Manual de Normas Técnicas ABNT

Transcrição

Manual de Normas Técnicas ABNT
S
A
M
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O
N A T
D BN 5
A 01
2
Faculdade Teológica Batista Equatorial
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA EQUATORIAL
Mantenedor: SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA EQUATORIAL - STBE
Credenciamento: Portaria MEC N°3.531, de 13/12/2002 (D.O.U. de 16/12/2002)
Reconhecimento: Portaria MEC N° 384, de 19/03/2009 (D.O.U. de 20/03/2009)
BR 316, KM 01, 6241. Castanheira. CEP 66645-003. Belém-PA. Fone(s): (91) 3235-1605/1522. Fax: (91) 3245-1174.
E-mail: [email protected] / Site: www.fatebe.edu.br
Normas para Artigo Científico da FATEBE
1 – Os artigos devem seguir a seguinte especificação:
 Papel A4 padrão (210 x 297 mm) e margens superior e esquerda com 3
cm, e inferior e direita com 2 cm.
 Usar letra Times New Roman, fonte 12, com ambas as margens
justificadas.
 Utilizar linguagem culta.
 Em caso de ênfases no texto, usar itálicos somente. Noutras palavras,
não usar negrito ou subscrição no corpo do texto.
 Não hifenizar o texto
 Texto de no máximo 15 páginas (8.500 palavras), com espaçamento
simples.
 Indentação dos parágrafos de 1 cm.
 Citações com até 3 linhas serão apresentadas no corpo do texto, entre
aspas.
 Citações destacadas (com mais de 3 linhas) terão 2 cm de recuo da
margem esquerda; mas a margem direita permanece alinhada com o
corpo do texto. Neste caso, a fonte 11 deve ser usada
 Todas as páginas numeradas sequencialmente em baixo à direita.
 Se houver necessidade de desenhos, fotos e ilustrações, estes devem ser
de nítida qualidade.
 Não utilizar em hipótese alguma notas intratextuais. Noutras palavras,
usar notas tanto explicativas quanto bibliográficas no rodapé, com fonte
10 e em numerais arábicos sequenciais.
 Notas bibliográficas seguirão rígida e invariavelmente o seguinte
padrão. Primeira citação de uma obra: sobrenome em caixa alta, seguido
por vírgula, seguido por espaço, seguido por prenome/s, seguido por
ponto, seguido pelo título completo da obra em itálico, seguido por
ponto, seguido por espaço, seguido pelo local de publicação, seguido
por dois pontos, seguido por espaço, seguido pela casa publicadora,
seguido por vírgula, seguido por espaço, seguido pelo ano, seguido por
vírgula, seguido por espaço, seguido por “p.”, seguido por espaço,
seguido pelo numeral da página, seguido por ponto. Por exemplo:
TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Editora
Gente, 1996, p. 7. Da segunda citação da mesma obra em diante,
resume-se a primeira citação utilizando-se os seguintes critérios:
sobrenome em caixa alta, seguido por vírgula, seguido por espaço,
seguido pelo título italicizado (se possível abreviá-lo), seguido por
vírgula, seguido por espaço, seguido por “p.”, seguido por espaço,
seguido pelo numeral, seguido pelo ponto. Por exemplo: TIBA,
Disciplina, p. 7. Caso a referência envolva mais que uma página, usar
“pp.” Por exemplo: TIBA, Disciplina, pp. 7-10. Não utilizar “IBID.”
 O texto obedecerá rigorosamente a seguinte sequência: Primeiro –
Título do artigo em negrito, fonte 16, justificado a direita. Segundo –
logo abaixo do Título deve vir o nome do autor do artigo em negrito,
fonte 12, justificado a direita, seguido por asterisco que remete a um
rodapé com as seguintes informações: titulações com respectivos anos
de obtenção, função/ões, e instituição/ões a que se vincula. Por
exemplo: O autor é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife,
1982), mestre em Novo Testamento pela Potchefstroom University for Christian Higher
Education (África do Sul, 1987) e doutor em hermenêutica e pregação pelo Westminster
Theological Seminary in California (EUA, 2003). Ele é professor na Faculdade Teológica
Batista Equatorial e no International Reformed Theological College, é pastor efetivo da
Igreja Presbiteriana Central do Pará e vice-presidente da Junta de Educação Teológica do
Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Terceiro – segue-se o
RESUMO em caixa alta, fonte 14 em negrito, que deve conter entre 100
a 200 palavras. Quarto – segue-se as PALAVRAS-CHAVE (ou
EXPRESSÕES-CHAVE, se for o caso), em caixa alta, fonte 14 em
negrito, com no máximo 6 palavras. Quinto – segue-se a
INTRODUÇÃO (se houver), em caixa alta, fonte 14 em negrito. As
divisões seguintes (títulos, sub-títulos, etc) devem ser hierarquizadas,
conforme NBR 6024. Sexto – ao final do texto, segue-se uma
CONCLUSÃO, em caixa alta, fonte 14 em negrito, cujo conteúdo deve
“amarrar” o artigo; ou simplesmente tirar conclusões do que foi tratado
no corpo do texto. Sétimo – segue-se um ABSTRACT, em caixa alta,
fonte 14 em negrito, cujo conteúdo é a tradução do RESUMO inicial
para inglês. Oitavo – por último, tem-se KEY-WORDS, em caixa alta,
fonte 14 em negrito, cujo conteúdo é a tradução das PALAVRASCHAVES iniciais em inglês.
