Contabilidade Geral e Controladoria 6° PERÍODO Valtuir Soares

Transcrição

Contabilidade Geral e Controladoria 6° PERÍODO Valtuir Soares
Contabilidade Geral e Controladoria
6° PERÍODO
Valtuir Soares Filho
Marcos Antônio Dozza
PALMAS-TO/ 2009
UNIVERSIDADE DO TOCANTINS
Reitoria
Jucylene Maria de Castro Santos Borba
Vice Reitoria
Lívio William Reis de Carvalho
Pró-Reitoria de Graduação
George França dos Santos
Diretoria de EaD e Tecnologias Educacionais
Antônio Luiz Maya Junior
Diretoria de Ensino
Patrícia Martins Bühler Tozzi
Coordenadoria de Planejamento Pedagógico e Midiático
Rodrigo Barbosa e Silva
Coordenador do Curso
Maria Rosa Arantes Pavel
FUNDAÇÃO
MATERIAL DIDÁTICO
Organização de Conteúdos Acadêmicos
Valtuir Soares Filho
Marcos Antônio Dozza
Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires
Revisão Linguístico-Textual
Domenico Sturiale
Revisão Didático-Editorial
Domenico Sturiale
Revisão Didático-Pedagógica
Domenico Sturiale
Gerente de Divisão de Material Impresso
Katia Gomes da Silva
Revisão Digital
Vladimir Alencastro Feitosa
Projeto Gráfico
Albânia Celi Morais de Brito Lira
Katia Gomes da Silva
Márcio da Silva Araújo
Rogério Adriano Ferreira da Silva
Vladimir Alencastro Feitosa
Ilustração
Geuvar S. de Oliveira
Capa
Rogério Adriano Ferreira da Silva
Apresentação
Caro acadêmico,
O processo administrativo exige que o gestor realize as funções de
planejar, dirigir, controlar e melhorar de forma contínua os processos
operacionais da empresa. Ao planejar, especifica os objetivos que a empresa
deseja alcançar e converte-os em ações. Se o objetivo é de longo prazo, está
elaborando seu planejamento estratégico. Se o objetivo é de curto prazo, está
elaborando seu planejamento operacional/tático. Ao dirigir, conduz as
operações da empresa para alcançar os objetivos estabelecidos. Ao controlar,
verifica que a execução dos serviços esteja ocorrendo conforme esperado,
podendo identificar desvios, efetuar correções, bem como revisar os planos
futuros. Ao buscar a melhoria contínua, o gestor visa à qualificação de
processos, atividades, produtos e funcionários. Para realizar todas essas
funções, os tomadores de decisão (investidor, administrador, instituição
financeira, governo, sindicado, empregado, cliente, fornecedor, ambientalista,
fisco) necessitam de informações que podem ser obtidas por meio da
Contabilidade Financeira (que repassa informações econômicas sobre as
organizações aos usuários externos) e da Contabilidade Gerencial (que
identifica, mensura, apresenta e analisa as informações financeiras e
operacionais de uma empresa aos usuários internos). Nesse sentido, podemos
dizer que a Contabilidade Gerencial oferece aos gestores ferramentas de
análise de lucro e de custo, de formação de preço e de orçamentos, de custovolume-lucro, de projeções e de análise econômico-financeira, ajudando a
controlar e utilizar os recursos de todos os setores da empresa.
Junto à Contabilidade Gerencial temos a área de Controladoria, um
segmento da ciência contábil responsável pelo provimento de informações para
a tomada de decisão empresarial. Hoje a área de controladoria está em
evidência no mercado econômico, financeiro e acionário mundial, visto que
desempenha um excelente papel de auxílio aos empreendimentos do mercado.
Todas as ferramentas aqui apresentadas serão analisadas neste
caderno.
Bons estudos!
Valtuir Soares Filho
Marcos Antonio Dozza
PLANO DE ENSINO
Curso: Ciências Contábeis
Período: 6°
Disciplina: Contabilidade Gerencial e Controladoria
EMENTA
Introdução à contabilidade gerencial. Contabilidade gerencial como sistema de
informação contábil. Contabilidade por responsabilidade e alocação de custos.
Centros de lucros e preços de transferência. Estratégia de controle da margem
de contribuição. Planejamento estratégico.
