segunda comunicao nacional de cabo verde para as mudanas
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segunda comunicao nacional de cabo verde para as mudanas
REPÚBLICA DE CABO VERDE SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL DE CABO VERDE PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA MUDANÇAS CLIMÁTICAS MINISTÉRIO DO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO RURAL E RECURSOS MARINHOS INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA OUTUBRO 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL DE CABO VERDE SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS Elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica República de Cabo Verde, Outubro 2010 ii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS FICHA DE IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL DE CABO VERDE SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Projecto Id.: 00046173: Projecto Segunda Comunicação Nacional de Cabo Verde para Mudanças Climáticas Agência de implementação: PNUD – Unidade Ambiente, Energia e Prevenção de Catástrofes Naturais Parceiro de Execução do projecto: Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) Directora do Projecto: Presidente do INMG – Eng.ª Ester Araújo de Brito, MSc Coordenador Nacional do projecto: Eng.º Francisco da Veiga Correia, MSc Equipa responsável para a elaboração e redacção da Segunda Comunicação Nacional Eng.º Francisco da Veiga Correia, MSc Eng.ª Ester Araújo de Brito, MSc Engº Emanuel Francisco Santos Soares, MSc Engº Carlos Alberto Moniz Dr. Edwin Pile Eng.ª. Luísa Emília da Lomba de Morais Engª Arlinda Ramos Duarte Lopes Neves, MSc Eng.º Manuel Leão Silva de Carvalho, MSc O processo foi concluído graças ao envolvimento de várias instituições, consultores nacionais e internacionais, empresas, sector privado, associações, ONGs e outras fontes que contribuíram para a elaboração do presente documento. Em anexo a lista nominal dos que participaram nos ateliês e workshop realizados no quadro do projecto. República de Cabo Verde, Outubro 2010 iii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS República de Cabo Verde, Outubro 2010 iv SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PREFÁCIO República de Cabo Verde, Outubro 2010 v SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Índice FICHA DE IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA ....................................................................... iii PREFÁCIO ........................................................................................................................ v Índice ................................................................................................................................ vi Indice de Figuras ................................................................................................................ x Indice das Tabelas ............................................................................................................. xi RESUMO EXECUTIVO ................................................................................................. xii CAPÍTULO I – CIRCUNSTÂNCIAS NACIONAIS ........................................................ 21 1.1 Caracterização do País .................................................................................................... 21 1.1.1 Estrutura Governamental ......................................................................................... 21 1.1.2 Perfil Geográfico e climático ................................................................................... 22 1.2 Recursos Ambientais ...................................................................................................... 27 1.2.1 Recursos em terras - Solos agrícolas e superfícies cultivadas ................................... 27 1.2.2 Recursos Hídricos .................................................................................................... 28 1.2.3 Solos ....................................................................................................................... 29 1.2.4 Biodiversidade ......................................................................................................... 30 1.2.5 Rochas e Minerais ................................................................................................... 34 1.3 População e Perfil Urbano .............................................................................................. 35 1.4 Desenvolvimento Económico e Social ............................................................................ 36 1.4.1 A evolução da pobreza e da desigualdade nas últimas décadas ................................. 36 1.4.2 O número e proporção de pobres ............................................................................. 36 1.4.3 Fome e desnutrição infantil ...................................................................................... 37 1.4.4 Perfil de educação .................................................................................................... 38 1.4.5 Perfil da saúde ......................................................................................................... 38 1.4.6 Acesso aos serviços de saneamento básico ............................................................... 40 1.5 Perfil Económico ............................................................................................................ 40 1.6 Perfil Industrial .............................................................................................................. 44 1.6.1 Performance na exportação ...................................................................................... 45 1.6.2 Natureza das actividades industriais ......................................................................... 45 1.6.3 Investimento directo estrangeiro IDE ....................................................................... 46 1.6.4 Recursos Minerais ................................................................................................... 46 1.7 Energia ........................................................................................................................... 47 1.8 Transportes..................................................................................................................... 48 1.8.1 Sector Rodoviário .................................................................................................... 48 República de Cabo Verde, Outubro 2010 vi SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.8.2 Sistema Marítimo Portuário ..................................................................................... 49 1.8.3 Sector Aéreo ............................................................................................................ 50 1.9 Circunstâncias Especiais ................................................................................................. 52 1.9.1 Zonas costeiras ........................................................................................................ 52 1.9.2 – Implicações gerais de uma possível subida do nível do mar nas zonas costeiras ..... 53 CAPÍTULO II - INVENTÁRIO DE GASES COM EFEITOS DE ESTUFA .................... 54 2.1 Gases com Efeito de Estufa para o Ano 2000.................................................................. 54 2.1.1 Emissões de Dióxido de Carbono (CO2) ................................................................... 57 2.1.2 Emissões de Metano (CH4) ...................................................................................... 59 2.1.3 Emissões de Óxido Nitroso (N2O) ........................................................................... 61 2.1.4 Emissões de Hidrofluorcarbonos (HFCS) ................................................................ 62 2.1.5 Gases de Efeito Estufa Indirecto .............................................................................. 63 2.2 Emissões e Remoções Antrópicas de GEE por Sector ...................................................... 63 2.2.1 Energia - Emissões de CO2 por queima de combustíveis fósseis ............................... 63 2.2.2 Sector Processos Industriais ...................................................................................... 65 2.2.3 Agropecuária ........................................................................................................... 68 2.2.4 Mudanças do Uso da Terra e Florestas ..................................................................... 72 2.2.5 Lixo e Esgoto .......................................................................................................... 73 2.3 Conclusões ..................................................................................................................... 74 2.4 Dificuldades Encontradas ............................................................................................... 76 2.5 Recomendações .............................................................................................................. 78 2.5.1 Recomendações Específicas .................................................................................... 79 CAPÍTULO III - CAPACIDADE DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DOS GEE .............. 80 3.1 Subsector Residencial ..................................................................................................... 81 3.2 Produção de Electricidade .............................................................................................. 81 3.3 Distribuição de Electricidade .......................................................................................... 82 3.4 Sector dos Transportes ................................................................................................... 82 3.5 Produção de Água .......................................................................................................... 83 3.6 Agricultura, Floresta e Pesca ........................................................................................... 83 3.7 Mudança no Uso de Terras e Florestas............................................................................ 84 3.8 Resíduos sólidos ............................................................................................................. 84 CAPÍTULO IV- VULNERABILIDADE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS .................... 85 4.1 Variabilidade Climática Actual ....................................................................................... 85 4.1.1 Pesquisa, problemas e objectivos .............................................................................. 85 4.1.2 Aproximação ........................................................................................................... 85 4.2 O Clima Actual .............................................................................................................. 85 República de Cabo Verde, Outubro 2010 vii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 4.2.1 A Circulação atmosférica na região de Cabo Verde.................................................. 85 4.2.2 Evolução dos parâmetros climáticos ........................................................................ 86 4.2.3 Bruma Seca .............................................................................................................. 97 4.2.4 Fenómenos associados à variabilidade climática ...................................................... 98 4.3 Impactos da Variabilidade Climática ............................................................................... 99 4.4 Fenómeno Global e Dinâmica Regional ........................................................................... 99 4.5 Cenários de Mudança ................................................................................................... 100 4.5.1 Incertezas ............................................................................................................... 100 4.5.2 Áreas costeiras e ecossistemas vulneráveis ............................................................ 100 4.5.3 Mudanças espaciais em doenças ............................................................................ 100 4.5.4 Recursos do solo e manejo da terra ......................................................................... 100 4.6 Construção de Cenários ................................................................................................ 101 4.6.1 O cenário presente .................................................................................................. 101 4.6.2 O cenário futuro...................................................................................................... 103 4.6.3 O nível do mar ........................................................................................................ 104 4.7 Tendências, Probabilidades e Consequências ................................................................. 104 4.7.1 Tendências ............................................................................................................. 104 4.7.2 Probabilidades ........................................................................................................ 105 4.7.3 Consequências ....................................................................................................... 107 CAPÍTULO V - ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ............................... 108 5.1 Avaliação das Adaptações às Mudanças Climáticas ...................................................... 108 5.2 As Estratégias e Medidas de Adaptação ........................................................................ 109 5.2.1 Enquadramento ...................................................................................................... 109 5.2.2 Objectivos da Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas ............................ 110 5.2.3 Eixos estratégicos prioritários ................................................................................. 110 5.2.4 Medidas globais de adaptação por sector................................................................ 114 5.3 Resumo dos Principais Impactos e Opções de Medidas de Adaptação às MC ............... 116 5.4 Selecção e Hierarquização das Medidas Prioritárias Segundo a Metodologia NAPA .... 116 5.5 Necessidades Prioritárias em Matéria de Adaptação ..................................................... 117 5.6 Recomendações para iniciativas e políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) 119 5.7 Necessidades de Transferência de Tecnologia em Matéria de Adaptação ....................... 120 5.8 Programa de Consciencialização dos Actores sobre os Impactos das Mudanças Climáticas ........................................................................................................................................... 120 5.9 Propostas de Projectos Prioritários ................................................................................. 121 CAPÍTULO VI - ORGANIZAÇÃO EM QUESTÕES DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS122 República de Cabo Verde, Outubro 2010 viii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 6.1 Providências tomadas ou Previstas para a Implementação da Convenção e do Protocolo de Quioto ................................................................................................................................. 123 6.2 Programas e Acções Relacionadas ao Desenvolvimento Sustentado .............................. 124 6.3 Programas Conservação de Energia .............................................................................. 125 6.4 Programas e Acções de Mitigação às Mudanças Climáticas .......................................... 126 6.5 Programas e Acções de Impactos e Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas e Medidas de Adaptação ........................................................................................................................... 128 6.6 Promoção da Pesquisa Científica e Observações Sistemática das Mudanças Climáticas 129 6.6.1 Observatório Atmosférico de Cabo Verde .............................................................. 129 6.6.2 Centro de Energia Renovável e Eficiência Energética da CEDEAO (ECREEE) ...... 129 6.6.3 Projecto SICLIMAD .............................................................................................. 129 6.6.4 Previsão Sazonal..................................................................................................... 130 6.6.5 Previsão a longo prazo com o uso de técnicas de “downscaling” ............................ 130 6.6.4 Projecto Qualidade do ar e a sua relação com as mudanças climáticas.................... 130 6.6.5 O projecto ”MIA-VITA” ........................................................................................ 130 6.7 Educação, Formação e Sensibilização Pública ............................................................... 131 6.8 Auto-avaliação das Capacidades Nacionais .................................................................. 131 6.8.1 Formação e Capacitação ......................................................................................... 132 6.8.2 Organismos de Alterações Climáticas da CPLP ...................................................... 132 6.8.3 As mudanças climáticas nas políticas sociais, económicas e ambientais .................. 133 6.9 Desenvolvimento de Tecnologias para Redução e Prevenção de Emissões.................... 134 6.9.1 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões no sector de energia .... 134 6.9.2 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões no sector da construção ........................................................................................................................................ 134 6.9.3 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões nos transportes............. 134 6.9.4 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões sector da insdústria ..... 134 6.10 Protecção de Sumidouros............................................................................................ 135 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................ 136 LEGISLAÇÃO .............................................................................................................. 142 ANEXO I.a – SIGLAS ................................................................................................... 144 ANEXO I.b – SÍMBOLOS ............................................................................................ 145 ANEXO II- Lista de participantes nos ateliês e workshops regionais e nacionais ............ 146 ANEXO III – Medidas de adaptação .............................................................................. 149 ANEXO IV - Tabela de recomendações para iniciativas e políticas de CTI ................ 154 ANEXO VI - Necessidades de transferência de tecnologia em matéria de adaptação ...... 158 ANEXO VII – Propostas de projectos prioritários .......................................................... 162 República de Cabo Verde, Outubro 2010 ix SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Indice de Figuras Figura 1– Situação geográfica de Cabo Verde ........................................................................... 23 Figura 2 - Repartição da Pluviometria Média em Cabo Verde ................................................... 25 Figura 3 - Variação da temperatura média anual ........................................................................ 26 Figura 4 – População com acesso a água potável ....................................................................... 28 Figura 5 – Gráfico da distribuição da população por ilhas ......................................................... 35 Figura 6 - Acesso a água e saneamento .................................................................................... 40 Figura 7– Estrutura do PIB 2008 ............................................................................................... 41 Figura 8 - Repartição das actividades pelo número de empresas (2002) ..................................... 46 Figura 9 – Emissões de CO2eq em Cabo Verde, em 1995 e 2000 .............................................. 57 Figura 10 – Emissões de CO2 em 1995...................................................................................... 58 Figura 11 – Emissões de CO2 em 2000...................................................................................... 59 Figura 12 - Emissões de CH4 em 1995 ..................................................................................... 60 Figura 13 – Emissões de CH4 em 2000...................................................................................... 61 Figura 14 – Emissões de N2O em 1995 ..................................................................................... 62 Figura 15 – Emissões de N2O em 2000 ..................................................................................... 62 Figura 16 - Evolução das emissões de CO2 no Sector Energético (2000-2010) ........................ 81 Figura 17- Ciclo anual da precipitação e da temperatura em Mindelo ........................................ 87 Figura 18- Variabilidade interanual da razão da precipitação (S. Vicente, Santiago e Sal) ......... 88 Figura 19– Anomalia da razão da precipitação no período de 1948 a 2009 ................................ 89 Figura 20 – Variação anual das temperaturas médias em Mindelo, Praia e Sal ........................... 90 Figura 21– Variação sazonal da temperatura média nos meses JFM (1948-2009) ...................... 91 Figura 22– Variação sazonal da temperatura média – meses AMJ – 1948 – 2009 ...................... 91 Figura 23 – Variação sazonal da temperatura média nos meses JAS (1948-2009) ...................... 92 Figura 24 – Variação sazonal da temperatura média nos meses OND (1948 – 2009) ................. 92 Figura 25 – Anomalia das temperaturas médias na área de estudo ............................................. 93 Figura 26 – Variação decadal da Temperatura média e a razão de precipitação ......................... 94 Figura 27 – Ciclo anual da humidade e da temperatura (Mindelo, Sal e Praia) ........................... 94 Figura 28 – Distribuição da direcção dos ventos em Cabo Verde (Fonte: INMG) ...................... 95 Figura 29 – Variação média anual da intensidade do vento na área de estudo ............................ 95 Figura 30 – Variação sazonal da intensidade do vento ............................................................... 96 Figura 31 - Gráfico de insolação anual - Sal (azul), Mindelo (cinzento) e .................................. 97 Figura 32 - Gráfico anual de número de dias com ocorrência de bruma (1976-2005) ................. 98 Figura 33 – Variação da temperatura média (1970-Presente) .................................................. 102 Figura 34 – Anomalia da razão da precipitação ....................................................................... 102 Figura 35 – Variação anual da razão da precipitação ............................................................... 103 Figura 36 - Projecção da Variação da Pluviometria e Temperatura (IPCC) .............................. 106 Figura 37 - Estratégia nacional de adaptação às mudanças e variabilidades climáticas ............. 112 República de Cabo Verde, Outubro 2010 x SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Indice das Tabelas Tabela 1 - Superfície cultivável e evolução das áreas cultivadas ................................................ 27 Tabela 2 - Percentagem de espécies ameaçadas ......................................................................... 31 Tabela 3 - Situação da biodiversidade vegetal em Cabo Verde .................................................. 34 Tabela 4 - Situação da biodiversidade animal em Cabo Verde .................................................. 34 Tabela 5 - Incidência da pobreza - métodos alternativos (2001-2006)........................................ 36 Tabela 6 - Indicadores da Saúde em Cabo Verde (Serviços mais procurados) ............................ 39 Tabela 7 – Nível de satisfação dos Serviços de Saúde ............................................................... 39 Tabela 8 – Nível de insatisfação dos serviços de saúde prestados .............................................. 39 Tabela 9 - Produto Interno Bruto (PIB) na óptica de procura, 1994-2004 .................................. 42 Tabela 10 - Produto Interno Bruto (PIB) por sector económico (1994-2004) ............................. 42 Tabela 11 – Estrutura e crescimento da economia ..................................................................... 45 Tabela 12 - Veículos em circulação .......................................................................................... 49 Tabela 13 – Localização dos portos por região e por ilha .......................................................... 50 Tabela 14 - Circunstâncias Nacionais de Cabo Verde ................................................................ 51 Tabela 15 - Ilhas e zonas costeiras vulneráveis ......................................................................... 52 Tabela 16. Resultados das emissões sectoriais de Cabo Verde para o ano 2000 (Resultado das emissões de GEE - Software IPCC for Inventory GHG 2000) ................................................... 56 Tabela 17 – Bunkers Internacionais ........................................................................................... 57 Tabela 18 - Emissões de CO2 em Cabo Verde .......................................................................... 58 Tabela 19 – Emissões de CH4 em Cabo Verde .......................................................................... 60 Tabela 20 – Emissões de N2O em Cabo Verde .......................................................................... 61 Tabela 21 - Emissões de HFC-134ª .......................................................................................... 63 Tabela 22 – Conteúdo e fracções de oxidação do carbono por tipo de combustível .................... 65 Tabela 23 – Dados da população ............................................................................................... 66 Tabela 24 - Processo de produção e factores de emissões .......................................................... 66 Tabela 25 – Factores de emissões por tipos de bebidas produzidas ............................................ 67 Tabela 26 – Produção de espumas ............................................................................................. 67 Tabela 27 – Dados população economicamente activa e emissões NMVOC (Gg) ..................... 68 Tabela 28 – População animal em Cabo Verde .......................................................................... 69 Tabela 29 – Sistemas de manuseio de pastagem e Daily Spread por categoria de animal ........... 69 Tabela 30 – Dados das culturas de milho e feijão ...................................................................... 70 Tabela 31 – Uso de adubo ......................................................................................................... 71 Tabela 32 – Factores usados para as emissões de solos .............................................................. 72 Tabela 33 – Correcção de áreas plantadas em Cabo Verde ........................................................ 72 Tabela 34 – Cálculo da lenha para 1995 .................................................................................... 73 Tabela 35 - Priorização sectores agrosilvopastoril e recursos hídricos ..................................... 118 Tabela 36 - Prioridades para turismo, zonas costeiras, biodiversidade, pescas e energia .......... 118 República de Cabo Verde, Outubro 2010 xi SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS RESUMO EXECUTIVO Cabo Verde ratificou a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (CQNUMC), a 29 de Março de 1995, e ela entrou em vigor a 22 de Junho do mesmo ano. Na condição de Parte Contratante da Convenção, Cabo Verde assumiu nesta data o compromisso de formular uma Comunicação Nacional à Conferência das Partes (CdP). Em 2000, apresentou a Primeira Comunicação Nacional (PCN) bem como a sua Estratégia Nacional e Plano de Acção sobre Mudanças Climáticas. Para a elaboração desses instrumentos, teve-se em conta os estudos efectuados pelos diferentes sectores respeitantes a inventários dos Gases com Efeitos de Estufa (GEE), análise de vulnerabilidade, adaptação e mitigação. Em 5 de Dezembro de 2005 Cabo Verde ratificou o Protocolo de Quioto. A estratégia reconhece a necessidade de implementação de medidas adicionais a serem adoptadas em todos os sectores de actividade, com particular incidência nos transportes, produção e consumo de energia, bem como no controlo das emissões da agricultura e florestas. Em 2005, o Governo de Cabo Verde recebeu através do PNUD/FEM um financiamento para formulação do seu Programa de Acção Nacional de Adaptação (NAPA) em matéria das Mudanças Climáticas, com vista a identificar as opções de adaptação prioritárias segundo as necessidades e preocupações urgentes e imediatas das populações mais vulneráveis face aos efeitos nefastos da variabilidade e das mudanças climáticas. As informações relativas a emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), que se encontram nesta Segunda Comunicação Nacional, são baseadas no Inventário Nacional de Gases com Efeito de Estufa, tendo como referência o ano de 2000. Para facilitar a interpretação e melhorar a consistência as outras informações, nomeadamente as do capítulo das circunstâncias nacionais, são também relativas ao mesmo ano. No entanto, as informações sobre projecções, políticas e medidas baseiam-se nos estudos que serviram de base para a preparação da versão preliminar (Novembro de 2002) do Programa Nacional das Alterações Climáticas. Este documento que relata os factos nacionais sobre a produção de GEE como Segunda Comunicação Nacional sobre as Mudanças Climáticas é formulado segundo os capítulos seguintes: Circunstâncias Nacionais O arquipélago de Cabo Verde está situado entre os paralelos 17º12’ e 14º48’ de latitude Norte e os meridianos 22º44’e 25º22’ de longitude Oeste e é constituído por dez ilhas, sendo nove habitadas e alguns ilhéus desabitados, divididos pela sua localização relativa aos ventos dominantes em Barlavento, a norte, composto de Oeste para Este pelas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia (desabitada), São Nicolau, Sal e Boavista, e Sotavento, a sul, formado do sentido Este para Oeste pelas ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava. Conforme os resultados preliminares do IV Recenseamento Geral da População e Habitação de 2010, a população de Cabo Verde é de 501.648 habitantes, incluindo a residente presente e República de Cabo Verde, Outubro 2010 xii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ausente. A taxa média de crescimento anual da população é de 1,2%, entre 2000 e 2010. Sotavento é a região mais populosa com 323.917 habitantes. A região de Barlavento tem 127.658 habitantes. A População de Cabo Verde é marcadamente jovem na sua estrutura etária, com 31,6% dos efectivos entre os 0-14 anos (resultados preliminares do RGPH, 2010). Apenas 6,5% da população tem idade superior a 65 anos. A esperança média de vida é de 71 anos (67 para homens e 75 para as mulheres). A taxa de mortalidade infantil apresentava valores de 44‰, 26‰ em 2000 e 20‰, em 1990, 2000 e 2004, respectivamente. À data da publicação do último censo populacional, a taxa de crescimento da população que dependente dos fluxos migratórios situouse em cerca de 2,4%, entre 1990 e 2000. Esse valor alterou-se para 1,2%, em 2010. Um total de 62% da população vive nos centros urbanos (303.776 habitantes). O remanescente 38% (187.799 pessoas) vive na zona rural. Os municípios mais urbanizados são Praia, São Vicente e Sal, que alcançaram taxas de urbanização de 96,6%, 92,6% e 92,9%, respectivamente. O crescimento mais intenso é verificado na Praia. A capital do país é a cidade da Praia, localizada na ilha de Santiago, onde se situa a sede do Governo e dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Estas ilhas ocupam, no seu conjunto, uma superfície emersa total de 4.033 km2 e uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) que se estende por cerca de 734.000 km2. A linha de costa é relativamente grande, com aproximadamente 1.020 km de extensão, preenchida por praias de areia branca e negra alternando com escarpas. Cabo Verde é uma república soberana, unitária e democrática, que rege segundo a sua Constituição da República que, por um lado, garante o respeito pela dignidade da pessoa humana, e reconhece, por outro, a inviolabilidade e inalienabilidade dos Direitos do Homem como fundamento de toda a relação humana, da paz e da justiça. Na organização do poder político, reconhece e respeita a natureza unitária do Estado, a democracia pluralista, a separação e a interdependência de poderes, a independência dos tribunais, a existência e a autonomia do poder local e a descentralização da administração pública. O cenário político é dominado pela presença do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), actualmente no poder, o Movimento para a Democracia (MpD), o maior partido da oposição, e pela União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), partido minoritário. O país tem como chefe de Estado o Presidente da República. Conta também com uma Assembleia Nacional que é liderada por um Presidente. O executivo do governo é liderado pelo Primeiro-Ministro. O poder executivo está estruturado em vários Ministérios, Direcções Gerais, Institutos e Serviços, que apoiam a execução das políticas nos vários sectores. As Organizações da Sociedade Civil (OSC) têm sido implicadas em alguns sectores do desenvolvimento, particularmente nas áreas cívicas, económicas, culturais e ambientais. No entanto, existem ainda alguns desafios relacionados com a liderança e limitações nos recursos disponíveis e na capacidade de responder aos desafios que actualmente se colocam. No entanto, no âmbito da governação, alguns ganhos vêm sendo verificados. O índice Ibrahim, um dispositivo utilizado pela Fundação Mo Ibrahim para a análise da qualidade da governação em África, posicionou Cabo Verde em segundo lugar com 78 pontos de 100 possíveis, atrás das Ilhas Maurícias, entre os 53 países africanos avaliados no ano de 2007. Sob a tutela do Ministro do Ambiente Desenvolvimento Rural e Recursos Marinhos, encontra-se o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG). Tutelado também pelo Ministério encontra-se a Direcção Geral do Ambiente (DGA), a quem estão República de Cabo Verde, Outubro 2010 xiii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS conferidas atribuições de concepção, execução e coordenação das políticas do Ambiente. A DGA foi o primeiro órgão encarregue de coordenar a implementação da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (CQNUMC) em Cabo Verde. Para tentar encontrar novos métodos de trabalho, o governo decidiu que a DGA deveria ter um papel central no processo, promover a participação de outras instituições nacionais, nomeadamente o INMG como autoridade de implementação, e associar a sociedade civil e ao sector privado. Deste modo, o INMG passou a liderar os processos ligados à elaboração do Programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (NAPA) e da Segunda Comunicação Nacional sobre as Mudanças Climáticas. À semelhança do acontece na maior parte dos pequenos estados insulares onde a zona costeira carece de uma atenção especial face a potenciais impactes negativos resultantes das mudanças climáticas globais, a geomorfologia de Cabo Verde constitui uma vulnerabilidade. Com efeito, uma possível subida do nível do mar associada a outros eventos extremos, como tempestades, ondas gigantes e inundações, afectaria as zonas costeiras e seus residentes (80% da população), bem como todo o habitat, a biodiversidade, as actividades industriais ligadas à pesca artesanal e o turismo. Para um país insular que vem apostando fortemente no sector do turismo como um dos pilares de desenvolvimento, a vulnerabilidade da orla marítima face à ocorrência de eventos extremos como a elevação do nível do mar e as inundações, associada à pressão humana nas zonas costeiras, poderão vir a constituir constrangimentos enormes para o processo de modernização em curso. Em termos climáticos, Cabo Verde encontra-se localizado numa região onde a variabilidade da alta subtropical dos Açores funciona como factor regulador das anomalias da precipitação, controlando a oscilação sazonal dos alísios de características marítimas e continentais durante os meses secos (Novembro a Junho). Durante a época chuvosa de Julho a Outubro, destaca-se o movimento oscilatório da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), caracterizado por ventos frequentes que sopram do Sudeste e pela passagem de perturbações de Leste, provenientes da costa ocidental africana. Entre Dezembro e Fevereiro, o arquipélago sofre influências de massas de ar das latitudes extra-tropicais e as temperaturas são mais baixas que no período anterior. A distribuição espaço-temporal da precipitação é condicionada por fenómenos regionais e influências remotas como modos dominantes de variabilidade. Esta região do Atlântico encontrase sob a acção de diversos sistemas atmosféricos, incluindo a banda de actividade convectiva da ZCIT, as perturbações e as ondas de leste, as depressões e os ciclones tropicais, as circulações anticiclónicas subtropicais e as baixas pressões equatoriais, que determinam o tipo de circulação. O arquipélago de Cabo Verde está sob a influência de quatro sistemas considerados determinantes no clima da região, como sendo o anticiclone subtropical dos Açores, as baixas pressões equatoriais, a corrente marítima fria das Canárias e a depressão térmica sobre o continente africano durante o verão. De acordo com os dados de precipitação observados à superfície, Cabo Verde conta com três estações distintas, determinadas pela actividade e intensidade dos sistemas atmosféricos dominantes, identificadas em uma estação de transição (de Novembro a Fevereiro) em que se verificam precipitações por influência de sistemas das latitudes extra-tropicais, uma estação seca (de Março a Junho), uma estação húmida (de Julho a Outubro) em que se regista a maior parte da precipitação anual no país. No entanto, estas estações não são providas de datas limites para início e fim e, muitas vezes, são tão ténues que as República de Cabo Verde, Outubro 2010 xiv SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS duas primeiras se confundem. Dos anos 1960 a esta data, o período da estação húmida ficou reduzida quase que, simplesmente, aos meses de Agosto e Setembro. Com uma precipitação média de 225 mm/ano, cerca de 20% da água proveniente das precipitações perde-se por escoamento superficial, 13% infiltra-se, recarregando os aquíferos, e 67% evapora-se. Com fraca amplitude diária e anual, o valor médio anual da temperatura é da ordem dos 25 oC nas zonas costeiras e de 19oC nas zonas com altitudes de 1.000m. Os valores mínimos, entre 20 e 21 oC, correspondem ao período de Janeiro a Abril, e os valores máximos oscilam entre 26 e 28oC, em Agosto-Setembro. A superfície arável do país está estimada em 10% da área total, concentrada essencialmente nas principais ilhas agrícolas. Dessa área, 9% é irrigável e a restante está restrita às zonas de agricultura pluvial, sendo 19% zonas húmidas, 42% zonas sub-húmidas e 39% zonas áridas. Do total do solo arável, cerca de 68% possui vocação para culturas de sequeiro, 26% para actividades agro-silvo-pastoris e 6% para culturas irrigáveis nos aluviões das ribeiras e ou encostas. Segundo o Livro Branco sobre o Estado do Ambiente, 2004, cerca de 58% dos solos com vocação agrícola na ilha de estão localizados na Ilha de Santiago. O remanescente está por ordem distribuído pelas ilhas de Santo Antão, Fogo e São Nicolau. No que respeita ao sector energético, as ilhas de Cabo Verde encontram-se constituídas por sistemas independentes, de pequena dimensão e normalmente distantes dos centros de abastecimento. A inexistência de recursos energéticos convencionais próprios provoca uma forte dependência energética do exterior. A electricidade (consumo interno) e os carburantes (aeronaves e dessalinização de água) constituem-se em produtos energéticos cada vez mais imprescindíveis para o actual sistema socioeconómico. Segundo o Plano Nacional de Energias Domésticas (PNED), as estimativas apontam como combustível de maior peso no consumo interno o gasóleo (41%), seguido da lenha e outras biomassas (19,4%) e, por último, o fuel (16%). No concernente a energias domésticas, o combustível mais consumido nas zonas urbanas é o gás (69,49%), seguido da lenha (22,43%) e outros (7,67%). Nas zonas rurais, o primeiro combustível é a lenha que representa 85,72% do combustível ocupado na cozinha. O gás butano conheceu um incremento substancial nas últimas décadas, tanto nas zonas rurais como nas urbanas. Entre 1980 e 1990, o consumo aumentou em 330% e, de 1990 a 2000, situou-se nos 40%. Em 2001, o consumo registou-se uma diminuição, possivelmente relacionado com o aumento do preço. Actualmente, o gás é utilizado como principal fonte de energia doméstica por 56,8% das famílias, sendo a fonte energética mais utilizada no país na cocção de alimentos. O mercado é controlado por duas empresas, que são obrigadas a garantir o abastecimento no território nacional, por compromisso assinado com o Governo. A eficiência energética e a inovação tecnológica são consideradas no Plano Estratégico das Energias como um recurso alternativo no sector das energias renováveis. O sol e o vento são estimados como sendo os recursos energéticos mais abundantes no sector em Cabo Verde. O país tem uma forte dependência energética do exterior, considerando que importa 99% de energias fósseis. Tendo isso em conta, estão em andamento uma série de projectos que uma vez implementados irão representar uma redução na ordem dos 30%, cerca de 20000 toneladas/ano, na importação de produtos petrolíferos para diminuir a dependência do país em combustíveis fósseis. República de Cabo Verde, Outubro 2010 xv SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Inventário de Gases com Efeitos de Estufa Cabo Verde apresentou o Primeiro Inventário e Comunicação Nacional, em 1999, tomando como base o ano de 1995. Agora, apresenta o Segundo Inventário, seguindo as Directrizes para a Elaboração das Comunicações Nacionais das Partes não Incluídas no Anexo I da Convenção estabelecidas na decisão 17/CP.8 da Oitava Conferência das Partes da Convenção, de 2002, uma evolução das directrizes anteriores, contidas na decisão 10/CP.2. Os Gases com Efeitos de Estufa (GEE) cujas emissões e remoções antrópicas foram estimadas no presente inventário são o CO 2, o CH4, o N2O, os HFCs, os PFCs e o SF6. As informações sobre as emissões antrópicas de outros gases, como o monóxido de carbono (CO), os óxidos de nitrogénio (NO x) e outros compostos orgânicos voláteis não metánicos (NMVOCs), foram também incluídas quando disponíveis, mesmo não tendo efeitos de estufa directos, visto que influenciam as reacções químicas que ocorrem na atmosfera, Durante o ano de 2000, as emissões antrópicas de GEE em Cabo Verde foram estimadas em 306,80 Gg de CO2, 3,28 Gg de CH4, 0,301 Gg de N2O e 0,653 t de HFC134a. Entre 1995 e 2000, as emissões totais de CO2 aumentaram em 11,7% e as emissões totais de CH4 e N2O em 8,8% e 12,0%, respectivamente. As emissões de gases com efeitos indirectos foram também avaliadas. No ano de 2000, essas emissões foram estimadas em 2,03 Gg de NO X, 16,87 Gg de CO e 2,74 Gg de NMVOC. Em termos de CO2eq, com base no factor de equivalência Global Warming Potential (GWP) de 21 para o metano e de 310 para o óxido nitroso, as emissões de GEE directas em Cabo Verde, para 1995 e 2000, sofreram um aumento correspondente a 11,3%. Capacidade de Redução das Emissões de Gases com Efeitos de Estufa Considerando que entre 1995 e 2000 as emissões antrópicas dos principais Gases com Efeitos de Estufa aumentaram em Cabo Verde em 11,7% de CO2, 8,8% de CH4, 12,0% de N2O e que, globalmente, houve um aumento de 11,3% nas emissões directas, torna-se traçar estratégias de mitigação dos efeitos dos GEE para a redução dos seus impactos nefastos sobre o ambiente. O sector energético como um grande utilizador de combustíveis fósseis, principal fonte de emissão de GEE, é responsável por 92,9% das emissões de CO 2, por queima. Em 2000, somente o subsector de Transportes foi responsável por 48,0% das emissões de CO 2 no sector de energia e 44,5% do total de emissões de CO2. A quantidade restante foi partilhada pelos outros subsectores de indústrias de energia (31.4%), indústrias em geral (6.8%), outros usos (10.2%) e mudança no uso da terra e florestas (7.1%). A biomassa proveniente da cobertura vegetal original do país é escassa e a sua disponibilidade tem diminuído rápida e consideravelmente pelo efeito de secas prolongadas e cortes inoportunos. Entretanto, existe um potencial em energia lenhosa proveniente das florestas geradas no âmbito de programas de reflorestação levados a cabo pelo Estado de Cabo Verde desde o ano de 1975. Face ao aumento demográfico e ao desenvolvimento económico, o país vem-se organizando para a criação de mecanismos estratégicos de intervenção sectorial, para que cada sector seja dotado de capacidade de mitigação dos efeitos dos GEE, recorrendo cada vez mais às potencialidades energéticas locais em termos de recursos naturais, como sendo eólico, solar, geotérmico, hídrico, hidrogénio, co-geração, marés ou outros, através da utilização de tecnologias limpas. O recurso a República de Cabo Verde, Outubro 2010 xvi SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS esses tipos de produção de energia irá promover uma melhor conservação e eficiência energética e diminuirá, de forma considerável, a utilização dos combustíveis fósseis nos diversos subsectores de energia, como os transportes e residencial, gerada pelas necessidades de climatização e refrigeração. O plano energético do país para os próximos 10 anos, na óptica de atenuação dos efeitos de GEE prevê atingir uma taxa de penetração de energias renováveis de 25% até 2011, 50% até 2020 e ter pelo menos uma das ilhas a 100% renovável, a promoção da conservação de energia e da eficiência do sector energético, a luta contra a fraude e o roubo de energia, a expansão da capacidade de produção de energia eléctrica, centrais únicas, o aumento da eficiência na produção e distribuição, aumento da capacidade de resposta e de satisfação das necessidades energéticas, abertura do sector, a garantia de uma cobertura em energia eléctrica de 95%, até 2011, e 100%, até 2015, na procura de maior qualidade e fiabilidade no acesso à energia, bem como a redução do custo de electricidade. Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas Cabo Verde encontra-se localizado numa região onde a variabilidade das altas pressões subtropicais móveis funciona como factor regulador das anomalias da precipitação, controlando a oscilação sazonal dos alísios de características marítimas e continentais durante os meses secos de Novembro a Junho. Na época chuvosa entre Julho e Outubro, destaca-se o movimento oscilatório da Zana de Convergência Inter Tropical (ZCIT), caracterizado pelos ventos do sudeste e pela passagem de perturbações de leste. Entre Dezembro e Fevereiro, o arquipélago sofre influências de massas de ar das latitudes extra-tropicais. A região dos anticiclones subtropicais caracterizada por sistemas de alta pressão, divergência e subsidência na circulação atmosférica, influencia e caracteriza as massas de ar que penetram a região de Cabo Verde durante todo o ano. O anticiclone dos Açores é um sistema muito estável, que domina a região tropical e subtropical do Atlântico norte, provocando fluxos de Norte, Nordeste e E, frequentemente muito intensos de Nordeste, designados por Alísios. A região é afectada pela predominância de movimentos de subsidência denominada de “inversão dos alísios”, que actua como um forte opositor ao desenvolvimento vertical das nuvens (Riehl, H. 1979), acentuado pela corrente fria das Canárias. Em altitude, a circulação é dominada por um fluxo de Este, caracterizados por um Jacto Africano de Leste (JAL) e um Jacto Tropical de Leste (JET). Localizado no nível de 600 hPa, com velocidades máximas de 10 m/s entre 10º e 15ºN, o JAL é o resultado da alimentação de calor pela depressão térmica, enquanto o JET localizado no nível de 200 hPa, desfasado meridionalmente para o equador, é alimentado pela convecção profunda. Esta dinâmica de circulação sazonal na costa ocidental africana com o consequente movimento meridional da ZCIT marca o ritmo do regime pluviométrico sobre a costa ocidental africana e, por conseguinte, sobre a região de Cabo Verde. Os fenómenos que mais afectam e condicionam o ambiente climático na região de Cabo Verde estão directamente relacionados com a variabilidade do anticiclone dos Açores, a corrente fria das Canárias, a oscilação da zona intertropical de convergência, a formação de depressões e ciclones tropicais, a persistência do “harmatão” durante a época seca, a variabilidade espaço-temporal aleatória da precipitação, as flutuações da temperatura, as linhas de borrasca intensas, os frequentes episódios de bruma seca República de Cabo Verde, Outubro 2010 xvii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS e as correntes de jacto em altitude. A variação drástica da temperatura do ar pode afectar ainda mais o ambiente já por si frágil, contribuindo para aumentar ou prolongar os episódios de seca ou provocar vagas de calor e poeira, erosão e degradação dos solos. A probabilidade de elevação do nível do mar poderá afectar severamente as zonas costeiras e causar danos ao turismo e à economia. As características da circulação favorecem o desenvolvimento de sistemas altamente energéticos como, por exemplo, os ciclones tropicais, as linhas de instabilidade e os núcleos convectivos. Porque estes fenómenos têm como principal fonte de energia a temperatura da superfície da água do mar, um eventual aumento das temperaturas da água do mar superior a 25ºC, associado à existência de perturbações atmosféricas nos ventos Alísios, podem constituir condições propícias para a formação e intensificação desses fenómenos meteorológicos. As anomalias desses sistemas podem fazer com que venham a constituir fenómenos de risco climático para o arquipélago, como consequência da ocorrência de chuvas torrenciais ou secas prolongadas. Entre os principais afectados encontramse os sectores agro-silvopastoril, recursos hídricos, turismo e zonas costeiras, transportes, saúde e economia. A intensificação dos ventos implica o aumento da intensidade da erosão costeira, a alteração da morfologia da costa, o desaparecimento das praias, a degradação do ambiente marinho e costeiro, a alteração da intensidade das correntes marítimas, o aumento da intensidade da degradação costeira devido à alteração na amplitude das ondulações e agressividade das marés e, consequentemente, a degradação do meio ambiente, causando a migração das populações do litoral para o interior das ilhas. A produtividade agrícola demonstra muita sensibilidade à mudança interanual da precipitação, incluindo as datas de início e fim da estação húmida. Com base nisso, os rendimentos são afectados significativamente pelas anomalias negativas, ou seja períodos de seca, com implicações na economia do país. Acontece o inverso com anomalias positivas. O surto e a movimentação de pragas são condicionados pela variabilidade da temperatura e das precipitações e o mesmo acontece com o sector da saúde no que respeita ao alastramento de doenças relacionadas com a variabilidade climática regional. Calcula-se que, durante o século 20, o nível do mar subiu, em média, 1,7 milímetros por ano, ou seja, 17 centímetros em 100 anos (IPCC). As actuais projecções globais apontam para um aumento do nível do mar na ordem de 30 a 50 cm para o período de 1990 a 2100. Considerando a realidade de um país arquipelágico em que a maior parte da população vive na orla marítima, quase toda área costeira nacional e os seus ecossistemas são vulneráveis a qualquer mudança que se verifique na temperatura, na precipitação ou na variação do nível do mar, incluindo incidentes decorrentes da oscilação dos valores dos parâmetros extremos do mar. A subida do nível do mar teria um impacto directo na submersão e erosão costeira, no aumento de áreas inundáveis e na salinidade de pequenos estuários, ribeiras e águas costeiras. Várias doenças transmitidas por vectores prevalecem na África Ocidental, incluindo a malária, a doença do sono, a dengue, ou mesmo a febre-amarela quase erradicada. A precipitação, a temperatura e a higrometria aumentam as hipóteses da presença dos vectores. A diminuição das chuvas e a desertificação podem limitar o seu desenvolvimento. O eventual aumento do número de eventos climáticos extremos, particularmente das chuvas irregulares, poderia aumentar as oportunidades para o aumento do efeito dos vectores na saúde República de Cabo Verde, Outubro 2010 xviii SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS humana e da migração dos animais para áreas onde as forragens são mais disponíveis. O risco de contacto com outros portadores de doenças poderá, consequentemente, provocar o aparecimento de novas patologias. No que se refere ao nível do mar, as ilhas de Cabo Verde mostram ser muito vulneráveis a um eventual aumento. Tendo como base o período 1980-1999, os modelos do clima projectam até 2090 para o mar da região um aumento entre 0,13 e 0.43 metros, segundo o cenário SRES B1, entre 0,16 e 0.53 metros, para o cenário SRES A1B, e de 0,18 a 0.56 metros, para o cenário SRES A2. No entanto, verifica-se que existem incertezas sobre essas projecções. Os modelos indicam uma probabilidade para o continente Africano continuar a aquecer em aproximadamente de 1º a 4ºC ao longo do século 21, com anomalias regionalizadas. Neste caso, as ilhas teriam um aumento da precipitação na época de Julho a Outubro. No entanto, os resultados dos modelos climáticos globais diferem entre condições de períodos mais húmidos e mais secos. Essas incertezas devem-se, em parte, às metodologias de parametrização utilizadas nos diversos modelos climáticos, bem como a resolução e sensibilidade de cada modelo. Adaptação às Mudanças Climáticas A adaptação diz respeito a um conjunto de iniciativas e medidas tendentes a reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos, face aos efeitos actuais e esperados das mudanças climáticas. A análise de adaptação é considerada como sendo a avaliação da capacidade dos sistemas e grupos particulares de se adaptarem a condicionalismos específicos. Ao longo dos últimos, particularmente no período pós-independência, face aos efeitos nefastos da variabilidade climática, as medidas de adaptação implementadas pelas populações e pelos sucessivos governos visaram sobretudo criar as condições suficientes para assegurar o mínimo de existência em termos de disponibilidade em água e segurança alimentar, perante os maus anos de produção agrícola. Entre essas medidas destacam-se: a) as técnicas de conservação do solo e água, como sendo a recolha da água das chuvas em cisternas de captação comunitárias e familiares, a melhoria de abastecimento em água através de: furos, poços, galerias, diques de captação, infra-estruturas de captação de água de nevoeiro e unidades de dessalinização, a mplementação de técnicas de preparação de terreno nos sistemas agro-florestais (banquetas, arretos, caldeiras) e um vasto programa de florestação nas zonas áridas e semi-áridas, com introdução de espécies resistentes à seca, a implementação de sistemas de rega localizada (gotaa-gota) e a construção de barragens; b) as técnicas de adaptação dos sistemas de produção agrícola, relacionadas com a introdução e exploração de novas variedades de culturas melhor adaptadas às nossas condições climáticas e a diversificação das culturas, em particular das hortícolas; e c) as técnicas e medidas de adaptação aos efeitos da erosão costeira, que incluem a interdição da apanha de inertes, a utilização de quebra-mares, a harmonização e integração das actividades de gestão costeira, a aplicação da legislação e os projectos de protecção e gestão integrada das zonas costeiras. Apesar de ainda não ter sido feita uma avaliação extensiva do impacto da implementação de todas essas medidas, é, no entanto, visível os seus efeitos positivos, quer do ponto de vista das mudanças ambientais e paisagísticas, quer do ponto de vista sócio-económico. República de Cabo Verde, Outubro 2010 xix SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Organização do Estado em questões de mudanças climáticas Os impactos das mudanças climáticas a nível do globo, particularmente nos países insulares e arquipelágicos, obrigaram o governo de Cabo Verde a dar uma atenção especial às questões relacionadas com esses efeitos e a criar as condições essenciais para o país entrar numa fase de implementação de políticas ambientais para combater os efeitos das mudanças climáticas. Para isso, num quadro alargado de parcerias público privadas, Organizações Não Governamental (ONG), organismos de investigação nacionais e internacionais, foi concebido e está a ser implementado com sucesso o Segundo Plano de Acção Nacional para o Ambiente (PANA II) projectado para o horizonte 2004-2014, tendo por objectivo global o fornecimento de uma orientação estratégica que possa conduzir ao uso racional dos recursos naturais e à gestão sustentável das actividades económicas. Neste capítulo, foram já mobilizados recursos através da ajuda orçamenta para a implementação do PANA II e assinados protocolos para a implementação dos Planos Ambientais Municipais. De igual modo, encontram-se em execução, entre outros, os programas e projectos sectoriais para os sectores de educação, saúde, ordenamento do território, recursos hídricos, biodiversidade, pescas, agricultura, energia e indústria. A educação ambiental está a ser abordada de forma global, como instrumento transversal de apoio à implementação de todos os programas para a mudança dos comportamentos e dos padrões de consumo. Entre os avanços considerados significativos, destacam-se os de carácter institucional e legal, bem como os relacionados com a estruturação do sistema de coordenação e gestão, a criação do sistema de informação ambiental e o processo de regulamentação da legislação ambiental. Uma atenção especial será dispensada ao reforço da capacitação institucional do sector do ambiente, tanto no que concerne à consolidação da estrutura orgânica para dar resposta aos desafios e assegurar a execução do PANA II e a implementação das Convenções e Protocolos Internacionais, como no que respeita a consolidação dos sistemas de informação nacional para o ambiente e seguimento da qualidade ambiental, reforço da legislação, capacitação de quadros no domínio do ambiente, com atenção especial para a inspecção ambiental e avaliação de impactes ambientais. A implementação das convenções das Nações Unidas no domínio do ambiente, em particular as ligadas á diversidade biológica e luta contra a desertificação, efeitos de secas e mudanças climáticas, estão a merecer uma atenção particular da parte do Governo. Cabo Verde foi o primeiro País Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) a ratificar a Convenção Quadro sobre as Mudanças Climáticas em Março de 1995 e passou a pertencer a partir de 22 de Junho de 1995 à lista dos países Não-Anexo I. É também o primeiro país africano PALOP a criar a Autoridade Nacional Designada (AND) e a ter um projecto Mecanismo Desenvolvimento Limpo (MDL) certificado pelo Secretariado Executivo de MDL da UNFCCC. A 2 de Junho, através da resolução n.º 16/2009, foi criado o Comité Inter-ministerial para as Mudanças Climáticas, que funciona também como Autoridade Nacional Designada, com a finalidade de articular com os parceiros as acções do governo decorrentes da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, do Protocolo de Quioto e dos seus instrumentos subsidiários. República de Cabo Verde, Outubro 2010 xx SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo I CIRCUNSTANCIAS NACIONAIS República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO I – CIRCUNSTÂNCIAS NACIONAIS 1.1 Caracterização do País 1.1.1 Estrutura Governamental Cabo Verde é uma República soberana, unitária e democrática, regida por uma Constituição da República que garante, por um lado, o respeito pela dignidade da pessoa humana e, por outro, reconhece a inviolabilidade e inalienabilidade dos Direitos do Homem como fundamentos de toda a comunidade humana, da paz e da justiça. Na organização do poder político, reconhece e respeita a natureza unitária do Estado, a democracia pluralista, a separação e a interdependência dos poderes, a independência dos tribunais, a existência e a autonomia do poder local e a descentralização da administração pública. O cenário político é dominado pela presença do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) actualmente no poder, pelo Movimento para a Democracia (MpD), como maior partido de oposição, e pela União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID), partido minoritário. O chefe de Estado é o Presidente da República, a Assembleia Nacional é liderada por um Presidente e o executivo do governo tem à frente um Primeiro-Ministro. O governo de Cabo Verde encontra-se estruturado em Ministérios, Direcções Gerais, Institutos e Serviços que apoiam a execução das políticas nos diversos sectores. Por outro lado, embora as Organizações da Sociedade Civil (OSC) continuem a ser implicadas em alguns sectores do desenvolvimento, particularmente nas áreas cívicas, económicas, culturais e ambientais, ainda depara-se que ainda persistem dificuldades relacionados com a liderança, os recursos disponíveis e as limitações de capacidade de resposta aos desafios que actualmente se colocam. No âmbito da governação, alguns ganhos têm sido verificados. Um exemplo digno de realce é o facto de o Índice Ibrahim, um mecanismo da Fundação Mo Ibrahim que visa a análise da qualidade da governação em África, ter posicionado Cabo Verde em segundo lugar, com 78 pontos dos 100 possíveis, atrás das Ilhas Maurícias, num total de 53 países africanos avaliados em 2007. Sob a tutela do Ministro do Ambiente Desenvolvimento Rural e Recursos Marinhos encontram-se o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) e a Direcção Geral do Ambiente (DGA), a quem estão conferidas atribuições de concepção, execução e coordenação das políticas nacionais no âmbito da Meteorologia e do Ambiente. A DGA foi o primeiro órgão encarregue de coordenar a implementação da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (CQNUMC) em Cabo Verde. Na tentativa de identificar novos métodos de trabalho, o governo de Cabo Verde decidiu que a DGA deveria manter o seu papel central no processo e que, adicionalmente, deveria promover a participação de outras instituições nacionais, nomeadamente o INMG como autoridade de implementação, associando a sociedade civil ao sector privado. Como consequência dessa medida, o INMG passou assim a liderar os processos ligados à elaboração do Programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (NAPA) e da Segunda Comunicação Nacional sobre as Alterações Climáticas em Cabo Verde. República de Cabo Verde, Outubro 2010 21 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.1.2 Perfil Geográfico e climático 1.1.2.1 Caracterização do território O arquipélago de Cabo Verde fica situado entre os paralelos 17º 12’ e 14º 48’ de latitude Norte e os meridianos 22º44’e 25º22’ de longitude Oeste (Figura 3). O país é constituído por dez ilhas, sendo nove habitadas e vários ilhéus desabitados, divididos em dois grupos devido à sua localização relativa aos ventos dominantes: Barlavento, a norte, composto de oeste para este pelas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia (ilha desabitada), São Nicolau, Sal e Boavista. Pertencem também a esse grupo os ilhéus Branco e Raso, situados entre Santa Luzia e São Nicolau, o ilhéu dos Pássaros ao largo da baía em frente à cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, o ilhéu de Rabo de Junco na costa ocidental da ilha do Sal, e os ilhéus de Sal Rei, do Baluarte e do Roque na costa da ilha da Boavista; Sotavento, a sul, formado no sentido este para oeste pelas ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava. Pertencem ainda a este grupo o ilhéu de Santa Maria circunscrito em frente à cidade da Praia, os ilhéus Grande, Rombo, Baixo, de Cima, do Rei, Luís Carneiro e Sapado situados, aproximadamente, a 8 km da ilha Brava, e o ilhéu de Areia, junto à costa da mesma ilha. A capital de Cabo Verde é a cidade da Praia, localizada na ilha de Santiago, onde estão lozalizados a sede do Governo e os poderes executivo, legislativo e judiciário. As maiores ilhas do arquipélago são Santiago, a sudeste, e Santo Antão, no extremo noroeste. Os pontos extremos do arquipélago são Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, a Norte (17°11’ N - 25°05' W), Ponta Nhô Martinho, ilha Brava, a Sul (14°49’ N - 24°42' W), Ilhéu do Roque, ilha da Boa Vista, a Este (16°05’ N - 22°40' W), e Ponta Chão de Morgado, ilha de Santo Antão, a Oeste (17º03´ N – 25º21´ W). O conjunto das ilhas ocupa uma superfície emersa total de 4.033 km2 e uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) que se estende por cerca de 734.000km2. A linha da costa é relativamente grande, com cerca de 1.020 km preenchida por praias de areia branca e negra alternando com escarpas. Porque a geomorfologia de Cabo Verde constitui uma vulnerabilidade partilhada pela maior parte dos pequenos estados insulares, a zona costeira carece de uma atenção especial face aos potenciais impactos negativos resultantes das mudanças climáticas globais. Com efeito, uma possível subida do nível do mar associada a outros eventos extremos, como tempestades, ondas gigantes e inundações, afectaria as zonas costeiras e a sua população residente (cerca de 80% dos habitantes), bem como todo o habitat, a biodiversidade e as actividades industriais ligadas à pesca artesanal e ao turismo. Para um país insular que vem apostando fortemente no sector do turismo como um dos pilares de desenvolvimento, a vulnerabilidade da orla marítima face a uma eventual ocorrência de eventos extremos (elevação do nível do mar, inundação, entre outros) associada à pressão humana nas zonas costeiras poderá criar constrangimentos enormes ao processo de modernização em curso. República de Cabo Verde, Outubro 2010 22 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 1– Situação geográfica de Cabo Verde 1.1.2.2 Caracterização climática Cabo Verde encontra-se localizado numa região onde a variabilidade da alta pressão subtropical dos Açores funciona como factor regulador das anomalias da precipitação, controlando a oscilação sazonal dos ventos alísios de características marítimas e continentais durante os meses secos (Novembro a Junho). Durante a época chuvosa (Julho a Outubro), destaca-se o movimento oscilatório da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) caracterizado por ventos de sudeste e passagem de perturbações de leste, provenientes do continente africano. Entre Dezembro e Fevereiro, o arquipélago sofre influências de massas de ar das latitudes extra-tropicais que se movimentam em direcção ao continente. A distribuição espaço-temporal da precipitação é condicionada por fenómenos regionais e influências remotas como modos dominantes de variabilidade. Esta região do Atlântico encontra-se sob a acção de diversos sistemas atmosféricos, incluindo a banda de actividade convectiva da ZCIT, as perturbações e as ondas de leste, as depressões e os ciclones tropicais, as circulações anticiclónicas subtropicais e as baixas pressões equatoriais, que determinam o tipo de circulação. O arquipélago de Cabo Verde está sob a influência de alguns sistemas considerados factores determinantes para a caracterização do clima da região, como são os casos do anticiclone subtropical dos Açores, as baixas pressões equatoriais, a corrente marítima fria das Canárias e a depressão térmica sobre o continente africano durante o verão. A região dos anticiclones subtropicais é caracterizada por altas pressões, divergência e subsidência na circulação atmosférica. A sua orientação e localização influenciam e caracterizam as massas de ar que penetram a região de Cabo Verde durante todo o ano. Considerado um centro de acção na atmosfera, o anticiclone de Açores é um sistema estável, que domina toda a região tropical e subtropical do Atlântico norte e dá origem a fluxos entre norte (N) nordeste (NE) e este (E). Com frequência, os ventos alísios persistentemente do NE sopram com muita intensidade por períodos prolongados. Quando sopram directamente do continente, determinam que as massas de ar sejam República de Cabo Verde, Outubro 2010 23 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS continentais com humidade reduzida. Quando são paralelos à costa ocidental norte africana, permitem que a influência marítima passe a ser determinante. No período considerado como época de chuvas, a região é perturbada, muitas vezes, por ventos que sopram do sul e ou do sudeste. A corrente marítima fria das Canárias que influência o arquipélago movimenta-se com fluxo de Nordeste ao longo da costa ocidental da África em direcção às ilhas, contribuindo assim para amenizar as temperaturas na região e, eventualmente, afectar variabilidade da precipitação. A temperatura média anual da superfície da água do mar é de 24 ºC, sob a forte influência da corrente fria de Canárias (inferior a 21 ºC), e varia entre 22ºC e 24ºC de Julho a Novembro, e entre 21ºC e 23ºC de Dezembro e Junho, época fria (Almada, 1993). A região é afectada pela predominância de um movimento de subsidência denominado “inversão dos alísios”, que actua como forte opositor ao desenvolvimento vertical das nuvens (Riehl, H. 1979), acentuado pela corrente fria das Canárias. As inversões ocorrem durante quase todo o ano, com uma frequência aproximada de 90% de casos (Carvalho, 1973). De acordo com os dados das sondagens efectuadas no Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde, a altura média da base da inversão situa-se entre 380 e 850 metros de altura e o topo raramente ultrapassa os 1.420 metros. Em altitude, a circulação é dominada pelo fluxo de este, surgindo os valores máximos da intensidade que caracterizam a localização das correntes Jacto Africano de Leste (JAL) e do Jacto Tropical de Leste (JET). Localizado nos níveis de 600 hPa, com velocidades máximas de 10 m/s entre 10º e 15º N, o JAL é o resultado da alimentação de calor pela depressão térmica, enquanto o JET nos 200 hPa, desfasado meridionalmente para o equador, é alimentado pela convecção profunda. A dinâmica de circulação sazonal na costa ocidental africana, com o consequente movimento meridional da ZCIT, marca o ritmo do regime pluviométrico sobre a costa ocidental africana e, por conseguinte, sobre a região de Cabo Verde. Segundo Leroux (2001), o regime pluviométrico na região de Cabo Verde é do tipo alísio marítimo (Tipo I): um período seco e um período húmido. Verifica-se, no entanto, que existe um período menos húmido e mais curto, caracterizado pela advecção de ar frio das latitudes médias, ou seja, dominado pelo fenómeno conhecido por “invernada”. A variabilidade dos alísios do nordeste condiciona a convecção sobre as ilhas. Nos anos chuvosos, o escoamento zonal é menos intenso na região e a componente meridional norte é de menor intensidade que a componente sul. As precipitações parecem estar relacionadas com a variabilidade da componente zonal nos 850 hPa sobre o arquipélago e com a intensidade do JET nos 200 hPa. A componente meridional nos 850 hPa intensifica-se sobre Cabo Verde e sobre a região equatorial e reduz-se na região dos alísios do NE. Nos 200 hPa, a intensidade da precipitação parece estar dependente da variabilidade do escoamento meridional sobre as ilhas, a África ocidental e a região equatorial. Nesses níveis, estruturas de trem de ondas surgem como modos dominantes, confirmando a existência de influências de sistemas ondulatórios extras tropicais, especialmente no período de transição que coincide com temperaturas mais frias no hemisfério norte. Pela análise dos dados de precipitação observados à superfície, Cabo Verde conta com três estações distintas, determinadas pela actividade e intensidade dos sistemas atmosféricos dominantes na região, identificadas em uma estação de transição (de Novembro a Fevereiro), uma estação seca (de Março a Junho), uma estação húmida (de República de Cabo Verde, Outubro 2010 24 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Julho a Outubro). No entanto, estas estações não são providas de datas limites para início e fim e, muitas vezes, são tão ténues que as duas primeiras se confundem. Desde o ano de 1960 o período da estação húmida vem sofrendo redução e, presentemente, está confinado quase que aos meses de Agosto e Setembro. A figura 4 a seguir indicada ilustra a repartição da pluviometria média em Cabo Verde, realtivas a dois períodos distintos: (1961-1990) e (1976-2009). Com uma precipitação média de 225 mm/ano, cerca de 20% da água proveniente das precipitações perde-se através de escoamento superficial, 13% infiltra-se, recarregando os aquíferos, e 67% evapora-se. Figura 2 - Repartição da Pluviometria Média em Cabo Verde No que respeita à Temperatura da Superfície do Mar (TSM), os resultados obtidos com a determinação dos padrões dominantes da variância dos campos têm identificado um padrão espacial a norte com centros de acção de sinais contrários, o que sugere uma associação ainda pouco segura com a Oscilação do Atlântico Norte (NAO), e outro sobre o equador, que pode, eventualmente, corresponder à transferência transequatorial do calor. A maior variabilidade está associada às oscilações da temperatura relacionadas com a corrente das Canárias. As temperaturas anuais apresentam uma fraca amplitude térmica. O valor médio anual da temperatura é da ordem dos 25 oC para as zonas costeiras, e atinge os 19oC nas zonas localizadas a 1.000 metros de altitudes. Os valores mínimos, entre 20 e 21oC, correspondem aos meses de Janeiro a Abril. Os valores máximos, de 26 a 28 oC, são registados no período Agosto-Setembro. A temperatura mínima absoluta mensal é registada, normalmente, entre os meses de Dezembro e Fevereiro, e varia de uma ilha para outra. República de Cabo Verde, Outubro 2010 25 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 3 - Variação da temperatura média anual (Fonte: INMG, 2010) Da análise do gráfico da figura 3, pode-se constatar que, em Cabo Verde, a tendência é para o aumento dos extremos da temperatura. Segundo as previsões, existe uma tendência para um aumento ainda mais acentuado nos próximos anos, o que terá reflexos em outros parâmetros climáticos derivados, como por exemplo a evapotranspiração. 1.1.2.3 Relevo De origem vulcânica, as ilhas apresentam em geral topografias muito acidentadas, com vales de vertentes abruptas, profundos e ramificados. Todavia, as ilhas mais orientais (Sal, Boavista e Maio) apresentam topografias semelhantes, muito suaves e com predomínio de áreas planas onde aparecem isolados diversos cones vulcânicos erosivos. O relevo é geralmente acidentado, principalmente nas ilhas mais jovens, como são os casos de Fogo, Santiago, Santo Antão e S. Nicolau, e relativamente plano nas ilhas mais antigas, como Sal, Boavista e Maio. As maiores altitudes estão localizadas nas ilhas de Fogo (2.829 m), Santo Antão (1.979m), Santiago (1.395m) e São Nicolau (1.340 m). A dimensão e as configurações do relevo diferem de uma ilha para outra e estão na origem da paisagem diversificada composta por achadas (vastas extensões planas e onduladas), encostas (inclinações que conduzem ao topo das montanhas), vales (ribeiras entre as encostas e as achadas), maciços (cadeias de montanhas que se impõem nas ilhas de altitudes elevadas) e montes e colinas (típicos cones vulcânicos). Na ilha do Fogo encontra-se localizado o ponto mais alto de Cabo Verde, o topo do vulcão do Fogo a uma altitude de 2.829 metros. O vulcão ainda se encontra em fase activa, tendo sofrido a última erupção data de 1995. República de Cabo Verde, Outubro 2010 26 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.2 Recursos Ambientais 1.2.1 Recursos em terras - Solos agrícolas e superfícies cultivadas Em Cabo Verde são praticados essencialmente de Julho a Outubro a agricultura de sequeiro ou pluvial, totalmente dependente das chuvas, e a irrigada ao longo do ano, dividida em épocas fresca e quente). Da superfície total do país (403000 ha), cerca de 10 % correspondente a 41.841 ha é potencialmente cultivável, da qual 95% (cerca de 38000 ha) é em regime pluvial e menos de 5% é em regime de irrigação (Recenseamento Geral da Agricultura, 2004). A superfície irrigada vem aumentando ao longo dos anos, tendo passado de cerca de 1558 hectares, em 1995, para cerca de 1850 hectares, em 2000, e 3000, em 2004 (RGA, 2004 e PDH, 2003). A tabela 1 apresenta a evolução das superfícies cultivadas em regime de sequeiro e de regadio para os anos 1995, 2000 e 2004. Estima-se que a superfície cultivável é de 38000 ha, para sequeiro, e entre 3000 e 5000 ha, para o regadio. Com origem vulcânica, os solos são na sua grande minerais, esqueléticos, pobres em matéria orgânica e nitrogénio, principalmente os localizados nas encostas onde se pratica agricultura pluvial. Não existem solos com alto conteúdo de matéria orgânica (nitrogénio), que possam ser classificados de solos orgânicos, facto que inibe a ocorrência de histossolos no país. Superfície cultivável (ha) Sequeiro Regadio 38000 3000-5000 Superfície cultivada (ha) 1995 31066 Sequeiro 2000 30626 2004 32948 1995 1558 Regadio 2000 1850 2004 3000 Tabela 1 - Superfície cultivável e evolução das áreas cultivadas (Fonte: adaptação de RGA, 2004; PDH, 2003; PEDA, 2004; FAO, 2004) O sector irrigado limita-se a 3.476 ha, envolto de micro-perímetros essencialmente irrigados por gravidade a partir de nascentes ou de captação através de poços ou galerias. As florestas são constituídas sobretudo de Prosopius juliflora, Parkinsonia aculeata e diversas acácias, cobrindo uma área equivalente a 75.000 ha. A repartição das terras em função das zonas climáticas é de 67% para áridas (2.698km2), 16% para semi-áridas (631km2), 14% para sub-húmidas (581km2) e 3% correspondente a zonas húmidas (123km2). República de Cabo Verde, Outubro 2010 27 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.2.2 Recursos Hídricos Cabo Verde integra a lista dos países que vivem em escassez absoluta de água, isto é, com menos de 500 m³/ano de água doce por habitante para satisfazer as necessidades da população em termos de agricultura, indústria, energia e meio ambiente. À excepção da água dessalinizada, os recursos hídricos são provenientes das precipitações e das águas superficiais e subterrâneas. O balanço hidrológico (INGRH, 1997) revela que os recursos hídricos subterrâneos estão estimados em 124 milhões de m3/ano. Desse total, a quantidade tecnicamente explorável é estimada em 65 milhões de toneladas por ano, em casos de pluviometria regular, e em 44 milhões, nos períodos de seca. Os recursos em águas superficiais estão estimados numa média de 181 milhões de metros cúbicos por ano. Tais recursos são pouco explorados devido à falta de dispositivos eficazes para captura e armazenamento. Diversos testes foram conduzidos em alguns sítios do país, como são os casos das ilhas de Santiago, S. Vicente e S. Nicolau, visando a captação de água das nuvens com redes de malha fina instaladas no cimo de montes elevados onde existem condições meteorológicas favoráveis. Em 2007, uma fracção de 82% da população residente em Cabo Verde, cerca de 403.000 habitantes, teve acesso a água potável. De realçar que existem assimetrias entre a população dos centros urbanos (93%=274.000 habitantes) e rurais (66%=130.000 habitantes). Figura 4 – População com acesso a água potável (Fonte: Adaptado do Relatório do Estado da Qualidade do Ambiente, 2008) Os dados do QUIBB-2007 confirmam que Cabo Verde já realizou a meta do sétimo Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) para a água, que consiste em reduzir para metade, até 2015, a percentagem da população sem acesso a água potável, ou seja, atingir a meta de 71% da população com acesso a água de forma segura. Em termos de infra-estruturas de Conservação de Solos e Água (CSA), existem 2.065 poços e furos, República de Cabo Verde, Outubro 2010 28 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.196 nascentes, 2.475 reservatórios, 826 fontanários e 409 diques de captação. A maior parte dos pontos de água encontram-se na ilha de Santiago, seguido de Santo Antão. Em 2008, o volume registado para água explorada foi de 19.096 m3/dia. É importante realçar a construção recente da primeira barragem de Cabo Verde, a de Poilão, na ilha de Santiago, com a capacidade de armazenagem equivalente a 1.700.000 m3 de água de escorrimento superficial. Uma outra fonte de água reside na recuperação das águas residuais. Porém, os únicos municípios que possuem ETAR são S. Vicente (5.000 m3/dia), Praia (14.000 m3/dia), Tarrafal de Santiago (1.910m3/dia), Sal (Estação de Santa Maria – 1.000 m3/dia), Santa Cruz (1.500 m3/dia). Na ilha da Boavista a AEB dispõe de uma unidade de tratamento contentorizado, com a capacidade para 1000 m3/dia, visando dar vazão as águas residuais produzidas pelas unidades hoteleiras da vila do Sal Rei. Somente 22% das águas residuais produzidas na Praia e 44% em São Vicente são recolhidas e encaminhadas as respectivas ETAR. Segundo o PHD, 2001, em São Vicente as quantidades de águas usadas e utilizadas eram de 1.400 m³/dia para um potencial de tratamento de 2.250 m³/dia. A poluição das águas superficiais e subterrâneas é de origem diversa. O documento sobre a Biodiversidade (DGA, 2003, p.40) relata casos de poluição dos aquíferos por pesticidas e produtos químicos. A salinização das águas subterrâneas, particularmente nas zonas costeiras, vem causando problemas, especialmente nos perímetros irrigados que são tornados incultos. 1.2.3 Solos Os solos são de forma geral, de origem vulcânica, muito declivosos, pouco profundos, sem vegetação, derivados de rochas vulcânicas ou eruptivas sobre formações basálticas impermeáveis que favorecem o escoamento superficial durante os períodos chuvosos, o que dificulta a prática da agricultura. Os solos são formados sob substratos de basalto, fonólitos, lapilili, e tufos vulcânicos, à excepção das ilhas orientais, que são de origem calcária, e apresentam tendências para alcalinidade e fraca concentração em matéria orgânica. No entanto, são ricos em elementos minerais, afectados frequentemente pela erosão. Dos cerca de 403.000 hectares que formam o território nacional, cerca de 219.000 hectares (54%) são terrenos marginais ou incultos. Da análise dos indicadores estudados, a ocupação do solo é distribuída em 11%, destinada a Agricultura, 5%, ocupada para fins turísticos, 21%, coberta por florestas e 15%, declarada como área protegida. A actividade que exerce maior pressão sobre o solo e as outras componentes ambientais continua a ser, em determinadas regiões do país, a prática do pastoreio livre e a sobrepopulação do gado em relação à disponibilidade de pasto e a extracção de inertes para a construção civil, particularmente para empreendimentos turísticos. A construção espontânea e clandestina, aliada ao facto de não existirem instrumentos adequados de gestão territorial, aumenta a pressão sobre os solos, promovendo condições deficitárias no sector da saúde pública, visto que as construções não possuírem condições mínimas de salubridade. Entretanto, encontra-se já em fase final de elaboração a Directiva Nacional de Ordenamento do Território, os EROT’s e os PDM’s que irão introduzir reformas e correcções, de forma a dar resposta e a resolver as situações actuais de completa desorganização territorial. O futuro cálculo do indicador da taxa de construção clandestina permitirá orientar nas tomadas de decisão e na planificação. República de Cabo Verde, Outubro 2010 29 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.2.4 Biodiversidade O arquipélago de Cabo Verde, apesar de ser um pequeno estado insular, ecologicamente frágil e de parcos recursos naturais, abriga no seu seio um leque variado de ecossistemas, de acordo com a diversidade climática e topográfica. A vegetação natural é rara, especialmente nas regiões baixas e áridas. No entanto, durante o período das chuvas o ambiente altera-se completamente com o aparecimento de plantas herbáceas que cobrem as zonas de altitude. Tais especificidades determinaram os modos de ocupação e o próprio uso dos espaços pelas comunidades locais, levando o arquipélago a enfrentar vulnerabilidades de natureza económica, social e ambiental, o que lança desafios sérios ao país e à população. O Millennium Ecosystem Assessment elege as mudanças do clima entre os principais factores que afectam os ecossistemas e as alterações observadas mostram evidências de que as mudanças do clima já estão a afectar a biodiversidade (Walther et al. 2002, Parmesan & Yohe 2003, Rehfisch & Crick 2003, Root et al. 2003, Crick 2004). As principais alterações previstas para os ecossistemas insulares estão relacionadas com o aumento no nível do mar, a redução da precipitação e o aumento da temperatura. Esses efeitos incluem atraso na reprodução (Crick et al. 1997; Crick & Sparks, 1999; Thompson & Ollason 2001), alterações no timing da migração (Sparks & Braslavska, 2001) e a distribuição populacional (Berry et al. 2001. Austin & Rehfisch 2005). As pressões ambientais, natural e antrópica, que criam situações de desequilíbrio têm como principais causas o pastoreio livre, com o gado caprino e bovino a ter as acções mais preponderantes na devastação do coberto vegetal e na degradação de habitats de espécies, a caça associada à utilização de explosivos, a exploração da lenha e colheita de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, a utilização desregrada de espécies endémicas como forragem para uso medicinal e como fonte de energia, e a extracção descontrolada de inertes nas praias e leitos das ribeiras. A biodiversidade terrestre conta com cerca de 3251 espécies, identificadas actualmente e distribuídas por 2.097 géneros e 634 famílias de Fungos (62 espécies), plantas (1170 espécies, incluindo líquenes) e animais (2019 espécies). Entre as espécies, 540 (16%) são consideradas endémicas do arquipélago. Cerca de 20,3% dessas espécies encontra-se incluída numa lista vermelha como ameaçado ou extinto. A biodiversidade marinha é caracterizada por importantes grupos de espécies e ecossistemas estratégicos, entre eles alguns de importância ecológica regional e mundial, outros ameaçados de extinção a nível mundial e numerosos endemismos ainda desconhecidos na sua maioria, todos eles com grande potencial económico, turístico e científico. Simultaneamente, considerável parte desses recursos constitui fonte de rendimento e alimento da população nacional. Os mares do arquipélago garantem funções ecológicas importantes, como zonas de reprodução de pequenos pelágicos, de corredor migratório e de alimentação para várias espécies de peixe, com especial destaque para os tunídeos. A plataforma insular é área de reprodução de cetáceos (Megaptera novaeangliae), as zonas costeiras de praias arenosas são de reprodução (Caretta caretta), protecção e alimentação temporal de uma variada fauna de tartarugas (Chelonia mydas, Erethmochelys imbricata, Lepidochelys olivacea). República de Cabo Verde, Outubro 2010 30 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS O estado da diversidade biológica é resumido na “Primeira Lista Vermelha de Cabo Verde”, publicada em 1996, com estatísticas que Gomes et al. (1998) consideram alarmantes. Isso porque, na vegetação, está ameaçado mais de 26% das angiospermas, de 40% dos briófitos, de 65% das pteridófitas e de 29% dos líquenes, e adicionalmente, na fauna, um número superior 47% das aves, cerca de 25% dos répteis terrestres, 64% dos coleópteros, mais de 57% dos aracnídeos e de 59% dos moluscos terrestres constituem espécies ameaçadas. Apesar da conservação da biodiversidade constituir uma prioridade, não existem estudos que relacionam essa conservação com as mudanças climáticas. A lista vermelha é resumida segundo a tabela seguinte. Espécies ameaçadas Quantidade (%) Angiospérmicas 26 Briófitas 40 Pteridófitas 65 Líquenes 29 Aves 47 Répteis terrestres 25 Coleópteros 64 Aracnídeos 57 Moluscos terrestres 59 Tabela 2 - Percentagem de espécies ameaçadas (Fonte: Sistema de Informação Ambiental) 1.2.4.1 Flora A flora insular é sensível (Vitousek 1988, citado por Leyens & Lobin 1996) devido a existência de uma área de disseminação bastante reduzida antes da intervenção do homem e a ausência de predadores, o que provoca a formação de pequenas populações com uma diversidade genética limitada. Estes factores, aliados a aqueles de natureza antrópica, determinaram o estado actual da vegetação do arquipélago, em termos de abundância e cobertura total das populações e das espécies e das suas diversidades específicas. A acção antrópica sobre a vegetação nas suas diversas formas dá-se através da exploração directa das espécies e, indirectamente, da destruição dos seus habitats. Segundo Gomes et al. (1998), importantes comunidades de vegetação natural nas zonas de maior altitude como Monte Gordo em São Nicolau, Monte Verde em São Vicente, Serra Malagueta em Santiago, assim como Bordeira e Pico Novo na ilha do Fogo, foram destruídos nos últimos 50 anos. A causa da degradação destas fitocenosis está geralmente ligada à prática da agricultura de sequeiro, ao corte de árvores para a extracção de lenha para consumo doméstico, ao sobre‐pastoreio e à introdução de espécies exóticas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 31 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Dependendo do clima e do tipo de vegetação, são identificadas zonas bio-climáticas do tipo (1) árido (ZAE I), que se estende do litoral a 200 m altitude e a vegetação é, geralmente, do tipo estepe herbáceo; (2) semi-árido (ZAE II), que fica situado entre 200 e 400 m de altitude, é uma zona marginal para a agricultura (subsistência nos anos de boa pluviometria), com vegetação natural um pouco diferente da zona árida e mais diversificada; (3) sub-húmido (ZAE III), localizado entre os 400 os 600 metros de altitude, tem vocação agrícola e compreende espécies arbóreas e arbustivas variadas; e (4) húmida de altitude (ZAE IV), que fica localizado acima dos 700 m de altitude, é a área mais produtiva em termos de produção agrícola e forragens e é considerada como sendo de importância vital para a infiltração de águas pluviais e recarga de aquíferos. As plantas identificadas nessas zonas classificam-se em angiospérmicas, gimnospérmicas (apenas espécies introduzidas), pteridófitas e briófitas. A flora vascular está representada por 755 taxa espontânea (Duarte, 1998). Como reflexo da situação geográfica do arquipélago, a flora engloba elementos de diversas regiões, estando as regiões florísticas da Macaronésica (Canárias, Madeira e Açores) e os países africanos (Senegal, Gâmbia, Mauritânia e Marrocos) entre as mais representadas. A acção humana teve sempre um grande impacto na composição da flora das ilhas, considerando que mais de 50% da flora cabo-verdiana (331 taxa) foi, provavelmente, introduzida pelo ser humano. A flora indígena está representada por 224 espécies, das quais 85 são actualmente aceites como espécies endémicas de Cabo Verde. Os endemismos estão representados por 85 espécies pertencentes a 11 famílias e 17 géneros. A família com maior diversidade específica é a Asteraceae (compostas), com 10 espécies, entre as quais sonchus daltonii webb (coroa-de-rei) e Artemisia gorgonum webb (losna). 