VIDA E OBRA DE MARCELLO MARTINELLI, UM GEÓGRAFO
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VIDA E OBRA DE MARCELLO MARTINELLI, UM GEÓGRAFO
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO VIDA E OBRA DE MARCELLO MARTINELLI, UM GEÓGRAFOCARTÓGRAFO NA HISTÓRIA... MIRNA KARLA AMORIM DA SILVA1 Resumo: No contexto de sua origem, importância e objeto, a história da cartografia se confunde com a história de seus estudiosos, alguns atores/autores dessa história. A vida e obra do Prof. Marcello Martinelli se coloca como um exemplo de carreira de um pesquisador e educador em Geografia, especialmente, na área da cartografia. Neste contexto, este artigo tem o objetivo de apresentar um relato biográfico sobre o Prof. Marcello Martinelli e suas contribuições para o estudo e ensino da ciência cartográfica. Foi utilizada uma metodologia de consulta a materiais bibliográficos pertinentes ao tema, entrevista por meio de questionário direcionado ao professor biografado, consulta ao seu memorial descritivo e obras publicadas em sua trajetória acadêmica/profissional. Acredita-se que o relato biográfico do Prof. Martinelli, ora apresentado, seja além de uma homenagem a esta personalidade biografada, um instrumento instigante na formação e aprimoramento de novos nomes na história da geografia. Palavras-chave: relato biográfico; cartografia; formação docente. Abstract: In the context of its origin, importance and object, the history of cartography is mistaken with the history of its scholars, some actors/authors of this history. The life and work of Professor Marcello Martinelli stands as an example of career of a researcher and educator in Geography, especially, in the area of cartography. Therefore, this article aims presenting a biographical report about Professor Marcello Martinelli and his contributions to the study and teaching of the cartographic science. We used a consulting methodology of bibliographic materials relevant to the theme, an interview through a questionnaire directed to the biography teacher, consulting his descriptive memorial and published books in his academic/professional path. We believe that Professor Martinelli‟s biographical report, presented here, is beyond a tribute to this biographee personality, but also an instigating instrument in the training and improvement of new names in the history of geography. Key-words: biographical report; cartography; teaching formation. 1 – Introdução A elaboração de mapas é reconhecida desde antes mesmo da escrita. Mapas antigos, confeccionados a milhares de anos como, por exemplo, o Ga-sur (Babilônia, 2500 a 4500 a.C), mostram como a história dos mapas se confunde com a própria história da humanidade. Ciência e arte fazem da cartografia e seus produtos cartográficos, elementos indispensáveis nos mais variados campos do conhecimento humano. Assim, a Cartografia passa a ser definida como “a arte de conhecer, de levantar, de redigir e de divulgar os mapas” e, os mapas, como “uma representação 1 - Docente do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail de contato: [email protected] 246 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO geométrica plana, simplificada e convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre, numa relação de similitude conveniente denominada escala” (JOLY, 1990). Deste modo, a Cartografia destaca-se na ciência geográfica por ser um instrumento a favor do entendimento da geografia, além de um conteúdo fundamental para se fazer a própria geografia. E então, fazer mapa é fazer Geografia? Há quem faça mapas e não seja geógrafo. Há quem seja geógrafo e nunca tenha elaborado um mapa em sua formação e/ou atuação profissional. Mas não há trabalho de geografia sem mapas, nem um mapa que não seja fruto de uma Geografia de fato! Desde épocas bastante remotas, o homem vem se utilizando da confecção de mapas como meio de armazenamento de conhecimentos sobre a superfície terrestre, tendo como finalidade principal, não só conhecer, mas, muito principalmente, administrar e racionalizar o uso do espaço geográfico envolvente. [...] Era o começo de uma caminhada em direção ao que hoje conhecemos por cartografia (DUARTE, 1994). Assim, desde sua origem e desenvolvimento, a Cartografia se aplica a estudar e representar a superfície terrestre com o auxílio de diversas ciências, entre elas, a arte, a matemática, etc. No entanto, Oliveira (1993) destaca que, de todas as ciências ligadas à cartografia, nenhuma é tão importante como a Geografia, pois os fatos e fenômenos por ela representados se originam de algum ramo da