ANEXO I
EXEMPLO DE ARTIGO CIENTÍFICO
Culto: definição, objeto e maneira
D. B. Riker
RESUMO
O tema em relevo é tratado sob três prismas: (I) o que é o culto; (II) quem é o
objeto de culto; e (III) como o culto deve acontecer. Noutras palavras, em primeiro
lugar, tenta-se elucidar o que é cultuar. Uma definição etimológica é oferecida como
réplica. Em seguida, busca-se definir a quem é prestado o culto. Ou seja, faz-se uma
investigação a respeito da natureza do “deus” receptor da adoração. Finalmente, tenta-se
mostrar como o culto deve ser celebrado. Isto é, os princípios gerais que devem nortear
a maneira de oferecer culto são apresentados.
PALAVRAS-CHAVE: culto, princípios.
I – O que é cultuar?
A palavra “culto” deriva do Latim, cultu, e significa adoração ou homenagem a
Deus . Etimologicamente, o termo latino cultu envolve a raiz colo, colere, que indica
“honrar”, “cultivar”, etc. Classicamente, os Reformados Ortodoxos definiram “religião”
como recta Deum colendi ratio, “a maneira correta de honrar a Deus”2.
1
Os principais termos que descrevem o ato/atitude de “culto” são o Hebraico, ָ
‫ָׁ ח ח‬
(shachah) e o Grego, προσκυνέω (proskuneo). Essas duas palavras e seus derivados
correspondem a 80% do uso cúltico bíblico. O primeiro vocábulo, shachah, significa
“inclinar-se, prostrar-se”, como, por exemplo: “E acontecerá que desde uma lua nova
até a outra, e desde um sábado até o outro, virá toda a carne a adorar [lit. “prostar”]
perante mim, diz o Senhor” (Is. 66:23). A segunda palavra, proskuneo, indica
originalmente “abaixar-se para beijar”, vindo a indicar “prostrar-se para adorar”,
“reverenciar”, “homenagear”, etc.3. O exemplo clássico sai da boca de Jesus: “Deus é
Espírito, e é necessário que os que o adoram [προσκυνοῦντας] o adorem [προσκυνεῖν]
em espírito e em verdade” (Jo. 4:24).
Há ainda dois importantes termos que expressam ideias de culto. O primeiro é ‫ָעבַד‬
(abad), “servir”, “trabalhar”. Por exemplo, Yaweh diz a Moisés: “Certamente eu serei

O autor é bacharel em engenharia agronômica (B.A.) pela UFRA, (Belém, 1980), mestre em divindade
(M.Div.) pelo Beeson Divinity School, Universidade de Samford (EUA, 1997), mestre em teologia
sistemática (M.A.) pela Universidade de Londres (Inglaterra, 1998), e doutor em divindade (Ph.D.) pela
Universidade de Aberdeen (Escócia, 2006). Presentemente, ele é Diretor Geral e Professor de teologia
sistemática da Faculdade Teológica Batista Equatorial, além de editor da revista Sistemática Equatorial.
1
TORINHA, Francisco. Dicionário Latino Português. Porto: Gráficos reunidos, 1937, s.v. FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 1996, s.v. “cultu”.
2
MULLER, Richard. Dictionary of Latin and Greek Theological Terms: Drawn Principally from the
Protestant Scholastic Theology. Carlisle, United Kingdom: Paternoster Press, 1985, s.v. “cultus”.
3
Thayer’s Greek Lexicon, s.v. Disponível em http://concordances.org/greek/4352.htm. Acesso em
05/jun/2012.
1
contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito o
meu povo, servireis a Deus neste monte” (Ex 3:12). A segunda palavra é λατρεία
(latreia), “servir”, como visto no diálogo de Cristo com o diabo: “Então ordenou-lhe
Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás
[προσκυνήσεις], e só a Ele servirás [λατρεύσεις]” (Mt. 4:10). É interessante notar que
um dos locus classicus de adoração e culto utiliza este termo para descrever a entrega
do corpo a Deus como “culto racional” [λογικὴν λατρείαν] (Rm. 12:1).
O que se pode concluir deste rápido estudo etimológico? “Cultuar” envolve tanto
a ‘homenagem ou reverência’ a Deus, quanto o ‘serviço’ a sua Pessoa!
II – Quem é cultuado? (Deus enquanto sujeito)
Antes de qualquer asserção a respeito do Deus que se pretende “definir”, é mister
salientar que toda tentativa de descrever o Ser de Jeová envolve a sua própria auto
revelação. Enquanto sujeito, Deus é conhecido tão somente de acordo com as condições
que Ele mesmo deseja e impõe através da revelação. Ele jamais deve ser objetificado,
pois o mesmo é completamente livre e não uma coisa e/ou criatura que pode ser
manipulável por seres humanos4.
