A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO

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A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
ISSN 2318-3462
Recebido: 25/10/2013
Aprovado: 17/11/2013
A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
Anderson Lupo Nunes¹
Resumo
É feita uma introdução, que trata sobre os vínculos entre o simbolismo do Templo de Salomão e a sequência
de Fibonacci. O conceito acerca da Razão Áurea é apresentado e é feita uma dedução formal de seu valor
numérico. Diversos exemplos de identificação da Razão Áurea, extraídos de aspectos biológicos, anatômicos,
astronômicos, entre outros, são apresentados. A sequência de Fibonacci é deduzida e conceituada, sendo
relacionada com a Razão Áurea. É traçado um paralelo entre a sequência de Fibonacci e diversos aspectos
simbólicos e mitológicos do Templo de Salomão na literatura maçônica, como a caminhada do lado externo
ao Templo passando pelo pavimento térreo e subindo a escada até o segundo pavimento. Nas considerações
finais, observa-se toda a riqueza e perfeição do Grande Arquiteto do Universo a partir da ordem natural presente em todo o Universo manifesto e oculta no simbolismo acerca do mitológico Templo de Salomão.
Palavras-chave: Templo de Salomão; Sequência de Fibonacci; Razão Áurea.
Abstract
Introduction deals about the links between the symbolism of the Temple of Solomon and the Fibonacci sequence. The concept about the Golden Ratio is displayed, and made a formal deduction of its numerical value. Several examples of identification of the Golden Ratio, extracted from biological, anatomical, astronomical aspects, among others, are presented. The Fibonacci sequence is inferred and conceptualized, being related to the Golden Ratio. It's drawn a parallel between the Fibonacci sequence and various symbolic and
mythological aspects of Solomon's Temple in Masonic literature, such as walking on the outside of the Temple through the ground floor and up the stairs to the second floor. In closing remarks, there is all the wealth
and perfection of the Great Architect of the Universe from the natural order present throughout the universe manifest and hidden in mythological symbolism about the Temple of Solomon.
Keywords: Temple of Solomon; Fibonacci Sequence; Golden Ratio.
¹ Anderson Nunes é Doutorando em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Mestre em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Especialista em Educação Tecnológica pelo CEFET-RJ, Graduado em Física pela UFRJ e em Formação Docente para o Ensino Fundamental e Médio pela
Universidade Cândido Mendes. É membro da Loja de Pesquisas “Rio de Janeiro” - GOIRJ. E-mail: [email protected]
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de referências nas afirmativas de Durão (2003). Ismail
(2012) ressalta que a Maçonaria sempre teve uma
relação com o Templo de Salomão. Adoum (1972)
trata de aspectos simbólicos do Tabernáculo no deserto que seria o símbolo do corpo físico no deserto
da matéria. O Tabernáculo, ou o corpo físico, foi dado
ao homem para que ele encontre Deus. Williams
(2004) também destaca os mesmos aspectos relatados por Adoum (1972) e ainda trata de relações com
os sólidos platônicos e os chakras.
Introdução
A Maçonaria possui um simbolismo oculto, o
qual o irmão deve se debruçar no estudo e meditação acerca do aspecto ritualístico para desvendar o
seu significado. Há, de certa forma, uma Maçonaria
velada e que nem todos os irmãos tem acesso. Isto é
natural, pois apesar de toda a abertura do conhecimento e o aprimoramento dos meios de comunicação, a Maçonaria continua sendo profundamente
mística e esotérica. Efeitos psicológicos acerca do
A proposta do presente trabalho consiste
simbolismo maçônico são apresentados em Guimarelacionar aspectos simbólicos do Templo de Salorães (2013).
mão com a sequência de Fibonacci. O manancial de
