SALMOS - Ponderabilis
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SALMOS - Ponderabilis
LIVRO DE SALMOS Lição 01 “O valor da poesia na antiguidade” 2 Samuel 23.1-5 Amigos e irmãos ouvintes: Com a graça de Deus podemos mais uma vez nos encontrar para esta nova serie de estudos bíblicos. Desta vez o nosso assunto é o livro de Salmos, tão amado e tão utilizado por todos os que se voltam à Palavra de Deus. A nossa seqüência de 13 lições está assim estruturada: Nesta primeira, vamos considerar alguns aspectos gerais do livro, servindo como introdução ao assunto. A partir da 2a. lição, estaremos nos detendo nos salmos especificamente. Analisaremos os salmos agrupados em 6 classes, com duas lições destinadas a cada um destas classes. O agrupamento nessas 6 classes tem o propósito de organizar os salmos de acordo com a similaridade do seu tema preponderante e do seu objetivo. Dentro de cada uma dessas classes estaremos então considerando as características gerais do tipo de salmos e principalmente refletindo sobre alguns dos salmos mais expressivos da classe. O nome Salmos nos vem do grego e significa: “poema para ser cantando com instrumento de corda”. O seu titulo hebraico quer dizer “Livro dos Louvores”. Estes nomes para o livro já nos deixam clara a sua finalidade, de servir como adoração a Deus. Na Igreja primitiva, os Salmos se constituíam no hinário dos primeiros cristãos, como vemos, entre outros, em Efésios 5.19. Usamos o nome do livro no plural – Salmos, embora seja correto utilizar o singular para designar um capitulo específico ao qual estamos nos referindo, por exemplo: salmo 121. Os Salmos com seus 150 caps. é o mais longo livro da Bíblia e nós o temos como o livro central, na organização do cânon sagrado como utilizado hoje. Em relação aos outros livros da Bíblia, este apresenta diversas peculiaridades: (1) Os Salmos são uma coletânea de literatura poética. Não é uma descrição de fatos ou experiências, como nos livros históricos; nem é a apresentação de uma mensagem como nos livros proféticos; nem é a apresentação de ensinos de sabedoria, como nos livros de Salomão. (2) Os Salmos não tem uma autoria única, ainda que Davi seja o autor de parte relevante deles. (3) mais importante, os Salmos nos apresentam o Homem falando a Deus, enquanto nos livros históricos vemos Deus falando a cerca do Homem e nos livros proféticos vemos Deus falando ao Homem (Myer Pearlman). Revejamos agora, pois, a autoria dos Salmos: 73 salmos são de autoria de Davi. 2 outros, o salmo 2 e o salmo 95 são tradicionalmente também atribuídos a Davi, embora tal indicação não esteja apresentada no livro. Asafe e os filhos de Core são autores de outros 12 salmos cada. Os salmos 72 e 127 são de autoria de Salomão. Moisés, Etã e Hemã são indicados como autores de um salmo cada. Restam ainda cerca de 50 salmos de autoria não indicada. Os Salmos dividem-se internamente em 5 livros: O livro I até o salmo 45; o livro II do salmo 46 ao 72; o livro III do salmo 73 ao 89; o livro IV do salmo 90 ao 106; e o livro V do salmo 107 ao 150. Alguns comentaristas bíblicos ressaltam o fato de que esta divisão repete o SALMOS -1T2003 Pg. 1 LIVRO DE SALMOS Pentateuco, com cada uma das divisões de Salmos sendo associados a um dos 5 livros da Lei, escritos por Moisés. Dentro dessa revisão introdutória convém gastar um tempo com o estilo do livro. Os Salmos são poesia e como tal deve entendido e utilizado. A poesia hebraica, ensinam-nos os especialistas, não é baseada nem na rima nem no ritmo, mas sim no paralelismo, onde a segunda linha do poema se relaciona com a anterior, confirmando ou contrastando a primeira declaração. Esse paralelismo fica claro já no salmo 1, verso 1, onde a 1a. linha diz: “bem aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios.” e a 2 a. linha do verso reforça esta idéia afirmando: “nem se detém no caminho dos pecadores.” A segunda idéia é uma nova elaboração da primeira , formando um pensamento paralelo. No verso 6 deste mesmo salmo 1 vemos mais um paralelismo, mas agora de um outro tipo, chamado paralelismo contrastado, onde a segunda idéia é uma contraposição, ou uma oposição à primeira: 1a.: “porque o Senhor conhece o caminho dos justos” e a 2a; “mas o caminho dos ímpios conduz à ruína”. Há diversos outros tipos de paralelismo, mas um mais é relevante: o paralelismo emblemático, em que uma das idéias paralelas é uma ilustração da outra. Vemos isto no salmo 42, verso 1, onde a 1a. linha anuncia: “Como o cervo anseia pelas correntes das águas” e 2 a. linha: “Assim a minha alma anseia por ti ó Deus” Um outro aspecto importante que não pode ser esquecido ao considerar os Salmos e o estilo que utiliza, é que a linguagem poética é essencialmente uma linguagem livre e emocional, destinada primordialmente a atingir o coração. Hipérboles ou exageros são recursos aceitos na linguagem poética, assim como ilustrações, metáforas e outras figuras de linguagem. Umas poesia sempre procura enfatizar o conteúdo emocional da idéia que se quer transmitir, para que ela seja enfaticamente compreendida. Entendidas estas peculiaridades do livro dos Salmos e considerados os cuidados que devemos observar ao usá-lo, resta apenas nos lançarmos de coração e mente na apropriação da mensagem deste livro para nós. Creio ser apropriado repetir o pensamento de João Calvino a respeito do valor dos Salmos, como citado por J. Sidlow Baxter no livro “Examinai as escrituras” (vol. Jó a Lamentações pg.91) “A este livro, costumo denominar uma anatomia de todas as partes da alma, pois ninguém descobrirá em si mesmo um único sentimento cuja imagem não esteja refletida neste espelho. Mais ainda, todos os sofrimentos, tristezas, temores, duvidas, esperanças, cuidados, ansiedades – em suma, todas essas agitações tumultuosas em que a mente dos homens costuma envolver-se - o Espírito Santo aqui as apresentou fielmente”. Terminemos com a mensagem dos primeiros versos do Salmo 91: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo Poderoso descansará. Direi ao Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus em quem confio.” Que o estudo nos Salmos nos ajude a ter e a expressar esta mesma confiança e segurança em Deus. SALMOS -1T2003 Pg. 2 LIVRO DE SALMOS Lição 02 "Os salmos de exaltação à Lei de Deus” (1a. parte ) Salmos 1 e 15. Queridos irmãos e ouvintes: Em continuação ao nosso estudo nos Salmos, estamos hoje iniciando as considerações sobre o primeiro dos temas propostos: A exaltação à Lei de Deus. Os salmos a serem analisados são o salmo 1 e o salmo 15. Não sabemos quem é o autor do salmo 1, mas isso não impede de que ele seja um dos mais conhecidos e repetidos salmos. Ele é denominado do salmo dos dois caminhos, pois faz a diferenciação entre dois tipos de pessoas, a partir da atitude que cada um toma com relação à Palavra de Deus. O primeiro dos grupos compõem-se daqueles que “tem o seu prazer na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite.” Estes são os justos. O segundo grupo, dos que não se apegam à lei do Senhor, se compõem daqueles que terminarão na ruína, os ímpios. Vejamos o que o salmo ensina sobre os Ímpios. Eles são comparados á palha espalhada pelo vento. Não são firmes nem consistentes. Não estão apegados a nenhum valor e assim são levados por qualquer interesse ou motivação. A conseqüência é que as pessoas integrantes desse grupo não têm condições de passar pela prova do juízo e tão pouco podem ou desejam se comprometer com a congregação dos justos. O seu fim, como já mencionado, só pode ser a ruína. Não há duvida de que o salmista quer desestimular qualquer um a entrar ou a permanecer nesse grupo. O outro grupo se diferencia pelo seu comprometimento com a lei de Deus, comprometimento este expresso pelo tempo e pelo amor dedicado à lei do Senhor. Devemos entender que esta dedicação produz uma transformação de vida, que faz o individuo passar a ser considerado justo diante de Deus. As suas atitudes e seus comportamentos passam a ser orientados por aquilo que ele vai descobrindo na lei que lhe é tão querida. Ele está firmado na lei, e tal firmeza o impede de ser seduzido pelo “conselho dos ímpios”, pelo “caminho dos pecadores” e pela “roda dos escarnecedores”. Ele fica a salvo desse envolvimento progressivo com o erro, que o salmista coloca nos termos de “não anda”, “nem se detém”, e “nem se assenta”. A posição do justo é ainda reforçada positivamente pela imagem da árvore, que usufruindo de fonte permanente de água, é frondosa, frutífera e próspera. O objetivo ultimo deste salmo, de exaltar a Lei de Deus é claro. A lei do Senhor torna possível a nós escolher o grupo certo, o dos justos. É a lei do Senhor que nos orienta e nos mostra o que devemos fazer para nos mover em direção aos justos e nos afastar dos ímpios. Ao fazer esta exaltação da lei de Deus, o salmista também quer nos incentivar a reforçar o nosso amor e o nosso envolvimento com a Palavra de Deus. O segundo salmo separado para hoje, é de autoria de Davi, o salmo 15. Ele trata da mesma questão, colocando-a em forma de uma pergunta, que é ao mesmo tempo um desafio: “Quem, Senhor, habitará na tua tenda? Quem morará no teu santo monte? “ Podemos ver neste salmo um complemento perfeito ao salmo 1. Ambos tratam do mesmo assunto: o SALMOS -1T2003 Pg. 3 LIVRO DE SALMOS desafio de se ser justo diante de Deus, porém sob óticas diferentes. O salmo primeiro enfatiza a fidelidade à Palavra de Deus e o salmo 15 enfatiza os aspectos morais da vida do justo. Somente o amor e o comprometimento com a lei não são suficientes, se tais atitudes não se evidenciarem nos atos e tratos dos assuntos comuns da nossa vida. Reversamente, uma vida integra, como aqui descrita, somente será agradável a Deus se estiver também lastreada naquela identificação com a lei do Senhor como preconizado no salmo 1. Como no salmo primeiro, aqui também se coloca bastante ênfase nas negativas – aquilo que não deve ser feito. Assim, aquele que quiser habilitar-se a morar no santo monte de Deus: “não difama com a sua língua”, “não faz mal ao seu