KENNY ROGERS DE OLIVEIRA QUEIROZ e RENAN ANDREWS
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KENNY ROGERS DE OLIVEIRA QUEIROZ e RENAN ANDREWS
KENNY ROGERS DE OLIVEIRA QUEIROZ e RENAN ANDREWS PEREIRA DE CARVALHO SOUZA Por Maria Beatriz Alves de Araújo, em 09.11.2012 SARAU DE IMAGENS, V PRÊMIO CRIANDO ASAS 2011-2012 O frequentador de saraus KENNY ROGERS DE OLIVEIRA QUEIROZ (à esq.) e o amigo RENAN ANDREWS PEREIRA DE CARVALHO SOUZA, desde que se conheceram na oficina de audiovisual do Projeto Arrastão, se uniram para causas do bem. O Causarte é o coletivo de audiovisual da dupla, que se coopera para encontrar na arte a melhor forma de estar no mundo. Kenny Rogers (à esq.) e Renan Andrews, poesia na tela. Cine SESC, SP. A HISTÓRIA COMEÇA AQUI KENNY ROGERS DE OLIVEIRA QUEIROZ nasceu em 28.10.1989 em São Paulo e é morador do Taboão da Serra desde os dois meses de idade. O pai, 70, sonoplasta aposentado, atuou durante um bom tempo na rádio e televisão de onde talvez o caçula, de sete irmãos, tenha herdado a vocação para artes. A memória de Kenny evoca histórias vividas ao lado do pai. Conta dos bastidores dos festivais da Record, a vez que falou na rádio comunitária do bairro e quando passava o tempo assistindo ensaios de peças de teatro quando o pai foi funcionário público. Lembra ainda quando aos seis anos foi ator de teatro. Mesmo tendo concluído um curso técnico de eletrônica, sua atuação está entre o teatro e o audiovisual. Seu primeiro contato com a área foi na oficina de audiovisual do Projeto Arrastão, em 2008, quando conheceu Renan Andrews. Atualmente é bolsista ProUNI do curso de fotografia do SENAC. RENAN ANDREWS PEREIRA DE CARVALHO SOUZA nasceu em 08.12.1989, em São Paulo, e foi criado no bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Renan mora com a mãe, a avó, a irmã e um primo. Filho de pais separados, tudo o que Renan queria na infância era seguir a carreira do pai, hoje ex-mecânico de avião. Como convivem pouco, achou uma incrível coincidência começar a trabalhar com ciência da computação e descobrir que o progenitor era gerente técnico da Dell. Quando em 2008, entrou para a oficina de audiovisual no Projeto Arrastão, seu foco mudou. “Até hoje eu tenho essa dúvida, se eu faço ciência da computação ou audiovisual, multimídia, alguma coisa relacionada”, os amigos chegam a brigar por causa da indecisão de Renan. Renan saiu de uma produtora de PDV para trabalhar no projeto Sarau de Imagens. O PRÊMIO CRIANDO ASAS ACONTECE V PRÊMIO CRIANDO ASAS 2011-2012 Projeto SARAU DE IMAGENS Participantes: José Gelson da Silva Filho, Renan Andrews P. C. Souza, Kenny Rogers de Oliveira Queiroz. Ideia A ideia do “Sarau de Imagens” surgiu por volta de 2008, quando Kenny e Renan cursavam a oficina de audiovisual do Projeto Arrastão, Campo Limpo (SP). O projeto de uma agência de comunicação foi repensado como uma TV online, focada em poesia, mas naquele momento não se concretizou. Objetivo O “Sarau de Imagens” foi criado com o objetivo de expandir a cultura dos saraus na cidade de São Paulo, por meio de um site, que também veiculará material de divulgação de bandas da periferia. Uma observação interessante, o nome ‘Sarau de Imagens’ imaginou a poesia filmada. Expectativas Inicialmente, “abraçar o mundo”. Passado um tempo, “a gente vê que não é por aí”. Kenny conta que a ideia era que o site se tornasse uma referência, um portal, não só daquela região, Campo Limpo e redondezas, mas da capital inteira. Ele explica que os saraus estão espalhados por todos os cantos da cidade e com três pessoas no projeto não seria possível alcançar essa meta. Na fase inicial, resolveram restringir o alcance para o bairro. Força de trabalho Kenny esclarece que “sarau não é só poesia, é música, é teatro, são vários tipos de arte conversando”. Por isso, a necessidade de muitos parceiros para acontecer vídeos e poesias até shows de bandas. “Só na gravação, contando com os câmeras, o público que ajudou, o pessoal da montagem do palco, a minha mãe e os amigos dela que fizeram a comida, meu primo foi motoboy...” Estima-se que 60 pessoas foram empoderadas para fazer acontecer o Sarau de Imagens. Impacto social O projeto se estendeu até janeiro de 2012, produziu três DVDs de bandas musicais e impactou diretamente 400 pessoas, entre poetas, músicos, atores e frequentadores de saraus do Campo Limpo e adjacências, incluindo Taboão da Serra. Essas pessoas assistiram ou se envolveram na realização do Sarau de Imagens. Entre uma ação social de fortalecimento da