Energia - Indústria e Ambiente

Transcrição

Energia - Indústria e Ambiente
www.industriaeambiente.pt
ENTREVISTA Eduardo de Oliveira Fernandes
TECNOLOGIA Eco-materiais e criação de valor
INVESTIGAÇÃO Eficiência energética versus poluição luminosa
OPINIÃO por Nuno de Souza e Silva
Energia
Portugal, as renováveis
e a gestão eficiente
número 67
Março/Abril 2011
Publicação Bimestral
6.50 €
FICHA TÉCNICA
Número 67 | março/abril 2011
Diretor
António Guerreiro de Brito
[email protected]
Diretora Executiva
Carla Santos Silva
[email protected]
Conselho Editorial
Alexandre Cancela d’Abreu, Ana Malheiro,
António Gonçalves Henriques, António Joyce,
Carlos Alberto Alves, Carlos Borrego,
Carlos Pedro Ferreira, Isabel Rosmaninho,
Luís Fonseca, Luís Rochartre,
Pedro Santos e Rui Rodrigues
Redação
Joana Correia
[email protected]
Publicidade
Vera Oliveira
[email protected]
Tiragem 3000 exemplares
Os artigos assinados são da exclusiva
responsabilidade dos seus autores.
A Indústria e Ambiente adotou na sua redação
o novo acordo ortográfico.
A Indústria e Ambiente é impressa em papel
proveniente de florestas com Certificação da
Gestão Florestal Responsável.
A Indústria e Ambiente
é o membro português da
European Environmental Press
Revista Oficial
SUMÁRIO
Depósito Legal 165 277/01
21
24
Dossier
“Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente”
A energia e a competitividade da Indústria Portuguesa
– j. batista pereira
A gestão da oferta e da procura no Mercado Ibérico
– nuno ribeiro da silva
A importância do desenvolvimento da eficiência energética
e das energias renováveis no contexto do aumento da
procura mundial de energia – joão nuno mendes
O Projeto Green Islands e o futuro dos sistemas
sustentáveis de energia – paulo ferrão
Energias Renováveis Offshore – ana brito e melo
A energia em 2030
28
Investigação
Eficiência Energética versus Poluição Luminosa
18
Assinaturas
Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629
[email protected]
ISSN 1645-1783
Entrevista | Eduardo de Oliveira Fernandes
16
Design
Jorge Brandão Pereira
Publicação Periódica
Registo no ICS n.o 117 075
4
12
Comunicação
Celine Borges Passos
Tel. 225 899 625
[email protected]
Propriedade e Administração
PUBLINDÚSTRIA, Produção de Comunicação, Lda.
Praça da Corujeira, 38 – Apartado 3825
4300-144 Porto – Portugal
www.publindustria.pt | [email protected]
Editorial
Renovar (sin)energias
10
O Espaço Energia conta com a colaboração da ADENE
Redação e Edição
Engenho e Média, Lda.
Grupo Publindústria
Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629
2
32
34
Tecnologia
Eco-materiais e criação de valor
Sea for Life: à descoberta da tecnologia offshore no mar
português
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Produtos e Tecnologias
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42
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Notícias
Energia
Água
Alterações Climáticas e Conservação da Natureza
Legislação – Gestão e Economia
Matérias-primas
Resíduos
Solos
48
Pessoas e Empresas
50
Eventos
51
Estante | EcoCyberNews
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Opinião, por Nuno de Souza e Silva
Errata Por lapso, não foi referido na edição nº65 da revista que a fotografia que
acompanha a notícia “Microprodução de Energia vai ficar mais cara” (pág.31) é da
autoria de Nuno Moreira e foi gentilmente cedida pelo próprio. Vimos prestar agora
esse agradecimento.
PRÓXIMA EDIÇÃO
DOSSIER ›
Investigação e m
Ambiente e as Empresas:
convergência ou divergência?
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
1
editorial
Renovar (sin)energias
António Guerreiro de Brito, Diretor
Poderemos ficar sem petróleo mas, certamente, não ficaremos sem energia e nunca sem ideias.
A mudança faz-se por obrigação, ou por antecipação. A obrigação apresenta-se à nossa porta na
sua farda tradicional ou, em alternativa, vestida como sendo a necessidade para a sobrevivência,
hoje ou no médio prazo. A antecipação é a gestão de risco, a inovação e a integração. Em
qualquer caso, a mudança obriga a sair da zona de conforto. Assim, se há domínio que sabemos
estar a mudar e cuja evolução irá acelerar, quer o desejemos ou não, é o da energia. A mudança
que teremos de enfrentar virá da oferta de energia, diferenciando-se no tipo de recurso que
é utilizado ou, ainda, na forma de a armazenar e distribuir; é o lado A. Há, ainda, a gestão da
procura, ou o lado B.
O domínio da energia é exemplar em novas possibilidades. Nela coexistem diferentes escalas,
interfaces, módulos e descentralidades. Os custos de extração e distribuição do petróleo/gás
não têm aumentado significativamente, pelo que o preço para o consumidor reflete, sobretudo,
o jogo da oferta no encontro dos mercados ou a necessidade da receita fiscal. No balanço, o
custo da importação de petróleo/gás vale bem como matéria-prima, mas uma substituição de
importação de vetores energéticos seria mesmo muito bem-vinda. Portugal, como não beneficia
de reservas de combustíveis fósseis exploráveis no seu território ou de participações externas
significativas, só pode beneficiar de estratégias alternativas baseadas num catálogo tecnológico
de valorização de recursos endógenos.
Precisamos de um futuro baseado em renováveis, mas não daremos os passos todos de uma só
vez, seja no setor dos transportes ou na produção de eletricidade. Há muito que ambicionamos
uma energia segura, limpa, facilmente disponível e economicamente acessível. Esse caminho
ainda não está feito. O mundo não mudará para o hidrogénio amanhã, pois existem diversas
barreiras a ultrapassar. Contudo, tudo indica que a disponibilidade de energias fósseis se irá
reduzindo, gradualmente, até ao final deste século, permitindo a emersão do mundo póscarbono baseado numa oferta energética diversificada e num modelo inteligente de procura. É
verdade que a transição poderá ter momentos complexos, basta considerar a atual turbulência
nos países produtores de petróleo para assumirmos uma perspetiva geopolítica da segurança
do abastecimento e não apenas a leitura ambiental. Poderemos também pensar que o objetivo
a longo prazo poderá ser o de mudarmos de estilo de vida, melhorar o perfil de sustentabilidade
das renováveis, visar uma forte desconcentração energética e procurar uma nova ecotopia.
Contudo, talvez, o melhor mesmo seja admitirmos que o mundo é complexo e que a incerteza
faz parte do jogo energético: quem sabe, por exemplo, para onde nos levarão as aplicações
transversais da nanotecnologia?
Investir no conhecimento e na informação, na eficiência energética e em sistemas distribuídos,
assim como na diversificação das fontes de energia, significa dar resiliência a Portugal. Esse
investimento encorajará a inovação e o desenvolvimento, mas também assegurará antecipação
e capacidade intrínseca para responder a perturbações e pressões extremas. Fukushima não
deveria ter sido necessário.
2
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
“
Portugal (...) só
pode beneficiar
de estratégias
alternativas
baseadas
num catálogo
tecnológico de
valorização
de recursos
endógenos
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Dia da Inovação Ambiental › 3 de Junho
ORGANIZAÇÃO
APOIO
MECENAS
ENTREVISTA
Eduardo de Oliveira Fernandes
Começa por dizer, no seu jeito característico e conhecido,
que os portugueses precisam de ”calor no coração”, mas
também nas casas, nas empresas, na indústria. A energia
sob a forma de calor é a que mais consumimos e para
essa não é necessária energia elétrica e muito menos
a produzida por centrais nucleares. Defende ainda que,
”instalar ar-condicionado nas habitações em Portugal, só
por receita médica”.
Entrevista conduzida por António Guerreiro de Brito | Jornalismo por Carla Santos Silva | Fotografia por Ricardo Jorge Silva
4
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 março/ABRIL 2011
ENTREVISTA
Indústria e Ambiente (IA) – Comecemos pelo
seu mote ”a melhor energia é aquela que não
se consome”. Onde deveria ser dado o maior
golpe no consumo? Por onde começar?
Eduardo de Oliveira Fernandes (EOF) – Embora parecendo contraditório, nem sempre uma
política ou estratégia para a redução do consumo de energia é necessariamente a melhor
estratégia, isto porque energia é vida e nós
queremos viver felizes. Nós precisamos de
energia. Temos é que identificar melhor qual
é a energia de que precisamos.
Atualmente, em Portugal, energia é energia
elétrica. Li recentemente uma declaração de
um senhor general, que já foi Presidente da
República, afirmando que nós temos problemas de energia e que precisamos de energia
nuclear. A energia nuclear satisfaz as necessidades da energia elétrica, mas a energia
elétrica é cerca de 20% da energia de que os
portugueses precisam. Quem se ocupa dos
outros 80%? Na realidade, esta maior fatia é
de energia para a mobilidade e energia para
produzir calor. Mais de 1/3 da energia que os
portugueses consomem, nas empresas ou
nas suas casas, é energia calor, na cozinha,
nos banhos, no aquecimento ambiente e na
indústria! A energia consumida sob a forma
de calor em Portugal corresponderia à energia produzida por 3 ou 4 centrais nucleares.
Ninguém vai construir centrais nucleares
para produzir calor a 30, 40 ou 60ºC. E se fosse, faria um erro de palmatória só desculpável
na França do General De Gaule.
É preciso adotar uma abordagem de racionalidade à energia e usar a energia de acordo
com as exigências da procura. Eu não posso
ligar um televisor a um tubo de gás, mas há
usos para os quais a energia do gás é tão boa
ou melhor que a eletricidade. A energia do gás
é boa para fazer chá e a da eletricidade, se for
usada para fazer chá emite o dobro das emissões de CO2. Estou a falar de equivalências
entre formas finais de energia e da sua relação com o ambiente. Se falarmos em custos o
raciocínio é menos claro porque todo o sistema de preços da energia em Portugal está d
Veja-se o exemplo do programa de renovação das escolas [ver caixa]! Quem conhece o
tema da energia nos edifícios só pode considerar isso uma aberração e envergonhar-se
com esse símbolo de novo riquismo saloio.É
necessário pôr ordem nisto e para tal é preciso uma política energética que vá para além
das “renováveis para a eletricidade” política
que foi sinalizada com o Programa E4 que eu
tive o privilégio de redigir e foi aprovado pelo
Governo do Engenheiro António Guterres.
IA – O objetivo do ERCE (European Renewable
Energy Council) é 100% de energias renováveis, em 2050, na Europa. É alcancável ou é
uma utopia?
EOF – Grande parte dos problemas energéticos podem ser resolvidos aproveitando os recursos energéticos localmente e organizando
os usos da energia com raionalidade energético-ambiental. Pense-se nos edifícios, o segundo setor que mais energia primária consome em Portugal! Para o conforto térmico
de um edifício no Porto, não é preciso ir buscar energia das ondas a Peniche, se o edifício
for bem projetado. O conforto deve ser obtido
com meios próprios, o que é particularmente
favorecido pelo nosso clima e seus recursos
naturais (radiação solar, luz natural, baixa humidade relativa quando as temperaturas são
elevadas, etc.). Não tenho grandes dúvidas,
que no fim deste século, estaremos numa
inversão da proporção que hoje temos entre
energias renováveis e fosséis. Há cenários
que apontam para que, enquanto hoje temos
10% de renováveis e 90% de fósseis, teremos,
no fim do século, 10% de fósseis e 90% de renováveis. Se em alguns países esta proporção pode ser antecipada para 2050 ou 2070,
não sei, nem quero fazer esse “futurismo”.
Mas a tendência será nesse sentido. Como lá
chegar? Desde logo, usando os edifícios como
abrigos racionais. Os alemães estão a reduzir
o consumo energético nos edifícios em 80%
reduzindo as necessidades de aquecimento para o conforto isolando a envolvente ou
substituindo o consumo de energia convencional por um melhor aproveitamento dos
recursos naturais de proximidade como seja
o Sol para o aquecimento da água sanitária.
IA – O ERCE defende também uma Super
Rede Europeia à qual deveriam estar ligados
todos os micro e macro produtores. Ainda é
uma das menores das nossas preocupações?
EOF – Isso é diferente. As Super Redes e as
Redes Inteligentes são importantes pela
flexibilidade que dão à utilização da energia
elétrica, porque nós devemos usar as redes
numa lógica de garantia de abastecimento e,
até mesmo, de solidariedade. O conceito da
autossuficiência energética é algo que não
deve existir no nosso tempo. A ideia de funcionarmos em rede, não é pela sua dimensão,
mas é pelo garante de determinadas condições, como a qualidade da energia e porque
podem acolher uma variedade de produções.
Quando foi lançado o programa eólico em
2001 - estamos a celebrar a década do eólico em Portugal - os responsáveis pela REN,
invocaram problemas de incapacidade para
“
O conforto deve ser
obtido com meios
próprios, o que é
particularmente
favorecido pelo
nosso clima e seus
recursos naturais
acolher a energia eólica prevista (3000 MW
em 2010), nomeadamente por razões de instabilidade das redes. Atualmente, temos chegado a ter dias com produções de 70 a 80% de
eletricidade de origem eólica a ser injetada na
rede elétrica sem problemas aparentes. Há
risco nisso, sem dúvida, mas a prova aí está
da competência técnica da REN e do potencial
da tecnologia para vencer os velhos do Restelo e os agentes de resistência à mudança.
IA – Há quem fale dos potenciais custos ambientais causados pelo arranque de centrais
termoelétricas, que chegaram a parar a sua
produção, pelo facto das renováveis satisfazerem em alguns dias o total da procura de
eletricidade. O que pensa sobre isso?
EOF – As centrais termoelétricas terão que
se adaptar à nova realidade de produção de
energia elétrica. As centrais do futuro terão
provavelmente potências metade ou 25%
das potências maiores que temos agora
(de 1000MW passam para 500 ou 250MW).
Anunciam-se nestes dias nos Estados Unidos as primeiras centrais nucleares (!) desta
pequena dimensão para 2020. Isto para terem muito mais facilidade na sua operação
e integração no novo paradigma energético
que é feito de diversificação e descentralização de fontes deixando para trás os conceitos
verticalizados dos anos 60 e 70 do tipo EDF
e EDP. Não se pode de forma alguma condicionar a produção das eólicas de agora, pelo
comportamento de termoelétricas que já têm
20 anos. Aliás, a potência das centrais a gás
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
5
ENTREVISTA
de ciclo combinado, que foram recentemente
autorizadas em Portugal, é “fatiada” na ordem dos 400 MW.
Esta é mais uma razão pela qual eu acredito que uma central nuclear convencional não
aterrará tão cedo em Portugal, porque não
haverá no mercado num horizonte próximo
centrais com dimensões inferiores a 1400
MW. E uma produção destas abafaria a concorrência das renováveis por não poder funcionar em para-arranca.
IA – A gestão energética deverá seguir a filosofia do micro para o macro? Fazem sentido a
microgeração e a minigeração no sentido de
vender à rede para depois comprar?
EOF – Nós devemos funcionar sempre em
relação à rede elétrica quando microgeração
significa microgeração de eletricidade. Esta
tecnologia irá desenvolver-se naturalmente
mas, em Portugal, enquanto temos estado
a apostar na eólica, não deveríamos estar a
apostar no fotovoltaíco na dimensão em que
o temos estado a fazer, porque isto traz custos excessivos e quem paga estas aventuras
são os consumidores. Neste sentido, eu estou em desacordo com o programa de difusão
do fotovoltaíco que está neste momento em
curso em Portugal. Mas convém não esquecer que também há microgeração de calor. E
que essa pode ter uma dimensão que, em termos energéticos, pode equivaler a toda a produção eólica atual. Só que microgeração de
calor é para consumo próprio de um edifício
ou bairro ou de uma indústria, com as tecnologias solares passivas nos edifícios (aquecimento ambiente pelo sol, sombreamentos no
verão, luz natural, ventilação noturna, etc.), os
coletores solares térmicos ou as bombas de
calor ou, ainda, a biomassa florestal de proximidade queimada em sistemas ambientalmente adequados.
IA – Falando da energia nas cidades e nos
transportes, considera que as cidades se vão
replanear e reorganizar numa perspetiva de
eficiência energética? Temos centros da cidade com excelentes transportes, mas inabitados, e periferias populosas com parca opção
de transportes para os centros. Como resolver isto?
EOF – É evidente que se assistiu a uma construção desordenada e os limites urbanos
foram estendidos. Hoje em dia, nós temos
consciência de que isso pesa muito na energia, concretamente ao nível dos transportes
rodoviários. É hoje consensual que temos que
apostar mais no transporte coletivo e, nomedamente, no transporte ferroviário.
Àquelas pessoas que defendem o nuclear,
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 março/ABRIL 2011
eu chamo a atenção para o facto de o nosso
maior problema energético estar ligado à importação dos combustíveis. Uma parte é ainda para produzir eletricidade, mas uma grande parte para os transportes. E quanto aos
veículos elétricos, não nos resolvem o problema amanhã. Eles só terão alguma expressão
quantitativa no balanço energético para além
de dez, quinze anos, pelo que quando vejo
toda a publicidade a ligações para os veículos
elétricos, considero-as manobras de marketing barato e alienante, porque a tecnologia
ainda não está banalizada. É bom saber que
no horizonte existirão os veículos elétricos.
Mas isso não nos dispensa de procurar para
o imediato alternativas ao transporte individual. Já imaginámos a A5 daqui a 50 anos
engarrafada com veículos elétricos?
Quando falamos das cidades e transportes
do futuro, temos que pensar que o futuro começa já hoje e tem que se construir, novo ou
reabilitado, pensando no hoje e no amanhã e,
quanto aos transportes é fundamental que
haja decisões tomadas hoje pelas autarquias,
em articulação com as políticas nacionais, no
sentido de estimular o transporte coletivo,
criando condições para a sua utilização e, simultaneamente, dificultar ou onerar o transporte individual. Por exemplo, na área do Porto, sabemos que o Metro tem tido um impacto
extraordinário, na ordem dos dois dígitos por
cento, na redução do transporte individual.
Um resultado destes deveria levar uma política nacional atenta a estimular o progresso
do Metro na região do Porto, porque os resultados da zona de Lisboa até hoje não parece
terem sido tão evidentes. Nós temos que ver
porque é que a redução do transporte individual face à utilização do Metro do Porto foi,
nos últimos 5 anos, maior do que na zona de
Lisboa, fazer estudos comparados e tirarmos
lições de um lado e do outro para promover
o transporte coletivo. As medidas de incentivo ao uso do transporte coletivo não podem
ser isoladas das medidas de desincentivo ao
transporte individual. É preciso dar alternativas dignas às pessoas; criar barreiras ao
uso transporte individual (como por exemplo,
tornar o estacionamento pago nas cidades)
sempre que o transporte coletivo seja considerado de qualidade. Podem-se criar outros
mecanismos, com o favorecimento da reanimação dos centros das cidades. Temos cidades vazias do ponto de vista de moradores,
pelo que temos de criar condições para chamar as pessoas aos centros e criar mecanismos para que na reabilitação dos edifícios de
habitação nos centros, estes não se tornem
inacessíveis à população.
IA – Gostaríamos que completasse a frase:
”Se fosse eu que mandasse...” (A propósito da
política energética nacional e europeia.)
EOF – Acima de tudo temos que ter abordagens com pragmatismo, i.e. ponderar as
alternativas de modo a ver quais as que podem responder melhor às necessidades da
economia e do bem-estar das pessoas. Um
programa solar térmico em Portugal sério e
PUB.
“
Compromisso com o futuro
Quando falamos
das cidades e
transportes do
futuro, temos que
pensar que o futuro
começa já hoje e tem
que se construir,
novo ou reabilitado,
pensando no hoje e
no amanhã.
realista teria criado mais empregos do que os que foram criados
com as obras das escolas. Empregos que se projetariam no futuro. Criámos regulamentos de certificação energética dos edifícios
e agora temos de andar atrás dos certificadores e dos construtores, uma miríade de atores sem a competência necessária e sem
qualquer enquadramento profissional e deontológico. Para além
dos programas de auditoria e de certificação da qualidade do ar
deveríamos ter criado uma nova cultura, uma envolvência técnica
de especialistas criando novos empregos e uma nova perspetiva
para a energia nos edifícios. Este é um domínio que está muito
burocratizado e em que não se usa a competência que levou aos
regulamentos que o país tem para assegurar a boa implementação dos mesmos regulamentos. A gestão dos regulamentos não
é um exercício de polícia que vigia a aplicação das regras mas requer uma frente avançada que recrie e readapte essas mesmas
regras. Veja-se a EPBD (Diretiva Europeia em que se baseia o SCE
– Sistema de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior
dos Edifícios) que já foi revista entretanto. Os regulamentos portugueses também estão em revisão mas, quanto julgo saber, não
com a perspetiva de futuro que se imporia.
Em contrapartida, o programa eólico teve imenso sucesso – embora haja quem seja contra o programa eólico, porque enquanto
este tiver sucesso o programa nuclear perde oportunidade. Teveo, porque definimos um preço a pagar ao kWh que hoje em dia já
está em linha com o preço do termoelétrico. Depois o mérito foi
também dos interlocutores – uma meia dúzia promotores - que
usaram um instrumento que todo o sistema financeiro sabe usar,
o “project finance”. No fundo o projeto eólico teve sucesso porque temos boas condições de recursos naturais e porque usamos
uma elite, do ponto de vista empresarial. Agora quando chegamos
às escolas ou quando chegamos ao solar térmico, os interlocutores são centenas de arquitetos que nunca tiveram iniciação à
energia e ainda pensam que a arquitetura é só um exercício de
arte e transformam o edifício num boeiro de energia. Temos mau
O
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ENTREVISTA
Irracionalidade energética
“Um exemplo chocante:
O Programa de renovação das escolas é a ”mancha no Programa
das Renováveis” em Portugal que mostra que de facto não existe
responsabilidade a nível do poder político. Foram colocados nas novas
(!) escolas sistemas de ar condicionado que representaram quase 20% do
valor global do programa - 3 mil milhões de euros – que, hoje, os diretores
nas escolas renovadas desligam porque não têm dinheiro para a energia
consumida. As escolas que foram planeadas à novo-rico, em contraciclo
com todas as preocupações de natureza energética e ambiental nos países
da Europa, vão ficar piores em conforto e em qualidade do ar interior,
quando for desligado o ar-condicionado, do que se este não existisse,
porque foram projetadas para o ar-condicionado. Isto é um exemplo
escandaloso, indigno, inqualificável e que mostra que de facto o discurso
político em Portugal é incoerente, ignorante e inconsistente. Entretanto,
às pessoas que acham que as escolas ficaram ”muito bonitas” lembraria
a satisfação dos suecos quando nos anos 70 viram que a água dos seus
lagos, até aí baços, começou a ficar transparente e límpida. Alegria errónea
porque afinal aquele aparente benefício significava tão só uma nova
poluição por chuvas ácidas com origem nas centrais térmicas do Reino
Unido e do Norte da Europa.”
desenho de arquitetura e gostamos de dar
sinais exteriores de riqueza. Tem que se regressar ao conceito do programa E4, um novo
programa que aposte na eficiência energética
e nas energias endógenas não só para a produção de eletricidade.
IA – Por último, se a Europa detivesse muitos
poços de petróleo andaria tão preocupada
com o CO2?
EOF – Podia ser que não. A Europa tem uma
obrigação para com o resto do mundo, resultante de ter um património de sabedoria, de
conhecimento e de um certo avanço temporal (que, aliás, vai felizmente desaparecendo). E embora os economistas digam que o
mercado é racional, em muitas áreas e especialmente na da energia, não existe tanta
racionalidade quando sabemos o que são os
lobbys, os cartéis, as distorções introduzidas
pelos sistemas fiscais. Mediante isto, eu acho
que a Europa está a fazer o seu papel e está a
fazer o seu papel bem.
E devemos esperar que os países que tenham
petróleo o guardem para as situações em
que tenha outra utilidade, como é o caso da
produção de novos materiais e para o suprimento de energia em situações de transição
e, neste campo o gás natural tem um papel
importantíssimo, em Portugal e na Europa:
é o último dos combustíveis fósseis que tem
um papel determinante nesta transição; mais
limpo, mais versátil, e, porventura, abundante
por muito mais tempo.
