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Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo L úcia M ayumi Y azaki Resumo: A fecundidade é um dos componentes demográficos, juntamente com a mortalidade e a migração, determinantes do crescimento e da estrutura etária da população. O estudo descreve a redução da fecundidade e as transformações no comportamento reprodutivo das mulheres residentes em São Paulo e em suas regiões de saúde, ao longo da última década. Palavras-chave: Fecundidade. Idade média da fecundidade. Regiões de saúde. Abstract: The fertility is one of the demographic components, together with the mortality and the migration, determinant of the growth and the age structure of the population. The study describes the reduction of the fertility and the transformations in the reproductive behavior of the resident women in Sao Paulo and its regions of health, throughout the last decade. Key words: Fertility. Mean age of fertility. Regions of health. A fecundidade é uma das variáveis demográficas, juntamente com a mortalidade e a migração, determinantes do crescimento populacional e da estrutura por idade da população. Assim, a redução no ritmo de crescimento populacional observada no país e no Estado de São Paulo, nas últimas décadas, bem como a mudança na estrutura etária, é o resultado da importante queda da fecundidade em todo o país, além da diminuição da mortalidade e da migração. Diversas causas estão associadas ao declínio da fecundidade. Estudos realizados por Merrick e Berquó (1983), Carvalho, Paiva e Sawyer (1981), Paiva (1985), Faria (1989), Alves (1994), Faria e Potter (1994) mostram que o declínio “é o resultado da interação de um conjunto complexo de transformações de natureza econômica, social e institucional” (PERPÉTUO; AGUIRRE, 1998, p. 3.002). Além disso, esta mudança ocorreu dada a disponibilidade e difusão de métodos contraceptivos de alta eficácia, determinante próximo mais importante nesse processo de queda da fecundidade (PERPÉTUO; AGUIRRE, 1998). É também bastante conhecida a associação entre a fecundidade e o nível socioeconômico ou condição de vida da população. O nível de instrução das mães é geralmente utilizado como proxy destas variáveis, pois está muito associado a outros indicadores, como renda, pobreza, etc., que determinam o subgrupo populacional ao qual São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo pertence o indivíduo. Diversos estudos têm mostrado o diferencial de fecundidade por escolaridade da mãe (BERQUÓ; CAVENAGHI, 2006; MARTINS; ALMEIDA, 2000, entre outros), sugerindo a importância de se melhorar o nível de instrução destas mulheres, assim como da população em geral, para redução não só dos diferenciais de fecundidade, mas também, principalmente, das desigualdades sociais. A fecundidade também é diferenciada segundo o local de residência da mulher, uma vez que o país, o Estado e mesmo os municípios não são homogêneos em seu interior, pois refletem a desigualdade socioeconômica de sua população, assim como as características espaciais. Dessa forma, uma boa avaliação do comportamento reprodutivo dos diferentes subgrupos populacionais destas regiões são úteis para elaboração de programas e políticas nas áreas de saúde reprodutiva, saúde materno-infantil, entre outras. A fecundidade é estimada por meio das informações de nascidos vivos e da população feminina; no caso de nascimentos, existem duas fontes de dados tradicionais: as estatísticas de nascimento provenientes do registro civil e os censos ou pesquisas demográficas. As primeiras, quando são de boa qualidade, permitem um acompanhamento da evolução da fecundidade ano a ano, assim como das características associadas aos nascidos vivos, para as diferentes áreas geográficas. Desta forma, além de o cálculo da fecundidade ser realizado diretamente, tem-se a vantagem de detectar alterações ocorridas em períodos intercensitários. No caso de dados provenientes de pesquisas ou censos demográficos, a estimativa da fecundidade é obtida através de métodos indiretos e permitem análises mais detalhadas das características socioeconômicas da população estudada. O objetivo deste estudo é apresentar a situação de fecundidade no Estado de São Paulo e em suas regiões de saúde (Direções Regionais de Saúde – DIRs) na última década, bem como a evolução dos níveis e das estruturas de fecundidade por idade, utilizando as estatísticas de nascimentos do registro civil disponíveis na Fundação Seade. Busca-se, através desta análise, destacar os diferenciais nos comportamentos reprodutivos associados a cada uma das regiões, que, por sua vez, apresentam situações socioeconômicas diferentes. Detalha-se também a análise de fecundidade para o Município de São Paulo e seus distritos, que caracterizam melhor as diferentes situações socioeconômicas de suas populações. De posse destes resultados, espera-se ter um conhecimento da situação reprodutiva das populações residentes nas regiões paulistas, a fim de subsidiar programas e políticas locais nas áreas de planejamento e saúde reprodutiva. EVOLUÇÃO DA FECUNDIDADE NO ESTADO E NAS DIRs A fecundidade no Estado de São Paulo apresenta tendência de queda desde a década de 1960, com períodos de maior e menor variação, assim como de estabilidade. A taxa calculada para 2006 indica que a fecundidade da mulher paulista é de 1,7 filho por mulher, valor que está abaixo do nível de reposição.1 A fecundidade em São Paulo alcançou