Propuesta AEPA 2005
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Propuesta AEPA 2005
VIII Congreso Latinoamericano de Estudios del Trabajo. 3 al 5 agosto de 2016. Facultad de Ciencias Económicas de la Universidad de Bs. As. “La recuperación de la centralidad del trabajo en América Latina. Actores, perspectivas y desafíos” Eje nº 4: Tercerización y subcontratación laboral. Regulación institucional y estrategias de los trabajadores Grupo de trabajo N° 4.10: Tercerización y subcontratación laboral en América Latina: el trabajo y sus (re)configuraciones precarias Coordinador@s: Andrea Del Bono (corresponsal), Consuelo Iranzo, Marcia Leite Título de la ponencia: Operários em call centers: respostas sindicais à precarização do trabalho Autor/es y e-mail: Renata Miranda Filgueiras - [email protected] Sirlei Márcia de Oliveira - [email protected] Thamires Silva - [email protected] Pertenencia institucional: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) Introdução A redefinição sobre o perfil de relações de trabalho e emprego que ocorreu nas últimas três décadas combinou, no contexto brasileiro, características do mercado formal que contribuiu para aumento da massa de assalariados com carteira assinada e alto grau de flexibilidade das atividades laborais. A partir da expansão das telecomunicações que está colada ao processo de mundialização financeira e dos avanços técnico-científicos, o setor de call center tornou-se baluarte da conectividade por meio do uso das tecnologias da comunicação que dispensam a interação humana direta ao transformar as mediações até então existentes entre empresa-cliente. Da ótica do trabalho, as inovações que marcaram o campo tecnológico e comunicacional desdobraram-se em um novo perfil de trabalhador que carrega os condicionantes do trabalho precário através da atividade de teleatendimento. As principais características do trabalho no setor de telemarketing foram delineadas na década de 1990, momento pelo qual o Brasil passava por mudanças radicais em sua estrutura financeira e organizacional com o processo das privatizações, e estão associadas ao desenvolvimento de um monopólio configurado por fusões e aquisições que dominaram o mercado das telecomunicações. Em números gerais, 89% dos trabalhadores que estão empregados em estabelecimentos de grande porte prestam 1 serviços de atendimento ao consumidor (SAC). O contingente de ingresso é composto por 46% de jovens entre 18 e 24 anos cujo rendimento médio é de R$ 927, valor próximo ao salário mínimo brasileiro praticado, para uma jornada contratual que gira em torno de 30 horas semanais; a participação feminina é majoritária, representando 73% da força de trabalho empregada no setor1. Tais especificidades refletem a taxa de desemprego que historicamente atinge mais os jovens e as mulheres em comparação aos homens, principalmente em períodos de declínio econômico. Além da identificação de gênero, faixa etária, remuneração e jornada que perfaz quase meio milhão de trabalhadores brasileiros, as quais denunciam a desvalorização desta força de trabalho no mundo atual, outros elementos conjugam o que este estudo assumiu como trabalho precário no setor de teleatendimento. Com o objetivo de identificar os elementos que caracterizam o trabalho precário e as razões pelas quais o segmento do call center está inserido nesta modalidade, um estudo de caso foi realizado com trabalhadores desse seguimento, com a finalidade de construir possíveis soluções que poderiam ser objeto de construção conjunta entre organismos de representação sindical de trabalhadores, empregadores e agentes públicos voltados para essa problemática. Esta comunicação tem por objetivo compartilhar os principais resultados obtidos com o material empírico produzido com esse estudo de caso e está dividida em duas partes, sem contar introdução e conclusão 2. Na primeira parte, com apoio de referenciais teóricos abordamos a dinâmica recente do teletrabalho no Brasil que se tornou produto expressivo do fenômeno da precarização. Em seguida, analisamos as entrevistas de campo que foram um desdobramento de uma oficina sobre condições de trabalho no setor de teleatendimento com abrangência no estado de São Paulo (SP) que contou com a participação de teleatendentes ligados ao trabalho de base promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo (Sintetel-SP) filiado à Federação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Telecom (Fenattel). A atividade consistiu em mapear os principais problemas apontados pelos trabalhadores sobre o seu cotidiano, dentro e fora do ambiente laboral, relacionados às condições de trabalho, remuneração, 1 Dados obtidos através da base de dados mantida pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 2014). 2 Cabe pontuar que essa comunicação resulta do projeto de apoio à implantação da Escola e do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências do Trabalho, em convênio firmado entre DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Plano Nacional de Qualificações (PNQ) e Fundo de Amparo ao Trabalhador, com o 2 saúde do trabalhador e organização sindical e, dessa forma, permitiu identificar os pontos que mais afligem os teleatendentes que passam por situação crítica de adoecimento. Na segunda parte, priorizamos a temática da organização política dos trabalhadores de onde sobressaíram formas de ação sindical que encaram uma dura realidade de rebaixamento das condições de trabalho e desmantelamento da proteção ao emprego. Dessa forma, os instrumentos de luta sindical se encerram nos limites da legislação e a prática da negociação coletiva é prejudicada pelo próprio formato de representação dos interesses coletivos que além de esbarrar com a questão do reconhecimento formal das partes envolvidas, dado que se trata de uma nova categoria, faz uso de estratégias de negociação que, na maioria das vezes, apresentam-se incipientes as proposições voltadas para os diversos problemas enfrentados pelos trabalhadores. Ao induzir a estruturação de uma agenda compartilhada que pudesse convergir positivamente para a melhoria das condições e das relações de trabalho no setor de teleatendimento, a prática do Diálogo Social, enquanto uma metodologia de intervenção social, demonstrou os limites próprios do caráter mercadológico do call center que foi reticente em vários momentos para discutir os problemas trabalhistas, senão nos foros tripartites formais de discussão já existentes no âmbito federal. Nas considerações finais, buscamos analisar brevemente os limites do recurso ao Diálogo Social enquanto ferramenta para reduzir os contrastes que pairam sobre o papel social de cada agente institucional e em que medida foi possível engajá-los na solução dos vários problemas apontados por meio desse método na estruturação de uma agenda em prol do trabalho decente no setor de teleatendimento. 1. Abordagens teóricas sobre a precarização das relações de trabalho e a experiência dos(as) teleoperadores(as) Com base em diferentes leituras que relacionam o fenômeno da precarização com o teleatendimento, foi possível delinear mais claramente as linhas interpretativas que proporcionaram um olhar crítico sobre o advento das novas tecnologias e o seu impacto para as relações laborais. Da acumulação flexível que passou a qualificar a fase atual de desenvolvimento capitalista, erigiram relações de trabalho mais flexíveis com objetivo central de estruturar a linha de pesquisa Relações de Trabalho e Negociação Coletiva, especificamente sobre o tema formas de precarização do trabalho. 