Geografia, quer Física, Humana, Econômica, entre outros. Nesse contexto, de sua origem, importância, objeto, a história da Cartografia se confunde com a história de seus estudiosos, alguns atores/autores dessa história. Assim, entre geógrafos e cartógrafos, destacam-se alguns nomes respeitados. E, não precisamos ir tão longe, nem no tempo, nem no espaço, para citar uma valorosa contribuição à cartografia e representação gráfica, no campo da ciência geográfica. Marcello Martinelli e sua obra exemplificam, com distinção, a personificação da arte e do ensino, em forma de mapas e atlas, em um universo tão vasto e complexo como o da ciência cartográfica. A história de sua vida e obra se coloca em meio à discussão de questões teóricas sobre biografias, diários biográficos, histórias de vida e suas implicações concernentes às práticas de formação. Do início dos anos 90 para cá, emergem pesquisas sobre formação de professores que abordam as histórias de vida, tematizando sobre a memória, as representações sobre a profissão, os ciclos de vida, o trabalho com a autobiografia ou as narrativas de professores em exercício, em final de carreira ou em formação. Essa perspectiva 247 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de pesquisa vincula-se ao movimento internacional de formação ao longo da vida, que toma a experiência do sujeito adulto como fonte de conhecimento e de formação, denominada de „abordagem experiencial‟ (SOUZA, 2007). Nesse contexto, as biografias ou histórias de vida, como esclarece Nóvoa (2007), apontam fragilidades e ambiguidades que, de certa forma, “têm dado origem a práticas e reflexões extremamente estimulantes” num envolvimento de diversos discursos conceituais e metodológicos nesta perspectiva. Porém, em uma abordagem positiva, conhecer a trajetória de vida pessoal e profissional de personalidades, de qualquer área de formação, permite empreender uma concepção do que seria válido como estímulo e reflexão para a formação de outras pessoas, levando-se em conta que cada um vive em um tempo histórico, com suas peculiaridades e oportunidades singulares. Um instrumento utilizado como fonte nesta pesquisa biográfica, se coloca como outro modelo de narrativa útil nesse processo de conhecimento do outro e, inclusive de si mesmo: o memorial biográfico. A partir das memórias do sujeito biografado, ou seja, o relato de trechos significativos de sua trajetória pessoal e acadêmico-profissional pode-se refletir a formação a partir de [...] duas dimensões dos memoriais. A avaliativa, que se caracteriza por um projeto de compreensão de si para o outro [...] e a autoformativa, na qual o narrador desenvolve um projeto de compreensão de si para si, envolvida nas tramas da narrativa de vida. A problemática central encontra-se no entrelaçamento do processo de institucionalização de uma imagem de si, como “eu profissional”, e do processo de individuação e autoconhecimento de uma imagem de si, como “eu pessoal” (PASSEGGI, 2006). No que concerne à formação docente, existem fatores que influenciam o modo de pensar e atuar, como, por exemplo, “o que são como pessoas, os seus diferentes contextos biológicos e experienciais, isto é, as suas histórias de vida e os contextos sociais em que crescem, aprendem e ensinam” (HOLLY, 2007). Desta forma, todo um contexto de valores (conhecidos e referenciados) e oportunidades se coloca como determinante na formação de cada indivíduo em sua busca profissional. Mas, muitas vezes, não há o estímulo e o preparo necessário para a busca e descoberta por um caminho desejado dentro da profissão escolhida. Especialmente na área da ciência cartográfica, a formação de professores se mostra, muitas vezes, deficitária, seja por um déficit da formação inicial dos docentes ou pela falta de interesse e estimulo pelo conteúdo abordado, o que 248 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO distancia esses professores de qualquer motivação em aprimorar seus conhecimentos a respeito dessa temática. Assim, Sampaio (2010) e Oliveira (2010) destacam que o estudo da cartografia tem apresentado vários tipos de dificuldades no sentido de se trabalhar, aprender e ensinar esta matéria, colocando-a como um „desafio‟ a ser vencido por poucos professores que se dispõe a habilitar para se sentirem preparados a abordar e explorar as potencialidades deste conteúdo em sala de aula, com seus alunos. Desta forma, é extremamente válido conhecer a história de vida e profissional de professores que transformaram a cartografia em uma profissão e ensinam essa profissão a outros futuros mestres. A vida e obra