Sem título-1
Transcrição
Sem título-1
R REPORTAGEM NOVOS NEGÓCIOS Por Jader Moraes A hora e a vez das Startups As empresas nascentes de base tecnológica são o novo alvo do governo e do mercado para alavancar o desenvolvimento do país. Jovens empreendedores, pressionados por um ambiente competitivo, comentam o cenário positivo e os desafios para alcançar êxito H á exatos doze meses, Helbio Silva resolveu apostar em sua ideia. Morador de Itu, no interior de São Paulo, enxergou na plataforma web uma grande oportunidade de viabilizar seu próprio negócio. A partir de sua ideia, nasceu uma ferramenta de marketing interativo criada para movimentar o comércio local, por meio de cupons de descontos, leilões de menor valor, entre outras estratégias. Com uma estrutura enxuta, uma aposta na base tecnológica do negócio, bom conhecimento do mercado regional, um ano depois a empresa já trabalha em planos de expansão, ainda no mês de setembro, para outras quatro cidades paulistas. Essa é a história da BuzzLocal. Mas também poderia ser a de outros milhares de empreendimentos com o mesmo perfil que surgem a cada ano no país, em um número que não para de crescer. Segundo dados do Sebrae, existem hoje mais de 700 mil jovens empreendedores em atividade no país, quase o dobro do registrado dez anos antes. Parte desses jovens são responsáveis pelas startups, empresas nascentes, geralmente apoiadas em alguma base tecnológica, que tenham a inovação como norte e grande potencial de crescimento, a despeito dos baixos custos de operação. Elas estão inseridas em um cenário de incerteza e oferecem produtos que sejam escaláveis e produzam algum impacto na sociedade ou no mercado local. Ao contrário da cartilha habitual dos bons negócios, estes empreendimentos precisam obter êxito em pouco tempo para atrair investidores que alavanquem o negócio. Embora o conceito não seja absolutamente novo, e nem exista um consenso em torno dele, é quase unanimidade entre empreendedores, analistas e entidades especializadas que esse mercado está em ascensão no país. Em todo o país, elas representam uma fatia considerável dos novos empreendimentos surgidos nos últimos anos, impulsionados pelo bom momento econômico que o Brasil viveu na última década e pela ampliação do acesso aos meios tecnológicos. A Associação Brasileira de Startups (ABStartups) calcula que entre 90% e 95% das empresas nascentes no país estejam ligadas à tecnologia. “As startups têm duas premissas: a escalabilidade e a repetibilidade. O produto ou serviço oferecido deve ser replicável de modo simples, para atingir o maior número possível de pessoas, com esforço não crescente. Ou seja, a curva de crescimento tem que ser maior que a curva dos custos. A empresa deve ser capaz de crescer, gerar grande impacto, sem necessariamente ter que ampliar em demasia sua estrutura. E o ambiente mais fácil de se ter isso é na tecnologia”, explicou Tomás Duarte, vicepresidente da entidade. A associação foi criada em 2011 como um esforço para integrar as principais startups em desenvolvimento no país. Atualmente, conta com mais de 2,3 mil empresas cadastradas de todos os 26 estados do país, mais o Distrito Federal. Além de promover eventos e manter uma base de dados atualizada sobre todos os empreendimentos, a entidade representa seus associados em diferentes espaços de negociação com o poder público e a sociedade civil. Recentemente, a ABStartups comemorou a aprovação por uma comissão do Senado de um projeto de lei que zera os impostos federais para as novas empresas de tecnologia em seus dois primeiros anos de existência. Em outra frente, a entidade também se prepara para, pela primeira vez, ser gestora de um programa estadual de apoio às startups, no governo de Minas Gerais. RUMOS - 32 – Julho/Agosto 2013 Arte com foto de arquivo Para ampliar a base de associados, a entidade busca identificar as principais ações em todo o país e faz o convite aos líderes de organizações e comunidades do ramo. “Estamos em um período de reorganização, crescemos muito à base de eventos, mas queremos avançar em nossa atuação”, salientou Duarte. Em todo o país – Yuri Fernandes, Victor Cardoso e Gustavo Carvalho possuem uma startup em Salvador, na Bahia. A empresa, criada em 2007, é focada em tecnologia, games e aplicativos. Os sócios avaliam que, desde 2012, é crescente o incentivo às atividades de empreendedorismo no país, mas veem que as diferenças regionais ainda são grandes. Para Yuri, o cenário é extremamente favorável no Sudeste, enquanto o Nordeste ainda está “engatinhando”, especialmente em seu estado. “Paradoxalmente, em