Análise da cobertura jornalística do cas

Transcrição

Análise da cobertura jornalística do cas
CENTRO UNIVERSITÁRIO UniSEB COC
André Dutra de Oliveira Pereira de Souza
Informação e Sensacionalismo no Jornalismo Online:
Análise da cobertura jornalística do caso Ronaldo na Copa do Mundo da
França em 1998
Ribeirão Preto
2011
André Dutra de Oliveira Pereira de Souza
Informação e Sensacionalismo no Jornalismo Online:
Análise da cobertura jornalística do caso Ronaldo na Copa do Mundo da
França em 1998
Trabalho monográfico de conclusão
curso apresentado para a obtenção
Grau de Bacharel em Jornalismo
Centro Universitário UniSEB COC
curso de Comunicação Social
habilitação em Jornalismo.
de
do
ao
no
–
Orientador: Prof. Marcos de Assis dos Santos
Ribeirão Preto
2011
Ficha Catalográfica
S719i
Souza, André Dutra de Oliveira Pereira de.
Informação e sensacionalismo no Jornalismo Online. André Dutra
de Oliveira Pereira de Souza - Ribeirão Preto, 2011.
105 f., il..
Orientador: Prof. Marcos de Assis dos Santos.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro
Universitário UNISEB de Ribeirão Preto, como parte dos requisitos
para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social –
Jornalismo sob a orientação do Prof. Marcos de Assis dos Santos.
1. Jornalismo Online. 2. Sensacionalismo. 3. Futebol. I. Título. II.
Santos, Marcos de Assis dos.
CDD 070
Dedicatória
Aos meus ‘mestres’ Inez (in memoriam), Bruno, Mamãe, Rafael, Renata e Waléria
que caminharam junto comigo e me ajudaram a chegar até aqui
Agradecimentos
Aos meus pais, por acreditarem no potencial do meu sonho de querer fazer
faculdade
Ao meu irmão, por me acompanhar, mesmo que à distância, e sempre torcer por
mim
Aos meus familiares pelo apoio de sempre
Ao Denis por não permitir que eu desistisse quando eu tive muita vontade de fazer
isso
Aos meus caríssimos colegas que caminharam junto comigo e deram mais prazer ao
aprendizado e ao processo
Aos professores pelo conhecimento passado e pelas grandes lições transmitidas
Ao Marcos e à Andréa, pelas contribuições e questionamentos que foram
importantes para que o trabalho saísse bem feito
“Aquele que controla os outros pode ser forte, mas aquele que se domina é ainda
mais poderoso” (Lao Tsé)
Resumo
A informação, no jornalismo, passou a circular praticamente em tempo real a partir
do uso crescente da tecnologia e, atualmente, atinge um grande número de pessoas,
principalmente com a modalidade online. Neste contexto, a temática do futebol também
ganhou dimensão planetária e, com o suporte da mídia, os personagens - principalmente
jogadores e técnicos - que dela fazem parte, são tratados como astros internacionais.
Contudo, permanece presente a clássica divisão e debate entre o jornalismo tradicional e o
sensacionalista em matérias que envolvem o futebol e seus protagonistas. Assim, o
cuidado na elaboração das matérias jornalísticas passa por alguns parâmetros, como por
exemplo: as fontes consultadas, o conteúdo escrito e a forma de construção das notícias. O
presente trabalho tem por objetivo apresentar marcos teórico-conceituais do jornalismo, do
jornalismo esportivo (online) e os marcos sensacionalistas na construção da notícia e
analisa a presença desses elementos no ‘caso Ronaldo’ na final Copa do Mundo de futebol
de 1998 entre Brasil e França. Para tanto, após uma revisão bibliográfica sobre o tema e
estabelecimento de critérios que identificam o jornalismo sensacionalista na construção da
notícia online, houve a consulta em três veículos de comunicação online: Gazzetta dello
Sport da Itália, Le Monde da França e Folha de São Paulo do Brasil que cobriram o caso
Ronaldo na final da Copa do Mundo de 1998 na França. Naquela ocasião o jogador
supostamente sofreu uma convulsão horas antes do jogo da final, jogo este que ele
participou e que envolveu uma enorme polêmica. Os resultados mostram que os critérios
que identificam o jornalismo online e o sensacionalismo estão pouco presentes nas
matérias.
As
possibilidades
apontadas
como
essenciais
ao
jornalismo
online:
interatividade, hipertextualidade e multimídia não foram exploradas pelas matérias
analisadas. A preocupação em informar é dominante e o uso de entrevistas foi o recurso
técnico predominante diante da ausência de apuração e checagem. O sensacionalismo,
diante de um fato relevante e de grande apelo midiático, como o caso Ronaldo em 1998,
também não foi explorado.
Palavras-chave: jornalismo online, sensacionalismo, futebol, mídia, fontes, apuração.
Abstract
The information, in journalism, turned to move virtually in real time from the
increasing use of technology and, currently, reaches a large number of people, mainly with
the online mode. In this context, the theme of football also won a planetary dimension and,
with the support of the media, the characters - mainly players and coaches - that are part in
the process are treated as international superstars. However, remains the classical division
and debate between traditional journalism and the sensationalism on matters involving the
football and its protagonists. Thus, the care in preparation of journalistic material goes
through some parameters, such as for example: the sources consulted, the written content
and the form of construction of news. This work intends to present conceptual theoretical
milestones of journalism, sports journalism (online) and marcos hyped in the construction of
the news and analyzes the presence of these elements in ' case Ronaldo ' in the final World
Cup of 1998 between Brazil and France. To do so, after a literature review on the subject
and establishing criteria that identify the sensationalist journalism in the construction of online
news, there were three consultation online communication vehicles: Italy's Gazzetta dello
Sport, Le Monde from France and Folha de São Paulo of Brazil who covered the case
Ronaldo in the final of the 1998 FIFA World Cup in France. On that occasion the player
supposedly suffered a seizure on the night before the final game which kept his enrollment
undefined until minutes before the match started and, even on that unknown condition, he
took part in the final game which involved a huge controversy. The results show that the
criteria that identify the online journalism and sensationalism are little present in the field.
The possibilities identified as essential to online journalism: interactivity, hypertextuality and
multimedia were not exploited for the materials analyzed. The necessity to inform through
interviews was the predominant technical resource on lack of verification and checking. The
sensationalism, given a relevant fact and a large media appeal, as the case Ronaldo in
1998, has not been explored.
Keywords: online journalism, sensationalism; football, media; sources; verification
Lista de tabelas
Tabela
Título
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Folha de São Paulo
Gazzeta dello Sport
Le Monde
Página
53
59
65
Lista de abreviaturas e siglas
COI
FIFA
HD
PSV Eindhoven
TV
UEFA
UOL
www
- Comitê Olímpico Internacional
-Fédération Internationale de Football Association – Federação
Internacional de Futebol Associado
- High Definition – Alta Definição
- Philips Sport Vereniging – União Esportiva Philips
- Televisão
-Union of European Football Associations – União Europeia de Futebol
Associado
- Universo On Line – Portal de Internet
- World Wide Web – Rede Mundial de Computadores
Sumário
Página
Resumo
Abstract
1.
Introdução
12
2.
Objetivo geral
17
2.1 Objetivos específicos
17
2.2 Justificativas
17
2.3 Hipoteses
17
Mídia, Jornalismo e Sensacionlismo
18
3.1 Mídia, jornalismo e esporte
18
3.2 Mídia online e informação
22
3.3 Mídia e sensacionalismo
32
3.
3.3.1 Sensacionalismo e futebol
34
4.
Metodologia
44
5.
O ‘Caso Ronaldo’
46
6.
Discussão
71
7.
Conclusões
76
Revisão bibliográfica
78
Anexos.
85
12
1. Introdução
O jornalismo é uma atividade de transformação informativa e possui uma
dimensão prática e comunicativa. Prática por ser uma atividade racional, empresarial
e industrial, pautada pela periodicidade, pela regularidade, controlada e definida
pelas rotinas de produção. Comunicativa porque é naturalmente humana, social,
ideológica e, na medida em que é mediada pelo sujeito da produção e da
interpretação, efêmera (PEDROSO, 2001).
Para Pedroso (2001, p. 34), “o jornalismo como atividade intrinsicamente
humana, social e ideológica (por isso subjetiva, arbitrária e coletiva) transforma a
realidade apreensível em relato”. Portanto, o jornalismo existe como notícia e a
notícia constitui a existência do jornalismo.
Então, o jornalismo ético tem como princípio a busca da exatidão (exatidão
significa verdade para o jornalismo) e da realidade, a busca do interesse social, a
revelação dos conflitos e o distanciamento dos interesses parciais.
Por outro lado, o presente trabalho aborda o jornalismo sensacionalista, que
tem lugar na mídia e reflexos na sociedade, e recebe atenção específica para muitos
autores como Pedroso (2001), Marcondes Filho (1986), Angrimani Sobrinho (1995),
Debord (1997), Toldo e Negrini (2009) e Rausch (2010).
Para Angrimani Sobrinho (1995), o jornalismo sensacionalista parece ser
praticado desde os primórdios da atividade. No Brasil, o termo utilizado para
veículos que utilizam do expediente do sensacionalismo é chamado de ‘imprensa
marrom’, muito provavelmente com inspiração do termo francês utilizado por Gaëtan
Delmar em 1841, que criou o termo presse marron, para designar as impressões
ilegais de notícias, ou as notícias que tenham pouca credibilidade, que eram
impressas nos canards (folhetins noticiosos) na França no início do século XIX,
segundo Angrimani Sobrinho (1995).
Mas afinal, o que é o sensacionalismo e que fascínio é esse que ele exerce
sobre os leitores? As definições são as mais variadas, mas o princípio acaba sendo
um
só:
a
espetacularização
da
notícia.
Numa
definição
mais
geral,
o
sensacionalismo pode ser entendido como um modo de divulgar os fatos, dando-os
como acontecimentos extraordinários: exploração de notícia ou fatos que causem
13
emoção ou escândalo, algo que produz viva sensação, algo espetacular, formidável
e a emoção produzida que causa impacto ao leitor.
Para a identificação do modo sensacionalista das matérias jornalísticas,
Pedroso
(2001)
estabelece
as
principais
normas
definidoras
do
modo
sensacionalista na construção das matérias e das publicações dos jornais diários.
Por sua vez, Marcondes Filho (1986) descreve a prática sensacionalista como
algo que vem do psíquico, da necessidade de produção da mente em trabalhar com
a imaginação do outro - os leitores - e deles tirarem proveito. No caso dos jornais,
esse proveito está na venda das edições, no aumento da tiragem, no lucro no fim do
mês.
Ainda Marcondes Filho (1986) escreve que escândalos, sexo e sangue
compõem o conteúdo dessa imprensa como mercadorias em geral interessam ao
jornalista de um veículo sensacionalista: o lado aparente, externo, atraente do fato
que está sendo retratado. Sua essência, seu sentido, sua motivação ou sua história
estão fora de qualquer cogitação.
Quando se trata de fluxo de informação, de maneira geral, com o avanço das
tecnologias, a informação passou a circular a uma velocidade vertiginosa, quase em
tempo real em alguns casos, o que possibilitou a difusão e criação de ídolos
mundiais, o que é explicado por Arbex Júnior (2001), ao comparar os ídolos do
futebol às grandes marcas de empresas, aos políticos e artistas consagrados do
cinema. A velocidade de informação também trouxe a necessidade de se ter
respostas rápidas e confiáveis, com a relação entre o jornalista e a fonte sendo um
contato quase diário na construção da informação que será levada ao público.
Porém, ao mesmo tempo em que as informações passaram a circular quase
que instantaneamente, passou-se a criar a necessidade de respostas rápidas dos
ídolos que ela criava. Estes ídolos eram “programados” para servir de modelo de
sucesso, um exemplo aos mais novos sobre como eles deveriam agir, no que
deveriam investir, e também, no que deveriam acreditar como valor pessoal.
A mídia tenta fazer o seu papel, com a apuração dos fatos e checagem das
informações que serão passadas, mas um fato extraordinário e exclusivo pode fazer
com que a pressa pelo “furo” (dar a notícia exclusiva e antes dos demais meios),
ponha todos os valores jornalísticos em segundo plano (TRAQUINA, 2004).
14
Um dos grandes problemas da produção da notícia é o retorno financeiro, o
que é explicado por Barbeiro e Rangel (2006, p. 25) quando comentam que “a
armadilha mais comum do jornalismo esportivo é pautar as reportagens em cima da
instantaneidade dos fatos”. É preciso ter mais claramente definido quem precisa de
quem, se é a mídia que precisa do personagem ou se é a pessoa que precisa da
mídia.
Por sua vez a mídia esportiva é um exemplo que torna pessoas até então
desconhecidas em ídolos imediatos, porque nela, o nível de exposição das pessoas
tem grandes proporções. Dos eventos esportivos, a Copa do Mundo de Futebol é
um dos mais rentáveis e com mais visibilidade pelo fato de ter uma audiência global
estimada em milhões de pessoas (LANCELLOTTI, 1998). O fato de um jogador se
destacar em um torneio como a Copa do Mundo faz com que ele seja reconhecido
como um novo ídolo, que será copiado e noticiado exaustivamente, quantas vezes
forem necessárias para que a mídia satisfaça ao público que ela atende.
Outro aspecto relevante é o avanço das tecnologias. Atualmente, elas
permitem que o torcedor tenha algum tipo de contato direto com o seu ídolo, seja por
uma página pessoal na Internet, ou por um perfil nas redes sociais disponíveis
também na Internet.
Assim, e até por estarem mais expostos ao público, os jogadores atualmente
precisam cuidar mais da imagem e dos valores que transmitem à sociedade, sendo
vistos como ícones globais, à semelhança dos consagrados atores de cinema de
Hollywood. Em termos econômicos eles são tratados como ‘mercadoria’, ou seja,
como produtos que geram retorno de capital.
Do ponto de vista do jogador, disputar uma Copa do Mundo equivale a um
tenista disputar um Grand Slam. Trata-se de uma exposição para o mundo inteiro,
que pode render novos patrocinadores. No caso do futebol, o apelo comercial a ele
associado movimenta milhões de dólares no mundo todo, o que levou Silva e Santos
(2010) a refletirem que o futebol sai na frente de qualquer outro esporte na defesa
de determinado discurso de globalização, por ser carregado de valores simbólicos
consumíveis pela sociedade, que são distantes das necessidades humanas básicas.
A Copa do Mundo da França foi um dos primeiros eventos esportivos a ter
os jogos transmitidos pela Internet, com uma audiência de milhões de expectadores
15
no mundo inteiro (LANCELLOTTI, 1998). Como era esperado, os jogadores que dela
fizeram parte e se destacaram acabaram por se tornar ídolos mundiais, disputados
por diversas empresas de patrocínios que queriam ter o nome associado à um
jogador de destaque em uma Copa do Mundo. Um dos jogadores que se destacou
naquele torneio foi o brasileiro Ronaldo, que então era o Melhor Jogador do Mundo
eleito pela FIFA nos dois anos anteriores à Copa do Mundo realizada na França
(HEIZER, 2001).
Todo jogador sonha em disputar uma final de Copa do Mundo, ainda que
sejam poucos que o consigam. Para aqueles que “chegam lá”, a exposição de ser
visto por uma audiência mundial é garantida e é o mais próximo que se pode chegar
da consagração. O jogador que tem uma grande atuação em uma final de Copa do
Mundo marca o seu nome para sempre na História e também no imaginário das
pessoas, que passam a cultuá-lo como o ídolo que os garotos que jogam nos
campinhos de várzea gostariam de ser no futuro (GALEANO, 2004).
O presente trabalho discute os elementos do jornalismo online e
sensacionalista e analisa a presença desses elementos no ‘Caso Ronaldo’, ocorrido
na final da Copa do Mundo de Futebol de 1998, contra a França. Esse episódio – na
Copa do Mundo de Futebol de 1998 – que envolveu o jogador Ronaldo, se deu
quando Ronaldo vinha credenciado como o Melhor Jogador do Mundo, eleito pela
FIFA nos dois anos anteriores à referida Copa, o que gerou uma expectativa em
torno dele para que justificasse este status no maior evento futebolístico do mundo,
ainda que fosse apenas o primeiro grande evento que ele disputasse usando a
camisa 9 e na condição de titular. Diante deste fato, o jogador se via assediado
ininterruptamente durante toda a competição, com os veículos expondo até fatos
pessoais do atleta, ao longo do torneio, que nada tinham a ver com desempenho
esportivo nos gramados. O fato inesperado, ocorrido horas antes da partida final, foi
uma convulsão do jogador, e a indefinição de sua escalação até minutos antes do
jogo, fez com que a atuação da mídia em torno do jogador se tornasse ainda mais
presente.
Posto isso, este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre os
conceitos do jornalismo online e também conceitos que permitam a identificação da
16
linguagem sensacionalista e a definição de características, conteúdo e forma da
notícia.
Para verificar como o ‘Caso Ronaldo’ foi tratado pela mídia, foram escolhidos
três veículos online que cobriram o caso e que apresentaram características
compatíveis com sensacionalismo, com quatro matérias analisadas de cada um
deles. São eles: Folha de S. Paulo, pelo fato de Ronaldo ser brasileiro; Gazzetta
dello Sport da Itália, pelo fato de Ronaldo, à época do ocorrido, estar atuando pela
Internazionale de Milão da Itália; e o Le Monde, da França, pelo fato da Copa ser
disputada na França e, especialmente, a final ter sido realizada contra o país
anfitrião.
As análises práticas, após o estabelecimento de critérios de construção da
notícia, tendo como base Pedroso (2001), Angrimani Sobrinho (1995), Marcondes
Filho (1986), Mielknizuck e Barbosa (2005), Silva Júnior (2007) e Dutra et al (2007),
procuraram verificar em que medida a presença de elementos que se identificam
com o jornalismo sensacionalista explorou o caso.
17
2. Objetivo geral
Apresentar marcos teórico-conceituais do jornalismo além de outros pontos
sobre jornalismo online, jornalismo esportivo e marcos sensacionalistas na
construção da notícia.
2.1 Objetivos específicos
- Mostrar a cobertura jornalística de três jornais (online) do ‘Caso Ronaldo’
na final da Copa de 1998 na França.
- Verificar e analisar a presença de elementos que identificam o jornalismo
esportivo (online) e sensacionalista no ‘Caso Ronaldo’.
2.2 Justificativa
O exercício do Jornalismo tem princípios éticos na busca da revelação pública
de fatos relevantes e de interesse social, na revelação de conflitos e na busca pela
informação. Contudo, algumas vezes a prática da atividade mostra outro aspecto,
com uma abordagem sensacionalista.
O presente trabalho tem como cenário o jornalismo esportivo, repleto de
ídolos, mostra um segmento econômico que movimenta uma grande quantidade de
recursos financeiros, procura transitar pelo jornalismo sensacionalista e analisar a
sua presença em um episódio específico.
2.3 Hipóteses
1. A necessidade de produzir a informação diária favorece o uso do jornalismo
sensacionalista.
2. A desinformação em fatos inesperados também favorece o sensacionalismo.
3. A necessidade de produção de notícias e de criar impacto diminui os cuidados
nos veículos de informação e na responsabilidade de informar.
18
4. Fatos agudos com ídolos mundiais geram mais demanda por informação
sensacionalista e espetacularizada.
3. Mídia, Jornalismo e Sensacionalismo
A revisão teórica será apresentada nos seguintes tópicos:
1.
Mídia, Jornalismo e Esporte
2.
Mídia online e informação
3.
Mídia e sensacionalismo
3.1 Mídia, Jornalismo e Esporte
Atualmente, a informação circula com velocidade vertiginosa, quase em
tempo real, em alguns casos, o que possibilitou a criação e a difusão de ídolos
mundiais com maior rapidez. A velocidade de informação também trouxe a
necessidade de se ter respostas rápidas e confiáveis na relação entre o jornalista e
a fonte sendo um contato quase diário na construção da informação que será levada
ao público. Segundo Aguiar (2008, p. 4), “a chamada penny press acabou
contribuindo para o novo conceito de jornalismo, que separou e valorizou o fato em
detrimento da opinião, o que ajudou a efetuar a passagem de um jornalismo de
opinião para um jornalismo de informação”.
Ao mesmo tempo em que as informações passaram a circular quase que
instantaneamente, passou-se a criar a necessidade de respostas rápidas dos ídolos
que ela criava. Estes ídolos eram “programados” para servir de modelo de sucesso,
um exemplo aos mais novos sobre como eles deveriam agir, no que deveriam
investir, e também, no que deveriam acreditar como valor pessoal.
Este papel de perpetuação dos ídolos é alimentado pela mídia esportiva, que
é predominantemente dedicada ao futebol, e isto é explicado por Soares, Helal e
Santoro (2001) como sendo elo de gerações de aficionados pelo esporte.
A mídia tenta fazer o seu papel, com a apuração dos fatos e checagem das
informações que serão passadas, mas um fato extraordinário e exclusivo pode fazer
19
com que a pressa pelo “furo” (dar primeiro a notícia), ponha todos os valores
jornalísticos em segundo plano (TRAQUINA, 2004).
Segundo Aguiar (2008), entre os mecanismos usados pela mídia para
chamar a atenção para o fato novo ou atrair a atenção do leitor estão as técnicas do
lide e da pirâmide invertida, em que os fatos são hierarquizados sendo o fato mais
importante logo escrito nas primeiras linhas. Esta técnica foi utilizada pela primeira
vez no New York Times e logo apropriada pelos jornais sensacionalistas.
O envolvimento da mídia na produção da notícia e também na construção da
sociedade faz com que o real, muitas vezes, se confunda com o imaginário, com o
espetáculo que se cria. Neste contexto, muitas vezes, ocorre uma dependência e
uma aproximação entre mídia e personagem e é preciso ter mais claramente
definido quem precisa de quem, se é a mídia que precisa do personagem ou se é a
pessoa que precisa da mídia.
Para Debord (1997), a mercadoria é uma ilusão do real, e o espetáculo é a
sua manifestação geral. Gomis (2004, p. 8) complementa o raciocínio de Debord ao
afirmar que “o pseudoevento ou pseudofato é “pseudo”, falso, inclusive feito para
enganar, mas nem por isso deixa de ser evento, fato, e transmitido como notícia por
verdadeiros atores em cenários verdadeiros”.
Sobre a relação do jornalista interagindo com a fonte e o público, Gomis
(2004, p. 5) aponta a importância dos meios de comunicação ao afirmar que “os
meios de comunicação fazem a mediação entre os que produzem os fatos e o
público, e se sentem obrigados a respeitar os dois lados”. Por sinal, o dilema entre a
relação do jornalista com a fonte e também com o público é um fator que deve ser
levado em consideração para tentar imaginar os supostos interesses que podem
existir.
Um dos grandes problemas da produção da notícia é o retorno econômico
que dela se espera, tanto na TV como também na mídia impressa. A perda de
qualidade associada à necessidade de produzir informação em quantidade, o
consumo rápido e instantâneo estão associados ao tempo e custo de produção da
informação.
Além dos jornais, a televisão também é outro espaço em que o espetáculo é
criado, especialmente na promoção do evento, conforme aponta Lusted (1991, p.
20
251 apud GIULIANOTTI, 2002) quando ressalta que “o papel da mídia em promover
o estrelato e o status de celebridade são centrais para a televisão”. Mas mesmo para
a televisão, Silva (2005) aponta que “não se pode ignorar a presença do sujeitojornalista diante da matéria-prima noticiosa”.
Segundo Aguiar (2008), o esporte pode ser considerado um grande
instrumento de transformação social no mundo globalizado, por ser um fenômeno
cultural internacional.
Neste sentido, a mídia esportiva é um exemplo que torna pessoas até então
desconhecidas em ídolos imediatos, porque nela tudo o que acontece, o nível de
exposição das pessoas, tem grandes proporções. Assim, reforça Giulianotti (2002, p.
155), “as celebridades do futebol reuniram as jovens estrelas em outras indústrias
culturais, principalmente na televisão e na música popular”.
A mídia esportiva também possui alguns traços peculiares, que podem unir
informação ao entretenimento, conforme aponta Messa (2005) quando ressalta duas
características importantes do Jornalismo Esportivo no Brasil, “a primeira é a de que
o jornalismo esportivo é mero entretenimento, e a segunda é que mais de 80% das
temáticas noticiosas e das reportagens especializadas giram em torno de uma única
modalidade desportiva que é o futebol”. Um exemplo disso é o diário esportivo
“Lance!” que está na lista dos 10 jornais mais vendidos do país, e ocasionalmente
apresenta alguma charge sobre um determinado fato esportivo, além do futebol. Já
nos jornais que não são apenas especializados em esportes, o caderno costuma ser
um dos destaques do jornal, inclusive com uma diagramação e layout próprios, que
normalmente são diferentes das demais editorias.
Segundo Amaral (2008), o jornalismo se desloca para o entretenimento
quando o seu objetivo primário não é o de informar o leitor sobre algo. Este sentido
de entretenimento não necessariamente precisa estar aparente, mas ele pode estar
na seleção do fato (escolha da notícia), no enquadramento dado ao fato (forma que
ele será retratado) ou na estrutura da notícia (como a notícia é construída
textualmente).
Bardin
(1977)
comenta
que
o
primeiro
estudo
jornalístico
sobre
sensacionalismo foi realizado no início do século XX, na Universidade de Columbia
nos Estados Unidos, onde estudos quantitativos comparavam o grau de
21
sensacionalismo existente nas publicações feitas em meios rurais e nas similares
que eram produzidas em meios urbanos. Neste sentido, a autora complementa
dizendo que para entender a análise de conteúdo é preciso primeiro compreender a
mensagem descrita por meio da língua, que na definição de Ferdinand Saussure, é
o código pelo qual duas pessoas se comunicam seja de maneira escrita ou falada.
Bardin (1977) reforça que enquanto a linguística se ocupa das formas e
distribuição do conteúdo escrito, a análise de conteúdo se ocupa das significações
da mensagem. Segundo a autora, é a forma com que a palavra é trabalhada que
diferencia a linguística da análise de conteúdo.
Outro fator importante para o jornalista refletir, além do conteúdo escrito, é a
forma com que este profissional vê o seu público. Segundo Amaral (2008, p. 6), “a
imagem que o veículo e os jornalistas têm do seu público é determinante para o
tratamento do fato, seu enquadramento e a estrutura dada à notícia”. Sobre esta
afirmação, Silva (2005, p. 4) comenta que “a seleção, portanto, se estende redação
adentro quando é preciso não apenas escolher, mas hierarquizar”. Esta escolha, e
também a forma que as informações serão hierarquizadas, são definidas por um
conjunto de fatores que levam em consideração a linha editorial, as interferências
dos superiores, o universo cultural que possui o jornalista que escreve a matéria,
entre outros fatores.
