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PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) Professor Feijó A linguagem do futebol em Portugal Luiz César Saraiva Feijó vem pesquisando a linguagem especial do futebol há muitos anos. Seus primeiros trabalhos a respeito apareceram no jornal O Diário de Notícias, do Rio de Janeiro (já fora de circulação há alguns anos), entre 1963 e 1964. Publicou, em 1965, na Miscelânea Filológica Em Honra À Memória do Professor Clóvis Monteiro, o seu primeiro trabalho acadêmico, intitulado Aspectos da gíria no futebol. "Apresentamos somente alguns termos e expressões. Nos nossos livros sobre a linguagem do futebol há mais de 500 outros termos explicados." NC = Neologismo Conceitual NF = Neologismo Formal 1- À ALTURA DOS PERGAMINHOS "Quando uma equipa de grande reputação joga bem" (HB). O futebol visto como arte nobre. Visão elitizante do jogo. A expressão "à altura dos pergaminhos" conota erudição, respeitabilidade, principalmente tratando se de uma equipe de grande reputação, da qual não se poderia esperar outra atuação que não fosse a de jogar um futebol de primeira qualidade. Mas nem todos os ouvintes ou leitores entendem o significado desta expressão, principalmente se não forem aficcionados do futebol. Pudemos isso comprovar, em Portugal, pois pedimos a mais de doze pessoas, todas de nível superior, mas sem ligação nenhuma com o futebol, que nos dessem os significados de alguns termos ou expressões tiradas dos jornais especializados ou ouvidas em transmissões de rádio, como foi o caso de "à altura dos pergaminhos". O resultado foi que ninguém soube os sentidos dos termos ou expressões. Estamos diante de uma expressão que não é entendida por todas as pessoas do mesmo grupo social, caracterizando se diferentes repertórios lingüísticos dentro do grupo, o que vale dizer, caracterizando o diastraticismo. Formas diastráticas são diferentes falares sócio-culturais. 2- A BOLA É REDONDA Na gíria do futebol brasileiro existe a expressão "jogar uma bola redonda", que significa jogar muito bem. Em Portugal a expressão a bola é redonda é usada para uma advertência, na véspera do jogo. As frases feitas populares mostram que a advertência fica sempre bem marcada com breves definições ou afirmações óbvias, como: "O mundo gira"; "Todos os rios correm pro mar"; "Quem planta vento, colhe tempestade e muitas outras. A BOLA É REDONDA tem o significado de advertir, dizendo se que tudo pode acontecer (, pois a bola é redonda... e rola igualmente para os dois times que se confrontam). A bola pode rolar para um lado ou para o outro. A bola é redonda, sabes ? Qualquer um dos times pode vencer. Corresponde, no Brasil, a: "o vento que venta lá, venta cá" ou ainda, "o risco que corre o pau, corre o machado" , outras frases feitas portadoras do sema advertência. 8- ALA DIREITA Expressão política aproveitada para a linguagem crítica, nos periódicos especializados. Quanto a este procedimento, é oportuno citar parte do artigo Os tempos negros da censura, de Carlos Miranda: "O Baptista Bastos admite que nós, os desportivos, também resistimos um bocado, com o uso de metáforas, que normalíssimas no sector desportivo, ganhavam outro aspecto, quando interpretadas num segundo sentido. E citou exemplos: 'Como a palavra vermelho estava (e está, queira ou não) associada à Esquerda, muitos de nós (mas nem todos, repito) usávamo la, habitualmente nos títulos dos relatos de futebol onde participava o Benfica. Assim por exemplo:'Os vermelhos esmagam a inércia de..., ou 'Vermelha é a cor da vitória' ou ainda: 'Força, vermelhos!', com ponto de exclamação e tudo". Outro caso: 'O dia do Operário'. A censura não leu e não gostou. Tratava se do Operário Futebol Clube.(A Bola, 22/09/95, p.36). 