SALMOS - Ponderabilis

Transcrição

SALMOS - Ponderabilis
LIVRO DE SALMOS
Lição 01
“O valor da poesia na antiguidade”
2 Samuel 23.1-5
Amigos e irmãos ouvintes: Com a graça
de Deus podemos mais uma vez nos
encontrar para esta nova serie de estudos
bíblicos. Desta vez o nosso assunto é o
livro de Salmos, tão amado e tão
utilizado por todos os que se voltam à
Palavra de Deus.
A nossa seqüência de 13 lições está
assim estruturada: Nesta primeira, vamos
considerar alguns aspectos gerais do
livro, servindo como introdução ao
assunto. A partir da 2a. lição, estaremos
nos detendo nos salmos especificamente.
Analisaremos os salmos agrupados em 6
classes, com duas lições destinadas a
cada um destas classes. O agrupamento
nessas 6 classes tem o propósito de
organizar os salmos de acordo com a
similaridade do seu tema preponderante
e do seu objetivo. Dentro de cada uma
dessas
classes
estaremos
então
considerando as características gerais do
tipo de salmos e principalmente
refletindo sobre alguns dos salmos mais
expressivos da classe.
O nome Salmos nos vem do grego e
significa: “poema para ser cantando com
instrumento de corda”. O seu titulo
hebraico quer dizer “Livro dos
Louvores”. Estes nomes para o livro já
nos deixam clara a sua finalidade, de
servir como adoração a Deus. Na Igreja
primitiva, os Salmos se constituíam no
hinário dos primeiros cristãos, como
vemos, entre outros, em Efésios 5.19.
Usamos o nome do livro no plural –
Salmos, embora seja correto utilizar o
singular para designar um capitulo
específico ao qual estamos nos referindo,
por exemplo: salmo 121.
Os Salmos com seus 150 caps. é o mais
longo livro da Bíblia e nós o temos como
o livro central, na organização do cânon
sagrado como utilizado hoje.
Em relação aos outros livros da Bíblia,
este apresenta diversas peculiaridades:
(1) Os Salmos são uma coletânea de
literatura poética. Não é uma descrição
de fatos ou experiências, como nos livros
históricos; nem é a apresentação de uma
mensagem como nos livros proféticos;
nem é a apresentação de ensinos de
sabedoria, como nos livros de Salomão.
(2) Os Salmos não tem uma autoria
única, ainda que Davi seja o autor de
parte relevante deles.
(3) mais importante, os Salmos nos
apresentam o Homem falando a Deus,
enquanto nos livros históricos vemos
Deus falando a cerca do Homem e nos
livros proféticos vemos Deus falando ao
Homem (Myer Pearlman).
Revejamos agora, pois, a autoria dos
Salmos: 73 salmos são de autoria de
Davi. 2 outros, o salmo 2 e o salmo 95
são tradicionalmente também atribuídos
a Davi, embora tal indicação não esteja
apresentada no livro. Asafe e os filhos
de Core são autores de outros 12 salmos
cada. Os salmos 72 e 127 são de autoria
de Salomão. Moisés, Etã e Hemã são
indicados como autores de um salmo
cada. Restam ainda cerca de 50 salmos
de autoria não indicada.
Os Salmos dividem-se internamente em
5 livros: O livro I até o salmo 45; o livro
II do salmo 46 ao 72; o livro III do
salmo 73 ao 89; o livro IV do salmo 90
ao 106; e o livro V do salmo 107 ao 150.
Alguns comentaristas bíblicos ressaltam
o fato de que esta divisão repete o
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LIVRO DE SALMOS
Pentateuco, com cada uma das divisões
de Salmos sendo associados a um dos 5
livros da Lei, escritos por Moisés.
Dentro dessa revisão introdutória
convém gastar um tempo com o estilo do
livro. Os Salmos são poesia e como tal
deve entendido e utilizado. A poesia
hebraica, ensinam-nos os especialistas,
não é baseada nem na rima nem no
ritmo, mas sim no paralelismo, onde a
segunda linha do poema se relaciona
com a anterior, confirmando ou
contrastando a primeira declaração. Esse
paralelismo fica claro já no salmo 1,
verso 1, onde a 1a. linha diz: “bem
aventurado o varão que não anda
segundo o conselho dos ímpios.” e a 2
a. linha do verso reforça esta idéia
afirmando: “nem se detém no caminho
dos pecadores.” A segunda idéia é uma
nova elaboração da primeira , formando
um pensamento paralelo. No verso 6
deste mesmo salmo 1 vemos mais um
paralelismo, mas agora de um outro tipo,
chamado paralelismo contrastado, onde a
segunda idéia é uma contraposição, ou
uma oposição à primeira: 1a.: “porque o
Senhor conhece o caminho dos justos” e
a 2a; “mas o caminho dos ímpios conduz
à ruína”.
Há diversos outros tipos de paralelismo,
mas um mais é relevante: o paralelismo
emblemático, em que uma das idéias
paralelas é uma ilustração da outra.
Vemos isto no salmo 42, verso 1, onde a
1a. linha anuncia: “Como o cervo anseia
pelas correntes das águas” e 2 a. linha:
“Assim a minha alma anseia por ti ó
Deus”
Um outro aspecto importante que não
pode ser esquecido ao considerar os
Salmos e o estilo que utiliza, é que a
linguagem poética é essencialmente uma
linguagem livre e emocional, destinada
primordialmente a atingir o coração.
Hipérboles ou exageros são recursos
aceitos na linguagem poética, assim
como ilustrações, metáforas e outras
figuras de linguagem. Umas poesia
sempre procura enfatizar o conteúdo
emocional da idéia que se quer
transmitir,
para
que
ela
seja
enfaticamente compreendida.
Entendidas estas peculiaridades do livro
dos Salmos e considerados os cuidados
que devemos observar ao usá-lo, resta
apenas nos lançarmos de coração e
mente na apropriação da mensagem
deste livro para nós. Creio ser apropriado
repetir o pensamento de João Calvino a
respeito do valor dos Salmos, como
citado por J. Sidlow Baxter no livro
“Examinai as escrituras” (vol. Jó a
Lamentações pg.91)
“A este livro, costumo denominar uma
anatomia de todas as partes da alma,
pois ninguém descobrirá em si mesmo
um único sentimento cuja imagem não
esteja refletida neste espelho. Mais
ainda, todos os sofrimentos, tristezas,
temores, duvidas, esperanças, cuidados,
ansiedades – em suma, todas essas
agitações tumultuosas em que a mente
dos homens costuma envolver-se - o
Espírito Santo aqui as apresentou
fielmente”.
Terminemos com a mensagem dos
primeiros versos do Salmo 91:
“Aquele que habita no esconderijo do
Altíssimo, à sombra do Todo Poderoso
descansará. Direi ao Senhor: Ele é o
meu refúgio e a minha fortaleza, o meu
Deus em quem confio.”
Que o estudo nos Salmos nos ajude a ter
e a expressar esta mesma confiança e
segurança em Deus.
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Lição 02
"Os salmos de exaltação à Lei de Deus” (1a. parte )
Salmos 1 e 15.
Queridos irmãos e ouvintes: Em
continuação ao nosso estudo nos Salmos,
estamos hoje iniciando as considerações
sobre o primeiro dos temas propostos: A
exaltação à Lei de Deus. Os salmos a
serem analisados são o salmo 1 e o
salmo 15.
Não sabemos quem é o autor do salmo 1,
mas isso não impede de que ele seja um
dos mais conhecidos e repetidos salmos.
Ele é denominado do salmo dos dois
caminhos, pois faz a diferenciação entre
dois tipos de pessoas, a partir da atitude
que cada um toma com relação à Palavra
de Deus. O primeiro dos grupos
compõem-se daqueles que “tem o seu
prazer na lei do Senhor e na sua lei
medita de dia e de noite.” Estes são os
justos. O segundo grupo, dos que não se
apegam à lei do Senhor, se compõem
daqueles que terminarão na ruína, os
ímpios.
Vejamos o que o salmo ensina sobre os
Ímpios. Eles são comparados á palha
espalhada pelo vento. Não são firmes
nem consistentes. Não estão apegados a
nenhum valor e assim são levados por
qualquer interesse ou motivação. A
conseqüência é que as pessoas
integrantes desse grupo não têm
condições de passar pela prova do juízo e
tão pouco podem ou desejam se
comprometer com a congregação dos
justos. O seu fim, como já mencionado,
só pode ser a ruína. Não há duvida de
que o salmista quer desestimular
qualquer um a entrar ou a permanecer
nesse grupo.
O outro grupo se diferencia pelo seu
comprometimento com a lei de Deus,
comprometimento este expresso pelo
tempo e pelo amor dedicado à lei do
Senhor. Devemos entender que esta
dedicação produz uma transformação de
vida, que faz o individuo passar a ser
considerado justo diante de Deus. As
suas atitudes e seus comportamentos
passam a ser orientados por aquilo que
ele vai descobrindo na lei que lhe é tão
querida. Ele está firmado na lei, e tal
firmeza o impede de ser seduzido pelo
“conselho dos ímpios”, pelo “caminho
dos pecadores” e pela “roda dos
escarnecedores”. Ele fica a salvo desse
envolvimento progressivo com o erro,
que o salmista coloca nos termos de “não
anda”, “nem se detém”, e “nem se
assenta”.
A posição do justo é ainda reforçada
positivamente pela imagem da árvore,
que usufruindo de fonte permanente de
água, é frondosa, frutífera e próspera.
O objetivo ultimo deste salmo, de exaltar
a Lei de Deus é claro. A lei do Senhor
torna possível a nós escolher o grupo
certo, o dos justos. É a lei do Senhor
que nos orienta e nos mostra o que
devemos fazer para nos mover em
direção aos justos e nos afastar dos
ímpios. Ao fazer esta exaltação da lei de
Deus, o salmista também quer nos
incentivar a reforçar o nosso amor e o
nosso envolvimento com a Palavra de
Deus.
O segundo salmo separado para hoje, é
de autoria de Davi, o salmo 15. Ele trata
da mesma questão, colocando-a em
forma de uma pergunta, que é ao mesmo
tempo um desafio: “Quem, Senhor,
habitará na tua tenda? Quem morará no
teu santo monte? “
Podemos ver neste salmo um
complemento perfeito ao salmo 1.
Ambos tratam do mesmo assunto: o
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LIVRO DE SALMOS
desafio de se ser justo diante de Deus,
porém sob óticas diferentes. O salmo
primeiro enfatiza a fidelidade à Palavra
de Deus e o salmo 15 enfatiza os
aspectos morais da vida do justo.
Somente o amor e o comprometimento
com a lei não são suficientes, se tais
atitudes não se evidenciarem nos atos e
tratos dos assuntos comuns da nossa
vida. Reversamente, uma vida integra,
como aqui descrita, somente será
agradável a Deus se estiver também
lastreada naquela identificação com a lei
do Senhor como preconizado no salmo 1.
Como no salmo primeiro, aqui também
se coloca bastante ênfase nas negativas –
aquilo que não deve ser feito. Assim,
aquele que quiser habilitar-se a morar no
santo monte de Deus: “não difama com a
sua língua”, “não faz mal ao seu
próximo”, não aceita afronta contra o seu
próximo” , não muda o seu juramento,
ainda que venha a ter perdas por causa da
palavra emprenhada, “não empresta o
seu dinheiro a juros” e não aceita
subornos contra o inocente.
