtores
de arroz devem aderir à técnica do
zoneamento agroecológico. Assim,
é possível identificar a melhor
época de plantio para não perder a
lavoura. Para o coordenador-geral
de Cereais e Culturas Anuais, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Sílvio
Farnese, a queda na produção de arroz na Argentina
e Uruguai permitirá que
os preços do produto
per ma neça m no
p at a m a r d e
20 0 8, em
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Terra Brasil
Abril/2009
Soja
A soja é um grão versátil, com produtos e subprodutos usados pela
agroindústria, indústria química
e de alimentos. Na alimentação
humana pode ser encontrada na
fabricação de chocolate e temperos
para saladas. Já a proteína de soja
está nos ingredientes de massas,
produtos de carne, cereais, misturas
preparadas, bebidas, alimentação
para bebês e produtos dietéticos.
Proveniente da Ásia, a soja começou
a ser plantada no Brasil na década
de 1970. “Tornou-se a cultivar mais
produzida por ser uma commodity
economicamente vantajosa para
o País, que tem tecnologia e clima
favoráveis. Hoje, como segundo
maior exportador, nosso maior
mercado é Europa, Ásia e China”,
ressaltou.
De acordo com o pesquisador da
Embrapa Soja, José de Barros
França Neto, o primeiro passo
para um bom plantio é tratar
a semente com fungicidas,
que protegem de doenças como a
ferrugem da soja e de fungos do solo.
“Depois, é importante manter a
temperatura do solo acima de 18ºC.
Além disso, não pode haver chuvas
torrenciais no plantio. A colheita
ideal é no período sem chuva, que
favorece a secagem natural da soja.
O ciclo dura até 130 dias. No caso da
variedade precoce pode ser de 110
dias”, explicou.
Para armazenar o grão é importante
que a umidade esteja inferior a 13%.
Caso contrário, haverá deterioração
da qualidade, pois diminui a quantidade de proteína, que é de 40%, e
de óleo, 60%. “Para obter máxima
produtividade a melhor época de
plantio é no final de outubro e início
de novembro, porque a maioria
das variedades de soja está mais
adaptada ao clima desse período. Os
estados do Paraná e Mato Grosso,
os maiores produtores, conseguem
alcançar três mil quilos por hectare”,
enfatizou França Neto.
Milho
Hoje, 80% da produção de milho
se destina à ração animal, especialmente de suínos e aves, e o Brasil é
o terceiro maior produtor, atrás dos
Estados Unidos e China. De acordo
com o pesquisador da Embrapa Milho
e Sorgo, José Carlos Cruz, a colheita de
milho ocorre de 120 a 160 dias após
o plantio e o atraso na colheita pode
ocasionar a quebra ou tombamento do
milho, devido à ocorrência de ventos.
“Além disso, há possibilidade de ocorrência de pragas, o que contribuirá
para o aumento das perdas e redução
da produtividade. Para tanto, o ideal é
o produtor colher o grão com 20 a 25%
de umidade e efetuar o processo de
secagem antes de armazená-lo com
umidade de 13 a 14%”, explicou.
Sílvio Farnese explica que mais de
20% do patamar do milho foi corrigido em 2008 e a expectativa do Ministério da Agricultura é que o mercado,
este ano, gire acima do preço mínimo.
O milho 1ª safra está concentrado
nos estados do Paraná, Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul. Na região Centro-Sul, a colheita começa em fevereiro com previsão de término em
abril.
Nas regiões Norte e Nordeste, o
início é em maio e o término
em julho. Já a safra de
inverno é plantada nos
meses de janeiro e fevereiro e colhida entre
junho e setembro.
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Terra Brasil
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VITICULTURA
Produção Vinícola Valduga (Bento Gonçalves/RS)
Vinhos: A tradição
da Serra Gaúcha
C
ompanhia agradável e
conversas interessantes
sugerem um bom vinho.
Seja ele branco, tinto,
rosé ou espumante, o
que importa é a preferência de cada
brasileiro. Para isso, é necessário
degustá-lo de forma moderada. No
município de Bento Gonçalves, na
Serra Gaúcha, é possível encontrar
vinícolas em altitudes superiores
a 700 metros e acompanhar todo o
processo de produção, desde a colheita da uva até o engarrafamento
do vinho.
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Terra Brasil
Abril/2009
Além disso, os interessados podem
participar de cursos de degustação
para saber como segurar uma taça e
apurar o paladar.
A viticultura brasileira ocupa área
de 71 mil hectares, com vinhedos desde o extremo sul do Brasil
até regiões próximas à linha do
Equador. O Rio Grande do Sul se
destaca por contribuir, em média,
com 500 milhões de quilos de uva
por ano.
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Terra Brasil
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Produção da Vinícola Don Giovanni
(Bento Gonçalves/RS)
Produção da Vinícola Valduga
(Bento Gonçalves/RS)
Uma pequena parte é destinada ao consumo in natura e o
restante à elaboração de 350 milhões de litros de vinho, o
que representa mais de 90% da produção do vinho nacional. Ao todo, 20 mil famílias gaúchas têm, na uva, o salário
anual.
Depois de escolher o restaurante e a comida, muitos brasileiros ficam indecisos sobre o vinho para tomar. Sóciogerente de uma churrascaria em Bento Gonçalves, Milton
Santin, dá algumas dicas: “Para acompanhar massas ou
carne vermelha, sugiro os tintos e secos. No caso de carnes
brancas, como galeto e peixe, o vinho branco é a melhor
pedida. Já para os iniciantes, aconselho vinhos jovens com,
no máximo um ano, que são mais leves”, explicou.
Segundo Santin, é possível encontrar 150 rótulos de
vinhos nas 20 vinícolas da cidade. Os maiores consumidores são homens de 30 a 50 anos. A preferência feminina é
pelo vinho espumante doce Moscatel, com teor alcoólico
de 7%. “Esses também são os mais utilizados para happy
hour e comemorações como formaturas e casamentos.
Os preços dos mais vendidos variam de R$ 15 a R$ 30”,
explicou.
Métodos de elaboração do vinho espumante (em açúcar por litro):
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Terra Brasil
Abril/2009
O período que a uva fica no vinhedo pode variar de acordo com
o tipo e destinação do vinho desejado. O diretor-presidente de
vinícola Valduga, Joarez Valduga, diz que nos 140 hectares de
seus vinhedos, as uvas permanecem seis meses na parreira
para produção de vinhos brancos ou tintos jovens. Já no caso
dos espumantes, são necessários 24 meses no primeiro estágio.
“Isso garantirá a qualidade dos produtos. Em 2008, produzimos 1,2 milhão de litros de vinho, 7% foram exportados para
países como Alemanha, República Checa, Suíça e Hong Kong”,
enfatizou.
No mercado interno, a média anual de consumo é de dois litros
por pessoa. Uma das metas do setor para 2009 é aumentar essa
quantidade. Segundo o gerente de produção da Vinícola Cave
de Amadeu, Ignácio Geisse, 14 hectares de sua propriedade são
destinados ao plantio de uva. A produção alcança 126 mil quilos,
o que corresponde à colheita de nove mil quilos por hectare.
“Os maiores consumidores nacionais são Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo”, ressaltou.
Na vinícola Cave de Amadeu os funcionários atuam como sócios
e se sentem donos do negócio. “Isso contribui para aumentar a
renda, já que não precisam se preocupar com moradia”, explica
o engenheiro agrônomo, Mario Geisse.
Para dar suporte à fiscalização e ao desenvolvimento da uva e do
vinho foi criado o cadastro vitícola. Em 2007, o Rio Grande do
Sul registrou 38,5 mil hectares de área cultivada. Teve destaque
a cultivar Isabel, que cobriu 10,6 mil hectares. “Podemos usá-la
na fabricação de suco, vinho de mesa e consumo in natura. Em
segundo lugar aparece a cultivar Bordô, que ocupa 6,7 mil hectares”, explicou a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Loiva Ribeiro de Mello.
Selo fiscal
A Câmara Setorial da Cadeia
Produtiva de Viticultura,
Vinhos e Derivados aprovou,
neste ano, a adoção do selo fiscal
para vinhos nacionais e importados. Entretanto, os representantes do setor apresentaram
algumas ressalvas. Entre elas,
o estabelecimento do prazo
de dois anos para avaliação da
medida, a colocação do selo dos
vinhos importados pelo país
de origem (e não nos pontos de
internalização do produto), a
redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para
os produtos genuínos (vinhos)
e aumento de tributo para os
derivados da uva e do vinho.
Entre os benefícios da adoção
do selo destacam-se: facilidade
na identificação dos produtos, inclusive nos postos de
distribuição, controle dos
volumes comercializados
pelas empresas, inibição da
sonegação fiscal e combate à
concorrência desleal do setor.
Para os desafios de 2009, o
presidente da Câmara Setorial, Hermes Zaneti, ressalta
a importância de impedir o
contrabando, reduzir a carga
tributária e intensificar a
fiscalização dos produtos.
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Terra Brasil
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Certificação de
Armazéns: Brasil tem
regulamentação de
vanguarda
O
s prestadores de serviços de armazenagem deverão
se adequar, a partir de 1º de janeiro de 2010, às condições estabelecidas pelo Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras (SNCUA), coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), com a participação do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A certificação é o reconhecimento da competência técnica e logística para serviços específicos, prestados dentro de um padrão
mínimo de qualidade, com requisitos legais estabelecidos para o
exercício da atividade. Entre as vantagens da certificação está o
aprimoramento técnico das unidades, não só pela qualificação
dos seus serviços, mas pela avaliação dos usuários e a sustentabilidade do negócio.
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Certificação
lificar os armazéns destinados à
guarda e conservação de produtos
A assessora de Gestão Estratégica agropecuários.
do Mapa, Denise Deckers, confirma que a certificação aumenta O armazenador deixa de ser um
a credibilidade brasileira frente prestador de serviços de guarda
aos mercados externos. As novas e conservação de estoques para
regras estão baseadas em requisitos se tornar um agente de mercado,
técnicos obrigatórios e outros reco- parceiro de seus clientes, com
mendados. Ela explica que algumas liberdade para comercializar
medidas indispensáveis na vistoria mercadorias próprias ou de terda unidade armazenadora, como ceiros, neste caso quando autoripor exemplo, balança rodoviária, zados pelo depositante, afirmou
sistema de prevenção a incêndios, a coordenadora de Logística da
equipamentos de proteção indi- Produção Agropecuária, da Sevidual, sistema de pré-limpeza e cretaria de Desenvolvimento
acompanhamento por responsável Agropecuário e Cooperativismo
técnico.
do Mapa, Maria Auxiliadora Domingues de
O sistema exige comSouza. “A certificação
provação do manejo
restituirá a credibiliadotado durante o
dade do sistema arO
sistema
de
período de armazenamazenador brasileiro,
armazenagem
é
um
mento: da recepção à
oferecendo condições
dos
principais
elos
expedição do produto,
de competitividade no
entre
a
produção
e
passando pelo contromercado globalizado”,
o
comércio.
