- AESabesp

Transcrição

- AESabesp
Saneas
SUMÁRIO
Saneas é uma publicação técnica quadrimestral
da Associação dos Engenheiros da Sabesp
AESABESP
DIRETORIA EXECUTIVA
Eliana Kazue Irie Kitahara / Presidente
Amauri Pollachi / Vice-Presidente
Cecília Takahashi Votta / 1ª. Secretária
Aram Kemechian / 2º. Secretário
Choji Ohara / 1º. Tesoureiro
Emiliano Stanislau de Mendonça / 2º. Tesoureiro
DIRETORIA ADJUNTA
Carlos Alberto de Carvalho / Diretor de Marketing
Gilberto Alves Martins / Diretor Técnico Cultural
Ivan Norberto Borghi / Diretor de Esportes
Ivo Nicolielo Antunes Junior / Diretor de Pólos
Hiroshi Ietsugu / Diretor de Pólos da RMSP
Cecília Takahashi Votta / Diretor Social
CONSELHO DELIBERATIVO
Almiro Cassiano Filho, Cid Barbosa Lima Jr., Eduardo
Augusto R. Bulhões, Getulio Martins, Gilberto Alves Martins,
Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Marcio Carioca, Luiz
Yukishigue Narimatsu, Magali Scarpelini Mendes Pereira,
Nelson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Reynaldo Eduardo Young
Ribeiro, Viviana Marli N. Aquino Borges, Wagner Luis
Bertoletto, Yazid Naked
CONSELHO FISCAL
Benedito Felipe Oliveira Costa, Luciomar Santos Werneck,
Oto Elias Pinto
FUNDO EDITORIAL
EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS
Getúlio Martins (Coordenador)
Américo Oliveira Sampaio, Andréa Ferreira Guzzon,
Darcy B. Filho, Jairo Tardelli Filho, José Antônio de Oliveira
Jesus, Luiz Carlos Helou, Maria Cristina G. Stefani,
Paulo Ernesto Marques da Silva, Rodolfo Baroncelli Júnior,
Silvio Leifert, Ullisses Cruz Andrade
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Ana Holanda Mtb 26.775
ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA
Formato Artes Gráficas ([email protected])
TIRAGEM: 2.500 exemplares
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1
01327-002 - São Paulo, SP
Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484
Fax (11) 3141 9041
www.aesabesp.com.br
[email protected]
EDITORIAL
3 Saneamento Básico e Legislação Ambiental:
entre o real e o ideal
4 AGENDA
OPINIÃO
5 Regras ambientais e investimentos
P&D
6 Gestão da inovação tecnológica:
paixão ou ferramenta de competitividade?
MATÉRIA DE CAPA
10 Saneamento e Meio Ambiente:
direitos e responsabilidades
ARTIGOS TÉCNICOS
16 Aplicabilidade do dióxido de cloro no tratamento de
águas de abastecimento 22 Crítica antecipada de leitura maximizando a eficiência
da micromedição
26 Parâmetros Biológicos envolvidos no reúso de
efluentes de estações de tratamento de esgotos
MEIO AMBIENTE
29 Por que produção mais limpa?
Aumente seus lucros e ajude a natureza
A SABESP INOVA
31 Armazenadores de ruídos: uma nova ferramenta na
pesquisa de vazamentos não-visíveis
ENTREVISTA
38 O saneamento lado a lado com o meio ambiente
EMPREENDIMENTOS E GESTÃO
40 Conferência das cidades
HISTÓRIA DO SANEAMENTO
41 Água subterrânea em São José dos Campos
48 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO
49 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO
50 CAFEZINHO
51 AGRADECIMENTOS
Foto: Odair Marcos Faria
Filtro Prensa ETE Barueri
Apoio:
Carbocloro S/A Indústrias Químicas
Tel (11) 3704 4200 ; www.carbocloro.com.br
EDITORIAL
Saneamento Básico e Legislação
Ambiental: entre o real e o ideal
Eng. Eliana Kitahara
Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP)
D
esde a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano de 1972,
em Estocolmo, que a questão ambiental vem assumindo importância na
agenda internacional dos Estados, permeando diferentes e até contraditórios interesses.
Os países passaram a considerar a necessidade de equacionar a problemática do
desenvolvimento sustentável, buscando novo rumo, que reinterpreta o conceito de
progresso. E, para muitas empresas, ‘administrar com consciência ecológica’ passou
a ser lema e somente um investimento na sua imagem, ao invés de uma efetiva preocupação com a preservação do meio ambiente em toda a cadeia de produção.
Atualmente, a preocupação com o meio ambiente transcende
fronteira e sugere ao menos duas reflexões: em primeiro lugar, que
a sociedade internacional não vive em sistemas separados, e que
cada sistema interage com outro mais amplo, do qual é parte estrutural e funcional. Toda ação do homem, do cidadão, da empresa,
de cada Estado, cedo ou tarde, esbarra nas dimensões espaciais e
temporais. Em segundo lugar, que a influência antrópica nos sistemas ambientais é tamanha, que somente com ações efetivas seria
possível enfrentá-la, modificando atitudes e práticas.
Resolver a problemática ambiental exige dos governos, empresas e da população em geral um conjunto de ações, que não
dependem exclusivamente da vontade do homem – uma vez que
é ditada pela disponibilidade de recursos econômico-financeiros,
tecnológicos e humanos para as diversas regiões do país.
Para controle e proteção do meio ambiente, legislações
foram criadas. Uma das mais recentes é a lei nº 9605, intitulada Lei dos Crimes
Ambientais, aprovada em 1998. Essa lei tem caráter punitivo baseado em modelos de impor normas. Seu mérito é incontestável, porém, em face dos desequilíbrios existentes entre a demanda e a situação real da cobertura dos serviços de
saneamento básico, a sua aplicação carece de entendimentos entre o Ministério
Público e os gestores das empresas, mediante compromissos de curto, médio e
longo prazos, sem eximir ninguém das suas responsabilidades.
Muitas vezes nossos profissionais são punidos, acusados de poluir ao invés de
sanear. Só que nesta balança, antes de apontar culpados, é preciso considerar a
importância de investimentos em ações que sejam mais impactantes na redução
da prevalência de doenças relacionadas com a falta de saneamento, a capacidade de investimento das empresas, as necessidades emergentes da população e
a capacidade individual de ação. É preciso perceber que a preservação da água,
matas e do solo, pela enorme complexidade, precisa de uma abordagem holística, de um enfoque sistêmico e de um tratamento interdisciplinar. É nisso que
deveríamos pensar.
Muitas vezes nossos
profissionais são
punidos, acusados
de poluir ao invés
de sanear. Antes de
apontar culpados, é
preciso considerar
a importância de
investimentos
Saneas / dezembro 2003 – 3
Agenda
Agenda
7º Congresso da Água
“Qualidade de Toda a Vida”
Período: 08/03/2004 a 12/03/2004
Local: Lisboa – Portugal
Maiores informações: tel (351-21)844-3428 ;
e-mail [email protected]
XI SILUBESA – Simpósio Luso-Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental
Período: 29/03/2004 a 02/04/2004
Local: Natal – RN
Organização: Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental – ABES
Os interessados poderão inscrever-se na Sede
Nacional da ABES, Av. Beira Mar, 216 – 13º andar,
CEP 02021-060 – Rio de Janeiro – RJ, até o dia
27/02/2004
Maiores informações: www.abes-dn.org.br
I Congresso Interamericano de Saúde Ambiental
Período: 27 a 29/04/2004
Local: Porto Alegre – RS
Organização: Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental – ABES-RS e AIDIS –
Asociación Interamericana de Engenieria Sanitária y
Ambiental
Tema: “Saúde Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável: Perspectivas e Conseqüências”
Maiores informações: tel (51)3226-3111;
www.abes-dn.org.br
IV Simpósio Internacional de Qualidade
Ambiental
Período: 24 a 26/05/2004
Local: Porto Alegre – RS
Organização: Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental – ABES-RS
Tema: Qualidade Ambiental e Responsabilidade
Social
Maiores informações: tel (51)3211-3631;
e-mail [email protected]
VII SIBESA – Simpósio Ítalo-Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental
Período: 23 a 26/06/2004
Local: Taormina – Itália
Tema: “A Recuperação de Áreas Degradadas” e
“Qualidade da Água e Ambiente Hidrogeológico”
Maiores informações: www.sidisa2004.dica.unict.it;
www.abes-dn.org.br
FENASAN 2004 e XV Encontro Técnico da
AESABESP
Período: 30/08/2004 a 01/09/2004
Local: Pavilhão de Exposições Branco do Expo
Center Norte – São Paulo – SP
Organização: AESABESP
Objetivo: promover o intercâmbio de novas
tecnologias e conhecimentos relativos ao Saneamento
Ambiental
Maiores informações: www.aesabesp.com.br
4 – Saneas / dezembro 2003
OPINIÃO
Regras ambientais e investimentos
Paulo de Bessa Antunes Opinião
S
egundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), o Brasil é um
país eminentemente urbano, muito
embora a maior parte das preocupações com o meio ambiente estejam voltadas para a proteção das
florestas e da diversidade biológica.
O chamado meio ambiente urbano
que, em linhas gerais, pode ser descrito como o conjunto de condições
que estabelecem o padrão de vida
nas cidades, tem sido relegado a segundo plano.
Muitos fatores contribuem para que assim seja.
Dentre eles, merece destaque a dificuldade de
financiamento para a conservação e ampliação
do saneamento básico nas cidades brasileiras,
sejam elas pequenas, médias ou grandes. Além
do problema do esgotamento sanitário, não se
pode esquecer a dramática situação dos resíduos sólidos urbanos em nosso país. Não tenho
a menor dúvida em afirmar que, se o gênio das
1001 noites nos oferecesse um único desejo
para solucionar problemas ambientais no
Brasil, a minha escolha seria pelo saneamento
básico. Justifica-se a escolha por alguns argumentos bastante simples e, na minha opinião,
irrefutáveis. Estabelecer uma adequada rede de
coleta de esgotos e de coleta de resíduos sólidos
urbanos, embora necessite de altos custos para
a implantação, é uma medida de economia de
gastos públicos, em especial na área de saúde.
Além disso, é indiscutível que um adequado
saneamento básico e coleta de resíduos sólidos
é um fator essencial na recuperação da auto
estima e da dignidade humana de milhares de
comunidades marginalizadas e empobrecidas.
O Congresso Nacional, infelizmente, ainda
não se conscientizou para tais questões, pois,
lamentavelmente, não consegue definir temas
básicos para que o setor saneamento possa se
desenvolver da forma que o Brasil necessita.
Não há dúvida que a capacidade de investimento do Estado brasileiro está cada vez mais
reduzida e que o saneamento básico somente
será enfrentado corretamente com o aporte
de capitais privados, que necessitam ter regras
claras e estáveis para investir. Inclusive do
ponto de vista ambiental. O risco regulatório
– isto é a interferência na vida das empresas
causada por atos do poder público – ambiental é elevadíssimo, pois os legisladores não
se cansam de produzir normas ambientais,
muitas delas absolutamente inúteis e repetitivas que incidem como verdadeiros Exocets
sobre a vida das empresas. É necessário, portanto, que seja aprovada a Política Nacional
de Resíduos Sólidos, bem como as normas
referentes à concessão dos serviços de saneamento e que se crie um conjunto estável de
regras ambientais, facilitando o investimento
e protegendo o meio ambiente.
A incompreensão de que o meio ambiente
urbano deve ser tratado de forma diferente do
meio ambiente rural ou florestal, faz com que,
muitas vezes, sejam criadas situações extremamente difíceis para a solução de problemas de
resíduos sólidos. Não com pouca freqüência,
medidas aparentemente mais protetivas do
meio ambiente – porém irrealistas do ponto
de vista prático – acarretam o agravamento de
situações ambientais adversas, como nos pode
servir de exemplo o caso do emissário submarino na Barra da Tijuca (RJ) que, em função de
um embargo judicial, levou ao agravamento da
situação sanitária das belas lagoas da região.
A exigüidade do espaço e a vastidão do
tema não permitem que o mesmo seja explorado com a profundidade devida. Entretanto,
é importante que o tema do saneamento
básico seja incorporado como o principal tema
urbano brasileiro na agenda ambiental e não,
apenas, na agenda da engenharia. Saneamento
é um tema de interesse público relevante e de
ampla repercussão na vida nacional. Enquanto
existirem pessoas vivendo com valas negras à
sua porta, sem coleta de resíduos, sem água de
boa qualidade, não poderemos dizer que vivemos em um estado de direito ambiental, conforme preceitua o artigo 225 da Constituição
Federal. Lamentavelmente, a própria sociedade
brasileira, ainda, precisa acordar para o tema
que tem merecido menos atenção do que alimentos transgênicos, por exemplo.
Advogado (Mestre e Doutor em Direito) da Dannemann Siemsen Meio Ambiente Consultores, Procu-
rador Regional da República, Professor de Direito Ambiental. [email protected]
Saneas / dezembro 2003 – 5
P&D
PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO
Gestão da inovação tecnológica:
paixão ou ferramenta de
competitividade?
Alipio Teixeira dos Santos Neto Cristina Leigo Barrichello Pesquisa & Desenvolvimento
Introdução
As atividades tecnológicas nas organizações
vem sendo, cada vez mais, um importante diferencial competitivo. Exige-se, portanto, para
esta função, uma estruturação organizacional
com o apoio da alta administração, visando
uma gestão apropriada do processo de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico (P&D). Este é o
caminho mais curto para que as empresas não
invistam esforços – pessoal e financeiro – em
P&D de forma inadequada, muitas vezes em
duplicidade e atendendo a anseios pessoais,
provavelmente importantes, mas não necessariamente aderidos a estratégia de negócios
da empresa, suas prioridades e diretrizes. A
função organizacional, que gere as atividades
de P&D na empresa, deve buscar resultados
focados nas demandas das áreas operacionais
e promover a capacitação de seu corpo técnico
e gerencial, preparando, assim, a organização
para o ambiente competitivo atual.
Competitividade no
setor de saneamento
A competitividade no setor de saneamento
continua crescendo em larga escala. Temos
cada vez mais presente nos processos de concorrência para concessões, empresas estrangeiras detentoras de conhecimentos tecnológicos
estratégicos para as suas operações. Agregando
imagens a este cenário, inúmeros contratos de
concessão têm data de término para os próximos anos. Certamente empresas que venham
a concorrer na complexa operação dos nossos
sistemas são competitivas, operam de acordo
com as legislações, porém com mais baixo
custo e utilizando tecnologias inovadoras.
Mas o que é uma empresa competitiva?
Como poderemos definir competitividade numa
empresa do setor de saneamento – um setor por
longo tempo monopolista? Dentre várias tendências, poderemos assumir como competitiva a
empresa que tenha, como diretriz básica em suas
operações, o respeito ao meio ambiente e que
possua boa imagem e aceitação perante os clientes, fato que acarreta uma importante sustentação. Já presenciamos no mercado brasileiro o que
ocorre com empresas prestadoras de serviços, até
então públicos, que não têm boa aceitação pelos
seus clientes. Basta lembrar o setor de telecomunicações e telefonia, no passado próximo.
Respeitar o meio ambiente significa atender
às legislações nacionais e certas recomendações mundiais, porém para que isto aconteça
a organização deve dominar conhecimentos
tecnológicos, em todas as suas escalas, desde os
básicos até os emergentes, que se caracterizam
como tecnologia de ponta.
Em outro aspecto da competitividade, não
basta a empresa ser detentora de tecnologia
simplesmente. Ela tem que ser lucrativa, para
ter capacidade de investimento, por meio de
sua própria geração, em face das dificuldades
de se captar recursos – seja nas fontes nacionais
ou internacionais. Neste ponto, as tecnologias
adotadas, se aderidas às reais necessidades da
organização, a tornam mais competitiva.
Função estratégica
Por ser considerada como uma das ferramentas de competitividade, a administração
Gerente do Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa – Sabesp.
Engenheira Civil do Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa – Sabesp.
6 – Saneas / dezembro 2003
Pesquisa & Desenvolvimento
das atividades de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico deve ser apoiada pela alta administração da empresa, entendida e aceita pela
média gerência e pelos responsáveis pelas atividades fim da organização. Esta corrente formada com os elos “diretoria, média gerência e
unidades operacionais” não pode ter fragilidades. Caso existam, é neste ponto que deve-se
atuar estrategicamente (a resistência de uma
corrente é determinada pelo seu elo mais faco).
P&D deve ser nomeada como uma das funções
estratégicas. Este é o passo inicial para a competitividade. À partir desta decisão, a gestão das
atividades tecnológicas deve ser estruturada
com uma política clara, que estabeleça diretrizes, uniformize conceitos e defina responsabilidades; ser gerida de forma institucional e
“linkada” às demandas da empresa (operacionais, legais, ambientais e econômico-financeiras) trazendo, assim, resultados importantes
para a sua sobrevivência.
Institucionalização e estruturação
da atividade tecnológica
Quanto maior o tamanho das operações
da organização, maiores e mais complexos
serão seus problemas. Consequentemente
maior será a sua necessidade de absorver
tecnologias inovadoras para resolver estas
demandas. Ao analisar esta realidade e como
o desenvolvimento tecnológico ocorre em
nossas empresas, deve-se ter em mente algumas perguntas: estaremos incorporando ao
nosso potencial inovador as reais tecnologias
de que necessitamos? Não estaremos, porventura, sendo seduzidos por fornecedores
a adquirir tecnologias que não necessariamente representem a melhor solução para a
demanda? Se esta é a melhor solução, será a
mais prioritária para o momento? Estamos
compartilhando os conhecimentos adquiridos com a solução tecnológica que descobrimos e/ou adotamos?
As soluções de problemas operacionais
podem estar ocorrendo por iniciativas pessoais
informais, podemos estar tendo duplicidade
de esforços e até estarmos obtendo resultados
relevantes, porém sem um direcionamento
para a estratégia de negócios da organização.
Estas reflexões devem ser analisadas pelos
dirigentes e corpo gerencial das empresas e
orientar decisões para a estruturação das atividades tecnológicas, priorizando esforços
– despesas e investimentos – em P&D para
resultados que sejam impactantes.
Estamos adotando que uma empresa, que
queira ser competitiva e ter como uma de
suas ferramentas a gestão tecnológica, tenha
definida a sua estratégia de negócios, dentro
de um planejamento estratégico que defina,
objetivamente, as diretrizes estratégicas, metas
de desempenho operacional e prioridades de
atuação.
Para a estruturação da atividade tecnológica
deve-se partir das seguinte premissa básica:
As atividades tecnológicas serão realizadas de
forma centralizada, por uma unidade grande,
com especialistas de todos os temas das operações da empresa. Esta unidade deve planejar,
contratar, executar projetos de P&D e assim
obter resultados tecnológicos a serem adotados pelas unidades operacionais, pela ponta da
organização, ou por uma unidade central. Ela
Engenheiros
Oto e
Macedo, do
Vale do Ribeira:
pioneiros no
desenvolvimento
de sistemas de
automação de
estações de
tratamento de
água, a dupla
faz inspeção nos
equipamentos
Saneas / dezembro 2003 – 7
Pesquisa & Desenvolvimento
tido em toda a organização. Seja uma decisão
da alta administração, seja uma demanda prioritária das unidades operacionais. O gestor
de P&D deve se utilizar desta rede como uma
ferramenta para ajudar a empresa a solucionar seus problemas, e a colocar em prática as
diretrizes estratégicas nos tópicos relacionados
com a tecnologia. Para tanto, estabelecerá parcerias internas para a condução de projetos de
P&D; comporá grupos temáticos específicos
para a busca de soluções; promoverá meios de
capacitação tecnológica para os colaboradores;
e fará a transferência de tecnologia interna e
externa.
Inovação tecnológica
como diferencial competitivo
Interface
gráfica
(Aqualog)
do sistema
de automação
de ETA
deve, também, ter atuação institucional, com
um número de colaboradores (o menor possível) adequado ao tamanho da empresa e aos
resultados esperados de P&D. Dentre estes colaboradores, alguns especialistas, com a missão
de fazer a gestão da inovação tecnológica, onde
os projetos serão definidos em conjunto, mas
realizados na unidades operacionais, que efetivamente tenham o problema a resolver. Esta
unidade teria a missão de integrar estes esforços e fazer a transferência interna dos conhecimentos tecnológicos desenvolvidos.