Pernambuco o cenário é outro, principalmente por conta do Porto Digital, que atualmente é uma grande referência, atraindo visibilidade e investimentos para as empresas do setor”, comentou o jovem, referindo-se ao Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa, criado em Recife. Para o vice-presidente da ABStartups, apesar de estarem na dianteira dos novos empreendimentos, São Paulo e Rio de Janeiro são acompanhados de perto no cenário nacional. “No Brasil não existe um Vale do Silício, algo que concentre todas as iniciativas e seja referência. Ao contrário, você tem polos em vários pontos do país. São Paulo acaba sendo o berço de muitos, assim como o Rio, mas cada polo tem sua peculiaridade e são extremamente importantes”, afirma Duarte. Além do Porto Digital, em Recife, o vice-presidente cita uma série de outras regiões que têm se destacado: Campinas, com uma associação própria e vasta produção acadêmica; Mato Grosso do Sul e sua série de iniciativas de grande e pequeno porte; Vitória, no Espírito Santo; e Belo Horizonte, que tem chamado atenção para o mercado internacional e recentemente foi intitulada pela revista inglesa The Economist de “novo Vale do Silício”, em referência à região norteamericana considerada o berço da tecnologia mundial. De lá, saíram grandes empresas como a Apple, a Microsoft, o Google e, mais recente, o Facebook. Na capital mineira, um conjunto de novos empreendedores criou uma comunidade autogerenciada de mais de 50 startups, a San Pedro Valley. As empresas estão localizadas no entorno do bairro de São Pedro, área nobre da cidade, e a comunidade tem agregado outras empresas de diferentes bairros da capital. A única exigência é que não fujam às regras do que se entende por uma startup. “Há muito incentivo dependendo do estado onde você se encontra, mas eu acredito que falta conhecimento por parte do empreendedor para saber qual a hora exata para buscar este recurso no mercado”, defendeu Felipe Martins, fundador e CEO da startup ÁgilSocial, uma plataforma de produtividade empresarial nas nuvens sediada em Belo Horizonte. Cultura de investimento – O advogado Rodrigo Menezes, mentor e membro da Endeavor Brasil, braço brasileiro da principal instituição de seleção e apoio a empreendedores de alto impacto em todo o mundo, defende que há três principais dificuldades para as empresas nascentes: burocracia, o desconhecimento dos empreendedores sobre a dinâmica dos investimentos e a ausência de uma cultura de financiamento. Wilson Silva, diretor da Neogeo, empresa de geoinforma- RUMOS - 33 – Julho/Agosto 2013 R REPORTAGEM NOVOS NEGÓCIOS Divulgação ção localizada no Rio de Janeiro, destacou que a aceleradoras de empresas, que selecionam as startups que dificuldade financeira é de fato um dos principais recebem os recursos. No primeiro edital, nove aceleradoras desafios para a maioria das startups no país. Ele foram escolhidas e então puderam selecionar as empresas, criticou alguns entraves para obtenção de financontempladas, cada uma, com um aporte de até R$ 200 mil. ciamento e investimentos públicos no segmento. O Startup Brasil faz parte de uma estratégia mais ampla “As exigências de garantia financeira são muito do governo, que tem enxergado na ciência, tecnologia e inoaltas. Se você é startup, em tese você não tem essas garantias. vação um eixo estruturante para o desenvolvimento do país. Essa é uma questão que ainda não está bem resolvida no Coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovapaís”, comentou. ção (MCTI), o Programa Estratégico de Software e Serviços O vice-presidente da ABStartups também acredita que há de Tecnologia da Informação, o TI Maior, tem a finalidade de a falta de uma “cultura de investimento” a empresas desta fomentar a indústria de software e serviços nesta área e a natureza. Para Duarte, que possui também sua própria previsão é de investimento de aproximadamente R$ 500 empresa de tecnologia, o Brasil ainda é prematuro na questão milhões em doze setores considerados estratégicos dentro do dos investidores-anjos e também na prática da aceleração de plano. O fomento às startups é um dos principais motes do novos empreendimentos. “Ainda não deu tempo, essa cultura programa. ainda não existe aqui. Todas as experiências brasileiras são “Queremos que a produção de softwares cresça no Brasil muito recentes, estamos no começo. O empreendedor não a uma taxa muito alta e que esse crescimento represente divipode cair na ilusão de que precisa focar no investimento. sas para o país, geração de renda para as empresas e criação de Muitas vezes, gasta tanto