volume 10 - número 1 - 2013

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volume 10 - número 1 - 2013
ISSN 1807-3980
INTERFACE TECNOLÓGICA
volume 10 - número 1 - 2013
Taquaritinga
volume 10 - número 1 - 2013
Taquaritinga - SP
Interface Tecnológica
v. 10
n. 1
p. 1 - 142
2013
Interface Tecnológica
Publicação Anual
Volume 10, Número 1, 2013
Editora Responsável
Elaine Therezinha Assirati
Conselho Editorial
Carlos Roberto Regattieri (Fatec-Tq)
Daniela Gibertoni (Fatec-Tq)
Elaine Therezinha Assirati (Fatec-Tq)
Fábio Pessôa de Sá (FATEC-Praia Grande)
João José Marques (Instituto de Educação da Universidade do Minho – Portugal)
Paula Pavarina (Unifran)
Revisão de Inglês
Elaine T. Assirati
Kátia Cristina Galatti
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Apoio Tecnológico
Adriano Carnaroli
Diogo de Almeida
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Projeto Gráfico e Capa
Fábio José Moretti
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Conselho Consultivo
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Carlos Roberto Regattieri (Fatec-Tq)
Daltro Cella (Fatec-Tq)
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Kátia Cristina Galatti (Fatec-Tq)
Luciano de Jesus Rodrigues de Barros (Fatec-Tq)
Marcela Midori Yada (Fatec-Tq)
Marco Antonio Alves Pereira (Fatec-Tq)
Nivaldo Carleto (Fatec-Tq)
Paula Pavarina (UNIFRAN)
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EDITORIAL
Caro leitor,
Em face ao enorme desafio pela frenética busca do conhecimento, que se impõe a nós todos nos dias
turbulentos de hoje, é imprescindível que estejamos sintonizados com as novas ideias e soluções que
emergem, a cada dia, na esfera do saber.
Nesta edição da Interface Tecnológica, apresentamos a você o resultado de pesquisas empreendidas
pelos nossos autores, os quais, através de seu capital intelectual e postura investigativa, divulgam e
compartilham descobertas inovadoras dentro das áreas temáticas a que respondem.
Como é natural em toda pessoa que lê e analisa, supomos que a sua expectativa seja a de encontrar
nas próximas páginas informações que se somem ao seu repertório e possam, desse modo, contribuir
definitivamente para o seu enriquecimento pessoal e profissional.
Que seu tempo aqui investido seja plenamente recompensado!
Elaine T. Assirati
Editora
volume 10 - número 1 - 2013
SUMÁRIO / SUMMARY
Artigos
7
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A CONVERSÃO DE REPRESENTAÇÕES
SEMIÓTICAS PARA ESTUDO DO MÉTODO SIMPLEX ANALÍTICO EM
PROGRAMAÇÃO LINEAR
SOME REFLECTIONS ABOUT CONVERSION OF SEMIOTIC REPRESENTATIONS FOR
STUDY OF THE ANALYTICAL SIMPLEX METHOD ON LINEAR PROGRAMMING
Paulo Francisco Sprovieri
17
CRIPTOGRAFIA: UMA APLICAÇÃO DA MATEMÁTICA DISCRETA, ATRAVÉS
DA IMPLEMENTAÇÃO DA CIFRA DE CÉSAR EM VISUALG
ENCRYPTION: AN APPLICATION OF DISCRETE MATHEMATICS THROUGH THE
IMPLEMENTATION OF CAESAR CIPHER BY USING VISUALG
Douglas Francisco Ribeiro
Patrícia Gonçalves Primo Lourençano
Aparecido Doniseti da Costa
27
A CONTRIBUIÇÃO DA VIRTUALIZAÇÃO E A CONSOLIDAÇÃO DE SERVIDORES
PARA REDUÇÃO DE TCO
THE CONTRIBUTION OF VIRTUALIZATION AND SERVER CONSOLIDATION TO
REDUCE TCO
Mauricio de Oliveira Dian
Marco Antonio Alves Pereira
37
UM ESTUDO SOBRE A BIOMETRIA
A STUDY ON BIOMETRICS
Fábio José Colombo
Brazelino Bertolete Neto
Luciano de Jesus Rodrigues de Barros
45
SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO APLICADOS NO PLANEJAMENTO E
CONTROLE DA PRODUÇÃO
ENTERPRISE RESOURCE PLANNING APPLIED IN THE MANUFACTURING PLANNING
AND CONTROL
José Eduardo Freire
Ruchele Marchiori Coan
Guilherme Augusto Malagolli
Fernando Cunha
6
55
D. de et al.
Aplicação de ConceitosAlmeida,
da Gestão
de Estoques para Melhoria em
Sistema ERP
Applying Inventory Control Concepts to Improve the ERP System
José Henrique Garrido de Lima
Ronaldo Ribeiro de Campos
69
TECNOLOGIA ESTRATÉGICA
STRATEGIC TECHNOLOGY
Vinícius Salatin Corrêa
83
A avaliação De impactos Ambientais no contexto de aplicação dOS
instrumentos de política ambiental
THE ENVIRONMENTAL IMPACTS ASSESSMENT IN THE CONTEXT OF THE
ENVIRONMENTAL POLICY INSTRUMENTS
Fernando Frachone Neves
Aurélio Teodoro Fontes
Denise Gallo Pizella
Marcelo Pereira de Souza
95
O SISTEMA DE ROTAÇÃO ENTRE AMENDOIM E CANA-DE-AÇÚCAR EM ÁREAS
CONTROLADAS POR INDÚSTRIAS
THE PEANUT AND SUGAR CANE ROTATION SYSTEM IN AREAS UNDER INDUSTRIAL
CONTROL
Luiz José Scarpin
Martin Mundo Neto
Guilherme Augusto Malagolli
105
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE CONTROLE AGRÍCOLA EM UMA AGROINDÚSTRIA
SUCROENERGÉTICA
DESCRIPTION OF AGRICULTURAL CONTROL ACTIVITIES IN A SUGARCANE
AGRIBUSINESS
Jucimara Cristiane Biscola
Daltro Cella
119
O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: O
caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
The development of new packaging in the food industry: the case of
flexible plastic packaging guava
Carlos Rodrigo Volante
Guilherme Augusto Malagolli
131
O PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA:
APLICAÇÃO EM UMA ESCOLA MUNICIPAL
PLANNING AS A TOOL OF STRATEGIC MANAGEMENT: APPLICATION IN A MUNICIPAL
SCHOOL
Maria Aurora Utrera
Ana Teresa Colenci Trevelin
Rosana Cristina Colombo Dionysio
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A CONVERSÃO DE
REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS PARA ESTUDO DO
MÉTODO SIMPLEX ANALÍTICO EM PROGRAMAÇÃO LINEAR
SOME REFLECTIONS ABOUT CONVERSION OF SEMIOTIC
REPRESENTATIONS FOR STUDY OF THE ANALYTICAL
SIMPLEX METHOD ON LINEAR PROGRAMMING
Paulo Francisco Sprovieri1
RESUMO
Este artigo pretende apresentar algumas estratégias bem sucedidas de transposição didática, obtidas
a partir da prática de ensino de programação linear, particularmente sobre o método simplex analítico. As reflexões apresentadas ao longo do texto foram desenvolvidas a partir da aplicação dessas
estratégias em turmas das disciplinas de pesquisa operacional e de programação linear e aplicações
de cursos superiores de tecnologia em produção industrial, agronegócio e análise e desenvolvimento
de sistemas. Todas as turmas estudadas apresentam perfis de alunos semelhantes: 70 a 80% desses
alunos são egressos do ensino básico, fundamental e médio, público. Todas as ideias aqui são apresentadas através da ilustração da resolução de um único exemplo de problema de programação linear de
três variáveis podendo, porém, ser extrapoladas para quaisquer problemas semelhantes independente
do número de variáveis que contenham.
Palavras-chave: Transposição didática. método simplex analítico. programação linear. pesquisa operacional.
ABSTRACT
This article aims at presenting some successful strategies of didactic transposition, derived from
the practice of teaching linear programming, particularly on the analytical simplex method. The
reflections presented throughout the text were developed from the application of these strategies in
classes in the subjects of Operations Research and Linear Programming and Applications of higher
1
Professor Pleno I - Especialista em Computação pela USP/São Carlos e Mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela
UFSCar. - E-mail: [email protected]
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Sprovieri, P. F.
education technology courses in industrial production, agribusiness and analysis and development of
systems. All groups studied showed similar profiles of students: 70 to 80% of these students graduated
from public elementary and secondary schools. All of the ideas are presented here by illustrating the
resolution of a single example of linear programming problem of three variables which may, however,
be extrapolated to any similar problems regardless of the number of variables they contain.
Keywords: Didactic transposition. Analytical simplex method. linear programming. Operations
research.
INTRODUÇÃO
Todo professor experiente deve lembrar-se da dificuldade que tinha, ao iniciar a carreira, em tentar
“se fazer entender”, isto é, de tentar descobrir formas e mecanismos para tornar a apresentação de
conteúdos mais fácil, senão menos árdua para os alunos. Yves Chevallard, em 1991, formalizou esse
processo da seguinte forma:
Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar, sofre, a partir de então,
um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os
objetos de ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino,
é chamado de transposição didática. (CHEVALLARD, 1991, p.39).
Fica claro, portanto, que o trabalho do professor será tanto mais eficaz quanto maior for a capacidade desse profissional em realizar um processo de transposição didática competente. A transposição
didática pode revelar a capacidade do profissional em transformar o conhecimento científico formal,
complexo, erudito em conhecimento de massa, assimilável, popular até. É tarefa extremamente delicada e coloca o professor em uma linha tênue em que, ora rompida, transforma o conteúdo exposto
falho, impreciso, inverossímil.
A constante preocupação com o processo de transposição didática permitiu que o conhecimento dos
objetos matemáticos, denominado conhecimento noético, originasse muitas e diferentes formas de
representá-lo. Ao conjunto múltiplo de representações dá-se o nome de semiose (COSTA; RAUEN,
2009). Sendo assim, o conceito noético como a fração de um inteiro, como a metade de alguma coisa,
pode ser distinguido das diferentes formas de se representá-lo como, por exemplo ‘50%’, ’meio’,
‘1/2’, entre outras.
A experiência prática no ensino das disciplinas Pesquisa Operacional e Programação Linear e Aplicações mostra que o perfil de alunos da Fatec Taquaritinga é em grande parte composto por jovens
oriundos do ensino básico público, 70% ou mais, carregando consigo um grande número de deficiências de aprendizagem, insegurança na demonstração da própria capacidade cognitiva, além de maus
hábitos para estudar ou até mesmo completo desconhecimento com relação a esta prática, tão fundamental para um processo ensino-aprendizagem bem sucedido.
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Algumas reflexões sobre a conversão de representações semióticas para estudo do método simples analítico em programação linear
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Para proporcionar melhorias no cenário acima apontado, foram desenvolvidas formas de representações de conhecimento do Problema de Programação Linear, aqui considerado conhecimento noético,
dando origem a conversões de representações semióticas, importantes para o processo de transposição didática.
O trabalho realizado com o conhecimento semiótico de programação linear aponta que apenas diferentes formas de representação do conhecimento noético não são suficientes para melhorar o desempenho dos alunos. Também são necessárias algumas mudanças de comportamento. Por parte do
professor, a ênfase constante no processo sistemático de desenvolvimento das soluções dos problemas. Por parte do aluno, o desapego pela calculadora, ou seja, praticar álgebra através das diferentes
formas de representações semióticas apresentadas pelo professor melhora seu desempenho ao fazer
contas, muitas delas processadas mentalmente. Por exemplo, boa parte dos alunos ao ser confrontado
com a expressão
poderia proceder da seguinte forma:
• Convertendo a representação ‘0,5’:
• Calculando o mínimo múltiplo comum:
• Fazendo a soma:
;
;
;
• Por fim, fazendo a divisão: 2.
Por outro lado, um aluno bem orientado procederia ao mesmo cálculo de uma maneira muito mais
simples, mais rápida, em processo exclusivamente mental, entendendo que ‘0,5’ é uma forma de
representação da metade de alguma coisa, e respondendo da seguinte forma: “tenho uma metade,
somando três metades
, tenho quatro metades, ou seja, dois (inteiros)”!
No estudo de programação linear é extremamente importante a maturidade cognitiva que se pode
abstrair do exemplo ilustrado acima, principalmente se considerado o grande volume de manipulações algébricas, quando da resolução de problemas de programação linear de múltiplas variáveis. O
desafio é diminuir a quantidade de cálculos para diminuir a probabilidade de ocorrência de erros.
Este trabalho pretende demostrar como diferentes formas de representações semióticas podem auxiliar o processo de aprendizagem no estudo de problemas de programação linear de múltiplas variáveis através do método simplex analítico, também conhecido por método dos dicionários. Para tanto,
será analisado um único exercício, utilizado como o primeiro exemplo do método simplex analítico,
extraído do livro-texto adotado (LACHTERMACHER, 2009) e originalmente proposto por Vasek
Chvátal (CHVÁTAL, 1983). A próxima seção ilustra o exercício acima mencionado, enquanto que
as seções subsequentes discutem estratégias docentes para a resolução do exercício e conversões de
representações semióticas que, acredita-se, proporcionem maiores facilidades de aprendizagem por
parte dos alunos envolvidos.
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Sprovieri, P. F.
EXEMPLO DE UM PROBLEMA DE PROGRAMAÇÃO LINEAR DE MÚLTIPLAS VARIÁVEIS
O Quadro 1, abaixo, mostra o exemplo de um problema de programação linear, ou PPL, de três variáveis e o conjunto de dicionários que definem a solução do problema (Lachtermacher, 2009):
Quadro 1. PPL exemplo, com o respectivo conjunto de dicionários correspondentes à solução
(LACHTERMACHER, 2009).
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Algumas reflexões sobre a conversão de representações semióticas para estudo do método simples analítico em programação linear
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Embora não seja o objetivo aqui, a atividade de construção dos dicionários será parcialmente apresentada na próxima seção com o intuito de esclarecer a estratégia docente sobre como apresentar o algoritmo de resolução analítica aos alunos, de modo a reforçar conceitos fundamentais para a solução do
problema, exposta no Quadro 1.
RESOLUÇÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO MÉTODO DOS DICIONÁRIOS
Conforme a Figura 1, a resolução de problemas de programação
linear de múltiplas variáveis através do método dos dicionários,
também conhecido por método simplex analítico, fica bem evidenciada através da ilustração. Porém, antes de qualquer coisa,
é necessário definir, para os alunos, três conceitos fundamentais:
(1) algoritmo, como uma sequência lógica de instruções ou tarefas, na tentativa de se resolver um problema; (2) fluxograma, a
representação gráfica de um algoritmo; e, (3) iteração, que define
um conjunto de tarefas executado repetidas vezes.
Importante enfatizar o fato de que algoritmos constituem um
fluxo ordenado e sequencial de execução de instruções, podendo a sequência ser alterada de acordo com a necessidade que o
Figura 1. Fluxograma do Mé- problema exige, apresentando desvios condicionais e laços de
todo dos Dicionários.
repetição. Sendo assim, o algoritmo analítico do método dos di(Adaptado de Lachtermacher, 2009).
cionários apresenta dois blocos de instruções, sendo que o primeiro destina-se à construção do dicionário inicial e o segundo
aos dicionários correspondentes à fase iterativa do algoritmo. Haverá tantos dicionários quanto o número de iterações necessárias até que a condição do laço de repetição seja satisfeita, isto é, que todos
os coeficientes das variáveis da função-objetivo do dicionário na iteração corrente sejam negativos.
O primeiro bloco de instruções refere-se à geração do dicionário inicial. Aqui, mais uma vez, o docente deve intervir de modo a destacar as quatro tarefas fundamentais envolvidas:
1.Definição das variáveis básicas, onde cada uma equivale à diferença entre os lados direito (RHS
ou right hand-side) e esquerdo (LHS ou left hand-side) para cada uma das equações associadas às
restrições do PPL na forma-padrão. Neste caso, as variáveis básicas são
;
2.Imposição de condições de não‑negatividade para todas as variáveis envolvidas;
3. Tomada da função-objetivo do PPL como função-objetivo do dicionário inicial;
4.Definir a solução inicial, ou solução óbvia, considerando os valores das variáveis básicas iguais a
zero e calculando, desse modo, o valor de Z.
Seguindo o fluxo do algoritmo, a próxima etapa verifica se a solução inicial é ótima. Como todas as
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Sprovieri, P. F.
variáveis da função-objetivo, denominadas variáveis não‑básicas, possuem coeficientes positivos a
solução inicial não é ótima, o que conduz o fluxo de execução do algoritmo à fase iterativa. Aqui,
mais uma vez, se faz importante o papel docente ao destacar as etapas importantes que constituem o
bloco iterativo, a saber:
1. Promover a troca de variáveis: entra para a base (variáveis do lado esquerdo) a variável não‑básica,
do lado direito da função-objetivo, que possuir o maior coeficiente positivo. Sairá da base a variável que exercer maior força restritiva sobre a variável não-básica escolhida para entrar. Considerando o dicionário da 2ª iteração, por exemplo, a variável básica a entrar é
porque seu coeficiente, , é o maior e único coeficiente positivo na função-objetivo do dicionário da 2ª iteração;
2. Para determinar a variável da base a sair, deve-se realizar a análise de forças restritivas, com o
intuito de determinar qual das variáveis básicas,
ou deverá ceder seu lugar à variável
, como ilustra o Quadro 2;
3. Nessa etapa, procede-se ao recálculo de equações para compor as novas equações correspondentes
às variáveis da base e de Z para o dicionário da terceira iteração, conforme demonstrado no Quadro 3;
4. Finalmente, determina-se a solução de Z. Considerando-se a terceira iteração, o valor encontrado,
Z = 10, corresponde ao valor máximo uma vez que na função‑objetivo atual todos os coeficientes
das variáveis apresentam coeficientes negativos e, portanto, não podem mais contribuir para o
crescimento de Z.
Quadro 2. Análise de forças restritivas da terceira iteração. A área cinza mostra a faixa de valores viáveis de x2 na terceira iteração.
Fonte: próprio autor.
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Algumas reflexões sobre a conversão de representações semióticas para estudo do método simples analítico em programação linear
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Uma vez que se tenha determinado qual variável não‑básica a entrar, , e qual variável básica a sair,
, no exemplo aqui fornecido, é necessário realizar o recálculo das equações do dicionário da 3ª iteração começando pela troca de variáveis. Isso se faz tomando-se a equação de do dicionário da 2ª
iteração e determinando assim o valor de , como evidenciado através do Quadro
3. Como na terceira iteração não poderá haver
do lado direito das equações, faz-se necessário o
recálculo de , , e para finalizar a composição da base do novo dicionário
Quadro 3. Recálculo de equações para o dicionário da terceira iteração. Os realces na cor cinza
exibem o valor de x2 na atualização de cada uma das equações da nova base que inclui, no 3º
ciclo, as variáveis x4, x2, x3 e x1.
Fonte: próprio autor.
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Sprovieri, P. F.
Note-se que cada uma das 4 etapas do bloco de instruções, evidenciado no interior do laço de
repetição do algoritmo apresentado, deverão ser executadas antes para a primeira iteração utilizando
o dicionário inicial, depois para a segunda iteração a partir do dicionário da primeira iteração, para
que somente então se possa realizar os processos ilustrados pelo Quadro 3 para a terceira iteração
que utiliza o dicionário da segunda iteração. Portanto, para criar uma solução viável melhor utiliza-se
sempre o dicionário mais atual, isto é, aquele da iteração imediatamente anterior.
Para ser possível analisar o quanto uma variável da base restringe o crescimento da variável selecionada para entrar para a base, durante o processo de análise de forças restritivas da iteração corrente,
todas as variáveis não-básicas, à exceção daquela selecionada para entrar, deverão assumir valor nulo.
Finalmente, para determinar o valor de Z no dicionário corrente todas as variáveis da função-objetivo
desse dicionário também assumirão valores iguais a zero.
Na próxima seção, serão apresentados diversos exemplos de conversão de representações semióticas,
a partir da terceira iteração do exemplo ilustrado no Quadro 3.
CONVERSÕES DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS AUXILIANDO O APRENDIZADO
DE PROGRAMAÇÃO LINEAR
O suporte para toda discussão a seguir está fundamentado em um número que, a despeito da aparente
falta de importância, assume papel chave para as conversões de representações semióticas propostas
nesta seção. Este número é 29, primo, e que aparece pela primeira vez na equação da variável x5 como
o numerador do coeficiente de x2, conforme se segue:
.
Para ilustrar a importância do número 29, as relações de multiplicidade devem ser observadas atentamente, como ilustra a Figura 2. Sendo assim, considere-se o número 29 e seus múltiplos representados pelos números correspondentes ao dobro, 58, ao triplo, 87 e ao sêxtuplo, 174. Esses números
apresentam um total de 32 ocorrências ao longo de todo o processo de resolução, sem considerar aí
as várias repetições, conforme fica evidenciado no
Quadro 3, apresentado na seção anterior. Algumas
conversões de representações semióticas podem aí
ser observadas. Por exemplo, 87 é o triplo de 29 e
174 é o sêxtuplo de 29. Pode-se chegar diretamente
ao valor 174, sem necessidade do uso de calculadora, da seguinte forma: o sêxtuplo é o dobro do triplo ou o triplo do dobro. Partindo de 29, seu triplo
é 87, sendo o dobro deste igual a 174 que, por sua
vez, é o sêxtuplo de 29.
Figura 2. Grafo de multiplicidades, criado
a partir do número 29.
Fonte: próprio autor.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
Algumas reflexões sobre a conversão de representações semióticas para estudo do método simples analítico em programação linear
15
A seguir, com o apoio do grafo elaborado, serão apresentadas algumas conversões de representações
semióticas para as equações geradas a partir do processo de recálculo na terceira iteração. Importante
salientar que o docente não apresentaria aos alunos um grafo semelhante ao da Figura 2, mas uma
versão simplificada deste, como sugerido na Tabela 1 a seguir:
58
x2
87
x3
116
x4
174
x6
Tabela 1. Múltiplos de 29.
Considere o recálculo de
Substituindo-se
abaixo:
, tem-se:
Aplicando-se a propriedade distributiva para cada um dos termos isoladamente, tem-se que:
Observe que pode ser convertido para a representação semiótica
pode ser tratada como
que é igual a
. Simplificando,
e, desse modo, a soma
. Os termos
dependentes, por sua
vez, formam a expressão
. Mais uma vez, pode ser usada aqui uma representação semi-
ótica alternativa a , mais exatamente
. Dessa forma, tem-se:
cando-se por 6,
onde
. Finalmente, considerando-se os termos
possui a representação semiótica
. Portanto, a equação para a variável básica
ou, simplifidependentes tem-se
. Sendo assim, tem-se:
,
ou
no dicionário da terceira iteração é:
Como se pode notar, há inúmeras possibilidades de conversões de representações semióticas ao longo
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
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Sprovieri, P. F.
de toda a terceira iteração do processo de resolução do problema de programação linear apresentado.
Dessa maneira, fica claro que o professor, atento às dificuldades de seus alunos em relação às manipulações algébricas, encontra aí espaço significativo para reduzir o volume de cálculo, contribuindo
com a diminuição da probabilidade de ocorrência de erros dessa natureza. Isso acontece em virtude
do fato de que os cálculos, disponíveis a partir das conversões de representações semióticas, são
executados mentalmente, dispensando a necessidade do uso de calculadora em mais de 90% das situações analisadas.
REFLEXÕES FINAIS
As conversões de representações semióticas contribuem significativamente para o processo de aprendizagem de programação linear. A diminuição significativa na frequência de ocorrência de erros de
cálculos proporciona ganho de confiança por parte dos alunos. Além disso, o amplo e adequado uso
do espaço de conhecimento semiótico por parte do docente faz com que o processo de aprendizagem
de programação linear ganhe celeridade.
Porém, a transposição didática através das conversões de representações semióticas por si só não é
suficiente. Como observado, a apresentação clara, sistemática e precisa do algoritmo iterativo do método dos dicionários, ou método simplex analítico, deve ocorrer repetida e concomitante ao processo
de resolução dos problemas de programação linear.
Mesmo com todas as dificuldades e desafios que o professor de programação linear ou pesquisa operacional enfrenta, com relação a alunos que carecem até mesmo dos conhecimentos mais básicos de
álgebra elementar, a exemplo de cálculos com frações, a perfeita transição entre noético e semiótico,
realizada pelo professor através da transposição didática, pode proporcionar rendimento acadêmico
considerável por parte dos alunos envolvidos.
REFERÊNCIAS
CHEVALLARD, Y. La transposition didactique: du savoir savant au savoir enseigné. Paris, La
Fenseé Sauvage, 1991.
CHVÁTAL, V. Linear Programming. Nova York: W. H. Freeman and Company, 1983.
COSTA, J. F. A.; RAUEN, F. J. Conversão de representações semióticas em matemática: linguagem
e ensino em questão. XIX Seminário do CELLIP. Pesquisa em Língua e Cultura na América Latina.
UNIOESTE – Cascavel, Paraná. 21 a 23 de outubro de 2009.
LACHTERMACHER, Gerson. Pesquisa Operacional na Tomada de Decisões. São Paulo, SP,
Prentice Hall Brasil, 2009.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
CRIPTOGRAFIA: UMA APLICAÇÃO DA MATEMÁTICA
DISCRETA ATRAVÉS DA IMPLEMENTAÇÃO DA
CIFRA DE CÉSAR EM VISUALG
ENCRYPTION: AN APPLICATION OF DISCRETE
MATHEMATICS THROUGH THE IMPLEMENTATION
OF CAESAR CIPHER BY USING VISUALG
Douglas Francisco Ribeiro1
Patrícia Gonçalves Primo Lourençano2
Aparecido Doniseti da Costa3
RESUMO
A ideia deste artigo é descrever como desenvolver um algoritmo capaz de criptografar e descriptografar
mensagens utilizando, para isso, formulações matemáticas do tipo criptografia RSA4, que utiliza
chaves públicas e privadas construídas com base na teoria dos números. Utilizar-se-á o software
VisuAlg para descrever em linguagem computacional e, ao mesmo tempo, mostrar como criar um
algoritmo capaz de fazer essas operações. Para a demonstração dos algoritmos escolhemos como base
uma formulação básica: a cifra de César.
Palavras-Chave: Algoritmo. Módulo n. Criptografia. Cifra de César.
ABSTRACT
The idea of this article is to describe how to develop an algorithm to encrypt and decrypt messages
using, for this, mathematical formulations of type RSA encryption, built using public and private keys
based on number theory. VisuAlg to describe the software in computer language and at the same time
show how to create an algorithm capable of these operations will be-used. For the demonstration of
the algorithms chosen based on a basic formulation: the Caesar cypher.
Keywords: Algorithm. n Module. Encryption. Caesar Cypher.
1
2
3
4
Graduando do curso Sistemas para Internet da FATEC- TQ. [email protected]
Professora Pleno da FATEC-TQ. [email protected]
Professor Coordenador do Curso de Sistemas para Internet da FATEC-TQ [email protected]
O RSA é um algoritmo que possui este nome devido a seus inventores: Ron Rivest, Adi Shamir e Len Adleman, que o
criaram em 1977 no MIT. (Oliveira, 2006)
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
18
Ribeiro, D. F., et al.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho mostra como usar a linguagem de programação VisuAlg na implementação do método
da Cifra de César na resolução de sentenças criptografadas.
A Criptografia5 é a ciência que estuda as formas de se escrever uma mensagem utilizando código. Tratase de um conjunto de técnicas que permitem tornar incompreensível uma mensagem originalmente
escrita com clareza, de forma a permitir que apenas o destinatário a decifre e compreenda (Cavalcante,
2004). De maneira geral, há um emissor que tenta enviar uma mensagem para um receptor. Existe
também um adversário que deseja interceptar essa mensagem (Stein, 2011). O ato de criptografar é
também conhecido como - encriptação e desencriptação. A encriptação é a conversão de dados para
uma forma que não será compreendida facilmente por pessoas não autorizadas, com o objetivo de
assegurar a privacidade, mantendo a informação escondida e ilegível mesmo para quem vê os dados.
A desencriptação é o processo de converter dados encriptados de volta a sua forma original, para que
a mensagem possa ser compreendida. Para que isso aconteça alguma informação secreta é requerida,
usualmente denominada chave.
Apesar da criptografia ser bem antiga, originalmente utilizada para fins militares e diplomáticos ao
longo dos séculos, atualmente percebe-se um grande interesse sobre o assunto, principalmente devido
a utilização de vários serviços na Internet. O comércio eletrônico, por exemplo, precisa manter diversas
informações confidenciais, como registros bancários, faturas de cartão de crédito, senhas e outras.
No campo da criptografia existem algumas denominações específicas:
• os códigos são denominados cifras;
• as mensagens não codificadas são textos comuns;
• as mensagens codificadas são textos cifrados ou criptogramas.
O processo de conversão de um texto comum em cifrado é chamado cifrar ou criptografar e o
processo inverso de converter um texto cifrado em comum é chamado decifrar ou descriptografar.
Os termos criptografar e descriptografar são os mais utilizados no meio científico.
As criptografias mais simples e também as mais fáceis de serem quebradas são as denominadas cifras
de substituição, também chamadas de Código de César. No Código de César, cada letra do alfabeto é
substituída por outra letra.
VISUALG
O VisuAlg foi criado em 1987 pelo professor Cláudio Morgado de Souza que atua na área de
5
A palavra Criptografia é definida por dois termos gregos kryptos (kryptos secreto,escondido, oculto) e grapho (grapho
– escrita, grafia).
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
Criptografia: uma aplicação da Matemática discreta, através da implementação da Cifra de César em VISUALG
19
desenvolvimento de software. O objetivo dessa ferramenta é permitir, aos iniciantes em programação,
o exercício dos seus conhecimentos num ambiente próximo da realidade. VisuAlg possui as
características de uma linguagem apropriada para a aprendizagem de programação. Segundo Almeida
(2013) esta ferramenta é capaz de simular o que acontece na tela do computador com o uso dos
famosos comandos “leia” e “escreva”, bem como possibilitar a verificação dos valores das variáveis,
o acompanhamento passo a passo da execução de um algoritmo e até mesmo suportar um modo
simples de depuração.
O VisuAlg é um software simples, que não depende de DLLs6, OCXs ou outros componentes. Sua
instalação não copia arquivos para outra pasta a não ser aquela em que for instalado, e exige cerca de
1 MB de espaço em disco. Pode ser executado sob Windows 95 ou posterior, e tem melhor aparência
com resolução de vídeo de 800x600 ou maior.
METODOLOGIA
O presente artigo tem como objetivo empregar conceitos e conhecimentos matemáticos algébricos,
tais como aritmética módulo n, fundamentando dessa forma, a criptografia RSA7.
Mostrar-se-á por meio deste trabalho que para chegar a uma mensagem criptografada, pode-se
fazer uso de conhecimentos matemáticos fundamentados na aritmética módulo n e implementar um
algoritmo utilizando o software VisuAlg.
Por meio de dois códigos, um de codificação e outro de decodificação de uma mensagem na linguagem
de programação VisuAlg, mostraremos o uso prático e efetivo da matemática. Demonstrar-se-á ainda,
que este programa é fácil de ser trabalhado por utilizar uma linguagem simplificada.
CIFRA DE CÉSAR
A Cifra de César, também conhecida como cifra de troca, código de César ou troca de César, é
uma das mais simples e conhecidas técnicas de criptografia. Ela substitui cada letra do texto por outra,
que se apresenta no alfabeto abaixo dela um número fixo de vezes. Por exemplo, com uma troca de
três posições, “D” seria substituído por “G”, “E” se tornaria “H” e assim por diante. Este nome foi
concedido em homenagem a Júlio César, que a usou para se comunicar com seus generais.
6
7
As DLLs (Dynamic-link library) juntamente com as OCXs (OLE control extension) são arquivos com definições e
recursos necessários para a execução de programas. Foram desenvolvidas pela Microsoft e são comumente chamadas
de bibliotecas.
O RSA é um algoritmo que possui este nome devido a seus inventores: Ron Rivest, Adi Shamir e Len Adleman, que o
criaram em 1977 no MIT. (Oliveira, 2006)
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
20
Ribeiro, D. F., et al.
A figura 1 ilustra a relação de letras de um Alfabeto Simples.
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P
Q
R
S
T
U
V
X
W
Y
Z
Y
Z
A
B
C
Figura 1. Alfabeto Simples
Seguindo a ideia de deslocamento de três posições, a figura 2 pode ser criada:
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P
Q
R
S
T
U
V
X
W
Figura 2. Alfabeto Cifrado
Uma mensagem como: “ALGORITMO” seria cifrado como “DOJRULXPR”. A equivalência entre
as letras pode ser facilmente identificada quando ambos os conjuntos de letras são sobrepostos, como
na figura 3:
A B
D E
C
F
D
G
E
H
F
I
G
J
H
K
I
L
J
M
K
N
L
O
M N
P Q
O
R
P
S
Q
T
R
U
S
V
T
X
U
W
V
Y
X
Z
W
A
Y
B
Z
C
Figura 3. Alfabeto simples e alfabeto cifrado
Poder-se-ia também representar essa cifra usando aritmética, transformando as letras em números,
seguindo um esquema: A=0, B=1 até Z=25. Teríamos um total de 26 letras. A simples troca de uma
letra x por uma fixa n pode ser descrita como:
En(x) = (x + n) mod 26
Já para a sua descriptografia teríamos que ter a inversa desta fórmula:
Dn(x) = (x – n) mod 26
Como o número encontrado precisa estar dentro da faixa das 26 posições definidas na tabela, utilizase o artifício do resto da divisão. Deste modo, tem-se a certeza de que este número estará no intervalo
entre 0 e 25, ou seja, exatamente o esquema sugerido.
Pode-se verificar isso na prática através da frase “EU VOU”.
Tabela 1. Alfabeto relacionado com número arábico.
A
B
1
2
N
O
14
15
<espaço>
0
C
3
P
16
D
4
Q
17
E
5
R
18
F
6
S
19
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
G
7
T
20
H
8
U
21
I
9
V
22
J
10
X
23
K
11
W
24
L
12
Y
25
M
13
Z
26
Criptografia: uma aplicação da Matemática discreta, através da implementação da Cifra de César em VISUALG
21
Percebe-se que na tabela 1 há 26 letras e seus respectivos valores, mas há também a referência ao
espaço identificado pelo número 0, ou seja, são 27 números, no intervalo de 0 a 26. Os caracteres
acentuados não estão sendo considerados aqui. Se necessário, basta incluí-los e atualizar o novo total
de caracteres no cálculo do Mod. Como a tabela 1 possui 27 posições, ou seja, as 26 letras mais o
caractere espaço, a conta do resto da divisão deverá ser por 27. Caso haja interesse em aumentar a
tabela, acrescentando os acentos, por exemplo, basta aumentar o valor 27 proporcionalmente também.
Exemplo 1: Para codificar a frase “EU VOU”, usando como chave a = 14, ou seja, a fórmula
matemática ficaria: y = x + 14 (mod 27).
Tabela 2. Codificação da frase “Eu vou”
Letra
E
U
<espaço>
V
O
U
Código
5
21
0
22
15
21
Cod+chave
5 + 14 =
21 + 14 =
0 + 14 =
22 + 14 =
15 + 14 =
21 + 14 =
Soma
19
35
14
36
29
35
Resto Div
19 mod 27
35 mod 27
14 mod 27
36 mod 27
29 mod 27
35 mod 27
Resultado
19
8
14
9
2
8
Posição/Resultado
S
H
N
I
B
H
Utilizando o esquema da tabela 2, o código para a frase “EU VOU” é “ SHNIBH”.
Para descriptografar “ SHNIBH” pode-se utilizar a operação inversa: y = x – 14 (mod 27). No entanto,
haveria um pequeno problema, que é o resto da divisão por números negativos. Esse problema pode
ser contornado utilizando um artifício matemático chamado simétrico aditivo. Um simétrico aditivo é
o número que somado a nossa chave daria o valor de nossa quantidade de letras. Por exemplo, qual é
o simétrico aditivo de 14 módulo 27? A resposta é 13. Pois 14+13=27 e 27 mod 27 é igual a 0. Sendo
assim, basta substituir a chave 14 pela chave 13 e teremos condição de reverter a mensagem. Veja a
tabela 3 abaixo.
Tabela 3. Decodificação de uma frase
Letra
Código
S
19
H
Cod+chave
Soma
Resto Div
Resultado
Posição/Resultado
19 + 13 =
32
32 mod 27
5
E
8
8 + 13 =
21
21 mod 27
21
U
N
14
14 + 13 =
27
27 mod 27
0
<espaço>
I
9
9 + 13 =
22
22 mod 27
22
V
B
2
2 + 13 =
15
15 mod 27
15
O
H
8
8 + 13 =
21
21 mod 27
21
U
Pode-se observar que a utilização do simétrico aditivo permitiu que a operação realizada fosse
exatamente a mesma da fórmula para criptografar. A única adequação foi a chave, que antes era 14 e
passou a ser 13, mas que não causou perda alguma quando foi utilizado o aditivo simétrico.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
22
Ribeiro, D. F., et al.