o nível de reposição nos primeiros anos desta década, o que já era esperado, uma vez que a queda da fecundidade acelerou-se entre os primeiros anos da década de 1980 e o início da de 1990, passando de uma taxa de 3,4 para 2,3 filhos por mulher. Ao longo dos anos 1990, esta taxa permaneceu estável, quando diminuiu para 2 filhos por mulher, no início dos anos 2000, alcançando o valor de 1,7 em 2006. Desta forma, o processo de redução da fecundidade em São Paulo, que vem ocorrendo desde os anos 1960, apresenta momentos de grandes variações, como entre 1965 e 1975, início dos anos 1980 e novamente no começo dos anos 2000 (Gráfico 1). Este processo é conhecido como transição da fecundidade, em que a população passa de um regime de elevada fecundidade para outro de fecundidade reduzida, inferior ao nível de reposição. Em conseqüência, estas reduções alteram o ritmo de crescimento populacional, assim como a estrutura etária da população, pois o aumento da população ocorre de forma cada vez menos acelerada, diminuindo a parcela da população jovem, enquanto aumenta o segmento de idosos. Os resultados da Tabela 1 indicam que, entre 1980 e 1990, foi significativo o decréscimo da fecundidade (aproximadamente 31%), equivalente a uma redução de praticamente um filho por mulher em apenas dez São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 49 50 Lúcia Mayumi Yazaki Gráfico 1 Taxa de Fecundidade Total (1) Estado de São Paulo – 1960-2006 TFT 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fonte: Fundação Seade; Wong (1985). (1) Número médio de filhos por mulher. anos. A variação na década seguinte (1990-2000) foi bem menor, o que era esperado, uma vez que a queda havia sido importante no período anterior. No qüinqüênio seguinte, o declínio foi retomado, com uma redução, somente nesse período, de 19,4% na taxa de fecundidade total, ou 0,4 filho por mulher. Esperase que, nos próximos anos, a tendência de queda se mantenha, mas em ritmo menor, pois as taxas de fecundidade já alcançaram valores bastante reduzidos. O nível de fecundidade varia conforme o local de residência da mulher ou de seu nível socioeconômico. O Estado de São Paulo está dividido em 24 Direções Regionais de Saúde (DIRs),2 nas quais as taxas variam entre um mínimo de 1,39 filho por mulher, na DIR de São José do Rio Preto, região tradicionalmente conhecida por apresentar uma das menores taxas, e um máximo de 1,96 filho, na DIR de Registro, de forma que todas as regiões passaram a registrar taxas inferiores a dois filhos por mulher, em 2006. A fecundidade no Estado de São Paulo segundo as regiões pode ser observada no Gráfico 2. Das 24 DIRs, 18 registram taxas inferiores à média do EstaSão Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 Tabela 1 Taxa de Fecundidade Total – TFT e Variação Estado de São Paulo – 1980-2006 Variação Anos TFT (1) 1980 3,43 1990 2000 2006 Nos Absolutos % 1,06 -30,8 0,21 -8,8 0,42 -19,4 2,37 2,16 1,74 Fonte: Fundação Seade; Wong (1985). (1) Número médio de filhos por mulher. 51 Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo do, sendo que em várias o número médio de filhos é inferior a 1,6, semelhante às taxas observadas em muitos países europeus. Mesmo aquelas que apresentam taxas superiores à média estadual, chama atenção o fato de estarem todas abaixo do nível de reposição. Uma das conseqüências deste panorama de reduzidas taxas de fecundidade em todas as regiões do Estado é a diminuição no ritmo de crescimento populacional e envelhecimento acelerado da população, sob a hipótese de ausência de movimentos migratórios, pois estes últimos poderiam alterar tanto o crescimento como a estrutura etária da população. Para atingir estes níveis reduzidos, a fecundidade nas regiões vem diminuindo ao longo das últimas décadas. Em 1995, com exceção de cinco DIRs, as demais registravam taxas acima do nível de reposição, sendo as mais altas observadas em Registro e Franco da Rocha, com TFT próxima a 3 filhos por mulher, e Mogi das Cruzes, Osasco e Sorocaba, com cerca de 2,5 filhos por mulher (Tabela 2). As regiões com taxas intermediárias apresentavam fecundidade entre o nível de reposição e 2,5 filhos por mulher. Já as que possuíam taxas abaixo do nível de reposição localizavam-se na região noroeste do Estado, com número médio de filhos que variava de 1,8 a 2,1. Estes resultados mostram que o Estado é heterogêneo em relação à fecundidade, pois a região noroeste caracteriza-se por baixa fecundidade, a área intermediária apresenta taxas também intermediárias, enquanto as regiões situadas ao sul, incluindo a Região Metropolitana de São Paulo, registram os maiores níveis de fecundidade (Mapa 1). Entre 1995 e 2000, a diminuição da fecundidade varia conforme a região, sendo que a maioria apresentou ligeira queda, com pequeno aumento em 1998. As reduções oscilaram de 0% a 17%, enquanto a média estadual foi de 4,4%. Assim, em 2000, a taxa de fecundidade total do Estado de São Paulo estava muito próxima a 2,1 filhos por mulher – ou do nível de reposição – e a metade das regiões já registrava taxas inferiores a este valor (Tabela 2). No Mapa 1, que ilustra a situação da fecundidade nas regiões em 2000, verifica-se redução em todas as áreas, com taxas mais elevadas no sul do Estado (Registro com TFT Gráfico 2 Taxas de Fecundidade Total – TFT (1), segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2006 2,0 TFT 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 to a lia os ra Vista ente uru inas aba ssis reto até pos dré aba atu cha es ca o l ro lo tos t a c A oP ua Pre tub arí c o au San Cruz Fran sasc apita gist uc ub am n io raça M arre araq Boa Prud B amp iraci Ta os C to A Soro Bot da R ão P R O C irã B Ar Re C as P e o A n a nte S d d b d a o d e S é é Ri e o gi nc od os os oã sid Mo Fra stad oJ oJ o J Pre E Sã Sã Sã DIRs Fonte: Fundação Seade. (1) Número médio de filhos por mulher. