viagemespecial

Transcrição

viagemespecial
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O balneário gaulês de Nice,
com seu azul profundo,
visto a partir dos guarda-sóis:
praia disputada
Sonhos de uma
tarde de verão
De Monet a Picasso, as paisagens deslumbrantes da Côte d’Azur inspiraram
tantos artistas que ela ganhou status de aquarela viva. Por essas e outras, as
enseadas que compõem a Riviera Francesa atraem gente bacana do mundo todo:
de divas do cinema e gênios sonhadores a turistas com os pés no chão
Por Allex Colontonio Fotos Alain Brugier
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LE LIS BLANC
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Nice
f
oi o deus Sol, aquele adorado pelos incas, que atraiu os ingleses, primeiros forasteiros a veranear pela Côte d’Azur, região dos Alpes Marítimos, ao sul da França, que se debruça em 300
quilômetros de praias, de Toulon até Menton, na fronteira italiana. Por lá, ele brilha soberano,
300 dias por ano, potencializando o azul-vivo do mar que emenda no céu e se perde no horizonte, sem deixar claro onde um começa e o outro termina. Em 1930, na gênese do turismo de
massa, a Riviera Francesa caiu de vez nas graças dos europeus que fugiam do frio. Pouco mais
tarde, no final da década de 50, quando uma caiçara voluptuosa conhecida como Brigitte Bardot apareceu nua no filme E Deus Criou a Mulher, o destino ganharia todos os holofotes – e
muitos adeptos do topless. E assim tem sido. Deixando o eixo mais manjado de Saint-Tropez e
Mônaco de lado, o balneário gaulês é um paraíso pluralíssimo a ser desvendado, com uma paleta infinita de cores e sabores. De Nice a Saint-Paul-de-Vence, Le Lis Blanc traçou um roteiro de charme e mostra por quê lendas como Monet, Miró, Matisse, Picasso, Nietzsche e Fitzgerald eternizaram suas paisagens em prosa, verso e pinceladas. Bon voyage!
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Há muitos verões, essa fatia da costa mediterrânea foi palco de disputas épicas entre
as civilizações dos celtas, dos gregos e dos romanos. Ao longo da história, Nice pertenceu, oficialmente, aos italianos, que ainda enchem a boca para chamá-la de Nizza
(iguaizinhos a nós pedindo uma pizza). A França recuperou o território em 1860, mas
esses mandos e desmandos geográficos são percebidos até hoje, na culinária e na arquitetura, sobretudo na parte velha, com casarões coloridos à moda sarda.
Os aristocratas britânicos (desbravadores da região), calcaram suas pegadas com
tanto empenho que mereceram um monumento e tanto: a principal avenida da cidade, batizada de Promenade des Anglais, construída na orla da praia nos anos 30, para inglês ver – e ser visto. Essa via (aberta para a passagem da rainha Vitória, que desfilou ali há mais de um século) é onde Nice acontece: de um lado, prédios históricos –
lá estão o hotel Negresco, erguido em 1912, e o Museu Masséna, de 1900, dois ícones franceses que ilustram a Belle Époque – restaurantes da moda, e todo o burburinho; do outro, a praia que se estira como uma rocha no mar, com cascalho no lugar de
areia, e turistas do mundo inteiro no lugar dos franceses.
Acima, a baía de Nice
flagrada do alto
da cidade velha.
Ao lado, o Hotel Negresco,
com sua arquitetura
monumental, mira
uma das praias
prediletas pelos banhistas
Prainhas de areias brancas e mar
imaculadamente azul.
Ao fundo, o La Samanna Hotel
escorrega rumo ao oceano.
Casinhas de madeira colorem o lado
holandês da ilha
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Garimpos de Nice: pâtisserie
estrelada, mercado das flores,
Carrossel centenário, restô
Terre de Truffes e os azeites
mais incríveis para regar os
pratos do Oliviera
Monte das Oliveiras
Se 80% das montanhas que contornam a Riviera Francesa são tomadas por
oliveiras portentosas, é de se esperar que a produção de azeite naquelas bandas seja coisa de gente grande. Encontramos excelentes safras apresentadas
nas formas mais antagônicas – e nas garrafas mais descoladas. Em Nice, o restaurante Oliviera (www.oliviera.com) é o mais bacana deles. Com tonéis gigantes do óleo compondo a decoração, o pequeno bistrô da Rue du Colleté é
a cara do proprietário, sujeito bonachão que dá um banho de extra-virgem no
seu prato – não tente resistir. Plus: a gente sai de lá expert no assunto.
