universidade federal da paraiba
Transcrição
universidade federal da paraiba
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM – PROLING DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA ANA PAULA NÓBREGA DE MELO “que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[]/”: Subjetividade e multimodalidade na orquestração dialógica mãe-bebê com Síndrome de Möebius JOÃO PESSOA 2011 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM – PROLING DOUTORADO EM LINGUÍSTICA “que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[]/”: Subjetividade e Multimodalidade na orquestração dialógica mãe-bebê com Síndrome de Möebius Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística (PROLING) da UFPB, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Lingüística sob a orientação da Profa. Dra. Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante. ANA PAULA NÓBREGA DE MELO 2 ANA PAULA NÓBREGA DE MELO “que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[]/”: Subjetividade e Multimodalidade na orquestração dialógica mãe-bebê com Síndrome de Moebius TESE apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Lingüística. Área de Concentração : Teoria e Análise Lingüística e Linha de Pesquisa : Aquisição de Linguagem e Processamento Lingüístico BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Profa. Dra. Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante (Orientadora – UFPB) ________________________________________________ Profa. Dra. Evangelina Maria Brito de Faria (Examinadora interna– UFPB) ________________________________________________ Prof. Dr. Jan Edson Rodrigues Leite (Examinador interno – UFPB) ________________________________________________ Profa. Dra. Luciana Pimentel Fernandes de Melo (Examinadora externa – UFPB) _______________________________________________ Profa. Dra. Nadia Maria Ribeiro Salomão (Examinadora externa– UFPB) Aprovada em : ____/____/________ JOÃO PESSOA 2011 3 M528q Melo, Ana Paula Nóbrega. "que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[-----]/”: subjetividade e multimodalidade na orquestração dialógica mãe-bebê com Síndrome de Möebius / Ana Paula Nóbrega de Melo.—João Pessoa, 2011. 286f. Orientadora: Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante Tese (Doutorado) – UFPB/PROLING 1. Linguística. 2. Linguagem. 3. Fenômenos dialógicos. 4. Orquestração. 5.Integração dialógica mãe-bebê. 6.Síndrome de Möebius. UFPB/BC CDU: 801(043) 4 "UBUNTU UNGAMNTU NGANYE ABANTU" (Nelson Mandela) _________________ « Pessoas são pessoas através de outras pessoas» (Ditado Xhosa – língua materna de Nelson Mandela) 5 Para minha mãe e meus filhos 6 AGRADECIMENTOS A todos os meus « eus », « eu-outro » e « outros » com os quais « eu » entrei em ressonância no caminho de minha vida, na afinação ou no deslocamento do meu « eu » enuncio com minha real sinceridade : Sinto muito. Sou grata. E agradeço tomando as palavras de outro: "Agradecer significa: Tomar o que é dado, Segurá-lo com respeito nas mãos, Acolhê-lo dentro de mim, em meu coração, até que percebo internamente: Agora é parte de mim. Agradecer é também: Aplicar o que me foi dado E se tornou uma parte de mim Numa ação que permita aos outros Alcançar também O que me enriqueceu Só então o que me foi dado Alcança sua plenitude." (Bert Hellinger) Meu « eu-familia » Aos meus pais e a toda minha ancestralidade pelo dom da vida. E ao meu pai « Casé » por ser o meu pai presente. Aos meus irmãos Luciana e Claudio por serem parte da minha caminhada. Aos meus filhos Edson Neto e Juliana por serem meus frutos do amor. Aos demais familiares por serem parte dessa « colcha de retalhos » resultante de nossos antepassados e que compõe a nossa família. Eu honro todos vocês. 7 Meu « eu-profissão » Aos meus pacientes e seus pais pelos inúmeros aprendizados ao longo da minha prática profissional. Aos meus colegas de minha profissão e de outras profissões com quem eu pude compartilhar do ser terapeuta. À Ana da Fonte, minha referência do ser terapeuta, pela sua infinita disponibilidade em me ajudar a encontrar a paz do “eu”. A Geórgia Veras e Germana Carvalheira. Obrigada por serem além das minhas colegas de profissão, as minhas grandes amigas e as melhores fonoaudiólogas que eu conheço. Aos meus amigos da medicina : Dra. Liana Ventura, Daena Leal, Valéria Salazar, Dr. René Garrigue, Dr. Pierre-Marie Bougard, Dr . Claude Simmonot. Vocês são minha fonte de inspiração pelo humanismo com que vocês realizam a profissão de médico. Vocês realmente são médicos. A minha equipe terapêutica do CEEQ (Centro Elohim de Equoterapia e Hipismo) por acreditar no propósito dessa instituição e pela perseverança, garra e competência com que desempenham suas atividades. E aos pais e praticantes do CEEQ meu agradecimento pela confiança depositada. Também agradeço a compreensão e paciência em meus períodos de ausência. A Fga. Sandra Ramos pela presteza ao me ajudar com uma parte das transcrições do corpus dessa pesquisa. Meu « eu-acadêmico » Aos meus mestres ao longo da minha caminhada acadêmica. Um agradecimento especial à Profa. Ivana Markova pelas ricas orientações nesse estudo e mais ainda pela atenção à minha pessoa através dos chazinhos e biscoitinhos que aqueceram meu coração nas nossas tardes de discussão em sua casa. Pelas sabias palavras as quais nunca vou esquecê-las, sobretudo aquelas que foram conselhos de vida. Meu gesto de sorrir estará para sempre ligado a você pois nele estará o seu conselho : « Ana você é ainda mais bonita sorrindo ! Nunca deixe de sorrir ! » A Profa. Dra. Marianne Cavalcante, orientadora desta tese, pelo incentivo e apoio nos momentos mais difíceis. Marianne você é minha « mãe-acadêmica ». Quando eu crescer eu quero « puxar » à minha mãe ! Ao meu querido professor e amigo Jorge Falcão pelo incentivo à pesquisa. 8 A Prof. Maria Lyra pela atenção e interesse pelo meu trabalho. Aos professores : Laurent Danon-Boileau, Jacques Bress, Hugues de Chanay, Maya Gratier pela leitura do meu projeto de estagio doutoral e pelos conselhos dados. Aos meus colegas do PROLING, todos sem exceção, meu muito obrigada. Em especial agradeço às minhas amigas Lavínia Brandão e Juliana Lopes. Sou feliz por termos compartilhado de todos os momentos dessa nossa trajetória acadêmica na qual damos nossos primeiros passos. Ao PROLING pelo apoio aos seus alunos. Um agradecimento especial a Prof. Dra. Regina Celi que tanto fez para a obtenção do estagio doutoral e por tudo que faz para acomodar as nossas necessidades de aluno. A CAPES pelo auxilio financeiro da bolsa PDEE (Estagio doutoral no exterior). Aos meus colegas do estagio doutoral do grupo de pesquisa do Prof. Danon-Boileau e da Prof. Salazar-Orvig, da Université Paris 3 – Sorbonne Nouvelle, respectivamente : Fabienne Eckert, Ebru Ylmaz, Cristina da Silva pelo apoio, torcida e momentos prazerosos juntas. Meu « eu-social » Aos meus amigos Marcos Carneiro e Clecilda Ribeiro por serem a fonte de aconchego, apoio incondicional e carinho nos momentos difíceis da vida. Aos pais do bebê pela confiança depositada em mim. A todos que de alguma forma me apoiaram na realização desse estudo. Um agradecimento especial ao meu eterno : « MINDUIM ». O ser central dessa tese. Eu quero dizer que eu te vi ! E isso foi um grande presente na minha vida. Obrigada por tudo o que você me ensinou na sua curta existência. Eu tomei e repasso... 9 RESUMO Nesta tese tomamos linguagem, gesto e interação como fenômenos dialógicos, decorrentes de entrelaçamentos de nossa história ontogenética em um meio. A linguagem é vista como um produto/processo operacional, uma conduta dialógica, compreendendo o ato gestual como a distinção/configuração de objetos consensuais e domínios, em dinâmicas dialógicas constitutivas e a interação como o momento de experiências comunicativas co-relacionadas com gesto e linguagem. Nos concentramos sobre o desenvolvimento das condutas linguageiras e mais especificamente das condutas dialógicas entre a mãe e o bebê, este último portador da seqüência de Möebius que lhe confere uma face sem mímica decorrente de paralisia facial bilateral e estrabismo congênito. O objetivo foi o de investigar as modalidades de inscrição do bebê no diálogo e todo o processo de orquestração, permitindo a demonstração da integração dialógica da diade, integração esta, que os conduz à afinação linguageira. O corpus é constituido de 23 sequências videográficas entre mãe e bebê, este último nas idades entre 11 semanas a 17 meses. Investigou-se a produção dialógica da díade mãe-bebê dentro da abordagem teórico-metodólogica do dialogismo preconizado por Mikhail Bakhtin e mais precisamente os pressupostos defendidos por Ivana Markova. A proposição de Markova (2003) considera que a dialogicidade enfoca as caracteristicas do Eu, ou seja, a comunicação dialógica é uma comunicação do Alter-Ego-Objeto. Isso envolve portanto a noção de dialogicidade e de intersubjetividade. Analisou-se segundo esses pressupostos os seguintes pontos da interação adulto-bebê: a co-construção do sentido; a co-construção do gesto; a co-construção do discurso; a intersubjetividade (Trevarthen) presente nesta interação gerando tensão, conflitos e ainda acordos colaborativos. Apresentamos nas nossas análises um tratamento dialógico e multimodal da interação adulto-bebê, o que consiste na percepção integrada das condutas dialógicas dos participantes da interação. As práticas endógenas e situadas da díade constituem-se em atividades lingüístico-interacionais. Os resultados apontam que os contextos dessas práticas não são prévios aos afazeres nem autônomos à sua implantação: configuram-se na interação, nos momentos de co-construção/orquestração enquanto a moldam reflexivamente num processo dinâmico e sequencial de afinação linguageira. Consideramos também que o conjunto dessas observações pode contribuir para os estudos em aquisição de linguagem, da interação e da gestualidade. Palavras-chave: Orquestração – Integração Dialógica Mãe-Bebê – Síndrome de Möebius 10 ABSTRACT In this thesis we conceive language, gesture and interaction as dialogic phenomena, resulting from ontogenetic network in our history in a way. The language is seen as a product/operational process, a dialogical conduce, understanding the gestural act as a distinction/configuration of consensus objects on the one hand and domains in constitutive dynamics dialogues interactions related to language and gesture. We concentrate on the development of linguistics conducts and more specifically of dialogical behavior between mother and baby, the latter bearing the Möebiu's Syndrome that gives a face without mimicry. The goal is to investigate the arrangements for registration of the baby in the dialogue and the whole process orchestration allowing demonstration of dyadic dialogical integration. A dialogical and multimodal treatment of adult-child interaction was introduced, being the integrated perception of the linguistics conducts of the interaction of participants. The practices are endogenous and are located, and therefore constitute themselves into linguistic and interactional activities. The contexts of these practices are not autonomous tasks prior to their deployment, but they are configured in the interaction, a co-construction/orchestration process while reflexively shape a dynamic and sequential linguistic tuning. Keywords: Orchestration - Mother-Baby Dialogical Integration - Syndrome Möebius 11 RÉSUMÉ Dans cette thèse, nous considérons langage, gestes et interaction comme des phénomènes dialogiques, résultant de l’entrecroisement de notre histoire ontogénique dans un milieu. La langue est vue en tant qu’un produit/procès opérationnel, une conduite dialogique, comprenant l'acte gestuel en tant que une distinction/configuration des objets et des domaines consensuels, présentes dans les dynamiques constitutives, et l'interaction comme les moments d'expériences communicatives intégrées avec les gestes et le langage. Nous nous concentrons sur le développement des conduites langagières et plus particulièrement le comportement dialogique entre la mère et le bébé, ce dernier portant le syndrome de Möebius qui lui rends un visage sans mimique. L'objectif est d'étudier les modalités d'inscription de l'enfant dans le dialogue et tout ce processus d'orchestration des ses conduites, tout en permettant la démonstration de l'intégration dialogique de la dyade. Nous présentons un traitement multimodal et dialogique de l'interaction adulte-enfant, consistant d'une perception intégrée des conduites langagières des participantes pendant l'interaction. Ces pratiques endogènes et situés, sont constitués par autant, des activités linguistiques et interactionnelles. Les contextes de ces pratiques ne sont pas précédentes aux affaires, de même, ils ne sont pas autonomes dans son déploiement, ils se configurent pendant l'interaction, dans des moments de coconstruction/orchestration qu'ils façonnent réflexivement dans un processus dynamique et séquentiel d'accordage langagière. Mots-clés: Orchestration – Intégration dialogique mère-enfant - Syndrome de Möebius 12 RESUMEN En esta tesis se concibe el lenguaje, el gesto y la interacción como fenómenos dialógicos, lo que resulta de entrelazamientos de nuestra historia ontogenética en un entorno. El lenguaje es visto como un producto/proceso operativo. Llevar a cabo un diálogo, comprendiendo el acto gestual como una distinción/configuración de objetos de consenso y dominios, en dinámicas dialogicas constitutivas y la interacción como los momentos de las experiencias comunicativas co-relacionadas con el lenguaje y el gesto. Nos concentramos en el desarrollo de las conductas lingüísticas y, más concretamente, de la conducta dialógica entre la madre y el bebé, este último con el Síndrome de Möebius, que no posee expresión facial. El objetivo es investigar las modalidades de inclusión del bebé en el diálogo y la orquestación de todo el proceso que permite la demostración de la integración dialógica de la díada. La introducción de un tratamiento multimodal y dialógico de la interacción adulto-bebé, lo que es una percepción integrada de las conductas lingüísticas de los participantes en interacción. Las prácticas endógenas se sitúan, entonces, en las actividades lingüísticas y de interacción. El contexto de estas prácticas no son tareas autónomas antes de su desarrollo, se configuran en la interacción, en los momentos de co-construcción/orquestación mientras reflexivamente se da forma a un proceso dinámico y secuencial – una afinación lingüística. Palabras clave: Orquestación - Integración Dialógica Madre-Bebé - Síndrome de Möebius 13 SUMÁRIO Introdução 1. Interrelações entre linguagem, pensamento e cultura nos estudos sobre o desenvolvimento da comunicação e da linguagem. 22 1.1. A lingüística Interacional 22 1.2. O dialogismo como ontologia da humanidade 24 1.2.1 Dialogismo e dialogicidade 25 1.2.2 Dialogismo e intersubjetividade 27 1.2.3 A comunicação precoce 30 1.3. O desenvolvimento das Condutas Linguageiras Infantis 1.3.1 As aquisições lingüísticas 1.4. As aquisições linguageiras 1.4.1 A evolução das condutas posturo-mimo-gestuais 2. O não verbal e a abordagem multimodal 32 37 41 42 46 2.1 Abordagens e definições sobre o não verbal 46 2.2 A gestualidade 47 2.2.1 Sobre as expressões faciais 48 2.2.2 Sobre o Olhar 48 2.2.3 Sobre o Território Pessoal – a Proxemia 49 2.2.4 Sobre a postura e a gestualidade 50 2.3 A abordagem Multimodal 53 2.4 Multimodalidade e cognição 56 2.5 O gesto no dialogo 58 3. Um método para olhar as dinâmicas dialógicas 64 3.1 Uma deficiência a considerar 64 3.2 A metodologia orientada pela teoria 66 3.3 A escolha dos dados naturais relacionada à opção teórica 67 3.3.1 Os dados primários em forma de registros videográficos: vantagens e limitações 67 3.3.2 Os dados secundários: a transcrição como uma opção teórico metodológica de análise e de reflexão 69 3.4 Distinção entre o contexto de registro e o contexto de análise 71 3.4.1 Apresentação do corpus 71 3.4.2 O estabelecimento do corpus 72 3.4.3 Características do corpus 73 3.4.4 A identificação dos participantes 74 3.4.5 Os dados das analises 78 3.4.6 Os registros em vídeo 79 14 3.4.7 As seqüências 80 3.4.8 Tipo de estudo 81 3.4.9 Considerações Éticas 81 3.5 As convenções de transcrição 81 3.6 Algumas observações 83 4. Uma análise dialógica da relação mãe-bebê 85 4.1 Interação adulto – bebê: uma análise dialógica. 88 4.2 O engajamento dialógico: o conjunto de ações tanto da mãe como do bebê e o desenvolvimento das condutas linguageiras. 90 4.2.1 As relações de continuidade 92 4.2.2 Da continuidade ao deslocamento 95 4.3.3 As relações de descontinuidade 97 5. A afinação linguageira 5.1 Os movimentos do dialogo na interação mãe-bebê 5.1.1 As dinâmicas dialógicas: o desenrolar constitutivo – a afinação 99 99 99 5.1.2 O inicio das sequências interativas como o momento determinante de construção do fundo discursivo comum 101 5.1.3 A exploração compartilhada de objetos como fundo discursivo comum do diálogo 104 5.1.4 A exploração compartilhada do corpo como fundo discursivo comum do diálogo 106 5.2 Os acordos colaborativos e seus níveis de “afinação” – reformulações, inferências e repetições. 112 5.3 Colaboração mutua (co-construção, orquestração, complementaridade) 118 5.3.1 Co-construção na díade mãe-bebê: 5.4 As vozes do dialogo na interação mãe-bebê: A plurimodalidade 119 122 5.4.1 Orquestrando/afinando as vozes (polifonia e prosódia) 122 5.4.2 Discurso dirigido ao bebê vs Polifonia: O lugar do enunciador (‘EU’ – mãe , ‘EU’ – bebê e ‘ELE’, a intersubjetividade) 123 5.4.3 A evolução da orquestração voco-verbal 126 5.4.4 Fases dessa evolução 127 5.4.5 Choro significando um estado interno do bebê – sonolência 133 5.4.6 As vocalizações do bebê configurando suas motivações 135 5.4.7 A vocalização do bebê como um marcador para o tópico da conversação 139 5.4.8 As vocalizações sendo configuradas como um estado interno de satisfação. 142 5.4.9 A vocalização do bebê configurando uma comemoração 143 5.4.10 A co-construção do jogo de imitar a onomatopéia do índio 154 5.4.11 A orquestração do balbucio do bebê 156 161 15 5.5 Algumas considerações sobre a produção vocal da díade 5.6 O papel da gestualidade espacial e mímica: aspectos genéticos e multimodais 164 5.6.1 As primeiras condutas linguageiras quanto à posturo-mimo-gestualidade. 164 5.6.2 O lugar da gestualidade (olhares, movimentos do corpo – proxemia, as posturas e a gestualidade – os sinais sutis de sincronização/afinação no dialogo. 164 5.6.3 Co-construção – Olhar, prosódia e mímica 167 5.6.4 A certeza do olhar 176 5.6.5 O olhar para firmar/estabelecer acordos 183 5.6.6 Olhar trocando significados 186 5.6.7. Olhar trocando experiências 195 5.6.8 Considerações sobre o olhar compartilhado da díade 198 5.7 A co- construção da gestualidade manual 200 5.7.1 A coordenação olho-mão 201 5.7.2 O pegar e o dar 203 5.7.3 O uso das mãos para tirar a chupeta 208 5.7.4 O uso das mãos para fazer carinho 223 5.7.5 O uso das mãos para bater: O bater na mão da mãe 231 5.7.6 O Bater palmas sozinho 237 5.7.7 O uso das mãos para dar função aos objetos 251 5.7.8 O índio 257 5.7.9 Pernas e pés 258 5.7.10 O beijo 258 5.7.11 Considerações sobre a orquestração da posturo-mimo-gestualidade 260 5.8 A construção social da emoção: A co-construção do sorriso 261 5.8.1 Sorriso no jogo de cócegas 266 5.8.2 Considerações sobre a orquestração do sorriso 271 6. Compreendendo as dinâmicas dialógicas 273 7. Considerações finais 282 8. Referências bibliográficas 286 APÊNDICE ANEXOS 16 Introdução Durante uma sessão de reabilitação em um grupo 1 com três bebês portadores da síndrome de Moebius2, suas mães e quatro terapeutas (psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e fonoaudiólogo), vimos durante alguns momentos as interações entre essas mães e seus bebês com idade aproximada de 18 meses. Fomos atraídas por uma dupla brincando com um telefone que se ilumina e toca música. A mamãe ensinou seu filho que a cada toque na tecla do telefone se produz um ruído diferente (relação causa-efeito). Depois de um tempo, a mãe substituiu o telefone por uma boneca e seu bebê reagiu (vocalização e movimentos do corpo). Estas reações traduziram para a mãe uma expressão de sentimento do bebê em relação à mudança de objeto (desprazer?). A mãe, então, devolveu o telefone ao seu bebê e eles voltaram a explorar juntos esse objeto. Como fonoaudióloga nos interessamos no fato de como a mãe e o bebê chegaram ao entendimento sobre o que estavam fazendo. Os recursos utilizados pela dupla para atingir seus objetivos foram multimodais (combinação de vocalizações, gestos e olhares). As características desta síndrome rendem aos seus portadores uma “face de máscara" e, portanto, 1 Este grupo ocorreu na Associação de Apoio à Criança Deficiente (AACD-PE) em Recife, Pernambuco, Brasil. Este grupo tem como objetivo a estimulação precoce de bebês com dificuldades motoras. Neste caso foi criado um grupo especifico para ajudar bebês portadores da síndrome de Moebius e seus pais. A criação desse grupo deveu-se ao aumento da demanda de casos dessa sindrome acolhidos pela instituição nesse periodo. 2 Uma característica marcante desta sindrome é a paralisia facial que faz com que seus portadores tenham um rosto inexpressivo. Iremos discutir outros critérios no capítulo dedicado a esta síndrome. 17 dificuldades nas relações sociais em todos os níveis (interativo, comunicativo e emocional). Outra questão que nos chama a atenção foi a de termos uma quantidade elevada de casos desta síndrome na região Nordeste do Brasil, embora seja raro na maioria dos países ao redor do mundo. Estas observações levaram-nos a fazer tais perguntas: como mãe e bebê coordenam suas ações e chegam à intercompreensão? Como se caracterizam as dinâmicas dialógicas de uma díade mãe-bebê com Síndrome de Moebius? Outras questões desse tipo têm desafiado o tema: aquisição de linguagem. Esta tese surgiu com o objetivo de continuarmos as investigações da dissertação de mestrado sobre o desenvolvimento da comunicação adulto-bebê, na qual3 estudamos uma díade paibebê, este ultimo com síndrome de Moebius, aos 8 meses de idade, do sexo feminino e através de um estudo transversal adotando duas perspectivas: a perspectiva dinâmica (sistemas dinâmicos) e a perspectiva sociocultural (analise conversacional). Pretendemos aprofundar essa problemática, na tentativa de melhor descrever esse processo dentro de sua plurimodalidade, desta vez inserido na dialogia. Desta vez, com uma díade mãe-bebê com Síndrome de Moebius, sexo masculino e através de um estudo longitudinal. As trocas lingüístico-interativas co-construídas pela díade adulto-bebê serão o ponto central de analise nessa tese. Dentro da interação humana, fazer uma deferência ao outro é uma característica importante da organização do comportamento humano (GOFFMAN, 1967; GOODWIN, 2002). A postura (posicionamento), as ações, e a orientação do corpo no ambiente são cruciais para os participantes compreenderem o que está acontecendo e como estão agindo conjuntamente (GOODWIN, 2003). Esses fenômenos se desenrolam e constituem fenômenos linguísticos dentro de um sistema dialógico dinâmico e relacional e constituem a historia singular e situada da díade. A interação e o desenvolvimento da linguagem, no inicio da vida, são objetos de grande discussão em constantes encontros internacionais e de incontáveis publicações (LYRA, 2007; 2008); FOGEL, 2000 ; LYRA, & VALSINER, 1997; TOMASELLO, 1993; TREVARTHEN, 1999, 2003 ; VALSINER, 2000; SALAZAR ORVIG, 1999, 2003; CAVALCANTE 1999, 2010, 2011). Portanto, é relevante examinar os estudos referentes ao desenvolvimento da linguagem em produção, para constatar o fenômeno seguinte: 3 Mestrado em Ciências da Linguagem na Université Lumière Lyon II em Lyon, França, sob a direção de Lorenza Mondada. (2004-2006) 18 Desde que observamos uma criança que se encontra no período pré-verbal nos interessamos pelas suas condutas, ou seja, pelos indicadores do desenvolvimento fonológico, léxico e sintático. Quando buscamos ter a evidencia de suas funções linguísticas, assim como descrever a emergência desse processo, estamos estudando tudo o que participa da ontogênese da linguagem humana, o que compreende o contexto social, interativo e linguístico das primeiras condutas linguageiras. Os trabalhos decorrentes dessas observações discorrem largamente sobre a questão das aquisições linguísticas, a emergência da intencionalidade e do desenvolvimento da comunicação referencial. A estes se somam ainda, o tratamento dos sinais emocionais e multimodais e a demonstração das primeiras interações sociais. Nas análises nesta tese problematizamos sobre as condutas dialógicas de uma díade adultobebê, sobretudo na organização situada desta etapa particular do processo de aquisição da linguagem. O tratamento da linguagem é assim concebido como multimodal, o que significa que, logo que se observa uma conduta linguageira não tratamos separadamente as informações linguísticas, as informações prosódicas e as informações que provém dos movimentos corporais, mas as integramos em todo o seu conjunto. As primeiras interações entre o adulto e o bebê são ricas em condutas multimodais, ou seja, procede de uma representação complexa e ativa desde o principio, de diferentes vias sensório motoras moldadas reflexivamente entre os participantes, nas quais emergem os formatos expressivos co-construídos, dentro da historia singular. Essas expressões integram os sinais voco-verbais e certos sinais não verbais: co-verbais, gestos, mímica e posturas. Em resumo, as condutas lingüístico-interativas foram analisadas dentro da sua própria multimodalidade, ou seja, “da” língua, em correlação com os parâmetros linguísticos, prosódicos e cinéticos (posturo-mimo-gestual) e « na » língua, dentro da dinâmica dialógica. Um caráter inovador desta tese foi observar o potencial dialógico de uma díade, em que o bebê apresenta uma sequencia de malformações congênitas, a Sequencia de Moebius, que se caracteriza por anomalias na face, entre outras, decorrentes de paralisia congênita de dois pares de nervos cranianos : o nervo abducente (VIº par) e o nervo facial (VIIº par), conferindo aos portadores uma inexpressividade mímica (face de máscara) (MILLER E STRÖMLAND,1999; VENTURA, 2001). A díade composta por mãe-bebê foi estudada longitudinalmente, dos 2 meses e 3 semanas aos 17 meses de vida do bebê. Foram transcritos e analisados 23 registros videográficos, com duração média de 16 minutos cada, das 19 interações livres da díade. Acreditamos que refletir sobre a interação e a linguagem entre mãe e bebê, no início da vida, período em que as interações têm sido descritas como predominantemente em face a face, com bebês portadores de tais alterações, é de extrema importância para o processo de desenvolvimento destes. Consideramos que os estudos acerca deste tópico precisam abordar mais essas questões que envolvem a dinâmica dialógica, sobretudo durante os 12 primeiros meses de vida. Os estudos fonoaudiológicos sobre a sequencia de Moebius referem-se aos aspectos miofuncionais dos órgãos fonoarticulatórios e das funções estomatognáticas e relatam sobre as alterações de linguagem, mas não abordam com profundidade as questões interacionais envolvidas no processo de desenvolvimento da comunicação e da linguagem desses portadores. Os estudos sobre as interações mãe-bebê descritas na literatura mostram que a atenção compartilhada está presente nesses momentos. Ela é vista, por exemplo, através das vocalizações e das imitações de expressão facial (PAPOUSEK et al., 1991; FERNALD, 1993). Todavia, como se processa a comunicação, por exemplo, na interação em face a face numa díade que possui o bebê com face inexpressiva que não exibe com isso sentimentos como: sorrir, imitar caretas, sentir medo, espanto, chorar? Como objetivo principal investigamos as modalidades de inscrição do bebê no diálogo e todo o processo de orquestração, permitindo a demonstração da integração dialógica da díade. Interessamo-nos também como objetivos específicos: identificar as dinâmicas dialógicas envolvendo as condutas linguageiras da díade; observar o estatuto da atenção compartilhada, as variabilidades internas dessas interações quanto à simultaneidade e a sequencialidade com que essas expressões aparecem, e descrever as modalidades dialógicas que surgem dessa interação diádica. Nossa hipótese é que as primeiras interações sociais do bebê são reflexivamente imbricadas com a competência linguística do adulto. Pressupomos um funcionamento linguístico precoce para um bebê portador de deficiência congênita, como o que é estipulado nos trabalhos que se interessam pelas condutas linguageiras de bebês normais. Questionamos sobre as possibilidades de exploração de suas trocas, que vão além das alterações apresentadas pelo bebê com síndrome de Moebius e procuramos entender a estruturação de um ser que se desenvolve através das experiências sociais possíveis, por ele utilizadas. Imaginamos um funcionamento dialógico multimodal sendo orquestrado num processo de afinação linguageira, decorrente dos movimentos dialógicos intersubjetivos de co-construção. 20 Pensamos sobre o sentido que a díade vai dar as suas interações, visando a compreensão mutua e o desenvolvimento da subjetividade e consequentemente, a linguagem do bebê. Buscamos identificar assim, o caminho traçado pela díade quanto ao desenvolvimento comunicativo-lingüístico do bebê. Esperamos com isso contribuir na reabilitação e, principalmente, na formação de melhores vínculos entre os portadores de deficiência e seus pais, relação esta, precursora das interações sociais. Os capítulos 1, 2 e 3 vão delimitar um conjunto de teorias e ferramentas implicadas com nossas concepções. Reflexões interdisciplinares proporcionadas pelo trabalho de pesquisadores de campos diversos como a Psicologia, a Sociologia, a Linguística são acionadas nesta tese para uma compreensão da linguagem como uma atividade constitutiva do mundo e como uma ação social situada. Essas reflexões possibilitam explicitarmos nexos entre diversos domínios experienciais, correlacionados com atividades linguísticas efetivas, considerando certa sensibilidade à especificidade de aspectos biológicos, socioculturais e históricos envolvidos nas atividades lingüístico-interacionais. Esses domínios de experiências dizem respeito a vários conjuntos de condições, segundo os quais, a linguagem e as atividades interativas parecem funcionar, emergindo de modo contingente às condições de sua efetivação. Nos dois primeiros capítulos, trazemos a problemática situada na intercessão de três campos: o campo da linguística, discurso e interações verbais, o campo da linguagem não verbal e o campo de estudos relativos ao desenvolvimento ontogenético. Assim, no Capitulo 1, apresentamos abordagens que trazem o viés da linguística interacional. Ele está subdividido nos seguintes tópicos : 1.1 A linguística interacional - fazemos reflexões epistemológicas que nos levam a uma compreensão das atividades linguísticas culturalmente situadas. 1.2 O dialogismo como ontologia da humanidade – as concepções de Bakhtin sobre o processo de desenvolvimento humano. 1.3 O Desenvolvimento das Condutas Linguageiras Infantis – fazendo a distinção assim como a articulação entre as aquisições linguísticas e as aquisições linguageiras. 1.4 apresentamos os estudos sobre a comunicação precoce. 1.5 Abordamos os estudos sobre a multimodalidade na aquisição de linguagem. No Capítulo 2, discutimos a linguagem não verbal e a abordagem multimodal de analise da gestualidade. Subdividimos este capitulo nos seguintes tópicos : 2.1 Trazemos as abordagens e definições sobre o não verbal. 2.2 apresentamos algumas linhas de pesquisa sobre a 21 gestualidade e suas concepções sobre as expressões faciais, o olhar, a proxemia e sobre a postura e a gestualidade. 2.3 Apresentamos a abordagem multimodal. 2.4 Multimodalidade e cognição – apresentamos as linhas de pesquisa que estudam gesto e fala na constituição do pensamento humano e fazendo parte do dialogo. Nos capítulos 3, 4 e 5 apresentamos as análises nas quais tomamos o conviver e o “linguajar” de uma díade adulto-bebê em termos de inter-relações entre interação, gesto e linguagem. No terceiro capitulo apresentamos a metodologia. Descrevemos o inicio das modalidades de estabelecimento desse corpus, as variáveis sequenciais, pragmáticas e dialógicas, permitindo caracterizar cada sequencia. O trabalho de descrição/transcrição que faz eco às informações que foram discutidas nos capítulos anteriores. Assim o subdividimos : 3.1 Uma deficiência a considerar , apresentamos a Síndrome de Moebius e suas características que interferem particularmente no plano interativo. 3.2 Mostramos a metodologia do estudo sendo orientada pela teoria. 3.3 Discutimos como as escolhas dos dados estiveram relacionadas com a opção teórica. 3.4 Apresentamos o corpus e relacionamos com a metodologia utilizada. No capitulo 4, buscamos dar sentido às interações entre um adulto e um bebê, nesse estudo especificamente, a interação entre uma mãe e o seu bebê portador da sequencia de Moebius. Fizemos uma analise dialógica da relação mãe-bebê e observamos os seguintes pontos : 4.1 Discutimos esse tipo de interação particular entre um adulto e um bebê quanto à sua própria natureza. 4.2 Tratamos da concepção do dialogismo na relação mãe-bebê. 4.3 Descrevemos as condutas linguageiras da díade e sua organização situada em relação aos movimentos de continuidade e descontinuidade na dinâmica dialógica. No capitulo 5, mostramos como as orquestrações dessas condutas, através de vias de localização espacial pelos gestos, ações e posturas corporais, conduzem os participantes da díade a um processo de afinação linguageira. Focamos sobre as condutas vocais e posturomimo-gestuais expressivas dos participantes. Apresentamos a evolução multimodal das condutas dialógicas reflexivas da díade e as dinâmicas da transformação de seus recursos corporais nas condutas linguageiras e sua integração no dialogo. No capitulo 6, apresentamos uma compilação das experiências orquestradas pela díade envolvendo: os ritmos, os modos e os temas que a díade afinou através de suas condutas linguageiras. 22 Por fim, apresentamos as considerações finais no capitulo 7, que objetivam projetar novos estudos sobre o tema na certeza de que muitos aspectos desse estudo poderão ser melhorados. Capítulo 1 – Inter-relações entre linguagem, pensamento e cultura nos estudos sobre o desenvolvimento da comunicação e da linguagem. 1.1. A linguística interacional Depois da fundação da linguística enquanto ciência no inicio do século XX, os linguistas se preocuparam pouco em relação à linguagem do corpo. A corrente estruturalista que dominou toda a primeira metade do século, pode ter contribuído negativamente para isso. Os linguistas de Saussure à Chomsky deixaram de lado as análises em relação aos usos linguageiros no contexto, ou seja, a fala. Desde então não havia um lugar para a linguística da fala e, consequentemente não tinha um lugar para a linguística dos significantes não verbais. Mas em paralelo, as disciplinas científicas avançaram em ciências humanas e no curso do último século, todas têm ecos da linguística. Como exemplos podem citar a filosofia, com as reflexões de Peirce sobre a indexicalidade como modo de significação e outros avanços, através de outras ideias, que vieram contribuir para o nascimento da pragmática. Nas ciências sociais nascidas no começo do século XX, o pensamento postulante trazido por antropólogos e sociólogos (como Mead) que diziam que a comunicação interindividual tem um papel fundamental para a sociedade, assim como para o individuo, marca bem a base da corrente interacionista. No campo dos estudos linguísticos e literários, são os trabalhos pioneiros de BakhtinVoloshinov e as reflexões de Jakobson referentes à comunicação linguística e as funções da 23 linguagem, que encontramos vários traços das problemáticas enunciativas e textuais que se desenvolveram na Europa a partir dos anos 50, em que a questão dos gêneros é o centro das reflexões de Bakhtin4. O interacionismo surgiu em ciências humanas no século XX como uma corrente de pensamento diferente das outras (funcionalismo, behaviorismo, cognitivismo). A diferença consistia na não preocupação em explicar as condutas humanas, postulando a existência de propriedades particulares aos indivíduos, aos grupos, aos objetos, mas centrando as análises sobre as interações entre individuo e seu ambiente. (COLLETTA, 2004) Esta corrente desenvolveu-se a partir de fontes heterogêneas importantes, a saber: Para Simmel (início do século XX), Sapir, Bakhtin e Mead (nos anos 30), considerados os pioneiros do interacionismo, juntamente com os sociólogos da escola de Chicago, o objeto de estudo das ciências sociais se torna a descrição das formas de interação entre os indivíduos que compõem a sociedade. Para Mead, é na interação social que se constrói o 'self'. Para Sapir, a interação social é o lugar em que a cultura é enraizada pelos grupos humanos. Bakhtin defende que o objeto da linguística é o estudo das interações verbais, sendo este, o lugar em que se origina o pensamento significativo. Outros, como Bateson entre os anos 30 e 60, trazem a abordagem antropológica e sistêmica da comunicação, colaborando juntamente com os psiquiatras de Palo Alto desde os anos 50. Autor de uma obra sociológica original, Goffman (anos 60-70) se baseia no estudo das interações sociais e vê como um teatro da vida social os encontros interindividuais. Goffman traz uma noção muito importante sobre face e território. Gumperz e Hymes (1964, 1972) contribuem com a etnografia da comunicação, Garfinkel (1967), considerado o fundador da Etnometodologia e Sacks, Schegloff e Jefferson (1974), considerados os fundadores da analise conversacional, para os quais a interação social se impõe fortemente como um objeto de escolha, para se analisar os processos intersubjetivos e sociais e suas formas de mediação através da linguagem. Para Goffman (1973) a interação social é comparada a uma cena em que atuam os jogos de papéis dos atores (“Interactantes”). Esses jogos seriam enredos individuais que consistem no self (face) e são constituídos de territórios do “eu”. 4 Bakhtin, 1977, 1984; Todorov, 1981. 24 Deve-se também a Goffman, a noção de quadro de participação, relação interlocutiva e sistemas de lugares. O lugar designa a posição social reivindicada por uma pessoa dentro de uma interação social. Sacks, Schegloff e Jefferson (1974) partiram para estudar a organização interna das interações faladas, sobretudo o sistema de alternância conversacional e a sincronização. Para que uma interação siga seu fluxo normal, os participantes devem interagir, isso quer dizer agir conjuntamente, sincronizando suas ações. Graças a esses autores, hoje conhecemos e compreendemos a “maquinaria da conversação” como, por exemplo, as várias noções dos procedimentos ou mecanismos conversacionais, como: o sistema de alternância de turnos de fala, a noção de marcadores de hesitação ou marcadores conversacionais, as reparações, as unidades que compõem os turnos ou as chamadas unidades conversacionais, as condutas ditas ritualizadas (saudação, felicitação, desculpas), as sequencias de abertura e fechamento da conversação, entre outras que tem como objetivo de descrever as condutas interativas no dialogo. Atualmente, o estudo da linguagem não tem apenas a finalidade de descrever os funcionamentos conversacionais, os rituais ou a organização do discurso dialógico. Em vários domínios a análise das interações é utilizada como método para dar conta dos funcionamentos linguageiros, cognitivos ou sociais. E ainda mais, atualmente existe a consideração de que as condutas linguageiras observadas nas interações faladas não são apenas de natureza verbal. As ciências da linguagem evoluíram e por isso, devemos analisar os aspectos não verbais e multimodais da comunicação falada. Veremos no Capitulo 2, o que sabemos hoje sobre isso, mas antes faremos algumas considerações importantes sobre as relações intersubjetivas constitutivas de significados que estão na base da formação do self. Discutiremos o conceito de dialogicidade como ontologia da comunicação humana. 1.2 O dialogismo como ontologia da humanidade “Ser significa comunicar” (BAKHTIN, 1984, p. 287, tradução nossa). Juntamos-nos a esta ideia de Bakhtin e mais aquela defendida por Markova (2006, p. 135) em que: “a relação dialógica é uma relação existencial”. Podemos pressupor ainda o conceito de “dialogicidade” segundo Markova como: “A capacidade de conceber, criar e comunicar sobre as relações sociais em termos de 25 diversidade” e que foi “implantada na mente humana durante a filogenia e a historia sociocultural” (MARKOVA, 2006, p. 135) O dialogismo é uma noção de múltiplas facetas. Apresentamos nesse capitulo as diversas configurações desse conceito, tais quais elas aparecem nos escritos de Bakhtin5 seu fundador, assim como, o enriquecimento desta abordagem advindas de outros autores como Ivana Markova, que propõe uma leitura dialógica das representações sociais. Ao fazer uma descrição do ato criador, quando na elaboração de uma teoria estética coerente, Bakhtin postula uma concepção ampla do ser humano: o outro possui um papel fundamental na constituição do eu. A ideia é de que é impossível compreender o ser, fora dos espectros de ligação com o outro. O outro é, portanto, necessário para completar a percepção do aspecto exterior e interior de si mesmo que se realiza apenas de forma parcial pelo indivíduo, ele mesmo: “Inicialmente eu só tomo consciência de mim através dos outros: é deles que eu recebo as palavras, as formas, a tonalidade que formam a primeira imagem de mim mesmo [...] ·” (BAKHTIN; TODOROV, 1981, p. 148) Para Bakhtin a consciência se realiza somente através do outro e com a ajuda do outro e é por isso que o fechamento de si mesmo, a negação de comunicar é a razão principal da perda de si mesmo. Segundo ele, toda experiência interior está situada na fronteira, ela encontra o outro e toda sua essência reside nesse encontro intenso e profundo. Sendo assim, ser significa ser para o outro, e através dele por si mesmo. Portanto, o homem não possui um território interno soberano, ele está inteiramente e constantemente numa fronteira. Todas essas reflexões sobre o papel crucial do ‘outro’ como parte constitutiva do eu explicam a importância que Bakhtin atribui ao dialogo: “A vida é dialógica por sua natureza. Viver significa participar de um diálogo, interrogar, escutar, responder, estar de acordo, etc. (TODOROV, 1981, p. 149) Bakhtin não foi o primeiro a enfatizar o caráter constitutivo da relação eu - tu para o ser humano como marcaram bem Todorov (1981) e Markova (2006). A ideia de que o indivíduo toma consciência de si mesmo esteve presente na filosofia “neo-Kantiana” do século passado. 5 A noção de dialogismo foi introduzida em ciências da linguagem com a difusão dos trabalhos de Mikhail Bakhtin entre os anos 60 e 70. Mesmo que o objetivo inicial de Bakhtin tenha sido o de criar um quadro conceitual para a elaboração de uma nova teoria em literatura, o dialogismo mostrou ser uma noção muito produtiva não so para a analise do discurso como para o dominio da psicologia social. 26 Markova (2006) ressalta que para Bakhtin o dialogismo é concebido como um conflito entre ideias, como uma heterogeneidade de sentidos e uma multiplicidade de vozes em ação na sociedade comunicante. Entre outros, o principio dialógico não está reduzido apenas à reciprocidade de perspectivas ou ao reconhecimento mutuo. Ao contrario, o dialogo deve ser concebido como uma forma de comunicação que os interlocutores discutem e negociam seus pontos de vista, em que existe a convergência e o mais frequente, a divergência de perspectivas. Assim, o caráter conflituoso de um diálogo não deve ser visto de um ponto de vista negativo, pois é justamente na impossibilidade de um consenso total que se insere a base de todo diálogo. 1.2.1 Dialogismo e Dialogicidade As abordagens dialógicas (por exemplo: o dialogismo) utilizam conceitos ontogenéticos para explicar a existência humana em comunicação. Elas consideram a hipótese da ontologia baseada no Alter-Ego enquanto um diálogo interpessoal, mas igualmente, uma comunicação entre e dentro de grupos, comunidades, sociedades e culturas: Nós podemos pressupor que a dialogicidade – a capacidade de conceber, criar e comunicar sobre as realidades sociais em termos de diversidade – foi implantada na mente humana durante a filogenia e a historia sociocultural. (MARKOVA, 2006, p. 135) Ainda segundo Markova a dialogicidade é inerente à natureza humana, assim como os universais biológicos e cognitivos o são: “É a dialogicidade que possibilita que os encontros concretos aconteçam, sejam interrompidos ou desfeitos e voltem a existir.” (MARKOVA, 2006, p.135) O dialogismo se torna então uma noção importante para explicar o desenvolvimento da subjetividade humana, tendo um campo de aplicação bastante vasto como, por exemplo: filosofia do ser humano, epistemologia em ciências humanas e sociais e teoria da linguística e da literatura. Enquanto filosofia do ser humano o dialogismo se apresenta como uma nova visão do ser humano. Visão que afirma o papel primordial do outro na constituição do ser humano em um todo. Em efeito, a percepção física ou espiritual que o ser tem de si mesmo só é completa através e pela ajuda do olhar do outro. O outro é concebido enquanto uma dimensão constitutiva do “eu”. 27 A partir dessa perspectiva, a teoria e o método em ciências humanas e sociais devem ser redefinidos. Sua visão vai de encontro à psicologia ou a linguística quando suas analises tratam o homem isoladamente, assim como vai de encontro às teorias objetivas abstratas que se limitam aos estudos dos produtos observáveis da interação humana. Bakhtin (1977; 1978; 1984) afirma a característica primordial do social: a linguagem e o pensamento são necessariamente intersubjetivos. Bakhtin (1984) propõe um novo quadro de estudos quando trata o enunciado como uma unidade real da troca verbal. Ele propõe, portanto, a “translingüística” em que o principio é o de uma analise descendente da língua, começando pelas formas e tipos de interação verbal, continuando através das formas de enunciação e os atos de fala, para terminar com a analise das formas da língua. Ao analisar o dialogismo do enunciado Bakhtin (1984), observase que todo enunciado, seja ele monologal ou dialogal, é duplamente orientado. Este responde aos discursos anteriores e antecipa discursos potenciais. E enfim, o dialogismo do enunciado pode revelar o dialogo do locutor com suas próprias palavras (auto-dialogismo). 1.2.2 Dialogismo e intersubjetividade O conceito de intersubjetividade vem sendo desenvolvido pela psicologia social e do desenvolvimento através da pesquisa teórica e empírica. Mead (1934), Vygotsky (1987) e Baldwin (1911), dentre outros, têm proposto teorias do desenvolvimento, mais especificamente da autoconsciência, baseadas no co-desenvolvimento mutuo do Alter-Ego em que alguns aspectos da dialogicidade, assim como participação, a adoção de perspectiva e intersubjetividade são consideradas. (MARKOVA, 2006) Mais recentemente, alguns psicólogos do desenvolvimento como Newson (1979) e Trevarthen (1979, 1992) trouxeram evidências empíricas de que existe uma predisposição inata na criança para a intersubjetividade. Para Trevarthen (2003) quando os pais fornecem aos seus filhos um ambiente estimulador e quando eles adotam o comportamento de pressupor que os filhos possuem certa compreensão para mensagens complexas, os pais estão contribuindo mais ainda para uma interação intrínseca entre as influencias biológicas e culturais. Ele afirma: […] existem necessidades fundamentais intersubjetivas nos seres humanos de todas as idades. Essas necessidades nascem no cérebro, mas seus destinos 28 dependem das interações interpessoais realizadas. (TREVARTHEN, 2003, p. 394, tradução nossa) Trevarthen compreende a intersubjetividade como modo de fornecer uma explicação de como o conhecimento social e cultural é criado, de como uma linguagem serve a uma cultura, assim como a garantia de sua transmissão de geração em geração. Este autor faz a seguinte distinção entre subjetividade e intersubjetividade: Para partilhar com os outros o controle da mente, a criança deve ter duas competências. Primeiro, deve pelo menos mostrar que possui os rudimentos de uma consciência individual e intencional. Isso é o que chamo de subjetividade. Por outro lado, para se comunicar, a criança deve se adaptar ou ajustar o seu controle subjetivo à subjetividade dos outros: é a intersubjetividade. Isso quer dizer que a capacidade de mostrar por ações coordenadas que a intenção está controlada A subjetividade pressupõe que a criança pode criar links entre objetos, situações, e ele mesmo, e que ele possa prever as consequências, demonstrando isso através de ações inteligíveis e não simplesmente por um processo cognitivo inferido. (TREVARTHEN, 1979, p. 321-322, tradução nossa) O dialogismo, todavia, aponta outros fatores da intersubjetividade que segundo Markova (2006) e Bakhtin (1981) são negligenciados ou super generalizados pelas teorias sociais e de desenvolvimento. Uma ideia que é negligenciada por essas teorias é apontada por Markova (2006): Entretanto, o fato que é, muitas vezes, negligenciado nessas teorias é o de que a comunicação tem dois aspectos antinômicos, orientação de acordo com os outros e orientação de acordo com o EU. (MARKOVA, 2006, p. 150) Para esta autora, a negligência está no fato de que enquanto pesquisadores como Mead, Baldwin e Vygotsky enfocavam a orientação do Outro na comunicação (mais precisamente a adoção de perspectiva), Bakhtin enfocou, sobretudo a auto-orientação pois, para ele era fundamental que o Eu não se misturasse com o Outro no processo do dialogo: “O que eu ganharia se um outro se fundisse a mim? … deixe que ele permaneça fora de mim.” (BAKHTIN, 1979/1986, p. 78; MARKOVA, 2006, p. 150) Para Bakhtin um aspecto do desenvolvimento do autoconceito é a capacidade de refletir na perspectiva do Outro e aceitá-los. Esses processos determinam o Eu apenas parcialmente e nunca levam ao autoconceito totalmente desenvolvido. Markova (2006) Ainda para Bakhtin é necessário uma luta constante entre a estranheza do pensamento dos outros e o próprio pensamento, ou seja, só existe dialogo se os participantes se opuserem 29 através da “estranheza” mutuamente experimentada. Isso mostra, portanto a comunicação enquanto significativa à condição humana. Assim Bakhtin abre um leque de discussões sobre a reflexividade da comunicação com noções de identidade, autenticidade, compromisso e responsabilidade pessoal e ainda adoção de postura, mostrando que a dialogicidade não é uma fusão do Alter-Ego. Ao tratar dessas distinções teóricas sobre os conceitos de subjetividade e intersubjetividade procuramos delinear o caminho teórico que adotaremos nesta tese para a concepção do desenvolvimento comunicativo e linguageiro de um bebê portador de uma deficiência e sua mãe. Concebemos então, a ideia de que numa interação adulto-bebê existe uma coconstrução de identidades dentro de um processo interativo-linguistico altamente desigual. Neste tipo especifico de interação, os interlocutores para conseguir transmitir uma mensagem, têm que estrategicamente e conscientemente, impor seus próprios significados na outra pessoa, ou segundo Bakhtin (1978), no estranho. Mesmo o bebê, como defende Trevarthen (1999), apresenta condições biológicas para mostrar sua subjetividade desde suas primeiras relações interpessoais. Trevarthen reconhece também que além do aparato filogenético, o desenvolvimento ontogenético humano é consequência de um processo intersubjetivo histórico e cultural: Assim, a intersubjetividade humana é concebida como um processo que permite a detecção e a modificação da opinião e do comportamento do outro pelas expressões intencionais, narrativas, emoções, intenções e interesses. É também a via pela qual a "teoria da mente" ou qualquer outra descrição intelectual da consciência, mas também da inteligência e da linguagem podem ser adquiridas. (TREVARTHEN, 2003, p. 353, tradução nossa) Ainda segundo este autor, as emoções são o fator essencial de regulação do contato intersubjetivo. E concorda com Bakhtin na questão de que todo pensamento é dialógico mesmo o monologo e sendo assim, as emoções expressas são inerentemente “dialógicas”. Sobre o desenvolvimento mental humano Bakhtin considera que viver “é estar no mundo das palavras do outro” (BAKHTIN, 1979/1986, p. 143). E consequentemente no pensamento do outro. “Quando ela olha para dentro de si mesma, ela sempre olha nos olhos dos outros ou com os olhos do outro (BAKHTIN, 1984, P. 287; MARKOVA, 2006, p. 126, grifos da autora). Assim ele concebe que todas as atividades simbólicas dos humanos são encontradas no “dialogo” entre as diferentes mentes, expressando diversos significados 30 multivocais. E mais ainda que o dialogismo seja uma epistemologia da cognição humana e da comunicação e é, de maneira mais generalizada, parte das ciências humanas que estão preocupadas com o estudo dos pensamentos simbólicos expressados na linguagem. O que ele chama de “cognição dialógica”. (MARKOVA, 2006) Markova (2006) completa esse pensamento de Bakhtin quando diz que “O segredo da excelência da mente humana é penetrar as diversidades do pensamento e da comunicação” (MARKOVA, 2006, p. 160). E que a dialogicidade exibe “polifasia cognitiva, isto é, 'formas de pensamentos diversas e até opostas.'” (MOSCOVICI & MARKOVA, 2000, p. 245; MARKOVA, 2006, p. 160, grifos da autora). O termo polifasia vem da física da eletricidade e se refere à existência de correntes alternadas e simultâneas e foi emprestado por ela em sua hipótese de que a 'polifasia cognitiva' é a possibilidade de usar maneiras diferentes e algumas vezes diversas de pensamento e conhecimento. 1.2.3 O Dialogismo na relação mãe-bebê A interação mãe-bebê é antes de tudo um diálogo. E é pela sua própria natureza de diálogo que essa interação apresenta uma riqueza de especificidades apaixonantes. Em efeito, ela é de antemão, construída em torno de uma intercomunicação. Participar de uma interação diádica envolve certa forma de coordenação, ajustes e afinamento entre as partes na articulação de sua atividade compartilhada/conjunta. (BRUNER, 1983) O dialogismo Bakhtiniano abriu novas perspectivas de pesquisas em Linguagem. Concebemos nesta tese que a interação e comunicação adulto-bebê como todas as formas de interação é antes de tudo um diálogo. E são essas propriedades desse diálogo particular entre um adulto e um bebê em desenvolvimento de suas capacidades humanas, que o fazem, um diálogo cheio de especificidades em que se desenrolam importantes fenômenos constitutivos para o “eu” e o “outro”. Participar desse “jogo dialógico” supõe-se uma co-construção sob formas dinâmicas e específicas de coordenações e convergências na articulação de suas condutas expressivas. Todavia, diferente de outros tipos de trocas dialógicas, a interação entre um adulto e um bebê visa a mudança e se caracteriza então sobretudo por estados de tensão entre as convergências e as divergências. 31 Essa “tensão”, acreditamos, deve ser considerada sob um ponto de vista amplo e abrangente, sob um olhar “psicobiológico”. Uma vez que se trata de estudar as relações entre dois seres em estágios diferentes do desenvolvimento humano. De um lado um ser humano em desenvolvimento, que apresenta respostas biologicamente pré-programadas, que o instrumentam no desenvolvimento de sua subjetivação pela interação em um meio. (TREVARTHEN, 2003) Para tentar explicar esse fenômeno da construção do sujeito psicologicamente humano, em que vários pesquisadores do desenvolvimento focam ao longo dos últimos anos na busca da ontologia do signo humano, nos deteremos nas concepções do dialogismo de Mikhail Bakhtin (1977; 1978; 1984), hoje tão discutidas e consideradas nas diferentes subáreas das ciências humanas. Bakhtin (1978) considera que em todos os discursos acontece um diálogo interno entre o “eu” e o “outro”, entre o discurso próprio e o discurso do outro: No campo de praticamente cada enunciado existe uma interação tensa, um conflito entre a fala de si mesmo e aquela do outro, um processo de delimitação ou de trazer à tona, de clarificação dialógica mutua . (BAKHTIN, 1978, p. 172, tradução nossa) Essa relação com outros discursos – anteriores e futuros – determina profundamente a natureza do enunciado. O enunciado é duplamente orientado: ele é resposta (por exemplo, em oposição), retomada ou reformulação (das palavras do outro, dos seus temas, do conteúdo do seu próprio discurso), em relação aos discursos pré-existentes (segundo Bakhtin, em cada enunciado “ressonam os harmônicos de outros discursos”) e ele prepara, antecipando a resposta que ele pode suscitar. No tópico seguinte serão apresentados mais precisamente os estudos relativos ao desenvolvimento das condutas linguageiras que nos levam a compreender a importância do processo interativo-lingüístico para o desenvolvimento mental humano. 1.3 O Desenvolvimento das Condutas Linguageiras Infantis Podemos distinguir dois tipos de aquisição, se perseguirmos as orientações e os objetos abordados pelos estudos do desenvolvimento: as aquisições linguísticas e as aquisições linguageiras. 32 As aquisições linguísticas seriam as que são orientadas para o conhecimento da ferramenta, melhor dizendo da língua natural a ser adquirida, ou seja, a aquisição dos sistemas: fonológico, léxico, morfológico e sintáxico. As aquisições linguageiras seriam as aquisições orientadas para o domínio do uso da língua na comunicação, ou seja, o desenvolvimento das capacidades para: comunicar, conversar e produzir discursos monológicos; assim como desenvolver capacidades para adaptar e adequar suas condutas linguageiras ao contexto. Podemos resumir isso como a aquisição de competências pragmáticas e sociolinguísticas. (COLLETTA, 2004) A psicolinguística que segue uma orientação cognitiva se interessa pelas aquisições linguísticas. Já a psicolinguística de orientação pragmática e funcional se interessa pelas aquisições linguageiras. Antes de abordar com mais detalhes a questão das aquisições pragmáticas queremos apresentar alguns estudos importantes relativos às aquisições linguísticas. Consideramos que ambas orientações são importantes e nos guiam nas nossas investigações. 1.3.1 As aquisições linguísticas Os trabalhos sobre o desenvolvimento da percepção, assim como o da produção da fala, mostram que o bebê humano é dotado de capacidades sensoriais impressionantes. Sabe-se hoje que o feto semanas antes do nascimento possui um sistema auditivo considerado funcional, pois já é capaz de reagir a variações prosódicas quando exposto à voz humana6. O mesmo foi percebido com recém-nascidos de alguns dias, mostrando que eles tinham preferência à voz materna que a outras vozes, que já são capazes de discriminar as três vogais /i/, /a/ e /u/ e ainda são sensíveis às variações fonético/fonológicas como: sonoras vs surdas, orais vs nasais, etc.7. (COLLETTA, 2004) Trevarthen (1999, 2003) mostra que um bebê prematuro nascido aos 7 meses de gestação pode exibir seu desejo de comunicar com seu parceiro voluntariamente através de expressões faciais, vocalizações ou gestos efetuados com ritmos precisamente regulados e com uma percepção investigativa. 6 Nesses estudos foi utilizada a “tecnica da habituação” que consiste em: com a ajuda de alto-falantes colocados bem próximo ao ventre materno, “habitua-se” o feto a um ambiente sonoro em que um som é sempre repetido enquanto se monitora seu ritmo cardiaco. Percebeu-se, portanto, uma mudança de ritmo cardiaco a cada mudança de som mostrando a reação do feto a estas modificações. 7 Para isso os pesquisadores utilizaram a técnica da sucção não-nutritiva que é praticamente a mesma técnica de “habituação” só que utilizando desta vez uma chupeta com sensores de pressão: se o ritmo da sucção se acelera indica que o bebê percebeu a mudança de som. 33 Ainda segundo ele, é a capacidade de adaptação do cérebro fetal humano e notadamente, dos órgãos sensoriais periféricos e os sistemas neuronais de percepção e de expressão interpessoal, que determinam as direções e os limites da aquisição de competências ou de conhecimento da criança. O recém-nascido avança no desenvolvimento fonológico através de sua grande sensibilidade aos sons da língua materna. Um fator que tem um papel primordial para isso é o input linguístico oferecido pelo adulto. Na maioria das culturas, nos endereçamos a um bebê utilizando uma linguagem diferente, chamada de fala dirigida à criança (“Infant Direct Speech”, IDS), “motherese” em inglês e “manhês” em português. Essa fala possui características rítmicas, melódicas e vocais8. Foi Bateson (1979) quem evidenciou que a protoconversação é uma forma de comunicação humana ligada à educação, através das formas e significados de uma linguagem que lembra os ritmos e melodias de um ritual religioso de comunhão ou de cura. Esta autora ressaltou o aspecto da IDS enquanto facilitadora do desenvolvimento da linguagem. Já o fato que o discurso e o jogo da IDS se assemelham a uma musica com frases rítmicas e/ou rimas chamou a atenção de outros pesquisadores. Papousek (1996) refere que essa musicalidade “pré-verbal” ou “subverbal” seria a base fundamental para a comunicação das motivações e sentimentos. Este autor ainda refere que essas construções a que ele chama de “envelopes narrativos dinâmicos” dos sons da mãe, seu tom e outras qualidades prosódicas em pleno dinamismo, são necessários ao desenvolvimento da consciência de “si” e do “outro” e do bem-estar emocional do recém-nascido. (STERN, 1974, 1985, 1993; PAPOUSEK E PAPOUSEK, 1997; TREVARTHEN, 2003) Para Malloch (1999) isso é a evidencia de uma “psicologia emocional” que permite uma comunicação entre as mentes humanas. Para ela, a expressividade humana tem uma musicalidade comunicativa natural. Os autores como Stern et al (1985), Trevarthen et al. (1999) mostram que por outro lado a precisão extraordinária da expressividade de forma espelhada do bebê, mesmo que ele ainda tenha apenas um repertorio vocal restrito, demonstra certa evidencia de que existe uma capacidade inata para essa comunicação “on line”. Os recém-nascidos podem se sincronizar com certos momentos particulares da mensagem ou “da narração emocional” do adulto, por gestos ou por som, e suas emissões vocais são idênticas quanto ao som e ao timbre (MALLOCH, 1999). Isso evidencia um espelhamento recíproco entre o adulto e o bebê, os 8 Ver na literatura os estudos de Rondal (1983), Snow (1995), Fernald (1995), Cavalcante (1999); Malloch (1999) e Ochs & Schieffelin (1995) sobre a IDS. 34 ritmos e as expressões emocionais, mesmo existindo uma grande diferença de maturidade entre eles. A literatura quanto a IDS é bem vasta e com isso, pode-se identificar que esses estudos atribuem quatro funções a esse discurso dirigido a criança: o engajamento da atenção (PAPOUSEK et al., 1991); a comunicação do afeto; a facilitação da interação social (FERNALD, 1989, 1993) e o ensinamento da linguagem (FERNALD, 1993). Num movimento mais recente, as pesquisas mostram, como em Cavalcante (1999), num estudo realizado com mães brasileiras, que a fala dirigida possui uma configuração diferencial e permite uma abordagem em que a prosódia,em especial, desempenha uma função linguistico-discursiva. Isso acontece desde os primeiros meses de vida do bebê e marca a constituição e o deslocamento dos lugares discursivos entre a mãe e o bebê. Ainda segundo essa autora, o ponto crucial para essa analise prosódica da fala materna não está na definição de contextos afetivos e de suas características rítmicas. Para ela, isso não explica a relação desse tipo de fala e sua relação com a imersão da criança na língua. Uma analise mais completa dos efeitos do “manhês” seria aquela pautada nas características prosódicas da fala materna inseridas na dialogia. Assim sendo, pode-se ressaltar toda a heterogeneidade discursiva através da emergência de “outras vozes” na voz materna, que se encontra nessa fala marcada pelas modificações prosódicas. (CAVALCANTE E NASLAVSKY, 2011) Cavalcante aponta então para essa faceta importante da IDS, como o lugar de construção da subjetivação: [...] os contextos de afetividade vocal põe à mostra outra perspectiva de compreensão do manhês, na qual "outras vozes" se fazem presentes nessa fala materna, delineando não só o papel constitutivo-interpretativo da mãe, mas também, o seu lugar de subjetivação.” (CAVALCANTE E NASLAVSKY, 2011 p. 23) Vemos o caminho percorrido pelos autores que investigam a IDS 9 que os estudos tiveram um deslocamento da noção de input, no qual a linguagem não é problematizada, porque se torna uma propriedade do sujeito, para uma noção de interpretação: o efeito da fala do adulto na criança e reciprocamente (CASTRO, 1995). Isso trouxe a evidência do movimento da língua atravessando o sujeito, subjetivando-o. 9 Ver Cavalcante, 1999 e Cavalcante e Naslavsky (2011) 35 Para Cavalcante (1999) é justamente através desse movimento de estar na fala do outro, que a criança caminha na subjetivação. Num processo de espelhamento iniciado muito antes de qualquer intenção propriamente comunicativa do bebê, no momento em que o infante tem o seu lugar de interlocutor marcado na fala materna, ou seja, quando a mãe fala “como se” fosse o bebê. Ainda segundo ela é nesse contexto que se situa a atividade interpretativa materna dando sentido aos fragmentos ou comportamentos produzidos pelo bebê. Essa atividade dialógica, característica própria da díade mãe-bebê enquanto uma atividade especular, é marcada pela presença nas produções maternas, quando a mãe fala “como se” fosse o bebê, marcando assim o lugar em que o bebê é manifesto. A fala materna “como se” fosse o bebê denomina esse tipo de funcionamento na fala materna enquanto uma “fala atribuída” (CAVALCANTE, 1999). Retomaremos com mais detalhes a discussão da IDS no desenvolvimento da linguagem, no item que se segue sobre o desenvolvimento das condutas linguageiras. Em relação ao desenvolvimento do léxico e da fonologia, as competências perceptivas e de compreensão precedem as competências de produção dentro do desenvolvimento linguístico. Em matéria de léxico, a interação com o adulto tem também um papel chave e é também a origem da comunicação referencial. Desde que a criança compreende que um segmento auditivo designa um objeto que lhe é apresentado, ele reorienta assim as suas capacidades perceptivas e cognitivas em direção à relação signo-referente (COLLETTA, 2004). As situações de atenção conjunta são muito importantes para as aquisições linguísticas e cognitivas porque o adulto chamando a atenção da criança sobre um objeto ou evento, lhe permite: segmentar o ambiente ou o fluxo dos eventos, singularizar o objeto ou a ação e por fim identificar o sinal da fala, permitindo denominar o objeto ou ação em questão. Em outras palavras, a atenção conjunta e seletiva permite ao bebê organizar as suas representações e é a origem da comunicação referencial. Segundo Nelson (1986), como mencionamos acima, a criança adquire seu primeiro léxico durante as atividades de atenção conjunta. Uma ligação é estabelecia durante a frequência dos episódios de atenção conjunta, nas quais a criança está engajada ao cotidiano e o ritmo de aquisição do léxico. Os olhares os gestos do adulto, como os de apontar, têm um papel fundamental no estabelecimento e na manutenção da atenção conjunta. Estes constituem as ferramentas de escolha para chamar e guiar a atenção do bebê para um referente. Para isso, é preciso que o bebê saiba interpretar essas condutas como convites para olhar. 36 Um ponto importante das atividades conjuntas é o seu caráter repetitivo. Ações e interações se repetem de uma forma similar durante os jogos (imitar, dar/ receber, esconder/achar, saudar) e terminam para se organizar na forma de “formats” 10 (COLLETTA, 2004). E ainda, esses “formats” atualizados constantemente durante as interações precoces, permitem as aquisições de rituais e de rotinas (saudações, perguntas e comentários de ações) que a criança realiza, inicialmente de forma vocal e não verbal e que fundam assim o seu primeiro léxico. As palavras familiares constituem a base do primeiro léxico, no período entre os 11 e 13 meses, que é aquele da compreensão de reconhecimento. Este período está ligado à presença do objeto denominado. A compreensão simbólica que se da’ na ausência do referente aparece depois, por volta dos 13-14 meses, e pode-se perceber que a compreensão dos verbos, das ações vem mais tardiamente11. Com relação à capacidade produtiva do bebê, o desenvolvimento do léxico não é linear, ao contrario, muitas fases foram observadas por diferentes pesquisadores. O mais importante (NELSON, 1986) é que essas capacidades se desenvolvem através da atividade conjunta com o adulto, no decorrer do qual a criança constrói as representações que têm a forma de esquemas de eventos. De início, essas representações são globais e vão se afinando, o que explica que as palavras nas quais, a significação não está inicialmente associada do contexto, terminam por evocar pessoas, eventos ou ações. Não discutiremos detalhadamente os estudos sobre a construção do léxico 12. O mais importante que ressaltamos é que o desenvolvimento semântico e do léxico seguem durante todo o decorrer da infância e mesmo depois. Com relação às aquisições da morfologia e da sintaxe, o que é bem marcado na literatura, é a sincronia temporal entre o surgimento do léxico e o surgimento da gramática. Porém, antes de serem distintos esses dois processos são intrinsecamente ligados. A explosão lexical, presente no segundo ano de vida, surge ao mesmo tempo do aparecimento do enunciado de duas palavras e a complexidade sintática dos enunciados, que observamos no decorrer do terceiro ano de vida, surge também ao mesmo tempo com os primeiros morfemas (COLLETTA, 2004). No que concerne à compreensão, voltamos a Golinkoff, através da técnica intermodal do olhar preferencial, que pode evidenciar como a criança trata os aspectos sintáticos dos 10 Buner (1983) fez a hipótese de que a impregnação linguística está enraizada numa “gramatica de ação” que constitui os “formats”. 11 Ver em Golinkoff et al. (1987) utilizou a técnica intermodal do “olhar preferencial”. 12 Ver autores como Bates (1976), Nelson (1979), Snow (1977), Jisa (1994), Golinkoff e Hirsh-Pasek (1995). 37 enunciados bem antes que ela possa produzir os seus primeiros enunciados gramaticais (COLLETTA, 2004). Com relação à produção, os primeiros enunciados produzidos pela criança são geralmente muito breves, formados por uma palavra com uma ou duas silabas e produzidas com contornos prosódicos contrastantes. Aproximadamente na metade do segundo ano, a criança começa a produzir os enunciados de duas palavras, inicialmente separadas por uma pausa curta e depois sem pausa. Estudos como os de Brown (1973), de base quantitativa, introduzem uma ferramenta para medir o desenvolvimento sintático. A ferramenta que ele chamou de MLU (Mean Lenght Utterance) obtém o índice da extensão média do enunciado, calculando o numero médio de lexemas e morfemas presentes nos enunciados num certo período de seu desenvolvimento. Mesmo sendo objeto de varias criticas, essa ferramenta continua a ser utilizada e fornece uma primeira indicação sobre a capacidade da criança de produzir enunciados (COLLETTA, 2004). Globalmente, considera-se que a criança já na idade de 5 anos possui as estruturas de sua língua materna já bem integradas. Porém, podemos questionar se esses usos são semelhantes àqueles utilizados pelos adultos. Até o presente, vimos os estudos referentes ao desenvolvimento linguístico e seguimos agora abordando as condutas interativas que levam ao desenvolvimento pragmático e sociolinguístico, com a gênese dos usos monológicos e dialógicos da linguagem. 1.3.2 A comunicação precoce O bebê humano desde os primeiros dias após o nascimento não é apenas responsivo à musicalidade do ambiente, ele é igualmente capaz de condutas imitativas precoces. Mesmo que sejam consideradas reflexas, essas condutas testemunham também sua atitude de registrar, de fazer equivalências entre o interior e o exterior de si e a tratar informações intermodais. Wallon (1985), para quem o primeiro modo de comunicação utilizado pela criança seria a comunicação emocional, evidenciou que desde os primeiros dias de vida os gritos, as mímicas e a expressividade corporal do recém-nascido permitem a ele de expressar seus estados internos. Desde algumas semanas de vida, o bebê reage a diversas estimulações através de mímicas diferenciadas (sorriso, expressão de descontentamento) e antes do primeiro ano, ele 38 já tem um repertorio para expressar as principais emoções (alegria, tristeza, cólera, descontentamento, surpresa, interesse, medo). Segundo Trevarthen (2003) podemos observar desde muito cedo, mesmo horas depois do nascimento, certos movimentos (da face, das mãos, da boca e da respiração) do bebê. Quando o bebê é estimulado por um objeto colocado diante do seu campo visual, acontece o aumento desses movimentos. Ainda segundo este autor, mais importante é o fato que o adulto e o bebê estão compartilhando ações num sistema espaço-tempo. Isto permite ao adulto “ler“ o comportamento do bebê desde o começo das interações. Estudos como os de Trevarthen (1999; 2003) mostram que a sensibilidade à face e as expressões faciais pelo bebê é bem precoce. Os estudos como os de Fogel e Thelen (1987) e Fogel (1993) que utilizaram testes experimentais para analisar as emoções dos recém-nascidos durante uma protoconversação mostraram coisas importantes. As motivações e as emoções de uma protoconversação entre um adulto e um bebê de menos de três meses utilizaram a experiência de “perturbação” 13 . (TREVARTHEN, 2003) Duas dessas experiências trouxeram informações preciosas sobre os bebês, do fato de que eles “esperam” um comportamento dos seus parceiros, mostrando também, como eles reagem face a um descontentamento do adulto ou diante de uma face inexpressiva. Segundo Trevarthen a aptidão do bebê de reconhecer uma face inexpressiva já é observada desde os 910 meses de idade. Esses testes confirmam que a interação é construída por uma “co-regulação”, uma “coconsciência”, uma regulação contingente mutua dentro de um “sistema dinâmico” complexo. Confirmam ainda que o desenrolar exato dos eventos é livre e não definido de forma antecipada, ou seja, é co-construído dentro do indeterminado desenvolvimento sócio interativo (FOGEL E THELEN, 1987; FOGEL, 1993; VALSINER, 1997; LYRA, 1988, 1998, 2000, 2001, 2002). Essas experiências (TREVARTHEN, 1984, 1999, 2003; NADEL, 1986, 2002; FIVAZ-DEPEURSINGE, 2001) também mostram que o bebê faz previsões sobre a qualidade emocional da relação e sobre as contingências normais das respostas, em sintonia de ritmo com o adulto. As reações do bebê são expressas de tal maneira, que elas tocam o adulto, regulando positivamente a troca para uma convergência, um encontro colaborativo positivo, sem deixar de passar por momentos de tensão e conflito. Tais experiências também 13 Nessas experiências de “perturbação” (chamada de still face interrompe-se ou altera-se o ritmo dos sinais expressivos e das respostas referentes a esses sinais do ritmo sintonico entre o adulto e o bebê. 39 mostraram que os bebês são capazes de uma eventual reparação de um contato supostamente perdido, pelo uso de expressões emocionais negativas, chamada pelos “analistas conversacionais” de “reparação” da comunicação. Neves (2006; 2010), analisando a produção colaborativa de uma díade pai-bebê, este ultimo portador da síndrome de Moebius e com a idade de 8 meses, sob o olhar da Analise Conversacional – AC, observou circunstâncias de tensão entre eles durante as interações face a face e também, em que havia a mediação com o objeto. Ela identificou que o pai estava bastante sensível às respostas do seu bebê e reformulava suas ações para se adaptar às expectativas deste, quando no seu turno, ele expressava a perda de sintonia com seu pai. Com isso, o pai fazia reparações que facilitavam o desenrolar da sequencialidade da interação. Mais precisamente, ela observou que o iniciar da reparação pelo pai/adulto exibia o reconhecimento deste, das expectativas contingentes, sobre as quais o seu bebê estava interessado. Era assim, uma reparação co-construída turno por turno, reciprocamente. O que confirma a perspectiva de Mondada (2001) de que os procedimentos de reparação têm um papel importante no processo de aquisição. As duas experiências que mais exibiram a sincronização entre os movimentos da mãe e do bebê são os testes da face imóvel ou “still ou blank face” 14 (TREVARTHEN ET AL., 1981; MURRAY E TREVARTHEN, 1985; TREVARTHEN, 2003). Outro teste foi realizado para responder a questões levantadas sobre esse teste anteriormente citado: o bebê é afetado por uma face inexpressiva e pela inatividade da sua mãe, simplesmente porque ele é sensível apenas ao movimento ou ao estimulo de mudança? Foi a questão que surgiu dos mesmos autores supracitados. Esse teste utilizou a técnica de uma “dupla ligação videográfica” (“Double TV DTV”) e se realizou uma dessincronização da interação livre entre a mãe e o bebê e o objetivo foi de identificar se o bebê estava tendo a noção de coerência do contexto. O teste se baseou no seguinte: com duas câmeras de vídeo registrava-se o que mãe e bebê faziam e ao mesmo tempo, eles estavam separados em ambientes diferentes e se vendo através de uma tela de TV. Assim as mães e seus bebês de 3 meses de idade podiam comunicar-se vendo e escutando as expressões de um e de outro “in live” diante da TV. Desde que uma comunicação agradável e de boa qualidade era registrada, se tirava um minuto do registro da mãe durante esse período lúdico e a mesma coisa era feita com o bebê. Quando projetado para um e outro com essa 14 O teste consiste em pedir a uma mãe que está numa protoconversação com sua criança de parar os seus movimentos ao sinal de um examinador e simplesmente olhar para seu bebê sem mostrar nenhuma reação independente de como o bebê faça ou reaja. 40 dessincronização, os comportamentos de cada um deixavam de ser adaptados ao contexto. Os bebês reagiam com uma interação ocasional, fortuita com o comportamento registrado da mãe; experimentam a confusão quando ela não responde no tempo que eles esperavam e nem de maneira apropriada e mostram um estresse prolongado e uma evasão como aconteceu na primeira experiência. Já para as mães, elas sentem emoções e comentam de forma diferente quando entrevistadas, mas todas em comum têm o mesmo sentimento de mal-estar quando o bebê parece não se conectar com elas (MURRAY E TREVARTHEN, 1986). Outra replicação dessa experiência (NADEL, CARCHON ET AL., 1999) confirma que os bebês são extremamente sensíveis à temporalidade das expressões maternas durante uma protoconversação. Stern (1999) vê mais precisamente que a interação precoce é feita de certo numero de invariantes temporais que possibilitam mudanças ao longo do tempo de elementos novos, cheios de vitalidade, ou seja, que chamam a atenção, o interesse e estimulam o curso das ações compartilhadas. Pesquisas recentes (GRATIER, 2001, 2003, 2007, 2008; GRATIER & TREVARTHEN, 2008) sobre o ritmo, a temporalidade e a musicalidade presentes na interação mãe-bebê, compartilham da ideia traduzida por Bruner: “[...] uma das formas de discurso mais onipresente e poderoso na comunicação humana é a narrativa. A estrutura narrativa é mesmo inerente à prática de interação social antes de alcançar a expressão linguística.” (GRATIER & TREVARTHEN, 2008, P. 1). Esses autores concordam com Bruner (1990) de que a narrativa é um elemento fundamental do pensamento coletivo humano, assim como o agir, e que sua função básica é a produção de sentido ou de “fazer do mundo”. Eles acrescentam a esse pensamento, a ideia de uma “narrativa sem palavras” que está presente na organização temporal e nas formas culturais de comunicação sem a necessidade de uma mediação representativa ou simbólica da consciência. A interação adulto-bebê seria um exemplo de organização narrativa baseada nessa “musicalidade comunicativa” (GRATIER & TREVARTHEN, 2008). Ainda Gratier e Trevarthen (op. cit.) sugerem que uma análise microanalítica dessa musicalidade rítmica presente nas interações vocais entre uma díade mãe-bebê pode identificar a presença de uma narrativa, contendo um “senso comum” baseada no que eles chamaram de “proto-habitus”. Com uma micro análise do ritmo nas trocas vocais e gestuais mãe-bebê, pode-se identificar uma estrutura rítmica organizada de maneira hierárquica: as fases de troca e de 41 silêncio constituem a macroestrutura rítmica e a pulsação rítmica subjacente e suas variações constituem a microestrutura rítmica. (DEVOUCHE & GRATIER, 2001) Durante as trocas, o bebê se exprime com sua voz e a face, seus braços e pernas, seus olhares e posturas que se coordenam ou se dissociam seguindo a 'lógica rítmica', como uma grande orquestração física de suas emoções e de suas experiências de mudanças. (GRATIER, 2001, p. 62) Essas pesquisas defendem a hipótese de que existe uma unidade temporal que estrutura a troca em suas diferentes dimensões: vocal, gestual, visual, afetiva. Sendo assim, essas trocas são baseadas em condutas que colocam em jogo o olhar, as vocalizações e os gestos e elas são reconhecíveis àquilo a que são orientadas e ao que o bebê espera da resposta do adulto15. As condutas interativas ao longo do período pré-verbal são, portanto, baseadas nessas trocas, envolvendo essas respostas reativas entre o adulto e o bebê. O bebê reage às solicitações do adulto (ou manipula um objeto). São essas trocas com o externo que se realizam de inicio para o bebê, num modo emocional e diádico. A situação evolui a partir do momento em que os dois parceiros focalizam juntos suas atenções sobre um objeto ou um elemento do mundo externo. As trocas evoluem então para um modo triádico, com a introdução de um referente – o objeto da atenção conjunta. As primeiras condutas intencionais do bebê correspondem precisamente ao contexto social e interativo, como foi abundantemente estudado depois dos trabalhos pioneiros de Bruner (1983). Afiliamo-nos às ideias desses autores de que os momentos de atenção compartilhada servem de espaço para viver o encontro do “eu” com o “outro”, através dos diálogos circunscritos nessas experiências. E supomos que, se as interações precoces constituem uma fonte maior das primeiras aquisições linguísticas e cognitivas, elas são também a origem das condutas conversacionais que passaremos a ver em seguida. 1.4. As aquisições linguageiras Para Garitte (1998), são necessárias três condições para o estabelecimento de uma conversa entre dois ou mais parceiros: a existência de um referente comum, o desejo mútuo de entrar em relação e a existência de alternância conversacional. Podemos ver que essas 15 Para Bates, Camaioni e Volterra (1975) essas condutas aparecem aos 8-9 meses. 42 condições já estão parcialmente desenvolvidas nas interações precoces, sobretudo ao final do primeiro ano de vida do bebê. Neves (2006) mostrou que a noção de sequencialidade na interação adulto-criança é muito importante para a aquisição da competência conversacional pela criança, concordando com Goodwin (2002) que considera que a organização sequencial da conversação fornece aos participantes os recursos necessários para verificar suas próprias ações. Para os “conversacionalistas”, primeiramente, o estabelecimento do significado/sentido da conversação se efetua no seu desenrolar. A conversação é um desdobramento temporal localmente gerenciado pelos participantes, turno por turno. A noção de sequencialidade é então central para dar conta de sua organização (MONDADA 2004). Vejamos no tópico que se segue estudos sobre a aquisição de linguagem e a visão da multimodalidade que tratam da evolução das condutas posturo-mimo-gestuais. Trataremos do ponto de partida das aquisições linguísticas e linguageiras através da evidencia da comunicação corporal. 