I CURSO DE EXTENSÃO EM HIGIENE OCUPACIONAL Módulo 2: Toxicologia
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I CURSO DE EXTENSÃO EM HIGIENE OCUPACIONAL Módulo 2: Toxicologia
I CURSO DE EXTENSÃO EM HIGIENE OCUPACIONAL Módulo 2: Toxicologia – 9 e 10/4/2010 Prof. Dr. José Salvador Lepera 1. Toxicologia e seu campo de estudo 2. Conceitos fundamentais a. Agente tóxico e intoxicação b. Efeito tóxico e interações. Toxicidade 3. Toxicocinética e Toxicodinâmica a. Elementos de anatomia e fisiologia i. das membranas ii. das vias respiratória e dérmica. Importância na exposição ocupacional b. Eliminação de xenobióticos: biotransformação e excreção. 4. Avaliação Toxicológica a. O conceito de exposição b. Relação exposição x efeito e exposição x resposta. c. Toxicidade a curto, médio e longo prazo. Ensaios de toxicidade d. Ensaios especiais: teratogênese, carcinogênese, irritabilidade/corrosão 5. Avaliação de risco a. Conceituação b. Obtenção dos padrões para as exposições e seu uso. c. Diferenças entre padrões para exposições ambiental e ocupacional 6. Limites de Exposição Ocupacional. a. Proposição e categorias. 7. Indicadores Biológicos de Exposição a. Tipos, exemplos e fundamentação dos LBE. José Salvador Lepera TOXICOLOGIA (ETIMOLOGIA) Do grego: TOXON = ARCO PHARMAKON = DROGA Toxikon Pharmakon = seta envenenada, ou veneno da seta Romanos: Toxicum = Veneno (latim: venenum e vírus) “Ciência dos Venenos”, ou a “Ciência que estuda os efeitos adversos dos xenobióticos” José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Evolução: Fase Empírica - evitar os venenos - os usos na caça, na guerra e no assassinato Fase Observacional - listar os venenos - identificar qualitativamente os efeitos Fase da Experimentação e Estudo das Exposições - Identificar e quantificar os riscos das exposições E. Wynder: “O objetivo final da medicina é conseguir que morramos jovens, porém o mais tarde possível“. José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Desenvolvimento: – – – – Os “envenenadores” O nascimento da química orgânica As guerras mundiais A industrialização Alguns registros históricos sobre venenos e seus usos.. O envenenamento praticado pelo Estado: Sócrates (399 a.C.) O envenenamento para o suicídio: o apelo do método! O envenenamento político: os romanos, os tiranos e Nero. O envenenamento de ordem social... • séc. IV aC: “Conspiração das Matronas” • Toffana (Acqua Toffana) - preparado cosmético com As • Familia Borgias: Alexandre VI (papa) e os filhos Cesare e Lucrecia • Catherine de Medicis, Marquesa de Brinvilliers, Catherine Dehayes José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenhein PARACELSUS, 1493-1541 Epistola Dedicatora St Veit Karnten: Sieben Schutz, Schirmund Trutzreden. Ditte Defension – 24/8/1538) “Toda substância é veneno, não há nenhuma que não o seja; muitas vezes apenas a dose diferencia o veneno do remédio”. Reconhecimento de riscos ocupacionais a partir do séc.XV • Ellenbog: toxicidade da exposição Hg e ao Pb na ourivesaria • Agrícola, 1556: De Re Metallica • Paracelsus, 1537: On the miners sickness and other diseases of miners • Bernardino Ramazini, 1770: De Morbis Artificum Diatriba • Revolução industrial ... • Percival Pott, 1755: o câncer de escroto dos limpadores de chaminé... José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Contribuição da Alquimia (originária da Arábia) • transmutação • elixir da vida • Andreas Libayus descobriu o cloreto de estanho em 1604 • Mynsicht & Glauber produziram o Na2SO4 (sal maravilhoso). Reconhecimento de riscos ocupacionais a partir do séc.XV • Ellenbog: toxicidade da exposição Hg e ao Pb na ourivesaria • Agrícola, 1556: De Re Metallica • Paracelsus, 1567: On the miners sickness and other diseases of miners • Bernardino Ramazini, 1770: De Morbis Artificum Diatriba • Revolução industrial ... • Percival Pott, 1755: o câncer de escroto dos limpadores de chaminé... José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenhein PARACELSUS, 1493-1541 Epistola Dedicatora St Veit Karnten: Sieben Schutz, Schirmund Trutzreden. Ditte Defension – 24/8/1538) “Toda substância é veneno, não há nenhuma que não o seja; muitas vezes apenas a dose diferencia o veneno do remédio”. 