A Política nos espaços digitais - BOCC

Transcrição

A Política nos espaços digitais - BOCC
César Steffen
A Política nos espaços digitais:
a campanha Presidencial de 2002 na Internet
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
2004
César Steffen
Dissertação de Mestrado
Orientador: Prof. Dr. Antônio Fausto Neto
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação
www.bocc.ubi.pt
A Política nos espaços digitais
Sumário
Introdução...............................................................................................................8
I – A midiatização da política na esfera pública contemporânea ....................21
1. Esfera Pública como uma instância de mediação midiatizada ....................22
2. A midiatização da política e as questões operativas......................................40
3. As eleições e a política midiatizada.................................................................48
Referências Bibliográficas ...................................................................................62
II – A midiatização da política na Internet........................................................65
1. Espaço digital, um novo componente da esfera pública ...............................66
2. Relações políticas no espaço digital ................................................................82
3. O espaço digital e os processos eleitorais .......................................................96
Referências Bibliográficas .................................................................................107
III- A midiatização da campanha Presidencial de 2002 via Internet ............111
1. A eleição Presidencial 2002 em quatro dimensões contextuais: o jurídico,
o comunicacional, o econômico e o tecnológico ...............................................112
2. Uma leitura da campanha política nos espaços digitais .............................135
3. 1o turno: os websites no HPEG. ...................................................................144
3.1.Mapeamentos, caracterizações e representações ......................................162
3.1.1.Lula 13: “Bote fé e clique Lula”................................................................. 163
3.1.2- Zé Maria 16: Candidatos-comentaristas e suas bandeiras de luta ............ 173
3.1.3. Ciro 23: EU no menu................................................................................. 180
3.1.4 – Rui Costa Pimenta 29: Lênin, Che Guevara, ... os ideólogos ................. 188
3.1.5.Garotinho 40: O partido pegou uma carona ............................................... 198
3.1.6. Serra 45: “Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho ... pra gente!” 207
3.1.7 – Cruzamento entre estratégias políticas e a linguagem dos websites ....... 215
3.2.Agendamentos e cruzamentos.....................................................................222
3.2.1. Lula 13: Marcas da publicidade e do discurso jornalístico ....................... 219
3.2.2. – Zé Maria 16: retorno ao discurso político dos anos 70 .......................... 231
3.2.3. Ciro 23: discurso associando à mudança com segurança.......................... 237
3.2.4. Rui Costa Pimenta 29: formato anos 70 com tecnologia anos 90 ............. 249
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3.2.5. Garotinho 40: quem é o vice?.................................................................... 251
3.2.6. Serra 45: o HPEG na Internet.................................................................... 261
3.2.7 – As diferentes construções de campanha se mostram nas páginas
iniciais ................................................................................................................. 274
4. 2o Turno: novas estratégias nos espaços digitais ........................................277
4.1. Mapeamentos, caracterizações e representações .....................................278
4.1.1. Lula 13: “Programa de Governo”.............................................................. 279
4.1.2. Serra 45: é verde-amarelo.......................................................................... 280
4.1.3 – A continuidade versus as mudanças ........................................................ 283
4.2.Agendamentos e Cruzamentos....................................................................284
4.2.1. Lula 13: co-determinado por outros discursos .......................................... 284
4.2.2.Serra 45: Foco no debate ............................................................................ 287
4.2.3 – As estratégias redesenham os websites ................................................... 292
5. Encerrada a contagem, a posse no espaço digital........................................293
6. Websites: um novo suporte para as (diferentes) estratégias de campanha294
Referências Bibliográficas ................................................................................304
IV – Conclusão ...................................................................................................306
V - Bibliografia ...................................................................................................322
Anexo I – Glossário de Termos
Anexo II – Conteúdo do CD de anexos
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Resumo
Esta dissertação é fruto de um projeto de pesquisa e análise que
investiu sobre o websites dos candidatos a Presidência da República no pleito
Brasileiro de 2002. Aqui entendemos a Internet como um meio de comunicação, o
que nos leva a construir um aparato teórico-metodológico que direcione a
compreensão do meio a partir dos processos discursivos mobilizados pelos
candidatos.
