BABAIAGA Clarice Steil Siewert Ilaine Melo Cenário: Um biombo no

Transcrição

BABAIAGA Clarice Steil Siewert Ilaine Melo Cenário: Um biombo no
BABAIAGA
Clarice Steil Siewert
Ilaine Melo
Cenário:
Um biombo no centro do palco. Nas laterais do biombo dois castiçais com velas. Dois biombos um
pouco atrás e nas laterais do biombo central. No chão uma lona. No proscênio há uma boneca
coberta por um vestido, uma flor e uma escova de cabelo.
Personagens:
Bia – atriz iniciante, estreando sua primeira peça para crianças, bastante assustada. Bia fará o
papel de Vasilisa e do Carteiro.
Bel – atriz iniciante, estreando sua primeira peça para crianças, estabanada e histriônica. Bel fará
os papéis da Madrasta e da Babaiaga.
Vasilisa – menina de 12 anos, frágil e bela.
Boneca – boneca mágica manipulada por Bia.
Madrasta – mulher que casa com o pai de Vasilisa, sedutora, ciumenta e invejosa.
Pai – pai de Vasilisa representado por um paletó.
Iva – filha mais nova da madrasta, representada por um vestido florido.
Catarina – filha mais velha da madrasta, representada por um vestido azul.
Carteiro – personagem histriônico.
Casa de Babaiaga – uma choupana coberta de penas com pés de galinha manipulada em
conjunto por Bia e Bel.
Floresta
1
– representa os perigos da jornada de Vasilisa em busca do fogo.
Babaiaga – bruxa temida por todos. Entidade amoral e enigmática.
1
O espetáculo exige no mínimo um contra-regra, que também representa a Floresta.
1
(Música tema de Bia e Bel – Brincadeira de animação com as cabeças de Bia e Bel no alto
biombo central).
Bel: Ééé... Meu nome é Bel.
Bia: (gaguejando) Meu nome é Bia.
Bel: Nós somos atrizes de um grupo de teatro daqui da cidade. A gente vai contar uma história
para vocês. Uma história bem legal.
Bia: É a história de uma bruxa.
Bel: É a Baba... baba...
Bel e Bia: (juntas) Babaiaga.
Bel: É.. Ela é terrível. Ela ataca. (Faz ruídos de leão).
Bia: (constrangida, sussurrando) Isso parece um leão!
Bel: Ahn?
Bia: (Susurrando) Parece um leão!
Bel: Ah, é, então ela não ataca. Ela dá gargalhadas. Gargalhadas terríveis. (Olha para Bia)
(Bia dá gargalhada tentando imitar uma bruxa, olha para Bel que a reprova, fica com vergonha).
Bia: (saindo) Ai meu Deus!
Bel: Ridículo! (sai também).
(Bia entra no palco com banco na mão. Espera Bel, que não entra. Quando Bel entra, ela está
sem o seu banco. Olham-se, dançam, vão para o proscênio, Bia coloca o banco no centro e
iniciam a história).
Bia: Era uma vez uma princesa. (colocando um dos pés no banco)
Bel: (interrompendo) Não! Era uma vez...
Bia: (contrariada) Era uma vez...
Bel: E não era uma vez... (coloca também o pé no banco, em cima do pé da Bia)
Bia: Ai! Era uma princesa...
Bel: (sussurrando para Bia) Uma menina!
Bia: Uma menina. Que vivia num lugar distante. Mais para lá... (apontando com o braço)
Bel: Do que pra cá. (Sobe no banco, abre os braços, acerta a Bia. Desce, se arruma) E ela vivia
com seu pai.
(Música tema do pai. Dançam: afastam-se do banco, armam como que um duelo para ver quem
vai pegar o banco primeiro, já que Bel havia esquecido o seu. Bia pega o banco antes, roda com
ele. Bel o agarra e puxa-o, Bia também. Elas brigam pelo banco rodando. Gostam da brincadeira.
Páram. Colocam o banco no centro. Bel pega a flor e a coloca na parte de baixo do banco. Bia
pega a escova e também a coloca no banco. Bel vai para frente do banco. Bia sobe no banco e
tenta subir no ombro de Bel. Bel tira Bia.)
Bel: Pára!