A divindade da revelação judaico-cristã é o Criador de tudo (Gn.1). Este mesmo
ser Criador estabeleceu aliança com um povo em particular (Abraão, Isaque e Jacó; Gn.
12-35; Israel; Êx. 19:1-24:18, Concerto Sinaítico; etc.), e redimiu esse povo (Êx. 3:116:36). Esse Ente é transcendente e imanente! Ou seja, Ele é santo, inacessível e
misterioso (Sl. 99), mas também está perto “de todos os que o invocam... Ele acode a
vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva”. (Sl. 145:18-19). Um
exemplo bem forte e pontual de ambas características divinas (transcendência e
imanência) vem do profeta Isaías. “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a
eternidade, o qual tem o nome de Santo: ‘Habito no alto e santo lugar, mas habito
também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e
vivificar o coração dos contritos’” (Is. 57:15).
Como consequência direta da citada imanência, esse ser é (contrário ao Deísmo)
capaz de intervir na criação. Por outro lado, devido a sua transcendência, Deus não pode
ser (contrário ao Panteísmo) equiparado e/ou confundido com a criação. Ele é
totalmente outro, Ele é um Rei que age segundo o seu beneplácito, e nunca um ídolo
manuseável (cf. doutrina da aseidade divina).
Desde o início da revelação, o Criador tem se mostrado plural em unidade. A
unidade, por sinal, era a ênfase do monoteísmo veterotestamentário. O fato que Deus é
um pode ser visto no Shemá, recitado pelos judeus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus
é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de toda a tua força” (Dt. 6:4-5). Muitas outras referências poderiam ser
apresentadas atestando o monoteísmo Judaico. Por exemplo: “Eu Sou o Senhor, e não
há outro; além de mim não há Deus; Eu te fortalecerei, ainda que tu não me conheces.
Para que se saiba, até ao nascente do sol e até o poente, que além de mim não há outro;
4
A ênfase de Deus enquanto sujeito emerge principalmente do pensamento de Blaise Pascal (1623-1662),
Soren Kierkegaard (1813-1885), Emil Brunner (1889-1966) e Karl Barth (1886-1968). Vide McKIM,
Donald K. Westminster Dictionary of Theological Terms. Louisville, USA: Westminster John Knox
Press, 1996, s. v. “God as subject”. Cf. Is. 45:21-22; 44:6-8; Rm. 3:30; ICo. 8:6; ITm. 2:5; etc.
2
Eu Sou o Senhor, e não há outro” (Is. 45: 5-6).
Por outro lado, como já dito, há pluralidade no seio do Altíssimo. Logo no
começo da Bíblia já se vê que a estrutura da Deidade não é monolítica. Ao decidir criar,
Ele assevera: “Façamos o homem a nossa imagem e conforme a nossa semelhança”
(Gn. 1:26). Nota-se nesse texto que tanto o verbo quanto os pronomes são utilizados na
primeira pessoa do plural. A mesma coisa é observada mais tarde na queda edênica:
“Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn. 3:22).
Há muitas outras ocasiões no Antigo Testamento que mostram que Deus é plural em seu
interior5.
Levando em conta a revelação orgânica apresentada pelas Escrituras, no Novo
Testamento a pluralidade de Deus apresenta-se como Trindade. A unidade de Deus é
inferida como Trindade de pessoas. O quadro clássico dessa apresentação é a cena do
Batismo de Jesus. Temos aqui a pessoa do Filho sendo batizado, a pessoa do Pai
aparecendo em forma de voz, e a pessoa do Espírito Santo mostrando-se em forma de
ave (Mt. 3:16-17). Apoiando tal interpretação, a Grande Comissão é articulada
Trinitariamente: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando no nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo”. De igual modo, a benção paulina é efetuada em nome do
Deus Trino: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co. 13:13). Note-se que tanto na Grande
Comissão como na citada benção, o Espírito Santo é colocado em pé da igualdade com
a pessoa do Pai e a pessoa do Filho. Consequentemente, a pessoa do Espírito possui o
mesmo status que as pessoas do Pai e do Filho. Outros muitos exemplos poderiam ser
dados apontando na direção da doutrina Trinitária do Deus que adoramos6.
A ortodoxia cristã acabou por definir o ser divino como existente em três pessoas,
porém com a mesma essência (οὐσία). Pai, Filho e Espírito Santo, respectivamente
Primeira, Segunda e Terceira Pessoas da Trindade, possuem o mesmo poder, glória e
eternidade.
Para concluir da forma mais sumária e direta possível, como poderíamos
responder a pergunta: quem é Deus? O maior teólogo do século XX, o suíço Karl Barth
(1886-1968) dizia o seguinte: “Você quer saber quem é Deus? Você deseja saber quem
criou este universo com bilhões de estrelas, e com distâncias inimagináveis? Olhe para o
rosto barbado de Jesus de Nazaré”7.
III – Como Deus deve ser cultuado (princípios)
À guisa de melhor elucidação, é de bom siso verificar-se (1) “como Deus não
deve ser cultuado”, antes de tentar-se estabelecer (2) “como Deus deve ser cultuado”.
