os gritos da dor e da esperança

Transcrição

os gritos da dor e da esperança
Revista
Ano 11 30
Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - Dezembro 2015
CRISE
OS GRITOS DA DOR
E DA ESPERANÇA
Nolaco em:
Liberdade
a liberdade...
‘‘Foi para...
nos libertou’’. Gálatas 5.1
que Cristo...
Desenho: Madson Henrique, aspirante; pintura e arte final: Rodrigo Sales
Serviço de Animação Vocacional Mercedário
Rua Nova Trento, 429 - Guadalupe- Rio de Janeiro- RJ
Cep: 21670-440 - Tel: 21-2458 5025
EDITORIAL
A história parece que se repete. Fatos passados, que deveriam ficar no passado, parecem
que voltam, e com uma força ainda mais assustadora. Falo isso para dizer que o que os mulçumanos extremistas estão fazendo hoje já fizeram
na Idade Média. Na época de São Pedro Nolasco,
século XIII, os mulçumanos radicais, sequestravam, prendiam, torturavam, mantinham em cativeiros e matavam cristãos.
Aqueles mais fracos abandonavam a fé
cristã para abraçar a religião de Maomé, na esperança de terem suas vidas poupadas.
Agora, cerca de 800 anos depois vemos
a história se repetir. O que chamamos de Estado
Islâmico comeem os mesmos erros de outrora,
com uma crueldade e organização ainda maior.
Essa ideia de perseguir e matar os infiéis é algo
antigo, está permeado de fanatismo, questões
ideológicas e políticas. Nada muito diferente do
tempo das Cruzadas, expedições organizadas
pela própria Igreja Católica para defender o livre acesso dos peregrinos cristãos à Terra Santa,
dominada pelos muçulmanos. A primeira cruzada aconteceu em 1095, com o papa Urbano II, ao todos foram 8 expedições, num período de quase 200 anos. Não seria errado dizer
que se não fosse essa ação da Igreja, os muçulmanos teriam dominado quase toda Europa.
Certamente que os cruzados também tiveram seus erros e exageros, a grande diferença é
que a Igreja aprendeu com as chamadas Guerras
Santas, e hoje busca promover a paz no mundo,
por meio de missionários pacíficos e por meio do
Papa Francisco, com seu discurso de conciliação.
Por outro lado, grupos extremistas vinculados
ao Islamismo, ignoram completamente a história e vem cometendo atrocidades no mundo, sequestrando, matando e incitando o terrorismo.
Nessa edição da Revista Mercê, oferecemos uma visão mercedária aos últimos fatos ocorridos e uma reflexão sobre cada acontecimento. Pois tudo isso tem a ver com o
nosso carisma redentor, foi num contexto
como esse que nossa Ordem Nasceu. Boa leitura e nos enviei nos apreciações e sugestões!
Frei Rogério Soares de Almeida Silveira
Ordem Mercedária no Brasil
Avenida L2 Sul, quadra 615, Bloco D
CEP 70-200-750 - Brasília- DF
Fone: (61) 3346-3890
www.revistamerce.com.br
Índice
12
10
08
Nós também formamos
família!
Onda de Atentados em Paris
mata pelo menos 129
Tolerância em família: como
superar
18
20
14
Tsunami de lama
05
A chaga aberta
da história
Padres MercedáriosFrei Manoel Antônio
23
Uma Obra de Arte que
inspira libertação na capela do Recanto Mercê
O caminho vocacional, a busca da
identidade religiosa-presbiteral
22
Natal... Amor de Deus
que vem ao nosso
encontro!
24
Ordem Mercedária
na China, é tempo de
missao!
26
EXPEDIENTE
Provincial Superior:
Fr. Rogério Soares de Almeida
Silveira, O. de M.
Jornalista Responsável
Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF
Correção e Revisão
Elza Atála
Participaram nesta edição
Rosemeire Galdino dos Santos
Fr. Osmar Alves, O. de M
A oração do Cristão:
Pai nosso
Fr. Fernando Cascon, O. de M
Frei Edalan Guedes, O. de M.
Frei José Herculano de Negreiros
Darlan Alcântara Sousa
Madson Henrique
Fr. Rogério Soares, O. de M
Projeto Gráfico e diagramação
Rodrigo Sales
Impressão
Mídia Gráfica
Tiragem
4000 exemplares
PADRES MERCEDÁRIOS
POR PADRE FERNANDO CASCON
FREI MANOEL ANTÔNIO RODRIGUES,
O. de M. (FREI MANECAS)
Nasceu este religioso no dia 23 de dezembro de
1908, na aldeia de Tronco, município de Chaves, Portugal. Na fronteira da Espanha com Portugal ficava muito
perto de um convento mercedário chamado Verín. Manecas gostava muito dos “fradinhos” como ele chamava com
carinho os religiosos do convento e para os quais muitas
vezes levava flores para o altar da igreja e misturado com as flores também
ia um contrabando muito apreciado
pelos “fradinhos”, café. Quando passava a fronteira, dizia para os policiais
“Levo flores para Nossa Senhora” e os
policiais, mesmo sabendo que ia algo
mais, sempre o deixavam passar tocando o jumentinho.
Assim foi que eu sendo
noviço nesse convento, conheci Manecas.
Ajudou muito umas
monjas na cidade de
Ourense que confeccionavam roupas
de igreja, casulas, estolas, etc. e ele as passava
para Portugal onde as
vendia mais facilmente
e dava dinheiro para
sustento das freiras.
Tentou entrar
na Ordem Mercedária
ingressando em Sárria
no dia 7 de junho de
1961, mas não chegou a
professar. Passando lá o recém
nomeado bispo prelado de
São Raimundo Nonato, Dom
Amadeo González Ferreiros,
convidou-o para acompanha-lo e lá se foi nosso Manecas
Frei Manecas
sempre com ânsias de ajudar os “fradinhos”. Ficou
sempre como “donado” pois que não fez a profissão
dos votos. As Irmãs Mercedárias em São Raimundo Nonato, Piauí, o chamaram de “Benemérito”.
Era uma festa falar com Frei Manecas, sempre contando anedotas naquele português misturado
de espanhol e, quando estava alegre, gostava de entoar um canto da “terrinha” e olha que tinha uma voz
afinada e forte. Veio para o Piauí, São Raimundo Nonato com Dom Amadeo, primeiro prelado desta prelazia, no ano 1963. Não aceitava que alguém falasse
mal do bispo ou dos padres, logo ficava zangado, os
mercedários tinham um bom defensor. Foi sempre
muito serviçal cuidando das coisas do prelado, o Caruaru, lugar pertinho da cidade que pertencia à prelazia, era o seu esconderijo e lugar de descanso. Além da
plantação possuía algum gado, criação e galinhas. Lá
ia todos os dias para buscar verduras, frutas e o sustento de cada dia que ele mesmo plantava e ainda sobrava para amigos, como D. Macária e outros amigos.
Uma doença não descoberta o obrigou
a ir para o Rio de Janeiro, para a casa de Ramos,
onde estava o Pe. Cándido Lorenzo de superior.