OBJETIVOS
x
Apresentar e contextualizar a contabilidade gerencial nos processos
decisórios empresariais.
x
Discutir aspectos quantitativos e qualitativos da informação contábil por
meio da metodologia da controladoria.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
x Contabilidade gerencial
x Sistema de informação contábil
x Análise do lucro custeio por absorção e variável
x Orçamento: planejamento e controle de atividades
x Ambiente e área da controladoria
x Organizações e controles internos para a geração de informações
x Modelo de planejamento, controle e gestão de informações
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CAGGIANO, Paulo César; FIGUEIREDO, Sandra. Controladoria: teoria e
prática. São Paulo: 3. ed. Atlas, 2004.
CATELLI, Armando. Controladoria. São Paulo: Atlas, 1999.
HORNGREN, Charles T. Contabilidade gerencial. 5. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2000.
O'BRIEN, James A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na
era da internet. São Paulo: Saraiva, 2001.
OLIVEIRA, Luís Martins de et al. Controladoria estratégica. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
PADOVEZE, Clóvis Luís. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de
informação contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
YOUNG, S. David; O'BYRNE, Stephen F. EVA e gestão baseada em valor:
guia prático para implementação. Porto Alegre: Bookman, 2003.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Contabilidade gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas,
1998.
NAKAGAWA, Masayuki. Introdução à controladoria. São Paulo: Atlas, 1993.
OLIVEIRA, Luís Martins de; PEREZ JÚNIOR, José Hernandez; SILVA, Carlos
Alberto dos Santos. Controladoria estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
SANTOS, Roberto Vatan dos. Modelos de decisão para gestão de preço de
venda. São Paulo: Atlas, 1995.
Sumário
Capítulo 1 – Contabilidade gerencial: ferramenta de gestão
Capítulo 2 – Custeio variável: decisões de curto prazo
Capítulo 3 – Avaliação de lucro e preço
Capítulo 4 – Orçamento: ferramenta para o planejamento de ações
Capítulo 5 – Controladoria: ferramenta de gestão
Capítulo 6 – Controladoria: avaliação e desempenho
Capítulo 7 – Gestão estratégica
Capítulo 1 – Contabilidade gerencial: ferramenta de gestão
Introdução
Vamos desenvolver nossas atividades a partir do termo competitividade.
Contudo você deve ter observado que muitas empresas não estão sendo
competitivas. Isso se deve a falhas na administração e à falta de preparo e
conhecimento teórico e prático que possam orientar os gestores em suas
decisões estratégicas sobre: a) avaliar estoques e medir custos; b) estimar
despesas e produtos; c) relatar sobre a eficácia e eficiência das atividades
realizadas. Antigamente esses três itens eram executados de forma satisfatória
porque a economia era mais simples; hoje, necessitamos da integração de
diversos sistemas para avaliar, estimar e relatar a gestão econômica e
financeira da empresa.
Neste
capítulo,
apresentaremos
a
você
uma
ramificação
da
Contabilidade, denominada contabilidade gerencial, bem como sua afinidade
com a gestão da informação gerencial e de custo. Ela utiliza as informações da
área de custos para auxiliar os gestores no seu processo de tomada de
decisão. Nesse sentido, é de fundamental importância que você tenha
estudado
e
entendido
os
conteúdos
apresentados
na
disciplina
de
Contabilidade de Custos, tais como: métodos de custeio e classificação dos
custos. Estudaremos o conceito e o objetivo da contabilidade gerencial,
conheceremos seu surgimento e sua evolução histórica, refletiremos sobre a
técnica da contabilidade por responsabilidade. Ao final do capítulo, você será
capaz de reconhecer o conceito de contabilidade gerencial e de evidenciar a
contabilidade gerencial como sistema de informação contábil.
1.1 Contabilidade gerencial: conceito e objetivo
A Contabilidade gerencial é denominada pelos italianos de Ragioneria
Direzionale e pelos americanos de Management Accounting ou Managerial
Accounting. Quanto a seu conceito, podemos perceber significativas variações
no enfoque dado às atividades da contabilidade gerencial.
a) Para Iudícibus (1987, p. 15), a contabilidade gerencial é a apresentação
de várias técnicas e procedimentos contábeis tratados na contabilidade
financeira, de custos, na análise de balanços, tributária, ambiental,
agrícola, comercial, industrial etc., colocados numa perspectiva mais
analítica ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada,
de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo
decisório.
b) Para Kaplan e Atkinson citados por Ricardino (2005, p. 15), os sistemas
de informações gerenciais devem propiciar as atividades de coleta,
classificação, processamento, análise e comunicação de informações
aos gestores, de forma oportuna, eficiente e eficaz.