Para tanto, dois princípios de antropologia hebraica podem ser úteis, a saber, (i) unidade
individual e (ii) unidade corporativa.
5
“A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is. 6:8. Cf. Sl. 45:5,7; Gn. 11:7; Is. 48:16; etc.)
1Co. 12:4-6; Ef. 4:4-6; Jd. 20 e 21; 1Pe. 1:2, etc.
7
Sermão comemorando a Ascenção de Cristo, uma série de sermões pregados na Basileia em 1956.
Disponível em: http://www.worldinvisible.com/library/barth/prayerpreaching/prayerpreaching.07.htm.
Acesso em 10/nov/2009.
6
3
III.1.i. – Unidade individual
A ‘unidade’ do ser humano ou ‘integridade’8 do indivíduo, como articulada no
Antigo Testamento, apresenta um excelente contra ponto ao Dualismo Platônico
Ocidental. De maneira geral, esse Dualismo ensinava que a matéria era má e o espírito
bom, que o corpo corrupto era habitado por uma alma preexistente boa e pura, alma essa
possuidora de um conhecimento inato proveniente da contemplação de ideias eternas9.
Pode se derivar facilmente desse platonismo uma divisão entre mundano e santo,
profano e sagrado, material e espiritual, vida secular e vida cúltica. Nesse modelo, a
pessoa poderia levar uma vida torpe e vulgar por ser o corpo material e, ao mesmo
tempo, levar uma vida de adoração irrepreensível.
A antropologia hebraica distingue o material do espiritual sem, todavia, separálos. O ser humano é uma unidade indivisível de corpo e alma! Consequentemente, é a
pessoa como um todo que cultua a Deus. Jeová é visto como aquele que perdoa o
pecado interior e, simultaneamente, cura o corpo e o supre com riquezas: “Bendize, ó
minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome... Ele é
quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da
cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; quem farta de bens a tua
velhice,... (Sl. 103: 1, 3-5a). Essa unidade, então, faz do indivíduo um ser íntegro, um
ser indivisível composto de material e imaterial, e, portanto, devendo prestar culto como
um todo.
Uma consequência direta da integridade da pessoa é a rejeição do formalismo.
Em relação à atividade cúltica, o termo ‘formalismo’ pode ser definido como culto
exterior divorciado de conteúdo interior. Os profetas da Antiga Aliança atacaram
duramente tal prática. Através da ênfase na ‘forma’, todo o aparato levítico era
fielmente seguido, enquanto que, concomitantemente, o suborno era cometido, o justo
perseguido, o pobre rejeitado (Am. 5:2); ...e ainda, o roubo era praticado, o crime
perpetrado, o órfão e a viúva ignorados (Is. 1:21-23). Noutras palavras, as belas
ordenanças e festas comandadas pela Torah eram mantidas em meio a um caudal de
impiedade e hipocrisia (Is. 1:10-16). Jesus, de igual modo, censurou o culto hipócrita:
tanto a esmola como a oração não deveriam chamar a atenção (Mt. 6:2-5). A estrita
observação da forma, como no caso dos escribas e fariseus, era um contra senso quando
a piedade pessoal era descartada (Mt. 23:1-33)10.
III.1.ii. – Unidade corporativa
O individualismo contemporâneo, no qual o indivíduo é uma ilha completamente
separável de sua comunidade, pareceria estranho ao povo da Velha Aliança. No Antigo
Testamento tanto bênçãos quanto maldições eram prometidas à comunidade como um
todo: “Eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos
filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até
8
Palavra derivada de ‘íntegro’, do Latim, integer, ‘intato’, ‘inteiro’, ‘completo’.
Cf. O’COLLINS, Gerald e FARRUGIA, Edward G. A Concise Dictionary of Theology. Edinburgh: T &
T Clark, 2000, s.v. “Platonism”.
10
ELWELL, Walter A. (Editor) Evangelical Dictionary of Biblical Theology. Paternoster Press: Carlisle,
UK: 1998, s. v. “Worship”.
9
4
mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êx. 20:5 e
6)11.
O mesmo conceito de unidade corporativa pode ser visto reiterado na
transversalidade dos testamentos: “E por assim dizer, também Levi que recebeu
dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por
seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb. 7:9-10)12.
Este princípio demonstra que há pontos de conexão entre o indivíduo e a
comunidade que ele pertence. Por exemplo, aquele que alega cultuar individualmente a
Deus, mas insiste em não fazer parte da igreja local, “nega” a unidade corporativa e
abdica da participação no corpo visível de Cristo. Isto representa uma anomalia
combatida pela própria Bíblia: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de
alguns...”. (Hb.10:25).
III.2. – Introdução aos ‘princípios do culto cristão’ (1Co 11-14)
Há uma grande diferença entre o culto no Antigo versus no Novo Testamento.
Enquanto que naquela Aliança havia rico manual de procedimentos cúlticos, nesta há
apenas parcos e gerais princípios de adoração.