1.2.4.2 Fauna A fauna indígena de Cabo Verde engloba espécies de recifes de corais, moluscos (bivalves, gastrópodes e cefalópodes), artrópodes (insectos, crustáceos e aracnídeos), peixes (grandes pelágicos, pequenos pelágicos e demersais), répteis e aves e, provavelmente, algumas espécies de mamíferos marinhos. A fauna marinha possui um número muito reduzido de formas indígenas, sendo as esponjas, com 257 espécies e os corais, os animais marinhos com o maior número de representantes endémicos 13. As águas marinhas são povoadas por grandes variedades de espécies, onde a maior concentração está localizada na zona oriental do arquipélago – Sal, Boavista e Maio. Por estas ilhas se encontrarem na rota das migrações dos tunídeos, durante alguns meses do ano estas espécies são relativamente abundantes, predominando principalmente a albacora e o patudo. Entre os tunídeos migradores destaca-se o gaiado. Existem cinco espécies de tartaruga, cerca de cento e cinco espécies de aves terrestres e marinhas, das quais cerca de quarenta e duas reproduzem localmente, sendo que, vinte e quatro espécies e variedades são endémicas. Os mamíferos e os anfíbios selvagens estão representados, no meio marinho, pelas baleias e pelos golfinhos. Entre os invertebrados, merecem particular destaque os recifes coralinos, os moluscos (gastrópodes, lamelibrânquios e cefalópodes), os crustáceos (camarões, caranguejos, percebes e lagostas), os artrópodes, representados pelos insectos, aracnídeos e crustáceos de água doce (todos extintos) e os moluscos extramarinhos de água doce e das zonas mais húmidas. Existem quatro espécies de lagosta: scyllarides latus, panulirus echinatus, República de Cabo Verde, Outubro 2010 32 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS panulirus regius e palinurus charlestoni (espécie endémica de Cabo Verde, vulgarmente conhecida por lagosta rosa). Das espécies consideradas úteis, há a considerar pardal-de-terra (passer yagoensis), pardal de algodoeiro (sylvia conspicillata), passarinha de pena azul (halcyon leucocephala), falcão, coruja (tito alba detorta), corvo (corvus ruficollis), garça (egretta garcetta)) e calhandra do ilhéu Raso (alauda razae). Das espécies raras ou em via de extinção convém salientar o pato marmoreado, o soutador (falco peregrinus) e asa curta (buteo bannermani), a francelha (falco tinnunculus) e o minhoto. No meio terrestre, a respectivamente vai também para uma espécie de macaco-verde (cercopithecus aethiops), cinco espécies de morcego e uma espécie de sapo (bufo regularis), todas introduzidas. A avifauna indígena está representada por 41 taxa (formas) que se reproduzem nas ilhas, estando essa taxa subdividida em 5 espécies e 8 subespécies endémicas (Hazevoet, 1996; Tosco, 2005), totalizando 13 endemismos, ou seja, 58% do total da avifauna do território nacional. Mais de 50% das espécies de aves indígenas estão incluídas na “Lista Vermelha de Aves de Cabo Verde”, com algum grau de ameaça, sendo 19,5% classificados como em perigo ou em perigo crítico, 12,2% raro, 4,8% vulnerável, 4,8% indeterminado e 29% em risco baixo (Hazevoet, 1996). A principal de todas as ameaças constitui a apanha de ovos e filhotes por parte das comunidades locais, para consumo e uso medicinal. Os animais mais conhecidos representam as classes de vertebrados, sendo mais representativas as classes de peixes, aves e répteis. As pressões que se exercem, directa ou indirectamente, sobre a biodiversidade terrestre e marinha são fundamentalmente de natureza antropogénica. A actuação humana sobre os recursos biológicos transforma-se em pressão, quando a exploração do recurso ultrapassa a sua capacidade de regeneração. A percepção do estado da degradação dos recursos biológicos pelo Governo está reflectida na Lei de Base do Ambiente que contempla a "preservação da fauna e da flora cabo-verdiana" e na publicação de alguns Decretos Regulamentares. Esta situação que em 1996 já era considerada alarmante, vem-se agravando para as espécies alauda razae (calhandra-do-Ilhéu-Raso), cujo efectivo populacional sofreu uma redução de 250 exemplares, em 1992, para 92, em 1998. O himantopus himantopus (perna-longa), cuja população foi avaliada em 75 exemplares, em 1990, sofreu num período de 5 anos uma redução de cerca de 70% (Hazevoet, 1999). A vulnerabilidade das espécies marinhas cabo-verdianas, sobretudo das zonas costeiras, tem aumentado, apesar da existência de medidas legislativas no sentido de minimizar a pressão sobre as mesmas e os seus habitats. Não obstante a adopção dessas medidas, o meio marinho tem experimentado mudanças como resultado do aumento de pressão das capturas de espécies comerciais, da extracção de areia e da deposição de sedimentos nas zonas litorais. República de Cabo Verde, Outubro 2010 33 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Categoria Líquenes Nº de taxa indígena (incluindo endémica) 320 Nº de taxa extinta ou ameaçada Nº de taxa endémica Nº de taxa endémica ameaçada 93 (29.1%) 7 1 (14.3%) Briófitas (hepáticas e antocerotas) Briófitas (musgos) 39 21 (53.8%) - - 110 39 (35.5%) 15 6 (40%) Pteridófitas 32 21 (65.6%) - - Angiospermas 240 64 (26.7%) 84 45 (53.6%) Tabela 3 - Situação da biodiversidade vegetal em Cabo Verde (Fonte: Estratégia Nacional e Plano de Acção sobre a Biodiversidade, 1999) - Nº de taxa indígena (incluindo endémica) Nº de taxa extinta ou ameaçadas Nº de taxa endémica Nº de taxa endémica Ameaçada 12 8 (66.7%) 4 3 (75%) 37 21 (56.8%) 15 10 (66.7%) 4 4 (100%) - - 111 64 (57.7%) 46 36 (78.3%) 470 301 (64%) 155 128 (82.6%) 28 36 7 (25%) 17 (47.2%) 25 13 7 (28%) 8 (61.5%) Moluscos Extramarinos de água doce Moluscos terrestres de água doce Crustáceos de água doce (camarões) Aracnídeos Insectos (coleópteros) Répteis terrestres Aves Tabela 4 - Situação da biodiversidade animal em Cabo Verde (Fonte: Estratégia Nacional e Plano de Acção sobre a Biodiversidade, 1999) 1.2.5 Rochas e Minerais Os materiais de origem vulcânica são os mais predominantes em Cabo Verde e influenciam directamente a génese dos solos do arquipélago. Destacam-se entre muitos as rochas de natureza basáltica, que incluem os basaltos, basanitos e basanitóides, as rochas de natureza basáltica muito alteradas ou de fácil alteração às rochas fonolíticas e traquíticas, os sedimentos de fácies terrestres e marinhos, os materiais de fácies tufosos, tufo-brechóide ou piroclástico, os materiais extrusivos acumulados em cones vulcânicos, as manchas de rochas sedimentares e os aluviões e coluviões. Os minerais, como componentes dos solos e das rochas não constituem um grupo com grande interesse económico. Entretanto, incorporadas em algumas areias negras das praias, podem ser observados a magnetite e a ilmenite em quantidades apreciáveis e passíveis de exploração. Em todas as ilhas, verifica-se a ocorrência de grandes jazidas de não metálicos de diferente natureza (rochas industriais ornamentais e não ornamentais). As rochas ornamentais predominantemente calcárias, ocorrem em diversas ilhas, principalmente nas ilhas rasas (Boavista, Sal e Maio). Na maior parte das vezes as jazidas indiciam uma exploração economicamente inviável devido a sua República de Cabo Verde, Outubro 2010 34 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS reduzida dimensão e ou pela falta de características físicas apropriadas ao seu tratamento industrial e posterior comercialização. As rochas não ornamentais, caso dos basaltos, calcários, areias, argilas, gesso e pozolana, são sem dúvida, as que melhores potencialidades têm. Na ilha de Santo Antão é explorada a pozolana. 1.3 População e Perfil Urbano Conforme os resultados preliminares do IV Recenseamento Geral da População e Habitação de 2010, a população de Cabo Verde é de cerca de 501.648 habitantes, incluindo a residente (presente e ausente), com uma taxa média de crescimento anual de 1,2%, de 2000 (434.625) a 2010 (491.575). Sotavento é a zona mais populosa, com cerca de 323.917 habitantes, enquanto na região de Barlavento, menos populosa, ela ronda os 127.658 habitantes. A maior parte da população vive nos centros urbanos (303.776 habitantes), cerca de 62% do total, enquanto o remanescente vive na zona rural (187.799 habitantes), representando 38% da população. Como municípios mais urbanizados, São Vicente, Praia e Sal alcançaram-se taxas na ordem dos 92,6%, 96,6% e 92,9%, respectivamente. Apesar da maior concentração populacional verificar-se nas cidades da Praia e do Mindelo, o crescimento mais intenso é na Praia. Figura 5 – Gráfico da distribuição da população por ilhas (Fonte: INE, Resultados Preliminares do IV-RGPH, 2010) A População de Cabo Verde é marcadamente jovem na sua estrutura etária, com 31,6% na idade até 14 anos (resultados preliminares do RGPH, 2010) e apenas 6,5% acima dos 65. A esperança média de vida é de 71 anos, sendo de 67 para os homens e de 75 para as mulheres. A taxa de mortalidade infantil foi de 44‰, em 1990, e 26‰, em 2000, tendo reduzido para o valor de 20‰, em 2004. Segundo último censo populacional, a taxa de crescimento da população foi de 2,4% entre 1990 e 2000, valor esse que baixou para 1,2%, em 2010. República de Cabo Verde, Outubro 2010 35 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.4 Desenvolvimento Económico e Social Cabo Verde é um país pobre e vulnerável às mudanças climáticas e aos factores externos, já que cerca de 90% do que consome é importado. O índice de Gini para Cabo Verde é de 0,57. 1.4.1 A evolução da pobreza e da desigualdade nas últimas décadas Em 2004 e 2007 foram realizados inquéritos pelo Banco Mundial, INE e DGP, que apontam para uma diminuição da população em situação de pobreza absoluta entre 1988-89 e entre 2001-02, de 49 para 37%. A tabela 5, a seguir indicada apresenta os dados da pobreza baseada nos bens e ou posses, onde se pode constatar uma diminuição de 11,7 percentuais, passando de 36,5%, em 2001-2002, para 24,9%, em 2006. A situação de pobreza contínua significativa decorre, essencialmente, da fragilidade do tecido produtivo e da sua fraca capacidade de gerar emprego, rendimentos e bem-estar das populações. Anos e diferenças 2001-02 2006 Diferença (2001-06) Pobreza prevista em 2006 com base na distribuição do consumo e crescimento no PIB percapita de 2001 Pobreza prevista em 2006 com base na distribuição do consumo e crescimento no consumo percapita de 2001 Nacional 36.7 28.7 - 8.0 Redução na pobreza baseada em bens, entre 2001 e 2006 Componente crescimento da redução na pobreza baseada, em bens entre 2001 e 2006 36.7 26.9 - 9.8 36.5 24.9 - 11.7 36.5 28.0 - 8.5 25.0 16.0 - 9.0 24.9 17.2 - 7.8 24.9 19.3 - 5.7 51.1 40.3 - 10.8 50.8 31.3 - 19.5 50.8 28.6 - 22.2 Urbano 2001-02 2006 Diferença (2001-06) 25.0 17.5 - 7.6 Rural 2001-02 2006 Diferença (2001-06) 51.1 42.5 - 8.6 Tabela 5 - Incidência da pobreza - métodos alternativos (2001-2006) (Fonte: Autores utilizando IDRF (2001/02) e QUIBB, 2006) 1.4.2 O número e proporção de pobres Segundo os dados do Inquérito às Despesas e Receitas Familiares/Condições de Vida das Famílias realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2001-2002, 37% da população total era considerada pobre, residindo na sua maioria (62%) no meio rural. Dos pobres, cerca de 54% eram considerados muito pobres, o que correspondia a 20% da população total. Desses, cerca de 51% eram mulheres. Em 2002, residiam em Cabo República de Cabo Verde, Outubro 2010 36 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Verde cerca de 95.000 agregados familiares, dos quais cerca de 27.000 eram pobres (28%). Entre esses, 13.000 eram muito pobres, ou seja, cerca de 14% dos agregados familiares. Dos cerca de 173.000 mil pobres residentes em Cabo Verde, cerca de 89.000 são mulheres e 84.000 são homens. A população pobre é muito jovem, com peso considerável de indivíduos dependentes, ou seja, de crianças menores de 15 anos de idade (49%) e de pessoas idosas com 65 anos ou superior (6%). Dos pobres residentes, cerca de 84.000 têm menos de 15 anos e cerca de 10.000 tem 65 anos de idade ou superior. 1.4.3 Fome e desnutrição infantil Cabo Verde produz menos de 15% das suas necessidades alimentares. Segundo as informações, a dieta do cabo-verdiano é hipocalórica, apresentando um deficit de vitaminas e minerais. Cinco em cada cem crianças têm deficiência crónica de energia, com maior realce para as crianças de famílias pobres (7%) comparadas com as das famílias não pobres (4%). Da mesma forma, segundo o IDRF, cerca de 14% das crianças desse grupo etário tem crescimento retardado, sendo 16% entre as crianças pobres e 12% entre as não pobres. A malnutrição crónica em menores de 5 anos evoluiu, embora muito pouco em 12 anos, de 16,2%, em 1994, para 15%, em 2006. A malnutrição aguda subiu de 5,6%, em 1994, para 7%, em 2006. Para inverter a situação numa perspectiva de melhoria gradual da situação nutricional no país, o Programa Nacional de Segurança Alimentar prossegue os objectivos de (a) contribuir para a definição das principais orientações políticas que devem sustentar as prioridades, estratégias e actividades que visam o bem-estar nutricional da população cabo-verdiana, (b) estabelecer mecanismos de coordenação dos projectos e actividades em curso no domínio da nutrição, (c) Identificar os sectores com problemas e apontar soluções e (d) integrar as actividades de nutrição nos Planos Nacionais de Desenvolvimento. No tocante ao género e à dimensão dos agregados familiares, os dados divulgados pelo INE indicam que o índice de pobreza é menor (21,3%) nas famílias chefiadas por homens do que naquelas chefiadas por mulheres (33%). As famílias com cinco ou seis pessoas constituem 21,08% dos pobres existentes em Cabo Verde e os grupos familiares com sete ou mais indivíduos atingem 43,05%. Estes resultados demonstram o sucesso das políticas governamentais no combate à pobreza, colocando Cabo Verde num lugar de destaque no cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). A redução da pobreza extrema representa um dos objectivos a atingir. Prevê-se reduzir para metade a proporção da população que vive na pobreza extrema entre 1990 e 2015. Perante ODM, Cabo Verde tem o desafio de retirar da pobreza extrema cerca de 47.000 habitantes. Para isso, deve-se contar com a contribuição das intervenções do Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza (PNLP) e, especificamente, do Programa de Luta Contra a Pobreza no Meio Rural (PLPR) para a criação contínua de emprego, rendimento, formação e capacitação profissional. O PNLP assenta nos principais princípios orientadores tendentes a (i) Reduzir a pobreza de forma durável e sustentável, (ii) combater a pobreza no quadro descentralizado e (iii) República de Cabo Verde, Outubro 2010 37 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS promover a participação e a coordenação de esforços no combate à pobreza. O Programa Nacional de Luta contra a Pobreza tem como objectivo promover a redução sustentada e durável da pobreza no país, fixando-se como objectivos concertos para i) promover a integração dos grupos pobres da população no processo de desenvolvimento, ii) melhorar os indicadores sociais dos pobres e iii) reforçar a capacidade institucional de planificação, coordenação e seguimento de actividades de luta contra a pobreza. 1.4.4 Perfil de educação Os indicadores que caracterizam o perfil da educação no país mostram que a) a taxa líquida de escolarização no ensino básico tem-se estabilizado, passando de 71.5%, em 1990/91, para 95,1%, em 2005/2006, b) no ensino básico o índice de paridade é de uma menina por um rapaz, facto que coloca o país dentro das metas dos objectivos EPT/OMD, c) entre os novos inscritos no ensino básico, 80,6% frequentaram o préescolar, o que aponta para uma tendência para a generalização do acesso a esse subsistema, d) no ensino secundário regista-se um aumento da taxa de escolarização de 58,1%, em 2005/2006, com uma ligeira vantagem para as alunas, cerca de 61,8%, e a percentagem de professores com formação passou de 67,2%, em 2000/01, para 81,4%, em 2005/06, f) a taxa de transição do Ensino Básico para o Secundário aumentou em 10,1%, passando de 70,7%, em 2000/01, para 80,8%, em 2005/06, g) a percentagem de aprovação neste nível de ensino aumentou de 62,1%, em 2001/02, para 65,2%, em 2005/06, h) o abandono escolar aumentou ligeiramente, passando de 9,4%, em 2001/02, para 10,6%, em 2005/06, com 8,6%, para as raparigas e 13%, para os rapazes, e marcadamente superior no ensino secundário com 15,8% e 23,5%, entre raparigas entre rapazes, respectivamente. Segundo os dados do QUIBB 2006, a Taxa de Alfabetização em Cabo Verde é de 78,7 %, sendo 71,9% para as mulheres e 86,5% para os homens. Por região, verifica-se que 84% pertence ao meio urbano e 74% ao meio rural. A taxa de alfabetização juvenil é superior a 93% em todos os concelhos. As despesas públicas na educação e formação representaram cerca de 23% das despesas do orçamento geral do Estado de 2007. 1.4.5 Perfil da saúde A nível do sector da saúde os progressos são consideráveis, confirmados por indicadores, permitindo afirmar que Cabo Verde atingirá os objectivos do milénio em matéria de redução da mortalidade infantil e melhoria da saúde materna. Com efeito, em 2006, 74% dos agregados familiares tiveram acesso facilitado aos serviços de saúde, entre 2000 e 2007 a taxa de mortalidade infantil passou de 29,8‰ para 25,3‰, e tem-se como a meta atingir o valor de 18,7‰, em 2015. No mesmo período, a taxa de mortalidade infanto-juvenil passou de 39,6‰ para 32,8‰. No que respeita a mortalidade materna, ela passou de 30‰, em 2003, para 14,5‰, em 2005. A prevalência do HIV/SIDA foi estimada em 0,8%, em 2005, sendo 1,1% e 0,4%, respectivamente para homens e mulheres. Na prevenção, 72% dos homens e 46% das mulheres dizem proteger-se com preservativos. O modo principal da transmissão é, em 90% dos casos, a via sexual, onde a mulher é mais vulnerável, com 58% dos casos. República de Cabo Verde, Outubro 2010 38 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Enquanto o paludismo é de baixa endemicidade, a tuberculose mantém-se endémica no país, determinado por atitudes, comportamentos, baixas condições socioeconómicas e as doenças passíveis de serem prevenidas pela vacinação que ajuda na diminuição de surtos e frequências. Subsistem ainda, contudo, as disparidades regionais e a procura crescente de cuidados especializados, o que aumenta os custos em virtude das evacuações no país e para o exterior. Serviços % Utilizadores Hospital Centro de Saúde Consultório Privado Posto Sanitário USB Farmácia/P.venda Médico Outros agentes de saúde Outros CV 16,1 45,0 35,3 13,2 4,0 0,5 0,1 1,4 0,2 0,4 QUIBB 2006 Urbano 18,2 46,1 34,2 16,6 0,6 0,0 0,0 1,9 0,1 0,5 Rural 13,5 43,3 37,2 7,3 9,8 1,4 0,2 0,4 0,2 0,2 CV 16,5 46,0 37,7 13,2 3,0 0,5 1,6 0,6 0,1 0,3 QUIBB 2007 Urbano 19,4 48,6 34,3 17,4 0,6 0,1 1,8 0,9 0,0 0,2 Rural 12,8 40,7 44,6 4,8 7,8 1,2 1,1 0,2 0,3 0,5 Tabela 6 - Indicadores da Saúde em Cabo Verde (Serviços mais procurados) (Fonte: QUIBB-CV e INE, 2007) Independentemente de ter tido ou não um problema de saúde, 16% da população procurou algum serviço de saúde, tendo sido os hospitais (46%) e os centros de saúde (38%) os mais procurados. Entre 2006 (89%) e 2007 (84%), o nível de satisfação dos serviços de saúde diminuiu em 5 pontos percentuais. As principais razões de insatisfação dos serviços de saúde têm sido apontadas com relação ao “prolongado tempo de espera”, “muito caro” e “tratamento sem êxito”. 2006 % da Satisfação 2007 CV Urbano Rural CV Urbano Rural 89 89 89 84 84 83 Tabela 7 – Nível de satisfação dos Serviços de Saúde (Fonte: QUIBB-CV e INE, 2007) 2006 % de Insatisfação CV 11,2 Urbano 11,1 2007 Rural 11,5 CV 16,5 Urbano 16,3 Rural 17,0 Tabela 8 – Nível de insatisfação dos serviços de saúde prestados (Fonte: QUIBB-CV e INE, 2007) República de Cabo Verde, Outubro 2010 39 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.4.6 Acesso aos serviços de saneamento básico Em 2006, apenas 34.5% dos agregados familiares declararam evacuar as águas residuais através de fossa séptica ou de rede de esgotos, ou seja, aproximadamente sessenta e seis em cada 100 famílias dão destino impróprio às águas residuais, atirando-as principalmente em redor da casa (38,4%) ou na natureza (26,5%). A nível nacional, cerca de 42% dos agregados familiares não tem acesso a um serviço mínimo e adequado de evacuação dos excreta, recorrendo à natureza para a satisfação das suas necessidades fisiológicas. Este quadro é pior nos centros rurais (62,6%), contra 28,1 nos centros urbanos. No que respeita a utilização do sistema de recolha de resíduos sólidos domésticos (lixo), apenas 59,7% das famílias utilizam contentores e carros de lixo, e 27,3% atiram-no à natureza. Este quadro piora nos centros rurais, onde apenas 21% do agregado evacua os resíduos sólidos nos contentores e no carro de lixo e maior parte (53,4%) devolve-o à natureza. 1.4.6.1 Água e saneamento Segundo o gráfico a seguir, a percentagem da população com acesso a água potável passou de 42%, em 1990, para cerca de 85%, em 2006, sendo 77% no meio rural e 93% no meio urbano, persistindo, contudo, disparidades em relação ao meio rural no uso impróprio de recursos e meios. Figura 6 - Acesso a água e saneamento (Fonte: Relatório OMD 2006) 1.5 Perfil Económico Nos últimos anos, Cabo Verde tem tido um crescimento económico favorável. O produto interno bruto (PIB) registou um crescimento médio de 5.7% no período 2000/05, 10.8%, em 2006, e 6%, em 2008. Segundo os dados do World Development Indicators Database de Abril de 2009, o rendimento percapita cresceu República de Cabo Verde, Outubro 2010 40 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS significativamente de $2.080 (USD), em 2000, para $3.450 (USD), em 2008. O turismo tem sido o sector que mais cresceu nos últimos anos, tendo registado um aumento de 26% (19.247 Milhões de Escudos) entre 2002 e 2006. Em 2007, a contribuição do turismo para o PIB foi de 19.2%7, aumentando assim a sua vulnerabilidade a choques externos. A expectativa de vida dos Cabo-verdianos alcançou os 68,5 anos, nos homens, e 76,3 anos, nas mulheres. A pobreza foi reduzida de 49%, em 1989, para 27%, em 2007. Estes factos ajudaram o país a graduar-se de país menos avançado (PMA) para País de desenvolvimento médio (PDM), a partir do ano de 2009. A preponderância do sector terciário decorre, principalmente, da fraca expressão do sector primário, devido às limitações estruturais da agricultura e da escassez de outros recursos naturais. A pesca, que possui algum potencial, encontra-se ainda numa fase de desenvolvimento embrionário. No seu conjunto, o sector primário representa 13% do PIB, empregando cerca de 16 % da população activa. O sector secundário representava 19% do PIB e 18% do emprego. A fraca expressão do sector secundário explica-se pela reduzida dimensão do mercado interno e pela quase inexistência de uma actividade industrial voltada para exportação. No âmbito da boa governação, o índice Ibrahim posicionou Cabo Verde em segundo lugar (78 pontos de 100 possíveis), atrás das Ilhas Maurícias, num total de 53 países africanos avaliados em 2007, e as Nações Unidas indicaram que o país se posicionou no 121º lugar com um índice de 0.708 de Desenvolvimento Humano, em 2008. Todas estas posições traduzem a situação socioeconómica do país, considerado a partir do ano de 2009 como um País de Desenvolvimento Médio (PDM), com um rendimento médio anual por habitante de $3.450 (USD) (2008). A estrutura da economia cabo-verdiana diferencia-se pelo predomínio do sector terciário, que representa cerca de 68% do PIB e absorve 66% do emprego, aproximando-se da estrutura típica das economias desenvolvidas, não obstante as suas profundas limitações estruturais. Figura 7– Estrutura do PIB 2008 (Fonte: INE - QUIBB, 2008) República de Cabo Verde, Outubro 2010 41 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 12551,6 13953,3 14701,2 15716,1 17182,2 18970,7 20989,4 21777,0 23229,2 25486,9 27701,0 FBCF 5747,7 5142,5 6260,6 5721,6 5761,9 7038,0 6373,8 6939,9 8377,4 8338 10376,5 Var. Exist 184,8 149,6 -202,7 214,2 -13,5 594,8 -180,2 -6,3 -164,5 -32,9 3189,2 Exptação 2125 2159,1 2475,2 3030,6 3120,8 3568,6 3921,2 3637,2 4243,9 3137,3 1886,7 Imptação 9187 9126,7 10134,6 10582,2 10764,8 13072,4 12761,9 12879,7 15189,7 15473 15189,7 11422,1 12277,8 13099,7 14100,3 15286,6 17099,7 18342,3 19468,1 20496,3 21456,3 27963,7 Tipo Consumo Final Total Tabela 9 - Produto Interno Bruto (PIB) na óptica de procura, 1994-2004 (Milhões de escudos cabo-verdianos) Especificação Anos 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Agricultura 11,87 11,95 10,67 9,35 8,35 10,55 10,59 10,09 9,20 8,98 8,53 Indústria 20,28 20,62 21,79 20,81 20,05 18,99 17,65 16,53 17,85 17,28 17,05 Serviços 67,85 67,43 67,54 69,84 71,60 70,46 71,76 73,38 72,97 73,74 74,42 PIB Tabela 10 - Produto Interno Bruto (PIB) por sector económico (1994-2004) (Preços correntes; unidade em milhões de escudos cabo-verdianos). Este quadro desagrega o PIB segundo os sectores de actividade, mostrando a crescente importância do sector dos serviços na economia cabo-verdiana. Em 2004, o sector dos serviços contribuiu com 74,42% do PIB, o sector turístico com 17,05% e a agricultura ficou nos 8,53%. República de Cabo Verde, Outubro 2010 42 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Em conclusão, a geografia económica de Cabo Verde identifica entre os factores como potencialidades importantes para o desenvolvimento a) os recursos humanos com um nível de formação relativamente satisfatório, b) uma Zona Económica Exclusiva de cerca de 734.000 km² que representa algumas potencialidades económicas, c) uma localização geográfica privilegiada no meio do Atlântico e que permite excelentes ligações Atlântico norte/Atlântico sul e d) acessos preferenciais aos principais mercados mundiais. No entanto, o país regista ainda constrangimentos sérios que dificultam o seu desenvolvimento, visto que encontra-se muito distante dos principais mercados e por conseguinte exposto a custos elevados das comunicações com o exterior, enfrenta dificuldades quanto à uma economia de escala, particularmente no que diz respeito à execução das infra-estruturas devido a dispersão geográfica (nove ilhas habitadas) e representa uma fraca base agrícola, por consequência de falta de água e de uma superfície agrícola útil muito reduzida (10%). Neste quadro e face à vulnerabilidade do país aos choques externos, o desenvolvimento de Cabo Verde acaba por ser fortemente influenciado pela evolução da economia global. Entre 1994 e 2004, o PIB de Cabo Verde cresceu cerca de 144,82%, atingindo o montante de 27963,7 milhões de escudos cabo-verdianos. As sucessivas reformas implementadas no início dos anos 90, designadamente a nível da liberalização comercial da economia de base privada com a consequente redução do peso do estado na Economia, a reforma sistema bancário, a reforma do sistema do sector empresarial do Estado, bem como o Acordo de Cooperação Cambial de 1998, propiciaram anos de crescimento económico robusto. Por outro lado, em 1997, a crise financeira internacional teve impacto, e as autoridades voltaram a adoptar medidas restritivas. A partir do ano 2000, a economia retomou a sua trajectória de crescimento do PIB. A nível sub-regional, Cabo Verde é membro da União Africana e da Comunidade Económica dos Estados da África do Oeste (CEDEAO). No ano 2002 o país subscreveu à iniciativa NEPAD. A nível internacional, em 2008, Cabo Verde assinou uma parceria estratégica com a União Europeia. Após ter sido aprovada a admissão de Cabo Verde pelo Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) a 18 de Dezembro de 2007, em Genebra, Cabo Verde tornou-se no 153º membro da Organização, a partir de 23 de Julho de 2008. A entrada de Cabo Verde na OMC conclui um conjunto de opções estratégicas e económicas iniciadas com o acordo cambial com Portugal, a aproximação político-militar à NATO, o acordo de parceria especial com a União Europeia e sustenta a entrada no Grupo de Países de Rendimento Médio, como também proporciona à Macaronésia um maior leque de relações comerciais, colocando o País como um dos principais postos de entrada e saída nas relações entre a União Europeia e África e uma plataforma entre esta e o continente americano. Todos esses engajamentos internacionais são traduzidos na adopção de diferentes quadros estratégicos nacionais, agrupados no seio da Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza (DECRP), adoptada em 2008. República de Cabo Verde, Outubro 2010 43 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Resumo: A economia cabo-verdiana possui fracas potencialidades produtivas, tendo, apesar disso, conseguido avanços significativos no plano do desenvolvimento desde a sua ascensão à independência. O PIB aumentou de 6%, na década de 80, e de 4,5%, nos anos 90. Em 2000, o sector da agricultura e das pescas que cobrem mais de 60% da população representou apenas 10% do PIB, enquanto o sector dos serviços contribuíram com 65%. Entretanto, a produtividade da economia cabo-verdiana permanece frágil por condicionantes de ordem estrutural como a fraca competitividade dos seus produtos, pelos fenómenos físicos e climáticos, aliás reflectida na incapacidade de gerar empregos, nas dificuldades estruturais ligadas à fraca capacidade de produção, à exiguidade do mercado e ao desequilíbrio do comércio externo. O excesso da procura em relação à produção interna é compensado pelas transferências líquidas do exterior, que representam 34,4% do Produto Interno Bruto (PIB). A evolução favorável dos principais indicadores sociais e macro-económicos colocou o país no grupo dos países de “Desenvolvimento Humano Médio”, passando do 123º, em 1995, para o 105º lugar, em 2000, com um PIB percapita estimado em cerca de 1.319 USD entre os 174 países analisados. Nos últimos anos, tem-se verificado um crescimento económico favorável em Cabo Verde. O Produto Interno Bruto (PIB) registou um crescimento médio de 5.7%, no período 2000/05, 10.8%, em 2006, e 6%, em 2008. De acordo com os dados do World Development Indicators Database de Abril de 2009, o PIB percapita cresceu significativamente em Cabo Verde, de $2.080 (USD), em 2000, para $3.450 (USD), em 2008. 1.6 Perfil Industrial A performance industrial cabo-verdiana é fraca em termos de produção e exportação e a sua estrutura industrial estagnante é mal organizada para poder tirar vantagens do novo contexto tecnológico e, sem uma nova estrutura de competitividade, o risco de marginalização industrial acaba por ser muito forte. Com cerca de 20 % do PIB, em 2004, a indústria representa uma modesta parte da economia cabo-verdiana. O crescimento do país nos últimos anos não permitiu à indústria ocupar um lugar mais importante, com uma taxa de crescimento muito inferior à média nacional. Actualmente, a economia cabo-verdiana é mais orientada para os serviços. República de Cabo Verde, Outubro 2010 44 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PIB (%) 1994 2003 2004 Agricultura 12,8 6, 8 6,8 Indústria 19,8 19,7 20,2 Serviços 67,4 73,4 73,0 (Taxa de crescimento) Agricultura 1994-04 2003 2004 5,4 1,5 1,5 Indústria 5,6 4,5 4,5 Serviços 6,1 5,7 6,4 Tabela 11 – Estrutura e crescimento da economia 1.6.1 Performance na exportação Mesmo se a contribuição total da indústria na economia é modesta, a sua contribuição nas exportações é importante, pois cerca de 90% das exportações do país para a UE-15 é composta por produtos manufacturados, que constitui 58% das exportações totais do país. Estes dados não consideram o turismo, que não é contabilizado como um produto de exportação, mas cujo impacto na balança de pagamentos é similar à exportação de bens. Do lado das importações, vê-se que cerca de 60 % das importações nacionais provenientes da Europa e do mundo inteiro correspondem a bens industriais. 1.6.2 Natureza das actividades industriais A figura 8 apresenta a repartição o número de empresas industriais por actividade. Constata-se que as indústrias da madeira, mobiliário e metais representam uma grande percentagem no número das empresas. Entretanto, os dados mostram que esta actividade é essencialmente artesanal em Cabo Verde e diz respeito a microempresas. Pode-se verificar que os sectores da madeira e mobiliário estão muito aquém em termos de efectivos em comparação com o número de empresas. Igualmente, o sector dos metais, excluindo as máquinas, é constituído principalmente de ateliês mecânicos. A indústria cabo-verdiana caracteriza-se por um limitado número de unidades de pequenas dimensões. Os dados do recenseamento das empresas (2004), mostra que, de um efectivo total de 460 empresas activas na indústria, somente 30 contam com mais de 21 empregados. É interessante notar que o maior número de empresas relativamente grandes (11 empresas) localiza-se nos sectores agro-alimentares, confecções e artigos de pele. República de Cabo Verde, Outubro 2010 45 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Artigos de borracha e materiais plásticos Indústria do tabaco Fabrico de máquinas e aparelhos electrónicos Indústria têxtil Fabrico de aparelhos e instrumentos médicos 1 1 2 2 3 4 Fabrico de outros materiais e transporte Fabrico de produtos químicos Outros produtos minerais não metálicos Edição, impressão e reprodução 8 9 11 38 Confecção, preparação, pintura, artigos em pele Indústrias alimentares e bebidas Móveis e outras indústrias transformadoras 83 85 92 Produtos metálicos, excepto máquina e equipamento Indústria de madeira, excepto móveis 132 0 20 40 60 80 100 120 140 Figura 8 - Repartição das actividades pelo número de empresas (2002) (Fonte : INE, Recenseamento das empresas) 1.6.3 Investimento directo estrangeiro IDE Pelas informações referentes ao Investimento Directo do Estrangeiro (IDE), índice de desenvolvimento industrial e condição de acesso as tecnologias e aos mercados mundiais, verifica-se que Cabo Verde realizou uma performance inferior à média dos países em desenvolvimento no domínio da atracção em todas as actividades, com a indústria a representar uma ínfima parte. O turístico é o sector dominante do IDE, que é fraco nas actividades que demandam uma alta intensidade tecnológica. Os investimentos industriais concentram-se simplesmente nos sectores (i) agro-alimentar, incluindo o tratamento do peixe, (ii) vestuário e calçados e (iii) materiais de construção. 1.6.4 Recursos Minerais Embora a importância dos recursos naturais tem diminuído drasticamente no novo contexto global da indústria, eles não devem ser negligenciadas. Com uma área de 4033 km2 e uma pluviometria muito baixa, o país é pobre em recursos naturais, mineiros, o que constitui uma das limitações ao desenvolvimento económico. Em 2004, a indústria mineira continuou a ter um papel menor na economia. Entretanto, o país produz uma certa quantidade de minerais utilizados na elaboração de materiais de construção: argila nas ilhas da Boavista, Sal, e São Vicente; Gesso na ilha do Maio; calcário nas ilhas de Boa Vista, Sal e Santo Antão; pozolana na ilha de Santo Antão; e, finalmente, o sal nas ilhas do Maio e Sal. República de Cabo Verde, Outubro 2010 46 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.7 Energia As ilhas de Cabo Verde, do ponto de vista energético, encontram-se constituídas por sistemas independentes, caracterizados pela sua pequena dimensão e pela distância dos centros de abastecimento. Ainda mais a inexistência de recursos energéticos convencionais próprios, provoca uma dependência energética do exterior muito forte. A electricidade (consumo interno) e os carburantes (aeronaves, dessalinização de água) constituem-se em produtos energéticos cada vez mais imprescindíveis para o actual sistema socioeconómico. Segundo o Plano Nacional de Energias Domésticas (PNED), as estimativas realizadas situam como combustível de maior peso no consumo interno o gasóleo (41 %), seguido da lenha e outras biomassas (19,4%), e por último o fuel (16 %). No referente a energias domésticas, o combustível mais consumido nas zonas urbanas é o gás. Nas zonas rurais, o primeiro combustível é a lenha, que representa 85,72% do combustível ocupado na cocção. Na ilha de Santiago, concentra-se a maior demanda de lenha (50 % da demanda nacional). A lenha é utilizada por 39,5 % das famílias como principal fonte energética pela cocção. A grande percentagem (85%) da lenha utilizada é recolhida principalmente por mulheres e apenas 13,3% é comprada. Os sucessivos aumentos do preço do gás nos últimos anos ocasionaram um incremento do consumo de lenha pelo uso doméstico, principalmente no meio rural, onde existe maior concentração de população pobre. Cabo Verde não é um país de tradição na produção e uso do carvão de lenha. A produção limita-se as ilhas de Maio, Boavista e São Vicente, orientada para a venda principalmente, na capital. O gás butano conheceu um incremente substancial nas últimas décadas, tanto nas zonas rurais como nas urbanas (de 1980 a 1990, o consumo aumento num 330 %, e entre 1990 e 200, situou-se nos 40 %). 2001 Registou uma oscilação negativa, possivelmente pelo aumento do preço de gás. Actualmente, o gás é utilizado como principal fonte de energia doméstica (56,8 % das famílias), sendo a fonte energética mais utilizada no país pela cocção de alimentos. O mercado de abastecimento é controlado por duas empresas, obrigadas a garantir o abastecimento no território nacional, compromisso assinado com o Governo. A eficiência energética e a inovação tecnológica são consideradas por Cabo Verde (Plano Estratégico das Energias) como um recurso alternativo, no campo das energias renováveis. O País tem uma forte dependência energética do exterior, sendo que importa cerca de 99% de combustíveis fósseis. Contudo, estão em curso uma série de projectos que uma vez implementados irão representar uma redução na ordem dos 30% (20000 toneladas/ano) na importação de produtos petrolíferos. A electricidade da rede pública continua a ser a principal fonte energética utilizada pelas famílias cabo-verdianas para iluminação, representando 58 %, seguida do uso da vela (18,7 %) e do petróleo (15,4%). O uso da electricidade é fortemente ligado à renda das famílias e as de menor renda utilizam a vela e o petróleo (Plano Nacional de Energias Domésticas (PNED). As conexões clandestinas à rede eléctrica representam 5,5 %. As lâmpadas mais utilizadas são as incandescentes (73,3%) e apenas 7,8 % das famílias utiliza lâmpadas fluorescentes. Aproximadamente 61.4 % não utiliza as lâmpadas de República de Cabo Verde, Outubro 2010 47 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS baixo consumo. Apesar da capacidade, no que diz respeito ao contributo de energias renováveis, para a produção de energia a nível nacional ser de 3,2%, na realidade nem chega a representar um ponto percentual. Isto deve-se ao facto das tecnologias utilizadas não estarem todas operacionais devido a avarias e de não haver pessoal técnico capacitado para realizar a manutenção e arranjo dos equipamentos. A contribuição de outras fontes de energia alternativas (principalmente, eólica e solar) no âmbito das energias domésticas é fraca, apesar da existência de condições excelentes para o seu aproveitamento. A energia eólica, representa ainda uma percentagem muito pequena no total da energia consumida, utilizada pela produção de electricidade. O investimento e adopção de tecnologias de energias renováveis e alternativas para a redução da utilização dos combustíveis fósseis constituem estratégias contempladas na Política Energética de Cabo Verde. 1.8 Transportes Na década de sessenta e, principalmente logo após a independência em 1975, Cabo Verde iniciou um processo de infra-estruturação e de reforço do serviço de transporte aéreo e marítimo inter-ilhas, através de companhias estatais. Graças a esta medida, o país ganhou em mobilidade e acessibilidade, ao mesmo tempo que as condições foram lançadas para que a iniciativa individual viesse a ganhar corpo, sobretudo a nível dos transportes marítimos. Em 1992, um acordo de crédito foi assinado para co-financiar o Programa de Infraestruturas e Transportes (PIT) e apoiar o Governo na coordenação global das intervenções no domínio dos transportes e infra-estruturas. No quadro do PIT foi financiada a modernização e a reabilitação de portos, aeroportos e estradas, e foram promovidos estudos técnicos e acções tendentes a imprimir uma melhor gestão no sector. O programa definiu ainda como objectivo o desenvolvimento do sector privado das obras públicas, tendo aumentado o número de empresas nacionais e, consequentemente, o nível de poluição deste sector que tem um certo peso na poluição global do país. 1.8.1 Sector Rodoviário 1.8.1.1 Redes e Infra-estruturas As estradas em Cabo Verde estão classificadas em Estradas Nacionais e Estradas Municipais. Em termos gerais, Cabo Verde apresentava em 2005 uma rede com uma extensão de 1.675 km de estradas pavimentadas (betão asfáltico, rega asfáltica, bicouche, calçada de paralelepípedos e calçada portuguesa), das quais, em termos de conservação, cerca de 30% se encontravam em bom estado e as restantes apresentavam deficiências mais ou menos graves. Para imprimir uma maior dinâmica ao sector, em termos de licenciamento, regulamentação e fiscalização, foi criado o Instituto de Estradas, órgão público que se encarrega do planeamento da rede e sua gestão, representando o Estado enquanto Autoridade Rodoviária. República de Cabo Verde, Outubro 2010 48 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.8.1.2 Transportes rodoviários O parque automóvel cresceu entre 1991 e 1999 a uma taxa média anual de 14%. Este crescimento reflecte uma renovação rápida do parque. Foram assumidas medidas legislativas tendentes a diminuir os níveis de sinistralidade, entre as quais se realçam a obrigatoriedade legal de utilização do cinto de segurança e a proibição da utilização do telemóvel pelo condutor durante a marcha do veículo. Foram também definidos legalmente limites sobre o grau máximo de ingestão do álcool ao volante. A obrigatoriedade de fazer revisões periódicas dos veículos foi instituída e foram legalmente definidas as condições para a concessão da actividade de inspecção periódica dos veículos a entidades privadas. O serviço de transporte público interurbano de passageiros é, desde há mais de 15 anos, assegurado integralmente pela iniciativa privada. Entretanto o de transporte urbano de passageiros só ficou totalmente liberalizado em Maio de 2002, com a extinção da companhia estatal Transcor. Veículos Ligeiros Pesados Motociclos TOTAL Registados (matriculados) Ligeiros Pesados Motociclos TOTAL 1995 2000 2006 TCMA 95/06 8048 2004 931 10983 15971 3466 1425 20862 28851 6216 2854 37921 12,3% 10,8% 10,7% 11,9% 1249 220 102 1571 2433 385 139 2957 2131 471 491 3093 5,0% 7,2% 15,4% 6,4% Tabela 12 - Veículos em circulação (Fonte: Plano Estratégico de Transportes 2011) 1.8.2 Sistema Marítimo Portuário 1.8.2.1 Rede e infra-estruturas portuárias As características arquipelágicas do território conferem uma grande importância ao transporte marítimo. Para além da existência de três portos que recebem tráfego internacional (Praia, Mindelo e Palmeira), todas as ilhas de Cabo Verde dispõem de infra-estruturas portuárias capazes de assegurar a acessibilidade marítima. Cabo Verde apresenta condições para se transformar numa placa giratória, regional e internacional, de passageiros e cargas. Os estudos para a criação de um sistema de transbordo marítimo mostram claramente a viabilidade desta estratégia e a sua importância para o desenvolvimento do país. Tanto o movimento de mercadorias, como o de passageiros, têm registado uma importante dinâmica de crescimento, sendo de destacar o movimento de carga contentorizada (superior a 19,2% ao ano desde 1995). Actualmente existem Planos Directores para todos os portos do país. República de Cabo Verde, Outubro 2010 49 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Regiões Portos Ilhas Barlavento Porto Novo Porto Grande Tarrafal S. Nicolau Palmeira Sal Rei Santo Antão São Vicente São Nicolau Sal Boavista Sotavento Porto Inglês Praia Vale dos Cavaleiros Furna Maio Santiago Fogo Brava Tabela 13 – Localização dos portos por região e por ilha 1.8.3 Sector Aéreo 1.8.3.1 O sistema aeroportuário O sistema aeroportuário de Cabo Verde é constituído por 3 aeroportos internacionais e 3 aeródromos, como sendo os Aeroportos Amílcar Cabral, na ilha do Sal, da Praia, em Santiago, de São Pedro, em São Vicente, de Rabil, na ilha da Boavista e os Aeródromos da Preguiça, em São Nicolau, de São Felipe, no Fogo, e do Maio na ilha do mesmo nome. Todas as infra-estruturas aeroportuárias são geridas pela empresa pública Aeroportos e Segurança Aérea, SA. Compete ainda a esta empresa o controlo e a gestão do espaço aéreo, nomeadamente da FIR oceânica do Sal. No plano institucional, Cabo Verde possui um quadro jurídico, legal e técnico-comercial de acordo com as normas internacionais. Este quadro compreende, entre outros, o Código Aeronáutico, os regulamentos relativos à Convenção de Chicago e a criação do Instituto de Aeronáutica Civil, que definem os princípios, regras e procedimentos para os participantes na aviação civil internacional e permitem assinaturas de acordos de cooperação internacional. Os acordos recentemente assinados no quadro da cooperação internacional mostraram-se úteis para Cabo Verde no que respeita tanto ao movimento dos aviões para reabastecimento e movimento de passageiros, nomeadamente turistas. 1.8.3.2 Transportes aéreos Os transportes aéreos, tanto nacionais como internacionais, são assegurados pela companhia aérea de bandeira, a TACV Cabo Verde Airlines, e outras privadas. Enquanto as linhas internacionais são equilibradas, as linhas inter-ilhas são maioritariamente deficitárias. Existem outras companhias aéreas estrangeiras que operam regularmente para os aeroportos internacionais de Cabo Verde, assegurando ligações regulares com os principais parceiros internacionais, e charters turísticos para os aeroportos do Sal, de Santiago e da Boavista. Algumas companhias efectuam escalas técnicas na ilha do Sal. República de Cabo Verde, Outubro 2010 50 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Unidade Valor absoluto (2000) Valor absoluto (2004) Fontes Nº 440.000 469.456 INE Área Km2 4.033 4.033 REQA-2008 PIB Esc 30.323,7 37.521,3 INE PIB percapita Esc 68.917,5 79.926,08 INE-CV (contas nacionais) Peso sector informal no PIB % 35% 40% Diversas (estimativa) Peso da agricultura no PIB % 7,7% 6.11% INE Peso das Pescas no PIB % 0,71 0,52 INE Peso da indústria no PIB % 26,1 26,7 INE Peso da água e electricidade no PIB % 4,1 5,0 INE Peso do sector da construção no PIB % 14,7 16,05 INE Peso do comércio % 14,7 16,07 INE Peso dos hotéis e restaurantes no PIB % 3,2 4,1 INE Peso do sector dos transportes no PIB % 12,61 10,3 INE Peso do sector das comunicações no PIB % 5,9 6,2 INE Peso dos Bancos no PIB % 2,4 2,7 INE Peso dos Serviços governamentais no PIB % 11,3 12,5 INE Peso de outros serviços no PIB % 1,4 1,4 INE Peso dos direitos e taxas/importações no PIB % 6,3 6,0 INE Critérios População Tabela 14 - Circunstâncias Nacionais de Cabo Verde (Fonte: INE - Cabo Verde, Contas Nacionais) República de Cabo Verde, Outubro 2010 51 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.9 Circunstâncias Especiais Neste item serão analisadas as circunstâncias especiais, em relação às quais existem necessidades e preocupações específicas, resultantes dos efeitos negativos das Mudanças Climáticas e/ou do impacto da implementação de medidas de resposta, de acordo com o parágrafo 8, do artigo 4, da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Em Cabo Verde foram realizados alguns estudos pontuais sobre as vulnerabilidades sectoriais face aos possíveis impactos negativos que poderão resultar dos efeitos das Mudanças Climáticas. Embora os estudos tenham abrangido os principais sectores de desenvolvimento económico, por critérios de selecção, foram considerados como prioritários os de Recursos Hídricos, Agro-silvopastoril e Turismo/Zonas Costeiras, considerados como os que, de imediato, carecem de medidas de adaptação para minimizar impactos negativos. Outros sectores, como a Saúde e Biodiversidade, também foram objecto de análise de vulnerabilidade. 