Esta é uma decisão difícil de se tomar, devem
ser levados em conta vários fatores, como a
cultura da organização, dimensão, aceitação
ou não de áreas centrais e o nível de investimentos que se espera para P&D. Os conceitos
modernos de gestão da inovação têm indicado a segunda opção como a mais factível
de sucesso, pela adoção efetiva de inovações,
devido ao comprometimento e proximidade
das áreas da ponta na execução dos projetos.
Porém o modelo ideal será aquele desenhado
para a organização, pelos seus colaboradores
e gerentes, ressaltando-se a importância do
envolvimento, desde o início da média gerencia. Este sim é um fator chave de sucesso. Este
nível gerencial é o que podemos chamar de elo
de integração entre as decisões e as efetivas realizações na empresa.
Com o segundo modelo, a gestão da inovação tecnológica será desenhada de forma a se
estabelecer uma rede tecnológica conforme a
figura ao lado.
Semelhante a uma teia de aranha, qualquer
movimento relativo a tecnologia deve ser sen-
8 – Saneas / dezembro 2003
Para a gestão destas atividades é importante
que seja desenvolvido um sistema, que integre as ações tecnológicas da empresa. Todo
desenvolvimento concluído ou em execução
deverá ser identificado – registrado – armaze-
DC: Diretoria Colegiada
P&D: área corporativa
GT: Grupos Temáticos
Modelo de gestão da inovação tecnológica
Pesquisa & Desenvolvimento
nado – disponibilizado. Desta forma, facilita-se
a transferência interna das inovações já desenvolvidas, auxiliando na solução de problemas
semelhantes em outras unidades da organização e evitando a duplicidade de esforços no
mesmo tema.
Os resultados dos projetos devem ser tratados de forma muito especial. Eles são o fator
chave para que as inovações sejam um real
diferencial competitivo, pois é por aqui que
começa a etapa principal: a adoção das inovações. Para isto, é de fundamental importância
que a área operacional, que tenha o problema
a solucionar, seja envolvida de modo que seus
técnicos participem desde a fase de concepção
de um projeto de P&D. Identifica-se a seguir
outras áreas que possam ter o mesmo problema,
onde então convida-se os técnicos formadores
de opinião a compor o grupo, responsável por
estudar o assunto.
Com estas ações, teremos o efetivo comprometimento das áreas operacionais, que
acompanharão todo o desenrolar do projeto
e avaliarão os resultados, que, se forem positivos, terão grande chance de serem adotados.
Muitas empresas desenvolvem seus projetos
nas áreas de P&D e depois tentam que a inovação seja adotada nas ponta da organização.
Conduzindo-se desta forma, dificilmente os
novos conhecimentos serão postos em prática, devido à resistência que se terá na sua
aceitação. Estas organizações estão criando
um grupo de “inventores”, que chegam a soluções inovadoras, mas nunca postas em prática.
Somente seremos inovadores se cruzarmos a
fronteira da geração de novos conhecimentos,
com posterior adoção. Isto auxiliaria na competitividade da organização.
Não basta para as empresas investir em P&D.
É preciso que este esforço esteja bem investido,
de acordo com os reais problemas das áreas
operacionais. Estas demandas devem ser levantadas, identificadas, analisadas e priorizadas,
levando-se em conta a contribuição potencial de cada projeto para a competitividade
da empresa. Ao investir esforços de P&D de
forma correta, com números compatíveis com
a capacidade de entrega, que se traduz em bem
formatar, acompanhar, concluir e disseminar
os resultados de projetos de P&D, a empresa
estará alavancando a competitividade.
Para que a adoção das inovações resultantes seja favorável em relação aos concorrentes
e melhore nosso desempenho competitivo, é
obrigatório sistematizar as atividades tecno-
lógicas, permitindo o gerenciamento da inovação tecnológica, que facilitará a eficiência e
eficácia operacional.
Instrumentos de
monitoramento
do sistema
Aqualog
Referências bibliográficas
1. JOHNSON, Bruce B.; COTRIM, Silvana de Almeida Nogueira; SANTOS NETO Alipio Teixeira.
Concepção e Experiência na Implantação do Sistema Integrado de Gestão da Inovação Tecnológica
para uma Companhia de Saneamento Básico. In:
SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, XX., 1998, São Paulo. Anais eletrônicos, São Paulo, USP, 1998. p. 1129-1140. CD-ROM.
2. ROUSSEL, Philip A.; SAAD, Kamal N.; ERICKSON, Tamara J. Third Generation R&D, Managing
the Link to Corporate Strategy. Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press, 1991.
3. COTRIM, Silvana de Almeida Nogueira; JOHNSON, Bruce B.; SANTOS NETO Alipio Teixeira. Integrated System of Technology Management for a
Basic Sanitation Company. In: INTERNATIONAL
FORUM ON TECHNOLOGY MANAGEMENT,
7th., 1997, Kyoto, Japan. Proceedings of the 7th
International Forum on Technology Management,
Kyoto, National Institute of Science and Technology
Policy, 1997. p. 325-328.
Saneas / dezembro 2003 – 9
CAPA
Saneamento e Meio Ambiente:
direitos e responsabilidades
Pressionadas pelas leis ambientais, empresas de saneamento básico
ainda tateiam para encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento
sustentável e a universalização dos serviços de água e esgoto
Foto: Odair Marcos Faria
Matéria de Capa
Disposição final do efluente líquido da ETE Barueri no rio Tietê
M
anter os rios limpos, o solo produtivo,
as matas intactas e o ar respirável. Foi a
partir deste princípio e pensando naquilo que
chamamos de qualidade de vida, que, dentro do
caos urbano, foram criadas, na década de 1970,
a maior parte das leis ambientais. Anos depois,
o artigo que proíbe o lançamento de esgoto in
natura no estado de São Paulo, engrossou a
rigidez desta legislação, durante a promulgação da Constituição Estadual, em 1989.
Da teoria para a prática muito tem sido feito
para pôr fim às valas negras e, conseqüentemente, proporcionar saúde e conforto por
meio da implantação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. O tratamento dos efluentes, no entanto, está longe
de atender às exigências da legislação consolidadas na Resolução 20 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama). Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB),
10 – Saneas / dezembro 2003
de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), no Brasil, em cerca de 42%
dos domicílios os esgotos gerados são devidamente coletados e apenas 34%, deste esgoto, é
tratado antes de ser lançado nos rios.
Mas, apesar dos esforços, pela falta de recursos financeiros para investimentos, a vida real
emperra nos meandros da lei e carece do componente básico para uma relação de equilíbrio
e sustentabilidade. Como resultado, funcionários das empresas de saneamento e as próprias
companhias vão parar no banco dos réus. O
ponto de vista de juristas, empresários, gestores e órgãos fiscalizadores não parece encontrar, ainda, um senso comum.
As companhias estaduais de saneamento
básico, assim como os serviços municipais de
água e esgoto, enfrentam, atualmente, vários
processos por razões ambientais. Dessa forma,
engenheiros e gerentes de áreas operacionais
Matéria de Capa
estão tendo de lidar com uma situação distante
daquela aprendida nas cadeiras da universidade. Cumprir a lei ambiental e, ao mesmo
tempo, atender às necessidades dos clientes com eficiência, passa a ser um verdadeiro
malabarismo. Mesmo assim, é cada vez maior
o número daqueles que precisam se defender
em processos judiciais, acusados de não fazer
–ou não cumprir– aquilo para que se prepararam: sanear, fazer saúde preventiva, tornar
Soluções possíveis
N
os últimos anos, acordos
introduzidos pelo Código de
Direito do Consumidor, conhecidos como ‘Termo de Ajuste de
Conduta’ (TAC) são feitos entre
as companhias e os órgãos competentes. O Termo prevê, literalmente, que ajustes sejam feitos
para adequar a realidade à legislação. De acordo com Daniel Fink,
promotor de Justiça do Meio
Ambiente em São Paulo, o TAC
é uma alternativa à ação civil
pública ambiental. Para ele, existem percalços no processo judicial
que causam desgaste emocional e
perdas de patrimônio. A idéia do
Termo de Ajuste de Conduta é ser
uma solução que imponha menos
ônus às partes e que coloque um
ponto final nos litígios e controvérsias. “Quando a lei autoriza o
ajustamento de conduta, o que se
quer é que o infrator se disponha,
mediante a assunção de obrigações, recuperar o ecossistema
alterado, por sua ação ou atividade, de tal forma a recompor
integralmente o interesse público
representado pelo bem ambiental”, explica Fink.
De acordo com o TAC, a
obrigação de recuperar o meio
ambiente pode ser feita através da
realização de uma tarefa única ou
por medidas mais complexas, que
tenham como fim à recuperação
da região. Para a promotoria, não
uma região habitável e saudável para uma
comunidade.
Falta de verbas para novos investimentos;
legislação com exigências de padrões de emissão de efluentes muito restritivas, muitas vezes
copiadas de outros países, sem considerar as
características climáticas das nossas regiões, ou
mesmo a capacidade do rio se auto-recuperar;
falhas na fiscalização; dificuldade em transformar a realidade em uma situação ideal perante
se deve buscar primeiro a condenação em dinheiro, já que não é
interessante trocar ecossistemas
por somas em cifras. Deve-se
obter a obrigação de não voltar
a fazer o que causou o dano ou
risco ao ambiente e, em seguida,
o comprometimento de reordenar os estragos. “Há vantagens do
ajustamento de conduta em relação ao processo judicial. Antes de
lançar soluções desgastantes para
os conflitos ambientais, deve-se
buscar a negociação, por meio da
qual todos encontrarão seus lugares e, ao final do processo, sairão
muito mais fortalecidos do que se
fossem obrigados a obedecer um
comando frio e inexorável de uma
sentença”, acredita o promotor
público Daniel Fink.
Por outro lado, as companhias
ainda tentam negociar prazos
possíveis para os TACs. Para o
diretor da Sabesp, José Everaldo
Vanzo, os prazos dos termos, que
atualmente giram em torno de
três a seis anos, não são suficientes para a adequação a legislação.
Isso somado a falta de uma política nacional, que privilegie os
setores de saneamento, através
de financiamentos a juros compatíveis. “O montante de capital
para realizar os ajustamentos é
muito grande”, diz. De acordo
com Vanzo, as exigências jurídicas passam por cima da exigüidade de capital e da dificuldade
de execução destes empreendimentos em curto prazo. “Teríamos que ter, no estado de São
Paulo, um plano acordado entre
as autoridades ambientais e sanitárias, o ministério público e as
empresas de saneamento para
que, no prazo de dez a 20 anos,
essas demandas fossem equacionadas”, vislumbra. Para tanto, ele
conta que estão sendo feitas apresentações junto a Companhia
de Tecnologia de Saneamento
Ambiental (CETESB), órgão fiscalizador, para mostrar a necessidade de um grande pacto, que se
adeque ao que a legislação determina e coerente com a disponibilidade de capital e capacidade
de realização. “Sem esse amplo
acordo, vejo dificuldades. Vamos
continuar repetindo um cenário de insucesso, que se traduz
em ações pontuais, em crimes
ambientais que vitimam pessoas,
gestores públicos, engenheiros
da Sabesp, gerentes”, acredita o
diretor José Everaldo. E desabafa:
“E tudo isso sem levar objetivamente a nada. A não ser a um
desconforto e uma descrença no
próprio ideal de saneamento”.
Em tempo - Está sendo feita a
revisão do artigo 20 do Conama.
Fazem parte dos temas revistos
assuntos, como os princípios da
graduação das ações de tratamento de esgoto e a diferença entre
matéria orgânica viva e matéria
orgânica morta (veja Box). É uma
possibilidade de caminho para
compatibilizar a legislação com
a capacidade de realização e de
financiamento
Saneas / dezembro 2003 – 11
Matéria de Capa
Os dois lados da moeda:
quando profissionais vão parar no banco dos réus*
Prática cada vez mais habitual, empregados das companhias de saneamento estão sendo
acusados de crime ambiental ou passam por pressões diárias para decidir entre o que diz
a lei e o que é possível ser feito. Quem é acusado se sente injustiçado e coloca a função
ética do profissional da área de saneamento em cheque.
* Os profissionais de saneamento procurados pela reportagem de Saneas solicitaram a não
identificação de seus nomes por possíveis danos jurídicos que isso poderia causar.
O que pensam os profissionais de saneamento
“A gravidade é grande porque expõe pessoas,
sanitaristas. Gente que tem formação para tratar,
levar saúde, despoluir. Corremos o risco da acusação, como se tivéssemos cometido um crime. E,
na verdade, no dia-a-dia, as tentativas giram em
torno de ações, que tragam melhorias ambientais. É
impossível não se sentir penalizado por algo que não
se tem controle. A verba para realizar, ou não, uma
obra, que trará ações não poluidoras, não cabe a um
funcionário. Isso dá a sensação de ser responsabilizado por algo que não está sob o seu alcance. Mas
que depende, sim, de investimento.”
“As obras sempre vieram atrás do crescimento
da população, das cidades. E hoje vivemos o dilema
de sermos judicialmente responsabilizados por um
sistema que não está adequado às normas ambientais. Isso causa desconforto e tem gente que pensa
em desistir da sua área de atuação. De engenheiros
a fiscais de obras e a empresa. Todos estão sujeitos
à acusação. O funcionário tem que ter, sim, a sua
responsabilidade, a sua ética. Mas, acredito, que
a segurança para trabalhar poderia vir por meio
de Termos de Ajuste de Conduta, antes mesmo
de uma ação ser iniciada. É uma garantia de que
não sofreríamos sanções, previstas na legislação.
As leis de padrões de emissão, por exemplo, são
muito rigorosas. Mais do que em países do primeiro mundo. É preciso que haja uma conciliação
de interesses.”
O que diz a promotoria
Daniel Fink, procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Urbanismo
e Meio Ambiente, durante o ‘I Fórum de Legislação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável’, que
aconteceu em setembro último, em São Paulo:
“Não acho, particularmente, que a legislação brasileira seja ruim. O que precisamos é talvez discutir
de que forma vamos implementar os instrumentos
previstos na mesma. A discussão sobre uma legislação do Sistema Ambiental Brasileiro se calca na
Lei 9638, que é uma boa lei. Mas é preciso estudar
um sistema que otimize as ações do Poder Público
para que possamos fazer os instrumentos, hoje já
previstos na legislação, mais eficazes. O erro não é
conceitual, mas de infra-estrutura. Os instrumentos
previstos na política nacional de meio ambiente são
extremamente bons, oportunos e podem demandar
uma revisão, um aperfeiçoamento. Mas existe um
12 – Saneas / dezembro 2003
distanciamento entre o ideal do jurídico e o real, que
permeia não só a questão ambiental, mas todos os
setores da sociedade hoje. Há um mundo jurídico
ideal e um mundo real extremamente distante. Isso
é um conflito ético, que muitos promotores enfrentam no cotidiano, em todas as Comarcas. Como é
que eu faço para regularizar um loteamento de baixa
renda de uma população extremamente pobre que
está instalado numa área de proteção ambiental? Isso
é um drama ético para o promotor, mas sua única
opção para cumprir a lei, mas é preciso cumprir com
inteligência. Com qual inteligência? A da sociedade,
considerando os setores produtivos e ambientalistas,
e, portanto, o Ministério Público deve estar aberto
a todos estes segmentos para que ele possa cumprir
a legislação no caso concreto, da forma mais inteligente possível. Com isso, nós teremos muito mais
chance, de fato, de realizar pela via da lei o desenvolvimento sustentável.”
Matéria de Capa
a Justiça e a sociedade são também alguns dos
desafios desta década.
Cenários reais
Aproximadamente 60 milhões de brasileiros – o que representa 9,6 milhões de domicílios urbanos – não têm coleta de esgoto. Essa
situação é mais comum principalmente nos
bolsões de pobreza das grandes capitais, assim
como nas cidades de até 20 mil habitantes e nas
regiões Norte e Nordeste do Brasil. Os dados
mostram também que é grande a deficiência de tratamento do esgoto coletado. Quase
75% de todo o esgoto sanitário é despejado in
natura. Para engrossar este cenário, daqueles
que não contam com coleta de esgoto, cerca
de 15 milhões (3,4 milhões de domicílios)
não têm acesso à água encanada. E uma parcela da população que tem ligação domiciliar
não conta com abastecimento diário e nem de
água potável com qualidade. Os dados são da
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, vinculada ao Ministério das Cidades. Para
a lei, esta situação é proibitiva. E as estimativas
do Governo Federal não são nada animadoras
para que a lei se faça cumprir. Para alcançar
a almejada universalização de água e esgoto
seriam necessários, de acordo com dados fede-
rais, R$ 178 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos. As cifras correspondem a 0,45%
do Produto Interno Bruto (PIB), considerando
um crescimento anual de 4% do PIB.
É sabido que um único habitante não atendido representa risco para a saúde pública
e também para o meio ambiente. Mas o que
pode fazer o funcionário de uma empresa
de saneamento que, diante da falta de verbas
necessárias, não tem recursos para cumprir a
lei – e fica a mercê da justiça por isso?
De acordo com o diretor de sistemas regionais, o engenheiro José Everaldo Vanzo, a
maioria das cidades ainda padece da falta de
rede coletora de esgoto ou de tratamento do
mesmo. Cria-se, assim, um impasse gerado pela
legislação: como está vedado o lançamento de
qualquer esgoto não tratado nos rios, é preciso,
primeiro, construir as estações de tratamento
de esgotos e, só depois, as redes coletoras. Na
teoria, isso significa primeiro atender à questão ambiental para depois considerar a questão
sanitária. “Essa situação contraria toda a história do saneamento no planeta. O correto é
primeiro a realização de um sistema de abastecimento público de água – que é a grande
demanda –, depois a coleta e o afastamento dos
esgotos, e, num último momento, os esgotos
são tratados e aí têm seus resíduos, após diversos processos, dispostos de forma adequada no
Fotos: Odair Marcos Faria
A coleta e o afastamento de esgoto representam um impacto importante na redução de doenças
Saneas / dezembro 2003 – 13
Matéria de Capa
Mudanças à vista: Conama 20
A
Resolução nº 020/86 do Conama, que dispõe sobre a
“Classificação das águas doces, salobras e salinas do
Território Nacional”, está sendo revista, com previsão para
entrar em vigor, com o novo formato, em 2004.
Foram reavaliados parâmetros e os respectivos limites de concentração e conceitos, com a contribuição
das empresas, entidades e organizações envolvidas com
as questões ambientais, como CETESB, ANA, IBAMA,
FUNASA, SABESP e PETROBRAS, por exemplo.
Novos conceitos foram considerados na revisão, como
o de metas intermediárias e a classificação de ambientes
para limites diferenciados de mesmos parâmetros. Além
disso, foram incluídos limites para concentrações de cianobactérias, novos compostos orgânicos e limites diferenciados para nitrogênio em função do pH.
As atas das reuniões do Grupo de Trabalho podem ser
acessadas no endereço:
http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm.
ambiente”, explica Vanzo.
Só para se ter uma idéia, do ponto de vista
epidemiológico, a coleta dos esgotos e o seu
afastamento da frente das residências representa um impacto importante na redução da
prevalência das doenças diarréicas e helmínticas, principalmente nas crianças. Já o trata-
mento dos efluentes significa um grande fator
de preservação do meio ambiente, em especial
dos cursos d´água.
Quando se estabelece que, antes de coletar
tem que tratar, o resultado é um enorme investimento na limpeza do esgoto – e, evidentemente,
uma aplicação financeira temporariamente
ociosa – deixando a questão sanitária para trás,
numa inversão de valores e prioridades.
Desta lógica desconexa e se as companhias
seguissem a cartilha do que diz a lei, o esgoto
continuaria a ser lançado na rua. “Desta forma,
a obra não dá retorno imediato, nem para a
preservação dos rios, nem para as necessidades
básicas da população. Porque, afinal, se dispõe
do tratamento do esgoto, mas não tem a coleta
do mesmo,” completa Vanzo.
A mesma opinião é compartilhada pelo
engenheiro e sanitarista Wolney Castilho Alves,
pesquisador responsável pela Seção de Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT). “A legislação ambiental
brasileira é relativamente exigente e, talvez,
um tanto rígida na sua aplicação com prejuízos para o próprio desenvolvimento da qualidade ambiental”, acredita. Para ele, no setor
do saneamento ocorrem, com freqüência, problemas dessa natureza na disposição final de
efluentes de esgoto tratado. “Acontece, constantemente, e, em especial, no interior paulista,
que um determinado corpo d´água está sendo
Foto: Odair Marcos Faria
Para avaliação
dos parâmetros
de controle
são realizados
investimentos
em tecnologia
e em capital
intelectual
14 – Saneas / dezembro 2003
Matéria de Capa
Foto: Odair Marcos Faria
poluído pelo lançamento de esgoto in natura.