Foram acompanhados, descritos e analisados os websites dos seis
candidatos ao primeiro turno, e dos dois do segundo turno, a partir de dois
conjuntos específicos oriundos dos mesmos objetos. O primeiro conjunto
contempla a análise das ofertas discursivas acessadas a partir dos menus de
navegação. Já o segundo conjunto se foca nos investimentos e destaques das
páginas iniciais dos websites.
Os resultados mostram a diversidade de recursos e elementos que este
meio traz para os processos de comunicação, que se constroem a partir das
identidades, propostas e estratégias dos candidatos. Demonstram que a Internet,
mesmo sendo uma mídia, apresenta especificidades em seus investimentos no
sentido das demarcações territoriais do campo político e da necessidade da
configuração de amplas ofertas discursivas nestes espaços. Além disso, apontam
para a construção dos espaços dentro de um cenário maior, onde a tecnologia é a
base para os processos discursivos do campo político.
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Abstract
This work is the result of a project of research and analysis that
invested on the websites of the candidates in the Brazilian Presidential Campaign
of 2002. Here we understand the Internet as a media, what makes us take a
method that directs the understanding to the communication processes mobilized
by the candidates.
We had described and analyzed the websites of the six candidates to
the first voting turn and of the two at the second, from two deriving specific sets
of same objects. The first set contemplates the analysis of the contents accessed
from the navigation menus. The other focus in the investments and prominences
of the home pages.
The results show the diversity of resources and elements that this
media brings for the strategical processes of political communication, constructed
from the identities, proposals and strategies of the candidates. It also allows to see
that the Internet presents particularities in its investments, in the direction of the
territorial landmarks of the politics, and the need of greaters offers in these spaces.
Moreover, they point to the construction of the spaces in a bigger scene, where the
technology is not the main element for the communication process.
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Introdução
“Inovar não é reformular”.
Edmund Burke, pensador político (1739-1797)
Falar de política é também falar de paixão. E paixões são sentimentos,
são emoções, onde a racionalidade e a critica perdem espaço para o impulso, a
determinação e a vontade. Como, então, falar academicamente desta paixão,
mantendo o olhar crítico, a análise isenta e atentando pra os fenômenos, as
especificidades e as injunções que mostram dentro de um campanha eleitoral?
Este é desafio que nos propomos a cumprir neste trabalho que aqui iniciamos.
Falar de campanha política e mídia reflete esta paixão, onde qualquer
movimento e ação de ambos os lados é motivo para acalorados debates e
discussões. Como, então, falar de política na Internet, uma nova mídia que surgiu
no apagar das luzes do século passado trazendo novos e diferenciados processos, e
a qual alguns creditam novos processos, novas aberturas e liberdade e outros
enxergam um novo inferno de restrições, privações e controles?
Este é, de forma bastante geral e aberta, o desafio que se colocou a
nossa frente em nosso percurso como profissionais de comunicação e usuários do
meio, e que decidimos enfrentar e cumprir ao iniciar esta pesquisa, trabalho que
buscamos apresentar aos leitores neste capítulo introdutório.
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Se nos propomos a analisar uma – já não tão - nova mídia e seu uso e
manipulação1 pelo campo político, um trabalho relativamente novo pelo menos
em termos de Brasil, devemos ressaltar que nos inserimos numa longa linha de
pesquisas sobre as relações da comunicação midiática e da política.
Trabalhos deste gênero ganham impulso, no Brasil, com a redemocratização na década de 1980, e têm na campanha das “diretas já” e nas
primeiras eleições diretas para Presidência, em 1989, dois momentos-chave,
sobretudo no tocante às relações entre as redes de comunicação televisivas e o uso
da propaganda para a construção das imagens e visibilidades das várias
candidaturas.