IMPLEMENTAÇÃO DA CIFRA DE CÉSAR USANDO VISUALG
Utilizando o software VisuAlg é possível implementar o algoritmo Cifra de César, capaz de executar
as tarefas de cifrar e decifrar mensagens de texto. Também na implementação do algoritmo é
conveniente utilizar o simétrico aditivo de modo a evitar surpresas na fórmula com o resto da divisão
por números negativos. A Listagem 1 mostra o código fonte para criptografar.
algoritmo “CIFRA DE CESAR”
// Declaração das variáveis que utilizaremos em nosso exemplo
var
cFraseOriginal: Caractere
// Frase a ser criptografada
cFraseCifrada: Caractere
// Frase já criptografada
aTabela: Vetor[0..26] de Caracter // Vetor das Letras
nChave: inteiro
// Chave de Segurança
// Procedimento para Montar a tabela de letras
// Aqui estamos utilizando um subterfugio da programação, com a
utilização
// da tabela ASCII, pois a letra “A” encontra-se na posição 65 e a
Letra
// “Z” na posição 90. Na posição 0 da tabela colocaremos o espaço e
nas
// posições de 1 a 26 colocaremos as letras de A a Z.
procedimento CarregaTabela
var x: inteiro
inicio
aTabela[0]:= “ “
para x:=1 ate 26 faca
aTabela[x]:= Carac(64+x)
fimpara
fimprocedimento
// Função que retorna a posição da Letra na tabela
funcao LocalizaPosicaoTabela( cLetra: caracter ): inteiro
var x: inteiro
inicio
x:= 0;
repita
x:=x+1;
ate (x<27) e (cLetra<>aTabela[x]) faca
retorne(x)
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
Criptografia: uma aplicação da Matemática discreta, através da implementação da Cifra de César em VISUALG
23
fimfuncao
// Função que efetua a criptografia da Frase através da operação
aritmética
// y = x + a (mod 27) e retorna a frase criptografada.
funcao Criptografa( cFrase: caracter; nSeguranca:inteiro ):
Caracter
var x: inteiro
cLetra: caracter
cCifra: caracter
cRetorno: caracter
nCodigo: inteiro
nCodCifrado: inteiro
inicio
cRetorno := “”
para x:= 1 ate Compr(cFrase) faca
cLetra := Copia(cFrase,x,1)
nCodigo := LocalizaPosicaoTabela(cLetra)
nCodCifrado := (nCodigo + nSeguranca ) mod 27
cCifra := aTabela[ nCodCifrado ]
cRetorno := cRetorno+cCifra
fimpara
retorne(cRetorno)
fimfuncao
// Inicio do programa
inicio
CarregaTabela
Escreva(“Digite uma Frase: “)
Leia(cFraseOriginal)
Escreva(“Informe a chave de segurança: “)
Leia(nChave)
cFraseCifrada := Criptografa(cFraseOriginal,nChave)
Escreva(“A Frase Criptografa é “,cFraseCifrada)
fimalgoritmo
Listagem 1. Algoritmo para a Cifra de César utilizando o VisuAlg
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
24
Ribeiro, D. F., et al.
A seguir, o código para a inversão do processo de criptografia, ou seja, o de descriptografia.
// Declaração das variáveis que utilizaremos em nosso exemplo
var
cFraseOriginal: Caractere
// Frase a ser criptografada
cFraseCifrada: Caractere
// Frase ja criptografada
aTabela: Vetor[0..26] de Caracter // Vetor das Letras
nChave: inteiro
// Chave de Segurança
// Procedimento para montar a tabela de letras
// Aqui estamos utilizando um subterfugio da programação, com a
utilização
// da tabela ASCII, pois a letra “A” encontra-se na posição 65 e a
Letra
// “Z” na posição 90. Na posição 0 da tabela colocaremos o espaço e
nas
// posições de 1 a 26 colocaremos as letras de A a Z.
procedimento CarregaTabela
var x: inteiro
inicio
aTabela[0] = “ “
para x:=1 ate 26 faca
aTabela[x] = Carac(64+x)
fimpara
fimprocedimento
// Função que retorna a posição da letra na tabela
funcao LocalizaPosicaoTabela( cLetra: caracter ): inteiro
var x: inteiro
inicio
x:= 0;
repita
x:=x+1;
ate (x<27) e (cLetra<>aTabela[x]) faca
retorne(x)
fimfuncao
// Função que efetua a descriptografia da frase através da operação
// aritmética y= x + a (mod 27) e retorna a frase descriptografada.
funcao Descriptografa( cFrase: caracter; nSeguranca:inteiro ):
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
Criptografia: uma aplicação da Matemática discreta, através da implementação da Cifra de César em VISUALG
25
Caracter
var x: inteiro
cLetra: caracter
cCifra: caracter
cRetorno: caracter
nCodigo: inteiro
nCodCifrado: inteiro
inicio
cRetorno = “”
// O simétrico aditivo é encontrado com a fórmula abaixo:
NSeguranca = (27 - nSeguranca)
para x:= 1 ate Compr(cFrase) faca
cLetra = Copia(cFrase,x,1)
nCodigo = LocalizaPosicaoTabela(cLetra)
nCodCifrado = (nCodigo + nSeguranca ) mod 27
cCifra = aTabela[ nCodCifrado ]
cRetorno = cRetorno+cCifra
fimpara
retorne(cRetorno)
fimfuncao
// Inicio do programa
inicio
CarregaTabela
Escreva(“Digite uma Frase: “)
Leia(cFraseOriginal)
Escreva(“Informe a chave de segurança: “)
Leia(nChave)
cFraseCifrada = Descriptografa(cFraseOriginal,nChave)
Escreva(“A Frase Descriptografa é “,cFraseCifrada)
fimalgoritmo
Listagem 2. Algoritmo da resolução de uma criptografia - Descriptografia
É importante ressaltar que a cifra de César é uma técnica de criptografia simples, porém fácil de ser
interceptada, pois se fundamenta na troca básica de letras de acordo com uma tabela. Desta maneira,
sua quebra pode ser realizada através de uma técnica chamada Análise de Frequência, processo em
que se identifica a frequência com que determinados códigos aparecem e se repetem.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
26
Ribeiro, D. F., et al.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho descreveu a criptografia e descriptografia através da Cifra de César. Foi elaborado um
algoritmo no ambiente VisuAlg para a demonstração do funcionamento básico dos mecanismos
de criptografia e descriptografia. Atenção especial foi dada ao processo de decifração, adotando-se
recursos de matemática básica com a finalidade de eliminação de ocorrências de erros no processo.
Entende-se que a vontade investigativa do aluno para a Ciência possa ser estimulada pela utilização
de exemplos simples e interessantes como os mecanismos de criptografia e descriptografia aqui
demonstrados.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. S. Aprendendo algoritmo com visualg. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2013.
CAVALCANTE, A.L.B. Matemática I. Notas de Aula. Brasília: UPIS, 2004.
FIGUEIREDO, L. M. S. Números primos e criptografia de chave pública. Rio de Janeiro: UFF/
CEP – EB, 2006.
OLIVEIRA, R. R.. Criptografia tradicional simétrica de chave privada e criptografia assimétrica
de chave pública: análise das vantagens e desvantagens. Niterói: Trabalho da pós-graduação
Criptografia e Segurança em Redes da UFF, 2006.
PEREIRA, J. C. R. Análise de dados qualitativos: Estratégias Metodológicas para as Ciências da
Saúde, Humanas e Sociais. 3. ed 1ª.reimpr. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004.
PIVA, D.,..[et al]. Algoritmos e programação de computadores [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
QUIERELLI, D. A. Aprenda a programar. Leme: Edição do Autor, 2012.
SCHEINERMAN, E. R. Matemática discreta: uma introdução. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
SINGH, S. O livro dos códigos: as ciências do sigilo - do antigo egito à criptografia quântica. Rio de
Janeiro: Record, 2003.
STEIN, C.; DRYSDALE R. L.; BOGART. K. Discrete mathematics for computer scientists.
Boston, Massachusetts: Pearson Education, 2011.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 17-26, 2013
A CONTRIBUIÇÃO DA VIRTUALIZAÇÃO
E A CONSOLIDAÇÃO DE SERVIDORES PARA
REDUÇÃO DE TCO
THE CONTRIBUTION OF VIRTUALIZATION AND
SERVER CONSOLIDATION TO REDUCE TCO
Mauricio de Oliveira Dian1
Marco Antonio Alves Pereira2
RESUMO
Reduzir custos e otimizar os recursos disponíveis visando economia sob diversos aspectos vem sendo
um dos principais objetivos empresariais de tempos pra cá. Este artigo traz uma discussão sobre
a importância das técnicas de virtualização e consolidação de servidores na otimização e melhor
adequação dos servidores e seus respectivos serviços para alcançar esses objetivos tão desejados.
Estas técnicas se demonstram ainda como fatores cruciais para a redução de TCO (Custo Total de
Propriedade) e aumento da taxa de retorno de investimento e estão sendo adotadas cada vez mais
devido a redução de custos obtida, principalmente, com consumo de energia elétrica, com espaço
físico ocupado pelas máquinas e com a aquisição de menos equipamentos de hardware ao longo do
tempo, além de facilitar o gerenciamento da rede.
PALAVRAS-CHAVE: Virtualização. Consolidação. TCO. Redução de custos.
ABSTRACT
Reduce costs and optimize available resources aiming economy in many aspects has been a key
business objectives often. This article presents a discussion on the importance of virtualization and
consolidation techniques in servers to optimization and better adaptation of servers and their services
to achieve these goals as desired. These techniques are demonstrated even as crucial factors for the
1
2
Graduando em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – [email protected]
Docente na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – [email protected]
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
28
Dian, M. de O. & Pereira, M. A. A.
reduction of TCO (Total Cost of Ownership) and increase the rate of return on investment and are
often adopted to cost reduction mainly with electricity consumption, with physical space occupied
by the machinery and the acquisition of less hardware equipment over time, and facilitate network
management.
KEYWORDs: Virtualization. Consolidation. TCO. Cost reduction.
INTRODUÇÃO
Sempre buscando por soluções ou ferramentas que proporcionem maior agilidade e facilidade nos negócios
e no gerenciamento de seus recursos, as empresas passaram a enxergar de tempos para cá a virtualização
como um meio eficiente para alcançar não só estes fatores, mas também a redução de custos.
Os que pensam que a virtualização é uma tecnologia nova que surgiu há poucos anos atrás e que
vem crescendo somente agora estão equivocados. A virtualização, seja de serviços, aplicativos ou de
servidores, já existe há muito tempo e deixou de ser uma tendência para se tornar uma realidade em
muitos setores das empresas nos dias atuais (FASTERIT, 2013).
Segundo Alecrim (2013) a virtualização traz às empresas benefícios como: melhor aproveitamento
da infraestrutura, uso de menos equipamento e consequentemente menos gastos com manutenções,
o gerenciamento é centralizado, pode-se trabalhar com diversas plataformas, entre outros. Andrade
(2006 apud Hansen e Schaeffer, 2009) diz que a virtualização pode ainda ser utilizada para ensino
e aprendizagem, consolidação de aplicações, para proporcionar sandboxing3 e migração de software
e consolidação de servidores. Porém, de acordo com Amaral (2009), a principal vantagem é mesmo
a economia gerada, já que perante a TI verde, a virtualização se mostra como uma alternativa para
diminuir o desperdício de recursos, incluindo a energia elétrica.
Nos dias de hoje, dispor de inúmeras máquinas físicas para disponibilizar vários serviços em rede se
tornou um ato inviável. Aliado a isso, a redução dos custos em diversos aspectos proporcionada com
a utilização de virtualização, como a redução de aquisição de hardware por exemplo, vem fazendo
com que as empresas abram os olhos para ferramentas e soluções que as proporcione economia e
maior facilidade de gerenciamento, permitindo otimização dos Custos Totais de Propriedade, também
conhecido como de TCO.
Já se sabe que em TI os custos não ficam somente ligados à aquisição de uma nova tecnologia. Custos
de mudança, manutenção do sistema/hardware, atualizações, também devem ser considerados. O
uso correto do TCO deve envolver todo o ciclo de vida útil de um produto, serviço ou tecnologia
adotada, afinal, engloba todos os custos envolvidos desde a sua aquisição até a sua descontinuidade
(MITSUTANI, 2006).
3
Sandboxing: isolamento de processos para impedir que um software maligno se instale no computador.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
Sandboxing: isolamento de processos para impedir que um software maligno se
instale no computador.
A contribuição da virtualização e a consolidação de servidores para redução de TCO
29
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE VIRTUALIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE
SERVIDORES
Segundo Hansen e Schaeffer (2009) a virtualização e consolidação de servidores permitem que
diferentes sistemas operacionais, cada qual executando uma aplicação diferente, rodem sobre uma
mesma máquina física e, assim, tal eliminação de hardware acaba proporcionando economia às
empresas. Essa economia vai desde a redução de energia elétrica até o ganho com espaço físico
anteriormente ocupado, menos custos com ar condicionado, ganho de facilidade de gerenciamento e
maior segurança e durabilidade, devido à facilidade de se aplicar políticas de recuperação de desastres.
O papel e os benefícios que esta técnica de virtualização proporciona às empresas são:
1.1. Quanto à Virtualização de Servidores
A utilização da virtualização em infraestruturas de TI tem crescido nos últimos anos, prevendo-se
a continuidade deste crescimento devido aos avanços que têm sido alcançados tanto ao nível de
hardware, quanto a nível de software de virtualização (ALMEIDA, 2011).
Com o uso de virtualização há a criação de um ambiente virtual, que emula aplicações, hardware
ou outro sistema operacional como se fosse um ambiente real, permitindo assim às empresas que os
sistemas em rede ou mesmo as aplicações virtualizadas estejam centralizadas e mais fáceis de serem
gerenciadas.
Na virtualização de servidores há uma camada de virtualização que substitui o sistema operacional
tradicional e proporciona, através de sua tecnologia, a criação de múltiplas máquinas virtuais
totalmente independentes de seus recursos (ROCHA, 2013).
Com este tipo de virtualização as empresas podem reduzir o número de equipamentos físicos, o que
implica em economia de energia, espaço e maior facilidade de gestão; adaptação às diferentes cargas
de trabalho, devido à fácil possibilidade de atribuir ou retirar recursos físicos de uma máquina virtual;
e balanceamento de carga (ALMEIDA, 2011).
Segundo VMware (2013a), no mundo inteiro diversas organizações se beneficiam com a virtualização,
pois, com a virtualização de uma infraestrutura é possível reduzir custos, aumentar a eficiência, a
utilização e a flexibilidade dos ativos existentes na rede.
1.2. Quanto à Consolidação
Nos dias de hoje as empresas buscam cada vez mais a centralização e a diminuição do número
de servidores físicos. Mas até pouco tempo atrás era comum utilizar uma máquina física como
servidor para cada serviço de rede tendo a ligeira vantagem de que, afetado um servidor, somente
o serviço prestado por ele era comprometido. Porém, em redes maiores, onde há diversos serviços
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
30
Dian, M. de O. & Pereira, M. A. A.
disponibilizados na rede, essa estratégia não se demonstra muito interessante, uma vez que seria
necessário tomar posse de uma grande quantidade de máquinas e equipamentos para montar toda a
infraestrutura.
Além disso, tendo um serviço em cada máquina física, a taxa de utilização dos recursos de hardware
pelos servidores seria muito baixa, o que se caracterizaria como um mau aproveitamento dos recursos
disponíveis. Segundo VMware (2013b) a grande maioria dos servidores aproveita apenas de 5% a
15% de sua capacidade total, o que caracteriza material excessivo e subutilizado.
Para Lima (2010) a consolidação de servidores é a união de data centers e suas operações, tendo
como principal objetivo a redução de custos, serviços, operações, produtos e pessoas que estão em
duplicidade.
Consolidar servidores é consolidar recursos subutilizados em uma quantidade menor, permitindo
economia de hardware e melhor gerenciamento e administração de infraestrutura. De acordo com
Supercom (2013), a consolidação propicia ainda menos espaço físico a ser ocupado e menos gastos
com eletricidade e com manutenção de máquinas, além de maior flexibilidade.
Dell (2013) afirma que consolidar servidores significa organizar e reestruturar a infraestrutura de uma
determinada organização com o intuito de reduzir custos e melhorar o gerenciamento da rede.
Segundo Pollon (2008) a quantia de servidores que podem ser colocados em um servidor de maior
capacidade é chamada de taxa de consolidação e o valor estipulado dessa taxa vai variar de um
data center para outro dependendo de suas características, afinal, as medições de utilização de
memória, processamento, uso do(s) disco(s) e taxa de leitura e gravação são os determinantes para o
estabelecimento desse valor. Apesar disso, geralmente os fornecedores de soluções de virtualização
apresentam suas taxas.
Para VMware (2013b), a virtualização de servidores usando ferramenta VMware aumenta de 5%
a 80% a utilização do hardware, reduz o consumo de energia e reduz os requisitos de hardware na
proporção de 15:1, diminuindo o impacto ambiental causado pela TI sem abrir mão da confiabilidade
ou serviços.
Mansur (2009 apud Wanders, 2011) diz que nos dias de hoje a consolidação de servidores se mostra
como elemento essencial às estratégias de TI verde das empresas, pois além de trazer redução dos
custos e aumento dos lucros, traz também benefícios ambientais e vantagens competitivas.
Segundo Silva (2010), a consolidação de servidores conta ainda com outro benefício agregado e de
grande importância para a administração em rede, que é o fato de cada máquina virtual ser armazenada
no disco rígido da máquina física em forma de diversos arquivos em uma pasta, e com isso, práticas
de backups e mudanças destas máquinas virtuais de um servidor físico para outro se tornam mais
fáceis de serem realizados.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
A contribuição da virtualização e a consolidação de servidores para redução de TCO
31
1.3. Virtualização e redução do TCO
De acordo com Silva (2010), a virtualização vem se afirmando como uma grande ferramenta para as
empresas quanto à redução de custos, pois além de proporcionar consolidação, permite que o número
de servidores físicos, os recursos computacionais, os custos operacionais, o consumo de energia, o
espaço físico e consequentemente o custo total de propriedade sejam reduzidos.
O TCO ou Custo Total de Propriedade é um conceito que avalia os elementos que causam impactos
ou geram custos nas organizações, ou seja, é um cálculo realizado para analisar o quanto determinado
equipamento ou solução gera custos à propriedade.
Segundo Mitsutani (2006) o TCO vem cada vez mais sendo utilizado em processos de seleção e
escolha, seja de um determinado produto, serviço ou tecnologia. Desse modo, no momento de tomar
decisões e escolher um novo produto ou tecnologia para a empresa, as organizações estão pensando
no quanto esse produto ou tecnologia pode proporcionar redução de custos para a organização. Unama
(2013) reafirma este conceito dizendo que o TCO é considerado método de gestão e se mostra como
instrumento útil para a tomada de decisões, isso porque através dele é possível fazer uma análise
comparativa entre tecnologias e avaliar como elas se comportarão ao longo do tempo, para que assim,
depois de uma análise, as empresas decidam por adotar a que melhor lhe traga benefícios a longo
prazo.
Segundo Veras (2011) a simplificação da infraestrutura de TI é um dos principais fatores que influenciam
para redução de TCO. Quanto mais uma organização depende da infraestrutura, mais ela deve tomar
esforços para, tornar sua infraestrutura simples, gerenciável e consequentemente reduzir o TCO. É
ai que a virtualização e a consolidação de servidores entram em ação, afinal, além de permitirem
tanto o gerenciamento quanto a simplificação desejados, direta e indiretamente proporcionam às
organizações que as adotam diversas economias.
De acordo com Pinheiro (2005), a redução de TCO deve ser uma prioridade e de caráter contínuo
dentro das empresas. Quando bem estruturado, o TCO pode possibilitar uma redução de custos de até
40%, entre outros benefícios, especialmente para pequenas e médias empresas.
2. MOTIVOS PARA A UTILIZAÇÃO DA VIRTUALIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE
SERVIDORES NAS EMPRESAS
Reduzir os custos e otimizar os recursos são metas a serem atingidas pela grande maioria das
organizações, que buscam a todo momento novas tecnologias para aliar agilidade à economia. Com a
virtualização, atingir essas metas passa a se tornar uma realidade (BIGNES, 2007).
Para Wanders (2011, p. 31) “a virtualização provê técnicas que ajudam nas estratégias verdes, o que
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
32
Dian, M. de O. & Pereira, M. A. A.
a torna a principal tecnologia para redução de custos em data centers”.
De acordo com dados da VMware, a virtualização combinada à consolidação de servidores pode
reduzir os custos com hardware em até 53% e em até 79% os custos operacionais, totalizando uma
economia média de até 64% para a empresa que adota a solução (MKNOD, 2013).
Techbiz (2013) confirma essas economias dizendo que a média de aproveitamento dos servidores
é de 15% a 20% sem virtualização e, com a virtualização, é possível consolidar dez ou mais
máquinas virtuais por processador e a empresa que a adota estará sempre preparada para receber
novas aplicações. Além disso, reforça que seu uso proporciona diminuição de até 40% do
consumo de energia, diminuição em uma faixa de 50% a 70% dos custos totais de TI, diminuição
de custos com mão de obra e ainda transforma os data centers em ambientes simples e com
serviços flexíveis.
Wanders (2011) diz que a Vmware disponibiliza na web por meio do site “http://roitco.vmware.com/
vmw/” uma ferramenta para análise e cálculo do TCO e do ROI4, que permite aos administradores
de rede ou aos gerentes de TI das empresas terem dados concretos dos ganhos sobre TCO e ROI
proporcionados pela virtualização.
Essa ferramenta permite a escolha de parâmetros de acordo com a necessidade de quem a utiliza,
como escolher o tipo de virtualização, a região, a cidade e a moeda desejada, além das principais
informações como quantidade de processador por servidor, número de núcleos de cada processador, a
quantia de estações de trabalho e servidores, entre outras informações, necessárias para o cálculo dos
ganhos sobre Custo Total de Propriedade e Retorno sobre Investimento.
Talvez o maior dos benefícios alcançados que reflita na redução de TCO é a economia de energia elétrica
alcançada pela consolidação do parque de máquinas em apenas algumas unidades com potencial de
virtualização. Aplicações pouco utilizadas ou servidores que, mesmo estando sob ociosidade gastam
energia elétrica, são os principais alvos da virtualização.
Segundo Gandolpho (2008 apud Wanders, 2011), a eliminação de um servidor pode significar a
diminuição de 200 a 400 quilowatts, dependendo da tecnologia de virtualização adotada.
A questão da refrigeração do ambiente das máquinas também é um ponto chave. Máquinas com altas
capacidades de processamento exigem boa refrigeração. “A infraestrutura de energia e refrigeração
que suporta os equipamentos de TI são responsáveis por 50% do consumo total de energia dos data
centers enquanto os outros 50% são para as cargas da própria tecnologia da informação” (LAMB,
2009 apud WANDERS, 2011, p. 33).
Desse modo, a virtualização também se encaixa junto aos conceitos da TI verde, uma vez que reduz o
4
ROI: Return on Investment
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
A contribuição da virtualização e a consolidação de servidores para redução de TCO
33
consumo de energia e de emissão de CO2 no ambiente e, diante disso, muitos dos CIOs5 das empresas
vem trabalhando com “data centers verdes” tanto por questões de sustentabilidade, quanto para o
crescimento dos negócios e melhoria da imagem da empresa frente a sociedade diante de aspectos
ecologicamente corretos (WANDERS, 2011).
A virtualização permite também a redução do espaço físico, afinal, com ela, os serviços e aplicações
estão distribuídos em um menor número de máquinas físicas (SOUZA; PEREIRA, 2013).
Havendo menos máquinas físicas, nas quais residem várias máquinas virtuais, a aquisição de mais
máquinas físicas para hospedagem de novas aplicações não se faz mais necessário, uma vez que basta
criar mais uma nova máquina virtual para um novo serviço. Mansur (2009 apud Wanders, 2011)
afirma que em alguns casos a consolidação pode proporcionar a redução de vinte servidores físicos
para apenas um, o que acarreta em uma redução do espaço físico antes ocupado e que agora pode ser
utilizado.
Outros aspectos igualmente importantes à economia de energia e espaço ocupado são o gerenciamento
e a segurança alcançados, uma vez que o ambiente das máquinas se encontra mais organizado e
otimizado.
Quando não há a presença de virtualização e consolidação de servidores, o pesado crescimento da
infraestrutura física e do número de máquinas faz com que os custos operacionais aumentem muito.
A partir daí, a diminuição do número de máquinas físicas proporcionada pela virtualização dos
servidores diminui consequentemente os gastos com aquisição de mais equipamentos e manutenções
da infraestrutura e, devido a esse número menor de servidores físicos, há também menos desgaste de
peças (POLLON, 2008).
Segundo Carapeços (2011), com o uso de virtualização, é possível ter um maior controle sobre a
infraestrutura e gerenciar de maneira flexível os recursos. Desse modo, estando as máquinas melhor
organizadas e sendo facilmente mantidas e gerenciadas, há portanto, menor carga de trabalho e menos
gastos com infraestrutura.
De acordo com Souza e Pereira (2013) possuir e gerenciar diferentes tipos de ambientes físicos, seja
para realização de testes, desenvolvimento ou produção, demanda uma boa parcela de dinheiro, mas,
com a virtualização, esses ambientes podem existir isoladamente e em poucos servidores físicos. Com
a virtualização o gerenciamento das máquinas virtuais fica mais centralizado, podendo ser criadas
novas delas a qualquer momento em um servidor suportando a virtualização, o que reduz os custos
operacionais e promove simplificação do ambiente.
Para Carapeços (2011), a virtualização neste caso faz com que os principais serviços de TI como
efetuar expansão dos servidores e processos de manutenção como realização de upgrades, realização
5
CIO: Chief Information Officer
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
34
Dian, M. de O. & Pereira, M. A. A.
de backups, clonagens de servidores e atualização de drivers, que demoravam um bom tempo para
serem concluídos, se tornam mais rápidos e fáceis de serem efetuados.
Pollon (2008) afirma ainda que as empresas vêm se preocupando cada vez mais com políticas de
segurança e disciplinas para tratamento de riscos relacionados à desastres. Uma vez que o tempo de
indisponibilidade dos servidores e aplicações críticas pode ser crucial tanto para a empresa quanto
para seus clientes, com a virtualização essas medidas de recuperação de desastres podem ser postas
em prática mais facilmente para restaurar o ambiente em um menor tempo possível e causar menos
prejuízos, já que as VMs são simples arquivos e as pastas contendo estes arquivos podem ser copiadas
e guardadas para contingência.
Souza e Pereira (2013) reforçam isso dizendo que a adoção de técnicas de replicação de storage para
dar suporte a medidas de recuperação de desastres realmente se torna algo mais fácil de desempenhar
com a virtualização.
CONCLUSÃO
As técnicas de virtualização vêm se destacando no mercado de anos para cá. Cada vez mais as
empresas estão buscando na virtualização meios que proporcionem maior facilidade, simplicidade e
agilidade para lidar com o gerenciamento de seus servidores e reduzir custos.
Nos dias de hoje pode-se observar que a virtualização se tornou realidade em vários setores
empresariais devido aos inúmeros benefícios que a mesma proporciona às organizações. Um melhor
aproveitamento da infraestrutura, o uso de menos equipamento físicos e consequentemente menos
gastos com manutenções e aquisição, um gerenciamento centralizado e melhorado e a possibilidade
de se trabalhar com diversas plataformas estão entre os benefícios obtidos.
A virtualização e a consolidação de servidores permite às empresas uma redução considerável do
TCO, uma vez que estas técnicas de virtualização acabam se mostrando como meios de se reduzir
diversos tipos de custos, sobretudo a redução de energia elétrica e a quantidade de equipamentos
físicos utilizados.
Desse modo, são inúmeros os benefícios gerados com a utilização da virtualização e consolidação
de servidores em departamentos de TI e tais benefícios permitem que as empresas que adotam estas
técnicas tornem-se mais maduras a ponto de conseguirem produzir mais utilizando-se de menos
recursos e menos mão de obra para manutenção, o que se traduz em grandes ganhos para as empresas
e redução de TCO.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 27-35, 2013
A contribuição da virtualização e a consolidação de servidores para redução de TCO
35
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Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
UM ESTUDO SOBRE A BIOMETRIA
A STUDY ON BIOMETRICS
Fábio José Colombo1
Brazelino Bertolete Neto2
Luciano de Jesus Rodrigues de Barros3
Resumo
Este artigo tem por finalidade apresentar o conceito de biometria. Como é possível distinguir um
indivíduo do outro através das suas características físicas é um conceito que existe desde os primórdios.
O termo biometria está cada dia mais próximo do cotidiano dos usuários de informática. A biometria
vem justamente aproveitar as características únicas das pessoas para garantir segurança e velocidade
em muitas atividades diárias.
Palavras-chave: Senha. Segurança. Autenticação. Confiabilidade. Fiscalização.
Abstract
This paper aims to present the concept of biometrics and how it is possible to distinguish one individual
from another by their physical characteristics. This is a concept that has existed since the early days.
The term biometrics is getting closer to the daily lives of computer users. Biometrics comes precisely
take the unique characteristics of the people to ensure safety and speed in many daily activities.
keywords: Password. Security. Authentication. Reliability. Supervision.
1
2
3
Professor do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, Pós Graduado em Análise de Segurança Digital. Endereço:
Rua José Mendes F. Júnior, 63 Parque Residencial Laranjeiras Taquaritinga-SP. E-mail: [email protected]
Professor do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, Pós Graduado em Análise de Segurança Digital. Endereço:
Rua General Osório, 517 Centro Taquaritinga-SP. E-mail: [email protected]
Professor do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, Pós Graduado em Gestão em Sistemas de Informação.
Endereço: Rua Dr. Alderico Previdelli, nº 188 - Jardim Bela Vista Taquaritinga-SP. E-mail: [email protected]
38
Colombo, F. J., et al.
Introdução
Concordando com Alecrim (2005), a informática, ao longo dos anos, vem adquirindo mais relevância
na vida das pessoas e empresas, sua utilização traz um grande ferramental para o desempenho
das ações das organizações. A biometria traz facilidade, rapidez e confiabilidade nos processos de
identificação de pessoas nos vários segmentos informatizados da sociedade.
A identificação de pessoas não pode ser comprovadamente verídica apenas com papéis facilmente
falsificáveis. A constante evolução ajuda na busca de métodos automatizados para reconhecer pessoas
com base em características fisiológicas, sendo chamada de biometria.
A identidade (id do latim isto, este; entidade de ente, ser, o que existe) biométrica é a forma mais
precisa para se provar quem somos, trata-se de um estudo estatístico das qualidades comportamentais
e físicas do ser humano. Segundo o dicionário Michaelis, biometria é a ciência da aplicação de
métodos de estatística quantitativa a fatos biológicos.
Biometria, derivado do grego, bio (vida) e metric (medir), faz referência a um sistema automatizado
que pode identificar uma pessoa mediante características físicas e/ou comportamentais, comparandoas com aquelas que estão registradas.
Sistemas biométricos verdadeiros começaram a surgir na última metade do século XX, coincidindo
com o surgimento de sistemas de computador.
Entre os recursos medidos estão eles: face, impressões digitais, geometria da mão, assinatura, retina,
íris, voz e outras características que poderão ser mensuradas com a evolução da tecnologia.
Funcionamento Básico do Sistema Biométrico
De acordo com Costa (2001), como método alternativo ao uso das senhas, surge a utilização de cartões
magnéticos que são facilmente fraudáveis e o problema de usuários mal intencionados conseguirem
roubar esses artefatos e se passarem por outro se mantém.
Na Ilustração 1, temos um quadro que resume os três tipos básicos de autenticação:
Tipo de Solução
Resumo
Soluções de Autenticação Baseadas no Conhecimento O que se sabe
Soluções de Autenticação Baseadas na Propriedade
O que se tem
Soluções de Autenticação Baseadas em Características O que se é
Ilustração 1. Resumo dos tipos básicos de autenticação
Fonte: Elaboração Própria
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 37-44, 2013
Exemplo
Senhas
Tokens, cartões, chips
Biometria
Um estudo sobre a biometria
39
Concordando com Costa (2001), os diversos métodos biométricos tem um processo de funcionamento
similar, dividido em quatro etapas: captura, extração, comparação e combinação/não-combinação.
A captura consiste no armazenamento de uma característica biológica do indivíduo, física ou
comportamental (coleta da impressão digital, da imagem da íris ou da face, gravação da voz, entre
outras), extraindo atributos únicos que são então convertidos pelo sistema biométrico em um código
matemático que então é armazenado como um template biométrico do indivíduo.
Uma vez que o usuário está registrado e necessita ser autenticado, sua característica física é capturada
pelo sensor e a informação analógica do sensor é então convertida para sua representação digital
template. A seguir, esta representação digital é comparada com o modelo biométrico armazenado.
Tipicamente o template não confere exatamente com o modelo armazenado, como geralmente há
alguma variação na medida, estes sistemas não podem exigir uma comparação exata entre o modelo
original armazenado e a amostra corrente. Ao invés disso, a amostra corrente é considerada válida
se estiver dentro de certo intervalo estatístico de valores. Um algoritmo de comparação é usado para
determinar se um usuário verificado é o mesmo que foi registrado.
O algoritmo produz um resultado e demonstra o quanto a amostra se parece com o modelo original.
Se o resultado for aceitável, uma resposta afirmativa é dada. É possível configurar o nível do valor
de aceitação. Se este nível for baixo o dispositivo biométrico pode falhar e autorizar uma amostra
inválida. Se este nível for muito alto, os usuários podem ter problemas na autenticação.
Características Gerais dos Sistemas Biométricos
Segundo Mounina (1999), para que as características do ser humano possam ser usadas como forma
de reconhecimento digital, devem possuir os seguintes requisitos:
•
•
•
•
Universalidade: deve existir em todas as pessoas;
Singularidade: deve ser distinta em cada pessoa;
Permanência: não pode variar com o tempo;
Mensurabilidade: pode ser medida.
Na teoria todos os quesitos citados acima bastam, mas na prática, para que o sistema seja adotado
funcionalmente, devem ser observados outros pontos importantes:
• Desempenho: os fatores ambientais que afetam a precisão da identificação;
• Aceitabilidade: refere-se a aceitação do sistema pelos usuários;
• Proteção: técnicas de segurança.
Além dos equipamentos, o sistema biométrico possui um software de operação, que inclui o algoritmo
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 37-44, 2013
40
Colombo, F. J., et al.
matemático que irá checar a amostra coletada, contra um modelo (template) previamente cadastrado.
A Ilustração 2 demonstra o relacionamento dos sistemas biométricos e as suas características gerais.
Sistema
Universalidade
Singularidade
Permanência
Mensurabilidade
Desempenho
Aceitabilidade
Proteção
Face
Alto
Baixo
Médio
Alto
Baixo
Alto
Baixo
Impressão
Digital
Médio
Alto
Alto
Médio
Alto
Médio
Alto
Geometria da
Mão
Médio
Médio
Médio
Alto
Médio
Médio
Médio
Veias da Mão
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Alto
Íris
Alto
Alto
Alto
Médio
Alto
Baixo
Alto
Retina
Alto
Alto
Médio
Baixo
Alto
Baixo
Alto
Assinatura
Baixo
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Alto
Baixo
Voz
Médio
Baixo
Baixo
Médio
Baixo
Alto
Baixo
Ilustração 2. Relacionamento dos sistemas biométricos e as suas características gerais
Fonte: http://penta.ufrgs.br/pesquisa/fiorese/autenticacaoeadcap2.htm (2005)
Formas de Identificação Biométricas
Para Costa (2001), a identificação de uma pessoa nos mais variados sistemas biométricos pode ser
feita utilizando-se os métodos de verificação ou identificação, diferenciando-se entre sí apenas na
forma de busca. A Ilustração 3 mostra de forma gráfica como funcionam estas etapas.
Ilustração 3. Etapas da Verificação e da Autenticação
Fonte: Institute Biometric Group, 2006
Concordando com Costa (2001), a verificação (ou autenticação), que pode ser entendida como
comparação 1 para 1. Este método funciona quando o indivíduo fornece ao software biométrico
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 37-44, 2013
Um estudo sobre a biometria
41
sua característica biométrica e um elemento de identificação que pode ser um código ou um cartão
identificador, então o software biométrico transforma a característica em template e busca um registro
no banco de dados através do código identificador. E, por último, faz a comparação com um único
elemento do banco de dados, tornando assim o processo de identificação muito rápido.
Já no método identificação conhecido como comparação 1 para N, é fornecida somente a característica
biométrica do usuário ao sistema biométrico que faz a transformação em template e em seguida
posiciona-se no primeiro elemento do banco de dados e começa a fazer a comparação do template
fornecido com cada um dos elementos do banco. Somente quando a busca tem sucesso o sistema
fornece como verdadeira a identificação. Este método é bastante utilizado em sistemas de identificação
de usuários de locadoras, academias e identificação de criminosos. Porém, este método é bastante
demorado, dependendo da quantidade de elementos para a comparação.
Processo de Comparação em biometria
Concordando com Vigliazzi (2006), independente do método, identificação ou verificação, a formula
para se dizer se uma amostra da característica biométrica fornecida e comparada à outra armazenada
no banco de dados se dá pelo score mínio de comparação, ou seja, quando comparadas as amostras,
existe um valor de configuração padrão mínimo para determinar o quanto elas são parecidas. Se
o score for abaixo do valor determinado a comparação resulta como falsa e se for maior ou igual
verdadeira.
Este score deve ser configurável nos sistemas biométricos, pois fatores externos como cansaço,
posição e stress, dependendo do tipo de característica, podem influenciar na extração da amostra a
ser comparada. Sendo assim o software do sistema biométrico deve determinar o quanto a amostra se
parece com a armazenada e só assim com o auxílio do score determinar se a comparação é verdadeira
ou falsa.
Análises Estatísticas em biometria
De acordo com o Biometric Institute Group (2006), um aspecto importante que deve ser considerado
na escolha de um sistema biométrico é a taxa de erros. Ela é organizada em:
• Taxa de falsa aceitação (FAR – False Acceptance Rate): essa taxa considera a fração de usuários
não-autorizados que foram incorretamente identificados como autorizados.
• Taxa de falsa rejeição (FRR – False Rejection Rate): representa a percentagem de usuários que
deveriam ser autorizados, mas que são incorretamente rejeitados.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 37-44, 2013
42
Colombo, F. J., et al.
Ilustração 4. Possibilidades na Identificação
Fonte: Biometric Institute Group, 2006
Concordando com o Biometric Institute Group (2006), é possível configurar taxas de falsa aceitação,
como também taxas de falsa rejeição para se chegar a um nível de precisão que se considere apropriado
a solução biométrica. Porém cada tecnologia, isso inclui hardware e software, ou seja, se você precisa
de uma taxa de falso-positivo de 0,40% e uma taxa de falso-negativo de 8,20%, é preciso achar uma
solução que trabalhe com essas taxas. Podendo ser facilmente configurado utilizando-se do padrão
mínio chamado score visto anteriormente.
Tipos de Sistemas Biométricos
Segundo Vigliazzi (2006), atualmente existem vários tipos de sistemas biométricos e a cada dia que
passa por causa do avanço da tecnologia novos tipos são criados e vão tornando-se presentes no diaa-dia dos indivíduos ao redor do mundo.
Figura 3. Características biométricas
Fonte - REVISTA GALILEU. (2004).