1.4.2 A evolução das condutas comunicativo-lingüisticas Durante o período pré-verbal, antes mesmo de pronunciar a primeira palavra, a criança dispõe de um repertório de sinais posturo-mimo-gestuais de valor comunicativo. Ela exterioriza suas emoções com ajudas de mímicas diferenciadas, indica objetos ou pessoas com o olhar e com o gesto, sabe cumprimentar, aplaudir, recusar com a cabeça, entre outras. São nessas condutas em que o uso e a forma se convencionam para se tornar então os primeiros emblemas infantis. Até atingir o período de enunciados de uma palavra que se passa entre 12 e 18 meses outras condutas aparecem. McNeill (1992) depois de recolher alguns dados de crianças que contavam histórias a partir de um desenho animado, propôs uma evolução dessas condutas em três fases: a primeira fase (período pré-verbal até 3 anos), durante a qual a gestualidade referencial (gestos simbólicos utilizados em substituição da denominação verbal) é produzida isoladamente, sem a fala; a segunda fase (de 3 a 5 anos) durante a qual a criança amplia seu repertório de gestos referenciais e os produz de forma sincrônica à fala (aparição dos primeiros co-verbais icônicos). Contudo, a criança ainda se revela incapaz de simbolizar os referentes abstratos e as relações intradiscursivas (não se encontra a presença de gestos metafóricos nem de beats16); a 16 Beats acompanham a fala e são sincronizados com ela (embora não necessariamente numa sincronia perfeita). A forma do beat geralmente é a mesma, independentemente do discurso: balanços de mão para cima e para baixo 43 terceira fase (a partir dos 5 anos), em que aparecem progressivamente os beats, os gestos metafóricos e a designação de um espaço, simbolizando uma entidade, um referencial. No conjunto de estudos dos autores apresentados temos muitos resultados divergentes, às vezes contraditórios. Isso mostra, realmente, a grande heterogeneidade das abordagens e dos sujeitos entre um estudo e outro. Também mostra a natureza das situações e a atividade linguageira observada, um parâmetro determinado, desde que a gente se interesse pelos tipos de movimentos corporais produzidos pelo sujeito. Acreditamos que no período pré-verbal a utilização do corpo tem fins comunicativos e continua a evoluir. As observações de McNeill sugerem uma a evolução do sistema posturomimo-gestual em ligação com o desenvolvimento das capacidades conceituais e discursivas. Mas, antes de tratar desse ponto vamos interrogar o papel das informações visuais e cinéticas ou “visuocinéticas” nas aquisições linguísticas. Estudos que se basearam no conceito de multimodalidade apontam a aparição de gestos simbólicos durante o período dos enunciados de uma palavra, gerando um grande debate sobre o papel dos primeiros sinais gestuais para a aquisição da linguagem. Para uns (BATES ET AL. 1983 ; ACREDOLO & GOODWIN, 1988), a criança no período dos enunciados de uma palavra utilizariam os gestos simbólicos dentro de um mesmo sentido que as palavras, ou também em concorrência com elas. E as aquisições do léxico e as capacidades semióticas não verbais fariam parte e dependeriam de um mecanismo cerebral não específico da linguagem. Para esses autores, gestos simbólicos e palavras do léxico seriam produções semióticas de natureza diferente que levam a mecanismos cognitivos distintos. Petito (1993) que apoia essa concepção, observa que os gestos simbólicos se distinguem das primeiras palavras por várias características: a presença de pouca frequência de gestos comparados as palavras; a ausência de combinações de gestos simbólicos e um atraso genético a favor das palavras. Assim, a criança só produz um gesto simbólico correspondente a uma palavra ou referente, somente depois de ter a capacidade de, primeiramente, produzir ou compreender essa palavra. Já entre 12 e 18 meses os gestos não são mais produzidos isoladamente, substituindo a palavra ou uma expressão verbal. Efetivamente, a criança produz os enunciados combinando gestos e palavras e geralmente de duas maneiras: 1- Uma informação relativa à gestualidade redundante em relação à informação lexical, como por exemplo: a criança olha para um objeto e em seguida o nomeia; 2- O gesto possui uma informação complementar, a ou para frente e para trás, geralmente com um movimento curto e rápido que ocorrem sempre com as mãos. Beats são freqüentemente usados para marcar ritmo. (MCNEILL, 1992) 44 criança designa o objeto apontando ou olhando e faz um comentário verbal, por exemplo: ele mostra o armário e diz bombom. (COSNIER, 2008; COLLETTA, 2004) Goldin Meadow e outros pesquisadores do gesto 17 defendem que o gesto incita respostas nos outros e que isso tem o potencial de facilitar o aprendizado da linguagem. Com suas palavras: “O gesto pode desempenhar um papel ativo no aprendizado da linguagem dando à criança oportunidades para práticas especificas antes que possam produzir o discurso.” (ROWE & GOLDIN-MEADOW, 2009, p. 186, tradução nossa). Ainda segundo ela os “gestos refletem o conhecimento não encontrado na fala” (GOLDIN-MEADOW, 2009, p. 106). Os gestos usados pelas crianças quando falam revelam o conhecimento que elas tem que não é expresso pela sua fala: O gesto é particularmente o revelador desses pensamentos não falados quando as crianças estão à beira de aprender uma nova tarefa. Isto reflete, portanto, o conhecimento adquirido pela criança. O gesto também pode desempenhar um papel na mudança do conhecimento da criança, de forma indireta através de seus efeitos no ambiente comunicativo da criança e de forma direta através de seus efeitos sobre o estado cognitivo da criança. (GOLDIN-MEADOW, 2009, p. 106, tradução nossa) As combinações gesto-palavra produzidas pelas crianças de 14 a 24 meses mostram suas capacidades de compreensão dessas combinações. Morford e Goldin Meadow (1992) estudaram essas combinações testadas sob três condições: Uma condição verbal - com a introdução de gestos, o adulto pede a criança para efetuar ações sobre os objetos colocados a frente dele (por exemplo: abre a caixa, me dê a boneca.); Uma informação redundante do gesto - o adulto solicita uma caixa dizendo, “abra a caixa” ou executa o gesto significativo de dar, dizendo “me da a boneca”; Uma informação complementar ao gesto - O adulto solicita a caixa sem nomeá-la e diz: “abre”, ou executa o gesto significativo dar e diz: “a boneca”. Como podemos esperar, a compreensão é melhor nas condições multimodais e em particular, na condição na qual o gesto é redundante à mensagem verbal. Uma informação interessante sobre esse estudo é que entre as crianças, algumas produzem apenas combinações redundantes de gesto e outras produzem igualmente combinações complementares. Constatase que a compreensão se torna melhor entre aqueles que fazem as combinações complementares usando gestos. Esses dados sugerem que as crianças que produzem combinações gesto-palavra complementares estariam prestes a entrar no período dos 17 Entre os mais conhecidos: Adam Kendom e David McNeill. 45 enunciados de duas palavras (período que se caracteriza igualmente pelo grande desenvolvimento lexical). Constatamos que os gestos contribuem para a compreensão da criança nos enunciados do outro e que elas os utilizam em combinações preditivas da aparição dos enunciados de duas palavras. Alguns meses antes, mais ou menos próximo ao final do primeiro ano, o papel das informações visuais é provavelmente essencial para que a criança possa estabelecer as relações entre o sinal da fala e os referentes externos identificados, ao longo da atenção conjunta (COLAS, 2001). E é ainda mais cedo, mais ou menos em torno do quinto mês, que a criança descobre a correspondência entre fala e movimentos fonatórios. Então podemos fazer a hipótese que a criança se serve não somente das informações prosódicas, mas também das informações visuais para tratar os sinais sonoros da fala. Vimos que a diversidade de situações nas quais o bebê confronta-se, ao mesmo tempo em que desenvolve suas capacidades mentais, é grande dentro do primeiro ano de vida. As observações multimodais das trocas dialógicas entre um adulto e o bebê mostram muito sobre a variação “multicanal” e o desenvolvimento linguageiro, mesmo que certos aspectos do desenvolvimento pragmático ainda sejam obscuros. Acreditamos que para desvendarmos o inicio de uma comunicação intencional e suas primeiras condutas interativas e ainda a evolução posterior das capacidades conversacionais, deveremos nos concentrar na aptidão em certas condutas linguageiras, como exemplos : a capacidade da criança em gerenciar uma continuidade temática ou se ela apresenta a capacidade de sincronizar os sinais sutis existentes numa conversação. Só assim poderemos avançar nessas investigações. Nessa tese procuraremos nos concentrar sobre o contexto ou a atividade em curso, sobre a atividade própria e a atividade do bebê e da sua mãe, a situação da troca e o tipo de interação e igualmente, nos concentrar na produção dos sinais de sincronização, pois eles são na maior parte do tempo multimodais e multifuncionais. Um gesto regulador pode manifestar a atenção ou o propósito do parceiro na interação, mas também pode expressar uma atitude ou uma emoção. As observações de McNeill (1992) são muito importantes por que mostram que a gestualidade icônica e metafórica participa plenamente da construção referencial, difundindo essas informações complementares com as informações verbais. E ainda que uma dêixis abstrata ou endofórica e os beats têm um papel chave em matéria de coesão discursiva. 46 Assim o interesse de um estudo multimodal de uma interação mãe bebê levanta algumas questões do tipo: Como eles utilizam os recursos cinéticos ao seu dispor? Essa utilização varia em função do tipo do discurso? Como se dá a questão dos momentos de continuidade, do engajamento dentro da atividade de atenção compartilhada pela díade? Essas são as questões que nos guiarão para as análises contidas nos capítulos posteriores. Capítulo 2 – O não verbal e a abordagem multimodal 2.1 Abordagens e definições sobre o não verbal São duas, as características importantes da comunicação interpessoal ou em face a face: a interatividade e a multicanalidade. Podemos dizer que a interatividade significa que os enunciados são coproduzidos pelos intersectados. Eles são os resultados das atividades conjuntas do emissor e do receptor. Já a multicanalidade define-se como uma mistura das proposições variadas do verbal e do não verbal, este ultimo compreende-se o verbal e o mimo gestual . O movimento interacionista interdisciplinar iniciado por sociólogos e linguistas, mas que também concerne aos psicólogos, surgiu dos pesquisadores do diálogo, da conversação, da interação verbal e alimenta disciplinas diversas como a etnometodologia, a sociolinguística interacionista, a análise da conversação, a análise conversacional, o interacionismo simbólico e a etologia da linguagem. (COSNIER, 1996; KEBRAT-ORECCHIONI, 2000). O emprego da expressão “não verbal” trata sobre comunicação não verbal e de linguagem não verbal ou ainda de signos não verbais. Para definir esses termos dentro de um quadro mais amplo, o não verbal designa o conjunto de produções culturais de natureza não linguística. Essa seria a visão da semiótica, indo desde os sistemas semióticos não verbais, as 47 produções artísticas de toda a natureza, da linguagem do corpo e seus atributos da moda e a organização espacial. (COSNIER, 2008) Se partirmos para um quadro mais restrito, uma definição mais simples (uma semiologia da comunicação), seria que o não verbal da comunicação é o que não está estabelecido por outros meios linguísticos. Isto concerne então, a comunicação gestual entre os surdos, mas também concerne a comunicação falada, pois os interactantes enquanto falam produzem um fluxo ininterrupto de sinais visuais e cinéticos, como: gestos, mímicas, olhares, mudanças de postura, movimentos de contatos e distanciamento (COSNIER, 1994). Sabemos que a maior parte desses sinais é produzida juntamente com a fala e são parte integrante do contexto discursivo. Existem duas ordens principais de dificuldade quando consideramos o estatuto do não verbal. Uma, corresponde a um problema puramente técnico, pois trabalhar sobre o não verbal (a cinética) necessita da utilização de registros de vídeo, hoje mais banalizados, mas também difíceis de praticar em certas situações. A outra, está ligado à teoria, quanto a definição do que será observado. (COSNIER, 1977; 2000; 2004; 2008) Entendemos como não verbal o conjunto de sinais visuais e cinéticos produzidos pelos locutores durante a comunicação falada e mais precisamente, as condutas posturo-mimogestuais que acompanham a fala. Consideramos importante quando analisamos as condutas linguageiras numa perspectiva multimodal, tratar separadamente os aspectos visuais e os aspectos prosódicos da fala. Isso será mais discutido no capítulo da concepção metodológica adotada nesta tese. Assim como o “canal verbal”, o “canal cinético” tem implicações na expressão de um conteúdo, ou seja, numa atividade referencial, mas pode ser ainda a manifestação de uma relação , em outras palavras, a atividade “interacional”. Assim sendo, uma interação em face a face se realiza pela sinergia de duas vozes concomitantes: uma discursiva, pela qual fica norteado o aspecto significante do enunciado e a outra é pragmática, que assegura a manutenção e a regulação do processo de “co-pilotagem” assim chamado por Cosnier (2004). 2.2 A Gestualidade Apresentamos sucintamente, duas abordagens da comunicação não verbal, hoje em dia, relativamente clássicos, para em seguida apresentar uma terceira. As duas abordagens que já foram descritas por Duncan desde 1969, são: a abordagem estrutural, ou seja, a que revela 48 a tradição antropológica, o emprego de métodos da etologia e da linguística e que procura descrever as condutas não verbais (o gesto dentro de uma atividade discursiva) e a abordagem das variáveis externas, utilizadas em psicologia, que se apoia na pesquisa experimental e procura estabelecer as correlações entre as condutas não verbais e variáveis (idade, sexo, traços de personalidade), as patologias ou ainda as culturas a que pertencem. Ou seja, o gesto e a co-pilotagem interacional. Hoje em dia é conveniente se juntar uma terceira via a essas duas abordagens: a abordagem multimodal. Mesmo que esta empreste seus métodos às duas outras abordagens anteriores, ela é diferente pelo seu objeto de estudo. A abordagem multimodal se interessa menos em estudar as condutas não verbais, e sim, esclarecer suas relações com as condutas verbais. A nosso ver essa abordagem conduz a uma profunda renovação da reflexão sobre a cognição distribuída como a preconizada por Goodwin (1981) e as relações entre a linguagem e o pensamento. A maior parte dos trabalhos relativos à comunicação não verbal utiliza a abordagem experimental. A soma de trabalhos é grande e por isso vamos nos deter nas principais linhas de pesquisa desenvolvidas. Apresentamos, em seguida e de forma breve, as pesquisas envolvendo a gestualidade posturo-mimo-gestual. 2.2.1 Sobre as expressões faciais Toda uma corrente de pesquisa se interessou pela tese defendida por Darwin de um código universal das emoções18. Eckman & Friezen (1971) são os autores que mais contribuíram nesse domínio e concluíram que a expressão facial das emoções é universal, mas os códigos sociais relativos à expressão emocional variam em função das “etnoculturas”. Para esses autores não existe uma relação unívoca entre as mímicas faciais e as emoções: o olhar, a atitude, a gestualidade, a voz e as informações linguísticas contribuem igualmente à expressão emocional. E em consequência, o contexto constitui uma variável importante no trabalho de reconhecimento das emoções. Também outras variáveis influem tanto na expressão como na percepção emocional, como por exemplo: o sexo, a idade ou a patologia. (COLLETA, 2004) Na abordagem cognitiva das emoções19, por exemplo, estar emocionado é descrito como um processo adaptativo que compreende múltiplas dimensões: motivação, avaliação 18 Ver Eckman, 1989; Eckman & Friezen, 1971; Wierbskaya, 2001. Ver os trabalhos de Frijda, 1989. 19 49 cognitiva, preparação para a ação e motricidade. Sob esse paradigma, as expressões faciais servem não somente para exteriorizar as emoções, mas igualmente como manifestações de níveis de atenção e de tendências para a ação, assim como perceber condutas sociais ritualizadas. Na abordagem etológica, o foco de interesse é quanto ao contexto social e interativo. Kendon (1990) trouxe a evidencia da função reguladora das expressões faciais, observando que expressões precisas devem ser produzidas alternativamente por cada parceiro, para que uma sequencia interativa chegue ao seu final. Portanto, se as expressões faciais servem para exibir estados internos, elas expressam também, antes de tudo, as condutas sociais. Sabemos por exemplo, que o sorriso constitui um dos principais marcadores da relação social. 2.2.2 Sobre o Olhar O olhar contribui para a expressão das emoções e suas manifestações foram relacionadas aos níveis de motivação ou de atenção do sujeito. Em paralelo, o olhar também deixa um indicio de dominância, às vezes como um sinal de agressão e outras vezes, um sinal de atração afetiva. (BROSSARD, 1992) Numa relação interpessoal, olhar o outro nos olhos constitui uma conduta altamente significativa. Alguns pesquisadores (GOODWIN, 1981; KENDON, 1990) buscaram dar conta dessas tendências a olhar ou a evitar o olhar do outro. Porém, o olhar é também uma conduta perceptiva com o objetivo de obter as informações pertinentes ao ambiente e como essas informações de caráter social são de grande importância, ou não, para o sujeito. Algumas pesquisas (BROSSARD, 1992) se detiveram a medir o tempo do olhar e o olhar recíproco durante as interações sociais e que essa duração varia de acordo com a posição interlocutiva. Outros estudos como os de Goodwin (1981) mostram que o locutor tem tendência a evitar o olhar do seu parceiro no começo de uma atividade enunciativa e de olhar ao final do seu turno de fala. O recurso do olhar também estaria presente nos momentos de hesitação. 2.2.3 Sobre o Território Pessoal – a Proxemia 50 Hall (1971) analisou a maneira como o homem estrutura inconscientemente o espaço e seu território, a partir de observações da etologia, fundando assim a Proxemia. O que ele chamou de território pessoal podemos imaginar como uma bolha invisível e maleável que envolve o indivíduo, tendo a função de proteger de intrusões suscetíveis que possam atingir sua integridade física ou social e que esse espaço permite de regular o acesso do outro à sua intimidade. Essas fronteiras maleáveis desse território sob o qual o individuo dispõe dos seus bens pessoais, ou reservas (GOFFMAN, 1973) são remanejáveis, reparáveis, através das distancias interindividuais adotadas pelos indivíduos durante seus encontros. Podemos dar alguns exemplos como: afastar-se para evitar um choque em alguém que passe na mesma calçada, evitar se sentar muito perto de um paciente numa sala de espera tendo outras cadeiras vazias ou ainda evitar passar entre duas pessoas que conversam num corredor. Hall distinguiu 4 tipos de distancias: intima, pessoal, social e publica. Elas correspondem aos diversos tipos de atividades, também referentes à utilização preferencial de certas modalidades sensoriais (tocar, cheirar, as relações de contato, a visão e a audição) durante os encontros interpessoais e públicos e também para aqueles definidos como valores métricos que são puramente indicativos. Ele observou que essas distancias variam de uma etnocultura a outra. E também tratou da relação dos hábitos de contato corporal. Por exemplo, um contato físico, corporal é mais frequente em certas culturas, e nas culturas nas quais isso é menos frequente, são objetos de tabu. As condutas proxêmicas e as de contato são então suscetíveis às variáveis também em relação a: sexo, idade, natureza da relação inter individual assim como à situação. Danon-Boileau (2002) observa diferenças nas condutas interativas durante as interações adulto-criança, quando estes estão face a face, quando estão em maior distancia ou quando estão em posturas contrarias. 2.2.4 Sobre a postura e a gestualidade O papel da postura é também importante na regulação da intimidade e de uma forma mais global, podendo exibir e/ou mascarar muito bem os dispositivos afetivos do sujeito (COSNIER, 2004). As mudanças de posturas dos participantes numa interação são produzidas de maneira sincrônica e são associadas aos fenômenos dos comportamentos reflexivos ou espelhados 51 (COLLETTA, 2004). Essas observações reforçam a tese de uma “empatia generalizada” como preconiza Cosnier (1994). Com relação à gestualidade as coisas são mais complicadas. As variáveis emocionais têm um papel chave no que se chama de gestualidade “autocentrada” , o que compreende gestos de autocontato (coçar o rosto, automassagem) e os gestos de manipulação de objetos (balançar uma chave, balançar uma caneta). Observou-se que esses movimentos surgem em situações estressantes e são relacionados a estados de ansiedade e a algumas patologias20. Quanto aos gestos que acompanham a fala, sem dúvida eles deixam transparecer estados emocionais. Alguns podem substituir uma mensagem verbal e tem uma significação convencional para algumas culturas. Trata-se de gestos simbólicos ou emblemas (KENDON, 1981; COSNIER, 1986). Para Cosnier (1977, 1993, 2008) a gestualidade pode ser dividida em três eixos de utilização, buscando integrar o gesto e a atividade discursiva. Para ele, uma atividade mimogestual está ligada à constituição do enunciado no qual ela se integre. E esta gestualidade necessária, pode substituir ou se acoplar a gestualidade ilustrativa, que faz mímica à ação ou à configuração espacial (espaços gráficos) ou ao objeto a que se faz referencia. Esses gestos são abundantes nas descrições de lugares. Os dêiticos mostram qual parte do corpo serve de reparação, apoio espaço-temporal para a organização do pensamento e de matriz para a formação do discurso. Essa tipologia serviu para formular uma lei de “designação do referente presente”. Ou seja, a menção no discurso de um referente presente é acompanhada obrigatoriamente de sua designação (seja pelo gesto de apontar do indicador ou pelo olhar) . Por exemplo, num enunciado para descrevermos: “ele estava sem gravata”, normalmente essa frase se associa a um gesto do falante em direção ao seu próprio pescoço. Outro exemplo: “meu coração bate forte”, está associado a uma mão fechada colocada no peito esquerdo. Ainda este exemplo: “se você quer minha opinião”, é correntemente associado a um gesto autocentrado. Esses gestos emblemáticos podemos denominá-los de gestos “quase linguísticos”. Outra diferenciação sobre o gesto feita por Cosnier, é a noção de co-pilotagem interacional. Para ele, a gestualidade no diálogo participa fortemente, e de forma eficaz, a outra função: a função de coordenação. Esta função ocorreria, não somente durante o dialogo e emissão dos enunciados, mas para assegurar que eles são bem recebidos, avaliar como o seu 20 Ver Danon-Boileau (1995, 1996, 1997, 2002, 2007) 52 interlocutor os compreende e os interpretar e compartilhar com este interlocutor o tempo de fala. Para assegurar mutuamente essa troca existe um dispositivo de interação ao qual se adiciona um dispositivo de troca e de manutenção da fala. Esses dispositivos são largamente gestuais e utilizam, em particular, o balançar de cabeça e os movimentos oculares. Esses gestos estão ligados ao que se chamou de “sincronia interacional” (COSNIER, 1996). Cosnier (1996) aponta para os fenômenos de: “autossincronia” e “heterossincronia” presentes nas interações. A autossincronia designa a sinergia do locutor dos seus eventos de fala e dos seus diversos movimentos corporais registrados. A heterossincronia designa a sinergia do ouvinte sobre as atividades segmentares sincrônicas dos eventos da fala produzidos pelo seu parceiro locutor, melhor dizendo, o interlocutor. Esses fenômenos acontecem durante uma “dança entre interlocutores”. A partir desses estudos um aspecto importante avaliado em Etnometodologia e em Analise Conversacional sobre a coordenação entre os interlocutores é a “alternância de turnos” que caracterizam os diálogos (COSNIER, 1996). Outro fator importante referente ao sistema regulador através do olhar, foi o bem descrito por Goodwin (1981) que revelou o papel do olhar na “organização conversacional”. O falante precisa do olhar do receptor e com isso coloca em ação técnicas sutis para provocar. O olhar é utilizado também para marcar o engajamento e o desengajamento, assim como permite a suspensão ou a retomada da conversação. Por fim, é o olhar que identifica o interlocutor quando a interação acontece com mais de duas pessoas. O terceiro eixo da gestualidade visto por Cosnier (1992, 1996) é a empatia e a noção de “analisador corporal”. O que se viu anteriormente sobre os turnos de fala e os procedimentos de manutenção da conversação, permitem detalhar qual é a participação dos gestos na interação. Porém é importante tentar dar conta do que o falante pensa enquanto fala, as questões de empatia e de “comunicação afetiva”. Problemas pouco abordados pelos “conversacionalistas” (COSNIER, 1996). A comunicação afetiva envolveria dois aspectos: a comunicação emocional (estados internos21) e a comunicação afetiva (resultado de uma elaboração secundaria, de um “trabalho afetivo” 22). Cosnier (1987) acrescenta dois tipos de afetos conversacionais: os afetos tônicos, que são estados emocionais de base que variam pouco durante a interação -humor e as disposições 21 Sintomas psicomotores e vegetativos não controlados: tremores, suor, palidez, choros, risos, etc. Execução dos afetos reais e potenciais construidos durante a interação. 22 53 latentes e os afetos “fásicos”, estados passageiros que flutuam de acordo com os momentos de interação e estão perfeitamente sincronizados a essas trocas. Olhando mais além das trocas afetivas, alguns estudos puderam descrever (COSNIER, 1996) outro mecanismo que revela mais dessas trocas e utiliza os processos de identificação corporal, que podem algumas vezes ser identificados nos fenômenos chamados por este autor de “échoïsation”23 ou de “sincronia mímica”. Os interlocutores exteriorizam em espelhamento as mímicas, os gestos, posturas semelhantes. Isso quer dizer que os sorrisos e as risadas chamam (fazem apelo) os sorrisos e as risadas, os choros aos choros, e com isso a uma mímica compassiva. Esse comportamento e’ chamado de “as fontes das circunstancias” e além de frequentes, são contagiosas. De fato, esses fenômenos ecoicos, mais ou menos manifestos, constituem um procedimento de afinação afetiva e permitem fazer inferências emocionais. Com isso pode-se ver que haveria através da “échoïsation” corporal, algumas vezes visível, mas outras vezes subliminares, uma facilitação para a percepção dos afetos do outro. Essa “indução emocional” fez parte de muitos estudos 24, enquanto uma reprodução de modelos efetores poderia estar à serviço através da “échoïsation” do conhecimento dos afetos do outro. E esta indução seria um dos elementos fundamentais da “convergência comunicativa” (expressões positivas de engajamento, afiliação, intimidade, sorriso, contato visual, balançar de cabeça). O oposto, os fenômenos que marcariam uma divergência, seriam marcados pela assincronia das mímicas (ausência de sorriso, gestos autocentrados, movimentos de pernas, imobilidade dos braços, baixa frequência do balançar de cabeça, entre outros reguladores). Ainda segundo Cosnier (1977, 1993), os coverbais certos são dotados de propriedades icônicas e são utilizados para representar referentes concretos, ou através de metáforas, os referentes abstratos. E outros, os chamados beats não são dotados dessas propriedades. Outros coverbais são orientados para a sincronização entres os parceiros da interação. Estes dependem de certas variáveis definidas como as socioprofissionais, a idade e as patologias da fala ou dos movimentos. 2.3 A abordagem multimodal 23 Uma tradução mais próxima dessa expressão para o português seria fenômenos “écoicos”. Ver trabalhos de Ekman et al. 1983. 24 54 Através de um conjunto de observações, pode-se sintetizar essa abordagem de duas maneiras: os movimentos corporais entretêm ligações sequenciais estreitas com a fala e são sincronizados com os sinais “voco-verbais” (vocais) e as fronteiras gestuais, juntamente com as mudanças de postura, coincidem com as unidades frasais ou de transição da atividade discursiva. O outro ponto é que essas ligações são importantes do ponto de vista semiótico e funcional, pois entre os movimentos observados durante as atividades da fala encontramos os emblemas (gestos suscetíveis de receber uma tradução verbal) e os coverbais que tanto participam da construção referencial ou do enquadramento da atividade discursiva, quanto chamam a atividade da fala e mais, ainda servem de coordenação das atividades entre o locutor e o seu interlocutor. (COLLETTA, 2004) Uma pergunta que pode ser feita é: Podemos considerar que a posturo-mimogestualidade dos interlocutores faz parte de suas condutas linguageiras? Kendon (1972) defende a ideia de que, não somente a fala e a posturo-mimo-gestualidade devem ser estudadas juntas, mas os sinais linguísticos e prosódicos junto com a modalidade auditiva, a modalidade visual e os sinais cinéticos, estariam dentro do mesmo processo. Kendon (1997) postula: […] fala e gesto são produzidos juntos... devem ser considerados como dois aspectos de um único processo...os falantes combinam como se estivessem em um único plano de ação, tanto na fala quanto na gestualidade. (KENDON, p. 111, tradução nossa) Essa ideia foi mais bem formulada por McNeill (1992) que acredita em um sistema “plurissemiótico” único: «[…] os gestos são parte integrante da linguagem tanto quanto as palavras, frases e orações – gesto e linguagem são um sistema único» (MCNEILL, 1992, p. 2, tradução nossa). Sendo assim, como um processo único da produção da linguagem trazendo a parte das propriedades complementares dos sinais linguísticos e cinéticos: A hipótese […] é que gesto e fala surgem a partir de um único processo de formação do enunciado. O enunciado tem tanto um lado imagético quanto um lado linguístico. A imagem surge primeiro e é transformado numa estrutura complexa em que ambos, o gesto e a estrutura linguística são partes integrantes”. (MCNEILL, 1992, p. 29-30, tradução nossa) 55 A hipótese de McNeill se apoia assim, sobre a observação dos movimentos coverbais produzidos durante o discurso. Para ele, isso coloca em evidência a estreita complementaridade entre a semiótica cinética e a semiótica verbal. McNeill e outros gestualitas distinguem os gestos que simbolizam o concreto (que ele qualifica de icônicos) e os gestos ligados à abstração. Os gestos oferecem uma representação visual do referente, eles dão uma indicação sobre a maneira que o falante apresente e se representa na ação. Ou seja, os gestos adotam o ponto de vista do personagem ou adotam o ponto de vista do observador. Essas observações complementares mostram que essas estratégias cinéticas estão longe de serem escolhidas arbitrariamente pelos interactantes. Outras observações dos gestos permitem ver as expressões de ideias abstratas. São os gestos qualificados como metafóricos. Seus funcionamentos necessitam de um signo (gesto), de uma base (o objeto ou ação física representada iconicamente pelo signo) e de um referente (o conceito que o sujeito procura expressar). Os gestos, como os de apontar , utilizam as propriedades metafóricas do espaço e são chamados de gestos de apontar abstratos. Outros além desses são os chamados beats, que para NcNeill são igualmente metafóricos e estão à serviço da abstração, pois eles são as vezes empregados para marcar a introdução de um novo personagem. Em outros termos a produção cinética depende do tipo de atividade discursiva em curso. E pode-se constar que à observação fina dos movimentos corporais pode-se analisar, com precisão, a atividade narrativa. McNeill (1992): Vou argumentar o seguinte : que os gestos refletem as funções discursivas das sentenças que co-ocorrem com... gestos mostram muitas coisas sobre o processo de narração que poderia se perder se somente o canal da fala fosse considerado como o veiculo da narrativa. (MCNEILL, p. 183, tradução nossa) Para uma ultima confirmação da estreita complementaridade entre os sinais verbais e não verbais nas condutas faladas, faz-se o exame das relações entre gestualidade coverbal e o progresso da informação. Ainda McNeill (1992.) observa que a quantidade e a complexidade dos gestos cresce com o grau de dinamismo comunicativo das informações verbais. Vemos em consequência, que na abordagem multimodal, não somente as condutas não verbais merecem o interesse, mas também a fala; a palavra proferida como um objeto multimodal, durante a organização do discurso; as relações que têm entre si as palavras; a voz 56 e os movimentos corporais, durante a atividade linguageira -na produção- ou as estratégias interpretativas do interlocutor -na compreensão- da mensagem. À exceção dos trabalhos pioneiros de Kendon, Sheflen e outros, vemos que a abordagem multimodal é recente. Segundo Kebrat-Orecchioni (2000), os linguistas afastaram os aspectos não verbais da comunicação falada e a expressão das emoções, que significa justamente um ponto para a tomada de consciência desses aspectos. Novos trabalhos25 começam a surgir, nos quais os interacionistas integram os dados prosódicos ou cinéticos. Alguns deles marcam o papel da construção referencial em que os coverbais contribuem para a estruturação do discurso e para a coesão discursiva (MCNEILL, 1992). Outros especialistas do discurso oral começam a explorar as relações entre os movimentos corporais e a prosódia, interessando-se, em particular, pela expressão multimodal das emoções e das atitudes (MAURY-ROUAN, 2001). A estes se somam, o interesse pelo papel dos sinais vocais ou gestuais nas condutas interativas e discursivas (GUAÏTELLA ET AL., 2001) e a sincronização entre sinais prosódicos e gestuais, alem das manifestações “vocogestuais” das atividades cognitivas subjacentes à fala (MCNEILL ET AL., 2001; MCNEILL & DUNCAN, 2000). Esses trabalhos se inscrevem numa perspectiva interlingüística e trazem informações interessantes referentes a questão cognitiva e social (ou cultural), na posturo-mimo-gestualidade coverbal. 2.4 Multimodalidade e cognição A abordagem multimodal convida-nos a considerar as produções linguageiras como enunciados “plurissemióticos” ou significantes linguísticos e significantes cinéticos, possuindo um papel complementar. Essas propriedades complementares fazem dos movimentos corporais sinais, particularmente, aptos a expressar imagens mentais. McNeill explica: Gestos e fala ocorrem numa verdadeira sincronia temporal e muitas vezes têm significados idênticos. No entanto, eles expressam seus significados de maneiras completamente diferentes...Gestos exibem imagens e nem sempre podem ser expressas em palavras, assim como as imagens que o falante pensa estarem escondidas... Estes gestos são as memórias das pessoas e os pensamentos tornam-se visíveis. Gestos são como os próprios pensamentos (MCNEILL, 1992, p. 11-12, tradução nossa) 25 Em relação aos dados prosodicos ver os trabalhos dos interacionistas Grobet (1997; 2001), Danon-Boileau (1997; 2002; 2007), Cavalcante (2009) 57 Graças aos gestos, as representações do locutor tomam corpo e tornam-se perceptíveis visualmente. Isso é o que podemos ver na gestualidade icônica. As mãos mostram as dimensões do objeto do qual fala o locutor, o corpo mostra a ação de segurar um objeto, de empurrar, de jogar ; as mãos posicionam um objeto ou um personagem nas suas condutas; a face confrontaria a expressão do personagem e o corpo expressa suas atitudes e suas ações, etc. Porém, a gestualidade não verbal não prioriza somente as representações advindas da percepção. Porque em virtude de suas propriedades metafóricas, dão acesso às imagens mentais formadas das representações abstratas. Quando pensamos na relação gesto-fala durante a produção da linguagem falada, vimos que Kendon e McNeill defendem a tese do tratamento plurimodal da linguagem em produção. Outros estudos que apoiam essa tese, mostram que a atividade cinética é necessária na atividade ilocutória. Iverson & Goldin-Meadow (1998), Maury-Rouan (1998) mostraram que os cegos de nascença apresentam uma gestualidade coverbal similar a dos videntes. Para Cosnier & Brossard (1984), os indivíduos engajados em interações nas quais não podem estar frente a frente (por exemplo, conversa telefônica), produzem coverbais, como nas interações em face a face. Uma experiência feita por Alibali et al. (2001) mostra que a neutralização da gestualidade coverbal, obtida nas condições em que os sujeitos tinham as mãos colocadas dentro de um bolso, tem um efeito sobre a explicação verbal, ficando esta menos rica em informações perceptivomotoras, do que em condições normais. As observações de Cole et al. (1998) e Gallagher, Cole & McNeill (2001) sugerem a existência de um controle comum da produção articulatória e da produção coverbal operatória na planificação da fala. Em outros estudos26 que observaram sujeitos afásicos, mostram que os déficits linguageiros que sofrem, são acompanhados de perturbações na produção e na compreensão dos gestos. Por isso não é raro, em efeito, que a afasia é acompanhada frequentemente por apraxia. A pessoa tem dificuldade de produzir sob comando os gestos icônicos ou os emblemas. Os afásicos também manifestam igualmente problemas na compreensão desses gestos em níveis diversos, assim como a compreensão das pantomimas. Os gestos descrevendo as ações são, em geral, menos atingidos que os gestos descrevendo os objetos. (COLLETTA, 2004) 26 Ver Goodwin (1995; 2000; 2002; 2003), Jones & Zimmerman (2003). 58 Goodwin (2002) estuda a multimodalidade ou «embodied procedures » da participação dos interlocutores na interação. Para ele, ao invés de confiar apenas na fala, os participantes fazem uso de uma gama de recursos semióticos na construção de suas ações na interação. Eles utilizam para isso performances corporalizadas que marcam seus espaços físicos, dentro de um mundo socialmente construído. Estudando o gesto e a fala nas interações mãe-bebê, Cavalcante (2007) observou as primeiras produções gestuais do bebê e constatou através do acompanhamento de duas díades mãe-bebê27, no período de oito a dezessete meses, como os tipos de gestos propostos por Kendon, em seu continuo gestual, se comportam durante esses primeiros passos na produção gestual. Cavalcante (2007) identificou o início da produção gestual do bebê, na passagem dos 8 aos 9 meses de idade. Esses gestos são produzidos de forma desajeitada e desordenada, sendo sustentados pelo incentivo inicial da mãe. Por exemplo: o gesto emblemático de apontar é realizado com a mão semiaberta e com o dedo indicador semiflexionado e aos 12 meses o bebê já realizaria os gestos sem o apoio inicial da mãe. Outro fato importante observado por Cavalcante (2007) é que a produção e a interpretação materna do gesto realizado pelo filho, servirão para a consolidação deste gesto enquanto item linguístico e ainda, que o maior ou menor uso e sustentação gestual-vocal materna, tem uma relação com a maior ou menor emergência dos gestos diversos pela criança. Como ressalta McNeill: Como uma criança que adquire sua linguagem elas também estão construindo um sistema gesto-fala. Gesto e fala desenvolvem-se juntos. Nós não deveríamos falar de aquisição de linguagem, mas de aquisição linguagem-gesto. (MCNEILL, 1992, p. 295, tradução nossa) 2.5 O gesto no diálogo Estudar o gesto no diálogo implica em adotar certos conceitos de uma parte da linguística (a linguística da enunciação e da pragmática) e da semiologia. Nessa tese vamos abordar a questão do gesto no diálogo, assumindo os pressupostos teóricos do dialogismo. Assumimos esse ecletismo imposto, até porque o tipo da interação e o corpus dessa tese comporta um conjunto de dados verbais e dados paraverbais (vocais e não verbais - um 27 Filmadas em situação naturalística na casa da díade. 59 conjunto posturo-mimo-gestual), normalmente presentes na literatura e que como vimos são parte integrante e negligenciada da oralidade. (COSNIER & BROSSARD, 1984; COSNIER, 2000, KERBRAT-ORECCHIONI, 2000). Trabalhar na inserção de dois domínios: a gestualidade e fazer uma análise dialógica, é mais uma aventura sedutora, em que há muitas coisas a se explorar, do que aspectos já conhecidos. Concretamente o pesquisador tem que trabalhar constantemente entre dois campos. Cada um desses terrenos, ativo e vivo, propõe um programa de trabalho inspirador, devendo ter uma coerência interna das suas próprias problemáticas. Ou melhor, partindo de um ecletismo para buscar uma via de acesso para uma análise mais pontuada disciplinarmente, mediante suas problemáticas. Sendo assim, tentar fazer ligação entre esse dois domínios, o gesto no diálogo, significa um caminhar quase solitário. Um trabalho difícil, que requer tatear no escuro e sabendo que as dificuldades aumentam à medida que tentamos integrar de forma mais evidente, os parâmetros em relação ao que observamos com as análises. Ao longo desses anos, sobretudo na década de 60 e 70, os pesquisadores de psicologia, sobretudo a psicologia social, encaravam o não verbal como um comportamento humano global que se buscava interpretar. Pesquisas como as de Kendon (1972) eram escassas. No final dos anos 80, um movimento de pesquisa muito ativo se desenvolveu, sobretudo no plano internacional, com os trabalhos de McNeill (1992) com avanços consideráveis na compreensão de certas relações entre gestos e fala. McNeill parte de uma problemática psicolinguística e ainda dá um lugar a função comunicativa do gesto. Seus trabalhos falam essencialmente sobre o papel dos gestos, no sentido limitado aos movimentos das mãos e dos braços e o papel dos gestos na relação com a atividade mental. Assim notamos de forma bem presente no título da sua obra “Hand and mind : What you reveal about touch”, em 1992. Na sua investigação ele se baseia na maneira pela qual as diferentes modalidades se combinam para construir a mensagem, estendendo-se igualmente ao papel que elas têm para assegurar a mensagem, ou seja, a presença e a parte ativa do interactante são integradas as análises. A mesma se baseia ainda no efeito produzido secundariamente por esses gestos sobre o receptor e revelam, geralmente, um processo de “échoïsation” corporal, mais do que um circuito de comunicação clássico, emissor-receptor (COSNIER, 2000). Mesmo se a 60 função primária dos gestos coverbais não é a de comunicar, a mensagem emitida pelo locutor se trata de um complexo de fala e de motricidade e o receptor interpreta esse conjunto multimodal, integrando a essa interpretação, outros parâmetros, como: os índices de contextualizações e o que está implícito. (MAURY-ROUAN, 2008) Na construção e interpretação da mensagem, a interdependência do verbal e do não verbal está também presente na sua transmissão, pois são as mímicas, os olhares, os gestos que tornam possíveis os turnos de fala (abertura e fechamento) e a manutenção da interação numa troca “silenciosa”. Em paralelo com a troca acústica (acústica verbal e acústica não verbal, por exemplo: um suspiro, 'hum' e 'mmmm'), os olhares, o balançar de cabeça, o concordar com a cabeça, as pálpebras, os sorrisos e as 'ecomímicas' constituem um potente vetor de “feedback”. Esse último aspecto de “feedback” coincide particularmente com as concepções interacionistas, que vêem a produção do discurso como uma atividade co-construída e toda enunciação como uma co-enunciação, mesmo se algumas correntes lhes atribuem o mesmo sentido. É assim que assumimos nessa tese a concepção desses mediadores, desse “feedback”, na elaboração discursiva, como uma marca de um dialogismo interdiscursivo. Segundo seu fundador Bakhtin, o sujeito falante não seria apenas a origem do sentido dessa enunciação, mas ele se apresenta também como co-autor participante a um processo social de reconstrução permanente, de significações, a partir de uma infinidade de discursos reais ou potenciais. No plano interlocutivo, a perspectiva dialógica mostra essa tomada da elaboração do discurso do “co-enunciador destinatário” e suas reações. A tomada de consciência desse outro supõe que o locutor deve construir e interiorizar uma representação mental dos seus destinatários e consideras as suas perspectivas. Concretamente, o locutor está presente em uma simulação contínua, imaginando que pode experimentar esse instrumentário em reação ao discurso recebido. Essa interiorização do outro leva o locutor a um esforço de construir pelas suas escolhas, nesse caso, a semântica, um discurso adequado, tão adequado possível, no sentido desejado de dirigir seu discurso com marcadores discursivos, facilitando para o receptor o caminho proposto. Ele o conduz a clarificar e adaptar seu discurso às expectativas e ao já sabido de seu interlocutor. 61 Essa tomada de conta do outro pode também ser caracterizada como uma atitude linguageira reflexiva, um olhar metalingüístico que o locutor tem sobre sua própria produção. Para Bakhtin (1979-1984), em todo diálogo os enunciados são determinados pela alternância e sequencialidade dos turnos de fala dos interlocutores (diálogo externo) e por sua orientação dialógica (diálogo interno). Essa orientação dialógica é decorrente do fato de que os enunciados são sempre respostas a outros enunciados. Assim, nos enunciados percebemos a presença de ecos, de ressonância, de harmônicos dos outros discursos. O enunciado dialógico se estrutura em torno de um microdiálogo (uma “dialogização” interior), resultado da interação entre dois enunciados. (BRESS & VERINE, 2002) Os diálogos infantis são igualmente atravessados por esse dialogismo. É no circuito da comunicação que a criança se apropria das ferramentas linguísticas que vão constituir sua língua. (FRANÇOIS, 1983). O desenvolvimento da criança é constituído de um processo de interiorização do quadro das interações faciais e das trocas com o outro. A partir dessa observação Vygotski (1981) desenvolve uma lei geral do desenvolvimento cultural, segundo a qual, as aquisições das funções psíquicas superiores aparecem sobre dois planos: no nível social e no nível individual e se manifesta pela passagem de uma fase dita interpsíquica a uma fase intrapsíquica. Esse desenvolvimento se dá principalmente pela influência das ferramentas socioculturais, mais particularmente os signos lingüísticos. Graças a essa mediação semiótica, os interlocutores participam conjuntamente na construção dos sentidos e dos discursos. Por exemplo, Bruner (1983) mostrou que um processo de tutela poderia sugerir, numa interação adulto-criança, que o tutor orienta seu discurso em função das necessidades do outro, a fim de ajudar a criança a realizar uma atividade. Essa colaboração é então mediada pela língua “no” e “através” do diálogo. A interação mãe-bebê permite observar essa orientação dialógica dos interlocutores e é o que pretendemos mostrar nesta tese. Em muitas situações vamos constatar um discurso intrincado, de um e de outro, na realização das diversas atividades linguageiras. Vamos também mostrar que existe uma regulação mimogestual, envolvendo um trabalho de co-construção no diálogo mãe-bebê. Para Maury-Rouan (2008), essa revelação mimogestual dentro da instabilidade comunicativa é bem diferente de “feedback” acústico: 62 Ao contrario da atividade de feedback acústico, a regulação mimo-gestual tem a propriedade de se capaz de funcionar continuamente, pelo locutor como um contraponto às suas próprias palavras, pelo ouvinte como um eco imediato, ou às vezes até como uma reação antecipada ao que está prestes a ser dito. (MAURY-ROUAN, 2008, p. 54, tradução nossa) O que essa autora quer dizer é que no aspecto oral mesmo com toda a instabilidade, as retomadas, as reformulações, as limitações e as modulações, sendo mais numerosas ao mesmo tempo para o auditor, não são tão imediatas. E a mimogestualidade pode trazer uma regulação “online” mais efetiva do enunciado. Cosnier (2004) define três funções quando trata das modalidades e funções da posturo-mimo-gestualidade: As duas primeiras funções, ele chama de “énoncive” 28 e a função enunciativa. A função “énoncive” ou demonstrativa é descrita como: a contribuição do gesto para a constituição de um enunciado plurimodal (ou total). Os gestos conversacionais, os quais a maior parte são também chamados de coverbais, são objetos de classificações funcionais convergentes como também concordam Ekman (1993), Cosnier (1996), McNeill (1992), etc. E também são objetos de estudos semióticos detalhados (COSNIER, 2004). A função enunciativa, dá uma importância quantitativa à gestualidade discursiva, em suma: “não se pode falar sem se mexer”. Assim, o trabalho enunciativo da fala está necessariamente associado a uma atividade motora corporal, e não, a uma simples articulação vocal do enunciado. Essa concepção está apoiada pelos estudos dos gestos coverbais e a sua natureza foi associada ao enunciado verbal em muitos trabalhos29. Ainda citada por Cosnier, a terceira função, a da gestualidade é referente à manutenção e a “co-pilotagem” da interação. Nesse conceito encontra-se a sincronia interacional, o dispositivo de coordenação (de regulador) e a dança dos interactantes que são as noções mais clássicas. Segundo Cosnier (2008), o não-verbal seria um indutor de uma empatia afetiva, um modelo efetor em que um parceiro, por um mecanismo de “échoïsation” corporal, viveria em espelho/reflexo o estado afetivo de seu parceiro. Algumas experiências mostraram a adoção pelo corpo que certas configurações posturo-mimo-gestuais induzem a afetos específicos. Temos exemplos como os de Eckman e Col. (1983), Cosnier e Brunel (1994), o corpo do receptor entra em ressonância com o corpo 28 numa tradução para o português seria demonstrativa. 29 McNneill, 1992; Calbris, 2004; Cornier e Vaysse, 1992 e Kendel, 2004. 63 do emissor e este fenômeno (l'analyseur corporel - Cosnier) permite, por um mecanismo de feedback, atribuir a outros os próprios estados mentais: “Se o enunciador pensa e fala com seu corpo, o interlocutor percebe e interpreta também com seu corpo“. (COSNIER, 2004, p. 3, tradução nossa) Atualmente estudos em neurofisiologia sustentam os dados psicológicos de que a percepção dos movimentos do outro induz no sujeito perceptivo, uma atividade cerebral análoga àquela que ele teria, se o efetuasse (“neurones miroirs”30 – JEANNEROD, 2002). A empatia parece ser hoje um mecanismo cognitivo-afetivo essencial nas comunicações humanas, na qual a linguagem e o corpo têm um papel de suporte fundamental. As interações face a face são na verdade interações corpo-a-corpo e a intersubjetividade seria fortemente baseada nos mecanismos de “intercoporalidade”. (COSNIER, 2008) Vemos, como são extremamente diversas as funções que podem assumir os gestos, em sinergia com a entonação na estruturação enunciativa dos discursos. Para de Chanay (2005 ; 2010) os gestos aumentam os « graus de doxalidade » (DE CHANAY, 2005, p. 245, tradução nossa) do oral, em relação ao discurso escrito, no sentido do viés englobante do gesto: “a fala unifica o que o escrito desune”. Ainda segundo ele, a própria noção de 'ato', retomando a retórica antiga, é a ultima fase da elaboração discursiva. Por fim, o dialogismo enquanto incorporado ao oral, inclui também a gestualidade quando procuramos investigar o « sucesso discursivo » (DE CHANAY, 2005, p. 245, tradução nossa). Nessa tese consideramos essa visão plurissemiótica presente nos discursos. E assim visamos analisar as dinâmicas dialógicas da díade mãe-bebê dentro de toda sua multimodalidade. 30 « Neurônios espelhos » (tradução nossa) 64 Capitulo 3 – Um método para olhar as dinâmicas dialógicas 3.1 Uma deficiência a considerar: A síndrome de Möebius A paralisia facial congênita foi descrita pela primeira vez por Von Graefe e Seamisch em 1880, em seguida por Harlan em 1880, e Chisolm em 1881. Mas foi Paul Möebius, neurologista alemão, quem entre 1988 a 1982 primeiro descreveu casos de paralisia facial congênita do nervo facial (VII° par craniano) associada à paralisia do nervo abducente (VI° par craniano). O nome de Möebius é associado a esta síndrome assim como outros sinônimos tais como: diplegia facial congênita; hipoplasia ou agenesia nuclear congênita; paralisia congênita do nervo óculo-motor e do facial; paralisia óculo-facial congênita, ou síndrome de Von Graefe. (VENTURA, 2001) A síndrome de Möebius é considerada como uma doença rara, não-evolutiva (ENGLE, 1998), rara (MILLER & STRÖMLAND, 1999), com uma freqüência variante de 1:10.000 a 1 :50.000 nascimentos (POTTIE, 1999; VENTURA, 2001). Não há predominância 65 de sexo e sua ocorrência se dá de forma esporádica na maioria dos casos especialmente nos casos em que há diplegia óculo-facial, anomalias de membros, todavia recorrência familiar pode ocorrer. Existem diferentes opiniões a respeito das características necessárias para o diagnóstico da síndrome de Möebius. Estudos recentes definem que nesta síndrome está sempre presente a paresia ou paralisia central dos VI° (abducente) e VII° (facial) pares de nervos cranianos, o que confere aos seus portadores uma face inexpressiva (ausência de mímica facial ou “face de máscara”) (MILLER E STRÖMLAND, 1999; VENTURA 2001). O diagnóstico da síndrome é normalmente baseado em achados clínicos e pode ser feito precocemente, desde minutos após o nascimento devido à incompletude do fechamento palpebral durante o sono, falta de controle da salivação e dificuldades de sucção. Posteriormente observa-se que a criança não sorri ou não modifica os músculos faciais quando chora. (REED E GRANT, 1957). (VENTURA, 2001) Em adição à paralisia dos nervos facial e abducente, outras malformações incluem: pés tortos eqüino-varum, hipomelia (redução do comprimento dos membros), sindactilia, polidactilia, branquidactilia, oligodactilia e/ou ausência do músculo trapézio. Severas dificuldades de alimentação são esperadas no primeiro ano de vida, podendo apresentar impacto significativo no estado pulmonar e nutricional da criança levando-a algumas vezes ao óbito. E secundariamente a comprometimentos no desenvolvimento psicomotor, cognitivo e lingüístico poderão surgir em graus variáveis de gravidade afetando a sua comunicação, socialização e escolarização. A etiologia da síndrome de Möebius ainda permanece indeterminada. Atualmente o termo síndrome vem sendo substituído por seqüência de Möebius, termo que implica múltiplas etiologias. A hipótese mais aceita é a de que advém de uma cascata de eventos secundários resultando de uma agressão embrionária de causas heterogêneas, das quais o VI° e o VII° par craniano são os mais atingidos. Outra hipótese também muito aceita é a de que a seqüência de Möebius resulta de uma ruptura vascular numa idade precoce da fase da embriogênese. Isto pode ser devido a agentes agressores ambientais, em particular, às tentativas infrutuosas de aborto, às infecções intercorrentes, e também à exposição a certos agentes patogênicos resultando de acontecimentos isquêmicos durante o desenvolvimento cerebral precoce. (MARQUES-DIAS, 1999) Estudos recentes apontam para a existência de fatores etiológicos de origem ambiental relacionados à ação teratogênica do medicamento Citotec© usado em abortos clandestinos, 66 haja vista a suposição, de que seu principio ativo, a substância misoprostrol, afete a contratilidade uterina e a irrigação sangüínea do feto, gerando isquemia com necrose e ocasional calcificação do núcleo do nervo facial. (PUPO FILHO ET AL. 1999) No Brasil o medicamento Citotec© era originariamente comercializado para o tratamento de ulcera gástrica, contudo, com o conhecimento da população sobre o seu valor abortivo o Citotec© passou a ser empregado de forma indiscriminada por inúmeras gestantes, especialmente em regiões em que existe a proibição do aborto. Pode-se verificar notoriamente na prática clinica o crescimento significativo do numero de casos da síndrome de Möebius em que há relatos de tentativas frustradas de aborto pelo uso do misoprostrol. Além disso, considera-se a gravidade de suas manifestações com conseqüente impacto na sobrevivência e na qualidade de vida das crianças acometidas. Então podemos prever diante das características dessa síndrome, quais os níveis do desenvolvimento do portador serão os mais afetados. 3.2 A metodologia orientada pela teoria A literatura sobre o não verbal, como vimos, é cheia de proposições que adotam princípios muito diferentes. O fato das condutas cinéticas tomarem uma conformação que se desenrolam no tempo e no espaço, este dentro da sua configuração das três dimensões, torna difícil o trabalho descritivo desse processo. Porém encontramos dois pontos de convergência nessas proposições: o uso de um marcador temporal como a base da transcrição (sendo esta marcação feita de forma bem precisa ou não) e da marcação da fala do locutor. As escolhas das proposições realizadas vão, portanto, depender dos objetivos de cada pesquisa. Nas abordagens microanalíticas, como a que adotamos nesta tese, encontramos nos dados, numerosas informações não sendo raro que os movimentos dos interactantes passem a ser codificados em preferência a serem descritos. Para ilustrar a organização dos movimentos em “gestures units” (unidades gestuais) e em “gesture phrases” (gestos-frases), Kendon (1980) desenvolveu um sistema de transcrição tipo “partitura” que se lê da direita pra esquerda como uma partitura musical. No qual se indica, nas linhas de cima, as palavras ditas pelo(s) locutor(es), em seguida, embaixo, são feitas as marcações temporais e os fenômenos pronunciados ditos externos ou pontos de retomadas dos discursos. Em outra linha mais embaixo, são anotadas as informações relativas aos diferentes movimentos, que se referem às partes diferentes do corpo (cabeça, olhos, mãos, braços, etc.). Cada um desses movimentos é “materializado” por códigos que indicam a 67 duração e as indicações paramétricas do movimento. O movimento do interlocutor é indicado na outra linha de baixo pelo mesmo sistema de codificação. Certos “gestualistas” preferem a descrição dos movimentos ao invés da codificação. McNeill (1992) adota o principio de anotação linear que se lê linha após linha, alternando-se as informações verbais e cinéticas (com descrição dos gestos em itálico). Cada gesto é categorizado em relação ao seu funcionamento semiótico (ex: icônico, metafórico, dêitico). A temporalidade é marcada entre parênteses na linha da transcrição da fala. O mais importante a considerar é que a decisão sobre as escolhas do analista pelo sistema de transcrição, em geral, derivam de um compromisso para com duas ordens opostas: a precisão da descrição dentro do nível de detalhes desejado por ele e de outro lado a forma deve ser legível o suficiente para ser bem explorada. O que se vê normalmente é que quanto mais precisa e utiliza sistemas de intervalos de tempo e de códigos breves mais ela se torna difícil de ser lida. Ao contrario, no caso das transcrições “êmicas” a legibilidade é obtida em detrimento da precisão das informações. Podem-se associar fotografias ou “croquis” 31 enriquecendo-a de detalhes. Atualmente alguns “softwares” foram desenvolvidos para sincronizar os sinais da fala e os movimentos corporais e eles ainda permitem de mostrar os dados em formas de gráficos para certos objetivos da analise associando os dados prosódicos e cinéticos (MCNEILL et al., 2001). Num futuro próximo espera-se com a ajuda dessas ferramentas estudar mais de perto as relações entre prosódia e posturo-mimo-gestualidade com a ajuda dessas ferramentas. Vemos então que a transcrição constitui antes de tudo uma ferramenta para o analista. As transcrições multimodais de corpus audiovisuais não tem necessariamente o objetivo maior de tornar “legível” as palavras, a vocalização e a gestualidade dos locutores, mas sim de tornar as analises mais objetivas para o analista. 3.3 A escolha dos dados naturais relacionada à opção teórica Ao estudar as condutas linguageiras dentro de uma abordagem multimodal necessitamos descrever e analisar os movimentos corporais produzidos pelos interlocutores. Trata-se todavia, de um trabalho difícil que implica em escolhas metodológicas sobre as quais nesta tese vamos refletir como as unidades cinéticas, como descrever suas formas e como representá-las de forma integral nas transcrições dentro da multimodalidade. 31 Desenhos que representam a silhueta do contexto da interação (McNeill, 1992) 68 Vamos nos perguntar igualmente sobre o sentido e a função desses movimentos corporais. Já tratamos disso nos capítulos precedentes, mas é necessário retomar alguns conceitos para compreender as analises que se seguem. Retornar a alguns detalhes sobre a maneira como alguns estudiosos do gesto, os gestualistas os tratam determinando quais funções são geralmente atribuídas aos movimentos corporais e identificar as funções as mais comuns da gestualidade coverbal associada à fala no caso a fala da mãe neste estudo e como uma reflexividade também nas ações corporais do bebê para a sua mãe e vice versa. A reflexividade desta gestualidade dentre eles. 3.3.1 Os dados primários em forma de registros videográficos: vantagens e limitações Uma grande questão quando se estuda o fluxo das condutas corporais associadas aos seus significados lingüísticos dentro de uma interação é sempre a opção que se faz em analisar. A pergunta central seria: Como descrever os movimentos corporais identificando suas unidades cinéticas? A observação microanalítica das condutas corporais permitiu tornar demonstráveis os fenômenos de autossincronia (os movimentos do corpo do locutor são sincrônicos aos sinais da fala) e de intersincronia (os movimentos do interlocutor são algumas vezes sincrônicos aqueles do locutor). Ela permitiu também descrever com precisão as seqüências gestuais e ressaltar as fases que os constituem (KENDOM, 1972, 1980). Em compensação, ela não permite resolver o problema da identificação das unidades cinéticas. Primeiro porque os movimentos corporais são movimentos organizados e está organização pode ser apreendida em muitos níveis diferentes e segundo que eles nunca são produzidos isoladamente dentro do fluxo da motricidade corporal. Como exemplifica bem Eckman e Friezen (1976, 1984), uma expressividade mímica é produzida a partir de varias modificações simultâneas da mímica facial, por exemplo, e que, tomadas separadamente, cada uma dessas modificações não tem necessariamente uma que compõe a mímica facial expressiva. Pode-se também fazer a mesma analise, a propósito dos gestos manuais. O gesto convencional de apontar resulta de programas motores que afetam o conjunto motor do membro superior (do ombro ao dedo indicador, passando pelo braço, antebraço e a mão) e são todos esses movimentos que compõem o gesto de designação e não, cada movimento tomado separadamente. 69 Na comunicação falada, as ações são na maior parte ilocutórias e são materializadas pelos enunciados. Sentimos então que a onipresença da linguagem tem o inconveniente de induzir categorizações, no primeiro momento, às condutas não verbais no caso dos emblemas, ou no caso dos coverbais, de pré selecionar os gestos e mímicas com forte valor semiótico ou expressivo, deixando como plano de fundo, outros movimentos que também são indispensáveis à comunicação falada. Segundo Duncan (1980), o nível macro das interações faladas, nas quais as seqüências de ação constituem os valores observáveis, permite ao analista estruturar o fluxo das condutas identificando os “kinemas”32 produzidos pelos participantes. 3.3.2 Os dados secundários: a transcrição como uma opção teórico – metodológica de analise e de reflexão Buscamos constituir através da opção teórico–metodológica adotada, um corpus multimodal das condutas linguageiras entre uma mãe e um bebê deficiente. O sistema de transcrição foi desenvolvido, buscando integrar o valor dessas condutas com a perspectiva dialógica do dialogismo. As múltiplas possibilidades de ação dos participantes da conversa – instanciadas na formulação, interpretação, aceitação, reformulação dos recursos verbais e não-verbais – sugerem uma prática de transcrição “ad hoc” (qualificada) e conveniente para com os objetos específicos de análise. Essa transcrição deve considerar, pois, no fluxo interativo, as formas particulares e os recursos empregados nos processos de colaboração. Nas práticas de transcrição, a escolha da forma identificadora dos participantes de uma interação não é algo objetivo, assim como não é objetivo transcrever a formulação, a interpretação, a aceitação, a reformulação dos recursos verbais e não verbais de fluxos interativos específicos. Transcrever, então, encerra especificidades que fazem dessa prática, uma atividade que incorpora a um só tempo, questões políticas, epistemológicas, teóricas, metodológicas. Tal atividade incorpora os pressupostos e escolhas do investigador. Uma das tarefas do analista de discursos orais consiste em transcrever os dados primários, produzindo os dados secundários, que serão objeto de sua análise. 32 Kendon (1980) 70 Muitos analistas vêm tomando para si essa tarefa ao invés de delegarem a terceiros, e com isso, vêm tecendo contribuições segundo as quais a transcrição não é mais concebida como um espelho da língua oral. Desde o artigo de Ochs (1979), Transcription as theory, muitos analistas compreendem que transcrever uma interação é “um fazer” analítico, seletivo, interpretativo, político, que incorpora os pressupostos do ‘transcritor’ e pode tornar mais ou menos visíveis os procedimentos dos participantes das interações analisadas. A esse respeito – a partir de transcrições da imprensa, com a sua própria transcrição e análise de uma fala pública do Premier Jean-Claude Rafarin para trabalhadores franceses, Mondada (2005) distingue a representação da política, a política da representação e a política da transcrição. A retomada sucessiva do transcrever enquanto um objeto de reflexão vem sendo favorecida pela mentalidade analítica praticada pela Análise Conversacional stricto sensu. Essa mentalidade, ao refutar a construção de discursos teóricos gerais e de categorias externas ao fenômeno estudado, coloca para o analista o desafio de encontrar soluções para os fins práticos das suas análises específicas. Assim apontam autores diversos como Gülich & Mondada (2000), Psathas & Anderson (1990), e Sacks (1984). Esses trabalhos têm demonstrado que a atividade de transcrição não é uma expressão neutra ou objetiva do evento registrado, mas que o sistema de transcrição escolhido ou projetado incorpora interrelações de pressupostos teóricos, relativamente ao objeto, unidades e processos observados. A opção “etic/emic”33 marca bem duas vertentes metodologicas: o método “etic” ou ético é o estudo fisico objetivo dos movimentos corporais. Ele permite a descrição microanalítica das condutas verbais. Estuda-se dessa forma o fluxo corporal e os movimentos com ajuda de técnicas permitindo um detalhamento imagem por imagem do video. O método “emic” ou êmico é o estudo do sentido, da significação da função dos movimetnos corporais. Permite então uma descrição macroanalitica das condutas não verbais. Estuda-se as condutas que tem um valor êmico, isso quer dizer um valor funcional ou semiotico da comunicação. (Colleta, 2004) No âmbito da Análise Conversacional stricto sensu, as práticas de transcrição, longe de ser uma tarefa menor, intermediária para os propósitos de uma análise, integram e exibem aspectos diversos, como: a implementação analítica dos diversos pressupostos da teoria, a observação de funcionamentos específicos de mecanismos genéricos propostos pelo modelo, a consideração dos procedimentos de identificação dos participantes, dos eventos transcritos e a notação dos recursos verbais e não-verbais (BERGMANN, 2002). 33 Pike (1967) foi quem iniciou a discussão sobre as unidades e processos analisados numa interação. (Colleta, 2004) 71 As características dinâmicas da ‘fala-em-interação’: a indexicalidade, contingencialidade, reflexividade, temporalidade, seqüencialidade, emergencialidade – que orientam o analista conversacional stricto sensu na escolha de dados naturais, também orientam seus objetivos em práticas específicas de transcrição, que são: capturar o caráter ordenado, social e êmico do fluxo conversacional e a articulação não-linear desse fluxo (ALENCAR, 2006). O caráter êmico da atividade sócio-interacional diz respeito ao fato de que são os sujeitos da ação que definem, no fluxo de suas próprias ações, os aspectos relevantes da atividade na qual estão engajados. A dimensão êmica aplica-se tanto às unidades formais, às categorizações e objetos de saber da fala-em-interação, quanto ao fazer do analista. (BEZERRA, 2007) Objetos êmicos são formulados, aceitos ou rejeitados, negociados, ajustados pelos participantes da atividade interacional, no mesmo fluxo dessa atividade. Os segmentos vocais e/ou gestuais exibem a escuta, a atenção, a avaliação dos participantes. Nesses afazeres ocorrem ajustes e a produção de respostas pertinentes às ações atribuídas a cada turno, configurando assim, o caráter reflexivo do desenvolvimento do turno (GÜLICH & MONDADA, 2001). Uma descrição êmica busca capturar justamente a escuta, a atenção, a avaliação dos participantes. O conjunto de ferramentas para o trabalho analítico tornado disponível pela abordagem êmica, além de constituir um instrumental de análise eficiente e robusto, articula aspectos epistemológicos compatíveis com o olhar dialógico sugerido pelo dialogismo para os fenômenos relacionais humanos. Será nesse sentido que apresentaremos as análises desta tese. Buscamos confrontar as observações sobre a gestualidade, melhor dizendo a posturo-mimo-gestualidade e as teorias psicolingüísticas e ainda fazer análises integradas apoiadas teoricamente pelo dialogismo de Bakhtin. Particularmente, os pressupostos teóricos – epistemológicos, metodológicos, analíticos - do dialogismo são avaliados como interessantes para os propósitos desta análise de inter-relações (interação, gesto e linguagem), especificamente com o objetivo de descrever procedimentos lingüístico-interacionais na díade adulto-bebê. 3.4 Distinção entre o contexto de registro e o contexto de análise 72 3.4.1 Apresentação do corpus Os dados e analises apresentados aqui, provém do trabalho sobre um corpus audiovisual de pouco mais de 5 (cinco horas) de registros videográficos realizados no período de agosto de 2007 a outubro de 2008 entre uma mãe e um bebê. A criança é portadora da síndrome de Möebius e começou a ser observada com idade de 11 semanas até 17 meses de vida. A origem dessa tese se deu do nosso interesse de continuar as investigações sobre esse mesmo sujeito, advindas do trabalho de pesquisa do mestrado em ciências da linguagem sob o titulo: “O desenvolvimento da comunicação no inicio da vida : as contribuições das perspectivas dinâmicas e socioculturais aos estudos da interação” 34. Questões que nos colocamos, advindas da nossa experiência profissional, enquanto terapeuta/fonoaudióloga e da vontade de aprofundar mais essa problemática. Tentamos melhor descrever esse processo dentro de sua plurimodalidade, desta vez inserido na dialogia; a multimodalidade da comunicação envolvida na construção subjetiva do bebê na e pela linguagem, tentando trazer uma contribuição para a terapêutica; envolvendo a interação, enquanto envolvendo a tríade dialógica Alter-Ego-Objeto, sendo nesse caso o objeto, o desenvolvimento cognitivolingüistico do bebê. 3.4.2 O estabelecimento do corpus O corpus conta com um total de 23 seqüências com duração média de 15 minutos cada. No total, contamos com 05 horas, 06 minutos e 24 segundos de registros, entre uma mãe e um bebê ( idade de 11 semanas a 17 meses). O local dos registros (os quatro primeiros) foi inicialmente, o Centro de Reabilitação Menina dos Olhos, da Fundação Altino Ventura, no qual o bebê realizava sessões terapêuticas de reabilitação global. O restante dos 19 registros foram realizados na casa do bebê, no seu ambiente familiar. Os pais foram instruídos a que durante as filmagens, preferencialmente, somente a mãe participasse, podendo, em poucos momentos haver participação de algum membro da família (pai, sogra, avó). Os dias e horários foram acordados com os pais para que tudo se passasse dentro da comodidade e do conforto para todos (pais, bebê e pesquisadora). 34 Titulo original em Francês : « Le developpement de la communication au debut de la vie: Les apports des perspectives dynamiques et socioculturelles aux études de l'interaction » Mestrado em Ciências da Linguagem, Universidade Lumière Lyon 2, França. Orientadora : Lorenza Mondada. (NEVES, 2006) 73 Realizou-se uma entrevista inicial com a mãe através de perguntas semi-estruturadas, a fim de investigar alguns aspectos do desenvolvimento do bebê. Os registros videográficos só foram iniciados após a aceitação e o consentimento (assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) dos pais em participar da pesquisa. Os intervalos entre os registros, assim como, o tempo de cada registro e a duração total, de acordo com as idades do bebê, foram estabelecidos previamente entre a pesquisadora e a diretora de tese. Assim, estabelecemos os seguintes critérios: intervalo de 15 dias entre as filmagens, duração dos registros entre 15’ a 20’ e a idade do bebe mais precoce possível, até 17 meses. O tempo de duração dos registros videográficos foi fixado com base no tempo já definido em outros estudos realizados, os quais também se utilizam de registros em vídeo como forma de coleta de dados. Ver Lyra (1998; 2007). 3.4.3 Características do corpus Este corpus possui 3 (três) particularidades. A primeira particularidade é quanto ao ponto de vista clinico/terapêutico. Ele marca o momento de inicio do processo terapêutico do bebê e conseqüentemente a sua inserção dentro de um plano terapêutico, visando a reeducação de acordo com suas demandas. Isso do ponto de vista dialógico, vai marcar os momentos dessa inserção do bebê nas trocas comunicativas, desde o inicio da vida, nos quais este passara por diferentes níveis e processos do desenvolvimento da sua comunicação. E notadamente, esses registros também foram tomados com intenção de ajuda terapêutica. Dois objetivos terapêuticos de base podem ser tomados desde o inicio: o bebê precisa aprender a olhar e mãe e bebê devem aprender a se coordenar para estabelecer uma comunicação. Mãe e bebê receberam orientações e estimulações da equipe multidisciplinar desde que ingressaram em terapias (Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Estimulação Visual e consultas oftalmológicas) no Centro de Reabilitação Menina dos Olhos da Fundação Altino Ventura. A segunda particularidade do corpus é que ele decorre entre uma díade, em que o bebê deficiente é portador de uma síndrome congênita que lhe dificulta a expressividade intercomunicativa desde suas primeiras respostas ao nascer. A “face de mascara” (inexpressividade mímica) e o estrabismo já sinalizam algo desse bebê: não comunica pela face. O impacto disso é marcante desde as primeiras horas de vida, nas suas relações sociais 74 primarias e essenciais para sua constituição enquanto sujeito. Outro impacto para a família é o momento do diagnostico médico. Muitas vezes, o prognostico dado para esses bebês é que em se tratando de uma síndrome (sendo igual a um conjunto de sintomas ou seqüelas), além das marcas visíveis deixadas por ela, as marcas 'ocultas' que são verbalizadas para a família durante a comunicação do prognostico são : tendência para o autismo e/ou retardo intelectual. O peso desse prognóstico pode influenciar ainda mais as relações entre o bebê e sua família. A terceira particularidade desse corpus é a assimetria dos estatutos de participação que é natural das interações entre um adulto e um bebê. O quadro participativo implica em formatos mais complexos, em que sobressaem a estrita alternância entre os interlocutores, o predomínio do adulto, nos turnos da conversação, mostra a característica inequiparável dos estatutos de participação. O bebê deste estudo está em posição de dupla assimetria, enquanto sendo um bebê na sua relação com o adulto e enquanto também necessitando de suporte terapêutico por ser um “bebê deficiente”. Interligando todas essas particularidades existe todo um sistema de relações interativo-lingüísticas que precisa ser analisado dentro de sua especificidade. Todavia, nesta tese, não vamos nos deter em analisar esse corpus dentro do dialogismo à distancia, pois este não seria o objetivo maior da proposta deste estudo. Porém, consideramos que um estudo sobre essa temática é relevante e poderá ser sujeito de um estudo posterior, que poderá complementar as reflexões que esta tese suscitar. Será relevante uma vez que temos um corpus que nos dá grande oportunidade de analisar o dialogismo “in preasentia”, verificando como se constitui o dialogo interno dentro da própria dinâmica das trocas entre a mãe e o bebê. Buscaremos caracterizar essa interação como constituinte de um espaço discursivo polifônico, através de seus movimentos discursivos. Examinaremos em que a analise dialógica desse tipo de trocas interpessoais permite trazer à tona os elementos que vão além desse gênero de interação. 3.4.4 A identificação dos participantes Bebê: Mateus (nome próprio) e Mãe Data de Nascimento: 20/05/07 Local: Hospital Esperança - Recife/PE 75 Considerações: Genitora fez uso de Misoprostol. Bebê nasceu a termo (39 semanas), de parto cesariana, diagnosticado por pediatra desde o nascimento. Intercorrências após o nascimento: bebê teve parada cardiorrespiratória e ficou 20 dias em UTI neonatal. Características: Paralisia Facial bilateral, estrabismo e pés tortos congênitos. Resumo da anamnese quando ingressou nas terapias no Centro de Reabilitação Menina dos Olhos da Fundação Altino Ventura (Julho/2007): Recém-Nascido responsivo visual e auditivamente. Realiza fonoterapia (ênfase nas funções estomatognaticas envolvendo a alimentação) e fisioterapia (motora) em casa e iniciando também FAV – Menina dos Olhos. Encaminhado após avaliação para estimulação terapêutica global: fisioterapia motora, fonoterapia e terapia ocupacional e orientações aos pais (com pisco logo e os terapeutas que o acompanham). Estava nesse período em tratamento ortopédico para os pés tortos, utilizando bandagem de contenção (bota gessada) nos dois pés até a cirurgia corretiva, quando foi realizada aos 9 meses de idade no pé direito e nova cirurgia 2 meses depois no pé esquerdo. Considerações sobre o processo terapêutico: O bebê chegou ao centro de reabilitação para avaliação global com fonoaudióloga e fisioterapeuta com 9 semanas de idade e em seguida iniciou terapia (uma vez por semana) com enfoque global envolvendo estimulação visual, motora global e da comunicação. Os pais também foram convocados para orientações periódicas. Foi nesse momento que convidamos os pais para participar da pesquisa tendo os mesmos colaborado, aceitando participar dos registros videográficos que compõem o corpus dessa tese. No processo terapêutico envolvendo os aspectos fonoaudiológicos, além das estimulações individuais com o bebê (fonoterapia), a fonoaudióloga iniciou com a mãe o programa Hanen® um programa de estimulação para pais de crianças com propensão ou portadoras de retardo de linguagem. Depois da fonoterapia com o bebê era a vez de a mãe ser atendida pela fonoaudióloga para as sessões do Hanen. O programa Hanen ® normalmente é feito em grupo de pais e fonoaudiólogo (terapeuta com habilitação Hanen), mas nesse caso a terapeuta fez um trabalho individualizado com a mãe nessa abordagem. Houve também algumas orientações com a mãe nos momentos dos registros videográficos para essa pesquisa, para responder às duvidas maternas surgidas sobre o desenvolvimento de seu bebê. Uma apostila35 desenvolvida pela terapeuta- fonoaudióloga contendo os princípios do Hanen, foi 35 uma tradução simplificada para o português do : « Guidebook : It takes two to talk » (PEPPER & WEITZMAN, 2004) 76 indicada para a mãe como forma de implementar o aprendizado materno podendo está fazer consultas mais facilmente sobre o programa através dessa apostila. Sobre o Programa Hanen® 36: Depois de observar que crianças pequenas com retardo de linguagem se beneficiavam muito pouco com terapias fonoaudiológicas tradicionais, a fonoaudióloga canadense Ayala Manolson idealizou em 1974, em Toronto, o Método Hanen. O nome Hanen foi dado em homenagem a seu pai que tem este sobrenome. O método é interacionista e se baseia na filosofia de que a linguagem do ser humano se desenvolve no ambiente familiar, frente a estímulos contínuos e necessidades da vida diária. Além do vínculo afetivo entre pais e crianças ser incomparavelmente mais forte do que o vínculo terapeuta/criança, também as oportunidades que surgem em casa são infinitamente mais propícias ao desenvolvimento do que aquelas que aparecem dentro de um consultório. Por esta razão, o fonoaudiólogo Hanen não atua diretamente com a criança, mas tem o papel de facilitador da comunicação entre pais e filhos. Ele ensina aos pais como aproveitar ao máximo as situações do dia a dia, fazendo com que estas se tornem a forma mais prazerosa e constante de estimulação de linguagem. O programa Hanen é aplicado em 75 países no mundo inteiro e atende pais de crianças com retardo de linguagem de qualquer ideologia. Ele tem o formato de encontros semanais com duração máxima de 3 horas cada encontro durante 4 meses em média. Nos grupos Hanen num primeiro momento os pais aprendem os níveis de desenvolvimento da linguagem, que no programa é dividido em 4 níveis: Nível 1 – A criança responde por reflexos; Nível 2 – A criança manifesta certo interesse pelo ambiente; Nível 3 – A criança começa a se comunicar usando sons e gestos e Nível 4 – A criança começa a se comunicar usando palavras. Um “checklist” é dado aos pais para preencher em casa no qual eles vão observando o comportamento dos seus filhos. A grande vantagem dos pais aprenderem a avaliar os próprios filhos é que eles passam a ajustar suas expectativas a um patamar mais real. Junto com os níveis, os pais vão aprender o « como » e « porque » seus filhos comunicam. O « como » são os meios utilizados pelas crianças ( vocal, vocogestual, vocoverbal) e o « porque » são as funções comunicativas utilizadas para : protestar, pedir objetos, expressar sentimentos, exibir-se, reconhecer pessoas, etc. O Hanen utiliza a 36 Para mais informações acessar o link: www.hanen.org 77 classificação das funções comunicativas da corrente pragmática, preconizadas por Halliday (1978). Nesse momento os pais são levados a serem observadores cuidadosos da comunicação dos seus filhos, considerando as mensagens que elas lhe enviam da forma como elas sabem ou podem e são motivados a irem decodificando/traduzindo essas pistas junto com elas. O objetivo é entrar em sintonia com sua criança. O próximo passo é levar os pais a perceberem que estilo de comportamento seus filhos têm frente à comunicação. De acordo com o método, há quatro tipos de crianças: sociáveis, tímidas, passivas e independentes. As “Sociáveis” são aquelas que freqüentemente iniciam e respondem a comunicação. As “Tímidas” raramente iniciam, mas freqüentemente respondem. As “Passivas” raramente iniciam e raramente respondem. As “Independentes” freqüentemente iniciam e raramente respondem. Nesta categoria incluem-se crianças autistas e as com características psiquiátricas. Após conhecerem o mais profundamente possível o comportamento de seus filhos, os pais passarão a fazer um autoconhecimento. O método Hanen descreve cinco tipos de pais: 1- O pai/mãe “Salvador(a)” é aquele(a) que quer fazer tudo por seu filho, não dando a ele a oportunidade de desenvolver suas potencialidades e sua personalidade própria. 2- O pai/mãe “Apressado(a)” é aquele(a) que vive correndo, que está sempre atrasado(a), que não presta atenção a seu filho, pois não tem tempo para isto. A criança então passará a se isolar, preferindo brincar com seus brinquedos, podendo futuramente se tornar um ser antisocial. 3- O pai/mãe “Professor(a)” é aquele(a) que nunca brinca com o seu filho, mas que não perde uma só ocasião para ensinar tudo o que sabe. O que este pai/mãe não sabe é que se ele brincasse no mesmo nível da criança, de forma alegre e sem questionamentos, ela aprenderia muito mais. O pai/mãe professor(a) poderá fazer com que seu filho se torne passivo, desmotivado, sem iniciativa nem criatividade. 4- O pai/mãe Cansado(a) é aquele(a) que, como o pai/mãe apressado(a), também nunca tem um momento para brincar com seu filho. Ele provavelmente acabará tendo o mesmo desânimo da mãe, brincando sempre sozinho com seus brinquedos, numa atitude de isolamento social. 5- Por último o pai/mãe AFinado(a) ou Adequado(a) que desce ao nível da criança, que brinca de forma tranqüila, que observa, espera e escuta, que deixa que seu filho lidere a brincadeira orquestrando juntos rumo à sintonia. Esse é o pai/mãe que o programa 78 estimula/ensina os pais a serem. Demonstrando que com o simples fato de “viver” o cotidiano junto com seus filhos, pode ser algo prazeroso e de grande aprendizado para todos. Depois de analisarem seus próprios comportamentos, os pais são esclarecidos sobre o processo de desenvolvimento da linguagem normal e patológico. Juntamente com esse conhecimento também são ensinados os princípios do programa que envolve a conscientização de algumas regras: 1. Os três As (AAA): Autorize sua criança a liderar: isso implica em observar, esperar e « escutar » deu filho dando-lhe espaço na conversa; Adapte para compartilhar o momento e Acrescente linguagem e experiência; 2. A imitação. Fazer o que a criança faz, dizer o que a criança diz, colocando-se no mesmo nível dela. 3. A regra do "Vai e Vem" da comunicação para a estimulação dos turnos no dialogo. Na segunda parte do programa os pais vão aprender como aplicar os princípios Hanen na brincadeira, na música, na arte e com os livros. Todas estas formas de estimulação são estudadas e vivenciadas durante os grupos. Como uma forma de implementar e potencializar o aprendizado dos pais, em 3 momentos do programa (inicio, meio e fim) são realizados registros videográficos breves dos pais em interação livre com seus filhos. Esses vídeos são assistidos durante os grupos servindo como uma possibilidade de auto-avaliação para eles quanto a evolução na interação com seus filhos. No Canadá e nos EUA existem também programas específicos para professores e para pais de crianças autistas ou com Síndrome de Down. Para se tornar um terapeuta Hanen é necessário que o profissional seja bacharel em Fonoaudiologia e que faça um « workshop » de formação. Vários cursos são oferecidos todos os anos nos EUA e Canadá. O diploma dá direito ao treinamento de pais e tem validade de dois anos. A sua revalidação é possível desde que o fonoaudiólogo mantenha contato com a Central Hanen provando que continua praticando o que aprendeu. Alguma atualização também é exigida. O terapeuta Hanen não tem habilitação para formar outros terapeutas Hanen. Apenas o instrutor Hanen pode fazer isso. A formação do instrutor é bem mais longa do que a do terapeuta, e dele são exigidas qualidades mais específicas para que possa ser um bom formador de profissionais. 79 3.4.5 Os dados das análises Os dados obtidos a partir do registro vídeográfico das trocas comunicativas da díade mãe-bebê com síndrome de Möebius foram analisados microanaliticamente a partir das seguintes processos de análise: (1) Primeiro contato com os dados videografados: nesta primeira etapa, observamos os dados de modo não-orientado, isto é, apenas procurando destacar aspectos que marcam a dinâmica das trocas entre a mãe e o bebê com Möebius. Esta etapa contou com a colaboração do olhar analítico da Prof. Ivana Markova durante o estagio doutoral37; (2) Transcrição integral dos registros (segundo-a-segundo): após este primeiro contato com os dados, todos os registros da díade mãe-“bebê Möebius” foram transcritos com o objetivo de identificar eventos de trocas interativas, em que um ou mais elementos comunicativolingüísticos estejam sendo negociados como elementos, cujo significado tem a possibilidade de se tornar partilhado pela díade. Neste sentido, vale a pena chamar a atenção para os aspectos acerca destes elementos partilhados. A análise dos eventos de trocas interativas, identificados nos registros videografados das trocas mãe-bebê referentes a díade, observou os seguintes aspectos: (a) a capacidade do bebê em se engajar numa dinâmica interativa nas trocas dialógicas; (b) as sementes da diferenciação do bebê como posição assumida no diálogo, através da demonstração de indícios da troca de papéis; Os eventos de trocas interativas relacionados a (a) e (b) foram analisados através do uso da técnica de transcrição definida pela pesquisadora principal, juntamente com a orientadora desta tese e as orientadoras estrangeiras as Profs. Salazar-Orvig, Université Paris III – Sorbonne Nouvelle e Prof. Markova, durante estagio doutoral. Tratou-se de uma compilação e escrutínio de diferentes eventos identificados nos registros videográficos, que possibilitem a construção de seqüências dialógicas, que contem a história do uso de formatos específicos, separadamente do seus conteúdos (para a análise do item a) e a história da posição do bebê na troca de papéis (para a análise b). 