Bia: (sussurrando) A mãe!
(Bia sobe nos ombros de Bel, sufocando-a).
Bel: Relaxa!
Bia: O que?
Bel: Relaxa.
(Bia relaxa, pega nas mãos de Bel. Desequilíbrio).
Bel: E vivia com sua mãe também.
(Música tema da mãe. Bel corre com Bia, brincadeira. Páram em frente ao vestido. Corte na
música. Bia olha o vestido).
Bia: Um dia a mãe da menina morreu.
(Bia desce do ombro de Bel. Vai até o vestido e começa a vesti-lo. Assume o papel de Vasilisa.
Bel sai).
Voz da mãe: (em off) Vasilisa, minha filha. De agora em diante não vou mais estar com você. Te
deixo uma boneca. Tenha ela sempre contigo meu amor, e não mostre a ninguém. Se você estiver
2
em apuros, converse com ela e aguarde. Ela lhe dirá o que fazer. Esta é minha benção minha
querida.
(Vasilisa pega a boneca. Entra música tema de Vasilisa. Gira em volta do banco. Coloca a boneca
no banco, arruma o cabelo, faz um cumprimento para a dança. Dança com a boneca. Coloca a
boneca nos ombros. Brinca de cavalinho. Vai para o banco. Pára. Pega a boneca no colo, brinca
de ninar ).
Música do Tempo
Tempo Senhor de tudo
tempo de rotação.
Num passo traz a primavera
no outro busca o verão.
Consome as folhas do inverno
Se alimentando de vida.
De estação em estação
De estação em estação.
Gira o tempo
Gira o vento.
(Vasilisa levanta, pega a boneca coloca-a em baixo do banco, pega a flor, senta-se no banco,
brinca de bem-me-quer, mal-me-quer).
Vasilisa: (cantando junto com o final da música) “Gira o tempo, gira o vento”.
(Murmura o canto, virando-se. Entra o pai).
Vasilisa: Que foi pai?... Você vai casar?... Duas irmãs! Uma nova mãe?...
(Vasilisa levanta-se e vai para o canto do palco. Madrasta entra, olha Vasilisa da cabeça aos pés.
Música tema da madrasta. Começam a dar voltas em torno do banco acompanhando o ritmo da
música. Vasilisa tenta imitar o gesto da madrasta, se encanta com o vestido da Madrasta.
Madrasta apressa o passo em direção a Vasilisa, vai fechando o círculo e indo mais rápido até
que Vasilisa acaba atrás dela. Páram e mudam a direção. Mais duas voltas, páram. Madrasta olha
para o banco, manda Vasilisa sentar. Madrasta pede escova. Vasilisa tira a escova debaixo do
banco. Enquanto Madrasta solta e penteia os cabelos de Vasilisa, pergunta).
Madrasta: Nome?
Vasilisa: Vasilisa.
Madrasta: Idade?
Vasilisa: 12 anos.
Madrasta: Signo?
Vasilisa: Libra.
Madrasta: Cor preferida?
Vasilisa: Vermelho.
Madrasta: Prato preferido?
Vasilisa: Humm... Torta de maçã!
Madrasta: Praia ou cachoeira?
Vasilisa: Cachoeira.
Madrasta: Animal?
Vasilisa: Gato.
Madrasta: Verão ou inverno?
Vasilisa: Verão.
Madrasta: Flor?
Vasilisa: Rosa.
Madrasta: Dia ou noite?
Vasilisa: Dia.
Madrasta: Mãe ou madrasta?
(Vasilisa volta-se para madrasta).
3
Madrasta: Acho que vamos nos dar muito bem, Vasilisa. (Devolve o prendedor de cabelo, pega a
flor). Está na hora de você conhecer suas novas irmãs. (Sai empolgada).
(Traz Iva enquanto Vasilisa prende os cabelos).
Madrasta: Esta é Iva. A mais nova. Iva é uma menina encantadora. Mas coitadinha! Nasceu com
um pequeno probleminha nos pés. Mas isso não tirou a alegria da minha menina. Sempre tão
saltitante, tão alegre, tão florida! (Pendura o vestido de Iva. Sai e volta com Catarina).
Madrasta: Esta é Catarina. A mais velha. A mais prendada. Catarina faz rendas como ninguém.