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 37-44, 2013
Um estudo sobre a biometria
43
Dentre os sistemas mais conhecidos estão: Impressão digital, Reconhecimento Facial, Identificação
da Retina, Identificação da Íris, Reconhecimento da Voz, Geometria da Mão, Veias da Palma da
Mão e Reconhecimento da Assinatura. A Ilustração 5 demostra a porcentagem de utilização das
tecnologias biométricas em 2006. Porém com o avanço da tecnologia, novas tecnologias biométricas
estão surgindo: Odor, Arquitetura da orelha, Comparação de DNA, Ondas cerebrais, Brilho da Pela,
Caminhada, Padrão Vascular, Dinâmica da Digitação, Matriz da Unha e muitos outros que estão
por vir.
Ilustração 5. Tecnologias Utilizadas no Mercado
Fonte: Institute Biometric Group, 2006
Conclusão
Atualmente, vivendo na sociedade da segurança da informação, a biometria traz a possibilidade de
identificar as pessoas e, com isso, permitir acesso a informações e locais específicos.
As formas tradicionais de identificação são as senhas, cartões magnéticos ou documentação, porém
o ser humano possui características corporais únicas, perfeitas para sua identificação. A biometria
está crescendo e ganhando mercado a cada dia, num mundo de informações digitais onde todos estão
conectados na rede, trazendo muitas vantagens diante da forma tradicional, não mais sendo necessário
ter que recordar senhas ou transportar chaves e crachás, permitindo assim um extraordinário controle
e confiança nas informações.
Referências
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SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO APLICADOS NO
PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO
ENTERPRISE RESOURCE PLANNING APPLIED IN THE
MANUFACTURING PLANNING AND CONTROL
José Eduardo Freire1
Ruchele Marchiori Coan2
Guilherme Augusto Malagolli3
Fernando Cunha4
RESUMO
O atual ambiente, caracterizado pelo seu dinamismo, constantes mudanças e extrema competitividade,
leva as organizações a reverem suas estratégias de gerenciamento da produção. Este cenário força
as organizações conhecerem seu ambiente empresarial, para adequarem à estratégias e estruturas
necessárias, capazes de agregar valor e contribuir com a competitividade. Diante desta necessidade,
os Sistemas Integrado de Gestão (ERP) contribuem na otimização dos processos, maximizando os
resultados. Neste contexto, o objetivo deste artigo é identificar e descrever os fatores relacionados
ao Planejamento e Controle da Produção, entre eles, será dado ênfase nos Sistemas Integrado de
Gestão, que através do avanço da tecnologia, vem se tornando uma das principais ferramentas no
auxílio às atividades do Planejamento e Controle da Produção. Quanto à metodologia, foi utilizado
um estudo de caso e uma pesquisa bibliográfica, caracterizando-se também como uma pesquisa
descritiva, exploratória e de natureza qualitativa. Destacando-se que a implementação do Sistema
Integrado de Gestão contribuiu para a Programação e o Acompanhamento da Produção em tempo
real, padronizando suas atividades, definindo procedimentos, eliminando as tarefas repetitivas e as
redundâncias.
PALAVRAS-CHAVE: Sistemas de Informação. Planejamento e Controle da Produção. Gestão
Produção.
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Freire, J. E. et al.
ABSTRACT
The current environment, characterized by dynamic, constant changes and extremely competitiveness,
leads organizations to review their strategies for production management. This setting background
forces organizations to know their business environment to suit the necessary strategies and structures
which aggregate value and contribute to competitiveness. Based on this need, the Enterprise
Resource Planning contribute to the optimization of processes, maximizing results. In this context,
the purpose of this article is to identify and describe the factors related to Manufacturing Planning
And Control, among these emphasis will be given on Enterprise Resource Planning, which through
the advance of technology, has become one of the main tools in the support of the Manufacturing
Planning And Control activities. Regarding the methodology, a case study and a literature search
were used, characterized also as a descriptive, exploratory and qualitative research. It’s valid to
highlight that the implementation of the Enterprise Resource Planning has contributed substantially
to the Scheduling and Supervising of the Manufacturing in real time, by standardizing its activities,
defining procedures, eliminating repeated tasks as well as redundancies.
INFORMATION SYSTEM: Manufacturing Planning and Control. Enterprise Resource Planning.
Production Management.
INTRODUÇÃO
A pressão competitiva, presente no mercado globalizado, e o surgimento de novas tecnologias, vêm
obrigando as organizações a buscarem posições competitivas sustentáveis, tendo que, responder à
demanda de mercado com qualidade, rapidez e confiabilidade a um custo competitivo. (CORRÊA E
GIANESI, 1993 apud ANDRADE, 2007). Segundo Corrêa e Gianesi op. cit., as mudanças ocorridas
no mercado competitivo industrial levaram a uma crescente valorização do papel da manufatura
para que os objetivos estratégicos das organizações sejam alcançados. Estas mudanças foram
necessárias para atender a crescente pressão por competitividade, gerada com a queda de importantes
barreiras alfandegárias protecionistas e o surgimento de novos concorrentes, desenvolvimento de
novas tecnologias de processo e de gestão, trazendo consigo um potencial competitivo e um melhor
entendimento do papel estratégico da produção. Segundo Vollaman et al. (2006) apud Esteves (2007),
“para ser uma competidora no mercado atual, as empresas precisam de sistemas de produção que
tenham a habilidade de determinar, transmitir, revisar e coordenar necessidades através de um sistema
global da cadeia de suprimentos”. Neste sentido, as empresas estão investindo em tecnologias de
ponta, e paralelamente procurando colaboradores polivalentes. Estes, por sua vez, assumirão a
responsabilidade de transformar todos os recursos disponíveis em bens/serviços e ainda, conseguir
a satisfação de todas as necessidades de seus clientes, buscando sempre a melhoria contínua,
diminuindo custo, aumentando sua produtividade, eficácia e lucratividade. Mas para que isso ocorra,
o Planejamento e Controle da Produção (PCP), precisa estar integrado com todas as áreas da empresa,
através de sistemas de gestão integrados, para que possa dar apoio ao sistema produtivo, onde
receberão informações de vendas e marketing, finanças, contabilidade, manufatura, recursos humanos
entre outros, para elaborar o Planejamento Estratégico da Produção e em seguida o Planejamentomestre da Produção que passará a programar a produção, administrando os estoques, definindo o
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Sistemas integrados de gestão aplicados no planejamento e controle da produção
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sequenciamento e a emissão e liberação das ordens, iniciando a produção, garantindo que os prazos
de entregas serão honrados, conforme acordado com o cliente. Neste contexto, o objetivo deste artigo
é identificar e descrever os fatores que influenciam no Planejamento e Controle da Produção (P.C.P.),
dando ênfase nos Sistemas Integrados de Gestão (ERP), que através do avanço da tecnologia, vem
se tornando uma das principais ferramentas no auxílio às atividades do P.C.P. Quanto à metodologia,
foi utilizado um estudo de caso e uma pesquisa bibliográfica, que busca identificar características
relevantes para o tema pesquisado. Vale ressaltar, que o nome da empresa não foi divulgado por
solicitação da empresa estudada. Essa pesquisa caracteriza-se como descritiva, exploratória e de
natureza qualitativa. Foi realizada usando o método de estudo de caso único, onde os instrumentos
de coleta de dados considerados na pesquisa foram a entrevista não estruturada com especialistas e
usuários, a observação direta e a pesquisa documental na empresa.
1. Planejamento estratégico da produção
Oliveira (1993) apud Terence (2002) e Scramim e Batalha (1997) apud Terence (2002), citam que a
administração estratégica é administração do futuro, estabelecendo a direção da empresa, tornando-a
flexível, para interagir com os fatores ambientais, aumentando a eficácia das estratégias adotadas,
definindo os planos de ações, para que os objetivos sejam alcançados de acordo com o planejado.
Corrêa et al (2010) e Tubino (2009) afirmam que planejar é um processo contínuo, em cada momento,
precisa ter a noção da situação presente, a visão do futuro, os objetivos pretendidos e o entendimento
de como esses elementos afetam as decisões. Tubino (2009) define que a missão/visão corporativa,
é dividida em três níveis hierárquicos dentro de uma empresa, onde no nível corporativo, a decisão
é quanto à área de negócio que a empresa atuará, organizando e distribuindo recursos para cada
uma destas áreas no longo prazo, com decisões centralizadoras. O nível da unidade de negócio,
também chamada de estratégica competitiva, atuará na definição do mercado e quanto aos resultados
esperados. Já os níveis da estratégia funcional, estarão relacionados às políticas de operações das
diversas áreas funcionais da empresa, consolidando as estratégias corporativas e competitivas. O
Planejamento e Controle da Produção (P.C.P) atua dentro dos três níveis de decisões (estratégico,
tático e operacional), sendo que no nível estratégico, faz a formulação de um Plano de Produção,
consistente com o Plano Financeiro e o de Marketing, já no nível tático, é desmembrado o Plano de
Produção em um Plano-mestre de Produção, detalhando os bens e serviços que serão executados, e
no nível operacional, programa e controla cada etapa do plano-mestre. O sistema de P.C.P. informa
corretamente, a situação corrente dos recursos, disponibilizando informações atualizadas a todos
os envolvidos, para oferecer aos clientes, uma ampla variedade de bens/serviços. (MARTINS E
LAUGENI, 2005)
1.1. O fluxo de informações e o Planejamento e Controle da Produção (PCP)
Tubino (2009) e Corrêa et al (2010) mencionam que o P.C.P. é um departamento de apoio e é
responsável pela coordenação e aplicação dos recursos produtivos de forma a atender aos planos
estabelecidos nos níveis estratégicos, tático e operacional, contribuindo com o levantamento da
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Freire, J. E. et al.
situação presente, com o desenvolvimento e reconhecimento da “visão” de futuro, transformando
os dados coletados sobre o presente e o futuro em informações, disponibilizando de uma forma útil
para tomada de decisão e a execução do plano. Segundo Tubino op. cit., a previsão da demanda é
a principal informação empregada pelo P.C.P. na elaboração de suas atividades, e afeta de forma
direta o desempenho esperado de suas funções de planejamento e controle do sistema produtivo. A
previsão da demanda é a base para o planejamento estratégico da produção, vendas, e finanças de
qualquer empresa, permitindo que os administradores destes sistemas projetem o futuro e planejem
adequadamente suas ações. Além das informações recebidas pelo Marketing, o P.C.P. administra
informações vindas de diversas áreas do sistema produtivo como a engenharia do produto, a engenharia
processo, a manutenção, compra/suprimentos, recursos humanos e finanças. Moreira (2004) apud
Ferreira (2012); Slack et al (2009) apud Ferreira (2012); Tubino (2009) descrevem que, a natureza
geral de qualquer processo, é influenciado fortemente pelo volume e variedade processado, afetando
o projeto geral do processo. O grau de complexidade de cada atividade desenvolvida pelo P.C.P.
dependerá do tipo de sistema produtivo e sua classificação é de grande utilidade na classificação das
técnicas de planejamento e gestão da produção, sendo dividida em vários sistemas produtivos, como
a produção contínua, em massa, produção por lotes ou por encomenda, e a produção de grandes
projetos sem repetição.
1.2. Planejamento-Mestre da Produção
Corrêa et al (2010) e Moreira (2011) afirmam que, o Planejamento-Mestre da Produção coordena a
demanda do mercado com os recursos internos da empresa, e é elaborado baseando-se na previsão
da demanda com a produção, definindo quais e quantos itens serão produzido para um determinado
período, com quais recursos, quanto se deixará em estoque, definindo os recursos necessários. Tubino
(2009) esclarece que, o planejamento-mestre da produção é responsável em desmembrar os planos
produtivos estratégicos de longo prazo em planos específicos acabados para médio prazo, direcionando
as etapas de programação e execução das atividades operacionais da empresa, assumindo compromissos
de produzir e entregar dentro do prazo. O planejamento-mestre da produção faz uma conexão entre o
planejamento estratégico (Plano de Produção) e as atividades operacionais da produção, traduzindo a
linguagem de Marketing para a linguagem da produção, montado um plano, chamado plano-mestre de
produção (P.M.P.), que formalizará as decisões tomadas quanto às necessidades de produtos para cada
período analisado, exercendo duas funções básicas dentro da lógica de P.C.P. A primeira se refere a
análise e validação da capacidade de médio prazo do sistema produtivo em atender à demanda futura,
que desmembra a estratégia de produção em táticas de uso para sistema produtivo montado entre
longo e médio prazo. A segunda função básica programa a tática escolhida, para o próximo período,
identificando as quantidades de produtos que deverão ser produzidos de forma a iniciar o processo de
programação da produção entre, médio e em curto prazo.
1.3. Fatores que influenciam nas atividades do Planejamento e Controle da Produção
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Sistemas integrados de gestão aplicados no planejamento e controle da produção
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Jonsson e Mattsson (2003) apud Ferreira (2012); Moreira (2011); Fernandes e Godinho Filho (2010)
afirmam que, o P.C.P. pode ser influenciado por produto, demanda, processo industrial, mudança
de mercados, tecnologia/sistemas da informação, os governos e o meio ambiente. Moreira (2011) e
Corrêa et al (2010) descrevem que o P.C.P. é influenciado pela administração da produção, pois cabe a
ela, estabelecer os objetivos, suas prioridades, tempos e estruturas. Ao decidir aumentar ou diminuir a
taxa de produção, para atender a demanda atual ou futura, alguns fatores devem ser analisados, pois a
previsão da demanda não é uma ciência exata, depende muito da experiência do planejador, quanto mais
apurada for a técnica, menor será o erro de previsão da demanda, e é a principal informação empregada
pelo P.C.P. na elaboração de suas atividades. Moreira (2011) e Corrêa et al (2010) mencionam que,
a cadeia de suprimento através do fluxo de material e das informações está interligada com o P.C.P.
fazendo com que a empresa obtenha maiores lucros se conseguir reduzir os custos dos materiais.
Segundo os mesmos autores, a filosofia Just-In-Time é uma filosofia de manufatura, que aborda,
entende e conduz a atividade manufatureira de uma organização, sendo que, sua base é a eliminação
planejada e sistemática do desperdício, obtendo um melhoramento contínuo da produtividade, e acaba
influenciando não só o P.C.P., mas também, as áreas funcionais da organização, pois seu objetivo é
fornecer a quantidade certa de produtos, com nível certo de qualidade, com maior produtividade e o
menor custo possível. Corrêa et al (2010) destacam que, através das novas tecnologias surgiram os
Sistemas Integrados de Gestão (ERP), que não só influenciam nas atividades do P.C.P, mas também
em toda a empresa, sendo composto por módulos que atendam as necessidades de informação para
apoio à tomada de decisão, integrando todos os departamentos, a partir de uma base de dados única
e não redundante.
2. Sistemas de informação
Henderson e Venkatraman (1993) apud Laurindo et al (2002), esclarecem que para obter retorno dos
investimentos em tecnologia da informação (TI), é fundamental alinhar as estratégias de negócio à
de TI, obtidos em um processo dinâmico e contínuo ao longo do tempo, permitindo maior retorno em
termos de resultados do negócio. O papel da TI é a obtenção de vantagens competitivas ao longo da
cadeia de valor, a qual seria o conjunto das atividades tecnológica e economicamente distintas que a
empresa utiliza para realizar seus negócios. Laudon e Laudon (2010) destacam que, as empresas estão
investindo em tecnologia e em Sistemas de Informação com a intenção de atingir importantes objetivos
organizacionais, como a excelência operacional, desenvolvimento de novos produtos, novos serviços
e modelos de negócios, um relacionamento mais estreito com os clientes e fornecedores, tomada
de decisões mais rápidas e inteligentes e criar vantagem competitiva. Caiçara Jr. (2008) e Souza e
Saccol, (2009) descrevem que, a empresa deve seguir uma metodologia para seleção de sistemas
integrados de gestão E.R.P. Esta metodologia começa com uma seleção prévia de fornecedores e
produtos, passa por uma avaliação funcional e tecnológica e por fim um refinamento da análise,
com teste do sistema e avaliação dos detalhes comerciais. De acordo com Freire et al (2010), o
planejamento da aplicação de novas tecnologias, por ser cada vez mais um recurso estratégico, precisa
ser cuidadosamente elaborado, o que inclui a necessidade de planejamento estratégico de sistemas
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Freire, J. E. et al.
de informação. O planejamento tecnológico talvez seja hoje uma das atividades mais importantes
para a criação, sustentação e maximização da vantagem competitiva. Os sistemas de informações,
que podem ser definidos como sendo “uma combinação organizada de pessoas, hardware, software,
redes de comunicação, recursos de dados e políticas e procedimentos que armazenam, restauram,
transformar e disseminam informação em uma organização”, têm a função de aperfeiçoar os
serviços e operações da empresa, a fim de melhorar sua atuação no mercado, aumentar seus lucros
e consequentemente o valor da empresa no mercado em que atua. (O´BRIEN; MARAKAS, 2007).
Laudon e Laudon (2010) citam que, o sistema de informação pode ser definido, tecnicamente, como
um conjunto de componentes interrelacionados que coletam (ou recuperam), processam, armazenam
e distribuem informações destinadas a apoiar a tomada de decisões, a coordenação e o controle de
uma organização, auxiliando os gerentes e trabalhadores a analisar problemas, visualizar assuntos
complexos e criar produtos.
2.1. Aplicação do sistema de informação no Planejamento e Controle da Produção
De acordo com Baltzan e Phillips (2012) uma das principais atribuições de um sistema integrado de
gestão (ERP) é racionalizar o processo de planejamento de produção. Os módulos de gerenciamento
de produção e materiais contidos em um sistema integrado de gestão lidam com os diversos aspectos
do planejamento da produção e execução, como a previsão da demanda, a programação de produção,
a contabilidade dos custos de trabalho e a qualidade, como pode ser observado na figura 1 a seguir.
Figura 1. Principais módulos de um sistema E.R.P.
Fonte: Souza e Saccol (2009)
Os sistemas integrados de gestão armazenam, controlam e disseminam informações para todos os
processos operacionais, produtivos, administrativos e comerciais das organizações. Todos os processos
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Sistemas integrados de gestão aplicados no planejamento e controle da produção
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de negócios devem ser registrados, com o propósito de garantir que todas as informações extraídas
do sistema integrado de gestão possam refletir a realidade. A utilização desta ferramenta contribui
com a competitividade, seja pela redução de custos, melhoria do produto ou apoio nos processos de
tomada de decisão, agregando valor e diferenciando da concorrência. Estes sistemas permitem que
as empresas gerenciem, de forma mais eficiente, o fluxo de informações, materiais e de pagamentos
financeiros que existe entre toda a cadeia de valor maximizando sua eficácia e rentabilidade. Segundo
Baltzan e Phillips (2012), um dos maiores benefícios dos sistemas integrados de gestão para o P.C.P.
está na tomada de decisões operacionais, pois envolve muitas alternativas possíveis que podem ter
diferentes impactos no resultado da empresa, exercendo assim uma influência significativa nas metas
e objetivos da organização.
3. Estudo de caso: Metalúrgica X
3.1. Caracterização da Empresa
A Metalúrgica X atua no setor de agricultura de precisão, na cidade de Matão, interior do estado de
São Paulo, sendo esta uma das maiores e mais modernas fábricas da América Latina, que além de
atender ao mercado interno, exporta para mais de 50 países.
3.2. Fatores que influenciam no Planejamento e Controle da Produção e os Sistemas Integrados
de Gestão
O P.C.P. trabalha com dois sistemas, um é chamado UNIX, desenvolvido em Cobol, e o outro chamado
de Sistema Industrial, desenvolvido em Oracle. O Sistema Industrial atende aos seguintes processos
de negócios:
a) Engenharia do Produto: elabora no sistema a estrutura do produto e o controle dos desenhos;
b) Engenharia Industrial: elabora no sistema a sequencia de fabricação de acordo com a estrutura e o
desenho do produto;
c) Compras: recebem as informações da necessidade da carteira de produtos vendidos, onde estão
indicados os materiais a serem comprados;
O P.C.P. no Sistema Industrial gera a lista de materiais e ordens de compras, através da programação
da produção e informa o Departamento Comercial, via Sistema de Requisição de Compras, as
informações de quanto e quando comprar. Neste processo o estoque é fortemente influenciado. O
Sistema Unix atende aos seguintes processos de negócios:
a) O Departamento de Vendas digita no sistema a cotação de pedido e após ser confirmada pelo
cliente é solicitada a análise dos coordenadores de vendas e após esta analise, aprova o pedido,
disponibilizando o pedido via sistema para o Departamento Financeiro;
b) O Departamento Financeiro recebe o pedido aprovado pelo departamento comercial via sistema,
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Freire, J. E. et al.
faz uma análise de cada pedido, liberando o pedido para entrar em carteira para ser produzido;
c) O P.C.P. recebe os pedidos liberados pelo financeiro via sistema, através do relatório de entrada
de pedidos, e a partir desta etapa elabora o plano-mestre da produção, programação da produção,
emissão de ordens de fabricação e montagem e a liberação dos pedidos para expedição.
O P.C.P. sofre influência de variáveis como produto, demanda, processo, mudança de mercado,
tecnologia da informação, governos e meio ambiente. Quando influenciado por alguma destas
variáveis, o P.C.P. junto com os coordenadores e gerentes do Departamento Comercial analisam as
alterações e refaz o plano-mestre de produção, realinhando com as necessidades exigidas pelo cliente
ou até pelo próprio mercado.
3.3. Dificuldades nas atividades do Planejamento e Controle da Produção
O P.C.P. faz a programação da produção onde gera as ordens de fabricação, montagem e de compras.
Libera as ordens para a produção, mas o sistema não consegue rastrear item a item que compõem um
determinado produto. Outra dificuldade é quanto a rastreabilidade, ou seja, qual fase de fabricação
que o item se encontra, pois não há sistema de apontamento das ordens de produção, exigindo muito
da experiência do colaborador. O P.C.P. executa mensalmente, o trabalho de inventário de estoque de
produto acabado e em processo, distribuindo as fichas de inventário para cada centro de trabalho, onde
são preenchidas manualmente com o código, descrição e quantidade de peças que constam no centro
de trabalho, e as envia para o P.C.P. efetuar a entrada no sistema. Por não haver rastreabilidade das
ordens de produção e de pedidos de compras, os encarregados e os abastecedores de cada Centro de
Custo são obrigados a acompanhar o andamento da produção de cada item, pessoalmente, abastecendo
os postos de trabalho e as células de fabricação antes que os colaboradores terminem o lote atual
em execução. A eficiência de cada Centro de Trabalho é medida pela quantidade de produtos/peças
produzida dividida pela quantidade de horas disponíveis, pois o sistema não consegue detalhar a
eficiência por colaborador, por equipamento, e outro agravante é não conseguir controlar com exatidão
quantas peças estavam nos Centros de Trabalho do mês anterior e quantas peças foram produzidas
no mês, tratando a medição da eficiência de uma forma macro, medida pelos produtos liberados
dividindo pelo tempo. As metas de cada Centro de Trabalho são baseadas nos históricos, comparando
o programado com o que foi realizado, ou seja, por tentativa, exigindo muito conhecimento e a
experiência dos programadores.
3.4. Melhorias com a implantação do Sistema Integrado de Gestão (ERP)
O Sistema E.R.P. exige dos usuários, padrões e procedimentos, que registram todos os dados
pertencentes as suas atividades no sistema, entre elas: Treinamento - maior conscientização,
responsabilidade e disciplina sobre o impacto nos processos; Elaboração de um Plano-Mestre de
Produção consistente e viável; Controle das operações da manufatura, como identificar restrições
antecipadamente e reduzir custos; Auxilia na definição de prazo de entrega e o seu cumprimento;
Permite a elaboração de um programa de produção consistente, determinando a sequência em que o
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Sistemas integrados de gestão aplicados no planejamento e controle da produção
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trabalho será desenvolvido. Estas mudanças permitiram ao P.C.P. ter uma visão detalhada de todo o
processo, analisando o que foi planejado com o que está sendo executado, trazendo melhorias para
a Metalúrgica X. O sistema E.R.P. automatizou o processo, integrando as informações, eliminando
tarefas repetitivas e controles manuais, destacando neste caso:
a) Melhor controle dos estoques;
b) O sequenciamento da produção feito de acordo com parâmetros definidos;
c) Identificação das restrições de produção;
d) O inventário poder ser feito a qualquer momento, e em qualquer Centro de Trabalho, gerando
relatório com todas as informações necessárias.
Estas melhorias permitiram ao P.C.P. identificar as restrições que irão afetar ou que estão afetando
as suas atividades e tomar uma decisão eficaz, garantindo a satisfação dos clientes e que os recursos
sejam direcionados da melhor maneira possível, aumentando a receita da organização.
3.5. Análise do caso da Metalúrgica X
Com a implantação do sistema integrado de gestão, um dos objetivos alcançados foi o apoio nos
processo de tomada de decisão, pois o sistema ERP fornece informações rápidas, precisas, dando
condições aos gestores de identificar antecipadamente as restrições, gargalos e capacidade produtiva,
direcionando toda a organização. Vale ressaltar também, que o sistema implantado contribuiu com
uma maior qualidade na elaboração do Plano-Mestre de Produção e na Programação e o Controle
da Produção, pois houve uma total automação dos processos com a integração das informações,
eliminando tarefas repetitivas e controles manuais. O sistema proporcionou uma visão ampla de todos
os processos e atividades que estão sendo executadas, rastreando e acompanhando todos os itens
que compõem um determinado produto. Com o exposto, percebe-se que a decisão de implantar o
E.R.P influenciou significativamente, trazendo grandes benefícios, destacando o aumento da eficácia
do Plano-Mestre de Produção, melhoria na qualidade da produção, padronizando suas atividades e
definindo procedimentos, eliminando as tarefas repetitivas e as redundâncias.
Considerações Finais
Com o aumento da concorrência entre as empresas, os sistemas integrados de gestão exerce um papel
fundamental no apoio aos processos de negócios e na gestão estratégica da informação, que auxilia
na definição de estratégias e na tomada de decisão acertada. O gerenciamento da informação é um
instrumento importante para controlar e auxiliar no processo de Planejamento e Controle da Produção.
Informação e estratégia são aliadas, pois a informação é atualmente um ativo, de grande valor
agregado, para alcançar vantagens competitivas e melhorar a eficiência operacional. Na Metalúrgica
X, o sistema integrado de gestão tem influenciado diretamente nas atividades do P.C.P., auxiliando
na elaboração do Plano-Mestre de Produção e na Programação e o Controle da Produção, que tem
a responsabilidade de direcionar os recursos do processo produtivos para que sejam transformados
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Freire, J. E. et al.
em produtos, atendendo a demanda. Com a implantação do sistema integrado de gestão, permitiu aos
colaboradores da produção a programar e acompanhar a produção em tempo real, contribuindo na
tomada de decisões operacionais e consequentemente apoiar nas metas e objetivos da Metalúrgica X.
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Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 45-54, 2013
Aplicação de Conceitos da Gestão de Estoques
para Melhoria em Sistema ERP
Applying Inventory Control Concepts
to Improve the ERP System
José Henrique Garrido de Lima1
Ronaldo Ribeiro de Campos2
RESUMO
Nas últimas décadas observou-se grande evolução das tecnologias de informação. Inicialmente surgiram
os equipamentos de hardware e softwares simples, que possibilitavam gerar enormes relatórios de
difícil interpretação. Há menos tempo foram desenvolvidos os ERPs e seus módulos. Estes recursos
evoluíram, as empresas investem nestas ferramentas, mas ainda há espaço para estudos em relação a
sua utilização otimizada. Essa oportunidade motivou este trabalho que se ateve aperfeiçoamento da
utilização dos recursos do ERP disponíveis em uma agroindústria. O foco deste estudo está na gestão
de suprimentos de materiais auxiliares, ou seja, itens que não estão diretamente ligados à produção.
Utilizando-se de revisão bibliográfica, estudo de caso e análise quantitativa dos dados do sistema ERP,
foi possível aplicar conceitos da Curva ABC e visualizar os itens que necessitam de maior atenção
logística. Posteriormente, foi analisado o Tempo de Reposição (Lead Time de entrega) praticado
pelos fornecedores. Também foi calculado o estoque mínimo necessário para possíveis imprevistos
e o momento em que a requisição de compra deve ser emitida (Ponto de Pedido). Com a aplicação
desses conceito, constatou-se possibilidade de redução do Ponto de Pedido dos itens pertencentes à
Classe A composto por toners e cartuchos de impressoras bem como possibilidade de economia com
a substituição desses dois itens. Estes resultados poderiam ser utilizados pelos empresa na melhoria
das rotinas do ERP no que diz respeito à Gestão de Estoques.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão de estoques. Materiais não produtivos. Logística de suprimentos.
ERP. Sistemas de Informação.
1
2
Discente da FATEC – Taquaritinga. [email protected]
Docente da FATEC – Taquaritinga. [email protected]
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Lima, J. H. G. de & Campos, R. R. de
ABSTRACT
In recent decades the progress in information technologies was great. Especially in the organizational
environment, in the beginning, the hardware equipment and basic software made possible to generate
big reports but it was difficult to understand them. Those resources evolved. ERP system and its
modules were developed and companies have invested to get advantages from them, but still there is
room to study the optimal use of ERP. The existence of this opportunity is responsible for motivating
this study that was based on improving the use of ERP resources available in an agribusiness
company. Its focus is on the supply management of auxiliary materials which are items that are not
directly related to production. Using a literature review, case study and quantitative analysis of data
from the ERP system, it was applied the concept of ABC Analysis and identified the items that need
more logistics attention. After that, it was checked the Replenishment (Lead Time Delivery ) practiced
by providers. It was also calculated the minimum inventory necessary for possible contingencies
and when the purchase requisition should be issued (Reorder Point). Applying those concepts, it
was possible to reduce the Reorder Point of “A item” range which represents the group of auxiliary
materials compound by toners and printer cartridges. Furthermore, it was identified potential savings
by replacing those two items. These results could be used in that company to improve the ERP routines
for inventory management.
KEYWORDS: Inventory Management. Supply Chain. Logistic. ERP. Information System.
Introdução
Motivando-se pelo fato de que, conforme citado por Bandeira e Maçada (2008, p. 287) “[...] percebese a existência de gaps substanciais da experiência e conhecimento entre os profissionais de TI e os
responsáveis pelos processos logísticos” e que, de acordo com Feldens (2005) apud Bandeira e Maçada
(2008, p. 289) “o emprego da TI pode reduzir os custos de armazenamento e de movimentação da
cadeia de suprimentos pelo melhor planejamento destas atividades e pela diminuição de processos
administrativos com consequente redução de papéis, pessoal e estoque” , o presente trabalho
objetivou oferecer condições de aperfeiçoamento para algumas rotinas do ERP, particularmente no
que diz respeito ao suprimentos de toners e cartuchos de impressora, classificados como materiais
de escritório e que, segundo Martins e Alt (2006), caracterizam-se como materiais auxiliares, cuja
função não se relaciona diretamente com o processo produtivo.
A empresa do estudo de caso conta atualmente com um sistema de gestão de estoques centralizado
que auxilia no processo de distribuição de materiais para as demais filiais (fazendas) por meio da
operação de transferência de estoques controlados pelo sistema ERP. O setor de almoxarifado central
da empresa gerencia os itens estocáveis, podendo ser classificados como materiais produtivos e não
produtivos (materiais auxiliares).
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Aplicação de conceitos da gestão de estoques para melhoria em sistema ERP
57
O sistema ERP disponível na empresa é um dos mais utilizado no mundo. De origem alemã, foi
implantado no ano de 2006. Porém, nota-se que há pouca utilização dos dados e aplicações para o
planejamento da demanda, identificando-se assim, a ausência de aplicação dos recursos do sistema
ERP para mensurar o lead time (Tempo de Reposição) de materiais praticado pelos fornecedores,
sendo este um indicador necessário para definição do ponto de pedido de materiais e avaliação de
fornecedores.
Em função dessas constatações, elaborou-se o presente estudo, que inicialmente apresenta conceitos
sobre a administração de materiais e algumas ferramentas de gestão tais como, tempo de reposição,
estoque mínimo e ponto de pedido. Em seguida, apresenta-se a aplicação destas ferramentas em
contribuição e indicações da incorporação dos resultados às rotinas do sistema ERP.
1. Administração de materiais
De acordo com Cauduro e Zucatto (2011), no que compete às estratégias organizacionais, a
administração de materiais é de vital importância, pois envolve recursos que precisam ser fornecidos
de forma adequada para que estejam, no tempo certo e com a qualidade necessária, à disposição da
organização para transformação, quando se trata de indústrias. Para Gonçalves (2004) apud Cauduro
e Zucatto (2011, p. 75), administração de materiais é um conceito vital que pode proporcionar
redução de custos e o aperfeiçoamento do desempenho de uma organização de produção quando é
adequadamente entendida e executada.
Para Arnold (1999) apud Cauduro e Zucatto (2011, p. 75), “administração de materiais bem
estruturada permite uma obtenção de vantagens competitivas por meio da redução de custos, redução
dos investimentos em estoques, melhores condições de compras.”
2. Gestão de estoques
De acordo com Slack (1999) apud Cauduro e Zucatto ( 2011, p. 76), “os estoques são recursos ociosos
que possuem valor econômico, os quais representam um investimento destinado à incrementação das
atividades de produção e servem aos clientes.”
No entanto, o estoque representa parte do capital da empresa que está parado, que poderia ser investido
para outras finalidades que trariam maior retorno (CAUDURO; ZUCATTO, 2011).
3. Tempo de Reposição
De acordo com Dias (2006, p. 58), “Umas das informações básicas de que se necessita para calcular o
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estoque mínimo é o Tempo de Reposição, isto é, o tempo gasto desde a verificação de que o estoque
precisa ser reposto até a chegada efetiva do material.”
Ainda conforme Dias (2006), o Tempo de Reposição pode ser desbembrado em três partes:
a) Emissão do pedido – Tempo que leva desde a emissão do pedido de compra pela empresa até ele
chegar ao fornecedor;
b) Preparação do pedido – Tempo que leva o fornecedor para fabricar os produtos, separar os
produtos, emitir faturamento e deixá-los em condições de serem transportados; e
c) Transporte – Tempo que leva da saída do fornecedor até o recebimento pela empresa dos materiais
encomendados.
4. Ponto de Pedido
Conforme Dias (2006) um determinado item necessita de um novo suprimento quando o estoque
atingiu o pondo de pedido, ou seja, quando o saldo disponível estiver abaixo ou igual à determinada
quantidade chamada Ponto de Pedido (PP).
Para o cálculo de estoque disponível, deve-se considerar: o Estoque existente (físico); os fornecimentos
em atraso e os fornecimentos não entregues, mas ainda dentro do prazo. Os dois últimos chamados de
estoque virtual (Estoque Virtual = Estoque Físico + Saldo de Fornecimento).
Para Dias (2006), devemos fazer uma nova reposição do estoque, quando o estoque virtual estiver
abaixo ou igual à quantidade predeterminada, como adequado que é o ponto de ressuprimento ou
Ponto de Pedido. O Ponto de Pedido pode ser determinado pela expressão 1:
(1)
Onde:
• PP = Ponto de Pedido;
• CMD = Consumo Médio Diário;
• TR.Méd = Tempo de Reposição Médio (dias) e;
• E.Mn = Estoque Mínimo.
Dessa maneira, conforme indicado por Dias (2006, p. 59), pode-se concluir que o Ponto de Pedido
atua como um indicador, de forma que, quando o estoque real alcançá-lo, será necessário dar início ao
processo de reposição do material. A quantidade de saldo em estoque no momento do pedido deverá
suportar o consumo durante o Tempo de Reposição (C x TR).
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Aplicação de conceitos da gestão de estoques para melhoria em sistema ERP
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5. Estoque Mínimo e Estoque de Segurança
Para Dias (2006, p. 63) determinar o estoque mínimo representa uma das informações mais importante
para a Administração de Estoques, pois essa determinação tem relacionamento com o grau de
imobilização financeira da empresa, uma vez que, estoques maiores normalmente correspondem a
maiores custos de armazenagem.
De acordo com Laudon e Laudon (2007, p. 248), “o Estoque de Segurança atua com um escudo
contra falta de flexibilidade na cadeia de suprimentos.” Para Dias (2006) o Estoque Mínimo pode ser
calculado conforme indicado na expressão 2:
(2)
Onde:
• E.Mn = Estoque Mínimo;
• TR.Max = Tempo de Reposição Máximo,
• TR.Méd = Tempo de Reposição Médio e;
• CMD = Consumo Médio Diário.
Segundo Dias (2006, p. 66), “tem-se ainda a opção de multiplicarmos a um fator de segurança: (K),
arbitrário, com qual se deseja garantia ainda maior contra um risco de ruptura.”
6. Curva ABC ou conceito 80-20
Dias (2006) registra que a Curva ABC é um importante instrumento para o administrador pois permite
identificar aqueles itens que justificam atenção e tratamento adequados quanto à sua administração.
A Curva ABC é obtida através da ordenação dos itens conforme sua importância relativa. Esta
ferramenta fornece a ordenação dos materiais pelos respectivos valores de consumo anual. Pelas
análises, verifica-se que uma pequena porcentagem de itens da Classe A é responsável por grande
porcentagem do valor global (investimento anual grande).
O conceito 80-20 é formalizado depois da observação de padrões de produtos em muitas empresas,
a partir do fato de que a parte maior das vendas é gerada por um conjunto de relativamente poucos
produtos das respectivas linhas e a partir do princípio conhecido como a lei de Pareto. Raramente se
observa uma proporção exata 80-20, mas a desproporção entre as vendas e o número de produtos é
geralmente verdadeira (BALLOU, 2006, p. 77)
Segundo Ballou (2006), geralmente, os produtos são classificados de acordo com sua atividade de
vendas. Os 20% mais bem classificados podem ser chamados de itens A, os 30% seguintes, de item
B, e os restantes, de item C.
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7. Sistemas integrados ERP
Também conhecidos como sistemas de planejamento de recursos empresariais (Enterprise Resource
Planning – ERP), tem a função de coletar dados de vários processos de negócio importantes nas áreas
de manufatura e produção, finanças e contabilidade, vendas e marketing e recursos humanos e, depois,
armazenando-os em um único repositório central de dados. Com isso, a informação, anteriormente
fragmentada em sistemas distintos, pode ser compartilhada por toda a empresa, e as diferentes partes
da organização podem cooperar de maneira mais estreita (LAUDON; LAUDON, 2007).
A Ilustração 1 ilustra o relacionamento e a integração das diferentes áreas da organização ao sistema
empresarial e à proposta do ERP de manter uma base de dados única para dar suporte aos processos
de negócio.