tempo para fisgar o investidor que postos de trabalho qualificados para os brasileiros. O softwadescuida do próprio negócio. Muitos são iludidos com o re brasileiro deve fazer frente ao produzido no exterior”, mercado americano, mas o cenário disse o ministro Marco Antonio aqui é outro. Tem que ter investimento Raupp, na cerimônia do lançamento próprio também e o investimento do programa. externo surge com o trabalho bem Afinada com a estratégia nacional, executado”, afirmou. a Agência Brasileira de Inovação Ele destaca ainda o papel que o (Finep) lançou ainda no ano passado governo pode assumir para impulsiodois novos programas, o Inovacred e nar o cenário de investimentos em o Tecnova. Voltados às micro, pequestartups no país. Duarte defende que os nas e médias empresas, os programas resultados no mundo empreendedor, possuem especial atenção aos empreespecialmente quando se trata de endimentos ligados à inovação e tEm empresas nascentes com este perfil, como objetivo ampliar a competitivisão fruto, para além dos financiamendade das empresas em nível regional tos e repasses diretos, de estratégias ou nacional. Ambos têm como caraclegais e governamentais construídas terística a descentralização de suas no longo prazo. ações, em parcerias com bancos de “É preciso uma conjuntura de desenvolvimento, agências de fomeniniciativas governamentais, também na to e outras instituições regionais. academia, já que os talentos geralmen- Tomás Duarte, vice-presidente da ABStartups “Avaliando o tamanho do desafio te nascem nas universidades; a desbuque tínhamos, entendemos que a ação rocratização; e também no investimendeveria ser feita junto com parceiros. to em infraestrutura física e tecnológica, que impacta os Estes parceiros conhecem o tecido empresarial e os temas negócios. Internet de baixa qualidade é um entrave, por um regionais, o que nos permite um aumento da escala no atendiexemplo”, listou ele. “O equacionamento dessas questões mento e também conseguimos otimizar os custos operacioajuda a criar cultura. Aquele papo de ‘seja insistente, não nais”, explicou Marcelo Nicolas Camargo, do Departamento desista’ não cola quando estamos falando de startups. São de Operações de Subvenção da Finep. empreendimentos que possuem data de validade, se não O Tecnova, que teve sua primeira chamada pública em conseguem escalar rápido, vão falhar; se não tiver uma resnovembro de 2012, apoia projetos de inovação, com financiaposta em um curto espaço de tempo, não vai dar certo. É de mento da Finep e contrapartida dos estados. Os parceiros fato um modelo mais agressivo”, reforçou Duarte. regionais atuam identificando quais os temas prioritários para cada estado dentro de um amplo leque de setores que podem Investimentos públicos – Em novembro do ano passado, o ser beneficiados. Até o momento, 21 estados já foram seleciogoverno federal lançou o programa Startup Brasil, voltado nados para o programa, que tem como meta apoiar cerca de especialmente para o estímulo a empresas nascentes de tec800 empresas em todo o território nacional. nologia e inovação, com investimento total previsto de R$ 36 Já o Inovacred atua mais diretamente junto aos bancos de milhões para o apoio de até cem companhias. O programa desenvolvimento e agências de fomento nos estados. Cada funciona por meio de um contrato inicial com instituições operador pode captar até R$ 80 milhões para o financiamento RUMOS - 34 – Julho/Agosto 2013 Imago Foto Vista aérea do Porto Digital, localidade em Recife, Pernambuco, que reúne diversas empresas do segmento de informática, formando um Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação e Comunicação e Economia Criativa. de projetos até R$ 2 milhões. A remuneração do agente financeiro será equivalente a 3% ao ano sobre o valor do saldo devedor das empresas financiadas. Até junho deste ano, as contratações do programa somavam R$ 250 milhões. Hoje, sete instituições financeiras de desenvolvimento já aderiram ao programa: Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul), Banco do Estado do Rio Grande do Rio (Banrisul), Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc), Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio), Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e Banco da Amazônia. “Os programas são totalmente complementares. Se todos estiverem integrados, todos ganham. Por meio desses programas construímos sinergia”, avaliou Camargo. Em outra frente, a Finep também lançou recentemente um edital de R$ 640 milhões voltado a parques tecnológicos em operação e em estágio de implantação. Os recursos serão