Archetti (2010) aponta que é o jornalista quem decide qual fato jornalístico é
relevante para ser incluído ou não na produção da notícia, mas um dos critérios
deve ser o de interesse universal. Por interesse universal pode-se entender como o
fato que terá mais aceitação por parte do público que consumirá a notícia que será
veiculada. Além deste aspecto de decisão sobre o conteúdo, cabe ao jornalista
também escrever um texto atraente que contenha o máximo de informações
relevantes distribuídas de forma clara e criativa dentro do texto (BARBEIRO E
RANGEL, 2006). Uma das informações que pode ser relevante é a memória de fatos
passados relacionados ao tema, o que é comentado por Soares, Helal e Santoro
(2001, p. 3) que afirmam que “a memória de vitórias e derrotas da Seleção Brasileira
“funciona” como um mecanismo de defesa contra a imprevisibilidade do jogo”. Cabe
ressaltar que até o jogo da final da Copa do Mundo, o Brasil tinha jogado contra a
França nove vezes e perdido apenas uma, em 1978, quando os franceses venceram
22
por 1x0 em Paris, com o gol marcado por Platini, em uma partida que Zico
(assistente de Zagallo na Copa) esteve em campo.
Acima das informações relevantes, como os encontros anteriores entre os
times envolvidos está o interesse universal. É por este motivo que é importante
entender que as notícias não são escolhidas aleatoriamente, mas de acordo com
alguns critérios jornalísticos, que são os critérios de noticiabilidade. Sobre este tema,
Amaral (2006 apud TRAQUINA, 2006, p. 3) afirma que os critérios de noticiabilidade
são “o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um
tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia”.
Baseando-se nos critérios de noticiabilidade do Jornalismo, Dutra et al
(2007, p. 21) afirmam que “dessa forma, o jornalismo cumpre o seu papel social de
informar o leitor, seja de que classe ele for, adequando-se através de uma
linguagem concisa e objetiva. Segundo Mário Erbolato (2004) a compreensão de
qualquer matéria é condição indispensável à sua publicação”. Além dos aspectos da
linguagem, os autores ainda lembram que “um grande marco na história do
jornalismo brasileiro foi a adoção, a partir da década de 50, da estrutura narrativa
que recebeu o nome de “pirâmide invertida”” (DUTRA ET AL, 2007, p.19). Além da
pirâmide invertida, os autores também destacam a forma da chamada pirâmide
mista, que retoma os acontecimentos que antecederam a reportagem no segundo
parágrafo para situar o leitor. A forma textual é apenas uma das maneiras que os
meios de comunicação possuem para criar o espetáculo.
3.2 Mídia online e informação
A Copa do Mundo da França foi a primeira Copa (Campeonato Mundial de
Futebol) da era da Internet e com ela houve também a transmissão dos eventos em
tempo real pela rede. Mas Zamora (2004) lembra que a história do Jornalismo
Online começou quando a primeira redação eletrônica foi instalada na Flórida, nos
Estados Unidos, em 1972. Já nesta época, segundo Mielknizuck e Barbosa (2005), o
Jornalismo Online foi definido por seis características: hipertextualidade, interação,
multimídia, customização, memória e atualização permanente. Ainda de acordo com
Mielknizuck e Barbosa (2005), a fase inicial do Jornalismo Online no Brasil se dá a
23
partir de 1995 quando a World Wide Web (www) começa a se expandir com a
liberação do acesso comercial e a operação de provedores, que coincidem com o
lançamento, em 2010, da primeira edição completa de um jornal nacional no país - o
Jornal do Brasil - na versão online.
O advento da Internet acabou criando uma nova área para o Jornalismo, o
ciberjornalismo (ou Comunicação Digital), que mais tarde se expandiria com os
Blogs e as redes sociais disponíveis. Zamora (2004) afirma que o conceito de
periodicidade se contrapõe ao de imediatismo pela busca da informação disponível
na rede do Jornalismo Online. Sobre o imediatismo da informação, muitas vezes
superficial, Jorge (2008, p. 9) complementa dizendo que “no ciberjornalismo a
qualidade
é
identificada
com
a
rapidez
na
transmissão
da
informação,
comprometendo os processos de checagem e apuração”.
Esta busca pela informação com rapidez é comentada por Hatje (2003, p. 3)
que destaca a evolução da tecnologia empregada pela mídia na cobertura dos
eventos. Segundo ela “a cada edição dos Jogos Olímpicos, da Copa do Mundo de
Futebol ou de qualquer outro evento, em nível nacional, os Meios de Comunicação
divulgam e enfatizam o investimento realizado em termos tecnológicos para a
cobertura do evento”. Em anos recentes, o grande investimento das emissoras de
televisão tem sido na tecnologia de High Definition (HD), que permite ao
telespectador assistir ao jogo com som e imagem melhores do que o canal
convencional.
Ao contrário das TVs e das rádios, o conteúdo da Internet é rápido e
instantâneo, e por vezes, os sites acabam colocando notícias que são parecidas ou
iguais entre si porque, segundo Jorge (2008, p. 10), “é nesse aluvião de informações
em tempo real que os conteúdos, pedra de toque do jornalismo de prestígio, caem
na mesmice”. Com isso, uma mesma notícia pode ser reproduzida constantemente
em vários sites ou jornais com uma apuração fraca (dada à pressa em superar a
concorrência), com as mesmas fontes consultadas (que são ouvidas para dar a
mesma declaração).
Esta rapidez na apuração e produção dos fatos é explicada por Karam
(2005, p. 3). Para ele, “o ritmo humano cada vez mais intenso, não é apenas
resultado do processo de informações imediatas e planetárias, mas resultam nelas,
24
que não podem mais voltar a serem apenas informações anuais ou semanais. São
diárias, são de hora em hora, são a cada minuto, a cada segundo”.
O lide convencional, usado no jornal impresso, que segundo Aguiar (2008)
atrai mais a atenção do leitor, na Internet dá lugar a um texto em que esta ordem
não é seguida pelo fato dos textos serem mais curtos e menos aprofundados em
termos de conteúdo. A estes textos curtos Jorge (2008) chama de jornalismo binário,
que tem poucas fontes, não tem essência e carece de ouvir outras versões para o
fato.
Com esta carência de fontes e informações, a notícia está passando a ser
apenas uma forma preliminar de ter conhecimento das notícias dos acontecimentos
do mundo. Assim, Costa (2006, p. 12) nos mostra que “a lógica do discurso da
notícia baseia-se na noção de “transmissão de informações”, sem considerar a
complexidade dos processos vivenciados pelos sujeitos cognoscitivos (o sujeito que
escreve e o que lê) no momento em que eles interagem no processo comunicacional
mediado por esta ferramenta psicológica, a linguagem.”
Costa (2006) ainda ressalta que o leitor experimenta subjetivamente a
notícia em rede digital e ela pode ser assimilada (ou percebida) como significativa ou
não dependendo da leitura que este leitor faz.
Com as redes sociais e os sites especializados, Philippe e Fort (2006, p.
117) apontam que “o futebol não é mais apenas um jogo, um esporte ou uma
competição. Neste nível, é um fenômeno da sociedade. Soldados e policiais de elite
vigiam as equipes; responsáveis pela comunicação e agentes de segurança formam
uma barreira entre o público e o homem”.
Borelli (2001, p. 5) complementa que “nesta perspectiva, pode-se dizer que
um jogo de futebol não é apenas o fato em si (o ato de jogar), mas uma
manifestação cultural, da qual fazem parte não apenas os jogadores, mas o público
que “também “joga”, torce, vibra, reclama, além dos dirigentes esportivos, da
comissão técnica, dos patrocinadores, entre outros.” Com isso, o jogo passa a ter
outros personagens que podem também ser importantes para o desenvolvimento do
jogo, como os torcedores que sofrem pelo resultado, o árbitro que media o jogo e,
por vezes, interfere no resultado, e os jogadores que produzem os lances que serão
25
comentados por torcedores e analisados pelos jornalistas e comentaristas nos vários
meios de comunicações disponíveis.
Com a criação de sites especializados, a Copa do Mundo se tornou um
evento global também na Internet, em que era possível assistir aos jogos ou ter
informações sobre o torneio em tempo real, direto do site da FIFA, que organizava a
competição. Tal facilidade é comentada por Gehringer (2010, p. 389) que aponta
que “o site oficial da Copa do Mundo de 98 na França registraria a visita de 29
milhões de internautas durante o torneio”. Pela televisão, a Copa do Mundo foi
retransmitida em 200 países e 1.750 repórteres e 110 comentaristas de televisão
estiveram presentes ao evento.
Por esta capacidade de propagar emoções em grande escala é que Bartholo
e Soares (2006) citam a televisão e os jornais, além da Internet, como dois meios de
comunicação que possuem grandes audiências com o conteúdo esportivo que é
veiculado.
Segundo Jorge (2008, p. 2) “as empresas investem em tecnologia, não para
o aprimoramento da informação, mas para chegar ao consumidor antes do
concorrente e dar informação em quantidade”. Assim, Zamora (2004) afirma que
hoje o jornalista já não é apenas um transmissor do conhecimento mas também um
intermediário do processo de comunicação. A autora ainda complementa afirmando
que o trabalho do jornalista será organizar, fazer conteúdos personalizados e
apresentar para públicos específicos, de acordo com os interesses e necessidades
de informação das pessoas que compõem estes diferentes grupos sociais, porque
as pessoas não dispõem de tempo ou formação suficientes para interpretar a
informação que recebem.
Silva Júnior (2000 apud BARBOSA, 2004) aponta três diferenças entre um
jornal online para um similar impresso: A primeira é a existência de serviços
paralelos ao informativo, a segunda é a ligação deste site com outros que podem
trazer informações complementares e a terceira é a convergência do serviço de
provedor de acesso com aquele que disponibiliza os conteúdos.
Jorge e Pereira (2009, p. 3) destacam o que diz um dirigente do Grupo Folha
de que o jornalista deve ter algumas características consideradas gerais para
trabalhar com a Internet tais como: “boa formação cultural, bom texto, domínio
26
excelente do português escrito, uma língua, de preferência o inglês”. Além destas
qualidades gerais, o Grupo Folha considera como sendo desejáveis algumas
características específicas tais como: “que [o profissional] não tenha preconceito
nem dificuldade com a internet, nem com equipamentos e softwares novos. Que
tenha curiosidade para aprender, enfrentar as novas tecnologias e gadgets. Não
pode ser estranho a nenhuma tecnologia”.
A história de Ronaldo ganha destaque quando ele disputa a primeira final de
Copa do Mundo de fato desde que se tornou figura constante nas convocações da
Seleção Brasileira na condição de titular, sendo apontado como o ‘Melhor Jogador
do Mundo pela FIFA’, entidade máxima do futebol, nos dois anos antes do Mundial
de 98 realizado na França. Ele é até hoje o jogador mais jovem a conseguir o prêmio
por dois anos seguidos.
A Copa do Mundo é, entre os eventos esportivos globais que continuam em
disputa, um dos mais importantes, ao lado das Olimpíadas (que reúne todos os
esportes que são autorizados pelo COI - Comitê Olímpico Internacional - a fazerem
parte do calendário do evento naquela edição), por atrair uma audiência estimada
em milhões de espectadores que a assistem tanto presencialmente nos estádios do
local onde ela se realiza, quanto pela televisão, seja na TV aberta ou fechada, ou
ainda, mais recentemente, pelos sites especializados em esportes que estão
disponíveis na Internet, como o Globoesporte.com, também da Rede Globo, além de
outros que sejam de empresas independentes de emissoras de TV ou rádio mas
estejam ligados a grandes empresas, como são o caso dos portais Terra e UOL, que
transmitem os eventos com narrações em tempo real.
Em alguns casos, como o Portal Terra, ainda é possível assistir aos jogos
como se fosse uma transmissão televisiva. O site faz uso deste expediente ao
transmitir alguns jogos dos principais campeonatos europeus além de outros
esportes que ocasionalmente são passados pelo canal Esporte Interativo (associado
à TV Bandeirantes) e são retransmitidos via internet pelo Portal Terra.
Outro site que faz a transmissão de alguns eventos, mas sem imagem
disponível (apenas com a narração escrita) é o Portal UOL, que transmite boa parte
dos campeonatos estaduais do Brasil além de outros eventos como as corridas de
Fórmula 1.
27
Além dos portais disponíveis na Internet, as revistas especializadas
costumam fazer edições especiais temáticas sobre a cobertura dos eventos
esportivos, que oferecem ao público uma informação mais detalhada que nem
sempre pode ser encontrada na Internet.
Além da Internet, Filho (2004, p. 246) destaca que “a televisão e os
conglomerados financeiros que estão entrando com força total na compra de clubes
e de campeonatos vão transformar o futebol, pela sua força gigantesca, no grande
negócio do milênio. Afinal, só o esporte tem a força de se renovar sempre. Criar em
um curto espaço de tempo novas estrelas, daí a sua força, que começa a atrair os
grandes capitais”.
Assim, com o surgimento e difusão da Internet como um meio aceito para se
buscar a informação, o jornalismo de uma forma geral tem passado por algumas
transformações, com alguns jornalistas mais experientes chegando a afirmar que a
reportagem (texto apurado com os fatos encontrados nas ruas ou do contato com
outras pessoas) deu lugar, segundo Pena (2005), a “recortagem” (que é o texto feito
pelo jornalista com base naquilo que ele lê na Internet e “recorta” editando para uso
próprio). Já para Carauta (2009), o jornalista deve estar capacitado para trazer uma
informação que seja rápida que ao mesmo tempo tenha profundidade no seu
conteúdo que será passado, preservando os limites entre informação e
entretenimento.
Mesmo que esta “recortagem” esteja presente no cotidiano de muitos
jornalistas, ainda cabe ao profissional a função de produzir ou escrever o texto
porque segundo Silveira (2009, p. 48) “para escrever sobre cada assunto específico
é necessário ter um bom conhecimento”.
Com a afirmação das rivalidades clubísticas e o acesso do público brasileiro
aos times estrangeiros (que alguns chegam a torcer por um time do exterior na
mesma proporção que o fazem com o time brasileiro), estão se criando a
segmentação de mercado e também diversas “subáreas” de especialização dentro
do Jornalismo Esportivo. Esta subespecialização é apontada por Silveira (2009, p.
48) como uma necessidade do público em ter uma notícia personalizada, de acordo
com o seu interesse, porque, segundo a autora, “o público deseja uma produção
personalizada, criando o crescimento da segmentação de mercado”.
28
Esta segmentação pode ser exemplificada com as publicações como a
extinta revista Trivela, que tinha uma ampla cobertura do futebol europeu, a revista
Lance!A+ (suplemento do Lance! que conta alguns bastidores do esporte) e o
especial “Guia dos Europeus”, lançado anualmente pela revista Placar, para trazer
informações sobre os principais campeonatos da Europa. Squarisi e Salvador (2010,
p. 60) explicam que as edições especiais existem porque “algumas notícias, pela
importância, dimensão ou impacto, requerem tratamento especial”.
Baseado nesta segmentação, Silveira (2009, p. 49) conclui que “o jornalismo
especializado possui então duas missões. A primeira delas é orientar o indivíduo
perdido no meio de tantas informações que circulam no meio da sociedade atual por
meio das mais variadas fontes. A segunda é a função de coesão social ao agregar
indivíduos conforme suas afinidades ao invés de tentar nivelar a sociedade em torno
de um padrão médio de interesses que jamais atenderia à especificidade de cada
grupo”. A autora complementa que “o trabalho do jornalista é justamente levar a
informação específica para quem não é da área, mas, sem, entretanto, tornar
maçante para quem já possui conhecimento do ramo” (SILVEIRA, 2009, p. 53).
Para Amaral (2008, p. 3), “a segmentação do mercado explica a variação
das pautas, dos enfoques e da linguagem, mas não deveria explicar a variação da
qualidade da informação”, por isso, o leitor pode ter acesso à mesma informação
tanto em um site especializado em esportes quanto em um site de generalidades,
que também trata de esportes, a diferença mínima entre eles é que o site
especializado terá algumas informações específicas que o site de generalidades não
tem por falta de aprofundamento na temática.
O jornalismo online, mais até do que o jornalismo impresso ou televisivo,
prima pela rapidez ou instantaneidade da informação, o que acaba por vezes
comprometendo a checagem da mesma ou até distorcendo algumas declarações
pela pressa do jornalista em “furar” o concorrente. Um exemplo desta avidez por
superar o concorrente é mostrado por Coelho (2004, p. 73) quando lembra que “em
entrevista ao Lance!, o goleiro (Rogério Ceni) declarava estar no grupo dos
melhores goleiros do país. Não dizia com todas as letras que era o melhor, mas um
deles. E a manchete foi, sem aspas: Eu sou o melhor. Rogério Ceni criou um grande
problema com a direção do jornal. Ameaçou processar o diário e só não o fez
29
porque o diário cumpriu a promessa de publicar uma carta de retratação no mesmo
espaço dedicado à matéria do dia anterior. O comprometimento nesse caso foi para
o jornal. Mas também para o repórter que queimou o pequeno relacionamento, que
já havia conseguido manter com a sua fonte". Tal opinião é endossada por Faria e
Herman (2009), que fazem menção ao autor citado anteriormente.
Outro exemplo da falta de apuração com rápida resposta do ofendido
envolvendo Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, ocorreu quando a jornalista do
SporTV Milly Lacombe relembrou o caso da suposta proposta do Arsenal da
Inglaterra feita ao goleiro e insinuou que na época ele teria forjado a assinatura para
assinar com o clube inglês. Rogério telefonou para a produção da emissora e obteve
autorização para dar uma resposta ao vivo em que criticou a jornalista pela falta de
responsabilidade ao apurar a informação.
Este caso mostra o que é dito por Lopes (2009) como sendo importante para
conhecer a identidade profissional do jornalista, prestando atenção no seu modo de
agir e como é a sua rotina de trabalho. Mesmo assim, é importante saber que,
conforme afirma Silveira (2009, p. 72),
“uma notícia pode também nascer a partir de um rumor, ou seja, de
um momento que não pareça informativo. Uma conversa informal
entre dirigentes, uma palavra que o funcionário deixa escapar. O
importante, entretanto, antes de publicar, é checar a informação”.
Este preceito jornalístico é citado por Giulianotti (2002) quando ressalta que
tanto o jogador de futebol, que é objeto da matéria, quanto o jornalista que a escreve
devem manter uma relação mútua de confiança para solidificar a reputação
profissional. Segundo o autor, o jogador terá problemas se brigar com técnicos, com
outros jogadores, com torcedores ou agentes por meio da mídia que atinge estes
públicos, mas, por outro lado, o jornalista também pode ter alguns problemas se não
conseguir o acesso às fontes primárias antes dos concorrentes.
Também para chegar à frente dos concorrentes, os jornais, não só os
impressos, mas de alguma forma também os eletrônicos, fazem uso das técnicas do
lide e da pirâmide invertida conforme aponta Aguiar (2008), que comenta que a
técnica foi logo apropriada também pelos jornais sensacionalistas.
30
A pressa em dar a notícia antes dos concorrentes é comentada por Coelho
(2004 apud Unzelte, 2009) em que a crítica em relação à Internet é a velocidade
com que as informações são colocadas em detrimento da precisão e da apuração do
fato que está sendo noticiado. Segundo Unzelte (2009), esta pressa que leva o
jornalista a não checar a informação passada leva à publicação de várias notícias
erradas, que são imediatamente corrigidas com uma notícia proporcional escrita com
a palavra “errata” (ou correção, dependendo do veículo) na frente da manchete da
notícia que havia sido publicada anteriormente.
Apesar da instantaneidade e da rapidez da informação, da Internet, Unzelte
(2009) aponta que alguns sites estão preferindo enriquecer o conteúdo da
informação passada com textos de colunistas ou até mesmo com reportagens
especiais.
O fato noticiado também pode não ser nada aparentemente importante,
como por exemplo, a matéria em que o meia francês Djorkaeff fala, entre outras
coisas relacionadas à Copa do Mundo, da admiração que tinha por Ronaldo, seu
companheiro na Internazionale de Milão da Itália. A estes fatos considerados “menos
importantes”, Silveira (2009, p. 70) destaca que “o jornalista tem que saber contar
uma boa história, priorizar a informação, encadeá-las de forma a ficar atraente para
o leitor. Com certeza uma boa matéria é muito mais lembrada pelo leitor do que o
“furo” – ser o primeiro a transmitir a notícia”. No caso, a matéria em que Djorkaeff
fala sobre Ronaldo foi escrita em um veículo impresso (a revista Placar) e também
em outro online (o portal People’s Daily Online – do jornal chinês China Daily). Por
isso, Silveira (2009, p. 77) afirma que “se escrever para a Internet é diferente de
fazê-lo para o impresso, o profissional de cada meio também precisa estar
preparado para tal”. Neste sentido, escrever um texto em um Blog (que tem em
média 19.000 caracteres) é diferente de escrever o mesmo texto em um perfil do
Twitter, que tem 140 caracteres, ou mesmo um texto para o jornal impresso, que tem
um espaço definido de acordo com o tamanho da matéria ou espaço que o editor
define para ela. Squarisi e Salvador (2010) apontam que o formato adotado pelo
Twitter, de, no máximo 140 toques (ou caracteres), é ideal para que o leitor não se
perca no meio de tanta informação e torne o texto mais claro e simples com palavras
curtas e frases enxutas.
31
Porém, além do tamanho destinado à matéria, está a competência do
jornalista em contar boas histórias porque segundo Squarisi e Salvador (2010) o
jornalista escreve para pessoas com variados níveis de escolaridade e, portanto,
com um variado repertório cultural ou acesso à informação.
Este acesso à informação tem mudado a forma de se apresentar com o
advento da Internet, especialmente porque, segundo Araújo (2010), as pessoas já
não necessitam mais ler o jornal impresso porque ele também está disponível na
Internet, onde as informações são atualizadas em uma velocidade maior do que a do
meio impresso, o que facilita o acesso dos torcedores às informações que eles
desejam para que saibam mais sobre os seus ídolos e os fatos que mais lhe
interessam. A autora complementa dizendo que para competir com a Internet, os
jornais impressos têm adotado um projeto gráfico de leitura mais dinâmico,
semelhante ao conteúdo disponível na rede online.
Os presidentes dos clubes, como Sergio Cragnotti era da Lazio em 98, por
serem pessoas que ocupam cargos importantes na tomada de decisão dos clubes,
são considerados boas fontes para uma eventual matéria. Mas, além das pessoas,
Unzelte (2009) aponta que as fontes jornalísticas podem também ser livros, revistas,
filmes e documentos. O autor ainda destaca que no meio esportivo as pessoas que
podem ser consideradas fontes são os atletas, treinadores, dirigentes, torcedores e
até os empresários ou procuradores.
Unzelte (2009, p. 106) destaca que “quem escolhe o esporte para trabalhar
já sabe, de antemão, que não encontrará facilidade nos acesso as fontes. Em geral,
elas são celebridades ou, mesmo que não sejam, costumam agir como tal”. O autor
ainda cita o exemplo da revista Placar, que publicou uma matéria na véspera da
Copa de 98 na França, na qual Ronaldo foi flagrado em uma balada antes do
torneio. Como represália o jogador, que era uma das principais estrelas do torneio,
passou a Copa inteira sem falar com os repórteres da revista Placar.
Uma matéria desta natureza é uma opção de apelo e linguagem utilizada
pelos repórteres, mas nem sempre produzem o efeito desejado, apesar de ser um
recurso aceito pela mídia e em especial, pelo jornalismo sensacionalista.
32
3.3 Mídia e Sensacionalismo
Para Angrimani Sobrinho (1995), o jornalismo sensacionalista parece ser
praticado desde os primórdios da atividade. Na França, desde o século XVI
aparecem os primeiros jornais sensacionalistas. Nos Estados Unidos da América,
desde 1690 é notada a presença de jornalismo desse tipo. Contudo, foi no final do
século XIX que surgem dois jornais do gênero que moldaram esse estilo de
jornalismo: o ‘New York World’, editado por Joseph Pulitzer e o ‘Morning Journal’ de
William Randolph Hearst. Cabe lembrar que o termo ‘imprensa amarela’ vem dessa
época e se caracterizava por: manchetes escandalosas com frequentes distorções e
falsidades sobre os fatos; uso abusivo de ilustrações, muitas inadequadas ou
mesmo inventadas; a presença da pseudociência, com fraudes, falsas entrevistas e
histórias. Também, esse tipo de jornalismo apresenta frequentes invasões de
privacidade principalmente das pessoas famosas.
No Brasil, o termo utilizado para veículos que utilizam do expediente do
sensacionalismo é chamado de ‘imprensa marrom’, muito provavelmente com
inspiração do termo francês utilizado por Gaëtan Delmar em 1841 (Angrimani
Sobrinho, 1995).
A partir da Constituição Federal de 1988, no início da década de 1990, a
mídia brasileira passou a discutir o jornalismo moderno e esbarrou no desafio de
romper com práticas sensacionalistas para adotar um estilo crítico de trabalhar a
informação e de construir um editorial mais sensível aos problemas sociais e de
interesses da população.
Para Angrimani Sobrinho (1995, pg 14), se um veículo jornalístico é taxado de
sensacionalista, “ele é confundido não só com qualificativos editoriais como audácia,
irreverência, questionamento, mas também com imprecisão, erro na apuração,
deturpação, editorial agressivo - que são acontecimentos isolados e que podem
ocorrer dentro de um jornal informativo comum...”
Pedroso (2001) estabelece as principais normas definidoras do modo
sensacionalista na construção das matérias e também nas publicações dos jornais
diários. Para a autora, a maioria dos veículos que utiliza esse recurso, valoriza a
33
emoção, em detrimento à informação, exploram o extraordinário e em determinados
casos e até o vulgar para vender uma ideia que na prática pode nem existir, e que
pode não passar de um exagero verbal. Outra característica destacada é a
valorização de fatos insignificantes e também a invenção de palavras ou fatos para
dar mais ênfase a notícia. É o que se chama de ‘cascata’, ou seja, criação de uma
matéria para preencher um espaço em branco do jornal.
Para Angrimani Sobrinho (1995), Rausch (2010) e Marcondes Filho (1986), o
sensacionalismo caracteriza-se como o grau mais radical da mercantilização da
informação. Além disso, escândalos, sexo e sangue fazem o conteúdo dessa
imprensa. Tudo que se vende é aparência.
Uma característica da Mídia Sensacionalista é a presença de um trabalho
ficcional, inclusive com a pseudociência, com forma de matérias de fundo científico e
apresentação alegórica de um dado acontecimento. Trata-se de um efeito
pirotécnico de algum acontecimento. Para o leitor fica a sensação de que existe um
certo exagero, mas que o fato aconteceu mesmo (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995).
Pedroso (2001) elenca alguns pontos essenciais na produção do discurso de
informação
sensacionalista
e
estabelece
regras
na
definição
da
prática
sensacionalista de produção da informação no jornalismo, a saber: intensificação,
exagero e heterogeneidade gráfica; ambivalência linguístico-semântica, que produz
o efeito de informar por meio da não identificação imediata da mensagem;
exploração do extraordinário e do vulgar, de modo espetacular e desproporcional;
adequação discursiva ao status semiótico das classes sociais e culturais do público
a ser atingido; destaque de elementos insignificantes, ambíguos, supérfluos;
subtração de elementos importantes e acréscimo de palavras ou fatos; valorização
de conteúdo isolado, com pouca possibilidade de desdobramento em edições
subsequentes e sem contextualização política, econômica, social e cultural;
discursividade repetitiva, fechada ou centrada em si mesma; e produção discursiva
trágica, violenta, fantástica.
