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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
CONTRIBUIÇÃO À AVALIAÇÃO DE RISCO GEOLÓGICO A PARTIR DE
TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO EM ANÁLISE DE IMAGENS
SRTM, ASTER-GDEM E LANDSAT APLICADAS AOS MUNICÍPIOS DE
EMBU DAS ARTES E ITAPECERICA DA SERRA, SP
Luiz Fernando Dos-Santos 1; Tiago Antonelli ²
Resumo – Este trabalho visa utilizar técnicas de sensoriamento remoto para extração de
lineamentos estruturais analisados em contribuição à gestão e gerenciamento dos riscos
geológicos, de graus Alto e Muito Alto, de Embu das Artes e Itapecerica da Serra, mapeados em
2014, pelo Serviço Geológico do Brasil/CPRM, no âmbito de seu programa de mapeamentos
geotécnicos em caráter emergencial a serviço do Governo Federal. A interpretação dos
lineamentos foi realizada com base em mapas de relevo sombreado utilizando dados SRTM
provenientes do projeto Topodata do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Modelo
Digital de Elevação Global, versão 2, proveniente do sensor ASTER, além do uso de imagens do
Landsat 5 TM, especialmente a banda 4 com linear strech, e imagens mais recentes do Google
Earth. A aplicação da metodologia mostrou-se eficaz na representação da geologia regional, na
escala 1:60.000, referente à resolução espacial dos dados utilizados. A integração dos dados
mostra as fortes tendências regionais NE e NW. Os produtos gerados foram mapa de
lineamentos, mapa de classes por direção, mapa de densidades relativas ao número de feições e
de seu comprimento acumulado por km² e análises estatísticas com uso de diagramas de Roseta.
Análise comparativa dos produtos foi realizada com os dados de predisponentes e condicionantes
geológico-geotécnicos coletados em campo, das áreas de risco geológico. Esta análise sugere a
possibilidade de algumas áreas serem mais suscetíveis a deslizamentos considerando a
estruturação regional como condicionante, além do cenário típico antrópico dos assentamentos
precários como deflagrador de deslizamentos (taludes de corte e aterro).
Abstract – This paper aims to use remote sensing techniques for extracting structural lineaments
for their analysis in contribution to geological risks management, of High and Very High risk
degrees, of Embu das Artes and Itapecerica da Serra, mapped in 2014 by the Geological Survey
of Brazil / CPRM, within its geotechnical mapping program on an emergency basis at the service of
the Federal Government. The interpretation of the lineaments was based on shaded relief maps
using SRTM data from the Topodata Project of the National Institute for Space Research and the
Global Digital Elevation Model, version 2, from the ASTER sensor, and the use of Landsat 5 TM,
especially the band 4 with linear stretch, and recent Google Earth images. The methodology was
effective in representing the regional geology, being effective at the 1: 60,000 scale referring to the
spatial resolution of the used input data. The integration of data shows NE and NW strong regional
trends. The generated products were: map of lineaments, direction classes map, density map of
lineaments per km² and of its total length per km² and statistical analysis using rose diagrams.
Comparative analysis of the products were carried out with the predisposing and geologicalgeotechnical conditions collected in the field, of geological risk areas. Thus it suggested the
possibility that some areas are more susceptible to landslides considering the regional structure as
a condition, beyond the typical man-made scenario of precarious settlements as triggering
landslides (cut and fill slopes).
Palavras-Chave – Sensoriamento remoto, geológico-geotécnico, risco geológico, Embu das
Artes, Itapecerica da Serra.
Pesquisadores em geociências, geólogos – Serviço Geológico do Brasil (São Paulo),
2
(11) 3775-5216, [email protected].
15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
1
(11) 3775-5157, [email protected];
1
1. INTRODUÇÃO
O Serviço Geológico do Brasil – SGB/CPRM, no âmbito do Plano Nacional de Gestão de
Riscos e Resposta a Desastres Naturais (Plano Plurianual 2012-2015), foi responsável por
executar a cartografia geotécnica, incluindo a de riscos geológicos, provendo as informações
básicas geradas para o Centro Nacional de Gerenciamento de Risco de Desastres Naturais –
CENAD, para o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN,
Defesas Civis locais e demais órgãos federais de atuação integrada e multissetorial.