Ilustração 1. Sistemas integrados
Fonte: Laudon e Laudon (2007)
8. Estudo de Caso
O presente estudo de caso foi realizado na Empresa Y, uma das maiores exportadoras de suco
concentrado de laranja do mundo. Essa empresa é controlada pelo Grupo K que, além de controlar
a Empresa y, atua na agricultura - laranja, maçã, na pecuária, no reflorestamento e exploração de
madeireira. O grupo também possui quatro navios, maior frota do mundo em navios de transporte de
suco a granel. Possui ainda outros quinze navios do tipo PSV (Platform Supply Vessel) que fazem
parte do patrimônio de uma companhia de Offshore (apoio logístico às plataformas de petróleo
em alto mar). (Por questões de sigilo, os nomes reais da empresa e do grupo foram substituídos,
respectivamente, por Y e K).
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8.1. Metodologia
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho consistiu na revisão bibliográfica,
estudo de caso e pesquisa quantitativa dos dados extraídos do sistema de informação da empresa. Na
Ilustração 2 demonstra-se o processo de execução da metodologia aplicada.
Ilustração 2. Processo de execução da metodologia
Fonte: Elaborado pelo autor
8.2. Extração de dados do sistema ERP
Inicialmente se extraiu do sistema ERP todas as requisições de compra de toners e cartuchos de
impressora no período de 01/01/2007 a 31/07/2012. O documento denominado requisição de compra
ou R.C. geralmente é emitido pela pessoa que constata a necessidade do material, seja para repor o
estoque ou utilizar diretamente na produção ou manutenção.
A requisição de compra não traz todas as informações necessárias para pesquisa quantitativa, como por
exemplo, o preço pago na aquisição, data de emissão do pedido ao fornecedor e fornecedor escolhido
para a compra. A principal informação que consta na requisição de compra é data de solicitação do
material, ou seja, a data inicial da necessidade do material, informação necessária para o cálculo do
estoque mínimo, conforme Dias (2006).
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O processo de exportação dos dados é apresentado pela Ilustração 3. Os códigos ME5A e ME2L
representam as referências utilizadas pelo sistema ERP para identificar as operações de exportação
dos dados das requisições e dos pedidos de compras.
Ilustração 3. Procedimento para extração e compilação de dados para análise
Fonte: Elaborado pelo autor
No decorrer do desenvolvimento do estudo de caso contatou-se que a informação da data de emissão da
requisição de compra também pode ser utilizada como indicador do desempenho interno do processo
de suprimento, medindo-se o período entre emissão da requisição de compra até sua aprovação e
período até a data de emissão do pedido de compra, porém delimitou-se não aprofundar neste estudo.
Com o número de requisição de compra e utilização da transação ME2L do sistema ERP, extraiu-se
os pedidos de compra emitidos, constando as informações do valor do pedido, quantidade comprada,
fornecedor escolhido. Com auxilio do aplicativo Excel compilou-se os dados da transação de
requisição de compra com os dados dos pedidos de compras, resultando em informações, necessárias
para aplicação dos conceitos abordados na revisão bibliográfica. As operações descritas podem ser
vistas na Figura 3.
8.3. Aplicação do conceito da Curva ABC
Com os dados devidamente compilados no Excel, aplicou-se o conceito da Curva ABC com intuito
de identificar os itens que necessitam maior atenção logística, considerando o custo total dos pedidos
já emitidos. Classificando-se a coluna “Total de pedidos de compra” em ordem decrescente têm-se os
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Aplicação de conceitos da gestão de estoques para melhoria em sistema ERP
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itens com maior importância logística nas primeiras posições da Tabela 1.
Tabela 1. Parâmetros para a Curva ABC
Fonte: Elaborado pelo autor
Após o levantamento de dados e elaboração da Tabela 1, foi construído o gráfico da Curva ABC para
os itens analisados. A Ilustração 4 apresenta o Gráfico gerado pelos dados da Tabela 1.
Ilustração 4. Gráfico da Curva ABC
Fonte: Elaborado pelo autor
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Os resultados obtidos com a aplicação da Curva ABC se demonstraram bem próximos ao conceito
80-20 descrito pela teoria. Conforme a Tabela 2, o valor do consumo do item da curva A, representa
72% do total consumido e referem-se à apenas 20% da quantidade total de itens. Os itens da Curva
B representam 17% do valor consumido e referem-se a 28% dos itens e a grande minoria do valor
consumido (11%), representa 52% do total de itens, destacando-se os itens marginais. Estes dados se
mostraram importantes para a definição e andamento do trabalho.
Tabela 2. Resumo representativo da Curva ABC
Fonte: Elaborado pelo autor
8.4. Definição de Estoque Mínimo e Ponto de Pedido
Utilizando-se os resultados dos dados da Curva ABC, aplicou-se os conceitos de Dias (2006), com
objetivo definir o nível de estoque mínimo (E.Mn), para atender possíveis imprevistos no atraso da
entrega de futuros pedidos. O Ponto de Pedido (PP), que é o momento ideal para emitir um novo
pedido de compra, calculado com base no Consumo Médio Diário (CMD); Tempo de Reposição
Máximo (TR.Máx); Tempo de Reposição Médio (TR.Méd). Os resultados do cálculo podem ser
analisados na Tabela 3.
Tabela 3. Estoque mínimo e ponto de pedido dos itens da Curva A
Fonte: Elaborado pelo autor
Para a extração das informações do Tempo de Reposição (TR) praticado pelos fornecedores, constatouse ausência de transação no sistema ERP que forneça esta informação a partir de relatório, o que
tornaria o trabalho mais rápido. Para efetuar a coleta da informação do TR, foi necessário utilizar
a transação ME23N e entrar nos pedidos um a um, extraindo-se a data de entrada da mercadoria e
posteriormente digitando-se no Excel.
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Aplicação de conceitos da gestão de estoques para melhoria em sistema ERP
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8.5. Indicador do Ponto de Pedido
Aplicando-se as fórmulas propostas por Dias, para definição do Ponto de Pedido (PP), ou seja,
indicador do momento em que se deve emitir um pedido de compra para atender o ressuprimento
do material, observou-se que, conforme a Tabela 4, possibilidade na redução do Ponto de Pedido,
definido atualmente no sistema ERP. De acordo com a teoria, a soma dos itens da curva A, permite
redução total de 36,39% no valor investido para garantir o Ponto de Pedido ideal mais o Estoque de
Segurança, até o momento de reposição pelo fornecedor.
Tabela 4. Comparativo de estoque necessário para atender ponto de pedido dos itens da
Curva A
Fonte: Elaborado pelo autor
Constatou-se que o Ponto de Pedido do item mais importante da Curva A, o item 6789T, está menor
do que o proposto pela teoria, isto poderia ocasionar falta do material e gerar custos para a empresa.
8.6. Substituição da versão utilizada de toner
Em contato com o Fornecedor 22969, e seu valioso apoio técnico, constatou-se que, alguns toners
possuem versões diferenciadas, que possibilitam maior rendimento. Denominado versão X,
identificou-se que em alguns casos a empresa comprou algumas peças destas versões, porém não
existia comparação entre o custo x benefício, visto que o segundo item mais importante da curva A é
o toner 6380T, que é da versão com menor rendimento.
Com a substituição da versão A do toner 6380T pela versão X, resultaria uma economia em torno de
30% e, com a substituição da versão A pela X do item 5479T, economia de 21,67%. Se estas versões
fossem utilizadas respectivamente, desde 02/01/2009 e 13/06/2007, que foram os primeiros registros
de pedido destes itens, teria uma economia de R$ 13.981,00 Considerando como referência o ano de
2010, registrou um total de R$ 49.844,00 de gastos com toners, utilizando-se as versões X para o item
6380T, resultaria uma economia de R$ 5.456,00 no ano de 2010 (10,95% de redução).
A Tabela 5 que compara o custo x benefício das versões de toners disponíveis no mercado, demonstra
que os ganhos obtidos com a substituição das versões atuais dos itens 6380T e 5479T, não correspondem
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a mesma realidade do item 3221T, que demonstrou um custo por página impressa de 4,22% maior que
a versão A. Aconselhando-se não comprar este item, mesmo sendo de maior rendimento.
Tabela 5. Comparativo do custo x benefício dos itens da Curva A
Fonte: Elaborado pelo autor
Outro resultado obtido seria redução do volume de informação e serviços na cadeia de suprimentos,
pois substituindo o item 6380T pela versão X proporcionaria menos pedidos necessários para atender o
consumo, uma vez o rendimento da versão X é duas vezes maior que a versão A, o que permitiria 50%
menos toners para atender a mesma demanda de impressões da empresa, consequentemente redução
de informação e serviços em todos os elos da cadeia: Fornecedor: emissão do pedido, preparação do
pedido, transporte; Empresa: recebimento, digitação da nota fiscal, acondicionamento do material,
procedimentos de baixa no estoque no momento de utilização.
8.7. Simulação da condição ideal
Simulando-se a utilização do Ponto de Pedido proposto e utilização dos toners com maior rendimento,
reduz-se ainda mais o Consumo Médio Diário (CMD) de peças, e consequentemente reduz-se o
Estoque de Segurança e Ponto de Pedido, resultando em um valor 45,55% menor do total atual
investido para atender o Ponto de Pedido. Isto é possível, pois, por exemplo, com a utilização da
versão X do toner 6380T, aumenta-se o rendimento de páginas impressas por toner e reduz-se a
quantidade consumida de peças pra atender a mesma demanda de impressões da empresa.
A Tabela 6 apresenta os dados e resultados da proposta de uso dos material de maior rendimento.
Tabela 6: Simulação da utilização dos toners com maior rendimento
Fonte: Elaborado pelo autor
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8.8. Tempo de Reposição praticado
Ao definir-se o Tempo de Reposição (TR), indicador necessário para o cálculo do estoque mínimo e
Ponto de Pedido, também se permitiu a avaliação do lead time praticado pelos fornecedores dos itens
da Curva A. Nota-se no destaque, que o Fornecedor 22969 teve o melhor desempenho, efetuando 37
entregas de pedidos, a uma média de Tempo de Reposição de 3,35 dias. O Tempo de Reposição do
Fornecedor 13803 é considerado baixo, porém efetuou apenas uma entrega, não sendo possível avaliálo. A informação do TR é um importante indicador sobre o desempenho dos fornecedores, podendo
ser utilizada como apoio na decisão de compra dos materiais. Na Tabela 7 é possível acompanhar o
tempo médio de reposição praticado pelos fornecedores.
Tabela 7. Tempo de reposição praticado pelos fornecedores dos itens da Curva A
Fonte: Elaborado pelo autor
CONCLUSÃO
A aplicação do conceito da Curva ABC, das fórmulas de cálculo do Estoque Mínimo e Ponto de
Pedido, considerando o Tempo de Reposição e o Consumo Médio Diário do material, permitiu
elaborar ferramenta de análise e possibilidade de melhoria na gestão de estoques do grupo de materiais
estabelecido.
Para a aplicação da ferramenta proposta com maior agilidade, considera-se necessário identificar ou
desenvolver a incorporação dos resultados deste estudo ao sistema ERP para encontrar o Tempo de
Reposição (TR) de materiais praticado pelos fornecedores de maneira automatizada. A informação
do Tempo de Reposição (TR) também seria de grande valia para se mensurar o desempenho dos
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fornecedores envolvidos no processo de suprimento, pois uma vez determinadas, essas condições
poderiam ser incorporadas ao sistema ERP para que os cálculos e relatórios também fossem
automatizados.
A aplicação do Ponto de Pedido foi importante para auxiliar na determinação das quantidades em
estoque e indicou novas possibilidades de contato com fornecedores e produtos alternativos com
possibilidade de melhoria, no que se refere aos custos de produtos adquiridos e valores de estoque
médio.
Embora o estudo tenha sido aplicado somente em um grupo específico de produtos, os resultados
sugerem que a metodologia poderia ser aplicada a outros grupos de produtos que compõem o estoque
da empresa.
Os resultados indicaram uma economia de 36,39% e uma possibilidade de melhoria de 45,55%, no
caso do uso de produtos alternativos.
Como proposta de estudos futuros indica-se a possibilidade de aplicação de outras ferramentas, tais
como o Lote Econômico de Compra (LEC) ou ainda estudos voltados para a área de custos de estoque.
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69
TECNOLOGIA ESTRATÉGICA
STRATEGIC TECHNOLOGY
Vinícius Salatin Corrêa
RESUMO
O regimento das indústrias hoje vai mais além do que uma simples produção e atendimento à demanda.
Pensar estrategicamente nos negócios é se preocupar com as incertezas tecnológicas que o futuro nos
proporciona. Quanto maior a aposta das empresas no ramo de Pesquisa e Desenvolvimento maior a
chance de conquista mercadológica e fortalecimento entre as empresas rivais. Exemplos de países
como a China e a Coréia do Sul são tomados neste artigo como forma de comparação da produção
tecnológica de países com tecnologia de ponta e de países que ainda estão amadurecendo sua ideia de
tecnologia, como é o caso do Brasil. Por meio deste foi possível analisar a maneira estratégica como
a educação é tratada nos países e como a engenharia tende a ser um ramo promissor. Outro elemento
presente na discussão dessa ideia é o investimento público e privado destinado ao ramo de Pesquisa e
Desenvolvimento, pois para as empresas ele se torna força propulsora e atua como transformador de
ideias em projetos reais e acessíveis. No presente trabalho também consta uma tese com o exemplo
da batalha judicial entre a Motorola Mobility e a Google sobre a importância do verdadeiro sentido
do registro de patentes e o que isso pode significar para grandes corporações. A inovação tecnológica
é abordada em diferentes âmbitos, porém sempre voltada para a necessidade do mundo, já que o
objetivo principal de uma inovação é o de suprir alguma lacuna da humanidade ou melhorar algum
processo já existente.
Palavras-chave: Indústrias. Pesquisa e Desenvolvimento. Engenharia. Inovação tecnológica.
ABSTRACT
The regiment of industries today is going further than a simple production and demand service.
Thinking strategically in business is to worry about the technological uncertainty that the future
brings. As higher the commitment of the companies in the field of Research and Development, greater
is the chance of winning marketing and strengthening of its rivals. Examples of countries such as
1
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga. Endereço do autor:
Alameda Hamelin, 162, Portal das Laranjeiras, Itápolis – SP, E-mail: [email protected]
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 69-82, 2013
70
Corrêa, V. S.
China and South Korea are taken in this article as a form of comparison of technology production
of countries with high technology and countries that are still maturing their technology idea, as is
the case of Brazil. Through the material studied was possible to analyze the strategy as the way
education is treated in countries such as engineering and tends to be a promising branch. Another
element in this idea discussion in is that public and private investment for the business R&D, because
for companies it becomes the driving force and acts as transforming ideas into real and accessible
projects. In this study also includes a thesis with the example of the law battle between Motorola
Mobility and Google on the importance of the true meaning of patent registrations and what that
might mean for large corporations. Technological innovation is discussed in different contexts, but
always focused on the need of the world, since the main purpose of an innovation is to fill any gaps
of humanity or improve some existing processes.
Keywords: Industries. Research and development. Engineering. Technological innovation.
Introdução
Charles Darwin alcançou reconhecimento científico ao desenvolver estudos sobre a evolução da vida
por meio da seleção natural. Hoje a evolução da vida também se dá por meio da seleção, porém
a seleção atual não é tão natural assim. Ela se faz por meio de processos artificiais ocasionados e
transformados pelo homem, onde a melhor benfeitoria prevalece e pode até chegar a alterar o rumo
da vida. Eis que surge a atual seleção: a seleção tecnológica.
Segundo Siqueira (2007), a tecnologia é quem está regendo a vida humana. Ela está tomando proporções
jamais vistas. Em um século passamos de válvulas a vácuo – cujas proporcionaram grandes avanços
como a televisão e o rádio, por exemplo - para chips de alto poder de processamento – que hoje podem
processar o equivalente a 9.400 páginas de um jornal por segundo – e chips com alta capacidade de
memória – que, seguindo uma estimativa do professor da Universidade de São Paulo (USP), João
Antônio Zuffo, em 2020 esses chips poderão chegar a uma capacidade de armazenamento de até 1
Terabyte.
Hoje estamos vivenciando a chamada Terceira Revolução Industrial onde tudo é ‘pra ontem’ e, todas
as evoluções que proporcionalmente demoravam um século para acontecer, hoje vêm acontecendo
em curtíssimos períodos. Segundo Formiga (2010) a todo instante, novidades e inovações surgem a
um patamar inimaginável e, imperceptivelmente estamos cada vez mais nos rendendo a todo tipo de
tecnologia.
Para Hamel (1995) as organizações estão potencializando cada vez mais sua agilidade, técnicas de
trabalho, poder de produção de produtos e serviços, estão aumentando a capacidade de atendimento
de suas demandas, buscando uma satisfação constante de sua clientela, tudo isso otimizando tempo.
Para que isso aconteça, algumas armas são necessárias e, a grande maioria dessas armas encontra-se
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Tecnologia estratégica
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no que chamamos de tecnologia. Alguns exemplos do aparato tecnológico capaz de transformar vidas
organizacionais e alavancar negócios são: a microeletrônica, a internet, a fotônica, a convergência
digital, o armazenamento em massa (mass storage), a tecnologia sem fio (wireless) e a nanotecnologia.
Segundo Medeiros (1993), no momento em que vivemos tudo está atrelado direta ou indiretamente
à tecnologia. As indústrias, por sua vez, encontram-se em uma constante luta para se destacar no
mercado e conquistarem seu espaço no business world, pois por atenderem a uma alta diversidade de
públicos e até mesmo por estarem em constante produção dos principais produtos que movimentam
o mercado mundial, necessitam de constantes adequações que lhes permitam uma produção com um
aumento contínuo de perfeição.
Outro motivo que justifica a escolha da tecnologia aplicada em indústrias para esse artigo é o fato
delas possuírem o maior patrimônio tecnológico em comparação com os demais mercados.
Metodologia
O presente artigo se caracteriza como revisão, pois se trata de um embasamento em publicações
anteriores, e a partir destas publicações foram elaborados novos conceitos sobre uma relação da
estratégia com a tecnologia nas indústrias em um cenário mundial. Ideias de pessoas renomadas e
de grandes empresas dos mais diversos segmentos que se posicionam dentro do assunto de pesquisa,
desenvolvimento e inovação tecnológica foram evidenciadas de forma a causar uma maior assimilação
por parte do leitor sobre as duas vertentes trabalhadas de maneira unificada. Mais do que simplesmente
destacar o peso da tecnologia na vida humana e a incapacidade vital do homem sem o uso da mesma
nos seus dias, este trabalho consiste em habilitar o pensamento e as ações da sociedade em se adequar
a tudo o que é novo, como forma de melhorar a qualidade da vida humana e empresarial.
Por meio das diversas concepções apresentadas buscou-se enfatizar a importância que a engenharia
passa a ter nos dias atuais e uma possível projeção do ramo para os anos vindouros dentro do setor
industrial, uma vez que a engenharia é identificada como o braço direito no campo de Pesquisa
e Desenvolvimento. Foram apresentadas inovações promissoras – como por exemplo, a ausência
humana em uma linha de produção de displays fabricados somente por robôs - e outras inovações
nem tão promissoras assim, porém todas elas citadas em vários artigos de relatos e experiências
científicas. Todas as invenções e apostas mercadológicas apresentam um único objetivo, além de
trazer receita para a empresa inventora: o de suprir as necessidades do mundo através da praticidade
e otimizar cada vez mais o tempo das pessoas, sempre com a minimização dos custos.
O material pesquisado também faz uma alusão ao atual sistema educacional brasileiro quando
comparado com demais países ocasionando por consequência uma perca de produção científica nas
universidades nacionais e um baixo índice de registro de patentes. Isso faz com que o Brasil tenha
de percorrer um longo caminho para que possa se tornar um celeiro de oportunidades e uma terra
promissora para o desenvolvimento tecnológico, auxiliando assim o seu autodesenvolvimento.
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Corrêa, V. S.
Mais do que uma projeção de futuro, o presente trabalho apresenta conceitos tecnológicos atuais
de diversas multinacionais, bem como, modelos promissores de pesquisas que acontecem nos mais
variados segmentos industriais, provando que a todo o momento é hora de nos aproximarmos do
futuro, porque afinal, mais importante que inventar é inovar.
Tecnologia Estratégica
A produção científica e tecnológica é um impulso que faz com que o homem se desenvolva
melhorando sua qualidade de vida, é por meio das indústrias que a tecnologia nasce. Segundo Porter
(1999), para o ramo industrial, a tecnologia deixou de ser uma projeção de futuro para se tornar
um desenvolvimento científico. E é justamente nessa fusão de ciência com tecnologia que surgem
as inovações que aperfeiçoam os processos produtivos. Inovações nos remetem a acontecimentos
atuais, porém um pensamento exposto por Vargas (1979) ainda remotamente é válido quando se fala
em conceitos atuais de tecnologia: “Aplicação de métodos, teorias, experiências e conclusões das
ciências ao conhecimento dos materiais e processos utilizados pelas técnicas”.
Para Cano (1985), uma forma de obter uma melhor assimilação do desenvolvimento industrial
brasileiro é dada através de uma periodização tecnológica onde a época compreendida entre 1930 a
1955 é chamada de industrialização restringida. Já o sub período de 1956 a 1980 é denominado de
industrialização pesada, pois foi a época onde foram implantados os setores relacionados à fabricação
de bens de produção e de consumo durável. Desta data em diante, como começa mudar o padrão de
acumulação de capital pode-se atribuir o nome de industrialização complexa. Na verdade Cano quis
mostrar que diferentemente dos demais países, o Brasil teve um desenvolvimento tecno-industrial
lento por causa do chamado capitalismo tardio, ou seja, a falta de importância que o país dava ao
desenvolvimento tecnológico.
Nem sempre a produção científica e tecnológica é eficaz o suficiente para atender às expectativas
das necessidades humanas. Tudo isso porque as pesquisas dependem principalmente de dois fatores
cruciais: educação e investimento. O investimento em pesquisa científica no Brasil depende em
demasia do dinheiro público e a grande parte dos pesquisadores encontra-se nas universidades,
sem contar que a educação está muito longe de ser priorizada. Essa realidade nacional acaba se
contrastando com o panorama de países desenvolvidos como é o caso dos países da União Européia e
dos Estados Unidos que recebem um investimento pesado de empresas privadas e tratam a educação
como um insumo para seu desenvolvimento.
Muito se discute sobre o registro de patentes de um país, pois este acaba sendo um indicador
fundamental da desenvoltura do país quanto à sua inovação científica e tecnológica. Segundo
Felitti (2011), o primeiro registro de uma patente foi reconhecido 500 anos antes de Cristo. Tudo
se iniciou na cidade de Síbaris, na Grécia, onde quem ganhasse um concurso de culinária poderia
até compartilhar sua receita, mas seria o único a poder prepará-la. Depois de passados 2 mil anos o
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Tecnologia estratégica
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ato de patentear começou a se aproximar do processo que conhecemos atualmente. Foi através de
um método de fabricação de vidros que isso aconteceu, onde na Inglaterra, o referido método ficou
protegido durante 10 anos, mas ao invés do dono da patente arcar com altos custos, ele era obrigado
a ensinar sua técnica aos britânicos.
Nos dias de hoje, a patente adquiriu popularidade e passou a ser registrada formalmente através de um
detalhado formulário onde a nova tecnologia é transcrita e protegida contra futuros plágios em troca de
um desembolso do proprietário da ideia. O que acontece é que com o avanço da tecnologia o número
de patentes tende a aumentar, e também se tornam suscetíveis as coincidências ou não de projetos de
inovação, acabando por declarar verdadeiras guerras judiciais entre potências tecnológicas, como é o
caso da Motorola Mobility com a Google.
Felitti (2011) explica que a compra da Motorola Mobility foi realizada pela Google por atritos em
relação a propriedade intelectual do sistema Android. Como a Google obtinha um montante de apenas
2 mil patentes contra as 17 mil de sua rival a negociação foi se dificultado, resultando assim na
compra bilionária da empresa fabricante de celulares, como forma de se camuflar, pagando um valor
de 60% a mais do que julgavam valer a empresa adquirida.
O principal obstáculo do aumento de patentes pelas grandes empresas está justamente nisso, pois ao
invés de comprarem tecnologia e investirem nas mentes pensantes de seus engenheiros, preferem
desembolsar um maior valor para defenderem-se contra supostos processos. As empresas americanas
são os melhores exemplos disso, pois elas faturam muito dinheiro com suas patentes, porém gastam
muito mais com os processos. No Brasil existe a Lei do Bem, que de acordo com Felitti (2011),
fundamenta-se no princípio de anular subsídios fiscais ao desenvolvimento a cada vez que aumentam
os números das ações judiciais pela empresa.
Para Pires (2010), seguindo os dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) através do Relatório Mundial da Ciência de 2010, o Brasil é um dos países que
menos registram patentes, porém possui seu valor de investimento em ciência muito aproximado ao
de grandes economias desenvolvidas como o da Espanha, por exemplo. Do total do investimento
brasileiro em ciência somente 45% advém do setor privado, enquanto nos Estados Unidos essa
participação das empresas privadas fica por volta de 76%. Ainda dentro dessa análise, a participação
brasileira no mercado mundial de patentes não ultrapassa 0,1%. Isso é preocupante, pois o relatório
demonstra ainda que o registro de patentes caracteriza uma competição industrial entre países ao
mesmo tempo em que pode projetá-los para o mercado internacional.
Mesmo com todos os fatores adversos o Brasil atualmente se classifica em 2º dentro dos países de
todo o mundo que mais crescem proporcionalmente em produção científica, perdendo a primeira
colocação apenas para a China. Enquanto no Brasil a primeira área com maior desenvolvimento
tecnológico é a medicina, na China é a engenharia quem toma essa mesma frente, pois é a engenharia
a área que tradicionalmente traz mais frutos no aspecto da inovação.
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Corrêa, V. S.
Segundo Nunomura (2011), no Brasil, mesmo com condições que desafiam o desenvolvimento
científico e tecnológico ainda existem alguns pontos que persistem nortear o rumo da inovação.
Há pouco tempo, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foram aplicados investimentos estrangeiros como nunca fora visto antes - no campo de Pesquisa e Desenvolvimento. Eis a quebra do paradoxo
entre um lugar conhecido por suas favelas que concomitantemente passa a ser um local de desejo de
multinacionais para estudos e descobertas tecnológicas de grande peso para a indústria. Local esse
conhecido como “Ilha do Fundão”. Hoje a ilha recebe inclusive o apelido de “Vale do Silício do présal”, numa alusão à região da Califórnia que é reverenciada quando o assunto é inovação tecnológica.
Nunomura (2011) evidencia a disputa das multinacionais pela conquista de um espaço na ilha para
a instalação de seus próprios centros de Pesquisa e Desenvolvimento. A Petrobras foi a primeira
empresa a conseguir seu espaço na ilha, onde, nos anos 70, criou o Cenpes, um pólo próprio de
pesquisas (que em 2010, após uma reforma, ganhou laboratórios de estudo do pré-sal, se tornando
um dos maiores centros de pesquisa aplicada de petróleo do mundo). Em seguida da Petrobras, as
empresas que conseguiram se firmar na ilha foram a Schlumberger, vinda da França, vista como
referência na prestação de serviços de perfuração; seguida das empresas anglo-saxônicas FMC, Baker
Hughes, Halliburton, GE e, finalizando essa lista a empresa argentina TenarisConfab. Todas elas em
busca de um objetivo: a participação no processo exploratório do petróleo nacional, pois o mercado
interno e o petróleo são os chamarizes para investimentos de grandes empresas no setor de Pesquisa e
Desenvolvimento. Esse foi um passo importante no cenário de desenvolvimento tecnológico no país,
já que essas empresas juntas injetaram um valor de 760 milhões de reais na veia do ramo da inovação.
Várias empresas pleiteiam criar raízes na “Ilha do Fundão”, não só empresas de origem estrangeira,
mas também empresas nacionais. Por isso, como forma de comportar tamanha demanda o governo
do Rio de Janeiro negocia com o Exército a aquisição de um terreno de 200.000 m² na Ilha do Bom
Jesus, ao lado da ilha já ocupada. Este local já é um possível destino para o centro de Pesquisa e
Desenvolvimento da empresa francesa fabricante de cosméticos, L’Oreal.
Os países ricos são os que mais investem em pesquisa, no entanto os gastos dos países emergentes vêm
aumentando mais rapidamente. Os EUA no ano de 2000 tinham um gasto de 2,7% do seu PIB para
investimentos em pesquisas, passando para 2,8% no ano de 2009. Já a Coréia do Sul, considerando o
mesmo período, de 2,3% deu um salto para 3,1%.
De acordo com Nunomura (2011), diferentemente do passado, onde os países ricos e desenvolvidos
eram sede de pesquisas voltadas para a tecnologia, hoje é a vez dos países emergentes abrigarem
centros de estudos tecnológicos, pois são eles quem estão extraindo maiores benefícios dessa nova
onda da pesquisa e do desenvolvimento. Isso acontece porque as multinacionais conseguem visualizar
possibilidades de maximizar a eficiência e o rendimento da produção industrial, evitar a duplicação
de esforços e diminuir as resistências que possuem em outros países e principalmente procuram
a redução de custos. Dentre os países procurados por essas multinacionais encontram-se o Brasil,
Rússia, Índia, Coréia do Sul e China. Essa situação serve para alavancar as economias desses países,
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Tecnologia estratégica
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tornando-os fontes promissoras de inovação. Mas, em especial, dentre os países da América Latina,
o Brasil é quem recebe maior investimento das multinacionais, onde a cada 100 dólares aplicados em
Pesquisa e Desenvolvimento, 60 são dos centros brasileiros.
A empresa startup californiana LS9 e a americana Amyris, segundo Couto (2011), correram para o
Brasil atrás da alta oferta de cana, pois teriam matéria-prima em abundância já que seus principais
produtos são voltados para biocombustíveis e químicos derivados da fermentação de açúcares de
plantas. Além das duas empresas apostarem nos produtos alternativos brasileiros, suas origens são
comuns dos altos investimentos do indiano Vinod Khosla, considerado um dos maiores investidores
do mundo em startups de tecnologia.
Em uma entrevista à Couto (2011), Khosla dá importância em causar impacto tecnológico por
meio do investimento em energia solar, etanol celulósico e em empresas comprometidas com o
desenvolvimento de produtos bioquímicos a partir da biomassa e companhias voltadas para a produção
de materiais de construção sustentáveis, pois ele visualiza excelentes oportunidades para os negócios
de tecnologia limpa no Brasil. Porém ressalta que ainda falta ao país inovação por parte das empresas
e uma cultura de ousadia.
Rydlewski (2011) exemplifica a tese de que o Brasil está se tornando cenário de Pesquisa e
Desenvolvimento de grandes empresas quando cita que a Amyris, na filial de Campinas, trabalha
em projetos um tanto quanto audaciosos. Um deles é a fabricação de diesel, querosene para aviões
e ingredientes para cosméticos a partir da cana de açúcar ocasionada através da alteração genética
da levedura saccharomyces cerevisae, um microorganismo responsável por transformar a garapa em
etanol.
Para ilustrar a posição que o Brasil vem conquistando no circuito da criação junto aos investimentos
que têm recebido, abaixo estão algumas multinacionais que estão ampliando seu quadro de pesquisas:
•3M: com laboratório em Sumaré (SP), conta com 138 pesquisadores e recebe investimento de 40
milhões de dólares anualmente; seus produtos estão voltados para as áreas industrial, de saúde,
de segurança e de telecomunicações. Seu mais recente produto, fruto de pesquisas no território
nacional, foi o ACCR, um condutor reforçado de alumínio que melhora a capacidade de transmissão
de energia e minimiza a necessidade da instalação de novas torres. O ACCR já se encontra instalado
na Marginal Pinheiros na cidade de São Paulo e já foi até exportado para a Mumbai, na Índia.
•Bosch: possui centro de pesquisa em Campinas (SP) e Curitiba (PR), foi a responsável pela criação
dos motores com o sistema flex fuel; seus pesquisadores são aproximadamente 450 e investe 4% do
seu faturamento anual em pesquisas; seus novos desenvolvimentos estão encima dos motores flex
start (com partida a frio), diesel-gás e diesel-álcool.
•Dupont: montou um pólo de inovação e tecnologia em Paulínia (SP) no ano de 2009; possui em
torno de 40 pesquisadores e aplica 6% de seu rendimento anual em pesquisas; excluindo a sede nos
EUA, esse pólo é o único no mundo que realiza pesquisas nos 13 segmentos da empresa, dentre eles
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Corrêa, V. S.
o de alimentação, energias renováveis, polímeros, química, tintas, tecnologia para países emergentes
e segurança. Suas últimas pesquisas no Brasil resultaram em uma blindagem super econômica para
carros, que tende a reduzir o impacto ambiental e não aumenta o peso do automóvel. Essa proteção é
feita de combinações de vários materiais e de uma fibra sintética conhecida como kevlar. Os valores
partem de 19.000 reais, metade do preço de uma blindagem convencional.
A última empresa citada merece certo destaque. Aragão (2011) cita que a Dupont atualmente vem
sendo reverenciada por atingir um nível jamais visto em inovação tecnológica. Ela tem até sido
comparada com países emergentes em relação à sua produção em novas tecnologias. A companhia,
que já é bicentenária, iniciou suas atividades como fabricante de pólvora no estado de Delaware,
EUA. De acordo com Aragão (2011) foi nela que surgiu o famoso tecido que hoje conhecemos como
náilon, a primeira fibra têxtil sintética, onde seu uso inicial destinava-se para os equipamentos de
guerra, como no paraquedas, por exemplo, que teve grande importância na Segunda Guerra Mundial.
Quase 200 anos depois de sua fundação, a Dupont teve seu faturamento travado por um período de
dois anos consecutivos, acontecimento inadmissível para seus gestores. Esse fato foi o estopim para
que despertasse na empresa uma busca incessante por explorar diferentes oportunidades por meio de
descobertas tecnológicas. E mesmo depois de dois séculos, começava uma renovação empresarial.
Segundo Aragão (2011), o início dessa virada organizacional foi por meio do foco na inovação
concentrada estrategicamente em países emergentes. O ano de 2010 é o marco revolucionário da
empresa: uma média de cinco produtos era lançada por dia; a quantidade de centros de inovação
espalhados pelo mundo chegou em 150; 1,7 bilhão de dólares foi o investimento realizado em
inovação; nesse único ano foram criados 1.800 novos produtos (recorde em comparação aos anos
anteriores) e; 31% do faturamento da empresa nesse período surgiu de produtos criados somente nos
últimos quatro anos. A partir daí o ritmo de lançamentos de novos produtos aumentou tanto que o
faturamento chegou em 31 bilhões de dólares. O peso da participação dos países emergentes foi tão
grande que somente eles proporcionaram um terço da geração desse valor.
A Dupont é o exemplo mais fiel das empresas que pensaram à frente e passaram a adotar a verdadeira
Tecnologia Estratégica como arma para seu desenvolvimento. Aragão (2011) desvenda o plano
estratégico da empresa. No ano de 2009, os gestores pensantes da Dupont escolheram quatro
supertendências de mercado como forma de estenderem sua ciência com mais presteza e potencialidade
de expansão. São elas: alimentação, combustíveis alternativos, segurança e crescimento dos mercados
em desenvolvimento.
A primeira supertendência foi escolhida baseada na Teoria Malthusiana, que entra na discussão da
sustentabilidade, onde enquanto a alimentação do planeta cresce em Progressão Aritmética (PA),
a população cresce em Progressão Geométrica (PG); proporções estas que causam disparidade no
desenvolvimento mundial. Reforçada pela ONU, essa primeira escolha é justificada por um estudo
que apresenta que, em 2050 seremos 9 bilhões de habitantes no mundo. A primeira ação como
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Tecnologia estratégica
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implementação do plano pela Dupont foi a compra da Danisco (por 6,4 bilhões de dólares), empresa
dinamarquesa fabricante de enzimas para a produção de alimentos.
Num mesmo contexto de aumento do número de habitantes no planeta, a companhia escolheu sua
segunda estratégia. O aumento da população faz com que aumente também a demanda por energia
e, como os combustíveis fósseis tendem a diminuir ou até mesmo se extinguirem, o grande apelo foi
pelo desenvolvimento de combustíveis alternativos. O Brasil é o cenário principal desse feito, onde
em parceria com a empresa inglesa British Petrolium (BP), está sendo desenvolvida uma parte da
pesquisa que dará origem ao butanol, uma nova geração do etanol.
A segurança, terceira tendência eleita, aspira a ser um fator de relevância tanto para as pessoas
quanto para o meio ambiente já que se estima o aumento do número de indivíduos no planeta e
consequentemente a ameaça à seguridade social e ambiental. A quarta aposta da empresa foi dar
poder de decisão às operações locais, onde se encontram instalados alguns dos seus pólos de Pesquisa
e Desenvolvimento que concomitantemente são mercados em desenvolvimento com alto potencial de
consumo, ou seja, os países emergentes, onde depositam uma expectativa de renderem 36% do total
das receitas da empresa em 2015.
A maioria das empresas enxerga mais empecilhos do que oportunidades quando o assunto é
inovação. Mas de acordo com Aragão (2011), isso inexiste na Dupont. Tanto é que estão investindo
num estilo de inovação conhecido como “inovação aberta”, onde através de parcerias com clientes
conseguem acelerar seus processos e diminuem ferozmente seus índices de erro, já que envolvem seu
público alvo na percepção das necessidades a serem supridas através de suas pesquisas. Um exemplo
real desse feito foi a parceria montada com a empresa mexicana fabricante de alimentos, a Sigma.
Com ela foi desenvolvido um composto de proteína de soja e carne pré-cozida que ficou conhecido
como solecina. O alimento é bem diferente, mas com um custo bem mais baixo e com a mesma
quantidade de nutrientes da carne natural, beneficiou as pessoas menos favorecidas financeiramente.
A Dupont nadou contra a maré durante a crise global no ano de 2008, onde nesse período, enquanto a
maior parte das empresas se preocupava em poupar e reduzir os investimentos, a companhia decidiu
injetar um alto investimento e inovação. O montante de 14 milhões de reais foi o valor aplicado
apenas no centro de Pesquisa e Desenvolvimento localizado em Paulínia. A partir daí o rumo da crise
começou a mudar e a companhia obteve um investimento extra de 7 milhões de reais. O foco na
inovação fez com que a Dupont tomasse a melhor decisão.
