Vamos criar um novo modelo de gestão do seguro

Transcrição

Vamos criar um novo modelo de gestão do seguro
Alwaleed Bin Talal,
um príncipe
multitaskingeed Bin
Brunch with...
Cláudio Augusto
Fundo Soberano
solidário
com Kamba Dyami
Conversa com o empresário que
quer reerguer o nome de Angola
no sector do café. P24
José Filomeno dos Santos entregou
portáteis a crianças em idade
escolar no Cuanza Sul. P20
TalalAlwaleed Bin Talal
O perfil, a carreira e a postura
do fundador da Kingdom Holding
Company. P38
08.09
Director: Aylton Melo
Terça-feira 8 de Setembro 2015
Ano 1 Número 15
Periodicidade: Semanal
Preço: 500 Kz / 2,5 €
W W W. M E R C A D O . C O . A O
M A N U E L G O N Ç A LV E S , C H A I R M A N D A E N S A
“Vamos criar
um novo modelo
de gestão do
seguro agrícola”
Njoi Fontes
O gestor defende ainda a existência de seguros
obrigatórios e a importância do seguro de saúde
para racionalizar custos adicionais. P10
HEDGE F UNDS
A Q UATRO ME SE S DO F I NA L DO A NO
BODIVA negoceia 36,7%
das obrigações previstas
A Bolsa de Valores transaccionou 43,5 mil milhões Kz
no Mercado de Registo de Títulos do Tesouro. P14
T RA N S P O R T E D E PA SSAGEIR O S
Lixo electrónico é o
grande tesouro da China
Cerca de 70% do chamado “e-waste” mundial acaba
nas oficinas de reciclagem chinesas, num negócio
de milhares de milhões de dólares. P28
Os investidores estão a trocar as acções da maior
empresa de comércio electrónico da Ásia por uma
concorrente de menor tamanho, que se está a tornar
a favorita dos fundos de investimento. P8
Uber investe em Lagos,
a maior cidade africana
Empresa norte-americana quer chegar aos 3 mil
motoristas na capital da Nigéria até final do ano.
E-commerce:
Alibaba perde
para JD.com
B U SI N E SS
MARKETS
18890,48
P27
17792,16
PUB
Nikkei em queda
Os receios em relação à economia global levaram
a bolsa de Tóquio a cair para o nível mais baixo
em sete meses, com a queda semanal a ser mesmo
a maior desde Abril de 2014. P4
2
MERCADO 8.09.15
A semana num minuto
CONSULTORIA A MAIS,
RESULTADOS A MENOS?
Primeiro Plano
“Os dois dias mais importante na nossa vida são aquele
em que nascemos e o dia em que percebemos porquê”
Rosa Pacavira,
ministra do Comércio
É inegável a criação de valor por empresas de consultoria, algumas
de renome internacional, na prestação de serviço de natureza
estratégica, operacional e da formação de quadros. Angola tem
investido avultadas verbas em consultoria. E os resultados?
A consultoria pode limitar-se à elaboração de um plano estratégico
ou, então, ir mais além, e incluir o businessplan, ou, mais longe
ainda, incidir no plano operacional e na sua implementação.
Ficando no primeiro ou no segundo estádio, essa consultaria corre
o risco de não ser consequente no objectivo final pretendido, antes
não passando de “bonitos” quadros em PowerPoint e incorporando
cenários que são no essencial copy/paste de outros processos.
Valem, muitas vezes, pelo simples logótipo da empresa consultora
que, só por si, gera no destinatário (bancos, accionistas, etc.) um
efeito positivo imediato, mas cujo conteúdo traz pouco benefício
substantivo no plano da gestão interna da empresa.
Porém, se a prestação do serviço se materializar essencialmente no
plano operacional e na sua implementação, com toda a envolvente
organizacional de meios materiais, humanos, formação, etc., então
estamos num estádio implicando um verdadeiro compromisso
por parte da consultora no êxito do projecto e, por isso, exigindo
um alto sentido prático e de resultado efectivo.
Os empresários e gestores angolanos, recorrendo a consultoras,
saberão avaliar em que estádio de participação se encontram essas
entidades externas e se os gastos dessa natureza se traduzem
em benefícios palpáveis no plano operacional e de negócio.
Esta análise a nível empresarial é válida, por maioria de razão,
na esfera “ministerial”, em que estão em causa gastos públicos,
e o risco de se ficar pelas estratégias gerais é bem maior.
Damos um exemplo: certamente que existirão dossiês enormes
a definir estratégias de política sectorial (v.g.: ordenamento
do território), com recurso a consultoras, mas continuamos
com as nossas avenidas, ruas e travessas sem número de polícia
identificando as casas, o que afecta sobremaneira, entre outras
áreas vitais do funcionamento básico da economia e da sociedade,
os correios, a banca, a justiça e a administração pública em geral.
Numa conjuntura em que o processo de diversificação da economia
se reclama como prioritário, sucedendo-se anos de avaliação
e reavaliação de estratégias, o que interessa agora são programas
urgentes de implementação e, se tal implicar o concurso de
consultores, então que se faça para estarem no terreno a montarem
e organizarem as operações, e não nos gabinetes a produzirem
dossiês que poucos lêem ou aplicam.
Por outro lado, essas entidades de consultoria, muitas das quais
afirmando-se como grandes escolas de gestão, devem integrar em
maior escala quadros angolanos e proporcionar, ainda que a prazo,
a transmissão de know-how em várias áreas e a redução de custos.
Essa será a forma de compatibilizar o interesse nacional com os
objectivos das empresas de consultoria. No final, tudo se ajuíza em
função dos resultados percebidos na óptica quer financeira quer
social , no caso sobre os investimentos em consultoria das empresas
e entidades públicas angolanas, o que pressupõe a avaliação nesse
domínio do que foi feito no passado e, acima de tudo, do que se
perspectiva fazer no futuro.
CAMPOS VIEIRA
[email protected]
FICHA TÉCNICA
DIRECTOR Aylton Melo ([email protected]) | REDACÇÃO [email protected];
Tel: +244 222 721 738; Agostinho Rodrigues, Ana Maria Simões, Estêvão Martins, Fernando Baxi, Paulo
Narigão Reis | FOTOGRAFIA Walter Fernandes (coordenador), Carlos Graça Muyenga, Njoi Roque Fontes
| DESIGN Pedro Guedes | PROJECTO GRÁFICO: +2 Designers | Impressão Lisgráfica e Naveprinter |
Tiragem 5 mil exemplares| Alvará Comercial n.º 31 014/10/04/2011 | Registo no MCS n.º MCS-760/B/15
Carlos Muyenga
Mark Twain
600 milhões USD de investimento estrangeiro
O investimento estrangeiro em Angola atingiu 600 milhões USD nos primeiros sete meses de 2015.
O número foi revelado por Maria Luísa Abrantes, presidente da Agência Nacional de Investimento
Privado (ANIP), durante uma reunião de quadros realizada em Luanda. No balanço da actividade
da agora extinta ANIP, divulgado pelo Jornal de Angola, a responsável revelou ainda terem sido
visitadas 406 empresas em nove províncias de Janeiro a Julho, contra 502 empresas visitadas ao
longo de 2014. Recorde-se que a ANIP foi substituída pela Apiex Angola – Agência Angolana para
Promoção do Investimento e das Exportações, que fica sob a tutela do Ministério do Comércio.
SÁBADO
29
BNA faz leilão de divisas – O Banco Nacional de Angola (BNA) realizou o primeiro leilão de venda de moeda
estrangeira directamente a casas de câmbio, tendo as transacções atingido 10 milhões USD à taxa de câmbio
média de 138,245 Kz por dólar. De acordo com um comunicado publicado no seu site, o banco central informou
ainda que, no leilão dirigido às casas de câmbio, as taxas de câmbio das transacções se situaram no intervalo
entre 145 Kz e 135 Kz. O BNA adiantou que 33 das 48 casas de câmbio autorizadas e em condições regulares
de funcionamento participaram no leilão, uma operação enquadrada no Novo Quadro Operacional da Política
Cambial, instituído em Julho. Na semana de 24 a 28 de Agosto, o BNA vendeu divisas no montante de 381,1
milhões USD, com uma taxa de câmbio média de referência, apurada ao final da semana, de 126,409 Kz por dólar.
MERCADO 8.9.15
Bits
DOMINGO
30
Ligação marítima ao Brasil –
A abertura de uma ligação marítima
entre o Brasil e Angola é fundamental
para intensificar as trocas comerciais
bilaterais, afirmou o novo embaixador
brasileiro em Luanda, Norton Rapesta
(na foto). Citado pela Angop, o
diplomata adiantou que, caso a ligação
venha a acontecer, o nosso País pode
tornar-se numa plataforma para
exportação de produtos brasileiros
para outros países africanos e numa
nova “fronteira agrícola” para o Brasil.
Norton Rapesta anunciou ainda uma
nova dinâmica na concessão de vistos.
QUARTA
2
Obama garante apoio no Senado a acordo com Irão – O presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, conseguiu obter no Senado os votos
necessários para impedir que a oposição republicana bloqueasse o acordo nuclear
com o Irão. Ao conseguir o voto da democrata Barbara Mikulski, do estado
de Maryland, Obama conseguiu o apoio de um número suficiente de senadores
– 34 – para fazer passar o acordo. O Congresso, dominado pelos republicanos,
tem até 17 de Setembro para analisar e votar o acordo. “Concluí que o acordo era
a melhor opção para bloquear os planos iranianos de produção de uma arma
nuclear”, afirmou Mikulski.
Bona – Os objectivos de redução
dos gases com efeito de estufa
anunciados até agora levariam
a um aquecimento climático “bem
superior a 2 graus”, limite fixado pela
ONU, segundo um estudo divulgado
em Bona, na Alemanha. O planeta
continua numa trajectória de subida
de 2,9 a 3,1 graus até 2100, segundo o
Climate Action Tracker, organismo
que integra quatro centros
de investigação e que analisa
as emissões e os compromissos
dos países, no estudo divulgado
à margem de negociações prévias
à conferência de Paris sobre o clima,
marcado para Dezembro.
A conferência visa conseguir
um acordo para limitar o aumento
da temperatura a 2 graus. Segundo
os cientistas, um aquecimento além
deste limite terá consequências
irreversíveis.
Bloomberg
31
QUINTA
3
As melhores cidades para mulheres empreendedoras
O relatório “Global Startup Ecosystem” da Compass criou um ranking das
melhores cidades do mundo no que toca ao empreendedorismo feminino.
Eis o top 20:
TERÇA
1
Novo logo da Google – Depois
da reorganização administrativa e
financeira com o nascimento da holding
Alphabet, a Google lançou um novo
logótipo, bem como a reformulação
da identidade visual de alguns dos seus
serviços.
MUNDO
Washington - O Fundo Monetário
Internacional avisa que a
desaceleração do crescimento
económico na China poderá ter
“um impacto pior do que o esperado”
nas economias dos outros países.
“A transição da China para um ritmo
de crescimento mais moderado,
embora amplamente esperada,
parece ter repercussões
transfronteiriças mais graves do que
o inicialmente previsto, reflectindo-se na baixa do preço das matérias-primas e dos mercados bolsistas”,
refere o FMI, num relatório citado
pela AFP, advertindo que a situação
na China possa conduzir a “uma
perspectiva muito mais débil”
da economia global sem uma
resposta “coordenada”.
SEGUNDA
Código de Valores Mobiliários
entra em vigor – O novo Código
de Valores Mobiliários entrou em vigor
no último dia de Agosto, data da sua
publicação no Diário da República de
Angola, de modo a garantir a segurança
jurídica e a confiança dos investidores
no País. Ao longo de 484 artigos,
o novo código clarifica conceitos
de valores mobiliários, define serviços
e actividades de investimento
e estabelece, de forma exaustiva, o
quadro de negociação de instrumentos
financeiros em mercados
regulamentados de bolsa e de balcão.
3
1 Chicago (EUA)
2 Boston (EUA)
3 São Francisco (EUA)
4 Los Angeles (EUA)
5 Montreal (Canadá)
6 Paris (França)
7 Telavive (Israel)
8 Toronto (Canadá)
9 Singapura (Singapura)
10 Kuala Lumpur (Malásia)
Fonte: Compass
11 Londres (Reino Unido)
12 Moscovo (Rússia)
13 Nova Iorque (EUA)
14 Vancouver (Canadá)
15 Austin (EUA)
16 Sydney (Austrália)
17 Amesterdão (Holanda)
18 São Paulo (Brasil)
19 Bangalore (Índia)
20 Berlim (Alemanha)
5
Pequim - Venezuela e China
assinaram 14 acordos de cooperação
e a atribuição de um crédito de
Pequim a Caracas no valor de 5 mil
milhões USD para o desenvolvimento
da indústria petrolífera. O presidente
Nicolás Maduro assistiu ao desfile
comemorativo do 70.º aniversário
do fim da II Guerra Mundial.
Frankfurt - O Banco Central
Europeu (BCE) poderá prolongar
o programa de compra de dívida,
o chamado Quantitative Easing,
previsto para terminar em Setembro
de 2016 “se tal for necessário”,
afirmou o presidente da instituição,
Mario Draghi. Draghi fez a revelação
numa conferência de imprensa
realizada após uma reunião
de política monetária do BCE, que
deixou inalteradas as taxas de juro.
O presidente do BCE admitiu
também que a inflação na Europa
poderá ser negativa nos próximos
meses, mas ressalvou que será
uma situação temporária.
4
MERCADO 8.09.15
Markets
28/08 – 04/09
A
semana fechou em queda para as bolsas europeias, ansiosas
pela decisão da Reserva Federal norte-americana quanto
à subida da taxa de juro de referência. A maior descida veio,
porém, do Japão, onde o Nikkei sofreu a maior desvalorização
dos últimos sete meses. Já o petróleo registou uma semana
de sobe-e-desce.
5,1%
foi a taxa de
desemprego
dos Estados
Unidos
em Agosto
STOX X 600
PSI 20
5261,15
01 SETEMBRO
02 SETEMBRO
5057,37
5088,02
5165,68
18890,48
5126,86
31 AGOSTO
NIKKEI
362,79
353,11
31 AGOSTO
03 SETEMBRO
04 SETEMBRO
A Bolsa de Lisboa concluiu a sétima semana consecutiva
de queda, com a sessão de sexta-feira a ficar marcada pela
desvalorização de todas as cotadas. O índice PSI 20 perdeu
2%, situando-se nos 5057,37 pontos. A banca foi o sector que
mais caiu, com o BPI a desvalorizar 4,37%, o BCP a perder
3,26% e o Banif a resvalar 9,8%, atingindo o seu mínimo
histórico. O possível adiamento da venda do Novo Banco
pressionou a performance bolsista da banca portuguesa.
Queda significativa registou também a Jerónimo Martins,
que desvalorizou 1,82%. Já a sua grande concorrente
no mercado do retalho, a Sonae, perdeu 3,21%. No sector
da energia, a maior queda pertenceu, no último dia
da semana, à Galp Energia, que recuou 4,37%
num dia em que o petróleo sofreu nova desvalorização.
04 SETEMBRO
Os mercados europeus encerraram a
semana em baixa, à espera da decisão
da Reserva Federal norte-americana
quanto ao aumento da taxa de juro de
referência. A queda no desemprego
nos Estados Unidos aumenta as
probabilidades de subida da taxa
de juro ainda este mês, pressionando
as decisões dos investidores. O índice
Stoxx 600, que agrupa as 600
maiores cotadas da Europa, recuou
2,52% na última sessão semanal,
com a queda a estender-se a todas as
praças do continente. A maior queda
europeia veio de Milão, onde o FTSE
MIB depreciou 3,18%. Em Frankfurt,
o DAX perdeu 2,71%, e em Paris,
o CAC 40 caiu 2,81%, enquanto
o FTSE 100 Londrino perdeu 2,44%.
17792,16
31 AGOSTO
04 SETEMBRO
O mercado de capitais do Japão caiu para o nível mais baixo
em sete meses no último dia da semana, pressionado pelos
receios dos investidores em relação à economia global,
nomeadamente no que diz respeito ao estado da economia
chinesa. O Nikkei desvalorizou 2,2%, para os 17792,16
pontos, o nível mais baixo desde 10 de Fevereiro.
No acumulado da semana, o índice da bolsa de Tóquio
resvalou 7%, a maior queda semanal desde Abril de 2014.
A sessão de sexta-feira até começou bem, animada pela
possibilidade de o Banco Central Europeu prolongar o
programa de quantitative easing para além de Setembro de
2016, mas o mercado acabou por arrefecer e fechar em baixa.
MERCADO 8.9.15
5
Carlos Slim
O empresário está a apostar forte na marca Philosophy para competir
com as grandes cadeias internacionais, especialmente com a Zara
de Amancio Ortega.
Análise
BILL GROSS
Gestor de fundos da Janus Capital
44
milhões
de pessoas
utilizaram o
Apple Music
no primeiro
mês
do serviço
BRENT
50,68
50,05
28 AGOSTO
03 SETEMBRO
O petróleo viveu uma semana de alguma
volatilidade, num sobe-e-desce marcado
negativamente pela continuação do excesso
de oferta e positivamente pelo acordo entre Rússia
e Venezuela para a implementação de iniciativas
destinadas a estabilizar o preço da matéria-prima.
Na sessão de quinta-feira, o Brent,
negociado em Londres, ganhou 2,57%,
cotando-se nos 51,80 USD por barril.
Já o WTI, negociado em Nova Iorque,
valorizou 3,37%, para os 47,81 USD por barril.