Do exposto você pode entender que a contabilidade gerencial
representa o uso da contabilidade como ferramenta da administração, ou seja,
para o gerenciamento da informação contábil conforme a figura 1.
OBJETO
Débito=Créd
DADOS/INFORMAÇÕE
S
bens
direitos
orçamentos
investimento
desempenho
custos
dívidas
D
O
C
U
M
E
N
T
O
S
R
E
G
I
S
T
R
O
S
OBJETIVO
B
A
L
A
N
C
E
T
E
S
RELATÓRIOS
ALTA DIREÇÃO
MÉDIA DIREÇÃO
BAIXA DIREÇÃO
Figura 1 – Gerenciamento da informação contábil
Após ter identificado o conceito de contabilidade gerencial, você deve
saber quais são os conteúdos acadêmicos que essa ramificação da ciência
contábil estuda, analisa e controla: entidade, custo de produtos e serviços,
registro e controle de matéria-prima, mão-de-obra e custos indiretos de
fabricação, campanhas e promoções, atividades especiais (alimentação dos
funcionários), programas de capacitação, planos alternativos, fixação do preço
de
venda,
planejamento
tributário,
consolidação
de
demonstrações,
orçamentos e projeções, padrões fixados, custeio-padrão, custeio por
absorção, custeio direto, mensuração e controle do lucro, ponto de equilíbrio,
dispêndios para novas imobilizações e elaboração de relatórios. Cada um
desses elementos é estudado, analisado e controlado visando gerar
informações mais úteis aos diversos níveis gerenciais, tais como: direção,
gerentes e operadores. Na figura 2, enfatizamos a contabilidade gerencial no
foco da gestão da empresa com a utilização das informações geradas a partir
da contabilidade financeira da empresa.
Relatórios
de custos
Formar Preço
Venda
Decisões
Administração
Planejar a Produção
Analisar o mercado
Analisar Margem de
Contribuição
Figura 2 – Contabilidade gerencial e gestão empresarial
Considerando a evolução das necessidades empresariais, podemos
dizer que o enfoque sobre o conteúdo da contabilidade gerencial foi evoluindo.
No início, havia uma preocupação em relação ao custo da produção, ao custopadrão e aos controles orçamentários. Depois, foi acrescentado o tema
avaliação de desempenho. Posteriormente, os sistemas de informações. Hoje,
pesquisadores estudam novas alternativas de satisfazer as necessidades dos
gestores, conjugando os meios de processamento eletrônico de dados com
formulações matemáticas, com a contabilidade estratégica e com as ideias de
contabilização em sistemas de partidas triplas e quádruplas como nos afirma
Ricardino (2005, p. 16).
1.1.1 Panorama gerencial e razões para o nascimento da contabilidade
gerencial
As primeiras fábricas existiam bem antes da Revolução Industrial. Elas
possuíam poucos funcionários e eram gerenciadas pelos seus proprietários por
meio da intuição e da experiência de cada gestor. Com a invenção das
máquinas, houve o aumento da produção e do contingente de funcionários,
impossibilitando que a supervisão fosse realizada exclusivamente pelos
proprietários. Surge, então, o papel do gerente. Apesar da existência do
gerente, as ações administrativas continuavam centralizadas nas mãos dos
proprietários.
Com a industrialização mecânica, os métodos de gerenciamento foram
classificados em três fases.
a) Rule of thumb: muito usado entre o século XVI e XIX. Caracterizouse pelo uso da intuição, da imaginação, da experiência e da
habilidade de cada empresário para gerenciar a indústria no que se
refere ao “que”, ao “quando” e para “quem” produzir.
b) Método sistêmico: surgiu após a metade do século XIX.
Caracterizou-se pelo planejamento dos procedimentos de produção.
Esse planejamento era realizado levando em consideração o
desempenho da produção anterior.
c) Método científico: surgiu em 1986, quando diversos homens e
observadores do processo produtivo, relataram suas experiências.
Veja, na tabela 1, a contribuição de alguns desses homens para que o
método científico fosse implementado.
Tabela 1 – Origem do método científico
INDIVÍDUOS
CONTRIBUIÇÕES
Frederick W.
Pesquisou sobre como reduzir custos, aumentar a produtividade, medir
Taylor
o desempenho, selecionar e treinar pessoas, desenvolver padrões
1854-1925
físicos (quantidade) para a matéria-prima e mão-de-obra usada por
unidade fabricada.