Esse lançamento é feito de forma ilegal, já que
a lei paulista 8468 e/ou a Resolução Conama 20
explicitam as condições para o lançamento de
efluentes em função da classificação do corpo
d´água”, explica Wolney Castilho.
A história que vem a seguir é, de acordo com
o pesquisador do IPT, quase sempre a mesma:
a companhia responsável ou o serviço local
decide fazer uma estação de tratamento de
esgotos ali. É elaborado um projeto e se verifica que o investimento total para alcançar os
padrões de qualidade da água tratada é muito
alto, inviável. O investimento talvez pudesse
ser feito em duas ou três etapas. No entanto,
para implantar esta estrutura é preciso obter
a Licença Ambiental, que somente será concedida se as leis forem obedecidas. No impasse
entre o atendimento da lei, com características
exigentes, e a manutenção do lançamento in
natura, não havendo possibilidade de flexibilização – com a implantação em etapas gradativas de qualidade da água– muitas vezes, ocorre,
simplesmente, o recuo do serviço de saneamento e a manutenção do status quo. “Embora,
muitas vezes, o Ministério Público venha acionar a prefeitura, legalmente responsável, para
proceder a despoluição do rio mediante o tratamento”, finaliza Wolney.
Velhos e novos desafios
No Estado de São Paulo, a Sabesp tem a
concessão dos serviços de abastecimento de
água e esgotamento sanitário de 366 municípios dos 645 do Estado. A empresa acredita que
para se adequar à todas as exigências ambientais seriam necessários cerca de R$ 1 bilhão
–somente no interior. O valor equivale à construção de estações de tratamento, coleta, elevatórias de esgoto, destinação adequada do lodo
e/ou dos efluentes de lagoas. “É evidente que
um montante deste não pode ser alcançado ou
disponibilizado de forma imediata”, conclui o
diretor de sistemas regionais da Sabesp, José
Everaldo Vanzo.
Diante da constatação, surge o paradoxo.
Para a diretoria das companhias de saneamento, como a Sabesp, a empresa tem como
papel amortizar os impactos ambientais. “Mas
são essas mesmas companhias que são sempre
apontadas como as grandes impactantes. Há
um erro de essência aí”, acredita o diretor de
sistemas regionais da companhia.
Quando a legislação diz, por exemplo, que
uma estação de tratamento de esgoto ou de
água são fontes de poluição, corre-se o risco, na
opinião do diretor da Sabesp, de se fazer abstração às verdadeiras causas da poluição, que
remete a existência das cidades, onde surgem
as fontes de desequilíbrio ambientais. “Do
jeito que a coisa está calcada, do ponto de vista
legal, uma estação de tratamento de esgoto é
considerada fonte de poluição quando na verdade é uma fonte de amortização do impacto
ambiental. Não importa em que grau de tratamento ela se enquadra”, justifica José Everaldo
Vanzo. Hoje, a legislação não prevê nenhuma
graduação na aplicação da solução. No tratamento dos esgotos, por exemplo, não se leva
em conta se é secundário ou terciário –que
equivalem a diferentes níveis de limpeza. Isso
é um enorme desafio tanto para a captação de
recursos quanto para transformar o capital em
obras e serviços, num curto prazo. E esse é um
compromisso que tem que ser coletivo. Caso
contrário, corre-se o risco de cair em ciclos de
ações, quase permanentes, e na busca por descobrir culpados –pessoas físicas e jurídicas–,
sem levar à solução alguma. Quem perde com
isso é a sociedade e, de quebra, a preservação
de rios, solos e matas. ■
Vista aérea dos
decantadores
secundários da
ETE Barueri
Saneas / dezembro 2003 – 15
ARTIGOS TÉCNICOS
P&D
Aplicabilidade do dióxido de cloro no
tratamento de águas de abastecimento
Sidney Seckler Ferreira Filho Ivanildo Hespanhol Roque Passos Piveli Artigos Técnicos
Introdução
No ano de 1974, alguns pesquisadores descobriram que a reação do cloro com determinados compostos orgânicos naturais (CONs)
poderiam formar compostos orgânicos halogenados (Rook (1976); Bellar et al. (1976)).
Dentre estes, os que estão presentes em maiores concentrações em águas de abastecimento,
quando submetida ao processo de desinfecção com o cloro, são os compostos classificados como trihalometanos (clorofórmio,
bromofórmio, diclobromometano, dibromoclorometano) e os ácidos haloacéticos (ácido
monocloroacético, dicloroacético, tricloroacético, monobromoacético e dibromoacético)
(Symons et al. (1975); Rook (1976); Krasner et
al. (1989); Arora et al. (1997)).
A partir de então, a operação dos processos
unitários componentes do tratamento de águas
de abastecimento passaram a ter de contemplar,
não apenas a produção e fornecimento de água
com padrões estéticos adequados e isenta de
microrganismos patogênicos, como também
tendo que minimizar a formação de compostos orgânicos, subprodutos da desinfecção.
Em função dos estudos epidemiológicos e
toxicológicos desenvolvidos pela Environmental
Protection Agency (EPA), em 1979, foi proposto
o limite máximo de concentração de 100 µg/l
para os THMs e, atualmente, encontra-se limitado a 80 µg/l sendo que, espera-se uma redução
futura para uma concentração de 40 µg/l. Além
disso, tendo por base controlar outros compostos orgânicos, subprodutos da desinfecção,
também, hoje, é controlada a concentração
máxima de ácidos haloacéticos (AHAs) em
águas de abastecimento em 60 µg/l.
Tendo por propósito reduzir a formação de
THMs e AHAs em águas de abastecimento,
podem ser identificadas três linhas de atuação,
a saber (Singer (1994)):
• Remoção dos compostos orgânicos precursores de subprodutos da desinfecção em
águas de abastecimento.
• Alteração do ponto de aplicação do agente
desinfetante, mudança do agente desinfetante ou uma combinação de ambos.
• Remoção dos compostos orgânicos halogenados totais, uma vez formados durante o
processo de desinfecção.
Dado que a remoção dos compostos orgânicos precursores de subprodutos da desinfecção
em águas de abastecimento não consiga reduzir a formação de sub-produtos da desinfecção
a um nível considerado satisfatório, diferentes
alternativas tecnológicas têm que ser incorporadas no processo de tratamento de água,
Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP. Professor Associado do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Regime de Dedicação
Exclusiva à Docência e Pesquisa.
Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Professor Titular do Departamento
de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Regime de
Dedicação Integral à Docência e Pesquisa.
Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP). Professor Assistente Doutor do
Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
em Regime de Dedicação Exclusiva à Docência e Pesquisa.
Escola Politécnica da USP - Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. Av. Professor
Almeida Prado, 271 Prédio de Engenharia Civil. Bairro Butantã. Cidade Universitária. CEP: 05508-900.
e-mail: ssffi[email protected]
16 – Saneas / dezembro 2003
Artigos Técnicos
incluindo a mudança do agente oxidante.
Dentre estes, os mais utilizados no tratamento
de águas de abastecimento são o dióxido de
cloro, permanganato de potássio e ozônio,
combinado, ou não, com peróxido de hidrogênio. As principais vantagens da mudança do
cloro como agente oxidante para o dióxido de
cloro são as seguintes (EPA (1999)):
• Redução na formação de THMs e AHAs.
• Maior efetividade do ponto de vista cinético
na oxidação de manganês na faixa de pH
entre 6,0 e 8,0.
• A sua capacidade como agente desinfetante
não é afetada pelo pH na fase líquida.
• Maior estabilidade química na fase líquida.
• Apresenta maior eficácia no controle do
biofilmes e crescimento microbiológico em
adutoras.
• Efetivo no controle de gosto e odor em águas
de abastecimento resultante da presença de
sulfetos e compostos fenólicos.
No entanto, o emprego do dióxido de cloro
também apresenta desvantagens, podendo-se
citar:
• O dióxido de cloro a ser aplicado em uma
estação de tratamento de água deve ser
gerado in loco, não podendo o mesmo ser
produzido, comprimido e transportado.
• Apresenta custo elevado, pelo fato das matérias primas empregadas para a sua produção
(clorito de sódio e clorato de sódio) serem
de disponibilidade restrita.
• Os sistemas de geração e produção de dióxido de cloro apresentam custos mais elevados do que quando comparados com os
sistemas de cloração existentes, além de exigirem maiores cuidados operacionais.
• O sub-produto da desinfecção quando da
aplicação do dióxido de cloro é o íon clorito,
regulamentado pela EPA em 1,0 mg ClO2/l e
em 0,2 mg ClO2/l pela Portaria 1469, o que
requer cuidados adicionais quando de seu
empego, especialmente no tocante as suas
dosagens aplicadas.
Uma vez que o sucesso da aplicação do
dióxido de cloro como agente pré-oxidante e
pós-desinfetante é altamente dependente das
características da água bruta, da concepção da
Estação de Tratamento de Água (ETA) e de sua
operação e das características requeridas para
a qualidade da água final, a sua viabilidade de
utilização em um Sistema Produtor de Abastecimento de Água deve compreender ensaios
em escala de laboratório e piloto.
Objetivo
Em função do exposto, este trabalho teve
como objetivos principais:
• Avaliar o comportamento do dióxido de
cloro como agente oxidante no tratamento
de águas de abastecimento
• Comparar a eficiência do dióxido de cloro
produzido a partir de diferentes matérias
primas (Clorito de sódio e clorato de sódio)
• Avaliar o comportamento de ambos agentes
oxidantes (Cloro e dióxido de cloro) para
aplicações específicas
Materiais e métodos
Com o objetivo de avaliar o comportamento de ambos os agentes oxidantes para um
espectro amplo de qualidade de águas naturais,
utilizadas para abastecimento público, foram
selecionadas quatro diferentes Estações de Tratamento de Água para fins de estudo, a saber:
• Estação de Tratamento de Água do Guaraú
(Sabesp)
• Estação de Tratamento de Água do Alto da
Boa Vista (Sabesp)
• Estação de Tratamento de Água do Baixo
Cotia (Sabesp)
• Estação de Tratamento de Água Iguaçu
(Sanepar)
As Estações de Tratamento de Água escolhidas são do tipo convencional, apresentando os
processos unitários de coagulação, floculação,
sedimentação, filtração e desinfecção. Todos
os ensaios experimentais foram efetuados em
escala de bancada (Jar-Test), tendo-se como cuidados principais garantir a simulação do comportamento hidráulico de cada ETA (Tempos
de detenção hidráulico nas unidades), manter
a similaridade do processo de coagulação (tipo
e dosagem de coagulante e pH de coagulação)
e permitir a simulação da formação de THMs
(Tempo de contato: 24 horas). A utilização do
dióxido de cloro no tratamento de águas de
abastecimento foi avaliada na forma de préoxidação e pós-oxidação e desinfecção.
Saneas / dezembro 2003 – 17
Artigos Técnicos
A avaliação da eficácia de ambos os agentes
oxidantes foi efetuada de modo que fosse possível estudar:
• Concentração residual dos agentes oxidantes na água decantada, final e após 24 horas
de tempo de contato
• Qualidade microbiológica da água final
(Coliformes totais e fecais)
• Formação de trihalometanos e íon clorito na
água tratada (24 horas de tempo de contato)
Dado que o objetivo principal do estudo foi
efetuar um estudo comparativo entre o cloro
livre e o dióxido de cloro gerado a partir de
diferentes matérias primas, definiu-se que a
condição padrão a ser fixada para a comparação
dos resultados experimentais seria a manutenção da situação operacional atual da referida
ETA, ou seja, empregando-se cloro livre como
agente pré-oxidante e pós-desinfetante.
Deste modo, foram executados três ensaios
básicos de “jar-test” com o objetivo principal
de avaliação de ambos os agentes oxidantes
para as águas brutas empregadas na investigação experimental para diferentes dosagens e
tipo de agente oxidante, a saber:
• Ensaio 1: utilização do cloro como agente
pré-oxidante e pós-desinfetante. Este ensaio,
conforme já citado, foi adotado como ensaio
de referência para fins de comparação dos
resultados experimentais obtidos.
• Ensaio 2: utilização do dióxido de cloro
como agente pré-oxidante e do cloro livre
como pós-desinfetante.
• Ensaio 3: utilização do cloro livre como
agente pré-oxidante e do dióxido de cloro
como pós-desinfetante.
As dosagens de coagulante e condições fixadas para a realização dos ensaios de “jar-test”
foram efetuadas de modo a representar o mais
fielmente possível o comportamento hidráulico e operacional das Estações de Tratamento
de Água investigadas.
A solução de dióxido de cloro produzida a
partir de clorato de sódio como matéria prima
utilizada quando da execução dos ensaios experimentais foi fornecida diretamente pela Eka
Chemicals. Por sua vez, a solução de dióxido
de cloro, gerada a partir de clorito de sódio, foi
produzida a partir da sua acidificação por meio
de ácido clorídrico e de um gerador fornecido
pela Prominent.
18 – Saneas / dezembro 2003
A determinação da concentração de dióxido
de cloro na solução foi efetuada por iodometria clássica, conforme apresentado em APHA
(1995). A solução foi sempre estocada em
ausência de luz solar e refrigerada em uma temperatura da ordem de 4° C, de modo que fosse
minimizada a sua decomposição. Ao longo de
todo o trabalho, não foi evidenciada nenhuma
mudança em sua concentração original.
A aplicação de cloro livre foi efetuada a partir
de uma solução-mãe de água clorada, preparada
com uma concentração igual a 2.000 mg Cl2/L.
A determinação da concentração de cloro livre
na solução foi efetuada por iodometria clássica,
conforme apresentado em APHA (1995).
A correção de pH nos ensaios de jar-test
foi efetuada mediante o emprego de soluções
de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 M ou cal
hidratada e ácido clorídrico (HCl) 0,1 M.
Apresentação dos resultados
experimentais
A Figura 1 apresenta os resultados (concentrações residuais de dióxido de cloro para a água
decantada, final e após 24 horas de contato) dos
ensaios efetuados quando da aplicação do dióxido de cloro como agente pré-oxidante e cloro
livre como pós-oxidante para a água bruta, que
abastece a ETA Guaraú (Sabesp). A Figura 2
apresenta os valores de concentração residual
de cloro livre e clorito para dos ensaios efetuados quando da aplicação do dióxido de cloro
como agente pré-oxidante e cloro livre como
pós-oxidante para a água bruta, que abastece a
ETA Guaraú (Sabesp).
Analisando-se a Figura 1, é possível observar
que, com o aumento da dosagem de dióxido de
cloro aplicado na água bruta como agente préoxidante, maiores foram as suas concentrações
residuais na água decantada, final e após 24
horas de tempo de contato.
O dióxido de cloro aplicado como agente
desinfetante apresentou uma relativa estabilidade na água final, o que garante a manutenção
de uma concentração residual ao longo do sistema de distribuição de água. No entanto, um
dos grandes problemas com respeito a sua aplicação diz respeito à formação do íon clorito,
atualmente controlado pela Portaria 1469.
Observando a Figura 2, pode-se verificar que
com aumento da dosagem aplicada de dióxido
de cloro na água bruta como agente pré-oxidante, maiores também foram as concentrações
Artigos Técnicos
0,8
Concentração de cloro residual (mg/L)
0,7 0,7
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3 0,3
0,3
0,2
0,2
Pré: 1,0 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Pré: 1,5 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Figura 1
Concentrações
residuais de
dióxido de cloro
para o ensaio
efetuado para a
água bruta que
abastece à ETA
Guaraú. Agente
pré-oxidante:
dióxido de cloro.
Agente pósoxidante: cloro
livre
0,2
0,1 0,1 0,1
0,1
0
Pré: 0,5 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração
Concentração residual de dióxido de cloro na água decantada
Concentração residual de dióxido de cloro na água final
Concentração residual de dióxido de cloro (24 horas)
0,4
0,35
Concentração de cloro residual (mg/L)
de clorito na água decantada,
valores estes superiores a 0,2
mg/l. Com o cruzamento do
clorito com cloro livre (água
final), pode-se observar que
houve uma redução em sua
concentração, no entanto,
também foi evidenciada uma
diminuição da concentração
de cloro livre.
As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados experimentais obtidos para a água
bruta proveniente da ETA
ABV relativo aos seus valores
das concentrações residuais
de dióxido de cloro, obtidos
nos ensaios de pré-oxidação
conduzidos com o dióxido de
cloro e inter e pós-oxidação
tendo-se empregado o cloro
como agente oxidante, para as
soluções de dióxido de cloro
tendo sido produzidas a partir
de clorito de sódio e clorato de
sódio, respectivamente.
Comparando-se as Figuras
3 e 4, pode-se observar que os
resultados experimentais obtidos nos ensaios de pré-oxidação
conduzidos com as soluções de
dióxido de cloro produzidas,
a partir de clorito de sódio e
clorato de sódio, foram muito
similares, podendo-se afirmar
que não há diferença entre
ambas, comportamento este
também similar ao observado
para os ensaios conduzidos
com a água bruta que abastece
à ETA Guaraú.
É interessante notar que,
para todas as dosagens de
dióxido de cloro aplicadas
na forma de agente pré-oxidante, de 1,5 mg ClO2/L a
5,0 mg ClO2/L, foram observadas concentrações residuais na água decantada, o que
indica a sua estabilidade na
fase líquida. Também pode-se
observar que as concentrações
residuais de dióxido de cloro
na água final são bastante similares quando comparado com
0,35
0,3
0,3
0,25
0,23
0,2
0,16
0,15
0,11
0,1
0,1
0,05
0,01
0
0,00
0,03
0,01
0,00
0,01
0
Figura 2
Concentrações
residuais de
cloro livre e
clorito para
o ensaio
efetuado para
a água bruta
que abastece
à ETA Guaraú.
Agente préoxidante:
dióxido de
cloro. Agente
pós-oxidante:
cloro livre
0,00
0
Pré: 0,5 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Pré: 1,0 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Pré: 1,5 mg/L
Pós: 1,5 mg/L
Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração
Concentração residual de clorito na água decantada
Concentração residual de clorito na água f inal
Concentração residual de cloro livre na água f inal
Concentração residual de clorito (24 horas)
Concentração residual de cloro livre (24 horas)
Saneas / dezembro 2003 – 19
Figura 3
Concentrações
residuais de
dióxido de
cloro obtido
nos ensaios de
pré-oxidação
(Dióxido de
Cloro), intercloração e póscloração. Água
bruta: ETA
ABV. Agente
pré-oxidante:
Dióxido de
Cloro (Matéria
Prima: Clorito
de Sódio).
Concentração de agente oxidante residual (mg/L)
Artigos Técnicos
0,6
0,5
0,5
0,4
0,4
0,3
0,3
0,2 0,2
0,2
0,1 0,1 0,1
0,1
0,1
0
Pré: 1,5 mg/L inter+ Pré: 3,0 mg/L inter+ Pré: 5,0 mg/L inter+
Pós: 3,0 mg/L
Pós: 3,0 mg/L
Pós: 3,0 mg/L
Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração
Figura 4
Concentrações
residuais de
dióxido de
cloro obtido
nos ensaios de
pré-oxidação
(Dióxido de
Cloro), intercloração e póscloração. Água
bruta: ETA
ABV. Agente
pré-oxidante:
Dióxido de
Cloro (Matéria
Prima: Clorato
de Sódio).
Concentração de agente oxidante residual (mg/L)
Concentração residual de dióxido de cloro
na água decantada
Concentração residual de dióxido de cloro
na água final
Concentração residual de dióxido de cloro
(24 horas)
0,6
0,5
0,5
0,4
0,4
0,2
0,3
0,2
0,1
0,3
0,2
0,1 0,1
0,1
0,0
0
Pré: 1,5 mg/L inter+ Pré: 3,0 mg/L inter+ Pré: 5,0 mg/L inter+
Pós: 3,0 mg/L
Pós: 3,0 mg/L
Pós: 3,0 mg/L
Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração
Concentração residual de dióxido de cloro
na água decantada
Concentração residual de dióxido de cloro
na água final
Concentração residual de dióxido de cloro
(24 horas)
20 – Saneas / dezembro 2003
as obtidas para a água decantada, ainda que, na água final,
o dióxido de cloro aplicado na
forma de agente pré-oxidante
já tivesse cruzado com o cloro
aplicado na forma de agente
inter e pós-oxidante.