8
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 março/ABRIL 2011
PERFIL
Professor na Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Doutor EPFL,
Suíça (1973), 40 anos no ensino, investigação, consultoria e atividades públicas,
em temas da energia e ambiente. Vice-Reitor da Universidade do Porto (198691), Secretário de Estado do Ambiente (1984-85), Vice-Presidente (1991-95) e
Presidente (1995-97) da International Solar Energy Society, Responsável pelo
conceito Energia/Ambiente da EXPO’98 em Lisboa (1993-98), Secretário de
Estado da Energia (2001-02). Desde 2006, Presidente da Agência de Energia
do Porto, e desde 2008 perito da CCDRn – QREN Energia. Presidente da SPES
(Sociedade Portuguesa de Energia Solar), desde 2010.
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Depois de, em julho de 2010, com o anunciado fim
das tarifas reguladas do gás natural para consumos
superiores a 10 000 m3/ano, a indústria portuguesa
ter suportado aumentos muito significativos nas
respetivas tarifas de acesso, fomos confrontados em
janeiro deste ano, após a cessação das tarifas reguladas
para a MAT, AT, MT (muito alta, alta e média tensão) e
BTE (baixa tensão especial), com fortes aumentos dos
preços da eletricidade.
A Energia e a
Competitividade da
Indústria Portuguesa
No contexto da viva contestação que se verificou como reação a estes aumentos, tem
sido frequente ouvir afirmações, vindas de
entidades e empresas com responsabilidade
no setor energético, de que os preços da eletricidade, em Portugal, quer para o setor doméstico quer para o industrial, são mais baratos do que em Espanha. Estas afirmações
são baseadas em estatísticas do Eurostat,
mas importa corrigi-las no tocante ao setor
industrial, porquanto não correspondem à
realidade.
Antes de tudo, é preciso verificar como são estabelecidas essas estatísticas:
1.ºPara o setor industrial, em que já não existem tarifas reguladas de venda ao cliente
final na generalidade dos países europeus,
a comparação dos preços finais realmente
pagos é extremamente difícil, visto basear-se em tarifas de referência fornecidas
pelos comercializadores aos reguladores
desses países.
Os preços que constam dos contratos, obviamente confidenciais, não são conhecidos.
O que aquelas estatísticas comparam não
10
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
J. Batista Pereira
Membro do Conselho Diretor da Solvay Portugal
Coordenador do G.T. da APIGCEE – Associação Portuguesa
dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica
é, por conseguinte, o preço final realmente
pago pelos consumidores.
2.ºQuando se apresenta um comparativo de
preços, convém também definir o período
a que respeitam e, portanto, se já incorporam o forte agravamento das tarifas de
acesso, em vigor desde o passado dia 1 de
janeiro.
De registar que, em Espanha, o aumento
das tarifas de acesso, a partir de 1 de janeiro deste ano, foi nulo, só se tendo verificado um pequeno acréscimo no “pagos por
capacidad”, que corresponde, em Portugal,
à Garantia de Potência, mas que, ao contrário do nosso País, não está incluído nas
tarifas de acesso.
Observem-se, pois, as estatísticas Eurostat depois de terem incorporado os aumentos das tarifas de acesso, a partir de
janeiro deste ano...
3.ºAs estatísticas Eurostat comparam preços
por gama de consumo.
A gama mais elevada, designada por Banda If, compara consumos inferiores a 150
GWh/ano. Ora, os grandes consumidores
de energia elétrica, associados na APIGCEE,
para quem a energia elétrica é o principal
fator de custo, têm consumos superiores
àquele valor. Os grandes consumidores
de energia elétrica não estão, portanto,
abrangidos pelas estatísticas Eurostat.
4.ºInteressa, finalmente, comparar os preços
finais da eletricidade realmente pagos pelos consumidores industriais.
De uma forma simplista, o preço final apresenta as seguintes componentes:
Preço Final = Preço Energia + Tarifas
Acesso - Remuneração Serviços Sistema
Os preços da energia são cobrados pelo
comercializador e são os constantes do
contrato assinado. Como o preço de base
é o do mercado e o MIBEL (Mercado Ibérico
de Eletricidade) é comum a Portugal e Espanha, desde que se garanta uma concorrência adequada, aqueles preços não serão
muito diferentes nos dois países.
As tarifas de acesso são fixadas, em Por-
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
tugal, pela ERSE e, em Espanha, pelo Governo. As tarifas de acesso eram, efetivamente, mais baixas em Portugal até
31/12/2010. Mas essa situação inverteuse com os aumentos verificados a partir
de 1/01/2011. Recordemos quais foram: de
150 a 210%, na MAT; de 130% na AT; e de 80%
na MT.
Como referido anteriormente, em Espanha
foram ZERO.
A Remuneração dos Serviços de Sistema,
de forma simplista designados por interruptibilidade, é francamente mais elevada
em Espanha (20 €/MWh, para os atuais
preços de mercado) do que em Portugal
(12 €/MWh). Só esta componente do preço
final é responsável por 10 a 15% do agravamento do preço final pago em Portugal.
E isto no pressuposto de que a empresa
pode aderir ao serviço de interruptibilidade,
o que nem sempre acontece, mas que em
caso afirmativo também tem custos.
5.ºOutro fator importante de agravamento
do preço final em Portugal respeita à duração das horas de vazio, em que o preço
da energia é mais barato.
Em Portugal, as horas de vazio são cerca
de 4100 por ano, enquanto em Espanha
são de 5100. Para as mesmas tarifas, o
preço final resulta, por isso, mais caro em
Portugal.
Em consequência dos motivos apresentados, os grandes consumidores de energia
elétrica, alimentados em MAT e AT, pagam
em Portugal mais cerca de 20% do que em
Espanha.
“É urgente garantir condições de
preço da energia”
Como alguns dos setores industriais representados na APIGCEE estão a trabalhar, dos
dois lados da fronteira, entre 20 a 30% abaixo
da sua capacidade, e a energia elétrica chega a
atingir 50% dos custos de produção, facilmente
se compreende que, no caso português, estes
setores industriais lutam pela sua sobrevivência.
Como se trata de empresas que produzem
bens essenciais, com forte impacto na balança de transações correntes, tanto do lado
das exportações como das importações evitadas, é urgente garantir condições de preço
da energia, no âmbito do MIBEL, que permita
idênticas condições de competitividade em
Portugal e Espanha.
Esperança no futuro
Uma janela de oportunidades foi aberta
pela Resolução do Conselho de Ministros de
15/12/2010, que aprovou a “Iniciativa para a
Competitividade e Emprego”: no seu ponto 1h),
prevê “rever os mecanismos de formação de
preços de bens e serviços essenciais à indústria, nomeadamente eletricidade, tendo em
vista a sua competitividade, até ao final do 1.º
trimestre 2011”.
No âmbito desta revisão, deverão ser questionados os designados “custos de interesse geral” e o respetivo critério de alocação pelos diferentes níveis de tensão, tendo presente que:
— As tarifas de acesso incidem, na atualidade, sobretudo sobre as tarifas de energia,
penalizando assim, principalmente, a indústria, que é a melhor utilizadora do termo de potência.
Compreende-se por isso a alteração do
critério de alocação dos sobrecustos devidos às energias renováveis, estabelecida pelo DL nº. 90/2006, de 24/05, que
permitiu introduzir um fator minimizador
daquela situação.
Contudo, mesmo assim, temos constatado que os aumentos para a indústria têm
sido todos os anos, sistematicamente, superiores aos do setor doméstico.
— Não é compreensível nem aceitável que as
receitas geradas pelo setor elétrico - contrapartidas financeiras pagas ao Estado
pelos concursos das energias renováveis
(grandes barragens e fotovoltaicas e, mais
recentemente, mini-hídricas) - sejam utilizadas para fins fora do sistema elétrico,
ao passo que todos os custos estão a ser
suportados pelo sistema elétrico.
Em conclusão: face à perda de competitividade de que alguns setores industriais já sofrem,
devido ao diferencial de preço da eletricidade entre Portugal e Espanha, é necessário o
máximo cuidado nas alterações previstas à
atual legislação, porquanto a sua aplicação
pela ERSE não terá depois quaisquer preocupações de política económica - reconheçamos
que não fazem parte das suas competências
-, não respeitando mesmo o DL nº. 165/2008,
de 21/08, que pretende promover a estabilidade tarifária e que teria talvez de ser melhor
adaptado à situação atual.
Tenhamos esperança que o bom senso prevaleça...
sobre a APIGCEE
A Associação Portuguesa dos Industriais
Grandes Consumidores de Energia Elétrica (APIGCEE), abrange setores-chave
da indústria portuguesa – automóvel,
cimenteira, siderúrgica, petroquímica,
mineira e química de base.
O volume de faturação das empresas
associadas está acima dos 4 500 milhões de Euros anuais, que corresponde
a cerca de 10% do PIB industrial. A fatura anual de energia elétrica é superior a
150 milhões de Euros.
A APIGCEE é especialmente caracterizada pelo facto de a energia elétrica ser
um elemento fundamental dos custos
de produção para os seus associados,
constituindo fator essencial para a sua
competitividade.
As empresas associadas, alimentadas
em MAT e AT, são caracterizadas por
consumos elétricos muito relevantes e
que no seu conjunto representam um
consumo anual superior a 3 000 GWh,
que corresponde a mais de 20% de toda
a indústria portuguesa e a quase 7% do
consumo nacional.
O peso percentual do custo de eletricidade no total dos respetivos custos
de produção é normalmente superior a
10%, chegando nalguns casos a ultrapassar os 50%.
Estando os seus produtos sujeitos a
uma concorrência no mercado global,
as empresas membros da APIGCEE são
muito sensíveis às alterações legislativas e regulamentares nos mercados
elétricos.
A APIGCEE inclui entre os seus associados, para além de alguns dos maiores
Grupos Industriais Nacionais, empresas
que representam uma parcela importante do Investimento Direto Estrangeiro. Estas empresas e setores são
decisivos na estabilização e captação
futura de mais IDE para Portugal.
A APIGCEE é um parceiro vocacionado
para colaborar com todas as Entidades
na definição da necessária otimização
energética portuguesa.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
11
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Se existe um setor, um tema, em que são evidentes as
vantagens, para Portugal e Espanha, em articularem
esforços, esse campo é o da energia.
Quer do ponto de vista da segurança do abastecimento,
quer da otimização de recursos económicos e, também
nos impactes ambientais – partilhar infraestruturas,
aproximar regras técnicas, regulatórias, económicas, é
uma questão de bom senso, no sentido da obtenção de
vantagens mútuas.
A GESTÃO DA OFERTA
E DA PROCURA NO
MERCADO IBÉRICO
Enquadramento Europeu
É sabido que a União Europeia vem desenvolvendo – sobretudo na última década – pressão, no sentido da convergência das políticas e
perfis energéticos dos Estados Membros.
Essa ênfase vem sendo acentuada com a
perceção da dependência e exposição à volatilidade dos preços no espaço da U.E. – brutal
flutuação dos preços de combustíveis fósseis
na primeira década do novo século, pressões e
chantagens russas, instabilidade no Norte de
África e Médio Oriente, entre outras razões.
Face à variedade de realidades e perfis energéticos – quer do lado da oferta, recursos endógenos, mas também do lado da procura – a
que acrescem normativos, políticas fiscais e
uma perceção estratégica do setor energético, a homogeneização energética da Europa, a
tentativa de pôr a U.E. – enquanto maior importador mundial de matérias-primas energéticas – a falar a “uma voz” face ao exterior,
torna-se uma tarefa ciclópica.
Por idênticas razões, às quais acrescem realidades das empresas energéticas distintas, é
muito moroso e difícil criar as condições para
um sensível avanço na criação de um verda-
12
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
deiro mercado interno.
Tenhamos ainda em conta que nos confrontamos com problemas específicos e obstáculos diferentes, quando abordamos - para só
falar nestes – o setor dos combustíveis líquidos (derivados do petróleo para transportes,
aquecimento e usos industriais), ou o setor do
gás natural e, ainda, o setor elétrico.
Tal realidade tem levado à tendência para a
criação de mercados regionais, com desenvolvimentos mais ou menos profundos e voluntaristas, acolhendo realidades e geografias
mais homogéneas, nos países nórdicos, países do Benelux e Península Ibérica.
Já do lado da oferta, leia-se da promoção da
eficiência energética, o objetivo traçado de
melhorar o uso da energia em 20% até 2020,
é uma meta transversal requerida a todos
os Estados Membros por igual, se bem que o
“cardápio” das medidas a privilegiar em casa
País, dependa das suas especificidades.
A Península Ibérica
Os desafios colocados a Portugal e Espanha
(Mercado Ibérico) surgem de forma “natural”,
Nuno Ribeiro da Silva
Endesa Portugal
devido às relativas semelhanças de perfis
energéticos, reforçado pelo facto de a Península estar praticamente a funcionar em “ilha”,
dadas as limitadíssimas ligações à França –
logo, ao resto da Europa – em oleodutos, gasodutos e rede elétrica de transporte.
Nas figuras 1 e 2 apresenta-se o perfil e estrutura das realidades energéticas de Portugal e
Espanha, com os últimos dados consolidados
e tratados com a mesma metodologia pela Direção Geral de Energia da Comissão Europeia.
Combustíveis líquidos
No que diz respeito aos combustíveis derivados do petróleo, verifica-se uma considerável
semelhança de realidades, apenas marcada
por um contraste relevante na carga fiscal imposta aos diferentes derivados do petróleo, o
que se tem vindo a acentuar nos últimos dois
anos, fruto das realidades das contas públicas
e da situação económica dos dois países.
No que respeita à fiscalidade, Portugal e Espanha contrastam, tendo o nosso País uma
das mais elevadas cargas fiscais da U.E. nesta
matéria, ao contrário da Espanha que tem das
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Spain
Portugal
Demand
Demand
FIGURA 1 Perfil e estrutura da realidade energética de Portugal (Market Observatory
FIGURA 2 Perfil e estrutura da realidade energética de Espanha (Market Observatory
for Energy).
for Energy).
Portugal
Spain
EU-27
2008
Portugal
Spain
EU-27
EU-2
2008
2008
Gross Inland Consumption
Gross Inland Consumption
(Energy mix in % of total Mtoe)
(Energy mix in % of total Mtoe)
Gross Inland Consumption
(Energy mix in % of total Mtoe)
Renewables,
4.42, 18%
Renewables,
10.95, 8%
Solid fuels,
2.52, 10%
Solid fuels,
13.89, 10%
Solid fuels,
306.32, 17%
Renewables,
Nuclear,
151.05,15.21,
8%
11%
Nuclear, 0.00,
0%
Nuclear,
241.76, 13%
Gas, 4.14, 17%
Gas, 34.91, 24%
Gas, 440.75,
25%
Oil, 13.02, 55%
Oil,Oil,
67.86,
47%
655.93,
37%
EU-27
Spain
Portugal
Gross
Inland
Consumption
Gross
Inland
Consumption
(Energy
mix
in Mtoe)
(Energy
mix in
Mtoe)
Gross Inland Consumption
(Energy mix in Mtoe)
200
160 2000
30
25
Renewables
140
120
20
Nuclear
Gas
Renewables
Renewables
Nuclear
Nuclear
1600
100 1200
160
120
GasGas
80
800
60
40
40
400
20
Solid
fuelsfuels
Solid
Portugal
Total final consumption
(in % of total Mtoe)
2008
2008
et
Industry, 26.77,
28%
Agriculture,
2.72, 3%
Households,
Agriculture,
15.70, 16%
26.29, 2%
Transport,
7.28, 40%
2007
2008
Services,
etc., 153.50,
Services, etc.,
13%
10.03, 11%
Industry, 5.56,
30%
2008
2006
2005
2007
2005
2004
2006
2000
2000
2001
1999
1999
1998
1998
EU-27
Spain
Total final consumption
Total final consumption
(in % of total Mtoe)
(in % of total Mtoe)
2008
Services, etc.,
1.96, 11%
Agriculture,
0.36, 2%
Households,
3.12, 17%
1996
1997
1997
1995
0
1995
1996
2008
2007
2006
2005
2004
0
2003
2002
2000
1999
1998
1997
1996
1995
0
2001
Solid fuels
2004
2003
5
80
Oil Oil
2002
2003
Oil
10
2001
2002
15
Industry,
317.89, 27%
Transport,
374.27, 33%
Transport,
40.19, 42%
Households,
296.69, 25%
Ag
26
EU-27
Spain
Total
consumption
Total
finalfinal
consumption
(in Mtoe)
(in Mtoe)
Portugal
Total final consumption
(in Mtoe)
1400
120 1400
20
Services, etc.
16
Agriculture
100
14
Households
80
Services,
etc.
Services, etc.
Agriculture
1200
1000
12
800
60
Transport
200
Industry
Industry
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
Prepared by: European Commission, DG Energy
Data Sources: EC (ESTAT, ECFIN), EEA
Prepared by: European Commission, DG
Energy
29/06/2010
Data Sources: EC (ESTAT, ECFIN), EEA
Page 1 of 4
2008
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0
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0
0
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200
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20
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2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
0
400
400
2001
2001
2002
Industry
1996
600
1999
1999
4
1995
6
1995
800
Transport
Transport
1998
1998
40
1996
1997
1997
8
2
1000
600
1995
1996
10
1200
Agriculture
Households
Households
2000
2000
18
13
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
mais baixas.
A operadora “nacional” tem ganho presença
em Espanha e as empresas espanholas em
Portugal, aproveitando a ocasião da maior
parte das empresas petrolíferas europeias e
norte-americanas terem abandonado o mercado ibérico – Exxon Mobil, Shell, BP em Espanha.
Digamos que é um segmento que tem feito o
seu trabalho…
Eletricidade: O MIBEL
O subsetor elétrico tem sido o que mais tem
ocupado os Governos dos dois estados ibéricos na tomada de decisões políticas, com vista
à criação de um mercado elétrico comum.
Muito foi feito, bastante está por fazer…
Face às “limitações de espaço”, tento resumir
os aspetos práticos do esforço realizado e de
importantes tópicos que estão por resolver.
O mercado elétrico ibérico é quase uma realidade, enquanto mercado grossista:
MAIOR INTERLIGAÇÃO
—A capacidade atual é de 1800 MW no
verão e 1900 MW no inverno.
—A capacidade de interligação atingirá
os 3.000 MW em 2015 (~30% da procura portuguesa ~21% atualmente)
+
CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA
—O mix de produção está cada vez mais
perto do espanhol:
- Crescimento ER em ambos os países
- Desaparecimento de gás combustível
- Entrada de novos CCGTs
48,661
273,310
Produções 2010 (GWh)
CCGT
Carvão
Nuclear
Hidráulica
RE
Portugal
Espanha
A diferença relevante entre o ”cabaz” nacional
e o espanhol, está no maior peso do hídrico
no nosso país, compensado pelo nuclear em
Espanha.
14
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA
Evolução spread Espanha-Portugal
—Desde 2007, os agentes Ibéricos oferecem a um único mercado grossista.
—A interligação é gerida pelo próprio mercado e a diferença dos preços tende a ser zero.
—Em 2010 produziu-se 1836 horas em mercado splitting (21% do total). O spread médio foi
de 0,32 € / MWh.
Apesar da evolução positiva espelhada no mapa anterior, é preocupante o facto de, em situações
críticas de oferta-procura, o mercado “fechar” (“market-splitting”), deixando de haver lugar à “formação de preço ibérico”, o que ocorreu em 21% do ano.
Apesar do progresso evidente desde o seu arranque em
julho de 2007, permanece muito por fazer para que o MIBEL
seja uma realidade consequente:
—Subsiste uma enorme assimetria regulatória entre Portugal e Espanha, com múltiplos
requisitos técnicos díspares, nomeadamente ao nível da gestão da oferta (e.g. incentivos
à instalação e manutenção de potência convencional) e da gestão da procura (e.g. oferta
de incentivos à interruptibilidade)
—Temas fulcrais para a instalação da concorrência nos dois mercados mantêm-se por regular (e.g. Adoção do Conceito de Operador Dominante proposto pelo Conselho de Reguladores em 2007; Abolição das Tarifa reguladas ao Cliente Final)
<
—A assimetria regulatória introduz graves distorções na sinalização de investimento às
empresas
—Nomeadamente, a não eliminação das Tarifas ao Cliente Final em Portugal mantém uma
incerteza nos agentes de mercado que os inibe de tomar posições comerciais de longo
prazo, algo com reflexo óbvio na estratégia de cada empresa relativamente ao mercado
grossista
—As medidas de apoio à concorrência que continuam por regular são uma ameaça latente
ao mercado liberalizado de comercialização de eletricidade, nomeadamente em Portugal,
uma vez recuperada a conjuntura económica europeia e mundial (retoma da procura e
subida da energia primária)
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Dois comentários finais relativamente a aspetos estruturais a ter em atenção, com vista
a um adequado desenvolvimento e funcionamento do MIBEL:
—O primeiro decorre da chamada produção
em regime especial (centrais renováveis e
de pequenas cogerações), que atinge já cerca de um terço do total da geração elétrica
na Península. Pelo “peso” que já adquiriu,
com tendência para aumentar, decorrem
várias “ondas de choque” no equilíbrio do
MIBEL, que não podem deixar de ser tidas
em conta.
—O segundo tem a ver com a evolução do
OMIP e do OMEL, no sentido da institucionalização de um operador único, processo
que tem vindo a conhecer vicissitudes, fruto de dificuldades de coordenação entre as
autoridades dos dois países e do contexto
agitado vivido pelas principais empresas
do setor.
Dados comparativos sistemas espanhol e português
Espanha
Portugal
Ano 2009
Mibgás
% Por./Esp.
Procura (GWh)
401,855
52,968
454,823
13,2%
Produção Elétrica (GWh)
160,793
23,499
184,292
14,6%
Convencional (GWh)
241,062
29,469
270,531
12,2%
Oferta (GWh)
412,239
53,657
465,896
13,0%
GNL (GWh)
305,664
30,242
335,906
9,9%
GN (GWh)
106,575
23,415
129,990
22,0%
24,000
21,500
45,500
89,6%
Armazenamento Subt. (GWh)
Assim, subsistem importantes barreiras ao mercado do gás natural, situação particularmente
grave por Sines ser ainda uma porta com algumas limitações para novos operadores e o gasoduto internacional que nos liga a Espanha, ser penalizado por dupla tarifa, a pagar ao sistema
espanhol e português.
Tais limitações administrativas e económicas limitam o uso das infraestruturas existentes.
De referir ainda que, sendo o gás natural responsável pela produção de cerca de 1/4 da eletricidade na Península, o não funcionamento do mercado para o gás, afeta e limita o próprio MIBEL, ou
seja, o bom desempenho do mercado elétrico.
PUB.
Gás Natural: o MIBGAS
Trata-se de um desígnio muito menos “trabalhado” pelos responsáveis de Portugal e Espanha e que está muito mais atrasado do que o
processo relativo aos mercados dos combustíveis e eletricidade.
Portugal e Espanha deverão tratar, em próxima cimeira ibérica, de estabelecer um mapa
de trabalho com vista à convergência de normas e atuações.
O facto de o setor em Espanha ser muito mais
desenvolvido e maduro do que em Portugal,
que apenas iniciou o seu processo de introdução do gás natural em finais da década de
oitenta, não facilita o processo de caminhar para o mercado.
Também a realidade de as empresas portuguesas e espanholas estarem “atadas” à compra, em
regime de “take or pay” aos seus fornecedores, para a esmagadora maioria do gás de que necessitam, introduz enorme rigidez na harmonização de normativos.
Contudo, trata-se de um domínio onde muitos benefícios podem ser colhidos por ambos os países com uma colaboração mais ativa e estreita.
Para além da otimização de infraestruturas, com evidentes vantagens para o consumidor final, a
crítica segurança no abastecimento tem muito a ganhar com a articulação entre os terminais de
GNL espanhóis e o importante terminal de Sines, assim como no uso crescente da capacidade de
armazenamento subterrâneo nas formações de sal que Portugal dispõe em abundância.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
15
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
A importância do
desenvolvimento da
eficiência energética
e das energias
renováveis no
contexto do aumento
da procura mundial
de energia
A Procura Mundial de Energia
O grande crescimento económico registado
nos designados países emergentes e o crescimento populacional no planeta, representam uma pressão muito significativa sobre
os recursos energéticos, em particular sobre
o petróleo e o gás natural, o que se reflete no
crescimento dos preços da energia.
Vejamos a este propósito algumas tendências
globais:
— O aumento da dimensão do sistema de
transportes mundial, demonstrado pelas
vendas de veículos automóveis ligeiros de
passageiros no continente Asiático, que
deverão atingir as 52 milhões de unidades
no ano de 2025, multiplicando por três o
valor registado em 2005, e ultrapassando
nesse ano a Europa e a América do Norte
no seu conjunto;
— No domínio da eletrificação, a existência
de cerca de 1,5 mil milhões de pessoas no
planeta sem acesso a eletricidade, permite sustentar a previsão de um investimento substancial nesta área ao longo
das próximas décadas..
