associação nacional dos serviços municipais de saneamento
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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO – ASSEMAE. 35ª ASSEMBLÉIA NACIONAL DA ASSEMAE, 24 A 29 DE JULHO DE 2005, BELO HORIZONTE-MG. IX EXPOSIÇÃO DE EXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS EM SANEAMENTO AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA UNIDADE FLOCULAÇÃO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA Nº 2 DE VALINHOS-SP TEMA I : ABASTECIMENTO DE ÁGUA (1)Luiz Carlos Alves de Souza Engenheiro Civil formado pela Universidade São Francisco(Itastiba-SP). Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). É Engenheiro Civil do Departamento de Águas e Esgotos de Valinhos-SP. (1) Departamento de Águas e Esgotos de Valinhos, Rua Antonio Carlos, 251, Centro, Valinhos-SP, Fone (0xx19) 38696444, Fax(0xx19) 38715879, CEP 13.270-005, Brasil. E-mail [email protected] 1 INTRODUÇÃO Em estações de tratamento de água, as unidades de floculação são de importância fundamental para o adequado tratamento de águas para abastecimento público. O processo de floculação no qual são formados os flocos, ocorre com melhor eficiência sob determinadas condições em que havendo controle de algumas variáveis tais como: gradiente de velocidade médio, tempo de floculação, dosagem de coagulante, pH de coagulação, entre outros, resulta na formação de flocos com melhores características de sedimentabilidade, permitindo que sejam retidos nos decantadores, admitindo-se que a água a ser distribuída seja tratada em estação tipo convencional (contendo as etapas de floculação, decantação e filtração como parte do processo de tratamento). O tempo de floculação não pode ser determinado por método direto, uma vez que, há, de maneira geral, curto-circuito hidráulico, resultando em valores de tempo que podem ser muito diferentes do previsto originalmente no projeto da unidade de floculação. Entretanto, muitas vezes é necessário conhecer o tempo de floculação para, por exemplo, proceder ensaios em laboratório (ensaios em “jar-test”) com vistas a determinar as dosagens mais adequadas de coagulante, alcalinizante, e, eventualmente, de polímeros como auxiliares de floculação. Desta forma, é importante conhecer qual é o tempo de floculação que deve ser utilizado para ensaios em “jar-test” que seja compatível com o tempo que ocorre na unidade de floculação. MATERIAIS E MÉTODOS Preliminarmente à realização do teste na ETA com solução traçadora, foi feito experimento em laboratório utilizando equipamento de “jar-test”. Inicialmente foram pesadas pequenas quantidades de cal hidratada Ca(OH)2 contendo 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9 e 10 mg. A pesagem foi realizada em balança semi-analítica digital. A água bruta foi coletada na entrada da ETA e nos jarros do “Jar-test” foram colocados 2L. A temperatura era de 24 ± 1 °C. Em seguida ligou-se o agitador e fixou-se a rotação de 67 rpm para que fosse aplicado o gradiente de 55 s-1 para a temperatura do teste. A condutividade da água foi medida com condutivímetro digital. O valor inicial foi de 59,4 µS/cm. Posteriormente, com o agitador ligado 2 adicionava-se a cal hidratada com as quantidades pesadas em laboratório, até que se estabelecesse diferença perceptível e facilmente mensurável entre a condutividade inicial da água bruta (sem adição de qualquer produto químico) e a condutividade final com a adição da cal hidratada. O valor final obtido foi 110,3 µS/cm com a dosagem de 49 mg de cal hidratada em 2L de água, resultando desta forma, na concentração de 24,5 mg/L de cal hidratada. TESTE COM SOLUÇÃO TRAÇADORA NA ETA 3 O volume total das câmaras de floculação da ETA é de 300 m . Assim, para que houvesse sensibilidade no teste, utilizando solução traçadora à base de cal hidratada, foi necessário dosar, de acordo com o teste feito no “jar-test”, 24,5 mg/L de cal hidratada na água afluente às câmaras de floculação. O peso da cal utilizada para esse teste foi de 300.000 L x 24,5 mg/L x 10-6 = 7,351 kg. A cal foi diluída em 25L de água e a suspensão foi adicionada instantaneamente, ou seja, a aplicação foi do tipo pulso. Para o teste, a vazão da ETA foi mantida em 170 L/s e nenhum produto químico foi dosado. A condutividade foi medida na saída de uma das duas últimas câmaras de floculação, na saída para