10- ALTO RISCO "Um Benfica Porto é um jogo de alto risco; desafio de grande tensão, possível de bofetadas". (HB) Um jogo de alto risco é aquele em que pode haver confronto entre as torcidas, dentro dos estádios , resultando sérias conseqüências pelas atitudes beligerantes dos espectadores. Está ligado à violência fora e dentro do gramado onde o jogo de futebol se desenrola. Esta expressão está presente também fora da linguagem dos esportes, como pode se observar nos comentários jornalísticos que focalizam temas como a síndrome do HIV, por exemplo. Em Portugal não se usa o termo AIDS. Lá o termo é SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Parece que a trajetória da expressão ALTO RISCO foi file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (1 of 6)3/5/2006 17:24:30 PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) de fora para dentro da linguagem dos esportes de massa, que a acolheu. Um caso de imigração. 11- ÂNGULO "Figura formada por dois semiplanos com as mesmas origens, possíveis de serem encontrados nas balizas". (HB) Estas expressões também é muito usada pelos locutores e comentaristas de futebol no Brasil. "Foi no ângulo", "bem no ângulo", "a bola entrou bem no ângulo" são expressões muito ouvidas. Trata se de um raro momento lingüístico em que a denotação predomina na linguagem especial do futebol. Contudo, não se pode deixar de ver neste termo um certo saber matemático, escamoteado nas frases acima apresentadas. Observe se que a forma popular, no Brasil, é onde a coruja dorme. 12- APANHA BOLAS S. m. Mais um termo formado por analitismo. É o gandula brasileiro. 14- ARBITRÁLOGO Neologismo forma. Significa rol; lista de deveres ou competências dos Conselhos de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). (A Bola, 21/09/95, p. 13). 15- ATIRA-SE PARA A PISCINA Expressão da gíria do futebol português. Diz-se quando o jogador atacante, dentro da área do adversário, tenta ultrapassá-lo e é barrado legalmente. Para simular a falta máxima (o pênalti)), lança-se ao chão, como se estivesse a mergulhar na piscina. Metáfora plástica. "...vai passar; atira-se para a piscina..." (RTP, Canal 1, jogo FC Porto 0 X 1 Panathinaikos). 17- AUTOGOLO É o gol contra. 19- AVANÇADO S.m. Caso de conversão, substantivação do adjetivo. Jogador de futebol que atua no ataque, bem na frente. "...devem lembrar se de Walter Casagrande, avançado que jogou nas Antas em 1986/87" (O Jogo, 21/09/95, p. 5). 20- BALNEÁRIO É o vestuário. "..Tiro o e ponho o conforme a disposição. Mas, nos jogos, fica no balneário"... (Entrevista de Dominguez, jogador do Sporting e da Seleção Portuguesa, dada a Magalhães dos Santos, em A Bola, 23/09/95, p. 37). José Dominguez é chamado pela crônica esportiva de "Speedt" Dominguez pela sua velocidade em campo. Tanto em Portugal, como no Brasil, esta prática é comum. No Brasil, o jogador do Fluminense Waldeir era chamado de "The flash", pelo mesmo motivo. 21- BANCADA S.f. De Banco + ada. É a arquibancada de um estádio de futebol. Dancada e arquibancada significam a mesma coisa. O uso esportivo escolheu bancada, mas ouve-se na voz de muitos locutores de rádio e televisão o termo arquibancada. 23- BATE CU S. m. "Pancada com as nádegas, caindo. Pancada com a mão nas nádegas: "Deu lhe dois bate cus". (De bater + cu). Cândido de Figueiredo, Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, 1986. Formação analítica. 24- BEIJAR AS MALHAS Quando uma bola beija as malhas ocorre o golo (gol). Metáfora plena de alegria e sensualismo. No Brasil, esta expressão também existe. 29- CABECEAMENTO S. m. Um cabeceamento é uma cabeçada. "...em resultado de um cabeceamento de Sassus na sequência da transformação de um livre directo". Aliás, LIVRE DIRECTO é um lance de bola parada, resultante de uma penalidade. É um tiro livre. Nesta expressão ocorre um cancelamento. 