16
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
Neste contexto, o desenvolvimento tecnológico na área da eficiência energética e no aproveitamento das energias renováveis revelar-se-á decisivo.
João Nuno Mendes
Economista
A Importância da Eficiência Energética
A Agência Internacional de Energia considera que o pleno desenvolvimento da eficiência
energética nos diferentes setores de atividade, num contexto de políticas ativas nesta
matéria, permitiria reduzir em mais de metade o volume de emissões de CO2 que seria
necessário anular para garantir um combate
eficaz às alterações climáticas. A concretização da eficiência energética depende do
desenvolvimento tecnológico, do apoio regulamentar, da mudança de comportamentos,
e da melhoria da gestão energética, devendo
abranger o setor dos transportes, o setor elétrico e naturalmente as vertentes de aquecimento e arrefecimento.
O desenvolvimento do aproveitamento
das energias renováveis no Setor
Elétrico e no Setor dos Transportes
A crescente importância da componente renovável de geração elétrica, sustentou o aparecimento de novas indústrias globais nos
segmentos “Eólico” e “Solar” com padrões de
produtividade cada vez mais competitivos.
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Tratam-se de áreas muito dinâmicas em termos de desenvolvimento, veja-se a título de
exemplo, a iniciativa SunShot recentemente
apresentada pelo Governo Americano que
visa a redução do custo de investimento de
uma central solar de 4USD/Wp para 1USD/Wp
no período até 2020, o que a concretizar-se
representará uma mudança verdadeiramente
extraordinária. Na União Europeia, o objetivo
de médio e longo prazo é o de assegurar a progressiva “descarbonização” do setor elétrico,
que prevê também a realização de projetos de
“CCS – Carbon Capture and Storage”.
A União Europeia assumiu
objetivos muito ambicioso de
emissões de CO2 de
95 g/km para o ano de
2020 no que respeita aos veículos ligeiros de
passageiros vendidos, que
compara com um valor de
140g/km no ano de 2009.
Neste contexto, assistir-se-á no setor automóvel a um grande dinamismo comercial de
apresentação de novas soluções tecnológicas
ao longo dos próximos anos, nomeadamente
de: veículos híbridos (que combinam o motor
convencional de combustão interna e o motor elétrico), veículos elétricos com bateria,
veículos híbridos com “plug-in” (ou seja, que
acrescentam à fórmula híbrida, a possibilidade de carregamento da bateria através da
ligação à rede elétrica), veículos elétricos a
pilha de combustível (que utilizam o hidrogénio); antecipando-se um aumento substancial
da eficiência energética nos próprios motores
convencionais.
Constata-se inclusivamente uma aproximação entre as empresas do setor petrolífero,
do setor automóvel, do setor dos gases industriais e ainda do setor elétrico para refletir
sobre o futuro da mobilidade e as suas implicações energéticas e em termos de sustentabilidade.
A exigência num período de mudança
acelerada
Vivemos assim um período de profundas
transformações económicas no mundo com
implicações em termos estruturais sobre o
modelo energético e sobre o patamar do custo
energia, impondo grandes desafios para estas
décadas, aos Estados, às Empresas e aos Cidadãos.
PUB.
Por seu turno, no setor dos transportes, a
produção de biocombustíveis representará no
ano de 2020 uma percentagem de incorporação de 10%, existindo importantes projetos de
investigação e desenvolvimento em curso na
área dos biocombustíveis de segunda geração
e nos processos tecnológicos conhecidos por
“Biomass-to-Liquid”. Este desenvolvimento
científico e tecnológico poderá sustentar percentagens de incorporação significativamente
superiores nas décadas seguintes.
O Desenvolvimento Tecnológico no
Setor dos Transportes
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
17
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
O mundo enfrenta hoje o desafio de conceber e
implementar um novo modelo de desenvolvimento
económico que compatibilize o crescimento económico
com a preservação do meio ambiente.
O Projeto Green
Islands e o futuro
dos sistemas
sustentáveis de
energia
Sendo o consumo de energia um dos fatores
de desenvolvimento com impactes ambientais mais elevados, é necessário conceber um
novo paradigma de sistemas de energia, no
qual, a energia seja crescentemente obtida
por fontes renováveis e o seu consumo seja
efetuado da forma mais eficiente possível.
Esta mudança de paradigma não é trivial. Veja-se o caso da penetração, em grande escala,
das energias renováveis na geração de eletricidade, em que a todo instante é necessário
equilibrar a produção com o consumo. A dificuldade reside no facto de muitas das fontes
de energias renováveis, como o vento, serem
variáveis e intermitentes, pelo que a geração
de eletricidade que lhes está associada não
só não é constante como não coincide com
os períodos em que é realmente necessária. Esse desfasamento entre a produção e a
procura torna o processo de gestão da qualidade e fiabilidade da rede de energia muito
mais complexo, pelo que a implementação de
sistemas de energia sustentáveis apresenta
muitos desafios de ordem técnica, económica
e social ainda hoje por resolver.
Do ponto de vista tecnológico, este desafio
18
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
tem implicações, em primeiro lugar, na utilização de equipamento que usem energias
renováveis, como as turbinas eólicas, os painéis solares térmicos e fotovoltaicos ou ainda
equipamentos mais complexos para o aproveitamento da energia geotérmica ou das
ondas. Ao nível da distribuição de eletricidade,
para permitir que cada um de nós possa ser
“produtor” de energia, o sistema tem de ganhar inteligência, permitindo a bidireccionalidade, o controlo mais fino da rede e a gestão
em tempo real de novas tarifas que possibilitem modificar comportamentos, adequando
os consumos à disponibilidade de energia. Finalmente, ao nível do utilizador, serão necessários equipamentos dotados de inteligência
que percebam os nossos hábitos e, mais uma
vez, nos ajudem a consumir a energia de forma mais eficiente e mais ajustada às disponibilidades de energias renováveis.
Estes desafios não são, assim, meramente
tecnológicos, pois exigem uma apropriação do
desenvolvimento tecnológico pelas pessoas.
Para tal, devem ser testados e apresentados sem termos do seu benefício para a sociedade. Neste contexto, é importante que as
Paulo Ferrão
IST/UTL
Programa MIT-Portugal
novas tecnologias sejam demonstradas num
ambiente propício.
Para um sistema energético sustentável, não
há melhor demonstração do que numa ilha,
que é por definição um sistema com fronteiras bem definidas que simula a uma escala
mais pequena mas fidedigna o que se passa na Terra. As solicitações que têm de ser
respondidas pelo sistema energético, num
ambiente tão exigente e onde não há possibilidade de trocas com sistemas vizinhos,
permitirão desenvolver soluções que poderão
facilmente ser aplicáveis noutros contextos
menos rigorosos.
Esta é uma das razões pela qual a região autónoma dos Açores apresenta condições excecionais para ser um verdadeiro laboratório
vivo de sistemas sustentáveis de energia,
mas não é a única. Por um lado, a diversidade
de recursos endógenos no arquipélago permite que em cada ilha sejam testadas diferentes
soluções. Por outro lado, a larga experiência e
competência demonstrada pela EDA na gestão de recursos renováveis é um capital de
conhecimento imprescindível para a geração
de soluções inovadoras. Todos estes ingre-
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
e resíduos), dos padrões de mobilidade, dos
edifícios e da indústria, a monitorização dos
consumos energéticos, a análise económica
da introdução da mobilidade elétrica ou eficiência energética na indústria e ainda a análise
do impacto social que todas estas mudanças
podem trazer ao povo dos Açores.
O sistema energético atual
O atual sistema de energia do arquipélago
dos Açores é composto por nove sistemas
de energia autónomos e isolados (um por
ilha), com poucas perspetivas de interconexão devido à grande profundidade do mar e
à dispersão geográfica das ilhas. O sistema
energético depende em grande medida dos
combustíveis importados, expondo a região
às flutuações do mercado do petróleo. Neste momento, 40% da energia primária é usada para produção de eletricidade, 47% para o
transporte e 6% na indústria.
No entanto, existe um potencial significativo
para a expansão das energias renováveis nos
Açores, o qual tem vindo a ser demonstrado
nos últimos anos. Atualmente, para todo o
arquipélago, o sistema energético conta com
as energias renováveis para o fornecimento
de 28% da eletricidade, principalmente a partir de energia geotérmica (22%) e, com menor
peso, de energia hidroelétrica (4%) e eólica (2%).
A situação é diferente de ilha para ilha: a ilha
das Flores tem 54% da sua eletricidade produzida por energias renováveis (hidroelétrica e
vento), e teve já por várias vezes, durante os
anos de 2008 e 2009, períodos de muitas horas seguidas com produção elétrica de origem
100% renovável. A maior ilha, São Miguel, tem
47% da produção de eletricidade por energias
renováveis, devido à geotérmica [29].
O Governo dos Açores definiu uma ambiciosa
estratégia energética – que pretende que 50%
da produção de eletricidade seja de origem
renovável em 2013 e 75% em 2018 –, a qual
serviu de motivação para a implementação
do projeto Green Islands. Esta estratégia inclui vários investimentos em centrais geotérmicas e instalações de energia de biomassa
nas maiores ilhas, São Miguel e Terceira, e vários parques eólicos e estações hidroelétricas
nas ilhas mais pequenas. Este objetivo pode
ainda ser expresso na vontade de aumentar
PUB.
dientes, aliados à visão e vontade política demonstrada pelo Governo regional em tornar
a região num exemplo internacional de sustentabilidade energética, permitem fazer dos
Açores um modelo de como serão os sistemas
sustentáveis de energia do futuro. É este o
objetivo do Projeto “Green Islands”, que está a
ser desenvolvido no âmbito do Programa MIT
Portugal, uma parceria internacional de ciência e tecnologia que envolve universidades e
empresas portuguesas e o MIT – Massachusetts Institute of Technology –, nos EUA.
A demonstração e integração de novas tecnologias e a sua aplicação num ambiente
real, em permanente interação com as pessoas, está a atrair empresas a testarem as
suas soluções na região, o que permitirá o
investimento direto nos Açores. A geração
de conhecimento na região poderá servir de
motor de desenvolvimento económico – em
particular, a Universidade dos Açores já está
hoje no terreno, em colaboração com as universidades do continente e o MIT, a trabalhar
em áreas tão distintas como a caracterização dos recursos renováveis da região (solar,
eólico, marés, biomassa, hídrica, geotérmica
As soluções técnicas
GESTÃO GLOBAL DE RESÍDUOS
(perigosos, não-perigosos)
REPARAÇÃO AMBIENTAL
(descontaminação de solos, sinistros, contenção de derrames de hidrocarbonetos)
LIMPEZAS INDUSTRIAIS
(ETAR, tanques, separadores, remoção de amianto, outros)
UNIDADES DE TRATAMENTO DE HIDROCARBONETOS
(capacidade de tratamento internalizada)
GESTÃO DE RESÍDUOS MARÍTIMOS - MARPOL
LAVAGEM DE CISTERNAS E VIATURAS
• Soluções apoiadas com logística própria (transporte, acondicionamento, recolha)
• Priveligiamos a valorização do resíduo em detrimento da sua deposição
• Capacidade de gestão de resíduos - 828 ler
Contribuimos para a sua satisfação, apostando
na melhoria contínua e prevenção ambiental,
cumprindo os requisitos legais e procurando as
melhores técnicas disponíveis.
Sede: Monte dos Bijagós, Jardia
Brejos de Azeitão - 2925-201 Azeitão
Tel: 212197250 Fax: 212188876
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Filiais: Barreiro | Arcozelo - Vila Verde | São Bartolomeu de Messines
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
19
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
a penetração de energias renováveis em termos de energia primária em até 40%.
A estratégia adotada no projeto Green Islands
O projeto Green Islands está organizado em
três fases. A fase inicial, designada de “Cenários de Futuro”, consistiu na compilação e
atualização da informação relativamente à
geração e ao consumo de energia nas diferentes ilhas da região. Esta etapa incluiu a caracterização avançada, realizada por alunos
de doutoramento, dos recursos endógenos, e
a conceção de cenários que contemplam opções tecnológicas e políticas futuras. Foram
utilizados modelos de planeamento energético como o “TIMES”, que permitiram obter
estimativas de custos e tendências de evolução de impactes ambientais. Estes cenários
permitiram iniciar o diálogo com os parceiros
locais e preparar as análises mais detalhadas
que se seguiram.
A reação a estes “Cenários de Futuro” possibilitou iniciar uma fase de planeamento energético pormenorizado, denominada “Cenários
Detalhados”. Nesta segunda fase, apenas
os cenários mais realistas foram considerados para as análises técnicas, económicas
e sociais detalhadas que se seguiram e que
permitiram delinear a terceira fase, de implementação de “Projetos Piloto de Demonstração”, que se inicia em 2011.
Esta última fase consiste em implementar
um conjunto de projetos que permitirão testar o desempenho tecnológico e económico
de uma série de opções que, no caso de avaliações positivas, serão implementadas em
toda a escala. Também nesta etapa, serão
implementadas uma série de recomendações
relativamente a políticas, incentivos e regulamentos que encorajarão o setor privado a
investir na implementação destes projetos.
De facto, as atividades do projeto têm coberto
todas as ilhas ao nível da investigação, cons-
Fonte: www.green-islands-azores.uac.pt
tituindo um conjunto de informações valiosa
para as empresas e para os investidores.
A ilha do Corvo, dada a sua dimensão, pode
tornar-se na primeira demonstração de escala global de um sistema energético sustentável. O primeiro passo será o de substituir
a utilização de gás, através da instalação de
painéis solares térmicos com apoio elétrico e
da eletrificação dos fogões. Isto irá requerer
a introdução de energia eólica com sistemas
de armazenamento, mas também a implementação de sistemas de gestão da procura,
por exemplo associados à gestão automática
dos sistemas de apoio elétrico dos coletores
Fonte: www.green-islands-azores.uac.pt
20
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
solares em função da previsão do tempo, da
simultaneidade da utilização e das necessidades demonstradas por cada família.
Para que isto seja realidade, as equipas universitárias já fizeram um levantamento da
caracterização do consumo energético doméstico, desenvolveram modelos do sistema
energético global e estão a estudar parcerias
empresariais a nível internacional, a EDA já se
encontra a conceber sistemas de armazenamento e de gestão da rede elétrica e a Direção
Regional de Energia está a analisar sistemas
de apoio para realizar estas transformações,
tudo isto acompanhado de perto pelo município. É esta integração de esforços que dá
força ao projeto Green Islands.
O projeto Green Islands, com o apoio do Programa MIT Portugal, tem assim a ambição
de se tornar num laboratório vivo que demonstre ao mundo que é possível a população de uma ilha caber na dimensão dos seus
recursos e viver melhor. Ao fazê-lo, os Açorianos estão a dar a si, a Portugal e às suas
empresas uma janela de oportunidade para a
exportação dos seus produtos e soluções, os
quais contribuem para que a Terra – a nossa
ilha global – seja mais sustentável.
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
O oceano é um ambiente rico em recursos energéticos
renováveis que podem ser explorados de várias
formas, tais como a energia das ondas, das correntes,
das marés, a energia associada às diferenças de
temperatura entre a superfície e o fundo, ao gradiente
salino, energia das fontes hidrotermais submarinas,
da biomassa marinha e ainda a energia eólica offshore
acima da superfície do oceano.
Energias Renováveis
Offshore
Estes recursos (incluindo o eólico em grandes
profundidades) não são ainda explorados comercialmente. Apenas o aproveitamento da
energia das marés com recurso a barragens
é uma tecnologia matura (o exemplo mais conhecido é a barragem de La Rance em França
de 240 MW).
É necessário um esforço a longo prazo para
suportar os custos iniciais do desenvolvimento da tecnologia e possibilitar uma trajetória
semelhante à que se tem observado noutras
renováveis, nas últimas décadas.
Os parques eólicos offshore têm sido desenvolvidos no Mar do Norte (em profundidades
até aos 30 m), transpondo uma tecnologia
comprovada em terra para o mar. Esta abordagem é no entanto limitada a baixas profundidades. O aumento da profundidade inviabiliza a instalação de turbinas com torres fixas
no fundo devido ao agravamento de custos.
No entanto, a perspetiva de utilizar plataformas flutuantes abre caminho à inovação no
aproveitamento da energia eólica em grandes profundidades em países, como Portugal,
que têm plataformas continentais com maior
declive. Isto traduz-se numa oportunidade de
intervir no avanço tecnológico nesta área e na
entrada de novos atores de mercado, tal como
na energia das ondas.
A ER offshore no mundo
Há já vários países europeus que se estão
posicionando na corrida tecnológica para as
energias renováveis offshore, como o Reino
Unido, Dinamarca, Noruega, Irlanda, França,
Espanha, e também a nível internacional (Estados Unidos, Canadá, Japão, China, Coreia).
Entre os países com uma melhor estratégia na área das renováveis offshore e metas
ambiciosas está o Reino Unido com apoios
financeiros criados especialmente para investigação e desenvolvimento das renováveis
offshore (só no ano de 2010 os níveis de investimento público em energia das ondas e
correntes ascenderam a 50 milhões de euros,
repartidos por vários fundos); uma rede Universitária montada para a investigação fundamental em energias marinhas (SuperGen
Marine); os programas de apoio à inovação
pela instituição Carbon Trust financiada pelo
governo britânico, Marine Energy Accelerator
Ana Brito e Melo
Wave Energy Centre - Centro de Energia das Ondas
e Wind Offshore Acellerator, em termos de
novos conceitos, novos componentes e novas
estratégias de instalação, operação e manutenção; a criação de uma zona infraestruturada de demonstração de protótipos no mar,
o European Marine Energy Centre (EMEC), na
Escócia, e recentemente a concretização do
projeto WaveHub, na Cornualha, para apoio
aos primeiros parques pré-comerciais. Estas
duas infraestruturas complementadas com
a de testes à escala reduzida, o New and Renewable Energy Centre (NaREC), têm merecido
contínuos apoios governamentais; a criação
em 2007 de um novo instituto, Energy Technologies Institute (ETI), uma parceria públicoprivada entre o governo e seis das maiores
organisações industriais (BP, Caterpillar, EDF
Energy, E.ON, Rolls-Royce e Shell), que na área
das energias renováveis offshore tem lançado
programas para acelerar o desenvolvimento no Reino Unido; um Roadmap tecnológico
para as energias marinhas lançado em 2008
pelo UK Energy Research Centre (UKERC)
identificando e prioritizando as atividades de
desenvolvimento da tecnologia, críticas para
acelerar o crescimento do setor de energias
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
21
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
© Control Techniques
© SIEMENS, A.G.
marinhas, atualizado em 2010 em colaboração com o ETI; um Plano Nacional de Ação das
Energias Marinhas apresentado pelo Governo
Britânico em março de 2010, que irá alimentar as políticas futuras, tendo-se já iniciado a
preparação de um Programa de Energias Marinhas para atender às prioridades do setor
e impulsionar a indústria. Segundo previsões
do Carbon Trust, as energias marinhas podem
atingir em 2020, no Reino Unido, entre 1-2 GW
de capacidade instalada e 2100 postos de trabalho. No eólico offshore, a recente aprovação
de concessões de nove zonas costeiras para
desenvolvimento de projetos de parques eólicos offshore, até 2020, poderá gerar cerca de
32 GW.
Em Portugal, temos os meios para
desenvolver um setor nacional em
energia das ondas?
Portugal, uma nação marítima, de pequena
dimensão terrestre mas com um mar imenso
sob a sua jurisdição, tem recursos energéticos
no oceano por explorar. Na verdade, Portugal
está entre os países com maior vastidão de
águas jurisdicionais. Além disso tem competências nacionais (universidades, instituições
do estado, empresas) para ajudar a desenvolver o setor de energia marinha. Tem uma
rede elétrica na proximidade da costa, boas
infraestrutras portuárias e navais e um clima
favorável a operações offshore.
Em 2008, o governo implementou uma zona
piloto para energia das ondas com potencial
para receber 250 MW de capacidade instalada,
22
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
com vista a contribuir para o desenvolvimento
desta tecnologia, uma potência que aliás em
2010 fixou como meta para 2020, no Plano
Nacional de Ação para Energias Renováveis
(PNAER) submetido à Comissão Europeia. Em
2010, o contrato de concessão para a zona piloto foi aprovado, e entregue a uma empresa
(ENONDAS) constituída pela Rede Elétrica Nacional. Está em preparação a regulamentação
e caracterização da zona piloto.
Um dos principais fatores condicionantes na
fase inicial de desenvolvimento da tecnologia
é o custo do cabo elétrico submarino para ligação à rede na fase de demonstração. Assim, uma zona infraestruturada, com ligação à
rede elétrica é um atrativo para os tecnólogos.
Trata-se de uma iniciativa que tem vindo a ser
adotada em diversos países Europeus. Outro
atrativo é a existência de uma tarifa subsidiada que existe em Portugal para a energia das
ondas e ainda não para o eólico offshore.
Em Portugal já se produz energia a partir das
ondas do mar com uma central costeira construída na ilha do Pico, nos Açores, um projeto
comunitário de I&D liderado pelo Instituto Superior Técnico, na década de 90, marcado por
grandes dificuldades e que só nestes ultimos
anos deu os seus frutos. Na verdade, a Central
do Pico é um exemplo de um projeto que se
concretizou pela perseverança de quem nunca
desistiu dele. No ano de 2010, a central reportou 45 MWh de produção.
Há, neste momento, uma grande experiência
de projeto, manutenção e operação em condições reais que se intensificou nos últimos 5
anos desde que a Central do Pico foi recupera-
da com apoio do programa DEMTEC e iniciou
o seu funcionamento de uma forma regular.
Esta experiência pode ser transposta para
qualquer outro tipo de projetos no offshore.
Até aqui tem faltado o enquadramento apropriado para valorizar esta Central, já que ela é
mantida e operada pelo Wave Energy Centre
(WavEC), uma associação sem fins lucrativos,
que dispõe de um orçamento muito limitado.
Durante o ano de 2010 foi possível integrar a
central numa rede Europeia de infraestruturas de testes de tecnologias de energia das
ondas, o projeto MARINET já aprovado pela
CE em que o WavEC participa, e que tem como
objetivo global proporcionar plataformas para
teste de componentes e procedimentos aos
investigadores da rede.
O que é necessário
para arrancar com as
energias renováveis
offshore em Portugal?
É necessária uma forte vontade
política, um empenho sério da
indústria (grandes empresas do
setor energético) em assumir
riscos e custos elevados na aposta
em tecnologias emergentes, um
grande envolvimento dos principais
intervenientes na investigação,
desenvolvimento e demonstração
tecnológica, e a aceitação pelos
outros utilizadores do espaço
marinho.
Barreiras e desafios
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
e o ambiente salino, o dimensionamento de
sistemas de ancoragens sujeitos a problemas
de fadiga, a necessidade de simplificação dos
procedimentos de instalação e manutenção
no mar, o desenvolvimento de procedimentos de controlo para otimização da produção.
Tudo isto requer uma investigação aprofundada, avançando com confiança em etapas,
numa prespectiva de redução de custos a longo prazo.
Além dos obstáculos tecnológicos, há outro tipo de barreiras a ultrapassar de ordem
social, ambiental, regulamentar e financeira. A implementação de energias renováveis
offshore devem ser aceites pelas populações
e os seus benefícios económicos, tanto a nível
local, como regional e nacional devem chegar
ao conhecimento público; a regulamentação
deve ser clara e transparente, assentando
no príncipio da equidade; o investimento necessário é elevado e arriscado, e é essencialmente em inovação energética, que se traduz
na capacidade de gerar riqueza nacional. Segundo a RenewableUK (ex-British Wind Energy Association), a Dinamarca, um país que
na década de 90 contou com níveis de apoio
governamental da ordem de 1 bilião de euros
para arrancar com o setor eólico, é hoje líder
mundial com mais de 50% do mercado de turbinas e cerca de 20.000 postos de trabalho
nesta área.
No quadro da exploração racional dos oceanos e desenvolvimento sustentável deve
ser implementada uma gestão integrada,
tendo em conta as preocupações de todos
os utilizadores do mar. Vários países Europeus têm progredido na evolução do ordenamento e gestão eficiente do uso múltiplo
do espaço maritimo, principalmente no Mar
do Norte onde mais cedo surgiram reinvindicações do espaço marítimo. Portugal iniciou
em 2009 a preparação do POEM – Plano de
Ordenamento do Espaço Marítimo que fornece uma estrutura de gestão e compatibilidades entre usos tradicionais, zonas de sensibilidade ambiental e novos usos como as
renováveis offshore. O desafio está lançado, e
Portugal pode posicionar-se na vanguarda da inovação tecnológica das renováveis
offshore.