Henry L. Grant
Contribuiu para aperfeiçoar os instrumentos de controle por meio de
1861-1919
gráficos que mostravam a produtividade. Relacionava o item produzido
e seu respectivo tempo de fabricação. Também criou o prêmio de
bonificação para o funcionário que fabricasse muito e em pouco tempo.
Frank B. Gilbreth Contribuiu com a esposa na identificação de qual era a melhor forma de
1864-1924
se fazer uma atividade ou produto. Demonstraram que a revisão é
essencial para melhorar os processos operacionais.
Harrington
Defendia a padronização dos processos, melhores condições de
Emerson
trabalho, controles de gestão e melhor remuneração.
1853-1931
Willian Brown
Apresentou a departamentalização da empresa como forma de
1853-1931
melhorar a gestão da empresa e obter o lucro desejado. Por meio dela
definiu as rotinas diárias, as obrigações dos empregados, a
responsabilidade de cada membro da organização, como examinar a
qualidade do trabalho executado, etc.
Charles Babbage Apresentou um livro que falava sobre princípios gerais de
1792-1871
administração, produção, relações humanas, finanças e vendas.
Recomendava iniciar as atividades após a empresa ter feito um
diagnóstico sobre si mesma e seus problemas.
Henry Fayol
Formulou princípios de gerenciamento tais como: unidade de comando,
1841-1925
linha de produção X staff, autoridade e responsabilidade, amplitude de
controles, objetivos departamentalizados. A Contabilidade era vista
como instrumento que deve dar informações claras, exatas e precisas
sobre a situação econômica da empresa. Deve, portando, revelar, a
qualquer hora, a posição e o rumo dos negócios.
Para Ricardino (2005, p. 40), a gestão da empresa pelo uso das
informações contábeis é decisiva, pois
Nesse ambiente, de rápida expansão da atividade gerencial, cumpriu
à contabilidade o papel de gerar informações que possibilitasse aos
gestores avaliar os efeitos de ações já implementadas e, ao mesmo
tempo, fornecer subsídios para a tomada de novas decisões, ou seja,
deve colaborar para que as empresas funcionem
Sendo assim, não é novidade apontar nas informações contábeis uma
saída eficiente para orientar as decisões do grupo gestor. Na tabela 2, você
pode observar as mais importantes contribuições contábeis dos séculos XVIII e
XIX.
Tabela 2 – A contabilidade gerencial nos séculos XVIII e XIX
EMPRESAS
CONTRIBUIÇÕES DA CONTABILIDADE
Os livros apresentavam registros das contas do ativo, do passivo, das
despesas operacionais, dos custos diretos e indiretos, das vendas, do
Indústrias Têxteis inventário semestral de matéria-prima pelo método PEPS, do cálculo do
CPV – custo dos produtos vendidos pelo Custeio por Absorção, do
rateio dos custos indiretos, do tempo de mão-de-obra usado na
produção, das projeções de consumo de despesas gerais. Essas
informações permitiam aos gestores calcular o custo médio do algodão,
da mão-de-obra e o custo unitário do produto fabricado, permitiam fazer
comparações de produtividade. Em resumo, os procedimentos
contábeis tinham por objetivo atender a organização interna e não o
usuário externo, ou seja, fins gerenciais.
Por ser o primeiro mega-empreendimento da humanidade, solicitaram
novas informações gerenciais tais como: retorno do capital investido e
Ferrovias
da evolução patrimonial, normatização de práticas contábeis aplicadas
a esse ramo de empreendimento, desenvolver controles para identificar
o volume de passageiros, as cargas transportadas pelas estações
dispersas geograficamente e as receitas e despesas das estações.
Incentivaram a divisão das tarefas administrativas. Padronização dos
procedimentos para identificar, apurar e contabilizar os custos.
Desenvolveram procedimentos para avaliar o desempenho de cada
trem e de cada gestor local.
Registravam o custo direto de cada etapa do processo produtivo. Isso
Empresas
permitia o cálculo do custo dos produtos fabricados. Com essas
Siderúrgicas
informações podiam acompanhar as variações ocorridas, fixar o preço
de venda e obter o retorno desejado.
Armas, Naval,
Implementaram diversos controles que asseguravam a contabilização
Tabaco
dos materiais utilizados e das quantidades produzidas, identificando o
valor da mão-de-obra por unidade fabricada. Havia a elaboração de
relatórios para identificar o desempenho de cada setor produtivo.