30- CAMISOLA Em Portugal, camisola é camisa. Camisola do clube é a camisa do clube, a camisa do uniforme do jogador. "Se existe um jogador na Juventus capaz de molhar a camisola em todas as circunstâncias....chama se Fabrizio Ravanelli". (O Jogo, 19/10/95, p.9) ; "Mauro Soares não voltará a vestir a camisola do Belenense". (A Bola, 04/10/95, p. 7). 31- CARTOLINA CARTOLINA AMARELA E CARTOLINA VERMELHA são os cartões amarelo e vermelho que os érbitros de futebol mostram aos jogadores infratores. O termo CARTÃO também file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (2 of 6)3/5/2006 17:24:30 PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) é usado, principalmente na televisão. 33- CHAPELADA É uma jogada de grande efeito, no futebol. É o "lençol"ou "chapéu". Dar um lençol ou um chapéu. Assim, em Portugal, usa-se "executar uma chapelada". Gíria do futebol português. "Drulovic ludibriou dois adversários e executou uma chapelada que Rui Correia se limitou a aplaudir" (Terceiro golo do FC Porto contra o Spt.Braga), (Jornal de Notícias, 15/10/95, p.25). 35- CHUTO Termo de origem inglesa (shoot), adaptado ao português de Portugal, onde recebeu o fonema /o/, preferência pelos nomes em o , funcionando, morfologicamente, como vogal temática. 36- CHUVEIRINHO S.m. De CHUVEIRO + INHO. Termo da gíria do futebol português, de uso corrente nas transmissões dos jogos de futebol. Foi importado do Brasil. Os locutores brasileiros, que atuam em emissoras portuguesas de rádio, trouxeram para Portugal este termo, com o mesmo sentido do Brasil. 37- CLAQUE Termo de origem inglesa. É a torcida organizada, aquele aglomerado de torcedores de um clube, que fazem as coreografias nas arquibancadas (V. BANCADAS). O termo TORCIDA só é empregado fora deste contexto, isto é, grupo de torcedores. "A claque do Sporting vai apresentar uma nova coreografia "(O Jogo, 19/100/95, p. 177) ; "A torcida Verde e a Juventude Leonina, claques do Sporting, preparam várias surpresas para o jogo de hoje à noite" (Gazeta dos Desportos, 19/10/95, p.3). 38- COM RÉGUA E ESQUADRO "Foi um cruzamento com quase régua e esquadro" ouve se na Rádio Antena 1, 97,5 FM e em muitas outras, onde locutores e comentaristas de partidas de futebol usam esta expressão bem antiga e popular, para dar idéia aos ouvintes de um cruzamento quase perfeito, como se fosse executado, matematicamente, com precisão . PASSE COM RÉGUA E ESQUADRO, diz H. Botequilha, de O Semanário, Lisboa: "Passe executado com a ajuda da ciência, é um passe milimétrico". 42- DERBY Termo inglês utilizado integralmente na linguagem do futebol, em Portugal. Any important sporting contest. Uma importante disputa esportiva. É mais um cenismo de largo uso nas rádios, televisões e jornais portugueses. Um DERBT é um clássico. Um SPORTING X FC PORTO é um derby. Na imprensa aparece sempre entre aspas. Contudo, seu plural, não. (Parece que se aportuguesou.) "Rui Águas participou nos dois derbies que entraram para a história do futebol português". (A Bola, 04/10/95, p. 11) ; "Ainda no sábado passado, durante o "derby" do Yorkshire entre o Leeds e Sheffield Wednesday..."(A Bola, 04/10/95, p.40) ; "Em véspera de um "derby portuense (FC Porto e Boa Vista), o ambiente é o melhor possível entre os portistas" (A Bola, 04/10/95, p. 12) ; "E do seu primeiro "derbt", tem alguma idéia?" (A Bola, 04/10/95, p. 11) (No Brasil, DERBY é usado, atualmente, para designar corrida de cavalo, mas já foi usado para designar partida importante de futebol, em São Paulo). 46- DESPORTO Do inglês SPORT. DESPORTO e DEPORTE são as formas portuguesas correspondentes a SPORT. Em Portugal usa se DESPORTO. Contudo, preferindo se o termo inglês, deve se aportuguesá lo : ESPORTE. Ver a respeito o verbete ESPORTE no livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, P.78. 