As negativas são acompanhadas de
algumas atitudes positivas também.
Quem quer habitar na tenda do Senhor
deve ainda: andar irrepreensivelmente,
praticar a justiça, falar de coração a
verdade, desprezar o malvado, e honrar
os que temem ao Senhor.
Fácil?
Não, de modo algum. As
condições apresentadas dizem respeito a
3 áreas cruciais da nossa vida: O nosso
caráter, as nossas palavras e a nossa
lealdade. Cada uma dessas áreas se
compõem em desafios permanentes para
nós.
Para finalizar essas considerações é
necessário mais um ponto para reflexão.
Ambos os salmos analisados nos levam a
pensar
na
nossa
santificação.
Santificação para sermos dignos da
presença de Deus. Santificação que se
reflita
em
todos
os
nossos
comportamentos e relacionamentos.
Ambos os textos nos impelem para o
desafio de 1. Pedro 1.16: “Sereis santos,
porque eu sou santo.”
A convivência coma Deus só é possível
sob tal condição. Fora dela só resta a
ruína.
Estes dois textos nos devem levar a
compreender que a Santidade deve ser o
nosso estilo de vida. Não devemos falar
da santidade com os conceitos errados e
popularmente aceitos, pureza e até
mesmo de ingenuidade, ou santidade
como capacidade para de dedo em riste
acusar erros e falhas dos outros. A
santidade que Deus requer de nós, a
santidade que estes dois salmos nos
ensinam é a santidade que custa esforço
de buscar e,
sobretudo de nela
permanecer. É a santidade posta a prova
todo o dia, em todas as circunstancias
quando somos confrontados nas palavras
que dizemos, na lealdade que
dispensamos e no caráter que
demonstramos. Ao conseguir fazer da
santidade o nosso estilo de vida
estaremos nos tornando “como a arvore
plantada junto às correntes de águas, a
qual dá o seu fruto na estação própria, e
cuja folha não cai, e tudo quanto fizer
prosperará”. Para realmente conseguir
tal feito, devemos junto com o salmista
integrar o grupo daqueles que “antes tem
o seu prazer na lei do Senhor, e na sua
lei medita dia e noite.”
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LIVRO DE SALMOS
Lição 03
"Os salmos de exaltação à Lei de Deus” (2a. parte )
Salmos 119.
Pela graça de Deus podemos nos
encontrar mais uma vez para o nosso
estudo nos Salmos. Continuamos hoje
considerando o primeiro dos 6 temas
gerais nos quais foi estruturada este
seqüência de lições. Vamos, pois, à
segunda parte dos salmos de exaltação à
Lei de Deus.
O salmo 119, objeto do nosso estudo de
hoje, é o mais longo capítulo de toda a
Bíblia, com os seus 176 versículos. Mas
não é somente por esta característica que
tão facilmente identificamos esse salmo.
Todos os seus versos são uma declaração
a respeito de um mesmo assunto: a
Palavra de Deus. São assim 176 ditos ou
provérbios a respeito da Lei do Senhor.
Diferentes sinônimos são usados para
designá-la: Palavra, Lei, Estatutos,
Testemunhos, Preceitos, Mandamentos,
Ordenanças, Juízos, Caminhos e outros
que encontramos na nossa tradução da
Bíblia. Henry Morris, no seu livro
“Amostra dos Salmos” nos ensina que no
original hebraico
são apenas 8 os
sinônimos utilizados, e que a utilização
destes sinônimos obedece uma regra de
um modo tão organizado que neles se
encontra uma perfeita aritmética.
Infelizmente tal não pode ser percebido
em nossa língua.
Mas há uma outra estruturação da poesia
hebraica que podemos vislumbrar, ainda
que parcialmente.
Este salmo, no
original, é um acróstico, com um bloco
de 8 versos para cada letra do alfabeto
hebraico. Como são 22 letras naquele
alfabeto, multiplicado por 8 temos a
razão porque são 176 versos. Podemos
perceber tal acróstico na nossa Bíblia,
pois, na maioria das Bíblias, a letra do
alfabeto encabeça cada grupo de
versículos a que se refere. Dentro desses
grupos, cada um os versos em hebraico
começa sempre com a letra do grupo a
que pertencem.
Sendo uma coletânea de ditos sobre a
Palavra de Deus, organizada em forma
de acróstico, a simples leitura desse
salmo
pode
produzir
certa
desconcentração, visto que não houve a
preocupação de um encadeamento do
assunto, com uma proposição, uma
elaboração e uma conclusão. Talvez isto
explique porque tão poucos versos desse
salmo estão gravados na nossa memória,
como o v. 105 “Lâmpada para os meus
pés é a tua palavra e luz para o meu
caminho”.
Mas essa desorganização superficial não
deve esconder de nós nem nos afastar da
mensagem que este salmo nos apresenta,
sobre o valor da Palavra de Deus para os
homens; sobre o benefício que podemos
ter ao busca-la e sobre o amor e
dedicação que lhe devemos separar.
Nada melhor ao estudar os Salmos que
lê-los. Vamos, portanto, proceder a uma
leitura parcial do salmo 119, encadeando
alguns dos seus versos, a começar por
uma definição do que é a Lei de Deus,
como nos apresentada pelo v. 160 “ A
soma da tua palavra é a verdade, e cada
uma das tuas justas ordenanças dura para
sempre”.
Os benefícios da Palavra para nós são
diversos, citando-se a sabedoria que ela
nos traz (v.98 a 100) “O teu
mandamento me faz mais sábio que
meus inimigos, pois está sempre comigo.
Tenho mais entendimento que todos os
meus mestres, porque os teus
testemunhos são a minha meditação.
Sou mais entendido do que os velhos,
porque tenho guardado os teus preceitos”
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LIVRO DE SALMOS
Não sei se temos atinado para toda a
profundidade desses 3 versos: A Palavra
do Senhor traz sabedoria para o nosso
viver diário, na complexidade de
situações que temos a enfrentar. Ela nos
faz mais sábios que nossos inimigos, que
nossos mestres e daqueles que tem mais
experiência de vida que nós: 3 tipos de
pessoas frente às quais tendemos a nos
sentir inferiorizados. No entanto, isso
não deve acontecer se estivermos
fundamentados na Palavra que nos traz a
sabedoria para a vida.
Além da sabedoria, a Palavra traz um
outro benefício fundamental para o nosso
viver cotidiano: A serenidade e a
tranqüilidade para enfrentar as mais
difíceis situações. Vejamos alguns versos
que nos lembram isso. (v.23) “Príncipes
sentaram-se e falavam contra mim, mas
o teu servo meditava nos teus estatutos”
(v.50) “Isto é a minha consolação na
minha angústia, que a tua promessa me
vivifica” (v.92) “Se a tua lei não fora o
meu deleite, então eu teria perecido na
minha angustia”. E (v165) “Muita paz
têm os que amam a tua lei, e não há nada
que os faça tropeçar”. Desejo que eu
mesmo, e todos nós tenhamos a Palavra
do Senhor tão firme conosco que esta
serenidade no embate se confirme na
nossa própria experiência.
em todo o tempo.” Ou no verso 131:
“Abro a minha boca e arquejo, pois
estou anelante pelos teus mandamentos.”
E quanto à nossa atitude com relação a
essa Palavra preciosa? Ah se pudemos
ter a mesma dedicação que o salmista
demonstra, (v.97) “Oh! Quanto amo a
tua lei! É a minha meditação o dia todo.”
(147 e 148) “ Antecipo-me à alva da
manhã e clamo; aguardo com esperança
as tuas palavras. Os meus olhos se
antecipam às vigílias da noite para que
eu medite na tua palavra.” (v 62) “ A
meia noite me levanto para dar-te graças
por causa dos teus retos juízos.” (v. 164)
“Sete vezes por dia te louvo pelas tuas
justas ordenanças.” Mais do que gastar o
tempo com a palavra, há um anseio por
ela, como no v.20 “A minha alma se
consome de anelos por tuas ordenanças
Que estas sejam as nossas petições ao
final desta leitura parcial do salmo 119.
Tal dedicação e desejo pela Palavra deve
torná-la o bem mais prazeroso que se
pode ter, a própria alegria de viver, como
no v.54 “ Os teus estatutos tem sido os
meus cânticos na casa da minha
peregrinação”. E ainda no v.24 “Os teus
testemunhos são o meu prazer e os meus
conselheiros”. E no v.162: “Regozijo-me
com a tua palavra, como quem acha
grande despojo.”
Creio que podemos concluir que por
mais que temos nos dedicado à Palavra
de Deus, por mais sério que tem sido o
nosso estudo dela, e por mais que já
tenhamos nos esforçado em fazer desta
Palavra o guia da nossa vida, ainda não
podemos acompanhar o salmista em
todas essas declarações. Precisamos mais
amor, mais desejo, mais dedicação. Isso
também o salmista desejava de tal
maneira que podemos acompanhar o
salmista com sinceridade nestas suas
declarações (v.18) “ Desvenda os meus
olhos para que eu veja as maravilhas da
tua lei.” E (v.32) “Percorrerei o
caminho dos teus mandamentos, quando
dilatares o meu coração.”
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LIVRO DE SALMOS
Lição 04
"Os salmos de celebração à realeza/ Messiânicos”
(1a. parte ) Salmos 2, 20, 23, 24, 45 e 47.
Queridos ouvintes: com alegria temos a
oportunidade de continuar esta série de
estudos em Salmos. Iniciamos hoje um
novo tema do livro, que abrange os
chamados salmos reais e os salmos
messiânicos.
Os salmos reais são assim denominados
porque o seu texto exalta a figura e os
feitos do rei. O contexto imediato desses
salmos nos aponta para Davi, ou mesmo
para algum outro rei da linhagem dele,
mas podemos ver além desse conteúdo
imediato, a antevisão do Reino Eterno do
Messias, o filho de Davi.
Além desses salmos reais, que apontam
para o Messias, ao longo do livro
encontramos inúmeras outras referências
à obra e ao ministério do Nosso Senhor
Jesus Cristo, do seu sofrimento, da sua
vida aqui na terra e da expectativa do seu
retorno como rei soberano de todo o
universo. Portanto faz todo o sentido
juntar os salmos reais e os salmos que
fazem referências Messiânicas, visto que
em ultima instância são palavras
proféticas anunciando Jesus Cristo,
nosso Senhor e nosso Salvador.
Começamos nos voltando para dois
salmos reais, o salmo 2 e o salmo 20.
O salmo 2 é apresentado como de autoria
desconhecida, embora o apóstolo Pedro
em At.4.25-26 atribuiu-o a Davi. Ele nos
fala da rebelião contra Deus e da vitória
final do Filho de Deus.
O pr. Isaltino Gomes (A teologia dos
Salmos) analisando este salmo nos
chama a atenção para a sua “construção
literária bem planejada” Os 12 versos
estão agrupados em 4 idéias, cada qual
expressa em 3 versículos. Os primeiros
versículos nos falam da rebeldia das
nações contra Deus, se indagando o
porque de tal atitude insana. Mas o fato é
que os reis se levantam e os príncipes
conspiram não se sujeitando ao domínio
do ungido do Senhor. Querem romper
as ataduras e se livrar das cordas.
