14 Possibilidades.

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14 Possibilidades.
SETEMBRO/2015
#14
CONCEITUAL
POSSIBILIDADES
www.karsten.com.br
Humor, sofisticação e bem-estar.
Tecidos para parede renovam a decoração
e transformam o ambiente. Com diferentes
texturas e estampas, são uma excelente
alternativa para quem quer mudar sem se
incomodar com bagunça da reforma.
Práticos e acessiveis, difícil vai ser escolher um só!
Um toque de felicidade na sua casa.
Wall Decor,
a última palavra em decoração.
EDITORIAL
EXPEDIENTE
Publishers André Poli e Roberta Queiroz
Conselho Editorial Fabio Galeazzo e Renata Amaral
Edição e Arte Marcos Guinoza
Colaboradores Alvaro Tedesco, Amer Moussa, Bruno Moreschi,
João Lourenço, Marcella Aquila
Revisão Luciana Sanches
Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683
Publicidade
Comercial Rosane Gulhak | [email protected]
VELVET EDITORA LTDA.
Tel.: 11 3082-4275 | www.velveteditora.com.br
IR ALÉM
Amigos,
Vou começar este texto com uma frase do genial
Charlie Chaplin: “Aprendi que posso ir além dos limites que eu
próprio coloquei”.
Por medo, insegurança ou acomodação, muitas vezes
fazemos isso mesmo: colocamos limites à nossa capacidade de ir
além. Pensamos: “Cheguei ao meu limite!”.
Será?
Será que não podemos muito mais? Será que não estamos
subestimando as nossas qualidades? Será que não estamos desistindo antes do tempo?
Esta edição de ABD Conceitual fala sobre possibilidades;
sobre sair da mesmice e arriscar; sobre buscar o novo; sobre olhar
para o mundo de uma perspectiva mais ampla.
Para isso, apresentamos uma série de projetos de interior que fogem do óbvio e propõem novas formas de pensar o
espaço, como uma garagem que virou estúdio; escritórios que
estão se transformando em ambientes integrados, coloridos e
lúdicos; ou o conceito de hotel boutique, que aposta na decoração diferenciada para servir de alternativa à padronização das
grandes redes hoteleiras.
Na seção Vitrine, temos o designer Guto Indio da Costa.
O entrevistado da edição é José Marton. Falamos também com a
designer de iates Tânia Ortega. E apresentamos as dez coisas que
você precisa saber sobre Joseph Dirand.
ABD Conceitual mostra que o design de interiores oferece
inúmeros caminhos profissionais. Mas, para descobrir aonde esses
caminhos podem nos levar, precisamos nos desafiar, correr atrás,
estar dispostos a percorrê-los.
Dizem que uma das maiores fraquezas do ser humano
está em desistir ao primeiro revés. Para ir além e vencer, é preciso
sempre tentar uma vez mais.
RENATA AMARAL, presidente da ABD
4 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores
Tel.: (11) 3064-6990 | www.abd.org.br
CORPO DIRETIVO ABD
Presidência: Renata Amaral
Vice-presidência: Marcia Kalil, Ricardo Caminada, Bianka Mugnatto,
Jéthero Miranda
Conselho Deliberativo | Membros Efetivos: Carolina Szabó
(presidente), Francesca Alzati (SP), Silvana Carminati (SP), Maurício
Peres Queiroz dos Santos (SP), Alexander Jonathan Lipszyc (SP),
Renata Maria Florenzano (SP), Rosangela Larcipretti (SP), Joia
Bérgamo (SP), Lucy Amicón (SP), Carlos Alexandre Dumont (MG),
Jaqueline Miranda Frauches (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Luiz
Saldanha Marinho Filho (RJ), Flávia Nogueira da Gama Chueire (RJ)
Conselho Deliberativo | Suplentes: Nicolau da Silva Nasser (SP),
Paula Almeida (SP)
Conselho Fiscal | Membros Efetivos: Maria Fernanda Pitti (SP),
Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria Bacellar (BA),
Delma Morais Macedo (BA)
Conselho Fiscal | Suplente: Daniela Marim (SP)
Diretora Executiva: Alessandra Decourt
Sugestões
[email protected]
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade
dos autores e não refletem a opinião da revista.
CAPA: ANDRÉ POLI
Selo
A Fashion Week
da Arquitetura
e Construção
The Architecture
and Construction
Fashion Week
1– 4 MAR 2016
São Paulo, Brasil
exporevestir.com.br
promoção promoted by
apoio supported by
eventos conjuntos co-located events
Quando estou trabalhando num problema, nunca
penso em beleza. Penso somente em resolver o
problema. Mas quando eu termino, se a solução
não é linda, eu acho que está errada”
Richard Buckminster Fuller
SUMÁRIO
GUTO INDIO
DA COSTA /8
A ARTE DE
HOSPEDAR/24
POSSIBILIDADES/12
JOSÉ MARTON/18
LOOK, MOTHER,
DOWNSTAIRS, TOO!/34
SOB OS
TAPETES /30
TUDO A BORDO/37
MEN AT WORK/44
_JON STAM/43
JOSEPH DIRAND/48
PEGANDO ONDA/50
ABD CONCEITUAL | #14 | EDIÇÃO POSSIBILIDADES
6 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
Um evento
com atitude:
descolado,
criativo e
Ousado.
/morarmaispormenostv
VARANDA COM ESTILO
Fernanda Dorta e Magda Alvarenga
Rio de Janeiro 2014
BELO HORIZONTE | 19/08 à 04/10
CAMPO GRANDE | 06/11 à 15/12
CUIABÁ
GOIÂNIA | 06/08 à 13/09
RIO DE JANEIRO | 18/09 à 02/11
VITÓRIA
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DA SUA CIDADE E MOSTRE
TODO O SEU TALENTO
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PARCEIRO
PATROCÍNIO
yVITRINE
GUTO
INDIO DA
COSTA
TEXTO MARCOS GUINOZA
8 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
BÚZIOS Inspirado na cidade que dá nome à
peça, o banco permite variações com ou sem
braço e diferentes acabamentos
ICZERO1 Cadeira feita de polipropileno de
alta resis­tência reforçado com fibra de vidro
DESIGN COM FOCO NAS PESSOAS
ELE É FILHO do arquiteto Indio da Costa. Graduou-se na Art
Center College of Design, na Suíça. Hoje, está à frente do
escritório Indio da Costa A.U.D.T. (Arquitetura, Urbanismo,
Design e Transportes), onde comanda uma equipe de, aproximadamente, 60 profissionais.
Nome forte do design brasileiro, premiado aqui
e lá fora, o carioca Guto Indio da Costa chegou a sonhar
em projetar aviões, mas acabou encontrando seu lugar no
mundo no design industrial. Aos poucos, foi ampliando as
áreas de atuação. Além de desenvolver um novo ventilador de teto e eletrodomésticos, ele está envolvido em uma
série de projetos que mostram a diversidade de suas criações: um iate de 90 pés, uma família de luminárias, cadeiras, sofás, um veículo leve sobre trilhos, um triciclo elétrico.
“Acredito que essa abrangência seja o maior diferencial do
meu trabalho, principalmente no Brasil, onde o design industrial é frequentemente segmentado.”
Guto conversou com ABD Conceitual.
QUAL OBJETO QUE JÁ EXISTE VOCÊ GOSTARIA DE TER CRIADO?
VOCÊ SEGUE REGRAS NA HORA DE CRIAR?
Muitos… Sou admirador do talento de muitos designers e de
objetos, produtos, espaços e experiências. Aprecio o design
que, além da forma, é efetivamente inovador, resolve um
problema e contribui para uma sociedade melhor. Gosto,
principalmente, do que se prova definitivo, alheio a modismos e a este mundo atual tão descartável. Repudio o design
que não traz nada de novo, além de uma forma gratuita,
mesmo que seja lindo. A forma não precisa seguir a função,
mas não pode se esquecer dela. A forma pela forma é arte,
não é design.
