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Dezembro/2007 Relatório 1 Partes Interessadas e Levantamento da Literatura Público alvo e soluções existentes Projeto STID Novas Linguagens e Modelos de Interação APRESENTAÇÃO Este Relatório se insere no âmbito do projeto de Soluções de Telecomunicações para Inclusão Digital – STID, para o qual se busca soluções inovadoras de interface de usuário que facilitem a apropriação das tecnologias de informação e comunicação – TICs, em particular o uso de computadores, em telecentros. O público-alvo inclui analfabetos plenos, funcionais, e outros contingentes da população de excluídos digitais, como idosos, deficientes visuais e auditivos. O objeto das soluções sendo investigadas é relativo a uma aplicação Web com dois serviços de governo eletrônico: um de apoio à aposentadoria e outro de apoio à saúde. O Relatório é composto de duas partes, a saber: Parte I - E1-11 Entregável 1: Partes Interessadas – Impacto e Alcance da Solução – resultados da 1ª. Oficina Parte II - E1-12 Entregável 2: Levantamento da Literatura - público alvo e soluções existentes UNICAMP UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS NIED NÚCLEO DE INFORMÁTICA APLICADA À EDUCAÇÃO 3 Parte I Partes Interessadas: Impacto e Alcance da Solução – resultados da 1ª. Oficina OBJETIVO Disponibilizar serviços de e-Gov que façam sentido e sejam acessíveis ao cidadão, trazendo assim benefícios à sociedade como um todo, requer uma visão sócio-técnica para o problema. Com esse entendimento, propusemos a realização de oficinas participativas com a presença de representantes de partes diretamente envolvidas no projeto STID (propositores do projeto, parceiros na busca de soluções e outros envolvidos). Os objetivos da 1ª oficina são clarificar o problema e compartilhar conhecimento no grupo determinando, de forma o mais abrangente possível, o escopo de Partes Interessadas e seus principais problemas com relação ao acesso ao sistema pretendido via interfaces de usuário. Análise dos resultados da oficina informa e delimita o alcance de soluções ao problema tanto do ponto de vista tecnológico quanto de inclusão social/digital. MÉTODO A Oficina é inspirada em métodos e artefatos da Semiótica Organizacional (Liu, 2000; Stamper, 1993) adaptados e conduzidos de forma participativa em contexto do design de sistemas de informação e suas interfaces de usuário (Baranauskas et al. 2005, Bonacin et al. 2006). Nossa abordagem é baseada em MEASUR, (acrônimo de Methods for Eliciting, Analyzing and Specifying User Requirements), um conjunto de métodos para Elicitar, Analisar e Especificar Requisitos de Usuário. Nesta Oficina trabalhamos especificamente com artefatos que possibilitam a articulação do problema em estágios iniciais de um projeto, para apoiar o compartilhamento de significados entre os participantes e informar sobre problemas das partes interessadas e soluções vislumbradas, que terão potencial impacto no design de interface de usuário do sistema. Os artefatos utilizados na Oficina 1 foram: Análise de Partes Interessadas e Quadro de Avaliação, sumarizados a seguir: Análise de Partes Interessadas: ajuda o grupo de participantes a entender a situação real do problema e os requisitos do sistema pretendido, por meio da discussão e levantamento das partes que direta ou indiretamente influenciam ou sofrem a influência do sistema prospectivo via suas interfaces. Conforme discutido por Liu (2001) o artefato distribui as partes interessadas em diferentes categorias que representam diferentes “forças de informação” em relação ao problema em análise. Utilizamos as seguintes categorias: Atores e Responsáveis (quem contribui diretamente ao sistema e é afetado diretamente pelo sistema), Clientes e Fornecedores (quem fornece dados/informações ao sistema ou faz uso deles), Parceiros e Concorrentes (mercado relacionado ao sistema), Espectador e Legislador (representantes da comunidade que influenciam e são influenciados pelo sistema no contexto social). Quadro de Avaliação: permite ao grupo identificar, para cada categoria de partes interessadas, seus interesses, principais questões e problemas, para discutir possíveis soluções que impactarão em requisitos de usuário e interface com o sistema subjacente. Dinâmica da Oficina: A dinâmica envolveu uma breve apresentação pessoal dos participantes, seguida da apresentação do conceito e objetivos da oficina. Em seguida, com a coordenação de um facilitador, o grupo passou ao uso de cada artefato que mediou e também serviu de registro aos resultados. 4 PARTICIPANTES: CPqD (grupos de interfaces, desenvolvimento, especificação e gerência) – 17 pessoas NIED/Unicamp (pesquisadores) – 09 pessoas POLI/USP (pesquisadores) – 04 pessoas IEL/Unicamp (pesquisadores) – 04 pessoas Representantes de usuários finais – 02 pessoas Total de participantes – 36 pessoas O CPqD encarregou-se de chamar as partes interessadas do CPqD e dos demais grupos parceiros e o NIED/Unicamp encarregou-se de convidar e providenciar a participação dos representantes dos usuários finais. LOCAL: Foi utilizada uma sala no CPqD, os artefatos utilizados foram afixados em uma das paredes e as cadeiras foram dispostas em arcos ao longo da sala, de forma que todos tivessem boa visão e acesso ao conteúdo produzido via artefatos. Café, biscoitos e água foram oferecidos pelo CPqD e ficaram a disposição dos participantes ao longo da oficina. MATERIAIS: Para a realização da oficina o grupo NIED/Unicamp preparou e levou painéis dos artefatos que foram utilizados na dinâmica da oficina, além de canetas e post-its para o preenchimento dos mesmos. O CPqD providenciou um projetor multimídia para a atividade de Introdução à Oficina. REGISTRO: Entende-se que o registro da oficina é parte da documentação do trabalho. O grupo NIED/Unicamp e o grupo do CPqD registraram as atividades com filmadoras e câmeras fotográficas. O NIED/Unicamp também providenciou um termo de consentimento entregue aos participantes solicitando sua autorização para eventual uso da imagem e fala registrados. RESULTADOS Classificação das partes interessadas no projeto em questão, análise do impacto e do alcance da solução, como resultado da primeira oficina participativa. Análise de Partes Interessadas A discussão do grupo mediada pelo Quadro de Partes Interessadas, resultou na Figura 1. Na seqüência, a Tabela 1 traz a síntese dos principais aspectos observados nos resultados da oficina. Nela, contrapomos elementos presentes em documentos oficiais sobre os serviços e elementos que surgiram na oficina. Na primeira coluna da tabela listamos as partes interessadas que além de terem sido especificadas no projeto, também apareceram durante a oficina. Na segunda e terceira colunas estão os elementos que aparecem ou somente na oficina ou somente na documentação, respectivamente. Finalmente na quarta coluna, apresentamos elementos que não foram explicitados nos documentos e também não surgiram na discussão durante a oficina, mas que consideramos relevantes a esta análise. Por exemplo, os usuários das iniciativas, que representam um papel importante no desenvolvimento da solução, e os especialistas no domínio dos serviços, cujo conhecimento é vital para a composição do produto. 5 PARTES INTERESSADAS COMUNIDADE MERCADO Telecentro FONTE Parceiros universitários CONTRIBUIÇÃO STID Gerentes de TI (CPqD) FUNTTEL Especifica Comuni-dor da dade menos interface letrada Usuários (do telecentro) que não fazem parte do público alvo Órgãos de saúde municipal Trabalhadores rurais Lingüistas Analfabetos Produtores de conteúdo Especialista em formatação de conteúdos digitais Deficientes Atores, Responsáveis Familiares do público alvo Sindicato Rural Profissionais de saúde Desenvolvedor de interface Trabalhadores urbanos Conselho Nacional de Saúde (CONEP) INSS INSS Monitor Especifica -dor do serviço Universidade Administração dos telecentros Provedores de serviços de telecomunicações Prefeitura Conselhos participativos: idoso, deficiente, saúde Desenvolvedores Desenvolvedores de tecnologias assistivas OSCIPs e ONGs de assistência social Movimentos de economia solidária Clientes, Fornecedores Parceiros, Concorrentes Espectador, Legislador Soluções de Telecomunicações para a Inclusão Digital Figura 1. Quadro resultante da 1ª Oficina. Figura 1 Quadro de Partes Interessadas resultante da 1ª. Oficina Comunidade de SW livre Conselho Municipal de Saúde CRAS Despachantes e advogados Representantes dos usuários finais Agente de saúde (concorrente) W3C ABNT Comissões