49 jogadores 01
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49 JOGADORES 01 EDITORIAL Televisão e direitos televisivos “Não nos iludamos: a dignidade da profissão de futebolista depende de todos. De ti também. Não fiques de fora da nossa equipa” Por boas e más razões nunca se falou tanto de televisão em Portugal. A privatização da RTP, a centralização dos direitos desportivos, os canais dos clubes ou os novos projectos televisivos no âmbito do desporto alimentam o assunto. O jogo está no início e será renhido. Prognósticos só no fim! Bruno Teixeira Joaquim Evangelista Presidente do SJPF Áreas de Intervenção Assessoria Jurídica e Fiscal Formação e Qualificação Profissional Protecção Social e Seguros Defesa da Saúde Fundo de Garantia Salarial Fundo de Solidariedade Social Estágio do Jogador Football Jobs - O Portal do Emprego Futebol Feminino, Futsal e Futebol de Praia Acordos e Benefícios 02 JOGADORES 49 Joaquim Evangelista | Presidente da Direcção Canal A Bola TV Num período particularmente difícil, A Bola ousou arrancar com o seu projecto televisivo. Cumpre registar a iniciativa e endereçar os maiores sucessos. O projecto é ambicioso e percebe-se que quer fazer a diferença ao nível dos conteúdos desportivos. Todos os dias desfilam no canal A Bola TV quem intervém directa e indirectamente no desporto português. Para os que se queixam de que os canais televisivos só se interessam pelo futebol espero que tenham reencontrado a tranquilidade. Fez-se justiça. A equipa de A Bola TV também promete uma boa época. Liderados por João Bonzinho, estes profissionais têm um capital de experiência acumulado que dá garantias. É verdade que jogar em “pelado” é diferente de jogar em “relvado” mas estes profissionais depressa se habituarão. A todos, em meu nome pessoal e na qualidade de presidente da Ronaldo centenário Aos 27 anos atingiu as 100 internacionalizações. Parabéns! Venham mais 100. direcção do Sindicato, deixo votos sinceros de sucesso. Bola ao Centro Este programa, que vai para o ar às quintasfeiras à noite, pretende, com tempo, abordar os grandes temas do desporto. Conduzido por Vítor Serpa e José Manuel Delgado (dispensam apresentações) tem tudo para ser uma referência no canal. O primeiro programa além de juntar o presidente da Federação (Fernando Gomes), da Liga (Mário Figueiredo) e do Sindicato (Joaquim Evangelista), momento raro em televisão, debateu o estado actual do futebol. O tema central foi a situação económica mas os direitos televisivos, atenta a queixa da Liga na Autoridade para a Concorrência, estiveram em destaque. Notória foi a defesa que cada um fez da sua instituição e dos seus pontos de vista mas, apesar das divergências, constata-se que Bracali um exemplo para a classe Nesta edição, Bracali revela a importância da classe se unir e lutar pelos seus direitos. A ler. é possível concertar posições. O Bola ao Centro cumpriu o seu dever de informar juntando os protagonistas. Cabe-lhes agora a eles, na defesa do futebol e do desporto português, conciliar posições e mobilizar os agentes desportivos. Direitos Televisivos Discute-se a centralização dos direitos televisivos e as suas consequências. Há quem augure receitas astronómicas e anuncie, por esta via, o fim de todos os problemas do futebol. Oxalá. Eu, independentemente do modelo adoptado e do seu sucesso, estou convencido de que só com uma mudança cultural, nomeadamente ao nível da disciplina financeira, será possível resolver a maioria dos problemas com sucesso. Atacar o actual operador numa atitude ad homminem ou dar mais dinheiro a quem é irresponsável, salvo melhor opinião, não são solução. Besiktas vs Quaresma Não pode valer tudo O tratamento de que Quaresma está a ser alvo é vergonhoso. O SJPF está solidário com o jogador. 49 JOGADORES 03 memória Bruno Teixeira/SJPF ASF — Agência de Serviços Fotográficos — [email protected] | Imagens que fazem história Edição e propriedade SJPF, Rua Nova do Almada, nº 11 3º Drt., 1200-288 Lisboa www.sjpf.pt | [email protected] T: 213 219 590 | f: 213 431 061 Director Dossier: Portugueses lá fora P.14 Congresso anual FIFPro P.26 Jovens Talentos: David Simão e Ricardo Esgaio P.44 As Nossas Internacionais: Neide Simões P.46 Prémios Liga Zon Sagres | II Liga P.34 Joaquim Evangelista Director adjunto Vitor Crisóstomo Redacção Gabinete de Comunicação Artur Jorge Design Gabinete de Comunicação Paginação Bruno Teixeira Fotografia Bruno Teixeira, Stephane Saint Raymond, ASF, Lusa Colaboradores Gustavo Pires, João Lobão, José Neto e Manuel Sérgio Impressão Locape Tiragem 2000 Exemplares Dep. Legal 256825/07 3 Editorial 4 Índice 5 Memória: Artur Jorge 6 Zoom: Bola ao Centro 08 Entrevista: Bracali 14 Dossier: Portugueses lá fora 22 Notícias 24 Gabinete Jurídico 26 Congresso anual FIFPro 38 Who’s Who: Carlos Pandolfi 30 Prémios 34 Estudos vs Profissão: Tarantini (Rio Ave) 36 O Capitão: Alex (V. Guimarães) 38 Área Técnica: Marco Silva (Estoril) 40 Apito: João Ferreira 42 Selecção: Mundial 2014 43 Opinião: Gustavo Pires 44 Jovens Talentos: David Simão e Ricardo Esgaio 46 As Nossas Internacionais: Neide Simões 48 Onze Remates: Fredy e Vítor Moreno 50 Opinião: Manuel Sérgio 51 Clipping 52 Glórias: Augusto Inácio 52 Lazer: Relógios e Jogos 57 O Meu Estádio: Restelo 58 Regresso à Infância: Paulo Madeira membro O MEU ESTÁDIO: Restelo P.57 LAZER: PES 2013 P.52 Assinatura de compromisso com a Académica na presença da direcção do clube e do colaborador do jornal A Bola em Coimbra. Abril de 1968. Figura incontornável do futebol português, Artur Jorge já desempenhou as mais variadas funções. Por exemplo, fundou um clube (Centro Académico Futebol Clube), foi jogador profissional, treinador, seleccionador nacional e presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Fez a sua formação desportiva no FC Porto e já como sénior solicitou a transferência para a Académica de Coimbra. E ali, na cidade dos estudantes, iniciou a sua ascensão como futebolista profissional sem descurar os estudos. Licenciou-se em Germânicas. Mais um bom exemplo de que é possível conciliar a universidade com a carreira de futebolista profissional. Fotografia de capa: Bruno Teixeira/SJPF 04 JOGADORES 49 49 JOGADORES 05 zoom Bola ao Centro. Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e Mário Figueiredo, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, debateram o estado do futebol português no programa Bola ao Centro, de A Bola TV. No programa que foi moderado por Vítor Serpa e José Manuel Delgado, respectivamente director e sub-director de A Bola, Joaquim Evangelista, além de felicitar o jornal pelo lançamento do canal televisivo, reforçou três ideias fortes: o respeito pelos contratos, a aposta desportiva nos jovens jogadores e o apoio aos jogadores que atravessam dificuldades. André Alves/ASF 06 JOGADORES 49 49 JOGADORES 07 ENTREVISTA BRACALI Rafael Bracali, 31 anos, chegou a Portugal em 2006 para defender as cores do Nacional. Após cinco anos na Madeira transferiu-se para o FC Porto e esta época foi cedido por empréstimo ao Olhanense. Conheça a visão de um jogador estrangeiro sobre a classe e o futebol português. Texto: Vitor Crisóstomo | Fotografia: Bruno Teixeira/SJPF 08 JOGADORES 49 Como é que surgiu o seu gosto pela baliza? Eu sempre joguei futebol sem ser à baliza. Jogava a trinco e a pivot no futsal. O meu pai foi guarda-redes até aos 38 anos e sempre me disse para não jogar à baliza. Na minha adolescência joguei em alguns clubes amadores e no Paulista, o clube onde comecei como guarda-redes. Mas não foi fácil. Chumbei nos treinos de captação do Paulista como jogador de campo e continuei a jogar futsal e nos clubes amadores e quando estava a terminar o 12.º ano e o meu pai perguntou-me: ‘queres jogar futebol ou continuar os estudos?’. Eu disse que queria jogar futebol e ele perguntou-me se eu queria ser guarda-redes porque ele era o treinador de guarda-redes da equipa sénior do Paulista. Treinei com o meu pai durante três meses e comecei a gostar do lugar. Então fui fazer testes ao Paulista como guarda-redes e fiquei. Tinha 16 anos. Lá encontrei o Artur [actual guarda-redes do Benfica]. Fiquei no Paulista até aos 24 anos. regressei ao Paulista, que jogava a Taça dos Libertadores, e seis meses depois, após o Mundial de 2006, vim para o Nacional da Madeira. E como foi o seu percurso? Em 2005, ganhei a Copa do Brasil pelo Paulista e fui emprestado ao Juventude que estava a disputar Brasileirão. Após este empréstimo deixava de pagar e era uma confusão. Tínhamos de rescindir ou ficávamos a treinar à parte. O jogador não era tão protegido como por exemplo o sindicato português protege os seus jogadores O que o levou a sair do Brasil e a optar por Portugal? O meu contrato com o Paulista estava a acabar e eu não queria renovar. Estava a atravessar uma boa fase e apareceu o Nacional com uma proposta de um contrato de cinco anos. Na altura, no Brasil, os contratos eram de um ou dois anos. Quando se fazia um contrato mais longo e o jogador passava a jogar pior, o clube “ Quando as coisas estão mal no balneário isso reflecte-se no campo ” em Portugal. Então fiz um balanço da minha carreira. Cinco anos de contrato, na Europa, em Portugal, uma selecção semifinalista do Mundial de 2006, Scolari como seleccionador nacional, o Nacional ia jogar as eliminatórias da Taça UEFA... tudo isso fez com que eu aceitasse a proposta do Nacional. Conhecia alguma coisa do Nacional da Madeira? Muito pouco. No Brasil não passava o campeonato português e como se costuma dizer o que não é visto não é lembrado. Na verdade fui para o Nacional pelo meu instinto. De que ali poderia haver uma progressão. Mas na verdade só tive a noção de qual era a realidade do Nacional e do futebol português quando cá cheguei. E aí constatei que não era exactamente aquilo que eu imaginava. Como assim? O Brasil tem muitos clubes mas é muito mais equilibrado. Quando cheguei a Portugal vi que não ia jogar por um campeonato, que era quase proibido dizer que tínhamos hipóteses de ser campeões, que era visto como uma espécie de 49 JOGADORES 09 ENTREVISTA anedota ou piada. A própria cultura é diferente, empatar com o FC Porto já era espectacular. No Brasil é diferente. Mesmo num clube pequeno queremos sempre ganhar, não interessa o adversário. Vi que em Portugal a cultura era outra. Havia ainda uma mistura de raças: brasileiros, portugueses, africanos, do leste da Europa... Era diferente. Na verdade quem tinha de se adaptar era eu e não o contrário. A adaptação foi difícil? O meu primeiro ano foi difícil. Não por não ter jogado mas porque o guarda-redes tem um treino específico e em Portugal era diferente ao que eu estava acostumado. Treinava menos e pensava: ‘Será que vou conseguir jogar ao meu mais alto nível a treinar tão pouco?’