Observa-se que as dosagens
de dióxido de cloro aplicadas
na forma de agente pré-oxidante para a água bruta que
abastece à ETA ABV foram
significativamente maiores do
que quando comparadas com
os ensaios conduzidos com a
água bruta que abastece à ETA
Guaraú.
O motivo pelo qual as
dosagens de dióxido de cloro
aplicadas para a água bruta
da ETA ABV foram maiores
do que quando comparado
com as aplicadas para a ETA
Guaraú reside no fato de que,
de acordo com a finalidade
do processo de pré-oxidação,
faz-se necessário o estabelecimento de uma concentração
residual do agente oxidante
na água decantada. Uma vez
que a demanda do agente oxidante foi maior para a água
bruta que abastece a ETA ABV,
também foram maiores as
suas dosagens aplicadas a fim
de que fosse possível o estabelecimento de uma concentração residual mínima.
Com respeito à formação de
THMs, quando da aplicação
do cloro na forma de agente
pré, inter e pós-oxidante para a
água bruta que abastece a ETA
ABV, observou-se que os seus
valores situaram-se entre 15
µg/L e 30 µg/L, estando, portanto, numericamente muito
inferiores quando comparado
com o Padrão de Potabilidade
regulamentado pela Portaria
1469 (100 µg/L).
Por sua vez, quando da
aplicação do dióxido de cloro
como agente pré-oxidante,
em todos os ensaios execu-
Artigos Técnicos
tados, os valores de concentração de THMs
obtidos foram inferiores a 7 µg/L, sendo que,
em muitos deles, os valores obtidos estavam
abaixo do limite de detecção do método (5
µg/L). No entanto, com o aumento da dosagem de dióxido de cloro aplicado, observou-se
um aumento da concentração de íon clorito
em valores superiores a 0,2 mg ClO2/L , o que
reforça a necessidade de um controle rigoroso
da sua concentração aplicada, a fim de que a
formação de sub-produtos seja controlada.
Efetuando-se uma análise crítica dos resultados obtidos e comparando-se com os conseguidos quando da aplicação do cloro como
agente pré e pós-oxidante, pode-se observar que, conforme reportado pela literatura,
há uma diminuição da formação de THMs
quando da utilização do dióxido de cloro na
forma de agente pré e pós-oxidante.
No entanto, embora tenha-se evidenciado
uma redução na formação de THMs quando
do emprego do dióxido de cloro em ambas as
formas de pré e pós-oxidação quando comparado com a aplicação do cloro na forma de pré
e pós-oxidante, em princípio, não faz sentido
a mudança do agente oxidante em questão,
uma vez que, a formação de THMs observada
quando da utilização do cloro livre foi tal que
não foram observadas concentrações superiores a 100 µg/L.
Uma vez que os custos de produção e aplicação do dióxido de cloro são significativamente
mais altos quando comparado com o custo do
cloro, em função, principalmente, do alto custo
das matérias primas empregadas em sua fabricação, não há sentido em efetuar-se a mudança
do agente oxidante, tendo-se como justificativa
o controle da formação de THMs.
Deste modo, para as águas brutas empregadas na investigação experimental, a utilização
do cloro como agente oxidante e desinfetante
não apresenta inconvenientes com respeito a
formação de sub-produtos da desinfecção, haja
visto que as suas concentrações foram inferiores a 100 µg/L.
Tendo em vista a diversidade dos resultados experimentais obtidos, em função, principalmente, das características das águas brutas
empregadas na investigação experimental e da
concepção das estações de tratamento de água,
recomenda-se que sempre sejam executados
ensaios em escala de laboratório e piloto, a fim
de que seja possível estabelecer os limites de aplicação do dióxido de cloro como agente oxidante
no tratamento de águas de abastecimento.
Conclusões
De acordo com os resultados experimentais
obtidos pode-se concluir que:
• A aplicação do dióxido é viável em águas
que apresentem baixa demanda de agente
oxidante (Redução da formação de clorito).
• O comportamento das soluções de dióxido
de cloro gerado a partir de clorito de sódio
ou clorato de sódio foram bastantes similares entre si.
• Para sistemas produtores de abastecimento
de água complexos, a aplicação do dióxido
de cloro como agente pós-oxidante deve ser
descartada em função do seu possível cruzamento com águas contendo cloro livre no
Sistema de Distribuição.
• Para todas as água brutas estudadas, a concentração de trihalometanos ficou abaixo de
100 µg/l, quando empregado o cloro e o dióxido de cloro como agentes oxidantes.
• Não foram observadas diferenças quanto
à qualidade microbiológica da água final
quando da utilização do cloro e do dióxido
de cloro como agentes oxidantes.
Referências bibliográficas
1. ARORA, H., LeCHEVALIER, M.W., DIXON,
K.L. Disinfection by-products occurrence survey.
Journal of American Water Works Association, pag
61-68, June, 1997.
2. BELLAR, T.A., LICHTENBERG, J.J., KRONER,
R.C. The occurrence of organohalides in chlorinated drinking water. Journal American Water Works
Association, pág 703-706, December, 1974.
3. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY.
Alternative disinfectants and oxidants guidance
manual. April, 1999.
4. ROOK, J.J. Haloforms in drinking water. Journal
of American Water Works Association, pag 168-172,
March, 1976.
5. SINGER, P.C. Control of disinfection by-products
in drinking water. Journal of Environmental Engineering, American Society of Civil Engineers, pag
727-744, July/August, 1994.
6. SYMONS, J.M., BELLAR, T.A., CARSWELL,
J.K., DeMARCO, J., KROPP, K.L., ROBECK, G.G.,
SEEGER, D.R., SLOCUM, C.J., SMITH, B.L.,
STEVENS, A.A. National reconnaissance survey
for halogenated organics. Journal of American
Water Works Association, pag 634-647, November, 1975.
Saneas / dezembro 2003 – 21
P&D
ARTIGOS
TÉCNICOS
Crítica antecipada de leitura
maximizando a eficiência da
micromedição
Rosária Nunes Eliane Pereira Lopes Artigos Técnicos
Resumo
O Setor Comercial de São José dos Campos
encontrou na Crítica Antecipada de Leitura
– projeto desenvolvido dentro do próprio setor
– uma alternativa que maximiza a eficiência no
processo de medição do consumo, atingindo
grau elevado de exatidão, com agilidade na execução de serviços e aumento no faturamento.
Além disso, este trabalho reforça a missão do
setor que é a de “ser o elo de confiabilidade
entre o cliente e a Sabesp, pela excelência no
atendimento”, através da redução do número
de reclamações na agência e a conseqüente
melhora na imagem da empresa.
Para superar as expectativas de uma cidade
como São José dos Campos, com 539.313 habitantes e uma rede de mais de 140 mil ligações
de água, essa missão era um desafio, que exigia
muito conhecimento, alta dose de criatividade
e, principalmente, uma equipe comprometida e preparada para a execução de serviços
com qualidade, pronta a aceitar – e vivenciar
– mudanças nos processos de trabalho.
Estimulada por esse desafio, a equipe do
do Setor Comercial de São José dos Campos
(RVSS1) buscava uma alternativa que aumentasse a eficiência dos métodos e possibilitasse
um atendimento ao cliente, que superasse o
serviço prestado até então.
•
•
Leitura informatizada dos hidrômetros.
Repasse para recuperação de leituras que
não puderam ser feitas na primeira etapa,
por motivos como morador ausente, abrigo
trancado, cão solto, imóvel vago etc.
• Crítica de Leitura, para correção de eventuais erros em endereços, onde se constatava
alta de consumo ou leitura atual menor que
a leitura anterior e, mais uma vez, tentativa
de recuperação de leituras.
Nessas três etapas, o trabalho era feito em 10
dias, de acordo com o cronograma estabelecido
pela empresa, e o processo acabou se tornando
mecânico: os agentes confirmavam a leitura,
comunicando ao setor interno, sem que fossem
avaliadas causas e conseqüências de possíveis
distorções de consumo.
No modelo tradicional, após o processamento da leitura, são gerados, junto com as
contas, relatórios que acusam ocorrências,
como consumo superior à média habitual do
imóvel, estouro ou superestouro de consumo,
leitura atual menor que a leitura anterior e
hidrômetro sem consumo.
Esses relatórios eram analisados e outros
passos deviam ser seguidos:
Modelo tradicional
• Retenção das contas selecionadas para confirmação de leitura;
• Vistoria nos imóveis para confirmação ou
correção da leitura.
• Análise e, se necessário, revisão das contas.
Até o começo de 2002, os colaboradores do
setor comercial trabalhavam seguindo os passos
definidos pelo procedimento tradicional:
Devido ao grande número de endereços
que apresentavam distorções de consumo, o
tempo entre a análise dos relatórios e a reforma
Bacharel em Administração de Empresas, Técnica em Serviços Administrativos na RVSS.1 – Setor
Comercial de São José dos Campos;, E-mail: [email protected]
Bacharel em Ciência da Computação, Analista em Informática na RVOM – Divisão de Operação e
Manutenção do Vale do Paraíba, E-mail: [email protected]
22 – Saneas / dezembro 2003
Artigos Técnicos
das contas costumava demorar vários dias,
levando, muitas vezes, à postergação da data de
vencimento ou reemissão da fatura, obrigando
o cliente ao pagamento de duas contas num
único mês. Em muitos casos, com a demora
no recebimento da conta, o cliente retirava, na
agência, segunda via da conta que estava retida
para revisão, e o pagamento gerava inconsistência de baixa no Sistema, que teria que ser
solucionada. Além disso, se houvesse vazamento interno, o consumo de pelo menos dois
meses seria afetado, pois o usuário só ficava
ciente ao receber a conta.
Outros serviços, como troca de hidrômetros, regularização de ligações fraudadas e alterações cadastrais, só podiam ser executados
após o retorno da vistoria.
Todo esse processo implicava custos adicionais com recursos humanos e administrativos, gastos com combustível, repetição
dos serviços e dificuldade de comunicação. O
atendimento ao cliente era prejudicado, pois o
serviço 195 não tinha informações suficientes
no Sistema para fornecer respostas imediatas e precisas às ligações. E, no atendimento
personalizado, dispendia-se muito tempo na
procura de processos pendentes, aumentando
a espera e o fluxo de clientes na agência, que
gerava insatisfação.
A imagem da Sabesp acabava sendo prejudicada, tanto junto ao público interno - pois os
colaboradores possuíam conhecimento limitado do processo de trabalho –, quanto frente
ao cliente externo, que tinha a visão de uma
empresa ineficiente e burocrática.
dos Campos e da Divisão de Planejamento e
Manutenção do Vale do Paraíba (RVO), no
final de 2001.
Implantação do projeto RCL –
crítica antecipada de leitura
Além de um novo software, os processos de
trabalho deveriam ser redefinidos, buscando a
otimização dos recursos humanos e materiais.
Envolveram-se no desenvolvimento e
implantação do projeto todas as pessoas que
trabalhavam com leitura informatizada, crítica
de leitura, análise dos relatórios, separação e
análise de contas. A equipe administrativa preparou um curso para integrar a equipe externa,
composta de agentes e técnicos de serviço a
clientes, apresentando o projeto, orientando
quanto aos novos procedimentos e inserindo
todos no seu desenvolvimento.
Foram envolvidas, também, as demais áreas
do setor, pois a maioria dos serviços, que antes
eram executados somente após a emissão das
contas, passaria a ser executada no período
entre a leitura e a emissão das contas.
A união do software e a redefinição dos processos de trabalho é conhecida como projeto
RCL – Crítica Antecipada de Leitura.
Trabalho atual
Criação do projeto
Com isso, após um período de experiência
em que foram selecionadas algumas regiões
do município, foi possível implantar o projeto
definitivamente, em março de 2002, e as atividades passaram a ser as seguintes:
Após análise do programa institucional para
leitura CLM (Comercial – Leitura em Microcoletor), utilizado pela contratada para consolidação dos dados da leitura, verificou-se que
era possível o acesso a todas as leituras pelo
menos três dias antes que fossem processadas
pelo sistema da Sabesp, o que tornaria possível,
além da correção das leituras, também a regularização da maioria das ocorrências antes da
emissão das contas .
Para viabilizar a antecipação do trabalho
seria necessário o desenvolvimento de um software de acompanhamento paralelo.
O novo software, batizado de RCL (Relatórios de Crítica de Leitura), foi criado através de
parceria entre o Setor Comercial de São José
• Execução da leitura informatizada;
• Repasse das leituras;
• Acesso às leituras logo após o envio para o
sistema, três dias depois de sua execução;
• Geração de crítica de leitura para análise
através do RCL;
• Análise prévia e liberação de vistorias para
os endereços onde se acusa irregularidade
no consumo, quatro dias antes da data estabelecida pelo cronograma para correção da
leitura e alteração de dados cadastrais;
• Serviços dos agentes externos: apontamento e correção de irregularidades
encontradas; recuperação de leitura; verificação de erros de leitura e dados cadastrais; verificação de alta de consumo e
Saneas / dezembro 2003 – 23
Artigos Técnicos
vazamento, orientando o cliente; troca de
hidrômetro, colocação de lacres e regularização de fraudes.
• Trabalho da equipe interna: análise e correção após retorno das vistorias antes da
emissão das contas; atualização de dados
cadastrais; emissão de solicitações de serviços; acertos de consumo. Após a emissão das contas, são feitas a distribuição de
consumo e a reforma de contas em casos
de vazamento que não escoaram para o
esgoto, com emissão de segundas vias que,
na chegada das faturas, substituirão as vias
originais.
Assim, são fornecidas ao cliente, durante a
vistoria, as informações necessárias sobre consumo, identificação e reparo de vazamentos.
E ele recebe, na data estabelecida pelo cronograma, a conta emitida com os valores corretos, o que reduz significativamente o número
de reclamações através do 195 e o fluxo nas três
agências de atendimento ao público em São
José dos Campos.
A partir de março de 2003, o projeto foi
implantado em todo do município.
Resultados obtidos
Com a implantação do projeto, também
chamado de Crítica Antecipada de Leitura,
verificaram-se inúmeras vantagens, como
desenvolvimento do trabalho realizado pela
equipe de serviços externos, reestruturação
Gráfico 1
Apuração de
clientes na
agência de
atendimento
500
Fonte: RVSS.1
julho/2003
400
470
436
450
350
da equipe interna, otimização dos processos
de trabalho, desenvolvimento profissional dos
colaboradores, integração da equipe, aumento
da performance da contratada, parceria com
outros setores da empresa, agilidade na prestação de serviços, redução de perdas e aumento
do faturamento, redução dos custos internos,
melhora no atendimento ao cliente e, principalmente, melhora na imagem da empresa,
pela prestação de serviços mais rápidos e mais
eficazes.
A partir de abril de 2003, foi verificado o
fluxo dos clientes que vinham até a agência
para pedir revisão de contas ou para obter
informações sobre consumo. Como era esperado, após a implantação do projeto de Crítica
Antecipada de Leitura em todo o município
este número apresentou queda de 16%, no
primeiro mês, para solicitação de revisão de
contas, e 7% para informações sobre consumo.
Cabe destacar que a queda mais significativa
foi observada na solicitação de informações
sobre consumo: em julho de 2003, a redução
já chegava a 44%, fruto do serviço prestado
em campo aos clientes pelos agentes comerciais (gráfico 1).
Outro resultado esperado foi a recuperação
de consumo micromedido, através da melhora
na qualidade das leituras executadas tanto pela
Sabesp como pela contratada e do desempenho da crítica antecipada na substituição de
hidrômetros. Conforme verificado nos meses
de março e abril de 2003 (gráfico 2) houve uma
recuperação de, respectivamente, 62% e 52%
de consumo medido, o que melhora a eficiên-
396
308
300
265
259
250
230
202
200
150
abril
100
maio
50
junho
0
julho
previsão de consumos
24 – Saneas / dezembro 2003
informações sobre consumo e
valor de contas
Artigos Técnicos
Gráfico 2
Recuperação
de consumo
micromedido
10000
9158
8817
9000
Fonte: RCL – abril/2003
8000
7000
6035
6000
5428
5000
4000
3000
2000
1000
340
média antes
da troca
671
média após
a troca
0
fevereiro / 03 - 97%
março / 03 - 63%
abril / 03 - 52%
Gráfico 3
Recuperação
(em reais)
em ligações
fraudadas
julho/2003
58%
Fonte: Equipe CaçaFraudes – RVSS1
40%
Somente em
hidrômetros
violados
2%
julho
Eq. Fraude
Agentes comerciais
Contazul
113.887,29
78.462,39
4.025,33
* valores em Reais
cia da micromedição e colabora também com
a redução de perdas não-físicas.
Entretanto, um dos resultados mais satisfatórios, não previstos na realização do projeto,
foi o alto índice de recuperação de faturamento para a empresa através da regularização
de ligações fraudadas (gráfico 3). Em julho de
2003, a equipe de agentes comerciais, responsável pela execução em campo da Crítica Antecipada, participou em 40% das regularizações
no município. Vale lembrar que a equipe de
agentes comerciais regulariza ligações fraudadas somente pela substituição de hidrômetros,
diferente da equipe de Caça-Fraudes, que atua
apenas através de denúncias.
Conclusão
Desenvolver o projeto RCL – Crítica de Leitura Antecipada, que se tornou uma ferramenta
de melhoria contínua no processo de apuração
de consumo no Setor Comercial de São José
dos Campos, tornou possível também o desenvolvimento dos colaboradores do setor. Este foi
um fato de relevante importância e que toda
empresa busca para competir no mercado. Mas
podemos considerar que, dos resultados obtidos até então, os mais importantes são os que
levam à melhoria na imagem da Sabesp perante
seus clientes e a eficácia na apuração do consumo deste recurso tão essencial e cada vez mais
escasso: a água.
Saneas / dezembro 2003 – 25
ARTIGOS TÉCNICOS
Parâmetros biológicos envolvidos no
reúso de efluentes de estações de
tratamento de esgotos
Luiz Carlos Helou Artigos Técnicos
Introdução
Desde a década de 1950, o consumo de água
potável no planeta aumentou em aproximadamente 350%, num ritmo superior ao do crescimento populacional (Brito, LP 1998), com isto
houve o aumento no custo da água, induzindo a
procura de novas fontes para usos não potáveis.
O emprego de águas residuárias, que podem
conter os mais variados microorganismos patogênicos, causa preocupação com a transmissão
e propagação de doenças de veiculação hídrica.
Portanto, o interesse na determinação de parâmetros biológicos das águas de reúso reside nos
aspectos relacionados à saúde pública.
Neste sentido, convém analisar os microorganismos patogênicos, que podem ser divididos em:
– Bactérias;
– Parasitas (protozoários e helmintos);
– Vírus.
Bactérias
Estes microorganismos, cujas dimensões
variam de cerca de 0,2 a 10 µm, estão largamente
distribuídos no ambiente, possuindo uma grande
variedade de requisitos nutricionais. As bactérias
de maior importância nos esgotos domésticos são
aquelas presentes no trato gastrintestinal do seres
humanos, que se alojam no material fecal, denominadas de bactérias entéricas. As condições presentes no trato intestinal, com a grande presença
de carbono orgânico, nutrientes e temperatura
relativamente elevada, são ideais ao desenvolvimento deste tipo de bactéria.
Quando liberadas no ambiente aquático,
as bactérias entéricas, adaptadas às condições
do trato gastrintestinal, enfrentam condições
ambientais adversas e, portanto, têm sua capacidade de sobrevivência diminuída. Além disto,
sua capacidade de competição pelos nutrientes,
mais escassos, com as bactérias já existentes no
ambiente e melhor adaptadas a ele, também é
menor, o que faz com que a sobrevivência seja
ainda menor. Contudo, a grande quantidade de
bactérias presentes no material fecal humano cerca de 1012 bactérias / g - faz com que haja
uma grande incidência deste tipo de bactéria
nos esgotos, mesmo nestas condições adversas.
Uma grande quantidade de espécies de
bactérias entéricas não causa doenças, porém
aquelas presentes nas fezes de indivíduos
infectados contêm grande quantidade de bactérias patogênicas, que se misturam aos esgotos domésticos. A Tabela 1 indica algumas das
bactérias patogênicas mais comuns, as doenças
causadas, as concentrações existentes nos esgotos sanitários e a dose de infecção.
A bactéria mais comumente associada à contaminação das águas por esgotos sanitários é o
Coliforme, por isso é também utilizada como
indicados deste tipo de contaminação. Embora
seu comportamento no ambiente seja similar
ao de grande parte das bactérias patogênicas,
não representam adequadamente a presença
de vírus e protozoários.