Vieux Nice
A parte antiga de Nice lembra o litoral italiano –- bem perto dali, por sinal. O Mercado das Flores não é tão monumental se comparado aos nossos, mas vale pelo frescor
e variedade. Buquês frescos de lavanda e uma diversidade multicolorida de espécies saltam aos olhos. A feira botânica emenda com barracas de secos e molhados ao ar livre. De crustáceos a cogumelos frescos, queijos e compotas, há um shopping gourmet a céu aberto. Tente resistir
às compras: você vai precisar de fôlego para subir ao pico
mais alto de Nice (92 metros do nível do mar), nas Ruínas
do Castelo, fortaleza levantada em 1706. A pé ou de elevador, a subida cansa, mas compensa: lá em cima, refresquese com a panorâmica da cidade e com a cascata artificial
do jardim público. Na volta, pare no restaurante Oliviera
e se delicie com o menu confiança harmonizado com azeites. Dobrando a esquina, na rue Poissonerie, a Decor en
Scene (www.decor.en.scene.orange.fr) é a melhor pedida
para você torrar alguns euros: tem peças da Alessi, de Fornasetti, de Mario Bota e até dos nossos big brothers Campana.
No jantar, quem gosta de trufas vai deitar e rolar no refinado Terres de Truffes (www.terresdetruffes.com), na
François de Paule. A oferta de risotos é do balacobaco,
mas qualquer outra escolha será acertada. Não deixe de
provar o queijo com trufas negras e mel. Antes de ir embora, espie as delícias que o empório oferece, de azeites trufados a geleias. De volta à parte nova, outro endereço concorrido para a ceia é o Luc Salsedo (www.restaurant-salsedo.com), na rue Maccarani. Comece com
os tiraditos (como a linguiça e o mix de queijos, tomate
e azeitonas) e encare o magret de pato da casa.
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“As cores da Riviera
parecem ter atravessado
uma peneira de prata,
desmaterializadas,
espiritualizadas”
Nietzsche
Culture club
O Château de la Chèvre d’Or descortina
uma das mais belas vistas da Riviera. Ao
lado, retrospectiva de Robert Longo no
Mamac. Abaixo, entre as vielas estreitas
de Eze-Village, outro ângulo do hotel
Quem vive em SaintMartin tem uma beleza
exótica tão colorida
quanto a ilha
Além do segundo maior aeroporto do país Nice abocanhou a vice-liderança cultural da França, com pelo menos 20 museus. Sua topografia inspiradora atraiu uma legião de pintores que armavam os cavaletes sob sua luz impecável: Chagall, Matisse, Renoir, Modigliani, e outros tantos. Na década de
50, a escola de Nice, internacionalmente reconhecida, exportou Arman, Martial Rasse e Niki de Saint Phalle. Por isso, fuja da insolação nos horários proibidos e tire pelo menos duas tardes para fazer um programa “culturete”. Comece pelo Museu Matisse, visite o Belas-Artes, passe pelo Marc Chagall,
pelo Art Naïf Anatole Jakovsky e encerre o expediente no delicioso Museu
de Arte Moderna e Arte Contemporânea, o Mamac.
Eze
Friedrich Nietzsche escreveu que as cores da Riviera
“parecem ter atravessado uma peneira de prata, desmaterializadas, espiritualizadas”. Provavelmente o filósofo alemão constatou isso do topo da Vila de Eze, onde
adorava arejar a cuca e colher boas ideias: “Não somos
como aqueles que chegam a formar pensamentos senão
no meio dos livros. O nosso hábito é pensar ao ar livre,
andando, saltando, escalando, dançando”, eternizou depois de zanzar por ali. Hoje, as rampas inclinadas por
onde Nietzsche caminhou estão sinalizadas com plaquinhas que nos instigam a repetir seus passos. O povoado medieval se desenvolve na órbita do Château
de la Chèvre d’Or, um dos hotéis mais impressionantes da Costa Azul. O nome Eze vem de tempos imemoriais, quando os fenícios ergueram seu templo de adoração a Ísis.
