Meteorologista contesta o aquecimento da Terra
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Meteorologista contesta o aquecimento da Terra
hipertexto Carla Ruas/Hiper Política Navalhada da Federal na corrupção brasileira Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, maio de 2007 – Ano 9 – Nº 55 Página 8 Receita de ex-governadores para o tratamento do Estado febril Página 8 Carla Ruas/Hiper Eugênio Hackbart, da Metsul Meteorologia, prevê o resfriamento global dentro de 10 a 15 anos, contra projeções alarmistas da mídia Moreira Sales esteve na PUC Exclusivo Piauí aposta na narrativa Meteorologista contesta o aquecimento da Terra Página 4 Quinteto Violado em Porto Alegre Página 11 Carla Ruas/Hiper Conclamação do Papa aos jovens latinos Moradores reclamaram do ruído e dos vôs rasantes dos aviões C-130 Hércules Treinamento da FAB em Canoas Página 7 Arturo Mari/AFP Em visita ao Brasil, em maio, Bento XVI exortou a juventude a construir o presente na família, na escola, na Universidade, no trabalho, em todos os círculos sociais Página 3 Lula recepcionou o chefe supremo dos católicos 2 opinião Porto Alegre, maio de 2007 Editorial Crônica Papa deixa no Brasil semente de esperança Entre os dias 9 e 13 de maio, os brasileiros tiveram a chance de conhecer mais de perto o Papa Bento XVI. Com a difícil missão de ser substituto do carismático João Paulo II, Joseph Ratzinger era visto como um homem sério, avesso às expressões mais afetuosas. Depois da visita ao Brasil, o Papa nascido na Alemanha conquistou os fiéis brasileiros que desconfiavam do seu perfil conservador e seu jeito reservado. Mas, entre tantas qualidades que o Papa pôde demonstrar à população, uma que se destacou foi a coragem com que enfrentou a questão da violência no país. Um esquema de segurança digno de primeiro mundo foi montado para preservar o Pontífice contra qualquer ameaça. As medidas de proteção, entretanto, não o isolaram do carinho da população. Por decisão própria, inúmeras vezes, Bento XVI pediu para a segurança permitir a aproximação de fiéis, mostrando que gosta deste contato. Com certeza, os gestos de boa vontade e de HIPERTEXTO proximidade com o público devem ter gerado muita apreensão aos responsáveis pela organização da visita. A pergunta inevitável: será que o Papa avalia bem os riscos que corre em um país onde as balas perdidas perseguem inocentes e a violência ainda surpreende pela estupidez dos fatos que gera? Bento XVI mostrou conhecer os problemas do maior país católico do mundo. Entre assuntos polêmicos como a castidade, respeito ao casamento, aborto, preservação do ambiente; a violência gerada pelo comércio das drogas foi outro tema que mereceu a atenção do Papa, nos cinco dias da visita. Para os jovens, que representam o futuro do país, o Papa pediu que ajudassem a construir uma sociedade mais justa e solidária porque, desta forma, seria possível frear atos violentos que acontecem atualmente. No discurso feito na Fazenda da Esperança, um centro dedicado à reabilitação de usuários de drogas, o Papa mandou um recado para os traficantes: “pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vailhes exigir satisfações”. O Papa é o personagem principal na hierarquia da Igreja Católica. Como um disseminador da fé acredita que cidadãos melhores são orientados pela religião. Quem acredita em Deus não comete crimes contra seus irmãos. Apesar das demonstrações de afeto e respeito ao Papa, também se viu que muitas das suas idéias e recomendações não são observadas nem mesmo pelos que se dizem fiéis à Igreja Católica. Com certeza, não é o distanciamento das igrejas e das religiões que explica o desrespeito ao próximo, à vida e à sociedade, traduzido em ações de violência. Mas, bem que a figura e as palavras do Papa poderiam tocar a consciência de quem há muito desistiu de se salvar deste mundo e muito menos do chamado reino dos Céus. Tenhamos fé e esperança. Lidiana de Moraes, editora Pergunte à mãe Tatiana Lemos Todas as mães acham que seus filhos são gênios. Se um bebê aprende a andar uma semana antes que os filhos das amigas, é uma criança precoce. Se gosta de bater na mesa ou as panelas, a mãe enxerga logo um dom musical despertando no pequeno. Desde cedo, já prevêem um futuro brilhante e potencialidades: – Ah, esse vai dar um grande médico! Nem todas as mães acertam no prognóstico de sua prole. Mas imagine o que diriam as mães de grandes gênios da humanidade. “Eu sabia, Einstein sempre foi uma criança diferente das outras. Com 12 anos de idade, aprendeu por conta própria a Geometria Euclideana”, diria a mãe do cientista. Provavelmente, até os artistas incompreendidos na sua época foram entendidos por suas progenitoras. Nem todos nos tornamos grandes cientistas, médicos notáveis e nem celebridades, mas acreditamos, até certo ponto da vida, que somos especiais, que temos “uma estrela”, como diriam nossas mães. Podemos até não ter sido os melhores alunos no colégio, tirado notas baixas em matemática e nunca conseguir levar a diante as aulas de ballet ou natação quando pequenos, mas certamente, algum dia, a nossa vocação irá desabrochar, assim como previam nossas mães. Pensamos até passar pela tão esperada faculdade. Até descobrirmos que ser “especial” não é assim tão simples. Se somos seres talentosos e com tantos potenciais dentro de casa, lá fora nos dizem que o mercado está cheio, que é preciso ser criativo, empreendedor, multimídia, ecologicamente correto, especializado e, ao mesmo tempo, saber um pouco de tudo, e ter sorte. Depois de descobrirmos tudo isso, temos que deixar a faculdade e enfrentar a idéia de que, talvez, não tenhamos a tal estrela. A proximidade da formatura gera um conflito filosófico, do tipo “de onde vim, para onde vou”, e mais aquelas crises que Freud explica: “Será que minha mãe mentiu para mim?”. Há também aqueles que radicalizam: “Se nada der certo, largo tudo e viro hippie. Dizem que tudo isso é normal. E que o Luis Fernando Verissimo nunca pensou em escrever, e Einstein só aprendeu a falar aos 3 anos de idade. Ainda é tempo. A formatura não é o fim, e sim o começo. Pergunte à sua mãe. Como manter equilíbrio ambiental e econômico Patrícia Lima Em 1988, a Constituição Federal ressaltou a proteção ao meio ambiente, salientando que o zoneamento ambiental é um instrumento da política nacional para o setor. Quase 20 anos depois, as preocupações com as questões ambientais e ecológicas aumentaram, mas também mudaram. Ocupando espaço na imprensa há alguns meses, o Zoneamento Ambiental é a delimitação geográfica de áreas territoriais, com o objetivo de estabelecer um limite para a utilização da propriedade. Permite que o proprietário possa usar sua terra da maneira que lhe convier, mas desde que respeite os interesses coletivos, como a função social e a conservação do meio ambiente. Aqui, no Estado, a polêmica que existe sobre o cultivo de eucaliptos vai além da questão ambiental, atingindo também os aspectos econômicos e sociais. Prós e contras giram em torno do risco que a monocultura de eucaliptos pode trazer para a densidade e diversidade ecológica. Ou seja, os prejuízos para a natureza seriam mais graves a longo prazo do que as vantagens econômicas a curto prazo. Talvez, o número de empregos diretos e indiretos que possam ser gerados e a lucratividade não resulte em ganhos reais, a longo prazo, para as regiões que receberão as papeleiras, devido aos possíveis desequilíbrios futuros na natureza que teriam reflexos em atividades econômicas. Seria necessário desenvolver estes projetos de forma clara e cautelosa, para que haja um equilíbrio, entre os interesses das fábricas e da sociedade civil, sem colocar em risco o meio ambiente. As análises apontam economicamente a geração de empregos, serviços e impostos pelas empresas de celulose, tornando-se uma alternativa para o desenvolvimento econômico Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira das regiões. O fato é que, se não houver cuidado e respeito às atitudes de preservação a curto e médio prazos, o ônus ecológico poderá ser maior do que a lucratividade. Segundo especialistas, a monocultura de eucaliptos é prejudicial para a densidade do solo, além de afetar os recursos hídricos. Uma das alternativas para reduzir o impacto negativo do cultivo de eucalipto é a plantação intercalada de carvalhos e outras árvores. Desde o começo do ano, as empresas estavam proibidas de permanecer com o plantio de árvores exóticas, tendo que respeitar decisão da Fepam quanto ao zoneamento ambiental. Se o zoneamento não for respeitado, o plantio e a exploração do eucalipto se estabelecem e promovem o crescimento econômico das regiões, mas qual será o futuro? O ganho imediato pode sustentar o custo ambiental que sempre tem amplo reflexos sociais e econômicos? Já se sabe que são elevados os custos para amenizar danos ambientais e suas conseqüências, bem superiores aos gastos iniciais de prevenção ou de simples contenção na exploração. O desenvolvimento sustentável pode tornar mais lento o processo para se alcançar os resultados, mas é mais seguro para todos, homem e natureza. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ESTAGIÁRIOS: Editores: Brenda Parmeggiani, Lidiana de Moraes e Susy Sousa Editores de Fotografia: Fernanda Fell Editores de Arte: Brenda Parmeggiani, Juliana Borba, Manuela Kanan e Sabrina Silveira Repórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Bruna Longaray, Cecília Mombelli, Daniela da Silva Cenci, Fernando Rotta Weigert, Francine Natacha da Silva, Giovanna Milani, Guilherme Zauith, Laion Espíndula, Lidiana de Moraes, Maíra Fedatto, Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima, Rafael de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira, Susy Sousa, Tatiana Feldens, Thais Silveira e Vinícius Roratto Carvalho Repórteres Fotográficos: Carla Ruas,Caroline Bicocchi, Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Freitas, Luciana Nunes, Manuela Kanan, Ricardo Romanoff, Sabrina Feijó, Taidje Gut, Thiago Marques e Vinicius Carvalho HIPERTEXTO Fraternidade 3 Porto Alegre, maio de 2007 Jovens vivem expectativa do encontro com o Papa em Aparecida do Norte E ouvem que a juventude latina é a esperança para a construção do futuro da Igreja Católica Adriana Aguero* O encontro com o Papa em Aparecida do Norte, em 12 e 13 de maio, representou para os católicos uma renovação, um momento de pausa para escutar as palavras do chefe da Igreja Católica. O que um ancião de 80 anos poderia transmitir aos jovens da América Latina? Diante dos céticos, o Papa conclamou os sul-americanos como o Continente da Esperança. A juventude latina será a Igreja do futuro, dos novos tempos, representa a esperança da humanidade frente à envelhecida Europa. O Papa exortou a não nos iludirmos com a promessa do futuro, sendo construtores do presente na família, na escola e na Universidade, no trabalho, enfim, em todos os círculos sociais. Participaram do encontro com o Papa brasileiros, uruguaios, argentinos, paraguaios e chilenos que vieram de longe para mostrar o seu afeto. Eram cerca de 150 mil romeiros cantando o hino oficial de acolhida ao Papa: “Bento, bendito que vem em nome do Senhor! Bem-vindo, bem-vindo, nosso povo te acolhe com amor!” A sensação de pertencer a uma grande família foi o forte sentimento de união. Cada movimento expressava a sua peculiaridade por meio das vestimentas, de diferentes formas de louvor, mas buscando o mesmo fim. Era a festa da diversidade na unidade. Assim nos sentíamos pertencentes de uma única Igreja. O Papa também exprimiu esse sentimento dizendo: “Como é bom estarmos aqui reunidos em nome de Cristo, na fé, na fraternidade, na alegria, na paz, na oração com Maria”. Nós, do Movimento de Schoenstatt, de carisma mariano, nos alegramos muito com a indicação do Papa aos fiéis, após a oração do Rosário para que permaneçam na “escola de Maria”. No discurso, o Papa disse estar muito feliz no nosso meio. E acrescentou: “O Papa vos ama, vos saúda afetuosamente! Reza por vós! E suplica ao Senhor as mais preciosas bênçãos para os movimentos, associações e as novas realidades eclesiais, Luciana Nunes/ Hiper expressão viva da perene juventude da Igreja! Que sejais muito abençoados! Alegro-me de modo especialíssimo convosco e vos envio o meu abraço de paz.” As palavras provocaram gritos da platéia e palavras de amor e gratidão ao Papa. Foi um momento de profunda acolhida, nada lembrava a imagem do Papa como um alemão, distante e frio. Joseph Ratzinger também destacou a hospitalidade do povo brasileiro, citando o Papa João Paulo II. “Desde que aqui cheguei fui recebido com muito carinho! Meu predecessor, João Paulo II, referiu-se várias vezes à vossa simpatia e espírito de acolhida fraterna. Ele tinha toda razão!”. Na noite de sábado, os peregrinos que estavam acampados em frente ao Santuário de Aparecida abriram seus sacos de dormir para passar a madrugada à espera da missa na manhã de domingo. Na noite fria, dormimos ao relento no chão de pedra, sem teto, sem espaço para acomodar o nosso corpo e nossas mochilas, mas a sensação de despreendimento predominou. Éramos milhares amotinados em sacos no chão, como um grupo de refugiados de guerra ou como retirantes nordestinos. Para maioria, as horas de sono foram poucas. No domingo, sob o sol forte de São Paulo queimando nossos rostos durante a missa, muitas pessoas passaram mal e foram atendidas no posto de saúde, colocado na entrada do Santuário. Apesar do cansaço, das dores nos pés e pernas, da fome e sede, o momento foi de inúmeras graças. Eu já havia participado da Jornada Mundial com o Papa em Colônia, na Alemanha, em 2005, e tive a oportunidade de vê-lo a poucos metros de distância em Roma, onde participei de outros três encontros. Quis ir a Aparecida para dar meu testemunho e para incentivar outras jovens do Movimento de Schoenstatt a participarem. Do Rio Grande do Sul, saíram dois ônibus lotados do nosso movimento. Posso dizer que o esforço valeu. * Aluna do Jornalismo da Famecos e integrante do Movimento Schoenstatt Grupos que compareceram se sentiram recompensados pela atenção recebida de Bento XVI turismo religioso movimenta capital da fé Fernando Rotta Weigert A cidade de Aparecida, localizada no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, é mundialmente famosa devido ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a padroeira do Brasil. A visita de Bento XVI levou de uma só vez 150 mil pessoas ao pequeno município distante 160 km da capital (São Paulo). Aparecida recebe visitantes que, no último ano, foram estimados em cerca de oito milhões. O número de habitantes é de cerca 35 mil, em área de 112 quilômetros quadrados. As datas de maior movimento são carnaval, Páscoa e, principalmente 12 de outubro, dia da Festa de Nossa Senhora Aparecida, quando lotam os 20 mil leitos de hotéis e pensões do município. Há dois grandes santuários, a Basílica Velha, símbolo da cidade, construída no fim do século 19 e a Basílica Nova, com capacidade para 70 mil romeiros. Em 1984, foi declarada Santuário Nacional. Ainda existem 11 igrejas espalhadas por Aparecida. O mais curioso é a história do surgimento da cidade. Em 1717, três pessoas pescavam para servir um banquete aos governadores de Minas Gerais e São Paulo. Os três pescaram a imagem de uma Santa, no caso Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O nome da cidade surgiu da imagem que ficou 15 anos na casa dos pescadores, onde as pessoas se reuniam para rezar. Por volta de 1745, foi construída a capela do Morro dos Coqueiros, para abrigar a Santa. Com aumento no número de fiéis que procuravam a capela para rezar, fez-se necessário outro local para abrigar a imagem. Então, foi erguida a primeira Basílica. O município se emancipou de Guaratinguetá, em 1928. O número de fiéis que passam por lá aumenta todos os anos. As Basílicas estão constante em reformas. Os romeiros fazem crescer hotelaria, comércio e setor alimentício, tornando a cidade o maior centro de peregrinação religiosa da América. “Paciente acamado” recebe cuidado especiais Márcia Simões Atendimento na Vila Fátima Vicenzo Pinto/AFP O projeto de assistência ao paciente acamado na Vila Fátima auxilia pessoas doentes que não têm mobilidade para ir ao Centro de Extensão da Pontifícia Universidade Católica (PUC) situado no Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre. Com sete áreas de atuação, o projeto não é voltado só ao tratamento médico, mas também aos cuidados e à qualidade de vida do enfermo no seu dia-a-dia. A ação iniciou há mais de um ano. Em 2006, foram 972 visitas aos doentes na comunidade, uma média de 2,6 por dia, já que uma equipe presta atendimentos ao mesmo paciente mais de uma vez por dia, fazendo curativos, cuidando a instalação e a retirada de soro e outros procedimentos necessários à pessoa acamada. Esse trabalho envolve várias especialidades, tendo a participação de alunos das Faculdades de Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Serviço Social. De acor- do com a responsável pelo programa Patrícia Lichtenfels, médica de família, o projeto é importante para a comunidade, pois “muitas vezes encontramos situações caóticas de abandono e violência, e as vítimas não têm condições de ir até o Centro, por isso vamos até elas”. O diferencial do trabalho feito na Vila Fátima é a abordagem. A maioria dos enfermos está em fase terminal ou estão em cadeira de rodas, por isso o acompanhamento é de longo prazo. A preocupação com o estado de saúde é tão relevante quanto os cuidados que a pessoa terá em casa, sem o auxílio médico. “Treinar e motivar os familiares a ajudar no tratamento são preceitos do projeto de assistência ao paciente acamado, para evitar futuras internações hospitalares. Devido ao estado avançado das doenças, o melhor mesmo é manter as pessoas em casa, num ambiente familiar, já que o hospital não pode mais fazer a diferença”, explica a coordenadora de Enfermagem, Marilda Bariviera. 4 ÚLTIMas Porto Alegre, maio 2007 recortes Tatiana Feldens Liberdade de imprensa: Brasil em 90º lugar A org anização Freedom House, que monitora a liberdade de expressão no mundo, anuncia que, no Brasil, há liberdade “parcial” de imprensa. Em seu relatório anual de 2007, o Brasil está na 90ª colocação no ranking sobre o tema, ao lado do Timor Leste. Na lista liderada por Finlândia e Islândia, nações como Alemanha, Irlanda e Estados Unidos compartilham a 16ª colocação. A avaliação é feita com base no “ambiente jurídico em que os meios de comunicação operam, nas influências políticas na atividade jornalística, no acesso à informação e nas pressões econômicas sobre o conteúdo e a distribuição de notícias”. O estudo “A liberdade de imprensa em 2007”, publicado na véspera do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (03/05), revela a deterioração da liberdade de expressão na Venezuela, Argentina e Brasil, devido à ação do Estado e das condições de segurança. “Menos da metade dos países latino-americanos têm hoje imprensa livre, o que reflete um declínio geral” nas condições de trabalho para os jornalistas da região nos últimos cinco anos, diz o documento. A Freedom House ressalta ainda que “a percentagem de países latino-americanos classificados como tendo liberdade de imprensa caiu de 60% para 48%” desde 2002. Longe do Sol e dos oito planetas Há vida fora da Terra? Certamente, você já se fez a pergunta. Em abril, cientistas europeus de três centros de pesquisa – França, Portugal e Suíça – anunciaram a descoberta de um planeta fora do sistema solar. Menor do que a Terra e com temperaturas entre os 0ºC e os 40ºC, o achado faz a comunidade científica sonhar com a