A complexidade desses empreendimentos nos leva a concluir que houve
um campo próspero para os registros e as práticas contábeis, porque seria
impossível gerenciar esses negócios sem uma base de informações.
1.1.2 Teorias sobre a origem da contabilidade gerencial
Até 1970, eram poucas as publicações preocupadas em identificar as
origens da contabilidade gerencial. Algumas publicações da década de 80
apresentavam-na como um fato recente do período pós-guerra. Mas, a partir de
1986, novas pesquisas começaram a tratá-la como um fenômeno mais antigo.
As pesquisas realizadas apresentam três teorias sobre a origem da
contabilidade gerencial que você acompanha na tabela 3.
Tabela 3 – Teorias sobre a origem da contabilidade gerencial
Primeira teoria
A contabilidade gerencial inicia a partir da II Guerra Mundial até 1980. É
derivada da contabilidade financeira.
Segunda teoria
Terceira teoria
Inicia a partir da Revolução Industrial até os primeiros anos do século XX.
Para Kaplan e Johnson, a contabilidade gerencial surgiu pela primeira
vez nos Estados Unidos, em 1812, quando as organizações sentiram a
necessidade de avaliar a mão-de-obra direta e os custos de despesas
gerais na conversão de matérias-primas em fios e tecidos acabados. As
primeiras organizações que desenvolveram sistemas de contabilidade
gerencial foram as tecelagens de algodão mecanizadas e integradas,
surgidas após 1812. Os motivos apresentados foram: a) uso da
contabilidade de custos desde o início do século XIX; b) em 1925 as
empresas americanas haviam desenvolvido todos os procedimentos de
contabilidade atualmente conhecidos. Estudos posteriores demonstram a
inexatidão dessa teoria.
No século XIII, na Inglaterra, segundo Haynes, Warren e Massie;
Kenneth Most; Edwards e Newell, bem antes da Revolução Industrial,
empresários já usavam informações de custos para tomar decisões.
1.2 Contabilidade gerencial como sistema de informação
Na atualidade, o maior tesouro de uma coorporação produtiva está no
seu poder de transformar os dados em informação para, a partir disso, tomar
as decisões da empresa e gerar conhecimeto gerencial.
1.2.1 Empresa e organização
A empresa é um organismo vivo que interage com o meio interno e o
externo em que está envolvida. Para que possa funcionar, é necessário que
tenha recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos. Também é
necessário que identifique a atividade econômica que irá desenvolver, defina
seus objetivos e estratégias e execute as atividades operacionais para gerar o
produto/serviço desejado. Na execução das operações, o gestor se preocupa
com o processo interno de transformação dos recursos em produtos e por isso
questiona: Como manter o fluxo produtivo com uma estrutura adequada? Como
fazer um novo produto, sem prejudicar a produção anterior? Como calcular o
custo? Como manter um nível ótimo de estoques? As estratégias e operações
a serem desenvolvidas dependem de um conjunto de ações para produzir os
resultados desejados. Mas a qualidade das ações depende do modelo de
gestão e do processo de tomada de decisões dos gestores, que, por sua vez,
requer o suporte de um sistema de informações. Esse é o ponto-chave de todo
o processo decisório. Por isso, estudaremos a seguir como o sistema de
informação pode contribuir para a eficácia gerencial.
1.2.2 Sistema de informações
O gestor, ao tomar decisões, perpassa as funções de planejamento,
execução e controle. O enfoque atribuído a cada função fundamenta-se na
cultura dos empreendedores e administradores da empresa, porque são eles
que determinam as diretrizes de como serão avaliados os recursos humanos e
os princípios com que a empresa será administrada, portanto, seu modelo de
gestão. Contudo podemos ressaltar que tudo isso só será possível se a
empresa possuir um sistema de informação, sendo este definido como um
conjunto de subsistemas de informações interdependentes que transformam
dados em informações que serão relevantes no processo de tomada de
decisão (GIL citado por NAKAGAWA, 1995, p. 60).
Os subsistemas podem ser classificados em dois grupos:
x
sistema de apoio às operações: processa dados rotineiros como
compras,
faturamentos,
contas
a
pagar,
contas
a
receber,
planejamento da produção, custos, contabilidade;
x
sistema de apoio à gestão: processa dados para tomadas de
decisão, como previsão de vendas, análises de custos, elaboração
de orçamentos.