Mais tarde seguiria Dom Cándido, nomeado 2º
bispo prelado, para São Raimundo Nonato onde
permaneceu até a morte. Chegou durante a festa
do Padroeiro, no ano 1971. Nos últimos meses da
sua vida, sofreu muito por causa da doença que o
acompanhou, era hidropisia. A barriga inchava e
tinham que lhe tirar litros de água todas as semanas. Manecas levou essa doença com resignação.
Dom Cándido estava em Recife – PE para
tomar o avião, pois lhe comunicaram que sua mãe
estava muito grave, quando recebeu a notícia de que
Fr. Manecas estava falecendo. Então avisou aos padres e irmãs mercedárias que não lhe faltasse nada.
Administraram-lhe os últimos sacramentos e, no dia
14 de novembro de 1990, Deus chamou este bendito
religioso mercedário. Frei Manecas não era professo,
mas donado. Destacou-se pela sua simplicidade.
Revista Mercê 05
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06 Revista Mercê
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Revista Mercê 07
ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA
Frei Edalan Guedes, O. de M.
Nós também
formamos
família!
O espírito das Mercês está informando um conjunto de Institutos religiosos e associações de leigos que
foram surgindo ao longo do tempo. [...] Eles se comprometem a realizar, de modos diversos, a mesma missão libertadora e sentem-se unidos pelo mesmo amor à Virgem o Maria sob a invocação das
Mercês. Estes Institutos e associações cultivam o mesmo espírito, promovem laços de fraternidade e
formam a Família Mercedária. (COM 12)
Recentemente, a Igreja celebrou em Roma um Sínodo extraordinário sobre a Família no desejo de escutar-se
e escutar o mundo, sobretudo, no que se refere aos apelos e
desafios do complexo tema abordado. A síntese apresentada ao Santo Padre pela Assembleia Sinodal está divida em
três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje. Esse
relatório final permitirá ao Papa, se o achar oportuno, devolver em forma de Exortação Pós-Sinodal um documento
que sirva de reflexão e de auxílio pastoral a toda a Igreja.
08 Revista Mercê
Uma coisa é certa quando se fala em família:
todo mundo está de acordo que é algo importante
na vida de uma pessoa, pois toca as suas origens, seu
modo de ver o mundo e de se relacionar com os outros, suas crenças, e por ai vai...
Nós consagrados, também, gostamos de abordar
sobre o tema da família. Infelizmente, muitas vezes
de maneira genérica, com fortes tons moralizantes,
e como se se tratasse de algo que não faz parte do
nosso âmbito de vida, uma vez que não constituímos
família. Lembro-me do jeito, um tanto jocoso, de um
confrade convidando os fiéis paroquianos para a profissão religiosa de nossos noviços, dizendo: “Venham
participar, assim vocês verão que frade não nasce em
goiabeira nem em abacateiro...” Aludia, justamente,
para o fato de o consagrado ser alguém que se enraíza
na vida familiar, numa história carregada de significados, fatos, sentimentos, tradições, alegrias e lutas.
Por outro lado, ainda pouco se trabalha o tema
da família de maneira adequada e profunda, na formação inicial; talvez por isso, mais adiante encontramos
supracitados frades que insistem em falar de família
como se fosse um tema a mais sobre tantos outros que
poluem suas ideias. No mínimo, fica uma pergunta no ar: Será que nos sentimos família, de verdade?
Nunca, como hoje, nos círculos de formação
permanente se tem falado sobre a Família e a Vida
Consagrada, com todos os desafios que a tocam. Afinal, se bem não constituímos família, estritamente
falando, nós consagrados também formamos família.
O que é um Sínodo?
Como indicado pelo site oficial da Santa Sé,
o Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente
decidida pelo Papa Paulo VI em 15 de setembro de
1965, em resposta ao desejo dos Padres do Concílio
Vaticano II de manter vivo o espírito de colegialidade
episcopal formada pela experiência conciliar.
A assembléia dos Bispos se refere à antiga
tradição sinodal da Igreja, mas é uma novidade do
Concílio Vaticano II.
Sínodo é uma palavra grega “syn-hodos”,
que significa “reunião”, “assembléia”. O Sínodo é, de
fato, um lugar de encontro para os bispos, ao redor
do Papa que o convoca como um instrumento para
Famílias formadas por desígnio de Deus, com pessoas
de origem e culturas diversas, com traços de personalidade e características distintas, com dinamismos
e sonhos bem diferentes; tudo isso, a ser elaborado,
resignificado e orientado para um projeto comum carisma -, o qual manifesta sinais do Reino de Deus.
Aproveitando o gancho do Sínodo, talvez esse seja o
momento propício para darmos lugar, de uma vez por
todas, ao tema da “família”, de maneira efetiva e sem
superficialidades, no trabalho pedagógico ao longo do
acompanhamento formativo.
Para refletir:
•
Em sua comunidade, você costuma falar sobre sua experiência familiar?
•
Quais dons e qualidades cultivadas na família
enriquecem sua vivência fraterna, hoje?
•
Sua comunidade é um verdadeiro lar ao qual
você volta com prazer e saudade, depois da lida do
dia, sabendo que vai encontrar amor, compreensão,
diálogo e respeito?
“consulta e colaboração”.
É, portanto, um lugar para a troca de informações e experiências, para a busca comum de soluções pastorais válidas universalmente.
Para resumir, o Sínodo dos Bispos pode
ser definido como uma assembléia do episcopado católico, que tem a tarefa de ajudar seguindo os
conselhos do Papa, no governo da Igreja universal.
Sobre a escolha dos participantes do Sínodo, se procede por representatividade.
Participam do Sínodo bispos eleitos e pessoas indicadas pelas diversas Conferências Episcopais,
ou seja, pelos prelados de uma nação ou continente.
Revista Mercê
09
ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA
Por Frei Rogério Soares De Almeida Silveira
Foto: Alejandro Jodorowsky
Tolerância em família: como superar conflitos.
10 Revista Mercê
.
Hoje os conflitos em família são mais
frequentes do que em outras épocas. No tempo
dos meus avós, bastava o chefe de família falar
e todos calavam. Dava-se uma ordem e todos
acatavam. A mulher geralmente era submissa.
Dessa forma, não havia espaço para o conflito,
para o debate. Havia decisões unilaterais.
Hoje em dia tudo mudou. A mulher
conquistou seu espaço. Quer participar de todas as decisões, interfere no andamento da casa.
Em muitos casos elas são as chefe de família.
Não aceitam submissão. Se não concordam, falam o que pensam. Os filhos também não aceitam tudo. Reagem quando não concordam com
algo. Precisam ser convencidos daquilo que os
pais propõem. Hoje existe muito mais acesso
a informação e a formação do que outrora.
Essa nova configuração de família,
consequentemente, se torna um ambiente favorável ao conflito. Ora porque o homem
não assimilou ainda o espaço conquistado
pela mulher, ora porque a mulher ainda não
sabe administrar bem seu espaço conquistado. Da parte dos filhos, há por vezes inversão de papéis. Todos querem falar e ter os
mesmos direitos. Com isso, o entendimento
e a união em família fica quase impossível.