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 52 Lúcia Mayumi Yazaki Tabela 2 Taxas de Fecundidade Total – TFT (1) e Variações, segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 1995-2006 TFT (1) Direções Regionais de Saúde Variação das TFT (%) 1995 2000 2006 1995/2000 2000/2006 1995/2006 Estado de São Paulo 2,26 2,16 1,74 -4,4 -19,6 -23,1 DIR 01 - Capital 2,25 2,17 1,92 -3,4 -11,7 -14,7 DIR 02 - Santo André 2,22 2,07 1,70 -6,5 -17,8 -23,1 DIR 03 - Mogi das Cruzes 2,55 2,43 1,76 -4,7 -27,9 -31,3 DIR 04 - Franco da Rocha 2,85 2,37 1,73 -16,8 -27,2 -39,4 DIR 05 - Osasco 2,45 2,45 1,87 0,0 -23,9 -23,9 DIR 06 - Araçatuba 1,97 1,77 1,48 -10,2 -16,2 -24,7 DIR 07 - Araraquara 2,07 1,80 1,55 -12,8 -14,3 -25,3 DIR 08 - Assis 2,28 2,02 1,61 -11,7 -20,3 -29,6 DIR 09 - Barretos 2,15 1,88 1,53 -12,5 -18,9 -29,0 DIR 10 - Bauru 2,22 2,02 1,60 -8,9 -21,1 -28,1 DIR 11 - Botucatu 2,42 2,06 1,72 -14,6 -16,9 -29,0 DIR 12 - Campinas 2,10 1,96 1,60 -6,9 -18,4 -24,0 DIR 13 - Franca 2,35 2,10 1,77 -10,8 -15,4 -24,6 DIR 14 - Marília 2,08 1,87 1,48 -10,2 -20,6 -28,7 DIR 15 - Piracicaba 2,19 1,84 1,60 -16,1 -13,0 -27,0 DIR 16 - Presidente Prudente 2,09 1,91 1,59 -8,7 -16,4 -23,7 DIR 17 - Registro 2,91 2,76 1,96 -5,1 -28,8 -32,5 DIR 18 - Ribeirão Preto 2,26 2,00 1,66 -11,2 -17,3 -26,6 DIR 19 - Santos 2,13 2,20 1,74 2,9 -20,6 -18,2 DIR 20 - São João da Boa Vista 2,23 2,01 1,57 -9,7 -22,0 -29,5 DIR 21 - São José dos Campos 2,29 2,16 1,69 -5,9 -21,9 -26,5 DIR 22 - São José do Rio Preto 1,87 1,66 1,39 -11,4 -16,2 -25,7 DIR 23 - Sorocaba 2,49 2,40 1,71 -3,3 -28,8 -31,1 DIR 24 - Taubaté 2,33 2,10 1,68 -9,8 -20,1 -28,0 Fonte: Fundação Seade. (1) Número médio de filhos por mulher. de 2,8, a Capital, com 2,2, e algumas áreas da RMSP, com taxas próximas a 2,5 filhos), as intermediárias na região central (já com fecundidade abaixo do nível de reposição) e as menores na região noroeste, com taxas inferiores a 1,8 filho por mulher. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 Entre 2000 e 2006, a queda da fecundidade ocorreu de forma mais sistemática em todas as regiões e a intensidade também foi maior. A diminuição no Estado foi de 19,6%, com a TFT passando do nível de reposição para 1,74 filho por mulher. Nas regiões, Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo Mapa 1 Taxas de Fecundidade Total – TFT (1), segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs 1995-2006 1995 TFT = 2,26 São José do Rio Preto Barretos Araçatuba Franca Ribeirão Preto São João da Boa Vista Araraquara Marília Bauru Presidente Prudente Piracicaba Assis Taubaté Campinas Botucatu São José dos Campos Mogi das Capital Cruzes Franco da Rocha Sorocaba Osasco Santo André Santos Registro 2000 TFT = 2,13 2006 TFT = 1,74 TFT Até 1,5 filho Mais de 1,50 a 1,80 filho Mais de 1,80 a 2,10 filhos Mais de 2,10 a 2,50 filhos Acima de 2,50 filhos 0 50 100 150 Quilômetros Fonte: Fundação Seade. (1) Número médio de filhos por mulher. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 53 54 Lúcia Mayumi Yazaki as reduções oscilaram entre 12% e 29%, sendo que as maiores ocorreram naquelas de maior fecundidade, com exceção do Município de São Paulo, onde passou de 2,17 filhos por mulher para 1,92. Assim, a região de Registro, que detém a maior fecundidade, teve uma redução de quase um filho, em apenas seis anos, uma variação de 29%. Da mesma forma, as regiões que apresentavam as maiores taxas, superiores ao nível de reposição, como Osasco, Mogi das Cruzes e Sorocaba, também registraram quedas acima de 20% nos níveis de fecundidade, chegando, em 2006, a taxas inferiores a 2 filhos por mulher (Tabela 2). No Mapa 1, observa-se a redução da fecundidade ao longo do período analisado, alcançando, em 2006, níveis relativamente baixos em todas as regiões do Estado de São Paulo. Assim, em um intervalo de aproximadamente dez anos – de 1995 a 2006 –, a diminuição da fecundidade foi superior a 20% em praticamente todas as regiões, embora em várias as taxas já fossem baixas no início do período, indicando que a estabilização da fecundidade deve ocorrer bem abaixo do nível de reposição, a menos que haja alguma recuperação nos próximos anos. As taxas observadas nas regiões já são bastante semelhantes às de vários países mais desenvolvidos e que registram as menores fecundidades, como Espanha e Japão, com fecundidade inferior a 1,4 filho por mulher em 2000, bem como Holanda, com taxa próxima a 1,6 filho por mulher (UNITED NATIONS, 2003). Entretanto, a transição nestes países ocorreu em um espaço de tempo muito maior, enquanto a redução da fecundidade em São Paulo, assim como em outras regiões do país, deu-se de forma acelerada, através da adoção de métodos anticonceptivos, especificamente a pílula e a esterilização, além do aborto, cuja magnitude é desconhecida. Destes resultados, apreende-se que, apesar da desigualdade socioeconômica existente no Estado, a fecundidade média das regiões diminuiu, alcançando níveis bastante baixos, distante dos patamares iniciais. Assim, espera-se que a tendência nos próximos anos