PUB.
O desenvolvimento de tecnologias de energia
marinha segue um percurso por etapas. Nas
fases iniciais valida-se o conceito utilizando
as ferramentas adequadas de simulação numérica e experimental em tanque de ondas.
As fases seguintes centram-se na demonstração da viabilidade técnica e ecnonómica,
com modelos à escala testados em zonas
mais calmas até à instalação do protótipo em
condições reais de operação. Uma abordagem
cautelosa não deve ser considerada como um
avanço lento, a evidência tem mostrado que
os seguidores de um programa de desenvolvimento bem estruturado podem mais facilmente responder a problemas inesperados.
“Queimar” etapas do desenvolvimento de
uma tecnologia pode, inevitavelmente, causar maiores atrasos e prejuízos nas etapas
finais. Isto porque o oceano não é o local para
investigar opções que devem ser testadas e
verificadas previamente em ambientes mais
controlados.
Há obstáculos tecnológicos a vencer relacionados com a conceção estrutural, mecânica
e elétrica para enfrentar as ondas extremas
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
23
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
A aposta nas energias renováveis na Europa e, em
particular, em Portugal tem sido uma constante
nos últimos anos. Este setor desenvolveu-se
exponencialmente em menos de dez anos, sendo a
energia renovável utilizada de forma significativa para e
eletricidade, aquecimento e arrefecimento, transportes,
entre outros. Tendo presente que as próximas apostas
europeias serão as energias renováveis e a eficiência
energética, neste número a IA faz uma análise das
atuais fontes de energia renovável e traça um possível
cenário para 2030, em Portugal e na Europa.
A energia em 2030
No ano de 2009, na União Europeia, consumiu-se 1,074 Mtep, sendo que 11% proveio de
fontes de energia renovável. O aquecimento,
a eletricidade e os transportes são os grandes consumidores de energia da UE. O aquecimento é o responsável por quase metade da
energia consumida (48%), seguido pelo setor
dos transportes (32%) e, por último, eletricidade (20%). No que toca à produção, a Europa-27
produziu 3042 TWh de energia em 2009. Do
total produzido, as renováveis constituem
uma fatia de 20%, número que tem vindo a
crescer rapidamente desde 2005.
Analisando as estatísticas fornecidas pela
European Renewable Energy Council (EREC),
pode-se concluir que a energia total consumida, tal como a energia produzida, tem vindo a
diminuir entre 2005 e 2009 mas, em ambas as
situações, as energias renováveis estão a ganhar terreno às energias fósseis.
Mtep
1400
1200
1000
800
Energia Final Consumida
600
Taxa de Energias Renováveis
400
200
0
8.6%
8.8%
9.7%
10.3%
11%
2005
2006
2007
2008
2009*
Total de Energia Final Consumida na UE-27 (Mtep) (FONTE: EREC)
24
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
“O setor das energias renováveis não está
apenas a contribuir significativamente para
um sistema de fornecimento de energia mais
sustentável e a melhorar a segurança desse
mesmo sistema, mas está também a fabricar equipamento, exportar tecnologia e a criar
valor”, afirma a EREC na sua publicação REthinking 2050.
Principais Energias Renováveis
na Europa
Atualmente as principais fontes de energia
renovável na União Europeia são a bionergia,
representando mais de metade do total de
produção de renováveis (53,6%), seguida da
energia hidroelétrica (26,4%), da termo-solar
(6,9%) e eólica (6,3%).
A estratégia europeia para 2020 de reduzir as
emissões de CO2 em 20% , melhorar a eficiência energética em 20% e ter 20% do seu consumo energético de fontes renováveis “obriga”
a Europa a apostar fortemente em questões
de energia. Em Portugal todos acreditam que
estas metas podem ser atingidas e até ultrapassadas, especialmente no que toca às re-
dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Figure 13 Contribution of Renewable Energy Technologies to Final Energy Consumption (Mtoe)
1,400
não renovável
■ Energia
Non RES
■ Mar
Ocean
1,200
■ Energia
CSP Solar Concentrada
■ Termo-solar
Solar Thermal
1,000
■ Geotermal
Geothermal
■ Bioenergia
Bioenergy
800
■ Fotovoltaica
PV
■ Hídrica
Hydro
600
■ Eólica
Wind
400
200
Figure 13 Contribution of Renewable Energy Technologies to Final Energy Consumption (Mtoe)
0
1,400
2020
■ Non RES
2030
1,200
Previsão contribuição das Renováveis para a energia final consumida (Mtep) (FONTE: EREC)
■ Ocean
Source: EREc
■ CSP
■ Solar Ther
1,000
■ Geotherm
■ Bioenergy
nováveis.
Mtep respetivamente.
estão na agenda de vários países europeus.
800
The largest increase towards 2050 both A eólica
in terms Together, they hold a share of De
about 21% and 45% “Sim, são atingíveis e mesmo ultrapassáveis,
pode contribuir ainda mais para a prodestacar, também, o crescimento pre- ■ PV
■ Hydro
o que porá a economia portuguesa em medução de energia 600
na Europa, mas será necesvisto de 68% para a energia fotovoltaica de
projected for renewable electricity, in particular for respectively (Figure 14).
■ Wind
lhores
para fazer
face
escalada
a criação
um sistema de energia elé2020 para 2030, representando 10% da conpure condições
power options such as àwind and pV sária
(Table 10). de400
previsível dos preços dos combustíveis, metrica ampliado ein terms of growth rate, renewable energy in the transport atualizado, com interligações
tribuição das renováveis para a energia final
lhorando
o
balanço
da
nossa
balança
de
pagaentre
países
da
e
ligado
a
parques
eólicos
UE
consumida em 2030. Este tipo de energia é
demand increases from 10% in 2020 to 18% in 2030 200
mentos”, defende António Sá da
Costa da Asoffshore, o quein poderá
instituir uma
maior
umas das próximas fonFigure 14).
the post-2020 years when considerado
advanced como
conversion sociação Portuguesa de Energias Renováveis
concorrência notechnologies such as lignocellulosic bioethanol are ready mercado
da
eletricidade,
letes
de
alimentação
elétrica mais importan0
As a sector, and veiculada
cooling remains the largest (APREN).
Posiçãoheating igualmente
pelo
vando
a que atinja o seu máximo
potencial.
tes,
especialmente
nas
projeções
2020
2030
2050 para 2050.
Ministério da Economia, da Inovação e do DeA energia solarseen in Figure 14 the share of renewable transport fuels térmica será outra energia
O estudo “SET 2020” (www.setfor2020.eu)
Source: EREc
heating and cooling market comprising verde
residential senvolvimento, que em declarações à IA, refeque vai ter sucesso nos próximos anos,
realizado pela EPIA (Europeanismo Fotovoland industrial biomass as well as solar thermal and by 2020 to 4% by 2030. in 2050 their share is likely to re que “a questão que pode colocar-se é como
sendo expectável que atinja um crescimento
taico Industre Associativo) e pela AT Sarney,
geothermal applications, is predicted to take off fast. account for 10%.
serão atingidas (as metas 20/20/20), mais
de 83% de 2020 para 2030, contribuindo com
afirma que, desde que algumas condições
The largest increase towards 2050 both in terms Together, they hold a share of about 21%
pela tecnologia A ou pela tecnologia B, mais
70 Mtep na energia final consumida da Eurolimites sejam estabelecidas, a energia fotobiocombustíveis ou mais mobilidade elétrica
pa. Hoje ainda tem
um papel
tímido na electricity, enervoltaica
poderia
até 12% das necesprojected for renewable in particular for suprir
respectively (Figure 14).
pure power options as wind and pV (Table 10). mas
existem condições para a sua execução.”
gia produzida sobretudo
devido
àssuch diferentes
Figure 14 Contribution of Renewable Energy to Final Energy Consumption by Sector (Mtoe)
sidades
de eletricidade
na Europa em 2020,
in terms of growth rate, renewable energy in th
Mas qual será o cenário no futuro, por exempolíticas nacionais
aplicadas neste setor e
representando 390 GW de capacidade insdemand increases from 10% in 2020 to 18% in 2030 plo, em 2030? Será que as energias renováveis
às dificuldades pelas
quais a indústriaFigure 14).
estáNon-RES 4 %
a
talada e 460 TWh de
de eletricidade.
RES-E in geração
the post-2020 years when advanced RES-E 10 % continuarão
18 %isto é suscetível de ser
technologies such as lignocellulosic bioethan
com mais sucesso atualmente
passar. No entanto,
Biofuels 10 %
As a sector, heating and cooling remains the largest RES-E em expansão no futuro?
compensado pelo
efeito da aplicação da DireRES-H&C 41 %
seen in Figure 14 the share of renewable tra
12 %
Segundo as previsões do EREC
no estudo “REtiva FER (2009/28/CE)
as políticas
na-comprising Investimentos,
heating sobre
and cooling market residential emprego e benefícios
by 2020 to 4% by 2030. in 2050 their share
and porque
industrial as well thermal and thinking 2050”, o cenário em 2020 e em 2030
cionais e, também,
osbiomass incentivos
paraas solar ambientais
previstos
Biofuels 3 %
account for 10%.
geothermal applications, is predicted to take off que
fast. será um pouco diferente do atual. A Bioneneras energias renováveis
para
o
aquecimento
já
É
provável
em
2030,
se atinja um total de
RES-H&C RES-H&C 21 %
Non-RES Non-RES gia continuará
a liderar as energias renováveis
45 %
75 %
57 %
no total de
energia consumida, estando preEnergia
Energias
Renováveis
Energias Renováveis
Biocombustíveis
Figure 14 Contribution of Renewable Energy to Final Energy Consumption by Sector (Mtoe)
visto atingir uma produção de 176 Mtep em
Não Renovável
– Electricidade
– Aquecimento e Arrefecimento
2020 e 226Mtep em 2030, obtendo um cresciBiofuels 4 %
10%
mento de 22% de uma década para a outra.“No
18%
2050
2020
2030
futuro, mais de dois terços da contribuição da
12%
Source: EREc
bioenergia para o consumo de energia final na
Europa poderia ser no setor do aquecimento”.
3%
57%
Contudo, assistir-se-á a um salto na produção
75%
de energia eólica, que ficará em segundo lugar
no top das energias renováveis, ultrapassanRE-thinking
33
do a energia hidroelétrica, esperando-se um
aumento de produção de mais de 40% de 2020
2020
2030
para 2030, sendo que as projeções chegam
Previsão da contribuição das Renováveis para a energia final consumida por sector (Mtep) (FONTE: EREC)
a valores de produção de energia de 41 e 72
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
25
RE-thinkin
annual increase of gross employment of 36% and 30% respectively compared to 2009. by 2050, employment in the renewable energy sector is expected to exceed the o
deployment of renewable energy technologies is the effect mark of six million, bringing 6.1 million people into work on employment. Renewable energy has a crucial role to (Figure 25). dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
successfully.
Figure 25 Gross Employment in the Renewable Energy Sector (2020-2030-2050)
8
Mar
■ Ocean
Energia Solar Concentrada
■ CSP
7
Termo-solar
■ Solar Thermal
Geotermal
■ Geothermal
Employees
(million)
Empregos (milhões)
6
Bioenergia
■ Bioenergy
5
Fotovoltaica
■ PV
Hídrica
■ Hydro
4
Eólica
■ Wind
3
2
1
0
2020
2030
Previsão de Emprego no setor das Energias Renováveis (2020 – 2030 – 2050) (FONTE: EREC)
2050
Source: EREc
1,620 biliões de euros em investimentos em
comprometido com os objetivos em matéria
mido, e nesse caso passa-se para 45.6%, que
energias renováveis. Claro que os investimende energia 20/20/20 até 2020 da UE, Portué muito superior ao imposto pela UE que era
tos não terão todos o mesmo foco nem ao
gal aprovou, em 2010, a Estratégia Nacional
de 39%.” O representante da APREN relembra,
mesmo tempo, decorrerão ao longo dos anos.
para a Energia (ENE2020) que compreende
também, as poupanças conseguidas em imNeste panorama de investimento futuro, as
metas mais ambiciosas do que as europeias.
portações que “em 2010 excedeu largamente
energias
renováveis
para
a
produção
de
eleO
governo
português
assumiu
para
2020
uma
osinstance 520 M€
eexpress mais their de 110 M€ em poupanças
20 80% support the use of solar energy, 71% wind energy, 65% hydropower, 60% ocean energy and 55% biomass energy, while for 37% opposition to nuclear energy. See: European c
tricidade
arrecadarão 55% do total deommission (Special Eurobarometer): Energy Technologies – Knowledge, Perception, Measures. 2007. page 27.
investimeta de consumo de energia final de 31% a
em licenças de emissão.”
21 European c ommission (co M(2010)2020): Communication from the Commission. Europe 2020. 2010.
mentos, o aquecimento e arrefecimento 42% e,
partir de fontes renováveis e uma meta de
em último lugar, está o setor dos transportes
60% da produção de eletricidade também a
RE-thinking
43
onde os investimento previstos serão apenas
partir de fontes de energia renovável. No final
Futuro
das renováveis
em Portugal
3% do total. Cenário que é contraditório com
de março de 2010, Portugal tinha 9 229 MW
Não tendo previsões específicas para o setor
os dados atuais, onde os consumos crescem
de capacidade instalada para produção de
das energias renováveis em Portugal para o
no sentido contrário, primeiro no aquecimento
energia elétrica a partir de fontes de energia
ano de 2030, os próximos passos estão intie arrefecimento, depois nos transportes e por
renováveis.
mamente ligados às metas que se pretendem
último na eletricidade.
A energia hídrica (grande hídrica e pequena) é
atingir dez anos antes. Na energia hídrica,
Com o incremento das energias renováveis,
a mais importante fonte de energia limpa alpretende-se reforçar a capacidade das atuhá custos que serão evitados e os benefícios
ternativa à fóssil, representando em março de
ais barragens e executar o Plano Nacional de
ambientais poderão ter impacto, tais como, a
2010, 4.821MW, 52% do total energia renováBarragens de Elevado Potencial Hidroelétrico
redução de emissões de CO2. Os responsáveis
vel produzida. A energia eólica tem sido uma
(PNBEPH), sendo que a potência instalada hído EREC acreditam que em 2030, as emissões
grande aposta nacional e os resultados estão
drica deverá passar dos atuais 4800 MW para
de CO2 vão ficar abaixo dos 2000 Mt, o que reà vista, sendo que, em 2010 obteve um volume
8600 MW em 2020. “Também nas mini-hídripresenta uma diminuição de 50% face aos níde 3.725 MW, distribuída por 204 parques, com
cas o governo lançou em 2010 uma tranche
veis de emissões registados em 1990.
um total de 1956 aerogeradores ao longo de
dos total de 250 MW que iria colocar a concurSe há mais investimento, certamente, haverá
todo o território. “A base da produção renováso até ao final do ano”, diz o MEID.
mais produção industrial de tecnologias para
vel nacional está fundamentalmente assente
Relativamente à energia eólica, o governo preas energias renováveis o que gerará, também,
na combinação da energia hídrica e da energia
vê que até 2020, se possa atingir uma potênemprego. No ano de 2030, espera-se que a ineólica”, refere o Ministério da Economia e da
cia instalada de 8500 MW. Na próxima década
dústria das energias verdes empregue cerca
Inovação no site oficial.
a aposta forte será a energia solar, estando
de 4.4 milhões de pessoas na UE, o que face a
António Sá da Costa, Presidente da Direção da
traçado um objetivo de 1.500 MW de potên2009 constitui uma subida de 30%.
APREN, faz um balanço positivo da atuação de
cia instalada em 2020. Faz também parte dos
Portugal no que toca às renováveis, sobretuplanos nacionais a micro-geração e mini-gedo, por “ se ter conseguido que cerca de 1/4 da
ração, biomassa e energia das ondas. Segun“A base da produção renovável nacioeletricidade consumida em Portugal provenha
do o MEID, “o lançamento de novos concursos
nal está fundamentalmente assente
dos produtores independentes de eletricidade
terá de ter em conta a evolução da procura
na combinação da energia hídrica e da
renovável, valor que sobe para 53% se incluirde eletricidade e só deverá ser lançado após
energia eólica”
mos as grandes centrais hidroelétricas (que
a conclusão dos projetos já licenciados.” O MiAs energias renováveis, sobretudo na produtambém são renováveis) ou o valor normanistério assegura que dentro de pouco temção de eletricidade, são uma das prioridades
lizado para eliminar a distorção introduzida
po avançará, também, o Windfloat, que é um
do atual governo português. Além de se ter
pelo facto de 2010 ter sido um ano muito húprojeto de demonstração de produção eólica
26
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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dossier Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente
Que previsão faz para o setor da energia
em Portugal no ano de 2030?
União Europeia
!.*
União Europeia
1%
*)
.!
,
7%
António Sá da Costa, presidente da direção da APREN
”No setor elétrico é possível que a eletricidade renovável exceda uma penetração
de 80%.”
19%
4%
69%
António Gomes Martins, da Energia para a Sustentabilidade
da Universidade de Coimbra
!.*
”Parece-me inevitável desenvolver o leque de*)
opções de oferta que hoje se
.!
,
conhecem, com menos recurso a energia primária
fóssil, que perderá muito
terreno, com cisão nuclear, com renováveis em cambiantes - solar térmico e
solar fotovoltaico, eólico on- e off-shore, hidroeletricidade, biocombustíveis -,
eventualmente com hidrogénio.”
Portugal
Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento
1%
”Apesar da dificuldade de fazer previsões a esta distância, Portugal chegará
a 2030 com um setor energético menos dependente do exterior. A partir de
11%
2020 terão sido superados os custos de transição do modelo energético e a
maturidade das tecnologias renováveis permitirá a sua penetração
de uma
13%
forma mais intensa. As expectativas sobre a evolução do veículo elétrico na
4% a sua penetração em
próxima década são elevadas pelo que, a concretizarem-se,
2030 será seguramente muito importante. Também é expectável que surjam
71%
desenvolvimentos fortes dos biocombustíveis de 2ª geração que permitam uma
produção mais sustentável.
em plataforma flutuante. “Nas Ondas a REN
constituiu a empresa Enondas para a exploração da zona-piloto de S. Pedro de Moel que
permitirá a instalação e o desenvolvimento de
tecnologias nesta área”, dizem os responsáveis governamentais.
Num sentido mais lato da energia, António
Gomes Martins da iniciativa Energia para a
Sustentabilidade da Universidade de Coimbra,
acredita que as próximas apostas neste setor
devem ser na “reconversão de processos de
fabrico, reabilitação de edifícios com aumento do potencial bioclimático, construção de
edifícios novos com proibição do não uso do
máximo potencial bioclimático de cada local,
reconversão tecnológica dos transportes para
reduzir drasticamente a dependência da economia relativamente aos combustíveis fósseis, forte penalização de desperdício energético.” Isto é, apostar fortemente na eficiência
energética.
O professor da Universidade de Coimbra, considera provável a utilização de hidrogénio,
energia nuclear, nanoenergia no futuro, em
Portugal. “A energia nuclear, aliás, já a usamos
em Portugal todos os dias, devido à interligação das redes elétricas da península ibérica.
Quanto à nanoenergia, julgo que depende sobretudo da velocidade com que a investigação
evoluir. Com uma aplicação aparentemente
dirigida sobretudo às TIC, não há motivo para
não proliferar. Quanto ao hidrogénio, como
ainda não há conclusões seguras sobre o
custo global do ciclo que envolve a produção,
armazenamento, transporte e utilização, que
depende por sua vez dos eventuais avanços
tecnológicos que embarateçam estas diversas fases, e difícil ter uma perspetiva que não
seja baseada numa profissão de fé, o que seria
muito pouco científico...”, explica.
Adaptação a novos estilos de vida
Apesar das medidas políticas, os incentivos
monetários e os avisos europeus, a verdade
é que é também necessária a contribuição de
todos os cidadãos para se atingirem as metas
desejadas, tanto na incorporação de fontes
de energia renovável como para a eficiência
energética. Tudo passa por uma alteração de
comportamentos face à energia, face ao ambiente em geral.
Segundo António Sá da Costa, o facto de “não
serem implementadas medidas apropriadas
para eficiência energética e uso racional da
energia” e “não ser cobrado o verdadeiro custo
da eletricidade” são dois problemas que existem atualmente no setor e que têm muito a
Portugal
1%
Portugal
11%
S
13%
B
G
4%
H
71%
E
Solar
Biomassa e resíduos
Geotérmica
Hídrica
Eólica
Distribuição por setor de Energias renováveis
(produção primária em tep) (FONTE: EUROSTAT 2008)
ver com o consumidor.
António Gomes Martins afirma que é preciso
estar atento à forma como se usa a energia.
“Com a progressiva escassez do conteúdo dos
armazéns de energia fóssil, nessa época as
pessoas viverão muito mais preocupadas do
que hoje com o uso que farão da energia. No
dia a dia das empresas haverá um controlo
muito apertado, automático sempre que puder sê-lo, do uso da energia; no dia a dia dos
cidadãos haverá para a energia uma atitude
semelhante à que já hoje se regista em boa
medida relativamente à reciclagem de materiais e resíduos. A escola terá um papel muito
importante nesta transformação (demasiado lenta) de mentalidades. Nas deslocações
de pessoas o uso de veículos individuais terá
diminuído de expressão e no transporte de
mercadorias haverá alguma diminuição das
trocas comerciais de longa distância”
O Ministério da Economia, da Inovação e Desenvolvimento, apesar de não considerar o
“aumento do consumo algo intrinsecamente
mau” porque está intimimamente ligado ao
o aumento do crescimento económico, avisa
que é “ importante conseguir evitar os desperdícios e as ineficiências na utilização da energia para podermos produzir a mesma riqueza
gastando menos energia.”
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
27
investigação
Eficiência Energética
versus Poluição
Luminosa
Andreia Cravo1, Nelson Leite e Sá2, João Almeida3, João Paulo Figueiredo 4, Ana Ferreira 5
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra
1
Licenciada em Saúde Ambiental, [email protected]
2
Orientador de Investigação, Departamento de Saúde Ambiental, [email protected]
3
Co-Orientador de Investigação, Departamento de Saúde Ambiental, [email protected]
4
Orientador de Investigação, Departamento das Ciências Complementares, [email protected]
5
Coordenadora de investigação em Saúde Ambiental, [email protected]
A Iluminação, enquanto parte importante do ambiente urbano, desempenha um papel preponderante na visão
holística de uma cidade. No entanto, quando os sistemas de iluminação pública são mal concebidos, inadequados
ou ineficientes, provocam uma luz excessiva ou intrusiva que se denomina de poluição luminosa. Esta tem
consequências, não apenas na biodiversidade, astronomia e saúde pública, mas também ao nível do desperdício
energético e desempenho ambiental. Esta investigação teve como principal objetivo analisar os níveis de
iluminância associados à iluminação pública, verificando se a mesma é eficiente e relacionar esta eficiência com
a existência de poluição luminosa. Para a realização deste, procedeu-se à recolha de valores de iluminância nos
sistemas de iluminação pública das freguesias de Santa Clara (Coimbra) e Gafanha da Nazaré (Ílhavo). A amostra
foi constituída por 320 postes de iluminação. Os dados recolhidos foram posteriormente tratados com recurso
ao software Roadpollution versão Beta 1.6.1 e ao software estatístico SPSS versão 17.0. A interpretação dos
testes estatísticos foi realizada com base no nível de significância de α=0,05, com intervalo de confiança de 95%.
Os resultados obtidos apontam para a existência de sistemas de iluminação pública ineficientes do ponto de
vista energético, económico e ambiental. Esta ineficiência reflete-se, ao nível das freguesias em estudo, num
desperdício de cerca de 40% da iluminação pública, a que corresponde, anualmente, um desperdício energético de
70175 kWh e uma emissão de 259 ton de CO2, que poderia ser evitada.
Palavras-chave: Iluminação pública, eficiência energética, poluição luminosa.
28
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
investigação
1. INTRODUÇÃO
A iluminação sempre foi uma ferramenta eficaz para promover uma cidade. É, sem dúvida,
a iluminação pública que define o ambiente
noturno onde as pessoas vivem, trabalham ou
passeiam, assumindo-se como elemento essencial à qualidade de vida nos centros urbanos, atuando como instrumento de cidadania
e permitindo aos habitantes desfrutar, plenamente, do espaço público no período noturno.