. Já o resto foi fácil. O clima, a alimentação, os madeirenses... Eu imaginava que a integração seria mais difícil mas o mais complicado foi a parte desportiva. Pensava que ia jogar num clube que estaria sempre entre os primeiros e até imaginava que iria lutar pelo título. Foi pura falta de informação. Bastava consultar a história do futebol português para alterar esta visão. Para um jogador que chega do Brasil e que teve a oportunidade, como eu tive, de ganhar um título importante, mexe connosco. Mesmo a Taça de Portugal é pouco. Não sou o Buffon ou o Júlio César mas tenho ambição, quero ir o mais longe possível e ganhar títulos. Veio sozinho ou acompanhado pela família? Acompanhado pela família. A família representa a base e o equilíbrio de um atleta até porque vivemos longe de todos os restantes familiares. Por vezes, quando chegas a casa depois de um treino e vens de cabeça quente é a tua mulher que te acalma e te mostra a luz da razão. O facto de existir uma grande comunidade de jogadores brasileiros em Portugal ajuda a minimizar as saudades de casa? Sim, ajuda na integração. Na Madeira criei 10 JOGADORES 49 amizades com brasileiros dos outros clubes da ilha. Acabamos por nos ajudar uns aos outros, até a nível financeiro. Por causa dos salários em atraso? Sim. Está-se fora do país, muitas vezes pela primeira vez, o empresário falou isto e aquilo e o jogador vem cheio de ilusão e depois de repente começam os problemas. Surgem os salários em atraso e o que o jogador ganha não chega para poupar e estar sem receber. O jogador liga para o empresário e este já não atende o telefone... Na Madeira, como havia muitos brasileiros, era mais fácil ter um suporte. Que balanço faz da sua passagem pelo Nacional da Madeira? Foi bastante positivo. Conseguimos um quarto lugar, alcançámos o maior número de pontos na história do clube e no ano seguinte entrámos pela primeira vez na fase de grupos da Liga Europa. Transferiu-se do Nacional para o FC Porto. Foi o reconhecimento das suas qualidades? Penso que sim. Cheguei ao FC Porto aos 30 anos e o FC Porto dificilmente contrata um jogador com essa idade. Acabei o contrato com o Nacional e tive a oportunidade de assinar pelo FC Porto. Não pensei duas vezes. O FC Porto é o maior clube de Portugal. Até hoje acho que tenho uma carreira vencedora. Nós já somos vencedores porque quase todos querem ser jogadores profissionais de futebol e só uma pequena parte o consegue e quando há quem reclame a dizer que não teve oportunidade de jogar e não sei o quê... Todos têm a sua oportunidade se trabalhar. Em todos os clubes por onde passe consegui sempre fazer uma coisinha que entrasse na história. É a minoria que ganha milhões. Chegar ao FC Porto foi o reconhecimento do meu trajecto. Como encara a cedência ao Olhanense? Com naturalidade. Não joguei muito o ano passado. Por incrível que pareça valoriza-se menos um segundo guarda-redes de um clube grande do que um que esteja a jogar num clube menor. O Helton não me deixou jogar mais. Queria e sabia que tinha condições para vencer no FC Porto mas a partir do momento que optaram por contratar outro guarda-redes é seguir em frente, a vida continua. Custa sair do FC Porto após só lá ter estado um ano mas já tenho a cabeça no Olhanense. Fui muito bem recebido, é um clube organizado, tem um bom staff técnico e um bom grupo de jogadores. Tem tudo para fazer um campeonato tranquilo. “ O jogador é egoísta. Todos falam mas na hora de ‘botar a cara’ ninguém assume ” Esta é a sua sétima época em Portugal. O que é que mudou, se mudou alguma coisa, no futebol português? Acho que piorou. Saíram muitos jogadores para campeonatos como os da Roménia, do Irão ou de Chipre. Como plano de carreira talvez não seja tão bom mas deve compensar financeiramente. Penso que é um sinal de que em Portugal, principalmente os clubes menores, não estão a conseguir oferecer bons contratos e assim a conservar os melhores jogadores. Comparativamente com a época em que cheguei a Portugal, hoje há um maior desequilíbrio entre os grandes e os pequenos clubes. O fosso é maior e a competitividade baixa. Na sua maioria, os jogadores contratados são também de nível inferior. Depois a crise que o País atravessa também ajuda as pessoas a afastarem-se do futebol. O jogador, sendo o protagonista do futebol, é muitas vezes o elo mais fraco. Como justifica isso? Porque o jogador só pensa nele próprio. Se ele está bem não quer saber dos outros. O jogador é egoísta. A solução passa pelo jogador, pela classe. Um, dois, dez jogadores sozinhos não conseguem mudar nada. Todos falam mas na hora de “botar a cara” vai fazê-lo sozinho porque os outros não vão estar com ele. É imperiosa uma mudança de mentalidades? Sem dúvida. Se não se fizer nada não adianta reclamar. Os salários em atraso no futebol é um tema que o preocupa? Sim. Alguma vez passou por essa situação? Graças a Deus não. Tive a sorte de trabalhar em clubes cumpridores. Nunca saí de nenhum clube deixando dinheiro para trás. Sempre lutei pelos meus direitos. Como é possível superar o problema dos salários em atraso? Só se os jogadores se unirem. Por exemplo, chega o final da temporada e o jogador tem três meses para receber e aí o clube diz para fazer um acordo. Não tem que ter acordo, a verba é do jogador por direito. O clube paga o que deve e o jogador vai embora. Se atrasar uma ou duas semanas não há problema, o jogador entende, agora quando são meses a situação começa a arrastar-se. Nem todos os jogadores ganham milhões. O dinheiro que ele ganha dá para um mês e pouco mais. Se os jogadores não se unirem, não tentarem mudar a situação... É inexplicável que clubes com processos na Justiça tenham estes comportamentos. Isto sucede durante anos e anos. É preferível acabar com estes clubes. Se não têm como pagar fechem as portas. Se é para enganar o jogador, é preferível 49 JOGADORES 11 ENTREVISTA que o jogador procure um novo caminho, que tenha tempo para estudar. A realidade é dura mas é preferível. Temos um sonho que é jogar futebol mas chegar a um clube e não receber, ir para outro e outra vez não receber não pode ser. É preciso mudar e isto só é possível com alguma atitude dos jogadores, da classe, dos treinadores... O Sindicato tem estado na primeira linha do combate a este fenómeno. Como vê o papel do Sindicato? Está interventivo e participativo. Claro que o Sindicato não vai conseguir pagar o salário em atraso, nem tem essa obrigação, de todos os jogadores. Tem sim o direito de proteger, informar e defender o atleta em relação aos seus direitos. Claro que para os clubes o Sindicato pode ser uma ameaça mas esta só será real se os clubes não cumprirem. Para o Sindicato ser cada vez mais forte é preciso que os jogadores se tornem sócios. “ Lucho Gonzalez é um exemplo perfeito do que deve ser um capitão ” A maioria dos jogadores brasileiros em Portugal são sócios do Sindicato. Surpreendido? Eu quando sai do Brasil já era sócio do sindicato brasileiro mas no Brasil a maioria dos jogadores só procura o sindicato quando tem salários em atraso. Agora quando vêm para Portugal geralmente tornamse sócios do Sindicato. É uma espécie de garantia. Eles pensam: ‘Vou sair do Brasil, vou para Portugal e não vou receber? Quem é que me pode ajudar? O sindicato.’ Acho que o jogador brasileiro é um pouco mais destemido do que o português. É algo cultural, não tem medo de lutar pelos seus direitos. 12 JOGADORES 49 Já precisou do Sindicato em Portugal? Correspondeu às suas expectativas? Já para esclarecer-me sobre algumas situações contratuais e fui muito bem atendido. Não tenho qualquer razão de queixa. Aconselha os seus colegas a tornarem-se sócios do Sindicato? Digo-lhes sempre que não têm nada a perder, antes pelo contrário. O valor da anuidade é irrisório em comparação com a importância que o Sindicato pode vir a ter na carreira de um jogador. Tomara que o jogador nunca precise do Sindicato, que tenha um empresário que o oriente para que nunca tenha problemas com os contratos ou os impostos, por exemplo. Eu sindicalizei no ano em que cheguei. Tem alguma referência como guardaredes? Cláudio Taffarel. Quem é o melhor guarda-redes a actuar em Portugal? Pelo seu percurso é o Helton (FC Porto). Logo a seguir, o Rui Patrício (Sporting) e o Artur (Benfica). É importante que haja um treinador de guarda-redes? É vital. Quando cheguei a Portugal bati nessa tecla vezes sem conta. Por detrás de um bom Qual o papel do capitão na gestão de um grupo? O capitão deve ser escolhido pelo treinador. Deve ser respeitado pelos colegas. Não é fácil ser capitão de equipa. Não concordo com a eleição do capitão devido à sua antiguidade no clube. Dos que conheci até agora há um que é fenomenal: Lucho Gonzalez. Ele é tranquilo, é respeitado pela sua forma de ser e estar. Quando fala diz o que é preciso. Isso é um capitão. Ajuda os colegas, incentiva-os, tem postura de líder. Lucho Gonzalez é um exemplo perfeito do que deve ser um capitão. guarda-redes há sempre um bom treinador de guarda-redes. Já passou por balneários difíceis? Já. Há treinadores que dizem que os jogadores se podem odiar desde que dentro do campo sejam amigos. Isto raramente resulta. Quando as coisas estão mal no balneário isso reflecte-se no campo. Hoje não é fácil encontrar um balneário harmonioso. A responsabilidade para criar um bom balneário está na mão dos próprios jogadores e dos treinadores. É fundamental uma boa gestão. O maior frango que já sofreu? Pelo Paulista contra o Avaí. A bola era fácil de defender mas entrou. De repente tinha a claque do Avaí a chamar-me frangueiro! Frangueiro! Não é agradável mas faz parte da aprendizagem de um guarda-redes. No seu caso pessoal como reage quando não é titular? O jogador ficar chateado por não jogar mas tem de continuar a trabalhar, a oportunidade, mais cedo ou mais tarde, vai chegar. No Nacional demorei ano e meio a atingir a titularidade mas quando tive a oportunidade nunca mais larguei a titularidade. Agarrei-a com as duas mãos. Já perante o grupo é uma questão de carácter. Se o jogador achar que é mais que o grupo então cria mal-estar. Agora se respeitar os colegas tudo corre bem. Uma mensagem final para os jogadores profissionais de futebol que estão a passar dificuldades? Se o jogador está com salários em atraso ou lesionado não deve temer nada. Deve perguntar, deve procurar quem o pode ajudar. Se já foi iludido uma vez não seja novamente, pergunte, não assine nada sem ler, sem que o Sindicato ou uma pessoa da sua confiança o ajude. Quem está em dificuldades deve procurar ajuda, falar com outros jogadores, dar entrevistas e expôr o caso, não tenha medo, pior não vai ficar. Rafael Wihby Bracali 05-05-1981 (31 anos) Naturalidade: Santos (São Paulo), Brasil Posição: Guarda-redes Camisola nº: 81 Clubes: Paulista, Juventude e Paulista (Brasil), Nacional da Madeira, FC Porto e Olhanense Títulos: Campeão Nacional da I Liga (2011/12), Supertaça Cândido de Oliveira (2011), Copa do Brasil (2005), Campeonato Brasileiro Série C (2001) e Paulista A2 (2001) 49 JOGADORES 13 Jogadores portugueses lá fora dossier Quase todos “obrigados” a emigrar Segundo dados recolhidos pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) há 390 futebolistas portugueses a actuarem esta época em campeonatos fora de Portugal. Para ser mais exacto, estão espalhados por 33 países dos mais variados continentes. Com 70 atletas lusos, a liga cipriota é quem acolhe mais jogadores portugueses. Seguese a Suíça (35), Espanha (34), Luxemburgo (32) e Angola (30). 14 JOGADORES 49 Existem igualmente casos de campeonatos que apenas têm um representante português como são os casos do Chile (Marcelo Paulino, nos sub19 do Colo-Colo), Finlândia (Hugo Magalhães, no Oulu), Cazaquistão (Fausto Lourenço, no Atyrau), Liechtenstein (Tobias Guerreiro, no Schaan), Noruega (Nuno Marques, no Notodden) e Estados Unidos da América (Davide Viana, no Real Salte Lake). Cada vez mais, campeonatos de pouca expressão como Bulgária, China, Chipre ou Irão recebem jogadores portugueses. E não se pense que são só jovens jogadores ainda à conquista do seu espaço de afirmação. Nuno Assis, Diogo Valente, João Vilela ou Anselmo — todos com provas na liga portuguesa — são apenas alguns exemplos de jogadores que esta temporada foram “obrigados” a emigrar. Ao contrário do que muitos Textos: Vítor Crisóstomo | Fotografia: ASF, Lusa, SJPF ainda pensam apenas uma minoria dos jogadores a actuar em Portugal aufere salários que lhes permite enfrentar o futuro confortavelmente. A maioria ganha pouco – quando recebe – tendo em conta a especificidade da profissão. A crise instalada em Portugal e no futebol português levou-os, a eles e a outros, a tomarem essa atitude. Os sistemáticos salários em atraso protagonizados por muitos clubes portugueses empurra os jogadores para o estrangeiro e para o desconhecido. Os jogadores optam então entre o não ter nada e o ter alguma coisa. Porém, a “fuga” de Portugal comporta riscos. Há jogadores que são aliciados por melhores condições contratuais e quando chegam ao destino constatam que foram enganados por empresários ou dirigentes sem escrúpulos. E passam novamente pelo drama do incumprimento salarial ou por contratos que não condizem com o que foi anteriormente estabelecido. Gritante e grave é a contínua falta de oportunidades para os mais jovens. Tapados nos planteis profissionais por excesso de estrangeiros de qualidade duvidosa não lhes resta outra alternativa que não emigrar. Em Portugal não jogam. Não lhes é dado crédito, nem tempo, nem oportunidades de mostrar a sua valia. A crise financeira que está instalada poderia levar a crer que os responsáveis dos clubes e das SAD apostassem mais em jogadores portugueses mas os números mostram uma realidade completamente diferente. Há cada vez mais estrangeiros a jogar nos campeonatos profissionais em Portugal e é rara a equipa onde o onze titular não seja constituído maioritariamente por atletas além-fronteiras. E para agravar o cenário até os futebolistas estrangeiros de maior qualidade estão a fugir de Portugal. A perda de competitividade financeira das ligas portuguesas relativamente a outros campeonatos de menor expressão conduz ao enfraquecimento qualitativo em Portugal. Apostar forte na formação e alterar a legislação de forma a proteger o jogador português é essencial para a sobrevivência, com qualidade, do futebol nacional. Dirigentes e treinadores têm a palavra. 