próximo”, não aceita afronta contra o seu próximo” , não muda o seu juramento, ainda que venha a ter perdas por causa da palavra emprenhada, “não empresta o seu dinheiro a juros” e não aceita subornos contra o inocente. As negativas são acompanhadas de algumas atitudes positivas também. Quem quer habitar na tenda do Senhor deve ainda: andar irrepreensivelmente, praticar a justiça, falar de coração a verdade, desprezar o malvado, e honrar os que temem ao Senhor. Fácil? Não, de modo algum. As condições apresentadas dizem respeito a 3 áreas cruciais da nossa vida: O nosso caráter, as nossas palavras e a nossa lealdade. Cada uma dessas áreas se compõem em desafios permanentes para nós. Para finalizar essas considerações é necessário mais um ponto para reflexão. Ambos os salmos analisados nos levam a pensar na nossa santificação. Santificação para sermos dignos da presença de Deus. Santificação que se reflita em todos os nossos comportamentos e relacionamentos. Ambos os textos nos impelem para o desafio de 1. Pedro 1.16: “Sereis santos, porque eu sou santo.” A convivência coma Deus só é possível sob tal condição. Fora dela só resta a ruína. Estes dois textos nos devem levar a compreender que a Santidade deve ser o nosso estilo de vida. Não devemos falar da santidade com os conceitos errados e popularmente aceitos, pureza e até mesmo de ingenuidade, ou santidade como capacidade para de dedo em riste acusar erros e falhas dos outros. A santidade que Deus requer de nós, a santidade que estes dois salmos nos ensinam é a santidade que custa esforço de buscar e, sobretudo de nela permanecer. É a santidade posta a prova todo o dia, em todas as circunstancias quando somos confrontados nas palavras que dizemos, na lealdade que dispensamos e no caráter que demonstramos. Ao conseguir fazer da santidade o nosso estilo de vida estaremos nos tornando “como a arvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai, e tudo quanto fizer prosperará”. Para realmente conseguir tal feito, devemos junto com o salmista integrar o grupo daqueles que “antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite.” SALMOS -1T2003 Pg. 4 LIVRO DE SALMOS Lição 03 "Os salmos de exaltação à Lei de Deus” (2a. parte ) Salmos 119. Pela graça de Deus podemos nos encontrar mais uma vez para o nosso estudo nos Salmos. Continuamos hoje considerando o primeiro dos 6 temas gerais nos quais foi estruturada este seqüência de lições. Vamos, pois, à segunda parte dos salmos de exaltação à Lei de Deus. O salmo 119, objeto do nosso estudo de hoje, é o mais longo capítulo de toda a Bíblia, com os seus 176 versículos. Mas não é somente por esta característica que tão facilmente identificamos esse salmo. Todos os seus versos são uma declaração a respeito de um mesmo assunto: a Palavra de Deus. São assim 176 ditos ou provérbios a respeito da Lei do Senhor. Diferentes sinônimos são usados para designá-la: Palavra, Lei, Estatutos, Testemunhos, Preceitos, Mandamentos, Ordenanças, Juízos, Caminhos e outros que encontramos na nossa tradução da Bíblia. Henry Morris, no seu livro “Amostra dos Salmos” nos ensina que no original hebraico são apenas 8 os sinônimos utilizados, e que a utilização destes sinônimos obedece uma regra de um modo tão organizado que neles se encontra uma perfeita aritmética. Infelizmente tal não pode ser percebido em nossa língua. Mas há uma outra estruturação da poesia hebraica que podemos vislumbrar, ainda que parcialmente. Este salmo, no original, é um acróstico, com um bloco de 8 versos para cada letra do alfabeto hebraico. Como são 22 letras naquele alfabeto, multiplicado por 8 temos a razão porque são 176 versos. Podemos perceber tal acróstico na nossa Bíblia, pois, na maioria das Bíblias, a letra do alfabeto encabeça cada grupo de versículos a que se refere. Dentro desses grupos, cada um os versos em hebraico começa sempre com a letra do grupo a que pertencem. Sendo uma coletânea de ditos sobre a Palavra de Deus, organizada em forma de acróstico, a simples leitura desse salmo pode produzir certa desconcentração, visto que não houve a preocupação de um encadeamento do assunto, com uma proposição, uma elaboração e uma conclusão. Talvez isto explique porque tão poucos versos desse salmo estão gravados na nossa memória, como o v. 105 “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para o meu caminho”. Mas essa desorganização superficial não deve esconder de nós nem nos afastar da mensagem que este salmo nos apresenta, sobre o valor da Palavra de Deus para os homens; sobre o benefício que podemos ter ao busca-la e sobre o amor e dedicação que lhe devemos separar. Nada melhor ao estudar os Salmos que lê-los. Vamos, portanto, proceder a uma leitura parcial do salmo 119, encadeando alguns dos seus versos, a começar por uma definição do que é a Lei de Deus, como nos apresentada pelo v. 160 “ A soma da tua palavra é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre”. Os benefícios da Palavra para nós são diversos, citando-se a sabedoria que ela nos traz (v.98 a 100) “O teu mandamento me faz mais sábio que meus inimigos, pois está sempre comigo. Tenho mais entendimento que todos os meus mestres, porque os teus testemunhos são a minha meditação. Sou mais entendido do que os velhos, porque tenho guardado os teus preceitos” SALMOS -1T2003 Pg. 5 LIVRO DE SALMOS Não sei se temos atinado para toda a profundidade desses 3 versos: A Palavra do Senhor traz sabedoria para o nosso viver diário, na complexidade de situações que temos a enfrentar. Ela nos faz mais sábios que nossos inimigos, que nossos mestres e daqueles que tem mais experiência de vida que nós: 3 tipos de pessoas frente às quais tendemos a nos sentir inferiorizados. No entanto, isso não deve acontecer se estivermos fundamentados na Palavra que nos traz a sabedoria para a vida. Além da sabedoria, a Palavra traz um outro benefício fundamental para o nosso viver cotidiano: A serenidade e a tranqüilidade para enfrentar as mais difíceis situações. Vejamos alguns versos que nos lembram isso. (v.23) “Príncipes sentaram-se e falavam contra mim, mas o teu servo meditava nos teus estatutos” (v.50) “Isto é a minha consolação na minha angústia, que a tua promessa me vivifica” (v.92) “Se a tua lei não fora o meu deleite, então eu teria perecido na minha angustia”. E (v165) “Muita paz têm os que amam a tua lei, e não há nada que os faça tropeçar”. Desejo que eu mesmo, e todos nós tenhamos a Palavra do Senhor tão firme conosco que esta serenidade no embate se confirme na nossa própria experiência. em todo o tempo.” Ou no verso 131: “Abro a minha boca e arquejo, pois estou anelante pelos teus mandamentos.” E quanto à nossa atitude com relação a essa Palavra preciosa? Ah se pudemos ter a mesma dedicação que o salmista demonstra, (v.97) “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação o dia todo.” (147 e 148) “ Antecipo-me à alva da manhã e clamo; aguardo com esperança as tuas palavras. Os meus olhos se antecipam às vigílias da noite para que eu medite na tua palavra.” (v 62) “ A meia noite me levanto para dar-te graças por causa dos teus retos juízos.” (v. 164) “Sete vezes por dia te louvo pelas tuas justas ordenanças.” Mais do que gastar o tempo com a palavra, há um anseio por ela, como no v.20 “A minha alma se consome de anelos por tuas ordenanças Que estas sejam as nossas petições ao final desta leitura parcial do salmo 119. Tal dedicação e desejo pela Palavra deve torná-la o bem mais prazeroso que se pode ter, a própria alegria de viver, como no v.54 “ Os teus estatutos tem sido os meus cânticos na casa da minha peregrinação”. E ainda no v.24 “Os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros”. E no v.162: “Regozijo-me com a tua palavra, como quem acha grande despojo.” Creio que podemos concluir que por mais que temos nos dedicado à Palavra de Deus, por mais sério que tem sido o nosso estudo dela, e por mais que já tenhamos nos esforçado em fazer desta Palavra o guia da nossa vida, ainda não podemos acompanhar o salmista em todas essas declarações. Precisamos mais amor, mais desejo, mais dedicação. Isso também o salmista desejava de tal maneira que podemos acompanhar o salmista com sinceridade nestas suas declarações (v.18) “ Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.” E (v.32) “Percorrerei o caminho dos teus mandamentos, quando dilatares o meu coração.” SALMOS -1T2003 Pg. 6 LIVRO DE SALMOS Lição 04 "Os salmos de celebração à realeza/ Messiânicos” (1a. parte ) Salmos 2, 20, 23, 24, 45 e 47. Queridos ouvintes: com alegria temos a oportunidade de continuar esta série de estudos em Salmos. Iniciamos hoje um novo tema do livro, que abrange os chamados salmos reais e os salmos messiânicos. Os salmos reais são assim denominados porque o seu texto exalta a figura e os feitos do rei. O contexto imediato desses salmos nos aponta para Davi, ou mesmo para algum outro rei da linhagem dele, mas podemos ver além desse conteúdo imediato, a antevisão do Reino Eterno do Messias, o filho de Davi. Além desses salmos reais, que apontam para o Messias, ao longo do livro encontramos inúmeras outras referências à obra e ao ministério do Nosso Senhor Jesus Cristo, do seu sofrimento, da sua vida aqui na terra e da expectativa do seu retorno como rei soberano de todo o universo. Portanto faz todo o sentido juntar os salmos reais e os salmos que fazem referências Messiânicas, visto que em ultima instância são palavras proféticas anunciando Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Salvador. Começamos nos voltando para dois salmos reais, o salmo 2 e o salmo 20. O salmo 2 é apresentado como de autoria desconhecida, embora o apóstolo Pedro em At.4.25-26 atribuiu-o a Davi. Ele nos fala da rebelião contra Deus e da vitória final do Filho de Deus. O pr. Isaltino Gomes (A teologia dos Salmos) analisando este salmo nos chama a atenção para a sua “construção literária bem planejada” Os 12 versos estão agrupados em 4 idéias, cada qual expressa em 3 versículos. Os primeiros versículos nos falam da rebeldia das nações contra Deus, se