Não existem regras, mas existe uma metodologia bem cartesiana, que nos
ajuda a navegar no oceano revolto da criatividade. Observações, ideias, propostas e soluções são parte do dia a dia de um designer e, se não houvesse
certo método para organizá-las, priorizá-las e desenvolvê-las, os projetos
não chegariam ao fim. Basicamente, um designer aprende a pensar lateralmente, o oposto do que a humanidade inteira foi condicionada a fazer por
causa de um sistema educacional que define o certo e o errado o tempo
todo e que pressupõe um raciocínio sequencial que induz a uma única
resposta. Um projeto de design não tem resposta certa, tem milhares de
possibilidades e alternativas. Por isso, tem que pensar lateralmente, analisar, priorizar e escolher o tempo todo. Essa metodologia é o que hoje se
convencionou chamar de design thinking e vem sendo usada não apenas
para resolver questões de design, mas também como metodologia para a
solução de uma série de outras questões estratégicas.
VOCÊ TEM UM OBJETO DE ESTIMAÇÃO?
Objetos podem ser simples objetos, sem nenhum valor
emocional, ou podem ter o valor emocional de um animal
de estimação, do qual ninguém gostaria de abrir mão. Um
bom design sempre cria um forte laço emocional com quem
dele usufrui. Como designer, gosto de escolher e garimpar
pessoalmente os objetos que tenho e uso, por isso, tenho
uma lista de objetos dos quais detestaria me desfazer. Um
desses é uma luminária, desenhada, em 1907, por Mariano
Fortuny, que eu trouxe na mão de uma viagem à Itália.
Produzida até hoje, a luminária é uma escultura, linda, leve e
definitiva. Não venderia por valor nenhum.
DE TODAS AS PEÇAS QUE JÁ CRIOU, QUAL ESCOLHERIA PARA DEFINIR SEU TRABALHO?
Não creio que haja uma peça que possa definir o meu trabalho. Neste
momento, por exemplo, estamos envolvidos com o projeto de um iate de
90 pés, um novo ventilador de teto, uma família de luminárias, cadeiras,
sofás, um veículo leve sobre trilhos, um triciclo elétrico, equipamentos de
ginástica, eletrodomésticos. Seria difícil resumir um trabalho tão variado
em uma única peça, e acredito que essa abrangência seja meu maior diferencial, principalmente no Brasil, onde o design industrial é frequentemente segmentado.
DE ONDE VEM SUA INSPIRAÇÃO?
10 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
TEM SONHOS DE CONSUMO DE PEÇAS DE OUTROS DESIGNERS?
Como já disse, sou admirador do talento de muitos designers, objetos e
produtos. Mas não sou um consumista, pelo contrário, tento só consumir o
que realmente me comove.
FOTOS DIVULGAÇÃO
Do mundo, das pessoas, de seus sonhos e desejos, de seus
problemas e pesadelos. Design é feito com foco nas pessoas, para resolver os problemas e melhorar a vida delas. É daí
que vem a inspiração.
CARRAPIXXXO Sistema modular
composto por prateleiras, gaveteiros,
gabinetes e mesas com total liberdade de
customização
INFINITO Inspirado nas curvas doces e
suaves do Rio de Janeiro, o banco é feito
de ripas de jequitibá ou tauari conectadas
em anéis de madeira contínuos
BRUTALISTA Abrigo de ônibus
desenvolvido para a cidade de São Paulo
O QUE DE MAIS IMPORTANTE GOSTARIA QUE AS PESSOAS CONHECESSEM SOBRE VOCÊ?
Apenas o meu trabalho e a minha eventual contribuição para a sociedade.
VOCÊ DESENHA DE TORNEIRAS A PONTOS DE ÔNIBUS. O QUE TE MOVE? E O QUE TE
PARALISA, TE DÁ MEDO?
Um novo projeto é sempre um desafio e a oportunidade de uma grande
realização. O desafio e a oportunidade de uma grande realização são o
que me movem. Paralisia? Não consigo viver sem movimento, sem realizações. Acho que paralisia só depois da morte.
“Gosto do que se
prova definitivo,
alheio a modismos
e a este mundo atual
tão descartável”
QUAL O IMPACTO MAIS SIGNIFICATIVO DA TECNOLOGIA SOBRE A PRODUÇÃO DE DESIGN DE OBJETOS?
O maior impacto foi a digitalização do processo. O que antes era desenhado à mão, com baixa precisão e sujeito a muitos erros, hoje é feito de
forma digital, com precisão absoluta. Isso nos permite produzir em larga
escala peças com altíssima complexidade formal. Além disso, a digitalização
permitiu a livre comunicação e o envio de desenhos mundo afora. Hoje,
desenhamos aqui produtos fabricados na China, na Coreia, em Taiwan, na
Alemanha… Nunca fomos às fábricas e toda a comunicação é digital.
SE TIVESSE O PODER DE REDESENHAR O MUNDO, O QUE MUDARIA?
Possivelmente, faria a Terra um planeta bem maior, assim um dia duraria
umas 36 horas. (risos)
INDIODACOSTA.COM
IC/AIR 5 Ventilador de teto com
iluminação de LED
yINSIDE
possibilidades
TEXTO MARCOS GUINOZA
Naman Pure Spa
12 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
A ideia desta edição de ABD Conceitual é mostrar que o designer de
interiores pode ir muito além do lugar-comum e, dessa forma, ampliar o horizonte de trabalho.
Embora a profissão tenha como principal referência o espaço residencial, o
mercado oferece várias outras possibilidades de atuação. A casa, claro, é o local
mais próximo de nós. É onde dormimos, comemos, tomamos banho, passamos
a maior parte do tempo e, por isso, ao pensar em decoração, logo lembramos do
morar. Como escreveu John Pile em A History of Interior Design, “seja profissional
ou não, o design de interiores é um aspecto da vida do qual é impossível escapar”.
Mas a profissão não se restringe ao espaço residencial. Longe disso. O setor
é amplo e diversificado. E o designer pode usar seus conhecimentos para decorar uma infinidade de outros ambientes: lojas, restaurantes, hotéis, escritórios,
bibliotecas, hospitais, spas, showrooms, saguões de aeroporto – e ambientes talvez menos óbvios, como o interior de iates, aviões e carros. Enfim, todo espaço
– público ou privado, pequeno ou grande, temporário ou definitivo – pode ganhar
novas formas, cores e texturas.
Essa é a mágica do design de interiores: transformar.
Mais que apenas decorar, planejando e arranjando os ambientes segundo
padrões de funcionalidade e estética, o designer é um criador de novos mundos,
um transgressor de velhas regras, um inventor de sensações, um organizador de
desejos. Ao utilizar táticas próprias da profissão e trabalhar com itens relativos
ao mobiliário, à iluminação, aos objetos, às superfícies e aos revestimentos, o
designer pode transformar o trivial em algo único e extraordinário.
O designer sueco Olle Anderson disse que “o decorador é visto quase sempre como o profissional que trabalha o mais próximo possível do cotidiano das
pessoas, procurando criar ambientes bons, úteis e confortáveis”. É isso. É essa
proximidade e a capacidade de tornar qualquer ambiente mais funcional, harmonioso, saudável e belo que faz do designer de interiores um profissional indispensável neste momento histórico em que o mundo tem exigido cada vez mais
eficiência, produtividade, diferenciação, interação, conforto, qualidade de vida – e
tudo isso passa necessariamente pela questão do espaço.
Escritórios, por exemplo, estão se tornando lugares menos rígidos e
hierárquicos. Em vez da antiga separação por setores que operam isoladamente,
buscam-se espaços compartilhados, troca de experiências, encontro, mobilidade.
O mundo, hoje, é um lugar em constante transformação e, para acompanhálo, é preciso “sair da caixa” e ir além; burilar ideias improváveis, projetar sonhos
impossíveis, propor mudanças.
É a vontade que determina o que podemos.
