Jocileide dos Santos Ribeiro Categoria bolsa

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Jocileide dos Santos Ribeiro Categoria bolsa
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O SABER AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ENFERMAGEM: UMA
REVISÃO DE LITERATURA
Jakeline de Jesus Carvalho 1, Jocileide dos Santos Ribeiro2, Suzana Bittencourt de Oliveira3,
Maria Geralda Gomes Aguiar4
1. Universidade Estadual de Feira de Santana, Graduanda em Enfermagem, Bolsista IC Probic/UEFS, Estagiária do
Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas sobre o Cuidar/Cuidado (NUPEC) – UEFS, e-mail:
[email protected]
2. Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Graduanda em Enfermagem, Bolsista IC Fapesb/Cnpq, Estagiária do
NUPEC - UEFS, e-mail: [email protected]
3. Universidade Estadual de Feira de Santana, Graduanda em Enfermagem, Estagiária do NUPEC – UEFS, e-mail:
[email protected]
4. Universidade Estadual de Feira de Santana, Professora Doutora, Orientadora, Departamento de Saúde,
Coordenadora do NUPEC - UEFS, e-mail: [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Saúde ambiental; Ecologia; Meio ambiente.
INTRODUÇÃO
Meio ambiente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), engloba tudo que é
externo ao ser humano, abrangendo aspectos físicos, biológicos, culturais e sociais, que
podem interferir no processo saúde-doença. O cuidado com o meio ambiente deveria ser uma
meta fundamental do homem, entretanto a sociedade na busca de desenvolvimento econômico
interfere no meio ambiente de maneira prejudicial, causando problemas que afetam diferentes
grupos populacionais, os quais geram riscos à saúde.
O século XX foi marcado pelo crescente desenvolvimento industrial, tecnológico e
científico, imprescindível para o progresso da economia mundial, principalmente dos países
de “primeiro mundo”. Esse crescimento refletiu negativamente nas condições ambientais e
epidemiológicas de todo o planeta, pois o crescimento econômico trouxe o acúmulo e
aumento de resíduos, acidentes de grandes proporções, além da falta de consciência ambiental
da população e das autoridades competentes.
Nos últimos anos, com o aumento dos riscos ambientais para a saúde em nível
mundial, a discussão sobre os impactos da crise ambiental para a saúde das populações tem
adquirido maior dimensão, com o desenvolvimento no campo das Ciências da Saúde, da
denominada Saúde Ambiental. Segundo a OMS, a Saúde Ambiental compreende todos os
aspectos da saúde do homem, inclusive a qualidade de vida, que é influenciada por fatores
físicos, químicos, sociais, biológicos e psicológicos no meio ambiente, buscando fazer uma
inter relação entre o processo saúde-doença e meio ambiente, engajando profissionais da área
da saúde, destacadamente da Enfermagem.
O cuidar de sujeitos, famílias e comunidades vulneráveis requer uma concepção
ampliada tanto do processo saúde-doença, como o “aprimoramento” do atual modelo de
atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo-se a inclusão da própria
percepção dos sujeitos sobre os riscos e os modos de adoecer e de ser saudáveis, que se
configuram na sua relação com ambiente. Esta não é uma questão simples ou resolvida no
campo da enfermagem, pois reconhecidamente ocorre o cuidado a pessoas vulneráveis ou que
se encontram com a saúde afetada por problemas que emergiram na sua interação com o
ambiente, mas a literatura acerca da temática ambiental é escassa.
De modo que a construção de uma racionalidade ambiental requer a transformação de
antigos paradigmas, a formação de novos conhecimentos, a integração entre os diversos
saberes, bem como a contribuição de todas as especialidades, numa perspectiva
interdisciplinar necessária para o desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007).
Este estudo tem por objetivos discutir os conceitos de meio ambiente utilizados como
referência no conhecimento produzido pela enfermagem e analisar a forma como o tema
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saúde ambiental tem sido abordado na produção científica da área, com enfoque em uma
formação e uma prática assistencial e gerencial articulada aos novos paradigmas em torno da
questão da saúde ambiental, bem como contribuir para o próprio fortalecimento da pesquisa
nesse campo.
METODOLOGIA
O estudo consiste em uma revisão de literatura da produção científica, realizado na
BVS, no ano de 2012, nas bases de dados LILACS, MEDLINE e BDENF, utilizando como
descritores: saúde ambiental, ecologia, meio ambiente e ecossistema e critérios de inclusão:
idioma (português), texto completo, autoria de profissionais da saúde e ter sido publicado no
período de 2008 a 2012. Utilizando-se os descritores saúde ambiental e meio ambiente foram
encontrados 251 resumos no LILACS, 09 na BDENF e 116 no MEDLINE; utilizando-se os
descritores saúde ambiental e ecologia foram encontrados 67 resumos no LILACS, 162 no
MEDLINE e 01 no BDENF, totalizando 606 resumos. Após leitura e análise minuciosas
foram selecionados 11 textos, que foram registrados em uma ficha de investigação por
apresentarem teorias e percepções de meio ambiente e a relação deste com saúde, fazendo-se
a discussão dos resultados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca por conhecer o conceito de meio ambiente abordados nos estudos, uma
primeira questão se apresentou significativa: a polissemia do termo meio ambiente, que
varia de maneira individual, temporal, histórica e cultural, influenciada pela mudança de
“posição” do homem no contexto socioambiental, estando, o processo saúde-doença,
dependente dessas variações. Cada concepção de meio ambiente reflete na visão da “saúde” e
da “doença”, bem como nas ações, na tomada de decisões e práticas de cuidado, que são
fundamentais na manutenção e promoção da saúde, tratamento e prevenção de agravos.