As informações necessárias aos dois grupos são provenientes dos
registros
contábeis
que
foram
aceitos,
armazenados,
processados
e
comunicados aos usuários que deles necessitam, através de um banco de
dados comum. É esse banco de dados que permite a troca de informações
entre os diversos subsistemas, ou seja, as interações entre os subsistemas.
1.2.3 Sistema de informação contábil
Esse sistema é orientado pelos princípios contábeis. As transações
econômicas são digitadas, processadas e armazenadas no Livro Diário e no
Razão mediante as contas pré-estabelecidas no Plano de Contas e são
divulgadas por meio dos demonstrativos contábeis e relatórios gerenciais. Esse
sistema é composto pelos seguintes subsistemas: compras, ordens de vendas,
contas a receber, contas a pagar controle de estoque, folha de pagamento,
razão
geral,
contabilidade
de
custos,
orçamento,
contabilidade
por
responsabilidade e análise das vendas.
A implementação da contabilidade gerencial em uma empresa depende
de pessoas que traduzam os conceitos contábeis em benefício da
administração. Não adianta ter um sistema de informação, fazer o
planejamento, o registro e o controle das operações empresariais, se todo esse
processo não for usado no aspecto gerencial ou administrativo.
Saiba mais!
Para saber mais sobre o Sistema de Informação Contábil, acesse o endereço
eletrônico <http://www.cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=contabilgerencial>.
1.2.4 Contabilidade por responsabilidade: noções introdutórias
A contabilidade por responsabilidade é o processo de medir e relatar
dados operacionais (custos, receitas e despesas) das subunidades ou do
centro de responsabilidade. Para implementar essa técnica em uma
empresa, os custos e as receitas devem ser apropriados ao nível
organizacional em que podem ser controlados.
Em uma empresa centralizada, todas as decisões de planejamento e de
operações
são
tomadas
pela
alta
administração.
Na
organização
descentralizada, o poder de decisão não está restrito a poucos executivos,
mas, ao contrário, se distribui pela organização, e os gerentes das unidades
tomam decisões e são responsáveis por planejar e controlar as operações de
suas unidades. Eles podem tomar todas as decisões? Isso vai depender das
características da empresa. Em algumas, os gerentes têm liberdade e
autonomia sobre tudo dentro do seu setor. Em outras, têm autoridade sobre os
resultados, mas não sobre a compra ou baixa de ativos fixos. Você agora
poderia perguntar: por que as empresas descentralizam?
A
descentralização
exige
relatórios
segmentados.
Além
dos
demonstrativos da empresa, são necessários relatórios para cada um dos
segmentos. Esses relatórios são úteis para a análise de rentabilidade e a
avaliação de desempenho dos respectivos gerentes. Mas por que as empresas
avaliam o desempenho das subunidades e de seus respectivos gerentes? Há
duas razões para isso:
a) a avaliação identifica as operações bem-sucedidas e as áreas que precisam
de melhoria;
b) a avaliação influência o comportamento dos gerentes.
Em outras palavras, avaliamos as subunidades para decidir se devemos
expandi-las, enxugá-las ou alterar suas operações de algum modo. Avaliamos
os gerentes das subunidades para motivá-los a agir em favor da maximização
do valor da empresa.
1.2.5 Centros de responsabilidade
São unidades organizacionais que possuem um grupo identificável de
recursos e atividades fins. Portanto são responsáveis pela geração de receita
e/ou pela ocorrência de custos. Podem ser um departamento, uma divisão ou
uma empresa. Para controlar e medir o desempenho das subunidades, o
sistema de controle gerencial usa um dos quatro tipos de centros de
responsabilidade: centros de custo, centros de receita, centros de lucro,
centros de investimento. Esses centros são encontrados em empresas
centralizadas e também nas descentralizadas.
1.2.6 Relatórios segmentados dos centros de responsabilidade
As empresas usam o controle financeiro para fornecer uma medida
resumida de como seus segmentos estão trabalhando. O relatório contábil
preparado por um centro de responsabilidade reflete se o gerente desse centro
controla custo, lucro ou investimentos. Veja, a seguir, um exemplo de um
relatório segmentado de uma empresa que fabrica brinquedos.
Tabela 4 – Relatório de uma empresa de brinquedos
Relatório por Setor
Total da empresa Setor Comercial Setor
Almoxarifado
Vendas
500,00
300,00
200,00
(-) Custo Variável
(180,00)
(120,00)
(60,00)
(-) Desp. Variável
(50,00)
(30,00)
(20,00)
= Margem Contrib.