Seja como for, prefiro, mesmo com
conflitos, esse nosso tempo! Estamos vivendo
a melhor época. O maior problema é que entramos num tempo novo, mas o tempo novo
não entrou dentro da gente. Mudamos de paradigma sem mudar as ferramentas para viver
essa nova realidade. Antigamente se resolvia os
conflitos simplesmente com o pai dando a última palavra, mas os conflitos internos cresciam
e angustiava a todos. Hoje em dia, a melhor
época, o que devemos fazer?
Temos que nos exercitar na tolerância.
Não na tolerância de aceitar tudo, mas na capacidade de aceitar o outro, de o considerar como
alguém diferente de mim que tem algo importante a dizer. Que pode inclusive me convencer
que estou errado. Para isso é necessário humildade. Muita humildade.
Humildade em reconhecer que não tenho toda a verdade. Que tenho muito a aprender. Aprender a interagir com o outro e de me
deixar interpelar por ele. As vezes agimos como
ilhas. Cada um fala do seu lugar, a partir do seu
ponto de vista. Sentem-se completos e detentores das respostas. O outro está sempre errado e
equivocado. Dessa forma, não há diálogo e sim
monólogos. Duas Ilhas se topando e se afastando. Os conflitos deixam de ser sadios e férteis
para serem insuportáveis.
Quando os conflitos tornam-se insuportáveis, as brigam ganham espaço e se parte
para o desrespeito, a falta total de tolerância.
É a partir daí que famílias se desfazem. Casais
que se amam se separam e filhos que amam os
pais saem de casa ou partem para as drogas.
Como hoje em dia se ouve dizer, eles brigam
tanto que é melhor separar. Perdem, portanto,
a grande chance de serem novas pessoas, aprendendo muito de si conhecendo muito do outro.
Partem para novas relações e as brigas inúteis,
muitas vezes, continuam, apenas mudou de endereço.
Novos tempos, nova família, novos
métodos de convivência familiar. Tolerância é o
caminho, humildade é o meio e o amor é o fim.
Só seremos novas pessoas se tivermos a coragem
de aceitar que o outro tem algo importante a
dizer, sobre todos os assuntos, inclusive sobre
mim. E viva a família!
Revista Mercê
11
CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA
Por Rodrigo Sales
Onda de atentados
terroristas em Paris
mata ao menos 129
O pior ataque na história da França deixa 129 mortos e 352
feridos -99 deles em estado grave. O Estado Islâmico reivindicou a cadeia de atentados , perpetrados , de acordo com a acusação , três grupos
coordenados para terroristas. A polícia identificou um francês entre os
terroristas mortos . Há três outros detidos na Bélgica. O país está em
estado de emergência .
Foto: El.CLarin
12 Revista Mercê
Uma série de atentados coordenados atingiram Paris na noite desta sexta-feira (13). Mais de 350
pessoas ficaram feridas, entre elas 03 brasileiros (99
delas com muita gravidade). A casa de espetáculos Bataclan foi um dos principais alvos dos ataques, com a
ação de homens armados que detiveram centenas de
reféns. Como consequência, o Governo francês fechou as fronteiras do país, decretou estado de emergência e mobilizou o Exército. Os ataques terroristas
ocorreram principalmente nos distritos 10 e 11 da capital francesa, situados a nordeste do centro da cidade.
Segundo testemunhas, três homens armados entraram
na casa de espetáculos Bataclan, com capacidade para
1500 pessoas, e durante o show abriram fogo, gritando
frases ligadas à Síria. Pelo menos 82 pessoas morreram
e diversos espectadores foram mantidos como reféns.
Em outro ponto do cidade, três explosões foram ouvidas na área do Stade de France, onde acontecia um
amistoso de futebol entre França e Alemanha. As explosões deixaram ao menos cinco mortos nos arredores do estádio. A polícia chegou a isolara a áera e
retirou o presidente francês, François Hollande, que
assistia ao jogo. Hollande se dirigiu ao ministério do
Interior para acompanhar a evolução dos ataques.
Um restaurante cambojano próximo ao Bataclan também foi alvo de um atentado, que teria provocado 12
mortes, segundo várias fontes. Um café e um restaurante japonês próximos tiveram o mesmo destino,
com um saldo provisório de 18 mortos. Segundo a
polícia local, os oito terroristas foram mortos em operações de segurança.
Em um comunicado publicado na internet, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou os
ataques, afirmando que a França continuará a ser
um de seus principais alvos.
Atendimento as vítimas dos ataques em Paris
Em nota, o Vaticano classificou o ato
como “um ataque contra a paz de toda a humanidade” e cobrou uma “resposta decisiva e solidária”
após os atentados.
“Estamos estarrecidos por esta nova manifestação
de louca violência terrorista e de ódio, que condenamos no modo mais radical junto ao Papa e a
todas as pessoas que amam a paz. Rezamos pelas
vítimas e pelos feridos e por todo o povo francês.
Trata-se de um ataque à paz de toda a humanidade, que requer uma reação decidida e solidária da
parte de todos nós para contrastar o expandir-se do
ódio homicida em todas as suas formas”, declarou
o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, em
um comunicado.
Foto: El.CLarin
Revista Mercê 13
CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA
Por Padre José Herculano de Negreiros
14 Revista Mercê
A Chaga aberta
da História
P
or vários séculos, chegou-se a imaginar que os grandes conflitos que
vieram desestabilizando o mundo e desembocaram nas duas últimas guerras mundiais
tivessem fechado o longo e traumático capítulo do furioso expansionismo islâmico
que já desde a alta Idade Média tinha modificado o mapa-mundi. Foi um equívoco.
A partir da década de 90, as escolas do fanatismo religioso do islamismo voltaram a reprisar seu ódio contra o Ocidente. Isto veio se intensificando nos ataques às
torres gêmeas do Word Trade Center, em 2001; e mais tarde, às embaixadas americanas do Quênia e da Tanzânia, nos metrôs de Madrid, em 2004, e outros semelhantes
no Iraque, em 2005, em Londres, no Egito, na Argélia e depois no Paquistão, na Arábia Saudita; e bem recentemente, nos atentados terroristas no Qumrã, na Tunísia e na
própria Síria. O certo é que estes grupos extremistas aterrorizam as potências da Terra.
Agora, com o nome de Estado Islâmico, este grupo radical sunita, um dos ramos
do Islamismo, criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda é que desencadeia
este terror e mexe com o mundo inteiro. Atraindo milhares de jovens de todo o
mundo - falam de mais de 20 mil estrangeiros de 50 países- o EI, que ocupa uma
área entre o Iraque e a Síria, segue uma leitura radical das escrituras islâmicas e
com uma visão sectária adota práticas rígidas como a decapitação de inimigos e a
pena de morte para outros condenados que eles exibem como culto ao seu Deus.
Revista Mercê 15
CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA
O controle dessas áreas no Iraque e na Síria leva
ao desespero milhões de pessoas da mesma crença e já não
somente aos das outras denominações religiosas, que eles
simplesmente chamam de infiéis. O pânico tomou conta
especialmente de todo aquele pedaço de chão do mundo.