A
safra
le de entrada, secagem,
acrescenta Souza.
brasileira
tem
peso
operações fitossanitásignificativo
na
rias e controles especíO coordenador da
balança comercial
ficos para auditorias.
Comissão Consultiva
e no Produto
do SNCUA , Pedro
Deckers lembra que
Interno Bruto (PIB)
Beskow, acredita que
os requisitos técnicos
e precisa de um
as novidades, impleforam definidos para
suporte moderno
mentadas pela nova
os armazéns de grãos
e eficiente para
e fibras, em ambiente guardar e conservar legislação, vão modernizar e profissionanatural (sem refrigeraa mercadoria.
lizar o setor de armação). Já as regras para
zenagem e propiciar
o armazenamento de
produtos agropecuámeios para reduzir
rios e seus derivados,
as perdas que ainda
subprodutos e resíduos, estocados ocorrem. A exigência de certificana forma líquida e em ambiente ção de produtos é uma tendência
artificial (refrigerados), serão defi- mundial. “A cada ano, os países
nidas posteriormente.
importadores, principalmente,
O SNCUA vem para exigir regras e europeus e asiáticos, passam a
procedimentos de gestão que qua- exigir o processo de informação
lificam e habilitam os armazéns. mais detalhado sobre a produção
O Mapa aprovou as condições e armazenagem dos produtos
técnicas e operacionais para qua- agrícolas”, informa.
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Terra Brasil
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Rastreabilidade
Para Beskow chegará o momento
de exigência da rastreabilidade total
da cadeia agroalimentar. “Quando
isso ocorrer, o SNCUA já estará implantado e em condições de atender
as exigências do armazenamento”.
São atividades que vão desde a definição de requisitos de guarda e
conservação, registro das operações
da unidade, capacitação técnica dos
operadores das estruturas, práticas
adequadas de procedimento das
operações até as recomendações de
controle da qualidade dos produtos,
principalmente, no tocante a resíduos tóxicos e microtoxinas.
Beskow acredita que essas questões
colocam a regulamentação do armazenamento nacional à frente dos
praticados nos outros países. “O resultado será um produto de melhor
qualidade, tanto para exportação,
como para consumo nacional e uma
redução sensível das perdas decorrentes dessa atividade”, declara.
Pela normativa, a certificação será
obrigatória para as pessoas jurídicas que prestam serviços remunerados de armazenagem de produtos
a terceiros, inclusive de estoques
públicos. De acordo com Deckers, o
Mapa pode ampliar a exigência para
outras unidades armazenadoras,
conforme prevê a legislação. Já unidades armazenadoras não certificadas ficam impedidas da atividade
remunerada.
O SNCUA será submetido às avaliações periódicas pela Comissão
Técnica Consultiva, formada por representantes do Mapa e armazenadores. O sistema de armazenagem
no Brasil possui 16,7 mil unidades
públicas e privadas, com capacidade
para guardar até 127 milhões de
toneladas.
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Terra Brasil
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Construção da eclusa no
Rio Tucuruí, no Pará
Hidrovias reforçam escoamento
de cereais e carne para
exportação
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Terra Brasil
Abril/2009
As alternativas para escoar a produção agrícola permitem que os
agricultores comercializem a preços competitivos e conquistem mercados
externos, como Estados Unidos e Europa.
A
tendência de utilizar
ferrovias e hidrovias
é crescente em várias
regiões do País, do Tocantins ao Rio Grande
do Sul. Recentemente,
uma cooperativa agropecuária de
Tocantins procurou a Companhia
Docas do Pará (CDP) para arrendar
um terminal de armazenamento
e de embarque no porto de Vila do
Conde, no município de Barcarena, a
120 quilômetros de Belém.
A diretora de Gestão Portuária da CDP,
Maria do Socorro Pirâmides Soares,
acredita que o arrendamento de espaço
físico nos portos públicos para embarcar a produção para outros países facilita a rotina dos produtores e evita a contratação de atravessadores. “A operação
portuária sai a preço de custo para o
cooperado e sua mercadoria chega ao
destino a preços atrativos”, explica a
diretora, acrescentando que metade
dos 190 hectares de área do porto está
disponível para arrendamento.
Porto de Vila do Conde
Estratégico por sua localização e
importância econômica, esse porto
é responsável por 75% do movimento de carga do Pará. Está a 7.741
km do porto de Roterdã (Holanda),
enquanto o de Santos/SP fica a
10.741 km e o de Paranaguá/PR, a
11.041 km.
A capacidade operacional do complexo portuário vai aumentar com
obras previstas obras no Programa
mento, Biramar Nunes de Lima, o
planejamento estratégico do governo
prevê que, até 2023, as hidrovias
deverão escoar 29% das cargas, as
ferrovias, 32%, e as rodovias apenas
33%. “A expectativa é que, em dez
anos, tenha-mos uma matriz mais
Nova opção de escoamento da
produção de grãos e carne com o Porto
Vila de Conde (Barcarena/PA)
de Aceleração do Crescimento (PAC)
orçadas em R$ 100 milhões, destacando-se a dragagem dos berços que
permitirá acesso a navios de maior
porte. O sistema está recebendo
reforço com a construção da rampa
roll-on/roll-off, que vai possibilitar
a operação de comboio de barcaças
fluviais, que transportam cargas
provenientes da rede de hidrovias do
interior do Pará e de outros estados.
O Ministério da Agricultura mantém
uma equipe de fiscais da Unidade de
Vigilância Agropecuária (Uvagro),
que inspecionam a entrada e saída dos
produtos do agronegócio no porto.
Além de Vila do Conde, o Pará possui
os portos de Belém, Miramar, Santarém, Altamira, Itaiuba e Óbidos.
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Terra Brasil
Abril/2009
Cargas refrigeradas
Pecuaristas da região Sul mostraram interesse em instalar três
plantas de frigoríficos no Pará para
exportar carne congelada. O porto
está equipado com um terminal
de contêineres, o Convicon, para
atender à demanda de carga que necessita ser congelada para manter a
qualidade essencial do produto.
Animais vivos
O porto tem estrutura para embarcar também animais vivos. Só
no ano passado, mais de três mil
búfalos foram transportados para a
Venezuela, além de outras remessas
para o Líbano.
equilibrada, com mais investimentos
em ferrovias e hidrovias”, enfatiza o
diretor.
O uso das hidrovias vem aumentando gradativamente. Dos 42 mil quilômetros de rios navegáveis no Brasil,
8,5 mil (20%) são efetivamente uti-
lizados. Pelos cálculos da Associação
Nacional dos Usuários de Transporte
de Carga (Anut), 74 milhões de toneladas de grãos foram transportados
pelas rodovias brasileiras, 47 milhões
pelas estradas de ferro e nove milhões
pelas vias fluviais, em 2008.
Hidrovias, a navegação
interior
O uso das vias fluviais no transporte
de grãos torna o agronegócio brasileiro
mais competitivo. Segundo o técnico
da Antaq, José Renato Ribas Fialho,
além de transportar grandes quantidades de carga, barcaças e comboios
são mais econômicos. “Além disso, as
hidrovias são menos poluentes, com
emissões de 74 gramas de monóxido
de carbono (CO2) a cada mil toneladas
por quilômetro, enquanto no modal
rodoviário esse número sobe para
219 e, no ferroviário, 104 gramas”,
explica.
De acordo com o diretor de Infraestrutura e Logística do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abasteci-
Eclusas da UHETucuruí
O reinício das obras das duas eclusas e do canal intermediário no rio Tocantins vai restabelecer a navegabilidade interrompida pela Usina Hidrelétrica de Tucuruí
(UHT). A eclusa é uma obra de engenharia hidráulica,
que facilita a navegação em locais onde há desníveis,
como barragens, quedas de água e corredeiras.
Na opinião do gerente de Programação e Planejamento
das Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte), Francisco Eufrantz Fernandes, as eclusas vão vencer
um desnível de 72 metros de altura e permitir o tráfego
de comboios de até 20 mil toneladas de carga. “A região
apresenta grande potencial econômico, em função do desenvolvimento agropecuário e agroindustrial, jazidas minerais e recursos naturais que poderão ser transportados
por via fluvial”, informa.
Benefícios para a região
Para o gerente de Desenvolvimento e Regulação da Navegação Interior, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), do Ministério dos Transportes, Adalberto
Tokarski, o projeto vai possibilitar o escoamento de minérios e de cereais para a exportação. “É um importante investimento para a economia da região compreendida entre
o sul do Pará e o nordeste de Mato Grosso, que exporta
grande parte dos produtos pelos portos de Paranaguá/PR
ou de Santos/SP, via modal rodoviário, e pequena parte
pela ferrovia Norte-Sul, até o porto de Itaqui/MA.
“A expectativa é diminuir o custo do frete no deslocamento de grãos, principalmente, no chamado corredor
centro-norte do País” acrescenta. O corredor envolve cinco
estados com potencial agrícola - Mato Grosso, Pará, Tocantins (nordeste), Piauí (sudeste) e Maranhão (sul).
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Terra Brasil
Abril/2009
PESQUISA E TECNOLOGIA
O Amargo
do Chocolate
Há 20 anos a vassoura-de-bruxa se
instalou e se espalhou nos cacaueiros e
mudou a realidade social no sul da Bahia.
A pesquisa é a esperança daqueles que
não desistiram do cacau
“D
inheiro perdeu a importância’, costumava dizer o coronel
Maneca Dantas tempos depois.
Ilhéus e a zona do cacau nadaram em ouro, se banharam em
champagne, dormiram com francesas chegadas do Rio de Janeiro”. O trecho do livro
São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado, narra
a fase de ouro do cacau no sul da Bahia, em
meados de 1940.