49 JOGADORES 15 Jogadores portugueses lá fora ESPANHA Almansa | João Moreira At. Madrid | Sílvio | Tiago Atético Baleares | Pedro Moutinho Barcelona B | Agostinho Cá | Edgar Ié | Luís Gustavo Bétis | Nelson | Salvador Agra Cartagena | Cristiano Deportivo | André Santos | Bruno Gama | Diogo Salomão | Nelson Oliveira | Pizzi | Roderic | Tiago Pinto | Zé Castro Espanhol | Rui Fonte | Simão Sabrosa Maiorca | Nunes Málaga | Duda | Eliseu Ponferradina | Hélder Rosário Real Madrid | Cristiano Ronaldo | Fábio Coentrão | Pepe | Ricardo Carvalho San Fernando | Éder Pereira Sp. Gijon | Hugo Vieira Valência | João Pereira | Ricardo Costa Valladolid | Sereno Zaragoza | Hélder Postiga EUA dossier AEK Kouklia | Nuno Gomes AEL Limassol | Carlitos | Dossa Junior | Jorge Monteiro | José Embalo | Orlando Sá | Paulo Sérgio | Rui Miguel | Aguinaldo AEP | Cris | Hugo Sousa | Silas Akritas Chiorakas | Miguel Herlein | Pipo | Zé Eduardo Alki Larnaca | Barge | Bernardo Vasconcelos | Bruno Fernandes | Santamaria | Stélvio Anagennisis | Bonifácio | Jorge Neves Wesllem | Paulo Jorge Anorthosis | Pedro Almeida | Helder Sousa | Hélio Pinto | Mário Sérgio | Nuno Morais Apollon Limassol | Toni | Bruno Vale | Miguelito | Milton | Pedro Alves Ayia Napa | Fabeta | Fausto Lúcio | Ginho | Hugo Soares | Marquinhos | Ricardo Catchana | Vitor Afonso DOXA | Abel Pereira | Carlos André | Carlos Marques | Castanheira |Ricardo Fernandes | Tiago Conceição ENP | Filipe Gui | Hugo Faria | Milhazes Ermis Aradippou | Pedro Lopo Ethnikos Achnas | António Oliveira | Marco Paixão | Vítor Lima Nea 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Barroca | Nélio | Thierry Moutinho Sion | André Marques | José Gonçalves Stade Nyonnais | David Marques | Michael Leal | Ricardo da Silva Thun | Nelo Yverdon | Dany da Silva Zurique | André Gonçalves | David da Costa | Jorge Teixeira Videoton | Filipe Oliveira | Marco Caneira FRANÇA Auxerre | Marco Ramos Châteauroux | David de Freitas Cherbourg | Pinto Borges Créteil | Pedro Oliveira Lorient | Pedrinho Lyon | Anthony Lopes Sochaux | Rafael Dias | Vicent Nogueira Toulouse | Yannick Djaló US Boulogne | Stanislas Oliveira US Lusitanos | Hélder Esteves CHINA UCRÂNIA Arsenal Kyiv | Pelé Chornomorets | Tiago Terroso | Artur Dínamo Kiev | Miguel Veloso Metalurh Donetsk | China CAZAQUISTÃO HOLANDA Roda | Danilo Pereira Twente | Daniel Fernandes BRASIL Flamengo | Liedson Fluminense | Deco Atyrau | Fausto Lourenço BULGÁRIA Beroe | Alberto Louzeiro | David Caiado | Élio Martins | Livramento | Pedro Eugénio Chernomorets | Pedro Mendes CSKA Sofia | Tengarrinha Levski Sofia | Cristóvão | João Silva | Nuno Pinto Loko Plovdiv | Serginho IRÃO Tractor Club | Anselmo | Flávio Paixão | João Vilela Zob Ahan | Hugo Machado LUXEMBURGO SÉRVIA ROMÉNIA CHILE Colo-Colo (sub-19) | Marcelo Paulino Infografia: Bruno Teixeira | Joaquim Rebelo Brasov | Bruno Madeira | Nuno Viveiros | Pedro Taborda | Ricardo Machado Cluj | Cadú | Camora | Celestino | Diogo Valente | Ivo Pinto | Mário Felgueiras | Nuno Claro | Nuno Diogo | Rui Pedro Gloria | Bragança Pandurii | Pedro Mingote Petrolul Ploiesti | Geraldo Alves Rapid Bucareste | Filipe Teixeira | Rui Duarte Turnu Severin | Hugo Moutinho Univ. Cluj | Paulinho Vaslui | Davide | Fernando Varela Jagodina | Marcelo Santiago Vojvodina | Moreira ANGOLA Caála | Edson Silva | Ito | Jorge Vidigal | Mangualde | Marinho | Maurício | Nuno Rodrigues | Vado Interclube | Bryan | Daniel Lara | Hugo Firmino | Nuno Fonseca | Tiquinho Kabuscorp | Cláudio | Hugo Marques Libolo | Ari Oliveira | Carlitos | Fernando | Lameirão | Manú | Pedro Ribeiro | Ruben Gouveia | Valdir Nacional Benguela | Testas | André Barata | Jaime Linares | Mário Costa | Rossano ESLOVÁQUIA MSK Zilina | Guima | Ricardo Nunes Differdange | André Rodrigues | Pedro Ribeiro | Yannick Bastos Dudelange | Bruno Matias | Daniel da Mota | Joel Pedro Etzella | Gilson Delgado Fola Esch | David Veiga | Maikel Veloso | Rui Peixoto Grevenmacher | Daniel Brandão | Dany | Gabriel Gaspar | Mika Jeunesse Canach | Augusto Roxo | Ferro | Luís Alvites | Marco Semedo Progrés Niederkorn | Arthur Carvas | Bruno Costa | Cédric Sousa | Daniel Vieira | David Soares | Jorge Ribeiro | José Vieira | Michael Oliveira | Miguel Araújo | Paulo da Costa | Ricardo Rocha Union 05 | Flávio Pina | Keiven US Sandweiler | Jorge Machado Beijing Guoan | Manú Benfica de Macau | Amorim | Daniel Melo | Edgar | Fábio Silva | Filipe Duarte | Iuri Capelo | João Guedes | Pedro Pires | Vinício Alves Casa do FC Porto | Daniel Ferreira | Francisco Cunha | Francisco do Rosário | Helder Ricardo | Henrique Street | Lino Lopes | Mané | Nuno Capela Dalian Shide | Ricardo Esteves Lam Ieng | Leonardo Im de Abrantes | Miguel Sou Lam Pak | Emmanuel Noruega | Plíneo Souza MFA Development | Eduardo Tong | Henrique Afonso Monte Carlo | Domingos Chan PSP Macau | Herculano Soares Windsor Arch Ka I | Alexandre Matos | Paulo Conde | Ricardo Torrão 49 JOGADORES 17 13 é o número de jogadores portugueses ao serviço do FC Lusitanos, clube de Andorra, fundado por emigrantes lusos em 1999 e que já conseguiu sagrar-se campeão nacional deste principado. Brasileirão só conta com 2 portugueses. Falamos dos luso-brasileiros Deco e Liedson. O Para muitos é o melhor jogador do Mundo. É português, dá pelo nome de Cristiano Ronaldo e joga em Espanha, no Real Madrid. Também se fala português nos relvados finlandeses. Hugo Magalhães joga no Oulu. Segundo um relatório da FIFA, Portugal foi o quarto maior semestre de 2012, com exportador mundial de futebolistas (portugueses e estrangeiros) no primeiro 157 jogadores. Só o Brasil (230), a Inglaterra (186) e a Argentina (174) superaram os números lusos. Marcelo Paulino é o único português a jogar no Chile. Alinha no Colo-Colo (sub-19). 33 é o número de nações que contam com jogadores portugueses nos seus campeonatos. China é longe mas não atemoriza o espírito aventureiro os jogadores portugueses. 30 atletas lusos alinham na liga chinesa. Anselmo, Flávio Paixão, João Vilela (todos no Tractor) e Hugo Machado (Zob Ahan) são o O quarteto português presente no Irão. Cluj, da Roménia, tem 9 jogadores portugueses e o Desportivo da Corunha 8 atletas originários de Portugal. Fausto Lourenço e Tobias Guerreiro são os únicos portugueses nos campeonatos principais do Liechtenstein respectivamente. dossier Na Cazaquistão e do Noruega não há só bacalhau, há também 1 jogador português na liga norueguesa. É o Nuno Marques e joga no Notodden. David Beckham ou Thierry Henry são estrelas na liga norte-americana mas Portugal não poderia deixar de estar representado. Viana alinha no Real Salt Lake. 70 Davide Chipre jogadores, é o país que mais importa futebolistas portugueses. AEK Limassol e Ayia Napa, ambos com sete jogadores, são os Com clubes cipriotas que mais apostam no mercado luso. 18 JOGADORES 49 49 JOGADORES 19 ANSELMO “Quando estamos fora damos mais valor ao que temos” Aos 28 anos Anselmo vive a sua primeira experiência fora de Portugal e logo num país no mínimo exótico (tendo em conta os padrões europeus). O avançado assinou por dois anos com os irarianos do Tractor. Viveu um grande susto no Irão devido a um sismo. Como é que foi? Quando decidi ir para o Irão foi também com o objectivo de viver uma nova experiência de vida e absorver uma nova cultura. Agora, num tom de brincadeira, posso dizer que tive mais uma experiência que foi essa de viver um sismo. Naquele momento foi assustador. Estava em casa e esta tremia por todo o lado. O primeiro sismo foi por volta das 17 horas e depois houve outro uma hora depois. dossier Estava sozinho? Não, estava em casa do Flávio Paixão, num quinto andar, com ele e com o João Vilela [também jogadores do Tractor] a prepararmo-nos para ir para o treino que depois foi cancelado. E depois? No Irão, a quinta e a sexta-feira são como se fosse o fim-de-semana e nestes dias os iranianos têm o hábito de dormir em tendas nos jardins das cidades. No dia do sismo, acho que mais de metade da população deve ter dormido na rua. Ficámos uma noite na rua e depois fomos para a minha casa que é no mesmo prédio da do Flávio Paixão mas no primeiro andar e dá inclusive para sair pela janela em caso de emergência. 20 JOGADORES 49 A nível pessoal e profissional como está a correr a integração ao Irão? É um país difícil e é necessário ter uma boa resistência psicológica para aguentar aquela realidade. O estilo de vida é diferente, há muitas restrições... passámos lá o mês do Ramadão e nesse período não podemos comer ou beber na rua. Durante os treinos íamos ao balneário beber líquidos. Todos sabem que vamos beber mas não o podemos fazer em público. Mas é uma experiência diferente e da qual não me arrependo. Quando estamos fora damos mais valor ao que temos. emigrante mas surgiu a oportunidade e era boa e aceitei. E em termos de clube? É fascinante. Em todos os jogos — são quase todos às 10 da noite — temos cerca de 50, 60 mil espectadores e as mulheres não podem ir ao estádio. Os nossos adeptos são fanáticos. É uma espécie de Vitória Guimarães mas com muito mais gente. Apoiam os jogadores ao máximo e há uma grande interacção entre adeptos e jogadores. Sentimo-nos num grande clube. Na rua pedemme para tirar fotos... o povo é muito prestável e hospitaleiro. Comunicam em que língua? Em inglês. Na equipa há quatro ou cinco jogadores que falam bem inglês. Temos ainda a vantagem de ter um treinador português [Toni] e um tradutor que fala muito bem português. É a sua primeira aventura no estrangeiro. Tem espírito de emigrante? Sempre achei que dificilmente emigraria. Não tenho espírito de A ida para o Irão foi mais opção ou uma necessidade? Foi uma opção. Em termos desportivos e financeiros foi uma boa oportunidade para mim. Como foi recebido pelos companheiros de equipa? Muito bem. No Irão há uma regra, que devia ser implementada em Portugal, que diz que só podem jogar quatro estrangeiros. Fora dos treinos, o Anselmo, o Flávio Paixão e o João Vilela costumam dar-se com os jogadores iranianos? Lá não há a cultura de jantares de equipa. Damo-nos muito com o iraniano que esteve muito tempo na Holanda. Os preços dos produtos são idênticos nos dois países? A gasolina no Irão é baratíssima. Pagamos cerca de oito euros para atestar um depósito de 80 litros. Os bens de primeira necessidade também são mais baratos. Qual é o prato típico no Irão? É o Kebab, uma espécie de fatia de carne no prato de frango ou de borrego com arroz. Eu geralmente vou aos restaurantes mais internacionais. Continua a seguir a Liga portuguesa? Sim, pela RTP Internacional e por outros canais de satélite e ainda pelos sites portugueses. Qual a importância das redes sociais para quem está a jogar no estrangeiro? Não sou viciado em redes sociais mas quando estou em casa tenho-as sempre ligadas. O telefone é muito caro. Mesmo no estrangeiro, sente-se apoiado pelo SJPF? Sim, sem dúvida. Desde a chegada de Joaquim Evangelista à presidência do Sindicato que se registou um processo evolutivo grande no Sindicato, na força deste com as instituições. Penso também que os jogadores estão a cooperar mais com o Sindicato porque acreditam mais neste e