Segundo Janotta (2013), boa parte do simbo- símbolos acerca de ambos é muito rico e a interseção
lismo maçônico é fundamentado no Templo de Salo- entre eles é a matéria prima desta obra. A relevância
mão, apresentado na Bíblia Sagrada (2012) em Exôdo do tema se justifica pela importância dos aspectos
cap. 26 até 29 como uma tenda que deveria abrigar o simbólicos relacionados. A sequência de Fibonacci
Senhor durante a peregrinação dos judeus que eram aparece nas mais diversas manifestações da vida no
guiados por Moisés até a Terra Santa. Com a sua fixa- planeta Terra. Da quantidade de pétalas das flores
ção na região da Palestina, houve uma época de mui- até as espirais do caracol e da própria via Láctea são
tos conflitos que se acentuaram durante o reinado de alguns exemplos de aplicação desta sequência.
Davi. Após a sua morte sobe ao trono o seu filho, SaUma notável descoberta revelada por Tatterlomão. Segue-se um período de paz e prosperidade,
sall
(2013)
consiste no fato de que os períodos das
que o motivou a construir o Templo de Deus na Terra
Prometida, de acordo com I Reis no capítulo 1 e capí- órbitas de todos os planetas o sistema solar, incluindo os dois planetas anões, possui uma estreita cortulos 5 até 7.
respondência com os vinte primeiros termos da seBuchanan (2013) realiza uma busca arqueo- quência de Fibonacci. O erro médio entre os vinte e
lógica ao Templo de Salomão contestando o senso oito pontos de dados é demonstrado estar sob
comum de que ele ficava originalmente na Cúpula da 2,75%.
Rocha, afirmando que quando foi totalmente destruíUm número que surge naturalmente no esdo pela primeira vez em 516 A.C. ele ficava perto da
fonte de Siloé. A importância dessa busca reside no tudo matemático da sequência de Fibonacci é a chafato de que o Templo não é apenas simbólico e mito- mada Razão Áurea, também chamada de Divina Prológico, mas também uma realidade histórica inserida porção ou mesmo Proporção Áurea. O seu estudo é
em um contexto atual sócio-político bastante com- relevante para este trabalho.
plexo.
A construção do Templo de Salomão começou no ano 480 após o êxodo, segundo I Reis, cap. 6
vers. 1 e levou um período de 13 anos até o término
da obra. Segundo Durão (2003), Salomão era um
grande artista e um alquimista, tendo desenhado a
maior parte dos enfeites do Templo e também teria
manufaturado, por meios alquímicos, parte do ouro
utilizado na sua construção. Vale ressaltar a carência
A Razão Áurea
Trata-se de um número irracional que pode
ser obtido a partir de certas proporções do ser humano e da Natureza em geral. Por unir macrocosmo e
microcosmo assume um aspecto divino, daí também
ser conhecido como Divina Proporção. Existe mais de
uma maneira de deduzir a Razão Áurea, conforme
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pode-se verificar em Queiroz (2010), Conte (2008) e tiva ao termo da direita:
Lawor (1997). Na verdade usarei um método pessoal,
x2  yx  y 2
partindo dos conceitos apresentados nas três referências.
2
O termo x passa para o lado esquerdo da
Considere um seguimento de reta definido
equação:
pelos pontos A e B abaixo:
x2  yx  y 2  0
A equação acima, considerando o x como a
incógnita, torna-se uma equação do segundo grau.
Marque um ponto C qualquer entre A e B.
Tanto faz se o ponto está mais próximo de A ou de B.
ax2  bx  c  0
Note que se escolhêssemos o y como incógnita a equação seria exatamente a mesma. Foi por
conta desta simetria que afirmei acima que tanto a
menor distância ser AC ou CB. A equação do segundo
grau é resolvida pela fórmula de Báscara.
Quando a razão (divisão) entre o maior trecho (AC) e o menor trecho (CB) é igual a divisão entre
o seguimento de reta completo (AB) e o maior trecho
(AC) o resultado da divisão é um número irracional
chamado de Divina Proporção ou Razão Aurea. Matematicamente a afirmativa acima pode ser escrita:
AC AB