Muita coisa mudou na terra do baiano Jorge
Amado, depois que a vassoura-de-bruxa
dizimou os cacaueiros (o galho da planta
atacada fica com aspecto de uma vassoura, daí o nome). A praga precisa de vento e
umidade para se espalhar. E encontrou na
37
Terra Brasil
Abril/2009
frutos de
ouro
Bahia o ambiente propício. Em
cinco anos infestou as plantações
de cacau. Entretanto, naquela
região, restam aqueles personagens, diferentes dos coronéis
descritos por Jorge Amado.
Em Itabuna/BA, Roberto Pereira
- usa roupas comuns e botas de
borracha - mostra sua proprieda-
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Terra Brasil
Abril/2009
de com 30 hectares que sobraram
após a vassoura-de-bruxa. “Vendi
cabeças de gado, imóveis e continuo com esta pequena área. Minha
vida é o cacau”, enfatiza.
Pereira presenciou o declínio das
colheitas que passaram de 460 mil
toneladas por ano para menos de
um quarto do total. As dele, que
colheram três mil arrobas ao ano,
agora totalizam 400. Mais de 200
mil pessoas ficaram sem emprego e
100 mil hectares trocaram o cacau
pelo pasto.
A economia despencou e
deixou de circular US$ 1,5
bilhão na região de Ilhéus. Em
1983, o Brasil vendia 55% de
cacau em amêndoas passando a exportar apenas 1% em
2007. As processadoras exportaram, em 1979, US$ 956
milhões de cacau e em amêndoas, líquor, (produto extraído
da moagem das amêndoas),
manteiga e pó, declinando para
US$ 158 milhões em 1999.
Hoje, o agronegócio do cacau
envolve ainda 47 mil propriedades
agrícolas, em seis estados brasileiros, sendo quase 30 mil no sul da
Bahia. De acordo com o boletim
trimestral de estatísticas de cacau
da Organização Internacional do
Cacau (ICCO, sigla em inglês), a
safra brasileira 2007/2008 alcançou 160 mil toneladas em amêndoas.
O declínio após a vassoura-debruxa trouxe um novo comportamento ao País em relação ao cacau,
que passou a exportar produtos
semi-industrializados ou processa-
dos em amêndoas com maior valor
agregado.
Entre 1983 e 2007, a exportação da
manteiga de cacau passou de 12%
para 39%. O líquor saiu de 19% para
15%. A torta de cacau se manteve
estável em 10% e o cacau em pó
passou de 4% para 35%.
A exportação de cacau e derivados
totalizou mais de R$ 421 milhões
em 2007, envolvendo cinco indústrias processadoras e as chocolateiras, representadas por 98 fábricas
filiadas à Associação Brasileira dos
Chocolateiros (Abicab), que juntas
faturaram R$ 7,2 bilhões.
No mercado internacional, o cacau
está favorecido pelos déficits de
produção registrados nos últimos
anos. A cotação na bolsa de Nova
York atualmente se situa em torno
de US$ 2,5 mil a arroba/tonelada.
Em preços internos, R$ 90 a arroba
ou R$ 6 o quilo de cacau seco.
Clonagem
A recuperação da cacauicultura
que vem ocorrendo, se deve à implantação de tecnologias de convivência com a vassoura-de-bruxa.
Os trabalhos de melhoramento
tecnológico voltaram, quase que exclusivamente para encontrar fontes
de resistência ao fungo, desde que se
instalou no sul da Bahia.
Entre as técnicas aplicadas, a que
mais apresenta resultados positivos
é a clonagem. Os primeiros clones
foram desenvolvidos e lançados em
1995, por agrônomos da Comissão
Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac). A técnica consiste
em uma variedade de cacau melho-
O cacaueiro é orig
floresta pluviais da inário de regiões de
até hoje, é encontra América Tropical onde,
desde o Peru até o Mdo em estado silvestre,
acreditam que o cacaéxico. Os botânicos
ceiras do rio Amazonu é originário das cabeduas direções princi as e se expandiu em
grupos importante pais, originando dois
s, o criollo e o foraster
o.
O criollo se espalhou
ao norte, ingressandem direção
Central e sul do Méxo na América
frutos grandes, com ico. Produz
enrugada, as semen superfície
tes
grandes, com o inte são
ri
ou violeta pálido. Foor branco
i o tipo
de cacau cultivado pe
índios Astecas e Mai los
as.
Já o forastero se es
pela bacia amazônicpalhou
abaixo e em direção a
Guianas. É consider às
verdadeiro cacau br ado o
asileiro
rada, pelo homem ou pela natureza, que é multiplicada assexuadamente e apresenta as mesmas
características da planta matriz.
Na cadeia produtiva do cacau, o clone
permite a reprodução das características desejáveis como resistência
a doenças e pragas, alta produtividade, tamanho da semente (peso
e número), arquitetura da planta,
porte e outras características.
Hoje são 38 clones disponíveis
ao produtor. Alguns, como o
CCN 16 e o Ipiranga 1 são muito
superiores aos primeiros clones.
Já o CCN 51 produz de 21 a 26
sementes por fruto, com 2 gramas
cada semente. O cacau tradicional
produz cerca de 35 sementes, com
1 grama cada.
e se caracteriza por
superfície lisa, impefrutos ovóides, como
ou enrugada. O inte rceptivelmente sulcada
violeta escuro ou, al rior de suas sementes é
gumas vezes, quase
preto.
Oficialmente, o culti
vo
do
cacau começou
no Brasil em 1679, at
ravés da Carta Régi
que autorizava, os co
a
em suas terras. Com lonizadores a plantá-lo
Pará para concretizaeçou inicialmente no
sou, principalmente r essa diretriz fracasdaquela região. Apes, pela pobreza dos solos
1780, o Pará produz ar disso por volta de
cacau. O cultivo, en ia mais de 100 arrobas de
beleceu naquele temtretanto, não se estasimples atividade ex po e permaneceu uma
trativa até anos rece
ntes.
Em 1752 foram feito
s
os
pr
im
ei
ro
s
plantios na região de Ilh
adaptou bem ao climéus/BA. O cacau se
Bahia, região que pr a e solo do sul da
75% do cacau brasileoduz hoje cerca de
Santo com 3% e a A iro, ficando o Espírito
mazônia em 22%.
Fonte:
COMCAUBA/ACB.
“O plantio clonal é mais uniforme,
facilitando o uso das práticas culturais. Além disso, diminui os custos
e aumenta a produtividade”, explica
João Dantas das Virgens, extensionista rural que atende a mais de 103
fazendas no sul baiano.
Dívidas
A falta de domínio das técnicas
para combater o fungo da vassourade-bruxa trouxe, junto o empobrecimento da região e o endividamento do produtor. Em duas décadas,
os cacauicultores somam mais de
R$ 960 milhões em empréstimos bancários não- pagos.
A recuperação da lavoura
cacaueira recebeu investimento por meio do Plano de
Desenvolvimento do Agronegócio na Região Cacaueira do Estado da Bahia (PAC
do Cacau), que vai investir
R$ 2,4 bilhões até 2016. Os
recursos são direcionados
às dívidas rurais, pesquisas
e incremento na produção
consorciada com seringueira e dendê.
39
Terra Brasil
Abril/2009
Biofungicida
A vassoura-de-bruxa na Amazônia
ataca espécies dos
Endêmica na Amazônia, a vassoura-de-bruxa ária. Além desses
gêneros Theobroma e Herrania na floresta prim strado atacando
hospedeiros, o causador da praga tem sido regi
outros vegetais como o cipó e urucuzeiro.
stro mais antigo
De acordo com o pesquisador Pedrito Silva, o regi
de 1885, pelo
data
icas
da ocorrência da praga em áreas amazôn
io de viagem
diár
seu
no
pesquisador Alexandre Rodrigues Ferreira
rmando que
info
o,
Negr
Rio
Phylosophica pela Capitania de São José do
zônia, coAma
da
os
ueir
já em 1785 tal doença era comum nos caca
nhecida, vulgarmente, por lagartão.
clonagem do caAssim como no sul da Bahia, as pesquisas com
ltados. Mais de 100
caueiro na Amazônia estão trazendo bons resu diversos ecossiscombinações híbridas de cacau foram testadas em pos de produção
temas. Cerca de 15 híbridos fazem parte dos cam
aos agricultores da
de sementes de cacau, distribuídos anualmente idade e resistência
região, com resultados satisfatórios por produtiv
à vassoura-de-bruxa.
40
Terra Brasil
Abril/2009
As ações governamentais equacionam dívidas dos produtores,
estimulam a implantação de
pequenas fábricas de chocolate
e cacau fino nas propriedades,
por meio de associações e cooperativas. “Dentro de pouco
tempo o Brasil voltará a atingir
níveis de produção compatíveis
com o parque industrial do País”,
preconiza Jay Wallace da Silva
e Motta, diretor da Comissão
Executiva do Plano de Lavoura
Cacaueira (Ceplac).
A expectativa é que as ações
resultem em um significativo
impacto nos níveis de produção
do principal pólo produtor do
País. Outro avanço importante,
será proporcionado pela instalação de pequenos projetos de
processamento de cacau, que
estão sendo desenvolvidos nas
regiões produtoras, permitindo
a exploração de um mercado
com preços mais remuneradores ao produtor.
Roberto Pereira é um dos 30
mil produtores da Bahia que
acreditam que o cacau trará de
novo a riqueza. “Eu fui o único
Como parte do controle integrado, os pesquisadores da Ceplac
desenvolveram o biofungicida
Tricovab. O produto biológico é
obtido pela multiplicação natural
do fungo Trichoderma stromaticum dentro de um processo tecnológico que envolve pesquisas
de laboratório em diversas áreas.
Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a vassourade-bruxa ataca inicialmente
frutos, brotos e almofadas florais,
causando queda da produção,
desenvolvimento anormal e até
a morte da planta em situações
de extremos da doença.
A pesquisa teve início na Amazô-
nia e, em 1995, os estudos foram
implementados no município de
Urucuça/BA (primeiro foco da
vassoura-de-bruxa detectado
no estado). Os testes mostraram
que o fungo benéfico Trichoderma stromaticum controla o
fungo maléfico Moniliophthora
perniciosa, reduzindo o poder
de reprodução e disseminação.