As casas feitas de turbie (pedra francesa típica) são pequenas, pegadas umas às outras, mas comportam bem as
20 famílias que vivem entre comerciantes e forasteiros.
As alamedas estreitas têm a sua razão de ser: quanto
mais apertadas, mais ventiladas, seguindo a cartilha térmica da arquitetura secular. Entre uma viela e outra, dá
para retomar o ar admirando os Jardins Exóticos. Alguns degraus a mais, quase encostando no céu, estão as
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Babilônia à francesa
Cravada por rampas e curvas apertadas, Eze despenca como uma cascata sobre a montanha onde está edificada, com seu look feudal e vegetação peninsular tipicamente mediterrânea. No Jardim Exótico,
com muitos cactos e aloe veras, jasmins, azaleias e primaveras suspensas, o artista Jean Gastaud desenhou, em 1949, um paisagismo assimétrico que virou referência no gênero. Entre arbustos baixos e plátanos vertiginosos, é fácil imaginar as mulas subindo a encosta no século passado, carregando figos, azeitonas e laranjas.
ruínas daquilo que no século 12 foi um castelo. Não há
o que lamentar: a área agora é o mirante que recorta um
skyline deslumbrante da baía, com direito a observatório
de casas de famosos, como Bono Vox, ou a locação do filme Ladrão de Casaca, em que Hitchcock dirigiu Grace
Kelly – antes da musa tingir seu sangue de azul e se mandar para Mônaco com o príncipe Rainier III.
Seja qual for o seu credo, vale entrar na igreja de Notre-Dame de L’Assomption, com ares barrocos. Na descida, é hora de caçar suvenires: escolha ervas e temperinhos nas barraquinhas com cara de feira; espie as pinturas da galeria Marc Ferrero (www.ferrerogallery.com); encante-se com os balagandãs da Ezis Jewellery ([email protected]); compre azeites e pimentas na DS L’epicerie fine
([email protected]); e bowls, pilões e artesanato de madeira na L’Herminette Ezasque, na Rue Principale. Para
fechar o dolce far niente com chave de ouro, almoce debaixo de uma amoreira de 250 anos no Nid d’Aigle Terrasse (www.menucrea.fr). Se Nietzsche realmente chorou, com certeza não foi em Eze.
Cravada no alto da montanha,
Eze Village se desenvolve entre rochas e jardins
exóticos onde Nietzsche adorava caminhar.
No pequeno povoado medieval, arte, artesanato,
ervas e temperos movimentam o comércio
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Cartier – sim, Cannes é um templo do consumo. Mapeando a urbe, Le Lis Blanc adorou as butiques que se espremem pelas ruazinhas estreitas de paralelepípedo. Se você gosta de espadrilhas, prepare-se para passar o cartão
na Spartela, lojinha simpática da Rue Commandant André, com sapatilhas de cores inimagináveis. Fique atenta
também à Rue Meynadier, segundo os habitués, a meca
mais barata do pedaço. Para aflorar seu coté gourmand,
a área é quase um playground. Entre charmosas boulangeries, rotisseries, confeitarias, quitandas e fromageries,
a LFS Céneri reúne os queijos mais tentadores do mundo. O Port Forville, Mercado Municipal que funciona
há mais de um século, merece um garimpo: com ótimos
azeites e cogumelos frescos. Quem leva o assunto mais a
sério pode agendar uma ou duas aulas na tradicional Lenôtre, que mantém duas filiais em Cannes. Você compra
os ingredientes com o chef-professeur, prepara o almoço
e leva tudo para casa. Faça uma refeição ligeira entre as
compras no simpático Sparkling, que tem menu caprichado de saladas e massas. E quando a noite cair, a balada rola ali mesmo, no bar do restô.
Quanto às estrelas, dizem que elas costumam passear por Cannes o ano inteiro. Verdade ou não, em cada
esquina desse porto fervilhante, gente fina e elegante,
mulheres belíssimas (com ou sem a parte de cima do biquíni) e supermáquinas (Ferraris são praticamente carros populares na Riviera), garantem o entretenimento
da audiência. Cannes, definitivamente, é trés chic!
