POETIZANDO A EJA JANE HIR

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POETIZANDO A EJA JANE HIR
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Parque Gráfico em Pinhais - Pr
Jane Cleide Alves Hir
Professora especialista em Educação de Jovens e
Adultos - CEEBJA Dr. Mario Faraco com atuação na
alfabetização de alunos privados de liberdade.
Mestranda em Educação – Mestrado Profissional em
Teoria e Prática de Ensino. – UFPR.
CV http://lattes.cnpq.br/3580811153471676
[email protected]
POETIZANDO NA EJA
O PRIMEIRO OLHAR
“A primeira etapa para superar a dificuldade de apreensão do texto
literário, é ter em mente que qualquer leitor está apto a melhorar a
sua capacidade interpretativa, [...] pois, interpretação nada mais é do
que o exercício do próprio pensamento em torno de um pensamento
alheio”.
Yunes e Pondé (1988)
O LETRAMENTO COMO PROCESSO
Gosto da ideia de que nosso corpo é a soma de vários outros
corpos. Ao corpo físico, somam-se um corpo linguagem, um corpo
sentimento, um corpo imaginário, um corpo profissional e assim por
diante. Somos a mistura de todos esses corpos, e é essa mistura
que nos faz humanos. [...] Do mesmo modo que atrofiaremos o
corpo físico se não o exercitarmos, também atrofiaremos nossos
outros corpos por falta de atividade. COSSON ( 2014)
A FUNÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA
Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor,
não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou
porque seja prazerosa, mas sim e sobretudo, porque nos fornece ,
como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários
para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem.
(COSSON - 2014)
O PROCESSO DE LEITURA
Considerando a leitura como um fenômeno simultaneamente
cognitivo e social, pode-se reunir as diferentes teorias sobre a leitura
em três grandes grupos conforme síntese feita por Vilson J. Leffa,
em Perspectivas no estudo da leitura: texto, leitor e interação
social (1999).
O TEXTO COMO CENTRO DA LEITURA
Ler é um processo de extração do sentido que está no texto. Essa
extração passa pela superfície do texto, e o nível do significado, que
é o conteúdo do texto. Quando se consegue fazer esta extração, fazse a leitura.
O LEITOR COMO CENTRO DA LEITURA
A leitura é o ato de atribuir sentido ao texto, ou seja, parte do
leitor para o texto. Desse modo, ler depende mais do leitor que do
texto. É o leitor que elabora e testa hipóteses sobre o que está no
texto. É ele que cria estratégias para dizer o texto com base naquilo
que ele já sabe sobre o texto e o mundo.
AS TEORIAS CONCILIATÓRIAS
O leitor é tão importante quanto o texto, sendo a leitura o resultado
de uma interação. Trata-se, pois, de um diálogo entre o autor e
leitor, que é construído por ambos nesse processo de interação. O
ato de ler, mesmo realizado individualmente, torna-se uma atividade
social.
AS TRÊS ETAPAS DO LETRAMENTO LITERÁRIO
1ª ETAPA: ANTECIPAÇÃO
Operações cognitivas e emocionais que o leitor realiza antes de
entrar no texto propriamente dito. A leitura começa na antecipação
que fazemos do que diz o texto.
2ª ETAPA: DECIFRAÇÃO
Entramos no texto através das letras e palavras. Quanto maior a
nossa familiaridade e o domínio delas, mais fácil é a decifração. Um
leitor maduro decifra o texto com tal fluidez, que muitas vezes ignora
palavras escritas de forma errada e não se detém se desconhece o
significado de uma palavra, pois a recupera no contexto.
A DECIFRAÇÃO NO TEXTO POÉTICO
Além da decifração do código (palavras, frases) o texto poético
requer uma decifração específica do gênero quanto às figuras de
linguagem, efeitos sentidos etc...Sem a qual o texto fica
intransponível.
3ªETAPA: INTERPRETAÇÃO
Compreende as relações estabelecidas pelo leitor quando processa
o texto. O centro desse processamento são as inferências que levam
o leitor a entretecer as palavras com o conhecimento que tem do
mundo. Por meio da interpretação o leitor negocia o sentido do texto,
em um diálogo que envolve autor, leitor e comunidade. Interpretar é
dialogar com o texto tendo como limite o contexto.
A CONTRIBUIÇÃO DA POESIA NA FORMAÇÃO DO LEITOR
LITERÁRIO
“A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de
transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza [...]
Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio
resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência
de ser algo mais que passagem [...] Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar
em forma superior; linguagem primitiva [...] Analogia: o poema é um caracol onde
ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências,
ecos, da harmonia universal. (PAZ 1982).”
“O texto poético é o espaço mais rico e amplo, capaz de permitir a
liberação do imaginário e do sonho das pessoas. É preciso que o
fato poético esteja muito presente e seja bem trabalhado pela escola
para que o universo escolar possa romper o tédio e a indiferença
com que muitas vezes se vê recoberto. Um mundo sem poesia é o
mais triste dos mundos”.