A aplicação do Tricovab é feita
com pulverizações sobre vassouras removidas das plantas
infectadas deixadas no solo,
em período de chuvas. Deve ser
realizada em intervalos de 30
dias em quatro etapas, diluindo
dois quilos de Tricovab em 320
dos dez irmãos que continuou com
a lavoura. Era o mais rico e hoje sou
o mais pobre”, diz ao lembrar que
já colheu de 50 a 70 arrobas por
hectare, ganhando US$ 4 mil por tonelada. Hoje, colhe 10 a 18 arrobas
por hectare e recebe, no máximo,
US$ 1,8 mil por tonelada.
A lição de casa é feita diariamente
com manejo integrado da lavoura e
clonagem do cacaueiro. A esperança
de que tempos melhores virão, está
litros de água. “A eficácia pode
chegar a 90%”, explica João de
Cássia do Bomfim Costa, pesquisador da Ceplac. A praga morre
porque o fungo antagônico
vence a disputa por alimento e
espaço, diminuindo a capacidade de sobrevivência do fungo.
O Tricovab ainda não é comercializado porque está em
processo de registro, atendendo
às exigências dos órgãos fiscalizadores. “Será um produto
comercial à disposição do
produtor de cacau como mais
uma ferramenta tecnológica
para o controle da vassoura-debruxa”, explica João de Cássia.
em cada cacaueiro de Pereira – que
ganham nome como as novilhas de
um pecuarista.
Nessa realidade, é possível confundir o cacauicultor com algum personagem do livro São Jorge dos Ilhéus,
que o autor Jorge Amado intitulou A
terra muda de dono. “..a última parte
deste livro é o começo de um novo
romance que os homens do cacau
estão vivendo dramaticamente, e
que eu não sei quem escreverá”.
41
Terra Brasil
Abril/2009
Laboratórios
Agropecuários:
muito além do
diagnóstico
O trabalho do Laboratório Nacional
Agropecuário é referência na
garantia da qualidade dos alimentos
consumidos no Brasil e no exterior
42
Terra Brasil
Abril/2009
A
o comprar uma carne
no supermercado,
a garantia de que é
segura para consumo
é comprovada por
meio de inspeção nos abatedouros e
frigoríficos. Mas poucos imaginam
que para assegurar a qualidade
do produto, muitas vezes, o Laboratório Nacional Agropecuário
(Lanagro) precisa entrar em ação.
Esse trabalho é fundamental, no
caso das carnes, para investigar
a fundo a suspeita de doença, os
resíduos de medicamentos veterinários, a qualidade da ração ingerida pelo animal e, inclusive, averiguar se o produto comercializado
é o mesmo mencionado no rótulo.
Essas são apenas algumas das
várias análises realizadas por
um serviço que, a princípio, pode
parecer de bastidor, mas é estratégico na defesa agropecuária
do Brasil. Nesse contexto, o
trabalho dos Lanagros garantem
segurança alimentar aos
consumidores nos aspectos de
inocuidade, qualidade e identidade
dos produtos e subprodutos de
origem animal e vegetal, além
da qualidade dos insumos agropecuários promovendo, assim, a
sanidade animal e vegetal.
43
Terra Brasil
Abril/2009
Em 2008, a Rede Nacional de Laboratórios
realizou mais de 20 milhões de análises.
Laboratório Nacional de Agricultura
(Pedro Leopoldo/MG)
Para o coordenador-geral de Apoio Laboratorial, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa),
Abrahão Buchatsky, os laboratórios definem ações e conferem qualidade aos
serviços que o Ministério da Agricultura desenvolve. “Os resultados que os laboratórios emitem norteiam o trabalho das demais áreas da Defesa para fomentar o
agronegócio brasileiro”, enfatiza.
No município mineiro de Pedro Leopoldo, situado ao norte de Belo Horizonte,
está uma das seis unidades do Lanagro. Nos 24 mil metros quadrados do complexo laboratorial, em meio a microscópios, balanças de precisão e tubos de
ensaio, veterinários, agrônomos, farmacêuticos, químicos e físicos realizam
ensaios cuja duração pode variar de minutos a meses. Entre diferentes procedimentos, são diagnosticadas doenças que acometem os animais, como brucelose
e tuberculose.
Uma vez dentro do Laboratório de
Diagnóstico de Doenças Bacterianas,
o recipiente é aberto e, por se tratar de
uma zoonose, o procedimento é feito
em condições seguras. Os técnicos
registram o material a ser processado.
O preparo da amostra leva um dia
inteiro e o resultado para a tuberculose
é obtido, em média, em dois meses e
meio. Em 2008, o setor realizou cerca
de 600 amostras, com previsão de
crescimento para este ano. Por dia, a
equipe realiza uma média de 20 análises.
Diagnóstico de tuberculose bovina
Durante o processamento, a amostra
Ao entrar no Laboratório de Diagnóstico de Doenças Bacterianas do Lanagro/ passa por avaliação macroscópica,
MG, o controle é rigoroso. Para evitar contaminação, os visitantes devem vestir para identificar a presença de lesão.
avental e calçar pró-pé, uma espécie de sapatilha descartável. Acompanhamos Em caso positivo, chega a vez de isolar
um diagnóstico bacteriológico de tuberculose bovina. Logo na porta, o aviso de a bactéria e, para isso, a amostra é
descontaminada com ácido sulfúrico
que aquele é um ambiente de risco biológico.
6%, que elimina os
O coordenador de Biossegurança do Lanagro/MG, Pedro
outros microorganMota, explica que o material suspeito de lesão de tuberculose “Os Laboratórios, não somente ismos e deixa vivo
normalmente vem de frigoríficos onde há atuação do Serviço importantes, são estratégicos apenas o Mycobacde Inspeção Federal (SIF), mas, em situações eventuais, pode
terium bovis, agente
e definem ações, conferindo
ser encaminhado por veterinários autônomos. A amostra susetiológico da tuberqualidade aos serviços do
peita, obtida a partir de tecido do animal – normalmente fragculose bovina.
Ministério da Agricultura.”
mentos de pulmão - chega ao setor de recepção, é identificada
Em seg u id a , é
Abrahão Buchatsky
e encaminhada ao local onde ocorre o diagnóstico. “A amostra
feita uma série
Coordenador-geral
de
Apoio
deve ser levada ao laboratório conservada em gelo, obedecendo
de lavagens para
Laboratorial do Mapa
todos os critérios de cuidado”, afirma.
retirar o ácido e
Para o trabalho a ser realizado, é importante que o material
preparar o inóculo
esteja acompanhado de formulário com seu histórico complea ser corado em lâmina pelo método
to. “Tudo é muito bem documentado, aquela amostra deve ter uma rastreabili- Ziehl-Neelsen. A técnica é a mesma
dade; por isso, precisamos saber de onde ela veio. Epidemiologicamente, é mais usada para detectar a tuberculose do
relevante saber a propriedade de onde o animal saiu do que o estabelecimento ser humano. Quando introduzido nos
que o abateu”, completa Mota.
meios de cultura, o crescimento do
44
Terra Brasil
Abril/2009
Mycobacterium bovis será observado
por 10 semanas. Caso não haja crescimento, pode significar que o resultado
foi negativo para a doença. De cada
100 amostras com lesões características de tuberculose, aproximadamente
70 podem ser isoladas em meio de
cultura.
A etapa final do procedimento vem
após o crescimento da bactéria. Nela,
ocorrem as provas bioquímicas que
confirmam o isolamento do Mycobacterium bovis.
O trabalho da equipe de Pedro Mota
dá respaldo técnico aos fiscais do SIF.
“Existem algumas lesões que são parecidas com as provocadas pela tuberculose e, dependendo da intensidade,
a carcaça deve ser condenada. Então,
os colegas do serviço de inspeção precisam do respaldo laboratorial para
averiguar se aquelas lesões são mesmo
de tuberculose”, esclarece.
Como tantos outros procedimentos
nos Lanagros, essa é uma das ações
que preserva a saúde do consumidor.
“O ser humano não pode consumir
carnes ou lácteos contaminados por
Mycobacterium bovis, agente etiológico
da tuberculose em bovinos, pois a
bactéria causa as mesmas lesões do
Mycobacterium tuberculosis, agente
etiológico da tuberculose humana”,
adverte.
Atendendo ao agronegócio
A rede de Laboratórios Agropecuários tem unidades oficiais em
Campinas/SP, Pedro Leopoldo/MG,
Goiânia/GO, Recife/PE, Belém/PA e
Porto Alegre/RS. Ainda que estrategicamente localizados nas cinco regiões
brasileiras, a ação laboratorial tem o
apoio de doze unidades avançadas e
878 laboratórios credenciados e fiscalizados periodicamente pelo Ministério da Agricultura. “Quanto maior a
capilaridade da rede, maior agilidade
no atendimento à demanda e maior
atenção à saúde podemos conferir,
principalmente, em um país com as
dimensões continentais do Brasil”,
diz Abrahão Buchatsky.
Para o coordenador, a ideia é ter laboratórios distribuídos de maneira a
atender as necessidades do agronegócio. Dessa forma, os Lanagros são
fundamentais também na hora da
exportação de produtos agropecuários. Por exemplo, exigentes parceiros
comerciais do Brasil auditam as unidades oficiais e credenciadas da rede
e inspecionam o trabalho feito nesses
laboratórios, exigindo, inclusive, a
equivalência de algumas metodologias. É o caso do Programa Nacional
de Controle de Resíduos e Contaminantes, que tem o reconhecimento da
União Europeia e dos Estados Unidos.
“Ao fazer uma análise para exportação, você melhora, consequentemente, o mercado interno”, opina o coordenador do Lanagro/MG, Ricardo
Nascimento. Segundo ele, com instrumentos de análises e metodologias
exigidas por outros mercados, a fiscalização interna se aprimora a cada dia.
Por se tratar de segmento extremamente especializado, com atividades
de precisão, a rede de laboratórios oficiais e credenciados, conta com pessoal
qualificado. São 861 funcionários nas
unidades oficiais e, só no ano passado,
toda a rede foi responsável mais de 20
milhões de análises.
Cada Lanagro, além das análises de
rotina, possui uma determinada expertise. O laboratório de Campinas,
por exemplo, é referência no Mercosul
para identificação de enfermidades
avícolas como doença de New Castle
e influenza aviária, enquanto que o de
Belém realiza o diagnóstico da febre
aftosa. O de Porto Alegre, por sua vez,
controla 100% das vacinas produzidas contra a febre aftosa. Em Recife,
o destaque é para o diagnóstico da
encefalopatia espongiforme bovina
(BSE) e, no laboratório de Goiânia, são
analisados fertilizantes e sementes.