3.4.6 Os registros em vídeo 37 Estagio PDEE – CAPES/ periodo: abril a setembro/2010 – Université Paris III – Sorbonne Nouvelle 80 Fizemos os registros utilizados nesta investigação com uma câmera filmadora digital. Ao longo da pesquisa, utilizamos a modalidade da câmera fixa, assim fixamos a filmadora em um ponto, ligamos e nos retiramos do local das filmagens, somente retornando ali ao final da atividade. Não custa lembrar quão sensíveis e minuciosos são os participantes de interações sócio-culturais. Assim, há sempre a possibilidade de influências da presença de um pesquisador-participante sobre a configuração dos eventos registrados e ainda neste caso, sendo a pesquisadora, uma terapeuta do centro de reabilitação no qual o bebê realizava as terapias. Por outro lado, há sempre a possibilidade de interferência, no ambiente dos eventos, de um equipamento de registro – a filmadora, por exemplo. Com isso, achamos importante considerar os possíveis efeitos disso, mesmo quando o pesquisador não esteve presente durante todo o evento registrado. Um exemplo, são as interferências dos demais habitantes da casa com seus hábitos de vida diária durante alguns registros. 3.4.7 As seqüências A maior parte das seqüências corresponde a transcrições das condutas linguageiras da díade. Mas o corpus conta igualmente com seqüências puramente descritas dos momentos importantes considerados pelo pesquisador. São quatro seqüências em que não houve trocas relevantes entre a díade, devido ao estado responsivo do bebê no momento do registro. As seqüências escolhidas seguem os seguintes critérios de seleção: 1. Da escolha de trabalhar sobre as condutas linguageiras da díade, melhor dizendo, de poder ver a coordenação entre os participantes; 2. A natureza pragmática: as seqüências que comportam as condutas responsivas da díade; 3. A natureza discursiva: juntamente com o segundo critério, consideramos a escolha das condutas responsivas do bebê face ao discurso materno; 4. A natureza interlocutiva: dentro de uma abordagem do desenvolvimento das condutas linguageiras o critério do modo de produção é determinante, uma vez que as ações estão acorrentadas dentro da seqüencialidade. Essas seqüências podem ser vistas na tabela abaixo e são resultantes da digitalização e transcrição dos 23 vídeos: 81 Tabela 1 - LISTA DOS EXTRATOS Extratos Extrato 01 Extrato 02 Extrato 03 Extrato 04 Extrato 05 Extrato 06 Extrato 07 Extrato 08 Extrato 09 Extrato 10 Extrato 11 Extrato 12 Extrato 13 Extrato 14 Extrato 15 Extrato 16 Extrato 17 Extrato 18 Extrato 19 Extrato 20 Extrato 21 Extrato 22 Extrato 23 Datas 16/08/07 27/08/07 04/09/07 11/09/07 25/09/07 02/10/07 30/10/07 13/11/07 09/12/07 29/12/07 15/01/08 10/02/08 21/02/08 13/03/08 20/03/08 03/04/08 17/04/08 01/05/08 18/05/08 31/05/08 17/06/08 29/06/08 15/07/08 30/07/08 02/08/08 23/08/08 12/09/08 25/09/08 09/10/08 Idade do Bebê 11 semanas 12 semanas 13 semanas 14 semanas 16 semanas 18 semanas 20 semanas 22 semanas 25 semanas 28 semanas 31 semanas 34 semanas 36 semanas 38 semanas 40 semanas 43 semanas 44 semanas 48 semanas 12 meses 12 meses 13 meses 13 meses 14 meses 14 meses 15 meses 15 meses 16 meses 16 meses 17 meses Duração/Timer 0'00''-8'05'' (8 min. 05 seg.) 09'12''-15-02'' (5 min. 50 seg.) 15'02''-22'50'' (7 min. 48 seg.) 22'50''-32'19'' (10 min. 09 seg.) 32'20''-39'41'' (7 min. 21 seg.) 45'43''-59'19'' (14 min. 11 seg.) 59'20''-01:07'59'' (7 min. 41 seg.) 01:08:35~01:22:08 (14 min. 13 seg.) 01:23'17''-01:39'26'' (16 min. 09 seg.) 01:39'27''-01:45'50'' (6 min. 23 seg.) 01:46'07''-01:53'17'' (7 min. 10 seg.) 01:59'33''-02:09'39'' (10 min. 06 seg.) Cirurgia do pezinho 02:09'42''-02:20'01'' (10 min. 59 seg.) BEBÊ DOENTE Cirurgia ortopédica - pé Cirurgia ortopédica - pé 02:20'06''-02:37'55'' (17 min. 49 seg.) 02:37'56''02:55'29'' (18 min. 13 seg.) 02:55'30''-03:13'17'' (18 min. 47 seg.) 03:13'20''-03:31'00'' (18 min. 20 seg.) 03:31'01''-03:48'34'' (17 min. 33 seg.) 03:48'38''-04:06'26'' (19 min. 05 seg.) GENITORA DOENTE 04:06'27''-04:19'46'' (13 min. 19 seg.) 04:23:'49''~04: 33':05''(10 min. 45 seg) 04:33':09''~04:51':06'' (18 min. 03 seg) PESQUISADORA AUSENTE 04:51':09''~05:08':45'' (17 min. 34 seg) 3.4.8 Tipo de estudo Trata-se de um estudo observacional, descritivo, longitudinal, do tipo estudo de caso, visando melhor compreender as trocas interativas da díade. A preferência pelos estudos de caso, no estudo do desenvolvimento, como em outras áreas (psicologia, neuropsicologia, medicina), é enfatizada por vários autores. A opção pelo estudo de caso se faz pertinente uma vez que este tipo de abordagem metodológica tem se apresentado como uma estratégia frutífera para a investigação do processo de mudança e diferenças individuais no desenvolvimento das relações interpessoais. Lyra (2000) o considera a base para a investigação empírica de um processo que apresenta variabilidades individuais em seu desenvolvimento. 82 3.4.9 Considerações Éticas Os aspectos éticos do projeto estão assegurados pelo cumprimento das normas dos Conselhos de Saúde, e sob a responsabilidade do pesquisador principal e conivência do Comitê de Ética da Instituição. Certidão de aprovação do CEP do Hospital Universitario com protocolo CEP/HULW n° 354/10 na folha de Anexos. Os pais foram informadas do projeto, sendo assinado o consentimento pós-informação, caso o Comitê de Ética ache necessário. 3.5 As convenções de transcrição As convenções de transcrição que foram finalmente adotadas nessa tese resultam de alguns compromissos: 1- Compromisso do pesquisador e do orientador da tese; 2- O compromisso entre dois imperativos: o de uma transcrição clara no sentido de legível, e o de uma transcrição fidedigna38. O sistema de transcrição adotado é apresentado em forma de texto linear que respeita e escrita convencional do idioma português. E esse texto também tenta representar visualmente graças aos sinais de convenção estabelecidos, certo numero de traços constitutivos da linguagem falada, neste caso especialmente aos traços relativos a prosódia materna à fala dirigida ao bebê que constitui uma parte importante de analise dos dados do corpus dessa pesquisa. O sistema de transcrição está baseado nos trabalhos iniciais de Goodwin (1981), no qual ele prevê uma transcrição literal do texto verbal, sobre as quais se articulam códigos arbitrários para a identificação dos traços dos signos não verbais. As convenções adotadas nessa tese foram adaptadas e incrementadas de um sistema de convenções desenvolvidos por nós e pela Prof. Lorenza Mondada para as analises do corpus 39 , de nossa dissertação de mestrado em ciências da linguagem na Université Lumière Lyon 2. 38 O maximo que nos foi possível em trazer à mostra os procedimentos linguageiros da diade desse estudo. 39 Corpus extraido de uma interação pai-bebê com sindrome de Moëbius. O sistema de transcrição adotado atendeu, de forma bem estruturante às perspectivas teorico-metodologicas adotadas nesse estudo. Tese de mestrado defendida no “Master en Sciences du Langage”, menção pesquisa, pela Université Lumière Lyon 2, França e orientada pela Profa. Lorenza Mondada. Titulo: LE DÉVELOPPEMENT DE LA COMMUNICATION AU DÉBUT DE LA VIE : Les apports des perspectives dynamiques et socioculturelles aux études de l’interaction. Lyon, 2006. 138 paginas. 83 Alguns dados gestuais obtidos no corpus dessa tese foram acrescentados ao sistema de convenção e com isso, foi criado um sistema especifico de convenção para os gestos da díade de maneira que pudesse prever as trajetórias, a temporalidade, assim como sua sincronização com a fala materna e as vocalizações do bebê. Os extratos analisados nesse estudo, são constituídos de uma transcrição da fala (numa linha enumerada marcando um turno) e também descrições posturo-mimo-gestuais (na segunda linha abaixo e continuando em outras linhas, porém delimitados à linha precedente, referindo-se às falas, graças, às marcas visuais das convenções criadas, sem enumeração, pois está fazendo parte do turno, buscando marcar bem a multimodalidade dos enunciados). Ver um breve exemplo abaixo: M : Mãe R (M) indicação do olhar do bebê para a mãe Delimitação do gesto: * * indicação do inicio/fim dos gestos/ações da mãe ≠ ≠ indicação do inicio/fim dos gesto/ações do bebê O sublinhado marca todo tipo de vocalização do bebê (choro, riso, grito, balbucio…) Descrição dos gestos: [] para os beijos [] para os cheirinhos Transcrição de um turno de fala: 15 M ≠&*ta reclamando de que minha vida*/*hein mãezinha/hein °mãezinha°\[]/[]/≠[]/*[]*/*hhh* ≠[]/*≠é: mainha ta mandando um beijo/[]≠/*hum:: ta olhando pra mamãe é coisa linda*/*≠[]/* é mamãe≠/& *passa a mão E no rosto do bebê* *mão E no queixo do bebê->* *sorri* *da um cheiro na testa do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* 16 B ≠>R(M)-> ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ Sistemas de transcrição como este estão sempre em construção no laboratório ICAR – Lyon 2 por Mondada (2003, 2004, 2006, 2008). 84 As convenções criadas para este estudo foram tentativas, como dito anteriormente, de fidelizar, tornando pertinentes as condutas dos participantes. Desenvolvemos assim, convenções que dessem conta o mais precisamente possível das ações da díade. Um exemplo interessante é a convenção [] que marca uma prática comum e particular da região nordeste do Brasil que é a de sentir o outro dando um cheiro. Esse “cheiro” (ação) é freqüente nas relações mais intimas (pessoas muito próximas e familiares) e sobretudo nas interações adulto-criança. 3.6 Algumas observações: Durante as sessões de registro procurou-se deixar um tempo para que, sobretudo a mãe pudesse estar familiarizada com a chegada da pesquisadora e a arrumação da câmera que ficava sempre em um ponto fixo. Assim que a mãe e a pesquisadora concordavam com o inicio, a câmera era ligada e a pesquisadora ausentava-se retornando apenas ao final do tempo dos registros (aproximadamente ou igual a 15 minutos). O bebê não parecia estar incomodado com a presença da câmera nos registros feitos, quando ele já tinha o potencial de perceber o ambiente por inteiro. Uma característica importante a ser remarcada é o sotaque da mãe reconhecidamente pernambucano, sobretudo quando sua fala é dirigida ao bebê. Porém, nas transcrições feitas de sua fala não marcamos foneticamente as informações referentes ao sotaque como se faria numa transcrição fonética clássica, mas vale ressaltar que marcamos as suas variações prosódicas com algumas convenções. Para facilitar o processo de transcrição, fazer a marcação dos gestos, seguir uma fidelização possível e deixar à vista a incidência destes, primeiro realizava-se a transcrição das falas da mãe (ouvindo apenas o áudio) criando a enumeração dos turnos e depois se repassava a seqüência de vídeo (1° visualização), fazendo então a marcação das condutas posturo-mimo-gestuais da mãe, correspondentes às passagens orais e uma ultima repetição do vídeo (2° visualização), para marcar as condutas posturo-mimo-gestuais do bebê correspondentes as condutas da mãe e dele mesmo. Quando necessário repassava-se ainda uma terceira vez o vídeo. As transcrições completas dos vídeos digitalizados compreendendo todo o corpus assim como o sistema de convenção adotado estão arquivados no LAFE – Laboratorio de aquisição da fala e da escrita que é vinculado ao PROLING – Programa de Pos-Graduação em 85 Linguistica da Universidade Federal da Paraiba - UFPB. Eles podem ser consultados sob demanda. Ressaltamos que as convenções que empregamos são também utilizadas por outros autores com certas semelhanças, pois não existe um código único concebido pela maioria dos pesquisadores. Tentamos com isso apreender os detalhes sobre os quais os participantes orientam suas ações, para darmos conta passo a passo da organização emergente de suas condutas e reconstituir uma maneira em que esses processos acontecem no tempo, estando sensíveis à coordenação das falas e dos movimentos dos participantes, como preconiza Mondada (2008). Por ultimo, no inicio de cada seqüência, foi descrito o quadro situacional quanto: ao lugar (ambiente), a proxemia (a distancia e as posições em que a díade se encontrava), a temporalidade (duração do registro) e a idade do bebê. 86 Capítulo 4 – Uma análise dialógica da relação mãe-bebê Abordar fenômenos relacionais observáveis nas condutas de uma díade adulto-bebê, para uma análise que integre interrelações entre linguagem, gesto e interação, implica em delimitar o domínio de atuação teórica do pesquisador e as ferramentas do seu fazer científico. Esses aspectos, por sua vez, estão envolvidos, explícita ou implicitamente, com concepções sobre os modos como fazemos ciência e fornecemos explicações científicas; como concatenamos as relações dos homens com outros homens e com o meio; como descrevemos o linguajar humano. Considerando-se que o objetivo desta tese consiste em investigar como se desenvolvem as trocas interativas entre mãe e um bebê que não pode expressar pela sua face, buscamos identificar através de análises microgenéticas de tais atividades, padrões de coconstrução lingüísticos que parecem facilitar o estabelecimento e manutenção das trocas interativas do bebê com seu parceiro social, como também, padrões que dificultam o estabelecimento e manutenção das interações. Parecem existir padrões de co-construção que levam a díade à intercompreensão. Um dos principais pontos foi a verificação de padrões de orquestrações da díade no estabelecimento de acordos colaborativos através de coordenações, “afinamentos” 40 que mostram a competência comunicativo- lingüística de um bebê com tal privação neuromotora. Esses resultados podem oferecer uma compreensão mais detalhada de como um bebê portador de uma deficiência facial congênita atua numa troca interativa com o adulto, através de padrões de co-construção a partir de ferramentas possíveis. Neste sentido, tais resultados podem contribuir para a elaboração de propostas de intervenção que promovam o desenvolvimento das habilidades de interação em crianças com diagnóstico de doenças congênitas, com base em padrões de co-construção que facilitem a troca interativa destas crianças nos seus primeiros contatos sociais. A análise obedeceu a três etapas e levou-se em consideração a pluridisciplinaridade existente nas correntes teórico - metodológicas quanto ao objeto estudado – a regulação interacional e lingüística, visando dar conta da “multicanalidade” (multimodalidade) existente nas trocas entre o adulto e o bebê: 40 Termo que passamos a adotar para definir a regulação interpessoal e intersubjetiva existentes nas condutas interativo lingüísticas na díade adulto-bebê. 87 Etapa A. Nesta etapa a análise voltou-se para o conjunto de ações tanto da mãe como do bebê. Etapa B. Nesta outra etapa, por sua vez, a análise focalizou as posições assumidas pela mãe que se evidenciam na linguagem oral usada por ela (ou na fala da mãe) diante da responsividade do bebê. Etapa C: Esta etapa voltou-se para a análise teórica dos achados encontrados nas etapas anteriores e estudados dentro do diálogo co-construído pela díade, através do pensamento e contribuições de Bakhtin (1979; 1986), hoje tão conhecido pela sua proposta acerca do dialogismo. Este autor influencia os estudos das Profª Anne Salazar-Orvig e Ivana Markova41. Vamos nos concentrar sobre o desenvolvimento das condutas linguageiras e mais especificamente das condutas dialógicas entre a mãe e o bebê. O foco das análises será sobre o desenvolvimento dentro da sua continuidade, numa linha continua desse desenrolar constitutivo e comunicativo, a inserção dialógica pelo bebê e as diferentes vozes desta interação, dentro do acompanhamento longitudinal da díade. O intuito torna-se o de descrever, sublinhar e mostrar as modalidades de inscrição do bebê no diálogo e sem ousar fazer uma tipologia, mas sim uma demonstração da integração dialógica em todo esse processo de orquestração de uma díade mãe-bebê deficiente. Nas trocas nas quais participam a díade desse estudo, buscamos apresentar a participação do bebê no que diz respeito à sua responsividade para identificar seu comportamento enquanto “eu” diferenciado do outro, como por exemplo, marcar o papel de iniciador também de condutas dialógicas. Os movimentos dialógicos do bebê são caracterizados em função de sua relação de interdependência, de apropriação, de coordenação ao contexto. Nessa análise procuramos mostrar a habilidade de integração do bebê aos jogos dialógicos e, sobretudo a parte das suas iniciativas comunicativas que aumentam com a idade. Essa análise qualitativa permite demonstrar o enriquecimento dos seus posicionamentos. Um bebê com privações sensoriomotoras que aparentemente o limitaria nas suas condutas linguageiras. Todavia a evolução das condutas dialógicas não apresentam um perfil linear. É necessário considerar além do desenvolvimento lingüístico do bebê, os fatores ligados ao desenvolvimento neuro-senso-perceptivo-motor e ainda os fatores determinantes como a 41 Co-orientadoras neste estudo durante estágio doutoral – PDEE, CAPES no período de abril a setembro de 2010. 88 familiaridade da atividade, os tipos de referentes, os “mundos” e o engajamento entre essa díade. Assim, podemos interrogar sobre os efeitos dessa heterogeneidade desses movimentos: de tensão, conflito, acordo e desacordo e um novo equilíbrio que vai se instaurar entre a continuidade e a descontinuidade, a manutenção da interlocução filiada à capacidade do bebê de produzir as variações através das capacidades dialógicas que ele vai adquirindo sobre um determinado tema. Em suma, nos interrogarmos sobre os efeitos da heterogeneidade nas experiências lingüísticas, no desenvolvimento e nas competências dialógicas do bebê. O bebê com síndrome de Moebius apresenta toda uma dificuldade de interação social desde o começo da vida devido às marcas biológicas da própria síndrome. Essas características já “corporalizadas”, ou seja, externas, afetam fortemente o jogo interativo, o vai e vem da comunicação, o dar e o receber. Esse desequilíbrio trazido do “exterior” pode provocar certas privações de ordem dos movimentos dialógicos e trazem com isso certa precariedade das interações comunicativas, por ambas as partes (adulto e bebê), que podem se organizar dentro do registro do diálogo. Porém, conseguiremos ver através das análises que notadamente o bebê mesmo com sua dificuldade aparente e também da mãe de se afinarem no estabelecimento da atenção compartilhada desde o começo, podem estabelecer e seguir uma sincronização de movimentos dialógicos. Poderemos ver como eles se “impregnam” dentro da atenção compartilhada, dos modelos co-construídos e com isso eles seguem desenvolvendo todo um conjunto retrospectivo e prospectivo de movimentos dialógicos, a dinâmica dialógica particular da díade. O que pretendemos mostrar é que os bebês de uma maneira geral apresentam uma permeabilidade às trocas que se desenrolam diante deles. Mesmo que para certas crianças com distúrbios em seu desenvolvimento, se apresentem “hostis” externamente falando, seu comportamento espontâneo, sua gestualidade pode ser “inferida” e “refletida” pela presença “significante” do outro. Eles dispõem, portanto, de uma sensibilidade dialógica antes mesmo que o espaço dialógico real tome lugar e seja assim estabelecido. Exemplo do que podemos definir segundo Danon-Boileau (2010) o que ele chama de “comportamento dialógico restrito”. Com relação à instabilidade do quadro participativo, podemos marcar eventos/situações que interferiram no engajamento da díade para compartilhar momentos de atenção conjunta como: 89 - idade do bebê: nas primeiras filmagens observa-se a dificuldade do bebê em partilhar a atenção devido ao seu próprio processo fisiológico de sono-vigília. - tratamento clínico e de reeducação: as primeiras filmagens foram realizadas no centro de reabilitação Menina dos Olhos da FAV42 4.1 Interação adulto – bebê: uma análise dialógica. Ainda incapaz de se expressar verbalmente ao nascer, o recém-nascido já manifesta um repertório de respostas que fazem parte do seu desenvolvimento ontogenético (expressar emoções, sincronizar seus movimentos aos de outro). Tais respostas – responsividade – constituem ferramentas determinantes na evolução da comunicação precoce. (KARMILOFFSMITH, 1993) Conforme apresentamos nos capítulos em que tratamos as concepções teóricas que embasam esta tese, as motivações intersubjetivas humanas reguladas pelos mecanismos sistêmicos de um “cérebro emocional” (TREVARTHEN, 1999) em desenvolvimento, aparecem desde o estágio embrionário subsistindo de forma importante no desenvolvimento pós útero e durante toda a infância. Graças aos cuidados parentais específicos, esses mesmos sistemas servem de reguladores para a integração da consciência e da experiência com o mundo exterior: para a coordenação motora, o desenvolvimento cognitivo e as competências socioemocionais, enfim para a aprendizagem cultural. Dentro da concepção de intersubjetividade no desenvolvimento interpessoal trataremos de evidenciar as marcas da concepção dialógica dentro da interação adulto-bebê. Na concepção do dialogismo, em todo diálogo os enunciados são determinados tanto pela alternância e seqüencialidade dos turnos da fala dos interlocutores (diálogo externo), quanto pela sua orientação dialógica (diálogo interno). Essa orientação dialógica advém fundamentalmente do fato que os enunciados são sempre respostas a outros enunciados (Bakhtin, 1979; 1984). Em todo enunciado percebemos a presença de ecos, de ressonância e de harmônicos dos outros discursos. O enunciado dialógico se estrutura em torno de um microdiálogo (uma “dialogização” interior) resultado da interação entre dois enunciados. (BRESS, 2002) 42 FAV – Fundação Altino Ventura. Recife - PE 90 Os diálogos infantis são igualmente atravessados por esse dialogismo. Não escapa disso a comunicação na interação adulto e bebê desde o começo da vida. É nesse circuito de comunicação que o bebê se apropria de ferramentas lingüísticas que vão constituir sua língua. Em efeito “a criança que aprende a falar não vai da língua à fala, mas do discurso de outro ao discurso de si.” (FRANÇOIS, 2005, p. 36) O desenvolvimento do bebê humano é constituído de um processo de interiorização dentro de um quadro de interações sociais e de trocas com o outro. Vygotski (1981), a partir dessa observação desenvolveu uma lei geral de desenvolvimento cultural segundo aquela a aquisição das funções psíquicas interiores aparece sob dois planos: no nível social e no nível individual. E se manifesta numa fase interpsíquica a uma fase intrapsíquica. Este desenvolvimento repousa sob a influência de ferramentas socioculturais, mais particularmente de signos lingüísticos. Graças a essa mediação semiótica os interlocutores participam conjuntamente à construção do sentido e do discurso. Por exemplo, Bruner (1983) mostrou que um processo de “tutela” ganha espaço numa interação adulto-criança (expert-aprendiz, terapeuta-paciente...) no qual o tutor orienta seu discurso em função das necessidades do outro a fim de ajudá-lo a realizar uma atividade/ação. Esse processo de colaboração é então mediada pela língua no/e através do diálogo. As interações adulto-bebê não fogem dessas concepções e isso permite observarmos uma orientação dialógica entre esses interlocutores específicos. Em efeito, nessas situações, podemos constatar então uma “accordage”(afinação), uma sintonização dos “discursos” entre si. Dentro dessa orquestração, mostraremos nessa tese o desenvolvimento e o desenrolar destes harmônicos, a afinação, a orientação dialógica que toma forma de um processo dinâmico em constante mudança entre um adulto e um bebê no desenvolvimento de suas relações dialógicas. Trataremos inicialmente os diferentes movimentos entre eles que indicam a passagem de um discurso do outro para um discurso próprio, subjetivo, do “eu”. Como por exemplo, a apropriação pelo bebê de sua subjetividade, diferenciação. Em seguida, mostraremos os espaços tomados por cada um na co-construção, o trabalho de colaboração mutua no processo interativo/constitutivo. Essas análises nos permitirão observar as marcas dialógicas presentes no discurso da mãe que aparecem por vezes de forma mais ou menos explícita no comportamento responsivo do bebê, como por exemplo, as reformulações diretas do discurso e das ações da mãe para o 91 bebê e vice-versa. Na medida em que eles se inserem dentro dos enunciados que tem por vezes funções extremamente específicas como: apresentação de um modelo, simplificação, reparação. Modelos aproximados como os descritos por Bruner (1983) essas marcas aparecem como “mediadores” (marcadores de mediação) permitindo ao adulto ajustar-se adotando um comportamento colaborativo para o interlocutor bebê nos diversos níveis lingüístico e cognitivo, ou seja, uma colaboração linguageira, a fim de entrarem juntos coordenando seus “discursos”. Esses “marcadores de mediação” são dialógicos porque eles são às vezes o “reflexo”43 do discurso do outro e o reflexo da compreensão responsiva ativa do locutor. Por exemplo, nesta tese, o bebê, mesmo com uma alteração neuromotora congênita, pode à sua maneira, dentro dessa coordenação/afinação no desenrolar dessas dinâmicas constitutivas de significados, responder, tomando uma atitude de compreensão responsiva diante também das adequações (marcadores de mediação) do seu interlocutor adulto. Veremos como através desses mediadores, dessas dinâmicas comunicativas através de uma co(orden)ação e mais especificamente, da afinação44, o bebê pode se apropriar de formas e estruturas linguageiras e aparentemente para ele essas marcas constituem índices de interiorização, de subjetivação ao se refletir no outro. 4.2 O engajamento dialógico: o conjunto de ações tanto da mãe como do bebê e o desenvolvimento das condutas linguageiras. Essas tentativas de orientação conjunta poderiam ser chamadas de encontros ou engajamentos em face a face. Uma atenção mutua está envolvida, da mesma forma, que uma aproximação física que forma um nicho ecológico no interior do qual os participantes se dirigem um ao outro e se redirigem aqueles que estão presentes numa situação sem participar oficialmente do encontro. (GOFFMAN, 1988, p. 147, tradução nossa). Quando nos interessamos sobre desenvolvimento dialógico na primeira infância, constatamos que no fim do primeiro ano, a criança mostra uma incontestável competência comunicativa. O seu início na linguagem verbal parece caracterizar-se, ao contrário, por certa dificuldade de entrar no quadro dialógico, no ambiente, na competência, nas regras dialógicas, regra de uso dialógico. Mas, se paramos e pensamos no que quer dizer, entrar num meio dialógico? Não se trata apenas de respeitar a alternância de turnos de fala ou da 43 “reflexividade” (Bakthin) termo que passamos a adotar nesta tese visando nomear este tipo de movimentação dialógica interdiscursiva particular entre um adulto e um bebê. 92 44 possibilidade de interagir com enunciados verbais (HALLIDAY, 1975) ou assumir papéis socialmente definidos como, responder, questionar, mas sim, se trata da capacidade de participar da construção de um espaço discursivo comum (SALAZAR-ORVIG, 2002). Essa capacidade de construir um espaço discursivo mostra a possibilidade da criança de se engajar na atividade comum com o adulto e sobretudo compartilhar um objeto de atenção conjunta. Como vimos na parte teórica, a capacidade de acompanhar com o olhar é relativamente precoce, isso não significa, para certos autores, que o bebê está numa relação de atenção compartilhada com o adulto (BRUNER, 1976; TOMASELLO, 2004; TREVARTHEN, 1999). Estes estudos mostram que apenas com 9-10 meses o bebê parece ter essa competência, de estabelecer trocas de olhares. Esses autores também evidenciam que ha uma relação entre a existência de um padrão de desenvolvimento, segundo o qual, o engajamento conjunto da atenção precede e constitui um pré-requisito para a aparição de gestos comunicativos. Há ainda a capacidade de seguir e controlar a atenção do outro e aprender por imitação, capacidade esta que ao seu turno prepara para o engajamento referencial. A tomada em evidencia dessa seqüencialidade permite então concluirmos e insistir sobre o fato de que as competências comunicativas como marcas dialógicas acontecem de maneira progressiva. Podemos considerar também no estudo do diálogo infantil: a presença, a disponibilidade, a atenção, a concentração (sobre um objeto comum), como também os índices de engajamento. É também importante considerar a maneira como a criança participa desse diálogo. Salazar-Orvig (1999) citando Deleau (1990) reforça que a criança aprende progressivamente a identificar, ou seja, se inscrever progressivamente em três tipos de contextos complementares: o Contexto Situacional, o Contexto Interativo e o Contexto Interdiscursivo. O que quer dizer : o adulto e a criança se engajam numa atividade e eles estão concentrados não somente ao que se faz mas também ao que se diz. Os estudos sobre as primeiras trocas vocais (PAPOUSEK, 1996; TREVARTHEN, 2003) sugerem que elas se constituem em torno da atenção que os dois membros da díade dão ao material sonoro. Veremos nos exemplos no corpus, que durante uma mesma sequência de interação, a criança apresenta momentos de continuidade, com os enunciados do adulto, e outros em que, ao contrário, ela o deixa sem resposta; e inversamente, as sequências podem se caracterizar 93 por uma forte descontinuidade, mesmo o bebê com a idade mais avançada. Para Salazar-Orvig (1999), a continuidade não parece depender unicamente da maturidade da criança, mas igualmente a fatores como: a familiaridade da situação, a dimensão emotiva e interpessoal, ou ainda o tipo de referente de mundo que está sendo evocado. Outros autores como Deleau (1990), Foster (1986), Bruner (1983), Salazar-Orvig (2002) citam que conforme os formatos das trocas ou o conhecimento dos scripts vai valorizar a continuidade temática e, de uma maneira geral, a implicação dialógica da criança. Mesmo se o diálogo tem um jogo interpessoal particular, a criança tem normalmente tendência a fazer durar e a alimentar o desenvolvimento de um tema. Especificamente, Bruner (1983) remarca que a tonalidade afetiva e lúdica dos formatos facilita a apreensão pelos bebês dos papéis interativos. Ainda Ninio & Snow (1988) destacam que as crianças participam mais ativamente ao diálogo, se ele está mediado pela presença de objetos. Então constatamos que a continuidade não pode ser considerada como uma propriedade abstrata do corpus independente das condições da construção do diálogo. Concordando com Goffman (1974; 1988; 1991), mais precisamente, a continuidade seria uma relação ao menos com o modo de engajamento da criança e do adulto. E isso se dá de duas maneiras complementares: O modo de engajamento influencia as produções verbais de um e de outro e a maneira como a continuidade é construída. Ao mesmo tempo, o julgamento de continuidade que pode dar um participante ou um observador, se dá sobre a maneira como os temas são compartilhados. Para Salazar-Orvig (2002) a literatura mostra que os diálogos cotidianos podem se caracterizar por uma dominância de descontinuidade. Ela cita, Vincent (1995) que a partir dos registros efetuados em atividade doméstica, observou que a estrutura da troca não é tão linear como se pensa. O que se vê é o contrário. Essa autora chama de interações não estritamente conversacionais, que se caracterizam pela importância de intervenções não seguidas de respostas, de intervenções verbais sem destinatário ou ainda de longo silêncio entre as intervenções, sem que este modo de funcionamento produza qualquer desconforto entre os interlocutores. Ainda Salazar-Orvig observa que isso é particularmente pertinente quando se trabalha com o diálogo da criança pequena e sobre tudo quando consideramos os registros em ambiente familiar. Por isso observa-se que a criança está nessas situações, constantemente confrontada, com momentos nos quais a fala é totalmente descontinua e que há momentos em que se cristalizam as trocas em torno de um mesmo tema. 94 Ela aponta ainda que diferentes fatores vêm efetivamente problematizar o curso destes diálogos familiares. Os fatores seriam os seguintes: 1- A instabilidade dos quadros participativos; 2- A sensibilidade à situação; 3- O tipo da atividade. Vejamos agora a partir do corpus até que ponto as situações dialógicas em que o bebê se encontra presente, não corresponde necessariamente aos momentos de pleno engajamento, momentos nos quais, para retomar a formulação goffmaniana, os interlocutores são totalmente absorvidos pelo encontro. (GOFFMAN, 1991) Vamos buscar agora mostrar um exemplo geral dos momentos de continuidade e descontinuidade. No próximo capítulo esses movimentos terão análises mais refinadas. 4.2.1 As relações de continuidade Vemos a seguir o extrato do primeiro registro videográfico da díade. Extrato 01 Data: 16/08/07 Idade do bebê: 11 semanas Tempo: 0:00~8:05 Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face (bebê está deitado numa cadeirinha e a mãe sentada ao seu lado) 01 M ≠*hum []*/≠ *se aproxima do bebê e lhe da um cheiro* 02 B ≠(chora)R(M)≠--> 03 M (1s) ≠*hein mãezinha*≠/ (3s) ≠*teteu:: ≠/≠*[]* ≠ *passa a mão D. no rosto do bebê* *idem* *solta beijo e busca o olhar do bebê*> 04 B ≠R(E)(chora)≠ 05 M (3s)≠*tete::u: (1s)* [] *≠ *segura-lhe a mão E aproxima o seu rosto do bebê buscando seu olhar*--->*<((beijos))>* 06 B ≠R(E)(vocaliza) ≠ ---> 07 M ≠*teteu* *cadê teTEU*≠/≠*cadê mãezinha*≠/*≠(1s)cadê mãezinha*≠/ ≠*[]* *(1s)ISSO:://* ≠ *balança a mão do bebê, sorri procura o contato visual do bebê**idem* *solta a mão do bebê, faz carinho com esta mão na bochecha E, da um cheiro na bochecha direita do bebê* *solta beijo, procura o olhar do bebê,vibra lábios* *((sorri))* 08 B ≠R(E) ≠ ≠R(M)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(M) ≠ 09 M ≠*vem ver mamãe aqui do lado/ *tete:u/Ô mainha≠//≠tetEU*/*(1s) oh mainha aqui*\°qui°&≠ ≠R(M)(chora) ≠ ≠R(D)(chora) ≠ tete:u/ISSO 95 *inclina-se pro lado direito do bebê saindo do seu campo visual* *volta pra frente do bebê* 10 B ≠R(D)(vocaliza) ≠ ≠R(A)(vocaliza)--> Um fato importante a observar é que mãe e bebê procuram o olhar mutuo. A convenção de transcrição R(M) delimitando o olhar do bebê para sua mãe, evidencia esse fato. Desde o inicio (01) a mãe busca o olhar do seu bebê e obtém (02). Ela segue então com essa busca (03-09) e a sequência segue com o olhar responsivo do bebê (04 e 08). As vocalizações do bebê (marcadas pela convenção de transcrição *hein mãezinha*) sublinhado no enunciado da mãe, também servem para sustentar o jogo como uma resposta deste para sua mãe. A mãe por sua vez sempre que obtém o olhar do bebê procura mantê-lo chamando atenção para sua face soltando beijos (estalar lábios), exagerando a prosódia e se posicionando para facilitar o olhar dele (01-07). Esses marcadores de continuidade vocais e cinéticos garantem a construção de um jogo linguageiro. O olhar compartilhado parece ser o fundo discursivo comum dessa sequência. A noção de “Grounding” defendida por Clark (1996) que Salazar-Orvig (2008) empresta mostra que as relações de complementaridade e de continuidade referencial participam dessa construção de um fundo discursivo comum. Esses movimentos de explicitação materna em que utiliza: *(1s)ISSO::/* ≠ ancoram os seus movimentos e enunciados precedentes enfatizando sua intenção e a resposta esperada do bebê. Encontramos neste exemplo, um quadro do dialogismo constitutivo, não apenas baseado no verbal. Sobre isso Bakthin argumenta: Mas qualquer afirmação, por mais que examinemos de perto, tendo em conta as condições concretas da comunicação oral, contém as palavras dos outros ocultas ou semi-ocultas, com um grau de alteridade mais ou menos forte. O enunciado é cruzado, ao que parece, por meio da ressonância distante e quase inaudível da alternância dos falantes, e pelos harmônicos dialógicos, pelas fronteiras atenuadas ao extremo entre os enunciados, e totalmente permeáveis à expressão do autor. (BAKTHIN, 1984, p. 301, tradução nossa) Podemos ver nessa sequencia como o conjunto de condutas linguageiras da díade vai se preenchendo desses “harmônicos” numa afinação em que se vê a continuidade acontecendo 96 a partir do que o outro locutor disse/fez, e que cada um constrói seu enunciado permitindo o avanço do dialogo. Vemos as marcas do dialogismo através da orquestração entre os enunciados maternos e os enunciados do bebê. Enunciados que são caracterizados pelas suas respostas reativas “audíveis” e permeáveis às suas formas de expressão. Enunciados cheios de harmônicos verbais, vocais e cinéticos. 4.2.2 Da continuidade ao deslocamento Vejamos na sequência desse extrato a continuação desses ajustes que levam a díade através de retomadas ao deslocamento gerando novas intercompreensões: 09 M ≠*vem ver mamãe aqui do lado/ *tete:u/Ô tete:u/ISSO mainha≠//≠tetEU*/*(1s) oh mainha aqui*\°qui°&≠ *inclina-se pro lado direito do bebê saindo do seu campo visual* *volta pra frente do bebê* 10 B ≠R(D)(vocaliza) ≠ ≠R(A)(vocaliza)--> 11 M &≠*é:://pepeta °tome tome°\(1) °tome pepeta tome°*≠ *coloca a chupeta na boca do bebê* 12 B ≠(vocaliza e chupa a chupeta) R(D)> ≠ 13 M ≠*(9s)cadê tete:u//[] cadê tete:u/cadê tete:u/tete:u:: ô mate:us/matEUS/≠mate::us/olha pra mamãe aqui/matEUS/mate:us/ ≠*[]*/mate:us/ISSO/olha pra mainha mainha ta aqui oh≠/≠aqui mamãe*/*ISSO::/ ≠*& *<inclina-se para a E do campo visual do bebê ao mesmo tempo que segura sua mão E-->* *beija a mão E do bebê*> *volta pra frente do bebê* 14 B ≠R(D)-> ≠ ≠vocaliza≠ ≠R(F) ≠ ≠R(E)vocaliza-> ≠ 15 M ≠&*ta reclamando de que minha vida*/*hein mãezinha/hein °mãezinha°\[]/[]/≠[]/*[]*/*hhh* ≠[]/*≠é: mainha ta mandando um beijo/[]≠/*hum:: ta olhando pra mamãe é coisa linda*/*≠[]/* é mamãe≠/& *passa a mão E no rosto do bebê* *mão E no queixo do bebê->* *sorri* *da um cheiro na testa do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* 16 B ≠>R(M)-> ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ 97 A mãe ao obter o olhar mais prolongado do bebê (15-16) modifica sua postura saindo do seu campo visual e também anuncia isso utilizando a fala prosódica, além dos toques e beijos que reforçam a intenção de que continuem a compartilhar o olhar. O bebê ao responder com vocalizações (09 e 11) provoca na mãe uma ação interpretativa: a de questionar sobre a chupeta e a oferecer-lhe em seguida (11). Ao continuar vocalizando e o aceitar a chupeta (12) comunicando a mãe uma possível satisfação faz com que esta retome no seu turno a busca pelo olhar compartilhado (13). Vemos (15 e 16) que o espaço discursivo comum foi não somente retomado, mas reformulado e reelaborado pela mãe. O que foi ancorado no espaço discursivo comum foi compreendido de forma ativa e responsiva pelo bebê. Observa Bakthin: “A compreensão é uma forma de diálogo, ela é para a enunciação o que a réplica é para a réplica do diálogo. Compreender é opor à fala do locutor uma contra-fala.” (BAKTHIN, 1977, p. 146, tradução nossa) A compreensão responsiva ativa do bebê que aparece em suas ações se traduz numa nova orientação da mãe que não estava contida nos seus enunciados anteriores (a proposição da chupeta) e que também não era prevista por ela, mas que é o resultado de uma resposta produzida pelo seu bebê. É neste deslocamento que se desenha certa tensão entre os “fazeres” (condutas). Que é fruto, portanto, da co-construção de um espaço discursivo comum em que emerge certa divergência entre os interlocutores. Vemos claramente o que é a noção de deslocamento defendida por Bakthin45 como aponta François (1988): “ Na verdade, a unidade concreta é a que é dada pela compreensão responsiva, não só a reposição ou reformulação, mas o deslocamento produzido por uma resposta que não é uma reposição”. (FRANÇOIS, 2005, p. 137, originalmente em 1989, tradução nossa) Assim quando de considera as diversas relações que existem entre as replicas ou que consideremos um replica juntamente com o que a precede, estamos interessados não apenas ao corpo verbal do dialogo mas a um espectro maior dos movimentos de ajustes mútuos, nesse caso incluindo toda a multicanalidade (multimodalidade) com que mãe e bebê se expressam. 45 Bakthin foi sem duvida o primeiro a dar um estatuto teorico ao discurso reportado. 98 4.2.3 As relações de descontinuidade Na sequencia do extrato vemos os movimentos que levam ao fechamento e conclusão do jogo linguageiro que foi co-construído: 29 M ≠*cadê mamãe/olha pra qui oh/pra mamãe/(1s) hum/(1s) tu ta olhando pro neGOcio azul é mainha*/*hum/aqui é/*(5s) hein meu amor*/*(3s) tome pepeta va*/(1s) assim/(7s) que não é/(1s)hhh que não né/pssss *≠NA:O mainha*≠/nã:o≠ mãezin:ha/psssss/pssss/*≠ *(fica do lado D do bebê)(olha e aponta com a mão direita)* *fica do E do bebê e aponta* *faz carinho e bota a chupeta na mão E do bebê* *da a chupeta ao bebê* *(ajeita o bebê)(faz carinho e da beijo na bochecha)* 30 B ≠-> (vocaliza)≠ ≠R(A) ≠R(E)->≠ 31 M ≠*psssssssss/[]/*(1s)é:::*/(5s)nã:o mainha/nã:o/olhe a pepeta aqui pon:to °ponto ponto ponto ponto assim oh°/*pon:to/≠ (5s)hhh/*tu ta ¤¤¤ mamãe≠/* ≠hein meu amor*/hum/* (5s) a ¤¤¤/*≠ *(segura a mão do bebê e aproxima seu rosto) (solta beijo)* *se afasta e da a chupeta ao bebê* *afasta-se**ajeita o bebê* *olha pra cima e ajeita o bebê* 32 B ≠->R(E) (vocaliza)≠ ≠R(D) ≠R(A) ≠ Quando os olhares compartilhados vão se reduzindo e culminando com o não engajamento do bebê após as reposições e reformulações (29 e 31) a sequência termina. Não havendo uma resposta do bebê esperada a mãe passa a acalentá-lo (31). O bebê que vocaliza, chora (30 e 32) tem assim a compreensão da mãe. Mesmo que as vocalizações do bebê tenham sido mais intensas, foi pelo olhar que a díade começou a construir o fundo discursivo comum. Podemos então inferir sobre o que os levou à ruptura. Vemos ainda que certas respostas inesperadas podem em alguns momentos levar os interlocutores a um deslocamento, retomando as expectativas ou neste caso levar ao fim da sequencia. Podemos nos interrogar sobre o que cria esse momento de ruptura como resultado de um movimento inesperado e constatar que o espaço discursivo é uma fonte heterogênea de expectativas. Pois ele é o resultado de tensões entre as significações e expectativas préconstruídas e/ou das expectativas instauradas no hic et nuc (aqui e agora) de um dialogo. (SALAZAR-ORVIG, 1999) Ainda Salazar-Orvig (2002) lembra que os diálogos cotidianos podem se caracterizar pela dominância de descontinuidade. Diferentes fatores vem causar problemas ao fluxo nos 99 diálogos familiares: a labilidade do quadro participativo, a sensibilidade da situação e o tipo de atividade. Acrescentamos ainda aos fatores citados a inexpressividade mímica facial do bebê trazendo uma dificuldade para a sincronia nas trocas da díade. Nos exemplos acima vimos que, diante de tal diversidade de situações as quais se confrontam, os bebês podem manifestar também diversos graus de engajamento. Percebemos em algum momento que ele tem uma presença bem ativa e também, a mãe pode ter mais momentos de hesitação, também numa presença não tão ativa, o que na literatura se chama de co-presenca. E isso não implica necessariamente o engajamento deles em um dialogo. Concordamos com Goffman (1973), que os participantes de uma situação social, podendo ser dois vários, se encontrem em presença mutua e imediata, eles se garantem e se ratificam mutuamente como interlocutores, participando da mesma atividade ou tendo o mesmo objeto de atenção conjunta. O bebê se encontra de maneira privilegiada na situação de participante ratificado e garantido, ele pode igualmente, em certos casos, ser um participante lateral. Ao mesmo tempo, os diálogos oscilam entre os momentos de forte engajamento, de verdadeira participação dos participantes pelo encontro, e momentos em que, ao contrario, toma lugar certo distanciamento, desapego. (GOFFMAN, 1973). Momentos de distanciamento ou também chamados de auto-regulatórios. Todo dialogo está sujeito a uma dupla tensão, aquela da presença ou ausência e aquela das modalidades mesmo de implicação dos interlocutores. (SALAZAR-ORVIG, 2002). Vemos na literatura a tendência de considerar como prototípica a situação de plena continuidade, ou mesmo o modelo do dialogo adulto criança como aquele de realização de sucesso, de um engajamento pleno, de um fechamento, uma conclusão, de uma realização. Mas, essa situação não constitui apenas uma figura entre os múltiplos modos de implicação da criança e do adulto nos diálogos cotidianos. A criança constrói sua experiência do dialogo igualmente a partir das situações em que a implicação é parcial. Vimos até então algumas das principais noções acerca do dialogismo que vão ser a base para as concepções das analises das dinâmicas dialógicas da díade em questão. No capitulo seguinte trataremos mais precisamente dessas concepções trazendo questões sobre os fatores referentes à sincronização. Chamaremos de afinação linguageira, esse processo envolvendo a simultaneidade e seqüencialidade presentes na dialogia mãe-bebê. Concebemos que ele está presente de forma intrínseca e indissociável do desenvolvimento comunicativolinguistico. 100 Capitulo 5 – A afinação linguageira 101 Neste capítulo abordaremos o estudo das dinâmicas dialógicas da díade mãe-bebê considerando o dialogo efetivo a partir de uma única dimensão que é fundamentalmente a dimensão interativa. O dialogo na dimensão interativa é visto por vários autores como por exemplo Vion (1992). Eles tratam a noção de interação permitindo colocar o dialogo no espaço social e no espaço interpessoal, em que falar assim como comunicar é sem duvida, agir sobre si, sobre o outro e sobre o seu ambiente. Na interação nos apropriamos de repertórios sociais que estão “no” e “através" do dialogo, em que a troca verbal constitui um tipo de comunicação e de interação entre outros. Estudar o diálogo a partir das concepções do dialogismo implica que nós concebemos que toda fala é constituída a partir das falas dos outros e que nos interessamos pelo agenciamento da troca interlocutiva assim como das modalidades de construção desse discurso comum. Falamos então de um dialogismo constitutivo, o preconizado por Bakhtin, que se manifesta em diversas formas na construção dos discursos: ecos, respostas, reprises diretas, reformulações, modulações, falas reportadas, etc. Nesse capitulo observaremos os movimentos do dialogo na interação mãe-bebê quanto às dinâmicas linguageiras que os levam à orientação dialógica, ao surgimento dos níveis de sincronização, ou seja, a afinação linguageira. 5.1 Os movimentos do diálogo na interação mãe-bebê A dimensão interacional constitui todo o subconjunto de significações que acontece na troca verbal (SALAZAR-ORVIG, 1999). Vamos discutir a construção do universo discursivo, a expressão da díade, a maneira como eles constroem seus discursos, se articulam e respondem a esses movimentos. 5.1.1 As dinâmicas dialógicas: o desenrolar constitutivo – a afinação A construção do sentido dentro do dialogo não pode ser vista como um fenômeno linear e unidimensional. Enfatizamos que numa troca circulam um conjunto heterogêneo de significações. Estas significações, como também vimos, são o fruto de uma construção conjunta (SALAZAR-ORVIG, 2002). 102 A constituição do sentido num dialogo não está localizada em cada sujeito individualmente nem na pura materialização das palavras, mas numa dimensão intermediaria que é muitas vezes fictícia e real, no seio da qual se atualizam as significações (MARKOVA, 2006). Os sentidos se constituem num espaço que não é homogêneo nem estático, mas num espaço que é fundamentalmente dialógico. Compreendemos o espaço discursivo como uma rede de significações que se constrói durante a troca verbal e pela qual todo enunciado ganha sentido, aceitamos a metáfora de Bakhtin defendida por François (1979) que inspira a ideia de um espaço interpretativo. Esse espaço é fundamentalmente dialógico. Ele ultrapassa a materialidade da fala sendo igualmente um espaço transicional entre os interlocutores. Tomando a metáfora de Bakhtin (1977) para quem a significação não se situa nem nas palavras enquanto elas mesmas, nem em cada participante isolado: Pertence à palavra como elo de ligação entre os interlocutores, (...) (ela) é o efeito da interação do locutor e do receptor, agindo sobre o material de um complexo sonoro particular.” (BAKHTIN, 1977, p. 146-147, tradução nossa) O discurso aparece como o lugar da intersubjetividade, compreendida como aquilo que se situa entre os sujeitos e que permite ou não permite seu encontro. Esse encontro que contém também os momentos de intercompreensão. Para Goffman (1988) a compreensão é virtual e é obtida num acordo pratico. As analises microanalíticas trouxeram a noção de “sincronia interacional” descrita por Condon e Ogston (1966) e tornou-se uma noção clássica. (COSNIER, 1992) Para Lyra (2007) cada evento da troca dialógica pertence a ambos os parceiros ao mesmo tempo. Ela presume que o caráter dialógico da troca entre os parceiros é precedente ao surgimento do funcionamento simbólico (LYRA, 1999; LYRA & ROSSETTIFERREIRA, 1989 ;1995; LYRA & SOUZA, 2003; LYRA & WINEGAR, 1997) Baseando-nos nesses estudos vejamos alguns exemplos da presença desses fenômenos no corpus dessa tese que levam a díade à intercompreensão. 5.1.2 O inicio das sequências interativas como o momento determinante de construção do fundo discursivo comum : Extrato 04 103 Data: 11/09/07 Tempo: 22:50~32:19 Idade do bebê: 14 semanas Proxemia: mãe coloca o bebê numa cadeirinha e começa a falar ao bebê. Os dois estão em face a face. 01 M ≠* MATEUS/ cadê mateus cadê mateus/hh/cadê coisa≠ linda de mãe*/ */[- 5s] °ai jesuis°/*Não não*/ *mainha não faz zuada não/faz não/°faz não°*/*≠ (1s) mãezinha ou::/* quer papo não/quero papo não≠/(1s) *teteu:/(3s) ow teteu/(2s)* ≠ mãezinha:/nã::o/ nã::o/nã::o* aperreie NÃO/hum shhhhh/°¤¤¤¤ não/(2s) quer ¤¤¤°/ [] *(faz carinho no rosto do bebê) (da cheiro)* *(pega chocalho) (faz barulho)* *para o barulho e segura a mão do bebê* *pega fralda e passa no rosto do nenê* * pega objeto e mostra ao bebê* *solta objeto* *segura o rosto do bebê e com a fralda limpa seu rosto* *muda o bebê de posição e faz carinho no rosto* *tira o bebê da cadeira e coloca no colo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)(vocaliza) ≠ ≠(fecha os olhos->) (vocaliza) ≠ ≠(abre e fecha os olhos) (chora)-> ≠ 03 M ≠*shhhhh/shhhh*≠ -> *com o bebê no colo da cheiro, balança e da a chupeta* 04 B ≠-> (chora) ≠ 05 M ≠*->(16s) °não ta bom/ponto ponto ponto ¤¤¤/≠quero bincar mais não/ vou brincar mais não°/*≠ *balança o bebê* 06 B ≠(bebê se acalma)≠ ≠(fecha os olhos)≠ Vemos nesse exemplo os movimentos de autossincronia e heterossincronia da díade buscando o ajuste necessário para a continuidade da interação. O inicio da sequência é o ponto de maior tensão e nele podemos identificar os movimentos de ajustes entre eles na busca da intercompreensão. Os ajustes iniciais entre a mãe e o bebê parecem antecipar a conclusão da sequência que será a compreensão conjunta (co-construída) de que o bebê não está com disposição para interagir. A mãe inicia a interação chamando o bebê pelo nome com intensidade vocal mais elevada (01). Talvez por “compreender” os sinais de sonolência do seu bebê. E segue com suas interpretações diante das respostas dele, como vemos em seus enunciados e ações (01, 03 e 05). Mesmo tendo obtido o olhar do bebê (01-02) a mãe pega um objeto sonoro produzindo então barulho e o bebê responde imediatamente com vocalizações que fazem a 104 mãe abandonar essa tentativa e o fim desse turno culmina com o choro do bebê levando a mãe a pega-lo no colo. Percebemos a co-presença como fundamento mínimo para o estabelecimento da interação. A partir desse “encontro”, melhor dizendo engajamento, é que geram todos os ajustes necessários, a orquestração e conseqüente sincronia, para o estabelecimento e a continuidade. Segundo Cosnier (1992) para isso, o olhar, mesmo que breve e sinais retroativos sob a forma voco-verbal e/ou cinética do receptor são as unidades mínimas que servem de regulação das trocas no sistema interativo. Ele chama de unidade “fática” 46 a emissão do locutor e de unidade “reguladora” a emissão responsiva do receptor. Notamos que uma orquestração começa a acontecer no inicio da sequência e os movimentos co-contruídos pela díade vão levando à afinação e consequentemente à construção do fundo discursivo. A continuidade da sequência mostra que brevemente eles chegaram à intercompreensão culminando com o fim do jogo: 07 M ≠*/[- 5s] O::lha::/*(2s)* a musiquinha mainha/tu num quer não a zuadinha nã:o≠/≠*ta bom ta bom °ta bom ta bom°*/(1s) quer ¤¤¤/≠matE::us/oh mate::us/*mãezinha::: ≠/hum*/≠ (6s) shhhhhhhh/shhhhhh/≠°quer brincar não é/tu num quer brincar não/hhh/hein mãezinha/(2s) shhhhhhhh/* *pega novamente o chocalho e faz barulho* *solta o chocalho* *passa a fralda no rosto do bebê* *da a chupeta* *faz carinho* 08 B ≠R(O) R(M) (chora)≠ ≠(fecha os olhos) (chora)≠ ≠abre os olhos R(A)≠ ≠fecha os olhos≠ ≠R(M) (chora)-> ≠ 09 M ≠*(3s) cadê matÊus hein/cadê/tô arretado mainha* hhh*/*querendo dormir/hum* []*/*(3s) shhhhhhhhh->≠ *coloca o bebê sentado na cadeirinha e fica segurando* *da cheiro* *pega o bebê no colo* *da beijo* *pega a fralda e da a chupeta ao bebê* 10 B ≠(chora) (olhos fechados)-> ≠ 11 M ≠*-> (50s)* q foi hhh hum/que foi/hein/ que foi/°¤¤¤¤¤¤° (27:03) *acalmando o bebê* 12 B ≠R(M) (chora) ≠ Mãe coloca o bebê no seu ombro direito e percebe que o bebê está cansado e não quer mais brincar. (ta bom ta bom na na nim na nao...já entendi meu amor...já entendi...desculpa ta mainha...tu desculpa mainha? Hum hum 46 Que permite estabelecer a comunicação entre os interlocutores e testar o canal de comunicação (ex.: função fática da linguagem). Dicionario Priberam da Lingua Portuguesa. Consulta em 27/02/2011: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=fático 105 Houve ainda, como vemos no turno 07, uma tentativa materna de trazer o bebê para a interação, o seu “despertar”, como uma exigência mínima de sua co-presença, justamente através de um brinquedo sonoro (chocalho). O bebê reage prontamente mostrando o seu não engajamento fechando os olhos e chorando (08). O canal cinético ou posturo-mimo-gestual está implicado na expressão de um “conteúdo”, melhor dizendo, uma unidade referencial manifestando uma relação/resposta sincrônica na atividade interacional. Foi observado na parte teórica uma evidência de “sincronia interacional” (CONDON & OGSTON, 1966; COSNIER 1992). Uma vez que não conta com a mímica facial do seu bebê a mãe apóia-se então em outros indicios. O seu enunciado no turno 9 está visivelmente atrelado às respostas mímicas do bebê (08). O papel essencial do olhar no sistema regulador das trocas interativas foi bem explorado por Goodwin (1981) na “organização conversacional”. O locutor precisa do olhar do destinatário e para isso implementa técnicas para provocá-lo. O olhar também é usado para marcar o engajamento e o desengajamento e permitir a suspensão ou reinício da conversa. Finalmente, o olhar interfere além do aspecto interacional, interfere no aspecto relacional, vamos voltar a isto nos tópicos de analises seguintes. A mãe no seu enunciado demonstra compreender as respostas do bebê (09), e faz uma ultima tentativa de regulação da atenção compartilhada soltando beijos. Observa-se também que após uma pausa de 3'' (seg.) a mãe retoma outra forma de regulação através do som shhhhhh um regulador muito comum utilizado em nossa cultura para “acalmar” as reações mais intensas dos bebês. O bebê que chora e mantém os olhos fechados durante todo o enunciado materno (0910) contribui como um enunciador decisivo para a elaboração do fundo discursivo comum que leva à díade à intercompreensão: bebê sonolento e não propenso assim ao jogo interativo. No turno 11, a mãe silencia durante 50 segundos. Ela observa o bebê. Esse olhar especulativo, o silêncio e os afagos são uma forma de regulação materna para provocar a continuidade da interação. Após isso o bebê para de chorar e olha para a mãe. Porém imediatamente depois da retomada de sua fala, fala está cheia de entonações prosódicas, o olhar e o reinicio do choro do bebê levam ao encerramento da sequência como vemos na descrição final. Os movimentos de regulação da fala materna serão mais exemplificados nos tópicos que se seguem. 106 Apresentamos em seguida vários exemplos para mostrar os momentos de tensão dialógica que constituem momentos de orquestração dialógica visando a afinação linguageira na co-construção do sentido da interação. Como vamos observar, parece existir um fundo discursivo latente ou “virtual” desde o inicio das seqüência que é imediatamente acessado pela díade nos seus movimentos orquestrados, que visam exatamente a afinação desse fio discursivo. 5.1.3 A exploração compartilhada de objetos como fundo discursivo comum do diálogo Extrato 05 Data: 25/09/2007 Idade do bebê: 16 semanas Tempo: 32:20~39:41 Proxemia: Mãe está sentada numa cadeira e segura o bebê no colo. Bebê está de costas pra ela com a cabeça voltada para ela. A sequência acontece numa sala de atendimento da FAV. 01 M ≠*olha mainha::/ o::lha:/shhhhh/o:lha:::/(2s) aqui embaixo agora/ aqui em cima o:lha mamã:e/o::lha::/o:lha mãezinha/ vai pega::: []/vai pega::::/aqui embaixo oh mainha/(1s)aqui em cima osi/ (1s)eh::::*/*eh:: mãezinha/que não binca não disso não eh/HUM/HUM/*≠ *mostra um objeto tipo pendulo ao bebê em varias direções* *encosta o objeto e faz carinho no rosto do bebê* 02 B ≠R(A) (vocaliza)-> ≠ 03 M ≠*°olhaa ¤¤¤ toma/¤¤¤ tira a mão da boca°/(4s) ow mainha/(7s)* o::lha: boneco/ teteu ta pegando o bone:co::/o::lha:/olha teteu pegando ¤¤/≠*E:ITA [] mamãe/quebrou o bissinho/pode nã:o mamã:e/e agora hein/HUM/hum/diga pa mamãe agola/hhh*/hein côsa linda/≠ (3s) ta reclamando Eh/num que °¤¤¤ não°/HUM/hein mãezinha/≠ *pega outro brinquedo e da na mão do bebê* *(ajeita o bebe no colo)(passa a fralda no bebe)(eleva o bebe e da cheiro)* 04 B ≠->R(A) (vocaliza)(segura o brinquedo)(solta o brinquedo) ≠ ≠(vocaliza) R(F) ≠ 05 M ≠*(2s)°bora vê esse coisinha bora°/o::ia::/TETE:U:/°o:lha: mamãe°*/≠ *pega novamente o objeto anterior e mostra ao bebe em varias direções* 06 B ≠R(O) ≠ 07 M ≠*(5s) °toma o brinquedinho de volta tome°/(4s) uma parte do brinquedinho tome tome/segure aqui/(3s) segure*≠/pode jogar no chão não viu/e botar na boca não mainha/°eh sujo°/..Eh:: eh sujo/(1s)[] *¤¤¤¤ não bebê /quero não mamãe/°esse brinquedo 107 não°*/*o:ia:: volto::/toma teteu/toma/°eh bora binca°/NÃO tem que seguRA/segurar aqui/bo:ra segura::/Hum::/Hein mai:nha/[]/ []/(3s) bo:ra segura bo:ra/aqui/quer segurar mais não eh/*≠ *encosta o objeto e pega o outro que caiu no chão e da ao bebe* *(passa a mao no rosto do bebe)(pega o objeto do chão)* *(mostra o Objeto ao bebê)(da na mão dele)(solta beijo)(ajeita o objeto na Mão do bebê)->* 08 B ≠(tenta segurar o objeto)R(F)(solta o objeto)R(A)->(tenta segurar o objeto)-> ≠ 09 M ≠*(8s) o:lha::/o:lha tete::u/*olha teteu segurou o brinquedinho/ eh: mamãe/ segurou *[]* o binquedi:nho mamãe/*eh::meu amo:::/ (3s) ta olhando pra mãinha eh*/EH/HUM/ta olhando pa mamãe/hum/hum/ *(3s)me dê o binquedinho*/≠ *->**da cheiro**faz carinho no rosto do bebê**pega o brinquedo da mão do bebê* 10 B ≠R(A)(M)(A) (segura objeto)(solta o objeto) ≠ 11 M ≠*(3s)°queh saber do binquedo mais não°/ hum/hum/hum/(2s)hum* *ajeita o bebê no colo* 12 B ≠R(A) (F) ≠ Essa sequência começa com a díade assumindo uma posição que não promove o face a face. Neste dia não havia disponibilidade de usar a sala de terapias para realizar a filmagem. Vemos que a interação começa pela estimulação materna do olhar do bebê para os objetos que ela apresentava em varias direções (01). O bebê só responde olhando para cima (02) e quando a mãe muda a direção do objeto e o bebê passa a não segui-lo e culmina com uma vocalização, isto determina a mudança de ação da mãe no próximo turno trocando o objeto (03). Desta vez o bebê pega e depois solta o objeto apresentado (04). Isso gera uma nova ação da mãe de reapresentar o objeto talvez por ter obtido no turno anterior a resposta desejada do bebê (05). O enunciado materno no turno 06 demonstra entre outras coisas: o darse conta do engajamento do bebê pelo olhar e uma reparação verbal do que o bebê fez no turno precedente e que para ela não deve ser repetido. A resposta do bebê (08) é acolhida como um engajamento visto no seu enunciado: *olha teteu segurou o brinquedinho/eh: mamãe/ segurou *[]*. Vê-se também que ao obter o olhar do bebê a mãe solicita o brinquedo e o bebê o solta. A mãe pega o objeto e muda o bebê de posição em seu colo. Observamos nesse inicio os ajustes das expectativas contidos nos turnos de forma interligada seguindo os movimentos retrospectivos e prospectivos imbricados nesses turnos. A 108 sequência parece seguir para a construção do fundo discursivo comum que é o da exploração conjunta de objetos. 5.1.4 A exploração compartilhada do corpo como fundo discursivo comum do diálogo Extrato 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 (14 min. 13 seg.) Proxemia: mãe e bebê estão no sofa. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face-a-face 01 M ≠*bora fazer carinho em mamãe/carinho em mamãe/cadê o carinho de Mamãe/ cadê os carinho de mamãe/cari:nho mate:us/CARINHO mamãe/cadê o carinho de mamãe/cari:nho mamãe≠/Carinho*/ []/≠cadê mamãe/cadê o carinho/oh:a mamãe/Carim oH:m/ []/cari::nho tete:u≠/ca:rinho mamãe/[]/..≠cadê os carinho de mamãe/*[]*/cadê os carinho de mamãe/*ah::: ≠ ((faz barulho coma boca))/ (2s)((idem))*/*[]/[]*/cadê os menino lindo da vida de mãe/manda beijo≠/.manda beijo pra mamãe/manda beijo/manda beijo ≠ pa mamãe/xx/manda beijo pa mamãe/beijo pra mamãe/beijo/xxx/pa mamã:e/≠ *segurando o bebê no seu colo de frente pega a mãe E e depois a D e passa no seu rosto**cheira a testa do bebê**pega a mão do bebê e aperta conta sua bochecha duas vezes**da cheiro e beijo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)≠≠R(M)(passa as mãos no rosto da mãe) ≠≠R(M) ≠≠R(D)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)-> ≠ 03 M ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/CArinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ que brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mãe direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠não consegue controlar a cabeça≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠olha pra sua mão D->≠ 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no 109 rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠toca o rosto da mãe R(D) ≠≠R(M) ≠ Neste inicio mãe e bebê estão alinhados em face a face permitindo o jogo de atenção compartilhada efetivo sobre a posturo-mimo-gestualidade. A mãe inicia assim todo um jogo de provocação para chamar a atenção do bebê para ela e assim torna-se como um espelho para ele (01). Vemos que desde o inicio da sequência o fundo discursivo comum parece caminhar para a exploração dos corpos. O bebê responde olhando para a mãe e concentrando-se no movimento que ela o incita a fazer: o de tocar sua face (02). Quando cessa o olhar para a mãe esta o redirige posicionando sua cabeça para o centro (02-03). Começa em seguida (03-04) uma sequência de turnos em que predomina a atenção para a mãos do bebê. A mãe percebe a atenção do bebê para suas próprias mãos e inicia com isso um jogo facilitador e indutor que incentiva a auto-exploração do bebê chamando a atenção para isso e construindo um sentido juntos. O bebê responde então tocando no rosto dela repetindo o que a mesma o tinha levado a fazer, ou seja, o que tinha sido co-construído nos turnos precedentes. Esse ato de repetição do bebê é reforçado ainda mais pelo discurso da mãe com entonação montante: ..≠ISSO≠. Uma saudação para a auto-iniciação do bebê. Além de demonstrar a apreensão imediata pelo bebê do jogo proposto pela mãe através da imitação, isso mostra a resposta do bebê (induzida pela mãe) enquanto um enunciador determinante para o fluxo dialógico. Ainda nesse turno, vemos alguns movimentos de descontinuidade possivelmente ocasionados pelo desequilíbrio do corpo de bebê, o fio condutor é retomado logo em seguida (05-06) com a mãe voltando a proposição (retomada e reformulação) de chamar a atenção do bebê para as mãos e o bebê responde outra vez olhando para a mãe e tocando seu rosto. O fundo discursivo comum dessa interação está voltado para a exploração dos corpos e isso é visto durante o restante da sequência até o seu final, existindo claramente os momentos de continuidade e descontinuidade porém seguindo uma orientação prospectiva e retrospectiva das condutas linguageiras da díade. 110 Percebemos que parece existir um espaço intermediário inerente ao dialogo, como o salientado por Markova (2006), que é parte da dinâmica da constituição do sentido. Nos extratos 4, 5 e 8 analisamos o jogo construtivo da díade no fazer sentido as suas condutas. Vimos a iminência de um espaço discursivo potencial pré-estabelecido, a marca da constituição do “espaço virtual” (ou “fictício”) presente desde o inicio das interações, de forma iminente, ainda não materializado pelas palavras e/ou ações, mas que começa a ser intermediado pelo jogo linguageiro dos participantes atualizando assim, essas significações que vão sendo co-construídas. Outros autores como Lyra (2007) e Lyra et Bertau (2007) ressaltam que existe uma dialogicidade básica nas diferentes práticas dialógicas. E que uma dessas práticas é a abreviação47, um modelo dialógico com um estatuto peculiar no que diz respeito ao desenvolvimento do self dialógico, bem como para o desenvolvimento da capacidade de simbolizar. Para Lyra e Bertau (2007) as abreviações correspondem a um novo padrão de ordem que surge através do processo histórico de comunicação. Essa historicidade, que é a dimensão do tempo-limite de abreviaturas, aponta para o fato de que uma transformação na dinâmica do relacionamento dos parceiros concretos ocorreu, afetando cada parceiro, suas relações uns com os outros e a forma como eles podem (e não podem) interagir dialogicamente. Esse tipo de "afetação" acontecendo no engajamento dialógico é histórica e construída conjuntamente na “massa perceptiva” (YAKUBINSKY, 1997; LYRA & BERTAU, 2008), que significa a " faixa de totalidade de nossas experiências de antecedentes internos e externos ". Nas dinâmicas dialógicas envolvendo mãe-bebê Lyra (2007) assim vê: Os diálogos abreviados exibem os primeiros germes de funcionamento num espaço ou realidade - uma "realidade virtual" - que é diferente do que ocorre antes, durante o período de extensão. Neste novo espaço, a criança começa a diferenciar seu posicionamento no diálogo em relação à sua mãe. (LYRA, 2007, p. 39, tradução nossa) Ela ainda defende que as dinâmicas dialógicas mãe-bebê exibem suas participações em um ritual formatado de diálogos abreviados. Assim pode-se ver uma dinâmica que poderá mostrar a diferenciação do posicionamento da criança no diálogo e que esta dinâmica dá origem a uma estrutura de funcionamento triádica do diálogo seguindo o proposto de Markova (1987 ; 1990 ; 2006). 47 Ver modelos de interação mãe-bebê no começo da vida defendidos por Lyra (1999; ...) 111 Concordando com Lyra estendemos esse “espaço virtual” com sua “massa perceptiva” para desde o inicio das interações antes mesmo que ela tenha sido ritualizada. Vemos isso dentro do conjunto maior do encontro do « eu » e o « outro ». Através dos exemplos acima demonstramos a construção do espaço discursivo desde o inicio das sequências. Estamos considerando a sequencialidade interna e a sequencialidade externa desse espaço dialógico, em que vemos que já é anterior ao seu estabelecimento e também marca a posição do outro, mesmo o bebê enquanto um self em desenvolvimento. Concebemos que essa « massa perceptiva » como defende Bakhtin (1984) encontra-se presente na « percepção » do locutor sobre o destinatário. Ao falar o locutor sempre se da conta do « fundo perceptivo » de seu destinatário, percebendo o grau de informação que este possui sobre a situação, sobre seus conhecimentos a respeito do tema de discussão, suas opiniões, seus pré-julgamentos, etc. Para esse autor, esse “fundo perceptivo” é a representação subjetiva que o locutor se faz do seu parceiro. É por conseqüência relativo e pode se tornar ele mesmo um objeto de negociação. (BAKHTIN, 1984) Os exemplos apresentados acima mostrando a presença virtual do fundo discursivo comum revela a « massa perceptiva » dos participantes: No extrato 4 a sonolência do bebe, a expressão vocal e posturo-mimo-gestual ser um conteúdo, um “enunciado” importante para o desenrolar da dinâmica dialógica. No extrato 5 o espaço virtual inicial é o compartilhar visualmente os objetos. Isso pode se dever ao ambiente, mãe e bebê estão numa sala de terapia, um lugar não familiar em que se vai à busca de recursos para a exploração. No extrato 8 mostra o fator da proxemia, o face a face como um fator constitutivo desse espaço para a construção do fundo discursivo comum. Defendemos que o dialogo em face a face constitui um protótipo do dialogismo. Mesmo não nos detendo em diferenciar, o que é bem discutido na literatura 48, a questão do dialogismo “in presentia” e o dialogismo “in absencia” envolvendo com isso a discussão entre o monológico vs dialógico, por não ser esse um objetivo principal desta tese, queremos mostrar que este espaço virtual está presente todo o tempo e é parte da dinâmica dialógica. (SALAZAR-ORVIG 2008) É importante assim, dar conta da imbricação de “um” e do “outro”. Como defende François (1988), as relações “in presentia” como as que estamos analisando nesse corpus faz parte de uma figura das relações dialógicas “in absentia”: “O diálogo tem uma materialidade, nós 'vemos' as palavras que são trocadas; quando dizemos que um monólogo, toma à distância 48 Ver Vion (1999) sobre instabilidade enunciativa. 112 a fala de outro indeterminado, não estamos no inverificável? (FRANÇOIS, 1988, p. 18, tradução nossa) O dialogismo à distancia é de uma certa maneira incomensurável e são pode ser percebido de maneira parcial através de certos marcadores (BRESS, 1998, 1999), pelo jogo dos posicionamentos enunciativos (VION, 1998) ou graças ao acompanhamento de certas historias textuais. Como analisamos, o dialogo “in presentia” concordamos com Bress (2005) que faz a distinção entre os fenômenos dialógicos e os fenômenos dialogais: « Os fenômenos dialógicos afetam então a estrutura externa, manifesta, da ‘surface’ do enunciado ; os fenômenos dialogais, sua estrutura interna, profunda, secreta.» (BRESS, 2005, p. 55, tradução nossa) Somente a presença do bebê face ao adulto marca o seu lugar no dialogo, estando no discurso do outro, ou seja, o bebê configura-se enquanto sujeito com voz presente no espaço discursivo materno. Bakhtin mostra isso quando diz que não há apenas um sujeito, o conhecedor (contemplador) e o falante (enunciador). Não podemos perceber e estudar o sujeito como se ele fosse uma coisa pois ele não pode ser sujeito se ele não tem voz. Por consequente, seu conhecimento são pode ser dialógico. (BAKHTIN, 1984) Apontamos nesses extratos um espaço definido por Bakhtin, um espaço translinguístico, em que esse espaço virtual inicial sendo um ponto de partida, com as formas e os tipos de interação em união com as condições concretas nas quais este se realiza, para chegar em seguida às formas da língua, passando pelo processo de exame das formas de enunciação e dos atos de fala ligados à enunciação. Isto é o que defende Markova (2006) propondo que uma teoria do conhecimento que dê conta do processo dialógico deve ser fundada a partir da tríade alter-ego-objeto49. Segundo Markova (2006) pactuando com Bakhtin, a representação social não significa um reflexo do mundo externo no espírito, mas da capacidade deste ultimo de imaginar e de criar novas coisas através de símbolos. O objeto neste caso, é co-construído pelo alter e pelo ego que não se refere especificamente a uma pessoa, pode referir a um grupo, ao social. Ainda para esta autora não existe nada que dê conta profundamente da dinâmica interna do dialogo. Dentro do conceito de mudança para Markova, é necessário visar as relações entre os elementos da tríade alter-ego-objeto como sendo dinâmicas: “A tríade alterego-objeto não é intrinsecamente dinâmica, ela ainda pode se referir ao conhecimento 49 Para evitar mal entendido esclarecemos que a ideia dessa triade nao pertence a Markova, ela a subscreve porém não é sua mentora. 113 enquanto uma relação estável como ao conhecimento enquanto uma relação dinâmica.” (MARKOVA, 2006 : 150) Ela introduz nesse momento, seguindo as concepções de Moscovici, a noção de tensão dialogica que é definida como uma força resultante de um conflito entre as ideias, das atitudes, dos objetivos que levam os indivíduos a agir, a operar uma mudança. A noção de tensão permite conceber a tríade dialógica como um todo indivisível em que as partes constituintes são unidas pelas relações internas. Simultaneidade e sequência fazem parte desse processo de três componentes: O Alter-Ego-Objeto é a unidade dinâmica do conhecimento social, e as relações dentro dessa unidade são simultaneamente e sequencialmente dinâmicas. É a co-existência das relações simultâneas e sequenciais nos processos de três componentes que define o conceito de mudança social. (MARKOVA, 2006, p. 233, grifos nossos) Nos extratos analisados procuramos mostrar os fenômenos dialógicos internos na díade mãe-bebê enquanto uma instancia constitutiva da diferenciação do bebê dentro do espaço translinguístico do dialogo. Os momentos das mudanças e abreviações das trocas são ricos em significações constitutivas para ambos os participantes da interação, conforme a literatura apresentada. Apontamos para o fato de existir uma riqueza constitutiva e marcante nos momentos iniciais das trocas da díade. Vemos isso como um “espaço virtual” rico, determinante e cheio de subjetividade para ambos os participantes. Um momento para se olhar as significações préexistentes e que revelam uma orientação prospectiva iminente. Um momento de orquestração que segue na constituição da configuração de harmônicos que levara a díade à afinação. No processo de configuração dos harmônicos, as reações-respostas do bebê compõem seus “enunciados”. Esses enunciados do bebê que parecem surgir de forma eventual, estão ao mesmo tempo sendo infiltrados no discurso materno. E vice-versa. Vimos bem isso no extrato 4 quanto ao comportamento sonolento do bebê percebido pela mãe desde o inicio. Assim, retomando as observações de Bakhtin (1984), vimos que a expressão do locutor se infiltra através dessas fronteiras (das reações-respostas de cada participante) ressoando de forma difusa no discurso do outro. Assim com essas analises, constatamos a importância de se considerar a presença “discursiva” do bebê no dialogo. Defendemos a tese de que a orientação prospectiva do dialogo depende de suas reações-respostas. Mesmo que aparentemente apenas um 114 contemplador o bebê é um participante ativo. Vimos isso a todo o tempo nos enunciados maternos sempre moldados a essas respostas. A mãe que espera uma reação do bebê e consequentemente molda seu enunciado para ir à frente de um contra-discurso eventual. Em outras palavras, eles se moldam no processo inicial (orquestração) visando a intercompreensão (processo de afinação). Vimos que o bebê é dotado do que Bakhtin chama de “compreensão responsiva ativa”: “A compreensão responsiva ativa não é outra coisa que o estado inicial, preparatório para uma resposta (qualquer que seja sua forma de realização.” (BAKHTIN, 1984, p. 275, tradução nossa) E uma vez que se expressa à sua maneira, o bebê demonstra dar conta do “fundo perceptivo” do dialogo. Um “espaço virtual” que é apreendido e orquestrado pela díade enquanto instanciados pelo dialogo. Vemos os traços subliminares da constituição do self do bebê e a sua expressividade marcando esse seu lugar. Ou seja, não tem como ele não ser o sujeito de suas próprias ações. Vejamos no próximo tópico as dinâmicas dialógicas da díade de maneira mais detalhada. Os movimentos sutis e multimodais, os harmônicos de um processo de orquestração, que levam ao estabelecimento de acordos colaborativos. 5.2 Os acordos colaborativos e seus níveis de “afinação” – reformulações, inferências e repetições. Como definimos de acordo com Bakhtin que o enunciado dialógico comporta um dialogo entre ao menos duas enunciações: a do locutor [E1] e outra de um enunciador outro, então a palavra é retomada ou faz objeto de uma alusão [E0]. Esse dialogismo se manifesta numa troca hic et nuc – aqui e agora de diferentes maneiras nas quais, no seu enunciado, um locutor trata o enunciado de seu interlocutor. Nesse caso, em efeito, uma replica comporta, constantemente, um posicionamento em relação à fala do outro. Um locutor pode propor uma interpretação, fazer uma hipótese, seguir um discurso tomando apoio sobre os elementos propostos pelo interlocutor, se opor, expressar, esclarecer ou ainda marcar seu acordo, constatar, acusar a recepção, solicitar uma explicação, etc. Na interação mãe-bebê contrariamente a outros tipos de interação, esses posicionamentos e esses movimentos repousam sobre um fenômeno fundamental a saber: a 115 fala da mãe constitui um material a partir do qual se constroem as falas, as ações do bebê e mais adiante a apropriação do bebe dessas competências linguageiras co-construídas e assim simplesmente do fato mesmo do tipo de relação que se caracteriza, é inerente a relação entre mãe e bebe. Portanto, a “fala” e as ações do bebê e as falas e ações da mãe são fundamentalmente dialógicas. Assim sendo os comportamentos (falas e ações) do bebê ao longo de todo seu desenvolvimento são assim dialógicos, uma vez que ele toma apoio permanente sobre o que a sua mãe acaba de dizer. Esse dialogo é constituído de muitos movimentos, movimentos dialógicos. Um exemplo que extraímos do corpus dessa tese mostra a predominância de retomadas, de ‘ecos’: Extrato 01 Data: 16/08/07 Tempo: 0:00~8:05 Idade do bebê: 11 semanas Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face (bebê está deitado e a mãe sentada ao seu lado) 01 M ≠*hum*≠/ *se aproxima do bebê e lhe da um cheiro* 02 B ≠ R(M) vocaliza ≠--> 03 M (1s) ≠*hein mãezinha*≠/ (3s) ≠*teteu:: ≠/≠*[]* ≠ *passa a mão D. no rosto do bebê* *idem* *((vibra labios))e busca o olhar do bebê*> 04 B ≠R(E)(chora)≠ ≠R(M)(chora) ≠ ≠R(D)(chora) ≠ Vemos que mãe e bebe iniciam suas negociações, coordenações tomando por base o olhar. A mãe considera os movimentos exploratórios do bebê fixando-se sobre sua exploração visual do ambiente. Mãe e bebê se olham desde o inicio desta sequencia (01-02). Mãe alinha-se diante do bebê e faz uma interjeição (“hum”) como se perguntasse ao bebê que vocaliza imediatamente em resposta a isso. No turno 03 a mãe retoma e enriquece o enunciado anterior e novamente o bebê responde vocalizando (04). Ou de reformulações50: 05 50 M (3s)≠*tete::u: (1s)* [] *≠ Estas retomadas e/ou reformulações revelam o que Roulet et al. (1985) e Vion (1992) chamam de retomadas diafônicas. 116 *segura-lhe a mão E aproxima o seu rosto do bebê buscando seu olhar*--->*solta beijos* 06 B ≠R(E)(vocaliza) ≠ ---> Após uma pequena pausa, uma nova retomada sob outra forma, desta vez chamando o bebê por seu ‘apelido’ a mãe chama a atenção do bebê para si e outra vez a mãe obtém como resposta a vocalização do bebê e ainda mais o seu olhar. Uma reformulação dos enunciados anteriores para obter uma resposta visual do bebê. Na sequencia a mãe mantém seu objetivo e solta beijos para ele que responde mais uma vez vocalizando. No turno 05 vê-se a repetição de duas ações da mãe para chamar a atenção do bebê pra si. Outra reformulação se segue: 07 M ≠*teteu* *cadê teTEU*≠/≠*cadê mãezinha*≠/*≠(1s)cadê mãezinha*≠/ ≠*[]* *(1s)ISSO::/* ≠ *balança a mão do bebê, sorri procura o contato visual do bebê**idem* *solta a mão do bebê, faz carinho com esta mão na bochecha E, da um cheiro na bochecha direita do bebê* *solta beijo, procura o olhar do bebê,vibra lábios* *((sorri))* 08 B ≠R(E) ≠ ≠R(M)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(M) ≠ Esta reformulação ainda mais enriquecida por beijos dirigidos ao bebê também com a intenção de chamar a atenção dele pelo som dos lábios na tentativa de obter seu olhar e é correspondida. Além de inferências (03) feitas a partir do que eles construíram nos turnos precedentes: Extrato 09 Data: 09/12/2007 Idade do bebê: 25 semanas 03 M Tempo: 01:23:17~01:39:26 Proxemia: Mãe e bebê no banco do terraço da casa; Bebê está sentado lateralmente no colo da mãe. ≠*(14s) oi/(9s)* ≠ mate::us/ow mate:us/*cadê mateus*/cadê mamãe/ cadê mamãe/*vira aqui a cabecinha pra ver maMAE/vira mamãe ta desse la:do mamãe*/mamãe ta desse *OPS≠/(2s)* ISSO:::/*isso:: 117 ((ri))/ ...eh eu num quelo fica assim/num quelo fica assim/assim mamãe num que:lo/*≠..num quelo minha mãe/fique um pouquinho assim oh/sim oi oi oi oi/(1s) EH::/(1s)eh: mamãe/(2s) eh: mãe/*≠ *ajeita o bebê no colo**carinho no queixo do bebê**carinho na cabeça do bebê**ajeita o bebê**da a mão D pro bebê bater* *segura a cabeça do bebê, o ajeita no colo e faz carinho* 04 B ≠(tenta se equilibrar) ≠≠R(F)(tenta se equilibrar) ≠≠(bate na mão D da mãe)(vocaliza)R(A) ≠(mexe o corpo)(vocaliza)(mão E na boca) R(E) ≠ E de interpretações (09) retomando de forma sintética os elementos fornecidos ao longo das trocas ou de mudanças de ponto de vista em relação às perspectivas co-criadas: Extrato 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. 09 M *(2s)o::i/cadê as mãos de mamãe*/as mãos gostosa≠/ah ((vibra lábios))((explode lábios))* ≠/(3s) ¤¤¤ mamãe*/≠ ((vibra lábios)) ((explode a bochecha)) UI/((idem)) ui/≠ ((idem))/(1s) eh mamãe Quelo não mamãe/binca disso não/*≠ *ajeita o bebê**aproxima seu rosto do bebê**coloca o bebê encostado na almofada no sofa**leva a mão direita do bebê 3 vezes contra sua bochecha E e ajeita o bebê* 10 B ≠->R(M)(tira a mão da boca)≠(vocaliza)R(A)≠≠R(M)≠≠R(A)(vocaliza)-> ≠ Vemos movimentos retrospectivos e prospectivos. Esses movimentos propõem as interpretações retomando de forma sintética todos os elementos fornecidos ao longo da troca ou da mudança de ponto de vista em relação às perspectivas dos interlocutores no caso na perspectiva do bebe e da mãe. Esses diferentes enunciados que demonstram bem o dialogismo no diálogo se fazem no entrelaçamento, na afinação, na coordenação imediata por vezes no próprio turno e outras vezes em turnos posteriores. Extrato 09 Data: 09/12/2007 Idade do bebê: 25 semanas Tempo: 01:23:17~01:39:26 Proxemia: Mãe e bebê no banco do terraço da casa; Bebê está sentado lateralmente no colo da mãe. 118 01 M ≠*eh: mamãe*≠/≠cadê a lu:z mate:us*/a lu:::z/≠ (4s) cadê mamã::e/ hum:/ ≠*(3s)eh/..eh/.assim/≠ (5s)°o bezinho cadê o bezinho cadê o bezinho°/hum::: ((estala labios))/o beijo de mamãe/cadê o beijo/(3s) cadê o beijo de mamãe/...¤¤¤ []/eh o be:ijo que ≠ mamãe*/[] *tu é um palha¤¤¤ faz mais não/hum/≠oi oi oi oi oi oi/levan:ta/(4s) oi/(12s) estique não mãezinha/se estique nã:o/*≠ *extende a mão D pro bebê bater**faz carinho no rosto do bebê* *ajeita o bebê e pressiona o queixo e o labio inferior do bebê* *da a mão D pro bebê bater e ajeita no colo sentado* 02 B ≠ (bate a mão E na mão da mãe)R(A) ≠≠(mão E na boca)(balança braço E) R(E) ≠≠R(F)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠ (bate a mão E na mão D da mãe≠ ≠(tenta se equilibrar)(extende o corpo pra tras) ≠ Ou na retomada (repetições) de ajustes anteriores (07) como vemos um pouco mais adiante neste mesmo extrato: 05 M ≠*(5s)[]*/...eh a festa mamãe/eh a luz≠/PEGA/hum/(5s) e::i mate::us/levante va a cabecinha/aqui/(7s) ≠ oi oi/ISSO:::/oxente mamãe≠/oxente mamãe/oi oi oi/(5s) aqui/(5s) oi/oi mãe/≠eh: mamãe ta acodando pra vc segurar a cabeça≠/OI/*(5s) eh a mão de mate:us/≠* *ajeita o bebê todo o tempo no colo**olha pra cima* 06 B ≠R(A)(estica o corpo)(braço E na boca) ≠≠(tenta se equilibrar) ≠ ≠(balança braço E) ≠≠(tenta se equilibrar≠≠(bate mãe E na mão D da mãe) ≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo)R(A)(vocaliza) (levanta braço D)(mãos na boca) ≠ 07 M ≠* (15s) oi*≠/*≠mai eh inquieto °¤¤¤°/(4s) eh porque eu num quero não ¤¤¤ não mamãe/[]/quelo não mamãe/... eh: eh sim:::/*≠ (1s) quelo não mõmõ::/a sinhola ta forçando mamã/faz ‘sim não mamãe/force NÃO/tem que ficar durinho meu amo:::/sem esticar viu/*≠ *(segura o bebê)(da mão pra ele bater)**(segura o bebê)(da mão pra ele bater)(beija a mão E dele)(ajeita o bebê)**ajeita o bebê* 08 B ≠(tenta equilibrar)(estica o corpo)(balança braço E)(bate na mão D da mãe)R(A)≠≠(tenta equilibrar)R(A)(bate na mão da mãe) (vocaliza)≠ ≠(tenta aquilibrar)(mexe o corpo)(vocaliza) ≠ Essas retomadas contém interpretações e podem ter varias funções como vemos nesse exemplo, de marcar sobre as intenções do bebê dando-lhe voz. Adotando uma analise ainda mais fina, vemos os fenômenos de integração das ações do outro no caso o bebê na elaboração da fala materna: 09 M ≠*(5s) hum:::/(4s) isso isso/.. levante a cabecinha/eh: mamã:::e/ eh: meu amo:::/(2s) oi/(3s) isso meu amo::::::/eh meu bem/u:::/ (6s) °eh a mamãe eh°*≠/... eh a mamãe eh/eh mamãe eh a sinhola eh 119 que ta fazendo ≠¤¤¤ ¤¤¤ ¤¤¤ mamãe/[]/queh mole::za neh negão/ ficar deitadinho/hum/≠*... ma ma ma ma ma/ *ama ma ma ma ma ma ma/[]/≠a mamãe AMA/[]/≠ama shim:/ama mamãe/[]/≠ (2s) a::ma te::u/a::ma≠/hum:/*[]/mamãe ama tim/[]/ama ma ma*/≠...oi nÃ:O/va nã:o/va nã:o/eh:: mamãe/≠* *ajeita o bebê**ajeita o bebê para que olhe pra ela**pega a mão D do bebê e coloca na boca**beija mão D do bebê e depois coloca na boca**ajeita o bebê* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(balança braço E)(vocaliza) ≠≠R(M)(mexe braço D) ≠(mexe o corpo todo) ≠≠R(mão D)(vocaliza)R(M)(pega na boca da mãe) ≠≠(tenta pegar no rosto da mãe) ≠(braço E na boca) ≠ ≠(tenta se equilibrar)(vocaliza) ≠ Os enunciados da mãe “eh mamãe eh a sinhola ehque ta fazendo ≠” e mais adiante “queh mole:::za neh negão” têm a particularidade de pressupor um pensamento do bebê “eu não consigo segurar minha cabeça” ou ainda “eu não quero me esforçar”. Os turnos de fala maternos precedentes e as ações do bebê permitem observar os processos de construção desta suposição: as tentativas do bebê de equilibrar-se (08) com seus movimentos corporais e quando bate na mão da mãe. Essas ações do bebê são imediatamente integrados ao discurso da mãe (10) dando assim um sentido às ações dele. Esse colocar palavras, ações, essa fala da mãe, são frutos desse dialogismo dinâmico, de uma construção mutua, na verdade a integração do discurso do outro ao seu próprio discurso oscila entre uma incorporação aparentemente sem traços, mas que traz uma marca muito importante de reconhecimento e de co(orden)ação por parte dos dois que denominamos de afinação linguageira51. Esses exemplos mostram em que ponto as ações e falas dos interlocutores podem estar imbricadas. Mas esta imbricação é assimétrica: vemos que a mãe torna acessível as ações responsivas do bebê ao que ela propõe contextualizando-lhe, sendo o seu reflexo. Desta forma a mãe adapta-se ao bebê construindo seu discurso através das ações responsivas do bebê, através da fala dirigida a ele reforçada por uma prosódia melódico-afetiva, ou seja por uma “fala atribuida” (CAVALCANTE, 1999). As interpretações maternas são sempre cheias de significação do dizer/agir do bebê e assim são dialogicas pois tomam a responsabilidade do falar pelo outro mostrando assim sua compreensão responsiva do “discurso” do outro (BAKHTIN, 1978). 