1- Experimentação é essencial para examinar respostas aos agentes químicos 2- Deve-se distinguir propriedades tóxicas das terapêuticas 3- Por vezes, mas nem sempre, não se pode distinguir tais propriedades senão pela dose 4- pode-se determinar o grau de especificidade das ações tóxicas e terapêuticas dos agentes químicos José Salvador Lepera Riscos químicos: as dimensões do problema produtos químicos: mais de 11 milhões Substâncias: recenseadas (ChemIDplus - 3/2008): mais de 380.000 http://www.nlm.nih.gov/pubs/factsheets/toxnetfs.html (~289.000 estruturas) com conhecimento suficiente p/ regulamentação: cerca de 700 conhecidas e regulamentadas de modo confiável: cerca de 100 José Salvador Lepera TOXICOLOGIA Objeto de estudo: a intoxicação Finalidade: prevenção, diagnóstico e tratamento agente tóxico organismo intoxicação A manifestação do efeito adverso, decorrente da interação agente tóxico x organismo José Salvador Lepera TOXICOLOGIA: Fundamentos Intoxicação: É a manifestação do efeito adverso, decorrente da interação entre o agente tóxico e o organismo Agente Tóxico ou Toxicante É a substância “capaz” de romper o equilíbrio orgânico, ou seja, de provocar alterações da homeostase do organismo, produzindo o efeito adverso Distinção importante: Toxina e Toxicante José Salvador Lepera Agente Tóxico: Classificações Diversos critérios - alguns exemplos: • por propriedades gerais: inorgânicos, orgânicos fixos, voláteis... • por órgão alvo: hepatotóxicos, nefrotóxicos, neurotóxicos... • por classe de uso: solvente, aditivo de alimento, medicamento... • pelo efeito: carcinogênico, mutagênico, asfixiante... • pelo grau de toxicidade: de extremamente tóxico a relativamente atóxico. José Salvador Lepera Agente Tóxico: Classificações Classificação física • GAS: a substância que, nas CNTP, está no estado gasoso e que podem mudar para sólido ou líquido por ação combinada do aumento da pressão e diminuição da temperatura. Tamanho molecular • VAPOR: estado gasoso do que é líquido ou sólido nas CNTP e que podem ser recondensados por aumento de pressão ou diminuição da temperatura. Tamanho molecular José Salvador Lepera Agente Tóxico: Classificações Classificação física • POEIRAS: dispersão de partículas sólidas de 1-25 µm, produzidas por processos físicos, capazes de manterem-se em suspensão temporária no ar ou outros gases • NEBLINA: termo genericamente aplicado a dispersões de partículas líquidas, formadas por condensação de vapor ou por dispersão de um líquido. • FUMO: partícula sólida formada por condensação de material gasoso, geralmente após volatilização de estado fundido (formação geralmente acompanhada de reações). José Salvador Lepera TOXICOLOGIA: Fundamentos Efeito Adverso Efeito, no sentido de resultante da ação de um agente químico, é a alteração bioquímica, funcional ou estrutural resultante da reação do organismo à exposição Será adverso quando envolver prejuízo à capacidade funcional, uma diminuição da capacidade de manter a homeostase ou um aumento da susceptibilidade do organismo a outras influências do ambiente (Bernard & Lawverys, 1986) José Salvador Lepera TOXICOLOGIA: Fundamentos TOXICIDADE: é capacidade que todas as substâncias possuem de provocar efeito adverso em uma dada condição de exposição DL50 para algumas substâncias (oral, rato macho) AGENTE Etanol Cloreto de sódio Sulfato frroso Sulfato de morfina Fenobarbital Picrotoxina Sulfato de stricnina Nicotina d-Tubocurarina Tetrodotoxina Dioxina (TCDD) Toxina botulinica Fonte agente exposição DL50, mg/kg* 10,000 4,000 1,500 900 150 5 2 1 0.5 0.10 0.001 0.00001 organismo efeito José Salvador Lepera Alguns fatores críticos na interação agente químico X organismo Fonte: IPCS-EHC 155 (http://www.inchem.org/pages/ehc.html) Fatores que influenciam a