classe artística da comunidade e a relação comercial com o artista existe um processo ainda em amadurecimento que a dupla Kenny-Renan está atenta. Não podemos desconsiderar os resultados alcançados por seus artistas “clientes”. O vídeo da cantora Aline produzido pela dupla já conta com 582 visualizações, no YouTube, em apenas um mês. Kenny acredita que sua arte somada a dos artistas aumenta potencialmente o impacto social. “A arte é essencial na vida de qualquer pessoa, pelo o que ela te emociona e também como uma forte ferramenta política, a arte que gera uma mobilização.” Desafios O primeiro desafio foi fazer um bom uso da verba recebida. Os meninos evitavam gastar com combustível na tentativa de melhorar a logística. Amigos e artistas foram envolvidos no mutirão do Sarau de Imagens e até a câmera do Binho (Sarau do Binho) entrou na roda. Conseguir um espaço adequado para as filmagens, por exemplo, o vídeo dos poetas, foi outra manobra, que mais amigos colaboraram e uma rede foi se formando, Espaço Clariô de Teatro, Espaço Encena, Agência Solano, Núcleo de Comunicação Alternativa, Sarau do Binho, Duda Meirelles. Os moradores do bairro “cobram por mais”. Como o projeto chegou com uma proposta de ser grande, criou-se uma expectativa que ainda não se cumpriu. Porque? Renan acredita que por falta de divulgação. Os produtores tinham um planejamento estratégico, mas se sentiram inseguros. Histórias de Transformação A dupla observa que muitas pessoas moram ao lado dos saraus e nunca frequentaram. Nem ao menos conhecem. Kenny analisa como um certo preconceito. “A pessoa não foi educada pra pensar e consumir arte. Eu mesmo, quanto tempo fiquei sem querer ir numa exposição, sem me interessar em poesia. O sarau me mudou.” Renan diz que a principal transformação aconteceu com ele próprio, que sempre gostou de poesia e de música, mas confessa ser “o vizinho de sarau que não ia no sarau”. Com o projeto, o jovem juntou-se aos artistas e conheceu os saraus de verdade. Para escrever o projeto, desenvolver o site e buscar parceiros, foi obrigado a pesquisar e contatar todos os da região. Foi quando descobriu que o frequentador de sarau é assíduo. “Ele vai na quarta, quinta, sábado e domingo. Em todos. E se for itinerante, segue o sarau.” Outra grande experiência para Renan foi investir dinheiro do próprio bolso, mesmo sem ter, e não se arrepender. Ele demonstra clareza ao afirmar que ficou devendo e não se arrependeu. “Tinha que ter sido feito.” Kenny se surpreendeu com os depoimentos de agradecimento e de incentivo, como os de Shirley, do grupo Ilê Iya Tunde, sobre a energia do show. Ele se sente contente por conseguir mobilizar tanta gente para um evento, pois se sente mais parte do lugar. “A relação com essas pessoas não é mais ‘oi, tudo bem’. É outra relação, os olhares mudam. Você se sente bem, dever cumprido.” O Prêmio Criando Asas sob o olhar do vencedor “Pra nós foi o estopim de todo esse caos, caos legal que gerou pra gente. Se a gente não tivesse ganhado o prêmio, talvez o Sarau estivesse na gaveta.” “O Prêmio Criando Asas é a asa que ficou faltando da ideia. É a asa da ideia. Ele vem pra dar o estopim na ideia, pra ideia funcionar, é isso.” Kenny acredita que o prêmio traz os primeiros aprendizados. “O Prêmio Criando Asas é uma oportunidade pra que você possa dar o primeiro passo pra realizar aquele seu sonho.” A HISTÓRIA CONTINUA Após o prêmio, a dupla está dando continuidade ao projeto, enquanto também aguarda pela divulgação dos resultados de outros editais de incentivo. Para Renan, o melhor investimento é no facebook, onde já contam com 210 amigos, não tem custo, é online. “A ideia é localizar todo esse material de vídeo e de imagem em um canal do YouTube que vai estar vinculado a playlist do facebook e dali distribuir para os artistas parceiros e seus blogs.” Kenny se considera “um aprendiz” do ofício de atuar e, atualmente, tenta uma vaga para o curso de Iluminação cênica na SP Escola de Teatro. Em seu caminho há também espaço para a música. Ele integra um grupo folclórico, que toca de pandeiro a bumba-boi. “Eu tenho forte essa coisa da cultura popular.” E no meio de tantas opções criativas, é possível viver da arte? O jovem de 23 anos é sincero, “tá muito difícil”. Diante de tantos dados de realidade, só mesmo a arte para nos fazer acreditar. Os amigos têm a expectativa de montar um acervo com os poetas declamando e com os shows gravados. “Aí já pode morrer feliz”, diz Kenny.
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