O segundo pensamento (v.4-6) nos
apresenta em contraste a tranqüilidade
divina e o menosprezo de Deus por tal
rebeldia: O rei está estabelecido e o seu
domínio garantido. Após o terceiro
pensamento (v.7-9) que é uma profecia
messiânica, o quarto pensamento (v.1012) apresenta um apelo para que os
rebeldes abandonem sua insanidade e
sendo prudentes voltem ao Senhor e
aceitem o seu domínio, pois são “Bem
aventurados todos aqueles que nele
confiam”.
O salmo 20 nos faz pensar no dia da
dificuldade, quando as tribulações e as
batalhas estão se delineando à frente.
Este salmo é uma oração de suplica pela
proteção divina ao rei que está se
preparando para marchar. O pedido de
proteção está acompanhado de uma
firme declaração de confiança em Deus,
declaração que tem sido repetida em
todas as épocas por aqueles que a
desejam reafirmar: “ Uns confiam em
carro e outros em cavalos, mas nós
faremos menção do nome do Senhor
nosso Deus. Uns encurvam-se e caem,
mas nós nos erguemos e ficamos de pé”
(v.7-8).
Agora vamos voltar nossa atenção para
uma seqüência de 3 salmos, atentando
para o grande conteúdo messiânico
presente neles. São os salmos 22, 23 e
24. A beleza e a popularidade do salmo
23, o salmo do bom pastor, nos desvia
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LIVRO DE SALMOS
de atentar para o fato de que esses 3
salmos formam um conjunto, uma
trilogia, apresentando Jesus Cristo em 3
perspectivas diferentes. Para alguns esses
salmos são identificados como os salmos
dos 3 C´s: Da cruz, do cajado e da
coroa. Pois assim é: O salmo 22 fala do
Cristo na Cruz, do seu sofrimento. O
salmo 23 fala do pastoreio de Cristo - o
seu cajado que nos consola, e o salmo 24
fala do rei da Glória
e da sua
entronização eterna: Cristo e sua coroa.
A leitura atenta do salmo 22 nos
apresenta a vivida visão do sofrimento
de Cristo por nós na cruz. Através dele
estamos como que presenciando os
acontecimentos no calvário, tal como os
evangelhos nos apresentam. O salmo 22,
em conjunto com Isaías 53, são claras
antevisões proféticas daquilo que séculos
depois viria a se cumprir no monte do
Calvário. “Deus meu, Deus meu por que
me desamparaste?” (v.1) “Todos os que
me vêem zombam de mim, arreganham
os beiços e meneiam a cabeça dizendo:
Confiou no Senhor, que ele o livre; que
ele o salve, pois que nele tem prazer.”
(v.7-8). “Como água me derramei, e
todos os meus ossos se desconjuntaram;
o meu coração é como cera, derreteu-se
no meio das minhas entranhas.” (v.14)
“Repartem entre si as minhas vestes, e
sobre a minha túnica lançam sortes.”
(v.18). Ao relembrarmos este salmo
devemos concordar com um grande
numero de comentaristas bíblicos, como
Derek Kidner, de que não há como
entender que neste salmo Davi estivesse
se referindo a um episódio da sua própria
experiência. Neste salmo, mais do que
salmista Davi é um profeta a quem Deus
proporcionou a antevisão do sofrimento
da cruz. (At.2.30).
O segundo salmo da trilogia nos é por
demais conhecido. Para mim, como para
muitos que tiveram o privilegio de
nascer em um lar cristão e de crescer na
Igreja, o salmo 23 está entre os primeiros
textos bíblicos que pudemos recitar.
Com certeza, ele deve ser o primeiro
capitulo inteiro que pudemos com
alegria repetir, talvez até antes que
fossemos capazes de lê-lo. Ele nos
acompanha e de modo algum a sua
mensagem pode perder importância para
nós: “Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte, não temerei mal
algum, porque tu estás comigo; a tua
vara e o teu cajado me consolam.” (v.4)
A trilogia se fecha com a visão do rei da
Glória apresentada no salmo 24. “Quem
é esse Rei da Glória? O Senhor forte e
poderoso, o Senhor poderoso na
batalha.” (v.8).
Na seqüência dos salmos de hoje,
começamos lembrando aqueles que se
rebelam contra o domínio de Deus
(Sl.2), passamos pelo Rei se preparando
para enfrentar os inimigos, confiado no
poder de Deus (Sl.20). Vimos o
sofrimento do Messias (Sl.22), e depois
de rever o seu ministério pastoral (Sl.23)
o vemos agora na sua glória; “ Levantai
ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos,
ó entradas eternas e entrará o Rei da
Glória.” (v.9)
Que com a ajuda de Salmos possamos
compreender melhor a magnitude e a
significância da obra de Cristo, e assim
louvar e exaltar a Deus pelo seu grande
cuidado por nós.
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LIVRO DE SALMOS
Lição 05
"Os salmos de celebração à realeza/Messiânicos”
(2a. parte) Salmos 72, 87, 101, 110 e 118.
É bom estarmos juntos mais uma vez,
nesta renovada alegria de pensar na
Palavra de Deus, através do estudo no
livro de Salmos. Hoje continuamos
considerando os salmos que tratam da
celebração à realeza e os salmos
Messiânicos.
Como já visto no encontro anterior, os
salmos reais, embora façam referência a
um contexto próximo ao da sua
produção, exaltando a figura do rei,
levam-nos a uma referência maior
apontando para o Messias e para a
necessidade de nos sujeitarmos ao
domínio do Senhor dos Senhores, do rei
dos reis.
O primeiro dos salmos separados para
hoje é o 72, um dos 2 salmos indicados
como de autoria de Salomão. É uma
oração do autor pedindo as bênçãos e a
direção de Deus sobre o seu reinado.
Derek Kidner nos seu comentário sobre
o livro intitula este salmo como “O rei
perfeito”, pois é exatamente isto que
Salomão pede a Deus. Ele pede que a sua
justiça venha de Deus, para salvar os
necessitados e esmagar os opressores
(v.1 a 4); Pede que o seu reino seja sem
fim (v.5 a 7) e sem fronteiras (v.8 a 11).
Salomão pede ainda que o seu reinado
seja compassivo (v.11 a 14) e que a
abundância e a boa reputação estejam
permanentemente na sua ministração
(v.15 a 17). Como uma oração, Salomão
a encerra exaltando o nome e o poder de
Deus (v. 18 e 19). A lembrança desse
salmo nos deve reforçar a necessidade de
orar pelas autoridades de maneira que as
bênçãos suplicadas por Salomão para a
sua administração também possam ser
estendidas à nos, através das decisões e
das ações daqueles que têm sido
incumbidos de dirigir os negócios
públicos. Além disto, este salmo também
deve nos servir como exemplo para,
como Salomão, suplicarmos de Deus a
capacitação
para
desempenhar
sabiamente as responsabilidades que nos
competem,
ainda
que
tais
responsabilidades
não
tenham
a
abrangência de um governo nacional.
Para aquilo que a nós compete fazer,
supliquemos também de Deus a
capacitação para a tarefa.
O segundo salmo, o 87, enfoca Sião, a
cidade de Jerusalém, como a cidade de
Deus.
O terceiro salmo, é o 101, de autoria de
Davi. Encontramos nesse salmo certa
semelhança com o salmo 87 de Salomão.
Davi se compromete com Deus em
viver de um modo irrepreensível. É o
desejo do rei de que tanto a sua vida
pessoal (v.1 a 4) quanto as relações de
amizade (v.5 a 8) reflitam uma
integridade total de vida. “Portar-me-ei
sabiamente no caminho reto .... andarei
em minha casa com integridade de
coração.” (v.2) Esse salmo também se
coloca como um exemplo a ser imitado,
para que possamos buscar reafirmar, na
nossa vida, o desejo de viver de um
modo que seja agradável ao Senhor.
O salmo seguinte para nós hoje é o 110.
Esse é outro salmo profético de Davi.
Nele vemos retratado,
com grande
ênfase, todo o domínio e a glória do
Messias, a quem Davi chama de meu
Senhor. Notemos que o salmo está
apresentado no futuro: “O Senhor
enviará a Sião o cetro do seu poder”
(v.2); “O Senhor ... quebrantará reis no
SALMOS -1T2003
Pg. 9
LIVRO DE SALMOS
dia da sua ira” (v.5); “O Senhor julgará
entre as nações” (v.6). Davi não falava
dele nem de seu reino. Davi falava do
Messias e do seu completo domínio
futuro. O salmo apresenta o Messias
como rei (v.1 a 3), como sacerdote (v.4),
e como guerreiro (v.5-7). A importância
desse salmo é tal, que o Novo
Testamento o cita, ou faz a ele
referencias 27 vezes, como em Mat.
22.44 ! Nenhum outro salmo, ou mesmo
outro texto do Velho Testamento é
utilizado tantas vezes nos escritos dos
evangelhos e das cartas. O desafio dessa
mensagem messiânica para nós
é
encontrada no v 2: que possamos estar
engajados de todo o coração nessa
multidão que se coloca a disposição
desse rei vitorioso: “ o teu povo
apresentar-se-á voluntariamente no dia
do teu poder, em trajes santos; como
vindo do próprio seio da alva, será o
orvalho da tua mocidade.”
O ultimo dos salmos a considerar nesta
lição é o salmo 118. Da autoria de Davi,
ele é um cântico de gratidão a Deus por
aquilo que o Senhor fez. Antes de atentar
para o belo texto desse salmo, convém
notar que 3 de seus versos são citados no
Novo Testamento, realçando o conteúdo
messiânico que ele também apresenta. O
verso 6 “O Senhor é por mim, não
recearei; o que me pode fazer o homem.”
É citado em Hb.13.6. o verso 22 “ A
pedra que os edificadores rejeitaram,
essa foi posta como pedra angular” foi
utilizado por Jesus, em Mat .21.42, em
referência a si próprio. E a parte inicial
do verso 26 “bendito aquele que vem em
nome do Senhor” foi cantada pela
multidão que recebeu Jesus em
Jerusalém na entrada triunfal da sua
ultima ida à cidade (Mat.21.9).
O salmo 118 nos lembra que a gratidão e
o reconhecimento da benignidade do
Senhor deve ser nacional: “Diga, pois,
Israel” (v.2); deve ser familiar: “ Diga,
pois, a casa de Abraão” (v.3) e deve
também ser individual: “Diga, pois, os
que temem ao Senhor” (v.4)
A lembrança do que o Senhor fez está
presente: ele ouviu quando foi invocado
(v.5) , Ele permitiu que os inimigos
ameaçadores
fossem
exterminados
(v.10), Ele fez com que os perigos
fossem igualmente exterminados (v.1112), Ele ajudou quando a queda era
iminente (v.13). E por isso aquele era um
momento de lembrança e em conse-qüência de agradecimento e de alegria:
“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.” (v.24)
A lembrança do que o Senhor fez leva a
uma reafirmação da confiança nEle,
como vemos nos versos 6 a 9 “ O Senhor
é por mim, não recearei; que me pode
fazer o homem? O Senhor é por mim
entre os que me ajudam; pelo que verei
cumprido o meu desejo sobre os que me
odeiam. É melhor refugiar-se no Senhor
do que confiar no homem. É melhor
refugiar-se no Senhor do que confiar nos
príncipes.”