A religião do judeu era repleta de tipos, símbolos e figuras; a religião de Cristo
contém apenas dois símbolos: o Batismo e a Ceia do Senhor. A religião do judeu
alcançava o adorador principalmente por meio dos olhos; a religião do Novo
Testamento apela diretamente ao coração e a consciência... Os Judeus podiam abrir
os escritos de Moisés e achar rapidamente os itens de sua adoração; os cristãos
podem apenas indicar alguns textos e passagem isoladas que devem ser aplicados a
cada igreja, de acordo com as circunstâncias13.
Uma dessas passagens encontra-se na primeira carta de Paulo aos Coríntios.
Desse texto emanam seis princípios gerais relativos ao culto. São eles: (i) amor, (ii)
autoridade, (iii) participação, (iv) inteligibilidade, (v) reverência e (vi) edificação.
III.2.i. O princípio do amor
Não há dúvidas que o amor é um princípio cúltico. Tanto é assim que Paulo inicia
as discussões acerca da hierarquia dos dons com este princípio norteador: “Segui o amor
e procurai com zelo os dons espirituais...” (1Co. 14:1). Os dons serão corretamente
exercitados se o amor estiver em primeiro lugar. O “amor”, aqui ressaltado, não é mero
emocionalismo. A palavra grega traduzida como “segui” (διώκετε) foi apropriadamente
rendida pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH - SBB) como “esforcem-se
para ter o amor”. Consequentemente, o “amor” solicitado por Paulo é uma atitude
11
Em contra partida, Dt. 24:16 e Ez. 18:20. O contexto de Dt. 24:16 versa sobre procedimentos nas cortes
de justiça vis-à-vis procedimentos judiciários: “Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, e nem os
filhos, nos lugares dos pais; cada qual será morto pelo seu pecado” (Dt. 24:16). Quanto a Ezequiel, o
texto encontrado no capítulo 18 versículo 20 (“A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a
iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade
do ímpio cairá sobre ele”), trata da Justiça de Deus em relação ao indivíduo que deseja se arrepender.
Embora Deus trate individualmente com um e com outro, tal fato não impediu que todos fossem levados
cativos na época de Ezequiel devido os pais terem desobedecido a Deus.
12
Adão e Cristo como representantes da raça.
13
RYLE, J. C. Adoração: Prioridade, Princípios e Prática. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010, p.
25.
5
voluntária que lubrificaria o funcionamento dos dons na igreja. Tanto para os que
apoiam quanto para os que negam o cessacionismo14, o princípio do amor, obviamente,
não mudou!
A falta de amor na igreja corintiana estava gerando divisões, contendas, ciúmes
e partidarismo: “eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas, eu de Cristo...” (1Co. 1:1012; 3:3). A falta de amor estava fazendo com que um irmão levasse outro ao tribunal.
Que tipo de culto pode haver quando “vos mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e
isto aos próprios irmãos?” (1Co. 6:6-8). A soberba do irmão, supostamente “maduro”,
revela a falta de amor para com o irmão fraco. Ao participar na “mesa, em templo de
ídolo”, o indivíduo demonstra falta de amor a Deus (“mas se alguém ama a Deus esse é
conhecido por Ele” - 1Co. 8:3) e falta de amor ao irmão fraco (“...e assim por causa do
teu saber, perece o irmão fraco pelo qual Cristo morreu” - 1Co. 8:11). A falta de amor
durante o culto eucarístico fazia com que um irmão passasse fome, enquanto o outro se
embriagasse (“porque ao comerdes, cada um tome antecipadamente a sua ceia; e há
quem tenha fome, o passo que há quem se embriague” - 1Co.11:21). A falta de amor
fazia com que pessoas em posição de maior autoridade menosprezassem os que
ocupassem posições inferiores. Embora Deus tenha estabelecido “primeiramente
apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres”, etc. (1Co. 12:28); é
bom também levar em conta que “os olhos não podem dizer a mão: não precisamos de
ti... Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos, são necessários”
(1Co. 12:21-22). Bem no meio das orientações cúlticas, há um capítulo inteiro sobre a
preeminência do amor ante qualquer dom, seja dom sobrenatural, como “fé ao ponto de
transportar montes” (1Co. 13:2); ou natural, como conhecer “toda a ciência” (13:2);
sacrifício extremo, como distribuir “meus bens entre os pobres” (13:3); e até mesmo o
martírio, entregando “meu próprio corpo para ser queimado (13:3). Todas essas coisas
são inúteis sem o amor. Esse é o princípio sine qua non do culto verdadeiro e aceitável a
Deus.
III.2.ii. Princípio da autoridade
Antes de fornecer instruções para a celebração da Ceia do Senhor (1Co 11:17-34),
Paulo estabelece um princípio de liderança funcional masculina no ordenamento das
atividades cúlticas: a mulher deve estar em sujeição e o homem deve exercer
autoridade!
Aparentemente, a igreja em Corinto enfrentava uma situação semelhante à
observada hoje, dado o fato daquela grei ter escrito a Paulo perguntando sua posição a
respeito de vários assuntos: “Quanto ao que me escrevestes...” (1Co 7:1). Dentre outros
assuntos (casamento, capítulo 7; sacrifícios a ídolos, cap. 8; etc.), os coríntios
indagaram o apóstolo acerca da submissão feminina.