O mapeamento é desenvolvido em municípios pré-selecionados, que apresentam histórico
de danos e perdas causados por processos geológicos adversos intensos com atingimento da
população (Sampaio et al. 2013). O SGB/CPRM realizou em 2014 o mapeamento de setores de
grau de risco geológico R3-Alto e R4-Muito Alto para processos de movimentos de massa,
inundações e enxurradas para os municípios de Embu das Artes e Itapecerica da Serra, SP.
1.1. Objetivo
A análise do risco geológico leva em consideração, principalmente, os predisponentes e os
condicionantes geológico-geotécnicos de superfície, além do histórico acumulado, para culminar
nos graus de risco (Cerri et al. 2007). Este trabalho visa apresentar estes parâmetros, para o
processo de escorregamento, correlacionando-os a uma análise interpretativa de produtos
gerados por técnicas de sensoriamento remoto – SR, reconhecidas para caracterização morfoestrutural e geotécnica de caráter regional de maneira que a contribuição dos dados de SR possa
ser significativa para a contínua avaliação, gestão e gerenciamento municipais.
1.2. Localização
Os municípios de Embu das Artes e de Itapecerica da Serra (SP) estão localizados a oeste da
capital paulista, com acesso pela Rodovia Régis Bittencourt nos Km 279, 282 e 285 (Figura 1).
Figura 1. Localização da área dos municípios de Embu das Artes e de Itapecerica da Serra, SP e principais
acessos como a Rodovia Régis Bittencourt.
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
Áreas com registro de movimentos de massa e fenômenos associados foram levantadas
utilizando seus respectivos PMRR, previamente ao campo. Posteriormente, de 19 a 23 e 26 a 29
de maio de 2014 com acompanhamento de técnicos locais das defesas civis foram visitados
bairros e ocupações para visualização e registro dos predisponentes e condicionantes geológicogeotécnicos, com coleta de dados georreferenciados, detalhes em Dos-Santos & Antonelli (2015).
De acordo com cada processo geodinâmico esperado, as informações foram agrupadas em
pranchas técnicas com informações gerais dos condicionantes físicos, grau de risco, número
estimado de moradias e moradores e recomendações técnicas para sua minimização. Foram
também gerados arquivos em ambiente SIG, no software ArcGIS©, para os dados de campo.
Para caracterizar fraquezas estruturais que possam vir a ser correlacionadas com as áreas
de risco geológico foi utilizado o traçado de feições lineares em ambiente SIG. A interpretação das
estruturas teve como base a extração de lineamentos que segundo O’Leary et al. (1976) são
feições lineares de uma superfície, mapeável, simples ou composta, cujas partes encontram-se
alinhadas de forma reta ou ligeiramente curva e que definem feições adjacentes, refletindo
provavelmente fenômenos de subsuperfície. Para Batista et al. (2014), o uso de SR, junto com
geologia e declividade contribui para o entendimento do comportamento geotécnico de terrenos.
Para Ribeiro et al. (2011) e Andrades-Fº & Fonseca (2009), o relevo sombreado é mais
vantajoso para extração de lineamentos do que imagens de satélite, por realçarem estrutura e
textura, portanto, foi utilizado recorte da cena 24ºS 47ºW do MDE Global-2 do ASTER/TERRA, de
resolução 30m (NASA 2001) e para aferição foi utilizado recorte da cena 23ºS 48ºW do projeto
Topodata/INPE, SRTM de resolução 90m interpolados por krigagem para 30m (Valeriano 2005).
Foi realizada iluminação nos AZ: 0º/45º/90º/135º/180º/225º/270º/315º; inclinação de 45º. Foi
empregado ainda recorte da cena 219/076, obtida pelo sensor TM (Thematic Mapper) do Landsat
5, em 18/04/2010, do projeto Global Land Survey 2010 (NASA), para uso da banda 4 com linear
strech que destaca estruturas geológicas (Klein 1998) e de composições RGB 321, 457 e 345,
para realce espectral. Além disso, foi usada imagem mais recente do Google Earth.
Mapas de relevo sombreado e as cenas de falsa cor e da banda 4 determinaram a
interpretação dos lineamentos, ressaltados perpendicularmente à iluminação. Os traços são
representativos de feições mofo-estruturais, de informações do caráter deformacional e de suas
zonas preferenciais de atuação de esforços, incluindo os alinhamentos de relevo, vales e outras
feições de juntas, falhas e fraturas que indicam o contexto tectono-estrutural (Klein 1998).