1.9.1 Zonas costeiras Cabo Verde possui uma linha de costa com uma extensão total de cerca de 2.000 km com áreas urbanas e industriais, áreas de turismo intensivo e áreas naturais, rurais e de pesca. A Zona Económica Exclusiva (ZEE) cabo-verdiana possui uma área de cerca de 734.000 km2. A zona costeira cabo-verdiana, é uma área dinâmica com características biológicas, químicas, físicas e geológicas em permanente mutação, incluindo ecossistemas com grande diversidade biológica, altamente produtivos e que constituem o habitat de um grande número de espécies marinhas, as quais são particularmente vulneráveis às mudanças do clima tendo em conta a possível subida do nível do mar resultante do aquecimento global. Realça-se que as características geomorfológicas das ilhas definem um conjunto de paisagens, de onde sobressaem as zonas baixas do litoral (Quadro 13) que, a nível nacional, apresentam uma grande vulnerabilidade face a uma possível subida do nível do mar associada a situações climáticas extremas e adversas, como são os casos de tempestades com ventos fortes, chuvas intensas e ondas gigantes. Ilhas Sal Boavista Maio Santiago Santo Antão S. Vicente S. Nicolau Brava Zonas vulneráveis Baía de Palmeira, Baía de Santa Maria, Buracona, Baía da Murdeira, Ponta de Sino e Costa de Fragata Baía do Sal Rei Ribeira da Lagoa Porto da Praia, Zona Costeira da Praia Baixo, Porto da Calheta de São Miguel - Porto Formoso; Baía da Cidade Velha, Caniço, Porto de Praia Baixo e Baía do Tarrafal Cidade do Porto Novo, Vila das Pombas – Porto do Paúl, Baía de Janela, Baía de Monte Trigo, Ponta de Sol e Cruzinha Baía de S. Pedro, zonas balneares da Baía das Gatas e do Calhau Baías do Tarrafal, Preguiça e Carriçal Baía da Furna Tabela 15 - Ilhas e zonas costeiras vulneráveis República de Cabo Verde, Outubro 2010 52 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1.9.2 – Implicações gerais de uma possível subida do nível do mar nas zonas costeiras A Lei nº 44/VI/2004, de 12 de Julho, publicada no B.O. nº 20, Iª Série, estabelece que a faixa de terra de 80 metros de largura a partir da Lina da costa pertence ao Estado de Cabo Verde. O uso privado é permitido mediante regulamentos e autorização específicos a partir da tutela do Governo. Para as praias de desova da tartaruga, uma faixa de protecção de 150 metros foi estabelecida mediante despacho interno da Direcção Geral do Ambiente, como medida de protecção. Apesar da maior parte da população cabo-verdiana e, consequentemente, das actividades económicas concentrarem-se na zona costeira (cerca de 90%), desconhece-se ainda a população por unidade de comprimento de linha de costa (PLC), parâmetro considerado importante para avaliação e quantificação dos impactos directos de uma possível subida do nível do mar sobre a população. Para fins de gestão e decisão política relacionados com a melhor resposta à subida do nível do mar, o parâmetro PLC deverá ser usado conjuntamente com outras informações, tais como geomorfologia costeira, tipos de uso da terra e de actividades económicas, além de dados históricos. Em Cabo Verde, os principais efeitos de uma possível subida do nível do mar seria, entre outros, o aumento da erosão costeira, inundações parciais consoante as marés, o aumento da salinidade dos poços e furos localizados nas zonas baixas das ribeiras, a deslocação das pessoas para o interior das ilhas, o abandono de algumas infraestruturas turísticas situadas nas zonas afectadas pelas marés. Em algumas zonas costeiras são já notáveis os efeitos negativos provocados pela forte pressão humana, aliada a má gestão dos recursos costeiros e agravada pela incidência de factores naturais (vento, escoamento superficial, chuvas, marés, entre outros), com a consequente degradação das estruturas costeiras, erosão e destruição de praias. Com o objectivo de restituir e recuperar algumas das potencialidades das zonas costeiras, foram elaborados projectospiloto de adaptação, destacando-se o da Adaptação Costeira às Mudanças Climáticas (ACCC) em curso de implementação na ilha do Maio, mais precisamente na localidade da Ribeira de Lagoa. Os portos de Cabo Verde desempenham um papel importante na ligação marítima interilhas (transporte de cargas e passageiros) no comércio nacional e internacional e seriam directamente afectados por mudanças do nível do mar, o que acarretaria impactos negativos nas estruturas e operações portuárias. De um modo geral, as zonas costeiras cabo-verdianas são vulneráveis devido às características geomorfológicas que definem as diferentes configurações costeiras e paisagens topográficas de uma ilha para outra. Tanto as ilhas montanhosas como as rasas apresentam zonas costeiras vulneráveis face à ocorrência de fenómenos climáticos extremos decorrentes dos efeitos nefastos das Mudanças Climáticas. Contudo, para minimizar os impactos locais, deve-se fazer cumprir estrictamente a legislação em vigor, de modo a diminuir a pressão humana junto do litoral para evitar a total degradação da protecção costeira natural que serve de interface terra/mar. República de Cabo Verde, Outubro 2010 53 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo II INVENTÁRIO NACIONAL DAS EMISSÕES DOS GASES COM EFEITOS DE ESTUFA República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO II - INVENTÁRIO DE GASES COM EFEITOS DE ESTUFA O processo de elaboração dos inventários é um exercício constante que se deve realizar para dar a conhecer as circunstâncias nacionais em que o país evolui, em termos de emissões de GEE. Cabo Verde apresentou o seu Primeiro Inventário com a Primeira Comunicação Nacional, em 1999, tomando como base o ano de 1995. Neste documento apresenta-se o Segundo Inventário tendo como base o ano de 2000, seguindo as novas Directrizes para a Elaboração das Comunicações Nacionais das Partes não Incluídas no Anexo I da Convenção, estabelecidas na decisão 17/CP.8 da Oitava Conferência das Partes da Convenção de 2002, o que constitui uma evolução das directrizes anteriores, contidas na decisão 10/CP.2, induzindo maior consistência aos resultados, permitindo fazer comparações entre os dois anos de base (1995 e 2000), a partir de conhecimentos acumulados desde o primeiro exercício. Como directriz técnica básica, foi utilizada o manual “Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Inventories”, publicado em 1997. A ausência de informações requeridas pela metodologia foi o maior obstáculo encontrado durante este exercício, visto que, para muitas informações, não existem dados estatísticos confiáveis. Em alguns casos, a informação disponível foi recolhida com outros objectivos, implicando a necessidade de uma adaptação, com o consequente aumento da incerteza nos resultados. Mesmo com as limitações impostas pelos parcos recursos financeiros e pela indisponibilidade de informações, procurou-se apresentar um trabalho, o mais completo possível. Para melhor comparabilidade e consistência com a metodologia do IPCC, como ferramenta de cálculo foi utilizado o software produzido pelo Secretariado da UNFCCC, que segue estritamente a decisão 17/CP.8 para a compilação dos inventários dos países não Anexo I à Convenção do Clima. 2.1 Gases com Efeito de Estufa para o Ano 2000 Como determina a Convenção do Clima, o Inventário deve incluir apenas as emissões e remoções antrópicas de Gases com Efeito de Estufa (GEE). Os GEE cujas emissões e remoções antrópicas foram estimadas no presente inventário são o CO 2, o CH4, o N2O, os HFCs, os PFCs e o SF6. Alguns outros gases, como o monóxido de carbono (CO), os óxidos de nitrogénio (NOx) e outros compostos orgânicos voláteis não metánicos (NMVOCs), mesmo não sendo gases de efeito estufa directo, possuem influência nas reacções químicas que ocorrem na atmosfera. Informações sobre as emissões antrópicas desses gases foram também incluídas quando disponíveis. A seguir é apresentado o resumo das emissões e remoções antrópicas de Gases de Efeito Estufa por gás. No ano de 2000, as emissões antrópicas cabo-verdianas de GEE foram estimadas em 306,80 Gg CO2, 3,28 Gg CH4, 0,301 Gg N2O e 0,653 t HFC-134a. Entre 1995 e 2000 as emissões totais de CO2 aumentaram 11,7% e as emissões totais de CH4 e N2O aumentaram em 8,8% e 12,0%, respectivamente. As emissões de gases com efeitos indirectas sobre a mudança do clima foram também avaliadas. Com efeito, no ano de 2000, essas emissões foram estimadas em 2,03 Gg NOX, 16,87 Gg CO e 2,74 Gg NMVOC. Ver ANEXO II. Em termos de CO 2eq, com o uso do factor de equivalência Global Warming Potential (GWP) de 21 para o metano e República de Cabo Verde, Outubro 2010 54 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS de 310 para o óxido nitroso, pode-se apresentar, na Figura 11 seguinte, as emissões de GEE directas em Cabo Verde, para 1995 e 2000, com aumento de 11,3% no período. A tabela 16 resume os resultados das emissões dos diferentes GEE por sectores para o ano de 2000. República de Cabo Verde, Outubro 2010 55 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS País Cabo Verde Ano do Inventário 2000 National greenhouse gas inventory of anthropogenic emissions by sources and removals by sinks controlled by the Montreal Protocol and greenhouse gas precursors Greenhouse gas source and sink CO2 emissions CO2 removals CH4 N2O NOx categories (Gg) (Gg) (Gg) (Gg) (Gg) Total national emissions and removals 306,796 0,000 3,279 0,301 2,028 1. Energy 284,953 0,000 0,297 0,008 2,021 A. Fuel combustion (sectoral approach) 284,953 0,297 0,008 2,021 1. Energy Industries 96,223 0,007 0,001 0,261 2. Manufacturing industries and construction 20,800 0,003 0,000 0,059 3. Transport 136,658 0,013 0,002 1,497 4. Other sectors 31,271 0,274 0,005 0,203 5. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 0,000 B. Fugitive emissions from fuels 0,000 0,000 0,000 1. Solid fuels 0,000 0,000 2. Oil and natural gas 0,000 0,000 2. Industrial processes 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 A. Mineral products 0,000 0,000 B. Chemical industry 0,000 0,000 0,000 0,000 C. Metal production 0,000 0,000 0,000 0,000 D. Other production 0,000 0,000 0,000 0,000 E. Production of halocarbons and sulphur hexafluoride F. Consumption of halocarbons and sulphur hexafluoride G. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 0,000 3. Solvent and other product use 0,000 0,000 4. Agriculture 1,921 0,293 0,007 A. Enteric fermentation 1,767 B. Manure management 0,150 0,000 C. Rice cultivation 0,000 D. Agricultural soils 0,292 E. Prescribed burning of savannahs 0,000 0,000 0,000 F. Field burning of agricultural residues 0,004 0,000 0,007 G. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 5. Land-use change and forestry 1 21,843 0,000 0,000 0,000 0,000 A. Changes in forest and other woody biomass stocks 21,843 0,000 B. Forest and grassland conversion 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 C. Abandonment of managed lands 0,000 D. CO2 emissions and removals from soil 0,000 0,000 E. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 6. Waste 1,061 0,000 0,000 A. Solid waste disposal on land 1,029 0,000 B. Waste-water handling 0,032 0,000 0,000 C. Waste incineration 0,000 D. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 7. Other (please specify) 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 Memo items International bunkers 287,968 0,000 0,000 0,000 Aviation 201,631 0,000 0,000 0,000 Marine 86,337 0,000 0,000 0,000 CO2 emissions from biomass 127,159 of all greenhouse gase s not CO (Gg) 16,871 16,784 NMVOCs (Gg) 2,739 1,527 SOx (Gg) 0,000 0,000 16,784 1,527 0,040 0,013 0,000 0,000 0,102 3,802 12,840 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,004 0,739 0,772 0,000 0,000 0,000 0,000 1,167 0,000 0,000 0,000 1,167 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,087 0,000 0,045 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,087 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 1 If you have completed the LUCF section of Table 7As, these data will appear here automatically. If, however, you have used the IPCC Good Practice Guidance and Categories therein, apply the mapping back procedure for this sector and insert the correspond Tabela 16. Resultados das emissões sectoriais de Cabo Verde para o ano 2000 (Resultado das emissões de GEE - Software IPCC for Inventory GHG 2000) República de Cabo Verde, Outubro 2010 56 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS De acordo com as directrizes para inventários, a exportação de combustíveis para o tráfego marítimo e aéreo internacional não fazem parte do inventário. As contribuições do país para os Bunkers internacionais estão apresentadas na tabela 17. Bunkers Internacionais 1995 2000 Gg CO2 211,85 Aviação 18,00 Marinha Variação 1995-2000 % 201,63 -4,8 86,34 379,8 Tabela 17 – Bunkers Internacionais Figura 9 – Emissões de CO2eq em Cabo Verde, em 1995 e 2000 2.1.1 Emissões de Dióxido de Carbono (CO2) As emissões de CO2 são resultado de diversas actividades. Em geral, a principal fonte de emissão é o uso energético de combustíveis fósseis, o que se verifica também em Cabo Verde, país altamente utilizador desses combustíveis. Em Cabo Verde, o Sector de Energia é responsável por 92,9% das emissões de CO 2, sendo os restantes atribuídos ao uso das florestas. As figuras 10 e 11 resumem as emissões e remoções de CO2 em Cabo Verde, respectivamente para os Sectores de Energia (dividido em subsectores) e Mudança de Uso da Terra e Florestas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 57 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS O Sector Energia engloba as emissões por queima de combustíveis fósseis, cujas emissões em 2000 aumentaram 31,0% em relação às emissões de 1995. Em 2000, somente o subsector Transportes foi responsável por 48,0% das emissões de CO 2 no Sector Energia e 44,5% do total de emissões de CO2. O Sector de Mudança de Uso da Terra e Florestas apresentou uma redução de 61,7%, principalmente pela substituição da lenha e carvão vegetal pelo butano. 1995 2000 Sectores Participação em 2000 Gg Energia Variação 1995-2000 % 217,52 284,95 92,9 31,0 Indústrias de energia 62,10 96,22 31,4 54,9 Indústrias em geral 21,12 20,80 6,8 -1,5 Transportes 106,90 136,66 44,5 27,8 Outros usos 27,40 31,27 10,2 14,1 57,08 21,84 7,1 -61,7 274,60 306,80 100,0 11,7 Mudança do Uso da Terra e Florestas Total Tabela 18 - Emissões de CO2 em Cabo Verde Figura 10 – Emissões de CO2 em 1995 República de Cabo Verde, Outubro 2010 58 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 11 – Emissões de CO2 em 2000 2.1.2 Emissões de Metano (CH4) As emissões de CH4 são resultado de diversas actividades, incluindo as lixeiras, actividades agrícolas, queima de combustíveis fósseis, tratamento de esgotos. Em Cabo Verde, o Sector Agricultura, que inclui a actividade de pecuária, é o responsável pela maior parte de emissões de metano (58,6% em 2000), sendo a grande contribuição decorrentes da fermentação entérica (eructação) do rebanho de ruminantes. As emissões anuais de metano associadas à fermentação entérica foram estimadas em 1,767 Gg, 53,9% do total do Sector Agricultura. Os restantes das emissões no sector são resultado do manuseamento de dejectos animais e da queima de resíduos agrícolas. As emissões do sector aumentaram 8,7% no período de 1995 a 2000. No Sector Energia, as emissões de metano ocorrem devido à queima imperfeita de combustíveis. Em 2000, as emissões de CH4 no Sector Energia representaram 9,1% das emissões totais de CH4, tendo diminuído 16,1% em relação às emissões de 1995, basicamente pela redução do uso da lenha e do carvão vegetal. As emissões do Sector de Resíduos representaram 32,4% do total das emissões de CH4 em 2000, sendo a deposição de resíduos sólidos responsável por 97,0% desse valor. No período 1995 a 2000, as emissões de CH4 do Sector Lixo e Esgoto aumentaram 18,9%. República de Cabo Verde, Outubro 2010 59 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1995 2000 Sectores Participação em 2000 Gg Energia - Queima de combustíveis Variação 1995-2000 % 0,354 0,297 9,1 -16,1 Indústrias de energia 0,006 0,007 0,2 11,8 Energia - uso na indústria 0,003 0,003 0,1 -15,4 Energia - uso nos transportes 0,010 0,013 0,4 24,1 Energia - outros usos 0,334 0,274 8,4 -17,9 1,767 1,921 58,6 8,7 Fermentação entérica 1,626 1,767 53,9 8,6 Manuseamento de dejectos 0,139 0,150 4,6 7,9 Queima de resíduos 0,001 0,004 0,1 226,8 0,893 1,061 32,4 18,9 Resíduos sólidos 0,861 1,029 31,4 19,6 Efluentes 0,032 0,032 1,0 0,0 3,013 3,279 100,0 8,8 Agricultura Resíduos Total Tabela 19 – Emissões de CH4 em Cabo Verde As figuras 12 e 13 resumem as emissões nacionais de CH4 para os anos de 1995 e 2000. Figura 12 - Emissões de CH4 em 1995 República de Cabo Verde, Outubro 2010 60 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 13 – Emissões de CH4 em 2000 2.1.3 Emissões de Óxido Nitroso (N2O) As emissões de óxido nitroso (N2O) são resultado de diversas actividades, incluindo práticas agrícolas e queima de combustíveis fósseis. Em Cabo Verde, as emissões de N2O, ocorrem, predominantemente, no Sector Agricultura (97,3% em 2000), basicamente por deposição de dejectos animais em pastagem. As emissões de N 2O no sector cresceram 12% entre 1995 e 2000. Em 2000, as emissões de N 2O no Sector Energia representaram apenas 2,7% das emissões totais de N 2O, sendo a maior parte devida à queima imperfeita de combustíveis. 1995 Sectores 2000 Participação em 2000 Gg Variação 19952000 % Queima de combustíveis 0,009 0,008 2,7 -6,0 Indústrias de energia 0,001 0,001 0,3 55,9 Energia - uso na indústria 0,000 0,000 0,1 -11,0 Energia - uso nos transportes 0,001 0,002 0,5 28,9 Energia - outros usos 0,007 0,005 1,8 -17,0 0,260 0,293 97,3 12,6 Solos agrícolas 0,260 0,292 97,2 12,5 Queima de resíduos 0,000 0,000 0,1 249,2 0,268 0,301 100,0 12,0 Agricultura Total Tabela 20 – Emissões de N2O em Cabo Verde República de Cabo Verde, Outubro 2010 61 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS As figuras 14 e 15 resumem as emissões nacionais de N2O para os anos 1995 e 2000. Figura 14 – Emissões de N2O em 1995 Figura 15 – Emissões de N2O em 2000 2.1.4 Emissões de Hidrofluorcarbonos (HFCS) Os HFCs não existem originalmente na natureza, sendo sintetizados unicamente por actividades humanas. Embora Cabo Verde não produza HFCs, registou-se no ano de 2000 a importação de um total de 653 kg de HFC-134a, para utilização no sector de refrigeração. Contudo, não se registaram utilizações em outras aplicações possíveis, República de Cabo Verde, Outubro 2010 62 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS como fabricação de espumas e em extintores de incêndio. Em 1995 não se fez referência alguma quanto a importação desse produto, talvez por falta de informações. Sector 1995 Consumo em equipamentos de refrigeração Total 2000 - Toneladas 0,653 - 0,653 Participação Variação em 2000 1995-2000 % 100 100 - Tabela 21 - Emissões de HFC-134ª 2.1.5 Gases de Efeito Estufa Indirecto Diversos gases possuem influência nas reacções químicas que ocorrem na troposfera e dessa forma exercem um papel indirecto no aumento do efeito radioactivo. Esses gases incluem os óxidos de nitrogénio (NO X), o monóxido de carbono (CO) e outros compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC). As emissões desses gases são, na sua maioria, resultado de actividades humanas. As emissões de NOX são, quase na sua totalidade (99,6%), resultado da queima imperfeita de combustíveis no Sector Energia. As emissões de NO X aumentaram 24,2% no período entre 1995 e 2000. As emissões de CO são, também, quase na sua totalidade (99,5%), resultado das queimas imperfeitas no Sector Energia. O restante é resultado de queima imperfeita de resíduos no Sector Agricultura. As emissões de CO diminuíram 11,2% entre 1995 e 2000, pois estão muito associadas ao uso de lenha e carvão vegetal, cuja utilização sofreu uma redução sensível pela sua substituição progressiva pelo butano. As emissões de NMVOC são também, na sua maioria, resultado da queima imperfeita de combustíveis. Embora uma parte significativa seja proveniente da indústria de alimentos e bebidas (42,6%, em 2000), a restante é o resultado do uso de solventes (1,6% em 2000). 2.2 Emissões e Remoções Antrópicas de GEE por Sector 2.2.1 Energia - Emissões de CO2 por queima de combustíveis fósseis As emissões de CO2 em Cabo Verde originadas da queima de combustíveis foram estimadas segundo duas metodologias do IPCC (IPCC, 1997): a abordagem de referência ou Top-Down, na qual as emissões de CO2 são calculadas a partir da oferta de combustível; e a abordagem sectorial ou Bottom-Up na qual as emissões de CO2 são calculadas a partir do consumo final energético em cada sector. Apenas as emissões de CO2 correspondentes aos combustíveis fósseis foram consideradas neste capítulo, uma vez que as emissões devidas à queima de biomassa não renovável foram analisadas no capítulo de Mudança de Uso da Terra e Florestas. As estimativas das emissões baseiam-se nos dados de produção e consumo por fonte energética. Com base nas informações recolhidas junto das diversas instituições, serviços do estado, privados e particulares, foi possível elaborar um balanço energético para o país, que, contudo, não é produzido nas estatísticas oficiais. Esse exercício pode servir como orientação nos anos vindouros, não só para inventários, mas também como República de Cabo Verde, Outubro 2010 63 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS instrumento de controlo interno. Como forma de se recalcular o inventário para o ano de 1995, que já foi publicado com a Primeira Comunicação Nacional em 1999, efectuou-se o balanço energético também para esse ano, complementando-o com algumas hipóteses de ajuste. Os balanços energéticos de Cabo Verde referentes aos anos base, 1995 e 2000, calculados para este Segundo Inventário, encontram-se em Anexo. Para todos os combustíveis, a unidade de medida utilizada é a tonelada equivalente de petróleo (tep). Para energia eólica, foi considerada como energia primária (vento) a mesma quantidade retida para a energia secundária produzida (electricidade), ou seja, como um processo de eficiência 100%. Devido a falta de informações sobre os estoques, não se procedeu à sua inclusão no balanço. Para 1995, na ausência dos dados de consumo para os sectores que se presume existirem na altura, foram afectados dados proporcionais ao ano de 2000. Para usos de lenha e carvão vegetal, considerou-se a informação de que o butano está sendo utilizado cada vez mais como seus substitutos. Assim, para o consumo da lenha e do carvão utilizaram-se os dados inversamente proporcionais ao crescimento do butano que apresenta informações para ambos os anos. Valor da tep: 1 tep standard = 10.000 Mcal= 0,041868 TJ Conversão de energia eléctrica em tep: 1 MWh = 0,086 tep Top-Down O uso da metodologia Top-Down permite calcular as emissões de CO2 em função apenas da oferta de energia no país. As emissões são estimadas a partir de um balanço envolvendo a produção doméstica de combustíveis primários, as importações líquidas de combustíveis primários e secundários e a variação interna dos estoques desses combustíveis. A metodologia supõe que, uma vez introduzido na economia nacional, em um determinado ano, o carbono contido num combustível, ou é libertado para a atmosfera, ou é retido de alguma forma (como, por exemplo, através do aumento do stock do combustível, da incorporação a produtos não energéticos ou da sua retenção, parcialmente não oxidado). A grande vantagem do método Top-Down, é, portanto, não necessitar de informações detalhadas de como o combustível é utilizado pelo utilizador final ou sobre as transformações intermediárias dos combustíveis. Método Bottom-Up As emissões de CO2 são dependentes do conteúdo de carbono dos combustíveis, podendo ser calculadas, com razoável precisão, num nível de agregação alto, como o proposto na metodologia Top-Down. Mesmo assim, o manual do IPCC (1997) recomenda que sejam feitos- também os cálculos das emissões de CO2 num nível mais desagregado, o mesmo adoptado para o cálculo das emissões dos outros GEE. Seguindo essa orientação, as emissões de CO2 da queima de combustíveis foram calculadas para os diversos sectores da economia. A partir daí são feitos os cálculos, que, no caso de Cabo Verde, onde não foram incluídas as perdas de combustíveis, chega-se ao mesmo resultado que o top-down para o CO2. República de Cabo Verde, Outubro 2010 64 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Gasolina Jet-A1 (querosene de aviação) Petróleo (querosene comum) Gasóleo (diesel) Fuel oil (óleo combustível) Butano (GLP) Carvão vegetal 18,9 19,5 19,6 20,2 21,1 Fracção de oxidação do carbono 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 17,2 29,9 0,99 0,87 Conteúdo de carbono Combustível Gasoline Jet Kerosene Other Kerosene Gas / Diesel Oil Residual Fuel Oil LPG Solid Biomass Tabela 22 – Conteúdo e fracções de oxidação do carbono por tipo de combustível 2.2.1.1 Emissões de outros gases de efeito estufa por queima de combustíveis Os outros GEE estimados foram: o monóxido de carbono (CO), o metano (CH 4), os óxidos de nitrogénio (NOx), o óxido nitroso (N2O) e os compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC). Esses gases foram tratados de forma genérica, como gases “não-CO2” e foram estimados para todos os combustíveis, inclusive os derivados da biomassa. Para os gases não-CO2, introduziram-se, no software, os factores de emissão para cada caso, observando-se sector e combustível, a partir dos dados default do IPCC, uma vez que não se dispunha de informações relativas à utilização e caracterização precisa dos equipamentos. 2.2.2 Sector Processos Industriais Para este sector foram estimadas as emissões antrópicas resultantes dos processos produtivos nas indústrias e que não são resultado da queima de combustíveis, pois esses foram abordados no Sector Energia. Nesse sector foram considerados apenas os subsectores de produção de alimentos e bebidas e a utilização de hidrofluorcarbonos (HFCs), já que as outras indústrias, como as do cimento, siderúrgica ou química, potencialmente emissoras de GEE, não existem em Cabo Verde. Os hidrofluorcarbonos (HFCs) foram desenvolvidos nos anos 80 e 90 como substâncias alternativas aos CFCs e HCFCs, cujo uso foi sendo eliminado por serem substâncias que destroem a camada de ozono. Os HFCs não contêm cloro e por esse motivo não afectam a camada de ozono. No entanto, são gases de efeito estufa. Em Cabo Verde somente foram avaliados os usos de HFCs ligados ao sector de refrigeração. No Sector Alimentos e Bebidas, ocorrem emissões de NMVOC em muitos processos de transformação a partir de produtos primários, como a produção de pães, rações animais, cerveja e torrefacção do café. As emissões no país foram estimadas com base nos dados nacionais de produção, adoptando-se factores de emissão default. República de Cabo Verde, Outubro 2010 65 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.2.2.1 Uso de solvents e outros produtos O uso de solventes, de um modo geral, favorece a sua evaporação, o que configura emissões de NMVOC. Este inventário procurou identificar os sectores mais expressivos em aplicação de solventes, cientes, entretanto, do alto grau de incerteza dessas estimativas. Foram analisadas as seguintes actividades: Processamento de Espumas e Indústria de Impressão. O Sector Industrial é responsável por uma parte das emissões de CO2 por queima de combustíveis fósseis. Além dessas emissões, que são incluídas na secção 3.1, referente às emissões do Sector Energia, algumas indústrias produzem GEE como resultado dos seus processos produtivos. 2.2.2.2 Alimentos e bebidas No processamento industrial de alimentos e na produção de bebidas pode ocorrer a emissão de compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC). O IPCC apresenta factores de emissão para alguns subsectores. Na ausência de informação adicional, tais factores foram adoptados neste inventário. Na produção de bebidas alcoólicas, ocorrem emissões de NMVOC durante a fermentação de cereais e frutas. Para a estimativa dessas emissões, foram também utilizados os factores de emissão apresentados pelo IPCC. Para 1995, como não haviam dados disponíveis de produção de alimentos e bebidas, fez-se uma relação com a população economicamente activa – PEA – para se estimar os valores. Dados 1995 * 2000 2001 2002 2003 2004 População total 386.184 436.800 444900 452800 460.600 468.200 População urbana 196.954 235.521 242.814 250.276 257.945 265.849 Percentual urbano 51% 54% 55% 55% 56% 57% População Economicamente Activa 132.618 150.000 153.000 155.700 159.000 178.000 * Estimada a população urbana com base no crescimento percentual observado. A PEA estimada de acordo com a total. Tabela 23 – Dados da população Processo de produção de alimentos Produção 1995 Factor de emissão 2000 t Carnes, peixes e aves Pães Rações animais Torrefacção de café Kg NMVOV / t 5.208,00 5.890,60 0,30 12.109,27 13.696,40 8,00 8.665,45 9.801,20 1,00 77.295,15 87.426,00 0,55 Tabela 24 - Processo de produção e factores de emissões (Fonte:IPCC,1996) República de Cabo Verde, Outubro 2010 66 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Bebidas Vinho Cervejas Destilados Produção Factor de Emissão 1995 2000 hL 102,38 13.735,70 58.786,97 115,8 15.536,0 66.492,0 Kg / hL 0,080 0,035 15,000 Tabela 25 – Factores de emissões por tipos de bebidas produzidas 2.2.2.3 Emissões relacionadas ao consumo de hidrofluorcarbonos (HFCs) Em refrigeração e condicionamento do ar, os HFCs estão a ser utilizados como uma das principais alternativas aos CFCs, como fluidos refrigerantes. Esse foi praticamente o único sector em que houve utilização de HFCs no período deste inventário. Como o uso dos HFCs no país é ainda pequeno, optou-se por utilizar a metodologia simplificada (Tier 1), que permite fazer uma estimativa do potencial das emissões, segundo a fórmula: Potencial de Emissões = Produção + Importação - Exportação - Destruição Como não há produção, exportação ou destruição de gases em Cabo Verde, o potencial de emissões igualou-se à quantidade importada, em 2000, 653 kg de HFC-134a para uso em refrigeração. 2.2.2.4 Uso de solventes e outros produtos Neste capítulo são apresentadas as séries de emissões de NMVOC (non methanic volatile organic compounds) provenientes do uso de solventes. Seguindo a abordagem da metodologia, são realçadas as actividades de Processamento de Espumas e Indústria de Impressão. 2.2.2.5 Processamento de espumas de poliestireno A produção de espumas ocorre pela acção de um agente de expansão. No caso das espumas de poliestireno, utilizadas, principalmente, nos sectores de isolamento e embalagens, esse agente é o pentano. Já para as espumas flexíveis, utiliza-se água como agente de expansão. De acordo com CORINAIR (1996), o agente de expansão é incorporado às espumas na proporção de 6%, antes da expansão (Fonte: Primeiro Inventário Brasileiro de GEE). Assim, para a quantificação das emissões de NMVOC nessas actividades, é necessária a série referente à produção de espumas EPS. Actividade 1995 2000 t Produção de espumas 140,49 158,90 Tabela 26 – Produção de espumas República de Cabo Verde, Outubro 2010 67 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.2.2.6 Indústria de impressão A metodologia simples proposta para a quantificação das emissões de NMVOC nessa actividade requer o conhecimento das séries históricas do consumo de tintas verificadas nos sectores de imprensa, publicação/edição, embalagens (provavelmente os sectores de maior peso) e outros. Assim sendo, dada a ausência de estatísticas consolidadas nesses sectores e com o objectivo de se prover uma estimativa, ainda que preliminar e à semelhança do que foi feito em outros sectores, recorreu-se, nesta fase, às médias dos factores de emissão percapita observados em outros países, associando-as com a população economicamente activa. Com base no Primeiro Inventário Brasileiro de GEE, que utilizou um factor de emissão médio para esta actividade de 0,7 kg/pessoa/ano, média das emissões percapita para um conjunto seleccionado de países, principalmente da Europa, optou-se para Cabo Verde um valor inferior, de 0,3 kg/pessoa/ano. 1995 2000 PEA 132.618 150.000 Emissões NMVOC - Gg 0,039785 0,045000 Tabela 27 – Dados população economicamente activa e emissões NMVOC (Gg) 2.2.3 Agropecuária A fermentação entérica dos animais ruminantes herbívoros, que faz parte da sua digestão, é uma das maiores fontes de emissão de CH4 no país. Os sistemas de manuseio de dejectos animais podem causar emissões de CH4 e N2O. A queima de resíduos agrícolas, imperfeita por ser feita naturalmente no campo, produz emissões de CH4, N2O, NOX, CO e NMVOC. O CO2 emitido não é considerado como uma emissão líquida, pois, através da fotossíntese, a mesma quantidade é necessariamente absorvida durante o crescimento das plantas. Em Cabo Verde a prática de queima de resíduos agrícolas praticamente se restringe às culturas do milho e feijões. A emissão de N2O em solos agrícolas ocorre como consequência da aplicação de fertilizantes nitrogenados, tanto de origem sintética como animal e da deposição de dejectos de animais em pastagem. Também os resíduos vegetais deixados no campo, fonte de nitrogénio, são considerados fontes de emissão de óxido nitroso. A agricultura e a pecuária estão reunidas neste sector, em que as emissões de GEE ocorrem por diversos processos. A fermentação entérica nos ruminantes é uma das fontes de emissão de metano mais importantes no país. Também na pecuária, os sistemas de manuseio de dejectos animais são responsáveis pelas emissões de metano e óxido nitroso. A queima imperfeita de resíduos agrícolas produz emissões de metano, óxido nitroso, óxido de nitrogénio, monóxido de carbono e outros compostos orgânicos voláteis. Em Cabo Verde essa prática ocorre, sobretudo, nas culturas de milho e de feijão. A emissão de óxido nitroso em solos agrícolas ocorre principalmente pela deposição de dejectos de animais em pastagem e também pelas práticas fertilização do solo. Essas últimas incluem o uso de fertilizantes sintéticos e produtos de manuseamento de dejectos animais. Finalmente, emissões ocorrem também como República de Cabo Verde, Outubro 2010 68 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS consequência da combustão imperfeita que ocorre durante a queima de um determinado coberto vegetal natural. 2.2.3.1 Pecuária 2.2.3.1.1 Fermentação entérica A produção de metano é parte do processo digestivo normal dos animais ruminantes, ocorrendo em menor quantidade noutros animais herbívoros. População animal 1995 2000 Cabeças 21.728 274.330 9.010 112.997 69.718 13.957 Bovino não leiteiro Aves (galinhas, patos e perus) Ovinos Caprinos Suínos Outros (equídeos, muares, asinino) 22.108 308.725 9.861 131.287 74.002 15.530 Dejectos kg N/cab/ano 40,0 0,6 12,0 40,0 16,0 40,0 Tabela 28 – População animal em Cabo Verde 2.2.3.1.2 Manuseio de dejectos animais Quando o material orgânico dos dejectos animais é decomposto sob condições anaeróbias, bactérias metanogénicas podem produzir quantidades consideráveis de metano. Essas condições são favorecidas, quando os dejectos forem deixados na forma líquida (em lagoas, charcos e tanques). Sistemas de Manuseio Pastagem Daily Spread Bovino 10% 90% Aves 0% 100% Suínos 0% 100% Ovinos 15% 85% Outros* 0,2 0,8 Tabela 29 – Sistemas de manuseio de pastagem e Daily Spread por categoria de animal As estimativas das emissões de CH4 foram feitas utilizando a metodologia simplificada, através do uso dos factores de emissão default. O manuseio de dejectos animais também pode produzir emissões de N2O, durante seu processamento, dependendo do sistema utilizado. Os dejectos processados são eventualmente utilizados como fertilizante, caso do sistema daily spread. As emissões de N2O induzidas após a adição dos dejectos animais no solo, incluindo os dos animais em regime de pastagem foram estimadas na secção que abrange as emissões provenientes da adição do nitrogénio nos solos agrícolas. As estimativas das emissões de N2O foram feitas utilizando a metodologia recomendada pelo IPCC (1997), considerando a contribuição dos sistemas de manuseamento utilizados. Foram utilizados valores default. República de Cabo Verde, Outubro 2010 69 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.2.3.1.3 Queima de resíduos agrícolas Apesar de a queima de resíduos libertar uma grande quantidade de CO 2, ela não é considerada como uma emissão líquida, pois, através da fotossíntese, a mesma quantidade de CO2 é possivelmente absorvida durante o crescimento das plantas. Porém, durante o processo de combustão, outros gases, além do CO 2, são produzidos. As taxas de emissão desses gases dependem do tipo da biomassa e das condições da queima. Na fase de combustão com chama, são produzidos os gases N 2O e NOx, sendo que CO e CH4 são formados sob condições de queima com predomínio de fumaça. Em Cabo Verde, essa prática é observada, sobretudo, nas culturas de milho e feijão durante a preparação dos terrenos para a campanha pluvial. Cultura 1995 ha Milho Feijões 31.066 27.080 1000 t 8,166 1,808 2000 ha 30.626 28.140 1000 t 24,341 7,310 Relação resíduocultura Fracção de matéria seca Fracção queimada no campo Fracção oxidada Fracção de C no resíduo N/C 1,0 2,1 0,4 0,3 0,1 0,1 0,9 0,9 0,47 0,50 0,02 0,05 Tabela 30 – Dados das culturas de milho e feijão 2.2.3.2 Emissões de N2O provenientes de solos agrícolas A utilização de fertilizantes nitrogenados é apontada como o principal motivo do aumento global das emissões de N2O a partir dos solos agrícolas. Emissões de N2O ocorrem também pela aplicação de esterco animal como fertilizante e pela deposição atmosférica de NH3 e NOx. As emissões de N2O provenientes dos solos agrícolas foram subdivididas em três categorias, de acordo com o IPCC, como sendo i) emissões de N2O provenientes dos dejectos de animais em pastagem, ii) outras fontes directas da emissão de N2O, que incluem o uso de fertilizantes sintéticos, o nitrogénio de dejectos animais utilizados como fertilizantes, a fixação biológica de nitrogénio e os resíduos de colheita e iii) fontes indirectas da emissão de N2O, a partir do nitrogénio utilizado na agricultura, que incluem a volatilização e subsequente deposição atmosférica de NH 3 e NOx provenientes da aplicação de fertilizantes e a lixiviação e o escoamento de nitrogénio proveniente dos fertilizantes. 2.2.3.2.1 Emissões de N2O devidas aos animais em pastagem Os dejectos animais depositados nos solos pelos animais durante a pastagem são considerados as fontes mais importantes de emissões de N2O por solos agrícolas. Para as estimativas da emissão de N2O foram adoptados os factores default do IPCC para o conteúdo de nitrogénio nos dejectos e para o factor de emissão de N 2O por quantidade de nitrogénio depositado. República de Cabo Verde, Outubro 2010 70 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.2.3.2.2 Emissões de N2O por outras fontes directas No que respeita a emissão por outras fontes directas, há a considerar as relativas a: a) Uso de fertilizante sintético – Uma parte dos fertilizantes nitrogenados sintéticos utilizada é emitido para a atmosfera na forma de N2O. Na ausência de estudos específicos de factores de emissão, foram utilizados os factores default do IPCC; Aplicação de adubo químico 1995 69.735,98 Kg 2000 87.169,98 Kg Tabela 31 – Uso de adubo b) Uso de esterco como fertilizante - Com base na experiência de especialistas que acompanham as práticas utilizadas em Cabo Verde, considerou-se que apenas os dejectos manuseados com o sistema daily spread são aplicados no campo como fertilizante. Para os factores de emissão de N2O foram adoptados os valores default do IPCC; c) Fixação biológica de nitrogénio - Em Cabo Verde, embora esse processo tenha sido investigado, não existem dados suficientes para análise que se requer, utilizando a metodologia do IPCC; d) Resíduo de colheitas - O nitrogénio contido nos resíduos das culturas que são incorporadas no solo é também fonte de emissão de N 2O. No entanto, não foram feitas estimativas nesse sentido; e) Solos com alto conteúdo de matéria orgânica - Em Cabo Verde os solos existentes são pouco expressivos em termos de elevado conteúdo da matéria orgânica. 2.2.3.2.3 Emissões de N2O por fontes indirectas No seguimento das directrizes, é também necessário apontar neste capítulo os seguintes factores: Deposição atmosférica de NH3 e NOx Parte do nitrogénio contido nos fertilizantes sintéticos e nos dejectos animais utilizados como fertilizantes volatilizam na forma de NH3 e NOx. Essa parte é deduzida quando se estimam as emissões devidas às fontes directas. Ocorre que parte desses gases NH3 e NOx volta a se depositar na superfície terrestre, podendo originar emissão de N 2O se essa disposição ocorrer em solos agrícolas. É impossível determinar em que área essa disposição irá, de facto, ocorrer, podendo, inclusive, ser nos oceanos. Da mesma forma, NH3 e NOx originados de outras fontes, como combustão, podem depositar-se em solos agrícolas. Portanto, a incerteza sobre essa parte de emissões é muito grande. Adoptou-se República de Cabo Verde, Outubro 2010 71 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS o critério de considerar a deposição total correspondente aos gases volatilizados a partir dos solos agrícolas. Assim, foram utilizados os factores default do IPCC; e Lixiviação e escoamento superficial de nitrogénio Parte do nitrogénio que é aplicado aos solos agrícolas através de fertilizantes sintéticos ou dejectos animais é lixiviada e através de escoamentos superficiais podem penetrar no mar. Nesses ambientes ocorrem também emissões de N2O que são classificadas como emissões indirectas da aplicação de fertilizantes. Utilizaram-se os factores default do IPCC para esse cálculo. EF1 0,0125 Kg N2O-N/Kg N aplicado EF3 0,02 Kg N2O-N/Kg N excretado EF4 0,01 Kg N2O-N/Kg NH3-N e NOx-N emitido 0,025 Kg N2O-N/Kg N EF5 Fracção de N excretada e aplicada ao solo na pastagem - FracGRAZ Fracção de N excretada emitida como NO x e NH3 FracGASM Fracção do nitrogénio aplicado ao solo como fertilizante sintético que volatiliza como NH3 e NOx FracGASFS Fracção do nitrogénio adicionado ao solo que é perdida por lixiviação ou escoamento superficial - FracLEACH 0,02 Kg N2O-N/Kg N excretado 0,2Kkg NH3-N e NOx-N/Kg esterco aplicado 0,1 kg NH3-N e NOx-N/kg fertilizante aplicado 0,3 kg N perdido por lixiviação ou escoamento / kg fertilizante Tabela 32 – Factores usados para as emissões de solos 2.2.4 Mudanças do Uso da Terra e Florestas Para estimativas desse sector, avaliou-se apenas o crescimento das florestas plantadas e retiradas de lenha para uso directo ou para produção do carvão. Para o crescimento das árvores adoptou-se um valor de 1,8 t/ano, considerando matéria verde. Para conversão da matéria seca, considerou-se 30% de humidade e foi aplicado o valor de 0,7 para o crescimento corrente anual. Em relação aos dados da área plantada para o inventário de 2000, a área inicialmente informada pelo PAFN sobre arborizações em Cabo Verde, indicava um valor quase o dobro dos dados mais actualizados do IFN, provavelmente devido à mortalidade dos plantios. Para se estimar 1995 nas mesmas bases, aplicou-se a mesma redução ocorrida nos dados do PAFN para este ano, conforme indica a tabela a seguir. Fonte de informação 2000 1995 ha Dados PAFN - arborização 82.094 76.016 Dados IFN - correcção 44.089 40.825 Tabela 33 – Correcção de áreas plantadas em Cabo Verde República de Cabo Verde, Outubro 2010 72 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Os dados da lenha e carvão vegetal, tanto para uso residencial quanto para a indústria, tiveram um tratamento especial neste inventário. Dada a inexistência de estudos específicos, para se manter um número mais preciso do consumo em 1995, considerouse que, de 1990 para 2000, houve uma redução no uso da lenha e aumento do uso do gás butano, conforme os estudos do sector energético, apontando uma substituição de combustíveis. Portanto, para calcular a lenha e carvão de 1995, foi usada uma proporcionalidade inversa com o butano (GLP), conforme indica a tabela a seguir. Consumo 2000 1995 t Lenha domiciliar Carvão domiciliar Lenha industrial Carvão industrial Total Butano 92.782 165 2.873 561 96.381 10.500 113.558 202 3.516 687 117.963 8.579 Variação 95-00 % -18 -18 -18 -18 -18 22 Tabela 34 – Cálculo da lenha para 1995 Foi estimado que uma tonelada de lenha produz 333 kg de carvão; que uma tonelada de lenha = 0,33 tep e que uma tonelada de carvão = 0,646 tep. Assim, conseguiu-se estimar a quantidade de lenha que entra na carvoaria e o carvão produzido foi posteriormente utilizado no balanço energético. Considerou-se a fracção de 50% de carbono na matéria seca. 2.2.5 Lixo e Esgoto A deposição de resíduos sólidos e o tratamento de esgotos domésticos ou industriais podem produzir emissões de GEE. Emissões de metano (CH 4) ocorrem tanto devido à deposição de resíduos sólidos como do tratamento anaeróbio de esgotos e águas residuais. As emissões de óxido nitroso (N2O) também ocorrem devido ao tratamento de esgotos domésticos. Para a aplicação da metodologia proposta pelo IPCC é necessário conhecer o total da população urbana, as condições de tratamento dos efluentes e de deposição de resíduos. Isso implica determinar o volume de resíduos produzido, a concentração de matéria orgânica presente, a forma de deposição dos resíduos sólidos e os sistemas de tratamento de esgotos. De realçar que, pelas escassas informações do sector, o grau de incerteza é muito elevado. 2.2.5.1 Deposição de resíduos sólidos Os depósitos de lixo, aterros, entre outros, produzem metano quando os resíduos encontram-se sob condições propícias. Essa produção varia de local para local, em função de factores como quantidade de resíduos, idade do depósito, presença do ambiente anaeróbio, acidez e condições construtivas e de manuseamento. Quanto maior forem as condições de controlo dos aterros e profundidade das lixeiras que melhoram as suas condições sanitárias, maior é o potencial de emissão de metano. De um modo geral, as condições dos locais de deposição de resíduos sólidos, em Cabo Verde, são República de Cabo Verde, Outubro 2010 73 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS precárias e não existe um levantamento detalhado dessas condições nem da composição média dos resíduos. Por isso, foram utilizados os valores default do IPCC (1997). Foi usada a taxa de 0,54 kg/hab/dia de produção de resíduos, para ser aplicada à população urbana e se determinar o total de resíduos. Dessa quantidade, 60% vai para lixeiras, que têm em média um factor de correcção de metano MCF de 0,6, com uma fracção de componente orgânico (DOC) de 0,12 e uma fracção do DOC que realmente degrada de 0,77. Do total do carbono que é libertado, 50% escapa como metano. 2.2.5.2 Tratamento de esgotos Os efluentes com um alto grau de conteúdo orgânico, como o esgoto doméstico, são fontes de emissões de óxido nitroso em função do conteúdo de nitrogénio na alimentação humana. De realçar que, no presente inventário, não se fez nenhuma estimativa de emissões relativas a essa categoria. 2.2.5.3 Esgotos domésticos e comerciais Foi utilizada a produção anual por mil habitantes de 13.505 kg DBO, de acordo com valor default do IPCC, para África. Por default do IPCC, 5% é tratado em biodigestores, com MCF de 0,8. Com isso, o factor de emissão é de 0,01 kg CH 4/ kg DBO5. 2.2.5.4 Esgotos Industriais Em Cabo Verde, os efluentes da produção industrial de alimentos e bebidas não foram avaliados por serem poucos expressivos. 