O drama, porém, não se confina ali. Na ânsia desesperada
de livrar-se daquele inferno, milhões de habitantes desses
países fogem e, buscando sobreviver, gritam por socorro. A
esses lhes acompanha o espectro da fome, da desgraça, da
dor, gerando um quadro de angústia e desespero.
A leitura que se faz é a de que um dos maiores
problemas resultantes destes conflitos recentes da humanidade são realmente os imigrantes e os refugiados. Desde o
início do milênio, o número de pessoas afetadas por este
furacão saltou de 12 milhões, que já se contavam, desde
a última década do século passado, para 40 milhões, hoje.
Segundo o noticiário internacional, diariamente,
milhares de pessoas desses países em situação de pobreza
ou conflito, como a Síria, a Líbia e ainda o Estado Palestino
tentam a sorte em perigosas travessias no Mediterrâneo para
buscar refúgio na Europa. Viajando em embarcações precárias, que sequer contam com equipamentos de segurança,
e à mercê de gangues, estes imigrantes acabam à deriva no
mar. E os que conseguem sobreviver aos naufrágios, batem
suplicantes nas portas do Ocidente.
Nestes últimos dias, por exemplo, um barco que
seguia da Líbia para a Itália naufragou matando cerca de
800 pessoas. Dias depois, a Marinha e a Guarda Costeira
do país salvaram as vidas de outras 1.200 em uma operação
de resgate.
E como o mundo vem se comportando? Os EUA
mostram seu poder de reação. Ao forçar, porém, os ataques
ocidentais ao mundo muçulmano, os EUA globalizaram
o terror desse fundamentalismo. Entidades criticam também a maneira como a União Europeia (UE) está lidando com o problema. Para a ONU, os governos da UE devem dar prioridade à busca e ao resgate destes imigrantes.
A própria Anistia Internacional sugere que a UE organize
uma missão humanitária multinacional no Mediterrâneo.
O problema deixa de ser da esfera do expansionismo, ideológico, ou político e passa a ser de ordem humanitária. Reconhecemos que subjaz uma dificuldade de assimilação entre nossos padrões comportamentais. O Ocidente
sempre foi provocador. Não há muito, o mundo muçulmano atiçou ameaças contra Hushidie por sua famosa e atrevida provocação àquela cultura, com os seus “versos satânicos” contra o “Profeta de Alá”. Um ato realmente insolente,
típico da nossa idiosincrasia ocidental. Se o Ocidente levasse mais em conta a Psicologia Analítica de Gustavo Jung,
com certeza respeitaria melhor a simbologia que povoa o
16 Revista Mercê
Refugiados curdos na Turquia
inconsciente coletivo dos povos. Mexer com os símbolos,
imagens, ritos sempre foi temerário.
E mais recentemente, um jornalista francês reeditou mais uma dessas irreverências. E Paris levou mais de 4
milhões de pessoas às ruas na defesa do jornalista. Trata-se, portanto, de uma massa cultural humana, torpedeando
outra cultura antagônica. Num estilo de guerra psicológica
este comportamento vem marcando agora desta forma a
História da humanidade.
Sabe-se que grandes revoluções acontecem por fatores de ordem econômica e de interesses comerciais. Porém, as raízes dos conflitos se afundam também nos subterrâneos do religioso. Uma das características centrais do ódio
Islâmico, tão recorrentes nos dias de hoje, têm seu forte
apelo anti-ocidental, em nosso comportamento libertino,
conforme as pichações exibidas nas manifestações do islamismo iraniano, chamando-nos de “o Grande Satã”.
O certo é que as cenas assombrosas que vêm chocando o mundo parecem, por outro lado, que não nos sensibilizam. Os genocídios, ou assassinatos em massa, os massacres, com centenas de armênios martirizados, os imensos
campos de refugiados, os milhares de imigrantes afogados,
clamando por socorro! Enquanto isto, vemos alguns países
ricos construindo muros e armando cercas para impedir a
acolhida e o asilo a esses seres humanos desesperados. Tudo
isto representa uma das mais chocantes cenas do comportamento humano, em plena era das vacas gordas e cofres
bilionários se derramando.
E a história se repete. No início do século XIII,
estas mesmas cenas aconteciam. O mundo Islâmico penetrara nos países do Mediterrâneo, como Espanha, Portugal,
Itália e Grécia, instalando ali seus califados e suas mesquitas. O território desses países se desmanchava na fragilidade
dos seus pequenos reinos desunidos, empobrecidos,
desorganizados. Milhares de cristãos eram levados
às masmorras maometanas disseminadas por toda a
esteira da África e quando não encarcerados muitos
deles eram vendidos e comprados como mercadoria.
Foi naquele contexto, semelhante ao de hoje,
que brilhou a estrela do jovem catalão Pedro Nolasco.
Ele sozinho arregimentou milhares de cavalheiros e
os exercitou para a grande tarefa de resgate de tantos
das mãos do fundamentalismo maometano. É certo que o seu ousado empreendimento contabilizou
centenas de mártires de várias regiões da Espanha e
de outros países da Europa, todos mortos de forma
brutal: decapitados, crivados com flechas, crucificados, enforcados, apedrejados, atravessados por espadas, esquartejados, estripados, arrojados ao mar com
pedras atadas ao pescoço, jogados vivos em fogueiras,
diante dos palácios de reis para entreter o povo. Contudo, o gesto de Nolasco, além de resgatar milhares
de prisioneiros cristãos, fez o mundo escutar o clamor
dos oprimidos. Uma estratégia e uma mística inversas à
da que é adotada hoje pelo EI: A tática do respeito e do
resgate amoroso da liberdade das pessoas.
Hoje, o movimento vem na contramão. As turbas batem às portas de uma Europa rica e endinheirada.
Quem ouvirá o seu clamor? Os recentes discursos do Papa
Francisco são um apelo à sensibilidade da humanidade.
Enquanto à Ordem Mercedária, longe de, simplesmente, lembrar seus mártires do passado, tem no
seu ideal libertário o apelo de Jesus Cristo: “Eu vim para
que todos tenham vida”. (Jo. 10,10), ou “Eu era forasteiro e me acolheste” (Mt, 25, 35). Além do purgatório
social em que vivem oprimidos milhões de pessoas excluídas em nossos países ricos, o foco da vocação Mercedária deverá se expandir a todo aquele contexto, afim
de alcançar e tirar das penas daquele inferno tantos seres
humanos que, independentemente da sua profissão de
fé, buscam a vida.
As vítimas da Síria
Cerca de 4,5 milhões de pessoas foram deslocadas dentro da própria
Síria.
2,4 milhões abandonaram suas casas e se refugiaram em países vizinhos onde são frequentemente alvo
de racismo e discriminação.
Relatório divulgado em 10 de março
de 2014 pela Unicef estima que 5,5
milhões de crianças tiveram suas vidas devastadas pela guerra.
Cerca de 1 milhão estão presas em
áreas sitiadas ou onde a ajuda humanitária não consegue chegar.
1,2 milhão vivem refugiadas, habitando locais insalubres, onde comida, água potável e acesso à educação
são limitados.