Seguiu-se então com execução de rotina do EasyCalculate10 (2015) para obter os azimutes
dos lineamentos, de forma automática e sua classificação por segunda rotina, proposta por
Oliveira et al. (2009), atualizada para a linguagem vigente do ArcGIS©, VB Script. Mapas de
densidades também foram gerados (lineamento por km² e comprimento em km por km²), função
Kernel e, além disso, os produtos de estatísticas e elaboração de diagramas de Roseta para
análise dos trends estruturais e comparação dos resultados com os aspectos intrínsecos de cada
área para processo de deslizamento (fluxograma na Figura 2).
Figura 2. Fluxograma da metodologia utilizada (linha tracejada), complementar ao do SGB/CPRM.
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3. ASPECTOS GEOLÓGICOS-GEOTÉCNICOS
A geologia da Região Metropolitana de São Paulo – RMSP está compartimentada em
embasamento Pré-Cambriano, sedimentos Paleógenos-Neógenos da Bacia Sedimentar de São
Paulo, suítes graníticas e sedimentos Quaternários (Monteiro et al. 2012). Terrenos do
embasamento cristalino foram justapostos no Pré-Cambriano por processos tectônicos,
deformacionais e metamórficos que originaram falhas transcorrentes de direção ENE-WSW. O
embasamento é composto pelos terrenos Apiaí (Grupo São Roque e Serra do Itaberaba) e Embu
(Complexo Embu) (Monteiro et al. 2012; Futai et al. 2012).
No Paleógeno foi formado o Rift Continetal do Sudeste Brasileiro – RCSB (Riccomini 1989)
pela reativação de falhas com deslocamento normal. No Cenozóico, as depressões geradas foram
preenchidas por sedimentos formando a Bacia Sedimentar de São Paulo – BSSP, de idade
Paleógena-Neógena e Quaternária. Esta bacia é limitada a norte pela Falha de Taxaquara-Jaguari
e a sul por elevações do Terreno Embu (Futai et al. 2012).
Gnaisses biotíticos, migmatíticos (bandados), graníticos (ortognaisses), anfibolitos, rochas
calciossilicatadas e metassedimentos (xistos, filitos e metarenitos) de maior ou menos grau
compõem o Complexo Embu. Os terrenos metamórficos apresentam estruturas subparalelas às
zonas de cisalhamento, possuindo milonitização próximos às falhas (Monteiro et al. 2012). Intenso
magmatismo Neo-Proterozóico foi responsável pela intrusão de granitos sin e pós-tectônicos,
como o Granito Itapecerica da Serra (CPRM 2004), a sul (Figura 3). Portanto, na área os solos
residuais são provenientes de gnaisses, xistos e granitos. Além destes, depósitos tecnogênicos e
solos aluvionares ao longo dos cursos d’água são presentes, assim como, porções restritas
correlacionáveis à Bacia de São Paulo, fora dos limites regionais estabelecidos (Futai et al. 2012).
A disposição da drenagem evidencia controle lito-estrutural, com canais apresentando
paralelismo e linearidade e comuns inflexões em ângulos retos, como o caso do Rio Embu-mirim,
sinalizando o forte controle regional. Hasui (1975) identifica a Zona de Cisalhamento
Transcorrente Dextral de Caucaia (ZCDC), marcada pelo Rio Cotia, a NW da área.
Figura 3. Mapa geológico da região de Embu das Artes e Itapecerica da Serra sobreposto pelas áreas de
risco mapeadas para escorregamento e sotoposto ao MDE-ASTER/GDEM2 (modif. de Coutinho, 1980).
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Para os gnaisses da RMSP, Futai et al. (2012) indicam valores médios de ângulo de atrito
de 28,8º (±5,9º) e de coesão de cerca de 35 kPa, valores que podem ser estendidos para as
demais rochas Pré-Cambrianas da área pelo comportamento geológico-geotécnico semelhante. O
relevo da área é caracterizado como morrotes alongados (IPT 1981) com declividades altas
variando entre 15 a 30%, desfavorável à ocupação precária. A região tem média entre 1.300 e
1.500 mm de chuvas anuais, distribuídas irregularmente ao longo do ano com maior concentração
no período de novembro a março (DAEE 2015).