2.3 Conclusões No ano de 2000, as emissões antrópicas cabo-verdianas de GEE foram estimadas em 306,80 Gg de Dióxido de Carbono (CO2), 3,28 Gg de Metano (CH4), 0,301 Gg de Óxido Nitroso (N2O) e 0,653 t de Hidrofluorcarbonos (HFC-134a). Entre 1995 e 2000 as emissões totais de CO2 aumentaram 11,7% e as do CH4 e N2O 8,8% e 12,0%, respectivamente. Em termos de CO2eq, para o período de 1995 e 2000 houve um aumento de 11,3% nas emissões directas de GEE em Cabo Verde. À semelhança de muitos países, Cabo Verde é também um grande utilizador de combustíveis fósseis que são a principal fonte de emissão de GEE, o que faz com que o Sector de Energia seja responsável por 92,9% das emissões de CO2, sendo os restantes atribuídos ao sector de Mudanças de Uso das Florestas. De notar que o Sector Energia engloba as emissões por queima de combustíveis fósseis, cujas emissões em 2000 aumentaram 31,0% em relação às emissões de 1995. Em 2000, somente o subsector Transportes foi responsável por 48,0% das emissões de CO 2 no Sector Energia e 44,5% do total de emissões de CO2. Para o período 1995 e 2000, o Sector Mudança de Uso da Terra e Florestas apresenta uma redução de 61,7% das emissões de CO2, devido a maior utilização do gás butano em substituição da lenha e carvão vegetal. As emissões de CH4 são resultado de diversas actividades, incluindo as lixeiras, actividades agrícolas, queima de combustíveis fósseis e tratamento de esgotos. República de Cabo Verde, Outubro 2010 74 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Em Cabo Verde, o Sector de Agricultura, que inclui a actividade de pecuária, é o responsável pela maior parte de emissões de metano (58,6% em 2000), sendo a grande contribuição decorrente da fermentação entérica (eructação) do rebanho de ruminantes. As emissões anuais de CH4 associadas à fermentação entérica foram estimadas em 1,767 Gg, 53,9% do total do Sector Agricultura. O restante das emissões no sector é resultado do manuseamento de dejectos animais e da queima de resíduos agrícolas. As emissões do sector aumentaram 8,7% no período de 1995 a 2000. No Sector Energia, as emissões de CH4 ocorrem devido à queima imperfeita de combustíveis. Em 2000, as emissões de CH4 no Sector Energia representaram 9,1% das emissões totais de CH4, tendo diminuído 16,1% em relação às emissões de 1995, basicamente pela redução do uso da lenha e do carvão vegetal. As emissões do Sector de Resíduos representaram 32,4% do total das emissões de CH 4 em 2000, sendo a disposição de resíduos sólidos responsável por 97,0% desse valor. No período 1995 a 2000, as emissões de CH4 do Sector Lixo e Esgoto aumentaram 18,9%. As emissões de óxido nitroso (N2O) são resultado de diversas actividades, incluindo práticas agrícolas e queima de combustíveis fósseis. Em Cabo Verde, as emissões de N2O, ocorrem, predominantemente, no Sector Agricultura (97,3% em 2000), basicamente por deposição de dejectos animais em pastagem. As emissões de N2O no sector cresceram 12% entre 1995 e 2000. Em 2000, as emissões de N2O no Sector Energia representaram apenas 2,7% das emissões totais de N2O, sendo a maior parte devida à queima imperfeita de combustíveis. Os HFCs não existem originalmente na natureza, sendo sintetizados unicamente por actividades humanas. Cabo Verde não produz HFCs, mas, em 2000, registou-se a importação de 653 kg de HFC-134a para utilização no sector de refrigeração. Contudo, não se registou utilizações em outras aplicações possíveis, como fabricação de espumas e em extintores de incêndio. Em 1995, não se fez referência alguma quanto a importação desse produto, talvez por falta de informações. Diversos gases possuem influência nas reacções químicas que ocorrem na troposfera e dessa forma exercem um papel indirecto no aumento do efeito radioactivo. Esses gases incluem os óxidos de nitrogénio (NO X), o monóxido de carbono (CO) e outros compostos orgânicos voláteis não metánicos (NMVOC). As emissões desses gases são, em sua maioria, resultado de actividades humanas. As emissões de NOX são, quase na sua totalidade (99,6%), resultado da queima imperfeita de combustíveis no Sector Energia. As emissões de NO X aumentaram 24,2% no período entre 1995 e 2000. Também as emissões de CO são, quase na sua totalidade (99,5%), resultado das queimas imperfeitas no Sector Energia. O restante é resultado de queima imperfeita de resíduos no Sector Agricultura. As emissões de CO diminuíram 11,2% entre 1995 e 2000, pois estão muito associadas ao uso de lenha e carvão vegetal que sofreram uma redução sensível pela sua substituição progressiva pelo butano. As emissões de NMVOC são também, na sua maioria, resultado das queimas imperfeitas de combustíveis, mas uma parte significativa é proveniente da indústria de alimentos e bebidas (42,6% em 2000), as restantes são resultantes do uso de solventes (1,6% em 2000). República de Cabo Verde, Outubro 2010 75 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.4 Dificuldades Encontradas As dificuldades encontradas na elaboração Inventário de Gases com Efeitos de Estufa no quadro da SCN-MC de Cabo Verde situam-se, sobretudo a (i) nível técnico associadas à gestão de dados: recolha, falta de dados para alguns sectores, dispersão de dados, privacidade de certos dados, ausência de banco de dados e na utilização versão inglesa do software do IPCC para o inventário, dificultando o processamento de dados por determinadas categorias de fontes de emissões, devido à tradução e (ii) a nível temporal associadas à gestão do tempo: o prazo/período (30 dias) para a realização dos inventários sectoriais é insuficiente para identificar e solucionar todas as questões de recolha, análise, compilação de dados e produção de uma bibliografia completa. Convém realçar os seguintes aspectos que, de um modo ou de outro, dificultaram o processo de condução do inventário: A dispersão dos dados de actividade a nível de vários agentes económicos; A não-regularidade das actividades de recolha e arquivo de dados. Existem poucas instituições que fazem o preenchimento de fichas de registos de dados. Na maioria das vezes, os dados, se disponíveis, encontram-se em formato de papel, tornando-se difícil a sua localização nos respectivos arquivos das instituições; A não existência a nível local de factores de emissão e de conversão, o que obriga a utilização dos disponibilizados pelo IPCC ou países da sub-região; Falta de dados desagregados por sector, o que implica uma perda de tempo na separação e classificação dos mesmos por categoria; Não respeito pelo prazo prometido para respectivo envio de dados solicitados; Falta de publicação de dados subsectoriais; Incoerência entre os dados, o que impõe a produção de dados por estimativas. A nível sectorial Energia A ausência de informações básicas requeridas pela metodologia do IPCC foi o maior obstáculo encontrado neste levantamento, pois continua a existir uma grande escassez de dados estatísticos confiáveis, como é o caso, por exemplo, dos dados desagregados dos consumos dos sectores produtivos da economia; não existência de factores de emissões locais. Processos Industriais certa confidencialidade de alguns dados; dados não detalhados; falta de dados de produção de determinados produtos; falta de dados consistentes sobre actividades como: aplicação de tintas, Limpeza a seco, processamento de espumas de polietireno e de poliuretano, indústria de impressão, extracção de óleos vegetais comestíveis, uso doméstico, aeração de asfalto e preservação de madeira República de Cabo Verde, Outubro 2010 76 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Agricultura e pecuária existência de dados incompletos e não detalhados, principalmente no que diz respeito aos efectivos de animais por categorias, às áreas cultivadas, às produções e aos rendimentos das culturas, aos insumos agrícolas, etc; falta de dados sobre os fertilizantes sintéticos utilizados em Cabo Verde; existência de alguns dados concretos a partir apenas de 2004 ; inexistência de factores de emissão e parâmetros nacionais referentes às diferentes actividades agrícolas. Mudança Uso de terras e Florestas dados de pesquisas: Inquéritos irregulares; falta de publicação do inquérito florestal; fontes dispersas de dados sobre áreas florestadas. indisponibilidade de dados detalhados; informações díspares sobre as áreas, produtividade, consumo de lenha, etc. Resíduos sólidos inexistência de dados relativos à quantidade de águas residuais que é lançada na rede pública e no mar; falta de dados relativos ao tratamento de resíduos líquidos de origem industrial. República de Cabo Verde, Outubro 2010 77 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.5 Recomendações No quadro da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um Inventário Nacional de GEE constitui um instrumento fundamental do país, que servirá na identificação de projectos de mitigação que podem ser inscritos nas oportunidades do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O balanço energético é importante, não só para o inventário, mas também para se conhecer as circunstâncias nacionais em que o país evolui em termos de emissões de GEE a partir do sector energético. À semelhança de outros países, para este sector, Cabo Verde deve inscrever no seu programa de actividades a realização anual do seu balanço energético com informações precisas sobre as perdas que ocorrem por diversos motivos (perdas na distribuição eléctrica, combustíveis perdidos ou derramados, ajustes, etc). A avaliação de sectores como uso das florestas pode ser a base para o planeamento a médio e longo prazo das realizações do país, em termos energéticos, permitindo-o melhor preparar o futuro. De um modo geral, tendo em atenção que a maior dificuldade encontrada na elaboração do presente inventário foi na recolha de dados relativos aos diferentes sectores, recomenda-se a criação de arquivos, quer por conservação de registos em formato papel ou transformação destes em formato digital, que irão funcionar como base de dados. A utilização deste suporte técnico de gestão de dados facilitará aos diferentes utilizadores uma análise consistente e a devida identificação das fontes bibliográficas. Convém realçar que, quanto mais informações sectoriais sobre as actividades do país, melhor. Contudo, para tal torna-se necessário fortalecer o sector de estatísticas, a fim de permitir a concentração e publicação de dados fiáveis e credíveis. República de Cabo Verde, Outubro 2010 78 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2.5.1 Recomendações Específicas Para reforçar e melhorar a qualidade dos próximos inventários de GEE, convém tecer as seguintes recomendações específicas: 1. Estabelecer um banco de dados, onde devem constar os dados necessários para a elaboração do inventário de GEE. A existência de um Banco de Dados irá acelerar o processo do inventário e facilitará na actualização dos dados e permitirá que as emissões de GEE sejam monitorados anualmente; 2. Analisar de forma detalhada a qualidade dos dados sectoriais e subsectoriais a serem utilizados na elaboração do inventário de GEE a fim de garantir uma maior precisão das estimativas, reduzindo, assim, eventuais incertezas associadas aos resultados do inventário; 3. Considerar a elaboração do inventário de GEE como uma actividade anual, o que significa que os esforços de redução das emissões de GEE possam ser monitorados de forma mais precisa e controlada; 4. Fornecer apoio adicional para permitir a conclusão dos estudos ou pesquisas para gerar as informações necessárias para a criação de inventários qualidade; 5. Realizar investigações para refinar a estimativa de árvores fora das florestas, incluindo árvores em áreas urbanas e rurais; 6. Proceder ao reforço da capacidade dos técnicos locais de modo a promover estudos para determinação dos factores de emissão e conversão, a fim de garantir uma melhor qualidade do inventário nacional de GEE; 7. Integrar no próximo recenseamento da agricultura e da pecuária, preocupações relacionadas com os inventários do Sector Agricultura; 8. Registar dados detalhados sobre a produção alimentar, através do número de produtos de padaria e de consumo total nacional; 9. Realizar um inquérito sobre a composição dos resíduos sólidos urbanos; 10. Elaborar um inventário florestal nacional para um melhor conhecimento do potencial na sequestração de carbono; 11. Criar um mecanismo eficaz de monitorização da progressão de áreas cultivadas e as queimadas a fim de permitir uma melhor avaliação do sector Mudança no Uso de Terras e Florestas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 79 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo III CAPACIDADE DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO III - CAPACIDADE DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DOS GEE Tendo em consideração que entre o período 1995 e 2000 as emissões antrópicas caboverdianas dos principais Gases com Efeitos de Estufa (CO 2 11,7%; CH4 8,8% e N2O 12,0%) aumentaram e que de um modo global houve um aumento de 11,3% nas emissões directas convém ter em atenção algumas estratégias de mitigação dos efeitos dos GEE a fim de reduzir os impactos nefastos sobre o ambiente. Cabo Verde como um grande utilizador de combustíveis fósseis, que é a principal fonte de emissão de GEE, faz com que o sector energético seja responsável por 92,9% das emissões de CO 2, por queima de combustíveis fósseis. Em 2000, somente o subsector de Transportes foi responsável por 48,0% das emissões de CO2 no sector energia e 44,5% do total de emissões de CO2, sendo as restantes repartidas entre outros subsectores de indústrias de energia (31.4%), indústrias em geral (6.8%) e outros usos (10.2%) e sector mudança no uso de terras e florestas (7.1%). A Biomassa proveniente da cobertura vegetal original do país, é escassa e a sua disponibilidade tem-se deteriorado rapidamente devido às secas prolongadas e alguns cortes inoportunos. Entretanto, existe um potencial em energia lenhosa proveniente das florestas, geradas no âmbito de programas de reflorestações levados a cabo de 1975 a esta parte pelo Estado de Cabo Verde. Face ao aumento demográfico e ao desenvolvimento económico o país vem-se organizando no sentido de se criar mecanismos estratégicos de intervenção sectoriais como forma de imprimir uma certa capacidade de mitigação dos GEE recorrendo cada vez mais às potencialidades energéticas locais, em termos de recursos naturais (eólico, solar, geotermia, hídrico, hidrogénio, co-geração, marés, e outros), através de utilização de tecnologias limpas. O recurso a esses tipos de produção de energia promove uma melhor conservação e eficiência energética e diminuirá de forma considerável a utilização dos combustíveis fósseis nos diversos subsectores de energia, tais como, transportes e residencial pelas necessidades de climatização, refrigeração. Na óptica de atenuação dos efeitos de GEE, o plano energético do país para os próximos 10 anos, prevê: i Atingir uma taxa de penetração de energias renováveis de 25% até 2011, 50% até 2020 e ter pelo menos uma das ilhas a 100% renovável; ii Promover a conservação de energia e da eficiência do sector energético; iii Lutar contra fraude e roubo de energia; iv Expandir a capacidade de produção de energia eléctrica (Centrais Únicas, Aumento da eficiência na produção e distribuição e da capacidade de resposta e de satisfação das necessidades energéticas; e v Garantir uma cobertura em energia eléctrica de 95% até 2011, 100% até 2015 e a garantia de uma maior qualidade e fiabilidade no acesso à energia bem como a redução do custo de electricidade. República de Cabo Verde, Outubro 2010 80 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 16 - Evolução das emissões de CO2 no Sector Energético (2000-2010) Esta figura materializa para o ano 2012 a redução, em termos de emissões do CO 2, no sector energético com a penetração das energias renováveis contribuindo assim para uma diminuição consideração na importação e utilização de combustíveis fósseis para produção industrial, electricidade, entre outros. 3.1 Subsector Residencial O sector residencial consumiu 45.816 Teps em 2000 correspondente a 43,7% do consumo interno líquido, constituído essencialmente pelo consumo de 9486 Teps de Butano, 1283 Teps de petróleo de iluminação, 30.655 Teps de lenha e outras biomassas e 4393 Teps de electricidade. De notar que para o período 1995 e 2000, o sector Mudança de Uso da Terra e Florestas apresenta uma redução de 61,7% das emissões de CO2, devido a maior utilização do gás butano em substituição da lenha e carvão vegetal. A categoria “Baixa tensão” inclui fundamentalmente o sector residencial, “baixa tensão especial” inclui serviços (restauração, hotelaria, comércio, etc) e pequenas unidades industriais cujo consumo não ultrapassa os 50 kW. Na categoria de média tensão estão incluídos grandes consumidores Industrias, hotéis, alguns serviços da administração central etc. Está em curso a introdução da eficiência através da utilização de iluminação a partir de painel solar e lâmpadas de baixo consumo, fogões melhorados e isolamento. A concepção integrada de edifícios comerciais, incluindo as tecnologias de monitorização e feedback, tais como medidores inteligentes e energia solar fotovoltaica integrada em edifícios. 3.2 Produção de Electricidade A produção de electricidade tem sido feita com base na utilização de grupos electrogéneos a gasóleo e a óleo fúel. Nas ilhas de Santiago, de S. Vicente e do Sal concentram-se cerca de oitenta % da capacidade produtiva nacional. O sistema não comercial de aprovisionamento de energia diz respeito essencialmente ao consumo de biomassa lenhosa e outros resíduos combustíveis que não passam pelos circuitos comerciais. Estima-se que o grosso desses combustíveis consumidos nas zonas rurais e República de Cabo Verde, Outubro 2010 81 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS per-urbanas seja auto-colectado. Na ausência de refinarias ou complexos industriais que incluam processos de transformação de energia primária ou secundaria em outras fontes energéticas as únicas actividades de transformação existentes no país são a produção de electricidade a partir de combustíveis fósseis e produção de carvão vegetal a partir da lenha. Realça-se um forte crescimento da produção de electricidade em Santiago, Sal e Boavista que durante o período 1995 a 2008 mais que duplicou. Este crescimento foi induzido pela forte procura do sector turístico no Sal e Boavista e expansão da electrificação rural aliado a uma dinâmica económica forte na ilha de Santiago. A Electra é a maior consumidor de combustíveis (gasóleo e fuel) a nível nacional representando este consumo cerca de 30% do consumo nacional do gasóleo e quase 100% do consumo de fuel. A Electra explorava em 2000 18 centrais eléctricas térmicas com uma potência eléctrica total de aproximadamente 54.817 kW e três parques eólicos com uma capacidade instalada de 2.400 kW em todo o território nacional. Alguns municípios ainda detêm e gerem micro-centrais para o fornecimento de energia eléctricas a pequenas localidades isoladas. Entretanto, o peso do gasóleo na produção de electricidade tende a decrescer em consequência da passagem da produção de electricidade a gasóleo para a produção a fuel em quase todas ilhas decorrente de projectos em carteira, nomeadamente, as centrais únicas de Santiago, Fogo e Santo Antão. As fontes primárias e secundárias de origem fóssil permaneceram durante o período analisado como as principais fontes de energia representando, respectivamente, 85%, 85,7% e 91,4% da oferta total de energia disponibilizada em 1995, 2000 e 2008. A contribuição da energia eólica transformada em electricidade foi de 1.769 Teps em 2000, valor ligeiramente inferior ao registado em 1995 que era de 1.773 Teps. Já em 2008 verifica-se um decréscimo mais evidente com a produção de apenas 1.212 Teps. 3.3 Distribuição de Electricidade Praticamente todas as cidades, vilas e aldeias dispõem de energia eléctrica ou através de redes inter-conectadas ou através de micro centrais. A taxa de cobertura eléctrica a nível nacional em 2000 era de 52% (80% em 2008). A distribuição de electricidade é feita através de redes eléctricas subterrâneas e aéreas sendo utilizados dois níveis de tensão, média tensão, 20 kV e baixa tensão, 400V (Existem outros níveis de tensão em funcionamento, nomeadamente: 6kV,15kV e 10kV que estão em vias de serem substituídas pela tensão de 20kV, tensão estandardizada a nível nacional). As redes de distribuição, com o alargamento dos centros urbanos, têm desenvolvido muito sem que, contudo, esse desenvolvimento tenha sido acompanhado de exigências técnicoeconómicas adequadas, provocando em alguns casos perdas exageradas. 3.4 Sector dos Transportes O sector dos transportes consumiu em 2000, 45.248 Teps, correspondente a 43,1% do total do consumo interno de energia final. Este volume inclui 7.469 Teps de gasolina e 23603 Teps de gasóleo consumidos nos transportes terrestres, 6.788 Teps de gasóleo consumido nos transportes marítimos e 7.397 Teps de Jet A1 consumido na aviação interna. As tecnologias ligadas aos transportes tendem a desenvolver-se em diferentes direcções: motores mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental. De realçar que um sistema de financiamento da manutenção rodoviária sustentável está em vigor. República de Cabo Verde, Outubro 2010 82 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS O Planeamento de transportes e o planeamento do território estão articulados com a política energética e ambiental. Para o subsector dos transportes a orientação estratégica visa um sistema de transportes dotado de infra-estruturas adequadas e bem geridas e de serviços de transportes com os mais elevados padrões de qualidade e eficiência. Para as reduções das emissões de GEE, no sector de transportes no período 2000-2020 prevê-se uma diminuição média de 10% do consumo de combustíveis fósseis, com a aplicação de um programa de melhoria de eficiência energética da frota de transportes terrestres e marítimos, racionalização dos transportes urbanos e interurbanos, e a introdução de mini autocarros de baixo consumo e fraca poluição nos circuitos urbanos. Para uma efectiva redução de GEE no sector dos transportes, convém equacionar algumas medidas relacionadas com: Melhoria da eficiência energética das frotas de transportes terrestres, marítimo e aéreo; Racionalização dos transportes urbanos e interurbanos; Introdução de mini-autocarros de baixo consumo e fraca poluição nos circuitos urbanos; Introdução no parque automóvel de veículos híbridos; e Estudo de um sistema racional de ligações aéreas inter-ilhas e internacionais. 3.5 Produção de Água O abastecimento de água potável dos principais centros urbanos em Cabo Verde depende da dessalinização de água do mar, responsável por cerca de 7,1% do consumo interno de energia final em 2000. A capacidade actualmente instalada e de aproximadamente 15.600 metros cúbicos dia do sistema Osmose inversa que consomem electricidade e cerca de 2.400 m3 dia de Multi Efect Dessalination (MED) que utiliza o fuel óleo pesado como fonte energética unidade em vias de ser desactivada dado os altos custos de funcionamento. Em 2000 foram produzidos cerca de 2.205.634 m3 de água e foram gastos 1.858 Teps de electricidade e 5.634 Teps de fuel óleo. 3.6 Agricultura, Floresta e Pesca As alterações nos padrões de temperatura e precipitação terão impactos no que toca ao desenvolvimento do sector agro-florestal. Estes sistemas terão de se ir ajustando às culturas e tecnologias mais adaptadas às novas condições edafo-climáticas e ganhar maior capacidade de resistência e de resposta a fenómenos extremos, como a seca. Os impactos das Mudanças Climáticas conduzem à necessidade de se melhorar e seleccionar as variedades melhor adaptadas às condições locais e à substituição de algumas culturas por outras menos exigentes em água. As duas actividades do sector que mais contribuem para as emissões de GEE são a gestão dos animais domésticos, através da fermentação entérica e dos dejectos, e a utilização dos fertilizantes químicos e orgânicos azotados na agricultura. Não obstante as emissões serem pouco significativas, propõe-se como opções para o controlo das emissões i) uma gestão da pecuária de ruminantes, que conduzirá à redução de metano por unidade de produção e maior produtividade através do melhoramento República de Cabo Verde, Outubro 2010 83 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS genético e reprodutivo e da qualidade da alimentação e do balanço nutricional de modo a aumentar a digestibilidade dos alimentos (tratamento químico e ou mecânico do alimentos) e ii) o melhoramento da eficiência na utilização dos fertilizantes nitrogenados de modo a diminuir a emissão de N2O. A última opção tem a ver com: Medidas técnicas de controlo dos fertilizantes tais como: utilização de tecnologia melhorada para a aplicação de azoto na época e localização adequadas; aplicação de azoto de acordo com as necessidades das culturas; maximização da utilização do estrume animal; optimização da irrigação e práticas de lavoura de modo a reduzir a lixiviação do azoto para as águas subterrâneas; Programas com base no mercado: a regulamentação dos tipos de fertilizantes nitrogenados a serem importados deve ser da competência dos serviços da agricultura; Medidas reguladoras: estipulação dos limites de utilização de fertilizantes nitrogenados e conciliação dos apoios à agricultura com os objectivos da política ambiental; Programas internacionais: apoio à transferência de tecnologia na agricultura; Acções voluntárias: práticas de gestão do solo que reforcem a capacidade de sequestração de carbono dos solos agrícolas. 3.7 Mudança no Uso de Terras e Florestas Nesse sector, as opções de mitigação da emissão de CO2 estão directamente ligadas à combustão da lenha para fins energéticos, pelo que convém realçar o papel das florestas como importantes fontes de captação de CO2. Propõe-se um aumento da taxa de sequestração de CO2 da atmosfera através do aumento dos sumidouros naturais pelas acções de reflorestação visando aumentar as áreas florestadas, incluindo zonas urbanas e uma gestão adequada da área florestada existente associada à promoção de sistemas agro-silvo-pastoris sustentáveis. Promover a utilização de técnicas avançadas de detecção remota para melhor análise do potencial de sequestração do carbono e gestão florestal. 3.8 Resíduos sólidos Dado que este sector é um potencial emissor de CH4, convém criar as condições para a recuperação do CH4 a partir de aterros de resíduos de incineração, para a produção de energia pelos processos de compostagem de materiais orgânicos e tratamento de águas residuais e reciclagem. República de Cabo Verde, Outubro 2010 84 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo IV VULNERABILIDADE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CHANGE República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO IV- VULNERABILIDADE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 4.1 Variabilidade Climática Actual 4.1.1 Pesquisa, problemas e objectivos Desde o ano 2000, em resposta a diversas propostas apresentadas, têm aparecido financiamentos destinados a projectos-piloto para a elaboração de previsões meteorológicas prolongadas como ferramenta de gestão para a melhoria da produtividade das culturas, avaliação de impactos e adaptação às alterações climáticas. Inicialmente, as tentativas foram feitas no sentido de aperfeiçoar as previsões meteorológicas a nível regional para o consumo local. Depois, tentou-se estender as mesmas para um período mais longo, para obter informações atempadas sobre o período crítico da agricultura. Mais tarde, as previsões apontaram para possíveis alterações climáticas durante o século 21, indicando que se deve antecipar acções para prevenir eventuais impactos negativos dessas alterações na segurança alimentar. Posteriormente, com objectivos mais abrangentes, todos os sectores passam a ser relacionados com as mudanças e a variabilidade climáticas, como a segurança alimentar, a saúde pública, as mudanças no uso da terra e o desenvolvimento socioeconómico. Adicionado a estes estão os impactos negativos das mudanças potenciais no clima global, como resultado do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. 4.1.2 Aproximação A caracterização do clima actual é baseada nos dados referentes ao período de 1948 a 2009. Com base nos modelos de dados observados e simulados disponíveis na distribuição do IPCC, foram traçados cenários sobre o clima presente e futuro. Ao descrever o clima actual e a sua variabilidade, foram identificados índices de variabilidade e determinados coeficientes de variação mensal da temperatura máxima e mínima e da precipitação. Foram elaborados gráficos lineares com base em dados observados, para mostrar as mudanças reais na precipitação de um ano para outro. Outras análises foram utilizadas para se determinar a relação entre a temperatura e a precipitação em Cabo Verde, bem como as tendências a longo prazo. O estudo apresenta o resultado da simulação dos principais parâmetros do clima sobre a região de Cabo Verde, usando a técnica de “downscaling” dinâmico, que consistiu na utilização do Modelo Numérico de Previsão Regional (MNPRE), aninhado ao Modelo de Circulação Geral da Atmosfera (MCGA). Nas simulações numéricas, foi utilizado o modelo regional ETA, desenvolvido pelo NCEP, alinhado ao modelo MCGA ECHAM4.5, desenvolvido pelo Instituto Max Planck. Com o modelo Eta foram geradas projecções e os resultados obtidos foram comparados com os cenários propostos pelo IPCC. 4.2 O Clima Actual 4.2.1 A Circulação atmosférica na região de Cabo Verde Cabo Verde encontra-se localizado numa região onde a variabilidade da alta subtropical dos Açores funciona como factor regulador das anomalias da precipitação, controlando a oscilação sazonal dos alísios de características marítimas e continentais durante os meses secos (Novembro a Junho). Na época chuvosa (Julho a Outubro), destaca-se o República de Cabo Verde, Outubro 2010 85 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS movimento oscilatório da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), caracterizado pelos ventos do sudeste e pela passagem de perturbações de leste. Entre Dezembro e Fevereiro o arquipélago sofre influências de massas de ar das latitudes extra-tropicais. O arquipélago de Cabo Verde está sob a influência de quatro sistemas considerados determinantes no clima da região, como sendo o anticiclone subtropical dos Açores, as baixas pressões equatoriais, a corrente marítima fria das Canárias e a depressão térmica sobre o continente africano durante o verão. A região dos anticiclones subtropicais, caracterizada por altas pressões, divergência e subsidência na circulação do ar, influenciam e caracterizam as massas de ar que penetram a região de Cabo Verde durante todo o ano. O anticiclone dos Açores é um sistema muito estável, que domina a região tropical e subtropical do Atlântico norte, originando fluxos entre norte (N) nordeste (NE) e este (E), frequentemente muito intensos de NE, designados por alísios. É afectada pela predominância de movimentos de subsidência denominada de “inversão dos alísios”, que actua como um forte opositor ao desenvolvimento vertical das nuvens (Riehl, H. 1979), acentuado pela corrente fria das Canárias. A temperatura média anual da superfície da água do mar é de 24 ºC, varia de 22 ºC e 24 ºC de Julho a Novembro, e de Dezembro e Junho, época fria varia entre 21 ºC e 23 ºC (Almada, 1993). Em altitude, a circulação é dominada pelo fluxo de este, caracterizados pela presença do Jacto Africano de Leste (JAL) e o Jacto Tropical de Leste (JET). Localizado nos 600 hPa com velocidades máximas de 10 m/s entre 10º e 15º N, o JAL é o resultado da alimentação de calor pela depressão térmica, enquanto o JET, que se encontra localizado nos 200 hPa, desfasado meridionalmente para o equador, é alimentado pela convecção profunda. Esta dinâmica de circulação sazonal na costa ocidental africana, com o consequente movimento meridional da ZCIT, marca o ritmo do regime pluviométrico sobre a costa ocidental africana e, por conseguinte, sobre a região de Cabo Verde. 4.2.2 Evolução dos parâmetros climáticos 4.2.2.1 Variação Temporal da Temperatura e da Precipitação O ciclo anual é definido basicamente por três períodos que compreendem uma estação seca, de Março a Junho, uma estação húmida, de Julho a Outubro, e uma estação de transição, menos húmida, influenciada pela intrusão das latitudes elevadas e médias, entre os meses de Dezembro e Fevereiro. Pelos dados observados nas estações, Setembro apresenta-se como o mês mais chuvoso no arquipélago, enquanto os meses de Março, Abril e Maio, muito esporadicamente nos anos anómalos, registam alguma precipitação (Figuras 17, a), b) e c). O ciclo para a temperatura média e para a precipitação tende a ter uma variação interanual, segundo um padrão único para as ilhas. A presença de dois períodos distintos no ciclo anual da temperatura e da precipitação está relacionada com os factores que condicionam o clima de Cabo Verde e tem uma relação directa com a intensidade, localização, interacção entre os centros de acção na atmosfera nesta região. República de Cabo Verde, Outubro 2010 86 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Praia - Aeroporto Mindelo-Estação 50 40 22,0 80 70 70 29,0 60 50 24,0 40 20 18,0 0 14,0 Jan Fev Mar Abr P 1976-2009 Mai Jun P 1961-1990 Jul Ago Set Out Nov Dez Tmedmax a) Mindelo Tmedmin 26 50 22 30 19,0 20 10 10 30 60 40 30 30 34 90 80 R[mm] . 26,0 R[mm] . 60 T[ºC] . 30,0 70 34,0 90 80 T[ºC] . 34,0 90 R[mm] . SAL- Aeroporto 100 100 20 18 10 0 14,0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set P 1957-2009 b) Praia P 1961-1990 Tmedmax Out Nov Dez 0 14 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Tmedmin P 1976-2005 Jul Ago Set P 1961-1990 Out Nov Dez Tmedmax Tmedmin c) Sal Figura 17- Ciclo anual da precipitação e da temperatura em Mindelo (Fonte: INMG) 4.2.2.2 Precipitação O período de Julho a Outubro (JASO) é determinado principalmente pela passagem das ondas de leste, que dependendo da sua intensidade podem ser ou não acompanhadas de precipitações. Em geral, são acompanhadas de formação de nuvens convectivas bem organizadas, com ocorrência de aguaceiros fortes e tempestades. Este período coincide com a intensificação e aproximação da zona de ZCIT de Cabo Verde, contribuindo, em parte, na quantidade de precipitação ocorrida nesta época de ano. Os dados das precipitações registadas nas estações de Cabo Verde comprovam que é durante o mês de Setembro, que ocorram valores mais elevados da precipitação. No período de Dezembro a Fevereiro (DJF) a ocorrência de precipitações está associada a formação de correntes jacto nos níveis de 700 hPa, originadas quando a nordeste das Canárias se forma uma depressão, e um vale depressionário em altitude, que se estende até o sudoeste da região de Cabo Verde, facilitando a penetração do ar polar. Nas ilhas do sotavento as invernadas não têm muita expressão, mas a época húmida é bem definida registando-se as maiores quantidades de precipitação. Os gráficos da variação interanual das precipitações nas três estações em estudo mostram que, dentro das oscilações anuais frequentes da variação da precipitação, existe uma tendência de aumento de precipitação notável a partir de meados dos anos 1990, como indica a figura 18. República de Cabo Verde, Outubro 2010 87 T[ºC] . 100 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 18- Variabilidade interanual da razão da precipitação (S. Vicente, Santiago e Sal) A análise estatística da precipitação anual entre 1960 e 2009 permite afirmar que nas ilhas do sul as precipitações são mais frequentes e com alguma periodicidade ao longo dos anos. Essa ligeira subida pluviométrica pode estar directamente ligada a tendência de subida de temperatura média no arquipélago, o que pode ser comprovada pelas séries das estações do Sal, Praia e Mindelo. Este aumento na quantidade de precipitação é identificado pelos valores positivos nos gráficos das anomalias da quantidade de precipitação, e da razão da precipitação no período de 1948 a 2009, com a prevalência das anomalias positivas. a partir do ano de 2000. República de Cabo Verde, Outubro 2010 88 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 19– Anomalia da razão da precipitação no período de 1948 a 2009 4.2.2.3 Temperatura As séries da temperatura em Cabo Verde (Mindelo, Praia e Sal), no período de 1960 a 2009, sugerem a existência de uma tendência crescente da média anual da temperatura partir do ano 1990, com valores acima da normal climatológica de 1961-1990. A variação espacial demonstra que a temperatura média aumenta de aproximadamente 2ºC quando deslocamos na direcção sul. República de Cabo Verde, Outubro 2010 89 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 20 – Variação anual das temperaturas médias em Mindelo, Praia e Sal A evolução temporal da temperatura média mensal no período de 1948 a 2009 demonstra uma tendência aumento nos últimos 15 anos. Segundo a figura 8, essa tendência é também sazonal para todos os trimestres (JFM, AMJ, JAS e OND). Nos trimestres JFM e AMJ, a temperatura média apresenta maior variabilidade, com maior amplitude térmica, enquanto a menor variabilidade ocorre nos períodos JAS e OND. Isto ocorre porque o trimestre JAS é o período mais quente, sem entradas de massas de República de Cabo Verde, Outubro 2010 90 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ar frio e existe um aumento de ocorrência de precipitações, que actuam como regulador térmico. Figura 21– Variação sazonal da temperatura média nos meses JFM (1948-2009) Figura 22– Variação sazonal da temperatura média – meses AMJ – 1948 – 2009 República de Cabo Verde, Outubro 2010 91 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 23 – Variação sazonal da temperatura média nos meses JAS (1948-2009) Figura 24 – Variação sazonal da temperatura média nos meses OND (1948 – 2009) República de Cabo Verde, Outubro 2010 92 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS As anomalias positivas verificadas a partir do ano de 1995 indicam que a temperatura média mensal durante este período está acima da normal climatológica, numa média de 0,4ºC. Figura 25 – Anomalia das temperaturas médias na área de estudo A variação decadal da precipitação e da temperatura média sugere a existência de uma forte correlação entre estes dois parâmetros (Figura 26). Da análise do gráfico, nota-se que, quando se verifica o aumento da temperatura média existe uma tendência para o aumento da precipitação, e vice-versa. República de Cabo Verde, Outubro 2010 93 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 26 – Variação decadal da Temperatura média e a razão de precipitação 4.2.2.4 Humidade Relativa Em termos médios, a humidade relativa do ar, em Cabo Verde varia entre os 60% durante o dia, com temperaturas mais altas, e os 90%, durante a madrugada ou período com céu nublado e precipitação, com temperaturas mais baixas. Os valores mais altos ocorrem entre os meses de Julho e Outubro, e podem ultrapassar os 85% durante a madrugada ou quando a zona de convergência intertropical atinge a sua posição extrema a norte, atingindo assim o arquipélago. As mínimas coincidem com o período com predominância dos ventos de Este e Este Nordeste, acompanhados de poeira em suspensão e baixa humidade. Sal - Aeroporto 60 55 22 70 26 65 24 60 55 22 50 20 45 18 40 Jan Fev M ar Abr M ai Jun Tmed75-05 Jul Ago Set Out Hmed75-05 Nov Dez 80 75 28 70 26 65 24 60 55 22 50 20 45 18 40 Jan Fev M ar Abr M ai Jun Tmed75-05 Jul Ago Set Out Nov Dez Hmed75-05 50 20 45 18 40 Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul Ago Set Out Tmed75-05 Hmed75-05 Nov Dez Figura 27 – Ciclo anual da humidade e da temperatura (Mindelo, Sal e Praia) República de Cabo Verde, Outubro 2010 94 HRmed (%) . 24 Tmed (ºC) . 65 30 75 28 HRmed (%) . Tmed (ºC) . 70 26 80 Tmed (ºC) . 75 28 Praia - Aeroporto 30 80 HRmed (%) . Mindelo - Estação 30 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 4.2.2.5 Vento Consistente com o campo da pressão e estando o arquipélago na periferia do anticiclone dos Açores, os alísios de NE são os ventos predominantes em Cabo Verde, com frequências de 60% a 80% por ano (Figura 28). Os ventos de SE e SW aparecem periodicamente com a aproximação da ZCIT durante os meses de Julho a Outubro, época húmida. Durante a estação seca são os ventos do continente que predominam, sendo responsáveis pelo transporte de poeiras do deserto, fenómeno denominado de “bruma seca”. Durante esse período, a visibilidade atinge muitas vezes valores abaixo de mil metros e a humidade relativa é inferior aos 35%. Em relação à intensidade do vento, a tendência é uma variação anual com velocidades médias oscilando entre 6 e 7 m/s. E s t a ç ã o de M inde lo S a l - A e ro po rt o P ra ia - A e ro po rt o N N 70 N 70 70 NW NE 45 NW 2 0 20 -5 W NW NE 45 E W 20 -5 E SW SW E SW SE Rumo Rumo Rumo S Vmed[ km/ h] Vmed[ km/ h] V med[ km/ h] S S Mindelo -5 W SE SE a) NE 45 b) Praia c) Sal Figura 28 – Distribuição da direcção dos ventos em Cabo Verde (Fonte: INMG) Figura 29 – Variação média anual da intensidade do vento na área de estudo O comportamento sazonal da intensidade do vento durante o período em estudo apresenta oscilações periódicas, sem contudo haver tendências para uma mudança significativa na variabilidade (Figura 30). Os períodos de maior intensidade são JFM e AMJ, em que a velocidade média varia entre 6 e 10 m/s. Os valores mínimos registamse durante o período de JAS e o vento começa a aumentar de novo no período OND. República de Cabo Verde, Outubro 2010 95 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 30 – Variação sazonal da intensidade do vento (JFM, AMJ, JAS e OND - 1948-2009) No que respeita à variação do vento em altitude, segundo os estudos realizados por Soares (2004), a componente meridional do vento é o factor de maior relevância para a variabilidade da precipitação sobre as ilhas. Quando a componente meridional do norte à superfície é muito mais forte que a do sul, a convergência tem lugar mais a sul e menor é o deslocamento da ZCIT para o hemisfério norte, facto causador de anomalias na precipitação sobre as ilhas. O contrário também acontece e as precipitações são mais abundantes. 4.2.2.6 Nebulosidade e Insolação Embora não seja uniforme, a variação anual da nebulosidade apresenta dois tipos mais nítidos: maior nebulosidade, entre Julho e Outubro, onde a altura da base das nuvens é menor durante a madrugada e de manhã; e menor nebulosidade, durante a tarde e no princípio da noite, entre os meses de Março e Junho. O comportamento sazonal da insolação está, como é normal, inversamente correlacionada com a nebulosidade. Em algumas ilhas, é afectada pela nebulosidade constante (nuvens baixas) durante quase todo o ano. A insolação média máxima ocorre entre Março e Junho, enquanto a mínima é observada em Agosto-Setembro. República de Cabo Verde, Outubro 2010 96 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 31 - Gráfico de insolação anual - Sal (azul), Mindelo (cinzento) e Praia (verde) 4.2.3 Bruma Seca A bruma seca em Cabo Verde ocorre quando na circulação atmosférica sobre a região se estabelece uma corrente de Este, ou Este-Nordeste, sobre o continente africano, entre as latitudes 15o e 25o Norte, e forma-se uma depressão de origem térmica na faixa 10 o-20o Norte sobre o continente, reforçados pela intensificação do anticiclone da Líbia sobre a região norte da África. Nas situações de bruma seca, o céu apresenta-se geralmente pouco nublado, com nuvens baixas do género estratocumulos, o vento sopra do quadrante Nordeste com velocidades entre 18.5 e 33.3 km/h. Nestas situações grandes quantidades de partículas sólidas em suspensão são transportadas do continente Africano em direcção ao Atlântico pela corrente de E/ENE. Os episódios mais intensos reduzem a visibilidade para valores entre 2 e 4 km, e, por vezes, para valores inferiores a 1 km. Esta situação mantém-se em geral entre 4 e 8 dias, prolongando-se por vezes para períodos superiores a duas semanas. Da análise dos dados compilados entre os anos de 1976-2005 representados na Figura 32, podemos constatar que 1981, 1989, 1994 e 2000 foram os anos com maior número de dias com bruma seca, todos com valores superiores a 150 dias. Os períodos com menor actividade de poeira aconteceram entre 1970 e 1980, 1984 e 1988 e entre 1996 e 1998, e a média anual é igual a 100 dias. República de Cabo Verde, Outubro 2010 97 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 32 - Gráfico anual de número de dias com ocorrência de bruma (1976-2005) 4.2.4 Fenómenos associados à variabilidade climática Os fenómenos que mais afectam e condicionam o ambiente climático na região de Cabo Verde estão directamente relacionados com a variabilidade do anticiclone dos Açores, a corrente fria das Canárias, a oscilação da zona intertropical de convergência, a formação de depressões e ciclones tropicais, a persistência do “harmatão” durante a época seca, a variabilidade espaço-temporal aleatória da precipitação, as flutuações da temperatura, as linhas de borrasca intensas, os frequentes episódios de bruma seca e as correntes de jacto em altitude. A variação drástica da temperatura do ar pode afectar ainda mais o ambiente já por si frágil, contribuindo para aumentar ou prolongar os episódios de seca, provocar vagas de calor e poeira, contribuindo para a erosão e degradação dos solos. A possibilidade da elevação do nível do mar poderá afectar severamente as zonas costeiras e causar danos ao turismo e à economia. As condições de circulação favorecem o desenvolvimento de sistemas altamente energéticos como, por exemplo, os ciclones tropicais, as linhas de instabilidade e os núcleos convectivos. Estes fenómenos que têm como principal fonte de energia a temperatura da superfície da água do mar, a possibilidade do aumento das temperaturas da água do mar acima do normal (i.e., superiores a 25ºC) associado a existência de perturbações atmosféricas nos alísios, são condições propícias para a intensificação da formação desses fenómenos meteorológicos. Em altitude, a circulação é dominada pelo fluxo de este, surgindo os valores máximos da intensidade do vento caracterizados pela localização do jacto africano de leste (JAL) e o jacto tropical de leste (JET). As anomalias na intensidade desses sistemas podem fazer com que venham a constituir fenómenos de risco climático para o arquipélago, como chuvas torrenciais ou secas prolongadas. Entre os principais sectores afectados por esses fenómenos encontram-se os sectores agro-silvopastoril, os recursos hídricos, o turismo e as zonas costeiras, os transportes, a saúde e a economia. A intensificação dos ventos implica o aumento da intensidade da erosão costeira, a alteração da morfologia da costa, o desaparecimento das praias, a degradação do República de Cabo Verde, Outubro 2010 98 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ambiente marinho e costeiro, a alteração da intensidade das correntes marítimas, o aumento da intensidade da degradação costeira devido à alteração na amplitude das ondulações e agressividade das marés, e consequentemente a degradação do meio ambiente causando a migração das populações do litoral para o interior das ilhas. 4.3 Impactos da Variabilidade Climática A produtividade agrícola tem demonstrado muita sensibilidade à mudança interanual da precipitação, incluindo as datas de início e cessação da estação chuvosa. Assim, os rendimentos podem ser significativamente afectados pelas anomalias negativas, secas, o que terá implicações graves na economia do país. Por outro lado, o inverso acontece com as anomalias positivas da precipitação. O surto e a movimentação de pragas podem ficar condicionados pela variabilidade da temperatura e das precipitações. O mesmo poder-se-á dizer para o sector da saúde, com o alastramento de doenças relacionadas com a variabilidade do clima regional. Neste caso o problema tem de ser equacionado e tratado a nível regional. 