o canal de acesso ao decantador. As descargas de fundo dos decantadores foram abertas, bem como a filtração foi paralisada. O teste foi realizado à noite, durante horário de baixo consumo de água, e com os reservatórios cheios. A rotação dos agitadores dos floculadores foi mantida a mesma da operação normal da ETA. A partir do instante da aplicação da solução traçadora, marcou-se o tempo com cronômetro digital, e a cada intervalo de 2 minutos, foi medida a condutividade. A Figura - 1 apresenta, de forma simplificada, os pontos de aplicação da solução traçadora e de medição da condutividade no teste feito na ETA. Os resultados apresentados a seguir na Tabela 1, sugerem que para a correta avaliação da eficiência da floculação, é de fundamental importância verificar as condições hidráulicas da unidade de floculação, que permitam caracterizar as prováveis interferências causadas por curtos-circuitos hidráulicos, que geralmente, reduzem o tempo teórico de floculação, e, em muitas situações, podem induzir a erros na avaliação do mesmo, com conseqüentes equívocos na realização e 3 interpretação dos resultados provenientes de ensaios realizados em “jar-test”, quando estes têm por finalidade avaliar as condições operacionais das unidades de floculação da ETA. Com os dados medidos no teste (Tabela –1) foram procedidos os cálculos cujo equacionamento é apresentado em seguida. Os resultados também foram agrupados na Tabela –1 para facilitar a interpretação dos resultados. Ponto de aplicação da solução traçadora entrada do decantador Q ---> 3 V = 75 m 1ª câmara de floculação 3 V = 75 m 3ª câmara de floculação decantador Q2 Q Q Q2 3 V = 75 m 2ª câmara de floculação 3 V = 75 m 3ª câmara de floculação ponto de medição da condutividade decantador canal de água coagulada Figura 1 – Esquema da unidade de floculação e pontos utilizados para teste com traçador na ETA. 4 TABELA 1 – Teste com traçador nas câmaras de floculação c/ suspensão de cal hidratada. Teste com aplicação tipo pulso na entrada da primeira câmara de floculação. Condutividade (µS/cm) medida na saída das últimas câmaras de floculação. t (min) 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 FLOC A COND (µS/cm) 63 63 83 98 110 121 126 132 132 131 128 123 117 112 107 102 97 93 89 85 81 79 77 74 72 70 69 68 67 66 65 63 64 t/To 0,00 0,04 0,11 0,18 0,25 0,32 0,39 0,46 0,53 0,60 0,67 0,74 0,81 0,88 0,95 1,02 1,09 1,16 1,23 1,30 1,37 1,44 1,51 1,58 1,65 1,73 1,80 1,87 1,94 2,01 2,08 2,15 2,22 F(t) 0,00 0,00 0,02 0,06 0,11 0,17 0,24 0,31 0,38 0,45 0,52 0,58 0,64 0,69 0,74 0,78 0,82 0,85 0,88 0,90 0,92 0,93 0,95 0,96 0,97 0,98 0,98 0,99 0,99 1,00 1,00 1,00 1,00 1-F(t) 1,00 1,00 0,98 0,94 0,89 0,83 0,76 0,69 0,62 0,55 0,48 0,42 0,36 0,31 0,26 0,22 0,18 0,15 0,12 0,10 0,08 0,07 0,05 0,04 0,03 0,02 0,02 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 COND/COND Acumulada 0,00 0,00 20,00 55,00 102,00 160,00 223,00 292,00 361,00 429,00 494,00 554,00 608,00 657,00 701,00 740,00 774,00 804,00 830,00 852,00 870,00 886,00 900,00 911,00 920,00 927,00 933,00 938,00 942,00 945,00 947,00 947,00 948,00 COND.- COND. t Incial (min) (µS/cm) 0 0 20 35 47 58 63 69 69 68 65 60 54 49 44 39 34 30 26 22 18 16 14 11 9 7 6 5 4 3 2 0 1 Somatória 948 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 FLOC B COND (µS/cm) 67 67 84 98 109 117 122 125 125 124 121 119 113 109 106 101 97 94 89 86 82 81 78 76 73 73 71 70 68 67 67 65 64 FLOC A e FLOC B: duas últimas câmaras da unidade de floculação as quais operam em paralelo. 5 RESULTADOS A seguir são apresentados os resultados do teste com aplicação da suspensão de cal (traçador) aplicada na forma de pulso na entrada da unidade de floculação. 140 130 condutividade (µS/cm) 120 110 100 90 80 70 60 50 0 10 20 30 40 50 60 tempo (min) FIGURA 2 – Teste com solução traçadora nas câmaras de floculação para determinação do tempo de médio de floculação – condutividade em função do tempo de floculação. 80 Condutividade - Condutividade Inicial (µS/cm) 70 60 50 40 30 20 10 0 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 t/to FIGURA 3 - Condutividade em função da relação tempo / tempo total t/To – solução traçadora com aplicação tipo pulso. 