possibilidade de encontrar vida noutro planeta. Ainda sem nome registrado, o planeta está a 20,5 anos-luz da Terra, na constelação de Libra, gira em volta de uma estrela vermelha e aparenta ter condições de ser habitável. Demora 13 dias para completar a órbita e tem cinco vezes a massa da Terra. A NASA quer descobrir se no planeta existe vida realmente. Ricardo Romanoff / Hiper Suspeita de privatização no Araújo Viana Interditado desde 2005, o auditório Araújo Vianna volta a debate com as suspeitas de irregularidades no projeto que prevê a recuperação do local. Pela proposta da Prefeitura, o auditório terá cobertura fixa, vedação acústica e climatização, além de reformas estruturais no palco, poltronas e iluminação. O investimento, em Parceria Público-Privada, deve alcançar os R$ 7 milhões. O vereador Marcelo Danéris (PT) diz que há problemas no edital de licitação da obra. Pelo documento, a empresa vencedora poderá cercar o auditório com grades, o que somente seria permitido com a aprovação da população através de plebiscito. O vereador aponta como irregular a possibilidade do permissionário gerenciar o funcionamento do bar do auditório, sem abertura de nova licitação, e o fato de a empresa vencedora ter o direito de utilizar o espaço em 75% das datas anuais, durante dez anos, ficando os dias restantes reservados aos eventos da Prefeitura. O secretário municipal de Cultura Sergius Gonzaga defendeu a necessidade das obras, mas prometeu reformular o edital de licitação. HIPERTEXTO Piauí: geléia criativa João Moreira Salles apresenta revista de estilo literário Thiago Marques/ Hiper Maria José Mendes da Silva Para o documentarista João Moreira Salles histórias bem contadas nunca saem de moda. Por isso, a revista mensal Piauí, editada por ele e lançada em outubro de 2006, não dá prioridade à abordagem de temas da atualidade. Esse e outros comentários Moreira Salles fez no auditório da Famecos, dia 24 de abril, ao falar sobre Jornalismo Literário. Idealizador da Piauí, o economista começou sua carreira no cinema incentivado pelo irmão mais jovem, o cineasta Walter Salles Jr. Essa raiz cinematográfica de Moreira Salles confere à publicação um caráter narrativo, construída como ficção, mas que trata do mundo real. “Histórias bem contadas nunca saem de moda”, afirmou ao explicar que a Piauí busca tratar de temas interessantes contados com drama, tensão e que empreguem um vocabulário rico. As matérias são bastante extensas, pois “o texto tem o tamanho que deve ter”. Na palestra, contou que se sentia órfão, uma vez que não encontrava algo que o entusiasmasse nas bancas. A partir dessa carência pessoal, idealizou a Piauí. Ele nega a inspiração na tradição do jornalismo literário anglo-saxão, da revista The New Yorker e também rejeita qualquer ambição de reformar o jornalismo praticado no Brasil. “Existe excelente jornalismo e mau jornalismo, nossa idéia é seduzir o leitor com textos bem escritos”, assegurou. Na contramão do estilo hard news, da busca incessante pelo furo jornalístico e dos chamados “ganchos” – datas, temas e fatos que conectam e empregam sentido às notícias – tão exigidos nas redações de jornais, sites de notícias, rádios e telejornais, a Piauí quer divertir, não ser sisuda nem militante. “O Brasil é uma zona, uma bagunça, é muita pretensão querer colocar ordem no país”, observou. Ele acredita – e defende – que mais vale a descrição e a forma do texto do que o assunto em si. “A revista não trata de novos temas, mas é uma nova maneira de falar sobre velhos assuntos. Não temos pressa e não ter pressa é muito bom”. De acordo com o documentarista, as matérias levam cerca de dois meses de apuração, reflexão e produção. Os temas fogem ao padrão, pois não têm a obrigação de seguir o noticiário. Sem meias palavras, Moreira Salles define o sistema da redação da Piauí como anárquico, sem seções estanques e com a combinação de jornalistas experientes João Moreira Salles realizou palestra sobre a revista Piauí em abril como Mario Sergio Conti e Danuza Leão com jovens talentos como Vanessa Barbara, Cecilia Giannetti e Daniel Galera. Essa liberdade define o regime de informalidade absoluta com o qual a revista é feita. “Não há nenhuma formalidade na escolha das matérias, tampouco são feitas reuniões de pauta”. Miscelânea O horóscopo da revista é feito somente por céticos, e se o leitor adivinhar quem é o autor, ganha uma assinatura. O tom descontraído permanece na idéia do Grande Concurso Literário que também é uma das inovações da revista. O leitor que melhor utilizar numa história a frase solta, publicada na edição, tem seu texto impresso na revista. Moreira Salles disse que essa miscelânea de interação com os leitores, assuntos sérios, leves, engraçados e cuidados com a forma compõem a essência da Piauí. “É uma geléia, mas tem gente que gosta de geléia”. A escolha do nome, explicou o diretor, foi pela sonoridade das vogais que compõem a palavra Piauí, tornando-a melodiosa. Segundo o plaestrante, a informação está em crise. As notícias pela internet e pelo celular dinamizaram a leitura e as publicações impressas tiveram que se adaptar a essa rapidez. A proposta dos jornais é que se possa fazer uma leitura ágil. Em oposição a toda essa rigidez, a sensação de ineditismo e nostalgia provocada pelo tamanho da Piauí, igual ao da antiga revista Cruzeiro, remete à percepção de diversificação da prática jornalística. “Não é uma revista que tenta homogeneizar o texto, é muito autoral”, avalia Moreira Salles. Como a maioria das publicações, o modelo de negócios da revista depende essencialmente de publicidade e de assinaturas. No site da Piauí, o internauta pode encontrar a sua reprodução. Com relação à carreira paralelde documentarista, ele avisa que, depois que a revista estiver “nos trilhos”, voltará a filmar. A presença de João Moreira Salles na Famecos é parte de um conjunto de iniciativas que aprofundam e diversificam o ensino e a prática do jornalismo, em particular o gênero literário. A idéia partiu dos professores da disciplina de Jornalismo Literário, Bete Duarte e Vitor Necchi. HIPERTEXTO Economia 5 Porto Alegre, maio de 2007 Taidje Gut/Hiper Sindicato forte e mais próximo dos jornalistas Novo presidente pretende visitar as redações, aumentar o número de sindicalizados e dar atenção às assessorias Bruna Holler Petry Piso salarial único, criação dos núcleos de jornalistas da web, para acompanhar a expansão do novo mercado, e de saúde dos jornalistas são algumas das iniciativas que o novo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, José Nunes, 38 anos, pretende adotar. Ele também quer dar continuidade às propostas que já faziam parte da gestão anterior como a regulamentação da profissão e a exigência do diploma. A nova diretoria assumiu em 28 de março, mas a solenidade de posse ocorreu somente em 19 de abril. Apesar de chapa única, muitos jornalistas se expressaram e Nunes teve 700 votos, numa eleição considerada a maior dos últimos dez anos. Talvez isto tenha acontecido por ele ser o primeiro presidente com atuação no interior (reside e trabalha em São Leopoldo), mas isto mostra também que a entidade ainda atrai muitos profissionais que buscam seus ideais. Apesar disso, José Nunes explica que “o Sindicato tem em média três mil associados, mas infelizmente muitos estão inadimplentes. Na nossa gestão queremos nos aproximar mais do jornalista, visitar redações, pois precisamos de uma base forte para lutar pelos nossos interesses”. Ele pretende criar um núcleo de saúde para cuidar da integridade física e mental dos profissionais, devido aos problemas que atingem os jornalistas. A nova diretoria promete dar atenção especial às assessorias de imprensa. Atualmente, 70% dos jornalistas no Estado trabalham como assessores. Dentro do Sindicato este número representa quase 40% dos profissionais filiados. Nunes considera que, em muitos casos, as empresas de assessoria colocam muito “peso nas costas dos jornalistas”. Segundo ele, “as empresas de assessoria colocam jornalistas para exercer as funções dos relações públicas e com as dificuldades dos mercados os profissionais não podem negar. As assessorias deveriam integrar as três áreas da comunicação, jornalistas, relações públicas e publicitários, mas isto não aconte- ce”. Nunes explicou ainda que por este motivo, o Sindicato enfrenta a concorrência com o Conselho de Relações Públicas, por estes acharem que assessoria de imprensa é função do RP, enquanto, na verdade, é de jornalista. José Nunes, que já trabalhou no Pioneiro e na Zero Hora, considera excelente a entrada do Grupo Record no Estado: “Vai movimentar o mercado de comunicação que está estagnado. Além disso, deverão surgir novas vagas, principalmente na TV, mais investimentos nos veículos e aumentará a concorrência entre eles”. As dificuldades que terá pela frente não o assustam, pois está consciente das responsabilidades de ser líder de uma entidade diferenciada e com grande representatividade política. “É uma honra para qualquer jornalista estar à frente deste Sindicato. Com certeza vou precisar do apoio de todos os jornalistas para ter um bom desempenho”. Nunes adiantou que pretende implantar ainda o prêmio Jornalista Cidadão de Fato para atrair e motivar os profissionais da área. Nunes quer criar núcleo para cuidar da saúde dos profissionais Negro continua longe dos cargos de chefia Thais Silveira “O que falta é um Martin Luther King para vocês, senão terão de esperar muito tempo”. A frase é do jornalista afro-americano Bob Butler que esteve palestrando em Porto Alegre, no dia 20 de abril. O comentário serviu para assinalar que nunca houve uma liderança brasileira que representasse a negritude e mostrasse sua força política para promover mudanças. Butler considera importante que os negros ocupem cargos Sabrina Feijó/Hiper Butler