CB AC
A letra grega

b  b 2  4ac
x
2a
Aplicando a fórmula de báscara à equação
x2  yx  y 2  0
, segue:
y  y2  4 y2
x
2
(Phi) representa a própria
É possível simplificar a equação acima. Primeiro,
soma-se
os termos de dentro da raiz quadraRazão Aurea. Para deduzir o valor de
, vamos chamar o trecho AC de x e o trecho CB de y. A equação da.
acima pode ser reescrita:
2

x
x x y

y
x
y  5y
2
Segundo, aplica-se a propriedade do produMultiplica-se os denominadores cruzados to de raízes:
pelos numeradores:
x  y  x  y
x
2
y  5 y2
2
Seguem duas opções de simplificações para
Em seguida, aplica-se a propriedade distribu- a equação. A primeira é:
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x
Note que
y
2
x

y

5 y 1  5  y


2


, logo:

1 5
x
 
 0, 6180339887
y
2
Este resultado é falso uma vez que x e y são
positivos e assim a Razão Aurea não pode ser negativa. Resta, portanto a outra alternativa:
x


1 5 y
y  5y

2
2
Logo,



1 5
x

 1, 6180339887
y
2
  1,6180339887
O número
é chamado
de Razão Aurea ou Divina Proporção. É irracional porque resulta de uma divisão em que o resultado não é
exato, ou seja, após infinitas etapas de divisões o resto nunca se anula. O seu simbolismo é muito rico, o
infinito presente no finito, o eterno expresso e limitado no tempo.
Aspectos naturais da Razão Áurea
A Divina Proporção está presente em diversas relações do corpo humano, segundo Queiroz
(2010) e Melchizedek (2009):