seja de estabilização ou de pequena recuperação das taxas de fecundidade nas regiões que registram médias bastante reduzidas e tendência à homogeneização naquelas com maiores níveis de fecundidade, São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 sendo bastante improvável o retorno aos valores verificados no passado. Fecundidade por Grupos de Idade A análise por grupos de idade mostra que o comportamento da fecundidade não é homogêneo nem ao longo dos períodos, nem nos grupos sociais. As taxas de fecundidade por idade são representadas por uma curva, com valores baixos nas idades extremas, isto é, jovens com menos de 20 anos ou mulheres com mais de 40, enquanto valores mais altos ocorrem entre 20 e 30 anos, formando a cúspide, que varia conforme o período (Gráfico 3). A redução nos níveis de fecundidade ocorre em função da diminuição da fecundidade nos diferentes grupos etários, sendo mais intensa em alguns do que em outros e variável ao longo dos períodos. Em São Paulo, assim como para o total do país, a redução da fecundidade, no início do processo de transição, foi mais intensa entre as mulheres mais velhas; após os anos 1980, a diminuição passou a ser observada nos grupos mais jovens, uma vez que a fecundidade tornara-se bem reduzida entre as mulheres com mais de 35 anos. O Gráfico 3 mostra a evolução da fecundidade por idade, para o Estado de São Paulo, no período 1980-2006, e a Tabela 3 apresenta alguns indicadores por idades em cada um dos períodos. Entre 1980 e 2000, a fecundidade do grupo de 15 a 19 anos teve uma evolução contrária à dos demais grupos, pois oscilou nos anos 1980 e registrou aumento na década de 1990, atingindo um pico em 1998; somente a partir de 2000, observa-se redução nas taxas de fecundidade deste grupo etário; o Gráfico 4 permite uma melhor visualização da evolução. Na década de 1980, a fecundidade era mais elevada nos grupos de 20 a 24 e de 25 a 29 anos, sendo por esta razão caracterizada como curva com cúspide dilatada (Gráfico 3). Nos anos 1990, a curva torna-se mais rejuvenescida, apresentando uma cúspide precoce, já que a taxa mais alta passou a ser observada no grupo de 20 a 24 anos, além da elevada taxa de fecundidade no grupo de 15 a 19 anos. Esta configuração permanece até 2000, quando, no- Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo Gráfico 3 Taxas de Fecundidade, por Faixa Etária (1) Estado de São Paulo – 1980-2006 200,0 Taxas (por mil) 1980 1985 180,0 1991 1995 160,0 2000 140,0 2006 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 0,0 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos Fonte: Fundação Seade; Wong (1985). (1) Por mil mulheres de cada grupo etário. Gráfico 4 Taxas de Fecundidade, segundo Faixa Etária (1) Estado de São Paulo – 1980-2006 200 Taxas (por mil) 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 160 30 a 34 anos 35 a 39 anos 120 40 a 44 anos 80 40 0 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Fonte: Fundação Seade; Wong (1985). (1) Por mil mulheres de cada grupo etário. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 55 56 Lúcia Mayumi Yazaki Tabela 3 Indicadores de Fecundidade Estado de São Paulo – 1980-2006 Variações (%) 1980 1990 2000 2006 19801990 19902000 20002006 15 a 19 anos 74,4 72,3 77,6 58,6 -2,8 7,3 -24,5 20 a 24 anos 187,8 143,3 123,2 89,5 -23,7 -14,1 -27,3 25 a 29 anos 188,7 128,3 109,6 85,7 -32,0 -14,6 -21,8 30 a 34 anos 131,2 79,2 76,2 67,3 -39,6 -3,9 -11,7 35 a 39 anos 73,2 38,0 36,5 36,0 -48,1 -4,1 -1,1 40 a 44 anos 26,2 12,0 9,2 9,5 -54,3 -23,0 3,6 45 a 49 anos 4,3 1,7 0,7 0,6 -59,1 -61,8 -15,7 15 a 19 anos 10,8 15,2 17,9 16,9 20 a 29 anos 54,9 57,2 53,8 50,5 Idade Média da Fecundidade (em anos) 27,7 26,4 26,4 27,0 6,6 6,4 6,5 6,7 Indicadores de Fecundidade Taxas de Fecundidade (por 1.000 mulheres) Participação na Fecundidade Total (%) Desvio-Padrão Fonte: Fundação Seade; Wong (1985). vamente, a cúspide desloca-se entre 20 e 30 anos. No primeiro qüinqüênio dos anos 2000, a redução da fecundidade das mulheres mais jovens (de 15 a 29 anos) foi de aproximadamente 20%, enquanto a das mais velhas permaneceu praticamente estável. Assim, a fecundidade das mulheres paulistas e brasileiras caracteriza-se por ser do tipo precoce, em que a maternidade concentra-se em idades mais jovens. Como conseqüência, a idade média da fecundidade – uma medida resumo da estrutura da fecundidade por idade – reduziu de 27,7 para 26,4 anos, entre 1980 e a década de 1990, e aumentou para 27 anos, em 2006, refletindo o retorno da cúspide para idades maiores (Tabela 3). Outro indicador que ilustra a precocidade da fecundidade paulista é a elevada fecundidade das jovens de 15 a 19 anos e a contribuição dos grupos mais jovens São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 para a fecundidade final. Assim, em 2006, a metade da fecundidade total foi realizada pelas mulheres de 20 a 29 anos; adicionando-se a contribuição do grupo das adolescentes de 15 a 19 anos (17%), os três grupos juntos, de 15 a 29 anos, contribuíram com quase 70% da fecundidade final (Tabela 3). Nesta tabela observase que a parte da fecundidade adolescente aumentou de 11% para 18%, no período de 20 anos, chamando a atenção de diversos setores da população. A evolução das taxas, no Gráfico 4, indica que este aumento ocorreu devido à redução da fecundidade em todas as idades, com exceção do grupo de 15 a 19 anos, no qual manteve-se estável e até aumentou no período. Observa-se, também nos