Aragão (2011) reforça a teoria de que quando algo é inventado, o que realmente possui importância
é a ideia e não o resultado que essa ideia trará. A maior razão para criar algo está em ouvir o que o
consumidor realmente deseja. Por isso, a Dupont trabalha nesse sistema onde ouvir o cliente é vital,
afinal inovar significa transformar ideias em dinheiro e se essas ideias forem baseadas em fatos reais
do público consumidor a probabilidade de dar certo aumenta infinitamente.
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Corrêa, V. S.
China - uma busca pela liderança em produção tecnológica
Devido a um histórico conflitante e a diversos problemas internos, a China é o país que mais
surpreende os estudiosos quando o assunto é tecnologia, principalmente no ramo da engenharia.
Sua reputação arcaica de apenas copiar produtos já existentes hoje vem sendo alterada, por isso, a
China está perdendo a comparação que sempre teve com o Paraguai e vem tornando-se referência no
desenvolvimento de novas tecnologias, além de abrigar um grande número de multinacionais em seu
território. Nunomura (2011) faz uma estimativa que em apenas 20 anos a China deverá abocanhar os
EUA nos quesitos investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e crescimento econômico.
A segunda língua mais falada no ramo de tecnologia no Brasil está tendendo para o mandarim. A
China, que antes se interessava somente nas matérias-primas brasileiras, atualmente busca explorar o
mercado brasileiro de outras formas. Com isso o país oriental está se transformando no maior parceiro
do Brasil, onde planeja investir mais de 17 bilhões de dólares.
Os investimentos estão sendo feitos por empresas principalmente do ramo eletrônico, de mineração,
de energia e do setor automotivo. Numa somatória de receitas anuais as empresas citadas a seguir
chegam a um valor de 3,9 bilhões de dólares com um total de 8.510 funcionários. Com um faturamento
desse escalão é possível de se imaginar o valor que essas multinacionais destinam para o ramo de
Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil. Alguns dos responsáveis por essas aplicações financeiras são
a AOC e a Huawei (setor eletroeletrônico), a Sany (bens de capital), a Zongshen, a Jac Motors e a
Chery (setor autoindustrial), sendo que esta última, segundo Onaga (2011), se destaca como sendo a
maior montadora automotiva chinesa que agora está estendendo seu sucesso para as terras brasileiras,
onde atualmente constrói uma linha de produção no interior de São Paulo, na cidade de Jacareí.
Com uma estratégia voltada para a conquista de novos mercados, a Chery vem alcançando patamares
cada vez mais altos em se tratando de vendas e participação de mercado. Em 2010 vendeu cerca de
600.000 carros na China, e numa classificação geral de participação dentro do mercado automotivo
ficou com uma fatia de 4%, o que é bem considerável tratando-se de um mercado caracterizado cada
vez mais pela competitividade. Em 2009 deu início às exportações para o Brasil e algum tempo
depois lançou o automóvel conhecido como QQ. Este automóvel recebeu grande destaque, pois seu
valor comercial foi considerado como um dos mais baixos do mercado nacional - na faixa de 22.000
reais -, com itens de série, como por exemplo, o air bag e o ar condicionado.
Além do segmento automotivo, outros segmentos chineses - como forma de ganhar mercado através
de suas inovações - mantém suas exportações para o Brasil, como nos ramos têxtil, de informática
e de equipamentos digitais, por exemplo, onde 64% das calças, 59% dos computadores, 65% das
máquinas fotográficas, importados pelos brasileiros são provenientes da China, cita Lethbridge
(2011). Nesse caminho a China ocupa de forma bem tranquila a primeira colocação dentre os países
que mais investem no Brasil. Seus 17,2 bilhões de dólares em investimento deixam para trás os EUA,
com 6,2 bilhões, a França com 3,4 bilhões, a Áustria com 3,3 e o Japão com 2,5 bilhões.
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Tecnologia estratégica
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Outro segredo chinês para disputar a liderança em produção tecnológica está em conseguir mão-deobra barata para trabalhar na fabricação de seus produtos, podendo desta forma continuar investindo
uma maior parte do seu capital no ramo de Pesquisa e Desenvolvimento. Exemplo disso é a Foxconn,
empresa fabricante do iPhone e do iPad para a Apple e maior empregadora privada da China, que teve
de recrutar 100 mil pessoas para trabalharem nas novas e extensas instalações da fábrica na cidade
de Zhengzhou, na província de Henan, local com alto índice de pobreza, de onde originaram-se esses
trabalhadores.
Coréia do Sul - o foco tecnológico baseado na disciplina
Uma sociedade regida pela disciplina militar. Seus habitantes andam, comem e criam rápido. Eis que
surge a expressão pali pali, que quer dizer rápido, rápido. Por aí pode-se ter uma noção de que o país
em questão é a Coréia do Sul.
Segundo Fortes (2011), para que o país chegasse a ser referência tecnológica como hoje é
conhecido foi necessário traçar um plano estratégico de reerguimento depois de passada a Guerra
da Coréia que perdurou de 1950 a 1953. Esse período foi tão avassalador que o PIB per capita
chegou a ser um dos menores do mundo, apenas US$ 67, contra o PIB per capita atual de US$
28.715. Foi aí que perceberam que poderiam içar o país à potência em tecnologia se investissem
pesado em educação. E assim o fizeram. Criaram um modelo estratégico de educação chamado
de economia do conhecimento. Passaram a formar seus estudantes de um jeito sofisticado e
esperançoso.
Hoje a educação coreana é reverenciada, juntamente com a sua produção tecnológica. O percentual
dos alunos coreanos que vão para a faculdade após o término do colegial beira os 80%. Além disso,
3 horas e 6 minutos é o tempo médio gasto por dia pelas crianças do primário com atividades
extracurriculares, e o índice de analfabetismo no país é de 1%.
Fortes (2011) mostra que, seguindo esse mesmo conceito de velocidade é possível compreender o
ritmo que o país vem crescendo e a rapidez com que caminha seu sistema de inovação. A Organização
Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) ainda reforça essa característica ao comprovar o número
de registro de patentes coreanas, que chegam a 169.596 (contra as do Brasil, que permeiam apenas
5.020).
Na Coréia do Sul copiar não é um demérito, mas sim uma maneira de aprender a fabricar aquilo que
os outros países já criaram. Por isso a engenharia reversa (ou de explosão) foi o modelo adotado pela
Coréia nos seus laboratórios, onde baseados na cópia, passavam a agregar novos recursos. Fortes
(2011) cita que recentemente a Apple entrou com um processo contra a coreana Samsung por plagiar
o design do iPad e do iPhone em sua linha Galaxy, porém a Samsung se defende ao dizer que os
coreanos acrescentaram recursos, portanto saindo daquilo que seria um plágio.
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80
Corrêa, V. S.
Há alguns anos atrás a Samsumg criou um novo ramo - a Samsung Electronics – que surgiu como
uma joint venture (que acontece quando duas ou mais firmas patrocinadoras formam uma organização
separada para atingirem objetivos) junto da empresa japonesa Sanyo. Nos dias atuais conta com 24
pólos de Pesquisa e Desenvolvimento e o número de cabeças pensantes nas pesquisas gira em torno
de 50 mil. Energia, biotecnologia, software e medicina são áreas que se encontram em contínua
expansão dentro da empresa. Ela está presente em 68 países e das 39 fábricas espalhadas pelo planeta,
duas delas localizam-se no Brasil.
Fortes (2011) explana que também existem incentivos propiciados pelo governo, onde o Ministério
da Economia do Conhecimento realiza um projeto denominado Programa Metropolitano de Incentivo
às Indústrias Líderes, que consiste em um orçamento destinado aos empreendedores num total de
700 milhões de dólares. O governo fornece fomento, mas também realiza uma cobrança acirrada em
cima de resultados e investimentos, ou seja, ao mesmo tempo em que a empresa recebe subsídio para
melhorar seus produtos e processos industriais, elas são obrigadas a investirem parte de sua receita
em projetos próprios de Pesquisa e Desenvolvimento. O mais interessante é que dá resultado, pois o
número de empresas com insucesso nesse processo é mínimo.
Os coreanos adotam como medida alavancadora focar em um único produto e desenvolver tecnologias
somente para o mesmo para então, tornarem-se líderes de um determinado segmento. A LG coreana,
por exemplo, criou um braço da marca chamado de LG Display, destinando sua produção somente
para telas. Em Paju, uma zona desmilitarizada da Coréia, localizam-se duas das principais fábricas
da LG Display. Segundo Fortes (2011) existem algumas etapas de fabricação em que o local fica
totalmente livre de pessoas caminhando pela fábrica, etapas estas que são controladas totalmente
por robôs, recebendo a visita de um dos operários de vez em quando para averiguar o andamento
da produção. Dentre o leque de produtos oferecidos pela empresa encontram-se protótipos de telas
transparentes, espelhadas e até flexíveis.
Para Fortes (2011) a produção tecnológica coreana tem acontecido de maneira tão densa e significante,
que os coreanos agora temem que seus protótipos sejam plagiados. Por isso criaram um adesivo
inteligente para ser aplicado em lentes de câmeras e microfones dos equipamentos de todas as
pessoas que tiverem que entrarem em suas fábricas e laboratórios de pesquisas, incluindo os próprios
funcionários. O adesivo consiste em vedar as entradas de áudio, vídeo e imagem para que nada seja
copiado, principalmente devido ao uso constante dos smartphones. Se, por acaso esse adesivo for
retirado uma marca ficará fixada no local, impedindo o funcionário ou visitante sair do local portando
o equipamento sem a devida averiguação.
Na cidade de Hwaseong está localizado o complexo de Namyang. O local é o cenário de Pesquisa e
Desenvolvimento de duas das maiores montadoras automotivas coreanas: a Hyundai e a Kia Motors.
Namyang é um centro composto por 10 mil engenheiros. Seu espaço é o equivalente a 500 campos de
futebol. A pista de prova dos protótipos de automóveis possui 70 Km de extensão com 21 superfícies
que simulam diferentes tipos de asfalto e mais de 30 tipos de estrada. As empresas compartilham o
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 69-82, 2013
Tecnologia estratégica
81
espaço, mas guardam sob sete chaves seus projetos. Um túnel de vento é o responsável pelos testes de
aerodinâmica dos carros. Nele foram gastos 45 milhões de dólares. Ele reproduz um vento que chega
a 200 Km/h e ainda faz projeções de temperatura que variam de -30°C a 80°C em condições adversas
de tempo com poeira e água.
No geral, a Coréia do Sul possui uma gana muito grande pela inovação. Segundo dados da
PricewaterhouseCoopers, a cidade de Seul ocupa o terceiro lugar no ranking das cidades-laboratório,
onde destina 24% do seu orçamento para Pesquisa e Desenvolvimento, perdendo somente para
Estocolmo (26%) e Tóquio (25%). Isso é reforçado pela UNESCO, que após um estudo comprovou
que a cada 100 milhões de habitantes, 4.627 são pesquisadores, ficando ligeiramente atrás dos EUA
com 4.663.
Conclusão
Conclui-se por meio deste artigo que a tecnologia caminha em um ritmo acelerado e que cabe a cada
ramo industrial incumbir-se de acompanhá-la. Para isso o planejamento estratégico é importante para
o desenvolvimento de novas tecnologias. Além da junção da tecnologia com a estratégia, comprovada
através do alicerce educacional para futuros frutos, o setor de Pesquisa e Desenvolvimento aliado
com a engenharia forma um time imbatível para a conquista em inovações tecnológicas. O que está
buscando-se atualmente não é mais a invenção propriamente dita, mas sim a inovação no sentido de
melhoria contínua de todos os ramos que dependem da tecnologia, como a medicina, a ciência de
materiais, a própria engenharia, a informática, a física, a ciência biológica, enfim, não existe um ramo
em que a tecnologia não se faça presente.
A tecnologia discutida no passado era totalmente diferente da tecnologia que hoje está sendo abordada
neste trabalho, assim como daqui alguns anos esse material também poderá estar obsoleto. Mas o
princípio do assunto Tecnologia Estratégica não se fundamenta somente num vislumbramento do
futuro, como carros voando a capas de invisibilidade, a intenção principal foi, por meio do material
apresentado, demonstrar o quanto é cíclico o processo tecnológico, o quanto as companhias necessitam
estar atentas ao mercado competitivo e o quanto as pessoas necessitam estarem aptas a adaptarem-se
ao novo. O segredo não consiste em plagiar os modelos orientais como forma de melhorar a condição
econômica e social de um país, mas sim descobrir com ferramentas próprias os meios de que se
necessita para que isso aconteça, pois assim como a China e a Coréia do Sul não pediram auxílio a
ninguém para se reerguerem e tornarem-se a potência tecnológica que são hoje, ficaria uma situação
muito acomodada o Brasil ficar esperando ajuda de terceiros.
É impossível afirmar qual o rumo que a tecnologia tomará nos próximos anos, e tão pouco quem mais
se beneficiará com ela, porém é possível fazer uma previsão sobre quais as linhas tecnológicas que se
tornarão mais importantes, principalmente por meio do planejamento estratégico.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 69-82, 2013
82
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A avaliação De impactos Ambientais no
contexto de aplicação dOS
instrumentos de política ambiental
THE ENVIRONMENTAL IMPACTS ASSESSMENT IN THE
CONTEXT OF THE ENVIRONMENTAL POLICY INSTRUMENTS
Fernando Frachone Neves1
Aurélio Teodoro Fontes2
Denise Gallo Pizella3
Marcelo Pereira de Souza4
RESUMO
Na última década do século vinte, o conceito de desenvolvimento sustentável ganhou força, o qual
apresenta como premissa a conciliação entre a capacidade de suporte do meio e o crescimento
econômico-social. O desafio é fazer com que a aplicação dos instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente considere essa conciliação na tomada de decisão, o que teria como grande aliado a
adequada implementação da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), cujo objetivo é a análise da
viabilidade ambiental de políticas, planos, programas e projetos. Para tanto, o trabalho apresenta uma
revisão bibliográfica sobre o tema e conclui pela necessidade da implementação do Estudo de Impacto
Ambiental e a Avaliação Ambiental Estratégica de maneira que se completem como instrumentos de
Política Ambiental.
Palavras-chave: Avaliação de Impactos Ambientais. Instrumentos de Políticas Ambientais.
Política Nacional do Meio Ambiente.
1
2
3
4
Docente do Centro Paula Souza – FATEC Taquaritinga
Pesquisador no Núcleo de Política e Ciência Ambiental – Agenda Ambiental (FFCLRP-USP)
Docente do Departamento de Biologia e Zootecnia da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – UNESP
Docente do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 83-94, 2013
84
Neves, F. F. et al.
ABSTRACT
In the last decade of the twentieth century, has gained strength the concept of sustainable development,
which has as its premise conciliation between the support capability of the environment and social
and economic growth. The challenge is to make the application of the instruments of the National
Policy on the Environment consider this reconciliation in decision making, which would have great
ally adequate implementation of the Environmental Impact Assessment (EIA), whose goal is to
analyze the environmental feasibility of policies, plans, programs and projects. Therefore, this work
presents a literature review on the topic and concludes by the necessity of the implementation of the
Environmental Impact Assessment and Strategic Environmental Assessment in order to be fulfilled as
an instrument of environmental policy.
Keywords: Environmental Impacts Assessment. Instruments of the Environmental Policy.
Environmental Public Policy.
INTRODUÇÃO
Na última década do século vinte o desenvolvimento sustentável ganhou força, junto à sociedade,
como um novo padrão de desenvolvimento. Esse conceito, originário do ecodesenvolvimento, vem
sendo aplicado de diferentes maneiras, mas sempre sob a mesma premissa de que deve existir a
conciliação entre os interesses econômicos sociais e ambientais. Utilizado a partir do início da década
de 1970, o conceito de ecodesenvolvimento veio na esteira da Conferência de Estocolmo quando,
preocupados com as condições de vida nas zonas rurais do “terceiro mundo”, pensadores da época
buscavam formas de associar a dinâmica econômica com qualidade do meio ambiente e inclusão
social (Oliveira et al, 2009).
Embora o conceito de ecodesenvolvimento tivesse sido difundido por Ignacy Sachs (Sachs, 1974),
houve uma alteração para um conceito mais abrangente denominado desenvolvimento sustentável,
apresentado em IUCN (1980) como sendo um desenvolvimento com vistas a melhoria da qualidade
de vida do homem e suprimento de suas necessidades, devendo, para tanto, considerar os fatores
ecológicos e sociais associados aos econômicos, além da base de recursos naturais e a dimensão
temporal dos impactos decorrentes das ações antrópicas na produção de bens de consumo (NEVES,
2012).
Atualmente, a definição mais difundida de desenvolvimento sustentável é a dada pela Comissão de
Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, WCED (1987), ou relatório
Brundtland: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às necessidades delas”.
Ao observar a definição dada pelo relatório Brundtland, ele encerra um conceito-chave sobre
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A avaliação de impactos ambientais no contexto de aplicação dos instrumentos de política ambiental
85
as possibilidades de nossas necessidades atuais e futuras serem garantidas: a capacidade do meio
ambiente em prover recursos a certas solicitações, denominada capacidade de suporte, que tece a ideia
de que o desenvolvimento pode ser orientado pela oferta de recursos da Terra, o que foi publicado
pela primeira vez em um modelo do Clube de Roma denominado The Limits of Growth: Meadows
et al, 1972.
Há diferentes possibilidades de definição para capacidade de suporte (ODUM, 1988; CONSTANZA,
1991; MCHARG, 1992), mas é objeto do presente trabalho a utilização dessa capacidade como sendo
um ponto no qual um ou mais fatores ambientais, recursos naturais base do modo de desenvolvimento,
inviabilizam a continuidade do crescimento nos mesmos moldes econômicos. Ainda sobre esse tema,
importante destacar que a sustentabilidade espacial e também a temporal estão associadas ao tipo
de atividade exercida no meio: o mesmo fator ambiental responderá diferentemente para diferentes
níveis de solicitação, e vice-versa.
Essa relação de dependência parece evidente, mas não é raro observar tomadas de decisões que
avaliam o comportamento do meio ambiente de forma unívoca, isto é, dissociando a tipologia da
atividade à localização de implantação da mesma, ilustrada pelas setas vermelhas na Figura 1, que
representa as diferentes respostas do meio frente a graus de solicitação.
Figura 1. Binômio tipologia-localização (adaptado de Oliveira et al, 2009).
Assim, não havendo uma correspondência direta entre a quantidade de emissão de substâncias ou
poluentes e o impacto produzido no meio, se faz necessário instrumentalizar a gestão ambiental para
que esta possibilite a tomada de decisão relativa a uma atividade contemplando adequadamente o
binômio tipologia-localização. A qualidade ambiental é resultado da conciliação do tipo da atividade
e a capacidade de suporte do meio. Sobre a caracterização de atividades, a gestão normalmente possui
informações, mas sobre o meio, sobre qual uso e ocupação do solo seriam mais adequados há carência
de indicação, a qual poderia ser suprida pelo zoneamento ambiental – conforme apontam Ranieri et
al (2005).
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86
Neves, F. F. et al.
Essa análise de viabilidade de impactos em determinada porção do território pode ser traduzida como
a dimensão espacial do conceito de sustentabilidade ambiental. Na tentativa de viabilizar este novo
paradigma “Sustentabilidade”, foram criados e estão sendo aprimorados instrumentos que obedecem
aos objetivos de uma Política Ambiental. No Brasil, a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) –
Lei Federal 6.938 de 1981 – traz diversos instrumentos de implementação de uma política ambiental.
Dentre esses instrumentos, além do zoneamento ambiental, pode-se ressaltar o licenciamento de
atividades potencialmente poluidoras e a avaliação de impactos ambientais, sendo a necessidade da
inserção da variável ambiental na elaboração de planos, políticas e programas, objetivos a serem
alcançados pela Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), instrumento ainda não implementado no
Brasil, mas largamente utilizado internacionalmente a partir de 2001, com a Diretiva Europeia.
AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL
O contexto atual da Política Nacional de Meio Ambiente pode ser analisado a partir da avaliação
de alguns de seus instrumentos. Nesse sentido, o processo de licenciamento ambiental, apesar de
pretender o funcionamento de empreendimentos que apresentem viabilidade ambiental, privilegia a
eficiência do processo – como rapidez na emissão da licença e arrecadação de taxas e emolumentos –
em detrimento da eficácia dos resultados. E dando prioridade a aspectos do processo, deixa de investir
na produção de conhecimento relativo ao meio ambiente afetado.
Exemplo desta constatação, em alguns casos, a falta de informações ambientais preliminares precipita
em decisões a favor de alternativas tecnológicas e locacionais onde a viabilidade econômica se
sobrepõe a ambiental. Dito anteriormente, o conhecimento da capacidade de suporte que determinado
local possui deveria ser prévio, dado por instrumento de zoneamento ambiental que também servia de
base ao licenciamento (Oliveira et al, 2009).
Ainda dentro do processo de licenciamento ambiental, previsto no inciso IV do artigo 9º. da Lei Federal
nº. 6.938 de 1981, regulamentado pela Resolução Conama 237/97 para suprir a avaliação de impactos
ambientais, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) deveria ser um importante mecanismo de
prevenção, responsável pela determinação da viabilidade ambiental de um empreendimento associado
a significativo impacto negativo. Entretanto, ele também encontra dificuldades em comparar aspectos
técnicos, econômicos e ambientais sem tornar o processo extremamente complexo por exigir a
produção de grande quantidade de informações primárias.
No mesmo sentido, outro instrumento que compõe a avaliação de impactos ambientais, mas que
somente agora está sendo discutida no Brasil é a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), a qual
vem sendo amplamente utilizada na Europa, Estados Unidos da América, Austrália, Canadá e Nova
Zelândia, sempre observadas as peculiaridades de cada um desses locais, segundo Therivel (2004);
Glasson et al (2005); João (2005) e Partidário (2007).
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A avaliação de impactos ambientais no contexto de aplicação dos instrumentos de política ambiental
87
A característica central do sistema de AAE é permitir que os princípios de sustentabilidade permeiem
Planos e Programas de desenvolvimento (setorial e regional/espacial), visando a assegurar que a
capacidade de suporte do meio não seja ultrapassada quando da implantação do conjunto de projetos
resultantes dessas diretrizes. Assim, podemos considerar que somente após a implementação da AAE é
que se tem a efetivação da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), pois passa a existir a possibilidade
de análise de viabilidade ambiental do processo de desenvolvimento desde o planejamento até a
execução de ações no âmbito da gestão ambiental.
Historicamente, as avaliações de impactos ambientais surgiram por uma necessidade de harmonizar o
desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, no sentido de um desenvolvimento sustentável
do ponto de vista ambiental, econômico e social, tal como reafirmado na Conferência de Estocolmo
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano de 1972. Existem diversas definições para o
termo, tais como a adotada no Reino Unido, conforme apresentado por Munn (1979) e Doe (1989)
apud Glasson et al (2005); Leknes (2001); Sánches (2006), dentre outros.
No início de sua concepção, a AIA tinha por objetivo avaliar os impactos de projetos ou atividades
de desenvolvimento ligados a implantação de empreendimentos, mas ampliou-se para a inserção
da questão ambiental no processo e tomada de decisão de Políticas, Planos e Programas (PPPs) que
antecedem estes projetos.
No Brasil e em outras nações, as AIAs abrangem a avaliação dos impactos ambientais de projetos, a
qual se dá o nome de Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
A AIA foi introduzida como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81), e
o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), único instrumento de AIA existente no país, foi regulamentado
por Resoluções CONAMA e normas Estaduais.
O objetivo do EIA é identificar e avaliar a viabilidade ambiental e as consequências ambientais
significativas de projetos propostos (KUITUNEN; JALAVA; HIRVONEN, 2007), de modo a
auxiliar as tomadas de decisão (LEKNES, 2001). Segundo este autor, uma das formas de respaldar
as decisões é conceder aos seus tomadores informações sobre os possíveis impactos do projeto, de
forma compreensível.
De forma geral, na maioria das nações incluindo o Brasil, o licenciamento de projetos significativamente
impactantes é condicionado à realização de um estudo prévio de impacto ambiental, ou EIA e seu
respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA). No entanto, outros instrumentos mais simplificados
de AIA podem ser aplicados a determinadas situações ou de acordo com a legislação Estadual.
No Brasil, o EIA é relacionado diretamente ao processo de licenciamento ambiental de projetos,
regulamentado pela Resolução CONAMA 237/97, definido como um procedimento administrativo
que visa permitir a instalação, operação e desativação de empreendimentos tidos como potencialmente
impactantes.
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88
Neves, F. F. et al.
Outras formas de estudos ambientais podem ser solicitadas, tais como: planos de controle ambiental,
diagnóstico ambiental, relatório ambiental preliminar, análise de risco preliminar e planos de
recuperação de áreas degradadas, quando se tratar de atividades que não sejam potencialmente
causadoras de significativos impactos ambientais, cabendo ao órgão ambiental competente tal decisão.
No Estado de São Paulo em específico, a Resolução SMA 54 de 2004, que dispõe sobre procedimentos
para o licenciamento ambiental no âmbito da Secretaria do Meio Ambiente, estabeleceu como estudos
ambientais intermediários, o Estudo Ambiental Simplificado e o Relatório Ambiental Preliminar.
Muito embora o artigo 7º. da Resolução CONAMA 237/97 preveja a competência de um único nível
licenciador, a competência para a realização do licenciamento ambiental depende do grau do impacto
e de sua abrangência, o que está em consonância com os artigos 23, incisos VI e VII da Constituição
Federal de 1988.
No Brasil, o EIA/RIMA deve ser realizado a expensas do empreendedor, cujas diretrizes devem ser
obedecidas quando da realização de um estudo de impacto ambiental, de acordo com a Resolução
CONAMA 01/86.
Com a prática do EIA consolidando-se mundialmente, uma série de dificuldades quanto o cumprimento
das funções que foram atribuídas a este instrumento passaram a ser detectadas e, portanto, sua
capacidade para promover o desenvolvimento sustentável foi posta em dúvida. Mesmo com a ampla
adoção deste instrumento, a degradação ambiental permanece sendo um grande problema em todo o
mundo, tanto nos países em desenvolvimento (ALSHUWAIKHAT, 2005) quanto nos desenvolvidos,
que tem por modelo um elevado consumo de recursos naturais.
Dentre as limitações do EIA, podem ser citadas (THERIVEL et al., 1994; SCHMIDT; JOÃO;
ALBRECHT, 2005; ALSHUWAIKHAT, 2005):
a) Dificuldades em considerar os impactos cumulativos, indiretos e sinérgicos dos projetos, que
deveriam ter em vista os impactos advindos das diversas atividades similares instaladas próximas
entre si, em um recorte territorial não abrangido pelo EIA, que estuda apenas os projetos individuais.
b) O EIA é um estudo reativo a uma determinada proposta de desenvolvimento, com horizonte de
curto prazo;
c) A não inserção do projeto em um planejamento estratégico impossibilita que impactos ambientais
significativos sejam identificados previamente, conduzindo ao elevado custo operacional do EIA,
que requer uma série de dados brutos e estudos que poderiam ser considerados em etapas anteriores
do planejamento;
d) Dificuldades em levantar alternativas tecnológicas, locacionais e de modelos de desenvolvimento,
já que outras atividades propostas na área em estudo não são consideradas. Deste modo, a instalação
de atividades pode e geralmente é realizada em áreas ambientalmente frágeis, já que não existe um
diagnóstico ambiental prévio do local.
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A avaliação de impactos ambientais no contexto de aplicação dos instrumentos de política ambiental
89
e) O EIA é utilizado para a aprovação ou não de projetos, ou seja, para o licenciamento ambiental,
o que envolve um planejamento operacional da atividade em questão, enquanto que a AAE é um
instrumento de planejamento que visa aprimorar as PPPs, não as submetendo ao licenciamento;
f) Em sua grande maioria, o EIA é realizado sem um planejamento estratégico prévio que permite
analisar alternativas de desenvolvimento em horizontes temporais amplos. Isto se deve ao
fato de o EIA avaliar uma atividade que já se encontra proposta, levando em conta apenas o
ciclo de vida, quando muito, da atividade isolada. Deste modo, a tomada de decisões sobre os
modelos de desenvolvimento são tomadas tardiamente. O EIA termina por reagir a propostas de
desenvolvimento, ao invés de antecipá-las;
g) Apesar da exigência de monitoramento ambiental nas etapas de instalação, operação e desinstalação
do projeto na maior parte das legislações nacionais sobre EIA, este fato não é cumprido, o que
impossibilita a detecção de possíveis impactos ambientais durante o ciclo de vida do projeto e não
gera o acúmulo de conhecimento necessário para futuros EIAs de atividades similares;
h) A condução de um EIA sem o planejamento ambiental não permite que ações preventivas sejam
tomadas, já que há grandes dificuldades em considerar alternativas, impactos cumulativos, indiretos
e sinérgicos, e não há retroalimentação dos estudos, pela falta de monitoramento.
i) Nos países em desenvolvimento, o próprio instrumento EIA demonstra-se inefetivo devido à
ausência de capacidade organizacional, difusão de experiências e entraves políticos. Deste
modo, a necessidade em desenvolver um modelo de AIA que considerasse as etapas iniciais de
planejamento estratégico foi levada em conta por diversas organizações internacionais, a fim
de que as relações entre desenvolvimento social e econômico e qualidade ambiental fossem
consideradas.
AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA
Deste modo, a necessidade em desenvolver um modelo de AIA que considerasse as etapas iniciais de
planejamento estratégico foi levada em conta por diversas organizações internacionais, a fim de que
as relações entre desenvolvimento social e econômico e qualidade ambiental fossem consideradas.
Tal instrumento foi denominado Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) que, segundo Therivel et al.
(2004) consiste em um processo sistemático de avaliação das consequências ambientais de políticas,
planos e programas (PPPs) propostas com intuito de garantir que as mesmas estejam completamente
incluídas nos estágios iniciais apropriados da tomada de decisão, em conjunto com considerações
econômicas e sociais.
As ações estratégicas geralmente são desenvolvidas por órgãos governamentais, mas também podem
incluir companhias privadas ou semiprivadas, e são caracterizadas por possuírem “um ou mais
objetivos, adicionados a detalhamentos sobre como o(s) objetivo(s) será(serão) implementado(s)”
(THERIVEL et al., 1994, p.10).
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90
Neves, F. F. et al.
De acordo com Therivel (2004), até 2003 aproximadamente vinte nações haviam incorporado
requerimentos legais para a AAE em seus arcabouços legislativos, tendo por base dois modelos
emergentes: a Diretiva Europeia 2001/42/EC e o SEA Protocol da UNECE, originados com o intuito
das nações interessadas acordarem sobre um sistema universal de AAE, abrangendo uma ampla
gama de ações estratégicas. Segundo Jones et al. (2005), este número vem crescendo em virtude
também da exigência da realização de AAE para Planos e Programas de financiamento aos países em
desenvolvimento por parte do Banco Mundial, que elaborou procedimentos próprios para o estudo.
Os princípios e objetivos da realização de uma AAE em Políticas, Planos e Programas são, de
forma geral (THERIVEL et al., 1994; THERIVEL, 2004; JOÃO, 2005; ALSHUWAIKHAT, 2005;
PARTIDÁRIO, 2007):
a) Instrumento adequado para a implementação dos princípios do desenvolvimento sustentável, por
considerar as variáveis ambientais e, por vezes, sociais e econômicas nas etapas de planejamento.
Possibilita a aplicação do princípio da precaução, caso haja ausência de certezas quanto aos
potenciais danos ambientais significativos;
b) É uma ferramenta para o aprimoramento da ação estratégica, podendo conduzir a sua modificação
em termos de objetivos, formas de alcance e implementação, caso seja considerada nos estágios
iniciais dos processos de tomadas de decisão;
c) Participação dos atores interessados, que deve ocorrer nas diversas etapas do planejamento da
ação estratégica, tornando o processo mais transparente, robusto e efetivo, garantindo também os
mecanismos de prestações de contas e uma boa governança ambiental;
d) Enfoca aspectos importantes da ação estratégica, com um nível menor de detalhamento do que uma
avaliação pontual, como o EIA;
e) Por permitir que a Avaliação de Impactos Ambientais se dê “em cascata”, ou seja, de forma
hierarquizada no sentido das políticas aos projetos, evita que as análises prévias sobre os potenciais
impactos de um modelo de desenvolvimento sejam repetidas no EIA, tornando-o mais dinâmico
e menos custoso.
f) Auxilia na escolha da melhor opção em se tratando de meio ambiente, o que envolve a consideração
e análise de diversas alternativas, que podem incluir a opção de não adotar a estratégia ou
continuar com as tendências atuais de desenvolvimento. As alternativas abordadas podem não ser
excludentes, mas sim integradas;
g) Possibilita a minimização de impactos negativos, a otimização dos positivos e a compensação pela
perda de características e benefícios valiosos;
h) Permite também a prevenção dos impactos negativos e dos conflitos sociais advindos das diversas
propostas nas etapas de planejamento estratégico;
i) Pelo fato das etapas estratégicas conduzirem e delinearem os empreendimentos pontuais, uma
ferramenta que possibilite sua avaliação oferece a chance de influenciar as tipologias dos projetos
futuros, ao invés de detalhá-los e avaliá-los somente após sua concepção;
j) Possibilita uma maior compreensão acerca da ação estratégica e suas conexões e efeitos sobre ações
correlatas;
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 83-94, 2013
A avaliação de impactos ambientais no contexto de aplicação dos instrumentos de política ambiental
91
k) Permite a integração institucional, por considerar as demais PPPs relacionadas à ação estratégica
em análise.
l) A exigência do monitoramento ambiental retroalimentado possibilita uma gestão ambiental
adaptativa, com mecanismos de prevenção e mitigação de impactos mais eficazes que no EIA;
m) No entanto, assim como para o EIA, a aplicação da AAE também possui uma série de limitações, tais
como (THERIVEL, 1994; INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR IMPACT ASSESSMENT,
2005; JOÃO, 2007):
n) Elevado grau de incertezas na previsão dos impactos ambientais, em função da larga escala temporal
e espacial dos estudos, da falta de informações ambientais e da dinâmica dos sistemas analisados,
com os fatores ambientais, sociais e econômicos em constante interação e modificação;
o) Falta de informações a respeito da natureza, escala e localização de futuras propostas de
desenvolvimento, dificultando a previsão dos impactos potenciais;
p) Ausência, em maior ou menor grau de acordo com o país em questão, de articulação institucional,
dificultando a preparação de políticas comuns e evitando sua duplicação e as possíveis contradições
derivadas;
q) Diversas nações carecem de sistemas de planejamento, principalmente de longo prazo, reagindo às
demandas imediatas que se concretizam na fase de projetos;
r) Dificuldades em inserir a variável ambiental no planejamento estratégico, com a preponderância dos
interesses econômicos. Carência de informações sistematizadas sobre a biodiversidade florística e
faunística.
s) Metodologias de AAE ainda não são bem definidas, principalmente quanto às formas de participação
pública e predição e avaliação dos impactos indiretos e cumulativos, de longo prazo;
t) Há falta de inclusão de dados históricos que indiquem possíveis melhorias ou pioras em uma
determinada situação em estudo que, caso incluídos em AAEs, poderiam auxiliar a detecção dos
impactos sobre o meio e seus efeitos cumulativos;
u) Por se tratar de um instrumento de AIA relativamente recente, a definição e forma de implantação
da AAE são bastante variáveis entre os países. Em razão disto, alguns estudos que são considerados
como sendo AAEs são bastante questionáveis, assemelhando-se por vezes a EIAs de grandes
projetos.
Um fator importante a ser considerado é o fato de a AAE não ter como objetivo substituir o EIA,
que possui suas atribuições específicas, mas sim complementá-lo e antecedê-lo por meio de um
planejamento ambiental prévio, considerando impactos em escalas temporais e espaciais amplas, tais
como os impactos cumulativos e indiretos. Além disto, permite uma avaliação ambiental adaptativa e
minimiza os gastos do EIA em termos financeiros e temporais para a execução dos estudos.
Segundo João (2005) e Partidário (2007), a AAE não se objetiva somente a avaliar a ação estratégica,
mas também influenciar em sua elaboração, melhorando-a de acordo com as conclusões dos estudos,
o que contribui para o processo de tomada de decisões que se dão em momentos diversificados. Caso
a AAE seja realizada paralelamente sem a integração nas etapas de planejamento, sua influência sobre
as decisões será diminuta. João (2005) apresenta quatro possíveis modelos de interação entre a AAE e
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 83-94, 2013
92
Neves, F. F. et al.
as etapas decisórias que ocorrem durante o planejamento. Para o autor, o modelo (a – não integrado)
demonstra uma prática comum em que a AAE é realizada como uma avaliação paralela às etapas de
planejamento, não influenciando em absoluto as tomadas de decisões; o modelo (b) apresenta a AAE
informando seus resultados e possivelmente interferindo na fase final da estratégia. Por conta disto, tais
aplicações da AAE são consideradas impróprias, por não interferirem no formato da Política, Plano ou
Programa analisados; já os modelos (c) e (d) são denominados “integrados” porque estabelecem um elo
de ligação entre as múltiplas etapas decisórias do planejamento com as etapas da AAE, possibilitando às
autoridades competentes pela PPP se informar a respeito dos resultados da AAE ao longo da elaboração
da ação estratégica e utilizar as análises para tomar suas decisões.
Sendo o objetivo da AAE a inserção da variável ambiental na elaboração das PPPs, avaliando sua
viabilidade ambiental e melhorando suas estratégias de forma a alcançar a sustentabilidade ambiental,
os objetivos da ação estratégica podem ser remodelados em um modelo integrado. Daí a importância
da AAE “ser iniciada previamente, integrada ao processo decisório e focar nas alternativas potenciais
e nas modificações da ação estratégica” (LEVETT; THERIVEL, 2003 apud JOÃO, 2005).
Apesar da variedade de procedimentos existentes em AAE, como as metodologias aplicadas na
avaliação de políticas e legislações, baseadas geralmente em testes ambientais de caráter informal,
a AAE utilizada em Planos e Programas apresenta comumente algumas etapas que se assemelham
aos estágios do EIA. Dentre esses conteúdos, a determinação da área de influência e a definição de
alternativas de estratégias, podem ter no zoneamento ambiental um aliado valioso na obtenção de
informações preliminares relativas à aptidão ambiental do território – o que vem sendo destacado há
algum tempo, conforme Fontes (1997).