Medidas do Fed serão
tardias e insuficientes
Bill Gross diz que a Reserva Federal dos EUA esperou tanto para elevar as taxas
de juro, que qualquer medida agora poderá ser considerada “insuficiente
e tardia”, pois a agitação do mercado reduz o espaço de acção para os
responsáveis pela política económica. “O ‘tardia’ refere-se ao facto de que o Fed
pode ter perdido uma hipótese no início de 2015, e o ‘insuficiente’ fala do meu
conceito de uma nova taxa de política neutra que deveria ficar mais perto de 2%
nominal, mas que agora não pode ser abordada sem assustar os mercados”,
escreveu Gross numa perspectiva de investimento para a Janus Capital,
com sede em Denver.
Os responsáveis pela política económica reunir-se-ão em Washington, nos dias
16 e 17 de Setembro, pela primeira vez desde 2006. O presidente do Federal
Reserve Bank de Boston, Eric Rosengren, considera que a incerteza em relação
à inflação e ao crescimento global justifica um ritmo modesto de aumentos da
taxa de juro, independentemente de quando o banco central começará a fazer
os ajustes. Os traders de futuros apostam que o Fed adiará o aumento da taxa.
As probabilidades de um aumento em Setembro caíram para 34%,
contra 40% no fim de Julho, conforme dados compilados pela Bloomberg.
As probabilidades para Outubro são de 46%, e para Dezembro, de 60%.
O Fed “parece determinado a aumentar” a taxa de fundos federal “nem que seja
para provar que é capaz de entrar no caminho da ‘normalização”, escreveu
Gross. “A linguagem da reunião de Setembro deve ser muito cuidadosa,
porque a ‘dose única’ representa uma possibilidade cada vez maior –
pelo menos para os próximos seis meses.”
Gross, de 71 anos, entrou na Janus há quase um ano depois de deixar a PIMCO ,
onde administrou o maior fundo mútuo do mundo. Agora, gere o Janus Global
Unconstrained Bond Fund, de 1,5 mil milhões USD. O fundo perdeu 1,9% este
ano até 31 de Agosto e ficou à frente de 46% dos seus pares, de acordo com dados
compilados pela Bloomberg. Gross, que previra que o Fed iria elevar as taxas de
juro dos EUA em 25 pontos-base este mês, reiterou a advertência de que as taxas
de juro extremamente baixas dos últimos anos implicam o risco de distorcer
o capitalismo. A única forma de consertar a economia seria se os governos
de todo o mundo começassem a investir para criar procura.
A recente volatilidade do mercado é “só um sinal de que talvez haja algo errado
na própria economia mundial – apesar da China”, escreveu.
Como as políticas mundiais estão a desencorajar a expansão económica,
os investidores deveriam apoiar-se em dinheiro ou em instrumentos de alta
liquidez, como bonds corporativos de curto prazo. Gross cita Will Rogers,
que, durante a Grande Depressão, disse que estava mais preocupado
com o retorno do seu dinheiro do que com o rendimento dele.
“No longo prazo, no entanto, o retorno do seu dinheiro provavelmente não
será suficiente para pagar a universidade, o plano de saúde ou as obrigações
previdenciárias”, escreve Gross. “O capitalismo baseado no sector financeiro,
com as suas taxas de juros a zero, produziu agora desequilíbrios mundiais que
prejudicam o crescimento produtivo e, com isso, as hipóteses de prosperidade
da ‘antiga normalidade’.”
6
MERCADO 8.09.15
Destaque da semana
CMC e
sociedades de
investimento
reduzem
riscos
do sector
imobiliário
Apenas as SII podem praticar
a actividade de intermediação
financeira de “recolha de
contribuições junto do público”,
através da oferta pública de
acções, para posterior aplicação
em investimento imobiliário.
P O R A N D R É S A M U E L | F O T O G R A F I A W A LT E R F E R N A N D E S
MERCADO 8.9.15
7
2,2
2030
mil milhões USD
O intercâmbio comercial do Brasil para Angola
está avaliado em cerca de 2,2 mil milhões USD,
segundo o embaixador brasileiro em Angola,
Norton de Andrade Mello Rapesta.
A presença da Comissão do Mercado de Capitais (CMC) no sector
imobiliário vem, como definem os próprios operadores do sector,
conferir confiançaetransparênciaaomercado,sendoessencialpara
os investidores nacionais e estrangeiros, que podem mitigar o risco
dos seus investimentos no País. No entanto, coloca-se, com preocupante frequência, a questão de se saber se carece ou não de prévia
autorizaçãodaCMCaconstituiçãodequalquer empresaquecoloque
na sua firma a palavra “Imobiliária” e tenha como actividade social,
entre outras, a compra e venda de bens imóveis.
Nestes termos, a CMC esclareceu, recentemente, que, à luz da Lei
dos Valores Mobiliários, o organismo é quem regula e promove o
mercado de capitais e as actividades dos agentes que nele intervêm
directa ou indirectamente. Entre os referidos participantes no mercado de valores mobiliários, a CMC dedica redobrada atenção às
designadas instituições financeiras não bancárias ligadas ao mercado de capitais.
A LBIF – Lei de Base das Instituições Financeiras –, diploma que
regula o processo de estabelecimento, exercício de actividade, supervisão e o saneamento das instituições financeiras, define para o
investimentoimobiliárioemparticularassociedadesdeinvestimento que se assumem como uma espécie de instituição financeira com
base nos organismos de investimento colectivo imobiliários sob a
forma societária. O seu objecto consiste na recolha de contribuições
junto do público, tendo por fim o investimento em activos imobiliários.
Diferenciação das sociedades
Para diferenciar uma sociedade de investimento das demais instituições comerciais ligadas ao sector imobiliário existem vários pressupostos. A CMC esclarece que, do ponto de vista formal, o primeiro
item indicativo de se estar diante de uma Sociedade de Investimento Imobiliário (SII), sujeita a supervisão da CMC, é a utilização, na
firmadasociedade,aexpressão«SII»,acrescidadasexpressões«CV»
(Capital Variável) ou «CF» (Capital Fixo).
Posteriormente, já sob o ponto de vista substancial e porventura
mais importante, só se está diante de uma SII quando vem acompanhada do carácter exclusivo do seu objecto. Dito de outro modo,
apenas as SII podem praticar a actividade de intermediação financeira de “recolha de contribuições junto do público”, através da oferta pública de acções, para posterior aplicação em investimento
imobiliário.
“Assim sendo, se determinada sociedade se dedica, tão-somente,
à compra e à venda de bens imóveis, sem que, para o efeito, pretenda
constituir-se por subscrição pública ou a ela se apliquem os elementos típicos e identitários dos organismos de investimento colectivo,
não estaremos diante do exercício de qualquer actividade de intermediação financeira ou de investimento em mercado de valores
mobiliários susceptível de justificar a intervenção da CMC, enquanto seu órgão regulador”, aclara a CMC em relação aos organismos
que devem estar sob sua supervisão.
Os intervenientes no mercado
Em conversa com o jornal Mercado, o director executivo da imobiliária ProPrime, Francisco Virgolino, considera que a CMC, enquanto órgão regulador do sector imobiliário nacional, vai certificar-se
de que estes novosplayers, no caso das SII, actuem segundo as regras
por si estabelecidas. Defendeu que as sociedades de investimento e
os organismos de investimento colectivo são, no caso imobiliário,
os dois tipos de novos operadores que vêm facilitar de algum modo
o desenvolvimento de novos projectos.
Para Francisco Virgolino, torna-se mais fácil para os investidores
mitigarem o risco associado ao desenvolvimento do produto imobiliário, uma vez que as sociedades e os organismos de investimento colectivos têm a capacidade deangariar capitaldeumaformamais
expedita. Isto, segundo disse, poderá dinamizar novos projectos
para o mercado, tanto para no surgimento de escritório e residenciais.
Por sua vez, o managing director da Abacus, Paulo Trindade, entende que uma nova actividade no mercado necessita de uma entidade que defina as regras e verifique a sua boa aplicabilidade. “Julgo
que a CMC vai realizar um bom trabalho, mas tem de se dar tempo
ao tempo, não se pode pedir tudo de uma só vez, ou seja, têm todos
osagentesdomercadoimobiliárioefinanceirodecolaborarunscom
os outros para um sadio funcionamento do mercado imobiliário”,
pondera. Acrescenta que as SII oferecem aos investidores mais benefícios fiscais. Ou seja, empresas imobiliárias e SII, ambas desenvolvemamesmaactividade,oferecendoaomercadomaisbenefícios
fiscais.
Ainda sobre a presença da CMC no mercado imobiliário, o CEO da
Proimóveis, Cleber Corrêa, sustenta que a função de se fiscalizar o
funcionamento dos fundos, por parte da CMC, dá credibilidade às
operações, evita deslizes financeiros e faz com que cada vez mais
surjam operações credíveis no mercado. “É mais dinheiro para o
sector”, aponta.
A Indonésia, um dos maiores
emissores de gases do efeito de
estufa, compromete-se a reduzir
as emissões em 29% até 2030,
numa antevisão da Conferência
Internacional sobre Mudança
Climática em Paris.
“Se até 2008 um imóvel da tipologia T3 tinha 180 metros quadrados, de 2009 em diante passou a ter 140 ou 150 metros quadrados, ou seja, houve uma diminuição na dimensão do imóvel, mantendo-se o preço por metro quadrado”, frisou Francisco Virgolino.
No entanto, nota que o valor global do imóvel baixou.
Este modelo de actuação é ainda possível de ser ajustado por
parte das empresas de promoção imobiliária. O que se tem verificado na prática, como explica o director executivo da ProPrime, é
uma mudança no foco das entidades promotoras. No passado,
apostou-se demais no segmento médio-alto. Actualmente, o foco
passou a ser o segmento médio-baixo. Como consequência directa
desta acção, afirma, tem havido pouca promoção no centro da cidade, onde é caro e não há quase espaços para construção.
Sector imobiliário no primeiro semestre
O sector imobiliário encontra-se num momento de ajuste face à
actual conjuntura económica do País, em função da crise económica, ajuste que passa pelo abrandamento da produção no desenvolvimento de novos produtos a serem lançados no mercado.
Segundo declarações do director executivo da ProPrime, Francisco Virgolino, neste momento assiste-se a um aumento da oferta
basicamente devido à dificuldade de escoamento dos produtos
novos, e também a saída de expatriados do País fez com que os espaços que estavam ocupados ficassem disponíveis. Francisco Virgolino explica igualmente que os preços tendem a baixar, mas de
forma paulatina, o que é normal no mercado, pois tem de se ajustar,
que em determinados casos ou segmentos será mais ou menos forte.
Este ajuste tende a acontecer mais nos imóveis usados e não novos, quer a nível de escritórios quer a nível de moradias, nomeadamente na cidade e em Talatona, onde há muitos apartamentos.
“Os preços tendem a baixar 10% a 15%. Assistimos, no primeiro trimestre do ano, a uma tendência para quem detinha valores
refugiar-se no imobiliário, com uma forte procura de imóveis.”
Disse ainda que neste segundo trimestre se verifica uma redução
da procura neste segmento.
Comparativamente aos anos anteriores (em tempos de crise), o
sector está a reagir de forma diferente, sendo que em 2008 não
houve um ajuste dos valores de transacção por metro quadrado,
mas sim um ajustamento na dimensão do imóvel, segundo aquele
responsável.
Reforma legislativa do sector
Para o director da Abacus, Paulo Trindade, tudo o que venha ajudar
a clarificar o mercado é positivo. Os temas administrativos/legais,
felizmente, começam a fazer parte da realidade imobiliária de Angola, e estes passarão a fazer parte dos processos imobiliários,
como em qualquer país do mundo, dando garantias administrativas nas transacções imobiliárias.
A Lei da Mediação Imobiliária surge para tentar disciplinar um
segmento da economia que tem muita actividade paralela, ou seja,
principalmente muitos agentes individuais, não qualificados, que
não pagam impostos, não cumprem quaisquer obrigações e que
por força da sua não qualificação criam problemas, penalizando o
mercado.
“É importante que esta lei seja implementada rapidamente e seja
auditada, na prática”, observa Paulo Trindade, pois a Lei do Crédito à Habitação, por exemplo, é crítica para o desenvolvimento de
um segmento que tem muito para explorar. Ou seja, a maioria dos
angolanos não pode comprar uma habitação, pagando a pronto. A
lei procurará responder ao que o mercado pede, potenciando-o.
Por sua vez, o CEO da Proimóveis, Cleber Corrêa, compreende
que cada vez mais a população tem procurado regularizar os imóveis na medida em que as instituições estão a modernizar-se, mas
o custo para fazer uma escritura continua muito alto. “O mais sacrificado é o proprietário de imóvel de menor valor, pois a tabela
dos emolumentos para registo, por exemplo, aumenta para os imóveis com preço de venda acima de 400 mil Kz”, finaliza.
Zonas caras do mercado imobiliário em Luanda, segundo estudo 2014 da Proprime
O mercado de escritórios de Luanda tem continuado a registar uma procura dinâmica, impulsionada por uma
actividade económica saudável, tendência que deverá manter-se. Na Baixa, CBD, que é a zona prime de escritórios, a
renda média é de 130USD/m/mês, e uma yield de 16%. A zona de Talatona começa agora a constituir-se para muitas
empresas como uma localização de escritórios alternativa à Baixa de Luanda
NOVOS
USADOS
Valor unitário médio
(USD/m2)
9750
Valor unitário médio
(USD/m2)
5333
Renda média (USD/m2)
130
Renda média (USD/m2)
80
Yield (%)
16
Yield (%)
18
CBD
NOVOS
Praia
do Bispo
Valor unitário médio
(USD/m2)
8471
Renda média (USD/m2)
120
Yield (%)
17
Legenda:
CBD – Central Business District é a zona
prime da escritório de Luanda, na Cidade
Baixa, que integra a Marginal de Luanda e
zonas adjacentes.
8
MERCADO 8.9.15
Banca
250 mil
Postos de trabalho criados pelas empresas alemãs,
entre 2005 e 2014, com os investimentos que fizeram
pela Europa. Só a Volkswagen foi responsável
por 31 mil
José de Lima Massano,
CEO do BAI
BANCA EM ANÁLISE
Walter Fernandes
Crédito do BAI
sobe 26,92%
no primeiro
semestre
O valor do crédito
referente ao primeiro
semestre de 2015 supera
em 70,83 milhões Kz
o montante obtido pelo
BAI no exercício
económico-financeiro
homólogo de 2014, como
se pode calcular, face
aos dados extraídos dos
balancetes dos citados
semestres
POR FERNANDO BAXI
Apesar da subida das taxas de referência do BNA, o volume de crédito
do Banco Angolano de Investimento
(BAI) ficou avaliado em 333,96 mil
milhões Kz, no primeiro semestre de
2015, um crescimento de 26,92%,
face ao período homólogo de 2014,
cuja cifra foi de 236,13 mil milhões
Kz, segundo cálculos feitos pelo semanário Mercado.
O valor do crédito referente ao primeiro semestre de 2015 supera em
70,83 milhões Kz o montante obtido
pelo BAI no exercício económico-financeiro homólogo de 2014, como
se pode calcular, face aos dados extraídos dos balancetes dos citados
semestres.
O volume de crédito
do BAI ficou avaliado
em 333,96 mil milhões
Kz, no primeiro semestre
de 2015
Ainda no primeiro semestre de
2015, o BAI registou um crescimento
de 69,29%, relativamente ao montante dos títulos e valores imobiliá-
Os resultados do banco
cresceram 7%
em relação
ao período homólogo
anterior
rios, que orçou em 375,12 mil milhões
Kz, enquanto no período transacto
foi de 221,57 mil milhões Kz, o que
representa um excedente na ordem
dos 153,54 mil milhões Kz.
Ainda neste período, a conta do
activo registou um decréscimo de
45,051 mil milhões Kz, comparativamente ao período em comparação,
representando uma queda de 3,7%.
As disponibilidades no presente
exercício são de 280,0 mil milhões
Kz, enquanto no segundo trimestre
de 2014 eram de 312,9 mil milhões
Kz, demostrando uma diferença de
32,9 mil milhões Kz e o decréscimo
de 10,5%.
Também no segundo trimestre do
presente exercício económico-financeiro, a respectiva instituição
bancária obteve diminuição do passivo, avaliado em 54,63 mil milhões
Kz, representando uma queda de
4,94%, se comparado com o do passado.
O BAI registou ainda, no primeiro
trimestre de 2015, uma quebra nos
depósitos, avaliada em 54,842 mil
milhões Kz, comparativamente ao
período homólogo analisado, o que
corresponde ao decréscimo de 5,1%
desta conta no banco.
Relativamente aos resultados nos
primeiros seis meses do ano económico em curso, o banco que vê o regresso de José Massano, na presidência da Comissão Executiva, obteve
8,98 mil milhões Kz, face ao exercício económico-financeiro análogo,
cujo montante foi de 8,38 mil milhões Kz, correspondendo a um crescimento de 7%.
Indicadores do 1.º semestre 2014 e 2015, BAI (mil milhões Kz)
Activos
2014
2015
1.214,473
1.169,422
Disponibilidades
312,9
280,0
Títulos e valores
mobiliários
221,57
375,12
Créditos
236,13
333,96
Passivos
1.105,280
1.050,641
Depósitos
1.074,815
1.019,973
Resultados
8,38
8,98
PUB
10
MERCADO 8.09.15
Entrevista da semana
Manuel Gonçalves
“Seguro agrícola deverá ter instrutivo
jurídico ainda este ano”
O chairman da ENSA, a maior seguradora nacional, propõe a criação
de seguros obrigatórios e defende a importância do seguro de saúde
como forma de racionalizar os custos com os tratamentos médicos.
P O R E S T Ê VÃO M A R T I N S | F O T O G R A F I A N J O I F O N T E S
“
MERCADO 8.9.15
11
No portefólio
da ENSA, o peso
maior da carteira
de seguros está
nos ramos saúde,
automóvel,
acidentes
de trabalho
e viagens
A
sua opinião em relação ao
mercado segurador nacional,
que regista crescimento com
o surgimento de novas seguradoras, qual é?