Gráficos 3 e 4, a partir do final dos anos 1990, uma certa mudança neste panorama, em que a fecundidade das mulheres jovens, de menos de 30 anos, mantém-se em queda, o que pra- Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo ticamente não ocorre para aquelas com mais idade. Desta forma, no cômputo geral, há ligeiro declínio da participação dos grupos mais jovens e aumento da contribuição da fecundidade das mulheres de 30 a 39 anos, resultado, por um lado, do fenômeno que se torna mais freqüente, o das “gestantes idosas”, e, por outro, da redução da “fecundidade adolescente”. O fato que contribui para a hipótese da maternidade tardia (em mulheres com mais de 30 anos) é o aumento gradativo na proporção do primeiro filho entre as mães de 30 a 39 anos, nos aproximadamente últimos dez anos (a proporção de nascimentos de primeira ordem passou de 21% e 16%, para mães de 30 a 34 e 35 a 39 anos, em 1997, para 25% e 18%, em 2005, respectivamente). As taxas de fecundidade para o Estado de São Paulo, em 2006, indicam que nascem menos de 100 crianças por mil mulheres em cada um dos grupos etários: cerca de 90 nascimentos para aquelas de 20 a 30 anos, em que a fecundidade é mais alta; aproximadamente 70, no grupo de 30 a 34 anos; e 60, para as mulheres de 15 a 19 anos. Este número diminui quase pela metade no grupo de 35 a 39 anos e a menos de dez nascimentos no de 40 a 44 anos. No último grupo do período reprodutivo, menos de um nascimento é registrado por mil mulheres desta idade (Gráfico 3 e Tabela 3). Estes valores, em 1995, eram bem maiores nos três primeiros grupos de idade, o que mostra seu papel na redução da fecundidade final. Um fato que chama a atenção nestas análises refere-se à semelhança observada entre o nível de fecundidade total (TFT) de São Paulo e os de alguns países europeus, mas provenientes de estruturas de fecundidade por idades diferentes. No caso brasileiro, a curva é do tipo precoce, com elevada fecundidade no grupo adolescente e no de 20 a 30 anos, enquan- Gráfico 5 Taxa de Fecundidade, por Faixa Etária (1) Estado de São Paulo, Países Europeus Selecionados e Japão Taxas (por mil) Estado de São Paulo 2000 (2,2) Estado de São Paulo 2006 (1,7) Espanha 1984 (1,7) Espanha 2000 (1,2) França 1975 (1,9) França 1995 (1,7) Japão 1994 (1,5) 140 120 100 80 60 40 20 0 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos Fonte: Fundação Seade; Nações Unidas. (1) Por mil mulheres de cada grupo etário. Nota: Entre parênteses apresenta-se a Taxa de Fecundidade Total. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 57 58 Lúcia Mayumi Yazaki to, nos demais países a cúspide é tardia, situando-se entre 25 e 34 anos e a fecundidade das mulheres com menos de 25 anos é bastante reduzida, sobretudo no grupo de 15 a 19 anos (Gráfico 5). A fecundidade das jovens paulistas de 15 a 19 anos, em 2006, chega a ser quase dez vezes superior àquela das jovens espanholas ou japonesas; no caso das mulheres de 20 a 24 anos, as paulistas registram quase uma vez e meia a fecundidade das jovens daqueles países. A partir dos 25 ou 30 anos, as taxas tornam-se mais parecidas. Estas diferenças nas estruturas de fecundidade por idade mostram que os comportamentos reprodutivos variam conforme o contexto socioeconômico e cultural, mesmo que a fecundidade final apresente resultados semelhantes. No caso das jovens dos países selecionados, a maternidade ocorre após a consolidação da formação escolar e da inserção em uma carreira profissional, enquanto entre as paulistas, a maternidade ocorre até como fator de interrupção da formação, debilitando sua inserção no mercado de trabalho. Análises realizadas para o Município de São Paulo mostram que, em subgrupos populacionais socioeconomicamente mais privilegiados, observam-se comportamentos reprodutivos semelhantes aos das européias ou japonesas, indicando que, mesmo em São Paulo, os comportamentos variam conforme a situação socioeconômica da população. Fecundidade nas Direções Regionais de Saúde As taxas de fecundidade por idade, nas Direções Regionais de Saúde (DIRs), são mais elevadas naquelas onde a fecundidade total é mais alta e menores nas de baixa fecundidade, passando por valores intermediários em regiões com níveis de fecundidade em torno de 1,8 filho por mulher. Em 1995, praticamente todas as regiões apresentavam curvas com cúspide no grupo de 20 a 24 anos, isto é, do tipo precoce; a exceção era observada nas DIRs da Capital e de Santo André, onde a curva apresentava uma forma mais dilatada, com cúspide nos grupos de 20 a 29 anos. Assim, as taxas mais elevadas, de 160 a 180 nascimentos por mil mulheres de 20 a 24 anos, foram registradas nas DIRs de Registro e Franco da Rocha, em 1995. No outro extremo, no São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 mesmo período, a menor taxa neste grupo de maior fecundidade foi verificada na DIR de São José do Rio Preto, com aproximadamente 120 nascimentos. Nas demais regiões, a fecundidade variou em torno de 140 nascimentos. Em um período de 11 anos, a queda da fecundidade ocorreu em praticamente todas as idades, chegando, em 2006, a taxas que variavam de 70 a 100 nascimentos por mil mulheres de 20 a 24 anos. A análise das taxas de fecundidade das regiões indica que a queda foi importante no grupo de 20 a 24 anos, pois, em 2006, as curvas de várias regiões passaram a apresentar uma forma mais dilatada, com cúspide entre 20 e 29 anos, enquanto em outras, ainda que precoce, não