CLÍNICA MÉDICA
com jeito de hotel
De modo geral, clínicas e hospitais são espaços frios e indiferentes,
desprovidos de atrativos estéticos. Mas, usando um tanto de
criatividade e imaginação, o designer de interiores pode mudar essa
tipologia “apática”, como fez o estúdio Penson ao redesenhar uma
clínica de saúde sexual em Londres. O NHS Dean St. fica no Soho,
bairro conhecido pela agitação noturna, e o estúdio, inspirado pelo
“clima de festa” que circunda a clínica, ousou ir além e transformou
a atmosfera do NHS. Cores quentes, cartazes de filmes antigos,
sinalizações com neon, paredes espelhadas, padrões em preto e
branco no teto e centenas de fotos do Soho substituem o que poderia
resultar em mais um insípido ponto de atendimento médico. O lugar
continua sendo uma clínica, mas não é por ser o que é que precisa
ser “sem graça”. Bonita e moderna, a decoração surpreende e faz com
que as pessoas se sintam mais à vontade.
14 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
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PENSON.CO
ERA GARAGEM,
virou escritório
Transformar significa “dar nova forma”, “tornar diferente do que era”. Foi
exatamente isso que fez o italiano Carlo Bagliani com uma garagem
subterrânea em um bairro residencial de Gênova, cidade portuária no
norte da Itália. Com a colaboração de Stefano Mattioni e Pamela Cassisa,
ele transformou a garagem em um escritório. A estrutura foi projetada
pelo estúdio Sp10. Bagliani optou por materiais industriais e cores
escuras. Teto e paredes foram pintados de preto; o piso, também preto, é
emborrachado. Uma parede metálica divide o espaço em dois. E o grande
painel de vidro permite contato com o exterior. O mobiliário foi desenhado
sob medida por Antonio Norero, da Sp10. Cada mesa tem duas luminárias
que se dobram para direções opostas, criando diferentes efeitos de
luz e sombra. O que antes servia para guardar o carro e entulhos que,
geralmente, amontoamos em garagens e espaços “esquecidos” da casa,
virou um admirável home office.
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CARLOBAGLIANI.IT
O NOVO LOUNGE DA
Turkish Airlines
16 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
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AUTOBAN212.COM
FOTOS DIVULGAÇÃO
Viajar é bom e todo mundo gosta. Mas “mofar” em saguões de aeroporto
é uma das experiências mais aborrecidas que existe. Para quem pode, há
a opção de matar o tempo de espera nas salas vips, e o recém-reformado
CIP Lounge da Turkish Airlines, no Aeroporto Internacional de Atatürk,
em Istambul, está entre os mais interessantes do segmento. O espaço
foi projetado para encantar e manter os passageiros confortáveis e
entretidos. Com design do estúdio Autoban, o ambiente, expandido para
3.000 m², é separado por arcos brancos que fazem referência às tendas
turcas em forma de cúpula, proporcionando vistas panorâmicas para
todas as áreas do lounge. Enquanto aguardam o horário de embarque,
os passageiros da classe executiva têm à disposição diversas opções
gastronômicas, piano-bar, salas de reunião e de descanso, cinema,
biblioteca com mesa de bilhar e até chuveiros e serviço para engomar a
roupa. Esperar, neste caso, não deve ser tão chato assim.
UM SPA RODEADO DE
jardins e leveza
Spa é um local terapêutico, de relaxamento. Se for barulhento e
bagunçado, com decoração confusa, corre-se o risco de sair do lugar
ainda mais irritado que quando entrou. Este não é o caso do Naman Pure
Spa, onde tudo foi pensado para provocar nas pessoas uma experiência
sensorial de tranquilidade e paz. Projetado pelo MIA Design Studio, o
spa fica em Da Nang, cidade vietnamita conhecida pelas cavernas de
pedra calcária e grutas budistas nas Montanhas de Mármore. O spa tem
15 salas de tratamento rodeadas por exuberantes jardins ao ar livre, que
privilegiam a vegetação local; espelhos d’água de lótus; academia para
ginástica, meditação e ioga; ventilação natural, para manter os ambientes
arejados; e fachada composta por elementos vazados e jardins verticais
que filtram a luz, resultando em um interessante jogo de sombras nas
paredes e pisos do spa. Sim, o Vietnã fica longe, mas longe é um lugar
aonde todos merecemos ir de vez em quando.
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MIADESIGNSTUDIO.COM
yENTREVISTA
ELE É
MÚLTIPLO
18 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
AS MUITAS FACETAS DE JOSÉ MARTON
TEXTO JOÃO LOURENÇO
A
rtista plástico, cenógrafo, designer, arquiteto,
marceneiro, colecionador de arte, José Marton
pensou em ser seminarista ou médico antes de se
mandar da cidadezinha onde morava, no interior
paulista, para estudar artes plásticas na Faculdade
Santa Marcelina, em São Paulo. Formado, podia ter viajado a Paris
para expor em um salão universitário, mas preferiu receber o prêmio
em dinheiro. Queria abrir o primeiro negócio, e abriu: a Marton &
Marton. Fundada em 1995, a empresa, tocada em parceria com
o irmão, Fernando, atuava nos segmentos de arte, moda, design,
mobiliário e arquitetura.
José Marton já fez projetos para lojas da Luigi Bertolli, Cori
e Barbara Strauss, entre outras. Criou cenários para o Fantástico, da
TV Globo, e para o Istituto Italiano. Chamado para realizar uma exposição de fotografias para a Forum, acabou criando a cenografia
dos desfiles da marca, trabalho que repetiu com Animale, Alexandre
Herchcovitch, Colcci e Blue Man.
Foi durante a montagem de um desfile que ele teve a ideia
de inventar um inovador sistema de acrílico listrado. A iniciativa lhe
rendeu, em 2006, o iF Design Award, um dos mais importantes prêmios de design do mundo.
No design de produtos, Marton desenvolve objetos e móveis
conhecidos pela ousadia das formas e cores vibrantes. Em 2011, ele
criou a M ao Quadrado, marca de móveis inteligentes que surgiu do
desejo de democratizar e ampliar o acesso do consumidor brasileiro
ao design. Em 2012, ele encerrou a parceria com o irmão e, hoje, comanda o Marton Estúdio.
Sempre em movimento, Marton tem como próximo projeto a
criação de um instituto que vai abrigar sua coleção de arte. São cerca
de 500 obras brasileiras contemporâneas. O espaço também vai servir
como centro de pesquisa.
José Marton conversou com ABD Conceitual.
VOCÊ NASCEU EM UMA CIDADE PEQUENA. QUANDO DESPERTOU O SEU
LADO CRIATIVO?
Eu tinha um universo muito particular. Nasci em Cajobi, no interior de
São Paulo, em 1966, na época uma cidade de 2 mil habitantes. Depois nos mudamos para Catanduva, que era um pouco maior. Meu
pai tinha uma marcenaria, então, eu aproveitava restos de madeira
e criava brinquedos.
DO INTERIOR, VOCÊ FOI ESTUDAR ARTES PLÁSTICAS EM SÃO PAULO. ALGUÉM
TE INFLUENCIOU NESSA DECISÃO?
Sempre tive vontade de sair do interior. Não conseguia me enxergar
em uma cidade daquele tamanho. E eu sempre falava que gostaria
de estudar em São Paulo. Quando cheguei, eu já sabia que iria estudar artes plásticas. Eu tinha feito um curso de desenho e pintura no
Sesc e meu professor disse que eu era talentoso e recomendou que
procurasse um curso em uma cidade grande. Isso foi muito difícil
para o meu pai, não era o que ele queria. Meu pai só entendeu a
minha escolha quando começou a ver o resultado financeiro.
EM 1995, VOCÊ E SEU IRMÃO, FERNANDO, ABRIRAM A MARTON & MARTON.
QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES QUE ENFRENTARAM?
Eu já tinha um negócio em São Paulo. Então, decidimos reunir nossos
conhecimentos. Eu fiquei com o design e ele, com o administrativo.
A maior dificuldade de qualquer empresa familiar é delimitar a função
de cada um. E essa função precisa ser reavaliada no decorrer do
tempo. A parceria com meu irmão durou até o fim de 2012, quando
vendi a minha parte para ele. Chegamos a ter até 150 funcionários,
mas, se fosse hoje, não sei se aceitaria abrir outra empresa nesses
mesmos moldes.