51 Nesta tese assumimos o pressuposto de que existe uma coordenação entre a capacidade biologica inerente ao desenvolvimento ontogenetico humano e a intersubjetividade das relações humanas determinando o desenvolvimento das condutas interativo linguisticas. 120 Podemos ver nas reformulações do discurso materno suas tentativas de se moldar ao bebê. Por exemplo no turno 07 o discurso atribuído da mãe se apresenta como uma formulação de um discurso do bebê (“quelo não mamãe/... eh: eh sim:::/*≠ (1s) quelo não mõmõ::/a sinhola ta forçando mamã”) mesmo se ele jamais fez tal formulação. Isso é um discurso atribuído ao bebê. Para Cavalvante (2007) nas produções maternas “quando a mãe fala "como se"52 fosse o bebê - caracteriza, assim, um momento único em que o lugar dialógico do bebê é manifesto.” Este exemplo mostra um tipo recorrente de enunciados na interação mãe-bebê e também os movimentos discursivos da “fala reformulada”53 e da “fala atribuída”. Também veremos analises mais precisas sobre a polifonia e o gesto no dialogo nos tópicos seguintes. 5.3 Colaboração mútua (co-construção, orquestração, complementaridade) Neste tópico analisaremos os processos dinâmicos utilizados pela díade para comunicar. O processo de colaboração mutua que considera o papel de cada co-autor na interação. Foi discutido anteriormente o fato de que toda troca comporta um dimensão intersubjetiva e uma dinâmica que não podem ser deduzidas das posições sociais a partir das quais são estabelecidas. Concebemos a atividade entre os interactantes como uma coconstrução dentro de uma dinâmica instável, heterogênea e imprevisível. Mesmo que, como veremos, em alguns momentos a díade parece caminhar por uma dinâmica previsível, esta estabilidade dinâmica foi fruto de um proceder colaborativo coconstruído in situ (espaço) e no hic et nuc (tempo) do dialogo. A seguir vemos como foram alguns desses momentos que levaram a díade a coconstruir instancias de coordenação e de complementaridade, que levaram ao engajamento mutuo de suas expectativas. 5.3.1 52 Co-construção na díade mãe-bebê: Termo utilizado por Lyra & Rossetti- Ferreira (1989). Utilizamos esse termo com o sentido de apontar para as repetições e reconstruções contidas nos enunciados maternos dentro do jogo de atenção compartilhada pela diade. Cavalcante (1999) chama isso de fala recortada. 121 53 Salazar-Orvig e Grossen (2010) refletindo sobre o dialogismo constitutivo de todo enunciado consideram que ele está presente em todas as suas facetas na dinâmica dos diálogos (FRANÇOIS 2005; GROSSEN E SALAZAR-ORVIG, 2007; SALAZAR-ORVIG, 2005; 2008). Nesse contexto, a noção de dialogismo encontra, frequentemente, a noção de coconstrução, podendo mesmo ser vista até como sendo quase sinônimo. A fusão das proposições de Bakhtin nos seus diferentes escritos (1977, 1978, 1984) implicou, na literatura internacional, em muitas visões e interpretações diferentes da noção de dialogismo. Todavia um denominador comum atravessa essas diferentes facetas: a interação da natureza humana e da linguagem corresponde ao duplo fator constitutivo que todo discurso “encontra sobre todas as suas vozes em direção ao objeto” outros discursos com os quais ele interage e sob os quais ele é orientado em direção as respostas que ele pode suscitar. (BAKHTIN, 1978) Para Bakthin (1977) não existia uma verdadeira incompatibilidade entre essa noção, essa orientação constitutiva de todo enunciado e a dinâmica das trocas verbais. Porém as interrelações entre o dialógico e o dialogismo não deixam de suscitar problemas. Todavia, a distinção largamente adotada do dialógico e do dialogal em que a sua faceta, segundo Bres 54, de dialogização interior e do dialogo externo, foi constantemente amalgamada sobre a diferença entre o dialogo 'in praesencia' (trocas em face a face, diretas e que se caracterizam pela alternância de turnos de fala) e dialogo à distancia ou 'in absentia' com outros discursos que se inscrevem na esfera da troca cultural. (BAKHTIN, 1984) O diálogo 'in preasentia' conclui-se assim que está reduzido ao diálogo, aos aspectos sequenciais, interacionais, ilocucionários e o dialogismo no dialogo à distancia é considerado por alguns autores como fora da problemática dos estudos interacionais. Essa distinção nos leva a considerar que existe na elaboração dos enunciados de um diálogo duas séries de processos distintos: os que revelam as contribuições externas (de resposta, de continuidade de sequencialidade por exemplo) e aqueles que revelariam o processos internos e que seriam então diálogos 'in absentia' – à distancia. (CORLATEANU, 2005) Com isso essa faceta do dialogismo no diálogo é constantemente assimilada à coconstrução do sentido e dos enunciados nas trocas verbais. Podemos fazer outras diferenças : construção conjunta, construção colaborativa ou co-enunciação. (SALAZAR-ORVIG & GROSSEN, 2010) 54 Ver os trabalhos de Bres sobre os movimentos dialogicos. 122 Essa noção é tomada largamente em diferentes domínios das ciências humanas e sociais, na psicologia de inspiração vygostskiana (VYGOSTSKI, 2002), mesmo se ela se insere ou não à linguagem (por exemplo BRONCKART, 1996), em lingüística com Rabattel (2005), assim como em lingüística interacional pouco ou muito inspirada na Etnometodologia e analise conversacional (GOODWIN, 1981; MONDADA, 2001; SHEGLOFF, 1992) entre outros. Desde que apresentada como uma evidencia, porém raramente é definida, a noção de co-construção recobre um grande leque de fenômenos, indo desde o reconhecimento da base necessariamente interacional das significações sociais, culturais ou psíquicas aos fenômenos de elaboração conjunta dos enunciados. Salazar-Orvig e Grossen (2010) propõem a seguinte questão: deveremos considerar a co-construção como uma faceta/interface dialógica do dialogismo? Segundo essas autoras existem muitos pontos de convergência em diferentes aspectos que levam a negar essa questão. Nessa tese procuramos tomar a noção de co-construção como inerente ao próprio dialogo. Assim, examinaremos a oposição entre a coordenação das entidades de tensão nas relações, as diferenças de orientação dos enunciados entre a mãe e o bebê, a parte dos fenômenos de compreensão responsiva ativa do bebê e a heterogeneidade das vozes que são convocadas dentro dessas trocas. Nós sabemos que toda intercompreensão é responsiva entre as duas partes mesmo num dialogo entre um expert e um bebê que aprende através da co-construção do seu pensamento e linguagem na interação com o adulto. Com isso, poderemos constatar a sensibilidade responsiva do bebê desde muito cedo nessas trocas na constituição no seu fazer responsivo e assim tomar o lugar de “falante”. Vimos nos capítulos teóricos que toda construção discursiva está inscrita dentro de um processo dialógico: “na intersubjetividade das trocas verbais e dentro de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta.” (BAKHTIN, 1977, p. 136, tradução nossa). Nesta tese analisamos mais profundamente esse processo dialógico e podemos identificar a construção dialógica através das trocas interativo-linguisticas dentro de uma corrente que compreende também o não-verbal. Nem o verbal tampouco a fala se elaboram dentro de uma pura relação de um sujeito solitário face à experiência e a língua que lhe mobilizam. Globalmente tudo isso depende da situação de comunicação, de seus enredos, do seu contexto. Depende de quem e como fala e 123 porque. Localmente tudo isso é construído dentro de uma relação fina de movimentos externos e internos, de interlocução e numa relação de interdependência de enunciados. Rabattel (2005) declara que a co-construção dos pontos de vista num dialogo é uma corrente instável e desigual. Para ele a co-construção não está presente apenas na quantidade de fala (numero de turnos, volume, complexidade sintática...) pronunciadas pelo locutor que pode falar muito sem realizar, enquanto enunciador, uma contribuição para a co-construção de um ponto de vista comum. Ele pode também falar muito e contribuir muito assim como pode falar pouco ou raramente e contribuir de forma decisiva como enunciador. Danon-Boileau & Morel (2003) analisam mais profundamente essas instancias enunciativas e apresentam a noção de co-enunciação enquanto uma representação do outro presente no discurso do falante visando melhor prevenir suas reações a fim de favorecer o consenso. Os fenômenos de co-orientação, de ajustamento mútuo das perspectivas de coconstrução e de colaboração estão dentro da construção de um objeto comum. Todavia o dialogo corresponde igualmente aos movimentos respectivos dos posicionamentos dos interlocutores: A expressão de um enunciado jamais pode ser compreendida e explicada até seu fim se só damos conta apenas do objeto de sentido. A expressão de um enunciado é sempre, num nível mais elevado uma resposta. Dito de outra forma: ela manifesta não somente seu próprio referencial ao objeto e ao enunciado mas também o referencial do locutor aos enunciados do outro. (BAKHTIN, 1984, p. 299, tradução nossa) Os deslocamentos de papeis, as variações dos objetos do discursos mencionados acima relatam um pouco dessa dinâmica responsiva. Vamos passar a analisar no corpus esses movimentos dialógicos dentro da interlocução dessa díade em particular. Analisaremos agora o discurso dirigido ao bebê e sua responsividade. 5.4 As vozes do diálogo na interação mãe-bebê: A plurimodalidade Veremos o discurso materno dirigido ao bebê enquanto um fenômeno dialógico desenhado pela polifonia presente nessas trocas. A fala atribuída materna multiplicando enunciados, melhor dizendo sendo uma das fontes da produção linguageira, enquanto marcas de unidades discursivas, presumindo uma homogeneidade e um conjunto de unidades dentro 124 de uma produção linguageira comum e particular. A partir disso vejamos esses fenômenos mais especificamente. 5.4.1 Orquestrando/afinando as vozes (polifonia e prosódia) De uma maneira geral as especificidades dos discursos maternos em sua fala dirigida ao bebê nos levam a interrogar sobre dois fenômenos: as relações entre essas diferentes manifestações da palavra do outro no discurso e enquanto instancia o estatuto dessa fala que se manifesta através do discurso global. Assim podemos nos perguntar se existe uma relação de continuidade entre o discurso integrado e o discurso implícito na fala dirigida ao bebê. Podemos evocar uma diferença fundamental: o discurso integrado não coloca necessariamente em cena um enunciador outro, externo a essa dinâmica. Mas a fala do adulto aparece enquanto um recurso para a codificação entre ambos. Isso quer dizer que as primeiras experiências com as palavras do outro, os seus enunciados, sem necessariamente se colocar como um enunciador marcante, mas aquele que está percebendo e se ajustando ao discurso do outro. E no segundo caso, ao contrario, é o outro que está representado dentro e através de sua fala. Isso num jogo sincrônico de papéis em que um é o “eu-outro” e o outro sendo “eu”. Vejamos um exemplo em que esta distinção não é sempre muito clara mas podemos tratar como “se”. Através da fala do outro, do seu dizer, se vê a possibilidade de outra fala que seria ao seu turno aquela do locutor “como se” existissem reenvios, e/ou reemissões recíprocas ocultas. Extrato 01 Data: 16/08/07 Idade do bebê: 11 semanas 21 M Tempo: 0:00~8:05 Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face (bebe está deitado e a mãe sentada ao seu lado) ≠& (3s) hh* tô me arretANdo minha mãe/tô/≠ (2s)hhh* tete:u/ *≠mamã:e≠ tete:u/Oh mamãe aqui/≠aqui ponto/cabeça ¤ pra ver mamãe/ assim*≠/ *≠mamã:e:/*ta olhando pra ‘quele negocio é mainha*/ (2s) *hum/hein mainha/&*≠ 125 ->* sorri* *(passa a mão E no rosto D do bebê) (sorri)(tira a mão do bebê da boca)(aproxima o rosto do bebê)* *vira a cabeça do bebê para o centro* *(olha pro lado E) (afasta-se do bebê)**segura as mãos do bebê ->* 22 B ≠-> R(D)(vocaliza) ≠ ≠ R(M) (vocaliza) ≠ ≠ R(E)(vocaliza) ->≠ Vemos nesse exemplo que numa mesma sequência de enunciados varias vozes maternas se misturam. A “fala atribuída” dando o lugar ao “eu-bebê” e a mãe que fala do seu lugar de “eu mãe” e “eu como se fosse bebê”55. Em um caso como o outro essas são as interfaces que funcionam em dois sentidos. Quando a fala se apresenta como sendo o fato do momento do locutor, nós podemos escutar as vozes dos outros enunciados. Quando ao contrario, ela se apresenta como sendo o fato de outro enunciador, só podemos identificar a “marca” do locutor. Para Bakhtin a marca do locutor não é apagada na fala atribuída: O contexto que inclui as palavras dos outros cria um fundo dialógico cuja influência pode ser significativa. Recorrendo a procedimentos de enquadramento adequados, podemos alcançar transformações significativas de um enunciado externo, ainda prestados de maneira exata (...). A fala do outro, introduzida no contexto do discurso, estabelece com o contexto que a engloba não só um contato mecânico, mas um amálgama químico (em termos de significado e expressão). (BAKHTIN, 1978, p. 159, tradução nossa) A polifonia começa da co-existência de duas vozes, mesmo que essas duas vozes pertençam a um mesmo locutor. Vemos a presença importante dessas vozes no desenrolar interlocutivo, na intersubjetividade e assim na construção da subjetividade do bebê no dialogo com o adulto. 5.4.2 Discurso dirigido ao bebê X Polifonia: O lugar do enunciador (‘EU’ – mãe , ‘EU’ – bebê e ‘ELE’, a intersubjetividade) A fala dirigida ao bebê já é por si só uma tentativa pelo adulto de afinação com o “eu” e o “outro”. Sobretudo no primeiro ano de vida, mãe e bebê se constituem como unidade relacional, que pode ser visualizada na chamada fala atribuída. (CAVALCANTE, 1999; 2001) 55 Ver essas definições mais precisamente em Cavalcante (1999; 2001; 2007) 126 Cavalcante (2001) considera que a mãe, para ocupar o seu papel, necessita criar manifestações de subjetividade por parte do bebê. Esta subjetividade criada pela mãe faz do bebê um interlocutor representado através de um pseudo-diálogo ou diálogo ilusório que segundo Rubino (1989) é configurado pela ação interpretativa da mãe sobre o fluxo do comportamento espontâneo do bebê. (CAVALCANTE, 2001) Para esta autora existem duas configurações da fala atribuída: a fala interpretativocomportamental e a fala passível de deriva. A primeira apresenta-se quando a mãe atribui a algum comportamento do bebê (vocal ou corporal) uma interpretação. Este tipo de fala representa uma mãe pronta a interpretar qualquer comportamento do bebê, a partir de alguns "indícios" dados pelo bebê como bocejo = sono, choro = desprazer etc. Na segunda fala, a fala passível de deriva, nada dentro do contexto imediato (comportamento do bebê) leva à sugestão do conteúdo a ser produzido no enunciado materno. Esta fala evidencia uma dupla violência interpretativa, pois se, na primeira fala, a mãe utiliza-se de indícios pouco garantidos na interpretação deste "interlocutor idealizado", neste caso, não há indícios na situação imediata, e mesmo assim, ela interpreta. Vejamos nos extratos a seguir como se configuram na díade em questão essas manifestações de subjetividade criadas pela fala atribuída. Extrato 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠toca o rosto da mãe R(D) ≠≠R(M) ≠ 07 M *(2s) °carinho mãe°/VOU FICAR EM PÉ/ ui ui ui ui ui ≠sento::::u*/ ..ta deitado mamãe/(1s) cadê mateus senta:do/*..sem a mão na boca/≠*(7s) o:lha::/ mateus sentado::/≠o:lha mamãe≠/que nego mais lin:do mamãe/olha/ui ui ui ui ui ui*/com as cabeça baixa/*olha as mãos de maTEUS*≠/que mão gandona::::: ≠/*olha as mã::o/mã::o/ cadê 127 a mã:o/a mã::o/olha a mã::o:*/olha so: mateus passa a mão no rosto né mamãe/não mamãe≠/. não meu amor/≠oi vai cair é/* *coloca o bebê empé no sofa e depois sentado**tira a mão do bebê da boca**ajeita o bebê**mostra sua mão E ao bebê**ajeita o bebê e faz carinho na sua cabeça**segura a mão D do bebê ajudando a coloca-la no seu campo visual**ajeita o bebê* 08 B ≠tem a mão D na boca≠≠R(mão D) R(M)R(mão D) ≠≠mão D na boca≠ ≠R(mão D) (passa a mão no rosto) ≠≠mão D na boca≠-> Podemos identificar a presença das duas configurações da fala atribuída. A mãe interpreta (05) o movimento do bebê de esticar o corpo como uma recusa à sua proposição atribuindo-lhe a “voz”56 interpretativo-comportamental. Em seguida (07) a mãe fala como se fosse o bebê atribuindo-lhe a ação de querer ficar em pé, utilizando a voz passível de deriva. Como a própria literatura sobre a fala dirigida ao bebê mostra podemos identificar as varias vozes e os deslocamentos presentes na configuração de suas identidades. Um fato interessante e que se apresentou desde cedo na fala materna é a presença do “Eu negão”. Uma referência dada pela mãe à cor da pele que os equaliza. Nesse fragmento esse “Eu negão” está presente duas vezes nos dois turnos maternos seguidos: (05) /carinho negão/ e (07) /que nego mais lin:do mamãe/. Do ponto de vista prosódico essa voz diferencia-se nessas duas instâncias de uso: na primeira (05) utilizando a voz habitual (sem grandes flexões prosódicas) talvez para configurar bem o que ela esperava do bebê: a ação de fazer carinho na face. Na segunda (07) utilizando a foz infantilizada em falsete para saudá-lo talvez na tentativa de manter o olhar compartilhado. A mãe utiliza frequentemente enunciados como esse (05): /. a mã:o mamãe/ (1s) ≠ assim não não mamãe/mau mamãe vira criação não mamãe/oxente/quer brincar assim/ponto*≠ponto/shhh/pon:to mamãe/. Percebemos neste fragmento de fala materna, um sujeito que cria a instância do outro para ver a si próprio enquanto mãe. Para Bakhtin (1986), a atitude do locutor face a si mesmo é inseparável da atitude do outro em relação a ele. A consciência de si mesmo faz com este se sinta constantemente no fundo da consciência que o outro tem dele. Isso é, a constituição do sujeito na auto56 Modificamos de “fala” para “voz” para aumentar a visão de alcance deste tipo de recurso presente na diade mãe-bebê. Falar de voz neste sentido amplia contextualizando melhor a função no dialogo da fala materna atribuida. Referimos à relação entre a polifonia e a prosodia interferindo no contexto enunciativo das trocas dialogicas na diade mãe-bebê. 128 enunciação pelo discurso do outro: “O que a voz carrega e expressa ao mesmo tempo é que o enunciado é tanto 'meu' como de 'outros'. (BAKHTIN, 1984, p.89, tradução nossa). A instauração da especularidade materna, através do pseudo-diálogo, traz a possibilidade de configurar a relação mãe-bebê, desde o seu início como uma constituição subjetiva. (CAVALCANTI & NASLAVSKY, 2011) O bebê que responde “enunciando” com o tocar no rosto da mãe, olhando para ela e vocalizando (06) mostra o seu lugar de enunciador imbricado nessa fala materna. Para Cavalcanti & Naslavsky (2011) são essas oposições de vozes que se identificam e se estranham, trazendo à tona vários lugares discursivos que vão se constituir enquanto espaço potencial que possibilitará o caminho para a constituição subjetiva não só do lugar materno, mas, sobretudo, do lugar subjetivo do eu-bebê. Em seguida vamos apresentar as dinâmicas dialógicas da díade configurando-se longitudinalmente tendo como base fundamental a multiplicidade de vozes presentes nessas dinâmicas. 5.4.3 A evolução da orquestração voco-verbal Cavalcante (1999) colocou em discussão o papel fundamental da fala materna para o desenvolvimento interativo lingüístico do infante. Ela parte da compreensão desse processo de diferenciação e subjetivação ser gradual, efetivando-se nos deslocamentos subjetivos marcados pela fala materna. Esses deslocamentos vão possibilitar a relação do infante com sua própria subjetividade. Ela mostrou que no primeiro ano de vida o trabalho se da de forma melódico afetiva incluindo uma dinâmica lingüística constituída na dinâmica da tríade lingüística: prosódica, extralingüística e paralingüística sem uma separação estrita que vai possibilitar a inserção do infante via discurso materno na dinâmica da língua. Esta autora ainda apontou uma abordagem alternativa para isso, um olhar discursivo na qual a fala materna, a prosódia em especial, tem uma função lingüístico discursiva desde os primeiros meses marcando essa constituição nos deslocamentos dos lugares discursivos entre a mãe e o bebê. “é a linguagem como atividade constitutiva que confere qualidade às relações humanas”. (CAVALCANTE, 1999, p. 59) Ao atribuir uma significação aos comportamentos do bebê naturalmente estamos vendo nisso uma atividade dialógica desde os primeiros meses. Desde o inicio a mãe toma o bebe como interlocutor fazendo uso da fala atribuída quando a mãe dá voz ao bebe falando como se 129 fosse ele. E depois diante de um infante mais ativo vocalmente a mãe promove outro deslocamento para o seu próprio lugar de mãe. Cavalcante (1999) apontou nesse processo dois tipos de produções maternas nos quais ela passa a pontuar as produções do bebe através da fala ritmada e da fala recortada. E com a evolução um novo deslocamento se faz presente a partir da restrição da mãe tomando um lugar mais restrito, criando um lugar discursivo dando a criança o seu lugar de sujeito. A fala enfática da mãe se estrutura dando os contornos, num trabalho melódico, a criança vai modificando a sua posição discursiva e também se constituindo na e pela língua pois está vendo “sua fala” refletida no contato melódico materno. A criança também passa a instalar o processo especular assumindo o espaço dado (facilitado) pela mãe. Em nossas analises baseados em todas essas visões vamos buscar observar a dinâmica dialógica mãe bebe envolvendo toda essa questão da “multiplicidade individual de vozes” (BAKHTIN, 1979; 1986). Vamos analisar como algumas dessas dinâmicas vão sendo ritualizadas configurando-se longitudinalmente, as diferentes posições do sujeito, as diferenciações que a mãe faz das vocalizações do bebe e as que ela oferece ao bebe logo das reações dele. Vamos enfocar a prosódia enquanto uma função lingüístico discursiva e esses lugares discursivos da díade (CAVALCANTE, 1999), a linguagem como uma atividade constitutiva conferindo qualidade às diferentes dinâmicas dialógicas. 5.4.4 Fases dessa evolução: Durante a evolução da díade no diálogo, um fato relevante que os dados mostram é que desde o início o bebe foi responsivo vocalmente e como foi se apropriando dessa voz devido a essa responsividade. A voz do recém-nascido comunica e o feto aprende os padrões sonoros da voz materna emitidos através do corpo intra-utero. Esta é a natureza humana: vocalizar e perceber a vocalização do outro e aprender com e através dessas mensagens. (TREVARTHEN & GRATIER, 2007) A noção de voz que compartilhamos como suporte teórico nesta tese é que o desenvolvimento parte da voz social e o seu cultivo (orquestração) projeta diferentes maneiras do ser e adquire diferentes historias narrativas pessoais através da transação de dinâmicas dialógicas na comunidade. 130 Bertau (2007) através de uma rica literatura sobre a noção de voz, faz sua analise baseando-se em duas perspectivas : a visão bakhtiniana entendendo a voz como um esboço e a visão psicolingüística em que a voz é um evento concreto auditivo-vocal. Ela apresenta nessa sua analise cinco conceitos-chave para descrever o fenômeno vocal: indexicalidade, corpo, entonação, imitação e internalização. Com relação a indexicalidade esta autora refere a voz como um meio para indicar significados para o ouvinte e o falante apontando para a real situação compartilhada das pessoas comunicando-se e mais a voz do corpo (ou a fala do corpo). O corpo é assim moldado socioculturalmente. A entonação é vista como profundamente social e dialogicamente formatada. A imitação e a internalização são explorados em termos de aquisição na ontogênese dessa voz. Nessa tese nós propomos que a voz não pode ser separada do ritmo da vida, da musicalidade, do movimento, da dinâmica, de uma orquestração. Propomos que a vida vocal (essas vozes) não podem ser separadas do ritmo do tempo da vida humana e da orquestração dos movimentos na dinâmica dialógica. Os jogos vocogestuais procuram uma exploração afetiva do conhecimento do outro e para as trocas de aventuras, de experiências partilhadas. Dessa maneira os jogos vocais vão ser vistos como uma exploração conjunta do conhecimento entre a díade na experimentação desse compartilhar. A mãe influenciada pela sua especial intimidade com o bebe assume varias vozes e como ela se adapta a essa vocalização multicanal mostra também a sua saúde emocional e a qualidade do seu relacionamento com o seu bebê, sua casa e a sociedade (BERTAU, 2007). O bebê também à medida que ele cresce nessa ludicidade, ele se torna essas vozes diferentes. Em uma família existe uma orquestração, um teatro de vozes, o que leva a criança a participar posteriormente da orquestração das vozes na comunidade, no trabalho e no lazer com os rituais de atividade e hábitos de falar. A voz é o fundamento principal para se compreender um self dialógico. Para Bakhtin (1984), a vida da linguagem não é concebível fora das relações, fora do movimento dialógico. Ele observa a consciência em diálogos contínuos de vozes tanto internas como externas, representando a pessoa inteira e com uma densidade especial de resiliência, a voz torna-se o indicador da essencial característica da consciência. Desde o inicio, a voz “ouvida” representa o 'tempo' (pulso) da vida pois é para o bebê um marcador de existência entre o útero e o mundo. O bebê nasce conhecendo a(s) “voz(es) » 131 materna(s). As vozes surgem dentro do movimento do corpo humano assim como todos os outros movimentos fazem o 'tempo', antecipando e ajustando, para uma experiência que eles vão passar a co-criar (TREVARTHEN e GRATIER, 2005). Esse 'tempo' tem o sentido rítmico, mas vem antes dele. Isso implica numa harmonização criativa de ritmos em um dueto. As protoconversações (BATESON, 1979) que ocorrem aos dois meses de idade usam as expressões dos olhos, face, voz e mãos num “dialogical contours” que estimulam imediatamente os comportamentos responsivos dos pais encorajando afetivamente e apropriadamente no suporte, na orquestração, ou seja, a afinação entre eles e seus bebês (MURAY e TREVARTHEN, 1985, NADEL, 1999). Defende Trevarthen (1999) que o comportamento do bebê nessa dinâmica relacional é característica de uma intersubjetividade inata. Passemos a examinar no nosso corpus algumas dessas questões. As vocalizações iniciais do bebê tipo: choro, gorjeios, gritos, risadas vão ganhando respaldo no discurso materno. Na sequencia abaixo as vocalizações do bebê comunicam seus estados auto-regulatórios compartilhados com as ações maternas. Como convenção de transcrição as vocalizações do bebê estão em sublinhado nos turnos de fala da mãe. Assim veremos as dinâmicas de co-construção do significado dessas vocalizações marcando dessa forma o momento/'tempo' em que elas acontecem : Extrato - 1 Data: 16/08/07 Idade do bebê: 11 semanas Tempo: 0:00~8:05 Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face (bebê está deitado e a mãe sentada ao seu lado) 01 M ≠*hum []*/≠ *se aproxima do bebê e lhe da um cheiro* 02 B ≠(chora)R(M)≠--> 03 M (1s) ≠*hein mãezinha*≠/ (3s) ≠*teteu:: ≠/≠*[]* ≠ *passa a mão D. no rosto do bebê* *idem* *solta beijo e busca o olhar do bebê*> 04 B ≠R(E)(chora)≠ 05 M (3s)≠*tete::u: (1s)* [] *≠ *segura-lhe a mão E aproxima o seu rosto do bebê buscando seu olhar*--->*<((beijos))>* 06 B ≠R(E)(vocaliza) ≠ ---> ≠R(M)(chora) ≠ ≠R(D)(chora) ≠ 132 07 M ≠*teteu* *cadê teTEU*≠/≠*cadê mãezinha*≠/*≠(1s)cadê mãezinha*≠/ ≠*[]* *(1s)ISSO:://* ≠ *balança a mão do bebê, sorri procura o contato visual do bebê**idem* *solta a mão do bebê, faz carinho com esta mão na bochecha E, da um cheiro na bocheca direita do bebê* *solta beijo, procura o olhar do bebê,vibra labios* *((sorri))* 08 B ≠R(E) ≠ ≠R(M)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(M) ≠ 09 M ≠*vem ver mamãe aqui do lado/ *tete:u/Ô tete:u/ISSO mainha≠//≠tetEU*/*(1s) oh mainha aqui*\°qui°&≠ *inclina-se pro lado direito do bebê saindo do seu campo visual* *volta pra frente do bebê* 10 B ≠R(D)(vocaliza) ≠ ≠R(A)(vocaliza)--> 11 M &≠*é:://pepeta °tome tome°\(1) °tome pepeta tome°*≠ *coloca a chupeta na boca do bebê* 12 B ≠(vocaliza e chupa a chupeta) R(D)> ≠ 13 M ≠*(9s)cadê tete:u//[] cadê tete:u/cadê tete:u/tete:u:: ô mate:us/matEUS/≠mate::us/olha pra mamãe aqui/matEUS/mate:us/ ≠*[]*/mate:us/ISSO/olha pra mainha mainha ta aqui oh≠/≠aqui mamãe*/*ISSO::/ ≠*& *<inclina-se para a E do campo visual do bebê ao mesmo tempo que segura sua mão E-->* *beija a mão E do bebê*> *volta pra frente do bebê* 14 B ≠R(D)-> ≠ ≠vocaliza≠ ≠R(F) ≠ ≠R(E)vocaliza-> ≠ As manifestações vocais do bebê são desde cedo configuradas no dialogo pela mãe marcando bem a atividade especular própria de uma díade mãe-bebê. Observamos no corpus que as vocalizações do bebê aparecem cedo. Nesse exemplo, temos o bebê com 11 semanas mostrando-se bem responsivo vocalmente às proposições maternas. Nos turnos de 01 a 14 mãe e bebê intercalam-se voco-verbalmente. Vê-se os movimentos de especulação materna nesses turnos utilizando uma prosódia variada, buscando estar diante do campo visual do bebê e ainda utilizando a mímica facial. Após esses movimentos maternos, notamos no turno 11 ao dar a chupeta ao bebê e comentar isso, o comportamento especular da mãe atribuindo às vocalizações do bebê um possível estado de humor (descontentamento?). A tentativa de dar a chupeta para ele possivelmente foi para verificar isso. Na sequência as vocalizações do bebê vão sendo mais precisamente configuradas pelos movimentos e fala maternos : 133 15 M ≠&*ta reclamando de que minha vida*/*hein mãezinha/hein °mãezinha°\[]/[]/≠[]/*[]*/*hhh* ≠[]/*≠é: mainha ta mandando um beijo/[]≠/*hum:: ta olhando pra mamãe é coisa linda*/*≠[]/* é mamãe≠/& *passa a mão E no rosto do bebê* *mão E no queixo do bebê->* *sorri* *da um cheiro na testa do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* 16 B ≠>R(M)-> ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ 17 M ≠&*(1s) cadê tete:u/HUM*/*[]/hh []/[]/[]/[]*/ *≠tete:u /oh mãezinha/vem ca mãezinha pra ver ¤¤¤¤≠/(1s)tete:u/oh maTEus≠/*(2s)** ≠tete:u/oh≠ teteu vem CA mamãe/≠cadê mateus≠/hein mateus*/*hum*/& *afasta-se e aproxima-se do rosto do bebê e sorri* *(fica a D do bebê->)(toca na mão)(toca no peito) (da cheiro na mão D do bebê)* *cheira o lado D do rosto do bebê* *passa a mão D no lado E do rosto do bebê->* 18 B ≠R(M) ≠ R(D)-> ≠ ≠(vocaliza)≠ ≠(vocaliza)≠ 19 M ≠& quer olhar mamãe aqui não é/≠hum*/*°ta° olhando≠ pra que*/ *≠azul mamãe/≠cadê ¤¤/≠[]/papa/*cadê ≠papai≠ hein/papai ta aqui não*/*tu ta procurando ≠papai*/≠é::/a mão na boca/ta certo mainha->/&≠ ->* *(olha para a D e vem para o lado E do bebê->) (segura a mão E do bebê* *(olha para o bebê)(aproxima seu rosto)* *passa a mão D no rosto E do bebê* *(passa a mão E no rosto D do bebê) (sorri)* 20 B ≠-> R(D)-> vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠coloca a mão na boca->≠ ≠vocaliza≠ ≠R(M) ≠ 21 M ≠& (3s) hh* tô me arretANdo minha mãe/tô/≠ (2s)hhh* tete:u/ *≠mamã:e≠ tete:u/Oh mamãe aqui/≠aqui ponto/cabeça ¤ pra ver mamãe/ assim*≠/ *≠mamã:e:/*ta olhando pra ‘quele negocio é mainha*/ (2s) *hum/hein mainha/&*≠ ->* sorri* *(passa a mão E no rosto D do bebê) (sorri)(tira a mão do bebê da boca)(aproxima o rosto do bebê)* *vira a cabeça do bebê para o centro* *(olha pro lado E) (afasta-se do bebê)**segura as mãos do bebê ->* 22 B ≠-> R(D)(vocaliza) ≠ ≠ R(M) (vocaliza) ≠ ≠ R(E)(vocaliza) ->≠ 23 M ≠&* (1s) i é::/(5s) ≠ta reclamando de QUE*/quer ficar ai não é:/ *HUM/Hum*/(3s) *tome pepeta°zinha°\(1s) ponto*\ *(5s)* *°segura a pepeta mãmãe°\assim\segura aqui oh\assim\com a ≠mãozinha\a mã:o mamãe*/a mã:o/I:sso/≠*hhhhh*/≠°quer° pepeta não é/*hum/hein meu amor*/≠*[]*/*teTE≠:U:::::* ≠ -> *segura as mãos do bebê* *passa a mão E no rosto D do bebê* *da a chupeta ao bebê* *passa a mão E na cabeça do bebê* *ajeita a chupeta na boca do bebê* *sorri* *passa a mão na cabeça do bebê* *se aproxima do rosto do bebê e solta beijo* *olha pra cima* 24 B ≠R(E)-> (vocaliza)≠ ≠ R(A) ≠ ≠R(D) (segura a chupeta) ≠ ≠R(M) ≠R(A)->(tira a chupeta da boca) ≠ 25 M ≠*(1s) ≠ que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[]/ ≠(vocaliza)≠ 134 []/[]*/ mamãe ama ≠*hhh*/ama si::m/≠*hhhh*/ [] *(1s)ta* olhando pra que* *mãezinha≠/ ≠tu gostou do colorido foi/(4s) *to busado meu amor/ é::*/*(5s) hhh ≠quer sair ≠dai é*/ *hein mainha/(1s) heim/*≠-> *passa a mão D no rosto do bebê* *(se aproxima do bebe)(solta beijos) (balança a cabeça para os lados)* *da cheiro no pescoço do bebê* *idem* *olha pra cima* *faz carinho no rosto e no corpo do bebê* *(olha pra cima)(da cheiro no bebê) (vai para o lado direito do bebê)* *(pega nas mãos do bebê)(fica de frente pro bebê)* 26 B ≠->≠ ≠ (vocaliza) R(M) ≠ ≠R(E) ≠ R(A) ≠ ≠R(E)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(E)-> ≠ Como se observa, a mãe faz três interpretações sobre as vocalizações do bebê que marcam um possível desengajamento dele : no turno 19 - « quer olhar mamãe aqui não é/≠hum*/*°ta° olhando≠ pra que*/ » e uma atribuição a um possível estado interno : o bebê está “arretado” (abusado) (21 e 25). Outra interpretação é o bebê “reclamando” por não querer ficar deitado ou não querer a chupeta (23 e 25). Em seguida as expressões vocais do bebê são relevantes para a interpretação materna de que é mesmo uma reclamação de sua parte e a mãe passa a fazer os ajustes necessários para acalmar o bebê de suas “queixas” e marca o fim dessa sequência (27 – 32). Eles caminham para a afinação do jogo vocal (harmônicos vocais): 27 M ≠*cadê a mão de teteu/olha a mão de tete::u::/brinca com a mãezinha mãozinha vai mainha/olha a mã:o/a mã::o main:ha/(1s)* não/ pode chorar nã:o/hum*/hein meu amor/*[]/mamãe solta beijo sim/*parar de reclamar/solta sim beijo/solta/[]*/*[] / tete:u:/HHH*≠ *->* *passa a mão no rosto e no corpo do bebê* *(solta beijo) (fica diante do bebê)(balança a cabeça)(da cheiro)* *(fica do lado E do bebê)(vibra labios)(vai pro lado direito)**(solta beijo)(faz carinho na mão D)(da cheiro na bochecha D)* 28 B ≠->(vocaliza) R(M)R(E)->≠ 29 M ≠*cadê mamãe/olha pra qui oh/pra mamãe/(1s) hum/(1s) tu ta olhando pro neGOcio azul é mainha*/*hum/aqui é/*(5s) hein meu amor*/*(3s) tome pepeta va*/(1s) assim/(7s) que não é/(1s)hhh que não né/pssss *≠NA:O mainha*≠/nã:o≠ mãezin:ha/psssss/pssss/*≠ *(fica do lado D do bebê)(olha e aponta com a mão direita)* *fica do E do bebê e aponta* *faz carinho e bota a chupeta na mão E do bebê* *da a chupeta ao bebê* *(ajeita o bebê)(faz carinho e da beijo na bochecha)* 30 B ≠-> (vocaliza)≠ ≠R(A) ≠R(E)->≠ 31 M ≠*psssssssss/[]/*(1s)é:::*/(5s)nã:o mainha/nã:o/olhe a 135 pepeta aqui pon:to °ponto ponto ponto ponto assim oh°/*pon:to/≠ (5s)hhh/*tu ta ¤¤¤ mamãe≠/* ≠hein meu amor*/hum/* (5s) a ¤¤¤/*≠ *(segura a mão do bebê e aproxima seu rosto) (solta beijo)* *se afasta e da a chupeta ao bebê* *afasta-se**ajeita o bebê* *olha pra cima e ajeita o bebê* 32 B ≠->R(E) (vocaliza)≠ ≠R(D) ≠R(A) ≠ No turno 27 temos : « pode chorar nã:o/hum*/hein meu amor » e «parar de reclamar». E nos turnos 29 e 31 observamos a presença do regulador « psssssssss » e do « NÃ:O mainha » com uma intensidade vocal mais elevada confirmando a configuração dada por ela à tais vocalizações do seu bebê como se ele está: “arretado”, um estado interno. 5.4.5 Choro significando um estado interno do bebê – sonolência: No próximo extrato o choro passa a configurar desde o inicio da sequência uma reclamação do bebê para a mãe, que regula todas as suas ações baseadas nas respostas vocais dele. Vejamos: Extrato - 4 Data: 11/09/07 Idade do bebê: 14 semanas 01 M Tempo: 22:50~32:19 Proxemia: mãe coloca o bebê numa cadeirinha e começa a falar ao bebê. Os dois estão em face a face. Mãe chama o bebê pelo nome pois está sonolento. ≠* MATEUS/ cadê mateus cadê mateus/hh/cadê coisa≠ linda de mãe*/ */[- 5s] °ai jesuis°/*Não não*/ *mainha não faz zuada não/faz não/°faz não°*/*≠ (1s) mãezinha ou::/* quer papo não/quero papo não≠/(1s) *teteu:/(3s) ow teteu/(2s)* ≠ mãezinha:/nã::o/ nã::o/nã::o* aperreie NÃO/hum shhhhh/°¤¤¤¤ não/(2s) quer ¤¤¤°/ [] *(faz carinho no rosto do bebê) (da cheiro)* *(pega chocalho) (faz barulho)* *para o barulho e segura a mão do bebê* *pega fralda e passa no rosto do nenê* *pega objeto e mostra ao bebê* *solta objeto* *segura o rosto do bebê e com a fralda limpa seu rosto* *muda o bebê de posição e faz carinho no rosto* *tira o bebê da cadeira e coloca no colo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)(vocaliza) ≠ ≠(fecha os olhos->) (vocaliza) ≠ ≠(abre e fecha os olhos) (chora)-> ≠ 03 M ≠*shhhhh/shhhh*≠ -> *com o bebê no colo da cheiro, balança e da a chupeta* 136 04 B ≠-> (chora) ≠ 05 M ≠*->(16s) °não ta bom/ponto ponto ponto ¤¤¤/≠ quero bincar mais não/ vou brincar mais não°/*≠ *balança o bebê* 06 B ≠(bebê se acalma)≠ ≠(fecha os olhos)≠ A tentativa materna de chamar a atenção do bebê com o chocalho recebeu o choro imediato do bebê. A mãe interpreta como um não, uma reclamação (desengajamento) (01 – 04). E nos turnos seguintes ela conforta o bebê reforçando que reconheceu sua reclamação usando uma prosódia própria para isso conseguindo acalmar o bebê (05 e 06). A nova tentativa do chocalho é imediatamente abortada após a resposta imediata do bebê que chora (07 e 08): 07 M ≠*/[- 5s] O::lha::/*(2s)* a musiquinha mainha/tu num quer não a zuadinha nã:o≠/≠*ta bom ta bom °ta bom ta bom°*/(1s) quer ¤¤¤/≠matE::us/oh mate::us/*mãezinha::: ≠/hum*/≠ (6s) shhhhhhhh/shhhhhh/≠°quer brincar não é/tu num quer brincar não/hhh/hein mãezinha/(2s) shhhhhhhh/* *pega novamente o chocalho e faz barulho* *solta o chocalho* *passa a fralda no rosto do bebê* *da a chupeta* *faz carinho* 08 B ≠R(O) R(M) (chora)≠ ≠(fecha os olhos) (chora)≠ ≠abre os olhos R(A)≠ ≠fecha os olhos≠ ≠R(M) (chora)-> ≠ 09 M ≠*(3s) cadê matÊus hein/cadê/tô arretado mainha* hhh*/*querendo dormir/hum* []*/*(3s) shhhhhhhhh->≠ *coloca o bebê sentado na cadeirinha e fica segurando* *da cheiro* *pega o bebê no colo* *da beijo* *pega a fralda e da a chupeta ao bebê* 10 B ≠(chora) (olhos fechados)-> ≠ 11 M ≠*-> (50s)* q foi hhh hum/que foi/hein/ que foi/¤¤¤¤¤¤ (27:03) *acalmando o bebê* 12 B ≠R(M) (chora) ≠ A afinação das expectativas se passa mais brevemente. A interpretação imediata da mãe do choro do bebê configura mais uma vez a resposta desse enquanto uma reclamação e o fato dela repetir as mesmas ações vocais e gestuais reforça ao bebê que ele está sendo atendido (09-12). Observamos que essa sequência teve curta duração possivelmente isto está associado ao fato que a mãe considerou os apelos do seu bebê. Os arranjos feitos pela mãe desde as 137 respostas vocais do seu bebê nessa sequência são importantes para conhecermos sobre o que a díade está orquestrando. 5.4.6 Vocalizações do bebê configurando suas motivações: Extrato - 5 Data: 25/09/2007 Idade do bebê: 16 semanas Tempo: 32:20~39:41 Proxemia: mãe segura o bebê no colo. Bebê está de costas pra ela com a cabeça voltada para ela. 01 M ≠*olha mainha::/ o::lha:/shhhhh/o:lha:::/(2s) aqui embaixo agora/ aqui em cima o:lha mamã:e/o::lha::/o:lha mãezinha/ vai pega::: []/vai pega::::/aqui embaixo oh mainha/(1s)aqui em cima osi/ (1s)eh::::*/*eh:: mãezinha/que não binca não disso não eh/HUM/HUM/*≠ *mostra um objeto tipo pendulo ao bebê em varias direções* *encosta o objeto e faz carinho no rosto do bebê* 02 B ≠R(A) (vocaliza)-> ≠ 03 M ≠*°olhaa ¤¤¤ toma/¤¤¤ tira a mão da boca°/(4s) ow mainha/(7s)* o::lha: boneco/ teteu ta pegando o bone:co::/o::lha:/olha teteu pegando ¤¤/≠*E:ITA [] mamãe/quebrou o bissinho/pode nã:o mamã:e/e agora hein/HUM/hum/diga pa mamãe agola/hhh*/hein côsa linda/≠ (3s) ta reclamando Eh/num que °¤¤¤ não°/HUM/hein mãezinha/≠ *pega outro brinquedo e da na mão do bebê* *(ajeita o bebe no colo)(passa a fralda no bebe)(eleva o bebe e da cheiro)* 04 B ≠->R(A) (vocaliza)(segura o brinquedo)(solta o brinquedo) ≠ ≠(vocaliza) R(F) ≠ 05 M ≠*(2s)°bora vê esse coisinha bora°/o::ia::/TETE:U:/°o:lha: mamãe°*/≠ *pega novamente o objeto anterior e mostra ao bebe em varias direções* 06 B ≠R(O) ≠ Essa sequência mostra uma orquestração entre a mãe e o bebê de natureza vocal. Por ser uma interação que não começa em face a face mostra a proxemia interferindo nas ações dos participantes. No início a mãe trata as respostas vocais do bebê como uma demonstração do seu interesse ou não pelos objetos que está lhe apresenta (01 – 04). 07 M ≠*(5s) °toma o brinquedinho de volta tome°/(4s) uma parte do brinquedinho tome tome/segure aqui/(3s) segure*≠/pode jogar no chão não viu/e botar na boca não mainha/°eh sujo°/..Eh:: eh sujo/(1s)((ri))*¤¤¤¤ não bebê /quero não mamãe/°esse brinquedo 138 não°*/*o:ia:: volto::/toma teteu/toma/°eh bora binca°/NÃO tem que seguRA/segurar aqui/bo:ra segura::/Hum::/Hein mai:nha/[]/ []/(3s) bo:ra segura bo:ra/aqui/quer segurar mais não eh/*≠ *encosta o objeto e pega o outro que caiu no chão e da ao bebe* *(passa a mao no rosto do bebe)(pega o objeto do chão)* *(mostra o Objeto ao bebê)(da na mão dele)(solta beijo)(ajeita o objeto na Mão do bebê)->* 08 B ≠(tenta segurar o objeto)R(F)(solta o objeto)R(A)->(tenta segurar o objeto)-> ≠ 09 M ≠*(8s) o:lha::/o:lha tete::u/*olha teteu segurou o brinquedinho/ eh: mamãe/ segurou *[]* o binquedi:nho mamãe/*eh::meu amo:::/ (3s) ta olhando pra mãinha eh*/EH/HUM/ta olhando pa mamãe/hum/hum/ *(3s)me dê o binquedinho*/≠ *->**da cheiro**faz carinho no rosto do bebê**pega o brinquedo da mão do bebê* 10 B ≠R(A)(M)(A) (segura objeto)(solta o objeto) ≠ 11 M ≠*(3s)°queh saber do binquedo mais não°/ hum/hum/hum/(2s)hum* *ajeita o bebê no colo* 12 B ≠R(A) (F) ≠ Interrupção da gravação (terapeuta desavisada da FAV entrou no local e distraiu a mãe)... retomada da gravação... Ao vocalizar, o bebê ganha de volta o brinquedo que lhe foi dado anteriormente (07 – 08). Isso corresponde a uma especulação materna do interesse do bebê, como observamos pela extensão do tempo de foco mutuo em relação a esse objeto no processo em que o bebê olha e tenta segura-lo e a mãe facilita a exploração deste objeto pelo bebê (07 - 12). 13 M ≠*Hein mamãe quero/ja joguei no chão o bone:co/num quelo bincar minha mãe/°num quelo binca disso não°/°tu ta me aperreando muito° /eh:/*[]*/eh/(3s) *cadê o bonequinho/tome o bonequinho tome/°aqui°/segure o bonequinho/(1s) eh mamã:e/segura::/nã:o segura::/(2s) eh/o:lha:/laranja mamã:e/aqui oh:/*que não que não que nã:o/* *ajeita o bebê no colo**da cheiro**da o brinquedo ao bebe e ajeita na mão fazendo-o segurar**tira o brinquedo da mão do bebê e guarda* 14 B ≠(mexe o corpo)(tenta segurar o boneco)(vocaliza) R(F) ≠ 15 M ≠*(3s) pepetinha/(2s) tome/*(13s) ui ui ui ui []/quer tirar a chupeta tira mainha/assim não vai tirar [] não [] ≠/ *oxen:te*/que não eh:/HUM/pepeta/tire com a mão/mexendo a cabeça não*/com a mã:o/cadê a mão de mateus/cadê °a mão de mateus/cadê a mão°*/a mã:o de mate:us/°tome°/(1s) hum/agora cadê a mão pra tirar a pepeta/HUM/hum/coisa linda/*°cadê a mão/hein bebê°/*≠ *pega a fralda e a chupeta e da ao bebê**(ajeita o bebê)(da 139 novamente a chupeta)**pega a mão do bebê e leva à boca dele**(dalhe a chupeta)(pega na mão do bebê)**ajeita o bebê no colo->* 16 B ≠(mexe a cabeça de um lado para o outro)(tenta pegar a chupeta)≠ ≠R(F) ≠ 17 M ≠*(7s) eh::/(3s) shhh/≠ (2s) isso com a mão*/*°a mã:o tete:u°*/ tira a pepeta mamã:e/*≠ *->ajeita o bebê no colo**ajuda o bebe a colocar a mão na boca* *ajeita o bebê* 18 B ≠R(F) ≠ ≠(tenta tirar a chupeta da boca com a mão)≠ Nesses turnos (13-18) temos dois momentos (13 e 17) em que as vocalizações do bebê são respostas à fala atribuída materna. Observamos a afinação obtida como conseqüência da orquestração obtida pelo meio vocal (13). A vocalização do bebê é um marcador importante desses harmônicos mútuos co-construídos. O bebê tem suas vocalizações em sua grande maioria consideradas pela mãe, numa espécie de « échoisation » e assim entram na sincronização de um dialogo vocal. O bebê passando a se perceber em 'eco' nesses jogos vocais ganha seu espaço no dialogo. Poderíamos inferir se esse fato não seria um marcador de compreensão-responsiva do bebê, importante a ser considerado pela mãe, enquanto uma apreensão pelo bebê do seu espaço e daquilo que ele vai ter como resposta materna das suas ações e vocalizações. Em outras palavras o bebê que vocaliza está se experimentando e ao mesmo tempo exibindo, marcando de forma refletida na mãe a sua apropriação do 'tempo' e expressão. Consideramos essa exibição do bebê enquanto uma demonstração de uma compreensão-responsiva que ele alcançou através de um “entendimento ativo, através do domínio do ambiente social, da linguagem e qualquer outro objeto que a cognição individual adota.” (MARKOVA, 2006, p. 126, grifo da autora) Nesse processo de orquestração a voz do bebê vai ganhando espaço nas vozes da mãe e eles passam a buscar a afinação desses harmônicos vocais. As vozes da díade vão se sintonizando. Como Bertau (2007) se considerarmos a voz no dialogo como um « esboço » (BAKHTIN, 1986) da « multiplicidade individual das vozes » (BAKHTIN, 1979), assim como a voz sendo um fenômeno auditivo-vocal dentro de um contexto interativo determinante para o desenvolvimento do self dialógico, percebemos, o contexto-dependência desses jogos vocais da díade. Assim bem explica Laver (1975): 140 [...] só o fato de falar e permitir que o outro participante ouvindo o som de uma voz, independentemente do conteúdo real do enunciado, fornece ao ouvinte algumas informações que ele precisa para chegar a algumas conclusões iniciais sobre a estruturação psicossocial da interação. (LAVER, 1975, p. 221) (BERTAU, 2007 p. 139, tradução nossa) O bebê que vocaliza está se experimentando no jogo dialógico e vai encontrando no discurso materno as nuances desse jogo, percebendo-se na participação. A voz audível da mãe é o ponto de partida para o auto-desenvolvimento dialógico do bebê (BERTAU, 2007). Ainda Laver (1975) destaca que o « comportamento fonético » é importante para os participantes durante o trabalho de construção do consenso no inicio das interações. As características vocais servem como uma orientação. Assim vemos a mãe e bebê nesse trabalho conjunto de diferenciação. (BERTAU, 2007) Olhando mais precisamente, nos turnos 13 e 17 percebemos que a mãe utiliza o /eh/ em três momentos logo quando o bebê começa a vocalizar, como um marcador para ele da sua consideração às suas vocalizações. Sendo um “feedback” importantíssimo para o bebê e serve como um inicio de uma ritualização para as condutas conversacionais mais elaboradas. Os marcadores vocais estão muito presentes nas conversações entre adultos e são importantes na coordenação dos movimentos sequenciais da interação, na topicalização do dialogo (SCHEGLOFF & SACKS, 1973), enquanto uma marca que identifica o locutor e para a sua pertinência na organização de suas condutas linguageiras (MONDADA, 2002; 2003) e ainda marca as atividades de produção e de interpretação dos interlocutores, revelando o espaço intersubjetivo (MONDADA, 1999). 5.4.7 A vocalização do bebê como um marcador para o tópico da conversação Extrato - 8 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas 03 M Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de 141 mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/CArinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ que brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mãe direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠não consegue controlar a cabeça≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠olha pra sua mão D->≠ Segue, nessa sequência, trechos em que se vê de forma mais estabelecida, a afinação linguageira obtida com traços deixados pela marca vocal do bebê. As vocalizações do bebê inicialmente são inferidas, depois contextualizadas e posteriormente confirmadas na sequencialidade da interação. Isso acontece pelos movimentos orquestrados da díade em busca da afinação. Observamos nos turnos 03 e 04 uma vocalização do bebê marcando um possível não engajamento ao que a mãe estava fazendo e é assim imediatamente considerado pela mãe como tal, que muda de atividade. Observamos outro exemplo nos turnos seguintes: 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠toca o rosto da mãe R(D) ≠≠R(M) ≠ Outra vocalização do bebê, talvez por ser mais prolongada (06) e com um contorno prosódico diferente, obtém como interpretação materna (05) uma inadequação do comportamento deste. A mãe demonstra ao bebê que isso não cabe na interação. A voz materna ai sendo um « esboço » para o aprendizado do bebê sobre o comportamento social apropriado. 142 Outro exemplo (09 e 10) na sequencialidade é o da vocalização do bebê ser respaldada pelo marcador materno de interpretação /eh/. Eles chegam a uma sintonização mais brevemente: 09 M *(2s)o::i/cadê as mãos de mamãe*/as mãos gostosa≠/ah ((vibra labios))((explode labios))* ≠/(3s) ¤¤¤ mamãe*/≠ ((vibra labios)) ((explode a bochecha)) UI/((idem)) ui/≠ ((idem))/(1s) eh mamãe Quelo não mamãe/binca disso não/*≠ *ajeita o bebê**aproxima seu rosto do bebê**coloca o bebê encostado na almofada no sofa**leva a mão direita do bebê 3 vezes contra sua bochecha E e ajeita o bebê* 10 B ≠->R(M)(tira a mãoda boca)≠(vocaliza)R(A)≠≠R(M)≠≠R(A)(vocaliza)-> As vocalizações do bebê (09), desta vez em três momentos, de forma mais curta e com intensidades diferentes foram interpretadas como um não engajamento dele às proposições maternas e assim eles partem para novos jogos. Na sequencia temos as vocalizações do bebê sendo interpretadas pela mãe enquanto que marcando o estado emocional dele: 17 M ≠*(6s) cari:nho mamãe/cari:nho mamãe/calinho mamãe/calinho tete::u/ ≠ (1s) carinho mam:/calinho≠ ow::: que coisa mais goto:::sa/≠ ((estala a lingua)) que coisa mais gotosa/[]/da minha vida/[]/é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/[]/((estala a lingua))≠ (16s) vai chola é mamãe/é mamãe/[]/≠qué mai não mamãe≠/[]/*(7s) oi oi oi oi oi oi/o:::lha::/olha olha olha olha olha/(3s)shhhh*≠-> *face-a-face com o bebê encosta o nariz no rosto do bebê varias vezes**coloca o bebê deitado no colo e depois sentado fazendo-o equilibrar a cabeça* 18 B ≠->R(M) (tenta colocar a mão D na boca)(vocaliza) ≠≠toca no rosto da mãe≠≠R(M)(pega no rosto da mãe) ≠≠(vocaliza) R(F) ≠-> Um interessante fato também a ser considerado é a vocalização do bebê ser atribuída a estados emocionais, pela inferência materna, já que ela não tem o parâmetro facial do bebê como um marcador dos seus estados internos. Não muito diferente do que acontece em outras díades mãe-bebê sem essa privação facial, o papel especulativo da mãe se dá nesse processo dinâmico no dialogo de inferência sobre o estado interno de seu bebê. A mãe vai buscando respaldos para as suas inferências atribuindo 4 possibilidades para seu bebê (03, 06, 09 e 17). Observamos como eles vão se ajustando na orquestração desses significados. 143 Se para a mãe é necessário todo um conjunto de sinais do bebê que ela vai configurando no dialogo, para o analista, ao ver essas dinâmicas nos deparamos com dois pontos importantes : 1- Ao ver o vídeo torna-se um desafio transcrevê-lo. Na tentativa de fidelizar ao máximo as ações dos participantes, o fato de transcrever o aspecto vocal é de fundamental importância. Para isso é necessário tomar consciência do recuo a ser tomado. Nesse extrato especificamente, a descrição das respostas vocais do bebê ficou configurada na sua maioria como : “(vocaliza)”, sem dar um atributo descritivo às características (entonação ou freqüência do som) dessas vocalizações, emitidas pelo bebê, permitindo assim ver o processo de configuração dado pela díade a esses harmônicos vocais do seu bebê e 2- Para a analise ficam assim bem marcados os movimentos de orquestração. Neste caso facilitando o olhar para a possibilidade do surgimento do estabelecimento dos acordos colaborativos, sua configuração e evolução. A presença dos harmônicos especificamente co-estabelecidos constituem o espaço intersubjetivo da díade dentro de sua historia particular. (SHEGLOFF, 1992; GOODWIN, 1981; 2002; GOODWIN, GOODWIN AND YAEGER-DROR, 2002; MCNEILL ET ALL, 2001; CAVALCANTE, 2007, GUAÏTELLA, ET AL, 2009) Agora temos as vocalizações do bebê que demonstram algo sobre seu estado interno (19 e 20) que a mãe continua a inferir como sendo descontentamento: 19 M ≠*(13s)mã:o/..olha a mão de mate:us≠/a mão de mateus/°segura a mão de mamãe meu amor°*/¤¤¤/≠[] mamãe/ah [] a≠ mamãe be:ija:/..ta bom num beija mais≠ não visse/≠olha mateus*/*(3s) a outra mão≠ aqui oh/(1s) a outra mão de mateus aqui oh≠/(9s) ≠ as mãos de mateus*/(7s)hum/cadê a ¤¤¤ de mãe/ah ah/cadê a ¤¤*/[]/*≠ ..((estala lingua))/(6s) ((vibra labios))/..[]((vibra labios))/ (4s) e::ita≠ tô me arretando mamãe/≠ *mostra a mão e segura nas mãos do bebê**solta as mãos do bebê* *pega as mãos do bebê e mostra pra ele**solta as mãos do bebê e o deita**pega e beija a mão do bebê**faz carinho no bebê e o ajeita pra que ele a olhe* 20 B ≠R(mãos) ≠≠R(F) ≠≠R(M) ≠≠(se estica)(vocaliza) ≠≠R(mão D) ≠≠R(D) ≠ ≠(vocaliza) R(M) ≠≠R(D)(se estica) ≠ No turno 19 a mãe, após uma pausa (4s) faz no seu comentário, uma espécie de compilação das vozes do bebê nas respostas às suas proposições como : « (4s) e::ita≠ tô me arretando mamãe », falando « como se » fosse o bebê configurando seu descontentamento. 144 No turno que se segue uma vocalização mais prolongada do bebê é configurada pela mãe enquanto uma vontade deste de narrar algo: 21 M *(5s) levante/(7s) levante seu maTEUS/ reto assim/*..oh ai seu moço≠/≠*(2s) ≠eh mam as barriga num deixa não mamãe/...Hum:/(10s) que foi mamãe/..conta/(2s) conta/*≠ *coloca o bebe sentado e ajeita a cabeça e o corpo**deita o bebe no colo* 22 B ≠R(F)(tenta equilibra-se sentado) ≠≠(vocaliza) R(mão D)(coloca a mão direita na boca)(desequilibra-se e cai no colo da mãe) ≠≠(mexe o corpo)(vocaliza)≠ Este é o primeiro registro no corpus mais marcante dessa diferenciação pela mãe (21) da vocalização do bebê (22). Outras diferenciações vão sendo co-construidas e orquestradas pela diade subsequentemente. Elas serão apresentadas no decorrer das analises. 5.4.8 As vocalizações sendo configuradas como um estado interno de satisfação. No exemplo que se segue mãe e bebê começam um jogo de cocegas e as respostas vocais do bebê vão sendo contextualizadas como tal fato de sentir cocegas: Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 27 M ≠*(1s) o pé de teteu o pé:::/*(4s) hein mamãe/cadê o pé*≠/≠*(2s) o pé:: de maTEUS/o::lha:::* ≠/≠como eh gandão mamãe≠/≠*°ta com ¤¤¤ ta mamãe*≠/≠...ta batendo palma com o pé eh teu≠/*teteteteteu/ ...teteteteteu/≠ []* [] ((vibra labios na barriga do bebê))*/... hum eh cosquinha/((vibra labios na barriga do bebê)) [][]/ ≠* *vira o bebê de frente e afasta os brinquedos*pega o pé D do bebê**pega o pé esticando a perna e pega a mão D do bebê pra que segure o pé**faz carinho na cabeça do bebê**faz cocegas com as mãos na barrriga do bebê, da cheito* 28 B ≠(movimenta-se)(pernas flexionadas) ≠≠R(pé)(segura) ≠≠(vira-se pro lado E)(retorna-se pra frente)R(E) ≠(eleva as pernas e bate os pés) ≠≠(estica e flexiona as pernas em resposta as cocegas) (vocaliza) ≠ 29 M ≠*[]((vibra labios na barriga do bebê))/... mamãe faz coquinha/hum::: coisa gotosa≠/mamãe faz ((vibra labios na barriga do bebê))/... eh cosquinha mamãe*≠/*≠mamãe faz cosquinha meu amô:::/eh minha vi:da*≠/*oxente ((vibra labios na barriga do 145 bebê)) eu vou pegar bar’guinha de tete:u/hum []/coisa gosto::sa/*≠ *faz cócegas na barriga do bebê**idem**muda de posição, aproxima seu rosto do bebê**faz cócegas na barriga do bebê* 30 B ≠(movimenta todo o corpo em resposta as cócegas)(vocaliza)≠ ≠(idem) ≠≠(toca o rosto da mãe com as duas mãos)(prende os pés na cabeça da mãe)R(M)(vocaliza) ≠≠(movimenta o corpo) ≠ Nesse extrato temos o bebê aos 12 meses de idade. Na brincadeira de cócegas a resposta vocal do bebê é imprescindível para a mãe continuar essa brincadeira. Uma vez que ela não pode contar com a mímica facial do bebê. Por terem co-construído diferenciações de significados das respostas voco-verbais e posturo-mimo-gestuais mutuas as vozes do bebê são facilmente integradas ao contexto pela mãe. No turno 27 após vibrar lábios na barriga do bebê este vocaliza e a mãe toma isso como uma possível risada do bebê pelo fato de sentir cócegas e repete a ação além de contextualizar a sensação do bebê na sua fala atribuída : «... hum eh cosquinha ». No turno seguinte após cada resposta vocal do bebê ela repete as ações gestuais e verbais. Observa-se que a mãe também se diverte, ela ri, o que serve de espelho para o bebê. Os dois parecem desenvolver coordenações para chegarem a tal nível de afinação entre o fazer cócegas (provocar) e o sentir cócegas (receber). Vê-se que mãe e bebê estão integrados, numa sincronização que lhes permite seguir adiante. A privação de expressão facial pelo bebê parece não ser figura mas um fundo desses arranjos. Este é o primeiro registro no corpus dessa co-construção do sorriso. Analisaremos mais adiante de forma detalhada a evolução desse importante componente pela díade. 5.4.9 Vocalização do bebê configurando uma comemoração: Extrato - 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas 21 M Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. ≠*...[]* Ê::::: vai mamãe/≠...≠ ê::::: *[]*≠/*(3s)ah Uauauauauau*/o indio mamãe/*o indio uauaua*/*não cabexinha assim/EI ≠...≠ nã::o meu amor olha pa mamãe mainha ta aqui*/≠ psiu pxiu pxiu≠ pxi:::u pxiu/*((vibra ≠labios))* ≠ *[]≠ a::i cosquinha mamãe/AI ≠teteu puxa não mamãe/qui doi/doi em mamãe do:i vixe/vixe/*pxu pxu []≠A::i teteu puxa não mamãe≠/*doi cabelo [] de mamãe [] doi/* *bate palmas**idem**pega as mãos do bebê e leva a mão E a sua 146 boca**idem**ajeita cabeça do bebê**no pescoço do bebê**tira o bebê da cadeira, eleva, cheira e beija sua barriga**eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**senta o bebê no colo* 22 B ≠(vocaliza imitando a mãe)(bate palmas)≠≠(vocaliza imitando a mãe)≠ ≠(bate palmas) ≠≠(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(ri) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura no rosto)R(A) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura o rosto da mãe)≠ Mãe e bebê estão batendo palmas juntos. A cada vocalização do bebê a mãe configura como sendo uma comemoração (21 – 22). Consideramos que a imitação e a resposta imediata materna às vocalizações do bebê marcam o avanço do jogo vocal da díade. Outro exemplo da vocalização do bebê ser um marcador importante de seu estado interno de estar ou não correspondendo ao jogo vemos em outro momento do jogo de cócegas: Extrato – 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 27 M ≠*(1s) o pé de teteu o pé:::/*(4s) hein mamãe/cadê o pé*≠/≠*(2s) o pé:: de maTEUS/o::lha:::* ≠/≠como eh gandão mamãe≠/≠*°ta com ¤¤¤ ta mamãe*≠/≠...ta batendo palma com o pé eh teu≠/*teteteteteu/ ...teteteteteu/≠ []* [] ((vibra labios na barriga do bebê))*/... hum eh cosquinha/((vibra labios na barriga do bebê)) []..[]/ ≠* *vira o bebê de frente e afasta os brinquedos*pega o pé D do bebê**pega o pé esticando a perna e pega a mão D do bebê pra que segure o pé**faz carinho na cabeça do bebê**faz cocegas com as mãos na barrriga do bebê, da cheito* 28 B ≠(movimenta-se)(pernas flexionadas) ≠≠R(pé)(segura) ≠≠(vira-se pro lado E)(retorna-se pra frente)R(E) ≠(eleva as pernas e bate os pés) ≠≠(estica e flexiona as pernas em resposta as cocegas) (vocaliza) ≠ 29 M ≠*[]((vibra labios na barriga do bebê))/... mamãe faz coquinha/hum::: coisa gotosa≠/mamãe faz ((vibra labios na barriga do bebê))/... eh cosquinha mamãe*≠/*≠mamãe faz cosquinha meu amô:::/eh minha vi:da*≠/*oxente ((vibra labios na barriga do bebê)) eu vou pegar bar’guinha de tete:u/hum []/coisa gosto::sa/*≠ *faz cocegas na barriga do bebê**idem**muda de posição, aproxima seu rosto do bebê**faz cocegas na barriga do bebê* 30 B ≠(movimenta todo o corpo em resposta as cocegas)(vocaliza)≠ ≠(idem) ≠≠(toca o rosto da mãe com as duas mãos)(prende os pés na 147 cabeça da mãe)R(M)(vocaliza) ≠≠(movimenta o corpo) ≠ 31 M ≠*(3s) coisa gostosa da vida de mãe/≠*(3s) que coisa mais [] gosto::sa::: ≠*/≠* (4s) te vira pa ¤¤¤ de mãe pra olha pra mamãe/vira*≠/*(5s)* *toma teteu/(4s) toma/toma/(3s) toma mamãe≠/*(3s) tete::u/...tete::u/(2s) ow teteu*/≠(2s) toma/(3s) toma≠/≠*..leva::nta a mã::o/pega mamãe≠/≠i::xo≠/*axim oh balançando né pa botah na boca não/* *aproxima seu rosto do bebê**da cheiro na barriga do bebê**segura braço D do bebê pra ajuda-lo a virar de frente, vira a cabeça do bebê para frente**pega as mãos do bebê e junta**pega outro chocalho e mostra ao bebê**balança o objeto do lado D do bebê**mãe pega braço D do bebê e o faz alcançar o objeto**pega o braço do bebê e balança* 32 B ≠(mexe-se)≠≠(toca no rosto da mãe)(vocaliza)(flexiona as pernas) ≠ ≠(vira-se para lado E)(retorna de frente)(pega no rosto da mãe)≠ ≠(vira-se pro lado E)(vocaliza)(retorna de frente)≠≠(vocaliza) (bate palmas)R(chocalho)(tenta pegar com o braço D)(vira-se pra E) ≠≠(vira-se de frente)(vocaliza)R(objeto)(tenta pegar com mão D)≠ ≠(pega o objeto)(mexe o braço)(ameaça botar na boca) ≠ Observamos nesses turnos (27 – 31) que a cada ação materna de fazer cocegas o bebê apresentou vocalizações. E como isso determinou a temporalidade e a sequencialidade das trocas. A voz do bebê foi um marcador importante para a mãe informando-lhe sobre seu estado interno. Em seguida, damos continuidade apresentando extratos sobre a evolução das configurações na co-construção do sentido das interações da díade : Extrato - 9 Data: 09/12/2007 Idade do bebê: 25 semanas Tempo: 01:23:17~01:39:26 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados no banco do terraço; Bebê está no colo da mãe. 01 M ≠*eh: mamãe*≠/≠cadê a lu:z mate:us*/a lu:::z/≠ (4s) cadê mamã::e/ hum:/ ≠*(3s)eh/..eh/.assim/≠ (5s)°o bezinho cadê o bezinho cadê o bezinho°/hum::: ((estala labios))/o beijo de mamãe/cadê o beijo/(3s) cadê o beijo de mamãe/...¤¤¤ []/eh o be:ijo que ≠ mamãe*/[] *tu é um palha¤¤¤ faz mais não/hum/≠oi oi oi oi oi oi/levan:ta/(4s) oi/(12s) estique não mãezinha/se estique nã:o/*≠ *extende a mão D pro bebê bater**faz carinho no rosto do bebê* *ajeita o bebê e pressiona o queixo e o labio inferior do bebê* *da a mão D pro bebê bater e ajeita no colo sentado* 02 B ≠ (bate a mão E na mão da mãe)R(A) ≠≠(mão E na boca)(balança braço E) R(E) ≠≠R(F)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠ (bate a mão E na mão D da mãe≠ ≠(tenta se equilibrar)(extende o corpo pra tras) ≠ 03 M ≠*(14s) oi/(9s)* ≠ mate::us/ow mate:us/*cadê mateus*/cadê mamãe/ cadê mamãe/*vira aqui a cabecinha pra ver maMAE/vira mamãe ta desse la:do mamãe*/mamãe ta desse *OPS≠/(2s)* ISSO:::/*isso:: 148 []/ ...eh eu num quelo fica assim/num quelo fica assim/assim mamãe num oh/sim oi *ajeita o cabeça do *segura a que:lo/*≠..num quelo minha mãe/fique um pouquinho assim oi oi oi/(1s) EH::/(1s)eh::: mamãe/(2s) eh: mamãe/*≠ bebê no colo**carinho no queixo do bebê**carinho na bebê**ajeita o bebê**da a mão D pro bebê bater* cabeça do bebê, o ajeita no colo e faz carinho* 04 B ≠(tenta se equilibrar) ≠≠R(F)(tenta se equilibrar) ≠≠(bate na mão D da mãe)(vocaliza)R(A) ≠(mexe o corpo)(vocaliza)(mão E na boca) R(E) ≠ 05 M ≠*(5s)[]*/...eh a festa mamãe/eh a luz≠/PEGA/hum/(5s) e::i mate::us/levante va a cabecinha/aqui/(7s) ≠ oi oi/ISSO:::/oxente mamãe≠/oxente mamãe/oi oi oi/(5s) aqui/(5s) oi/oi mãe/≠eh: mamãe ta acodando pra vc segurar a cabeça≠/OI/*(5s) eh a mão de mate:us/≠* *ajeita o bebê todo o tempo no colo**olha pra cima* 06 B ≠R(A)(estica o corpo)(braço E na boca) ≠≠(tenta se equilibrar) ≠ ≠(balança braço E) ≠≠(tenta se equilibrar≠≠(bate mãe E na mão D da mãe) ≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo)R(A)(vocaliza) (levanta braço D)(mãos na boca) ≠ 07 M ≠* (15s) oi*≠/*≠mai eh inquieto °¤¤¤°/(4s) eh porque eu num quero não ¤¤¤ não mamãe/[]/quelo não mamãe/... eh: eh sim:::/*≠ (1s) quero não mõmõ::/a sinhola ta forçando mamã/faz ‘sim não mamãe/force NÃO/tem que ficar durinho meu amo:::/sem esticar viu/*≠ *(segura o bebê)(da mão pra ele bater)**(segura o bebê)(da mão pra ele bater)(beija a mão E dele)(ajeita o bebê)**ajeita o bebê* 08 B ≠(tenta equilibrar)(estica o corpo)(balança braço E)(bate na mão D da mãe)R(A)≠≠(tenta equilibrar)R(A)(bate na mão da mãe) (vocaliza)≠ ≠(tenta aquilibrar)(mexe o corpo)(vocaliza) ≠ 09 M ≠*(5s) hum:::/(4s) isso isso::/levante a cabecinha/eh: mamã:::e/ eh:: meu amo:::/(2s) oi/(3s) isso meu amo::::::/eh meu bem/u:::/ (6s) °eh a mamãe eh°*≠/... eh a mamãe eh/eh mamãe eh a sinhola eh que ta fazendo ≠¤¤¤ ¤¤¤ ¤¤¤ mamãe/[]/qué mole::za né negão/ ficar deitadinho/hum/≠*... ma ma ma ma ma/ *ama ma ma ma ma ma ma/[]/≠a mamãe AMA/[]/≠ama shim:/ama mamãe/[]/≠ (2s) a::ma te::u/a::ma≠/hum:/*[]/mamãe ama tim/[]/ama ma ma*/≠...oi nÃ:O/va nã:o/va nã:o/eh:: mamãe/≠* *ajeita o bebê**ajeita o bebê para que olhe pra ela**pega a mão D do bebê e coloca na boca**beija mão D do bebê e depois coloca na boca**ajeita o bebê* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(balança braço E)(vocaliza) ≠≠R(M)(mexe braço D) ≠(mexe o corpo todo) ≠≠R(mão D)(vocaliza)R(M)(pega na boca da mãe) ≠≠(tenta pegar no rosto da mãe) ≠(braço E na boca) ≠ ≠(tenta se equilibrar)(vocaliza) ≠ 11 M ≠*(26s) maTE::us/(2s) sigula essa cabe:ça maTE:::us/≠*..≠¤¤¤ x/¤¤¤ mãe []/eh mamãe []/eh mamãe≠/eh si sigula a cabeça vai ganhar uma piscina eh/se sustenta:r pra ficar sentadinho na agua/batendo na agua/≠batendo na agua na piscina/eh:: mamãe/vai ganhar a cadeirinha pra comer sozinho/eh: mamãe≠/≠tu num quer senta logo não eh::/[]/pa ganhar uma cadêlinha não/hein meu amo:/..hein 149 mamãe/qué não/hum/diz pra mamãe se tu num qué/≠* *(ajeita o bebê todo o tempo)(beija a mão dele)(faz carinho) (beija o rosto)* 12 B ≠(mãos na boca)(tenta se equilibrar) ≠≠R(M) ≠≠(tenta se equilibrar)(mãos na boca) ≠≠R(M) ≠≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo) ≠ 13 M ≠*(5s) hein/...hein≠/≠...hum::/(9s) eh:::/(15s) oi oi oi oi oi oi ..oi/(11s) hum fique aqui assim/..ponto/(7s) eh:::/eh: mamãe/ cadê a ¤¤¤/quer ver a luz mamãe vira/≠*..ui/.ui bebê/(2s)* a lu::z mamã:e o:lha::/o::i/(9s) o:lha mindu:/cadê/≠ISSO≠/tu olhou pa ((ri))/cabecinha mamãe sigura a cabecinha/sim/eh:/..sim/segu:la/ i:sso/o::lhaa plantinha mamãe/muito bem/*≠ *(segura o bebê)(ajuda-o a equilibrar-se)**vira o bebê de lado no colo**ajeita o bebê* 14 B ≠R(M) ≠≠(perde o equilibrio)(vocaliza)(mãos na boca)(tenta equilibrar-se sentado)(vocaliza) ≠≠R(D) ≠≠(tenta equilibrar-se) (mãos na boca)R(F)-> ≠ Nesse extrato em praticamente todos os turnos maternos existe a presença do marcador '/eh/' imediatamente após cada vocalização do bebê. São 12 '/eh/' como resposta às vocalizações dele. No turno 3 a mãe responde à vocalização do bebê com um '/EH/' numa entonação mais enfática. Em outros momentos o '/eh/' é seguido de interpretações da mãe usando a fala atribuída (05, 07, 09). No turno 05 notamos dois desses marcadores que dão ênfase e contextualizam também o que o bebê está olhando. No turno 7 esse marcador vem com uma curva mais melódica em que a mãe dá voz ao bebê atribuindo-lhe um desejo. Observamos no turno 09 a presença desse marcador em 4 momentos. No primeiro ele é configurado como um engajamento como se o bebê desse o 'OK' do fato que a mãe ajeitou-lhe a postura da cabeça. No segundo e terceiro momentos ele aparece como um marcador importante para a atenção compartilhada. A mãe obtendo o olhar do bebê conversa com ele num tom explicativo e no quarto momento produz o '/eh/' imitando a mesma curva da entonação do bebê. Mais adiante nessa sequencia encontramos dois momentos em que as vocalizações do bebê são contextualizadas de forma diferente pela mãe. No turno 19 a mãe sorri achando engraçado a vocalização prolongada do bebê (20) e depois contextualiza isso para o fato do bebê provavelmente sentir fome: 19 M ≠*(8s) mate::us/..ow maTEus*/...[] cadê mamãe/->.isso::/ isso mamãe/.. eh meu amo:::r/[] eh mamãe oh:/ []≠/*cadê a cabechinha reta mamãe/.hum/≠..com a mão na boca não≠*/*[]oa 150 aqui oh/.../≠eh: mamã:e*/isso/[]/ta arretado né≠/*(3s) bate aqui/na boca nã:o aqui*/≠i:sso::/(8s) ≠ *eh:::/to me arretando minha mãe/bora cumê mamãe/que cumê agora qué:/hum:/ ≠... ≠eh::/ []/qué::/hã::/ ≠ (2s) ≠ hum qué cumê agora qué:/tu ta espelano/ ≠(1s) ≠ hein/*... bola cumê mamãe*/*≠[] eh..[]* ≠/*≠..bola cumê/cumê::/nem bote a mão/*≠ *(ajeita o bebê)(pega sua mão E e bate contra a sua mão D)**(ajeita o bebê)(tira a mão dele da boca)*(pega a mão E e bate contra a dua mão D)**(tira a mão E do bebê da boca e bate contra sua mão D)**(ajeita o bebê)(da cheiro)**(muda o bebê de posiçao para o seu lado E)**(ajeita o bebê)(passsa fralda no rosto)(pega a mamadeira)**(limpa a boca do bebê com a mão)(tira a mão E dele da boca)(da-lhe a mamadeira)->* 20 B ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate com a mão E na mão E da mãe) (vocaliza) ≠≠(mão E na boca) ≠≠(bate mão E contra mão E da mãe) ≠ ≠(idem)(vocaliza) ≠≠(vocaliza)≠ ≠(vocaliza)(balança o braço E) ≠ ≠(idem)≠ ≠(vocaliza)(balança o braço E e bate na mão E da mãe) ≠ ≠(mão E na boca)(suga a mamadeira) ≠ Em seguida no turno 21 a mãe responde à vocalização do bebê (22) com o marcador '/eh/' e muda a interpretação dada no turno anterior. Agora ela contextualiza a vocalização do bebê dizendo que percebeu que ele não quer comer naquele momento: 21 M ≠*(6s) eita/queh não eh mamãe/*≠ [] danou-se mate::us/ta vendo o que tu fez negão/pesta mais não/pesta mais não mamãe≠*/ta veno/ta veno/ta veno/hum/*≠...->eh eu vi ja que você num quer cumê/eu vi ja que você não qué cumê/[]/eu vi::/. I:sso/≠* *->(olha pra onde a mamadeira caiu)**(tira seus cabelos das mãos do bebê)**(da mão D pro bebê bater)(ajeita o bebê)* 22 B ≠(estica o corpo)(balança o braço atinge a mamadeira e a derruba)≠ ≠(pega o cabelo da mãe) ≠≠(balança o braço e bate contra a mão D da mãe)(vocaliza)(estica-se)(flexiona-se)R(E) ≠ Mãe (21) está dando voz ao comportamento do bebê de bater na mamadeira fazendoa cair como um “não”: “eita/queh não eh mamãe/” e à vocalização do bebê (22) após esse fato como um “sim”, como se a vocalização dele confirmasse essa sua interpretação: “...->eh eu vi ja que você num queh cumê” A imitação materna da vocalização do bebê: 05 M ≠*(5s) tu ta olhando o quê mamãe/tu ta ploculando o quê mamãe/..tu ta plocu []lando o quê meu amor/conta pa mamãe≠/conta/*bate palminha pra mamãe ver/(2s) parabé:::ns/vai mamãe/(3s) abra a mãozinha/(3s) ((imita o som do bebê)) []*≠/≠ah:::: não PODE cabelo de mamãe []≠*/(2s)[ ] (17s) hum::/*(3s) AMÔ DA minha vi:da:::::/* ≠ *ajeita o bebê**(pega no braço e tenta fazer o bebê bater palmas)* 151 *(da beijos e cheiros no pescoço)**(senta o bebê no colo)* 06 B ≠->R(M) ≠R(varias direções)(vocaliza) ≠≠(pega os cabelos da mãe) R(F)R(M) ≠ 09 M ≠*(12s) oi oi oi oi oi oi oi oi o:::i/sigula a cabeça mamã::e/ I:SHU::/*(3s)((som))[]/(4s)* ≠ chega bateno chega bateno mamãe/(2s) ((imita o bebê))* ≠ *ajeita o bebê**(faz cavalinho)(deita o bebê no colo)**(da mão E e depois a D pro bebê bater)* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(balança as pernas)(estica o corpo)R(A) ≠ ≠R(F)R(E)(balança braço D)(bate na mão E da mãe)(balança braço E)(bate na mão D da mãe) ≠ ... No turno 05 temos a mãe imitando o bebê. Após uma pausa materna de 3 segundos em sua fala o bebê ocupa esse espaço vocalizando. A mãe o imita depois dessa produção do bebê. O mesmo acontece no turno 09. Pode-se ver que eles parecem orquestrar em 'tempo' suas voco-verbalizações. Bertau (2007) vê a imitação como um elemento importante no processo de internalização: “A imitação mutua da criança e do cuidador na aquisição de linguagem forma um incessante movimento de um para o outro misturando as vozes de duas pessoas. E eventualmente a voz de um ‘outro’ especifico lidere o processo de internalização, no caso a mãe sendo a voz, num mecanismo semiótico. Como resultado a voz é pensada para ser uma forma significativa perceptível e experimentada enquanto ligada a outra pessoa. E isso serve dessa forma como um poderoso mecanismo de internalização vivida materialmente tornando-se um processo psicológico.“ (BERTAU, 2007, p. , tradução nossa) Percebemos também a imitação como uma orquestração da díade, dos seus ritmos de participação (NEVES, 2006 ; 2010). O bebê mostra sua capacidade para ocupar o seu espaço no diálogo e na dinâmica da língua. Sua participação ganha força ilocutória e indexical facilitada pela modalização materna (CAVALCANTE, 1999 ; 2008 ; 2010). Acreditamos que é como se o bebê está experimentando e ao mesmo tempo se autoafirmando na sua voz quando ocupa esse espaço. E ele recebe em 'ecos' o retorno dessa experiência. Assim eles vão orquestrando em duetos os harmônicos de suas “multiplicidades de vozes” (BAKHTIN, 1984). O bebê experimentando sua voz está também exibindo-se e desta forma isso torna mais visíveis os seus processos internos, ao menos sua capacidade de penetrar nas 152 diversidades de pensamento e comunicação com o outro. Essa capacidade é o « segredo da excelência da mente » segundo Markova (2006). Ela defende que a dialogicidade exibe polifasia cognitiva, isto é, « formas de pensamento diversas e até opostas » (MOSCOVICI & MARKOVA, 2000, p. 245; MARKOVA, 2006, p. 160, grifos da autora) Mãe e bebê exibem essa polifasia cognitiva na orquestração de suas vozes e ações demonstrando assim a capacidade mutua de adotar desvios e afiná-los. Passemos a observar essa orquestração da vocalização seguida da afinação entre a díade na co-construção do sentido: Iniciando o cantar. Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 01 M *≠se você estah contente bata palma []*/*bate mamãe*≠/*≠... [] xi voxê estah contente bata palma≠/≠bate mamãe*/*né o pé/né o pé que mamãe falou/eh a mão*≠/*≠ [] xi você estah contente bata palma≠/dan dan dan xi voxê estah contente ≠ bata o pé*/tan tan tan/*si você estah ≠ contente e quer mostrar para toda ≠ gente*≠/≠*si você estah contente grite VIVA*≠/ *segura as mãos do bebê, solta e bate palmas**alisa perna E do bebê e segura as mãos dele**bate palmas e ajeita o bebê sentado**segura as mãos do bebê**bate palmas e toca no pé D do bebê**toca no pé E e faz carinho na bochecha D**faz carinho na barriga, aproxima o rosto do bebê* 02 B ≠R(M) (bate palmas) R(mãos) ≠≠(vocaliza)(F) ≠≠(balança os pés) R(pés) ≠≠(bate palmas)(vocaliza)≠≠(balança os pés)≠ ≠(vocaliza)≠ ≠R(M)(vocaliza)(pega no rosto da mãe)(solta)(movimenta o corpo e desequilibra-se) ≠ 03 M *≠ei::ta:::/viva:::::* ≠/*o’a a bolinha teu/≠a bolinha oh/oh/aqui oh/.. embaixo*≠/*mamãe vai lhe dar tome/≠tome/..te::u/psh:::/bora bincah de bola mamã::e/bola mã:::e/oh ... toma*≠/*(2s) da pa mamãe/da/≠ (2s) Ê::: nã::o*≠/*oh/≠(3s)≠ BOLA: de tete:u*/≠*o::lha mã::e/a bo::la::/da a bola pa mamãe/*≠ *segura o braço E do bebê e toca seu pé E**pega e mostra uma mini bola em varias direções**coloca a bola no campo visual do bebê e coloca na suas mãos, ajeita o bebê**faz gesto de pedir a bola e se coloca no campo visual do bebê**pega a bola, coloca nas mãos do bebê, aproxima seu rosto dele**pega na bola,solta, faz gesto de pedir 04 B ≠(reequilibra-se)≠≠R(bola em todas as direções)(vocaliza) ≠ ≠(tenta pegar a bola)(segura) ≠≠(bate palma na bola)(vocaliza) (solta a bola) ≠≠(segura a bola)(vocaliza) ≠≠(segura a bola) (solta)R(mãos) ≠ 05 M *≠.da pa mamãe a BOLA/da pa mamãe/..meu amô: ≠/≠aqui oh/..oh teu/ 153 oh mamãe pedindo a bo:::la*≠/*...a bo::la de tete::u oh*/*(3s) ≠ oh teu a bo::::la/pxiu*≠/*ow meu amô como voxê/≠olhe /a bo::::la*/ toma a bola≠/≠(2s) toma a bola*≠/*(2s) se você estah contente bata palma []≠≠ []*/*se você estah contente [] ≠≠bata palma/..[] vai mãe/≠[] se você estah contente e quer mostrar pra toda gente se você estah contente bata palma/*≠ *faz gesto de pedir, toca na mão E do bebê**segura as mãos do bebê e o endireita**tenta colocar a bola na sua mão, mostra em varias direções**endireita a cabeça do bebê, mostra a bola na frente**baixa a bola, da nas mãos do bebê**segura a bola, pega nas mãos do bebê, aproxima seu rosto dele, bate palmas comas mãos do bebê, solta as mãos do bebê**segura as mãos do bebê e bate palmas, solta as mãos do bebê, bate palmas* 06 B ≠R(bola)(segura com a mão D) ≠≠R(F) ≠≠(tenta pegar a bola)R(mão E) (E) ≠≠R(bola)(tenta alcançar com a mão E) ≠≠(pega a bola com as duas mãos)(solta)R(mãos) ≠≠(bate palmas)R(mãos) ≠≠(idem) ≠ ≠ R(mãos da mãe)(bate palmas)(vocaliza) ≠ A sequência inicia com o jogo do cantar em que entra o bater palmas e pés de acordo com a musica que a mãe canta. As vocalizações do bebê são integradas no jogo. Desde o inicio ele vocaliza durante o canto da mãe (01-04). No turno 5 quando a mãe recomeça a cantar ela também pega as mãos do bebê e bate palmas, soltando depois. Ela incentiva o bebê ('vai mamãe') e continua cantando e batendo palmas. O bebê imita a mãe batendo palmas e vocalizando. Observamos a afinação obtida e a participação conjunta no cantar. No turno seguinte uma vocalização mais prolongada do bebê faz com que a mãe interprete isso como ele não querer mais esse jogo e com isso ela muda suas ações : 07 M *..[] se você estah contente ≠ bata o pé/*(1s) ≠ ta bo:m mamãe não binca mais disso não/≠°binca não binca não binca não°*/*faça carinho ≠≠ em mamãe/CAri::nho tete:u em mamã::e/* *bate palmas, para, toca nos pés do bebê**pega no tronco do bebê e aproxima seu rosto dele, faz movimento de negação com a cabeça* *pega nos braços do bebê, ajeita a cabeça dele* 08 B ≠(bate palmas,para, se estica da mãe) ≠ ≠R(A)(vocaliza) ≠ e vocaliza)≠≠R(M) (pega no rosto Observamos que a mãe ao interpretar essa vocalização do bebê como tal (07), ela obtém em seguida seu olhar e recebe o toque de suas mãos no seu rosto. Essa interpretação dada como um não mais engajamento do bebê pode ter sido devido a vocalização mais intensa e prolongada dele e do seu comportamento de esticar o corpo. 154 O Jogo vocal da díade evolui para a inserção das vocalizações do bebê no contexto do cantar. O extrato seguinte mostra o inicio desse jogo: Extrato - 10 Data: 29/12/2007 Idade do bebê: 28 semanas Tempo: 01:39:27~01:45:50 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados no sofá de sala. Mãe está com o bebê no colo. A mãe imediatamente integra a vocalização breve do bebê ao jogo incentivando-o a cantar: 01 M ≠*Parabéns pa você/bate/.eh: mamãe palabén:s/vai/..nesta≠ da olha pa mamãe olha pa cima não/..querida/(3s) shim ¤¤¤/bate aqui≠/muitas fe.licida:de≠/..cadê mamãe/vai completar não≠/ .. muitos a::no:s de vi:da/.palabéns ((ri)) pa você/vai mamãe/nesta da:::ta que::ri:da/..muitas fe::: ≠ vai/...EH/ completa mamãe/≠fe:::li:ci:dade/°que binca mais nao°/muitos a::no:/..vai/de: vi::da/*eh::/eh:: mamã::e/≠-> *segura o bebê e ajeita sua postura sentado* 02 B ≠(bate com a mão D na mão E da mãe)(vocaliza)R(F) R(A)≠≠(bate na mão da mãe e para) ≠(bate na mão da mãe e para)≠(bate na mão da mãe) R(M) ≠ 05 M ≠*.agola bate aqui palabéns pa mamãe/.’ca/teTEU:::/[]/.aqui mamãe/..[] bate palabéns*≠/.palabéns/(1s) bora mamãe/ cabecinha ashim ashim oh ≠pa mamãe/..nã:o tem nada não la não pa tu vê não/não/segu:ra:/sigula mamãe≠/≠assim quetinho mamãe/ quetinho mamãe eh::/(1s) eh: mamãe/≠ *(ajeita o bebê)(da beijo no pescoço)(bate a mão nas mãos do bebê)* 06 B ≠->(tenta equilbrar-se)R(A)(bate na mão da mãe) ≠≠R(A)(tenta equilibrar-se) ≠≠R(F)(mãos na boca)(tenta equilibrar-se) R(A)(vocaliza) ≠ … A mãe utiliza dos marcadores '/eh/' logo após as vocalizações do bebê durante a musica, parando mesmo de cantar para assim reforçar e encorajá-lo (01 e 05). Essa ação materna de parar marca um espaço deixado por ela para que o bebê se manifeste. Esse tipo de facilitação materna situa também o bebê no 'tempo' ajudando-o a construir a noção de ritmo. O próximo extrato mostra a introdução das onomatopéias utilizando a musica : Extrato - 11 Data: 15/01/2008 Tempo: 01:46:07~01:53:17 155 Idade do bebê: 31 semanas Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no sofá como bebê deitado no seu colo. 01 M ≠*[]bate palma mamãe [-1s]/(3s) eh/eh/°bate mamãe°/na boca não [] *≠ ≠hum:::/tete:u: ow tete:u≠/¤¤¤ mamãezinha mamãe ama/[] ama mamãezinha aum:: ≠[]≠*hum::::::* /(1s)hum:: mamãe cavalinho ((imita som do cavalo trotando 5s)) []/(6s)((idem 7s))/ ... eah:::::: mamã::e/((idem 4s)).. *≠que foi meu aMO/..hein meu amo/[]≠ minha vida []/(3s)hum/..hein bebê::/(2s)((idem 7s))/* ≠ *(cheira o bebê)(segura as mãos dele e bate palmas)**senta o bebe no seu colo e faz movimento de trotar cavalinho)(para, beija o bebê e repete outras duas vezes**para de trotar, ajeita o bebê e refaz o trotar* 02 B ≠R(A)(bate palmas)(vocaliza)≠≠(pega no rosto da mãe)≠≠(mãos na boca)R(M)≠≠(tenta equilibrar-se)R(varias direções)(vocaliza) ≠ ≠R(M)(tenta equilibrar-se)R(varias direções)-> ≠ Observamos que após a realização da mãe da onomatopéia do cavalo pela segunda vez (01), o bebê vocaliza e a mãe imita a vocalização dele e repete uma terceira vez a onomatopéia. Reparamos que a mãe deu o modelo, houve uma vocalização do bebê e uma réplica materna. Um exemplo da orquestração do ritmo das vocalizações. A musica sendo uma ferramenta para a díade sincronizar suas vozes. Nos turnos seguintes marcamos a afinação vocal da díade no jogo do cantar: 11 M ≠*(12s) [] parabéns pa tete::u nesta data que:ida*/(12s) vai mamãe/*(1s) vai termina*/≠[]°muitas felicidades° muitos a:nos de: VIda: ≠/≠* (4s) palabéns pra TEte:u ..nesta data que:rida/*°muitas felishida°/oa quem vai chega/ *(pega as mãos do bebê e bate)(bate palmas pro bebê)**(pega nas mãos do bebê)**(pega mãos do bebê)(pega pernas do bebê)**(pega mãos do bebê)* 12 B ≠->R(mãos)(segura as mãos juntas)≠≠(bate palmas)(vocaliza) ≠≠R(E) (balança braço D)R(mãos)(mão E na boca)R(A) ≠ O pai entra na interação pra substituir a mãe que precisou sair um pouco (não será transcrito no momento) Percebemos no turno 11 a vocalização do bebê e o bater palmas participando do cantar. Um fato interessante é que a vocalização do bebê ser mais longa surgiu depois da diminuição da intensidade vocal da mãe : «°muitas felicidades° muitos a:nos de: vida:≠». 156 5.4.10 A co-construção do jogo de imitar a onomatopéia do índio: Extrato - 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. 19 M ≠*cadê o índio*/o’ o’ o’ o’ /... ≠como eh que eh o índio/mosta pa mamãe/≠... ≠mosta pa mamãe/≠*o indio oa’ oa’ oa’ oa’/mostra o indio pa mamãe*≠/≠ (4s) ≠ *o indio pa mamãe oa’ oa’ oa’ ≠oa’≠/UB’ ub ub’ ub’*/vai ≠* ... []≠ parabéns pa toto::so nesta datah que:lida≠/.. UI mamãe/≠ [] muitas fe::li.ci.da.des muitos anos de vida*≠/≠ *[]Ê:::::* ≠ *vira a cabeça pra que olhe pra ela**pega na mão E do bebê e leva a sua boca**leva sua mão a boca imitando o som do indio* *bate palmas**pega as mãos do bebê e bate palmas* 20 B ≠R(M) (vocaliza imitando a mãe) ≠≠(vocaliza)≠≠R(varias direções) ≠ ≠(vocaliza e movimenta o braço imitando a mãe - índio) ≠≠(idem) ≠ ≠(vocaliza) ≠≠(bate palmas)(balança as pernas) ≠≠(mexe o corpo todo)(leva as mãos a boca) ≠≠(bate palmas com a mãe) ≠ 21 M ≠*...[]* Ê::::: vai mamãe/≠...≠ ê::::: *[]*≠/*(3s)ah Uauauauauau*/o índio mamãe/*o índio uauaua*/*não cabexinha assim/EI ≠...≠ nã::o meu amor olha pa mamãe mainha ta aqui*/≠ psiu pxiu pxiu≠ pxi:::u pxiu/*((vibra ≠labios))* ≠ *[]≠ a::i cosquinha mamãe/AI ≠teteu puxa não mamãe/qui doi/doi em mamãe do:i vixe/vixe/*pxu pxu []≠A::i teteu puxa não mamãe≠/*doi cabelo [] de mamãe [] doi/* *bate palmas**idem**pega as mãos do bebê e leva a mão E a sua boca**idem**ajeita cabeça do bebê**no pescoço do bebê**tira o bebê da cadeira, eleva, cheira e beija sua barriga**eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**senta o bebê no colo* 22 B ≠(vocaliza imitando a mãe)(bate palmas)≠≠(vocaliza imitando a mãe)≠ ≠(bate palmas) ≠≠(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(ri) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura no rosto)R(A) ≠≠(segura os cabelos da mãe) (segura o rosto da mãe)≠ No turno 19 temos mãe e bebê alinhados pelo olhar iniciarem o jogo de imitar o índio. Para isso a mãe posicionou o bebê para o face a face. A mãe inicia a onomatopéia do índio e o bebê a imita. Antes disso a mãe ajuda o bebê a fazer o movimento com a mão (bater na boca) e depois realiza o movimento para o bebê ver. Aí acontece a imitação do bebê realizando sozinho o gesto e a vocalização da onomatopéia. E o bebê faz novamente desta vez sem a indução da sua mãe. Em seguida o bebê vocaliza pela quarta vez, desta vez sem bater na boca, emitindo um som prolongado e mais intenso. A mãe o observa e imediatamente 157 começa outro jogo o de bater palmas e cantar. O bebê após olhar pra mãe passa a imitá-la também nessa nova ação. Em seguida é o bebê quem traz o índio novamente e agora é a mãe quem imita a vocalização e o gesto do bebê: 23 M ≠*vou fazer cosquinha em teteu [((barulho com a boca))]*/≠ A::I ≠ *(2s)tete::u/≠tu puxou o cabelo de mamãe foi≠*/≠*[] *(2s) aqui sentado/(1s) olhando pra frente≠*/≠*[](2s) tete:u o:lha/(3s) desse lado mamãe≠/*olhe aqui pra mamãe/..mamã::e/(1s) assim oh*/*aqui oh/E:ITA mamãe/ei.TA*/ei.TA/≠.. eiTA/não/*≠ *eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**ajeita o bebê no colo pra que olhe pra ela**segura o bebê**coloca o bebê na cadeira e ajeita sua cabeça**pega o cachorro e toca o sino**ajeita a cabeça do bebê pra que olhe pra ela**aproxima o rosto do campo visual do bebê**afasta-se e toca o rosto do bebê* 24 B ≠(segura os cabelos da mãe) ≠≠R(M) ≠≠(bate palmas) ≠≠R(D)(mãos juntas) ≠≠(vocaliza)(mexe o corpo)R(D) ≠ 25 M ≠*... uauauauauau*/(2s) ≠ °eita°/≠*hem eita/(2s) eiTA mamãe*≠/ *olhe aqui pa mamãe/≠..≠ de lado não mamãe/aqui pa mamãe/≠...