Para ilustrar as possibilidades de relacionamento entre os instrumentos da PNMA diretamente
afeitos a AAE, tais como o Licenciamento Ambiental, o Zoneamento Ambiental e o EIA – conforme
regulamentação dada à Avaliação de Impactos Ambientais pela Resolução CONAMA 001/86,
apresenta-se a Figura 2, a seguir:
Figura 2. Interrelação entre a AAE, o EIA, o Zoneamento e o Licenciamento Ambiental.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 83-94, 2013
A avaliação de impactos ambientais no contexto de aplicação dos instrumentos de política ambiental
93
CONCLUSÃO
A complementariedade entre os instrumentos de planejamento e gestão ambiental é consenso,
mas de difícil aplicação, como mostra o exemplo da AAE que sequer fora contemplada quando da
regulamentação da AIA. No Brasil, não há regulamentação para a AAE, a qual vem sendo realizada
de forma pontual e com metodologias e princípios diversos. Há situações em que os estudos são
conduzidos para o licenciamento ambiental, o que fere a ideia globalmente difundida do instrumento
como subsídio ao EIA, este último com finalidade de avaliar projetos sujeitos ao licenciamento.
Sendo da natureza dos instrumentos de política ambiental a especificidade de objetivos e diferentes
momentos e limitações de aplicação, dentro do cenário maior de desenvolvimento buscado por esta
política, se faz necessária a inter-relação entre os diversos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente para a eficácia do sistema de gestão ambiental público.
Na busca da sustentabilidade, essa sistematização no contexto dos instrumentos aqui abordados aponta
que a adequada aplicação da AIA – que pressupõe o uso de uma base de informação que indique a
capacidade de o ambiente suportar a demanda por recursos naturais – auxiliaria as estratégias de
desenvolvimento do país em seus componentes setoriais e, por consequência, na maior abrangência
dos estudos ambientais necessários a licenciamentos ambientais.
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95
O SISTEMA DE ROTAÇÃO ENTRE AMENDOIM E CANA-DEAÇÚCAR EM ÁREAS CONTROLADAS POR INDÚSTRIAS
THE PEANUT AND SUGAR CANE ROTATION SYSTEM
IN AREAS UNDER INDUSTRIAL CONTROL
Luiz José Scarpin1
Martin Mundo Neto2
Guilherme Augusto Malagolli3
RESUMO
O objetivo deste estudo foi demonstrar os motivos pelo qual o produtor de amendoim encontra
dificuldades em utilizar do sistema de rotação de cultura com a cana de açúcar, em propriedades das
usinas. O estudo traz opiniões de produtores de amendoim e especialistas renomados de grandes
empresas, além de dados de safras, enfatizando possíveis alternativas, como o desenvolvimento de
variedades de amendoim com um ciclo de produção mais curto, além de iniciativas da Coplana e da
Embrapa para minimizar os problemas da rotação cana/amendoim.
PALAVRAS–CHAVE: Rotação de Culturas. Mercado do Amendoim. Tecnologia Agrícola.
Agricultura sustentável.
ABSTRACT
The objective of this study was to demonstrate the reasons for which the peanuts producers are finding
difficulties to operate the peanuts and sugar cane rotation system in areas under industrial control.
The study presents peanut producers opinions and renowned experts from large companies, as well
as data vintages, emphasizing possible alternatives as the development of peanut varieties with a
shorter production cycle and initiatives like that operated by Coplana and Embrapa to minimize the
problem related with the sugar cane / peanuts rotation system.
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – E-mail: [email protected]
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – E-mail: [email protected]
3
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – E-mail: [email protected]
1
2
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
96
Scarpin, L. J. et al.
KEY-WORDS: Crops rotation. Peanuts market. Agriculture Technology. Sustainable Agriculture.
INTRODUÇÃO
A cultura do amendoim vem ganhando destaque e importância no mercado mundial, atualmente este
mercado movimenta cerca de US$ 18,5 bilhões ao ano. Em termos de consumo destacam-se a União
Europeia, o Japão, a Rússia, a Indonésia, o Canadá e o México, já em produção a China lidera o
setor, seguido por Índia, EUA e Argentina. O Brasil ocupa a 17 ª posição nos parâmetros de produção
(FUNEP, 2013), com destaque para a região Sudeste do país, responsável por 80% de área cultiva,
sendo que grande parte é consorciada com a cultura da cana de açúcar. Esta produção concentra-se
basicamente no interior do estado, com destaque para as regiões de Jaboticabal, Presidente Prudente,
Marília, Assis e Barretos, entre outras, que estão em constante crescimento. Por seu alto valor nutritivo,
sua produção é destinada tanto para o consumo in natura quanto para indústrias alimentícias, voltado
para produção de óleo, torta, farelo, entre outros derivados ABICAB (2013).
O mercado do amendoim no Brasil apresenta crescimento e algumas empresas do setor vêm se
destacando, sobretudo as organizações cooperativas fundadas por agricultores, predominantemente
produtores de cana de açúcar. Na Copercana (Cooperativa dos Produtores de Cana do Oeste do
Estado de São Paulo) o amendoim representa 12% do faturamento da empresa, perfazendo uma área
de plantio de 11.000 ha na safra/ano 2012/2013, com produtividade media de 181 sacas/ha. Outra
empresa com fundamento cooperativo com destaque é a Coplana (Cooperativa dos Plantadores de
Cana da Zona de Guariba), a maior cooperativa do país em comercialização de amendoim. Calculase que, na safra 2012/2013, esta atingiu um recebimento próximo a 3,2 milhões de sacas de 25 kg de
amendoim em casca, quantidade recorde de toda sua história. Atualmente a Coplana é responsável
por 27% do amendoim produzido no país, sendo que 32 mil toneladas em grãos destinam-se para
exportações.
Embora seja um produto comercializado o ano inteiro, o mesmo passa por um período conhecido
como sazonalidade, em que a maior demanda por grãos e derivados de amendoim ocorre a partir de
meados de maio até julho, quando o consumo aumenta consideravelmente, devido aos tradicionais
eventos juninos, principalmente na região Nordeste, segundo maior polo consumidor de amendoim
em nível nacional.
Além destes quesitos o amendoim também é muito utilizado para rotação de cultura com a cana
de açúcar, com o propósito de reduzir os custos de produção, evitando assim todos os problemas
ocasionados pela monocultura da cana de açúcar, dando lucro, proteção ambiental, sustentabilidade
da agricultura, recuperando a qualidade do solo e segurança na produção de alimentos e energia.
Neste estudo foi realizada uma comparação do amendoim e a soja. A soja, há algumas décadas se
tornou uma das principais commodities agrícolas brasileira, uma vez que, atualmente, o Brasil se
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
O sistema de rotação entre amendoim e cana-de-açúcar em áreas controladadas por indústrias
97
tornou o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas para os EUA. Outra variedade vegetal
que faz parte deste contexto é o sorgo, que se assemelha a cana de açúcar e se desenvolve em períodos
na entressafra da cana, fato importante neste estudo. Desde sua inserção na agricultura brasileira, o
sorgo nunca se destacou em termos de comércio e produção no país, um dos motivos é que o mesmo
sempre foi colocado como substituto do milho (DUARTE, 2013).
Considerando a importância do amendoim para o agronegócio, o presente trabalho pretende
contribuir para com o entendimento do mercado do amendoim na medida em que procura responder
a seguinte questão: Porque diminuiu o interesse dos produtores de cana em disponibilizar em forma
de arrendamento de áreas para a rotação de cultura com o amendoim e qual o papel de outras culturas
como a soja e o sorgo no enfraquecimento desta atividade?
METODOLOGIA
Os dados apresentados foram levantados através de pesquisas à base de dados sítios da internet de
agências governamentais, revistas, trabalhos acadêmicos, palestras ministradas por profissionais
ligados ao setor, encontros de produtores, especialistas e interessados, realizados por entidades
renomadas, livros.
Foi realizado um trabalho de campo, visitando propriedades rurais e instalações industriais, além de
entrevistas com dois especialistas no mercado de amendoim e três produtores rurais do município de
Jaboticabal, Estado de São Paulo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Ehlers (1999), a rotação de culturas vem sendo praticada pelos chineses há milênios
e ela, em conjunto com a integração de produção vegetal e produção animal, teriam sido a base da
primeira revolução agrícola, contribuindo para o aumento da oferta de alimentos, sobretudo no período
da primeira revolução industrial. Com a segunda revolução agrícola, caracterizada pela intensificação
do uso da moto mecanização e da adoção de insumos químicos industrializados, teria ocorrido uma
gradativa especialização das atividades agropecuárias, deslocando a rotação de cultura do centro das
praticas agronômicas para a periferia.
Com o mercado de amendoim em ascensão, os produtores de amendoim vêm buscando ampliar a
área de plantio, porém, eles esbarram em um problema que impossibilita a produção: a falta de área.
Um dos motivos é o fato de que 80% das terras nas quais se operam a rotação de amendoim com
a cultura da cana-de-açúcar são cedidas pelas usinas. A operação de rotação tem como fundamento
recuperar os nutrientes essenciais para o solo e consequentemente transpor uma melhora na produção
da cana (EMBRAPA, 2003). Consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais numa mesma área
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
98
Scarpin, L. J. et al.
agrícola, sendo que as espécies escolhidas devem possuir ao mesmo tempo, propósitos comerciais
e de recuperação de solo, sistema perfeito para ser realizado entre o amendoim e a cana de açúcar
(SABES; ALVES, 2007).
Grynszpan (2009) analisou a difusão da ideia de agribusiness e, posteriormente, de agronegócio, a
partir do estudo da trajetória de dois indivíduos que teriam atuado como protagonistas: Ney Bittencourt
Araújo e Roberto Rodrigues. Aqui, o interesse estaria na contribuição de Roberto Rodrigues, uma vez
que no inicio de sua trajetória acadêmica, ele teria se destacado por seus estudos sobre os benefícios
agronômicos e financeiros que a rotação de cana de açúcar, uma gramínea, com amendoim, ou outra
leguminosa, poderiam gerar. Seu modelo seria, tempos depois, batizado de “sistema Coplana”, no
ambiente da cooperativa onde seus experimentos ganharam notoriedade, ultrapassando a fronteira da
universidade e de suas atividades na fazenda da família.
De acordo com Mundo Neto (2012), nos anos recentes, Roberto Rodrigues, por meio de sua empresa
AGROERG, estaria reunindo recursos de investidores interessados em explorar as potencialidades
dos negócios relacionados ao etanol de cana de açúcar. Sua legitimidade teria sustentação tanto
no reconhecimento de suas contribuições na área técnica, mas também aquela acumulada na sua
trajetória politica, notadamente como ministro da agricultura, e empresarial, com destaque para sua
participação no conselho de administração de empresas de capital aberto, inclusive no da bolsa de
valores e mercadorias do estado de São Paulo - BMF&BOVESPA. Na apresentação do perfil dos
fundadores da empresa destaca-se o conjunto de atributos e a rede de organizações de relevância nas
respectivas trajetórias, destaca-se a de Roberto Rodrigues:
Entre os sócios fundadores, a empresa conta a participação de Roberto Rodrigues, que foi Ministro
da Agricultura (2003-2006) e atualmente é produtor e fornecedor de cana de açúcar no Estado de São
Paulo. Hoje, a Fazenda Santa Izabel, de sua propriedade, localizada em Guariba (SP), é referência
em mecanização de plantio e colheita de cana. Na área técnica-rural, Rodrigues foi pioneiro na
introdução do conceito do sistema de rotação de cultura soja-cana, que posteriormente deu origem
ao sistema Coplana (Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba) e ao projeto Cana/
Alimentos, desenvolvido pelo Planalsucar (Programa Nacional de Melhoramento da Cana-deAçúcar). A partir de convênios com a Unesp (Universidade Estadual Paulista), introduziu novos
produtos, variedades e equipamentos que contribuíram para o aumento de produtividade e redução
dos custos na Fazenda Santa Izabel. Aliado a isso, criou o sistema de controle de custos de produção,
que serviu de base para modelos atualmente utilizados pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e IEA
(Instituto de Economia Agrícola), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo. Na área social, foi o primeiro produtor da região a assinar a carteira profissional e
pagar benefícios sociais para todos os trabalhadores rurais (AGROERG, 2013).
De acordo com Mundo Neto (2012), a empresa de Roberto Rodrigues ilustra a tendência e preocupação
com a sustentabilidade das atividades econômicas que estaria predominando entre as lideranças do
setor sucroenergetico brasileiro. Reunidos em torno da UNICA, os maiores grupos que atuam no
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
O sistema de rotação entre amendoim e cana-de-açúcar em áreas controladadas por indústrias
99
setor passaram a adotar praticas consideradas sustentáveis, seja nas atividades agrícolas como nas
industriais. Nas primeiras, destaca-se a rotação de culturas que além de propiciar melhorias ambientais
e econômicas também seria uma das respostas à crítica que o setor tem recebido sobre o aumento da
concorrência entre as culturas destinadas à bioenergia e àquelas destinadas à produção de alimentos.
Segundo Wagner Antonio Penariol, produtor de cana e amendoim, de Jaboticabal, este fato já vem se
intensificando há certo prazo, sendo que, em 2011, foram plantados 80 alqueires de amendoim, em
2012, 60 alqueires e agora em 2013 não consegue definir área de plantio, e as previsões são de plantar
no máximo 30 alqueires.
Um dos fatores que explica este dilema é a busca por parte das usinas de uma variedade de cana
com maior durabilidade em safras, mantendo um nível de qualidade dentro dos padrões de produção
das usinas. Estas passam por um período de decisão em que um dos maiores gargalos da atividade
está voltado para os custos de produção, ou seja, este quesito implica em retirar o máximo da cana
aumentando a quantidade de corte e diminuindo a atividade de rotação (UNICA, 2013).
Outro fator a ser destacado é o não cumprimento dos prazos por parte do produtor de amendoim, na
entrega das terras arrendadas, ocasionado principalmente por fatores climáticos e sistema de produção
tecnologicamente defasado. Esta questão pode ser percebida na analise do tempo de colheita utilizado
na mecanização atual que, com a adoção de máquinas mais sofisticadas, poderia ser mais eficiente
(FUNEP, 2013).
Paulo Henn, gerente do departamento de grãos da Coplana, destaca que um dos motivos é a falta
de planejamento por parte das usinas, em que o produtor de amendoim não consegue colher no
período estipulado pelo fato das usinas também não colherem no período ideal para início da rotação,
outro ponto é que grande parte das usinas não conseguem colher toda a área de canaviais, lançando
parte da produção para a safra futura, mais conhecida como cana bisada. Segundo Henn, as questões
climáticas são cruciais para o segmento do processo de rotação, ou seja, as usinas querem aproveitar
os períodos de chuva. Evidencia ainda, que este fato já vem ocorrendo em safras anteriores, e que o
ato dos responsáveis pela produção da cana não serem cobrados para exercerem a rotação, levam estes
a buscarem trabalhar com base somente na produção, ou seja, se a produtividade ainda estiver dentro
do planejamento, a rotação vai sendo adiada, ignorando os benefícios causados por esta atividade.
Henn informou que a Coplana vem buscando utilizar variedades de amendoim com um período de
produção menor. Atualmente a variedade utilizada é o RUNNER, que varia entre 120 a 150 dias
até a colheita, uma variedade de amendoim com uma época de colheita menor, levaria a minimizar
grande porcentagem deste problema. Este caso ilustra a forma como as cooperativas contribuem no
incremento das opções em termos de tecnologias para o cultivo do amendoim.
Especialistas mencionam que principalmente os produtores de amendoim devem utilizar como
argumento os benefícios que a rotação transfere ao solo, já que pesquisa realizada pela Embrapa,
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100
Scarpin, L. J. et al.
demonstra que a ausência dessa prática acarreta o surgimento de alterações de ordem química, física e
biológica no solo, que podem comprometer a estabilidade do sistema produtivo, em exemplo de efeito
nocivo ao solo é a diminuição do teor de matéria orgânica do solo (MOS), a degradação da estrutura
do solo, a intensificação dos processos erosivos, a redução da atividade e diversidade biológica, o
aumento da incidência e severidade de pragas e doenças e aumento da infestação de plantas daninhas,
mencionado por (FRANCHINI et al., 2011).
Segundo Galeti (1973, p.78) é uma cultura que vem desde a antiguidade, pelo fato de ser uma prática
simples com gastos comuns e com benefícios comprovados. Galeti (1973, p.79) menciona ainda que
com a mudança de culturas “[...] evita-se que o solo se esgote em um determinado elemento (aquele
retirado em maior quantidade)”.
De acordo com especialistas da Coplana, com a rotação, as usinas não adquirem apenas ganhos
agronômicos, mas também financeiros. Estimativas indicam que cerca de 20% dos custos de plantio
de cana são minimizados com os benefícios da rotação com o amendoim.
O sistema de rotação, além de eliminar o efeito prejudicial da monocultura, economiza-se nas
operações de preparo do solo no plantio da cana. Além disso, se as condições forem favoráveis
(clima, produção e preço), o lucro obtido com a cultura de sucessão (soja, amendoim, etc.) paga todas
as operações de plantio (M.O. e equipamentos) da cultura de cana-de-açúcar (TANIMOTO, 2008),
conforme indicado na Ilustração - 1. Também deve se considerado o fato do amendoim atuar como
adubação verde, promovendo a aeração do solo e fixação biológica de nitrogênio.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
O sistema de rotação entre amendoim e cana-de-açúcar em áreas controladadas por indústrias
101
Ilustração - 1. Comparativos de custos de produção de 1 hectare - Cultura: Soja após Cana-deAçúcar
Data:15/06/2008 – Revista Plantio Direto.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento, vem fazendo uma seleção de variedades de soja e amendoim, destinados
a um projeto conhecido como Rotcana. Um dos objetivos é apresentar o zoneamento de áreas e
variedades adequadas à produção sustentável de grãos de soja e amendoim, no período de reforma
da cana. Neste projeto, a soja se mostrou altamente viável, sendo que é realizado o plantio direto
sob a palhada da cana, e o revestimento do solo é feito após a colheita da soja. Neste contexto, os
pesquisadores utilizaram uma variedade com um ciclo mais curto de produção que coincidem com o
período disponível para reforma do canavial (EMBRAPA, 2005).
Demonstra-se então, que a cultura do amendoim confronta com o fator de necessitar um período
considerado extenso para ser utilizado em rotação com a cana de açúcar, e observa-se que a soja,
além de apresentar grandes perspectivas financeiras, pode ser utilizada em rotação através de um ciclo
altamente viável.
A Coplana além de promover argumentos em prol da rotação com o amendoim passou a promover
mais uma alternativa de renda, com o uso da soja em rotação com os canaviais. Segundo especialistas
envolvidos, a soja além de cumprir com todos os benefícios para o solo pode impor ao produtor que
aderir a capacidade de se tornar autossuficiente no setor, que comparado ao amendoim, apresenta
mais alternativas de comércio.
Outra cultura que vem ganhando destaque no sistema de rotação e pode ser considerado um obstáculo
futuro com a cultura do amendoim, é o sorgo sacarino este incentivado pelo governo da presidenta
Dilma, junto ao Ministério da Agricultura. Esta cultura, além de devolver os valores nutritivos ao
solo, apresenta um percentual de açúcar nos colmos compatíveis com o utilizado para a produção de
etanol. Assim, as usinas continuariam produzindo dentro do período entressafra. O cultivo do sorgo
pode ser uma alternativa viável para manter o fornecimento de matéria prima em micro destilarias,
evitando o corte antecipado da cana de açúcar (TEIXEIRA; JARDINI; BEISMAN, 1997).
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 95-103, 2013
102
Scarpin, L. J. et al.
CONCLUSÃO
A dificuldade em utilizar as terras das usinas para exercer a rotação acontece em safras especificas
em que ocorrem falhas no planejamento das usinas, devido a deficiências no sistema de colheita
dos produtores de amendoim, em decorrência de imprevistos climáticos e em função da falta de um
sistema de controle sobre os responsáveis pelo planejamento das atividades de produção agrícola
das usinas, no que diz respeito a um cronograma de rotação de culturas. Outro ponto importante
identificado é que as estratégias das usinas que tem procurado evitar a rotação parecem ser motivadas
pela perspectiva de ganhos imediatos, uma vez que, considerando-se o horizonte de planejamento a
longo prazo, os esforços poderiam ser direcionados para melhorar o entrosamento social e tecnológico
da produção cana/amendoim.
Sob uma perspectiva macro analítica este caso ilustra a dinâmica e as disputas entre protagonistas
da agricultura brasileira contemporânea. De um lado, a cana de açúcar, uma atividade centenária no
país, ligada diretamente ao mercado de commodities agroindustriais, típica atividade da agricultura
patronal (ou empresarial) brasileira. De outro, o amendoim, um mercado secundário quando
comparado aos das commodities; presente em sistemas de produção da agricultura familiar, exigente
em mão de obra, praticada, em grande medida, com tecnologia de moto mecanização sucateada e
insumos agroindustriais que não segue a mesma dinâmica das principais commodities agrícolas,
sobretudo no quesito sementes. A primeira, apesar de seus representantes cada vez mais se apresentala como um exemplo de agricultura sustentável, historicamente vem sendo dominada pela logica
da agricultura moderna, com tecnologias oriundas da “revolução verde”. Os novos cultivares de
cana, que permitem retardar a atividade de rotação, ilustra uma disputa entre aqueles que defendem
tecnologias consideradas mais sustentáveis, uma vez que privilegiam as dimensões econômicas,
ambientais e sociais das atividades agrícolas, e aqueles que preferem tecnologias que permitam
explorar, essencialmente, a dimensão econômica.
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104
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
Sprovieri, P. F.
105
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE CONTROLE AGRÍCOLA
EM UMA AGROINDÚSTRIA SUCROENERGÉTICA
DESCRIPTION OF AGRICULTURAL CONTROL ACTIVITIES
IN A SUGARCANE AGRIBUSINESS
Jucimara Cristiane Biscola1
Daltro Cella2
RESUMO
A busca por maior eficiência em uma agroindústria sucroenergética está diretamente relacionada
ao sucesso das atividades agrícolas. Assim para garantir maior produtividade, menores custos,
maior qualidade e melhoria contínua um rigoroso controle agrícola é indispensável. As atividades
desempenhadas no controle agrícola devem dar ênfase aos processos operacionais a fim de garantir a
possibilidade de correções e melhorias por meio de informações seguras para a tomada de decisão. As
atividades desenvolvidas no controle agrícola são responsáveis pela centralização das informações
referentes às operações agrícolas envolvidas na cultura que são aliadas a um sistema de gestão
integrada (SIG) ou em inglês Enterprise Resource Planning (ERP), para a obtenção por meio de
dados, de informações seguras e criar um banco de dados de lições aprendidas. Com a adequação
referente à captação dos dados, a melhoria na tecnologia empregada e a maior capacitação da mãode-obra envolvida, a empresa poderá desempenhar todas as atividades necessárias para um bom
gerenciamento agrícola.
PALAVRAS-CHAVE: Controle Agrícola. Processos Operacionais. Gerenciamento Agrícola.
Sistema Integrado de Gestão.
1
2
Bacharel em Administração pela Faculdade Uniesp de Taquaritinga e Tecnóloga de Nível Superior em Agronegócios pela
Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga (Fatec). Analista de Controle Agrícola de uma Agroindústria Sucroenergética
da região de Catanduva/SP. E-mail: [email protected]
Mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo
(Esalq/USP). Coordenador do curso de Administração do Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior “Dr. Aristides
de Carvalho Schlobach” - Ites. Docente da Faculdade de Tecnologia de Catanduva e Taquaritinga - Fatec. E-mail:
[email protected]
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
106
Biscola, J. C. & Cella, D.
ABSTRACT
The search for greater efficiency in a sugarcane agribusiness is directly related to the success of
agricultural activities. So to ensure higher productivity, lower costs, higher quality and continuous
improvement strict agricultural control is essential. The activities performed in agricultural control
must have emphasis on operational processes to ensure the possibility of fixes and improvements
through secure information for decision making. The activities in the agricultural control are
responsible for the centralization of information regarding agricultural operations involved in the
culture that are combined to an integrated management system or Enterprise Resource Planning
(ERP) in order to obtain information through data safe and create a database of lessons learned. The
adequacy of the data capture, improved technology employed and more training of the hand labor
involved, the company can perform all the activities required for good farm management.
KEYWORDS: Agricultural Control. Operational Processes. Agricultural Management. Enterprise
Resource Planning.
INTRODUÇÃO
De acordo com informações do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o setor
sucroenergético em 2010 representou uma das principais atividades agrícola do país, exportando
açúcar para 128 países e etanol para aproximadamente 43 países, o que corresponde a entrada de US$
12,7 bilhões devido ao açúcar e US$ 2,6 bilhões devido ao etanol, colocando o Brasil em primeiro
lugar na exportação de açúcar e em segundo lugar na exportação de etanol no ranking mundial.
Para União da Agroindústria Canavieira (UNICA) o estado de São Paulo em 2010 foi responsável
por mais de 54% da cana de açúcar produzida, sendo 58,6% do açúcar e 51,13% do etanol nacional.
Para atingir esta produção de aproximadamente 5.216.491 hectares de cana plantada é necessário um
rigoroso controle da produção agrícola.
O presente trabalho visa abordar como as atividades do controle agrícola de uma Agroindústria
Sucroenergética são importantes, com foco nas atividades operacionais, destacando quais fatores são
gerenciados e de que forma ocorre este gerenciamento. Para Brugnaro & Sbragia (1982) o processo
de controle agrícola pode destacar as variáveis que devem ser medidas, a forma como serão medidas,
comparar com os padrões e intervir no sentido corretivo para reforço ao bom desempenho.
1. METODOLOGIA
A metodologia proposta para a elaboração deste trabalho é um estudo de caso a respeito do
departamento agrícola de uma Agroindústria Sucroenergética, pela óptica de três tipos de pesquisa: a
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
107
pesquisa descritiva, a pesquisa documental e a pesquisa exploratória.
Segundo Cervo e Bervian (2002), “a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos
ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. De acordo com Gil (1999, p.66), a pesquisa documental
vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser
reelaborados de acordo com os objetivos de pesquisa. Entendem-se como pesquisa documental os
documentos oficiais, cartas, contratos e diários.
Para Cervo e Bervian (2002), o estudo exploratório, designado por alguns autores como pesquisa quase
científica ou não científica é, normalmente, o passo inicial no processo de pesquisa pela experiência e
um auxílio que traz a formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas.
A comparação entre a teoria com a realidade pode ser comprovada a partir de pesquisa de laboratório,
visando o conhecimento de quais são as atividades desempenhadas no controle agrícola e como o
departamento contribui para a empresa em sua totalidade.
Para Yin (1994), o estudo de caso trata-se de uma abordagem metodológica de investigação
especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e
contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. A compreensão
destes fatores permite ao pesquisador entender a dinâmica do programa ou do processo do sistema
de informações gerenciais (SIG), desde a coleta de dados e quais são as estratégias de análise dos
mesmos.
Fidel (1992), citado por Araújo et al. (2008), refere-se ao estudo de caso como um método específico
de pesquisa de campo, ou seja, uma investigação dos fenômenos à medida que ocorrem, sem qualquer
interferência significativa do pesquisador. Assim como Ponte (2006), citado por Araújo et al. (2008),
o estudo de caso é uma pesquisa específica sobre determinada situação, procurando descobrir suas
particularidades e contribuir para uma compreensão global sobre o funcionamento de determinado
fenômeno.
2. ATIVIDADES DE CONTROLE AGRÍCOLA EM UMA AGROINDÚSTRIA
SUCROENERGÉTICA
Na gestão agrícola de uma Agroindústria Sucroenergética da região de Catanduva/SP até 2009,
utilizava-se um sistema de informação para o controle agrícola que não era totalmente integrado
às outras unidades de negócio. Por conseqüência de tal desagregação o processo de gestão era
dificultado, pois a geração de informações demandava maior tempo. Os relatórios gerenciais que
o sistema oferecia muitas vezes não atendiam as respostas buscadas. Havia muita manipulação de
informações em planilhas eletrônicas o que possibilitava maior incidência de erros.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
108
Biscola, J. C. & Cella, D.
A partir de 2010, a Agroindústria Sucroenergética após análise de viabilidade, decidiu implantar um
novo Sistema Integrado de Gestão Empresarial ou Enterprise Resource Planning (ERP). Este sistema
de gestão dispõe atualmente de onze funcionários na divisão de controle agrícola, responsáveis
pelas seguintes funções cotidianas: abertura/encerramento de ordens de serviços agrícolas; abertura/
encerramento de liberações; carga/descarga de dados em “palms”; digitação de dados no sistema;
controles: operacional, insumos, terceirização, fertirrigação, plantio, colheita; carga/descarga de
dados do computador de bordo de colhedoras; lançamento de notas de cana e muda; requisição de
insumos; análise de indicadores, horas manutenção e mão-de-obra.
Para iniciar as funções do controle agrícola, é imprescindível falar das alimentações do Sistema
Integrado de Gestão Empresarial (ERP). A atividade inicial é o cadastro de propriedades. Esta atividade
inicialmente é advinda do departamento de arrendamento e é a base principal para o controle, pois a
maior parte dos indicadores e custos agrícolas está relacionados às propriedades.
As principais vertentes do cadastro de propriedades são os mapas com informações do proprietário e
da propriedade. Além disso, outros dados como tipo de contrato, áreas (medidas em hectares), número
de cortes, variedades, localização, históricos, tipo de solo, dentre outros, também complementam este
cadastro.
No planejamento anual, a maioria das propriedades e serviços já é pré-definidos, ocorrendo confecção
de mapas pelo controle agrícola. Estes são agrupados por setores/supervisores (região, tipo de
serviço: manual ou mecanizado) e são distribuídos em pastas aos encarregados de mão-de-obra,
de mecanização e de tratos culturais que formam uma equipe de: quatro encarregados de mão-deobra (serviços manuais colheita e plantio); quinze encarregados de serviços mecanizados (colheita
e plantio mecanizados); cinco encarregados de tratos culturais (preparo de solo, tratos cana planta,
tratos soqueira); dois técnicos agrícolas e um engenheiro agrônomo.
As atividades agrícolas possuem diversas variáveis onde nem sempre o planejamento é cumprido
devido a fatores externos extremamente ligados às operações como intempéries, quebra de
maquinários (que acarretam muitas vezes a realocação de frentes de trabalho), absenteísmo, dentre
outros. Assim, a mudança no planejamento torna-se muito mais freqüente quando em comparação a
outros departamentos. As ordens de serviço estão presentes cotidianamente: muitas vezes as abertas
segundo o planejamento são encerradas quando compridas ou devido as intempéries e abrem-se
novas ordens para outras propriedades e/ou outros serviços. As ordens de serviço são impressas para
os encarregados distribuí-las aos fiscais no campo.
Após a conclusão total do trabalho referente às atividades que estão inclusas na ordem de serviço, é
necessário seu encerramento para que assim os custos das atividades e das propriedades possam ser
fechados. Os analistas devem administrar estas aberturas repassando aos encarregados de frentes para
que não se prolongue o prazo destas ordens abertas.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
109
2.1. Controle no preparo de solo
De acordo com André (2009), o preparo de solo é a etapa mais importante na inserção da cana-deaçúcar, pois proporciona melhores condições para o desenvolvimento. O controle agrícola exerce
suas atividades por meio da análise dos relatórios de ordem de serviço requisitadas no ERP e da
montagem de planilhas padrão das áreas onde já foram realizadas as operações de preparo de solo e
pode ser realizado o plantio e também das áreas que ainda serão preparadas.
Posteriormente à execução das atividades no campo, o controle agrícola analisa os relatórios
obtidos dos controles operacionais (formulários para preenchimento de dados no campo referente
à mecanização) dos equipamentos envolvidos nas operações que foram digitadas no sistema ERP,
analisando informações como tempo trabalhado, tipos de paradas, ordens de serviço, operadores
que executaram a atividade e horímetro. O ERP permite que estes relatórios possam ser filtrados da
maneira mais adequada de acordo com a informação pretendida, facilitando a tomada de decisão na
gestão.
Utilizando-se do indicador de motomecanização é possível verificar o desempenho dos equipamentos
nas atividades que controlam horas, horímetros e operações realizadas além de checar as ocorrências
(como horas de manutenção, condições climáticas – com a geração de um plano de ação). No caso
do equipamento ser terceirizado, é por meio das informações deste relatório que o controle executa o
pagamento que é calculado com base nas horas trabalhadas, sendo possível identificar qual funcionário
executou a atividade.
A alimentação do banco de dados referente ao controle no preparo de solo pode armazenar resultados
de semanas, meses e anos. Isto possibilita utilizar este relatório como um comparativo histórico.
Serve também para solicitar melhorias de manutenção preventiva e corretiva junto ao departamento
automotivo, análise da eficiência da mão-de-obra em comparação aos turnos (rendimento operacional
- produtividade) e necessidade de adequação da composição da frente de trabalho (redução da
ociosidade).
2.2. Controle no plantio
O controle do plantio baseia-se no planejamento das áreas onde foi realizado o preparo de solo.
Nestas áreas executam-se atividades que, por meio da abertura de ordens de serviços solicitadas
pelos encarregados, podem ser realizadas de forma mecanizada ou manual. As mudas de cana-deaçúcar também são programadas pelo planejamento agrícola (que são cultivadas em áreas próprias e
arrendadas) e necessitam da abertura de ordens de serviço e de liberações.
As atividades a serem feitas nas propriedades deve seguir o controle estabelecido nos contratos. O
controle agrícola faz a gestão das atividades (acordadas entre proprietários, parceiros ou fornecedores),
que serão realizadas pela agroindústria sucroenergética (simbolizada por “P”) e pelo proprietário.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
110
Biscola, J. C. & Cella, D.
O plantio é acompanhado diariamente pelo controle agrícola em planilha disponibilizada em rede
de computadores, com as informações (data, área plantada em hectares, quantidade plantada, talhão,
frente responsável, variedade da muda, origem da muda, talhão em que foi retirada a muda e descrição
de possíveis ocorrências de baixa produção) atualizadas em tempo real. Estas planilhas tornam-se
indicadores de produtividades por frente de trabalho, indicam a qualidade do serviço (necessidade
de replanta), estimativa de áreas onde ainda falta plantar e abrange o total das áreas de reforma e
expansão e um comparativo de não conformidades.
Durante a operação de plantio também ocorre o controle operacional por meio da captação de dados
dos computadores de bordo das máquinas ou da inserção do documento controle operacional (utilizado
em todas as atividades de motomecanização para qualquer grupo de serviço) no ERP. Envolvem
informações como atividades realizadas, operador, ocorrências, nome da propriedade/proprietário,
ordem de serviço, horas e horímetro. Para as atividades não mecanizadas, também ocorre o controle
de mão-de-obra, em que são captados os dados da operação e os funcionários executantes, dos quais
são interligados por meio da ordem de serviço, que são descarregados no departamento de pessoal
rurícola.
No plantio, o controle agrícola também realiza o controle de qualidade com foco nas principais
atividades desempenhadas na operação. Este controle é efetuado por meio de apontamentos em um
documento padrão – Controle de Qualidade Agrícola - realizado por um funcionário capacitado
(técnico agrícola) que acompanha as operações envolvidas no plantio. Este controle ocorre para
que em caso de anormalidade da atividade sejam realizados os apontamentos para tomada de ação
corretiva e até mesmo a realize prontamente.
Os apontamentos realizados no campo abordam informações como: danos na gema na execução
do corte de muda e na execução do plantio; gemas viáveis por metro; atendimento aos padrões de
sulcação, cobrimento de muda e paralelismo e avaliação de danos por motivos de seca (falta de
viscosidade/hidratação quando a gema é tocada), mecânico (esmagamento da gema causada por
metal, decepada ou cortada por colhedora), facão (corte na gema causada pelo facão, decepada ou
cortada) e broca (orifício no olho da gema causado por larvas).
Estes dados são encaminhados ao controle agrícola com o intuito de verificar a qualidade da atividade
para que se possa obter a produção ideal de cana-de-açúcar, onde o controle agrícola analisa e
transforma estes dados em informações consolidadas por frente e também por tipo de plantio.
Quando os parâmetros de qualidade do plantio não atingem a estimativa permitida, os responsáveis
destas frentes devem responder ao “Registro de Não Conformidade” que serve para justificar e buscar
soluções para os problemas juntamente com a gestão agrícola a fim de corrigir falhas e também criar
um banco de dados de lições aprendidas.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
111
2.3. Controle de insumos
Na utilização dos insumos, o controle agrícola dispõe de análises laboratoriais realizadas nas
propriedades existentes na rede interna de computadores. O engenheiro agrônomo disponibiliza as
dosagens adequadas (corretivos, fertilizantes e defensivos) com a finalidade de informar nas ordens de
serviço a real necessidade do solo. Com a abertura destas e carregamento dos “palms”, os encarregados
levam estas informações para o campo e inserem os dados durante a realização da atividade agrícola.
Posteriormente, o “palm” retorna ao controle agrícola onde é descarregado no ERP no módulo de
controle de insumos. O responsável do controle agrícola seqüencialmente já processa os dados e pode
analisar os relatórios que podem ser filtrados de diversas maneiras para checagem das informações,
já que podem ocorrer falhas de digitação no “palm”.
Com a inserção das informações referentes aos insumos no ERP, o acesso à informação torna-se
muito ágil, pois gera um banco de dados organizado e claro. Informações tanto de propriedade, como
de talhão aplicado (pode ser inteiro ou parcial), atividade realizada, insumo utilizado, quantidade
utilizada e data da aplicação são integrados ao sistema. O estoque é baixado, a carência dos produtos é
evidenciada, são efetuados bloqueios em outros módulos do ERP como ordens de serviço e liberações,
sendo importante na visão agronômica, nos custos e no histórico das propriedades (produtividade).
Este é um indicador importante para análise da gestão agrícola, já que os insumos representam uma
grande parcela dos custos do departamento.
As máquinas e equipamentos utilizados nas operações que envolvem insumos são controlados por
meio do formulário de controle operacional (utilizado em todas as atividades de motomecanização
para qualquer grupo de serviço). Este formulário abrange informações como atividades realizadas,
operador, ocorrências, nome da propriedade/proprietário, ordem de serviço, horas e horímetro. Quando
são atividades não mecanizadas, também ocorre o processo de controle de mão-de-obra. Neste caso,
o ponto é captado via coletor onde é informada a ordem de serviço, a operação e os funcionários que
executaram o serviço, dados estes que são descarregados no departamento de pessoal rurícola.