HOJE, VOCÊ ESTÁ POR TRÁS DO ESTÚDIO MARTON. QUAL O CONCEITO DESSE
NOVO PROJETO?
O foco do nosso escritório é em economia criativa. Ela tem uma
“gestão à vista”, que é um modelo implantado no Japão pós-Guerra.
Não é o organograma tradicional em que você tem presidente e
diretor. Aqui, todo mundo está conectado, ou seja, a comunicação
é mais fácil e você consegue perceber problemas e encontrar soluções com muito mais agilidade. A essência do cliente também é
importante para nós. Quem trabalha com design precisa entender
como o cliente pensa. Se eu aceitar desenhar uma casa ou uma
mesa para você, preciso antes extrair sua essência. Por meio das
minhas ferramentas, busco um caminho para sua residência, para
aquilo que você imagina. Não posso ficar preso no que eu gosto.
Nosso escritório é uma ferramenta para atingir o objetivo do cliente.
Para nós, o cliente é participativo.
O ESTÚDIO ATUA EM DIVERSAS ÁREAS: ARQUITETURA, DESIGN, MODA E ARTE.
COMO ESSAS ÁREAS SE INTERCALAM?
A arte é o que move nosso pensamento. É por meio da arte que buscamos nos diferenciar daquilo que o mercado já oferece. A arte educa e ajuda a mudar o sentido das pessoas. Ela nos possibilita avançar
VANILA buffet de MDF laminado de imbuia,
acabamento de verniz fosco, portas e tampos de
metacrilato listrado, 2011
20 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
“Sempre busco
referência na arte.
Tento fugir das
redes sociais, já
que a quantidade
de imagem e
informação é de
enlouquecer”
um pouco mais nas questões de pesquisa e criatividade. Acredito
que a arte é o segmento que intercala todas as áreas.
APÓS TRABALHAR EM TODAS ESSAS ÁREAS, QUAL É A QUE MAIS TE SEDUZ?
Essa é difícil! Acho que se tivesse o poder da escolha, eu seria só artista. Sabe, gostaria de ter tempo para rodar o mundo e o Brasil atrás de
novos talentos, mas acredito que isso seja para o futuro. Hoje, estou
conduzindo a empresa de uma maneira em que sempre acreditei.
Por ter muita energia, ser inquieto, eu consigo fazer a relação entre
uma área e outra. Acredite, não é pesado. É uma mistura boa e divertida. Às vezes, os desafios de um segmento geram solução para
o outro e vice-versa. No fim do dia, eles estão todos relacionados.
VOCÊ ACABOU DE CITAR BRASIL E NOVOS TALENTOS. ALGUM MATERIAL DE
ORIGEM BRASILEIRA TE ATRAI?
Uma coisa que me atrai muito no Brasil é a madeira. Temos uma
diversidade gigantesca. É uma matéria-prima sedutora. Eu também
sou marceneiro e é encantador quando você pega uma madeira
bruta e a transforma em um objeto, seja ele de design ou de arte,
ver como se apresenta depois do processo artesanal ou industrial. O
plástico também sempre me atraiu.
O SEU SISTEMA DE ACRÍLICO LISTRADO FICOU CONHECIDO NO MUNDO INTEIRO. COMO SURGIU ESSA IDEIA?
Eu tinha uma grande curiosidade para entender como os produtos
eram injetados e me questionava: “Quanto custaria para fazer uma
mesa ou um vaso com esse material?”. Olhava a quantidade de
produtos em feiras e percebi que iria custar uma fortuna, afinal, como
FACETAS estante feita de módulos
encaixados, um a um, 2012
ENTRELINHAS mesas de centro
de metacrilato listrado, 2010
invento algo sem uma máquina para injetar? E, ao mesmo tempo,
tinha que romper um paradigma e ter uma matéria-prima autoral
para trabalhar no meu produto. Assim, surgiu a série Entrelinhas. Só
que isso só se deu por eu ser uma pessoa que não fica presa em
apenas uma disciplina. Tudo aconteceu quando estava olhando
para uma pilha de acrílico, em um cenário de desfile que eu estava
montando. Tive um insight: “Acrílico listrado”. Quando comecei a
pesquisar a injeção de plásticos e polímeros, percebi que não tinha
nada listrado no mercado. Existe uma dificuldade muito grande em
chegar a esse resultado, pois o material entra líquido e sai sólido e,
quando ainda está líquido, as cores se misturam, ou seja, é muito difícil
você conseguir separar uma cor da outra. Então, comecei a fazer uma
pesquisa. A indústria não quis me ajudar, e meu irmão disse: “Você é
louco e isso vai dar muito problema”.
O QUE TE MOTIVOU A CONTINUAR BUSCANDO UMA SOLUÇÃO PARA A
SUA IDEIA?
O que me motiva são os desafios. Acredito que, daqui para a frente, vou conseguir produzir muito mais coisas do que imaginei fazer
com essa matéria-prima. Na questão do design, passei por um processo de experimentação. Agora, a ideia é ter toda a segmentação
desse produto.
ALGUNS ANOS ATRÁS VOCÊ LANÇOU A MARCA M AO QUADRADO, UMA LINHA
DE MÓVEIS INTELIGENTES QUE BUSCA DEMOCRATIZAR E AMPLIAR O ACESSO
DO CONSUMIDOR AO DESIGN. COMO FOI ESSE PROCESSO?
SINTONIA projeto de escritório, 2011
A linha surgiu de uma grande pressão. Quando você tem uma empresa em que a pessoa que desenha também é sócia, você começa a
ser cobrado. Fui cobrado porque ainda não tínhamos uma marca. Durante quatro anos, eu me questionei sobre a importância de ter uma
marca. Fizemos uma experiência na feira Casa Brasil, em 2009. Foi um
laboratório para entender o que todo mundo estava expondo. Depois de um bom feedback de lojistas e amigos expositores, comecei
a entender o que deveríamos oferecer ao mercado. Hoje, temos lojas
e vendas de produtos com valor elevado, pense nas lojas da Rua Estados Unidos, e também temos o extremo oposto, como a Tok&Stok.
Um tem a intenção de não popularizar tanto o design, enquanto o
outro busca democratizar. Então, pensei que a M ao Quadrado poderia ser uma marca que fica entre os conceitos desses dois exemplos
que citei. Outra questão importante é que na M ao Quadrado tanto o
lojista quanto o consumidor final podem interferir no produto. O consumidor pode ter um produto com um preço mais acessível e, além
disso, determinar como ele quer esse produto na casa dele.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRIAR UMA PEÇA EXCLUSIVA E UMA PEÇA EM SÉRIE?
22 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
FOTOS DIVULGAÇÃO
Em uma peça exclusiva você tem que inovar e, geralmente, o custo
é elevado, uma vez que, para inovar, você acaba utilizando matérias-primas de valor mais alto. Então, quando é assim, não me preocupo
como o produto será vendido, pois sei que serão apenas algumas
pessoas que vão consumir esse tipo de design. É um design quase
colecionável. Quando você entra em um raciocínio de indústria, você
trabalha ao contrário: tenho que começar pelo preço e pela matéria-prima. Então, você tem que levar tudo isso em consideração. O Brasil
Casa Vogue 40 Anos / Expo Revestir, 2015
tem uma pequena população que consome design. Quando penso
em uma peça de série, o preço tem que estar coerente não apenas
com o design, mas também com o público que quero atingir.
DIANTE DE TANTA INFORMAÇÃO, QUAL A SUA MAIOR FONTE DE INSPIRAÇÃO
NO MOMENTO?
Só procuro as redes sociais, como Instagram e blogs, se for necessário. Tento fugir um pouco disso, já que a quantidade de imagem e informação é de enlouquecer qualquer um. Sempre busco referência
na arte. Tento mostrar referências alternativas para a minha equipe,
para que não fique presa apenas ao que o cliente passou. Como a
arte não tem pretensão de uso, você consegue extrair uma liberdade
muito maior.