de padronização 6 Tabela 1. Partes interessadas Oficina e Documentação INSS Funttel Analfabetos Trabalhadores rurais Profissionais da saúde Pessoas com deficiência Administração dos telecentros Representantes dos usuários finais Telecentro Prefeitura Oficina Documentação Outros Desenvolvedores CPqD Usuário das iniciativas Especificador da interface Especificador do serviço Comunidade menos letrada Usuários (do telecentro) que não fazem parte do público-alvo Familiares do públicoalvo Administradores do sistema e suporte Especialistas no Domínio (dos serviços) Especialistas em interfaces Especialistas em telecomunicações Monitor Sistemas legados Parceiros universitários Trabalhadores urbanos Órgãos de saúde municipal Produtores de conteúdo Universidade Sindicato rural Desenvolvedores Desenvolvedor de interface Desenvolvedores de tecnologias assistivas Especialista em formatação de conteúdos digitais Provedores de serviços de telecomunicações Movimentos de economia solidária Cidadãos Pessoas que usam o SUS Aposentados rurais Pessoas com baixa renda Sistemas cujo público-alvo seja semelhante (ex. sistema de caixa automático) Sistemas no domínio (outras cidades) Trabalhadores sem carteira assinada Profissionais do PREVRURAL Ministério das Telecomunicações Ministério da Previdência Social IC/Unicamp Governo IEL/Unicamp Ministério da Saúde NIED/Unicamp Administradores do sistema e suporte (software) POLI/USP 7 Oficina e Documentação Oficina Documentação Outros Comunidade de software livre Conselhos participativos: idoso, deficientes, saúde OSCIPs e ONGs de assistência social Agente de saúde CRAS Despachantes e advogados Conselho municipal de saúde Conselho nacional de saúde W3C ABNT Comissões de padronização Lingüistas Entendemos que a listagem da primeira coluna apresenta uma natureza bastante marcante dentro do escopo do projeto, uma vez que foram lembrados tanto pelos especificadores do sistema, como em conjunto, pelos integrantes da oficina. O grupo, no total, citou e discutiu 42 elementos, sendo que destes, 10 já faziam parte das especificações. Doze novas partes interessadas foram lembradas e compõem a última coluna. Todos estes elementos em conjunto nos permitem visualizar com maior clareza a amplitude e o impacto das soluções a serem buscadas e servem de base para a análise seguinte (Quadro de Avaliação). Análise do Quadro de Avaliação Após o levantamento das partes que direta ou indiretamente influenciam ou sofrem a influência do sistema, o grupo levantou questões/problemas relacionados às partes interessadas e possíveis soluções. O Quadro de Avaliação resultante da oficina está representado na Figura 2, na forma em que foi produzido. 8 Figura 2. Quadro de Avaliação resultante da 1ª Oficina. 9 As questões/problemas levantadas pelo grupo participante da oficina foram classificadas em categorias para evidenciar os tópicos de maior impacto para o grupo. A Tabela 2 apresenta as categorias identificadas, exemplifica os achados na coluna dois e sintetiza as contribuições da discussão e as soluções apresentadas pelo grupo na coluna de comentários. Tabela 2. Uma Categorização das questões/problemas. Categoria Questões/Problemas Invisibilidade social dos analfabetos e sua pouca organização como comunidade Diversidade de usuários Desempenho e escalabilidade da solução de interfaces Diversidade cultural e regional entre usuários Adaptação à comunidades indígenas e quilombolas Como evitar que a interface seja particularizada p/ os dois serviços dificultando a adição posterior de outros serviços? Desempenho e escalabilidade O usuário não conseguir utilizar o serviço. Interface e interação não amigáveis Pressão de fornecedores de plataforma e/ou tecnologias assistivas para mudanças de especificação Implementação da solução de interfaces Limitação técnica de codificação diante da solução de interface adequada. Ex: poucas ferramentas livres para surdos Desde que as definições dos serviços já estão fechadas (casos de uso já definidos), como os resultados dos parceiros pesquisadores podem entrar (novos requisitos/necessidades dos usuários) OO O Fragilidade da segurança do sistema Segurança (uso/dados) e privacidade Guarda de dados biométricos e o estabelecimento de confiança da população nesta guarda c/ privacidade MEDO! do desconhecido da tecnologia Fornecimento do cadastro dos pacientes/ trabalhadores aos gestores do sistema (questões de privacidade dos dados) Falha de autenticação Comentário A diversidade cultural de usuários, bem como as especificidades dos diferentes grupos de usuários potenciais foram ressaltadas pelo grupo como as questões mais desafiadoras. Como possíveis soluções, o grupo destacou a necessidade de adaptação de tecnologias assistivas para atender a analfabetos e também tornar disponível conteúdo localizado. Ainda, foi mencionada a definição de prioridades na adequação das especificações dos serviços. A parceria com os CRAS foi sugerida para mediação e mobilização das comunidades onde o analfabetismo é grande. O modelo de interação a ser definido no projeto deve permitir que a solução de interfaces possa ser aplicada a outros serviços (escalabilidade da solução de interfaces). Além disso, o modelo deve contemplar requisitos de usabilidade e acessibilidade adequados ao público-alvo (desempenho da solução de interfaces). Para essas questões o grupo apontou para a necessidade de flexibilidade na solução de interface, foco local x global. O surgimento de novos requisitos decorrentes de um maior entendimento das necessidades dos usuários e também de limitações advindas das tecnologias assistivas disponíveis no mercado foi uma das preocupações do grupo relacionadas à implementação da solução de interfaces. Além dessa, a limitação técnica de codificação da solução também se mostrou uma preocupação. Como possíveis soluções, o grupo sugeriu o desenvolvimento de novas ferramentas assistivas em software livre, e também novas tecnologias de hardware e software para o público-alvo. Questões relacionadas ao medo dos usuários com relação ao uso de TICs, especialmente aquelas que guardam e usam dados biométricos para identificação (segurança no uso) foram levantadas pelo grupo. Também, questionou-se o fornecimento de informações pessoais dos usuários aos gestores do sistema (privacidade). Além dessas preocupações, o grupo alertou para possíveis falhas do sistema, tanto de autenticação (usuário não ser reconhecido, o que também impacta em segurança no uso), quanto de segurança dos dados. 10 Categoria Conteúdo Questões/Problemas Solução para diversidade cultural e regional: disponibilização de conteúdos de saúde que sejam de interesse local/regional. Obs: isto leva a um problema de configuração de conteúdo para cada local. Dificuldade em definir quais informações de saúde o usuário necessita e/ou tem interesse Dificuldade em buscar as informações que deseja/ precisa. Não saber quais benefícios/ informações pode conseguir Relação dos usuários com os serviços Desinteresse do usuário no uso do serviço Resistência do INSS e outras instituições governamentais em adotar o STID (comunidade) Relação entre parceiros / partes interessadas Falta de suporte (divulgação, infra-estrutura, etc) da parte de parceiros Traduzir os termos jurídicos para a interface Conteúdos devem ser atualizados constantemente. Falta de ferramenta para adequação “automática” de linguagem é um grande dificultador Utilização do telecentro exclusivamente para outros fins que não os serviços do STID Sistema bloqueia o “jeitinho brasileiro” Resistência da Secretaria de Saúde Municipal e dos médicos em adotar o sistema de marcação de consultas antecipado Falta de parcerias Corte da verba do projeto Comentário Foram levantadas como questão/problema: a necessidade de se definir quais informações devem estar disponíveis, como as informações serão atualizadas, e o padrão de linguagem a ser adotado. Como possível solução, o grupo apontou para a necessidade de definição de limites do que pode ser disponibilizado como conteúdo. O desinteresse do usuário no uso dos serviços, bem como a falta de informações sobre o que é possível fazer no sistema, foram levantados como problemas. Também foi levantada a questão da aplicação a ser desenvolvida bloquear caminhos alternativos que muitas vezes acontecem na maneira como o serviço é oferecido hoje. A utilização do telecentro para acesso a outras aplicações foi classificada como um problema (uma vez que as outras aplicações podem não estar preparadas para os perfis de usuário do projeto), mas também como uma solução, uma vez que o uso de outras aplicações pode atrair a população para os telecentros. Outras soluções também foram destacadas, como campanhas de divulgação, conscientização da população e comunidades locais para a necessidade dos serviços, bem como o treinamento de atendentes e a divulgação em festas locais e mídias de massa. A resistência de instituições governamentais, tanto em nível municipal quanto federal, foi ressaltada como um potencial problema. Além desse, a possibilidade de corte na verba do projeto, a falta de parcerias e mesmo a falta de suporte por parte dos parceiros foram apontadas. Como possível solução, o grupo ressaltou a possibilidade de negociar com as instituições governamentais uma adoção gradativa dos serviços. Com relação às parcerias, apontou-se a possibilidade de envolvimento de trabalho voluntário e a disponibilização das informações coletadas. 