indagando o porque de tal atitude insana. Mas o fato é que os reis se levantam e os príncipes conspiram não se sujeitando ao domínio do ungido do Senhor. Querem romper as ataduras e se livrar das cordas. O segundo pensamento (v.4-6) nos apresenta em contraste a tranqüilidade divina e o menosprezo de Deus por tal rebeldia: O rei está estabelecido e o seu domínio garantido. Após o terceiro pensamento (v.7-9) que é uma profecia messiânica, o quarto pensamento (v.1012) apresenta um apelo para que os rebeldes abandonem sua insanidade e sendo prudentes voltem ao Senhor e aceitem o seu domínio, pois são “Bem aventurados todos aqueles que nele confiam”. O salmo 20 nos faz pensar no dia da dificuldade, quando as tribulações e as batalhas estão se delineando à frente. Este salmo é uma oração de suplica pela proteção divina ao rei que está se preparando para marchar. O pedido de proteção está acompanhado de uma firme declaração de confiança em Deus, declaração que tem sido repetida em todas as épocas por aqueles que a desejam reafirmar: “ Uns confiam em carro e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos erguemos e ficamos de pé” (v.7-8). Agora vamos voltar nossa atenção para uma seqüência de 3 salmos, atentando para o grande conteúdo messiânico presente neles. São os salmos 22, 23 e 24. A beleza e a popularidade do salmo 23, o salmo do bom pastor, nos desvia SALMOS -1T2003 Pg. 7 LIVRO DE SALMOS de atentar para o fato de que esses 3 salmos formam um conjunto, uma trilogia, apresentando Jesus Cristo em 3 perspectivas diferentes. Para alguns esses salmos são identificados como os salmos dos 3 C´s: Da cruz, do cajado e da coroa. Pois assim é: O salmo 22 fala do Cristo na Cruz, do seu sofrimento. O salmo 23 fala do pastoreio de Cristo - o seu cajado que nos consola, e o salmo 24 fala do rei da Glória e da sua entronização eterna: Cristo e sua coroa. A leitura atenta do salmo 22 nos apresenta a vivida visão do sofrimento de Cristo por nós na cruz. Através dele estamos como que presenciando os acontecimentos no calvário, tal como os evangelhos nos apresentam. O salmo 22, em conjunto com Isaías 53, são claras antevisões proféticas daquilo que séculos depois viria a se cumprir no monte do Calvário. “Deus meu, Deus meu por que me desamparaste?” (v.1) “Todos os que me vêem zombam de mim, arreganham os beiços e meneiam a cabeça dizendo: Confiou no Senhor, que ele o livre; que ele o salve, pois que nele tem prazer.” (v.7-8). “Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.” (v.14) “Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes.” (v.18). Ao relembrarmos este salmo devemos concordar com um grande numero de comentaristas bíblicos, como Derek Kidner, de que não há como entender que neste salmo Davi estivesse se referindo a um episódio da sua própria experiência. Neste salmo, mais do que salmista Davi é um profeta a quem Deus proporcionou a antevisão do sofrimento da cruz. (At.2.30). O segundo salmo da trilogia nos é por demais conhecido. Para mim, como para muitos que tiveram o privilegio de nascer em um lar cristão e de crescer na Igreja, o salmo 23 está entre os primeiros textos bíblicos que pudemos recitar. Com certeza, ele deve ser o primeiro capitulo inteiro que pudemos com alegria repetir, talvez até antes que fossemos capazes de lê-lo. Ele nos acompanha e de modo algum a sua mensagem pode perder importância para nós: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” (v.4) A trilogia se fecha com a visão do rei da Glória apresentada no salmo 24. “Quem é esse Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha.” (v.8). Na seqüência dos salmos de hoje, começamos lembrando aqueles que se rebelam contra o domínio de Deus (Sl.2), passamos pelo Rei se preparando para enfrentar os inimigos, confiado no poder de Deus (Sl.20). Vimos o sofrimento do Messias (Sl.22), e depois de rever o seu ministério pastoral (Sl.23) o vemos agora na sua glória; “ Levantai ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas e entrará o Rei da Glória.” (v.9) Que com a ajuda de Salmos possamos compreender melhor a magnitude e a significância da obra de Cristo, e assim louvar e exaltar a Deus pelo seu grande cuidado por nós. SALMOS -1T2003 Pg. 8 LIVRO DE SALMOS Lição 05 "Os salmos de celebração à realeza/Messiânicos” (2a. parte) Salmos 72, 87, 101, 110 e 118. É bom estarmos juntos mais uma vez, nesta renovada alegria de pensar na Palavra de Deus, através do estudo no livro de Salmos. Hoje continuamos considerando os salmos que tratam da celebração à realeza e os salmos Messiânicos. Como já visto no encontro anterior, os salmos reais, embora façam referência a um contexto próximo ao da sua produção, exaltando a figura do rei, levam-nos a uma referência maior apontando para o Messias e para a necessidade de nos sujeitarmos ao domínio do Senhor dos Senhores, do rei dos reis. O primeiro dos salmos separados para hoje é o 72, um dos 2 salmos indicados como de autoria de Salomão. É uma oração do autor pedindo as bênçãos e a direção de Deus sobre o seu reinado. Derek Kidner nos seu comentário sobre o livro intitula este salmo como “O rei perfeito”, pois é exatamente isto que Salomão pede a Deus. Ele pede que a sua justiça venha de Deus, para salvar os necessitados e esmagar os opressores (v.1 a 4); Pede que o seu reino seja sem fim (v.5 a 7) e sem fronteiras (v.8 a 11). Salomão pede ainda que o seu reinado seja compassivo (v.11 a 14) e que a abundância e a boa reputação estejam permanentemente na sua ministração (v.15 a 17). Como uma oração, Salomão a encerra exaltando o nome e o poder de Deus (v. 18 e 19). A lembrança desse salmo nos deve reforçar a necessidade de orar pelas autoridades de maneira que as bênçãos suplicadas por Salomão para a sua administração também possam ser estendidas à nos, através das decisões e das ações daqueles que têm sido incumbidos de dirigir os negócios públicos. Além disto, este salmo também deve nos servir como exemplo para, como Salomão, suplicarmos de Deus a capacitação para desempenhar sabiamente as responsabilidades que nos competem, ainda que tais responsabilidades não tenham a abrangência de um governo nacional. Para aquilo que a nós compete fazer, supliquemos também de Deus a capacitação para a tarefa. O segundo salmo, o 87, enfoca Sião, a cidade de Jerusalém, como a cidade de Deus. O terceiro salmo, é o 101, de autoria de Davi. Encontramos nesse salmo certa semelhança com o salmo 87 de Salomão. Davi se compromete com Deus em viver de um modo irrepreensível. É o desejo do rei de que tanto a sua vida pessoal (v.1 a 4) quanto as relações de amizade (v.5 a 8) reflitam uma integridade total de vida. “Portar-me-ei sabiamente no caminho reto .... andarei em minha casa com integridade de coração.” (v.2) Esse salmo também se coloca como um exemplo a ser imitado, para que possamos buscar reafirmar, na nossa vida, o desejo de viver de um modo que seja agradável ao Senhor. O salmo seguinte para nós hoje é o 110. Esse é outro salmo profético de Davi. Nele vemos retratado, com grande ênfase, todo o domínio e a glória do Messias, a quem Davi chama de meu Senhor. Notemos que o salmo está apresentado no futuro: “O Senhor enviará a Sião o cetro do seu poder” (v.2); “O Senhor ... quebrantará reis no SALMOS -1T2003 Pg. 9 LIVRO DE SALMOS dia da sua ira” (v.5); “O Senhor julgará entre as nações” (v.6). Davi não falava dele nem de seu reino. Davi falava do Messias e do seu completo domínio futuro. O salmo apresenta o Messias como rei (v.1 a 3), como sacerdote (v.4), e como guerreiro (v.5-7). A importância desse salmo é tal, que o Novo Testamento o cita, ou faz a ele referencias 27 vezes, como em Mat. 22.44 ! Nenhum outro salmo, ou mesmo outro texto do Velho Testamento é utilizado tantas vezes nos escritos dos evangelhos e das cartas. O desafio dessa mensagem messiânica para nós é encontrada no v 2: que possamos estar engajados de todo o coração nessa multidão que se coloca a disposição desse rei vitorioso: “ o teu povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder, em trajes santos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade.” O ultimo dos salmos a considerar nesta lição é o salmo 118. Da autoria de Davi, ele é um cântico de gratidão a Deus por aquilo que o Senhor fez. Antes de atentar para o belo texto desse salmo, convém notar que 3 de seus versos são citados no Novo Testamento, realçando o conteúdo messiânico que ele também apresenta. O verso 6 “O Senhor é por mim, não recearei; o que me pode fazer o homem.” É citado em Hb.13.6. o verso 22 “ A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular” foi utilizado por Jesus, em Mat .21.42, em referência a si próprio. E a parte inicial do verso 26 “bendito aquele que vem em nome do Senhor” foi cantada pela multidão que recebeu Jesus em Jerusalém na entrada triunfal da sua ultima ida à cidade (Mat.21.9). O salmo 118 nos lembra que a gratidão e o reconhecimento da benignidade do Senhor deve ser nacional: “Diga, pois, Israel” (v.2); deve ser familiar: “ Diga, pois, a casa de Abraão” (v.3) e deve também ser individual: “Diga, pois, os que temem ao Senhor” (v.4) A lembrança do que o Senhor fez está presente: ele ouviu quando foi invocado (v.5) , Ele permitiu que os inimigos ameaçadores fossem exterminados (v.10), Ele fez com que os perigos fossem igualmente exterminados (v.1112), Ele ajudou quando a queda era iminente (v.13). E por isso aquele era um momento de lembrança e em conse-qüência de agradecimento e de alegria: “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.” (v.24) A lembrança do que o Senhor fez leva a uma reafirmação da confiança nEle, como vemos nos versos 6 a 9 “ O Senhor é por mim, não recearei; que me pode fazer o homem? O Senhor é por mim entre os que me ajudam; pelo que verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem. É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar nos príncipes.” Para finalizar estas considerações sobre os salmos reais que nos apontam para Jesus Cristo, o Messias, vamos ficar com os versos 6 e 7 do Salmo 45, outro