VOCÊ TAMBÉM É UM COLECIONADOR DE ARTE. O QUE PODEMOS ENCONTRAR
NA SUA COLEÇÃO?
Sim, ano que vem, completo 25 anos como colecionador. Percebo
que a minha coleção tem um foco de instituição, não tenho obras
de fácil comercialização. Ou elas são agressivas, de fundo político,
ou são obras que tratam da questão da morte, e esse é um botão
em que as pessoas não gostam muito de mexer. Esse colecionismo
gerou um novo empreendimento. Pretendo fazer um instituto. Ele
foi lançado como ideia e, agora, pretendemos lançar em um espaço
físico já no ano que vem. Será um instituto onde vamos pesquisar
a cultura brasileira. A ideia é explorar os segmentos de arte, moda,
arquitetura e gastronomia.
MARTONESTUDIO.COM.BR
yHOTEL BOUTIQUE
A ARTE
DE HOSPEDAR
HOTEL B, LIMA, PERU
24 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
LOCALIZADO EM BARRANCO, BAIRRO CONHECIDO
PELA CENA ARTÍSTICA EM LIMA, HOTEL TEM DESIGN DE
INTERIOR SOFISTICADO E CONTEMPORÂNEO
TEXTO ANDRÉ POLI
E
xistem vários estilos de hotel boutique. Alguns
são mais “descolados” e unem bom gosto e
criatividade, fazendo uso de elementos simples
e quase sempre com uma pegada urban art. Estes proporcionam uma experiência bem atual e, geralmente,
estão localizados em regiões como a Vila Madalena, em São
Paulo, e Chueca ou Malasaña, em Madri.
Outro estilo muito em moda são os hotéis design,
que podem ser divididos em duas categorias. Os primeiros
têm ótima curadoria e peças de grande relevância no design
moderno e contemporâneo. São encontrados em muitos
destinos, da Patagônia a Berlim. E há aqueles que apostam
no novo e vanguardista, ousando nas formas, nas cores e
nos materiais. Um bom exemplo é o Palermo Soho, que fica
em um dos bairros mais transados de Buenos Aires.
Entre tantas opções, escolhemos o Hotel B, visitado recentemente por ABD Conceitual. É o primeiro hotel
relais & châteaux de Lima, capital do Peru, e toda a experiência vivenciada ali é baseada na arte, desde a refinada
cozinha, passando pelo serviço excelente, até as paredes
repletas de obras de nomes importantes da arte contemporânea latino-americana.
O Hotel B oferece apenas 17 quartos e tem uma
particularidade: está ao lado da galeria Lucía de la Puente.
Lucía é uma das sócias-proprietárias do hotel, o que explica o grande volume de obras de arte de altíssima qualidade
expostas no estabelecimento. Obras que podem ser adquiridas pelos hóspedes. É como se o hotel fosse uma extensão
da galeria, e vice-versa.
O Hotel B está localizado no bairro de Barranco,
26 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
HOTELB.PE
FOTOS DIVULGAÇÃO
ao lado de Miraflores. Barranco já é conhecido pela cena
de arte e boemia em Lima. O que antes era uma praia de
veraneio está se tornando um novo ponto cultural. Casas e
prédios antigos foram tombados e, hoje, são ocupados por
lojas de design, galerias, museus e restaurantes que servem
o melhor da gastronomia peruana, já muito cultuada em vários cantos do planeta. Nesse cenário, a meio quarteirão da
praia, está o Hotel B. Com fachada imponente, o prédio é um
monumento histórico que remete ao glamour da década de
1920, no melhor estilo Belle Époque. Originalmente concebido pelo famoso arquiteto francês Claude Sahut, o prédio
foi restaurado por David Mutal, que usou uma equipe de
escultores e carpinteiros da escola de belas-artes de Lima.
Outro ponto alto do hotel é o design de interiores. O
projeto é do peruano Jordi Puig. De estilo eclético, o designer
conseguiu mesclar peças e materiais de diferentes universos que convivem em harmonia. O mármore italiano da edificação original é combinado com madeira escura, tecidos
nobres, peças dos anos 1950 com pegada pop e mobiliário
clássico. Puig, assim, propõe uma experiência ao mesmo
tempo sofisticada e contemporânea, priorizando o conforto
e a privacidade, fazendo o hóspede se sentir em casa.
Pelas áreas comuns do Hotel B é possível encontrar
hóspedes estrelados, como o fotógrafo David LaChapelle,
observando ângulos para suas fotos com uma xícara de café
na mão, ou o famoso designer Tom Dixon fazendo esboços
para sua nova coleção no rooftop, área recém-inaugurada e
projetada pela designer de interiores Luz María Buse. Com
cores claras, de tons pastel, o ambiente é leve e sóbrio, transmitindo o espírito de veraneio do local, onde, no fim de tarde, pode-se tomar uma champanhe acompanhado de boa
música, tendo ao fundo a vista da praia de Barranco.
COM FACHADA IMPONENTE, O PRÉDIO É UM
MONUMENTO HISTÓRICO QUE REMETE AO
GLAMOUR DA DÉCADA DE 1920, NO MELHOR
ESTILO BELLE ÉPOQUE
FLORIANÓPOLIS, BRASIL
QUINTA
DAS VIDEIRAS
DECORAÇÃO COM PEÇAS DE ÉPOCA, SERVIÇO
IMPECÁVEL E CAFÉ DA MANHÃ NO QUARTO
“O OBJETIVO É APRESENTAR AO HÓSPEDE
O DESIGN DAS ANTIGAS MOBÍLIAS E FAZER
COM QUE ESSE ESTILO ANTIQUÁRIO SEJA UM
DIFERENCIAL DO HOTEL”
P
rojetado como uma elegante residência em estilo português do século 19, o Quinta das Videiras,
em Florianópolis, é exemplo mais que perfeito
de hotel boutique. Pequeno (oferece apenas 11
quartos), com serviço impecável e decoração única, está localizado na parte norte da ilha, no coração do centrinho da
Lagoa da Conceição.
O nome do hotel vem das videiras próximas, que
já existiam antes e foram mantidas pelo dono, Gutemberg
Lopes Guedes. De ascendência portuguesa, ele, em parceria com a mulher, é o responsável pela decoração do hotel,
com azulejos personalizados, um bonito vitral e inúmeras
peças de época. A maioria data de 1810 a 1950, como a
penteadeira francesa de espelho redondo, o abajur inglês de
jacarandá e a cama em estilo imperial. Todas arrematadas
por Gutemberg em leilões e viagens mundo afora. “O objetivo é apresentar ao hóspede o design das antigas mobílias e
fazer com que esse estilo antiquário seja um diferencial do
hotel”, explica o proprietário.
A esse “clima de antigamente”, que dá charme e
personalidade ao hotel, somam-se confortos próprios em
hospedagens desse tipo, como lençóis egípcios, travesseiros de pena de ganso, ofurô de madeira e café da manhã
com horário marcado, servido no quarto em louças de porcelana. A refeição também pode ser degustada ao ar livre,
no jardim, perto da piscina.
Para quem busca algo mais que uma boa cama.
28 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
QUINTADASVIDEIRAS.COM.BR
yARTE
SOB OS
TAPETES
SÉRIE RUGS, DE ANTONIO SANTIN
TEXTO ALVARO TEDESCO
30 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
AS IMAGENS que ilustram estas páginas são de grandes
pinturas hiper-realistas de tapetes detalhadamente ornamentados, quase táteis, e fazem parte da série Rugs, do
artista espanhol Antonio Santin.
COMO SURGIU A IDEIA DE PINTAR TAPETES?
Elementos sinistros e misteriosos sempre estiveram
presentes no tipo de identidade visual que me interessa. No
caso de Rugs, acho que foi o acaso. Rugs é uma série de
pinturas figurativas sem figuras.