Portanto, o sensacionalismo é tornar um fato jornalístico sensacional, o que
em outras circunstâncias editoriais não receberia o mesmo tratamento. Em outros
termos, utiliza-se com um tom espalhafatoso e escandaloso, um determinado fato ou
informação. Algumas vezes, contudo, a produção jornalística sensacionalista
34
extrapola o real ao superdimensionar a notícia. Esbarra, outras vezes, em um
exercício de ficção. Assim, a produção sensacionalista tem uma edição não
convencional, pois é escandaloso e espetacularizada.
3.3.1 Sensacionalismo e o futebol
Por serem figuras de destaque na sociedade, a vida pessoal dos esportistas
de alto nível também pode acabar sendo notícia para uma parte da imprensa, o que
é explicado por Coelho (2004, p. 116) quando ele ressalta que “nem sempre a
notícia está dentro dos campos, quadras e pistas”. Assim, uma simples viagem de
férias dos jogadores pode ser uma notícia interessante para ser publicada pelos
veículos especializados neste assunto, como ocorreu com Edmundo que foi
fotografado pela revista Caras em uma viagem de férias na Disney.
Este exemplo mostra que mesmo na intimidade as personalidades são
seguidas pela imprensa especializada e desperta o desejo das pessoas em
conseguirem alcançar aquilo que estas figuras alcançaram com o próprio esforço do
trabalho que desempenham.
O fato da maioria dos jogadores serem de origem humilde é comentado por
Borelli (2001, p. 10) ao afirmar que “a característica mais explorada pela mídia é o
fato do jogador ter sido pobre, ser um sonhador, um lutador e alguém que
conquistou o que almejava – deixar de ser pobre e ser um vencedor, o que gera a
identificação entre indivíduos comuns e ídolos”.
A figura do ídolo que é encarregado de ser a estrela do time é retomada por
Lemos (2002, p. 15), quando reforça que o jovem astro brasileiro era a esperança
dos torcedores de conquistar a Copa, assim, “[...] Ronaldinho torna-se o centro das
atenções e das expectativas. Passa a ser do jovem fenômeno a tarefa de trazer a
taça para o Brasil. Todos os seus movimentos são notícia, sejam eles profissionais
ou privados”. Após a final perdida para os franceses, Ronaldo chegou a dizer que
sentia como se o país inteiro dependesse dele.
Este fato, da pressão que Ronaldo sentia por parte dos torcedores, é
comentado por Amaral (2006, p. 2) ao afirmar que “a Copa do Mundo é um momento
35
em que os brasileiros vivem intensamente, durante um mês, seu lado de
torcedor/patriota”.
Apesar da derrota na final, até aquele ponto Ronaldo era tratado como uma
das estrelas do torneio, ao lado do argentino Batistuta, do italiano Vieri e do croata
Suker, sendo o principal artilheiro brasileiro. A imprensa brasileira passou a exaltar a
capacidade de fazer gols do atacante durante o torneio, especialmente após a vitória
diante do Chile nas oitavas de final, e a prova deste status adquirido é o uso de
adjetivos como “Matador” ou “goleador”, como destaca Barcellos (2007), associado
ao nome de Ronaldo para fazer referência a ele. Segundo Philippe e Fort (2006, p.
110), Ronaldo é “um dos raros esportistas que atrai a multidão apenas com a sua
presença”.
Isso levou Carlin (2006) a afirmar que os torcedores passam uma pequena
parcela de suas vidas assistindo a jogos de futebol, mas passam muito mais tempo
falando do esporte que permite unir pessoas e povos de uma forma fraternal como
nenhum outro esporte é capaz de fazer. Este aspecto de união de povos diferentes,
ou de entretenimento em relação a uma partida de futebol, é comentado por Costa
(2010) quando cita que alguns veículos do meio esportivo como o diário Lance!,
fazem uso do entretenimento para informar os leitores sobre as notícias esportivas.
Sobre este uso do entretenimento para informar, Bezerra (2008, p. 66) afirma que “o
futebol é hoje um produto cultural, uma mercadoria de consumo. Para isso precisa
espetacularizar suas informações”. Segundo a autora, no mundo espetacularizado o
que vale mais são as aparências e o possível retorno financeiro que elas podem
trazer ao veículo e com isso as informações passam a ficar em segundo plano.
Se baseando no sentido do futebol visto como um objeto de entretenimento,
Bourdieu (1997 apud BORELLI, 2001, p. 6) fala que “o espetáculo é produzido duas
vezes: primeiro, no local e no instante do fato, por todo conjunto envolvido (atletas,
comissão técnica, juízes, organizadores, etc) na competição; segundo, por aqueles
que transformam as imagens em discursos desse espetáculo.” Neste sentido, os
jogadores ganham cada vez mais espaço como produtores do espetáculo, que é o
jogo de futebol.
O esporte, mesmo em alto nível, pode ser visto como uma forma de
entretenimento, conforme aponta Marin (2003, p. 12) ao afirmar que “a
36
espetacularização do esporte, assim como dos outros campos sociais (política,
religião, educação), converteu-o em ramo da indústria do entretenimento,cujo
objetivo é a maximização do lucro pela conquista das audiências. Cabe destacar
que, dado o caráter lúdico atrelado às competições esportivas, elas passaram
rapidamente a espetáculo. E não se é de estranhar, portanto, que todos os atletas
bem como suas vidas se tornem tema para entreter”. Sanfelice (2001, p. 3)
complementa a afirmação anterior ao dizer que “o espetáculo esportivo procura
causar impacto, emoções, sentimentos e sensibilidade, fazendo-nos rir, chorar ou
exaltar. O espetáculo esportivo que não mexer com nossas emoções, assim deixa
de ser”. É por isso que quando o Brasil vence é mostrada a festa feita nas ruas ao
passo que quando a seleção perde é retratado o choro dos torcedores nas
arquibancadas do estádio e o desabafo daqueles que apenas assistiram ao jogo
pela TV ou por um dos vários telões que são colocados especialmente para esta
ocasião.
Além da televisão, os torcedores ultimamente podem consumir as notícias
esportivas por meio de revistas especializadas e até mesmo nas editorias dos
grandes jornais. Esta variedade de opções de formas para se informar levou Faria e
Herman (2009) a constatarem que a seção de esportes é um dos espaços mais
procurados pelo leitor, além disso, os programas de televisão com esta temática são
considerados “campeões de audiência”, com elevadas cotas de propaganda e um
marketing bem elaborado para satisfazer a necessidade dos clientes.
Sobre este papel da televisão relacionada ao esporte, Pires (2006, p. 5)
aponta que “atualmente, o esporte parece ser o parceiro preferencial da
espetacularização na mídia televisiva porque oferece, em contrapartida, o show já
pronto. O cenário, o roteiro, os atores, os espectadores e até os (tele)consumidores
estão antecipadamente garantidos, o que facilita a sua transformação em produto
facilmente comercializado/consumido em escala global”. Assim, mesmo com uma
partida de futebol disponível na Internet, alguns torcedores ainda preferem
acompanhá-la pela televisão, para que possam “vivenciar” o espetáculo que os
lances proporcionam assistindo-os com som e imagem.
Com a crescente exposição dos jogadores consagrados, cada vez mais os
times desejam ter pelo menos um jogador que pode ser considerado midiático, para
37
atrair os holofotes e investimentos para o time. O jogador considerado midiático, na
definição de Carlin (2006), é aquele que tem um grande apelo para a mídia pela
fama conquistada, além de ser talentoso com a bola nos pés. Neste grupo de
jogadores midiáticos, é possível incluir os nomes de astros como Beckham, Zidane e
Ronaldo, que chegaram a atuar juntos pelo Real Madrid da Espanha. Por sinal, o
time espanhol mantém a tradição de ter grandes estrelas do futebol alinhadas no
time principal desde os anos 50, mas foi nos anos 80, com os altos investimentos,
que as estrelas começaram a se tornar cada vez mais conhecidas. Pires (2006)
destaca que a inclusão de patrocínio (publicidade) nos uniformes se deu pela
exposição que a televisão passou a dar incluindo os jogos, e também outros
esportes, na programação televisiva. Com estes patrocínios, foi possível ter mais
retorno financeiro para trazer estrelas mundiais de outros continentes para os
grandes clubes da Europa. Estas estrelas consagradas fazem o esporte ser
consideradas um produto a ser comercializado com um alto valor financeiro, por isso
Pires (2006, p. 6) destaca a importância da televisão neste processo ao afirmar que
“vencido o momento inicial de adaptação do esporte à sua versão espetacularizada,
o esporte torna-se agora a própria mercadoria a ser negociada, através da venda
dos direitos de transmissão”.
Foi por meio das transmissões televisivas que o torcedor brasileiro passou a
ter um contato mais próximo com os principais campeonatos da Europa no final dos
anos 80. Um dos primeiros campeonatos europeus a ser retransmitido para o Brasil
foi o da Itália, que no final dos anos 80 contava com os brasileiros Dunga (então
atuando pela Fiorentina), Müller (que jogava pelo Torino) e a dupla Alemão e
Careca, que ajudou o Napoli a se sagrar campeão nacional.
Com uma destacada participação em um campeonato disputado, o quarteto
acabaria sendo convocado para disputar a Copa do Mundo de 90 na Itália. Dos
quatro, Dunga seria o único a permanecer até a Copa de 98, que seria disputada na
França, enquanto que Müller esteve no Mundial seguinte, em 94 nos Estados
Unidos, mas ficou na reserva durante toda a participação brasileira no torneio. Na
final da Copa do Mundo da França entre o atual campeão Brasil e os anfitriões
franceses estavam em campo sete jogadores da França e quatro do Brasil que
atuavam em clubes do disputado Campeonato Italiano. Além disso, outros quatro
38
jogadores franceses e três brasileiros também já defenderam clubes da Itália em
anos anteriores ao Mundial de 98, que reunia estrelas que estavam passando a
ganhar salários cada vez mais altos e deveriam proporcionar um grande espetáculo
aos torcedores.
A Copa do Mundo deveria representar a época em que os jogadores
deveriam estar no auge de seu desempenho esportivo, mas não é o que acontece
atualmente, pois muitos atuam na Europa que tem um calendário desgastante que
vai de agosto do ano anterior até maio do ano seguinte, com uma média total de
mais de 60 jogos defendendo os clubes em que atuam por lá. Além disso, existem
os torneios envolvendo as seleções nacionais que vão desde as competições oficiais
(como a Copa América que em 97, ano anterior a Copa do Mundo, foi realizada na
Bolívia e reunia as seleções sul-americanas) até os torneios amistosos (como o
Torneio da França, preparatório para a Copa do Mundo, realizado também em 97,
que foi disputado por Brasil, França, Itália e Inglaterra). Ronaldo teve participação
destacada em ambos os torneios e com isso foi eleito mais uma vez o Melhor
Jogador do Mundo pela FIFA em 97, repetindo o feito alcançado no ano anterior e se
tornando o jogador mais jovem até hoje a receber o prêmio por dois anos
consecutivos. Este fato de ser premiado por dois anos seguidos o tornou ainda mais
valorizado, tanto que foi vendido do Barcelona para a Internazionale por 32 milhões
de dólares.
Ao comentar sobre as cifras da Copa do Mundo, Carrano (2000, p. 96)
aponta que “a Copa do Mundo de Futebol é um espetáculo de massa, que
movimenta números astronômicos em público e dinheiro”. Segundo o autor, um
exemplo da mundialização que promove o futebol atualmente, é o fato de torcedores
do mundo todo “adotarem” um dos grandes clubes europeus para torcer, por se
identificarem com os jogadores que nele atuam, o que segundo Escher e Reis
(2008) ocorre pelo fato dos principais jogos dos campeonatos europeus serem
televisionados enquanto que as partidas de times considerados “menores” no Brasil
não o são.
Escher e Reis (2008) ainda apontam que atualmente jogadores de vários
países do mundo jogam por equipes que não são dos países em que nasceram,
especialmente na Europa. Pode-se citar o exemplo de Ronaldo, que passou por
39
PSV Eindhoven da Holanda, Barcelona e Real Madrid da Espanha e Internazionale
e Milan da Itália, atuando ao lado de vários jogadores estrangeiros que não
necessariamente eram nascidos na Holanda, Espanha ou Itália.
Um exemplo desta falta de identidade cultural dos times europeus foi visto
na final da extinta Copa da UEFA de 98 em Paris, a poucos dias da Copa do Mundo,
em que as equipes italianas da Inter de Milão (time de Ronaldo) e da Lazio tinham
vários estrangeiros, tanto que neste jogo o time milanês atuou com oito jogadores
que não eram nascidos na Itália e a equipe romana (a Lazio) tinha somente três
jogadores estrangeiros, além do técnico da equipe que era o sueco Sven Göran
Eriksson. Este fato de ter vários jogadores estrangeiros faz com que as principais
equipes da Europa sejam “bem aceitas” em outros países, por terem jogadores
considerados ídolos mundiais, como Ronaldinho, alinhados em suas equipes.
Sobre o fato de Ronaldo ter se tornado um ídolo mundial, Carrano (2000, p.
98) observa que “na fase da globalização do futebol, Ronaldinho é, sem dúvida, um
marco, seja pelo seu valor como mercadoria ou mesmo por sua importância como
imagem e signo para milhões de torcedores, em todos os cantos do mundo”.
Mas o autor ressalta que é preciso ir além da questão do ídolo global,
destacando Ronaldo como um exemplo de comportamento ético e modelo de
ascensão social para várias gerações, especialmente de crianças e adolescentes,
que o têm como referencial positivo para elas. Segundo o autor, um dos pontos que
facilitam a identificação dele com os garotos dos subúrbios brasileiros é a origem
humilde do jogador, que teve que superar vários obstáculos, como o aspecto físico e
o fato de jogar por um time menor, para chegar ao Cruzeiro em Minas Gerais, clube
que o projetou nacionalmente ao futebol brasileiro, e posteriormente brilhar nos
campos da Europa. O primeiro clube que o jovem craque brilhou em solo europeu foi
o PSV Eindhoven da Holanda, um time considerado médio apesar de já ter
conquistado um título da disputada Liga dos Campeões, em seguida veio o
Barcelona da Espanha (time que ele defendeu apenas por uma temporada), até
chegar à Internazionale da Itália e à titularidade com a camisa da Seleção Brasileira
na Copa do Mundo de 1998, a primeira que disputou usando a camisa nove, que o
consagraria como um dos principais artilheiros do futebol mundial. Sobre a
40
transferência dos jogadores brasileiros para o futebol europeu, Escher e Reis (2008,
p. 11) afirmam que:
“o próprio treinador da Seleção Brasileira reafirma constantemente
que os jogadores brasileiros se tornam mais “maduros” e mais bem
preparados para competições internacionais se conseguem se
adaptar ao futebol europeu”.
Segundo os autores, esta experiência dos jogadores que atuam no futebol
europeu é importante para uma competição internacional como a Copa América, que
é disputada pelos países sul americanos, ou até mesmo a Copa do Mundo.
No prosseguimento da carreira, nos anos seguintes a Copa de 98 na França,
Ronaldo comprovaria o ídolo que era ao defender duas equipes rivais as que havia
atuado anteriormente, jogando pelo Real Madrid (rival do Barcelona) e depois pelo
Milan (rival da Internazionale). Ao mesmo tempo em que ganhava a simpatia de
torcedores de times rivais na Europa, ele comprovaria a popularidade nacional que
conquistou ao ser idolatrado pela torcida do Corinthians, que é uma das mais
fanáticas do Brasil, e o alçou rapidamente à condição de ídolo no último time que
defendeu profissionalmente.
Para Carrano (2000, p. 104) “Ronaldinho expressa sobremaneira o mito de
ascensão social através do esporte”. O autor ainda destaca que a propaganda
explorada em torno da ascensão social do jogador serve de motivação para que
indivíduos que possuem algum talento ascenderem socialmente.
Sobre esta questão da ascensão social, Silva e Marchi Júnior (2009)
comentam que os meios de comunicação mantêm a possibilidade de criar o
espetáculo por serem partes essenciais na criação de referências esportivas. E, na
Copa de 98, a principal referência esportiva brasileira era Ronaldo, que assumiu o
papel que lhe foi dado de ser o artilheiro e estrela do time naquele torneio, tanto que
foi o artilheiro do Brasil na Copa ao marcar quatro gols.
Baseado neste desempenho esportivo e no desgaste das atividades fora dos
gramados, Lemos (2002, p. 6) aponta “o desgaste dos jogadores, que chegam à
Copa cansados das temporadas internacionais, divididos entre os interesses da
carreira nos clubes e na Seleção, envolvidos em pesados trabalhos de relações
41
públicas.” Agora, muito mais do que jogadores, aqueles que disputam uma Copa do
Mundo são figuras midiáticas que vendem produtos e são constantemente
requisitados para entrevistas por serem ídolos destes eventos internacionais
segundo Pires (2006).
O fato de assumir a responsabilidade de ser a estrela do time, e portanto o
principal ídolo de milhões de brasileiros, afetou também a vida particular de Ronaldo
na ocasião da Copa de 98, conforme afirma Heizer (2001), ao dizer que parte do
stress que abalou o atacante, principal estrela do Brasil, se deve ao abalo físico e
mental pela obrigatoriedade de estar sempre em evidência para gerar retorno aos
patrocinadores que dependiam do investimento feito no principal jogador brasileiro
daquele torneio.
Ainda, Giulianotti (2002) aponta também outro fator que pode ter contribuído
para o abalo mental de Ronaldo, citado anteriormente por Heizer (2001). Segundo
Giulianotti (2002, p. 156) “a vida privada dos craques é monitorada incessantemente
pelos meios de comunicação. Reportagens sobre comportamento exagerado, em
matéria de bebida, briga ou sexo podem manchar as relações de mercado com o
público “de família””.
O fato de Ronaldo estar pressionado pelos patrocinadores a ter sucesso fez
surgir o conflito do atleta de desempenho esportivo daquele que é visto como
mercadoria e produto da sociedade do espetáculo na definição de Debord (1997).
Agora, não apenas o jogo em si ganha contornos mercadológicos e
financeiros, mas os artistas (os jogadores neste caso) que dele fazem parte também
são vistos como objetos que podem ter um maior ou menor potencial econômico que
atenda os interesses das empresas. Isso levou Galeano (2004, p. 208) a afirmar que
“os mais famosos jogadores de futebol são produtos que vendem produtos”.
Neste sentido simbólico, Galeano (2004, p. 210) afirma que “no mundo
atual, tudo o que se move e tudo o que está imóvel transmitem alguma mensagem
comercial”. Debord (1997, p. 30) afirma que “não apenas a relação com a
mercadoria é visível, mas não se consegue ver nada além dela: o mundo que se vê
é o seu mundo”.
Para alcançar o sucesso fora dos gramados, criar a empresa para
administrar a carreira de alguns jogadores brasileiros, Ronaldo teve que primeiro
42
demonstrar um talento diferente dos demais dentro dele, onde foi se valorizando a
cada transferência de um clube para o outro, especialmente enquanto atuou no
milionário futebol europeu.
Hatje (2003 p. 4) comenta que “a sociedade é consumidora do esporte, seja
como torcedora nos estádios e nas quadras ou como espectadora, ouvinte ou leitora
de Meios de Comunicação. O nível de consumo e de investimento depende de cada
indivíduo e/ou de cada grupo. Quanto mais envolvido e apaixonado por esporte,
maior seu envolvimento e seu investimento”. É este investimento a que se refere a
autora que leva os torcedores aos estádios, para assitirem aos jogos, ou às lojas
para comprarem produtos dos clubes ou associado aos jogadores.
A habilidade dos jogadores é premiada com volumosas cifras que são dadas
pelos clubes que disputam cada centavo pelo prazer de ter um craque no time. No
caso de Ronaldo, ele faturava mil dólares por hora, inclusive enquanto dormia,
segundo Galeano (2004).
Neste sentido, o jogador é visto como um produto e, na sociedade do
espetáculo, segundo Debord (1997), a mercadoria contempla para si o mundo que
ela criou.
Botelho (2006) comenta que o futebol globalizado extrapola as fronteiras
nacionais e reforça o imperativo econômico quando nações desenvolvidas e fortes
economicamente, como os Estados Unidos e o Japão, recebem um evento do porte
de uma Copa do Mundo como ocorreu em 1994 para os estado unidenses e em
2002 para os japoneses. As nações economicamente fortes são lembradas por
Unzelte (2009) quando ele afirma que, já nos anos 90, o futebol deixava de ser uma
simples competição para ser um negócio que envolve muito dinheiro, disputa por
poder e até corrupção em alguns casos. Yallop (1998) afirma que esta transição do
futebol “romântico” para o futebol mercadológico se deu quando o brasileiro João
Havelange superou o inglês Stanley Rous e se tornou presidente da FIFA, na
disputada eleição ocorrida em 1974, às vésperas da Copa do Mundo que seria
realizada na Alemanha.
Carrano (2000, p. 107) afirma que “a imagem das estrelas é construída em
mercados culturais mundiais. Os símbolos e as finanças assumem formas e
conteúdos que se relacionam com as modernas tecnologias de comércio,
43
propaganda, informação e multimídia”. Este autor cita o exemplo de Sergio
Cragnotti, então presidente da Lazio da Itália, que consultou a Bolsa de Londres
para saber se o retorno do possível investimento que seria feito para contratar
Ronaldo, quando ele defendia o Barcelona, era bom. Mas o alto valor pedido pelo
clube espanhol acabou desfazendo o negócio. No entanto, algum tempo depois,
Ronaldo realmente iria para a Itália, mas para defender a Internazionale presidida
por Massimo Moratti, que acompanhava o desempenho do atacante brasileiro desde
quando ele passou a ficar em evidência pelo PSV da Holanda.
Filho (2004) aponta que devido ao contrato existente com patrocinadora da
equipe, a Nike, “a Seleção Brasileira também virou produto de consumo popular” (p.
246). Com isso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recebe altas cotas por
jogos amistosos contra algumas seleções pouco expressivas tecnicamente, no
sentido futebolístico, especialmente quando atua na Ásia ou na África. Além de ser a
fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira, a Nike patrocinava também
a Internazionale de Milão, time pelo qual Ronaldo atuava na época em que disputou
a Copa do Mundo da França em 98.
Mas o simples fato de a Seleção Brasileira estar em campo, mesmo que seja
em um amistoso sem uma importância aparente, é comentado por Bitencourt (2009)
como sendo também um exemplo de representação nacional, ou ainda, da
afirmação da identidade nacional.
O mesmo autor ainda de hoje os jogadores são considerados mais
“estrangeiros”, por atuarem na Europa, mas que quando eles vestem a camisa
amarela da seleção o torcedor encarna a frase de Nelson Rodrigues e a pátria (os
torcedores brasileiros) “usa chuteiras”, para remeter ao torcedor que sofre ou vibra
com as jogadas e os resultados alcançados pelo Brasil, especialmente na época em
que a Copa do Mundo é disputada. Já Damo (2006, p. 15) destaca que “a magia da
seleção não é natural, mas culturalmente constituída, exigindo um processo de
mediação. No presente, esse papel compete, principalmente, aos profissionais da
mídia, uma espécie de mediadores especializados”.
44
4. Metodologia
Para a consecução dos objetivos propostos é feita uma revisão bibliográfica
com a conceituação de termos e contextualização da evolução histórica do
jornalismo online e do sensacionalismo. A partir da revisão, são estabelecidos
critérios para identificar o jornalismo online e o sensacionalismo em algumas
matérias jornalísticas.
Assim, o caso de estudo, denominado ‘Caso Ronaldo’, será sobre a
convulsão e a indefinição da escalação de Ronaldo na final da Copa de 1998, tendo
como aspecto relevante a construção do ídolo e a relação dele com a mídia na
questão da idolatria, por ser um profissional de uma atividade com grande apelo
popular, que é o futebol, e ainda por cima fazer parte de um grande evento como a
Copa do Mundo, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, que sempre figura como
uma das favoritas para a conquista do torneio.
De fato, a pesquisa bibliográfica encontra em Gil (1991 apud SILVA E
MENEZES, 2001) uma menção sobre a importância de sua aplicação, uma vez que
o autor relata que ela é elaborada a partir de um material já publicado anteriormente.
Com isso, cabe observar que serão destacados e apontados vários
conceitos relacionados à construção ou elaboração da notícia em meio digital
permitindo que seja feita uma análise entre as notícias veiculadas que servirão de
base para este estudo.
A análise será feita com 12 matérias divulgadas na época, sendo quatro de
cada um dos três veículos de comunicação online: Gazzetta dello Sport da Itália, Le
Monde da França e um nacional, a Folha de S. Paulo. Esta análise servirá como
referência tendo como parâmetros principais as fontes consultadas para a
construção de cada notícia, o aspecto formal de linguagem das mesmas e o
contexto que elas foram escritas na época do evento.
Estes veículos foram escolhidos pela disponibilidade de matérias existentes
referentes ao período do objeto de estudo e pela diferenciação entre elas no que se
refere à produção do texto, fontes consultadas, as formas de abordagem, os valoresnotícia, a estrutura do texto, sua forma e conteúdo, bem como possíveis diferenças e
semelhanças que possam auxiliar a análise.
45
A análise dos textos online foi elaborada a partir das tabelas montados para
os três países. A elaboração das tabelas, uma para cada país, tem como propósito
auxiliar na identificação de elementos presentes nas matérias construidas para o
jornal impresso tradicional, o jornal sensacionalista e o jornal online. O conteúdo e a
forma de construção da notícia são os tópicos norteadores das tabelas, mesmo
sabendo que muitos destes elementos se sobrepõem e se confundem nestes três
tipos de jornal.
As tabelas foram construídas observando estruturas principais e elementos
identificados em cada uma das estruturas. Assim, as estruturas forma e conteúdo
fazem surgir elementos como diagramação, diferenciação de letras, existência de
publicidade ou imagens e se existem recursos de internet na forma; e no conteúdo –
temático e linguístico – identificar a presença de título, legenda, dimensão da
matéria, a qualidade da linguagem (simples, coloquial, vulgar), a qualidade do texto
e toda a sua contextualização.
Estes elementos compõem a primeira e segunda colunas das mencionadas
tabelas, e os autores que serviram de referência para melhor identificação destes
elementos e características construtivas da notícia são: Traquina (2004) com os
valores notícia; Mielknizuck e Barbosa (2005) que contribuem com a identificação de
mecanismo do jornal online; Silva Júnior. (2007) com a definição das características
operacionais das notícias que possam servir ao jornalismo na web; Mielknizuck e
Barbosa (2005) contribuíram para a identificação de elementos
associados à
construção da noticia no que se refere a edições online de jornais diários com
similares impressos; Dutra et al (2007) que realizam um estudo comparativo por
meio de análise verbal e não verbal das matérias de dois jornais e contribui com
peculliaridades do jornalismo popular e do jornalismo tradicional e Marcondes Filho
(1986), Pedroso (2001) e Angrimani Sobrinho (1995) que, além de destacarem a
produção da notícia no contexto histórico e social capitalista, como mercadoria,
apontam elementos e tratamentos na construção da notícia do jornalismo
sensacionalista.
A análise das matérias dos citados jornais e sistematizadas nas tabelas
avaliou a presença dos elementos de jornalismo online e de sensacionalismo no
‘Caso Ronaldo’.