Fonte: Unicef
Foto: Reuters
Revista Mercê 17
CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA
Por Frei Osmar Alves
tsunami de lama
Barragem se rompe em Minas e deixa mortos e
dezenas de desaparecidos
NENO VIANNA (EFE)
O rompimento de duas barragens da mineradora Samarco no distrito de Bento Rodrigues,
entre a cidade de Mariana e Ouro Preto, na região
central de Minas Gerais, no dia 05 de novembro,
deixou um cenário de destruição na região. Seis
localidades de Mariana, além de Bento Rodrigues,
foram atingidas. Até o momento, o número de
mortos é de seis pessoas e o de desaparecidos, 12.
Com a força da lama, caminhões foram
arrastados, casas encobertas, pessoas soterradas e
desaparecidas. Segundo os jornais locais, a mina
18 Revista Mercê
não possuía uma sirene para alertar os moradores do entorno em caso de acidente, o que pode
ter atrasado a evacuação da população. Existe
rumores de que tremores de terra de baixa intensidade ocorridos pouco antes do rompimento tenham provocado a tragédia, segundo a imprensa.
Pelo menos 128 residências foram atingidas pela
onda de lama e destruição. Os detritos das barragens
tomaram conta do rio Gualaxo e chegaram ao município de Barra Longa, a 60 km de Mariana e a 215
km de Belo Horizonte. Segundo especialistas, a lama
NENO VIANNA (EFE)
JULIANO DUARTE (EFE)
Cenário da destuição em MG
Equipes de resgtate prestam atendimentos as vítimas
RICARDO MORAE
que desce pelo rio Doce atingirá, no total,
uma área de cerca de 10 mil quilômetros
quadrados no litoral capixaba – área equivalente a mais de seis vezes o tamanho da
cidade de São Paulo. Os prejuízos são calculados em mais de R$ 100 milhões, segundo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior.
Por fim, ao nos depararmos com
as situações tão reais em nosso País, ou fora
dele, ou mesmo ao nosso redor, continuamos perguntando porquê de tanta coisa acontecendo. Por que muito inocentes
têm que dar a sua vida pela imprudência,
desleixo ou até pura maldade de outros.
Para os que vivem somente para as coisas do
mundo, deixando Deus à margem, ou até
mesmo os que se dizem cristãos, colocam a
culpa em Deus, que não agiu, não defendeu, que esteve ausente, que deu as costas.
Ele continua muito atento aos seus filhos e sofre com seu sofrimento. Por esse
motivo nos deu seu Filho Amado para
nossa Redenção, mas confia e delega a
cada um o seu ser Cristão. E porque ficamos insensíveis à causa do semelhante?
Então, com esses fatos trágicos,
tanto em Mariana –MG, como em ParisFrança, nos faz refletir sobre o que estamos
fazendo ou em que estamos nos prevenindo nos excessos, nas expressões no geral.
O Reino de Deus constitui a cerne do anúncio do Jesus histórico. É a palavra que traduz
a libertação total e estrutural da criação de
sua decadência e para a sua completa plenitude em Deus. Como tal, o Reino de Deus,
engloba todas as dimensões da realidade
espiritual e material, religiosos e políticas.
As formas do apostolado libertador da Ordem (seja pelos(as) religiosos(as), seja pelos
leigos que compartilham da mesma mística)
dependerão dos lugares, das circunstâncias,
dos tempos, mas sempre, onde quer que
seja, a Ordem terá que transmitir numa
palavra de libertação (visitando, ouvindo,
orando mesmo à distância), que ajude os
oprimidos a descobrirem e valorizarem a sua
dignidade como fiéis. Esse gesto mercedário
(por mais que pareça pequeno) terá que ser
interpretado como voz profética, que ajuda
a manter acesa a esperança dos seres humanos no caminho que conduz ao Reino.
Corpo de Bombeiros em busca de sobreviventes
Revista Mercê 19
ESPIRITUALIDADE
O caminho vocacional,
a busca da identidade
religiosa-presbiteral
Olhar para a história de um religioso/presbitero pode nos trazer um falso conforto de acreditar que cada um deles como que por um passe de
mágica já nasceu pronto e que meramente cumprem papéis, projetando algo que já estava pré-determinado. Muitas vezes não vemos uma caminhada de esforços, conquistas, perdas, crises, alegrias,
tristezas, dificuldades e realizações. Não percebemos um processo ativo de empenho, desempenho e mudanças, por melhor dizer, de crescimento.
A identidade religiosa-presbiteral é construída diariamente, gera mudanças fundamentais na vida
desses homens, às vezes tão meninos, que se dedicam a
viver a radicalidade do amor, o amor fraterno, o mandamento do Senhor é o serviço ao povo de Deus. A
concepção de identidade que fundamenta o processo
20 Revista Mercê
vocacional indica necessidade de olhar e compreender
o, quem se é, entendendo identidade religiosa presbiteral como uma concepção organizada na vida, composta de vivências, sonhos, valores, crenças, experiência de Deus, vivência na comunidade eclesial e metas
com as quais se está solidamente comprometido. Neste sentido, a história de cada vocacionado promove a
expressão vocacional que vai subsidiando na integridade da identidade pessoal, como uma fusão onde a
vocação torna-se uma potência da própria identidade.
Dessa forma vocação gera um posicionamento no mundo, um componente que vai progressivamente favorecendo a integridade da personalidade.
Revelando como o vocacionado vai ajustando as diferentes identificações que tem com o mundo, não
como uma tarefa ou um papel a ser cumprido, mas
como uma atitude consciente construída e gerenciada pelo
próprio vocacionado por meio de um projeto de vida e diante
da vida.
A identidade religiosa-presbiteral é a construção de percepções fidedignas do eu com as interferências
do externo estruturando o quem eu sou através da configuração com o Cristo Jesus. Esta maneira de lidar e de
se posicionar diante das interferências e relacionamentos vai instituindo a identidade do religioso presbítero.
Podemos dizer, então, que o desenvolvimento
da identidade do religioso presbítero é um processo permanente, que não é nem uma nova expressão nem um novo conceito, já observado na Exortação Apostólica, Pastores Dabo
Vobis, onde se refletiu a formação sacerdotal, indicando a necessidade de uma formação permanente numa continua natural e necessária, favorecedora de um processo de estruturação da personalidade religiosa- presbiteral e cultivo da mesma.
A vida do religioso e sacerdote ordenado é bem complexa. Serve a toda igreja, ou seja, a toda pessoa humana, conduzindo, orientando, ajudando na construção da identidade vocacional de todos os fieis, ao mesmo tempo em que vai construindo a
sua própria identidade vocacional e cultivando-a, onde vivencia
intimamente o seu comprometimento e identificação com Cristo Jesus do qual o sacerdote ordenado é constituído ministro.
Através da intimidade com o Cristo o sacerdote ordenado constrói sua identidade concomitante a sua historia de
vida onde gradativamente essa articulação favorece o autoconhecimento que o leva a um ganho perceptivo de sua realidade abrindo a possibilidade de gerenciar sua identidade sacerdotal numa forma adaptativa de vivenciar o novo, a mudança.