[1]
Pode então dizer-se, que a iluminação pública não é apenas uma obrigação funcional que
proporciona proteção e segurança aos peões,
condutores e moradores, mas é também um
contributo para a criação de uma identidade
e imagem.[2]
Quando estes dispositivos de iluminação são
mal concebidos, mal localizados ou mal selecionados transformam o céu noturno num
intenso clarão luminoso.[3] Este facto pode
traduzir-se numa anarquia no ambiente visual, tanto de dia como de noite, e levar a
um desperdício energético e a um transtorno
grave para os ciclos naturais e biológicos.[2;4]
Neste contexto, surge um novo conceito de
poluição, ou seja, poluição luminosa, entendida como o excesso de luz ou luz artificial intrusiva causada por inadequados projetos de
iluminação. Esta é responsável pelo aumento
das emissões de dióxido de carbono e, consequentemente, do aquecimento global, aliado
ao desperdício de energia. Nos últimos anos, a
poluição luminosa tem sido encarada como um
dos novos problemas ambientais globais.[3;5]
A par das consequências já referidas produz,
ainda, impacte negativo sobre a biodiversidade e saúde humana. Ao nível da biodiversidade, mamíferos, aves, anfíbios, insetos, peixes,
entre outros, são afetados pela poluição luminosa, sendo esta responsável pela interrupção
da alimentação, reprodução, migração e sono
dos mesmos.[5;6] Já no que se refere ao impacte
da poluição luminosa na saúde humana, várias pesquisas demonstraram, por exemplo, a
relação da supressão de melatonina pela exposição à luz durante a noite com o aumento
das taxas de cancro da mama e do cólon e os
efeitos negativos sobre o ritmo circadiano.[7]
É preciso encontrar um ponto de equilíbrio
que permita obter, por um lado, os níveis de
iluminação necessários e, por outro, o máximo
de economia, nunca esquecendo o ambiente e
saúde humana como fator preponderante.[1]
2. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo desenvolveu-se entre 2009 e 2010,
sendo o período de recolha de dados nos me-
ses de maio a junho de 2010. O estudo aplicado foi de nível II, do tipo descritivo-correlacional e de
natureza transversal. A amostra do presente estudo foi 320 postes dos sistemas de iluminação
das freguesias de Santa Clara (Coimbra) e Gafanha da Nazaré (Ílhavo). A conceção do desenho
amostral ficou estabelecida, quanto ao tipo, como não probabilística e, quanto à técnica, por seleção racional ou por tipicidade.
A recolha de dados foi efetuada através de medições de iluminância de vinte em vinte metros, no
eixo das vias e a um metro de altura em relação ao chão das freguesias em estudo. Nos períodos
de medição foram tidos em conta a ausência de sombras nos locais de medição, o distanciamento de 50cm em relação a qualquer obstáculo presente nas vias, o período de estabilização das
lâmpadas após serem colocadas em funcionamento, as fases da lua e a semelhança da forma
dos difusores dos postes de iluminação. Os valores apresentados tiveram por base um período
de funcionamento dos postes de iluminação correspondente a 10 horas, uma potência média das
lâmpadas de 150W e ainda dados do Despacho n.º 27650/2009 e da Comissão para a Sustentabilidade Energética Local.
Para proceder à recolha de dados utilizou-se o Luxímetro. Para analisar o impacte ambiental em
termos de poluição luminosa produzida recorreu-se ao software Roadpollution, e para tratamento estatístico dos dados, recorreu-se software SPSS.
Para a avaliação dos pressupostos quanto ao tipo de estatísticas a aplicar (paramétrica ou não
paramétrica) às variáveis em estudo, recorreu-se ao teste estatístico Skewness, bem como ao
erro-padrão associado. O valor do achatamento da variável foi observado com recurso ao teste
estatístico Kurtosis associado ao erro-padrão. A leitura dos dois coeficientes foi interpretada
entre os valores padrão -2 e +2. No que diz respeito à distribuição normal, utilizou-se o teste
estatístico Kolmogorov-Smirnov (com o fator de correção de Lilliefor), onde a mesma é considerada normal para um α=0,05. Utilizaram-se ainda estatísticas descritivas simples: medidas de
localização (média e mediana) e de dispersão (variância e desvio-padrão).
Os locais analisados foram divididos por tipos de vias, para melhor tratamento dos dados: avenidas/ponte, ruas e rotundas. Em cada tipo de via foram efetuados vários grupos de medições.
3. RESULTADOS
Após a aplicação dos instrumentos de recolha de dados pré-definidos, comparou-se os valores
médios obtidos com o valor de referência da norma BS EN 13201 e obtiveram-se os resultados
descritos no quadro 1.
QUADRO 1 Cumprimento dos valores de iluminância medida com os valores de referência
Tipo de via
N
Ruas
Avenidas/Ponte
Rotundas
Total
5
10
3
18
Iluminância medida (lux)
x
S
29,78
31,65
13,57
28,12
5,24
5,71
6,07
8,58
Valor de referência
(lux)
p-value
15
20
30
0,003
0,000
0,043
Pode constatar-se, a presença de diferenças médias de iluminância (lux) face aos valores de referência por tipo de via avaliado. Os locais ruas e avenidas/ponte revelaram valores analíticos
superiores ao recomendado pela norma BS EN 13201. Porém, os locais definidos por rotundas
revelaram valores médios de iluminância inferiores aos 30 lux considerados adequados para estes mesmos espaços. Quando se compararam os níveis de iluminância medida, iluminância desperdiçada, desperdício energético, desperdício económico e emissões de CO2 evitáveis, por dia e
poste de iluminação, entre as duas freguesias em estudo, obteve-se o quadro 2.
Não se verificaram diferenças médias de iluminância medida, iluminância desperdiçada, bem
como desperdício energético e económico e emissões de CO2 evitáveis, por poste de iluminação,
entre as freguesias em estudo (p-value>0,05).
Perante a análise do quadro 2, foi possível verificar que a freguesia com valores de iluminância
medida mais elevados, fora a freguesia da Gafanha da Nazaré face à freguesia de Santa Clara. No
entanto, é esta que apresenta maior nível de iluminância desperdiçada, sendo este desperdício
cerca de 41,97% da iluminância medida face aos 38,13% de desperdício na freguesia da Gafanha
da Nazaré.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
29
investigação
QUADRO 2 Descrição da iluminância medida e desperdiçada, desperdício energético e económico e emissões de CO2
evitáveis.
x
Iluminância medida (lux)
Iluminância desperdiçada (%)
Desperdício energético por poste de iluminação (kWh)
Desperdício económico por poste de iluminação (€)
Emissões de CO2 evitáveis por poste de iluminação (kg)
Santa Clara
Gafanha da Nazaré
Santa Clara
Gafanha da Nazaré
25,433
30,800
41,974
38,134
s
9,312
7,312
7,040
5,489
Santa Clara
Gafanha da Nazaré
Santa Clara
Gafanha da Nazaré
Santa Clara
Gafanha da Nazaré
0,629
0,572
0,062
0,056
2,323
2,111
0,105
0,082
0,010
0,008
0,390
0,304
Quanto ao desperdício energético e económico por poste de iluminação, verificou-se, mais uma
vez, que foi a freguesia de Santa Clara que apresentou um maior desperdício (0,0629 kWh e
0,062€, respetivamente) face à freguesia da Gafanha da Nazaré.
É ainda possível constatar, no que toca às emissões de CO2 que podem ser evitadas (por poste
de iluminação), que são emitidos mais 0,212 kg de CO2 na freguesia de Santa Clara do que na freguesia da Gafanha da Nazaré.
O quadro 3 pretende descrever os fatores energético, económico e ambiental, associados à iluminação pública das freguesias estudadas.
QUADRO 3 Análise dos fatores energético, económico e ambiental por janela temporal e por poste de iluminação.
Fator energético (kWh)
Consumo
Fator económico (€)
Desperdício
Consumo
Desperdício
Fator ambiental (kg CO2)
Emissão CO2
Evitável
Diário
1,50
0,60
0,15
0,06
5,35
2,22
Mensal
45,00
18,03
4,41
1,77
160,50
66,51
Anual
547,50
219,30
53,66
21,49
1952,75
809,21
Pode-se observar que, anualmente, são desperdiçados 219,30 kWh (por poste de iluminação).
Este valor corresponde a um desperdício de 40,05% da energia necessária para manter os níveis
de iluminância encontrados, a que corresponde um custo económico de 21,49€. Quando analisadas as emissões de CO2, verificou-se que, do total emitido, poderia ser evitada a emissão anual
(por poste de iluminação) de mais de 800 kg.
GRÁFICO 1 Correlação da iluminância desperdiçada
GRÁFICO 2 Correlação da iluminância desperdiçada
com a largura da via (por freguesia).
com a largura da via (por tipo de via).
30
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
Objetivando o estabelecimento de correlações
entre diversas variáveis como a iluminância
medida, a iluminância desperdiçada, a largura
da via, a distância entre luminárias, o concelho
e a categoria das vias, obtiveram-se os gráficos 1 e 2.
Constataram-se, com base no gráfico 1, diferentes correlações estatisticamente significativas entre a iluminância desperdiçada e a largura da via (p-value<0,01), quer no global, quer
por freguesia. Esta correlação, para além de
ser muito elevada (r≥0,9), é negativa, ou seja,
a uma menor largura da via correspondeu um
maior desperdício de iluminância.
No gráfico 2, verificaram-se diferentes correlações estatisticamente significativas entre
a iluminância desperdiçada e a largura da via
(p-value<0,01), quer no global, quer por tipo de
via. Esta correlação é muito elevada (r≥0,9) e
negativa.
4. CONCLUSÃO
Verificou-se neste estudo que, cerca de 83%
das vias analisadas se encontra de acordo
com os valores de referência presentes na
norma BS EN 13201, encontrando-se em média 10 a 15 lux acima dos mesmos. De salientar que apenas os locais rotundas possuem
valores de iluminância inferiores aos valores
de referência, encontrando-se, em média, valores de 16,43 lux abaixo dos 30 lux recomendados.
Para além do tipo de via rotundas não cumprir com os 30 lux de referência, é também o
que mais iluminância desperdiça (44,92%). Por
outro lado, os locais avenidas/ponte, além de
serem os que maior iluminância apresentam,
revelam uma maior eficiência ao nível do consumo. Este facto deve-se a, nesta categoria, a
largura da via ser maior o que, como se provou,
se encontra relacionado com o desperdício de
iluminância.
Embora tenha sido a freguesia da Gafanha da
Nazaré que apresentou valores de iluminância
mais elevados, foi a freguesia de Santa Clara
que revelou maior desperdício ao nível energético e consequentemente económico. Este
aspeto poderá dever-se ao facto das vias de
circulação na freguesia de Santa Clara serem
maioritariamente mais estreitas quando
comparado com as vias da freguesia da Gafanha da Nazaré, o que se traduz numa área de
via mais reduzida.
Relativamente aos fatores energético, económico e ambiental, é de realçar que os valores
apresentados, foram por poste de iluminação
e por dia. Se se analisar estes fatores por ano
investigação
Referências
(1) Silva, C.. Estudo da Eficiência Luminosa e Energética do Sistema de Iluminação Pública da Cidade do
Porto. [Dissertação]. Porto. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; 2007.
(2) Delhi Government. Standards for Integrated Street
Lighting Project for Delhi. Revision 1. 2006.
(3) Ming, L. et al. Surveying on light pollution from
China urban lighting. International Conference on
Energy and Environment Technology. Chandigarh:
Índia; 2009.
(4) Maia, L.. Poluição Luminosa nas cidades. Revista de
direito ambiental 2009 Jul-Set; 55: 76-86.
(5)Gallaway, T., Olsen, R., Mitchel, D.. The economics of
global light pollution. Science Direct. [serial online]
2009 November 26 [cited 2009 March 11]; 3(69)
(6) The Royal Comission of Environmental Pollution.
Artificial light in the environment. 1st edition. London: The Stationery Office Limited; 2009.
(7) Rabaza, O., Galadí-Enríquez, D., Espín Estrella, A.,
Aznar Dols, F.. All-Sky brightness monitoring of light pollution with astronomical methods. Science
Direct. [serial online] 2010 March 02 [cited 2009
June 25];
(8) Bogaert. A luz, nova fonte de poluição. Iluminar corretamente 2005; 31: 3-10.
(9) Mjøs,T.. Intelligent street lighting in Oslo, Norway.
ECEEE 2007 Summer Study – Saving energy – Just
do it. Norway; 2007.
PUB.
e pela totalidade da nossa amostra, verificam-se valores de desperdício na ordem dos 70175
kWh a que corresponde um custo de 6877€ e 259 ton de CO2 emitidas que poderiam ser evitadas.
Verificou-se então que, os sistemas de iluminação pública analisados, não são eficientes, uma
vez que desperdiçam cerca de 40% da sua iluminância. Este é um facto a acrescentar ao estudo
de SILVA quando afirma que os sistemas de iluminação devem ser substituídos, uma vez que
entre 50% a 65% dos sistemas europeus são obsoletos e pouco eficientes. Segundo BOGAERT [8]
e MJØS[9], passam pela opção por luminárias adequadas e introdução de dispositivos de controlo
eletrónico, permitindo assim combater a luz incómoda, reduzir o número de postes de iluminação
bem como a potência das lâmpadas.
Outra condição a salientar é o facto de, nas passagens para peões, não obstante o valor médio
ser superior aos valores de referência das ruas e avenidas, alguns valores se encontrarem abaixo
dos 5 lux. Esta situação é preocupante, não do ponto de vista da eficiência energética, nem tão
pouco da poluição luminosa, mas sim numa perspetiva de segurança rodoviária.
O facto de não existir legislação, a nível nacional, que regulamente os sistemas de iluminação
pública, nomeadamente com a definição de valores mínimos de iluminância e valores máximos
admissíveis para o desperdício de iluminância (nos diversos tipos de vias) pode ser encarada
como uma limitação, mas também como oportunidade de melhoria. Ainda no que concerne às
limitações do estudo, o facto de a investigação científica nesta área ser muito limitada dificultou
a comparação dos resultados obtidos, comparação essa que se fosse possível seria uma fonte de
enriquecimento desta investigação.
No futuro, seria interessante efetuar um estudo dos impactes da poluição luminosa na biodiversidade e saúde pública, estabelecer uma comparação dos sistemas de iluminação pública atuais
com sistemas que recorram a novas fontes de energia renovável ou a novas tecnologias (lâmpadas LED), de forma a determinar qual o respetivo custo energético e ambiental, ou ainda, estudar
a influência das fases da lua na iluminância existente na via pública.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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tecnologia Eco-materiais e criação de valor
Agregado “verde” para construção rodoviária
A Valorsul está a comercializar um novo
agregado para a construção rodoviária.
O material é destinado a camadas de
base e sub-base de pavimentos e
impõe-se como alternativa ambiental e
económica ao tradicional “tout venant”.
A ideia para este produto surgiu porque as cinzas proveniente da
queima dos 3 fornos de incineração da Valorsul não eram aproveitada. A central incineradora de resíduos domésticos em S. João da Talha, produz anualmente cerca de 100.000 toneladas de escórias. Após
serem submetidas a um processo de afinação e valorização, este produto tinha, até agora, como principal uso, a cobertura dos resíduos
depositados no Aterro Sanitário explorado pela mesma empresa. No
entanto, a partir de janeiro, este passou a ser um produto certificado
também como agregado artificial para a construção de sub-bases de
estradas.
“Este é um objetivo alcançado pela empresa que nos deixa muito satisfeitos sobretudo porque representa mais uma mais-valia ambiental
e económica que podemos retirar dos resíduos,” refere Dinis de Sousa,
responsável pela Instalação de Tratamento e Valorização de Escórias.
A utilização do agregado da Valorsul, em alternativa aos agregados
minerais tradicionais, permite poupa os recursos naturais e não-renováveis do país, contribuindo para o objetivo europeu e nacional de
reduzir a quantidade de resíduos depositados em aterro. Por outro
lado, a empresa refere que “a segurança ambiental do uso deste material é garantida pelos ensaios químicos regulares, levados a cabo pela
empresa e pelos estudos das entidades oficiais, tendo já sido aplicada
em vários trechos experimentais.”
O produto é consiste num material granular, bem graduado e insensível à água com uma quantidade pequena de elementos finos. Quando
compactadas as escórias exibem uma influência do teor em água menos pronunciada que os materiais naturais. Em termos mecânicos, os
responsáveis, afirmam que o material tem uma boa capacidade resistente e valores elevados de resistência ao corte.
O produto cumpre a Norma Europeia EN 13242+A1 para agregados,
tendo por isso recebido a marcação CE. De acordo com a marcação
europeia do produto, este pode ser usado em camadas não ligadas de
base e sub-base de pavimentos rodoviários.
www.valorsul.pt
Declaração de Conformidade do produto
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
tecnologia Eco-materiais e criação de valor
Solução de construção
inovadora e sustentável
Energia que vem
do chão que pisa
A Corticeira Amorim lançou no mercado um novo produto de construção com menores impactes ambientais. O Wallinblock é direcionado
para a construção sustentável e resulta de uma parceria efetuada entre a Amorim Cork Composites, da Unidade de Negócios de Aglomerados Compósitos da Corticeira Amorim, a Ecochoice, a Dreamdomus e o
IteCons.
Waynergy é um projeto que promete revolucionar o mercado dos pavimentos e da energia em Portugal. Desenvolvido por dois ex-alunos
de Engenharia Eletromecânica, o Waynergy consiste num pavimento
sustentável que permite produzir energia elétrica em espaços interiores e exteriores. Os convencionais mosaicos de pavimentos são
substituídos por mosaicos com um sistema que permite a oscilação
da superfície que, por sua vez, ativa um sistema eletromecânico que
gera eletricidade.
Este novo produto foi concebida a partir de aglomerados de cortiça e de
outros materiais naturais. “O Wallinblock permite, pelo recurso a uma
tecnologia estrutural inovadora - OpenCell da Ply Engenharia - construir uma parede sem pilares de betão, o que se repercute num ganho
significativo em termos de tempo de construção, comparativamente
com o processo tradicional”, diz a Corticeira Amorim em comunicado.
Segundo a empresa, a Wallinblock assenta numa compartimentação
vertical modular para paredes exteriores e interiores, de fácil e flexível
instalação. Além disto, a sua utilização poderá simplificar também os
trabalhos de desmontagem de paredes para posteriores intervenções
de expansão. “São os vários módulos de parede, ligados entre si, que
desempenham a função de elementos estruturais contínuos do edifício (pilares e contraventamentos), permitindo desenvolver uma parede
interior ou exterior sem a necessidade de pilares de betão”, explica a
empresa.
Devido à sua constituição, os responsáveis garantem que, o Wallinblock
apresentará bom desempenho ao nível térmico, acústico e de resistência ao fogo, sendo em simultâneo energeticamente eficiente. É também
uma solução sustentável porque usa “materiais naturais, como a cortiça, reciclados e/ou recicláveis, e um método de construção que origina
poucos resíduos, reduzindo a pegada ecológica do projeto, objetivamente avaliada com recurso a metodologias de Análise de Ciclo de Vida.”
O projeto de desenvolvimento do Wallinblock teve incío em setembro
de 2010, prevendo-se uma duração de 24 meses, o que implica um investimento de cerca de 850 mil euros, financiado em 50 por cento pelo
QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional.
www.corkcomposites.amorim.com
Francisco Duarte e Filipe Casimiro apresentaram soluções que têm
como finalidade aproveitar o movimento de pessoas e veículos, que
produzem energia cinética, para o transformar em energia elétrica.
Isto é possível através de uma tecnologia inovadora de captação e conversão, que recorre a sistemas piezo-elétricos.
Segundo os responsáveis este pavimento pode ser aplicado em espaços interiores ou exteriores onde passam muitas pessoas ou veículos,
tais como centros comerciais, estações de transportes públicos, espaços desportivos, etc. O sistema pode ser instalado de forma embutida
ou sobrelevada e a energia captada pode ser armazenada ou consumida diretamente. A energia produzida pode ser direcionada para alimentar dispositivos elétricos, publicidades que necessitem de energia,
entre outros.
A Waynergy apresenta duas soluções: Waynergy People e Waynergy
Vehicles.
A primeira solução, como próprio nome indica, é um pavimento direcionado para locais de passagem de pessoas, gera 10W (pico por passo) e
custará 400€. O Waynergy Vehicles é destinado para zonas de passagem de veículos, gera 240W (pico por veículo) e vai custar 800€.
Neste momento as soluções Waynergy estão em fase de validação
técnica através de instalações piloto (testes em ambiente real). Está
prevista a sua entrada no mercado em julho, no caso do Waynergy People e início de 2012, no caso do Waynergy Vehicles.
O pavimento Waynergy ganhou em 2009 o Prémio Inovação EDP Richard Branson e o Portugal Venture Competition. Com o dinheiro ganho, os dois portugueses criaram a empresa Waydip, para continuarem
a desenvolver o projeto que está a marcar as suas vidas.
www.waydip.com
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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tecnologia
À descoberta da
tecnologia offshore
no mar português
Jorge Pina Rodrigues
Diretor Geral da Sea For Life
Com o desejo de agarrar as oportunidades proporcionadas pelo nosso
oceano, a Sea For Life é uma empresa Portuguesa que nasceu com o
propósito de desenvolver e construir uma tecnologia inovadora capaz
de converter a energia contida nas ondas em energia elétrica – o dispositivo WEGA (Wave Energy Gravitational Absorber).
O WEGA consiste em um dispositivo composto por um corpo suspenso
articulado, semissubmerso, anexo a uma estrutura de fixação, que oscila
em uma órbita aproximadamente elíptica com a passagem das ondas.
FIGURA 1 Apresentação conceptual da tecnologia WEGA.
O corpo articulado interliga-se com a estrutura de fixação através de
uma cabeça rotativa que lhe permite adaptar-se ao sentido de propagação das ondas.
Após terminar a definição do sistema de absorção das ondas e respetivo sistema de produção de energia elétrica, o Power Take-off System
(PTO), a atenção da equipa de investigação centrou-se na estrutura de
fixação necessária para a primeira abordagem (teste) ao mar. A solução estudada contém já o caminho da viabilidade necessária para
maiores profundidades.
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
O estudo da estrutura de fixação apresentou enormes desafios já que
tiveram de ser considerados, simultaneamente, aspetos de caráter tão
distintos como sendo a sobrevivência (resistência estrutural, de funcionamento e controlo), impacto ambiental, a influência de variáveis
complexas (ondas, ventos, correntes, geologia) e finalmente, a viabilidade económica de todo o conjunto.
Este estudo levou, inevitavelmente, a que a Sea For Life tivesse de optar por uma estrutura de fixação flutuante.
Como, atualmente, a indústria petrolífera de exploração offshore é
aquela que se encontra mais avançada no desenvolvimento deste tipo
de estruturas, a Sea For Life serviu-se dos conhecimentos e registos
de experiências desta área, como fonte de referência para os seus
próprios estudos. Deste modo, após uma análise cuidada de todos os
diferentes princípios de funcionamento das plataformas flutuantes
offshore, chegou à conclusão que o conceito que melhor se adequa à
utilização da sua tecnologia de energia das ondas é o das Tension Leg
Platform (TLP).
Em seguida, é feita uma breve explanação das Tension Leg Platform
(TLP). A analogia feita a este tipo de plataforma, é fundamental para o
melhor entendimento sobre plataforma em desenvolvimento pela Sea
for Life. Embora existam diferenças, estas vão no sentido de se tirar o
melhor partido na adaptação deste princípio como suporte estrutural
à captação de energia das ondas em condições de sobrevivência.
tecnologia
FIGURA 2 Exemplo de plataforma TLP
FIGURA 3 Movimentos de um corpo
(Tension Leg Platform).
flutuante.
z
Heave
Yaw
Sway
Pitch
y
Roll
x
tendões (φ), é um fator de projeto que limita este deslocamento lateral e não deve exceder um valor limite que inviabilize o projeto da TLP.
O comportamento típico de uma TLP sob ação de cargas ambientais,
pode ser, assim, descrito por um deslocamento lateral inicial devido às
parcelas quase estáticas das forças de corrente e vento sobre o casco,
e posteriormente por uma oscilação em torno da posição média devido à ação das ondas. Verticalmente, a TLP tem o seu comportamento
governado pela rigidez dos tendões e o seu comprimento deve ser bem
proporcionado para se evitar que a frequência de heave se aproxime da
frequência das ondas.
Surge
FIGURA 4 Offset e Set-down.