≠ *toma/≠...toma/tome/(2s) ≠* boca boca/de teteu*/≠i::sso/muito bem/eh isso mesmo/meu amo::/mordê≠/≠morde≠/..não/bater palma não/ aqui/≠.na boca/i:::sho:::/vai mordê mamãe≠/*≠ vai modê mamãe/MUIto BEM meu amo:::/ ≠* *imita o bebê fazendo o indio**aproxima e afasta o rosto do bebê e toca seu rosto*ajeita a cabeça do bebê**pega outro brinquedo e mostra ao bebê**pega a mão do bebê e leva a sua boca* 26 B ≠(leva a mão E à boca pra fazer o indio)(vocaliza)≠≠R(D;A)≠ ≠(vocaliza)R(F) ≠≠R(D;A) ≠≠R(objeto)(pega)(bate palmas com o objeto na mão D) ≠≠(segura objeto)(coloca na boca) ≠≠(bate palmas com o objeto na mão D) ≠≠(objeto na boca)(tira da boca) ≠≠(objeto na boca) ≠ Nos turnos 23 e 24 mãe e bebê jogam em face a face e a mãe tira o bebê da cadeira e põe no colo. Depois colocando-o de volta na cadeirinha apresenta-lhe um brinquedo. É quando o bebê inicia o bater na boca fazendo o gesto e onomatopéia do índio. E a mãe o imita fazendo também a onomatopéia. Temos o bebê assumindo a liderança do jogo. Ele se apropria do seu saber e o exibe. A exibição do bebê ao fazer novamente a onomatopéia do índio fala do seu estado interno. Nesse momento ele não imita, ele auto-inicia. Ele exibe-se. 5.4.11 A orquestração do balbucio do bebê : 158 Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 05 M ≠*(4s) EITA::/eita: bicho bom ¤¤¤/≠tu vai cumê o modedô eh mamãe*/ *..bola vê si tu senta aqui no duro bola*≠/hum/≠*..eita da pa mamãe ¤¤¤≠/≠da pra mamãe/... *mnhamnhamnha*≠/≠da pa mamãe*/(1s) da pa mamãe/da/da teteu/.da da da da da /DA mamãe/da pa ma:mã::e/≠* *segura o bebê pelo seu tronco, aproxima e afasta seu rosto do bebê**afasta os brinquedos do chão**imita a vocalização do bebê* *faz gesto de pedir com mão D aberta* 06 B ≠(tira objeto da boca)R(objeto)≠ ≠(objeto na boca) ≠≠(tira objeto da boca) ≠(objeto na boca)(vocaliza)≠ ≠(tira objeto da boca) (vocaliza)R(objeto) ≠ A evolução dos tipos de vocalizações do bebê vão sendo inseridas no dialogo. No turno 05 vemos a mãe imitar o ... *mnhamnhamnha*≠ emitido pelo bebê reforçando assim a sonoridade. Em seguida ela solicita o objeto ao bebê usando o gesto manual de pedir e enfatizando a ação através da repetição silábica : « da da da da da » . O bebê vocaliza prolongado e a mãe enfatiza ainda mais o '/DA/' seguido de uma fala mais melódica como se quisesse seduzir ainda mais o bebê a dar-lhe o objeto. 07 M ≠*(7s) []* ≠/≠*num foi negão num foi negão/mamãe vai sentar aqui*/se segura≠/*se segura/aqui oh*/*≠oi ô::i/(3s) segura mamãe/ (2s) sigura mamãe*/i::sso mamãe≠/≠*ô::i nã::o*≠/≠... nã:::o chorah não/..sentadinho segura/≠* *tenta pegar objeto das mãos do bebê**tira bebê da cadeira e o senta no chão**tira objeto da mão do bebê e sua outra mão da boca**ajeita o bebê sentado, dando apoio com suas mãos**segura bebê que caia pro lado E**ajeita o bebê* 08 B ≠(segura objeto so com a mão D)(vocaliza) ≠≠(segura objeto na mão D)(mão E na boca) ≠≠(tenta equilibrar-se sentado) ≠≠(cai para lado E) ≠≠(vocaliza – chorominga?)(estica-se pra tras)(tenta equilibrar-se) ≠ O bebê repete a vocalização prolongada e intensa (07 e 08), a mãe sorri disso e em seguida tira-o da cadeirinha e o coloca sentado no chão. A mãe reage como se compreendesse a vocalização do bebê como um « não dou ». E inicia outras brincadeiras. O balbucio /mama/: 159 Extrato - 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. 29 M ≠*EITA/eiTA mamãe/((vibra lábios))/não/oi≠/≠(8s)≠ como eh teteu/≠ .mamãe/mamã*/quer bate palma o xinhô eh≠/≠..≠ °vire° aqui pa mamãe≠/oi/...vire aqui pa mamãe/vire*/*≠ (5s) ≠ aqui ≠toma toma*/ ...a boca mamãe/¤¤¤ eh mamãe/i::sso/não segura segura≠/*(1s) segura aqui oh/≠aqui oh/i:::sso o::lha:: /°na boca que gotojo° OHH*≠/≠olha mamãe/*a mão nã:::o/≠* *aproxima o rosto do bebê, segura seu queixo**pega outro brinquedo, mostra e da pro bebê pegar**pega o objeto e da novamente ao bebê**pega a mão E do bebê* 30 B ≠(mexe o corpo)R(M)(engasga)(tosse) ≠(balbucia /da/) ≠≠(bate palma) ≠ ≠(tosse)R(D) ≠≠(bate palma)(vocaliza) ≠≠R(objeto)(pega) (segura com as duas mãos)(solta)≠≠(bate palma)R(objeto)(pega)(leva pra boca) ≠ ≠(segura o objeto só coma mão D)(deixa cair) ≠ O balbucio do bebê (30) serve para a mãe como um modelo para ela modalizar com ele para a produção do 'mamãe'. Nos turnos 29 e 30 depois da vocalização do bebê, ela segura seu mento e movimenta-o para baixo e para cima fazendo o bebê abrir e fechar a boca na tentativa que ele pressione os lábios para conseguir produzir um som bilabial. Outro exemplo: Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 27 M 28 B *≠ (2s) para.béns pra teteu nesta≠ data *≠ que’[]≠/(4s) mamãe ≠ma.mãe/ma.mãe/ma..mãe≠/≠ (12s - )* EI::ta≠/≠pxiu TE::u []/ te::u ((vibra lábios))/te::u []/OI.../TE::u/(2s - ) ae:n/ TE::u ../*≠-> *olha para a sua E, olha pro bebê, segura seu pé E, solta traz mão D do bebê para o meio e toca a mão E, solta**aproxima seu rosto do bebê, olha pra E, olha pro bebê, segura seu mento, faz movimento de abrir e fechar a boca dele**solta, toca no seu rosto, segura no seu peito, aproxima-se e da cheiro no pescoço, afasta, faz novamente agora vibrando labios, afasta, novamente agora da beijo, afasta-se, ajeita a cadeira trazendo mais pra perto de si, olha o bebê, imita a vocalização dele, pega na sua mão E* ≠->(balança braço E) ≠≠R(F) ≠≠R(M) ≠≠(estala a língua)(vocaliza) (bate palmas) ≠≠R(E;A)(vocaliza)(levanta braço E –tenta alcançar a mãe?)R(A)(vocaliza)(bate palmas)R(F)(vocaliza)R(E;A) ≠ 160 Outro exemplo de orquestração do balbucio no dialogo. A mãe (27) aproveitando da vocalização do bebê (28) para a introdução de um novo conteúdo. Ela utiliza estratégias de facilitação segurando seu mento, para ajudar o bebê na produção do som. A evolução da orquestração da vocalização do índio (onomatopéia): Extrato - 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 11 M ≠* bora brinca..(2s) batendo palma []/ batendo o pé::/cosquinha.. cosquinha/ cosquinha em teteu cosquinha:::/ cosquinha::: []*/*[] uhmmmm≠/≠fica em pé/em pé..(11s)≠/≠em pé..(3s)*≠/≠* deita::do/ xa:::u..(1s)/ xa::u.. ≠/≠ a mão de mamãe/ mã:::o (08s)*≠/≠*[]/ ta fazendo índio com a mão de mamãe é.. (2s)/é meu amo:: hum [ ] (3s)≠/≠ é meu amo::/tu ta fazendo indío com a mão de mamãe é/ aqui oh mamãe oh/umaumauma [] (5s)*≠ * pega as mãos do bebê para ele bater, faz cosquinha no pé do bebê**dá beijo e coloca o bebê em pé no sofá segurando no braço e na perna do bebê**segura na cabeça do bebê encostando no sofá, coloca sua mão na frente do rosto do bebê e depois fica encostando sua mão na boca do bebê**segura o bebê e da um cheiro no pé do bebê, coloca a mão do bebê na sua boca* 12 B ≠R(M)(olha para a mão da mãe) (bate palma)(segura suas mãos e mexe os pés)(B)≠ ≠ (vocalizações)≠ ≠(B)≠ ≠(F)(mão da mãe)≠ ≠(segura na mão da mãe e leva e afasta da sua boca)(vocalizações)≠ ≠(B)(mexe os pés)≠ ≠(E)(B) ≠ Nota-se uma verdadeira integração das ações do bebê (11 e 12) pela mãe. As trocas intersubjetivas anteriores culminaram nessa afinação. O bebê desta vez é quem faz a modalização do jogo e a mãe adapta-se imediatamente a ele. Mais uma vez é o bebê quem inicia o fazer a onomatopéia do índio. Ao mostrar sua mão ao bebê, a mãe possivelmente tinha a intenção que ele batesse nela e começassem a cantar ou que aprendesse o gesto de despedida (“tchau”), como se ela esperasse a exibição do bebê dos jogos anteriores utilizando a mão. Porém o bebê pega a mão da mãe e leva-a pra boca e afasta repetidas vezes, ao mesmo tempo em que inicia uma vocalização. A mãe percebe imediatamente isso e facilita ajudando o bebê a fazer esses movimentos (11). E deixa o bebê conduzir os movimentos até que ele pare de vocalizar. E sorri para o bebê reconhecendo o seu fazer e comenta isso: “[]/ta fazendo índio com a mão de mamãe é..(2s)/é meu amo:: hum [ ] “. Observamos uma integração entre 'tempo' e ação entre eles. 161 Não notamos, nesse caso, a atividade especular materna mas sim um « ouvir » e responder ao bebê que agora tem voz. A evolução da diferenciação do balbucio inserido no dialogo. O balbucio reduplicado do bebê em duas formas fonéticas ganhando força ilocutória e semântica. O balbucio /ke ke ke/ como um pedido: Extrato – 18 Data: 29/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:31:01~03:48:34 Proxemia: mãe e bebê estão frente a frente. O bebê está sentado na cadeirinha e a mãe sentada no chão. 03 M ≠*[ - 3s] ê:::::/[ - 6s] ¤¤¤/ [ - 6s]**da p’a mamãe/hh[ - 3s]mamãe*/*é de mamãe/tu quer/...toma/i:::sso::::*≠/ ≠*(12s) ca ca ca qué:: mamãe/e:: meu amô: []/≠ [ - 9s]≠ */ *≠o::lha:::*/(1s)*aqui oh mãe/...direitinho/hh/ assim oh*/*toma/ hh/[ - 5s]/ vai[ - 1s]/ aqui a mã:::o[ - 2s]≠/vai/ ≠...i::sso*/≠ *dá o objeto ao bebê**pede o objeto ao bebê** dá o objeto ao bebê** a mãe fica olhando para o bebê enquanto balbucia**mostra o objeto ao bebê**posiciona o bebê na cadeira**a mãe pega a mão do bebê e leva até o objeto* 04 B ≠R(brinquedo)(balbucio /ke/)≠ ≠R(M)≠R(E)≠ ≠R(brinquedo) ≠R(M)≠ Outra vez na sequencia: 13 M ≠*TETE::u/. dá p’a mamãe/bola≠/≠bo:::la::/..bo:::la:/toma a bola/a bola de teteu/toma/(1s)sabe pegar aqui em cima*/*[4s ¤¤] o que foi/.. ca ca ca*≠/≠*tu queh a bola eh mamãe/psiu/a bola aqui oh/te:::u/...mãezinha/...*≠/≠*nã::o*/*bo.la≠/.≠a bola/. Toma/(3s)≠/≠TOMA*/...*so queh na mãozinha né/só queh na mãozinha*/*EITA EITA EITA ¤¤¤/vai pra onde teu/. Vem ca≠/≠..vem ca/(5s) hh*≠ *a mãe mostra a bola ao bebê** mãe fica olhando para o bebê e interagindo com o mesmo**a mãe mostra a bola ao bebê**a mãe posiciona o bebê na cadeira**a mãe mostra a bola ao bebê* *mãe passa a bola nas mãos do bebê**a mãe posiciona o bebê sentado na ponta da cadeira* 14 B ≠R(M)≠ ≠R(bola)≠ ≠R(A)≠ ≠R(M)(balbucio reduplicado)≠ ≠R(bola) (vocaliza)≠ ≠R(bola)(vocaliza)≠ ≠R(E) (mexe os braços e pernas e vira o corpo para o lado E)≠ ≠R(B)≠ A mãe (03) logo da vocalização duplicada integra isso à ação fazendo a pergunta se ele quer a bola. No turno 13 ela atribui a que ele está vocalizando /bola/ e a terceira vez desse balbucio do bebê, a mãe responde com um tom de voz mais intenso e atribuindo um querer ao 162 bebê: «≠TOMA*/...*so queh na mãozinha né/». Dessa forma a mãe está fazendo um resumo desse tipo de balbucio do bebê configurando no contexto do dar e pegar como sendo um pedido. O balbucio /ko ko ko/ como uma possível referência à vovó: Extrato - 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 01 M ≠* olha::::: o celula::::::/eu vo fala com quem mamãe.. (4s-)/*≠≠*alô::..(2s)/alô:: (2s)/alô:: vovó/ papai/ ne vovó não é papa::i hh/ ga. papai/fala papai..(1s) papai.. hum..(1s) hein/ olha:: será que é papai mesmo*≠ *mostra o celular ao bebê, entrega e segura o bebê**pega o celular, mostra ao bebê novamente,passa a fralda no rosto do bebê e pega o celular do bebê* 02 B ≠R(celular)(segura o celular e balbucia reduplicado /ko/)≠ ≠(celular)(vocaliza e segura novamente o celular)≠ A mãe (01) mostra o telefone celular e questiona ao bebê com quem este vai falar. O bebê balbucia reduplicado (02 - /ko ko ko/). Em seguida depois da fala materna dizendo : 'alô', ele vocaliza em seguida com entonação parecida à da mãe. A mãe quando fala : «alô:: vovó/» está possivelmente fazendo uma aproximação da fonetização do balbucio do bebê /ko/ com a fonética do /vovó/. Ela reforça isso em seu enunciado seguinte como se reconhecesse essa vocalização do bebê como tal : “ne vovó não é papa::ihh". Agora veremos o mesmo balbucio /ko ko ko/ como uma onomatopéia: Um programa de televisão que despertava o interesse do bebê segundo a mãe era o de nome 'cocoricó'. Quando a mãe incentiva o bebê a produzir a onomatopéia da galinha ela se refere a este programa de TV. Extrato – 21 Data: 23/08/08 Tempo: 17:26~26:44 Idade do bebê: 15 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 163 13 M ≠* coisa goto::sa::...(3s)*/*te::u..(3s)*/*cadê o coco*/* co.co.co.co.co.co..(2s)/cade≠ ≠ mamãe*/*cadê han..(2s)/ levanta a cabecinha ...(3s)*≠/*cadê han..(2s) han/(2s)/han.. (2s) hein mamãe...(6s)≠/≠hein../tchau tchau cocorico/ cade mamãe co.co.. (3s)/ coco::: /(3s) co.co:: *≠* segurando o bebê deixando-o sentado no sofá**segura na cabeça do bebê com as duas mãos**levanta a cabeça do bebê e faz movimentos no queixo do bebê para cima e para baixo** fica falando e olhando para o bebê**passa a mão nas costas do bebê**levanta o bebê e segura com as duas mãos* 14 B ≠R(B)(M)≠ ≠(B)(cai para frente)(vocaliza)≠ ≠(F)(vocaliza)(E)(bate com a mão esquerda no sofá)≠ ≠(E)(B)(balbucio reduplicado /ko/) ≠ Vê-se que a mãe obtém o olhar imediato do bebê após referir-se ao programa de TV « cocorico » (13) quando pergunta ao bebê : « *cadê o coco*/ ». Com isso a mãe percebe o interesse dele pois o bebê passa a olhá-la e ela repete enfatizando a silabação. O bebê (14) responde imitando o balbucio durante o período da pausa da fala materna. Esta imita o bebê em seguida. 5.5 Algumas considerações sobre a produção vocal da díade: Partindo de Bakhtin que afirma que todos os indivíduos vivem “no mundo das palavras dos outros” (BAKHTIN, 1986, p. 167, tradução nossa), tomamos a produção vocal da díade enquanto uma de suas múltiplas vozes no dialogo. Apontamos para o jogo constitutivo presente nessas dinâmicas dialógicas voco-verbais, ou seja, a dialogicidade enquanto a “interdependência mutua dos participantes e seus efeitos” (MARKOVA, 2006, p. 134). Analisando as trocas voco-verbais da díade nos concentramos em tentar observar suas co-comunicações quanto às suas existências físicas da fala enquanto um fenômeno “auditivo-vocal” (BERTAU, 2007). Nos deparamos então, com essa dinâmica vocal na qual mãe e bebê vão modalizando suas interdependências e afinando-se através de dinâmicas simultâneas e sequencialmente coconstruídas e que resultam dos movimentos independentes do “eu-bebê” e do “eu-mãe” que eles orquestraram juntos. Ao vermos como e porque através das trocas voco-verbais eles orquestraram quando exploraram seus corpos, através de dinâmicas como: reformulações, inferências e repetições, em suma, através de movimentos retrospectivos e prospectivos, pudemos nos deparar com o trabalho intersubjetivo da díade na construção do “eu” e do “outro”. 164 Entendemos como a voz prosódica materna é um importante facilitador da constituição subjetiva do bebê (CAVALCANTE, 1999; 2001). Buscamos mostrar a importância de considerar a participação de cada membro da díade sem nos determos na participação de “um” ou de “outro”, sobretudo a participação do bebê (configurada via discurso materno) como uma unidade importante e não isolada do contexto em que cada um deles exibiu-se, com seus recursos próprios, num dialogo complementar. Enquanto “participantes dialógicos” (MARKOVA, 2006, p. 155) a díade utilizou recursos comunicativos. Vimos que esses recursos foram compartilhados, mostrando o quanto eles foram capazes de sincronizar seus significados, no tempo e no espaço, orquestrando e construindo um fundo discursivo comum para o que estavam trocando. Esses recursos utilizados pela díade também mostram que a afinação dos significados segue através de dois caminhos dialógicos interdependentes: o primeiro através da perspectiva do outro e o segundo através da imposição do próprio significado no outro (MARKOVA, 2006). Temos como exemplo desse segundo caminho da afinação dos significados entre a díade, a exibição do bebê dos seus conhecimentos. Citamos como um entre os exemplos vistos da participação do bebê nas analises desse tópico, quando ele é quem produz a onomatopéia do índio (Extrato 14) como o reflexo desse “outro” (quando ele imitou a mãe) e que agora está integrado nas suas ações (quando ele auto-inicia). As características contrastantes da díade servem como panos de fundo da dependência da intenção enquanto recursos para o “como” e nos motivos para a comunicação (o “porquê”) compondo a natureza dos eventos dos quais a voco-verbalização faz parte do dialogo . O bebê quando realiza num movimento de auto-iniciação, a onomatopéia do índio por exemplo, está de certa forma demonstrando uma auto-orientação no dialogo com sua mãe. A demonstração de que ele está impregnado e não misturado com o outro. Ele está refletido na perspectiva do outro e isto é apenas um « aspecto do desenvolvimento do auto-conceito » (MARKOVA, 2006, p. 150). Como questiona bem Bakhtin : « O que eu ganharia se um outro se fundisse em mim ? » (BAKHTIN, 1986, p. 78). Assim, não existe dialogo « se os participantes não forem expostos através da estranheza, mutuamente experimentada. » (MARKOVA, 2006, p. 151) Exibindo sua « voz » o bebê demonstra a superação do « estranho » e se confirma como agente. A auto-iniciação do bebê na onomatopéia do índio trazendo para o dialogo algo 165 retrospectivo, demonstrou o seu estado no processo de desenvolvimento de sua autoidentidade. Concebemos isso como um produto derivado das ações conflitantes do encontro do « eu » com o « outro », neste caso sua mãe. Com isso queremos dizer que o bebê não estava exibindo o « EusouEu »57 ou « minha identidade é determinada pelas minhas experiências passadas »58 mas que ele estava experimentando, exibindo-se no espaço e no tempo de suas ações, de forma dinâmica e integrada no dialogo. Dessa forma concordamos com Markova quanto a importância de buscarmos uma maneira empírica de demonstrar a dialogicidade do Alter-Ego na constituição subjetiva do ser humano. Para ela : « A dialogicidade não concebe a identidade como algo que pode ser ameaçado externamente, mas sim como uma relação entre o Alter-Ego. » (MARKOVA, 2006, p. 160, grifo da autora). Vimos que o bebê exibe-se “no” e “através” do dialogo. Autores como Trevarthen (1999) para quem a intersubjetividade sendo inata, pode fornecer uma pista « de como o conhecimento humano social e cultural é criado », para outros como Markova (2006) isso reduz o caminho da intersubjetividade. Ela considera que com isso dois aspectos importantes da dialogicidade do Alter-Ego ficam amplamente negligenciadas : a orientação de acordo com os outros e a orientação de acordo com o eu. Concordando com essa autora acreditamos que a capacidade de ressonância do bebê com sua mãe vai sendo desenvolvida no dialogo através de suas existências físicas, biológicas, psicológicas e sociais. Em « co-presença » o bebê vai ganhando voz, ou seja, sua voz enquanto sua existência comunicativa (self) no processo de seu desenvolvimento lingüístico. No tópico seguinte vamos analisar as outras “vozes” partilhadas pela díade. 5.6 O papel da gestualidade espacial e mímica: aspectos genéticos e multimodais Já sabemos que a criança é capaz de estabelecer trocas dialógicas antes do estabelecimento de qualquer língua ou sistema simbólico constituído (FOGEL, 1993, 2001; LYRA, 2007; LYRA & SOUZA, 2003; TREVARTHEN, 1979). É importante ressaltar que o funcionamento simbólico não requer apenas uma diferenciação das posições dos parceiros, mas também o surgimento, a participação e a 57 Em Markova (2006, p. 156) Markova (2006). 58 166 integração da natureza social e cultural dos símbolos (MARKOVA, 2006; VALSINER, 2006). Propomos então que esta participação e integração são também um conjunto de realizações orquestradas, co-construídas envolvendo toda a multicanalidade contida nas ações dos participantes. Sugerimos que é na primeira infância através de um processo de participação orquestrado pela linguagem incluindo a do corpo, em que as dinâmicas buscam sempre sua afinação, que se dá a construção da natureza social e cultural do mundo simbólico. Passemos a olhar as trocas dialógicas da díade quanto à sua multimodalidade no tópico que se segue. 5.6.1 As primeiras condutas linguageiras quanto à posturo-mimo-gestualidade. No capitulo 2 vimos que o bebê é capaz de condutas imitativas precoces e mesmo que se trate ainda de condutas reflexas adaptativas elas testemunham sua aptidão para registrar as equivalências entre o interior e o exterior e a tratar algumas informações já de forma intermodal. O tratamento intermodal das informações visuais e auditivas constitui sem duvida um pré-requisito maior para as aquisições lingüísticas e cognitivas necessárias a comunicação falada. E o que nós vamos ver agora. 5.6.1 O lugar da gestualidade (olhares, movimentos do corpo – proxemia, as posturas e a gestualidade – os sinais sutis de sincronização/afinação no dialogo. Vamos nos concentrar nas ações coordenadas da díade, dentro de uma analise dialógica, “no jogo dialógico”, os movimentos de sincronização entre a mãe e o bebê. Alguns estudos já realizados59 sobre a sincronização evidenciaram que desde o nascimento durante a sucção da chupeta o recém nascido produz micro movimentos nos quais ele responde a sua mãe e constitui certamente um aspecto importante da comunicação precoce. Porém outra ordem de fenômenos parece ter implicações importantes. Por exemplo é o que vamos tratar nas analises, são os fenômenos de movimentos de ajustes posturais e mímicos realizados pelo bebê e sua mãe no decorrer das trocas. 59 Conhecidos como os “desenvolvimentalistas”: Brazelton, Bruner, Vygotski, Tomasello, Trevarthen entre os mais conhecidos. 167 Partimos da hipótese de que essas trocas são fortemente dependentes de modalidades táteis e olfativas desde a segunda semana de vida e mais fortemente são sustentadas pelo olhar e concomitantemente podemos ver que elas também são igualmente marcadas pela modalidade auditiva na qual o bebê e a mãe respondem em turnos e em ecos. Pretendo mostrar que essas trocas são fortemente relacionadas com a origem das futuras condutas de alternância conversacional. Nós argumentamos que nas experiências vividas nas instâncias dialógicas os corpos co-existem em relação a outros corpos, eles se engajam ao vivo e no 'tempo' na comunicação com outros corpos, eles co-regulam seus movimentos com o movimentos dos outros. Vemos como o processo de entrar em ressonância com o outro. Concebemos que uma estratégia produtiva para estudar como as crianças desenvolvem seu senso de self é através do exame das suas ações nos contextos dialógicos cocriados entre os bebês e suas mães. As analises que se seguem sobre a posturo-mimo-gestualidade da díade são influenciadas pelos fundamentos teóricos apresentados sobre o dialogismo Bakhtiniano e os defendidos por Markova e a multimodalidade fundamentada nos trabalhos de Goodwin e gestualistas como McNeill e Kendon. Bakhtin enfatizou que os indivíduos se situam (posição) e se sentem em relação aos outros, no próprio ato de se comunicar com os outros. É importante notar que a filosofia de Bakhtin do diálogo não deve ser simplificada para a análise somente do discurso interpessoal. O diálogo representa uma visão de mundo na qual a existência de um senso de individualidade, não é divorciada da experiência de estar com os outros (MARKOVA, 2006). É nossa afirmação, então, que cada experiência é uma experiência dialógica e afetiva, em que o diálogo se dá no contexto de uma comunicação inter e intrapessoal. Este ponto de vista da individualidade vivida como situada no diálogo, não nega o "eu" como distinto do outro. Bakhtin escreveu frequentemente sobre as experiências de individualidade vividas como um "evento único e unificado do ser," (BAKHTIN, 1984) um ser cujo único corpo, cuja única existência é vivida dialogicamente através de movimentos mútuos de comunicação com os outros. Mas como é que nesta posição única o self emerge através do diálogo? Parte da resposta é a noção de Bakhtin de simultaneidade no espaço e no tempo. Quando envolvido em encontros de comunicação com o outro, o “eu” e o “outro” simultaneamente ocupam diferentes corpos localizados em espaços diferentes, o que circunscreve a posição de cada indivíduo em relação um ao outro. 168 Para melhor ilustrar essa noção de simultaneidade, vamos considerar uma ocorrência hipotética comumente observada na vida de muitos bebês. Quando uma criança move o braço em direção a um objeto que está fora de seu alcance, a realização (ou não) deste movimento vai depender da possibilidade ou não desse objeto ser colocado dentro de seu alcance por outra pessoa (digamos, sua mãe). Neste caso, para a criança ter experiências corporais de atingir com sucesso o objeto, isso vai depender do suporte motor fornecido por sua mãe enquanto ela coloca o objeto mais próximo ao alcance de seu bebê. Se a mãe, no entanto, não colocar o objeto mais próximo enquanto ele move o braço em direção ao objeto e continua a olhar para ele em vez disso, diferentes posições do “eu” são ocupadas por ambos, mãe e bebê, influenciadas pelo insucesso de chegar ao objeto. Com esse exemplo, podemos testemunhar a dinâmica de dois corpos simultaneamente em duas posições espaciais diferentes, co-participando nas experiências cinéticas de chegar ou não a um objeto. E ao mesmo tempo ocupando diferentes corpos que estão tendo percepções diferentes em relação um ao outro. A mãe e o bebê estão dialogicamente circunscrevendo a posição de cada um e do outro. Essas mudanças corporais são essenciais também para as nossas experiências emocionais do “eu” e do “outro” ao longo do tempo. Observamos que dessa forma ao circunscrever seus espaços no dialogo, com a ajuda do outro o bebê aprende a se situar no tempo e no espaço, ou seja, na dinâmica dialógica e com isso podemos inferir que dessa forma ele está 'esboçando' e expressando através de suas ações (refletidas no outro) seus primeiros 'julgamentos' no sentido de que « Perceber é fazer distinções » (MARKOVA, 2006, p. 55). Concebemos essas respostas compreensivas ativas do bebê enquanto configuram as suas percepções. Ao considerarmos Bakhtin, o desenvolvimento do self é concebido como um processo ativo e contínuo de “co-estar”: “co-estar” nos diálogos linguisticamente dominados, nos diálogos cinestesicamente dominados, ou ambos. A individualidade, portanto, envolve pelo menos três parâmetros que colaboram de forma contínua e ativamente um com o outro: “eu”, “outros”, e as relações entre o “eu” e o “outro”. Esse “co-estar” se passa dentro de uma dinâmica comunicativa multimodal que vai ganhando significação ao longo do tempo. Consideramos que é também importante ver a comunicação enquanto uma atividade multimodal, portanto, de ver a atividade que envolve a língua mais do que se centrar na fala. 169 Numa interação adulto-bebê as trocas estão baseadas sobre aspectos verbais e não verbais, ou seja multicanais em plena dinâmica de estruturação dos seus significados. A interação é o lugar social no qual não somente a ordem social é ratificada, mantida e transformada mas também ela é apropriada pela criança nas suas tentativas de participação (MONDADA, 2002). Para Goodwin (2003) é importante a descrição e a analise das práticas através das quais as partes constroem juntos suas participações. Agora voltamos nossa atenção para as dinâmicas dialógicas da díade em questão envolvendo a posturo-mimo-gestualidade. 5.6.3 A orquestração do olhar Passemos a observar de forma detalhada a sincronização e a evolução da troca de olhares entre a díade durante uma sequencia. Desde o primeiro registro videográfico observou-se essa dinâmica da orquestração do olhar. Extrato 01 Data: 16/08/07 Tempo: 0:00~8:05 Idade do bebê: 11 semanas Proxemia: Mãe e bebê estão em face-a face (bebe está deitado e a mãe sentada ao seu lado) O estabelecimento do olhar compartilhado (01 - 04): 01 M ≠*hum []*/≠ *se aproxima do bebê e lhe da um cheiro* 02 B ≠(chora)R(M)≠--> 03 M (1s) ≠*hein mãezinha*≠/ (3s) ≠*teteu:: ≠/≠*[]* ≠ *passa a mão D. no rosto do bebê* *idem* *solta beijo e busca o olhar do bebê*> 04 B ≠R(E)(chora)≠ ≠R(M)(chora) ≠ ≠R(D)(chora) ≠ Mãe e bebê estabelecem trocas de olhares que são ajustadas durante toda a sequência. Mãe demonstra ao bebê através dos seus enunciados e de suas ações que desde o inicio ela quer sua atenção pelo olhar. Ela dá sinais de sua localização espacial segurando a mão do bebê e fazendo barulho como o de soltar beijo para explorar outros campos sensoriais do bebê (tátil e auditivo) como observamos em seguida (05 e 07): 05 M (3s)≠*tete::u: (1s)* [] *≠ 170 *segura-lhe a mão E aproxima o seu rosto do bebê buscando seu olhar*--->*<((beijos))>* 06 B ≠R(E)(vocaliza) ≠ ---> 07 M ≠*teteu* *cadê teTEU*≠/≠*cadê mãezinha*≠/*≠(1s)cadê mãezinha*≠/ ≠*[]* *(1s)ISSO:://* ≠ *balança a mão do bebê, sorri procura o contato visual do bebê**idem* *solta a mão do bebê, faz carinho com esta mão na bochecha E, da um cheiro na bochecha direita do bebê* *solta beijo, procura o olhar do bebê,vibra lábios* *((sorri))* 08 B ≠R(E) ≠ ≠R(M)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(M) ≠ Observamos os ajustes mútuos e a correspondência (resposta) imediata do bebê aos movimentos maternos (06 e 08). O bebê que vocaliza após a fala da mãe como uma resposta e quando retorna o olhar para a mãe. Temos na sequencia um período um pouco mais longo que podemos chamar período de tensão, que se caracteriza por momentos de dessincronização entre os dois até retornarem a sincronização de seus movimentos com o objetivo de troca de olhares. Isso só acontece em 15: 09 M ≠*vem ver mamãe aqui do lado/ *tete:u/Ô tete:u/ISSO mainha≠//≠tetEU*/*(1s) oh mainha aqui*\°qui°&≠ *inclina-se pro lado direito do bebê saindo do seu campo visual* *volta pra frente do bebê* 10 B ≠R(D)(vocaliza) ≠ ≠R(A)(vocaliza)--> 11 M &≠*é:://pepeta °tome tome°\(1) °tome pepeta tome°*≠ *coloca a chupeta na boca do bebê* 12 B ≠(vocaliza e chupa a chupeta) R(D)> ≠ 13 M ≠*(9s)cadê tete:u//[] cadê tete:u/cadê tete:u/tete:u:: ô mate:us/matEUS/≠mate::us/olha pra mamãe aqui/matEUS/mate:us/ ≠*[]*/mate:us/ISSO/olha pra mainha mainha ta aqui oh≠/≠aqui mamãe*/*ISSO::/ ≠*& *<inclina-se para a E do campo visual do bebê ao mesmo tempo que segura sua mão E-->* *beija a mão E do bebê*> *volta pra frente do bebê* 14 B ≠R(D)-> ≠ ≠vocaliza≠ ≠R(F) ≠ ≠R(E)vocaliza-> ≠ 15 M ≠&*ta reclamando de que minha vida*/*hein mãezinha/hein °mãezinha°\[]/[]/≠[]/*[]*/*hhh* ≠[]/*≠é: mainha ta mandando um beijo/[]≠/*hum:: ta olhando pra mamãe é coisa linda*/*≠[]/* é mamãe≠/& *passa a mão E no rosto do bebê* *mão E no queixo do bebê->* *sorri* *da um cheiro na testa do bebê* *segura a mão E do bebê* *passa a mão E no rosto do bebê* *segura a mão E do bebê* 171 *passa a mão E no rosto do bebê* 16 B ≠>R(M)-> ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ Observamos que eles entram numa tendência à sincronia de olhares e vocalizações (15 e 16). O bebê ainda com 03 meses de vida demonstra ser capaz de ter uma participação dinâmica na interação com a mãe. Para Trevarthen: “Esta participação na comunicação de intenções e de sentimentos rudimentares confirma que o espírito humano é, desde o começo, motivado para o aprendizado « psicológico » cooperativo, isto é, o domínio da interpretação de índices sociais ou interpessoais durante os engaje mentos sociais inteligentes e recíprocos. (TREVARTHEN, 2003, p. 322, tradução nossa) Ainda segundo ele, os bebês agem com “assertividade” ou “apreensão” em perfeita harmonia com o estado assertivo ou apreensivo do seu parceiro de dialogo (TREVARTHEN et al., 1999). Isso indica que as vozes e ações maternas estão sendo apreendidas pelo bebê assim como a mãe apreende as respostas do bebê como integradas ao seu discurso. Na sequência podemos identificar mesmo visualmente certa regularidade entre as vozes e as ações maternas e as respostas do bebê através do predomínio das vocalizações e do olhar. Observamos que a cada turno existiu a troca de olhares. Essa regularização pode ser o sinal de extensão daquilo que foi coordenado entre os dois. Os movimentos retrospectivos e prospectivos das suas condutas. As trocas de olhares passam a ser regulares, mas abreviadas: 17 M ≠&*(1s) cadê tete:u/HUM*/*[]/hh []/[]/[]/[]*/ *≠tete:u /oh mãezinha/vem ca mãezinha pra ver ¤¤¤¤≠/(1s)tete:u/oh maTEus≠/*(2s)** ≠tete:u/oh≠ teteu vem CA mamãe/≠cadê mateus≠/hein mateus*/*hum*/& *afasta-se e aproxima-se do rosto do bebê e sorri* *(fica a D do bebê->)(toca na mão)(toca no peito) (da cheiro na mão D do bebê)* *cheira o lado D do rosto do bebê* *passa a mão D no lado E do rosto do bebê->* 18 B ≠R(M) ≠ R(D)-> ≠ ≠(vocaliza)≠ ≠(vocaliza)≠ ≠(vocaliza)≠ 19 M ≠& quer olhar mamãe aqui não é/≠hum*/*°ta° olhando≠ pra que*/ *≠azul mamãe/≠cadê ¤¤/≠[]/papa/*cadê ≠papai≠ hein/papai ta aqui não*/*tu ta procurando ≠papai*/≠é::/a mão na boca/ta certo mainha->/&≠ ->* *(olha para a D e vem para o lado E do bebê->) (segura a mão E do bebê* *(olha para o bebê)(aproxima seu rosto)* *passa a mão D 172 no rosto E do bebê* *(passa a mão E no rosto D do bebê) (sorri)* 20 B ≠-> R(D)-> vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠vocaliza≠ ≠coloca a mão na boca->≠ ≠vocaliza≠ ≠R(M) ≠ 21 M ≠& (3s) hh* tô me arretANdo minha mãe/tô/≠ (2s)hhh* tete:u/ *≠mamã:e≠ tete:u/Oh mamãe aqui/≠aqui ponto/cabeça ¤ pra ver mamãe/ assim*≠/ *≠mamã:e:/*ta olhando pra ‘quele negocio é mainha*/ (2s) *hum/hein mainha/&*≠ ->* sorri* *(passa a mão E no rosto D do bebê) (sorri)(tira a mão do bebê da boca)(aproxima o rosto do bebê)* *vira a cabeça do bebê para o centro* *(olha pro lado E) (afasta-se do bebê)**segura as mãos do bebê ->* 22 B ≠-> R(D)(vocaliza) ≠ ≠ R(M) (vocaliza) ≠ ≠ R(E)(vocaliza) ->≠ 23 M ≠&* (1s) i é::/(5s) ≠ta reclamando de QUE*/quer ficar ai não é:/ *HUM/Hum*/(3s) *tome pepeta°zinha°\(1s) ponto*\ *(5s)* *°segura a pepeta mãmãe°\assim\segura aqui oh\assim\com a ≠mãozinha\a mã:o mamãe*/a mã:o/I:sso/≠*hhhhh*/≠°quer° pepeta não é/*hum/hein meu amor*/≠*[]*/*teTE≠:U:::::* ≠ -> *segura as mãos do bebê* *passa a mão E no rosto D do bebê* *da a chupeta ao bebê* *passa a mão E na cabeça do bebê* *ajeita a chupeta na boca do bebê* *sorri* *passa a mão na cabeça do bebê* *se aproxima do rosto do bebê e solta beijo* *olha pra cima* 24 B ≠R(E)-> (vocaliza)≠ ≠ R(A) ≠ ≠R(D) (segura a chupeta) ≠ ≠R(M) ≠R(A)->(tira a chupeta da boca) ≠ 25 M ≠*(1s) ≠ que foi que tu ta olhando mainha/hum*/*[]/ []/[]*/ mamãe ama ≠*hhh*/ama si::m/≠*hhhh*/ [] *(1s)ta* olhando pra que* *mãezinha≠/ ≠tu gostou do colorido foi/(4s) *to busado meu amor/ é::*/*(5s) hhh ≠quer sair ≠dai é*/ *hein mainha/(1s) heim/*≠-> *passa a mão D no rosto do bebê* *(se aproxima do bebe)(solta beijos) (balança a cabeça para os lados)* *da cheiro no pescoço do bebê* *idem* *olha pra cima* *faz carinho no rosto e no corpo do bebê* *(olha pra cima)(da cheiro no bebê) (vai para o lado direito do bebê)* *(pega nas mãos do bebê)(fica de frente pro bebê)* 26 B ≠->≠ ≠ (vocaliza) R(M) ≠ ≠R(E) ≠ R(A) ≠ ≠R(E)(vocaliza) ≠ ≠R(A) ≠ ≠R(E)-> ≠ Segundo Lyra & Bertau (2008): “Assim as abreviações constroem juntamente e executam com outro significado cedendo à dialogicidade concreta do self.” (Lyra & Bertau, 2008, p. 180) Para as autoras as abreviações correspondem a um novo padrão na sequencialidade das condutas da díade e emergem através do processo histórico da comunicação. A abreviação aponta para o fato da transformação da dinâmica das relações entre os parceiros ocorreu afetando cada um deles como também a maneira que eles podem ou não podem comunicar 173 dialogicamente. Esta transformação acontece no engajamento dialógico devido a “apperceptive mass”60 histórica e conjuntamente construída e representa o grau de suas experiências internas e externas. Vejamos no exemplo seguinte a evolução das trocas da díade pelo olhar : Extrato 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. 01 M ≠*bora fazer carinho em mamãe/carinho em mamãe/cadê o carinho de Mamãe/ cadê os carinho de mamãe/cari:nho mate:us/CARINHO mamãe/cadê o carinho de mamãe/cari:nho mamãe≠/Carinho*/ []/≠cadê mamãe/cadê o carinho/oh:a mamãe/Carim oH:m/ []/cari::nho tete:u≠/ca:rinho mamãe/[]/..≠cadê os carinho de mamãe/*[]*/cadê os carinho de mamãe/*ah::: ≠ ((faz barulho com a boca))/ (2s)((idem))*/*[]/[]*/cadê os menino lindo da vida de mãe/manda beijo≠/.manda beijo pra mamãe/manda beijo/manda beijo ≠ pa mamãe/xx/manda beijo pa mamãe/beijo pra mamãe/beijo/xxx/pa mamã:e/≠ *segurando o bebê no seu colo de frente pega a mão E e depois a D e passa no seu rosto**cheira a testa do bebê**pega a mão do bebê e aperta conta sua bochecha duas vezes**da cheiro e beijo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)≠≠R(M)(passa as mãos no rosto da mãe) ≠≠R(M) ≠≠R(D)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)-> ≠ O bebê com a idade de 07 meses mostra-se capaz de interagir coordenando olhares com a mãe desde que eles estão em posição em face a face. Percebemos que a troca de olhares entre a diade (01 – 02) está bem presente e marca a sequência da interação entre eles desde o inicio. Este periodo de coordenação é seguido por um momento de tensão decorrente de mudanças de postura e de foco de atenção do bebê na dinâmica: 03 60 M ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/Carinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ queh brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mão direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e Traduzimos esta expressão como: “massa ou conjunto perceptivo”. 174 faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠não consegue controlar a cabeça≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠olha pra sua mão D->≠ Observamos que desde o inicio as estratégias da mãe de “ganhar” o bebê pelo olhar estão presentes tanto em suas ações diretivas (soltar beijo, vibrar labios, posturar o bebê, etc) como em seu discurso (prosodia e semântica). Com isso o olhar do bebê vai tornando-se significativo através desse jogo de coordenação. O olhar do bebê significando apreensão, “aceitação” ou “afirmação”61mostrando a sensibilidade à mudança prosodica e discursiva da mãe (06): 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠toca o rosto da mãe R(D) ≠≠R(M) ≠ O olhar correspondendo a uma resposta imediata a uma proposição materna (08): 07 M *(2s) °carinho mãe°/VOU FICAR EM PÉ/ ui ui ui ui ui ≠sento::::u*/ ..ta deitado mamãe/(1s) cadê mateus senta:do/*..sem a mão na boca/≠*(7s) o:lha::/ mateus sentado::/o:lha mamãe/que nego mais lin:do mamãe/olha/ui ui ui ui ui ui*/com as cabeça baixa/*olha as mãos de maTEUS*≠/que mão gandona::::: ≠/*olha as mã::o/mã::o/ cadê a mã:o/a mã::o/olha a mã::o:*/olha so: mat passa a mão no rosto né mamãe/não mamãe≠/. não meu amor/≠oi vai cair é/* *coloca o bebê empé no sofa e depois sentado**tira a mão do bebê da boca**ajeita o bebê**mostra sua mão E ao bebê**ajeita o bebê e faz carinho na sua cabeça**segura a mão D do bebê ajudando a coloca-la no seu campo visual**ajeita o bebê* 08 B ≠tem a mão D na boca≠≠R(mão D) R(M)R(mão D) ≠≠mão D na boca≠ ≠R(mão D) (passa a mão no rosto) ≠≠mão D na boca≠-> O olhar “assertivo” que gera uma resposta imitativa à vocalização materna. Bebê que observa o que a mãe faz e responde sincronicamente em três momentos com vocalizações, sua 61 Trevarthen et al. 1999. 175 maneira de imitar os movimentos maternos. O sublinhado na fala materna marca bem esses três momentos (09 e 10): 09 M *(2s)o::i/cadê as mãos de mamãe*/as mãos gostosa≠/ah ((vibra labios))((explode labios))* ≠/(3s) ¤¤¤ mamãe*/≠ ((vibra labios)) ((explode a bochecha)) UI/((idem)) ui/≠ ((idem))/(1s) eh mamãe Quelo não mamãe/binca disso não/*≠ *ajeita o bebê**aproxima seu rosto do bebê**coloca o bebê encostado na almofada no sofa**leva a mão direita do bebê 3 vezes contra sua bochecha E e ajeita o bebê* 10 B ≠->R(M)(tira a mãoda boca)≠(vocaliza)R(A)≠≠R(M)≠≠R(A)(vocaliza)-> ≠ Um olhar imediato para mãe quando esta retoma o discurso após uma longa pausa. Esse olhar responsivo imediato mostra a capacidade do bebê desde cedo a uma gestualidade “coesiva”62 : 11 M ≠*(3s) NÃ:O/nã::o mamãe/se ajeite/(13s)* olha so/ta vendo que mateus≠ senta mamãe/calinho em mamãe/*cadê os carinho de mamãe/calinho de mamãe/hum:::/carinho de mamãe/vai mamãe/calinho de mamãe/os calinho de mamãe/[]/..os calinho de mamãe/cadê os calinho de mamãe/He:in/..tu ama mamãe/ama mamãe/ama mamãe/≠...≠ ((sopra o rosto do bebe))* *ajeita o bebê colocando-o sentado encostado na almofada**aproxima o rosto do bebe, faz carinho no rosto e procura o contato visual* 12 B ≠->R(A)(vocaliza)R(M) ≠≠R(F)(mexe o corpo tentando equilibrar) ≠ ≠(tosse) ≠ Assim como o olhar pode mostrar, enquanto uma resposta, a capacidade do bebê de se engajar no 'tempo' da dinâmica que exige dele esse tipo de resposta atrelada ao contexto (11 e 12). O olhar segue então sendo um regulador muito importante das condutas linguageiras da diade. O olhar “apreensivo” do bebê continua “definindo” para a mãe a sua responsividade. Na sequência (13 e 14) observamos mais precisamente a reflexividade e a coordenação existente entre os dois quanto ao tempo de permanência do olhar do bebê para a mãe e quanto ao que chamou a atenção do bebê – a imitação da mãe dos movimentos anteriores do bebê: 13 62 M ≠*((imita a tosse do bebê))/(3s) ((idem))/((imita um espirro 2X))/ atchim mamãe/((vibra labios))/(2s) ((idem))/oxente/qué isso mamãe/ qué isso mamãe/diz pra mamãe qué isso/¤¤¤¤ é mamãe/mainha/tu ama mamãe/≠tu ama mamãe teteu/tu ama mamãe/cadê papa:i/papa:i/cadê McNeill (1002) postula a existencia de uma categoria de “gestos coesivos” ou seja, aqueles que desempenham um papel importante na coesão discursiva. 176 papa:i/≠*cadê papa:i/[]/cadê papai mainha/pai::nho/X/. não mamãe °venha ca ¤¤¤°\*≠ *mãe apoia o bebê e mantém sempre o face-a-face**faz carinho e ajeita o bebê->* 14 B ≠R(M) ≠≠R(D) R(A)(estica o corpo) ≠≠(cai a cabeça pro dalo E desequilibrando-se)(vocaliza) ≠≠ Um esboço de demonstração do bebê de um olhar referencial da-se nessa sequência quando o bebê começa a mexer-se desequilibrando-se (14) após a mãe fazer referência ao seu pai. O bebê excita-se e parte para outro foco (16). 15 M ≠*(5s) cadê papa:i/cadê papai/cadê papai/cadê:/cadê mamãe/(1s) ≠ eh::*/ta não*/≠*vovovo:::/cadê vovo mamãe≠/[]/≠hum*/≠ (7s) O:I/hum/[]/o::i/o::i/.. o::i/≠ (3s) o::i/(8s) o::i/cadê papai teteu≠/. cadê papai/≠¤¤¤°plocula papai°/. HUM≠/≠.. pa deitar não mainha≠/≠ (2s) é pa deitar não negã:o/..cadê a cabeça de teteu/ cadê a cabeça/Ô::: levanta mamãe essa cabeça≠/≠ (2s) ma é piguixozo/...mai é piguixozo/..né pa ficar deitado não mamãe/levanta a cabeça/levan:ta tete:u≠/*levanta mamãe/≠..qué não eh/qué não≠/hum/[]/°qué não mamãe°/hum/hum/* *->ajeita o bebê**olha pra o lado E**(olha pro bebê)(faz carinho)(solta o bebê e ajeita a propria roupa)**pega o bebê, da cheiro, coloca no colo deitado de bruços, segura o bebê, faz carinho na cabeça, ajeita o bebê, levanta a cabeça dele,solta o bebê, ajeita sua propria roupa, segura o bebê**vira o bebê e segura no colo de frente, faz carinho no bebê, ajeita o bebê sentando-o, ajeita o bebê colocando-o sentado no colo de frente* 16 B ≠R(mão D)(vocaliza) ≠≠R(D)(mão D na boca) ≠≠(vocaliza)(tenta equilibrar-se≠≠mão D na boca≠≠(vocaliza) ≠≠tenta equilibrar a cabeça≠≠(mão D na boca)(vocaliza) ≠≠mãos na boca≠≠R(M)-> ≠ Ele olha para as mãos, para a direita (16) e retoma o olhar assertivo para sua mãe. 17 M ≠*(6s) cari:nho mamãe/cari:nho mamãe/calinho mamãe/calinho tete::u/ ≠ (1s) carinho mam:/calinho≠ ow::: que coisa mais goto:::sa/≠ ((estala a lingua)) que coisa mais gotosa/[]/da minha vida/[]/é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/[]/((estala a lingua))≠ (16s) vai chola é mamãe/é mamãe/[]/≠qué mai não mamãe≠/[]/*(7s) oi oi oi oi oi oi/o:::lha::/olha olha olha olha olha/(3s)shhhh*≠-> *face-a-face com o bebê encosta o nariz no rosto do bebê varias vezes**coloca o bebê deitado no colo e depois sentado fazendo-o equilibrar a cabeça* 18 B ≠->R(M) (tenta colocar a mão D na boca)(vocaliza) ≠≠toca no rosto da mãe≠≠R(M)(pega no rosto da mãe) ≠≠(vocaliza) R(F) ≠-> O Bebê olha por um período mais prolongado para a mãe (18). A redução do olhar do bebê marca o fim dessa sequência: 177 19 M ≠*(13s)mã:o/..olha a mão de mate:us≠/a mão de mateus/°segura a mão de mamãe meu amor°*/¤¤¤/≠[] mamãe/ah [] a≠ mamãe be:ija:/..ta bom num beija mais≠ não visse/≠olha mateus*/*(3s) a outra mão≠ aqui oh/(1s) a outra mão de mateus aqui oh≠/(9s) ≠ as mãos de mateus*/(7s)hum/cadê a ¤¤¤ de mãe/ah ah/cadê a ¤¤*/[]/*≠ ..((estala lingua))/(6s) ((vibra labios))/..[]((vibra labios))/ (4s) e::ita≠ to me arretando mamãe/≠ *mostra a mão e segura nas mãos do bebê**solta as mãos do bebê* *pega as mãos do bebê e mostra pra ele**solta as mãos do bebê e o deita**pega e beija a mão do bebê**faz carinho no bebê e o ajeita pra que ele a olhe* 20 B ≠R(mãos) ≠≠R(F) ≠≠R(M) ≠≠(se estica)(vocaliza) ≠≠R(mão D) ≠≠R(D) ≠ ≠(vocaliza) R(M) ≠≠R(D)(se estica) ≠ 21 M *(5s) levante/(7s) levante seu maTEUS/ reto assim/*..oh ai seu moço≠/≠*(2s) ≠eh mam as barriga num deixa não mamãe/...Hum:/(10s) que foi mamãe/..conta/(2s) conta/*≠ *coloca o bebe sentado e ajeita a cabeça e o corpo**deita o bebe no colo* 22 B ≠R(F)(tenta equilibrar-se sentado) ≠≠(vocaliza) R(mão D)(coloca a mão direita na boca)(desequilibra-se e cai no colo da mãe) ≠≠(mexe o corpo)(vocaliza) ≠ 5.6.3 Co-construção – Olhar, prosódia e mímica Extrato - 4 Data: 11/09/07 Idade do bebê: 14 semanas Tempo: 22:50~32:19 Proxemia: mãe coloca o bebê numa cadeirinha e começa a falar ao bebê. Os dois estão em face a face. Mãe chama o bebê pelo nome pois está sonolento. 11 M ≠*-> (50s)* q foi hhh hum/que foi/hein/ que foi/¤¤¤¤¤¤ *acalmando o bebê* 12 B ≠R(M) (chora) ≠ Mae coloca o bebê no seu ombro direito e percebe que o bebê está cansado e não quer mais brincar. A filmagem foi encerrada a pedido da mãe. Observamos (11 e 12) que o olhar do bebê para a mãe acontece depois de uma longa pausa materna em sua fala de 50 segundos. Quando a mãe obtém o olhar do bebê ela o convida a contar o que se passa, usando a prosódia e acolhendo o bebê no colo para acalmálo. Com essas atitudes além da mãe estar dando ao bebê um espaço para sua expressividade sem interpretá-lo diretamente, nessa sua voco-gestualidade ela está comunicando ao bebê sua percepção que ele está comunicando algo sobre seu estado interno. Como se ela ao perguntar : '/que foi/' três vezes consecutivas enfatizasse que queria uma resposta dele e com isso dando178 lhe espaço na conversa e assim ela obtém a vocalização dele mais precisa : o choro. E com isso eles chegaram a um acordo. O olhar do bebê para a mãe pode ter sido o marcador (pedido) desencadeador da sua atitude de encerrar a interação e atender ao choro do bebê que indicava sono. O olhar vai sendo construído enquanto um marcador importante para ambos da atenção compartilhada através da ênfase materna em seu discurso. 5.6.4 A certeza do olhar Extrato – 5 Data: 25/09/2007 Idade do bebê: 16 semanas Tempo: 32:20~39:41 Proxemia: mãe segura o bebê no colo. Bebê está de costas pra ela com a cabeça voltada para ela. 09 M ≠*(8s) o:lha::/o:lha tete::u/*olha teteu segurou o brinquedinho/ eh: mamãe/ segurou *[]* o binquedi:nho mamãe/*eh::meu amo:::/ (3s) ta olhando pra mãinha eh*/EH/HUM/ta olhando pa mamãe/hum/hum/ *(3s)me dê o binquedinho*/≠ *->**da cheiro**faz carinho no rosto do bebê**pega o brinquedo da mão do bebê* 10 B ≠R(A)(M)(A)(segura objeto)(M)(solta o objeto) ≠ Nesses turnos (09 – 10) temos a mãe ajustando-se ao olhar do bebê através de uma conversa com ele depois que este lhe retribui o olhar. Ao chamar o bebê usando a fala prosódica, ele olha para ela e esta descreve a ação dele e dá-lhe um cheiro como uma espécie de aprovação porque este segurou o objeto dado por ela. Em seguida após uma pausa de 3 segundos a mãe obtém outra vez o olhar do bebê e enfatiza isso ao perguntar se ele está olhando para ela repetindo duas vezes essa questão. Observamos que as ações maternas flutuam entre chamar a atenção para o objeto, para a ação de segurar e para si própria. Esses « gestures-like » (NEWSON, 1979) do bebê sinalizam para a mãe que a conversação flui. Segundo esse autor essas ações que parecem gestos são um complexo coordenado de movimentos de braços e mãos, orientação do olhar e dos movimentos de cabeça, de padrões e vocalizações. Eles começam a ser diferenciados via linguagem do adulto que não responde indiscriminadamente a essas ações. Vemos que essas ações do bebê estão em constante mudança de significação. Isso também mostra que nem a mãe nem o bebê estão totalmente fixados às suas próprias ações. Eles estão em um progressivo movimento conjunto de orquestração de suas perspectivas. 179 Manutenção do olhar do bebê no discurso e nas ações ressaltadas pela mãe como importantes para a interação. Através do olhar ela instiga o bebê para o jogo : Extrato - 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. 01 M ≠*bora fazer carinho em mamãe/carinho em mamãe/cadê o carinho de Mamãe/ cadê os carinho de mamãe/cari:nho mate:us/CARINHO mamãe/cadê o carinho de mamãe/cari:nho mamãe≠/Carinho*/ []/≠cadê mamãe/cadê o carinho/oh:a mamãe/Carim oH:m/ []/cari::nho tete:u≠/ca:rinho mamãe/[]/..≠cadê os carinho de mamãe/*[]*/cadê os carinho de mamãe/*ah::: ≠ ((faz barulho coma boca))/ (2s)((idem))*/*[]/[]*/cadê os menino lindo da vida de mãe/manda beijo≠/.manda beijo pra mamãe/manda beijo/manda beijo ≠ pa mamãe/xx/manda beijo pa mamãe/beijo pra mamãe/beijo/xxx/pa mamã:e/≠ *segurando o bebê no seu colo de frente pega a mãe E e depois a D e passa no seu rosto**cheira a testa do bebê**pega a mão do bebê e aperta conta sua bochecha duas vezes**da cheiro e beijo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)≠≠R(M)(passa as mãos no rosto da mãe) ≠≠R(M) ≠≠R(D)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)-> ≠ 03 M ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/CArinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ que brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mãe direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠não consegue controlar a cabeça≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠olha pra sua mão D->≠ O olhar do bebê para a mãe está sendo modalizado por ela para manutenção do contato visual e trocas de afagos (01 e 02). No turno 03 ela enfatiza o olhar do bebê para ela : 'ISSO' com uma intensidade vocal maior. Em seguida, utiliza-se do estalar língua para chamar a atenção do bebê para si e quando obtém o olhar dele explode lábios de forma diferente de um beijo sendo mais intensa e com isso 'chamativo' e ressalta esse efeito dizendo : 'UI' uma interjeição que indica surpresa com o barulho produzido. E repete essa ação mais duas vezes obtendo o olhar do bebê todo esse tempo. Quando o bebê olha para cima e grita, a mãe 180 imediatamente interpreta como se o bebê não quer mais brincar disso com uma pergunta utilizando uma prosódia que lhe é particular : que brincar nã:o eh::/. Em seguida ela propõe outra vez o jogo de brincar com as mãos : 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a língua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠toca o rosto da mãe R(D) ≠≠R(M) ≠ 07 M *(2s) °carinho mãe°/VOU FICAR EM PÉ/ ui ui ui ui ui ≠sento::::u*/ ..ta deitado mamãe/(1s) cadê mateus senta:do/*..sem a mão na boca/≠*(7s) o:lha::/ mateus sentado::/o:lha mamãe/que nego mais lin:do mamãe/olha/ui ui ui ui ui ui*/com as cabeça baixa/*olha as mãos de maTEUS*≠/que mão gandona::::: ≠/*olha as mã::o/mã::o/ cadê a mã:o/a mã::o/olha a mã::o:*/olha so: mat passa a mão no rosto né mamãe/não mamãe≠/. não meu amor/≠oi vai cair é/* *coloca o bebê empé no sofa e depois sentado**tira a mão do bebê da boca**ajeita o bebê**mostra sua mão E ao bebê**ajeita o bebê e faz carinho na sua cabeça**segura a mão D do bebê ajudando a coloca-la no seu campo visual**ajeita o bebê* 08 B ≠tem a mão D na boca≠≠R(mão D) R(M)R(mão D) ≠≠mão D na boca≠ ≠R(mão D) (passa a mão no rosto) ≠≠mão D na boca≠-> 09 M *(2s)o::i/cadê as mãos de mamãe*/as mãos gostosa≠/ah ((vibra labios))((explode labios))* ≠/(3s) ¤¤¤ mamãe*/≠ ((vibra labios)) ((explode a bochecha)) UI/((idem)) ui/≠ ((idem))/(1s) eh mamãe Quelo não mamãe/binca disso não/*≠ *ajeita o bebê**aproxima seu rosto do bebê**coloca o bebê encostado na almofada no sofa**leva a mão direita do bebê 3 vezes contra sua bochecha E e ajeita o bebê* 10 B ≠->R(M)(tira a mãoda boca)≠(vocaliza)R(A)≠≠R(M)≠≠R(A)(vocaliza)-> ≠ Em seguida à proposição materna de voltar a brincar com a mão (05) o bebê vocaliza prolongado e isso é interpretado pela mãe como uma demonstração enfática do seu desengajamento. Ela passa a confortá-lo no colo e quando obtém o olhar dele dá-lhe um cheiro e propõe novamente que ele olhe para suas mãos. O bebê passa a mão no rosto dela e olha para ela. 181 Esse jogo de olhar para as mãos segue. No turno 07 ao enfatizar utilizando da prosódia, o fato que o bebê está sentado pode ter implicado no o olhar mais imediato do bebê para ela. No turno 09 vemos a mãe propor outra vez a brincadeira das mãos porém, utiliza de toda uma mímica facial para manter a atenção do bebê para si. Mais uma vez o deslocamento do olhar do bebê (08) seguido de vocalização é interpretado pela mãe como um não mais engajamento dele ao jogo. 11 M ≠*(3s) NÃ:O/nã::o mamãe/se ajeite/(13s)* olha so/ta vendo que mateus≠ senta mamãe/calinho em mamãe/*cadê os carinho de mamãe/calinho de mamãe/hum:::/carinho de mamãe/vai mamãe/calinho de mamãe/os calinho de mamãe/[]/..os calinho de mamãe/cadê os calinho de mamãe/He:in/..tu ama mamãe/ama mamãe/ama mamãe/≠...≠ ((sopra o rosto do bebe))* *ajeita o bebê colocando-o sentado encostado na almofada**aproxima o rosto do bebe, faz carinho no rosto e procura o contato visual* 12 B ≠->(vocaliza)R(M)≠≠R(F)(mexe o corpo tentando equilibrar)≠ ≠(tosse)≠ 13 M ≠*((imita a tosse do bebê))/(3s) ((idem))/((imita um espirro 2X))/ atchim mamãe/((vibra labios))/(2s) ((idem))/oxente/qué isso mamãe/ qué isso mamãe/diz pra mamãe qué isso/¤¤¤¤ é mamãe/mainha/tu ama mamãe/≠tu ama mamãe teteu/tu ama mamãe/cadê papa:i/papa:i/cadê papa:i/≠*cadê papa:i/[]/cadê papai mainha/pai::nho/X/. não mamãe °venha ca ¤¤¤°\*≠ *mãe apoia o bebê e mantém sempre o face-a-face**faz carinho e ajeita o bebê->* 14 B ≠R(M) ≠≠R(D) R(A)(estica o corpo) ≠≠(cai a cabeça pro lado E desequilibrando-se)(vocaliza) ≠≠ Temos dois momentos em que o olhar está sendo tomado pela mãe para dois fins : em 11 para chamar a atenção do bebê para si e para o que ele está fazendo (conseguindo sentar sozinho) e em 13 as mímicas da mãe reaparecem para manter a atenção do bebê para si e também ela realça este olhar do bebê dizendo-lhe que ela está à sua escuta : « qué isso mamãe/qu'eh isso mamãe/diz pra mamãe qu'eh isso/ ». 15 M ≠*(5s) cadê papa:i/cadê papai/cadê papai/cadê:/cadê mamãe/(1s) ≠ eh::*/ta não*/≠*vovovo:::/cadê vovo mamãe≠/[]/≠hum*/≠ (7s) O:I/hum/[]/o::i/o::i/.. o::i/≠ (3s) o::i/(8s) o::i/cadê papai teteu≠/. cadê papai/≠¤¤¤°plocula papai°/. HUM≠/≠.. pa deitar não mainha≠/≠ (2s) é pa deitar não negã:o/..cadê a cabeça de teteu/ cadê a cabeça/Ô::: levanta mamãe essa cabeça≠/≠ (2s) ma é piguixozo/...mai é piguixozo/..né pa ficar deitado não mamãe/levanta a cabeça/levan:ta tete:u≠/*levanta mamãe/≠..qué não eh/qué não≠/hum/[]/°qué não mamãe°/hum/hum/* *->ajeita o bebê**olha pra o lado E**(olha pro bebê)(faz carinho)(solta o bebê e ajeita a própria roupa)**pega o bebê, da cheiro, coloca no colo deitado de bruços, segura o bebê, faz 182 carinho na cabeça, ajeita o bebê, levanta a cabeça dele,solta o bebê, ajeita sua propria roupa, segura o bebê**vira o bebê e segura no colo de frente, faz carinho no bebê, ajeita o bebê sentando-o, ajeita o bebê colocando-o sentado no colo de frente* 16 B ≠R(mão D)(vocaliza) ≠≠R(D)(mão D na boca) ≠≠(vocaliza)(tenta equilibrar-se≠≠mão D na boca≠≠(vocaliza) ≠≠tenta equilibrar a cabeça≠≠(mão D na boca)(vocaliza) ≠≠mãos na boca≠≠R(M)-> ≠ Outra vez (15) a mãe aproveita o olhar do bebê para fazer-lhe um questionamento, pedindo-lhe uma resposta: « °qué não mamãe°/hum/hum ». Notamos que desta vez ela utiliza uma intensidade vocal menor e utiliza duas vezes o marcador '/hum/' para enfatizar que ela está dando-lhe o espaço para a resposta. Em seguida faz uma pausa de 6 segundos (17) : 17 M ≠*(6s) cari:nho mamãe/cari:nho mamãe/calinho mamãe/calinho tete::u/ ≠ (1s) carinho mam:/calinho≠ ow::: que coisa mais goto:::sa/≠ ((estala a lingua)) que coisa mais gotosa/[]/da minha vida/[]/é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/[]/((estala a lingua))≠ (16s) vai chola é mamãe/é mamãe/[]/≠qué mai não mamãe≠/[]/*(7s) oi oi oi oi oi oi/o:::lha::/olha olha olha olha olha/(3s)shhhh*≠-> *face-a-face com o bebê encosta o nariz no rosto do bebê varias vezes**coloca o bebê deitado no colo e depois sentado fazendo-o equilibrar a cabeça* 18 B ≠->R(M) (tenta colocar a mão D na boca)(vocaliza) ≠≠toca no rosto da mãe≠≠R(M)(pega no rosto da mãe) ≠≠(vocaliza) R(F) ≠-> 19 M ≠*(13s)mã:o/..olha a mão de mate:us≠/a mão de mateus/°segura a mão de mamãe meu amor°*/¤¤¤/≠[] mamãe/ah [] a≠ mamãe be:ija:/..ta bom num beija mais≠ não visse/≠olha mateus*/*(3s) a outra mão≠ aqui oh/(1s) a outra mão de mateus aqui oh≠/(9s) ≠ as mãos de mateus*/(7s)hum/cadê a ¤¤¤ de mãe/ah ah/cadê a ¤¤*/[]/*≠ ..((estala lingua))/(6s) ((vibra labios))/..[]((vibra labios))/ (4s) e::ita≠ to me arretando mamãe/≠ *mostra a mão e segura nas mãos do bebê**solta as mãos do bebê* *pega as mãos do bebê e mostra pra ele**solta as mãos do bebê e o deita**pega e beija a mão do bebê**faz carinho no bebê e o ajeita pra que ele a olhe* 20 B ≠R(mãos) ≠≠R(F) ≠≠R(M) ≠≠(se estica)(vocaliza) ≠≠R(mão D) ≠≠R(D) ≠ ≠(vocaliza) R(M) ≠≠R(D)(se estica) ≠ Ela aproveita esse tempo de olhar do bebê (17 e 18) para juntos trocarem carinhos. Ela utiliza também o estalar a língua e o cheirar o rosto dele como estratégias para a manutenção desse momento. Nos turnos 19 e 20 vemos que o bebê passa a se movimentar muito, a vocalizar e a alternar o olhar para as suas mãos, pra frente e pra mãe e ela contextualiza isso atribuindo fala ao bebê : « e::ita≠ to me arretando 183 mamãe/≠ ». Isso também marca que por não mais estarem compartilhando olhares eles vão passar a orquestrar essas mudanças. Outro momento: Extrato - 09 Data: 09/12/2007 Idade do bebê: 25 semanas Tempo: 01:23:17~01:39:26 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados no banco do terraço; Bebê está no colo da mãe. 01 M ≠*eh: mamãe*≠/≠cadê a lu:z mate:us*/a lu:::z/≠ (4s) cadê mamã::e/ hum:/ ≠*(3s)eh/..eh/.assim/≠ (5s)°o bezinho cadê o bezinho cadê o bezinho°/hum::: ((estala labios))/o beijo de mamãe/cadê o beijo/(3s) cadê o beijo de mamãe/...¤¤¤ []/eh o be:ijo que ≠ mamãe*/((ri)) *tu é um palha¤¤¤ faz mais não/hum/≠oi oi oi oi oi oi/levan:ta/(4s) oi/(12s) estique não mãezinha/se estique nã:o/*≠ *extende a mão D pro bebê bater**faz carinho no rosto do bebê* *ajeita o bebê e pressiona o queixo e o labio inferior do bebê* *da a mão D pro bebê bater e ajeita no colo sentado* 02 B ≠ (bate a mão E na mão da mãe)R(A) ≠≠(mão E na boca)(balança braço E) R(E) ≠≠R(F)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠ (bate a mão E na mão D da mãe≠ ≠(tenta se equilibrar)(extende o corpo pra tras) ≠ 09 M ≠*(5s) hum:::/(4s) isso isso/.. levante a cabecinha/eh: mamã:::e/ eh: meu amo:::/(2s) oi/(3s) isso meu amo::::::/eh meu bem/u:::/ (6s) °eh a mamãe eh°*≠/... eh a mamãe eh/eh mamãe eh a sinhola eh que ta fazendo ≠¤¤¤ ¤¤¤ ¤¤¤ mamãe/[]/qué mole::za né negão/ ficar deitadinho/hum/≠*... ma ma ma ma ma/ *ama ma ma ma ma ma ma/[]/≠a mamãe AMA/[]/≠ama shim:/ama mamãe/[]/≠ (2s) a::ma te::u/a::ma≠/hum:/*[]/mamãe ama tim/[]/ama ma ma*/≠...oi nÃ:O/va nã:o/va nã:o/eh:: mamãe/≠* *ajeita o bebê**ajeita o bebê para que olhe pra ela**pega a mão D do bebê e coloca na boca**beija mão D do bebê e depois coloca na boca**ajeita o bebê* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(balança braço E)(vocaliza) ≠≠R(M)(mexe braço D) ≠(mexe o corpo todo) ≠≠R(mão D)(vocaliza)R(M)(pega na boca da mãe) ≠≠(tenta pegar no rosto da mãe) ≠(braço E na boca) ≠ ≠(tenta se equilibrar)(vocaliza) ≠ 11 M ≠*(26s) maTE::us/(2s) sigula essa cabe:ça maTE:::us/≠*..≠¤¤¤ x/¤¤¤ mãe []/eh mamãe []/eh mamãe≠/eh si sigula a cabeça vai ganhar uma piscina eh/se sustenta:r pra ficar sentadinho na agua/batendo na agua/≠batendo na agua na piscina/eh:: mamãe/vai ganhar a cadeirinha pra comer sozinho/eh: mamãe≠/≠tu num quer senta logo não eh::/[]/pa ganhar uma cadêlinha não/hein meu amo:/..hein 184 … mamãe/qué não/hum/diz pra mamãe se tu num qué/≠* *(ajeita o bebê todo o tempo)(beija a mão dele)(faz carinho) (beija o rosto)* 12 B ≠(mãos na boca)(tenta se equilibrar) ≠≠R(M) ≠≠(tenta se equilibrar)(mãos na boca) ≠≠R(M) ≠≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo) ≠ 13 M ≠*(5s) hein/...hein≠/≠...hum::/(9s) eh:::/(15s) oi oi oi oi oi oi ..oi/(11s) hum fique aqui assim/..ponto/(7s) eh:::/eh: mamãe/ cadê a ¤¤¤/quer ver a luz mamãe vira/≠*..ui/.ui bebê/(2s)* a lu::z mamã:e o:lha::/o::i/(9s) o:lha mindu:/cadê/≠ISSO≠/tu olhou pa ((ri))/cabecinha mamãe sigura a cabecinha/sim/eh:/..sim/segu:la/ i:sso/o::lhaa plantinha mamãe/muito bem/*≠ *(segura o bebê)(ajuda-o a equilibrar-se)**vira o bebê de lado no colo**ajeita o bebê* 14 B ≠R(M) ≠≠(perde o equilibrio)(vocaliza)(mãos na boca)(tenta equilibra-se sentado)(vocaliza) ≠≠R(D) ≠≠(tenta equilibrar-se) (mãos na boca)R(F)-> ≠ 15 M ≠*.. cadê a mão de mateus hein/[]/a mão de mateus mamãe/.ta olhando pa luz eh:: ≠/.eh: mamã:e a luz eh::/eh mamã:e/≠ a ¤¤¤ agora/hein/*(9)*pescocinho de mateus/°cadê o pecosinho de mateus°/assim:::/isso:::/(16s) isso mamãe/≠*°cadê a mãozinha de ¤¤°/a mã::o/..°não°/ bata palma/[]parabéns pra: vo::cê:/* ..como é mamãe/(3s) hein mate:us/..hein mate::us/≠isso:: mamã::e≠/ nã::o/i::sso ta ploculando mamã/ EH/eh:::/* *(da beijo na mão)(segura e ajeita o bebê)**(coloca o bebê sentado de frente)(ajeita a cabeça do bebê)(ajeita o bebê)**(pega as mãos do bebê e bate contra sua mão D)**ajeita o bebê* 16 B ≠->(mãos na boca)R(A) ≠≠R(M) ≠≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(mãos na boca)(tenta equilibrar a cabeça) ≠ 17 M ≠*(1s) levante a cabecinha/..levan::te mamã:e/i::so:/vi::ra pum lado/..cadê mamãe/(3s) assim a cabecinha de mateus/..hã/≠..hã*/ eh:: [] mamãe que ta fazendo isso/tu ta olhando eh pa mamãe pa recaMA/≠eh: mamã:e/eh::/..suba a cabecinha assim/venha/(8s) isso isso isso/oi oi oi/ isso mamãe/..bola cumê bola/bola cumê bola/..passou da hola mamãe/(2s) umbola/..[]cadê bate aqui em mamãe/*cadê/.. ≠isso:::/ []cadê mamãe aqui oh/bate/*≠ *(segura o bebê)(ajeita sua cabeça)**(idem)(da cheiro na cabeça) (faz carinho)(ajeita o bebê)**(pega a mão E do bebê e bate na sua)* 18 B ≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo)(vocaliza)R(A)(M) ≠≠(baixa a cabeça)(tenta se equilibrar) ≠≠(bate a mão E na mão E da mãe) ≠ Nesse extrato observamos que os olhares compartilhados foram configurados nas atividades que eles estavam realizando juntos. A mãe utilizou em predomínio o marcador '/eh/' para enfatizar as ações ora do bebê e ora suas próprias ações : (01) - « []/eh o be:ijo que » ; (09) - « eh a mamãe eh/eh mamãe eh a sinhola é que ta 185 fazendo » ; (11) - « eh mamãe []/eh mamãe≠/eh si sigula a cabeça » ; (15) - « (5s) hein/...hein » ; (17) - « eh:: [] mamãe que ta fazendo isso/tu ta olhando eh pa mamãe pa recaMA ». Os bebês enquanto « silenciosos » exibem uma maneira corporal se eles estão ou não engajados na conversação. O bebê esteve atento olhando para sua mãe. Vemos então sua capacidade de se engajar na interação. 5.6.5 O olhar para firmar/estabelecer acordos Extrato - 10 Data: 29/12/2007 Idade do bebê: 28 semanas Tempo: 01:39:27~01:45:50 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados no sofá de sala. Mãe está com o bebê no colo. 01 M ≠*Parabéns pa você/bate/.eh: mamãe palabén:s/vai/..nesta≠ da olha pa mamãe olha pa cima não/..querida/(3s) shim ¤¤¤/bate aqui≠/muitas fe.licida:de≠/..cadê mamãe/vai completar não≠/ .. muitos a::no:s de vi:da/.palabéns [] pa você/vai mamãe/nesta da:::ta que::ri:da/..muitas fe::: ≠ vai/...EH/ completa mamãe/≠fe:::li:ci:dade/°que binca mais nao°/muitos a::no:/..vai/de: vi::da/*eh::/eh:: mamã::e/≠-> *segura o bebê e ajeita sua postura sentado* 02 B ≠(bate com a mão D na mão E da mãe)(vocaliza)R(F) R(A)≠≠(bate na mão da mãe e para) ≠(bate na mão da mãe e para)≠(bate na mão da mãe) R(M) ≠ 03 M ≠*eh::* minha mã::::e/cadê o binquedinho mamãe que toca musiquinha qui tu ganhou de vovo≠/hã hã/≠não la em cima não aqui≠/..[]/ (1s)levante a cabecinha≠/.i::sso: ne::gã:o/eh mamãe/ (2s) vai≠/≠* bola [] ficar ashim/vai shenta pa mosta*/to shentano oa/cadê mamãe tu num sentou pa mamãe/assim oh/NÃ::O/shenta pa mamãe/.eh:: mamã::e/sentAH: mamã:e/* *muda o bebê de postura colocando-o no colo sentado de frente* *ajeita o bebê**coloca o bebê sentado no sofa**ajeita o bebê* 04 B ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠R(A) ≠≠(levanta a cabeça)(bate na mão da mãe)R(M) ≠(tenta equilbrar-se)R(A)-> ≠ M ≠*(2s) bola cantar palabéns≠/*≠[-1s] levanta mamãe/(1s) levanta≠*/(3s) canta palabéns/°aqui°/≠(3s) -> palabén:s pa você:::/..nesta da:::ta: que:::ri:da/..bola mamãe/°bola mamãe°/ muitas fe:::li::ci:da:de/como eh/≠..mui:tos a::no:s de:: vi::da/ ... Eh vai cair vai cai::::::/vem ca/≠* *(bate palmas pro bebê)**ajeita o bebê* ... 07 186 08 B ≠R(M) ≠≠(cai para o lado D)≠≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate na mão da mãe)R(A)R(M)R(E)R(M)R(A)R(M) ≠≠ (tenta equilibrar-se)R(A) (vocaliza)R(D)(cai para o lado D) ≠ 09 M ≠*(2s) assim oh/qui nem hominho mamãe/qui nem hominho/°vamo vê°/ HUM/hum/nã:o mamãe ta de priguicinha eh mamãe/eu ja fiz muito isso hoje mamãe/eh:: minha mãe/num quelo mais não*/bate/..palabéns*/ ≠ *(2s) hum/* (5s) teTEU::*/teTE::U:*/*tete::u: ≠/ow tete:::u/≠ ≠ (7s)..levanta/..levanta mamãe/levanta mamãe []/olha pa mamãe/ISSO::::/levanta a coluna/[]/pa mamãe/levanta/levanta mamãe/≠* *ajeita o bebê sentado no sofa e se ajoelha no chão de frente pro bebê**segura as mãos do bebê e bate palmas**ajeita o bebê**fica no campo visual do bebê**senta no chão**ajeita o bebê* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(mão E na boca)(baixa a cabeça e coloca as mãos nos olhos)R(M) ≠≠(tenta equilibrar-se)R(D) ≠≠R(A) ≠≠cai com o corpo pra frente)R(M)(cai com a cabeça)(levanta a cabeça)R(M)(cai para o lado)-> ≠ 11 M ≠*(2s) HÃ/levan:ta mamã:e/pu lado não mamãe/ashim ashim vai/OLHA sho minha cabecha mamãe/olhando pa shinhola mamãe/[]/EH:/ ≠* *ajeita o bebê* 12 B ≠->(tenta equilibrar-se)R(M)(vocaliza)R(E) ≠ Interrupção abrupta da gravação pois o bebê passou mal (vomito) Este episodio apresenta 5 momentos em que os olhares compartilhados pela díade aconteceram em momentos de estabelecimento ou mudança de atividade. Vamos ver as dinâmicas desses olhares envolvendo o nível de especularidade materna sobre isso, recortando o olhar e as ações do bebê : No primeiro momento eles iniciam o jogo do cantar parabéns (01 e 02). Quando o bebê para de bater palmas e olha para a mãe esta toma esse olhar para questionar se ele ainda quer continuar. O bebê volta a bater palmas e a mãe a cantar. O segundo momento (03 e 04), parece ter o olhar do bebê como um marcador para ambos da continuação da atividade. A mãe aproveita o olhar do bebê e o bater palmas dele para lhe incentivar a continuar : « (2s)vai ». No terceiro momento (07 e 08), a mãe aproveita o olhar do bebê para propor a volta do jogo do cantar. Incentiva mais uma vez o bebê quando ele começa a bater palmas e olhar pra ela. E neste turno a terceira vez que tem o olhar do bebê ela novamente o instiga a continuar : « como eh ». Ela aproveita a devolutiva do olhar do bebê para garantir-lhe o espaço na conversa para a expressão da sua « voz ». No quarto momento ela utiliza (09 e 10) o olhar do bebê para outra questão utilizando a « fala atribuída » a de que ele possa estar cansado e com isso não querer mais essa brincadeira. No quinto momento (11 e 12) ela utiliza 187 o olhar para chamar a atenção do bebê sobre o que ele está fazendo : o olhar para a mãe, utilizando a fala atribuída como se fosse o bebê. Seguem outros dois exemplos: Extrato – 13 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. 07 M ≠*[ – 6s] que não eh≠/que não eh/≠que não eh mamãe/[ – 5s]* na boca nã::o tete::u/num eh:: de boca/num eh:: ≠ *mamãe eh de balança:/balança/nã::o/balançar mamãe olhe a zuada/[ – 4s]* ≠ vai/°que bincar disso não ne°/que binca não ne mamãe/≠ *balança chocalho e da namão D do bebê e balança**tia o chocalho da boca do bebê e balança com ele* 08 B ≠(solta o chocalho) R(F) ≠(tenta segurar)(coloca na boca) ≠ ≠R(chocalho)(balança com a mãe e para) ≠≠R(M) ≠ Outro exemplo no qual a mãe utiliza o olhar do bebê para estabelecerem uma « conversa » em que ela se coloca em posição de questionar o bebê dando-lhe um papel importante no dialogo. Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face-a-face. Bebê está sentado na cadeirinha. 29 M *≠->si você: estah contente*/*vai mãe []*/*olhe aqui pa mamãe °aqui embaixo°/aqui embaixo*≠/≠*(2s) toma/..toma/com a outra mão/a outra também/toma/nã::o/(2s) toma/*≠ *solta a mão do bebê**segura a mão novamente e da cheiro* *posiciona-se no campo visual do bebê e coloca sua mão E diante dele, ajeita a cabeça**pega o chocalho e mostra, coloca ao alcance dele, pressiona sua mão D contra o braço D do bebê, afasta o objeto e reaproxima, da nas mãos dele* 30 B ≠->(vocaliza)(baixa a cabeça) ≠≠R(B)(chocalho)(tenta alcançar com a mão E)(toca no objeto)(alcança o objeto com as duas mãos) (segura)≠ Nesse exemplo ela orienta o olhar do bebê aproveitando o olhar dele para ela. Ela o orienta a olhar para o objeto que se encontra abaixo e o bebê assim faz. 5.6.6 Olhar para estabelecer/esclarecer significados 188 Extrato - 11 Data: 15/01/2008 Idade do bebê: 31 semanas Tempo: 01:46:07~01:53:17 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no sofá como bebê deitado no seu colo. 01 M ≠*[]bate palma mamãe [-1s]/(3s) eh/eh/°bate mamãe°/na boca não [] *≠ ≠hum:::/tete:u: ow tete:u≠/¤¤¤ mamãezinha mamãe ama/[] ama mamãezinha aum:: ≠[]≠*hum::::::* /(1s)hum:: mamãe cavalinho ((imita som do cavalo trotando 5s)) []/(6s)((idem 7s))/ ... eah:::::: mamã::e/((idem 4s)).. *≠que foi meu aMO/..hein meu amo/[]≠ minha vida []/(3s)hum/..hein bebê::/(2s)((idem 7s))/* ≠ *(cheira o bebê)(segura as mãos dele e bate palmas)**senta o bebe no seu colo e faz movimento de trotar cavalinho)(para, beija o bebê e repete outras duas vezes**para de trotar, ajeita o bebê e refaz o trotar* 02 B ≠R(A)(bate palmas)(vocaliza)≠≠(pega no rosto da mãe)≠≠(mãos na boca)R(M)≠≠(tenta equilibrar-se)R(varias direções)(vocaliza) ≠ ≠R(M)(tenta equilibrar-se)R(varias direções)-> ≠ 03 M ≠*(14s) amô da minha vi:da:::/ ≠ow mamã::e:/ parabén::s pa: te:te:::u≠/≠[]..[] pegô no naliz de mamã:::e/[]hum []hum []hum:::/hum::[] hum:: []/(4s)((som gutural))*(2s) ((idem))...hum []/(5s) eu vou beijar a barriga de tete:u UI mamãe/eu vou beijar a barriga [] de teteu []/* *(ajeita o bebê deitando-o mas segurando sua cabeça com a mão D)(aproxima o rosto da mão do bebê)*(deita o bebê)(segura suas mãos)(ajeita-o)(levanta sua camiseta)(beija a barriga e pescoço)* 04 B ≠->R(M)(bate palmas)≠≠R(M)(levanta a mão E)(pega no nariz da mãe) ≠≠R(A)->(tenta equilibrar-se)(mãos na boca)(vocaliza) ≠ 05 M ≠*(5s) tu ta olhando o quê mamãe/tu ta ploculando o quê mamãe/..tu ta plocu []lando o quê meu amor/conta pa mamãe≠/conta/*bate palminha pra mamãe ver/(2s) parabé:::ns/vai mamãe/(3s) abra a mãozinha/(3s) ((imita o som do bebê)) []*≠/≠ah:::: não PODE cabelo de mamãe []≠*/(2s)[ ] (17s) hum::/*(3s) AMÔ DA minha vi:da:::::/* ≠ *ajeita o bebê**(pega no braço e tenta fazer o bebê bater palmas)* *(da beijos e cheiros no pescoço)**(senta o bebê no colo)* 06 B ≠->R(M) ≠R(varias direções)(vocaliza) ≠≠(pega os cabelos da mãe) R(F)R(M) ≠ 07 M ≠*...hum hum hum si si ((som))/(6s)* ≠ cadê mamãe bola senta/(8s) ma:mã:::e/tete::u:/ow tete::u/isso mamãe/levanta a cabecha mamãe/ ..hum []/te:::u:/(12s) ≠* ow mã::::¤¤ ≠/hã papai/cadê papai/ pa:pa:::i/papa::i/cadê papa:i/cadê papa:i::/cadê papa≠ []/cadê papai/aqui a mão de mamãe/*≠ *faz cavalinho segurando o bebê pelas mãos**ajeita o bebê bo colo sentando-o**segura a cabeça o bebê para que ele a olhe**ajeita o bebê* 189 08 B ≠(tenta equilibrar-se)≠≠R(F)≠≠R(D)(bate mão D na mão E da mãe)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)(bate mão D na mão E da mãe) ≠ Nas trocas de turnos dessa sequencia notamos que os olhares compartilhados pela díade serviram para o estabelecimento ou esclarecimentos sobre o que estavam jogando. Nos turnos (01 e 02) mãe e bebê compartilharam olhares em busca da harmonização das suas ações. A mãe outra vez quando teve o olhar do bebê lhe questiona sobre o que ele está « dizendo ». Nos turnos 03 e 04 a mãe contextualiza a ação do bebê enquanto tem o seu olhar e utiliza o marcador '/hum/' varias vezes pra cativar o bebê na atenção e também com isso que eles se mantenham alinhados nessa troca em face a face. Nos turnos 05 e 06 após uma pausa de 5 segundos em que a mãe observou pra onde o bebê estava olhando (acima), assim que ela obtém o olhar dele, ela contextualiza lhe perguntando para onde ele estava olhando. Assim a mãe contextualizando esse olhar está dizendo ao bebê que ela percebeu isso e que com isso ele estaria procurando algo. Ela atribui ao bebê outro foco de interesse que ele pode estar tendo pelo fato de olhar em outra direção. Nos turnos 07 e 08 acontece da mãe chamar a atenção do bebê para si convocando o pai e assim ela logo consegue o olhar dele: “papai/cadêpapai/pa:pa:::i/papa::i/cadê papa:i/cadê papa:i::/ cadê papa". Ela instiga o bebê a tentar encontrar o pai. Após conseguir o olhar do bebê ela parte para outro jogo, o de bater com as mãos um no outro. Ao introduzir o pai chamando-o, a mãe pressupõe que o bebê assim reconhece o pai através dessa palavra e com isso pode obter a atenção do bebê através de um possível olhar assertivo dele. Quando o bebê olha para a mãe depois disso ele pode estar demonstrando sua compreensão-responsiva ativa sobre o que eles estão fazendo. Extrato – 13 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas 19 M Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. ≠*(5s) isso*/E::ita≠/*≠ (1s) °num quer mais mamãe°/num quelo mais mamãe/num quero mais/O:PS/ops/°num quelo mais minha mãe binca disso/num quelo°* [] hum/hum hum/*≠°num quelo mais disso eh mamãe/[ ] hum [] hum:::/¤¤¤/[] hum:: []/que blincah mais que mamãe/queh/°queh blincah mais ¤¤¤°/≠* *coloca a lanterna nas duas mãos do bebê**ajeita o bebê na cadeira, fica contendo-o com seu braço E e o ajeita**pega a mão D do bebê e beija, ajeita sua cabeça**fala olhando pro bebê, beija sua mão e toca seu braço E* 190 20 B ≠(segura a lanterna com as duas mãos)(solta) ≠≠(tenta equilibrarse) ≠≠R(M)(coloca sua mão esquerda na boca da mãe)(tira a mão da boca da mãe) ≠ Outro momento em que a mãe faz do olhar compartilhado um momento para esclarecer os significados (o bebê não quer mais a brincadeira) e usa a prosódia e mímica facial para isso (19) : « [ ] hum [] hum:::/¤¤¤/[] hum:: [] » Extrato – 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. 31 M ≠*pxiu tome/...tome*/*da pa mamãe/..me da/me da mamãe/da pa mamãe/ .da/≠..aqui oh/na mão de mamãe/°da na mão de mamã::e°/..da não/ e::ita::/ta botando a mão na boca eh []/*deixe de ser assim rapaz/≠..tome/toma/aqui oh mamãe/ aqui oh aqui oh/dessse lado oh/ aqui oh aqui oh≠/≠TE::U/maTE::US/sh::: sh::: tete::u toma/toma/ ..aqui: mamã:e/≠* *apanha o objeto e da ao bebê**coloca sua mão direita no campo visual do bebê voltada pra cima na posição de pedir**tira o objeto da boca do bebê e mostra em varias posições* 32 B ≠(pega o objeto)(leva a boca)R(D) ≠≠(vira a cabeça)R(M)(mão na boca) ≠≠R(objeto em varias direções)(tenta pegar) ≠≠R(D;A) ≠ Nos turnos 31 e 32 a mãe toma o momento do olhar do bebê para pedir-lhe o objeto e uma vez que o bebê não lhe da ela contextualiza o que ele está fazendo e sorri deste fato. Observamos nesses momentos de olhar compartilhado que isso é um evento gratificante e cheio de significado interpessoal. A habilidade do bebê em voltar a atenção para objeto e depois para a mãe e depois para o objeto é vista como uma conquista significativa em seu desenvolvimento comunicativo. O olhar do bebê é um marcador importante de como ele dirige suas próprias ações e possíveis intenções. Extrato – 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 07 M *..[] se você estah contente ≠ bata o pé/*(1s) ≠ ta bo:m mamãe não binca mais disso não/≠°binca não binca não binca não°*/*faça carinho ≠≠ em mamãe/CAri::nho tete:u em mamã::e/* *bate palmas, para, toca nos pés do bebê**pega no tronco do bebê e 191 aproxima seu rosto dele, faz movimento de negação com a cabeça* *pega nas nos braços do bebê, ajeita a cabeça dele* 08 B ≠(bate palmas e vocaliza)≠≠R(M) (pega no rosto da mãe) ≠ ≠R(A)(vocaliza) ≠ Mais um exemplo (07 e 08) de que a díade encontra na troca de olhares o momento para significar suas ações. Nesse momento, a mãe quando tem o olhar do bebê diz a ele que vai parar com essa brincadeira como que entendeu que seria isso que o bebê quer no momento e quando este lhe toca o rosto ela da significado a essa ação dele como sendo a de fazer carinho. Extrato – 17 Data: 17/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:13:20~03:31:00 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados frente a frente. Bebe está sentado na cadeirinha e mãe no chão. 15 M *≠ (2s) °assim°/O::i*/*°em pé em pé em pé°/oi . oi oi/em pé []/ em pé*≠/*(5s) em pé/≠ (8s – [] alô/papa::i/alô:: .. alô::::/ ...alô:: [ - 8s]* ≠/*alô °papai° []/alô:::/...alô mamã:::e/ [ - 3s] °olha: ¤¤¤¤° não/soltah não/entregah pra mamãe/..°aqui° segura/°tete::u°/*≠ *traz o bebê pra si**segura-o pelo tronco, eleva e abaixa duas vezes, aproxima-o de si, da cheiro na bochecha**senta-o novamente na cadeirinha, pega um telefone de brinquedo, mostra, da pro bebê segurar, pega o telefone de volta, coloca na orelha D, tira e coloca na orelha E do bebê, tira e mostra na frente dele, da pra segurar**aproxima seu rosto do bebê e da-lhe um beijo na barriga, afasta-se, observa, pega na mão bebê e aciona um botão do telefone, solta, apoia mão no tronco do bebê, pega o telefone e da na mão dele* 16 B ≠(tenta equilibra-se)(balança os braços)(agarra a blusa da mãe com a mão D)(pega noscabelos da mãr com a mão D)R(F;B)(flexiona-se pra frente)(tenta equilibrar-se) ≠ R(telefone)(tenta pegar com as duas mãos)(segura com a mão D)(traz para a D e A)R(M)(vocaliza)R(A) (tenta pegar o telefone)(segura com a mão D)(traz para a D e A) (movimenta o braço lentamente pra F)(traz pra F)R(telefone)(baixa mais)(traz pra D)(eleva)R(telefone)(solta)R(mão D)(segura com as duas mãos com ajuda da mãe)≠ 17 M *≠°olhe p’a mamãe/olha p’a mamãe teteu° [] °isso° da p’a mamãe*/ (4s) aqui≠/≠*(1s) da mamãe*/*(7s) alô:: papa::i*≠/≠*[ - 7s] alô: papa::i hh/alô: tete::u*≠/≠*cadê teteu que fala c’m papai queh/..heim meu amô/*≠-> *traz a cabeça do bebê pra si e da um cheiro na testa, encosta o bebê na cadeira, faz movimento de pedir com a mão D, ampara a mão D do bebê com seu braço E**faz gesto de pedir com as duas mãos, passa a mão E no nariz e cabelo**ampara com a mão E, tange inseto com a mão D, coloca os cabelos atras das orelhas**pega o telefone das mãos do bebê, faz funcionar, coloca-o no campo de visão dele, coloca-o na sua orelha E, inclina-se para seu lado D**deixa o bebê 192 segurar o telefone, ampara com a mão E, repousa a mão E na barriga do bebê* 18 B ≠R(M)(vocaliza) ≠≠(levanta o braço D com o telefone na mão)(traz pra D)(vocaliza)R(telefone)(movimenta a mão D) ≠≠(junta as mãos segurando o telefone)R(D)(solta a mão E)(traz braço D pra D) (vocaliza)R(telefone)(baixa o braço D com o telefone)R(D) ≠≠(tenta pegar o telefone com a mão D)R(M) ≠≠pega o telefone da orelha da mãe com sua mão D)(segura com as duas mãos e os braços esticados à F)R(telefone) ≠ 23 M ->≠*(1s) m::: cadê o beijo/... m[]UA/*≠...beijo mais não/≠..oa aqui tome/(21s - ) *≠toma/toma/≠..tete:::::u/(3s) toma*≠/ ≠*(2s)°ow:xên tu ta c’m xono eh mamãe []* ≠/*≠hein mamãe/ta c’m xono eh*≠/≠*cadê a bola de teteu/bola/bola/.bola de teteu boLA/bo::la:::/* ≠-> *->**afasta-se, olha pra D, pega um brinquedo e mostra ao bebê como funciona afastando e/ou levando de um lado a outro quando ele tenta alcançar**para de fazer funcionar e da pro bebê segurar* *pega brinquedo, coloca de lado, faz carinho no rosto do bebê* *afasta-se e ajeita-se ficando sentada mais ao centro**pega com a mão D na mão E do bebê e com a mão E segura a barriga dele, procura a bola, pega-a e apresenta ao bebê, deixa cair e pega-a mostrando novamente a ele, da pra ele segurar* 24 B ≠-> (solta o rosto dela)R(M ;E)≠ ≠R(objeto)(tenta alcançar com as duas mãos)(acompanha visualmente o objeto em varias direções) ≠ ≠(segura com mão E)(junta as mãos)(solta) ≠≠R(F;A)(abre e fecha os olhos)(respira profundamente) ≠≠R(A;F)(levanta mão E) ≠≠R(M;bola) (tenta pegar com as duas mãos)R(bola)(tenta pegar com as duas mãos)(pega com a mão D)(leva pra D)R(bola) ≠ 25 M ->≠*...bo::la::::::/olha a bo::la tete:u*≠/*≠da a bola p’a mamãe/ ..BO:LA*≠/≠*(2s) °da° da p’a mamãe/a bola/da p’a mamãe*/[] °da da da da°*≠/≠*(3s) da/... da ¤¤/(2s) [] da não eh mamãe*≠/* ¤¤.. qu’eh ixo teu/qu’eh ixo/*≠-> *->**observa o bebê, ajeita os cabelos colocando atras da orelha, repousa mão D na perna E dele**faz gesto de pedir com as duas mãos**ajeita o bebê, faz gesto de pedir com a mão E, passa mão E no queixo dele e depois faz carinho na barriga, fica em face à face**observa o bebê, faz gesto de pedir com mão E, aproxima a mão da bola, pega a bola, coloca na outra mão, coça o rosto com a mão E**pega o pirulito, mostra e da pro bebê segurar* 26 B ≠->≠≠(leva pro centro)(segura com as duas mãos) ≠ ≠(leva para o alto e à D com a mão D) R(bola) ≠≠R(A)(M)(D)(bola) ≠≠(vocaliza) (traz pra frente)R(bola)(coloca bola na mão da mãe)(bate a mão D na perna D)≠≠(levanta braço D)R(pirulito)(pega) ≠ ... Percebemos nessa sequência que durante os olhares compartilhados eles orquestraram as suas ações nos turnos de forma relevante para a sequencialidade da interação. Em 17 e 18 a mãe com uma frase imperativa solicita o olhar do bebê. Esse tipo de imperativo 193 é importante para a projeção do turno. Uma vez que ela solicita, ela marca a capacidade do bebê em corresponder e ressalta para ele essa ação dando-lhe a relevância. A mãe ainda reforça o olhar do bebê repetindo a ordem dada e cumprimentando o bebê por ter atendido : « °isso° » com uma voz mais baixa. Em seguida a mãe simula uma conversa ao telefone dando voz ao bebê chamando o pai e o bebê. Ela obtém com isso o olhar dele. Vemos que outra vez ela utilizou do recurso de chamar pelo pai inferindo que o bebê assim reconhece e pode dá-lhe a resposta que ela almeja dele, nesse caso o olhar assertivo. Nos turnos 23 e 24 acontecem dois momentos em que o olhar do bebê se volta para o ambiente e para a mãe. Ela no primeiro momento propõe um beijo e quando o bebê desvia o olhar para a esquerda ela interpreta que ele não quer : « ...beijo mais não/ ». Ela propõe em seguida brincar com um objeto e mostra ao bebê. Este ao não segurar o objeto e ao abrir e fechar os olhos e a respirar profundamente tem esse comportamento interpretado pela mãe como sonolência. A mãe ainda instiga o bebê pro jogo mostrando-lhe a bola e deixando-a cair. E ao obter o olhar do bebê ela pergunta pela bola. Em 25 e 26 a mãe repete a apresentação da bola e utiliza a silabação da palavra para atrair a atenção dele. Este pega a bola e a mãe passa a lhe solicitar quando tem o olhar dele para si. Observamos nessa sequência que o « pagamento » do bebê com o olhar e a modalização que a mãe deu para isso foi importante para o trabalho de sincronização das suas ações e para a sequencialidade. As retomadas maternas das ações co-construídas dando novos arranjos são importantes para a harmonização das ações do bebê, servindo como pistas para ele como por exemplo para ter atenção àquele que lhe fala. Um dos efeitos também dessas retomadas é que a mãe só faz as proposições ao bebê quando ele está enfim « pronto » para lhe responder. Por exemplo : ela só pede a bola quando este a segura e está atento e interessado no objeto. Este jogo do segurar e dar já foi orquestrado anteriormente e vemos que ele, de certa forma já ritualizado, vai ganhando novas nuances com essas retomadas. Para Goodwin (2003) essas retomadas funcionam como pedidos para o ouvinte que move o olhar para o locutor após ouvi-lo. E que apesar da presença dessas retomadas na fala, o locutor é capaz de produzir um discurso coerente e um enunciado justo quando o ouvinte está visivelmente posicionado para atendê-lo. Extrato – 18 Data: 29/06/08 Tempo: 03:31:01~03:48:34 Idade do bebê: 13 meses Proxemia: mãe e bebê estão frente a frente. O bebê está sentado na cadeirinha e 194 a mãe sentada no chão. 03 M ≠*[ - 3s] ê:::::/[ - 6s] ¤¤¤/ [ - 6s]**da p’a mamãe/hh[ - 3s]mamãe*/*é de mamãe/tu quer/...toma/i:::sso::::*≠/ ≠*(12s) ca ca ca qué:: mamãe/e:: meu amô: []/≠ [ - 9s]≠ */ *≠o::lha:::*/(1s)*aqui oh mãe/...direitinho/hh/ assim oh*/*toma/ hh/[ - 5s]/ vai[ - 1s]/ aqui a mã:::o[ - 2s]≠/vai/ ≠...i::sso*/≠ *dá o objeto ao bebê**pede o objeto ao bebê** dá o objeto ao bebê** a mãe fica olhando para o bebê enquanto balbucia**mostra o objeto ao bebê**posiciona o bebê na cadeira**a mãe pega a mão do bebê e leva até o objeto* 04 B ≠R(brinquedo)(balbucio reduplicado)≠ ≠R(M)≠R(E)≠ ≠R(brinquedo) ≠R(M)≠ ... 07 M ≠*a bola mamãe≠/≠olha a bola aqui oh≠/≠a bo::la≠/≠ a bo::la / bo::la≠/.≠como é mamãe*/.*bo::la da a bola p`a mamãe da ((tosse)) ≠/≠da mamãe/a bola/DA/..tete::u/.da a bola p`a mamãe/..da teteu da/.. a bola de tetéu da p’a mamãe≠ ≠(5s) ca ca ca/não bo::la/.(1s)*≠ *a mãe mostra a bola ao bebê** a mãe pede a bola ao bebê fazendo o gesto com a mão* 08 B ≠R(bola)≠ ≠R(E)≠ ≠R(D)≠ ≠R(segura a bola com as duas mãos)≠ ≠R(segura a bola com a mão D e olha para o lado D)≠ ≠R(bola)≠ ≠R(M)(balbucio reduplicado)≠ 09 M ≠*solta não mãezinha/é p’a da p’a mamãe/oh≠/.BO.LA/..pegou a bola/.dá p’a mamãe/.segula/.da p’a mamãe*/*num é de boca não mãezinha::/é não ¤¤¤ []é saliva ai hum*≠/≠* da da/.. °da. da. da da .. a bola mamãe... da . da . da≠/...≠A:gua/ a:gua/ que agua é mamãe/... hein≠ ≠psiu psiu/. olha p’a mamãe/ olha p’a mamãe*/*que agua eh≠/≠a.guA/.[] o pé de maTE:::us/hh≠ ≠cadê o pé:/pé:::≠/≠[]olh’ o pé de mate:u’/que pezão ma:mã::e*≠/ *a mãe pega a bola e dá para o bebê** a mãe aproxima seu rosto do bebê e mexe na barriga dele**a mãe segura a água e fala próximo ao bebê** pega o pé do bebê, dá beijo e pega a mão do bebê e leva para tocar no pé* 10 B ≠R(E)≠ ≠R(segura a bola, solta, segura novamente e coloca na boca) ≠ ≠ R(M)(vocaliza)≠ ≠R(mexe as pernas e olha para o lado D)≠ ≠R(A;E;F)(vocaliza)≠ ≠R(balança as pernas)≠ ≠R(olha para seu pé direito) ≠ ≠R(M)≠ M ≠*TETE::u/. dá p’a mamãe/bola≠/≠bo:::la::/..bo:::la:/toma a bola/a bola de teteu/toma/(1s)sabe pegar aqui em cima*/*[4s ¤¤] o que foi/.. ca ca ca*≠/≠*tu queh a bola eh mamãe/psiu/a bola aqui oh/te:::u/...mãezinha/...*≠/≠*nã::o*/*bo.la≠/.≠a bola/. Toma/(3s)≠/≠TOMA*/...*so queh na mãozinha né/só queh na mãozinha*/*EITA EITA EITA ¤¤¤/vai pra onde teu/. Vem ... 13 195 ca≠/≠..vem ca/(5s) hh*≠ *a mãe mostra a bola ao bebê** mãe fica olhando para o bebê e interagindo com o mesmo**a mãe mostra a bola ao bebê**a mãe posiciona o bebê na cadeira**a mãe mostra a bola ao bebê* *mãe passa a bola nas mãos do bebê**a mãe posiciona o bebê sentado na ponta da cadeira* 14 B ≠R(M)≠ ≠R(bola)≠ ≠R(A)≠ ≠R(M)(balbucio reduplicado)≠ ≠R(bola) (vocaliza)≠ ≠R(bola)(vocaliza)≠ ≠R(E)(mexe os braços e pernas e vira o corpo para o lado E)≠ ≠R(B)≠ 27 M ≠*tu é piquininho de mãe hh/..tu ta demais visse mãezinha de preguiça/.. que moleza/ hein/hh/≠≠fala p’a mamãe da . da . Da . da . da []**te::u/ parabéns pra mateus:::≠/≠.. mãezinha:/ cade o parabéns hh*/*cade o parabéns mãezinha≠/≠sentar no chão/ cruza aqui oh/... da . da . Da/*≠ *segura, levanta e o coloca o bebê em sua frente e aproxima seu rosto do dele**coloca o bebê na sua perna e canta para ele** coloca o bebê no chão e ajeita as pernas do bebê* 28 B ≠R(sem observar nenhum objeto)≠≠ R(M)≠≠R(D)≠≠R(B;A) 29 M ≠*ei:: cabeçinha/ parabéns pra mateus/ tu vai pra onde teu/aqui mãezinha aqui oh/ teu: []/[] hh/olha mamãe ta aqui embaixo teteu*≠/...