Em 1995, o Ministério da Agricultura
determinou, pela Portaria nº 177,
em 27 de outubro de 1994, que não
seria mais permitida a manipulação
do vírus da febre aftosa em laboratórios sem segurança biológica.
Foram estabelecidas normas de
construção e funcionamento dos
laboratórios para a manipulação
do vírus da febre aftosa.
O Brasil conta com quatro laboratórios particulares de alta segurança, todos fiscalizados pelo Mapa.
O Lanagro/MG abriga uma unidade
de segurança biológica nível 3+.
As instalações e equipamentos
atendem aos requisitos internacionais para trabalho com agentes
patogênicos de alta periculosidade.
Na unidade, são manipulados
organismos de qualquer natureza,
inclusive, aqueles inexistentes no
Brasil, pois está situada em uma área
total de 1.720 metros quadrados
com dispositivos que não permitem
a fuga de microorganismos. O
ambiente é totalmente hermético
e a pressão interna, negativa.
O investimento nessa área de
biossegurança é fundamental para
controlar agentes patogênicos de alto
risco, que poderiam restringir a comercialização de produtos brasileiros,
especialmente, no mercado internacional. A criação da área é uma recomendação da Organização Mundial
de Saúde Animal (OIE) e faz parte
das ações do Programa Nacional de
Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).
DEFESA SANITÁRIA
Brasil amplia controle de
resíduos e contaminantes em
produtos de origem vegetal
E
ste ano, o Brasil contará com mais uma
ação para resguardar a qualidade dos alimentos que chegam às mesas dos consumidores.
O Plano Nacional de Controle de Resíduos e
Contaminantes (PNCRC), para produtos de
origem vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), vai monitorar 17 produtos
para verificar os níveis de agrotóxicos e a presença de
salmonela e aflatoxinas. O principal objetivo do
plano é garantir a segurança alimentar dos
produtos consumidos internamente e dos
que são destinados ao mercado externo.
Além do mamão e da maçã, monitorados desde 2006, o PNCRC vai controlar a
produção de melão, morango, uva, abacaxi,
alface, banana, limão, manga, tomate, batata, pimentado-reino, milho, arroz, amendoim e castanha do Brasil.
Será a primeira vez que a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), avaliará a presença de contaminantes
microbiológicos em produtos de origem animal como a
salmonela, no caso da pimenta-do-reino, e quanto aos
níveis de aflatoxinas, no arroz, milho e castanha do
Brasil.
Inicialmente serão coletadas 30 amostras de cada
produto. “Num primeiro momento, as análises vão
nos dar um panorama da situação no Brasil quanto aos
níveis de agrotóxicos e contaminantes nesses alimentos”, explica o chefe da Divisão Vegetal da Coordenação
de Controle de Resíduos e Contaminantes (CCRC),
Carlos Venâncio. Caso sejam constatados níveis de
substâncias nocivas acima dos estabelecidos, a SDA
encaminhará equipes de fiscalização para desenvolver
campanhas educativas ou mesmo punir os produtores
que agem, comprovadamente, de má-fé na região.
Coleta
No dia 16 de janeiro deste
ano, o Mapa e a Companhia
de Entrepostos e Armazéns
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Terra Brasil
Abril/2009
Gerais de São Paulo (Ceagesp) assinaram termo de cooperação técnica
para a coleta de amostras. O acordo
permite também que a CCRC faça o
rastreamento do produto, uma vez que
os fornecedores da Ceagesp são obrigados a
informar a origem dos alimentos. O entreposto
de São Paulo envia alimentos para 26 unidades federativas.
As estratégias serão diferenciadas para coleta de amostras. As maçãs, por exemplo, que têm sua produção
maior na região Sul do País, serão coletadas nas chamadas packing houses, agroindústrias de beneficiamento
onde as frutas são preparadas e embaladas. As amostras de alface e tomate, por sua vez, serão recolhidas
nos cinturões verdes das grandes cidades em que são
produzidos.
No segundo semestre deste ano, técnicos do escritório
de Alimentação e Veterinária (FVO) da União Europeia
(UE) virão ao Brasil para avaliar o PNCRC para produtos de origem vegetal. Em 2008, a missão da UE testou
e comprovou a equivalência do PNCRC para produtos
de origem animal, com os padrões europeus. O parecer
técnico encaminhado à SDA também destacou a estratégia brasileira para o desenvolvimento dos
laboratórios oficiais, ressaltando que
“resultou em avanços no processo
preparatório para reconhecimento e
validação dos métodos analíticos”.
Laboratórios de Análises
Dos cinco laboratórios responsáveis
pelas análises das amostras do PNCRC para
produtos vegetais, três são credenciados e
dois oficiais. Os Lanagros de Minas Gerais e
Goiás analisam a presença de aflatoxina e salmonela e
os outros três, os índices de agrotóxico. Os limites para
a presença dessas substâncias são estabelecidos pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
47
Terra Brasil
Abril/2009
Produção Sustentável
Produto orgânico
contribui para
qualidade de vida
I
ogurte, suco de pêssego
e pão orgânicos. Esse é
o cardápio preferido para
o café da manhã da estudante brasiliense Nohane
Müller, de 18 anos, que decidiu,
em 2005, fazer uma reeducação
alimentar. A taxa alta de colesterol
no sangue pesou na decisão, pois
estava 20% acima dos níveis considerados normais. “Minha nutricionista sugeriu incluir os orgânicos
na minha dieta. Após um ano, refiz
o exame e o resultado me surpreendeu: reduzi de 220 miligramas para
170 miligramas”, comemorou. Com
isso, a jovem, que sonha em casar e
ter dois filhos, também incentivou
o pai a fazer o mesmo e disse que
passará esse hábito de vida para as
próximas gerações.
Os brasileiros estão, cada vez mais,
em busca de bem-estar. Para isso,
decidem se alimentar de forma
saudável e praticar esportes. Itens
que contribuíram para que Cláudia
Maria de Souza Penuchi, de 38
anos, tivesse uma gestação tranquila. “Quando engravidei, optei
pelos orgânicos e comprei muitas
48
Terra Brasil
Abril/2009
verduras, legumes, frutas e arroz
integral. Isso fez diferença, já que
consegui manter os meus gêmeos,
Eduardo e Henrique, hoje com dois
meses, por 38 semanas. Quando
não estiver mais amamentando vou
alimentá-los com leite em pó orgânico”, ressaltou.
Para o aposentado do Tribunal de
Contas da União (TCU), Expedito Pereira da Costa, de 72 anos, o
hábito de ter produtos orgânicos em
casa foi adquirido aos poucos, por
ele e seus 22 irmãos. “Há três anos
fiz essa opção. Para ter produtos
fresquinhos, levanto todos os dias
cedo e vou ao supermercado. O meu
único esforço é pegar a embalagem e
colocá-la no carrinho”, explicou.
Selo
Para facilitar a vida dos consumidores na hora de identificar se um
produto é de qualidade, que passou
por processo rigoroso de inspeção,
será lançado, no primeiro semestre
de 2010, o Selo do Sistema Brasileiro
de Conformidade Orgânica. Para
usá-lo, os agricultores deverão se
49
Terra Brasil
Abril/2009
o coordenador de Agroecologia do
Ministério da Agricultura, Rogério
Dias.
verificar o processo de produção representantes de supermercados e certificadoras fazem inspeções anuais.
Produção
regularizar no Ministério da Agricultura, até o dia 28 de dezembro
de 2009. Para os agricultores familiares serão fornecidas carteiras de
identificação de produtor orgânico
e cada um será responsável por verificar a qualidade dos alimentos
vendidos pelos “companheiros” em
feiras e Ceasas.
Esse sentimento de confiança,
adquirido com o tempo, é o que
resume a relação entre a corretora
de imóveis, Carmen Figueiredo,
de 59 anos, e o produtor que vende
alimentos orgânicos na “feirinha da
Asa Norte em Brasília”. “Frequento
o mesmo lugar há mais de 15 anos e
sinto como se o agricultor fosse meu
vizinho. Antes, tinha uma chácara
e, desde que vim para cidade, escolhi
os orgânicos. O sabor da banana é
diferente, mais docinho”, enfatizou.
A adoção do selo também vai contribuir para dados estatísticos. Será
possível ter informações sobre o
número de produtores brasileiros,
a área ocupada com esse tipo de
plantação e quanto é produzido.
“Hoje o que temos é uma estimativa
de 15 mil produtores que cultivam
área de 800 mil hectares”, explicou
50
Terra Brasil
Abril/2009
Trabalhar com produtos orgânicos
requer cuidado e preparação. Antes de
começar a plantar é necessário passar
pelo “período de conversão”. Trata-se
do tempo adequado para um produtor deixar a forma convencional e
iniciar a produção orgânica. Para isso,
precisa adotar práticas como substituição de insumos, criação de nova
biodiversidade e elaboração de plano
de manejo. O período da mudança do
sistema convencional para o orgânico
depende da quantidade de insumos
utilizada e do grau de conhecimento
dos produtores em relação à agricultura orgânica.
No plantio de hortaliças, os produtos
passam pelas fases de desenvolvimento vegetativo, formação do fruto
e colheita. O período pode variar de
30 dias (no caso da rúcula) a 90 dias
(cenoura). Após esse processo, são
identificados com data, cultura, setor,
lote, número de caixas e peso. Quando
são produtos in natura seguem para
o setor de embalagem e, no caso
dos processados, passam pela prélavagem. O objetivo é retirar insetos
e terra. Durante a armazenagem, as
hortícolas devem permanecer em
temperatura entre 6°C e 8°C.
Na fazenda Malunga - Pecuária e Agricultura Ecológica, a 75 quilômetros de
Brasília, 150 profissionais atuam nos
setores de verduras, legumes, pecuária e comercialização, distribuídos em
140 hectares, 40 só de hortícolas. Para
distribuídas pelo Brasil, contamos
com nutricionistas que verificam a
qualidade, refrigeração, rastreabilidade, armazenagem e distribuição dos
produtos nas gôndolas”, explicou.
De acordo com a gerente comercial
de Frutas, Legumes e Verduras de
um grupo de supermercados, Sandra
Caíres, os orgânicos representam
2,5% do total das vendas de hortifrutis e os maiores consumidores
estão nos estados de São Paulo e Rio
de Janeiro, além do Distrito Federal.