Cannes
Reza a lenda que a diva Edith Piaf adorava tricotar observando o quebra-quebra das ondas na areia. Outra fofoca dá conta de que depois que Mademoiselle Chanel
voltou bronzeada daquelas bandas, a cidade nunca mais
foi a mesma. A apenas 40 quilômetros de carro de Nice,
Cannes desponta no mapa com muita badalação e ótimos gossips no currículo. Palco de um dos festivais de cinema mais expressivos do mundo, o lugar parece mesmo
cenário de Hollywood: hotéis luxuosíssimos, prédios históricos e muita frescura em qualquer canto. O buchicho
cresce em maio, época da entrega da Palma de Ouro (o
Oscar europeu), quando a imprensa se acotovela por um
flagra de Nicole Kidman ou do casal Jolie-Pitt dando pinta além do tapete vermelho.
Para os banhistas a maré está mais para peixe do que
em Nice: uma areia clarinha e fina é o eldorado para os
aspirantes ao bronze. O único inconveniente para nós,
acostumados à democracia litorânea, é um certo apartheid – cada hotel da orla é dono do seu próprio pedacinho de praia, reservado exclusivamente aos hóspedes.
Quem não fizer o check-in num deles, vai ter que se conformar com as pontas, áreas bem menos charmosas.
Na La Croisette, a avenida principal pontuada por
edificações monumentais, as grandes grifes desfilam com
vista para o mar: Prada, Chanel, Dior, Kenzo, Ferragamo,
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As praias em Cannes são quase tão concorridas quanto a calçada da
fama, na época do Festival de Cinema. Os amantes de gastronomia vão
adorar as butiques de queijos. Para relaxar, o 1835 White Palm Hotel é a
bola da vez
Superstar
Cannes promete tratamento VIP no 1835 White Palm Hotel, que
acaba de passar por um extreme makeover. Logo de cara, estranhamos o diálogo entre a arquitetura do século 17 e a decoração supercontemporânea, mas as instalações são tão confortáveis e a vista é tão espetacular, que você se sente num oásis. No
terraço, o almoço com vista de 360 graus de Cannes é uma experiência única – o cardápio natural com tempero oriental é um
banquete dos sentidos. Mas a maior surpresa está abaixo do nível da rua. Os subterrâneos do hotel – conectados por um túnel
sem-fim – abrigam o HO2, um dos spas mais bem equipados da
Europa, tanto em técnicas milenares quanto nas terapias mais
avançadas. Esqueça da vida com uma bela talassoterapia nas
zonas de relaxamento e salas de massagem, águas termais e outros que tais para sair de lá com a mente e o corpo revigorados.
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Esculturas de grandes
mestres como Miró
e Giacometti brotam
no jardim com tanta
naturalidade que parecem
sempre ter estado ali
Saint-Paul-de-Vence
Com o pé na estrada, quase não dá para sentir passar a
meia hora que separa Nice dessa parada fascinante. As
paisagens bucólicas que se desenham pelo caminho exibem o lado B da Riviera: a face rural, que faz lembrar que
também estamos nos limites da Provença, entre campos de lavanda e alfazema. As praias ficaram para trás:
Saint-Paul-de-Vence, pequena aldeia medieval, está no
alto, debruçada entre as montanhas, recolhida atrás das
muralhas, tal e qual era no século 16, quando foi fundada. Pouco mais de 300 pessoas moram ali, dividindo suas casinhas de pedra com o comércio e pequenas galerias. A relação da cidade com as artes vem de longa data.
Marc Chagall, que passou boa parte da vida sob os céus
de Vence, pediu para ser enterrado no cemitério local, à
sombra de uma vistosa castanheira. Renoir, Monet, Picasso e Signac também se apropriaram daquela luz mágica. Na porta da cidade, o Auberge La Colombe d’Or,
construído em 1805, é um dos restaurantes mais disputados do planeta (faça sua reserva com oito meses de
antecedência). O segredo do sucesso não são a boa gastronomia e a carta de vinhos, mas as instalações. Antes
do reconhecimento, muitos artistas duros pagavam suas refeições com telas e esculturas, o que faz do Colombe um restô-museu recheado de Picassos, Légers, Braques e Matisses, só para citar alguns.
Subindo as alamedas estreitas (tudo a pé, porque os
carros ficam do lado de fora da muralha), você vai se encantar com o casario charmoso e florido – os nativos sabem cultivar os seus jardins e floreiras penduradas nas janelas! Para descansar, faça um pit stop no Musée et Office
de Tourisme (agende pelo tel. 04 93 32 86 95) e confira
a programação. No mirante, prepare-se para fazer os seus
próprios cartões-postais: a vista é deslumbrante.