é tão acentuada. Observa-se, ainda, que no período 1995-2000, em algumas regiões, quase não ocorreu variação nas taxas ou foi muito pequena, como nos casos da Capital, Mogi das Cruzes, Osasco, Campinas, Registro, Santos, São José dos Campos e Sorocaba. São regiões pertencentes às áreas metropolitanas ou de elevada fecundidade. Nestas mesmas áreas, chama atenção a fecundidade do grupo de 15 a 19 anos, que também se manteve inalterada no período. São inúmeros os estudos que discutem a gravidez/ fecundidade das adolescentes, pela sua magnitude, causas, conseqüências, entre outros aspectos associados a este fenômeno. Embora elevada, a taxa de fecundidade de 15 a 19 anos das jovens paulistas é inferior à das brasileiras residentes em outras regiões do país, mas bastante superior à das adolescentes residentes em países mais desenvolvidos. Em 1995, na DIR de Registro, foram constatados 120 nascimentos, para mil jovens, reduzindo-se para aproximadamente 72 em 2006. Atualmente, as taxas mais baixas oscilam em torno de 50 nascimentos para cada mil jovens, valores extremamente elevados quando comparados, por exemplo, aos da Espanha, Japão ou Holanda, onde as taxas não chegam a 10 por mil, como já foi verificado no Gráfico 5. O Mapa 2 ilustra a evolução das taxas de fecundidade deste grupo etário no período. À primeira vista, a associação entre o nível de fecundidade da região e a fecundidade adolescente não é imediata. A redução entre 1995 e 2006 alcançou os 30% na maior parte das regiões, com exceção das DIRs da Capital e de Santos, onde as variações foram inferiores a 15%. Aliás, as reduções nos grupos etários Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo Mapa 2 Taxa de Fecundidade da População Feminina de 15 a 19 Anos (1), segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs 1995-2006 1995 Taxa = 78,7‰ São José do Rio Preto Franca Barretos Araçatuba Ribeirão Preto Araraquara Marília São João da Boa Vista Bauru Presidente Prudente Piracicaba Assis Taubaté Campinas Botucatu Franco da Rocha Sorocaba São José dos Campos Mogi das Capital Cruzes Osasco Santo André Santos Registro 2000 Taxa = 74,3‰ 2006 Taxa = 58,6‰ Taxa de Fecundidade (1) Até 60,0 De 60,0 a 70,0 De 70,0 a 80,0 De 80,0 a 90,0 Mais de 90,0 0 50 100 150 Quilômetros Fonte: Fundação Seade. (1) Por mil mulheres de 15 a 19 anos. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 59 60 Lúcia Mayumi Yazaki seguintes, de 20 a 30 anos, também ocorreram neste último período e tiveram magnitudes semelhantes. Ainda na análise da evolução da fecundidade por idade nas DIRs, observa-se que a variação das taxas das mulheres com mais de 30 anos é pequena, sobretudo a partir dos 35 anos. Os dados parecem inclusi- ve indicar que, em algumas áreas, especificamente no Município de São Paulo ou na DIR de Santo André, pode estar havendo inversão na tendência da fecundidade destas mulheres pertencentes ao grupo de 35 a 39 anos, registrando pequeno aumento. Como já mencionado anteriormente, isto deve estar associa- Tabela 4 Distribuição das Taxas de Fecundidade, por Faixa Etária, segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 1995-2006 Em porcentagem Direções Regionais de Saúde 1995 2006 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos Estado de São Paulo 17,4 55,2 25,0 16,9 50,5 29,8 DIR 01 - Capital 15,5 54,2 27,8 15,7 49,5 31,7 DIR 02 - Santo André 16,1 55,6 26,0 15,2 50,4 31,5 DIR 03 - Mogi das Cruzes 16,8 55,7 24,8 17,1 50,3 29,2 DIR 04 - Franco da Rocha 18,1 55,0 24,0 17,8 49,9 29,1 DIR 05 - Osasco 16,8 55,9 24,7 16,4 50,4 30,1 DIR 06 - Araçatuba 20,2 58,0 20,4 18,9 52,5 26,4 DIR 07 - Araraquara 20,4 56,1 21,8 18,8 51,4 27,6 DIR 08 - Assis 20,4 56,9 20,5 18,9 53,2 25,8 DIR 09 - Barretos 20,9 57,1 20,2 19,5 54,3 24,3 DIR 10 - Bauru 20,7 55,6 21,3 19,1 51,9 26,5 DIR 11 - Botucatu 21,0 54,3 22,1 21,2 51,2 25,0 DIR 12 - Campinas 17,7 55,6 24,5 16,0 50,4 30,8 DIR 13 - Franca 18,8 56,5 22,8 18,0 52,0 27,3 DIR 14 - Marília 18,4 57,9 21,6 17,2 50,8 29,2 DIR 15 - Piracicaba 18,9 56,4 22,6 17,8 51,8 28,1 DIR 16 - Presidente Prudente 18,8 58,8 20,9 17,8 52,7 27,2 DIR 17 - Registro 20,6 52,5 23,4 18,3 48,7 29,0 DIR 18 - Ribeirão Preto 18,1 55,2 24,5 17,4 51,5 28,7 DIR 19 - Santos 17,5 54,4 26,0 18,8 49,5 28,7 DIR 20 - São João da Boa Vista 18,7 54,4 24,3 17,9 50,8 28,6 DIR 21 - São José dos Campos 17,3 55,0 25,0 16,8 52,1 28,4 DIR 22 - São José do Rio Preto 21,2 58,6 18,7 18,4 52,8 26,8 DIR 23 - Sorocaba 18,6 53,7 24,8 18,7 50,4 27,9 DIR 24 - Taubaté 17,6 55,3 24,5 17,3 51,6 28,4 Fonte: Fundação Seade. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 61 Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo didade total e aumento daquela das mulheres “mais velhas”. O Gráfico 6 mostra que as idades médias são semelhantes nas regiões, variando entre 26 e 28 anos. Em comparação à idade média do Estado (27 anos), em 2006, seis DIRs possuem valores ligeiramente mais altos, enquanto as demais apresentam idades semelhantes ou menores. As análises da fecundidade por idade, nas regiões de saúde do Estado, para o último decênio, mostram que os comportamentos são muito semelhantes nas diferentes regiões, variando quanto às magnitudes das taxas, conforme o nível de fecundidade final. As curvas de fecundidade mais recentes indicam que a estrutura da fecundidade, ainda que precoce, tende a apresentar uma cúspide dilatada, entre 20 e 30 anos. A fecundidade do grupo de jovens de 15 a 19 anos, que vem sendo bastante