3 desregulamentação da legislação trabalhista e desproteção social, sendo as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) responsáveis por importantes mudanças sobre a estrutura ocupacional que afetaram o padrão de relações de trabalho e emprego constituídas na contemporaneidade (DRUCK; FRANCO, 2007). A face primeira das vivências individuais e coletivas mostra novas tendências sobre as relações trabalhistas firmadas no segmento do teleatendimento. Em relação ao mercado de trabalho, a atividade de teleatendimento foi incorporada à uma dinâmica que revela formas distintas de contratação ligadas à terceirização, contrato por tempo determinado/temporário, contrato por tempo parcial, contrato de estágio e do jovem aprendiz. Essa variedade de vínculos está associada com outros mecanismos mais sofisticados de regulação do trabalho presentes na negociação coletiva como o banco de horas na jornada de trabalho, participação nos lucros e resultados (PLR), o salário variável na composição da remuneração, metas e prêmios por assiduidade e produtividade, métodos de controle rígido com a informatização dos processos de trabalho, entre outras iniciativas que reforçam a lógica flexível de trabalho. Da mesma forma, baixos salários, alta rotatividade, desqualificação profissional, fragilidade da intervenção sindical são aspectos ligados ao ramo de call center que também corroboram para a situação de trabalho precário no Brasil (ALVES, 2013). Em se tratando de América Latina, o teletrabalho foi encarado como possibilidade de ampliação da oferta de vagas preenchidas pela população ativa, principalmente tratando-se de jovens e mulheres que iniciam sua primeira experiência de trabalho. No estudo realizado por Sonia Boiarov (2008), o segmento encontrou respaldo na legislação de países como Argentina, Chile, Colombia e Equador que avaliaram positivamente a criação de mais um nicho de mercado promissor no que concerne ao crescimento do emprego. Nesse ponto, é interessante notar os marcos regulatórios que se adaptaram às novas condições laborais que emergiram com a difusão das tecnologias da informação no início do século XXI. Na Argentina, destacou-se a “Comisión de Teletrabajo” formada em 2003 que contou com o apoio de dezenove instituições ligadas ao setor empresarial, acadêmico, sindical para desenvolver um espaço de diálogo e construção de consensos, assumindo a necessidade de regulação mediada por diferentes atores. O papel do Chile sobre a normatização do teletrabalho foi considerado de vanguarda. Em 2001, o código de trabalho passou por adequações para abranger a modalidade de teletrabalho utilizada pelo setor financeiro, comercial e do Telecom em geral como parte do arcabouço jurídico nacional. Na Colombia, a 4 construção de uma política voltada ao teletrabalho ocorreu através do ‘Ministerio de Comunicaciones, Dirección de Acceso y Desarrollo Social’ em 2001. Nos anos seguintes, outros projetos de lei sublinharam a necessidade de fomentar políticas públicas direcionadas ao teletrabalho como “un instrumento de generación de empleo y autoempleo”. No Equador, a previsão legal do teletrabalho ocorreu em 2006 através da inclusão de onze artigos no código laboral (BOIAROV, 2008). O painel do teletrabalho constituído por esses países demonstrou uma abordagem que visa ampliar o espectro da sociedade informacional estabelecendo uma conexão com os interesses do setor de Telecom e o novo jeito de legislar sobre a força de trabalho delineada por ferramentas computacionais. Mais que isso, evidenciou iniciativas que agregaram interesses antagônicos da sociedade para contribuir com o entendimento sobre os novos parâmetros de trabalho em realidades distintas. No cenário brasileiro, a indústria do call center foi implantada nos anos 1990 quando o país vivenciou o ciclo de privatizações do setor de telecomunicações com a desestatização do Sistema Telebrás impulsionada pela abertura financeira com intensa movimentação de capital estrangeiro (OLIVEIRA, 2004; ANTUNES; BRAGA, 2009). As empresas Atento Brasil, Contax Allus e Algar Tech, para citar apenas as três primeiras posições do ranking de contact centers brasileiro em 20153, conformam verdadeiros monopólios concentrados na região sudeste, resultado dos processos de fusão e reestruturação dos grandes grupos que atuam no setor. Em meio à multiplicidade de interpretações que buscaram compreender a emergência do teletrabalho que se tornou emblemático na sociedade, a discussão realizada por Antunes e Braga (2009) apontou para a experiência dos teleoperadores e as vicissitudes do potencial transformador das inovações tecnológicas reveladas por um cotidiano imbricado por ambiguidades que combinam mecanismos de opressão sobre o processo de trabalho e ao mesmo tempo enfatizam o novo perfil de trabalhador em busca de sua identidade no mercado de trabalho (ANTUNES; BRAGA, 2009, p. 10). O depoimento a seguir expõe a percepção do teleoperador quando ingressou no ramo através do Grupo Atento que se instalou na capital paulista em 1999. Para o entrevistado, foi a rede de contatos que permitiu acesso ao posto de trabalho que logo à primeira vista apareceu como uma oportunidade malquista, ainda assim, necessária: Não foi escolha minha, não foi isso (…) porque tinha amigos que trabalhavam nessa área, nesse setor, e no caso o que aconteceu, já 3 De acordo com o Anuário Brasileiro de Relacionamento com Clientes (16ª edição, 2015/2016). 5 tinha aquela má impressão, já era mal visto, que era uma empresa que escravizava, aquelas coisas, então nunca aceitei, porque tinha aquela má fama, o pessoal recebia convites pra se trabalhar no setor, mas eu recusava. Depois de dez anos que ela estava fundada no nosso país que eu vim a aceitar o convite e ainda foi por acaso, porque a minha prima, que foi selecionada e ela acabou passando pra mim o contato, “olha, eu tenho uma entrevista de trabalho, você aceita”? Eu fui até a entrevista, foi onde começou a minha jornada como teleoperador, mas eu já tinha trabalhado em outras áreas4. A questão da rotatividade é considerada um problema no setor de teleatendimento. Em relação aos contratos ativos em dezembro de 2014, 27% dos (as) teleoperadores (as) foi enquadrado no tempo de permanência de três a seis meses no emprego. Essa inconstância do empregado no posto de trabalho reflete altas taxas de rotatividade calculada para o ano de 2014 em 45,5% sobre os desligamentos efetivados, deduzidas as demissões por iniciativa patronal. Esse volume de demissões expressa um movimento incessante de admissão e desligamento, corroborando para o volume de grandeza numérica da rotatividade deste segmento que variou 6,8% no ano de 2014 em comparação com o ano anterior, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (2014). O caráter provisório do emprego em teleatendimento também é visualizado pelas demissões a pedido do trabalhador, fato que pode estar associado às condições de trabalho que abrangem uma série de experiências negativas. A geração de jovens que ingressa nesse segmento é compelida por uma realidade de baixas expectativas quanto ao crescimento profissional. O ambiente de trabalho não estabelece relações saudáveis em razão da pressão constante e os baixos rendimentos não viabilizam ascensão econômica e social. O sentido efêmero da profissão determina a trajetórias individuais relacionadas à ocupação que optam pelo abandono do posto de trabalho, mas logo são reinseridas no mesmo circuito de empregabilidade no setor de call center. Como assinalou Del Bono e Bulloni (2008), apoiadas na leitura de Jacinto e Solla (2005), (…) la característica más marcada en la relación actual de los jóvenes con el mercado de trabajo, cuando logran escapar al desempleo, es la precariedad de sus inserciones laborales. Sus trayectorias suelen combinar etapas de desempleo, subempleo, inactividad, contratos temporarios y/o autoempleo, muchas veces en el nivel de supervivencia. En este marco del deterioro general se ha producido una aguda polarización de las oportunidades laborales (DEL BONO; BULLONI, 2008, p.8). 4 Perfil do entrevistado: sexo masculino, 36 anos, cor/raça branco, solteiro, filho no domicílio, ensino médio completo, gasta 3h com locomoção para o trabalho (ida/volta), atua como teleoperador e faz atendimento ativo/receptivo. 