Além disso, com a derrocada da chamada “lei Falcão2” os atores do
campo político ganharam novamente o direito de usar e manipular as linguagens
midiáticas em seus processos de comunicação política e eleitoral, construindo
assim suas imagens e projetos dentro da lógica midiática de ação.
Neste mesmo momento histórico a mídia livra-se das amarras da
censura e, sob a bandeira da liberdade, da democracia e da livre expressão, passa a
apresentar fatos, agendar processos e até mesmo, em alguns casos, fabricar a
realidade a seu modo, passando a pautar e influir de forma mais ativa e direta
sobre os processos sociais e políticos. Basta lembrar do episodio da edição, pela
Rede Globo, do debate Lula-Collor, em 1989, para termos um exemplo deste
processo.
Eis um dos pontos que desperta o interesse acadêmico sobre a mídia e
suas operações, pois seu vertiginoso crescimento nas sociedades contemporâneas
coloca-a na posição de importante - se não o principal - operadora da produção,
circulação e negociação dos processos sociais em várias instâncias.
A mídia confere visibilidade, insere demandas e discussões na esfera
pública, ampliando as áreas de conflito dos diversos campos sociais e tornando-se
elemento de configuração e agendamento nas sociedades em que se insere.
1
Por manipulação entendemos, aqui, a utilização dos recursos tecno-lingüísticos de uma mídia pelo campo político como
forma de se fazer visível aos demais campos.
2
Para fins de recordação cabe colocar que a chamada “Lei Falcão”, que leva o apelido do seu elaborar, o então ministro da
Justiça Armando Falcão, foi promulgada pelo regime militar após a derrota nas eleições legislativas de novembro de 1974,
limitando drasticamente o acesso de candidatos ao rádio e à televisão, com o fim de evitar mais uma vitória oposicionista
nas eleições municipais de 1976. Esta lei permitia aos partidos apenas mencionar a legenda, o curriculum vitae e a foto do
candidato nos horários de propaganda eleitoral obrigatória, e perdurou até o pleito de 1982.
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A Política nos espaços digitais
Os atores e meios do campo midiático, sobretudo a televisão por seu
poder de alcançar a coletividade de um país através de suas redes técnicas, passa a
operar as relações entre os vários atores, campos e instituições sociais
constituintes de um estado-nação.
Este fenômeno resignifica e tensiona vários processos, especialmente
o fazer político, que cada vez mais depende dos espaços, linguagens, estratégias e
do próprio agendamento da mídia para efetuar suas operações e circular seus
fazeres junto à sociedade como um todo.
O surgimento de um novo meio, a Internet, traz um novo desenho e
elemento a este processo no momento em que os atores e integrantes do campo
político passam a usar da rede para seus fazeres e estratégias. Este fator, por si só,
já nos justifica empreender este estudo.
Entretanto também lembramos que a Internet nasceu no ambiente
militar para suprir as necessidades de comunicação no caso de uma guerra em
larga escala, e ao ser apropriada primeiramente pelo meio acadêmico-científico e,
posteriormente, pelos mais diversos atores e campos sociais, ganha status e
reconhecimento como meio de comunicação.
Esta apropriação faz a rede ganhar recursos e ferramentas, evoluindo
técnica e lingüisticamente, formando um mercado discursivo em suas redes
técnicas e possibilitando o acesso plural a mensagens inseridas pelos mais
diversos campos3. Assim, a Internet configura-se como um meio de comunicação
e integra-se ao campo midiático, passando a ser elemento de conflito e reposicionamento dos players de mídia, empresas de comunicação e de diversos e
diferenciados campos sociais, que usam seus recursos e tecnologias como parte de
suas estratégias comunicacionais.
