1 variações na composição centesimal do leite em função
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1 variações na composição centesimal do leite em função
Como citar este capítulo: BUENO, V.F.F., MESQUITA, A.J., NICOLAU, E.S., OLIVEIRA, A.N., OLIVEIRA, J.P., NEVES, R.B.S., MANSUR, J.R.G., THOMAZ, L.W. Variações na composição centesimal do leite em função das contagens celular somática e bacteriana total no estado de Goiás. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 301-306. VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DO LEITE EM FUNÇÃO DAS CONTAGENS CELULAR SOMÁTICA E BACTERIANA TOTAL NO ESTADO DE GOIÁS V.F.F. Bueno*; A.J. de Mesquita; E.S. Nicolau; A.N. de Oliveira; J.P. de Oliveira; R.B.S. Neves; J.R.G. Mansur; L.W. Thomaz * Centro de Pesquisa em Alimentos, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil. e-mail: [email protected]. Introdução Valores de contagem de células somática (CCS) acima de 300.000 cels./mL revelam a presença de mastite e por extensão, redução na produção e alteração da composição do leite7. De forma geral, os constituintes cuja presença é desejável reduzem, enquanto aqueles cuja presença é indesejável aumentam2. A população microbiana total do leite cru varia conforme a contaminação inicial (proveniente do interior da glândula, exterior do úbere e tetos e superfícies de equipamentos) e condições de armazenamento1. A refrigeração do leite na propriedade rural possibilita o aumento do tempo de armazenamento após a ordenha até o tratamento térmico na indústria. Nesse período, uma grande quantidade de bactérias psicrotróficas pode se desenvolver e afetar a composição do leite8. Apesar do Estado de Goiás destacar-se no cenário nacional devido a elevada produção de leite, são poucos os dados relativos à qualidade do leite cru. Agravando essa realidade, a qualidade da matéria-prima torna-se cada vez mais valorizada, tornando-se essencial para a comercialização, manutenção e crescimento da atividade leiteira. Diante do exposto, objetivou-se com o presente estudo verificar a ocorrência de variações na composição centesimal do leite de acordo com a contagem celular somática e contagem bacteriana total (CBT) no Estado de Goiás. Material e Métodos Foram utilizados os resultados da CCS, CBT e composição centesimal (teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais) de amostras de leite colhidas em tanques de refrigeração por expansão direta de uso individual, no Estado de Goiás, no período de outubro de 2002 a setembro de 2003. Os dados foram reunidos em dois grupos para análise de variância: grupo 1, com 18.949 amostras analisadas quanto a CCS e composição centesimal e grupo 2, com 16.491 amostras analisadas quanto a CBT e composição centesimal. A CCS foi realizada através de citometria de fluxo, utilizando o equipamento Fossomatic 5000 Basic*. A CBT foi realizada também através de citometria de fluxo, utilizando o equipamento BactoScan FC*. A composição centesimal foi determinada através da absorção diferencial de ondas infravermelhas, utilizando o equipamento Milkoscan 4000*. * Foss Electric, Hilleröd, Denmark Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 1 Como citar este capítulo: BUENO, V.F.F., MESQUITA, A.J., NICOLAU, E.S., OLIVEIRA, A.N., OLIVEIRA, J.P., NEVES, R.B.S., MANSUR, J.R.G., THOMAZ, L.W. Variações na composição centesimal do leite em função das contagens celular somática e bacteriana total no estado de Goiás. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 301-306. Resultados e Discussão Os percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, de acordo com o intervalo da CCS, bem como a variação observada em cada componente, considerando a diferença entre o intervalo 1 (CCS menor ou igual a 200.000 cels/mL) e o 5 (CCS acima de 1.000.000 cels/mL), encontram-se na Tabela 1. Tabela 1- Percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, de acordo com diferentes intervalos de CCS em amostras analisadas no período de outubro de 2002 a setembro de 2003, no Estado de Goiás (n = 18.949). CCS (cels/mL) Gordura (%)* Proteína (%)* Lactose (%)* Sólidos Totais (%)* ≤ 200.000 3,71a 3,35a 4,60a 12,61a 201.000 – 400.000 3,75b 3,31b 4,54b 12,54b 401.000 – 750.000 3,72ab 3,23c 4,49c 12,39c 751.000 – 1.000.000 3,73ab 3,18d 4,42d 12,27d > 1.000.000 3,72ab 3,18d 4,36e 12,20d Variação** + 0,27% - 5,07% - 5,22% - 3,25% * Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (p<0,05) ** Considerando as médias do intervalo 1 e 5 Pode-se notar na Tabela 1 que ocorreu redução significativa nos teores de proteína, lactose e sólidos totais à medida que a CCS aumentou, o que também já foi constatado por outros autores6,5,9. Em relação ao teor de gordura, observou-se