O mercado segurador foi acompanhando o crescimento económico
ocorrido no País nos últimos anos.
Neste período, aumentou o número
de players no mercado, de
prémios, de produtos, e houve
também evolução em termos
regulatórios. Em 2000 verificou-se
a abertura do mercado de seguro,
que era monopolista, com o
surgimento de mais uma seguradora para além da ENSA. E, nos
últimos 15 anos, o mercado tem
crescido a uma média superior a
uma seguradora por ano, assim
como o volume de prémios, que
tem crescido consideravelmente,
tendo mais que duplicado durante
este período. Da mesma forma,
surgiram vários seguros obrigatórios, como é o caso do seguro de
acidentes de trabalho e o seguro
automóvel para a protecção de
terceiros. Verificaram-se igualmente mudanças muito sensíveis
ao nível da regulação do sector
segurador, até no plano institucional, com o surgimento da ARSEG –
Agência Angolana de Regulação e
Supervisão de Seguros.
Qual é o balanço que faz
do primeiro semestre
do ano em curso?
Tivemos, no primeiro semestre
do ano corrente, 100 001 apólices
(entre novas e antigas) que
geraram 124 431 recibos e um
volume de prémios equivalente
a 219 milhões USD. Deste número,
a maioria são apólices relacionadas
com empresas, que integram um
número determinado de trabalhadores. De uma maneira geral,
registámos um crescimento na
ordem dos 10% em comparação
ao mesmo período do ano passado.
O ramo automóvel representa
o principal negócio das seguradoras nacionais. Em relação
à ENSA, qual é a principal
carteira de negócio?
No portefólio da ENSA, o peso
maior da carteira de seguros está
efectivamente nos ramos saúde,
automóvel, acidentes de trabalho
e viagens. O produto saúde tem um
peso muito significativo na nossa
carteira de negócios. Trata-se
de um produto de elevado risco
e sinistralidade, mas a ENSA tem
encarado este produto com uma
margem de responsabilidade social,
que tem conduzido ao seu significativo crescimento, que é muito maior
relativamente ao que acontece nas
demais seguradoras do País. Por
outro lado, crescem rapidamente
os ramos de acidentes de trabalho
e automóvel. Os ramos marítimos/
/cargas, petroquímica e acidentes
de trabalho cresceram demais neste
último semestre do ano, o que
permitiu este crescimento.
Os segurados queixam-se
da morosidade da ENSA
na resolução de um sinistro.
Como tem sido a resposta
da seguradora relativamente
a esta questão?
Temos uma grande preocupação
com a distribuição de produtos
de seguros, mas preocupa-nos
também a nossa relação com o
cliente sempre que acontece um
sinistro. O nosso grande cuidado
tem que ver com a optimização dos
processos de gestão de sinistros,
com o objectivo essencial de
diminuirmos a taxa média de
regularização de sinistro. No que
diz respeito à sinistralidade
rodoviária, considerada a segunda
causa de morte no País, logo após a
malária, na ENSA registamos uma
taxa de sinistralidade de 18,6%.
No primeiro semestre do ano,
registámos uma taxa de sinistralidade global, dos produtos comercializados pela ENSA, de 74,2%.
A ENSA é uma das poucas
seguradoras que comercializam o seguro de saúde, considerado pouco rentável pelos
outros players do mercado.
Como encara a situação?
Se fizermos uma análise do produto
em si, veremos que é de admitir a
possibilidade de termos um rácio
de sinistralidade superior a 100%.
O que significa que o resultado
técnico, que permite a comparação
entre os prémios pagos pelos
segurados e o volume de indemnizações pagos às clínicas pela
seguradora, não é positivo.
Não sendo rentável, qual
é a vantagem da manutenção
do negócio?
Trata-se de um produto-âncora,
com o qual fazemos venda cruzada,
que constitui elemento de atracção
das empresas e dos particulares
para a realização deste e de outros
seguros. A ENSA tem transformado
este aspecto, aparentemente
negativo, numa oportunidade de
oferecer um produto de elevada
qualidade para os nossos clientes,
fundamentalmente para os clientes
de empresas. Daí o crescimento
na ordem dos 10% no primeiro
semestre do ano em relação ao ano
passado e uma taxa de sinistralidade global muito inferior à taxa
de sinistralidade do produto
de seguro de saúde.
Qual é a razão que faz com que
o produto de saúde se torne
crítico no nosso mercado
em comparação, por exemplo,
ao seguro automóvel, como
advoga?
Temos um país com sérios problemas a nível da saúde pública, o que
naturalmente impacta na relação
entre prémios e indemnizações
e no rácio de sinistralidade. Isto faz
com que tenhamos um índice de
evacuação para o exterior do País
para tratamento bastante elevado.
Em termos de preços, só o transporte de um paciente em avião-hospital
para a África do Sul, por exemplo,
tem um custo actual de 54 mil USD.
Este valor duplicou, porque até à
última década era apenas de 27 mil
USD. Certo também é que, ao longo
da última década, a ENSA não fez
aumentos significativos da sua tarifa
do seguro de saúde. Fizemos apenas
uma pequena subida das tarifas,
comparativamente aos cenários que
seriam mais compatíveis, tendo em
conta os parâmetros de natureza
O grande desafio
da indústria
seguradora
do País está
relacionado com
o aumento da
cultura de seguro
macroeconómica de aumento
que foram tidos em consideração
no caso do transporte.
Qual é a quota de mercado
da ENSA?
A nossa quota de mercado oscila
entre os 35% e os 40%, que,
disputada com as 17 seguradoras
que operam no mercado, é extremamente significativa. O ramo saúde
tem contribuído para o nosso
crescimento, daí que continuamos
a utilizar este produto nestas
condições por termos consciência
de que se trata de um produto muito
importante para os particulares e
para as empresas. Também porque,
independentemente do lucro que
perseguimos, enquanto seguradora,
temos grandes responsabilidades
sociais, e uma política em sentido
contrário poderia criar situações de
desconforto ao nível das empresas,
na medida em que sabemos que o
seguro de saúde é para as empresas
um dos elementos mais importantes
para a retenção dos trabalhadores.
Nesta altura, o índice de
penetração dos seguros no
Produto Interno Bruto (PIB)
anda à volta de 1%, e a ENSA,
como maior seguradora
nacional, joga um papel
fundamental para o aumento
deste valor percentual. Na sua
opinião, quais são as acções que
devem ser desenvolvidas para
a subida destes níveis?
A meu ver, o grande desafio que
a indústria seguradora do País
possui, no sentido de melhorar a
taxa de penetração dos seguros no
PIB, e melhorar a taxa de densida-
de, que são os principais indicadores de performances do sector
segurador, está relacionado com o
aumento da cultura de seguro no
País. Para tal, temos de aumentar
também a literacia financeira com
o apoio das seguradoras. Isto tem
de ser feito por intermédio dos
meios de comunicação social e dos
mais diversos projectos. Portanto,
não basta fazer o marketing
apelativo aos potenciais ou aos
segurados para a aquisição de
seguros. É preciso, fundamentalmente, explicar o que é um seguro,
a sua importância para a sociedade
e as suas vantagens. As pessoas
precisam de perceber que os riscos
existem em todo o lado, e os
seguros existem precisamente para
a protecção das vítimas. A deixa
serve para contrariar a ideia
segundo a qual os seguros de
natureza obrigatória têm por
objectivo facilitar a vida às
seguradoras. Portanto, é preciso
incutir nas pessoas a ideia de que o
foco dos seguros está na protecção
das vítimas ou na protecção de
importantes interesses económicos de natureza pública ou privada,
por exemplo.
O que mais deverá ser realizado
para o fortalecimento do
mercado?
O segundo ponto para o aumento
dos indicadores macroeconómicos
de performance do sector segurador é a criação de seguros obrigatórios, que seriam adquiridos de
forma intensiva em função do
aumento da cultura de seguros dos
cidadãos e das empresas. É preciso
cuidar da criação de incentivos,
designadamente de natureza fiscal,
para que os particulares e as
empresas possam fazer seguros,
mas também aderir a fundos de
pensões. A protecção social no País
é composta pelo sistema nacional
de segurança social, mas também
por um sistema complementar,
consubstanciado por fundos
de pensões e seguros de vida. Nos
países com menos maturidade, são
os seguros não vida que têm maior
projecção, ao passo que, nos países
com maior maturidade económica,
são os seguros de vida com uma
projecção maior e justificam
12
MERCADO 8.9.15
“
Temos
a perspectiva
de cooperar,
ao mesmo
tempo que
competimos,
com as outras
seguradoras
os índices de crescimento
que os seguros têm e a relação
que possuem com o PIB. Portanto,
precisamos de fazer crescer
os seguros de vida e fundos
de pensões. E isto pode também
acontecer com incentivos
de natureza fiscal.
E como é feita a gestão dos
fundos de pensões na ENSA?
Além do fundo de pensões para os
seus trabalhadores, o que faz com
que tenhamos uma importante
protecção sobre eles e uma
garantia do asseguramento do seu
futuro, temos um crescimento cada
vez maior em relação a fundos de
pensões de terceiros. Para o efeito,
temos fundos de pensões abertos e
fechados. Estes últimos são criados
por empresas e geridos pela ENSA.
Temos também fundos abertos,
como é o caso do Fundo Vida
Tranquila, que tem por objectivo
a protecção das pessoas em caso
de velhice e em caso de acidentes,
e o Futuro Garantido, voltado para
crianças e jovens, para a salvaguarda da sua actividade futura.
Jurista, músico e gestor público
Manuel Gonçalves, 57 anos, é jurista de formação,
gestor de profissão e músico por vocação. Licenciou-se
na Faculdade de Direito entre 1981 e 1985. Trabalhou
como advogado durante vários anos. Foi consultor jurídico
do gabinete do Presidente da República e foi também
o primeiro bastonário da Ordem dos Advogados de Angola
entre 1997 e 2002. Além de presidente da ASAN, Manuel
Gonçalves é também presidente do conselho de
administração do Standard Chartered Bank Angola (SCBA)
para o mandato 2013-2016 e cônsul honorário da República
da Finlândia em Angola. Como músico, Né Gonçalves lançou
o disco Luanda, Meu Semba em 1994. Em 2013 gravou
o álbum Luanda, Meu Semba Instrumental. Este ano, deverá
sair no mercado o Semba Mar. Em 1994 ganhou o prémio
revelação da UNACA, tendo uma das canções sido
considerada música do ano.
A ENSA nesta altura possui
cerca de 38 produtos de seguros
nos ramos vida e não vida.
Quais são os programas da
seguradora com vista à criação
de novos seguros?
A ENSA possui 36 agências em todo
o País, e temos uma perspectiva
de cooperar, ao mesmo tempo
que competimos, com as outras
seguradoras. Esta cooperação é
tanto no plano bilateral como no
plano multilateral, por intermédio
da ASAN – Associação de Seguradoras de Angola –, da qual sou
presidente, que coopera com as
instituições competentes como
a ARSEG e os diferentes sectores
do Executivo. Assim sendo, temos
preocupações como, por exemplo,
com o seguro agrícola, marítimo/
/cargas.
Quais são os projectos em curso
em relação à implementação
do seguro agrícola no País?
Pretendemos criar um novo modelo
de gestão do seguro agrícola, através
de um sistema de co-seguro, que
deverá envolver várias seguradoras
Pretendemos
criar um novo
modelo de gestão
do seguro
agrícola, através
de um sistema
de co-seguro
sob a liderança de uma delas. Neste
momento, a ENSA, as outras
seguradoras e a ASAN estão a
trabalhar com a ARSEG, para que,
tão breve quanto possível, seja
publicada uma regulação sobre
seguro agrícola mediante um regime
de co-seguro. O programa está
avançado e já existe um projecto de
instrutivo, que está a ser trabalhado
pela ARSEG. E esperamos que seja
publicado brevemente, ainda este
ano, e nessa altura teremos
conhecimento das seguradoras
envolvidas neste co-seguro e da
seguradora líder do produto.
Qual é a sua opinião em relação
ao projecto de criação da AngoRe, resseguradora nacional que
deverá reter no País grande
parte dos valores que vão para
o resseguro no estrangeiro?
Trata-se de um projecto que tende
a reforçar a nossa capacidade
interna de gestão e de pulverização
dos riscos, pois a concentração de
riscos dentro de uma companhia
seguradora constitui um perigo
perante a possibilidade de ocorrência de um dano, que obrigará a
seguradora a assumir responsabilidades muito elevadas para as quais
pode não estar financeiramente
preparada. Daí a pulverização
dos riscos pelas seguradoras,
que é feita mediante modelos de
co-seguros, juntando-se várias
seguradoras para assumir a mesma
responsabilidade, ou regime
de resseguro, colocando o risco
no mercado internacional.
Como tem estado a ENSA
em relação ao resseguro?
Temos excelentes relações
com o mercado internacional
de resseguro, operando com
as principais resseguradoras
mundiais e também com os
grandes brokers ou corretores
mundiais, nomeadamente
a SwissRe, MunichRe, Marsh.
Temos subscrito vários tratados
de resseguros para a cobertura
automática de produtos como
incêndios, engenharia, acidentes,
marítimo/carga, responsabilidade civil, vida, assistência em
viagens e assistência a catões
de crédito.
Algumas seguradoras advogam
que o regime de co-seguro
funciona mal no País, sendo
que a ENSA, por exemplo,
concentra em si certos riscos
que deveriam ser partilhados
com as demais seguradoras.
O que julga a respeito?
No País existem algumas modalidades de co-seguro especial e
obrigatório nos domínios dos
petróleos, da aviação pública, dos
diamantes e no domínio agrícola.
De acordo com este modelo, a ENSA
faz a gestão do seguro de aviação
do sector público, designadamente
a TAAG, e no sector dos diamantes.
Trata-se de uma prerrogativa para
fazer a gestão em nome de algumas
seguradoras em regime de coseguro. Nem todas as seguradas
fazem parte desde sistema, pois
há regras a ter em conta. É preciso
ter um determinado tempo de
actividade e a partir do terceiro ano
é possível entrar para este regime,
havendo uma nova repartição do
risco para as seguradoras participantes. É uma espécie de consórcio.
Ainda assim, a ENSA ressegura
no mercado internacional a fim
de pulverizar o risco.
Neste caso, a que se devem as
reivindicações das seguradoras?
As reivindicações das seguradoras
nada têm que ver com a participação de cada uma no regime de
co-seguro, mas, sim, com os níveis
de transparência com que a gestão
é feita, tendo em vista a repartição
dos valores de acordo com
a percentagem que cada
seguradora tem no consórcio.
PUB
14
MERCADO 8.9.15
Bolsa
MERCADOS
BODIVA
transacciona
36,7% de obrigações
previstas em 2015
POR ANTÓNIO PEDRO
A Bolsa de Dívida e Valores de Angola
(BODIVA) registou, de Maio a Agosto
do ano corrente, a negociação de
291 736 obrigações do Tesouro, resultando na movimentação de 43,5 mil
milhões Kz (367,1 milhões USD), segundo cálculos do jornal Mercado com
base nos relatórios mensais da Sociedade Gestora de Mercados Regulamentados.
As transacções movimentadas atingiram 36,7% de 1000 milhões USD
previsto para negociação em obrigações do Tesouro, até fim do ano corrente, segundo expectativa da BODIVA, no
Mercado de Registo de Títulos do Tesouro.
Em Junho, a BODIVA registou a
maior transacção, com 161 301 obrigações e bilhetes do Tesouro (55,29%
do total), movimentando, desta forma,
22,7 mil milhões Kz (197 milhões USD),
um indicador que representa 52,15%
do total do montante negociado.
Segue-se Julho com a negociação de
63 222 obrigações do Tesouro
(21,67%), com financiamentos de 9,7
mil milhões Kz (71 milhões USD), o que
equivale a 22,28% do total dos financiamentos entre Maio e Agosto.
Maio e Agosto apresentam ligeira
diferença em quantidade de obrigações do Tesouro negociadas. No primeiro foram registadas 27 779
(9,52%), ao passo que no segundo foram 39 434 (13 ,51%), proporcionado
assim 5,1 mil milhões Kz (11,8% do
total) e 5,9 mil milhões Kz (13,75%)
para Agosto último.
Quanto às obrigações do Tesouro
negociadas, de Maio a Agosto, pelos
bancos intermediários da BODIVA, o
BFA lidera o ranking, com 239 715
(82,16%). Segue-se o Millennium Angola, com 22 792 (7,9%), o BAI ocupa
a terceira posição, com 21 561 obrigações (7,39%), enquanto o BNI, com
7392 negociadas apenas em Agosto,
entrou para a bolsa em Julho, representando 2,53% da carteira de títulos emitidos.
Os financiamentos obtidos na bolsa, através do mercado de títulos do
Tesouro, colocam também o BFA na
liderança, de Maio a Agosto, com um
movimento de 36,3 mil milhões Kz
(83,35% do total), seguido de Millennium Angola, com 3,3 mil milhões Kz
(7,8%), BAI na terceira posição do
ranking, com 2,7 mil milhões Kz
(6,19%), e BNI, com 1,1 mil milhões
Kz (2,66%), que entrou na BODIVA
em Julho passado.
Pretória — O governo
da África do Sul, os sindicatos
e as empresas mineiras
assinaram um acordo para travar
o desemprego causado pela
queda do preço das matérias-primas, ao mesmo tempo
que ficou decidida a promoção
da platina como activo de reserva
do banco central.