Mas nasceu um tanto asmática a minha menina. Mas isso não tirou dela a vontade de viver.
Sempre tão inspirada, tão celestial, tão... tão... azul!
(Pendura o vestido no biombo).
Madrasta: Muito bem meninas, quero ver vocês brincar e dançar, e brincar e dançar, e seremos
uma família feliz! (Quadro: família feliz. Virando-se para o pai) Quê? Você vai viajar? Está bem.
Vou preparar suas malas.
(Madrasta sai. Música tema do pai – arranjo lento. Madrasta tira o pai).
Vasilisa: Tchau pai. Boa viagem. Não demora, viu.
(Entra madrasta. Quadro: Vasilisa e Madrasta olham para frente em silêncio).
Madrasta: Como tudo está sujo por aqui! (Madrasta sai. Volta com vassouras).
Madrasta: Vasilisa, você é a mais saudável. (Joga uma vassoura para Vasilisa).
(Vasilisa e Madrasta começam a varrer juntas, Vasilisa tenta imitar o movimento da Madrasta.
Vasilisa começa a brincar. Dança com a vassoura em torno da madrasta. Balança a vassoura, gira
com a vassoura no ar, madrasta se abaixa e segura a vassoura de Vasilisa com a sua. Vasilisa
tenta tirar. Madrasta começa a forçar o movimento de Vasilisa, até que solta. Vasilisa cai cansada
e assustada. Madrasta sai olhando para Vasilisa no chão. Vasilisa vai pegar a boneca, vê as
irmãs. Leva o banco com a boneca para o canto do palco, se escondendo. Tira a boneca).
Madrasta: (fora de cena) Vasilisa, Iva e Catarina estão amarrotadas e cheirando a mofo. Leve-as
para pegar um pouco de sol.
Vasilisa: (escondendo a boneca e pegando a vassoura) Sim madrasta.
(Vasilisa sai levando as irmãs. Vasilisa e Madrasta entram cantando. Vasilisa empurra estrutura
na qual a madrasta está sentada. Enquanto cantam, Vasilisa arruma o vestido da Madrasta, que é
um enorme pano).
Madrasta e Vasilisa: (cantando)
Fui no Itororó, beber água não achei.
Achei bela morena que no Itororó deixei.
Aproveite minha gente, que uma noite não é nada.
Quem não dormir agora, dormirá de madrugada.
Ó Mariazinha, ó Mariazinha, entra nessa roda, ou ficarás
Madrasta: (finalizando a estrofe)
sozinha.
Vasilisa: (cantando cansada)
Sozinha eu não fico nem hei de ficar,
pois eu tenho alguém para ser... meu... par...
Madrasta: Que carinha desanimada! Você deve estar com um monte de caraminholas nessa
cabecinha. Sonhar demais entristece, meu bem. Mas eu sei como resolver isso.
(Madrasta empurra Vasilisa para baixo de seu vestido. Vasilisa tenta escapar. Música das tarefas).
4
Madrasta: A partir de hoje é você quem busca lenha, trata os porcos, colhe as frutas do pomar,
rega a horta, lava as pedras da casa, limpa o chiqueiro, penteia as galinhas, cata os carrapatos.
Esfrega, lava, limpa, cata. (repete a última frase, até que Vasilisa cai).
(Madrasta desce e tira Vasilisa do vestido. Levanta-a).
Madrasta: Por hoje é só Vasilisa. (Joga o vestido em Vasilisa) Amanhã, tudo de novo.
(Vasilisa puxa o pano para a estrutura e senta).
Vasilisa: (cantando)
Ó Mariazinha, ó Mariazinha,
entra nessa roda, ou ficarás... sozinha.
(Lembra-se da boneca, olha para o banco, vai até o banco e pega a boneca, fala com ela).
Vasilisa: Eu não agüento mais! Eu tô cansada. Me ajuda.
(Música do pai – arranjo lento. A boneca acaricia Vasilisa, dá colo. Puxam o vestido juntas).
Vasilisa: Se não fosse você boneca, não haveria mais dia. A minha madrasta e minhas irmãs
querem o meu fim. (Levanta) O que eu faço?