Os deslizamentos são deflagrados quando as tensões cisalhantes mobilizadas se igualam à
resistência ao cisalhamento, condição atingida ou pela redução da resistência ou pelo aumento
das tensões mobilizadas (Gerscovich 2009). Situações presentes, na maioria, nos assentamentos
precários, cujo cenário de risco urbano denso tem a água como o principal agente deflagrador.
Rodriguez (1998) aponta como condicionantes dos escorregamentos os tipos de litologias e
suas características geotécnicas; as estruturas que formam planos de fraqueza por onde se
percola água com formação de solos espessos sujeitos aos movimentos de massa; a
geomorfologia que indica as encostas mais íngremes e sujeitas aos movimentos; por fim, a água
que é catalisadora dos processos de intemperismo, transporte e modificadora do estado de
tensão dos maciços, podendo induzir instabilidades. O mesmo autor, após cruzar informações de
relevo, geologia e lineamentos morfo-estruturais definiu que os municípios aqui estudados estão
localizados em uma zona de alta potencialidade para o desenvolvimento de deslizamentos,
relativo ao domínio do Terreno Embu. Os terrenos com menor potencialidade estão situados no
domínio da Bacia Sedimentar de São Paulo, enquanto que as suítes graníticas presentes têm
baixa a média potencialidade relativa para processos de escorregamento.
4. RESULTADOS & DISCUSSÃO
Utilizando a metodologia apresentada, foram interpretadas 652 feições com tendências
gerais NE e NW, de acordo com o diagrama de rosetas de comprimento acumulado (Figura 4.a).
Foram divididas em classes E-W, NE, NNE, NNW e NW (Figura 4.b) para análise das frequências
e principais orientações. O Mapa de Lineamentos e o Mapa de Classes estão na Figura 5.
A maior frequência acumulada está na direção NE-SW, com 238 lineamentos
correspondendo à principal estruturação regional e à direção local das deformações da ZCDC e
posteriores reativações. O sistema NW-SE apresenta a segunda maior frequência com 207
feições extraídas, sendo que, estas tendências são concordantes com a geologia regional
apresentada (Tabela 1).
Tabela 1. Estatísticas básicas extraídas dos lineamentos estruturais foto-interpretados.
Direção
(classes)
E-W
NE
NNE
NNW
NW
TOTAL
Frequência
Azimute Médio (°)
121
238
36
50
207
652
109,04
80,48
108,40
207,37
153,12
131,68
Comprimento dos Lineamentos
Total (km)
Médio (km)
120,53
1,00
280,16
1,18
43,75
1,22
52,01
1,04
194,92
0,94
691,37
1,08
A interpretação das imagens processadas apontou alto controle litológico e estrutural das
descontinuidades geológicas. Notadamente, exemplo pode ser observado (Figura 3) do controle
lito-estrutural do Rio Embu-mirim, com nascente em Itapecerica da Serra e rumo NNE, que sofre
desvio em Embu das Artes, de 135º para sentido SSE por conta de falhamentos controlados pelo
sistema de lineamentos NNW e NNE, e em seguida sofre inflexão para E desaguando na Represa
Guarapiranga. Rodriguez (1998) considera que esta anomalia evidenciada pela drenagem é
concordante ao proposto por Riccomini (1989) de caráter de extensão WNW-ESE ou compressão
local NNE-SSW, sendo de natureza neotectônica.
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A
B
Figura 4. (a) Diagrama de frequência com peso pelo comprimento das feições, mostrando as direções
preferenciais de ocorrência dos principais lineamentos estruturais foto-interpretados. Notar que as fortes
tendências NE e NW decorrem da estruturação regional e da ZCDC (b) Diagrama de Roseta utilizado para
análise dos lineamentos, como proposto em Oliveira et al. (2009).
O maior direcionamento dos lineamentos tem tendência NE (Figura 4.a), decorrente da
influência marcante da ZCDC, com forte contribuinte perpendicular a NW, provavelmente
correspondente à fase anterior de transcorrência compressiva (Riccomini 1989), representante do
padrão do controle estrutural. Rodriguez (1998) aponta ainda a ocorrência da Falha do Rio
Pirajuçara NE-SW, coincidente com o Ribeirão da Ressaca em Embu das Artes, de continuidade
provável até Guarulhos, ativada em caráter normal rúptil pela fase final de extensão WNW-ESE.