Caso não tenha conseguido vaga no La Colombe D’or,
não fique triste: o Le Tilleul, com mesinhas sombreadas
por árvores frondosas (como a que empresta o nome à
comedoria), é o máximo. Peça pela salada Niçoise ou pelos quiches. Com um pouco mais de apetite, tente a insalata de camarões com melão, melancia, presunto de parma e verduras – é de comer de joelhos!
Baterias recarregadas, é hora de encarar o momento mais
catártico da trip: a Fundação Maeght, um dos museus mais
lindos já visitados pela trupe de Le Lis Blanc, com uma coleção tão sui generis que vai de Kandinsky a Bonnard, esculturas de Giacometti, Calder e Miró. Um sonho moderno em
consonância com a natureza que se projeta lá fora.
No retorno para Nice, aquela meia hora vai parecer
uma eternidade. Saint-Paul-de-Vence, com seu horizonte riscado de “azul-Matisse”, deixa saudades.
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Jardim das delícias
Arte de primeira nos jardins da
Fundação Maeght. Abaixo, o La
Colombe d´Or é a comedoria-museu
mais comentada do mundo. Ao lado,
fragmentos da charmosíssima
Saint-Paul-de-Vence
Não é à toa que a Fundação Maeght tornou-se referência entre colecionadores e
amantes das artes dos quatro cantos do mundo. Tudo ali é superlativo, principalmente o acervo de 9 mil obras de Giacometti, Miró, Braque, Chagall, Bonnard, Léger, Alechinsky, Dubuffet, Van Velde e outras lendas. Idealizada no começo dos
anos 60 pelo casal Marguerite e Aimé Maeght, o projeto assinado pelo arquiteto catalão José Lluis Sert se insere com leveza na paisagem romântica de SaintPaul-de-Vence, com sua floresta mediterrânica repleta de ciprestes, laranjeiras e
amoreiras. Nos domínios da propriedade, o jardim segue o compasso com um
tributo às artes moderna e contemporânea, com direito a esculturas de grandes
mestres flutuando sobre espelhos-d’água, labirintos de faunos e cascatas surrealistas. Um mundo de cor e expressão que desperta nossos instintos mais lúdicos,
como nas fábulas. www.fondation-maeght.com
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Com notas de história, Grasse gira
em torno das fragrâncias. O Museu
do Perfume e a Fragonard são
indispensáveis para conhecer a fundo
a arte boticária. No Lou Fassum,
descubra as maravilhas de uma cozinha
condecorada pelo Guia Michelin
Grasse
A capital mundial do perfume está no lugar certo. Solo
fértil para as oliveiras, flores e pradarias, a Provença
entregou de bandeja para Grasse as melhores matérias-primas de extração de fragrâncias. A história teve
início no século 16, quando a economia local era movida pelo escambo das peles. Para driblar o cheiro do
couro em luvas e casacos, as peças eram curtidas em
soluções com galhos de lavanda. Vieram então outras
essências e, algumas décadas depois, havia mais boticários do que peleiros.
Grasse preserva notas ítalo-renascentistas – até
1227, ela era Grazza, propriedade de Gênova e Pisa. De
segunda a sexta, o corre-corre de turistas e trabalhadores
agita as ruas. Nos finais de semana fica mais fácil
curtir clássicos como a Catedral de Notre-Dame-duPuy, o Museu Internacional da Perfumaria - com
curiosidades como o primeiro frasco bolado pelos
egípcios e a caixa de viagem de Maria Antonieta – e o
Museu Fragonard, que pertence a uma das fábricas
mais tradicionais e poderosas da região – você vai
adorar o pot-pourri de coleções em minifrascos, ótimos
presentes. Depois de levar o olfato ao nirvana, é hora
de cuidar do paladar. Escolha uma boa mesa no Lou
Fassum e prepare-se: vai ser um show. Sem deixar os
trocadilhos infames de lado: Grasse, definitivamente, é
uma graça.
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Voilà!