dos salmos reais: “O teu trono, ó Deus subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo da alegria, mais do que a todos os teus companheiros.” SALMOS -1T2003 Pg. 10 LIVRO DE SALMOS Lição 06 "Os salmos de celebração da vitória e confiança em Deus” (1a. parte ) Salmos 11, 16, 27, 34, 37, 62 e 78. Caros irmãos e ouvintes. O Senhor nos permite mais uma vez voltar ao livro de Salmos, nessa seqüência de estudos bíblicos que estamos tendo a oportunidade de empreender. Hoje começaremos a rever mais um tipo de salmos, na classificação geral adotada para esse estudo. Veremos salmos que visam a celebração de vitórias e a confiança em Deus. O que marca este tipo de salmo é que o autor o apresenta como uma reafirmação da sua confiança em Jeová. As coisas podem até não estar indo bem, as angustias e os desafios são mencionados, mas a nota marcante é a da reiterada disposição de descansar nAquele que é capaz de tudo. Um grande numero de salmos, cerca de 60, são denominados salmos individuais, pois que o autor os apresenta na primeira pessoa, expressando a sua situação particular e colocando os seus sentimentos, os seus pensamentos e os seus desejos pessoais em relação a Deus. A grande maioria dos salmos de celebração de vitória e de confiança são salmos individuais. Adicionalmente, convém também mencionar que além de individuais, os salmos hoje considerados são de autoria de Davi. Notamos que os salmos de Davi estão bastante concentrados nos 2 primeiros livros de salmos, que como vimos englobam os salmos até o de numero 72. Dos salmos explicitamente atribuídos a Davi, 55 estão nestes 2 primeiros livros; 8 estão apresentados em seqüência a partir do salmo 138 e os restantes 10 estão espalhados ao longo dos livros de Salmos. restantes 3 O valor dos salmos individuais, e especialmente dos individuais de confiança em Deus é muito grande para nós, quando podemos nos identificar com o autor e fazer nossas as suas palavras, revivendo na nossa experiência aquilo por que o autor passou e deixou registrado. Usando as palavras de Lynn Anderson - também válidas para todos os outros tipos de salmos - podemos afirmar que estes salmos nos ajudam a expressar o inexprimível; a explorar o desconfortável; a manter nossas orações vívidas; e a nos mover para além do meramente mendigar, no nosso relacionamento com Deus. Comecemos com o salmo 11. A sua primeira frase já deixa claro porque se insere nesta classificação: “No Senhor confio.” No entanto, esta não é uma declaração que surgiu da boca do salmista de graça. Ele estava sendo confrontado com um cerco da parte de seus inimigos e por isso estava recebendo conselhos para fugir aos montes, tal como um pássaro, procurando por proteção e tentando escapar de enfrentar “os ímpios (que) armam o arco, põem a sua flecha na corda, para atirarem, às ocultas, aos retos de coração” (v.2). Em vez de seguir o conselho recebido e fugir, Davi voltouse para Deus lembrando que “o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos contemplam, as suas pálpebras provam os filhos dos homens” (v.4). A afirmação de confiança termina lembrando que os retos, aqueles que confiam no Senhor, verão o seu rosto. SALMOS -1T2003 Pg. 11 LIVRO DE SALMOS No salmo seguinte, o 16, a confiança vem acompanhada de um pedido de proteção: “Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio”. (v.1). Embora aqui não esteja apresentada uma situação especifica que levava o salmista a confirmar sua confiança em Deus em face das dificuldades, percebemos que o salmista aguardava pela ação de Deus na sua vida, e a sua confiança o fazia antecipar a provisão que desejava. Vejam que o salmista fala de coisas que acontecerão no futuro, como nos versos 10 e 11: “Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há delícias perpetuamente” Podemos agora passar para o salmo 27. Este salmo é muito rico na expressão dos sentimentos que ele retrata, especialmente na mistura de sentimentos tão diversos que se tornam até contraditórios. E esta contradição de sentimentos deve ajudar a entendermos a nós mesmos. Davi queria confiar em Deus: “ O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida, de quem me recearei?” (v.1). Davi tinha razões para confiar em Deus, em vista do que Ele já tinha feito: “ Quando os malvados investiram contra mim, para comerem as minhas carnes, eles, meus adversários e meus inimigos, tropeçaram e caíram” (v.2). No entanto, tanto o desejo de confiar como a experiência passada, não estavam sendo suficientes naquela hora, e a duvida, a insegurança se instalava. Assim, Davi começa a levantar problemas hipotéticos, como que para testar até onde poderia ir a sua confiança em Deus. “Ainda que um exército se acampe contra mim ... ainda que a guerra se levante contra mim...” (v.3), depois no v.10 “Se meu pai e minha mãe me abandonarem...” A percepção é que de fato, Davi estava em crise no seu relacionamento com Deus, e ele não escondeu isto, como vemos no v.7 “Ouve, ó Senhor, a minha voz quando clamo; compadece-te de mim e repondeme.” E mais no verso 9 “ Não escondas de mim o teu rosto, não rejeites com ira o teu servo,....Não me enjeites nem me desampares.” E mais ainda no v.12 “Não me entregues à vontade dos meus adversários;...” Nessa situação de coisas, o desejo de Davi é de buscar mais intimidade com Deus, como vemos nos seus pedidos do v. 4 “ Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida. ...” e no v.11 “ Ensina-me ó Senhor, o teu caminho, e guia-me por uma vereda plena, por causa dos que me espreitam.” Ao fim desse processo, Davi pode declarar: ” Creio que hei de ver a bondade do Senhor na terra dos viventes.” Que lição para nós. A intimidade e a franqueza de Davi nesse salmo devem ser exemplo para nós, de como devemos nos aproximar de Deus e expressar a Ele tudo o que se passa conosco. Há outros salmos nessa classificação, como 34, 37, 62, além daqueles separados para a nossa próxima lição. Terminemos fazendo nossa a reiterada confiança de Daví em Deus, como no cap. 62 v.1e 2: “Somente em Deus espera silenciosa a minha alma; dele vem a minha salvação. Só Ele é a minha rocha e a minha salvação; é ele a minha fortaleza; não serei grandemente abalado.” SALMOS -1T2003 Pg. 12 LIVRO DE SALMOS Lição 07 "Os salmos de celebração da vitória e Confiança em Deus” (2a. parte ) Salmos 91, 92, 95, 105, 106, 112 e 114. Amigos e irmãos ouvintes: Agradeçamos a Deus o privilégio de estarmos mais uma vez juntos para o estudo da Sua Palavra. Peçamos a Deus que o seu Espírito esteja conosco nos ensinando e nos mostrando as maravilhas da Sua lei. Dentro desta série de estudos em Salmos, continuamos hoje revisando os salmos de celebração da vitória e confiança em Deus. Como lembrado no encontro anterior, este tipo de salmo reflete o desejo do autor de reafirmar a sua confiança em Jeová ou o seu desejo de lembrar vitórias obtidas e desta maneira celebrar o Senhor que as tornou possível. Quanto a autoria, todos os salmos a serem considerados hoje são de autoria anônima, contrastando-se com os salmos de Davi presentes na primeira parte da revisão desta classificação. Salmo 91 – Algumas considerações preliminares sobre este salmo. (1) Há uma arrumação bastante interessante neste salmo a respeito de quem fala e a quem tal fala é dirigida. Nos 2 primeiros versos o autor está falando por si, declarando-se a Deus. Nos versos 3 a 13 o autor está se dirigindo a uma terceira pessoa para apresentar os benefícios da confiança em Deus, discorrendo sobre eles. Para alguns autores, devido a essa parte substancial do salmo, ele deveria ser classificado como salmo de instrução, visto o objetivo do autor, de ensinar a um terceiro a respeito de uma verdade em que ele já acreditava. No final do salmo, dos versos 14 a 16, vemos o próprio Deus falando, confirmando a instrução que o autor desejou transmitir. (2) John Stott nos chama a atenção para o fato de que este é o único salmo utilizado pelo Diabo. Vamos aos evangelhos, na descrição da tentação de Jesus (ex. Mt.4.6), e vemos lá que os versos 11 e 12 deste salmo são citados por Satanás como argumento de tentação ao Mestre. E o diabo utilizou para tal argumento a principal mensagem deste salmo, qual seja a do anjo enviado por Deus para proteger e livrar dos perigos aqueles que nEle confiam. As figuras de proteção utilizadas pelo autor para retratar o cuidado de Deus pelo homem são diversas: Esconderijo, sombra (v.1), fortaleza (v.2) Livrador (v.3), asa, escudo, broquel (v.4, e anjos (v.11). Com todos esses recursos a disposição, somente devemos seguir o conselho do salmista e descansar no Altíssimo Todo Poderoso. Quaisquer que sejam os problemas advindos de inimigos, pestes, animais perigosos, terrores da noite ou tropeços do caminho, o Senhor cuidará deles, impedindo que sejamos perturbados. Os versos finais, que expressam a própria palavra de Deus, são o fecho adequado para a mensagem que o salmista quer transmitir: “Pois que tanto me amou, eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque ele conhece o meu nome. Quando ele me invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angustia, livrá-lo-ei, e o honrarei. Com longura de dias fartá-lo-ei, eu lhe mostrarei a minha salvação” (v.14 a 16). Salmo 92 - A ênfase deste salmo é a celebração dos feitos do Senhor. É bom render graças ao Senhor por aquilo que ele fez e pelas suas grandes obras. E a certeza dessa continuada ação de Jeová em favor dos justos que o temem, faz o salmista declarar: “Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o SALMOS -1T2003 Pg. 13 LIVRO DE SALMOS cedro do Líbano.” (v.12) “Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes, para proclamarem que o Senhor é reto.” (v.14 e 15 a) Salmo 105 - Igualmente ao anterior, este salmo é um convite à adoração ao Senhor. Os argumentos para tal convite vêm da revisão da história, quando o salmista vai relembrando feitos de Deus em benefício do povo de Israel, e de como a lembrança desses feitos dele levar o povo a cantar e anunciar o nome de Jeová. Nossa memória é curta e fazse necessário