Para finalizar estas considerações sobre
os salmos reais que nos apontam para
Jesus Cristo, o Messias, vamos ficar
com os versos 6 e 7 do Salmo 45, outro
dos salmos reais:
“O teu trono, ó Deus subsiste pelos
séculos dos séculos; cetro de eqüidade é
o cetro do teu reino. Amaste a justiça e
odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu
Deus, te ungiu com óleo da alegria, mais
do que a todos os teus companheiros.”
SALMOS -1T2003
Pg. 10
LIVRO DE SALMOS
Lição 06
"Os salmos de celebração da vitória
e confiança em Deus”
(1a. parte ) Salmos 11, 16, 27, 34, 37, 62 e 78.
Caros irmãos e ouvintes. O Senhor nos
permite mais uma vez voltar ao livro de
Salmos, nessa seqüência de estudos
bíblicos
que
estamos
tendo
a
oportunidade de empreender.
Hoje começaremos a rever mais um tipo
de salmos, na classificação geral adotada
para esse estudo. Veremos salmos que
visam a celebração de vitórias e a
confiança em Deus.
O que marca este tipo de salmo é que o
autor o apresenta como uma reafirmação
da sua confiança em Jeová. As coisas
podem até não estar indo bem, as
angustias e os desafios são mencionados,
mas a nota marcante é a da reiterada
disposição de descansar nAquele que é
capaz de tudo.
Um grande numero de salmos, cerca de
60,
são denominados salmos
individuais, pois que o autor os apresenta
na primeira pessoa, expressando a sua
situação particular e colocando os seus
sentimentos, os seus pensamentos e os
seus desejos pessoais em relação a Deus.
A grande maioria dos salmos de
celebração de vitória e de confiança são
salmos individuais. Adicionalmente,
convém também mencionar que além de
individuais, os salmos hoje considerados
são de autoria de Davi. Notamos que os
salmos de Davi estão bastante
concentrados nos 2 primeiros livros de
salmos, que como vimos englobam os
salmos até o de numero 72. Dos salmos
explicitamente atribuídos a Davi, 55
estão nestes 2 primeiros livros; 8 estão
apresentados em seqüência a partir do
salmo 138 e os restantes 10 estão
espalhados ao longo dos
livros de Salmos.
restantes 3
O valor dos salmos individuais, e
especialmente dos individuais de
confiança em Deus é muito grande para
nós, quando podemos nos identificar
com o autor e fazer nossas as suas
palavras, revivendo na nossa experiência
aquilo por que o autor passou e deixou
registrado. Usando as palavras de Lynn
Anderson - também válidas para todos
os outros tipos de salmos - podemos
afirmar que estes salmos nos ajudam a
expressar o inexprimível; a explorar o
desconfortável; a manter nossas orações
vívidas; e a nos mover para além do
meramente
mendigar,
no
nosso
relacionamento com Deus.
Comecemos com o salmo 11. A sua
primeira frase já deixa claro porque se
insere nesta classificação: “No Senhor
confio.” No entanto, esta não é uma
declaração que surgiu da boca do
salmista de graça. Ele estava sendo
confrontado com um cerco da parte de
seus inimigos e por isso estava
recebendo conselhos para fugir aos
montes, tal como um pássaro,
procurando por proteção e tentando
escapar de enfrentar “os ímpios (que)
armam o arco, põem a sua flecha na
corda, para atirarem, às ocultas, aos retos
de coração” (v.2). Em vez de seguir o
conselho recebido e fugir, Davi voltouse para Deus lembrando que “o trono do
Senhor está nos céus; os seus olhos
contemplam, as suas pálpebras provam
os filhos dos homens” (v.4). A afirmação
de confiança termina lembrando que os
retos, aqueles que confiam no Senhor,
verão o seu rosto.
SALMOS -1T2003
Pg. 11
LIVRO DE SALMOS
No salmo seguinte, o 16, a confiança
vem acompanhada de um pedido de
proteção: “Guarda-me, ó Deus, porque
em ti me refugio”. (v.1). Embora aqui
não esteja apresentada uma situação
especifica que levava o salmista a
confirmar sua confiança em Deus em
face das dificuldades, percebemos que o
salmista aguardava pela ação de Deus na
sua vida, e a sua confiança o fazia
antecipar a provisão que desejava. Vejam
que o salmista fala de coisas que
acontecerão no futuro, como nos versos
10 e 11: “Pois não deixarás a minha alma
no Seol, nem permitirás que o teu Santo
veja corrupção. Tu me farás conhecer a
vereda da vida; na tua presença há
plenitude de alegria; à tua mão direita há
delícias perpetuamente”
Podemos agora passar para o salmo 27.
Este salmo é muito rico na expressão dos
sentimentos
que
ele
retrata,
especialmente na mistura de sentimentos
tão diversos que se tornam
até
contraditórios. E esta contradição de
sentimentos deve ajudar a entendermos
a nós mesmos. Davi queria confiar em
Deus: “ O Senhor é a minha luz e a
minha salvação, a quem temerei? O
Senhor é a força da minha vida, de quem
me recearei?” (v.1). Davi tinha razões
para confiar em Deus, em vista do que
Ele já tinha feito: “ Quando os malvados
investiram contra mim, para comerem as
minhas carnes, eles, meus adversários e
meus inimigos, tropeçaram e caíram”
(v.2). No entanto, tanto o desejo de
confiar como a experiência passada, não
estavam sendo suficientes naquela hora,
e a duvida, a insegurança se instalava.
Assim, Davi
começa a levantar
problemas hipotéticos, como que para
testar até onde poderia ir a sua confiança
em Deus. “Ainda que um exército se
acampe contra mim ... ainda que a guerra
se levante contra mim...” (v.3), depois no
v.10 “Se meu pai e minha mãe me
abandonarem...” A percepção é que de
fato, Davi estava em crise no seu
relacionamento com Deus, e ele não
escondeu isto, como vemos no v.7
“Ouve, ó Senhor, a minha voz quando
clamo; compadece-te de mim e repondeme.” E mais no verso 9 “ Não escondas
de mim o teu rosto, não rejeites com ira
o teu servo,....Não me enjeites nem me
desampares.” E mais ainda no v.12
“Não me entregues à vontade dos meus
adversários;...”
Nessa situação de
coisas, o desejo de Davi é de buscar
mais intimidade com Deus, como vemos
nos seus pedidos do v. 4 “ Uma coisa
pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa
morar na casa do Senhor todos os dias da
minha vida. ...” e no v.11 “ Ensina-me ó
Senhor, o teu caminho, e guia-me por
uma vereda plena, por causa dos que me
espreitam.” Ao fim desse processo,
Davi pode declarar: ” Creio que hei de
ver a bondade do Senhor na terra dos
viventes.”
Que lição para nós. A intimidade e a
franqueza de Davi nesse salmo devem
ser exemplo para nós, de como devemos
nos aproximar de Deus e expressar a Ele
tudo o que se passa conosco.
Há outros salmos nessa classificação,
como 34, 37, 62, além daqueles
separados para a nossa próxima lição.
Terminemos fazendo nossa a reiterada
confiança de Daví em Deus, como no
cap. 62 v.1e 2:
“Somente em Deus
espera silenciosa a minha alma; dele
vem a minha salvação. Só Ele é a minha
rocha e a minha salvação; é ele a minha
fortaleza; não serei grandemente
abalado.”
SALMOS -1T2003
Pg. 12
LIVRO DE SALMOS
Lição 07
"Os salmos de celebração da vitória e Confiança em Deus”
(2a. parte ) Salmos 91, 92, 95, 105, 106, 112 e 114.
Amigos e irmãos ouvintes: Agradeçamos
a Deus o privilégio de estarmos mais
uma vez juntos para o estudo da Sua
Palavra. Peçamos a Deus que o seu
Espírito esteja conosco nos ensinando e
nos mostrando as maravilhas da Sua lei.
Dentro desta série de estudos em Salmos,
continuamos hoje revisando os salmos de
celebração da vitória e confiança em
Deus. Como lembrado no encontro
anterior, este tipo de salmo reflete o
desejo do autor de reafirmar a sua
confiança em Jeová ou o seu desejo de
lembrar vitórias obtidas e desta maneira
celebrar o Senhor que as tornou possível.
Quanto a autoria, todos os salmos a
serem considerados hoje são de autoria
anônima, contrastando-se com os salmos
de Davi presentes na primeira parte da
revisão desta classificação.
Salmo 91 – Algumas considerações
preliminares sobre este salmo. (1) Há
uma arrumação bastante interessante
neste salmo a respeito de quem fala e a
quem tal fala é dirigida. Nos 2 primeiros
versos o autor está falando por si,
declarando-se a Deus. Nos versos 3 a 13
o autor está se dirigindo a uma terceira
pessoa para apresentar os benefícios da
confiança em Deus, discorrendo sobre
eles. Para alguns autores, devido a essa
parte substancial do salmo, ele deveria
ser classificado como salmo de
instrução, visto o objetivo do autor, de
ensinar a um terceiro a respeito de uma
verdade
em que ele já acreditava. No final do
salmo, dos versos 14 a 16, vemos o
próprio Deus falando, confirmando a
instrução que o autor desejou transmitir.
(2) John Stott nos chama a atenção para
o fato de que este é o único salmo
utilizado pelo Diabo. Vamos aos
evangelhos, na descrição da tentação de
Jesus (ex. Mt.4.6), e vemos lá que os
versos 11 e 12 deste salmo são citados
por Satanás como argumento de tentação
ao Mestre. E o diabo utilizou para tal
argumento a principal mensagem deste
salmo, qual seja a do anjo enviado por
Deus para proteger e livrar dos perigos
aqueles que nEle confiam.
As figuras de proteção utilizadas pelo
autor para retratar o cuidado de Deus
pelo homem são diversas: Esconderijo,
sombra (v.1), fortaleza (v.2) Livrador
(v.3), asa, escudo, broquel (v.4, e anjos
(v.11). Com todos esses recursos a
disposição, somente devemos seguir o
conselho do salmista e descansar no
Altíssimo Todo Poderoso. Quaisquer
que sejam os problemas advindos de
inimigos, pestes, animais perigosos,
terrores da noite ou tropeços do
caminho, o Senhor cuidará deles,
impedindo que sejamos perturbados. Os
versos finais, que expressam a própria
palavra de Deus, são o fecho adequado
para a mensagem que o salmista quer
transmitir: “Pois que tanto me amou, eu
o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro,
porque ele conhece o meu nome.
Quando ele me invocar, eu lhe
responderei; estarei com ele na angustia,
livrá-lo-ei, e o honrarei. Com longura de
dias fartá-lo-ei, eu lhe mostrarei a minha
salvação” (v.14 a 16).