discutida nos últimos anos, também mostra tendência de redução a partir dos anos 2000. A esta tendência de queda das taxas de fecundidade, em praticamente todos os grupos etários, agrega-se um novo fenômeno, que aos poucos vai se tornando mais visível nas regiões – o da fecundidade tardia. Comportamento já observado em grupos socioeconomicamente mais privilegiados da população, o fenômeno passa a ser mais visível, à medida do ao fenômeno da gravidez de um grupo de mulheres que adiam a maternidade em função de outras prioridades, como uma melhor formação e profissão, sendo mais comum em grandes cidades das áreas metropolitanas, como é o caso de São Paulo. Como a redução da fecundidade foi mais intensa entre as mulheres mais jovens, em comparação à das mais velhas, houve alteração na participação dos grupos etários na fecundidade total (Tabela 4), ou seja, a participação da fecundidade do grupo de 20 a 24 anos, principalmente, e daquele de 25 a 29, na fecundidade total, diminui no período, enquanto a do grupo de mulheres de 30 a 39 anos registrou pequeno aumento. A participação das adolescentes para a fecundidade final manteve-se estável em grande parte das regiões e reduziu-se em algumas (Tabela 4). Através das alterações na idade média da fecundidade, verificam-se as mudanças ocorridas na estrutura da fecundidade por idade, nas regiões. O Gráfico 6 apresenta a evolução deste indicador no período. A idade média da fecundidade aumentou pouco mais de meio ano, em média, em todas as regiões, no período 1995-2006, mas chegou a um ano em algumas delas. Isto se deve à redução da participação da fecundidade das mulheres mais jovens na fecun- Gráfico 6 Idade Média da Fecundidade, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 1995-2006 27,5 1995 Idade (em anos) 2000 2006 27,0 26,5 26,0 25,5 25,0 24,5 DIRs l Ca pit a Re gis Mo tro gi da sC ruz es Os asc o Ca mp ina s Sa nto An dré Ma ríli a nc od aR Est o ch ado a de Sã oP aul o Fra Sa nto s Ta Sã ub oJ até os éd os Ca mp os Ba ur u Ara r aq ua Pre ra s id en te Pru de nte Fra nc a P ir ac ica ba So ro c ab a Rib eir Sã ão oJ Pre oã to od aB oa Vis ta As s is Ara Sã ça oJ tub os a éd oR io Pre to Bo tuc a tu Ba rr e to s 24,0 Fonte: Fundação Seade. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 62 Lúcia Mayumi Yazaki que existe uma alteração na estrutura da população segundo nível de instrução (as mulheres apresentam maior nível de instrução que no passado), assim como própria redução da fecundidade em todos os subgrupos populacionais. Para melhor visualizar estas afirmações, apresentam-se, a seguir, alguns indicadores do comportamento reprodutivo, segundo os distritos do Município de São Paulo, que refletem as desigualdades espaciais e socioeconômicas na capital. O Mapa 3 apresenta as taxas de fecundidade total para os distritos da capital, em 2006. As menores taxas (até 1,5 filho por mulher) são observadas nas áreas próximas à região central da capital, enquanto as maiores (acima de 2,1 filhos por mulher) ocorrem, principalmente, nas áreas periféricas e centrais; os valores intermediários (entre 1,5 e 2,1 filhos) são verificados nas áreas intermediárias. Estes resultados coincidem com a distribuição da população segundo sua condição socioeconômica no espaço territorial, mostrando a associação entre a fecundidade e a situação socioeconômica da população.3 Vale observar que, os níveis de fecundidade, apesar de não serem homogêneos, são bastante reduzidos em toda a capital, indicando que a população busca controlar o tamanho de suas famílias. A visualização espacial da TFT no Município de São Paulo, por distritos, indica que o estudo da fecundidade ou de qualquer outra variável deve considerar a desigualdade de suas populações, para a melhor compreensão do fenômeno. Além de os níveis de fecundidade variarem segundo o distrito de residência, o comportamento reprodutivo é diferente também por idade, como pode ser observado através das curvas de distritos selecionados no Gráfico 7. Naqueles, onde a Taxa de Fecundidade Total é mais elevada, a curva é mais precoce, com altas taxas no grupo de 15 a 19 anos e pico no de 20 a 24 anos, como é o caso de Parelheiros. À medida que a TFT se reduz, as taxas por idade diminuem, mas ocorre também um deslocamento nas cúspides das curvas, que, por sua vez, vão se tornando mais envelhecidas. No distrito de Aricanduva, por exemplo, a fecundidade mais elevada ocorre entre 20 e 30 anos e a das adolescentes é bem menor. A curva de São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 Mapa 3 Taxa de Fecundidade Total (1) Distritos do Município de São Paulo – 2004/2006 Ermelino Matarazzo Tatuapé Pinheiros Aricanduva Nº filho / mulher Até 1,5 Parelheiros De 1,5 a 1,8 De 1,8 a 2,1 De 2,1 a 2,5 Acima de 2,5 0 6 12 Quilômetros 18 Fonte: Fundação Seade. (1) Número médio de filhos por mulher. fecundidade observada em Tatuapé e, principalmente, Pinheiros já é bem parecida àquelas anteriormente constatadas para alguns países europeus, ou seja, a fecundidade é baixa antes dos 30 anos e a cúspide situa-se após os 30 anos. Nota-se que, a partir dos 30 anos, a diferença das taxas de fecundidade nas diversas áreas é pequena. A idade média da fecundidade reflete estas diferenças nas estruturas etárias: 26,7 anos em Parelheiros; 27,5 anos em Aricanduva; 29,3 e 30,8 anos em Tatuapé e Pinheiros, respectivamente, enquanto a média na capital é de 27,3 anos. Certamente, estas diferenças também devem ser observadas nas DIRs, sendo necessária, portanto, uma desagregação espacial ou socioeconômica para melhor conhecer o comportamento reprodutivo de suas populações. Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo Gráfico 7 Taxa de Fecundidade, por Faixa Etária, segundo Distritos Selecionados Município de São Paulo – 2004/2006 140 Parelheiros Tatuapé Ermelino Matarazzo Pinheiros Aricanduva Município de São Paulo Taxas (por mil) 120 100 80 60 40 20 0 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos Fonte: Fundação Seade. (1) Por mil mulheres de cada grupo etário. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo apresentou o processo de queda da fecundidade em curso no Estado de São Paulo e em suas regiões de saúde, as DIRs, nesta última década. Praticamente todas as regiões registraram taxas de fecundidade total abaixo do nível de reposição e, em algumas delas, a fecundidade é bastante baixa, muito próxima à observada em vários países europeus. Análises da fecundidade por idade e diversos estudos indicam que esta queda é resultado de uso intenso da anticoncepção e não necessariamente do adiamento da entrada na união ou da maternidade, como é a experiência nos países de baixa fecundidade. Os dados mais recentes sobre a prática contraceptiva continuam a indicar que uma grande parte das mulheres paulistas entra na maternidade bastante jovens e, uma vez completado o tamanho de família desejado, busca controlar ou limitar a fecundidade, principalmente por meio da esterilização (BRASIL, 2006). Por outro lado, análises para o Município de São Paulo mostram que existe um grupo de mulheres, as socioeconomicamente mais privilegiadas, que planejam a maternidade, realizando-a tardiamente. Desta forma, embora a fecundidade tenha alcançado níveis relativamente baixos em São Paulo, é importante considerar que o comportamento por idades varia conforme o grupo socioeconômico ao qual pertencem as mulheres, aspecto importante a ser considerado na compreensão do comportamento reprodutivo das mulheres paulistas. Por fim, é importante considerar as conseqüências associadas às recentes reduções de fecundidade, tais como alteração no ritmo de crescimento populacional das regiões e do Estado, assim como mudanças nas composições das populações segundo grupos de idade, pois a queda da fecundidade reduz o grupo de crianças e jovens e aumenta consideravelmente a parcela mais idosa da população. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 63 64 Lúcia Mayumi Yazaki Notas 1.O nível de reposição é o valor da taxa de fecundidade que garante a reposição da geração das mulheres, que é de aproximadamente 2,1 filhos por mulher. É um ponto crucial em projeções populacionais, pois, mantendo-se constante durante muito tempo, o crescimento da população será nulo. Em caso da permanência por um longo período de taxas inferiores a este valor, a população tenderá a diminuir. 2.Em 2007 houve alteração na divisão regional de saúde, passando das 24 DIRs para 17 Departamentos Regionais de Saúde – DRS. Referências Bibliográficas ALVES, J.E. Transição da fecundidade e relações de gênero no Brasil. Tese (Doutorado) – Cedeplar, UFMG, Belo Horizonte, 1994. BERQUÓ, E.; CAVENAGHI, S. Mapeamento sócio-econômico e demográfico dos regimes de fecundidade no Brasil e sua variação entre 1991 e 2000. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 14., Caxambu, Anais... Abep, 2006. ______. Increasing adolescent and youth fertility in Brazil: a new trend or a one-time event? In: Annaul Meeting of the Population Association of America. Philadelphia, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. 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São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 3.O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – IPVS elaborado pela Fundação Seade, caracteriza o Estado de São Paulo segundo situação de vulnerabilidade, com base nas diversas características demográficas e socioeconômicas da população. O mapa do Município de São Paulo segundo IPVS identifica cada um dos seus setores censitários segundo este índice, onde, de forma geral, a área central caracteriza-se por ausência ou muito pouca vulnerabilidade contrastando com regiões periféricas, onde os níveis de vulnerabilidade são maiores (www.al.sp.gov.br/web/ipvs/ index_ipvs.htm). MERRICK, T.W.; BERQUÓ, E. The determinants of Brazil’s recent rapid decline in fertility. Washington, DC: National Academy Press, 1983. (Committee on Population and Demography, report, n. 23). PAIVA, P. O processo de proletarização e transição da fecundidade no Brasil. Revista Brasileira de Economia, v. 41, n. 1, 1985. PERPÉTUO, I.H.O.; AGUIRRE, M.A.C. 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SP Demográfico, São Paulo, Fundação Seade, n. 3, 2003a. ______. Fecundidade da mulher paulista abaixo do nível de reposição. Estudos Avançados, São Paulo, USP, v. 17, n. 49, 2003b. Análise da Fecundidade no Estado de São Paulo Lúcia Mayumi Yazaki Doutora em Demografia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e Analista da Fundação Seade. Artigo recebido em 10 de junho de 2008. Aprovado em 29 de setembro de 2008. Como citar o artigo: Yazaki, L.M. Análise da fecundidade no Estado de São Paulo. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>; <http://www.scielo.br>. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 1, p. 48-65, jan./jun. 2008 65
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