sugere mais indignação de chefia e estejam representados nas empresas de mídia, como saída para maior visibilidade da população negra. O evento foi promovido pelo Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SJPRS). O jornalista esclareceu que, nos Estados Unidos, a libertação dos escravos aconteceu em 1863, quando o presidente Abrahan Lincoln assinou a Proclamação de Emancipação. No Brasil, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava o fim da escravidão. A “liberdade” ficou apenas no papel, e até hoje os negros brasileiros enfrentam a discriminação. A luta pela liberdade nos Estados Unidos estava apenas começando. Negros e brancos ainda tinham escolas separadas, assim como os vagões de trem, lugares nos ônibus, máquinas para tomar Coca-Ccla e salas-de-espera. O estopim para a indignação da comunidade negra americana foi a morte do garoto Emmett Till, em 1955, linchado por um grupo de racistas, no Mississipi. Surgiram movimentos e protestos anti-racismo e em agosto de 1963 um ato mudou a história: a Marcha pelos Direitos Civis. A conquista veio um ano depois, com a assinatura da Lei dos Direitos Civis, que erradicava a discriminação do país. No Brasil, o preconceito sempre existiu de forma mais velada e o negro por muito tempo teve sua imagem relacionada apenas ao esporte, samba, páginas policiais ou serviçais nas novelas. O jornalista do Diário Gaúcho, Renato Dornelles, afirma que a pouca presença de negros na mídia é um reflexo da sociedade: “Da mesma forma que a taxa de desemprego entre negros é proporcionalmente maior, assim a participação de negros em funções que exigem escolaridade maior também é proporcionalmente menor, a participação na mídia ainda é menor”. Uma pesquisa divulgada pela Fundação Palmares a partir do es- tudo do cineasta Joel Zito Araújo, “Onde está o negro na TV Pública”, concluiu que mais de 90% dos apresentadores e jornalistas das TVs públicas não são negros nem índios, parcela que mais representa a população brasileira. A jornalista e militante do Movimento Negro, Vera Daisy Barcelos, aponta qual deveria ser o papel do negro na comunicação: “O papel do negro como comunicador é perceber que a imprensa brasileira deixa a desejar no que diz respeito às questões sociais”. Butler aponta a pressão econômica para que as mudanças aconteçam. Como exemplo, citou o caso de Don Imus, apresentador da Rádio CBS, que foi demitido por ter chamado as jogadoras de uma equipe de basquete universitário de “prostitutas de cabelo pixaim”. Vários anunciantes boicotaram o locutor. Todas estas pessoas que pressionaram economicamente eram negras que ocupavam cargos de chefia e puderam expressar sua indignação. Reação ao separatismo A falta de apoio da mídia no Fórum Social Mundial 2002, fez surgir o Núcleo de Jornalistas AfroBrasileiros. Jeanice Ramos, uma das integrantes do Núcleo, defende a reação da população negra ao separatismo que existe na sociedade: “Vamos procurar formas de marcar presença e melhorar nossas condições de trabalho”. Ainda ressalta a necessidade das ações afirmativas (bolsas de estudo, cotas): “Também temos uma idéia de cotas nas redações, tudo é válido”. Jeanice valoriza o dia de Zumbi dos Palmares, 20 de novembro, e questiona a comemoração do dia 13 de maio: ”Como o negro não era mais uma moeda, foi descartado, e isso fez com ele se distanciasse da sociedade. O negro merece uma reparação”. O Núcleo se reúne na terça-feira, às 10h, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul. São desenvolvidos seminários, palestras, e participação nas Cojiras- Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial. 6 eSpecial Porto Alegre, maio de 2007 H IPERTEXTO Em quinze anos, o Planeta Meteorologista gaúcho diz que aquecimento é apenas uma fase, contrariando tese de que Mariana Baierle Soares e Michele Rolim “No futuro, em 10 ou 15 anos o mundo estará preocupado com o resfriamento da Terra”, prevê o biólogo e meteorologista Eugênio Hackbart, da Metsul Meteorologia – antiga Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo. Contrariando as previsões de aquecimento global – como da Organização das Nações Unidas (ONU) alertando que 30% das espécies serão extintas, relatório divulgado neste mês -, ele as considera “alarmistas” e “catastróficas”. Para Hackbart, o fenômeno que está sendo discutido agora nada mais é do que um aquecimento natural deste período. O aquecimento é da atmosfera e não do continente, argumenta. Caso contrário, se deveria analisar o magma incandescente (o centro da Terra), que chega a uma temperatura de até oito mil graus. “O grande fator de aquecimento da atmosfera é a atividade solar”, garante. A teoria da MetSul Meteorologia é de que o aumento de calor ou de frio acontece de forma cíclica, ou seja, ciclos de resfriamento e de aquecimento se alternam na história da Terra. “Na década de 70, a grande discussão era a preocupação com o congelamento do Planeta”, lembra o meteorologista. Inclusive, em julho de 1974, O Estado de São Paulo divulgou que o mundo se encaminhava para uma nova era glacial, diz mostrando o jornal. “Nós estávamos justamente num período de resfriamento do Planeta, na verdade, chegava ao fim esse processo”. Ou seja, “o aquecimento discutido, analisado e apresentado agora nada mais é do que um aquecimento natural deste período e que se fez presente nas décadas de 30 e 40”, sustenta Hackbart. O sol, com seu ciclo constante de aproximadamente 11 anos, e o Oceano Pacífico, com tendências predominantes que duram de 20 a 30 anos (Oscilação Decadal do Pacífico), determinam o comportamento da temperatura no Planeta. Nas fases frias, como observadas no começo do século 20 (anos 50 e 60), o planeta se resfria e, nas quentes (anos 30 e 40 e décadas de 80 e 90), observa-se o aquecimento. “Isso é possível de se observar pelos gráficos e registros históricos que temos dos últimos cinco, seis ciclos”. Na MetSul Meteorologia é realizado acompanhamento diário das temperaturas máxima e mínima, umidade relativa do ar, velocidade dos ventos, pressão atmosférica, velocidade e direção dos ventos e condições climáticas desde 1987. “Os gráficos que os institutos têm disponíveis, com mais de cem anos – em 1850 os Estados Unidos já tinham registros regulares –, registram exatamente esses ciclos de aquecimento e resfriamento”, explica. Hackbart refuta a tese de que o inverno hoje não é mais tão frio como antigamente, conforme está no senso comum. “Se há comprovação de que temos ciclos climáticos, era previsível que, nessa época, teríamos o aquecimento da atmosfera. É natural. Há 60 anos poderíamos dizer isso porque os ciclos são regulares”, garante Hackbart. Por isso, o acompanhamento meteorológico ao longo das décadas é importante. “Infelizmente, a utilização da meteorologia é muito imediata. A mesma população que acompanha a previsão do tempo para saber se vai chover, não utiliza os dados da meteorologia para seu negócio. Para ele, a formulação de tendências climáticas é extremamente útil ao planejamento das empresas e do setor rural. A tecnologia hoje existente já permite antecipar cenários de seis meses a um ano, indicando risco de estiagem ou chuva excessiva. Atividade humana O meteorologista Solismar Damé Prestes, do 8º Distrito de Meteorologia, pondera que o aquecimento se dá devido a dois fatores: à questão natural, sempre ocorreu aquecimento no Planeta, e devido ao efeito do homem. “Mas o quanto cada um dos fatores contribui para o aquecimento, não temos como quantificar”, acrescenta. Eugênio Hackbart não considera correto afirmar que 90% do aquecimento é causado pela atividade humana, como o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). “Que o Planeta está aquecendo, está. Nós não negamos isso. O que está em discussão são causas”, afirma. Ele concorda que o homem maltrata e envenena o Planeta – “e isso é absolutamente condenável” -, mas concluir que o aquecimento da atmosfera é conseqüência quase integral da atividade humana é “altamente discutível”, pois se trata de “uma questão natural do próprio ciclo que vivemos hoje, assim como aconteceu em séculos anteriores, ciclos bem definidos de 25, 30 anos”, defende Hackbart. Hoje essa questão se tornou uma “neurose”, diz. Alega que em aquecimento anteriores, o Planeta e as espécies não desapareceram, ocorrendo o resfriamento posterior. Os recordes de calor no Rio Grande do Sul são dos anos 1917 e 1943. “Se a população se guiar por tudo que está sendo sublinhado pela mídia como verdadeiro, perderá todas as esperanças. Mas se analisarmos o retrospecto histórico, veremos que não é bem assim”. Carla Ruas/Hiper “Qualquer calor de 35 graus é atribuído ao aquecimento global. Não é por aí”, explica Hackbart HIPERTEXTO Especial 7 Porto Alegre, maio de 2007 estará resfriando Canoas altera aviação rota de Hércules é constante o aumento da temperatura da Terra O aumento e a intensidade dos fenômenos climáticos, como furacões, não são evidências de interferência humana no clima. “Os maiores especialistas do mundo em ciclones concordam que os intensos furacões de 2004 e 2005 que atingiram os Estados Unidos tiveram como causa principal um ciclo natural de aquecimento do Atlântico Norte”, postula ele. Hackbart também não compartilha da hipótese levantada de que o aquecimento é constante e irreversível. “Sequer se projeta a possibilidade de que daqui 10 ou 15 anos se observe novo resfriamento”. Os relatórios divulgados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) nem mesmo mencionam essa possibilidade, critica. Ele alerta para responsabilidade na divulgação destes relatórios sobre o estado emocional e psicológico da humanidade. Defende a necessidade de tornar o Planeta mais saudável, menos agredido. “Por outro lado, sabemos que a atmosfera tem grande capacidade de renovação. Apesar de toda essa barbaridade, da