Connections with Leading Thinkers

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Connections with Leading Thinkers
Instituto de
Alta Performance
Connections with Leading Thinkers
O empreendedor Gustavo Caetano discute oportunidades
e desafios para start-ups inovadoras no Brasil.
Connections with Leading Thinkers
Gustavo Caetano é presidente da Samba Tech,
start-up que se tornou a maior plataforma de
vídeos online na América Latina. Ele também
é fundador e ex-presidente da Associação
Brasileira de Start-ups. Armen Ovanessoff
e Eduardo Plastino, do Instituto de Alta
Performance da Accenture, o entrevistaram
como parte de uma pesquisa sobre inovação
na economia brasileira.
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IAPA: Você fala a diferentes
públicos, tanto nacionais quanto
internacionais, sobre o cenário da
inovação no Brasil. Quais são os
pontos que merecem destaque?
CAETANO: A mensagem-chave é que as
maiores inovações no Brasil virão de start-ups.
As grandes empresas têm muita dificuldade
para inovar. Algumas delas já me convidam
para conversar, porque querem entender como
podem inovar como uma start-up. Minha
resposta é a seguinte: “Se você realmente
quer fazer isso, precisa encontrar uma
maneira de trabalhar como uma start-up.”
IAPA: A colaboração entre grandes
empresas e start-ups também é uma
possibilidade?
CAETANO: Certamente. A colaboração é
fundamental para grandes empresas que
buscam inovar. Nós, da Associação Brasileira
de Start-ups, organizamos um evento
chamado Pitch.Corporate, patrocinado
pela Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um
órgão do governo. Convidamos vinte start-ups
para fazer pitches de cinco a dez minutos para
grandes corporações. As grandes empresas
adoram esse evento. A ideia não é promover a
aquisição de start-ups ou atrair investimentos
para elas. É criar um ambiente onde start-ups
e grandes empresas conversem sobre como
podem inovar juntas.
“A colaboração entre grandes
empresas e start-ups com frequência
é difícil, mas, lentamente, as coisas
estão melhorando”
IAPA: Parece que este tipo de
colaboração precisa de muito apoio
para acontecer.
CAETANO: No Brasil, as grandes empresas, de
modo geral, não confiam nas pequenas para
fazer uma série de trabalhos. Em parte, isso
reflete uma questão cultural; muitas pessoas
pressupõem que as grandes empresas sempre
farão as coisas melhor do que as pequenas. É
claro que nem sempre isso é verdade. Mas as
coisas estão começando a melhorar.
IAPA: O que acontece com outros
tipos de colaboração – entre
empresa e universidade, por
exemplo?
CAETANO: A colaboração com as
universidades é muito difícil tanto para
as grandes quanto para as pequenas
empresas. Você precisa conversar com
muita gente, o que dificulta bastante. E
as universidades não têm um modelo para
dividir a propriedade intelectual resultante
da parceria. Portanto, há muitas questões
com as quais eles não sabem lidar. A boa
notícia é que você não precisa restringir
seu universo às fronteiras nacionais. Nós,
na Samba Tech, temos uma parceria com
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o MIT desde 2007. Todos os anos, eles nos
enviam quatro alunos de MBA para passar
um tempo conosco. Este esquema é bom
para os alunos, que ganham experiência
internacional, e para nós, porque eles nos
ajudam muito em diferentes áreas.
IAPA: Perguntamos recentemente
a executivos de economias
desenvolvidas e emergentes como
eles esperam levar seus negócios a
novas áreas. Os brasileiros foram,
de longe, os que mais disseram que
preferem fazer isso com iniciativas
internas, e estiveram entre os menos
propensos a participar de alianças
estratégicas e joint ventures. Como
você vê isso?
CAETANO: Essa cultura de construir as
coisas inteiramente dentro de uma empresa
cria uma série de dificuldades para as startups. Imagine que você é um empreendedor
e mostra o seu produto a grandes empresas.
Elas muitas vezes não têm nada parecido
em seu portfólio, mas pensam que podem
criá-lo. O que não entendem é que, muitas
vezes, elas não têm as competências
necessárias.
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“O capital de risco brasileiro
é conservador demais.”
IAPA: Você mencionou uma
série de fatores que prejudicam
a colaboração entre grandes
empresas e start-ups. Quais são as
principais dificuldades?
IAPA: Parece que uma questão
central para as empresas
estabelecidas e start-ups pode ser
suas diferentes abordagens em
relação ao risco.
CAETANO: A propriedade intelectual (PI) é
um grande problema. As grandes empresas
querem royalties para sua PI, é claro, mas
elas precisam dividir esses royalties se
desenvolverem algo em conjunto com uma
start-up. E muitas vezes, elas querem ser as
únicas detentoras dos direitos de propriedade
intelectual. Outro aspecto fundamental é
a confiança. Startup é sinônimo de risco.
Ninguém sabe se uma start-up estará aqui
no futuro próximo. Portanto, é compreensível
que grandes empresas hesitem em se
envolver com start-ups em projetos
estratégicos. Além disso, a forma como
grandes empresas e start-ups desenvolvem
produtos é totalmente diferente. Grandes
empresas tentam não falhar, e passam
muito tempo trabalhando para desenvolver
o melhor produto que puderem vender. Já
as start-ups acreditam na ideia de “falhar
muitas vezes, porém de forma rápida e
barata”. É difícil construir confiança entre
empresas tão diferentes. Porém, como
eu disse, as coisas estão lentamente
melhorando nesse aspecto.