Salmo 92 - A ênfase deste salmo é a
celebração dos feitos do Senhor. É bom
render graças ao Senhor por aquilo que
ele fez e pelas suas grandes obras. E a
certeza dessa continuada ação de Jeová
em favor dos justos que o temem, faz o
salmista declarar: “Os justos florescerão
como a palmeira, crescerão como o
SALMOS -1T2003
Pg. 13
LIVRO DE SALMOS
cedro do Líbano.” (v.12) “Na velhice
ainda darão frutos, serão viçosos e
florescentes, para proclamarem que o
Senhor é reto.” (v.14 e 15 a)
Salmo 105 - Igualmente ao anterior,
este salmo é um convite à adoração ao
Senhor. Os argumentos para tal convite
vêm da revisão da história, quando o
salmista vai relembrando feitos de Deus
em benefício do povo de Israel, e de
como a lembrança desses feitos dele
levar o povo a cantar e anunciar o nome
de Jeová. Nossa memória é curta e fazse necessário relembrar todo o caminho
já percorrido para não perder a visão da
grandeza da obra de Deus. O convite do
salmista deve assim ser extensivo a nós:
“Lembrai-vos das maravilhas que Ele
tem feito, dos seus prodígios e dos juízos
da sua boca.” (v.5)
Salmo 112 – É mais um salmo que
exorta a confiança irrestrita no Senhor:
“Bem aventurado o homem que teme ao
Senhor, que em seus mandamentos tem
grande prazer.” (v.1) Os benefícios
dessa atitude estão listados no restante
do salmo, mas devemos notar que o
salmista aqui se restringe a apresentar os
benefícios imediatos, percebíveis no
campo material daquele que confia em
Deus. São reforçadas as bênçãos visíveis,
através da descendência poderosa, de
bens e riquezas na casa e da sua
capacidade de enfrentar mesmo as más
noticias, porque o seu coração está bem
firmado no Senhor.
ver nos salmos uma bela produção
literária que nos prende a atenção pela
riqueza das suas imagens e pela
profundidade da emoção que nos evoca.
Como cristãos sinceros e amantes da
Palavra, os salmos devem ser para nós
mais do que apenas isto. Como ressalta
Bob Deffinbaugh, ao considerar a
significância atual dos salmos, eles
devem falar para nós, falar por nós,
clamar por nós e nos servir de padrão
para a nossa adoração a Deus, como
serviram para a Igreja Cristã primitiva (I
Co.14.26; Ef.5.19; Col.3.16).
Os salmos falam para nós porque
expressam palavras apropriadas para as
diversas circunstancias de vida que
enfrentamos.
Os salmos falam por nós, pois retratam
o intimo de nossas almas, colocando em
palavras os nossos mais sinceros desejos,
confirmando a intercessão do Espírito
por nós, como Paulo ensina em Rm.8.26.
Os salmos clamam por nós, das
profundezas (Sl.130.1), pois podemos
encontrar neles o conforto, a consolação
e as palavras de petição a Deus de que
necessitamos, mesmo nos momentos
mais negros das nossas vidas.
Que nesse aprofundamento no conhecer
dos salmos possamos chegar onde Davi
chegou\; “Busquei ao Senhor, e ele me
respondeu, e de todos os meus temores
me livrou. Olhai para ele e sede
iluminados; e os vossos rostos jamais
serão confundidos.” (Sl. 34. 4 e 5).
Salmo 114 - Este salmo celebra um feito
específico da história de Israel, a
passagem dos judeus pelo Mar
Vermelho. A lembrança de tal episódio
histórico deve servir para toda a terra, e
não somente a nação de Israel, tremerem
na presença do Senhor Deus de Jacó.
Para concluir esta revisão de hoje,
gostaria de que considerássemos mais
um pouco a respeito do valor dos
Salmos para nós. Não podemos limitar a
SALMOS -1T2003
Pg. 14
LIVRO DE SALMOS
Lição 08
"Os salmos de culto e louvor” (1. parte )
Salmos 33, 50, 68, 81, 132 e 145.
Uma das características marcantes do
livro de Salmos, cujo estudo podemos
hoje continuar, agradecidos a Deus por
mais uma vez nos trazer a este momento,
é o seu conteúdo de Louvor e Adoração
a Deus. Utilizar as palavras de um salmo
para expressar a nossa adoração a Deus é
um fato comum. E são estes salmos os
de culto e louvor que prenderão a nossa
atenção neste estudo.
Estaremos
revendo alguns salmos que são parte
desta classificação, com o objetivo
primeiro de aprendermos mais a respeito
do louvor e adoração que devemos
tributar ao nosso Deus.
O salmo 33 nos ensina não só sobre a
forma do nosso louvor, mas também
sobre a razão porque devemos adorar a
Deus. Os seus primeiros versos nos
lembram de duas características que não
podem faltar no nosso culto: A alegria e
a perfeição: “ Regozijai-vos no Senhor,
vós justos, pois aos retos fica bem o
louvor. .... Cantai –lhe um cântico novo;
tocai bem e com júbilo.” E este convite
ao louvor jubiloso e aprimorado
justifica-se por aquilo que o Senhor é e
por aquilo que o Senhor fez. O restante
do salmo é uma
apresentação da
grandeza do Senhor, onde a Sua palavra
criadora é ressaltada nos versos 4 a 9; a
Sua vontade triunfante é lembrada nos
versos 10 a 12; e o Seu olhar discernente
destacado nos versos 13 a 19, como nos
ensina Derek Kidner. Pelo que o Senhor
é e pelo que Ele fez devemos fazer
completo o nosso louvor depositando
nEle toda a nossa confiança, tal como o
salmista fez “ A nossa alma espera no
Senhor; ele é o nosso auxilio e o nosso
escudo.” (v.20).
Vamos passar agora ao salmo 68, de
autoria de Davi. Aqui também a ênfase
do cântico é a grandeza e a obra de
Deus, em prol dos seus fiéis, na natureza
e no meio do seu povo. A leitura deste
salmo nos chama a atenção pela força e
pujança das expressões utilizadas por
Davi para exaltar a Deus. O salmo
chama a nossa atenção também pelo fato
de que a convocação ao louvor e feita
não somente ao povo de Deus, Israel,
mas é também
estendida a outras
nações, como o Egito e a Etiópia,
abrangendo todas as nações da terra.: “
Reinos da terra, cantai a Deus, cantai
louvores ao Senhor.” (v.32) Sendo uma
literatura do povo judeu, sempre tão
cioso da sua nacionalidade e do seu
privilegio como povo escolhido de Deus,
poucos lugares nos Salmos encontramos
uma mensagem que tão claramente
ressalta o caráter universal da adoração,
como aqui.
O salmo seguinte a considerar é o de
numero 81. Aqui vemos retomada a
preocupação de que o louvor esteja
revestido de alegria e do som de
instrumentos musicais, mas o salmo nos
ensina um outro aspecto fundamental
que não podemos esquecer: A adoração
a Deus é um mandamento divino: “Pois
isso é um estatuto para Israel, e uma
ordenança para Jacó.” (v.4). Adorar a
Deus é parte integral dos mandamentos
divinos para o seu povo, e por isso o
restante do salmo é um convite para que
Israel escute a voz de Deus e O
reconheça como o seu único Senhor.
No salmo 108 aprendemos com Davi
mais uma característica que não pode
faltar no nosso louvor. A nossa
voluntariedade. A nossa disposição e o
SALMOS -1T2003
Pg. 15
LIVRO DE SALMOS
nosso desejo de adorar a Deus.
“Preparado está o meu coração, ó Deus;
cantarei, sim, cantarei louvores, com
toda a minha alma. Despertai, saltério e
harpa; eu mesmo despertarei a aurora.
Louvar-te-ei entre os povos, Senhor,
cantar-te-ei louvores entre as nações.”
(v.1 a 3). Esta lição de Davi, tão
importante para ser retida, ganha um
significado maior quando atentamos para
o fato de que este salmo 108 é a junção
da parte final de dois outros salmos, o
57, a partir do seu verso 7 e o 60, a partir
do seu verso 5. Esses dois salmos que
deram origem ao 108, por sua vez, não
são salmos de Louvor. São salmos de
lamentação, onde Davi se apresenta
diante de Deus clamando por livramento.
Mas por maior que era a sua situação de
desamparo, ele ainda estava preparado
para cantar louvores. Portanto, neste
salmo Davi não só nos ensina sobre a
disposição para adorar a Deus. Ele
ensina, com a sua vida, que a adoração a
Deus deve ter prioridade total.
O último salmo a considerar hoje é o
salmo 145. Ele é o ultimo salmo de Davi
no saltério. O autor ressalta a dimensão
temporal do louvor nos lembrando que a
adoração a Deus não
deve ser
interrompida. Cada dia bendizendo ao
Senhor, e assim louvando o Seu nome
pelos séculos dos séculos (v.2). Esta
preocupação com o tempo e com a
continuidade ininterrupta da adoração
também fica ressaltada no verso 4:
“Uma geração louvará as tuas obras à
outra geração, e anunciará os teus atos
poderosos.” É a obrigação da lei de
Moisés, dos pais transmitirem aos filhos
o conhecimento do temor ao Senhor
(Dt.6.20-25) expressa na forma da
adoração, destacando os feitos de Jeová.
Louvamos a Deus como aprendemos
com os nossos pais, e louvando a Deus
vamos transmitindo aos nossos filhos a
mesma visão da grandeza e da bondade
do Senhor, que merece toda a nossa
adoração. Será que conseguiríamos
contar quantas gerações se passaram
desde Davi até nós, em que este salmo é
ressaltado, “de geração em geração” ?
Será que temos a capacidade de estimar
quantas gerações mais, após a nossa
continuarão a louvar ao Senhor, porque
aprenderam de seus pais? É o encontro
do privilégio e da responsabilidade de
ser um elo nesta imensa sucessão de
pessoas que “Publicarão a memória da
tua grande bondade, e com júbilo
celebrarão a tua justiça.” (v.7)
Os salmos de louvor e de adoração não
se esgotam nestes poucos que aqui
pudemos rever. Os ensinos sobre a
necessidade de louvar a Deus e os
ensinos de como louvar a Deus são um
assunto constante ao longo dos Salmos.
A classificação didática que esta série de
estudos segue não é perfeita. A riqueza
de muitos salmos impede que eles sejam
colocados restritivamente em uma
classificação. Como vimos, no caso dos
salmos 57 e 60, temos diversas ênfases
dentro de um só salmo. Vamos continuar
percorrendo os salmos e aprendendo
com eles a melhor louvar Aquele que é
o único que deve receber todo o nosso
louvor.
“Celebrai com júbilo ao Senhor, todos
os habitantes da terra; daí brados de
alegria,
regozijai-vos,
e
cantai
louvores.” (98.4).
SALMOS -1T2003
Pg. 16
LIVRO DE SALMOS
Lição 09
"Os salmos de culto e louvor” (2a. parte )
Salmos 29, 82, 121, 124, 126, 127, 128, 131, 133, e 134.
Retornamos à nossa série de estudos no
livro de Salmos, agradecidos a Deus pela
oportunidade de mais este encontro.
Continuamos hoje nos voltando para os
salmos de culto e louvor, classificação
esta que já nos ocupou no encontro
anterior.
Dentro do assunto, desejo que a nossa
atenção seja voltada para um grupo de
salmos bastante peculiar no livro, que
são identificados como Cântico dos
Degraus, ou de Romagem, compondo
uma seqüência de 15 salmos, começando
com o de numero 120.
A explicação para o nome e para a
função deles não é unânime, e diversas
possibilidades têm sido levantadas. De
modo geral entende-se que estes salmos
estavam
relacionados
com
a
peregrinação dos judeus em direção à
Jerusalém para adoração a Deus. Seriam
cânticos entoados durante a viagem, ou
na entrada do templo. Foi sugerido que
cada um destes salmos teria sido cantado
em um dos degraus de acesso ao templo,
na chegada dos peregrinos
Uma outra explicação associa esta série
de salmos com o rei Ezequias. Como
sabemos do relato de Isaías capitulo 38,
o rei clamou e chorou diante de Deus
quando foi avisado da iminência da sua
morte, e Deus lhe concedeu 15 anos
adicionais, usando como sinal de tal
beneficência o recuo de 10 graus no
relógio de sol do rei. Em sua oração de
gratidão, o rei se comprometeu a adorar a
Deus todos os dias da sua vida, como
vemos em Is. 38 v.20: “ O Senhor está
prestes a salvar-me; pelo que, tangendo
eu meus instrumentos, nós o louvaremos
todos os dias de nossa vida na casa do
Senhor.” Neste propósito expresso na
sua oração, Ezequias teria composto 10
salmos, um para cada grau que o relógio
retrocedeu. A esses 10, Ezequias
adicionou 4 salmos de Davi, e um de
Salomão, de modo a chegar ao total de
15, a quantidade de anos que o Senhor
lhe adicionou.