Offset
Setdown
Estrutura TLP (Tension Leg Platform)
As estruturas offshore do tipo TLP são complacentes, ancoradas verticalmente às fundações por meio de tendões mantidos permanentemente traccionados pela força residual de flutuação do casco obtendose grande rigidez na direção vertical (heave) e nas rotações (pitch e roll).
A complacência de uma plataforma deste tipo utilizada no petróleo
consiste no facto dos seus primeiros períodos serem superiores aos
períodos dominantes no espectro das ondas, evitando-se assim a amplificação dinâmica das amplitudes de resposta.
A pré-tração dos tendões aplicada através da retirada do lastro imposto no casco flutuante, que é mantida pelo excesso de flutuação da
estrutura garante a estabilidade do sistema flutuante hidroelástico,
fornecendo uma rigidez na direção heave igual à rigidez elástica axial
dos tendões.
Os tendões são elementos tubulares de aço de alta resistência mecânica e à corrosão, que ancoram o casco flutuante ao fundo do mar,
impedindo grandes excursões laterais do mesmo. São elementos vitais
para as TLP, a ruína de um deles pode, numa situação de pouca redundância, causar a instabilidade do sistema flutuante hidroelástico.
Sob ação de cargas ambientais, do vento e correntes, a TLP desloca-se
da sua posição original vertical para uma posição vizinha inclinada em
torno da qual oscila sob a ação das ondas. A deriva ou off-set estático,
que consiste na amplitude de movimentos horizontal quase estático
da plataforma, é medida em relação ao eixo vertical. Esta amplitude
é, em geral pequena, mesmo para uma TLP em águas profundas. A
distância vertical entre um ponto extremo numa projeção horizontal
na posição original vertical e um ponto central na posição vizinha mais
deslocada é chamada declínio ou set-down. O ângulo de inclinação dos
A estrutura da Sea For Life
Apesar de assentar em princípios semelhantes às plataformas TLP,
existem algumas diferenças importantes. Estas divergências resultam da aplicabilidade pretendida em cada uma das situações.
A plataforma Sea For Life aplica-se na extração de energia a partir das
ondas do mar. Querendo isto dizer que os carregamentos vão ser em
parte de natureza diferente dos das TLP. A estrutura irá sofrer os carregamentos diretos por ação das forças do meio ambiente, mas também ela própria como suporte ou ponto de fulcro da ação do recetor
terá de produzir a reação necessária aproximadamente correspondente à energia que se produzirá.
As dimensões necessárias em cada uma das situações também são
muito distintas, podendo uma estrutura TLP ser até 500 vezes maior
do que a estrutura necessária para extrair energia das ondas utilizando a tecnologia WEGA. Trata-se por isso de uma versão bastante mais
pequena, leve e esbelta do que as estruturas usualmente utilizadas
no petróleo.
Foram tidos em consideração, no projeto da estrutura, aspetos relacionados com a possibilidade de pré-fabricação, transporte rodoviário e
ainda os meios necessários no cais de montagem, principalmente com
a capacidade de elevação necessária outros meios de apoio e estaleiro
envolvente.
O projeto já está em um estado muito avançado, mas ainda se encontra em uma fase de finalização. Por outro lado, ainda se está à procura
do financiamento que permitirá materializá-lo. No entanto, dentro em
breve acredito que poderão vê-lo a flutuar e produzir energia. Tratase do desenvolvimento de uma tecnologia de extração de energia das
ondas 100% nacional e o seu desenvolvimento poderá constituir uma
fonte de exportação e competitividade.
FIGURA 5 Antevisão da tecnologia WEGA.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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PRODUTOS E TECNOLOGIAS
Reutilização de lamas
Soluções de GPS de grande precisão
O Plateau-ASP é processo
que possibilita a esterilização,
pasteurização e conversão
em fertilizante orgânico das
lamas provenientes de águas
residuais, urbanas ou industriais. O sistema desenvolvido
pela empresa Plateau, é baseado num tratamento químico.
“Este sistema cria valor ao possibilitar a utilização integral da matéria
orgânica disponível nas lamas e a sua inclusão num produto final com
conteúdo significativo de macronutrientes e micronutrientes”, explica
a empresa.
O processo Plateau-ASP decorre em módulos, contando com “vários
segmentos pré-assemblados em laboratório.” A empresa responsável
por esta tecnologia, refere que são utilizados no local sistemas construtivos ligeiros que permitem a reutilização quase total da matéria
orgânica. “Devido à elevada flexibilidade, permite facilmente a duplicação de capacidade sem aumento significativo da área ocupada e com
grande redução de custos em comparação com uma unidade convencional para tratar volume equivalente”, refere a Plateau no site oficial.
Os responsáveis pelo Plateau-ASP garantem que este processo apresenta vantagens quando integrado numa ETAR, tais como: melhoria da
qualidade do efluente; redução da atividade do tratamento secundário;
redução do consumo de energia; redução dos custos de exploração; redução da produção de CO2 e CH4; rentabilização da exploração da unidade de tratamento.
www.plateau-asp.com
A empresa Pedro Santos apresentou algumas soluções para o
levantamento de GPS SIG (Sistemas de Informação Geográfica)
de alta precisão. Estas tecnologias destinam-se a situações
onde é necessário obter precisões de 5/10 cm. “É indispensável
recorrer ao ajuste do sistema de
coordenadas, de forma a enquadrar o levantamento na rede geodésica
local. Para cada local de trabalho devemos levantar um vértice geodésico, de forma a criar um Datum local, que ajuda a eliminar erros de transformação de sistema de coordenadas”, explica Tiago Mogas – Técnico
especializado GPS TRIMBLE SIG.
No que se refere à configuração física destes aparelhos, a empresa
aconselha o uso de bastão (antena GPS no topo) com bipé e bolha. Tiago Mogas chama a atenção para a seleção da Estação Base GPS, onde
se vai buscar os dados para a Correção Diferencial. “Se para 1-2 metros
podemos usar estações a 100/200km, para trabalhos mais precisos
isto é impensável. Com as atuais redes de estações de referência GPS
do Instituto Geográfico do Exército (SERVIR) ou do Instituto Geográfico Português (RENEP) torna-se mais fácil encontrar uma estação GPS
perto do nosso local de trabalho”, diz.
O Técnico da empresa Pedro Santos, sublinha a relação Produtividade Vs Precisão, afirmando que “existe uma relação proporcionalmente
inversa entre produtividade e precisão que devemos compreender e
aplicar nos levantamentos GPS para carga de SIG.”
www.pedrosantoslda.pt
Motores ecológicos
Mobiliário urbano para recolha de resíduos
A SEW-EURODRIVE está a lançar
no mercado novos motores de alto
rendimento com classe de eficiência
energética IE2 em novas aplicações.
Respeitando as regras obrigatórias
da Diretiva Europeia 2005/32/CE, a
empresa afirma que já se está adaptar e, em janeiro, introduziu no mercado português os novos motores IE2
(modelo DRE).
“A SEW-EURODRIVE leva muito a sério a sua responsabilidade nas
questões ambientais, como prova o desenvolvimento de acionamentos de alto rendimento: MOVIGEAR® com classe de eficiência IE4 - Super Premium; Motor DRP com classe de eficiência IE3 – Premium”, é
referido em comunicado.
Neste sentido da eficiência energética e redução de emissões de CO2,
a empresa está a disponibilizar um pacote de serviços denominado
effiDRIVE que explora várias potencialidades da economia energética através da oferta de produtos com elevada eficiência energética,
consultoria Energética e implementação de soluções energeticamente
eficientes.
www.sew-eurodrive.pt
A Sounete lançou recentemente o
Solarpack, um equipamento de mobiliário urbano destinado à recolha de
resíduos urbanos em locais de grande produção, como ruas comerciais,
grandes prédios, praias, mercados,
complexos desportivos.
O Solarpack funciona a baixa tensão,
é alimentado por painéis solares fotovoltaicos, permitindo uma total mobilidade. Segundo a empresa, “o equipamento é de fácil integração no
ambiente envolvente e sem necessidade de infraestruturas especiais.”
O Solarpack pode ser recolhido por um equipamento do tipo gancho de
carga da norma DIN 14505 ou outra semelhante.
O equipamento tem um comprimento total de 5500 mm, largura de
2500 mm e uma altura de 2200 mm. O Solarpack tem uma capacidade
para 130 litros. A Sounete garante que este mobiliário para a recolha
de resíduos tem autonomia total, é simples de operar e tem um sistema antivandalismo. Este sistema é totalmente controlado por autónomo programável e conta ainda com um tratamento anticorrosivo
de última geração.
www.sounete.pt
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
PRODUTOS E TECNOLOGIAS
Acreditação Certificação Integrada e Autorização ACT
A ambiente::global opera no
mercado desde 2003 e é especializada em serviços de Acreditação Certificação Integrada
e Autorização ACT.
A empresa está autorizada
a proceder à Acreditação de
ensaios de empresas e laboratórios, numa vasta área,
tais como: emissões gasosas,
poluentes em atmosferas ocupacionais e acústica (ruído ambiental,
acústica de edifícios, ruído laboral e modelação de mapas de ruído).
Desde 2010, a ambiente::global viu reconhecido o seu sistema integrado de qualidade, ambiente e segurança e a prestação de serviços externos de SHT, pela TUVRheinland e pela ACT.
O foco da empresa é essencialmente na certificação integrada, para a
qual está certificada no âmbito da Monitorização Ambiental e Prestação de serviços externos SHT, cumprindo assim os requisitos das normas NP EN ISO 9001, NP EN ISO 14001 e OHAS 18001.
A empresa acredita na conjugação destes três reconhecimentos, con-
siderando-os uma mais-valia para qualquer organização. A norma da
qualidade NP EN ISO 9001:2008, centra-se na qualidade dos serviços, e
processos, que depois pode ser complementada com a norma ambiental (NP EN ISO 14001) que permite, a nível interno, focalizar e otimizar
recursos, diminuir custos energéticos, tornando assim a empresa mais
sustentável. “A integração de um sistema de gestão de higiene e segurança no trabalho, com as anteriores normas, permite do ponto de
vista do cliente ter a garantia que a empresa prestadora de serviços,
ela própria cumpre todos os aspetos legais e formais de segurança”,
explica a ambiente::global.
Reconhecendo, contudo, os elevados custos para as empresas destes processos de certificação, a empresa afirma: “Consideramos,
assim, que as sinergias obtidas com estes três reconhecimentos,
superarão a médio-longo prazo, o esforço dispendido quer em termos financeiros, técnicos e também na qualificação contínua de recursos humanos. Encaramos este custo, como um investimento de
solidificação de fatores de sucesso e vantagens competitivas, com
inúmeras vantagens, quer a nível organizacional, quer ao nível do
mercado onde atuamos.”
www.ambienteglobal.pt
PUB.
Reator de Bio Flotação
A REDOX lançou um reator de Bio Flotação (FBR) inovador. Segundo a empresa que o comercializa em Portugal,
a PMG Ambiente, este reator “permite
conjugar a compacidade, a fiabilidade
operacional e a consistente alta qualidade do efluente de um MBR, com o
baixo investimento e custo operacional reduzido de um SBR.” O sistema MBR é cada vez mais conhecido e
requerido, mas o facto de ter um elevado custo impede que seja mais
utilizado. Este sistema recorre à filtração membranar para separar
bactérias do efluente tratado.
Já o SBR (‘Sequencing Batch Reator’) usa a sedimentação para separar
as bactérias da água tratada, mas ao contrário dos sistemas clarificadores, realiza esta etapa processual num mesmo volume. “Isto reduz a
quantidade necessária de tubagem e equipamento auxiliar ao mínimo,
resultando num equipamento de baixo custo”, explica a PMG Ambiente.
A Flotação é uma técnica, relativamente, recente para separação de lamas ativadas. A lama ativada tem maior densidade do que a lama do
pré-tratamento e requer muito mais flutuabilidade para se conseguir
uma separação fiável. Segundo a PMG, neste caso, “a REDOX aperfeiçoou o processo de geração de microbolhas, tornando realidade uma
separação consistente de lamas ativadas”.
Destacam-se algumas características deste reator, tais como: consegue tratar lamas em excesso, mais concentradas e é resistente,
permitindo maior aglomeração da lama. De acordo com a empresa portuguesa, o processo FBR REDOX tem menor investimento global inicial
do que qualquer processo de tratamento biológico aeróbio, já contando
com equipamento e construção civil.
www.pmg-ambiente.pt
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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energia
Projeto REQUEST
- reabilitação de edifícios através
da cadeia de valor do sistema de
certificação energética
O projeto REQUEST tem como
finalidade fomentar a reabilitação
urbana, utilizando o Certificado
Energético (CE) como meio
prioritário para traçar o caminho
rumo à eficiência energética.
A grande finalidade deste projeto é
o aumento da execução efetiva de
medidas de melhoria que permitam
diminuir as emissões de carbono
nos edifícios residenciais europeus.
Os proprietários dos edifícios
são o grupo alvo desta ação, uma
vez que são os responsáveis pela
decisão da realização ou não de
eventuais obras de reabilitação.
Nesse sentido, o projeto pretende
analisar dois pontos-chave: em
primeiro lugar o fácil acesso e
compreensão das medidas de
melhoria recomendadas nos
certificados energéticos e em
segundo lugar o rápido acesso a
técnicos e empresas que executem
os trabalhos necessários com a
devida qualidade.
Um CE fornece informações e recomendações sobre o que pode ser efetuado numa
casa. Para que esta informação passe do CE
à realidade, o proprietário necessita que as
recomendações possuam qualidade e que os
profissionais existentes no mercado tenham
a formação e experiência necessárias para as
efetuar.
Neste momento em Portugal o acesso ao CE
está generalizado e os consumidores não sentem qualquer dificuldade na hora de obter o
documento. No entanto, se decidirem efetuar
as recomendações presentes no CE, sentem
dificuldade no momento de solicitar orçamentos e selecionar empresas qualificadas para
as levar do papel à realidade. É aqui que o REQUEST se foca: como aproximar os diferentes
agentes do mercado? Pretende-se assim que
diferentes mercados e profissionais trabalhem em conjunto para alcançar a redução de
emissões de dióxido de carbono e motivando
promotores e proprietários para investir na
reabilitação das suas habitações num contexto de confiança e rigor na qualidade das intervenções realizadas.
PARCEIROS E CONSTITUIÇÃO
O projeto conta como parceiros 11 entidades da rede EnR (European Energy Network
–Rede Europeia de Agências Nacionais de
Energia) pertencentes a países como o Reino
Unido (Energy Saving Trust), Itália (Italian National Agency for New Technologies, Energy
and Environment), Alemanha (German Energy Agency), Áustria (Austrian Energy Agency),
Polónia (Polish National Energy Conservation
Agency), Dinamarca (Aalborg University), Eslováquia (Slovak Innovation and Energy Agency),
Bélgica (Flemish Institute of Technological Research), Grécia (Centre for Renewable Energy
Sources and Saving) e Bulgária (Energy Efficiency Agency).
O projeto está em execução com base nas
seguintes grandes tarefas: Coordenação e
gestão, Pesquisa de ferramentas e melhores
práticas existentes no âmbito da reabilitação
energética, Ferramentas para aproximar a
informação contida no CE e a cadeia de valor,
Elaboração de esquemas de qualidade na reabilitação, Projetos-piloto e avaliação de ferramentas e Comunicação do projeto que envolve ações de divulgação e execução de website
como plataforma de agregação de conteúdos
e partilha de conhecimentos
A ADENE é a responsável pela dinamização do
grupo de trabalho que se encontra a analisar
DURAÇÃO
O projeto teve início em abril de 2010 e terá a
sua conclusão em novembro de 2012.
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
ferramentas para aproximar a informação
contida no CE e a cadeia de valor, encontrando-se neste momento a ultimar as questões
relacionadas com o projecto-piloto que será
desenvolvido em Portugal, e a preparar as
acções relacionadas com o seu grupo de trabalho.
O Projeto-Piloto
O projeto-piloto português vai ser executado
com a colaboração da Lisboa E-Nova, a agência de energia do município de Lisboa, e terá
como foco de trabalho uma zona específica da
cidade que será escolhida tendo em conta a
classe energética dos seus edifícios, sendo o
ponto de partida a classe C ou inferior, e o objetivo final classe B ou superior. Analisando a
base de dados do sistema de certificação português, chegamos à conclusão que o edificado
com maior ineficiência situa-se nas décadas
de 70 e 80, data em que não existia qualquer
regulamentação sobre o comportamento térmico dos edifícios. Este projeto-piloto prevê
a atuação no terreno dos técnicos da agência
de energia, divulgando os documentos produzidos no âmbito do projeto REQUEST, dando
apoio técnico aos proprietários que pretendam implementar as medidas de melhoria e
efetuando um questionário final junto dos
energia
proprietários que determine o grau de satisfação destes em relação ao projeto desenvolvido bem como a apresentação de indicadores
do nível de implementação das medidas e das
ferramentas utilizadas.
RESULTADOS DO Projeto REQUEST
Como resultados esperados do projeto temos a elaboração de informação específica
para proprietários e profissionais do setor, 30
exemplos de qualidade em 15 estados membros da EU e outros 5 países, resumos de melhores práticas em comunicação de medidas
de melhoria indicadas no CE, realização de 20
workshops participadas por 400 profissionais
e pelo menos 100 técnicos a utilizar os requisitos de qualidade aqui definidos.
O projeto REQUEST além de pretender ser um
veículo de disseminação das melhores práticas na promoção da reabilitação, é também,
por via dos seus projetos-piloto, uma ação de
eficiência energética com resultados práticos
e reais reduções de emissões de dióxido de
carbono.
Para mais informações consultar a página da
ADENE em http://www.adene.pt/ADENE/Canais/Projectos/Request.htm
Formação de peritos de certificação em
medição e verificação em Portugal
A ADENE - Agência para a Energia vai apoiar a realização do segundo curso de Certificação
de Profissionais de Medição e Verificação (CMVP) a ser ministrado em Portugal pela EVO –
Efficiency Valuation Organization. O curso realiza-se entre os dias 3 e 5 de maio no Hotel
Eurostars das Letras, em Lisboa, e pretende formar peritos nesta área. A formação é dirigida
a engenheiros e arquitetos com experiência na área da eficiência energética.
A EVO é uma organização sem fins lucrativos que oferece produtos e serviços de apoio a:
• Medição e verificação de poupanças de energia e água resultantes de projetos de eficiência
do consumo de energia e água;
• Gestão de risco financeiro associado a contratos de desempenho energético;
• Quantificação de redução de emissões de carbono resultantes de projetos de eficiência
energética;
• Promoção da construção sustentável através da quantificação de poupanças de energia e
água.
O protocolo IPMVP
Em 1990 iniciou-se o desenvolvimento de abordagens estandardizadas para a medição
e verificação de eficiência energética (M&V), para apoiar agentes promotores, responsáveis de instalações e agentes financeiros envolvidos em projetos de eficiência energética.
Atualmente o protocolo IPMVP (International Performance Measurement and Verification
Protocol), promovido pela EVO, é o protocolo internacional que lidera a estandardização
dos procedimentos M&V.O IPMVP já foi traduzido em 10 línguas diferentes (incluindo Português) e é usado em mais de 40 países, sendo em alguns deles seguido como o protocolo
oficial para M&V.
Formação e certificação CMVP
A EVO promove cursos de CMVP (Certified Measurement & Verification Professional) para
garantir as boas práticas e estandardização da
M&V. Usando a sua experiência internacional, a
EVO promove cursos em todo o mundo, garantindo uma certificação internacional de profissionais em M&V, através do certificado CMVP. A
certificação CMVP dá garantia que o profissional tem habilitações académicas, experiência
prática e conhecimentos provados, num exame
de 4 horas, sobre procedimentos de M&V.
A EVO é responsável, em todo o mundo, pela
formação e certificação CMVP (Certified Measurement & Verification Professional). O direito de usar esta designação está reservada
àqueles que demonstraram competência em
M&V, sendo para tal necessário obter aprovação em um exame de 4 horas e reunir os requisitos académicos e práticos exigidos.
Para mais informações e inscrições consultar o
Portal da Formação SCE em http://www.adene.
pt/ADENE/Canais/SubPortais/SCE/Formacao/
PeritosQualificados
Novas regras para miniprodução de eletricidade em abril
Foi publicado em Diário da República um novo
decreto-lei que vem alterar o regime jurídico
da produção de eletricidade por intermédio de
instalações de pequena potência, designadas
por unidades de miniprodução.
Uma das novidades é a “definição de unidade
de miniprodução de eletricidade, entendida
como a instalação baseada numa só tecnolo-
gia de produção (por exemplo, painéis fotovoltaicos), e cuja potência máxima atribuível para
ligação à rede é de 250 kW”, diz o decreto-lei.
Além disso, o microprodutor é obrigado a consumir pelo menos metade do produzido, caso
contrário pagará coimas que poderão ir até os
44 mil euros. Os interessados em tornar-se
miniprodutores tem de se registar e a entrada
em exploração da unidade registada e a sua
ligação à rede carecem de certificado de exploração. O regime remuneratório da eletricidade
produzida em instalações de miniprodução,
tem dois regimes à escolha: o regime geral,
aplicável a todos os que tenham acedido à atividade de miniprodução e não se enquadrem
no regime bonificado.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
39
energia
Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Elétrica
PPEC 2007: apresentação de resultados e balanço
O evento contou com a participação dos promotores, tais como, EDP, Endesa, EEM, entre
outros. As empresas apresentaram os seus
programas e as medidas implementadas, que
passam, sobretudo, pela substituição para
lâmpadas economizadoras de energia e ações
de sensibilização em escolas. O objetivo é
promover a eficiência energética e diminuir as
emissões de CO2.
Dado sucesso desta iniciativa, neste momento, o PPEC já vai na sua quarta edição.
Próximos PPEC’s
Isabel Apolinário da Direção de Tarifas e Preços da ERSE, destacou melhorias que devem
ser instituídas nos próximos PPEC’s. Segundo
a responsável, é necessário trazer mais empresas e entidades a participar nesta inciativa e que não sejam só do setor elétrico, tais
como, agências de energia e associações de
consumidores. Por outro lado, é preciso colocar a eficiência energética na agenda de um
conjunto alargado de agentes, tentando parcerias. Evitar atrasos no arranque e implementação das medidas e, também, melhorar
a supervisão das mesmas. Isabel Apolinário
defende uma melhor e maior divulgação do
PPEC, “potenciando o efeito multiplicador
das medidas do PPEC.” A harmonização dos
©MÁRIO CERDEIRA
Decorreu, no passado dia 11 de fevereiro, o
seminário “Avaliação de Resultados e Perspetivas Futuras”, em Lisboa. Organizado pela
Entidade Reguladores dos Serviços Energéticos (ERSE), o evento serviu para apresentar
os resultados do primeiro Plano de Promoção
da Eficiência no Consumo de Energia Elétrica (PPEC). De acordo com a ERSE, este PPEC
“permitiu obter benefícios de 74 milhões de
euros, sete vezes superiores aos 10 milhões
de euros investidos, e evitar a emissão para a
atmosfera de 285 mil toneladas de CO2.”
Ao todo foram implementadas 26 medidas
– 10 tangíveis e 16 intangíveis- entre 2007 e
2009.
“Face às metas traçadas para 2010 no Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 2006), mais concretamente para a
medida «MAe3 – Melhoria da eficiência energética ao nível da procura de eletricidade», de
redução de 1 020 GWh do consumo de energia
elétrica, é possível perceber o impacte positivo
da poupança obtida pelo PPEC 2007 na meta
definida para 2010, contribuindo em 8%”, refere
a ERSE no seu relatório. A Entidade destaca
que “a poupança de energia obtida com o PPEC
2007 no período 2008-2015 contribui em 2,8%
para a concretização da meta preconizada
pelo PNAEE para as medidas de cariz exclusivamente elétrico.”
relatórios de execução finais, é, na opinião da
responsável, outra das questões a melhorar,
exigindo mais eficácia e transparência. Isabel
Apolinário refere ainda a importância de fomentar a concorrência no setor, limitando a
concentração.
www.erse.pt
Captar energia eólica nos centros urbanos
Uma empresa holandesa, a NL Architects,
desenvolveu turbinas eólicas, especialmente, destinadas aos centros da cidades. As Power Flowers geram eletricidade
a partir do vento, em locais normalmente
inacessíveis aos aerogeradores convencionais.
Estas turbinas com um design apelativo, são, segundo os criadores, inspiradas
numa turbina vertical denominada Eddy,
desenvolvida pela Urban Green Energy. Os
responsáveis afirmam que a turbina pode
ser montada em menos de uma hora, resiste a ventos superiores a 193 km/h e
tem um tempo médio de vida superior a
20 anos.