Paulo apresenta quatro razões para sustentar a liderança masculina. A primeira
reza que a relação entre Cristo e Deus encontra paralelo entre o homem e a mulher.
Deus é o cabeça de Cristo e o homem é o cabeça da mulher. Em ambos os casos, a
mesma palavra grega (κεφαλή) é utilizada. Cristo, com a mesma essência e dignidade
do Pai, possui um papel de sujeição diante de Deus. A mulher, com a mesma essência e
dignidade do homem, possui um papel de sujeição relativo ao homem: “Quero,
entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça [κεφαλή] de todo o homem, e o homem o
cabeça [κεφαλή] da mulher, e Deus o cabeça [κεφαλή] de Cristo” (1Co. 11:3). Portanto,
14
Doutrina que reza que todos os dons extáticos cessaram após o período apostólico.
6
a liderança masculina deve ser mantida no culto. Ao abdicar sua posição ou função de
autoridade, o homem “desonra sua própria cabeça” (1Co 11:4)15. Os papeis devem ser
mantidos no ambiente do culto desta maneira porque Deus deu ao homem a função de
líder, enquanto que à mulher foi dado o papel de coadjuvante (1Co. 11:7, “Porque, na
verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a
mulher é glória do homem”, cf. Pv. 12:4.). Ao homem foi dada a honra de reger a
criação: Adão recebeu domínio e autoridade sobre a ordem criada, portanto o homem,
funcionalmente, é a “imagem e glória de Deus”16. Por outro lado, como vice-regente, a
mulher leva a cabo o governo do homem, representando-o de modo excelente. Esta
magnífica embaixadora é a “glória do homem”. Este ponto pode ser resumido da
seguinte forma: da mesma maneira que “o homem manifesta quão magnífica criatura
Deus pode criar a partir de Si mesmo, assim também a mulher manifesta quão
magnífica criatura Deus pode criar a partir do homem (Gn. 2:21-22)”17.
Em seguida, Paulo apresenta duas outras razões para sustentar a liderança
masculina: primeiro, um argumento fundamentado na ordem da criação; e, segundo,
um argumento a partir da finalidade. No primeiro argumento, ecoando Genesis 218, o
apóstolo afirma que o homem foi criado antes da mulher e essa tem sua origem nele:
“Porque o homem não foi feito da mulher; e, sim, a mulher do homem” (1Co 11:8 cf.
1Tm 2:13). Noutras palavras, o homem, por assim dizer, é “primogênito” e “fonte” de
onde veio a mulher. No segundo argumento, Paulo mostra que a finalidade da mulher é
ajudar o homem e não vice-versa: “Porque também o homem não foi criado por causa
da mulher; e, sim, a mulher, por causa do homem” (1Co 11:9)19.
Estas três razões até aqui apresentadas, cabeça, criação e finalidade, são
claramente aculturais. Noutras palavras, não há aqui o elemento limitador cultural que
cerceie a aplicação do princípio de liderança masculina aos nossos dias. A primeira
razão, cabeça (κεφαλὴ), transcende a própria criação; enquanto que as duas últimas
(ordem e finalidade) foram estabelecidas no ato da criação20.
Ainda há uma quarta razão elencada pelo apóstolo, e essa com um viés cultural.
Paulo aponta para a subserviente ordem sobrenatural, alegando que os poderosíssimos
anjos que estão em perpétua e completa submissão a Deus ficariam ofendidos ao ver
insubmissão feminina. Noutras palavras, as mulheres devem manter-se sujeitas não
apenas por causa da ordem natural instituída na criação, mas também por causa da
15
Calvino ilustra isto como segue: um embaixador nomeado por um rei para representá-lo, mas que não
sabe como se comportar, e acaba “barateando sua posição”. Ao proceder dessa forma, ele traz desonra ao
rei que ele representa. De igual maneira, a mulher ao atuar na igreja visível e independentemente, ou seja,
com a cabeça descoberta ou tosqueada, desonra o homem (1Co 11:5-6).
16
A Queda “fortaleceu” ainda mais esta posição, introduzindo um grau de conflito: “Teu desejo será para
teu marido e ele te governará”. Ou seja, a mulher tentaria dominar, conquistar, vencer o homem, mas o
homem [“forçosamente”] a governaria!
17
MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament Commentary: First Corinthians. Chicago:
Moody Publishers, 1984, p. 258.
18
Gn. 2:21-22 “Então o Senhor Deus fez cair o pesado sono sobre o homem, e este adormeceu: tomou
uma de suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor tomara ao homem,
transformou-a numa mulher, e lha trouxe”.
19
Cf. “Disse mais o Senhor: não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja
idônea” (Gn. 2:18). Enquanto que o homem é independente da mulher, devendo liderar, proteger e cuidar
da mesma; a mulher, por outro lado, é dependente e deve estar sujeita ao homem.
20
Ainda poderíamos ressaltar que isso foi estabelecido, obviamente, antes da Queda!