Esse processo permanente da construção/cultivo da identidade vocacional é definido pela narrativa entre percepção e reflexão do eu com a releitura de vida exigida pelo impacto da inti-
midade com o Cristo e a interação consigo
mesmo, com o outro e com o mundo, sendo
uma experiência individual de articulação
entre a subjetividade e os modos de organização pessoal, que nesta dinâmica permite
rever e confrontar conceitos e crenças que
possibilitam novas escolhas conscientes favorecedoras de integridade pessoal. É, aí, nessa
interseção entre realidade e a construção da
identidade religioso presbítero que ocorre
a maturidade vocacional onde o Espírito
Santo configura a Jesus Cristo Bom Pastor
e, se expressa na vida cotidiana do religioso
presbítero. Nesse sentido ocorre um esvaziamento de categoria de lugar, onde o que
servia de ancoragem dos posicionamentos
subjetivos vai tomando uma nova leitura e
sendo substituído, isto gera alguns medos,
algumas crises, mas a confiança total na
promessa de Deus vai trazendo o suporte
necessário para enfrentar as dificuldades e
seguir em frente sem desestruturar a própria
identidade. Observa-se então, um dialogo
vocacional entre Deus e o religioso e sacerdote ordenado o que gera a resiliencia e
uma consciência amadurecida de si mesmo.
Na construção da identidade religiosa-presbiteral, é basilar a missão de configurar-se com Cristo no estado total e, somente
homens equilibrados podem entregar-se corajosamente arriscando-se a escolha de por
esse caminho, modificando e renunciando a
si mesmo como pede Jesus no Evangelho a
todo o seu discípulo para realizar-se plenamente na vivência da sua vocação presbiteral.
Por Rosemeire Galdino dos Santos.
Psicóloga Docente UMESP
Revista Mercê
21
Por Frei Jociel Batista de Carvalho
[email protected]
Natal... Amor de Deus que vem ao nosso encontro!
Estamos próximo de um tempo muito bonito: o Natal. Uma das celebrações mais belas do ano
litúrgico. Tempo propício para meditarmos a ação de
Deus vindo ao nosso encontro. Celebrar o Natal é
pensar, rezar e refletir o amor de Deus que vem até
nós, nos encontra, nos restaura e nos renova. Celebrar
o nascimento de Jesus é celebrar de um modo muito
concreto e visível o Amor de Deus pela humanidade. De fato, Deus por meio de Jesus veio habitar no
meio de nós. É o que nos diz Jo 1, 14: “o verbo se
fez carne e habitou entre nós”. E por isso podemos
conhecer Deus de modo mais pleno, pois Jesus é para
nós a imagem do Deus invisível que nos ensina a viver no Amor. Jesus nos aponta para a revelação do
próprio Deus. O encontro de Deus com o homem se
concretiza por completo por meio da pessoa de Jesus.
O Natal é para nós uma prova que Deus não
está longe de nós. Com o nascimento de Jesus, temos
a certeza e a plena confiança que Deus está conosco
sempre com suas ações, gestos e palavras. Jesus dialoga conosco, comunica e se relaciona. Na linguagem humana, Deus revela o seu ser, o seu Amor e
fala ao homem como fala a um amigo convidando-nos a participarmos da sua comunhão de Amor. E
mediante esse convite, o ser humano não deve ficar
indiferente, mas ter uma atitude de abertura acolhendo o Amor de Deus que vem ao seu encontro.
Desse modo, no coração do ser humano deve
estar o desejo de amar a Deus. O homem busca e
procura Deus e Deus quer que o homem vá ao seu
encontro. Mas o próprio Deus sabe do desejo que
o homem tem por Ele e por isso Jesus vem ao nosso encontro de modo humano. Aí está a beleza do
Natal. O homem deseja encontrar Deus e Deus quer
encontrar com o homem para lhe dar seu Amor. E
ao vir ao mundo no encontro com o homem, Jesus
nos torna partícipes de sua divindade e de seu Amor.
Jesus é o Amor que Deus nos doa. Jesus
vem de Deus para nos revelar na condição huma22 Revista Mercê
na aquilo que Deus é: Amor. Deus quando se revela a
nós na pessoa de Jesus está agindo em função da nossa
salvação. Deus age com um único objetivo: salvar-nos.
O próprio nome Jesus em hebraico significa salvador.
Foi para nos salvar e para nos ensinar a viver no Amor
que Jesus veio habitar em nosso meio. Por meio de Jesus temos acesso a Deus. Jesus vem até nós de modo
gratuito e espontâneo. O Natal é um tempo oportuno para tomarmos conhecimento disso e fortificarmos
nossa esperança de que é possível viver no amor, construindo uma sociedade de paz, justiça, e fraternidade...
Natal é tempo de esperança, tempo de contemplarmos o nascimento do Amor em nosso meio. Os gestos e as ações do Menino Jesus manifestam o ser de Deus
que é Amor. Jesus vem até nós para nos trazer o Amor
que muitas vezes falta em nossa vida. E quando falta
Amor a nossa vida fica difícil. Deus se dá por Amor ao conhecimento dos homens. É um Deus que se faz próximo
porque Ele dialoga e relaciona conosco não nos deixando
abandonados ou órfãos. Deus permanece conosco. E sentimos essa presença do Amor de Deus em nosso meio através da fé. Pela fé, Deus mantém uma relação de amizade
com o ser humano, Deus se torna amigo, se torna íntimo.
No Natal celebramos esse gesto belíssimo do
Amor de Deus pela humanidade. Natal é isso: Deus conosco, nos amando e nos convidando a viver nesse Amor.
E esse Deus sempre está presente em nossa vida quando
nós por meio da fé temos um coração aberto para acolhê-lo. E à medida que Deus está conosco ele nos salva. O
centro de tudo é o Amor de Deus que se manifesta em
nosso meio. Deus possui o imenso desejo de estar junto
de nós. E nós sabemos que Deus está presente em nosso
meio porque em Deus e só em Deus encontramos o verdadeiro Amor que preenche todos os espaços e todo vazio
de nossas vidas. É tendo essa consciência que queremos
acolher a luz do nascimento do menino Jesus e deixar essa
luz brilhar trazendo muita paz e esperança para todos nós!
Desejo a todos um feliz Natal e um abençoado 2016!
Uma Obra de Arte que inspira libertação na
capela do Recanto Mercê
A Capela do Recanto Mercê recebeu uma linda obra de arte
no presbitério, assinada pelo artística sacro Lucio Americo, natural de
São Paulo. A Pintura segue a tradição dos ícones orientais, é rica em
simbolismo, cores, teologia e muitas
formas de interpretação, que leva o
fiel, facilmente, a contemplação.
Pelo tamanho do painel,
8,60 X 5,50 mts, a pessoa se sente
dentro da cena, interagindo com os
personagens, sendo envolvida pelo
mistério. De fato, quem vê a obra
sente algo especial, místico, uma
experiência religiosa que toca o indizível. A obra de Lucio Americo,
tem tantos detalhes que qualquer
um poderia ficar horas admirando
e rezando. Segue a baixo uma tentativa de explicação para a obra:
No centro temos o Cristo
Redentor, de brações abertos, Ele
é o ressuscitado com as marcadas
dos estigmas e o coração aparente,
também em consonância com o
ano da misericórdia. Temos, portanto, o coração aberto do Mestre,
que não se nega acolher ninguém,
de seu coração brota a miseri-
córdia, maior que qualquer pecado, maior que qualquer vício.