“Em 2008 tivemos uma receita de
R$ 40 milhões e, nos últimos cinco
anos, temos apresentado crescimento
de 20%”, ressaltou.
Na fazenda Malunga a receita, em
2007, foi de R$ R$ 4 milhões e, em
2008, de R$ 4,8 milhões. “A expectativa é crescermos 25% neste ano. Vale
ressaltar que os nossos funcionários
se sentem donos do negócio, ao receberem 30% do lucro, além disso, temos o
sistema de metas. Quando o número é
alcançado, todos saem ganhando”, explicou a sócia-gerente da propriedade,
Clevane Ribeiro Pereira Vale.
Histórico
Em 2003, foi publicada a Lei nº.
10.831, que trata da produção de orgânicos no Brasil. No dia 28 de dezembro
de 2007, os produtos orgânicos foram
regulamentados, por meio do Decreto
n°. 6.323. Com isso, os alimentos passaram a ter regras de produção, armazenamento, rotulagem, transporte,
certificação, comercialização e fiscalização de produtos. Em outubro de
2008 começaram a ser publicadas as
Instruções Normativas para assuntos
específicos. Entre eles, a implementação da Comissão Nacional de Produção
Orgânica, e a Regulamentação dos Sistemas Orgânicos de Produção Animal
e Vegetal. Neste ano, será escolhido
o selo oficial dos produtos orgânicos
com implementação prevista para o
primeiro semestre de 2010.
Mercado
É possível encontrar produtos orgânicos nos supermercados todos os
dias, não apenas no “Dia do Orgânico”.
Além disso, uma vez por semana, a
população pode conferir, nos estandes
das redes de supermercados, explicações sobre os processos de produção e
amostras para degustar.
O diretor regional de supermercados
do Distrito Federal, Onofre Silva,
diz que a qualidade do produto é primordial. “Temos uma equipe de seis
profissionais que fica na central de
distribuição para cuidar da segurança
alimentar. Em cada uma das 600 lojas
Consumidor
escolhe produto
orgânico
51
Terra Brasil
Abril/2009
“N
Frutas
com
certificação
oficial de
qualidade
Produtores de melão investem
no cultivo com boas práticas
agrícolas, respeitam princípios
da sustentabilidade e
garantem alimento
seguro na mesa do
brasileiro
52
Terra Brasil
Abril/2009
esta área de 180 hectares eu colho quatro mil toneladas
de melão por ano e emprego 150 funcionários com carteira assinada”, diz o produtor José Héliton Almeida, percorrendo a fazenda que lembra uma empresa com regras
e normas para visita. Almeida, agrônomo por formação,
vive em Mossoró/RN, município localizado entre as duas capitais Fortaleza/CE e Natal/RN. Em 2008, o Rio Grande do Norte, responsável por 80%
da produção nacional de melão, exportou US$ 190 milhões para o Reino
Unido, Espanha, Holanda e Estados Unidos.
Para vender o melão para outros países, José Héliton mudou a gestão de
sua propriedade e hoje garante produtos seguros aos consumidores, com
impacto negativo ao meio ambiente e promove a segurança dos trabalhadores rurais. Adotou regras de produção sustentável, empregando tecnolo-gias para controle efetivo, com monitoramento de todas as etapas,
desde a aquisição dos insumos até a entrega ao consumidor.
Os profissionais trabalham em condições de higiene e segurança adequadas, controlam os insumos, o manejo integrado de solo com preservação
do meio ambiente. O sistema de logística permite rastrear o produto da
saída da fazenda, embalado e refrigerado, à gôndola do supermercado.
A propriedade de José Héliton, a 93 quilômetros de Mossoró, na cidade
cearense de Aracati, a fazenda Itaueira produz melão ainda maior em
escala. São 500 hectares e colheita de 27 mil to-neladas/ano e 650
empregados. Apenas a metade da produção fica no mercado interno.
O agrônomo responsável, João José Brasil, mostra as condições de
trabalho respeitadas, aponta o carro com água refrigerada para os
trabalhadores no campo e banheiros químicos instalados a cada 400
metros. Chegando à sede da fazenda, diz orgulhoso: “O bom é descobrir
que o pulo do gato é fazer a coisa certa”.
O agrônomo João
Brasil (Aracati/CE) em
plantação de melão.
Os produtores de melão vivem a realidade de fruticultores brasileiros,
que se adequaram aos requisitos dos
mercados nacional e internacional,
exigidos pela globalização, crescimento populacional do mundo e
motivação para a segurança alimentar. Concluíram que a concorrência
é grande e é preciso provar a qualidade da fruta brasileira.
Mercado
O comércio mundial fruticultor
movimenta US$ 21 bilhões ao ano e
boa parte da demanda é dirigida às
frutas de clima temperado, típicas
do hemisfério norte, embora seja
alto o potencial de mercado para as
frutas tropicais. Incluídas as processadas, esses valores superam
US$ 55 bilhões.
O Brasil vende 1,8% da sua
produção de frutas in natura e
ocupa o 20º lugar entre os exportadores. A tendência é de aumentar
o comércio externo nos próximos
anos, o que torna o momento atual
oportuno para a conquista dos
mercados internacionais. Para isso,
o País precisa arcar com a manutenção e ampliação do agronegócio
de frutas e derivados, focando na
oferta de frutas frescas ou processadas, de acordo com a demanda.
A guinada dos fruticultores brasileiros ocorreu em 1998/1999,
quando a Cadeia Produtiva da
Maçã, pressionada pela União Europeia, procurou o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O principal motivo
da mobilização foram as exigências
de garantias do processo produtivo
da fruta: compradores europeus
ameaçavam não importar maçãs
produzidas pelo sistema convencional adotado.
Assim, o Brasil precisava de um instrumento para orientar e garantir
o processo produtivo da fruta. Um
sistema de produção que, ao mesmo
tempo, atendesse às exigências dos
mercados compradores e fosse condizente com a realidade brasileira.
E principalmente, considerasse a
credibilidade e a confiabilidade do
sistema e dos trabalhos que seriam
desenvolvidos no País.
Sistema
O modelo padronizado pela Produção Integrada de Frutas (PIF)
foi utilizado como referência pelo
Mapa para instituir o Sistema
Agropecuário de Produção Integrada (Sapi). A meta é o estabelecimento de Normativas Reguladoras de
Produção Integrada (NRPI), para
outras cadeias similares.
As frutas são certificadas por empresas auditoras nas propriedades
adeptas ao sistema e que recebem o
selo com chancela do Ministério da
Agricultura e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Inmetro). A
certificação de produto integrado
facilita a identificação e oferece garantias ao consumidor.
O sistema produz alimentos de
alta qualidade, emprega mecanismos reguladores para diminuir os
insumos e contaminantes e, ainda,
assegurar a produção sustentável.
Ou seja, garante a cadeia produtiva, em todas as etapas, com respeito ao meio ambiente, segurança
aos trabalhadores e qualidade do
produto.
Para o coordenador-geral de Sistemas de Produção Integrada do
Mapa, Luiz Carlos Bhering Nasser,
entre as normas obrigatórias e
recomendadas estão informações
sobre boas práticas agrícolas, organização de produtores, comercialização, processos de empacotamento de alimentos seguros, educação
ambiental, recursos naturais, nutrição de plantas, irrigação, colheita e pós-colheita. Nasser enfatiza a
utilização de insumos recomendados e de tecnologias apropriadas
ao manejo. “Com isso, o produtor
consegue, no fim da safra, produtos de qualidade, competitivos no
mercado nacional e internacional”,
explica.
Resultados
Em 2008, a Produção Integrada
de Frutas (PIF) atingiu um número
Melão
Os melocultores tiveram as regras
definidas em junho de 2008, pela
Instrução Normativa No. 36 que estabeleceu os critérios para o manejo
do solo até as técnicas de colheita,
que garantem produtos seguros e
certificados.
Com o apoio da Empresa Brasileira de
maior de produtores, inclusive os
melocultores do Ceará e Rio Grande
do Norte. Eles engordam os números
brasileiros de adesão às exigências
do mercado. São 56 projetos e 42
culturas em 18 estados: Bahia,
Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí,
Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo,
Sergipe, Tocantins e Distrito Federal.
O total corresponde a mais de 2,3
mil adesões de produtores e empresas, 64 mil hectares e 1,6 milhão de
toneladas de frutos colhidos.
Além do melão, o programa tem
normas técnicas publicadas
para as culturas da banana, caju,
caqui, coco, figo, goiaba, laranja,
lima ácida tahiti, lima da pérsia,
maçã, mamão, manga, maracujá,
morango, pêssego, citros e uva.
Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
unidade Agroindústria Tropical, em
Fortaleza, os agricultores participaram de capacitação para as normas
técnicas da produção integrada no
cultivo do melão.
As exigências vão desde a organização dos produtores, capacitação de
mão-de-obra ao planejamento ambiental. Por meio de auditorias, os
Consumidor
Em 2001, apenas a lg umas
frutas estavam incluídas no
sistema de produção integrada.
Aos poucos, estão sendo incorporados grãos, café, raízes, hortícolas, flores, carnes e leite. Para
2009, serão instalados projetos
para as culturas de cana-de-açúcar, milho, espécies agroflorestais
da Amazônia, plantas medicinais
e caprinocultura leiteira.
O resultado vai além de frutas
para exportação. Hoje, o consumidor brasileiro tem outro perfil,
com exigências de qualidade,
origem e respeito ambiental na
produção da fruta que ele leva
para casa. A fazenda Itaueira, em
Aracati, fornece metade da produção para o mercado interno e
produtores comprovam o respeito
às normas, antes de receber o selo de
conformidade das safras colhidas.
“Pode significar aumento de exportação para países que restringem o
comércio de produtos sem garantia
de processo”, explica Raimundo
Braga Sobrinho, pesquisador da
Embrapa e coordenador da produção
integrada de melão.
tem atitude diferenciada. “Recebi
uma correspondência do cliente
devolvendo o melão porque não
estava tão doce quanto imaginava”, conta o agrônomo João
José Brasil. “Assim como nas indústrias alimentícias, enviamos
outros melões com a qualidade
exigida pelo consumidor”.