46
5. O ‘Caso Ronaldo’
Por estarem mais expostos ao público, atualmente, os esportistas de
maneira geral e os jogadores de futebol em particular precisam cuidar mais da
imagem e dos valores que transmitem à sociedade, porque são vistos como ícones
globais e como produtos por seus patrocinadores, da mesma forma que os
consagrados atores de cinema de Hollywood, por exemplo.
Lemos (2002, p. 6) cita a entrevista concedida à ela por Josué Canda, do
jornal O Tempo, em que este chega a afirmar que “nenhuma Copa será mais
coberta como antigamente, depois de 98. Mudou tudo porque até então nós não
tínhamos um popstar como o Ronaldinho, que é de Madonna para cima. Na Copa
você não encosta nele. O cara já não fala mais. Está cercado de seguranças, você
tem nitidamente uma assessoria ali, o cara decorou tudo o que tinha que falar,
perdeu a espontaneidade, perdeu o acesso do jornalista à informação, ficou tudo
bloqueado, com uma influência decisiva do patrocinador”.
Assim, os jogadores que dela fizeram parte e se destacaram acabaram por
se tornar ídolos mundiais, disputados por diversas empresas de patrocínios que
queriam ter o nome associado a um jogador de destaque em uma Copa do Mundo,
conforme aponta Heizer (2001).
Até a Copa do Mundo de 1998, Ronaldo vinha se destacando em uma
carreira de ascendência vertiginosa, mas, durante o torneio, exatamente por ser uma
celebridade consagrada, o jogador sofreu um assédio ininterrupto da cobertura da
imprensa e dos torcedores curiosos. Souza (2007) aponta que naquela Copa os
olhos de todos os torcedores estavam voltados para Ronaldo, que havia sido o
Melhor Jogador do Mundo de 96 e 97 eleito pela FIFA. Inclusive, até a final da Copa
de 98, Ronaldo tinha um desempenho notável em finais de torneios, conforme
aponta Caldeira (2002), quando ressalta que até então o jovem atacante havia
disputado quatro decisões, vencido todas elas e marcado seis gols.
Porém, horas antes da partida final da Copa do Mundo de 98 na França, no
jogo entre a Seleção Brasileira e a Seleção Francesa, o jogador teve uma convulsão
mal explicada. Este fato, e a indefinição quanto à sua escalação minutos antes do
jogo, abalou a equipe. O fato de Ronaldo ser o artilheiro do Brasil no torneio, tendo
47
todas as atenções voltadas para ele e para a expectativa de que ele fizesse uma
grande partida, criou uma idolatria em torno do principal jogador brasileiro e também
um sensacionalismo em torno da especulação sobre o que poderia ter ocorrido tanto
anteriormente no hotel quanto na conversa no vestiário para que ele fosse escalado
para a final.
O fato de poucas pessoas saberem o que realmente houve no vestiário
minutos antes da partida, em que Edmundo estava inicialmente escalado, criou
especulações sobre os possíveis acontecimentos ocorridos tanto no hotel na noite
anterior quanto o que estaria ocorrendo no vestiário minutos antes da partida
decisiva.
Assim, não foram poucos os jornais e as emissoras de televisão que foram
surpreendidos com a notícia de que, inicialmente, Edmundo jogaria no lugar de
Ronaldo na final diante dos franceses. A pressa em fornecer primeiro a informação
(a escalação inicial do Brasil para o jogo) fez com que vários narradores de rádio e
TV tivessem que depois explicar o que havia ocorrido com Ronaldo, quando ele
apareceu perfilado junto com os demais jogadores para o hino nacional no lugar de
Edmundo, que havia sido escalado inicialmente.
Do mesmo modo que rádios e TVs foram impactadas pela notícia da
presença de Ronaldo na final, os então recém-criados portais de Internet também
tiveram que corrigir a informação rapidamente para não ficarem para trás.
Sobre a expectativa criada pelos torcedores, e também vinda da imprensa
brasileira, para o jogo decisivo diante dos franceses, Costa (2010, p. 4) afirma que
“em 1998, por exemplo, era possível ler manchetes como a que foi publicada pelo
diário Lance!, no dia da final da Copa, e que dizia: “Brasil! Hoje é dia de penta”
(12/07/98). Dias antes do jogo entre Brasil e França o Ataque dizia: “Com a mão no
penta” (10/07/1998). Mas quando a derrota veio, tudo que era certo transformou-se
em erro: “Os sete erros capitais da seleção” (Lance!, 13/07/1998). Nessa mesma
Copa, o jornal O Dia, antes da final anunciava “A hora do Penta. Festa do Penta
será na praia de Copacabana” (12/07/1998). Já no dia seguinte: “Saída pelos
fundos” (O Dia, 13/07/98)”. Moreira e Marchi Júnior (2009, p. 6) mostram que “o
futebol desperta sentimentos e emoções em seu público expectador que, sem saber
por qual motivo, reproduz socialmente os signos e significados por ele e a ele
48
atribuídos”. Costa (2010, p. 4) complementa afirmando que “caso o Brasil ganhe,
tudo são risos e festa mesmo que antes do jogo a imprensa não tenha poupado a
seleção de objeções e críticas. E quando o Brasil perde, tudo são lágrimas e parece
errado, mesmo que no dia anterior não tenha faltado exaltação aos craques
brasileiros.” Ainda que tenha ido à França com um time razoável, conforme o Brasil
se aproximava da final as deficiências do time eram esquecidas pelos torcedores,
mas algumas delas acabariam sendo evidenciadas ao longo do jogo diante dos
franceses.
Segundo Yallop (1998, p. 359-360), “Durante a Copa do Mundo, mais de mil
jornalistas andaram caçando Ronaldo por toda parte”. Uma simples aparição em um
treino sem a aliança de namoro, que o atacante usava costumeiramente (na época o
jogador namorava a então atriz Suzana Werner, hoje casada com o goleiro Júlio
César), causava uma onda de boatos sobre a vida pessoal dele, que em nada
tinham a ver com o seu desempenho esportivo dentro dos gramados. Fora a vida
afetiva do jogador, o peso de Ronaldo durante a Copa também foi outro assunto
bastante comentado na imprensa tanto no Brasil quanto no exterior.
A onda de “fofocas” era, em parte, alimentada também pela imprensa
sensacionalista presente diante do espetáculo da Copa do Mundo porque, segundo
Yallop (1998, p. 359), a mídia não admitia ser contrariada em não ter uma
informação. “Ronaldo vende jornais. Ronaldo vende revistas. Comerciais de TV
sobre produtos em que Ronaldo aparece valem um dinheirão. A coisa em nada
melhorou. Do ponto de vista de Ronaldo, piorou, e muito”.
Já Amaral (2008, p. 6) destaca também a importância do veículo na
produção da notícia. Segundo a autora, “a imagem que o veículo e os jornalistas têm
do seu público é determinante para o tratamento do fato, seu enquadramento e a
estrutura dada à notícia.” Sendo assim, o veículo de comunicação dará uma notícia
que interesse ao seu público, razão pela qual a Folha de S. Paulo entrevistou os
jogadores brasileiros, além do próprio Ronaldo, a Gazzetta dello Sport entrevistou o
presidente da Inter de Milão, Massimo Moratti, já o jornal Le Monde procurou o
técnico da Seleção Brasileira, Zagallo, e o médico Lídio Toledo para comentarem
sobre o estado físico de Ronaldo e as condições do atacante para disputar a final
contra os franceses. Os três veículos citados são usados no presente trabalho como
49
objeto de uma análise levando-se em consideração forma e conteúdo das 12
matérias, as fontes utilizadas e os critérios de noticiabilidade contidos em cada um
deles que possam respaldar o sensacionalismo das matérias.
Por outro lado, o fato de Ronaldo ter a escalação confirmada para o jogo
diante dos franceses apenas 40 minutos antes do início da partida causou uma
surpresa geral nos jornalistas, que ficaram à procura de informações sobre o
ocorrido e só conseguiram coletar boatos ou fragmentos da verdade, mas não se
preocuparam em checar a informação passada. Sobre este fato, Freitas e Rigo
(2009, p. 3) comentam que “partindo do princípio de que nós, povo brasileiro, não
tivemos e nunca teremos acesso à verdade última dos fatos, o que sobra então, são
as criações discursivas que deles são feitas”.
Caldeira (2002, p. 221) ressalta que “nenhum jogador nem nenhum membro
da direção que entrou em campo tinha a concentração necessária para jogar uma
final de Copa do Mundo”. O autor ainda comenta a reação dos jogadores após a
partida final, na entrevista coletiva, em que todos passaram a usar o caso ocorrido
com Ronaldo para justificar os próprios erros que eventualmente possam ter
cometido ao longo da competição.
Mesmo com a seleção sendo criticada coletivamente, Ronaldo acabaria
sendo eleito o melhor jogador da Copa, batendo o francês Zidane, em uma eleição
que ocorreu horas antes da final. Segundo Caldeira (2002) Ronaldo estava tão
acostumado a falar na posição de vencedor que sequer lembrou do que havia dito
antes da Copa começar, de que o principal adversário brasileiro seria o próprio time
brasileiro. Esta afirmação da maior estrela do time se confirmaria justo no jogo final
diante dos donos da casa.
Caldeira (2002, p. 219) cita que “um dos boatos veio das equipes de
reportagem que cobriam a saída da delegação (nenhuma havia notado a ausência
de Ronaldo no ônibus nem sua saída pela porta dos fundos), informados que algo
de estranho havia ocorrido pelo gerente do hotel” – que na época era Paul Chevalier
– “o esperto francês já tinha transformado os seus parcos conhecimentos em
instrumentos de marketing. Falava em terror e morte para os jornalistas. Como era a
única fonte disponível de informação, suas palavras eram levadas a milhões de
pessoas” .
50
Outra testemunha importante, segundo Caldeira (2002), é Roberto Carlos,
que argumenta que a tensão emocional passada por Ronaldo, que era pressionado
por patrocinadores por ser o melhor jogador do mundo, poderia ser a causa da
suposta convulsão no atacante. Tão importante quanto o depoimento de Roberto
Carlos era o de Edmundo, que apesar de ter jogado apenas alguns minutos quando
a final já estava perdida e ter sido preterido por Zagallo em favor de Bebeto, sempre
afirmou que a melhor pessoa para explicar o caso ocorrido com Ronaldo eram os
médicos e não os jogadores.
Caldeira (2002) ainda comenta que o então capitão Dunga também se
eximiu da sua posição de líder ao afirmar que o time entrou tenso para o jogo contra
os franceses e que os seus gritos com os companheiros de nada adiantariam porque
poderiam ser até piores para Ronaldo.
Ainda segundo Caldeira (2002), dos participantes do jogo, o meia Leonardo
foi o único a admitir a superioridade da França e a minimizar o episódio ocorrido com
Ronaldo, pedindo desculpas ao torcedor brasileiro pela derrota e pela má atuação
que tivera individualmente, embora tenha tentado impedir um dos cabeceios de
Zidane. Ainda que Ronaldo tenha sido escalado apenas horas antes da partida
diante dos franceses, Napoleão e Assaf (2004, p. 96) afirmam que “hoje tem-se a
certeza de que Ronaldinho não atrapalhou o time, tanto que jogou os 90 minutos,
nem pior nem melhor do que os companheiros. E caminha-se para o consenso de
que a fraca atuação do Brasil no primeiro tempo da final, quando a França
estabeleceu a vantagem de 2 a 0, foi consequência do tremendo esforço que o time
fez para superar a Holanda e do impacto que todos os integrantes da delegação
sofreram com o infortúnio de Ronaldinho, um episódio distante da rotina, mesmo
para os que somavam muitos anos de experiência no futebol”.
Apesar de a imprensa ter tido pouca informação sobre o evento que
antecedeu a final da última Copa do século XX, a Copa do Mundo de 1998,
disputada na França, foi a primeira em que a FIFA, entidade máxima do futebol,
disponibilizou um site oficial para a competição, e Pires (2006) destaca que neste
sentido, pela capacidade de fornecer o espetáculo esportivo em sua totalidade,
inclusive a sua dimensão virtual, a mídia passa a ser a principal produtora dos
51
sentidos e significados que devem ser válidos ou validados socialmente sobre o
esporte.
Sendo o jogo de futebol visto como um espetáculo, Bourdieu (1997 apud
BORELLI, 2001, p. 6) “fala que o espetáculo é produzido duas vezes: primeiro, no
local e no instante do fato, por todo conjunto envolvido (atletas, comissão técnica,
juízes, organizadores, etc) na competição; segundo, por aqueles que transformam
as imagens em discursos desse espetáculo.” Ou seja, o espetáculo é produzido em
uma interação entre o atleta, que é o agente da ação, e o jornalista, que é o agente
da informação que será transmitida.
Segundo Borelli (2001), as mídias impressa, televisiva, radiofônica e virtual
se utilizam dos “fatos esportivos”, transformando-os em vários acontecimentos para
o público. A autora ainda reforça que cada mídia se apropria do fato (cena discursiva
produzida) para produzir sentidos (agendas) por meio de estratégias simbólicas
singulares.
Já Costa (2010, p. 4) aponta o lado emotivo do torcedor em relação à
Seleção Brasileira na época de Copa do Mundo como um fator condicionante para a
pressão sobre os jogadores. Segundo ela, “caso o Brasil ganhe, tudo são risos e
festa mesmo que antes do jogo a imprensa não tenha poupado a seleção de
objeções e críticas”.
Costa (2010, p. 6) ainda cita o exemplo da cobertura da imprensa brasileira
feita sobre o astro. Para ela, “o mistério em torno dos problemas ocorridos com
Ronaldo, o Fenômeno, o principal jogador da seleção, horas antes do jogo final
contra a França, foi intensamente explorado pela imprensa que, na época, não se
cansava de anunciar que traria a público a “verdade” dos fatos”. Naquela Copa,
Ronaldo já era tido como um jogador de imenso potencial, por isso, Caldeira (2002)
ressalta que até a véspera da final da Copa do Mundo de 1998 Ronaldo tinha a
trajetória de um vencedor, conseguindo o respeito dos adversários e companheiros
em um grau tão elevado que se transformaria em um mito por torcedores e
imprensa.
Baseado no papel da imprensa, Costa (2010) aponta que ela foi e continua a
ser o espaço onde o jogo de futebol é prolongado para além dos 90 minutos de
52
partida, adentrando o imaginário dos torcedores e se perpetuando através de
histórias e narrativas coletivamente compartilhadas.
Para sistematizar a análise sobre a divulgação jornalística do caso Ronaldo
por três veículos online: Folha de S. Paulo, do Brasil, Gazzetta dello Sport, da Itália,
e Le Monde, da França, foram constituídas tabelas para cada um dos jornais, que
tem o propósito de auxiliar nas matérias construídas para o jornal tradicional, o jornal
sensacionalista e o jornal online, e que tem a forma e conteúdo como elementos
norteadores. Os autores utilizados como referência para a elaboração das tabelas,
descritas no item metodologia, são os seguintes: Traquina (2004), Mielknizuck e
Barbosa (2005), Silva Júnior. (2007), Dutra et al (2007), Marcondes Filho (1986),
Pedroso (2001) e Angrimani Sobrinho (1995).
Os elementos contemplados na forma são: a diagramação e layout do texto,
a letra, as cores e a proporção da apresentação, a existência de publicidade nas
matérias, a existência de elementos infográficos e imagens e a existência de
recursos de internet e multimídia.
Quanto aos elementos de conteúdo foram avaliados: se existem valores
expressivos na notícia, os títulos ou manchetes são suficientes ou exagerados, se o
texto é curto ou longo, se o texto é objetivo ou emocional, a linguagem é simples,
coloquial ou exagerada, se apresenta contradições ou fragmentações se houve
busca de fontes e houve confronto de pontos de vista diferentes e, também, se
existiu adequação entre manchete e texto.
As tabelas 1, 2 e 3 a seguir contemplam as análises expostas.
53
Tabela 1 – Folha de São Paulo
Jornal brasileiro (Folha de
S. Paulo)
Jornal brasileiro (Folha de S.
Paulo)
Jornal brasileiro (Folha
de S. Paulo)
Jornal brasileiro (Folha de
S. Paulo)
Título da matéria:
Emocional abalou
Ronaldinho
Ronaldo precisa se abrir
De como tirei o meu time
de campo no jogo final
Noiva de Ronaldinho nega
caso com jornalista durante a
Copa
Data:
13/7/1998
19/7/98
15/7/98
22/7/98
layout ou é texto
corrido?
O texto é corrido, não
existe identidade de layout
e sem uma diagramação
definida.
Texto é corrido, não existe uma
diagramação definida, no
entanto, apresenta uma
identidade de layout com o
subtítulo, na chamada acima da
linha fina, na própria linha fina e
no destaque ao nome do jornal
ao longo do texto
Texto é corrido ,não
existe identidade de
layout nem diagramação
definida.
Texto é corrido, não existe
identidade de layout e sem
uma diagramação definida.
Existe diferenciação de
letras na formatação?
Utiliza o recurso de
cores? Há colunas
diferenciadas? Existe
proporcionalidade ou
exagero?
Não há diferenciação de
letras na formatação. Não
existe recurso de cores.
Não há colunas. Não há
exageros aparentes neste
quesito.
Existe diferenciação de letras no
título, na chamada da matéria
usa o azul enquanto que no título
e na linha fina usa o negrito. Não
há colunas diferenciadas e não
existe exagero na formatação.
Não há diferenciação de
letras no texto.
Não há diferenciação de
letras e cores, apenas o uso
do negrito no título.
FORMA –
elementos gráficos,
visuais e de interface
1
2
Existe diagramação,
Não há recurso de cores.
Não há colunas
diferenciadas.
Não há colunas
diferenciadas.
54
3
Existe publicidade?
Como ela se
manifesta?
Não há publicidade
Não há publicidade
Não há publicidade
não.
4
Existem infográficos
e imagens? A
fotografia é utilizada
como informação
adicional?
Não
Não
Não
Não
5
Tem recursos de
internet: multimídia,
interatividade e
hipertexto?
Não existem
Não existem
Não existem
Não existem
Tem valores-notícia
expressivos?
Proximidade geográfica,
drama, interesse, famosos,
número de pessoas
envolvidas, interesse
humano e repercussão.
Novidade, impacto, famosos,
importância do indivíduo e
interesse humano.
Proeminência, drama,
famosos e interesse
humano.
Proeminência, curiosidade,
famosos, oportunidade e
confidências.
Tem impacto pela
subjetividade? pelos
termos utilizados?
pelo
personagem?Choca?
Tem impacto – desperta a
curiosidade para se saber
mais, é emocional até no
título ao tentar dar uma
explicação para o ocorrido
com Ronaldo.
Tem impacto – sugestivo,
subjetivo e com apelo
emocional pelo relato da
fonte no relacionamento com
o personagem.
Não tem impacto e não
identifica o caso.
Chamativo pelo
personagem e pelo
momento.
CONTEÚDO –
temático e
linguístico
6
7
Título/Manchete
desperta emoção?
55
8
Subtítulo
Legenda/Chamada
Outros
Necessário?
Adequado?
Explicativo?
Suficiente?
Dentro do texto ou
em destaque?
Relevante? Favorece
a leitura?
Subtítulo é explicativo em
relação ao título e se faz
importante quando
favorece o entendimento
inicial do ocorrido.
O subtítulo está colocado
abaixo do título dentro do
texto e se torna relevante
na medida em que
favorece a leitura ao
acrescentar informações.
Subtítulo grande para os
padrões normais e está
colocado acima do título .
Não existem
Não existem
A chamada também tem
impacto e favorece a intenção
de despertar a curiosidade do
leitor mas seria dispensável
devido à construção do título.
Não existem legendas neste
texto.
9
Dimensão
Curto, longo ou
semelhante ao
jornal impresso?
É curto e semelhante ao
jornal impresso. Tem 3273
caracteres.
É curto e semelhante ao
jornal impresso, identifica o
jornalista e o local. Tem 3802
caracteres.
É curto e trazido do jornal
impresso. Tem 5016
caracteres.
É curto e tirado do joranl
impresso. Tem 1651
caracteres.
10
Linguagem
Simples? Coloquial?
Exagerada? Vulgar?
Destaca elementos
supéfluos,
insignificantes ou
essenciais?
É simples com informação
desnecessária, mas não
apelativa e com
adjetivações
desnecessárias.
É simples e não tem termo
técnico que precise de
explicação. Usa aspas e
verbos declarativos.
Não é considerada
simples, nem coloquial,
traz alguns termos pouco
familiares ao universo
esportivo.
Simples e direta.
56
11
Texto
Objetivo? Subjetivo?
Emocional? Técnico?
Superficial?
Profundo?
Informativo?
Mais técnico, mas tem um
apelo emocional por causa
dos personagens envolvidos.
A superficialidade geral do
texto não prejudicou a
recepção da mensagem.
Não é superficial, é profundo
e informativo. É emocional no
relato da fonte ouvida, mas
técnico na construção das
informações.
É técnico pelo uso de
algumas expressões, mas
emocional por ser
opinativo.
Mais emocional
Superficial mas suficiente
para ser captado.
O texto tenta trazer
erudição de outros fatos
para ilustrar o caso.
A pouca profundidade em
alguns pontos não impediu
a compreensão do todo.
12
Tem lide? Pirâmide
invertida?
Sim, mas não é comum no
jornal online.
Não
Sim
Sim
13
Tem entrevista,
informação, análise,
reflexão?
Entrevista com os
jogadores e o técnico da
Seleção Brasileira.
Entrevista apenas com o
lateral-esquerdo Roberto
Carlos.
É uma visão/opinião
construida pelo autor da
matéria.
Entrevista com Suzana
Werner, então namorada
de Ronaldo.
14
‘Busca a verdade, o
real’ com
objetividade,
equidade e
neutralidade ou
superdimensiona os
fatos? Informa ou
faz reflexão?
Busca o real ao transcrever
as informações embora a
verdade não apareça de
fato – há pouco tempo
para checagem.
Busca o real, pois se atem às
declarações passadas por
Roberto Carlos.
Os fatos relacionados ao
caso são elementos de
fundo para a reflexão e
opinião do autor da
matéria. É um texto
opinativo que não busca
informar. O texto não se
propõe buscar o real, é
uma reflexão do autor
Busca a verdade ao
transmitir com fidelidade a
partir do relato da fonte
ouvida (Suzana Werner).
Apenas informa e não faz
projeção.
Informa e não faz reflexão, só
relata.
que cita o caso no contexto
da Copa como um todo.
57
15
Tem contradição,
fragmentação,
justaposição,
pluralismo?
A contradição aparece nos
depoimentos usados –
Roberto Carlos é mais
emocional e os outros
jogadores mais técnicos.
Não porque apenas uma
fonte é ouvida.
Não há contradição,
mostra uma opinião
genérica sobre a copa..
Não
16
Traz detalhes para a
compreensão da
notícia? –
necessários ou não?
Relevantes ou não?
Os detalhes mais
relevantes estão nos
depoimentos de Lídio
Toledo (médico da Seleção
Brasileira) e Piero Volpi
(médico da Internazionale).
Estes depoimentos são
necessários porque ambos
os médicos avaliaram
O detalhe mais relevante é
um breve relato de como
ocorreu a crise de Ronaldo a
partir do relato de Roberto
Carlos.
Não apresenta detalhes
relevantes em relação ao
fato.
O detalhe mais relevante é
sobre a presença dos
familiares do jornalista que
compõem a cena em
questão e foi usado pela
fonte (Suzana Werner) para
desmentir o boato.
A fonte ouvida, Roberto
Carlos, era a mais próxima
possível do personagem e do
fato. As outras fontes estão
relacionadas ao caso. Usa
aspas, verbos declarativos e
falas emocionais da fonte em
relação ao personagem da
matéria ( por exemplo: Não
vão olhar você como uma
pessoa normal...”) para dar
maior credibilidade.
Não há corroboração de
provas porque não há
busca de fontes. Usa
verbos declarativos e
escreve na primeira
pessoa e por isso não
existe um confronto de
ponto de vista.
Existe apenas uma fonte ouvida
durante todo o texto (Suzana
Werner) e a fonte é a parte central
Ronaldo em diferentes
momentos.
17
Busca fontes? Faz
checagem das
fontes? Apresenta
confronto de pontos
de vista divergente?
Apresenta provas e
fidelidade dos fatos?
Demonstra
autenticidade,
credibilidade – de
que forma?
As fontes são consideradas
oficiais e identificadas no
texto. Há pontos de vista
divergentes visto que a
participação das fontes foi
diversificada diante do
ocorrido. As informações foram
desencontradas e existem várias
versões. Não há provas, apenas
testemunho de pessoas presentes
interpretando o corrido. As fontes
citadas são apenas os membros
da Seleção Brasileira.
da história, que não apresenta
um ponto de vista contrário
porque o outro personagem citado
não foi encontrado pelo jornalista.
Por isso, existe apenas uma
fonte para desmentir e
explicar os fatos ocorridos. Por
ser uma das personagens da
matéria, a fonte é considerada
oficial e possui credibilidade.
58
18
Contextualiza? Faz
referência a alguma
identidade cultural?
Há referências
anteriores/retrospec
to?
Não faz referência a
nenhum costume ou
padrão.
Faz referência ao hábito dos
jogadores se concentrarem.
Faz referência a fatos
históricos e ao fanatismo
dos torcedores brasileiros
e franceses.
Faz referência ao mundo
das celebridades que
costumam ter que dar
satisfação dos seus atos
publicamente. Resgata uma
conversa de Pedro Bial com
Ronaldo para esclarecer o
caso.
19
Existe adequação
entre manchete e
texto? Excessos ou
ausências de fatos e
de termos
prejudicam a
mensagem?
O título e a manchete da
notícia estão adequados
com o subtítulo e a
ausência de fatos não
prejudicou a mensagem.
O título condiz mais com o
subtítulo do que
propriamente com o texto
que fala pouco da
personalidade de Ronaldo e
mais sobre o que poderia ter
ocorrido com ele. A ausência
de outros fatos não
prejudicou a mensagem.
O texto consegue ser
captado e esclarece o
título. Por ser opinativo,
o texto tenta mostrar um
pouco da erudição do
autor que tenta
relacionar alguns fatos
históricos para explicar o
que quer dizer.
A manchete está adequada
ao texto e a ausência de
fatos não prejudicou a
mensagem.
59
Tabela 2 – Gazzeta dello Sport
Jornal italiano (Gazzeta)
Jornal italiano (Gazzeta)
Jornal italiano (Gazzeta)
Jornal italiano (Gazzeta)
Tutta la rabbia di Moratti
L’Inter vola a casa Ronaldo
Ronaldo, un minuto di
terrore
Mistero Ronaldo: Ho avuto
le convulsioni
Data:
15/7/1998
18/7/1998
14/7/98
14/7/98
Existe diagramação,
O texto é corrido, não há
identidade de layout nem
uma diagramação definida.
O texto é corrido, não há
identidade de layout nem
uma diagramação definida.
O texto é corrido, não há
identidade de layout nem
uma diagramação definida.
Existe uma repetição da
linha fina no começo do
texto antes dele começar
propriamente.
Não há diferenciação de
letras na formatação Não
há colunas. Não existe
recurso de cores.
Não há diferenciação de
letras na formatação. Não
há colunas. Não existe
recurso de cores.