47- ENCONTROS PARTICULARES São as partidas amistosas. "Zagalo convocou duas seleções para os próximos encontros particulares que a seleção vai disputar". (O Jogo, 21/09/95, p. 5). 48- EQUIPA É o conJunto formado pelos onze jogadores de futebol que disputam uma partida. Para designar a entidade, a associação, usa se o termo CLUBE. "No jogo de estréia com a camisola (V.) do clube italiano, Futre marcou o segundo dos quatro golos..." (O Norte Desportivo, Porto, 08/06/95). No Brasil dizemos e escrevemos EQUIPE, do francês équipe, sub. fem. deverbal de équiper. Como a forma francesa é feminina, o termo, em Portugal, ecebeu, ao se aportuguesar, a vogal temática A e manteve o gênero feminino. "Depois da derrota no Bessa...a equipa conquistou duas vitórias consecutivas..." (A Bola, 22/90/95, p.13) ; "A partir daí, se a equipa se encontrar bem, poderemos fazer uma boa campanha". (O Norte Desportivo, Porto, 08/06/96, p.24). 50- ESFÉRICO S. m. Mais um termo para designar a bola do jogo de futebol. Caso de conversão porque houve mudança de classe de palavra. De adjetivo passou a substantivo. A conversão é fenômeno gramatical por excelência. Do adjetivo, forma masculina, saiu o substantivo, forma masculina. Sendo mais uma designação para a bola, e sendo a bola substantivo feminino, seria de se esperar a forma feminina esférica e não esférico. file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (3 of 6)3/5/2006 17:24:30 PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) 56- FALANGE DE APOIO É a "claque" (V.) de uma equipa". (Semanário, 08/10000/94). Trata-se de uma seção de uma torcida organizada. 57- FICAR NAS COVAS "Quando um jogador se deixa ultrapassar por um adversário". (HB) Trata se de uma expressão de gíria do futebol, evidentemente. Quem não acompanha as transmissões dos jogos de futebol pelo rádio ou pela televisão não entende esta expressão. Quem é ultrapassado, já era. Está morto, logo, fica nas covas. Deve ser esta a explicação. 60- FISCAL DE LINHA 'No Brasil usa se bandeirinha ou fiscal de linha. Os jornais portugueses, especializados em futebol, como A Bola, O Jogo, Record, Gazeta dos Desportos e outros usam fiscal de linha. Os jornais não especializados, em seus cadernos de desporto ou em outras seções, usam o termo bandeirinha. "Diz o árbitro e confirmaram os bandeirinhas" (Jornal de Notícias, 13/10/95, p. 42). Fiscal de linha é formação analítica. 62- FUTEBÓIS No Brasil, a crônica esportiva não utiliza o plural futebóis. Em Portugal, este plural é muito usado. Tem o significado de apontar, pejorativamente, todos os assuntos escusos ou intrigantes que envolvem o esporte futebol, tanto como jogo, quanto como organização, espetáculo, clube, federação , etc. 63- GABRIÉIS Neologismo conceitual. Trata-se do plural do substantivo próprio GABRIEL. É uma referência a Gabriel Alves, locutor da RTP, Canal 1. Significa todos aquseles que gostam dos termos futibolísticos criados per este locutor estravagante. Por extensão, significa, também, aquele que cria termos ou expressões futibolísticas, como faz Gabriel Alves. "Para os gabriéis deste mundo". ( Semanário, 23/09/94 ). 64- GABRIELÁRIO Neologismo formal, criado por Henrique Botequilha, do jornal Semanário, Lisboa. Gíria do futebol português, que significa lista, rol, relação de termos inusitados, criados por locutores e comentaristas do rádio e da televisão e, também, por jornalistas, nos periódicos especializados em futebol. Inúmeros termos, expressões de gíria e neologismos, verdadeiros chistes lingüísticos, surgiram na televisão portuguesa, RTP, Canal 1 e são usados por muitos locutores e comentaristas das rádios e de outros canais de TV. São encontrados, ainda, nos joranais esportivos de Portugal. Este termo BABRIELÁRIO é referência ao locutor Gabriel Alves, da RTP, Canal 1, criador de inúmeras expressões. Trata-se de uma derivação sufixal, onde ao substantivo próprio GABRIEL soma-se o suf. ARIO, muito produtivo, gerador de nomes com o sentido de coletivo, agrupamento, reunião. Cf. Aviário, planetário, estatuário, boticário etc. "Gabrielário do futebol português" (Semanário, 08/10/94, p.54). 