Na Figura 5, são apresentados também os mapas de isodensidades gerados, por frequência
e por comprimento acumulado para se observar as densidades dos lineamentos relativas às áreas
mapeadas para correlação interpretativa. Duas regiões, coincidentes com a presença de áreas de
risco mapeadas, apresentam relativa alta densidade (maior que 1,7/km², pelo Mapa de Densidade
lineamento/km²), e são apresentadas em maior detalhe nos quadros A e B da mesma figura. Para
estas mesmas áreas, com as informações de comprimento acumulado por km², a densidade é
relativamente baixa evidenciando o peso da continuidade de grandes feições e seu relativo
grande comprimento coincidentes na ZCDC e com as drenagens como o Rio Embu-mirim e o Rio
Cotia. No Detalhe A, as áreas de risco mapeadas de Embu das Artes, EMB-10 (Figura 6.e), EMB11 e EMB-16 (Figura 6.f), mais a EMB-06, localizada a norte fora do detalhe, configuram áreas de
Alto risco em altas densidades variando de 1,7 a 2,5 lineamentos/km². No Detalhe B, para
Itapecerica da Serra são destacadas as áreas, também de risco Alto, ITS-01 (Figura 6.d), ITS-02,
ITS-03, ITS-14 e ITS-15 (Figura 6.c) com densidades altas de 1,9 a 3,2 lineamentos/km²,
evidenciando contribuinte estrutural para os condicionantes.
Em campo, foi realizada a investigação geológica-geotécnica de superfície (Cerri et al. 2007),
com a observação da geometria dos taludes, o tipo de ocupação e sua densidade, a presença de
vegetação, água, estruturas de engenharia (canaletas, guias etc), a presença ou não de
escorregamentos pretéritos, entre outros aspectos. No geral, numa análise de pequena escala, a
ocorrência das áreas está associada à ocupação precária de encostas e taludes íngremes, onde
são realizados cortes e lançamentos de aterros, misturados a todo tipo de lixo e outros materiais
desfavoráveis à estabilidade (Figura 6).
A inexistência de qualquer tipo de sistema de drenagem é comum na região fazendo com que
a água seja o principal deflagrador de processos de escorregamentos nestas áreas de ocupação
precária. Portanto, o caráter antrópico neste cenário urbano, a priori, é o principal agente
causador dos riscos averiguados em campo, sendo concordante ao apontado por
Wolle & Namba (2012), que constataram que a maioria das instabilizações na RMSP está
associada ao fator antrópico, em maior ou menor grau de contribuição.
Assim, as áreas com densidades relativamente altas de lineamentos regionais, aqui
destacadas, apresentam também como principal fator preparatório, o antrópico, quando não como
agente deflagrador direto, independente se exista condicionantes geológico-geotécnicos ou não
(Wolle & Namba 2012). Não obstante, as descontinuidades, tais como, falhas e fraturas de
controle regional, condicionam a ocorrência dos processos, como apontado por Okida (1996) em
seu caso particular, que ainda identifica como agentes deflagradores o desmatamento pela ação
do Homem e o alto regime pluviométrico.
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Figura 5. Produtos gerados do uso conjunto de dados de campo, espaciais e espectrais em ambiente SIG:
mapa de lineamentos, mapa de classes por direção, mapas de densidade por km² e de comprimento por
km² e os detalhes A e B, de maior densidade relativa (com limites dos setores mapeados).
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A
B
C
D
E
F
Figura 6. a) Moradia precária, instalada sem recuo para o corte. Setor ITS-16, Jardim Potuverá.
b) Moradias de alvenaria situadas em encosta íngreme, onde foram promovidos cortes e aterros lançados e
deslizamento com fatalidade, setor EMB-15, Jd. Santo Eduardo. c) Solo residual presente na área, setor
ITS-15, Jardim Nisalves, onde houve deslizamento planar. d) Moradia encaixada em corte em solo residual,
setor ITS-01, Jd. Paraíso. e) Encosta íngreme ocupada precariamente, setor EMB-10, Pinheirinho.
f) Moradias à meia encosta, em corte e aterro, setor EMB-16, Jardim Santo Antônio.