Pode-se aqui questionar o uso de meio e mídia para conceituar a
Internet, argumentando ser mais um suporte e uma tecnologia a serviço de
estratégias de campos sociais. Entretanto adiantamos que, em nossa visão, as
palavras suporte, tecnologia, ambiente e mesmo instrumento se mostram como
sinônimos de meio e mídia, sendo diferentes formas de referir a um mesmo
elemento e processo. Nos permitiremos, inclusive, como forma de evitar
3
Esta questão, ou seja, a evolução e transformação da Internet em mídia será tratada mais profundamente em nossos
capítulos teórico, mas especificamente na parte II.
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repetições n textos, utilizar tais denominações para nos referimos ao meio
Internet.
A Internet cresce, ganha adeptos, usuários, estudos acadêmicos e
mercadológicos, espaço nas diversas mídias e torna-se uma nova instância dos
processos de midiatização, onde diversos e diferenciados espaços e recursos se
formam e influem na esfera pública contemporânea.
Por isso a Internet provoca e mesmo traz o anseio por estudos dos
processos de comunicação que ocorrem sobre suas tecnologia. Assim, a partir do
campo político, seus usos, fazeres e manifestações no meio, buscamos
compreender o seu papel e valor como elemento dos processos de comunicação
política, onde o processo eleitoral surge como a oportunidade de obter um recorte
temporal, histórico, com um cenário bem definido para observação e análise.
Nestes espaços as demandas dos diversos usuários e campos se
encontram, se mostram e se somam, articulando seus processos de interação e
negociação. Cada campo, ator e instituição tem a possibilidade de construir e
disponibilizar espaços de comunicação a partir de suas agendas, processos e
intenções, que se tornam assim determinantes da formatação e inserção de
conteúdos, recursos e discursos.
O campo político não foge a este processo, e já em 19974 os partidos
Brasileiros passaram a usar a rede em suas estratégias de comunicação. Em 1998,
ano da primeira eleição após o surgimento da Internet comercial no Brasil, o meio
esteve presente nas campanhas eleitorais Brasileiras, com os candidatos utilizando
os seus recursos como parte integrante de suas estratégias.
Para fins de ilustração cumpre citar que o então candidato a re-eleição,
Fernando Henrique Cardoso disponibilizou um website com as mais variadas
informações e conteúdos, e seu principal adversário, Luís Inácio Lula da Silva,
utilizou o website do seu partido para divulgar informações e atacar a
administração e as propostas de FHC.
Na corrida Presidencial Brasileira de 2002 o uso da Internet,
especialmente dos websites, como meio estratégico de comunicação políticoeleitoral ganhou nova dimensão, pois todos os candidatos, instituições e atores do
4
Devemos ressaltar, aqui, que não ignoramos a possibilidade de ter havido uso da internet como meio de comunicação
política antes de 1997, mas desconhecemos experiências e relatos formais.
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campo político disponibilizaram estes espaços buscando cumprir suas agendas,
intenções e estratégias frente ao processo.
Nos propomos, então, neste trabalho, a contribuir com os processos
acadêmicos de pesquisa e reflexão sobre Internet e política a partir do estudo de
estratégias de comunicação dos candidatos a Presidência no pleito de 2002.
Focando-nos nos websites, onde buscaremos identificar as possíveis
funções dos mesmos, e também as tensões, negociações, agendamentos,
cruzamentos e mesmo conexões que se colocam frente ao campo político quando
adentra a esta mídia e passa a fazer uso de seus recursos como suporte e espaço de
visibilidade de suas estratégias e fazeres eleitorais.
Vemos, neste trabalho e no recorte histórico em que se insere, a
oportunidade de analisar uma nova modalidade de visibilidade e discursividade
política, que se dá e se faz através dos websites da Internet, elemento ainda
academicamente pouco estudado, pelo menos em termos de Brasil, mas que ,
conforme algumas pesquisas indicam5, já ganha valor e relevância junto aos
eleitores e usuários do meio.