(Música tema de Vasilisa. Boneca fala com Vasilisa no ouvido. Vasilisa ri. Deixa boneca no banco.
Vai para o vestido).
Vasilisa: (rindo, imitando madrasta) Colher as frutas do pomar, lavar as pedras, esfregar as
galinhas... (se atrapalha, começa a brincar embaixo do pano) Galinha, pedra, porco, lesma,
carrapato. (cantando e juntando o vestido, coloca-o em cima da estrutura)
Pedra, porco, lesma, carrapato.
Pedra, porco, lesma, carrapato.
Esfrega, lava, limpa, cata! (4X)
(termina sentada em cima da estrutura com pose).
Vasilisa: (para a boneca) Agora com vocês, Dra. Cataiva Ivlanovsky.
(Lembra do óculos, sai para pegá-lo. Volta para a estrutura).
Vasilisa: Como sabem, realizei um estudo an-tro-po-ló-gi-co: a crise de identidade dos porcos da
Tanzália do Norte. (Começa a acender as velas.) Visitei os chiqueiros e convivi com os porcos
deste país por 9 meses, e depois de tão suíno estudo, cheguei a conclusão de que, dois pontos, o
problema é que eles, os porcos, andam em patas, em 4 patas. Se andassem em porcos, em 4
porcos, estariam muito mais bem equilibrados! Outro problema é o porco do corpo. Não, o corpo
do porco. Pobres porcos, ficam lá com os seus corpos, fucisbaixos, chafurdando na lama...
(começa a imitar um porco)
Madrasta: (fora da cena) Vasilisa! (Vasilisa continua) Vasilisa!
Vasilisa: (tirando os óculos) O que foi madrasta?
Madrasta: Iva e Catarina me disseram que você anda brincando e rindo à toa. O que você está
fazendo menina?
Vasilisa: (Vasilisa começa a amassar uvas com os pés). Amassando uvas madrasta, para o seu
vinho!
Madrasta: Ora bolas! Isso já está mais do que amassado, ande logo. (Vasilisa vai saindo
empurrando a estrutura) Os porcos estão esperando.
(Vasilisa esconde a boneca, rindo).
Vasilisa: (Debochando) Os porcos! Sim madrasta.
(A madrasta aparece por cima do biombo central com uma maçã e uma faca. Fala enquanto
come).
Madrasta: Não compreendo, por mais trabalho que dou a Vasilisa, ela não definha nunca. Está se
tornando uma moça insuportavelmente encantadora (enfia a faca na maçã). O que acontece?
Carteiro: (fora de cena) Correio, pedido de casamento, Sra. Cataiva Ivlanovsky?
Madrasta: Aqui!
5
(Madrasta corre para frente do biombo. Aparece carteiro).
Carteiro: Correio, pedido de casamento, Sra. Cataiva Ivlanovsky?
Madrasta: Aqui.
Carteiro: Correio, pedido de casamento, Sra. Catai...?
Madrasta: (furiosa) Aqui!
Carteiro: (Vê a Madrasta) Oopss!
(Carteiro entrega a carta).
Madrasta: Senhor Alcântara Machado. Rico! Qual será das minhas meninas... (Abre e lê).
Vasilisa... (dobra a carta e joga fora).
Carteiro: Correio, pedido de casamento, Sra. Cataiva Ivlanovsky?
Madrasta: Aqui!
Carteiro: Correio, pedido de casamento, Sra. Cataiva Ivlanovsky?
Madrasta: Aqui! (pega a carta) Embaixador Pedro de Almeida. Poderoso. (Abre e lê). Vasilisa...
(rasga com raiva) A Vasilisa, meus senhores, só se casará depois das minhas meninas.
Carteiro: Correio...
Madrasta: Aqui. (pega a carta e lê) Vasilisa... Não é possível! Vasilisa não... Vasilisa não... não!
Não!
Carteiro: Correio, pedido de casamento, correio, pedido de casamento. (chuva de cartas)
(Bel como Madrasta se descontrola, rasga as cartas com a boca, se joga no chão. Bia que faz o
correio chama-a. Tira a máscara do Carteiro e chama novamente. Vai para frente do biombo
central e segura Bel pelas pernas).
Bia: Bel, Bel...