Tocado pelo chef Emmanuel Ruz, o Lou Fassum (www.loufassum.
com), que exibe orgulhoso a sua estrela no Guia Michelin, é experiência única, a começar pelo terraço voltado para as colinas. A carta de vinhos é ótima, mas comece pelo Cocktail da Maison, que leva gim, champanhe, licor de violetas, suco de grapefruit e azeitona confitada: é um elixir dos deuses. Peça pelo menu degustação,
sem medo de ser feliz. O risoto com espuma de trufas brancas e o
foie gras com mini-penne ao parmesão são de comer de joelhos!
Pena que não conseguimos bater um papo com o chef Ruz: ele estava no Brasil, terra que ama, participando do Festival Gastronômico de Tiradentes. O intercâmbio promete…
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Um museu para Picasso
Considerado maior gênio da pintura no século 20, Pablo Picasso amava a
Riviera Francesa. Nascido em Málaga, Andaluzia, em 1881, viveu até o fim
de seus dias na Costa Azul (morreu em Mougins, em 1973). O museu que
leva seu nome devolve ao pai do cubismo todo esse carinho com uma coleção espetacular ambientada no Château Grimaldi, da família real de Mônaco. Entre aquisições recentes e doações do próprio pintor, o acervo tem
mais de 250 obras de Picasso. (www.antibes-juanlespins.com)
O castelo que pertenceu à família Real de Mônaco,
hoje abriga o Museu Picasso. Abaixo, o palácio rosa
e os jardins espetaculares da baronesa de Rothschild.
Na página ao lado, Praia de Antibes observada do
Forte e o incrível bar Le Absinte
Antibes
Bleu et blanc predominam também na decoração: os quartos são
extremamente confortáveis, e as generosas varandas feitas para o duro
exercício da observação
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No best-seller Suave é a Noite, Scott Fitzgerald descreve Antibes como “aquela península azul que lembra uma
aquarela”. Extrapolando os limites literários, Picasso seria
tão apaixonado pelo lugar que pintou suas paisagens incontáveis vezes. Fundada pelos fenícios, tomada pelos romanos,
saqueada pelos vikings e reconquistada por Enrique IV, a cidade impressiona pelas ruínas da muralha e do Fort-Carré,
erguido sobre um penhasco. As marinas chamam a atenção,
já que são disputadas pelos milionários a bordo de seus iates
cinco estrelas. A Avenida Amiral-de-Grasse, que contorna a orla, é o melhor camarote para brincar de voyeur com o
entra-e-sai de embarcações. Na Catedral D’ Antibes (anexada a uma torre do século 12), dá para apreciar quadros raros, como o Retablo del Rosario, da escola de Brea, de 1515.
Não deixe o Balade en Provence, na Cours Masséna,
passar batido. A antiga taverna do século 18 esconde um segredinho: no nível da rua é uma loja de azeites finos e conservas; no porão, funciona um intrigante bar subterrâneo
com centenas de rótulos de… Absinto! Divirta-se, mas só
não exagere na dose como fez Van Gogh antes de decepar
a própria orelha.
Almoce a poucos metros da areia, à sombra dos ombrellones do gostoso Bastion, restaurante fresh na cena
de Antibes. O salão vermelho é simpático, mas não troque seu lugar no terraço por nada nesse mundo. Peixes
frescos são a prata da casa!
Saint-Jean Cap Ferrat
Dá para se sentir numa daquelas paisagens litorâneas que
James Bond cruzava com seu conversível em 007. Cap Ferrat é para poucos. Antiga morada de pescadores, hoje a cidadezinha é um vilarejo de bacanas, com um lado voltado para as montanhas e o outro para a Baía de Villefranche. Entre mansões superdimensionadas, o Museu Île-deFrance é a cereja do bolo. Idealizado pela extravagante baronesa Béatrice Ephrussi de Rothschild, em 1905, ao estilo dos palácios da Florença, esse casarão deslumbrante está
plantado no meio de um jardim ornamental que faz mélange dos estilos francês, tropical e espanhol em contornos babilônicos, com fontes, lagos e espelhos-d’água de borda infinita que desembocam em cascatas.
Se lá fora a paisagem surpreende, do lado de dentro
a seleção deixaria Maria Antonieta com inveja. Móveis Regence, Luís XV e XVI, Aubussons magníficos,
cerâmicas Companhia das Índias, pinturas de Monet e
Renoir apresentam um jeito nobre de viver. Aproveite
cada segundo do tour: a morada da baronesa é o único prédio do gênero aberto à visitação na Côte d’Azur.