Protozoários
Este grupo de microorganismos unicelulares
apresenta um tamanho variável de 2 a 60 µm,
sendo, portanto, de dimensões maiores que as
das bactérias. O ciclo de vida destes organismos inclui uma fase vegetativa e uma de descanso (cisto). Os cistos não se reproduzem no
ambiente, porém são capazes de sobreviver
por longos períodos - até cerca de sete anos
em condições de solo adequadas. Estes cistos
são também resistentes à inativação durante os
processos de tratamento de esgotos.
A Tabela 2 indica alguns dos protozoários
patogênicos mais comuns, as doenças causadas, as concentrações existentes nos esgotos
sanitários e a dose para infecção.
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; Doutor pela Escola Politécnica da USP
Engenheiro de Operação da ETE Barueri. E-mail [email protected]
26 – Saneas / dezembro 2003
Artigos Técnicos
Helmintos
Helmintos são parasitas: vermes multicelulares que incluem nematóides, trematóides e
cestóides. As fases da vida destes organismos,
que são infecciosas para seres humanos, são
para alguns grupos a fase adulta ou a fase de
larva, ao passo que para outros ovas e ovos são
as fases infecciosas. Os estágios de larva em
estado livre de nematóides não são infecciosos.
Os ovos e larvas, cujo tamanho varia de 10 a
100 µm, são resistentes às variações ambientais,
aos processos usuais de desinfecção de águas
residuárias. Os métodos de remoção desses
ovos são a sedimentação, filtração ou lagoas de
estabilização.
Vírus
Os vírus são parasitas intracelulares capazes de
se multiplicar apenas no interior de uma célula
hospedeira. Seu tamanho varia de 0,01 a 0,3 µm
e somente indivíduos infectados excretam vírus
em suas fezes. Neste caso a presença de vírus
pode chegar a 1012 vírus por grama, perdurando
até 16 semanas. Existem cerca de 140 tipos de
vírus entéricos que podem contaminar as águas
residuárias. A dose de infecção dos enterovirus
varia de 1 a 10 por dia. Os mais comuns estão
relacionados na Tabela 4 juntamente com sua
concentração nos esgotos sanitários.
Sobrevivência de organismos
patogênicos
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
(1989) afirma que existem grandes variações
nos períodos de sobrevivência dos agentes patogênicos no solo e em cultivos em climas quentes. Estes períodos são apresentados na Tabela 5.
Observa-se através dela que os microorganismos
sobrevivem mais tempo no solo que na superfície, pois estão protegidos dos efeitos da luz solar
e da evaporação. O trabalho citado observa,
ainda, que a irrigação de pastos com águas residuais contendo ovos viáveis de Taenia saginata
produzirá cisticircose no rebanho bovino se este
utilizar o pasto enquanto os ovos forem viáveis.
Recomenda-se um intervalo mínimo de 14 dias
entre a irrigação e o pastoreio.
Remoção de organismos patogênicos
pelo processo de lodos ativados
O processo de lodos ativados é relativamente eficiente na remoção de organismos
patogênicos, devido à sedimentação e à aeração. Os ovos de helmintos são removidos já
Tabela 1
Bactérias patogênicas mais comuns existentes nos esgotos sanitários
Bactéria
Doença
Camphylobacter
jejuni
Escherichia coli
Legionella pneumophila
Leptospira (spp.)
Salmonella typhi
Salmonella
(2400 serotipos)
Shighella (4 spp.)
Gastroenterite
Vibrio cholerae
Yersina enterocolitica
Concentração
média em esgotos
sanitários
(NMP/100mL)
3700
Dose de
infecção
Gastroenterite
Mal de Legionnaire
Leptospirose
Febre tifóide
Salmonelose
ND
ND
ND
ND
ND
ND
2,3 – 8000
ND
104 - 107
10
Shiguelose
(disenteria)
Cólera
Versinose
1 – 1000
180
10 –10000
ND
103 - 107
ND
ND
ND: não disponível
Tabela 2
Protozoários patogênicos mais comuns existentes nos esgotos sanitários
Protozoário
Doença
Concentração
Dose de
nos esgotos
infecção
sanitários NMP/L
Balantidiun Coli
Balantisíase
28 -52
ND
Criptosporidium
Parvum
Cripotosporidíase,
diarréia, febre.
0,3 -122
1 - 10
Entamoeba
Histolytica
Amebíase
4
20
Giardia Lanblia
Giardíase
125 -100.000
< 10
Tabela 3
Helmintos patogênicos mais comuns existentes nos esgotos sanitários
Helmintos
Doença
Concentração
Dose de
nos esgotos
infecção
sanitários NMP/L
Ancylostomus
duodenalis
Ancilostomose
6 -188
ND
Ascaris
lumbricoides
Ascaríase
5 - 111
1 - 10
Echinococcus
Granulosis
Hidatitose
ND
ND
Enterobius
vermicularis
Enterobiose
ND
ND
Necator americanus Necatoríase
ND
ND
Schistosoma
Esquistossomose
ND
ND
Strongyloides
Stercolaris
Strongiliose
ND
ND
Taenia
Teníase
ND
ND
Trichuris trichiura
Tricuriase
10 - 41
ND
Saneas / dezembro 2003 – 27
Artigos Técnicos
Tabela 4
Vírus entéricos mais comuns existentes nos esgotos sanitários
Vírus
Doença
Concentração
nos esgotos
sanitários NMP/L
Adenovirus
Doenças respiratórias, conjunti- ND
vite, diarréia e vômitos
Astrovirus
Diarréia e vômitos
ND
Enterovirus
Paralisia, meningite, febre,
182 – 492.000
(inúmeros tipos) doenças respiratórias, miocardite conjuntivite hemorrágica,
encefalite, dentre outras.
Hepatite A e E
Hepatite
ND
Norwalk
Diarréia e vômitos
ND
Rotavirus
Diarréia e vômitos
400 – 85.000
Tabela 5
Período de sobrevivência de alguns agentes patogênicos excretados
nos solo e superfícies de cultivos a 20-30 oC, segundo OMS (1989).
Agente Patogênico
Período de sobrevivência (dias)
No solo
Nos cultivos
Geral
Mais
Geral
Mais
comum
comum
Vírus
Enterovirus
Bactérias
Coliformes fecais
Salmonella spp
Vibrio cholera
Protozoários
Entamoeba histolytica
(cistos)
Helmintos
Ascaris lumbricoides
(ovos)
Anquiostomas (larvas)
Taenia saginata (ovos)
Trichuris trichura (ovos)
<100
<20
<60
<15
<70
<70
<20
<20
<20
<10
<30
<30
<5
<15
<15
<2
<20
<10
<10
<2
<60
<30
<30
<60
<60
<10
<30
<30
Meses
<90
Meses
Meses
<30
Tabela 6
Eliminação prevista de microorganismos de acordo com
o sistema de tratamento (OMS-1989)
Processo de tratamento
Eliminação em unidades logarítmicas de
Bactérias Helmintos Vírus
Cistos
Sedimentação Simples
0-1
0-2
0-1
0-1
Química 1-2
1-3
0-1
0-1
Lodo Ativado
0-2
0-2
0-1
0-1
Biofiltração
0-2
0-2
0-1
0-1
Lagoa aerada
1-2
1-3
1-2
0-1
Valo de oxidação
1-2
0-2
1-2
0-1
Desinfecção
2-6
0-1
0-4
0-3
Tanque de estabilização
1-6
1-3
1-4
1-4
Disposição de efluentes
1-6
1-3
1-4
1-4
28 – Saneas / dezembro 2003
nos decantadores primários em virtude de seu
tamanho. Bactérias associadas aos sólidos em
suspensão também são parcialmente removidas nesta fase.
A competição com outros organismos e a
captura de bactérias nos flocos biológicos formadas durante a fase de aeração são responsáveis pela maior parte da remoção de bactérias
e vírus. Esta remoção pode chegar a 90% para
bactérias entéricas e protozoários e a 99% para
enterovirus e rotavirus. Contudo, há uma concentração de ovos de helmintos e de protozoários no lodo.
A OMS (1989), apresenta, através da tabela
6, as remoções propiciadas pelos diversos tipos
de tratamento.
Processos de desinfecção
associados ao reúso
Para que o efluente de estações de tratamento de esgotos por lodos ativados seja utilizado para fins de reúso, recomenda-se que
sofra um processo de polimento. Neste processo o efluente final passa por um processo de
coagulação, geralmente com polímeros numa
concentração de 0,1 mg/L. Neste processo há
formação de flocos que facilitam a remoção
de partículas em suspensão, que são responsáveis pelo encapsulamento de microorganismos. Um filtro de areia e antracito remove as
partículas em suspensão, que passam de uma
concentração de cerca de 20 mg/L para algo em
torno de 5 mg/L.
Um filtro cartucho com poros de 1 a 10 µ
remove ainda mais estas partículas, fazendo
com que a turbidez atinja cerca de 2 NTU.
Finalmente, o efluente passa por uma cloração de forma a manter um nível de cloro residual
combinado na faixa de 2 a 4 mg/L. Alternativamente pode ser utilizada a desinfecção por
dióxido de cloro para se evitar a formação de
trihalometanos. Ambos os processos necessitam
de baixa turbidez para serem eficientes.
Referências Bibliográficas
OMS Diretrices sanitárias sobre el uso de aguas residuales em agricultura y acuicultura, Informe de
um Grupo Cientifico, Serie de Informes Técnicos
778, Organización de la Salud, 1989.
Brito, LP Reutilización de Água Residual Depurada,
UFRN, Natal 1998
Cooper, R. C. & Olivieri. A. W. Infectious desease
concerns in Wastewater Reclamation and Reuse
– Water quality management library volume 10,
Technomic Publishing Co., 1998.
MEIO AMBIENTE
Por que produção mais limpa?
Aumente seus lucros e ajude a natureza
Tânia Mara Tavares Gasi Produzir mais com o mesmo significa ser mais eficiente como
diferencial competitivo no mercado e para a gestão ambiental
Meio Ambiente
O
modelo capitalista de
desenvolvimento econômico, praticado por décadas,
considerou o planeta como
fornecedor inesgotável de
matérias primas, bem como
receptor infinito de resíduos.
A tecnologia moderna seria
capaz de resolver todos os problemas. Poderíamos crescer
indefinidamente, com prosperidade e bem estar.
Dados do Programa das
Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) demonstram que os
impactos ambientais desse modelo são extraordinários. Cerca de metade dos rios do mundo
já se encontra severamente contaminada ou
poluída. A escassez da água, evidenciada desde
a década dos anos 90, se agrava e promete
recrudescer no futuro, transformando este
líquido em bem precioso, a ser disputado pelas
nações e pelo mercado. A degradação do meio
ambiente provoca enfermidades e incapacitação, causando mais mortes que as verificadas
em conflitos armados. Estima-se que o uso de
água contaminada provoca 4 bilhões de casos
de diarréia por ano e 2,2 milhões de mortes teríamos que abater cerca de 20 aviões jumbo,
por dia, para igualar o número de óbitos. 17
milhões de pessoas morrem por ano de doenças que poderiam ser curadas, como as já citadas diarréias, malária, sarampo e tuberculose.
O PNUMA contabilizou cerca de 2 bilhões
de hectares de solo degradados devido à ativi-
dade humana – uma área maior que Estados
Unidos e México juntos. A biodiversidade,
patrimônio genético do Planeta, tem sido sistematicamente reduzida, estando ameaçados
de extinção um quarto de todas as espécies de
mamíferos, para não citar as aves, plantas, anfíbios e insetos. Cerca de 150 mil quilômetros
quadrados de corais estão com risco médio a
alto de degradação.
A mudança do clima, uma das questões
globais de maior repercussão nos fóruns internacionais, nada mais é do que um sintoma do
desbalanceamento do ciclo biogeoquímico do
carbono. É a demonstração de que o Homem
está alterando o funcionamento natural do
Planeta.
Destruir a natureza significa comprometer
as reservas de matérias primas e a capacidade
produtiva da Terra. Como exemplo, a contaminação da água prejudica e encarece os sistemas
de abastecimentos público, agrícola e industrial e afeta o turismo. A degradação dos corais
impacta a produção pesqueira; a perda de solos
aráveis, por processos de erosão e excessiva irrigação, prejudica a agricultura. “A capacidade
produtiva do planeta está em declínio”, alerta
o relatório Tomorrow´s markets – global trends
and their implications for business, preparado
pelo PNUMA, pela ONG World Resources
International e pelos conselho de empresários
do World Business Council for Sustainable
Development.
A Terra é um sistema fechado, esgotável, que
não pode receber resíduos em quantidades e
características além de sua capacidade natural
Engenheira da CETESB
Secretária Executiva da Mesa Redonda Paulista de Produção +Limpa
Presidente da ASEC – Associação dos Engenheiros da CETESB
Saneas / dezembro 2003 – 29
Meio Ambiente
de absorção. Modelos de desenvolvimento, que
não incorporem esta realidade em suas premissas, não podem se sustentar no presente e não
poderão subsistir no futuro.
Praticar Produção Mais Limpa
Como produzir bens e serviços sem cobrar
um preço exorbitante e insuportável à Natureza?
Uma possibilidade concreta é praticar a chamada Produção Mais Limpa (P+L), que é uma
idéia muito simples e efetiva. A P+L entende
que a geração de poluentes - como efluentes,
emissões, resíduos sólidos, odor, vibração,
ruído – é uma falha no processo produtivo.
As matérias-primas e insumos, que deveriam
seguir a rota de geração de produtos, desviaram e se transformaram em sobras. Diversos
problemas podem ter acontecido: o processo
produtivo foi ineficiente ou mal gerenciado,
houve perdas e vazamentos, as matérias primas
foram inadequadamente estocadas e perderam a validade, houve acidentes, o lay out dos
equipamentos era impróprio, o produto era
mal formulado, as embalagens foram usadas
em excesso, os operários não eram treinados,
as especificações de compra foram mal feitas,
para citar apenas algumas possibilidades.
Assim, ao otimizar a transformação de matérias-primas e insumos em produtos obtém-se,
inevitavelmente, menor geração de poluentes,
o que permite concluir que Lavoisier estava
correto e que o ditado popular “Mais vale prevenir que remediar” pode e deve ser praticado.
Produzir mais com o mesmo significa ser mais
eficiente e isto é um diferencial de competitividade no mercado. Assim, praticar P+L é compreender que a gestão dos aspectos ambientais
é elemento indissociável da equação da produtividade e da competitividade.
A busca pela conformidade ambiental
deixa de ser o mero cumprimento de normas
e decretos baixados pelo poder público, transformando-se na procura sistemática de oportunidades de aprimoramento do negócio da
empresa. O chamado modelo “fim-de-tubo”,
que visa o tratamento e a disposição dos resíduos, pode ser progressivamente substituído
por ações de eliminação dos mesmos na fonte
e por sistemas de reciclagem, com vantagens
econômicas.
Diversas empresas, dentro e fora do Brasil, já
descobriram a P+L e muitos governos desenvolvem ações concretas para fomentá-la. Os
30 – Saneas / dezembro 2003
empresários verificam que podem economizar matérias-primas e insumos, gerar resíduos
em menor quantidade e toxicidade, melhorar as condições de trabalho e obter retorno
financeiro dos investimentos. Em São Paulo,
que hoje representa uma fantástica oportunidade para a prática da P+L, foi criada a Mesa
Redonda Paulista de Produção + Limpa, como
um fórum aberto aos interessados em promover e trocar experiências. A Mesa congrega
empresas, instituições governamentais, entidades de ensino e pesquisa, ONGs e cidadãos,
podendo-se obter informações no site www.
mesaproducaomaislimpa.sp.gov.br
Outros Dilemas
Praticar a P+L pode responder ao desafio
de produzir com a preservação da Natureza.
Há outros dilemas colocados para a sobrevivência humana, neste início de milênio, cuja
abordagem é bem mais complexa. Sabe-se que
um quinto da população mundial mais rica,
em países do hemisfério norte, detém 86% dos
gastos mundiais com consumo, usando 84 %
de todo o papel produzido no planeta, 65 % de
toda a eletricidade e 85 % de todos os metais e
produtos químicos. As 225 pessoas mais ricas
detêm mais de um trilhão de dólares, que corresponde à soma da riqueza dos 47 % mais
pobres do mundo, que perfazem 2,5 bilhões de
seres humanos. Cerca de um bilhão de pessoas
não têm acesso a direitos básicos de consumo
e, na América Latina, 240 milhões estão abaixo
da linha da pobreza.
O acesso à tecnologia, cujos avanços enaltecem a capacidade do ser humano, também é
restrito. Dois bilhões de pessoas não têm energia comercial e, portanto, não se beneficiam
da lâmpada elétrica, inventada por Thomas
Edison, em 1879. Um bilhão e meio não usam
a tecnologia denominada torneira, por não
dispor de sistemas domiciliares de abastecimento de água. Mais da metade da população
mundial não usa telefone e apenas sete porcento dispõem de computador pessoal.
Como dividir a riqueza gerada de forma
mais digna e justa? Como garantir que bilhões
de seres humanos possam ascender ao consumo sem que a produção desses bens implique na destruição do planeta? A Produção +
Limpa não tem a pretensão, nem a capacidade,
de resolver essas questões, mas é um ingrediente indispensável na busca de soluções.
A SABESP INOVA
Armazenadores de ruídos:
uma nova ferramenta na pesquisa
de vazamentos não-visíveis
Edson Almeida Torre Paulo Sérgio Padilha U
A Sabesp Inova
m dos maiores desafios das companhias
de saneamento é a redução e o controle
das perdas nas redes de distribuição de água,
tanto as Perdas Reais quanto as Perdas Aparentes. Valores elevados de perdas significam má
gestão operacional e comercial do sistema de
abastecimento de água.
Os vazamentos na rede de distribuição
representam a maior parcela das Perdas Reais.
Para a companhia de saneamento, a existência
de vazamentos escoando pelas vias é fator de
degeneração de sua imagem perante a população, além dos aspectos associados ao aumento
de custos de produção de água tratada e à
exploração desnecessária de recursos naturais.
Os vazamentos podem ser decorrentes de
várias situações, tais como a má qualidade do
material empregado, má execução dos serviços de instalação e manutenção das redes, altas
pressões ou variações bruscas de pressão na
rede, idade da rede e tráfego intenso, gerando
esforços dinâmicos nas tubulações próximas à
superfície, não previstos nos projetos.
Os vazamentos podem ser caracterizados de
duas maneiras:
Visíveis: aqueles que afloram à superfície,
na grande maioria próximos ao local do afloramento, sendo facilmente identificados pela
população e equipes de manutenção.
Não-Visíveis: aqueles que não afloram
à superfície, dificultando a correção do problema pela companhia de saneamento. Além
do grande volume de água perdido, a existência desse ponto de fuga no tubo pode provocar graves acidentes nas estruturas ou vias de
tráfego devido à infiltração e, principalmente,
contaminação da água distribuída por agentes
nocivos, quando houver despressurização da
rede.
A simples busca de agilizar o estancamento
do vazamento visível é o que se chama de Controle Passivo dos Vazamentos que, se por um
lado melhora a imagem da companhia, por
outro lado deixa que os vazamentos não-visíveis continuem existindo durante um longo
período de tempo, perdendo, assim, uma quantidade enorme de água.
O Controle Ativo dos Vazamentos envolve a
pesquisa para a detecção dos vazamentos nãovisíveis na rede de distribuição. Para isso são
utilizados equipamentos acústicos, que detectam e apontam o local do vazamento. O procedimento básico exige a pesquisa (varredura
da região com haste de escuta), para a verificação dos pontos suspeitos de vazamentos e
o emprego de geofones ou correlacionadores
de ruídos, para indicar o local exato do vazamento.
Os equipamentos e métodos utilizados na
pesquisa de vazamentos têm sofrido desenvolvimentos contínuos, melhorando a qualidade
dos serviços de detecção e dos profissionais
envolvidos.
Nesse sentido, os Armazenadores de Ruídos
de vazamentos (ou “Loggers” de Ruídos) são
uma das maiores agregações de tecnologia
Engenheiro do Departamento de Planejamento Integrado da Superintendência de Planejamento e
Apoio da Distribuição da Sabesp. Engenheiro Civil (Univ.Mogi das Cruzes/77), Pós-Graduado em Eng.ª
Segurança do Trabalho (Fundacentro/83) e Hidráulica Aplicada (Fatec/90).