Bel: (gritando) Eu não sou a Bel, eu sou a madrasta!
Bia: (puxa o vestido de Bel) Você é a Bel.
(As duas páram, olham para o público. Bia cutuca Bel, manda-a levantar-se. Ficam com vergonha.
Discutem baixinho. Vão até a frente do palco).
Bel: Então, vocês estão gostando né...
Bia: Alguém tem alguma pergunta?
Bel: Não, pergunta não! Vocês estão entendendo né... A Vasilisa mora com a madrasta.
Bia: A madrasta maltrata ela.
Bel: Mas ela tem uma boneca.
Bia: A boneca ajuda ela...
(Se olham, olham para a bagunça no chão, pedem licença ao público).
Bel: Só um pouquinho.
(Bia e Bel vão juntando as cartas do chão. Música tema de Bia e Bel. Bia leva o vestido da
madrasta para trás do biombo. Bel ouve som. Bia entra com bastões).
Bel: (com medo) Você ouviu?
Bia: (também com medo) Ouvi. (entrega um bastão para Bel).
Bel: Ali, bem no meio daquela floresta mora a Babaiaga.
(Bia e Bel iniciam movimento com os bastões).
Bia: Ba-ba-iaga.
Bel: Ba-ba-iaga.
Bia: Babaiaga.
Bel: Babaiaga.
Bia: Ela é terrível.
Bel: Uma megera monstruosa.
Bia: Canibalesca. (Começa luta com bastões). Uma ogra que come crianças como se fossem
frangos. (Batem bastões).
Bel: Tem garras afiadas como se fossem facas. (Batem bastões).
Bel e Bia: Olhos que transformam as pessoas em pedra. (Batem bastões).
6
Bel: Quando avista uma vítima, deixa o maxilar cair...
Bia: E engole a pessoa inteira! (Batem bastões).
(Bia e Bel saltam para trás. Luz vai baixando. Elas vão se aproximando com medo e vão para o
fundo, deixam bastões e pegam velas).
Bia: A madrasta e suas filhas, cansadas da alegria de Vasilisa, que não se apagava nem com o
mais penoso trabalho, planejaram o seu fim. Numa noite de outono, apagaram todas as velas da
casa, deixando só a escuridão. (Trocam velas).
Bel: E na luz cega, deram a Vasilisa a mais cruel das tarefas.
(Bel apaga as velas. Vai cada uma para um canto do palco no escuro).
Madrasta: Vasilisa.
Vasilisa: Que?
Madrasta: O fogo?
Vasilisa: Não há.
Madrasta: Busque-o.
Vasilisa: Onde?
Madrasta: Lá.
Vasilisa: (com medo) Onde?
Madrasta: Na casa da Babaiaga.
(Música da casa. Bia entra com a mesa e Bel entra manipulando a casa. A casa entra voando pelo
palco e pousa sobre a mesa. A casa dança, cisca e senta. Bia e Bel se posicionam uma de cada
lado da casa).
Bel: A choupana de Babaiaga, antes de ser uma choupana, era uma galinha. Galinha não... uma
franga festeira!
Bia: Aliás, frango é o prato preferido de Babaiaga.
Bel: Frango... (Se olham).
Bia e Bel: E criança!
(Bia e Bel querem assustar as crianças da platéia).
Bel: Vamos falar da cerca! (Pede para o técnico no som). Uma música pra cerca. (Música de
terror) A cerca da casa da Babaiaga é formada por ossos de pessoas. Tudo perninha de criança.
Bia: Com caveiras encravadas e buracos incandescentes no lugar dos olhos.
Bel: E o portão... o portão é feito também com perna humana.
Bia: A tramela é feita de mão humana.
Bel: E o cadeado é um maxilar com dentes bem afiados. A Babaiaga! Vamos falar da Babaiaga...
(enquanto Bel descreve, Bia vai imitando Babaiaga). O cabelo dela é sebento. Seu queixo é
cumprido e curvado para cima e seu longo nariz é curvado para baixo e os dois se encontram no
meio do caminho...
(Corte na música. Bia pára de repente e olha para um ponto no alto, mostra Babaiaga voando).
Bia: (medo e espanto) A Babaiaga! Ela voa num caldeirão e varre seu rastro com uma vassoura. A
vassoura é feita de cabelo de alguém que já morreu há muito tempo.