6 Nas palavras do teleoperador entrevistado, o teleatendimento “é uma profissão ingrata com o funcionário”, referindo-se à desvalorização da empresa para com os seus trabalhadores, mesmo que na sua avaliação o conhecimento adquirido no ambiente de trabalho seja algo a ser considerado “embora ela seja uma profissão que ela traz muitos conhecimentos, a gente aprende no dia a dia com as pessoas, com os colegas de trabalho, em si não é valorizado o trabalho do teleoperador 5. A participação das mulheres que atuam nas frentes de trabalho do call center é majoritária (73%), o que nos leva a refletir sobre a característica do teletrabalho no Brasil que já nasceu precário quando constata-se que os efeitos do processo de precarização incidem mais sobre grupos específicos, no caso de perfil jovem e feminino. O trecho a seguir, retrata a experiência de uma teleatendente que fez surgir a questão de gênero sutilmente, ao enfatizar os motivos que a fez se distanciar da formação na área de sistemas de informação em função da gravidez. Ela disse: Eu acho que é o meio de trabalho que está mais vulnerável para a gente, o que oferece mais oportunidade de crescimento e como eu já trabalhei muito nessa área, eu fui dando andamento, apesar de eu já ser formada em outra área nada a ver... [...] Quando eu me formei eu estava grávida, então na época era mais difícil fazer estágio, então eu não cheguei a exercer a função que eu me formei, aí como eu estava na área de telecomunicações, permaneci. [...] eu acho que é um mercado de trabalho mais acessível e na época quando eu ingressei com esse tipo de trabalho, era o que procurava mais no mercado, então você ingressa mais rápido, é por isso que eu fui para a área de telecomunicações, tinha bastante vaga para esse tipo de trabalho 6. Como mostrou Hirata (2011): “a precarização do trabalho tem consequências diferenciadas para homens e mulheres”. A divisão sexual do trabalho revela uma estrutura hierárquica que tende a favorecer o sexo masculino em detrimento do papel da mulher na reprodução da força de trabalho. Essa lógica de subordinação impostas às mulheres, fortemente marcada pelas desigualdades de gênero, influí sobre a vida pessoal e profissional, conformando assim, dinâmicas de emprego que impõe espaços de atuação: “as mulheres constituem a minoria na classe operária fabril; em contrapartida, constituem a maioria no comércio e nos serviços. Assim, a precarização do trabalho que 5 Ibidem. Perfil do entrevistado: sexo feminino, 30 anos, cor/raça branca, solteiro, chefe no domicílio, possui um filho, curso superior completo (Sistemas de informação), gasta 2h com locomoção para o trabalho (ida/volta), atua como teleoperador ativo. 6 7 atinge a categoria dos trabalhadores do terciário deve ser correlacionada à sua composição sexuada (HIRATA; 2011 p. 17)”. O adoecimento causado pelo trabalho em teleatendimento é um tema de intenso debate no meio sindical, pois consiste em uma das consequências mais danosas sobre as condições de trabalho vividas pelos trabalhadores. Nesta direção, a pauta sobre a saúde e segurança dos teleoperadores passou a respaldar ações sindicais que se revelaram profícuas no sentido de levar para os postos de trabalho (PAs) a possibilidade de interferir em uma realidade cujo risco de se desenvolver doenças ocupacionais é elevado e tem apresentado sinais de crescimento, embora haja muita dificuldade em quantificar pelas subnotificações das doenças consideradas ocupacionais e pela ausência de mecanismos de controle da trajetória dos trabalhadores do setor que transitam de empresa em empresa. A fim de identificar as principais causas que afetam a saúde do teleoperador, foi realizado um levantamento focado nas condições de trabalho com os participantes da primeira etapa da oficina de diálogo social, realizada com dirigente/delegado (a) sindical. De modo geral, a média de jornada de trabalho realizada na semana anterior foi de 41 horas. Apenas três respondentes exerceram a jornada aconselhável de 36 horas semanais que está prevista no Anexo II da Norma Regulamentadora (NR) nº 17, instrumento fundamental para garantir o patamar mínimo de condições de trabalho no teleatendimento que delimita duração de 6 horas diárias de trabalho com pausa de 20 minutos7. A cadência associada à intensificação do trabalho, as falas repetitivas por meio de scripts, o barulho próprio do ambiente laboral, a rigidez imposta ao corpo adaptado nas PAs (postos de atendimento) corroboram para aumento do stress que é aprofundado com a tensão com os clientes na linha telefônica e constrangimentos oriundos da supervisão. Tais elementos influem sobre a relação saúde-doença no universo dos teleoperadores. Fatores externos também podem afetar a saúde do teleoperador que reside em bairros periféricos da cidade e se desloca por meio de transporte público (ônibus/metro/trem). O tempo médio gasto diariamente com locomoção informado pelos trabalhadores foi de 2h40 chegando até 4h30, quase 7 A Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17) visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. O Anexo II desta norma (aprovado em 2007, após mobilizações das representações dos trabalhadores e empresariais) estabelece parâmetros mínimos para o trabalho em atividades de teleatendimento, com definições sobre o mobiliário e equipamentos do posto de trabalho, condições ambientais de trabalho, organização do trabalho, capacitação dos trabalhadores, condições sanitárias de conforto, dentre outros. 8 duplicando a jornada efetiva de trabalho que reflete desgaste físico e mental do funcionário de telemarketing que se desloca para o centro da cidade, onde as empresas se concentram. Segundo o testemunho de uma teleoperadora, a rotina desgastante que é imposta pelo ritmo de trabalho intenso e a conciliação com as responsabilidades familiares representa as dificuldades que ligam a vida profissional e o que resta além do trabalho: Dependendo do dia é muito estressante, muito, você já sai desanimado; hoje eu passo dentro da empresa, eu entro ás 8h da manhã e saio as 18h, de segunda à quinta. Na sexta eu entro as 9h e saio as 18h, então a carga horária é grande; é aquela questão, você passa mais tempo no transporte público, que é horrível, que na sua casa, são 10 horas dentro da empresa, mais 4 horas pra você ir e voltar, são 14 horas fora de casa, então você chega em casa, dorme e acorda, ai muitas vezes chega em casa e você tem as coisas pra fazer, tem filho, tem casa pra cuidar, você não vai chegar e tomar banho, dizer, dane-se o mundo, não tem como, então o período que a gente tem pra fazer alguma coisa, cuidar realmente da casa é no final de semana, ai você já volta segunda cansada novamente e você vai ter mais 5 dias pela frente8. Para a delegada sindical que acompanha o cotidiano dos trabalhadores em teleatendimento, a falta de autonomia em situações simples, aparentemente resolutas, mas que são transformadas em problemas para os trabalhadores, por exemplo, o controle e até proibição de idas ao banheiro durante o expediente é um complicador para o estabelecimento de relações de trabalho saudáveis. A partir das ações voltadas para o local de trabalho, a questão da saúde ganhou proeminência e encontrou respaldo na NR 17. Quando eu entrei na empresa, a gente ia no banheiro e o supervisor ia na porta do banheiro buscar a gente, então conseguimos fazer um trabalho dentro da empresa, quando tivemos a liberdade de entrar como delegados, de conciliar e tentar mudar as coisas, então nós tínhamos a operação que o sindicato era barrado de entrar dentro da empresa, os delegados não eram bem vistos, então conseguimos abrir uma porta onde hoje, pelo menos a empresa que eu trabalho, a gente consegue fazer um trabalho, eu consigo levar os funcionários na sala, orientar, falar de NR 17, falar dos direitos e deveres do funcionário, conscientizar eles e também trazer eles, aproximando da gente, tornando eles sócios, porque não adianta você associar um funcionário só pelo benefício da colônia de férias, ele tem que saber o que ele tem direito, quais são os deveres dele e quando e onde ele vai poder contar com a gente, então é um trabalho de formiga 9. 8 Perfil do entrevistado: sexo feminino, 36 anos, cor/raça parda, solteiro, chefe no domicílio, curso superior incompleto (administração), gasta 2h30 com locomoção para o trabalho (ida/volta), atua como teleoperador ativo. 9 Ibidem. 