Toxicidade! Fonte agente - propriedades água - forma física ar - agente único solo - puro alimento - veiculado: + fatores adsorvido, • sociais dissolvido, • espaço físico • URA, temperatura... exposição organismo efeito - via de introdução - quantidade (conc.) - duração do contato - freqüência - período José Salvador Lepera Conceito fundamental: EXPOSIÇÃO QUANTIDADE DA SUBSTÂNCIA INTENSIDADE DURAÇÃO DO CONTATO A FREQÜÊNCIA PERÍODO: Por quanto tempo? José Salvador Lepera Alguns fatores críticos na interação agente químico X organismo Fonte: IPCS-EHC 155 (http://www.inchem.org/pages/ehc.html) Fatores que influenciam a Toxicidade! Fonte agente - propriedades água - forma física ar - agente único solo - puro alimento - veiculado: + fatores adsorvido, • sociais dissolvido, • espaço físico • URA, temperatura... exposição - via de introdução - quantidade (conc.) - duração do contato - freqüência - período organismo efeito Imediato - absorção retardado - distribuição - deposição - biotransformação - excreção A susceptibilidade: - espécie e linhagem - idade - raça - gênero e biotipo - cronobiológicos - estado geral José Salvador Lepera Fases da intoxicação Fonte agente exposição organismo efeito FASE DA EXPOSIÇÃO Disponibilidade química FASES TOXICOCINÉTICA e TOXICODINÂMICA - Biodisponibilidade - Toxicidade FASE CLÍNICA Evidências detectáveis do efeito nocivo José Salvador Lepera Fenômeno biológico da INTOXICAÇÃO FASES TOXICOCINÉTICA e TOXICODINÂMICA FASE DA EXPOSIÇÃO intoxicação FASE CLÍNICA José Salvador Lepera TOXICOLOGIA: Fundamentos ÁREAS DE APLICAÇÃO • Toxicologia Aplicada aos Alimentos Os alimentos como vetores de agentes químicos potencialmente prejudiciais à saúde • Toxicologia dos Medicamentos e Cosméticos As reações adversas e os efeitos decorrentes do uso inadequado ou da susceptibilidade individual • Toxicologia Social: O uso não médico de drogas e fármacos José Salvador Lepera TOXICOLOGIA: Fundamentos ÁREAS DE APLICAÇÃO • Toxicologia Ocupacional A exposição aos agentes químicos em decorrência do trabalho • Toxicologia Ambiental O impacto dos poluentes químicos sobre os seres vivos, inclusive o homem • A Toxicologia e: • a clínica • o aspecto forense José Salvador Lepera TOXICOCINÉTICA Fases da intoxicação Fonte agente exposição organismo efeito FASE DA EXPOSIÇÃO Disponibilidade química FASES TOXICOCINÉTICA e TOXICODINÂMICA - Biodisponibilidade - Toxicidade FASE CLÍNICA Evidências detectáveis do efeito nocivo José Salvador Lepera TOXICOCINÉTICA Vias de absorção, distribuição e excreção ingestão inalação endovascular intraperitonial subcutâneo Trato digestório intramuscular pulmões fígado pele porta sangue e linfa Fluido extracelular bile rins fezes pulmões bexiga alvéolos urina Ar exalado Tecidos secretores gordura órgãos Tecidos ossos moles secreções José Salvador Lepera Absorção Membranas: são constituídas por fosfolipídios, ácidos graxos e proteínas Fonte: Carolina Soares, http://3d-carol.blogspot.com José Salvador Lepera Absorção Principais processos de transporte Passivo José Salvador Lepera Absorção Principais processos de transporte Passivo José Salvador Lepera Principais processos de transporte Difusão simples Moléculas pequenas (com PM <600): • hidrofílicas: passam pelos poros (4-70 nm, “filtração”) • hidrofóbicas: difusão pela camada de lipídeos Moléculas grandes (maioria dos toxicantes) • lipossolubilidade (partição n-hexano/H20) • ácidos e bases fracas: a forma não ionizada possui algum grau de lipossolubilidade José Salvador Lepera Principais processos de transporte Ativo • contra gradiente de concentração ou eletroquímico • saturável • estruturalmente seletivo: inibição competitiva • requer energia – inibição metabólica o bloqueia K+ Na+ Na+ K+ José Salvador Lepera Outros processos de transporte Difusão facilitada • utiliza transportador mas não contraria gradientes eletroquímicos ou de concentração. • Não consome energia Processos adicionais: endocitose Pinocitose Fagocitose partícula José Salvador Lepera Via