Jocileide dos Santos Ribeiro Categoria bolsa
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Jocileide dos Santos Ribeiro Categoria bolsa
1327 O SABER AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ENFERMAGEM: UMA REVISÃO DE LITERATURA Jakeline de Jesus Carvalho 1, Jocileide dos Santos Ribeiro2, Suzana Bittencourt de Oliveira3, Maria Geralda Gomes Aguiar4 1. Universidade Estadual de Feira de Santana, Graduanda em Enfermagem, Bolsista IC Probic/UEFS, Estagiária do Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas sobre o Cuidar/Cuidado (NUPEC) – UEFS, e-mail: [email protected] 2. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Graduanda em Enfermagem, Bolsista IC Fapesb/Cnpq, Estagiária do NUPEC - UEFS, e-mail: [email protected] 3. Universidade Estadual de Feira de Santana, Graduanda em Enfermagem, Estagiária do NUPEC – UEFS, e-mail: [email protected] 4. Universidade Estadual de Feira de Santana, Professora Doutora, Orientadora, Departamento de Saúde, Coordenadora do NUPEC - UEFS, e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Saúde ambiental; Ecologia; Meio ambiente. INTRODUÇÃO Meio ambiente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), engloba tudo que é externo ao ser humano, abrangendo aspectos físicos, biológicos, culturais e sociais, que podem interferir no processo saúde-doença. O cuidado com o meio ambiente deveria ser uma meta fundamental do homem, entretanto a sociedade na busca de desenvolvimento econômico interfere no meio ambiente de maneira prejudicial, causando problemas que afetam diferentes grupos populacionais, os quais geram riscos à saúde. O século XX foi marcado pelo crescente desenvolvimento industrial, tecnológico e científico, imprescindível para o progresso da economia mundial, principalmente dos países de “primeiro mundo”. Esse crescimento refletiu negativamente nas condições ambientais e epidemiológicas de todo o planeta, pois o crescimento econômico trouxe o acúmulo e aumento de resíduos, acidentes de grandes proporções, além da falta de consciência ambiental da população e das autoridades competentes. Nos últimos anos, com o aumento dos riscos ambientais para a saúde em nível mundial, a discussão sobre os impactos da crise ambiental para a saúde das populações tem adquirido maior dimensão, com o desenvolvimento no campo das Ciências da Saúde, da denominada Saúde Ambiental. Segundo a OMS, a Saúde Ambiental compreende todos os aspectos da saúde do homem, inclusive a qualidade de vida, que é influenciada por fatores físicos, químicos, sociais, biológicos e psicológicos no meio ambiente, buscando fazer uma inter relação entre o processo saúde-doença e meio ambiente, engajando profissionais da área da saúde, destacadamente da Enfermagem. O cuidar de sujeitos, famílias e comunidades vulneráveis requer uma concepção ampliada tanto do processo saúde-doença, como o “aprimoramento” do atual modelo de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo-se a inclusão da própria percepção dos sujeitos sobre os riscos e os modos de adoecer e de ser saudáveis, que se configuram na sua relação com ambiente. Esta não é uma questão simples ou resolvida no campo da enfermagem, pois reconhecidamente ocorre o cuidado a pessoas vulneráveis ou que se encontram com a saúde afetada por problemas que emergiram na sua interação com o ambiente, mas a literatura acerca da temática ambiental é escassa. De modo que a construção de uma racionalidade ambiental requer a transformação de antigos paradigmas, a formação de novos conhecimentos, a integração entre os diversos saberes, bem como a contribuição de todas as especialidades, numa perspectiva interdisciplinar necessária para o desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007). Este estudo tem por objetivos discutir os conceitos de meio ambiente utilizados como referência no conhecimento produzido pela enfermagem e analisar a forma como o tema 1328 saúde ambiental tem sido abordado na produção científica da área, com enfoque em uma formação e uma prática assistencial e gerencial articulada aos novos paradigmas em torno da questão da saúde ambiental, bem como contribuir para o próprio fortalecimento da pesquisa nesse campo. METODOLOGIA O estudo consiste em uma