agressão, ela tem mecanismos de recuperação”. Solismar Prestes, do 8º Distrito de Meteorologia, não compactua das idéias de Hackbart. Assinala que, desde 1995, se observa o aquecimento mais intenso e gradual do globo terrestre e não visualiza um possível resfriamento. Acredita que o aquecimento hoje pode ser visto Carla Ruas / Hiper Dois aviões de carga C-130 Hércules e 15 militares da Força Aérea Brasileira (FAB) do Rio de Janeiro chegaram a Canoas no início de maio para treinar instrutores. A opção pelo treinamento do Esquadrão Gordo no Estado se deveu às boas condições de tráfego aéreo e relevo no período de outono. Porém, a FAB não contava com a reação dos moradores, principalmente os situados próximos à Base Aérea, que reclamaram do barulho e do perigo dos vôos baixos das aeronaves na região. Para explicar à comunidade as razões do aumento do movimento, a FAB decidiu convidar jornalistas para conhecer o treinamento e as aeronaves Hércules. No dia 11 último, repórteres e fotógrafos sobrevoaram Canoas e Porto Alegre e assistiram à simulação de pouso no Aeroporto Salgado Filho. A aeronave escolhida para o vôo da imprensa foi a C-130 Hércules. Dois aviões deste modelo foram trazidos do Rio especialmente para treinar instrutores do 1º Esquadrão do 1º Grupo de Transporte, o Esquadrão Gordo. Desde o inicio dos exercícios, em 2 de maio, o número de decolagens aumentou consideravelmente. O coronel Marcos Aurélio Santos Martins, responsável pelo esquadrão, informou que eram oito vôos diários, com duração de quase uma hora. Apesar dos vôos baixos, o coronel assegurou que não havia risco. “Para integrar o esquadrão é necessário ter cinco anos de formação, fora os anos de Instrução básica”, esclarece. Além disso, o avião C-130 Hércules é considerado resistente, já que é utilizado em missões humanitárias, de transporte logístico, lançamento de pára-quedistas e reabastecimento em vôo. Comporta 18 toneladas de carga ou até 90 passageiros. O Esquadrão Gordo participou das buscas dos destroços do Boeing 737 da Gol, no dia 29 de setembro de 2006 e das ações do Mundo Poluição agride meio ambiente e provoca alterações no clima de forma positiva para a humanidade. A partir do aumento de calor, o mundo passou a se preocupar com fontes renováveis de energia e biocombustivel. “Se não ocorresse isso, talvez a humanidade fosse depender sempre do petróleo”, exemplifica. Hackbart contesta dizendo que a influência da atividade solar na temperatura planetária está comprovada em estudos da Nasa e por outros centros de meteorologia do mundo, acrescentando que o aquecimento do planeta teve início ainda no século 19, com o término da pequena idade do gelo, quando os níveis de emissão de poluentes eram irrisórios. “Há interesses por trás da tese de aquecimento global”, diz geógrafo Há interesses políticos e econômicos por trás da questão científica do aquecimento global na visão do geógrafo Marcos Iob Boldrini, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “A ONU é um órgão que advoga aquecimento global. Então, quem está articulado a ela acaba, de certa forma, ficando amarrado a esse consenso”. Boldrini afirma que “movimentos aparentemente de massa, assim como os órgãos ambientais, são claramente grupos ligados à esquerda, ideologicamente definidos”. Por trás do discurso de que o mundo está aquecendo, está implícita uma critica ao capitalismo, que utiliza mal os recursos do Planeta. Boldrini também contesta Carla Ruas a crença de que os Estados Unidos é o maior culpado do aquecimento da Ter ra. “É um movimento antiamericano. Na verdade, o vilão do momento é o maior poluidor da atmosfera e de uso de dejetos, mas também é o país que produz as soluções mais viáveis contra isso”. Para o biólogo e meteorologista Eugênio Hackbart, as notícias alarmantes são também uma forma de ameaça e pressão. “Já que a Amazônia vai desaparecer, por que a gente não tira o máximo de madeira de lá? Para não apodrecer”, ironiza o meteorologista. No site da MetSul Meteorologia (www.metsul.com), Hackbar t diz, no início de 2007, o mundo foi bombardeado por notícias e previsões alarmantes a respeito do aquecimento global. Uma matéria do jornal inglês The Independent suscitava a previsão de que o ano seria o mais quente da história, utilizando como fonte a unidade de Pesquisa sobre o Clima da Universidade de East Anglia. A reportagem não informava que, na década de 70, a mesma universidade assinou um trabalho intitulado “Há 30 anos a Terra se esfria”, fornecendo dados correntes e históricos que levaram à conclusão sobre um resfriamento global. O problema está nas pessoas que transmitem o conhecimento, explica Boldrini. “Em um debate sobre o aquecimento global, se alguém da imprensa pega só um lado da questão e coloca isso na TV Globo, líder de audiência, para o povo leigo que não tem conhecimento, é uma verdade absoluta”. Sarkozi alinha França à Europa conservadora Fernando Rotta Weigert Com a posse do conservador Nicolas Sarkozi na presidência da França, eleito no início de maio, o continente europeu reforça o perfil neoliberal. Ele venceu com 53,06% dos votos a candidata de esquerda Ségolène Royal que fez 46,94%. Sua foi campanha baseada em propostas simples, defendendo o trabalho como valor absoluto. Sarkozi é uma aposta ainda desconhecida, pois não tem um grande histórico político. Com ele na presidência, a França reafirma a tendência mais conservadora da Europa indicada pelos últimos governos da Alemanha e da Inglaterra. O novo presidente diz que para haver crescimento econômico devem ser retidos os gastos públicos. Na campanha defendeu baixar de 60% para 50% a alíquota máxima de imposto de renda, cortar pensão dos desempregados que recusarem três ofertas sucessivas de emprego e limitar direto de greve, entre outros projetos econômicos. Um dos campos mais complicados da política francesa é a imigração. Em 2005, houve manifestações violentas, com a queima de mais de mil carros, feitas por filhos de imigrantes árabes e negros, devido à morte de dois jovens, pela polícia, na periferia de Paris. O plano de seu governo prevê a criação do Ministério da Imigração e Identidade Nacional para implantar uma política que pretende a identificação dos imigrantes com os ideais franceses, reduzir o ingresso ilegal e promover o “seletivo”, preferindo estrangeiros qualificados. O novo ministério foi rotulado pela oposição como “ministério da discriminação”. Na política externa, postou-se radicalmente contra. O presidente eleito deseja maior aproximação com EUA, porém alerta que não haverá total concordância com a linha de pensamento norte-americana, mas a abertura de um amplo espaço para discussão. O fato é que mais uma vez a política do país se mostrou polarizada entre esquerda e direita, como o acontece desde a Revolução Francesa. Segundo o mais polêmico filósofo francês Bernard-Henri Lévy, essa eleição indicou que a esquerda deve se reinventar e Sarkozi, ao absorver o discurso extremamente nacionalista da Frente Nacional partido de extrema direita eliminado no primeiro turno - pode ter caído em uma armadilha. Agora é preciso habilidade para não ceder ao discurso autoritário. 8 POLÍTICA Porto Alegre, maio de 2007 HIPERTEXTO Taidje Gut / Hiper Um estado de crise Ex-governadores comentam sobre os problemas do paradoxo gaúcho: um estado rico com governo pobre Fabiana Klein O estado brasileiro que apresenta o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (segundo a ONU), uma das maiores rendas per capita, além de ser um dos grandes exportadores do país, é também um estado em crise financeira. Enquanto a economia está diversificada em um grande parque industrial e na força do agribusiness, o setor público gaúcho se mostra debilitado por uma enorme dívida. Na condição privilegiada de exgovernantes do estado, Jair Soares, Alceu Collares e Antonio Britto analisam este quadro. Eles admitem que suas realizações ficaram aquém dos seus desejos, que tentaram e esbarraram em forças que não puderam controlar. Entre comentários solidários e críticos concordam: o que precisa ser feito deve envolver as forças da sociedade, e não apenas por um ou outro governo. “Tenho pena do próximo governador” (Jair antes da eleição) Contatar hoje com Jair Soares é fácil. Alguns telefonemas e duas horas depois: ele próprio liga para o meu celular. A entrevista é agendada para dali a dois dias. O encontro foi pela manhã, na residência que fica na Zona Sul. Sem formalidades, me convida para segui-lo, entramos na casa e nos sentamos na primeira sala em uma mesa de madeira. Jair é austero nos seus modos e fala com educação, tem jeito de gente que faz, acho que só não lavou o carro ele mesmo porque tinha que me dar a entrevista. Delegou a função para o jardineiro. “A gravidade da crise atual me faz sentir solidariedade para com a nova governante”, diz Jair Soares.