Engenheiro do Departamento de Planejamento Integrado da Superintendência de Planejamento e
Apoio da Distribuição da Sabesp. Engenheiro Civil (Univ. Paulista Objetivo/94).
Saneas / dezembro 2003 – 31
A Sabesp Inova
nesse tipo de serviço, com elevado potencial de
otimização geral dos trabalhos em campo e dos
resultados das pesquisas. De aplicação relativamente recente na Sabesp, já está sendo incorporada no dia-a-dia dos técnicos do setor e,
principalmente, evoluindo permanentemente
nos seus procedimentos e na exploração do seu
potencial tecnológico e operacional.
Este artigo procura retratar o conhecimento
atual na aplicação desses equipamentos, contribuindo para o registro e divulgação dessa
tecnologia, visando a melhoria contínua de sua
performance operacional e para a redução das
perdas nas redes de distribuição de água.
Os Armazenadores de Ruído registram dois
parâmetros distintos:
Intensidade: parâmetro que indica o pico do
ruído do vazamento, ou seja, se aquele ruído
apresentar um som de grande intensidade,
pode ser caracterizado como um ponto de
vazamento suspeito.
Dispersão: parâmetro que indica a amplitude
do ruído na rede, ou seja, a capacidade que o
som tem de se espalhar a partir de um ponto
de vazamento suspeito, sendo que valores de
baixa dispersão associados a valores de alta
intensidade indicam grande proximidade do
vazamento.
2. Conceitos
Os Armazenadores de Ruídos (A.R.s) são
equipamentos utilizados nos sistemas de distribuição de água para promover o monitoramento de ruídos, que podem ser provocados
por vazamentos. Esses equipamentos baseiamse na captação de ruídos, tal como na pesquisa
de vazamentos tradicional, na qual, através de
equipamentos acústicos, escutam-se os ruídos
transmitidos pelos vazamentos, que, de acordo
com a pressão da rede, diâmetro do orifício,
solo e material, se propagam com maior ou
menor intensidade.
Instalação do A.R.
leitura em campo
com U.R.
A.R.s
Vazamento
32 – Saneas / dezembro 2003
Após análise destes parâmetros o A.R.
armazenará as informações que serão transmitidas à Unidade Receptora (U.R.), através
de sinais de rádio, identificando no display, ou
por aviso sonoro, a existência de vazamento
ou não no trecho pesquisado. Alguns equipamentos permitem a visualização dos dados
diretamente na tela da U.R., porém essas
informações serão descarregadas em computadores ou laptops para geração de planilhas
e gráficos.
Geralmente os A.R.s atuam no período
noturno, das 2h às 4h, horário em que as vazões
e os consumos são menores e, conseqüentemente,
as pressões são maiores. A
programação da leitura dos
dados pode ser feita e alterada em vários intervalos,
permitindo que a probabilidade de detecção de um
vazamento existente tornese maior e mais eficaz.
Quanto mais curto o
tempo entre a programação
dos A.R.s e o recebimento
dos sinais de ruídos registrados, mais precisos serão
os resultados. Os A.R.s
podem armazenar medidas
de amplitude de até 10 dias
e valores de vazamentos de
até 180 dias, sem qualquer
perda de dados.
Alguns modelos, ainda,
podem efetuar a correlação
do trecho indicando o local
do vazamento ou possibili-
A Sabesp Inova
tar ao operador ouvir o ruído do vazamento
por meio de fones de ouvido, ou efetuar remotamente mudanças nos parâmetros dos A.R.s.
A partir dos dados obtidos nos A.R.s, dá
para programar as atividades das equipes de
detecção de vazamentos, que só irão atuar nos
trechos onde os A.R.s indicarem o surgimento/
ocorrência/suspeita de vazamentos, otimizando os trabalhos em campo.
3. Tipos de Equipamentos
Dentre os equipamentos existentes no
mercado, a Sabesp utiliza os modelos Permalog e o Zonescan, que se destacam pela
facilidade de operação e objetividade dos
resultados obtidos em campo. Com o Zonescan é permitida a realização da correlação
dos dados obtidos em campo, a fim de se
localizar o vazamento.
Tipo ZONESCAN
(permite a correlação do vazamento)
Tipo PERMALOG
(não permite a correlação do
vazamento)
Maleta de transporte do microcomputador
Microcomputador (Laptop)
Antena de longo alcance
Caixa metálica para fixação e segurança dos A.R.s
Armazenador de Ruídos (A.R.)
Unidade Receptora (U.R.)
Maleta para transporte da U.R.
Antena de longo alcance
Cabo principal de alimentação
Unidade Receptora (U.R.)
Alça de transporte da U.R.
Cabo de dados
Cabo de alimentação de uso no veículo
Armazenador de Ruídos (A.R.)
Saneas / dezembro 2003 – 33
A Sabesp Inova
4. Procedimento de Operação
4.1. Pré-Definição dos Pontos
de Instalação do A.R.
A pré-definição dos pontos deverá ser realizada mediante escolha da área de instalação
através das seguintes informações:
• Realização de pré-estudo das perdas reais
em áreas delimitadas e estanques;
• Utilização do método Fator de Pesquisa
medido em Distritos Pitométricos, ou em
áreas de influência de VRPs e boosters, através do método das vazões mínimas noturnas;
• Buscar os históricos operacionais das áreas
de influência de boosters, os locais com alta
pressão, elevada idade de rede e com alto
índice de vazamentos.
Definida a área de instalação do A.R., o
próximo passo deverá ser a solicitação das
cópias das plantas cadastrais referentes à área
em estudo para montagem das plantas de trabalho, pré-definição dos pontos de instalação
dos A.R.s, estimativa da quantidade necessária,
de acordo com as características do material
da rede de distribuição, e a identificação em
planta dos A.R.s a serem instalados no campo.
A distância entre os pontos a serem instalados será definida de acordo com o tipo de
material existente na rede:
A.R. (Zonescan) instalado em registro
34 – Saneas / dezembro 2003
• Em redes de material plástico (PVC e PE) os
A.R.s devem ser instalados a cada 50 metros,
aproximadamente;
• Em redes de outros materiais (cimento
amianto, ferro fundido ou aço) os A.R.s
devem ser instalados a cada 100 metros,
aproximadamente;
• Em redes mistas (vários tipos de materiais)
ou sem informação do tipo de material existente em campo, os A.R.s devem ser instalados a cada 50 metros, aproximadamente.
4.2. Instalação dos A.R.s em Campo
A instalação dos A.R.s deverá ser realizada
mediante o registro e o preenchimento do
relatório com as informações referentes ao
número de sé rie dos A.R.s, endereço e número
do imóvel, data da instalação e da retirada para
o controle dos aparelhos.
Visando garantir a máxima eficiência dos
equipamentos a instalação dos A.R.s deve ser
realizada, preferencialmente, em registros de
parada e, opcionalmente, em cavaletes, hidrantes e rede de abastecimento, obedecendo a
distância máxima entre as A.R.s citadas anteriormente.
Deve ser instalado um dispositivo de segurança nos A.R.s, através de cabo de aço ou
caixa protetora, evitando-se roubos e danos ao
equipamento.
Os A.R.s devem ficar instalados, no mínimo,
por um período de três dias, antes de se efetuar
A.R. (Permalog) em cavalete
A Sabesp Inova
a primeira leitura comparativa de ruídos e verificar a indicação de possíveis vazamentos. Neste
caso, deverá ser dada continuidade aos serviços
de varredura da rede até que não haja mais indicação de vazamentos na área em estudo.
Importante:
Para se evitar a falsa indicação de ruídos,
os A.R.s não devem ser instalados:
• Próximos a Válvulas Redutoras de
Pressão (V.R.P.s), Boosters, grandes reduções de rede, casas noturnas, linhas de alta tensão, geradores,
motores elétricos, transformadores de
energia, máquinas que emitam ruídos
constantes, entre outros, devido a falsa
indicação de ruídos de vazamentos
produzido por esses equipamentos;
• Em grandes consumidores tais como
prédios, fábricas, etc, devido a falsa
indicação de vazamentos.
4.3. Leitura com Unidade Receptora - U.R.
Após a instalação dos A.R.s nos locais prédeterminados, as leituras (armazenamento
de dados) são feitas de madrugada, ficando a
cargo do técnico ou do operador a extração das
informações com a U.R. para verificar a existência ou não de vazamentos.
A coleta de dados é feita através da transmissão de ondas de rádio que acusam condições de
vazamento (Leak) ou não-vazamento (No Leak).
Em alguns aparelhos de A.R. pode-se obter a leitura de pontos com características de vazamentos
suspeitos, que são identificados na U.R. através de
letras, símbolos ou avisos sonoros.
No escritório, os dados coletados em campo
deverão ser descarregados no computador através
de programa específico, de modo que os dados
obtidos pelos A.R.s que apresentarem níveis de
dispersão (amplitude) menores e intensidades
maiores (picos de ruídos) sejam selecionados
como possíveis pontos de vazamentos.
A posterior execução da Pesquisa e Detecção
de Vazamentos deverá ser realizada de acordo
com o procedimento ABENDE-PR-051, que
trata dos profissionais certificados em pesquisa
e detecção de vazamentos não-visíveis em redes
pressurizadas.
Importante:
A demora ou a não execução dos serviços
de reparo do vazamento detectado pelo
A.R. traz uma série de transtornos:
• Contribui com o aumento do índice
de perdas;
• Interrompe a seqüência dos trabalhos
de coleta e análise de dados dos ARs;
• Desmotiva as equipes de pesquisa e
detecção de vazamentos não-visíveis;
• Interrompe a coleta de dados e localização de novos vazamentos;
Os serviços de reparo devem ser executados imediatamente após a identificação dos
vazamentos de forma que os A.R. possam
prosseguir apontando a existência de novos
vazamentos na área.
Nem toda indicação do A.R. significa vazamento, podem existir casos em que agentes
externos falseiam os resultados; portanto,
quando for detectado um A.R. com suspeita
de vazamento espera-se que essa informação
também seja identificada por outros A.R.s
próximos, caso contrário, pode significar que o
aparelho, que está acusando o vazamento, pode
estar sofrendo interferência local. Tal suspeita
é confirmada pelo método de pesquisa convencional que inclui o uso dos equipamentos
acústicos de pesquisa e detecção de vazamentos não-visíveis – ABENDE PR-051.
Os A.R.s não devem ser retirados até a conclusão dos serviços de reparo, devendo permanecer nos locais pré-determinados até a
formação de um histórico de dados coletados,
para que seja possível mapear e conhecer a área
analisada.
4.3.1. Cronograma de Trabalho dos A.R.s
O cronograma de trabalho que define as
etapas de aplicação do A.R. foi desenvolvido
com a finalidade de otimizar as atividades e
padronizar a seqüência dos trabalhos. A equipe
mínima necessária para a execução dos trabalhos deve ser de dois profissionais de pesquisa e
detecção de vazamentos não-visíveis com Certificação ABENDE (Associação Brasileira de
Ensaios Não-Destrutivos).
Saneas / dezembro 2003 – 35
A Sabesp Inova
Gráfico 1
A.R. instalados
1ª Coleta com a
U.R. em toda a
área A.R.
+
Análise dos dados
com os trechos
suspeitos
1ª Varredura
(pesquisa e
detecção de
vazamentos)
+
2ª coleta com
U.R. em toda
área
Reparo do
vazamento
3ª coleta com
a U.R. em toda
a área
+
Análise dos
dados com os
novos trechos
suspeitos
“N”´varreduras
(pesquisa e
detecção de
vazamentos)
+
“N”coletas com
a U.R em toda
área.
A.R.
armazenando
dados
FIM
1º dia 2º dia
3º dia
4º dia
5º dia
6º dia
“N” dias
“N”ciclos até zerar os vazamentos da área
Importante:
• Todas as etapas do Cronograma de
Trabalho dos A.R.s são seqüenciais,
portanto, caso alguma não seja realizada, todas as atividades posteriores
estarão comprometidas.
5. RESULTADOS PRELIMINARES
GERADOS PELA SABESP
A seguir serão apresentados alguns resultados obtidos com o uso dos A.R.s nas Unidades
de Negócios da RMSP.
5.1 Área da Unidade de Negócio Centro
• Dados:
– Extensão total da área => 4km
– Equipe: dois profissionais
Gráfico 2 – Avaliação da utilização dos A.R.s
15
20
• 1ª Etapa com pesquisa convencional sem A.R.s
– Total de vazamentos encontrados e reparados => 15 (quinze) vazamentos
• 2ª Etapa com pesquisa convencional com A.R.s
– Instalação de 40 A.R.s;
– Total de vazamentos encontrados e reparados na 1ª leitura => 6 (seis) vazamentos;
– Extensão de pesquisa => 2km;
– Total de vazamentos encontrados e reparados na 2ª leitura => 1 (um) vazamento;
– Extensão de pesquisa => 500m;
– Total de vazamentos encontrados e reparados na 3ª leitura => 0 (zero) vazamento;
– Extensão de pesquisa => 0m;
– Diminuição da extensão a ser pesquisada
em torno de 50 a 80% da extensão total da
área de atuação dos A.R.s.
5.2 Área da Unidade de Negócio Norte
5.2.1 Área 1 – Atividade de pesquisa convencional com A.R.s
• Dados: 12 A.R.s instalados em uma pequena
área;
18
Vazamentos locados
16
14
6
12
10
1
8
6
4
0
• Principais Resultados:
– Identificado o vazamento de 100 mm
(rede) que estava sendo encoberto por um
vazamento de ramal;
– A primeira varredura com os A.R.s fora
detectados vazamentos de baixa vazão;
2
0
1ª leitura 2ª leitura
Pesquisa sem A.R.s
36 – Saneas / dezembro 2003
3ª leitura
Pesquisa com A.R.s
5.2.2 Área 2
Atividade de pesquisa convencional com A.R.s
A Sabesp Inova
Gráfico 3 – Avaliação da utilização dos A.R.s
50
mont
45
40
3
(m /h)
35
29 m³/h
30
25
jus
20
mín. not*
15
16 m³/h
10
5
0
20/02
14/03
• Dados:
– Extensão de rede de F.º F.º : 9,3km;
– Vazão mínima noturna de 29 m³/h;
– 186 A.R.s instalados;
• Principais Resultados:
– Total de vazamentos não-visíveis reparados => 50 vazamentos entre redes e ramais;
– Total de vazamentos consertados por km
de rede => 5,4;
– Vazamentos consertados por km de rede
varrido => 3,8;
– Vazão mínima noturna recuperada (média
entre 2 e 4h) => 13 m³/h;
– Recuperação de pressão no ponto crítico
de 5mca;
O gráfico 3 demonstra a diminuição da
vazão mínima noturna de 29m³/h para 16m³/h
com a utilização do A.R.
5.2.3 Área 3
Atividade de pesquisa convencional com A.R.s
• Dados:
– Extensão de rede: 23,8 km;
– N.º de A.R.s: 232 A.R.s instalados;
• Principais Resultados:
– Total de vazamentos não-visíveis confirmados => 83 vazamentos em 3 varreduras
executadas;
6. Vantagens e Benefícios
A utilização dos A.R.s garante alguns aspectos positivos, como segue:
04/04
15/04
29/04
07/05
– Diminuição de 50 a 80% da extensão total
da área na pesquisa convencional (geofonamento);
– Indicação de novos vazamentos com o A.R.
(10dB a 40dB) não detectados pela pesquisa
convencional (40dB a 100dB);
– Diminuição da vazão mínima noturna de 3 a
5% em comparação à pesquisa convencional;
– Otimização do tempo de trabalho para que
a equipe de detecção possa estar envolvida
em outros projetos;
– Eliminação total da quantidade dos vazamentos da área monitorada;
– Motivação da equipe envolvida com os trabalhos.
7. Conclusão
A tecnologia apresentada neste artigo é utilizada em alguns países, sendo muito recente
no Brasil e aplicada pioneiramente na Sabesp,
agregando grandes valores aos serviços de
detecção de vazamentos não-visíveis, permitindo atuar com eficácia em campo, aumentar
a produtividade e obter bons resultados na área
de pesquisa e detecção.
8. Bibliografia
Tardelli, Jairo Filho; Torre, Edson Almeida;
Padilha, Paulo Sérgio; Manual de Operação de
Armazenador de Ruídos, desenvolvido pelo
Departamento de Planejamento Integrado
– MPI. Intranet Sabesp / novembro de 2003.
Saneas / dezembro 2003 – 37
P&D
ENTREVISTA
O saneamento lado a lado
com o meio ambiente
Para o engenheiro Hugo Marques da Rosa, saneamento e meio ambiente
andam de mãos dadas, numa relação de intrínseca dependência
F
Entrevista
ormado em engenharia
de produção pela Escola
Politécnica, da Universidade
de São Paulo, o engenheiro
de produção Hugo Marques
da Rosa fala, com experiência,
das engrenagens que mantém
o setor de saneamento no
Estado. Diretor presidente da
Método Engenharia, Hugo
Marques da Rosa deixou sua
empresa de lado, por alguns
anos, para se dedicar ao
cargo de secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e
Obras do Estado de São Paulo,
de janeiro de 1995 a novembro de 1998, durante a gestão do governador
Mário Covas. Atualmente, o engenheiro é
também vice-presidente do Conselho do Greenpeace Brasil e membro do Conselho Curador
da Fundação Mario Covas. O período no setor
público lhe rendeu experiências valorosas, que
ele conta nesta entrevista.
Quais as questões que envolvem o saneamento e o meio ambiente?
Há uma profunda inter relação entre recursos
hídricos e meio ambiente. De um lado, os serviços de saneamento dependem dos suprimentos
de água bruta e de boa qualidade, da preservação e da qualidade das áreas de mananciais. E
a qualidade das águas de mananciais tem a ver
com tudo que acontece na bacia hidrográfica. Os
corpos d’água, os rios, os reservatórios acabam
sofrendo tudo o que acontece dentro do território da bacia: obras, o lixo da cidade. O serviço de
saneamento no início do seu ciclo – na captação
- depende de água de boa qualidade. Por outro
lado, essa água depois de distribuída e utilizada
pela população e captada pelo esgoto, retorna ao
meio ambiente. E é importante que retorne em
condições adequadas. O saneamento precisa da
preservação do meio ambiente como pode ser
um agente poluidor se o processo não for feito
38 – Saneas / dezembro 2003
de forma adequada. Acho fundamentalmente,
que a legislação ambiental está correta. Não vejo
problemas nisso. A questão é como se aplica a
legislação. E aí o que ocorre é quando se parte
de uma situação aonde, aqui no Brasil, na maior
parte das regiões, até algum tempo atrás, havia
muito pouca coleta de esgoto e muito menos
ainda era tratado, estava numa situação de franca
agressão ao meio ambiente. E que vinha, inclusive, do próprio setor de saneamento. Haviam
municípios que jogavam esgoto in natura nos
corpos d’água de outros municípios, que captavam essa água rio acima. O desejável é que todos
os esgotos sejam tratados e que a qualidade do
tratamento seja feita de forma adequada e de
maneira que a qualidade do que seja jogado no
corpo d’água seja compatível. A questão é que
isso não se faz espontaneamente. Isso demanda
tempo e recurso. Isso tem que ser entendido no
tempo. Ao partirmos de uma situação irregular,
aquilo não se torna regular espontaneamente.
Demanda um tempo para ser realizado. Tem
que acordar o que é razoável em matéria de
tempo. Quando eu estava na secretaria de recursos hídricos, a nossa preocupação fundamental
era o ser humano. E isso se traduz em ter água
potável. A nossa primeira prioridade em termos
de saneamento foi a universalização do abastecimento de água. Mesmo porque a grande parte
das doenças no Brasil, ainda hoje, são doenças
de veiculação hídrica. A universalização da distribuição de água potável está ligada à redução
dos índices de mortalidade infantil. Porque a
criança é a ponta mais indefesa dessa situação. A
segunda prioridade foi o afastamento do esgoto.
Se o esgoto causa problema ao ser lançado sem
tratamento no rio, ele causa muito mais dano
quando corre em céu aberto numa rua, onde
pessoas e crianças transitam. A segunda prioridade foi então a coleta e o afastamento do
esgoto. E, a terceira, o tratamento deste esgoto.
Do ponto de vista técnico não dá pra ser diferente: os investimentos têm de ser feitos nesta
ordem, de universalização, afastamento e tratamento do esgoto.