Backes e outros (2010) abordam os diferentes conceitos de natureza e suas
modificações desde a Idade Antiga até a contemporaneidade e suas implicações para a saúde.
Na Idade Antiga a natureza se estabelece como centro do universo, morada dos homens e
dos deuses, não estando sujeita à ação humana. Na Idade Média, tanto a natureza quanto o
homem eram produtos da criação de Deus, o qual não fazia parte da natureza. Ainda que
homem e natureza estivessem na mesma condição, a Idade Média foi marcada pela transição
da visão teocêntrica para a antropocêntrica, na qual o homem deixa de ser parte integrante
da natureza e passa a ser o centro desta, permitindo o seu domínio. Na Idade Moderna, o
homem se afirma como proprietário da natureza, havendo uma separação entre Deus,
natureza e homem. Já a Idade Contemporânea é marcada por uma reflexão acerca do
pensamento ecológico, sendo imprescindível ao homem, retomar a concepção de ser parte
integrante do meio ambiente.
Sob outra ótica, Camponogara e outros (2012) enfatizam a importância da preservação
ambiental pautando-se na Teoria Ambientalista de Florence Nightingale, a qual postula que
fatores ambientais (físico, psicológico e social) influenciam no processo saúde-doença do
indivíduo. As autoras discutem a importância do equilíbrio desses aspectos na manutenção da
saúde, pois o desequilíbrio desses acarreta em maior gasto energético, dificultando o
reestabelecimento da saúde.
Kuhnen e Becker (2010) consideram que o significado de ambiente varia de acordo
com diferentes fatores, baseando-se na Teoria das Representações Sociais, a qual consiste
em uma construção psicológica do mundo, resultante da experiência individual e coletiva de
cada um. Na mesma linha, Botelho (2011) afirma que cada um possui uma representação
individual do mundo, assim como do meio ambiente e que essa resulta de uma série de
determinantes, sendo consideradas legítimas.
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Polleto e Koller (2008) utilizam-se da Teoria bioecológica de Bronfenbrenner,
considerando que toda experiência individual se dá em ambientes, organizados numa escala
de diferentes níveis de sistema. Dessa maneira, o ambiente estaria dividido em quatro níveis
ambientais: microssistemas, mesossistemas, exosistemas e os macrossistemas, sendo que a
interação entre eles forma o contexto necessário para o desenvolvimento humano.
O trabalho de Camponogara, Ramos e Kirchhof (2011) suscita uma visão naturalizada
de meio ambiente, na qual o homem não se insere como parte integrante do mesmo. Por outro
lado, Bruzos e outros (2011) afirmam que o homem faz parte do meio ambiente como
possuindo uma estreita relação de dependência com ele, estando sujeito a sofrer sérias
consequências caso haja algum evento que altere o equilíbrio do meio em que vive.
Na mesma perspectiva Backes e outros (2011) abordam o conceito de
ecologicocentrismo, que define o homem como um ser que precisa realizar interações com
todos os seres vivos e com o meio ambiente para garantir sua sobrevivência. Destacam que no
momento histórico atual a visão ecologicocêntrica está substituindo a antropocêntrica e que
esta transição tem grandes repercussões para a saúde, favorecendo a prática do cuidado
ecológico, definindo-o como atitude de cuidado que impulsiona a atenção e as ações para a
defesa do meio ambiente físico, social e simbólico nos espaços privados e públicos, como o
domicílio, o local de trabalho, as escolas e universidades.
Leff (2007) discute que o saber ambiental está num constante processo de construção e
desconstrução, resultando de um diálogo entre tradição e modernidade e da revalorização das
antigas culturas, práticas e processos produtivos, o que o impede de ser reduzido a uma
dimensão única e homogênea. Portanto, o saber ambiental depende do contexto ecológico e
sociocultural no qual se aplica. A questão ambiental gera assim, um processo de integração
entre os diversos saberes através da transposição de conceitos e métodos entre as diferentes
áreas do conhecimento, construindo-se dessa forma, o “ambiental” de cada área centrada em
seu objeto de estudo. São esses corpos transformados de conhecimento os que se estendem
para a articulação interdisciplinar do saber ambiental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados mostraram que diferentes teorias/percepções de meio ambiente são
relacionadas à saúde, as quais são determinadas por fatores individuais, culturais, históricos,
temporais, sendo a postura do ser humano frente ao meio ambiente fator de destaque. Assim,
com o crescimento da crise ambiental, o conceito de meio ambiente mais difundido na
atualidade retoma o homem como parte integrante e interdependente da natureza, exigindo
deste uma maior consciência ecológica que tem por reflexo, ações visando a sustentabilidade,
visto que a vida, a sua qualidade e a saúde estão interligadas.
Diante das diferentes concepções de meio ambiente e saúde, da necessidade de
preservação ambiental e da intensa relação homem-ambiente, a saúde ambiental está presente
como prática de intervenção no campo da enfermagem, fazendo-se necessária a busca de
formas alternativas que deem visibilidade às ações realizadas pela enfermagem junto a
movimentos sociais articulados em torno da questão ambiental. Desta maneira, é
imprescindível que os profissionais da área adquiram conhecimento do conceito de meio
ambiente, para que possam planejar e implementar ações eficazes e resolutivas.
REFERÊNCIAS
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