4.4 Fenómeno Global e Dinâmica Regional Os padrões da precipitação na África Ocidental estão ligados ao movimento sazonal da zona de convergência intertropical, onde o ar tropical quente e seco do nordeste se encontra com as massas de ar quente e húmido vindo do sul associadas às monções. A zona semi-árida, na qual o arquipélago está localizado, é marcada por uma única estação chuvosa (Julho-Setembro), com aparecimento por vezes de uma segunda estação de chuvas (Janeiro-Fevereiro) marcada pela influência de fenómenos de latitudes mais elevadas. Os outros meses do ano são secos, marcados pela passagem de poeira proveniente do deserto do Saará. As variações de temperatura nos oceanos, que são sensíveis às mudanças climáticas globais, sem dúvida, terão tido repercussões sobre a monção na região ocidental costeira da África. Para além desses fenómenos, o efeito global dos processos de superfície continental (vegetação, humidade do solo, ciclo da água ou albedo) sobre a dinâmica das monções terão afectado remotamente essa região. No entanto, deve-se salientar que as interacções/retro-acções entre a dinâmica continental e o clima são ainda pouco compreendidas. As variações consideráveis da precipitação (menor na zona costeira e maior no eixo Norte - Sul) são provas disso: períodos de deficit nos últimos cinquenta anos foram identificados uma ruptura clara para os anos entre 1968 e 1973, 1982-84 e 1997. Desde meados da década de 1990, tem-se verificado um retorno para melhores condições de precipitação bem como o retorno das anomalias positivas da água do mar no Atlântico leste e a costa mais ocidental da África. Outra variável climática é o facto particular de as mudanças na África Ocidental e na região do Sahel no que respeita a temperaturas terem sido mais rápidas do que o aquecimento global. O aumento da temperatura variou entre 0,2ºC e 0,8°C desde o final da década de 1970. Esta tendência é particularmente mais forte em termos de temperaturas máximas e mínimas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 99 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 4.5 Cenários de Mudança 4.5.1 Incertezas Há uma grande incerteza nas projecções climáticas da precipitação para a África Ocidental. Testes recentes demonstraram a capacidade limitada dos modelos de previsão climática para a África Ocidental. Uma comparação entre o clima do Sahel observado entre 1961-1990 e o clima simulado por seis modelos de circulação geral recomendados pelo IPCC ilustra essa deficiência. Contrariamente à situação real, em relação aos dados observados, os modelos mostram uma marcada estação chuvosa em quase todo o ano, juntamente com uma discrepância considerável (140-215 mm/ano) da precipitação total anual estimada. 4.5.2 Áreas costeiras e ecossistemas vulneráveis Calcula-se que, durante o século 20, em média, o nível do mar subiu de 1,7 mm por ano, ou seja, 17 centímetros em 100 anos. As actuais projecções a nível mundial apontam par um aumento do nível do mar na ordem de 30 a 50 cm, no período 1990-2100. Considerando a realidade de um país arquipélago, em que a maior parte da sua população vive na orla costeira, quase toda área costeira nacional e os seus ecossistemas são vulneráveis a qualquer mudança que se verificar, quer na temperatura, quer na precipitação ou na variação do nível do mar, incluindo incidentes decorrentes dos extremos do mar. A subida do nível do mar teria um impacto directo no que respeita a submersão e erosão costeira, aumento de áreas inundáveis e salinidade de pequenos estuários, ribeiras e águas costeiras. 4.5.3 Mudanças espaciais em doenças Várias doenças transmitidas por vectores prevalecem na África Ocidental, incluindo a malária, doença do sono, a dengue, ou mesmo a quase erradicada febre-amarela. A precipitação, a temperatura e a higrometria desempenham um papel importante na ocorrência desses vectores. A diminuição das chuvas e a desertificação podem limitar o desenvolvimento dessas espécies. Mas o clima seco não conduz automaticamente a uma diminuição desses insectos em áreas de crescimento. O eventual aumento do número de eventos climáticos extremos (chuvas irregulares, em particular) poderia aumentar as oportunidades para estes insectos também aumentarem, afectar a saúde humana e a migração dos animais para áreas onde as forragens estão mais disponíveis. O risco de contacto com outros portadores de doenças, e consequentemente, poderá provocar o aparecimento de novas patologias. 4.5.4 Recursos do solo e manejo da terra Os solos em Cabo Verde são frágeis, pobres em carbono e em nutrientes vegetais. A manutenção da fertilidade do solo, através de fontes orgânicas ou inorgânicas, é a chave para uma agricultura sustentável. Considerando que os solos são inerentemente frágeis e propensos à degradação, a natureza e variabilidade da precipitação, com as chuvas de verão torrenciais, a absorção de água pelo solo é muito difícil, especialmente se este é descoberto. Devido às características do relevo, o escorrimento superficial é grande, República de Cabo Verde, Outubro 2010 100 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS com grandes perdas anuais de solo. A perda do solo (que contém a maior parte dos nutrientes das plantas) através de erosão hídrica e eólica é um importante revés para a sustentabilidade agrícola e a segurança alimentar no país. Considerando a evolução de extremos climáticos, uma redução considerável da precipitação e subida da temperatura, poderá conduzir a uma catástrofe ambiental. Assim, o controlo de erosão em Cabo Verde seria no sentido de se manter o coberto vegetal à superfície do solo, limpar os campos após as tempestades e reflorestar. 4.6 Construção de Cenários A redução da precipitação anual (-20 a -10 %) combinada com o aumento da temperatura de até 2,5 ºC, vai expor uma grande proporção da população rural à insegurança alimentar e afectar drasticamente a economia. A agricultura em condições de sequeiro não será mais viável em muitas áreas. Para se adaptar a essas mudanças nos períodos mais secas, tem-se sugerido como medidas: Diversificação agrícola e aumento do uso de culturas mais adaptadas à seca; Técnicas de captação de água e de irrigação suplementar; Uso da irrigação por gotejamento para uma utilização mais eficaz da água de irrigação; Desenvolvimento da pecuária em que o milho não será mais adequado; Promoção de leguminosas e forragens para melhorar as condições do solo e produtividade animal; e Utilização de calendário cultural eficaz. No entanto, para melhor se adaptar, surgem estratégias a serem adoptadas e que passam pela geração de cenários para o conhecimento antecipado do futuro da variabilidade e das alterações do clima. A geração de cenários de mudanças climáticas é o primeiro passo para a representação do clima futuro, para a visão probabilística do estado da atmosférica e para a determinação das incertezas relacionadas com o efeito do aumento da concentração de alguns gases na atmosfera e no clima global. 4.6.1 O cenário presente No que se refere à temperatura, a média anual aumentou de 0,6ºC, desde 1960, numa uma taxa média de 0,14ºC por década. A taxa de crescimento foi mais rápida na estação chuvosa, a ASO em 0,23ºC por década. Observa-se que existe uma falta de dados de observação disponíveis diariamente para se poder identificar tendências no que respeita a extremos da temperatura diária. Quanto à precipitação, a média anual sobre Cabo Verde não apresentou nenhuma tendência consistente desde 1960. Algumas chuvas anormalmente elevadas ocorreram entre Novembro e Fevereiro, o que é pouco comum para esta época que é normalmente seca. Para este parâmetro, também são insuficientes as observações sobre as chuvas diárias disponíveis, a partir do qual seria possível determinar as mudanças nos extremos dos índices de chuvas diárias. República de Cabo Verde, Outubro 2010 101 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 33 – Variação da temperatura média (1970-Presente) A figura 33 em cima é uma ilustração inequívoca do aumento das temperaturas médias (5 anos) durante o período 1970-presente, com uma curva mais ascendente nos últimos anos. Figura 34 – Anomalia da razão da precipitação Esta figura 34 representa as anomalias da razão da precipitação em Cabo Verde (média na caixa para o território) no período 1948-2009. Nela também de pode distinguir claramente os períodos de precipitação acima e abaixo da média e identificar as secas dos períodos 70, 80 e inícios de 90. República de Cabo Verde, Outubro 2010 102 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Figura 35 – Variação anual da razão da precipitação A figura 35 mostra a variação anual da razão da precipitação em Cabo Verde (Kg/m2/s) e a média de cinco anos. Pode-se verificar a redução da precipitação em 2) verificar a estreita correlação positiva que existe entre a temperatura e a precipitação em Cabo Verde. 4.6.2 O cenário futuro Os modelos projectam um aumento da temperatura média anual de 0,7 a 2,5ºC, até 2060, e 1,2 a 3,7ºC, até 2090. Verifica-se que o intervalo de projecções para 2090 em qualquer cenário de emissões é de 1,0 a 2,0ºC. A taxa de aumento da temperatura será semelhante em todas as estações. Todas as projecções indicam para um aumento substancial na frequência de dias e noites que são considerados como “quentes” no clima actual. Por outro lado, as projecções indicam que, anualmente, o dia “quente” (dia “quente” ou “noite” quente é definido pela temperatura que excedeu em 10% dos dias ou noites no clima actual da região e da época) irá ocorrer em 16-32% dos dias, em 2060, e 23 a 51%, até 2090. Os dias considerados "quentes" para os padrões actuais numa estação podem vir a aumentar mais rapidamente durante o período ASO. No entanto, ressalva-se que o intervalo entre as projecções do modelo é muito grande, quando se considera os resultados da ocorrência de 39-100% dos dias nessa temporada, projectada para 2090. No que se refere a noites consideradas "quentes" para o clima anual (1900-1990), estão previstos para ocorrer em 23-49% em 2060, e 31-79% em 2090. Noites quentes que são consideradas padrões para cada estação de 1970-1999, estão projectados para ocorrer em 37-100% em cada estação no ano de 2090. Por outro lado, todas as projecções apontam para a diminuição na frequência de dias e noites que são considerados "frios” (dias “frio” ou "noite” fria são definidos como a temperatura abaixo da qual 10% dos dias ou noites são registados no actual clima da região ou época) no clima actual. Os dias frios e as noites frias não vão ocorrer em qualquer das projecções para 2090, e só ocorrem no cenário mais baixo das emissões para 2060. Relativamente à precipitação, as projecções da média anual de todo o país a partir do conjunto de diferentes modelos de circulação global não são coerentes, e não apontam se vai haver aumento ou diminuição da precipitação. Na estação parcialmente seca (NDJ) e na seca (FMAMJ), mais particularmente na MJJ, o conjunto do modelo tende a República de Cabo Verde, Outubro 2010 103 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS diminuir as precipitações, que, em termos absolutos (mm), são quase inexistentes, e não representam uma grande proporção no somatório total anual dos registos de queda de precipitação. Entre si, os modelos projectam uma discrepância na mudança da estação chuvosa (ASO) muito elevada, variando entre -77% e 87%. As mudanças na proporção do total de eventos de chuva “forte” (evento de chuva “forte” é definido como um total de precipitação diária que exceda o limite que é ultrapassado em 5% a média dos dias chuvosos no clima da região e da época) variam irregularmente, entre aumentos e diminuições, nas projecções dos diferentes modelos, verificando o mesmo para as projecções das precipitações de 5 dias seguidos. Como já se fez referência, tem-se de ter em conta que os MCGA não possuem uma resolução suficientemente fina para enxergar pequenas ilhas, como as de Cabo Verde, e assim as projecções são baseadas em cálculos sobre a superfície do oceano e não conta para as influências físicas das ilhas da superfície terrestre (Christensen et al. 2007). Por outro lado, os modelos do clima apresentam erros significativos ao simular a posição da Zona Intertropical de Convergência do Atlântico (Christensen et al. 2007), causando erros sistemáticos na precipitação simulada nesta região, aumentando ainda mais a incerteza associada às alterações climáticas previstas. As perturbações atmosféricas à escala regional e local são mal identificados pelos MCGA, assim, a determinação das possíveis mudanças na intensidade e na rota das tempestades tropicais no futuro é muito incerto. Embora exista “evidências” que indicam que os ciclones tropicais tendem a tornar-se, em geral, mais intensos sob um clima mais quente como resultado de temperaturas mais altas da superfície do mar, existe uma grande incerteza na mudança das frequências e das alterações nas suas trajectórias e nas suas interacções com outras características da variabilidade do clima (como o El Niño Oscilação Sul), o que introduz incerteza na escala regional (Christensen et al., 2007). Incerteza nas possíveis mudanças no ciclone tropical contribui para maiores incertezas na determinação da época das chuvas futuras. 4.6.3 O nível do mar No que se refere ao nível do mar, as ilhas de Cabo Verde mostram ser muito vulneráveis a um eventual aumento. Em relação a 1980-1999, até 2090 os modelos do clima projectam para o mar nessa região um aumento segundo os três níveis seguintes, como sendo de 0,13 a 0.43 metros (cenário SRES B1), 0,16 a 0.53 metros (cenário SRES A1B) e 0,18 a 0.56 metros (cenário SRES A2). No entanto, pelos factos acima relatados, existe uma grande incerteza sobre essas projecções. 4.7 Tendências, Probabilidades e Consequências 4.7.1 Tendências As tendências do clima e das mudanças climáticas do século 21, oferecem, actualmente, grandes desafios para os cientistas. A dificuldade em quantificar as alterações climáticas em África existe, em parte, devido à complexidade dos climas regionais e das características geográficas associadas. África é quase simétrica em relação Equador, o que cria estações desfasadas entre os hemisférios norte e sul. Daí que, à estação chuvosa no hemisfério norte (Junho a Setembro), corresponde uma estação seca na mesma temporada no hemisfério sul. Adicionando a esta complexidade, os desertos e as cadeias montanhosas podem alterar o regime climático regional e os padrões meteorológicos, República de Cabo Verde, Outubro 2010 104 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS adicionando o facto da existência de vários grandes lagos e o continente estar enclausurado entre os oceanos Atlântico e Índico. Toda a mudança que se efectuar na costa da África saheliana irá afectar, de igual modo, o arquipélago de Cabo Verde, cujo clima está em estreita correlação com os eventos climáticos que possam eventualmente ocorrer no continente. Em Cabo Verde, verifica-se uma descida da temperatura entre os anos 1960 e 1980 (~0,15ºC), acompanha de períodos secos, e um aumento entre 1980 e 1990 (~0,21ºC), seguido de um período sem variação. Após o ano de 1990, assistiu-se a um aumento da temperatura numa razão de 0,04 ºC/ano. Embora de forma ligeira, verificou-se o regresso da precipitação, com mais frequência nos últimos anos. Devido a isso, pode-se concluir que existe em cabo Verde uma estreita relação entre a temperatura e a precipitação. As projecções, utilizando a técnica de “downscaling” com as condições de contorno do modelo ECHAM, apontam para um aumento da temperatura em Cabo Verde na ordem 0,4º-0,7 ºC para o horizonte 2020 e, acreditando que essa razão de crescimento manter-se-á, para um aumento de 0,5-1,0 ºC até o ano 2090. Quer isso dizer que os modelos globais estariam a sobrestimar a aumento da temperatura em Cabo Verde. No que respeita à precipitação, acreditando na estreita correlação entre a temperatura e a precipitação mostrada pela análise dos dados de reanálise e nacionais, o país será mais húmido e chuvoso, com períodos intermitentes mais secos. Embora as observações à superfície em África sejam pobres, a rede existente indica que, como em Cabo Verde, as temperaturas têm aquecido ao longo do século 20 e, durante esse período, secas periódicas ocorreram em grandes áreas. 4.7.2 Probabilidades Os modelos indicam a probabilidade de o continente Africano continuar a ter um aquecimento de aproximadamente de 1º a 4ºC ao longo do século 21, com maior ou menor aquecimento regionalizado. Caso isso acontecer, uma das hipóteses é que o aquecimento implica o aumento da evaporação da humidade do solo levando à sua redução no interior do continente, caso não houver o correspondente aumento na precipitação. No caso de Cabo Verde, as ilhas sofreriam um aumento da precipitação na época Julho-Outubro. No entanto, a variabilidade da precipitação em toda a África durante o século 21 apresenta grandes incertezas, com alguns modelos climáticos globais MCGA a sugerir condições mais húmidas e, outros, mais secos. Esta incerteza é em parte devido ao modelo das parametrizações e sensibilidades diferentes do clima nos modelos, dado à sua baixa resolução (escala mais fina e melhores parametrizações físicas), o que exige como nova abordagem a utilização de técnicas de “downscaling” para o aumento da resolução com a consequente redução dessas incertezas, que pode levar a diferentes resultados para as simulações da precipitação. República de Cabo Verde, Outubro 2010 105 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Esta figura 36 apresenta as projecções anuais da temperatura e da precipitação para toda a África e a sua zona costeira, bem como as vulnerabilidades dos seus ecossistemas e população. Os dados são projectados para o horizonte 2080-99, comparado com o período 1980-90. Aqui, a projecção é de Cabo Verde sofrer um aumento entre 2ºC e 2,5ºC na temperatura e uma variação da precipitação em cerca de 0-5%. A acreditar nessa projecção quase que Cabo Verde manteria a sua precipitação média apesar da subida da temperatura, o contrariaria a correlação apresentada entre esses dois parâmetros. Este facto justifica a incerteza que se tem sobre a projecção da precipitação. Figura 36 - Projecção da Variação da Pluviometria e Temperatura (IPCC) Pela experiência adquirida sobre a variabilidade decadal da chuva observada durante o século 20, não há razão para acreditar que este modelo vai alterar com o aumento da concentração de gases com efeito de estufa neste século. No entanto, existem vários factores que devem ser considerados (ARI, 2008): Os efeitos directos do aquecimento sobre a intensidade da chuva e a sua variabilidade espaço-temporal, especialmente no que se refere às datas de início e fim da estação do crescimento vegetal; Os efeitos directos do aquecimento global sobre o Atlântico e sobre as temperaturas do Oceano Índico, que podem causar anomalias na precipitação numa escala decadária, durante o século 21; Os efeitos directos da desertificação, desflorestação e mudanças no uso da terra; Os efeitos da intensidade da variabilidade espaço-temporal da precipitação numa base regional. República de Cabo Verde, Outubro 2010 106 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 4.7.3 Consequências Secas e inundações associadas às alterações climáticas terão um impacto negativo sobre a segurança alimentar em África, particularmente em Cabo Verde. As secas têm um impacto imediato e negativo devido aos baixos rendimentos familiares. No entanto, dado às oscilações demográficas e ao aumento das populações nas áreas urbanas, haverá necessidade de aumentar a produção agrícola e as redes rodoviárias (estradas nacionais e urbanas), e os sistemas de drenagem deverão ser melhorados caso a precipitação aumentar futuramente. Um sistema de monitorização e estudo a médio e longo prazo para as mudanças climáticas deve ser desenvolvido, fazendo uso das tecnologias existentes (observações, superfície satélites e outros) e dever-se investir/substituir na infra-estrutura, quando necessário para acompanhar de perto os sistemas físicos e naturais, vulneráveis às mudanças climáticas antrópicas, com fins destinados à protecção das populações. Existe a necessidade de investir no capital humano, para aumentar o número de cientistas que terão por missão directa estudar, monitorizar e relatar as alterações climáticas efectuadas durante os próximos anos. Os órgãos de tomada de decisão política sobre a matéria precisam ser informados e actualizados sobre as mudanças climáticas locais e regionais, de modo a que as políticas nacionais definidas possam enfrentar os impactos potenciais e oferecer soluções. Neste contexto, também devem existir programas de sensibilização para o grande público, para que os habitantes caboverdianos possam entender o fenómeno das mudanças climáticas, recentes e futuras, bem como as suas consequências, o que lhes permitirá acompanhar e materializar as adaptações possíveis. República de Cabo Verde, Outubro 2010 107 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo V ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO V - ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 5.1 Avaliação das Adaptações às Mudanças Climáticas A adaptação diz respeito ao conjunto de iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos, face aos efeitos actuais e esperados das Mudanças Climáticas (MC). A avaliação da adaptação é considerada como sendo a avaliação da capacidade dos sistemas e grupos particulares de se adaptarem a condicionalismos específicos. Tendo em conta o espaço temporal relativamente recente do surgimento, com maior acuidade, desta problemática, no contexto do presente documento não foi levada a cabo uma avaliação propriamente dita, mas sim uma análise de um conjunto de medidas implementadas (obras de correcção torrencial, de conservação de solo e água, de florestação, entre outros) para fazer face aos condicionalismos edafo-climáticos adversos. Assim, ao longo dos tempos e muito em particular no período pós-independência, face aos efeitos nefastos da variabilidade climática, as medidas de adaptação implementadas pelas populações e pelos sucessivos governos visaram sobretudo criar condições para assegurar o mínimo de existência em termos de disponibilidade em água e segurança alimentar, perante os maus anos de produção agrícola, podendo assim ser citadas: Técnicas de conservação de solo e água Recolha da água das chuvas - Cisternas de captação comunitárias e familiares; Melhoria de abastecimento em água através de: furos, poços, galerias, diques de captação, infra-estruturas de captação de água de nevoeiro e unidades de dessalinização; Implementação de técnicas de preparação de terreno nos sistemas agroflorestais (banquetas, arretos, caldeiras) e um vasto programa de florestação nas zonas áridas e semi-áridas, com introdução de espécies resistentes à seca; Implementação de sistemas de rega localizada (rega gota-a-gota); Construção de barragens. Técnicas de adaptação dos sistemas de produção agrícola Introdução e exploração de novas variedades de culturas melhor adaptadas às nossas condições climáticas; Diversificação das culturas, em particular das hortícolas. Técnicas e medidas de adaptação aos efeitos da erosão costeira Interdição da apanha de inertes; República de Cabo Verde, Outubro 2010 108 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Utilização de quebra-mares; Harmonização e integração das actividades de gestão costeira; Aplicação da legislação; Projecto de protecção e gestão integrada das zonas costeiras. Apesar de ainda não ter sido feita uma avaliação extensiva do impacto da implementação de todas essas medidas, é, no entanto, visível os seus efeitos positivos, quer do ponto de vista das mudanças ambientais e paisagísticas, quer do ponto de vista sócio-económico. 5.2 As Estratégias e Medidas de Adaptação 5.2.1 Enquadramento Para a elaboração das estratégias e respectivas medidas de adaptação, há necessidade primeiramente de se entender as interações directas e indirectas entre os diferentes factores do clima e os sectores produtivos da sociedade. Assim sendo, a abordagem utilizada foi a mesma já anteriormente aplicada no quadro da elaboração do Programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (NAPA), concluído em finais de 2007, com o apoio do PNUD/GEF e o envolvimento e participação de um vasto leque de parceiros nacionais e internacionais. Deste modo, tratou-se de analisar as vulnerabilidades e respectivos impactos, induzidos por um conjunto de fenómenos e eventos extremos de natureza climática e antrópica, dos quais se destacam: Diminuição da pluviometria e da duração da estação húmida; Secas intensas e prolongadas; Alteração de micro-climas; Aumento de episódios de precipitações intensas; Aumento do escoamento superficial e erosão hídrica; Maior frequência das tempestades tropicais; Aumento da insolação e da evapotranspiração potencial (ETP); Episódios frequentes de variações extremas da temperatura; Elevação do nível médio do mar; Ondas mais agressivas e marés-altas extremas, com ondulação elevada; Forte intensidade das correntes marinhas; Aumento da temperatura e diminuição da humidade atmosférica; Vagas de calor e de poeiras; ocorrência e persistência de episódios de bruma seca; Extracção incontrolada de inertes nas zonas costeiras; Não cumprimento da legislação sobre a zona costeira; Poluição marinha e costeira; e Construção em larga escala de empreendimentos turísticos e outros na orla marítima. República de Cabo Verde, Outubro 2010 109 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS As análises realizadas no quadro dos vários estudos de base sobre os efeitos adversos, actuais e futuros das MC em Cabo Verde, apontaram a variabilidade e a aleatoriedade pluviométrica como uma das características mais marcantes das condições climáticas do país que, de forma transversal, comporta impactos nos principais sectores de desenvolvimento sócio-económico. Associado a essa condicionante natural, o crescimento contínuo da população e o consequente aumento do consumo da água, bem como a forte procura pelos sectores económicos em franco crescimento, como o agropastoril, o turismo, a construção civil, a indústria, entre outros, provocam uma forte pressão sobre os recursos hídricos o que faz com que este recurso vital seja um factor preponderante na construção da estratégia do país e das medidas de adaptação às Mudanças Climáticas. 5.2.2 Objectivos da Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas Globalmente, a Estratégia Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, tem por objectivo aumentar a capacidade de resistência do país às variabilidades e mudanças climáticas de modo a atingir as metas de desenvolvimento fixadas na sua Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza, na perspectiva de introduzir acções que, a longo prazo, visem reduzir a emissão de GEE. Assim sendo, as estratégias de intervenção sectoriais deverão orientar-se pelos objectivos estratégicos tendentes a: Promover a gestão integrada dos recursos hídricos a fim de garantir água para: as populações, a produção de alimentos, os ecossistemas e a indústria turística; Desenvolver a adaptabilidade dos sistemas de produção agro-silvopastoril de modo a melhorar a produção agrícola e promover a segurança alimentar das populações; e Proteger as zonas costeiras contra a degradação ambiental causada pelos eventos climáticos extremos e pela pressão antrópica, a fim de assegurar uma gestão racional dos seus recursos. 5.2.3 Eixos estratégicos prioritários Para se alcançar cada um dos objectivos estratégicos anteriormente apontados, e numa perspectiva de gestão global e integrada dos diferentes aspectos ligados aos efeitos das mudanças climáticas, o processo de implementação da Estratégia Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas deverá assentar-se sobre os seguintes quatro eixos estratégicos orientadores das medidas políticas da intervenção face à problemática das mudanças climáticas e variabilidade climática: i. ii. iii. Reforço das capacidades dos intervenientes em matéria de adaptação às Mudanças climáticas e variabilidade climática do ponto de vista sistémico, organizacional e individual; Actividades de investimento, conservação e protecção no terreno; Investigação/acção para melhorar a resistência das populações e dos ecossistemas; República de Cabo Verde, Outubro 2010 110 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS iv. Informação, Educação e Mobilização dos intervenientes sobre os riscos devido às mudanças e variabilidade climáticas. i) Reforço das capacidades dos intervenientes em matéria de adaptação às mudanças e variabilidades climáticas do ponto de vista sistémico, organizacional e individual Enfrentar os desafios que os impactos das variabilidades e mudanças climáticas acarretam, pressupõe que os diferentes intervenientes nos vários sectores de actividade socioeconômica, terão de desenvolver novos conhecimentos, atitudes e práticas. E é nesse sentido que o desenvolvimento/reforço das capacidades foi retido como uma das medidas estratégicas transversais de adaptação, considerada como um processo de aquisição de saber, de bens ou de quadro institucional favorável, que deve permitir aos intervenientes desenvolver novas aptidões, a fim de poderem assumir novas responsabilidades, atitudes e valores, perante o fenómeno de mudanças e variabilidades climáticas. Mas, provocar tais mudanças ultrapassa as simples acções pontuais e requer uma abordagem estratégica mais global e uma intervenção gradual a curto, médio e longo prazo. República de Cabo Verde, Outubro 2010 111 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AUMENTAR A CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA DE CABO VERDE ÀS MUDANÇAS E VARIABILIDADES CLIMÁTICAS OE 1 : Políticas e Medidas de Adaptação Promover a gestão integrada dos recursos hídricos OE 2 : Desenvolver a adaptabilidade dos sistemas de produção agrosilvo-pastoril OE 3 : Proteger e prevenir a degradação das zonas costeiras Reforço das capacidades dos intervenientes em termos de adaptação às MC e VC. Actividades de investimento, conservação e protecção no terreno Pesquisa-acção para melhorar a resistência das populações e dos ecossistemas Informação, Educação e Mobilização (IEM) dos depositários dos desafios sobre os riscos devidos às MC e VC Projectos prioritários Figura 37 - Estratégia nacional de adaptação às mudanças e variabilidades climáticas República de Cabo Verde, Outubro 2010 112 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Para a operacionalização deste eixo estratégico, dever-se-á apoiar em grande medida no projecto NCSA (Auto - avaliação das capacidades nacionais para a gestão global do ambiente), cuja primeira fase Cabo Verde já finalizou. As necessidades, em termos de reforço das capacidades para a implementação da CQNUMC, foram analisadas ao pormenor, no quadro desse projecto. ii) Actividades de investimento, conservação e protecção no terreno: A estratégia, e as respectivas medidas de adaptação, está claramente orientada para obtenção de resultados, pretendendo ter impactos reais no terreno, razão pela qual os investimentos em actividades de campo através de medidas de conservação e de protecção dos recursos serão muito privilegiados. Com a implementação deste eixo estratégico, que deverá constituir o grosso do custo dos projectos prioritários, Cabo Verde reafirma a sua opção política em ajudar as populações nos seus esforços permanentes de adaptação. Tratar-se-á, por um lado, de repetir em grande escala as melhores práticas locais e, por outro, de assumir a responsabilidade pelos grandes investimentos que as populações locais não podem assumir. iii) Investigação/acção para melhorar a resistência das populações e dos ecossistemas A investigação/acção participativa deve ter aplicações concretas que satisfaçam as necessidades das comunidades locais, contribuindo para as políticas que visam reduzir a vulnerabilidade. A investigação/acção sobre a adaptação põe em contacto os representantes das comunidades locais afectadas, os decisores e os investigadores, no quadro de um processo comum de “aprendizagem pela prática”, e congrega os conhecimentos científicos e locais à experimentação e validação de estratégias de adaptação. Os laços entre investigadores, responsáveis pelas políticas e comunidades que estão no centro destas actividades, ajudam a assegurar que a investigação promovida pela implementação da estratégia, se alicerce na procura dos utilizadores da investigação e não nas ofertas das instituições de investigação. iv) Informação, educação e mobilização dos intervenientes sobre os riscos devido às mudanças climáticas e variabilidades climáticas As actividades em matéria de informação, educação e mobilização complementam-se, construindo-se, tanto a partir das práticas de reforço das capacidades, como das de investigação/acção. A repartição e implementação dos conhecimentos gerados pelas actividades de reforço de capacidades e de investigação/acção serão estratégicas para a apropriação e continuidade do programa. Com este eixo estratégico, que é de natureza transversal, a estratégia nacional apoiará a elaboração de material didáctico (ilustrado e em língua nacional) dirigido às populações locais (incluindo os grupos em risco), às autoridades políticas (incluindo as locais), e aos investigadores. Apoiará ainda as actividades de comunicação e de funcionamento em rede, tanto a nível nacional, como regional. Tratar-se-á essencialmente de facilitar a partilha de conhecimentos e de apoiar Cabo Verde a participar efectivamente em todo o processo. Neste sentido, procurar-se-á apoiar os intervenientes nacionais para melhor se organizarem na perspectiva de criar “respostas” às mudanças climáticas e construir posições comuns sobre certas questões estratégicas ligadas à gestão das mudanças climáticas e dos seus impactos em Cabo Verde. De realçar igualmente, que a Estratégia República de Cabo Verde, Outubro 2010 113 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Nacional de Adaptação às MC, à semelhança do previsto no NAPA, tem por base um conjunto de princípios directores, que estão em estreita relação com a Visão do Crescimento e da Luta Contra a Pobreza em Cabo Verde: A abordagem programa, que se articula à volta da Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza, bem como de programas sectoriais de gestão integrada dos recursos hídricos e do desenvolvimento da agricultura. O seu horizonte temporal é de curto a médio prazo: 2008-2015; A abordagem inclusiva favorável aos pobres e à gestão local, de modo a encarar as necessidades das populações mais vulneráveis, frequentemente dependentes dos recursos naturais. Tal abordagem apoia-se na descentralização; A abordagem por custos adicionais, elaborando nomeadamente projectos prioritários com base nas conquistas do sector de intervenção, bem como de programas e projectos em curso. Tal abordagem evita duplicações e apresenta a vantagem de assegurar as sinergias necessárias, bem como a mobilização de cofinanciamentos substanciais; A subsidiariedade, como base de estabelecimento de uma parceria. Trata-se de implicar todos os parceiros (governo, ONGs, comunidades locais, PTF, e outros), com base nas respectivas vantagens comparativas; A obtenção de resultados no terreno, que se baseia num conjunto de indicadores de desempenho e de impacto, bem como num plano de monitorização e avaliação orientado para os resultados. 5.2.4 Medidas globais de adaptação por sector 5.2.4.1 Considerações prévias Após as análises de vulnerabilidade em relação ao comportamento dos diferentes parâmetros e respectivos impactos, no contexto das mudanças climáticas, realizadas através dos estudos de vulnerabilidade e adaptação sectoriais e socializadas e discutidas com os parceiros em várias reuniões de trabalho, foram propostos um conjunto de medidas de adaptação para o conjunto dos sectores que foram objecto de análises de vulnerabilidade – Recursos Hídricos, Agrosilvopastoril, Zonas Costeiras/Turismo, Biodiversidade, Pescas, Energia/Indústria e Saúde - e cujas principais características são destacadas a seguir. 5.2.4.2 Recursos hídricos Em Cabo Verde, as precipitações irregulares, de forte intensidade e mal distribuídas no espaço e no tempo, aliadas a uma infiltração deficiente fazem com que a água constitua um dos factores limitantes para o desenvolvimento socioeconómico do país. O aumento da população, o desenvolvimento urbanístico e o crescente aumento das necessidades para irrigação, o turismo e a indústria, aliados à seca dos últimos anos, têm proporcionado situações de carência, que tendem a agravar-se com o tempo. República de Cabo Verde, Outubro 2010 114 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 5.2.4.3 Sector Agrosilvopastoril O sector agrário é caracterizado por uma grande vulnerabilidade, tendo em conta a escassez de recursos naturais, (água e solo) o sistema de exploração e as condições climáticas e geológicas.A variabilidade das precipitações (quantidade insuficiente e/ou mal repartidas no espaço no tempo) aliada à elevada taxa da ETP, às superfícies cultiváveis e à disponibilidade em água e solo constituem factores determinantes na obtenção de boa produção agrícola. Os défices hídricos têm reduzido, por um lado, as probabilidades de colheitas nas áreas de sequeiro e, por outro, os rendimentos e as produções. A capacidade de carga das áreas de vocação silvo-pastoril e os efectivos pecuários, também, vêm sendo afectados. 5.2.4.4 Turismo e Zona Costeira A zona costeira é um meio muito sensível às variações do clima, nomeadamente à elevação do nível do mar. Sendo assim, Cabo Verde, como pequeno país insular, está directamente sob a ameaça dos fenómenos relacionados a esse aumento. Como ilhas vulcânicas, o arquipélago dispõe de um espaço relativamente reduzido propício ao habitat humano e ao exercício de actividades económicas, de modo que muitas infraestruturas se encontram concentradas na zona costeira. 5.2.4.5 Biodiversidade Actualmente existem evidências a nível global de que as mudanças do clima estão afectando a biodiversidade, principalmente devido às alterações observadas a nível dos ecossistemas. A vulnerabilidade das espécies marinhas cabo-verdianas, sobretudo das zonas costeiras, tem aumentado, apesar da existência de medidas legislativas no sentido de minimizar a pressão sobre as mesmas e os seus habitats. Não obstante a adopção dessas medidas, o meio marinho tem experimentado mudanças como resultado do aumento de pressão das capturas de espécies comerciais, da extracção de inertes e da deposição de sedimentos nas zonas litorais como resultado das actividades realizadas no interior das ilhas. 5.2.4.6 Pescas Cabo Verde não possui uma biomassa significativa de recursos haliêuticos, como acontece em regiões vizinhas da costa africana. A ZEE, de cerca de 734.000 km2, que, pela sua natureza vulcânica e montanhosa determina uma plataforma continental até os 200m, é reduzida a aproximadamente 5,394km2, possuindo um potencial que não ultrapassa as 44.000 ton/ano. 5.2.4.7 Energia e Indústria A tendência à expansão, ao crescimento económico acelerado e à crescente procura pelo ambiente turístico são os factores que vêm inflacionando o consumo de energia no país, destacando desafios de natureza estratégica e de planeamento de infra-estruturas. Assim, a necessidade de se promover a eficiência do sector energético, a mudança comportamental em relação ao uso do recurso e o aumento da penetração das fontes de energias alternativas foram traçadas como estratégias para a construção de um futuro energeticamente independente. República de Cabo Verde, Outubro 2010 115 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Em relação ao potencial industrial, não existem no país contratos relacionados com a deposição de resíduos, consequentemente existem contaminações, significativas tanto para a saúde humana quanto para o ambiente, de terrenos contíguos a estes espaços. Este problema se relaciona principalmente ao uso de tecnologias antigas ou obsoletas. Por outro lado, no sector da construção, a exploração de inertes tem sido grande, constituindo um dos principais problemas ambientais a resolver. 5.2.4.8 Saúde Actualmente, o país encontra-se numa fase de transição epidemiológica, verificando-se um aumento progressivo de doenças não transmissíveis (hipertensão arterial, AVC, diabetes, cancro, etc.), a par da persistência de doenças infecto-contagiosas. A nível mundial, os indicadores mais usados para avaliação do impacto das mudanças climáticas, se relacionam com a presença de doenças transmitidas por vectores (paludismo e a dengue), e as veiculadas pela água ou relacionadas com a falta de higiene, exposição exacerbada a factores ambientais e malnutrição. Em Cabo Verde, foram considerados como indicadores o reaparecimento da febre-amarela, a dengue, o paludismo, as doenças diarreicas e algumas viroses, além de considerar a possibilidade de ocorrência de acidentes e traumatismos em casos de chuvas intensas e inundações. 5.3 Resumo dos Principais Impactos e Opções de Medidas de Adaptação às MC As tabelas constantes do ANEXO III contêm um resumo dos principais impactos relativos a um conjunto de fenómenos de natureza climática e antrópica susceptíveis de produzir condições favoráveis às mudanças climáticas, bem como as respectivas opções de medidas de adaptação e as dificuldades/barreiras que os respectivos sectores enfrentam quanto à sua implementação. 5.4 Selecção e Hierarquização das Medidas Prioritárias Segundo a Metodologia NAPA Com base nesse levantamento apresentado nas tabelas, em anexo, uma equipa pluridisciplinar definiu como prioritários os sectores dos Recursos Hídricos, o Agrosilvopastoril, do Turismo/Zonas Costeiras, da Biodiversidade, das Pescas e da Energia. Igualmente, foi identificado um conjunto de medidas prioritárias, consideradas transversais a todos os sectores, que deverão ser operacionalizadas nos diferentes projectos prioritários. Trata-se de: i) Reforçar a capacidade técnica, material e organizacional; ii) Promover uma maior difusão de informações sobre as mudanças climáticas; iii) Sensibilizar a sociedade civil para a necessidade de uma gestão racional e sustentável dos recursos naturais; iv) Promover/reforçar as organizações pró-ambientais a nível da sociedade civil. Relativamente às medidas retidas, de acordo com as linhas directivas do NAPA, a equipa pluridisciplinar procedeu à identificação dos potenciais critérios de priorização, na base dos critérios gerais propostos pelo LEG (Groupe d’Experts des Pays les Moins República de Cabo Verde, Outubro 2010 116 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Avancés), complementados com análises mais específicas, no quadro de outras estratégias e planos de desenvolvimento, nacionais e sectoriais - Grandes Opções do Plano, o DECRP (Documento de Estratégia e Redução da Pobreza), nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e ainda nos planos sectoriais PANA II (Plano de Acção Nacional para o Ambiente 2004-2014) e Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrícola Horizonte 2015, tendo no final utilizado os seguintes critérios de selecção: Contribuição para resolução dos problemas imediatos e urgentes de adaptação às Mudanças Climáticas; Capacidade para contribuir na redução da pobreza; Maior número de beneficiários; Sinergia entre os diferentes instrumentos da política ambiental; Custo/beneficio. Depois procedeu-se à escolha das técnicas de análise, de entre as 3 (três) técnicas principais: Análise Custo-Benefício (ACB), Análise Custo-Eficácia (ACE) e Análise Multicriterial (AMC). Tendo em conta as dificuldades inerentes à obtenção de dados de base para a aplicação das duas primeiras, optou-se pela AMC. 5.5 Necessidades Prioritárias em Matéria de Adaptação Após a finalização da análise multi-criterial, foram obtidas as opções de medidas de adaptação prioritárias retidas para os sectores dos Recursos Hídricos, Agrosilvopastoril, Turismo/Zonas Costeiras, Biodiversidade, Pescas e Energia. A priorização das medidas é apresentada nas tabelas (35 e 36) que se seguem e nas tabelas que constam no Anexo IV. República de Cabo Verde, Outubro 2010 117 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 1º Lugar 2º Lugar Construir infra-estruturas de captação, adução e armazenamento de água e de recarga dos lençóis freáticos Reforçar as acções de luta contra a desertificação e protecção das bacias hidrográficas, através da florestação e outras técnicas 3º Lugar Diversificar as actividades geradoras de rendimento no meio rural 4º Lugar Modernizar e massificar as tecnologias de rega localizada 5º Lugar Melhorar e controlar a qualidade da água 6º Lugar 7º Lugar Apostar fortemente nas técnicas de Produção Ambientalmente Sustentáveis Implementar o micro-crédito para pequenos criadores como forma de incentivo 8º Lugar Desenvolver a pecuária semi-intensiva 9º Lugar Utilizar condutas fechadas nos circuitos de abastecimento de água 10º Lugar Intensificar e diversificar a produção hortícola e frutícola 11º Lugar 12º Lugar 13º Lugar Utilizar variedades e espécies adaptáveis às condições edafoclimaticas Apoiar a implementação das medidas de prevenção, protecção e fiscalização sobre ocorrência de incêndios e delitos florestais Promover a investigação aplicada de pacotes tecnológicos para fazer face aos impactes negativos das mudanças climáticas. Tabela 35 - Priorização sectores agrosilvopastoril e recursos hídricos 1º Lugar 2º Lugar 3º Lugar 4º Lugar 5º Lugar 6º Lugar 7º Lugar Diversificar as actividades e medidas de reconversão das populações que vivem da exploração dos recursos costeiros Apoiar a diversificação de actividades alternativas à pesca artesanal (formação, equipamentos, micro-crédito, entre outros); Prosseguir com as acções de preservação e gestão de áreas protegidas; Reabilitar e ou construir infra-estruturas de protecção nas zonas costeiras Reforço do equipamento e a modernização da pesca artesanal; Apoiar a implementação de iniciativas de utilização de energias renováveis (solar e eólica), em particular nas comunidades rurais; Modernizar a rede de estações de monitorização climática e marítima; 8º Lugar Incentivar a produção e fixação de plantas endémicas; 9º Lugar Conservar e utilizar de forma durável as espécies medicinais; 10º Lugar Promover a pesquisa das espécies ameaçadas e vulneráveis às MC; Tabela 36 - Prioridades para turismo, zonas costeiras, biodiversidade, pescas e energia República de Cabo Verde, Outubro 2010 118 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Das opções/medidas identificadas anteriormente foram consideradas como prioritárias, e consequentemente utilizadas como indicadores na elaboração de projectos prioritários no quadro NAPA, as seguintes: Construir infra-estruturas de captação, adução e armazenamento de água e de recarga dos lençóis freáticos; Reforçar as acções de protecção das bacias hidrográficas, para melhorar e assegurar a segurança alimentar; Promover e diversificar as actividades geradoras de rendimento no meio rural; Modernizar e massificar as tecnologias de rega localizada; Apostar fortemente nas técnicas de Produção Ambientalmente Sustentáveis; Utilizar variedades e espécies adaptáveis às condições edafo-climaticas; Diversificar as actividades e medidas de reconversão das populações que vivem da exploração dos recursos costeiros; Apoiar a diversificação de actividades alternativas à pesca artesanal (formação, equipamentos, micro-crédito, entre outros); Prosseguir com as acções de preservação e gestão de áreas protegidas; Reabilitar e ou construir infra-estruturas de protecção nas zonas costeiras; Reforçar o equipamento e a modernização da pesca artesanal; Apoiar a implementação de iniciativas de utilização de energias renováveis (solar e eólica), em particular nas comunidades rurais; Modernizar a rede de estações de monitorização climática e marítima; Incentivar a produção e fixação de plantas endémicas; Conservar e utilizar de forma durável as espécies medicinais; e Promover a pesquisa das espécies ameaçadas e vulneráveis às MC. 5.6 Recomendações para iniciativas e políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) A identificação e priorização das medidas anteriormente apresentadas constituem opções de medidas, de carácter global, para o conjunto dos sectores considerados prioritários. Posteriormente, foi realizada uma análise mais detalhada de algumas delas e especificamente para os sectores, agropecuário, recursos hídricos e zona costeira, numa perspectiva de ciência, tecnologia e inovação e considerando as vertentes: vulnerabilidade, impactos e adaptação. O resultado dessa análise foi a elaboração das matrizes contendo um conjunto de recomendações que deverão servir de base para a elaboração de iniciativas e políticas, em matéria de vulnerabilidade, impactos e adaptação e numa óptica de CT&I. Aqui apresenta-se apenas um resumo para a componente adaptação e para os três sectores já referidos (ver ANEXO V). República de Cabo Verde, Outubro 2010 119 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 5.7 Necessidades de Transferência de Tecnologia em Matéria de Adaptação À semelhança da metodologia utilizada para a identificação das medidas de adaptação, foi realizada, com a participação de vários parceiros e actores, o levantamento das necessidades em matéria de transferência de tecnologia para a adaptação, referente aos domínios, agrícola, abastecimento de água, zona costeira e energético. De salientar que em alguns domínios Cabo Verde detém a tecnologia e pode também “exportar” para outros países. (ver ANEXO VI). 