Não há diferenciação de
letras no texto . Não há
colunas diferenciadas
.Somente no título e no
subtítulo se usa o negrito.
Não há colunas
diferenciadas. Apenas no
uso de negrito no título e
de itálico no subtítulo.
Título da matéria:
FORMA –
elementos gráficos
visuais e de
interface
1
layout ou é texto
corrido?
2
Existe diferenciação
de letras na
formatação? Utiliza
o recurso de cores?
Há colunas
diferenciadas?
Existe
proporcionalidade
ou exagero?
Não há
desproporcionalidade
porque não há
diferenciação de letras ou
colunas.
60
3
Existe publicidade?
Como ela se
manifesta?
Não há publicidade
Não há publicidade
Não há publicidade
Não há publicidade
4
Existem infográficos
e imagens? A
fotografia é utilizada
como informação
adicional?
Não tem infográficos e
imagens
Não tem infográficos e
imagens
Não há infográficos ou
imagens
Não tem infográficos e
imagens
5
Tem recursos de
internet: multimídia,
interatividade e
hipertexto?
Não existem
Não existem
Não existem
Não existem
Valores-notícia
Conflito pessoal, impacto,
importância do indivíduo e
culto de heróis.
Famosos, curiosidade,
importância do indivíduo e
interesse humano.
Drama, surpresa e impacto.
Importância, interesse,
famosos, conflito/polêmica
e impacto.
Tem impacto pela
subjetividade? pelos
termos utilizados?
pelo personagem?
Choca? desperta
emoção?
Tem impacto, chama a
atenção pelo termo forte,
mas não em relação ao
caso Ronaldo.
Não é muito chamativo, é
pobre, não gera expectativa
nem emoção.
Muito explicativo, tem
impacto, é chamativo ao
colocar termo ‘terrore’
associado ao nome do
jogador.
Tem muito impacto, é auto
explicativo na afirmação
entre aspas.
CONTEÚDO –
temático e
linguístico
6
7
Título/Manchete
61
8
Subtítulo
Legendas
Outros
Necessário?
Adequado?
Explicativo?
Suficiente?
Esclarecedor em relação ao
título mas grande para os
padrões brasileiros.
Necessário para explicar o
título. Não existem
legendas ou outros
elementos.
Não existem legendas.
Dentro do texto ou
em destaque?
Relevante? Favorece
a leitura?
Linha fina é grande para os
padrões brasileiros em
comparação ao outro
veículo analisado e está
colocado abaixo do título o
que favorece a leitura.
Chamativo e em destaque,
por isso, necessário e
explicativo, embora seja
grande para os padrões
brasileiros .
As aspas de testemunhos
reforçam o título.
Não existem legendas .
Não existem outros
elementos.
Não existem outros
elementos.
Subtítulo é médio para os
padrões brasileiros .
Não existem legendas
neste texto.
9
Dimensão
Curto/Longo?
Semelhante ao
jornal impresso?
Médio e próximo ao
tamanho do texto impresso
(tem 5498 caracteres).
Longo e próximo ao
tamanho do texto
impresso (tem 13737
caracteres).
Longo e trazido do jornal
impresso (tem 15563
caracteres).
Longo e repassado do
jornal impresso (tem 12662
caracteres).
10
Linguagem
Simples? Coloquial?
Exagerada? Vulgar?
Destaca elementos
supéfluos,
insignificantes ou
essenciais?
Simples e sem adjetivações
ou exageros.
Simples e sem adjetivações
ou exageros.
Simples e sem adjetivações
ou exageros.
Simples e sem adjetivações
ou exageros.
62
11
Texto
Objetivo? Subjetivo?
Emocional? Técnico?
Superficial?
Profundo?
Informativo?
Mais técnico, mas também
um pouco emocional já que
conta com o depoimento
do personagem (Moratti).
É objetivo e não é
superficial.
Mais técnico, mas também
emocional no depoimento
do personagem (Ronaldo) .
É objetivo e não é
superficial.
É mais técnico, no entanto
apresenta alguns traços
emocionais nos relatos.
Bastante detalhado,
objetivo e aprofundado.
Objetivo e técnico pelo
nível de detalhe presente
no texto .
Não é superficial, tem
muita informação. No
entanto, deixa de detalhar
coisas importantes.
12
Tem lide? Pirâmide
invertida?
Sim, porque é uma matéria
passada do jornal impresso
para o online.
Sim, porque é uma matéria
passada do jornal impresso
para o online.
Sim
Sim
13
Tem entrevista,
informação, análise,
reflexão?
Entrevista somente do
presidente da ternazionale
Massimo Moratti.
Entrevista com o médico da
Internazionale (Piero Volpi)
e com o próprio Ronaldo.
Entrevista e reflexão com
Zico e alguns jogadores
brasileiros.
Entrevista e paralelo com
outro fato. Entrevistas com
Edmundo, o médico .Lídio
Toledo e Pelé.
14
‘Busca a verdade, o
real’ com
objetividade,
equidade e
neutralidade ou
superdimensiona os
fatos? Informa ou
faz reflexão?
Busca a verdade dos fatos
embora utilize apenas uma
das versões e é feita com a
transcrição das falas a
partir do depoimento da
fonte consultada. Informa
mas existem algumas
reflexões no depoimento
da fonte.
A busca da verdade é feita
com a transcrição de algumas
falas de uma fonte e também
a partir de depoimentos de
outras fontes consultadas que
dão a sua versão para o
ocorrido. Informa por meio de
depoimentos que se
contradizem e não busca
checar algumas
afirmações/acusações que são
colocadas.
Relata depoimentos das
pessoas presentes sem
interpretá-los para buscar a
verdade. Informa a partir
do depoimento das fontes
sobre as possibilidades que
levaram ao ocorrido.
Informa por meio dos
depoimentos dos médicos
da Seleção Brasileira (Lídio
Toledo) e da Internazionale
(Piero Volpi) e também do
próprio Ronaldo. Busca a
realidade a partir dos
relatos das fontes embora
exista uma expectativa de
como Ronaldo ficará após a
Copa de 98.
63
15
Tem contradição,
fragmentação,
justaposição,
pluralismo?
Não, porque existe apenas
uma fonte ouvida.
Tem contradição de
depoimentos entre os
diagnósticos de Lídio
Toledo e Piero Volpi.
A contradição está em
alguns depoimentos entre
os jogadores brasileiros
ouvidos
Tem contradição entre os
depoimentos do próprio
Ronaldo e do médico Piero
Volpi
16
Traz detalhes para a
compreensão da
notícia? –
necessários ou não?
Relevantes ou não?
Nos relatos de Massimo
Moratti, que são relevantes
pelo cargo que ele ocupa
Traz detalhes do confronto
entre o diagnóstico do
médico brasileiro (Lídio
Toledo) com o médico da
Internazionale (Piero Volpi),
que são relevantes para o
entendimento do caso do
ponto de vista médico.
Detalha as horas anteriores
ao fato ocorrido com
Ronaldo, que até então não
haviam sido divulgados
O depoimento do próprio
Ronaldo sobre o ocorrido
(a partir do que contaram
para ele) é relevante por
ser ele o personagem da
história.
17
Busca fontes? Faz
checagem das
fontes? Apresenta
confronto de pontos
de vista divergente?
Apresenta provas e
fidelidade dos fatos?
Demonstra
autenticidade,
credibilidade – de
que forma?
A fonte entrevistada é
considerada oficial e o
recurso das aspas dão mais
autenticidade. Não existe
confronto de ponto de
vista porque apenas uma
fonte é entrevistada, o
presidente da
Internazionale. Não existe
corroboração de provas e
sim um relato das
informações passadas.
A fonte entrevistada é
considerada oficial e o uso
das aspas favorece a
autenticidade. Existe
confronto de ponto de
vista. As fontes citadas são
o médico da Internazionale
e o próprio Ronaldo.
As fontes estiveram no
local e fazem um relato
breve do ocorrido. Existe
confronto de pontos de
vista entre alguns
depoimentos, mas estes
não foram checados. A
autenticidade dos
depoimentos é reforçada
pelas aspas de algumas
falas.
Não há referências quanto
à checagem das fontes
porque as fontes ouvidas
testemunharam o ocorrido.
A divergência de pontos de
vista está no relato do
médico brasileiro (Lídio
Toledo) com o médico da
Internazionale (Piero
Volpi). O uso das aspas
reforça a autenticidade das
fontes.
64
18
Contextualiza? Faz
referência a alguma
identidade cultural?
Há referências
anteriores/retrospec
to?
O texto faz referência à
política existente no
futebol brasileiro. Não
existe a retomada de fatos
passados, mas é feita uma
previsão das competições
futuras que a Seleção
Brasileira disputará.
Faz referência aos
procedimentos médicos
adotados pelos times de
futebol. Não existe a
retomada de fatos
passados mas é feita uma
citação sobre a pré
temporada da equipe
italiana e uma
recomposição do cenário
após a convulsão.
Cita alguns procedimentos
adotados para resolver o
caso e dá detalhes da
atmosfera gerada pelo fato
ocorrido no hotel e no
vestiário do estádio.
Faz referência ao costume
dos jogadores de se
refugiarem em lugares
isolados para fugirem do
assédio da imprensa.
Também relaciona e
compara com o caso do
nigeriano Kanu, que teve
um problema no coração,
também na época em que
atuava pela Internazionale.
19
Existe adequação
entre manchete e
texto? Excessos ou
ausências de fatos e
de termos
prejudicam a
mensagem?
Sim e as informações que
não foram colocadas não
prejudicam o
entendimento do texto.
Sim e as informações que
não foram colocadas não
prejudicam o
entendimento do texto.
Sim e as informações que
não foram colocadas não
prejudicam o
entendimento do texto.
Sim e as informações que
não foram colocadas não
prejudicam o
entendimento do texto.
65
Tabela 3 – Le Monde
Jornal francês (Le Monde)
Jornal francês (Le Monde)
Jornal francês (Le Monde)
Jornal francês (Le Monde)
Ronaldo, centre d’un
monde rond comme un
ballon
Ronaldo a étécontraint
dejouer la final du
Mondial
Pourquoi Ronaldo a perdu la
Coupe du monde de football?
Pour quelles raisons l'avantcentre de la Seleçao a-t-il été
aligné lors de la finale FranceBrésil, alors qu'il avait été
victime d'un mystérieux
malaise six heures auparavant
? Quelle est la nature du
mal? A-t-il subi des pressions
pour jouer ? Une enquête du
« Monde » lève une partie du
voile
Les Myst~eres de l’Inter
Data:
12/7/1998
15/7/1998
17/7/98
6/10/98
Existe diagramação,
O texto é corrido, a
identidade de layout é a
capitular inicial, mas sem
uma diagramação definida.
O texto é corrido, a
identidade de layout é a
capitular inicial, mas sem
uma diagramação definida.
O texto é corrido, a
identidade de layout é a
capitular inicial e no negrito
do título, mas sem uma
diagramação definida.
O texto é corrido, a
identidade de layout é a
capitular inicial, mas sem
uma diagramação definida.
Título da matéria:
FORMA –
elementos gráficos
visuais e de
interface
1
layout ou é texto
corrido?
66
2
Existe diferenciação
de letras na
formatação? Utiliza
o recurso de cores?
Há colunas
diferenciadas?
Existe
proporcionalidade
ou exagero?
A diferenciação da letra
está apenas na capitular
assim como o recurso de
cores.
Apenas na capitular. Não
há colunas. Apenas na
capitular.
Não há colunas
diferenciadas, não há
nenhum exagero aparente.
Capitular escrita em
vermelho.*
Apenas na capitular que é
destacada em vermelho.
* Não utilizada aqui pela
impossibilidade de uso do
texto original.
Não há colunas
diferenciadas.
Não há colunas
diferenciadas.
No negrito que mostra o
assunto da matéria abaixo
do título e também na
capitular.
Apenas no título (em
negrito) e na capitular em
vermelho (ver observação
acima).
3
Existe publicidade?
Como ela se
manifesta?
Não há publicidade
Não há publicidade
Não há publicidade
Não há publicidade
4
Existem infográficos
e imagens? A
fotografia é utilizada
como informação
adicional?
Não tem
Não tem
Não há infográficos ou
imagens
Não
5
Tem recursos de
internet: multimídia,
interatividade e
hipertexto?
Não existem
Não existem
Não existem
Não existem
67
CONTEÚDO
6
Valores-notícia
Impacto, drama, interesse,
oportunidade, importância
do indivíduo, interesse
humano e culto de heróis.
Surpresa, impacto, conflito
pessoal, suspense, drama,
número de pessoas
envolvidas, relevância
quanto à evolução futura e
interesse humano.
Imprevisão, interesse,
importância, novidade,
número de pessoas
envolvidas e repercussão.
Novidade, proeminência,
famosos,
conflito/polêmica,
influência sobre o
interesse nacional e
repercussão.
7
Título/Manchete
Tem impacto pela
subjetividade? pelos
termos utilizados?
pelo personagem?
Choca? Desperta
emoção?
Tem pouco impacto, não é
explicativo, traz uma
mensagem indireta e
precisa ser interpretado.
Tem impacto por que busca
respostas para o resultado
final do Mundial.
Explicativo, detalhado,
especulativo e muito
extenso.
Tem impacto por despertar
a curiosidade do leitor.
8
Subtítulo
Necessário?
Adequado?
Explicativo?
Suficiente?
Não tem subtítulo.
Não existem elementos
adicionais.
Não existe subtítulo; o
título é muito extenso e já
incorpora.
Não há linhas finas.
Não existem legendas.
Não há legendas dentro do
texto.
Legendas
Outros
Dentro do texto ou
em destaque?
Relevante? Favorece
a leitura?
9
Dimensão
Curto/Longo?
Semelhante ao
jornal impresso?
Não existem legendas.
Não existem elementos
adicionais.
Não existem legendas ou
subtítulo.
Não existe subtítulo.
Não existem elementos
adicionais.
Curto, mas está próximo ao
tamanho do texto impresso
Curto, mas está próximo ao
tamanho do texto impresso
(tem 2519 caracteres).
(tem 1117 caracteres).
Curto, mas o texto da
edição impressa deve ser
mais detalhado (tem 998
caracteres).
Curto até mesmo para os
padrões de um jornal
online (tem 387
caracteres).
68
10
Linguagem
Simples? Coloquial?
Exagerada? Vulgar?
Destaca elementos
supéfluos,
insignificantes ou
essenciais?
Simples e direta sem
destacar elementos
insignificantes.
Simples e direta sem
destacar elementos
insignificantes.
Simples e direta sem
destacar elementos
insignificantes.
Simples e direta sem
destacar elementos
insignificantes.
11
Texto
Objetivo? Subjetivo?
Emocional? Técnico?
Superficial?
Profundo?
Informativo?
Não é superficial, por isso,
a mensagem não está
prejudicada .
Não é superficial, é objetivo
e informativo e mais
técnico, com depoimentos
e registros sobre a carreira
de Ronaldo.
Superficial e insuficiente
para responder ao título da
matéria .
Poderia ser mais
aprofundado, mas a
superficialidade não
prejudica a mensagem, é
especulativo.
Tem lide? Pirâmide
invertida?
Sim, porque é uma matéria
passada do jornal impresso
para o online.
Sim, porque é uma matéria
passada do jornal impresso
para o online .
Sim
Sim
A linha dos fatos segue a
lógica da pirâmide
invertida.
A linha dos fatos segue a
lógica da pirâmide
invertida.
Com Zagallo (então técnico
da seleção) e Lídio Toledo
(médico da seleção).
Com Zagallo, então técnico
da seleção.
Não há entrevistas.
É uma reflexão.
12
13
Tem entrevista,
informação, análise,
reflexão?
Mais técnico, com
depoimentos.
69
14
‘Busca a verdade, o
real’ com
objetividade,
equidade e
neutralidade ou
superdimensiona os
fatos? Informa e/ou
faz reflexão?
Busca a verdade fazendo
uma retomada dos fatos
passados com registros
sobre a carreira de
Ronaldo.
Busca a verdade com
neutralidade fazendo uma
retomada dos fatos
passados e apresentando
dados.
Informa e busca a realidade
a partir dos depoimentos
das fontes consultadas.
Informa. Busca a realidade
a partir do depoimento do
técnico.
Relata fatos para ajudar na
construção da verdade.
Informa e busca o real
resgatando fatos
anteriores. .
Não busca a verdade, ‘cria’
um fato - o doping- sem
qualquer respaldo
Faz especulação por
intermédio de um fato
real.
15
Tem contradição,
fragmentação,
justaposição,
pluralismo?
A contradição está no
diagnóstico do médico e na
versão do técnico sobre o
assunto.
Não
Não, porque não existem
fontes, apenas relatos .
Não
16
Traz detalhes para a
compreensão da
notícia? –
necessários ou não?
Relevantes ou não?
Traz um detalhe do erro da
ficha que os médicos da
Seleção Brasileira usaram
para avaliar Ronaldo no
período de treinos da
equipe, que era a ficha de
quatro anos anteriores.
Do valor que a Nike pagava
anualmente para a Seleção
Brasileira.
O breve relato do médico e
do técnico brasileiro sobre
o estado de Ronaldo por
meio de um comunicado e
sem esclarecer o ocorrido.
Associa o caso Ronaldo ao
escândalo de dopagem
entre os jogadores de
futebol na Itália.
70
17
18
19
Busca fontes? Faz
checagem das fontes?
Apresenta confronto
de pontos de vista
divergente? Apresenta
provas e fidelidade dos
fatos? Demonstra
autenticidade,
credibilidade – de que
forma?
As fontes, o médico e o
técnico da Seleção
Brasileira, são consideradas
oficiais e apresentam
pontos de vista
divergentes.
Contextualiza? Faz
referência a alguma
identidade cultural?
Há referências
anteriores/retrospec
to?
Não faz referência a
nenhum costume ou
padrão. Existe uma
retomada de alguns fatos
anteriores em relação a
Ronaldo.
Não faz referência a
nenhum costume ou
padrão. Existe uma
retomada de alguns fatos
anteriores em relação a
Ronaldo.
Não faz referência a
nenhuma cultura
específica.
Existe adequação
entre manchete e
texto? Excessos ou
ausências de fatos e de
termos prejudicam a
mensagem?
Existe uma adequação ao
título mas alguns fatos
poderiam ser mais
detalhados .
Não, porque não dá
resposta ao título.
O produto é insuficiente
porque não esclarece as
dúvidas do título, que é
muito longo.
Não, porque a fonte é
considerada oficial.
Não há menção a nenhuma
fonte.
Não existe corroboração de
provas. Apresenta fatos.
Não porque não existem
fontes.
Não há corroboração de
provas.
Existe apenas um relato
por parte do jornalista que
escreve a matéria.
Não, porque não existem
confrontos de informação.
Não existem fontes para
serem citadas.
Não há citação direta das
fontes mas elas são apenas
mencionadas no texto.
Não, tenta construir
hipóteses. Não, o título
requer uma resposta que o
texto não dá.
Não há referências
anteriores.
Faz referência ao costume
dos torcedores de
acompanharem os treinos
dos clubes, ao fato de
Ronaldo ter sido o melhor
jogador do mundo e ter
passado mal no dia da final
da Copa.
A manchete é adequada
mas o texto é muito curto
chegando a ser quase uma
nota.
71
6. Discussão
A discussão tem como base as principais normas definidoras do modo
sensacionalista na construção das matérias.
A preocupação com a FORMA é pouco explorada nas matérias online, tanto
em relação aos aspectos gráficos quanto às interfaces de internet. A publicidade, o
infográfico, as imagens e fotos, comuns nos outros tipos de jornais também não
aparecem como elemento adicional, complementar à notícia em nenhuma matéria
dos 3 países.
Há, no entanto, uma tímida manifestação de tratamento com recurso de cor
e diferenciação de letras no ínicio das matérias do jornal francês e uma iniciativa do
jornal brasileiro ao destacar o nome do jornal ao longo do texto. Já o jornal italiano
não vai além do uso do negrito no título.
Os VALORES NOTÍCIA mais presentes e identificados nas matérias
associam-se ao culto ao personagem, ao drama pessoal e coletivo e às indefinições
(mistérios) que envolveram o caso. O apelo emocional foi dominante e repercutiu de
maneira muito clara nos títulos, principalmente os títulos brasileiros, sempre na
expectativa de aproximar o ídolo do homem comum.
Os TÍTULOS cumprem sua função, sendo que 50% deles tem o apelo
emocional como principal forma de atingir o público. O jornal brasileiro busca atingir
o público destacando mais o personagem – Ronaldo. O jornal italiano usa alguns
termos mais fortes e, o jornal francês procura usar o recurso das perguntas em um
dos títulos para despertar a curiosidade do leitor, apesar de ser o menos direto e o
mais subjetivo em praticamente todos os títulos.
O SUBTÍTULO não é uma característica da matéria online francesa. No
entanto, está presente em duas situações do jornal brasileiro e em todas as matérias
do jornal italiano. A importância de complementar, explicar e trazer informações ao
título é bem caracterizada pelo jornal italiano.
A DIMENSÃO das notícias é bem diferenciada entre os 3 países. O jornal
francês tem textos muito curtos apesar de ser de tamanho próximo ao jornal
impresso; o jornal brasileiro também tem matérias curtas, mas pode ser classificado
72
como intermediário se comparado aos outros dois. No entanto, o jornal italiano se
caracteriza por textos longos e detalhados.
A quase totalidade das matérias se apresenta em LINGUAGEM simples e
direta, sem exageros, termos vulgares e adjetivações desnecessárias ou mesmo
excessos. As informações e adjetivações desnecessárias ficam por conta de apenas
uma das matérias do jornal brasileiro.
Todas as matérias tem como base as entrevistas e procuram repassá-las
como dados e de forma objetiva, sem considerações ou reflexões do autor da
matéria. O lado técnico das matérias é privilegiado para melhor informar. No entanto,
cabe destacar que, em todas as matérias com mais de uma fonte ouvida, o resultado
trouxe divergência de pontos de vista ou mesmo contradições em relação aos
depoimentos. Um dos recursos utilizados para a transmissão das informações é o
uso das aspas nos testemunhos.
A entrevista é o recurso mais presente para a construção destas notícias e a
pirâmide invertida também é utilizada, apesar de não ser indicada para o jornal
online que pretende ser direto, curto e objetivo, mesmo porque é possível verificar
que a grande maioria dos textos são tirados do jornal impresso.
O TEXTO mais profundo, mais detalhado e também mais longo, como já
destacado, está no jornal italiano. No entanto, a ausência de aprofundamento nos
demais jornais não interferiu de forma substantiva no entendimento da mensagem.
O jornal brasileiro foi o que mais buscou diversidade de fontes e, junto com o
jornal italiano, é também o que mais apresenta contradições. O jornal francês foi o
que mais apresentou diversidade de assuntos não relacionados ao caso, foi o mais
superficial em praticamente todas as matérias, não apresentou contradições e
também não se preocupou com entrevistas, apenas resgatou fatos passados.
O jornal francês é o que menos se preocupou em contextualizar ou buscar
referências que respaldassem o caso. O mais diversificado na contextualização do
caso e na temática do futebol foi o jornal brasileiro, apesar de existir esta
preocupação, mesmo que com menor ênfase, no jornal italiano. Tanto o jornal
brasileiro como o jornal italiano trazem informações externas aos acontecimentos
nos gramados.
73
Todas as matérias do jornal brasileiro e também do jornal italiano
procuraram se respaldar tecnicamente em entrevistas. Somente alguns, um
brasileiro e um francês, criaram situações de especulação externas ao fato.
A adequação entre a manchete e o texto é compatível nas matérias do jornal
italiano e também do jornal brasileiro, mas é muito pouco cuidada nas matérias do
jornal francês. Os fatos e termos utilizados neste último são insuficientes e
prejudicam a mensagem. Embora a adequação da manchete com o texto no jornal
brasileiro seja mais emocional e identificada diretamente com o jogador Ronaldo, ela
consegue repassar a mensagem utilizando o recurso das entrevistas.
A preocupação com a construção da notícia em ‘tempo real’ do jornalismo
online praticamente inviabiliza a apuração e checagem do jornal impresso. No
entanto o uso da entrevista para informar um fato marcante, de grande impacto,
tende a torná-la mais técnica e a minimizar o sensacionalismo. Das matérias
analisadas somente um dos textos brasileiros e um texto francês se utilizam do fato
para fazer especulação sobre assunto diverso do ocorrido e, neste sentido, podem
ser considerados sensacionalistas.
As considerações feitas à época pela imprensa e alguns autores também
ilustram os pontos discutidos, conforme exposto a seguir.
Costa (2010, p. 6), quando se refere à busca da informação e não à simples
exploração dos fatos, comenta que “o mistério em torno dos problemas ocorridos
com Ronaldo, o Fenômeno, o principal jogador da seleção, horas antes do jogo final
contra a França, foi intensamente explorado pela imprensa que, na época, não se
cansava de anunciar que traria a público a “verdade” dos fatos. A Folha de São
Paulo, por exemplo, publicou uma longa reportagem intitulada “A história secreta de
Ronaldinho” na qual alardeava comprovar que o jogador não teria sofrido uma
convulsão, mas sim uma crise nervosa (16/07/1998)”. Mais tarde, descobrir-se-ia
que a suposta crise nervosa seria uma parassonia, que segundo Caldeira (2002),
pode ocorrer em um momento de maior estresse ou ansiedade, como o fato de
disputar uma final de Copa do Mundo sendo titular e tendo a obrigação de vencer,
que era a situação que Ronaldo estava vivendo na ocasião da Copa de 98. No
entanto, o autor aponta que as parassonias nem sequer são consideradas doenças
porque quase nunca trazem problemas para quem as sofre.
74
Sobre o assédio sofrido por Ronaldo, e sua condição de celebridade em
oposição a de homem simples, Borelli (2001) comenta que Ronaldo (ou Ronaldinho,
como era chamado à época), sempre reforçou o papel da mídia na construção do
ídolo que ele se tornou. Para a autora (p. 8-9), “Ronaldinho sempre aparecia em
reportagens que salientavam a sua juventude (na época da Copa de 98, Ronaldo
tinha 22 anos incompletos), seu talento nato (nos dois anos anteriores à Copa da
França, em 96 e 97, ele foi apontado como o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA),
sua humildade, mas, ao mesmo tempo, era ambicioso, considerado maduro, pois
estava acostumado a conviver com cobranças. Porém, após o fracasso brasileiro
frente aos franceses, os jornais passaram a divulgar fatos que tornavam o mito, um
homem comum”. Mas, ainda que seja um ídolo consagrado do futebol, Ronaldo é
uma pessoa que também deve ter o direito à privacidade em alguns momentos, por
isso o atacante chegou a reclamar do assédio que vinha sofrendo por parte dos
jornalistas quando disputava uma partida de golfe no Rio de Janeiro. Neste
momento, estava exposto o conflito de personalidade entre o cidadão Ronaldo e o
astro de futebol Ronaldo.
Sobre este conflito entre o ídolo imortal (o Ronaldinho, então Melhor Jogador
do Mundo) e o homem mortal (o jovem Ronaldo Luís Nazário de Lima de 22 anos
incompletos), Helal (2003, p. 3) cita o exemplo de grandes estrelas do futebol,
nomeadamente Pelé, Zico e Maradona, para afirmar que “de fato, os ídolos têm que
conviver constantemente com o drama de ser dois: o homem e o mito. Como no
futebol é comum o jogador possuir um apelido (pelo qual é conhecido e famoso)
pode ser dito, por exemplo, que por detrás dos “homens” Edson, Diego e Arthur,
surgiram os “super-homens” Pelé, Maradona e Zico”.