do Prof. Marcello Martinelli se coloca como um exemplo de carreira admirável de um pesquisador e educador em Geografia, especialmente, na área da cartografia. Sua vida quase sempre foi rodeada de mapas e sua obra compreende uma série de trabalhos e pesquisas ligados ao tema central da cartografia e suas representações gráficas. Martinelli é Professor Livre-docente do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), onde iniciou suas atividades em 1976. A partir de então, atua, especialmente, nas linhas de pesquisa: Cartografia temática, Cartografia de atlas escolares, Cartografia Ambiental, Cartografia Turística e Cartografia de atlas estaduais. Neste contexto, este artigo tem o objetivo de apresentar um relato biográfico do Prof. Marcello Martinelli e suas contribuições para o estudo e ensino da ciência cartográfica. Para tal fim, foi utilizada uma metodologia de consulta a materiais bibliográficos pertinentes ao tema, uma entrevista por meio de questionário direcionado ao professor biografado, a consulta ao seu memorial do concurso para professor efetivo (2006) e a consulta às suas obras publicadas (livros, artigos, trabalhos acadêmicos, etc.) ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional. 2 –Enquanto Marcello Martinelli... Em 13 de Agosto de 1937, cidade de São Paulo/SP, nasceu Marcello Martinelli, filho de pai italiano, Sr. Ilio Martinelli, e mãe brasileira, Sra. Assunta P. Martinelli, irmão de Milena e Marino. 249 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Desde menino, guardava em seu peito o gosto pela arte. O desenho, a música, o mundo da arte o encantava. Seu primeiro mestre: seu pai. Em uma fábrica de móveis, o pai ensinava, ao filho Marcello, a arte de produzir móveis a partir de desenhos e plantas, que seriam os primeiros mapas a ilustrar a sua história tão rica e repleta de muitos deles. Uma influência decisiva que teria traçado um caminho a ser percorrido, desde menino. Inegável que tais influências sejam muito importantes na formação e direcionamento de nossas vidas. Sua alfabetização começou em casa, por sua mãe, e, a partir de então, os professores do colégio foram os mestres que lhe ensinaram e mostraram o mundo dentro das salas de aula. Frequentou o Ginásio Benjamim Constant, o Grupo Escolar Marechal Floriano da Vila Mariana, o Instituto Estadual de Educação Brasílio Machado e foi crescendo e sendo educado pelos mestres que passaram em sua trajetória escolar. Destes, alguns mestres lhe aguçaram ainda mais o gosto pelo desenho, cuja habilidade e fascínio para com ele, já lhe eram natos. O destino profissional de Marcello? Com certeza, o caminho das artes. A vida se encarregaria de lhe mostrar a resposta. 3 – Desenhista-Cartógrafo-Geógrafo Marcello Martinelli... Inicialmente, Martinelli optou por seguir a carreira de arquiteto, por afinidade com o cunho artístico da profissão. Entretanto, enlevado por alguns mestres na arte do desenho, decidiu fazer o curso de Pintura na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, onde se formou em 1963. Casou-se em seguida e sua esposa, Olga, se tornou sua companheira nas conquistas e nas dificuldades, pessoais e profissionais... na vida! Suas primeiras atividades profissionais estiveram ligadas, inicialmente, à fábrica de móveis do pai e, posteriormente, à elaboração de mapas como desenhista, junto ao Departamento de Geografia da FFLCH-USP. Fez parte do quadro técnico que executou o projeto „Atlas do Estado de São Paulo‟ e desenvolveu diversos trabalhos na preparação de bases cartográficas e desenhos sob a orientação dos Professores Libault e Bochicchio, do Departamento de Geografia da FFLCH-USP, no período de 1967 a 1971. 250 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Nesse mesmo período, Martinelli ingressou, como portador do diploma de Belas Artes, no curso de Geografia da mesma faculdade. Empolgava-se pelas disciplinas que solicitavam a confecção de mapas em seus trabalhos escolares e, desde então, já percebia que havia uma necessidade de uma reflexão crítica de tal atividade diante da Geografia. A orientação e exemplo de seus mestres, entre eles o Prof. Libault, o Prof. Bochicchio e a Profa. Maria Adélia, lhe permitiram compreender melhor a complexidade da ciência cartográfica e sua íntima relação com a geografia. Obteve o grau de bacharel e licenciado em Geografia no ano de 1971 e, como geógrafo, ainda continuava o trabalho com mapas e atlas. Passou então, a fazer parte de uma nova equipe técnica de trabalho na Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo. Em seu primeiro trabalho nesse