A altura do corpo e a medida do umbigo até o
chão.
A medida da cintura até a cabeça e o tamanho
do tórax.
O tamanho dos dedos e a medida da dobra
central até a ponta.
A altura do crânio e a medida da mandíbula
até o alto da cabeça.
A medida do quadril ao chão e a medida da
mandíbula até o alto da cabeça.
Também encontramos a Razão Áurea no
comportamento da refração da luz, nos átomos, nas
espirais das galáxias, nas ondas dos oceanos, nos furacões. Ela já era conhecida dos antigos egípcios que
construíram suas pirâmides utilizando a Divina Proporção nos blocos de pedra e nas câmaras internas
de seus monumentos.
Segundo Melchizedek (2009) as dimensões
da Razão Áurea no corpo humano nunca são exatas
em uma pessoa. Quando um bebê nasce o seu umbigo se situa exatamente no centro geométrico do corpo. À medida que a criança cresce a posição do umbigo começa a se mover na direção da cabeça até chegar exatamente na Razão Áurea, mas continua subindo. Depois vai descendo e assim, sucessivamente,
oscilando em torno da posição correspondente à Divina Proporção. Quando chega a idade adulta se estabiliza em um ponto um pouco acima ou abaixo da
Proporção Áurea, na maioria dos homens ligeiramente acima e na maioria das mulheres ligeiramente
abaixo. Na média da humanidade fica exatamente no
ponto correspondente à Razão Áurea. Lawor (1997)
também cita a oscilação da posição do umbigo em
relação à Razão Áurea e o fato de que nos homens é
acima e nas mulheres, abaixo.
Lawor (1997) afirma que a Proporção Áurea
é uma razão constante derivada de uma relação geométrica que tal qual o π e outras constantes deste
tipo é irracional em termos numéricos. Acima de tudo deve ser apresentada como uma proporção sobre
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a qual se funda a experiência do conhecimento. As- Figura 1: Homem de Vitrúvio de Da Vinci (1485-90, Veneza)
sim, a Proporção Áurea pode ser considerada como
suprarracional ou transcendental.
Foi Pitágoras, segundo Conte (2008), quem
descobriu que a Razão Áurea representava uma lei
biológica que regula o crescimento de todas as coisas
vivas. Chegou a esta conclusão ao medir e analisar
uma belíssima concha marinha (Nautilus pompilius),
bastante comum nas praias da ilha de Samos.
Mas Pitágoras tinha a convicção de que a
Natureza era regida pelo número quatro. Assim, pode representar a perfeição da espiral da concha por
uma sequência de quadrados, começando com um
quadrado de lado igual a um e ajustando os quadrados seguintes ao crescimento da espiral. O mesmo
exercício geométrico feito com a perfeita espiral de
uma concha pode ser feito com a Via Láctea. Esta
sequência numérica é muito especial e parece ser a
chave para explicar a Razão Áurea.
A Sequência de Fibonacci
Leonardo Da Vinci se notabilizou, entre diver- Fonte:
http://www.infoescola.com/desenho/o-homemsas outras obras, por um esboço chamado de o Ho- vitruviano/
mem Vitruviano ou Homem de Vitrúvia, apresentado
na Figura 1. Melchizedek (2009) e Lawor (1997) co- Figura 2: A Espiral de Fibonacci
mentam que é possível traçar uma espiral sobre o
desenho que tem uma importante relação com Razão
Áurea. A espiral é construída a partir de um quadrado
1x1, seguido de outro quadrado idêntico. Os dois primeiros quadrados formam o lado do terceiro quadrado 2x2 e assim sucessivamente. A Razão Áurea presente no esboço de Da Vinci revela a espiral abaixo
feita pelos lados sucessivos de quadrados, formando
a sequência de Fibonacci.
Fonte: http://dsigngrafico.wordpress.com/tag/fibonacci/
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A sequência numérica presente na espiral da
figura 2 foi revelada por Leonardo Fibonacci (11701250) em sua obra Liber Abaci, embora não tenha
sido ele que descobriu a sequência, ela recebeu o seu
nome após a sua morte. Fibonacci foi o primeiro e
um dos mais importantes matemáticos europeus da
Idade Média, segundo Eves (1990).
Considere o número 1, representa o Todo, o
Grande Arquiteto do Universo. Ele cria uma imagem
de si mesmo, ou seja, outro número 1. Soma-se os
dois primeiros números da sequência o que resulta
no 2. Soma-se o 2 com o anterior o que resulta o 3.
Repete-se sempre a soma do número com o anterior
sucessivamente e obtém-se a Sequência de Fibonacci.
Representando a aproximação da divisão dos
termos seguidos em relação à Razão Áurea observase um comportamento oscilatório, que já havia sido
comentado neste trabalho por meio do exemplo sobre a posição do umbigo do bebê até chegar à idade