6 1-F(t) 1,00 0,10 0,01 0 0,5 1 1,5 2 t/to FIGURA 4 – Fração de condutividade remanescente em função da relação t/To 1,00 0,90 0,80 0,70 (C/Co) 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 (t/to) FIGURA 5 – Relação F(T) em função de t/To 7 Os resultados apresentados na Tabela 1 foram calculados de acordo com o seguinte, para as medições realizadas na saída da câmara de floculação “FLOC A” : t Equação 1 T 0 em que: t : tempo no qual foi medida a condutividade; T0 : tempo total do teste n 1 − F ( t ) = ∑ C ∑ C 1 = 1 m i = 1 i Equação 2 i em que : 1 – F(t) : fração correspondente do traçador no tempo t; Ci : condutividade do traçador no tempo i; m : número de amostras coletadas durante o teste. − tg α = 0 , 434 (1 − p )(1 − m ) Equação 3 em que : m : fração correspondente a zonas mortas; (1-p)(1-m) : fração de escoamento do tipo mistura completa; p(1-m) : fração correspondente ao escoamento tipo pistão Para o teste em questão foram obtidos os seguintes resultados: Da Figura 3 a fração de escoamento tipo pistão p(1-m) resultou 0,67 tg α = Log (1) − Log (0 ,1) = 1,562 1,31 − 0 ,67 8 ( 1 − p )( 1 − m ) = 0 , 434 = 0 , 28 1,562 que corresponde a fração de escoamento tipo mistura completa. A fração relativa às zonas mortas resultou m = 0,05 Para vazão de 170 L/s o tempo (em minutos) médio teórico de floculação Td resultou em : Td = 75 × 2 0,170x60 + 75 = 29,4min 0,170 x60 2 CONCLUSÕES Considerando-se que a fração de escoamento tipo pistão resultou em 0,67, (67%) para realizar ensaios em “jar-test”, deve ser utilizado o tempo de floculação equivalente a 0,67 x 29,4 igual a 19,69 min. O tempo total de floculação de 20 minutos pode ser adotado, por questão de facilidade, para os ensaios em “jar-test” para avaliação do desempenho da ETA, tratando 170 L/s. Para “simular” no “jartest” as condições para tratar, por exemplo, 200 L/s, o tempo total de floculação utilizado deve ser de 16 minutos. No teste com traçador ficou demonstrado que a fração de escoamento tipo pistão resultou em 67%, e, 5% a fração relativa às zonas mortas na unidade de floculação. O equacionamento apresentado foi o mesmo utilizado por PÁDUA et al (1998), em método proposto para reprodução das condições de floculação de estações de tratamento de água em “jar-test”. Os resultados obtidos demonstram que a fração de escoamento tipo pistão de 67%, e a fração relativa às zonas mortas de 5% estão próximas às obtidas por PÁDUA et al (1998), 70% e 4%, respectivamente. A alteração feita no presente trabalho foi que, em vez de se utilizar cloreto de sódio como traçador, aplicou-se solução de hidróxido de cálcio, uma vez que este produto é utilizado na ETA como alcalinizante para correção do pH de coagulação. Os dados obtidos através dos testes com solução traçadora sugerem que o tempo teórico é, aproximadamente, 50% maior que o verificado em condições reais, se 9 for considerado o escoamento tipo pistão. Deve-se considerar que o ensaio em “jar-test” deve ser realizado com o tempo equivalente ao escoamento tipo pistão na unidade de floculação, pois neste caso, não há entrada ou saída de água nos reatores do equipamento, condição esta muito diferente da que ocorre na unidade floculação, onde o escoamento, obviamente, é contínuo. Portanto, para realização de ensaios em “jar-test”, é fundamental que seja conhecido o tempo real de floculação — relativo ao escoamento tipo pistão — nas câmaras de floculação das ETAs que, de maneira geral, é menor que o tempo teórico obtido simplesmente pela relação V/Q (volume / vazão). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION AWWA (1990) – Water Quality and th Treatment – A Handbook of Community Water Supplies, 4 edition, USA, Mcgraw- Hill. DI BERNARDO, L. (1993) - Métodos e Técnicas de Tratamento de Água, vols. 1 e 2. ABES, Rio de Janeiro. DI BERNARDO, L., PÁDUA, V. L., MOREIRA, A.M.R. (1998) Metodologia para la Reproducion de Las Condiciones de floculacion en Jar Test, XXVI Congreso Interamericano de Inginiera Sanitária Y Ambiental, Lima, Peru. HORVÁTH, I. (1994) - Hydraulics in Water and Wastewater Treatment Technology. John Wiley & Sons, 319p, UK. REYNOLDS, T. D (1982) Unit Operations and Processes in Invironmental Engineering, 576p. PWS Publishers. SOUZA, L. C. A. (2003)— Aumento da capacidade da Estação de Tratamento de Água nº 2 de Valinhos-SP, utilizando polímero natural como auxiliar de floculação. São Carlos, 253p. Dissertação de Mestrado — Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. 10
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