Essa realidade é, segundo o
pesquisador da Embrapa, José
Eduardo Borges de Carvalho,
resultado do Sapi. Ele justifica a
preocupação do consumidor com
as frutas produzidas pelas boas
práticas agrícolas e respeito ao
meio ambiente. “A resposta da
produção integrada estabelece,
principalmente, uma relação de
confiança do produtor com o consumidor”.
55
Terra Brasil
Abril/2009
Integração Lavoura
Pecuária Silvicultura
Brasil pode aumentar
capacidade produtiva do
agronegócio recuperando
áreas degradadas
“A
quilo ali é o resultado de mais de
50 anos de exploração desregrada
do solo”, denuncia o produtor rural Ovídeo
Müller, apontando para o alto
de um morro onde a terra está
tomando o lugar da vegetação. Há mais de duas décadas
Müller, um gaúcho de 59 anos,
migrou para Mato Grosso do
Sul, onde possui uma fazenda
de 700 hectares para criação de
gado de corte, em São Gabriel
do Oeste. Há cerca de três
meses tomou a decisão de implantar a produção integrada
de sistemas agropecuários
como forma de aumentar
56
Terra Brasil
Abril/2009
a produtividade, recuperar
áreas degradadas e aproveitar
um córrego que atravessa sua
propriedade.
A técnica implantada na
fazenda de Ovídeo foi a silvipastoril (SSP), uma combinação de árvores e pastagem
de gado manejados de forma
integrada numa mesma área.
De acordo com o pesquisador
da Embrapa Florestas e doutorando pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR),
Vanderley Porfírio, a criação
de animais com árvores na
pastagem ajuda a reduzir o
processo de erosão do solo e
proporciona bem-estar aos
animais. “A recuperação do
solo vai formar um pasto com
mais nutrientes para o gado,
com isso os animais engordam
mais rápido e a madeira das
árvores é alternativa de renda
ao produtor que pode vendêla para indústria de celulose e
outras”, explica o pesquisador.
A expectativa do produtor
rural é que a experiência de
criar gado com plantação de
eucaliptos torne os pastos
mais produtivos para aumentar a lotação atual de 0,5 para
2,5 animais por hectare/ano.
A pastagem de boa qualidade
reduz, em cerca de um ano, o
desenvolvimento do animal,
57
Terra Brasil
Abril/2009
Vanderley Porfírio, pesquisador
da Embrapa Florestas, mostrando
sistema lavoura-silvicultura
hectares da propriedade. “A melhor
soja que colhi aqui da fazenda foi
desse pedaço de terra”, orgulha-se
o produtor, que diminuiu em 25%
a aplicação de agrotóxico. , “Em
termos de controle de ervas daninhas e combate à praga é bem mais
fácil”, afirma. A estimativa é de que a
produtividade da soja colhida nessa
parte da fazenda tenha aumentado
em cerca de 15%.
Voçoroca
do nascimento até abate. À medida
que uns são abatidos, outros ocupam
seu lugar, ciclo que aumenta o giro
de animais por pasto. O sistema SSP
é executado em caráter experimental nos 21 hectares da fazenda. Com
os resultados positivos, o sistema
integrado de produção será implantado em toda a propriedade.
Assistência técnica
O projeto de produção integrada
na fazenda de Ovídeo Müller tem
assistência do Comitê Técnico
Gestor (CTG) de São Gabriel do
Oeste/MS, e é formado por pesquisadores, produtores rurais da região,
servidores da prefeitura e técnicos do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Outros CTGs prestam assistência
em estados, como o Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e São
Paulo.
O sistema de produção que, além
da pecuária e da floresta, inclui a
lavoura, é chamado sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Silvicultura (ILPS) ou agrosilvipastoril.
Cada região deve optar pelo mais
adequado às suas características.
Segundo o professor Aníbal de
Moraes, no cerrado a integração é
58
Terra Brasil
Abril/2009
Diante dos bons resultados, o
produtor quer ampliar a produção
integrada na propriedade. Em
outros 22 hectares vai desenvolver o
reforçada pela rotação de culturas, sistema lavoura, árvore e pasto e, em
recuperação dos solos e das pasta- 21 hectares, a experiência será com
pasto e floresta. “Pelo que vi, posso
gens degradadas.
falar com segurança que a produção
Já na região Sul do Brasil o enfoque integrada é um bom negócio”, diz
tem sido na rotação e diversificação Brusamarello. Além dos benefícios
de culturas, mas principalmente econômicos, a plantação de árvores
como alternativa de renda e uso das nativas e eucaliptos no pasto freou o
terras em períodos intermediários avanço de uma voçoroca (formação
às lavouras de verão. “Os benefícios de grandes buracos de erosão), de 28
da produção integrada lavoura e metros de profundidade por 32 de
pecuária têm sido aslargura, que preocusociados, invariavelpava o fazendeiro.
mente à redução de
Pastos degradados
Aliada às práticas
custos, aumento da
e baixa produção asconservacionistas
eficiência do uso do
sociados à pequena
como
o
plantio
direto,
a
solo, da prevenção de
rentabilidade foram
ILPS
é
uma
alternativa
pragas e de doenças,
os mot ivos que
econômica
e
sustentável
além do aumento de
levaram o gerente
para
recuperar
áreas
liquidez e renda ao
Adilson Kazuo, da
degradadas
e
diversificar
produtor”, afirma o
Fazenda Modelo
as
atividades
econômicas
professor Aníbal.
2, no município de
na propriedade,
Ribas do Rio Pardo/
A s vantagens do
com redução dos
MS, a implantar o
sistema de produção
riscos econômicos
sistema de produção
integ rad a já são
para o produtor.
integrada. A procomprovadas pelo
priedade produz
produtor V i l son
soja, milho, feijão
Brusamarello, 50
anos, dono de uma fazenda de mil e madeira, além de trabalhar com
hectares, também em São Gabriel gado de corte. As lavouras seguem
do Oeste/MS. Há cinco anos, Brusa- o sistema de plantio direto na palha
marello começou a alternar o plantio (SPD). “A presença da palha influende soja no verão com a criação de cia diretamente na conservação da
gado no inverno, “num talho” de 85 umidade do solo”, explica Kazuo.
A integração lavoura-pecuária oferece mais flexibilidade no investimento. Se uma atividade apresenta melhor perspectiva pode-se
investir mais e ter mais cautela na outra. Para saber no que é melhor
investir, é feita uma análise dos custos de produção por hectare,
das previsões climáticas e da expectativa dos preços do mercado. O
sistema agrosilvipastoril começa com a lavoura intercalada com floresta. Depois da colheita, planta-se o capim para a criação do gado,
favorecendo o bem-estar animal.
A melhora da fertilidade do solo se deve ao acúmulo de matéria
orgânica, que renova o ciclo de nutrientes e aumenta a eficiência
dos fertilizantes. A curto prazo, o produtor conta com a renda da
agricultura; em médio prazo, com a pecuária. Mais adiante, dependendo da escolha, poderá vender a madeira para indústrias ou
carvoarias.
Recuperação do solo
Brusamarello mostra plantação
de soja em sistema ILP
As experiências de Ovídio Müller, Vilson Brusamarello e Adilson
Kazuo mostram como o sistema de produção integrada, além de
proporcionar ganhos financeiros, também permite a recuperação
de solos degradados. O ILPS é um sistema nacional de uso racional
do solo, em que interagem lavoura, animal e árvore na preservação
do solo e da água, promovendo o desenvolvimento sustentável.
A recuperação de áreas degradadas por meio do sistema de produção
integrada é, reconhecidamente, a melhor forma de aumentar a
agropecuária no País, sem a necessidade de ampliar a fronteira
agrícola. O Brasil tem como desafio recuperar cerca de 40 milhões
de hectares de áreas degradadas. O sistema ILPS otimiza o uso do
solo, aumenta a produção em áreas usualmente de pastagens e, ao
mesmo tempo, incrementa a renovação do solo e o aproveitamento
da adubação residual da lavoura de grãos.
Sistema de Plantio Direto
para o desenvolvimento
sustentável
Aliado à produção de sistemas agropecuários integrados (ILPS), o Sistema de Plantio
Direto (SPD) é uma prática conservacionista voltada para o desenvolvimento sustentável da agricultura. O SPD é um conjunto
de técnicas integradas que melhoram as
condições ambientais (água-solo-clima),
para explorar da melhor forma possível o
potencial de produção das culturas. Respeitando os três requisitos mínimos - não
revolvimento do solo, rotação de culturas e
uso de culturas de cobertura para formação
de palhada, associada ao manejo integrado
de pragas, doenças e plantas daninhas - o
plantio direto não deve ser visto como
uma receita universal, mas como um
sistema que exige adaptações locais.
O sistema permite também o cumprimento do calendário agrícola, validando as
recomendações do zoneamento e sendo um
atrativo para as seguradoras, que viabiliza
a atividade agrícola. Por suas reconhecidas
características, comprovadas amplamente
pela pesquisa agropecuária brasileira, o
plantio direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações da conferência da Organização
das Nações Unidas (Eco-92) e da Agenda
21 brasileira, indo ao encontro do que foi
acordado na assinatura do Protocolo Verde.
* Com informações da Federação Brasileira de
Plantio Direto na Palha (www.febrapdp.org.br).
59
Terra Brasil
Abril/2009
REGISTRO
DE NASCIMENTO
COMÉRCIO e MERCADOS
QUE DA DIREITOS
A crise e as
oportunidades
para o agronegócio
brasileiro
UM DIREITO
MOBILIZAÇÃO NACIONAL PARA
O REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO
E DOCUMENTAÇÃO BÁSICA
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República trabalha para que todos os brasileiros e brasileiras possam
ter registro civil de nascimento e acesso à documentação básica.
A mobilização nacional tem o objetivo de fazer com que todos e todas
se engajem na campanha por um Brasil com nome e sobrenome.
Você é essencial para o sucesso desta campanha!
Saiba mais em www.direitoshumanos.gov.br
60
Terra Brasil
Abril/2009
C
om mais de 6,5 bilhões de habitantes, o mundo parece
não ter sucumbido às previsões negativas de Thomas Robert
Malthus em relação à situação alimentar. No século 18, o
economista e demógrafo britânico publicou teoria segundo
a qual a população cresceria em proporções geométricas, enquanto os alimentos seriam produzidos em proporções aritméticas. No cenário projetado pelo estudioso, a fome assolaria o planeta.