7
ordem sobrenatural: “Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça
como sinal de autoridade” (1Co 11:10). Enquanto que o véu perdeu o conteúdo
representativo (o véu sobre a cabeça de uma mulher hoje não transmite a mensagem de
submissão que representava no primeiro século), o princípio representado pelo véu—
submissão à autoridade—continua válido. A validade deste princípio é corroborada
pelas três primeiras razões apresentadas!
Por fim, Paulo afirma que a diferença de função não deve nos separar: “No
Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é
independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim o homem é
nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (1Co 11:11-12). Ou seja, espiritualmente
somos todos iguais, a despeito da manutenção dos papeis estabelecidos por Deus.
Diante de todos esses argumentos, não há como negar o fato de que, no geral,
compete ao homem liderar e a mulher ser liderada. Esta diferença de papeis não implica,
de modo algum, em inferioridade espiritual; essa diferença visa apenas à ordem
funcional do culto. Por sinal, cabe ressaltar que a mesma ordem é normativa para o
funcionamento do lar: em reverência a Cristo, esposas devem ser lideradas pelos
maridos, bem como filhos pelos pais (Ef 5:22-6:1). Assim, o homem que não lidera bem
a sua própria casa não deve liderar na igreja (1Tm 3:4-5). Em uma sentença: o Novo
Testamento atribui ao homem o papel de líder!
III.2.iii. Princípio da Participação
Uma diferença marcante entre ‘cultuante’ e ‘espectador’ é a atividade daquele
versus a passividade deste. Enquanto o adorador interage no culto, o espectador é um
mero receptáculo. Uma palavra parece resumir tudo: participação!
Assim diz o apóstolo: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem
salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua e ainda outro
interpretação...”. (1Co 14:26). A pergunta que inicia o versículo em destaque: “Que
fazer, pois, irmãos?”, pode ser interpretada como apontando para uma sugestão, um
comando, ou uma narrativa: os comentaristas divergem quanto ao exato significado
dessa pergunta. Todavia, independente da mesma sugerir, comandar ou meramente
narrar o que estava acontecendo na igreja, não há dúvidas que participação no culto não
era privilégio apenas do oficiante. Ao contrário, a dinâmica do culto envolvia a
participação do auditório com salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação.
Consequentemente, infere-se que a participação coletiva no culto era normal na vida da
igreja. A maneira como essa participação deve acontecer hoje em nossas igrejas é
facultado às mesmas decidirem. O que não pode acontecer é a não participação dos
crentes no culto!
III.2.iv. Princípio da inteligibilidade
Deus criou o ser humano com a distinta capacidade da razão (homo sapiens). Daí
a habilidade de: entender, inferir consequências, e agir à luz das informações que
chegam aos sentidos. O dito católico romano que alega que “a ignorância é a mãe da
devoção” é falso21. Imagens, sinais, linguagem, símbolos, representações e/ou quaisquer
coisas que, ao invés de ajudar, obstruam o entendimento, devem ser evitadas. “...prefiro
falar na igreja cinco palavras do meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil
21
RYLE, Adoração, p. 19.
8
palavras em outra língua. Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede
crianças; quanto ao juízo sede homens amadurecidos” (1Co 14:19-20). Diz mais o
apóstolo, “... irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos
aproveitarei...? É assim que instrumentos inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando
emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na
flauta, ou na cítara? Pois também se a trombeta der som incerto quem se preparará para
a batalha? Assim vós, se com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se
entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar” (1Co. 14:6-9).
Russell Shedd diz o seguinte em relação a inteligibilidade do culto:
Lastimáveis e indesculpáveis são as reuniões das igrejas em que uma torrente de
palavras é pronunciada, mas poucos, ou mesmo ninguém, consegue ouvir a voz de
Cristo. ‘Eis que estou à porta (da igreja reunida, celebrando a ceia) e bato, se
alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e
ele comigo’ (Ap. 3:20). Obviamente, conforme o texto acima, a surdez espiritual
não é um mal que surgiu em nosso século [...] O principal desejo daqueles que se
reúnem para cultuar a Deus deve ser o reconhecimento de que de fato Ele está em
nosso meio e fala através do salmo que um determinado irmão compartilha, ou pela
doutrina exposta, ou pela revelação (desvendamento da presença do Senhor por
meio da voz que fala com autoridade vinda dEle) ou língua, ou interpretação (1Co.
14: 25-26) [...] Poucas igrejas praticam este “culto primitivo” que Paulo descreve,
mas isso não deve anular o objetivo de se reunir22.
O resumo do pensamento de Shedd é que a voz de Deus precisa ser ouvida pelos
cultuantes de forma clara!
III.2.v. Princípio da reverência
Este princípio geral resume a maneira pela qual a indecência e a desordem são
evitadas: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1Co 14:40).
Embora as duas palavras, “decência e ordem”, tenham uma aplicação tanto
individual como coletiva, “decência” visa mais o indivíduo, enquanto que “ordem” tem
mais afinidade com o coletivo. A decência (εὐσχημόνως) tem relação com a reverência
e respeito devidos ao culto a Deus prestado pelo indivíduo. De igual modo, a ordem
(κατὰ τάξιν) indica a organização como um todo: essa expressão é também usada para
descrever a formação militar. De forma resumida, a reunião da igreja deve ser
conduzida com a reverência do indivíduo e a sincronia do coletivo.