Sobre a situação do atacante, tratado como o principal astro do time
brasileiro no torneio, Costa (2010, p. 5) mostra que
“nas narrativas de derrota da seleção em Copas é possível notarmos
uma constante referência à troca de acusações e uma ânsia pela
busca dos vilões, ou seja, aqueles jogadores, técnicos e dirigentes
responsáveis pelo fracasso em campo”,
75
como ocorreu com Ronaldo que acabou se tornando o “motivo” pela derrota diante
dos franceses. Ribas (2010, p. 393) complementa reforçando que
“[...] para o povo brasileiro, é inútil tentar ver o jogo com
imparcialidade e admitir que a França jogou muito melhor. A culpa da
perda do título estaria para sempre vinculada ao piripaque de
Ronaldo e à teimosia de Zagallo em escalá-lo”.
Segundo Freitas e Rigo (2009), o sentimento de nacionalidade em uma
Copa do Mundo é demonstrado pela noção compartilhada de pertencer a uma
bandeira e sugere a união das pessoas em torno de algo que as caracterize como
pertencentes a determinado país. Nesta noção de pertencimento, os torcedores
acabam acusando os jogadores brasileiros que atuam no exterior, como era o caso
de Ronaldo, de serem “estrangeiros” e não terem muita identificação com o país,
mesmo que até então o atacante tenha sido exaltado como um fenômeno pelos
torcedores brasileiros. Thompson (2002) apud Herschmann e Pereira (2005, p. 11)
destacam “a interação entre fãs e ídolos dentre os novos tipos de relações que
advêm do acesso mediático ao biográfico”.
Neste contexto de idolatria, o torcedor, que cria e idealiza um jogador como
ídolo, tem um papel muito importante, embora possa vir a se frustrar por não
conseguir ter um contato mais próximo, como gostaria (e idealiza), com a figura que
ele idolatra.
Portanto, de uma maneira geral, as discussões sobre a abordagem dos
veículos analisados são coincidentes com a análise feita por diferentes autores
sobre o mesmo caso e também sobre a maneira como ele foi divulgado.
76
7. Conclusões
O contexto do jornalismo online em 1998 era de uma mídia nova, de criação
muito recente e que ainda não explorava os conceitos e potencialidades
teoricamente preconizados.
Dentre os recursos pouco explorados estão os recursos de internet e o
marketing. Em particular os recursos de forma presentes no jornal impresso,
independentemente da pressa e velocidade associada à notícia em tempo real do
jornal online, poderiam e deveriam ser melhor explorados para compreensão da
notícia.
Os recursos visuais deveriam experimentar e explorar as diferenças do
jornalismo online em relação ao jornal impresso. A publicidade também não se
mostrou presente apesar do seu inegável potencial associado ao veículo online.
A opção por reproduzir a matéria do jornal impresso minimizou o potencial da
internet tanto na forma como no conteúdo, conforme exposto nas considerações do
presente trabalho.
Os jornalistas deixaram de considerar as diferentes realidades de cada país
ao construir as notícias. A ausência de contextualização busca identidade e busca
proximidade em relação ao leitor como requisito para o entendimento da mensagem
e
pode
estar
associada
à
construção
da
notícia
de
um
personagem
internacionalizado.
Pode-se dizer que nos três países dos jornais analisados, os jornalistas
buscaram o respaldo das entrevistas com pessoas próximas ao fato para trazer
contribuições que esclarecessem e também para dar maior credibilidade e
autenticidade à notícia. Procuraram transmitir a informação sem acrescentar
considerações ou reflexões pessoais. Assim, os jornais apresentaram uma
construção de notícia ‘mais técnica’, com intuito de informar com o respaldo de
entrevistas. Este foi o caminho adotado já que a incerteza diante do fato – bastante
recente - estava evidente.
A prestação da informação, inclusive pelas entrevistas identificadas, é
marcante nestas matérias. Nas matérias analisadas não predominou o jornalismo
77
sensacionalista, mesmo com o envolvimento de um ídolo. Prevaleceu a prestação
da
informação.
De
alguma
maneira
houve
um
contraponto
às
notícias
espetacularizadas em torno do evento e também do ídolo mundializado.
Cabe observar que o ‘Caso Ronaldo’, além do momento do fato, perdurou
ainda por muito tempo na mídia e abriu espaço e possibilidade para os mais
variados tipos de cobertura jornalística. No entanto os textos analisados são de
datas muito próximas ao fato e o alto grau de incerteza diante do ocorrido não deu
muita margem e tempo a especulações, em especial nos primeiros momentos, mas
sim espaço para informar. Neste sentido, como já foi observado, as matérias se
apresentaram mais técnicas e procuravam repassar informações por meio de
entrevistas. As matérias não podem, em sua maioria, ser consideradas
sensacionalistas.
78
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85
Anexos
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Anexo A – Matérias da Folha de São Paulo, Brasil
Emocional abalou Ronaldinho
Artilheiro brasileiro teve uma crise de choro e desmaiou na madrugada que antecedeu a
decisão da Copa da França
Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
Neste texto foi mantida a grafia original
Ronaldinho, para o lateral Roberto Carlos, 'amarelou mais que a camisa' da seleção do
Brasil dos enviados a Saint-Denis.
O atacante Ronaldinho, eleito pela Fifa (entidade máxima do futebol) o melhor jogador
do mundo em 96 e 97, passou mal ontem, foi levado ao hospital antes da final contra a
França e quase ficou ausente da partida. Segundo o lateral Roberto Carlos, seu amigo e
companheiro de quarto, o atacante da Inter de Milão teve uma crise de choro na
madrugada, chegando a desmaiar.
O atacante, segundo ele, "amarelou mais do que a camisa".
No jargão futebolístico, "amarelar" significa sucumbir a algum tipo de pressão.
O volante Dunga, capitão da equipe, também afirmou que Ronaldinho passou mal ontem
à tarde, pouco antes do jogo.
Ronaldinho foi levado a um hospital para ser examinado, o que fez o técnico Mario
Zagallo alterar a escalação do time.
Colocou Edmundo em seu lugar, mas, depois de Ronaldinho afirmar que tinha condições
de jogar, voltou atrás. Distribuiu nova escalação com o atacante titular.
Roberto Carlos disse que "a tensão do jogo fez com que ele se sentisse mal. Acho que foi
emocional. Ele tem apenas 21 anos de idade, é o melhor jogador do mundo, tem
contratos, sofre pressões e exigências. Uma hora isso iria acontecer. Infelizmente,
aconteceu na final da Copa".
Segundo o lateral, Ronaldinho começou a sentir-se mal ontem de madrugada, por volta
das 4h. Quando viu o estado do atacante, Roberto Carlos foi chamar o médico da
seleção, Lídio Toledo.
"Ele estava meio caído. Estava estranho. Era só olhar para o Ronaldo para sentir que ele
não estava bem", afirmou Roberto Carlos. Segundo Lídio Toledo, Ronaldinho teve apenas
uma tontura. "Ele passou mal, teve uma tonteira. Foi uma hipostenia", disse o médico,
depois da partida.
Segundo o dicionário Aurélio, hipostenia significa diminuição de forças, enfraquecimento.
Toledo afirmou que o atacante não foi levado para um hospital para fazer exames
87
médicos.
Porém um boletim da Fifa, distribuído momentos antes do jogo, afirma que Ronaldinho
foi levado para um hospital de Paris para fazer exames médicos, fato confirmado por um
outro integrante da delegação brasileira.
Ronaldinho chegou ao Stade de France, local da final, em Saint-Denis, às 20h10, horário
da França (15h10 de Brasília), 50 minutos antes do início do jogo contra a França, com o
médico Joaquim da Mata.
O estado de Ronaldinho fez com que sua performance na partida contra a França fosse
pífia. O atacante passou a maioria do jogo parado, não conseguindo realizar suas
jogadas.
Mesmo assim, acabou como artilheiro do Brasil no Mundial, conseguindo marcar quatro
gols em sete partidas.
O médico da Internazionale de Milão, Piero Volpi, afirmou ontem que irá avaliar
Ronaldinho quando ele retornar para a Itália, depois do período de férias que o atacante
terá no Brasil.
Segundo o médico, é um absurdo dizer que o atacante precisa de uma cirurgia em seu
joelho direito. Ronaldinho reclamou durante a Copa do Mundo de dores no local. O
brasileiro recebe US$ 500 mil por mês de sua equipe.
Segundo Lídio Toledo, o atacante tem instabilidade nas patelas (rótulas) dos joelhos.
Esse problema foi causado por desenvolvimento muscular acelerado. Toledo recomendou
reforço no local com exercícios de musculação e bolsa de gelo após os treinos.
DOSSIÊ RONALDINHO (19/7/98)
Roberto Carlos, que dividiu quarto com atacante na Copa, diz que colega é uma "pessoa
sozinha"
"Ronaldo precisa se abrir', diz lateral
FÁBIO VICTOR
enviado especial a Araras
O lateral-esquerdo Roberto Carlos, testemunha mais próxima da crise nervosa vivida por Ronaldinho
no dia da decisão da Copa-98, disse que o atacante só vai resolver seus problemas emocionais quando
"se abrir" com as pessoas.
Em entrevista à Folha em sua chácara em Araras (170 km a noroeste de São Paulo), Roberto Carlos
contou que Ronaldinho jamais revela seus problemas particulares, nem mesmo a familiares, e que essa
poderia ter sido uma das causas do colapso do colega.
"O Ronaldo é uma pessoa sozinha. Ele tem que se abrir mais. Se ele de repente casar com a Suzana, ou
se chamar o pai e a mãe dele de lado, conversar com os pais, tenho certeza de que ele vai tirar 80% do
peso das costas e vai conseguir jogar o mesmo futebol que jogou no Barcelona... e que está jogando
na Inter", afirmou.
Cerca de seis horas antes da final da Copa entre Brasil e França, no último dia 12, Ronaldinho sofreu
uma crise nervosa, inicialmente desmentida pela comissão técnica da seleção brasileira.
88
No dia seguinte, o médico Lídio Toledo afirmou que o atacante havia sofrido uma convulsão, hipótese
que a Folha apuraria ser falsa.
O episódio chegou a causar um "racha" entre os jogadores da seleção a poucas horas do início do
jogo. Ronaldinho foi mal, o Brasil fez a sua pior partida na Copa e foi derrotado por 3 a 0.
Colega de quarto de Ronaldinho durante o Mundial e primeira pessoa a ver os efeitos da crise do dia
12, Roberto Carlos disse ter tido uma relação muito forte com o atacante no período da Copa, mas
restrita a coisas do dia-a-dia.
"A gente ficava conversando a tarde toda no quarto, jogava pingue-pongue juntos. Quando eu
acordava primeiro, despertava ele, e quando ele acordava primeiro, me despertava. A relação era
muito legal. Mas não sei o que o afligia, ele nunca me falou."
"Só falávamos de futebol, nada da vida pessoal dele. Ronaldo é uma pessoa muito calada. Se você
perguntasse se o cabelo dele estava crescendo, ele dizia: "Não sei'. Ele é muito "eu', "os problemas são
meus, deixa eu resolver'."
Apesar de afirmar não saber da vida íntima de Ronaldinho, Roberto Carlos deixa escapar impressões.
Afirma, por exemplo, que a suposta crise no namoro do atacante com a modelo Suzana Werner "foi
um dos problemas" que teriam levado à crise.
"Isso incomoda. Todo mundo vendo saírem coisas no jornal sobre ela... Não vão olhar para você como
uma pessoa normal", disse, em referência a boatos envolvendo a namorada do jogador.
O lateral do Real Madrid (Espanha) negou declarações dadas à Folha após a final, entre elas a de que
Ronaldinho teria "amarelado" (não suportado as pressões).
Disse que nunca declarou que Ronaldinho chorou na noite anterior ao jogo e negou ter dito que o
atacante estivesse tendo dificuldades para dormir. "Ele vinha dormindo bem, sem problemas. Durante
50 dias não vi o Ronaldo mal. Só a dois dias de a gente vir embora. No dia do jogo, o jogo mais
importante da competição."
Roberto Carlos contestou também informações obtidas pela Folha. Segundo ele, não é verdade que
Lídio Toledo saiu chorando do quarto após atender Ronaldinho, nem que alguns jogadores pediram a
Toledo que medicasse o atacante durante a crise.
O lateral negou ainda que, após o colapso, Ronaldinho não dormiu e até saiu do quarto para tomar
um suco. "Fiquei deitado do lado dele. Ele dormiu das 14h15 às 16h30. Eu quem o acordei. Ele só saiu
para tomar um lanche, às 17h, e para ir à clínica, às 17h50."
"Isso é tudo mentira. Colocaram palavras na minha boca. Não iria me rebaixar tanto", disse ele, que
revelou estar estudando a possibilidade de processar jornais.
Ironicamente, após criticar a imprensa, Roberto Carlos sugeriu que conversar mais com os jornalistas
poderia ter ajudado Ronaldinho. "Acho que se ele falasse mais com a imprensa conseguiria extravasar
o que estava sentindo."
De como tirei meu time de campo no jogo final
CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial (15/7/98)
Antes de mudar o canal e mandar de vez o assunto para as cucuias, sinto-me obrigado a responder à
pergunta que mais tenho recebido desde que voltei da França e da Copa 98: afinal, o que houve com
o Brasil no último jogo? Bem, para começar, o que vi ao vivo todo mundo viu pela TV; a nossa seleção
jogou desarvorada. E o adversário tinha garra e vontade de ganhar. Poucos resultados, no universo
dos esportes, foram tão justos e transparentes como aquele 3 a 0 de Saint-Denis.
Agora, o que se passou horas antes com os jogadores brasileiros só aos poucos está sendo revelado.
89
Mesmo se estivesse dentro da concentração, pouco saberia. O próprio Zagallo, com a
responsabilidade de escalar o time, dormia na hora do incidente e só veio a saber da crise hora e
meia depois.
Foi um baita azar do jogador, da seleção inteira e de todos nós, torcedores brasileiros. A cota de
desgraça, que para alg uns é maior ou menor, não pode ser esquecida numa hora dessas. Tampouco
é necessário procurar um bode expiatório para a derrota. Não merecíamos ganhar essa Copa, apenas
isso. Não fizemos uma campanha brilhante, pelo contrário, perdemos feio em Marselha, ganhamos da
Holanda num cara ou coroa, exibimos uma esculhambação logística que tinha de dar numa espécie de
tragédia menor. O raio cairia justamente em cima de nossa maior vedete. Teve lógica, apesar de
tudo, a crise de Ronaldinho, fosse lá o que fosse. Ele encarna nos seus poucos anos de idade os vícios
que cercam o futebol nacional e mundial.
Antes de mais nada, é mesmo bom de bola, como o Brasil o é de fato. Eventualmente, pode até ser o
melhor do mundo, há períodos em que somos de fato os melhores. Mas o volume de dinheiro que
agora cerca o futebol como espetáculo e negócio começa a mudar a estrutura, digamos, espiritual de
uma competição esportiva. Li, não sei onde, que em breve a Copa d o Mundo não será disputada por
países com bandeiras e hinos nacionais, mas por fábricas de tênis e material esportivo -"make sense"
e bota sentido nisso.
Evidente que também não se pode responsabilizar a guerra industrial pela decisão de colocar um
jogador em campo com os problemas que Ronaldinho teria vivido. Dizem que Napoleão perdeu em
Waterloo porque teve uma diarréia na véspera. É possível, mas não muda a história. Ele poderia ter
tido esse problema na véspera de Marengo, de Iena, de Austerlitz.
A pergunta que eu mesmo faço é a seguinte: esse tal dr. Ricardo Teixeira mereceria ser campeão do
mundo de alguma coisa? Com ou sem diarréia na véspera, ele abusou do poder eventual que detém
sobre o esporte mais popular do Brasil. Cometeu desatinos pessoais e globais -e muita água rolará
ainda. Compreende-se que todos queiram saber o que houve com Ronaldinho e de quem seria a
responsabilidade maior de escalá-lo. Daí que minha resposta aos que me fazem tal indagação é
apenas aleatória.
Antes mesmo de começar a partida, quando os jornalistas receberam da Fifa o boletim com a
escalação do Brasil, houve pasmo: Edmundo no lugar de Ronaldo! Alguns colegas haviam assistido ao
treino na véspera e viram Ronaldinho inteiro, sem nenhuma contusão ou problema.
Cinco minutos depois, novo boletim da Fifa dando a escalação final, com Ronaldinho no lugar que
deveria estar. O que teria havido? Correu pela tribuna de imprensa a notícia de que Ricardo Teixeira
teria descido ao vestiário e exigido, em nome do patrocinador da seleção, que o jogador fosse
escalado. Tudo bem. Mas qual teria sido o problema? O jogo ia começar quando ouvi pela primeira
vez a hipótese de uma convulsão que teria feito Ronaldinho tombar e espumar. Sério demais para ser
verdade. Mas era verdade.
Não me competia sair de onde estava para apurar pessoalmente o que teria havido. Minhas
responsabilidades profissionais eram para opinar, não para informar. Como aquele personagem
stendhaliano muito citado, assisti a uma batalha sem saber de que se tratava de uma espécie de
Waterloo nacional.
Passadas duas semanas, temos apenas versões do que teria havido. Muita tinta e papel serão gastos
com informações, revelações, confissões, o diabo. Até hoje não se chegou a acordo sobre fatos
também importantes, como a morte de Sêneca, os idos de março, a noite de São Bartolomeu, o
atentado a Kennedy, a chacina do Carandiru, não sabemos nem onde estão os ossos de Dana de
Tefé. Como saber se a língua de Ronaldinho enrolou três horas antes da grande enrolação que foi o
desempenho do Brasil nessa Copa do Mundo?
Falei dos dois boletins da Fifa distribuídos minutos antes do jogo começar. Esqueci o terceiro e último.
90
Tinha apenas três ou quatro linhas e informava que o jogador estivera hospitalizado. Nem tive tempo
de me espantar, porque os hinos já estavam sendo tocados.
Não é falta de patriotismo achar a "Marselhesa" o mais bonito dos hinos. Vendo e ouvindo aquele
povão inteiro declarar que o dia de glória havia chegado, e mesmo sem saber porque Ronaldinho
afinal entrara em campo, decidi me conformar. E silenciosa, mas amargamente, do mesmo campo
tirar o meu time e a minha esperança.
Noiva de Ronaldinho nega caso com jornalista
durante a Copa
do "Notícias Populares" (22/7/98)
A modelo Suzana Werner, noiva do atacante Ronaldinho, da seleção brasileira e da Internazionale de
Milão (Itália) disse que o jornalista Pedro Bial, da TV Globo, procurou o atacante Ronaldinho para
conversar durante a Copa do Mundo da França.
O objetivo de Bial teria sido desmentir as insinuações de que ele teria tido um caso amoroso com
Suzana. "Ficou tão chato que o Bial chegou a procurar o Ronaldo para conversar com ele. O Bial disse
a ele que não tinha nada a ver", afirmou ela.
Os rumores sobre o suposto romance entre Suzana Werner e Pedro Bial começaram depois que as
câmeras de TV mostraram os dois juntos na arquibancada durante um jogo do Brasil.
"Só mostraram o Bial e eu, mas do outro lado estavam a mulher e o filho dele. Isso ninguém mostrou.
Só mostram o que interessa", afirmou Suzana.
A modelo e atriz disse que a dúvida sobre sua fidelidade não pesou na cabeça do jogador na final do
Mundial, contra a França.
"O Ronaldo nunca se preocupou com isso. Ele sempre soube que era tudo mentira, coisa de gente
invejosa", disse.
O atacante, que teve uma má atuação na final da Copa, sofreu uma crise nervosa seis horas antes da
partida com a França.
Segundo Suzana, o que realmente irritou Ronaldinho foi a cobrança em relação ao futebol.
"O que estressou o Ronaldo foram aquelas pessoas todas dizendo: "Esse jogo é para você ganhar,
você tem que ser o artilheiro'. Isso martelou muito a cabeça dele. Mas agora já está legal", afirmou.
Suzana está de férias até o dia 20 de agosto. Só então voltará à Europa, onde mora com o atacante.
"Não há planos de casamento por enquanto. Quando o casamento estiver marcado, vou anunciar",
disse.
91
Anexo B – Matérias do Gazzetta dello Sport, Itália
15 luglio 1998
Tutta la rabbia di Moratti
" Far giocare Ronaldo e' stato un errore gravissimo: bisognava rispettare la
persona " La federazione brasiliana ha tutti i diritti di schierare Ronaldo, ma
deve fare attenzione all' uomo prima che al calciatore Anche se la situazione si
e' normalizzata, non ho intenzione di lasciar cadere l' argomento Visto cio' che
e' successo, mi auguro che si comportino di conseguenza: avranno il buon
senso di capire che non e' il caso di portarlo fino in Giappone gia' in agosto L'
Inter e' stata informata poco e male di quanto stava accadendo a un suo
giocatore Tuttora non conosciamo cosa e' successo a Ronaldo Grazie all'
intelligenza e al carattere Ronaldo e' riuscito a sopportare questo stress, ma
una finale mondiale non e' uno scherzo, e all' improvviso dev' essersi sentito
addosso tutte le responsabilita' Di certo, all' Inter non ha mai avuto problemi
di questo tipo
----------------------------------------------------------------- Il presidente dell'Inter si scaglia contro
la federcalcio brasiliana Tutta la rabbia di Moratti "Far giocare Ronaldo e' stato un errore
gravissimo: bisognava rispettare la persona" La federazione brasiliana ha tutti i diritti di
schierare Ronaldo, ma deve fare attenzione all'uomo prima che al calciatore. Anche se la
situazione si e' normalizzata, non ho intenzione di lasciar cadere l'argomento. Visto cio' che e'
successo, mi auguro che si comportino di conseguenza: avranno il buon senso di capire che
non e' il caso di portarlo fino in Giappone gia' in agosto L'Inter e' stata informata poco e male
di quanto stava accadendo a un suo giocatore. Tuttora non conosciamo cosa e' successo a
Ronaldo. Grazie all'intelligenza e al carattere Ronaldo e' riuscito a sopportare questo stress,
ma una finale mondiale non e' uno scherzo, e all'improvviso dev'essersi sentito addosso tutte
le responsabilita'. Di certo, all'Inter non ha mai avuto problemi di questo tipo MILANO - Sara'
difficile che l'affaire - Ronaldo si risolva con un semplice (e scontato) supplemento di ferie
magnanimamente concesso dall'Inter. Sara' difficile perche' la ferita apertasi domenica tra la
federcalcio brasiliana e il club e' profonda, ai limiti dell'incidente diplomatico; e ieri
pomeriggio, appena rientrato da Parigi per partecipare alla riunione di Lega, Massimo Moratti
su questa ferita ha sparso il sale di un'indignata dichiarazione. "Far giocare a Ronaldo la finale
dopo cio' che gli era successo e' stato un errore gravissimo. La federazione brasiliana ha tutti i
diritti di schierarlo, non glielo voglio certo togliere: ma deve fare molta attenzione a rispettare
la persona prima ancora del calciatore. E anche se ora la situazione si e' normalizzata, non ho
intenzione di lasciar cadere l'argomento". Non sono esattamente parole concilianti. Il loro
primo effetto potrebbe riguardare la partecipazione di Ronaldo alla pletora di amichevoline e
torneucci che il Brasile organizza per fare cassa. I regolamenti internazionali glielo
consentono, e' vero, ma ora che lo sponsor tecnico di nazionale e Inter e' lo stesso, la Nike,
parlarsi sara' meno problematico. E il Brasile ha la gaffe (chiamiamola cosi') di Parigi da farsi
perdonare. Promemoria: il 19 agosto la selenao e' attesa dal Giappone a Osaka, prima mossa
del grande sbarco del calcio sul pianeta del Mondiale 2002. Risposta di Moratti: "Visto cio'
92
che e' successo, mi auguro che si comportino di conseguenza. Avranno il buon senso di capire
che non e' il caso di portarlo fin li' gia' in agosto". Essendo loro permesso a termini di
regolamento (sette amichevoli piu' i tornei ufficiali Fifa), avremo un primo segnale sugli
sviluppi dell'affaire. "La nazionale brasiliana e' una squadra di enorme prestigio - dice ancora
Moratti - e gli uomini del suo staff sono di assoluto valore. In questa occasione, pero', devo
lamentare che l'Inter e' stata informata poco e male di quanto stava accadendo a un suo
giocatore; utilizzato malamente nella finale di domenica sera, e senza che noi sapessimo nulla
di quanto era accaduto nel pomeriggio. Ripeto, lo considero un fatto gravissimo. Tuttora noi
non conosciamo nei dettagli cosa e' successo a Ronaldo". Presidente e giocatore si sono
parlati telefonicamente lunedi' pomeriggio, prima della partenza del secondo per Rio de
Janeiro. Ronaldo ha ovviamente sostenuto che la decisione di giocare e' stata interamente sua,
ma la cosa ha un'importanza relativa. E' difficile, molto difficile per qualsiasi giocatore
rinunciare a una finale mondiale; in uno staff deve esistere qualcuno in grado di fermarlo, se
e' il caso di farlo. E un attacco di convulsioni a sei ore dal fischio d'inizio non e' il viatico
migliore per scendere in campo. Si sono dette molte cose, sulla situazione generale di
Ronaldo: telefonini bollenti, mostruosa quantita' di impegni, pressione esagerata. Moratti le
ripete convinto: "La Francia ha vinto il Mondiale e Zidane e' stato il miglior giocatore della
finale, eppure sulle prime pagine di oggi e' finito lo stesso Ronaldo, al centro delle attenzioni
qualsiasi cosa faccia. Dobbiamo renderci conto che lui e' una delle persone, non solo dei
calciatori, piu' conosciute del mondo. Grazie all'intelligenza e al carattere e' riuscito a
sopportare per molto tempo questo stress, ma una finale mondiale non e' uno scherzo, e
all'improvviso dev'essersi sentito addosso tutte le responsabilita', tutte le aspettative. E per una
volta non e' riuscito a tollerarle, crollando. Penso che ora sia interesse di tutti lasciarlo
tranquillo, considerare quanto e' successo e fare molta attenzione in futuro. Di certo, all'Inter
non ha mai avuto problemi di questo tipo". Il discorso supplemento ferie, da concordare con
Gigi Simoni, non sara' un problema. "Ronaldo fara' le vacanze delle quali ha bisogno, non e'
facile buonismo ma un'esigenza della quale avevamo gia' parlato prima dell'episodio di
domenica". Prevedendolo comunque esentato dal turno di qualificazione alla Champions
League, il calendario stagionale di Ronaldo consiste comunque di 34 partite di campionato, da
6 a 11 di coppa europea, un mazzetto variabile di coppa Italia, 7 amichevoli col Brasile piu' i
tornei ufficiali (la Confederation Cup in Messico a gennaio, la Coppa America in Colombia a
giugno). Fate un rapido calcolo, e scoprirete che in pratica siamo sul livello della stagione
appena conclusa: la bellezza di 64 partite. Ci mancava soltanto che Sampdoria o Bologna lo
chiedessero in prestito per l'Intertoto... Paolo Condo'
Paolo Condò
18 luglio 1998
l' Inter vola a casa Ronaldo
partito il dottor Volpi. il giocatore dice: " sono il capro espiatorio " il dubbio,
che l' Inter vuole verificare, e' che i medici dell' ospedale parigino avessero
sconsigliato l' impiego del giocatore nella finale. intanto Ronaldo parla in
93
Brasile per dire che il suo caso e' diventato l' alibi per giustificare il k. o. il
medico della nazionale: " deve fare altri esami "
----------------------------------------------------------------- Improvvisa missione in Brasile: si
cercano i documenti relativi al malore di domenica L'Inter vola a casa Ronaldo Partito il
dottor Volpi. Il giocatore dice: "Sono il capro espiatorio" Il dubbio, che l'Inter vuole
verificare, e' che i medici dell'ospedale parigino avessero sconsigliato l'impiego del giocatore
nella finale. Intanto Ronaldo parla in Brasile per dire che il suo caso e' diventato l'alibi per
giustificare il k.o. Il medico della nazionale: "Deve fare altri esami" L'Inter e' volata da
Ronaldo. + partito il dottor Piero Volpi l'altro ieri sera, da Milano per Rio de Janeiro, con
Pitta, uno dei due procuratori brasiliani del giocatore, e alla Sports Clinic, la clinica milanese
dove esercita la sua professione il medico nerazzurro, dicono che e' di nuovo atteso in Italia
per giovedi' prossimo. Perche' questa partenza anticipata rispetto all'iniziale programma che
prevedeva il viaggio in Brasile per l'inizio della prossima settimana, magari in compagnia di
un importante neurologo di fiducia? Per testimoniare concretamente a Ronaldo la presenza
attiva dell'Inter, rendersi conto di persona delle sue condizioni - che comunque, dopo la
grande paura, sembrano tranquillizzanti - ma anche vedere finalmente i documenti medici del
caso: sia quelli relativi ai controlli fatti da Ronaldo alla clinica Lilla di Parigi prima della
finale di domenica scorsa, sia il rapporto dello staff medico brasiliano relativo a tutto il
Mondiale. Sembrava che un plico contenente tutta la documentazione dovesse arrivare ieri a
Milano (il dottor Volpi l'avrebbe visto consultandosi con alcuni specialisti), ma l'Inter ha
preferito rompere gli indugi e saltare l'ostacolo di un (eventuale?) comportamento poco
collaborativo da parte della federazione brasiliana, che avrebbe dovuto provvedere all'invio
del materiale. Perche' questo non fosse ancora stato fatto ieri e' da accertare, ma a questo
punto non e' da escludere neanche l'ipotesi che, dopo i controlli fatti a Parigi prima della
partita, fosse stato sconsigliato l'impiego di Ronaldo. Volpi, a Rio, potra' verificare meglio
tutto, ma non e' da escludere, nei prossimi giorni, se necessario anche un interessamento della
Fifa. Ma il presidente dell'Inter Moratti non vuol considerare l'ipotesi di iniziare una guerra
che non avrebbe vincitori e dice apertamente di non voler sentire parlare di pressioni e
tantomeno di azioni ufficiali: "Non mi interessa niente di queste cose, l'importante, adesso, e'
solo che Ronaldo si faccia le sue vacanze. Possibilmente tranquillo. L'ho sentito al telefono
ieri (giovedi', ndr) e l'ho trovato come al solito, pacato, intelligente, in grado di usare sempre
anzitutto buon senso nei suoi giudizi. E poi carino: parlavamo della finale del Mondiale e mi
ha detto "Lei presidente dev'essere contento lo stesso: ci ha pensato Djorkaeff a portare
comunque la coppa all'Inter". Nel frattempo, a Rio, Ronaldo ha smentito ieri di soffrire di
epilessia. L'ha fatto parlando con alcuni giornalisti brasiliani che stazionavano sotto la sua
casa di Rio de Janeiro. Il giocatore ha riferito di aver fatto nuovi esami medici. "La possibilita'
dell'epilessia e' totalmente scartata" ha detto riferendosi all'ipotesi avanzata mercoledi' dal
medico della nazionale brasiliana, Lidio Toledo. "Non ho niente - ha affermato Ronaldo -.