11 Categoria Questões/Problemas Descontinuidade dos padrões e normas Normas Não compatibilidade e não observação das normas de padronização As normas W3C podem não ser suficientes para garantir uma boa usabi-lidade das interfaces As normas relativas a linguagem dos órgãos de governo podem discordar das orientações de linguagem que resultarem do STID Contínua mudança de leis e normas governamentais Comentário A relação entre os requisitos do projeto para soluções de interface e normas foi bastante discutida pelo grupo, levando à percepção de que as normas W3C podem não ser suficientes para garantir a usabilidade das interfaces. Também se percebeu que o padrão de linguagem adotado por órgãos públicos pode discordar daquele que será estabelecido no projeto. Outra preocupação diz respeito à descontinuidade e/ou modificações de padrões e normas. Como soluções para esses problemas, o grupo apontou a necessidade de se achar um ponto de equilíbrio entre as normas W3C e os requisitos de usuário e também a possibilidade dos resultados do projeto poder trazer contribuições para o próprio processo de normatização. A categorização das questões/problemas levantadas durante a 1ª Oficina permite observar quais os tópicos que mais preocupam o grupo. Com base nos problemas apontados em cada categoria, a segurança (uso/dados) e privacidade, a relação entre parceiros/ partes interessadas, e as normas foram os tópicos com mais questões associadas (quinze problemas apontados). Em seguida, com doze problemas, tem-se o conteúdo e a relação dos usuários com os serviços. Por fim, com nove problemas, estão o desempenho e a escalabilidade da solução de interface, a implementação da solução de interface e a diversidade de usuários. Visão dos Participantes para o STID A última atividade da Oficina coletou descrições dos participantes para o projeto, em função da discussão realizada e dos resultados registrados nos artefatos. A Figura 3 a seguir ilustra as contribuições na forma em que foram realizadas. A concepção dos participantes após a oficina revela: Visões gerais do problema, do projeto, e das soluções de interface buscadas [descrições 1,2,3]. Destacamos a referência ao público alvo [2]: “(...) direcionado para usuários com diferentes tipos de deficiência, (...)” , e aos serviços de governo eletrônico: “(...), inicialmente voltado para serviços de saúde e aposentadoria fornecido por instituições governamentais.”. Vale notar também o conceito de inclusão tomado em sentido mais amplo [3]: “(...) Inclusão de pessoas, cidadãos não só no uso de TI, mas na sociedade atual como um todo, (...)”. • • Reconhecimento do desafio que o projeto coloca [descrições 4,5,6] Reconhecimento da inovação necessária nas soluções de interface e interação [descrições 7,8,9]: Destacamos a referência à busca de soluções que sejam centradas na necessidade/ perfil de usuários [7], flexibilidade da solução [8], repensar [o conceito de] interfaces digitais para a sociedade brasileira [9]. • • O que se espera e o impacto social almejado [descrições 10, 11, 12, 13] Destacamos o papel do sistema, via suas interfaces como “facilitador, auxiliador, promover a conscientização do uso da tecnologia e cidadania” [13] 12 11 2 7 8 12 3 13 1 9 6 10 0 4 5 Figura 3. Concepção dos participantes da Oficina para o Projeto DISCUSSÃO Além das questões levantadas pelo grupo para as Partes Interessadas, presentes no Quadro de Avaliação gostaríamos de ressaltar e discutir brevemente outras questões/problemas que entendemos também pertinentes ao design de uma solução de interface e interação no escopo do STID: • Escassez de métodos e artefatos para inclusão de pessoas analfabetas Analfabetos plenos e funcionais fazem parte, explicitamente, do conjunto de usuários-alvo do projeto STID. A literatura científica tem iniciado recentemente a discussão sobre possibilidades de soluções para o acesso de pessoas analfabetas ao uso de TICs em geral, e mais especificamente a serviços de governo eletrônico; a Parte II deste relatório apresenta e discute o estado da arte no tema. Assim, a proposta de interfaces para esse público exige avanços em pesquisa. Entendemos que a participação de pessoas com esse perfil no processo de design de soluções de interface pode corroborar para uma solução que atenda aos requisitos de inclusão. Como reunir as soluções de design de interfaces com a proposta de linguagem do conteúdo dos serviços? Para que a proposta de inclusão do projeto STID seja alcançada, além de soluções de design de interfaces, o conteúdo das aplicações que serão desenvolvidas tem papel relevante, como apontado nos resultados da Oficina. Caso o conteúdo não esteja acessível, mesmo sendo possível ao usuário chegar até ele via interface, sem compreendê-lo e usá-lo na tomada de • 13 decisões, a proposta de inclusão não se concretiza. Assim, os estudos lingüísticos que estão sendo realizados no âmbito do projeto devem se somar à solução de design de interfaces. Aqui, ressalta-se a necessidade de se pensar em como esse processo de integração será realizado. Será permitido que outra pessoa utilize as aplicações no lugar do principal interessado? Se sim, como tratar questões de adaptação das interfaces e segurança dos dados? O uso de um documento de procuração é uma possibilidade vigente no sistema jurídico e aceito para a requisição de alguns serviços públicos como a solicitação de aposentadoria. Uma vez que o serviço passe a ser oferecido por meio de uma aplicação computacional, tem-se a questão de como tratar o usuário-procurador. Em um sistema com interfaces flexíveis e que respondem às necessidades de um determinado perfil de usuário existe a necessidade de se clarificar como será a relação entre o sistema e usuário-procurador, tanto do ponto de vista de cadastro, interação com a aplicação, bem como acesso aos dados. • Como integrar o uso da aplicação a ser desenvolvida no âmbito do projeto STID com o uso de outras aplicações complementares (que não serão substituídas) já presentes na dinâmica de trabalho dos usuários secundários? A aplicação a ser desenvolvida para o serviço de saúde prevê como usuários secundários médicos e outros funcionários do sistema de saúde. Alguns desses usuários já interagem, em seu cotidiano de trabalho, com aplicações computacionais que podem complementar o uso do Acessa Saúde. Ressalta-se aqui a questão de como minimizar o esforço do usuário, por exemplo, na consulta ou transposição de dados entre as aplicações. • Ao identificar as Partes Interessadas no sistema em discussão e conhecer seus principais problemas, estamos também buscando identificar as fontes de requisitos de interface e interação para o sistema, como foi bem interpretado por um dos participantes da Oficina. Portanto, embora o objetivo desta primeira Oficina não tenha sido a identificação de requisitos, cabe aqui uma breve discussão sobre os achados relacionados aos itens 1.5.1 a 1.5.5 da proposta (1.5. Requisitos da interface em relação a seus usuários finais). Vale lembrar que estes mesmos itens são discutidos na Parte II deste relatório com base na literatura científica. 