9 O tema da saúde do trabalhador tornou-se estratégico para a ação sindical de base dentro das empresas de call center. O reconhecimento da necessidade de políticas de prevenção de doenças envolveu os trabalhadores com o sindicato na direção de intervir sobre o programa de metas, de contrapor ao comportamento exagerado da chefia, em outras palavras, “quando meu chefe cobra algo impossível”, e de avaliar as condições de trabalho em geral a fim de melhorar a vida do teleatendente. A linha de raciocínio reproduzida a seguir, mostra as dificuldades inerentes à atribuição do cargo de teleatendente, revelando subjetividades construídas através do contato distanciado com o cliente que não associa as táticas empresariais que usufruem de contratos terceirizados com grandes corporações prestadoras de serviço com a condição do trabalhador do outro lado da linha. A falta de compreensão da sociedade sobre o papel do telemarketing contribui com a desvalorização dessa força de trabalho. [...] tem muitos clientes que não estão nem ai, xingam você na linha, esculacha, mas ninguém sabe o que quem está do outro lado da linha passa, ninguém sabe as humilhações, então eu acho que devido a essa questão de não saber o que realmente acontece lá dentro, que a maioria das pessoas reagem dessa forma, que fala que o serviço de telemarketing não presta, que é isso, que é aquilo outro, mas não sabem qual é a realidade lá dentro, não sabem a humilhação que a pessoa passa no dia a dia, pra quando chegar no final do mês ele ter o dinheiro dele pra pagar conta, não sabe a humilhação que o cara passa, está oferecendo um produto pra ele e se ele não bater aquela meta, ele deixa de receber, o cliente também não sabe que o funcionário que ele avalia na pesquisa de satisfação, se ele der um zero, que a pessoa vai ser prejudicada, então existem N fatores que para a empresa por um lado é bom, que se o cliente zera o funcionário, se ele não conseguir atingir a meta pra receber a variável dele, o dinheiro automaticamente fica para a empresa, porque o cliente já pagou 10. A avaliação negativa sobre o ambiente de trabalho classificado como estressante e perturbador está associada às consequências geradas pelo tipo de função e atribuições de tarefas. Inflamação nos tendões dos braços, crise por estresse, problemas de circulação, comprometimento da audição e visão, desenvolvimento de tendinite foram algumas das doenças mencionadas pelos trabalhadores. Queixas relacionadas à punição sobre o funcionário comissionado e preferência de pessoas que mantém relações mais próximas com os quadros gerenciais foram apontadas como entraves para relações de trabalho mais amistosas. Inversamente, parte dos funcionários que classificaram a sua rotina como estimulante e desafiadora demonstraram maior aderência ao ambiente 10 exposto ao assédio moral. Contudo, também admitiram que este problema constituiu-se como estratégia de mercado baseada na pressão que faz uso de campanhas que impõem a competição entre os operadores. Tal sistemática incide na proibição do uso do banheiro, do controle rígido feito pelo sistema computacional sobre o tempo de entrada, saída e intervalos, sendo que o descumprimento das regras implica em punições verbais e descontos sobre a remuneração fixa e variável. Em geral, a política de metas da empresa contratada está associada com as metas da empresa contratante. No ramo financeiro, os produtos existentes abrangem muitas especificidades que exigem apreensão totalizante sobre o seu funcionamento. Ao serem colocados à disposição do mercado, esses produtos são dinamizados em uma complexa relação até a finalização da venda, o que abrange as oportunidades de mercado e as habilidades de convencimento do teleoperador. A frustração ocorre quando as metas são alcançadas, mas o regime de trabalho se coloca como entrave para o recebimento dos ganhos variáveis. Cada produto tem a sua particularidade [...] numa ilha que era de receptivo de vendas, então houve um dia um empréstimo para um cliente, seguro e cartão de crédito, eu vendi esses três produtos, desses três produtos eu tinha que bater 120% da meta pra eu receber um valor de 600 reais. A campanha era passada, a meta era passada com no mínimo 10 dias de antecedência, assim como a escala de trabalho, passava a meta e durante o mês a gente tinha que correr atrás pra bater aquela meta, se bateu a meta, está tudo ok e você recebe, porém o único problema, da questão da variável em si, é que se o funcionário entrega um atestado, ele fica ilegível à variável, ele perde o trabalho que ele teve o mês todo, se o mês tem 30 dias, eu trabalhei até o dia 29 e o dia 30 eu tive um problema de saúde, fui no médico e peguei um atestado, eu perdi a variável11. Outro mecanismo para dificultar o acesso da comissão em caso de cumprimento das metas está ligado ao atestado médico. Não bastasse o esforço para atingir a margem que dá a possibilidade de receber a parte da remuneração variável, o funcionário é impelido a trabalhar mesmo doente, já que a empresa criou um controle para faltas por motivo de doença que, mesmo justificadas, são objeto de penalidades. O relato da funcionária esclarece este ponto: Perde tudo, então isso ai desestimula a pessoa no mês seguinte correr atrás pra poder bater meta, sem contar casos absurdos que a gente tem de supervisores que para o assistente dele bater a meta o cara subir em cima da mesa com megafone e dizer que tinha que bater a meta, que se 10 11 Ibidem. Ibidem. 11 não batesse ia dar advertência, ia dar suspensão, então a situação no call center, pra quem vive lá dentro, é tensa...12 A teleoperadora entra em detalhes sobre a política de metas que extrapola a geografia onde a empresa terceirizada se encontra. Aliás, em caso de não atingimento de metas pela equipe da empresa contratante, são as operações terceirizadas que acumulam demandas distintas que abarcam metas de produtividade e de resultado no âmbito interno e externo, sujeitando os funcionários a situações de extrema pressão e aviltamento. É o que o relato expõe a seguir: [...] eles tem que entregar a meta e eles não conseguem. Questão de banco, o banco tem o call center próprio dele e tem o terceirizado, que é o que as empresas fazem, como a que eu trabalho. Ai o que ela faz dentro disso, o call center próprio do banco não entregou a meta, chega a metade do mês ou por exemplo no dia 20, ai vem a demanda que era do call center próprio para o terceirizado, ai o que eles fazem, inventam campanhas, ai faz uma campanha: “olha, é pra você vender, para a equipe entregar 100 cartões, eu vou dar X, cada assistente que entregar 10 cartões em 1 hora, pode ir embora mais cedo”. Então o pessoal acaba se matando, sem contar que tem pessoas que estão com o atestado médico, para a pessoa não perder a variável, eles não validam o atestado e trabalham doentes, eu conheço casos de pessoas que pegaram infecção no ouvido, o ouvido estava escorrendo dentro da operação e a pessoa com rede na cabeça, sentindo dor de ouvido e falando com o cliente, pra não perder a variável, devido as necessidade que a grande maioria muitas vezes tem, então é muito complicado13. Esse panorama configurado sob a lógica da era informacional comporta características rudimentares de relações de trabalho retroalimentadas pelos supervisores e gerentes que agem com autoritarismo e proibições de toda ordem, incorporadas pelos sistemas de computação. Nesse sentido, o desenvolvimento de softwares para controle do tempo, além do ritmo incessante de trabalho que impõe uma adaptação ao fluxo informacional baseado em metas comportamentais e de produtividade limitou ainda mais a autonomia do funcionário. Situações que tornam o trabalho insuportável são levadas a cabo pelos delegados sindicais no esforço de empreender medidas para conter doenças ocupacionais e humanizar o ambiente de trabalho. Mas segundo a entrevistada, o trabalho sindical é muito dificultado pelas empresas que apresentam resistência em atender as queixas do empregado. A ausência de espaços de diálogo cria uma atmosfera de tensão que tende a sobrecarregar o funcionário: 12 13 Ibidem Ibidem. 