QUEM DESCOBRIU O BRASIL

Transcrição

QUEM DESCOBRIU O BRASIL
Alguns historiadores defendem a tese de que Cabral não passa de um coadjuvante na história da descoberta
do Brasil.
O nosso país teria sido descoberto por um tal Duarte Pacheco Pereira, um gênio da astronomia, navegação e
geografia, homem da mais absoluta confiança de Dom Manoel, rei de Portugal, que teria perambulado pelo
litoral entre Maranhão e o Pará no final de 1498.
O trabalho de pesquisadores portugueses, espanhóis e franceses revela que Portugal, já ciente da existência
de terras a ocidente desde 1492, quando Cristóvão Colombo chegou à América, enviou um a missão secreta ao
Brasil um ano e meio antes de Cabral. E o motivo de tanto mistério é simples: o local do desembarque
encontrava-se em terras espanholas, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494. Pacheco
também teria chegado à ilha de Marajó e à foz do Rio Amazonas.
É cada vez maior o número de pesquisadores que torce o nariz para a história de que Cabral chegou ao Brasil
depois de desviar-se da rota das Índias. Ao que parece, ele sabia muito bem o que estava fazendo. A viagem
anterior de Duarte Pacheco, que saiu do arquipélago de Cabo Verde, na costa da África, em direção à linha do
Equador, navegando para o sul, já tinha lhe mostrado o caminho. Em seus relatos, o navegador diz ter
encontrado homens "pardos, quase brancos", características dos índios aruaques, que dominavam a orla
marítima do norte do Brasil.
E para provar que tudo isso não é coisa de quem não tem o que fazer, os que defendem essa tese apresentam
como prova um manuscrito com 200 páginas, produzido por Pacheco entre 1505 e 1508, que ficou
desaparecido por quatro séculos. O documento é um relato das viagens do navegador, não só para o Brasil,
mas também pela costa da África.
A tese de que Duarte Pacheco é o verdadeiro descobridor do Brasil não é nova. Vem sendo discutida desde
1926. Mas não é a única que põe em dúvida o feito de Cabral. Outros historiadores, entre eles o famoso Jaime
Cortesão, um dos mais importantes quando os descobrimentos portugueses são o assunto, acreditam que o
responsável pela façanha foi Bartolomeu Dias, que, em 1487, dobrou o cabo da Boa Esperança, abrindo
caminho para o Oriente. Os estudiosos entendem que Bartolomeu, um dos maiores conhecedores das
correntes marítimas do oceano Atlântico, se não esteve no Brasil, pelo menos desconfiou de sua existência
por vários indícios que encontrou pelo caminho.
A verdade é que Cabral nunca esteve tão em baixa, justamente às vésperas do aniversário de 500 anos do que
a maioria julga ter sido seu maior feito. Mas não se pode, no entanto, tirar o valor de sua grande aventura,
mesmo diante de tanta desconfiança.
A viagem de Cabral, financiada por banqueiros genoveses e florentinos, foi uma das mais importantes da
história da expansão marítima portuguesa. Sua expedição, com 14 navios e 1.500 homens, foi a maior até
aquela data, pois, além de chegar ao Brasil, tinha como missão conquistar o rico mercado produtor de
especiarias nas Índias.
Eduardo Bueno, autor do livro "A viagem do descobrimento", revela a aventura pouco conhecida da maioria.
Bueno também desconfia de que Cabral não foi o primeiro a colocar os pés no Brasil, e tampouco aposta em
Duarte Pacheco. "Se ele fez a viagem, que acredito que fez, deve ter chegado à América do Norte",
argumenta. Ele parece aceitar mais a tese de Jaime Cortesão, que dá a Bartolomeu Dias todos os méritos.
Mas nada tira o encanto da aventura de Cabral. Bueno conta que o nobre português, casado com a terceira
mulher mais rica da corte, recebeu quatro quilos de ouro, uma fortuna na época, para comandar a expedição,
mesmo não sendo um navegador, isso dá a dimensão de seu prestígio junto ao rei. Foram 44 dias, tendo como
refeição básica o biscoito de marinheiro, uma mistura de farinha e sal, geralmente coberta de bolor, muito
ruim. A falta de higiene era completa e isso acabou fazendo muitas vítimas. Os porões dos navios ficavam
cheios de fezes e vômitos. Bueno pesquisou 200 livros para contar essa história.
A esquadra de Cabral ficou no Brasil por dez dias e depois seguiu viagem para as Índias. Ao passar pelo cabo
da Boa Esperança, uma tormenta afundou cinco navios e uma das vítimas da tragédia foi justamente
Bartolomeu Dias, que fazia parte da expedição. Logo alguns marinheiros espalharam a história de que aquilo
nada mais era que uma vingança do cabo contra Dias.
Cabral retornou de sua aventura, em 1501, com cinco navios e apenas 500 homens, nove navios destruídos e
1.000 homens mortos. Foi recebido como herói, mas acabou se desentendendo com o rei sobre o comando da
expedição para as Índias programada para o ano seguinte e foi substituído por Vasco da Gama. Caiu em
desgraça e morreu no esquecimento, provavelmente em 1520.
Afinal, quem descobriu o Brasil? Historiadores em todo o mundo ainda estão trabalhando para responder a
essa pergunta, mas para qualquer criança do ensino básico e fundamental no país outra resposta que não seja
Pedro Álvares Cabral estará errada. É o que temos de mais concreto.