Ranking
MRTT
Desempenho de membros
de negociação consolidado
(Maio a Agosto 2015)
Intermediário
Montante
negociado
(mil milhões Kz)
%
do total
BFA
36,3
83,5
BMA
3,3
7,8
BAI
2,7
6,19
BNI
1,1
2,66
Intermediário
Quantidade
obrigações
negociadas
%
do total
BFA
239.715
82,16
BMA
22.792
7,81
BAI
21.561
7,39
BNI
7.392
2,53
Fonte: BODIVA
NI: montantes negociados e total (%)
são cálculos do jornal Mercado
ÁFRICA
Monróvia — A Organização
Mundial da Saúde (OMS)
declarou, pela segunda vez,
a Libéria livre do ébola,
42 dias depois de não ter sido
confirmado qualquer caso em
laboratório. A OMS sublinha que
o país da África Ocidental deverá
observar 90 dias de vigilância
para verificar se não há novos
casos do vírus. A Libéria já havia
sido oficialmente declarada livre
da epidemia em 9 de Maio
último, mas o vírus reapareceu
no final de Junho, contaminando
seis pessoas, das quais duas
morreram. A OMS saudou
também as autoridades locais
por causa da sua “vigilância
consistente e da resposta rápida
do governo e seus parceiros”
no combate a uma doença que
terá feito mais de 11 mil mortos.
Walter Fernandes
A Bolsa de Valores
negociou 43,5 mil
milhões Kz no Mercado
de Títulos de Registo
do Tesouro, entre Maio
e Agosto, o que
corresponde a 291 736
obrigações e bilhetes
do Tesouro emitidos,
com o BFA a assumir
a liderança num ranking
produzido pelo jornal
Mercado.
Bits
Pedro Pitta-Groz,
CEO da BODIVA
Obrigações em queda
A BODIVA continua a registar obrigações do Tesouro abaixo
das 161 301 e dos 22,7 mil milhões Kz de Junho, sobre os quais o BFA
assumiu a liderança representando 84,61% do total nos dois
aspectos. Em Julho, as obrigações fixaram-se em 63 222,
mas quedaram para 39 434 em Agosto.
O relatório de Agosto do Mercado de Registo de Títulos do Tesouro
da BODIVA apresenta o BNI a intermediar a sua primeira
transacção na bolsa, que se fixou em 19,35% de um total de 5,9 mil
milhões Kz (47 milhões USD, convertidos à taxa média diária
do BNA, correspondente a 125,78 Kz o dólar), superando o BAI,
que ficou com 2,24% do total.
As transacções de Agosto foram registadas pelo BFA (78,41%), BNI
(19,35%) e pelo BAI com uma quota de mercado bolsista de 2,24%.
A BODIVA diz no relatório citado que o registo das transacções no
MRTT, ao dar a conhecer a todo o mercado os termos dos negócios,
como preço e quantidade efectuados, concorre para o aumento
da transparência e da confiança dos investidores, bem como para
a formação de uma curva de preços para os activos nele registados,
que deverão servir de referência para futuras transacções.
5,8
Praia — O fundo de apoio
para a reconstrução da ilha cabo-verdiana do Fogo, criado após a
erupção vulcânica de Novembro
a Fevereiro últimos, já tem
5,8 milhões USD, informou
o presidente do Gabinete
de Reconstrução, António
Nascimento. O valor resulta da
ajuda de vários parceiros, com
destaque para a União Europeia.
Maputo — Os Caminhos de
Ferro de Moçambique (CFM)
adquiriram 70 carruagens novas
para transporte de passageiros,
no valor de 49 milhões USD,
para aliviar as enchentes
nas suas composições. Quinze
das carruagens de terceira classe,
adquiridas na China, já se
encontram em Maputo,
de um total de 35 composições
destinadas à região sul,
informaram os CFM.
M
SUPLEMENTO
Njoi Fontes
Fundo Soberano
solidário com Projecto
Kamba Dyami
16
MERCADO 8.09.15
7 dias > 7 propostas
1.
The World
Goes Pop
Saiba mais em: http://www.tate.org.uk/
whats-on/tate-modern/exhibition/eyexhibition-world-goes-pop
A Conexão Lusófona, na 4.ª edição, faz-se no Coliseu dos Recreios, em Lisboa,
com Don Kikas (Angola), Kataleya (Brasil), Elida Almeida (Cabo Verde),
Binhan Quimor (Guiné-Bissau), Costa Neto (Moçambique), Filipe Santo
(São Tomé e Príncipe) e Benvinda de Jesus (Timor) – um diálogo de gerações
na promoção da cultura em língua portuguesa. Em Londres, a Tate Modern
revela The World Goes Pop como um movimento global de protesto contra a
sociedade de consumo. Outras sugestões: a pintura de Picasso transformada
num ballet; ou Benedict Cumberbatch na mais clássica das personagens,
Hamlet; ou a leitura de Purity, de Jonathan Frazen.
Doll Festival 1966, Hyogo Prefectural Museum of Art (Yamamura Collection, © Ushio and Noriko Shinohara
A Tate Modern, em Londres, está
empenhada em revelar ao mundo
que a pop art vai da América Latina
à Ásia passando pela Europa
e pelo Médio Oriente.
A exposição mostra o que se fez
no mundo nos anos de 1960 e 1970
e como, em vários países, diferentes
culturas responderam ao movimento.
A pop não foi apenas uma celebração
da cultura ocidental mas muitas vezes
era uma língua internacional
subversiva e de protesto - uma
linguagem que é mais relevante
hoje do que nunca.
Até Janeiro de 2016.
MERCADO 8.9.15
DR
2.
3.
Bailado de uma pintura
Tianzhuo Chen em Paris
Em Amesterdão, reabriu o novo
– complementando o antigo –
Museu Van Gogh. Fica na Praça
dos Museus, ao lado do Rijksmuseum
(com o melhor de Rembrandt
e Vermeer) e do Stedelijk (o museu
de arte moderna), enquadrados
por um campo de 125 mil girassóis.
São pretextos irresistíveis para uma
visita obrigatória à cidade holandesa.
Sublinhamos que o museu tem a mais
completa mostra de Vicent van Gogh
– o homem que um dia se tentou
suicidar e ficou sem uma orelha.
Picasso e o ballet, uma relação
de paixão e dor. Assim o entendem
os críticos que vêem Les Trois
Danseuses como uma pintura cheia
de ódio e violência, inspirada pelos
tiroteios e suicídios que tragicamente envolveram os amigos de Picasso.
Mas é também sobre a própria
relação turbulenta do artista com
a dança? Provavelmente, ele que foi
casado com Olga Khokhlova,
uma bailarina russa. The 3 Dancers,
a ver no Theatre Royal Plymouth,
no Reino Unido.
Um dos mais promissores artistas
da China, Tianzhuo Chen (nasceu
em 1985 em Pequim, onde vive)
apresenta a sua primeira exposição
individual no Palais de Tokyo,
em Paris. Através de um imaginário
colorido, grotesco, kitsch, uma
estranha onda hip-hop, a cultura
do delírio de Londres, da butoh
japonesa, da voguing em Nova
Iorque e do universo moda
são as referências nas obras de
Tianzhuo Chen. Até 13 de Setembro.
Saiba mais em:
wwwvangoghmuseum.nl
Saiba mais em: www.theatreroyal.
com/whats-on/2015/rambert
6.
“Nutrição
enquanto
cultura”
é tema de uma
exposição
da pintora
angolana Erika
Jamêce para
ver no pavilhão
de Angola
na Expo Milão
até 16
de Setembro
Os tons da lusofonia
A 4.ª edição do Festival Conexão
Lusófona acontece no dia 18, às 22:00,
no Coliseu dos Recreios, em Lisboa,
na promoção do diálogo entre gerações
e na partilha da cultura lusófona.
Don Kikas é o angolano que fará parte
desta enorme conexão que conta com
sons e vozes de Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique,
São Tomé e Príncipe e Timor.
Um espectáculo único.
Saiba mais em: http://www.
palaisdetokyo.com/fr/exposition/
tianzhuo-chen
“To be or not to be”
Em Londres, no palco do Barbican, Benedict Cumberbatch é Hamlet numa das mais simbólicas peças de teatro sobre
os temas da traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade. Benedict Cumberbatch assume o papel na tragédia
de Shakespeare, dirigido por Lyndsey Turner. As críticas não têm poupado elogios à contenção do actor que designam
por “o mais são dos dinamarqueses”. Até 31 de Outubro.
Saiba mais em: http://hamlet.barbican.org.uk/
5.
4.
Uma praça de museus
17
A Casa de
Cultura de
Angola Malta
da Paz e da
Alegria,
localizada no
bairro Benfica,
município de
Belas, em
Luanda,
promove até
dia 9 a 1ª edição
da Feira
do Livro
Infantil Malta
da Paz
e da Alegria
7.
A história de Pip Tyler
Purity é o mais recente livro
de Jonathan Frazen, um dos mais
talentosos escritores da sua geração,
nos Estados Unidos. Capa da Time,
em 2010. A queda do muro de Berlim,
os arquivos da Stasi, uma ogiva nuclear
no Texas e uma jovem californiana à
procura do pai fazem um romance, a ler.
18
MERCADO 8.9.15
LIÇÃO DE UM FILME
Os Sete Pecados
Mortais
Lançado nos Estados Unidos da América
em 1995 e hoje o filme continua actual na sua
essência,na mensagem que pretende passar.
FERNANDO BAXI
Jornalista
O
filme Os Sete Pecados Mortais conta a história de dois polícias, o jovem e impetuoso
David Mills (Brad Pitt), que trabalhou durante cinco anos numa divisão de homicídios, e o experimentado, culto e prestes a
reformar-se William Somerset “Smiley”
(Morgan Freeman), encarregados de uma
perigosa bem como intrigante investiga-
ção criminal.
Um serial killer, John Doe (Kevin Spacey), assassina as vítimas
inspirando-se nos sete pecados mortais bíblicos (gula, avareza,
luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade).
O filme leva-nos a uma viagem ao mundo fascinante da sétima arte norte-americana, onde a ficção se aproxima do real,
porque os factos exibidos nesta longa-metragem, produzida
por Arnold Kopelson e Phyllis Carlyle, são vivenciados no
dia-a-dia e dimanam do âmago do homem, enquanto indivíduo
inserido numa sociedade.
Esta película, cuja direcção coube a David Fincher, ilustra
como o comportamento do indivíduo, influenciado pelo sentimento inato, pode causar discórdia até entre homens ligados
à alta estrutura social, caso uma terceira pessoa (ponderada)
não interceda.
Os primeiros contactos entre Mills e Somerset foram minados por um clima de desconfiança. Tal facto influenciava negativamente no cumprimento da missão incumbida, capturar o
astuto e perigoso serial killer John Doe.
A interacção melhorou com a intervenção de Tracy Mills
(Gwyneth Paltrow), esposa do jovem detective.
Considerado um filme intemporal pela peculiaridade temática, Os Sete Pecados Mortais procura aconselhar um indivíduo
a agir de forma consciente, ponderada e com audácia, sob pena
de cometer-se um erro maior, capaz de condicionar a própria
vida.
David Mills foi incapaz de se conter da cólera ao tomar conhecimento da decapitação de Tracy Mills, a esposa, por John
Doe. O jovem detective, mesmo com a advertência de William
Somerset, matou o serial killer, cometendo assim o sétimo pecado capital, a ira. A brilhante carreira de detective ficou assim
arruinada num simples momento.
Seven (sete), através da representação de John Doe, procura
também passar a ideia do perigo quando a mensagem religiosa é mal interpretada, inclusive dá lugar ao fundamentalismo
religioso, um dos principais problemas mundiais nos dias de
hoje.
Os Sete Pecados Mortais foi um trabalho importante para a
filmografia de David Fincher, tendo impelido o seu sucesso no
mundo da sétima arte, sobretudo pela participação de Brad
Pitt. O director da película deu característica identificativa do
artista ao filme.
Fincher apresentou um trabalho aplaudido, relativamente
à conjugação dos vários elementos essenciais ao sucesso do
filme, tais como a luz, som e tipografia.
O filme procura aconselhar um indivíduo a
agir de forma consciente, ponderada e com
audácia, sob pena de cometer-se um erro
maior, capaz de condicionar a própria vida
Seven ou Os Sete Pecados Mortais foi lançado nos EUA
em 1995, custou 30 milhões USD, rendeu 327,3 milhões USD.
Venceu os MTV Movie Awards de melhor filme, melhor vilão
(Kevin Spacey) e de homem mais desejável (Brad Pitt).
Também foi indicado ao Óscar de melhor edição, BAFTA
de melhor argumento original e ainda MTV Movie Award de
melhor dupla (Brad Pitt e Morgan Freeman).
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20
MERCADO 8.09.15
TEMA DE CAPA
1
Fundo Soberano investe em
tecnologia às crianças do meio rural
A zona rural de Quitila, província do Cuanza Sul, recebeu
computadores portáteis concebidos para crianças em idade escolar.
POR ANTÓNIO PEDRO | FOTOS NJOI FONTES
C
Crianças felizes, num ambiente de festa, entoam canções que
retratam o quotidiano da vida, o amor ao próximo, a irmandade
que as une, ao som de instrumentos de uma banda musical de
irmãos Salesianos Dom Bosco, como forma de receber visitas.
É um estilo de vida no meio rural. E foi este o ambiente encontrado na antiga Fazenda Quitila, depois de percorridos 18 quilómetros de terra batida da cidade de Calulu à Escola Maria Mazzarelo pertencente aos Salesianos Dom Bosco.
Mas desta vez há um motivo nobre, pois o Fundo Soberano de
Angola faz entrega de computadores portáteis às crianças de
Quitila, em Calulu, como extensão do programa “Kamba Dyami
– Um portátil por Criança”, das Escolas Dom Bosco, afectas à Igreja Católica, já em funcionamento em Luanda e Benguela, com
patrocínio do fundo. Kamba Dyami, que na língua nativa kimbundu, falada no Norte de Angola, significa Meu Amigo, encontrou de facto muitos amigos em Quitila, ao todo são 200 crianças
em idade escolar e ávidas por aprender a ligar, trabalhar e desligar
um computador.
O patrocínio do Fundo Soberano de Angola em responsabilidade social resulta do padrão adoptado por instituições de investimento pelo mundo capazes de assumir participações significativas em empresas, e os fundos soberanos possuem esta
particularidade, tal como China Investment Corporation, GovernmentPensionFundGlobal(Noruega),AduDhabiInvestment
Authority, e outros, que adoptam melhores práticas de responsabilidade social corporativa.
JoséFilomenodosSantospediuaopadreSantiagoChristophersen, director das Escolas Dom Bosco e do Projecto Kamba Dyami,
para alterar o roteiro da cerimónia. Ao invés de acontecer num
ambiente ao estilo moderno, que fosse realizada debaixo de árvores que enfeitam a antiga fazenda Quitila, produzia café na era
colonial, bem ao estilo e costume autóctone. E assim aconteceu.
Debaixo de árvores, petizes como António Augusto, que estuda a terceira classe, falaram ao jornal Mercado sobre os seus sonhos, aspirações, ideias próprias de meninos. É a primeira vez
que António toma contacto com um Kamba Dyami, foi assim que
os petizes apelidaram o computador portátil.
Ele está curioso, ansioso, para aprender a escrever e a jogar
pelo computador, quer ser médico quando concluir os estudos
da idade adulta, justifica que é assim que gosta de ajudar o próximo. Emília Alfredo estuda também a terceira classe, sonha ser
professora dizendo que quer ensinar a ler, a escrever e a contar
as crianças que puder.
Pelo computador, ela quer aprender a escrever, diz que é a primeira curiosidade que gostaria de ver concretizada. A menina
Esperança Maria, colega de Emília e de António, gostou do computador e não quer algo diferente das demais crianças: pensa em
aprender a escrever, praticar jogos que ajudam no exercício da
matemática. Sonha também ser professora, para ensinar o abecedário aos outros, a contar e a escrever.
O patrocínio do Fundo Soberano de Angola
em responsabilidade social resulta
do padrão adoptado por instituições
de investimento pelo mundo capazes
de assumir participações significativas
em empresas
Os três frequentam a lavra e contam como é o dia-a-dia da vida
agrícola. Sabem trabalhar com enxada, apesar de serem pequenos, levam da lavra para a casa produtos como banana, batatadoce, mandioca, feijão, milho, contam os petizes. E acrescentam
que sabem também aplicar sementes sobre a terra de diferentes
produtos agrícolas.
MERCADO 8.9.15
21
Em Quitila estão
200 meninos que vão
compartilhar
os laptops no processo
de aprendizado.
Até fim do ano,
pretende-se
ter mais 1200
computadores para
inclusão de mais crianças
de aldeias vizinhas
José Filomeno dos Santos demonstrou que conhece bem esta
realidade do meio rural. Por isso, pediu aos pais para não prejudicarem o aprendizado escolar dos petizes em detrimento de trabalhos nas lavras.
“Sabemos que há muito trabalho nas lavras, e que tem de ser
feito, mas queremos que os nossos meninos sejam também capazes
de ter uma vida melhor no futuro. E é este grande impulso que viemos trazer hoje através do Projecto Kamba Dyami”, pediu José Filomeno dos Santos.
Disse que o fundo conta com os pais para encorajar os meninos
a cuidarem bem do Kamba Dyami e a estudar cada vez mais.
Aos professores pediu também muita paciência, uma vez que o
projecto começa com o professor, porque tem de saber como ensinar os meninos e meninas a usarem o computador, a cuidarem bem
para aproveitar tudo que o laptop pode dar, para que “este projecto
tenha sucessos aqui e ajude a melhorar muitas coisas por aqui, para
um bom futuro”, insiste Filomeno dos Santos.
O amigo que vai ajudar
O projecto Kamba Dyami começou nas escolas Dom Bosco de Benguela e Luanda. Aquando da extensão para a zona rural de Quitila,
no Cuanza Sul, o presidente do Fundo Soberano falou de forma improvisada para os petizes que esperavam ansiosos pegar os computadores: “Viemos de Luanda para trazer-vos uma novidade. Chamase Kamba Dyami, é um amigo que vai ajudar-vos a estudar, coisas
novas sobre a lavra e com o qual vão poder contar quando estão a
achar que alguma coisa que o professor disse é difícil.”