270,00
150,00
120,00
(-) Despesa fixa
(170,00)
(90,00)
(80,00)
identificada
= Margem do Setor
100,00
60,00
40,00
(-) Despesa fixa
(85,00)
comum aos setores
Lucro Líquido
15,00
Relatório por Linhas de
Setor
Almoxarifado
Vendas
200,00
(-) Custo Variável
(60,00)
(-) Desp. Variável
(20,00)
= Margem Contrib.
120,00
(-) Despesa fixa
(70,00)
identificada
= Margem do
50,00
produto
(-) Despesa fixa
(10,00)
comum aos produtos
Margem do setor
40,00
produto do Setor Almoxarifado
Produto Bola
Produto Boneca
Relatório dos Canais
Produto Boneca
Vendas
125,00
(-) Custo Variável (40,00)
(-) Desp. Variável (15,00)
= Margem Contrib. 70,00
(-) Despesa fixa
(25,00)
identificada
= Margem do
45,00
canal de venda
(-) Despesa fixa
(15,00)
comum
Lucro Líquido
30,00
de Venda do Produto Boneca
Venda a Varejo Venda por Catálogo
100,00
25,00
(32,00)
(8,00)
(5,00)
(10,00)
63,00
7,00
(15,00)
(10,00)
75,00
(20,00)
(5,00)
50,00
(30,00)
125,00
(40,00)
(15,00)
70,00
(40,00)
20,00
30,00
48,00
(3,00)
Você pode extrair diversas informações desses demonstrativos. Pelo
exame cuidadoso das tendências e dos resultados de cada segmento, o
gerente pode perceber a empresa sob diferentes ângulos. Além disso, sistemas
avançados de informações por computador facilitam cada vez mais a
elaboração e a atualização desses demonstrativos.
Após você ter conhecido o conceito de contabilidade gerencial e suas
implicações no sistema de informação gerencial e contábil, veremos a Análise
de Custo Volume e Lucro, denominada de PE – Ponto de Equilíbrio. Em
seguida trataremos da estratégia de controle de margem de contribuição.
Resumo
A contabilidade gerencial se utiliza das informações extraídas da
contabilização dos fatos contábeis para gerar informações operacionais,
financeiras, patrimoniais, de investimentos, de custos, de desempenho nos
diversos níveis gerencias. Todo esse processamento de informações é
possível porque diversos estudos foram realizados para aperfeiçoar os
métodos contábeis e assim poder atender as necessidades gerencias dos
complexos e diversificados empreendimentos no mundo.
Na evolução dos sistemas de gestão empresarial, merecem destaque as
empresas que adotam sistemas descentralizados. A descentralização pode
levar a melhores informações e decisões mais rápidas. Por outro lado, pode
levar a uma duplicação de atividades. Na medida em que os gerentes das
empresas descentralizadas têm responsabilidade e autoridade para tomar
decisões, a contabilidade por responsabilidade deve ajudá-los a planejar,
controlar e avaliar as atividades que estão sob sua responsabilidade por meio
dos demonstrativos segmentados.
Atividades
1. A contabilidade por responsabilidade é um instrumento que permite aos
gerentes de centros de responsabilidade fazer uso de uma autoridade com
responsabilidade para tomar decisões. Nesse sentido, pode-se afirmar que
a) o gerente seja responsabilizado pelos custos e pelas receitas que ele pode
controlar.
b) o gerente de um setor deve ser responsabilizado pelo custo dos
equipamentos usados no seu setor, mesmo que não tenha tomado a decisão
de comprá-lo.
c) o gerente do setor deve ser responsabilizado pela parcela do aluguel pago
ao setor administrativo.
d) o gerente deve ser responsabilizado pelos custos gerais alocados ao seu
departamento com base no número de funcionários.
2. A informação é tudo na gestão de uma organização. Mas para uma boa
informação, é necessário existir um conjunto de características, como agilidade
e confiabilidade, para que esse fundamental instrumento de trabalho realmente
atenda às necessidades dos gestores.
a) A contabilidade já é um sistema de informação. Então fazer um sistema de
informação contábil com a ciência de contabilidade não seria um vício de
linguagem? Justifique em até cinco linhas.
b) Vamos supor que você seja um controller responsável pela implantação de
um sistema de informação em uma empresa hospitalar. Quais sistemas e
subsistemas seriam incluídos no sistema da empresa? Justifique as opções
escolhidas.