“A Constituição de 1988, com todos os benefícios que passaram a ser prestados pelo Estado; a Lei de Responsabilidade Fiscal, com todas as suas restrições, o fim da inflação – que permitia ao governante reduzir os custos de suas dividas, esses fatores tornou o ato de governar algo dificílimo atualmente”, observa. Com voz pausada, ele dita números, se declara um executivo que passou para a vida pública. “Não aumentei a dívida do Rio Grande em meu governo. No governo Rigotto, a dívida já era de R$ 3 bilhões, sem correção, e de 4,5 bilhões corrigidos. Além disso, o governador usou R$ 1 bilhão de depósitos judiciais. Este dinheiro tem que ser devolvido. Como a governadora irá solucionar algo desse tamanho em um estado ainda deficitário?” O estado não pode gastar mais do que 60% da receita com pessoal. O estado tem ainda que gastar 35% do que arrecada com educação, 12% com a saúde. Faltam as despesas de custeio e o percentual comprometido com a União, de 18% da receita. “Não é preciso ser matemático para perceber que os números ultrapassam todas as possibilidades de arrecadação”, ironiza receita de Jair l Resolver o problema estrutural. Sem isso não há um novo jeito de governar; l Apertar a fiscalização do ICMS e IPVA; l Cobrar a dívida ativa, de R$ 15 bilhões; l Aparelhar o Fisco; l Controlar os incentivos a serem concedidos e auditar os incentivos em vigor; l Cobrar de verdade os créditos que o estado tem com a União. “Yeda Crusius ainda não tem um programa” (Alceu Collares) Com agenda disponível, o exgovernador Alceu Collares marca a entrevista para o dia seguinte, às 10h30min. Na porta da residência também na Zona Sul, depois de escutar o som de uma campainha solene, quem me recebe é uma serviçal de uniforme de catálogo, cinza com detalhes em branco, avental e tiara na cabeça. Collares me espera no escritório. Pergunta se tenho problema de tempo. “Posso começar do começo?” No meio da entrevista, espia meu bloco e pergunta: quando é que tu vais fazer a pergunta onde vou poder falar mal dela? A crítica ao atual governo é direta. “O que é esse novo jeito de governar? Somente ela sabe”. Para o ex-governante, existe apenas um jeito de governar “com as pessoas, usando os recursos públicos da melhor maneira possível, para o maior número de pessoas, em especial as que mais precisam”. Saudoso do trabalhismo, Collares se mostra descrente do atual governo do Rio Grande. “Ao nem tentar mudar a Lei Kandir, a governadora Yeda desarma uma possibilidade de equacionamento das contas do estado”. O que espera da gestão da nova governadora? “Ela vai ter uma indigestão”, afirma Collares, desapontado com o que entende como loteamento da coisa pública “como no Governo Lula”. “Um governo deve ser coeso. O atual tem 11 partidos na sua composição, além de um vice-governador incontrolável”. O ex-governador diz que assumiu com enormes dividas, que negociou, e com desafios. Ao final Passada a navalha no ministério PF descobre esquema que envolve nove partidos políticos Brenda Parmeggiani Na manhã do dia 17 de maio, a Polícia Federal deflagrou a Operação Navalha. O objetivo: cumprir 48 mandados de prisão preventiva e 84 de busca e apreensão, sob a acusação de fraudar licitações e direcionar verbas públicas. Na operação, 47 pessoas foram presas. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau (PMDB), pediu demissão cinco dias depois. Ele é suspeito de receber R$100 mil de propina da Construtora Gautama. Nelson Hubner, secretárioexecutivo, assumiu interinamente a pasta. Na carta a Lula, escreveu que deixou o cargo para se defender das acusações “descabidas e injustas”. R$170 milhões de recursos teriam sido desviados. Nove legendas estariam envolvi- das: Luiz Carlos Caetano (PT-BA), Delcídio Amaral (PT-MS), José Reinaldo Tavares (PSB-MA), Pedro Corrêa (PP), Jackson Lagoas (PDTMA), Teotônio Vilela (PSDB-AL), Adeilson Bezerra (PSDB), Nilson Leitão (PSDB), Paulo Magalhães (Democratas-BA), Ivan Paixão (PPSSE), Humberto Michiles (PR-AM), Pedro Passos (PMDB), além do exministro Silas Rondeau (PMDB). A situação financeira é complicada no Palácio Piratini do governo, declara ter deixado o maior crescimento do PIB gaúcho em quatro anos: 23,43%. Distante do segundo lugar do governo Olívio Dutra, com 11% em quatro anos, nos números de Collares. receita de Collares Não ao loteamento de cargos; Coesão entre os integrantes do governo; l Reforma tributária; l Reformulação da estrutura da dívida; l Não vender ações do Banrisul. l l “Os projetos são superiores aos recursos” (Antonio Britto) Receptivo ao pedido de entrevista, Antonio Britto solicitou as perguntas por e-mail. O retorno veio duas semanas depois. “Morrendo de vergonha, te digo que estive fora os últimos dias, depois peguei uma virose, um inferno. Se ainda tens interesse e paciência, estou às ordens. Respondo por e-mail, falamos por telefone ou marcamos uma hora amanhã ou sexta. Desculpe”.Britto estava audivelmente resfriado. O ex-governardor Antonio Britto está atento ao quadro atual, mas não critica as medidas da governadora Yeda Crusius. “Quem já ocupou o cargo conhece a sua complexidade”, diz. “E governar o Rio Grande significa governar um povo que tem grandes expectativas em relação ao governo”. Atender a estas demandas se tornou cada vez mais uma tarefa difícil ou impossível, segundo Britto. “A Lei de Responsabilidade Fiscal redefiniu o que o governo pode ou não fazer. Assumir dívidas com o setor privado era um recurso utilizado, que hoje não está mais à disposição da governadora. As demandas aumentam, os recursos não acompanham. A missão se torna quase impossível”. Apesar de atuar no setor privado, que cobra resultados em prazos curtos, o ex-governador não mostra interesse em analisar as ações da governadora nestes meses iniciais. “Um governo é melhor avaliado no futuro, quando se pode perceber as suas qualidades. Quatro anos é pouco tempo.” receita de Britto Ao comparar a crise do estado a uma doença grave, na qual a sociedade precisa aceitar as dores para chegar a uma cura, Britto cita os casos que considera de sucesso encontrados no Brasil de hoje. l “A solução é enfrentar a crise de maneira conjunta, sociedade e governo, como está sendo feito pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, independentemente dos partidos governantes”. l Rigotto, Simon e Olívio Dutra Outros ex-governadores foram contatados para esta reportagem. Rigotto não quis responder. A assessora prometeu encaminhar as perguntas, adiantando que “ele não responde nada que se refira a atual governadora Yeda”. Uma semana depois, após o envio de outro email reiterando o pedido, “peço-te desculpas, mas não poderemos atender a tua solicitação, pois o ex-governador Rigotto está com muitos compromissos fora do Estado”. Com o senador Pedro Simon foi impossível agendar por que, segundo a assessoria, tinha muitos compromissos, inclusive, outros pedidos de entrevistas feitos antes deste. A assessora de Olívio Dutra pediu desculpas, “ele queria muito responder e participar, mas está embarcando para Brasília”. HIPERTEXTO Segurança 9 Porto Alegre, maio de 2007 Violência urbana, solução difícil Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, a falta de segurança foi eleita maior preocupação e o resultado se justifica: somente no mês passado, foram quase 200 mortes no Estado Nicolas Gambin/ Hiper Rafael Vigna No mês de abril, 181 pessoas foram assassinadas no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre e na Região Metropolitana, a morte violenta chegou a 66 casos. Em apenas quatro dias, no feriado de Páscoa, aconteceram 24 homicídios na Capital. Em 30 dias, morreram, no Estado, o equivalente a uma sala de cinema de shopping center com lotação esgotada. Este filme é repetido, uma trágica história, cuja causa e solução parecem ainda distantes, embora o Rio Grande do Sul entre os estados brasileiros, seja um dos que apresenta índice menor de assassinatos. A falta de segurança é o principal problema social identificado em uma recente pesquisa realizada pelo instituto Datafolha. Eleita por 31% dos entrevistados, a violência supera – pela primeira vez em quatro anos – o medo do desemprego e o descaso com a saúde pública. Outra pesquisa de opinião, a CNT/Sensus, divulgada no início de abril, revela que 81,5% dos entrevistados são favoráveis à redução da maioridade penal para 16 anos e 49% são adeptos da pena de morte como formas de redução da violência urbana. Mas quais são as verdadeiras causas e origens deste mal que preocupa a população? O que fazer para diminuir medo e vítimas da violência urbana? Há quem peça um maior policiamento nas ruas e punições severas aos “bandidos”. Será essa a fórmula para combater a questão? O professor de Sociologia Jurídica e Criminologia da PUCRS Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo discorda dos “sensos comuns” que emergem a cada discussão na mídia e faz um alerta para os “paradoxos” que algumas medidas podem proporcionar. Para ele, policiamento ostensivo, redução da maioridade penal, maior autonomia para os estados e punições mais duras não são soluções. “Mal estruturadas algumas ações podem ajudar a agravar o problema”, avisa o professor. Entre 2000 e 2006, no estado de São Paulo, os investimentos em modernização dos serviços, compra de equipamentos, tecnologia de ponta e treinamento de policiais levaram à redução efetiva de crimes. Recursos aplicados no sistema penitenciário não acompanharam a tendência de modernização da polícia. Como resultado, em São Paulo, estão cerca de 200 mil presos, equivalente a metade da população carcerária do Brasil, que chega a 400 mil presidiários. “Nessas condições não é novidade que apareça uma facção criminosa como o Primeiro Comando da Capital (PCC)”, explica Ghiringhelli. São Paulo é responsável por outro paradoxo na segurança pública. Uma pesquisa do Núcleo de Estudos de Violência (NEV) da USP conclui que apenas 50% dos crimes geram um boletim de ocorrência ou denúncias junto à polícia. Desses, 8% são investigados através de um inquérito Sociedade na mira: o contrabando de armas mune os criminosos para a batalha contra a polícia criminal. 