67- GOLO MIXA Mixa. Gíria braileira. Adj. de 2 g., variante de MIXE, insignificante, pequeno, desanimado. Sua origem parece ser do guarani mi'xi. Termo brasileiro levado para Portugal. Mixa é termo muito usado na região minhota. Golo mixa é um gol simples e sem graça "...a jogada mais bonita e espetacular não concretizada, é irrelevante perto de um golo mixa e sem graça". (A Bola, 22/09/95, p. 19) No Brasil, o termo mixa é também usado e pertence à gíria estudantil e à linguagem de adolescentes (V. Mônica Rector, A linguagem da juventude. Petrópolis, Vozes, 1975). O vocábulo GOLO, tanto em Portugal, como no Brasil (GOL) é muito produtivo. GOLÃO, também em Portugal é um magnífico gol. "Um golão para ficar na retina". ( A Bola, 12/10/95, p. 19). 74- LINHA-DE-CABECEIRA É a linha de fundo do campo de futebol. Alguns locutores esportivos dizem "linha-de-cabeceira. 77- MÉDIO ALA É o jogador de futebol que atua no meio do campo, pelas laterais. Caso de analitismo, por justaposição. "...estar mais habituado na função de médio ala". (O Jogo, 21/09/95, p. 7). ; "Não foi o médio ala 'pensado' por Robson". (O Jogo, 19/10/95, p. 5). 78- MEIAS FINAIS Expressão que, no Brasil, se identifica com SEMI FINAIS. 79- MILHO Termo da gíria do futebol português. É o dopping. "Os especialistas classificam os diversos tipos de milho na farmácia mais próxima..."(A Gazeta dos Desportos, 29/09/95, p.16). 82- NAS LONAS "O mesmo que ficar "nas covas". Quando um jogador se deixa ultrapassar por um adversário"(H.B.) Expressão da gíria do futebol português, tal qual "estar ou ficar nas covas". file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (4 of 6)3/5/2006 17:24:30 PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) 83- NO LAVAR DOS CESTOS Expressão que significa "no término da partida; nos últimos minutos do jogo". Esta expressão está ligada às atividades do fabrico do vinho. Quando se lavam os cestos, está terminada a tarefa. Estamos no lavar dos cestos..."(Locutor Pedro Figueiredo, RTP, Canal 1, jogo Felgueiras X Guimarães, 22/10/95). 87- OFF SIDE Expressão inglesa. Impedimento, no Brasil. Em Portugal usa se fora de jogo. Decalque. 89- PARA VÍTOR CORREIA COMENTAR "Quando os comentadores da RTP não sabem puto de arbitragem e lançam o SOS ao árbitro na reforma, actualmente, promovido a jornalista". (HB) Expressão interessantíssima para alguns comentários. Primeiro, a forma de dizer o que significa a expressão, para nós brasileiros é, a princípio, um tanto nebulosa. Percebem se algumas verdadeiras expressões idiomáticas e alguns vocábulos estranhos numa estruturação frasal diferente da nossa construção sintática. Assim, comentadores são os nosso comentaristas; RTP é a Rádio e Televisão Portuguesa; não sabem puto de arbitragem significa não conhecem nada sobre arbitragem ( puto significa, ainda, criança: "...era eu um puto esgalgado..." (Baptista Bastos, in A Bola, 13/10/95, p. 37); lançam o SOS significa pedem auxílio, ajuda; árbitro na reforma, actualmente, promovido a jornalista é ex árbitro de futebol, hoje, atuando como comentarista de arbitragem, no rádio ou na televisão. Vítor Correia é um ex árbitro de futebol, internacional, que atua,hoje, como comentarista de arbitragens, convidado pelo Canal 1 (RTP), a exemplo de um nosso José Roberto Wright ou Arnaldo César Coelho. Lá, como aqui, ex árbitros de futebol são convidados