cutânea - Melanócitos - células de Langerhans estrato disjunto córneo conjunto estrato granuloso estrato espinoso estrato germinativo Pele: • 16% do peso corpóreo • espessura: 0,15 a 1,5 mm • manta ácida (pH = 4,2 - 5,6): suor (água e sais) sebo (ac. graxos, fosfolípides...) Absorção depende: • Solubilidade do agente • Área de pele em contato • Duração do contato José Salvador Lepera Via respiratória Diâmetros: - Traquéia = 5 cm - Bronquíolos = 30 m José Salvador Lepera Ácino pulmonar veia pulmonar bronquíolo artéria pulmonar músculo duto alveolar alvéolos Características do sistema dutos alveolares:10 milhões alvéolos:500 milhões diâmetro alveolar: 100-300µm 2.000 km de capilares área de troca: 100 m² (50 x pele) Somando-se as espessuras de: camada surfactante + epitélio alveolar membranas basais endotélio vascular = totaliza-se 0,4 a 2,5 µm poros Volume minuto: de 6 a 30 LPM rede capilar Troca gasosa José Salvador Lepera Organização do trato respiratório José Salvador Lepera Absorção e eliminação pela via respiratória - vapores • Bases da teoria: final do sec. XIX ) – Descrição dos equilíbrios: Coeficientes de Partição Ar sangue tecidos • Tempo para estabelecer equilíbrios ar/sangue/tecidos • débito cardíaco • ventilação pulmonar • difusão pela membrana alvéolo-capilar • solubilidade no sangue e nos tecidos • perfusão do tecido considerado • Absorção pulmonar, em regra, depende também • da ventilação pulmonar • do índice de retenção da substância José Salvador Lepera Via respiratória: material particulado Expressão do tamanho: • volume, massa ou arraste aerodinâmico • DAMM – diâmetro aerodinâmico da massa média (incorpora densidade e arraste) MECANISMOS DE DEPOSIÇÃO 1- Interceptação: dimensão linear e forma. Importante para fibras 2- Impactação: é inercial, ocorre nas narinas e grandes bifurcações 3- Sedimentação: é gravitacional, ocorre nas vias estreitas, velocidade baixa 4- Difusão: partículas < 1µm, adquirem movimento randômico independe da forma e da densidade 5- Precipitação eletrostática: partículas carregadas podem induzir cargas espelho José Salvador Lepera Perfil da deposição de partículas no trato respiratório Fonte: Mohr, U. Inhalation Toxicology Clearance alveolar de partículas: • fixação no tecido parenquimal • fagocitose • insolúveis: t½ de dias a anos José Salvador Lepera Distribuição: transportadores Meio externo meio interno sangue e linfa substância ligada distribuição da fração livre tecidos substância + ligante Toda variação que afeta o equilíbrio, afeta a biodisponibilidade e, portanto, a distribuição, biotransformação, excreção e a intensidade do efeito! Sangue • ligados nos eritrócitos: - ao heme (CO, HCN...) - ao SH da globina (As,Sb...) - à ALA-D (Pb) • ligados no plasma: - às proteínas (mais comum) - aos ácidos orgânicos (cátions) • dissolvidos no plasma: gases, moléculas e íons em equilíbrio com frações ligadas José Salvador Lepera Barreiras limitantes da distribuição Hematoencefálica: • justaposição particular das células endoteliais do capilar • envoltório das células gliais (pelo menos duas células entre sangue/tecido) • alto conteúdo lipídico “Barreira” Placentária José Salvador Lepera Distribuição Locais de Armazenamento ARMAZENAMENTO PRESSUPÕE TROCA !!! Tecido adiposo: • os lipossolúveis e a baixa perfusão Tecido ósseo: • 72% mineral (Ca10(PO4)6(OH)2 • Estrutura: material inerte e células ativas • Trocas: Ca por cátions e PO4 por ânions • mecanismo de troca semelhante, porém com grande variação cinética; Exemplo: t/2 Ba = 35 dias e Ra = 60 anos José Salvador Lepera BIOTRANSFORMAÇÃO O que é: Alteração estrutural da substância promovida pelo organismo, geralmente em etapas sucessivas, resultando molécula mais polar Implicações: Toxicocinética: A biotransformação é a principal responsável pela eliminação de uma substância (duração da ação) Toxicodinâmicas Modificações na molécula modificam a ação: • Inativação: mais freqüentemente • Ativação ou modificação da intensidade José Salvador Lepera