5.8 Programa de Consciencialização dos Actores sobre os Impactos das Mudanças Climáticas Em relação à Promoção e Reforço da Formação, Informação e Sensibilização dos diferentes actores, foram identificadas como lacunas: Insuficiência de informação relativamente à CQNUMC, ao protocolo de Kyoto e em geral a toda a problemática relacionada com as mudanças climáticas; Sensibilização e formação insuficientes, de grande parte da população, relativamente aos efeitos e impactos negativos, das MC, sobre os sectores mais vulneráveis; Falta de sensibilização dos agricultores/pescadores resultante da sua baixa escolaridade; Fraca divulgação pelos midia e instituições responsáveis, da temática ”Mudanças Climáticas”; e Lacuna de informação/formação nos curricula escolares. Assim sendo, define-se como objectivos de MC: 1. Reforçar as acções de sensibilização relativamente aos efeitos e impactos negativos nos sectores mais vulneráveis; 2. Aumentar o nível de escolaridade dos agricultores/pescadores através de educação dos adultos e aproveitar esse espaço para veicular as informações; 3. Estabelecimento de campanhas de Formação e informação; 4. Divulgar as informações concernentes à legislação vigente no país, protocolos e convenções internacionais; 5. Introduzir nos curricula escolares informação sobre a temática. Para se alcançar esses objectivos, um conjunto de actividades terá de ser realizada, de entre as quais se destacam: Elaboração de documentação sobre a temática ”Mudanças Climáticas”, brochuras temáticas, produção de filmes documentários, programas República de Cabo Verde, Outubro 2010 120 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS radiofónicos, entre outros; Formação e/ou reciclagem dos quadros técnicos a nível central, municipal, ONG’s e Associações Comunitárias; Campanhas de Informação e Sensibilização, destinadas a um vasto leque de actores: decisores políticos, deputados, eleitos locais, quadros técnicos, estudantes dos diferentes níveis de ensino (EBI, ES e universitários), operadores privados, ONG’s, Associações Comunitárias e população em geral; e Realização de conferências, encontros de debate, com a presença de especialistas de renome, em matéria de MC. 5.9 Propostas de Projectos Prioritários As propostas de projectos prioritários, constantes do ANEXO VII, a serem implementados, a curto e médio prazo, deverão ter em conta os objectivos estratégicos previstos na Estratégia Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas e deverão dar resposta às necessidades em matéria de transferência de tecnologia para a adaptação e mitigação, em particular para os sectores considerados vulneráveis e prioritários que carecem de uma intervenção urgente para fazerem face aos impactos nefastos da Mudanças Climáticas. Deverão ainda permitir operacionalizar as recomendações para iniciativas e políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação, já identificadas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 121 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Capítulo VI ORGANIZAÇÃO EM QUESTÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS República de Cabo Verde, Outubro 2010 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAPÍTULO VI - ORGANIZAÇÃO EM QUESTÕES DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS A problemática dos efeitos das mudanças climáticas no mundo, particularmente nos países insulares e arquipelágicos como Cabo Verde, fez com que o governo passasse a dar uma maior atenção a essa questão, criando as condições essenciais para que o país entrasse numa nova fase de implementação da política ambiental face às mudanças climáticas. Com efeito, foi concebido e está a ser implementado, num quadro alargado de parceria (público/privado, ONGs, organismos de investigação nacionais e internacionais), com sucesso, o Segundo Plano de Acção Nacional para o Ambiente (PANA II), no horizonte 2004-2014, tendo como objectivo geral fornecer uma orientação estratégica para guiar o uso racional dos recursos naturais e a gestão sustentável das actividades económicas. Foram mobilizados recursos, através da ajuda orçamental, para a implementação do PANA II e assinados protocolos para os Planos Ambientais Municipais. De igual modo, prossegue-se com a execução dos programas e projectos sectoriais designadamente nos sectores da educação, saúde, ordenamento do território, recursos hídricos, biodiversidade, das pescas, da agricultura, energia, indústria, e outros. A educação ambiental está sendo abordada de forma global, como instrumento transversal de apoio à implementação de todos o programas e para a mudança dos comportamentos e dos padrões de consumo. Avanços significativos são de destacar nos domínios institucional e legal, com a estruturação do sistema de coordenação e gestão, com a criação do sistema de informação ambiental e com o processo de regulamentação da legislação ambiental. Atenção especial será dispensada ao reforço da capacidade institucional do sector do ambiente, tanto no que concerne à consolidação da estrutura orgânica para dar resposta aos desafios e assegurar a execução do PANA II e a implementação das Convenções e Protocolos Internacionais, como, na consolidação dos sistemas de informação nacional para o ambiente e de seguimento da qualidade ambiental, no reforço da legislação, na capacitação de quadros no domínio do ambiente com atenção devida para a inspecção ambiental e avaliação de impactes ambientais. A implementação das convenções das Nações Unidas no domínio do ambiente, em particular as ligadas á Diversidade Biológica e à Luta contra a desertificação e efeitos da seca e mudanças climáticas, estão a merecer uma atenção particular do Governo. Cabo Verde foi o primeiro País Africano de Língua Oficial Portuguesa a ratificar a Convenção Quadro sobre as Mudanças Climáticas, datada de Março de 1995, e entrou em vigor a 22 de Junho de 1995, como país do Não-Anexo I. Também é o primeiro país Africano dos PALOP a criar a Autoridade Nacional Designada e a ter um projecto Mecanismo Desenvolvimento Limpo (MDL) certificado pelo Secretariado Executivo de MDL da UNFCCC. Através da resolução n.º 16/2009, de 2 de Junho, foi criada o Comité Interministerial para as Mudanças Climáticas, que funciona também como Autoridade Nacional Designada, com a finalidade de articular acções de governo decorrentes da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas e do Protocolo de Quioto e seus instrumentos subsidiários de que Cabo Verde seja parte. República de Cabo Verde, Outubro 2010 122 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS O Comité Interministerial para as Mudanças Climáticas é formado pelas seguintes instituições: Direcção Geral do Ambiente do Ministério do Ambiente, do Desenvolvimento Rural e dos Recursos Marinhos; Direcção Geral do Planeamento, Ordenamento e Gestão do Ministério do Ambiente, do Desenvolvimento Rural e dos Recursos Marinhos; Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica; Direcção Geral da Indústria e Energia do Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade; Direcção Geral das Infra-estruturas, Transportes e Telecomunicações; Direcção Geral dos Transportes Rodoviários, do Ministério da Administração Interna; Direcção Geral de Relações Internacionais, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades. Mais, os membros do Governo responsáveis pela área do Ambiente e da Economia são, respectivamente, o Presidente e o Vice-Presidente do Comité, sendo os membros suplentes indicados pelos titulares dos órgãos e designados por seus respectivos Ministros. A Direcção geral do Ambiente (DGA) exerce a função de Secretaria Executiva do Comité Interministerial para as Mudanças Climáticas e presta apoio técnico e administrativo aos trabalhos do colegial. O Comité Interministerial para as Mudanças Climáticas pode solicitar a colaboração de órgãos públicos ou privados e entidades representativas da sociedade civil na realização das suas atribuições. Assim, ao Comité Interministerial Mudanças Climáticas compete, entre outros: 1. Emitir parecer, sempre que solicitado, sobre propostas de políticas sectoriais, instrumentos legais e normas que contenham componente relevante para a mitigação de mudanças climáticas e para adaptação do País aos seus impactos; 2. Fornecer subsídios às posições do Governo sob a égide da Convenção Quadro sobre as Mudanças Climáticas e Protocolo de Quioto, bem como dos instrumentos subsidiários de que Cabo Verde seja parte; 3. Definir critérios de elegibilidade adicionais àqueles considerados pelos Organismos do Protocolo de Quioto, encarregados do MDL, conforme estratégias nacionais de desenvolvimento sustentado; 4. Apreciar pareceres sobre actividades de projectos que resultem em redução de emissões e que sejam considerados elegíveis para o MDL, a que se refere o anterior, e aprová-los, se for o caso; 5. Realizar a articulação com entidades representativas da sociedade civil, no sentido de promover as acções dos órgãos governamentais e privados, em cumprimento aos compromissos assumidos por Cabo Verde perante a da Convenção Quadro sobre as Mudanças Climáticas e Protocolo de Quioto e instrumentos subsidiários de que Cabo Verde seja parte. 6.1 Providências tomadas ou Previstas para a Implementação da Convenção e do Protocolo de Quioto Cabo Verde ratificou a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (CQNUMC) a 29 de Março de 1995, e ela entrou em vigor a 22 de Junho do mesmo ano. Na condição de Parte Contratante da Convenção, Cabo Verde assumiu República de Cabo Verde, Outubro 2010 123 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS nesta data o compromisso de formular uma Comunicação Nacional à Conferência das Partes (CdP). Em 2000, apresentou a sua Primeira Comunicação Nacional (PCN) bem como a sua Estratégia Nacional e Plano de Acção sobre Mudanças Climáticas. Para a elaboração desses instrumentos, teve-se em conta os diversos estudos efectuados pelos diferentes sectores respeitantes a inventários dos Gases com Efeitos de Estufa (GEE), análise de vulnerabilidade, adaptação e mitigação. Em 5 de Dezembro de 2005 ratificou o Protocolo de Quioto. Através da Resolução nº 3/2000 de 31 de Janeiro, o Governo aprovou a Estratégia Nacional e o Plano de Acção a Biodiversidade, na Resolução nº 29/2003 de 29 de Dezembro aprovou a Politica Nacional de Saneamento, em 2004 estabeleceu a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e o seu programa quinquenal. Outras resoluções: n.º 3/2005, de 21 de Fevereiro, aprovando o Plano de Gestão dos Recursos de Pesca, n.º 14/2005, de 25 de Abril, aprovando o Segundo Plano de Acção para o Ambiente, PANA II, no horizonte 2004-2014, como instrumento de implementação da política nacional no domínio do Ambiente, Resolução 16/2005, de 9 de Maio, aprovando o Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrícola, horizonte 2015 e o Plano de acção 2005-2008. Em 2005, o Governo de Cabo Verde recebeu através do PNUD/FEM um financiamento para formulação do seu Programa de Acção Nacional de Adaptação (NAPA) em matéria das Mudanças Climáticas, com vista a identificar as opções de adaptação prioritárias segundo as necessidades e preocupações urgentes e imediatas das populações mais vulneráveis face aos efeitos nefastos da variabilidade e mudanças climáticas. No âmbito da implementação dos compromissos assumidos na Convenção do Rio (CBD / CCD / CCC), o governo de Cabo Verde, com o apoio do Fundo Mundial para o Ambiente (FMA) e do SNU, elaborou em 2007 o projecto NCSA, Autoavaliação das Capacidades Nacionais para a Gestão Global do Ambiente com vista a avaliar as capacidades nacionais no domínio da gestão do ambiente global e a reforçar as suas capacidades individuais, institucionais e sistémicas de forma a proporcionar uma melhor gestão do ambiente no quadro da redução da pobreza e desenvolvimento sustentável. 6.2 Programas e Acções Relacionadas ao Desenvolvimento Sustentado Alguns dos programas e acções de desenvolvimento sustentado, em Cabo Verde, estão relacionados com o uso das energias renováveis e à conservação e/ou eficiência energética. Esses programas contribuem para que Cabo Verde até 2012 tenha uma matriz energética mais limpa (taxa penetração 25%), contribuindo assim para a estabilização das concentrações dos gases de efeito de estufa na atmosfera e para o desenvolvimento sustentado a longo prazo. De entre os programas, destacamos: República de Cabo Verde, Outubro 2010 124 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS O projecto Cabeólica: Potência Instalada Produção Anual de Percentagem de (MW) 10 Energia (GWh/ano) 30.1 – 40.3 Penetração (%) 17 São Vicente 6 25.1 – 31.5 36 Sal 8 28.2 – 36.3 33 Boa Vista 4 14.8 – 17.3 46 Cabo Verde 28 98.2 – 125.4 25 Ilha Santiago Projectos de centrais fotovoltaicas: a) Central solar de Santiago Potencia instalada de 5MW; Energia gerada: 8.128 MWh. Custo: 2.063.168.415,00 ECV. Entrada em funcionamento: 2010 Poupança anual de combustível: cerca de 1,8 mil toneladas, o que equivale a uma poupança de cerca de 136 milhões de ECV anuais. b) Central solar do Sal Potência instalada de 2,5MW; Energia gerada: 4.064 MWh. Custo: 1.029.537.413,00 ECV. Entrada em funcionamento: 2010 6.3 Programas Conservação de Energia O plano energético do país para os próximos 10 anos engloba uma série de acções tendentes a: Atingir uma taxa de penetração de energias renováveis de 25% até 2012 e 50% até 2020 e ter pelo menos uma das ilhas (Brava) a 100% renovável; Promover a conservação de energia e a eficiência do sector energético; República de Cabo Verde, Outubro 2010 125 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Expandir a capacidade de produção de energia eléctrica, criando centrais únicas, aumento da eficiência na produção e distribuição, aumento da capacidade de resposta e de satisfação das necessidades energéticas; Garantir uma cobertura em energia eléctrica de 95% até 2011 e 100% até 2015 e a garantia de uma maior qualidade e fiabilidade no acesso à energia; Reforçar a capacidade institucional e o quadro legal. O Governo de Cabo Verde criou recentemente um Fundo de Segurança Energética, com o objectivo de promover a investigação e adopção de novas tecnologias no sector energético do país. O Governo aprovou também um diploma de incentivos legais e fiscais para a implementação de projectos de microgeração em edifícios, residências e hotéis. Numa primeira fase e em parceria com os Municípios, alguns edifícios públicos vão ser contemplados num programa de microgeração que pretende adoptar estes edifícios com uma potência renovável de 120 KW a distribuir pelos mesmos. Foi também criada uma empresa de logística comum, com o objectivo de garantir a segurança no abastecimento do país e melhorar a rede de distribuição e a eficácia do subsector de combustíveis e controlo da fraude e roubo de energia. 6.4 Programas e Acções de Mitigação às Mudanças Climáticas Com o desenvolvimento acelerado que se verifica em algumas Ilhas, Santiago, Sal, Boavista, essas duas ultimas devido ao turismo, a procura por energia e água tem crescido mais rapidamente que a produção que a empresa nacional (Electra) possa disponibilizar. Os vários programas do Governo de Cabo Verde em execução, buscam aumentar e substituir fontes de energia fósseis, com alto conteúdo de carbono por unidade de energia gerada por outras de menor ou quase nulo conteúdo em carbono. Essas formas de energia, tem por objectivo, ajudar o país a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e contribuir para que Cabo Verde atinja o objectivo final da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Esse é o caso da construção de quatro parques eólicos nas ilhas de Santiago, Boavista, S. Vicente e Sal, um projecto público privado que tem a participação do Governo de Cabo Verde, Electra e a empresa Inglesa Infraco. Com uma capacidade total instalada de 28 MW, a energia eólica produzida representa 25% da geração de energia em 2012 e que permitirá a Cabo verde ser o líder na região na produção da energia eólica. Com implementação deste projecto (conclusão 2012), Cabo Verde reduz a importação de combustível fóssil em cerca de 20 mil toneladas ano, o que representa cerca de 30% de importação de combustível. Cabo Verde vai poupar €13.000.000 na importação de combustível por ano. Em termos de redução das emissões dos gases de efeito de estufa, pelo menos 50 mil toneladas por ano de equivalente de carbono não serão emitidos. Também será instalado nas ilhas do Sal e de Santiago sistemas fotovoltaicos para a produção de energia. Na Ilha do Sal será instala uma potência de 2.5 MW, na primeira fase, e 2.5 de MW na segunda fase. Para a ilha de Santiago, 5 MW, as duas centrais terão no final uma taxa de penetração correspondente a 4% de energia produzido, o que acaba por ser a maior taxa do mundo. Com a implementação desse projecto (Setembro de 2010) haverá uma redução na emissão de gases de efeito de estufa de 15.000 toneladas CO2. O custo do projecto é de 27 milhões de euros, financiado através da linha de crédito com Portugal. República de Cabo Verde, Outubro 2010 126 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Na iluminação pública, estão a ser instaladas nas ilhas de Sal, Santiago, S. Antão e Fogo 36 microgeradores para a produção de energia, através de painéis solares. Também, em parceria com as Câmaras Municipais, serão instalados painéis solares em vários tectos de edifícios, o que representará 25% de consumo de energia. Através da Direcção Geral de Indústria e Energia, está-se a efectuar estudos sobre o potencial geotérmico e de energia das ondas em Cabo Verde. O projecto de bombagem pura, que consiste na criação de lagos artificiais para produção de energia, será executado em 2011. As ilhas contempladas serão Santiago e S. Vicente. O projecto de produção de energia fotovoltaica para a ilha de S. Vicente, que representará 3 MW de energia penetrada na rede pública, será implementado em 2012. Outros projectos de iniciativa privada estão a ser implementados. Entre eles, destacamse a da produção de energia através de uma mini hídrica, na ilha de Santo Antão, e a ELECTRIC, para o Porto Novo, também em Santo Antão, sendo este de 1 MW de energia eólica produzida, o projecto-piloto de iluminação rural na Ribeira dos Bodes e Ribeira Fria, ambos em Porto Novo, ilha de Santo Antão, desenvolvido pela Associação para a Defesa do Ambiente e Desenvolvimento (ADAD). Por instalar estão dois conjuntos de 5 KW de painéis fotovoltaicos e dois geradores eólicos de 10 KW. O total de energia penetrada é de 30 KW, o que vale a uma redução de C02 de 267 toneladas ano. O custo estimado do projecto é de € 198.070,70. Existem ainda outros projectos que, embora não estejam directamente relacionados as mudanças climáticas, contribuem para mitigar os seus efeitos ao utilizar energias alternativas. Entres esses, destacam-se: “Sustainable Power and Water concept for the Island of Maio” - Este projecto privado da empresa SENAG é um sistema integrado para produção de energia e água, com o objectivo final de dotar a ilha do Maio com 100% de energias renováveis. O custo estimado do projecto: 46 milhões de euros. O Projecto é composto por duas fases: 1. Primeira, “Systema Stand-alone and Wind-Diesel-Desalination”, com capacidade de 10 MW e produção de água de 4000 m3/dia. A taxa de penetração nesta fase é de 45% de energia eólica e uma redução de emissão de 11000 toneladas de C02/ano; 2. Segunda, que tende a transformar a Ilha do Maio em 100% renovável, através da conversão de Diesel em bio-diesel, com uma redução de emissão de 24.000 ton/ano de C02; Murdeira ELA (Energia-Lixo-Água) – (Instalação de incineradora de 6000 ton/ano, parque eólico de 1 MW, dessalinizador: 1200 m3/dia; quantidade de energia produzida equivalente a 3000 MWh/ano; Quantidade CO2 reduzida igual a 14000 tonCO2/ano; Custo estimado do projecto de 5 milhões de euro; Em fase de concepção); ELA Santiago (Energia-Lixo-Agua) - (Instalação: Incineradora 20000 ton/ano; Parque eólico: 10 MW; Produção de água – 3000 m3/dia; Quantidade de CO2 = 40000 tonCO2/ano; Custo estimado do projecto: 25 milhões de euros); República de Cabo Verde, Outubro 2010 127 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS APP - Águas Ponta Preta para as aldeias piscatórias de Tarrafal e Monte Trigo em S. Antão, a partir de fonte renovável - (Potência fotovoltaica 40 KVA; Potência microhídrica 75 KVA; Investimento 160.000.000 ECV (75% EU); Inicio em Março de 2008); Águas e Energia da Boavista, sociedade mista (Electra 10%, SDTIBM, 10%, Grupo BUCAN 48% e Grupo CASSA 32%) - com recursos a energias renováveis (Capacidade instalada 2.000 m3/dia; Central eléctrico 5 MW); Introdução de bio-combustível - a partir de resíduos gerados na actividade turística na Ilha do Sal (óleos de cozinha); Agricultura energética com águas residuais regenerados (purgeira, girassol e cana de Açúcar). 6.5 Programas e Acções de Impactos e Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas e Medidas de Adaptação Em 2005, o Governo de Cabo Verde recebeu, através do PNUD/FEM, financiamento para a formulação do seu Programa de Acção Nacional de Adaptação (NAPA) em matéria das Mudanças Climáticas, com vista a identificar as opções de adaptação prioritárias segundo as necessidades e preocupações, urgentes e imediatas, das populações mais vulneráveis face aos efeitos nefastos da variabilidade e mudanças climáticas. As análises realizadas no quadro dos estudos sobre os efeitos adversos actuais e pontuais das Mudanças Climáticas em Cabo Verde apontaram a variabilidade e a aleatoriedade pluviométrica como uma das características mais marcantes das condições climáticas do país que, de forma transversal, comporta impactos em todos os sectores de desenvolvimento sócio-económico. A má distribuição espaço-temporal das chuvas associadas às frequentes ocorrências da bruma seca e aos condicionalismos naturais e ambientais pouco favoráveis requerem acções de intervenção “soft” com base em medidas de adaptação prioritárias, visando mitigar os impactos directos dos fenómenos biofísicos. Assim, face à problemática da variabilidade e dos impactos das Mudanças Climáticas, o NAPA Cabo Verde identificou três sectores (Recursos Hídricos, Agro-silvopastoril e Zonas Costeiras/Turismo) como sendo prioritários, cujos projectos identificados devem ter em consideração as quatro medidas principais de intervenção, indentificadas como sendo i) o reforço das capacidades; ii) a promoção de actividades de investimento e protecção e conservação do solo; iii) a investigação/acção para melhorar a resistência populações e dos ecossistemas; e iv) a informação, iducação e mobilização (IEM) dos intervenientes perante os riscos ligados às mudanças climáticas e variabilidade Climática. Para a implementação do NAPA de Cabo Verde calcula-se que a contribuição do GEF será de 3.410.000 USD. No entanto, torna-se necessário mobilizar outros recursos financeiros, a fim de permitir ao país dar inicio ao seu processo de adaptação, com base nas acções de intervenção prioritária já definidas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 128 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 6.6 Promoção da Pesquisa Científica e Observações Sistemática das Mudanças Climáticas Até há bem pouco tempo, a investigação em Cabo Verde estava concentrada em alguns institutos públicos. No entanto, com a criação da Universidade de Cabo Verde, esta atribuição passou também a fazer parte dos planos de trabalhos das universidades. 6.6.1 Observatório Atmosférico de Cabo Verde O Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde, em parceria com as Universidades de York, Heslington, Uk, Instituto Max Planck de Biogeoquímica Jean, Alemanha, Instituto de Pesquisas Troposféricas de Leibniz desenvolveram o projecto da criação do Observatório atmosférico localizado em S. Vicente, Cabo Verde, em 20062007 designado estação regional e, em 2008, estação com contribuição a nível da observação Global Atmospheric Watch (GAW). O programa tem o apoio da Organização Mundial da Meteorologia. Esta estação tem como objectivo fazer a vigilância e monitorização da Atmosfera na região do Atlântico tropical e fornecer informações para o estudo da interacção entre a atmosfera e o oceano. A estação faz a monitorização de Ozono, CO, NO, NOx, NOy, Hidrocarbonetos e COV´s, e colecta ainda amostras de poeira para caracterização física e química de Aerosóis PM10, PM2,5, PM1. As observações englobam ainda CH4, CO2, N2O, CO, SF6, O2, N2, como gases de efeito de estufa. 6.6.2 Centro de Energia Renovável e Eficiência Energética da CEDEAO (ECREEE) Este centro foi criado com o objectivo de promover a investigação em Cabo Verde e nos países membro da África OcidentalRegional nas áreas de Energias Renováveis e Eficiência Energética (CEREEC). É a primeira instituição da CEDEAO a instalar-se em Cabo Verde. Como o seu nome indica, esse organismo tem como meta desenvolver as energias renováveis na região oeste-africana, a começar pelo arquipélago caboverdiano. 6.6.3 Projecto SICLIMAD O projecto teve como objectivos criar um sistema de informação climática, que permita tratar com profundidade a problemática das mudanças e da variabilidade climática em Cabo Verde, dos cenários, dos impactes e medidas de adaptação. Nesse contexto, o projecto constitui-se como um sistema de apoio aos decisores políticos e económicos na luta pelo desenvolvimento sustentado e de combate à pobreza. O que se pretende agora é extender o projecto para que possa continuar a contribuir para um melhorar conhecimento do sistema climático e dos seus mecanismos de interacção, a forma como se reflectem no clima local, a fim de se poder calcular os impactos nos vários ecossistemas, na qualidade de vida, na economia e nos recursos naturais. Os objectivos a serem atingidos dependem da implementação operacional contínua de um Sistema de Previsão do Tempo e do Estado do Mar, à escala regional, com base no Modelo Atmosférico de Escala Regional o RAMS (Regional Atmospheric Modelling System), desenvolvido na Universidade do Colorado por Cotton et al., 1989, e no modelo para o Estado do Mar, SWAN (Simulating Waves Nearshore), ajustado para a zona oceânica que circunvizinha o território de Cabo Verde. República de Cabo Verde, Outubro 2010 129 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 6.6.4 Previsão Sazonal A previsão sazonal da precipitação para a subregião da África Ocidental é elaborada todos os anos no centro ACMAD (African Centre of Meteorological Aplication for Development) com a participação de técnicos de Cabo Verde para os meses de Julho a Setembro, depois dos resultados da reunião de consenso PRESAO. A previsão é baseada, essencialmente, nas características da atmosfera, nas anomalias da temperatura da água do mar (SST) à superfície, nas estimativas das probabilidades de precipitação dos modelos dos Centros Globais (ECMWF e IRI) e nas estatísticas dos dados regionais e locais. O que se pretende futuramente é a capacitação dos recursos humanos, para que os técnicos Cabo-verdianos consigam os conhecimentos necessários para dar continuidade ao processo e elaborar anualmente os mesmos produtos a nível local e regional. 6.6.5 Previsão a longo prazo com o uso de técnicas de “downscaling” Os estudos têm apresentado os resultados das simulações dos principais parâmetros climáticos para o período 2010 a 2012, sobre a região de Cabo Verde, com a utilização de técnicas de “downscaling” dinâmico, com Modelos Numéricos de Previsão Regional (MRE), aninhados ao Modelo da Circulação Geral da Atmosfera (MCG). Nas simulações numéricas vem-se fazendo uso do modelo regional ETA, desenvolvido pelo NCEP, aninhado ao Modelo MCG ECHAM4,5, desenvolvidos pelo Max Planck Institute. Torna-se necessário que, futuramente, os procedimentos sejam operacionalizados e contínuos. 6.6.4 Projecto Qualidade do ar e a sua relação com as mudanças climáticas Projecto que tem como objectivo principal, a caracterização do cenário da qualidade do ar ambiental em Cabo Verde e na criação das condições para investigar a relação causaefeito entre os poluentes e entre estes, os gases de efeito de estufa e as mudanças climáticas. Com base em modelo meteorológico de alta resolução e em modelos estatísticos multivariados, um sistema de previsão do tempo, de dispersão e transporte de poluentes atmosféricos e de impactos na qualidade de vida e ambiente. Um segundo objecto tem a ver com a recolha de dados e informações que permita apoiar os decisores na definição de estratégias adequadas no âmbito do CQNUAC e do PQ. 6.6.5 O projecto ”MIA-VITA” O projecto “Mitigação e Avaliação do Impacto dos Riscos Vulcânicos no terreno e nas actividades humanas” (MIA-VITA), iniciado em 2008 para um período de quatros anos, tem como objectivo a monitorização e o desenvolvimento de ferramentas integradas e metodologias de baixo custo para a mitigação da perigosidade vulcânica, através de: Avaliação dos riscos pela integração do mapa da perigosidade num Sistema de Informação Geográfica (que será desenvolvido especialmente para o efeito); Adaptação de estratégias de monitorização de baixo custo (equipamentos e técnicas); Avaliação da vulnerabilidade através de cartas geológicas e das actividades humanas; República de Cabo Verde, Outubro 2010 130 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Avaliação dos impactos sócios económicos das erupções (produção agrícola, infra-estruturas, etc); Estratégias de transmissão de dados e comunicação com as populações afectadas durante eventuais crises; e Gestão das crises, em coordenação com a Protecção Civil. 6.7 Educação, Formação e Sensibilização Pública Apesar das questões relacionadas com as mudanças climáticas serem complexas, com um certo grau de dificuldade de compreensão por muitos, e do limitado material disponível em português, tem-se procurado alargar a divulgação a todas as camadas da população, através de palestras, workshop, confecção de publicações e manuais escolares, campanha radiofónica, televisivo, formação e capacitação de quadros técnicos nacionais. Os diversos programas de educação ambiental implementados em Cabo Verde estão em consonância com os objectivos da Convenção Quadro sobre as Mudanças Climáticas, com particular destaque para o Programa Nacional de Educação Ambiental. O sector da educação ambiental definiu como visão estratégica “uma população formada, informada e comprometida com o ambiente e o desenvolvimento sustentável”. Para que essa visão seja alcançada, é necessário criar um sistema intersectorial de educação, com suficiente flexibilidade para integrar inovações técnicas e didácticas adequadas à sensibilização ambiental e, ainda, o estabelecimento de um diálogo intersectorial, como instrumento útil na definição de prioridades, e a planificação dos projectos e actividades da educação e sensibilização ambiental. Até agora, a educação ambiental tem sido confinada a projectos de duração limitada e a actividades pontuais, tanto no ensino formal como informal. Assim, no âmbito do PAIS – Educação e Ambiente, foram sugeridos planos de acção para os diferentes níveis de ensino, a serem implementados a nível institucional, num horizonte de 10 anos. 6.8 Auto-avaliação das Capacidades Nacionais No âmbito da implementação dos compromissos assumidos na Convenção, com o apoio do Fundo Mundial para o Ambiente (FMA) e do SNU, o governo iniciou o projecto com vista a avaliar as capacidades nacionais no domínio da gestão do ambiente global e a reforçar as suas capacidades individuais, institucionais e sistémicas de forma a proporcionar uma melhor gestão do ambiente, no quadro da redução da pobreza e desenvolvimento sustentável. Os relatórios de progresso e resultados do projecto de “Auto-avaliação do reforço de capacidades para a gestão ambiental global” (NCSA) permitirão a formulação da estratégia e plano de acção visando o reforço das capacidades no domínio das Convenções Internacionais, particularmente relacionadas com mudanças climáticas, biodiversidade e desertificação. Dentro do NCSA, a ligação entre a Gestão Ambiental Global e o Desenvolvimento Sustentável é fundamental. Os “cenários” de desenvolvimento económico e humano referentes à vulnerabilidade ambiental no contexto de um pequeno estado insular em desenvolvimento (SIDS) devem ser bem avaliados e implementados com uma visão estratégica integrada, sinérgica e de longo prazo. Para issso, urge traças políticas que se traduzem em acções práticas e concretas, principalmente direccionadas para as áreas de capacitação em gestão ambiental. Nesse contexto, que surge o projecto NCSA-GEM para o desenvolvimento das capacidades nacionais, em termos individuais, institucionais e República de Cabo Verde, Outubro 2010 131 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS sistémico nos domínios prioritários das Convenções Internacionais de Rio, e, consequentemente, para o reforço dos mecanismos de implementação do PANA II, enquanto instrumento nacional virado para a gestão do ambiente. As Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Programa das Nações Unidades para o Ambiente (UNEP) pretendem implementar, em conjunto, o Programa de Recurso Eficiente e Produção Mais Limpa (RECP) em Cabo Verde, como parte de seu programa global comum, já operacionalizado em mais de 47 países desenvolvidos e em transição. Nesses países, as capacidades estão a ser desenvolvidas e/ou reforçadas para estimular o desenvolvimento e a implementação de métodos, práticas, tecnologias e políticas do RECP, através de actividades como disseminação de informação, formação profissional, avaliação de estabelecimentos e projectos demonstrativos, assessoria e apoio à transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis. O RECP aplica os conceitos de gestão ambiental preventiva e métodos de processos, produtos e serviços e, assim, alcança uma utilização optimizada dos recursos naturais (energia, materiais e água), a minimização de resíduos e emissões (ar, água e solo) e locais de trabalho e comunidades seguros e saudáveis. A primeira actividade do programa RECP em Cabo Verde foi a realização de um ateliê de formação profissional em “Produção mais Limpa”. 6.8.1 Formação e Capacitação Cabo Verde apresenta necessidades especiais relativas a estruturas institucionais para lidar com as questões sobre as mudanças climáticas. Várias acções de formação e de capacitação têm sidos levados a cabo nas áreas de Mecanismo Desenvolvimento Limpo, Transferência de Tecnologia, Vulnerabilidade, Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas e Preparação das Conferências das Partes, em parceria com o Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil. Com o Comité Executivo da Comissão para as Mudanças Climáticas, Portugal, através da participação nos encontros lusófonos de ambiente, tem financiado acções de formação em MDL deslocação de Delegado aos encontros para as negociações sobre mudanças climáticas. Algumas iniciativas de formação e capacitação no âmbito das mudanças climáticas feitas em parcerias com outros países e instituições internacionais. 6.8.2 Organismos de Alterações Climáticas da CPLP No âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), constitui uma plataforma de entendimento entre países com afinidades claramente estabelecidas, foi criada a Rede de Organismos de Alterações Climáticas (RELAC). Esta rede, que aspira a ser um instrumento de ligação entre os países da comunidade, é considerada de grande utilidade para o intercâmbio de pontos de vista, experiências e elaboração de propostas comuns que possam facilitar e promover o combate aos efeitos das alterações climáticas, no contexto da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e do Protocolo de Quioto. Do mesmo modo, pretende-se criar o Centro Internacional de Investigação Climática e Aplicações nos Países de Língua Portuguesa e África (CIICLAA), com a missão de fomentar, incentivar e estimular a investigação fundamental e aplicada no domínio da Mudança Global naqueles países, em particular no que se refere às Mudanças Climáticas, seus Impactes e Riscos, de forma coordenada, República de Cabo Verde, Outubro 2010 132 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS garantindo a transferência de conhecimentos e de tecnologias, a formação avançada e a criação de capacidades locais, alicerces de sociedades livres e independentes. Uma linha fundamental de investigação será a das aplicações da informação meteorológica e climática ao apoio ao desenvolvimento sustentável, nos aspectos que relacionem o tempo e o clima com a qualidade de vida e a rentabilidade económica. Assim, dar-se-á prioridade a projectos que contribuam para a prevenção da saúde e de vidas humanas, para melhorar a rentabilidade de algumas actividades produtivas em especial para as que contribuam para o apoio à sustentabilidade das actividades económicas, principalmente daquelas que são mais vulneráveis a eventos atmosféricos extremos e à variabilidade e alterações do clima. Este Centro tem o seu pólo principal em Cabo Verde. 6.8.3 As mudanças climáticas nas políticas sociais, económicas e ambientais Os vários Planos e Programas desenvolvidos pelo Governo de Cabo Verde visam principalmente a integração das questões concernentes às mudanças climáticas nas políticas sociais e económicas e o desenvolvimento sustentado. Em 1994 foram elaborados o Primeiro Plano de Acção Nacional para o Ambiente com um horizonte de dez anos (1995-2004). Embora não tenha sido formalmente aprovado ou muito divulgado, o PANA I despertou alguma consciência sobre as preocupações ambientais. Subsequentemente, foram elaborados vários planos nacionais. Em 1999, o então Secretariado Executivo para o Ambiente elaborou a Estratégia nacional e Plano de Acção sobre a Biodiversidade que visa por uma sociedade consciente do papel e dos desafios ligados à biodiversidade, convencida das suas responsabilidades para com as gerações futuras e determinada a utilizar os recursos de maneira sustentável. Em finais de 2001, iniciou-se a elaboração do Segundo Plano de Acção Nacional para o Ambiente (PANA II), documento que constituiu o quadro orientador para intervenções no sector do ambiente por um período de 2004-2014. O PANA II, teve como objectivo geral fornecer uma orientação estratégica para guiar o uso racional dos recursos naturais e a gestão sustentável das actividades económicas. Para além disso, o PANA II foi também aceite e assumido por todos os Serviços Públicos, reconhecido, compartilhado e apropriado por toda a população Cabo-verdiana, incluindo o sector privado. O PANA II absorve e incorpora as orientações de desenvolvimento assumidas pela Cimeira de Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, em Setembro de 2002. Em 2004 foi também elaborado o Livro Branco sobre o Ambiente, uma obrigatoriedade da Lei Base do Ambiente que estabelece a elaboração de 3 em 3 anos o Livro Branco sobre o Estado do Ambiente em Cabo Verde. Trata-se de um documento que sintetiza o estado da gestão dos recursos naturais e do ambiente em Cabo Verde e analisa a forma como os agentes (sector público, privado, ONG’ s, sociedade civil) na sua interacção com o ambiente, vêm fazendo uso desses recursos. Em 2007 foi elaborado o Programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas com vista a identificar as opções de adaptação prioritárias segundo as necessidades e preocupações urgentes e imediatas das populações mais vulneráveis face aos efeitos nefastos da variabilidade e mudanças climáticas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 133 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Entre outros planos elaborados, destacam-se a Acção da Biodiversidade, a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar, a Estratégia de Desenvolvimento Agrícola (horizonte 2015) e os planos de gestão dos parques naturais de Serra Malagueta, na ilha de Santiago, Monte Gordo, em S. Nicolau, em 2008, e do Fogo, em 2009. Estes, enquanto instrumento de gestão de espaços naturais protegidos, procuram de uma integrada e sinérgica, combater o fenómeno da desertificação, conservar a diversidade biológica e mitigar os efeitos das alterações climáticas, para além da criação das condições de adaptação. 6.9 Desenvolvimento de Tecnologias para Redução e Prevenção de Emissões Em Cabo Verde existem quatro áreas nas quais é possível alcançar reduções significativas nas emissões, como sendo a distribuição e Geração de Energia, a construção, os transportes e a indústria. 6.9.1 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões no sector de energia Segundo a Direcção Geral de Energia, o sector da energia é o que tem maior potencial de redução de emissões, devido ao recurso de redes energéticas inteligentes, as chamadas smart grids, que podem permitir o alcance de uma “total integração de fontes de energia renovável em execução no país. Existe ainda o programa de Eficiência Energética, em fase de execução, com a distribuição de cerca de 300.000 lâmpadas de baixo consumo nas diferentes ilhas do Arquipélago. 6.9.2 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões no sector da construção Para o sector da construção, cada vez mais se constroem em Cabo Verde, edifícios inteligentes, o projecto que a Direcção Geral de Energia tem em parcerias com os Municípios, visa colocar em alguns edifícios inventariados pelas Câmaras, tectos em painéis solares, com uma produção até 25% do consumo total. O Governo de Cabo Verde aprovou a criação de incentivos legais e fiscais para a implementação de projectos de microgeração em edifícios, residências e hotéis. 6.9.3 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões nos transportes Para o desenvolvimento de tecnologias para a redução das emissões no sector dos transportes, o Governo de Cabo Verde, tem em execução um projecto para a actualização no parque automóvel mediante redução de taxas de importação e outros incentivos. Também relacionado com este projecto, tem em andamento a importação de gasolina sem chumbo. 6.9.4 Desenvolvimento de tecnologias para redução de emissões sector da insdústria Na indústria, o Governo de Cabo Verde e o as Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Programa das Nações Unidades para o Ambiente (UNEP) estão a implementar em conjunto o Programa de Recurso Eficiente e Produção Mais Limpa (RECP) em Cabo Verde. A primeira actividade do programa RECP em Cabo Verde República de Cabo Verde, Outubro 2010 134 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS consistiu na realização de uma acção de formação profissional em Produção Mais Limpa, ministrada na cidade da Praia para cerca de duas dezenas de participantes industriais e consultores da região de Sotavento. A formação, organizada com o suporte da Câmara de Comércio de Sotavento foi ministrada por uma especialista brasileira, do Centro de Produção Mais Limpa instalada no SENAI, com vários anos de experiência. Esta acção de formação foi antecipada por um ateliê público de sensibilização. 6.10 Protecção de Sumidouros Todos os países devem rever suas políticas e implementar desde já os compromissos definidos no artigo 4 da Convenção, especialmente aqueles referentes à protecção de sumidouros e reservatórios, estabelecendo medidas de protecção da biodiversidade, e das populações. É de fundamental importância para a credibilidade e bom desenvolvimento do Protocolo, que projectos e iniciativas de redução de emissões de C02 não acarretem outros danos ambientais graves ou criem incentivos perversos. Em Cabo Verde, devem ser estudados meios de financiamento através do MDL e de outros mecanismos apropriados para programas que visem a redução das emissões do C0 2 provenientes de alguns incêndios florestais tidos em Santo Antão e na Ilha do Fogo e combater as causas subjacentes a esses fenómenos. República de Cabo Verde, Outubro 2010 135 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRADE et all. Plano de Acção para o Desenvolvimento da Agricultura na Ilha de Santo Antão, 2009 a 2012.Praia 2008. ANDRADE et all. Plano de Acção para o Desenvolvimento da Agricultura na Ilha de São Nicolau, 2009 a 2012. Praia 2008. APA (Agencia Portuguesa do Ambiente). Relatório de Estado do Ambiente. Lisboa 2008. Baptista and F. Correia. 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Decreto n.º 82/87, de 1 de Agosto - Estabelece normas de garantia da qualidade dos recursos hídricos e de prevenção de doenças de base hídrica. Decreto-Lei nº31/2003, de 1 de Setembro - Estabelece os requisitos essenciais a considerar na eliminação de resíduos sólidos urbanos, industriais e outros, e respectiva fiscalização, tendo em vista a protecção do meio ambiente e a saúde pública. Decreto-Lei nº7/2004, de 23 de Fevereiro Estabelece as normas de descarga de águas residuais. Decreto-Lei nº8/2004, de 23 de Fevereiro - Estabelece os critérios e normas de qualidade de água e sua classificação, bem como os sistemas de controlo, o regime sancionatório e medidas de salvaguarda. Lei nº 86/IV/93, de 26 de Julho que define as Bases da Politica do Ambiente. Lei n.º 41/II/84, de 18 de Junho - Aprova o Código da Água. Portaria n.º 54/2001 - Institui a Rede Nacional de laboratórios afecto ao Ministério da Saúde para a vigilância integrada das doenças transmissíveis e luta contra as epidemias em Cabo Verde. Resolução n.