As descontinuidades ou zonas de fraquezas estruturais das litologias, representadas pelos
lineamentos foto-interpretados são caminhos preferenciais para a pedogênese, erosão e
transporte (deslizamentos), então, a ação antrópica acelera os processos de transporte em
detrimento dos de intemperismo e formação dos solos (Sestini 1999).
As áreas de risco geológico, mapeadas para processos de movimentos de massa, tipicamente
neste caso de deslizamentos planares, situados nas regiões com alta densidade de lineamentos
por km², têm maior suscetibilidade de desenvolvimento dos processos adversos pelo
condicionante estrutural representado pelos próprios lineamentos, aumentando a probabilidade de
ocorrência do processo de deslizamento e consequentemente o risco. O risco aqui é produto de
uma relação direta da probabilidade de ocorrência de um processo (ou perigo) pela
vulnerabilidade das moradias em função das suas consequências (perda e danos).
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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Os principais fatores que condicionam o risco geológico na região são de caráter antrópico,
notadamente nas áreas de assentamentos precários e de baixa resiliência onde a população não
tem acesso à informação e técnicas e materiais de qualidade para a ocupação de terrenos
naturalmente desfavoráveis (ou suscetíveis a processos de movimentos de massa). Os cortes
para edificação das moradias são realizados sem técnicas adequadas causando perda de
resistência ao cisalhamento, muitas vezes gerando aterros lançados que provocam instabilidades
por aumento da solicitação do terreno, além de não haver condução adequada da água superficial
e do descarte de depósitos antropogênicos (lixo, entulho e outros detritos).
Aparte de o fator antrópico condicionar fortemente o risco e muitas vezes o deflagrar, existe
a possibilidade de que a superfície crítica, ou de ruptura, de encostas e taludes coincida com
zonas de fraquezas ou de maneira mais complexa, que as zonas de fraqueza (falhas, fraturas e
juntas) formem planos de menor resistência, condicionando os escorregamentos. De fato tal
controle existe para escorregamentos, inclusive para cenários urbanos densos (Rodriguez 1998;
Wolle & Namba 2012) em interface a encostas naturais ou taludes de corte e aterro. Para a
avaliação da possível influência desses condicionantes geológico-estruturais foi realizado o
levantamento das descontinuidades para análise das tendências regionais de controle litoestrutural e correlação com as áreas de risco para movimento de massa.
A despeito das diferentes escalas de análise, as técnicas de sensoriamento remoto
apresentaram resultados satisfatórios para caracterização regional geotécnica da região. A
utilização dos lineamentos interpretados a partir dos dados e imagens de radar e satélite
possibilitou aferir as tendências regionais das descontinuidades para NE e NW além das regiões
com maior densidade de fraquezas estruturais e, consequentemente, com maior propensão ou
perigo do desencadeamento de deslizamentos condicionados também a estas estruturas (falhas,
fraturas, juntas).
Algumas das áreas mapeadas, de grau de risco R3-Alto para processos de deslizamento,
estão localizadas em densidades acima de 1,7 lineamentos/km² (relativamente alta), como as
denominadas EMB-06, EMB-10, EMB-11, EMB-16 de Embu das Artes e as ITS-01, ITS-02, ITS03, ITS-14 e ITS-15 de Itapecerica da Serra. Recomenda-se que estas áreas tenham
acompanhamento mais frequente pelas defesas civis municipais, pois, além de todos os
predisponentes e condicionantes geológico-geotécnicos naturais e desfavoráveis à ocupação,
constatados em campo, eles são fortemente agravados pela ação do Homem, como apontados
pelos graus Alto ou Muito Alto de risco, este estudo ainda aponta uma maior densidade de
estruturas geológicas que podem condicionar diferentes tipos de escorregamentos, além da
tipologia recorrente de deslizamentos em taludes de corte e aterro lançado.
Recomenda-se também que sejam feitos estudos de maior detalhe da geologia estrutural
em Embu das Artes e Itapecerica da Serra para maior precisão das informações, relacionando às
questões dos processos geodinâmicos esperados, áreas de risco e de defesa civil dos municípios.
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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
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