José Filomeno dos Santos explica aos meninos de Quitila sobre o
José Filomeno dos Santos demonstrou que
conhece bem esta realidade do meio rural.
Por isso, pediu aos pais para não
prejudicarem o aprendizado escolar
dos petizes em detrimento de trabalhos
nas lavras
papel do Fundo Soberano, afirmando que é um fundo de poupanças
do Estado, que é de todos os angolanos, que poupa dinheiro para o
futuro, “e o futuro são vocês, que estão aqui hoje e vão fazer de Angola um grande país”.
Desde o final de 2013 a 2015, o Fundo Soberano patrocinou a aquisição de 1602 laptops para beneficiar 5 mil crianças das zonas rurais
de Benguela, Luanda e agora Cuanza Sul, para de forma prática
aprenderem matemática, gramática e acederem a um ensino fora
do padrão tradicional. Este ano, o projecto recebe mais 1200 computadores, através do fundo, como mais um meio que visa ajudar a
melhorar a qualidade do ensino na educação através de novas ferramentas tecnológicas.
Os laptops oferecidos em Quitila possuem uma versão mais avançada que os primeiros adquiridos para Benguela e Luanda, pois são
touch, digitais, com softwares mais desenvolvidos ainda para a realização de tarefas inerentes à vida escolar de uma criança. Há jogos
interactivos e mais desenvolvidos para uma criança aprender en-
quanto brinca no laptop. Uma pequena demonstração foi feita em
sala de aula, sob olhar do presidente do fundo, como forma de consolidar aulas. Os laptops possuem manuais de utilização para ajudar
os professores que vão ensinar as crianças.
O padre Santiago Christophersen, director do projecto, disse ao
Mercado que o “Kamba Dyami – Um Portátil por Criança” permitiu
fazer crescer o nível intelectual de crianças de zonas de Benguela e
também em Escolas Dom Bosco de Luanda.
“Quando começámos o projecto, notámos o grande embaraço
não só dos alunos, as crianças, mas sim da nossa própria estrutura,
porque os professores tiveram de aprender uma nova forma de ensinar.” Em Quitila estão 200 meninos que vão compartilhar os laptops no processo de aprendizado. Até fim do ano, pretende-se ter
mais 1200 computadores para inclusão de mais crianças de aldeias
vizinhas, que sobrevivem da agricultura familiar, onde o projecto
está implementado.
O padre Christophersen disse que os alunos da terceira classe são
os primeiros beneficiados, depois seguem outros até à sexta classe,
mas chegará a fase em que da primeira à sexta classes os alunos das
zonas rurais afectas ao projecto terão acesso a um laptop.
A Escola Maria Mazzarelo Dom Bosco, em Quitila, possui seis
salas de aula e ministra aulas nos períodos da manhã e da tarde. José
Filomeno dos Santos disse que está ciente que existe uma iniciativa
a nível do Ministério da Educação, que é complementada pelo Kamba Dyami, nas zonas rurais de Benguela, Luanda e Cuanza Sul, por
isso “acreditamos que com este impulso que foi iniciado pela Missão
Salesiana o projecto está a se espalhar e está a ser bem recebido pelas
comunidades, é também um projecto auto-sustentável”.
MERCADO 8.09.15
LIFE&ARTS
“Eu seria outra pessoa
se tivesse nascido
com outro cabelo”
Djaimilia Pereira de Almeida, 33 anos, nascida em Luanda,
é o mais recente fenómeno da escrita em português
com Esse Cabelo, o primeiro livro.
POR ANA MARIA SIMÕES | FOTOGRAFIA REINALDO RODRIGUES
A
brimos as hostilidades amenas
com a pergunta: “O mau feitio do
seu cabelo fez o seu feitio?”
E obtivemos como resposta:
“Sem dúvida, por acaso as reacções ao livro têm sido interessantes porque as pessoas que já
leram o livro estão a tomar a história da Mila como a minha história tal e qual, e não é exactamente assim. Mas, em todo o
caso, há uma grande justaposição. E no caso dela, tanto como no meu caso, eu diria que sim,
diria que o mau feitio do cabelo, e a confusão particular deste
cabelo, tornou-me a pessoa que sou.” E a conversa prossegue
com uma citação do livro… da Djaimilia: “À estética o que é da
estética, à moral o que é da moral – para no instante seguinte
nos depararmos com a maneira como tal separação de forças
não pode ter lugar.” Muito bem, isto quer dizer exactamente o
“
Segundo se diz, desembarquei em
Portugal particularmente despenteada
aos 3 anos, agarrada a um pacote
de bolachas Maria. Trazia vestida uma
camisola de lã amarela hoje reconhecível numa fotografia de passaporte
quê? A escritora responde: “Por acaso essa passagem tem que
ver com a pergunta que me fez, essa passagem tem que a ver
com… Nós, de alguma forma, não nos podemos desligar das
coisas pelas quais vamos passando, mesmo que o problema com
o cabelo a certa altura fique resolvido, fique arrumado, a pessoa
não pode dissociar-se da pessoa em que se foi tornando ao longo do tempo em que para si isso foi um problema, não pode
descolar do caminho que foi fazendo. Não podemos decantar
o líquido da mistura de que somos compostos.”
Sabemos, porque a escritora nos disse, que esta é a Mila, que
estas memórias são da sua personagem. Mas são memórias,
também as suas e da sua família. Perguntamos: “Quase que podia dizer que sei algumas coisas sobre si e outras tantas sobre a
sua família, mas o que li é ficção, fale-me da realidade, a começar pela bisavó judia…” Djaimilia respondeu: “Como tudo o que
é muito antigo na história de qualquer família, há uma grande
confusão e a certa altura já não sabemos o que é verdade e o que
foi inventado. Parecido com a maneira como se constrói um
livro, de facto.A certa altura já não sei se a minha bisavó era
judia, se o outro era maçon… Já não sei se era em Seia, se era em
Castelo Branco, isto a partir das nossas memórias familiares,
no entanto, todas estas pessoas partem de pessoas que alguma
vez existiram.” E quem são elas? “É uma família de angolanos e
portugueses. Portugueses que foram, a meio do século XX, para
África trabalhar e que têm a particularidade de não terem regressado para Portugal na altura da independência. E nem todos
regressaram. E depois tenho outro lado da família, que é um
lado angolano, de pessoas que sempre viveram em Angola, nasceram em Angola, são angolanos, alguns dos quais foram emigrando para Portugal ao longo do tempo. É uma história com
estes dois lados.” E também a história de um pai branco e uma
mãe negra que não ficaram juntos para sempre. Da relação deles nasceu a relação da escritora com Luanda, onde a mãe ficou.
Passamos de novo para a conversa e temos a razão do livro.
Diz Djaimilia: “É da minha relação com Luanda que emana o
livro. Perceber que queria escrever este livro surge numa altura em que eu comecei a ter saudades de Luanda, depois de um
longo período em que nunca pensei nisso. Sempre vivi em Portugal, desde pequena, nunca tive curiosidade, ia a Luanda de
férias, ou não ia, e isso nunca me importou. E a certa altura, de
uma maneira completamente inexplicável, ou não, se quiser
pensar nisso, mas por uma conjugação de factores que são completamente exteriores à minha família, mas que têm que ver
com referências e com a vida da minha própria curiosidade,
comecei a ter saudades de Luanda. E depois comecei a perceber
“
O Teatro Avenida, a entrada do Jornal
de Angola, um intenso cheiro a tinta,
ruas em que não me saberia orientar.
No emaranhado de gruas da actual
Luanda, que recebo pela televisão,
pouco mais consigo reconhecer
“
“
22
que as saudades que eu tinha eram saudades sobre um sítio do
qual sabia absolutamente nada. E comecei a perceber que o que
sei sobre Luanda, o que sabia sobre Luanda, é mais ou menos o
que sei sobre a minha família. Por isso reajo com alergia quando
ouço dizer que o livro é um bocado a história da minha família.
Na verdade, o livro é escrito a partir de um ponto de vista de
ignorância a respeito da minha origem.”
E continuamos com a história, uma história real, física, geográfica: “No ano passado, a certa altura, precisei de fazer uma
longa viagem por Portugal em trabalho, por vários pontos do
país. A certa altura, a meio da viagem, encontrei-me com um
americano, completamente por acaso, um desconhecido com
quem troquei algumas palavras, perguntou-me de onde eu era,
e eu disse que era de Angola. Perguntou-me se eu lá costumava
ir, e eu disse que não. E ele disse-me: e não tens saudades? E eu
disse: por acaso agora comecei a ter. Ultimamente tenho tido.
E ele disse-me: é normal, é um cliché, mas é verdade. Não sei
explicar bem, mas sei que estas saudades não são apenas abstractas, concretizaram-se e materializaram em coisas concretas.” Tais como? “De um momento para o outro, comecei a
MERCADO 8.9.15
“
O modo de os outros tratarem do meu
cabelo simbolizou sempre a confusão
doméstica entre o afecto e o preconceito, o que vem desculpando
a minha falta de jeito para cuidar dele.
Trato-o como faria uma angolana
mais que falsa ou uma portuguesinha.
“
ouvir só música angolana, a querer rodear-me de coisas angolanas, com muita curiosidade, uma curiosidade descontrolada.”
Mais adiante admite: “Este livro pisca o olho a certas narrativas
sobre o regresso, o regresso às origens, mas ao mesmo tempo
ensinou-me a duvidar do heroísmo desse regresso às origens.”
Djaimilia Pereira de Almeida nasceu em Luanda em 1982 e cresceu nos arredores de Lisboa. Vive agora em Lisboa com o marido.
Entretanto, doutorou-se em Teoria da Literatura. “Doutorei-me
na Universidade de Lisboa num departamento chamado Programa em Teoria da Literatura, e o que fiz foi um trabalho sobre um
sub-ramo da filosofia chamado Identidade Pessoal.” Numa recente crítica (do escritor e jornalista José Mário Silva) lia-se que
“este seu inclassificável livro de prosa é uma espécie de prolongamento, ou de demonstração prática, dos conceitos abordados
no seu trabalho académico”. A autora diz que é um pouco mais
complicado do que isso. E explica: “Ao escrever este livro, eu comecei a aprender o que tinha apreendido na tese. Só agora que o
livro está feito é que começo a perceber o que escrevi na minha
tese ao longo dos últimos anos, é como se aquilo que apreendemos
só se manifeste mais tarde. Eu aprendi muito sobre a minha tese
ao escrever o livro.”
Uma das fotografias no livro (uma de duas) refere-se aos acontecimentos de Little Rock (a cidade dos Estados Unidos onde, na
escola secundária, os estudantes afro-americanos só conseguiram frequentar as aulas sob forte protecção policial). É a imagem
de uma jovem negra agarrada ao seu caderno rodeada por jovens
brancas, em fúria. “A fotografia está lá como uma espécie de radiografia do ânimo e da alma da Mila [a personagem] num certo
momento a respeito de um certo tipo de problemas. E está lá como
radiografia não só da Mila como de uma série de outras pessoas
que num certo momento se vêem numa certa situação, e isto independentemente do valor histórico da fotografia.”
O que é que espera dos leitores? “Tenho tido mais curiosidade
em saber a opinião das pessoas que não conheço do que daquelas
que conheço.” E o cabelo? “Não é um pretexto. É uma imagem,
um fio condutor”, para reconhecer, naturalmente, que: “Eu seria
outra pessoa se tivesse nascido com outro cabelo, e provavelmente não haveria livro.”
Para terminar, duas perguntas: Considera-se escritora? (Pausa.) “Certamente que não. Sinto-me mais confortável a imaginar
que escrevi um livro. Não sei se mereço esse título tão imediatamente.” Sente-se portuguesa, ou angolana? (Pausa maior.) “Sinto-me um bocadinho de ambas as coisas. Sou as duas coisas. Sou
portuguesa e sou angolana.”
O livro (da Teorema) chegou às livrarias portuguesas em 1 de
Setembro, no mesmo dia em que falámos com a autora, naturalmente emocionada. É o seu primeiro livro, é “ a tragicomédia de
um cabelo crespo que cruza a história de Portugal e Angola”.
23
24
MERCADO 8.09.15
BRUNCH WITH...
Sou um homem focado nos meus objectivos
e paro apenas depois de alcançar a meta
MERCADO 8.9.15
25
Cláudio
Augusto
Os negócios e a vida privada são alguns dos aspectos
referenciados na entrevista ao empresário que quer
reerguer o nome do País no sector do café.
P O R VÂ N I A A N D R A D E | F O T O G R A F I A N J OY F O N T E S
O Mokamba
é o café oficial
do continente
africano
na Expo Milão
O
convidado desta edição do Brunch with... chama-se Cláudio Augusto, de 37 anos, simpático,
extrovertido e com elevado senso de humor. E
com estes atributos, a conversa decorreu de forma animada no Bar Café do Hotel Trópico em
Luanda.
Cláudio Augusto é proprietário e gestor da empresa que produz
e comercializa o café Mokamba, e exerce igualmente as funções
de assessor do conselho de administração da Feira Internacional
de Luanda (FIL).
“Considero-me um homem simples e também gosto de coisas
simples.” Esta é uma das frases que o caracteriza, segundo precisou. Segundo filho de 11 irmãos, Cláudio Augusto passou parte
da infância e da juventude em Portugal, entre as cidades de Braga
e Porto.
Fez o ensino primário em Luanda, na Escola Rainha Ginga, ao
Cassenda. Aos 12 anos, emigra para Portugal, onde permanece
até aos 29 anos.
Foi igualmente naquele país europeu que deu início à sua formação superior, tendo terminado em Angola, na Universidade
Lusíada, embora num curso diferente daquele que seguia em terras lusas.
“Fazia o que não gostava, por isso decidi seguir outro ramo e
formei-me em Relações Internacionais, curso com o qual me
identificava”, lembra.
O bichinho de ser empresário fez com que regressasse à sua
terra de origem. O facto, conforme narra, deu-se em 2002, numa
altura em que o País já vivia um clima de paz.
Sentia-se motivado e com espírito de dar o seu contributo para
a reconstrução e desenvolvimento do País.
“Assim que cheguei a Angola, abracei logo a actividade empresarial, por intermédio de uma empresa familiar. Eu e alguns irmãos, que também vinham do exterior do País, demos sequência
ao projecto”, lembra.
Nota ter começado pelo comércio geral. “Vendíamos diversos
produtos, como bens alimentares e enlatados”, refere.
Diz também ter prestado serviços ao sector petrolífero, essencialmente à Sonangol, e trabalhado na distribuição de combustível antes de a família possuir bombas de combustível próprias.
Na sequência, trabalhou com diferentes entidades, tornando-se
igualmente agente revendedor de empresas como a Coca-Cola e a
Unitel, aproveitando as melhores oportunidades do mercado.
Mokamba Café
Explica que o Mokamba Café proveio do espírito de tentar criar
uma marca nacional e promover algo que fosse nosso. “Vimos
no café uma oportunidade de negócio, uma vez que o produto
noutros tempos havia contribuído bastante para o crescimento
do País.”
Acrescentou que a intenção da aposta no café foi de resgatar e
elevar o nome do País, que chegou a ser o terceiro maior produtor
mundial de café antes da independência nacional.
Para Cláudio Augusto, um dos objectivos da empresa passa pela
promoção do produto além-fronteiras. Neste aspecto refere ter
sido bem-sucedido. Prova disso é o facto de a sua marca ser o café
oficial do continente africano na Expo Milão, que termina no
próximo mês de Outubro.
Explica que tudo começou em 2013, na província do Uíge, que
é considerada a terra do bago vermelho, pois já foi o celeiro nacional nos anos áureos da produção, antes de 1975.
“Aquando da realização da 1.ª edição da Feira Multissectorial
do Uíge, enquanto andava pela feira, avistei muito café no chão.
Conhecendo a qualidade e o valor do produto no mercado, considerei uma oportunidade promissora para apostar e acrescentar
valor, investindo na sua imagem”, recorda.
Quanto ao nome do produto, Cláudio Augusto frisou que a ideia
era dar um nome abrangente, que tanto servisse para os mais
velhos como para os jovens. Daí a junção de “Moka”, que significa
café, na língua nacional kimbundu, e “Kamba” (amigo).
Um pouco mais de si
Cláudio Augusto conta que, nos seus tempos livres, quando não
pratica desporto, prefere ficar em casa com os filhos: dois rapazes, que afirma serem a razão da sua existência.
É amante do desporto e apaixonado pelo ténis, embora pratique muito pouco. Adora caminhar na marginal de Luanda, procurando manter a boa forma. Considera a dança uma boa diversão
e, sempre que pode, não perde a oportunidade de mexer com o
esqueleto.
O seu livro de cabeceira é O Príncipe e As 48 Leis do Poder, que
mostra como agem os mestres no jogo do poder, que envolve a
inteligência, perspicácia, planeamento e, principalmente, dissimulação.
Pretty Woman, comédia romântica americana produzida em
1990, que conta com a participação de Richard Gere e Julia Roberts, é o seu filme preferido.
Aprecia debater assuntos da actualidade, fundamentalmente
falar de política com amigos. Por forma a aumentar os seus conhecimentos, Cláudio Augusto não dispensa programas televisivos de cultura geral.
Gosta também de estar entre amigos. Como empresário, pretende, acima de tudo, deixar a sua marca no panorama económico nacional, sendo alguém que sirva de exemplo para as novas
gerações.
“Sou um homem focado nos meus objectivos e, quando defino
uma meta, paro apenas depois de alcançar o pretendido.”
Adora carros e velocidade. Lamborghini é a sua marca de eleição, com preferência para modelos antigos, porque é “muito à
moda antiga”. A nível do desporto, é benfiquista de coração.