2.4. Controle de tratos na cana planta
A cana planta corresponde ao primeiro corte (colheita) que necessita de várias operações ligadas aos
tratos culturais, e a grande preocupação deve-se ao fator produtividade. Os ganhos de produtividade
dependem de fatores como controle de doenças, controle de ervas daninha, erradicação de insetos,
correção para complementação da adubação já realizada no preparo de solo, avaliação e manutenção
da quantidade de água que proporcione a fertilidade do solo (utilização de irrigação, fertirrigação
e construção/conservação de carreadores). De acordo com Nunes Jr (1987) apud Picoli (2006), os
ganhos de produtividade também estão ligados à busca de novas variedades e a substituição das que
estão em declínio por novas que garantam maior potencial de sacarose, resistentes a doenças e que
sejam adaptadas às condições atuais de manejo.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
112
Biscola, J. C. & Cella, D.
Para facilitar a operação de colheita mecanizada realiza-se a quebra de sulco, que se trata de uma
técnica que consiste em proporcionar melhores condições de colheita e evitar perdas na produção.
Na agroindústria estudada também é realizado o controle biológico da “Diatraea saccharalis” ou
cigarrinha, com o uso de copos de vespas “Cotesia flavipes”, que são depositados nos canaviais sem
agredir o meio ambiente.
Todas as atividades de tratos culturais na cana planta podem ser acompanhadas por meio do
preenchimento dos controles operacionais, digitação de insumos no “palm” e da captação da mãode-obra nos coletores em atividades manuais como capina manual/químico-manual (bomba costal)
e aplicação de herbicida manual. Estas informações são lançadas no ERP, gerando relatórios para
acompanhamento das operações realizadas. Para o controle de fertirrigação de vinhaça também é
utilizado o formulário de transporte de vinhaça.
2.5. Controle de fertirrigação com vinhaça
Segundo Junqueira et al 2009, a vinhaça também é conhecida por restilo, vinhoto ou vinhote.
Conforme encontrado na literatura clássica, resulta na proporção entre 10 a 18 litros de vinhaça por
litro de álcool produzido.
Para Silva et al 2006, a vinhaça apresenta alto valor fertilizante por possuir elevadas concentrações
de nitrato, potássio e matéria orgânica. Estes componentes favorecem a disponibilidade de elementos
nutricionais para as plantas, destacando benefícios como: elevação do pH (redução da acidez do solo),
aumento da disponibilidade de alguns íons, da capacidade da troca catiônica, da capacidade de retenção
de água, da atividade microbiana e populacional do solo e melhor estrutura do solo. No entanto, os
benefícios contrastam com seu alto poder poluente, pois quando utilizado em concentrações elevadas
ocorre a contaminação das águas subterrâneas. A dispersão das partículas da vinhaça no solo devido a
baixa taxa de infiltração de água e consequente elevação do escoamento superficial pode contaminar
até mesmo ás águas superficiais de nascentes, rios e lagos.
Na Agroindústria Sucroenergética a vinhaça é utilizada na fertirrigação com a finalidade de contribuir
na fertilidade do solo, sendo passível de controle para que sua utilização não gere resultados
insatisfatórios como a alteração físico-química do solo e contaminação dos lençóis freáticos, de
acordo com a norma técnica P 4.231 da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Em toda safra agrícola a Agroindústria Sucroenergética realiza um “Plano de Aplicação de Vinhaça”
que objetiva o cumprimento da norma técnica Cetesb P 4.231. Neste plano constam informações
cadastrais e a equipe técnica responsável (áreas de controle agrícola, topografia, laboratório,
engenheiro agrônomo, engenheiro ambiental, encarregado da vinhaça e gerente agrícola). O “Plano
de Aplicação de Vinhaça” apresenta também estudo dos aspectos do meio físico da região (relata
localização das cidades, informações pedológicas, climatologia e geomorfologia), a determinação
da vazão da vinhaça produzida (onde o volume pode ser estimado em função do balanço de massa
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
113
realizado nas colunas de destilação e retificação do etanol), a determinação do teor de óxido de
potássio na vinhaça (detectada por meio de análises semanais realizadas em laboratório próprio,
certificado pelo Instituto Agronômico de Campinas - IAC), determinação da dosagem da vinhaça
(a taxa de aplicação é sempre inferior à capacidade de infiltração do solo, para se evitar escoamento
superficial), a caracterização do solo (resultados de amostras de solo), a caracterização dos sistemas
de resfriamento, armazenamento, transporte e aplicação, medidas de controle e segurança e estrutura
de equipamentos para execução do plano.
O controle operacional é feito através de preenchimento dos formulários de transporte de vinhaça que
apresentam os seguintes dados: data, ordem de serviço, motorista, número do caminhão (controle de
frota interno), número da primeira carreta, número da segunda carreta e a distância da propriedade.
Para cada caminhão reboque e carretas são cadastrados a capacidade volumétrica de vinhaça. Assim, os
formulários de transporte de vinhaça são digitados no ERP no controle de processos que é adicionado
ao banco de dados de informações referentes ao volume aplicado na área que é rateado de acordo com
a área da ordem de serviço.
2.6. Controle na colheita
Em toda safra é realizado um planejamento anual, são listadas as propriedades e realizada uma
estimativa de colheita. Com o início da safra, os encarregados distribuem ao controle agrícola um
planejamento semanal para que possam ser abertas as ordens de serviço e liberações de corte para
moagem. Quando a cana é queimada é necessária uma prévia de queima junto a Secretaria do Meio
Ambiente respeitando as legislações ambientais vigentes (Cetesb - lei estadual nº 11.241).
A Agroindústria Sucroenergética possui 75% de sua colheita mecanizada (42 colhedoras), em que o
controle das operações ocorre por quinze encarregados de motomecanização e quatro encarregados
de mão-de-obra que são responsáveis por 25% da colheita manual, incluindo o corte de cana nas
curvas realizadas por trabalhadores rurais nas áreas das colhedoras.
O controle de atividades de máquinas e equipamentos é realizado assim como nas demais operações.
Realiza-se o controle operacional, registram-se as horas trabalhadas e os motivos de interrupções das
operações pelo fiscal responsáveis do turno. Na colheita também existe o controle das liberações de
corte, pois desta forma são registradas e armazenadas as entradas de toneladas de cana no ERP por
propriedade rural.
Os indicadores de colheita, além do controle de motomecanização, envolvem informações referentes
ao peso, em toneladas, captado na balança. O sistema ERP agrega os pesos de diversas maneiras para
melhor análise gerencial. Estas diferentes formas de registros possibilita à gerência agrícola analisar
os dados em tempo real, em que as entradas de cana são filtradas de diferentes formas como por
frentes de corte, tipo de corte, por propriedades, por caminhões de transporte e indicação da produção
em toneladas.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
114
Biscola, J. C. & Cella, D.
O controle das perdas na colheita é realizado por meio da inspeção das áreas por técnicos agrícolas
que são responsáveis pelo preenchimento do relatório de controle de perdas. Este relatório apresenta
o código e o nome da propriedade, a identificação de fatores como a situação da cana (normal ou
deitada); condições do solo (seco, pouco úmido ou úmido); registro da quantificação e qualificação
das perdas identificadas na amostra (cana inteira, tocos, tolete, estilhaço, ponteiro e pedaço), da
pesagem de cada tipo de perda constatado. Este formulário é encaminhado para o analista de controle
agrícola que transfere estes dados das amostras realizadas nas propriedades para o ERP. Estes dados
inseridos possibilitam o cálculo do índice de perdas e a classificação de acordo com as tabela 1.
Fórmula para o cálculo de perdas no campo:
Tabela 1. Níveis de perdas e seus percentuais para a colheita mecanizada e colheita manual.
Fonte:http://www.coplana.com/gxpsites/..%5Cgxpfiles%5Cws001%5Cdesign%5CDownload%5CCirculares%5
CPerdas_na_colheita_mecanizada.pdf. Acesso em 03 de junho de 2013.
Nível de perdas para colheita
mecanizada
Percentual (%) de perdas para colheita
mecanizada
Percentual (%) de perdas para
colheita manual
Baixo
≤ 2,5
≤ 1,5%
Médio
> 2,5 ≤ 5,0
> 1,5% ≤ 3,0%
Alto
> 5,0
> 3,0%
Pode-se observar na tabela 1 que os percentuais de perdas tolerados na colheita mecanizada (até 5%)
são maiores que na colheita manual (até 3%).
2.7. Controle dos tratos culturais na cana soca
Os tratos culturais na cana soca são as atividades realizadas que visam o desenvolvimento da canade-açúcar em que já fora realizado ao menos um corte (seja com destino para muda ou para moagem).
As atividades realizadas na cana soca devem propiciar condições favoráveis para o crescimento da
cultura.
O controle operacional segue como nas demais atividades, ou seja, começa com o preenchimento do
formulário (entrada via digitação/computador de bordo para o ERP) e da geração de relatórios por
meio do sistema que proporciona informações como horas paradas, horas trabalhadas, horímetro,
atividade realizada, equipamento e operador executante. Os relatórios de controle agrícola para tratos
cana soca seguem o mesmo roteiro dos utilizados em tratos cana planta.
Para as atividades que envolvem insumos produtivos, o controle é realizado pelo lançamento destes
insumos nos “palms”, que retornam do campo com os dados que são descarregados no ERP no
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
115
módulo controle de aplicação de insumos. Desta forma é possível acessar o banco de dados e adquirir
informações como data da aplicação, propriedade, insumo, dosagem aplicada, talhões e carência
química. A mão-de-obra que exerce atividades manuais são controladas pelo departamento de pessoal
rurícola por meio do ponto captados pelos coletores e baixados no ERP.
Para o controle de fertirrigação por vinhaça, assim como para os tratos da cana planta, é utilizado o
formulário de transporte de vinhaça que são digitados no ERP e agregados no módulo controle de
aplicação de insumos onde as áreas a serem aplicadas já estão estabelecidas no Plano de Aplicação de
Vinhaça no início de toda safra.
2.8. Requisição de insumos
Em toda safra, o setor de planejamento da Agroindústria Sucroenergética, realiza um orçamento de
custos que determina uma estimativa para os centros de custos agrícolas com base em informações
disponíveis no banco de dados do ERP (análise da última safra, dos tipos de contratos estabelecidos
para a safra vigente, serviços a serem executados, variedades).
Com estas informações, o controle realiza o contato com os fornecedores de insumos (corretivos,
fertilizantes e defensivos), analisa propostas e requisita por meio de solicitações via ERP para o
departamento de compras. Estas ordens passam pela pré-aprovação do gerente agrícola.
2.9. Controle de máquinas terceirizadas
A Agroindústria Sucroenergética utiliza muitos equipamentos pesados como pás carregadeiras,
motoniveladoras e dragas. Principalmente no estágio de preparo de solo e em épocas chuvosas para
manutenção de estradas. Nesta fase a demanda por equipamentos é alta, não sendo suficientes os
equipamentos próprios, tornando-se necessário a terceirização de algumas máquinas deste porte.
A terceirização já é algo que a empresa utiliza há muitos anos, e este custo já é integrante do
planejamento anual da safra. Quando surge a necessidade destes recursos, o planejamento agrícola
contata os fornecedores e realiza o orçamento da hora/máquina. Por meio do ERP, o planejamento
agrícola solicita a abertura de contrato com o terceiro ao departamento jurídico da empresa e, este,
necessita da aprovação do gerente agrícola e do assessor de diretoria. As informações como valor por
hora e valor a ser descontado de óleo diesel que a usina fornece é repassado ao controle agrícola.
O controle das máquinas alugadas ocorre por meio da inclusão dos dados (modelo, cor, ano,
chassi e proprietário) ao ERP para gerar uma matrícula. Assim como ocorre com os equipamentos
próprios, esta matrícula será utilizada para o preenchimento do formulário de controle operacional. O
funcionário terceirizado é treinado pelo departamento agrícola para o preenchimento do formulário
que será monitorado pelo fiscal da frente de trabalho da Agroindústria Sucroenergética. O controle
operacional é digitado no módulo de operadores do ERP e quinzenalmente gera-se o relatório com
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
116
Biscola, J. C. & Cella, D.
os totais de horas trabalhadas para a montagem da planilha de pagamento, que contém as horas
trabalhadas diariamente. O consumo de óleo diesel é repassado pelo departamento automotivo ao
controle agrícola para o desconto na planilha quinzenal.
Com o fechamento da planilha, ocorre a aprovação do supervisor da frente de trabalho e do gerente
agrícola e esta é repassada ao departamento fiscal que é responsável pela captação das notas dos
terceiros e para o departamento financeiro para liberação do pagamento.
CONCLUSÕES
O controle agrícola é uma unidade de negócio impactante para a empresa, em que a experiência
adquirida do setor confirmou que suas informações são importantes para a tomada de decisão não
só por departamento, mas para a empresa como um todo. O setor sucroenergético é amplamente
difundido na região e o estudo realizado em uma agroindústria do ramo proporcionou a visão de
como as atividades relacionadas ao controle agrícola com foco operacional predispõem indicadores
de desempenho utilizados em larga escala para gestão.
A averiguação das bases de informações que resultam em indicadores de desempenho do campo,
advindas por meio de práticas e técnicas aplicadas, das quais a empresa adota certo nível tecnológico
que pode ser avaliado como intermediário, evidenciaram ainda, problemas com manipulação de dados.
O sistema integrado de gestão (ERP), utilizado na agroindústria é satisfatório, mas a empresa ainda
depara-se com problemas relacionados ao excesso do uso de formulários e controles operacionais
que poderiam ser reduzidos significativamente com a inserção de “palms” em todas as operações e a
aquisição de equipamentos para computadores de bordo.
Com a minimização da digitação, os dados seriam armazenados quase que instantaneamente à
execução da tarefa, resultando na aquisição de dados diretos e confiáveis. Evita-se com esta mudança,
riscos com o extravio de controles operacionais, incidência de erros de horímetros e atraso devido
ao acúmulo resultantes de finais de semanas e feriados. Esta melhoria no processo de alimentação
dos controles proporcionaria economia de tempo para que os analistas pudessem desempenhar
conferências e disponibilizar indicadores mais eficientes, ou seja, uma gestão mais dinâmica com
redução no custo de produção.
A empresa apresenta bons resultados em sua gestão de controle agrícola, e o real impasse pode ser
visualizado somente em relação aos controles operacionais resultante da deficiência de treinamento
dos funcionários, que por apresentarem problemas sociais, como baixa escolaridade (dependendo da
atividade) ou idade mais avançada, necessitam sempre de cursos de atualização para a utilização dos
“palms”. Outro agravante ao desenvolvimento do controle agrícola deve-se à falta de investimento
para aquisição de recursos tecnológicos como equipamentos para computador de bordo, pois a
empresa ainda está em processo de implantação da agricultura de precisão.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
Descrição das atividades de controle agrícola em uma agroindústria sucroenergética
117
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Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 105-117, 2013
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Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 7-16, 2013
Sprovieri, P. F.
119
O desenvolvimento de novas embalagens
na indústria alimentícia: O caso da embalagem
de plástico flexível para goiabada
The development of new packaging in the food
industry: the case of flexible plastic packaging guava
Carlos Rodrigo Volante1
Guilherme Augusto Malagolli2
RESUMO
A embalagem é o foco de grande parte dos projetos desenvolvidos pela indústria de alimentos. As
inovações na embalagem ocorrem para trazer algo novo ao mercado consumidor, pela necessidade de
desenvolvimento da linha de produção ou para a redução de custos. A goiabada é um produto muito
consumido e difundido no Brasil, seu processo produtivo possui centenas de anos, sendo processado
industrialmente há mais de 60 anos. A forma mais comum de se encontrar esse produto industrializado
é na embalagem de plástico flexível no formato retangular. Sua produção é automatizada com grandes
capacidades de processamento. Porém há uma parte desse processo que oferece baixa produtividade
e que só atente a capacidade produtiva do restante da linha através de grande dispêndio de mão-deobra e espaço físico o que provoca uma elevação do custo. As indústrias, para amenizar esses custos
de produção desenvolveram varias alternativas, sendo uma delas a embalagem plástica termoformada
com selo. Mas, além desta, há outra alternativa que pode ser aplicada oferecendo vantagens ainda
maiores que o anterior, esta alternativa seria a aplicação da embalagem tipo tripa plástica no processo de
envase da goiabada. As vantagens deste sistema de envase são as mesmas oferecidas pela embalagem
termoformada, porém com um menor custo direto de embalagem. Este pode ser um promissor projeto
de desenvolvimento de embalagem para a indústria de goiabada.
Palavras-chave: Goiabada. Inovação. Sistema de envase. Embalagem tripa plástica.
1
2
Fatec Taquaritinga - Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585 Portal Itamaracá CEP: 15900-000 Taquaritinga – SP. (16)32525250 - (16)3252-5152 - Fax: 16 3252-5193
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Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
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Volante, C. R. & Malagolli G. A.
ABSTRACT
Packaging is the focus of most of the projects developed by the food industry. The innovations
occur in the package to bring something new to the consumer, to the need for the development of
the production line or to reduce costs. The guava is a very widespread and consumed in Brazil, the
production process has hundreds of years, being industrially processed more than 60 years. The most
common way of finding this industrial product is the packaging of flexible plastic in a rectangular
shape. Its production is auto mated with great processing capabilities. But there is a part of this
process that offers low productivity and productive capacity only watch the rest of the line through
great expenditure of skilled labor and physical space which reflects in cost. Industries, to mitigate
these costs of production have developed several alternatives, one of them being thermoformed plastic
packaging with seal. But beyond this there is another alternative that can be applied offering even
greater benefits than the previous, this alternative would be the application of type tubular packaging
plastic in the process of filling of guava paste. The advantages of this system are the same packaging
offered by thermoformed packaging, but with a lower direct cost of packaging. This process has the
same filling may be a promising development project packaging industry for guava.
Keywords: Guava. Innovations. Packing system. Tubular packaging.
Introdução
O desenvolvimento e a elaboração de um novo produto surgem para atender uma necessidade vinda
do mercado para a indústria, independente se a oportunidade foi percebida pela indústria ou se
solicitada pelo cliente. Outros projetos de desenvolvimentos estão relacionados a processos fabris,
onde o resultado final não é alterado, mas a forma como ele é produzido sofre mudanças. São projetos
que teve sua origem na indústria e apresentam vantagens visíveis somente para o processamento, o
consumidor do produto não percebe as melhorias, pois elas são internas à organização. No máximo a
redução de custos do processo, pode levar à uma redução do preço no ponto de vendas.
Outros projetos, apesar de surgirem também com um foco na melhoria em processos, acabam gerando
alternativas que levam a novos produtos e o resultado final é algo novo para o mercado como é o
caso do desenvolvimento que será proposto por esse trabalho. Uma necessidade interna gera um novo
produto oferecido ao mercado.
Neste contexto, este trabalho tem por objetivo principal propor melhorias ao processo de envase
da goiabada através da aplicação de uma nova embalagem. Como objetivo secundário, o trabalho
pretende avaliar o processo produtivo da goiabada identificando pontos críticos em produtividade.
A aplicação da nova embalagem para o produto goiabada deve trazer vantagens, porém mantendo os
pontos positivos da embalagem anterior. A proposta é a aplicação da embalagem tripa plástica para a
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: o caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
121
produção de goiabada.
1. A embalagem de produtos alimentícios
A indústria de alimentos sofreu grandes reestruturações tecnológicas em seus processos, tornandoos mais econômicos e enxutos principalmente com o advento da automação, mas quando analisado
o produto final do processo produtivo é possível perceber que os alimentos, diferente dos demais
produtos, sofreram poucas alterações ou em alguns casos nenhuma ao longo de muitas décadas.
Empresas com produtos alimentícios tradicionais no mercado não alteram sua formulação ou as
características básicas, pois se o fizessem é muito provável que perderiam boa parte de seus clientes
para a concorrência. Já que a procura por um produto alimentício de determinada marca se da não
só pela necessidade da alimentação mais sim também pelo sabor que o mesmo oferece a quem o
consome, além é claro da imagem da marca relacionada a garantia da qualidade. Apesar de novos
sabores e novos alimentos surgirem, os mais consumidos se mantém inalterados.
Na produção de alimentos o que realmente recebeu elevado desenvolvimento foram as embalagens,
que mudaram muito em relação a forma, maneira de utilização e até mesmo os materiais empregados
nas mesmas.
Segundo Negão (2008), quando relacionada a produtos alimentícios e de higiene pessoal, a embalagem
pode definir aspectos técnicos e mercadológicos. No Brasil a década de 60 pode ser caracterizada
como o ponto divisor de águas na aplicação da embalagem para produtos alimentícios industrializados
ou semi-industrializados, pois até então a embalagem cumpria com seu primeiro aspecto, o técnico,
ou seja, proteger o produto da indústria até o consumidor final.
A partir deste mesmo período, começa a surgir nos supermercados o conceito de autos serviço,
disponibilizando seus produtos em prateleiras de fácil acesso para os consumidores. Neste contexto,
deixa de existir nesses estabelecimentos a figura do vendedor que influenciava nas vendas, podendo
agora o consumidor escolher sozinho o que pretende levar. Surge a necessidade do mesmo chamar a
atenção na gôndola, além do que o número de concorrentes gradativamente aumenta. Entra aqui em
vigor a necessidade de trabalhar o outro aspecto da embalagem, o mercadológico.
Para produtos líquidos, pastosos ou sólidos granulados ou em pó como é o caso da maioria dos
alimentos, a embalagem é a face do produto, sua cara, sua identidade e fora dela perderiam todas as
referencias de seu fabricante.
Devido à importância da embalagem para o marketing Negão e Camargo (2008) propôs sobre o
conceito estabelecido por Jerome McCarthy uma referência a embalagem como sendo o 5° P (Pack)
do marketing. Na verdade foi proposto mais do que isto, afirmou-se que a embalagem, dentro do
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122
Volante, C. R. & Malagolli G. A.
conceito de Marketing Mix, é um elemento fatorial, visto que ela potencializa os 4Ps (Produto, Preço,
Ponto de Vendas e Promoção) agindo como interface entre as estratégias existentes.
Para a divulgação e comercialização do produto as características das embalagens são de tal
importância que muitos dos fabricantes de alimentos têm a forma de suas embalagens como uma das
características principais atribuídas a seus produtos ao ponto dela ser registrada como uma marca.
Além do formato a maneira de abrir e a posterior possibilidade de fechamento durante o período
de utilização são pontos em que as indústrias de alimentos em parceria com as de embalagens vêm
desenvolvendo para conquistar mercado.
O desenvolver de projetos de embalagem não se relaciona somente com os aspectos técnicos de
proteção e mercadológicos voltados para o marketing. Na verdade o desenvolvimento de uma nova
embalagem ou a aplicação da mesma em situações diferente envolve tanto um aspecto como o outro.
Apesar de tudo o que a embalagem pode representar para o produto, aparência, influencia nas vendas
dentre outros fatores, não se pode deixar de salientar que na produção de alimentos em muitos casos
a embalagem pode representar mais de 50% do valor do produto final dependendo do material
empregado à mesma.
Para o desenvolvimento de projetos, tanto relacionado ao tipo de material a ser empregado como
também a novos formatos, a indústria de alimentos tem grande dependência dos fornecedores de
embalagens para realização de seus projetos, isso devido os mesmos deterem a tecnologia de processo
de produção das embalagens.
Pode-se dizer que este está dentre os principais fatores que impulsionam projetos de embalagem no
setor alimentício mais acentuadamente quando a disputa por mercado é grande.
O custo da embalagem pode ser dividido em três partes, que para fins didáticos serão chamadas essas
partes de segmentos. Então esses segmentos de custos são:
•Custo do material e do processo produtivo da embalagem;
•Custo de transporte, movimentação e armazenagem da embalagem antes e depois do processo de
envase.
•Custo do processo de envase que devido o formato e a forma de fechamento da embalagem pode
exigir maior ou menor nível tecnológico e de mão-de-obra.
O custo do processo de envase pode ser influenciado tanto pelo formato da embalagem, forma de
fechamento quantidade de produto por embalagem dentre outro. Em relação a quantidade de produto
por embalagem ou gramatura de produto, quanto menor ela for ou quão menor for o volume de
produto que a embalagem acondiciona maior tende a ser o custo desse produto em percentual se
comparado com o mesmo produto de maior gramatura.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: o caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
123
O formato da embalagem e a forma de fechamento podem ter grande influência no custo do produto
final, alguns produtos, devido apresentar formas mais complexas podem oferecer maiores dificuldades
para automatizar seu processo de envase e fechamento. Uma alternativa seria mudar o formato e a
maneira de fechamento.
É exatamente sobre esse ponto, o desenvolvimento de novas embalagens impulsionadas pela redução
de custos no processo de envase que algumas empresas estão trabalhando para alcançar maior
produtividade.
2. O processo de fabricação da goiabada
Um exemplo de produto tradicional no mercado que apresenta grandes volumes de vendas e que
oferece baixa produtividade em relação a mão de obra, tempo e movimentação durante o processo
de envase gerando maiores custos. É o produto do gênero alimentício doce de goiaba ao corte ou
goiabada.
Esse custo se dá quando a produção deste produto é a nível industrial, pois no mercado é possível
encontra produtos que foram produzidos de forma artesanal. Mas neste caso o volume de produção é
baixo consecutivamente o custo unitário é alto e o produto é destinado a um publico alvo mais restrito.
Em nível de produção industrial o produto é oferecido ao mercado em varias embalagens, o que
apresenta maior aceitação pelo mercado é o que utiliza a embalagem de plástico flexível no formato
retangular, pois em relação a outros materiais empregados nas embalagens para este produto, como
por exemplo lata, o plástico flexível é o que apresenta menor custo.
O sistema de envase para essa embalagem plástica flexível é conhecido como Flow Pack (sistema de
embalagem formada na seladora em processo contínuo).
Após o enchimento e selagem da embalagem, realizados pela máquina empacotadeira o produto está
em alta temperatura (75 a 85 °C) e no estado líquido, para o mesmo adquirir a forma retangular devese armazená-lo em uma fôrma com o formato desejado e somente após o resfriamento (normalmente
24 horas) retira-lo, pois estará a temperatura ambiente e sólido.
É justamente neste ponto do processo produtivo em que há maiores restrições, é onde a dependência
da habilidade das pessoas prevalece, ou seja, neste ponto do processo produtivo há grande dependência
do mesmo em relação a mão-de-obra com habilidade para dobrar o produto e colocá-lo em fôrmas
com a ausência de rugas e dobras inadequadas para o produto final, tendo que ser este trabalho
efetuado rapidamente. É um gargalo da produção que para ser aliviado depende de autos custos de
mão-de-obra direta. É devido a este ponto do processo produtivo que as indústrias estão buscando
alternativas.
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Volante, C. R. & Malagolli G. A.
Uma alternativa desenvolvida pela indústria foi a aplicação da embalagem termoformada com selo.
Mais conhecida como processo tipo “Form-Fill-Seal” que traduzindo significa Forma - Envasa - Sela.
3. Embalagem Tubular Tipo Tripa Plástica
Além do que a indústria já desenvolveu como alternativa, há outra ainda não explorada que consiste
no emprego da embalagem tripa plástica, tradicionalmente aplicada no envase de produtos cárneos
(embutidos) e mais recentemente sendo utilizada pelas indústrias químicas para envase de colas e
material de vedação.
A embalagem tripa plástica se empregada na produção de goiabada torna desnecessário o trabalho
de acondicionar o produto em fôrmas, pois seu formato é cilíndrico e o fechamento se dá através de
pressão de grampos. Além de não haver mais a necessidade de utilizar filme plástico multicamadas,
pois não é preciso selagem (materiais se fundindo para vedar a embalagem) já que o fechamento
ocorre por ação mecânica.
O nome tripa para este tipo de embalagem tem origem no processo de fabricação de embutidos cárneos.
Entende-se por “embutidos” todos os produtos elaborados com carne ou órgãos comestíveis curados
ou não, condimentados, cozidos ou não, defumados e dessecados ou não, tendo como envoltório
tripa, bexiga ou membrana animal. Sendo permitido o emprego de películas artificiais no preparo de
embutidos (RIISPOA Art. n°412).
É importante destacar que a tripa artificial nada mais é do que uma embalagem plásticas continua
e tubular. E o processo de fechamento e individualização é realizado por grampos metálicos. As
tripas naturais e os demais sistemas de individualização não se aplicam em uma possível implantação
deste sistema de envase para o produto goiabada.A tripa artificial é uma dentre as varias embalagens
plástica flexível. Dentre as embalagens plásticas flexíveis o que distingue a embalagem tripa é seu
formato cilíndrico com grampos metálicos nas extremidades, responsáveis pelo fechamento, como
é demonstrado na ilustração 01. Não é necessário selagem para o fechamento, evitando assim a
necessidades de embalagens multi-camadas, pois fundir o material neste caso não é mais preciso.
Apesar do desenvolvimento do plástico em relação a tripa natural, devido a seu formato e independente
de sua aplicação, essa embalagem manteve o nome tripa.
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O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: o caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
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Ilustração 1. Embalagens tripa plástica.
Fonte: Elaborado pelos autores.
a. A Embalagem Tripa Aplicada à Goiabada
O produto goiabada ao corte jamais foi envasado em embalagem plástica flexível tipo tripa. No caso
de uma implantação desta embalagem para a goiabada todo o processo de produção da goiabada
até o momento do envase não é alterado, se mantém exatamente igual quando o produto é envasado
no tradicional sistema Flow Pack. A mudança se dá do ponto de enchimento do produto em sua
embalagem (envase) até os trabalhos de encaixotamento (aplicação da embalagem secundária).
Aplicado à produção de goiabada o processo de envase com embalagem tripa plástica apresentaria a
seguinte sequência de produção:
•O produto é envasado e grampeado. (como detalhado apouco)
•Após, o mesmo segue para uma esteira de resfriamento onde o controle é feito através da velocidade
da esteira, quão mais lenta ela for mais frio o produto chegara ao final. Porém a velocidade não pode
ser baixa ao ponto do resfriamento se tornar o gargalo do processo.
•Em seguida, manualmente os produtos são recolhidos da esteira e colocados em caixas, estando
assim pronto para embarque.
O processo de resfriamento não tem por objetivo reduzir a temperatura do produto ao nível das
temperaturas ambientes, mas sim reduzi-la em 15°C a 20°C para evitar que o doce permaneça muito
tempo em alta temperatura o que pode trazer problemas de qualidade.
Para um melhor entendimento e visualização dos benefícios desta nova aplicação será feito um
comparativo com o sistema de envase tradicional Flow Pack e posteriormente com o Form-Fill-Seal.
Assim, em comparação com sistema FlowPack, o envase com embalagens tripa plástica apresenta as
seguintes vantagens:
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Volante, C. R. & Malagolli G. A.
•Após envase o produto tem forma definida, devido a pressão que os grampos exercem sobre o
produto interno além de a embalagem ser cilíndrica.
•Não há mais a necessidade de mão-de-obra para dobrar e enformar os doces.
•Também não se aplica as fôrmas de papelão para acondicionamento temporário do produto.
•O produto pode ser pré-resfriado em um túnel de resfriamento assim como ocorre no sistema FormFill-Seal, indo diretamente para o encaixotamento.
•Requer menor espaço físico, pois não é preciso armazenamento de formas e nem de palettes com
doces aguardando resfriamento.
•A embalagem não é selada não exigindo a aplicação de filmes munticamadas, reduzindo os custos
com embalagens. Além disso, na embalagem em formato tripa não há sobreposição de material
necessário para a solda longitudinal, reduzindo quantidade de material de embalagem.
•A embalagem é composta de um só material (monocamada) oferecendo menores restrições para o
processo de reciclagem do que os filmes multicamada.
•Há menor movimentação de material em processo devido o produto ser envasado e encaixotado em
seguida.
Desvantagem:
•Necessidade de montagem de um túnel de resfriamento.
•Aplicação de grampos para o fechamento, acrescentando custo à embalagem mesmo sendo ela
monocamada.
•Novo formato do produto final, saindo do padrão tradicional.
Se comparado o processo de envase que utiliza embalagens tripa com o sistema Form-Fill-Seal o
primeiro apresenta as seguintes vantagens:
•Menor custo de embalagem.
•Apesar da pouca diferença, há redução no volume de material a ser armazenado. (para armazenamento
o volume pode ser mais significativo, pois está relacionado com o espaço a ser ocupado).
•Menor massa para transporte da embalagem. Para o transporte como não há grandes diferenças
em relação a volume pode prevalecer a diferença entre a massa já que esta oferece diferenças mais
significativas e o principal fator de limitação dos veículos é o peso.
•Durante o consumo a forma de cortar o produto permanece a mesma apresentada pela goiabada em
embalagens Flow Pack, podendo-se cortar a embalagem junto com o produto (maneira habitual de
fracionamento utilizado pelo consumidor). Neste ponto o produto envasado no sistema Form-FillSeal requer fracionamento como utilizado pelos potes de plástico rígido.
Porém, o processo de envase que utiliza embalagens tripa apresenta como desvantagens:
•A embalagem termo formada apresenta o produto no tradicional formato retangular, na embalagem
tripa isso não acontece.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: o caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
127
b. O Novo Formato da Goiabada
A importância do formato se dá devido ser exatamente este o grande diferencial da embalagem
tripa, todos os benefícios gerados para o processo produtivo estão diretamente atrelados a forma.
Os principais custos do tradicional processo se dão devido ao número de pessoas na linha, área para
movimentação de material em processo e renovação de fôrmas. Isso tudo é eliminado simplesmente
pelo fato de o novo produto manter seu formato após o envase. È uma alternativa que ataca diretamente
o problema eliminando-o e mantendo as vantagens que o processo de envase do atual produto oferece.
O número médio de pessoas nas três formas de envase está relacionado exatamente entre o momento
do envase e o encaixotamento, já que antes e depois das etapas objeto de estudo, todas as características
da linha de produção são as mesmas. Em relação à mão-de-obra, para o envase Flow Pack serão
necessários no mínimo 8 pessoas a mais do que os demais sistemas de envase.
Em relação a área para efeito de comparação deve-se levar em conta a área ocupada pela máquina de
envase, o túnel de resfriamento quando aplicável e o espaço para movimentação de formas e doces
para resfriamento natural, quando aplicável. Essa área será denominada aqui de área direta sendo
constituída pelo comprimento e largura das máquinas ou do local especifico de trabalho, ou seja, não
estão sendo incluídos os espaços necessários para o operador, manutenção, áreas de segurança etc. Se
estas fossem computadas o sistema tradicional apresentaria ainda maior consumo de área, devido as
distâncias que se deve respeitar entre os palettes com produtos a resfriar.
As capacidades de máquina também devem ser detalhadas, pois as mesmas se relacionam com os
espaços necessários para movimentação, principalmente para o sistema de envase tradicional. Para
exemplificação foram absorvidas pelo trabalho informações de fabricantes de máquinas de envase a
começar pelo sistema de envase Flow Pack.
Segundo Ulma Packaging Ltda (2013) a máquinas empacotadeira Flow Pack modelo VTI400
produzida pelos mesmos, oferece até 100 ciclos por minuto, porém como já comentado a velocidade
normal de trabalho é de 60 ciclos por minuto e como esse sistema de envase é capaz de oferecer
apenas uma embalagem por ciclo então sua capacidade é de 60 unidades de produto contendo 400g
por minuto. A máquina ocupa uma área de aproximadamente 4m², todo o processo de formagem,
movimentação e resfriamento também já detalhado anteriormente neste trabalho apresenta área
aproximada de 28,75m². Então o total de área direta para esse sistema é aproximada 32,75m².
Segundo o fabricante Dmon Máquinas Ltda (2013) a máquinas termoformadora form-fill-seal modelo
DMFS-5000 oferece até 1250 ciclo por hora ou 20,8 ciclos por minuto. O fabricante informa também
que essa máquina produz até 30.000 unidades contendo 100g de qualquer produto por hora. Então, se
divido as 30.000 unidades/hora por 1.250 ciclos/horas o resultado será 24 unidades de 100g por ciclo.
O produto objeto de estudo apresenta 400g, ou seja, cada um é 4 vezes maior do que apresentado
pelo fabricante, então 24 unidades de 100g dividido por 4 é igual a 6 formas de 400g envasadas
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
128
Volante, C. R. & Malagolli G. A.
por ciclo. E 20,8 ciclos ocorrem por minuto apresentando esta máquina uma capacidade teórica de
124,8 unidades/minuto. Essa quantidade por minuto pode variar, já que a profundidade da embalagem
no molde de termoformagem também pode variar isso quer dizer que por ciclo está máquina pode
oferecer até mais do que 6 unidades.
As termoformadoras podem ocupar um espaço aproximadamente de 7,5m², além do túnel de
resfriamento que em média ocupa uma área de 18m² necessitando esse sistema de envase de uma área
direta aproximada de 25,5m².
Segundo o fabricante Poly-Clip Sistem Ltda (2013) a máquina automática TSCA 65 para envase
automático de tripa pode envasar e grampear 70 unidades por minuto. Ocupando um espaço de 1m²,
mais a bomba dosadora, pode-se considerar um total de 1,5m². O túnel de resfriamento como no caso
anterior, ocupa 18m². Então para o envase de embalagens tripa são necessários 19,5m² de área direta
aproximadamente. A capacidade de máquina foi levantada segundo os respectivos fabricantes citados,
porém os mesmos informam a capacidade de ciclos das máquinas e dependendo das características do
produto que por ela está sendo processado isso pode variar, sempre para menos. No caso da máquina
Flow Pack já é conhecida de longa data a aplicação da mesma para o envase de goiabada, por isso a
grande diferença entre os ciclos sem produto e com produto na máquina por minuto.
Para melhor visualização das diferenças entre as opções de linhas de envase foi elaborada uma
tabela (tabela 1) destacando os principais pontos de comparação do sistema de envase tradicional, a
alternativa criada pela indústria e a inovação proposta.
Tabela 1. Comparativo entre os sistemas de envase.
Fonte: Elaborado pelos autores.