revisão de literatura da produção científica, realizado na BVS, no ano de 2012, nas bases de dados LILACS, MEDLINE e BDENF, utilizando como descritores: saúde ambiental, ecologia, meio ambiente e ecossistema e critérios de inclusão: idioma (português), texto completo, autoria de profissionais da saúde e ter sido publicado no período de 2008 a 2012. Utilizando-se os descritores saúde ambiental e meio ambiente foram encontrados 251 resumos no LILACS, 09 na BDENF e 116 no MEDLINE; utilizando-se os descritores saúde ambiental e ecologia foram encontrados 67 resumos no LILACS, 162 no MEDLINE e 01 no BDENF, totalizando 606 resumos. Após leitura e análise minuciosas foram selecionados 11 textos, que foram registrados em uma ficha de investigação por apresentarem teorias e percepções de meio ambiente e a relação deste com saúde, fazendo-se a discussão dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na busca por conhecer o conceito de meio ambiente abordados nos estudos, uma primeira questão se apresentou significativa: a polissemia do termo meio ambiente, que varia de maneira individual, temporal, histórica e cultural, influenciada pela mudança de “posição” do homem no contexto socioambiental, estando, o processo saúde-doença, dependente dessas variações. Cada concepção de meio ambiente reflete na visão da “saúde” e da “doença”, bem como nas ações, na tomada de decisões e práticas de cuidado, que são fundamentais na manutenção e promoção da saúde, tratamento e prevenção de agravos. Backes e outros (2010) abordam os diferentes conceitos de natureza e suas modificações desde a Idade Antiga até a contemporaneidade e suas implicações para a saúde. Na Idade Antiga a natureza se estabelece como centro do universo, morada dos homens e dos deuses, não estando sujeita à ação humana. Na Idade Média, tanto a natureza quanto o homem eram produtos da criação de Deus, o qual não fazia parte da natureza. Ainda que homem e natureza estivessem na mesma condição, a Idade Média foi marcada pela transição da visão teocêntrica para a antropocêntrica, na qual o homem deixa de ser parte integrante da natureza e passa a ser o centro desta, permitindo o seu domínio. Na Idade Moderna, o homem se afirma como proprietário da natureza, havendo uma separação entre Deus, natureza e homem. Já a Idade Contemporânea é marcada por uma reflexão acerca do pensamento ecológico, sendo imprescindível ao homem, retomar a concepção de ser parte integrante do meio ambiente. Sob outra ótica, Camponogara e outros (2012) enfatizam a importância da preservação ambiental pautando-se na Teoria Ambientalista de Florence Nightingale, a qual postula que fatores ambientais (físico, psicológico e social) influenciam no processo saúde-doença do indivíduo. As autoras discutem a importância do equilíbrio desses aspectos na manutenção da saúde, pois o desequilíbrio desses acarreta em maior gasto energético, dificultando o reestabelecimento da saúde. Kuhnen e Becker (2010) consideram que o significado de ambiente varia de acordo com diferentes fatores, baseando-se na Teoria das Representações Sociais, a qual consiste em uma construção psicológica do mundo, resultante da experiência individual e coletiva de cada um. Na mesma linha, Botelho (2011) afirma que cada um possui uma representação individual do mundo, assim como do meio ambiente e que essa resulta de uma série de determinantes, sendo consideradas legítimas. 1329 Polleto e Koller (2008) utilizam-se da Teoria bioecológica de Bronfenbrenner, considerando que toda experiência individual se dá em ambientes, organizados numa escala de diferentes níveis de sistema. Dessa maneira, o ambiente estaria dividido em quatro níveis ambientais: microssistemas, mesossistemas, exosistemas e os macrossistemas, sendo que a interação entre eles forma o contexto necessário para o desenvolvimento humano. O trabalho de Camponogara, Ramos e Kirchhof (2011) suscita uma visão naturalizada de meio ambiente, na qual o homem não se insere como parte integrante do mesmo. Por outro lado, Bruzos e outros (2011) afirmam que o homem faz parte do meio ambiente como possuindo uma estreita relação de dependência com ele, estando sujeito a sofrer sérias consequências caso haja algum evento que