≠*não mamãe/assim hh/cabeçinha retinha hh/..retinha mamãe*≠/≠*segura aqui/aqui mamãe ¤¤¤ psiu))((psiu)) []≠≠manda beijo pra mamãe/[] manda beijo p’a mamãe≠/≠manda beijo/(4s)*/*te::u hh/ toma../ toma teu*≠ *segura as duas mãos do bebê,levanta o bebê segurando as mãos dele* levanta e posiciona o bebê sentado segurando sua cabeça* pega as mãos do bebê, apoia no chão e levanta a cabeça do bebê apoiando com a sua mão, faz movimento no queixo do bebê**segura a mão do bebê e pega a bola* 30 B ≠R(A;E;B;E)≠ ≠R(A;B)≠ ≠R(A)≠ ≠R(M)(vocaliza)≠ ≠R(D;A)≠ ... Percebemos que durante os olhares compartilhados a díade funcionou sobre a atenção à produção oral. Sempre que teve o olhar do bebê a mãe usou a silabação para enfatizar o nome das ações e/ou de objetos. Nos turnos 03 e 04 o bebê balbucia reduplicado e olha para a mãe e esta o imita e o elogia. O mesmo acontece em 07 e 08 da mãe imitar a vocalização do bebê porém para corrigir-lhe a produção do balbucio /ka/ na produção da palavra bola que era a enfatizada por ela nesse momento. Em 09 e 10 eles alinham-se emitindo juntos o '/da/' reduplicando dentro do contexto proposto pela mãe do dar-lhe a bola. Nos turnos 13 e 14 ao retomar as trocas com a bola quando o bebê vocaliza e olha para a mãe esta não o imita na vocalização extendida porém apresenta-lhe o modelo adequado : « nã::o*/*bo.la ». Em 27 e 28 quando tem o 196 olhar do bebê a mãe solicita a produção do /da/ novamente numa retomada das trocas nos turnos precedentes. O bebê apenas olha e não produz. Na sequência a mãe passa a chamar a atenção do bebê para si com beijos, enquanto solicitação para que este olhe para ela. Quando o bebê olha ela retoma os beijos e solicita que ele faça o mesmo. A mãe ao fazer novas proposições e retomadas introduz também novos conteúdos. Para Goodwin (2000) os locutores acrescentam novos segmentos aos seus enunciados que já chegaram a um ponto possível de conclusão para se adaptar às mudanças dos estatutos de participação de seu(s) ouvinte(s). M.H. Goodwin (1980) mostrou como as mudanças de posturas dos ouvintes leva a mudanças sistemáticas no enunciado emergente do locutor. (GOODWIN, 2003) Neves (2006) mostrou o trabalho colaborativo de uma díade pai-bebê portador da síndrome de Moebius identificando a participação na construção da sequencialidade da interação. Ela observou que pai e bebê trabalharam de forma coordenada. O pai deixando espaço na conversação para o bebê reagir deu a oportunidade para os dois co-criarem a significação das suas trocas. O pai também utilizou de retomadas e introdução de novos conteúdos à medida que algumas reações do bebê lhe indicassem a possibilidade de responder às suas proposições. Ela identificou também que o fechamento das seqüências se caracterizava pela conclusão das trocas tipo proposição-resposta (par-adjacente) à medida que a díade sincronizava suas participações. Extrato – 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 15 M ≠*.. caiu a bola/ a bola de teteu cadê a bola/foi simbola mamãe*≠/≠*olha p’a mamãe aqui o []/ oxente oxente vai chorar porque meu amô≠/≠porque mamãe/ nã::o p’a xolar nã::o/então mamãe((brummm))*≠ou ((besouro)) *segura o bebê em seu colo, pega as duas mãos do bebê e bate* *coloca o bebê de frente para ela e limpa a boca dele com o pano, apoia o bebê nas suas pernas segurando sua cabeça* 16 B ≠R(B; vira a cabeça um pouco para esquerda e segura as mãos)≠ ≠R(vocaliza reclamando de algo)≠ ≠R(M)(segura no rosto da mãe)≠ M ≠*ow meu deus que aperreio []/que aperreio mamãe/faz carinho em mamãe/ carinho...(2s)/carinho tete::u/ carinho mamãe hh≠/≠assim oh carinho hh []≠/≠...(2s)da.da.da.da.da≠≠carinho mamãe carinho tete::u/[] hh/ carinho amô*≠≠*.. hum/....(9s) *≠ ... 19 197 *faz carinho no rosto do bebê, da beijo no rosto do bebê e na mão dele*coloca o bebê sentado no sofá, coloca a almofada em seu colo e procura um brinquedo atrás dela* 20 B ≠R(M)(coloca as mãos no rosto da mãe)≠ ≠(vira a cabeça para o lado esquerdo)≠ ≠(vocaliza)(balança suas mãos)≠ ≠(coloca as mãos no rosto da mãe)≠ ≠(fica sentado no sofá olhando para frente)≠ Nessa sequencia a troca de olhares esteve baseada no compartilhar emoções. Em 15 a mãe, ao trocar o olhar com o bebê questiona-o sobre o porquê da “reclamação” atribuindo-lhe esse estado interno. No turno 19 ela configura a troca de olhares como se o bebê está comunicando seu estado interno de irritabilidade (“aperreio”). 5.6.7 Olhar trocando experiências Extrato – 12 Data: 10/02/2008 Idade do bebê: 34 semanas Tempo: 01:59:33~02:09:39 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto. Mãe senta o bebê na cabeceira da cama encostado nos travesseiros). Durante toda a filmagem tinha musica com intensidade alta tocando na casa. 15 M ≠*(6s) segure AQUI/..segurô/((explode e depois vibra labios)) cadê o bisourinho/((vibra labios)) ≠ cadê o besourinho mamãe/o besourinho mamã::e/*≠ [- 6s] o::lha::::::: ≠/≠olha so teteu coçando esse rosto/ow: meu amô::::: ≠/*[] amô da vida de mã:::e/≠MUITO BE::M≠/≠*eh isso mmesmo::/OW:::≠[ ]/aqui emba::xo/aqui oh mamãe do ladi::nho/≠*.toma mamãe pa bater também/i::sso≠*/sigulah mamã::e/≠com essa mão mamãe/o:p/≠* *ajeita o bebê para segurar o rolinho e o segura**pega o chocalho e mostra ao bebê**mostra novamente o chocalho e segura o bebê pra não cair**mostra o chocalho em varias direções**da o chocalho pro bebê segurar**pega o bebê que caiu deitado* 16 B ≠(tenta equilibrar-se)R(M) ≠≠R(chocalho)(tenta equilibrar-se)≠ ≠R(M)(desequilibra-se caindo para a E)R(B) ≠≠R(M) ≠≠R(chocalho) R(F) ≠ ≠(toca no chocalho) ≠≠(cai para o lado D e deita) ≠ Nesse momento, mãe e bebê compartilham olhares entre si e para o objeto. A mãe apresenta um chocalho ao bebê em varias direções para que ele acompanhe com o olhar. Essa estimulação visual foi orientada pelas terapeutas do bebê para que a mãe fizesse em casa como um complemento às estimulações que ele recebia no serviço de reabilitação que freqüentava. Também lhe foi orientado que a apresentação do estimulo visual (objetos com brilho, som e funcionalidade) deveria ser inserida no contexto lúdico, assim durante os momentos de interação livre da díade. 198 A mãe elogia o bebê quando ele olha para ela por ter acompanhado visualmente o chocalho nas direções que ela lhe apresentou. Ela segue com a estimulação pois o bebê corresponde à sua proposição. Mãe e bebê estão afinados. Extrato – 13 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. 15 M ≠*(3s) hum/(26s) hum:*/(4s) cabechinha mamã::* ≠/*°que cabechinha eh exa *bora bater palabéns bola/[]parabén:s pra: tete:u/ ≠nesta data/bora mamãe/*°nã:o olhar pa cima não/de novo olha pra cima°≠*/olha/≠ [] parabéns pa tete:u/bate/[] nesta da..ta querida≠/[] muitas fe..li..ci..dades≠/≠..termina pra mamãe/[] muitos a:nos de.. vida/bate teteu/≠* *guarda o objeto, ajeita o bebê sentado na cadeira e mostra o objeto anterior em varias direções**guarda o brinquedo e pega as mãos do bebê pra bater palmas e solta**bate palmas e impede que o bebê olhe pra cima, ajeita a cabeça do bebê pra que olhe pra frente**bate palmas->* 16 B ≠(tenta equilibrar-se)R(objeto) ≠≠(bate palmas) R(M) ≠≠R(A)≠ ≠R(F) R(mãos da mãe)(bate palmas)R(M)-> ≠≠R(F)R(A)(junta as mãos)(solta as mãos) ≠ Nesse outro momento (15) vemos a mãe posicionar melhor o bebê para ficar centralizado e desde que ele está nessas condições ela lhe oferece um objeto exibindo-lhe em varias direções. Ela faz isso durante 26 segundos. O bebê (16) segue o objeto com o olhar. Depois que o bebê não mais acompanha o objeto a mãe o reajusta na cadeira, pega nas mãos dele e junta, solta-as e o bebê bate palmas. O bebê olha para mãe que inicia também o bater palmas . Na sequência todas as vezes que a mãe bate palmas o bebê corresponde com o olhar. Extrato - 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 17 M ≠*atchim::...(1s)a.a.a.atchim::/..a.a.a.atchim≠/≠atchim:: [] [][]/a:::: [][]*≠/≠*coisa gotosa/ coisa linda de mãe/ a:::tchim::: psiu::: []/ psi:::u/..(4s) a:::tchim a::tchim a:::tchim hh/hh*≠ *apoia o bebê nas suas pernas e segura a cabeça dele com as mãos,da cheiros no pescoço do bebê e beijo na barriga do bebê**coloca a almofada atrás dela e aproxima seu rosto no rosto 199 do bebê* 18 B ≠R(segura no rosto da mãe)(M)≠ ≠(M)≠ ≠(M)(segura as duas mãos e balança)(segura o rosto da mãe e coloca as mãos nas suas orelhas) No turno (17) a mãe joga com o bebê simulando um espirro. Este (18) mantém todo o tempo o olhar para a mãe que repete varias vezes essa ação. Observamos como a retribuição do olhar do bebê interfere nas ações maternas. Extrato – 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 09 M ≠* eita.. quem foi que falou contigo mamãe/quem foi..(2s)/ quem foi que falou contigo/ hein meu amor*/* da p’mamãe (2s)/ te::u da p’mamãe da/da p’mamã:::e::*≠/≠* i::sso...uhma[] meu amor/ []muito bem muito be::m*≠/≠*muito bom:::[] muito bom/[] muito bom/muito bom/ batendo pal::ma...(3s)*≠-> * fica olhando para o bebê**segura na cabeça do bebê e depois pega o celular da mão do bebê**da um beijo na testa do bebê e bate palma**junta as mãos do bebê para ele bater também* 10 B ≠R(celular)(segura o celular)≠ ≠(da o celular na mão da mãe)≠ ≠R(B)≠ ≠(palmas)(M) ≠ 11 M ≠*-> bora brinca (2s) batendo palma []/ batendo o pé::/cosquinha.. cosquinha/ cosquinha em teteu cosquinha:::/ cosquinha::: []*/*[] uhmmmm≠/≠fica em pé/em pé..(11s)≠/≠em pé..(3s)*≠/≠* deita::do/ xa:::u..(1s)/ xa::u.. ≠/≠ a mão de mamãe/ mã:::o (08s)*≠/≠*[]/ ta fazendo índio com a mão de mamãe é.. (2s)/é meu amo:: hum [ ] (3s)≠/≠ é meu amo::/tu ta fazendo indío com a mão de mamãe é/ aqui oh mamãe oh/umaumauma [] (5s)*≠ * pega as mãos do bebê para ele bater, faz cosquinha no pé do bebê**dá beijo e coloca o bebê em pé no sofá segurando no braço e na perna do bebê**segura na cabeça do bebê encostando no sofá, coloca sua mão na frente do rosto do bebê e depois fica encostando sua mão na boca do bebê**segura o bebê e da um cheiro no pé do bebê, coloca a mão do bebê na sua boca* 12 B ≠R(M)(olha para a mão da mãe) (bate palma)(segura suas mãos e mexe os pés)(B)≠ ≠ (vocalizações)≠ ≠R(B)≠ ≠R(F)(mão da mãe)≠ ≠(segura na mão da mãe)(vocalizações)≠ ≠R(B)(mexe os pés)≠ ≠R(E)(B) ≠ Nesse extrato há um exemplo de alternância de olhares entre a díade quando estão compartilhando momentos prazerosos. Ao encerrar a brincadeira com o celular a mãe iniciou o jogo de bater palmas e cantar (09). Ela aproxima as mãos do bebê instigando-o a bater palmas também. Este (10) responde olhando-a e batendo palmas também. A mãe incentiva 200 essa ação do bebê elogiando essa ação sorrindo e comentando (09): “ [] muito bom/muito bom/ batendo pal::ma::(3s)*≠ “. Os dois estão em sincronia no olhar e divertindo-se. 5.6.8 Considerações sobre o olhar compartilhado da díade O olhar parece ser um marcador a serviço do quadro interlocutivo da díade assim como de suas outras condutas linguageiras. Vê-se quando dirigimos nossos olhares sobre as transcrições. No sistema de transcrição adotado as trocas de olhares estão marcadas com a cor cinza no discurso materno quando o bebê olha pra mãe. Assim notamos a regularidade dessas trocas existentes em todos os turnos maternos e que são referentes ao que a mãe diz e faz, tornando visível as respostas do bebê no 'tempo' em que elas acontecem. A transcrição nos deixa ter uma visão desde o primeiro olhar sobre essa orquestração e facilita uma analise mais detalhada das outras ações partilhadas pela díade. Ao observarmos a orquestração das ações da díade pelo olhar foi importante ver como a mãe trata essa ação de olhar e outras ações do bebê enquanto uma resposta, como vimos em alguns momentos, em que uma ação do bebê, neste caso a direção do olhar dele, significou a falta de interesse para com o objeto ou para o jogo em face a face que sua mãe estava propondo. Baseada nisso, a mãe usou vários recursos para por exemplo tentar continuar com o face a face ou jogando com o objeto, tudo isso baseando-se nas ações dele. Ela interpreta o fato do bebê não olhar o objeto por exemplo, como um índice de que ele possivelmente está perdendo o interesse, entre tantos exemplos que vimos. O bebê também é sensível às ações da mãe e responde ativamente demonstrando sua compreensão responsiva ativa. As mudanças de atuação da mãe foram também com base nas ações do bebê. O adulto, que domina a língua, é culturalmente situado. Ele fornece as provas e insere no seu contexto contraprovas apresentadas pelo bebê. As ações da mãe de iniciar o jogo e colocar em contexto as ações do bebê são feitas apenas pelos dois participantes. Ambos estão engajados para construir as estruturas que tornam possível a realização pública do "sentido" de suas próprias ações no dialogo. O bebê já vive em um mundo rico e significativo. Ele não vai construir sinais pessoais para se comunicar, mas ele vai aprender com o seu interlocutor o que está na estrutura semiótica já presente em seu ambiente (GOODWIN, 2002). Isso pode acontecer de 201 várias maneiras. Talvez a capacidade do bebê na "atenção conjunta" na interação / conversação com os outros, mesmo sem ter a competência, o interlocutor dominante na língua, fornece o "diretório" semântico que acorrenta o bebê na interação. Ele precisa de um interlocutor diferenciado, de modo que este não apenas decodifique suas ações, mas seja um co-participante reflexivamente ativo, e que tome as ações dele como um ponto de partida para tentar contextualizar o que o bebê está “construindo” durante a interação. O adulto é culturalmente situado para ver além dos poucos sinais emitidos pelo bebê. De acordo com Goodwin (2000) esses processos de inferência são verificados e calibrados durante a interação que conduzem a seqüências características que levam em conta o que o bebê é capaz de produzir por suas ações. Para este autor existem dois recursos importantes que os indivíduos podem usar para determinar o significado das ações do outro: as vocalizações e o jogo de olhares com as propriedades do espaço em que estão inseridos. Podemos ver em uma interação em que não há simetria de competências na linguagem, como no caso da díade adulto-bebê, a riqueza da interconexão dos diferentes sistemas semióticos, na variedade de recursos compartilhados. Conforme Goodwin (2003) : “A fala é reflexiva na medida em que refere a “si” mesmo, mas o escopo do que é considerado "em si" inclui não apenas os fenômenos no fluxo da fala, mas também o alinhamento mútuo entre o falante, o ouvinte, e a ação (e freqüentemente também a estrutura do ambiente em que ocorreu as atividades no momento).” (GOODWIN 2003 p. 17, tradução nossa) Vejamos em seguida a orquestração/afinação da díade quanto à posturo-mimogestualidade em outros quadros colaborativos encontrados no corpus dessa tese. 5.7 A co- construção da gestualidade manual Inicialmente o bebê desse estudo, assim como a maioria dos bebês, faz a autoexploração do corpo e leva a mão à boca e também olha pra ela. Observou-se que o bebê iniciou um comportamento de olhar fixamente para as mãos, abria e fechava os dedos ou balançava as mãos diante do seu campo visual (laterais superiores direito ou esquerdo). Diante desse comportamento observado pelas terapeutas (fisioterapeuta e fonoaudióloga) do bebê, que passou a fazer isso mais frequentemente, a mãe foi orientada por esta terapeuta sobre o seguinte: A terapeuta esclareceu que este comportamento é observado quando a 202 criança parte para uma auto-estimulação, que pode se tornar recorrente pelo prazer que isso lhe causa e também que esse comportamento pode estar associado ao estrabismo como conseqüência da diplopia63. Também foi explicado que se essa ação não for contextualizada de alguma forma para uma função, a tendência será que o bebê passe a ter um comportamento perseverador quanto a isso, que se chama de auto-estimulação visual, além de exacerbá-lo ainda mais. A genitora foi orientada a transferir essa atenção do bebê nesse movimento de auto-estimulação, para o de exploração, visando dar-lhe funcionalidade às mãos. Foram orientadas brincadeiras face a face em que isso fosse promovido como: descobrir a mão para tocar, segurar, soltar, bater, etc. Assim como fosse inserindo aos poucos a exploração funcional de outras partes do corpo como pés, pernas, ressaltando que a mãe seria o espelho para isso. Ou seja, que ela movimentasse o seu corpo junto com o que o bebê fosse capaz de fazer e apreender. Em seguida, fossem progredindo as explorações para os objetos como o segurar, soltar, balançar, etc. Outra orientação dada foi que, no face a face, a mãe buscasse fazer as mímicas diante do bebê e se possível que ele sentisse com as com as próprias mãos os movimentos do seu rosto. Isso para estimular a programação motora dos movimentos faciais, mesmo que ele não fosse capaz de executar a mímica facial, porém seu cérebro através da visão estava processando essas informações para integrá-las ao contexto das ações dialógicas. Isto foi orientado afim de que ele percebesse desde cedo os estados internos que expressamos através da face, voz e gestualidade. Vamos ver em seguida como a díade orquestrou no dialogo essas ações em termos de integração ‘neuro-senso-perceptivo-motora’ do bebê. 5.7.1 A coordenação olho-mão. Extrato - 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas 03 63 M Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/CArinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui A diplopia ou visão dupla acontece quando os olhos não estão alinhados adequadamente. O cérebro pode receber imagens de cada olho que são demasiadamente diferentes para serem fundidas. O estrabismo é o mal alinhamento de um olho, de modo que a linha de visão não é paralela à do olho oposto e ambos os olhos não são direcionados para o mesmo objeto concomitantemente, produzindo a diplopia. (http://www.estrabismo.med.br/info.html consultado em 23/04/2011) 203 mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ que brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mão direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠(não consegue controlar a cabeça)≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠R (mão D)->≠ 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(toca o rosto da mãe) R(D) ≠≠R(M) ≠ 07 M *(2s) °carinho mãe°/VOU FICAR EM PÉ/ ui ui ui ui ui ≠sento::::u*/ ..ta deitado mamãe/(1s) cadê mateus senta:do/*..sem a mão na boca/≠*(7s) o:lha::/ mateus sentado::/o:lha mamãe/que nego mais lin:do mamãe/olha/ui ui ui ui ui ui*/com as cabeça baixa/*olha as mãos de maTEUS*≠/que mão gandona::::: ≠/*olha as mã::o/mã::o/ cadê a mã:o/a mã::o/olha a mã::o:*/olha so: mat passa a mão no rosto né mamãe/não mamãe≠/. não meu amor/≠oi vai cair é/* *coloca o bebê empé no sofa e depois sentado**tira a mão do bebê da boca**ajeita o bebê**mostra sua mão E ao bebê**ajeita o bebê e faz carinho na sua cabeça**segura a mão D do bebê ajudando a coloca-la no seu campo visual**ajeita o bebê* 08 B ≠(tem a mão D na boca)≠≠R(mão D) R(M)R(mão D) ≠≠(mão D na boca)≠ ≠R(mão D) (passa a mão no rosto) ≠≠(mão D na boca)≠-> 09 M *(2s)o::i/cadê as mãos de mamãe*/as mãos gostosa≠/ah ((vibra labios))((explode labios))* ≠/(3s) ¤¤¤ mamãe*/≠ ((vibra labios)) ((explode a bochecha)) UI/((idem)) ui/≠ ((idem))/(1s) eh mamãe Quelo não mamãe/binca disso não/*≠ *ajeita o bebê**aproxima seu rosto do bebê**coloca o bebê encostado na almofada no sofa**leva a mão direita do bebê 3 vezes contra sua bochecha E e ajeita o bebê* 10 B ≠->R(M)(tira a mão da boca)≠(vocaliza)R(A)≠≠R(M)≠≠R(A)(vocaliza)-> ≠ M ≠*(6s) cari:nho mamãe/cari:nho mamãe/calinho mamãe/calinho tete::u/ ≠ (1s) carinho mam:/calinho≠ ow::: que coisa mais goto:::sa/≠ ((estala a lingua)) que coisa mais gotosa/[]/da minha vida/[]/é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/[]/((estala a lingua))≠ (16s) vai chola é mamãe/é mamãe/[]/≠qué mai não mamãe≠/[]/*(7s) oi oi oi oi oi oi/o:::lha::/olha olha olha olha olha/(3s)shhhh*≠-> *face-a-face com o bebê encosta o nariz no rosto do bebê varias ... 17 204 vezes**coloca o bebê deitado no colo e depois sentado fazendo-o equilibrar a cabeça* 18 B ≠->R(M) (tenta colocar a mão D na boca)(vocaliza) ≠≠(toca no rosto da mãe)≠≠R(M)(pega no rosto da mãe) ≠≠(vocaliza) R(F) ≠-> 19 M ≠*(13s)mã:o/..olha a mão de mate:us≠/a mão de mateus/°segura a mão de mamãe meu amor°*/¤¤¤/≠[] mamãe/ah [] a≠ mamãe be:ija:/..ta bom num beija mais≠ não visse/≠olha mateus*/*(3s) a outra mão≠ aqui oh/(1s) a outra mão de mateus aqui oh≠/(9s) ≠ as mãos de mateus*/(7s)hum/cadê a ¤¤¤ de mãe/ah ah/cadê a ¤¤*/[]/*≠ ..((estala lingua))/(6s) ((vibra labios))/..[]((vibra labios))/ (4s) e::ita≠ to me arretando mamãe/≠ *mostra a mão e segura nas mãos do bebê**solta as mãos do bebê* *pega as mãos do bebê e mostra pra ele**solta as mãos do bebê e o deita**pega e beija a mão do bebê**faz carinho no bebê e o ajeita pra que ele a olhe* 20 B ≠R(mãos) ≠≠R(F) ≠≠R(M) ≠≠(se estica)(vocaliza) ≠≠R(mão D) ≠≠R(D) ≠ ≠(vocaliza) R(M) ≠≠R(D)(se estica) ≠ A mãe introduz na interação o brincar com as mãos chamando a atenção do bebê para suas próprias mãos e o bebê assim faz e em seguida olha para a mão da mãe quando ela segura a dele (03 e 04). No turno seguinte (05) a mãe mostra ao bebê sua mão esquerda. O bebê vocaliza e se estica sem olhar para a mão da mãe (06). Esta interpreta isso como uma birra e em seguida como sendo um não engajamento ao jogo com as mãos. Em seguida ela conforta o bebê e recomeça a brincar com as mãos chamando a atenção dele para suas próprias mãos e mostrando a dela. Ela procura sempre estar numa posição favorável para que o bebê a olhe assim como se aproxima para que ele possa tocar-lhe o rosto. O bebê assim faz. Nos turnos 07 e 08 a mãe continua a ressaltar as mãos e o bebê se auto-estimula com elas levando para boca ou passando em seu próprio rosto. No próximo turno (09) a mãe ajeita a postura do bebê, pega-lhe as mãos e brinca passando em seu rosto e explode as bochechas apertando as mãos do bebê contra elas. Na mesma sequência mais adiante no turno 17 a mãe retoma o brincar com as mãos e quando tem o olhar do bebê para si, aproxima o seu rosto do dele até encostar o seu nariz e repete essa ação varias vezes como se instigasse o bebê a fazer-lhe carinho. Ela confirma isso na sua fala : “é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/”. O bebê ao fazer carinho no rosto da mãe (18) tem assim na fala dela a integração das ações reciprocas e anteriormente compartilhadas no jogo das mãos. A mãe continua a exploração das mãos no turno seguinte (19) e o bebê participa correspondendo com o olhar (20). 205 5.7.2 O pegar e o dar No exemplo que se segue vamos acompanhar a auto-organização da díade na orquestração do jogo de dar e receber os objetos compartilhados nas trocas. Extrato 14 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. 01 M ≠*°mamãe oi’ olha que legal°/olha aqui em cima/que legal/olha mamãe/°que luzinha ¤¤/≠°pega mamãe luzinha/pega°/.. aqui oh mamãe/ aqui oh mamãe/(1s) olha:::: ≠ ela desce *olha na mão de tete::u/*≠ olha so::/°vê a luzinha mamãe°*≠/*hum:: pega na luzinha/pega/pega teteu/*pega pa mainha assim/assim na mãozinha*/≠OLHA SO tete:u/ []/olha ¤¤¤¤¤ [] ≠/*≠quer mais não/≠* *mostra a lanterna em varias direções**coloca a lanterna na mão D do bebê*mostra a lanterna acima**mostra a lanterna na frente**pega as mãos do bebê pra segurar a lanterna**pega a lanterna* 02 B ≠R(lanterna)(tenta pegar lanterna com a mão E) ≠≠(tenta pegar com a mão D) R(lanterna) ≠≠(tenta pegar) R(lanterna acima) ≠≠(lanterna na frente) ≠≠R(lanterna)(segura) ≠≠(solta a lanterna) ≠ Vemos a resposta imediata do bebê (02) na tentativa de pegar o objeto apresentado pela mãe (01). O olhar percebendo o objeto desde o inicio garante a continuidade da sequência. A mãe no seu enunciado diz ao bebê que é pra segurar o objeto e faz isso. O bebê segura e depois solta o objeto. Observamos que o inicio da sequência é caracterizado pelo modelo da mãe apresentando e facilitando o segurar do objeto pelo bebê. Na sequência (03) a mãe só faz mostrar a lanterna mas todo o tempo o seu enunciado contextualiza o bebê para o que estão fazendo: 03 M ≠*(3s) olha aqui olha/olha mamãe so ta seguindo a luzinha≠/em ci:ma oh tete:u/≠em ci::ma≠ emba:ixo≠/*bora bincar d’outra coisa/ ..olha o cololi::do:/ ≠o::lha o ¤¤ ≠cololi::do::/o::lha::::/o cololi:do mamãe/olha so:::: mamãe/≠que cor eh e:ssa/o:lha:: ≠ *mostra a lanterna em varias direções*pega um quadro com listras coloridas e mostra em varias direções* 04 B ≠R(lanterna) a E e a D≠≠R(lanterna em cima)≠≠R(lanterna embaixo) ≠ ≠R(quadro colorido a frente) ≠R(quadro colorido a E) ≠ 206 Agora a mãe após ter trocado de objeto duas vezes (lanterna para quadro, quadro para chocalho) (03 e 05), encontra o que pode ser um objeto mais atrativo para continuar com o jogo do dar e pegar: 05 M ≠*..binca mais de que/(4s) aqui/aqui/[ – 8s] *balança tu≠/≠.. balança/*não pa botar na boca não mamãe≠/né comida não*/*balançar assim oh [] ow:::::*/ ≠vai/*vai meu amo:::/olha/[– 3s) segure que você sabe/*me poupe ponto oh aqui/*≠ *procura objetos dentro da caixa, pega o chocalho e mostra ao bebê**da o chocalho na mão D do bebê**tira chocalho da boca do bebê**segura chocalho na mão de bebê e balança**junta as duas maos do bebe pra segurar o chocalho*ajeita o chocalho nas maos do bebe* 06 B ≠R(frente)(chocalho)(segura chocalho) ≠≠(chocalho na boca) ≠ ≠(tenta segurar chocalho) ≠ Depois de apresentar o objeto (chocalho) e dar o modelo de funcionamento (05) a mãe da o objeto na mão do bebê que segura (06). Ainda o bebê não teve a iniciativa de pegar o objeto nem de imitar o modelo apresentado pela mãe. Porém ele explora o objeto a seu modo levando-o até a sua boca. Novamente acontece uma repetição das ações da mãe nos turnos anteriores e com a novidade de mãe e bebê balançarem juntos o chocalho (07-08). 07 M ≠*[ – 6s] que não eh≠/que não eh/≠que não eh mamãe/ [ – 5s]* na boca nã::o tete::u/num eh:: de boca/num eh:: ≠ *mamãe eh de balança:/balança/nã::o/balançar mamãe olhe a zuada/ [ – 4s]*≠ vai/°que bincar disso não ne°/que binca não ne mamãe/≠ *balança chocalho e da namão D do bebê e balança**tira o chocalho da boca do bebê e balança com ele* 08 B ≠(solta o chocalho) R(F) ≠(tenta segurar)(coloca na boca) ≠ ≠R(chocalho)(balança com a mãe e para) ≠≠R(M) ≠ Ao não dar continuidade no balançar o chocalho e olhar para mãe esta define isso como uma recusa do bebê em continuar como vemos no seu enunciado (07) e assim ela troca o objeto reformulando, reajustando o jogo apresentando um novo objeto. Deste vez o bebê pega o objeto voluntariamente (08). Todo um conjunto de harmônicos (variação prosódica, aplausos, beijo e ajustes no pegar o objeto) leva a díade a obter a sincronia co-construída e juntos balançam o chocalho : «[ – 4s]» 207 Autores como Lyra (1999), Fogel (1993) baseados na teoria dos sistemas dinâmicos sustentam o conceito de auto-organização interacional. A auto-organização segundo eles, refere-se ao processo contínuo de interação entre os componentes do sistema cooperativo que espontaneamente e dinamicamente, dá forma aos padrões estáveis da co-atividade. Em outras palavras, a auto-organização é um processo espontâneo de influência mútua entre os componentes do sistema através do qual a ordem emerge (GARVEY & FOGEL, 2007). Vejamos outro exemplo: Extrato 19 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 1 ano Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 01 M ≠*toma mamãe/.toma mamãe*/segura≠/≠*I::sso::: ... Ê:::[]*≠/ balanxa mamãe/*assim oh*/balanxa/(1s) nã:o boca nã::o≠/≠aqui oh mamãe*/sigu’ aqui oh≠/*balanxa/balanxa mamãe balanxa [] mamãe ê::::*/≠°¤¤¤ não°/(3s) na boca não meu amô: ≠/≠eh pa balanxa exe/*(2s)balança mamãe/...balanxa mamãe/* *mostra um chocalho e da na mão do bebê**pega as mãos do bebê e balança**tira objeto da boca do bebê puxando pelos punhos do bebê e ajeita na sua mão**pega na mão D do bebê e balança**pega as mãos do bebê e balança* 02 B ≠R(objeto)(tenta pegar)(pega)≠≠(balança)≠≠(vocaliza)(objeto na boca)≠ ≠R(D;A)(segura objeto so coma mão D) ≠≠(tenta levar objeto a boca)(balança braço D)(objeto na boca) ≠≠(tira da boca)R(ojeto) (leva pra boca) ≠ Neste extrato, podemos ver a evolução da dinâmica dialógica do jogo do dar e pegar. A mãe inicia a sequência apresentando o chocalho ao bebê (01) que por sua vez olha o objeto e tenta pegar (02). Esse gesto de alcançar o objeto informa a mãe sua intenção e esta por sua vez dá-lhe o objeto. A mãe ajuda mostrando a função do objeto que é balançá-lo e faz isso junto com o bebê. O turno segue com os ajustes mútuos para chegar ao consenso quanto a pegar, fazer funcionar e dar. 03 M ≠(3s) ê::ita≠/*[] [](9s)≠ da pa mamãe/da pa mamãe/na boca nã:o tete::u/*na boca nã::o mamã:e*/*na boca não na boca é esse oh≠*/*(4s) toma/vamos da esse pa mamãe ≠ ≠/≠ (1s) toma esse pa butah na boca/na bo::CA*/≠°i::sso: mamãe/na bo::ca°/≠ *pega objeto, faz barulho e da ao bebê**tira objeto da boca do bebê segurando pelos punhos**pega outro objeto**troca objeto das mãos do bebê* 208 04 B ≠(vocaliza)R(objeto)(balança objeto)(solta) ≠≠(pega objeto)(leva pra boca) ≠≠(bate palmas) ≠≠(segura o novo objeto) ≠≠(leva objeto à boca) ≠ Nesse momento, notamos o evento interessante da participação ativa do bebê (03-04). A mãe repete o modelo de funcionamento do objeto e da ao bebê que por sua vez pega e balança o chocalho: [] Observamos uma resposta mais breve do bebê e menos arranjos maternos. O Pegar e o dar: Evolução Extrato - 05 Data: 25/09/2007 Idade do bebê: 16 semanas Tempo: 32:20~39:41 Proxemia: mãe segura o bebê no colo. Bebê está de costas pra ela com a cabeça voltada para ela. 03 M ≠*°olhaa ¤¤¤ toma/¤¤¤ tira a mão da boca°/(4s) ow mainha/(7s)* o::lha: boneco/ teteu ta pegando o bone:co::/o::lha:/olha teteu pegando ¤¤/≠*E:ITA [] mamãe/quebrou o bissinho/pode nã:o mamã:e/e agora hein/HUM/hum/diga pa mamãe agola/hhh*/hein côsa linda/≠ (3s) ta reclamando Eh/num que °¤¤¤ não°/HUM/hein mãezinha/≠ *pega outro brinquedo e da na mão do bebê* *(ajeita o bebe no colo)(passa a fralda no bebe)(eleva o bebe e da cheiro)* 04 B ≠->R(A) (vocaliza)(segura o brinquedo)(solta o brinquedo) ≠ ≠(vocaliza) R(F) ≠ 07 M ≠*(5s) °toma o brinquedinho de volta tome°/(4s) uma parte do brinquedinho tome tome/segure aqui/(3s) segure*≠/pode jogar no chão não viu/e botar na boca não mainha/°eh sujo°/..Eh:: eh sujo/(1s)[]*¤¤¤¤ não bebê /quero não mamãe/°esse brinquedo não°*/*o:ia:: volto::/toma teteu/toma/°eh . bora binca°/NÃO/tem que seguRA/segurar aqui/bo:ra segura::/Hum::/Hein mai:nha/[]/ []/(3s) bo:ra segura bo:ra/aqui/quer segurar mais não eh/*≠ *encosta o objeto e pega o outro que caiu no chão e da ao bebe* *(passa a mao no rosto do bebe)(pega o objeto do chão)* *(mostra o Objeto ao bebê)(da na mão dele)(solta beijo)(ajeita o objeto na Mão do bebê)->* 08 B ≠(tenta segurar o objeto)R(F)(solta o objeto)R(A)->(tenta segurar o objeto)-> ≠ 09 M ≠*(8s) o:lha::/o:lha tete::u/*olha teteu segurou o brinquedinho/ eh: mamãe/ segurou *[]* o binquedi:nho mamãe/*eh::meu amo:::/ (3s) ta olhando pra mãinha eh*/EH/HUM/ta olhando pa mamãe/hum/hum/ *(3s)me dê o binquedinho*/≠ *->**da cheiro**faz carinho no rosto do bebê**pega o brinquedo da mão do bebê* ... 209 10 B ≠R(A)(M)(A) (segura objeto)(solta o objeto) ≠ 13 M ≠*Hein mamãe quero/ja joguei no chão o bone:co/num quelo bincar minha mãe/°num quelo binca disso não°/°tu ta me aperreando muito° /eh:/*[]*/eh/(3s) *cadê o bonequinho/tome o bonequinho tome/°aqui°/segure o bonequinho/(1s) eh mamã:e/segura::/nã:o segura::/(2s) eh/o:lha:/laranja mamã:e/aqui oh:/*que não que não que nã:o/* *ajeita o bebê no colo**da cheiro**da o brinquedo ao bebe e ajeita na mão fazendo-o segurar**tira o brinquedo da mão do bebê e guarda* 14 B ≠(mexe o corpo)(tenta segurar o boneco)(vocaliza) R(F) ≠ ... Nesse extrato temos alguns momentos em que a díade explorou juntos os objetos. Essa filmagem aconteceu numa sala de atendimento do centro de reabilitação que o bebê freqüentava. Mãe e bebê estavam sentados numa cadeira. A mãe com o bebê no colo, este de frente para o ambiente e de costas para ela. A mãe aproveita os brinquedos que estavam disponíveis numa caixa e passa a brincar com o bebê utilizando vários deles. No turno 3 vemos a mãe apresentando um boneco ao bebê à sua frente. Este segura (04) e tem essa ação configurada pela mãe através de sua fala prosódica. O bebê solta o objeto e da mesma forma a mãe utiliza uma fala de surpresa configurando que: o bebê por ter soltado o objeto, este se quebrou ao cair no chão. A mãe está nesse momento configurando vários aspectos do contexto. Por exemplo, indiretamente ela trás o barulho do objeto ao cair no chão enquanto causa o fato de solta-lo, e efeito o barulho que se produziu. Essa causalidade ela configura no seu discurso dirigido ao bebê colocando-o como agente disso: “E:ITA [] mamãe/quebrou o bissinho/pode nã:o mamã:e/e agora hein/HUM/hum /diga pa mamãe agola/”. Mais adiante (07) a mãe retoma isso reapresentando ao bebê o mesmo objeto agora só uma parte dele e ai eles começam novos ajustes em relação a isso. Ao dar o objeto para o bebê segurar a mãe também enfatiza isso na sua fala com uma frase imperativa e em seguida faz ressalvas: “(3s) segure*≠/pode jogar no chão não viu/e botar na boca não mainha/°eh sujo°/”. O bebê tenta segurar o objeto (08) e vocaliza. A mãe responde a vocalização com um /eh/ como se dissesse “me escutou?” e sorri. O bebê solta o objeto e isso é interpretado pela mãe na sua fala como se ele não estivesse mais interessado. Ela insiste reapresentando a outra parte do objeto que ela foi pegar do chão e da novamente na mão do bebê propondo de forma enfática que este segure: “toma teteu/toma/°eh . bora binca°/NÃO/tem que seguRA/segurar aqui”. 210 O bebê dá sinais de que não está interessado e a mãe muda a maneira de insistir agora dando beijo nele e propondo que juntos eles segurem o objeto: “[]/[]/(3s) bo:ra segura bo:ra/aqui/quer segurar mais não eh/” e interpreta a ação do bebê de olhar para cima e não para o objeto como se ele não quer mais jogar com isso. Percebemos todo o arranjo feito pela mãe adaptando-se às reações do bebê para continuar a exploração do objeto uma vez que foi este o objeto que ela viu o suposto interesse do bebê. Na sequência (09 e 10) a mãe ainda aproveita o olhar do bebê para ela para dar ênfase ao objeto, mas também considera esse fato do bebê ter levantado e virado a cabeça para olhá-la. O bebê segura o objeto mas se volta para olhar a mãe. Em seguida (13 e 14) a mãe mesmo fazendo um resumo na sua fala “como se” fosse o bebê, daquilo que ela conclui das ações dele, ela ainda reapresenta o objeto. O bebê tenta segurar e vocaliza prolongado. Isso faz com que a mãe interprete como um não engajamento. Percebemos nessas diferentes atitudes da mão na apresentação do objeto causando diferentes respostas do bebê. Houve momentos de tensão e depois de afinação de suas expectativas. 5.7.3 Uso das mãos para tirar a chupeta (na mesma sequência) : 17 M ≠*(7s) eh::/(3s) shhh/≠ (2s) isso com a mão*/*°a mã:o tete:u°*/ tira a pepeta mamã:e/*≠ *->ajeita o bebê no colo**ajuda o bebe a colocar a mão na boca* *ajeita o bebê* 18 B ≠R(F) ≠ ≠(tenta tirar a chupeta da boca com a mão)≠ Nos turnos 17 e 18, vemos um momento de incentivo materno ao bebê pelo fato deste estar tentando usar a mão para tirar a chupeta da boca, logo que este inicia o movimento. Extrato - 11 Data: 15/01/2008 Idade do bebê: 31 semanas 05 M Tempo: 01:46:07~01:53:17 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no sofá como bebê deitado no seu colo. ≠*(5s) tu ta olhando o quê mamãe/tu ta ploculando o quê mamãe/..tu ta plocu []lando o quê meu amor/conta pa mamãe≠/conta/*bate palminha pra mamãe ver/(2s) parabé:::ns/vai mamãe/(3s) abra a mãozinha/(3s) ((imita o som do bebê)) []*≠/≠ah:::: não PODE cabelo de mamãe []≠*/(2s)[ ] (17s) hum::/*(3s) AMÔ DA minha vi:da:::::/* ≠ 211 *ajeita o bebê**(pega no braço e tenta fazer o bebê bater palmas)* *(da beijos e cheiros no pescoço)**(senta o bebê no colo)* 06 B ≠->R(M) ≠R(varias direções)(vocaliza) ≠≠(pega os cabelos da mãe) R(F)R(M) ≠ Esse é um momento em que observamos o resultado das ações de ambos culminar em algo co-criado pela imprevisibilidade do momento: o fato do bebê segurar os cabelos da mãe (06). Eles estão jogando em face a face e têm os olhares compartilhados. A mãe propõe a brincadeira do bater palmas (05) e nesse jogo de sedução de propor isso, a mãe ao dar beijinhos no pescoço do bebê ele imediatamente segura seus cabelos. Ao se aproximar do bebê a mãe possivelmente tornou acessível algo que é interessante para ele : seus cabelos. Ela configura esse pegar do bebê em sua fala como algo que não é cabível. Ela utiliza toda uma prosódia e mimogestualidade para isso (prolonga o /a/, aumenta a intensidade vocal e solta beijos). Extrato - 12 Data: 10/02/2008 Idade do bebê: 34 semanas Tempo: 01:59:33~02:09:39 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto. Mãe senta o bebê na cabeceira da cama, encostado-o nos travesseiros). Durante toda a filmagem tinha musica com intensidade alta tocando na casa. 01 M ≠*I:sho::/isho mamãe sentadinho/fica assim/¤¤¤ o bonequinho de tete:u/vem pega mamãe o bonequinho/...os bunequi:::nho:/.. ≠toma mamãe os bunequinho/PEGO::: ≠/(2s) toma mamãe o bunequinho/ hum::: ≠/≠ (4s) pega os bunequinho aqui oh/(6s) eh::::: ≠*/ ≠¤¤¤¤*≠ mamã:::*/. ≠cadê as perna de tete::u/os pé:s/os pés de tete:u/≠ cadê≠/AH os pés de teteu *hum [] hum */*goto:so o pé de teteu goto::so mamãe/*-> *mostra brinquedo ao bebê em varias direções)**mostra outro brinquedo**coloca o brinquedo de lado**cheira o pé do bebe^* *ajeita o bebê pra melhor sentar* 02 B ≠(mão E na boca)R(F)R(brinquedo)R(D)≠ ≠(pega o brinquedo)≠≠(idem)≠ ≠(balança as pernas)(vocaliza)(pega no brinquedo) ≠ (balança as pernas) ≠≠(levanta as pernas) ≠ ... 09 M 10 B ≠*(6s) hum::: ≠/i::sso:/ ≠*eh sentado/você fica sentado/teteu fica/(1s) sigulano aqui/...fica mamãe/FI:ca≠ mamã:::e/≠*vem ca/tem que ficah/[]≠* pigui:::ça:::* ≠/≠ele ¤¤¤ ta cum piguicha≠/≠*bola ficah sentado/assim/ficah sentado mamãe/senta:::do:/i::sso sentado/≠ *->**ajeita o bebê pra sentar e segura-o**aproxima-se do bebê deitado e beija a barriga**afasta-se e olha para o lado D**levanta o bebê, senta-o e segura*-> ≠R(rolinho)(pega)(vocaliza) ≠≠(tenta equilibrar-se)R(rolinho) (pega) ≠≠(desequilibra-se e cai para tras) ≠≠(movimenta-se) 212 (vocaliza) ≠≠(mãos na boca) ≠≠(tenta equilibrar-se) ≠-> ... 13 M 14 B ≠*(7s) cadê:: mateus duli:::nho::/MATE::::us/≠*[-2s] mate:::us/i::sso meu amor olhar/venha ca/assim/..vire aqui/segura aqui mamãe/≠*..segura o rolinho/segu:ra/(3s) aqui/(4s) queh mais não eh/EH/(1s) Eh≠* *segura o bebê sentado**pega e mostra o chocalho acima**segura o bebê antes que ele caia para o lado e o ajeita sentado novamente* *coloca o rolinho no colo do bebe e o ajeita pra sentar* ≠-> R(D)R(M)≠≠R(chocalho)(cai para o lado E)(tenta equilibrar-se)≠ ≠(segura o rolinho)(tenta equilibrar-se)(vocaliza) ≠ Outro momento em que eles jogam com os objetos e configuram o pegar. Em 01 e 02 a mãe apresenta um boneco diante do campo visual do bebê inicialmente em varias direções e depois facilita aproximando-o do bebê e solicita que este va buscar. O bebê assim o faz. A mãe celebra isso na sua fala: “toma mamãe os bunequinho/PEGO::: ”. Nos momentos seguintes a mãe ajuda o bebê a se posicionar melhor para a ação do pegar. Vê-se que ela (09 e 10) enfatiza o sentar para que o bebê jogue com o objeto que ele pegou. Em 13 ela ajuda o bebê a sentar-se enquanto lhe mostra o chocalho. Ela enfatiza quando o bebê olha para o chocalho e propõe que ele o segure. O bebê cai para o lado E e a mãe reapresenta o rolinho depois de ajeitar o bebê para sentar-se. A mãe solicita que ele o pegue. O bebê segura (14), desequilibra-se e vocaliza. A mãe questiona o bebê se com isso ele está demonstrando um não querer pegar: (3s) aqui/(4s) queh mais não eh/EH/(1s) Eh≠*“. Notamos que a mãe prepara o bebê para a ação. Ela cria um espaço para as ações-respostas do seu bebê. Assim o bebê pode responder melhor para perceber que suas ações fazem parte do jogo. Outro exemplo da exploração de objetos pela díade: Extrato – 13 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas 01 M Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. ≠*°mamãe oi’ olha que legal°/olha aqui em cima/que legal/olha mamãe/°que luzinha ¤¤/≠°pega mamãe luzinha/pega°/.. aqui oh mamãe/ aqui oh mamãe/(1s) olha:::: ≠ ela desce *olha na mão de tete::u/*≠ olha so::/°vê a luzinha mamãe°*≠/*hum:: pega na luzinha/pega/pega teteu/*pega pa mainha assim/assim na mãozinha*/≠OLHA SO tete:u/ 213 []/olha ¤¤¤¤¤ [] ≠/*≠quer mais não/≠* *mostra a lanterna em varias direções**coloca a lanterna na mão D do bebê*mostra a lanterna acima**mostra a lanterna na frente**pega as mãos do bebê pra segurar a lanterna**pega a lanterna* 02 B ≠R(lanterna)(tenta pegar lanterna com a mão E) ≠≠(tenta pegar com a mão D) R(lanterna) ≠≠(tenta pegar) R(lanterna acima) ≠≠(lanterna na frente) ≠≠R(lanterna)(segura) ≠≠(solta a lanterna) ≠ Nesses turnos (01 e 02), a mãe faz todo um jogo de sedução para o objeto tornando-o atrativo ao bebê através de sua fala. Ela apresenta uma lanterna (01) em varias direções do campo visual do bebê e em seguida torna o objeto acessível para ele pegar além de configurar isso na sua fala. O bebê (02) inicialmente tenta pegar a lanterna, depois é auxiliado pela mãe a segurar e por fim segura sozinho. A mãe celebra isso sorrindo e na fala com prosódia de incentivo. 05 M ≠*..binca mais de que/(4s) aqui/aqui/[ – 8s] *balança tu≠/≠.. balança/*não pa botar na boca não mamãe≠/né comida não*/*balançar assim oh [] ow:::::*/ ≠vai/*vai meu amo:::/olha/[– 3s) segure que você sabe/*me poupe ponto oh aqui/*≠ *procura objetos dentro da caixa, pega o chocalho e mostra ao bebê**da o chocalho na mão D do bebê**tira chocalho da boca do bebê**segura chocalho na mão de bebê e balança**junta as duas maos do bebe pra segurar o chocalho*ajeita o chocalho nas maos do bebe* 06 B ≠R(frente)(chocalho)(segura chocalho) ≠≠(chocalho na boca) ≠ ≠(tenta segurar chocalho) ≠ 07 M ≠*[ – 6s] que não eh≠/que não eh/≠que não eh mamãe/[ – 5s]* na boca nã::o tete::u/num eh:: de boca/num eh:: ≠ *mamãe eh de balança:/balança/nã::o/balançar mamãe olhe a zuada/[ – 4s]* ≠ vai/°que bincar disso não ne°/que binca não ne mamãe/≠ *balança chocalho e da na mão D do bebê e balança**tira o chocalho da boca do bebê e balança com ele* 08 B ≠(solta o chocalho) R(F) ≠(tenta segurar)(coloca na boca) ≠ ≠R(chocalho)(balança com a mãe e para) ≠≠R(M) ≠ Agora eles passam a configurar o pegar o chocalho. A mãe pega de dentro da caixa um chocalho (05) e apresenta ao bebê balançando diante do seu campo visual. Em seguida ela da na mão direita dele. O bebê segura o chocalho (06) com a ajuda da mãe mas mesmo tendo sido incentivado por ela a balançar ele o leva à boca. A mãe contextualiza essa ação do bebê dizendo-lhe que não isso não é algo para levar à boca e tira o objeto da boca dele e junto com o bebê balança mostrando-lhe a função do objeto: “né comida não*/*balançar 214 assim oh [] ow:::::*” e ainda enfatiza que isso (segurar e balançar) o bebê sabe fazer. Observamos que esse espaço que a mãe deu para o bebê reagir é algo muito importante para ambos. É o espaço em que juntos, eles vão configurar o sentido durante a orquestração das suas ações e expectativas do « eu » e do « outro » para a afinação do sentido dessas ações. A mãe deixa o bebê reagir e configura com ele a ação que ele acaba de fazer. O bebê responde tentando segurar o objeto que a mãe está lhe ajudando a pegar. Vemos outra configuração disso nos turnos seguintes (07 e 08) em que mãe e bebê repetem suas ações. Ao obter o olhar do bebê a mãe solicita uma confirmação dele quanto ao seu interesse no objeto. Também observamos a mãe dar ao bebê o espaço para ele se expressar marcando que eles estão juntos construindo algo. 09 M *(5s) que binca disso não ta certo/≠ (1s) oa aqui oh/(16s) pega*≠/(3s) ≠pega mam’I::SSO [] muito bem mamãe/I: [] hum≠/≠*muito bem meu amo::/°muito bem coisa linda°/PEGA/pega mamãe/pega/(2s) pega/(3s)* pega mamãe o binquedinho/pega aqui*/ (3s) aqui oh≠/≠binquedinho tete:u/cuidado/≠->* *pega outro objeto na caixa e mostra ao bebê em varias direções* *pega o objeto e mostra ao bebê**tenta que o bebê pegue**mostra o objeto* 10 B ≠R(objeto em varias direções) ≠≠(pega o objeto e solta) ≠≠R(objeto e faz esboço de pegar) ≠≠R(objeto) e mexe os braços) ≠≠(pega o objeto) ≠ No turno 9 a mãe interpretou que o bebê não estava mais interessado no chocalho e apresenta-lhe outro objeto repetindo a forma de apresentação feita nos seus turnos precedentes, movendo o objeto em varias direções diante do campo visual dele. O bebê ao pegar o objeto recebe o cumprimento materno por isso (fala prosódica com voz com intensidade mais forte, palmas e beijo). Em seguida o bebê solta (10) e é incentivado pela mãe para pegar novamente. 11 M ≠*..olha SO teTEU balança mamãe/na boca nã:::o≠*/*’cê que leva tudo pra boca eh meu amo: ≠/ajeite a cabecinha pa esse lado/ sim*/(2s) segure pa mamãe pega ôtro binQUEdo≠*/≠ (3s) hum/ta≠/*que mais não né/tem interesse mais não né/* *olha o bebê**tira o objeto da boca do bebê, mostra e ajeita a cabeça do bebê**da novamente o objeto nas mãos de bebê**procura na caixa outro brinquedo* 12 B ≠->(leva pra boca)≠ ≠R(objeto) ≠≠(segura o objeto) ≠≠(solta o objeto) ≠ 215 ... 17 M ≠*(2s) [] parabéns pa te:te:u/bate≠/..tem interesse mais não/de bater palmas pa mamãe/hein hein*/hein ¤¤¤/hein≠/≠ ≠ (5s) eh eh eh/*bola pa luzinha/tu gostou da luzinha/(3s) ¤¤¤/≠olha °luzinha luzinha ¤¤¤°/...olha:: ela sobe a luzinha/ela desce/o:lha: mamã:e/tete::/o::lha*/*PEGA a luzinha/pega/pega mamãe a luzinha/≠ (2s) i::sso/segura/* *-> pega nas mãos do bebê pra que bata palmas**ajeita o bebê**pega a lanterna de volta, acende e mostra ao bebê em varias direções**da a lanterna pro bebê segurar* 18 B ≠R(F)(bate palmas) ≠≠R(F)R(A) ≠≠(bate palmas) ≠R(F) ≠ ≠R(lanterna em varias direções) ≠≠(segura lanterna com mão D) ≠ 19 M ≠*(5s) isso*/E::ita≠/*≠ (1s) °num quer mais mamãe°/num quelo mais mamãe/num quero mais/O:PS/ops/°num quelo mais minha mãe binca disso/num quelo°* [] hum/hum hum/*≠°num quelo mais disso eh mamãe/[ ] hum [] hum:::/¤¤¤/[] hum:: []/que blincah mais que mamãe/queh/°queh blincah mais ¤¤¤°/≠* *coloca a lanterna nas duas mãos do bebê**ajeita o bebê na cadeira, fica contendo-o com seu braço E e o ajeita**pega a mão D do bebê e beija, ajeita sua cabeça**fala olhando pro bebê, beija sua mão e toca seu braço E* 20 B ≠(segura a lanterna com as duas mãos)(solta) ≠≠(tenta equilibrarse) ≠≠R(M)(coloca sua mão esquerda na boca da mãe)(tira a mão da boca da mãe) ≠ Temos outros momentos nessa sequência em que a díade configurou o pegar cada vez de forma diferente, com novos arranjos, porém com retomadas de ações que já fazem parte do potencial semântico da díade. Em 11 e 12 notamos o bebê segurar e levar pra boca (uma forma tradicional de exploração de objetos pelos bebês) um novo objeto e mais uma vez a mãe configura essa ação do bebê como não sendo aplicável. Em 17 a lanterna volta sendo configurada pela mãe como que interessou ao bebê e que por isso ele provavelmente vai segura-la. Observamos a inferência materna direta em seu discurso. O bebê segura a lanterna (18) com a mão direita e depois com as duas mãos (20) e solta em seguida . A mãe configura isso como um não engajamento pois o bebê agindo assim não respondeu de acordo com a sua especulação. A mãe aceita isso e eles partem juntos para a orquestração de novos significados. Extrato – 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas 01 M Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. ≠*aqui mamãe/toma toma/.toma/que não≠*/≠*(3s) da da da/≠queh tu 216 queh/*tu queh/≠toma toma/i:sso/pega pega≠*/*≠ [](10s)* ≠ senta aqui oh/*≠ (2s)mateus sento:::/(2s)°parabéns° pa te:te::u/(5s) sigula mãe/palabéns pa ma..te.us nesTA daTA≠/vai mamãe/vai teteu/..TE:::u/≠ pa voxê:::/ ≠*nesta data queri’ NÃ:::O as perninha nã::o≠/bora bincah/* *pega e mostra o chocalho ao bebe depois da na mão dele**segura o bebe pelos ombros**pega o chocalho, mostra ao bebê e faz com que ele segure**mostra o chocalho e faz barulho*troca o chocalho por outro brinquedo e mostra ao bebê**ajeita o bebe sentado**contem o bebê* 02 B ≠R(chocalho)(tenta pegar) ≠≠(segura chocalho) R(F) ≠≠(solta o chocalho) ≠≠(tenta pegar) ≠≠R(chocalho)(tenta pegar) ≠≠(tenta equilibrar-se)(bate palmas) ≠(bate palmas) R(F) ≠≠(inclinapra tras)(mexe as pernas) Nesse momento acontece uma troca mais breve entre a díade quanto ao dar e o pegar o objeto, neste caso o chocalho. A mãe apresenta o chocalho ao bebê (01) usando algumas das modulações já utilizadas por ela. O bebê olha, segura por um momento breve e solta (02). Em seguida o bebê é quem traz algo novo para a interação. Ele bate palmas dando a sua modalidade do usar as mãos. E a mãe o segue. 03 M ≠*oh/o::lha: o cachorrinho passan:::o/pega o cachorrinho mamãe/ Aqui oh/≠*..((bebê tosse-5s)) ¤¤¤ mãe*≠/*aqui oh o cachorrinho/ ≠maMÃ:E/oh aqui/o cachorinho/I::SSO:::≠/*bate o cachorrinho/bate o cachorrinho*/≠ vai mamãe/binca com o cachorrinho/..i::sso bate o cachorrinho*≠/≠bate no cach’/pa fazer zuada mãe/aqui oh/≠* *pega um brinquedo, mostra ao bebê e coloca na sua frente**mãe ampara o bebê que tosse**ajeita a cabeça do bebê para que olhe pro objeto**bate no objeto e ajeita o bebê* 04 B ≠R(cachorro de plastico)(tenta pegar)(desequilibra-se) ≠≠(tosse) R(M) ≠≠(bate palmas)R(cachorro)(segura) ≠≠(bate no cachorro com a mão E) ≠≠(vocaliza) R(F) R(cachorro)(tenta segurar) ≠ No turno seguinte (03) a mãe apresenta um novo objeto usando das modalizações já conhecidas. Cumprimenta o bebê quando ele segura. Ela incentiva o bebê a brincar com o objeto e mostra a ele que batendo, o objeto produz uma “zoada”. O bebê imita a mãe (04). 05 M ≠*o::lha:: as bolinhas teteu/*o::lha tete:::u/maMÃ::E/olha/(1s) o:lha≠*/≠* (3s) NÃO bota a boca nã::o≠/é de botar na boca/é não mamãe de botar na boca não/eita/≠* *ajuda o bebê a segurar o objeto**segura o bebê e bate no objeto* *ajeita o bebê pra que tire o objeto da boca**inclina pra que o bebê a olhe* 06 B ≠(segura) R(cachorro) ≠≠(leva o objeto pra boca) ≠≠(solta o objeto)(inclina-se pra tras)(olhos fechados) R(F) ≠ 217 07 M ≠*(2s) olha ((barulho do brinquedo))(10s) cadê mamãe*≠/≠*o:::lha mamãe/amare:lo ver:me:lho/*olha so mamãe que lega::l≠/*oh/pegue aqui na bolinha/≠na boli::nha/*hh((mãe está com rinite))3s aqui oh mamãe/aqui oh/((barulho do sino do brinquedo)) ≠i::sso aqui embaixo/*queh binca não/..queh não/≠* *pega o objeto elevando, da ao bebê e faz barulho no sino**mexe no brinquedo mostrando ao bebê**coloca sua bolsa no chao**pega o objeto e mostra novamente**mãe chama a atençao do bebê pra olhar o objeto batendo no objeto**ajeita o bebê* 08 B ≠R(cachorro)(tenta pegar) ≠≠R(cachoro)(segura) ≠≠R(F)(segura) ≠ ≠R(cachorro)(solta)(desequilibra-se e cai pra tras) ≠ Nesses turnos eles seguem construindo, configurando mutuamente o explorar o objeto num engajamento mutuo. Temos o bebê participando ativamente dessa atividade (06 e 08). 11 M ≠*(1s) senta aqui em cima de mãe então*/≠(2s) i:SSO::/*aqui mainha/sentado/segura aqui mamãe e aqui/pra num cair/≠assim ta certo/≠ (3s) assim*/ assim mãe/≠*..o::lha::: o dado de mate::::::us/≠*..bate mate::us/bate mateus/*pega o dado meu amô*/ ≠i::sso:: ≠/*((barulho do dado -6s)) vai/*≠ *pega o bebê e coloca no colo sentado de frente pros brinquedos* *ajeita o bebê sentado no colo**mostra outro brinquedo e da pro bebê pegar**bate no brinquedo**pega a mão D do bebê e bate no cubo*com a mão D bate novamente no cubo e pega a mão do bebê pra bater* 12 B ≠(tenta equilibrar-se)≠≠(bate palmas)R(A)≠≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate mão D na perna da mãe) ≠≠R(A)(tenta equilibrar-se)(bate palmas) ≠≠R(cubo)(tenta pegar) ≠≠(pega)R(cubo) ≠≠(bate no cubo) ≠ ≠(segura o cubo)(desequilibra-se caindo para a E) ≠ 13 M ≠*..aqui≠ oh mãe toma/toma/..segura segura*≠/≠ (1s) i::sso:: ≠/ sigura mamã::e/(8s) o::i/vai cair eh≠/*≠..vai cair eh/ta um homenzinho não eh/sigula/sigula aqui mãe/(2s) assim*≠/≠ UI UI UI mamãe/UI mamãe/*vai nã:::o mamãe deixa cair nã:::o/≠ (4s) °como eh que fica/assim°/°assim°/*≠ *pega o cubo e da ao bebê**ajeita o bebê**tira o bebe do seu colo, senta-o na cama novamente de frente para os brinquedos e o ajeita* *segura o bebe impedindo que nao caia e o ajeita* 14 B ≠(solta o cubo)≠≠R(cubo)(tenta pegar)≠≠(segura)(desequilibra-se) ≠ ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(desequilibra-se para o dado D) ≠≠(tenta equilibrar-se) ≠-> 15 M ≠*(5s) ≠o::xen::te* hum::xen:te/assim oh mamãe/°assim oh mamãe aqui°/*assim oh mamãe/...assim oh retinho retinho ai tu faz assim oh≠*/..olha so::::/* ≠ (12s) pega ...pra tu≠/≠ (4s) pega mamãe≠/. pega/≠ (4s) °i::sso::/* i::sso:::°/* ≠ *segura o bebê**coloca-o no colo de frente pros brinquedos**ajeita o bebê**pega novo objeto, mostra ao bebê e dar pra pegar**ajuda o bebê a pegar* 16 B ≠->(bate palmas)R(A)≠≠(tenta equilibrar-se)(bate palmas) 218 (vocaliza)(equilibra-se)≠ ≠R(D e A) ≠≠R(objeto)(tenta pegar) ≠ ≠(pega)(leva pra boca)(solta) ≠≠(pega) ≠ 17 M ≠*(28s) *≠ te::u/ow tete:u/tete::u olha para mamãe mamãe/aquí desse lado oh*≠/*≠ [ - 13 s ->] aqui em cima mamãe/aqui em xima/dexe:::u*≠/*≠aqui oh teteu≠*/*≠mamã::e acomPANHA aqui*/ ISSO::: ≠/*la em cima:::/aqui oh mamãe/ta desceno/ta desceno Mamãe*/≠* (3s) aqui não*/≠[] (3s) cabexinha*/ [] (3s) °parabéns pa ma::mãe ..nesta data° queri::DA≠/canta com mamãe/ ≠canta/*EI pxi::u mamãe aqui dexe la:::do/ tem nada ai não pra tu não mamãe/ ... * *mãe mostra o objeto, ajeita o bebê no colo, depois o coloca na cadeira do bebê e muda de posição sentando à sua frente**pega outro brinquedo e o faz funcionar mostrando ao bebê**pega a mão do bebê pra que pegue no objeto**mostra o objeto em varias direções**vira o bebê pra que olhe o objeto**mostra o objeto acima*impede que o bebê continue olhando pra cima ajeitando sua cabeça**passa a mão no rosto do bebê e segura seu braço E* *bate palmas* 18 B ≠(solta)R(objeto)(tosse)(balbucia “ta ta “)(tenta equilibrar-se) ≠ ≠(mãos na boca)R(D)≠≠R(objeto)(tenta pegar)(mãos na boca) R(objeto)≠ ≠(tenta pegar objeto coma mão E) ≠≠R(objeto)(pega) ≠ ≠(vocaliza)R(A) ≠≠(bate palmas)(balança as pernas) ≠≠(bate palmas)R(A)(vocaliza) ≠ Nesses turnos vemos a participação do bebê na sequência provocar mudanças nas ações da mãe. Desde o turno 12 o bebê tem a ação de bater palmas. Em seu turno (11) a mãe apresentou-lhe outro objeto (um cubo) e iniciou toda uma modalização para que juntos explorassem esse objeto. O bebê responde segurando o objeto (14) mas em seguida repete o bater palmas duas vezes no turno 16 após ter largado o objeto. A mãe segue com a apresentação de um novo objeto (17) desta vez musical. O bebê olha o objeto, vocaliza e bate palmas (18). Com isso a mãe muda suas ações passando a bater palmas com o bebê imitandoo e a cantar. Ela também o incentiva no cantar e o bebê vocaliza. Assim, a mãe seguiu as ações do bebê e acrescentou mais o conteúdo do cantar. 29 M ≠*eita/eita mamãe/((vibra labios))/não/oi≠/≠(8s)≠ como eh teteu/≠ .mamãe/mamã*/quer bate palma o xinhô eh≠/≠..≠ °vire° aqui pa mamãe≠/oi/...vire aqui pa mamãe/vire*/*≠ (5s) ≠ aqui ≠toma toma*/ ...a boca mamãe/¤¤¤ eh mamãe/i::sso/não segura segura≠/*(1s) segura aqui oh/≠aqui oh/i:::sso o::lha:: /°na boca que gotoio° OHH*≠/≠olha mamãe/*a mão nã:::o/≠* *aproxima o rosto do bebê, segura seu queixo**pega outro brinquedo, mostra e da pro bebê pegar**pega o objeto e da novamente ao bebê**pega a mão E do bebê* 30 B ≠(mexe o corpo)R(M)(engasga)(tosse) ≠(balbucia reduplicado)≠ ≠(bate palma) ≠≠(tosse)R(D) ≠≠(bate palma)(vocaliza) ≠ 219 ≠R(objeto)(pega)(segura com as duas mãos)(solta)≠≠(bate palma)R(objeto)(pega)(leva pra boca) ≠ ≠(segura o objeto so com a mão D)(deixa cair) ≠ 31 M ≠*pxiu tome/...tome*/*da pa mamãe/..me da/me da mamãe/da pa mamãe/ .da/≠..aqui oh/na mão de mamãe/°da na mão de mamã::e°/..da não/ e::ita::/ta botando a mão na boca eh []/*deixe de ser assim rapaz/≠..tome/toma/aqui oh mamãe/ aqui oh aqui oh/dessse lado oh/ aqui oh aqui oh≠/≠TE::U/maTE::US/sh::: sh::: tete::u toma/toma/ ..aqui: mamã:e/≠* *apanha o objeto e da ao bebê**coloca sua mão direita no campo visual do bebê voltada pra cima na posição de pedir**tira o objeto da boca do bebê e mostra em varias posições* 32 B ≠(pega o objeto)(leva a boca)R(D) ≠≠(vira a cabeça)R(M)(mão na boca) ≠≠R(objeto em varias direções)(tenta pegar) ≠≠R(D;A) ≠ Nesses turnos (11 – 18), observamos que mesmo a mãe percebendo que o bebê dá sinais de que quer continuar o bater palmas e cantar (30), ela apresenta-lhe um novo objeto (29). O bebê segura e solta o objeto. A mãe reapresenta o objeto dando para o bebê segurar e solicita imperativamente isso a ele (31). Agora a mãe parece estar configurando o ato de dar pois enfatiza isso na sua fala e mimogestualidade (ri): “da na mão de mamã::e°/..da não/e::ita::/ta botando a mão na boca eh []” enquanto tem o olhar do bebê para si. Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 01 M ≠*toma mamãe/.toma mamãe*/segura≠/≠*I::sso::: ... Ê:::[]*≠/ balanxa mamãe/*assim oh*/balanxa/(1s) nã:o boca nã::o≠/≠aqui oh mamãe*/sigu’ aqui oh≠/*balanxa/balanxa mamãe balanxa mamãe ê::::*/ ≠°¤¤¤ não°/(3s) na boca não meu amô: ≠/≠eh pa balanxa exe/*(2s) balança mamãe/...balanxa mamãe/* *mostra um chocalho e da na mão do bebê**pega as mãos do bebê e balança**tira objeto da boca do bebê puxando pelos punhos do bebê e ajeita na sua mão**pega na mão D do bebê e balança**pega mãos do bebê e balança* 02 B ≠R(objeto)(tenta pegar)(pega) ≠≠(vocaliza)(objeto na boca)≠ ≠R(D;A)(segura objeto so com a mão D) ≠≠(tenta levar objeto a boca)(balança braço D)(objeto na boca) ≠≠(tira da boca)R(ojeto) (leva pra boca) ≠ 03 M ≠(3s) ê::ita≠/*[](9s) ≠ da pa mamãe/da pa mamãe/na boca nã:o tete::u/*na boca nã::o mamã:e*/*na boca não na boca eh esse oh≠*/*(4s) toma/vamos da esse pa mamãe ≠ ≠/≠ (1s) toma esse pa butah na boca/na bo::CA*/≠°i::sso: mamãe/na bo::ca°/≠ 220 *pega objeto, faz barulho e da ao bebê**tira objeto da boca do bebê segurando pelos punhos**pega outro objeto**troca objeto das mãos do bebê* 04 B ≠(vocaliza)R(objeto)(balança objeto)(solta) ≠≠(pega objeto)(leva pra boca) ≠≠(bate palmas) ≠≠(segura o novo objeto) ≠≠(leva objeto à boca) ≠ Temos outro momento do jogo de segurar o chocalho (01 – 04). Observamos a evolução das ações da díade. Nos turnos 01 e 02 eles começam o jogo tendo a mãe que propõe e modaliza a introdução do objeto e o bebê que responde olhando, pegando, explorando o objeto com a boca. A mãe mostra a função do objeto segurando a mão do bebê e balançando. No turno seguinte (04) o bebê responde balançando o chocalho sozinho durante 9 segundos. Quando para de balançar a mãe solicita o objeto. Eles orquestraram mais brevemente sobre o pegar partindo para novos arranjos como o dar. 15 M ≠*(3s) eita eita eita eita eita/vai ficah ¤¤*≠/*≠ (12s-[]) se segura mãezinha assim/aqui em mamãe oh*≠/≠*(4s-[]) pega/pega/ (3s) i::sso pega mamãe pega*/pego:::::: ≠*/≠* (5s-[]) pega mamãe*≠/*(3s-[])≠ pega/pega o cachorrinho teteu/i::xo mamãe pego:: cachorinho≠/*da pa bincah pa gente bincah/* *apoia o bebê de pé**senta o bebê novamente de frente para os brinquedos e o ajeita**pega o cachorrinho e movimenta pra frente e pra tras, pega a mão D do bebê e aproxima do cachorro, solta e observa**pega cachorro e movimenta pra frente e pra tras, coloca na frente do bebê**faz barulho no sino do cachorro**afasta o bebê pra tras pra que tire o objeto da boca* 16 B ≠(mantém pernas retas)(balança o corpo)(vocaliza) ≠≠(vocaliza)≠ ≠(tenta equilibrar-se)R(objetos) ≠≠R(cachorro)(estica braço D pra alcançar)(pega)(solta) ≠≠R(cachorro) ≠≠(flexiona-se para alcançar) (estica braços)(pega)(coloca na boca) ≠-> 17 M ≠*(3s) na boca nã::o teteu/(1s) aqui oh no colo*≠/≠*(5s-[]) hein mamãe*≠/*≠ (11s-[]) oi oi o::i..o::i*/≠*(4s) o::i/(2s) o:i mamãe*≠/≠*(7s-[])ow oia teteu/(8s-[]) o:lha teu/e::ita teteu*≠/*≠ (4s-[->]) toma toma/toma mamãe/toma/toma mamãe pra tu brincah/tome/(14-s[])*≠ *ajeita o bebê e coloca o brinquedo no colo do bebê**faz barulho com o sino do cachorro e solta no colo do bebê*faz barulho no objeto, pega a mão D do bebê e bate no objeto e solta o bebê**ajeita o bebê, afasta os objetos e segura-o**ajeita o bebê, pega outro objeto musical e mostra e varias direções**da para o bebê pegar* 18 B ≠->(segura o objeto)≠(solta objeto)R(objeto) ≠≠R(objeto)(flexionase pra frente)(segura objeto) ≠≠(solta)(tenta equilibrar-se)≠ ≠R(objeto em varias direções)(estica braços para alcançar) ≠≠(faz o movimento de pegar)(pega) ≠ 221 Nesse momento mãe e bebê estão bem envolvidos no jogo com o objeto (15 – 18). O bebê faz todo um esforço de se equilibrar pra pegar o objeto que ele deseja (16). A mãe desta vez não apresenta nenhum. Ela o coloca sentado no chão de frente para os brinquedos e o ajuda a equilibrar-se em seu trabalho de alcançar o objeto (15 e 16). Vemos na fala materna o encorajamento dado a essa ação do bebê: “pega/pega/(3s) i::sso pega mamãe pega*/pego:::::: ≠”. Em 17 e 18 o mesmo acontece da mãe facilitar a ação do bebê de alcançar, pegar e explorar o objeto. 31 M ≠*(3s) coisa gostosa da vida de mãe/≠*(3s) que coisa mais [] gosto::sa::: ≠*/≠* (4s) te vira pa ¤¤¤ de mãe pra olha pra mamãe/vira*≠/*(5s)* *toma teteu/(4s) toma/toma/(3s) toma mamãe≠/*(3s) tete::u/...tete::u/(2s) ow teteu*/≠(2s) toma/(3s) toma≠/≠*..leva::nta a mã::o/pega mamãe≠/≠i::xo≠/*axim oh balançando né pa botah na boca não/* *aproxima seu rosto do bebê**da cheiro na barriga do bebê**segura braço D do bebê pra ajuda-lo a virar de frente, vira a cabeça do bebê para frente**pega as mãos do bebê e junta**pega outro chocalho e mostra ao bebê**balança o objeto do lado D do bebê**mãe pega braço D do bebê e o faz alcançar o objeto**pega o braço do bebê e balança* 32 B ≠(mexe-se)≠≠(toca no rosto da mãe)(vocaliza)(flexiona as pernas) ≠ ≠(vira-se para lado E)(retorna de frente)(pega no rosto da mãe)≠ ≠(vira-se pro lado E)(vocaliza)(retorna de frente)≠≠(vocaliza) (bate palmas)R(chocalho)(tenta pegar com o braço D)(vira-se pra E)≠≠(vira-se de frente)(vocaliza)R(objeto)(tenta pegar com mão D)≠ ≠(pega o objeto)(mexe o braço)(ameaça botar na boca) ≠ Nos turnos 31 e 32 é interessante vermos que a mãe quando traz o chocalho de volta para a interação ela quer muito mais uma resposta do bebê para isso do que ela especula suas ações. Com isso ela não considera nem a vocalização nem o bater palma do bebê e continua na proposição que ele segure o chocalho. Notamos as diferenças das trocas entre eles quando a mãe apresenta esse tipo de comportamento mais diretivo do que especulativo. As dinâmicas se tornam visivelmente diferentes de quando a mãe direciona o bebê do que quando ela é mediadora na facilitação da ação do bebê. Podemos perceber assim o que defende Goodwin (2002) sobre a importância de se voltar para a dinâmica das ações dos participantes enquanto eles constroem juntos o significado de suas trocas tornando-as visíveis. Sobretudo numa interação adulto-bebê. Extrato - 16 222 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 03 M *≠ei::ta:::/viva:::::* ≠/*o’a a bolinha teu/≠a bolinha oh/oh/aqui oh/.. embaixo*≠/*mamãe vai lhe dar tome/≠tome/..te::u/psh:::/bora bincah de bola mamã::e/bola mã:::e/oh ... toma*≠/*(2s) da pa mamãe/da/≠ (2s) Ê::: nã::o*≠/*oh/≠(3s)≠ BOLA: de tete:u*/≠*o::lha mã::e/a bo::la::/da a bola pa mamãe/*≠ *segura o braço E do bebê e toca seu pé E**pega e mostra uma mini bola em varias direções**coloca a bola no campo visual do bebê e coloca na suas mãos, ajeita o bebê**faz gesto de pedir a bola e se coloca no campo visual do bebê**pega a bola, coloca nas mãos do bebê, aproxima seu rosto dele**pega na bola,solta, faz gesto de pedir 04 B ≠(reequilibra-se)≠≠R(bola em todas as direções)(vocaliza) ≠ ≠(tenta pegar a bola)(segura) ≠≠(bate palma na bola)(vocaliza) (solta a bola) ≠≠(segura a bola)(vocaliza) ≠≠(segura a bola) (solta)R(mãos) ≠ 05 M *≠.da pa mamãe a BOLA/da pa mamãe/..meu amô: ≠/≠aqui oh/..oh teu/ oh mamãe pedindo a bo:::la*≠/*...a bo::la de tete::u oh*/*(3s) ≠ oh teu a bo::::la/pxiu*≠/*ow meu amô como voxê/≠olhe /a bo::::la*/ toma a bola≠/≠(2s) toma a bola*≠/*(2s) se você estah contente bata palma []≠≠ []*/*se você estah contente [] ≠≠bata palma/..[] vai mãe/≠[] se você estah contente e quer mostrar pra toda gente se você estah contente bata palma/*≠ *faz gesto de pedir, toca na mão E do bebê**segura as mãos do bebê e o endireita**tenta colocar a bola na sua mão, mostra em varias direções**endireita a cabeça do bebê, mostra a bola na frente**baixa a bola, da nas mãos do bebê**segura a bola, pega nas mãos do bebê, aproxima seu rosto dele, bate palmas comas mãos do bebê, solta as mãos do bebê**segura as mãos do bebê e bate palmas, solta as mãos do bebê, bate palmas* 06 B ≠R(bola)(segura com a mão D) ≠≠R(F) ≠≠(tenta pegar a bola)R(mão E) (E) ≠≠R(bola)(tenta alcançar com a mão E) ≠≠(pega a bola com as duas mãos)(solta)R(mãos) ≠≠(bate palmas)R(mãos) ≠≠(idem) ≠≠R(mãos da mãe)(bate palmas)(vocaliza) ≠ ... 09 M 10 B *≠ (2s) BO.LA/..bo::la: ../ixo/bo.LA≠/≠BO..la*/(1s) *da a bola pa mamãe []/da ¤¤*≠/*≠a bo::la mamãe/cai::::u≠/≠pega*/*caiu de no::vo≠/≠pega teu*/* caiu de novo [] ≠/≠pega mãe≠/≠ (2s) [] pega mãe*≠/≠*a bo::la/*≠ *pega a bola, mostra ao bebê, da pra ele segurar**faz gesto de pedir, da cheiro na mão E dele**segura a bola e mostra, solta e pega, mostra ao bebê**solta a bola e pega, mostra e da ao bebê**idem**pega a bola e da nas mãos do bebê* ≠R(A)R(bola)(vocaliza)(pega a bola)(solta)≠≠R(bola)(pega)(solta) ≠ ≠R(bola)(tenta pegar) ≠≠(idem) ≠≠(idem) ≠≠(idem) ≠≠(idem) ≠ ≠(segura) ≠ 223 Nesse extrato podemos ver que a díade orquestrou o pegar e o dar. Observa-se uma ênfase materna na construção do dar. Em 03 por exemplo ela apresenta a bola ao bebê e contextualiza isso dizendo: “mamãe vai lhe dar tome/”. No turno seguinte (05) após terem trabalhado o pegar (03 e 04) a mãe solicita a bola. Ela marca bem isso repetindo a frase imperativa e remarcando a palavra /bola/ através da voz mais intensa e do prolongamento silábico /bo:::la/. Nos turnos 09 e 10 a díade joga com a bola no pegar e soltar. A mãe utiliza de muitas repetições de palavras chave (/bola/, /pega/ e /da/) para a situação utilizando uma prosódia variada: “bo::la”, “bo.LA”, “BO..la”, “caiu de no::vo”, “pega mãe”. Extrato – 17 Data: 17/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:13:20~03:31:00 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados frente a frente. Bebe está sentado na cadeirinha e mãe no chão. 01 M *≠teteu/toma/toma mamãe hh toma mamãe/pilulito≠/≠ (1s)aqui/ toma*/..*toma pilulito≠/≠..eita deixa mamãe abrir*/*(5s) °eita mamãe abiu pa tu°*≠/≠*...tome/(2s) tome/TOMA/..toma teteu/...eh:: sigula≠/≠ (1s) NÃO aqui embaixo/...o::lha:::: que go’toso mamãe/*≠ *mostra um pirulito ao bebê**da na mão D dele, abre a embalagem* *pega das mãos do bebê**mostra ao bebê, retira um resto de embalagem, reapresenta ao bebê**da na mão D dele, tira e ajeita o pirulito na mão dele, ajuda-o a colocar na boca, observa, afastase e coloca a embalagem do seu lado direito* 02 B ≠R(mãos; pirulito)(tenta pegar)(pega) ≠≠R(pirulito)(pega com a mão D)(leva pra boca) ≠≠R(A;F)(balança as pernas)(para) ≠≠R(pirulito) (tenta pegar)(vocaliza)(pega com a mão D)(traz pra boca com ajuda da mãe) ≠ O objeto apresentado pela mãe agora é o pirulito (01 e 02). Assim ela o ajuda a segurar e a fazer o bebê entender e colocar na boca para sentir o sabor (01). O bebê segura o pirulito e leva pra boca (02). A mãe faz toda a modulação para juntos compartilharem essa ação de pegar, levar pra boca e saborear o pirulito. Extrato – 18 Data: 29/06/08 Idade do bebê: 13 meses 05 M Tempo: 03:31:01~03:48:34 Proxemia: mãe e bebê estão frente a frente. O bebê está sentado na cadeirinha e a mãe sentada no chão. ≠*[-6s]olha: isso:: tete::u tocou/aqui*≠/≠*[-4s]toca mamãe/ [-3s] c’m fô::ça/hh(2s)*/*toca aqui≠[-7s]hh*/≠*olha Mateus/[]o::lha:: */*segura≠/≠segura mãe/...[] 224 i::sso:::*/... []ê:::::: []≠/≠*’cabou/num que mais isso não mãezinha/ bincah mai’não/°bincah mai’ não°≠/≠Toma a bola/... a bola/ (1s) BO:LA/hh/BO::LA::/o::lha a bola de teteu oa*≠/ *mãe olha para o bebê, pega a mão dele e leva para o objeto**a mãe fica segurando o objeto** mãe leva a mão do bebê para o objeto**a mãe segura o objeto em frente ao bebê** a mãe ajuda o bebê a segurar o objeto**a mãe guarda o objeto e mostra a bola ao bebê* 06 B ... 09 M 10 B ≠R(brinquedo)≠ ≠R(bate com a mão no objeto)≠ ≠R(eleva os braços tentando alcançar o objeto)≠ ≠R(segura o objeto com as duas mãos)≠ ≠R(M)≠ ≠R(bola)(vocaliza)(bate palmas)≠ ≠*solta não mãezinha/é p’a da p’a mamãe/oh≠/.BO.LA/..pegou a bola/.dá p’a mamãe/.segula/.da p’a mamãe*/*num é de boca não mãezinha::/é não ¤¤¤ ([]é saliva ai hum*≠/≠* da da/.. °da. da. da da .. a bola mamãe... da . da . da≠/...≠A:gua/ a:gua/ que agua é mamãe/... hein≠ ≠psiu psiu/. olha p’a mamãe/ olha p’a mamãe*/*que agua eh≠/≠a.guA/.[] o pé de maTE:::us/hh≠ ≠cadê o pé:/pé:::≠/≠[]olh’ o pé de mate:u’/que pezão ma:mã::e*≠/ *a mãe pega a bola e dá para o bebê** a mãe aproxima seu rosto do bebê e mexe na barriga dele**a mãe segura a água e fala próximo ao bebê** pega o pé do bebê, dá beijo e pega a mão do bebê e leva para tocar no pé* ≠R(E)≠ ≠R(segura a bola, solta, segura novamente e coloca na boca) ≠ ≠ R(M)(balbucio /da/)≠ ≠R(mexe as pernas e olha para o lado D)≠ ≠R(A;E;F)(vocaliza)≠ ≠R(balança as pernas)≠ ≠R(olha para seu pé direito) ≠ ≠R(M)≠ Percebemos que a orquestração do dar e pegar já envolve novos harmônicos. Nos turnos 05 e 06 eles trocam sobre o bater a mão para acionar o objeto, segurar a bola e o bebê traz o bater palmas. Em 09 e 10 eles jogam sobre o segurar e soltar a bola junto com a vocalização. O bebê balbucia reduplicado o /da/ numa ação imediatamente posterior à da mãe que enfatizou essa ação anteriormente no seu turno (09). Percebemos a capacidade de participação do bebê. Ele segura o objeto e imita a fala materna. 5.7.4 Uso das mãos para fazer carinho Extrato - 08 Data: 13/11/2007 Idade do bebê: 22 semanas Tempo: 01:08:35~01:22:08 Proxemia: mãe e bebê estão no sofá. Mãe pega o bebê, coloca no colo e estão alinhados em face a face. 225 01 M ≠*bora fazer carinho em mamãe/carinho em mamãe/cadê o carinho de Mamãe/ cadê os carinho de mamãe/cari:nho mate:us/CARINHO mamãe/cadê o carinho de mamãe/cari:nho mamãe≠/Carinho*/ []/≠cadê mamãe/cadê o carinho/oh:a mamãe/Carim oH:m/ []/cari::nho tete:u≠/ca:rinho mamãe/[]/..≠cadê os carinho de mamãe/*[]*/cadê os carinho de mamãe/*ah::: ≠ ((faz barulho com a boca))/(2s)((idem))*/*[]/[]*/cadê os menino lindo da vida de mãe/manda beijo≠/.manda beijo pra mamãe/manda beijo/manda beijo ≠ pa mamãe/xx/manda beijo pa mamãe/beijo pra mamãe/beijo/xxx/pa mamã:e/≠ *segurando o bebê no seu colo de frente pega a mão E e depois a D dele e passa no seu rosto**cheira a testa do bebê**pega a mão do bebê e aperta conta sua bochecha duas vezes**da cheiro e beijo* 02 B ≠R(M) ≠ ≠R(E)≠≠R(M)(passa as mãos no rosto da mãe) ≠≠R(M) ≠≠R(D)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)-> ≠ 03 M ≠*cabeça maTEUS/cadê a mão de mate:us/a mã:o/olha a mão de mate::u:s/*≠..segure a cabecinha meu amor/..≠ISSO≠/≠ui ui ui ui ui ui/*..cari:nho mamãe/CArinho/cadê os cari::nho\ o:::w/carinho/ []/≠..mainha ama/xx/*°vai vai°/OI OI OI/AU/AI mamãe/ ¤¤¤ de mãe*/≠os ¤¤lengo de mãe*/TETEU:/((estala lingua))≠TEte:u/ *((barulho com a boca)) UI ui/((idem)) UI ui nenem/((idem)) UI ui mamãe*/ ui mamãe/≠ui mamãe/≠ (2s) ≠ que brincar nã:o eh::/* ≠-> *mostra sua mão E ao bebê e pega a mão direita dele**ajeita o bebê**coloca o bebê de pé no colo**senta o bebê no colo para o lado E**pega a mão D do bebê e pressiona contra a sua bochecha e faz barulho**solta a mão do bebê* 04 B ≠->R(D) R(sua mão D)R(mão da mãe) ≠ ≠R(M) ≠≠R(A)(pega no rosto da mãe com as duas mãos) ≠≠não consegue controlar a cabeça≠≠R(M) ≠ ≠R(A) ≠≠(grita) ≠≠olha pra sua mão D->≠ 05 M ≠*cadê a mão de mateus/. a mã:o mamãe/(1s) ≠ não mamãe/mau criação não mamãe/oxente/quer brincar assim não mamãe vira assim/ponto* ≠ponto/shhh/pon:to mamãe/*[]*/*(1s) cadê a mão de mateus/CADÊ/ ((estala a lingua)) CAdê as mãos de mamãe/ cadê as mãos de mamãe/as mãos gostosa/≠CARI:nho mateus/carinho mamãe/carinho mamãe/isso mamãe cari:nho:: ≠/carinho negão/[]/carinho/[]/ carinho/[]/carinho mamãe/*≠ *(mostra sua mão E ao bebê)(ajeita o bebê no colo)**da-lhe um cheiro**procura sempre o olhar do bebê e faz cheiros e carinhos no rosto* 06 B ≠->R(A)(estica o corpo)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(toca o rosto da mãe) R(D) ≠≠R(M) ≠ 07 M *(2s) °carinho mãe°/VOU FICAR EM PÉ/ ui ui ui ui ui ≠sento::::u*/ ..ta deitado mamãe/(1s) cadê mateus senta:do/*..sem a mão na boca/≠*(7s) o:lha::/ mateus sentado::/o:lha mamãe/que nego mais lin:do mamãe/olha/ui ui ui ui ui ui*/com as cabeça baixa/*olha as mãos de maTEUS*≠/que mão gandona::::: ≠/*olha as mã::o/mã::o/ cadê a mã:o/a mã::o/olha a mã::o:*/olha so: mat passa a mão no rosto né mamãe/não mamãe≠/. não meu amor/≠oi vai cair é/* *coloca o bebê empé no sofa e depois sentado**tira a mão do bebê da boca**ajeita o bebê**mostra sua mão E ao bebê**ajeita o bebê e faz carinho na sua cabeça**segura a mão D do bebê ajudando a coloca-la no seu campo visual**ajeita o bebê* 226 08 B ... 17 M 18 B ≠tem a mão D na boca≠≠R(mão D) R(M)R(mão D) ≠≠mão D na boca≠ ≠R(mão D) (passa a mão no rosto) ≠≠mão D na boca≠-> ≠*(6s) cari:nho mamãe/cari:nho mamãe/calinho mamãe/calinho tete::u/ ≠ (1s) carinho mam:/calinho≠ ow::: que coisa mais goto:::sa/≠ ((estala a lingua)) que coisa mais gotosa/[]/da minha vida/[]/é: cadê os calinho de mamãe≠/isso::/pega no rosto de mamãe ow::: °rosto de mamãe°/[]/((estala a lingua))≠ (16s) vai chola é mamãe/é mamãe/[]/≠qué mai não mamãe≠/[]/*(7s) oi oi oi oi oi oi/o:::lha::/olha olha olha olha olha/(3s)shhhh*≠-> *face-a-face com o bebê encosta o nariz no rosto do bebê varias vezes**coloca o bebê deitado no colo e depois sentado fazendo-o equilibrar a cabeça* ≠->R(M) (tenta colocar a mão D na boca)(vocaliza) ≠≠toca no rosto da mãe≠≠R(M)(pega no rosto da mãe) ≠≠(vocaliza) R(F) ≠-> Nesse extrato observamos alguns momentos em que a díade trocou carinhos. Eles se basearam pelos toques na face um do outro. A mãe valorizou o uso das mãos do bebê para fazer “carinho” contextualizando o fato do toque no rosto: « cari:nho mamãe≠/ » Em 01 e 02 eles estão interagindo em face a face. A mãe leva o bebê a fazer a ação de tocar-lhe o rosto e contextualiza como sendo carinho. O bebê responde olhando e fazendo junto com ela o movimento. Nos turnos seguintes (03 e 04) acontece uma variação do « carinho ». A mãe modifica a ação de tocar o rosto. Ela pega as mãos do bebê e ao invés de passar ela pressiona as mãos dele contra suas bochechas que estavam infladas fazendo então um barulho explosivo e ela enfatiza isso utilizando o /ui/ caracterizando uma surpresa. O bebê vocaliza depois disso e a mãe interpreta como um não engajamento. A ação do bebê determina a mudança de ação materna. Ela para e reinicia outra forma de jogar com as mãos nos turnos 05 e 06. Ela volta a enfatizar as mãos do bebê e a jogar com beijos e carinhos. Quando aproxima seu rosto do bebê para esses carinhos o bebê toca-lhe o rosto e imediatamente ela contextualiza sua ação: “isso mamãe cari:nho:: ≠/”. O bebê auto-iniciou o toque no rosto da mãe provavelmente seduzido pela aproximação dela do seu alcance visual e manual. Nos turnos 07 e 08 a mãe é quem solicita novamente esse tipo de carinho do bebê porém ele não repete a ação. Em 17 e 18 é como se a mãe instigasse o bebê a tocar no seu rosto repetindo as ações anteriores como por exemplo as do seu turno 05 como de fazer beijinhos e cheiros no rosto do bebê e com isso aproximar-se dele. O bebê repete a ação de levar as mãos e passar no rosto da mãe depois que ela se reaproxima dele. 227 Uma observação que fazemos é quanto as ações da mãe no turno 3 quanto a inferir após brincar de explodir as bochechas com as mãos do bebê, que ele não queria mais esse jogo e partir para outra ação gerando uma nova configuração para a atividade do uso das mãos. Essa inferência foi baseada na vocalização do bebê após a ação de explodir as bochechas e ela assim fez o acorrentamento através do seu discurso, como que uma reflexão falada, de importância para o contexto intersubjetivo da troca no momento. Ela marca a voz do bebê como algo importante que ela considera servindo como um 'eco' do bebê. Independente do contorno que ela deu pra isso pois ela poderia ter interpretado de maneira bem diferente, a vocalização do bebê como sendo uma surpresa ou riso, etc. Isso nos mostra que a orquestração conjunta das ações, e isso implica a co-presença e co-participação, é por si só o « esboço » do dialogo a ser implementado pelos ritmos do « eu » e do « outro ». Melhor dizendo, a individualidade envolvendo a colaboração contínua e ativa de três parâmetros segundo Bakhtin (1984): “eu”, “outros”, e as relações entre o “eu” e o “outro”. Extrato – 12 Data: 10/02/2008 Idade do bebê: 34 semanas Tempo: 01:59:33~02:09:39 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto. Mãe senta o bebê na cabeceira da cama encostado nos travesseiros). Durante toda a filmagem tinha musica com intensidade alta tocando na casa. 25 M ≠*(30s) hum::: em pé muito bem/ta com força na perninha muito bem*/≠[]/muito bem/°muito bem muito bem°/≠ta com fominha/ ..ta/¤¤¤¤¤¤¤¤/≠vai tomar sopinha/sopinha/tomar/sopinha/[]≠ *está com o bebê deitado no colo e depois coloca-o de pé a sua frente**beija as mãos do bebê* 26 B ≠(tenta equilibrar-se em pé) ≠≠(ajoelha) R(A)≠ ≠(toca no rosto da mãe) ≠≠R(M) ≠ Nesses turnos, temos o bebê que toca o rosto materno (26) sem que isto fosse configurado na fala de sua mãe. O fato de a mãe ter mudado o bebê de postura e o colocado de pé a sua frente no seu colo pode ser colaborado para isso. Extrato – 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas 21 M Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. ≠*...[]* Ê::::: vai mamãe/≠...≠ ê::::: *[]*≠/*(3s)ah Uauauauauau*/o indio mamãe/*o indio uauaua*/*não cabexinha assim/EI ≠...≠ nã::o meu amor olha pa mamãe mainha ta aqui*/≠ psiu 228 pxiu pxiu≠ pxi:::u pxiu/*((vibra ≠labios))* ≠ *[]≠ a::i cosquinha mamãe/AI ≠teteu puxa não mamãe/qui doi/doi em mamãe do:i vixe/vixe/*pxu pxu []≠A::i teteu puxa não mamãe≠/*doi cabelo [] de mamãe [] doi/* *bate palmas**idem**pega as mãos do bebê e leva a mão E a sua boca**idem**ajeita cabeça do bebê**no pescoço do bebê**tira o bebê da cadeira, eleva, cheira e beija sua barriga**eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**senta o bebê no colo* 22 B ≠(vocaliza imitando a mãe)(bate palmas)≠≠(vocaliza imitando a mãe)≠ ≠(bate palmas) ≠≠(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(ri) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura no rosto)R(A) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura o rosto da mãe)≠ 23 M ≠*vou fazer cosquinha em teteu [((barulho com a boca))]*/≠ A::I ≠ *(2s)tete::u/≠tu puxou o cabelo de mamãe foi≠*/≠*[] *(2s) aqui sentado/(1s) olhando pra frente≠*/≠*[](2s) tete:u o:lha/(3s) desse lado mamãe≠/*olhe aqui pra mamãe/..mamã::e/(1s) assim oh*/*aqui oh/E:ITA mamãe/ei.TA*/ei.TA/≠.. eiTA/não/*≠ *eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**ajeita o bebê no colo pra que olhe pra ela**segura o bebê**coloca o bebê na cadeira e ajeita sua cabeça**pega o cachorro e toca o sino**ajeita a cabeça do bebê pra que olhe pra ela**aproxima o rosto do campo visual do bebê**afasta-se e toca o rosto do bebê* 24 B ≠(segura os cabelos da mãe) ≠≠R(M) ≠≠(bate palmas) ≠≠R(D)(mãos juntas) ≠≠(vocaliza)(mexe o corpo)R(D) ≠ Nos turnos 21 a 14, vemos a díade jogar em face a face. A mãe ao mudar o bebê de postura (de sentado para de pé a sua frente), elevando o bebê pelas axilas a sua frente, vibra lábios na barriga dele e dá-lhe cheiro e beijo (21 e 22). Numa reação de fechar os braços, possivelmente uma defesa pelo fato de sentir cócegas, o bebê com isso pega nos cabelos da mãe e segura . A mãe interpreta que o bebê puxa seus cabelos (23) dizendo isso a ele enquanto tem o seu olhar. Observamos o surgimento do novo objeto sobre o qual eles passaram a configurar : uma reação-resposta do bebê à mudança de postura e à sensação experimenada. Neste caso, um exemplo do efeito do que é o « co-estar » cinestesicamente no dialogo. Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses 29 M Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. ≠*[]((vibra lábios na barriga do bebê))/... mamãe faz coquinha/hum::: coisa gotosa≠/mamãe faz ((vibra lábios na barriga do bebê))/... eh cosquinha mamãe*≠/*≠mamãe faz cosquinha meu 229 amô:::/eh minha vi:da*≠/*oxente ((vibra lábios na barriga do bebê)) eu vou pegar bar’guinha de tete:u/hum []/coisa gosto::sa/*≠ *faz cocegas na barriga do bebê**idem**muda de posição, aproxima seu rosto do bebê**faz cocegas na barriga do bebê* 30 B ≠(movimenta todo o corpo em resposta as cocegas)(vocaliza)≠ ≠(idem) ≠≠(toca o rosto da mãe com as duas mãos)(prende os pés na cabeça da mãe)R(M)(vocaliza) ≠≠(movimenta o corpo) ≠ Temos outro momento em que o toque do bebê no rosto da mãe pode ser visto como uma reação pelo fato da mãe estar brincando de fazer-lhe cócegas ( 29 e 30). O bebê também prende os pés na barriga da mãe. Nenhuma dessas ações do bebê foi configurada no discurso materno. Apresentamos em seguida outros exemplos nos quais o bebê de forma espontânea, sem estar contextualizado diretamente na fala materna, tocou o rosto da mãe. Extrato – 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 01 M *≠se você estah contente bata palma []*/*bate mamãe*≠/*≠... [] xi voxê estah contente bata palma≠/≠bate mamãe*/*né o pé/né o pé que mamãe falou/eh a mão*≠/*≠ [] xi você estah contente bata palma≠/dan dan dan xi voxê estah contente ≠ bata o pé*/tan tan tan/*si você estah ≠ contente e quer mostrar para toda ≠ gente*≠/≠*si você estah contente grite VIVA*≠/ *segura as mãos do bebê, solta e bate palmas**alisa perna E do bebê e segura as mãos dele**bate palmas e ajeita o bebê sentado**segura as mãos do bebê**bate palmas e toca no pé D do bebê**toca no pé E e faz carinho na bochecha D**faz carinho na barriga, aproxima o rosto do bebê* 02 B ≠R(M) (bate palmas) R(mãos) ≠≠(vocaliza)(F) ≠≠(balança os pés) R(pés) ≠≠(bate palmas)(vocaliza)≠≠(balança os pés)≠ ≠(vocaliza)≠ ≠R(M)(vocaliza)(pega no rosto da mãe)(solta)(movimenta o corpo e desequilibra-se) ≠ ... 07 M 08 B *..[] se você estah contente ≠ bata o pé/*(1s) ≠ ta bo:m mamãe não binca mais disso não/≠°binca não binca não binca não°*/*faça carinho ≠≠ em mamãe/CAri::nho tete:u em mamã::e/* *bate palmas, para, toca nos pés do bebê**pega no tronco do bebê e aproxima seu rosto dele, faz movimento de negação com a cabeça* *pega nas nos braços do bebê, ajeita a cabeça dele* ≠(bate palmas e vocaliza)≠≠R(M) (pega no rosto da mãe) ≠ ≠R(A)(vocaliza) ≠ 230 ... 11 M 12 B ... 23 M 24 B ... 35 M 36 B *≠ (2s) bo::la diz °mamãe°*/*(2s) ≠ e’ a bo::la*/≠ (2s) BO.la*/ *bo::la*/*(3s) ≠ []se você estah contente bata palma≠/≠se você≠/≠*TE::U/ ≠ ((ri)) ≠/≠oh oh oh [->]/*≠-> *toca o queixo do bebê, tenta amparar a bola**pega a bola e da nas mãos do bebê**com a mão D pressiona o queixo do bebê para abrir e fechar labios**solta a bola, segura as mãos do bebê e bate palmas, coloca as mãos dele na sua face**faz carinho na barriga dele, afasta-se e pega um brinquedo musical, faz funcionar e mostra ao bebê* ≠R(bola)(bate palmas na bola)(vocaliza)(solta) ≠≠(tenta pegar) (não segura)R(mãos) ≠≠(bate palmas)R(A) ≠≠(segura o rosto da mãe) ≠≠R(A)(bate palmas)(vocaliza)(balança os pés)≠≠R(objeto)(segura) ≠ *≠->(2s) TE::u*/*(1s) manda beijo pa mãe/[]hum[]A hum[]A hum[]A/hum::: manda beijo*≠/≠*...(?) [] ISSO que gostoso mandou beijo pa mãe/*≠-> *tira o chocalho das mãos do bebê e coloca no banco**sustenta o bebê com os dois braços e aproxima seu rosto dele**segura o bebê, aciona o brinquedo musical involuntariamente com seu braço E, aproxima seu rosto dele encostando testa com testa, afasta-se e para a musica do brinquedo* ≠->R(F)(toca o rosto da mãe com a mão E)R(M) ≠≠(desequilibra-se) (vocaliza)(mexe todo o corpo)(faz barulho com a boca) R(B) ≠ *≠ (16s - ) não*≠/≠*(2s - ) oa *≠/*(20s - []*/*’cabô::::* ≠/≠*’cabô mãe [] cabô≠/a musiquinha/≠... cabô::: ≠/≠cabô:*/ *°cadê o pé de mateus°/mostra mamãe o pé*/*mostra pa mamãe/qui tu mostrô*≠/≠*o pé:::::/pé: de mateus*/*o:::lha:*/*teu oh aqui oh mãe/mãezinha::: []/oa*≠-> *balança objeto na frente do bebê, leva-o pra E dele, aproxima o objeto,*afasta bebê puxando-o pra tras com sua mão D pelo ombro D dele**mostra objeto acima, balança, baixa o objeto colocando na frente dele**traz objeto pra E, afasta quando bebê tenta alcançar, mostra na frente dele, coloca no colo do bebê, ajeita o bebê sentado, aciona um botao do brinquedo, segura o bebê pelos ombros, pega o brinquedo com a mão E, encosta o bebê na cadeira e tira seu braço D de tras dele e segura o objeto com as duas mãos, mostra diante do bebê, aciona botão**coloca objeto no banco atras da cadeira do bebê**aproxima seu rosto do bebê, da cheiro na bochecha, afasta-se, passa braço D por tras da cabeça dele e apoia mão D no ombro D do bebê, segura pé D dele**puxa o pé dele pra cima e leva braço D do bebê pra tocar no seu pé D**solta, segura mão E do bebê, aproxima seu rosto dele, ajeita cabeça pra frente**repete o movimento de pegar o pé e a mão D do bebê e fazelo tocar, sustenta coma mão direita e com a mão E pega a mão E do bebê e leva pra junto da D pra pegar no pé D**solta as mãos e sustenta o pé D dele com sua mão E**com a mão D faz gesto de apontar pro pé, segura-os com esta mesma mão, coloca sua mão E no campo visual do bebê e passa no rosto, da cheiro na bochecha, toca no mento do bebê com esta mão e pega no pé D dele* ≠R(objeto)(mão E na boca)R(objeto à E)(bate nele com a mão E) 231 (segura com as duas mãos)(traz pra boca) ≠≠(afasta-se com ajuda da mãe)(bate com a mão E nele)R(objeto à F)(tenta alcança-lo com a mão E e toca nele)(bate no objeto com a mão E)(flexiona-se levando a boca ao objeto)(segura-o e traz pra boca)(encosta-se com ajuda da mãe)R(objeto à F)(tenta pegar) ≠≠R(M)(toca o rosto dela com mão E)R(A) ≠≠(solta o rosto da mãe)(vocaliza)≠ ≠ (chorominga?)R(M) R(A;E)(endireita a cabeça com ajuda da mãe) ≠ ≠R(F)≠ ... 45 M 46 B *≠->pisa mãe/pisa/pisa aqui*/*(2s)pisa meu amÔ:/assim/i:::sso:::* ≠/≠*hh cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho*/pula teu/pula*/*cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho*≠/≠* ...cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho cavalinho/*≠-> *ajeita o bebê de pé, pega sua perna E**segura o bebê, suspende-o e coloca de pé no seu colo**senta-o e balança suas pernas varias vezes pra cima e pra baixo balançanco o bebê nesse sentido**para, repete o movimento das pernas uma vez, para**com as mãos segurando o tronco do bebê movimenta-o pra cima e pra baixo**para, volta a fazer o movimento com as suas pernas pra cima e pra baixo varias vezes, para* ≠->(vocaliza)(balança braço E)(cai)(tenta se equilibrar em pé novamente com ajuda da mãe)(segura o rosto da mãe com as duas mãos)R(M) ≠≠(sentado no colo da mãe)(equilibrando-se com ajuda dela)R(M) ≠≠(equilibra-se com ajuda da mãe)R(D) ≠ Extrato – 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 15 M ≠*.. caiu a bola/ a bola de teteu cadê a bola/foi simbola mamãe*≠/≠*olha p’a mamãe aqui o []/ oxente oxente vai chorar porque meu amô≠/≠porque mamãe/ nã::o p’a xolar nã::o/então mamãe((brummm))*≠ou ((besouro)) *segura o bebê em seu colo, pega as duas mãos do bebê e bate* *coloca o bebê de frente para ela e limpa a boca dele com o pano, apoia o bebê nas suas pernas segurando sua cabeça* 16 B ≠R(B; vira a cabeça um pouco para esquerda e segura as mãos)≠ ≠R(vocaliza reclamando de algo)≠ ≠R(M)(segura no rosto da mãe)≠ 17 M ≠*atchim::...