Confessa que adora comer, e o seu prato preferido é o arroz de
marisco acompanhado de um copo de vinho. Dificilmente tira
férias devido ao volume de trabalho nas suas ocupações, mas,
quando pode, o destino é sempre único: Lisboa.
Católico, Cláudio Augusto vai à igreja sempre que pode, acreditando em Deus. “Ele é o nosso condutor e mostra-nos o caminho
para atingirmos os nossos objectivos, daí que acredito que tudo
o que acontece nas nossas vidas tem a Sua mão.”
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MERCADO 8.9.15
Investimento
27
1980
Carros desta década são os mais activos
nos leilões internacionais, segundo pesquisa
da Hagerty Insurance. O motivo é
que as crianças desse tempo são agora
os CEO com posses para adquiri-los
NIGÉRIA
Uber quer
multiplicar
motoristas
na maior cidade
de África
A Uber está a negociar preços menores para novos veículos com a Kia
Motors, para multiplicar por cinco o
seu número de motoristas na cidade
nigeriana de Lagos, a maior da África, para 3 mil, até ao final do ano que
vem.
A empresa americana de reserva de
carros assinou contrato com a fabricante de veículos sul-coreana e com
o Access Bank, com sede em Lagos,
para reduzir o pagamento de entrada
exigido para novos veículos, de quase
200 mil para 95 mil nairas (477 USD),
refere Alon Lits, director-geral da
Uber para a África Subsariana.
“Desde que começámos em Lagos,
há apenas um ano, foram criadas
mais de 600 oportunidades de emprego usando o aplicativo”, disse
Lits. “Isso realmente é só o começo.
Nós sentimos que esse número pode
ficar muito acima de 3 mil até ao final
de 2016.”
Desde que começou
em Lagos, há apenas um
ano, a Uber criou mais
de 600 oportunidades
de emprego
A Uber, que conecta motoristas
com passageiros através do seu aplicativo de smartphone em mais de
300 cidades, procura parcerias que
reduzirão os custos para novos motoristas numa altura em que a empresa de São Francisco está em expansão
em África, refere Lits.
Fundada em 2009, a Uber não possui veículos nem emprega motoristas,
e as empresas de táxi existentes em
cidades como Paris, Moscovo e Joanesburgo protestam contra o que consideram uma concorrência desleal.
Mapas sem qualidade
Entre os desafios enfrentados pela
Uber em Lagos, primeira cidade africana subsariana fora da África do Sul
a contar com o serviço, estão os congestionamentos e a má qualidade dos
mapas, segundo Lits. Outra questão
A capital da Nigéria,
com 21 milhões
de habitantes,
é um mercado
com grande potencial
é que uma proporção relativamente
pequena de nigerianos sabe manusear um smartphone bem o suficiente para gerir os deslocamentos,
acrescenta Ebi Atawodi.
“O módulo smartphone é, normalmente, o que é de mais para as pessoas”, disse Atawodi. Embora as assinaturas de telefones móveis activas
nigerianas tenham aumentado cerca
de 14%, para 148,5 milhões, nos 12
meses até Julho, segundo a Comissão
Nigeriana de Comunicação, menos
de 10% são para smartphones, ou
aparelhos com Internet. A Nigéria é
o país mais populoso da África, com
mais de 170 milhões de habitantes,
dos quais cerca de 21 milhões moram
em Lagos.
Para solucionar o problema do mapeamento, a Uber está neste momento a trabalhar com outras empresas de
tecnologia em maneiras de dar indicações aos motoristas que não têm acesso às orientações convencionais.
Na capital do Quénia, Nairóbi, a
Uber está a fazer testes com uma em-
Bloomberg
O objectivo
é atingir 3 mil
até ao final do ano
na cidade nigeriana
de Lagos.
Travis Kalanick,
o fundador
e CEO da Uber
presa local que está a desenvolver
formas de enviar fotos dos locais em
vez de apenas os endereços.
“Diferentemente dos mercados
mais desenvolvidos, muitas vezes não
há um endereço ao qual o motorista
poderáchegarrecebendoorientações
detalhadas do caminho”, disse Lits.
“Oportunidade enorme”
O crescimento da Uber em Lagos
poderá igualar a velocidade de aceitação do aplicativo na África do
Sul.
Os motoristas da empresa na economia mais industrializada de África transportaram passageiros em
mais de 2 milhões de corridas neste
ano, contra cerca de 1 milhão em
2014, comunicou a empresa no passado mês de Julho.
Além de Joanesburgo, a empresa
opera também em Durban e na Cidade do Cabo. Lits prevê que o número
de motoristas sul-africanos aumentará para cerca de 15 mil por volta do
início de 2017, contra 2 mil actualmente. “Lagos tem três vezes o tamanho da região metropolitana de
Joanesburgo”, disse ele, em referência à sua população. “Há uma oportunidade enorme aqui.”
NR/Bloomberg
28
MERCADO 8.09.15
Bloomberg
Business
E-WA STE
O lixo do mundo é o tesouro da China
Cerca de 70% do lixo
electrónico do planeta
acaba na China, onde
é reciclado e convertido
em novos aparelhos.
POR PAULO NARIG ÃO REIS
É uma das consequências mais visíveis
da sociedade de consumo, mas a verdade é que só reparamos realmente no
lixo quando começa a acumular-se nas
nossas ruas. O mundo gera 3,5 milhões
de toneladas de resíduos sólidos por
dia e espera-se que este valor duplique
em 2025. Ora, o lixo de uns é o tesouro
de outros, e o desperdício tornou-se,
para alguns, um enorme negócio. Por
alguns entenda-se a China, onde o lixo
é uma indústria que gera milhares de
milhões USD por ano.
Há lixo e há lixo, obviamente, e a
China tornou-se no grande destino
mundial do chamado lixo electrónico.
Quando o deitamos fora, o mais certo
é que o nosso velho e rapidamente
obsoleto telemóvel atravesse meio
mundo até à China, que, estima-se,
recolhe cerca de 70% do e-waste,
como se convencionou chamar ao lixo
electrónico.
Em 2014, o planeta produziu 42 milhões de toneladas de lixo electrónico,
das quais 6,5 milhões tiveram direito
a reciclagem. Na categoria de lixo
electrónico cabem, para além do tele-
móvel, todos os aparelhos indispensáveis à vida moderna, desde computadores e televisores a frigoríficos e
microondas. Grande parte deles,
diga-se, fabricados na China, o que faz
do comércio tecnológico mundial
numa espécie de pescadinha de rabo
na boca: compramos um smartphone
que, provavelmente, foi feito numa
fábrica chinesa e, quando o deitamos
fora, regressa à China, onde os materiais de que é feito são reciclados, separados e utilizados para fazer o nosso novo smartphone.
De todos os materiais de que são
feitos os electrodomésticos e gadgets,
os metais são os mais valiosos. Por
exemplo, num moderno smartphone
encontramos cobre, ouro, platina,
alumínio e prata, para além de vários
elementos de terra rara.
A cidade do lixo
Há mais de uma década que a cidade
de Guiyu, na província de Guangdong,
no Sudeste da China, é a capital mundial do lixo electrónico. A maior parte
da sua população de 150 mil pessoas
especializou-se em desmontar, desfiar e reciclar os aparelhos que o mundo deita fora.
As ruas da cidade estão repletas de
fios, cabos, pedaços de plástico e metal, tudo devidamente separado. Nas
muitas oficinas da cidade, milhares de
pessoas trabalham na separação dos
componentes, amiúde com as próprias mãos, quando se trata de abrir
um cabo e separar os vários fios de
metal.
Um dos principais clientes é a Foxconn, a empresa de Taiwan que é a
maior fabricante mundial de componentes electrónicos do mundo, fornecendo gigantes globais como a Apple,
Dell, Hewlett-Packard, Sony, Nintendo, Microsoft e Motorola.
A cidade de Guiyu,
no Sudeste da China, é,
há mais de uma década,
a capital mundial
do lixo electrónico
Os elevados níveis de poluição
constituem, naturalmente, o “downside” deste negócio de milhões, e
nos últimos anos têm sido feitos alguns esforços para minimizar o problema.
Pegada ecológica
Ironicamente, ao assumir-se como
potência mundial do lixo, a China
está também a contribuir para reduzir a pegada ecológica do planeta.
O e-waste pode ser mais valioso, mas
a nação asiática também aproveita
vários tipos de metais, plásticos e
papel. Neste último caso, por exemplo, a utilização de papel reciclado
permite poupar cerca de 75% da
energia necessária para produzir papel novo a partir de fibras virgens.
Para além disso, reduz em 35% a poluição da água e em 74% a poluição
atmosférica resultantes do fabrico
de novo papel. Dito de outra maneira: por cada tonelada de papel reciclado, são salvas 30 árvores, poupase 26 mil litros de água e liberta-se
três metros cúbicos de espaço utilizado como lixeira.
A primeira grande fortuna da China
no que ao desperdício diz respeito foi,
aliás, feita com o papel. Em 1994,
Zhang Yin fundou a Nine Dragons Paper Holdings Limited, empresa que
fez dela milionária e lhe valeu o epíteto de “rainha do lixo”. Hoje, a empresária é a quarta mulher mais rica da
China, com uma fortuna pessoal avaliada em 4,4 mil milhões USD.
Antes do ano 2000, a China importava meio milhão de toneladas de papel por ano. Hoje, o número subiu
para 30 milhões de toneladas. A recolha de papel era também praticamente residual antes da passagem do milénio. Hoje, a China reaproveita, por
ano, 50 milhões de toneladas de papel.
O aproveitamento do metal gera
também verdadeiras fortunas. A China Metals Recycling Association, que
reúne as muitas empresas que fazem
reciclagem de metal usado, calcula
que o negócio valha, nesta altura,
mais de 40 mil milhões USD por
ano.
Top 10 do lixo electrónico
1 Estados Unidos
7,07
2 China
6,03
3 Japão
2,20
4 Alemanha
1,77
5 Índia
1,64
6 Reino Unido
1,51
7 França
1,42
8 Brasil
1,41
9 Rússia
1,23
10 Itália
1,07
(em milhões de toneladas, 2014)
Fonte: United Nations University
MERCADO 8.9.15
Gás
Uma importante jazida de gás natural foi
descoberta no Mediterrâneo. O depósito
localizado a 1450 metros de profundidade,
no campo de Shorouk, ao largo do Egipto,
pode conter cerca de 30 mil milhões de
metros cúbicos de gás. A ENI classificou
esta descoberta como a 20.ª maior do mundo
6
29
mil milhões de USD
por ano, eis quanto representam
os prejuízos decorrentes do roubo
de petróleo e da sabotagem
de oleodutos na Nigéria.
O governo vai lançar drones
para evitar um roubo que chega
aos 100 mil barris por dia
A P O S TA N O M E R C A D O N A C I O N A L
Inosat Angola investe 6 milhões USD
em sistemas de segurança
P O R VÂ N I A A N D R A D E
A Inosat Angola, firma especializada
na produção e comercialização de soluções de localização GPS para diferentes empresas e particulares, investiu cerca de 6 milhões USD, entre
2008 e 2014, no desenvolvimento da
sua actividade no País, contando nesta altura com 380 clientes.
Segundo o director-geral da instituição, João Santos, a Inosat assiste
nesta altura 7500 viaturas, contra as
500 que assistia em 2010, um aumento na ordem dos 1400%. Salientou
igualmente que a actividade se tornou
rentável no País, tendo o mercado
crescido de forma considerável, por
se tratar de um produto que se enquadra dentro da área da segurança, quer
de automóveis quer de pessoas.
A Inosat Angola não deverá crescer
este ano, mantendo a facturação do
ano passado, que havia superado em
35% as vendas de 2013. João Santos
frisou igualmente que um dos objectivos da empresa para os próximos
anos passa pelo aumento da carteira
de clientes. No País, o foco da empresa está essencialmente voltado para a
venda e instalação de GPS para particulares, fazendo também o controlo
e gestão de frotas, fundamentalmente de viaturas.
A Inosat Angola faz a instalação do
GPS às viaturas, mas quem procede ao
controlo das mesmas são os clientes,
de acordo com João Santos, com excepção da Sonangol Distribuidora,
que efectua o controlo da própria frota de distribuição de combustível, que
conta 1100 viaturas.
Tem como maior cliente a MotaEngil, com uma frota de 1330 viaturas.
A nível da banca, por exemplo, a Inosat Angola presta serviços ao Standard Bank e ao banco Atlântico.
Inofrota para empresas
João Santos explicou que, além do
GPS, a Inosat Angola comercializa
dois diferentes tipos de produtos,
nomeadamente o localizador de pessoas, My Locator, e o Inofrota, especialmente para empresas. O mecanismo é vendido ao preço de 490 USD e
inclui a sua instalação. Quanto ao funcionamento, explica que a comunicação do GPS instalado em viaturas é
mantida a partir de servidores instalados na República da Irlanda. O cliente tem acesso a relatórios, informações e outras funcionalidades do
sistema, através de uma conta particular que dá acesso à sua entrada na
plataforma, bastando para tal estar
ligado a um projector, TV, computador ou tablet.
“Caso um motorista tenha, por
exemplo, um comportamento inadequado durante a condução, ou se houver um roubo, a viatura imobiliza-se,
deixando de funcionar”, disse. Esclareceu ainda que o sistema dispõe de
um botão de pânico, que no caso de
roubo ou assalto à viatura, quando
accionado, envia automaticamente
João Santos,
director geral
da INOSAT
Carlos Muyenga
A empresa não deverá
crescer este ano,
mantendo a facturação
do ano passado, que
superou em 35%
as vendas de 2013.
uma mensagem de alerta para o telemóvel do proprietário da viatura ou
de uma pessoa próxima.
De acordo com o gestor, para as empresas de transportes, é importante a
utilização deste sistema para melhor
controlo da mercadoria no caso dos
combustíveis e de bens alimentares,
que tendem a ser desviados.
Por isso, João Santos aconselha as
empresas de distribuição de combustíveis a apostarem neste sistema, uma
vez que permite ter um controlo maior
sobre os camiões e a mercadoria.
O gestor precisou também que a
rede de supermercados Maxi utiliza o
sistema Inofrota para o controlo das
rotas dos seus camiões.
Acrescentou que é possível igualmente, através de sensores, medir a
temperatura no interior dos contentores de frio e camiões com caixa de
frio, o que permite saber se os alimentos estão dentro dos parâmetros normais de qualidade ou não.
Adiantou também que o sistema
possui vários componentes, que podem ser aplicados a nível da seguran-
ça em relação à gestão das empresas.
Outro produto inovador comercializado pela Inosat Angola é o alcoolímetro. A máquina é instalada no tablier da viatura, que não liga sem que
se sopre no aparelho.
“Caso o condutor acuse mais do que
0,2% de álcool no sangue, o carro
imobiliza-se, e automaticamente o
sistema envia um alarme para a plataforma.”
De lembrar que a Sinfic e a Frotcom
são as maiores concorrentes da Inosat
Angola.
I M P O R TA Ç Ã O E M B A I X A E F A LTA D E D I V I S A S
Habitec reduz quota de produção
Orçado em cerca
de 4 milhões USD,
o projecto da empresa
foi edificado em dois
pressupostos.
POR AGOSTINHO RODRIGUES
A Habitec, indústria de transformação de madeira, fabrico de mobiliário
escolar e residencial, reduziu a sua
produção de 500 para 350 unidades
por dia, em face da queda de facturação resultante da retracção financeira
do País. Instalada na zona industrial
ligeira de São Pedro, desde 2010, na
província do Huambo, o investimento na fábrica resulta de crédito à banca nacional.
Orçado em cerca de 4 milhões USD,
o projecto da Habitec foi edificado em
dois pressupostos: a existência de eu-
caliptos na fronteira da Zâmbia até à
província de Benguela, e o défice de
mobiliário que se verifica no sector
escolar.
A empresa produz carteiras escolares, quadros e mobiliário residencial, como camas, portas, janelas,
mesas e cadeiras para o sector hoteleiro. “Criámos um produto diferente, uma marca angolana robusta, com
garantia de durabilidade e meio rústico, por isso, tudo o que produzimos
é consumido”, afirma o director executivo da Habitec, Felisberto Nicolau
Capamba. Com 120 trabalhadores, a
Habitec teve, entre 2011 e 2014, um
volume de negócio médio de 4 milhões USD.
“A média é aceitável para uma empresa de transformação num país
onde a taxa de mortalidade é alta.
Em 100 empresas, apenas três ou
quatro sobrevivem”, considerou Capamba.
A empresa, que se diz preparada
para ser cotada em bolsa, considera o
ano de 2015 imprevisível no que concerne ao volume de facturação, uma
vez que, desde o ano transacto, não
importou matéria-prima devido à
redução nas quotas de importação e
falta de divisas.
Para além da madeira, a empresa
necessita de matérias-primas complementares, como cola, parafusos e
vernizes, entre outros.
30
MERCADO 8.9.15
Sustentabilidade
ANUNCIA A NESTLÉ
KitKat, o primeiro chocolate
a usar cacau 100% sustentável
A Nestlé anunciou que o KitKat será
a primeira marca internacional de
chocolate a fabricar todos os seus
produtos com cacau de origem sustentável, num momento em que o
sector enfrenta acusações de trabalho infantil na oferta de matériasprimas.
Até ao primeiro trimestre de 2016,
só se utilizará cacau autorizado por
terceiros independentes, refere a
companhia com sede em Vevey, na
Suíça, em comunicado oficial. Isso
inclui os chocolates fabricados nos
EUA, que são produzidos pela Her-
shey, titular da licença.