CAETANO: Com certeza. Para as grandes
empresas, assumir riscos significa a
possibilidade de perder muito dinheiro. Elas
poderiam adotar uma abordagem de startup e dizer: “Talvez possamos gastar menos
dinheiro e, se tivermos de falhar em uma
tentativa, que seja rápido”. No entanto,
em grandes empresas, se você falhar pode
significar que você não é bom o suficiente, e
você provavelmente será demitido. Nas startups, a resposta típica a uma iniciativa que deu
errado é: “Tudo bem, vamos fazer de novo e
tentar melhorar”. É, de fato, uma questão de
cultura organizacional.
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IAPA: É possível diminuir esse
abismo cultural? Caso seja, como
fazê-lo?
CAETANO: Possivelmente seja. Vou citar
o exemplo do que fazemos na Samba
Tech. Tentamos criar confiança por meio
do depoimento de clientes existentes e da
construção de nossa reputação. Em outras
palavras, investimos muito em relações
públicas, e usamos os depoimentos de
clientes para vender nossos serviços aos que
ainda não o são. Frequentemente, antes de
as grandes empresas se tornarem nossos
clientes, eu visito seus escritórios várias vezes.
Seus executivos também nos visitam e veem
como criamos produtos e gerimos nossos KPIs
(indicadores-chave de desempenho). Converso
com seus presidentes, explico a mentalidade
das start-ups e falo sobre os benefícios,
para eles, de dar passos em direção à nossa
forma de trabalhar. Só então eles se tornam
clientes. Ou seja, tentamos mudar as suas
mentalidades. Antes de fazer uma venda, nós
os ajudamos a repensar sua própria cultura.
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IAPA: As grandes empresas
também te procuram quando
identificam um problema?
CAETANO: Muitas grandes empresas
estão começando a perceber que precisam
mudar, mas não sabem como. A velha
maneira de pensar sobre inovação não
funciona mais. Elas têm perdido talentos.
Alguns de seus colaboradores estão saindo
para trabalhar em start-ups ou para criar
suas próprias start-ups. Porém, o que as
faz mesmo perceber a necessidade de
mudança é quando começam a perder
parcela de mercado para empresas
menores.
IAPA: Claramente, cultura e
mentalidade são cruciais. Você
já observou também exemplos
de sucesso nos quais as empresas
implementaram processos,
sistemas, hierarquias e outras
estruturas mais formais que
incentivaram a colaboração?
CAETANO: Não temos muitas empresas
no Brasil que se estruturam para isso.
Geralmente, não é uma prioridade para
os presidentes, porque eles vivem sob
pressão para atingir metas de curto prazo.
Enquanto isso, gerentes de nível médio
querem começar uma revolução nesse
sentido, porque sentem que a empresa
não se mexe rápido o suficiente. Mas
suas empresas não estão preparadas ou
organizadas para essa revolução.
IAPA: Como você vê o papel da
comunidade de capital, incluindo
capital de risco, no Brasil?
CAETANO: O capital de risco no Brasil é
conservador demais. Várias pessoas investem
nos estágios que requerem capital semente
ou investimento anjo. Mais adiante, no
estágio da rodada A de investimento, você
ainda consegue encontrar alguns investidores.
Depois disso, as start-ups enfrentam uma
barreira. É muito difícil encontrar investidores
para as rodadas B, C e D. É por isso que não
temos muitos IPOs ou aquisições de start-ups
no Brasil. Essa situação cria um círculo vicioso.
Os capitalistas de risco não investem mais no
Brasil justamente porque há poucas “saídas”
(IPOs ou aquisições por parte de grandes
empresas). Nos EUA, você vê essas saídas o
tempo todo. Nossos concorrentes em países
como os EUA e Israel receberam investimentos
da ordem de US$ 110 a 144 milhões; nós
recebemos US$ 5 milhões. Mas, como eu
disse, as grandes empresas no Brasil estão
começando a mudar sua mentalidade. Estão
percebendo que não é mais possível inovar
muito internamente. Este pode ser o momento
oportuno para que elas comecem a comprar
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start-ups. Talvez vejamos isso acontecer mais
nos próximos anos.
IAPA: Muito obrigado. Foi uma
conversa muito interessante e útil.
Gostaríamos de permanecer em
contato com você e continuá-la.
CAETANO: Seria um prazer. Obrigado.
Como parte da missão do Instituto de Alta
Performance da Accenture de desenvolver
ideias e insights de ponta, seus
pesquisadores conversam com frequência
com líderes acadêmicos, executivos de
empresas e analistas setoriais. A série
Connections with Leading Thinkers inclui
algumas dessas entrevistas, mostrando os
bastidores das interações entre os
pesquisadores e alguns dos experts mais
renomados do mundo.
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- e fortalecida pela maior rede de prestação
de serviços no mundo -, a Accenture
trabalha na interseção de negócio e
tecnologia para ajudar companhias a
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com a vasta experiência da Accenture em
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