cargo, participou da confecção do „São Paulo – Desenvolvimento – Atlas‟, projeto no qual atuou nas etapas de desenho, de concepção e de construção gráfica das representações que iriam compor o atlas. A convite do Prof. José Setzer (USP), Martinelli foi convidado a elaborar a arte final, diagramação, capa e impressão a cores do „Atlas Pluviométrico do Estado de São Paulo‟, considerando este como um marco fundamental em sua vida profissional por ter sido a primeira elaboração cartográfica a realizar sozinho colocando em prática todo conhecimento adquirido com seus grandes mestres. No ano de 1973, Martinelli foi convidado, pela Companhia de Melhoramentos de São Paulo, a integrar a equipe que idealizou um atlas do Brasil (em nível escolar) intitulado: „Atlas das potencialidades brasileiras – Brasil grande e forte‟. Este trabalho foi considerado por ele, como um marco em sua reflexão sobre os atlas escolares, especialmente os mapas temáticos como referências para o ensino da geografia. Mas Martinelli ansiava mais, sonhava em experimentar todo esse aprendizado em nível científico. E foi em busca desse ideal. 4 – Mestre, Doutor e Pós-doutor Marcello Martinelli... Assim, em 1971, Martinelli decidiu cursar a Pós-graduação, em nível de mestrado, na área de Geografia Humana, junto ao Departamento de Geografia da FFLCH da USP. Seu mestrado se deu, inicialmente, pela orientação do Prof. Dr. André Libault e, depois, sob a orientação do Prof. Dr. Pasquale Petrone. O Prof. 251 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Libault o incentivou a trabalhar com a geografia quantitativista, segundo ele, em moda na ocasião. Assim, em 1975, apresentou em defesa pública a dissertação intitulada: „A distribuição de Poisson aplicada ao estudo da área de mar de morros – uma experiência de aplicação de um modelo probabilístico em Geomorfologia‟, obtendo o título de Mestre em Geografia. Em 1980, entrou para o curso de Pós-graduação, em nível de doutorado, também na área de Geografia Humana, sob a orientação do Prof. Dr. Pasquale Petrone, tendo concluído suas atividades no ano de 1984. Nesta pesquisa, a partir de sua experiência vivida na confecção de mapas e atlas direta ou indiretamente voltados ao escopo do planejamento, desenvolveu uma reflexão metodológica a respeito da elaboração de atlas de planejamento e seu papel social. Assim, em defesa pública de sua tese de doutorado, intitulada „Comunicação cartográfica e os atlas de planejamento‟ obteve o título de Doutor em Ciências Humanas. Porém, a sede de busca por maiores conhecimentos, conteúdos ainda mais críticos, completos e elaborados fez Martinelli sentir a necessidade por um aperfeiçoamento científico em nível de pós-doutorado, no exterior. Assim, Martinelli realizou um estágio na França e Itália, repleto de cursos e experiências com grandes mestres, com o objetivo primordial de reciclar seus conhecimentos sobre a cartografia temática e as representações gráficas. Em 1989, apresentou outro projeto de pesquisa para um novo curso de pósdoutorado no exterior. A FAPESP, então, auxiliou mais uma série de novos cursos e novas experiências de aprendizado junto ao seu estágio em diversas instituições da França, Polônia, Itália, com grandes mestres franceses, poloneses e italianos. Notável o anseio de buscar por mais conhecimentos e aprimorar ainda mais sua formação. Motor esse que deveria ser o de muitos mestres que, desmotivados por motivos diversos, ficam estagnados em sua profissão e não buscam uma atualização/reformulação teórico-prático-metodológica em suas atividades docentes. Mas, além de atuar no ramo da geografia e das representações gráficas, Martinelli ansiou por colocar em prática sua outra formação, a de educador. Felizmente, essa vontade sim, de ensinar, de educar, aflora no íntimo dos grandes mestres, naturalmente, sem que seja necessário lhes impor esse caminho. 252 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 5 – Então, Livre-docente, Prof. Marcello Martinelli... Seu primeiro contato com alunos e o ensino da geografia se deu ao final do curso de licenciatura em Geografia, no estágio do Colégio Roldão, na Vila Mariana. Já formado, com seus diplomas de Belas Artes e Geografia, o Prof. Martinelli começou a ministrar aulas de Desenho no Ginásio Estadual Prof. João Ernesto de Souza Campos, de março de 1971 a dezembro de 1972. Ministrou ainda, aulas de Desenho e Geografia na Escola Estadual 1º Grau da Vila Brasílio Machado, de fevereiro de 1973 a maio de 1974. Para ele, essa experiência inicial foi gratificante e preparadora para o posterior ingresso como