Non ho avuto alcuna convulsione, non ho avuto nulla di tutto cio'. Gli esami sono stati fatti in
Francia e io sono tranquillo. Il Brasile ha perduto con la Francia perche' tutta la squadra ha
giocato male, ma si e' trovato in me un capro espiatorio. Non posso essere crocifisso da solo.
Ho domandato io al professore (Zagallo, ndr) di giocare la finale". Ronaldo ha anche detto di
avere in programma una vacanza di un mese assieme alla fidanzata. Informato delle
dichiarazioni, il medico della nazionale, Lidio Toledo, non ha nascosto la sua preoccupazione.
Secondo Toledo, non si puo' escludere che soffra di epilessia. "Deve preoccuparsi di fare
ricerche sul suo problema e deve pensare che non costa nulla fare degli esami per preservare
la salute. Lui nega di avere avuto le convulsioni perche' non ricorda nulla di quello che gli e'
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successo e quando si e' svegliato dopo l'attacco non sentiva piu' niente e pensava di avere
avuto un incubo". Toledo ha poi ricordato che domenica scorsa quando si e' precipitato nella
camera di Ronaldo ha trovato il giocatore "buttato sul letto, sonnolento, con gli occhi
semichiusi e tracce di saliva sulla bocca ma con il colorito della pelle normale". Ha spiegato
che si incarico' di informare lui stesso Ronaldo di quello che gli era successo e ha assicurato
che il giocatore ne fu molto stupito perche' in quel momento si sentiva perfettamente e
desiderava solo giocare. Sull'argomento e' intervenuto ancora l'assistente di Zagallo, Zico, che
ha ribadito come, a suo parere, la decisione di schierare Ronaldo contro la Francia sia stata un
errore. "Era una scelta di competenza dei medici, che non hanno detto niente. Zagallo s'e'
preso la responsabilita' di metterlo. Ma era groggy". Andrea Elefante ---------------------------------------------------------------- Agnelli punzecchia Ronaldo e Del Piero "Credo che certi
purosangue, come succede ai cavalli, nel momento dello stress comincino a tremare" Gianni
Agnelli ha rilasciato ieri al TG1 un'intervista, andata in onda nell'edizione serale, nella quale,
fra le altre cose, ha parlato di calcio. Richiesto dal giornalista Marco Franzelli di un'opinione
sulla differente reazione emotiva ai grandi appuntamenti dei campioni di varie epoche,
domanda esplicitamente dedicata al caso - Ronaldo e al fallimento di Alessandro Del Piero,
l'Avvocato ha risposto: "Non credo che i fuoriclasse di oggi siano piu' fragili di quelli di ieri.
Come succede ai cavalli, credo ci siano certi tipi di purosangue che, nel momento della fatica
e dello stress, cominciano a tremare. E il loro rendimento cambia". Capitolo Zidane. Il grande
protagonista della finale, uomo - faro della Juventus, ha ovviamente entusiasmato Agnelli.
"Gli ho parlato il giorno prima della partita con il Brasile, e gli ho ricordato che lui sa giocare
molto bene di notte e a Marsiglia (dove Zidane e' cresciuto, ndr). La notte c'era, se avesse
pensato di trovarsi a Marsiglia la situazione sarebbe stata perfetta. Non per le cose che gli ho
detto io, ma il risultato e' stato eccezionale. Se fosse possibile trasportare in un altro sport la
sua impresa, ricorderei certi match di Sugar Ray Robinson. Il primo gol e' stato uno knock
down. Il secondo uno knock out". Agnelli e' intervenuto anche sul tema del sorteggio
arbitrale: "Si puo' sbagliare anche da sorteggiati. Al Mondiale si sono visti arbitraggi
eccellenti e altri pieni di errori, ma nessuno ha attribuito questi ultimi alla malafede, sarebbe
stato ridicolo. Ben venga anche il sorteggio, comunque. Ben venga lo scontro a campo aperto
fra le squadre". ----------------------------------------------------------------- Abbonamento numero
47.631: Penati Marziano. Ed e' record L'Inter, che anche quest'anno sara' il club col maggior
numero di tessere, ha battuto ieri il suo vecchio primato. Verso quota 50 mila MILANO - Si
chiama Marziano Penati, e' iscritto all'Inter Club Rho, e il suo piccolo posto nella storia del
club nerazzurro l'ha conquistato ieri mattina, andando nella sede della Banca Popolare di
Milano per sottoscrivere l'abbonamento numero 47.631 della campagna in corso. Le tessere
staccate l'anno scorso, precedente record della societa', erano 47.630: il tagliando del signor
Penati (premiato poi in sede da Sandro Mazzola) ha fatto segnare il nuovo primato,
praticamente certo ieri mattina, quando mancavano soltanto 253 abbonamenti per toccare il
vecchio limite. Per la cronaca, ieri sera le tessere vendute erano gia' salite a quota 47.841, per
un incasso di 22 miliardi e 177 milioni. A questo punto e' abbastanza scontato che la
campagna abbonamenti 1998 - 99 produca il balzo oltre le 50 mila tessere che era nei sogni
della dirigenza nerazzurra. Dopo le due antiche "vittorie" nella guerra degli abbonamenti ('64
e '65), l'Inter era rimasta lontana dal primo posto assoluto (conquistato sempre da Napoli o
Milan) per 33 anni: ma l'arrivo di Ronaldo l'aveva rilanciata al comando della speciale
graduatoria. E quest'anno il colpo - Robi Baggio, unito agli altri acquisti e al convincente
comportamento della squadra l'anno scorso, ha prodotto il nuovo primato. Non c'e' dubbio che
l'Inter, per la seconda stagione consecutiva, sara' il club con il maggiore numero di abbonati. ---------------------------------------------------------------- Ventola, altri tre gol Ze Elias:
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distorsione SARRE - Ancora tre gol di Ventola nella partitella di ieri pomeriggio, con anche
Sousa in particolare evidenza. Verso la fine, lieve distorsione alla caviglia sinistra per Ze
Elias. Lavoro differenziato (un solo allenamento) per Rivas che ha qualche problema agli
adduttori, mentre sono quasi superate le contratture di Camara (schiena) e Recoba
(polpaccio), che lavora regolarmente con la squadra e ieri ha anche segnato un gran gol. Il
mattino, come sempre, la squadra si era dedicata a lavoro atletico e di potenziamento
muscolare per il quale quest'anno, accanto al campo di allenamento, e' stata allestita una
tensostruttura apposita, una vera e propria palestra con 30 macchine fornite dalla Technogym,
che e' uno degli sponsor del club nerazzurro. ---------------------------------------------------------------- Preparazione uomo per uomo "A ciascuno i suoi carichi" Djorkaeff e Ronaldo ultimi
arrivi Bordon conta di consegnare a Simoni una rosa a punto malgrado le difficolta'. "I quattro
azzurri disponibili il 13 agosto" SARRE - Il padrone del motore dell'Inter e' un motore che si
spegne (forse) la sera tardi, quando si spegne anche il computer che "amministra" tutto il suo
lavoro. Claudio Bordon si sente molto anche se non ama farsi sentire: lavora in silenzio
perche' ama dire "squadra silenziosa e' squadra vittoriosa" e Ze Elias, che quando lo imita alla
perfezione fa morire dal ridere, gli fa il verso. Perche' e' cosi' che gli piace e gli sembra quasi
innaturale che si parli di lui. Eppure l'anno scorso e' successo, perche' a un certo punto l'Inter
ha iniziato a correre piu' di tutti e non ha smesso di farlo. Eppure a maggio e' successo,
perche' Milutinovic lo avrebbe voluto con se' per preparare al mondiale la Nigeria. Poi non se
n'e' fatto piu' nulla, e anche se Bordon dice solo "non ho sentito piu' nessuno", si sa che il
progetto e' sfumato perche' le proposte, anche economiche, fatte da Milutinovic non sono poi
state seguite da garanzie da parte della federazione. Bordon non se l'e' presa: ha avuto piu'
tempo per pensare solo all'Inter. Anzi, alle due Inter che anche Simoni ha detto sara'
necessario progettare in questa estate fatta di arrivi continui e molto scaglionati dei nazionali.
Due Inter e dunque anche due, se non tre, preparazioni diverse. Bordon, che gia' l'anno scorso
aveva dovuto affrontare questo tipo di problema, sa come si fa: "Una parte della squadra,
quella che lavora dal 6 luglio, arrivera' al campionato con otto settimane circa di lavoro:
tempo ideale, che richiedera' solo i classici richiami durante la stagione. La filosofia della
preparazione e' la stessa dell'anno scorso, ma con una variazione importante: dobbiamo
smettere prima di "caricare", perche' il 12 agosto c'e' una partita importante. Diciamo che dai
primi di agosto si cambiera' tipo di lavoro: per quel giorno ci vorra' un'Inter che corra gia',
anche se non ancora come una scheggia". Una domanda, la piu' ricorrente. I quattro azzurri
reduci dal Mondiale, ovvero Baggio, Bergomi, Moriero e Pagliuca, saranno in ritiro il 28
luglio: potranno essere gia' pronti per l'andata del preliminare di Champions League? "Dal
punto di vista teorico devo dire di si', anche perche' lo stress piu' preoccupante potrebbe essere
quello psicologico, non fisico, e si puo' escludere se non ci sono infortuni e si e' riposato bene.
Ma questo deve stabilirlo Simoni. Se si decidera' di utilizzarli, prendendo informazioni dai
miei colleghi e dai giocatori stessi impostero' il mio lavoro facendo attenzione a quello svolto
per i Mondiali. E programmero' carichi adeguati uno per uno". Ecco la parola che Bordon
ripete spessissimo: individualizzazione. "Vale per tutti e per tutto l'anno, figuriamoci per chi
arriva quasi un mese dopo gli altri: lavoro singolo, o comunque per piccolissimi gruppi. Ed e'
chiaro che chi inizia a lavorare in corsa dovra' fare qualche sacrificio, qualche allenamento in
piu', per colmare il gap rispetto agli altri". E i rischi futuri, un'Inter di giocatori in condizioni
atletiche diverse fra loro a meta' stagione? "Ai nazionali consiglieremo, non imporremo, un
protocollo di lavoro particolare". L'anno scorso l'Inter freno' tra gennaio e febbraio. "Nel
corso di una stagione un calo e' inevitabile, fisiologico, ma se allora un paio di sconfitte
fossero stati pareggi, non si sarebbe neanche parlato di crisi dell'Inter. E comunque
quest'anno, per le vacanze invernali, i giocatori si staccheranno per diversi giorni, ma non per
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giocare con le nazionali. Puo' essere la differenza determinante". GIA' AL LAVORO A
SARRE: Camara, Cauet, Colonnese, Dabo, Fresi, Frey, Galante, Mazzantini, Mezzano,
Milanese, Pirlo, Recoba, Rivas, Silvestre, Sousa, Ventola, Zanetti C., Ze Elias. ARRIVANO
IL 23 LUGLIO (dopo le visite a Milano): Kanu, West, Zamorano. ARRIVANO IL 28
LUGLIO (visite mediche il 27 a Milano): Baggio, Bergomi, Moriero, Pagliuca. ARRIVA
FRA IL 28 LUGLIO E IL 3 AGOSTO: Simeone. ARRIVA IL 3 AGOSTO: Zanetti. ARRIVA
FRA IL 5 E IL 9 AGOSTO: Winter. ARRIVA FRA L'8 E IL 12 AGOSTO: Djorkaeff.
ARRIVA FRA IL 12 E IL 16 AGOSTO: Ronaldo. a.e.
Elefante Andrea
14 luglio 1998
Ronaldo, un minuto di terrore
prima della finale e' svenuto in preda alle convulsioni: Carlos ha dato l'
allarme. tutto e' avvenuto mentre l' attaccante era nella sua camera in attesa
di guardare il Gran Premio di Silverstone. immediatamente e' stato
accompagnato in ospedale dove gli esami clinici hanno tranquillizzato il
campione. dopo un breve riposo, la corsa allo stadio per giocare la finale
----------------------------------------------------------------- Ronaldo, un minuto di terrore Prima
della finale e' svenuto in preda alle convulsioni: Carlos ha dato l'allarme Tutto e' avvenuto
mentre l'attaccante era nella sua camera in attesa di guardare il Gran Premio di Silverstone.
Immediatamente e' stato accompagnato in ospedale dove gli esami clinici hanno
tranquillizzato il campione. Dopo un breve riposo, la corsa allo stadio per giocare la finale
LESIGNY - Le jour de gloire non e' arrivato. E' arrivato, al suo posto, un attacco di
convulsioni. Ronaldo, a poche ore dalla finale di Parigi, viene squassato da sessanta terribili
secondi (30, ufficialmente): spuma alla bocca e occhi riversi. Ronaldo, torcendo sguardo e
labbra, si accascia sul suo letto e con lui il Brasile che vive un pomeriggio di autentico terrore,
prima della partenza per lo stadio di Saint - Denis. Ecco la soluzione del giallo Ronaldo.
Cominciato pochi minuti prima della finale di Francia con Edmundo nella lista, schierato al
posto del calciatore dell'Inter. Da quel momento una ridda di voci e depistaggi: Ronaldo in
ospedale per la caviglia, poi un malore per una medicina, infine, la verita'. Ronaldo ha ceduto
di schianto, schiacciato dalla pressione e dalle attenzioni che il suo ruolo impone. La gente da
oggi sapra' che il Fenomeno e' un uomo, di una tempra comunque speciale. Ronaldo ha ceduto
allo stress, come gli e' stato detto anche nella clinica Lille di Parigi, dove e' stato visitato
prima della partita. Ma Ronaldo ammette la sua debolezza, racconta la sua storia. Sono piu' o
meno le due e un quarto di domenica: Ronaldo, davanti alla televisione, aspetta il Gran
Premio di Silverstone. Con lui, Roberto Carlos. Improvvisamente la crisi. Riverso sul letto
Ronaldo trema, si scuote. Roberto Carlos scatta in piedi, urla: "Aiuto, Ronaldo sta male.
Aiuto". Corre e grida. Arrivano subito Giovanni e Rivaldo, piomba uno dei medici della
Selenao, Joaquim Damato. Poi Edmundo. Lo spettacolo e' impressionante. Ronaldo trema
tutto. Dalla bocca escono spuma e saliva, la faccia e' una maschera. Il primo a mettere le mani
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sul giocatore e' il dottor Damato. Giovanni si mette le mani sugli occhi. Rivaldo ha i brividi
per l'emozione. Dopo qualche secondo Ronaldo si placa, rinviene. Arrivano altri compagni. Si
decide subito di portarlo in ospedale. Viene caricato su una macchina della polizia e
trasportato con una scorta alla clinica Lille. Sirene spiegate. Lo sottopongono a Tac,
elettrocardiogramma, elettroencefalogramma. I medici dicono che Ronaldo sta bene, ma
raccomandano riposo. Intanto la squadra e' a pezzi, Zagallo ha gli occhi gonfi di lacrime.
Finalmente per telefonino arriva la notizia: Ronaldo sta bene. Dopo un po' ritorna il giocatore.
Lo abbracciano, lo festeggiano. Ma solo per pochi istanti, Ronaldo deve riposare. E' ancora un
po' intontito. Dorme un'ora. Quando si sveglia, la Selenao e' partita per lo stadio di Saint Denis. La partita, il Brasile l'ha gia' persa. Ma Ronaldo si sveglia e parla, chiede di andare allo
stadio, lo portano in macchina. Si gioca alle 21: lui arriva poco dopo le 19. Zagallo ha gia'
fatto la formazione, nella lista c'e' Edmundo. Nello spogliatoio ci sono Zagallo, i compagni e
Ricardo Teixeira, il presidente della Federcalcio. Ronaldo si sente bene. Gli chiedono se si
sente di giocare. Insiste soprattutto Teixeira. Lui dice di si'. Entra in campo. Finita la gara,
s'infila nel pullman. Arriva in ritiro. Susana scoppia in lacrime quando lo vede, il padre,
Nelio, lo porta a casa a Pontault Combault. Si sveglia alla mattina di ieri alle 11. Gioca con i
nipotini, Caio e Amanda, e' allegro. Parla due volte con il manager, Giovanni Branchini.
Decidono come muoversi. Ronaldo vuole dire tutto, il manager approva. E fissano per il
pomeriggio la conferenza stampa. Intanto all'Inter sono in fibrillazione. Massimo Moratti,
presente a Saint - Denis, non sa nulla, il medico Piero Volpi e' in ansia. Invia due fax e
telefona cinque volte ai medici del Brasile. Nessuna risposta. Volpi prenota un volo per le
18.30, vuole raggiungere Parigi e incontrare il giocatore. Alle 16.15, quando Ronaldo torna in
ritiro, per ricongiungersi alla squadra e preparare le valigie, Volpi lo intercetta. Dieci minuti
di colloquio fitto durante i quali Ronaldo racconta: "Anche i medici di Parigi parlano di stress,
io sto assolutamente bene. Dottore non si muova, inutile raggiungermi". Racconta un
particolare della vicenda: "Sono rimasto svenuto circa sessanta secondi". Volpi chiede a
Ronaldo di fermarsi a Parigi per un giorno, vorrebbe visitarlo. Ronaldo dice di no. Tornera' in
Brasile con la famiglia, restare un altro giorno a Parigi significherebbe creare una coda al
caso, aggiungere stress. E Ronaldo ha solo bisogno di riposo: "Voglio andare in vacanza, sto
benissimo". C'e' poi la battaglia sulla documentazione. Oggi partira' una richiesta dell'Inter,
indirizzata alla Federcalcio brasiliana per i chiarimenti. Intanto Cesar, segretario del
giocatore, fa un blitz in ritiro. Prende i test clinici parigini del giocatore e parte per Milano.
Oggi saranno nello studio di Volpi. La Nike smentisce di aver indotto il calciatore a giocare.
Ronaldo assicura Volpi di non aver preso nessuna medicina. L'Inter proseguira' gli
accertamenti, ma la situazione sembra tornata alla normalita'. E Ronaldo sara' in tribuna il 12
agosto a Pisa per vedere l'Inter in Champions League. ---------------------------------------------------------------- I COMPAGNI Roberto Carlos: "Pensavamo fosse morto" "Mi sono spaventato.
Ho vissuto in stanza con lui - dice il terzino -. E' tutta colpa della tensione: e' diventato troppo
in fretta il numero uno". Zico: "Escludo influenze dello sponsor e del presidente federale per
far giocare Ronaldo" LESIGNY - Il grande arco gonfiabile, sponsorizzato Varig, che
introduceva ad Ozoir la Ferriere, non e' stato ancora rimosso, soltanto bucato. E penzola come
uno straccio. Il paese che per 60 giorni ha ospitato gli allenamenti della Selenao, vestendosi di
Brasile, sta ritornando francese. Ieri restavano solo pochi Ronaldo nelle vetrine dei negozi e
una bandiera verde davanti allo Stadio "Trois Sapins", che il comune, sullo slancio emotivo
della vittoria brasiliana sull'Olanda, voleva intitolare a Taffarel e che ora piu' probabilmente si
chiamera' "Stade Fabien Barthez". Ieri, mentre Zidane sfilava trionfante sui Campi Elisi, la
Selenao caricava i suoi bagagli sui camion per tornare a casa. Leonardo e' rientrato allo
Chateau de Grande Romaine nel mezzo delle operazioni, tristi come uno sfratto. Domenica
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sera, dopo la partita, Leonardo ha pianto a dirotto. Gli era sembrata una favola: il posto
riconquistato, una finale a Parigi, citta' di vecchi ricordi. Poi Zidane lo ha sovrastato per
schiacciare in rete il primo gol e addio lieto fine. "Neppure Zidane sapeva di avere quel
potenziale di testa... Due gol su palla ferma: e' stato grave. In una finale mondiale gli errori li
paghi tutti". A Leonardo resta la soddisfazione di un mondiale da protagonista. Continua a
esserlo anche a giochi fatti, difendendo Ronaldo: "Se qualcuno, per spiegare il malore di
Ronaldo, parla di paura, fa una grande ingiustizia. Ronaldo ha alle spalle un sacco di
esperienza internazionale ad alto livello e ha gia' dimostrato tutta la sua solidita'. Il problema
e' che viene dipinto come Superman, ma ha diritto di avere i problemi che abbiamo tutti. Puo'
svegliarsi male anche lui. E' speciale, ma resta un uomo. Non so se il suo problema sia stato
piu' fisico o piu' psicologico, di sicuro non e' stata paura. Ronaldo nunca pipocara', non
tremera". Pipocar significa avere le gambe che non stanno mai ferme, come i pop corn in
pentola. Amarelar invece vuol dire diventare gialli per la paura. Le due parole ieri si
inseguivano tra i microfoni brasiliani. Andre' Cruz le ha spazzate via: "Ronaldo ha avuto
coraggio due volte: a giocare nonostante tutto e a decidere di dire apertamente cosa gli e'
successo". Che non e' stata una semplice botta alla caviglia. Giovanni e' ancora impressionato:
"Quando l'ho visto in quello stato, mi sono venuti i brividi e la pelle d'oca". Edmundo: "Non
sono mai stato cosi' felice di cedere il posto a qualcuno, perche', quando ho visto Ronaldo
arrivare in spogliatoio, ho avuto la certezza che non era niente di grave". Anche Roberto
Carlos spazza via i sospetti: "Ronaldo e' stato coraggioso a volere giocare a tutti i costi. Il
problema e' un altro e io che ho vissuto in stanza con lui, lo so meglio di altri: e' la tensione. E'
diventato troppo in fretta il numero uno. Ci siamo spaventati: qualcuno pensava che fosse
morto. E' dall'inizio che la gente si insinua nella sua vita privata e racconta dei fatti suoi e di
Susana, gente che gode se ha un problema fisico e lo ingigantisce, gente che continua a dire
che Ronaldo guadagna tanti miliardi e segna pochi gol. Alla fine le malignita' pesano". Tra le
malignita' di giornata c'e' anche l'ipotesi che non sia stato il coraggio a spingere in campo
Ronaldo a tutti i costi, ma lo sponsor, la Nike. Zico ha risposto: "Neanche per scherzo voglio
sentire cose del genere. Conosco Zagallo da tempo e so che non c'e' nessuno che possa fargli
mettere in campo un giocatore che non vuole. Ogni decisione e' sua. Escludo anche qualsiasi
influenza del presidente federale Teixeira. Tra le varie opzioni a disposizione, Zagallo ha
scelto di schierare Ronaldo, che diceva di stare bene e voleva giocare. Zagallo sperava che
Ronaldo potesse decidere la partita con un'invenzione. Infatti ha avuto una palla gol: avesse
segnato, forse, la partita si sarebbe riaperta. Ma era chiaro che non era al meglio e la squadra
non ha potuto muoversi come doveva, anche perche' psicologicamente ha subito il colpo. E'
una lezione: anche il miglior giocatore del mondo, se non sta bene, serve poco alla squadra. Io
dicevo: solo se ci va tutto storto, possiamo perdere questo titolo. Infatti ci e' andato tutto
storto". Zico sognava finalmente un titolo mondiale. Il suo sogno si e' sgonfiato di nuovo,
come l'arco della Varig. ----------------------------------------------------------------- IL MEDICO
"Tutta colpa dello stress Non puo' continuare cosi" "E' impossibile per un ragazzo della sua
eta' sopportare tanti impegni" LESIGNY - Per Lidio Toledo, responsabile medico della
Selenao, i 30 secondi di paura vissuti domenica pomeriggio da Ronaldo sono una spia, il
segnale di una pericolosa emergenza: "Cosi' Ronaldo non puo' andare avanti". Per il dottor
Toledo la causa prima e' lo stress e il Fenomeno deve correre ai ripari. Lo dice, tenendo per il
braccio Ronaldo, davanti a microfoni e telecamere: "Da quando siamo qui, il suo telefonino
non ha smesso di suonare. Lo cercavano il suo procuratore, la sua squadra, gli amici, i
giornalisti. In piu' c'era la tensione di un mondiale. E' impossibile per un ragazzo della sua eta'
sopportare in prima persona il carico di tanti impegni. Io gli consiglio di trovarsi un
parafulmine, un segretario. La causa di cio' che gli e' successo quasi sicuramente e' lo stress.