diferença significativa apenas entre os teores do intervalo 1 (CCS menor ou igual a 200.000 cels/mL) e 2 (CCS entre 201.000 e 400.000 cels/mL). No entanto, a elevação observada (0,27%) pode ser apenas de caráter relativo, em virtude da expressiva redução dos teores de proteína e lactose. Os percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, de acordo com o intervalo da CBT, bem como a variação observada em cada componente, considerando a diferença entre o intervalo 1 (CBT menor ou igual a 10.000 UFC/mL) e o 5 (CBT acima de 1.000.000 UFC/mL), encontram-se na Tabela 2. Tabela 2- Percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, de acordo com diferentes intervalos de CBT em amostras analisadas no período de outubro de 2002 a setembro de 2003, no Estado de Goiás (n = 16.491). CBT (UFC/mL) Gordura (%)* Proteína (%)* Lactose (%)* Sólidos Totais (%)* ≤ 10.000 3,69a 3,26a 4,56a 12,46a 11.000 – 100.000 3,73b 3,29b 4,55b 12,52b 101.000 – 750.000 3,69a 3,29b 4,54c 12,48a 751.000 – 1.000.000 3,71ab 3,29b 4,53c 12,49ab > 1.000.000 3,68a 3,30c 4,54c 12,48a Variação** -0,27% +1,23% -0,44% -0,16% Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa (p<0,05) ** Considerando as médias do intervalo 1 e 5 Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 2 Como citar este capítulo: BUENO, V.F.F., MESQUITA, A.J., NICOLAU, E.S., OLIVEIRA, A.N., OLIVEIRA, J.P., NEVES, R.B.S., MANSUR, J.R.G., THOMAZ, L.W. Variações na composição centesimal do leite em função das contagens celular somática e bacteriana total no estado de Goiás. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 301-306. Verifica-se na Tabela 2 que as concentrações de gordura, lactose e sólidos totais reduziram com o aumento da CBT. No entanto, em virtude da facilidade de degradação principalmente da lactose4 e da elevada contaminação de algumas amostras (intervalo 5: acima de 1.000.000 UFC/mL) esses percentuais de redução podem ser considerados baixos. Provavelmente, a reduzida variação deve-se ao fato de que o leite estava armazenado em condições de refrigeração, o que diminui a velocidade de crescimento bacteriano3 e conseqüentemente, a utilização de nutrientes. Assim considerando, admite-se que a CBT observada seja decorrente principalmente de elevada contaminação inicial. Por outro lado, a concentração de proteína aumentou conforme a CBT aumentou. Considerando que a degradação dos componentes protéicos exige uma grande atividade metabólica dos microrganismos, é provável que tenha ocorrido uma concentração relativa, em virtude da degradação da lactose e gordura, componentes que reduziram com o aumento da CBT. Conclusões Diante dos resultados obtidos e de acordo com as condições de realização do presente estudo, pode-se concluir que a elevação da CCS está relacionada à redução principalmente das concentrações de proteína e lactose, enquanto a elevação da CBT praticamente não afeta as concentrações de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite. Agradecimentos: Ao CNPq e à equipe do CPA, pelo apoio irrestrito. Referências 1. Bramley, A.J.; Mckinnon, C.H. The microbiology of raw milk. In: Robinson, R.K. Dairy Microbiology: The microbiology of milk. 2.ed. Barking: Elsevier Science Publishers, 1990. p.163-208. 2. Brito, J.R.F.; Dias, J.C. A Qualidade do Leite. Juiz de Fora: Embrapa/Tortuga, 1998. 98p. 3. Franco, B.D.G.M. Fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano nos alimentos. In: Franco, B.D.G.M.; Landgraf, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Atheneu, 1996. p.13-26. 4. Laranja da Fonseca, L.F.; Santos, M.V. Qualidade do leite e controle de mastite. São Paulo: Lemos Editorial, 2000. 175p 5. Machado, P.F.; Pereira, A.R.; Sarries, G.A. Composição do leite de tanques de rebanhos brasileiros distribuídos segundo sua contagem de células somáticas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.29, n.6, p.1883-1886, 2000. 6. Pereira, A.R.; Silva, L.F.P.; Molon, L.K.; Machado, P.F.; Barancelli, G. Efeito do nível de células somáticas sobre os constituintes do leite I – gordura e proteína. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v.36, n.3, p.429-433, 1999. 7. Philpot, N.W.; Nickerson, S.C. Vencendo a luta contra a mastite. Piracicaba: Westfalia Surge/Westfalia Landtechnik do Brasil, 2002. 192p. 8. Santana, E.H.W.; Beloti, V.; Barros, M.A.F. Microrganismos psicrotróficos em leite. Higiene Alimentar, São Paulo, v.15, n.88, p.27-33, 2001. 9. Silva, L.F.P.; Pereira, A.R.; Machado, P.F.; Sarries, G.A. Efeito do nível de células somáticas sobre os constituintes do leite II – lactose e sólidos totais. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v.37, n.4, p.330-333, 2000. Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 3