“O tapete é
um símbolo
metafórico de
todos os aspectos
da realidade”
Há, sim, algo de sinistro e misterioso nos tapetes
pintados pelo artista, como se “escondessem” corpos humanos. Santin responde:
O QUE VOCÊ “ESCONDE” DEBAIXO DOS TAPETES?
Quando varremos algo para debaixo do tapete,
geralmente é porque queremos esconder algo embaraçoso: um problema ou segredo com o qual não queremos
lidar naquele momento. O tapete é um símbolo metafórico de todos os aspectos da realidade, é um lembrete.
Cabe a cada um descobrir se as coisas ficam em cima ou
debaixo do tapete.
Espanhol nascido em Madri, Santin estudou
em Atenas, na Grécia, viveu por um tempo em Berlim,
na Alemanha, e hoje mora e trabalha em Bushwick, no
Brooklyn, em Nova York. Admirador do cinema noir e de
artistas como Chema Madoz, Fred Tomaselli e Santiago
Sierra, ele iniciou carreira artística fazendo esculturas.
O QUE FEZ VOCÊ MUDAR PARA A PINTURA?
Eu tive uma formação clássica, ou seja, tenho familiaridade com uma grande variedade de técnicas. Durante
meus anos acadêmicos, escultura foi um dos tópicos que
mais explorei. Acredito que isso tenha influenciado fortemente o meu trabalho como pintor, pois a maioria das
minhas pinturas atravessa a fronteira do “pesadamente
texturizado”. Vejo-as quase como um relevo escultórico.
Para criar a sensação de tridimensionalidade que
as telas provocam no espectador, Antonio Santin recorre
aos ensinamentos dos grandes mestres da pintura espanhola, usando a técnica do chiaroscuro. O resultado é, ao
mesmo tempo, surpreendente e perturbador.
ANTONIOSANTIN.COM
WONDERWALL, 2014, óleo sobre tela, 185 cm x 280 cm
ALICIA, 2014, óleo sobre tela, 185 cm x 280 cm
TROPEZÓN, 2015, óleo sobre tela, 230 cm (página ao lado)
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especial: a premiação do 1o semestre do Programa de Relacionamento i/D, uma iniciativa que reconhece
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SAIBA QUAIS HABILIDADES O DESIGNER PRECISA
TER PARA DESENVOLVER O INTERIOR DE AVIÕES
TEXTO ALVARO TEDESCO
34 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
Projeto de avião futurístico da Nike em parceria com a Teague, consultoria de design
para aviação. A ideia é proporcionar recuperação física e mental aos atletas nos
longos voos que eles precisam realizar durante uma competição
O
título desta matéria é de um antigo anúncio da
Boeing e mostra o assombro de um menino ao ver
que dentro do avião havia uma escada. O modelo é
o Stratocruiser 377. Baseada no C-97 Stratofreighter,
avião militar derivado do B-29 Bomber, a aeronave foi lançada pela
empresa americana após o fim da Segunda Guerra Mundial. O interior
foi projetado pelo designer Walter Dorwin Teague. Usando técnicas
inéditas para a época, Teague revolucionou o design de interior de
aviões com projetos desenvolvidos para a Boeing, que passaram a ser
utilizados como padrão na indústria aeronáutica.
O Stratocruiser, bem maior que os concorrentes DC-6 e
Constellation, foi um avião fabricado para atender ao transporte
aéreo de luxo. Tinha uma cabine de passageiros espaçosa, cozinha
(onde as refeições eram preparadas durante o voo), vestiário, camas
e uma escadaria circular que dava acesso a um lounge/bar. O avião
podia acomodar de 55 a 100 passageiros.
Essa aeronave pertence à época chamada Era de Ouro da
aviação, quando voar ainda era divertido e glamuroso. Hoje, excetuando-se a classe executiva dos aviões comerciais e os jatos particulares, voar, para a maioria dos passageiros, é se espremer em minúsculas e desconfortáveis poltronas das classes econômicas. Glamour?
Coisa do passado.
Do Stratocruiser para cá, o design de interiores aplicado
às aeronaves evoluiu bastante, desenvolvendo um vocabulário
formal próprio. Para entender como é realizado esse trabalho,
ABD Conceitual conversou com Marcelo Teixeira. Head designer
da Embraer por dez anos, hoje ele comanda o Studio Marcelo
Teixeira Arch & Transportation Design, com projetos de interior
STUDIOMARCELOTEIXEIRA.COM.BR
Projeto desenvolvido pelo Studio Marcelo Teixeira para um cliente holandês
de aviões executivos e comerciais no Brasil e em países como
México, Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos,
Inglaterra e Alemanha.
da aeronave; e talvez os mais complexos e exigentes sejam os fatores
peso e segurança.
TUDO TEM QUE SER FEITO SOB MEDIDA?
QUAIS HABILIDADES O DESIGNER PRECISA TER PARA DESENVOLVER
O INTERIOR DE AVIÕES?
Ao contrário do que muitos pensam, o designer de interior
não “decora” a aeronave, mas participa de um processo de projeto
muito rígido, que visa especificar uma série de elementos do interior,
analisando, em conjunto com a engenharia, a viabilidade desses elementos para os sistemas e as configurações oferecidas. Para trabalhar
nesse ramo, o designer deve conhecer o avião, bem como ampliar o
repertório de ideias e soluções a respeito das áreas de interface, sejam internas (engenharia, marketing etc.), sejam externas, as quais denominamos cliente. Outro ponto é o domínio de ferramentas como
softwares e processos que o auxiliarão a tangibilizar os desejos e as
necessidades dos clientes.
QUAIS OS PRINCIPAIS OBSTÁCULOS AO PROJETAR O INTERIOR DE
AVIÕES?
Existem alguns fatores a ser observados: requisitos de certificação que elencam as regras de operação e fabricação da aeronave;
aspectos de mercado, comportamento e cultura de cada operador
36 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
Sim, pois cada aeronave tem peculiaridades, especialmente,
quando tratamos de usuários da aviação executiva, que querem dar
sua personalidade ao ambiente, tornando-o único e especial.
EXISTEM DIFERENÇAS ENTRE O PROJETO DE AVIÕES COMERCIAIS
E EXECUTIVOS?
Sim, a diferença básica é o tipo de operação que cada avião
realiza. Por exemplo, os comerciais necessitam de um cuidado com
questões de segurança, robustez dos materiais, layouts mais acessíveis e ergonomicamente estudados, pois diferentes usuários usufruem do mesmo espaço. Já no caso da aviação executiva, além do
citado acima, os fatores identidade, objeto de desejo e personalização
regem esse seleto e extremamente exigente usuário.
COMO É O MERCADO DE TRABALHO NESSA ÁREA?
O mercado mundial é bastante restrito. A meu ver, a grande
dificuldade de expansão é por não existirem cursos específicos nessa
área. Todos os profissionais que atuam hoje nesse segmento foram
formados dentro de importantes empresas do ramo aeronáutico.
Tudo a
bordo
u no mar
PARA DECORAR O INTERIOR DE BARCO, TÂNIA ORTEGA EXPLICA: “A DIFERENÇA
SÃO OS MATERIAIS, QUE DEVEM SER MAIS RESISTENTES”.
A
pesar da crise econômica que abala o país, o mercado
de iates de luxo no Brasil segue de vento em popa.
Quer um exemplo? Veja a trajetória de crescimento da
Boat Xperience & Brokerage Show, feira náutica que
acontece no Guarujá, cidade no litoral de São Paulo. Em 2011, na
terceira edição, o evento movimentou R$ 22 milhões. Em 2015, na
11ª edição, o faturamento estimado foi de R$ 53 milhões.
A Itália é a maior produtora de iates de luxo do planeta, seguida por Estados Unidos, Holanda, Reino Unido e Alemanha. O Brasil
representa cerca de 1,5% do consumo mundial do setor.