A NL Architects apresentou um equipa-
40
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
mento em forma de árvore, batizado com o
nome de Power Flowers. A turbina apresenta
uma coluna de aço oco com ramos na parte
superior. Estes ramos teriam 3 ou 12 turbinas
semelhantes à turbina Eddy. Por serem mais
leves e mais pequenas poderão ser facilmente montadas nos parques, ruas ou estradas
dentro dos centros urbanos.
Porém, apesar de serem mais bonitas e adaptáveis aos centros urbanos, estas turbinas
são menos eficientes face aos grandes aerogeradores que vemos nas paisagens rurais. A
equipa estima que uma Power Flowers com 3
turbinas pode gerar 13.000 kWh por ano, se
considerarmos uma velocidade média do vento de 5m/s. Uma estrutura com 12 turbinas
poderá gerar 55.000 kWh.
www.nlarchitects.nl
energia
Nova norma ISO para gestão de energia
Está neste momento a ser desenvolvida uma
nova norma ISO para a gestão de energia, estando previsto o lançamento para o terceiro
trimestre de 2011.
A ISO 50001 tem como objetivo ajudar as
organizações a melhorar o seu desempenho
energético, aumentar a eficiência energética e
reduzir os impactos das alterações climáticas.
A norma internacional vai ser direcionada para
gerir a energia de instalações industriais, instalações comerciais ou organizações completas. Segundo o comité de projeto de Gestão
de Energia ISO/PC 242, esta norma poderá ter
uma influência de até 60% no consumo mundial de energia.
“Todos os dias, organizações de todo o mundo
lidam com questões como a disponibilidade
de fornecimento de energia, a confiabilidade,
a mudança climática e esgotamento de recur-
sos . Um elemento crítico na resolução destas
questões é como é que uma organização gere
eficientemente o seu consumo de energia”, diz
o responsável Edwin Piñero.
O documento será baseado nos elementos
comuns de todas as outras normas de gestão ISO, pretendendo ser compatível com a ISO
9001 (gestão de qualidade) e ISO 14001 (gestão do ambiente).
Prevê-se que a ISO 50001 contemple: um
quadro para integração da eficiência energética em práticas de gestão; melhor utilização dos ativos existentes de consumo de
energia; benchmarking, medir, documentar e
relatar as melhorias da intensidade energética e o seu impacto projetado sobre a redução na emissão de gases de efeito de estufa;
transparência
comunicação
Marca e
QREN.
Versões Horizontais sobre a gestão
dos recursos energéticos; gestão das melho-
res práticas e comportamentos de energia;
avaliar e priorizar a implementação de novas
tecnologias energeticamente eficientes; um
quadro para a promoção de eficiência energética em toda a cadeia de abastecimento;
melhorias na gestão de energia no âmbito de
projeto de redução de emissões de gases de
efeito de estufa.
“Esta nova norma internacional fornece a estrutura para que as empresas comerciais e
industriais melhorem continuamente a sua
intensidade energética - poupar dinheiro, melhorar a competitividade e reduzir a poluição.
Quando as empresas podem ligar eficiência e
rentabilidade, é um «win-win»”, refere Roland
Risser, Presidente do Grupo Técnico Consultivo dos EUA para ISO / PC 242 e gestor do
Programa de Tecnologias de Construção do
Departamento de Energia dos EUA.
Setor da Energia em Portugal
não aproveita sistemas de incentivos
Algar inaugura
edifício “verde”
A conclusão é avançada pela Alma Consulting
Group no recente estudo “O Financiamento e
a Inovação: Setor da Energia.” Nuno Nazaré
da Alma referiu, na sua apresentação no seminário “O Setor das Energias Renováveis em
França e Portugal : Oportunidades e Parcerias”
no Porto, que Portugal tem crescido em termos de aposta em inovação mas ainda somos
“considerados inovadores moderados”.
Na área da energia conta-se em Portugal com
cerca de 600 empresas, representando apenas
2,66% do total de volume de negócios gerado
pelas empresas nacionais. Os responsáveis
pelo estudo, identificam o QREN e o SIFIDE
como os sistemas de incentivos mais interessantes e adequados às empresas portuguesas
de energia mas destacam que estes estão a
ser subaproveitados no nosso país.
Na verdade, a taxa média de aproveitamento
da QREN (SI Inovação e SI I&D) até dezembro
de 2010, situava-se apenas nos 40%, em termos globais, e em 11% ,no que toca ao setor da
energia. Já no SIFIDE, embora a taxa de execução seja mais alta, ainda está longe de atingir
os 100%, situando-se em 2007 nos 70%, em
termos globais, e em 40%, no setor da energia.
A Algar, empresa responsável pela recolha
e tratamento dos resíduos urbanos do Algarve, inaugurou um novo edifício de apoio
administrativo às atividades da empresa,
que conta com soluções amigas do ambiente.
«A ALGAR tem promovido métodos, procedimentos e ações concentrados nestes
últimos 15 anos, apostando sempre um
desempenho progressivo do serviço prestado, e orientação de melhorias significativas nas espectativas ambientais dos
cidadãos, proporcionando-lhes assim uma
maior qualidade de vida», diz o administrador Hélio Barros.
A finalidade era minimizar o consumo de
energia, por isso, o edifício recorre às mais
recentes tecnologias de iluminação e recuperação energética. Todas as salas têm
iluminação natural, a fachada posterior
está orientada a nascente e a principal a
poente. Conta ainda com um sistema solar
térmico para aquecimento de águas.
O edifício está situado na Estação de
Transferência de Faro/Loulé/Olhão, integrando diversos serviços administrativos,
tendo como objetivo centralizar as atividades da ALGAR. www.algar.com.pt
QREN e SIFIDE
O QREN disponibiliza diferentes programas de
apoio para o setor empresarial: SI I&DT para
Individuais e Consórcios; SI I&DT para Núcleos
de Investigação; SI Inovação para Produção e
Novos Bens. Segundo dados oficiais do QREN,
até ao final do ano passado, tinham sido apresentadas 1686 candidaturas mas apenas 65
eram provenientes da área de energia. Analisando os dados por áreas, a região do Centro
é a que mais concorre a Sistemas de Incentivo comunitários, tanto a nível geral como em
energia.
O SIFIDE é um programa que pode ser acumulado ao QREN e é considerado pela ALMA
como um dos instrumentos “mais generosos
da Europa” com várias vantagens, como por
exemplo: dedução à coleta, em sede de IRC,
pela realização de atividades de I&D, possibilidade de deduzir até 82,5% dos custos anuais
após entrega e candidatura, credito reportável
durante 6 exercícios fiscais. Contudo, Nuno
Nazaré refere que “poucas empresas beneficiam deste tipo de financiamento apesar do
número de reprovações ser muito baixo”. Segundo o responsável da ALMA, o setor mais
beneficiado com o SIFIDE é o das TIC e o Farmacêutico. No ano de 2008, do total das 857
empresas de energia em Portugal, apenas 10
se candidataram ao SIFIDE.
www.almacg.pt
QREN. Manual de Normas Gráficas. INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
41
ÁGUA
INAG e FLAD assinam protocolo no domínio do mar
A Fundação Luso-Americana (FLAD) e o Instituto da Água (INAG) assinaram, no início de fevereiro, um “Protocolo de Cooperação de Informação relativa ao Estado Ambiental do Meio
Marinho”. O encontro Lisbon Oceans Conference, realizado em outubro de 2010, permitiu a
colaboração entre estas duas entidades com o objetivo de concertar esforços e partilhar
informação, com vista a uma maior eficácia na gestão do Mar e dos seus recursos.
“Este protocolo pretende promover o diálogo entre parceiros internacionais, no sentido de
garantir o envolvimento de instituições de mérito em estudos e troca de conhecimentos
necessários para se definirem indicadores e metas ambientais que permitam enquadrar a
avaliação do estado ambiental das águas marinhas e o impacto ambiental das atividades
humanas”, refere a FLAD em comunicado.
www.flad.pt · www.inag.pt
Águas Públicas do Alentejo dá início a plano de investimentos
A empresa Águas Públicas do Alentejo (AgDA)
arrancou com o seu plano de investimentos. A
assinatura, em fevereiro, do contrato de adjudicação para a construção de uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR)
em Vila Nova de Mil Fontes marcou o início da
execução do plano.
A obra, com conclusão prevista para o verão
de 2012, está a cargo das empresas OIKOS,
S.A. e EFACEC, S.A e está avaliada em mais de
dois milhões de euros.
“A nova ETAR de Vila Nova de Mil Fontes é uma
obra crucial para a melhoria do processo de
tratamento das águas residuais produzidas
quer pela população residente, quer pelos visitantes em época balnear, permitindo garantir
que o efluente tratado é devolvido ao meio recetor em condições ambientalmente seguras
e beneficiando a qualidade de vida, o ambiente
e o turismo”, refere a AgDA.
O empreendimento será construído na mesma zona da atual ETAR e como está muito
próxima do meio urbana, será dotada de sistemas de desodorização, para a eliminação de
cheiros, bem como de controlo de ruído. Para
além da ETAR de Vila Nova de Mil Fontes, o
plano de investimentos, estimado em 227
milhões de euros até 2015, contempla a construção de uma ETAR em Alcácer do Sal, outra
em Melides (Grândola) e outras infraestruturas semelhantes no concelho de Odemira,
bem como de um emissário em Santiago do
Cacém. Estão também previstas várias intervenções ao nível do sistema de abastecimento de água em “alta”, a partir da Barragem de
Santa Clara.
MUNICÍPIOS
Novo projeto de gestão de água para o Porto
Está a ser implementado na cidade de
Porto o projeto Riegaa que consiste
numa rede sem fios para a gestão
e poupança de água. Vai também
permitir a obtenção de dados de
consumos de água em tempo real e
um controlo mais eficaz de fugas e
perdas.
PORTO
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
O projeto é cofinanciado pelo programa SUDOE e, segundo as Águas do Porto, tem como
objetivos “garantir o uso sustentável da água,
prosseguir a excelência no abastecimento,
controlar as condições de fornecimento e qualidade da água, otimizando a gestão do abastecimento.” O Riegaa nasceu de uma parceria
entre a Asociación de Desarollo Rural Saja
Naja, a Consejería de Economia y Hacienda del
Gobierno de Cantabria, a Consejería de Medio
Ambiente del Gobierno de Cantabria e a Águas
do Porto.
Está a ser desenvolvida uma rede de ligações
sem fios com tecnologias Wimax/Wifi e, através de uma conexão à Internet de banda larga,
poder-se-á ligar, em tempo real, os equipamentos de telemedição e controlo instalados
em depósitos de água e pontos estratégicos
da rede de abastecimento, o que permitirá ob-
ter medições de caudais e de indicadores da
qualidade da água. Todas as informações serão transmitidas para um centro de gestão/
controlo, e serão analisadas através de aplicações informáticas.
“Para tal, serão combinados equipamentos de
tecnologia de última geração, conceção de um
software específico e instalação de uma rede
Wifi ou Wimax que permitirá a transmissão
dos dados necessários, em tempo real, para
os equipamentos informáticos de tratamento
da informação”, explicam os responsáveis no
site oficial.
A implementação do projeto já está na sua
fase final, sendo provável que em meados de
abril já estejam colocados todos os contadores inteligentes na cidade.
www.riegaa.com
©ANA MEIRINHOS/SPEA
Alterações Climáticas e Conservação da Natureza
A importância dos SIG
na proteção da Biodiversidade
Seguir uma espécie animal e tentar perceber qual o seu habitat e
comportamentos, tornou-se mais eficaz desde a utilização do Sistemas de
Informação Geográfica, constituindo uma importante ferramenta na gestão
e conservação da biodiversidade.
No 9º Encontro de Utilizadores da Esri Portugal, que decorreu no início
de março em Lisboa, foram dados a conhecer alguns casos onde, sem
os SIG, não seria possível fazer estudos tão completos e precisos sobre
determinadas espécies.
Aves Marinhas em Portugal
Ana Meirinho, da Sociedade Portuguesa para
o Estudo das Aves, referiu os vários projetos
que estão a ser levados a cabo pela SPEA,
mostrando em que medida é que os SIG podem ser úteis. No Projeto Life IBAs Marinhas
(identificação de Áreas Importantes para
Aves marinhas em toda a área marinha de
Portugal), foram utilizados Sistemas de Informação Geográfica para visualizar toda a
área de trabalho (toda a ZEE portuguesa) e
planear o trabalho de campo necessário. No
caso dos Censos Áereos foi possível, através
do SIG, analisar os dados recolhidos nos 4143
km sobrevoados. O mesmo se passou com os
Censos Marítimos, onde se observaram 186
000 aves de 100 espécies diferentes e se percorreu 63 000 km e o SIG foi uma ferramenta
essencial, tanto para a análise de dados, como
para fazer grelhas de distribuição de aves marinhas.
Segundo Ana Meirinho, com estas ferramentas pode-se “mapear o comportamento da
maioria das espécies marinhas que ocorrem
em Portugal” e fazer “uma correta identificação de IBAs marinhas para muitas áreas
dentro da ZEE Portuguesa.” Contudo, referiu
algumas limitações como o facto do tamanho
da ave marinha poder restringir a utilização de
data-loggers e o tamanho da amostragem ter
de ser considerável.
O Lince-Ibérico e o Abutre-Preto
Sendo o Lince-Ibérico e o abutre-negro duas
espécies em vias de extinção em Portugal, foi
posto em prática o projeto Life Habital Lince
Abutre. Este projeto tem como objetivo con-
tribuir para a melhoria das condições de sobrevivência destas duas espécies, estabelecer
protocolos de colaboração com entidades locais de modo a preservar os habitats e sensibilizar e envolver a sociedade na conservação
da Natureza e da Biodiversidade. Segundo
Nuno Curado, da Liga para a Proteção da Natureza, neste estudo recorreu-se a um SIG sobretudo para caracterizar e avaliar as áreas da
Rede Natura 2000, para a possível implementação de medidas de conservação do habitat
adequado a estas espécies. Através da análise
de vários dados foi possível elaborar diferentes mapas onde se cruzaram variáveis consideradas fundamentais para a sobrevivência
do Lince-Ibérico e do Abutre-Preto. No caso
do Lince-Ibérico criaram-se, inclusivé, mapas
onde é possível identificar zonas prioritárias
para a atuação desta espécie.
MUNICÍPIOS
Penafiel aposta na floresta
O município de Penafiel apresentou,
no âmbito das comemorações do Dia
Internacional da Floresta, um projeto
inovador denominado “Roteiro das
Árvores Notáveis de Penafiel”.
PENAFIEL
O objetivo é promover um maior envolvimento da população com a Floresta, incentivando
as pessoas a conhecerem e a identificarem
as diferentes árvores existentes no concelho. “O projeto «Roteiro das Árvores Notáveis de Penafiel» pretende contribuir para a
conservação do património arbóreo, dinamizando um movimento cívico, de âmbito municipal, através do qual se irão identificar os
exemplares arbóreos existentes no concelho
que, atendendo ao seu porte, idade, raridade, entre outros aspetos, poderão integrar o
«Roteiro das Árvores Notáveis de Penafiel»,
podendo mesmo algumas delas vir a ser propostas para classificação como Árvores de
Interesse Público”, afirma a Câmara Munici-
pal de Penafiel.
O concelho de Penafiel tem mais de 50% de
área florestal, sendo considerado o segundo
concelho com maior tecido florestal na região
do Vale do Sousa.
“Com esta iniciativa, a Câmara Municipal de
Penafiel pretende dar visibilidade a estes Monumentos Vivos, conferindo-lhes um estatuto de proteção com vista à sua valorização e
preservação, garantindo assim a salvaguarda
de exemplares únicos existentes no Concelho”,
diz Antonino de Sousa, Vereador da Proteção
da Floresta. A iniciativa vai decorrer durante
todo o ano de 2011.
www.cm-penafiel.pt
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
43
Legislação - Gestão e Economia
A operacionalização do
Regime Jurídico da Responsabilidade Ambiental
Sofia Sá
Jurista, Assistente de investigação
CESUR – Centro de Sistemas Urbanos e Regionais
Centro de Estudos do Instituto Superior Técnico
[email protected]
No âmbito das obrigações emergentes do
regime jurídico da responsabilidade ambiental e tendo em conta a experiência que se vai
acumulando desde a sua entrada em vigor
em agosto de 2008, particularmente desde 1
de janeiro de 2010, data em que é legalmente exigível a garantia financeira, suscitam-se
questões de ordem prática que vale a pena
ponderar.
De acordo com este regime jurídico, um operador cuja atividade se enquadre numa das
categorias enunciadas no anexo III do DL nº
147/2008 de 29 de julho, alterada pelo DL nº
245/2009 de 22 de setembro, está legalmente
obrigado a constituir uma garantia financeira.
Conhecendo esta obrigação o operador constitui uma garantia financeira, com o propósito de cumprir com este requisito legal e
evitar a aplicação de uma contraordenação
ambiental muito grave, cujo valor da coima é
de elevada quantia, além das sanções acessórias a que pode estar sujeito, por vezes
mais penalizantes.
Mas nos tempos que correm, este operador
movimenta-se no mercado financeiro, motivado pela oferta mais barata, arriscando-se
na omissão de informação sobre os aspetos
relevantes respeitantes aos equipamentos,
infraestruturas e processos da atividade ou
ocultando o passado recente de danos ambientais, efetivamente ocorridos.
Das largas centenas de operadores abrangi-
dos pelo anexo III, muitos deles contrataram
uma garantia financeira, mas poucos realizaram um Estudo justificativo que fundamente,
o valor limite e as condições contratuais acordadas para o efeito.
A questão tantas vezes colocada, sobre o
valor mínimo de garantia financeira é se ele
corresponde, ou não, ao cumprimento desta
obrigação legal por parte dos operadores?
A garantia financeira é legalmente exigida,
mas será que quaisquer 100 Euros servem
para cumprir a lei? Em termos formais parece que sim, se aplicarmos a lei literalmente e
atendermos à lógica do sistema binário, ou o
operador tem ou não tem, a garantia financeira.
Mas em termos substanciais e atendendo à
ratio legis do diploma, não faz sentido este
condicionamento preso à letra da lei e limitado a um sistema simplificado de averiguação
do cumprimento.
O que realmente Importa é que a garantia
financeira cubra as despesas necessárias à
reparação e prevenção no caso de ocorrer um
dano ou ameaça de dano ambiental.
Com efeito, o objetivo deste regime é garantir
a solvência dos operadores no caso de sucederem estas hipóteses, respondendo em primeira linha às garantias contratadas, seguido
do património do operador, dos administradores, gerentes e cargos dirigentes e última
alternativa o pagamento das despesas pela
autoridade competente, via FIA, Fundo de Intervenção Ambiental.
Poluição da linha de água e no solo por descarga na
linha de água e por infiltração.
44
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
Garantias previstas na lei
A lei faculta quatro tipos de garantia, embora
se recorra atualmente a três: a constituição
de fundos próprios; a garantia bancária e o
seguro. Os fundos ambientais embora previstos, não têm ainda existência e portanto não
constituem para o operador, uma alternativa
no imediato.
Comecemos pela primeira garantia, esta
exige o que hoje em dia é escasso nas or-
ganizações: dinheiro à parte reservado para
custear as despesas necessárias em virtude
destas novas exigências. Estes fundos próprios constituídos, devem ser analisados criteriosamente sobre se atendem às características exigidas no nº 3 do artigo 22º, deste
regime jurídico.
A garantia bancária, por seu turno, exige por
contrapartida uma garantia ao operador, sendo difícil suportar mais uma, das muitas negociadas, para os mais diversificados fins.
A vantagem das duas primeiras, é não suscitarem discussão na operacionalização que
tem de ser imediata, caso ocorra o dano ou
ameaça.
A terceira é a mais habitual: o seguro. Para
esta garantia é fundamental que o operador
conheça quais os tipos de danos, qual a sua
probabilidade de ocorrência e que abrangência poderão assumir. Só após a definição deste quadro, faz sentido contratar um seguro,
negociando criteriosamente, não só o valor
limite máximo de cobertura mas, também, as
condições que permitem a utilização desse
valor, a favor do segurado.
Os aspetos que se relacionam com exclusões, coberturas contratadas, franquias, sublimites e prémios negociados, assumem uma
relevância absoluta numa organização que
prima por uma gestão preventiva em matéria
de responsabilidade para assumir no futuro.
Rompimento de telas utilizadas na lagunagem.
Legislação - Gestão e Economia
Estudo de Avaliação e Cálculo de Risco
Para a obtenção dos elementos mencionados,
muitos, confundem o valor de um “Estudo de
Avaliação e Cálculo do Risco”, com o preenchimento de um inquérito efetuado por uma seguradora que serve de base, à apólice negociada.
É fundamental pensar neste Estudo como o
instrumento que vai limitar a responsabilidade
do operador ao que efetivamente existia, em
termos das componentes ambientais afetadas: água, solo, espécies e habitats, e não mais
do que isso. Em adicional, poderá ainda servir
como documento instrutório a um futuro processo ou litígio de exclusão da responsabilidade.
Configura-se, pois, importante a realização
deste Estudo e o acompanhamento de um
apoio jurídico na contratação da garantia financeira mais adequada ao caso concreto.
Para isso, deve ser ponderada a entidade que
vai desenvolver este trabalho, nomeadamente a sua experiência, a equipa envolvida e sobretudo saber que no momento necessário,
mas que ninguém o deseja, o operador esteja
salvaguardado.
Rebentamento de condutas.
Alteração dos crimes ambientais
Foi aprovado, no início de março em Conselho de Ministros, um diploma que prevê
a alteração crimes de dano contra a natureza, de poluição e tipifica um novo crime
de atividade perigosa para o Ambiente,
assegurando proteção penal contra comportamentos que prejudiquem o Ambiente
e poluam o mar.
Segundo o comunicado do Conselho de
Ministros este diploma, a ser aceite pela
Assembleia de República, “transpõe duas
diretivas comunitárias: uma relativa à proteção do ambiente através do direito penal
e outra relativa à poluição causada por navios.”
O objetivo da alteração é simples: “assegurar
que em Portugal exista uma proteção penal
contra comportamentos que prejudiquem ou
ponham em perigo o ambiente e contra a poluição marítima causada por navios idêntica à
vigente nos demais Estados-Membros da UE.”
A proposta vem modificar as atuais previsões
dos crimes contra a natureza, tornando-os
mais abrangentes e eficazes. A novidade está
na previsão de uno novo tipo de crime ambiental, “que abrange atividades como a transferência ilegal de resíduos ou a produção, co-
mércio ou utilização ilegais de substâncias que
empobreçam a camada de ozono.”
Além disso, foi também feita uma alteração ao
tipo incriminador do incêndio florestal, passando a adotar-se, na definição do tipo do crime, a
terminologia adotada na legislação da área florestal. Desta forma, passam a ser abrangidos,
os incêndios de matos que, desde 2007, são
responsáveis por mais de 60% da área total ardida, por revelarem os mesmos merecimentos
e necessidade de pena idêntica a outros comportamentos já incluídos no conceito de crime
de incêndio florestal.
CE disponibiliza mais de 260M€ para projetos ambientais
A Comissão Europeia apelou à apresentação
de propostas de projetos ambientais, no âmbito do programa LIFE +. Este ano estarão disponíveis 267 milhões de euros para projetos
nas três componentes do programa: Natureza
e Biodiversidade; Política e Governação Ambiental; Informação e Comunicação. O período
oficial de candidaturas abre a 15 de julho.
Relativamente a projetos da componente LIFE
+ Natureza e Biodiversidade podem ser apresentadas propostas que tenham em vista melhorar o estado de conservação das espécies e
habitats. Neste domínio prevêem-se projetos
que implementem diretivas europeias para as
Aves e Habitats, Rede Natura 2000 e ajudem
a contribuir para meta europeia de combate à
perda da biodiversidade. A taxa de cofinancia-
mento máxima é de 75% para espécies e habitats prioritários, mas normalmente fica-se
pelos 50%.
Relativamente à componente LIFE + Política
e Governação Ambiental, a CE dá prioridade
a projetos que contribuam para o desenvolvimento de políticas, ideias, tecnologias, métodos e instrumentos em diferentes áreas
do ambiente, tais como, ar, água, solo, clima
e agricultura. Estão, também, incluídos projetos que incluam a melhoria da implementação de legislações europeias. Neste caso,
as propostas podem ser financiadas até um
total de 50%.
No caso do LIFE + Informação e Comunicação,
serão aceites projetos que tenham a ver com
a comunicação, especialmente, campanhas de
sensibilização para a proteção da natureza,
proteção ambiental, conservação da biodiversidade, bem como, projetos relacionados com
a prevenção de incêndios florestais (sensibilização, formação especial).