(1s)a.a.a.atchim::/..a.a.a.atchim≠/≠atchim:: [] [][]/a:::: [][]*≠/≠*coisa gotosa/ coisa linda de mãe/ a:::tchim::: psiu::: []/ psi:::u/..(4s) a:::tchim a::tchim a:::tchim hh/hh*≠ *apoia o bebê nas suas pernas e segura a cabeça dele com as mãos,da cheiros no pescoço do bebê e beijo na barriga do bebê**coloca a almofada atrás dela e aproxima seu rosto no rosto do bebê* 18 B ≠R(segura no rosto da mãe)(M)≠ ≠(M)≠ ≠(M)(segura as duas mãos e balança)(segura o rosto da mãe e coloca as mãos nas suas 232 orelhas) Extrato - 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 13 M ≠*te::u °levanta a cabeçinha p’a mamãe °..(3s)≠/≠ mamãe..(1s) mamãe/ mamã::e ((mandar beijo))*/* umaumauma umaumauma...(13s)/[ ]≠...(7s)*/mamã::e/ cade mamãe(1s)/ levanta a cabeçinha p’a binca com mamãe/olha a mão de mamãe..(2s)≠/≠mã::o..(1s)/ é a mão de mamãe (1s)/ a mão de mamãe..(3s)*/*te::u/ olha.. bate aqui em mamãe/na mão de mamãe≠/≠da a mão..(2s)*≠ *levanta a cabeça do bebê e fica falando próximo ao rosto do bebê**pega a mão do bebê e coloca em sua boca, segura na barriga do bebê e da um beijo na testa dele**levanta o bebê, mostra a sua mão e passa no rosto do bebê**mostra sua mão ao bebê e pede para ele bater na mão dela* 14 B ≠R(A)≠ ≠(pega no rosto da mãe e olha para o lado esquerdo)≠ ≠(B) (mexe os pés)≠ ≠(E;A)≠ ≠(olha e bate na mão da mãe)≠ ... 21 M 22 B ≠* olha só:::...(6s)*≠/≠*teu/ te:u::..(2s)≠/≠*ma. ma/ma atchim/ atchim a.a.a.a.atchimm/ ra.ra.ra.ra mamãe num viu não/ra.ra.ra.ra []/kguiuiu/a.atchim::/ bru.bru.bru.bru.bru ≠...5s)*/*a:::tchim::≠/≠te::u*/ *a.a.a.a.atchim::/atchim::: hh/ tu num ri não é mamãe hh/a.atchim:: ≠..(5s) hh*≠ * mostra o celular ao bebê** aproxima seu rosto do bebê e segura no queixo do bebê**emite sons na frente do bebê**levanta a cabeça do bebê**emite sons na frente do bebê* ≠R(celular)(F)≠ ≠(mexe o pé direito)≠ ≠(M)(toca no rosto da mãe com as duas mãos)≠ ≠(B)(mexe os pés)≠ ≠(A)(E)≠ ≠(B)(mexe os pés) ≠ Através desses exemplos inferimos sobre o fato de durante esses momentos o bebê tocar no rosto materno, como sendo algo que “co-existiu” para o bebê como uma ação espontânea. Mesmo a mãe não contextualizando essa ação na sua fala, quando vemos mais detalhadamente as ações de ambos, constatamos que isso aconteceu sobretudo nos momentos de trocas de olhares em que os dois estavam fortemente imbricados na orquestração das suas ações na afinação de suas expectativas e co-estabelecendo significados. Nos questionamos sobre se existe uma relação de continuidade entre o discurso integrado e o discurso implícito na fala dirigida ao bebê e também não são sobre o discurso « falado » materno mas sobre o que ela implicitamente construiu com seu bebê também através de sua posturo-mimo-gestualidade. Nesse exemplo questionamos se ficou configurado 233 para díade o fato de a cada aproximação física, sobretudo a facial, entre eles, seria o espaço para a troca de carinhos. 5.7.5 O uso das mãos para bater: O bater na mão da mãe Extrato - 09 Data: 09/12/2007 Idade do bebê: 25 semanas Tempo: 01:23:17~01:39:26 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados no banco do terraço; Bebê está no colo da mãe. 01 M ≠*eh: mamãe*≠/≠cadê a lu:z mate:us*/a lu:::z/≠ (4s) cadê mamã::e/ hum:/ ≠*(3s)eh/..eh/.assim/≠ (5s)°o bezinho cadê o bezinho cadê o bezinho°/hum::: ((estala labios))/o beijo de mamãe/cadê o beijo/(3s) cadê o beijo de mamãe/...¤¤¤ []/eh o be:ijo que ≠ mamãe*/[] *tu é um palha¤¤¤ faz mais não/hum/≠oi oi oi oi oi oi/levan:ta/(4s) oi/(12s) estique não mãezinha/se estique nã:o/*≠ *extende a mão D pro bebê bater**faz carinho no rosto do bebê* *ajeita o bebê e pressiona o queixo e o labio inferior do bebê* *da a mão D pro bebê bater e ajeita no colo sentado* 02 B ≠ (bate a mão E na mão da mãe)R(A) ≠≠(mão E na boca)(balança braço E) R(E) ≠≠R(F)(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠ (bate a mão E na mão D da mãe≠ ≠(tenta se equilibrar)(extende o corpo pra tras) ≠ 03 M ≠*(14s) oi/(9s)* ≠ mate::us/ow mate:us/*cadê mateus*/cadê mamãe/ cadê mamãe/*vira aqui a cabecinha pra ver maMAE/vira mamãe ta desse la:do mamãe*/mamãe ta desse *OPS≠/(2s)* ISSO:::/*isso:: []/ ...eh eu num quelo fica assim/num quelo fica assim/assim mamãe num que:lo/*≠..num quelo minha mãe/fique um pouquinho assim oh/sim oi oi oi oi/(1s) EH::/(1s)eh: mamãe/(2s) eh: mãe/*≠ *ajeita o bebê no colo**carinho no queixo do bebê**carinho na cabeça do bebê**ajeita o bebê**da a mão D pro bebê bater* *segura a cabeça do bebê, o ajeita no colo e faz carinho* 04 B ≠(tenta se equilibrar) ≠≠R(F)(tenta se equilibrar) ≠≠(bate na mão D da mãe)(vocaliza)R(A) ≠(mexe o corpo)(vocaliza)(mão E na boca) R(E) ≠ 05 M ≠*(5s)[]*/...eh a festa mamãe/eh a luz≠/PEGA/hum/(5s) e::i mate::us/levante va a cabecinha/aqui/(7s) ≠ oi oi/ISSO:::/oxente mamãe≠/oxente mamãe/oi oi oi/(5s) aqui/(5s) oi/oi mãe/≠eh: mamãe ta acodando pra vc segurar a cabeça≠/OI/*(5s) eh a mão de mate:us/≠* *ajeita o bebê todo o tempo no colo**olha pra cima* 06 B ≠R(A)(estica o corpo)(braço E na boca) ≠≠(tenta se equilibrar) ≠ ≠(balança braço E) ≠≠(tenta se equilibrar≠≠(bate mãe E na mão D da mãe) ≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo)R(A)(vocaliza) (levanta braço D)(mãos na boca) ≠ 07 M ≠* (15s) oi*≠/*≠mai eh inquieto °¤¤¤°/(4s) eh porque eu num 234 quero não ¤¤¤ não mamãe/[]/quelo não mamãe/... eh: eh sim:::/*≠ (1s) quelo não mõmõ::/a sinhola ta forçando mamã/faz ‘sim não mamãe/force NÃO/tem que ficar durinho meu amo:::/sem esticar viu/*≠ *(segura o bebê)(da mão pra ele bater)**(segura o bebê)(da mão pra ele bater)(beija a mão E dele)(ajeita o bebê)**ajeita o bebê* 08 B ≠(tenta equilibrar)(estica o corpo)(balança braço E)(bate na mão D da mãe)R(A)≠≠(tenta equilibrar)R(A)(bate na mão da mãe) (vocaliza)≠ ≠(tenta aquilibrar)(mexe o corpo)(vocaliza) ≠ A mãe estimula o bebê a usar as mãos para bater. Eles começam um jogo estimulado por ela de bater as mãos de um contra as do outro. O registro videográfico já começa com os dois nesse momento de bater as mãos. O bebê movimenta muito seus braços predominantemente o esquerdo hora levando a mão à boca, hora elevando-a e baixando-a (02 – 08). Sempre que ele eleva e abaixa o braço a mãe vem com sua mão para encontrar com a dele (01-07). Percebe-se que isso já está modalizado entre eles porque acontece de uma forma natural. 17 M ≠*(1s) levante a cabecinha/..levan::te mamã:e/i::so:/vi::ra pum lado/..cadê mamãe/(3s) assim a cabecinha de mateus/..hã/≠..hã*/ eh:: [] mamãe que ta fazendo isso/tu ta olhando eh pa mamãe pa recaMA/≠eh: mamã:e/eh::/..suba a cabecinha assim/venha/(8s) isso isso isso/oi oi oi/ isso mamãe/..bola cumê bola/bola cumê bola/..passou da hola mamãe/(2s) um bola/..[]cadê bate aqui em mamãe/*cadê/.. ≠isso:::/ []cadê mamãe aqui oh/bate/*≠ *(segura o bebê)(ajeita sua cabeça)**(idem)(da cheiro na cabeça) (faz carinho)(ajeita o bebê)**(pega a mão E do bebê e bate na sua)* 18 B ≠(tenta se equilibrar)(estica o corpo)(vocaliza)R(A)(M) ≠≠(baixa a cabeça)(tenta se equilibrar) ≠≠(bate a mão E na mão E da mãe) ≠ 19 M ≠*(8s) mate::us/..ow maTEus*/...[] cadê mamãe/->.isso::/ isso mamãe/.. eh meu amo:::r/[] eh mamãe oh:/ []≠/*cadê a cabechinha reta mamãe/.hum/≠..com a mão na boca não≠*/*[]oa aqui oh/.../≠eh: mamã:e*/isso/[]/ta arretado né≠/*(3s) bate aqui/na boca nã:o aqui*/≠i:sso::/(8s) ≠ *eh:::/to me arretando minha mãe/bora cumê mamãe/que cumê agora qué:/hum:/ ≠... ≠eh::/ []/qué::/hã::/ ≠ (2s) ≠ hum qué cumê agora qué:/tu ta espelano/ ≠(1s) ≠ hein/*... bola cumê mamãe*/*≠(11s) eh..((ri))* ≠/*≠..bola cumê/cumê::/nem bote a mão/*≠ *(ajeita o bebê)(pega sua mão E e bate contra a sua mão D)* *(ajeita o bebê)(tira a mão dele da boca)*(pega a mão E e bate contra a dua mão D)**(tira a mão E do bebê da boca e bate contra sua mão D)**(ajeita o bebê)(da cheiro)**(muda o bebê de posiçao para o seu lado E)**(ajeita o bebê)(passsa fralda no rosto)(pega a mamadeira)**(limpa a boca do bebê com a mão)(tira a mão E dele da boca)(da-lhe a mamadeira)->* 235 20 B ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate com a mão E na mão E da mãe) (vocaliza) ≠≠(mão E na boca) ≠≠(bate mão E contra mão E da mãe) ≠ ≠(idem)(vocaliza) ≠≠(vocaliza)≠ ≠(vocaliza)(balança o braço E) ≠ ≠(idem)≠ ≠(vocaliza)(balança o braço E e bate na mão E da mãe) ≠ ≠(mão E na boca)(suga a mamadeira) ≠ 21 M ≠*(6s) eita/qué não eh mamãe/*≠ [] danou-se mate::us/a vendo o que tu fez negão/pesta mais não/pesta mais não mamãe≠*/ta veno/ta veno/ta veno/hum/*≠...->eh eu vi ja que você num quer cumê/eu vi ja que você não qué cumê/[]/eu vi::/. I:sso/≠* *->(olha pra onde a mamadeira caiu)**(tira seus cabelos das mãos do bebê)**(da mão D pro bebê bater)(ajeita o bebê)* 22 B ≠(estica o corpo)(balança o braço atinge a mamadeira e a derruba)≠ ≠(pega o cabelo da mãe) ≠≠(balança o braço e bate contra a mão D da mãe)(vocaliza)(estica-se)(flexiona-se)R(E) ≠ Eles alternam também quem inicia o jogo do bater. Agora é a mãe quem propõe (17 e 19) e depois é o bebê quem mexe os braços e a mãe o segue (21-22). Extrato - 10 Data: 29/12/2007 Idade do bebê: 28 semanas Tempo: 01:39:27~01:45:50 Proxemia: Mãe e bebê estao sentados no sofa de sala. Mãe está com o bebê no colo. 01 M ≠*Parabéns pa você/bate/.eh: mamãe palabén:s/vai/..nesta≠ da olha pa mamãe olha pa cima não/..querida/(3s) shim ¤¤¤/bate aqui≠/muitas fe.licida:de≠/..cadê mamãe/vai completar não≠/ .. muitos a::no:s de vi:da/.palabéns [] pa você/vai mamãe/nesta da:::ta que::ri:da/..muitas fe::: ≠ vai/...EH/ completa mamãe/≠fe:::li:ci:dade/°que binca mais nao°/muitos a::no:/..vai/de::: vi:::da/*eh::/eh:: mamã::e/≠-> *segura o bebê e ajeita sua postura sentado**da sua mão para o bebê bater* 02 B ≠(bate com a mão D na mão E da mãe)(vocaliza)R(F) R(A)≠≠(bate na mão da mãe e para) ≠(bate na mão da mãe e para)≠(bate na mão da mãe) R(M) ≠ 03 M ≠*eh::* minha mã::::e/cadê o binquedinho mamãe que toca musiquinha qui tu ganhou de vovo≠/hã hã/≠não la em cima não aqui≠/..[]/ (1s)levante a cabecinha≠/.i::sso: ne::gã:o/eh mamãe/ (2s) vai≠/≠* bola [] ficar ashim/vai shenta pa mosta*/to shentano oa/cadê mamãe tu num sentou pa mamãe/assim oh/NÃ::O/shenta pa mamãe/.eh:: mamã::e/sentAH: mamã:e/* *muda o bebê de postura colocando-o no colo sentado de frente* *ajeita o bebê**coloca o bebê sentado no sofa**ajeita o bebê* 04 B ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠R(A) ≠≠(levanta a cabeça)(bate na mão da 236 mãe)R(M) ≠(tenta equilbrar-se)R(A)-> ≠ 05 M ≠*.agola bate aqui palabéns pa mamãe/.’ca/teTEU:::/[]/.aqui mamãe/..[] bate palabéns*≠/.palabéns/(1s) bora mamãe/ cabecinha ashim ashim oh ≠pa mamãe/..nã:o tem nada não la não pa tu vê não/não/segu:ra:/sigula mamãe≠/≠assim quetinho mamãe/ quetinho mamãe eh::/(1s) eh: mamãe/≠ *(ajeita o bebê)(da beijo no pescoço)(bate a mão nas mãos do bebê)* 06 B ≠->(tenta equilbrar-se)R(A)(bate na mão da mãe) ≠≠R(A)(tenta equilibrar-se) ≠≠R(F)(mãos na boca)(tenta equilibrar-se) R(A)(vocaliza) ≠ 07 M ≠*(2s) bola cantar palabéns≠/*≠[-1s] levanta mamãe/(1s) levanta≠*/(3s) canta palabéns/°aqui°/≠(3s) -> palabén:s pa você:::/..nesta da:::ta: que:::ri:da/..bola mamãe/°bola mamãe°/ muitas fe:::li::ci:da:de/como eh/≠..mui:tos a::no:s de:: vi::da/ ... Eh vai cair vai cai::::::/vem ca/≠* *(bate palmas pro bebê)**ajeita o bebê* 08 B ≠R(M) ≠≠(cai para o lado D)≠≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate na mão da mãe)R(A)R(M)R(E)R(M)R(A)R(M) ≠≠ (tenta equilibrar-se)R(A) (vocaliza)R(D)(cai para o lado D) ≠ Nesse extrato o jogo de bater palmas um contra o outro ganha novo arranjo. A mãe associa esse jogo com o cantar parabéns. Enquanto batem as mãos a mãe canta parabéns (01). Ela utiliza frases imperativas, fala prosódica, prolongamento de sons: (“fe:::li:ci:dade/°que binca mais nao°/muitos a::no:/..vai/ de::: vi:::da”, riso, pequenas pausas na fala e batidas na mão do bebê para incentivá-lo a continuar. Isso ajuda o bebê no processo rítmico e com isso dando espaço na conversa para o bebê ter seu turno. Percebe-se um comportamento do bebê atento à isso, ele para de bater, olha pra mãe, vocaliza, volta a bater como se estivesse percebendo o 'tempo' e tentando ajustar-se a isso. Nos turnos 03 e 04 o bebê é quem inicia o movimento de bater, a mãe imediatamente da a mão ao ver que o bebê levanta o braço direito. A mãe coloca o bebê sentado no sofá e o ajeita para que ele se equilibre nessa posição. O bebê está olhando para cima e a mãe chama-lhe a atenção para que este pare de olhar para cima (05 - 06). Ela ainda bate com sua mão direita nas mãos do bebê para orientá-lo, induzindo-o a olhar para ela ou para frente para assim continuarem brincando. O bebê responde balançando o braço para bater ao sentir o toque da mãe (06) na sua mão. Quando o bebê olha para a mãe (07 -08) ela lhe propõe de cantar parabéns. O bebê agora responde também batendo na mão da mãe. 237 Observamos como a mãe modalizou para que eles retomassem o jogo de bater palmas e assim se afinarem. Extrato - 11 Data: 15/01/2008 Idade do bebê: 31 semanas Tempo: 01:46:07~01:53:17 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no sofá como bebê deitado no seu colo. 07 M ≠*...hum hum hum si si ((mãe faz som com a boca imitando um ritmo do passo do cavalo))/(6s)* ≠ cadê mamãe bola senta/(8s)ma:mã:::e/ tete::u:/ ow tete::u/isso mamãe/levanta a cabecha mamãe/..hum []/te:::u:/ (12s) ≠* ow mã::::¤¤ ≠/hã papai/cadê papai/ pa:pa:::i/papa::i/cadê papa:i/cadê papa:i::/cadê papa≠ []/cadê papai/aqui a mão de mamãe/*≠ *faz cavalinho segurando o bebê pelas mãos**ajeita o bebê bo colo sentando-o**segura a cabeça o bebê para que ele a olhe**ajeita o bebê* 08 B ≠(tenta equilibrar-se)≠≠R(F)≠≠R(D)(bate mão D na mão E da mãe)≠ ≠R(M) ≠≠R(D)(bate mão D na mão E da mãe) ≠ 09 M ≠*(12s) oi oi oi oi oi oi oi oi o:::i/sigula a cabeça mamã::e/ I:SHU::/*(3s)((mãe faz som com a boca imitando um ritmo de samba)) []/(4s)* ≠ chega bateno chega bateno mamãe/(2s) ((imita o bebê))* ≠ *ajeita o bebê**(faz cavalinho)(deita o bebê no colo)**(da mão E e depois a D pro bebê bater)* 10 B ≠(tenta equilibrar-se)(balança as pernas)(estica o corpo)R(A) ≠ ≠R(F)R(E)(balança braço D)(bate na mão E da mãe)(balança braço E)(bate na mão D da mãe) ≠ 11 M ≠*(12s) [] parabéns pa tete::u nesta data que:ida*/(12s) vai mamãe/*(1s) vai termina*/≠[]°muitas felicidades° muitos a:nos de: VIda: ≠/≠* (4s) palabéns pra TEte:u ..nesta data que:rida/*°muitas felishida°/oa quem vai chega/ *(pega as mãos do bebê e bate)(bate palmas pro bebê)**(pega nas mãos do bebê)**(pega mãos do bebê)(pega pernas do bebê)**(pega mãos do bebê)* 12 B ≠->R(mãos)(segura as mãos juntas)≠≠(bate palmas)(vocaliza) ≠≠R(E) (balança braço D)R(mãos)(mão E na boca)R(A) ≠ Nessa sequencia (07 – 12), a díade alterna a vez de quem inicia o bater na mão. Em 07 e 08 é o bebê quem traz o braço e a mãe dá a mão. No turno seguinte é a mãe que propõe isso ao bebê fazendo uma variação (09). Não mais para o cantar mas o de “chegar batendo” - um tipo de cumprimento. Ela introduz assim um novo significado a esse jogo. O bebê responde batendo na mão da mãe (10). Porém não o repete. Em seguida a mãe passa a cantar parabéns 238 modalizando o jogo de bater palmas com o cantar (11). Talvez movida pela vocalização do bebê no turno anterior que ela imitou. Ela parece interpretar que o bebê queria o jogo de bater palmas e cantar. E os dois batem palmas juntos e “cantam” afinando-se nas ações: « []°muitas felicidades° muitos a:nos de: VIda: ≠ ». Percebemos eles se orquestrarem quanto as suas expectativas individuais. As respostas do bebê interferindo no comportamento materno e vice-versa. Extrato - 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 11 M ≠* da p’a mamãe ...(4s)hh/ da/da mãezinha da (3s)/ ¤¤¤ teteu da p’a mamãe da aqui≠≠ aqui / nã:::o/ bate palma não mamãe/ da p’a mamãe isso aqui/ na mão de mamãe aqui..(1s)aqui/ da p’a mamãe...(3s)hh *≠/≠*i::: mamãe vai tomar mamãe vai tomar mamãe vai tomar/ mamãe tomo::u/ hh olha só o brinquedo de mate::us*≠ *pede o sanduíche ao bebê, segura na cabeça do bebê e pede novamente o sanduíche**faz que vai tomar o sanduíche do bebê* 12 B ≠R(sanduíche)(balança o sanduíche com as duas mãos) (sanduíche) ≠≠R(mão da mãe)(bate na mão da mãe)(sanduíche) (segura o sanduíche com a mão direita e vira para o mesmo lado)≠≠R(sanduíche)≠ Nesse momento a díade está jogando com o objeto. A mãe está configurando o gesto de dar nesta brincadeira com o objeto (11). O bebê explora com as mãos o objeto (12). Quando a mãe lhe pede o objeto colocando sua mão próximo a mão do bebê (de palma para cima) no gesto de pedir este bate na palma da mão da mãe. A mãe imediatamente contextualiza ao bebê que não é isso que ela está querendo e sim que ela quer que ele lhe dê o objeto. Ao fazer isso a mãe coloca em evidência a compreensão responsiva ativa que o bebê apresentou nesse momento sobre o gesto do dar a mão. 5.7.6 O Bater palmas sozinho Extrato - 11 Data: 15/01/2008 Idade do bebê: 31 semanas 01 M Tempo: 01:46:07~01:53:17 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no sofá como bebê deitado no seu colo. ≠*[]bate palma mamãe [-1s]/(3s) eh/eh/°bate mamãe°/na boca não [] *≠≠hum:::/tete:u: ow tete:u≠/¤¤¤ mamãezinha mamãe ama/[] ama mamãezinha aum:: ≠[]≠*hum::::::* /(1s)hum:: mamãe 239 cavalinho ((imita som do cavalo trotando 5s)) []/(6s)((idem 7s))/ ... eah:::::: mamã::e/((idem 4s)).. *≠que foi meu aMO/..hein meu amo/[]≠ minha vida []/(3s)hum/..hein bebê::/(2s)((idem 7s))/* ≠ *(cheira o bebê)(segura as mãos dele e bate palmas)**senta o bebe no seu colo e faz movimento de trotar cavalinho)(para, beija o bebê e repete outras duas vezes**para de trotar, ajeita o bebê e refaz o trotar* 02 B ≠R(A)(bate palmas)(vocaliza)≠≠(pega no rosto da mãe)≠≠(mãos na boca)R(M)≠≠(tenta equilibrar-se)R(varias direções)(vocaliza) ≠ ≠R(M)(tenta equilibrar-se)R(varias direções)-> ≠ 03 M ≠*(14s) amô da minha vi:da:::/ ≠ow mamã::e:/ parabén::s pa: te:te:::u≠/≠[]..[] pegô no naliz de mamã:::e/[]hum []hum []hum:::/hum::[] hum:: []/(4s)((som gutural))*(2s) ((idem))...hum []/(5s) eu vou beijar a barriga de tete:u UI mamãe/eu vou beijar a barriga [] de teteu []/* *(ajeita o bebê deitando-o mas segurando sua cabeça com a mão D)(aproxima o rosto da mão do bebê)*(deita o bebê)(segura suas mãos)(ajeita-o)(levanta sua camiseta)(beija a barriga e pescoço)* 04 B ≠->R(M)(bate palmas)≠≠R(M)(levanta a mão E)(pega no nariz da mãe) ≠≠R(A)->(tenta equilibrar-se)(mãos na boca)(vocaliza) ≠ O bebê agora passa a bater palmas sozinho. A mãe motiva o bebê a fazer isso (01). Ela utiliza frases imperativas, prosódia, beijos e cheiros e bate palmas para o bebê ver. Motivado por ela o bebê imita (02). No turno seguinte o bebê (04) bate palmas logo que a mãe começa a cantar parabéns (03). Isso mostra uma associação do bebê da musica ao gesto de bater palmas que está vinculada ao processo de co-construção pois ele fez isso sem o modelo dado pela mãe, ela apenas iniciou o cantar. Essas ações do bebê demonstram sua compreensão responsiva ativa sobre o que eles estão fazendo. Extrato – 13 Data: 13/03/2008 Idade do bebê: 38 semanas 15 M Tempo: 02:09:42~02:20:01 Proxemia: Mãe e bebê estão numa sala de estimulação na FAV. Mãe está sentada no tatame ao lado do bebê que está sentado numa cadeira pra bebês. ≠*(3s) hum/(26s) hum:*/(4s) cabechinha mamã::* ≠/*°que cabechinha eh exa *bora bater palabéns bola/[]parabén:s pra: tete:u/ ≠nesta data/bora mamãe/*°nã:o olhar pa cima não/de novo olha pra cima°≠*/olha/≠ [] parabéns pa tete:u/bate/[] nesta da..ta querida≠/[] muitas fe..li..ci..dades≠/≠..termina pra mamãe/[] muitos a:nos de.. vida/bate teteu/≠* *guarda o objeto, ajeita o bebê sentado na cadeira e mostra o objeto anterior em varias direções**guarda o brinquedo e pega as mãos do bebê pra bater palmas e solta**bate palmas e impede que o bebê olhe pra cima, ajeita a cabeça do bebê pra que olhe pra 240 frente**bate palmas->* 16 B ≠(tenta equilibrar-se)R(objeto) ≠≠(bate palmas) R(M) ≠≠R(A)≠ ≠R(F) R(mãos da mãe)(bate palmas)R(M)-> ≠≠R(F)R(A)(junta as mãos)(solta as mãos) ≠ 17 M ≠*(2s) [] parabéns pa te:te:u/bate≠/..tem interesse mais não/de bater palmas pa mamãe/hein hein*/hein ¤¤¤/hein≠/≠ ≠ (5s) eh eh eh/*bola pa luzinha/tu gostou da luzinha/(3s) ¤¤¤/≠olha °luzinha luzinha ¤¤¤°/...olha:: ela sobe a luzinha/ela desce/o:lha: mamã:e/tete::/o::lha*/*PEGA a luzinha/pega/pega mamãe a luzinha/≠ (2s) i::sso/segura/* *-> pega nas mãos do bebê pra que bata palmas**ajeita o bebê**pega a lanterna de volta, acende e mostra ao bebê em varias direções**da a lanterna pro bebê segurar* 18 B ≠R(F)(bate palmas) ≠≠R(F)R(A) ≠≠(bate palmas) ≠R(F) ≠ ≠R(lanterna em varias direções) ≠≠(segura lanterna com mão D) ≠ 19 M ≠*(5s) isso*/E::ita≠/*≠ (1s) °num quer mais mamãe°/num quelo mais mamãe/num quero mais/O:PS/ops/°num quelo mais minha mãe binca disso/num quelo°* [] hum/hum hum/*≠°num quelo mais disso eh mamãe/[ ] hum [] hum:::/¤¤¤/[] hum:: []/que blincah mais que mamãe/queh/°queh blincah mais ¤¤¤°/≠* *coloca a lanterna nas duas mãos do bebê**ajeita o bebê na cadeira, fica contendo-o com seu braço E e o ajeita**pega a mão D do bebê e beija, ajeita sua cabeça**fala olhando pro bebê, beija sua mão e toca seu braço E* 20 B ≠(segura a lanterna com as duas mãos)(solta) ≠≠(tenta equilibrarse) ≠≠R(M)(coloca sua mão esquerda na boca da mãe)(tira a mão da boca da mãe) ≠ 21 M ≠* (4s) °cadê aquele que você gostou°/aquele que você gostou≠ []/≠pega pra você/(6s) pega/pega negão/*pega mamãe pa tu pega:::/..i:sso::: ≠/*..°bora bater parabéns°/[] parabéns pa te:te::u/°nesta da.ta° /...num eh pa pala não mamãe/*≠ *pega o brinquedo anterior e mostra ao bebê**coloca o brinquedo na mão E do bebê**guarda o brinquedo, bate palmas, segura as mãos do bebê pra bater palmas, para e ajeita a cabeça do bebê* 22 B ≠R(M) ≠≠R(brinquedo)(tenta segurar)(solta) ≠≠(bate palmas)R(M) (para)R(F) ≠ Nessa sequência notamos no turno 15 a mãe propor o jogo de bater palmas aproveitando a atenção do bebê para si. Ela pega as mãos do bebê, junta e solta. O bebê começa a bater palmas (16) e a mãe começa a cantar e bater palmas. Ela vai modalizando esse jogo do cantar e bater palmas. No cantar ela utiliza pausas entre as silabas e/ou prolongamentos. Ela associa isso também com o ritmo de bater palmas. O bebê olha atento para ela. Ela utiliza também as pausas no cantar para solicitar a participação do bebê: “..termina pra mamãe/” e também no bater palmas. Depois de uma pausa de 02 segundos (17) a mãe recomeça com o cantar parabéns e bater palmas. Quando ela para essas 241 ações e pede para o bebê bater palmas ele responde fazendo isso (18). Observamos a afinação das ações vs 'tempo' da díade: “[] parabéns pa tete:u/bate/ [].” Em seguida a mãe interpreta essa pausa do bebê na participação e do fato de não mais olhar como um não engajamento. E parte para buscar o brinquedo da 'luzinha' (lanterna) que ela supõe traduzindo isso na sua fala como sendo o brinquedo que mais interessou ao bebê. Depois de apresentar a lanterna em varias direções e deu para ele segurar, a mãe conversa com o bebê no turno 19 usando a voz prosódica para atribuir ao bebê que ele não está mais querendo essa brincadeira. Nos turnos 21 e 22 a mãe propõe novamente o parabéns, começa a cantar e bater palmas e o bebê responde. Vê-se a alternância dos jogos com o objeto e em face a face que a díade co-constrói modalizando suas ações dentro do que já foi coconstruído anteriormente. Extrato - 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 48 semanas Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe. 01 M ≠*aqui mamãe/toma toma/.toma/que não≠*/≠*(3s) da da da/≠queh tu queh/*tu queh/≠toma toma/i:sso/pega pega≠*/*≠ [](10s)* ≠ senta aqui oh/*≠ (2s)mateus sento:::/(2s)°parabéns° pa te:te::u/(5s) sigula mãe/palabéns pa ma..te.us nesTA daTA≠/vai mamãe/vai teteu/..TE:::u/≠ pa voxê:::/ ≠*nesta data queri’ NÃ:::O as perninha nã::o≠/bora bincah/* *pega e mostra o chocalho ao bebe depois da na mão dele**segura o bebe pelos ombros**pega o chocalho, mostra ao bebê e faz com que ele segure**mostra o chocalho e faz barulho*troca o chocalho por outro brinquedo e mostra ao bebê**ajeita o bebe sentado**contem o bebê* 02 B ≠R(chocalho)(tenta pegar) ≠≠(segura chocalho) R(F) ≠≠(solta o chocalho) ≠≠(tenta pegar) ≠≠R(chocalho)(tenta pegar) ≠≠(tenta equilibrar-se)(bate palmas) ≠(bate palmas) R(F) ≠≠(inclinapra tras)(mexe as pernas) 03 M ≠*oh/o::lha: o cachorrinho passan:::o/pega o cachorrinho mamãe/ Aqui oh/≠*..((bebê tosse-5s)) ¤¤¤ mãe*≠/*aqui oh o cachorrinho/ ≠maMÃ:E/oh aqui/o cachorinho/I::SSO:::≠/*bate o cachorrinho/bate o cachorrinho*/≠ vai mamãe/binca com o cachorrinho/..i::sso bate o cachorrinho*≠/≠bate no cach’/pa fazer zuada mãe/aqui oh/≠* *pega um brinquedo, mostra ao bebê e coloca na sua frente**mãe ampara o bebê que tosse**ajeita a cabeça do bebê para que olhe pro objeto**bate no objeto e ajeita o bebê* 04 B ≠R(cachorro de plastico)(tenta pegar)(desequilibra-se) ≠≠(tosse) R(M) ≠≠(bate palmas)R(cachorro)(segura) ≠≠(bate no cachorro com a 242 mão E) ≠≠(vocaliza) R(F) R(cachorro)(tenta segurar) ≠ 05 M ≠*o::lha:: as bolinhas teteu/*o::lha tete:::u/maMÃ::E/olha/(1s) o:lha≠*/≠* (3s) NÃO bota a boca nã::o≠/é de botar na boca/é não mamãe de botar na boca não/eita/≠* *ajuda o bebê a segurar o objeto**segura o bebê e bate no objeto* *ajeita o bebê pra que tire o objeto da boca**inclina pra que o bebê a olhe* 06 B ≠(segura) R(cachorro) ≠≠(leva o objeto pra boca) ≠≠(solta o objeto)(inclina-se pra tras)(olhos fechados) R(F) ≠ 07 M ≠*(2s) olha ((barulho do brinquedo))(10s) cadê mamãe*≠/≠*o:::lha mamãe/amare:lo ver:me:lho/*olha so mamãe que lega::l≠/*oh/pegue aqui na bolinha/≠na boli::nha/*hh((mãe está com rinite))3s aqui oh mamãe/aqui oh/((barulho do sino do brinquedo)) ≠i::sso aqui embaixo/*queh binca não/..queh não/≠* *pega o objeto elevando, da ao bebê e faz barulho no sino**mexe no brinquedo mostrando ao bebê**coloca sua bolsa no chao**pega o objeto e mostra novamente**mãe chama a atençao do bebê pra olhar o objeto batendo no objeto**ajeita o bebê* 08 B ≠R(cachorro)(tenta pegar) ≠≠R(cachoro)(segura) ≠≠R(F)(segura) ≠ ≠R(cachorro)(solta)(desequilibra-se e cai pra tras) ≠ 09 M ≠*o::xi mãe/(5s) palabéns pa ma.teus nesta da.ta que::rida/ *[] muitas fe.li.ci.da.de muitos* a:nos de:: vi::da/ ≠*((barulho do brinquedo)) VIVA MATE::US/((barulho do brinquedo5s))/ ≠*(4s) viva mate:::us/viva:::/bola mãe/*≠ *ajeita o bebê**segura as mãos do bebê e bate palmas**pega o brinquedo, coloca no campo de visão deo bebê faz barulho)**segura a cabeça do bebê e o ajeita sentado* 10 B ≠R(A)(bate palmas) ≠≠R(segue o objeto) ≠≠(tenta equilibrar-se) ≠ 11 M ≠*(1s) senta aqui em cima de mãe então*/≠(2s) i:SSO::/*aqui mainha/sentado/segura aqui mamãe e aqui/pra num cair/≠assim ta certo/≠ (3s) assim*/ assim mãe/≠*..o::lha::: o dado de mate::::::us/≠*..bate mate::us/bate mateus/*pega o dado meu amô*/ ≠i::sso:: ≠/*((barulho do dado -6s)) vai/*≠ *pega o bebê e coloca no colo sentado de frente pros brinquedos* *ajeita o bebê sentado no colo**mostra outro brinquedo e da pro bebê pegar**bate no brinquedo**pega a mão D do bebê e bate no cubo*com a mão D bate novamente no cubo e pega a mão do bebê pra bater* 12 B ≠(tenta equilibrar-se)≠≠(bate palmas)R(A)≠≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(bate mão D na perna da mãe) ≠≠R(A)(tenta equilibrar-se)(bate palmas) ≠≠R(cubo)(tenta pegar) ≠≠(pega)R(cubo) ≠≠(bate no cubo) ≠ ≠(segura o cubo)(desequilibra-se caindo para a E) ≠ 13 M ≠*..aqui≠ oh mãe toma/toma/..segura segura*≠/≠ (1s) i::sso:: ≠/ sigura mamã::e/(8s) o::i/vai cair eh≠/*≠..vai cair eh/ta um homenzinho não eh/sigula/sigula aqui mãe/(2s) assim*≠/≠ UI UI UI mamãe/UI mamãe/*vai nã:::o mamãe deixa cair nã:::o/≠ (4s) °como eh que fica/assim°/°assim°/*≠ *pega o cubo e da ao bebê**ajeita o bebê**tira o bebe do seu colo, senta-o na cama novamente de frente para os brinquedos e o ajeita* *segura o bebe impedindo que nao caia e o ajeita* 243 14 B ≠(solta o cubo)≠≠R(cubo)(tenta pegar)≠≠(segura)(desequilibra-se) ≠ ≠(tenta equilibrar-se) ≠≠(desequilibra-se para o dado D) ≠≠(tenta equilibrar-se) ≠-> 15 M ≠*(5s) ≠o::xen::te* hum::xen:te/assim oh mamãe/°assim oh mamãe aqui°/*assim oh mamãe/...assim oh retinho retinho ai tu faz assim oh≠*/..olha so::::/* ≠ (12s) pega ...pra tu≠/≠ (4s) pega mamãe≠/. pega/≠ (4s) °i::sso::/* i::sso:::°/* ≠ *segura o bebê**coloca-o no colo de frente pros brinquedos**ajeita o bebê**pega novo objeto, mostra ao bebê e dar pra pegar**ajuda o bebê a pegar* 16 B ≠->(bate palmas)R(A)≠≠(tenta equilibrar-se)(bate palmas) (vocaliza)(equilibra-se)≠ ≠R(D e A) ≠≠R(objeto)(tenta pegar) ≠ ≠(pega)(leva pra boca)(solta) ≠≠(pega) ≠ 17 M ≠*(28s) *≠ te::u/ow tete:u/tete::u olha para mamãe mamãe/aquí desse lado oh*≠/*≠ [ - 13 s ->] aqui em cima mamãe/aqui em xima/dexe:::u*≠/*≠aqui oh teteu≠*/*≠mamã::e acomPANHA aqui*/ ISSO::: ≠/*la em cima:::/aqui oh mamãe/ta desceno/ta desceno Mamãe*/≠* (3s) aqui não*/≠[] (3s) cabexinha*/ [] (3s) °parabéns pa ma::mãe ..nesta data° queri::DA≠/canta com mamãe/ ≠canta/*EI pxi::u mamãe aqui dexe la:::do/ tem nada ai não pra tu não mamãe/ ... * *mãe mostra o objeto, ajeita o bebê no colo, depois o coloca na cadeira do bebê e muda de posição sentando à sua frente**pega outro brinquedo e o faz funcionar mostrando ao bebê**pega a mão do bebê pra que pegue no objeto**mostra o objeto em varias direções**vira o bebê pra que olhe o objeto**mostra o objeto acima*impede que o bebê continue olhando pra cima ajeitando sua cabeça**passa a mão no rosto do bebê e segura seu braço E* 18 B ≠(solta)R(objeto)(tosse)(balbucia “ta ta “)(tenta equilibrar-se) ≠ ≠(mãos na boca)R(D)≠≠R(objeto)(tenta pegar)(mãos na boca) R(objeto)≠ ≠(tenta pegar objeto coma mão E) ≠≠R(objeto)(pega) ≠ ≠(vocaliza)R(A) ≠≠(bate palmas)(balança as pernas) ≠≠(bate palmas)R(A)(vocaliza) ≠ 19 M ≠*cadê o indio*/o’ o’ o’ o’ /... ≠como eh que eh o indio/mosta pa mamãe/≠... ≠mosta pa mamãe/≠*o indio oa’ oa’ oa’ oa’/mostra o indio pa mamãe*≠/≠ (4s) ≠ *o indio pa mamãe oa’ oa’ oa’ ≠oa’≠/UB’ ub ub’ ub’*/vai ≠* ... []≠ parabéns pa toto::so nesta datah que:lida≠/.. UI mamãe/≠ [] muitas fe::li.ci.da.des muitos anos de vida*≠/≠ *[]Ê:::::* ≠ *vira a cabeça pra que olhe pra ela**pega na mão E do bebê e leva a sua boca**leva sua mão a boca imitando o som do indio* *bate palmas**pega as mãos do bebê e bate palmas* 20 B ≠R(M) (vocaliza imitando a mãe) ≠≠(vocaliza)≠≠R(varias direções) ≠ ≠(vocaliza e movimenta o braço imitando a mãe - indio) ≠≠(idem) ≠ ≠(vocaliza) ≠≠(bate palmas)(balança as pernas) ≠≠(mexe o corpo todo)(leva as mãos a boca) ≠≠(bate palmas com a mãe) ≠ 21 M ≠*...[]* Ê::::: vai mamãe/≠...≠ ê::::: *[]*≠/*(3s)ah Uauauauauau*/o indio mamãe/*o indio uauaua*/*não cabexinha assim/EI ≠...≠ nã::o meu amor olha pa mamãe mainha ta aqui*/≠ psiu 244 pxiu pxiu≠ pxi:::u pxiu/*((vibra ≠labios))* ≠ *[]≠ a::i cosquinha mamãe/AI ≠teteu puxa não mamãe/qui doi/doi em mamãe do:i vixe/vixe/*pxu pxu []≠A::i teteu puxa não mamãe≠/*doi cabelo [] de mamãe [] doi/* *bate palmas**idem**pega as mãos do bebê e leva a mão E a sua boca**idem**ajeita cabeça do bebê**no pescoço do bebê**tira o bebê da cadeira, eleva, cheira e beija sua barriga**eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**senta o bebê no colo* 22 B ≠(vocaliza imitando a mãe)(bate palmas)≠≠(vocaliza imitando a mãe)≠ ≠(bate palmas) ≠≠(vocaliza) ≠≠R(M) ≠≠(ri) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura no rosto)R(A) ≠≠(segura os cabelos da mãe)(segura o rosto da mãe)≠ 23 M ≠*vou fazer cosquinha em teteu [((barulho com a boca))]*/≠ A::I ≠ *(2s)tete::u/≠tu puxou o cabelo de mamãe foi≠*/≠*[] *(2s) aqui sentado/(1s) olhando pra frente≠*/≠*[](2s) tete:u o:lha/(3s) desse lado mamãe≠/*olhe aqui pra mamãe/..mamã::e/(1s) assim oh*/*aqui oh/E:ITA mamãe/ei.TA*/ei.TA/≠.. eiTA/não/*≠ *eleva o bebê, cheira e beija sua barriga**ajeita o bebê no colo pra que olhe pra ela**segura o bebê**coloca o bebê na cadeira e ajeita sua cabeça**pega o cachorro e toca o sino**ajeita a cabeça do bebê pra que olhe pra ela**aproxima o rosto do campo visual do bebê**afasta-se e toca o rosto do bebê* 24 B ≠(segura os cabelos da mãe) ≠≠R(M) ≠≠(bate palmas) ≠≠R(D)(mãos juntas) ≠≠(vocaliza)(mexe o corpo)R(D) ≠ ... 29 M 30 B ≠*eita/eita mamãe/((vibra labios))/não/oi≠/≠(8s)≠ como eh teteu/≠ .mamãe/mamã*/quer bate palma o xinhô eh≠/≠..≠ °vire° aqui pa mamãe≠/oi/...vire aqui pa mamãe/vire*/*≠ (5s) ≠ aqui ≠toma toma*/ ...a boca mamãe/¤¤¤ eh mamãe/i::sso/não segura segura≠/*(1s) segura aqui oh/≠aqui oh/i:::sso o::lha:: /°na boca que gotoio° OHH*≠/≠olha mamãe/*a mão nã:::o/≠* *aproxima o rosto do bebê, segura seu queixo**pega outro brinquedo, mostra e da pro bebê pegar**pega o objeto e da novamente ao bebê**pega a mão E do bebê* ≠(mexe o corpo)R(M)(engasga)(tosse) ≠(balbucia reduplicado)≠ ≠(bate palma) ≠≠(tosse)R(D) ≠≠(bate palma)(vocaliza) ≠ ≠R(objeto)(pega)(segura com as duas mãos)(solta)≠≠(bate palma)R(objeto)(pega)(leva pra boca) ≠ ≠(segura o objeto so com a mão D)(deixa cair) ≠ Nesse extrato, notamos o predomínio das ações do bebê de bater palmas. Desde o primeiro momento o bebê inicia o bater palmas sozinho (02) e ao ver isso a mãe começa a cantar parabéns. Um ponto interessante a ressaltar é que nesse momento o bebê está sentado de costas para a mãe. Esta encontra-se segurando-lhe pelo ombro esquerdo ajudando-o a se equilibrar. O bebê para de bater palmas e mexe as pernas. A mãe diz que não é para ele fazer isso interpretando como um “espernear” (birra). Em seguida (03) ela pega um brinquedo e apresenta ao bebê talvez influenciada pelas ações dele de balançar as pernas (« espernear ») e visando a mudança desse seu comportamento. O bebê olha e tenta pegar o objeto (04) depois 245 ele apresenta tosse e olha para cima. A mãe se coloca no campo visual dele. Depois que ele para de tossir ainda olhando para cima, ele bate palmas. Mas essa ação do bebê não foi inserida no jogo pela mãe nesse momento. Ela pega a mão direita do bebê e coloca para pegar no objeto. E o bebê passa a olhar, pegar e a manipular o objeto. Esse fato é trazido pela mãe na sua fala prosódica: “..i::sso bate o cachorrinho*≠” . Nos turnos 05 a 08 eles seguem coordenando suas ações com esse objeto. No turnos 09 e 10 após uma pausa na fala materna (5s) o bebê volta a bater palmas e a mãe começa a cantar quando ele faz isso. Em 11 e 12 a mãe muda o bebê de posição passando a sentá-lo no colo porém ainda de costas pra ela e de frente para os brinquedos. O bebê bate palmas por duas vezes mas a mãe não traz isso para o contexto nesse momento. Ela lhe apresenta outro objeto, um cubo. O bebê pega e explora o cubo. Mãe e bebê se ajustam para explorar o cubo (13 e 14). Em 15 e 16 a mãe outra vez ajusta o bebê na posição sentada enfatizando a atenção dele para assumir uma melhor postura sentado. O bebê bate palmas por duas vezes mas isso não é colocado na dinâmica do momento pela mãe. Em 17 e 18 agora alinhados de outra forma pois a mãe muda o bebê de posição outra vez passando ele do colo para a cadeirinha ficando assim possível o face a face. O bebê (18) começa novamente a bater palmas. Agora isso é considerado pela mãe que também bate palmas e começa a cantar. Percebemos ai a influência da postura dos participantes influenciando nas suas dinâmicas dialógicas. Tanto que esse jogo segue nos próximos turnos ganhando novas configurações. É como se diante da mãe o bebê sente que pode exibir-se pois ele e ela podem olhar-se. O fato dele no turno 20 fazer a onomatopéia do índio pode ser um indicador disso. O bebê segue exibindo o seu bater palmas. O bebê também vocaliza (20) e a mãe traz essa vocalização para o cantar parabéns (19) e o bebê bate palmas imitando a mãe. O imitar é outra possibilidade que o face a face traz para os participantes sobretudo numa díade mãe bebê. Em 21 e 22 eles seguem afinados no bater palmas e cantar. A mãe agora é quem traz o fazer o índio. O bebê não imita e a mãe inicia outro jogo: o de fazer cócegas na barriga do bebê. E assim seguem nos turnos 23 e 24. O bebê bate palmas no turno 24 e isso não é trazido ao jogo pela mãe no momento pois ela está na ação de fazer cócegas. Mais adiante nos turnos 29 e 30 o bebê bate palmas e agora isso é trazido pela mãe na sua fala atribuída: “quer bate palma o xinhô eh≠”. A mãe considera a ação do bebê mas não se engaja com ele nisso. Ela pega um brinquedo e da para ele. 246 Vimos os movimentos da díade de alternância de ações/participações. Como eles configuraram as ações estando co-dependentes entre si (“eu” e “outro”), dos objetos e das posturas (proxemia) tomadas (das relações « eu » e « outros »). Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:37:56~02:55:29 Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 11 M ≠*(13s) abra as perninha≠/*≠ (8s) sentadinho va*≠/≠*(11s) OI/ *..o::i/(1s) eita mamãe eita mamãe ‘qui*≠/≠*[](13s) e:::ita tete:::u*/*(6s) ta ≠ tão paladinho meu pê::to/bola cantah palabéns mamãe/bora cantah palabéns/agola*/*..[]palabéns pa: tete::u/bora teu/*≠ *coloca o bebê sentado no chão de frente para os brinquedos, afasta o cubo, pega o cachorro e coloca entre as pernas do bebê**faz com que o bebê segure o objeto**sustenta o bebê pelo tronco, bate no cachorro**ajeita o bebê**pega objeto, balança e mostra ao bebê em varias direções e da ao bebê**pega mão D do bebê e bate no objeto**tira objeto das mãos do bebê e o ajeita sentado no colo**segura as mãos do bebê e bate palmas* 12 B ≠R(cubo)(tenta equilibrar-se) ≠≠(segura objeto) ≠≠vai inclinandose pre frente)(vocaliza)(solta objeto)(tenta equilibrar-se)≠ ≠R(objeto em varias direções)(estica braço pra pegar)(pega)≠ ≠(bate palmas)(vocaliza) ≠ 13 M ≠*..[] parabéns pra te:te::u nesta da.ta [] que.riDA*[]/≠* (1s) vai mamãe/hum/..hein MAMÃE*≠/ *(1s)[] °nesta data° que.riDA*/≠[]*≠ mas tu eh implicante so faz na hora que tu quer mamãe/...empezinho bora/ empezinho/empezi:nho empezi:nho empezi:nho*/≠ *(6s) deixe de seh piguixoso/oi oi oi o::i/*≠ *bate palmas e segura as mãos do bebê)**segura o bebê e passa os dedos na barriga dele**pega as mãos do bebê e bate palmas**eleva o bebê e o coloca sentado na sua perna E, ajeita o bebê**coloca-o de pé* 14 B ≠R(mãos)(bate palmas) ≠≠R(mãos) ≠≠(bate palmas)(vocaliza) ≠ ≠(tenta equilibra-se)(flexiona as pernas) ≠ ... 25 M ≠*(1s) hum/(1s) hein/(5s) parabéns pra ma:te:::us ê:::: ≠/bate palma também mamãe*/*≠...[] °nesta data queri:da°*≠/*≠(14s) ≠* o pé de mateus*/cadê o pé de mateus≠/(1s) hein teteu/ *≠pé:::::/cadê o pé mamãe* ≠que mamãe mostô pa tu/hum/≠i::xo:: ≠/ ≠* [] cadê o pé de mateus/[]≠ (2s) ≠ *cadê mamãe/((ta pegando não né)) cadê mamãe/*≠ *solta o bebê, segura pelos ombros, segura pelo tronco, balança o bebê**segura as mãos do bebê pra bater palmas, solta**pega e deita o bebê no chão em supino, pega os pés do bebê**pega o pé D e a mão E do bebê pra que segure o pé e depois leva a mão D do bebê pro pé 247 D, solta**mãe bate palmas imitando o bebê, faz cocegas e da cheiro na barriga**segura e junta as mãos do bebê* 26 B ≠(tenta equilibrar-se)R(A)(vocaliza)(bate palmas) ≠≠(bate palmas)(desequilibra-se pra frente) ≠(vocaliza) ≠≠(levanta as pernas)(balança as pernas) ≠≠(segura o pé D)(solta) ≠≠(levanta as pernas e bate os pés) ≠≠(bate palmas) ≠≠(vocaliza)(balança as pernas)(bate palmas)(vira-se para lado D) ≠ Nesses exemplos (11 – 14; 25 – 26) mãe e bebê orquestram e afinam-se no jogo do cantar e bater palmas. Observamos que acontecem ações mutuas, mais imediatas e inerentes ao contexto. Os dois entram juntos no jogo e percebemos no bater palmas compartilhado, o sincronismo de suas ações (25): “[]”. Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face-a-face. Bebê está sentado na cadeirinha. 01 M *≠se você estah contente bata palma []*/*bate mamãe*≠/*≠... [] xi voxê estah contente bata palma≠/≠bate mamãe*/*né o pé/né o pé que mamãe falou/eh a mão*≠/*≠ [] xi você estah contente bata palma≠/dan dan dan xi voxê estah contente ≠ bata o pé*/tan tan tan/*si você estah ≠ contente e quer mostrar para toda ≠ gente*≠/≠*si você estah contente grite VIVA*≠/ *segura as mãos do bebê, solta e bate palmas**alisa perna E do bebê e segura as mãos dele**bate palmas e ajeita o bebê sentado**segura as mãos do bebê**bate palmas e toca no pé D do bebê**toca no pé E e faz carinho na bochecha D**faz carinho na barriga, aproxima o rosto do bebê* 02 B ≠R(M) (bate palmas) R(mãos) ≠≠(vocaliza)(F) ≠≠(balança os pés) R(pés) ≠≠(bate palmas)(vocaliza)≠≠(balança os pés)≠ ≠(vocaliza)≠ ≠R(M)(vocaliza)(pega no rosto da mãe)(solta)(movimenta o corpo e desequilibra-se) ≠ M *≠.da pa mamãe a BOLA/da pa mamãe/..meu amô: ≠/≠aqui oh/..oh teu/ oh mamãe pedindo a bo:::la*≠/*...a bo::la de tete::u oh*/*(3s) ≠ oh teu a bo::::la/pxiu*≠/*ow meu amô como voxê/≠olhe /a bo::::la*/ toma a bola≠/≠(2s) toma a bola*≠/*(2s) se você estah contente bata palma []≠≠ []*/*se você estah contente [] ≠≠bata palma/..[] vai mãe/≠[] se você estah contente e quer mostrar pra toda gente se você estah contente bata palma/*≠ *faz gesto de pedir, toca na mão E do bebê**segura as mãos do bebê e o endireita**tenta colocar a bola na sua mão, mostra em varias direções**endireita a cabeça do bebê, mostra a bola na frente**baixa a bola, da nas mãos do bebê**segura a bola, pega nas mãos do bebê, aproxima seu rosto dele, bate palmas comas mãos do ... 05 248 bebê, solta as mãos do bebê**segura as mãos do bebê e bate palmas, solta as mãos do bebê, bate palmas* 06 B ≠R(bola)(segura com a mão D) ≠≠R(F) ≠≠(tenta pegar a bola)R(mão E) (E) ≠≠R(bola)(tenta alcançar com a mão E) ≠≠(pega a bola com as duas mãos)(solta)R(mãos) ≠≠(bate palmas)R(mãos) ≠≠(idem) ≠≠R(mãos da mãe)(bate palmas)(vocaliza) ≠ 07 M *..[] se você estah contente ≠ bata o pé/*(1s) ≠ ta bo:m mamãe não binca mais disso não/≠°binca não binca não binca não°*/*faça carinho ≠≠ em mamãe/CAri::nho tete:u em mamã::e/* *bate palmas, para, toca nos pés do bebê**pega no tronco do bebê e aproxima seu rosto dele, faz movimento de negação com a cabeça* *pega nas nos braços do bebê, ajeita a cabeça dele* 08 B ≠(bate palmas e vocaliza)≠≠R(M) (pega no rosto da mãe) ≠ ≠R(A)(vocaliza) ≠ 11 M *≠ (2s) bo::la diz °mamãe°*/*(2s) ≠ e’ a bo::la*/≠ (2s) BO.la*/ *bo::la*/*(3s) ≠ []se você estah contente bata palma≠/≠se você≠/≠*TE::U/ ≠ ((ri)) ≠/≠oh oh oh [->]/*≠-> *toca o queixo do bebê, tenta amparar a bola**pega a bola e da nas mãos do bebê**com a mão D pressiona o queixo do bebê para abrir e fechar labios**solta a bola, segura as mãos do bebê e bate palmas, coloca as mãos dele na sua face**faz carinho na barriga dele, afasta-se e pega um brinquedo musical, faz funcionar e mostra ao bebê* 12 B ≠R(bola)(bate palmas na bola)(vocaliza)(solta) ≠≠(tenta pegar) (não segura)R(mãos) ≠≠(bate palmas)R(A) ≠≠(segura o rosto da mãe) ≠≠R(A)(bate palmas)(vocaliza)(balança os pés)≠≠R(objeto)(segura) ≠ 41 M *≠ (3s) se você estah contente [] bata palma []*≠/≠*se você estah [] contente bata palma *≠/≠*se você estah contente e quer mostrar pra toda gente se você estah °contente° [] bata palma/bate palma teu/*≠ *ajeita o bebê no seu colo e bate palmas diante dele**pega as mãos do bebê traz pra frente, solta-as e bate palmas)**envolve o bebê com seu braço D e o traz contra seu corpo, encosta seu rostodo lado E da cabeça do bebê, ajeita a perna E e depois a perna D dele, pega com sua mão E na mão D do bebê, solta o braço D que envolvia o bebê e pega na sua mão D aproximando as duas mãos do bebê, solta-a, encosta sua cabeça no lado D da cabeça do bebê e da cheiro, passa mão E na cabeça do bebê fazendo carinho* 42 B ≠(equilibra-se sentado de costas pra mãe no seu colo)R(mãos da mãe) ≠≠(junta as mãos com ajuda da mãe e bate palmas)≠ ≠(desequilibra-se e endireita-se com ajuda da mãe)R(B)(baixa a cabeça)(endireita-se com ajuda da mãe)≠ 43 M *≠(3s – []) si você estah contente bata o pé*≠/*≠ (2s) que bincah dixo mai não/dixo não*≠/≠*oa oa oa oa oão*≠/≠*(7s) te::u*/ *(2s) mate::us*≠/≠*(6s) bincah de cavalinho com mamãe*≠/≠* ... ... 249 cavalinho mamãe/cavalinho/bola bincah de cavalinho[]/*≠-> *pega as mãos do bebê e bate palmas, solta, toca e pega os pés do bebê**solta os pés, envolve-o com o braço E, encosta seu rosto do lado D da cabeça dele, baixa o braço D do bebê**pega mão E do bebê que estava encostada na sua boca e bate varias vezes contra os labios dele, solta**pega mão D do bebê e traz pra passar no lado D do seu rosto, solta* *segura o bebê pelo tronco, afastando-o do seu corpo**balança suas pernas pra cima e pra baixo movimentando o bebê nesse sentido, para e vira o bebê pra si**coloca o bebê de pé nas suas coxas de frente pra ela, segura o bebê, traz pra perto de si e beijá-o no rosto* 44 B ≠(bate palmas com ajuda da mãe)(vocaliza)(leva mãos à boca) ≠ ≠(vocaliza)(mãos na boca)(mão E na boca com palma aberta e virada pra fora) ≠≠bate a mãe E na boca varias vezes com ajuda da mãe≠ ≠(movimenta-se flexionando pra frente)(endireita-se com ajuda da mãe)R(F)(bate com mão D na perna D)(vocaliza) ≠ ≠ (movimenta os braços) (vocaliza)(para)R(F) ≠≠(tenta equilibrar-se de pé no colo da mãe com ajuda dela) ≠ Nesses recortes vemos o bater palmas configurando-se numa nova musica trazida pela mãe. Através dessa musica, a mãe pôde explorar além do bater palmas, outras partes do corpo, vocalizações e expressão de sentimento. Inicialmente a mãe configura o bater palmas para cantar também essa musica (01, 05, 07, 11 e 41). O bebê responde batendo palmas e vocalizando (02, 06, 08, 12 e 42). No turno 43 vê-se a introdução do pé no contexto da musica. A mãe insere essa parte do corpo ressaltando na prosódia e tocando o pé do bebê. Extrato - 17 Data: 17/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:13:20~03:31:00 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados frente a frente. Bebe está sentado na cadeirinha e mãe no chão. 35 M ≠*[] faz carinho em mamãe/faz/faz faz faz . faz/ca.. Humhumhumhum*≠/≠*(5s) palma palma pal.ma pé pé pé . roda roda roda ca.rangueijo peixe é*≠/≠*vai teteu/..palma palma palma pé pé pé . roda roda roda carangueijo peixe eh:::::: []/vai/*≠-> *da beijo na testa dele, sustenta o bebê, encosta o rosto contra o rosto do bebê, repete o bebê balançando a cabeça de um lado pro outro e esfregando o seu nariz na testa dele**afasta, coloca o bebê sentado na ponta da cadeirinha e segura-o pelo tronco**ajeita-se sentando mais proximo dele, segura-o e balança-o elevando e baixando seu tronco* 36 B ≠(pega no rosto da mãe)(encosta testa no rosto dela)(solta o rosto)(baixa a cabeça)(flexiona os joelhos)(levanta a cabeça) R(M)(segura rosto dela)(vocaliza)(gira a cabeça de um lado pro outro) ≠≠(joga cabeça pra tras e depois pra frente)(equilibra-se sentado)(balança braços e pernas)(para)(flexiona-se pra frente) ≠ ≠(fica ereto)(bate palmas e os pés)(para)(movimenta o corpo pra 250 frente e pra tras, pra cima e pra baixo)(balança os braços)R(M) ≠ 37 M ->≠*oi oi oi min’ oi oi oi [] ≠/≠te::u/palma palma palma pé pé pé . roda roda roda carangueijo peixe eh:::: ≠/ ≠batendo palma dan dan dan batendo . ê::::::: ≠/≠...palma palma palma como é/...palma palma palma pé pé pé/*≠ *->segura o bebê, roda o tronco dele rapidinho de um lado a outro, para, segura-o, balança-o pra cima e pra baixo* 38 B ≠->≠≠(levanta a cabeça)R(M; D)(bate palmas e pés)(para)(equilibra a cabeça) ≠≠(bate palmas e pés)(para)R(D;B) ≠≠(tenta equilibrarse)R(F)(bate palmas) ≠ 39 M ≠*bate o pé p’a mamãe/(3s) vai meu amô/(2s) te::u bora °bincah meu amô°*≠/≠*serra serra CA*≠/≠*ca vem ca vem ca vem ca vem ca vem ca vem ca vem ca/CA*≠/≠*(1s) oi/(3s) te::u/... palma palma palma pé pé pé/(3s) oi/*≠ *segura o bebê, passa mão E no nariz e volta a segura-lo com as duas mãos pelo tronco**balança o tronco do bebê pra frente e pra tras**segura o bebê, solta a mão E e imita o movimento do bebê de abrir e fechar a mão**segura o bebê pelo tronco com as duas mãos e coloca-o de pé, senta-o novamente na ponta da cadeira e segura-o* 40 B ≠R(M;D;B)(bate os pés)R(F)≠≠(levanta braço D)R(mão D)(levanta mais e abre e fecha essa mão) ≠≠(cai com a cabeça pra frente)(equilibra a cabeça)(extende braço D)R(mão da mãe) ≠≠(tenta equilibrar-se de pé com ajuda da mãe)(tenta equilibrar-se sentado)(estica a perna D)(vocaliza)R(F)(bate palmas)(balança o pé D)(para)R(F;B) (vocaliza)(flexiona-se pra frente)(estica-se pra tras) ≠ Neste exemplo, agora com outra música, temos a configuração da parte do corpo – pé, trazida e modalizada pela mãe (35-39). Vê-se que ela apenas usa o cantar nos seus turnos. O bebê responde batendo palmas, batendo os pés e balançando as pernas (36-40). Considerando as ações do bebê em relação às ações maternas podemos perceber alguns aspectos quanto à evolução da sua participação no dialogo. A mãe neste caso, não dá as pistas visuais para o bater palmas e pés. Ela utiliza apenas o canal vocal para estimular o bebê a realizar essas ações. Porém ela continua moldando-se a ele, como percebemos em relação a posicioná-lo, facilitando o bebê a equilibrar-se sentado para que este possa fazer sua participação. O bebê demonstra seu potencial de resposta batendo palmas após ouvir a mãe pela segunda vez repetir o trecho da musica que faz menção à palavra “palma” (35-36). Outra vez em 37 e 38 o bebê bate palmas depois que a mãe o chama e diz “palma”. E em 39 e 40 vemos o bebê corresponder à solicitação da mãe de bater o pé somente pelo meio verbal. Nesses turnos (36-40) o bebê agiu em total correspondência com a musica. O bebê demonstra sua compreensão responsiva ativa através desses marcadores corporais que foram co-criados pela díade na orquestração de suas ações. 251 Extrato - 18 Data: 29/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:31:01~03:48:34 Proxemia: mãe e bebê estão frente a frente. O bebê está sentado na cadeirinha e a mãe sentada no chão. 05 M ≠*[-6s]olha: isso:: tete::u tocou/aqui*≠/≠*[-4s]toca mamãe/ [-3s] c’m fô::ça/hh(2s)*/*toca aqui≠[-7s]hh*/≠*olha Mateus/[]o::lha:: */*segura≠/≠segura mãe/...[] i::sso:::*/... []ê:::::: []≠/≠*’cabou/num que mais isso não mãezinha/ bincah mai’não/°bincah mai’ não°≠/≠Toma a bola/... a bola/ (1s) BO:LA/hh/BO::LA::/o::lha a bola de teteu oa*≠/ *mãe olha para o bebê, pega a mão dele e leva para o objeto**a mãe fica segurando o objeto** mãe leva a mão do bebê para o objeto**a mãe segura o objeto em frente ao bebê** a mãe ajuda o bebê a segurar o objeto**a mãe guarda o objeto e mostra a bola ao bebê* 06 B ≠R(brinquedo)≠ ≠R(bate com a mão no objeto)≠ ≠R(eleva os braços tentando alcançar o objeto)≠ ≠R(segura o objeto com as duas mãos)≠ ≠R(M)≠ ≠R(bola)(vocaliza)(bate palmas)≠ Nesses turnos observamos uma resposta mais atrasada do bebê (06 – bater palmas) em relação ao bater palmas materno quando ela faz isso junto com uma vocalização e também imita o som do brinquedo para indicar o fim da musica. A mãe não traz esse bater palmas do bebê ao contexto. Isso nos faz inferir sobre qual seria a “intencionalidade” do bebê ao fazer isso nesse momento em que eles estavam jogando com a bola. Esse fato nos deixa pistas para um estudo posterior especifico sobre a intencionalidade na interação adulto-bebê. A importância de considerar as ações-respostas do bebê enquanto significativas dentro da sequencialidade da interação, mostrando como ele é capaz de compartilhar a atenção com o adulto e com o ambiente (JONES & ZIMMERMAN, 2003). Adulto e bebê orquestram juntos o sentido de suas interações, co-construindo o sentido (intenção) de suas ações situadas de seu percurso interacional (NEVES, 2006). Extrato - 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 05 M ≠*vamo/batendo palma dandandan ¤¤¤ ê::::: */*vem com teteu eu vo mostrar como é que é/batendo palma[]dandandan≠/≠ê::: vai mãe/.. vem com teteu.. em pé/ê::: batendo palma dandandan [](3s)/batendo pé ê:::: *≠/c* hh(3s)/ tete::u/ow tete:u ê::: /.. ≠eita mamãe quebrou::/...(5s)hh**cadê teteu aqui≠/ 252 ≠mamãe olha o palhacinho palhacinho/ palhaci::nho/ palhacinho tete:u*≠ *pega as mãos do bebê e bate uma na outra, limpa a sua mão na fralda do bebê, limpa a boca do bebê com a fralda** pega as mãos do bebê e bate uma na outra, mexe as pernas do bebê, segura na cintura do bebê e levanta o bebê deixando-o em pé* *coloca o bebê sentado em seu colo e pega um brinquedo, a mãe observa que o brinquedo está quebrado, fica rodando o brinquedo e mostra ao bebê**aproxima o brinquedo do bebê chamando sua atenção* 06 B ≠R(F;D;F)(bate palmas)≠ ≠R(F) ≠≠R(E;F)(bate palma)(mãos)≠ ≠R(mexe as pernas)(brinquedo)(toca no rosto da mãe)≠ ≠R(segura as mãos; E)≠ Uma nova configuração para o bater palmas se apresenta nos turnos 05 e 06. A mãe traz uma musica diferente e que envolve também o bater palmas e pés. Ela começa a cantar e pega as mãos do bebê batendo uma na outra. Na modalização dessa musica ela utilizou além do recurso vocal a manipulação no corpo do bebê. Ela mexe no corpo dele enquanto canta. Junta-lhe as mãos batendo uma na outra, mexe nos pés dele, pega-o pela cintura (05). O bebê responde : batendo palmas, balançando as pernas e segurando as mãos da mãe (06). Extrato – 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 09 M ≠* eita.. quem foi que falou contigo mamãe/quem foi..(2s)/ quem foi que falou contigo/ hein meu amor*/* da p’mamãe (2s)/ te::u da p’mamãe da/da p’mamã:::e::*≠/≠* i::sso...uhma[] meu amor/ []muito bem muito be::m*≠/≠*muito bom:::[] muito bom/[] muito bom/muito bom/ batendo pal::ma...(3s)*≠ * fica olhando para o bebê**segura na cabeça do bebê e depois pega o celular da mão do bebê**da um beijo na testa do bebê e bate palma**junta as mãos do bebê para ele bater também* 10 B ≠R(celular) (da celular pra mãe)≠ ≠R(B)≠ ≠(palmas)(M) ≠ 11 M ≠* bora brinca..(2s) batendo palma []/ batendo o pé::/cosquinha.. cosquinha/ cosquinha em teteu cosquinha:::/ cosquinha::: ((ri))*/*[] uhmmmm≠/≠fica em pé/em pé..(11s)≠/≠em pé..(3s)*≠/≠* deita::do/ xa:::u..(1s)/ xa::u.. ≠/≠ a mão de mamãe/ mã:::o (08s)*≠/≠*[]/ ta fazendo índio com a mão de mamãe é.. (2s)/é meu amo:: hum [ ] (3s)≠/≠ é meu amo::/tu ta fazendo indío com a mão de mamãe é/ aqui oh mamãe oh/umaumauma [] (5s)*≠ * pega as mãos do bebê para ele bater, faz cosquinha no pé do bebê**dá beijo e coloca o bebê em pé no sofá segurando no braço e na perna do bebê**segura na cabeça do bebê encostando no sofá, 253 coloca sua mão na frente do rosto do bebê e depois fica encostando sua mão na boca do bebê**segura o bebê e da um cheiro no pé do bebê, coloca a mão do bebê na sua boca* 12 B ≠R(M)(olha para a mão da mãe) (bate palma)(segura suas mãos e mexe os pés)(B)≠ ≠ (vocalizações)≠ ≠R(B)≠ ≠R(F)(mão da mãe)≠ ≠(segura na mão da mãe)(vocalizações)≠ ≠R(B)(mexe os pés)≠ ≠R(E)(B) ≠ Temos dois momentos diferentes da ação de bater palmas nesse exemplo. No primeiro momento (09 e 10) o bater palmas foi configurado como um aplauso. A mãe cumprimenta o bebê do fato que este lhe deu o celular usando a voz prosódica e batendo palmas. Ainda reforça a ação para o bebê bater palmas junto com ela (10). Ela faz isso sorrindo para ele. No momento seguinte (11-12) o bater palmas é configurado na musica. A mãe começa a cantar e bater palmas. O bebê olha pra mão da mãe e bate palmas. Em seguida para, mantém as mãos juntas e mexe os pés mostrando assim total coordenação com a musica (12). 5.7.7 Uso das mãos para dar função aos objetos Analisamos a seguir, outras funções manuais adquiridas pelo bebê. Veremos que isso é fruto de um processo de co-construção. Dentre as orientações dadas pelas terapeutas do bebê a orientação sobre como usar os brinquedos foi uma delas. A mãe foi orientada a se colocar no nível do bebê, a fazer o que ele faz, a dizer o que ele diz, e a cada descoberta e experiências com os objetos, expressar surpresa/espanto, contentamento, descontentamento, comemorar, etc. O bebê aprendeu dentro do jogo intersubjetivo, junto com a mãe, percebendo as reações dela ao dar funcionalidade aos brinquedos. Remarcamos também que não é necessário um tipo especifico de brinquedo para estimular certas aquisições no bebê. Um objeto simples ou o próprio corpo podem ser usados para criar significados. Foi enfatizado que o “jogo” é mais importante. Foi exemplificado para a mãe quanto a noção de previsibilidade e causa e efeito que certos brinquedos como os chamados “pop-up”, facilitam esse aprendizado, como também uma brincadeira simples como as que envolvem o “1, 2, 3 e já” podem ser realizadas usando o corpo. Demos à mãe o exemplo de colocar o bebê sentado em cima de seus joelhos que devem estar flexionados e no “já” estirar as pernas fazendo o bebê “cair” percebendo o efeito disso em seu corpo. E a 254 repetição como um recurso importante para o bebê adquirir a noção de previsibilidade. Diante dessas orientações à mãe quando analisamos os registros videográficos desse corpus observamos a mãe modalizou vários jogos com o bebê dando a sua própria conformação dentro do 'tempo' e espaço criados por eles. Com isso queremos dizer que a mãe não se tornou uma « mãe terapeuta » ou uma « mãe professora » ao menos de forma tão aparente nessas interações que registramos. Notamos o contrario, uma mãe que busca adequar-se para entrar em sintonia com seu bebê. Quanto a isso nos questionamos sobre os possíveis efeitos da terapêutica nas relações da díade. Balançar o chocalho: Extrato - 15 Data: 18/05/2008 Tempo: 02:37:56~02:55:29 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão na sala. Mãe sentada no chão e bebê sentado na cadeirinha. 17 M *≠ (5s) [] balança pa mamãe vê*≠/≠*(2s) ui*≠/≠*[-5s] isso eh de bo::ca/esse POde °¤¤¤ na boca°*≠/≠*segure/segure*/*(1s) a outra mão cadê*/*(4s) toma/...toma teu/toma≠/≠..I::SSO::::/(3s) i::sso mã:::e/*≠-> *pega um chocalho mostra ao bebê, balança, da nas mãos dele* *ajeita o bebê sentado**pega o chocalho, mostra ao bebê, balança, coloca na boca do bebê**coloca na mão E dele**ajeita o bebê sentado e puxa deu braço D pra frente**mostra o chocalho ao bebê, coloca nas mãos dele, segura o bebê com seu braço D pelas costas dele* 18 B ≠R(chocalho)(tenta pegar)(pega com as duas mãos)(segura)≠≠(solta) ≠ ≠R(chocalho)(tenta pegar com a mão E) ≠≠(segura com as duas mãos)(leva pra boca)(tira da boca)(volta a colocar na boca) ≠ 19 M *≠->(3s) eh o °binquedo de teteu°/balança teu*≠/≠*balança/assim oh*/*°na boca não mãe°*≠/≠*balança/[] * ≠ (5s) ≠ o:::lha:: palhacinho * mamãe≠/≠*tu vai comer o palhacinho eh≠/≠ (1s) hein mamãe/ê:::::::: ≠/≠ê::::: mamã:::e/(4s) eita que gostoso/que gostoso/*≠-> *pega as mãos do bebê, junta**solta e aproxima seu rosto do bebê**com a mão E pega as mãos do bebê e balança**solta, repousa a mão na perna, toca com ela no chocalho**segura o bebê, olha pra ele, olha pro lado E, olha pro bebê, olha pro lado E, olha pro bebê* 20 B ≠->(tira o chocalho da boca)(coloca no seu colo)R(chocalho) ≠ ≠(traz o objeto pra boca) ≠≠R(chocalho + mãe balançar suas mãos) ≠ ≠(traz o chocalho pra boca) ≠≠(tira da boca)(traz pro seu colo) (traz pra boca) ≠≠(bate palmas no objeto ou tenta balançar) ≠ ≠(traz pra boca)(vocaliza)(tira da boca)(traz pra boca) ≠ 255 21 M *≠->(1s) alô:: papa::i*/*cadê mamãe papai≠/≠...MA.mã:e/...PA.pa:i/ Cadê meu amô/hum≠/≠hum ..[]*/* oi*≠/≠*(2s) Ita::: ≠/≠ (7s)* ta bom dixo bola bincah/bora bincah da pa mamãe pra mamãe guardar/*≠-> *aproxima seu rosto do bebê, tira o chocalho da boca dela, toca com a mãe E no pé D dele, da cheiro na testa**afasta-se, toca no chocalho, solta**apoia o bebê com seu braço D e olha pra ele**puxa o bebê para se encostar na cadeira, faz gesto de pedir com a mão E e pega o chocalho* 22 B ≠->≠≠R(M) ≠≠(chocalho na boca)(desequilibra a cabeça) ≠≠(balança e bate no chocalho) ≠≠(traz pra boca)(tira da boca)R(E) ≠ ... 31 M 32 B *≠ (4s) I:xO mamãe [] o palhacinho de teteu/se segura*≠/≠*(2s) oi oi≠/≠ (15s ) te::u*≠/≠*(3s ) EITA mã::e*≠/≠*(11s) °te::u°*≠/≠*(2s) oa oa da pa mamãe/da teu*≠/≠*(13s []) o::lha::* ≠/≠*(6s ) muito bem jogou no chão/num vai binca mais []/*≠ *observa o bebê, aproxima-se, da cheiro na testa, afasta-se, solta seu braço D que sustentava o bebê e apoia no encosto da cadeira, com o braço E faz movimento de amparar**ajeita o bebê pra encostar na cadeira, volta a ampara-lo passando o braço D por tras e apoiando mão D no ombro D dele, segura seu queixo, solta, ajeita a cabeça dele, observa-o**aproxima seu rosto, afasta-se**observa o bebê,com a mão E faz carinho no rosto dele**pega o chocalho das mãos do bebê, mostra, sustenta a cabeça dele apoiando a mão E na testa, balança o chocalho diante dele, para, mostra e da pra ele segurar**observa o bebê, segura-o pelos ombros e encosta-o na cadeira, aproxima seu rosto, da cheiro na testa* ≠(traz o chocalho pra boca)(tira)(coloca no seu colo)R(chocalho)≠ ≠(flexiona-se e leva a boca ao chocalho)(afasta-se com ajuda da mãe)R(chocalho) ≠≠(estica-se)(balança chocalho com mão D e bate nele com mão E)R(A)(para de balançar o chocalho)(endireita-se com ajuda da mãe) ≠≠(balança o chocalho com mão D e bate nele com a mão E)R(F)R(chocalho) ≠≠(para de balançar)(vocaliza)R(chocalho) (flexiona-se e leva a boca ao chocalho)(endireita-se com ajuda da mãe)R(E)R(B)(segura o chocalho com as duas mãos)R(A)(vocaliza) ≠ ≠R(A)(desequilibra-se baixando a cabeça) ≠≠(endireita-se com ajuda da mãe)R(chocalho)(tenta pegar com a mão E)(pega com as duas mãos) (repousa-o no colo)(flexiona-se e leva a boca ao chocalho)≠ ≠(vocaliza)(endireita-se)(balança o chocalho com a mão E)(deixa cair)R(F) (balança braço E)(flexiona-se)(endireita-se com ajuda da mãe)≠ Nesse exemplo observamos alguns momentos de orquestração da díade para a produção do balançar o chocalho. A mãe introduz o objeto utilizando toda uma modalização para isso (17, 19, 21 e 31): mostrando ao bebê seu funcionamento, oferecendo o objeto ao bebê ou facilitando o alcance dele, balançando junto com ele e deixando por fim o espaço para o bebê manipular o objeto sozinho. O bebê participa inicialmente junto com a mãe e depois realiza a função sozinho (18, 20 e 22). Vemos a afinação que co-construíram através 256 da alternância com que eles agiram individualmente (31 e 32) : « *(13s [])o::lha::* ≠/≠*(6s ) » Nesse extrato observamos ainda a díade orquestrar junto para o acionar um objeto eletrônico: 33 M *≠..toma/(18s - ) toma teu*/*(6s - ) o:::/::::°lha°≠\≠*(1s) nã:o na boca não °meu amô°/bate aqui oh*≠/≠*(5s) mãezinhA::/olhe pa mamãe/bater/[] I:xo/*≠ *afasta-se, mostra brinquedo musical, muda musica acionando botão com seu polegar E, idem, afasta objeto e o mostra a E do bebê, mostra a D e depois acima**abaixa o objeto lentamente e coloca no colo do bebê**segurando o objeto com mão E no colo do bebê, observa-o, puxa-o com sua mão D pelo ombro D dele, solta o objeto no colo dele e aciona um botão**pressiona um botão, segura braço D do bebê, encosta-o na cadeira puxando pelos ombros, aproxima seu rosto dele, afasta um pouco, segura o brinquedo no colo dele* 34 B ≠R(objeto)(leva braço E para pegar)(bate no objeto e aciona a musica)(leva as duas mãos e segura-o)(bate novamente nele com a mão E)(para)(solta)R(objeto à E)(tenta bater nele com o braço E)R(objeto à D)(leva os braços pra alcançá-lo)R(objeto A; F e B)(leva os braços pra alcançá-lo)(segura) ≠(flexiona-se levando à boca ao brinquedo)(endireita-se com ajuda da mãe)R(objeto)≠ ≠(flexiona-se novamente levando à boca ao objeto)(vocaliza) (afasta-se com ajuda da mãe)(bate no objeto com a mão E) A mãe apresenta ao bebê um objeto musical e mostra seu funcionamento batendo no objeto fazendo com isso que toque uma musica (33). O bebê olha para o objeto pega com a mão esquerda e bate com a mão direita acionando uma musica (34). A mãe cumprimenta o bebê por isso usando a voz prosódica: “[] I:xo”. Vejamos outro exemplo utilizando esse mesmo brinquedo: Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 13 M *≠ (21s) senta/pa bincah*/*(5s) oa*/*mudou mainha a musica/(12s) ê::::: ≠/né de boca não esse blinquedo ≠ nã::o/eh nã::o de botar a boca não mamã::e/bate aqui oh []/..não é::: pxiu*≠/*não mamãe/ não/não/pxiu*≠/≠*olha pa mamãe/eh não °pa bota na boca não ≠°[]/ visse*/≠*aqui oh [->]/*≠-> *coloca nas mãos do bebê, segura o brinquedo, aciona-o quando para a musica**imita a vocalização do bebê**segura o brinquedo, acionao quando para de tocar**segura o tronco do bebê**aproxima seu rosto do bebê, da cheiro na testa**aciona e segura o brinquedo* 14 B ->≠(bate com a mão E no objeto)(segura com as duas mãos)(volta a 257 bater)(vocaliza)(volta a bater)R(objeto)(segura)(flexiona-se e coloca a boca no objeto) ≠ ≠(afasta-se)(bate no objeto com a mão E)(flexiona-se e coloca a boca no objeto) ≠≠(afasta-se)(traz o objeto pra boca) ≠≠(solta o objeto)(vocaliza)(bate nele com a mão E) ≠≠(bate no objeto)(flexiona-se e bota a boca nele) ≠ Nesse exemplo nos turnos 13 e 14 vemos a mãe configurar a ação do bebê de bater no objeto quanto ao fato disso se relacionar com a mudança na musica (causa e efeito). Ela também impede que o bebê explore de outra forma o brinquedo, contextualizado para ele que não se trata de algo para se levar à boca. Falar ao telefone celular : Extrato - 19 Data: 15/07/08 Tempo: 03:48:38~04:06:26 Idade do bebê: 14 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 01 M ≠*vem cá vem cá vem cá/ alô../alô papai/**..alô::/ alô:: pa:i/ alô:: []/papai≠/≠.. oh teteu falando papai≠/≠se você quer sorrir e brincar/ como é mamãe ¤¤¤ [] patati patata/**dá p’a mamãe/o celular≠/≠.. p’a mamãe ligar p’a papai≠≠ [-8s]*/*eita mamãe/.. da p’a mamãe/.. da p’a mamãe/da p’a mamãe coisa linda: [-4s]*≠ *levanta o bebê segurando pelo braço, faz o brinquedo funcionar, mostra ao bebê, coloca o celular no seu ouvido e no ouvido do bebê* *pega o celular coloca no seu ouvido e depois no ouvido do bebê, segura na cabeça do bebê, olha para frente e canta* *pega o celular, faz funcionar, coloca na frente do bebê, da para o bebê e faz funcionar o brinquedo novamente* *pega o bebê e coloca no seu colo e depois posiciona o bebê* 02 B ≠R(brinquedo)(segura o brinquedo)(brinquedo)R(D)(segura com as duas mãos o brinquedo)≠ ≠R(mostra o brinquedo para mãe e depois coloca no ouvido) ≠≠ R(F;E)(brinquedo)≠ ≠R(D)≠ ≠R(F) (olha para o brinquedo e tanta pega-lo)(segura o brinquedo) (levanta o brinquedo)(brinquedo)≠ Eles orquestram o uso do telefone celular. A mãe dá o modelo (01) e o bebê após olhar para essa ação da mãe, segura o celular, da para a mãe, retoma e por fim leva o celular para o ouvido numa imitação à sua mãe (02). Temos a participação do bebê em dar, tomar e imitar um gesto. Extrato - 20 Data: 02/08/08 Tempo: 04:06:27~04:19:46 258 Idade do bebê: 15 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 01 M ≠* olha::::: o celula::::::/eu vo fala com quem mamãe.. (4s-)/*≠≠*alô::..(2s)/alô:: (2s)/alô:: vovó/ papai/ ne vovó não é papa::i hh/ ga. papai/fala papai..(1s) papai.. hum..(1s) hein/ olha:: será que é papai mesmo*≠ *mostra o celular ao bebê, entrega e segura o bebê**pega o celular, mostra ao bebê novamente,passa a fralda no rosto do bebê e pega o celular do bebê* 02 B ≠R(celular)(segura o celular e balbucia reduplicado)≠ ≠(celular) (vocaliza e segura novamente o celular)≠ 03 M ≠*alô..(1s) papai/ papai ta onde teteu..(1s) hein/ papai tá onde*≠≠*alô::/ papai ta aqui:::: olha só.. [13s]*/ alô:: [03s]da pra mamãe/ da...(3s) da pra mamãe atender..(2s) da.. (2s)da bebê ...[04s] dá pra mamãe atender hh/...[6s] *≠ *coloca o celular no ouvido do bebê e fica segurando e faz tocar o celular**pede o celular ao bebê e passa a fralda no rosto do bebê* 04 B ≠R(F) ≠(segura e olha para o celular)≠ 05 M ≠* alô..(3s)/ alô:::≠ ≠teteu que falar com teteu/papa::i≠/≠alô papai..(2s)/ olha::: hh*≠/≠*olha mamãe [15s]/toma..(1s) toma.. (2s) toma mamãe/toma hh/ toma teu*/*toma..(1s) toma..(1s) toma teu/toma mamãe hh[10s]*≠/*hein..(2s) quer não hh≠/≠toma...(5s) [7s]/ alo..(4s)/ cadê o alo de teteu [9s] *≠ *pega o celular e coloca na sua orelha, depois coloca o celular na orelha do bebê ajudando-o**faz o celular tocar**com o ritmo do som ela fica mostrando o celular ao bebê**ela encosta o celular na mão do bebê** senta o bebê no sofá e mostra o celular novamente* 06 B ≠R(M)≠ (celular)(segura o celular) ≠(tira o celular da orelha e olha para o mesmo) ≠(celular) ≠(B) ≠ (segura e olha para o celular) ≠ 19 M ≠* da p’a mamãe..(3s)/ num que da p’a mamãe atender não é..(10s) [16s]*/*da p’a mamãe..(2s)≠/≠da. da. da/ da p’a mamãe Mateus.. (2s) [11s]*/*alo::≠/≠teteu..(2s)*/*que fala com Mateus::... (05s)/[]...(05s)≠/≠[]...(10s)hh*≠/≠*é no ouvido mamãe/ mamãe ta falando contigo oh []...(12s)*≠ *aproxima seu rosto no bebê e pede o celular**aproxima sua mão do celular e continua pedindo o objeto**pega o celular e coloca na sua orelha**coloca o celular na orelha do bebê,coloca na mão do bebê**pega o celular e coloca na orelha do bebê, segura a cabeça do bebê, depois faz movimentos embaixo do queixo do bebê** 20 B ≠R(celular)(segurando o celular com as duas mãos) ≠ ≠(segurando o celular com uma mão)(leva o celular e a cabeça para o lado direito) ≠ ≠(M)≠ ≠(celular)(segura o celular)≠ ≠(F) ≠ ... 259 Outro exemplo em que a mãe faz a modalização do uso do celular de brinquedo junto com a participação do bebê. Ela da o modelo e depois torna o objeto acessível ao bebê (01-05 e 19). O bebê explora o celular olhando, segurando e levando para o ouvido com isso dandolhe função (02-06 e 20) 5.7.8 O índio Extrato 14 Data: 01/05/08 Idade do bebê: 12 meses Tempo: 02:20:06~02:37:55 Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto na cama dos pais com brinquedos espalhados e a cadeirinha do bebê. Mãe e bebê estão sentados. O bebê está sentado de costas pra mãe inicialmente. 19 M ≠*cadê o índio*/o’ o’ o’ o’ /... ≠como eh que eh o índio/mosta pa mamãe/≠... ≠mosta pa mamãe/≠*o indio oa’ oa’ oa’ oa’/mostra o indio pa mamãe*≠/≠ (4s) ≠ *o indio pa mamãe oa’ oa’ oa’ ≠oa’≠/UB’ ub ub’ ub’*/vai ≠* ... []≠ parabéns pa toto::so nesta datah que:lida≠/.. UI mamãe/≠ [] muitas fe::li.ci.da.des muitos anos de vida*≠/≠ *[]Ê:::::* ≠ *vira a cabeça pra que olhe pra ela**pega na mão E do bebê e leva a sua boca**leva sua mão a boca imitando o som do indio* *bate palmas**pega as mãos do bebê e bate palmas* 20 B ≠R(M) (vocaliza imitando a mãe) ≠≠(vocaliza)≠≠R(varias direções) ≠ ≠(vocaliza e movimenta o braço imitando a mãe) ≠≠(idem) ≠ ≠(vocaliza) ≠≠(bate palmas)(balança as pernas) ≠≠(mexe o corpo todo)(leva as mãos a boca) ≠≠(bate palmas com a mãe) ≠ A mão neste caso, é importante na execução da onomatopéia do índio compondo a gestualidade dessa caracterização do personagem (índio). A mãe nesse exemplo é quem dá o modelo (19) e pega no braço do bebê para ajudá-lo a fazer, depois solta e o bebê segue imitando o gesto e a vocalização sozinho (20). Nas análises anteriores mais precisamente as que analisamos a configuração do balbucio no diálogo (p. 158) vimos outra configuração do jogo do índio. Em relação ao gesto nesse exemplo anterior, o bebê usa a mão materna para a configuração da onomatopéia e a mãe é quem se adapta a ação do bebê. 5.7.9 Pernas e pés Extrato 12 260 Data: 10/02/2008 Tempo: 01:59:33~02:09:39 Idade do bebê: 34 semanas Proxemia: Mãe e bebê estão no quarto. Mãe senta o bebê na cabeceira da cama encostado nos travesseiros). Durante toda a filmagem tinha musica com intensidade alta tocando na casa. 01 M ≠*I:sho::/isho mamãe sentadinho/fica assim/¤¤¤ o bonequinho de tete:u/vem pega mamãe o bonequinho/...os bunequi:::nho:/.. ≠toma mamãe os bunequinho/PEGO::: ≠/(2s) toma mamãe o bunequinho/ hum::: ≠/≠ (4s) pega os bunequinho aqui oh/(6s) eh::::: ≠*/ ≠¤¤¤¤*≠ mamã:::*/. ≠cadê as perna de tete::u/os pé:s/os pés de tete:u/≠ cadê≠/AH os pés de teteu *hum [] hum */*goto:so o pé de teteu goto::so mamãe/*-> *mostra brinquedo ao bebê em varias direções)**mostra outro brinquedo**coloca o brinquedo de lado**cheira o pé do bebe^* *ajeita o bebê pra melhor sentar* 02 B ≠(mão E na boca)R(F)R(brinquedo)R(D)≠ ≠(pega o brinquedo)≠≠(idem)≠ ≠(balança as pernas)(vocaliza)(pega no brinquedo) ≠ (balança as pernas) ≠≠(levanta as pernas) ≠ Nesses turnos podemos ver a responsividade do bebê à sua mãe. Quando esta lhe pergunta sobre as pernas e os pés o bebê tinha balançado as pernas. Talvez a identificação materna de que o bebê estava com o foco de atenção nessa parte do corpo desencadeou essa ação da mãe de colocar isso em contexto. Após a questão da mãe o bebê responde vocalizando. A mãe pergunta novamente: “cadê” , o bebê volta a balançar as pernas e as levanta parecendo uma resposta a essa questão materna. Ela por sua vez da a isso a conotação de resposta enfatizando essa ação do bebê na sua fala: “ AH os pés de teteu *hum [] hum */*goto:so o pé de teteu goto::so mamãe/*->” e fazendo carinho (cheiro). 5.7.10 O beijo Extrato - 16 Data: 31/05/2008 Tempo: 02:55:30~03:13:17 Idade do bebê: 12 meses Proxemia: Mãe e bebê estão em face a face. Bebê está sentado na cadeirinha. 23 M *≠->(2s) TE::u*/*(1s) manda beijo pa mãe/[]hum[]A hum[]A hum[]A/hum::: manda beijo*≠/≠*...(?) [] ISSO que gostoso mandou beijo pa mãe/*≠-> *tira o chocalho das mãos do bebê e coloca no banco**sustenta o bebê com os dois braços e aproxima seu rosto dele**segura o bebê, 261 aciona o brinquedo musical involuntariamente com seu braço E, aproxima seu rosto dele encostando testa com testa, afasta-se e para a musica do brinquedo* 24 B ≠->R(F)(toca o rosto da mãe com a mão E)R(M) ≠≠(desequilibra-se) (vocaliza)(mexe todo o corpo)(solta beijo ?) R(B) ≠ 25 M *(1s) um beijo pa mãe [] manda beijo pa mamãe m’o amozinho/manda/[]≠... * manda * [] beijo hum *[]A hum []A hum[]A hum[]A*≠/≠*manda meu amô:::::/pa maMÃE/*≠-> *aproxima seu rosto do bebê, eleva a cabeça do bebê segurando seu mento, solta, segura novamente, solta**pega no mento, da beijo na bochecha E dele**da beijos na bochecha do bebê**afasta-se e segura pé E do bebê* 26 B ≠->R(A)R(M) ≠≠(vocaliza)R(A) ≠≠ R(M) ≠ Nessa sequencia mãe e bebê estão alinhados em face a face. No turno 23 a mãe propõe ao bebê que este lhe dê um beijo e ela solta vários beijos obtendo o olhar dele. Quando o bebê olha, a mãe exagera ainda mais na ação colocando som vocal antes de estalar os lábios, para e outra vez pede ao bebê um beijo com uma frase imperativa. O bebê produz um som (24) e a mãe o cumprimenta elogiando e utilizando da prosódia: “ISSO que gostoso mandou beijo pa mãe/*≠->”. Nos turnos seguintes (25 e 26) a mãe repete o mesmo jogo e obtém o olhar recíproco do bebê mas ele não mais repete o “beijo”. O mais interessante é o fato do bebê apresentar esse tipo de resposta, uma imitação da mímica oral materna. Ele reproduziu à sua maneira, o som que lhe foi possível e assim retribuiu à mãe o beijo que ela pediu. Esse evento é de grande gratificação para a mãe que vê no seu filho a capacidade de responder-lhe algo que lhe é possivelmente difícil de executar, pois um movimento de explosão bilabial para o bebê com tal privação motora é algo que a mãe sabe e vê como quase impossível. Porém ela toma uma produção oral do bebê (possivelmente um estalar de língua contra o palato, pois a filmagem não permite identificar precisamente o movimento oral) enquanto um beijo possível de ser executado pelo seu bebê. Eles co-construíram um significado para suas mímicas faciais. O que tornou nesse momento a privação motora do bebê apenas um fundo na participação dele. 5.7.11 Considerações sobre a orquestração da posturo-mimo-gestualidade Neste tópico nos concentramos nas analises sobre as trocas da díade envolvendo o corpo. Mais precisamente vendo em sua posturo-mimo-gestualidade como eles orquestraram 262 o uso das mãos, pés e vimos mesmo um momento de trocas sobre a mímica facial no exemplo do beijo. Observamos que o bebe iniciou o reconhecimento das mãos de forma autoexploratória, através do olhar e foi sendo modalizado no discurso materno essa descoberta da parte dele. Em seguida os jogos tornaram-se mais elaborados quanto ao uso das mãos, surgindo o pegar, o dar/soltar, o bater e o alisar. Todas essas ações evoluindo através da dinâmica dialógica da díade. Salientamos a modificação de um gesto auto-exploratório do bebe em relação as mãos para se transformar no uso funcional delas através dessas ações co-construídas. Sobretudo vimos isso ser orquestrado e afinado no tempo e no espaço do dialogo. Referimos o fato de a mãe ter sido orientada a modalizar essa auto-exploração manual do seu bebê para o uso funcional dentro de um contexto interativo. Vimos que ela assim o fez. Assim como as vocalizações, o olhar e o sorriso, a posturo-mimo-gestualidade foi sendo orquestrada de forma simultânea e sequencialmente na dinâmica dialógica da díade. Procuramos analisar dentro do dialogo os sinais de sincronização da díade quanto ao uso do corpo. Vimos que essa sincronização acontece na sequencialidade interna, em que as ações obtêm seus significados a partir das posições ocupadas pelo « eu » e o « outro » no 'esboço' comunicativo, assim como no gênero da atividade. Dando um exemplo sobre o uso funcional da mão para explorar objetos, no tópico balançar o chocalho apresentamos o extrato 15. Nele a díade orquestrou dentro da sequencialidade o pegar e o balançar o objeto juntos e depois cada uma na sua vez. E quanto à sequencialidade externa, podemos considerar esse mesmo exemplo acima com o chocalho vendo agora através da mudança que eles alcançaram quanto ao uso desse objeto dentro de uma sequência linear de momentos de tempo quando comparamos a díade agindo com esse objeto nos extratos anteriores e posteriores a esse : 13, 14, 15 e 19. Percebemos as mudanças dentro do 'tempo' para as ações da díade com este objeto. Assim analisar a mudança, na visão dialógica, é considerar esses movimentos sincrônicos e sequenciais da tríade Alter-Ego-Objeto. Neste caso, o « eu-bebê », o « eu-mãe » e as trocas compartilhadas dentro desses movimentos do « eu » e do « outro » enquanto o Objeto dessas trocas. A sequencialidade externa concebendo a mudança dentro de uma linha do tempo e a sequencialidade interna referindo-se às mudanças simultâneas no bebê e sua mãe no momento das trocas. 263 Consideramos as trocas da díade envolvendo o corpo, dentro da sequencialidade interna do dialogo, enquanto mudanças simultâneas no « eu » e no « outro » mesmo que estas não sejam imediatamente aparentes. Vimos que essas mudanças são sutis e deixam um espaço virtual latente nos participantes. Damos o exemplo da mãe que além de atribuir ações ao bebê através de sua fala, procurar deixar na maioria das vezes um espaço no dialogo (com pausas e posturo-mimo-gestualidade) para o bebê se manifestar e em algumas manifestações deste ela quem passa a segui-lo. Passemos em seguida as analises envolvendo as trocas da díade dando um olhar agora para as emoções compartilhadas. 5.8 A construção social da emoção: A co-construção do sorriso Até agora, vimos a orquestração a díade na harmonização de suas vozes e de sua posturo-mimo-gestualidade. Essas ações e vozes carregam também o conteúdo emocional partilhado pela díade. A seguir passamos a analisar como a díade compartilhou suas emoções durante essas dinâmicas. Trataremos a emoção enquanto emergente de um processo de co-construção na dinâmica dialógica e multimodal. Consideramos a emoção como emergente das dinâmicas dos participantes na sequencialidade da interação (GOODWIN & GOODWIN, 2000) e como um fenômeno social emergente do processo relacional da dinâmica da interação mãe-bebê (LYRA, 2007 ; BERTAU, 2007). A emoção sendo co-construída através das dinâmicas dialógicas envolvendo o « eu » e o « outro » que envolve a díade quanto a afetividade. Fazendo parte de uma dinâmica construída dentro das atividades multimodais situadas (GOODWIN, 2000), a emoção não precisa de um « vocabulário » (WIERZBICKA, 2000) para ser manifestada. Ela vai ganhando sentido na dinâmica dialógica da díade adultobebê (NEVES, 2006). Através de um trabalho melódico-afetivo que envolve a interação mãe-bebê, este ultimo vai ganhando, via discurso melódico-afetivo materno, sua própria subjetividade (CAVALCANTE, 1999). Sabemos que comunicamos através da face e que está é um veiculo privilegiado para as trocas emocionais (ECKMAN, 1976 ; 1993). E que a comunicação não está presa somente 264 a este canal. Podemos nos perguntar diante de uma díade mãe-bebê com síndrome de Moebius : como eles compartilham suas emoções ? Neves (2006 ; 2010) investigou num estudo transversal, o processo interacional e comunicativo de uma díade pai-bebê, o bebê portador de Síndrome de Möebius e observou a dinâmica comunicativa multimodal entre eles. Nessa dinâmica, os recursos multimodais observados por ela dentro de uma abordagem da Analise Conversacional – AC “strictu sensu », foram ricamente compartilhados e cheios de significados para a díade. Ela constatou que é na pesquisa dos mecanismos processuais pelos quais os participantes co-agem criando sua historia desde o começo da vida, que está a possibilidade de discernir sobre as primeiras manifestações comunicativas que integram a historia cultural e a mediação simbólica das pessoas. Ela ainda propõe que se faz necessário uma imbricação teórica e metodológica para responder as questões advindas do processo de aquisição da linguagem. Nos extratos apresentados, estamos buscando demonstrar como o processo de coconstrução na dinâmica dialógica é multifacetado. Quando o bebê e a mãe estão jogando com o objeto por exemplo, as experiências corporais agradáveis que o bebê sente ao atingir com sucesso o objeto depende do suporte motor fornecido por sua mãe enquanto ela coloca o objeto mais próximo do alcance dele. Se a mãe, no entanto, não colocar o objeto mais próximo do alcance dele enquanto ele move o braço em direção ao objeto e em vez disso, ela só olha para o bebê, diferentes posições do self são tomadas por ambos, mãe e bebê, e influenciam o sucesso de alcançar o objeto. Pode-se testemunhar com esse exemplo e com os outros apresentados até então, a dinâmica de dois corpos sentindo, simultaneamente em duas posições espaciais diferentes, co-participando nas experiências emocionais de êxito ou não para se chegar a um objeto. Portanto, ao mesmo tempo ocupando diferentes corpos que estão sentindo sensações diferentes em relação um ao outro, a mãe e o bebê estão dialogicamente circunscrevendo a posição do self e, de certa maneira, as emoções uns dos outros. Percebe-se então que desde muito cedo, sem o outro não haveria o « eu » e as emoções do « eu » e, paralelamente, sem o « eu », não haveria o outro e suas emoções. (BAKHTIN, 1986) As emoções são, portanto, um fenômeno único a ser examinado com cuidado, porque emoções informam as pessoas sobre as suas posições independentes em relação aos outros, assim como o significado das suas relações com os outros. (GARVEY & FOGEL, 2007) 265 Ao considerar Bakhtin a noção de desenvolvimento do self é concebida como um processo ativo e contínuo de « co-estar »: « é co-estar nos diálogos linguisticamente dominados, nos diálogos cinestesicamente dominados, ou ambos. A individualidade envolve os três parâmetros que colaboram de forma contínua e ativamente um com o outro: « eu », « outro », e as relações entre o eu e o outro. De certa forma, as emoções integram os três parâmetros de uma visão dialógica da individualidade que envolve a tríade dialógica: “alter-ego-objeto ». (MARKOVA, 2003) Muitas abordagens teóricas com as emoções e self existem, cada um cedendo à diversidade das metodologias de investigação. Fortemente influenciada pela teoria de sistemas dinâmicos e os escritos de Henri Wallon, Mikail Bakhtin e David Bohm, autores como Fogel (1993), Pantoja (2001) e Garvey & Fogel (2007) enfatizam que emoções, self e comunicação são processos inseparáveis que confluem nas ocorrências do dia-a-dia no dialogo entre os parceiros. Os pesquisadores do desenvolvimento voltados para o estudo das emoções e do desenvolvimento do self, consideram importantes o compromisso de descrever em detalhes as mudanças nas emoções e as posições do self como parte da emergência do quadro interativo. A noção de auto-organização que eles emprestam da teoria dos sistemas dinâmicos, está no cerne das análises das emoções e do desenvolvimento do self (LYRA, 2007 ; 2011). Assumimos também, a visão das emoções como dinamicamente auto organizadas em padrões que emergem através do diálogo e que são singularmente vividas por cada indivíduo, cujo corpo está situado em diferentes locais em relação aos outros. Assim consideramos a face, as posturas e posições, os gestos, as vocalizações, as atividades do cérebro, e os contextos dialógicos em que os seres humanos estão envolvidos. Em outras palavras, as emoções são vividas dinamicamente através das ações, posturas, gestos, vocalizações, movimentos e os fluxos biológicos dentro do corpo e elas surgem através do diálogo com « eu » e o « outro ». Como mencionado anteriormente, as emoções são vividas em corpos, que co-existem em relação a outros organismos, mas elas não estão "contidas" no corpo. Como um corpo do indivíduo alcança, inclina-se, e se conecta a outro corpo, ele da abertura para a experiência e relacionamento com os outros, enquanto o outro é também aberto ao contato com ele. Através do diálogo, o corpo vai entrar em sintonia com diversas experiências emocionais como a abertura ou a proximidade em relação aos outros, de conexão ou desconexão do outro, e assim 266 por diante, um processo chamado “ressonância afetiva” (SCHORE, 2001) e são baseadas em correntes teóricas da física sobre campos energéticos. (GARVEY & FOGEL, 2007 ) No caso dos bebês, essas experiências dialógicas com suas mães são particularmente relevantes, pois é nesse processo que o adulto e o bebê passam uma grande parte de seu tempo e eles estão com isso despertando o desenvolvimento de relações primárias através de dinâmicas afetivas envolvendo as emoções desde cedo. Seguimos mostrando a orquestração das dinâmicas dialógicas da díade agora pela ótica do que eles trocaram envolvendo a emoção compartilhada. Extrato - 17 Data: 17/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:13:20~03:31:00 Proxemia: Mãe e bebê estão sentados frente a frente. Bebe está sentado na cadeirinha e mãe no chão. 27 M ->≠*(6s)[] segura mamãe*≠/*(8s) ixim pilulito go’toso mamã:/ que pilulito gostoso minha mã:::e*≠/≠*qui pilulito gosto::so::/ o::lha: o pirulito de mateu:s*≠/≠*o:lha::/TOMA/como é que faz ((estala labios 4X))/ ≠*-> *ajuda bebê a pegar pirulito, pega e da novamente pra ele segurar, segurando a mão dele leva o pirulito a boca**solta a mão dele**ajeita pirulito na mão do bebê**segura o pirulito e mostra na frente dele**leva pro lado E do bebê, volta pro centro, aproxima seu rosto do bebê como se fosse comer o pirulito* 28 B ≠->(tenta segurar o pirulito com a mão D)(solta)R(mão)(M; A) ≠ ≠(leva pra boca com ajuda da mãe)(saboreia o pirulito)R(A) ≠≠(tira da boca)R(pirulito)(tenta segurar com as duas mãos com interferência da mãe)(tira as mãos) ≠≠R(pirulito; M; pirulito) ≠ ... 