É importante colocar que esta pesquisa nasce de um questionamento
que surge em nosso percurso como profissionais da comunicação e usuários da
Internet. Se observarmos historicamente notaremos uma relação muito próxima
entre os sistemas de circulação de informação e de comunicação e as estruturas de
poder de uma sociedade.
A imprensa, o cinema, o rádio e a televisão trouxeram novas formas
de relação e novos ordenamentos entre o campo político e a sociedade. Basta
lembrar dos filmes de propaganda nazista ou da cobertura, via satélite, da guerra
do Vietnã pelas emissoras norte-americanas para termos alguns breves exemplos
do poder e papel da mídia na sociedade.
O surgimento e crescimento da Internet, que evolui de sistema de
transmissão de dados para tornar-se um meio de comunicação, nos leva a
questionar o papel deste meio e sua tecnologia nas estruturas de poder da
sociedade,
5
ou
seja,
que
novidades
ou
possíveis
tensionamentos,
re-
Trataremos tais pesquisas em detalhes nos capítulos seguintes.
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posicionamentos e fenômenos o advento e ascensão deste novo espaço de
comunicação e interação traz aos campos e processos sociais na modernidade.
Adiantamos que não cremos, logicamente, que a tecnologia do meio,
em si, possa trazer tais re-ordenamentos. Temos, sim, que os padrões de relação e
interação entre cidadãos e instituições dos vários campos sociais que surgem ou
ganham nova roupagem a partir desta tecnologia podem trazer novos elementos
aos processos sociais, que devem se investigados em seu surgimento e
desenvolvimento.
Assim, nos focamos num processo eleitoral por ser um momento de
forte aproximação, tensionamento e visibilidade pelo campo político frente a
sociedade como um todo. Da mesma forma, justificamos o recorte do processo
eleitoral de 2002 não só, como já nos referimos, por ser um momento onde a
Internet ganha destaque junto a campanha mas, principalmente, por tratar-se de
um momento de forte expansão do meio Internet no Brasil, chegando a atingir
quase dez porcento da população nas mais diversas classes e segmentos.
Como hipóteses de trabalho temos, primeiramente, que na eleição
Presidencial de 2002 o campo político acoplou-se a vários outros campos tendo
em vista as necessidades e especificidades de operação desta nova modalidade de
visibilidade de seus discursos e processos, os websites da Internet.
Vemos também que, nesta eleição, os websites dos candidatos a
Presidência refletiram as estratégias de campanha de cada candidato, buscando
antecipar e atender as expectativas e anseios dos diversos e diferenciados usuários
da Internet. Para tanto, o campo político configurou amplas e variadas ofertas de
conteúdos que ampliaram seus discursos, e onde a seleção e inserção de elementos
e enunciados das diversas mídias para os websites operou uma expansão dos
possíveis efeitos de mídia.
Objetivamos examinar as formulações e funcionamento das
estratégicas tecno-midiáticas construídas pelos candidatos na corrida Presidencial
de 2002 no meio Internet. Buscamos, assim:
a) descrever as estratégias de comunicação dos candidatos à
Presidência da República desenvolvidas no meio Internet durante
o pleito de 2002;
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A Política nos espaços digitais
b) descrever as estratégias de construção do discurso político via
Internet e seu papel no relacionamento entre os vários campos
sociais
c) examinar as estratégias de interação entre o campo político,
midiático e sociedade por meio dos protocolos comunicacionais da
Internet;
d) compreender as conexões e acoplamentos dos e aos demais
campos sociais que o campo político operou e fez visível nos
websites.
Para
cumprir
tais
objetivos
desenvolvemos
uma
série
de
procedimentos metodológicos que compreendem desde a seleção de espaços, a
coleta de dados até a análise e descrição dos mesmos, que permeiam e se fazem
presentes na construção deste trabalho.
Primeiramente, cabe colocar que o acompanhamento dos websites dos
Presidenciáveis não tratou-se de um decisão prévia ou posta, mas que surgiu
durante nosso processo contato e pré-observação.