veêm que o trabalho está a ser bem feito. SJPF 49 JOGADORES 21 notícias Messi abriu a votação para o FIFA FIFPro World XI Cristiano Ronaldo | Real Madrid Lionel Messi | Barcelona Pepe | Real Madrid F. Coentrão | Real Madrid João Tomás | Rio Ave Nuno Silva | Leixões Anselmo | Tractor João Vilela | Tractor Laranjeiro | Freamunde Rúben | Portimonense Cunha Rodrigues preside Controlo Financeiro da UEFA Fotos FIFPro e SJPF “É um prémio enorme pelo que significa, ou seja, são os teus próprios colegas de profissão que votam. Qualquer jogador pode ganhar e é, sem dúvida, um excelente prémio”, explicou a estrela argentina do Barcelona após colocar o seu voto na urna. Anualmente, a FIFPro visita o Melhor Jogador do Mundo em título para que este inicie a votação. Nos últimos três anos, este papel foi desempenhado por Lionel Messi. A FIFPro distribuiu 45 mil boletins de voto pelos sindicatos de futebolistas profissionais de África, Ásia e Europa. Em Portugal, os futebolistas das ligas Zon Sagres e II Liga já começaram a preencher os boletins distribuídos pelo Sindicato de Jogadores. Atletas do Atlético, Leixões, Freamunde, Portimonense e Rio Ave, entre outros, já exerceram o seu direito de voto. Também os portugueses a alinhar no estrangeiro votaram nos seus eleitos. Ronaldo, Pepe, Coentrão, Anselmo e João Vilela, entre outros, deram o exemplo. Refira-se que o onze ideal terá que obrigatoriamente ser composto por um guarda-redes, quatro defesas, três médios e três avançados. A equipa escolhida será anunciada na gala da Bola de Ouro que decorrerá a 7 de Janeiro de 2013, em Zurique, na Suíça. O antigo procurador-geral da República é o novo responsável máximo da Instância de Controlo Financeiro da UEFA. O até agora juiz do Tribunal de Justiça da União Europeia, função que desempenhava desde 2000, aceitou o convite endereçado em Junho por Michel Platini, presidente da UEFA, para presidir a Instância de Controlo Financeiro da UEFA e assim ficar responsável pelo órgão que regulará o licenciamento de clubes e o fair play financeiro até 30 de Junho de 2015. A Instância de Controlo Financeiro é composta por uma câmara de instrução dirigida pelo inquiridor principal e por uma câmara de julgamento dirigida pelo presidente. Tem competência para aplicar medidas disciplinares em caso de incumprimento das regras estabelecidas e tomar decisões em processos relativos à qualificação dos clubes para as competições da UEFA. As suas decisões poderão ser objecto de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto, com sede em Lausana, na Suíça. SJPF na comissão para a Formação de Agentes Desportivos A sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) foi o palco da primeira reunião da comissão para a Formação de Agentes Desportivos. O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) esteve representado por Joaquim Evangelista. A comissão para a Formação de Agentes Desportivos, presidida por Rui Manhoso (vice-presidente da FPF), é composta por sete a 10 elementos e terá cinco secções: Jogadores Amadores e Futebol Jovem; Jogadores Profissionais; Treinadores; Árbitros; e Dirigentes. O SJPF indicou como seu representante para a referida comissão o jurista João Lobão, o qual presidirá à secção Jogadores Profissionais. 22 JOGADORES 49 49 JOGADORES 23 Gabinete Jurídico esclarece Texto: João Lobão (Jurista) Salários em atraso e Fundo de Garantia Salarial na I e II Liga Tens uma responsabilidade acrescida. Actua de forma e em tempo oportuno. Nada fazer beneficia o infractor e prejudica-te. O incumprimento salarial é, infelizmente, uma prática recorrente em Portugal. O Sindicato tudo tem feito para erradicar este fenómeno e minimizar os seus efeitos mas não depende exclusivamente de si. O respeito pelos contratos deve ser a regra e não a excepção. Para precaver esta situação foram, entretanto, criados mecanismos legais que permitem, em tempo oportuno, evitar ou corrigir esta situação que tem consequências graves para o jogador quer profissional quer, sobretudo, pessoalmente. Muitos jogadores no final da época ou quando o clube os confronta com esta questão aceitam celebrar acordos de pagamento ou declarar que nada lhes é devido quando tal não corresponde à verdade. Desta forma os clubes continuam, aparentemente, a competir regularmente e os clubes que cumprem escrupulosamente as suas obrigações são penalizados. Compreende-se que a maioria das vezes exista uma razão para o jogador assumir esta atitude — a dependência económica, a estima pelo clube ou dirigentes, a pressão dos sócios, receio, etc — mas ela tem consequências. Na verdade quem aceita o incumprimento salarial nada fazendo ou pactuando com ele, limita as suas opções legais. É, pois, uma decisão pessoal (ou colectiva) que deve ser ponderada em cada momento. Assim, para te ajudar a fazê-lo da melhor maneira deixamos-te um conjunto de informações necessárias sobre esta matéria. 24 JOGADORES 49 1. Controlo Financeiro de Dezembro. Obrigação dos clubes/SAD • Até 15 de Dezembro, os clubes/ SAD têm de comprovar o pagamento dos salários devidos por contratos de trabalho desportivo, bem como contrato de formação, devidos entre 31 de Maio e 10 de Novembro de 2012, relativamente aos jogadores que integrem o plantel da época desportiva em curso. • Esta prova é feita através da apresentação dos recibos assinados pelos jogadores, dos recibos das remunerações dos jogadores juntos aos documentos que comprovem a realização dos depósitos ou transferências bancárias respectivas ou de declarações assinadas pelos jogadores certificando que se encontram com os salários regularizados. • Os clubes que não façam esta prova ficam impedidos de registar novos contratos de jogadores ou renovar os existentes e são sancionados com a perda de pontos a fixar entre o mínimo de dois e um máximo cinco pontos. • Os jogadores que aceitem subscrever documentos que não correspondem á verdade ficam impedidos de reclamar as verbas em falta. 2. Queixa do jogador por salários em atraso O jogador, de modo próprio, pode apresentar queixa fundamentada por salários em atraso à Comissão Executiva da Liga. Neste caso o impulso é do jogador e cabe à Comissão Executiva da Liga notificar os clubes para no prazo de 15 dias apresentarem os documentos comprovativos do pagamento das remunerações. A queixa pode ser apresentada a todo o tempo e deve ser fundamentada. 3. Pré-aviso e rescisão contratual Quando, apesar das tentativas de regularização, a situação de incumprimento se mantiver o jogador pode optar por formas mais eficazes da defesa dos seus direitos. a. Pré-aviso Pode o jogador, numa primeira fase, quando o atraso no pagamento do salário seja superior a 30 dias, interpelar por escrito o clube/SAD para pagamento. O clube tem três dias uteis para o pagamento do salário em dívida. Caso a entidade patronal não proceda ao pagamento do salário nos três dias uteis subsequentes ao recebimento do Pré-aviso, poderá então o jogador avançar para a rescisão do contrato com justa causa. b. Rescisão Quando o incumprimento salarial se estende por um período superior a 60 dias, o jogador, fundamentando a sua posição, pode promover a rescisão do contrato de trabalho desportivo. Neste caso, dada a gravidade da situação, a rescisão é imediata. 4. Fundo de Garantia salarial Para fazer face ao incumprimento salarial nas competições profissionais (I e II Ligas) o SJPF sensibilizou a Federação e a Liga para a constituição de um Fundo de Garantia Salarial. O Fundo compreende um conjunto de regras que têm de se verificar para ser atribuído. Assim, sem prejuízo de melhor esclarecimento, deixamos-te o essencial sobre esta matéria. • Os salários abrangidos são os decorrentes de contratos de trabalho desportivo registados na Liga e na Federação, celebrados a partir de 1 de Julho de 2012; • Os salários devem estar em atraso há mais de 60 dias e há menos de 160 dias; • O jogador não pode ter assinado declarações aceitando o pagamento em data posterior; • O valor mensal pago pelo Fundo, até ao montante máximo de 5 vezes é correspondente ao salário mínimo da categoria (I Liga: 1455,00 euros; II Liga: 848,75 euros); • O jogador deve fazer o pedido através de requerimento dirigido ao sindicato; • A LPFP dá 3 dias úteis ao clube/SAD para fazer prova do pagamento. Para requerer a intervenção do Fundo de Garantia Salarial deves preencher o respectivo requerimento e entregar o mesmo nas instalações do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Apôs o preenchimento e entrega do requerimento no SJPF, a Liga vai notificar o clube para pagar os salários em dívida. Caso o clube mantenha o incumprimento é activado o Fundo de Garantia Salarial. O Sindicato resolve Charles Pontes, Rui Miguel Machado de Freitas, Rui Jorge da Silva Freitas, Fernando Jorge Ribeiro Cunha, Luís Carlos da Rocha Rodrigues e João Fernando Lima Ribeiro conseguiram com a ajuda do SJPF resolver a questão que os opunha ao Sport Clube Mirandela, da mesma forma que André Vilas Boas e Hugo Carreira conseguiram também solucionar o diferendo que tinham com o Portimonense. Por fim, Pedro Figueiredo, após a intervenção jurídica do SJPF, receberá uma indemnização fruto de um acidente de trabalho que sofreu quando estava ao serviço do Vitória Futebol Clube. 49 JOGADORES 25 Theo Van Seggelen Secretário-geral da FIFPro FIFPro Ali Bin Al Hussein Vice-presidente da FIFA Walter Palmer Secretário-geral da UE Athletes Piara Powar Director-executivo do FARE Takuya Yamakazi Japan Pro-Footballers Association Bob Fosse MLS Players Union Sindicato no Congresso anual Novos membros FIFPro República Checa 26 JOGADORES 49 Croácia Montenegro Ucrânia Joaquim Evangelista, presidente da direcção do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), e João Nogueira da Rocha, presidente do Comité de Regulamentação da FIFPro, representaram o SJPF no Congresso Anual da FIFPro que decorreu em Washington, nos Estados Unidos da América. Da agenda de trabalho constaram, entre outros, os seguintes temas: Apresentação da MLS (Major League Soccer); Relatório e Contas de 2011/2012 e Orçamento 2012/2013; Cooperação Institucional FIFPro com Interpol, WADA, FIFA, UEFA, Global Union; Estrutura interna da FIFPro; Estatutos da FIFPro: alterações; FIFPro World XI; FARE (Football Against Racism in Europe); Match Fixing; Comités FIFPro; Third Party Ownership; Protecção de menores; Insolvência e bancarrota dos clubes; e FIFPro On Line Academy. Destaque especial para o ingresso de quatro sindicatos – Croácia, Montenegro, República Checa e Ucrânia – no seio da FIFPro e aos quais o SJPF acolhe com o maior agrado desejando naturalmente as maiores felicidades. Com estas quatro entradas, a “família FIFPro” passa a ser constituída por 49 membros e seis candidatos a membros. Fotos de Stephane Saint Raymond 49 JOGADORES 27 Futbolistas Argentinos Agremiados CARLOS PANDOLFI “A violência é o maior problema na Argentina. EXIGIMOS PROTECÇÃO” Fundado a 2 de Novembro de 1944, o Futbolistas Argentinos Agremiados (FAA) é um dos sindicatos de jogadores mais influentes a nível mundial. Na estreia da rúbrica FIFPro Who’s Who apresentamos Carlos Pandolfi, um dos destaques da entidade alviceleste. Quais as funções que desempenha no Futbolistas Argentinos Agremiados (FAA)? Sou o tesoureiro e ainda presidente do Serviço Social e da fundação O Futebolista. Quais são os principais serviços prestados pelo FAA? O FAA presta todos os serviços relacionados com a actividade sindical, em defesa dos interesses dos seus associados. O Serviço Social apoia todos os associados e respectivas famílias a nível médico. Temos ainda o Instituto de Medicina del Deporte y Rehabilitación (IMDYR), único na América do Sul, equipado com equipamento de última geração e onde também se faz pesquisa e docência. Já a Fundação O Futebolista prepara o jogador para o pós-futebol. São ministrados gratuitamente cursos de línguas (inglês, francês, italiano e português), de culinária, etc e promovidas conferências para que a retirada seja menos traumática. Quais são os maiores problemas que afectam os jogadores na Argentina? A violência é hoje o maior