concedidos por meio de três instrumentos. O primeiro, de R$ 90 milhões em recursos não reembolsáveis, vai apoiar parques tecnológicos em operação e em processo de implantação. No caso dos parques em operação, serão apoiados projetos de, no mínimo, R$ 6 milhões até o limite de R$ 14 milhões. Já para propostas de parques em fase de implantação, o valor mínimo é de R$ 2 milhões e o máximo, de R$ 5 milhões. Outros editais – Com o mercado de startups aquecido e a política de fomento à inovação sendo entendida como estratégica para o país, uma série de instituições têm desenvolvido projetos de apoio às empresas nascentes de base tecnológica pelo Brasil. A AgeRio, além de ter aderido ao Inovacred, desenvolve um Programa de Participações que abrange tanto a aquisição de participações acionárias em empresas nascentes, quanto a aquisição de cotas de fundos de investimento em ações, como o Fundo NascenTI, voltado exclusivamente para startups. Por meio desse programa, a agência de fomento se tornou uma das instituições parceiras da Acelera Rio, aceleradora de negócios que será instalada na região portuária carioca por iniciativa da Microsoft e da prefeitura. O projeto quer estimular o desenvolvimento de empresas nascentes de base tecnológica, oferecendo inclusive um local para que elas possam se instalar. Na Agência de Desenvolvimento Paulista, o apoio à inovação também está na ordem do dia. No fim do ano passado, a instituição lançou o programa Inova São Paulo, para apoiar empresas de desenvolvimento tecnológico. O programa conta com três linhas de financiamento operadas pela agência, duas delas com juros subsidiados pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcet), e um termo de cooperação para a constituição de um Fundo de Investimento para empresas de inovação tecnológica no estado. A linha especificamente voltada para startups acolhe empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, com limite de financiamento de R$ 200 mil por projeto. O financiamento é realizado a juros zero e o empreendedor tem até 60 meses de prazo, com 24 meses de carência. As startups paulistas também poderão ser beneficiadas pelo fundo de investimento “Inovação Paulista”, mantido pela Desenvolve SP em parceria com outros potenciais investidores. O objetivo do Fundo é fomentar as empresas de perfil inovador com potencial para geração de novos produtos e os investimentos do Fundo irão principalmente para empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, inclusive as em estágio inicial de operação. Os projetos serão avaliados pelo gestor do fundo e aprovados pelo comitê RUMOS - 35 – Julho/Agosto 2013 R NOVOS NEGÓCIOS Marcelo Camargo/ABr REPORTAGEM Cena da Campus Party, evento voltado para a área de inovação e tecnologia apoiado pelo Sebrae. formado pelos investidores. Entre as ciências que serão contempladas estão biotecnologia, fotônica (ciência da geração, controle e detecção de fóton), nanotecnologia, TI, comunicação e agronegócios. O presidente da Desenvolve SP, Milton Luiz de Melo Santos, acredita que o programa será um marco na história do desenvolvimento da inovação tecnológica paulista. “São Paulo é o estado com a maior produção científica do país e precisávamos de um instrumento que facilitasse a vida daquele pequeno empresário inovador ou daquele pesquisador que tem um bom projeto e precisa colocar seu produto em produção”, pontuou. Já o Sebrae adotou como estratégia para se aproximar dos jovens empreendedores a participação em feiras e eventos promovidos por grupos e organizações da área de inovação e tecnologia, como o Campus Party, em São Paulo; o Seminário Brasileiro de Aplicativos (Brapps), que aconteceu em Brasília; e o Bits 2013, realizado em Porto Alegre. A instituição patrocina e participa desses eventos com palestras, encontros dos novos empresários com investidores, espaço para apresentação de projetos e atendimento com informações sobre produtos e serviços. Desde 2012, agências do Sebrae em 16 estados desenvolvem ações voltadas aos novos negócios nas carteiras de Tecnologia da Informação. Os atendimentos fazem parte dos projetos de atendimento coletivo da entidade, que também se relacionam com as startups por meio Estados com maior número de startups de consultorias sobre os mais diversos temas relacionados ao mercado. cadastradas junto à associação nacional Anjos – No campo dos investimentos privados, cresce o número de investidores-anjos no país. Esse conceito, desenvolvido nos Estados Unidos, refere-se a pessoas físicas (portanto, não são empresas ou organizações) que investem em empresas