3. A contabilidade é uma ferramenta indispensável para a gestão de negócios.
A Contabilidade Gerencial é a utilização dos registros e controles contábeis
com o objetivo de gerir uma entidade. Com base naquilo que você estudou
neste capítulo, analise as questões propostas a seguir.
a) No capítulo, são indicadas diversas definições para a contabilidade
gerencial, como a indicação de que a contabilidade gerencial é denominada
pelos italianos de Ragioneria Direzionale e pelos americanos de Management
Accounting ou Managerial Accounting. Construa, com base nesse e nos
demais conceitos apresentados, uma sua definição.
b) Cite quatro funções que a contabilidade gerencial desempenha.
c) Quais são as características dos métodos de gestão denominados Rule of
Thumb, Sistêmico e Científico? Use o quadro a seguir.
Métodos
Rule of Thumb
Sistêmico
Científico
Características
4. A contabilidade gerencial possui algumas características que a diferenciam
da contabilidade financeira. Assinale a alternativa a seguir que contém uma
diferenciação correta entre contabilidade financeira e gerencial.
a) A contabilidade financeira e a gerencial não fornecem relatórios para apoiar
tomada de decisões nos diversos segmentos da empresa.
b) A contabilidade gerencial utiliza as bases de mensuração pela moeda local,
enquanto a contabilidade financeira adota qualquer moeda.
c) A contabilidade gerencial é direcionada somente a usuários externos da
informação contábil, que a utilizam para definirem seus investimentos,
enquanto a contabilidade financeira é direcionada somente a usuários internos
responsáveis pela gestão da empresa.
d) Com relação aos elementos restritivos, a contabilidade gerencial não está
restrita aos princípios contábeis, enquanto a contabilidade financeira está
sujeita a esses princípios e, além do mais, à elaboração de relatórios
periódicos.
Comentário das atividades
Na atividade 1, você deve ter lembrado que a contabilidade tem o fim de
gerar informações úteis ao processo decisorial. Essas informações podem se
referir à empresa como um todo ou a um segmento em particular. O relatório
de cada segmento deve ser elaborado pelos centros de responsabilidade,
levando em conta o aspecto (custo, investimento ou lucro) que cada gerente de
um centro controla. Ao analisar esses relatórios, os gestores podem tomar
decisões considerando o valor da margem de contribuição apresentada nos
relatórios. Nesse sentido, o gerente só pode ser responsabilizado pelos custos
e despesas que pode controlar.
Na atividade 2, você deve ter lembrado que os sistemas de informação
são implementados nas empresas, para auxiliar os processos de tomada de
decisão, como reduzir custos, melhorar a qualidade dos produtos, aumentar a
produtividade, a rentabilidade ou a competitividade. Nesse sentido, é de
fundamental importância que você tenha enfatizado a importância da
informação para gestores, empresas e sistemas de informação.
Na atividade 3, você deve ter lembrado que a contabilidade gerencial
pode ser definida como um ramo da contabilidade que registra, controla e
analisa as transações econômicas realizadas pelos gestores. Tudo isso visa às
funções administrativas de planejamento, controle, direção e coordenação. O
método de gestão denominado Rule of thumb é usado para administrar o
setor de produção. O método sistêmico enfoca o planejamento das ações do
setor de produção. O método científico caracteriza-se pelo relato das
observações realizadas por estudiosos dentro do setor de produção. Para
aprofundar seu conhecimento sobre esses três métodos recomendamos que
consulte o livro de Álvaro Ricardino, citado na bibliografia, sobre as origens e o
desenvolvimento da contabilidade gerencial e societária.
Na atividade 4, você deve ter marcado a alternativa (d): como a
contabilidade gerencial não está restrita aos princípios fundamentais da
contabilidade, mas é opcional, será de acordo com as necessidades gerenciais.
A contabilidade financeira relata os resultados das operações e a condição
financeira da empresa de acordo com os princípios contábeis. A alternativa (a)
está incorreta, já que uma das funções da contabilidade é fornecer relatórios
para apoiar as tomadas de decisão nos diversos segmentos da empresa. A
alternativa (b) está incorreta, porque a moeda que serve de base é sempre a
do país em que a contabilidade está sendo apresentada. A alternativa (c) está
incorreta, porque tanto usuários internos quanto externos podem e devem se
beneficiar das informações contábeis.
Referências
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 1987.
NAKAGAWA, Masayuki. ABC: custeio baseado em atividades. São Paulo:
Atlas, 1995.
RICARDINO, Álvaro. Contabilidade gerencial e societária: origens e
desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2005.

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