De tal modo, a poesia abre as portas para o mundo circundante do
leitor por meio da linguagem poética/musical que aspira e por meio
do discurso lúdico ela incorpora e desenvolve no leitor novas
experiências mentais e existenciais do leitor. (VOLTAIRE).
"A poesia sensibiliza qualquer ser humano. É a fala da alma, do
sentimento. E precisa ser cultivada". (SANT'ANNA)
“A poesia é uma das formas mais radicais que a educação pode
oferecer de exercício de liberdade através da leitura, de oportunidade
de crescimento e problematização das relações entre pares e de
compreensão do contexto onde interagem”. (FILIPOUSKI )
(...) A poesia tem uma importância fundamental para a formação
crítico-reflexiva do sujeito-leitor. A poesia possibilita ao homem o
encontro com a cultura humanística, como espaço de revelação e
reconhecimento do prazer, da fantasia e da realidade circundante ao
leitor. (CAMARGO)
“Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi” Oswald de Andrade
OS RECURSOS LINGUISTICOS DO TEXTO POÉTICO
Subjetividade, musicalidade, jogos de sentido, aliterações,
onomatopeias, repetição, ritmo, o valor denotativo/conotativo das
palavras e as figuras de linguagem, que possibilitam dar ênfase ao
significado que o poeta pretende atribuir ao texto.
A SELEÇÃO DOS TEXTOS: OS CRITÉRIOS DE ESCOLHA
[...] Crescemos como leitores quando somos desafiados por leituras
progressivamente mais complexas. Portanto, é papel do professor
partir daquilo que o aluno já conhece para aquilo que ele
desconhece, a fim de proporcionar o crescimento do leitor por meio
da ampliação de seus horizontes de leitura.
ATUALIDADE X CONTEMPORANEIDADE X DIVERSIDADE
Tem lugar na escola o novo e o velho, o trivial e o estético, o simples
e o complexo e toda a miríade de textos que faz da leitura literária
uma atividade de prazer e singularidades.
AS ESTRATÉGIAS DIDÁTICO – PEDAGÓGICAS
MOBILIZAÇÃO
O conceito de mobilização implica ideia de movimento. Mobilizar é
por em movimento, diferencia-se de motivar. Mobilizar-se ( de
dentro) - Motivar-se ( de fora).
Mobilizar é por recursos em movimento. Mobilizar-se é reunir suas
forças para fazer uso de si próprio como recurso.
INTRODUÇÃO
A entrada temática que toma a mobilização como eixo. O
contexto da obra e apresentação do autor. A primeira leitura. A
importância da leitura do poema em voz alta pelo professor.
As impressões do grupo.
A ATIVIDADE INTERPRETATIVA
A mediação pedagógica no desvelamento do texto poético. As
diferentes formas do dizer poético. A identificação das
sensações. Os diferentes significados do texto.
A CONTEXTUALIZAÇÃO PRESENTIFICADORA
As relações de sentido entre o texto poético e o momento
atual. As semelhanças e diferenças nas representações.
A LEITURA COMO EXPERIÊNCIA
É necessário discutir e reconhecer a pertinência da poesia como
possibilitadora do desenvolvimento imagético, linguístico e como
mediador do prazer pela leitura. Mais que ouvida, a poesia precisa
ser sentida, vivida.
A BOLHA
Olha a bolha d'água
no galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho
na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão
que trabalha!
A BOLHA
Olha a bolha de sabão
na ponta da palha:
brilha, espalha
e se espalha.
Olha a bolha!
Olha a bolha
que molha
a mão do menino:
a bolha da chuva da calha!
Cecília Meireles
DORME RUAZINHA
Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
DORME RUAZINHA
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... mas tão leves, são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração....
Mário Quintana
O AÇÚCAR
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da
mercearia.
O AÇÚCAR
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
O AÇÚCAR
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
Ferreira Gullar
O PÃO E O CHÃO
O chão
O grão
O grão no chão
O pão
O pão e a mão
A mão no pão
O pão na mão
O pão no chão?
Não.
Cecília Meireles
Seiscentos e Sessenta e Seis
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente …
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mário Quintana
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
REFERÊNCIAS
BARRETO, Vera. Poetizando Confabulando Historiando. São Paulo: Centro de
Estudos em Educação., 1994
COSSON, Letramento literário: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2014.
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1991.
KRAMER, Sonia. Por entre pedras: arma e sonho na escola. São Paulo: Editora
Ática, 1993.
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário.
Porto Alegre : Artmed, 2002.
ZULIM, Leny Fernandes. Literatura no Ensino Fundamental. Londrina, PR:
Amplexo Editora, 2011.

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