Estas possíveis explicações para a
origem e a função desse grupo de
salmos, servem apenas como pano de
fundo e introdução. O relevante é a
mensagem que eles nos transmitem.
Alguns desses salmos são bastante
conhecidos, isoladamente. No entanto,
somos convidados a lançar um olhar
geral para a série toda, e vermos nela
uma representação da jornada espiritual
onde cada um desses cânticos se referee
a um estágio, ou um degrau, na
caminhada do ser humano desde que ele
percebe que precisa abandonar o mundo
ímpio até a sua chegada em definitivo na
casa do Senhor.
O primeiro salmo dessa seqüência, o
120, deixa-nos clara a idéia do mundo
ímpio e da decisão do peregrino de que
aquele não deveria ser mais o seu lugar e
por isso tinha chegado a hora de clamar
a Deus por livramento. Sentir-se
estranho no mundo em que vive.
Perceber que já não pode mais conciliarse com aqueles ao seu redor e desejar
abandonar tal ambiente é o começo da
jornada: “Ai de mim que peregrino em
Meseque, e habito entre as tendas de
Quedar! Há muito que eu habito com
aqueles que odeiam a paz. Eu sou pela
paz, mas quando falo, eles são pela
guerra.” (v.6-7)
SALMOS -1T2003
Pg. 17
LIVRO DE SALMOS
O segundo estágio, representado no
salmo 121, nos lembra que após a
decisão de abandonar o mundo ímpio
uma caminhada
de obstáculos e
dificuldades ainda separa o peregrino da
Jerusalém almejada. No meio do trajeto
estão os montes, com suas ameaças de
caminhos escarpados onde o vacilo do pé
pode significar a morte;
onde
salteadores e temores estão por todo o
lugar;
e
onde o próprio sol
incandescente pode ferir o viajante.
Vemos muitas vezes o verso um deste
salmo sendo lido de modo incorreto,
dando a impressão de que o salmista
olhava para os montes pois via neles o
seu socorro. Não é esta a idéia. O
salmista vê os montes com temor, como
um desafio a ser vencido e pergunta: “de
onde me virá o socorro?” A resposta
vem em seguida: “O meu socorro vem
do Senhor, que fez os céus e a terra”
(v.2) e tal socorro é suficientemente
amplo para que todos os riscos e os
perigos da passagem pelos montes sejam
superados.
O passo seguinte dessa jornada está no
salmo 122, - a expectativa da chegada a
Jerusalém.
“Alegrei-me quando me
disseram: Vamos a casa do Senhor.”
(v.1). O peregrino que decidiu abandonar
o mundo ímpio onde estava, já sentiu a
forte segurança divina ao atravessar os
temidos montes, e agora se enche que
alegria ao vislumbrar a cidade almejada
e já sentir-se dentro dela.
Mas a jornada não termina ainda. As
dificuldades continuam e tais situações
vão sendo expressas nos salmos
seguintes, ora como uma oração de apelo
por ajuda, ora como um hino de gratidão
relembrando a obra do Senhor. Assim, o
salmo 123 clama pelo livramento da
zombaria dos arrogantes e do desprezo
dos soberbos; o salmo 124 relembra
todos os perigos dos quais o Senhor já
livrou; o salmo 125 é uma renovação da
confiança irrestrita no Senhor; o salmo
126 é um outro hino de louvor
relembrando as obras de Deus.
A
proteção à família é o assunto do salmo
127 e a felicidade do que teme ao Senhor
é ressaltada no 128.
Chegando ao salmo 131 vemos Davi
expressando o seu desejo de descansar
no Senhor. É um salmo que apresenta a
maturidade espiritual que deve ser
buscada por todos nós: “Senhor, o meu
coração não é soberbo, nem os meus
olhos são altivos; não me ocupo de
assuntos grandes e maravilhosos demais
para mim. Pelo contrario, tenho feito
acalmar e sossegar a minha alma; qual
criança desmamada sobre o seio de sua
mãe, qual criança desmamada está a
minha alma para comigo.” (v. 1-2)
Os dois últimos salmos desta serie
retratam o fim da jornada e a alegria da
permanente estada na casa do Senhor e
no meio daqueles que igualmente estão
desejosos de servir ao Senhor. O salmo
133 nos diz: “o quão bom e quão suave é
que os irmãos vivam em união !” (v.1).
O salmo 134 é um convite para a
permanente adoração na casa de Deus:
“...bendizei ao Senhor, todos vós, servos
do Senhor, que de noite assistis na casa
do Senhor.” (v.1)
Que a lembrança desta serie de salmos
que compõem os cânticos dos degraus
nos anime e nos encoraje a prosseguir na
nossa caminhada espiritual, em direção
ao pleno conhecimento de Deus
(Col.1.10).
SALMOS -1T2003
Pg. 18
LIVRO DE SALMOS
Lição 10
"Os salmos de exaltação a Deus/Ação de graças” (1a. parte)
Salmos 8, 18, 19, 21, 30, 32, 40, 46, 48, 65, 66, 67, 75, 76, 84, 89, 93, 96 e 97.
Amigos e irmãos ouvintes, sob a graça
de Deus podemos mais uma vez voltar a
nossa atenção para o livro de Salmos,
que têm sido o assunto desta série de
estudos bíblicos. Temos seguido a
classificação dos salmos proposta para as
lições da Escola Bíblica Dominical,
como definido pela Juerp. Como toda
classificação, ela visa agrupar salmos
similares de maneira a melhor podermos
compreender a natureza, a finalidade e a
mensagem de cada capítulo deste livro
tão maravilhoso e querido. Olhar para os
salmos através de uma classificação deve
nos ajudar no estudo, mas não devemos
nos prender à classificação com excesso
de empenho a ponto de ela nos engessar.
Não podemos nos esquecer que as
classificações são diversas; nem sempre
coincidentes; e há salmos que trazem
dentro deles elementos de mais de uma
classificação.
Estamos hoje iniciando as considerações
sobre mais um tipo de salmo, Os salmos
de exaltação a Deus e Ação de Graças.
Nos ocuparemos desse tipo de salmo no
nosso encontro de hoje e também no
próximo. Os salmos de ação de graças
são marcados pela nota de gratidão a
Deus por algo que Ele fez,
especialmente na vida pessoal do
salmista, mas também na vida da
comunidade ou na lembrança dos
grandes feitos do Senhor. Os salmos de
exaltação buscam engrandecer o nome
do Senhor, ainda que não associando tal
exaltação à benemerências específicas.
É o exaltar a Deus pelo que Ele é, mais
do que pelo que ele fez a nosso favor.
Muitos salmos se enquadram nesta
categoria – Na classificação da Juerp eles
são 38 – e, portanto, impossíveis de
serem revistos individualmente aqui.
Vamos atentar para
alguns destes salmos, fazendo uso,
primariamente,
das
considerações
desenvolvidas pelo comentarista bíblico
Walter Brueggemann. (The message of
the Psalms).
Salmo 8 – “Ó Senhor, Senhor nosso,
quão admirável é o teu nome em toda a
terra, tu que puseste a tua glória acima
dos céus!” - O verso um já dá a nota
clara do objetivo deste cântico: Exaltar
ao Deus criador e lembrar o Seu
imensurável amor demonstrado ao
homem, que não sendo nada dentro da
grandeza da criação divina, recebeu o
domínio sobre toda a criação. Dos 9
versos, 5 (do 4 ao 8) são dedicados a
ressaltar a importância do homem, a
quem Deus coroou de glória e de honra.
No entanto esta primazia do papel da
criatura não deve diminuir, antes deve
apenas realçar a exaltação que devemos
ao Criador, pois somos o que somos
porque Ele assim quis, e, portanto, junto
com o salmista devemos cantar:
“Senhor, Ó Senhor nosso, quão
admirável é o teu nome em toda a terra!”
(v.9)
Salmo 30 - Este é um exemplo claro do
salmo de ação de graças. Embora não
seja explicito a que fato esteja se
referindo, Davi fala claramente de um
livramento que Deus lhe propiciou. “tu
me levantaste” (v1), “tu me curaste”
(v.2), “conservaste-me a vida” (v.3) –
são expressões do reconhecimento da
ação divina na sua vida. Ainda que as
circunstancias não estejam delineadas, o
perigo e a proximidade da morte
estiveram na experiência de Davi. Por
causa do que Deus fez, ele pessoalmente
SALMOS -1T2003
Pg. 19
LIVRO DE SALMOS
quer louvar ao Senhor: “...Senhor, Deus
meu, eu te louvarei para sempre” (v.12),
mas
também
convoca
toda
a
congregação para o mesmo propósito:
“Cantai louvores ao Senhor, vós que sois
seus santos....” (v.4).
Há um fato a mais ao qual somos
chamados à atenção neste salmo. O
salmista passou por uma experiência que
lhe tirou de uma situação de conforto, e
lhe desequilibrou profundamente, para
ao fim o trazer de novo à segurança.
Vemos isto nos versos 6:
Davi
relembrava: “Quanto a mim, dizia eu na
minha prosperidade: Jamais serei
abalado.” Tudo ia bem e o fato de ir
bem foi confundido com ir bem sempre,
isto é, ter a posse permanente da benção
da prosperidade. Havia a fé em Deus,
havia uma certeza e esta certeza dava a
orientação para a vida do salmista. Mas
ai vem o inesperado, a desorientação que
fez Davi perder o rumo, pois
desestruturou tudo o que ele cria.
Vemos tal choque no verso 7 “Tu,
Senhor, pelo teu favor fizeste que a
minha montanha permanecesse forte:
ocultaste o teu rosto, e fiquei
conturbado.”
Deus desapareceu da
prosperidade do salmista. E agora?
Agora é a hora de se chegar a uma nova
orientação, de uma mais profunda
verdade a respeito de Deus, que renova,
refaz e amplia o relacionamento com
Deu. O final disto vemos no verso 11:
“Tornaste o meu pranto em regozijo,
tiraste o meu cilício, e me cingiste de
alegria....”
onde o autor acrescenta o seu
testemunho pessoal, que serve como
confirmação personalizada da mensagem
do cântico: “Vinde, e ouvi,.....e eu
contarei o que ele tem feito por mim.”
(v.16) “ Bendito seja Deus, que não
rejeitou a minha oração, nem retirou de
mim a sua benignidade.” (v.20)
Salmo 97 – O ultimo salmo a ser
considerado hoje exalta a Deus como rei
que governa soberanamente sobre todo
universo, fazendo da justiça e da
equidade a base do seu trono. Junto com
a exaltação, o salmo traz também uma
instrução como advertência para aqueles
que, em vez de se curvarem ao Senhor
do Universo, preferem adorar ídolos e
imagens esculpidas (v.7), bem como
aqueles que optam pelo mal, pela
injustiça e que abominam a retidão
(v.10-11).