docente no ensino superior. Em 1976, após receber o título de Mestre em Geografia, foi contratado como Auxiliar de Ensino no Departamento de Geografia onde atuava, sendo, logo em seguida, contratado para Professor Assistente da mesma instituição. Inicialmente, atuou como professor colaborador junto aos cursos de Cartografia I e II, e, após dois anos, assumiu a responsabilidade efetiva pelos cursos de Cartografia da instituição. A partir de 1984, passou a atuar como docente no Departamento de Geografia, em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP). Já como doutor, após meados de 1987, o Prof. Martinelli dedicou-se a orientação de pós-graduandos em nível de mestrado e, depois, doutorado. Muitos de seus pupilos já se formaram e seguem seus passos na carreira acadêmica. Em 1999, Prof. Martinelli defendeu sua tese de Livre-docência: „As representações gráficas da geografia: os mapas temáticos‟ e recebeu o título de Professor Associado junto ao Departamento de Geografia da FFLCH/USP e uma nova e maior responsabilidade frente a esta nova posição. De 2002 a 2004, continuou como representante titular na categoria de Professor Associado, realizando diversas atividades junto Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E atua como docente para o curso de graduação e pósgraduação em Geografia da mesma faculdade. 6 – Enfim, MARTINELLI, M. Dentre diversas publicações: livros (de autoria própria ou co-autoria), capítulos de livros, artigos diversos, foram inúmeras as contribuições do Prof. 253 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Martinelli para a literatura nacional e internacional e para o ensino da ciência cartográfica. Nesta fase, com certeza, sua contribuição para o ensino da cartografia e a formação docente se destaca perante sua obra. Sem dúvida, muitos docentes, em diversos níveis educacionais (educação básica, graduação, pós-graduação), recorrem a suas obras como embasamento para o ensino e compreensão da cartografia em sala de aula. O próprio Prof. Martinelli destaca em sua produção, os livros de cartografia e mapas gráficos, além de um atlas geográfico escolar, como suas principais contribuições em sua obra referente à formação docente (MARTINELLI, 2011 - Informação verbal)2. Seu primeiro livro: „Curso de Cartografia temática‟ (Ed. Contexto, São Paulo), foi publicado em 1991. Primeiro de muitos que ainda viriam marcar sua trajetória... Este livro, dividido em uma parte teórico e crítica e outra seção prática, tenta levar ao leitor um domínio mais amplo das representações gráficas, dos fundamentos da cartografia temática e da metodologia da cartografia temática em si, como uma proposta inovadora do ensino-aprendizagem na cartografia. Atlas e artigos diversos também compõem o rol da sua obra no âmbito da cartografia escolar. O relevante trabalho com os atlas geográficos escolares, em sua pesquisa, se justifica pela enorme contribuição da utilização dessas obras na formação de professores do ensino fundamental e médio, para a construção da noção do espaço e suas representações junto aos alunos, em sala de aula. Martinelli (2011 - Informação verbal)3 reforça que, muitas vezes, os docentes se deparam com a dificuldade de trabalhar com a linguagem cartográfica em sala de aula, por motivos diversos. Para ele, os professores da educação básica adquirem essa deficiência em sua formação inicial, visto que, muitas vezes, são professores formados em Pedagogia, os chamados professores polivalentes. Preocupação pertinente ao nos deparamos com um currículo deficitário nas universidades para uma formação docente adequada tanto na formação pedagógico-metodológica, quanto na formação teórico-conceitual dos docentes, em diversas áreas das ciências, assim como na área da cartografia. 2 3 Trecho de entrevista respondida pelo Prof. Martinelli via email, em Maio de 2011. Trecho de entrevista respondida pelo Prof. Martinelli via email, em Maio de 2011. 