12 [...] nós trabalhamos em um lugar bom, mas em questão do funcionário reivindicar algo, por menor que seja, por qualquer coisa que seja, é tomada providência no sentido de demora, então nesse sentido eu acho que o funcionário é coagido, porque ele sabe que se ele for pressionar de qualquer forma, da melhor forma, educada, ele vai ser mandado embora, então ele nunca reclama, ele vai viver de qualquer forma; ali tem muito vento, tem uns toldos que abaixam, alguns toldos estão quebrados, ninguém reclama pelo vento...14 A flexibilidade do processo de trabalho foi ressaltada na fala de um delegado sindical. A manutenção da vitalidade do sujeito que trabalha depende de melhorias no local de trabalho que envolve mudanças para desprecarizar as condições atuais. Nesse sentido, a proposta em voga implica alterar a distribuição da jornada em turnos e escalas de revezamento: [...] hoje em dia as empresas estão fazendo o que elas querem fazer e a qualidade no dia a dia do trabalho deixa a desejar também, porque é um trabalho estressante. Eu acho que, na minha opinião, não deveria ter vários horários, eu acho que deveria ter um horário que se adequasse pra todo mundo desempenhar a sua função ali, porque muitas vezes por ter esses horários, os salários ficam diferenciados, então se tivesse uma jornada de trabalho que seria, vamos supor, 8 horas pra todo mundo, eu acho que a gente se tornaria mais forte, embora depende da situação, porque as vezes tem um que ele estuda de manhã e ele trabalha a tarde ou a noite, nesse sentido é viável, mas muitas vezes por ter essas diferenças, a gente acaba pecando, porque um faz uma jornada, outro faz outra jornada, então eu acho que isso interfere um pouco15. A mescla de percepções dos teleoperadores expressa situações que colocam em risco a própria dignidade do trabalho. Nesses termos, o firmamento da ação sindical ocorre pela denúncia contra a pressão das empresas. Na dimensão simbólica, o debate acerca das novas tecnologias esclarece o uso sistemático de novas formas de organização das atividades produtivas onde estão previstas estratégias de sublimação dos lucros e depreciação das capacidades humanas. 2. Respostas sindicais à precarização por meio do diálogo social As primeiras experiências que traçaram alguns rumos para o diálogo social entre os diferentes grupos sociais no Brasil foram observadas a partir do primeiro ano de 14 Perfil do entrevistado: sexo feminino, 30 anos, cor/raça branca, solteiro, chefe no domicílio, possui um filho, curso superior completo (Sistemas de informação), gasta 2h com locomoção para o trabalho (ida/volta), atua como teleoperador ativo. 13 governo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010). No bojo desse processo, foram criados o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) 16 e o Fórum Nacional do Trabalho (FNT). O CDES teve como objetivo estabelecer o diálogo entre as diversas representações da sociedade e propor políticas públicas para o desenvolvimento econômico no país. O FNT teve como atribuição a coordenação da negociação entre representantes de empregadores, trabalhadores e Governo voltados para a reforma sindical e trabalhista. A criação desses espaços institucionalizados de discussão representou “um pacto social na busca do desenvolvimento, entendido dentro dos limites do crescimento econômico capitalista” (ALMEIDA, 2007, p. 64). Os trabalhos do FNT culminaram no Projeto de Emenda Constitucional nº 369/2005 (PEC 369), com proposta de reforma sindical. Segundo Molin (2012): A PEC 369/05 caracteriza-se por um caráter híbrido, entre uma postura liberal e outra corporativista, ao conjugar três binômios da organização sindical: pluralismo e unicidade, liberdade sindical e necessidade das entidades sindicais de comprovar a representação, substituição do imposto sindical por outras formas de contribuição compulsória (MOLIN, 2012, p. 402). Apesar de concluírem os trabalhos, os atores sindicais do FNT não estabeleceram total consenso acerca da PEC 369/2005, de modo que esta não logrou êxito na sua aprovação no Congresso Nacional. Porém, importantes desdobramentos ocorreram como o reconhecimento das Centrais Sindicais 17 e a política nacional de valorização do salário mínimo, cujos ganhos reais estão acumulados em 77,18%, desde 200218. O setor do teleatendimento se insere formalmente nesse processo de diálogo social nacional, especialmente a partir de setembro de 2006, com a criação do Grupo de Trabalho Tripartite (GTT) pelo Ministério do Trabalho e Emprego, cujo objetivo foi a revisão da regulamentação do trabalho no setor, visando a melhoria das condições e do meio ambiente para os teleoperadores. O GTT foi composto por representantes do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores e discutiu durante seis meses aspectos relacionados às condições de trabalho, meio ambiente, condições sanitárias, segurança, 15 Perfil do entrevistado: sexo masculino, 36 anos, cor/raça branco, solteiro, filho no domicílio, ensino médio completo, gasta 3h com locomoção para o trabalho (ida/volta), atua como teleoperador e faz atendimento ativo/receptivo. 16 Para mais informações: http://www.cdes.gov.br/conteudo/41/o-que-e-o-cdes.html . 17 De acordo com a Lei nº 11.648 (BRASIL, 2008). 18 Para mais informações: http://www.dieese.org.br/notatecnica/2015/notaTec153SalarioMinimo2016.pdf 14 saúde do trabalhador e treinamento. Ao final do processo, em março de 2007, foi publicado o Anexo II da Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17)19. O Anexo II da NR 17 foi um avanço na regulamentação do trabalho em teleatendimento, porém ainda é descumprido em muitos aspectos e constantemente denunciado pelas entidades sindicais de trabalhadores. Tanto é assim que em junho de 2015 foi instalada a Mesa de Diálogo Tripartite (Mesa) 20 com a finalidade de discutir a melhoria nas condições de trabalho no setor de teleatendimento. A Mesa foi instituída após intenso processo de fiscalização realizado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), em empresas do setor, motivado por inúmeras denúncias oriundas dos trabalhadores e dos sindicatos laborais sobre as condições de trabalho e assédio moral. O objetivo inicial da Mesa era discutir os temas Saúde e segurança no trabalho e Rotatividade no setor. Em 2015 houve uma série de reuniões com o objetivo de realizarem um diagnóstico dos temas definidos como prioritários 21. A proposta de realização de uma Oficina de Diálogo Social para debater as condições de trabalho no setor de teleatendimento, coordenada pelo DIEESE, soma esforços no sentido de promover reflexões entre os diversos atores sociais. Vale registrar que a Organização Internacional do Trabalho (OIT), define o diálogo social como todos os tipos de negociação, consulta ou troca de informações entre representantes de governos, empresários e trabalhadores em questões relevantes para a política econômica e social. Essa prática tem sido apontada como um importante instrumento para discutir relações de trabalho, alocação de recursos públicos e possibilidades de desenvolvimento econômico e social (OIT, 2015). O DIEESE é indutor da prática do Diálogo social cuja intenção é buscar pontos comuns entre os atores sociais (trabalhadores, empresários e governos). Nesse sentido: “A explicitação de demandas e necessidades dos atores sociais sobre determinado tema depende da disposição de se buscar convergências e não consensos, a partir de um processo participativo e democrático (DIEESE/BID/FOMIN, 2014a)”. A operacionalização do diálogo social ocorreu em diferentes realidades sociais em âmbito nacional. O desenvolvimento do projeto “Redução da Informalidade por meio do Diálogo Social” foi um exemplo exitoso no que concerne ao desenvolvimento de uma 19 Para acessar o Anexo II da NR 17, consultar: http://www.mtps.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR17-ANEXO2.pdf 20 Para mais informações, consultar: http://www.mtps.gov.br/portal-mte/ 21 A situação atual da Mesa está em suspensão, após o governo interino de Michel Temer assumir a presidência da República. 15 metodologia construída em consonância com os trabalhadores locais, em geral, assalariados sem registro em carteira de trabalho, pessoas autônomas sem remuneração ou na condição de subcontratado. Diante do problema central da informalidade nas relações trabalhistas, no primeiro momento, foram desenvolvidos projetos pilotos no setor de comércio, construção e agricultura familiar na região sul do país e da confecção na região nordeste. Em seguida, novos contratos foram firmados, expandindo o raio de ação do projeto com participação em praticamente todas as regiões do território nacional em segmentos como a cultura do caju, assalariados rurais, construção civil, bares e restaurantes e emprego doméstico (DIEESE, 2014b). Essas experiências firmadas com apoio de diversas instituições parceiras do DIEESE serviram como pontapé para instituir práticas democráticas de solução conjunta voltadas para os diversos impasses identificados sobre as relações de trabalho e emprego em cada região. Dessa forma, o DIEESE enquanto entidade do movimento sindical desenvolveu a expertise necessária para difundir a prática de diálogo social voltada para os conflitos existentes no mundo do trabalho e, assim, conformar uma metodologia própria para a realização de diagnóstico de mercado de trabalho com a participação dos atores sociais. A descrição sobre as atividades desenvolvidas com a participação de trabalhadores em teleatendimento, setor empresarial do ramo e instituições representativas da sociedade civil a seguir, caracteriza as etapas da metodologia de diálogo social aplicada e explicita o comportamento dos atores sociais nos seus respectivos espaços de representação de interesses. 