III.2.vi. Princípio da edificação
Ao falar sobre os dons espirituais, Paulo diz que os mesmos devem ser buscados
“com zelo” (1Co 14:1). Tal zelo deve ser empregado principalmente na busca por
προφητεύω (προφητεύητε, no texto aparece o subjuntivo plural, “que vós profetizeis”).
Independente do significado da palavra “profetizar”, busca-se aqui a razão pela qual o
apóstolo coloca este dom em primeiro plano. Ele diz, explicitamente, que o uso de
προφητεύω produz “edificação, exortação e consolo” (14:3). Enquanto aquele que
possuía o dom de línguas edificava apenas “a si mesmo”, a profecia edificava a igreja
como um todo (14:4). De fato, diz Paulo, “Eu quisera que vós todos falásseis em outras
22
SHEDD, Russell. Adoração Bíblica: os fundamentos da verdadeira adoração. Edições Vida Nova,
2007, p. 49.
9
línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que
fala em outras línguas, salvo se as interpretar ‘para que’ [ἵνα] a igreja receba
edificação” (14:5). O contexto geral do capítulo em destaque revela que o objetivo dos
dons espirituais era a “edificação da igreja” (14:12). Rompantes explosivos de
individualismo espiritual, para não dizer “ostentações”, devem ser evitados: “...porque
tu de fato dás bem as graças, mas o outro não é edificado” (14:17). Assim, “não
havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”
(14:29).
Como conclusão a esta seção, vale frisar que esse princípio foi exposto por
último, porque tudo deve cooperar para a edificação do corpo de Cristo: seja o uso dos
dons, seja a ‘reverência’ como possibilitadora de ordem e decência; seja a ‘participação’
como exercício dos dons visando crescimento; seja a ‘autoridade’ com vista ao correto
princípio de funcionamento dos papeis estabelecidos por Deus; e, finalmente, seja até
mesmo o amor, em cuja ausência a almejada edificação não aconteceria.
IV – CONCLUSÃO
O próprio Cristo nos ensinou que Deus deseja culto “em espírito e em verdade”
(Jo. 4:23-24). Esta dupla pauta envolve nosso interior (coração puro e sem fingimento,
Sl. 24:3,4 e 103:1,2), e o exterior também. Consequentemente, há necessidade de
buscarmos a verdade dos fatos concernente a Deus revelados em Sua Palavra. Devemos
rejeitar modismos, garantindo, assim, a presença do Senhor em nossos cultos.
Rejeição de modismo e de sincretismo
- Modismos: Vivemos no mundo do “politicamente correto”, e esse ambiente
tenta impor ideias que muitas vezes são hostis aos princípios bíblicos. Temos que ser
corajosos e, por vezes, “nadar contra a correnteza”. Ao fazer assim, obviamente,
teremos que pagar o preço de sermos taxados de preconceituosos, fundamentalistas,
retrógrados, antiquados, etc.
- Sincretismo: No Antigo Testamento o povo hesita no serviço ao Senhor e a
outros deuses. Isto é assim nos tempos de Josué (Js. 24:14-19), passando pela
ciclicalidade dos juízes e culminando na repreensão pública de Elias aos Israelitas (1Rs.
18:21) e posterior derrota dos profetas de Baal (1Rs. 18:36-40). Jesus, de igual modo,
condena o sincretismo alegando ser impossível servir a Deus e a Mamon (Mt. 6:24).
Paulo combateu ferozmente o sincretismo judaizante que misturava o evangelho com
elementos legais (Gl. 3:1-14). Nossa postura não pode ser diferente!
Presença assegurada
Como conforto e garantia de vitória, temos as palavras do Mestre que nos
assegurou sua presença onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome (Mt. 18:20);
nos assegurou sua presença no estabelecimento da nova aliança e comunhão de seu
corpo e sangue (Mt. 26:26-29); e, finalmente, nos assegurou sua presença “até a
consumação dos séculos” (Mt. 28:20). Nem anjos, nem principados, nem coisas do
10
presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer
outra criatura, poderá nos separar da presença de Deus e de Cristo Jesus23.
Finalmente, sendo esta presença uma verdade irrefutável, cultuemos “...àquele que
é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos ante a sua glória imaculados e
jubilosos, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória,
majestade, império e poder, antes de todos os séculos, e agora, e para todo o sempre.
Amém” (Jd. 24-25).
ABSTRACT
The theme, “worship: definition, object and manner”, will be dealt with under
three aspects: what is worship; who is the object of worship; and how worship should
happen. In other words, firstly, an attempt is made to clarify what is worship. An
etymological definition is offered as an answer. Next, an effort is made to define who is
worshipped. That is, an investigation about the nature of the “god” to be worshipped is
tried. Finally, an attempt is undertaken to show how the service should take place. In
other words, the general principles which should govern a church service are presented.
KEY-WORDS: worship, principles.
23
Conforme Romanos 8:38-39.
11

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