Suas vestes são brancas,
sinal da pureza do cordeiro que se
ofereceu livremente para o sacrifício. Ele carrega em sua estola o
sinal de que é o princípio e o fim
de todas as coisas, nas letras gregas
alfa e ômega, acima dele, temos o
texto em latim de Lc 4,19 “ Vim
para anunciar a libertação dos cativos”. Em torno do Cristo, temos
a representação da porta estreita, que é o próprio ressuscitado.
Inserido na área do ícone
do Mestre, temos o Espírito Santo,
força de Deus, nosso defensor. Ladeando o Mestre, dois turíbulos queimando, sua fumaça sobe ao céu até
Deus, com nossas preces de filhos.
Aos pés de Cristo, a árvore da vida,
quem dela se aproximar de coração
contrito e aberto, sai transformado, saboreia a vida divina que se faz
presente na celebração eucarística.
Das mãos do Mestre se estendem os
ramos da videira Verdadeira, na qual
somos todos chamados a sermos enxertados e sorver a vida divina que
corre em nossas veias pelo Batismo.
Batismo esse que perpassa todo o painel com o sinal das águas abaixo de todas as cenas, revelando que o
batismo é fonte e origem de todas
as vocações e ministérios da Igreja.
Ao lado do Mestre, na parte superior, temos sete estrelas, que
são tanto os dons do Espírito Santo,
como os sete sacramentos da Igreja que nos fazer próximos de Deus.
Permeando tudo isso temos um sinal gráfico em ondas, que busca ser
sinal da dinamicidade da ação do
Espírito Santo na vida da Ordem e
na vida de todos os que se reúnem
para celebrar a vida cristão em torno
do altar do Cordeiro Santo de Deus.
Nas laterais temos a imagem da Virgem das Mercês, que
intercede e inspira a obra redentora, mãe de ternura, inserida na
dinâmica de amor da Santíssima
Trindade. Abaixo, aparece São Pedro Nolasco, que se inspira em
Maria, mãe da Libertação, e funda
uma Ordem para libertação dos
cativos, com ele, estão dois oprimidos, que representam todos
aqueles que precisam de libertação.
Revista Mercê 23
Ordem Mercedária na China,
~
é tempo de missao!
Por Darlan Alcântara Sousa
Há cem anos a Ordem
Mercedária quis ir a China, sob a
condução do então Padre Geral,
Dom Inocêncio Lopez Santa Maria.
Passados esses anos, a China ainda
clama por liberdade e anuncio da
Boa Nova. É urgente a necessidade
de ação missionária nessas terras.
Nesse artigo, vamos conhecer os desígnios históricos dessa ação e o que
o Espirito Santo nos pede hoje.
Portanto,
analisaremos,
dois momentos que, aqui, queremos relacioná-los como uma contínua ação de Deus em nossa família
religiosa. São eles: a) a eleição do
Revmo. Pe. Frei Inocéncio López
Santamaria, O. de M., como Superior Geral de nossa Ordem, no ano
de 1919; a tentativa de uma expansão dessa Ordem redentora pelas
24
Revista Mercê
terras chinesas; e o pedido do Santo
Padre, o Papa Bento XV, para assumirmos a Prelazia de São Raimundo
Nonato-PI; b) Uma segunda tentativa de missão na China, neste ano
de 2015, quase um século depois,
no Governo Geral do Revmo. Pe.
Frei Pablo Bernardo Ordoñe.
Para iniciarmos, citamos
um valioso escrito do saudoso Frei
Inocéncio, falecido com fama de
santidade, no ano de 1958, e então
Geral da Ordem: “A nossa Ordem
tinha celebrado o Capítulo Geral no
ano de 1919. Fora eleito este quem
escreve isto e com a finalidade de
cumprir o proposto no Capítulo,
de intentar alguma missão entre
infiéis ou noutra parte; fizeram-se
sugestões com o então Cardeal Vanrosum, da Congregação dos Padres
Redentoristas, e este, combinou
comigo de dar-nos uma missão na
China, precisamente em Vuhú (Esta
missão mais tarde foi entregue às Irmãs Mercedárias de Bérriz). Estando pois nestas gestões, a Nunciatura
do Rio de Janeiro urgia pela criação
da nova Prelazia de Bom Jesus do
Piauí. O Papa Bento XV, de santa
memória, a quem devíamos favores
especiais e a quem nos prendiam
laços de amizade pessoal, além do
respeito e amor como chefe da Igreja, chamou-me e pediu-me se queríamos aceitar a Prelazia; falei-lhe que
não possuíamos pessoal suficiente
e que falaria com os curiais. Passaram-se alguns dias, acho que uma
semana, já que eu não via o jeito de
dar solução favorável a S.S. voltou
a chamar-me, e disse-lhe o mesmo
que a primeira vez, prometendo resolver o caso com os padres que assumiriam para não cair no fracasso. Aos poucos dias S.S. aproveitando a
ida na audiência do Cardeal Vico,
nosso Protetor, voltou-lhe a falar a
respeito do pedido feito a mim, e o
Cardeal chamou-me para dizer-me:
- “O Papa diz que V. Revma. não
quer aceitar a prelazia do Piauí” –
Imediatamente fui eu mesmo, e lhe
falei estas palavras – “Santo Padre,
o desejo de Vossa Santidade é para
nós um mandato” – Sem mais delongas, depois de consultar o caso
com os padres assistentes, chamei
que viesse a Roma o então Padre
Provincial do México, M. Rdo. Pe.
Fr. Pedro Pascual Miguel Martínez
e chegando a Roma apresentei-o
ao Papa, que brincando lhe disse: “O Senhor pensava morrer no México, porém irá morrer no Brasil”
Sem dúvidas, o pedido do
Papa Bento XV à nossa Ordem foi
provocador, uma vez que muito
se ouvia sobre as dificuldades que
era preciso enfrentar para evangelizar nas terras piauienses, desde
seca, pobreza à precária locomoção dos missionários. Entretanto,
nenhum desses motivos foram suficientemente fortes para impedir
os frades de Nossa Senhora das
Mercês, de tal maneira que, hoje,
cerca de noventa e três anos depois, notamos as incontáveis obras
espirituais e materiais deixadas
por esses destemidos missionários.
Espalhada, hoje, por 6 estados, atendendo 11 paróquias, com
9 comunidades religiosas e com um
clero com um pouco mais de 40
religiosos (vocações autóctones, na
sua grande maioria) a província de
São Raimundo Nonato continua
sendo, por meio de seus religiosos, uma expressão da misericórdia
de Deus nos diversos âmbitos por
eles assumidos ou frequentados.
Contudo, o Espírito Santo não cessa de impulsionar o ardor missionário de nossa Ordem
e, estando ela, a Ordem Mercedária, por completar 800 anos de
sua fundação, é sentida novamente uma necessidade de expansão
e, por mais incrível que pareça, os
bons ventos sopram novamente
em direção ao Continente asiático. Isso mesmo, quase cem anos
depois de uma tentativa, os superiores atuais, sentem-se fortemente
impulsionados a mandar religiosos
mercedários para que vivam seu carisma libertador em terras chinesas.