Falam que ter um desses iates é como ser proprietário de
uma casa de praia em qualquer lugar que a pessoa queira: em
Búzios, no litoral baiano ou em Fernando de Noronha. Ou como
adquirir um apartamento de altíssimo padrão. O Prestige 750, por
exemplo, exposto na Boat Xperience, custa R$ 16,7 milhões. Tem
22,5 metros, quatro quartos, sala de jantar e de estar, cozinha,
lavanderia, área para banho de sol e adega. “Hoje, literalmente, o
barco virou uma casa flutuante com todos os confortos de um lar”,
diz a yacht designer Tânia Ortega.
Há mais de 21 anos trabalhando no segmento náutico, Tânia
é um dos principais nomes no Brasil quando o assunto é decoração
personalizada de barcos.
ABD Conceitual conversou com a designer.
Interiores de iates projetados por Tânia Ortega
QUAIS HABILIDADES O DESIGNER PRECISA TER PARA DESENVOLVER
de área externa que unem design, beleza e praticidade.
O INTERIOR DE IATES?
Conhecimento. Estou sempre pesquisando e viajando para
feiras no exterior em busca de materiais e produtos adequados, não
só do ramo náutico, mas também do ramo de arquitetura, têxtil, em
que me inspiro e das quais consigo trazer as tendências para o Brasil.
Hoje, literalmente, o barco virou uma casa flutuante com todos os
confortos de um lar. A diferença são os materiais mais resistentes, que
devem ser usados em função do desgaste que a maresia provoca.
QUAIS OS PRINCIPAIS OBSTÁCULOS AO PROJETAR O INTERIOR
DE IATES?
38 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
Na maioria dos casos, sim, pelos diferentes tamanhos e tipos
de embarcações, mas alguns móveis e objetos se encaixam em todos
os lugares.
O QUE OS CLIENTES MAIS PROCURAM QUANDO QUEREM PERSONALIZAR O INTERIOR DE IATES?
Procuram deixar o barco com o mesmo aconchego de sua
casa, com comodidade, luxo, conforto e, principalmente, praticidade,
resultando em um lar a bordo.
COMO É O MERCADO DE TRABALHO NESSA ÁREA?
Ainda restrito e muito específico, porém extremamente
gratificante.
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FOTOS DIVULGAÇÃO
Com certeza, o maior obstáculo está nos espaços pequenos,
que precisam ser bem aproveitados e, também, na utilização de
produtos específicos. Mas, hoje, é possível encontrar produtos
bacanas, tecidos altamente resistentes, revestimentos de fácil
aplicação que renovam o barco; utensílios que não quebram, móveis
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yDESIGN
JON STAM
TEXTO JOÃO LOURENÇO
CABINET OF THE (MATERIAL & VIRTUAL) WORLD: feito de cedro
vermelho, é formado por um conjunto de pequenas gavetas que brincam
com a memória dos objetos que gostamos de manter por perto. Abaixo,
Stam e o espelho CLAUDE GLASS
JON STAM acredita que o design do futuro deve ser mais do que
sexy e atraente. Ele defende “um design ampliado, que não fique
preso a convenções industriais de massa”. O canadense afirma que
os novos meios de comunicação são capazes de produzir peças
mutáveis. “Li a descrição do curso de design industrial em um catálogo de profissões. Senti que aquilo descrevia o tipo de atividade
que eu sempre explorava no tempo livre. Quando criança, lembro de
transformar objetos encontrados, como papel e madeira, em algo
que tivesse nova utilidade.”
Após se formar na Ocad University, em Toronto, Stam trocou o
Canadá pela Holanda. Lá, passou pela Academia de Design de Eindhoven,
onde ganhou reconhecimento internacional. “Na minha formatura,
apresentei a Cabinet of the (Material & Virtual) World. Foi uma tentativa
de reunir lembranças físicas e virtuais no mesmo espaço.” A
cabine intercala 16 gavetas para objetos físicos e 16 caixas com
memória embutida. Para visualizar o conteúdo digital, é preciso
colocar a caixa digital ao lado do computador.
Em 2011, Stam foi convidado para ministrar aulas na
Academia Willem de Kooning, em Roterdã. “Estou no comando
de um programa chamado Artesanato Digital, que brinca com
a relação entre novas e velhas tecnologias. Oferecido para estudantes de todas as disciplinas – estilistas, ilustradores, designers gráficos, entre outros – o curso tem sido uma experiência
maravilhosa. Acredito que jovens designers precisam ter uma
abordagem mais experimental com as ferramentas e tecnologias que estão utilizando.”
Stam argumenta que o trabalho dele não deve ser
apressado como em um ciclo de moda. “Sigo meu próprio ritmo
e tenho uma estética clássica para os padrões atuais.” Em parceria com o designer de softwares Simon de Bakker, Stam abriu
o Commonplace Studio, em Amsterdã, onde, com o auxílio das
novas tecnologias, segue criando diálogos entre memória, futuro e passado.
COMMONPLACE.NL
yAMBIENTE
MEN AT
OS ESPAÇOS DE TRABALHO MUDARAM. MAS PESQUISAS INDICAM
QUE O NOVO MODELO, COM AMBIENTES INTEGRADOS, AINDA NÃO
É O IDEAL – E PODE ATÉ ATRAPALHAR A PRODUTIVIDADE
TEXTO JOÃO LOURENÇO
FOTOS LAWRENCE ANDERSON
44 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
WORK
Grupo Gallegos Sede da agência de publicidade que ocupa um antigo cinema
próximo do píer de Huntington Beach, na Califórnia. O projeto, do estúdio Loha, é inspirado
no estilo de vida praiano, com cores vibrantes e mais de 300 guarda-chuvas brancos no
teto, que podem ser redirecionados para iluminar o espaço | LOHARCHITECTS.COM
A
46 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
Estados Unidos já funcionam nos moldes
que Duffy sugeriu, ou seja, com espaços que
buscam estimular o espírito colaborativo e
aumentar a produtividade. Esse movimento
teve destaque entre as empresas sediadas
no Vale do Silício, na Califórnia. Gigantes da
tecnologia, como Google, Yahoo e Facebook,
ajudaram a espalhar o conceito de escritórios
descontraídos, “sem barreiras”. Hoje, até bancos e operadoras de cartão de crédito, como
a American Express, têm espaços de trabalho
que mais parecem um parque de diversões
para adultos.
Mas a liberdade de não ficar acorrentado à mesa de trabalho o dia inteiro tem
gerado discussão. Em 2011, o psicólogo organizacional Matthew Davis analisou mais de
uma centena de estudos sobre esses novos
ambientes. Apesar de concordar que a descontração ajuda a promover um sentido de
comunidade e camaradagem entre os funcionários, ele descobriu que a nova compo-
FOTOS DIVULGAÇÃO
té alguns anos atrás, a maioria das empresas projetava os
espaços de trabalho pensando no individual. As pessoas
trabalhavam em dezenas de
cubículos uniformes, que se estendiam uns
atrás dos outros. Na virada do século 20 para o
21, o pesquisador de comportamento Francis
Duffy, da Universidade da Flórida, já defendia
uma nova abordagem. “Estamos construindo
escritórios que se adequam mais aos moldes
do passado (…) devemos pensar no próximo
século, em espaços com máxima liberdade
para ir e vir, um lugar lúdico, onde todos possam exercer seu talento da melhor forma.” Para
Duffy, os escritórios tradicionais “são espaços
sufocantes que não estimulam a criatividade”.
Hoje, a ideia de um escritório cheio de divisões
é tão velha quanto a máquina de fax.
De acordo com uma recente pesquisa realizada pela International Facility Management Association, 70% dos escritórios dos
Google
Pioneiro em transformar os espaços de trabalho em lugares lúdicos e mais humanos, o Google
segue inovando. A sede da empresa no México tem um espaço de reunião com balanços; um táxi de verdade,
remodelado, para falar ao telefone; e as salas técnicas ficam dentro de um vagão de metrô | SPACEMEX.COM
sição do escritório prejudica o pensamento criativo, o nível de
satisfação e a atenção. Em comparação aos escritórios “antigos”,
os funcionários agora sofrem com interrupções constantes em
razão da falta de privacidade. Davis percebeu que isso afeta a
produtividade e gera altas taxas de estresse.