pelas emissoras de rádio e televisão para comentarem as arbitragens, pois têm autoridade para isso. Quando os locutores têm dúvida sobre um pênalti, por exemplo, dizem: Isto é para Vítor Correia comentar, mesmo sem a presença dele nas cabines de transmissão. Uma forma de dizer que o assunto é delicado. Esses ex árbitros, comentaristas de arbitragens, por mais denotativos que queiram ser; por mais que afirmem e até jurem que são profissionais imparciais e impermeáveis a qualquer sentimento, sempre são traídos pela incompetência da competência de julgar, pois estão envolvidos em um fantástico espetáculo e, ainda, brilham, exercendo com palavras o poder. No intervalo do jogo eles têm a oportunidade de passar para o público da emissora em que trabalham a sua opinião. Isto aqui no Brasil, porque em Portugal, o intervalo dos jogos são aproveitados pelas emissoras de rádio para divulgarem notícias outras, previsão do tempo e muito comercial. Na televisão, a mesma coisa. Aliás, sempre o segundo tempo começa e o rádio e a televisão estão divulgando anúncios ou a sua programação futura. Uma falha de produção que recomenda muito mal estes veículos de comunicação social, quanto a sua profissionalização. A grande importância desses comentaristas de arbitragens é que eles sempre acrescentam ao espetáculo uma emoção a mais e alimentam o prazer de ver e ouvir. Nenhuma emissora de rádio e televisão, no Brasil abre mão deles. Em Portugal nem tanto... Mas fazem parte do show. 90- PASSE RASGADO "Passe comprido de um lado para o outro do campo" (HB). Uma metáfora plástica. A bola branca lançada, em sua trajetória marcada pela velocidade que toma, ao ser chutada (rematada), parece, no contraste visual, que rasga o gramado (relvado) verde, num piscar de olhos. Mas o que fica rasgado é o gramado (relvado) e não o passe. O passe é o agente da ação de rasgar, que se transforma em paciente. Eis um caso interessante de hipálage. Hipálage porque não há uma logicidade semântica entre os termos do sintagma, tornando inesperado o significado. Contudo, somente com uma análise mais detalhada, a posteriori, é que se percebe o sentido amplo que a expressão PASSE RASGADO proporciona, sinteticamente, surgida na linguagem despretensiosa de locutores e comentaristas deste emocionante jogo de bola, que é o futebol. 96- PONTAPEAR Verbo. Neologismo formal. De PONTAPÉ + AR. No Brasil, há o termo pontapé, mas não se usa o verbo PONTAPEAR nas locuções exportivas. "...pntapeia abola..." (Antena 1, FM, Lisboa, locutor José Manuel Resende, outubro de 1995). 97- PONTAPÉ-BANANA Expressão neológica formal e metafórica. É um tipo de "folha-seca" lateral. Um remate com muito efeito lateral. Em Portugal há um consumo muito grande de banana nanica, a banana d'água, cultivada na Ilha da Madeira. A fruta é muito conhecida. Mais um termo da gíria do futebol português e de formação analítica. "Grande pontapé-banana de fora da grande área que traiu Vítor Baía..." (A Bola, 19/10/95, p.18). 98- PONTAPÉ-DE-BALIZA Ou pontapé-de-rede. É o tiro-de-meta, no futebol. Como o tiro é chute ou chuto e a meta é formada pelas balizas, surge a expressão pontapé-de- baliza. 99- PONTAPÉ DE CANTO É o escanteio ou córner. É o chute de canto. Como chute é chuto ou pontapé, surge a expressão potapé-de-canto. 100- PONTAPÉ DE REDE É o tiro de meta, no futebol. Como o tiro é chute ou chuto e a meta, isto é, as balizas são revestidas, por trás, com redes, surge a expressão metonímica pontapé-de-rede. 104- QUALIFICAÇÃO file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (5 of 6)3/5/2006 17:24:30 PROFESSOR FEIJÓ - A LINGUAGEM DA BOLA (pdf) S. f. É o ato ou efeito de qualificar-se. É a nossa CLASSIFICAÇÃO num campeonato de futebol de várias fases. "...até porque pode ter sido muito importante para a nossa qualificação". (A Bola, 12/10/95, p.21). 