2.1 As etapas do Diálogo Social no teleatendimento A primeira etapa do diálogo social no teleatendimento consistiu na realização de uma oficina com trabalhadores do setor. O objetivo deste primeiro momento foi sensibilizar os trabalhadores em relação as suas percepções sobre o exercício do trabalho no setor teleatendimento. A atividade contou com um debate inicial, abordando o perfil dos trabalhadores, a evolução do setor, do mercado, maiores empresas, faturamento, produtividade, remuneração dos trabalhadores e rotatividade. A partir das informações apresentadas e das experiências pessoais de cada participante, foram debatidos nove temas: (i) Condições de trabalho; (ii) Relação com colegas e chefias; (iii) Pressão no trabalho e saúde; (iv) Conciliação do trabalho com a vida pessoal; (v) Remuneração; (vi) Jornadas e folgas; (vii) Intervalos; (viii) 16 Alimentação; (ix) Organização sindical. Em seguida, os participantes foram divididos em grupos para discussão dos temas propostos e os resultados apresentados sistematizados e agregados em três grandes temas e subtemas: (i) Condições de trabalho: gerais; remuneração; auxílios e benefícios; jornada e intervalo/pausas; (ii) Saúde do trabalhador e (iii) Organização sindical. A definição do grupo e o papel de agente social no processo de constituição do diálogo no setor de teleatendimento foi realizada obedecendo critérios sobre abrangência de atuação, nível de representatividade e importância do relacionamento com o setor. Dessa forma, três grandes blocos de representações delinearam-se: (i) os representantes dos trabalhadores; (ii) representantes dos empresários, (iii) representantes do poder público e de entidades ligadas aos consumidores e sociedade civil. A representação dos trabalhadores teve como foco o estado de São Paulo, pois esta unidade da federação representa a maior base dos trabalhadores. As entidades dos empregadores foram definidas segundo o critério da realização de negociação coletiva com entidades de trabalhadores, e pela representatividade de grandes empresas. Os órgãos do poder público seguiram critérios de relação direta ou indireta ao setor de teleatendimento e as entidades ligadas aos consumidores e à sociedade civil foram escolhidas a partir da relação de sua atuação com o setor de teleatendimento. 2.2 A experiência de Diálogo Social no setor de teleatendimento em São Paulo A tentativa de construção da proposta de diálogo social iniciou com uma discussão entre os atores sobre a caracterização do setor e do trabalho no teleatendimento a partir da ótica do mercado e da profissão. Foram realizadas duas exposições para democratizar o acesso a indicadores/reflexões sobre o setor, de forma a estabelecer entre os sujeitos sociais presentes um patamar comum de reflexão sobre o tema em questão. Os principais pontos levantados pelos atores sociais permitiu desenhar um quadro geral do setor que possibilitou a convergência de sete temas: (i) Profissionalização; (ii) Rotatividade; (iii) Padrão salarial (patamar e remuneração variável); (iv) Capacitação e treinamento; (v) Cumprimento da NR 17-Anexo II (saúde/intensidade do trabalho); (vi) Leilão reverso; (vii) Cadeia de valores. A proposta da oficina de diálogo social com os representantes do setor de teleatendimento era estabelecer a discussão por grupos de representação, ou seja, representantes dos trabalhadores, dos empresários, do poder público e da sociedade 17 civil. Porém, houve recusa da representação patronal22 em realizar a atividade desta maneira, de modo que todo o debate foi feito em plenário, o que dificultou o processo de sistematização. A configuração do campo de debate que abarcou as perspectivas apresentadas sobre determinados temas, permitiu mapear, por um lado, pontos de convergência, por outro, os limites do diálogo social nos momentos em que as diferenças prevaleceram como barreira para construir soluções conjuntas: 1) Profissionalização: houve convergência por parte da representação dos empresários e dos trabalhadores, sobre a importância da regulamentação profissional do trabalho em teleatendimento de modo a contribuir para a valorização profissional. A profissão do teleatendimento ainda não está regulamentada e está em tramitação no Senado Federal o Projeto de lei (PLC) nº 12/2016, cujo texto define o conceito de trabalho em teleatendimento, a jornada máxima permitida, intervalos mínimos para descanso e remuneração. 2) Rotatividade: o setor é conhecido como dotado de elevada rotatividade, principalmente entre os mais jovens. Identificou-se a rotatividade como um problema a ser enfrentado pelos atores sociais (empresários e trabalhadores), mas que deve ser trabalhado/estudado no âmbito da Mesa Nacional de Diálogo Tripartite do teleatendimento. A representação dos trabalhadores identificou como causas da rotatividade a pressão no trabalho em itens como a “aderência” 23, cumprimento do script, qualidade do atendimento, assédio moral e cumprimento de metas. A representação empresarial indicou causas múltiplas para a rotatividade, mas destacou outras oportunidades de emprego como fator relevante para a mesma. 3) Padrão Salarial: diferenças salariais entre as regiões do país são grandes, ocasionando migração de empresas para estados/regiões com condição salarial 22 Existem no Brasil duas representações patronais no setor de teleatendimento. Somente uma delas possui autorização legal do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) para negociar com os sindicatos de trabalhadores Acordos ou Convenções Coletivas de trabalho. Porém, a outra representação possui, dentre seus associados, as maiores e mais importantes empresas do setor. Há, portanto, divergências entre as representações dos empresários. 23 O critério “aderência” refere-se ao “login” no computador, por parte do funcionário, sem interrupções, como pausas para ir ao banheiro. Caso o trabalhador tenha 100% de “aderência”, a sua remuneração variável não é prejudicada. 18 pior, bem como o patamar da remuneração, considerado muito baixo. Não houve ponto de convergência neste tema. 4) Capacitação e treinamento: o único ponto de convergência foi o Anexo II da NR 17 como referência para um programa de capacitação dos trabalhadores. As avaliações foram diversas, com destaque para as representações empresariais, cujo entendimento é de necessidade de criação de um programa com conteúdo mínimo relacionado à saúde dos trabalhadores, para capacitar principalmente os gestores. A representação laboral definiu a importância da qualificação profissional para o trabalho de maneira geral e não somente para o produto da empresa; que a formação deve ser profissional, com o intuito de criar mecanismos de acolhimento em situações de risco à saúde física e mental dos empregados, garantindo a valorização da apreensão do conhecimento. As entidades da sociedade civil ressaltaram que a rotatividade e qualidade no atendimento estão relacionadas à capacitação, assim como os programas de treinamento deverem incluir princípios fundamentais de direitos dos consumidores e de que o excesso de fragmentação no trabalho prejudica o consumidor, o empregado e a empresa. 5) Cumprimento do Anexo II da NR 17 (saúde/intensidade do trabalho): houve reconhecimento pela representação empresarial da necessidade de análise de pleitos dos trabalhadores no tocante a este tema, porém transferiu o debate para a Mesa Nacional, restringindo ao espaço do diálogo social a capacitação associada à saúde. As representações dos trabalhadores, por sua vez, identificaram a reorganização do controle dos tempos de trabalho (script, pausas, remuneração variável) e o entendimento sobre o que é doença do trabalho no setor, como itens fundamentais a serem trabalhados, de modo que o Anexo II da NR 17 seja cumprido efetivamente pelas empresas. Os pontos convergentes foram: a) cumprimento do Anexo II da NR 17; b) debate sobre sua aplicação; c) debate sobre a capacitação de gestores sobre o processo de trabalho com foco na saúde do trabalhador e d) debate sobre a reorganização do controle dos tempos de trabalho. 