Outro estudo, realizado em 2013 pela Universidade de
Berkeley, na Califórnia, revela que os funcionários que trabalham
nesse modelo de escritório estão frustrados. Entre as queixas
mais recorrentes, figuraram a falta de privacidade visual e sonora. O estudo afirma que, apesar da interação com os colegas ter
melhorado, esse novo ambiente dificulta a concentração. Para os
entrevistados, a vantagem de um escritório com divisões é que
você pode se isolar antes de uma reunião ou em momentos de
muito estresse. Além do aspecto emocional, a pesquisa afirma
que esses escritórios são capazes de alterar a saúde física dos
funcionários. A grande causa disso está no excesso de barulho
encontrado nesses ambientes integrados. Em laboratório, foi
comprovado que o barulho reduz o desempenho cognitivo, ou
seja, o som afeta a forma como pensamos, logo, esses ambientes
prejudicam nossa capacidade de guardar informação.
Os pesquisadores perceberam, ainda, que o desempenho e o nível de satisfação também caíram entre os trabalhado-
res jovens, derrubando a ideia de que esse problema só afetava
uma geração que cresceu acostumada com a velha distribuição
em cubículos. De acordo com a pesquisa, a geração do milênio,
se comparada com a anterior, está na frente quando o assunto
é multitask, porém, nem sempre isso é uma qualidade. Quanto
maior a habilidade de lidar com várias tarefas ao mesmo tempo,
diz a pesquisa, pior é a capacidade de se proteger das distrações.
Os pesquisadores sugerem que, independentemente da idade, é
essencial identificar os elementos que causam distração no trabalho. Afinal, esse novo ambiente veio para ficar.
Nós temos ritmos de trabalho diferentes. Colocar todos
os funcionários em um escritório aberto e descontraído pode
ajudar nos problemas de interação entre grupos de áreas distintas, mas, no fim do dia, o que importa é o aumento da produtividade, algo que esse modelo ainda não foi capaz de cumprir. No
entanto, dificilmente os escritórios voltarão a ser como antes. A
ideia é que esse novo escritório tenha que ir além de um espaço
aberto, lúdico e carregado de opções de descanso, como escorregadores, academias e piscinas de bolinhas.
O desafio de amanhã é criar um espaço que apresente
uma sensação de privacidade e, ao mesmo tempo, seja flexível o
suficiente para que as pessoas possam se movimentar e interagir.
10
yDECORAÇÃO
coisas que você
precisa
sobre
saber
TEXTO JOÃO LOURENÇO
FOTOS MAISON&OBJET
1_
2_
3_
Joseph Dirand é designer de interiores disputado no
cenário internacional. Parisiense, ele foi criado em um
ambiente cercado de pensadores, artistas e escritores.
Filho de Jacques Dirand, famoso fotógrafo de interiores,
Joseph passou grande parte da infância ao lado do pai,
em “expedições” pelos espaços mais cobiçados da
França. Além da arquitetura, as primeiras influências dele
foram os Jardins de Versailles e a arte povera, que ele
coleciona até hoje.
Joseph se formou em arquitetura na Paris-Belleville, mas
a vida o levou a uma direção diferente. “Eu acreditava
que iria me formar e ser convidado para desenhar grandes prédios. Mas, quando você tem 23 anos, ninguém
confia em você. Então, aceitei projetos menores que
estavam mais ligados à decoração.”
O primeiro trabalho de destaque de Joseph foi para a loja
da estilista japonesa Junko Shimada, em Paris, e o começo da carreira foi marcado por uma estética minimalista.
A palheta de cores raramente fugia do preto e branco,
48 ABD CONCEITUAL SETEMBRO/2015
mas projetos posteriores o forçaram a expandir a identidade visual. “Percebi que era muito fácil seguir modelos
de sucesso do passado, mas isso não estava me acrescentando nada. Qualquer artista tem que se arriscar em
novos conceitos. É aquela velha coisa de abandonar a
zona de conforto. Para mim, deu certo.”
4_
Em 1999, aos 26 anos, abriu um pequeno escritório
com alguns amigos e, na última década, o escritório foi
responsável por premiados projetos ao redor do mundo, como o Hotel Distrito Capital, na Cidade do México.
“Hoje tenho um time de dez designers. Trabalhamos
juntos em todos os projetos e somos uma espécie de
família de artesãos.”
5_
Além de hotéis e restaurantes, a equipe de Joseph é responsável pelo conceito de lojas de algumas das maiores
grifes internacionais: Alexander Wang, em Pequim; Rick
Owens, em Londres; Givenchy e Balmain, em Paris. “Percebo que essas marcas vêm até mim não pelo meu estilo, mas pela forma como eu conto uma história.”
JOSEPH DIRAND
6_
7_
8_
A inspiração do parisiense vem das performances do artista alemão Joseph Beuys e das pinturas de Jean-Michel-Basquiat. “E não se esqueça da luz de Paris! Para mim, a
luz do ambiente chega a ter tanta importância quanto os
objetos. A luz nos ajuda a respirar, e isso é refletido nos
objetos e no espaço em si. Seja em um hotel no México,
uma residência em Miami ou uma loja na Ásia, o ponto
que busco é o mesmo: um lugar onde você possa observar e sentir a presença de luz.”
Caracterizado por linhas fortes e proporções impecáveis,
o estilo de Joseph é fácil de ser reconhecido. É muito
“limpa” a maneira como ele trata e define o espaço. De
uma forma contemporânea, ele reinventa elementos
decorativos tradicionais da cultura francesa, como o piso
em parquet e maçanetas douradas. Faz um mix de classicismo e minimalismo.
Materiais como latão, bronze e grandes peças de mármore fazem parte da assinatura do designer. “Gosto de
olhar para materiais que expressam uma ideia de desor-
dem e sou atraído por materiais naturais ou coisas que
são feitas à mão. Quando se trata da natureza, você não
tem controle absoluto. Pense em um mármore: cada
peça vai apresentar uma característica diferente.”
9_
Recentemente, Joseph passou a se interessar por tecidos. “Nos primeiros 15 anos da minha carreira, não pensava muito nesse material. Era algo que quase não usava,
ou sempre designava essa parte para outra pessoa da
minha equipe. Até uns anos atrás, tinha um total de 40
amostras. Hoje, tenho gavetas e gavetas. Desenhei lojas
para diversos estilistas, acho que isso colaborou com minha nova obsessão.”
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Joseph Dirand é designer interessado em contar uma história, porém, ele não conta por contar. Uma das principais
características do trabalho do designer é a ausência de
qualquer coisa supérflua. “Design de interiores tem mais a
ver com o seu modo de vida, com amizade e generosidade do que com estilo.”
JOSEPHDIRAND.COM
“A natureza criou as mais
perfeitas esculturas e tenho
sorte de poder registrá-las. Amo
fotografar alguém dentro de um
tubo, mas clicar uma onda vazia
também me satisfaz muito”
PEGANDO ONDA
RAY COLLINS trabalhava em uma mina de carvão em New
South Wales, na Austrália. Machucou o joelho e teve que
ficar seis meses afastado. Por recomendação médica, voltou
a nadar. Do acidente surgiu Seascapes, incrível série de
fotografias que mostram ondas do mar como se estivessem
congeladas. O australiano aprendeu os fundamentos da
fotografia – velocidade, diafragma, composição e óptica –
recorrendo a tutoriais online. Começou como bodyboarder,
registrando surfistas pegando onda, mas logo os surfistas
deixaram de ser o foco principal das imagens. Em 2009,
Ray ganhou o prêmio da Follow The Light Foundation e
as fotografias dele foram parar em grandes publicações
de surfe. “Ondas vazias, com bela iluminação, sempre me
inspiraram. Atualmente, documentar o oceano é a minha
prioridade. Eu amo fotografar surfe, mas sinto que a imagem
de uma onda sem um ser humano nunca será datada.”
De cima para baixo:
STEPS,
SNOW MOUNTAIN,
OMINOUS
RAYCOLLINSPHOTO.COM
yGALERIA

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