N° médio de pessoas
Área ocupada (m²)
Unidades por minuto
Flow Pack
18
32,75
60
Form-Fill-Seal
8
25,5
124
Envase em Tripa
8
19,5
70
A tabela não apresenta o custo direto relacionado a embalagem onde a tripa plástica tende a oferecer
grande vantagem em relação a embalagem do processo form-fill-seal.
c. Riscos Relacionados à Implantação do Projeto
O aspecto mercadológico do novo produto não foi esmiuçado ao desenrolar deste trabalho, pois o
foco foi o processo produtivo. Mas mesmo assim para uma empresa que pretenda aplicar o sistema de
envase de embutidos na produção de goiabada os riscos são baixos.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 119-130, 2013
O desenvolvimento de novas embalagens na indústria alimentícia: o caso da embalagem de plástico flexível para goiabada
129
Uma máquina de envase automatizada apresenta um alto investimento, mas de início o processo
pode ser manual, mesmo para uma grande indústria produtora de goiabada onde processos manuais
não são bem vindos. Neste caso para uma produção de um lote piloto ou para uma introdução do
produto no mercado, devido à necessidade de experimentação de vendas do produto para o mercado
consumidor, esse processo manual pode ser interessante. Essa implantação oferece baixo risco, pois
o sistema de envase pode ser com exceção da grampeadeira, todo montado com componentes que
a indústria normalmente possui, como por exemplo, uma bomba helicoidal, inversor de freqüência,
sensores, atuadores pneumáticos dentre vários outros componentes que ofereçam a possibilidade de
se construir um envase semi-automático.
O túnel de resfriamento é um equipamento que já está presente nesses parques fabris, apesar de
estarem sendo utilizados na produção de outros produtos como, por exemplo, atomatados e não ser
possível a flexibilidade do mesmo em relação a movimentação. O dispositivo desenvolvido para o
envase de embalagem tripa pode ser montado próximo ao túnel. Esse layout provisório possibilita
uma produção que de início é pequena podendo ser rodada quando a linha principal (a de atomatado
no caso) está parada por motivos de varias naturezas.
Outro risco está relacionado a matéria prima empregada no processo desse primeiro lote. Mas
todos esses riscos para as empresas em questão são baixos, vários outros produtos que as mesmas
desenvolveram ao longo dos anos ofereceram riscos em relação a investimento bem maiores. Um
exemplo é a embalagem Stand upPouch para atomatados. Além disso, todo projeto oferece riscos.
d. Outros Benefícios Relacionados ao Projeto
Sob o ponto de vista da reciclagem a embalagem tripa oferece vantagem em relação a Flow Pack,
pois como já apresentado a embalagem para esse tipo de envase requer materiais diferentes juntos
(multicamadas ou laminados). Isso complica o processo de reciclagem inviabilizando-o. Normalmente
esse é um problema para a indústria, pois os processos de produção de seus produtos acabam gerando
perdas e assim também é com a embalagem, mesmo uma baixa porcentagem de perda pode significar
um volume significativo de material à ser reciclado no final de um mês. Já a tripa plástica é composta
apenas por um material, facilitando o processo de reciclagem.
Outro ponto a ser abordado é a forma do produto, mas agora relacionado ao aspecto mercadológico.
Esse projeto de desenvolvimento tratou a mudança no formato do produto final voltando-se a custos,
isso por buscar uma alternativa que oferecesse maior produtividade de uma maneira geral ao processo
produtivo, prezando por menores alterações possíveis, principalmente aquelas que o atual processo
Flow Pack oferece vantagens. Esse novo formato para a goiabada pode ser um fator de destaque e
diferenciação do produto na gôndola. Empresas buscam constantemente formas para inovar mesmo
que isso signifique maior custo como é o caso de muitos produtos oferecido hoje no mercado.
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130
Volante, C. R. & Malagolli G. A.
Considerações Finais
Os principais beneficiados com a implantação da embalagem tripa plástica são as médias e grandes
empresas que industrializam goiabada. Isso se deve pelo volume de produção das médias e grandes
empresas onde os custos fixos são diluídos na quantidade produzida.
O processo de envase para a embalagem tripa reduz custos durante o processamento se comparado
com o tradicional produto que utiliza o sistema de envase tipo Flow Pack. Pode oferecer custo de
embalagem um pouco maior devido a aplicação dos grampos apesar de utilizar menor quantidade de
material e custo de embalagem menor se comparado ao processo de envase tipo Form-Fill-Seal.
Sua principal vantagem se dá na redução operacional do processo de envase, além de se demonstrar
mais econômico para as indústrias processadoras de goiaba de médio a grande porte, o sistema de
envase de tripas plásticas oferece baixos custos de implantação inicial e consecutivamente menor
risco.
Como não há necessidade de alterações na formulação do produto para se adequar a embalagem
proposta as características físico-química e sensoriais do produto são exatamente as mesmas quando
este é envasado da forma tradicional. Assim, oferece menos riscos em relação a aceitação por parte do
consumidor já que as características degustativas não ficam a quem das expectativas do consumido. A
maneira como o produto é consumido ou fracionado pelo consumidor também podem ser exatamente
a mesma do atual produto, além da forma de conservação, armazenamento após aberto e tempo de
vida de prateleira (shelflife). Um produto que inova em aparência e ainda oferece menores custos de
produção é uma alternativa interessante para empresas que buscam sucesso no mercado.
Referências
DMON MÁQUINAS Ltda. Termoformadora DMFS-5000. Sales de Oliveira. Disponível em:
<http://www.dmom.com.br/proter.php> Acesso em 30 abr. 2013.
NEGÃO, C.; CAMARGO, E. Design de embalagem: do marketing à produção. São Paulo: Novatec
Editora, 2008.
POLY-CLIP SISTEM Ltda TSCA 65. USA. Disponível em: < http://www.polyclip. com/cms/us/
mainmenu.cshtml> Acesso em 01 mai. 2013.
REGULAMENTO DA INSPEÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM
ANIMAL – RIISPOA. Art, n° 412. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.
br/arq_editor/file/Aniamal/MercadoInterno/Requisitos/RegulamentoInspecaoIndustrial.pdf > Acesso
em 25 abr. 2013.
ULMA PACKAGING Ltda. Termoformagem e Blister. Americana. Disponível em: < http://www.
ulmapackaging.com.br/maquinas-de-empacotamento/termoformagem-e-blister > Acesso em 25 abr.
2013
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131
O PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA
DA ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA:
APLICAÇÃO EM UMA ESCOLA MUNICIPAL
PLANNING AS A TOOL OF STRATEGIC MANAGEMENT:
APPLICATION IN A MUNICIPAL SCHOOL
Maria Aurora Utrera1
Ana Teresa Colenci Trevelin2
Rosana Cristina Colombo Dionysio3
RESUMO
O presente artigo foi realizado com o intuito de apresentar as vantagens da aplicação do Planejamento
como ferramenta da Administração Estratégica no sucesso de uma Escola Municipal. Por intermédio
de uma revisão bibliográfica foram apresentados os conceitos e a história da Administração Estratégica
e do Planejamento. Para complementar, foi realizado um estudo de caso onde pode-se comprovar
que o Planejamento é uma ferramenta de fundamental importância para toda e qualquer organização
que visa uma melhoria contínua, já que a mesma orienta de maneira precisa quais os pontos fortes
e fracos da organização, possibilitando a tomada de decisão antecipada aos fatos e de modo mais
exato. Concluiu-se, portanto que, o Planejamento como ferramenta da Administração Estratégica não
é apenas de vital importância para a sobrevivência das organizações no mercado atual cada vez mais
competitivo, mas também para as Instituições de Ensino que visam uma melhor qualidade no seu
processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-Chave: Instituições de Ensino. Estratégia. Planejamento.
ABSTRACT
This work was carried out with the intention of presenting the advantages of the application
of Planning as a tool of Strategic Management in the success of a municipal school. Through a
1
2
3
Graduanda do curso de Tecnologia em Produção Industrial da Fatec/Tq. E-mail: [email protected]
Docente da Fatec/Tq e Coordenadora do Grupo de Pesquisa GPET. E-mail: [email protected]
Docente e Especialista em Administração de Sistemas de Informação - Escola Técnica Estadual “Dr. Adail Nunes da
Silva”. E-mail: [email protected]
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132
Utrera, M. A., et al.
literature review we presented the concepts and history of Strategic Management and Planning. To
complement, we performed a case study where it could be proved that the planning is a tool of
fundamental importance for any organization that seeks continuous improvement, since it guides
accurately the strengths and weaknesses of the organization enabling decision making in advance
to the facts. It was concluded, therefore, that the Planning and Strategic Management tool is not
only vital for the survival of organizations in the current increasingly competitive, but also for the
educational institutions that seek a better quality in their teaching learning process.
Keywords: Education Institutions. Strategy. Planning.
INTRODUÇÃO
Seja qual for o tipo de organização, é preciso haver um planejamento adequado por parte de seus
administradores focando em como será o dia a dia, pensando em benefícios a longo prazo e atitudes
perante a concorrência, para que assim eles possam identificar e sanar os futuros problemas. Para isso,
as empresas estão utilizando mais e mais a Administração Estratégica, focando no planejamento como
ferramenta principal. Nas organizações públicas, conforme salienta Silva (2013) não é diferente. Em
qualquer tipo de ação que os administradores tenham que tomar, deve-se em primeiro lugar haver um
planejamento.
Um dos benefícios do planejamento é que ele ajuda os administradores públicos a tomar
decisões atuais que têm a melhor chance de produzir as consequências desejadas – tanto no
presente como no futuro. Ele permite aos administradores saber onde a organização está hoje
em dia, quais são ou poderiam ser os seus recursos e para onde desejam ir os dirigentes ou
detentores do poder na organização (Silva 2013).
Porém muitos desses administradores deixam a desejar na aplicação da Administração Estratégica a
favor da tomada de decisões.
Pelo fato de haver poucas pesquisas na área, este artigo expõe como o planejamento ocorre em
instituições públicas, principalmente na área da educação, e como esta ferramenta pode trazer
benefícios quando aplicada numa escola municipal.
1. A ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
Pode-se dizer que a Administração Estratégica surgiu tardiamente, tendo influências da sociologia e
da economia. Antes de tudo, é necessário conceituar estratégia, do grego Strategos que quer dizer a
função do general do exército.
Mintzberg e Quinn (1991 apud CAMARGOS & DIAS, 2003), dizem que, dependendo do contexto no
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 131-142, 2013
O planejamento como ferramenta da administração estratégica: aplicação em uma escola municipal
133
qual é empregada, a estratégia pode ter o significado de políticas, objetivos, táticas, metas, programas,
entre outros, numa tentativa de exprimir os conceitos necessários para defini-la.
Porém, o conceito de Administração Estratégica é mais amplo. Ela pode ser vista como uma sequência
de passos que a alta administração da organização deve seguir para alcançar sua missão e sua visão,
conforme citação,
A Administração Estratégica é desafiadora porque vai muito além de estabelecer os objetivos
e posteriormente dar ordens aos membros da organização para se aterem a esses objetivos.
A direção estratégica de uma organização depende de uma série de considerações. Entre elas
estão à avaliação pela alta administração das oportunidades e ameaças do ambiente externo
e a análise pela administração dos pontos fortes e fracos da empresa (WRIGHT; KROLL;
PARNELL, 2000).
1.1. Algumas Ferramentas da Administração Estratégica
Algumas das ferramentas da Administração Estratégica que as empresas costumam utilizar, são
elas: PFOA (SWOT), Matriz de Porter, Matriz BCG (Boston Consulting Group), Analise de Grupos
Estratégicos, Matriz GE e Planejamento. Neste artigo será focada apenas a ferramenta Planejamento.
2. PLANEJAMENTO
Sabe-se que planejar é o ato de pensar antes de agir de modo a antecipar possíveis problemas que
possam surgir dentro de cada setor da organização. Para alguns autores, o conceito de planejamento
pode ser ainda mais abrangente. Sampaio (2008) define planejamento como:
Um processo contínuo e dinâmico que consiste em um conjunto de ações intencionais,
integradas, coordenadas e orientadas para tornar realidade um objetivo futuro, de forma a
possibilitar a tomada de decisões antecipadamente. Essas ações devem ser identificadas de
modo a permitir que elas sejam executadas de forma adequada e considerando aspectos como
o prazo, custos, qualidade, segurança, desempenho e outras condicionantes. (Sampaio 2008)
Maximiano (2009) define o processo de planejamento como sendo a ferramenta para administrar
as relações com o futuro. É uma aplicação específica do processo de tomar decisões. O processo de
planejamento faz com que os administradores se afastem da rotina operacional e se concentrem no
futuro da organização (SOBRAL & PECI, 2008).
Esses autores ainda destacam algumas vantagens e benefícios do planejamento, como por exemplo:
proporciona senso de direção, focaliza esforços, maximiza a eficiência, reduz o impacto do ambiente,
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 131-142, 2013
134
Utrera, M. A., et al.
define parâmetros de controle, atua como fonte de motivação e comprometimento e fornece
consistência.
2.1. O processo para o planejamento
Maximiano (2009) afirma que, o processo de planejamento possui três fases importantes para que
possa ser implantado de forma correta. São elas: aquisição de dados de entrada, processamento dos
dados de entrada e preparação de planos. Essas etapas são de caráter decisivo, necessitando assim
de extrema competência por parte dos planejadores, para que as análises e avaliações sejam feitas de
forma correta, evitando assim futuros erros. A Ilustração 1 mostra de forma sintetizada as três fases.
Ilustração 1. As três etapas do processo de planejamento.
Fonte: Maximiano (2009).
Maximiano (2009) define de maneira mais detalhada essas etapas, como sendo:
a)Aquisição de dados de entrada – Os dados de entrada mostram necessidades, ameaças, oportunidades
ou uma situação com a qual você, como administrador, deverá lidar.
b)Tomada de decisão – Os dados de entrada são processados e transformados em novas informações
e decisões.
c) Preparação de planos – Finalmente, as decisões transformam-se em planos. De forma geral, um
plano contém pelo menos os seguintes componentes: objetivos, meios de realização e meios de
controle.
Existem três tipos de níveis de planejamento, interligados e que atuam conforme sua abrangência
dentro da organização, como mostra a Ilustração 2.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 131-142, 2013
O planejamento como ferramenta da administração estratégica: aplicação em uma escola municipal
135
Ilustração 2. Os três níveis de planejamento.
Fonte: Maximiano, (2009).
Para Sobral e Peci (2008), dependendo do foco do planejamento, os planos apresentam características
diferentes, podendo ser classificados de acordo com sua abrangência, horizonte temporal, grau de
especificidade e permanência.
A seguir são apresentados os três níveis de planejamento de forma mais detalhada.
a)Planos de Nível Estratégico
Para Sobral e Peci (2008), os planos estratégicos servem de base aos planos táticos e operacionais.
Este tipo de plano tem forte orientação externa e serve para posicionar a organização perante seu
ambiente externo. Já Maximiano (2009) diz que o Planejamento Estratégico é o processo de definir a
missão e os objetivos da organização, considerando as ameaças e oportunidades do ambiente e outros
fatores.
b)Planos de Nível Tático
Os planos táticos traduzem os objetivos gerais em objetivos específicos de uma unidade da
organização, geralmente uma área funcional, como marketing ou recursos humanos, (SOBRAL e
PECI, 2008). Já Maximiano (2009), diz que, planos funcionais (também chamados estratégias ou
planos administrativos, departamentais ou táticos) são elaborados para possibilitar a relação dos
planos estratégicos.
c) Planos de Nível Operacional
Os planos operacionais, de acordo com Sobral e Pecci (2008), têm uma orientação de curto prazo e
são constantemente adaptados diante de novos desafios ou oportunidades.
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136
Utrera, M. A., et al.
3. ANÁLISE DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM UMA ESCOLA MUNICIPAL
3.1. Escolas Municipais
As Escolas Municipais são de responsabilidade do município, sendo comandadas por uma Secretaria
Municipal de Educação, a qual é subordinada a uma Diretoria Regional de Ensino. As Escolas
Municipais tem como foco o aprendizado dos níveis de ensino infantil (creches e pré-escolas) e
fundamental (ciclo I – 1º ao 5º ano e ciclo II – 6º ao 9º ano). Oliveira (2006) descreve que:
O município, ente federativo autônomo, dispõe de três opções para a formatação do seu
sistema de ensino (LDB/96, art. 11, parágrafo único): próprio, integrado com o estado ou
único. Desta decisão basilar decorrerão desdobramentos fundamentais para a sua organização
e legalização, a exemplo das funções e atribuições do Conselho Municipal de Educação,
das normas de funcionamento das escolas e da regulamentação das estruturas de gestão
democrática no seu sistema. (Oliveira 2006 p.57)
A criação das Escolas Municipais se deu pela necessidade de descentralização do poder de educação
do Governo Federal e Estadual. Paz (2008), afirma que, a adoção do princípio da descentralização
consubstanciada pela municipalização do ensino, como forte apelo da nova lógica de ação estatal
passa a compor o novo cenário da educação nacional. Segundo Azevedo (2004) apud PAZ (2008),
A descentralização é difundida como um poderoso mecanismo para corrigir as desigualdades
educacionais, por meio da otimização dos gastos públicos. Apesar de os postulados
democráticos serem recorrentemente reafirmados, estes se apresentam como justificativa
da transferência de competências da esfera central de poder para as locais, respaldadas em
orientações neoliberais, com o objetivo de redução do Estado às suas funções mínimas, de
acordo com as inspirações/adaptações de corte Hayek-smithiano. (Azevedo (2004) apud PAZ
(2008) p 87).
Dessa forma, os municípios brasileiros passam a, progressivamente, assumir em larga escala a oferta
pela educação fundamental, impulsionados principalmente, pela promulgação da Constituição Federal
de 1998 – CF, pelas determinações da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD)
– nº 9.394/96 e pelos imprevistos da Lei que cria o Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental
e Valorização do Magistério (FUNDEF) – nº 9.424/96, uma importante estratégia para garantir as
condições financeiras de funcionamento do novo sistema municipal de ensino (SOUZA & FARIA,
2004 apud PAZ, 2008).
A descentralização do poder educacional não possui uma data exata de criação, porém pode-se citar
o que Paz (2008) diz a respeito deste fato:
O processo de descentralização na década de 1990 foi normatizado através da aprovação
Emenda Constitucional nº 14 do ano de 1996 e, em consonância com o Plano Decenal de
Educação, a atual LBD, que reafirma a determinação do documento anterior (Título IV),
estabelecendo que os entes federados promoverão a organização, em regime de colaboração,
dos seus respectivos sistemas de ensino (Art. 8º); as incumbências da União (Art. 9º), as
responsabilidades dos estados (Art. 10º) e as competências dos municípios (Art. 11º) (PAZ,
2008 p92).
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O planejamento como ferramenta da administração estratégica: aplicação em uma escola municipal
137
Assim percebe-se que este processo de descentralização foi muito importante para a educação do
país, tornando-a mais acessível à população menos favorecida. Entretanto, pode-se afirmar que
este processo não terá resultados positivos se não houver um planejamento para que as entidades
educacionais possam sobreviver em meio aos desafios do mundo atual.
3.2. Planejamento Estratégico nas Escolas Municipais
Assim como em qualquer organização, o Planejamento Estratégico também se torna de vital
importância na administração das Escolas Municipais, ajudando seus dirigentes e coordenadores para
que estes tenham uma melhor tomada de decisão em relação ao ensino proporcionado pela Unidade
Escolar. Oliveira (2006) diz que, a metodologia adotada no processo de Planejamento Estratégico
é pretensamente aplicável a qualquer tipo de organização, tanto que pode ser aplicável tanto em
instituições públicas como privadas. A abordagem que segue é coerente, portanto, nas escolas
particulares e nas públicas.
Paz (2008) descreve que, o planejamento da educação surge como elemento desafiador e fundamental
para que o município possibilite a definição dos rumos que a educação deve tomar para se garantir
princípios como a busca pela qualidade do ensino. Já para Luck (2000)
O Planejamento Estratégico como o esforço disciplinado e consciente, destinado a produzir
decisões fundamentais e ações que guiem a organização escolar, em seu modo de ser e de
fazer, orientado para resultados, com forte e abrangente visão de futuro. Lück (2000 p.23)
Lück (2005 apud OLIVEIRA, 2006) diz que, “a adoção do Planejamento Estratégico foi a resposta
até então encontrada pelos sistemas educacionais por todo o mundo” à demanda pela introdução e
estabelecimento de uma cultura de gestão estratégica nas unidades escolares.
As escolas, para adoção integral da metodologia da gestão estratégica, deverão considerar
seu projeto político pedagógico. Este instrumento constitui o documento mais importante
derivado do Planejamento Estratégico de uma instituição educacional na medida em que
consolida as ambições, os fins, os objetivos e a programação das atividades pedagógicas
da escola. Todos esses fatores deverão ser determinados de modo a manter a unidade e a
harmonia com o plano estratégico (OLIVEIRA, 2006).
Uma das principais ferramentas utilizadas no Planejamento Estratégico utilizado nas escolas
municipais é o Plano Escolar que será estudado na seção a seguir.
3.2.1. Plano Escolar
Como já mencionado na seção anterior uma das ferramentas utilizadas para se fazer o Planejamento
Estratégico nas escolas municipais é o Plano de Ensino, que também pode ser tratado como Projeto
Político-Pedagógico (PPP) ou Plano de Gestão.
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 131-142, 2013
138
Utrera, M. A., et al.
A criação do Projeto Político-Pedagógico foi uma proposta nacional lançada pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional em 1996 (Inciso I do Artigo 13), que incentivava a escola a traçar seu
próprio caminho educativo (OLIVEIRA, 2006 p.43).
Ferreira (2009), explica que, fazer o PPP implica em planejamento de todas as atividades no âmbito
escolar, execução das ações previstas, avaliação do processo e remota. Isto somente é possível se
instituída a pratica do registro e da reflexão sobre ele.
De acordo com o Plano de Gestão da Escola Municipal “Professora Elza Maria Martucci”, o Projeto
Político-Pedagógico, apesar de se compor como exigência normativa, é antes de qualquer coisa uma
ferramenta ideológica, que tende, sobretudo a gestão dos resultados de aprendizagem, por intermédio
da projeção, organização e monitoramento de todo o universo escolar.
Ainda para Oliveira (2006), um Projeto Político-Pedagógico ultrapassa a mera elaboração de planos,
que só se prestam a cumprir exigências burocráticas.
Veiga (1996) apud OLIVEIRA, (2006), afirma que, o Projeto Político-Pedagógico sinaliza a direção
que a escola vai tomar:
É uma ação intencional, com o sentido explícito, com um compromisso definido
coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político
por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político e com os interesses reais e
coletivos da população majoritária (VEIGA, 1996 apud OLIVEIRA, 2006).
Ferreira (2009) salienta que, o PPP constitui-se em um documento produzido como resultado do
diálogo entre os diversos segmentos da comunidade escolar a fim de organizar e planejar o trabalho
administrativo-pedagógico, buscando soluções para os problemas diagnosticados. Para o autor, o
PPP, além de ser uma obrigação legal, deve traduzir a visão, a missão, os objetivos, as metas e as
ações que determinam o caminho do sucesso e da autonomia a ser trilhado pela instituição escolar.
4. MÉTODO
Esta pesquisa está dividida em duas partes, a primeira parte trata de uma revisão bibliográfica e a
segunda parte de um estudo de caso.
A pesquisa bibliográfica foi utilizada com o objetivo de levantar dados sobre pesquisas já realizadas
a respeito do tema, de como o planejamento pode ajudar na melhoria do índice de qualidade em
uma Escola Municipal, abordado neste trabalho. Macedo (1994), diz que a pesquisa bibliográfica
consiste na seleção de documentos que se relacionam com o problema de pesquisa (livros, verbetes
de enciclopédias, artigos de revistas, trabalhos de congressos, teses, etc.).
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O planejamento como ferramenta da administração estratégica: aplicação em uma escola municipal
139
Pode-se assim dizer que, a revisão ou pesquisa bibliográfica ou de literatura consiste na averiguação
do que já existe a respeito de determinado assunto e também o conhecimento dos autores que abordam
sobre este assunto.
Após fazer o levantamento bibliográfico, escolheu-se a metodologia do estudo de caso para integrar
a pesquisa empírica do trabalho. Segundo Rodrigo (2008),
O estudo de caso evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho
descritivo. “O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal
como ela lhe surge.” Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto um estudo de
caso não precisa ser meramente descritivo. Rodrigo (2008 p.45).
O estudo de caso é um dos vários modos de realizar uma pesquisa sólida. Em geral, se constituem na
estratégia preferida quando o “como” e/ou o “por que” são as perguntas centrais, tendo o investigador
um pequeno controle sobre os eventos (RODRIGO, 2008).
O estudo de caso foi realizado por meio de um questionário direcionado à Equipe Diretiva da Escola.
Foi aplicado pessoalmente na própria escola. O referido questionário pode ser visualizado no Anexo
I deste trabalho.
4.1. Dados da Escola estudada
A equipe Diretiva é composta por uma Diretora, uma Vice-Diretora e duas Coordenadoras Pedagógicas,
sendo uma do Ciclo I e outra do Ciclo II. A equipe administra duas escolas, pois ambas são de
pequeno porte, ou seja, por serem localizadas em distritos pequenos as escolas contam com um baixo
número de alunos. Dessa forma a Secretaria Municipal da Educação atribui a função de direção e
vice-direção das duas escolas às mesmas pessoas, onde a Diretora permanece a maior parte do tempo
em uma das Unidades e a Vice-Diretora na outra Unidade.
Porém o estudo de caso foca somente uma das escolas municipais, chamada E. M. “Profª Elza Maria
Martucci”, localizada na Rua Francisco Martins da Cunha, nº 1273, no Distrito de Jurupema, no
Município de Taquaritinga.
A escola oferece cursos do Ensino Fundamental Ciclo II, no período da manhã, das 7h 00 min às 12h
20 min de segunda-feira a sexta-feira.
4.2. Resultados e Discussão
A primeira pergunta do questionário aplicado à equipe escolar é referente a como é feito o planejamento
da Unidade. Como resposta foi apresentado que a Direção faz uma entrevista com a comunidade a
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140
Utrera, M. A., et al.
cada quatro anos e depois deste levantamento a escola organiza-se didática e pedagogicamente.
Na segunda pergunta, que questiona a importância do planejamento para a escola, a resposta obtida
foi que o planejamento é importante para sempre estar de acordo com a realidade onde a escola está
inserida, que é um distrito, praticamente zona rural, que depende de transporte e outros detalhes
técnicos que necessitam ser levados em conta no ato do Planejamento.
Em relação à questão de quem realiza o Planejamento, foi dissertado que o mesmo é realizado pela
equipe gestora, docentes, discentes, pais e comunidade, mas a montagem, elaboração e fechamento
são de responsabilidade da equipe gestora.
Já para a quarta questão, que diz respeito à quais pontos que norteiam este Planejamento, foi relatado
que os pontos importantes são: o conhecimento da realidade da escola (onde está inserida, situação
financeira da comunidade), dados de identificação, ementa, finalidade, conteúdos (o quê?) factuais,
conceituais, procedimentais e atitudinais, metodologia (como?), atividades discentes, cronograma,
recursos (quais?), avaliação (tipo), formação do colegiado e bibliografia.
Para a pergunta de número cinco, que corresponde ao período de quando o planejamento é realizado,
foi obtida como resposta que no município de Taquaritinga o Plano de Gestão é feito quadrienal, e
depois é feito um Plano Escolar anualmente para poder atualizar e arrumar o que foi alterado no Plano
de Gestão.
No que diz respeito aos problemas que não são previstos no Plano de Gestão foi aferido que se o
problema é intra-escola, consulta-se o conselho de escola e toma-se as atitudes necessárias, e se
for maior, o problema ou condição é a Secretaria Municipal de Educação que procura solucionar a
situação.
Na questão de número sete, que diz respeito sobre quem aprova o Plano de Gestão, a resposta dada foi
que o Planejamento ou o Plano de Gestão é aprovado pelo conselho de escola, em seguida, mandado
para a Secretaria Municipal de Educação para averiguação do supervisor e homologação da secretária.
Finalmente, com relação à oitava questão, que pergunta quais níveis (Tático, Estratégico e Operacional)
abrangem o Plano Escolar, foi dissertado que todos os níveis do Planejamento são abrangidos, já que
não é apenas a Equipe Diretiva que participa da criação do Plano Escolar, mas também o Corpo
Docente, Discente, funcionários e também a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho pode-se perceber a importância do Planejamento não apenas em indústrias ou
empresas que produzem bens, mas também em organizações que produzem serviços, em especial as
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O planejamento como ferramenta da administração estratégica: aplicação em uma escola municipal
141
Instituições de Ensino, que almejam uma maior qualidade no seu processo ensino-aprendizagem.
Por meio da pesquisa realizada com a Equipe Gestora da Unidade Escolar E.M. “Profª Elza Maria
Martucci”, foi apresentado a todos que o Planejamento para uma Escola Municipal não apenas
melhora a sua qualidade de ensino como também ajuda na orientação da Equipe gestora em relação
a como proceder com seus funcionários, com o corpo docente e discente. Verificou-se também que
este Planejamento não depende apenas da Unidade Escolar em si, e sim que o mesmo envolveu toda
a comunidade onde a escola se localiza, além da Secretaria Municipal da Educação.
Deste modo, foi possível perceber a interação entre a teoria do Planejamento e a prática, já que mesmo
para uma Instituição de ensino é necessário seguir os passo do Planejamento apresentados na teoria.
Para montar este planejamento, a escola define seus objetivos e então traça os planos necessários. Para
chegar a estes objetivos, ela recolhe seus dados de entrada, as ameaças e as oportunidades, através da
comunidade e do cenário atual em que a educação se encontra no município. Em seguida, a escola
entra no processo de planejar, analisando e interpretando os dados colhidos, criando análises das
possíveis alternativas futuras, tomando as decisões necessárias e que melhor se adéquam a Unidade
Escolar.
Por fim, a escola monta seu Planejamento, mostrando de forma clara quais os objetivos que ela terá
que atingir, os recursos que serão utilizados para tal e quais os meios de controle que ela utilizará.
Conclui-se que a Administração Estratégica focada no Planejamento é de fundamental importância
para toda e qualquer organização, seja ela de fins lucrativos ou educacionais, desde que implantada
de maneira correta contando com a participação de todos e procurando prever ao máximo todos e
quaisquer problemas que a instituição possa vir a possuir.
REFERÊNCIAS
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E ESTRATÉGIA CORPORATIVA: UMA SINTESE TEÓRICA. Caderno de Pesquisas em
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PAZ, V. O. A GESTÃO DOS SISTEMAS MUNICIPAIS DE ENSINO E O PLANEJAMENTO
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RODRIGO, J. Estudo de Caso – Fundamentação Teórica. 2008. 8 p. – TRT 18ª Região-Tribunal
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WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA – CONCEITOS.
São Paulo: Atlas, 2000.
ANEXO I
1. Como é feito o Planejamento da Escola?
2. Qual a importância do Planejamento para a Escola?
3. Quem realiza o Planejamento?
4. Quais pontos norteiam o Planejamento?(O que deve ser levado em consideração na montagem de
um Plano de Gestão?)
5. De quanto em quanto tempo é feito o planejamento?
6. Como são solucionados os problemas que não foram previstos no Plano de Gestão?
7. Quem aprova?
8. Considerando os níveis de planejamento (Tático, Estratégico e Operacional), quais níveis abrangem
o Plano Escolar?
Interface Tecnológica, v. 10, n. 1, p. 131-142, 2013
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ser estendido em casos de solicitação de reformulação. Os trabalhos negados são devolvidos aos seus autores.
O cronograma referente aos prazos fica estabelecido da seguinte forma:
CRONOGRAMA
Fase
Procedimento
Descrição
Data
Responsável
1
Chamada para submissão
dos artigos
Chamada para submissão dos artigos
através do site da Instituição, de
e-mails.
A ser determinada pelo Conselho
Editorial. O prazo entre as datas
de início e término de submissões
será de 30 dias
2
Análise dos trabalhos
submetidos
O Conselho Editorial analisará as
contribuições submetidas, utilizandose de critérios estabelecidos neste
documento. Após, os trabalhos serão
passados ao Consultivo.
O Conselho Editorial terá um
prazo de 10 dias para proceder à
análise das submissões.
Conselho
Editorial
3
Análise dos trabalhos
submetidos
O Conselho Consultivo analisará as
contribuições, fazendo as devidas
alterações ou não.
O Conselho Consultivo terá um
prazo de 10 dias para proceder à
análise dos trabalhos
Conselho
Consultivo
4
Devolução aos autores
dos tabalhos revisados
Os trabalhos revisados pelo CC serão
devolvidos aos seus autores para as
necessárias alterações ou não.
Os autores terão um prazo de 05
dias para proceder às alterações
ou não.
Autores
5
Devolução das
contribuições retificadas
pelos autores ao Conselho
Editorial
As contribuições serão devolvidas ao
CE pelos autores, já com as devidas
alterações.
6
Avaliação realizada
pelo CE dos trabalhos
enviados pelos autores
para publicação
Os trabalhos serão avaliados
pela última vez pelo CE, que os
encaminhará para publicação ou não.
7
Publicação das
contribuições
Conselho
Editorial
Autores
O CC terá 05 dias para proceder
a essa avaliação.
Conselho
Editorial
Conselho
Editorial
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superior direito da lauda.
Estrutura
Os artigos devem ser apresentados da seguinte forma:
• FOLHA DE ROSTO PERSONALIZADA: com a) título em português (grafado em negrito); b) título
em inglês (equivalente ao título em português, grafado em negrito); c) nome de cada autor;
•
FOLHA DE ROSTO DESPERSONALIZADA: sem o nome do autor, contendo exclusivamente: a)
título em português; b) título em inglês;
• RESUMO: em português e acompanhado de, no máximo 5 palavras-chave e, no mínimo, 3. Será
apresentado em um só bloco, não havendo parágrafos;
• ABSTRACT: resumo em inglês, equivalente ao resumo em português e acompanhado das Keywords.
Os artigos podem conter ainda:
• APÊNDICES E/OU ANEXOS : quando apresentarem informações indispensáveis à compreensão do
texto. Devem constar no final do artigo, numerados de acordo com a ordem de apresentação;
• TABELAS E/OU QUADROS: devem incluir legendas e serem numerados sequencialmente;
• IMAGENS: os arquivos devem se enviados em alta resolução (300dpi) e, preferencialmente, no
formato do programa em que foram originalmente gerados (Excel, Corel Draw, etc).
Sistemas de chamadas (autor, data)
• DE UM A TRÊS AUTORES: os nomes dos autores devem ser separados por ponto e vírgula:
(BORBA; BIDERMAN; MONTI, 2005)
• A PARTIR DE QUATRO AUTORES: cita-se o nome do primeiro autor seguido da expressão et al.:
(OLIVEIRA et al., 2008)
• AUTOR COM MAIS DE UMA PUBLICAÇÃO NO MESMO ANO: as obras devem ser diferenciadas
por meio da adição de uma letra minúscula após a data, ordenadas de acordo com a lista da seção de
referências:
(SILVEIRA, 1998a), (SILVEIRA, 1998b)
• VÁRIAS OBRAS DO MESMO AUTOR: os anos das publicações devem ser separados
por vírgula:
(GIL, 1999, 2005, 2008)
Citações
Citações diretas (transcrição textual de parte da obra do autor consultado)
• CITAÇÕES DIRETAS CURTAS: com até 3 linhas, devem ser integradas ao texto, entre aspas, seguidas
da chamada pelo sobrenome do autor, incluindo o número da página.
“[...] definem quem pode negociar [...] sob as quais se processam as transações” (FLIGSTEIN, 2003,
p. 195-7).
• CITAÇÕES COM 4 LINHAS OU MAIS: devem ser deslocadas do corpo do texto, dispostas com
recuo de 4 cm da margem esquerda, sem aspas e com espaçamento simples, seguidas da chamada pelo
sobrenome do autor.
Citações indiretas (texto baseado na obra do autor consultado)
As citações indiretas devem ser seguidas da chamada pelo sobrenome do autor. A indicação do número da
página é opcional:
Segundo Martins (2010, p.38), em estudo realizado no Rio de Janeiro (UFRJ, 2007)...
Citação de citação (texto não retirado de fonte original, mas de obra que a ele faz referência)
Deve ser referida a fonte consultada e não a fonte original, usa-se a expressão apud (citado por) entre o autor
original e o autor consultado.
De acordo com Platão e Fiorin (1990, p.241 apud MEDEIROS, 2003, P.71), os pressupostos são ideias não
expressas de maneira explícita [...]
Notas e abreviaturas
As notas devem figurar no rodapé da página, numeradas sequencialmente.
As abreviaturas devem seguir as orientações da NBR 10522/88.
Referências
A seção de referências, no final do artigo, deve conter as referências completas, ordenadas, primeiro por ordem
alfabética do sobrenome dos autores, depois, caso haja mais de uma obra do mesmo autor, por ordem alfabética
do título da obra, conforme regra da ABNT (NBR 6023, ago. 2002). O elemento em destaque, a depender do
tipo de referência, deve estar em negrito.
Referências de livro
• INTEGRAL: BALLOW, R.H. Logística empresarial: transportes,
•
administração de materiais e
distribuição física. 2.ed.São Paulo: Atlas, 1993.
PARTE DO LIVRO: PEREIRA, R.R. et al. Ladrões de sonhos e sabonetes: sobre os modos de
subjetivação da infância na cultura do consumo. In: JOBIM E SOUZA, S. (Org.). Subjetividade em
questões: a infância como crítica da cultura. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.
Referências de revista
• INTEGRAL: PSICOLOGIA: Teoria e Pesquisa. Brasília: Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília, v.22, n.1, jan./abr.2006.
• ARTIGOS E/OU MATÉRIA: MOURA, M.L.S. Dentro e Fora da Caixa Preta: A Mente sob um Olhar
Evolucionista. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.21, n.2, p.141-147, maio/ago.2005.
Dissertações e teses
STRAFORINI, R. Ensinar geografia nas séries iniciais: o desafio da totalidade mundo. 2001. Dissertação
(mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Obras em mídias digitais
A referência obedece o padrão indicado para o material impresso, acrescida da descrição do meio eletrônico e
data de acesso, quando consultadas online:
KOOGAN, A.;HOUAISS, A. (Ed.) Enciclopédia e dicionário digital 98. Direção geral de André Koogan
Breikman. São Paulo: Delta: Estadão, 1998. 5 CD ROM.
BICCA JUNIOR, R. L. Coisas nossas: a sociedade brasileira nos sambas de Noel Rosa. 2001. Dissertação
(mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: http://
www.samba-choro.com.br/print/debates/. Acesso em 21 ago. 2004.
Formatação das referências
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