19 6) Leilão reverso24: o único ponto convergente foi a necessidade das empresas operadoras de telecomunicação estarem presentes na Mesa Nacional de Teleatendimento. 7) Cadeia de valores: houve a avaliação de que os problemas do setor de teleatendimento estão relacionados aos próprios serviços prestados pelas contratantes (empresas de telecomunicação, setor financeiro etc), de qualidade duvidosa; houve também a preocupação de mudar a imagem do teleoperador em relação à sociedade. O ponto convergente foi a necessidade de debate sobre o atendimento ao cliente e condições de trabalho, indissociáveis. A avaliação da atividade pelos atores sociais foi de reconhecimento da importância do espaço de diálogo social, devido à exposição de problemas de um setor econômico muito relevante na sociedade brasileira. Ressaltou-se que os trabalhos desenvolvidos na Oficina de Diálogo Social, cuja intenção foi compreender melhor o tema das condições de trabalho no setor, problemáticas e precarizadas, e devem somar aos debates da Mesa Nacional de Diálogo Tripartite. As entidades patronais, apesar de não haver convergência em todos os pontos tratados, reconheceram este espaço como importante, mas ressaltaram a limitação da Oficina pelas atividades da Mesa, iniciada em 2015. As entidades representantes dos trabalhadores enfatizaram que o debate na Oficina contribui para melhorar os trabalhos da Mesa, já que os esforços se somam. Também atribuíram à constituição da Mesa Nacional ao momento que o setor vive25 e a urgência da solução para os temas tratados. As entidades ligadas aos consumidores enfatizaram os objetivos da Oficina de Diálogo Social de superar conflitos de consumo, no sentido de consumidores cidadãos. De modo geral, a primeira atividade pôde apreender os problemas no interior das empresas que são estruturais à própria organização do setor, que por sua vez determina as condicionantes que estruturam as bases da precarização do trabalho no teleatendimento, enredando trabalhadores em uma teia, aparentemente sedutora do 24 O leilão reverso é uma modalidade em que empresa ofertante do menor preço, ganha. Havia expectativa de realização de leilão nesta modalidade em 2015, de modo a ampliar a promoção do acesso à banda larga no país. A preocupação das entidades dos empresários e trabalhadores está amparada na possibilidade das empresas e, consequentemente, dos trabalhadores, serem prejudicados com este tipo de leilão. 25 Referência ao processo de fiscalização de empresas do setor pelo MTPS. 20 ponto de vista da oportunidade de inserção no mercado de trabalho formal e jornada reduzida, que se revela com baixas exigências na contratação, mas por outro lado, aponta para poucas possibilidades de reter o trabalhador pela baixa remuneração, intensidade do trabalho, incidência de problemas de saúde, rigidez das estruturas de carreiras e modelo de gestão. Considerações finais Fatores como baixos salários, alta rotatividade, falta de incentivos à qualificação profissional, dificuldade de organização sindical com pouca interferência no local de trabalho, somados à desvalorização do profissional submetido ao contexto de desproteção do emprego onde há predomínio da terceirização, são aspectos que corroboram para a situação de trabalho precário no Brasil. Condicionados à formalidade precária, os operadores em call center convivem com uma agenda sindical pouco efetiva. Em que pese iniciativas que notabilizam melhorias no ambiente de trabalho, avanços concretos ainda representam uma quimera para grande parcela desses trabalhadores. Deste ponto de vista, o Diálogo Social, como um instrumento de intervenção da realidade, permitiu compreender a precarização do trabalho e a sua relação com as lutas sindicais ao colocar frente-a-frente quinze participantes representando a classe patronal, sindicato de trabalhadores, e órgãos do poder público que debateram em plenária sete temas estratégicos para o setor: (i) profissionalização, (ii) rotatividade, (iii) padrão salarial, (iv) capacitação e treinamento, (v) cumprimento da Norma Regulamentadora17-Anexo II que aborda saúde/intensidade do trabalho, (vi) leilão reverso e (vii) cadeia de valores. O diálogo social com os atores sociais, coordenada pelo DIEESE, promoveu reflexões importantes relacionadas às condições/ relações de trabalho e saúde dos teleoperadores. O espaço do Diálogo Social não pretende ser um espaço conclusivo e nem de consensos, necessariamente, mas um local de promoção da reflexão. Nesse sentido, apesar da avaliação positiva pelos participantes, o desenvolvimento da Oficina obteve bastante resistência por parte das representações empresariais, ao transferirem constantemente o debate dos temas para a Mesa Nacional de Diálogo Tripartite do Teleatendimento. A instalação da Mesa do Teleatendimento no âmbito do MTPS foi decorrência do processo nacional de fiscalização pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) nas 21 centrais de teleatendimento de algumas empresas do setor. O processo de fiscalização pela SIT passou a ter abrangência nacional “após constatação de práticas padronizadas na organização do trabalho, com consequências danosas para grande número de trabalhadores. Como agravante, dois fatos chamaram a atenção da inspeção do trabalho: o falecimento de uma operadora de teleatendimento dentro de um dos sites da Contax SA, em Recife no final de 2011; e dados informados pelo INSS26 indicavam o adoecimento massivo dos operadores de teleatendimento contratados por meio da Contax SA, com fortes indícios de subnotificação das ocorrências, pela não emissão de CAT27”. Este fato favoreceu a confirmação da existência dos problemas no setor e sua admissão por parte das representações empresariais. Portanto, em que pese a resistência em buscar pontos convergentes sobre os temas discutidos, houve a compreensão da inevitabilidade de estabelecimento do diálogo entre os atores sociais e da promoção de mais momentos como esse, de modo a aprofundar o entendimento e a busca de soluções para os diversos conflitos existentes. O engajamento de representantes sobre problemas condizentes ao seu papel institucional permite construir pontes que fortalecem os instrumentos democráticos acessíveis à classe trabalhadora. Nesse sentido, o diálogo com atores sociais tornou-se ferramenta vital para encaminhar possíveis soluções com reconhecimento dos responsáveis para cada ação identificada. É importante ressaltar que a prática do diálogo social permitiu aproximar atores que convergiram para visões de mundo muito parecidas no que se refere ao enfrentamento dos problemas do setor de teleatendimento, entretanto, o método do diálogo social não mobilizou suficientemente os participantes que representaram a bancada patronal. Embora a atividade tenha sido elencada como proposta indispensável para se chegar ao entendimento mínimo comum sobre as condições de trabalho que afetam recorrentemente os trabalhadores, algumas deficiências no quesito da representatividade sindical e da pouca disposição para reconhecer os problemas inerentes à categoria impediram avanços no debate ocorrido no formato de plenária. 26 INSS: Instituto Nacional de Seguridade Social. As empresas são obrigadas e emitir a Comunicação de acidente de trabalho (CAT) quando da ocorrência de incidente no local de trabalho e também no trajeto entre a residência do trabalhador e o local de trabalho. 27 22 Conclui-se, portanto, que o encontro de diferentes atores do campo institucional foi significativo para promover uma reflexão sobre as condições de trabalho no teleatendimento e apresentou como ponto pacífico, a necessidade de endossar a participação dos atores e fortalecer o diálogo para construção de consensos e viabilizar avanços nas relações de trabalho presentes neste setor de teleatendimento. Fundamentalmente aponta para a importância desses espaços de forma permanente, estabelecendo canais de apresentação de problemas, construção de consensos, busca de concertação social. Diálogo social não se faz a partir de encontros fortuitos e tão pouco sem a disponibilidade de negociar. Constitiu-se em ferramenta primordial em uma sociedade democrática, justa e solidária e que prima pela qualidade das relações e condições sociais e de trabalho. Bibliografia ALMEIDA, Gelsom Rozentino. O Governo Lula, o Fórum Nacional do Trabalho e a reforma sindical. Rev. Katál, Florianópolis. v. 10. n.1 p. 54-64 jan/jun, 2007. ALVES, Giovanni. Dimensões da precarização do trabalho ensaios de Sociologia do Trabalho. São Paulo: Projeto editorial Práxis, 2013. ANTUNES, R. BRAGA, R. Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009. BOIAROV; Sonia. Meta 5 eLAC2007: Informe sobre legislación y normativa vinculada al teletrabajo en América Latina y el Caribe. CEPAL, Enero, 2008. DIEESE. BID. FOMIN. As experiências de diálogo social para a redução da informalidade: modelo de intervenção social no território. Brasília, DF, 2014. Disponível em https://www.dieese.org.br/livro/2014/experienciaDialogoSocial.pdf (Acesso jul/2016). DIEESE. 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Anexo I – Quadro síntese com os principais problemas identificados sobre as condições de trabalho no teleatendimento Temas abordados Problemas Falta de manutenção predial dos locais de trabalho Más condições das ferramentas do trabalho Exemplos Mobílias quebradas, ar condicionado quebrado ou sem manutenção, elevador, segurança, bebedouros, microondas, geladeira, iluminação ruim, corrimão, má higiene (controle de pragas), estrutura do prédio Readphones, cadeiras e computadores quebrados Há acúmulo e desvio de função: o trabalhador acumula funções que não foram definidas inicialmente ou realiza tarefas distintas do estabelecido em seu contrato de trabalho . O supervisor e/ou coordenador não se comunica harmoniosamente com o funcionário em virtude das metas que devem ser alcançadas; Relações conflituosas com as chefias imediatas (supervisores, coordenadores e gestores) . Há pouca sensibilização para troca de horários e/ou elaboração de escalas, levando em consideração as necessidades especiais da vida familiar de trabalhadores com dependentes sob seus cuidados; . Dificuldades em obter aceitação de atestados/declaração de horas para acompanhamentos de filhos/idosos. O tempo de acompanhamento é superior ao tempo contido no atestado e a empresa não abona as horas. Geral Contratação inadequada: trabalhadores são contratados para vagas sem ter o perfil necessário RH deve cumprir metas de contratação, exigidas pelos clientes das CTA's, caso não obtenha candidatos suficientes, utiliza-se de outra seleção para preencher as vagas necessárias, mesmo que o candidato não tenha o perfil. Treinamento inicial inadequado Treinamento realizado após contratação é insuficiente para o início da atividade Funcionário paga as despesas com alimentação e transporte durante treinamento inicial (5 primeiros dias) Embora a CCT (cláusula 18ª) defina o pagamento de alimentação aos trabalhadores em testes admissionais, os participantes da oficina apontaram que as empresas não cumprem esta cláusula e indicam que o correto seria o pagamento do transporte, inclusive. Empresas aproveitam-se das fragilidades/vulnerabilidades pessoais dos candidatos a vagas de emprego Mulheres, negros, homossexuais, idosos, obesos, entre outros Empresa descumpre compromisso assumido no processo seletivo, no que se refere ao pagamento de auxílio transporte As empresas definem a rota do transporte que o funcionário irá realizar, restringindo o pagamento a esta rota. Qualquer mudança de rota realizada pelo trabalhador para facilitar seu deslocamento ao local de trabalho ou residência é arcado pelo trabalhador. Não cumprimento do "script" afeta a remuneração variável Os trabalhadores indicaram que as empresas pressionam para o cumprimento do script de modo a acelerar o atendimento, garantindo o cumprimento das metas de remuneração variável. Estabelecimento de metas difíceis de serem cumpridas Remuneração/ auxílios/ benefícios Metas sofrem constantes alterações Trabalhador não possui pleno conhecimento dos critérios utilizados para estabelecimento de metas Afeta a remuneração variável Salários são insuficientes VR é muito baixo O valor recebido para alimentação é insuficiente para uma refeição de qualidade (custo médio de R$). Levando em consideração o tempo de deslocamento casa-trabalho e trabalhocasa, geralmente superior a 8\10 horas, nesse período o trabalhador necessita, ao menos, de uma refeição completa 24 Salários diferenciados para a mesma função Plano de cargos e salários com evolução horizontal Salários de trabalhadores em operadoras é superior àqueles das empresas terceiras Horas extras em excesso Os baixos salários incentivam a realização de muitas horas extras . Trabalhador não é avisado com antecedência necessária sobre sua escala . O descanso semanal de pelo menos uma vez por mês aos domingos não é respeitado Jornada Escalas mal elaboradas . As escalas não consideram as necessidades especiais de trabalhadores com dependentes sob seus cuidados (filhos, idosos) . Poucas folgas aos finais de semana. As empresas restringem as folgas ao estabelecido na NR 17 Intervalos/ pausas Intervalo para repouso e alimentação de 20 minutos é muito curto Os 20 minutos são insuficientes, pois o trabalhador tem de se deslocar até o local em que vai se alimentar, se alimentar e retornar ao seu posto de trabalho. O critério "aderência" interfere nas pausas para uso do banheiro e tb na remuneração variável Se o trabalhador não obtiver 100% da "aderência" é prejudicado em sua remuneração variável e a pausa banheiro afeta a "aderência". Empresas pressionam o trabalhador a utilizar as pausas de 10' para o uso do banheiro. Punições por atrasos após as pausas de 10' e 20' Empresas dificultam ou não aceitam atestados médicos ou comprovantes de horas A CCT (cláusula 48ª) define: os atestados médicos podem ser emitidos por órgãos públicos de saúde, pelo convênio médico ou ambulatorial da Empresa e devem ser entregues em até 72 horas. Atestados que abonam horas devem ser apresentados em até 24 horas, a partir da sua emissão. Empresas não aceitam diversos atestados de profissionais relacionados à saúde Psicólogos; odontologistas (aceitam apenas para extração de dentes); fisioterapeutas Ausência de exercício laboral Problemas auditivos Exame audiométrico é realizado somente na admissão Problemas vocais Rouquidão; afonia Problemas visuais Saúde do trabalhador Problemas de LER Tendinite Pressão das chefias para que o trabalhador cumpra o "script" em sua totalidade Pressão pelo cumprimento de metas causa um ambiente de trabalho estressante Assédio moral é praticado em cadeia hieráquica Coordenador assedia o supervisor e este assedia o teleoperador Assédio sexual nos locais de trabalho Ausência de estrutura e/ou profissionais para atendimentos emergenciais relacionados à saúde, em especial em grandes "sites" (não cumprimento da NR 4) A NR 4 define critérios para a presença de técnicos em segurança do trabalho, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos do trabalho nos locais com quantidades definidas de trabalhadores Deslocamento inadequado ou demorado em situações emergenciais relacionadas à saúde Trabalhador é deslocado de taxi, sendo que deveria ser deslocado de ambulância Medicação ministrada inadequadamente Em casos de doenças crônicas. Exemplos: medicação disponibilizadas para tratamentos emergenciais de hipertensão são restritos Práticas anti-sindicais por parte das empresas, através de coordenadores e supervisores Os superiores hierárquicos "convencem" os trabalhadores de que o sindicato não faz nada, que é "vendido", de que só quer o imposto sindical Impedem/dificultam o acesso do sindicato ao local de trabalho Rotatividade atrapalha a organização sindical Organização Sindical Mobilização dos trabalhadores é ruim; não há união Há delegados sindicais que não atuam adequadamente nos locais de trabalho: falta mais apoio do sindicato aos delegados Sindicato precisa estar mais presente nos locais de trabalho Outros Necessidade de renovação dos dirigentes sindicais na diretoria do sindicato Intervenção/fiscalização dos órgãos trabalhistas é ruim e insuficiente Fonte: DIEESE. Oficina de Diálogo Social sobre formas de precarização do trabalho / Elaboração: DIEESE. 25