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
45
MATÉRIAS-PRIMAS | RESÍDUOS
UE vai proibir a utilização de 6 substâncias químicas
Um total de 6 substâncias consideradas perigosas vão ser banidas pela União Europeia nos próximos 3 a 5 anos. A menos que tenham uma autorização especial, todas as empresas devem
deixar de utilizar as substâncias identificadas como cancerígenas, tóxicas para a reprodução ou
que persistem no ambiente e se acumulam nos organismos vivos. A decisão da Comissão surge
na sequência do sucesso da primeira fase de registo e notificação de produtos químicos.
Na lista de substâncias a eliminar constam: 5-ter-butil-2, 4,6-trinito-m-xileno (almíscar xileno),
4,4 ‘diaminodifenilmetano (MDA), Hexabromociclododecano (HBCDD), bis (2-ethylexyl) ftalato
(DEHP), ftalato butil benzílico (BBP) e dibutil ftalato (DBP).
“Os operadores que pretendem vender ou utilizam essas substâncias deverão demonstrar que
as medidas de segurança necessárias foram tomadas para controlar adequadamente os riscos,
ou que os benefícios para a economia e a sociedade superam os riscos”, diz a CE em comunicado. No caso de existirem alternativas fiáveis às substâncias, estas devem ser apresentadas, tal
como um prazo para a substituição das mesmas.
A decisão da
Comissão surge
na sequência do
sucesso da primeira
fase de registo
e notificação de
produtos químicos.
Projeto ”Resíduos Menos”
A AEP lançou, já há mais de um ano, o projeto “Resíduos Menos” que tem como objetivo
potenciar a competitividade das empresas,
especialmente PME, através de um conjunto
integrado de ações que pretendem sensibilizar os empresários para as vantagens de uma
gestão adequada de resíduos. O projeto está a
ser implementado no Norte, Centro e Alentejo
e termina em dezembro de 2011.
“A implementação da estratégia da produção limpa na gestão dos resíduos produzidos
nas empresas, torna-as mais ecoeficientes e
tem como outputs gerar benefícios em termos económicos, ambientais e sociais - as
três grandes vertentes do Desenvolvimento
Sustentável”, refere a AEP no site oficial do
projeto.
Em termos práticos, a AEP pretende: inverter
a relação direta entre o crescimento do Produto Interno Bruto e a Produção de Resíduos;
incrementar a prevenção e redução da produção de resíduos; potenciar a valorização, a reutilização e a reciclagem dos bens de consumo
e outros; aumentar as taxas de valorização
dos resíduos; ativar o intercâmbio e contacto
entre empresas produtoras e gestoras de resíduos; fomentar e incentivar o mercado dos
materiais reciclados e dos produtos ambien-
talmente corretos; evitar a deposição de resíduos valorizáveis em aterros.
Para isso, a AEP está a promover um Ciclo de
Conferências e Seminários patrocinados por
um Fórum para a Sustentabilidade em PME
onde serão debatidas questões relacionadas
com a problemática da Gestão de Resíduos,
pondo a tónica no “Resíduo como um valor”.
Foi também criado um website para gerenciar
todo o projeto e partilhar informação. Ao mesmo tempo, a AEP pretende editar publicações
sobre Gestão de Resíduos.
www.aeportugal.pt
MUNICÍPIOS
Resíduos depositados em S. Pedro da Cova têm de ser removidos
A CCDR-N determinou a retirada integral
dos resíduos depositados em aterro nas
antigas minas de S. Pedro da Cova, por
serem considerados perigosos.
S. PEDRO DA COVA
46
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
A decisão surge na sequência dos resultados
de um estudo, encomendado pela CCDR-N
(Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte), ao LNEC, sobre os resíduos provenientes da extinta Siderurgia Nacional em Matosinhos.
A Presidência da CCDR-N refere a necessidade de “transferência para um centro de tratamento e valorização de resíduos perigosos e a
requalificação e proteção ambiental do lugar
do aterro”.
O documento, que foi tornado público no mês
de março, determina, ainda, “a comunicação
imediata dos resultados e conclusões deste
estudo às autoridades nacionais, regionais e
locais competentes” e “a monitorização ambiental e piezométrica das águas subterrâneas na área envolvente do depósito”.
Contudo, ainda não foi determinada a contaminação da água dos poços existentes no
local, defendendo a CCDR-N que o espaço se
encontra “coberto em 100 por cento pela rede
pública de abastecimento”.
A CCDR-N teme ainda que “não seja possível
eliminar totalmente os riscos” do território
onde se encontram os resíduos perigosos.
www.ccdr-n.pt
RESÍDUOS | SOLOS
Papel reciclado como material de construção
Foi criado um novo material de construção
que tem como base papel reciclado e cartão.
Desenvolvido na Universidade Politécnica da
Catalunha, pólo de Terrassa, este material
criado através da biotecnologia, tem como
objetivo substituir os materiais tradicionais
nos setores dos transportes, construção e
embalagens.
Denominado de Biprocel, este material pretende substituir, a médio prazo, o gesso utilizado na indústria da construção, poliestireno
expandido utilizado para o transporte de géneros alimentícios e medicamentos e a resina usada para painéis interiores de veículos a
motor.
“No futuro próximo haverá uma obrigação
legal para o setor da construção (tanto para
novas construções como reabilitações), o setor dos transportes e logística de usar 20% de
materiais reciclados”, diz Margarita Calafell,
investigadora da UCP em Terrassa.
O Biprocel é obtido através de um processo
biotecnológico para a reciclagem de resíduos
de celulose como papel, cartão, madeira e trapos. Este material, que já se encontra patenteado, é à prova de fogo, impermeável, resistente a choques, luz e proporciona isolamento
térmico e acústico.
A produção deste material, já patenteado, começou através de uma colaboração com uma
empresa de artes gráficas que precisava de
obter a certificação ISO e para isso tinha de
melhorar a sua gestão de resíduos. “Começamos a trabalhar na manipulação de resíduos
de papel até chegarmos aos níveis de melhoria exigidos pela empresa”, explica Calafell.
Desta forma, a investigadora percebeu as
potencialidades daqueles resíduos e que este
método poderia ser melhorado, começando
um processo de reciclagem, através da biotecnologia. “A biotecnologia não é mais do que um
tratamento de produtos similar à ação da natureza, mas com intervenção humana”, refere
Margarita Calafell.
O novo material pode vir substituir, por
exemplo, painéis de gesso, divisórias de isolamento, placas de isolamento acústico ou
intradorsos.
PUB.
Primeiro mapa mundial de
permeabilidade da superfície
do solo
Cientistas americanos e europeus criaram um mapa-mundo sobre a permeabilidade da
superfície do solo, a partir de
dados de rocha que compõem
o solo.
Esta nova cartografia poderá
melhorar as práticas de gestão do consumo de água e a
modelação climática. Os cientistas americanos da Universidade de British Columbia em
parceria com os investigadores da US Geological Survey, Universidade
de Hamburgo e Universidade de Utrecht, basearam-se em dados dos
tipos de rochas das várias regiões do globo. Desta forma, conseguiram
cartografar, pela primeira vez, a permeabilidade do solo até 100 metros
de profundidade.
“Usando os nossos dados e o mapa de permeabilidade podemos agora avaliar a sustentabilidade dos recursos de água subterrâneos, bem
como o seu impacto no clima no passado, presente e futuro, à escala global”, diz Tom Gleeson, primeiro autor do artigo publicado sobre o
mapa. Até agora existiam apenas mapas de permeabilidade de superfície do solo relativos a áreas restritas e que avaliavam somente 1-2
metros de solos mais superficiais.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
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PESSOAS E EMPRESAS
Miguel Matias
Fundador e CEO do grupo Self Energy
“Os dias da energia barata e
abundante terminaram (...)”
Apesar de não ser formado na área da Energia, quando conheceu
o setor não lhe passou despercebido, agarrando todas as oportunidades
que este tinha para lhe oferecer. Com uma forte experiência na gestão de
negócios energéticos, Miguel Matias, criou a primeira empresa ESCO
em Portugal, a Self Energy.
Degrau a degrau
Nasci em Moçambique. Completei a licenciatura em Informática pela Faculdade de Ciências de Lisboa em 1992, ano em que entrei na
Andersen Consulting (agora Accenture) e onde
atingi a posição de Manager no setor de Utilities em 1996. Em 1998 fui desafiado para o
início da atividade da Deloitte Consulting em
Portugal, onde fiquei com a responsabilidade
no setor de Energia. Em 2000 a Galp Energia
convidou-me para dirigir a unidade de Inovação e eBusiness a nível global. Em alguns dos
casos fui administrador e CEO de empresas do
Grupo Galp Energia, e tive a oportunidade de
concluir formação executiva no INSEAD e um
executive MBA na AESE/IESE. Em junho de
2006 decidi sair da Galp e criar a Self Energy,
a primeira empresa de Serviços de Energia de
Portugal, com presença em Portugal, UK, Moçambique e Espanha.
Aústria e Alemanha
São países-modelo. Em Eficiência a Áustria,
devido ao esforço de combinar a utilização industrial e agrícola com a produção de energia e
aquecimento para vilas e cidades. Na área das
Energias Renováveis penso que a Alemanha
é um caso paradigmático pois conseguiu aliar
a utilização em larga escala de energias renováveis, de forma descentralizada, criando emprego e resiliência na rede elétrica, ao mesmo
tempo que se impunha como líder tecnológico
no setor, particularmente na área da energia
solar aliando políticas públicas efetivas com
suporte à inovação e internacionalização destas empresas.
O que o preocupa?
O excessivo peso da Energia Nuclear na Eu-
48
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
ropa e a aposta continuada nesse setor que
retira capacidade de financiamento e atuação
no setor da eficiência energética e das renováveis, ao mesmo tempo que mantém em alerta
a possibilidade de acidentes nucleares com
graves repercussões como o que estamos a
assistir agora no Japão.
Outra preocupação é que não existam compromissos “binding” para o aumento de 20%
de eficiência energética dos países, com penalizações para quem não o consiga até 2020,
quando felizmente para atingir 20% de renováveis e reduzir de 20% das emissões de CO2
já existem. O objetivo 20-20-20 está assim
incompleto, prejudicando o esforço de eficiência e poupança que deveria ser a primeira das
tarefas a empreender na Europa.
O maior desejo
Que o investimento previsto para reforçar
os Programas Nucleares fosse redirecionado
para as Energias Renováveis e para a Eficiência Energética, não só do ponto de vista de
produção descentralizada que aumenta a capacidade de resposta em alturas de catástrofe mas, também, na criação de uma liderança
tecnológica efetiva no setor, exportável para
os países em desenvolvimento. O setor que
poderá voltar a dar à Europa a liderança perdida e que permitirá o suporte ao crescimento
nas próximas décadas.
A longo prazo
O grande desafio que temos pela frente é o de
eletrificar de forma sustentável os países em
desenvolvimento, utilizando o novo paradigma da produção de base local com recurso a
energias renováveis, como a solar, mini-hídrica, biomassa ou eólica. Outro grande desafio
“
(as energias renováveis)
o setor que poderá
voltar a dar à Europa
a liderança perdida e
que permitirá o suporte
ao crescimento nas
próximas décadas.
é o de superar o desafio que as alterações
climáticas colocarão, em especial no setor da
Energia. Esse desafio é global e teremos de
ser capazes de, já na África do Sul este ano,
em nova Conferência do Clima, desenhar um
compromisso global que permita desenhar
um novo protocolo de “Kyoto”, onde países
como EUA, China, Brasil e Índia terão de participar ativamente.
PESSOAS E EMPRESAS
Aposta forte em sistemas
de membranas em Portugal
B.I. AQUA2R
Nascimento julho de 2007
Localização Canelas, Vila Nova de Gaia
Foco Sistemas MBR e sistemas de membranas
Equipa Rui Oliveira, André Meireles e Miguel Magalhães
Quatro anos de existência pode parecer pouco mas a verdade é que esta
empresa, especializada em sistemas de membranas, já começa a dar frutos
no mercado português, atingindo valores de crescimento na ordem dos
300%. A AQUA2R é gerida por uma equipa jovem e multidisciplinar, onde se
complementa a área da engenharia com a da microbiologia. Contando com
a execução 4 projetos neste momento, a ambição dos responsáveis não fica
por aqui, estando abertos a parcerias com empresas para o concurso de
Viseu Sul e remodelação da ETA de Vale da Pedra.
O que é a AQUA2R?
É uma empresa de Sistemas MBR e sistemas
de membranas, nomeadamente projeto, engenharia e a fabricação de sistemas de membranas. A evolução do negócio tem sido bastante favorável desde a formação da empresa
e tem apresentado valores de crescimento na
ordem dos 300%, sendo que é expectável um
crescimento em 2011 para os 500.000€.
Próximos passos
Atendendo que 2011 será um ano de “revolução” tecnológica ao nível dos produtos lançados no mercado pela empresa têm como
objetivo a liderança de mercado em sistemas
de membranas em Portugal. A internacionalização é um dos pontos que estão a considerar
para 2011 tendo em conta os pedidos de Espanha, Itália e PALOP que lhes têm chegado.
Atendendo ao investimento necessário para
este efeito devem recorrer a um financiamento do QREN para facilitar este processo.
Esperam, até 2015, estar representados na
Dinamarca, Suécia, Noruega assim como em
alguns países do médio oriente (Emirados
Árabes Unidos, Omã, Qatar, Bahrein) visto
serem países despertos para a tecnologia de
membranas.
Este ano vão lançar
Linha de sistemas de membrana; Linha de
ultrapurificação; sistemas de osmose inversa para tratamento de efluentes, águas de
consumo e dessalinização; ETAR’S compactas
AQUA-Bio para efluentes domésticos. Têm,
também, desenvolvidos sistemas móveis de
tratamento de águas de consumo e águas residuais para situações de emergência e zonas
desprovidas de tratamento de águas que irão
ser lançados este ano.
Destacam...
No que diz respeito à implantação de sistemas
MBR destacam um sistema único em Portugal para tratamento de efluentes vinícolas. Ao
nível de projeto encontram-se a trabalhar em
2 projetos, ainda em fase de dimensionamento para implantação, em lixiviados e indústria.
Projetos em mãos
Neste momento e desde que o ano de 2011 se
iniciou, já têm em carteira 4 novos projetos e
estando a finalizar a implantação de outros 3
na área de efluentes vinícolas.
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
49
eventos
EXPOSÓLIDOS 2011
Vai decorrer de 14 a 16 de abril, no Porto, a feira de tecnologia e processamento de sólidos - EXPOSÓLIDOS. Pela primeira vez em Portugal, esta feira especializada conta com
o apoio da AEP- Associação Empresarial de Portugal. Além da exposição, vão decorrer
também umas jornadas técnicas.
“Nesta primeira edição estima-se uma participação de 70 expositores de 9 países (200
marcas) e alcançar 3000 visitantes profissionais (90% portugueses)”, refere a organização. Na feira estarão expostos vários tipos de produtos e serviços, tais como: armazenamento e transbordo; Equipas responsáveis pela captação; Manuseamento de grandes
volumes de produtos sólidos; Materiais resistentes ao desgaste; Revestimentos, antiaderentes e anticorrosão; etc.
A EXPOSÓLIDOS destina-se a profissionais dos setores agrícola, alimentação, borracha
e plástico, cerâmica, construção, cosmética, detergentes, farmacêutico, gorduras, sabão,
entre outros.
www.exposolidos.com
Gestão da água
Vai ter lugar no dia 4 de maio, em Lisboa,
o seminário Gestão da água. Organizado
pela Associação Portuguesa de Empresas
de Tecnologias Ambientais (APEMETA),
este seminário vai centrar-se nos vários
sistemas de gestão de água até ao balanço do PEASAR II. Dentro dos temas em
foco, destacam-se: Balanço do PEAASAR
II e perspetivas para o setor da água; Investimentos do setor da água. Balanço e novas
perspetivas; Internacionalização do setor da
água; o alargamento da intervenção da ERSAR. Qualidade do serviço de águas; Gestão
de lamas de ETA e ETARS; Sistemas de gestão
integrada. Sistemas em Alta; Eficiência no tratamento de águas residuais.
O seminário destina-se a profissionais dos
setores do Ambiente, Água, Construção,
Indústria e Serviços, Associações empresariais, Gestores e Técnicos da Administração
Pública Central, Regional e Local, Docentes,
Investigadores e Estudantes.
www.apemeta.pt
CALENDÁRIO DE EVENTOS
Evento
Temática
Local
Data
Informações
Exposólidos
Feira de tecnologia e processamento
Porto de sólidos
Portugal
14 a 16 abril
2011
PROFEI SL
www.exposolidos.com
Feira de tratamento de água e
Berlim
Wasser Berlin 2011 águas residuais
Alemanha
2a5 maio
2011
Messe Berlin
www.wasser-berlin.de
Radio 2011 Proteção Radiológica
Recife
Brasil
17 a 21 maio
2011
ABENDI, SBPR e SPPCR
www.sbpr.org.br/IICongresso.asp
Ambienergia Feira internacional de ambiente, energia Porto e sustentabilidade Portugal
27 a 30 maio 2011
EXPONOR
www.ambinergia.exponor.pt
CarbonExpo Mercado e tecnologias de carbono Barcelona
Espanha
1a3 junho
2011
IETA, World Bank e Fira de Barcelona
www.carbonexpo.com
ACQUALIVE EXPO Feira de energia, proteção ambiental, Lisboa
água, resíduos e irrigação
Portugal
2a5 junho
2011
FIL
www.fil.pt
Biomassa
Berlim
19 th European Biomass Conference and Exhibition
Alemanha
6a9 junho
2011
WIP-Renewable Energies
www.conference-biomass.com
Resíduos - soluções, tratamentos e Guimarães
WASTES oportunidades
Portugal
12 a 14 setembro
2011
CVR-Centro para a Valorização de Resíduos
www.wastes2011.org
As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a Organização.
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
estante | Ecocybernews
Edifícios Existentes
O livro “Edifícios Existentes – Medidas de Melhoria de Desempenho Energético e da Qualidade
do Ar Interior” foi lançado pela ADENE e pretende ser um guia de soluções a nível da construção,
tendo como objetivo a eficiência energética. Ao mesmo tempo, são também definidos níveis de
qualidade das medidas de melhoria aconselhadas, quantificando os benefícios técnicos e económicos. “Este guia ganha especial relevância, uma vez que um terço do consumo energético é feito
nos edifícios. Muitos dos existentes em Portugal necessitam de intervenções, a nível de habitabilidade, qualidade térmica e energética. Esta publicação pretende ser um importante aliado dos
peritos na emissão do Certificado Energético dos edifícios”, refere a ADENE.
Autores: Vasco P. Freitas, Ana Sofia Guimarães, Cláudia Ferreira e Sandro Alves · ISBN: 9789728646165 ·
Editora: ADENE/Verlag Dashöfer · Número de páginas: 130 · Data de Edição: 2011 · Preço: 33,34 € · à venda em www.engebook.com
História dos recursos hídricos do norte
Intitulado “Das hidráulicas aos recursos hídricos: história, sociedade e saber”, o livro da autoria de
Álvaro Campelo reúne 125 anos de história da gestão dos recursos hídricos da região norte.
A obra foi lançada pela Administração da Região Hidrográfica do Norte (ARH Norte) e pela Universidade Fernando Pessoa em fevereiro e resulta de um estudo, levado a cabo pelo autor, ao acervo
dos organismos públicos que antecederam a ARH do Norte. Rosário Norton, vice-presidente da
ARH do Norte, referiu: quando a Comissão Instaladora deste instituto público entrou em funções,
em 2007, demo-nos conta que tínhamos um acervo documental de valor incalculável, quer no
Porto, quer nos vários pólos.” Numa primeira fase, a análise do acervo deu lugar a uma exposição
que decorreu entre novembro de 2008 e março de 2009 em Viana do Castelo. Posteriormente
surgiu a ideia de compilar a história em livro. “É uma espécie de revelação à comunidade científica
da riqueza que as antigas hidráulicas têm de documentos e artefactos”, diz Álvaro Campelo sobre
o livro. Futuramente, o autor refere que seria importante criar um arquivo digital que permita um
estudo aprofundado, numa perspetiva histórica e antropológica.
Autor: Álvaro Campelo · ISBN: 9789899709607 · Editora: ARH Norte · Mais informações em www.arhnorte.pt
Plataforma Web para
energias renováveis
PUB.
www.smartwatt.pt
A empresa de serviços energéticos SMARTWATT criou uma plataforma online onde disponibiliza, sem qualquer custo, previsões de produção de energia eólica, solar e mini-hídrica. Neste site
vai ser possível ver as previsões horárias dos últimos dias e a produção diária nacional para os
seis dias seguintes, relativamente aos serviços de previsão referidos. Segundo a SMARTWATT, o
próximo passo será a “preparação de novos serviços na vertente SmartGrid e Dinamic Reponse
com o objetivo de combinar serviços de previsão de consumos, previsão de preços e previsão de
produção renovável internas.”
INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
51
opinião
Mais do que criar sistemas de
energia inteligentes, é preciso
gerir a energia com inteligência
O
setor da energia defronta-se com um período de profunda e imprevisível mudança
nas próximas décadas, com avanços mais radicais do que os alguma vez vistos
desde os tempos de Edison. Alterações de regulação, fontes de energia renováveis, regulação
de gases de efeito de estufa, geração distribuída, esforços acrescidos de conservação de energia e sistemas
de energia inteligentes (Smart Energy Systems) estão a emergir como catalizadores e impulsionadores de
alterações significativas. Se adicionarmos a isto a perspetiva de uma alteração de paradigma relativamente
a fontes de energia à medida que outros setores reagem aos imperativos relacionados com gases de efeito
de estufa, especialmente no setor dos transportes baseados no petróleo, o setor de energia de amanhã irá
ser muito diferente daquilo que conhecemos hoje.
Um elemento transversal a estas mudanças é a preocupação com a eficiência na produção, transporte
e utilização da energia. Neste contexto, a nossa experiência de mais de 80 anos e presença nos 5
continentes proporciona uma visão priveligiada das realidades e iniciativas a nível global. Se na Europa,
por um lado, assistimos a preocupações com alterações climáticas, integração de fontes de energias
renováveis na rede, geração distribuída, segurança de abastecimento e envelhecimento de ativos, na Ásia,
por outro, encontramos desafios com eletrificação das regiões, modernização dos sistemas e gestão do
crescimento exponencial da procura. Se na América do Sul, nos debatemos com problemas de redução de
percas na rede e melhorias na robustez, na América do Norte e Oceania os desafios são em grande medida
de redução e gestão dos picos de carga e adequada gestão da procura (demand response).
Na Alemanha, por exemplo, diversos municípios estão a desenvolver planos para atingirem o
objetivo de cidades sustentáveis e eficientes no período 2035-2050. Isto passa por análises da situação
atual, determinação de potenciais poupanças, determinação de potenciais fontes de energia na região
e desenvolvimento de cenários e de estratégias de implementação, tendo em conta os planos de
desenvolvimento locais, as fontes de energia existentes e sua conversão e as indústrias, serviços e
residências presentes na região.
De referir que neste contexto deve sempre ter-se em consideração a eficiência energética nas suas
vertentes eletricidade, gás e calor. Em Hoogkerk, um subúrbio de Groningen, na Holanda, começou a operar
oficialmente uma rede integrada de eletricidade, gás e calor que se autodenomina de PowerMatching
City. A rede inclui 25 casas interligadas, contendo produção combinada de calor e eletricidade altamente
eficiente a gás natural, bombas de calor híbridas (bombas de calor ar-água e caldeiras de condensação),
contadores inteligentes em todas as casas, painéis fotovoltaicos, 2MW de energia eólica, equipamento
residencial (máquinas de lavar) dotado de “inteligência”, carros elétricos, armazenamento de energia em
baterias e micro-turbinas a gás.
Também na indústria assistimos a diversas preocupações pela introdução de equipamentos mais
eficientes, por exemplo com variadores de velocidade e/ou mais adequado controlo de emissões e
programas de gestão de energia, ou com a otimização do desempenho de centrais de biogas, biomassa e
valorização de resíduos.
O desafio da eficiência passa assim por fazer uma gestão inteligente da energia e não pelo uso
indiscriminado da palavra “smart”. Quem está no setor há alguns anos sabe que as redes de transporte já
têm “smart” há muito tempo, que a automação distribuída já vai dando os seus passos e que integrar na
rede energias renováveis necessita de inteligência.
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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011
Nuno de Souza e Silva
Diretor Geral
KEMA