(Tel. 33 4 93 76 44 01).
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Vallauris
O condado de Vallauris é
uma festa para quem se liga em cerâmicas. Passeando pela praça com jeito de
cidade do interior, a gente
se depara com lugares pitorescos, como a manufatura que produzia os potes
e pratos pintados por Picasso. Até dezembro, o Museu Municipal Magnelli (Place
de la Libération, 620) apresenta as principais obras de uma dinastia inteira dedicada às artes cerâmicas:
Les Massiers. Instalado desde 1977 numa antiga abadia, o espaço cultural inclui uma capela romana que abriga, na
sua abóbada, dois painéis pintados em
1952 por... Picasso, é claro!
Jean Marais, galã do cinema francês nos anos dourados (e amante de
Jean Cocteau), se dividia entre os
sets de filmagem e as cerâmicas. Essa segunda faceta artística pode ser
conferida no museu que leva seu
nome. (Avenue des Martyrs de la
Résistance). Beleza Pura!
Mougins
Pense naquela imagem sépia das antigas fotografias, ou
numa película naturalista dos primeiros documentários
europeus. Rodeada por lagos cobertos de lótus, bosques
de ciprestes e plátanos, Mougins nos leva de volta a um
passado poético – e bem conservado. Parada final de Picasso (que passou seus últimos 15 anos ali), o minúsculo povoado de origem romana gira em torno da capela
Notre-Dame-de-Vie (com seu pórtico rasgado para os
campos), dos bons restaurantes e do comércio que se
empilha nas ladeiras. No Museu da Fotografia, retratos
de Picasso feitos por André Villers (em cartaz até dezembro), valem a visita (tel. 33 4 93 75 85 67, [email protected]).
Não deixe de entrar na Insolite Boutique, na Rue des
Lombards ([email protected]). O nome tem tudo a
ver com o estoque, que reúne mimos como copos coloridos, velas perfumadas, bibelôs engraçadinhos e afins.
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Festa da cerâmica
em Vallauris, com
peças de gênios
como Picasso, que
também pintou a
abóbada da capela. Jean
Marrais, ceramista e galã do
cinema francês, ganhou um
museu com seu nome na
cidade. Em Mougins, copos
coloridos da Insolite
disputam a atenção com
as janelas floridas do
casario local
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A capela romana anexa ao
Museu Magnelli ganhou pinturas
inacreditáveis de Picasso. Ao lado,
destaque para as instalações do
Hotel Marignan, para você esticar
seu verão azul até a bela Paris
Paris é logo ali
Ir à França e não dar um pulinho na Cidade Luz é como ir a Roma e não ver o papa. Aproveite o passeio pela Costa Azul e,
na volta, se jogue na inebriante Paris, que
continua de braços abertos para o turismo,
com roteiros sempre up-to-date.
Le Lis Blanc recomenda:
Informações Relevantes
COMO CHEGAR
Saindo do Brasil, a melhor opção para chegar à Costa Azul
é pela Swiss International Airlines. São pouco mais
de 11 horas de voo até Zurique, a bordo de um confortável Airbus A 340-300. Se você está viajando de primeira
classe, além da cadeira que se transforma em cama e dos
travesseiros de pluma de ganso, uma mesa com lugar para
dois, sentados frente a frente, transforma o jantar em uma
opção romântica. Delícias preparadas por chefs internacionais e uma cartela de vinhos digna dos melhores restaurantes, emprestam a sensação, trés élégant, de se estar
em um jato particular. Depois do jantar, escolha um filme
ou dispute um joguinho on-demand. Eleita este ano a melhor companhia aérea da Europa, a Swiss ainda é a melhor
opção para quem vai para a Riviera Francesa, já que Zurique está mais perto de Nice do que Paris. Como a companhia tem vários voos por dia entre as duas cidades, você
pode aproveitar para dar um giro por Zurique, provar os
melhores chocolates e fazer comprinhas, ficar no aeroporto (eleito pelo quinto ano consecutivo o melhor da Europa), ou pegar a primeira conexão que decola exata 1 hora
e 45 minutos depois de você pisar no aeroporto. E a próxima escala pode ser Paris. Pour quoi pas?