adulta. Observe o comportamento oscilatório no gráfico da Figura 3.
1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89
A sequência de Fibonacci apresenta muitas propriedades que, segundo Kalman & Mena (2003), podem ser classificadas como maravilhosas. As somas
ou as diferenças entre números da sequência de Fibonacci resultam em números que também são da
sequência. Quaisquer quatro números seguidos de
Fibonacci podem ser combinados para formar um
terno pitagórico, ou seja, dos quatro números é possível tirar três que formam os catetos e a hipotenusa
de um triângulo retângulo (onde vale o Teorema de
Pitágoras). Estas e outras propriedades da sequência
de Fibonacci são descritas por Kalman & Mena (2003)
com maiores detalhes.
A relação entre a Sequência de Fibonacci e a
Razão Áurea é bastante simples. Basta dividir um número da sequência pelo seu antecessor. Quanto maior for o número, mais o resultado se aproxima da Razão Áurea. Vejamos a seguinte tabela:
Figura 3: Gráfico que mostra a oscilação dos termos da sequencia de Fibonacci em torno da Razão Áurea produzido pelo autor
no aplicativo Microcal (TM) Origin versão 6.0
A sequência de Fibonacci, vinculada à Razão
Áurea, está associada a uma miríade de fenômenos
biológicos, atômicos e estelares. Melchizedek (2009)
mostra a presença da sequência na quantidade de
pétalas das flores, a distribuição das folhas e das sementes. Também aparece nas espirais presentes na
anatomia humana, nos caracóis, etc. Tashtoush &
Tabela 1: Termos consecutivos da sequência de Fibonacci con- Darwish (2012) utilizam a sequência de Fibonacci na
construção de um protocolo que melhora em até
vergindo para a Razão Áurea
21% a transmissão dos dados em uma rede. Mishra
1/1 = 1
21/13 = 1,61538...
et al. (2012), por sua vez, utilizam a sequência para
2/1 = 2
34/21 = 1,619048...
criar um novo modelo de criptografia de imagem. A
3/2 = 1,5
55/34 = 1,617647...
sequência de Fibonacci revela uma ordem natural
5/3 =1,6667
89/55 = 1,61818...
subjacente a todo o Universo.
8/5 = 1,6
144/89 = 1,617978 ...
13/8 = 1,625
233/144 = 1,618055...
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Relações com o Templo de Salomão
movimento da Criação.
A Maçonaria revela aspectos simbólicos do
Templo de Salomão que são velados e segundo minha análise e inspiração tem uma relação direta com
a sequência de Fibonacci, e por contiguidade, à Razão
Áurea. Morrison (2008) revela a metáfora arquitetônica do Templo de Salomão correlacionando sua geometria com o corpo humano e demais elementos naturais a partir do estudo acerca de uma obra de Juan
Battista Villalpando publicada em 1604.
O aprendiz no início de seu movimento para o
pavimento superior do Templo de Salomão fica entre
as duas colunas, B. e J., que juntas elas dão a ideia da
dualidade. Simbolizam o terceiro termo da sequência
de Fibonacci, ou seja, o número 2. Na Bíblia Sagrada
(2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 27 está escrito:
“Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem
de Deus o criou, macho e fêmea ele os criou.” Note
que é só no cap. 2, vers. 21, 22 e 23 que está escrito
que Deus criou a mulher a partir da costela de Adão.
Qual seria então o significado da afirmativa que Deus
criou o ser humano, à sua imagem, macho e fêmea?
Parece ser uma referência ao princípio de Dualidade.
Na Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis , cap. 6 vers. 21
trata da construção do Templo de Salomão, onde
aparece a figura do artífice Hiram Abiff que teria
construído as colunas. Está escrito: “Em seguida ele
ergueu as colunas na frente do vestíbulo do templo:
levantou a coluna do lado direito dando o nome de
Jaquin; em seguida levantou a coluna do lado esquerdo, chamando-a de Booz.”
O início do ingresso no Templo de Salomão se
faz pela antessala, que pode ser simbolizada pelo número 1, é Princípio no sentido cosmogônico do termo, portanto, o início da sequência de Fibonacci.
Queiroz(2010), Melchizedek (2009) e Lawor (1997)
relacionam o simbolismo do número 1 à unidade e ao
princípio organizador do Universo. Goswami (2007)
afirma que a consciência necessária, segundo uma
interpretação idealista da Física Quântica, é única.
Um referencial absoluto e necessário para que todo o
Universo se manifeste. Na verdade ele adota o conceito de mônoda, criado por Leibnitiz e o amplia, definindo a mônoda quântica.
O Aprendiz Maçom está ainda no pavimento
térreo do Templo do Rei Salomão, segundo Adoum
(1972). Este pavimento simboliza o próprio Aprendiz
e é o reflexo do princípio. Logo é o segundo termo da