nascentes e têm geralmente uma participação minoritária no negócio. São normalmente empresários ou executivos que já trilharam uma carreira de sucesso e aplicam parte de seus recursos para investir em novas empresas e também repassam sua experiência, apoiando a empresa nascente. O Brasil vê crescer o número de investidores com este perfil e desse movimento crescente São Paulo – 597 Minas Gerais - 169 Rio de Janeiro – 167 Rio Grande do Sul – 115 Paraná – 102 Santa Catarina - 85 Fonte: Associação Brasileira de Startups RUMOS - 36 – Julho/Agosto 2013 Startups – Principais mercados * nasceu a Anjos do Brasil, uma organiOutros - 11% Mídia - 9% zação sem fins lucrativos que reúne Mecanismo empresários interessados em se tornaGerador de de busca - 8% rem anjos e faz a conexão com potenconteúdo - 12% ciais empreendedores de startups aptos Marketplace - 6% a receber os investimentos. A organização não faz a intermediação de investiGame - 3% mentos, mas busca formar redes de relacionamento entre os agentes do Mobile - 13% Pagamento eletrônico - 2% que eles chamam de “comunidade Software empreendedora”. não-web - 2% Os atrativos para quem deseja se Rede Comércio tornar um investidor não são poucos, Eletrônico - 16% Social - 18% ainda que o risco da aposta também seja alto. Segundo a organização, a * Fonte: StartupBase / Associação Brasileira de Startups. expectativa mais usual é que haja um retorno de 40% ao ano sobre o capital jovem empresário. O que leva muitos investidores a aceitarem investido. Em alguns casos, podem chegar a múltiplos de os riscos, no entanto, não são fatores ligado apenas a aspectos cinquenta vezes o valor. Para diminuir os riscos de perda, os objetivos. Como a Anjos do Brasil destaca, uma das grandes investidores são aconselhados a dividir o recurso em várias vantagens de se tornar um investidor-anjo é “a satisfação empresas, compartilhar o investimento com outros investidopessoal de participar na construção de negócios inovadores”. res e acompanhar de perto o empreendimento, apoiando o “Estamos muito atrasados”, alerta especialista A França, por exemplo, investiu no apoio tanto a pessoas físicas quanto jurídicas, além do fomento aos fundos de inovação. Os incentivos baseavam-se sobretudo na dedução do imposto de renda e exigiam contrapartidas como a manutenção do investimento por pelo menos cinco anos. Inglaterra e Estados Unidos também construíram modelos que foram seguidos por vários outros países, com uma política de estímulo ao investimento não apenas por parte do governo, mas também do setor privado. O advogado avalia positivamente o programa Startup Brasil, do governo federal, por alocar recursos diretamente para as iniciativas. Sobre o projeto de lei que quer zerar os impostos federais para as empresas nascentes, diz ter dúvidas. Para ele, a saída não é apenas isentar os empreendimentos, mas criar uma política de estímulos também a possíveis investidores. É preciso atuar nessas duas frentes de estímulo, não apenas ao empreendedor, mas também ao investidor”, opinou. Rodrigo defendeu ainda o papel que as instituições financeiras de desenvolvimento já vêm desempenhando neste cenário, com as chamadas públicas e editais. Ele acredita que elas possam ter uma atuação ainda mais forte como interlocutores junto ao governo e sugere o financiamento dos riscos dos investidores. “Compartilhar riscos para atrair e criar uma cultura. Este é um bom caminho”, concluiu. RUMOS - 37 – Julho/Agosto 2013 Divulgação A constatação não é reflexo de um pessimismo. Ao contrário. O advogado Rodrigo Menezes (foto), discorre com fluidez sobre os cenários e prognósticos positivos para as startups brasileiras. Mas ele faz um alerta: ainda é preciso avançar muito para chegarmos aos níveis de investimento alcançados em outras regiões que são referências para o mundo. “Nós estamos muito atrás. O governo até está sensível ao tema, mas a verdade é que temos que avançar muito”, afirmou. Seu diagnóstico está baseado em uma pesquisa realizada pelo escritório em que atua sobre os incentivos legais ao investimento em startups ao redor do mundo. O documento descreve os principais programas de estímulos ao investimento em pelo menos doze países que estão em diferentes estágios no que diz respeito ao apoio às empresas nascentes. Rodrigo aponta três países que poderiam ser boas referências para o Brasil na construção de sua própria política de incentivos legais ao investimento: França, Inglaterra e Estados Unidos. “Basicamente, são países que optaram por apoiar não apenas as grandes empresas, aquelas que individualmente vão render arrecadação