33 M ≠*(9s) A:::i tete::u [] ≠/assim doi mamã::: []≠/≠assim doi mamã::e/eh:: tem que fazer carinho em mamãe []*≠/≠*como eh que faz carinho em mamãe/hum/hein meu amô:/faz carinho []≠/ ≠ow:: meu deus que pig[]cinha::/* ≠ *ajeita o bebê no colo, pega-o pelo tronco por baixo das axilas, apoia-o de pé no seu colo, da beijo na testa dele, ficam em face à face, da cheiro na testa do bebê**ajeita o bebê de pé, da beijo na testa dele, depois no pescoço* 34 B ≠(tenta equilibrar-se de pé)(vocaliza)(bate com as mãos varias vezes contra o rosto da mãe)(para e segura o rosto dela)R(M)(baixa a cabeça) ≠≠(levanta a cabeça)R(M)(encosta a testa nela)(segura o rosto dela com a mão D) ≠(joga a cabeça pra tras)(solta a mão D do rosto)(pega novamente o rosto dela com as duas mãos)(cai com a cabeça pra frente e encosta no rosto da mãe) ≠ ≠(joga a cabeça pra tras)(solta o rosto da mãe)(leva as mãos ao rosto)(esfrega os olhos)(leva a cabeça pra frente)(pega no rosto da mãe com as duas mãos ≠ 35 M ≠*[] faz carinho em mamãe/faz/faz faz faz . faz/ca.. 267 Humhumhumhum*≠/≠*(5s) palma palma pal.ma pé pé pé . roda roda roda ca.rangueijo peixe é*≠/≠*vai teteu/..palma palma palma pé pé pé . roda roda roda carangueijo peixe eh:::::: []/vai/*≠-> *da beijo na testa dele, sustenta o bebê, encosta o rosto contra o rosto do bebê, repete o bebê balançando a cabeça de um lado pro outro e esfregando o seu nariz na testa dele**afasta, coloca o bebê sentado na ponta da cadeirinha e segura-o pelo tronco**ajeita-se sentando mais proximo dele, segura-o e balança-o elevando e baixando seu tronco* 36 B ≠(pega no rosto da mãe)(encosta testa no rosto dela)(solta o rosto)(baixa a cabeça)(flexiona os joelhos)(levanta a cabeça) R(M)(segura rosto dela)(vocaliza)(gira a cabeça de um lado pro outro) ≠≠(joga cabeça pra tras e depois pra frente)(equilibra-se sentado)(balança braços e pernas)(para)(flexiona-se pra frente) ≠ ≠(fica ereto)(bate palmas e os pés)(para)(movimenta o corpo pra frente e pra tras, pra cima e pra baixo)(balança os braços)R(M) ≠ 37 M ->≠*oi oi oi min’ oi oi oi [] ≠/≠te::u/palma palma palma pé pé pé . roda roda roda carangueijo peixe eh:::: ≠/ ≠batendo palma dan dan dan batendo . ê::::::: ≠/≠...palma palma palma como é/...palma palma palma pé pé pé/*≠ *->segura o bebê, roda o tronco dele rapidinho de um lado a outro, para, segura-o, balança-o pra cima e pra baixo* 38 B ≠->≠≠(levanta a cabeça)R(M; D)(bate palmas e pés)(para)(equilibra a cabeça) ≠≠(bate palmas e pés)(para)R(D;B) ≠≠(tenta equilibrarse)R(F)(bate palmas) ≠ Nesse extrato vamos analisar os momentos em que a mãe sorri (mímica) e ri (voz). Em todos os turnos maternos desse exemplo, vê-se que ela ri ao obter o olhar do bebê (27, 35, 37) ou o faz expressamente para marcar esse fato (33). No turno 27 a mãe ri do fato do bebê estar curtindo chupar o pirulito. No turno 33 a mãe ri da ação do bebê de vocalizar e bater as mãos no seu rosto. No turnos 35 e 37 a mãe ri com os movimentos corporais do bebê parecendo uma dança. A mãe ao mesmo tempo em que se diverte brincando com o bebê, configura para ele o prazer, a emoção, a alegria, a diversão que se expressa através do riso. Ao longo do tempo, a recorrência de tais experiências em relação a essa outra pessoa ou atividade irá contribuir para o senso de si mesmo no bebê, como um indivíduo se divertindo e tendo prazer e ressentindo a vitalidade emocional do relacionamento. Portanto, essas mudanças corporais são essenciais para nossas experiências emocionais do “eu” ao longo do tempo. 5.8.1 Sorriso no jogo de cócegas : 268 Extrato - 18 Data: 29/06/08 Idade do bebê: 13 meses Tempo: 03:31:01~03:48:34 Proxemia: mãe e bebê estão frente a frente. O bebê está sentado na cadeirinha e a mãe sentada no chão. 11 M ≠*oh teteu/oh/o pé*/*vo’fazê cosquinha no pé de::le≠/≠vô fazê cosquinha no []pé dele []/hh*≠/≠*o::::lha:::/oa teteu/ qu’eh ixo/. hum/[]*/*pé . pé . pé . pé pé pé pé/ fala mamãe/. pé≠/hh.. ≠como é o nome mamãe hh*/*segula/segula teu pé °mateus°/ segula teu pé/segula*≠/≠*segulah não/ segulah não/ segulah não/ ¤¤¤*≠/≠*hein mãezinha/hh hum/. []*≠ *mãe pega no pé do bebê e faz carinho** mãe faz cócegas no pé do bebê**a mãe levanta o pé do bebê e fica olhando para ele**mãe pronuncia a palavra pé em frente ao bebê** a mãe leva a mão do bebê para segurar seu pé**mãe faz cócegas nos pés do bebê** a mãe ajeita o bebê na cadeira e dá um beijo* 12 B ≠R(M)≠ ≠R(D e mexe os pés)≠ ≠R(D)≠ ≠R(E)≠ ≠R(mexe os pés)≠ ≠R(segura nas mãos e olha para E)≠ Observamos nessa brincadeira de fazer cócegas que a mãe não faz somente cócegas no bebê como também sorri das reações dele a isso. A ação dela se repete no mesmo principio de agir e reagir dentro do contexto. Extrato – 20 Data: 02/08/08 Idade do bebê: 15 meses Tempo: 04:06:27~04:19:46 Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. Iniciam jogos em face a face e depois bebê sentado no sofá. 11 M ≠* bora brinca..(2s) batendo palma []/ batendo o pé::/cosquinha.. cosquinha/ cosquinha em teteu cosquinha:::/ cosquinha::: [])*/*[] uhmmmm≠/≠(11s)fica em pé/em pé..≠/≠em pé..*≠/≠*(3s) deita::do/ xa:::u..(1s)/ xa::u.. ≠/≠ a mão de mamãe/ mã:::o*≠/≠*(08s)[]/ta fazendo índio com a mão de mamãe é/é meu amo:: hum [ ] ≠/≠ é meu amo::/tu ta fazendo indío com a mão de mamãe é/ aqui oh mamãe oh/muahmuahmuahmuah [] *≠/ * pega as mãos do bebê para ele bater, faz cosquinha no pé do bebê**dá beijo e coloca o bebê em pé no sofá segurando no braço e na perna do bebê**segura na cabeça do bebê encostando no sofá, coloca sua mão na frente do rosto do bebê e depois fica encostando sua mão na boca do bebê**segura o bebê e da um cheiro no pé do bebê, coloca a mão do bebê na sua boca* 12 B ≠R(M)(olha para a mão da mãe)(bate palma)(segura suas mãos e mexe os pés)(B)≠ ≠ (vocalizações)≠ ≠R(B)≠ ≠R(F)(mão da mãe)≠ ≠(segura na mão da mãe)(vocalizações)≠ ≠R(B)(mexe os pés)≠ ≠R(E)(B) ≠ 269 Nesses turnos, vemos dois momentos em que a mãe ri por razões distintas (11). No primeiro momento ela ri das reações do bebê às cócegas e no segundo momento da exibição do bebê que faz o índio : « (08s)[]/ta fazendo índio com a mão de mamãe é ». O bebê pode não estar expressando aparentemente um sorriso, mas suas reações vocogestuais expressam sua satisfação na atividade que estão compartilhando, assim como ele exibe isso quando faz o gesto e a onomatopéia do índio. Observamos mais adiante na evolução dessas trocas que o sorriso agora passa a ser compartilhado pela díade. Extrato - 22 Data: 12/09/08 Tempo: 26:44~44:44 Idade do bebê: 16 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 09 M ≠*for::ça mate::us...(3s)/ hum.hum.hum [] hum (1s) que foi hein han..(2s)*≠/≠* a::tchim...(1s) mate::us/a:tchim. a::tchim a::::tchim (2s) a::tchim [] a::tchim a::tchim a:tchim a::tchim []≠/≠teteu o mamãe teteu..(2s)/ teteu o mamãe a::tchim a::tchim [] a::tchim a::tchim..(2s) *≠ *apoia o joelho do bebê para tentar levantar, levanta o bebê e da um beijo e senta o bebê no sofá**senta no chão e faz que espirra na frente do bebê* 10 B ≠R(F)(cai no sofá)(tenta se levantar)(vocaliza)(F)≠ ≠(E) ()(F)()(M)()≠≠(A)()(M) ()≠ 11 M ≠*teteu vem ca..(2s)/ vem ca p’a mamãe oh..(1s) a::tchim [] []*≠/≠*tete::u ¤¤¤ te::u..(2s) mate::us/ mateus..(2s) a::::tchim / tu num que mais rir de mamãe não é/ hein nego safado/ hein/(1s) hein meu amor tu num que mais rir de mamãe mais não é..(2s)*≠/≠*faz carinho ow::::: carinho em mamãe assim oh nã::o sem reclamah mamã:::e/ olha:::: °o rosto de°mamã::e..(1s) olha só:: cari::nho tete::u (2s) ta reclamando de que meu amo:::*≠ *chama e segura a cabeça do bebê, da um cheiro**segura o bebê**segura a mão do bebê e passa a mão dele em seu rosto, passa a mão no rosto do bebê* 12 B ≠R(E)(F)(M)(vocaliza)(B)≠≠(D)(F)(E)(M)(B)≠≠(vocaliza)(B)(F) (B)(vocaliza)(D) ≠ 13 M ≠* hein °senta direitinho senta°/ nã:::o..(2s) ei psiu mate::us..(2s)*≠/≠*a:::tchim. atchim..(2s)/que não [] ri com mamãe mais não*≠/≠*(3s)carinho em mamãe faz carinho hein mamãe te::u/ faz carinho hein mamãe oh cari:::nho teu (1s) hum faz não..(2s)*≠ *deixa o bebê sentado,segura nos braços dele para não cair* *faz que espirra, da beijo não mão do bebê**passa a mão do bebê em seu rosto, passa a mão na cabeça do bebê* 270 14 B ≠R(D)(vocaliza)(F)(D)≠ ≠(M)(E)≠ ≠(M)(B)(vocaliza) ≠ Identificamos pela primeira vez no corpus as respostas do bebê que configuram mais precisamente um sor(riso). Veremos que ela necessariamente está imbricada ao contexto do que eles estão trocando. No turno 9 notamos a mãe simular um espirro e obtém como resposta um riso do bebê (vocal) a cada vez que « espirra ». Isso mostra o quanto os dois estão afinados, senso isso fruto das suas co-construções. Segundo Goodwin (2000) é importante se considerar a relação causa e efeito do evento porque isso mostra que a resposta é muito mais uma questão de organização evidente do que de uma eventualidade aleatória. Pode ser isso que motiva a mãe a continuar a repetir a ação por mais 6 vezes e em 3 delas eles estiveram bem alinhados compartilhando o riso. Em seguida (11) a mãe ajeita o bebê e o chama para que este olhe para ela e repete o « espirro ». O bebê olha para a mãe e não mais ri, desviando em seguida o olhar para baixo. Porém faz uma vocalização prolongada. A mãe chama a atenção do bebê mais uma vez para olhar para ela e quando ele olha ela faz um novo « espirro ». O bebê não ri e ela interpreta com uma prosódia melódica : « tu num que mais rir de mamãe não é/ hein nego safado/ hein/ (1s) hein meu amor tu num que mais rir de mamãe mais não é.. (2s)*≠”. Na sequência (13) a mãe outra vez faz o « espirro » e também o bebê não ri. Mais uma vez ela contextualiza dizendo : « (2s)/que não [] ri com mamãe mais não*”. E quando o bebê vocaliza ela completa : « (1s) hum faz não.. (2s)*≠ ». Talvez o fato da mãe sempre procurar configurar as vocalizações do bebê em diferentes contextos trazendo-o para o dialogo, eles foram co-construindo, através da orquestração desses harmônicos, uma semântica para chegar até esse nível de compartilhar o sorriso. A expressão de prazer do bebê diante de suas possibilidades de expressão foi sendo assim modalizada pela mãe. Segundo Goodwin (2000) a exposição às emoções de um participante deve ser analisada dentro de um contexto maior da ação. Vejamos outro momento : Extrato - 23 Data: 09/10/08 Tempo: 44:47~01:02:31 Idade do bebê: 17 meses Proxemia: mãe e bebê estão sentados no sofá. 271 17 M ≠* que não/ow::: meu dius do cé:::u pigui::ça..(2s) tete::o*≠/ ≠* atchim::[]..(2s) a::tchim a:::: []/teteu . o tete::u mamãe gipada hh/a::tchim []deita não mamãe fica assim oh/(1s) segula aqui/. mãozinha aqui outra aqui/fica assim oh/i::sso/(2s)*≠ *coloca a caixa de CD em cima do sofá,conversa com o bebê**faz que espirra, encosta o bebê no sofá,levanta o bebê e encosta no sofá* 18 B ≠R(B)(F)≠ ≠()(B)()(M)()(cai para frente)(B) ≠ 19 M ≠* olha p’a mamãe agola/.teteu oh mamãe oh teteu/teteu oh/ (2s) han:: atchim::/.a:::tchim:: hh.../ai meu deus mamãe ta gripada/atchim::[] ≠/≠ta esperniano porque../han []ta esperniano porque: nego safado/.. mamãe g'ipada teteu oh a:::tchim:: []*/*han [] mamãe ta gipada e tu ri é../de mamãe gipada/ hein amo da minha vida../arriar não/ é p’a ficah durinho*≠/ *faz que espirra, da um cheiro no pé do bebê**encosta o bebê no sofá* 20 B ≠R(B)()(B)()(B)≠ ≠(mexe as pernas)(A)(B)(D)()(mexe os pés)(vocaliza) ≠ 21 M ≠* vem ca vem ca vem ca p’a mamãe/e::ita que despre::zo../ teu::/i::sso::: meu amo levantou a cabeça que coisa mais linda/eu levanto≠/≠ ei:::ta dano::sse/vem ca mateus::/mate:::us/(4s) o::: mate::us deitado não mamãe*/*(2s) vem ca../[] tu vai durmir é deixa de ser safado/(2s) tu se vira deita e se vira neh/ ≠/≠(2s)a:::tchim [] / han hh/ tete::u/a:::tchim:: han a::tchim:: [] /U [] []*≠ *chama o bebê**levanta e deixa o bebê sentado na ponta do sofá, faz que espirra* 22 B ≠R(levanta o braço direito)(cai para o lado esquerdo)(levanta a cabeça e depois o corpo)≠ ≠(cai para o lado esquerdo)(se deita) (B)≠ ≠(M)()(F)(B) ≠ 23 M ≠* tem g'aça mas não neh/ mamãe gipada não né/mam' [] vai da cheiro [] no cangote gostoso [] nesse cangote [] []*≠/≠*gosto::::so mamã:::e/ (2s) faz carinho em mamãe/carinho em mamãe faz/ cari::nho/(2s)não tapa no rosto de mamãe não/Ow:: ai assim não bebê/tira a mão da boca≠/a mão na bo:ca i:::sso/ ..mamãe já falou que não que a mão na boca/ tu se engasga/ tu se engasga mamãe com a mão na boca/ é::/ olha p'a mamãe*≠ *conversa com o bebê,da beijo no pescoço**segura na cintura do bebê,levanta o bebê,segura o bebê* 24 B ≠R(F)(B)(F)≠ ≠(M)(B)(cai para trás)(coloca as duas mãos na boca) (A)≠≠(tira as mãos da boca)(F)(A)(B)≠ No turno 17, após chamar o bebê, a mãe « espirra » e os dois sorriem. A mãe repete assim por mais duas vezes essa ação e também sorriem juntos. A mãe ainda acrescenta entre uma repetição e outra : « mamãe g'ipada hh ». Uma referência importante mesmo que 272 colocada de forma lúdica e também precoce porém com um conteúdo associativo para a ação de espirrar porque está gripada (causa e efeito ; previsibilidade). Vemos assim a mãe modalizando o 'tempo' nesse compartilhar o sorriso. No seu próximo turno (19) a mãe diferencia a ação modalizando agora de uma outra forma, fazendo uma pausa antes de « espirrar » chama-o e emite um som : « (2s) han:: ». Ela repete o « espirro », em seguida faz a relação causa e efeito do espirro referindo-se a estar gripada e « espirra » outra vez. O bebê ri em todas as vezes e na ultima vez eles riem juntos. A mãe utiliza novos harmônicos na brincadeira e assim consegue a participação do bebê. Após sorrirem juntos no ultimo espirro ainda nesse turno, o bebê balança as pernas e obtém a interpretação materna de que está « esperneando ». Assim, a mãe especula que o bebê possa estar se irritando. Ela repete o «espirro » mas antes disso faz a antecipação de que está gripada como se quisesse dizer : « la vem espirro » e « espirra ». Os dois riem juntos. Essas novas modalizações dadas pela mãe nos mostram a importância desses harmônicos na dinâmica dialógica para a apreensão do bebê dos ritmos e conteúdos que formam as diferentes nuances existentes num dialogo (neste caso, para a noção de causalidade e previsibilidade do sorriso). As repetições diferenciadas ajudam ao bebê na noção de previsibilidade. Ao antecipar o « espirro » dizendo : « mamãe g'ipada teteu oh a:::tchim:: [] » faz com que a mãe obtenha o olhar receptivo do bebê e assim sua participação. A força social de uma diretiva, bem como seu valor emocional, também é fortemente moldada por meio da implantação de recursos como a prosódia e o corpo (« embodiment ») (GOODWIN & GOODWIN, 2000). No turno 21 a mãe antes de espirrar faz uma pausa de dois segundos e prolonga o som do /a:::tchim/. Isso chama a atenção do bebê que olha pra mãe e ri com seu « espirro ». Depois ele desvia o olhar e com isso a mãe o chama, ele olha pra ela e ela « espirra » duas vezes seguidas, variando mais uma vez a maneira de fazer : « a:::tchim:: han a::tchim::[] /U [] []*≠ ». Os dois riem juntos. Assim eles estão afinados na atividade como mostra bem a transcrição desse momento : [] /U [] [] Talvez por ter percebido em alguns movimentos corporais do bebê, o desvio do olhar dele para outras coisas e também possivelmente pela diminuição da intensidade do riso do bebê a mãe o questiona por duas vezes no seu próximo turno (23) : « ≠* tem g'aça mas não neh/ mamãe g'ipada não né/mam' [] vai da cheiro [] ». Como se 273 procurasse o respaldo dele para a sua especulação. Isso demonstra que a mãe não resta centrada em um tipo de resposta do bebê. O impedimento de expressão facial da parte dele deixa de ser figura na contextualização materna. Na verdade nada parece impedir o desenrolar da interação. Mãe e bebê estão bem engajados nas suas atividades e se divertem juntos sorrindo. Neves (2006 ; 2010) observa que o adulto opera em interação com o bebê numa forma de dialogo em curso atribuindo sentido tanto às ações do bebê quanto às suas próprias ações. Assim a expressividade do bebê é organizada e partilhada nas estruturas sequenciais do processo interativo. 5.8.2 Considerações sobre a orquestração do sorriso : A co-construção da díade de momentos divertidos nos quais expressaram seus estados internos de humor, é o fato mais marcante para nós desse processo de orquestração, resultando de processos dinâmicos da relação « eu » e « outro » : a díade riu juntos. Fazendo uma pequena discussão sobre esse fato se tornar um evento afinado numa díade com um bebê com uma privação da mímica facial, trazemos um ponto importante em relação ao processo terapêutico de pessoas portadoras da síndrome de Moebius. Sabemos da força ilocutória de um sorriso para a interação humana. Muitos pais de crianças com a síndrome de Moebius desejariam ver o sorriso configurado no rosto de seus filhos. O fato deles não obterem esse tipo de resposta dos seus filhos pode implicar na maneira como eles interagem entre si. Na tentativa de minimizar as implicações psicoafetivas e sociais no processo interativo dos portadores da síndrome, uma cirurgia facial foi desenvolvida ha alguns anos pelo Dr. Zuker64 e sua equipe em Toronto no Canadá. O póscirúrgico envolve uma relação estreita do cirurgião com a equipe multidisciplinar sendo o fonoaudiólogo na maioria dos casos, quem realiza as sessões de reeducação em que o sorrir (mímica), vai depender do paciente aprender através de uma técnica de reabilitação a ser usada pelo fonoaudiólogo e equipe multidisciplinar. Também pode existir a participação do fisioterapeuta nessas sessões de reeducação motora do sorriso. Em resumo, as técnicas de reabilitação levam o paciente a aprender a contrair as comissuras labiais para cima. Numa ação contrária ao que certos portadores da síndrome 64 Seguir link para mais detalhes sobre essa cirurgia : http://www.moebiussyndrome.com/go/related-articles/asmile-for-the-moebius-syndrome-patient (consultado em 17/04/2011) 274 fazem pois, em alguns casos, vê-se que eles conseguem uma contração de um ou dos lábios para baixo em certos momentos em que possivelmente estão expressando emoções de prazer ou desprazer. Não vamos discutir quais seriam os critérios tomados pelo cirurgião e equipe terapêutica multidisciplinar para a adoção desse tratamento cirúrgico e consequentemente de “reeducação para o sorriso”. Podemos inferir que, ao menos, o paciente tenha condições de expressá-lo com autenticidade. Assim esperamos. Uma co-construção dialógica do sorrir, a nosso ver, se faz necessária antes que ele possa ser expresso fisicamente. Imaginamos que ao adotar a cirurgia no processo de reabilitação de um paciente com Moebius, o sorrir será um processo inverso do que acontece normalmente, ao menos quanto à sua forma de expressão. Após o que analisamos nessa tese fazemos uma pequena discussão sobre o processo terapêutico envolvendo portadores de deformidades craniofaciais. Vimos que mãe e bebê orquestraram juntos suas experiências sincronizando-se dialogicamente suas existências físicas, biológicas, psicológicas e consequentemente sociais. A importância de vermos a co-construção intersubjetiva do sorriso pela díade através do diálogo nos indica uma confirmação empírica do processo dialógico do « eu » e do « outro ». O aparecimento do riso do bebê, exibe a emergência do « eu », ou seja, a sua habilidade de funcionar como o outro e em relação às coisas que importam entre eles. Os risos («vozes») do bebê durante as simulações de espirro de sua mãe, foram autênticos. A autenticidade é « uma expressão da dialogicidade do Alter-Ego. » (MARKOVA, 2006, p. 155, grifo da autora) Ainda essa autora afirma : « […] a dialogicidade é essencial para a identidade pessoal e que a perda da dialogicidade significa também a perda da identidade pessoal » (MARKOVA, 2006, pp. 156-157) Em suma, a identidade do bebê ficou configurada na autenticidade do seu riso como expressão da sua percepção às ações de sua mãe. O estudo de caso apresentado acima é favorável a esta perspectiva dialógica como sugerimos que o "ser" é sempre e em todos os tempos um "ser-em-relação" em « coexistência ». Quando nos relacionamos nos abrimos para uma multiplicidade de possibilidades, incluindo possibilidades de si mesmo, enquanto ao mesmo tempo, promovendo um sentido de conexão com os outros. 275 Fica para nós uma pergunta a ser feita sobre a relevância de certas abordagens terapêuticas que adotamos enquanto profissionais de ajuda : Qual é a dimensão do nosso papel nesse processo ? Capítulo 6 – Compreendendo as dinâmicas dialógicas Apresentamos agora os dados analisados nessa pesquisa em uma tabela. Trata-se de uma compilação das experiências orquestradas envolvendo : os ritmos, os modos e os temas que a díade afinou através de suas condutas linguageiras. Ela está subdividida da seguinte forma : a ordem dos extratos, a idade do bebê, os conteúdos temáticos das trocas, a multimodalidade (aspectos vocais, gestuais, posturo-mimogestualidade e proxemia) e por ultimo o tempo (sequencialidade). 276 Tabela 1 - Dinâmicas Dialógicas da díade Extrato*/ Idade do bebê Conteúdo Temático Multimodalidade Vocal 01 – 2 meses e 3 olhares semanas vocalizações e Mãe : fala prosódica Bebê : gorjeios Olhar Díade: ambiente compartilhados Posturo-mimo-gestualidade Tempo/Afinação Proxemia e Bebê : movimentos com a cabeça Face a face Mãe : afagos e movimentação visando o Bebê deitado face a face sobre um travesseiro e mãe a sua frente Alternaram e sincronizaram olhares mútuos e para o ambiente 04 – 3 meses e 2 Olhares, vocalizações Mãe : fala melódico- Bebê : olhos Bebê : pouca ou quase nenhuma Face a face Heterossincronia semanas e objeto (chocalho) afetiva fechados/ sonolência movimentação Bebê sentado Bebê : choro Mãe : olha o bebê Mãe : apresentar objetos, posturar e segurar na cadeirinha e bebê mãe a sua frente 05 – 4 meses Explorar brinquedos 08 – 5 meses e 2 Carinhos/afagos semanas face Mãe : fala prosódica Bebê : gorjeios Díade : ambiente e compartilhado Bebê : seguiu visualmente os objetos na Mãe : fala melódico- Olhares Díade : Uso das mãos para fazer carinho na afetiva compartilhados e face foi modalizado e compartilhado Bebê : gorjeios olhar do bebê para as Mãe : mímica facial (vibrar lábios, estalar mãos língua e beijos) ; posturar o bebê 09 – 6 meses e 1 Olhar exploratório do Mãe : fala prosódica e Díade : olhares para o semana ambiente e bater nas silabação /ma/ ambiente e mútuos mãos Bebê : pouca ou quase nenhuma vocalização * Bebê : alcançar e pegar ; mão na boca ; tirar Bebê no colo da a chupeta da boca mãe de costas Mãe : apresentar e facilitar o alcance dos para ela objetos Díade : Uso das mãos para bater um contra o outro Mãe : mímica facial (beijos e sorrisos ) ; posturar o bebê Autossincronia no olhar os objetos e heterossincronia no pegar objetos ; Face a face Bebê no colo da mãe de frente para ela Heterossincronia no uso das mãos para fazer carinhos na face Face a face. Bebê no colo da mãe de frente para ela Heterossincronia no olhar mutuo ; autossincronia no bater nas mãos um do outro. Os extratos 02, 03, 06 e 07 não foram trascritos de acordo com o sistema de transcrição adotado nessa tese. Assim fizemos pois se trataram de registros de momentos onde consideramos que não houve trocas interativas significativas entre a diade. Nesses registros o bebê apresentou estados responsivos tipo : sonolência, fome ou irritação por exemplo e a mãe procurou atendê-lo nessas reações. 10 – 7 meses Cantar parabéns 11 – 7 meses e 3 Cantar parabéns semanas bater palmas Mãe : fala prosódica e Olhares canto compartilhados Bebê : algumas vocalizações Uso das mãos para bater palmas Face a face ; Mãe : posturar o bebê sentado ; mímica facial Bebê no colo da (sorriso e beijos) mãe de frente para ela Autossincronia no olhar mutuo e heterossincronia no bater palmas e vocalizações e Mãe :fala prosódica, Olhares canto e onomatopéias compartilhados (cavalo e musicais) ; Imita as vocalizações do bebê Bebê : vocalizações Bater palmas compartilhado Face a face ; Mãe : posturar o bebê ; Mímica facial (beijos) bebê sentado no colo da mãe de frente para ela Autossincronia no olhar e bater palmas ; heterossincronia no cantar 12 – 8 meses e 2 Exploração de objetos Mãe : fala prosódica Olhares Pegar objetos e balançar chocalho semanas (chocalho) Bebê : nenhuma compartilhados ; compartilhado vocalização Bebê : olhar para os Mãe : mímica facial (vibra lábios, beijos, objetos simula espirro) ; postura o bebê no sentar 13 – 9 meses e 2 Exploração de Mãe : fala prosódica e semanas objetos ; bater palmas cantar e cantar Bebê : ausência de vocalizações Seguir visualmente objetos e olhares compartilhados Bebê : explora visualmente o ambiente 14 – 10 meses e 2 Explorar brinquedos, Mãe : fala prosódica e Olhar para o semanas bater palmas e cantar ambiente e olhares cantar ; Imitar Bebê : vocalizações e compartilhados ; balbucio reduplicado /ta/; onomatopéia do índio compartilhada Face a face bebê sentado na cama com apoio de travesseiros Autossincronia no olhar mutuo e para os objetos ; heterossincronia no pegar objetos e balançar chocalho Segurar e pegar objetos ; Balançar chocalho Face a face e bater palmas compartilhados Bebê sentado Mãe : mímica facial (sorrisos e beijos) ; numa cheira o bebê ; apresenta objeto ; cadeirinha de frente para a mãe Autossincronia no olhar mutuo e para os objetos ; heterossincronia no pegar objetos e balançar chocalho ; heterossincronia no bater palmas e cantar Dar e pegar objetos compartilhado Bebê : bate palmas ; bater nos objetos ; segura os cabelos da mãe e objetos ; Mãe : mímica facial (vibra lábios, da beijo, sorri), gesto do índio ; postura o bebê no sentar ; apresenta objetos e da pare ele segurar Autossincronia : vocal ; olhar e bater no objeto Heterossincronia : bater palmas e pegar Face a face Bebê sentado na cama de costas para a mãe inicialmente e depois na cadeirinha de frente para ela 15 – 12 meses Explorar contar cócegas objetos ; Mãe : Fala prosódica, Olhar para o parabéns ; cantar ; silabação e ambiente e olhares repetição de palavras compartilhados ; Bebê : gorjeios e prolongamentos de sons Dar e pegar objetos compartilhado Bebê : bate palmas ; segurar e bater nos objetos ; Levar à boca objetos ; pega no rosto da mãe Mãe : mímica facial (vibra lábios, beijo, sorriso) ; da cheiro ; postura o bebê no sentar ; apresenta objetos e da para ele segurar ; faz cócegas na barriga do bebê Face a face Bebê sentado na cadeirinha de frente para a mãe Autossincronia : vocal, olhares ; bater palmas e bater no objeto musical Heterossincronia : pegar e explorar objetos 16 – 12 meses Explorar objetos ; cantar parabéns ; cantar ; bater palmas e com os pés (nova musica) ; imitar cavalo trotando e mímica facial (beijo) Mãe : Fala prosódica, Olhar para o silabação, cantar e ambiente e olhares repetição de palavras compartilhados ; Bebê : gorjeios e prolongamentos de sons Dar e pegar objetos ; balançar chocalho e bater palmas compartilhado Bebê : bate palmas e pés; segurar e bater nos objetos ; pega no rosto da mãe ; Estala língua (beijo?) ; equilíbrio em pé ; Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; da cheiro ; postura o bebê no sentar e em pé; apresenta objetos e da para ele segurar ; Face a face Bebê sentado na cadeirinha de frente para a mãe Autossincronia : vocal, olhares ; bater palmas e bater no objeto musical ; balançar chocalho Heterossincronia : pegar e explorar objetos 17 – 13 meses Explorar objetos ; chupar pirulito e pegar e dar a bola; falar no celular ; cantar ; bater palmas e com os pés (outra musica) ; Ficar de pé ; carinho Mãe : Fala prosódica, Olhar para o silabação, cantar e ambiente e olhares repetição de palavras compartilhados ; Bebê : poucas vocalizações Dar e pegar objetos ; bater palmas compartilhados Bebê : bate palmas e pés; segurar e bater nos objetos ; pega no rosto da mãe ; equilíbrio em pé ; leva pirulito pra boca Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; da cheiro ; postura o bebê no sentar ; apresenta objetos e da para ele segurar ; ajuda o bebê a tocar seu rosto Face a face Bebê sentado na cadeirinha de frente para a mãe Autossincronia : olhares ; bater palmas e pés Heterossincronia : pegar e explorar objetos ; vocal 18 – 13 meses Explorar brinquedo musical ; pegar e dar a bola; carinho ; cócegas ; ficar de pé Mãe : Fala prosódica, silabação, e repetição de palavras Bebê : vocalizações prolongadas ; balbucio reduplicado /ke/ Dar e pegar objetos compartilhados; Bebê : segurar objetos ; balança os pés e as pernas ; Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; da cheiro ; postura o bebê no sentar ; apresenta objetos e da para ele segurar; Ajuda o bebê a segurar seu pé e a alcançar objetos; Aproxima-se do rosto do bebê Face a face Bebê sentado na cadeirinha de frente para a mãe Autossincronia : vocal e olhares ; pegar e explorar objetos Heterossincronia : toques na face Olhar para o ambiente ; para os objetos e olhares compartilhados ; 19 – 14 meses Explorar brinquedos ; usar o telefone ; pegar e dar a bola ; espirro e carinho ; acionar brinquedo musical ; cantar (2 novas musicas) ; bater palmas Mãe : Fala prosódica, silabação, e repetição de palavras ; onomatopéia rítmica ; canta Bebê : vocalizações prolongadas (poucas) ; choro breve (?) Olhar para o ambiente ; para os objetos e olhares compartilhados ; Dar e pegar objetos compartilhados; Bebê : segurar objetos ; balança chocalho ; segura o rosto e as orelhas da mãe ; sentado sem apoio Mãe : mímica facial (beijo, sorriso, vibra lábios) ; da cheiro ; postura o bebê no sentar ; apresenta objetos e da para ele segurar; Facilita o bebê segurar objetos; Aproxima-se e faz carinho no rosto dele ; Bate palmas ; toca na cabeça, ombro, joelho e pé ; gesto de pedir ; dança balançando a cabeça diante do bebê ; Mostra o funcionamento do objeto musical ao bebê ; Simula espirros Face a face Mãe e Bebê sentados no sofá lado a lado primeiro ; depois bebê no colo de frente para ela Autossincronia : olhares ; pegar e explorar objetos ; bater palmas ; carinhos na face Heterossincronia : vocal ; bater palmas 20 – 15 meses Explorar brinquedos ; acionar brinquedo ; usar o telefone ; bater palmas (aplauso e cantar) ; Cantar (nova musica) cócegas ; espirro Mãe : Fala prosódica, silabação, e repetição de palavras ; onomatopéia - beijo ; gargalhada ; canta ; sons vibratórios com lábios e língua Bebê : poucas vocalizações (prolongadas) ; balbucio reduplicado /ko/ Olhar para o ambiente ; para os objetos e olhares compartilhados ; Dar e pegar objetos compartilhados; Bebê : segurar objetos ; da função ao celular colocando no ouvido ; sentado com apoio ; bate palmas ; mexe as pernas Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; postura o bebê no sentar ; apresenta celular e da para ele segurar; Facilita o bebê segurar objetos; Da o modelo do uso do celular colocando no ouvido dela e dele; Bate palmas ; Simula espirros : da cheiro ; Face a face Bebê no colo de frente para ela primeiro ; depois mãe e Bebê sentados no sofá lado a lado Autossincronia : vocal e olhares ; pegar e explorar objetos ; bater palmas ; carinhos na face Heterossincronia : vocal ; bater palmas 21 – 15 meses Usar o telefone ; bater palmas ; Cantar (nova musica) ; cócegas ; ficar de pé Mãe : Fala prosódica, silabação, e repetição de palavras ; onomatopéia galinha ; canta ; Bebê : vocalizações (prolongadas) ; balbucio reduplicado /ko/ Olhar para o ambiente ; para os objetos e olhares compartilhados ; Dar e pegar objetos compartilhados; Bebê : pega celular ; dá função ao celular colocando no ouvido ajudado pela mãe ; sentado sem apoio ; mexe as pernas Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; postura o bebê no sentar ; apresenta celular e da para ele segurar; Facilita o bebê alcançar ; Da o modelo do uso do celular colocando no ouvido dele; Bate palmas ; da cheiro ; Face a face Mãe e Bebê sentados no sofá lado a lado primeiro e depois frente a frente Autossincronia : vocal e olhares ; pegar Heterossincronia : vocal ; bater palmas ; dar função ao celular ; riso 22 – 16 meses bater palmas ; Cantar (nova musica) e parabéns; ficar de pé ; espirros ; carinho Mãe : Fala prosódica, silabação, e repetição de palavras ; onomatopéia galinha ; canta ; Bebê : varias vocalizações (prolongadas) ; Olhar para o ambiente ; para os objetos e olhares compartilhados ; 23 – 17 meses Carinho ; Ficar de pé ; pular cavalinho; bater no objeto ; espirro ; bater palmas Mãe : Fala prosódica, Olhar para repetição de palavras ; ambiente ; onomatopéia - beijo compartilhados ; Bebê : poucas vocalizações (prolongadas) ; Bebê : fica de pé ajudado pela mãe ; sentado sem apoio ; ri ; mexe as pernas ; pega no rosto da mãe Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; postura o bebê no sentar ; Bate palmas ; da cheiro ; Face a face Mãe e Bebê sentados no sofá lado a lado primeiro e depois frente a frente Autossincronia : vocal e olhares ; Riso;carinho Heterossincronia : bater palmas ; ficar de pé o Bebê : fica de pé ajudado pela mãe ; sentado sem apoio ; pega nos olhos, e orelhas, leva pra boca ; ri ; mexe as pernas ; pega no rosto da mãe Mãe : mímica facial (beijo, sorriso) ; postura o bebê no sentar ; Bate palmas ; da cheiro ; Face a face Mãe e Bebê sentados no sofá lado a lado primeiro e depois frente a frente Autossincronia : vocal e olhares ; Riso ; ficar de pé ; bater no objeto Heterossincronia : bater palmas ; carinho Conforme apresentado, as dinâmicas dialógicas dessa díade em particular mostram como eles se experimentaram no viver ou seja através das suas « co-presenças » eles orquestraram e afinaram seus ritmos, seus modos (açãoXespaço) e compartilharam temas. Dentro da dialogia de díade, vimos a existência de uma simultaneidade e uma sequencialidade das ações comunicativas durante o dialogo. Concebemos a simultaneidade das ações acontecendo dentro do espaço mais interno do dialogo (orquestração) e essas ações se projetam na sequencialidade externa das trocas (afinação). Tomando assim suas formas externas, os produtos das mudanças. Quanto ao conteúdo temático das trocas percebemos uma evolução ao longo do tempo dos « objetos » que a díade afinou. Esses « objetos » são decorrentes das relações coestabelecidas e co-criadas e aquilo que foi modalizado por eles vai ganhando forma na sequencialidade. Vimos a importância da postura materna, enquanto ativa e dominante na língua. Percebemos que ela não faz nenhuma suposição sobre a incapacidade do bebê de se expressar, ao contrario ela é quem questiona o bebê sobre « ele » considerando-o como um parceiro dialógico. Como exemplo, no extrato 12 a mãe traz os pés do bebê como um tema para a interação depois que ele balança por duas vezes e depois eleva suas pernas. Nos momentos em que ela foi mais enfática, não « olhando » para o seu bebê percebemos a diferença na dinâmica dialógica. No extrato 5 a mãe apresenta-se mais diretiva nas suas proposições do que em fazer especulações. O tratamento entre eles reconhecendo-se como parceiros dialógicos é fundamental para o estabelecimento da intersubjetividade. (TREVARTHEN, 2003) Pudemos ver na responsividade do bebê que ele se apropriou das formas linguageiras no aqui e agora do 'tempo' no diálogo, demonstrando sua compreensão responsiva ativa (BAKHTIN, 1978) e também que suas respostas foram modalizadas como tais nesses momentos por sua mãe enquanto parceira no dialogo. Os espaços discursivos co-construídos (SALAZAR-ORVIG, 1999 ; 2002) foram apenas parcialmente determinados por significações e motivos temporários durante a dinâmica, assim como os objetivos e os contextos situacionais Vimos que as ações maternas foram influenciadas pelo contexto-dependência do tempo no diálogo como por exemplo : quanto aos tipos de respostas do bebê e pelo ambiente. Os dois seguiram esse caminho juntos : temas, respostas. Essas escolhas no aqui e agora do momento, dependeram portanto da qualidade da dialogicidade demonstrada através da relação entre o « eu » e o « outro ». 282 Constatamos que os temas dependem da sequencialidade interna do diálogo, ou seja, os momentos de orquestração (simultaneidade) enquanto momentos não-lineares e multifacetados. Pois como vimos, algumas reações do bebê como a de bater palmas, não foram consideradas num certo momento enquanto outras ações dele foram modalizadas pela mãe e isso determinou outra temática sobre a qual eles orquestraram. Os temas também dependem da sequencialidade externa, compreendendo os momentos de afinação como lineares e projetáveis, ou seja, quando as contribuições de cada um (bebê e mãe) são alternadas. Por exemplo o bater palmas alternado entre eles que passou a fazer parte da temática do cantar. Na sequencialidade externa do diálogo podemos ver os « esboços » da contribuição subjetiva de cada participante da díade. Quanto ao modo, procuramos ver como a díade co-existiu no espaço do diálogo dentro da multimodalidade (GOODWIN, 1981) com que experimentaram os momentos das trocas. Vimos a orquestração da díade quanto ao vocal, olhar e posturo-mimo-gestualidade (COSNIER, 1994). O discurso materno dirigido ao bebê como o responsável pela contextualização dele quanto à sua responsividade ao ambiente e ao outro. Quanto ao 'tempo' analisamos como a díade orquestrou suas dinâmicas dialógicas em termos de sincronismo e sequencialidade (MARKOVA, 2006). Vimos que tais dinâmicas na díade mãe-bebê estão em continua interação buscando a auto-organização, orquestrando-se em busca da afinação das expectativas. Observamos assim, que esse processo de desenvolvimento do bebê na língua não se dá ao acaso, mas representa todo um desdobramento de ordem e complexidade que pode ser visto como uma espécie de processo envolvendo autonomia e liberdade de escolha, considerando que o bebê tem o espaço para a sua subjetividade na reflexividade com o outro, como exemplos : a mãe em ressonância com o « eu-bebê » e « eu-mãe » e o outro « eubebê », ou seja dentro dessa multiplicidade de suas vozes. Com isso, percebemos nas dinâmicas orquestradas as flutuações e os ajustes que foram decisivos na busca da afinação. Assim, vimos o papel crucial da coordenação dos ritmos em que ele não está limitado a auto-organização e a auto-expressão (individualidade), mas estende-se à percepção sensorial, o corpo, o espaço, a comunicação e a relação com o outro, mostrando o contorno (esboço), como uma contínua dança rítmica dos ajustes da mãe e do bebê nesse 'tempo' de vida e espaço. 283 Vimos que o papel do ritmo, da interação e da comunicação é significativo através da sincronização e da interligação, nos ajustes do 'tempo' e pode-se dizer, também nesse caso, a corporalização desses ritmos individuais, envolvendo uma dança sutil em sua maior parte invisível mas em que a sequencia detalhada de tipos de « vozes » é especificamente sincronizada tanto com movimentos ínfimos do corpo do bebê, como com os movimentos correspondentes da mãe. Sendo este o « esboço » e a configuração dada na dinâmica « auditivo-vocal » (BERTAU, 2007). Ambos os parceiros estão enlaçados numa sequência precisamente sincronizada de movimentos rítmicos que duram enquanto eles permanecem atentos e envolvidos em um diálogo. Esse entrelaçamento rítmico parece ser o responsável pela forte vinculação entre os bebês e suas mães (TREVARTHEN, 2003). Esses ajustes rítmicos, nessa orquestração em dueto, adquiridos sobretudo para o bebê, são como a base dos diálogos para o seu desenvolvimento social mais amplo. Consideramos que a díade afinou suas expectativas levando-os a estabelecer acordos colaborativos. Vimos como a comunicação está delimitada pelo caráter parcial da compreensão, do acordo, dos ajustes das perspectivas e do « encontro dos espíritos » (BAKTHIN, 1977). Também constatamos que esta parte da afinação das expectativas que os levam à intercompreensão está também delimitada no tempo. Ela é estática e dinâmica. A compreensão é, portanto, um momento virtual ou ilusório, na medida em que é obtida num acordo prático e « para todos os efeitos » . (GOFFMAN, 1988) Vimos nesta dinâmica dialógica através da sequencialidade interna e externa de suas experiências intersubjetivas, os aspectos multimodais dinâmicos que mostraram os sujeitos se « esboçando » dialogicamente no encontro do « eu » e do « outro ». 284 7. Considerações finais Ao concebermos a linguagem como uma ação social inteligível e emergente, situada, e contingente com práticas socioculturais e cognitivas fizemo-nos observadores de uma multiplicidade de correlações associadas aos modos de interação de uma díade mãe-bebê. E através desse fazer, dessa orquestração em dueto (GRATIER, 2003) distinguimos a coconstruçao de padrões sequenciais referentes a essa historia particular. Como componentes dessa orquestração consideramos a pluralidade dos recursos comunicativos existentes num dialogo. Pudemos ver com relação ao ritmo (tempo), modo (como/meios) e tema (significados) o que eles construíram. Isso fruto da intensidade e da densidade do tratamento pessoal e afetivo que emergiram no contexto durante essas dinâmicas dialógicas. A dinâmica, a relevância e as conseqüências desse viver « ser-estar » fizeram-se presentes em momentos do 'tempo' dialógico (autossincronia e heterossincronia) que se apresentam simultaneamente e sequencialmente em três planos principais : no plano discursivo, pelo desnivelamento inicial da capacidade discursiva da díade ; no plano interativo pelo trabalho conjunto de coordenação da multicanalidade dos modos (modus operandis) comunicativos da díade e no plano espacial, destacamos a proxemia como importante para a atenção compartilhada. O encontro do “eu” com o “outro” nessa fase do desenvolvimento do ser humano, o « eu-bebê » com o « eu-adulto » passa por uma fase de orquestração na qual eles sincronizam vários objetos, de forma multicanal, entrando em ressonância em momentos de afinação transitória. O que propusemos nessa tese foi que na conversa mãe-bebê eles são co-autores de cada ação (MARKOVA, 2006), mesmo se externamente a vemos de maneira desordenada, ininterrupta ou buscando a sincronização. A co-autoria dessas ações simultâneas, nesse « processo de ser-estar » acontece de forma situada no tempo imediato (orquestração) e de forma seqüencial (afinação). Assim sendo, o significado interativo das dinâmicas dialógicas está intrinsecamente determinado pelas posições dos participantes nas seqüências. Para as atividades terem sentido elas estão orientadas em relação às interpretações e aprendizados retrospectivos e elas também vão antecipar quais as possíveis direções que essa compreensão pode adotar. (SALAZAR-ORVIG, 1999 ; MARKOVA, 2006) Esse processo de afinação linguageira que defendemos trata-se de um encontro do « eu e do outro » no processo de orquestração e sincronização de suas ações. No espaço co285 criado no dialogo os participantes se afinam em estados estáticos, dentro de uma estabilidade dinâmica (LYRA, 2011), que são rapidamente projetados levando à imagem da mudança. Salientamos que ao considerarmos a afinação linguageira como tal, não significa que vemos apenas um final feliz resultante da redução de conflitos, de tensões, de atingir a intersubjetividade como o fato de passar a adotar a perspectiva do outro, ao contrario, significa que também consideramos a falta de tensão (sincronismo), a atenção, o reconhecimento do outro e a luta do bebê pelo auto-reconhecimento. Enfim, todo esse processo multicanal de entrar em ressonância com o outro. Este estudo apontou para a possibilidade de existir nas dinâmicas dialógicas da díade mãe-bebê a orquestração de um processo de ajustes mútuos, co-construídos, com uma notável regularidade de fenômenos posturo-mimo-gestuais (COSNIER, 1984) sustentados pelos enunciados maternos (CAVALCANTE, 1999 ; 2010) ou seja, de fenômenos linguageiros que surgem através de um processo de afinação das experiências do bebê e de sua mãe. Existe a abundancia de olhares exploratórios e de olhares recíprocos, uma intensa atividade mimogestual pontuada por mímicas, vocalizações, prosódia e de imobilização e descoordenação de certas partes do corpo, assim como toda a especulação materna envolvendo não só sua fala mas também suas ações como forma de entrar em ressonância com seu bebê. Fica a pergunta: que lição tirar disso? Pareceu-nos que o conjunto dessas condutas interativo-linguisticas precoces contribui na promoção de momentos de trocas afetivas, fluentes, imediatas, convergentes, opositivas algumas vezes e outras de grande tensão dialógica (MARKOVA, 2006), sobretudo nos ajustes iniciais das trocas. Esses resultados parecem oferecer, dentro do principio de afinação linguageira, uma compreensão mais detalhada de como um bebê portador de uma deficiência congênita que lhe rende uma face sem expressividade, atua numa troca interativa com o adulto através de padrões de co-construção a partir de ferramentas possíveis. Essas ferramentas são decorrentes de conjuntos de negociações, coordenações, sincronia e assincronia que a principio se mostram “pseudogestuais” de base dialógica. É na primeira infância, e mais precisamente no primeiro ano de vida, que o bebê e sua mãe constroem um conhecimento partilhado, que permite diferenciar a intenção da mãe das ações específicas do bebê que permitam atingir o conteúdo da comunicação. Neste contexto, o conjunto das ações podem ser incluídas no diálogo. Esse conjunto de ações como vimos é rico em harmônicos voco-verbais e posturo-mimo-gestuais que vão sendo ajustados 286 através de um fio condutor das ações mutuas compartilhadas visando a afinação. Uma afinação linguageira pois comporta tal conjunto expressivo multimodal. Assim nos damos conta de que ser capaz de orquestrar ajustando-se no diálogo significa a aquisição de um espaço funcional (LYRA e BERTAU, 2008) que permite a manutenção e mudança do diálogo. Isso também significa que a participação individual como parceiro no diálogo começa a ser revelada. A qualidade dessa simultaneidade, construída e orquestrada, de conhecimento individual sugere uma totalidade organizada de possibilidades. Melhor dizendo, o aumento e a progressão da variabilidade e novidade desses harmônicos cocriados, orquestrados simultaneamente e sequencialmente no diálogo, indica o surgimento de um espaço diferente para o funcionamento da criança, na qual o posicionamento do bebê é marcado enquanto concomitante e inerente ao dialogo. Neste sentido, esperamos que tais observações dos resultados dessa tese, possam contribuir para a elaboração de propostas de intervenção que promovam o desenvolvimento das habilidades de interação em crianças com diagnóstico de doenças congênitas, com base em padrões de co-construção que facilitem a troca interativa destas crianças nos seus primeiros contatos sociais. O dialogismo aparece como uma noção importante. Seu campo de aplicação é vasto. O dialogismo é tanto a filosofia do ser humano, epistemologia das ciências humanas e sociais, teoria da linguagem e da literatura. Para nós, representou uma nova visão da natureza humana, uma visão que afirma o papel crucial do outro na construção do ser humano em um todo. Em efeito, a percepção física ou espiritual que o ser tem de si mesmo só se torna completa através e com ajuda do olhar do outro. O « outro » é então concebido como uma dimensão constitutiva do « eu » (BAKHTIN, 1984). As ideias de Bakhtin ressaltam o caráter primordial do social: a linguagem e o pensamento são necessariamente intersubjetivos. Com essas concepções do dialogismo vimos que toda produção discursiva se analisa no encontro dos discursos anteriores sobre o mesmo objeto e nos discursos-resposta do interlocutor. Assim, buscamos mostrar os traços dessa dupla interação dentro do discursos produzidos entre a mãe e o bebê. Isso nos permitiu estudar o dialogismo de um ponto de vista lingüístico na díade adulto-bebê, considerando também o caráter multimodal inerente a esse tipo de interação. Muito mais do que se interessar em determinar como as crianças em seus processos de aquisição de linguagem acessam e computam as suas percepções em seus cérebros (corticalização) (JEANNEROD, 2002) pudemos ver nesse estudo a importância do outro na 287 constituição subjetiva do « eu ». Neste caso, sem os movimentos especulativos de sua mãe, o bebê estaria privado de ter vivido suas experiências no 'tempo' e no espaço do dialogo. Defendemos que o estudo que integre a multimodalidade existente no dialogo mãebebê pode ajudar a desvendar os primeiros sinais de subjetividade da criança, no seu processo de desenvolvimento padrão ou naqueles que apresentem alterações em seu desenvolvimento. Uma questão advinda dessa tese refere-se à deficiência e ao processo terapêutico. Esperamos ter contribuído dessa forma dando conta desse jogo de interpretação, reinterpretação materna, de orquestração dos parceiros dialógicos, de co-construçao da díade em seu caminho de construção de significados. Consideramos que esse tipo de análise, para fins terapêuticos, é muito importante para nos darmos conta dessas significações e resignificações co-construídas ao longo da história da díade, como uma forma de olhar juntamente com as questões teóricas, objetivando integrar uma visão mais ampla da dinâmica da construção do sujeito que passa por harmônicos subliminares. Dentro do processo terapêutico da díade, consideramos a importância da estimulação e configuração desses novos sentidos para eles. Ao trazer isso para a investigação científica tentamos mostrar a orquestração desses significados como objeto de discussão na configuração de um dialogo à distancia, na tentativa de podermos contribuir também para mudança de algumas crenças. Crenças que nós terapeutas estamos habituados a lidar na nossa prática, quando recebemos os pais com o peso do diagnóstico médico, quando lidamos com as diferentes visões de reabilitação existentes nas equipes multidisciplinares e no social com relação aos estereótipos sobre a deficiência. E também com a crença dos familiares como por exemplo, em ajudar a transformar a crença da mãe de sair do lugar de cuidadora de uma criança deficiente para o lugar de construtora com ele de uma relação materna e subjetiva do seu filho. Concordamos com Frazão (2004) que o papel do fonoaudiólogo é também o de « fazer circular novos sentidos ». E com Paracelso (1530) de que “um curador é antes de tudo um modificador de crenças”. Acreditamos que o mais importante a ser considerado é que existem necessidades fundamentais intersubjetivas nos seres humanos (TREVARTHEN, 2003). Essas necessidades são vividas através dos corpos e seus futuros dependem das interações interpessoais/intersubjetivas vividas e orquestradas « no » e « através » do dialogo : na afinação do « eu » com o « outro ». 288 8. Referências Bibliográficas ACREDOLO, L.P., GOODWYN, S.W. (1988) – Symbolic gesturing in normal infants. Child Development, 59, 450–466. ALENCAR, R. (2006) – La sincronización entre gestos, mirada y aplausos en apertura de debates científicos. In: Bürky, Y. & Stefani. E. de (Eds.). Transcritio. Bern:Lang. ALIBALI, M. W., HEATH, D. C., & MYERS, H. J. (2001). Effects of visibility between speaker and listener on gesture production: Some gestures are meant to be seen. Journal of Memory and Language, 44, 169-188. BAKHTIN, M. (1977) – Le marxisme et la philosophie du langage, Paris, Editions de Minuit BAKHTIN, M. (1978) – Esthétique et théorie du roman, Paris, Gallimard. BAKHTIN, M. (1979; 1986) – Speech genres and other late essays. Austin: University of Texas Press. BAKHTIN, M. (1981) – The Dialogic Imagination. Ed. M. Holquist, Austin: University of Texas Press. BAKHTIN, M. (1984) – Estetique de la creation verbale. Paris, Gallimard. BATES, E., BRETHERTON, I., SHORE, C., MCNEW, S. (1983) – Names, gestures and objets: Symbolization in infancy and aphasia. In K. Nelson (Ed.), Children's language. BATES, E., O'CONNEIL, B., & SHORE, C. Language and communication in infancy. In J. Osofsky (Ed.), Handbook of infant development. New York: Wiley, 149-203. 1987. BATESON M.C. (1979) – The epigenesis of conversational interaction: A personal account of research development. In M. Bullowa (Ed.), Before Speech: The Beginning of Human Communication. (pp. 63-77). London: Cambridge University Press. BERTAU, M.-C. (2007) – On The Notion of Voice: an exploration from a psycholinguistic perspective with developmental implications. International Journal for Dialogical Science by Marie-Cécile Bertau. Fall, 2007. Vol. 2, No. 1, 133-161 BEZERRA, E. (2007) – « Gente, por favor fala um de cada vez » : Etnografia, Analise Conversacional e Inter-relações entre Linguagem, Cognição e Cultura na Comunidade dos Tipis. Tese de Doutorado. UFMG. Belo Horizonte. BRESS, J. (1999) - Vous les entendez ? Des quelques marqueurs dialogigues ». Modèles Linguistiques, 22, 2, p. 71-86. 289 BRESS, J. (2005) – Savoir de quoi on parle : dialogue, dialogal, dialogique : Dialogisme, Polyphonie... In : Actes du colloque de Cerisy. ORGs : Bress, J. et al. Dialogisme et Poliphonie : Approches Linguistiques. Ed. Duculot. Bruxelles. BRESS, J. & VERINE, (2002) – Les bruissements des voix dans les discours : Dialogisme et discours rapporté. Faits de Langue, 19, p. 159-170. BRONCKART, J.-P. (1996) – Activité langagière, textes et discours. Pour un interactionnisme socio-discursif. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé. BROSSARD, A. (1992) – La psychologie du regard. Neuchatêl, Delachaux et Niestlé. BRUNER J.S. (1976) – From communication to language : A psychological perspective. Cognition, 3, 255-287. BRUNER J.S. (1983) – Child’s Talk: Learning to Use Language. New York: Norton. CASTRO, M. F. P. DE (1995) – Ainda a negação: questões sobre a interpretação. Cadernos de Estudos Lingüísticos, 29. Campinas, SP. CAVALCANTE, M. C. B. (1999) – Da voz à língua: a prosódia materna e o deslocamento do sujeito na fala diregida ao bebê. Tese de doutorado inédita. IEL. Universidade Estadual da Campinas. CAVALCANTE, M. C. B. (2007) - A dinâmica da interação mãe-bebê: Um caminho para se compreender a aquisição da linguagem inicial. CAVALCANTE, M.C.B. (2010) – A natureza do gesto de apontar em aquisição da linguagem : um estudo exploratorio. In : Multimodalidade em aquisição da linguagem. Org. Cavalcante, M.C.B. Ed. Universitária da UFPB. p. 09-40. CAVALCANTE, M.C.B. & NASLAVSKY, J.P.N. (2011) - A matriz inicial da subjetividade tendo como locus a dialogia do/no manhês. Cavalcante, M. C. B.; Naslavsky, J. P. N. A matriz inicial da subjetividade tendo como lócus a dialogia do/no manhês. In: Cavalcante, M. C. B; Faria, E. M. B.; Leitão, M. M. (orgs.) Aquisição da linguagem e processamento linguistico: perspectivas teóricas e aplicadas. Joao Pessoa, Ed. Ideia/Ed. Universitária. p. 1138. CAVALVANTE, M. C. B. (2007) - Gesto e fala nas interações mãe-bebê: caracterizando os primeiros usos lingüísticos. ISALP. CAVALVANTE, M.C.B. (2008) – Rotinas interativas mãe-bebê: constituindo gêneros do discurso. Revista Investigações Lingüística e Teoria Literária. N.º Especial em homenagem a Luiz Antônio Marcuschi. Vol 21, n.º 2, Ed. da UFPE. COLAS, A. (2001) – Communication mère-enfant: une étude developpementale du marquage ostensif des évenements au cours de la période prélinguistique. In C. Cavé, I. Guaïtella et S. 290 Santi, Eds., Oralité et Gestualité. Interactions et comportements multimodaux dans la communication : 661-666. COLE, J. ; GALLAGHER, S.; MCNEILL, D. (2002) - Gesture following deafferentation: A phenomenologically informed experimental study. Phenomenology and the Cognitive Sciences 1: 49–67, 2002. COLE, J., GALLAGHER, S., DUNCAN, S. D., FURUYAMA, N. ET MCCULLOUGH, K.E. (1998) – Gestures after total defferentiation of de bodily senses. In S. Santi et al., Eds., Oralité et Gestualité. Communication Multimodale, interaction: 65-69. COLLETA, J. M. (2004) – Le développement de la parole chez l’enfant âgé de 6 à 11 ans. Corps, langage et cognition. Mardaga, Belgique. CORLANTENEAU, H.-C. (2005) – Dialogisme dans une discussion du port du foulard à l'école. Tese de Mestrado. Université de Paris 3 – Sorbonne Nouvelle. COSNIER J., (1987).- Expression et régulation des émotions dans les interactions de la vie quotidienne, Colloque La psychologie sociale et les émotions, Paris, MSH, 5-9 janvier 1987. COSNIER J., BROSSARD A., (1984) – La communication non verbale. Delachaux et Niestlé. COSNIER, J. (1977) – Communication non verbal et langage. Psychologie Médicale, 9, 11, pp. 2033-2049. COSNIER, J. (1992) – Synchronisation et copilotage de l'interaction conversationnelle, Rev.Protée, pp. 33-39. COSNIER, J. (1994) – La psychologie des émotions et des sentiments, Paris, Retz. COSNIER, J. (2000) – Les mimiques du créateur ou l'autoréférence des représentations affectives, in Plantin, Doury, Traverso(eds) Les émotions dans les interactions, Presses Univ.de Lyon,Lyon, pp. 157-167. COSNIER, J. (2004) - Le corps et l’interaction (empathie et analyseur corporel) Société Française de Psychologie, Paris 8-9 0ctobre COSNIER, J. (2008) – Les gestes du dialogue. In: La communication, état des savoirs, Ed. Sciences Humaines. pp. 119-128. COSNIER, J., BRUNEL, M.L. (1994) – Empathy, micro-affects, and conversational interaction, Frijda(ed), ISRE, Storrs, CT USA COSNIER. J. (1986) - Ethology: a transdisciplinary discipline. In J. Le Camus & J. Cosnier (Eds.), Ethology et Psychology. Privat: Toulouse. 291 COSNIER. J. (1996) - Les gestes du dialogue, La Communication Non Verbale Rev. Psychologie de la motivation, 21, pp. 129-138. DANON BOILEAU L. (2002), Des Enfants sans langage, Paris, Odile Jacob. DANON BOILEAU L. (2004), Troubles de la communication et du langage chez l’enfant, Paris, PUF, coll. « Que sais-je ? ». DANON-BOILEAU, L. ; LEROY, M. ; MOREL, M.-A. ; PHILIPPE, A. - Symptomes précoces: La part du linguiste. In : Autisme : état des lieux et horizonts Part. II CarnetPSY. DE CHANAY, H.C. (2005) – Associations et dissociations énonciatives entre gestes et paroles : polyphonie et dialodisme dans un interview de Jean-Claude Van Damme. In : Actes du colloque de Cerisy. ORGs : BRESS, J. et al. Dialogisme et Poliphonie : Approches Linguistiques. Ed. Duculot. Bruxelles. DE CHANAY, H.C. (2010) – Polyphonie et gestualité. Le va-et-vient latéral de la tête dans les débats d'entre-deux-tours des présidentielles françaises, 1974-2007. Dialogisme : langue, discours. Colloque International. Org. PRAXILING, CNRS-Université de Montpellier 3. 0810 septembre. DEVOUCHE E. ET GRATIER M. (2001) – Microanalyse du rythme. dans les échanges vocaux et gestuels entre la mère et son bébé de 10 semaines, Devenir/2, Volume 13, p. 55-82. DUCROT, O. (1980) – Les mots du discours, Paris, Editions de minuit EKMAN P. (1993) – Facial expression and emotion. American Psychologist, 48, 384-392. EKMAN, P. & FRIESEN, W. V. (1971) – Contants across cultures in the face and emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 17 : 124-129. EKMAN, P. & FRIESEN, W. V. (1976) – Measuring facial movement. Environmental Psychology and Nonverbal Behaviour, 1 : 56-75. EKMAN, P. & FRIESEN, W. V. (1984) – La mesure des mouvements faciaux. In J. Cosnier et A. Brossard, Dir., La communication non verbale : 101-124. EKMAN,P.,LEVENSON,R.,FRIESEN,W., (1983) – Autonomic nervous system activity distinguishes between emotions. Science, 221, 1208-1210. FERNALD A. (1989) – Intonation and communicative interest in mother’s speech to infants: Is the melody the message? Child Development, 6, 1497-1510. FERNALD A. (1993) – Approval and disapproval: Infant responsiveness to vocal affect in familiar and unfamiliar languages. Child Development, 64, 657-674. FIVAZ-DEPEURSINGE E. (2001) – Corps et intersubjectivité. Psychothérapie, 21(2) : pp. 63-69. 292 FOGEL, A. (1985) – Coordinative structures in the development of expressive behavior in early infancy. In Zivin, G. (Ed.), The Development of Expressive Behavior: BiologyEnvironment Interactions. Orlando: Academic Press. FOGEL, A. (1993) - Developing through relationships. Chicago: University of Chicago Press. FOGEL, A. (2000) - O contexto sociocultural e histórico dos estudos do desenvolvimento. Psicologia Reflexão e Critica. v. 13, n. 2. FOGEL, A. & THELEN, E. (1987) – Development of early expressive and communicative action: Reinterpreting the evidence from a dynamic system perspective. Developmental Psychology, 23, 747-761. FRANÇOIS, F. (1983) – Ebauches d'une dialogique. Connexions, 38, p. 61-87. FRANÇOIS, F. (1988) – Continuité et mouvements discursifs : un exemple chez des enfants de trois ans. Modéles linguistiques. Tome X (fase 2), p. 17-36. FRANÇOIS, F. (2005) – Interpretation et dialogue chez des enfants et quelques autres. Lyon, ENS Ed. FRAZÃO, Y. S. . Conhecimentos essenciais para entender bem a relação entre Linguagem e Paralisia Cerebral. São José dos Campos: Pulso Editorial Ltda, 2004. 61 p. GARFINKEL, H. (1967) – Studies in ethnomethodology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall. GARITTE, C. (1998) – Le developpement de la conversation chez l'enfant. Bruxelles, De Boeck. GARVEY, A. & FOGEL, A. (2007) - Dialogical Change Processes, Emotions, and the Early Emergence of Self. International Journal for Dialogical Science 1: 2, 51-76. ijds.lemoyne.edu/journal/2_1/index.html GLEITMAN, L. R. (1990) – The structural sources of verb meanings. Language Acquisition 1, pp. 3-55. GOFFMAN (1974) – Frame Analysis: an Essay on the Organization of Experience. New York: Harper and Row. GOFFMAN, E. (1967) – Interaction Ritual: Essays on Face-to-Face Behavior. New York: Doubleday Anchor. GOFFMAN, E. (1973) – Les Relations en public, Éditions de Minuit, coll. Le Sens Commun. GOFFMAN, E. (1988) – Les moments et leurs hommes, Éditions de Minuit. GOLDIN-MEADOW S. (2003) – Gesture. In, L. Nadel (Ed.) Encyclopedia of Cognitive Science, Vol 2, pp. 289-293. London: Nature Publishing Group. 293 GOODWIN, C. (1981) – Conversational Organization. Interaction Between Speakers and Hearers. Academic Press. GOODWIN, C. (2000a) – Action embodiment within situated human interaction, Journal of Pragmatics 32, 1489-1522). GOODWIN, C. (2000b) – Pointing and the collaborative construction of meaning in aphasia. Texas linguistic forum, 43, 67-76. GOODWIN, C. (2002) – Conversational frameworks for the accomplishment for meaning in aphasia. In. Conversational and brain damage, Charles Goodwin editor, Oxford University Press. GOODWIN, C. (2003) – The Semiotic Body in this Environment. Discourses of the Body. Applied Linguistics, UCLA. GOODWIN, C. & GOODWIN, M. H. (1996) - Seeing as a Situated Activity: Formulating Planes, en: Y. Engestrom & D. Middleton (eds.): Cambridge: Cambridge University Press, 61- 95. GOODWIN, M. H., GOOODWIN, C. AND YAEGER-DROR, M. (2002) – Multimodality in girl's games disputes. Journal of Pragmatics, 34, 1621-1649. GRATIER M. (2001) – Rythmes et Appartenances Culturelles: Etude Acoustique des Echanges Vocaux entre Mères et Bébés Autochtones et Migrants. Doctoral Thesis, Université de Paris 5 René Descartes, Institut de Psychologie, Paris. GRATIER, M. (2003) – Expressive timing and interactional synchrony between mothers and infants: Cultural similarities, cultural differences, and the immigration experience. Cognitive Development, 18, pp. 533-554. GRATIER, M. (2007) - Musicalité, style et appartenance’, InM. Imberty&M. Gratier (Eds), Geste, temps et musicalité (Paris: L’Harmattan). GRATIER, M. (2007) – Musicalité, style et appartenance, In M. Imberty&M. Gratier (Eds), Geste, temps et musicalité, Paris, L’Harmattan. GRATIER, M. (2008) – Grounding in musical interaction: Evidence from jazz performances, In M. Imberty & M. Gratier (Eds), Musicae Scientiae Special Issue Narrative in music and interaction. GRATIER, M. (2006) - Le temps intersubjectif et les appartenances primaires, In : M. Imberty et M. Gratier, Sémiologie, sociologie et psychologie de la communication musicale, Paris, L’Harmattan. GRATIER, M. TREVARTHEN, C. (2008) – Journal of Consciousness Studies, 15, No. 10– 11, 2008, pp. 01-37 294 GRIZ, S.M.S. (2004) – Desenvolvimento da comunicação no início da vida: O bebê surdo. Tese de Doutorado em Psicologia Cognitiva, Departamento de Psicologia, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife – PE. GROBET A. (1997) - La ponctuation prosodique dans les dimensions périodique et informationnelle du discours, Cahiers de linguistique française 19, p. 83-123. GROBET A. (2001) - Gestion prosodique de l’interaction : le cas du tour de parole formé de plusieurs interventions. In Cavé C., Guaïtella I. & Santi S. (éds), A. Grobet & A. C. Simon 163 Oralité et gestualité. Interactions et comportements multimodaux dans la communication, Paris, L’Harmattan, p. 606-609. GROSSEN, M., & SALAZAR ORVIG, A. (eds). (2006). L’entretien clinique en pratiques. Analyse des interactions verbales d’un genre hétérogène [Clinical interview in practice. Analysis of verbal interactions in a heterogeneous genre. Paris: Belin. GUAÏTELLA I. ; SANTI, S. ; AUTESSE, D. ; BOYER, J. ; FARACO, M., LARGUE, B. ; E PURSON, A. (2001) – Voix melées, regards croisés, tissage de l'interaction. In C. Cavé, I. Guaïtella et S. Santi, Eds. Oralité et gestualité. Interactions et comportements muldimodaux dans la communication. p. 464-469. GUAÏTELLA, I ; SANTI, S. ; CAVE, C. (2009) - Links between Eyebrow Movements and Voice Variations : an Experimental Investigation. in "Language and speech 52, 2/3 p.207-222 GUAÏTELLA, I., SANTI, S., LAGRUE, B., & CAVÉ, C. (2009) – Are Eyebrow Movements Linked to Voice Variations and Turn-Taking in Dialogue? An Experimental Investigation. Language and Speech, , 52, 2/3, 207-222. Guidebook : It takes two to talk » (PEPPER & WEITZMAN, 2004) GÜLICH, E. & MONDADA, L. (2001) – Analyse conversationnelle. Lexikon der romanistichen linguistik, Vol. 1(2), 196-250, Tübingen. Ochs, E., Schegloff, E. A., & Thompson, S. (Eds.). HALLIDAY, M.A.K. (1975). Learning How to Mean: Explorations in the Development of Language. London: Edward Arnold. IVERSON, G.M. & GOLDIN-MEADOw, S. (1997) - What's Communication Got to Do With It? Gesture in Children Blind From Birth. Developmental Psychology, Vol. 33, No. 3, 453467 JEANNEROD, M. (2002) – La nature de l'esprit. Sciences Cognitives et Cerveau. Ed. Odile Jacob. JONES S. E. & ZIMMERMAN, D. H. (2003) – A Child’s point and the achievement of intentionality. Gesture 3:2 155-185. John Benjamins Publishing Company, USA. 295 KARMILOFF-SMITH, A. (1979) – A Functional Approach to Child Language. A Study of determiners and Reference. Cambridge University Press, Cambridge. KARMILOFF-SMITH, A. (1998) – Development itself is the key to understandings developmental disorders. Trends in the Cognitive Sciences. Cambridge University Press, Cambridge. KARMILOFF-SMITH, K. & KARMILOFF-SMITH, A. (2003) – Comment les enfants entrent dans le langage. Retz, S.E.J.E.R., Paris. KENDOM, A. (1990) – Introduction: Current Issues in the Study of “nonverbal Communication”. Nonverbal Communication, Interaction, and gesture. Selections from Semiotica. Mouton Publishers. KENDON, A. (1972) – Some relationships between body motion and speech: an analysis of an example. In A. Siegman & B. Pope (eds.), Studies in Dyadic Communication, pp. 177-210. Elmsford, NY: Pergamon. KENDON, A. (1997) – Gesture. Annual Review of Antropology, 26, p. 109-128. KERBRAT-ORECCHIONI, K. (2005) – LE DISCOURS EN INTERACTION. PARIS, ARMAND COLIN. KERBRAT-ORECCHIONI C. (1990 et 1992)!: Les interactions verbales, T. I et II, Paris, Armand Colin. KERBRAT-ORECCHIONI, C. (1996) – La conversation. Collection n°26, MéMO, Seuil, Paris. KERBRAT-ORECCHIONI, C. (2000) – Quelle place pour les émotions dans la linguistique du Xxe siècla ? Remarques et aperçus. In C. Plantin, M. Doury et V. Traverso, Eds, Les émotions dans les interactions, p. 33-74 LYRA, M. C. D. P. (2011) - Diálogo abreviado: a forma abreviada e a emergência do self e do símbolo. (no prelo) LYRA, M. C. D. P. & Bertau, M-C. (2008). Dialogical practices as basis for self. Studia Psychologica, 8, 173-193. LYRA, M. C. D. P. & SOUZA, M. (2003). Dynamics of dialogue and emergence of self in early communication. In I. Josephs (Ed.), Dialogicality in development. Vol. 5. Advances in child development culturally structured environments (pp. 51-68), Westport, CT: Praeger Publishers. LYRA, M. C. D. P., & Winegar, L.T. (1997). Processual dynamics of interactions through time: Adult-child interactions and process of development. In A. Fogel, M. C. D. P. Lyra, & J. Valsiner, Dynamics and indeterminism in developmental and social processes (pp. 93-109). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum. 296 LYRA, M.C.D.P. (1988) – Transformação e construção na interação social: a díade mãe-bebê. Tese de Doutorado em Psicologia, Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, SP. LYRA, M.C.D.P. (1998) – Reflections on the dynamics of meaning making: Communication process et the beginning of life. Em M.C.D.P. Lyra & J. Valsiner (Eds.), Construction of psychological process in interpersonal communication. Vol. 4 in Advances in child development within culturally structured environments pp. 225-242. Norwood, NJ: Ablex Publishing Corporation. LYRA, M.C.D.P. (2000) – Desenvolvimento de um sistema de relações historicamente construído: contribuições da comunicação no início da vida. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13(2). LYRA, M.C.D.P. (2001) – Dialogicality and early communication development. Tema Livre apresentado no Jean Piaget Society. LYRA, M.C.D.P. (2002) – Desenvolvimento humano no processo de comunicação. Projeto de pesquisa entregue ao CNPq. LYRA, M.C.D.P. (2007) – On abbreviation : Dialogue in early life. International Journal for Dialogical Science 2, 15-44. Retrieved [29/10/2010] from http://ijds.lemoyne.edu/journal/2_1/IJDS.2.1.02.Lyra.html LYRA, M.C.D.P. & ROSSETTI-FERREIRA, M.C. (1989) – Processos dialógicos e a construção da partilha na díade mãe-bebê. Caderno de Estudos Lingüísticos, Campinas, SP. 16: 47-66. LYRA, M.C.D.P. & ROSSETTI-FERREIRA, M.C. (1995) – Transformation and constrution in social interaction: a new perspective on analysis of the mother-child dyad. Em J. Valsiner, Child Development within Culturally Structured Enviroments. Comparative-Cultural and Constructivist Perspectives, Ablex Publishing Coorporation, NJ. MALLOCH S. (1999) – Mother and infants and communicative musicality. In Rhythms, Musical Narrative, and the Origins of Human Communication. Musicae Scientiae, Special Issue, 1999- 2000. European Society for the Cognitive Sciences of Music, Liège, pp. 13-28 et pp. 29-57. MARKOVÁ, I. (1987) – On the interaction of opposites in psychological processes. Journal for the Theory of Social Behaviour, 17, 279-299. MARKOVÁ, I. (1990) – A three-step process as a unit of analysis in dialogue. Em I. Marková & K. Foppa (Orgs.), The dynamics of dialogue, pp. 129-146. New York, NY: SpringerVerlag. MARKOVA, I. (2003) – Dialogicidade e representações sociais: as dinâmicas da mente. Petropolis, RJ: Vozes. 297 MARQUES-DIAS, M. J. (1999) – Fisiopatogenia da Síndrome de Möebius e da Artrogripose decorrentes da exposição IN UTERO ao Misoprostol. Tese (Livre-Docência), Departamento de Neurologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. Brasil. MAURY-ROUAN C. (1998) – Mimogestuelité émmotionnelle et coverbale chez des enfants aveugles. In : S. Santi et al. Eds, Oralité et gestualité. Communication multimodale, interaction, p. 81-85. MAURY-ROUAN C. (2001): "Mimiques, regards et activités discursive". Sémio 2001, Actes du Congrès International de Sémiotique, CD-ROM, Université de Limoges. MAURY-ROUAN C. (2008) – Gestualité, énonciation et présence de l'autre dans la conduite du discours. In : Dialogues, movements discursives, signification. Eds, Salazar-Orvig, A. et al. Ed. E.M.E. & InterCommunications, p. 49-63. MCNEILL, D. (1992) – Hand and Mind: What Gestures Reveal About Thought. Chicago, IL: University of Chicago Press. MCNEILL, D., DUNCAN, S.D. (2000) – Growth points in thinking-for-speaking. In D McNeill, ed. Language and Gesture, pp. 141–61. Cambridge: Cambridge University Press. MCNEILL, D., Quek, F., McCullough, K.-E., Duncan, S., Furuyama, N., Bryll, R., Ma, X. F., & Ansari, R. (2001) - Catchments, prosody and discourse. GESTURE: John Benjamins Publishing Company, 1:1, pp. 9-33. MEAD. G. H. (1934) – Mind, self and society. Chicago: University of Chicago Press. MILLER, M. T. & STROMLAND, K. (1999) – The Möbius sequence: a relook. J. AAPOS, v. 3, n. 4, pp. 199-208, Aug. MONDADA, L. (1999) - Formes de séquentialité dans les courriels et les forums de discussion: Une approche conversationnelle de l'interaction sur Internet. ALSIC, Vol. 1, 3-25. MONDADA, L. (1999). L'accomplissement de l'"étrangéité" dans et par l'interaction: procédures de catégorisation des locuteurs, Langages, 134, 20-34. MONDADA, L. (2000) – Les effets théoriques des pratiques de transcription. Linx, 42, 131150. MONDADA, L. (2001) – Apports de l’éthnométhodologie et de l’analyse conversationnelle à la description de l’acquisition dans l’interaction. Questions d’épistémologie en didactique du français, Textes réunis des journées d’étude. MONDADA, L. (2002) – Pratiques de transcription et effets de catégorisation. In B. Bonu (éd). Transcrire l’interaction, No spécial Cahiers de Praxématique, 39, pp. 45-75. MONDADA, L. (2003) – Parler topical et organisation séquentielle: l'apport de l'analyse conversationnelle. Verdum, 25/2, 193-219. 298 MONDADA, L. (2004) – Temporalité, séquencialité et multimodalité au fondement de l’organisation de l’interaction : le pointage comme pratique de prise de tour. Cahiers de linguistique française, N° 26. MONDADA, L. (2005) – L’analyse de corpus dans la perspective de la linguistique interactionnelle : des études de cas singuliers aux études des collections. In. A. Condamine (éd.) Sémantique et corpus, Paris :Hermès, pp. 76-208. MONFORD. J.P. & Goldin-Meadow, S. (1997) - From Here and Now to There and Then: The Development of Displaced Reference in Homesign and English. Child Development, June 1997, Volume 68, Number 3, p. 420-435 MURRAY L., TREVARTHEN C. (1985) – Emotional regulation of interactions between twomonth-olds and their mothers. In T.M. FIELD, N.A. FOX (Eds.), Social Perception in Infants, pp. 177-197. Norwood, N J: Ablex. MURRAY L., TREVARTHEN C. (1986) – The infant’s role in mother-infant communication. Journal of Child Language, 13, pp.15-29. NADEL J. (1986), Imitation et communication entre jeunes enfants, Paris, PUF. NADEL J. (1996), Early Interpersonal Timing and the Perception of Social Contingencies, Paper presented at the 10 Biennial International Conference on Infant Studies, ICIS, Providence, Ri. NADEL J. (2002), Imitation and imitation recognition : Their functional role in preverbal infants and nonverbal children with autism, in A. Meltzoff et W. Prinz (eds), The Imitative Mind : Development, Evolution and Brain Bases (p. 42-62), Cambridge, MA, Cambridge University Press. NADEL J., CARCHON I., KERVELLA C., MARCELLI D., RÉSERBAT-PLANTEY D. (1999) – Expectancies for social contingency in 2-month-olds. Developmental Science, 2( 2), pp. 164-173 NADEL, J., & BUTTERWORTH, G. (1999). Imitation in Infancy. Cambridge : Cambridge University Press. NELSON, K. (1986) – Event knowledge : structure and function in developement. Hillsdale, NJ, Lawrence Erlbaum. NEVES, A.P.N.M. (2006) - Le developpement de la communication au debut de la vie: Les apports des perspectives dynamiques et socioculturelles aux études de l'interaction » Mestrado em Ciências da Linguagem, Universidade Lumière Lyon 2, França. Orientadora : Lorenza Mondada. NEVES, A.P.N.M. (2010) – Multimodalidade na interação adulto-bebê. In : Multimodalidade em aquisição da linguagem. Org. Cavalcante, M.C.B. Ed. Universitária da UFPB. p. 69-118. 299 NEWSON J. (1979) – The growth of shared understandings between infant and caregiver. In M. Bullowa (Ed.), Before Speech: The Beginning of Human Communication pp. 207-222. Cambridge: Cambridge University Press. NINIO, A., SNOW, C. (1988). Language acquisition through language use: The functional sources of children’s early utterances. In Y. Levy, I. Schlesinger & M.D.S. Braine (Eds.), Categories and Processes in Language acquisition. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum. PANTOJA, A. P. F. (1996) - Relational-historical change processes in early motherinfant communication: A qualitative investigation. Dissertação de Mestrado não-publicada, Departamento de Psicologia, University of Utah, Utah, EUA. PAPOUSEK H. (1996) – Musicality in infancy research: Biological and cultural origins of early musicality. In I. Deliège, J. Sloboda (Eds.), Musical Beginnings: Origins and Development of Musical Competence, pp. 37-55. Oxford : Oxford University Press. PAPOUSEK H., PAPOUSEK M. (1997) – Fragile aspects of early social interaction. In L. MURRAY, P.J. COOPER (Eds.), Postpartum Depression and Child Development, pp.35-53. New York: Guilford Press. PAPOUSEK M (1996). Intuitive parenting: A hidden source of musical stimulation in infancy. In I Deliège and J Sloboda, eds, Musical Beginnings: Origins and development of musical competence, pp. 88–112. Oxford University Press, Oxford. PAPOUSEK M., PAPOUSEK H., SYMMES D. (1991) – The meanings and melodies in motherese in tone and stress languages. Infant Behavior and Development, 14, pp. 415-440. PETITO, L.A. (1993) – Modularity ans constraints in early lexical acquisition: Evidence from childre's early language and gesture. In P. Bloom, (Ed.), Language acquisition, pp. 95-126. PUPO FILHO R. A.; CARDOSO T. A. L.; MARTINS J. R. O.; MICHELE J. A.; CARVALHO FILHO J. F.; MORAES M. G.; DUARTE M. S. N. (1999) – Síndrome de Moebius, uma patologia emergente no Brasil. Rev Paul Ped 17, pp. 91-94. RABATTEL, A. (2005) – Les postures énonciatives dans la co-construction dialogique des points de vue : coénonciation, surénonciation, sousénonciation. In : Actes du colloque de Cerisy. Orgs : BRESS, J.et al. Dialogisme et Poliphonie : Approches Linguistiques. Ed. Duculot. Bruxelles. ROWE, M. L., GOLDIN-MEADOW, S. (2009) – Early gesture selectively predicts later language learning Developmental Science 12:1, pp 182–187 SACKS, H. (1984) – Notes on methodology. In: Atkinson, J.M. & Heritage, J. (Eds.) Structures of social action. pp. 21-27. New York: Cambridge University Press. SACKS, H., SCHEGLOFF, E. A., JEFFERSON, G. (1974) – A simplest systematics for the organization of turn-taking for conversation. Language 50, pp. 696-735. 300 SALAZAR ORVIG, A (2002) - Remarques sur continuité et engagement dans le dialogue chez le jeune enfant, in Danon Boileau, L. , Hudelot, C et Salazar Orvig, A (eds) Les usages du langage chez l’enfant , Paris, Ophrys, 61-81 SALAZAR ORVIG, A (2003) - L’inscription dialogique du jeune enfant : évolution, diversité et hétérogénéité, Actes du 7e colloque d’orthophonie- logopédie. Tranel, 38-39, 7-24 SALAZAR ORVIG, A. (1999) - Aléas de la continuité dialogique entre 18 et 24 mois in Actes des Journées Scientifiques du CIRLEP, Presses Universitaires de Reims, n° 11, 251 – 271 SALAZAR ORVIG, A. (2000) Langages, 140, 68-91 - La reprise aux sources de la construction discursive. SALAZAR ORVIG, A. & GROSSEN, M. (2010) – La co-construction : une facette dialogale du dialogisme ? In : Dialogisme : langue, discours. Colloque International. Org. PRAXILING, CNRS-Université de Montpellier 3. 08-10 septembre. SCHEGLOFF, E. (1993) – Reflections on quantification in the study of conversation. Research on Language and Social Interaction, 26, pp. 99-128. SCHEGLOFF, E. A. (1992) – Repair after next turn: The last structurally provides defense of intersubjectivity in conversation. American Journal of Sociology, 97, pp. 1295-1345. SCHEGLOFF, E. A., JEFFERSON, G., SACKS, H. (1977) – The Preference for SelfCorrection in the Organization of Repair in Conversation, Language, 53, pp. 361-382. SCHEGLOFF, E. A. & SACKS, H. (1973) – Opening up closings. Semiotica 7, pp. 289-327. STERN D.N. (1974) – Mother and infant at play: The dyadic interaction involving facial, vocal and gaze behaviours. In M. Lewis, L.A. Rosenblum (Eds.), The Effect of the Infant on Its Caregiver, pp. 187-213. New York: Wiley. STERN D.N. (1985) – The Interpersonal World of the Infant: A View from Psychoanalysis and Development Psychology. New York, Basic Books. STERN D.N. (1993) – The role of feelings for an interpersonal self. In U. Neisser (Ed.), The Perceived Self: Ecological and Interpersonal Sources of the Self-Knowledge, pp. 205-215. New York: Cambridge University Press. STERN D.N. (1999) – Vitality contours : The temporal contour of feelings as a basic unit for constructing the infant’s social experience. In P. ROCHAT (Ed.), Early Social Cognition: Understanding Others in the First Months of Life, pp. 67-80. Mahwah. NJ: Erlbaum. STERN D.N., HOFER L., HAFT W., DORE J. (1985) – Affect attunement: The sharing of feeling states between mother and infant by means of inter-modal fluency. In T.M. Feild, N.A. Fox (Eds.), Social Perception in Infants, pp. 249-268. Norwood, N.J. : Ablex. 301 TODOROV, T. Mikhail Bakhtine, le príncipe dialogique, suivi de ecrits du cercle de Bakhtine. Paris: Seuil, 1981. TOMASELLO M. (1988) – The role of joint attentional processes in early language development. Language Sciences, 10, pp. 69-88. TOMASELLO M. (1993) – On the interpersonal origins of self-concept. In U. NEISSER (Ed.), The Perceived Self: Ecological and Interpersonal Sources of the Self-Knowledge, pp. 174-184. New York: Cambridge University Press. TOMASELO, M. (2004)– Aux origines de la cognition humaine, Retz, S.E.J.E.R., Paris. TREVARTHEN C. (1979) – Communication and cooperation in early infancy. A description of primary intersubjectivity. In M. BULLOWA (Ed.), Before Speech: The Beginning of Human Communication, pp. 321-347. London, Cambridge University Press. TREVARTHEN C. (1984) - Biodynamic structures, cognitive correlates of motive sets and development of motives in infants. In W. PRINZ, A.F. SAUNDERS (Eds.), Cognition and Motor Processes, Berlin-Heidelberg-New York: Springer Verlag. p. 327-350. TREVARTHEN C. (1992) – An infant’s motives for speaking and thinking in the culture. In A.H. WOLD (Ed.), The Dialogical Alternative (Festschrift for Ragnar Rommetveit, p. 99137. Oslo/Oxford: Scandanavian University Press/Oxford University Press. TREVARTHEN C. (1999) - Intersubjectivity In R. WILSON, F. KEIL (General Eds.), The MIT Encyclopedia of Cognitive Sciences, Cambridge, MA: MIT Press, p. 413-416. TREVARTHEN C., KOKKINAKII T., FIAMENGHI G.A. JR. (1999) – What infants’ imitations communicate: With mothers, with fathers and with peers. In J. Nadel, G. Butteworth (Eds.), Imitation in Infancy, pp. 127-185. Cambridge: Cambridge University Press. TREVARTHEN C., MURRAY L., HUBLEY, P.A. (1981) – Psychology of infants. In J. Davis, J. Dobbing (Eds.), Scientific Foundations of Clinical Paediatrics, 2nd Edition, pp 211274. London: Heinemann Medical. TREVARTHEN, C., AITKEN, K.J. (2003) – Intersubjectivité chez le nourrisson : recherche, théorie et application clinique, Devenir/4, Volume 34, p. 309-428. VALSINER, J. (1997) – Culture and the development of children’s action. 2nd ed. New York, NY: Wiley. VALSINER, J. (2000) - Culture and Human Development. London: Sage Publications VALSINER, J. (2006) - Developmental epistemology and implications for methodology. In W. Damon & R. M. Lerner (Eds.). Handbook of child psychology. Theoretical models of human development . Hoboken, NJ: John Wiley. p. 166-209. 302 VENTURA, L.M.V.O. (2001) – Seqüência de Möebius: Estudo Comparativo das Anomalias e Distúrbios Funcionais em Crianças com ou sem Uso de Misoprostol durante a Gestação. Tese de Doutorado, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. VION, R. (1992 ; 2000) Hachette. - La communication verbale. Analyse des interactions. Paris, VION, R. (1998) – Du sujet en linguistique. In R. Vion (éd) Les sujets et leurs discours : énonciation et interaction. Aix-en-Provence, Publications de l'univers de Provence. p. 189202. VYGOTSKY, L. S. (1987) – Thinking and speech. New York: Plenum. WALLON, H. (1985) – Comment se développe chez l'enfant la notion de corps propre. Enfance Numéro spécial Henri Wallon, 7è Ed., pp. 383-412. WIERZBICKA, A. (2000) – The semantics of human facial expressions. Pragmatics & Cognition, Vol. 8(1), pp. 147-183. John Benjamins Publishing Company, The Netherlands. Obras citadas mas não lidas : BALDWIN, J.M. (1911) – The individual ans society. Londres. Rebman. HALL, E. T. (1971) – La dimension cachée. Paris. Seuil PARACELSO (1530) – Paragranum. Citado em : Vida e Obra de Paracelso : O pai da medicina integral. Sociedade das Ciências Antigas. (http://www.sca.org.br/biografias/Paracelso.pdf) SCHEGLOFF, E. A. (1982) – Discourse as an Interactional Achievement: Some Uses of 'Uh huh' and Other Things that Come Between Sentences. In Georgetown University Roundtable on Languages and Linguistics. D. Tannen, ed. Pp. 71-93. Washington D.C.: Georgetown University Press. 303 APÊNDICE Convenções de Transcrição Generalidades Transcrição em formato "lista". Enumeração das linhas dos turnos de fala (mas não há enumeração para as linhas que acompanham as descrições das ações e gestos sincronizados à fala). Les locuteurs sont notés par une lettre correspondant au début de leur pseudonyme B : Bebê M : Mãe Anotação das pausas a) Pausas não cronometradas: . e .. e ... marcam as pequenas pausas, medias, longas. (3s) marcam as pausas mais longas, em segundos (à partir de 1 segundo) de forma não cronometrada. Fenômenos segmentais : marcam os alongamentos silábicos (de forma icônica com relação a duração por exemplo :: ou ::: Prosódia / et \ marcam as subidas e as descidas entonativas. CAIXA ALTA marcam a intensidade vocal forte. ¤¤¤ segmento não audível pega ° ° itálico a voz agudizada/infantilizada/canto segmento de voz com pouca intensidade 304 Descrições e comentários come em negrito as falas da mãe ((ri)) entre dois parênteses as ações orais da mãe. Ex : vibrar lábios, estalar língua, etc. ( ) entre parênteses as ações do bebê sem parênteses as ações da mãe # fig. 1 marca o momento exato que corresponde a figura ou comentário, de forma sincronizada com a fala/vocalização ou ação (o sinal fica alinhado pelo símbolo # correspondente no texto escrito). Quando tiver. Descrição das ações (gestos, movimentos, olhares, posturas) A transcrição dos gestos foi adaptada : Delimitação do gesto: * * indicação do inicio/fim dos gestos/ações da mãe ≠ ≠ indicação do inicio/fim dos gesto/ações do bebê O sublinhado marca todo tipo de vocalização do bebê (choro, riso, grito, balbucio, gorjeios…) Descrição do gesto de uma linha de transcrição a outra: ----> continuação dos gestos/movimentos nas linhas seguintes ---->12 continuação dos gestos/movimentos até a linha 12 ---->> continuação do gesto/movimento até o fim da sequência/extrato Descrição do olhar : R (M) indicação do olhar do bebê para a mãe R (chocalho) indicação do olhar do bebê para os objetos R (E) indicação da direção do olhar do bebê (E = esquerda; D = direita; A = acima; B = embaixo F = frente) & marca a continuação do turno pelo mesmo locutor, além da interrupção da linha de transcrição para a introdução de um entroncamento pelo outro locutor. 305 Descrição dos gestos: Mãe [] para os beijos [] para os cheirinhos [] [] bater palmas balançar chocalho [] fazer funcionar um brinquedo musical baixar ou elevar um objeto diante do bebê Bebê bater palmas beijo balançar chocalho fazer funcionar um objeto musical 306