sequência de Fibonacci, ou seja, o segundo 1. Na Bíblia Sagrada (2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 26
está escrito: “Deus disse: Façamos o ser humano a
nossa imagem e segundo nossa semelhança,(...)” A
consciência humana é um reflexo da consciência cósmica. Este ponto do estudo é relevante porque se do
Princípio não surgisse a sua imagem ou reflexo não
existiria a Criação. Se não fosse o surgimento do segundo 1 na sequência de Fibonacci ela simplesmente
não existiria. Hurtak (1996) afirma que o Homem é
feito na imagem e similitude, onde o “na” indica que
a evolução é um contínuo assimilar de Luz. Ubaldi
(1999) que cada fenômeno só existe porque há movimento de um ponto de partida para um ponto de
chegada. O surgimento do segundo número 1 da sequência de Fibonacci mostra, portanto, o primeiro
A seguir, vem a escada em forma de caracol.
Note que o caracol, por si só é uma referência a Pitágoras e o formato perfeito das conchas que tanto inspiraram esse Venerável Mestre. Os três primeiros degraus aludem ao princípio ternário, representado no
altar pelas Três Grandes Luzes da Maçonaria. Representam também as virtudes Sabedoria, Força e Beleza. É cabível também uma relação com os pilares da
Árvore da Vida, segundo Marques (2011). Chega-se
ao quarto termo da sequência de Fibonacci, o número 3.
Os cinco degraus seguintes representam às
cinco ordens clássicas da Arquitetura, ou seja, Dórica,
Jônica, Coríntia, Toscana e Compósita. As informações acerca da Arquitetura Clássica foram preservadas através da obra de Vitrúvio, que viveu no século I
A.C. , segundo Maciel (2009). Aludem também aos
cinco sentidos humanos e aos cinco elementos alquímicos, a saber, Terra, Ar, Água, Fogo e Éter. Uma descrição sucinta dos cinco elementos alquímicos é feita
por Cotnoir & Wsserman (2009), que relacionam o
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quito elemento com o campo, ou seja, a fonte de tudo o que existe. Nota-se que a referência às cinco
colunas da Arquitetura Clássica passam uma idéia de
ordem ou mesmo simetria, conceito fundamental da
Razão Áurea. Surge o quinto termo da sequência de
Fibonacci, o número 5.
Segundo Adoum (1972), desde os mais antigos rituais a letra G simboliza o Grande Arquiteto do
Universo, merecendo, portanto, uma deferência especial. Assim, os sete degraus (sete ciências) somadas
ao próprio Grande Arquiteto do Universo, simbolizam
o número 8. Note que o número 8 simboliza o duas
vezes quatro, a manifestação perfeita. O octanário é
o número da realização da Divindade no Homem. Note que o oito é o símbolo do infinito voltado para cima. Chega-se ao sexto termo da sequência de Fibonacci, o número 8.
Em seguida vem sete degraus que aludem a
todo o simbolismo do número sete. Os sete dias da
semana, as sete cores do arco-íris, os sete planetas,
os sete orbitais atômicos, as sete notas musicais, entre outros, são aspectos naturais relacionados ao número sete segundo Marques (2011) e Queiroz (2010).
O que seriam das sete ciências sem a conexão
Os sete degraus simbolizam as sete artes ou ciências com o Grande Arquiteto do Universo? Conclui-se com
liberais: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geo- o sexto termo da sequência de Fibonacci. Segue com
metria, Música e Astronomia. As três primeiras, ou um quadro comparativo dos termos da sequência e
seja, Gramática, Retórica e Lógica, eram as disciplinas seus aspectos relacionados ao Templo de Salomão,
da Universidade conhecidas como Trivium e que ti- considerando o seu simbolismo.
nham como objetivo o provimento da mente para
encontrar expressão na linguagem, segundo Joseph
Tabela 2: Termos da sequência de Fibonacci relacionados com o
(2008). Ainda em Joseph (2008), as quatro últimas, Templo de Salomão e o seu simbolismo
ou seja, Aritmética, GeTermo da
ometria, Música e Assequência de
Templo de Salomão
Simbolismo
tronomia, eram conheFibonacci
cidas como Quadrivium
1
O próprio Aprendiz
O Princípio (mônada)
e o seu objetivo era o
1
O pavimento térreo
Reflexo do Princípio. A Imagem do Pai.
provimento de meios
2
As Colunas B. e J.
A Dualidade (Polaridades)
para o estudo da matéOs três degraus (Sabedoria,
O princípio ternário. As Três Grandes
3
Força e Beleza)
Luzes da Maçonaria.
ria.
Os cinco degraus (colunas:
Os cinco sentidos físicos. Os cinco
Mas eis que sur5
Dórica, Jônica, Coríntia,
princípios alquímicos (Terra, Ar, Água,
ge um problema, o sexToscana e Compósita)
Fogo e Éter)
to número da seqüênOs sete degraus (Gramática,