problema 28 JOGADORES 49 a afectar os jogadores na Argentina. Quando os resultados não são os melhores, os jogadores são ameaçados pelos adeptos, tanto nos treinos como nas concentrações. Exigimos protecção por parte das autoridades policiais para que os jogadores desenvolvam com tranquilidade a sua actividade. Os salários em atraso são também um problema na Argentina? Também na Argentina os jogadores sofrem com os salários em atraso. Nem quando o sindicato argentino denuncia esse incumprimento conseguimos que paguem de imediato aos jogadores. O FAA tem alguma acção dedicada a jogadores desempregados? Temos uma equipa técnica a trabalhar diariamente. Este ano conseguimos colocar mais de 40 jogadores nos mais variados clubes — 13 deles estiveram presentes no Torneio FIFPro America 2012. Como acompanha o trabalho da FIFPro? E da Divisão América? Na FIFPro estamos presentes na Comissão de Estratégia da Divisão América participando com a nossa experiência para que todos possam usufruir das nossas conquistas em benefício dos jogadores. Quais as mudanças mais importantes que se registaram no futebol desde que ingressou no sindicato? Muitas, como por exemplo o grande negócio em que se converteu o futebol que movimenta verbas exorbitantes e que cresce diariamente, fundamentalmente graças aos direitos televisivos. Em relação a esta matéria devemos avançar em conseguir uma percentagem para quem é a parte deste jogo, ou seja, os jogadores. Em segundo, os contratos. Hoje em dia os jogadores têm muito mais direitos do que antigamente. Uma consequência das muitas lutas protagonizadas e reivindicadas pelos jogadores. Um exemplo é a FIFPro. Nas primeiras reuniões em que participei, em 1980 e 1981, éramos seis ou sete países e agora somos 55. A FIFA reconhece-nos como entidade e esse foi um passo muito importante para os jogadores. Temos muito em comum. Ambos somos entidades que têm sabido fortalecerse enquanto sindicatos e que têm entendido a problemática dos seus associados. A entrega, a seriedade, a dedicação e fundamentalmente as convicções de todos os que integram os sindicatos são e serão parte fundamental para que continuem a proporcionar mais benefícios para todos os seus associados. Uma mensagem para os argentinos que estão a jogar em Portugal. Estamos orgulhosos ds futebolistas argentinos que jogam em Portugal. São verdadeiros embaixadores desportivos. O seu desempenho fará com que os clubes portugueses continuem a olhar para a Argentina como um fornecedor de futuras gerações de jogadores de futebol. À distância, saudações cordiais para todos. Qual a sua opinião sobre o trabalho do SJPF? 49 JOGADORES 29 melhor jogador liga zon sagres agosto/setembro melhor jogador ii liga agosto/setembro 1.º Miguel Rosa [Benfica B] 20,6% | 2.º Barry [Oliveirense] 14,4% | 3.º Joeano [Arouca] 7,3% Nome: Miguel Alexandre Jesus Rosa | Naturalidade: Lisboa | Data de nascimento: 13 de Janeiro de 1989 |Posição: médio | Número da camisola: 77 | Clubes: Benfica (formação), Estoril, Carregado, Belenenses e Benfica B 1.º JAMES RODRIGUEZ [FC PORTO] 19,6% | 2.º SALVIO [BENFICA] 13,9% | 3º LIMA [BENFICA] 9,1% Nome: James David Rodríguez Rubio “El Bandido” | Naturalidade: Cúcuta, Colômbia | Data de nascimento: 17 de Julho de 1991 | Posição: avançado | Número da camisola: 10 | Clubes: Banfield (Argentina) e FC Porto | Internacional AA pela Colômbia 30 JOGADORES 49 Gualter Fatia/SL Benfica Hernani Pereira/Liga Portugal JAMES RODRIGUEZ MELHOR JOGADOR MIGUEL ROSA MELHOR JOGADOR 49 JOGADORES 31 melhor jogador jovem liga zon sagres agosto/setembro melhor jogador jovem ii liga agosto/setembro 1.º Miguel Lourenço [V. Setúbal] 49,9% | 2.º Cédric [Sporting] 17,9% | 3.º Diogo Amado [Estoril] 10,8% MIGUEL ROSA MELHOR JOVEM MIGUEL LOURENÇO MELHOR JOVEM 32 JOGADORES 49 Bruno Teixeira/SJPF Bruno Teixeira/SJPF Nome: Miguel Martelo Lourenço | Naturalidade: Lisboa | Data de nascimento: 27 de Maio de 1992 | Posição: defesa | Número da camisola: 44 | Clubes: AD Lisboa, Esc. António Pica e Vitória de Setúbal (formação), Casa Pia e Vitória de Setúbal. 1.º Miguel Rosa [Benfica B] 38,9% | 2.º Bruma [Sporting B] 32,4% | 3.º João Pinho [Oliveirense] 12,3% Nome: Miguel Alexandre Jesus Rosa | Naturalidade: Lisboa | Data de nascimento: 13 de Janeiro de 1989 | Posição: médio | Número da camisola: 77 | Clubes: Benfica (formação), Estoril, Carregado, Belenenses e Benfica B. 49 JOGADORES 33 Estudos versus profissão TARANTINI “Deixar de estudar é desperdiçar uma ferramenta que será útil no futuro” Saltou para a ribalta após os dois golos que marcou ao FC Porto. Tarantini – na realidade o seu nome é Ricardo Monteiro –, 29 anos, médio do Rio Ave, é licenciado em Ciências do Desporto e Educação Física pela Universidade da Beira Interior e um modelo de como conciliar os estudos com o futebol profissional. Foi difícil conciliar os estudos com o futebol ao mais alto nível? Não é impossível mas é necessário muito empenho e vontade. Neste processo tive a sorte de estar rodeado de pessoas certas, principalmente dos treinadores João Cavaleiro, Fernando Pires e João Salcedas. Sentiu-se apoiado pela família e pelos clubes por onde passou para concluir os estudos? Sempre. Os meus pais sempre me incentivaram a concluir uma formação académica e durante os cinco anos da licenciatura o Sporting da Covilhã nunca colocou qualquer entrave à realização do meu percurso académico. Faltam adoptar medidas que facilitem a conciliação do estudo com a profissão de futebolista profissional? Do ponto de vista burocrático é uma situação muito complicada, mas 34 JOGADORES 49 considero que a maior medida deve vir do próprio profissional. A vontade de querer atingir determinados objectivos de vida deve superar o comodismo que esta vida muitas vezes nos proporciona. Não acredito que haja algum treinador ou dirigente que não seja sensível ao facto de um jogador ter que faltar a um ou outro treino por causa dos estudos. A imagem dos grandes jogadores nacionais e internacionais que apresentam uma boa estabilidade financeira que lhes permite encarar o futuro com tranquilidade não é a realidade do nosso futebol (tirando uma percentagem de 50 por cento dos plantéis de três ou quatro equipas em Portugal o que poderá representar cerca de 50 jogadores do futebol profissional). Os restantes têm de estar atentos pois o futebol é uma passagem importantíssima, mas não decisiva nas nossas vidas. Porquê a opção pelo curso de Ciências do Desporto e Educação Física? Porque o Desporto sempre foi a paixão de uma vida. Desde muito novo que me identificava com os profissionais do Desporto, no início mais ao nível do ensino e mais tarde ao nível da gestão. O SJPF está a criar uma estrutura de formação online que combate, em parte, a dificuldade provocada pela mobilidade (mudança de clube ou até de país) dos atletas. Texto: Vitor Crisóstomo | Fotografia: Hugo Delgado/Lusa Parece-lhe uma boa ideia? Tudo o que seja realmente importante para uma rápida adaptação do jogador, mais depressa ele vai estar focado nas tarefas importantes. É uma mais-valia, principalmente no momento em que observamos uma enorme emigração dos jogadores nacionais. O SJPF está também a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. Pode ser algo apelativo para os jogadores? Em alguns níveis considero que possa ser bastante apelativo, principalmente para aqueles que estão interessados, mas que infelizmente têm ou passem por maiores dificuldades financeiras. Se assim for pode-se concluir que os custos estão na base da decisão de não estudar, caso contrário o problema permanece e o caminho de resolução não é por aí. Um jogador com formação académica e até mesmo superior torna-se um melhor jogador? Acho que não tem uma influência directa, contudo além de me ter fornecido um plano B na minha vida, este percurso fez-me valorizar questões como o trabalho, empenho, persistência, determinação, compromisso, que de facto são valores que se foram solidificando e que contribuem para nossa profissão. É visto pelos seus colegas como um exemplo? Dá-lhes conselhos para não abandonarem os estudos? Durante todo o meu percurso fui visto como um caso real do que é esta combinação Futebol-Estudos, e daí presumo que seja um exemplo, apesar de sentir a irrelevância que esta situação tem para muitos (sinto que estes devem pensar: mas que contributo têm os estudos na minha vida se eu vou ser o próximo Cristiano Ronaldo e vou ganhar muito dinheiro?). Sempre lhes digo para recomeçarem ou não abandonarem os estudos mas é uma tarefa muito difícil, há muita passividade no meio. Abandonar os estudos precocemente é uma das pragas de quem quer ser futebolista profissional? Sem dúvida. Definitivamente porque são mal orientados desde muito novos. Há muitos jogadores, atenção! com legitimidade, a querer chegar a um nível alto, mas poucos o vão conseguir, e deixar de estudar é desperdiçar uma ferramenta que será útil no futuro, seja para aqueles que consigam ou para aqueles que nunca o vão conseguir. Tarantini Idade: 29 anos Posição: Médio Clubes: Sporting da Covilhã, Gondomar, Portimonense e Rio Ave 49 JOGADORES 35 o capitão ALEX “Tenho um grande orgulho em ser capitão do Vitória” Formado no Vitória de Guimarães, Alex encarna a alma vimanarense. Capitão de equipa explica o seu orgulho em capitanear o grupo de trabalho e como procura transmitir a mística do Vitória. A nível colectivo que balanço que faz da época até ao momento? Ainda é um pouco cedo para fazer um balanço mas as coisas estão a correr bem. É positivo estarmos bem classificados tanto mais sabendo que esta temporada o Vitória mudou a sua filosofia. E a nível pessoal? Ainda estamos no início da época mas para já as coisas estão a correr bem. Ainda estou à procura do melhor momento e trabalho diariamente para que esse momento chegue. Obviamente que ainda não estou no meu melhor nível, tudo leva o seu tempo. Lá mais para a frente, com todo este trabalho irei apresentar outro nível, tanto eu como os meus colegas. 36 JOGADORES 49 É o capitão do Vitória de Guimarães. Como foi escolhido para o cargo? As escolhas partem da direcção e têm a ver com a longevidade e com o tipo de atleta em causa e com o seu tipo de personalidade e carácter. Neste caso, somando estes factores e sendo eu um dos mais antigos a direcção optou por me escolher. Gosta de ser capitão? Tenho um grande orgulho em ser capitão do Vitória. Sou natural de Guimarães, formei-me neste clube e sou apaixonado por este clube. Quais são as principais características de um bom capitão? No Vitória uma das características obrigatória é que tem de prevalecer o colectivo em prol do individual e esta mensagem tem que ser passada para o grupo de trabalho. Tentar unir todos em volta de um objectivo e procurar um bom funcionamento no dia-a-dia. Basicamente é fazer ver aos que cá estão e aos que chegam que o clube está acima de qualquer individualidade. Tenho um papel importante nessa matéria e, como já disse, no bom funcionamento do grupo de trabalho e dos valores que o clube pretende incutir dentro da sua filosofia. e do Flávio Meireles. O Flávio, para além de meu amigo, é um profissional exemplar e que como capitão deixou marcas dentro da estrutura. Considera-se uma peça-chave na gestão do balneário? Não diria tanto, sou apenas mais um com responsabilidades acrescidas. Todos são importantes. Sou apenas mais um com as responsabilidades normais de um capitão de equipa e conto com todos para que no final o grupo de trabalho saia vencedor. Como tem visto a actuação do Sindicato no futebol português? Tem sido uma actuação positiva, próxima dos grupos de trabalho. Já trabalho com o sindicato há muito tempo e vejo que ano após ano, o sindicato tem-se desenvolvido a bom nível. Tem revelado grande proximidade com os grupos de trabalho na tentativa de perceber se está tudo bem e por isso o sindicato merece a minha nota positiva. Como capitão qual o seu papel na integração dos novos jogadores no clube? Quem chega depara-se com uma nova realidade e parte do capitão e dos jogadores que estão no clube há mais tempo a responsabilidade de integrarem os novos elementos o mais rápido possível e fazê-los ver de que o Vitória é um clube diferente com características especiais. Há algum capitão de equipa que tenha como exemplo? Felizmente tive a oportunidade de integrar bons grupos de trabalho e com grandes capitães. Aqui no Vitória trabalhei com dois capitães que foram grandes exemplos, falo do Cléber Já alguma vez precisou de recorrer ao sindicato? Recorrer oficialmente não mas já me aconselhei várias vezes com o sindicato. Felizmente que ao longo da minha carreira nunca tive grandes problemas mas as vezes há questões jurídicas que não dominamos e por isso o sindicato é muito importante. Domingos Alexandre M. Costa Idade: 33 anos Posição: Defesa Clubes: Fafe, Moreirense, Benfica, V. Guimarães, Benfica, Wolfsburg (Alemanha) e Vitória de Guimarães Texto: Vitor Crisóstomo | Fotografia: Pedro Lima/ASF 49 JOGADORES 37 ÁREA TÉCNICA MARCO SILVA “É muito importante o relacionamento equipa técnica/jogadores” Na época passada, Marco Silva agarrou o Estoril na 14.