altere o equilíbrio do meio em que vive. Na mesma perspectiva Backes e outros (2011) abordam o conceito de ecologicocentrismo, que define o homem como um ser que precisa realizar interações com todos os seres vivos e com o meio ambiente para garantir sua sobrevivência. Destacam que no momento histórico atual a visão ecologicocêntrica está substituindo a antropocêntrica e que esta transição tem grandes repercussões para a saúde, favorecendo a prática do cuidado ecológico, definindo-o como atitude de cuidado que impulsiona a atenção e as ações para a defesa do meio ambiente físico, social e simbólico nos espaços privados e públicos, como o domicílio, o local de trabalho, as escolas e universidades. Leff (2007) discute que o saber ambiental está num constante processo de construção e desconstrução, resultando de um diálogo entre tradição e modernidade e da revalorização das antigas culturas, práticas e processos produtivos, o que o impede de ser reduzido a uma dimensão única e homogênea. Portanto, o saber ambiental depende do contexto ecológico e sociocultural no qual se aplica. A questão ambiental gera assim, um processo de integração entre os diversos saberes através da transposição de conceitos e métodos entre as diferentes áreas do conhecimento, construindo-se dessa forma, o “ambiental” de cada área centrada em seu objeto de estudo. São esses corpos transformados de conhecimento os que se estendem para a articulação interdisciplinar do saber ambiental. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados mostraram que diferentes teorias/percepções de meio ambiente são relacionadas à saúde, as quais são determinadas por fatores individuais, culturais, históricos, temporais, sendo a postura do ser humano frente ao meio ambiente fator de destaque. Assim, com o crescimento da crise ambiental, o conceito de meio ambiente mais difundido na atualidade retoma o homem como parte integrante e interdependente da natureza, exigindo deste uma maior consciência ecológica que tem por reflexo, ações visando a sustentabilidade, visto que a vida, a sua qualidade e a saúde estão interligadas. Diante das diferentes concepções de meio ambiente e saúde, da necessidade de preservação ambiental e da intensa relação homem-ambiente, a saúde ambiental está presente como prática de intervenção no campo da enfermagem, fazendo-se necessária a busca de formas alternativas que deem visibilidade às ações realizadas pela enfermagem junto a movimentos sociais articulados em torno da questão ambiental. Desta maneira, é imprescindível que os profissionais da área adquiram conhecimento do conceito de meio ambiente, para que possam planejar e implementar ações eficazes e resolutivas. REFERÊNCIAS BACKES, M. T. S. et al. Noções de natureza e derivações para a saúde: uma incursão na literatura. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 729-51. 2010. BACKES, M. T. S. Do antropocentrismo ao ecologicentrismo: formação para o cuidado ecológico na saúde. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre – RS, v. 32, n. 2, p. 263-9, 2011. 1330 BOTELHO, M. C. Representação social dos temas saúde e meio ambiente na Sociedade civil do fórum comperj, Itaboraí/RJ. (Mestrado Dissertação). Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, 2011. BRUZOS, G. A. S. et al. Meio Ambiente e Enfermagem: suas interfaces e inserção no ensino de graduação. Saúde Soc. São Paulo, v. 20, n. 2, p. 462-469, 2011. CAMPONOGARA, S.; KIRCHOF, A. L. C.; RAMOS, F. R. A problemática ecológica na visão de trabalhadores hospitalares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 8, p. 3561-70, 2011. CAMPONOGARA, S. Saúde e meio ambiente na contemporaneidade: o necessário resgate do legado de Florence Nightingale. Esc. Anna Nery, v. 16, n. 1, p. 178-84, jan./mar. 2012. KUHNEN, A.; BECKER, S. M. S. Psicologia e meio ambiente: como jovens e adultos representam água de abastecimento. Psico, Porto Alegre, v. 41, n. 2, p. 160-67, abr./jun. 2010. LEFF, H. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2007. 239 p. POLETTO, M.; KOLLER, S. H. Contextos ecológicos: promotores de resiliência, fatores de risco e de proteção. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 25, n. 3, p. 405-16, jul./set. 2008.