1.5.1. Considerar o público-alvo em suas especificidades culturais, cognitivas, sensoriais, etárias e de experiência com TICs. Recorrer, sempre que possível, a elementos de interface que atendam concomitantemente a mais de uma necessidade: por exemplo, animações e ícones desenhados para deficientes auditivos e analfabetos, e comunicação multimodal. e 1.5.4. Oferecer aos usuários um portal de entrada cujas características (cores, tamanho, volume) sejam adaptáveis, e o qual seja concebido para veicular informação multimodal (textual, sonora, gráfica e em vídeo). De fato, a consideração da diversidade do usuário foi discutida na Oficina e apontada como o principal desafio das soluções de interface a serem construídas. Não foram apontadas soluções pontuais específicas a esse desafio como preconizam 1.5.1 e 1.5.4, mas foi constatada a necessidade de se buscar uma solução flexível. Foi apontada a inexistência de software e hardware específicos ao público-alvo e a necessidade de tecnologias assistivas em software livre, que dêem conta dessa diversidade. 1.5.2. Cadastrar as características e o perfil de uso (nível de letramento, tipo de deficiência, mão dominante, etc.) de cada usuário do sistema e personalizar as interfaces, as interações e o portal de entrada do usuário conforme essas informações de forma a melhor atender suas necessidades, podendo para isso incluir ou remover aplicações, alterar tamanhos cores e de fontes, habilitar ou desabilitar sons, alterar a posição do mouse, etc. e 14 1.5.3. Possuir recurso simples e robusto de autenticação de usuário, se necessário por parâmetros biométricos, a fim de configurar automaticamente as interfaces conforme as características pessoais e necessidades especiais de cada usuário, sem exigir dele um demasiado esforço cognitivo e de memorização de senhas. Com relação ao cadastro, à identificação e autenticação do público alvo no sistema, surgiram discussões extremamente relevantes relacionadas à questão de soluções envolvendo biometria e fatores humanos relacionados à confiança no sistema e privacidade de dados, especialmente no contexto de governo. Os resultados da discussão na Oficina sugerem não haver clareza sobre o impacto das soluções existentes no público alvo do projeto e recomendam investigações a respeito. 1.5.5. Atender aos padrões de usabilidade e acessibilidade do W3C e oferecer ferramentas assistivas que contemplem as necessidades específicas das diversas categorias de usuário que constituem seu público-alvo. Esse foi um aspecto bastante discutido na Oficina. Ficou claro entre os participantes que as recomendações do W3C podem não ser suficientes para garantir uma boa usabilidade da interface do sistema; por outro lado, a não observação das normas pode gerar problemas; há ainda a considerar a questão de descontinuidade de padrões e normas. Houve consenso no grupo de participantes da necessidade de se buscar, nas soluções de interface, um equilíbrio entre o que preconiza a W3C e as necessidades do público alvo. REFERÊNCIAS Baranauskas, M. C. C., Schimiguel, J., Simoni, C. A. C., Medeiros, C.M.B. (2005) Guiding the Process of Requirements Elicitation with a Semiotic Approach In: Proceedings of The 11th International Conference on Human-Computer Interaction. Las Vegas: Lawrence Erlbaum Ass. , Inc., v.3. p.100 – 111 Bonacin, R., Simoni, C. A. C., Melo, A. M., Baranauskas, M. C. C. (2006) Organisational Semiotics: Guiding a Service-Oriented Architecture for e-Government In: Proceedings of the International Conference on Organisational Semiotics. Campinas, SP, Brasil: IDB Impressão Digital do Brasil, Gráfica e Editora, v.1. p.47 - 58 Liu, K., 2000. Semiotics in Information Systems Engineering, Cambridge University Press Liu, X., 2001. Employng MEASUR Methods for Business Process Reengineering in China, PhD Thesis University of Twente. The Netherlands: Grafisch Centrum Twente, Enschede Stamper R. K., 1993. Social Norms in requirements analysis – an outline of MEASUR. In Requirements Engineering, Technical and Social Aspects. Academic Press 15 Parte II Levantamento da Literatura - público alvo e soluções existentes OBJETIVO Um problema tão complexo como o objeto desse projeto exige um levantamento do estado da arte sobre outros projetos e soluções sendo estudadas em outros contextos assemelhados em outras partes do mundo. Esta parte do relatório apresenta um levantamento da literatura para resultados de pesquisa que envolvem de alguma maneira as características do público-alvo do projeto e soluções propostas para seu atendimento. Guardadas as dimensões de contextos culturais e sócioeconômicos diferentes que encontramos nesses trabalhos, essa síntese é necessária para um entendimento mais amplo das particularidades que encontramos no contexto do STID. Com base nesse levantamento da literatura, o relatório também discute os aspectos listados no item 1.5 da Proposta Comercial (Requisitos da interface em relação a seus usuários finais). MÉTODO No levantamento da literatura buscamos preferencialmente artigos científicos recentes (últimos 5 anos) e significativos para o tema em questão, selecionados de revistas científicas internacionais e/ou conferências científicas qualificadas (ACM, IEEE, IFIP, por exemplo). Orientamos a busca e classificamos as contribuições da literatura de acordo com três principais temáticas: T1: Acesso do cidadão ao conhecimento via tecnologias: países em desenvolvimento & países desenvolvidos - Projetos, Métodos e/ou Tecnologias. Neste tópico reunimos contribuições que exploram o problema do acesso ao conhecimento em contextos de grupos sociais específicos. As contribuições tratam de projetos, métodos e/ou tecnologias específicos para o grupo considerado. T2: Implicações para o modelo de interação de soluções utilizadas em outros artefatos e outras mídias Neste tópico reunimos contribuições que mostram soluções utilizadas em outros artefatos tecnológicos e mídias (telefone celular, por exemplo) que poderiam ser consideradas em aplicações web no contexto do projeto. T3: O usuário com baixo letramento, o cego, o surdo: soluções tecnológicas para acesso a TICs Neste tópico reunimos contribuições que apresentam soluções tecnológicas (ferramentas, artefatos, aplicações) para o acesso dessa categoria de usuário às TICs. RESULTADOS Foram levantados 59 trabalhos científicos dos quais selecionamos para síntese neste relatório os 25 mais relevantes ao contexto do problema sendo tratado. O levantamento e a análise da literatura foram norteados pelos desafios inerentes à criação de aplicações de governo eletrônico (eGov) com respeito ao contexto nacional brasileiro, à diversidade da população brasileira e aos requisitos especiais de aplicações de eGov (Hornung e Baranauskas 2007). A Tabela 1, a seguir, sumariza a literatura principal destacada. 16 A primeira coluna apresenta a chave da referência encontrada, a segunda coluna a(s) categoria(s) em que a referência apresenta uma contribuição; indicamos também o foco do trabalho e a categoria de usuário que mais se beneficiaria da solução abordada. A terceira coluna mostra uma síntese dos resultados principais da referência e a última coluna uma avaliação de quais resultados são potencialmente relevantes para o projeto e/ou quais resultados são interessantes mas precisariam ainda ser validados e/ou adaptados para o contexto do projeto. Os resultados considerados não relevantes são acompanhados de uma justificativa. As referências na categoria T3 que abordam soluções para usuários com deficiência visual foram selecionadas de forma que também pudessem trazer benefícios para usuários com baixo letramento. Tabela 1. Síntese da Literatura Referência Categoria Síntese Comentário Biasiotti e Nannucci (2005) [T1 e T3] Acesso à informação e ao conhecimento O problema abordado pelos autores é certamente importante. Apesar de “ABC del diritto” ser um serviço voltado ao cidadão, segundo o artigo o cidadão parece ter sido envolvido no processo de design apenas na fase de testes de usabilidade. O nosso entendimento é que a elaboração de linguagem e vocabulário acessíveis demanda maior participação do cidadão. Além disso, entendemos que o serviço deveria apresentar as informações de forma acessível em primeiro plano. Os textos de leis originais poderiam ser acessados em um segundo plano (por exemplo, por especialistas do domínio). Pilling Boeltzig (2007) [T1 e T3] Acesso à informação e ao conhecimento As informações disponibilizadas na Internet pelo governo freqüentemente são escritas usando uma linguagem e um vocabulário que o cidadão não entende. Também, a quantidade de informação complica a identificação do conteúdo realmente relevante em uma situação específica. Os autores apresentam “ABC del diritto” (“ABC do Direito”), uma aplicação web na Itália, que busca ser orientada ao cidadão e que provê tanto um glossário de termos do domínio das leis quanto explicações de conceitos legais básicos. A aplicação é atualmente executada como um serviço adicional no portal NormeinRete. Os autores apresentam cinco categorias de estratégias de iniciativas dos EUA e do Reino Unido que visam aumentar a inclusão digital. Duas das categorias identificadas são estratégias para a promoção do letramento digital e para a promoção da acessibilidade e usabilidade de serviços de eGov. Partindo da descrição das estratégias os autores extraem diretrizes e recomendações, entre outros: “criar um ambiente de aprendizagem agradável e prover oportunidades de treinamento informal”, “tornar o acesso acessível” e “melhorar usabilidade da Internet e de serviços de eGov”. e Além de ser bem geral, não fica claro como implementar as diretrizes e recomendações propostas. Por exemplo quanto ao acesso, os autores mencionam “iniciativas” que ajudam pessoas com deficiências a escolher e obter tecnologias assistivas adequadas. Mais além eles falam de política pública para promover o acesso a tecnologias assistivas com preços acessíveis. É uma contribuição no nível de políticas públicas, fora do escopo do projeto. 