ª posição e em apenas sete jornadas levou os canarinhos à liderança da II Liga. Sagrou-se campeão e esta temporada é o técnico mais jovem da I Liga. Na I e II ligas só há dois treinadores estrangeiros (Vercauteren, no Sporting, e Jokanovic, no União da Madeira). É sinal do valor do treinador português? Sim, não há dúvidas de que o treinador português tem muito valor. Isso está mais do que provado, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Não é por acaso que, pelo menos os clubes profissionais, não têm dúvidas em apostar no treinador português. Isto não quer dizer que não se deva apostar também em estrangeiros de qualidade que acrescentem algo ao nosso futebol. Esses também são sempre bem-vindos. Os treinadores portugueses estão mais qualificados ou assistiu-se a uma mudança de mentalidade por parte dos dirigentes que começaram a olhar para os treinadores portugueses de modo 38 JOGADORES 49 diferente? Vou mais pela segunda opção. Não faço uma barreira entre gerações. Quem tem valor tem, não interessa a idade, se é mais novo ou mais velho. Não há que ter medo de apostar nos mais novos ou de dar continuidade a quem tem mais experiência. O que é certo é que tem muito a ver com a mentalidade de quem dirige. A reintrodução das equipas B é bom para a competição? Sim. Podemos questionar a forma como entraram directamente para a II Liga mas acredito que no campo da notoriedade foi muito importante. O campeonato ficou mais longo – para quem dificuldades financeiras a situação ficou mais apertada – mas em termos de notoriedade, acima de tudo para o futebol jovem português, foi muito importante. Há também mais jogos da II Liga a serem transmitidos na televisão, ou seja, a competição ganhou visibilidade. O horário dos jogos tem influência no rendimento dos atletas? Qual a sua hora preferida para a sua equipa jogar? Acho que não. É tudo uma questão de hábito. São mais importantes as questões climatéricas do que a hora do jogo em si. Não tenho qualquer hora preferida. Texto: Vitor Crisóstomo | Fotografia: Helena Valente/ASF Foi jogador profissional. Nota que o futebol mudou com o passar dos anos? Mudou e bastante. Costumamos dizer que está tudo inventado no futebol mas o futebol tem evoluído muito. Está cada vez mais difícil em termos de tempo e espaço. Cada vez mais os jogadores têm de executar mais rápido. As equipas estão muito melhores tacticamente e o fosso entre os grandes e os pequenos é mais pequeno. O futebol mudou, quer táctica quer mentalmente. A relação treinador/jogador tem vindo a alterar-se? Muda consoante o treinador e a sua mentalidade. Sem dúvida que a relação mudou. Eu gostava muito quando tinha treinadores que mantinham um bom relacionamento com os jogadores, independentemente da hierarquia e do respeito que se deve manter. Acho que a melhor forma do treinador também melhorar tem a ver com a maneira como se relaciona com os jogadores. É muito importante o relacionamento equipa técnica/ jogadores. Os dirigentes estão mais pacientes com os treinadores e não recorrem tanto à chamada chicotada psicológica, ou isto é daquelas “coisas” que não há volta a dar? Em Portugal a palavra projecto faz pouco sentido. Fala-se muito do projecto mas os resultados é que ditam tudo. Passadas cinco, seis ou sete jornadas deitam o projecto por água abaixo com uma facilidade incrível. Talvez a própria crise financeira instalada em alguns clubes possa colocar essa realidade mais em causa e permitir maior paciência da parte de quem dirige. Existe algum local ou fórum entre a classe de treinadores para debaterem ideias sobre a profissão? Que eu tenha conhecimento não. Era importante existir um fórum de treinadores para debatermos algumas questões tal como faz a UEFA anualmente com os treinadores da Liga dos Campeões. Tem alguma referência enquanto treinador? Felizmente que ao longo da minha carreira tive bons treinadores e fui absorvendo um pouco de cada um deles para depois juntar áquilo que é a minha ideia de futebol. Mas não quero referir nenhum treinador em particular. Nome: Marco Silva Idade: 35 anos Clubes como treinador: Estoril 49 JOGADORES 39 Apito JOÃO FERREIRA “Ninguém gosta de cometer erros” Com a experiência de 24 anos de arbitragem – 14 dos quais a dirigir jogos no futebol profissional – João Ferreira elogia o estado da arbitragem portuguesa, a passagem desta para a FPF e apoia a profissionalização dos árbitros. Qual é o estado da arbitragem em Portugal? A arbitragem portuguesa atingiu um patamar de reconhecimento internacional sem comparação no seu historial. A nomeação para a final da Liga dos Campeões e a participação no Euro 2012, que culminou com a participação na final, faz do Pedro Proença um dos melhores árbitros do Mundo. O estado da arbitragem em Portugal está ao nível da excelência. Foi benéfica a passagem da arbitragem da Liga para a FPF? Sou um convicto defensor de que a arbitragem deve ser gerida de forma autónoma da entidade que representa os clubes (Liga), pelo que a mudança é de salutar. Na verdade há já uma grande alteração que julgo ser muito profícua: formação comum, simultânea e com os mesmos conteúdos a todas as categorias de árbitros, privilegiando deste modo a partilha 40 JOGADORES 49 de conhecimentos e a uniformização de procedimentos em todas as competições nacionais. Quais são as medidas que devem ser implementadas para melhorar o sector? Profissionalizar o sector. Quais são os grandes desafios da arbitragem? Manter o legado deixado na última época, sobretudo em termos internacionais. Importa também afirmar que esta credibilização que o sector tem junto da UEFA e FIFA deveria rapidamente passar para as mentes dos responsáveis dos clubes portugueses. Todos nós cometemos erros e em todos os jogos. Ninguém gosta de cometer erros. E como avalia o estado do futebol português? Em termos desportivos, o futebol português está saudável como comprova o facto de pela primeira vez Portugal ter seis clubes na fase de grupos das competições da UEFA e da Selecção estar no top 5 da FIFA. No entanto receio que haja também um fenómeno económico menos positivo que arruína esta visibilidade e que se prende com a falta de liquidez de alguns clubes e, consequentemente, o incumprimento salarial. Não é saudável a um profissional não ter a garantia de que irá ter o seu ordenado no fim de cada mês para cumprir os seus compromissos! Como é que deve ser uma relação árbitro/jogador? Deve ser aberta e cordial. O jogador deve saber e sentir que o árbitro está no jogo para o proteger e ao futebol. Por um lado o árbitro deve sentir que o jogador está a dar o seu melhor e que é um profissional que está a defender a sua equipa. Por outro lado o jogador deve saber que o árbitro tem de decidir através das suas capacidades sensoriais e com a ajuda dos seus colegas, e que por vezes é quase impossível ter uma certeza absoluta sobre um ou outro lance. Facilita esta relação se existir e cada momento, respeito! Respeito, porque cada um destes intervenientes está a dar o seu melhor. Respeito pelo adepto, se não existirem simulações para enganar (pura batota). Respeito, garantindo a imparcialidade e valorização do futebol, com desempenhos assertivos por parte do árbitro e da sua equipa. O árbitro não é inimigo do jogador nem vice-versa. Todos deverão promover, dentro do espectáculo, uma franca e leal conduta, de forma recíproca. Ao longo dos anos tem notado se os jogadores têm mudado o seu comportamento para com os árbitros? Sim, mas também tem mudado o comportamento dos árbitros em relação aos jogadores. Na verdade há uma melhor aceitação das nossas decisões. A generalidade dos jogadores sabem o quão difícil é decidir em escassos segundos, centenas de situações em cada jogo. Sinto que nestes últimos anos há uma empatia generalizada dos jogadores com a maioria dos árbitros. E isso facilita o nosso desempenho e a aceitação das nossas decisões. Ser árbitro é uma actividade apelativa para os jovens? Será tanto mais apelativa quanto mais positiva for transmitida a imagem e importância do árbitro. Recentemente tivemos alguns percalços na cativação de novos jovens, fruto de questões associadas à fiscalidade e que demoveu alguns a entrar nesta actividade. Como formador de arbitragem vejo, a cada época que passa, mais jovens a tirarem a sua formação e entrarem na arbitragem. Mas passados alguns meses, a grande maioria abandona. Isto é resultado de privação que a actividade exige. João Ferreira Idade: 45 anos Associação: Setúbal Profissão: Oficial do Exército Texto: Vitor Crisóstomo | Fotografia: Miguel Nunes/ASF 49 JOGADORES 41 MUNDIAL 2014 opinião “Temos os melhores jogadores e treinadores do mundo. O problema está nos dirigentes e este problema não se resolve a curto prazo. Por isso, é necessário começar a preparar os dirigentes do futuro. E onde estão eles? Hoje, enquanto jogadores de futebol, militam nos clubes dos vários campeonatos.” Eduardo Oliveira/ASF Gustavo pires Presidente do Fórum Olímpico de Portugal Cristiano Ronaldo centenário O avançado português atingiu a centésima internacionalização com a principal camisola da Selecção Nacional no encontro frente à Irlanda do Norte. Cristiano Ronaldo, 27 anos, tornou-se no terceiro jogador português a chegar às 100 internacionalizações (Luís Figo tem 127 e Fernando Couto 110) e o primeiro a alcançar tal marca antes dos 30 anos. Figo atingiu tal registo aos 31 anos e Couto aos 34 anos. A manter a actual cadência, Cristiano Ronaldo irá pulverizar todos os recordes. Desde que se tornou internacional (em 20 de Agosto de 2003, com apenas 18 anos), o capitão da Selecção Nacional nunca falhou uma fase final de uma grande competição de selecções. “Foi em 20 de Agosto de 2003, frente ao Cazaquistão, que vesti pela primeira vez a camisola da nossa Seleção. Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida e um percurso que muito me orgulha pelo que todos juntos, conseguimos. Gostaria de agradecer a todos os que me ajudaram a chegar até aqui” escreveu Cristiano na sua página do Facebook. A sua assiduidade com a Em nome do futuro do futebol camisola das Quinas é notável. Desde a sua estreia apenas não esteve presente em 22 jogos da Selecção. Também no capítulo dos golos, CR7 tem tudo para se tornar no melhor marcador da Selecção de todos os tempos. Neste momento tem 37 golos, menos quatro que Eusébio e menos 10 que Pedro Pauleta, o líder da tabela. Parabéns Ronaldo! Não correu bem a dupla jornada de apuramento para o Mundial do Brasil que inclui a deslocação ao Moscovo para defrontar a Rússia e a recepção à Irlanda do Norte. No primeiro encontro, Portugal não conseguiu superar a formação russa e perdeu por 1-0, mesmo com 72 por cento de posse de bola. Apesar da derrota, a Selecção Nacional partiu optimista para o segundo desafio, com a Irlanda do Norte, no 42 JOGADORES 49 Estádio do Dragão. O jogo até começou em clima festivo dado que assinalava a centésima internacionalização de Cristiano Ronaldo. Mas as contas saíram furadas. Portugal realizou uma exibição muito aquém das expectativas e empatou a uma bola. Com estes resultados, Portugal é agora terceiro classificado no Grupo F, com sete pontos, e está a cinco do líder Rússia. O próximo jogo de Portugal é a 22 de Março de 2013, contra Israel. Eduardo Oliveira/ASF Portugal complica apuramento para o Campeonato do Mundo de 2014 m treinador munido de uma “caixa de ferramentas” como é o “Dossier do Treinador de Futebol”, um oportuno livro de José Carvalho e Paulo Correia com prefácio de Manuel Sérgio e editado pela Prime Books, ganha vantagem competitiva que, certamente, pode determinar um melhor resultado no campeonato. Ele parte de variáveis mais ou menos constantes a fim de prever uma série de acontecimentos que, depois, trata de programar no espaço, no tempo e em função das circunstâncias. Mas não é tudo. Por mais informação que o treinador possa recolher, por mais planeamento que possa elaborar e por mais organização que possa instituir, a sua ação dependerá sempre da vontade do adversário. Quer dizer que não lhe chega prever, planear e organizar. A ação do treinador ultrapassa os mecanicismos do planeamento estratégico e a capacidade de análise das forças em presença. A ação do treinador sustenta-se na capacidade de pensar estrategicamente o jogo que, na sua complexidade, apela à criatividade e intuição que é adquirida através do conhecimento teórico e da experiência prática. É esta capacidade que lhe permite, em tempo útil, encontrar as soluções necessárias à singularidade de cada situação. O problema é que, ao pensar estrategicamente, o treinador ultrapassa a sua própria esfera de responsabilidade e entra no âmbito da responsabilidade do vértice estratégico do clube. Por isso, o sucesso da equipa depende também da qualidade do pensamento estratégico dos líderes dos respetivos clubes que devem ser capazes de gerir a dinâmica das múltiplas polaridades do grande jogo de todos contra todos que é o campeonato. Por isso, se os treinadores necessitam de ter o “sistema básico de vida” do clube a funcionar, necessitam ainda mais de uma superestrutura competente com uma ideia concreta acerca da organização do futuro. Os clubes que ganham são aqueles que têm as melhores lideranças. Quando as equipas claudicam, remeter imediata, sistemática e sucessivamente as culpas para os treinadores representa o descontrolo do presidente que entra em pânico ao primeiro sinal de perigo. E quando ele pede desculpa aos apaniguados para, depois, assumir as consequências despedindo o treinador, prova à saciedade que não tem capacidade para gerir seja o que for. E muito menos um clube de futebol. Temos os melhores jogadores e treinadores do mundo. O problema está nos dirigentes e este problema não se resolve a curto prazo. Por isso, é necessário começar a preparar os dirigentes do futuro. E onde estão eles? Hoje, enquanto jogadores de futebol, militam nos clubes dos vários campeonatos. Talvez seja tempo do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol começar a pensar no assunto. Muito jogadores querem continuar ligados ao futebol. Mas nem todos querem ou podem ser treinadores. A formação de dirigentes desportivos profissionais é uma porta que o Sindicato podia abrir aos seus associados. Em nome do futuro do futebol. 49 JOGADORES 43 jovens talentos Sporting B | Extremo | 19 anos DAVID SIMÃO Emprestado pelo Benfica ao Marítimo, David Simão é um dos jovens médios mais promissores da I Liga. 44 JOGADORES 49 Pedro Trindade Veloz a pensar e a executar, resistente e raçudo a defender, Ricardo Esgaio é jogador para fazer todo o corredor direito. Tanto a defender como a atacar, Esgaio é uma garantia para qualquer treinador. A continuar com este desempenho o seu objectivo de um dia jogar na formação principal do Sporting – o seu clube do coração, como diz – está cada vez mais perto. Natural da Nazaré, Esgaio começou a jogar nos Nazarenos mas ainda como infantil transferiu-se para o Sporting. Actuando na posição de extremo direito sagrou-se campeão nacional de iniciados. Nos juvenis foi transformado num lateral direito capaz de fazer toda a faixa. Ainda com idade de júnior, participou na pré-época da equipa sénior. Esgaio elege Maicon (Manchester City) como o seu jogador preferido e o Barcelona como o seu clube de sonho. Não esconde também que um dia gostava de jogar ao lado de Cristiano Ronaldo e de ser treinado por José Mourinho. Esta época, Esgaio foi incluído no plantel da equipa B do Sporting. Voltou a alinhar como extremo direito, uma posição que de resto nunca abandonou já que, apesar de jogar a defesa direito no Sporting, nos diversos escalões das selecções nacionais nunca deixou de alinhar a extremo direito. E o seu avançar no terreno tem dado resultados: dez golos em 11 jogos! RICARDO ESGAIO À 11.ª jornada da II Liga, o jogador leonino liderava a tabela dos melhores marcadores da competição com dez golos. Helena Valente/ASF Marítimo | Médio | 22 anos Desde que subiu a sénior, David Simão representou (sempre emprestado pelo Benfica) o Fátima, o Paços de Ferreira, a Académica e, esta época, o Marítimo. Até à data, o actual número 90 da formação insular ainda não conseguiu concretizar o seu grande sonho – impor-se em definitivo no clube da Luz – e seguir as pisadas do seu ídolo: Rui Costa. David Simão chegou ao Benfica em 1999, proveniente do Grupo de Instrução Musical e Desportivo de Abóboda, e tornou-se uma figura de destaque nos vários escalões da formação – foi inclusive capitão de equipa. Jogador criativo, David Simão gosta de ter a bola e de comandar as operações no meio-campo. A passagem dos juniores para os seniores conferiu-lhe uma maior agressividade na disputa dos lances e sempre que pode não desdenha em utilizar o seu forte remate com o pé esquerdo. Depois de em 2010/11 ter feito um boa época no Paços de Ferreira e de na temporada seguinte ter evoluído na Académica, o criativo benfiquista foi emprestado este ano ao Marítimo. Até ao momento a aposta tem dado resultado já que tem jogado com regularidade no clube insular. A manter esta tendência fica mais perto o regresso de David Simão ao Benfica. 49 JOGADORES 45 As nossas internacionais NEIDE SIMÕES “Emigrar vai permitir-me evoluir como jogadora” Neide Simões, 24 anos, trocou no início desta época o Escola Futebol Clube (emblema de Molelinhos, Tondela) pelos alemães do SC 07 Bad Neuenahr. Com a transferência, a guarda-redes da Selecção Nacional de Portugal enfrenta uma nova realidade, tanto social como desportiva. “No início foi um pouco difícil porque não é fácil vir sozinha para um país onde não se conhece ninguém e onde não se fala a língua. Temme valido o inglês”, explica Neide que, entretanto, está a aprender alemão. Ao contrário do que estava habituada em Portugal, a guardiã treina agora uma ou duas vezes por dia. “Além de treinar mais a maior diferença que encontrei foi a intensidade nos treinos”, adianta. Para Neide, a ida para a Bundesliga foi a concretização de um desejo. “Sempre pensei que gostaria de passar por uma experiência fora do País não só para conhecer outras realidades onde o futebol feminino está mais desenvolvido como para poder evoluir mais enquanto atleta”, revela. Licenciada em Desporto e Actividade Física, Neide começou a jogar futebol federada aos 13 anos. “O gosto pelo futebol já nasceu comigo, talvez por influência do meu pai. Além disso, a minha família sempre me apoiou, tanto nos bons como nos maus momentos, e isso é determinante no futebol feminino porque muitas vezes este é visto como um desporto para homens o que nos faz sentir algo descriminadas. É muito importante sentir que a família está do nosso lado”. À pergunta de “como é ser mulher num desporto dominado por homens?”, Neide não se fica: “É um 46 JOGADORES 49 Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: Carlos Vidigal Jr./ASF prazer e um orgulho porque fazemos ver a muitos homens como se joga futebol”. Apesar da boa disposição, a internacional portuguesa tem noção da realidade. “Para o futebol feminino em Portugal dar o salto é necessário que a Selecção AA feminina consiga apurar-se para a fase final de um Europeu ou de um Mundial [o seu grande sonho]. Dessa forma, as pessoas, a imprensa, todos iriam ver o futebol feminino de outra forma e assim acabariam por chegar mais apoios. Em Portugal é impensável viver-se do futebol porque o futebol feminino é apenas amador mas já na Alemanha pode viver-se do futebol”, explica. Por fim, Neide Simões elogia o papel do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) relativamente ao futebol feminino. “Está a fazer um excelente trabalho e tenho de enaltecer a nomeação de Carla Couto para embaixadora da modalidade pois ela merece dado tudo o que deu à modalidade”. NEIDE SIMÕES Nacionalidade Altura Portuguesa 1,75 m Naturalidade Peso Viseu 60 kg (17/05/1983) Posição Idade Guarda-redes 24 anos Clubes Escola Futebol Clube (Molelinhos, Tondela) e SC 07 Bad Neuenahr (Alemanha) 49 JOGADORES 47 Sporting CP do, 22 anos Belenenses, avança Atlético, defesa, 33 FREDY VÍTOR MORENO Kalibrados Grupo de música favorito? Step Up 3 Um filme? Sumol de ananás América Proibida Coca-Cola Marca de automóveis? Audi Salsa Marca de roupa? Nike PES Jogo de PC ou consola? Moamba de Galinha Jogar playstation Thierry Henry Bombeiro 48 JOGADORES 49 Uma bebida? Lil Wayne Dodge Nenhum em particular anos Raúl Cardoso/ASF Vítor Gracez/ASF Miguel Nunes/ASF Actor e actriz preferidos? Prato favorito? Hobbie? Ídolo? Call of Duty Morgan Freeman Meryl Streep Cachupa Estar com os meus filhos Ronaldo, o Fenómeno Se não fosse futebolista profissional Professor de línguas o que gostaria de ser? 49 JOGADORES 49 clipping opinião “Escuta, Zé-Ninguém, sou, como tu, um apaixonado do futebol. O meu Belenenses vive dentro do meu coração. Mas sei que o futebol é produto, não é causa. Embora também não passe de um Zé-Ninguém para a lógica da economia neoliberal, o pensar ainda não paga imposto...” O Sindicato solidarizou-se com o jogador Luisão Joaquim Evangelista e as dificuldades da nova época SJPF ao lado de Ricardo Quaresma MANUEL SÉRGIO Filósofo do Desporto Escuta, Zé-Ninguém uem quer que esteja lutando pela preservação da vida e pelo futuro dos seus filhos deve necessariamente opor-se ao fascismo, mesmo que mascarado de democracia, tanto da direita como da esquerda. Não tanto porque os fascistas de esquerda, à semelhança dos fascistas de direita, no seu apogeu, tenham uma ideologia assassina, mas porque transformam os jovens em desempregados, em inválidos, em tristes e deprimidos; porque, através de uma informação alienante, exaltam o Estado mais do que a Justiça, a mentira mais do que a verdade e a guerra mais do que a vida”. Estas palavras, com mais de 60 anos, não são da minha autoria. São de Wilhelm Reich, no seu livro Escuta, Zé-Ninguém. E tudo isto, Zé-Ninguém, onde tu também tens algumas culpas. Foram perseguidos ou mortos Sócrates, Jesus de Nazaré, Galileu, Tomás Morus, Giordano Bruno, Mahatma Gandhi, Luter King, Nelson Mandela, Oscar Romero e 50 JOGADORES 49 tantos, tantíssimos mais, ao longo dos anos até hoje, e tu acreditaste e aplaudiste, numa atordoadora vozearia, as hipócritas palavras dos reis e dos ditadores e o cascalhar diabólico do riso de contentamento dos algozes e dos esbirros. Muitas vezes dás a entender de que o que gostas, verdadeiramente, é de ditaduras. Com efeito, o ditador pensa e deseja e decide por ti. Tu ficas com o tempo bastante para beberes uns copos, para jogares às cartas, para navegares na Internet, para discutires o trabalho dos árbitros de futebol e para contemplares, crédulo, acéfalos programas televisivos. E assim vais continuando Zé-Ninguém! Há, em Portugal e num Estado de Direito, 852 000 desempregados e um Orçamento do Estado de tamanha austeridade que a criação de empregos parece quase impossível. Por outro lado, o Governo, por sua vontade, privatizava tudo: a Saúde, a Educação, a Justiça, a Defesa, etc, – enfim, tudo o que pode ser serviço público! Demais, trata-se de um governo de ideologia neoliberal, ou seja, sabe muito de economia, mas de uma economia ao serviço da exploração Jogadores não escapam à austeridade do trabalho, da maximização do lucro e do agravamento das desigualdades. Escuta, Zé-Ninguém, sou, como tu, um apaixonado do futebol. O meu Belenenses vive dentro do meu coração. Mas sei que o futebol é produto, não é causa. Embora também não passe de um Zé-Ninguém para a lógica da economia neoliberal, o pensar ainda não paga imposto... Escuta, Zé-Ninguém, o futebol é sintoma, não é causa! McLuhan disse, um dia, que o mundo se transformou numa aldeia global – a aldeia global do capitalismo neoliberal e do Ronaldo e do Messi e do Neymar e tantos mais, também todos eles, embora inconscientemente, ao serviço da triunfante economia de mercado que proclama, à boca cheia, como Hayek, que o “estado social é o caminho da servidão”. Escuta Zé-Ninguém, não deixes de frequentar os estádios onde joga o clube do teu coração. O futebol é o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo. Mas, lucidamente, criticamente. Como um sujeito, não como um objeto! Congresso anual da FIFPro nos EUA Prémio Liga/SJPF de Melhor Jogador do Mês para James Rodríguez 49 JOGADORES 51 glórias augusto inácio Formado no Sporting, alcançou a glória europeia no FC Porto. Já como treinador devolveu o título nacional aos sportinguistas após 18 anos de jejum. Falamos de Augusto Inácio, um dos melhores defesas laterais da história do futebol português. Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: Lusa Augusto Soares Inácio nasceu em Lisboa, a 1 de Fevereiro de 1955. O pai António, fervoroso adepto do Sporting, não descansou enquanto não levou o petiz Augusto para Alvalade — um desejo que se concretizou quando Inácio tinha apenas 11 anos. No Sporting, Augusto Inácio percorreu todos os escalões de formação do clube e em 1974/75 chegou à equipa principal. Tinha 20 anos quando envergou pela primeira a camisola dos seus sonhos. Foi a 5 de Abril de 1975, frente à Académica, em jogo para a Taça de Portugal. Foi o único encontro de Inácio nessa época devido à feroz concorrência de Manaca e Fernando Tomé para a ala direita e de Carlos Pereira e Baltasar para a ala esquerda. Na época seguinte, Inácio ganhou finalmente a titularidade, tanto a lateral direito como a lateral esquerdo. Em 1977/78, Inácio conquistou 52 JOGADORES 49 a sua primeira Taça de Portugal e consolidou o seu estatuto na equipa. Em 1978/79, o defesa marcou o seu primeiro golo oficial com a camisola verde e branca. Porto. Sentia-se desvalorizado em Alvalade. No clube da cidade Invicta ganhou três campeonatos nacionais, duas taças de Portugal, três supertaças, Saiu do Sporting em 1982 como campeão. Os leões só voltaram a conquistar o título nacional em 2000, quando Inácio, já como treinador, regressou a Alvalade Foi a 3 de Fevereiro de 1979, no encontro Sporting-Sarilhense (3-0) para a Taça de Portugal. Em 1979/80, Inácio sagrou-se campeão pelo Sporting, pela primeira vez. Viria a repetir esse feito em 1981/82, então treinado pelo excêntrico inglês Malcolm Allison. Inácio sagrou-se campeão mas decidiu dar um novo rumo à sua carreira e assinou pelo FC uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental. Após sete épocas no Sporting e sete temporadas no FC Porto, Augusto Inácio pendurou as chuteiras. Tinha 34 anos. Selecção Nacional. Inácio foi internacional português em 25 ocasiões (quatro no Sporting e 21 no FC Porto). Estreou-se com a camisola das Quinas a 5 de Dezembro de 1976, contra o Chipre. Esteve presente na fase final do Campeonato do Mundo de 1986, no México. Após esta competição, retirou-se da Selecção Nacional. Treinador. Abandonou os relvados no final da época de 1988/89 e dedicou-se à carreira de treinador. Começou pelos escalões de formação do FC Porto. Seguiu-se Rio Ave, FC Porto (adjunto de Bobby Robson), Felgueiras, Marítimo, Desportivo de Chaves, Sporting — a sua maior proeza até à data enquanto técnico já que sob a sua orientação os leões voltaram a conquistar o título nacional após 18 anos de jejum —, Vitória de Guimarães, Belenenses, Al-Ahli Doha (Catar), Beira-Mar, Ionikos (Grécia), Fooland (Irão), Interclube (Angola), Naval, Leixões e Vaslui (Roménia). Neste momento está desempregado. 49 JOGADORES 53 LAZER LAZER relógios PES 2013 MONTBLANC O exclusivo TimeWriter II Chronographe Bi-Fréquence 1000 foi criado pela Montblanc em conjunto com o relojoeiro hispano-suíço Bartolomeu Gomila. Edição limitada a 36 unidades com cada uma a custar 230 mil euros (antes de impostos). BREITLING Bentley Barnato 42 Midnight Carbon é o nome do cronógrafo Breitling for Bentley que homenageia Barnato, um dos “Bentley Boys” vencedores de cinco edições das 24 Horas de Le Mans entre 1924 e 193º. Série limitada de 1000 exemplares. URWEK Pela primeira vez num relógio de pulso é destacada e monitorizada a relação simbiótica entre o homem e o seu relógio mecânico. O UR-210 da Urwer, único na forma original de apresentar a hora, custa 113 mil euros. Para controlar o tempo Jogar como Cristiano Ronaldo O Pro Evolution Soccer (PES), para muito o melhor videojogo de futebol para PC e consolas, está de regresso com a versão 2013. Os responsáveis pelo título decidiram voltar às origens e potenciar as capacidades individuais dos melhores futebolistas da actualidade como Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, por exemplo. Assim, PES 2013 oferece uma total liberdade para jogar qualquer estilo de jogo, permitindo um controlo máximo sobre a colocação e o estilo dos remates. Para o efeito, 50 estrelas do futebol mundial foram analisadas e ganharam vida no PES 2013, sendo imediatamente reconhecidas pela forma como jogam no ecrã. Pela primeira vez existem remates manuais, o que permite aos utilizadores determinar a altura e a força de cada um. Também a defesa e o ataque foram melhorados. A 54 JOGADORES 49 linha defensiva é mais difícil de bater e as equipas ajustam-se mais rapidamente à perda ou recuperação da bola, permitindo disputas mais rápidas. Por fim, também os guardaredes estão muito mais reais com melhores reacções e sem saídas em falso ou frangos monumentais. Football Manager 2013 Gerir como os melhores do mundo GRAHAM O novo Chronofighter Oversize GMT Blue & Red da Graham apresenta o tradicional gatilho de acionamento rápido do cronógrafo numa caixa em aço de 47 mm de diâmetro. Tem uma resistência à água até 100 metros. VACHERON CONSTANTIN Produto líder da colecção, o modelo Overseas Cronógrafo apresenta este ano uma nova expressão, com esta variação de aço reforçada com um mostrador de cor azul profundo. DEWITT A alternância dos níveis distintos presentes no mostrador do novo Academia Mirabilis da DeWitt dão-lhe destaque e uma impressão de profundidade. jogos A grande novidade do Football Manager 2013 (FM13) passa pela introdução de um modo Clássico mais conhecido por FMC. Este representa uma forma alternativa e menos morosa de abordar o jogo. Na prática simplifica a maneira como os jogadores gerem o seu clube e permite-lhes concentrarem-se em levar a sua equipa ao topo. Além de reestruturar o papel do manager – uma época pode ser jogada entre oito a 10 horas – o FMC proporciona duas formas distintas de jogo: os seus jogadores podem enveredar por uma carreira normal ou testar a sua coragem no modo Challenge. Neste é possível alcançar o sucesso com uma equipa constituída somente por miúdos ou salvar uma equipa da descida de divisão? Mas atenção, para quem deseja o “velho” Football Manager, o FM13 mantém a maior e a mais envolvente versão da melhor simulação de gestão de futebol do mundo. Uma nota final, com elevada carga de actualidade. Atenção com o fisco! O FM13 inclui regimes fiscais actualizados para cada um dos países apresentados e os jogadores levarão em conta este item no momento de assinarem contrato. 49 JOGADORES 55 Estádio DO RESTELO O MEU ESTÁDIO André Alves/ASF José António Características: ção: 30 000 Medidas: 105M x 70 M - Lota Inauguração: 1956 Com vista para o Tejo A 9 de Setembro de 1956, o Belenenses realizou o seu último jogo no Estádio José Manuel Soares. Praticamente cumpridos 29 anos sobre o primeiro encontro oficial ali realizado, cerca de 20 mil adeptos do “Belém” disseram adeus às Salésias presenciando uma vitória por 4-2 frente ao Atlético. As Salésias deram então lugar ao Estádio do Restelo. Com vista para o rio Tejo, o Estádio do Restelo — construído num local onde antes era uma pedreira — é um dos recintos desportivos mais bonitos do País. Localizado numa das zonas mais nobres de Lisboa está rodeado de monumentos históricos. Inaugurado em 23 de Setembro de 1956, o Estádio do Restelo surgiu como uma obra revolucionária dada a excelência da construção, as boas instalações sonoras e luminosas, o campo de futebol relvado, a pista de atletismo e a lotação para cerca de 44 mil espectadores, divididas por quatro bancadas unidas de forma oval, com duas bancadas cobertas e três delas com dois anéis, um inferior e outro superior. Num dos topos há apenas 56 JOGADORES 49 um anel reduzido o que permite a quem está nas outras bancadas uma bela visão sobre a cidade de Lisboa. No momento da estreia, o estádio tinha apenas duas bancadas — as centrais — cobertas, mas desde logo nasceu e ficou lá a estrutura necessária para o aumento da capacidade do recinto para cerca de 60 mil lugares, com a construção de uma bancada superior no topo sul, e para a construção de uma cobertura, no topo norte, conforme veio a verificar-se cerca de 50 anos depois. No encontro de inauguração, o Belenenses venceu o Sporting por 2-1. Dois dias depois disputou-se o primeiro jogo nocturno, para estrear a iluminação, com o Belenenses a derrotar Stade de Reims por 2-0. Já no primeiro jogo oficial, a equipa do Restelo bateu o Vitória de Setúbal por 5-1. Em Outubro de 1975, o Estádio do Restelo registou a maior enchente de sempre, quando cerca de 60 mil pessoas assistiram à partida entre o Belenenses e o Benfica, a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, que os azuis ganharam por 4-2. Nacionalidade: Portuguesa Naturalidade: Cascais Idade: 1957 — 2005 Posição: Defesa Clubes: Carcavelos e Benfica (formação), Benfica, Estoril e Belenenses Internacional AA por Portugal Acácio Franco/Lusa 49 JOGADORES 57 regresso à infância Quando teve noção de que gostava de futebol? O bichinho da bola começou aos 11, 12 anos e mais a sério a partir dos 13 anos. Jogou muitos jogos de bairro? Sim, como tinha um irmão mais velho jogava muitas vezes com eles. Eu, como era o mais novo, ia quase sempre à baliza. E onde jogavam? Nos bancos da escola secundária. À noite saltávamos a vedação e íamos para lá jogar. Dividiam-se as equipas por clubes? Não, era de forma aleatória. Geralmente os mais velhos escolhiam as equipas. E tinham algum troféu? Não, nada, só pelo prazer de jogarmos e para estarmos entretidos. Tinha alguma alcunha? Não, só mais tarde, já no futebol federado, é que me puseram a alcunha de O Tronco. Para além da bola, o que não podia faltar? Eramos multifacetados. Além de futebol, jogávamos hóquei em patins — mas sem patins —, basquetebol, etc. E quase sempre nos mesmos bancos da escola. Mudava e terminava aos quantos? Geralmente era até nos cansarmos ou até existir luz. Basicamente era até nos fartarmos. Primeiro a bola ou a namorada? A bola sempre primeiro. Só mais tarde a partir dos 15, 16 anos é que começaram as namoradas. PAULO MADEIRA Ex-internacional português, defesa, 42 anos “Jogávamos só pelo prazer e para estarmos entretidos” 58 JOGADORES 49 Muitos joelhos esfolados? Sim, além dos arranhões nas ancas por causa dos carrinhos. Mas raramente havia uma lesão. Havia algum ”chato” que não gostava de ver a malta a jogar? Nós acabávamos de jogar à bola na escola e íamos conversar para um muro de um vizinho. O dono da casa era “o Velho” e às vezes lá aparecia ele porque estávamos a fazer muito barulho. Outras vezes, a seguir ao jantar, lá íamos para o muro e estávamos ali na brincadeira e, por vezes, tornávamo-nos algo barulhentos. Nessa altura até criamos um clube que é o Desportivo Sapalense Clube e o emblema é uma laranja por causa do Velho e o pau de laranjeira. 49 JOGADORES 59 envia o teu currículo [email protected] www.sjpf.pt 60 JOGADORES 49 queres participar? inscreve-te! mercado de inverno 2012/2013