º 29/2003, de 29 de Dezembro Aprova a Politica Nacional de Saneamento. Outras fontes: http://www.sia.cv; http://www.ine.cv República de Cabo Verde, Outubro 2010 142 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ANEXOS República de Cabo Verde, Outubro 2010 143 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ANEXO I ANEXO I.a – SIGLAS 10/CP.2 Convenção 17/CP.8 Convenção CORINAIR CQNUMC Climáticas DGA EF EROT ETAR GEE GEF GLP IDRF INE IFN INGRH INMG IPCC MDL NAPA Climátics ODM OSC PAFN PaNA PDM PEA PIT PLPR PNED PNLP PNUD QUIBB Estar RGA RGPH ZCIT ZEE 10ª Decisão da segunda Conferência das Partes da 17ª Decisão da oitava Conferência das Partes da Programa para Inventariação e Harmonização de dados das Emissões Atmosféricas (Coordination of Information on Environment) Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Direcção Geral do Ambiente Factor de Emissão Esquema Regional de Ordenamento do Território Estação de Tratamento de Águas Residuaais Gases com Efeitos de Estufa Fundo Mundial para o Ambiente Gás Liquefeito de Petróleo Inquérito às Despesas e Receitas das Familias Instituto Nacional de Estatística Inventário Florestal Nacional Instituto Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica Painel Inter-governamental sobre as Mudanças Climáticas Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Objectivos do Desenvolvimento do Milénio Organização da Sociedade Civil Plano de Acção Florestal Nacional Plano de Acção Nacional para o Ambiente Plano Director Municipal População Economicamente Activa Programa de Infraestruturas e Transportes Programa de Luta contra a Pobreza no Meio Rural Plano Nacional de Energias Domésticas Programa Nacional de Luta contra a Pobreza Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Questionário Unificado de Indicadores Básicos de BemRecenseamento Geral Agrícola Recenseamento Geral da População e Habitação Zona de Convergência Intertropical Zona Econímica Exclusiva República de Cabo Verde, Outubro 2010 144 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ANEXO I.b – SÍMBOLOS CFCs CH4 CO CO2 CO2eq Gg GWP HCFCs HFCs Kg MWh N2O NH3 NMVOCs NOx O3 PFCs SF6 Tep t - Clorofluorcarbono - Metano - Monóxido de Carbono - Dióxido de Carbono - Carbono equivalente - Gigagrama - Global Warming Potential - Hidrofluorclorocarbonos - Hidrofluorcarbonos - Quilograma - Megawatts por hora - Óxido Nitroso - Amónia - Compostos orgânicos voláteis não metánicos - Óxidos de Nitrogénio - Ozono - Perfluorcarbonos - Hexafluoreto de enxofre - Tonelada equivalente de petróleo - Tonelada República de Cabo Verde, Outubro 2010 145 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ANEXO II- Lista de participantes nos ateliês e workshops regionais e nacionais NOMES Adilson Fragoso INSTITUTÇÃO DGA Alberto Carlos Lima Alcides Sanches Varela CMRG – PAM [email protected] INDP [email protected] Amario Dias Valerio AAA--- Anderson Medina Dias ABEC Aniceto Tavares Anildo Gomes Tavares E-MAIL [email protected] CITY HALL- S.Domingos [email protected] CITY HALL- – Calheta S.Miguel [email protected] Antonino Carlos Veiga Pereira INMG-Praia [email protected] MADRRM – Sto Antão [email protected] António Jorge M. Monteiro PAM Rib Grande Sto Antão [email protected] António Manuel F. Andrade MADRRM – Santo Antão [email protected] António Pedro Livramento MADRRM Del. Boa Vista [email protected] UNJO- CV Antó[email protected] António Carlos Fortes António Querido Arlinda Neves [email protected] Armindo António Fortes Dias Armindo Costa Semedo ADICOM FAM [email protected] CITY HALL- Pedra Badejo [email protected] Carla Margarida Monteiro MADRRM S.Vicente [email protected] Carlos Alberto Fortes MADRRM Sto Antão Carlos Baptista Carlos Dias APAd-G-c MADRRM – Maio [email protected] INMG – Sal [email protected] Carlos Moniz Carlos Monteiro MADRRM Carlos Semedo [email protected] Celeste Benchimol WWF [email protected] Celestina Lopes DGA [email protected] Cezinanda Martins MADRRM Brava Crislaine Medina Daniel C. Delgado de Jesus Dorys Delgado SENAG, as [email protected] [email protected] SAAS – Rib Grande [email protected] CITY HALL – Boavista Dorys,[email protected] Dulce Borges DGASP Edson Carlos Ramos Mendes DGIE Eduarda Radwan Edwin Pile MECC-DGIE [email protected] UNICV [email protected] INMG – Sal Emanuel F. Santos Soares Emerson Pedro CEG Ester Araújo de Brito [email protected] INMG- Sal [email protected] [email protected] Ester,[email protected] Euclides do Rosário Morais Monteiro INERF Delegation [email protected] Euclides Gonçalves CITY HALL- Sal [email protected] Evanilsa Monteiro CITY HALL -Picos S.S. Do Mundo República de Cabo Verde, Outubro 2010 [email protected] 146 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Eveline Ramos Florisvindo Barbosa MADRRM Tarradal [email protected] MADRRM – Sta Catarina [email protected] INMG – Praia Francisco Correia Hailton Spencer Lima Haroldo Machado Filho Iduiz H.V. Cardoso Ilídio da Cruz Ramos UNICV [email protected] MCT – Brazil [email protected] SNPC Group Social Action J.P. II Isaurinda Baptista INIDA Jacquiline Delgado da Graça [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Secretar. Youth. [email protected],br Jair Rodrigues SNPC [email protected] Jandira Helena Santos GOIP Joana Lopes Parl. Network for Environment João Clemente Santos João Francisco Monteiro [email protected] Cruz Vermelha City Hall- Sta Catarina Fogo João Paulo Oliveira Teacher (ESSM) [email protected] [email protected] João Santos Gonçalves MADRRM – Fogo João Santos Monteiro M.E.E.S [email protected] City Hall- Tarrafal [email protected] João Soares Gomes INMG – Praia João Spencer Joaquim Garcia City Hall - Mosteiros Fogo [email protected] [email protected] Joºao Evangelista da Luz Teacher (S.Nicolau) Jorge Andrade dos Santos MADRRM Fogo [email protected] DGASP [email protected] José António F. Semedo José Cândido Delgado DMEES- Rib Grande José Carlos Pina Santos City Hall -Maio José da Rosa José Gonçalves MADRRM – S.Domingos C.M. Sta Catarina José Mendes Rodrigues Aguabrava, Lda Scouts of Sto Antão Judite Nascimento UNICV MADRRM – Boavista Liana Maria Delgado Ligia M. Morais Monteiro Lisa H. Alves Lima Lislália Lopes Moreira [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] DGASP [email protected] DGA MADRRM Sta Cruz INERF Manuel Brito DGIASP FADEP – Porto Novo Manuel José dos Santos ADIJA Marcelino E. Fortes ADAD República de Cabo Verde, Outubro 2010 elbamartins@yahoo,com.br C.M. Paúl Luisa Morais Manuel Jesus Reis [email protected] [email protected] José Luis Elba Martins Juliana Brito [email protected] Health Delegate- Praia José Jorge V. Barros Josimar Pires da Cruz [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] 147 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Margarida Santos DGA [email protected] Maria Auxiliadora Cruz Fortes INE [email protected] Maria da Luz Lima Mendonça Saúde Delegacy Maria de Lourdes Monteiro M.E.E.S Maria dos Reis Neves Pires ADICO FAM [email protected] 2241729 Mario Oliveira DGIE Marlene Neves Medina GOIP Marlene Silva Brito M.E [email protected] Moisés Borges DGA [email protected] Monica Santos MCT – Brazil Moussa Barry UNJO-CV [email protected] Nadir Maria Sampaio Faria ESE/IPVC [email protected] Neusa Helena R. Vaz DGA [email protected] Nuno Ribeiro DGA [email protected] Odalison Bandeira MADRRM- Sto Antão Orlando Delgado CMRG – Sto Antão Osvaldo Pedro Melicio [email protected]/mariooliveir [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] SISA [email protected] MADRRM – Sto Antão [email protected] Paula da Veiga City Hall – Cidade Velha [email protected] Paula Monteiro MEES [email protected] Pedro Bettencourt SNPC [email protected] Risulena Monteiro DGASP [email protected] Samuel Gomes INIDA [email protected] Tânia Cristina N. Cruz DGA [email protected] Vera Gominho INDP [email protected] Victor Barreto DGA [email protected] Zenaida Cunha DGIE [email protected] Zenaida Santos DGASP Zoraima Santos MADRRM-Sto Antão Paula Cristina Neves Mendes República de Cabo Verde, Outubro 2010 [email protected] [email protected] 148 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ANEXO III – Medidas de adaptação Sectores/Sistemas Vulneráveis Resumo de Impactos Diminuição da duração da estação húmida e aumento da estação seca; Aumento das áreas áridas e semi-áridas em detrimento das húmidas e sub-húmidas; Agrosilvopastoril OPÇÕES DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO Apostar fortemente nas técnicas de Produção Ambientalmente Sustentáveis; Aumento da incidência de pragas e de vectores de doenças; Intensificar e diversificar a produção hortícola e frutícola; Possível diminuição de determinadas doenças criptogâmicas folhares e aumento de outras; Utilizar variedades e espécies adaptáveis às condições edafoclimaticas. Diversificar as actividades geradoras de rendimento no meio rural; Implementa r o microcrédito para pequenos criadores como forma de incentivo; Desenvolver a pecuária semiintensiva. Baixa da produção e produtividade agrícola (culturas pluviais e irrigadas) e animal; Diminuição da capacidade regenerativa do solo e consequente abandono de terras agrícolas; Défice alimentar, forrageiro e má nutrição animal; Aumento do stress térmico nos animais; Redução de rendimentos das populações rurais e consequente êxodo rural. República de Cabo Verde, Outubro 2010 149 Promover a investigação aplicada de pacotes tecnológicos para fazer face aos impactos negativos das mudanças climáticas Apoiar a implementação das medidas de prevenção protecção e fiscalização sobre ocorrência de incêndios e delitos florestais Dificuldades/ Barreiras Práticas de extensão; Gestão e Fiscalização Promoção e implementação de planos e medidas; Diversificação de actividade; Formação, informação e pesquisa; Valorização dos produtos; Incentivos; Sistema de avaliação e acompanhamento Recursos humanos; Sensibilização e coresponsabilização da gestão de RN. SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Sectores/Sistem as Vulneráveis Resumo de Impactos Alteração da morfologia costeira devido à erosão; Destruição da protecção natural terra/mar; Zonas Costeiras/ Turismo Intrusão salina nas ribeiras e nos aquíferos do litoral localizados a menos de 500 m da costa; Abandono dos pontos de água devido à salinização; Redução do potencial de produção agrícola nas zonas baixas do litoral; Abandono das terras agrícolas junto do litoral; OPÇÕES DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO Reabilitar e ou construir infraestruturas de protecção nas zonas costeiras Diversificar as actividades e medidas de reconversão das populações que vivem da exploração dos recursos costeiros, em particular da exploração de inertes Modernizar a rede de estações de monitorizaç ão climática e marítima Alteração da intensidade das correntes marítimas; Aumento da intensidade da degradação costeira devido à alteração das amplitudes da ondulação e à agressividade das marés; Aumento de estragos nos ecossistemas costeiros, tal como recifes de corais; Inundação das zonas costeiras; Destruição e danificação de infra-estruturas; Perdas económicas acrescidas; Destruição dos produtos costeiros de interesse turístico; Perda de interesse pelo país como destino turístico; Perda de rendimento das famílias; Migração das populações do litoral. República de Cabo Verde, Outubro 2010 150 Promover a utilização sustentada dos recursos costeiros (nas vertentes urbanística, comercial e industrial) com base num Plano de Gestão Integrada Fazer cumprir a legislação sobre a extracção de inertes nas zonas costeiras Dificuldades/ Barreiras Infra-estruturas de protecção; Cumprimento da Legislação; Formação, informação e sensibilização; Estabelecimento de Planos Directores de gestão e ordenamento do território; Sistemas de avaliação e acompanhamento; Estabelecimento de estruturas de saneamento com gestão integrada e participativa; Recursos financeiros; Estabelecimento de parcerias; Estabelecimento de actividades alternativas. SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Sectores/Sistemas Vulneráveis Resumo de Impactos Redução da distribuição geográfica das espécies; Biodiversidade Maior oportunidade para expansão de variedade de espécies invasoras; OPÇÕES DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO Prosseguir com as acções de preservação e gestão de áreas protegidas Incentivar a produção e fixação de plantas endémicas Promover a pesquisa das espécies ameaçadas e vulneráveis às Mudanças Climáticas Conservar e utilizar de forma durável as espécies medicinais Montagem de um observatório nacional da biodiversidade Reforço do equipamento e a modernização da pesca artesanal Apoiar a diversificação de actividades alternativas à pesca artesanal (formação, equipamentos , microcrédito, entre outros) Promover a formação e o reforço das capacidades técnicas e tecnológicas dos pescadores Promover a investigação sobre o potencial haliêutico e a avaliação dos stocks; Análise da viabilidade para introdução da piscicultura; Alterações na estrutura e composição dos ecossistemas e comunidades; Mudanças nos habitats costeiros devido á subida do nível do mar. Pescas Declínio da actividade pesqueira como consequência da diminuição dos recursos; Alteração da rota de espécies migratórias; Redução de emprego e rendimento das famílias; Degradação e perda do habitat marinho; Insegurança alimentar; Modificação da cadeia alimentar; Abandono das zonas piscatórias; Desaparecimento de praias e cais de pescas; Destruição de infra-estruturas portuárias; Diminuição da visibilidade; Prejuízos navegação aérea e marítima. República de Cabo Verde, Outubro 2010 151 Incentivar estudos com vista a criação de mais áreas marinhas protegidas. Dificuldades Barreiras Conservação e reabilitação de ecossistemas; Sistema de S & A; Formação Informação e sensibilização; Pesquisa; Programas de extensão; Recursos humanos e financeiros. Infra-estruturas; Financiamento; Pesquisa; Programas de extensão; Sistemas de fiscalização; Recursos humanos capacitados; Organização do sector. SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Sectores/Sistemas Vulneráveis Energia / Indústria Resumo de Impactos Aumento do consumo de energia em consequência de um possível aumento da temperatura; Aumento da emissão de gases (GEE); Aumento da poluição do ar e sonora; Maior incidência de doenças respiratórias; OPÇÕES DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO Reproduzir em Atlas o Potencial eólico e solar do país; Criar um sistema de incentivos à utilização racional de energia, em particular à implementação de iniciativas de utilização de energias renováveis (solar e eólica) Reorganizar a localização geográfica das centrais eléctricas numa perspectiva do ordenamento do território Criação de um centro de transferência de tecnologias, responsável pela promoção, adaptação e vulgarização de novas tecnologias Adequação da legislação ambiental na conjuntura socioeconómi ca do país; Elaboração e aplicação do código industrial de Cabo verde; Criação de uma entidade fiscalizadora coerciva sobre as industrias que emitem os GEE. Aumento da força radioactiva de CO2; Perda de infra-estruturas industriais nas zonas costeiras; Dificuldades/ Barreiras Legislação e Regulamentação; Sistema de gestão e fiscalização; Formação; Pesquisa; Sistemas de transferência de novas tecnologias; Sistema de incentivos e estabelecimento de políticas atractivas; Recursos humanos capacitados; Recursos financeiros; Infra-estruturas. República de Cabo Verde, Outubro 2010 152 SEGUNDA COMUNICAÇÃO NACIONAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Sectores/Sistemas Vulneráveis Resumo de Impactos Criação de condições propícias à dessiminação de vectores de doenças infecciosas; Saúde Aumento de casos de paludismo, doenças diarreicas e algumas viroses; Aumento do risco de reaparecimento de algumas doenças como a febreamarela, a dengue; Maior vulnerabilidade à ocorrência de acidentes e traumatismos relacionados com chuvas intensas e inundações; República de Cabo Verde, Outubro 2010 OPÇÕES DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO Adopção de um guia técnico relativo às doenças com potencial epidémico e realização de módulos de formação na área Regulamentar os aspectos relativos à recolha, acondicioname nto e circuito das amostras recolhidas no âmbito do controlo das doenças com potencial epidémico Realização de pesquisas para melhor conhecimento da situação e avaliações periódicas da vulnerabilidade do sector da saúde às mudanças climáticas Uso de recursos e estratégia comprovadade recursos de saneamento para promover e incentivar o aumento nos níveis de saneamento Definir um programa de IEC para as doenças com potencial epidémico Dificuldades/ Barreiras Elaboração de Guias normativas; Sistema de Gestão de riscos; Sistema de Promoção e uso de recursos de saneamento; Recursos humanos capacitados; Recursos financeiros. 153 154 ANEXO IV - Tabela de recomendações para iniciativas e políticas de CTI Sectores: Agropecuário, Recursos Hídricos e Zona Costeira CTI referentes a Componente ADAPTAÇÃO AGROPECUÁRIA Produção e Zoneamento agroclimatológico e agro-ecológico; Ordenamento e gestão hídrica das bacias hidrográficas, cujo efeito se reverte em termos de serviços ambientais, beneficiando a agricultura; Implementação de sistemas de alerta para eventos climáticos sazonais; Criação de sistemas de monitoramento ambiental (séries históricas regionais de aumento de temperatura, concentração de CO2 atmosférico, etc); Extensão rural com vistas à conscientização de produtores rurais sobre potenciais impactos da mudança do clima e orientação sobre medidas de adaptação; Estímulo a programas municipais e/ou inter-municipais (projetos de MDL ou não) para recuperação de áreas degradadas; Desenvolvimento e adopção de tecnologias de gestão do uso das terras e melhoramento vegetal, considerando-se a produção integrada e incentivos a sistemas de produção mistos (integração agricultura-pecuária-floresta); Sistema de controle da qualidade de produtos (ex. microtoxinas); Desenvolvimento e incentivo à adopção de sistemas de produção integrada permitindo aos agricultores se envolverem nos esforços de mitigação, com possibilidade de adoção de selos de certificação; Melhorar a eficiência do uso da água e recarga de água subterrânea pela agricultura de características conservacionista; Melhoria de sistemas de armazenamento de alimentos e diminuição de desperdícios, por meio de controle de pragas, roedores, capacitação humana, higiene, transporte, tecnologia de secagem; Melhoramento genético animal e vegetal para as novas condições climáticas e de aumento na incidência de pragas e doenças; Criação de banco de germoplasma; Produtividade 3. Organização da cadeia produtiva para atender a padrões de comercialização, inclusive para agricultura familiar; Mercado 4. Aumento da capacidade de armazenamento, conservação e distribuição eficiente de produtos agropecuários; 5. Pesquisas no âmbito de políticas públicas voltadas para a construção de novos instrumentos e mecanismos que garantam a sustentabilidade da agricultura familiar e da pequena/ média propriedade e da cadeia produtiva dos produtos agropecuários em geral. 155 CTI referentes a AGROPECUÁRIA Componente ADAPTAÇÃO Desenvolver técnicas de cultivo e manejo adequados a cada tipo de solo e técnicas de engenharia para integração de bacias hidrográficas; Adopção de práticas que promovam e mantenham a diversidade biológica; Meio Ambiente Redução do uso de queimadas no manejo agrícola, evitando incêndios florestais e riscos à saúde; Adopção de incentivos para a manutenção e ampliação de áreas florestadas, sistemas integrados de agricultura-floresta, bem como a fiscalização sobre o uso do solo em conformidade com o estabelecido na lei; Sócioeconomico Desenvolvimento de uma Extensão Rural com vistas à adequação do sector produtivo aos efeitos de mudança do clima, visando orientação sobre medidas de adaptação; Mudanças nos padrões produtivos dos agricultores visando o aumento do valor agregado da produção com menor risco; Seguro agrícola facilitado para pequenos produtores. CTI referentes a RECURSOS HÍDRICOS Componente ADAPTAÇÃO Controle de cheias Critérios para desenvolvimento de planos de contingência Variabilidade da disponibilidade hídrica Instrumentos de gestão de conflitos Escassez hídrica para o abastecimento público Critérios para desenvolvimento de planos de contingência Deterioração da qualidade de Tecnologias de correcção e recuperação 156 água Biota aquática Técnicas de recuperação Zonas costeiras Proposta de estudos de estruturas de recuperação 157 CTI referentes à ZONA COSTEIRA Componente ADAPTAÇÃO Populações de Zona Costeira Delimitação de áreas de riscos eminente e elaboração de legislação para coibir ocupação irregular; Infraestruturas Desenvolvimento de técnicas de construção civil caracterizado pelo curto prazo de execução e baixo custo; Revisão de normas técnicas para obras costeiras e marinhas, contemplando estruturas de menor impacto e mais seguras frente a eventos extremos; Actividades económicas Demarcação de áreas propícias para novos cultivos e novas áreas marinhas; Demarcação de áreas propícias para implantação de projetos de geração de energia, através de fontes renováveis; Logística de transportes associada à geopolítica, em face de mudanças climáticas; Ambientes naturais Fomento à capacitação de pessoal especializado em temas relacionados com os ambientes costeiros e marinhos e à inovação tecnológica; Revisão e adequação de normas técnicas para ocupação da orla costeira considerando eventos extremos; Aperfeiçoar métodos de previsão de ondas a partir de modelos de circulação atmosférica; Aprimorar métodos estatísticos de previsão de extremos de parâmetros ambientais, bem como de caracterização da permanência e da variabilidade temporal; Projetar redes de abastecimento e vias de comunicação em situações de emergência ou calamidade; Serviços públicos / Aspectos políticoadministrativos Implantação de novos modelos organizacionais para a gestão costeira intra e intergovernamental; Definição de uma política de sensibilização publica sobre os eventos extremos e progressivos decorrentes das mudanças climáticas; Diretrizes para fortalecimento de ações de emergência; Ofertas de formação de profissional relativos ao ambiente costeiro; Fomento de projetos de cooperação entre Universidades e Órgãos centrais e municipais de Planeamento para avaliação de 158 vulnerabilidade da zona costeira; Articulação a nível governamental das diversas iniciativas municipais; Gestão Estratégica Utilização dos modelos numéricos aprimorados e calibrados às condições especificas; Implantar e aperfeiçoar sistemas operacionais de previsão de ondas e de nível do mar a partir de modelos de circulação atmosférica; Caracterizar a transformação das ondas de tempestade desde o oceano até à costa; Incluir assuntos marinhos e costeiros na Árvore de Conhecimento do MCT/MEC para avaliação adequada de pesquisas sobre respostas em situações de emergência. ANEXO VI - Necessidades de transferência de tecnologia em matéria de adaptação Sector agrícola Para o sector agrícola foram identificadas necessidades nos seguintes domínios: - Mudanças de topografia de terreno para melhorar a captação da água e evitar erosão pelo vento; - Mudanças de práticas agrícolas para conservar os nutrientes; - Técnica de uso de diferentes cultivos; - Controle de erosão do solo; - Quebra-ventos; - Mudança no período de plantio e colheita; - Novas variedades de plantas; 159 - Irrigação gota gota (Cabo Verde detém a tecnologia); - Reflorestamento em zonas áridas e semiáridas (Cabo Verde detém a tecnologia); - Agricultura protegida e hidropônica; - Métodos de combate de pragas; - Técnicas para aumentar valor agregado da produção; - Técnicas para garantir segurança e qualidade alimentar; - Técnicas de aquicultura. Zonas Costeiras Para as Zonas Costeiras foram identificadas necessidades, subdividas em “Estruturas pesadas” (Hard structures) “Estruturas leves”(Soft structures): “Estruturas pesadas” (Hard structures) Diques, Barreiras de contenção, Barreiras de ondas, Quebra ondas, Materiais mais resistentes e Recifes artificiais. “Estruturas leves”(Soft structures) Restauração de dunas ou terrenos húmidos; Recuperação de praias (inclusive aterro); Estabelecimento de zonas de recuo; Sistema de Alerta precoce de evacuação; Culturas resistentes ao sal; Sistemas de drenagem avançados; Sistemas de dessalinização; Técnicas mais modernas de zoneamento e ocupação nas zonas costeiras; Técnicas de navegação e controle de vazamento. Abastecimento de água No domínio do abastecimento de água, foram identificadas necessidades nos seguintes domínios: Aumento do número e da capacidade de reservatórios; Dessalinização (osmose inversa e técnicas mais eficientes do ponto de vista energético); Uso mais eficiente de águas subterrâneas; Outras técnicas melhoradas de conservação de solos e água; 160 Técnicas de plantação hidropônica; Técnicas de reutilização de águas; Sistemas de alerta de enchentes; Culturas mais tolerantes à secas; Técnicos de irrigação mais eficientes; Técnicas para prevenir (alerta precoce) e impedir a intrusão salina; Sistema de alerta precoce; e Redução das perdas do sistema de distribuição de água. Sector energético Para o sector energético foram identificadas necessidades para os domínios de: Combustível – Geração de Calor Solar Biodiesel (a depender do insumo) Geotérmica Tecnologias Transversais Redes Inteligentes (Smart Grid) Armazenamento (baterias) Eficiência energética (indústria e edifícios) Conservação de energia (indústria e edifícios) Tecnologias Sociais Combustível limpo para cozinhar - LPG, madeira, etanol Eletr. Rural & efic. energética para famílias de baixa renda Solar (baixas temperaturas) para família de baixa renda Outras Conversão de energia térmica oceânica Biogás de aterro sanitário Tecnologias de florestação mais modernas Tecnologias de proteção de sumidouros de carbono 161 Técnicas de florestação e reflorestação Tecnologias Geradoras de Eletricidade Solar (Fotovoltaica e concentração de energia solar) Eólica Hídrica (de pequena escala) Hidrogénio (Células combustível, produção e armazenamento) 162 ANEXO VII – Propostas de projectos prioritários PROJECTOS DE ADAPTAÇÃO Título : Modernização e Diversificação da produção Agrícola Objectivo específico: Adaptar os sistemas de produção agro-silvo-pastoris à mudança e à variabilidade climática, na perspectiva duma redução da insegurança alimentar Componentes/Resultados: Componente 1 : Reforço das capacidades dos intervenientes em matéria de adaptação às Mudanças Climáticas e Variabilidade Climática do ponto de vista sistémico, organizacional e individual. Resultado 1: Os intervenientes estão melhor organizados e capacitados em técnicas de produção sustentável. Resultado 2: A política e os instrumentos de planeamento do sector agro-silvo-pastoril têm em conta a vulnerabilidade e os impactos associados à mudança climática. Componente 2 : Actividades de investimento, conservação e protecção no terreno Resultado 1 : A capacidade de produção e a produtividade dos sistemas agro-silvo-pastoris, são aumentadas. Resultado 2: As bases de produção vulneráveis (bacias hidrográficas, florestas, etc.) são protegidas. Componente 3 : Pesquisa-acção sobre as variedades adaptadas às condições climáticas actuais Resultado 1 : Novas técnicas agro-silvo-pastoris são experimentadas e mecanismos inovadores de adaptação são implementados. Componente 4 : Mobilização Informação Sensibilização dos intervenientes sobre os riscos inerentes às Mudanças Climáticas e à Variabilidade Climática Resultado 1 : Os intervenientes estão consciencializados e atitudes positivas com relação aos factores agravantes (deslizamento de terras, fogos florestais, desflorestação, etc.) da vulnerabilidade às mudanças e à variabilidade climática, são adoptadas. Custo ($US): 2.500.000 Título : Protecção e Gestão Integrada das Zonas Costeiras Objectivo específico: Aumentar a capacidade de adaptação das zonas costeiras às mudanças climáticas através da gestão integrada dos recursos costeiros a fim de mitigar a situação actual. Componente 1 : Reforço das capacidades dos intervenientes em matéria de gestão das zonas costeiras para a adaptação à Variabilidade Climática e às Mudanças Climáticas ; Resultado 1 : As estruturas governamentais centrais, descentralizadas e comunitárias são capacitadas para contribuir significativamente para a gestão das zonas costeiras. Componente 2 : Actividades de investimento, conservação e protecção no terreno 163 Resultado 2 : A capacidade de adaptação das zonas costeiras é aumentada e a pressão sobre os recursos costeiros é diminuída. Componente 3 : Pesquisa-acção em termos de utilização e exploração de inertes nas zonas costeiras Resultado 3 : Alternativas à utilização de recursos costeiros (inertes) na construção de infra-estruturas, são experimentadas Componente 4 : Mobilização, Informação, Sensibilização Resultado 4 : Um sistema de alerta precoce é criado e as populações em risco estão conscientes do seu estatuto e preparadas para gerir eventuais calamidades. Custo ($US): 2.000.000 Título: Melhoria Integrada e Sustentada da pesca Artesanal e Costeira Objectivo global: Contribuir na luta contra a pobreza das famílias dos pescadores artesanais e de outros operadores da pesca costeira. Objectivos específicos: (i) Assegurar de uma forma sustentável a exploração dos recursos haliêuticos; (ii) Reforçar a capacidade técnica, operacional e de gestão dos operadores da pesca artesanal e costeira. Principais Resultados Esperados: (i) Melhoria das condições de vida dos operadores artesanais e dos agentes de comercialização; (ii) Modernização dos meios de produção; (iii) Melhoria das condições higieno-sanitárias de comercialização do pescado; (iv) Redução de vítimas de acidentes e perdas de vidas humanas na pesca artesanal; (v) Maior integração da pesca com as outras actividades económicas locais geradoras de rendimento, nomeadamente o turismo. Custo ($US): 1.100.000 Título: Reforço e Reabilitação da Rede Nacional de Observação Climática, Meteorológica e Agrometeorológica Objectivos específicos: Garantir um maior apoio a actividades económicas dependentes do tempo e do clima, em especial as que se relacionam com o turismo, a pesca, os transportes (aéreo e marítimo) e os desportos náuticos através de um sistema climático constantemente actualizado que se constitua com um sistema de apoio aos decisores políticos e económicos na luta pelo desenvolvimento sustentado e de combate à pobreza; Contribuir para a formação especializada de Técnicos Superiores de Cabo Verde nas áreas das mudanças climáticas e seus impactes. Principais Resultados Esperados: Operacionalização de um sistema de previsão regional de tempo e do estado do mar baseados em modelos ETA com o "downscaling" da área de Cabo Verde, estabelecendo as condições fronteiras, bem como os modelos RAMS e SWAN já instalados, e utilizando os softwares instalados (Ex: GrADS) e 3 servidores de top de linha e internet. A rede de monitorização climática funcional e o sistema de alertas operacional. Custo ($US): 5.800.000 164 Título : Reabilitação do Centro Nacional de Previsão e Modelação Climática Objectivos específicos: O principal objectivo deste projecto é a criação de condições para que se possa melhorar a qualidade de previsão do tempo a curto, médio e longo prazo e, com base nas previsões meteorológicas gerarem produtos ajustados às necessidades específicas de vários sectores sócio económicas em C.V. com ênfase para os sectores da aeronáutica civil, agricultura, pesca, energia, industria, turismo e alertas para a protecção, entre outros. Garantir um maior apoio a actividades económicas dependentes do tempo e do clima através de um sistema climático constantemente actualizado que em tempo real pode produzir informações climáticas de apoio aos decisores políticos e económicos na luta pelo desenvolvimento sustentado e de combate; à pobreza; Contribuir para a formação especializada de Técnicos Superiores de Cabo Verde nas áreas das mudanças climáticas e seus impactes. Principais Resultados Esperados: Operacionalização de um sistema de previsão regional de tempo e do estado do mar baseado em modelos de escala regional com melhores condições e instrumentos para a investigação através dos modelos climáticos regionais de alta resolução para gerar cenários de mudanças climáticas. Os resultados tanto das previsões como das projecções e dos cenários climáticos permitirão elaborar estratégias de adaptação ou de mitigação, necessárias, para minimizar os efeitos adversos de uma mudança climática global, regional e local. Custo ($US): 7.300.000 Título: Criação de Actividades Geradoras de Rendimento para as Populações Vulneráveis Objectivos específicos: Aumentar a capacidade de adaptação das populações vulneráveis às variabilidades e às mudanças climáticas através da diversificação das suas actividades geradoras de rendimentos por intermédio do micro-crédito. Principais Resultados Esperados: Apoio aos beneficiários na identificação e elaboração de projectos alternativos, de menor impacto, relativamente às vulnerabilidade Climática e às Mudanças Climáticas; criação de linhas de crédito de fácil acesso para as populações mais vulneráveis; reforço das capacidades dos beneficiários em matéria de organização e gestão; assistência técnica aos beneficiários, seguimento e avaliação; Informação/ Sensibilização dos beneficiários relativamente aos efeitos e impactos negativos, das Mudanças Climáticas. Custo ($US):1.250.000 Título : Projecto de mobilização e gestão dos Recursos hídricos Objectivo específico: Distribuição de forma mais equitativa da água entre os agricultores Componentes/Resultados: Componente 1 : Reforço das capacidades em termos de estrutura e recursos humanos em matéria de mobilização e gestão de recursos hídricos do ponto de vista sistémico, organizacional e indivdidual. Resultado 1: Os intervenientes estão melhor organizados e capacitados no que refere à disponibilidade e uso de água, além da possibilidade de assistência técnica, 165 referente à infra-estrutura de rega. Resultado 2: Estabelecimento de uma política e instrumentos de planeamento do sector considerando a vulnerabilidade e os impactos associados às mudanças climáticas. Componente 2 : Actividades de investimento e conservação de infraestruturas que permitam melhor mobilização do recurso. Resultado 1 : A capacidade de mobilização do recurso aumentada. Resultado 2: As infraestruturas criadas protegidas. Componente 3 : Pesquisa-acção sobre as técnicas de rega localizada Resultado 1 : Abordagem experimental e mecanismos inovadores de adaptação implementados. Componente 4 : Mobilização Informação Sensibilização dos recursos obtidos entre os agricultores Resultado 1 : Programas de extensão estabelecidos. Custo ($US): 7.500.000 Título: Objectivos: Desenvolvimento e realização do ponto 7 do ODM relativo à sustentabilidade ambiental; Contribuir para a melhoria das condições de vida das populações; Contribuir para o desenvolvimento sustentável, baseado no desenvolvimento participativo e integrado dos recursos naturais. Promover o uso adequado dos recursos naturais e utilização das instalações mecânicas e biológicas; Avaliação da produção sustentável dos recursos naturais através da diversificação e valorização dos produtos; Apoiar as comunidades rurais para melhor antecipar e satisfazer o seu desenvolvimento com a gestão sustentável dos recursos. Resultados: As instalações mecânicas e biológicas são construídas e implementadas técnicas para a redução do excesso de pastagem estão operacionais. Gerentes e técnicos são bem treinados no manejo florestal. Técnicas para melhorar a produtividade do solo, aumento e diversificação dos produtos agro-florestal-pastoril e do desenvolvimento dos produtos são aprovadas. Melhoria da acessibilidade das populações à água é fornecida. A população é educada e treinada no manejo sustentável dos recursos naturais. População se apropria de técnicas e métodos para a gestão sustentável dos recursos naturais Custo ($US): 2.700.000 PROJECTOS DE ATENUAÇÃO/MITIGAÇÃO ÀS EMISSÕES DE GASES COM EFEITOS DE ESTUFA Título: Projecto de Electrificação Solar e Eólica da Aldeia Rural de Lagoa - Ilha de Santiago Concelho Tarrafal – Projecto ADAD Objectivo específico: Instalação e utilização da energia alternativa através de um sistema híbrido com capacidade de produção de 17KW de energia para cada localidade, sendo 7 em 166 energia eólica e 10Kw em energia solar, de modo a dar uma melhor eficiência energética a estas localidades. A utilização do sistema híbrido vai compensar e equilibrar a produção energética nestas localidades dado a forte nebulosidade e a fraca insolação durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Resultado: Sistema instalado e preparado para garantir a electricidade doméstica e iluminação pública às localidades beneficiadas. Garantida uma melhor eficiência energética, com utilização na iluminação pública de lâmpadas de tecnologia a led com alto índice de iluminação (28 watts - 50.000 horas de vida útil) e nas habitações utilização de lâmpadas de baixo consumo de 14 e ou de 17 watts, com 10.000 horas de vida útil. Custo (USD): 1.000.000 Título: Extensão e Instalação da Central Solar Fotovoltaica – Rede nacional de electrificação Sector Energético Objectivo específico: Aumentar a taxa de penetração das energias renováveis e electrificar as zonas rurais. Este projecto terá reflexos na redução da emissão dos GEE. Poupança anual de combustível, diminuição de combustíveis fósseis para produção de energia eléctrica e industrial, contribuição para atenuação das emissões de CO2. Resultado: Taxa de penetração de energia aumentada e melhorada o sistema de produção de electricidade a nível nacional. Custo (USD): 18.000.000 Título: Recolha de resíduos não degradáveis Objectivo específico: Evitar a contaminação do solo e prejuízos na saúde publica pela dispersão de poluentes tipo metais pesados. Criação de condições de armazenagem em aterros apropriados e/ou exportação e reciclagem. Resultado: Criadas as condições de recolha e depósito para armazenagem e tratamento de resíduos de resíduos e líquidos Custo (USD): 1.000.000 Título: Programa de Redução de Emissões de GEE - Sector dos Transportes Objectivo específico: Promover uma redução efectiva dos GEE no sector dos transportes a partir de acções de formação e sensibilizações dos utentes, aquisição de equipamentos de controlo das emissões dos escapes. Promover a utilização de viaturas eléctrica, a gás ou híbridas. Melhorar a eficiência energética das frotas de transportes terrestres, marítimo e aéreo; − Racionalizar os transportes urbanos e interurbanos; Introduzir autocarros de baixo consumo e fraca emissão nos circuitos urbanos. Modernizar a frota de transportes em todos os subsectores e abater as viaturas obsoletas. Resultado: O sector dos transportes rentabilizados. Parque automóvel renovado; Poluição urbana reduzida e diminuição das emissões dos GEE. 167 Custo (USD): 8.000.000 Título: Reflorestação das zonas marginais do litoral com espécies resistentes à seca – sumidouro de CO2 Objectivo especifico: Reflorestar as zonas marginais com plantas resistentes como Jatropha curcas (Purgueira) que servirão de sumidouro de carbono e produção de bio-combustivel a partir das sementes. Conservar e proteger o solo e a água e restaurar os ecossistemas dessas áreas. Resultado: Área reflorestada que contribui para redução das emissões de CO 2 tanto como sumidouro e fonte de abastecimento de sementes para produção de bio-combustível. Ecosistemas restaurados e vida das populações dos litorais melhorada. Custo (USD): 1.200.000 Título: Extensão dos Parques Eólicos – Rede Nacional Objectivo especifico: Aumentar substancialmente o grau de penetração de energia eólica no país. Diminuição das emissões dos Gases com Efeitos de Estufa (GEE) derivado da pouca utilização de combustíveis fósseis. Resultado: Aumento da taxa de penetração de energia eólica no sistema de produção de electricidade e bombagem de água nos furos. Redução do consumo de combustíveis fósseis e consequente diminuição da poluição através das emissões de CO2. Título: Aumento da Economia de Energia – Utilização de Novas Tecnologias Objectivo especifico: Programa de economia e poupança de energia através da co-geração (centrais de produção de água e energia), como a introdução massiva de lâmpadas de baixo consumo nos sub-sectores domestico, industrial e na construção civil com utilização de projectos habitacionais amigos do ambiente. Resultado: Economia de energia, custo de energia reduzida, melhor aproveitamento de outras tecnologias para produção energética e na construção civil. Custo (USD): 800.000 Título: Produção de Água dessalinizada a partir da Co-Geração Aproveitamento dos Gases de Escape Objectivo especifico: Produzir água dessalinizada com a instalação de um sistema de cogeração para o aproveitamento do calor residual desenvolvido por um grupo a diesel através das suas descargas de gases de escape e água de refrigeração. No aproveitando desta fonte energética pode-se aumentar o rendimento global do sistema de 30 a 40% a mais de 80%. Resultado: Redução do consumo de combustíveis fosseis na produção de água dessalinizada e redução das emissões dos GEE. Custo (USD): 2.300.000 Título: Promoção e difusão de fogões eficientes de Lenha Objectivo especifico: Conceber e implementar um projecto de fabrico e comercialização de fogões de origem Queniana. Reduzir a emissão de CO2 proveniente da queima de lenha; - 168 Difundir protótipos de fogões “Jiko” com grande rendimento calorífico. Reduzir os défices energéticos através da promoção da economia de energia. Resultado: Reduzidas as emissões de CO2. Défices estruturais em energia lenhosa reduzido -Economia de energia promovida. Custo (USD): 650.000 Título: Melhoramento da alimentação dos ruminantes Redução da emissão de metano Objectivo especifico: Reduzir a emissão de metano no processo de fermentação entérica Determinar a viabilidade técnica e económica do tratamento da palha e dos subprodutos agrícolas para a alimentação dos ruminantes; Melhorar o valor nutricional dos alimentos grosseiros e a produtividade dos ruminantes em termos de carne e leite; Avaliar o efeito do melhoramento da alimentação na digestibilidade Avaliar o efeito da produtividade de carne e leite na emissão de metano por unidade de produção no processo da fermentação entérica; Resultado: Emissão de metano reduzida ; Alimentação e digestibilidade dos ruminantes melhoradas; Produtividade de carne e leite aumentada; Modelos de tratamentos definidos. Custo (USD): 600.000 Título : Indução de projectos cooperativos entre a Universidade e Órgãos Municipais de Planeamento para avaliação de vulnerabilidade Objectivo específico: Estabelecer linhas operacionais de pesquisa que permitam fazer a avaliação dos aspectos diversos dentre aqueles relacionados à variabilidade climática Componentes/Resultados: Componente 1 : Reforço das capacidades dos intervenientes em matéria de adaptação às Mudanças Climáticas e Variabilidade Climática em termos de pesquisa. Resultado 1: Desenvolvimento de pesquisas relacionadas, como a produção de metano e N0x na pecuária, ou outras, de acordo com as necessidades identificadas pelos órgãos municipais. Resultado 2: Estabelecimento de políticas e instrumentos de planeamento do sector agrosilvo-pastoril de acordo com a vulnerabilidade e os impactos associados à mudança climática. Componente 2 : Actividades de investimento em pesquisas através de protocolos de colaboração inter-institucional. Resultado 1 : Aumento da capacidade de trabalho neste sistema. Componente 3: Sensibilização dos intervenientes sobre as necessidades de pesquisa relacionados aos riscos inerentes às Mudanças Climáticas e à Variabilidade Climática Resultado 1 : Os intervenientes consciencializados e atitudes positivas com relação à necessidade de pesquisa em relação aos factores agravantes da vulnerabilidade às mudanças e à variabilidade climática. Custo (USD): 1.000.000 Título : Estudo das potencialidade dos diferentes tipos de estrume animal e compostagem na emissão de N2O Objectivo específico: Identificar as fontes de N que resultam em menor emissão de N 2O. Estudar o efeito de diferentes tipos de estrume animal e de adubo mineral nitrogenado na 169 produção das culturas e no conteúdo de Nitrogénio do solo. Estimar a emissão do óxido nitroso a partir das diferentes fontes de N. Avaliar a eficiência da utilização das diferentes fontes de N na produção Resultado: Fontes de N mais eficazes identificadas -Taxa de emissão do óxido nitroso a partir das diferentes fontes de N estimada ; Correlação entre a eficiência na utilização do N e a emissão de N2O estimada ; Eficiência na utilização dos fertilizantes -Emissão de N2O reduzida. Custo (USD):700.000 Título : Gestão demográfica e saúde ambiental - Sistema para o controlo da poluição do ar nos principais centros habitacionais do país Objectivo específico: Estabelecimento de um sistema que permita conhecer os níveis quantitativos e qualitativos da poluição do ar em regiões específicas; formação de pessoal nacional para o efeito. Objectivos a médio e longo prazos: Formular medidas que permitam o controlo da poluição do ar em todo o país. Elaborar estudos que permitam conhecer as consequências dos elementos poluidores na saúdes humana e definir as formas de controlar e/ou evitar tais consequências. Elaborar estudos visando conhecer o efeito negativo dos vários níveis de poluição na fotossíntese de várias espécies. Criar um sistema de alerta contra agentes poluidores considerados nocivos. Resultados: Criada a capacidade nacional para conhecimento dos níveis qualitativos e quantitativos da poluição do ar e seu controlo e combate; Criadas medidas, com base nas informações qualitativas e quantitativas disponíveis, visando o controlo da poluição do ar e/ou de medidas visando reduzir e/ou anular, tanto quanto possível, os efeitos nefastos desta poluição. Custo (USD):850.000 Título : Rede de monitorização do ar e do ambiente Objectivo específico: Realização de medições e análise dos componentes do ar, nos locais considerados críticos a nível da poluição do meio ambiente, assegurando um controlo geral das emissões gasosas e tentar manter os níveis da qualidade do ar, especialmente nos principais centros urbanos. Resultado: Inventário dos gases resultantes das diferentes actividades industriais realizadas em Cabo Verde; -Realização de estudos da poluição atmosférica; Criada a base de dados da qualidade do ar. Disponibilidade de dados para investigação. Custo (USD):800.000 Título : Aumento dos poços de captação de GEE Objectivo específico: Aumentar a capacidade de sequestração de carbono -Promover a agro-silvicultura como uma alternativa à tradicional prática de cultura de sequeiro. Fomentar a integração das árvores nas outras culturas de modo a resolver alguns constrangimentos socioeconómico e ao mesmo tempo garantir uma melhor protecção do meio ambiente -Reforçar a capacidade técnica nacional em matéria de concepção e 170 planificação de projectos agro-florestais. Resultado: A capacidade de sequestração de Carbono aumentada. A renda familiar melhorada através de um melhor aproveitamento das parcelas agrícolas. A capacidade técnica nacional na concepção e planificação de projectos agro-florestais participativos melhorada. Custo (USD):1.000.000