17 Referência Pretorius e Bosch (2003) Categoria [T1 e T3] Acesso à informação e ao conhecimento; Baixo Letramento Síntese Comentário A África do Sul é um país multilíngüe, com 11 línguas oficiais onde muitas dessas línguas são nativas. Os autores exploram a possibilidade de utilizar morfologia computacional para construir aplicações de processamento de linguagem natural para contemplar línguas nativas marginalizadas e para aumentar o letramento do cidadão. Exemplos de aplicações em questão são lexicons, dicionários e sistemas de tradução automática. O caso brasileiro é diferente do cenário da África do Sul. Embora existam várias línguas indígenas no 1 Brasil (181 atualmente ), o Português é a língua oficial (artigo 13 da Constituição Federal Brasileira), além de LIBRAS que é a língua oficial de 2 sinais (Língua Brasileira de Sinais ). Entendemos que aplicações de governo eletrônico devam utilizar as línguas oficiais do país. Em nosso caso, os benefícios da abordagem de Pretorius e Bosch provavelmente não justificam o custo. 1 Abascal Nicolle (2005) e [T1] Guidelines de design inclusivo A maioria dos designers não tem experiência prévia no design de sistemas para pessoas com deficiências. Mesmo que estejam conscientes do “design para todos” ou da necessidade de cumprir a legislação, eles podem ter dificuldades e não saber como fazer. O artigo apresenta uma primeira abordagem ao design de guidelines socialmente e eticamente conscientes a partir da experiência dos autores e da literatura. Eles mostram a geração de guidelines para o caso específico de design para idosos com demência na Comunidade Européia. http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v5 7n2/a18v57n2.pdf 2 sancionada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a Língua Brasileira de Sinais é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão entre as comunidades de pessoas surdas no Brasil. O Decreto de Dezembro de 2005, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, regulamenta a Lei, no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Embora o trabalho seja direcionado a um publico alvo que não é o do projeto em questão, as guidelines de design inclusivo propostas podem ser úteis, se situadas e adaptadas ao contexto do projeto. 18 Referência Brewster 1998 Eiriksdottir et al. 2006 Leahy et. al. (2003) Categoria [T2] Deficiência visual e Baixo Letramento [T2] Deficiência visual e Baixo Letramento [T2] Interfaces multimodais Síntese Comentário “Earcons” são mensagens de áudio não faladas, estruturadas e abstratas que fornecem “dicas navegacionais” em uma hierarquia de menus. Experimentos mostraram que earcons facilitam a localização de itens em menus hierárquicos. Participantes ainda se lembravam dos earcons mesmo uma semana depois de terem sido aprendidos. Uma proposta do uso dos earcons são interfaces baseadas em telefones. Earcons são tons musicais abstratos, que podem ser utilizados de forma estruturada e combinados para criar mensagens sonoras representando partes da interface. Como na referência anterior, estes resultados poderiam ser considerados para o caso de aplicações web e poderiam beneficiar usuários com baixo letramento ou deficiência visual. Os autores investigam o uso de menus auditivos em celulares e conduzem experimentos para determinar fatores como velocidade de fala e gaps entre itens do menu. Em geral, eles consideram menus auditivos como uma alternativa viável a menus textuais. Os valores ótimos de fatores como velocidade da fala ainda precisam ser definidos. A velocidade tem que ser lenta o suficiente para a fala poder ser compreendida, mas rápida o suficiente para evitar frustração. Resultados experimentais indicaram que apresentações visuais com audio foram superiores às apresentações visuais equivalentes quando nem o material visual nem o material em audio poderiam ser entendidos isoladamente. O experimento também demonstrou que texto não essencial, apresesentado oralmente com texto similar escrito em um diagrama atrapalhou o aprendizado. Em interfaces onde a informação está apresentada nos modos auditivo, textual e visual, a performance do usuário é altamente dependente da complexidade da tarefa e da redundância de informação. Porém, como a frequência de uso de muitos serviços de eGov provavelmente é menor do que a considerada no trabalho, muitos earcons poderiam ser esquecidos pelos usuários, sendo necessário mais pesquisa para determinar os benefícios reais desse tipo de solução. O contexto deste artigo é o uso de menus auditivos (dirigidos pelo artefato) em telefones celulares, mas a abordagem pode ser considerada para interfaces de aplicações web também. Apesar de já existirem leitores de tela e outras ferramentas de acessibilidade, usuários com baixo letramento ou deficiência visual e sem experiência prévia com leitores de tela poderiam se beneficiar diretamente de menus auditivos em interfaces de aplicações web. Com base na teoria da carga cognitiva, o artigo investiga as condições sob as quais instrução audio-visual pode ser uma técnica efetiva. O artigo sugere usar os diferentes modos (áudio, texto, imagem) numa maneira não redundante para atingir uma performance ótima. Porém, como o nosso publico-alvo abrange usuários com baixo letramento e analfabetos, acreditamos que um certo grau de redundancia será necessário. Para aliviar os efeitos negativos abordados no artigo, a complexidade das tarefas deve ser mantida baixa o suficiente. 19 Referência Categoria Nylander et al. (2005) [T2] Waichman et al. (2007) [T2] Ahmed Seong (2006) [T2] Deficiência auditiva e Interfaces multiartefato Baixo letramento Síntese Comentário Não é incomum as pessoas usarem vários artefatos de provedores diferentes para o mesmo propósito, para por exemplo gerenciar informação de calendário. Para facilitar o casamento de serviços e artefatos, provedores de serviços necessitam criar serviços que possam se manifestar em muitos artefatos diferentes. O artigo apresenta uma especificação abstrata da interação usuário-serviço chamada “atos de interação”. A especificação é aplicada para interfaces baseadas em voz. Os autores identificam as diferenças principais entre interfaces baseadas em voz e interfaces gráficas. Atos de interação são unidades para descrição da interação usuário-serviço sem qualquer informação sobre formas de apresentação. Os resultados apresentados no artigo são úteis a soluções que envolvem o uso de vários artefatos, não tendo uma relevância imediata no escopo de nosso projeto. Porém, as diferenças identificadas entre interfaces auditivas e interfaces visuais são úteis ao apontar para potenciais problemas que devem ser levados em consideração. Pictogramas auto-explicativos são percebidos pelos fornecedores como uma ajuda no entendimento dos riscos do uso de pesticidas para aqueles com habilidades de leitura limitadas. O artigo examina o uso de pesticidas por trabalhadores rurais na Amazônia do Brasil. O estudo de caso investiga como os trabalhadores interpretam textos e símbolos nas etiquetas das embalagens e se a leitura depende de fatores como escolaridade, idade, tempo de uso, etc. Embora o artigo não tenha relação direta com TICs, dá algumas indicações sobre a importância de uso de cores, símbolos, vocabulário e linguagem adequados ao público alvo; naquele caso específico no domínio agrícola com trabalhadores rurais e pequenos agricultores. Os autores apresentam “SignWriting” um sistema de escrita para língua de sinais e como isso pode ser empregado em telefones celulares. Mesmo que interessante, os resultados não têm uma relevância imediata para o projeto. Existem vários sistemas de escrita para língua de sinais e não há consenso na comunidade de surdos para um sistema. Além disso, os usuários surdos teriam que aprender essa notação. Como a porcentagem de analfabetos ou analfabetos funcionais ouvintes no Brasil é muito alto, uma notação como o SignWriting poderia resultar em porcentagens comparáveis com relação aos surdos. 