relembrar todo o caminho já percorrido para não perder a visão da grandeza da obra de Deus. O convite do salmista deve assim ser extensivo a nós: “Lembrai-vos das maravilhas que Ele tem feito, dos seus prodígios e dos juízos da sua boca.” (v.5) Salmo 112 – É mais um salmo que exorta a confiança irrestrita no Senhor: “Bem aventurado o homem que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer.” (v.1) Os benefícios dessa atitude estão listados no restante do salmo, mas devemos notar que o salmista aqui se restringe a apresentar os benefícios imediatos, percebíveis no campo material daquele que confia em Deus. São reforçadas as bênçãos visíveis, através da descendência poderosa, de bens e riquezas na casa e da sua capacidade de enfrentar mesmo as más noticias, porque o seu coração está bem firmado no Senhor. ver nos salmos uma bela produção literária que nos prende a atenção pela riqueza das suas imagens e pela profundidade da emoção que nos evoca. Como cristãos sinceros e amantes da Palavra, os salmos devem ser para nós mais do que apenas isto. Como ressalta Bob Deffinbaugh, ao considerar a significância atual dos salmos, eles devem falar para nós, falar por nós, clamar por nós e nos servir de padrão para a nossa adoração a Deus, como serviram para a Igreja Cristã primitiva (I Co.14.26; Ef.5.19; Col.3.16). Os salmos falam para nós porque expressam palavras apropriadas para as diversas circunstancias de vida que enfrentamos. Os salmos falam por nós, pois retratam o intimo de nossas almas, colocando em palavras os nossos mais sinceros desejos, confirmando a intercessão do Espírito por nós, como Paulo ensina em Rm.8.26. Os salmos clamam por nós, das profundezas (Sl.130.1), pois podemos encontrar neles o conforto, a consolação e as palavras de petição a Deus de que necessitamos, mesmo nos momentos mais negros das nossas vidas. Que nesse aprofundamento no conhecer dos salmos possamos chegar onde Davi chegou\; “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu, e de todos os meus temores me livrou. Olhai para ele e sede iluminados; e os vossos rostos jamais serão confundidos.” (Sl. 34. 4 e 5). Salmo 114 - Este salmo celebra um feito específico da história de Israel, a passagem dos judeus pelo Mar Vermelho. A lembrança de tal episódio histórico deve servir para toda a terra, e não somente a nação de Israel, tremerem na presença do Senhor Deus de Jacó. Para concluir esta revisão de hoje, gostaria de que considerássemos mais um pouco a respeito do valor dos Salmos para nós. Não podemos limitar a SALMOS -1T2003 Pg. 14 LIVRO DE SALMOS Lição 08 "Os salmos de culto e louvor” (1. parte ) Salmos 33, 50, 68, 81, 132 e 145. Uma das características marcantes do livro de Salmos, cujo estudo podemos hoje continuar, agradecidos a Deus por mais uma vez nos trazer a este momento, é o seu conteúdo de Louvor e Adoração a Deus. Utilizar as palavras de um salmo para expressar a nossa adoração a Deus é um fato comum. E são estes salmos os de culto e louvor que prenderão a nossa atenção neste estudo. Estaremos revendo alguns salmos que são parte desta classificação, com o objetivo primeiro de aprendermos mais a respeito do louvor e adoração que devemos tributar ao nosso Deus. O salmo 33 nos ensina não só sobre a forma do nosso louvor, mas também sobre a razão porque devemos adorar a Deus. Os seus primeiros versos nos lembram de duas características que não podem faltar no nosso culto: A alegria e a perfeição: “ Regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois aos retos fica bem o louvor. .... Cantai –lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo.” E este convite ao louvor jubiloso e aprimorado justifica-se por aquilo que o Senhor é e por aquilo que o Senhor fez. O restante do salmo é uma apresentação da grandeza do Senhor, onde a Sua palavra criadora é ressaltada nos versos 4 a 9; a Sua vontade triunfante é lembrada nos versos 10 a 12; e o Seu olhar discernente destacado nos versos 13 a 19, como nos ensina Derek Kidner. Pelo que o Senhor é e pelo que Ele fez devemos fazer completo o nosso louvor depositando nEle toda a nossa confiança, tal como o salmista fez “ A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxilio e o nosso escudo.” (v.20). Vamos passar agora ao salmo 68, de autoria de Davi. Aqui também a ênfase do cântico é a grandeza e a obra de Deus, em prol dos seus fiéis, na natureza e no meio do seu povo. A leitura deste salmo nos chama a atenção pela força e pujança das expressões utilizadas por Davi para exaltar a Deus. O salmo chama a nossa atenção também pelo fato de que a convocação ao louvor e feita não somente ao povo de Deus, Israel, mas é também estendida a outras nações, como o Egito e a Etiópia, abrangendo todas as nações da terra.: “ Reinos da terra, cantai a Deus, cantai louvores ao Senhor.” (v.32) Sendo uma literatura do povo judeu, sempre tão cioso da sua nacionalidade e do seu privilegio como povo escolhido de Deus, poucos lugares nos Salmos encontramos uma mensagem que tão claramente ressalta o caráter universal da adoração, como aqui. O salmo seguinte a considerar é o de numero 81. Aqui vemos retomada a preocupação de que o louvor esteja revestido de alegria e do som de instrumentos musicais, mas o salmo nos ensina um outro aspecto fundamental que não podemos esquecer: A adoração a Deus é um mandamento divino: “Pois isso é um estatuto para Israel, e uma ordenança para Jacó.” (v.4). Adorar a Deus é parte integral dos mandamentos divinos para o seu povo, e por isso o restante do salmo é um convite para que Israel escute a voz de Deus e O reconheça como o seu único Senhor. No salmo 108 aprendemos com Davi mais uma característica que não pode faltar no nosso louvor. A nossa voluntariedade. A nossa disposição e o SALMOS -1T2003 Pg. 15 LIVRO DE SALMOS nosso desejo de adorar a Deus. “Preparado está o meu coração, ó Deus; cantarei, sim, cantarei louvores, com toda a minha alma. Despertai, saltério e harpa; eu mesmo despertarei a aurora. Louvar-te-ei entre os povos, Senhor, cantar-te-ei louvores entre as nações.” (v.1 a 3). Esta lição de Davi, tão importante para ser retida, ganha um significado maior quando atentamos para o fato de que este salmo 108 é a junção da parte final de dois outros salmos, o 57, a partir do seu verso 7 e o 60, a partir do seu verso 5. Esses dois salmos que deram origem ao 108, por sua vez, não são salmos de Louvor. São salmos de lamentação, onde Davi se apresenta diante de Deus clamando por livramento. Mas por maior que era a sua situação de desamparo, ele ainda estava preparado para cantar louvores. Portanto, neste salmo Davi não só nos ensina sobre a disposição para adorar a Deus. Ele ensina, com a sua vida, que a adoração a Deus deve ter prioridade total. O último salmo a considerar hoje é o salmo 145. Ele é o ultimo salmo de Davi no saltério. O autor ressalta a dimensão temporal do louvor nos lembrando que a adoração a Deus não deve ser interrompida. Cada dia bendizendo ao Senhor, e assim louvando o Seu nome pelos séculos dos séculos (v.2). Esta preocupação com o tempo e com a continuidade ininterrupta da adoração também fica ressaltada no verso 4: “Uma geração louvará as tuas obras à outra geração, e anunciará os teus atos poderosos.” É a obrigação da lei de Moisés, dos pais transmitirem aos filhos o conhecimento do temor ao Senhor (Dt.6.20-25) expressa na forma da adoração, destacando os feitos de Jeová. Louvamos a Deus como aprendemos com os nossos pais, e louvando a Deus vamos transmitindo aos nossos filhos a mesma visão da grandeza e da bondade do Senhor, que merece toda a nossa adoração. Será que conseguiríamos contar quantas gerações se passaram desde Davi até nós, em que este salmo é ressaltado, “de geração em geração” ? Será que temos a capacidade de estimar quantas gerações mais, após a nossa continuarão a louvar ao Senhor, porque aprenderam de seus pais? É o encontro do privilégio e da responsabilidade de ser um elo nesta imensa sucessão de pessoas que “Publicarão a memória da tua grande bondade, e com júbilo celebrarão a tua justiça.” (v.7) Os salmos de louvor e de adoração não se esgotam nestes poucos que aqui pudemos rever. Os ensinos sobre a necessidade de louvar a Deus e os ensinos de como louvar a Deus são um assunto constante ao longo dos Salmos. A classificação didática que esta série de estudos segue não é perfeita. A riqueza de muitos salmos impede que eles sejam colocados restritivamente em uma classificação. Como vimos, no caso dos salmos 57 e 60, temos diversas ênfases dentro de um só salmo. Vamos continuar percorrendo os salmos e aprendendo com eles a melhor louvar Aquele que é o único que deve receber todo o nosso louvor. “Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra; daí brados de alegria, regozijai-vos, e cantai louvores.” (98.4). SALMOS -1T2003 Pg. 16 LIVRO DE SALMOS Lição 09 "Os salmos de culto e louvor” (2a. parte ) Salmos 29, 82, 121, 124, 126, 127, 128, 131, 133, e 134. Retornamos à nossa série de estudos no livro de Salmos, agradecidos a Deus pela oportunidade de mais este encontro. Continuamos hoje nos voltando para os salmos de culto e louvor, classificação esta que já nos ocupou no encontro anterior. Dentro do assunto, desejo que a nossa atenção seja voltada para um grupo de salmos bastante peculiar no livro, que são identificados como Cântico dos Degraus, ou de Romagem, compondo uma seqüência de 15 salmos, começando com o de numero 120. A explicação para o nome e para a função deles não é unânime, e diversas possibilidades têm sido levantadas. De modo geral entende-se que estes salmos estavam relacionados com a peregrinação dos judeus em direção à Jerusalém para adoração a Deus. Seriam cânticos entoados durante a viagem, ou na entrada do templo. Foi sugerido que cada um destes salmos teria sido cantado em um dos degraus de acesso ao templo, na chegada dos peregrinos Uma outra explicação associa esta série de salmos com o rei Ezequias. Como sabemos do relato de Isaías capitulo 38, o rei clamou e chorou diante de Deus quando foi avisado da