Entrevista
O que observei neste período recente é que
houve um enorme avanço do Estado de São
Paulo nestes três itens. Hoje, nos municípios
que são atendidos pela Sabesp, esses itens já são
uma realidade – salvo aqueles que estão em situação irregular. O que precisa de maneira geral
é interligar os sistemas coletores a estações de
tratamentos. Avançou-se muito, mas ainda há
um caminho a ser feito. E, de outro lado, aí sim,
é uma coisa que devíamos questionar, estão as
limitações que existem de acesso à capacidade
de investimento dos serviços de saneamento,
tanto dos municípios quanto da própria Sabesp.
De um lado há uma obrigação legal de coleta e
tratamento de esgoto, de universalizar o serviço
de abastecimento de água e, de outro lado, há
limitações para a capacidade de endividamento
do setor público, por conta dos famosos acordos
do FMI (Fundo Monetário Internacional). Isso
emperra as empresas estatais de investir, mesmo
que existam condições técnicas para isso.
As leis ambientais seriam muito rígidas?
Não acredito nisso. O que acontece é mesmo
a falta de investimento. Hoje, no Estado de São
Paulo, a capacidade de endividamento existe no
seu conjunto: o endividamento da CESP afeta
a capacidade de endividamento da Sabesp.
Existe uma amarração neste aspecto no setor
público que acaba afetando o setor de saneamento e, de quebra, a ambiental. A lei impõe
obrigações de um lado e, de outro, existem
restrições que impedem que aquilo seja atendido. E muitas vezes quem está no meio desta
situação é o administrador público ou o engenheiro da Sabesp, obrigado a cumprir uma lei
ambiental, mas sem recursos para investir. Isso
limita a capacidade de ação.
Quais são os grandes desafios no setor do
saneamento?
O grande desafio, no Brasil, ainda é avançar
na questão institucional. Avançamos no ponto
de vista técnico, mas paramos no aspecto institucional. É uma discussão tão complicada
quanto a reforma da previdência e a tributária.
Mas precisa ter uma definição. Precisamos avançar com a questão do marco regulatório – quem
é o poder concedente –, ter uma definição clara
federal, que envolve, eventualmente, lei complementar, emenda constitucional. E depois temos
que evoluir também na questão dos entes reguladores – criado no setor elétrico e de telecomunicações, por exemplo. O saneamento continua
a mercê, não está submetido a nenhuma regu-
lação. Ou fica ao arbítrio político ou atendendo
aos interesses corporativos. A grande questão – e
a primeira — é a institucional. E este é um processo de aprendizado, de aquisição de conhecimento, que pode demorar décadas.
Como o senhor vê a parceria entre público e
privado?
É fundamental. Hoje temos que pensar
sempre em integrar os três setores: público,
privado e o terceiro setor. E essa integração tem
que acontecer sempre. Ao conseguir fazer parcerias, a ação se torna mais eficaz.
O que a experiência no setor público agregou
para o seu atual trabalho no setor privado?
Fundei minha primeira empresa nos tempos
da faculdade e sempre trabalhei na minha própria empresa. Eu nunca tinha tido a experiência de trabalhar numa outra organização. No
governo do Estado, pude ter a experiência de
atuar numa organização diferente na minha
própria organização. A complexidade dentro do
governo é muito maior. Assim como o número
de atores. E tudo o que se faz tem que ser negociado: com a comunidade, com as corporações,
com o setor público, a área política do governo.
Você está sempre muito exposto. O processo
de tomada de decisão é muito mais complexo.
Quando tomo uma decisão na minha empresa,
divido apenas com meu sócio ou acionistas da
empresa, que tem interesses mais alinhados.
É mais fácil. No setor público, os interesse,
muitas vezes, são conflitantes. E o processo é
de acordos, de costura de grandes acordos, de
negociação. Isso faz com que se aprenda a trabalhar numa situação em que você nunca pode
impor, mas, sim, ouvir muito e negociar muito.
A outra coisa é que sempre no setor público,
obviamente, é preciso ter em vista o interesse
público. A Sabesp leva em conta o acionista,
o governo, mas, principalmente, a população.
E aí a questão da responsabilidade social fica
muito mais forte.
O que é responsabilidade social para o empresariado?
No passado, quando se falava em responsabilidade social, era sempre a empresa patrocinando algo. Como doar uma creche, a reforma
de uma praça. Estava muito ligado ao dar. Hoje
quando a gente faz alguma coisa, procuramos
envolver a todos: clientes, colaboradores internos. Tem que ser realmente uma ação estratégica da empresa e não apenas filantropia.
Saneas / dezembro 2003 – 39
EMPREENDIMENTO & GESTÃO
Conferência das cidades
José Aurélio Boranga Empreendimento & Gestão
A
Conferência das Cidades tem o objetivo
de formular democraticamente diretrizes
para a política nacional de desenvolvimento
urbano, de forma a promover a inclusão social
e assegurar um ambiente com qualidade, onde
haja saúde, liberdade e segurança . Trata-se de
um processo muito importante, uma vez que
debate as principais questões do saneamento
e do meio ambiente (entre outras questões,
como habitação, mobilidade urbana etc) nas
esferas municipal, estadual e nacional, através
da participação de membros eleitos no Conselho Nacional das Cidades.
No Estado de São Paulo, coube à Secretaria
de Economia e Planejamento do Governo do
Estado a coordenação, num processo participativo que elegeu 222 delegados para Conferência Nacional, ocorrida entre os dias 23 e
26 de outubro de 2003, com a participação de
2.500 delegados de todo o Brasil.
Devemos destacar que, no caso do Estado
de São Paulo, graças a Comissão Preparatória
Estadual, houve um trabalho exemplar de interação entre o Poder Público, ONG`s, entidades
de pesquisa, sindicatos, empresários, concessionárias de serviços públicos, movimentos
sociais e populares.
A Sabesp mostrou seu poder de mobilização
e articulação, conseguindo levar representantes
para todas as vagas, e o resultado disto é uma
maior representação do setor de saneamento,
possibilitando a discussão e a articulação junto
a outros setores na defesa da tese do saneamento com gestão pública.
A importância da Conferência das Cidades
para o Saneamento é a oportunidade que temos
de traçar diretrizes e iniciar um processo que
venha efetivar, de forma séria e responsável, o
acesso ao abastecimento de água e esgotamento
sanitário a todos os brasileiros, promovendo a
universalização do saneamento.
É a chance que temos de apontar soluções
mais abrangentes para temas como, por exemplo, o tratamento da gestão de resíduos e drenagem urbana, priorizando o atendimento às
famílias de baixa renda e as comunidades localizadas em pequenas cidades e regiões rurais.
Neste sentido a participação da Sabesp é fundamental, trazendo a experiência e o conhecimento de um modelo de gestão que deu certo.
A utilização de instrumentos de inclusão
social como o subsídio cruzado, modelos de
gestão participativa, processos de qualidade,
entre outros, estarão sendo disponibilizados
para todas as outras Companhias de Saneamento, trazendo uma grande contribuição
para que, um dia, todos os brasileiros possam
ter assegurado o seu direito ao saneamento
ambiental e ao abastecimento de água com
qualidade.
Nota da Redação:
Por deliberação da 1ª Conferência
Nacional das Cidades foi composto o
Conselho Nacional das Cidades com 70
titulares e 70 suplentes representantes
do: Poder Público Federal, Estadual e
Municipal (30); Movimentos Populares
(19); Empresários (7); Trabalhadores (7);
Entidades Profissionais, Acadêmicas e
Pesquisa (4); ONG (3).
A Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental do Ministério da Cidades e a
ABES são as entidades, diretamente ligadas ao setor do saneamento, que participam desse conselho.
Informações sobre a Conferência das
Cidades podem ser obtidas no endereço:
http://www.cidades.gov.br/
Administrador de Empresas, Superintendente da Unidade de Negócio Alto Paranapanema, Ex-Pre-
sidente da ABES/SP, Conselheiro da ABES/SP, Conselheiro da APU, Conselheiro do CONESAN (Conselho
Estadual de Saneamento) e Conselheiro do CRH (Conselho de Recursos Hídricos SP).
40 – Saneas / dezembro 2003
HISTÓRIA DO SANEAMENTO
Água subterrânea em
São José dos Campos
História do Saneamento
Celso Atienza Jorge Luiz Monteiro Mario Pero Tinoco Mauricio Rocha Junior Sonda percursora utilizada para perfuração de poço tubular profundo em Lorena em 1974.
A
água tem sido, ao longo dos séculos, elemento de destaque, estudos e de fundamental importância para a sobrevivência dos
povos desde a criação do mundo. Pela sua
importância, a própria Bíblia registra este
assunto mais de 70 vezes. Através da água, o
relevo da Terra foi se amoldando, nas suas diferentes épocas. Moisés, grande figura bíblica, utilizou a separação das águas para salvar o povo
judeu da perseguição e escravidão egípcia. No
deserto, os oásis são fonte de água para dessedentar peregrinos e viajantes. As bacias hidrográficas dos rios mais antigos do mundo, como
o rio Amarelo, na China, Hindo, no Paquistão,
Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia, e rio Nilo,
no Egito, são muito conhecidas e há milênios
exercem grande influência na formação da
civilização humana moderna (Rocha, 1997).
As comunidades, desde as antigas aldeias e, até
hoje, as grandes cidades, têm sido construídas
e cresceram a margem de rios e lagos. Ao longo
dos séculos, a água tem ocasionado lutas entre
povos. Sua escassez, nas próximas décadas, em
muitos lugares do mundo a tornará um bem de
custo altíssimo e, com certeza, motivo de discórdia e guerras entre nações.
Engenheiro Civil, Univ. de Mogi das Cruzes, 1974. Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho, Univ. Santa Cecília/SP, 1975. Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2001/2003
Engenheiro Civil, UNITAU, 1985. Pós-Graduação em Estruturas e Mecânica dos Sólidos, ITA –Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, 1986/1987. Pós-Graduação em Engenharia Sanitária, UNITAU, 1996
Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004
Engenheiro Mecânico, UNESP/Guaratinguetá, 1970. Engenheiro Civil, UNIVAP, 1974. Pós-Graduação
em Engenharia Sanitária, UNITAU, 1996. Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004
Engenheiro Agrônomo – Universidade Federal de Lavras/MG – 1998
Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004
Saneas / dezembro 2003 – 41
História do Saneamento
Perfuração do
poço Jardim
Morumbi em
São José dos
Campos em
1976
Mas, se nos atentarmos para qual é o papel
da água ao longo dos períodos na civilização
humana, vamos concluir que além de elemento vital para cada um de nós, a água é
instrumento de saúde pública, de integração
de povos, de demarcação de limites geográficos, fator de controle climático, instrumento
de lazer, e, principalmente, representação do
índice de cultura e desenvolvimento dos povos.
Dentro desse panorama e considerando que a
água subterrânea tem papel importante como
fonte de abastecimento das comunidades,
o propósito deste projeto é mostrar o incremento da utilização da água subterrânea em
São José dos Campos (SP) e as prováveis alterações havidas em seus parâmetros indicativos
(profundidades, níveis, vazões, etc.). Paralelamente a esses estudos, trabalhamos também
com a interferência dos ruídos na utilização
dos equipamentos de perfuração, ao longo da
história. Inicialmente com as máquinas movidas a vapor, posteriormente com as acionadas
a gasolina e a eletricidade e, modernamente,
com as movidas a diesel.
O Vale do Paraíba, tradicionalmente uma
região de origem agrícola, sempre teve na
captação superficial sua principal fonte de
abastecimento. No entanto, com o desenvolvimento urbano dos últimos quarenta anos, a
maioria das indústrias e algumas cidades paulistas, como São José dos Campos, Caçapava e
Lorena, iniciaram uma diversificação na forma
de obtenção de mananciais de abastecimento
42 – Saneas / dezembro 2003
e, atualmente, são fortemente abastecidas por
águas oriundas do subsolo e com excelente
potencial (Frangipani e Pannuti, 1965).
São José dos Campos, hoje, tem cerca de
40% de seu abastecimento público proveniente
de poços profundos, quase todos instalados
em bairros distantes do centro da cidade formando Sistemas Isolados (Tinoco, M.P., et al,
1993). Também a maioria das indústrias são
totalmente abastecidas por poços profundos
(DAEE, 1977).
História e Características
de São José dos Campos
É sempre difícil estabelecer datas e locais
para as origens das cidades brasileiras, principalmente as que remontam as primeiras
investidas dos Jesuítas e dos Bandeirantes.
Normalmente foram estabelecidas a partir de
núcleos indígenas locais. É o que supostamente
aconteceu com São José dos Campos. De acordo
com a “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros” (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, volume XXX, 1958) páginas 192
e seguintes, “a povoação teve o seu começo na
segunda metade do século XVI, por um aldeamento de parte da tribo de índios guaianases, emigrados de Piratininga, sendo fundada
no alto do Rio Comprido, à distância de dez
quilômetros da atual cidade, pelo Padre José de
Anchieta, sendo esse lugar, até hoje, conhecido
História do Saneamento
com a denominação de “Vila Velha”. Em cartas
escritas pelo Padre Anchieta, ele relata o aparecimento em 1563 de um núcleo indígena que
se denominava “Aldeia do Rio Comprido” (Agê
Júnior, 1978). Por volta de 1590, o território
onde hoje está localizada a divisa entre as cidades de São José dos Campos e Jacareí, às margens do Rio Comprido, era ocupado por uma
fazenda de pecuária, criada, a partir da concessão de Sesmarias, a pedido dos Padres Jesuítas.
A propriedade era um artifício dos Padres para
ocultar dos bandeirantes uma Missão Catequética que, somente em setembro de 1611, foi oficializada pela legislação. Esse reconhecimento
da missão desagradou aos colonos, que necessitavam da mão de obra indígena. O resultado
do conflito entre colonos e religiosos culminou
com a expulsão dos jesuítas em 1640 e a conseqüente extinção da missão.
Alguns anos mais tarde, os religiosos reapareceram no Vale do Paraíba, em nova Sesmaria, distante cerca de cinco quilômetros da
antiga aldeia, onde hoje se encontra o centro
comercial de São José dos Campos (atual Igreja
e Praça da Matriz). Do novo local tinha-se uma
visão privilegiada da área, o que garantia maior
segurança contra invasões e enchentes.
Em meados do século XIX, a então Vila de
São José do Parahyba já demonstrava alguns
sinais de crescimento econômico e com o
desenvolvimento da agricultura, em 1864,
foi elevada a cidade. O nome de São José dos
Campos só foi adotado em 1871. No final do
século XIX, a cidade passou a ser procurada
por doentes do pulmão por seu clima favorável. Por volta de 1940, o lugar é quase uma
cidade-sanatório. A descoberta da penicilina
revolucionou o tratamento da tuberculose e,
a partir de 1955, a cidade voltou a crescer, já
começando a aparecer as primeiras indústrias
de porte. Curiosamente, por volta de 1935, a
cidade foi Estância Hidromineral e Climática.
Na década de 70, por conveniência política,
voltou a ser Estância Hidromineral, com a
implantação forjada de uma fonte milagrosa
de água e depois de reconquistada a emancipação política, perdeu a categoria de Estância. A
fonte voltou a ser comum e até hoje é conhecida
como Fonte Canidu. Quanto ao abastecimento
público de água da cidade, data de 1941. Os primeiros estudos foram realizados entre 1938 e
1939, com previsão de atendimento para vinte
anos (Tinoco, M.P., et al., 1990). Com uma
localização estratégica e privilegiada, São José
dos Campos está no centro do Vale do Paraíba,
região sudeste do Estado de São Paulo, entre as
duas mais importantes capitais do Brasil: São
Paulo e Rio de Janeiro.
São José dos Campos tem uma área de cerca
de 1.102,20 km², sendo que 60% destes estão
localizados em Área de Proteção Ambiental e,
por estar situada entre as serras do Mar e da
Mantiqueira, permite que apresente um clima
bastante agradável durante o ano inteiro. A
cidade é formada por três distritos: a sede principal, Eugênio de Melo e, ao norte, São Francisco Xavier.
Bacia Hidrográfica
do Rio Paraíba do Sul
A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
se estende por territórios pertencentes a três
Estados da Região Sudeste, numa área de drenagem total de 57 mil km²: São Paulo (13.605
km²), Rio de Janeiro (22.600 km²) e Minas
Gerais (20.500 km²). O Rio Paraíba do Sul é
formado pela confluência dos rios Paraitinga
e Paraibuna, no Estado de São Paulo. Da Serra
da Bocaína, nos municípios de Areias e São
José do Barreiro, a 1.800 m de altitude, desce o
rio Paraitinga rumo a sudoeste em vale estreito
e encaixado entre a serra do Mar e seus contrafortes (Serras da Bocaína, Quebra-Cangalha e Jambeiro). Num vale proximamente
paralelo ao primeiro, a partir do município de
São Luiz do Paraitinga, desce o rio Paraibuna.
Eles se encontram próximos a cidade de Paraibuna, e de sua junção nasce o Rio Paraíba do
Sul. Após, o rio continua em direção ao Oeste,
até as proximidades da cidade de Guararema,
onde é barrado pela Serra da Mantiqueira, no
chamado “Cotovelo” de Guararema (Teixeira
et al, 2001) que o obriga a inverter completamente o rumo de seu curso, passando a correr
para Nordeste, depois, para Leste, indo desaguar no Oceano Atlântico, em Atafona, distrito
de São João da Barra (RJ). No trecho paulista
da bacia, seus principais afluentes são os Rios
Jaguari, Una, Buquira, Embaú, Piquete, Bocaína e Pitangueiras/Itagaçaba.
Em São Paulo, a bacia é constituída por 34
municípios pertencentes a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dentre esses
municípios, São José dos Campos é um dos
mais importantes e recebe diretamente a interferência e influência da bacia, através do rio
Paraíba, dos reservatórios de Santa Branca e
Paraibuna/Paraitinga, bem como de seus prinSaneas / dezembro 2003 – 43
História do Saneamento
sas profundidades e retiradas através de poços.
Algumas das mais remotas referências à água
subterrânea são registradas na Bíblia.
Embora existam várias teorias a respeito da
ocorrência das águas subterrâneas, o conceito
geral é o de que tudo se inicia com o ciclo da
água na terra, ou Ciclo Hidrológico. É a contínua circulação da umidade e da água em
nosso planeta. Não tem início nem fim, mas
começa com as águas dos oceanos, uma vez
que cobrem cerca de 3/4 da superfície terrestre.
É uma equação simples e lógica, ou seja, evaporação, precipitação, escoamento superficial,
infiltração e evaporação. Os agentes principais
nesse processo são a irradiação solar, a gravidade, a atração molecular e a capilaridade.
Reservatáorio
do poço
tecelagem
Paraíba em
São José dos
Campos.
cipais afluentes, destacando-se os rios Jaguari
e Buquira.
São José dos Campos está inserido na Bacia
Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e sua participação ativa desde a implantação do Comitê
das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul
(CBH/PS), bem como sua contribuição para o
pleno desenvolvimento do Comitê já está começando a se fazer sentir na preservação de seus
recursos hídricos, permitindo no futuro o uso
racional da água, principalmente nesta região.
O aumento nos índices de coleta de esgotos,
a Estação de Tratamento de Esgotos do Lavapés, as canalizações que compõem o emissário
do Córrego Senhorinha, o emissário do Vidoca
(a ser contratado brevemente), e a reversão
das bacias para atingir cerca de 90% do tratamento de esgotos da cidade são frutos diretos
da atuação do município no referido Comitê
e a preocupação permanente com a qualidade
da Bacia.
Água Subterrânea
Origens e ocorrência
As águas subterrâneas correspondem a 97%
de toda a água doce encontrada no planeta
(excetuando-se as geleiras e calotas polares).
As reservas subterrâneas geralmente são formadas e realimentadas pelas águas de chuvas,
neblinas, neves e geadas, que fluem, vão sendo
absorvidas e filtradas pela areia e pelas rochas,
que funcionam como peneiras. Lentamente as
águas vão descendo e se acumulando, formando
reservatórios naturais como se fossem lagos. As
águas subterrâneas são encontradas em diver-
44 – Saneas / dezembro 2003
Equipamentos de perfuração
de poços – Histórico, Desenvolvimento
e Melhoria Acústica
Os primeiros vestígios da utilização das
águas subterrâneas datam de 12 mil anos antes
de Cristo e acredita-se que os chineses foram
os primeiros a dominar a técnica de perfurar
poços (Sabesp, 2002). Os antigos persas construíram túneis e poços para atingir lençóis
aqüíferos. Os chineses estavam bastante familiarizados com métodos de perfuração que lhes
permitiam obter água do subsolo, e consta que
foram os primeiros a usar o método da percussão para perfuração de poços. Através de
um pórtico feito de bambu, sustentavam uma
vara com ponteira de ferro e com ajuda de um
cinzel batiam para perfurar o poço. A perícia
revelada na construção do poço de José, no
Cairo, o faz um dos mais conhecidos dentre os
poços antigos. Escavado em rocha sólida, foi
construído em duas partes: uma superior, com
cerca de 50 m de profundidade e secção de 5,50
m por 7,30 m e outra inferior, com cerca de 40
m de profundidade, perfazendo ao todo uma
profundidade de 90 m. A água era levantada
por meio de caçamba sobre uma corrente sem
fim. As do poço inferior eram acionadas por
jumentos, que se moviam em uma câmara no
fundo do poço superior (Puppi, I.C. - 1978).