20 Referência Categoria Síntese Comentário Cavender et. al (2006) [T2] Deficiência auditiva Os autores exploram o problema de como fornecer vídeos em língua de sinais para usuários de celulares de uma forma “legível” considerando as limitações desse dispositivo (largura de banda, tamanho de tela). MobileASL é um projeto de compressão de vídeo que busca possibilitar comunicação sem fio no celular através de linguagem de sinais. Os resultados podem ser interessantes caso o projeto decida usar vídeos em língua de sinais em vez de um avatar. Entretanto também devemos considerar as limitações de largura de banda e tamanho de tela (o vídeo não pode ocupar a tela inteira). Dicke et al. 2007 [T2] Deficiência visual e Baixo Letramento Este artigo mostra um estudo de uso simulado de telefone celular em um simulador de direção automobilística. O uso de interfaces espaço-auditivas com a metáfora do anel são comparados com interfaces visuais. Nas interfaces espaçoauditivas o usuário fica no centro de um anel horizontal com 6 fontes de som. Um experimento mostra que esse tipo de interface não é melhor, mas é mais efetivo do que uma interface visual, i.e. usuários são mais distraídos e cometem mais erros quando usando uma interface visual. As interfaces auditivas usadas neste estudo oferecem uma alternativa efetiva para as interfaces visuais clássicas usadas atualmente nos carros. No contexto de nosso trabalho essa abordagem provavelmente não seria viável. Por um lado o artigo apresenta um estudo piloto, o que significa que muito trabalho terá que ser feito ainda para que essa tecnologia alcance a maturidade suficiente. Por outro lado, como o ambiente-alvo de nossa solução são telecentros, a interface teria que ser manuseada com fones de ouvido e placas de som com "surround sound". No momento da escrita desse relatório isso seria um fator adicional de custo que não pode ser ignorado. Huenerfauth (2002) [T3 e T1] Baixo letramento Huenerfauth propõe recomendações de design de interfaces para usuários não letrados em 3 níveis: princípios, guidelines e especificações de design. O contexto envolve dois estudos de caso (informação sobre saúde, busca de emprego) em áreas rurais na Índia usando o Simputer (dispositivo handheld indiano de baixo custo com touchscreen). A lista de recomendações inclui desde itens gerais (página inicial com conteúdo baseado em tarefas) até itens específicos aos serviços elaborados (entrada de informação geográfica). Como o contexto nacional é a Índia rural e o dispositivo investigado o Simputer, precisa-se verificar se as recomendações valem no contexto de telecentros brasileiros. Já o uso do touchscreen impõe algumas limitações, porque não oferece muitas opções de acessibilidade. Além disso, algumas das recomendações do Huenerfauth contradizem princípios de design (por exemplo, design minimalista e não sobrecarregado versus “A tela deve antecipar tantas tarefas e tantos pedidos quanto possível. Notificações de e-mail, mensagens do sistema, ou respostas de serviços anteriormente pedidos devem ser apresentados bem destacados nessa página”. Huenerfauth (2002), p. 104f., tradução nossa). 21 Referência Categoria Síntese Comentário Martins et al. (2003) [T3 e T1] Baixo letramento O artigo discute um sistema para a avaliação dos níveis de letramento de Brasileiros jovens adultos. O projeto iniciou-se com o desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação diagnóstica de níveis de alfabetismo. A proposta era usar o computador como um veículo de avaliação objetivo, que pudesse ser amplamente utilizado, no sentido geográfico, dependendo o mínimo possível de um educador. O sistema usa uma interface sem elementos “ativos” como barra de rolagem, menus ou ícones clicáveis. Informação textual está formatada em letras maiúsculas usando uma gramática simplificada da língua portuguesa (não usar voz passiva, etc.). Adicionalmente, instruções são também fornecidas verbalmente. A interação é feita via um teclado com teclas pintadas, sempre usando as mesmas teclas para ações semelhantes. Quanto às informações visuais, os autores deram a preferência a fotos ao invés de desenhos. Como nos casos de Medhi et. al (2006) e (2007), o artigo fornece uma base para a extração de algumas diretrizes. Porém os resultados a respeito do uso de informação visual (fotos versus desenhos) estão em desacordo com os resultados de Medhi et. al. Uma explicação para isso pode ser relacionada tanto a aspectos metodológicos (escala da investigação, estatísticas, etc) dos trabalhos quanto aspetos culturais dos contextos dos estudos de caso. Em síntese, essa questão do uso adequado de informações visuais terá que ser mais investigada. Medhi et al. 2007 [T3 e T1] Baixo Letramento O artigo elabora a questão de como diferentes conceitos podem ser representados áudio-visualmente para usuários analfabetos e com baixo letramento. Os resultados principais são que voz é um fator importante, informação graficamente mais rica não necessariamente significa melhor entendimento, e o entendimento de informação estática (i.e. desenhos, fotos) versus dinâmica (i.e. animações, vídeos) depende de várias fatores. O artigo compara 10 diferentes espécies de representações – texto, desenho estático, fotografia, animações feitas à mão, e vídeo, cada uma também anotada por voz – para ver quão compreensível eram à audiência não letrada. O artigo mostra alguns resultados interessantes. Porém, como o contexto social é o da Índia e muitas representações gráficas têm uma forte dependência cultural, os resultados terão que ser validados e adaptados ao contexto brasileiro. 22 Referência Plauché e Prabaker (2006) Chand e Dey (2006) Categoria [T3 e T1] Baixo letramento [T3 e T1] Letramento digital Síntese Comentário “Tamil Market” é um sistema relacionado à área de agricultura, desenvolvido para centros comunitários na Índia rural. O sistema é tal que os habitantes da zona rural são capazes de navegar através de sistema de diálogo usando sua voz, independente de nível de letramento e experiência prévia com tecnologia. Os autores propõem um sistema com entrada por fala para acessar informações do mercado, previsões de tempo e outros dados ambientais. O sistema sempre explicitamente solicita a entrada do usuário e usa estruturas redundantes e um conjunto prédefinido de palavras de comando. Um spoken dialog system (SDS) é operado pelo telefone por voz independente da proximidade com o centro da vila e letramento. Para os nossos serviços o conjunto de palavras necessário pode crescer muito. Além disso, as palavras de comando teriam que ser aprendidas e memorizadas pelos usuários. Como a maioria dos usuários provavelmente não usará os serviços diariamente, seria difícil memorizar todas as palavras de comando. “Jadoo” é uma interface de usuário baseada em papel para uso de pessoas com baixo letramento em quiosques no contexto da India. O sistema envolve um gravador de macros e visa apoiar tarefas simples como “ler primeiro email na caixa de entrada”. A macro, denominada “web leaf”, precisa ser gravada por um usuário intermediário (“expert user”). Uma web leaf contém um código de barra e uma descrição da tarefa com texto e imagem. O usuário novato usará um leitor de códigos de barras para executar a tarefa desejada. O artigo apresenta uma solução simples para executar tarefas simples e recorrentes. Nesse sentido parece ser uma solução que pode quebrar algumas barreiras no acesso ao computador por usuários novatos. Porém muitos serviços de eGov não consistem de tarefas simples ou estáticas, e com exceção de funcionalidades como “consultar processo” não são recorrentes. Como esse tipo de solução não privilegia o aprendizado de competências digitais ao usuário, enxergamos pouco potencial para o nosso contexto. Ainda, mesmo que um conjunto prédefinido de palavras de comando válidas possa aliviar problemas no reconhecimento de fala comparado a palavras aleatórias, outros problemas permanecem (por exemplo, ruído). Além dos aspetos técnicos tem um aspecto ainda mais grave no contexto de sistemas de eGov: o requisito nãofuncional de privacidade (por exemplo: “informação de saúde” -- sistema: “informe o tipo de doença sobre o qual você precisa de mais informações” -usuário: “xxxx”). 