iminência da sua morte, e Deus lhe concedeu 15 anos adicionais, usando como sinal de tal beneficência o recuo de 10 graus no relógio de sol do rei. Em sua oração de gratidão, o rei se comprometeu a adorar a Deus todos os dias da sua vida, como vemos em Is. 38 v.20: “ O Senhor está prestes a salvar-me; pelo que, tangendo eu meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor.” Neste propósito expresso na sua oração, Ezequias teria composto 10 salmos, um para cada grau que o relógio retrocedeu. A esses 10, Ezequias adicionou 4 salmos de Davi, e um de Salomão, de modo a chegar ao total de 15, a quantidade de anos que o Senhor lhe adicionou. Estas possíveis explicações para a origem e a função desse grupo de salmos, servem apenas como pano de fundo e introdução. O relevante é a mensagem que eles nos transmitem. Alguns desses salmos são bastante conhecidos, isoladamente. No entanto, somos convidados a lançar um olhar geral para a série toda, e vermos nela uma representação da jornada espiritual onde cada um desses cânticos se referee a um estágio, ou um degrau, na caminhada do ser humano desde que ele percebe que precisa abandonar o mundo ímpio até a sua chegada em definitivo na casa do Senhor. O primeiro salmo dessa seqüência, o 120, deixa-nos clara a idéia do mundo ímpio e da decisão do peregrino de que aquele não deveria ser mais o seu lugar e por isso tinha chegado a hora de clamar a Deus por livramento. Sentir-se estranho no mundo em que vive. Perceber que já não pode mais conciliarse com aqueles ao seu redor e desejar abandonar tal ambiente é o começo da jornada: “Ai de mim que peregrino em Meseque, e habito entre as tendas de Quedar! Há muito que eu habito com aqueles que odeiam a paz. Eu sou pela paz, mas quando falo, eles são pela guerra.” (v.6-7) SALMOS -1T2003 Pg. 17 LIVRO DE SALMOS O segundo estágio, representado no salmo 121, nos lembra que após a decisão de abandonar o mundo ímpio uma caminhada de obstáculos e dificuldades ainda separa o peregrino da Jerusalém almejada. No meio do trajeto estão os montes, com suas ameaças de caminhos escarpados onde o vacilo do pé pode significar a morte; onde salteadores e temores estão por todo o lugar; e onde o próprio sol incandescente pode ferir o viajante. Vemos muitas vezes o verso um deste salmo sendo lido de modo incorreto, dando a impressão de que o salmista olhava para os montes pois via neles o seu socorro. Não é esta a idéia. O salmista vê os montes com temor, como um desafio a ser vencido e pergunta: “de onde me virá o socorro?” A resposta vem em seguida: “O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra” (v.2) e tal socorro é suficientemente amplo para que todos os riscos e os perigos da passagem pelos montes sejam superados. O passo seguinte dessa jornada está no salmo 122, - a expectativa da chegada a Jerusalém. “Alegrei-me quando me disseram: Vamos a casa do Senhor.” (v.1). O peregrino que decidiu abandonar o mundo ímpio onde estava, já sentiu a forte segurança divina ao atravessar os temidos montes, e agora se enche que alegria ao vislumbrar a cidade almejada e já sentir-se dentro dela. Mas a jornada não termina ainda. As dificuldades continuam e tais situações vão sendo expressas nos salmos seguintes, ora como uma oração de apelo por ajuda, ora como um hino de gratidão relembrando a obra do Senhor. Assim, o salmo 123 clama pelo livramento da zombaria dos arrogantes e do desprezo dos soberbos; o salmo 124 relembra todos os perigos dos quais o Senhor já livrou; o salmo 125 é uma renovação da confiança irrestrita no Senhor; o salmo 126 é um outro hino de louvor relembrando as obras de Deus. A proteção à família é o assunto do salmo 127 e a felicidade do que teme ao Senhor é ressaltada no 128. Chegando ao salmo 131 vemos Davi expressando o seu desejo de descansar no Senhor. É um salmo que apresenta a maturidade espiritual que deve ser buscada por todos nós: “Senhor, o meu coração não é soberbo, nem os meus olhos são altivos; não me ocupo de assuntos grandes e maravilhosos demais para mim. Pelo contrario, tenho feito acalmar e sossegar a minha alma; qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe, qual criança desmamada está a minha alma para comigo.” (v. 1-2) Os dois últimos salmos desta serie retratam o fim da jornada e a alegria da permanente estada na casa do Senhor e no meio daqueles que igualmente estão desejosos de servir ao Senhor. O salmo 133 nos diz: “o quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união !” (v.1). O salmo 134 é um convite para a permanente adoração na casa de Deus: “...bendizei ao Senhor, todos vós, servos do Senhor, que de noite assistis na casa do Senhor.” (v.1) Que a lembrança desta serie de salmos que compõem os cânticos dos degraus nos anime e nos encoraje a prosseguir na nossa caminhada espiritual, em direção ao pleno conhecimento de Deus (Col.1.10). SALMOS -1T2003 Pg. 18 LIVRO DE SALMOS Lição 10 "Os salmos de exaltação a Deus/Ação de graças” (1a. parte) Salmos 8, 18, 19, 21, 30, 32, 40, 46, 48, 65, 66, 67, 75, 76, 84, 89, 93, 96 e 97. Amigos e irmãos ouvintes, sob a graça de Deus podemos mais uma vez voltar a nossa atenção para o livro de Salmos, que têm sido o assunto desta série de estudos bíblicos. Temos seguido a classificação dos salmos proposta para as lições da Escola Bíblica Dominical, como definido pela Juerp. Como toda classificação, ela visa agrupar salmos similares de maneira a melhor podermos compreender a natureza, a finalidade e a mensagem de cada capítulo deste livro tão maravilhoso e querido. Olhar para os salmos através de uma classificação deve nos ajudar no estudo, mas não devemos nos prender à classificação com excesso de empenho a ponto de ela nos engessar. Não podemos nos esquecer que as classificações são diversas; nem sempre coincidentes; e há salmos que trazem dentro deles elementos de mais de uma classificação. Estamos hoje iniciando as considerações sobre mais um tipo de salmo, Os salmos de exaltação a Deus e Ação de Graças. Nos ocuparemos desse tipo de salmo no nosso encontro de hoje e também no próximo. Os salmos de ação de graças são marcados pela nota de gratidão a Deus por algo que Ele fez, especialmente na vida pessoal do salmista, mas também na vida da comunidade ou na lembrança dos grandes feitos do Senhor. Os salmos de exaltação buscam engrandecer o nome do Senhor, ainda que não associando tal exaltação à benemerências específicas. É o exaltar a Deus pelo que Ele é, mais do que pelo que ele fez a nosso favor. Muitos salmos se enquadram nesta categoria – Na classificação da Juerp eles são 38 – e, portanto, impossíveis de serem revistos individualmente aqui. Vamos atentar para alguns destes salmos, fazendo uso, primariamente, das considerações desenvolvidas pelo comentarista bíblico Walter Brueggemann. (The message of the Psalms). Salmo 8 – “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, tu que puseste a tua glória acima dos céus!” - O verso um já dá a nota clara do objetivo deste cântico: Exaltar ao Deus criador e lembrar o Seu imensurável amor demonstrado ao homem, que não sendo nada dentro da grandeza da criação divina, recebeu o domínio sobre toda a criação. Dos 9 versos, 5 (do 4 ao 8) são dedicados a ressaltar a importância do homem, a quem Deus coroou de glória e de honra. No entanto esta primazia do papel da criatura não deve diminuir, antes deve apenas realçar a exaltação que devemos ao Criador, pois somos o que somos porque Ele assim quis, e, portanto, junto com o salmista devemos cantar: “Senhor, Ó Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra!” (v.9) Salmo 30 - Este é um exemplo claro do salmo de ação de graças. Embora não seja explicito a que fato esteja se referindo, Davi fala claramente de um livramento que Deus lhe propiciou. “tu me levantaste” (v1), “tu me curaste” (v.2), “conservaste-me a vida” (v.3) – são expressões do reconhecimento da ação divina na sua vida. Ainda que as circunstancias não estejam delineadas, o perigo e a proximidade da morte estiveram na experiência de Davi. Por causa do que Deus fez, ele pessoalmente SALMOS -1T2003 Pg. 19 LIVRO DE SALMOS quer louvar ao Senhor: “...Senhor, Deus meu, eu te louvarei para sempre” (v.12), mas também convoca toda a congregação para o mesmo propósito: “Cantai louvores ao Senhor, vós que sois seus santos....” (v.4). Há um fato a mais ao qual somos chamados à atenção neste salmo. O salmista passou por uma experiência que lhe tirou de uma situação de conforto, e lhe desequilibrou profundamente, para ao fim o trazer de novo à segurança. Vemos isto nos versos 6: Davi relembrava: “Quanto a mim, dizia eu na minha prosperidade: Jamais serei abalado.” Tudo ia bem e o fato de ir bem foi confundido com ir bem sempre, isto é, ter a posse permanente da benção da prosperidade. Havia a fé em Deus, havia uma certeza e esta certeza dava a orientação para a vida do salmista. Mas ai vem o inesperado, a desorientação que fez Davi perder o rumo, pois desestruturou tudo o que ele cria. Vemos tal choque no verso 7 “Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste que a minha montanha permanecesse forte: ocultaste o teu rosto, e fiquei conturbado.” Deus desapareceu da prosperidade do salmista. E agora? Agora é a hora de se chegar a uma nova orientação, de uma mais profunda verdade a respeito de Deus, que renova, refaz e amplia o relacionamento com Deu. O final disto vemos no verso 11: “Tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste o meu cilício, e me cingiste de alegria....” onde o autor acrescenta o seu testemunho pessoal, que serve como confirmação personalizada da mensagem do cântico: “Vinde, e ouvi,.....e eu contarei o que ele tem feito por mim.” (v.16) “ Bendito seja Deus, que não rejeitou a minha oração, nem retirou de mim a sua benignidade.” (v.20) Salmo 97 – O ultimo salmo a ser considerado hoje exalta a Deus como rei que governa soberanamente sobre todo universo, fazendo da justiça e da equidade a base do seu trono. Junto com a exaltação, o salmo traz também uma instrução como advertência para aqueles