O sector de chocolate foi criticado
durante anos porque os produtores
compram cacau de fazendas que utilizam trabalho infantil. Visitas aleatórias a 200 fazendas na Costa do
Marfim que fornecem a Nestlé encontraram quatro crianças com menos de 15 anos a laborar nas plantações de cacau, de acordo com um
relatório da Fair Labor Association
publicado no ano passado. Desde
2012, a maior empresa de alimentos
do mundo aceitou ser monitorizada
pela organização sem fins lucrativos
para erradicar a prática.
das de forma sustentável até 2017.
A Nestlé começou a adoptar o cacau
da Fairtrade para produzir o KitKat
no Reino Unido em 2010 e tem vindo
a ampliar o uso de grãos certificados
para o Canadá, a Austrália, a África
do Sul e a Europa.
Plano para erradicar
o trabalho infantil
Em 2001, a Nestlé e outras grandes
fabricantes de chocolate aderiram a
um plano para acabar com o trabalho
infantil nas fazendas da África Ocidental depois de Tom Harkin e Eliot
Engel, parlamentares dos EUA, terem dado destaque à questão.
A medida para o KitKat é parte da
meta da Nestlé de suprir anualmente
150 mil toneladas de cacau produzi-
Recorde-se que a Nestlé foi processada na semana passada por quatro consumidores devido a alegações
de que o seu alimento para gatos
Fancy Feast contém peixe de um fornecedor tailandês que utiliza trabalho escravo.
A Nestlé reforça a sua posição e
anuncia que o trabalho forçado “não
tem lugar na sua cadeia de abastecimento”.
Desde 2001 que as
grandes fabricantes
de chocolate tentam
acabar com o trabalho
infantil em África
DR
E livre do trabalho
escravo infantil,
denunciado pelo
relatório da ONG
Fair Labor Association.
A Nestlé assume uma
nova fase em que quer
pôr termo a estas
acusações.
NR/Bloomberg
AQUISIÇÕES
CEO da Lindt quer expandir negócio
A fabricante suíça de chocolates premium Lindt & Sprüngli está à procura
de mais aquisições após a compra da
Russell Stover Candies e quer expandir-se para Brasil e Rússia, tirando
vantagem da desvalorização das respectivas moedas. Os futuros negócios
serão menores que a aquisição da
Russell Stover por 1,6 mil milhões
USD no ano passado, refere o CEO
Ernst Tanner, que prefere não identificar os alvos, nem especificar onde a
Lindt os procura, embora tenha dito
que a empresa com sede em Kilchberg, na Suíça, visualiza o Brasil, a
Rússia e o Japão como mercados
atraentes. “Conhecemos todas as em-
presas de chocolates premium do
mundo e sabemos quais compraríamos e de quais fugiríamos”, diz.
A compra da americana Russell
Stover colocou a Lindt à frente da
Nestlé, no terceiro lugar do mercado
de chocolates da América do Norte,
atrás da Hershey e da Mars. Agora,
com as economias e moedas dos mercados emergentes em queda, a empresa avalia que tem uma oportunidade de investir a longo prazo.
Pelo menos metade das inaugurações de lojas da empresa neste ano
ocorrerão no Brasil, país onde a economia está a encolher, o real tem perdido força e um escândalo de corrupção ameaça derrubar a presidente
Dilma Rousseff. “Dilma diz que a recessão continuará por 6 ou 12 meses”,
acrescenta o CEO, de 69 anos. “Mas
eu acho que o mercado brasileiro é
muito importante, um grande mercado para chocolates, e com a nossa
qualidade nós poderemos ir muito
mais longe.”
Ernst Tanner,
CEO da Lindt
& Sprüngli
A fabricante dos coelhinhos embrulhados em papel de alumínio Lindt
Easter planeia contar com cerca de 50
lojas brasileiras dentro de três a cinco
anos. A empresa entrou no ano passado numa joint venture com a CRM
Group, uma produtora local de chocolates premium, em busca de firmar
PHOTOPRESS/Chocoladefabriken Lindt & Sprüngli AG
A compra da americana
Russell Stover colocou a
Lindt à frente da Nestlé,
no terceiro lugar do
mercado de chocolates
da América do Norte.
a marca Lindt no sexto maior mercado de chocolates do mundo.
A China, aonde a Lindt chegou em
2012, permanecerá em segundo plano nos próximos 10 anos porque o
mercado de chocolates premium no
país é ainda pequeno. O país consome
3% do chocolate do mundo, segundo
a Euromonitor. “Não somos suficientes para estabelecer um mercado para
o chocolate”, considera Tanner. “Preferia concentrar-me em lugares onde
existe mercado, em vez de arriscar
tudo na China, onde não há mercado
para o chocolate.”
Bloomberg/Mercado
MERCADO 8.9.15
Hedge funds
31
1no Facebook
bilião
num dia
Mark Zuckerberg anunciou novo recorde no passado
dia 30 de Agosto num post: uma em cada sete
pessoas do mundo esteve conectada com familiares
ou amigos via rede social na passada segunda-feira
Flutuações
E-COMMERCE
Hedge funds trocam Alibaba
por rival de menor tamanho
Jack Ma,
chairman
do grupo Alibaba
Liu Qiangdong,
CEO da JD.com
Angela
Merkel
A abertura da
Alemanha serve
de exemplo para o
mundo em como
lidar com a crise
dos refugiados.
Bloomberg
El Corte
Inglés
em alta
A JD.com está a ganhar
terreno. Mais pequeno,
mas mais seguro e com
um crescimento mais
rápido. Há quem
chame esta guerra
pelo e-commerce
uma ‘cat and dog fight’.
Há menos de um ano, os investidores
só ambicionavam acções da Alibaba.
Na altura, a maior empresa de comércio eletrónico da Ásia fazia a sua estreia recorde na Bolsa de Nova Iorque.
Agora, a confiança está a mudar.
A JD.com, concorrente de menor tamanho, está a converter-se numa das
favoritas hedge funds do mundo do
e-commerce.
Os hedge funds aumentaram a sua
presença na JD.com de 1,2%, no terceiro trimestre do ano passado, para
18% no final de Junho, segundo dados
da Bloomberg. Paralelamente, reduziram os seus investimentos na Alibaba em mais de um terço, para cerca
de 3,1% durante esse período. Os investidores em busca de exposição ao
maior conjunto de usuários de Internet do mundo estão a apostar que a
capacidade da JD.com de oferecer
produtos de maior qualidade por
meio do seu modelo de entrega directa ajudará a companhia a manter uma
taxa mais rápida de crescimento. Embora a Alibaba ainda domine com o
maior valor total de transacções em
todas suas plataformas, a JD.com está
a impulsionar as suas vendas a um
ritmo de mais que o dobro do que o da
sua rival neste ano.
“Elas têm modelos de negócios
muito diferentes, e a JD.com está a
crescer mais rapidamente”, disse Gabriel Wallach, fundador da North
Grove Capital, que investe em acções
chinesas. Os hedge funds preferem
esta pela sua taxa de expansão, pela
sua capacidade de cumprir com os
lucros trimestrais prometidos e pelo
seu “modelo mais limpo de comércio
electrónico”, refere.
Modelo de negócios
A JD.com opera um modelo de negócios similar ao da Amazon.com nos
EUA, vendendo e entregando bens directamente aos clientes, o que permite
à empresa controlar a qualidade e os
embarques. A Alibaba obtém a maior
parte dos seus ganhos de comerciantes
que pagam para usar as suas plataformas de mercado para chegar aos compradores, imitando a forma de operar
da eBay, com sede na Califórnia.
O volume bruto de mercadorias da
JD.com, uma medição utilizada pelos
comerciantes online para calcular o
valor total das vendas feitas nas suas
plataformas, saltou 89% no primeiro
semestre de 2015 em relação ao ano
transacto. O da Alibaba cresceu 37%.
A receita da JD.com para o ano completo subiu 66% em 2014, e a da Alibaba
expandiu-se 46% no seu último ano.
Relatório
Relatório publicado por uma agência
do governo chinês em Janeiro revela
que a Alibaba não conseguiu eliminar
os bens falsificados nas suas plataformas, o que se repercute na diminuição
de confiança por parte dos investidores. Por tudo isto, o presidente, Jack
Ma, comprometeu-se a redobrar os
esforços contra as falsificações.
Por outro lado, as receitas da JD.com
superaram as projecções dos analistas
nos últimos quatro trimestres, ao passo que as vendas da Alibaba ficaram
aquém em dois trimestres do período.
Os analistas projectam que as vendas
da JD.com aumentem 53 % no terceiro
trimestre e predizem um ganho de
29%. Os investidores dos EUA com
boa memória lembram-se de que a
eBay era a líder do mercado até que a
Amazon combinou as divisões de mercado e entrega directa para superá-la.
Se a coisa se der de forma similar na
China, a JD será a melhor aposta.
NR/Bloomberg
Alibaba VERSUS Jingdong
Os resultados
líquidos do El
Corte Inglés
em Portugal
fixaram-se nos
18,4 milhões EUR,
mais do dobro
do resultado
referente a 2013.
Multicaixas
pagos
Em Espanha,
o Santander e o
BBVA juntam-se
ao CaixaBank
na cobrança dos
levantamentos
por multicaixa.
De start up a IPO
15
Anos
10
Valor por acção
68
USD
21,75
Percentagem do fundador
8,9% 20,72%
Jack Ma
Liu Qlangdong
Fonte: chinainternetwatch.com/2014
BCE
A retoma
económica
europeia tarda,
e o banco central
já admite alargar
o programa de
compra de activos.
L
MERCADO 8.09.15
LEGISLAÇÃO
“
Especialistas
alegam que o novo
documento facilita
o despedimento
e reduz
as indemnizações
N O VA L E I G E R A L D O T R A B A L H O
Documento entra
em vigor com 20 alterações
Na actual lei,
os contratos de trabalho
podem ser celebrados
por tempo determinado
ou indeterminado,
em função das reais
condições em que
a actividade
é desenvolvida.
P O R E S T Ê VÃO M A R T I N S
É já na próxima segunda-feira, 14, que
a Nova Lei Geral do Trabalho (LGT),
Lei 7/15, aprovada em 21 de Abril último pela Assembleia Nacional, entra
em vigor. O diploma revoga a LGT que
esteve em vigência no País desde
2000, e deverá ser regulamentado
nos seis meses posteriores à sua a entrada em vigor.
Aplica-se a todos os trabalhadores,
que no País prestam actividades remuneratórias por conta do empregador, no âmbito da organização e sob
Foram revistos
20 pontos fundamentais
da anterior Lei Geral
do Trabalho
a autoridade e direcção deste, tais
como nas empresas públicas, mistas,
privadas,cooperativas,organizações
sociais, organizações internacionais
e nas prestações diplomáticas e consulares.
Foram revistos 20 pontos fundamentais da anterior LGT. Em relação
aos contratos de trabalho, por exemplo, consta que os prazos foram alargados.
Na actual lei, os contratos de trabalho podem ser celebrados por tempo determinado ou indeterminado,
em função das reais condições em
que a actividade é desenvolvida.
Assim sendo, os contratos determinados para as grandes empresas
podem estender-se no prazo de cinco
anos, e para as micro e pequenas empresas têm duração de até 10 anos.
Remuneração
do trabalhador
Foi igualmente ajustado o regime de
doença dos trabalhadores, fruto da
suspensão temporária da relação jurídico-laboral, onde o legislador prevê que os empregadores, durante um
determinado período, que vai até 12
meses, devem manter a remuneração
parcial do trabalhador.
Adoptaram-se também outros dois
mecanismos para a resolução de conflitos, nomeadamente o da mediação,
que é feita pela Inspecção-Geral do
Walter Fernandes
32
Trabalho, e o de arbitragem, em que
as partes podem, livremente, escolher os árbitros para dirimir o conflito entre si.
A Lei Geral do Trabalho recomenda
o seu conhecimento por parte dos
destinatários e a correcta aplicação e
fiscalização durante o processo de
promulgação, publicação e vigência.
Diminuição das
compensações por
doença e cortes no
trabalho extraordinário
são algumas das queixas
O Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social
(MAPTSS) elaborou o “Plano de Implementação da Lei Geral do Trabalho”, com o objectivo de definir as
acções e o respectivo cronograma de
referência.
Constituída por 314 artigos, a
nova LGT foi publicada no dia 15 de
Junho do corrente ano, após cerca de
18 meses de um processo de apre-
sentação e discussão pública, debates e concertação com distintos parceiros sociais e demais entidades
interessadas.
O que mudou na nova LGT
- Foi ajustado o novo processo disciplinar
e adaptadas novas medidas de penalização.
– Ajustamento no regime de transferências dos trabalhadores
no sentido de haver flexibilização da mobilidade da mão-de-obra.
- Os empregadores devem manter por um período de até 12 meses
a remuneração parcial do trabalhador doente.
- Nesta nova LGT, o trabalho doméstico tem a particularidade
de o empregado poder prestar trabalho para vários empregadores.
- Novos mecanismos para a resolução de conflitos,
nomeadamente o da mediação, que será feita pela Inspecção-Geral do Trabalho, e o de arbitragem, em que as partes podem,
livremente, escolher os árbitros para dirimir o conflito entre si.
- Em relação aos contratos de trabalho, aqueles que estiverem
relacionados com as grandes empresas podem estender-se
no prazo de cinco anos.
- Para as micro e pequenas empresas, os contratos têm a duração
de até 10 anos.
G
MERCADO 8.9.15
33
Ernesto Muangala,
governador
provincial
da Lunda Norte
GEOGRAFIAS
“
JA Imagens
As vias rodoviárias
constituem o ponto
de partida para
o desenvolvimento
harmonioso
da Lunda Norte
LUNDA NORTE
Obras estruturantes na província
com final previsto para 2016
Entre os principais
projectos em curso
no sector das infra-estruturas rodoviárias,
destacam-se as obras de
construção da Estrada
Nacional 225, que conta
com uma extensão
de 540 quilómetros.
P O R E S T Ê VÃO M A R T I N S
A reabilitação das vias estruturantes
da província da Lunda Norte tem o
seu término previsto para meados
de 2016, altura em que deverão findar, por exemplo, a obras de construção da Estrada Nacional 180, que
liga a cidade do Dundo à vila de Nzaji, com uma extensão de 90 quilómetros.
Em entrevista recente à imprensa,
o governador local, Ernesto Muangala, salientou que, entre os principais projectos em curso no sector
das infra-estruturas rodoviárias,
destacam-se as obras de construção
da Estrada Nacional 225.
Esta via liga a cidade do Dundo aos
municípios localizados na região sul
da província, numa extensão de 540
quilómetros. No percurso deverão
ser repostas 33 pontes.
Ernesto Muangala garantiu que o
governo da província, em coordenação com as estruturas centrais, vai
continuar a imprimir dinamismo à
solução dos problemas sociais que
afligem as populações locais, visando reduzir as assimetrias em termos
de qualidade de vida.
Garantiu também que, logo após
a conclusão dos trabalhos de melhoria na circulação rodoviária a nível
das estradas nacionais, as políticas
do governo provincial estarão voltadas para as vias secundárias e terciárias da província.
O governador esclareceu igualmente que, no ano passado, começaram as obras de terraplenagem
para a reabilitação e ampliação de
120 quilómetros do troço entre as
sedes municipais de Cambulo e Lucapa, estando ainda previstas intervenções em estradas secundárias e
terciárias da região.
“A reconstrução nacional é um
grande desafio do Executivo angolano. Por isso, as autoridades locais
esperam consolidar as acções do
Plano de Desenvolvimento da Lunda
Norte até 2017”, salientou.
Apesar de reconhecer o trabalho
desenvolvido, Ernesto Muangala
reconhece também, por outro lado,
que se deve fazer mais e melhor para
que alguns sectores fundamentais
possam garantir serviços de qualidade e contribuir para o crescimento da província.
Notou ainda que as vias rodoviárias constituem o ponto de partida
para o desenvolvimento harmonioso da Lunda Norte, sobretudo para
as circunscrições afastadas da sede
provincial. Assegurou que a recuperação dessas infra-estruturas faz
parte das prioridades do Executivo,
que as inclui de forma faseada nos
Programas de Investimentos Públicos (PIP).
A província da Lunda Norte, segundo o governador, é das regiões
do País com maior malha rodoviária, com cerca de 6 mil quilómetros
de estradas.
A reabilitação total desta malha
rodoviária, disse na ocasião, possibilitará lançar as bases para o desenvolvimento de toda a província,
através da construção de diversos
empreendimentos, como infra¬-estruturas sanitárias, ampliação da
rede escolar, projectos de abastecimento de água, acções que, segundo
avança, se tornam difíceis de manter
sem estradas em condições.
para a conclusão dos trabalhos terminou em Junho último.
Os trabalhos prevêem a ampliação
da pista de 1900 metros de comprimento para 2500 metros. A empreitada está orçada em 8,5 mil milhões
Kz (68 milhões USD), de acordo com
o PIP do OGE 2015 revisto.
Consta igualmente dos trabalhos
a reabilitação do edifício da sala de
embarque, área protocolar, restaurantes, bem como o apetrechamento com equipamento moderno das
instalações aeroportuárias.
A Lunda Norte é das
regiões do País com
maior malha rodoviária,
com cerca de 6 mil
quilómetros de estradas
Nova Centralidade
do Dundo
Entretanto, a Nova Centralidade do
Dundo poderá começar a ser habitada a partir desde mês de Setembro,
segundo garantias do governador.
Muangala explicou que o governo
local, em coordenação com a Imogestin, empresa responsável pela
gestão das centralidades construídas pelo Executivo, no âmbito do
programa de fomento habitacional,
tem já concluído o processo de atribuição de quotas percentuais para a
venda das moradias.
Aeroporto do Dundo
As obras de reabilitação e modernização do aeroporto do Camaquenzo/
Dundo, que tiveram início em finais
do ano passado, deverão terminar
antes do fim do ano, segundo garantias da empreiteira. O prazo inicial
G
MERCADO 8.9.15
GLOBAL REPORT
“
Há cinco anos,
o Brasil
era visto
como um exemplo
económico
para o planeta
Bloomberg
34
CRISE
A história de sucesso
do Brasil acabou em recessão
A queda acentuada
no preço das matérias-primas, a dependência
da China e a corrupção
deixaram a economia
brasileira de rastos.