254 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Assim, a questão de se trabalhar com mapas e atlas em sala de aula, se coloca complexa quando os professores não possuem habilidade específica para tal atividade. Para Martinelli (2006 - Informação verbal)4, os professores já deveriam ir para a sala de aula com o devido preparo para a utilização adequada dos atlas escolares e a compreensão dos alunos a respeito da linguagem cartográfica. Reforça ainda, em sua fala, que o uso dos mapas é realizado desde a institucionalização da Geografia, no início do século XIX, quando se instituiu também seu ensino nos diversos níveis escolares (fundamental, médio e superior) com o uso de mapas, permitindo o desenvolvimento desse tipo de obras (atlas), até mesmo aqueles especificamente dirigidos para o ensino e aprendizagem da geografia. Percebe-se, em suas pesquisas e publicações, assim como já comentado anteriormente, a preocupação do Prof. Martinelli em abordar a questão do ensino da linguagem cartográfica em sala de aula, estímulo para a pesquisa e formação contínua de docentes da geografia. Felizmente, dentro do quadro atual da educação no país, ainda encontramos muitos docentes que, ainda que tenham tido uma formação inicial deficitária a esse respeito, demonstram o interesse em aprofundar seus conhecimentos e atualizar sua formação no que se refere ao uso e ensino da linguagem cartográfica. De modo contrário, infelizmente, quem não se interessa, tragicamente ignora esse conteúdo e essa ferramenta tão importante para a aprendizagem dos alunos em sala de aula. Retratos da educação. 7 – Considerações finais A docência é um espaço de construção de inúmeros saberes, que muitas vezes, ficam à mercê do conhecimento socializado e, neste contexto, as biografias e histórias de vida surgem como um caminho metodológico-reflexivo e prática de investigação/formação que auxiliam no processo da formação docente. Assim, reconhecendo que as experiências e histórias de vida, pessoal e profissional, influenciam diretamente no estimulo a novos docentes e pesquisadores da nossa ciência, acredita-se que o relato biográfico do Prof. Martinelli, ora apresentado, seja além de uma homenagem a esta personalidade biografada, um 4 Trecho de entrevista respondida pelo Prof. Martinelli via email, em Maio de 2011. 255 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO instrumento instigante na formação de novos nomes na história da geografia, especialmente, da cartografia. Cartografia, ciência esta tão bonita e tão temida... tão vasta e tão tolhida... por professores que, por falta de conhecimento ou anseio, ignoram um conteúdo e instrumento tão importantes dentro e fora da sala de aula. Fica o desejo e a esperança que essa temática seja ainda motivo de pesquisa, ensino e extensão em diversas localidades por diversos atores/autores dessa mesma história, em um futuro próximo. Muito já foi feito pelo Prof, Martinelli, entre outros nomes de destaque dentro da ciência cartográfica. Contudo, em entrevista concedida, ele relata que ainda há trabalhos/pesquisas a serem realizados ou complementados em sua trajetória e enfatiza que há “cada dia, vai vivendo uma experiência nova para satisfazer a busca de uma consolidação dos conhecimentos por ele adquiridos até o momento” (MARTINELLI, 2006 - Informação verbal)5. E, felizmente, muitos ainda são os professores e potenciais mestres que desejam estudar e ensinar a cartografia como profissão. Que sejam prósperos em sua jornada e que façam história, daquelas boas para serem contadas e recontadas. Tantos trabalhos compõem a trajetória profissional de Martinelli em seu início e decorrer de carreira, impossível a ele relatar todos em suas memórias e, a qualquer um, citá-los no relato de sua trajetória biográfica. Ficam poucas as palavras e as páginas do artigo para descrever e enaltecer sua contribuição para cada aluno, cada projeto e trabalho realizado, cada instituição frequentada. Felizmente, muito dessa trajetória ficou também registrado nas muitas páginas de suas obras! Marcello Martinelli está fazendo a sua parte e escrevendo a sua história. A sua dedicação ao ensino, pesquisa e extensão na área da Cartografia merece, sem dúvida, o devido reconhecimento e respeito da academia que o recebeu, a FFCLHUSP, e de toda a sociedade. A ele, profissional que se dedicou a aprender e ensinar, de forma crítica e reflexiva, a cartografia e suas representações, nossos agradecimentos e cumprimentos por tão enriquecedora e motivadora trajetória pessoal e profissional. 5 Trecho de entrevista respondida pelo Prof. Martinelli via email, em Maio de 2011. 256 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Referências DUARTE, P. A. Fundamentos de cartografia / Paulo Araújo Duarte. – Florianópolis: Editora da UFSC, 1994. HOLLY, M. L. Investigando a vida profissional dos professores: diários biográficos. In: NÓVOA, A. Vida de professores. 2ª edição. Lisboa: Porto Editora, 2007. JOLY, F. A cartografia / Fernand Joly, tradução Tânia Fellegrini. – Campinas, SP: Papirus, 1990. NÓVOA, A. Os professores e as suas histórias de vida. In: NÓVOA, A. Vida de professores. 2ª edição. Lisboa: Porto Editora, 2007. OLIVEIRA, C. 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