Embora sendo exaltado por todas as
forças da natureza (v.2 a 6), e com sua
gloria sendo testemunhada a todas a
todos os povos (v.6), Deus não quer
receber tributos daqueles que não tem o
seu padrão de justiça e retidão. Por isso,
a exaltação ao seu nome somente pode
vir dos que buscam cumprir os seus
mandamentos: “Alegrai-vos ó justos, no
Senhor, e rendei graças ao seu santo
nome” (v.12).
Salmo 66 – Este é um salmo coletivo de
ação de graças. Não são os feitos divinos
em favor de uma pessoa que são
relembrados, mas os feitos do Senhor em
favor de todo o seu povo, relembrando
fatos históricos, como a passagem pelo
mar (v.6), bem como exaltando a
bondade do Senhor em repreender o
povo pecador e depois reparar e
restaurar. A ação de graça coletiva
termina em uma expressão individual,
SALMOS -1T2003
Pg. 20
LIVRO DE SALMOS
Lição 11
"Os salmos de exaltação a Deus/Ação de graças” (2a. parte)
Salmos 98, 99, 100, 103, 104, 107, 111, 113, 115,
117, 135, 136, 138, 146, 147, 148, 149 e 150.
Queridos ouvintes: com gratidão a Deus
pelo que Ele é e pelo que Ele fez em
nosso favor, estamos juntos novamente
para a continuação desse ciclo de estudos
no livro de Salmos. Estamos hoje
pensando nos salmos de exaltação a
Deus e de ação de graças, em
continuação
ao
estudo
anterior.
Continuamos também utilizando os
comentários de Walter Brueggemann
como base deste estudo.
Salmo 98 – O convite de abertura é para
se entoar um novo cântico ao Senhor. É
a mesma introdução do salmo 97. Porque
um cântico novo é necessário?
A
novidade não deve ser apenas do canto
em si, ainda que seu conteúdo possa ser
inédito. A novidade do cântico deve estar
firmada na obra sempre renovada das
maravilhas do Senhor e, sobretudo, na
nossa renovada disposição de exaltar ao
Senhor de uma maneira e com uma
intensidade maior que anteriormente. A
salvação, a justiça e a misericórdia
divina são razões para todos os
habitantes da terra celebrarem ao Senhor,
juntando vozes e instrumentos para
exaltá-lo. A natureza, representada pelo
mar, rios e montes, estarão também se
juntando nesta expressão universal e
total de reconhecimento da plenitude da
justiça e do poder divino.
O Salmo 100 nos leva para o templo do
Senhor, convidando-nos para “entrar
pelas suas portas com ação de graças e
nos seus átrios com louvor...” (v.4).
O ensino sobre a exaltação ao Senhor
nos deve motivar a nos mover em
direção a Ele para o adorarmos,
reconhecendo a sua benignidade que
dura para sempre.
Salmo 103 – Este é um dos mais
completos salmos de ação de graças que
temos. Além da sua beleza literária,
como rico exemplo da poesia hebraica,
com suas
muitas afirmações em
paralelismo, o salmo, na profundidade
do seu ensino, nos convida a seriamente
refletir sobre a ação de graças devida à
fonte de toda benção.
O salmista começa por convidar a si
mesmo a bendizer ao Senhor. Parece
estranho, como que o salmista desejando
sacudir o seu próprio eu e o despertar
para a adoração. Mais do que isto, o
salmista deseja convencer a si mesmo de
que todo o seu ser em uníssono deve se
voltar para a gratidão a Deus, pois
razões há mais que suficientes para tal,
como lembrado nos versos 2 a 6. O
importante é que como Davi não nos
esqueçamos
“de nenhum dos seus
benefícios.” (v.2)
A partir do verso 8 o autor trabalha com
pensamentos colocados em contraste
para realçar os seus argumentos em prol
da ação de graças.
Lembrando-se da misericórdia e da
compaixão divina, Davi utiliza uma
série de negativas para contrastar a
nossa condição humana de pecado com a
graça de Deus, pois Ele “Não
repreenderá perpetuamente, nem para
sempre conservará a sua ira. Não nos
trata segundo os nossos pecados, nem
nos retribui segundo as nossas
iniqüidades.” (v.9-10). O que deve ser
ressaltado nesta expressão do autor é que
o julgamento divino, assim como toda a
ação de Deus não é pautada por uma
linha de comportamento padrão. Ao
contrario, somos surpreendidos pela ação
SALMOS -1T2003
Pg. 21
LIVRO DE SALMOS
divina ocorrendo em uma direção
inesperada. Levamos Deus à ira, mas
não somos castigados eternamente.
Pecamos contra Deus, mas não
recebemos em retribuição aquilo que
mereceríamos. Realmente, todo o nosso
ser
deve
ser
despertado
para
incansavelmente bendizer a este Deus.
Mas não é só isto. Vamos para os versos
14 a 17, e vemos Davi construir outro
pensamento contrastado, que nos é muito
precioso atentar. Ele lembra a brevidade
e insignificância da vida humana: “ Pois
ele...lembra-se de que somos pó. Quanto
ao homem, os seus dias são como a erva;
como a flor do campo, assim ele
floresce. Pois, passando por ela o vento,
logo se vai, e o seu lugar não a conhece
mais.”
No entanto, a graça de Deus nos resgata
dessa limitada vida como o salmista
conclui: “Mas é de eternidade a
eternidade a benignidade do senhor sobre
aqueles que o temem....” Por nos, pela
nossa vontade, pela nossa capacidade, o
que somos? É somente pelos desígnios
divinos que alcançamos a eternidade, e
por isso todos são convocados para
bendizer ao Senhor: os anjos que estão
sob seu comando (v.20);
os seus
exércitos e ministros (v.21); as obras do
Senhor, de todos os lugares do seu
domínio (v.22); mas, sobretudo. é
necessário trazer para o eu individual de
cada um de nós o mandamento final:
“Bendize, ó minha alma ao Senhor!”
(v.22)
Mais uma Ação de graças de Davi
encontramos no Salmo 138.
O
testemunho do que Deus fez é o moto
desta gratidão: “No dia em que eu
clamei, atendeste-me; alentaste-me,
fortalecendo a minha alma.” (v.3) e por
isso o salmista pode testemunhar na
presença dos deuses, e cantar louvores.
A gratidão não está apenas no que Deus
fez no passado, mas na certeza de que
Ele continuadamente está amparando o
seu servo: “Embora eu ande no meio da
angústia, tu me vivificas; contra a ira dos
meus inimigos estendes a tua mão, e a
tua destra me salva.” (v.7)
O livro de salmos se encerra com uma
série de 5 convites á adoração,
utilizando o imperativo “Louvai ao
Senhor.” Estes 5 salmos finais, a partir
do 146, fecham o livro nos reforçando
o convite para a continuada exaltação ao
Senhor nosso Deus. Bob Deffingbaugh
nos lembra que exaltação é muito
diferente de gratidão. Exaltação eleva o
exaltado, a gratidão não. O que exalta
está centralizado no exaltado. O que
agradece não. Exaltação envolve
liberdade e espontaneidade. Gratidão
envolve obrigação. Exaltação sempre
ocorre em publico. Gratidão e
essencialmente privativa. Exaltação é
feita alegremente. Gratidão é feita como
dever. Gratidão se reduz a uma palavra:
obrigado. Exaltação não pode ser
expressa assim tão simplesmente.
É
para esta exaltação que os 5 salmos
finais nos convocam, com o repetido
imperativo de louvar ao Senhor.
Fiquemos com o salmo 150. A
convocação desta doxologia final não
apresenta nenhuma razão do porque
louvar ao Senhor. Há apenas a ordem.
Em 6 versos, por 12 vezes o
chamamento se repete: “Louvai ao
Senhor.” É a convocação para todas as
criaturas
louvarem,
adorarem,
agradecerem e se colocarem em temor
diante de Deus, de modo espontâneo e
sem reservas.
Incluamo-nos nesta
convocação: “Tudo quanto tem fôlego
louve ao Senhor. Louvai ao Senhor!”
(v.6)
SALMOS -1T2003
Pg. 22
LIVRO DE SALMOS
Lição 12
"Os salmos de lamentação e os Imprecatórios” (1a. parte)
Salmos 3 a 7, 9, 10, 12-14, 17, 22, 25, 28, 31, 35, 36, 38, 39, 41-44, 49 e 51-58.
Em continuação a esta série de estudos
em Salmos, estamos chegando hoje ao
nosso 12o. encontro, iniciando as
considerações sobre os salmos de
lamentações e salmos imprecatórios, a
ultima das classificações utilizadas para
esse estudo.
Os salmos de lamentações e os
imprecatórios compõem o maior de
todos os 6 grupos, com 66 salmos. Nos
salmos de lamentação, como o nome
sugere, o salmista está expressando uma
queixa, a sua insatisfação com fatos ou
circunstâncias difíceis e desagradáveis
que ele enfrenta. Por vezes, a sua
reclamação é contra o próprio Deus. E
ele então intercede pela ajuda divina,
muitas vezes julgando-se injustiçado ou
não merecedor daquele peso que sente
sobre os seus ombros. Lembremo-nos
destes exemplos:
3.1-2:
“Senhor, como se têm
multiplicado os meus adversários!
Muitos se levantam contra mim; Muitos
são os que dizem de mim: Não há
socorro para ele em Deus.”
6.2-3 “ Tem compaixão de mim, Senhor,
porque sou fraco; sara-me, Senhor,
porque os meus ossos estão perturbados.
Também a minha alma está muito perturbada; mas tu Senhor, até quando? ...”
e 10.1: “Por que te conservas ao longe,
Senhor? Por que te escondes em tempo
de angustia ?”
Não é raro que nós nos identifiquemos
profundamente com esses salmos, pela
variedade e riqueza das circunstancias
apresentadas e pela beleza das suas
palavras. São salmos que falam por nós,
visto expressarem as nossas
necessidades, as nossas emoções, e os
nossos anseios com relação às
adversidades da vida, que fazem parte da
nossa condição de seres humanos.
Os salmos imprecatórios são um tipo
muito peculiar
de salmo que tem
merecido uma atenção especial dos
estudiosos e comentaristas do livro. O
nome desse tipo de salmo origina-se do
verbo imprecar, que significa tanto
suplicar, pedir a Deus, como significa
também
rogar uma praga contra
alguém. São salmos em que o autor está
solicitando uma clara intervenção divina
contra os seus inimigos em particular, ou
contra os malfeitores, em geral. Um
bom exemplo de salmo imprecatório é o
58, da autoria de Davi. Os seus versos 6
a 10 expressam desejos que creio,
qualquer um de nós não ousaria
pronunciar, mesmo contra o nosso maior
desafeto:
“Ó Deus, quebra-lhes os
dentes na sua boca; arranca, Senhor, os
caninos aos filhos dos leões. Sumam-se
como águas que se escoam; sejam
pisados e murchem como a relva macia.
Sejam como a lesma que se derrete e se
vai, como o aborto de mulher, que nunca
viu o sol. .... O justo se alegrará quando
vir a vingança; lavará os seus pés no
sangue dos ímpios.”