O interesse geral na perfuração de poços, substituindo a escavação, foi despertado no século
XII, quando se perfurou com sucesso um poço
em Artois, França, em 1126. A palavra “ARTESIANO” deriva do nome dessa localidade.
Os relatos sobre tecnologia para perfuração
de poços começaram a ser registrados com
História do Saneamento
mais freqüência a partir de 1800, com o surgimento de jornais, revistas, catálogos, etc.
Em 1808, foi perfurado o primeiro poço
nos Estados Unidos pelo método de percussão, em Buffalo Lick, Virgínia. Alguns êxitos
foram alcançados na França e prosseguiram
com perfurações profundas na Inglaterra e na
Alemanha. Alguns desses poços eram de grandes dimensões e proporcionaram aos geólogos
oportunidade de examinarem a crosta da terra
em profundidades relativamente grandes.
Um dos pioneiros da moderna indústria de
equipamentos para poços profundos, foi John
W. Miller. Em 1855, ele fundou a Star Drilling
Machines Corporation (Hinks, D.; 1997), em
Akron, Ohio (EUA) e que se tornou a pioneira
na construção de equipamentos para perfuração de poços naquele país, pioneiro no desenvolvimento das firmas de equipamentos para
poços. Entre 1884 e 1889, surgiu uma das primeiras perfuratrizes móveis, acionada a vapor,
o que deveria ser um avanço para a época.
Em 1904, os catálogos da Star Drilling já
mostravam mais de 20 modelos diferentes de
perfuratrizes, com capacidade para atingir de
45 a 900 m de profundidade, o que para essa
época era uma verdadeira ousadia, visto que
somente em 1912 é que surgiram as primeiras
máquinas acionadas a gasolina e, logo depois,
a diesel.
Em 1930, a Star Drilling criou um dos mais
modernos equipamentos para perfuração de
poços profundos, a conhecida “SPEED STAR”.
Um avanço tecnológico sem paralelo. Em 1941,
durante a segunda guerra mundial é que surgiram as máquinas rotativas, utilizadas na perfuração de poços profundos para abastecimento
de água potável das tropas em litígio.
Em 1989, a George Failling Corporation,
construtora das famosas máquinas Failling,
adquiriu o acervo das sucessoras da Star
Drilling, e se tornou praticamente a maior
empresa produtora de equipamentos e ferramentas para poços profundos, no mundo,
tendo como linha de frente a Speed Star e as
Failling (Hinks, D.; 1997).
No Brasil, até meados da década de 1980,
boa parte dos equipamentos para poços eram
importados dos Estados Unidos, da Suécia e da
Alemanha, até começarem a ser desenvolvidos
pelas empresas nacionais. Dos Estados Unidos,
foram importadas as perfuratrizes Speed
Star, Failling, Joy, Aquadrill. Da Alemanha, as
Wirth.
Os equipamentos usados pela Companhia T.
Janer (uma das maiores empresas do país até a
década de 1980) para perfuração de seus poços,
foram quase todos importados da Suécia.
Entre as inúmeras empresas nacionais surgidas na esteira do desenvolvimento das perfurações de poços profundos, podemos citar
a Tringil, a Wirth Latina e a Prominas BrasIL.
No Rio Grande do Sul, também se desenvolveram algumas empresas, no entanto, entre
todas elas a Prominas BrasiL foi a que mais se
aparelhou e cresceu tecnicamente. Fundada em
1953, começou com perfuratrizes a percussão,
passou para as máquinas mistas, depois para
as rotativas e evoluiu para as rotopneumáticas,
além de todo o ferramental para perfuração.
Antes das empresas nacionais iniciarem seu
desenvolvimento na construção de equipamentos e ferramental para poços profundos,
o que se tinha era verdadeiramente resultado
de puro artesanato. As máquinas eram acionadas por motores a gasolina, ou, as vezes, a
diesel, e seu acionamento era feito através de
correias e polias. Boa parte das transmissões
eram feitas com peças de tratores ou caminhões e, nem sempre, eram novas. Na maioria
das vezes, eram adaptações grosseiras, o que
originava muitos ruídos, chegando a ocasionar
lesões irreversíveis nos operadores. Todos esses
fatores faziam com que as perfurações, além
de imperfeitas, se tornassem demasiadamente
demoradas. Os poços levavam, as vezes, semanas ou mesmo meses para ficarem prontos,
para desespero dos perfuradores e dos próprios
clientes. Com o desenvolvimento da indústria
petrolífera nacional, as empresas de perfuratrizes e de equipamentos para perfuração tiveram
um vertiginoso crescimento e, hoje, o mercado
Primeiro poço
perfurado em
São José dos
Campos na
Tecelagem
Paraíba em
1932, ainda
em operação
Saneas / dezembro 2003 – 45
História do Saneamento
- o próprio equipamento
- a transmissão por correias
- os componentes da máquina
- as engrenagens
- as bombas
- a própria perfuração (hastes e compressores)
Com a evolução desses equipamentos, eles
passaram a ser acionados por gasolina, eletricidade ou diesel e, aí, os ruídos passaram a ter
como fonte:
–
–
–
–
o próprio equipamento
mancais e rolamentos
fricção dos anéis
fricção acidental de componentes dos
estatores e rotores
– ruído devido a componentes soltos
Caminhão com
perfuratriz
rotopneumática sem ruídos
Perfuratriz
rototiva por
compressão
nacional atende as empresas de poços artesianos com sucesso. Os poços passaram a atender
um padrão de qualidade na sua execução e os
tempos foram reduzidos assustadoramente, a
ponto de, hoje em dia, levarem de dois a cinco
dias para ficarem prontos e em condições de
operação, dependendo do material perfurado.
Com a evolução tecnológica, vários trabalhos
foram desenvolvidos com o objetivo de predizer a potência sonora das máquinas e equipamentos industriais. No passado, os ruídos
provocados pelos equipamentos de perfuração
de poços acionados a vapor, podiam ser destacados como:
Comparativamente aos equipamentos de
perfuração produzidos entre 1880 e 1970, os
produzidos a partir de 1970 são muito menos
ruidosos. Além da modernização dos componentes, embora acionados por motores mais
possantes e associados a grandes compressores,
as transmissões nesses equipamentos tem maior
qualidade, boa parte de seus mecanismos são
automáticos, os lubrificantes são melhores e
isso tudo gera menos ruído. Para os operadores,
a gama de equipamentos de proteção individual
(EPI) tem minimizado os efeitos dos ruídos
de forma bem satisfatória. Para que o estudo
tivesse resultados mais precisos e numericamente expressíveis, seria interessante dispor de
medições do passado para compará-las com um
equipamento rotopneumático de última geração. Como não foi possível, procuramos contatar perfuradores e operadores que induziram
a conclusão pela melhoria acústica dos novos
equipamentos. É claro que nem todas as empresas dispõem de novos equipamentos, mas as que
tiveram oportunidade de atualizar seu acervo
técnico, com certeza, obtiveram melhoria para
seus funcionários e principalmente para seus
clientes.
Poços profundos em São José dos
Campos – Cadastro e localização
A história da água subterrânea em São José
dos Campos deveria, ou poderia ser dividida
em três fases bem distintas: a primeira com
início na década de 1930 com a perfuração do
primeiro poço cadastrado, na antiga Tecelagem
46 – Saneas / dezembro 2003
História do Saneamento
Parahyba; a segunda que vai até os anos 1970 e
coincide com a inauguração da nova Estação
de Tratamento de Água da cidade e o sonho de
que não haveria mais necessidade de se perfurar
poços profundos, uma vez que a água aduzida
do Rio Paraíba seria suficiente para o abastecimento da cidade para os próximos trinta anos;
e a terceira, real, que revendo os parâmetros e
projetos, necessitou das perfurações por diversos motivos, sendo o principal deles o crescimento populacional e o surgimento de bairros
cada vez mais distantes do centro da cidade,
bem como o desenvolvimento industrial e
fabril que a cidade teve ao longo destes últimos
trinta anos. Com essas informações, realizamos várias pesquisas e conseguimos cadastrar
a maioria dos poços perfurados na cidade, bem
como sua localização e seus parâmetros iniciais.
Numa etapa seguinte, pretendemos levantar os
parâmetros atuais desses poços e montar um
mapeamento das alterações havidas ao longo
do tempo e identificar as regiões mais propícias
ao desenvolvimento das perfurações de poços
profundos no município. Hoje, esses dados
não são conhecidos de maneira generalizada.
A Sabesp possui um excelente cadastro, porém
os demais estão parte na ilegalidade e parte restrita aos seus proprietários. Nossa intenção é,
num futuro bem próximo, transformar tudo
isso em fonte permanente de consulta.
Conclusões
Ao realizarmos essas pesquisas, destacamos
como um dos objetivos do projeto, resgatar e
cadastrar os poços perfurados em São José
dos Campos, bem como a situação da maioria
deles ao longo dos anos e quais perspectivas
teríamos com o futuro da água subterrânea na
cidade. Ao longo do projeto, surgiu a possibilidade de mostrar que a evolução dos equipamentos de perfuração de poços permitiu
grandes reduções nos índices de ruídos gerados. Para tanto, o projeto foi subdividido em
três seqüências que nos pareceu bem lógica e
produtiva:
- Na primeira etapa, situamos a cidade nos
seus aspectos de origem, tecnologia e desenvolvimento, bem como sua inserção na
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul;
- Na segunda etapa, mencionamos a origem e
a ocorrência das águas subterrâneas, considerando que nem todos pudessem ter fami-
liaridade com esse tema e sua importância.
Também começamos a pesquisar onde e
como os equipamentos de perfuração de
poços profundos surgiram, como evoluíram
nas últimas décadas e como houve redução
significativa nos índices de ruídos desses
equipamentos;
- E, na etapa final, realizamos o cadastro, a
listagem cronológica dos poços conhecidos
em São José dos Campos, sua localização e
seus principais parâmetros.
Bomba de
lama utilizada
para retirada
do material de
perfuração e
refrigeração
da broca de
perfuração
- utilizada em
Guararema em
2003
É claro que esse trabalho não se encerra
aqui. Há muito que se pesquisar, principalmente na exploração dos lençóis subterrâneos
de São José dos Campos. No que se refere aos
ruídos, eles atingiram um patamar bem satisfatório nas últimas décadas. No entanto, nossa
intenção principal foi a de provocar uma
reflexão e um alerta para os projetistas e planejadores que têm caracterizado a exploração
dos mananciais superficiais imaginando-os
inesgotáveis, em detrimento de uma enorme
potencialidade subterrânea que o município
possui. Dia a dia estamos nos deparando com
uma realidade que nos direciona nesse sentido: o esvaziamento de nossas represas, que
tem sido motivo de estudos e objeto de manchetes de jornais e revistas especializadas nos
últimos dois anos e a intensificação na colocação de produtos para tratamento, necessário
para vencer a guerra da despoluição e obter
água potável. Só esses fatores já serão suficientes e preponderantes para o incremento
da utilização de poços profundos em São José
dos Campos.
Saneas / dezembro 2003 – 47
Novidades
Novidades
Estratégias para um mundo melhor
E
m seu trabalho, o médico oncologista Karl-Henrik Robert
chegou a seguinte constatação:
um grande número de pais faria
qualquer sacrifício para salvar
os filhos, mas o mesmo esforço
não seria empregado para salvar
o meio ambiente. Partindo disso,
o especialista sueco deu início a
um longo processo de consultas
a cientistas e outras pessoas. O
resultado disso é uma estrutura
de referência para planejamento
estratégico, considerando a sustentabilidade social e ecológica
–conteúdo do livro The Natural Step (editora Cultrix, 304
páginas, R$ 40, em média). Na
Europa e nos Estados Unidos,
poucas organizações têm sido tão
influentes quanto esta obra em
incentivar e inspirar as pessoas a
criar um mundo mais sustentável. Em The Natural Step, o autor
conta como essas idéias evoluíram, comenta sobre o drama
de “vendê-las” a um mundo, às
vezes, relutante e explica o seu
potencial para a revolução.
Karl-Henrik Robert é professor de teoria de Recursos
Materiais, na Universidade de
Gotemburgo, na Suécia. Ele iniciou o movimento The Natural
Step em 1989, e continua trabalhando pela sustentabilidade ao
redor do mundo por intermédio
desse movimento, uma organização com representação em nove
países. Em 1999, o médico recebeu o Green Cross Award de Liderança International e, em 2000, o
Blue Planet Prize, considerado o
“Nobel do Ambientalismo”.
Sabesp conquista
prêmio em
criatividade
A
empresa de saneamento de São
Paulo, por intermédio da Superintendência de Recursos Humanos e
Qualidade e Superintendência Técnica,
recebeu o “Prêmio APARH Revista Vencer!
– de Criatividade no Trabalho”, com
o case intitulado “Recursos Humanos
e Meio Ambiente, uma Parceria que
dá Certo”. O evento de entrega aconteceu em novembro último, dia 17, em São
Paulo. Foram avaliados critérios como originalidade, contribuição para a qualidade
de vida, efeito na competitividade e contribuição para o espírito de equipe. Estavam entre os finalistas, empresas como
Alpargatas, Banco Itaú, Colgate Palmolive,
Dow Química S/A, Mapri Textron e SBT.
48 – Saneas / dezembro 2003
Responsabilidade social
H
ortas Comunitárias, Projeto Areião,
Caracol, Teatro de Fantoches, Gota
Borralheira são alguns dos programas
divulgados na I Mostra de Responsabilidade Social da Sabesp, dia 27 de novembro, em São Paulo. A idéia da Mostra é
compartilhar as ações desenvolvidas pela
empresa e, assim,
conseguir a adesão
dos colaboradores.
Durante o evento,
aconteceram palestras e a apresentação de programas
na área de meio
ambiente, educação, voluntariado,
cultura e comunidade.
Reconhecimento
Reconhecimento
Destaques no setor em 2003
O Geólogo João Carlos Simanke Souza e os Engenheiros Mário
Otsubo e Wilton Silva Carneiro, nossos associados, foram
homenageados no dia 28 de novembro, como destaques no setor
do saneamento básico, no ano de 2003.
O Geólogo João Carlos
atua na área de hidrogeologia e saneamento básico e
está na SABESP desde 1978.
Atualmente, é Gerente da
Divisão Técnica Operacional
em Águas Subterrâneas, que
presta apoio à manutenção
e operação dos 1200 poços
tubulares profundos da Cia.
O
Engenheiro
Mário
Otsubo fez carreira na SABESP
trabalhando sempre na área
de projetos de engenharia.
Com especialização em Saúde
Pública, também foi professor
da Universidade Mackenzie.
O Engenheiro Wilton fui
Superintendente da Unidade
de Negócio do Vale do Ribeira
e atualmente é gerente da
Superintendência de Gestão
de Empreendimentos de Sistemas Regionais.
Saneas / dezembro 2003 – 49
Cafezinho
Cafezinho
Entre tantas histórias de trabalho e empenho, os empregados da Sabesp ainda encontram um tempo para
criar “causos” que ao longo do tempo passam a fazer parte da memória que acompanha a vida da empresa.
Ao longo desses trinta anos de existência, a Sabesp pode colecionar muitos contos, lendas, prosa e verso, em
que os personagens e histórias se confundem com a própria vida de seus criadores. O Jornal Ligação mostrou
muitas dessas histórias, como essa a seguir, publicada na edição de novembro de 1990.
Lendas e Mistérios de Santa Inês
Falar da ESI-Estação Elevatória Santa Inês não significa apenas falar de
tecnologia e progresso. Lendas e superstições rondam essa incrível obra da
Sabesp construída com a inteligência do homem e pela força da máquina.
Foto: Odair Marcos Faria
A
ESI faz parte do
superfície. A beleza é
sistema Cantaindescritível, fazendo
reira em São Paulo,
lembrar um outro
um dos maiores promundo. As gigantescas
dutores de água do
bombas de recalque,
mundo. É responsável
as paredes sem revespelo bombeamento de
timento, as rochas em
33 mil litros de água
estado natural e conspor segundo, produtantemente molhadas,
zidos nos reservatófazem do local um
rios Jaguari-Jacareí,
lugar misterioso.
Cachoeira,
AtibaiNo meio dessa
nha e Paiva Castro.
gigantesca
caverna
Através desse bom- Vista das bombas da Estação Elevatória Santa Inês
existe um túnel que
beamento, a serra da
leva a uma nascente.
Cantareira é vencida e a água chega, por gra- Conhecida como “Fonte das Águas Milagrosas”,
vidade, à estação do Guaraú para tratamento. a lenda diz que a água possui substâncias ou
São 48 km de túneis e canais construídos em medicamentos que restauram ou aumentam o
rochas e florestas.
apetite sexual, influindo diretamente na fertiliIdealizado nos anos 60 pelo engenheiro dade masculina. Diz também a lenda que três
Paiva Castro, o Sistema Cantareira foi alvo ou quatro casos já constataram a veracidade do
de críticas e discussões. A princípio era visto poder dessas águas. Para outros, a água é tão
mais como um sonho do que realidade, mas pura que um simples copo pode melhorar um
em pouco tempo a idéia se concretizou e equi- mal estar ou até mesmo uma dor de cabeça.
pes de engenheiros e técnicos, com o apoio do
Se você estiver interessado em conhecer a
governo, colocaram o projeto em prática.
ESI, forme uma turma e formalize seu pedido
Finalmente em 1973, na época da criação através de memorando, enviando-o à Supeda Sabesp, o Sistema Cantareira entrava em rintendência de Divulgação, coordenadoria de
funcionamento. O sonho se tornara realidade Relações Públicas.”
e, a partir daí, uma família nascia, a família
que deu origem à ESI: um grupo de funcionáEm tempo: o programa de visitas ao Sisrios que até hoje acompanha cada passo dessa tema Cantareira existe há trinta anos e contielevatória. Cada árvore, cada flor, cada metro nua atuante, através da Superintendência de
quadrado é constantemente vigiado.
Comunicação, com as profissionais Laura e
Conhecida como o “coração do sistema”, a Rosa. Para maiores informações, você pode
história da ESI está no olhar de cada funcio- acessar o site da Sabesp, www.sabesp.com.br .
nário. Para aqueles que passaram dias e dias
acompanhando a evolução de um sonho, as Colaboração de Isabel Cristina Nascimento, da
fantasias surgiram e com elas vieram as lendas Superitendência de Comunicação-PC, Sabesp
sobre um lugar escavado a 60 metros abaixo da
50 – Saneas / dezembro 2003
XV Encontro Técnico e FENASAN 2004
D
e 30 de agosto a 1° de setembro de 2004, serão realizados,
no Expo Center Norte, Pavilhão Branco, em São Paulo, o
XV Encontro Técnico e da Feira Nacional de Materiais e Equipamentos para Saneamento - FENASAN 2004.
Você também pode participar da Comissão Organizadora do
Encontro Técnico. Para isso, você pode entrar em contato com
Gilberto Martins, no telefone 11 3284 6420.
Os trabalhos técnicos já podem ser preparados. Em breve serão
publicadas as especificações para sua apresentação à comissão
julgadora.
Sua participação é muito importante, como voluntário na organização, como expositor de trabalho técnico e como participante das palestras e mesas redondas que acontecerão durante
o evento. Não perca essa oportunidade.
Essa iniciativa da Associação dos Engenheiros da Sabesp já está
sendo reconhecida nacional e internacionalmente, uma vez
que dele têm participado entidades e empresas de outros países
como Itália, Alemanha, Japão, Argentina, Peru e Paraguai.
Agradecimentos
Daniel Fink
José Everaldo Vanzo
Odair Marcos Faria
Wolney Castilho Alves
Wanderley da Silva Paganini e sua equipe que
nos antecedeu e nos abriu o caminho para a
publicação desta edição.

Documentos relacionados