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Gli esami cardiaci e neurochirurgici che abbiamo fatto sono stati rassicuranti. In passato
Ronaldo non ha mai avuto crisi del genere, i suoi familiari non hanno mai sofferto di crisi
epilettiche o altro. Potrebbe essere l'unica crisi della sua vita. Pero' in quei 30 secondi mi sono
spaventato: quando Roberto Carlos e' venuto a chiamarci, l'ho trovato con le convulsioni e la
lingua riversa". * SIMONI: BRAVO RONALDO - "Sono soddisfatto del mondiale di
Ronaldo". Cosi' Gigi Simoni, tecnico dell'Inter che aggiunge: "Parlero' personalmente con
Ronaldo e a lui diro' cio' che penso. A me interessa solamente che lui sia tranquillo e sereno.
Ha fatto un bellissimo mondiale, anzi direi eccezionale". ---------------------------------------------------------------- L'INTERVISTA "Ho vinto la coppa che vale una vita" "Mi e' venuto da
dormire e avevo fastidio alla lingua. Quando mi sono svegliato avevo male in tutto il corpo,
mi sentivo a pezzi" LESIGNY - Ronaldo arriva in macchina quando tanti gia' sono andati via.
Leonardo saluta Bebeto con un bacio sulla testa. Rivaldo e Giovanni cercano di sistemare i
bagagli in macchine di fortuna, sarebbe inutile portarli in Brasile, se devono poi arrivare a
Barcellona. Edmundo aspetta che arrivi Ronaldo. Rivaldo vuole sapere come sta e cerca
disperatamente di attaccarsi al telefonino. Staccato. Alla Chateau de Grande Romaine si
incontrano gli eroi strani di un mondiale finito male. Arriva Ronaldo, si perde in tanti
affettuosi abbracci. E' felice e sorridente. Saluta e parla, a piu' riprese. E' felice di esserci, e'
arrabbiato per come e' finita. Forse, da domenica, il calcio per lui sara' una cosa differente.
Questa orribile storia ha cambiato qualcosa. La preoccupazione del padre, Nelio, e' evidente.
Lo hanno obbligato a giocare la finale, ha fatto sapere. Anche se il giocatore ha smentito un
po' a tutti, salvando il Brasile, politico e sportivo. Si spoglia, indossa pantaloncini e maglietta,
scarpe da tennis. Vuole presentarsi, davanti alla gente che non sa e che aspetta, nella divisa da
allenamento di un calciatore del Brasile. L'ultimo allenamento, che non c'e' stato, e' un
esercizio di verita' e onesta'. "Voglio dire tutto, voglio raccontare cosa e' successo. Alla luce
del sole". Arriva Andre' Cruz, esce dall'ingresso del ritiro brasiliano: "Adesso arriva Ronaldo
e racconta lui la vera storia, quello che e' successo". E Ronaldo comincia. "Ero vicino a
Roberto Carlos, mi sono voltato e ho avuto una strana sensazione. Mi e' venuto da dormire, un
sonno tremendo e avevo fastidio alla lingua. Quando mi sono svegliato avevo male in tutto il
corpo, mi sentivo a pezzi". - Soccorso immediato. Momenti drammatici. "Io non me ne sono
accorto. Mi sono solo preoccupato. Volevo sapere quello che mi era successo. Poi, quando
abbiamo scoperto che gli esami erano positivi, allora mi sono sentito pronto". - Pronto per
giocare? "Si'. Volevo aiutare la squadra, non mi hanno costretto a giocare". - Ma la coppa del
Mondo l'ha vinta la Francia. "Io ho perso la coppa del Mondo di calcio, ma ho vinto quella
della vita. E ci sara' una vita ancora per vincerla". - Ha mai avuto davvero paura? "Volevo
sapere cosa mi era successo. Paura no. Sono stato tranquillo. Ma a ripensarci e' stato
tremendo". - Lei ha preso qualche medicina? "No, assolutamente nulla". - Lei era stressato?
"Si', affaticato. Ma non sentivo un'ansia particolare, una stanchezza particolare". - Lo stress
pericoloso e' quello che non si avverte. "Davvero? Io comunque non ero preoccupato. Adesso
sono sereno e convinto di fare bene e continuare bene. Adesso sento bisogno di riposarmi,
voglio riposarmi davvero". - Cosa stava facendo quando e' venuta la crisi? "Aspettavo la
Formula Uno, il Gran Premio di Silverstone. Vedevo un reportage sul calcio e stavano
facendo vedere i miei gol". - La Francia? "Ha meritato. Noi abbiamo subito due gol su calci
d'angolo. Quindi abbiamo fatto due errori. Ma abbiamo giocato male e chi gioca male perde".
- La squadra pensava al suo dramma... "Non dobbiamo trovare scuse. Abbiamo perso, la
coppa del Mondo e' andata alla Francia. Ma io devo dire che sono rimasto commosso da
quello che ho visto fare dai miei compagni. Mi vogliono molto bene, si sono preoccupati e
quando mi hanno rivisto sono stati tanto felici da emozionarmi". - Che fara' adesso? "Ho
ventidue anni, mi riposo un po' e torno a giocare con la stessa enorme voglia di vincere.
100
Arriveremo a Brasilia e a Rio. La mia gente lo sappia. Ho 22 anni e posso ancora vincere
tanto. Vinceremo insieme per il Brasile". Servizi dei nostri inviati
Bartolozzi Bruno, Garlando Luigi
Corriere della Sera (Itália) – do mesmo grupo que o Gazzetta dello
Sport
IL CASO / IL BRASILIANO HA AVUTO LA CRISI NEL PRIMO POMERIGGIO ED E ' STATO PORTATO D'
URGENZA IN CLINICA PER UNA TAC, MA POCHE ORE DOPO E' SCESO IN CAMPO
Mistero Ronaldo: " Ho avuto le
convulsioni "
(14 luglio 1998)
Giallo sulle sue condizioni: " Ho perso la Coppa del
Mondo ma ho vinto la coppa della vita " " Non avevo
mai provato un dolore cosi' e spero che non mi capiti
mai piu "
----------------------------------------------------------------- IL CASO / Il brasiliano ha avuto la crisi
nel primo pomeriggio ed e' stato portato d'urgenza in clinica per una Tac, ma poche ore dopo e'
sceso in campo Mistero Ronaldo: "Ho avuto le convulsioni" Giallo sulle sue condizioni: "Ho perso
la Coppa del Mondo ma ho vinto la coppa della vita" "Non avevo mai provato un dolore cosi' e
spero che non mi capiti mai piu" DA UNO DEI NOSTRI INVIATI PARIGI - Due pullman
emergono nell'uggiosa giornata di Lesigny. Servono per l'ultimo viaggio della Selenao, verso
l'aeroporto, da dove, nella notte (ore 24), i vice - campioni hanno lasciato la Francia, l'Europa, la
Coppa del Mondo. + una giornata di umidita' cattiva che, prima delle ossa, aggredisce il cervello.
E' il giorno dopo la sconfitta, Rio de Janeiro non e' mai stata cosi' vicina, sta sui Campi Elisi, ma il
Brasile e' la Francia e Ronaldo e' interpretato da Zidane. Il Ronaldo vero, Luiz Nazario da Lima,
come gli accade da quaranta giorni, e' al centro di pettegolezzi, segreti, invenzioni, in questo caso
giustificati dalla confusione, dalla mancanza di chiarezza dello staff brasiliano che autorizza ogni
tipo di favola nera. Non mancano il tradizionale ordine di scuderia Nike che pretende in campo il
piu' rappresentativo dei suoi atleti (vedi Roberto Baggio a Pasadena), ne' il diktat del presidente
federale Ricardo Texeira a Zagallo ("Ronaldo in campo comunque"), per arrivare alle ipotesi piu'
fantasiose, come il doping e l'accordo con la Fifa: nessuno scandalo che ucciderebbe il Mondiale,
Ronaldo gioca, ma il Brasile perde. Aumma, aumma. Il mistero, con una strana sincronia, si
risolve con l'aprirsi delle nuvole e l'arrivo del sole. Finalmente compare, sono le 14, anche
Ronaldo, dopo il riposo e non e' la rotella in un ingranaggio, un pacco da spostare, ma un ragazzo
di 21 anni che aveva davanti il mondo e, per 30 secondi, ha avuto paura di perderlo, con la lingua
inghiottita, la bava alla bocca, il corpo scosso dagli spasmi, forse la coscienza perduta. Non e' piu'
il fantasma che si aggirava per lo stadio di Saint - Denis, e' tornato il Ricky Martin del calcio e
infatti usa lo slogan del cantante portoricano per sintetizzare la sua storia: "Ho perso la Coppa del
Mondo, ma ho vinto la Coppa della vita". Suzana Werner, con cui ha trascorso le ore che sono
seguite alla sfortunata finale, lo deposita sul cancello dello Chateau Grande Romaine. Secondo un
centinaio di giornalisti brasiliani, appostati per strada, la coppia avrebbe trascorso queste ore di
liberta' nella villetta di Pontault Combault, dove Ronaldo avrebbe fatto apparire una mano
benedicente da una tendina, ma e' piu' probabile che la destinazione dei due innamorati piu'
celebri del Mondiale sia stata un'altra. Dopo un'ora e mezzo, finalmente, Ronaldo viene a spiegare
alla transenna la sua versione della storia, l'unica che fa testo, il resto e' fuffa, senza prove, senza
101
appigli. "Ho avuto le convulsioni per almeno 30 secondi. Non so perche', so soltanto che e' stata
un esperienza bruttissima. Erano circa le due del pomeriggio e stavo sdraiato sul mio letto,
conversando con Roberto Carlos. Lui si e' voltato per dormire e io ho cominciato a sentirmi male".
Roberto Carlos va a chiamare il medico, mentre Leonardo ed Edmundo, terrorizzati, lo pensano
gia' morto. Testimonianza del compagno di stanza: "Penso che sia stato il peso della finale, ora ha
solo bisogno di essere lasciato in pace". E Ronaldo riprende: "Non so se sono svenuto, non avevo
mai provato un dolore di questo tipo e spero proprio che non mi capiti piu'. Posso solo affermare
che quello che mi e' successo non e' dovuto alla paura, ne' a medicinali, nessuno della mia
famiglia ha avuto episodi come questo, me l'ha confermato mia madre". Passato il dolore,
Ronaldo ha dormito un'oretta, poi il medico Lidio Toledo lo ha portato, in fretta, alla clinica
"Jasmin" dove e' stato sottoposto a un check - up completo: tac, risonanza magnetica, esami
neurologici e cardiologici. L'esito e' negativo e cosi' Toledo e Ronaldo corrono allo stadio, dove
Zagallo, visilmente scosso, ha gia' consegnato l'ormai famoso elenco, senza Ronaldo, all'arbitro.
"Quando hanno escluso complicazioni, mi sono sentito sollevato, stavo ancora meglio di prima
delle convulsioni. Ho chiesto a Zagallo di mandarmi in campo. I compagni mi hanno spinto, mi
hanno caricato, stavo bene, ero al 100 per cento. Non e' servito a nulla, pero'. Era la partita che
piu' aspettavo. Qualcuno ha scritto che avevo paura, l'ultima di tante menzogne: neanche il
malore ha influito sulla mia prestazione. Ho sbagliato tutto e i francesi sono stati migliori di noi,
hanno meritato di vincere. Ho preoccupato i compagni senza volerlo e me ne dispiace, ma loro mi
hanno dimostrato il loro affetto. Grazie a Dio tutto e' passato, la mia Coppa, in fondo, l'ho vinta.
La salute conta piu' di tutto". Resta un volo di notte, poi le vacanze, ad Angra dos Reis dove aveva
la villa al mare Ayrton Senna. Non crociere, non Caraibi. Riposo e basta, assaporando una
seconda vita. Roberto Perrone ----------------------------------------------------------------- DOPO IL
MALORE / "Gli serve un segretario" sostiene Lidio Toledo. Ma il collega dell'Inter e' ottimista:
"Ora sta bene" Stress da Fenomeno, Inter in allarme Il medico della Selenao: "Troppa tensione e il
suo telefonino non si ferma mai" "E' stato un fatto episodico, gli esami sono tutti negativi Forse e'
stanchezza: da tre anni gioca senza mai fermarsi" DA UNO DEI NOSTRI INVIATI PARIGI - Due
medici al capezzale di un malato illustre. Due medici e Ronaldo. Da una parte Lidio Toledo,
medico brasiliano della Selenao, dalle teorie a volte bizzarre, come quella sulla pancetta di
Ronnie, dovuta, secondo lui, alla dieta italiana, come se la cucina brasiliana fosse delicata e priva
di grassi. Dall'altra Piero Volpi, il medico dell'Inter che ha sentito Ronaldo tutti i giorni. Lidio
Toledo, ieri, ha spiegato che il malore di Ronaldo e' dovuto a un eccesso di telefonino, a un super
lavoro da star senza segretaria. "Secondo me e' stato lo stress. + una cosa che ho gia' visto
succedere con tre o quattro giocatori nella mia carriera. Ma mai, ovviamente, a poche ore da una
finale di Coppa del Mondo. Per lui il telefonino non si ferma mai e anche per il telefono dell'hotel
e' la stessa cosa. Impresari, giornalisti, questuanti, contratti, gente alla porta che chiede autografi,
maglie, saluti e nessuna possibilita' di andarsene un po' a spasso tranquillo. Ronaldo e' troppo
giovane per sopportare tutto questo. Deve trovare un parafulmine per fermare questa pazzia. Non
so, un aiutante, un segretario, un filtro. Credo comunque che sia una crisi unica, che non si
ripetera". Un altro maggiordomo, insomma, oltre al suo factotum Cesar, sarebbe il rimedio. Una
prima risposta arriva da Giovanni Branchini che ricorda come, all'Inter, durante tutta la stagione
italiana, certo non riposante, Ronaldo non ha avuto problemi. Piu' chiaro ancora il dottor Piero
Volpi che, ieri alle 15, finalmente, e' riuscito a entrare in contatto col giocatore. "Sta molto bene,
adesso, lui ha usato questo termine "convulsioni" per spiegare il malore che l'ha colpito nel
pomeriggio della finale. Mi ha detto che ha fatto tutti gli esami e che l'esito e' stato negativo. Le
cartelle cliniche sono in arrivo a Milano, le esamineremo e vedremo cosa dicono. Comunque una
cosa e' certa, nessun medico lascia giocare un calciatore se e' convinto che stia male". Altre
certezze: caviglia e ginocchio non c'entrano. "Sicuro, ho visto come si muoveva e lui stesso mi ha
detto che aveva un leggero fastidio alla caviglia, ma che non era condizionante. Guardi, io credo
che, molto piu' semplicemente, sulla sua prestazione abbia pesato il fatto di essere finito al pronto
soccorso. Non c'e' essere umano che non ne risenta, che non si spaventi, anche se crede il
contrario". Di che natura e' il dolore? "Vedremo, ma io credo veramente a un fatto episodico,
anche perche' dall'anamnesi medica che abbiamo fatto, non risultano, nella sua famiglia,
situazioni come queste. Lui ha escluso complicazioni da farmaci e io gli credo perche' Ronaldo
non ne fa uso. Noi, all'Inter, non gli diamo nemmeno un'aspirina. Forse si tratta veramente di un
po' di stress, ma che non deriva dal telefonino, bensi' dal fatto che sono tre anni che gioca senza
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fermarsi, che non ha mai mancato una partita o un allenamento, che e' sempre presente. La
tensione eccessiva puo' essere la ragione del malanno". Il dottor Volpi aveva pensato di partire
subito per Parigi, per intercettare Ronaldo prima della partenza per il Brasile, ma il viaggio
sarebbe stato inutile: troppo poco il tempo a disposizione. Non e' escluso, invece, che il
responsabile sanitario dell'Inter faccia una trasvolata oceanica in Brasile per vedere Ronnie
durante le vacanze. "Piuttosto che fargli interrompere le ferie e' meglio che noi andiamo laggiu".
Un mancamento, nulla piu', questo solo resta dell'affaire - Ronaldo. Questo sostiene il medico
dell'Inter, la persona piu' adatta a scrivere la parola fine sulla vicenda. Scusi, dottore, ma non ha
avuto paura neanche per un attimo di avere tra le mani un altro caso Kanu? "Per favore. No, io ero
molto tranquillo, quando l'ho visto in campo ho capito che non poteva essere una cosa
gravissima". R.Per. ----------------------------------------------------------------- LE IPOTESI Un
trauma puo' causare quel malore Il campo, questa volta, e' quello delle ipotesi: Ronaldo, stando
alle sue parole e a quelle dei suoi compagni, avrebbe avuto una crisi convulsiva. Le convulsioni
non sono sempre sinonimo di crisi epilettica, ma la lingua "inghiottita", cosi' come di solito la
descrivono gli spettatori profani, fa subito pensare a questa possibilita'. Non ha importanza che
nessuno nella sua famiglia ne soffra: una crisi epilettica puo' colpire chiunque e a qualsiasi eta'. E
si puo' benissimo giocare una partita sei ore dopo. Una Tac, che serve per vedere se c'e' una causa,
come i postumi di un trauma, e un elettroencefalogramma possono risultare normali. "Sarebbe
utile - precisa Raffaele Canger, neurologo di Milano - una risonanza magnetica". Le convulsioni
potrebbero anche essere provocate da una sincope, un mancato arrivo di sangue al cervello per un
improvviso calo di pressione. "La durata, circa 30 secondi - continua Canger - ci starebbe con tutti
e due i casi". Sembra da escludere, invece, una convulsione "isterica" da troppo stress. A.Bz. ---------------------------------------------------------------- Pele': "Zagallo ha scelto bene" Un Pele' deluso
per la sconfitta del Brasile difende l'operato del c.t. Mario Zagallo, che altre volte ha invece
aspramente contestato. "Sulla questione Ronaldo - afferma O' Rey - trovo che sia difficile criticare
Zagallo. Il tecnico ha valutato al momento l'opportunita' di impiegarlo, fidandosi del giudizio dei
medici. La decisione di mandare in campo un giocatore spetta a lui. La mia delusione e'
paragonabile a quella dei giocatori. Abbiamo mancato il quinto titolo mondiale, ma bisogna
riconoscere che la Francia, domenica, ha meritato la vittoria". ---------------------------------------------------------------- Kanu e il "cuore matto" L'altra paura nerazzurra In che condizioni tornera'
Ronaldo a settembre? Sara' il Fenomeno che ricordavamo, o ci aspetta invece un altro calvario,
come dopo l'operazione al cuore di Kanu? Sono gli interrogativi che agitano l'estate nerazzurra, i
fantasmi che promettono di popolare le notti di Moratti, Simoni e della tifoseria interista tutta.
Non e' la prima volta che l'Inter e suoi tifosi si trovano a trepidare per le sorti di uno dei loro
campioni. Il ricordo della malattia di Kanu, l'operazione al cuore, i dubbi circa il suo recupero
sono troppo vicini nel tempo per riuscire a non pensarci all'indomani della notizia che Ronaldo,
prima della finale con la Francia, ha avuto le convulsioni. Il gigante nigeriano acquistato dall'Ajax
nella primavera del '96 arrivo' in Italia dopo aver vinto la medaglia d'oro ai Giochi di Atlanta,
iniziando la preparazione con la squadra. Ma il 27 agosto il referto medico di un ospedale
milanese decretava che il giovane attaccante interista era affetto da una malformazione alla
valvola aortica, posizionata fra il ventricolo sinistro e l'aorta, e a pallone in quelle condizioni non
poteva giocare. Anzi, rischiava di non poter giocare mai piu'. All'Ajax pare non se ne fossero mai
accorti (ma su questo punto non sono mancate le polemiche). Kanu fu operato a Cleveland il 28
novembre '96. Quattro ore di intervento, quindi il lungo recupero - a Los Angeles - e il rientro in
squadra, nell'Inter e con la sua nazionale.
Perrone Roberto, Bazzi Adriana, Colombo Claudio, Rondelli Giorgio
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Anexo C – Matérias do Le Monde, França
Ronaldo, centre d'un monde rond comme un ballon
Article publié le 12 Juillet 1998
Par PASCAL CEAUX
Source : LE MONDE
A
vec lui, rien ne peut être tout à fait ordinaire. Ronaldo Luiz Nazario de Lima trône
au sommet du football, en champion de la démesure. Il n'a pas encore vingt-deux ans
mais, dès qu'on parle de ballon rond, le voilà au centre du monde. Le gamin timide
débarqué en 1994 à Eindhoven, aux Pays-Bas, est devenu l'objet de toutes les
attentions. On le scrute sur le terrain, pour essayer de comprendre d'où lui viennent
cette puissance de course et cette vitesse balle au pied. On l'épie en dehors de la
pelouse, comme si rien de sa vie ne pouvait laisser indifférent. Ronaldo, roi du foot,
personnage adulé des magazines populaires qui s'arrêtent volontiers sur ses affaires de
coeur. Ronaldo, heureux symbole d'un Brésil retrouvé. Ronaldo, la part du rêve au milieu
des dollars, l'homme-sandwich d'un sport plus que jamais entré dans l'ère du business.
A Ozoir-la-Ferrière (Seine-et-Marne), lieu d'entraînement de la Seleçao, comment
s'étonner que le moindre écart du héros fasse jaser ? Qu'il s'entraîne en solitaire, et la
rumeur enfle : Ronaldo est blessé, il souffre d'un excès de poids... Lidio Toledo, le
médecin de l'équipe, accrédite d'un ton docte l'information. L'affaire est grave. '
Ronaldinho ' vient donc lui-même rassurer les journalistes brésiliens. Il va bien, et n'est
que modérément gêné par une douleur chronique au genou, handicap d'une croissance
trop rapide. Quant aux kilos en trop, ils résultent d'une erreur de calcul : Lidio Toledo a
comparé le poids actuel de l'avant-centre du Brésil avec celui enregistré lors de la World
Cup 94, aux Etats-Unis. Ronaldo n'avait pas dix-huit ans.
Jeudi 9 et vendredi 10 juillet, nouvel épisode du feuilleton de la santé du champion: il se
contente d'un modeste footing, en raison d'une petite douleur à la cheville. Participera-til à la finale contre la France ? Voyons, il n'a jamais été question d'un forfait. Mario
Zagallo, l'entraîneur, a simplement voulu le ménager.
Ronaldo est trop précieux pour qu'on l'abîme. En 1997, ses jambes étaient assurées pour
136 millions de francs. Depuis son arrivée en Europe, sa valeur marchande n'a cessé de
grimper. En 1994, le PSV Eindhoven débourse environ 50 millions de francs pour
s'assurer ses services. Deux ans plus tard, Barcelone arrache ses faveurs pour 100
millions. Le club catalan fait inscrire dans son contrat une clause de cession de 164
millions, espérant ainsi dissuader tout acheteur. L'Inter Milan ne se décourage pas. Il
parvient à négocier pour 180 millions la venue en Italie de Ronaldo, en 1997.
Ronaldo a été contraint de jouer la finale du Mondial
Article paru dans l'édition du 15.07.98
104
Q
UI A OBLIGÉ Ronaldo à disputer, dimanche 12 juillet, la finale de la Coupe du
monde ? « Il n'était pas en état de jouer », a déclaré mardi 14 juillet, le sélectionneur
brésilien Mario Zagallo en reconnaissant implicitement avoir subi des pressions. Dans un
premier temps, la feuille de match indiquait qu'Edmundo évoluerait à la pointe de
l'attaque à la place de Ronaldo. Une demi-heure avant le coup d'envoi, la vedette de
l'Inter de Milan reprenait sa place de titulaire.
La société Nike, qui parraine l'équipe nationale du Brésil moyennant un contrat de 40
millions de dollars (240 millions de francs) sur dix ans, a démenti toute intervention. En
fait, le président de la Fédération brésilienne, Ricardo Teixeira, s'en serait chargé
personnellement.
Le jour de la finale, Ronaldo a été pris d'un malaise vers 14 h 30. Pris de tremblements
puis de convulsions, il présentait tous les symptômes d'une crise d'épilepsie. Emmené
d'urgence à la clinique des Lilas, le buteur brésilien a passé plusieurs examens rassurants
avant de rejoindre ses coéquipiers au Stade moins d'une heure avant le début du match.
Pourquoi Ronaldo a perdu la Coupe du monde de
football Pour quelles raisons l'avant-centre de la
Seleçao a-t-il été aligné lors de la finale France-Brésil,
alors qu'il avait été victime d'un mystérieux malaise
six heures auparavant ? Quelle est la nature du mal ?
A-t-il subi des pressions pour jouer ? Une enquête du
« Monde » lève une partie du voile
Article paru dans l'édition du 17.07.98
L
e malaise dont a été victime le joueur brésilien Ronaldo, dimanche après-midi 12 juillet, à
quelques heures de la finale du Mondial contre la France, continue de susciter des interrogations. Alors
que le jeune homme est de retour dans son pays, des zones d'ombre entourent encore cette affaire.
Dimanche, l'attaquant vedette de la Seleçao avait dû subir des examens médicaux dans une clinique
parisienne. Il n'avait rallié le Stade de France qu'au dernier moment, moins d'une heure avant le coup
d'envoi (Le Monde du 16 juillet). Les membres de l'équipe médicale de la sélection brésilienne n'avaient
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fourni à leurs confrères français que des renseignements très succincts. L'origine de ce malaise n'est
toujours pas connue, mais il semble acquis que le sélectionneur brésilien, Mario Zagallo, et le médecin de
l'équipe, Lidio Toledo, ont pris des risques en alignant un joueur sans doute trop sollicité. Le « mystère
Ronaldo » passionne le Brésil, où le jeune champion de vingt et un ans cherche désormais à se reposer.
Les mystères de l'Inter
Article paru dans l'édition du 06.10.98
RONALDO
ES SUPPORTEURS de l'Inter de Milan ont été une nouvelle fois déçus, dimanche 4
octobre : Ronaldo, « meilleur joueur de la planète », n'était pas sur le terrain. Depuis son
malaise avant la finale du Mondial, le Brésilien multiplie les infidélités aux tifosis. Alors
que les révélations sur des pratiques de dopage se multiplient en Italie, les absences de
Ronaldo demeurent énigmatiques.

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