O simbolismo do número sete (sete dias da
cia de Fibonacci é 8 e
Retórica, Lógica, Aritmética,
semana, as sete cores do arco-íris, os sete
8
não 7. Mas imagine, ao
Geometria, Música e
planetas, etc.) associado ao GADU resulta
Astronomia) unidos ao piso da
no oito (o Divino ligado ao Homem, o
terminar de subir os
câmara do meio (letra G)
infinito)
sete degraus o Aprendiz chega à câmara do
meio do Templo do Rei Salomão. O término da escaFonte: Elaborada pelo autor.
da não é no sétimo degrau, e sim no próprio piso da
câmara do meio. São oito passos, portanto. Mas haConsiderações Finais
veria um simbolismo para o piso da câmara do meio?
A câmara do meio é onde os obreiros recebem o paTodo o simbolismo do qual o presente artigo
gamento. Nela observa-se a letra G. Poderia se pen- investiga encontra-se em um esquema que pode ser
sar que a letra G representa a Geometria, mas esta relacionado com diversos aspectos do macrocosmo e
ciência já foi verificada em um dos sete degraus.
do microcosmo. Arola (1986) descreve diversos asFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013.
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pectos do simbolismo relacionado ao templo. Ismail
(2012) também trata do simbolismo contido na Maçonaria, mostrando que nada está ali por acaso. Um
símbolo pode ter tantos significados quantos sejam
aqueles que dedicam ao estudo e meditação acerca
do seu significado. Arola (1986) considera que o Templo é a interseção entre o Céu e a Terra, entre o Homem e Deus, porque um templo exterior e tangível é
simplesmente o reflexo de um templo interior e intangível.
que foi feita com a sequência de Fibonacci. Pelo contrário, a sequência de Fibonacci ganha mais relevância com seus aspectos cabalísticos.
É possível traçar mais relações entre o Templo
de Salomão e a Cabala. Segundo Marques (2011), a
Cabala é um sistema que permite compreender a similitude oriunda da unidade em todas as partes da
Criação. É evidente que o Templo pode ser também
esquematizado pelo viés da Cabala. A princípio todo
modelo é incompleto e revela um ponto de vista
acerca de um fato. Fica difícil definir qual seja o melhor. Isso não diminui a importância da comparação
51a Ed., Petrópolis, RJ, 2012.
A existência de diversos artigos recentes relacionados à sequência de Fibonacci e ao Templo de
Salomão demonstra que ambas as temáticas são atuais e inseridas em um contexto científico ou acadêmico. Guimarães (2013), Janotta (2013), Kalman & Mena (2003), Mishra (2012), Morrison (2008), Tashtoush
& Darwish (2012) e Tattersall (2013) são exemplos de
O Templo de Salomão apresenta aspectos de artigos recentes e que foram citados no presente arseu simbolismo que foram relacionados com os seis tigo.
primeiros termos da sequência de Fibonacci. O próxiConclui-se que o simbolismo acerca da semo termo seria número 13 que por si só carrega todo quência de Fibonacci é muito mais rico do que apaum simbolismo. Foi em um dia 13 de Outubro de rentava. O Grande Arquiteto do Universo transcende
1307 que Jacques de Molay foi preso, de acordo com a mente e a compreensão humanas, mas seria possíRead (2001). A carta que representa a morte no Tarot vel ousar supor que a linguagem que está mais próxiMitológico é exatamente a carta 13. Seu simbolismo ma da Mente Cósmica é a Matemática. Na Matemátiestá associado à transformação e a transmutação. Na ca está contida tudo o que existe, mas também o que
Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis, cap. 7 vers. 1, está não existe. Um exemplo de algo que não é mensuráescrito: “Quanto ao palácio, Salomão levou treze vel na Natureza, mas existe na Matemática são os
anos para construí-lo de todo.” Note que a referência números complexos.
é ao palácio. No versículo anterior (I Reis, cap. 6, vers.
Ao traçar estas relações nossa mente se ex38) está escrito que o Templo levou sete anos para
pande
a
vai de encontro à Mente Cósmica. Foi a parser construído.
tir daí que, segundo Conte (2008), Pitágoras concluiu
O fato de não ter encontrado relações do estupefato: “Tudo no Universo são números”.
Templo de Salomão com o número treze não significa
que tais relações não possam existir. Mas lembre que
foram seis dias da Criação, e foram os seis primeiros Referências Bibliográficas
termos da sequência de Fibonacci que foram relacio- ADOUM, Jorge. O Grau do Aprendiz e seus Mistérios. Ed. Pensanados com o Templo de Salomão. Ele simboliza tanto mento-Cultrix, São Paulo, 1972.
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