Tel. (11) 3049-2720, swiss.com/brasil
QUEM LEVA
Queensberry Viagens, tel. (11) 3217-7100, www.queensberry.com.br,
(que também tem programas super bacanas para a Provence)
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Onde ficar
Hotel Negresco
37, Promenade des Anglais, Nice
Tel. 33 04 93 16 64 00, www.hotel-negresco-nice.com
Château de la Chèvre d’Or
Eze-Village
Tel. 33 04 92 10 66 66, www.chevredor.com
Para facilitar a vida
Arme seu QG em Nice e, depois de explorá-la recorra a um
transfer para dar uma banda pelas cidades vizinhas. Recomendamos os serviços de transporte de luxo de Piero Bruni, da
ETS, italiano boa-praça e cultíssimo que sabe tudo sobre a região (tel. 33 04 93 86 01 06). E lembre-se: a voltagem é de 220
volts e as tomadas na França são diferentes. Leve adaptador.
Informações complementares
Comitê Regional de Turismo da Côte d’Azur
Tel. 33 04 93 37 78 78
www.guideriviera.com
Agradecimentos: Atout France, French Riviera Tourism Board, Eze Tourist Office, Nice Tourist Office, Hotel Negresco, Château du La Chèvre d’Or, Hotel Marignan
Champs-Elysées, Queensberry Viagens, The Leading Hotels of the World, X-Mart, Swiss International Airlines
Marignan Champs-Elyssés
Plantado entre as badaladas Montaigne e Champs Elysées – na
rota dos monumentos históricos e do circuito mais fashion de
Paris –, logo de cara o hotel Marignan marca um gol de placa
na categoria localização. Originalmente construído para ser um
casarão burguês do século 18, o prédio suntuoso já serviu de
morada oficial para o príncipe Faussigny de Lussinge, entre outros nobres que passaram por lá – dizem que a famosa bailarina
Mata Hari ficou presa no casarão no começo do século 20. Os
tempos são outros, mas a bela fachada art déco do Marignan
ajuda a manter a fama da cidade mais linda do mundo. A fina
estampa vai muito além da superfície neste quatro estrelas com
cara de cinco: do lado de dentro, o glam se confirma no projeto assinado pelo top designer Olivier Gagnère (responsável pelo charmoso Café Marly, no Louvre), que renovou as instalações
em estilo clássico-contemporâneo sem perder de vista aquelas
novidades tecnológicas que ajudam a mimar os hóspedes – aliás, no quesito “paparicação”, ninguém pode reclamar: as boasvindas são anunciadas aos hóspedes com delicadezas que vão
de macarons coloridos a hidratantes faciais.
Os 73 quartos são decorados ao estilo tradicional francês, para manter o clima da sua viagem até entre quatro paredes. Boa
parte deles têm o plus da vista mais cobiçada da Cidade Luz: a
torre Eiffel. Mas você pode escolher também entre abrir a janela para as colinas de Montmartre ou para a Sacre Coeur – por lá,
essa dúvida cruel será o seu único problema.
Se você ainda achar pouco, prepare-se para o golpe de misericórdia: apesar da comodidade de estar a poucos passos dos
restaurantes mais badalados de Paris, não é preciso deixar o
hotel para dar de cara com a melhor gastronomia do pedaço.
Seu restaurante spoon, ali no térreo, é comandado por ninguém
menos que Alain Ducasse, um dos chefs mais aclamados do circuito. Enfim, um sonho parisiense.
Hotel Marignan
Champs Elysées
12 Rue de Marignan 75008 Paris
Tel. +33 (0)1 40 76 34 56
E Deus criou Bardot
Em 1956, um filme dirigido por Roger Vadim mudou os
rumos da cultura francesa. No papel de Juliette Hardy, a
recém-descoberta Brigitte Bardot recriou os padrões de
beleza em E Deus Criou a Mulher. Ícone da libertação
feminina, La Bardot ganha retrospectiva de sua obra
até 31 de janeiro de 2010 no Espace Landowski, na 28
Avenue André-Morizet.
La Société
A família Costes, sobrenome conhecido pelos hotéis de
luxo e cantinas “hypadas”, acaba de abrir um novo point
a poucos passos dos lendários Café de Flore e Les Deux
Magots. Instalado num prédio do século 19, o La Société ganhou décor de Christian Liaigre. A dica do chef é a
lagosta com salada de ervas e risoto de camarões. 4, Place St. Germain, tel. 1 53 63 60 60
LE LIS BLANC
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