2% dessas ocorrências chegam ao sistema judiciário, que aplica penas ou condenações em somente 1% dos casos. A justificativa para o baixo índice de condenação, segundo o NEV, é e a falta de capacitação investigativa da polícia que opera como uma espécie de cartório para registro de ocorrências. Estimativas do Banco Mundial indicam que gastos com sistema prisional, atendimento às vítimas e outras variáveis da violência custam Tudo começa pela desigualdade Para a análise da violência urbana do país, a situação do Rio de Janeiro mostra de maneira ampliada os principais fatores que originam o problema no Brasil. È o que pensa o professor de Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro Sociedade Mídia e Violência (Ed. Sulina, 2002), Muniz Sodré. O crime organizado – principal fonte de violência urbana – é fruto da desigualdade social e de um descaso histórico, argumenta Sodré. A população carente nos morros passou a constituir “uma verdadeira sociedade paralela”, onde existe um “plano de carreira” das estruturas da criminalidade e do tráfico de drogas. Com o consumo e a venda da cocaína concentrados nos morros, surgiram as estruturas de poder paralelo. Como a porta de entrada para o contrabando de armas é a mesma da droga, os traficantes tiveram contato com armamentos de guerrilha, para fazer frente à policia. Muniz Sodré avalia que alguns aspectos observados na Colômbia – país em guerra civil há mais de 30 anos – fazem parte da realidade do Rio de Janeiro. É o caso das milícias armadas e os grupos de extermínio. Formadas em grande parte por policiais, as milícias tomam o poder dos traficantes e instituem uma taxa de segurança a ser paga pelos moradores. A favela fica livre do tráfico, mas a opressão continua ativa. Os grupos de extermínio, também constituídos por policiais, agem para realizar “verdadeiras limpezas”: nvadem os morros e promovem assassinatos de maneira indiscriminada. Essa situação, conforme Sodré, contribui para a manutenção de um sistema cíclico de violência e intolerância que atinge toda a socie- dade e produz índices superiores a 60 homicídios a cada 100 mil habitantes. Paralelo ao desenvolvimento do narcotráfico, há um crescimento das desigualdades e isolamento das comunidades nos subúrbios. “Muitas vezes a violência se apresenta como uma resposta ao descaso histórico, em que essas populações foram submetidas”, analisa Muniz Sodré. Ele ainda identifica questões pendentes: “Para combater a violência é necessário ter vontade política. Esse é um fator determinante, mas, infelizmente, é difícil identificá-la nos governantes. Sempre que alguém se dispõe a mexer em problemas estruturais, como a corrupção na policia é massacrado pela opinião publica e derrubado pelas forças políticas”, referindo-se ao subsecretario de segurança do governo de Anthony Garotinho, entre 1999 a 2000, o antropólogo Luis Eduardo Soares. aos cofres públicos cerca de 28 bilhões de dólares por ano, o que representa em torno de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Pelos cálculos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os custos da violência chegam a 84 bilhões de dólares por ano. Em investimentos estrangeiros, o país deixa de arrecadar em torno de 7 bilhões por ano. Em países que investem na prevenção contra a violência – como Canadá, Austrália e Japão – a soma dos gastos com a violência não chega a 1% do PIB anual. O professor Ghiringhelli chama atenção para a necessidade de um “novo olhar”: - “Discutir penas mais longas e policiamento efetivo, sem falar em prevenção ao crime e nos custos para o Estado não resolverá o problema da violência urbana no país. Está na hora de abandonarmos os sensos comuns e as soluções imediatas para começarmos a debater prevenção à longo prazo”. prevenção nos CÍRCULOS RESTAURATIVOS Círculos Restaurativos são exemplo dos projetos pilotos de prevenção à violência em funcionamento no Brasil. É o que aponta a coordenadora do Núcleo de Estudos Contra a Violência da Faculdade de Serviço Social da PUCRS, Patrícia Grossi. Baseados em programas canadenses, eles promovem a reintegração de menores infratores a suas comunidades. Segundo Partícia, “a experiência é inovadora e os resultados bastante positivos”. Em alguns casos, as vítimas que participam dos Círculos ficam sensibilizadas e até mesmo os agressores sentem-se assim. “A experiência mostra resultados animadores na prevenção de reincidência dos adolescentes infratores”, comemora. Programas governamentais de prevenção à violência são uma realidade recente. A coordenadora de pós-graduação da Faculdade de Serviço Social da PUCRS, Maria Isabel Bellini, diz que “há uma enorme eficiência na elaboração de projetos, mas quando é o momento de colocá-los em prática ainda estamos atrasados”. O psiquiatra judiciário, Montserrat Martins também constata “Uma distância entre o discurso e o senso prático”. Para ele, a prevenção da violência passa por uma reestruturação de valores éticos e morais da sociedade: “Não existe prevenção, nem solução para a violência, enquanto não houver uma mudança de mentalidade de toda a sociedade”. 10 ESPORTE Porto Alegre, maio de 2007 Elson Sempé Pedroso/Hiper Grêmio bicampeão gaúcho Goleada de 4 x 1 garante título gaúcho à equipe tricolor e Juventude é vice Márcia Simões Domingo, 16h, final do Gauchão, decisão em Porto Alegre. Isso não é nenhuma novidade em se tratando de futebol no Rio Grande do Sul. Dois grandes times: de um lado o Grêmio, o melhor clube na competição, do outro, o Juventude, acreditando na conquista do segundo título regional. Estádio Olímpico lotado, mais de 47 mil torcedores, que não deixaram de cantar um só minuto. Assim foi a final que deu ao time da Capital o bicampeonato. Neste dia, as ruas de Porto Alegre amanheceram pintadas de azul, preto e branco. Mesmo sem a participação do Inter, desclassificado ainda na primeira fase, a mobilização tanto de ambas as torcidas era enorme. O Grêmio era candidato favorito ao título, tanto pela campanha quanto pelos últimos resultados, o que se confirmou durante a O tricolor é campeão gaúcho pela segunda vez consecutiva partida. O Juventude não teve tempo de buscar a vitória. Logo aos 15 minutos da primeira etapa, Tcheco abriu o placar, consolidado no segundo tempo com os gols de Diego Souza, Tcheco, novamente, e Lúcio. A supremacia da equipe gremista foi tamanha que ainda desperdiçou um pênalti e chutou duas bolas na trave e, mesmo assim, a goleada não foi comprometida. O time de Caxias ainda marcou no final do jogo, mas de nada adiantou, já que naquele momento o único placar que interessava era um empate em 4 a 4. Assim que o árbitro Carlos Simon apitou o final da partida foi a vez da torcida fazer a festa com os jogadores. Mesmo aqueles que não estavam relacionados para o jogo, como Lucas e Amoroso, desceram ao campo para comemorar com os companheiros. Enquanto o pódio era montado no gramado, os gremistas entoavam cânticos e, é claro, provocações ao rival. Lauro, capitão do Juventude, retornou a campo para receber o troféu de vice e, em seguida, Tcheco ergueu a taça de campeão gaúcho 2007. A celebração só foi encerrada após a volta olímpica. Depois da festa no estádio, os jogadores e comissão técnica jantaram numa churrascaria e centenas de torcedores foram, como de costume, para a Avenida Goethe, comemorar o bicampeonato gaúcho. Vinícius Carvalho / Hiper Pan-Americano Patinador gaúcho busca a segunda vitória no Rio Bernardo Biavaschi Aos 21 anos, Stürmer busca mais uma medalha HIPERTEXTO Consciente de seu favoritismo, o gaúcho de Lajeado Marcel Stürmer irá aos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em busca de sua segunda medalha de ouro na competição, em julho. O patinador de 21 anos surpreendeu ao conquistar o lugar mais alto do pódio no Pan de Santo Domingo em 2003, já que era o mais jovem da sua modalidade e o menos experiente entre os competidores. Com a responsabilidade de manter o título de melhor patinador das Américas, o brasileiro juntou-se ao paulista Max Coelho dos Santos e montou uma coreografia especial, incluindo movimentos novos que homenageiam o Brasil e outros esportes disputados no Pan. “Irei apresentar uma coreografia feita especialmente para essa competição. Serão quatro minutos de muita batucada, bossa nova e samba, emoção total.” Segundo Marcel, seus principais adversários no caminho do ouro são o argentino Daniel Arriola e o americano Joshua Roads. Os três têm se revezado na conquista de medalhas de ouro nas últimas competições que participaram. O Estados Unidos é um dos países com maior tradição no gelo. Marcel começou na patinação aos seis anos de idade em sua cidade natal. Suas primeiras aulas de patinação foram com patins emprestados, pois seus pais acharam que o interesse do filho pelo esporte seria algo passageiro. O atleta passou, então, a crescer dentro do cenário da patinação e, em 2001, conquistou o campeonato brasileiro júnior e uma vaga na disputa do Pré-Pan. O início da carreira foi difícil, e o apoio veio de casa. “Não recebia ajuda nenhuma e meus pais, com muito esforço, foram meus grandes apoiadores.” A consagração do atleta viria em 2003, com o ouro em Santo Domingo e o bronze no mundial, disputado em Buenos Aires no mesmo ano. Hoje o atleta acumula em torno de 100 medalhas e é o quinto melhor patinador do mundo na categoria sênior. Apesar de um dos melhores atletas do mundo na modalidade ser brasileiro, a patinação artística ainda não é muito conhecida no país e, consequentemente, recebe poucos incentivos. Por isso, Marcel foi treinar nos Estados Unidos durante alguns anos, a convite de uma técnica. “Foi um período maravilhoso e de muito aprendizado. Voltei somente porque, depois de um tempo, eu não rendia mais. Um atleta precisa estar bem mentalmente e a saudade das pessoas que gosto era mais forte que tudo. Atualmente pago um preço alto por esta decisão, nem mesmo na minha cidade natal encontro apoio algum.” Ele revela que a conseqüência mais importante do ouro em Santo Domingo foi a conquista de um patrocinador. “Foi a melhor coisa que aconteceu. Se não tivesse apoio, talvez eu não estaria indo ao Rio de Janeiro”. Recentemente voltou ao Brasil, após um mês e meio treinando na Califórnia bancado pelo Comitê Olímpico Brasileiro. HIPERTEXTO VARIEDADES 11 Porto Alegre, maio de 2007 Música Carla Ruas / Hiper Múltiplos sons do Quinteto Violado Com muita criatividade o grupo, reunido há quase 30 anos, mistura popular, erudito e elementos da natureza em música instrumental Música