(Acompanham com o olhar o vôo de Babaiaga até a casa. Bel sai. Bia vai para a lateral, pega uma
boneca pequena que representa a própria Vasilisa, mostrando-a ao público).
Bia: Então, Vasilisa começou sua longa jornada, floresta adentro, em busca do fogo.
(Música da jornada. Entra personagem da Floresta. Bia coloca a boneca na mão da Floresta. Bia
sai. A Floresta leva Vasilisa até a casa de Babaiaga. Bia retorna, pega a boneca/Vasilisa e a
manipula. Vasilisa entra na casa. Bia tira a casa de cima da mesa. A mesa passa a ser o interior
da casa de Babaiaga. Babaiaga sobe por trás do biombo central).
Babaiaga: Estava a sua espera Vasilisa. Sei o que veio buscar. Conheço bem sua madrasta e
suas irmãs, mas não costumo dar nada de graça menina. Se conseguir cumprir as tarefas que vou
te dar, leva o fogo. Se não conseguir, te devoro.
Vasilisa: Como...
7
Babaiaga: (ameaçando) Cuidado com as perguntas que vai fazer Vasilisa.
Vasilisa: (titubeando) Quais são as tarefas?
Babaiaga: Lá, atrás da minha casa, tem um monte de palha onde perdi minhas 77 agulhas.
Encontre-as. Limpe cada pena do telhado, corte as unhas das patas da minha casa, e por fim,
prepare para o meu jantar 2 bois, 5 carneiros e 7 porcos.
Vasilisa: Quanto tempo eu tenho?
Babaiaga: Tudo deve estar pronto antes do pôr-do-sol.
(Babaiaga desce. Vasilisa olha para a boneca, olha para Bia. Bia busca a boneca. A boneca
acalenta Vasilisa).
Bia: Enquanto Vasilisa dormia exausta, foi a boneca quem realizou as tarefas.
(Bia tira a boneca. Babaiaga sobe).
Babaiaga: Você cumpriu as tarefas?
Vasilisa: Sim.
Babaiaga: Oras... então... amanhã, faça tudo de novo, mas desta vez, termine antes do meio-dia!
(Babaiaga desce. A boneca surge novamente).
Vasilisa: E agora? Temos menos tempo...
(Boneca acalenta Vasilisa novamente).
Bia: E a boneca ajudou Vasilisa novamente neste dia, e no outro, e no outro.
Babaiaga: (surpresa) O que? Você conseguiu cumprir as tarefas de novo? (mudando de tom)
Venha cá menina.
(Bia leva Vasilisa até a mão da Babaiaga e sai).
Babaiaga: Não sei como você conseguiu fazer tudo. Mas está feito. Não quer me perguntar nada?
Vasilisa: Posso levar o fogo?
(Babaiaga acena que sim).
Vasilisa: Quanto tempo ele vai durar?
Babaiaga: O tempo é seu Vasilisa. Alimente-o.
(Bia entra com o fogo. Babaiaga entrega Vasilisa para Bia. Babaiaga sai. A Floresta sai. Bia leva
Vasilisa e o fogo até ao banco. Coloca Vasilisa e o fogo no banco. Pega a caixa com vestidos de
papel em miniatura, semelhantes aos vestidos da madrasta e das irmãs).
Bia: Quando Vasilisa voltou para casa, os olhos do fogo fitaram a madrasta e suas filhas com tal
ferocidade que foi impossível escapar.
(Bia queima o vestido da madrasta. Música final).
Música Final
Soltos ao vento
Sentindo a brisa te acariciar
Olhos atentos
Querendo o mundo com teus pés ganhar
Chega o momento
Que horizonte é pouco pra alcançar
Baila sem medo
Pois não precisa mais olhar pra trás
Desperta pra tua ciranda
Viagem, andança
A Vagalumiar
Vagalumiar
(Durante a música, Bia queima os outros vestidos. Levanta-se, pega Vasilisa e vai lentamente
para trás).
Bia: Então, Vasilisa fez o seu próprio tempo. E foi.
(Bia sai. Bia e Bel aparecem no alto do biombo central. Reverência).
FIM
8