106- QUATRO GOLOS SEM RESPOSTA "Venceu por quatro golos sem resposta" é uma maneira de dizer que venceu por quatro gols a zero. Esta expressão é mais usada na língua falada; nas transmissões de partidas de futebol pelos locutores de rádio e televisão. 107- QUINTA VELOCIDADE Expressão que migrou do automobilismo para o futebol. "Engatou a quinta velocidade". Significa saiu correndo muito. Alusão à quinta velocidade dos automóveis, usada para grandes velocidades. 108- RASTEIRAR V. Significa derrubar um jogador com fau. "Dar uma rasteira" ; "Recebeu uma rasteira" e outras expressões são ouvidas no Brasil. Mas o verbo RASTEIRAR parece que só se usa em Portugal, para os eventos futebolísticos. Aparece nos jornais: "Cartão amarelo por ter rasteirado Dani" (A Bola, 11/10/95, p.3) ; "Rasteirou dois a um só tempo..." (Rádio Antena 1, FM). 110- RELVADO É o gramado do campo de jogo do futebol. O termo gramado não é usado. O uso lingüístico privilegiou uma forma a outra. Ambas têm a mesma formação: Lexema + morfema (Relva + ADO ; GRAMA + ADO). 112- REMATE S. m. Formação regressiva de REMATAR. É a conclusão. Cândido Figueiredo, em seu Dicionário da Língua Portuguesa diz: "Acto de fechar ou concluir. Efeito. Fecho de uma obra de arquitetura. Fig. O ponto mais elevado; o auge. (De rematar). Este termo é usado pelos locutores e comentaristas de rádio e televisão para narrar o chute, o arremesso ao gol. 113- RESERVISTA É o jogador reserva. Jogador que não é o titular da posição. No Brasil, reservista é o cidadão que passou para a reserva, isto é, que cumpriu os requisitos legais do serviço militar e/ou que dele foi dispensado, mantendo-se, porém, sujeito a incorporar-se às fileiras, caso o exijam as circunstâncias (Cf. Aurélio, N.D.L.P.). 119- TOMBA GIGANTES "Equipa que derrota outra tradicionalmente mais forte". (HB) Uma equipe forte é comparada, por recurso metafórico, a um gigante. Uma equipe fraca que vence uma equipe forte, derruba, tomba um gigante, como na luta entre Davi e Golias. Uma verdadeira figura retórica, ligada aos discursos épicos, às fábulas e aos contos infantis, em que gentes miúdas vencem gentes graúdas: as primeiras representando o bem e as segundas o mal. Mais uma ligação entre futebol e as diversas mitologias. "Tomba gigantes. Desde o início que o Barcelona (da Equador) se pautou pela vocação de bater os clubes mais conceituados. Este hábito trouxe problemas aos argentinos do Estudiantes de la Plata, em 1970, na Taça Libertadores da América. Este conjunto havia ganho a anterior edição da prova e era considerado o melhor do Mundo. Quando Juan Manuel Bazurco, um sacerdote espanhol que jogava como avançado, marcou, o destino estava traçado. A turma equatoriana bateu os platenses afastando os da competição. Posteriormente o Barcelona alcançou outros feitos. Apurou se várias vezes para as meias finais da Libertadores e numa ocasião atingiu a final, perdendo a para o Olímpia (Paraguai)". (A Bola, 11/100/95, p. 27). 120- TRINCO Gíria do futebol. É o jogador que fecha a frente da sua grande área. Neologismo metafórico, portanto, conceitual. "Ambos com função de trinco..."(A Bola, 04/10/95, p. 1) ; "O trinco brasileiro é Atleta de Cristo". (A Bola, 04/100/95, p. 19). 122- UNIDADES Termo que serve para designar um jogador de futebol. "Ficou reduzido a 9 unidades", isto é, ficou com 9 jogadores em campo. "O Gil Vicente ficou reduzido a 9 unidades". (José Manuel Rezende, Rádio Antena 1 FM, Lisboa). Activa Web & Graphics | www.activa.art.br | [email protected] | (47) 3264.0130 © Copyright 2006 - Professor Luis César Saraiva Feijó - Todos os Direitos Reservados file:///F|/Arq.%20-%20Web/Feijó%20-%202006/NOVO%20MODELO/sobrefutebolportugal-pdf.html (6 of 6)3/5/2006 17:24:30