Exatamente tal peculiaridade dos salmos
imprecatórios é que os tornam difíceis
de serem entendidos e mais difíceis
ainda de serem utilizados. J. Sidlow
Baxter (Examinai as escrituras, vol. Jó
e Salmos) apresenta 4 objeções que são
levantadas com relação a esses salmos:
(1) São contrários aos sentimentos mais
elevados da natureza humana, na
compaixão que existe dentro de nós.
(2) São contrários a qualquer preceito de
Religião, que nos ensinam sobre um
SALMOS -1T2003
Pg. 23
LIVRO DE SALMOS
Deus que manda a chuva sobre justos e
injustos.
(3) São absolutamente contrários ao
ensino e ao espírito do Novo
Testamento, de
amar os nossos
inimigos.
(4) são discordantes da própria confissão
dos salmistas, que anunciam a sua
confiança zelosa em Deus.
O mesmo autor, porém, nos indica o
caminho para a correta compreensão
desse tipo de salmo, baseado no motivo,
no ponto de vista e no espírito deles.
Quanto ao motivo, devemos atentar que
o salmista está se levantando contra os
inimigos de Deus, declarando que são
seus inimigos também. “Não odeio eu,
Senhor, os que te odeiam? E não me
aflijo por causa dos que se levantam
contra ti ? Odeio-os com ódio completo;
tenho-os por inimigos.” (139.21-22)
Assim, o salmista está se colocando na
posição de proclamador da justiça divina
ao mesmo tempo que clama pelo
imediato cumprimento da sentença
reservada àqueles que se rebelam contra
Deus.
Quanto ao ponto de vista, somos
lembrados que a grande maioria desses
salmos imprecatórios são de autoria de
Davi. Os que não são de Davi se
relacionam com os inimigos nacionais de
Israel. Davi, como rei ungido do Senhor
está expressando a justiça publica que
lhe competia exercer e não expressando
um desejo de vingança pessoal contra os
seus opositores.
E, finalmente, quanto ao espírito, devese destacar que as imprecações são
utilizadas contra alguém que não se
sensibilizou com atos de compaixão,
como vemos no em 109.4-5 “ Em paga
do meu amor são meus adversários, mas
eu me dedico á oração. Retribuem-me o
mal pelo bem, e o ódio pelo amor.”
ser entendidos como expressão de
vingança pessoal. São alertas que nos
trazem à lembrança o peso da justiça
divina que virá para todos que se
insubordinam contra os reiterados e
compassivos apelos divinos.
Voltemo-nos ao salmo 58, cujo conteúdo
imprecatório já foi aqui citado, e
vejamos o questionamento crítico e
desolador de Davi com relação aos
ímpios: “ Falais deveras o que é reto, vós
os poderosos ? Julgais retamente, ó
filhos dos homens ? Não, antes no
coração forjais iniqüidade; sobre a terra
fazeis pesar a violência das vossas
mãos.” (v.1 e 2). E, após expressar as
suas imprecações em vista da
generalizada iniqüidade dos ímpios,
Davi ressalta a justiça divina se
cumprindo ao fim: “Então dirão os
homens: Deveras há uma recompensa
para o justo; deveras há um Deus que
julga na terra.” (v.11)
Um salmo imprecatório de cunho
totalmente pessoal é o 35. Ao longo de
todo o salmo vemos a expressão de Davi
na primeira pessoa retratando sua
dificuldade e desconforto com aqueles
que lhe se opõem. O seu rogo pelo
castigo e humilhação dos seus opositores
é repetido diversas vezes. No entanto, a
nota final ressalta a sua confiança de que
a justiça de Deus prevalecerá: “Bradem
de júbilo e se alegrem os que desejam a
minha
justificação,
e
digam
continuadamente: Seja engrandecido o
Senhor, que se deleita na prosperidade
do seu servo”
(v.27).
Que esta
expectativa a respeito do cumprimento
da justiça divina seja nossa também.
Ficamos, portanto, com a essência dessa
discussão a nos orientar com relação aos
salmos imprecatórios. Eles não podem
SALMOS -1T2003
Pg. 24
LIVRO DE SALMOS
Lição 13
"Os salmos de lamentação e os Imprecatórios” (2a. parte)
Salmos 59-61, 63, 64, 70, 71, 73, 74, 77, 79, 80, 83, 85, 86, 88,
90, 94, 102, 109, 120, 122, 123, 125, 129, 130, 127, 139-143.
Queridos irmãos e amigos ouvintes. O
tempo passou e já chegamos ao nosso
13o. e ultimo encontro desta serie sobre
Salmos. Meu desejo é que o tempo
despendido tenha sido útil no propósito
de melhor entendermos esse belo livro
da Bíblia. Nossa série termina, mas o
nosso desafio individual de buscar na
Palavra de Deus, e particularmente em
Salmos o alento, o encorajamento, o
desafio e a correção de que precisamos,
continua. Que o livro de Salmos possa
ser para todos nós o cumprimento
completo do ensino de Jesus Cristo
apresentado em Mateus 13:52: “Todo
escriba que se fez discípulo do reino dos
céus é semelhante a um homem,
proprietário, que tira do seu tesouro
coisas novas e velhas.” Que tenhamos
abundantemente “coisas novas” tiradas
de Salmos, que nos enriqueçam
espiritualmente tanto quanto as “coisas
velhas” que renovadamente buscamos
nesse tesouro.
Continuamos hoje com a ultima
categoria de salmos, os de lamentação e
imprecatórios. Nos detivemos nos
salmos
imprecatórios
no
ultimo
encontro, de maneira que nos
ocuparemos agora apenas dos salmos de
lamentação.
Bernhard Anderson (Out of the depths)
nos lembra que talvez a denominação de
“lamentação”
não seja a mais
apropriada, pois embora esses salmos
retratem uma queixa, eles também são
um pedido pela intervenção divina e um
cântico que anuncia em antecipação a
certeza da ação divina, na correção do
problema que o salmista enfrenta.
A característica mais marcante de
praticamente todos esses salmos de
lamentação é a confiança de que a
situação será mudada tão logo Deus
intervenha. O lamento não é final visto
que não está expresso em termos de uma
situação sem saída nem é a percepção
do cumprimento inexorável de um
destino selado. O lamento clama pela
intervenção divina para que o estado
presente das coisas seja alterado, e esse
clamor está alicerçado numa grande
certeza e esperança de que Deus agirá e
as coisas mudarão. Os elementos
comuns de um salmo de lamentação são:
um apelo à Deus; a apresentação da
queixa; uma confissão da confiança em
Deus; um pedido pela atuação divina;
uma demonstração de confiança de que a
ação divina desejada ocorrerá; e um voto
de louvor e gratidão. Vejamos alguns
salmos de lamentação.
Salmo 59 – Este salmo de Davi nos
informa na sua apresentação a situação
específica em que foi composto, quando
Saul mandou emissários à casa de Davi
para o matar. Atentemos para ver como
os elementos de um salmo de
lamentação estão todos presentes: apelo
– v.5 “Tu, o Senhor, Deus dos exércitos,
Deus de Israel, desperta para punires
todas as nações....” Apresentação da
queixa: “Pois eis que armam ciladas á
minha alma; os fortes se ajuntam contra
mim, não por transgressão minha nem
por pecado meu, ó Senhor. Eles correm,
e se preparam, sem culpa minha...” (v.3
e 4). Confissão da confiança em Deus:
“Em ti, força minha, esperarei; pois
Deus é o meu alto refugio. O meu Deus
com sua benignidade virá ao meu
SALMOS -1T2003
Pg. 25
LIVRO DE SALMOS
encontro:....” (v.9 e 10). Pedido pela
atuação divina: “Livra-me, Deus meu,
dos meus inimigos; protege-me daqueles
que se levantam contra mim. Livra-me
dos que praticam a iniqüidade, e salvame dos homens sanguinários.” (v.1 e 2)
Demonstração de confiança: “Mas tu
Senhor, te rirás deles; zombarás de todas
as nações.” (v.8). E finalmente, o voto de
confiança e louvor: “Eu, porém, cantarei
a tua força; pela manhã louvarei com
alegria a tua benignidade, porquanto tens
sido para mim uma fortaleza, e refúgio
no dia da minha angústia. A ti, ó força
minha, cantarei louvores; porque Deus é
a minha fortaleza, é o meu Deus que me
mostra benignidade.” (v.16-17)
Salmo 63 – Aqui Davi, que estava no
deserto de Judá expressa, sobretudo,
uma situação de ansiedade espiritual,
pelo seu desejo de proximidade com
Deus: “Ó Deus, tu és o meu Deus;
ansiosamente te busco. A minha alma
tem sede de ti, a minha carne te deseja
muito em uma terra seca e cansada onde
não há água.” (v.1) Esse desejo torna
quase imperceptível a lamentação que o
aflige: “...aqueles que procuram a minha
alma para a destruírem.” (v.9)
Salmo 79 – Este é um salmo comunitário
de lamento. Não são os problemas de um
individuo que são apresentados, mas a
queixa é
nacional: “...as nações
invadiram a tua herança; contaminaram o
teu santo templo; reduziram Jerusalém a
ruínas.”
Seguramente, o contexto
histórico aqui expresso é a invasão de
Nabucodonozor, que antecedeu o
cativeiro de Judá na Babilônia. A
lamentação tem aqui uma nota de
indignação. Como é que Deus permitiu
que a profanação do Seu lugar santo
ocorresse? “Até quando Senhor?
Indignar-te-ás para sempre? Arderá o teu
zelo como fogo ?” (v.5) O pedido de
ajuda é para que Deus restaure o seu
povo para que ele possa novamente
louva-lO.
Salmo 86 – O destaque desta lamentação
de Davi é o seu conteúdo de humildade e
impotência.
Davi
suplica
pela
preservação da sua vida (v.2) e
desesperançado se coloca na total
dependência de Deus, sem qualquer
outra opção de ajuda. “Ensina-me,
Senhor, o teu caminho, e andarei na tua
verdade; dispõe o meu coração para
temer o teu nome.” (v.11)
Salmo 142 – O estado de ânimo que
Davi expressa neste salmo é bem
diferente daquele que percebemos no
salmo 86. A sua intimidade com Deus e
a sua confiança nEle são marcantes.
Podemos nos espelhar neste salmo e ver
na experiência de Davi como deve ser o
nosso relacionamento com Deus, ainda
que a nossa experiência de vida não nos
seja agradável. Davi de fato sabe a
quem se dirigir quando a adversidade o
cerca: “Com a minha voz clamo ao
Senhor; com a minha voz ao Senhor
suplico, derramo perante ele a minha
queixa, diante dele exponho a minha
tribulação.” (v.1-2). Davi nos confirma
que a nossa esperança não pode
depender de ninguém próximo a nós,
mesmo porque os nossos chegados nos
podem também faltar: “Olho pra a minha
mão direita, e vê, pois não há quem me
conheça; refugio me faltou; ninguém se
interessa por mim.” (4). Davi nos ensina
sobre a sinceridade de emoção que deve
existir no nosso relacionamento com
Deus: “Atende ao meu clamor, porque
estou muito abatido; ...” (v.6) E,
sobretudo, Davi sabe que quando Deus
agir a vida ganhará outra perspectiva:
“Tira-me da prisão; para que eu louve o
teu nome; os justos me rodearão, pois
me farás muito bem.” (v.7) . Como Davi,
façamos do Senhor o nosso refugio e o
nosso quinhão na terra dos viventes.
SALMOS -1T2003
preparado por Gerson Berzins
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