POR PAULO NARIG ÃO REIS
As histórias de sucesso não acabam
sempre bem. Há cinco anos, o Brasil
era visto como um exemplo económico
para o planeta. A taxa de crescimento
anual era três vezes superior à dos Estados Unidos, e o tamanho da sua economia suplantava a do Reino Unido.
Milhões de brasileiros saíram da pobreza, não só graças ao crescimento do
PIB – alimentado pelas exportações,
com a China como grande cliente –
como também a uma série de programas sociais implementados pelo governo de Lula da Silva. O antigo
presidente, agora definitivamente arrastado para o escândalo de corrupção
que assola Brasília, gozava de uma taxa
de aprovação acima dos 80%.
A grande estrela das economias
emergentes deixou de brilhar. O Brasil
está, oficialmente, em recessão. A economia contraiu 1,9% nos segundos
três meses de 2015, o segundo trimestre consecutivo a decrescer. Em comparação com o segundo trimestre de
2014, a queda é ainda mais acentuada:
2,6%, a maior contracção desde há
muito tempo. Para complicar ainda
mais a situação, o escândalo de corrupção que assola a política brasileira deixou Dilma Rousseff com uma taxa de
aprovação de 8%, a mais baixa de um
presidente brasileiro desde 1992,
quando Fernando Collor de Mello se
demitiu em pleno processo de impeachment.
Nos últimos meses, as ruas das cidades brasileiras têm sido palco de muitas manifestações a exigir a demissão
de Rousseff, cujo PT (Partido dos Trabalhadores) está directamente ligado
a acusações de subornos e lavagem de
dinheiro que começaram na Petrobras
e que ainda não se sabe onde acabam.
Estima-se que a petrolífera estatal tenha perdido 2 mil milhões USD só em
subornos a políticos de vários partidos, com o PT à frente.
O ambiente económico ressentiu-se
naturalmente: no segundo trimestre
de 2015, o investimento decresceu
12% em relação ao período homólogo
de 2014.
A culpa é das commodities
O retumbante crescimento económico está naturalmente ligado ao boom
mundial da procura de matérias-primas. As commodities são o motor da
economia do Brasil, nação que produz e exporta petróleo, minério de
ferro, sementes de soja, açúcar, café
e milho.
A queda recente nos preços das matérias-primas, a que poucas escaparam, deixou de rastos a economia
Canadá aumenta lista de deprimidos
A lista de países em recessão oficial aumentou na última semana
com a notícia de que o Canadá registou crescimento negativo pelo
segundo trimestre consecutivo. Entre Abril e Junho, a economia
canadiana caiu 0,5%, depois de no primeiro trimestre do ano o PIB
ter encolhido 0,8%. O crescimento de 0,5% em Junho não foi
suficiente para compensar a forte queda registada nos dois meses
anteriores. A desvalorização do petróleo, matéria-prima de que
o Canadá é um dos maiores exportadores mundiais, é a grande
responsável pelo declínio da economia de um dos países mais
prósperos do planeta e que consta, invariavelmente, no topo das
listas que medem a qualidade de vida. A província de Alberta, a
maior produtora de petróleo do país, tem sido a mais atingida pela
crise: desde o princípio do ano, já perdeu 35 mil postos de trabalho
no sector petrolífero, o que fez com que a taxa de desemprego
subisse para os 5,9%. É a segunda vez que o Canadá entra em
recessão no espaço de seis anos. Para já, o governo conservador
de Stephen Harper, no poder desde 2006, tem evitado reconhecer
publicamente que o país está em recessão, pensando nas eleições
gerais marcadas para Outubro próximo.
O Canadá junta-se assim à lista de países oficialmente em
recessão, que inclui, para já, Brasil, Rússia, Ucrânia e Venezuela.
Aumentam assim os receios de que pode estar para breve
uma recessão a nível global.
brasileira, a segunda maior do hemisfério ocidental a seguir aos Estados
Unidos. A Bovespa, a bolsa de valores
brasileira, caiu 20% num ano.
O facto de o grande cliente do Brasil
ser a China teve também os seus custos. A China vale 17% das exportações
brasileiras, e o abrandamento no
crescimento chinês, já para não falar
da desvalorização do yuan e da instabilidade no mercado de capitais, dei-
xam o Brasil em maus lençóis.
Mas há uma consequência da crise
brasileira que, a médio prazo, pode
ser parte da solução. Só este ano, o real
já desvalorizou 25% em relação ao
dólar, o que favorece as exportações,
que aumentaram 7% em relação a
2014. Mas, antes de voltar a crescer e
a ocupar um lugar entre as economias
emergentes, o Brasil tem de arrumar
a casa politicamente.
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MERCADO 8.9.15
Bolsas
28/08 – 03/09
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38
MERCADO 8.9.15
Upgrade
FUNDADOR DA KINGDOM HOLDING COMPANY
Um príncipe multitasking
Tão importante
como ter dinheiro
é o que fazemos com ele.
Alwaleed Bin Talal,
Warren Buffett, Bill Gates,
Mark Zuckerberg
ou Michael Bloomberg
ganham milhões
e dão milhões.
POR ANA MARIA SIMÕES
Príncipe Alwaleed Bin
Talal, fatos à medida,
cabelo penteado
e nunca dispensa
os óculos escuros
foi comprado por um consórcio liderado pelo príncipe Alwaleed e a gestão
entregue ao Fairmont Hotels & Resort,
uma das empresas da Kingdom Holding Company (KHC), o reino empresarial do príncipe saudita. E o Savoy
não é o único hotel de um luxo clássico
e lugar privilegiado de uma capital europeia que o saudita possui. É proprietário do não menos requintado George V, em Paris. Depois de ter gasto uns
quantos milhões para renovar o hotel
dos Champs Élysèes, o magnata que
também é proprietário do Plaza, em
Nova Iorque, disse: “Estou confiante
que o George V vai ser a jóia da coroa
de hotéis do mundo. Foram feitos todos os esforços para oferecer o melhor
dos serviços de luxo. Estou certo de
que os hóspedes do George V vão experimentar um serviço inigualável.”
Quando um dia o confrontaram
como uma das críticas mais recorrentes, comparando a Buffett como “buy
and hold” (o investidor que nem sempre sabe quando vender), Alwaleed
defendeu-se, respondendo: “Por
exemplo, a News Corporation, o Citigroup, o Hotel George V, o Plaza em
Nova Iorque – são activos insubstituí-
Corbis/ VMI
Em Julho deste ano, enquanto decorria o Ramadão, o príncipe saudita
Alwaleed informou que iria doar, nos
próximos anos, cerca de 32 mil milhões USD, através da Alwaleed Philanthropies, para a promoção da saúde, na erradicação de doenças, para
levar a electricidade a comunidades
remotas, para a construção de orfanatos e escolas e no apoio ao empreendedorismo feminino. “A filantropia é
uma responsabilidade pessoal na qual
embarquei há mais de três décadas e
é uma parte intrínseca da minha fé
islâmica”, afirmou. É o seu “compromisso com a humanidade”.
Insistimos, tão importante como
ter dinheiro é o que fazemos com ele.
E Alwaleed dá, partilha, intervém.
E doou a instituições que estudam o
Islão e o Médio Oriente, o que inclui
Harvard, Georgetown, Cambridge ou
Edimburgo. Promoveu (e pagou) a ala
islâmica do Museu do Louvre, um espaço projectado pelos arquitectos
Rudy Ricciotti (francês) e Mario Bellini (italiano) para 10 mil peças – vitrais,
cerâmica, arte otomana e uma das
mais importantes colecções de tapetes do mundo.
“O Departamento de Arte Islâmica
do Museu do Louvre auxilia na compreensão do verdadeiro significado
do Islão, uma religião de humanidade
e de aceitação de outras culturas.
É um símbolo positivo, reforçando a
compreensão entre as culturas ocidental e islâmica.” Quem é que disse
isto? O mecenas, o príncipe Alwaleed
Bin Talal.
O Savoy é um chique clássico dos
hotéis londrinos – 268 quartos elegantemente decorados e suites em
estilo eduardiano e Art Déco –, por lá
passaram e ficaram Gershwin, Sinatra, Charlie Chaplin, John Wayne, Ava
Gardner e Humphrey Bogart. Por lá
passaram e ficaram os Beatles. E por lá
passaram e dançaram no telhado Ginger Rogers e Fred Astaire. O hotel esteve à beira da ruína até que, em 2005,
32 mil milhões USD,
ao longo de 35 anos,
são, até agora,
a maior fortuna
entregue à filantropia
veis. Nunca poderei ter outro George
V, nunca poderei ter outro Savoy ou
nunca poderei ter outro Plaza.”
Da filantropia ao luxo, quem é o homem? É um saudita que se deixou cativar pelos ideais americanos, um beduíno, um fenício, um príncipe e um
empresário, tantos num só fizeram
dele um homem complexo. Apesar de
ser membro da família real saudita,
cresceu com relativa modéstia. O pai é
o príncipe Talal bin Abdulaziz Al Saud,
o 21.º filho do fundador da Arábia Saudita. A mãe é Mona El Solh, filha do
ex-primeiro-ministro libanês Riad El
Solh. Os pais divorciaram-se quando
Alwaleed tinha 5 anos. Ficou a viver
com a mãe, no Líbano, enquanto o irmão mais novo e a irmã viviam com o
pai, em Riade. A viver com a mãe, a
educação do jovem príncipe estava
longe do esmero e do cuidado dos seus
reais primos sauditas.
O príncipe Alwaleed fez-se e construiu a sua carreira a partir de 1979,
depois de se graduar nos Estados Unidos, no Menlo College, Silicon Valley’s
Business School (uma das mais prestigiadas instituições americanas de
onde saíram inúmeras celebridades).
Mas, como investidor, como homem
de negócios, o príncipe saudita só começa a fazer-se notado no início dos
anos de 1990, quando resgata o Citigroup por 590 milhões USD. À época
a instituição estava à beira do colapso,
e qualquer que fosse o investidor teria
de ter em conta que se tratava de um
negócio de risco. Apesar de uma maioria esmagadora de opiniões em contrário, Alwaleed desafiou a sorte e
correu o risco (ele que nunca usa, nos
negócios, a palavra jogo, porque é antiislâmica). Ganhou. E o Citigroup tornou-se o ponto de partida e pedra angular da fortuna do jovem príncipe.
Chegados a 2007, ao final do ano, todos sabemos o que aconteceu. O Citigroup quase que submerge na crise
do Lehmon Brothers (subprime).
Em 2008, o príncipe fez um esforço
tremendo, com o apoio do fundo soberano de Singapura e fundos de Abu
Dhabi e do Kuwait, mas as acções não
pararam de cair, só em 2010 voltaram
a um plano mais estável. Os reveses de
uma fortuna que não o excluíram da
lista Forbes dos multimilionários.
Quando a revista, em 2013, o colocou
na lista em 26.º lugar (com 20 mil milhões USD), Alwaleed protestou e processou a Forbes, porque, segundo as
suas contas, deveria estar em 10.º
(com 30 mil milhões USD). A verdade
é que este ano a revista lhe atribuiu o
34.º lugar, com 24,3 mil milhões USD.
Mas uma coisa é certa: o príncipe saudita é o maior investidor privado nos
Estados Unidos.
É igualmente conhecido pelas suas
incríveis capacidades multitasking
(capaz de fazer várias coisas ao mesmo
tempo, falar, atender telefones, responder a e-mails, etc.). Um homem
deste tempo, portanto, que se tem
como uma pessoa religiosa que crê no
destino, mas recusa a ideia de que “o
que será, será”, defende que é preciso
trabalhar de forma intensa, e depois,
e só depois… confiar no destino.
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40
MERCADO 8.9.15
08.09
EDITORIAL
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO| Domingos Vunge (Presidente) | Filipe Coelho (Administrador) |
SECRETÁRIA-GERAL Guilhermina Gonçalves| DIRECÇÃO EDITORIAL António Pedro | DIRECÇÃO
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ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA Lilocas da Piedade, Katila Jesus, Giselle Jafar, Stanislau Pataca, Carlos Silva,
Paulo Rosa | ASSINATURAS Tel: +244 939640828, E-mail: [email protected] | PROPRIEDADE
Media Rumo | Rua Comandante Stona, Município da Maianga Nº103/105, Bairro Alvalade, Luanda -Angola
Upside
Eduardo Salome,
director-geral
da NRSA
Aylton Melo
Actividade
seguradora
O
DB >C?A<; ?CB ; ; <@
Novo
conceito
de loja
Nosso Super
Express
Carlos Muyenga
mercado segurador nacional deu uma viragem
há 15 anos, quando a ENSA U.E.E deixou de ter
o monopólio do sector. Desde esta altura, de ano
a ano, surge uma nova seguradora, totalizando
agora 17, fruto da revitalização do sector, no ano 2000,
com a aprovação da Lei Geral da Actividade Seguradora.
Apesar de o mercado segurador ter acompanhado
o crescimento económico no País no período entre 2000
e 2014, com o aumento do número de players, o índice
de penetração de seguros no Produto Interno Bruto (PIB)
continua abaixo de 1%, muito aquém de outros países da
SADC (África do Sul: 15,4%; Namíbia: 7,7%; Ilhas Maurícias:
5,8%), segundo o mais recente estudo sobre o sector
segurador do País, lançado pela ARSEG, em parceria
com a consultora PWC.
Outros desafios por que passa o sector são a criação de
condições para uma concorrência justa, equilibrada entre
os operadores do sector, a reestruturação de alguns ramos
de seguros à actual realidade e em especial dos seguros
obrigatórios. O que implicará a actualização, a revisão e a
revogação de muitas leis cuja utilidade não se faz sentir.
Segundo o chairman da ENSA, Manuel Gonçalves,
em entrevista a esta edição do jornal Mercado, a seu ver,
o grande desafio que a indústria seguradora do País possui
está relacionado com o aumento da cultura de seguros
no País. “Para tal, temos de aumentar também a literacia
financeira com o apoio das seguradoras.” Explicou que não
basta fazer o marketing apelativo aos potenciais ou aos
segurados para a aquisição de seguros. É preciso explicar
o que é um seguro, sua importância para a sociedade
e as suas vantagens. Para o aumento dos indicadores
macroeconómicos de performance do sector segurador
é a criação de seguros obrigatórios, de incentivos,
designadamente de natureza fiscal, para que os particulares
e as empresas possam fazer seguros.
Nos países com menos maturidade, são os seguros não
vida que têm maior projecção, ao passo que, nos países com
maior maturidade económica, são os seguros de vida com
uma projecção maior e justificam os índices de crescimento
que os seguros têm e a relação que possuem com o PIB.
Portanto, precisamos de fazer crescer os seguros de vida
e fundos de pensões. Isto pode também acontecer
com incentivos de natureza fiscal.
Essas e outras indicações contribuirão, a médio e longo
prazo, para a redução do peso esmagador que o sector
petrolífero ainda tem na estrutura do PIB e incrementar esta
fonte importante de financiamento sustentado à economia
e o aprofundamento da política de diversificação
económica.
A Nova Rede de Supermercados de Angola (NRSA)
investiu cerca de 200 milhões Kz (1,5 milhões USD)
para a concepção de uma loja Nosso Super Express,
que conta com uma área de 250 metros quadrados de
sala de vendas no centro da cidade, sendo uma nova
aposta para o grupo.
Segundo o director-geral da NRSA, Eduardo Salome, nos próximos meses está em carteira a construção
de mais cinco lojas Express a nível da cidade de Luanda, numa primeira fase.
Considerou que o empreendimento conta com um
contrato de exploração com o Ministério do Comércio,
uma vez que as infra-estruturas da rede Nosso Super
pertencem àquela entidade governamental.
“O nosso objectivo é satisfazer as necessidades diárias dos nossos clientes que vivem na zona urbana da
cidade, particularmente aqueles que residem na área
onde está situada a loja, oferendo um serviço rápido e
ímpar e Express”, afirmou o dirigente da instituição.
Localizada na Rua Rei Katyavala, o projecto Express tem o seu foco virado para produtos diferenciados e mais selectivos a fim de atender as necessidades
diárias da população, dando uma especial atenção
aos frescos, frutas, vegetais e legumes, notou o responsável.
Eduardo Salome realça que o nível de exportações
do Nosso Super, relativamente ao ano passado, não
cresceu como previsto, mas, explica, as perspectivas
de crescimento futuras continuam sólidas.
Conforme adiantou, o conceito de Nosso Super Express por enquanto fica apenas por Luanda. “As demais capitais de provinciais terão de esperar por algum tempo”, ajuntou.
Explicou também que o grupo investiu nesta nova
rede de supermercados, porque o mercado formal a
retalho é muito pequeno ainda e com muito espaço
para crescer. E uma das formas de o desenvolver é
construir mais lojas a nível do País, acrescenta Eduardo Salome.
Disse também que os produtos importados vendidos na loja fazem parte daqueles que não existem no
mercado nacional, e os camponeses participam com
a venda dos seus produtos à rede.
Eduardo Salome anunciou ainda que a rede Nosso
Super acaba de fechar um contrato com o Ministério
do Comércio, que permitirá a participação do grupo
no escoamento da produção agro-pecuária do campo
para as lojas.
O projecto criou 40 postos de trabalho, particularmente para jovens, que ganharam o seu primeiro emprego. A rede Nosso Super conta com cerca de 1600
funcionários e terá mais 100 nos próximos 40 dias.
O evento contou com a presença do secretário de
Estado para o Comércio, Álvaro Soares Paixão Júnior,
que fez o corte da fita de inauguração, abrindo a loja
ao público.