que, em vez de se curvarem ao Senhor do Universo, preferem adorar ídolos e imagens esculpidas (v.7), bem como aqueles que optam pelo mal, pela injustiça e que abominam a retidão (v.10-11). Embora sendo exaltado por todas as forças da natureza (v.2 a 6), e com sua gloria sendo testemunhada a todas a todos os povos (v.6), Deus não quer receber tributos daqueles que não tem o seu padrão de justiça e retidão. Por isso, a exaltação ao seu nome somente pode vir dos que buscam cumprir os seus mandamentos: “Alegrai-vos ó justos, no Senhor, e rendei graças ao seu santo nome” (v.12). Salmo 66 – Este é um salmo coletivo de ação de graças. Não são os feitos divinos em favor de uma pessoa que são relembrados, mas os feitos do Senhor em favor de todo o seu povo, relembrando fatos históricos, como a passagem pelo mar (v.6), bem como exaltando a bondade do Senhor em repreender o povo pecador e depois reparar e restaurar. A ação de graça coletiva termina em uma expressão individual, SALMOS -1T2003 Pg. 20 LIVRO DE SALMOS Lição 11 "Os salmos de exaltação a Deus/Ação de graças” (2a. parte) Salmos 98, 99, 100, 103, 104, 107, 111, 113, 115, 117, 135, 136, 138, 146, 147, 148, 149 e 150. Queridos ouvintes: com gratidão a Deus pelo que Ele é e pelo que Ele fez em nosso favor, estamos juntos novamente para a continuação desse ciclo de estudos no livro de Salmos. Estamos hoje pensando nos salmos de exaltação a Deus e de ação de graças, em continuação ao estudo anterior. Continuamos também utilizando os comentários de Walter Brueggemann como base deste estudo. Salmo 98 – O convite de abertura é para se entoar um novo cântico ao Senhor. É a mesma introdução do salmo 97. Porque um cântico novo é necessário? A novidade não deve ser apenas do canto em si, ainda que seu conteúdo possa ser inédito. A novidade do cântico deve estar firmada na obra sempre renovada das maravilhas do Senhor e, sobretudo, na nossa renovada disposição de exaltar ao Senhor de uma maneira e com uma intensidade maior que anteriormente. A salvação, a justiça e a misericórdia divina são razões para todos os habitantes da terra celebrarem ao Senhor, juntando vozes e instrumentos para exaltá-lo. A natureza, representada pelo mar, rios e montes, estarão também se juntando nesta expressão universal e total de reconhecimento da plenitude da justiça e do poder divino. O Salmo 100 nos leva para o templo do Senhor, convidando-nos para “entrar pelas suas portas com ação de graças e nos seus átrios com louvor...” (v.4). O ensino sobre a exaltação ao Senhor nos deve motivar a nos mover em direção a Ele para o adorarmos, reconhecendo a sua benignidade que dura para sempre. Salmo 103 – Este é um dos mais completos salmos de ação de graças que temos. Além da sua beleza literária, como rico exemplo da poesia hebraica, com suas muitas afirmações em paralelismo, o salmo, na profundidade do seu ensino, nos convida a seriamente refletir sobre a ação de graças devida à fonte de toda benção. O salmista começa por convidar a si mesmo a bendizer ao Senhor. Parece estranho, como que o salmista desejando sacudir o seu próprio eu e o despertar para a adoração. Mais do que isto, o salmista deseja convencer a si mesmo de que todo o seu ser em uníssono deve se voltar para a gratidão a Deus, pois razões há mais que suficientes para tal, como lembrado nos versos 2 a 6. O importante é que como Davi não nos esqueçamos “de nenhum dos seus benefícios.” (v.2) A partir do verso 8 o autor trabalha com pensamentos colocados em contraste para realçar os seus argumentos em prol da ação de graças. Lembrando-se da misericórdia e da compaixão divina, Davi utiliza uma série de negativas para contrastar a nossa condição humana de pecado com a graça de Deus, pois Ele “Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniqüidades.” (v.9-10). O que deve ser ressaltado nesta expressão do autor é que o julgamento divino, assim como toda a ação de Deus não é pautada por uma linha de comportamento padrão. Ao contrario, somos surpreendidos pela ação SALMOS -1T2003 Pg. 21 LIVRO DE SALMOS divina ocorrendo em uma direção inesperada. Levamos Deus à ira, mas não somos castigados eternamente. Pecamos contra Deus, mas não recebemos em retribuição aquilo que mereceríamos. Realmente, todo o nosso ser deve ser despertado para incansavelmente bendizer a este Deus. Mas não é só isto. Vamos para os versos 14 a 17, e vemos Davi construir outro pensamento contrastado, que nos é muito precioso atentar. Ele lembra a brevidade e insignificância da vida humana: “ Pois ele...lembra-se de que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a erva; como a flor do campo, assim ele floresce. Pois, passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não a conhece mais.” No entanto, a graça de Deus nos resgata dessa limitada vida como o salmista conclui: “Mas é de eternidade a eternidade a benignidade do senhor sobre aqueles que o temem....” Por nos, pela nossa vontade, pela nossa capacidade, o que somos? É somente pelos desígnios divinos que alcançamos a eternidade, e por isso todos são convocados para bendizer ao Senhor: os anjos que estão sob seu comando (v.20); os seus exércitos e ministros (v.21); as obras do Senhor, de todos os lugares do seu domínio (v.22); mas, sobretudo. é necessário trazer para o eu individual de cada um de nós o mandamento final: “Bendize, ó minha alma ao Senhor!” (v.22) Mais uma Ação de graças de Davi encontramos no Salmo 138. O testemunho do que Deus fez é o moto desta gratidão: “No dia em que eu clamei, atendeste-me; alentaste-me, fortalecendo a minha alma.” (v.3) e por isso o salmista pode testemunhar na presença dos deuses, e cantar louvores. A gratidão não está apenas no que Deus fez no passado, mas na certeza de que Ele continuadamente está amparando o seu servo: “Embora eu ande no meio da angústia, tu me vivificas; contra a ira dos meus inimigos estendes a tua mão, e a tua destra me salva.” (v.7) O livro de salmos se encerra com uma série de 5 convites á adoração, utilizando o imperativo “Louvai ao Senhor.” Estes 5 salmos finais, a partir do 146, fecham o livro nos reforçando o convite para a continuada exaltação ao Senhor nosso Deus. Bob Deffingbaugh nos lembra que exaltação é muito diferente de gratidão. Exaltação eleva o exaltado, a gratidão não. O que exalta está centralizado no exaltado. O que agradece não. Exaltação envolve liberdade e espontaneidade. Gratidão envolve obrigação. Exaltação sempre ocorre em publico. Gratidão e essencialmente privativa. Exaltação é feita alegremente. Gratidão é feita como dever. Gratidão se reduz a uma palavra: obrigado. Exaltação não pode ser expressa assim tão simplesmente. É para esta exaltação que os 5 salmos finais nos convocam, com o repetido imperativo de louvar ao Senhor. Fiquemos com o salmo 150. A convocação desta doxologia final não apresenta nenhuma razão do porque louvar ao Senhor. Há apenas a ordem. Em 6 versos, por 12 vezes o chamamento se repete: “Louvai ao Senhor.” É a convocação para todas as criaturas louvarem, adorarem, agradecerem e se colocarem em temor diante de Deus, de modo espontâneo e sem reservas. Incluamo-nos nesta convocação: “Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor!” (v.6) SALMOS -1T2003 Pg. 22 LIVRO DE SALMOS Lição 12 "Os salmos de lamentação e os Imprecatórios” (1a. parte) Salmos 3 a 7, 9, 10, 12-14, 17, 22, 25, 28, 31, 35, 36, 38, 39, 41-44, 49 e 51-58. Em continuação a esta série de estudos em Salmos, estamos chegando hoje ao nosso 12o. encontro, iniciando as considerações sobre os salmos de lamentações e salmos imprecatórios, a ultima das classificações utilizadas para esse estudo. Os salmos de lamentações e os imprecatórios compõem o maior de todos os 6 grupos, com 66 salmos. Nos salmos de lamentação, como o nome sugere, o salmista está expressando uma queixa, a sua insatisfação com fatos ou circunstâncias difíceis e desagradáveis que ele enfrenta. Por vezes, a sua reclamação é contra o próprio Deus. E ele então intercede pela ajuda divina, muitas vezes julgando-se injustiçado ou não merecedor daquele peso que sente sobre os seus ombros. Lembremo-nos destes exemplos: 3.1-2: “Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! Muitos se levantam contra mim; Muitos são os que dizem de mim: Não há socorro para ele em Deus.” 6.2-3 “ Tem compaixão de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, Senhor, porque os meus ossos estão perturbados. Também a minha alma está muito perturbada; mas tu Senhor, até quando? ...” e 10.1: “Por que te conservas ao longe, Senhor? Por que te escondes em tempo de angustia ?” Não é raro que nós nos identifiquemos profundamente com esses salmos, pela variedade e riqueza das circunstancias apresentadas e pela beleza das suas palavras. São salmos que falam por nós, visto expressarem as nossas necessidades, as nossas emoções, e os nossos anseios com relação às adversidades da vida, que fazem parte da nossa condição de seres humanos. Os salmos imprecatórios são um tipo muito peculiar de salmo que tem merecido uma atenção especial dos estudiosos e comentaristas do livro. O nome desse tipo de salmo origina-se do verbo imprecar, que significa tanto suplicar, pedir a Deus, como significa também rogar uma praga contra alguém. São salmos em que o autor está solicitando uma clara intervenção divina contra os seus inimigos em particular, ou contra os malfeitores, em geral. Um bom exemplo de salmo imprecatório é o 58, da autoria de Davi. Os seus versos 6 a 10 expressam desejos que creio, qualquer um de nós não ousaria pronunciar, mesmo contra o nosso maior desafeto: “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na sua boca; arranca, Senhor, os caninos aos filhos dos leões. Sumam-se como águas que se escoam; sejam pisados e murchem como a relva macia. Sejam como a lesma que se derrete e se vai, como o aborto de mulher, que nunca viu o sol. .... O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue dos ímpios.” Exatamente tal peculiaridade dos salmos imprecatórios é que os tornam difíceis de serem entendidos e mais difíceis