alta, mas também pequenos empreendimentos, que têm enorme potencial para o desenvolvimento da economia do país. São experiências emblemáticas”, explicou. R REPORTAGEM NOVOS NEGÓCIOS “O Brasil ainda é bebê nisso. A primeira grande aquisição de startup aconteceu em 2009, com o site Buscapé, as aceleradoras foram criadas há apenas um ou dois anos, da mesma forma os investidores-anjos ainda estão no começo. Mas esse começo já é extremamente positivo. São ações experimentais, mas muito importantes porque estão criando precedente. É tudo muito novo”, reforça o vicepresidente da ABStartups. Se os resultados desse conjunto de ações, a longo prazo, podem significar o fortalecimento do que os empreendedores classificaram como “cultura de investimento”, só o tempo dirá. Mas para Felipe Martins, fundador e CEO da startup ÁgilSocial, de Belo horizonte, há apenas dez meses no mercado com uma plataforma de produtividade empresarial nas nuvens, ainda vivendo os “milhares” de desafios deste momento inicial, a hora é agora. “O cenário é positivo, nunca esteve tão favorável”. Na porta de entrada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o prédio de quatro andares quase passa despercebido. Nele, 19 empresas trabalham sob o acompanhamento de profissionais e pesquisadores das mais diversas áreas antes de se aventurarem no mercado. Lá funciona o Instituto Gênesis, braço da universidade que trabalha no apoio ao empreendedorismo, como incubadora de novas empresas, oferecendo cursos e no apoio ao desenvolvimento da comunidade local. O instituto já formou mais de 60 empresas, que juntas possuem taxa de sucesso de 86%, muito acima da média do país, na qual cerca de 40% dos novos empreendimentos morrem antes mesmo de completarem um ano de vida. Entre as empresas que hoje passam pelo processo de incubação no instituto, metade está na fase de pré-incubação, quando são desenvolvido o plano de negócio, construídos protótipos e analisado o mercado de atuação. Este primeiro momento pode durar de seis meses a um ano, dependendo do tipo de empreendimento. No segundo momento, os empreendimentos são incubados: é a fase de desenvolvimento e consolidação dos projetos. Os empreendedores contam com acompanhamento nas áreas financeiras, jurídicas, gestão, planejamento estratégico, entre outros aspectos que costumam ser as grandes dores de cabeça para as empresas que estão nascendo. Neste estágio, estes empreendimentos já atuam em seus segmentos e se relacionam com clientes, mas será somente após a graduação, última parte do processo, que as empresas de fato irão se aventurar no mercado. Trabalhando no instituto há dez anos, a gerente da área de empresas da Gênesis, Priscila Castro, enxerga boas mudanças nesta última década. “Hoje o cenário é outro. O mercado financeiro chegou mais próximo das startups. Há dez anos não se via isso, não tinha essa figura dos anjos. Então o mercado está amadurecendo e buscando mais na fonte dos empreendimentos”, comparou. Ela também destaca o aumento no fomento do poder público às iniciativas empreendedoras, sobretudo para aquelas à base de tecnologia. O instituto inclusive tem um grupo que trabalha com os empreendedores para ajudá-los a participar de editais e outros mecanismos de impulsão às empresas nascen- Divulgação Incubadora apoia novas empresas no Rio de Janeiro Empresas ficam incubadas no Instituto Gênesis, na PUC-Rio. tes. “Existem os mecanismos, mas muitas pessoas ainda deixam de entrar ou por falta de conhecimento, ou porque acham que é muito complicado”, avaliou Priscila. Para a diretora, além do desconhecimento, também faltam bons projetos que despertem a atenção dos investidores e que se encaixem nos editais públicos. “São poucos os projetos inovadores. Muitos pensam: ‘vamos pegar o que está dando certo lá fora e trazer’, mas não é isso que os investidores ou os editais buscam. Não é só copiar e colar”, criticou. Outra dificuldade, acredita, tem a ver com a própria formação dos empreendedores. “A maioria dos que chegam aqui vem de áreas mais técnicas, com este perfil técnico, e não tem o conhecimento em termos de gestão, de negócio. Muitos têm certa dificuldade para modelar o próprio empreendimento. E isso é o passo inicial, logo há uma preocupação nossa em ajudá-los nessa etapa”, completou. Para participar dos editais abertos pelo instituto é necessário que o empreendimento tenha algum vínculo com a PUC, em geral por meio da presença de alunos, ex-alunos ou professores entre os sócios da empresa. “O importante é possuir algum link com a universidade”, esclareceu. RUMOS - 38 – Julho/Agosto 2013