23 Referência Categoria Síntese Comentário Akan et al. (2006) [T3] Baixo letramento O artigo apresenta um estudo de caso sobre o design de uma ferramenta de screening para o atendimento básico de saúde de pacientes de zona rural em depressão por abuso de bebidas alcoólicas, analfabetos funcionais e/ou digitais. O estudo piloto é realizado pela Escola de Enfermagem da Universidade de Virginia, EUA (The Rural Health Care Research Center). O sistema é baseado em Macromedia Flash. Um touchscreen é usado como dispositivo de entrada, textos simplificados, imagens e áudio como saída. Embora o contexto nacional (EUA) seja bem diferente do contexto brasileiro, o artigo apresenta soluções que podem ser interessantes ao considerar que o sistema deve evoluir de acordo com as respostas do usuário para customizar o screening e reduzir a redundância nas perguntasrespostas. Medhi et al. 2006 [T3] Com base em lições aprendidas de diversos estudos de campo, os autores chegaram a um conjunto de princípios de design para serem usados como guidelines para interface de usuário “livre de texto”. O trabalho é situado para usuários analfabetos e com baixo letramento na Índia. Os resultados principais são algumas diretrizes como, por exemplo, evitar texto; números podem ser usados; usar imagens semi-abstratas e aumentar fotorealismo com interação mais complexa; usar imagens que indicam ações; na criação de imagens levar em consideração fatores psicológicos, culturais e religiosos; sempre prover feedback auditivo; sempre prover ajuda online. Mesmo que as interfaces em nosso contexto de aplicação certamente não possam ser desprovidas de texto, algumas diretrizes podem ser úteis. Deve-se levar em consideração, entretanto, que a validação e a adaptação das guidelines para o contexto brasileiro estão ainda em aberto. Schnelle Lyardet (2006) [T3] “Voice User Interfaces” são particularmente difíceis de construir devido a sua natureza transiente e invisível. Diferentemente de interfaces visuais, uma vez que os comandos e ações tenham sido comunicados ao usuário, eles não estarão mais lá. Os autores propõem padrões de design para interfaces baseadas em voz. Exemplos de padrões propostos são relativos a: “preenchimento de formulário”, “hierarquia de menu”, “índice” (apresentar para o usuário as opções disponíveis de interação) e “áudio estruturado” (fornecer informações estruturais do texto como título, fonte, etc.). Embora a proposta dos autores vise interfaces com entrada de voz, os padrões podem ser úteis para estruturar a interação de interfaces web com saída de voz e entrada de texto. Assim a solução beneficiaria usuários com baixo letramento ou deficiência visual. Ainda, os padrões podem ser úteis à definição de Persona e ajudar no design de respostas do sistema. e Baixo letramento Deficiência visual e Baixo Letramento 24 Referência Categoria Fajardo et. al (2003) [T3] Deficiência auditiva Kennaway et al. (2007) [T3] Deficiência auditiva Petrie et. al (2004) [T3] Deficiência auditiva Síntese Comentário Este artigo busca respostas a duas questões: se há relação entre processos da memória humana e interação web e se há relação entre surdez, língua de sinais e memória. Os autores definem um modelo cognitivo e propõem uma diretriz de acessibilidade cognitiva: se o conteúdo em um site é principalmente verbal (língua escrita), então as categorias semânticas devem ser distribuídas em tantas páginas quantas categorias existentes. Se isso não for possível, então criar páginas que não excedam a capacidade verbal do usuário com deficiência auditiva. O trabalho visa fornecer em sinais conteúdo de aplicações web, para pessoas surdas que têm a linguagem de sinais como primeira língua. A idéia principal é usar um avatar e uma notação que é independente do avatar. Um browser plugin traduzirá a notação para movimento do avatar. Os autores descrevem limitações severas de sistemas que traduzem texto para a linguagem de sinais: só 25% dos surdos (nesse contexto dos países desenvolvidos (!)) lêem em um nível igual ou superior a uma criança de 9 anos; a tradução automática de uma língua falada para a respectiva língua de sinais tem a mesma complexidade e por isso a mesma qualidade de uma tradução automática de por exemplo inglês para francês; o uso de um avatar tem muitas vantagens ao uso de vídeos. O artigo propõe o uso de Tooltips (TTs) para tornar os icons mais inteligíveis, especialmente para usuários surdos. Foram implementados 4 tipos de TTs para auxiliary os surdos: Sign Language (vídeo curto com figura humana sinalizando a função), Picture (ícone em tamanho grande e texto explicativo da função), Human Mouth e Digital Lips (os dois últimos para leitura labial). Resultados apontaram que TTs do tipo Sign Language e Picture tiveram aceitação positiva. Segundo os autores, o modelo cognitivo e a diretriz ainda necessitam ser validados. Independentemente da validação, os autores levantam uma questão importante: adequar a distribuição do conteúdo verbal em um site às capacidades dos usuários. Porém, mesmo supondo que a diretriz possa ser validada, ela só valeria para as pessoas com deficiência auditiva que são oralizadas. Apesar do contexto do trabalho (países desenvolvidos) alguns resultados são muito importantes. Considerando o ano (2007) e local (ACM TOCHI) da publicação, estamos convencidos da relevância dos resultados. Os resultados mostram as limitações desse tipo de solução. Para resultar em uma qualidade aceitável, o conteúdo sinalizado deve ser prégravado ou pré-sintetizado por especialistas na respectiva língua de sinais; conteúdo dinâmico na página pode ser problemático se ele não segue uma estrutura já conhecida (por exemplo, previsão de tempo, preços de ações na bolsa), porque conteúdo aleatório sintetizado não vai resultar em qualidade ótima. O uso de tool tips relacionado a acessibilidade é interessante e pode ser uma opção adicional a outras opções previstas. Os tools tips podem ser implementados com CSS; uma questão em aberto é a viabilidade de vídeos em tool tips na interface web. Mesmo que tool tips não sejam empregados, uma contribuição do artigo é a preferência de usuários com deficiência auditiva aos vídeos em língua de sinais em vez de rosto humano, lábios digitais ou imagens. 25 Referência Categoria Síntese Comentário A solução apresentada poderia ser implementada com relativa facilidade, por que além do software seriam necessários um microfone e uma placa de som com entrada de áudio. Entretanto, a solução foi apresentada como um protótipo. Detecção de ruído e rotinas de filtragem ainda não estão implementadas, o que significa que o sistema ainda é muito sensível a interferências acústicas. A implementação precisaria ser mais robusta para aplicação no contexto de um telecentro. Outras possíveis deficiências dessa solução: o usuário teria que aprender a manusear o dispositivo; o ruído no telecentro poderia complicar o uso; a questão da entrada de dados textuais de usuários com deficiência física ainda estaria em aberto (embora um teclado virtual pudesse ser usado com o mesmo dispositivo). A ferramenta pode ser usada para acessar visualmente e rapidamente quanto tempo levaria um usuário de um leitor de tela para chegar ao token de conteúdo mais distante em uma página web. Sporka et al. 2006 [T3] Deficiência motora O artigo apresenta uma solução para controlar o apontador do mouse acusticamente. Apresenta o design e implementação de um sistema para controlar o ponteiro do mouse usando sons não verbais como por ex. assobio e humming (cantarolar sem abrir a boca). O sistema pode representar uma alternativa de tecnologia assistiva de baixo custo útil para pessoas com deficiências motoras. Takagi et al. 2004 [T3] Deficiência visual O artigo parte do pressuposto que ferramentas de avaliação de acessibilidade web avaliam o código HTML, mas não levam em consideração que um usuário de leitor de tela poderia demorar muito para chegar a um dado token de conteúdo na página. Os autores propõem uma ferramenta para visualizar a “usabilidade” de páginas web acessadas por usuários com deficiência visual. No contexto do paper “usabilidade” está definida como o “reaching time”, i.e. o tempo necessário para o usuário chegar a um dado token de informação usando um leitor de tela. Referência Categoria Síntese Comentário DISCUSSÃO A literatura levantada e discutida, embora não esgote o assunto, possibilita uma visão geral do estado da arte nas temáticas principais relacionadas ao público alvo e soluções existentes no contexto do projeto STID. Buscamos resultados de pesquisa de nível internacional, divulgados em veículos científicos qualificados, de seleta política editorial. Não nos restringimos a experiências de países em desenvolvimento, embora seja deles a maior contingência de soluções que procuram tratar o problema do baixo letramento em relação ao acesso à TIC. Nesta seção discutimos de forma sintética os achados, com base na literatura, relacionados aos itens 1.5.1 a 1.5.5 da proposta: (1.5. Requisitos da interface em relação a seus usuários finais). 