Tendo em vista a concretização da missão na China, o atual
Mestre Geral da Ordem, Fr. Pablo
Ordoñe, convocou alguns frades
para que juntamente com ele, visitassem a possível terra de redenção
e, entre os dias 16 de agosto a 02 de
setembro de 2015, estiveram por lá,
a conhecer as realidades concretas e
até mesmo a traçarem possíveis metas para esse ousado projeto libertador. Vale dizer que foram acolhidos
e valeram-se da fraternidade das
Irmãs Mercedárias de Berriz, que lá
estão de missão há quase um século.
Assim, temos uma leve inclinação a
dizer que da forma que Deus presenteou a Ordem Mercedária, no
jubileu de 700 anos, com a missão
do Brasil, está a repetir o mesmo
gesto com a China neste tempo
em que já vivemos as alegrias e júbilos dos 800 anos de fundação.
Enfim, sobre a China ainda
nada foi decidido, a aprovação da
missão ficará por conta dos padres
que celebrarão o Capítulo Geral
no ano de 2016, não obstante fica
como urgente um grande apelo à
oração pelo trabalho redentor da
Ordem Mercedária para que siga
sendo, cada vez mais, um anúncio
de esperança em meio aos aterradores gritos de opressão do mundo.
Revista Mercê 25
BÍBLIA
Frei Werlen Silva
A oração do Cristão:
Pai nosso
No evangelho Segundo
Lucas, um dos discípulos chama
Jesus e lhe faz pedido: “ Senhor,
ensina-nos a rezar, como João o ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1b).
Observamos que a necessidade de aprender a rezar nasce no coração do discípulo não no momento do primeiro encontro com Jesus,
mas posterirormente quando o próprio Jesus está orando: “ ele estava
num lugar em oração” (Lc 11,1a).
O discípulo observa que mestre está
a orar e dentro dele brota o desejo
de orar. Também ele quer viver essa
experiência. Ao perceber esse desejo Jesus ensina o discípulo a rezar.
maravilhosa de um dos atributos
de Deus. Deus é Pai. Ao chamar
Deus de Pai Jesus revela um novo
horizonte de vida, um novo relacionamento. A descoberta de paternidade de Divina nos faz compreender o projeto de Deus é familiar.
ESTUDO DO TEXTO
A oração do Pai Nosso está dividida em duas partes,
onde se destaca as: nome, Reino,
9Jesus
responde ao discípulo:
“Quando, portanto, orai assim:
Pai nosso que estás nos céus,
Santificado seja o teu nome;
10venha o teu Reino; seja feita a
tua vontade, como no céu, assim
também na terra.
11O Pão nosso de cada dia dá nos
hoje.
12Perdoa as nossas dividas,
assim como nós perdoamos aos que
nos devem.
13E não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal.
(Mt 6,9-13)
A oração que Jesus ensina é simples, não é longa como
as orações do templo, mas muito
rica. Começa com uma revelação
27 Revista Mercê
Pai nosso em hebraico-aramaico
língua que Jesus rezou
seja santificado, vontade, pão, pecado (dividas), tentação. Termos
que revela o mistério da oração.
Por exemplo: Que significa o pão de cada dia? O adjetivo que em grego significa “hoje”
na oração do pai-nosso misteriosamente se entende por quotidiano, ou seja: hoje e amanhã.
Outra expressão interessante é: “seja santificado o teu nome”,
que está em paralelo: “não nos
deixeis cair em tentação” que, se
mal interpretada pode levar a uma
interpretada equivocada, ou seja,
como se Deus nos induzisse ou nos
abandonasse a mercê da tentação.
MENSAGEM CENTRAL
1 – Para dizer “Pai” não é
necessário um esforço inimaginável
para conceber uma nova ideia teológica de Deus, basta entrar no modo
de rezar de Jesus que sempre se dirige a Deus como pai, aqui está a atmosfera da oração de Jesus. É nesse
horizonte que a oração se realiza.
A experiência paterna de Jesus nos
é comunicada por meio da oração
do Pai-nosso. Se digo pai é porque
tenho a coragem de me abandonar,
de me entregar a ele, de superar o
medo e a incerteza.
2. A expressão: “10venha o teu Reino” exprime o desejo
pela manifestação do Reino, que é
de justiça, fraternidade, triunfo da
vida sobre a morte, superação de
todas as lágrimas. Está expressão
parece adiantar o projeto de Deus
na história. O reino de Deus é um
projeto que construímos quotidianamente em meios aos conflitos e
contradições da vida, social, pessoal e também eclesial. Tais conflitos
me fazem recordar a oração de Jesus
no Getsémani: “ Meu Pai, se não é
possível que este cálice passe sem
que eu o beba, faça-se a tua vontade! ” (Mt 26,39. 42.44). Diz Jesus:
não o meu reino, mas o teu reino.
O teu Reino, não é o reino
que imaginamos, mas aquele que o
Pai está preparando como um dom
a ser realizado pelo esforço humano.
Isso mesmo, o reino de Deus está
dentro de vós, mas é preciso faze-lo sair e se tornar uma realidade
na sociedade. Ele deve ser construído por mãos humana. O pai-nosso
nos revela algumas condições para
que o reino de Deus seja edificado.
1- A primeira trata-se de
ser perseverante, porque o reino de Deus se realiza por meio
do pão quotidiano. Aqui tem se
uma clara referência a Eucaris-
tia, que é o Pão nosso de cada dia.
2- Precisa-se de misericórdia e de perdão reciproco. É mediante a capacidade de perdão de
Deus, que, apesar de nossa quedas e
fragilidades que de realizar o Reino.
Olha aí a importância do Sacramento da Reconciliação Penitencial.
3- Por fim, “Não cair em
tentações”. Quando vem as provações o Reino parece estar envolto
em trevas. Na noite escura de nossa vida é preciso fazer a oração de
Jesus: “Seja feita a tua vontade”.
Para rezar o Pai-nosso é
preciso uma postura de simplicidade e humildade. É preciso abrir
o coração para acolher o projeto de
Deus e lutar para que ele se realize. Um coração humilde e simples
que reconhece a própria fraqueza diante de Deus que é Pai, dos
irmãos, da Igreja e da sociedade.
Nesse momento, penso,
o quanto a oração do Pai-nosso
faz bem a milhares de cristãos perseguidos por causa de sua fé. Penso, nos milhares de refugiados,
que diariamente desembarcam
na Europa, depois de uma longa
e incerta jornada mar adentro a
bordo de embarcações precárias.
Centenas morrem todos os dias.
Também penso nas famílias, vítimas da catástrofe da represa Samarco no município de Mariana, MG.
Tenho certeza, que Jesus, na graça do
Espírito, leva ao Pai todas as nossas
preces. Vamos rezar um Pai-nosso.
[email protected]
Revista Mercê 26
Ordem da Bem Aventurada Virgem
Maria das Mercês
Ser Mercedário
Uma Ordem Religiosa para uma nova geração

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