De 1798 para cá, o cenário agrícola mostrou-se resistente à projeção,
principalmente em países como o Brasil, cuja produção de grãos fechou em
144,1 milhões na safra 2007/2008.
No começo do ano passado, a disparada dos preços das commodities agrícolas,
aliada ao forte crescimento da renda nos países pobres, pressionou os gastos
com alimentação. Os baixos estoques provocados por quebras de safras e os
altos preços dos insumos, causados em parte pela alta do petróleo, agravaram
a situação. Importar se fez necessário e os excedentes da produção brasileira
foram destinados a mais de 180 países nos cinco continentes.
61
Terra Brasil
Abril/2009
Apelidado por
Principais compradores em 2008 esteve ligeiramente mais
Exportações de carne de frango –
ativa, tentando renovar
especialistas
)
(kg
ido
Líqu
o
Pes
parte dos estoques”, resde “celeiro do
$)
Valor (US
saltou.
mundo”, o Brasil
3.436.648.521
.764
243
53.
6.3
bateu recorde nas
al
Tot
De acordo com Alves,
422.180.562
exportações do
0
.01
591
67.
1.1
que também é professor
Japão
agronegócio, em
424
73.
0.3
de economia da Escola
40
741.444.597
2008, e a balança
Arábia Saudita
Superior de Agricultura
comercial do setor
415.246.708
43
0.8
.79
563
Luiz de Queiroz, da UniHong Kong
registrou superávit
54
0.5
versidade de São Paulo
.62
316
531.433.148
de US$ 60 bilhões.
Venezuela
(ESALQ/USP), a expor129.247.143
11
9.3
.24
410
tação de açúcar deve ter
A crise financeira
Países Baixos
grande oportunidade
que o mundo viu
de ampliação. Isso porque a Índia,
nascer no segundo
perante as moedas dos países desenque é um dos maiores produtores e
semestre provocou queda generalizavolvidos”, destacou.
consumidores do produto, deve sofrer
da no preço das commodities agrícolas.
quebra de safra de cana-de-açúcar
De acordo com a Comissão EconôMelhora na situação
pelo segundo ano consecutivo. Prova
mica para a América Latina e Caribe
disso é que, em janeiro de 2009, a
(Cepal), a evolução dos preços interPrevisões para os preços das comexportação brasileira de açúcar bruto
nacionais dos alimentos implica em
modities dependem de vários fatores,
praticamente dobrou, em relação ao
uma desaceleração inflacionária na
entre eles o clima e as especulações de
mesmo período do último ano, tendo
região, passando de 8,5%, em 2008,
mercado. Entretanto as perspectivas,
a China como um dos principais
para 6%, em 2009.
até o momento, favoráveis para procompradores, o que não era visto por
dutos como soja, carne, açúcar, feijão e
Nesse contexto, o economista e sepelo menos três anos. O aumento do
arroz mostram que a agropecuária nacretário de Relações Internacionais
volume de açúcar refinado, enviado
cional deve atravessar a crise, abastedo Agronegócio, do Ministério da
para outros países, foi de 8,5%
cendo o mercado interno e ampliando
Agricultura, Pecuária e Abastecimentambém na comparação entre janeiro
as exportações.
to (Mapa), Célio Porto, acredita que
deste ano e do anterior.
2009 pode ser de oportunidades para
O pesquisador do Centro de Estudos
O milho também apresentará bom
a expansão do agronegócio brasileiro
Avançados em Economia Aplicada
cenário para exportação neste ano.
no comércio mundial. “Qualquer
(Cepea), Lucilio Alves, afirma que “o
O alto excedente interno e a seca que
país consegue exportar com os altos
agronegócio sempre foi a sustentação
atingiu a Argentina devem direcionar
preços praticados em 2008. Todavia,
da balança comercial”. Segundo ele, a
boa parte da demanda ao Brasil. Dados
quando há uma baixa de preços, os
recuperação do preço de algumas compaíses menos competitivos são os
modities indica que a situação poderá do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), apontam
primeiros a se retirarem do mercado”,
se manter em 2009. “A demanda, no
que, durante a safra 2008/09, o Brasil
afirmou.
início de 2009,
tomará o lugar do país vizinho e será,
Ainda na opinião de Porto,
pela primeira vez, o segundo maior
o Brasil é competitivo e essa
Participação de produtos do
exportador mundial da commodity. O
io
característica fará com que peragronegócio brasileiro no comérc
produto agrícola é de grande impormaneça e, inclusive, amplie sua
mundial
tância pelos subprodutos gerados,
participação no mercado inter8
destinados à alimentação humana e à
201
8
200
nacional dos principais produtos Produtos
cadeia animal, especialmente de aves
agropecuários. “A história mostra
60,6%
31%
rne Bovina
e suínos.
Ca
que o agronegócio brasileiro tem
0%
21,
10,1%
A questão climática também afetou
sido muito eficiente para ocupar Carne Suína
a venda da soja argentina e, com isso,
espaço no mercado internacional
89,7%
Aves 44,6%
o Brasil já registrou incremento nas
quando ocorrem crises, respon- Carne de
40,0%
36%
vendas do complexo, principalmente,
dendo sempre de maneira posi- Soja
do farelo de soja (46%) no comparatitiva quanto o real se desvaloriza
73,5%
63%
Óleo de Soja
21,4%
13%
Milho
62
74,3%
58,4%
Terra Brasil
Açúcar
Abril/2009
vo entre janeiro de 2008 e janeiro de
2009.
Alternativa barata
A retração na venda externa de
carne bovina fez crescer a demanda de
uma opção mais barata, o frango. No
primeiro mês de 2009, as exportações
do produto apresentaram alta de 1,5%
em relação ao mesmo período do ano
passado. Isso significa uma boa alternativa para que os embarques de produtos agropecuários se mantenham
nos patamares de 2008.
No final do ano passado, a China habilitou 22 plantas frigoríficas brasileiras
para a exportação de carne de frango
in natura e a expectativa do Ministério
da Agricultura, que conduz os entendimentos técnicos para a abertura de
novos mercados, é acessar países como
Estados Unidos, Malásia e México,
que estão na prioridade da pasta este
ano. A intenção também é ampliar as
vendas para Chile, Colômbia e Filipinas.
pessoas passaram a comprar
comida em vez de plantála. E é naquele país que se
observa o maior processo de
migração da área rural para a
urbana da história.
Dessa forma, a importação de
soja da China foi impulsionada
pelo aumento do consumo de
carnes, que dependem de
rações de cereais. No entanto,
o Brasil quer incrementar
as vendas para o país asiático.
“Uma das preocupações do Mapa
é diversificar a pauta de exportações para a China, hoje, muito
concentrada na soja”, comenta
Célio Porto.
Ainda que, com a crise no setor
industrial, a população chinesa
sinalize um retorno ao meio rural,
o pesquisador acredita que o fato
não comprometerá as importações chinesas, já que, segundo ele,
o espaço para plantio é pequeno
no País.
Grande notável
Um território de imensas dimensões e com 1,33 bilhão de
habitantes é a grande aposta
nas exportações de produtos
agropecuários. A China é hoje
o primeiro país de destino nas
vendas internacionais do agronegócio brasileiro e o segundo
maior parceiro comercial.
Este ano, as duas nações completam 35 anos de relações
diplomáticas. A economia da
potência chinesa cresceu, no
último ano, 9%, com US$ 4,3
trilhões no Produto Interno
Bruto.
Até a década de 90, a maioria
das atividades chinesas era
no campo, mas, nos últimos
20 anos, a população migrou
para a cidade e milhões de
Projeções 2008/09 a 2018/19 para exportação
Produto unidade 2007/08 2018/19
Milho
var. (%)
mil toneladas Soja 11.553,7 22.907,5 98,3
mil toneladas Suco de Laranja 25.750 36.461,4 41,6
mil toneladas Carne de Frango 2.136,3 2.796,8 30,9
mil. ton. equiv. carcaça Carne Bovina 3.615,5 6.602 82,6
mil. ton. equiv. carcaça Carne Suína 2.400 4.626,6 92,8
mil. ton. equiv. carcaça Açúcar 625 1.113,5 78,2
mil toneladas Etanol 21.000 32.637,1 55,4
bilhões de litros Algodão 3,5 8,9 153,8
mil toneladas Farelo de Soja 520 686,7 32,1
mil toneladas Óleo de Soja 13.200 15.030,6 13,9
mil toneladas Leite 2.120 2.972 40,2
milhões de litros 1.051,5 2.087,3 98,5
Fonte: AGE / Mapa - 2008
63
Terra Brasil
Abril/2009
Projeções futuras
Estudo realizado pelo Assessoria
de Gestão Estratégica (AGE), do Ministério da Agricultura aponta que,
nos próximos 10 anos, os produtos
com maior potencial de crescimento
são soja, trigo, carnes, etanol, farelo
de soja, óleo de soja e leite. A análise
levou em conta uma série histórica
de 32 anos, que incorporou efeitos
de crises econômicas ocorridas no
período.
A produção dos principais grãos,
como soja, milho, trigo, arroz e feijão,
deverá passar de 139,7 milhões de
toneladas, em 2007/2008, para 180
milhões, em 2018/2019, crescimento de 28,7%. Já a produção de carnes
(bovina, suína e de aves) deverá
aumentar em 12,6 milhões de toneladas, totalizando acréscimo de
51%, em relação à produção de 2008.
Outros itens com alto potencial de
crescimento são: açúcar (mais 14,5
milhões de toneladas); etanol (37
bilhões de litros); e leite (9 bilhões de
litros).
Segundo a pesquisa, o Brasil
manterá sua posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina
e de frango. Em uma análise mais
ampla, haverá expressiva mudança
de posição do País no mercado
mundial. A relação entre as vendas
externas brasileiras e o comércio
mundial mostra que, em 2018/2019,
as exportações de carne bovina
representarão 60,6% do comércio
mundial, as de carne suína, 21% e as
de carne de frango, 89,7%.
Quanto a outros produtos, o Brasil
deve melhorar sua posição no comércio mundial, pela relação entre
quantidade de exportações e comércio mundial. Para a soja deverá
sair de 36% em 2008, para 40% em
2018/2019; para o óleo de soja, de
63% para 73,5 %; para o milho, de
13% para 21,4%; e para o açúcar, de
58,4% para 74,3%.
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Terra Brasil
Abril/2009
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Para um consumo saudável,
66 até 4 xícaras de café por dia.
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Abril/2009

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