brasileira em primeiro lugar O grupo despontou no cenário nacional após o fim do movimento tropicalista em 1971, com a trajetória já registrada em livro, vídeo e Cds lançados no Brasil e exterior. Com inspiração na cultura regional, o grupo traçou um novo caminho para a Música Popular Brasileira. E mesmo contrariando os modismos da indústria cultural, o Quinteto desperta o interesse de platéias variadas Além de se dedicar aos shows, excursões internacionais, festivais e discos, em 1997, o grupo criou a Fundação Quinteto Violado, que promove e incentiva o desenvolvimento da cultura do Nordeste do Brasil. A proposta da entidade é executar projetos culturais, promovendo o intercâmbio de experiências no Brasil e no exterior através de convênios com instituições particulares ou governamentais. Carla Ruas / Hiper Thais Silveira Quando a criatividade e talento de cinco músicos se unem a um multi-instrumentista, que está entre os mais respeitados do país, o resultado não poderia ser diferente: arquibancada lotada. Foi o que aconteceu no Teatro Bruno Kiefer, na apresentação do grupo Quinteto Violado e Carlos Malta, no dia 25 de abril. Teve dueto de flauta e teclado, solo de bateria e até uma nova leitura do frevo latino. Uma mistura perfeita que animou tanto jovens quanto adultos, diversidade em que se constituía a platéia. Por ser uma apresentação única em Porto Alegre, muita gente teve que ficar do lado Concurso de artigos na PUCRS O Projeto Solidariedade da PUCRS abriu, dia 21 de maio, a Semana da Solidariedade. O evento, que ocorre anualmente, lançou o Concurso de Artigo Fraternidade e Amazônia, promovido pelo Centro de Pastoral e Solidariedade. Alunos de graduação da PUC, interessados em concorrer, poderão se inscrever até dia 18 de junho na Pastoral e os artigos devem ser entregues de 6 a 10 de agosto. As inscrições serão recebidas na avenida Ipiranga, 6681, prédio 17, sala 101, no horário das 9h às 11h e das 14h às 17h. Demais informações através do site: http:// www.pucrs.br/orgaos/pastoral. Professores da PUC julgarão artigos. de fora. Entre o povo, uma fã pernambucana, conterrânea do grupo, se surpreendeu: – Mas é o Quinteto Violado! Não dá para perder – insistia ansiosa para assistir ao show. Ciano, Dudu, Marcelo Melo, Toinho Alves e Roberto Medeiros estão juntos há quase 30 anos. Com o projeto Circular Brasil, eles têm, inclusive, a oportunidade de tocar com Cláudio Malta. Essa iniciativa existe desde 2006 e tem o objetivo de promover a diversidade da música instrumental com elementos regionais aplicados. Inspirados nos ritmos e sons da natureza e com um repertório que mescla o erudito e o popular, 20 anos de concertos No vigésimo ano de uma exitosa parceria com a Companhia Zaffari, o Coral e a Orquestra Filarmônica da PUCRS realizaram concerto em homenagem ao Dia das Mães em 1º de maio. Sob regência do maestro Frederico Gerling Júnior e com a participação do cantor Aguinaldo Rayol, da Companhia de Danças Cadica e do Ballet Concerto foram apresentadas obras dos compositores Bellini, Braguinha, de Falla, Curtis, Villa Lobos e Bizer. A apresentação foi no estacionamento superior do Bourbon Shopping Ipiranga. o Quinteto e Carlos Malta deram um show de performances orquestradas, com muita energia em Porto Alegre. Dentro do teatro, uma moça se destacava devido a sua empolgação. A pergunta foi inevitável: – E aí, gostou do show? O sotaque da resposta já a entregou na hora: – Cê acredita? Tô arrepiada até agora! – exclamou a também pernambucana Daviana Barros, que mora há pouco tempo na Capital, mas conhece o trabalho do grupo há anos. Segundo ela, o evento não foi muito divulgado aqui no Estado, onde o Quinteto não é tão conhecido, mas em Pernambuco eles são muito valorizados. Carlos Malta, outra atração da única apresentação no Estado Comida chinesa: farta e apimentada Rafael Lopes Codonho O calendário registra oito meses desde minha chegada à China. Diferente do Natal, quando nas ruas podiam ser vistos ornamentos em vermelho e branco e os chineses ensaiavam uma comemoração restrita aos jovens, a Páscoa passou em branco e sem ovos de chocolate. Quando o grupo de intercambistas chineses chegou na PUCRS, em agosto de 2005, eles demonstravam insatisfação com restaurantes brasileiros de comida chinesa, alegando que os pratos chineses eram diferentes do que se via em Porto Alegre. Na época, a avaliação me pareceu exagerada, um patriotismo exacer- bado. Afinal, diversos proprietários desses restaurantes, principalmente os de pequeno porte, eram nascidos na China. Após cansativo vôo de 22 horas, a primeira refeição no Oriente foi em um restaurante da culinária típica do sul da China, da província de Hunan, onde Mao Tsé-Tung nasceu. Restaurantes de médio e grande porte têm salas de jantar reservadas, com grandes mesas redondas para jantares de negócios ou reuniões de família. O cardápio era todo em chinês, diferente de diversos restaurantes que, pela grande clientela composta por estrangeiros, apresentam versão em inglês. Com auxílio de chineses, os pratos foram pedidos e ao serem provados causaram um grande choque. Amplamente utilizada na culinária chinesa, a pimenta está presente em grande quantidade em restaurantes mais tradicionais. Desde o primeiro mês no país, uma frase é muito útil: “Wo bu yao lade”, não ponha pimenta na comida. Os chineses conservam algo considerado por eles de grande valor e que causa estranhamento aos recém-chegados ao país: a fartura. Costuma-se pedir diversos pratos em restaurantes à la carte, sendo que alguns deles permanecem intocados. A conscientização sobre desperdício inexiste. O hábito faz parte do status social, na tentativa de demonstrar poder aquisitivo. 12 ponto final Porto Alegre, maio de 2007 H IPERTEXTO Fotos Vinícius Carvalho/Hiper Um século de poesia, mocotó e feijoada Ancorado no Mercado Público desde 1907, o Bar Naval comemora 100 anos de história Guilherme Zauith Em 1961, um português da pequena cidade de Águeda comprou o tradicional botequim do movimentado Mercado Público de Porto Alegre. De propriedade do filho do fundador, o italiano Ângelo Crivellara, o Bar Naval foi adquirido pelo português por dois milhões de cruzeiros da época. “Trabalhei dois anos para pagar as prestações”, lembra João Fernandes da Costa, atual proprietário. O nome Naval deriva dos estivadores do Cais. “Porto lembra mar, que lembra marinha, que lembra naval”, explica “Seu João”, como é conhecido. Baixinho e bem humorado, o lusitano de 77 anos anda de um lado para o outro sem parar. “Lupicínio Rodrigues (músico) e Glênio Peres (jornalista e vereador) vinham aqui, muitas personalidades freqüentam o bar, mas trato todo mundo igual. As pessoas se sentem em casa”, diz enquanto mostra as inúmeras fotos que cobrem as paredes do lugar. Pé direito alto e teto rebuscado, o estreito bar está sempre apinhado de gente. Seja no balcão ao lado da estufa de bolinhos e pastéis, ou em meio à decoração de placas, chapéus e adesivos. Da mobília original, seu João conta que trocou o piso de azulejos e as mesas, “mas as portas do Naval são originais. Completam 100 anos também”. Num pequeno tablado de madeira, entre o balcão e caixas de bebidas empilhadas, fica encostada a mesa conhecida como “muro das lamentações”. O Esconderijo de velhos freqüentadores, repleto cinzeiros e copos que se negam a esvaziar. “Todos são conhecidos. Viemos há mais de dez anos para beber e conversar”, conta um dos fregueses. “Essa aqui é a mesa dos sem. Sem mulher, dinheiro e casa”, brinca outro lamuriador. Um cliente com copo de conhaque na mão e cigarro no canto da boca revela que come- O tradicional ponto culinário buscou no cais do porto a inspiração para o nome Paulo, garçom e poeta çou a freqüentar o Naval na companhia do pai. “Ele era estivador no cais, me trazia para beber guaraná depois do trabalho”. O mesmo relata Denis Feijó, 36, sentado no lado oposto. “Vinha nos finais de semana almoçar com o pai. Hoje trago meu filho de três anos”. O Naval é famoso também pelas particularidades gastronômicas. Quem comanda a cozinha é Ivete dos Santos, 60 anos de idade e 20 “de casa”. Ela mexe no panelão de 50 litros e adiciona os ingredientes do “violento mocotó”, servido apenas no inverno. “Vai de tudo. Bucho e pata de boi, feijão-branco, pimenta...” informa sem dar muitos detalhes, enquanto comanda as ajudantes Maria e Jussara. Dona Ivete chega a preparar 60 cumbucas com a especialidade por dia. Paulo Darcy de Souza, o Paulo Naval, é conhecido como poeta do mercado. Ele enfatiza: “O bar completa 100 anos de idade, em plena atividade”. Com a bandeja repleta de copos chope, “são 100 litros por dia”, conta que escreveu o livro O garçom O proprietário João da Costa e a foto do fundado do Naval, Ângelo Crivellara e o cliente no balcão do Naval., hoje esgotado. Brincalhão, o garçom poeta diz que chegou “às 9 horas do dia 9 de janeiro de 1957” e nunca mais saiu. Paulo Naval atualmente gerencia o local e serve os clientes, ajudado por Mauro, outro garçom. O filho do poeta trabalha atrás do balcão. “Fico no caixa e tiro o chope”, comenta Luciano Oliveira, de 32 anos. O Mercado Público, segundo Fortunato Garcia Machado, presidente da Associação Comercial do local, tem 138 anos. “Foi fundado em 1869, sofreu dois incêndios e uma enchente quase fatal em 1942”. Fortunato, que trabalha na banca Bang Bang, especializada em revistas antigas de quadrinhos, destaca que o “prédio é tombado pela prefeitura, tem 109 lojas que oferecem variados tipos de produtos, desde erva mate, até carnes e queijos selecionados. É um ponto turístico e comercial, ao mesmo tempo”. O Bar Naval fica no número 91/93 do Mercado Público, no Largo Glênio Peres, centro de Porto Alegre. Funciona das 8 h às 20 horas, todos os dias, exceto domingos e feriados.
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