ainda de serem utilizados. J. Sidlow Baxter (Examinai as escrituras, vol. Jó e Salmos) apresenta 4 objeções que são levantadas com relação a esses salmos: (1) São contrários aos sentimentos mais elevados da natureza humana, na compaixão que existe dentro de nós. (2) São contrários a qualquer preceito de Religião, que nos ensinam sobre um SALMOS -1T2003 Pg. 23 LIVRO DE SALMOS Deus que manda a chuva sobre justos e injustos. (3) São absolutamente contrários ao ensino e ao espírito do Novo Testamento, de amar os nossos inimigos. (4) são discordantes da própria confissão dos salmistas, que anunciam a sua confiança zelosa em Deus. O mesmo autor, porém, nos indica o caminho para a correta compreensão desse tipo de salmo, baseado no motivo, no ponto de vista e no espírito deles. Quanto ao motivo, devemos atentar que o salmista está se levantando contra os inimigos de Deus, declarando que são seus inimigos também. “Não odeio eu, Senhor, os que te odeiam? E não me aflijo por causa dos que se levantam contra ti ? Odeio-os com ódio completo; tenho-os por inimigos.” (139.21-22) Assim, o salmista está se colocando na posição de proclamador da justiça divina ao mesmo tempo que clama pelo imediato cumprimento da sentença reservada àqueles que se rebelam contra Deus. Quanto ao ponto de vista, somos lembrados que a grande maioria desses salmos imprecatórios são de autoria de Davi. Os que não são de Davi se relacionam com os inimigos nacionais de Israel. Davi, como rei ungido do Senhor está expressando a justiça publica que lhe competia exercer e não expressando um desejo de vingança pessoal contra os seus opositores. E, finalmente, quanto ao espírito, devese destacar que as imprecações são utilizadas contra alguém que não se sensibilizou com atos de compaixão, como vemos no em 109.4-5 “ Em paga do meu amor são meus adversários, mas eu me dedico á oração. Retribuem-me o mal pelo bem, e o ódio pelo amor.” ser entendidos como expressão de vingança pessoal. São alertas que nos trazem à lembrança o peso da justiça divina que virá para todos que se insubordinam contra os reiterados e compassivos apelos divinos. Voltemo-nos ao salmo 58, cujo conteúdo imprecatório já foi aqui citado, e vejamos o questionamento crítico e desolador de Davi com relação aos ímpios: “ Falais deveras o que é reto, vós os poderosos ? Julgais retamente, ó filhos dos homens ? Não, antes no coração forjais iniqüidade; sobre a terra fazeis pesar a violência das vossas mãos.” (v.1 e 2). E, após expressar as suas imprecações em vista da generalizada iniqüidade dos ímpios, Davi ressalta a justiça divina se cumprindo ao fim: “Então dirão os homens: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.” (v.11) Um salmo imprecatório de cunho totalmente pessoal é o 35. Ao longo de todo o salmo vemos a expressão de Davi na primeira pessoa retratando sua dificuldade e desconforto com aqueles que lhe se opõem. O seu rogo pelo castigo e humilhação dos seus opositores é repetido diversas vezes. No entanto, a nota final ressalta a sua confiança de que a justiça de Deus prevalecerá: “Bradem de júbilo e se alegrem os que desejam a minha justificação, e digam continuadamente: Seja engrandecido o Senhor, que se deleita na prosperidade do seu servo” (v.27). Que esta expectativa a respeito do cumprimento da justiça divina seja nossa também. Ficamos, portanto, com a essência dessa discussão a nos orientar com relação aos salmos imprecatórios. Eles não podem SALMOS -1T2003 Pg. 24 LIVRO DE SALMOS Lição 13 "Os salmos de lamentação e os Imprecatórios” (2a. parte) Salmos 59-61, 63, 64, 70, 71, 73, 74, 77, 79, 80, 83, 85, 86, 88, 90, 94, 102, 109, 120, 122, 123, 125, 129, 130, 127, 139-143. Queridos irmãos e amigos ouvintes. O tempo passou e já chegamos ao nosso 13o. e ultimo encontro desta serie sobre Salmos. Meu desejo é que o tempo despendido tenha sido útil no propósito de melhor entendermos esse belo livro da Bíblia. Nossa série termina, mas o nosso desafio individual de buscar na Palavra de Deus, e particularmente em Salmos o alento, o encorajamento, o desafio e a correção de que precisamos, continua. Que o livro de Salmos possa ser para todos nós o cumprimento completo do ensino de Jesus Cristo apresentado em Mateus 13:52: “Todo escriba que se fez discípulo do reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Que tenhamos abundantemente “coisas novas” tiradas de Salmos, que nos enriqueçam espiritualmente tanto quanto as “coisas velhas” que renovadamente buscamos nesse tesouro. Continuamos hoje com a ultima categoria de salmos, os de lamentação e imprecatórios. Nos detivemos nos salmos imprecatórios no ultimo encontro, de maneira que nos ocuparemos agora apenas dos salmos de lamentação. Bernhard Anderson (Out of the depths) nos lembra que talvez a denominação de “lamentação” não seja a mais apropriada, pois embora esses salmos retratem uma queixa, eles também são um pedido pela intervenção divina e um cântico que anuncia em antecipação a certeza da ação divina, na correção do problema que o salmista enfrenta. A característica mais marcante de praticamente todos esses salmos de lamentação é a confiança de que a situação será mudada tão logo Deus intervenha. O lamento não é final visto que não está expresso em termos de uma situação sem saída nem é a percepção do cumprimento inexorável de um destino selado. O lamento clama pela intervenção divina para que o estado presente das coisas seja alterado, e esse clamor está alicerçado numa grande certeza e esperança de que Deus agirá e as coisas mudarão. Os elementos comuns de um salmo de lamentação são: um apelo à Deus; a apresentação da queixa; uma confissão da confiança em Deus; um pedido pela atuação divina; uma demonstração de confiança de que a ação divina desejada ocorrerá; e um voto de louvor e gratidão. Vejamos alguns salmos de lamentação. Salmo 59 – Este salmo de Davi nos informa na sua apresentação a situação específica em que foi composto, quando Saul mandou emissários à casa de Davi para o matar. Atentemos para ver como os elementos de um salmo de lamentação estão todos presentes: apelo – v.5 “Tu, o Senhor, Deus dos exércitos, Deus de Israel, desperta para punires todas as nações....” Apresentação da queixa: “Pois eis que armam ciladas á minha alma; os fortes se ajuntam contra mim, não por transgressão minha nem por pecado meu, ó Senhor. Eles correm, e se preparam, sem culpa minha...” (v.3 e 4). Confissão da confiança em Deus: “Em ti, força minha, esperarei; pois Deus é o meu alto refugio. O meu Deus com sua benignidade virá ao meu SALMOS -1T2003 Pg. 25 LIVRO DE SALMOS encontro:....” (v.9 e 10). Pedido pela atuação divina: “Livra-me, Deus meu, dos meus inimigos; protege-me daqueles que se levantam contra mim. Livra-me dos que praticam a iniqüidade, e salvame dos homens sanguinários.” (v.1 e 2) Demonstração de confiança: “Mas tu Senhor, te rirás deles; zombarás de todas as nações.” (v.8). E finalmente, o voto de confiança e louvor: “Eu, porém, cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria a tua benignidade, porquanto tens sido para mim uma fortaleza, e refúgio no dia da minha angústia. A ti, ó força minha, cantarei louvores; porque Deus é a minha fortaleza, é o meu Deus que me mostra benignidade.” (v.16-17) Salmo 63 – Aqui Davi, que estava no deserto de Judá expressa, sobretudo, uma situação de ansiedade espiritual, pelo seu desejo de proximidade com Deus: “Ó Deus, tu és o meu Deus; ansiosamente te busco. A minha alma tem sede de ti, a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada onde não há água.” (v.1) Esse desejo torna quase imperceptível a lamentação que o aflige: “...aqueles que procuram a minha alma para a destruírem.” (v.9) Salmo 79 – Este é um salmo comunitário de lamento. Não são os problemas de um individuo que são apresentados, mas a queixa é nacional: “...as nações invadiram a tua herança; contaminaram o teu santo templo; reduziram Jerusalém a ruínas.” Seguramente, o contexto histórico aqui expresso é a invasão de Nabucodonozor, que antecedeu o cativeiro de Judá na Babilônia. A lamentação tem aqui uma nota de indignação. Como é que Deus permitiu que a profanação do Seu lugar santo ocorresse? “Até quando Senhor? Indignar-te-ás para sempre? Arderá o teu zelo como fogo ?” (v.5) O pedido de ajuda é para que Deus restaure o seu povo para que ele possa novamente louva-lO. Salmo 86 – O destaque desta lamentação de Davi é o seu conteúdo de humildade e impotência. Davi suplica pela preservação da sua vida (v.2) e desesperançado se coloca na total dependência de Deus, sem qualquer outra opção de ajuda. “Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe o meu coração para temer o teu nome.” (v.11) Salmo 142 – O estado de ânimo que Davi expressa neste salmo é bem diferente daquele que percebemos no salmo 86. A sua intimidade com Deus e a sua confiança nEle são marcantes. Podemos nos espelhar neste salmo e ver na experiência de Davi como deve ser o nosso relacionamento com Deus, ainda que a nossa experiência de vida não nos seja agradável. Davi de fato sabe a quem se dirigir quando a adversidade o cerca: “Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico, derramo perante ele a minha queixa, diante dele exponho a minha tribulação.” (v.1-2). Davi nos confirma que a nossa esperança não pode depender de ninguém próximo a nós, mesmo porque os nossos chegados nos podem também faltar: “Olho pra a minha mão direita, e vê, pois não há quem me conheça; refugio me faltou; ninguém se interessa por mim.” (4). Davi nos ensina sobre a sinceridade de emoção que deve existir no nosso relacionamento com Deus: “Atende ao meu clamor, porque estou muito abatido; ...” (v.6) E, sobretudo, Davi sabe que quando Deus agir a vida ganhará outra perspectiva: “Tira-me da prisão; para que eu louve o teu nome; os justos me rodearão, pois me farás muito bem.” (v.7) . Como Davi, façamos do Senhor o nosso refugio e o nosso quinhão na terra dos viventes. SALMOS -1T2003 preparado por Gerson Berzins Pg. 26
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