26 1.5.1. Considerar o público-alvo em suas especificidades culturais, cognitivas, sensoriais, etárias e de experiência com TICs. Recorrer, sempre que possível, a elementos de interface que atendam concomitantemente a mais de uma necessidade: por exemplo, animações e ícones desenhados para deficientes auditivos e analfabetos, e comunicação multimodal. A necessidade de se considerar as diferenças - sócio-culturais, sensoriais e de inteligibilidade da informação e de seu veículo – é um pressuposto para as soluções sendo buscadas no escopo do projeto. Entendemos que contemplar na sua maior extensão possível a diferentes habilidades e necessidades dos usuários deve ser o norte a orientar a busca de soluções de IU (interface de Usuário). Nesse sentido, várias referências que destacamos apontam para soluções que poderiam beneficiar concomitantemente pessoas com deficiência visual e baixo letramento: Brewster (1998) apresenta resultados sobre o uso de “earcons”; Eiriksdottir et al (2006) propõem o uso de menus audíveis; Dicke et al (2007) apontam para o uso de recursos audíveis e visuais em conjunto; Schnelle e Lyardet (2006) propõem solução baseada em “voice user interface”. Com relação à multimodalidade, embora desejável, deve ser utilizada com critério; Leahy et al (2003) mostram restrições ao seu uso indiscriminado; Nylander et al (2005) também apontam diferenças importantes a serem consideradas entre interfaces baseadas em voz e gráficas. Algumas soluções e idéias levantadas ainda precisarão ser validadas se adotadas no contexto brasileiro. 1.5.2. Cadastrar as características e o perfil de uso (nível de letramento, tipo de deficiência, mão dominante, etc.) de cada usuário do sistema e personalizar as interfaces, as interações e o portal de entrada do usuário conforme essas informações de forma a melhor atender suas necessidades, podendo para isso incluir ou remover aplicações, alterar tamanhos cores e de fontes, habilitar ou desabilitar sons, alterar a posição do mouse, etc. Entendemos que o sistema/aplicação para cadastro de usuários está fora do escopo deste projeto, conforme informado na seção de Apresentação deste Relatório. Vale mencionar aqui a necessidade de buscarmos uma solução para a IU dos serviços de saúde e aposentadoria que sejam alinhados aos demais sistemas, principalmente ao de cadastro, que antecede os demais. Na literatura discutida encontramos muito pouco sobre a questão da personalização de IU considerada para públicos alvo assemelhados ao de nosso projeto. Akan et al (2006) propõem uma ferramenta de “screening” para a área de saúde, zona rural nos EUA, em que a evolução e customização do sistema de perguntas/respostas estão presentes na aplicação. É importante destacar nosso princípio de buscar soluções que não discriminem, por exemplo, soluções que não explicitamente indaguem sobre deficiências ou nível de letramento durante o processo de cadastro. 1.5.3. Possuir recurso simples e robusto de autenticação de usuário, se necessário por parâmetros biométricos, a fim de configurar automaticamente as interfaces conforme as características pessoais e necessidades especiais de cada usuário, sem exigir dele um demasiado esforço cognitivo e de memorização de senhas. Entendemos que autenticação de usuário no sistema utilizando parâmetros biométricos facilita o acesso do público alvo considerado, especialmente daqueles mais distantes das TIC. Entretanto, devemos considerar também o fato de que na seqüência da autenticação a aplicação certamente exigirá desse usuário maior nível de interação com o conteúdo. Dos trabalhos encontrados na literatura, especialmente na Índia, existem propostas de soluções que buscam novas formas de interação que não exigem ou exigem pouca leitura/escrita. Plauché e Prabaker (2006) apresentam o “Tamil Market”, uma aplicação para o domínio de agricultura onde a interação do usuário se faz por voz, com a entrada de um número fixo e limitado de palavras. Chand e Dey (2006) apresentam 27 “Jadoo”, uma solução de IU baseada em papel, para tarefas de comunicação simples e recorrentes na Índia; essa última solução, entretanto, limita a autonomia do usuário. Quanto à escolha de tecnologias biométricas, destacamos que além de características como maturidade, custo e confiabilidade, fatores humanos como "vontade do usuário de cadastrar digitais em um sistema do governo" deveriam ser investigados. 1.5.4. Oferecer aos usuários um portal de entrada cujas características (cores, tamanho, volume) sejam adaptáveis, e o qual seja concebido para veicular informação multimodal (textual, sonora, gráfica e em vídeo). Entendemos que o oferecimento de um portal de entrada cujas características (cores, tamanho, volume) sejam adaptáveis faz parte das recomendações de boas práticas da linguagem Web e como tal devem ser respeitadas; não encontramos informação nova específica a respeito na literatura levantada. Vale mencionar, entretanto, que recomendamos que a adaptação desses elementos de IU seja feita por escolha direta do usuário. A questão da multimodalidade foi discutida em 1.5.1. 1.5.5. Atender aos padrões de usabilidade e acessibilidade do W3C e oferecer ferramentas assistivas que contemplem as necessidades específicas das diversas categorias de usuário que constituem seu público-alvo. Entendemos que o atendimento aos padrões de usabilidade e acessibilidade do W3C deve ser considerado por default em qualquer solução dentro do escopo do projeto em questão e respeitadas as especificidades do seu público alvo. Para tal o oferecimento de tecnologias assistivas é condição necessária, embora não suficiente. Conforme aponta Takagi et al (2004), a boa usabilidade de interface de usuário para quem usa leitores de tela, por exemplo, depende de outros fatores que não são garantidos apenas com código HTML validado. REFERÊNCIAS Abascal, J. and Nicolle, C. (2005). Moving towards inclusive design guidelines for socially and ethically aware hci. Interacting with Computers, 17(5):484–505. Ahmed, A. S. and Seong, D. S. K. (2006). Signwriting on mobile phones for the deaf. 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Oficina participativa do projeto foi bastante efetiva. Entre os participantes, incluindo o nível de gerência do projeto, especificadores dos serviços, desenvolvedores do software e parceiros na busca de soluções de interface, se envolveram com a clarificação do problema e o compartilhar de significados, conforme era esperado, e a efetividade das atividades está evidenciada nos resultados das discussões, colados nos artefatos utilizados (Figuras 1, 2 e 3). O impacto e alcance da solução estão refletidos nos grupos e organizações que influenciam e/ou sofrerão a influência do sistema prospectivo, conforme registro no Quadro de Partes Interessadas (Figura 1). Os problemas antecipados dessas partes interessadas em relação à interface do sistema, registrados no Quadro de Avaliação (Figura 2), indicam alguns limites de soluções existentes e sugerem também caminhos para propostas de soluções, conforme analisamos e discutimos na Parte I deste relatório. O levantamento da literatura científica sobre soluções de interface existentes para o público alvo revela que o problema de design que temos em mãos é único. Ainda assim, os resultados discutidos na Parte II deste relatório com relação a soluções propostas e investigadas em contextos de outras sociedades, representam lições aprendidas que devemos considerar ao propor novas soluções para o contexto do publico alvo do projeto, no Brasil. Núcleo de Informática Aplicada à Educação – NIED/UNICAMP Cidade Universitária “Zeferino Vaz” Bloco V da Reitoria 2º Piso Rua Seis de agosto, 50 13083-873 Campinas, SP Telefones: (19) 3521 – 7350 e 3521 – 7136 Fac-símile: (Ramal 30)