Este iniciou-se antes mesmo do ingresso no curso de pós-graduação
com alguns passos e ações voluntárias, quando tínhamos a curiosidade de
observar a validade ou mesmo a efetivação de algumas propostas e modelos
teóricos sobre o papel social da Internet que se apresentavam em várias
instâncias6.
Paralelamente buscamos teorias que nos oferecessem elementos para o
aprofundamento deste olhar inicial sobre o meio Internet e sobre a mídia em geral,
sendo provocados por várias leituras e visões diferenciadas.
Nestas observamos que as ações da política na mídia forneciam
elementos e teorizações instigantes. Além disso, observamos uma forte
insipiência, em termos de Brasil, dos estudos sobre o uso e manipulação dos
websites por parte da política, o que nos levou a direcionar nossos esforços para
este meio.
6
Lembramos, aqui, de propostas como a “inteligência coletiva” e da “E-democracia” de Lévy e da “Agora Virtual” de
Celso Cândido, conceitos que estarão tratados e aprofundados em nosso quadro teórico.
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Identificamos, então, vários websites de vários partidos, a que
acompanhamos e observamos com olhar mais crítico, estando já envolvidos com
as atividades de mestrado.
Neste momento, já no primeiro semestre de 2002, quando começavam
os primeiros movimentos do campo político frente ao pleito e vários précandidatos nos vários níveis já disputam e ocupavam espaço na mídia,
selecionamos vários espaços do campo político na Internet, abrangendo desde os
partidos em nível nacional até os comitês gaúchos7.
Nesta fase inicial de pré-observação vimos que praticamente todos os
partidos investiam sobre os websites na Internet, apresentando as mais variadas
informações, mas poucos reservavam espaço ao processo eleitoral que começava
a se desenhar.
Em sentido contrário, alguns então possíveis candidatos a Presidência,
como Ciro Gomes, já mostravam seus websites, apresentando propostas e projetos
em espaços que contemplavam uma ampla variedade de conteúdos e elementos.
Neste mesmo momento a mídia já reservava espaço e destaque as
convenções e pré-candidaturas em nível nacional, dando relevância e alta
visibilidade a corrida Presidencial, percepção que, somada a necessidade de
estabelecer o máximo de foco a este trabalho, nos levou a concentrar esforços nos
websites dos candidatos a Presidência.
Adotamos como procedimento de pré-observação o contato diário
com os websites e a captura de telas, relatando mudanças e elementos presentes
nos mesmos, que nos trouxeram elementos e dados que nos forneceram dados,
percepções e inferências que permitiram estabelecer um roteiro metodológico de
procedimentos de análise.
Assim, duas semanas antes ao início do HPEG no rádio e na televisão,
iniciamos a fase de observação, mantendo o procedimento metodológico de
acompanhamento diário e captura de telas, mas agora olhando para os mesmos
tendo em mente uma definição de dois conjuntos de análise distintos e algumas
categorizações surgidas na pré-observação.
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Em nível nacional, observamos os websites do PT, PSDB, PMDB, PSB, PDT e PPS, além do website do então précandidato Ciro Gomes que estava disponível desde fevereiro de 2002. Em nível de Rio Grande do Sul acompanhamos os
websites do PT, PMDB, PTB, PPS, PSB, PPS e PPB, todos partidos com representatividade e potencial para influir e gerar
candidatos próprios no pleito de 2002.
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Estes dois conjuntos surgiram de nossas percepções quanto a
variedade de processos e elementos dos websites. Por um lado os menus de
navegação apresentavam uma ampla e variada quantidade de conteúdos para
acesso, enquanto as páginas iniciais ao mesmo tempo em que destacavam e
davam força a alguns destes conteúdos demonstravam ou refletiam o cenário geral
da campanha, sendo pautadas pelas mais diversas fontes e campos.
Optamos então por dividir os objetos frente às estas especificidades,
surgindo os dois conjuntos para análise que serão tratados em capítulos
específicos, ordenados de forma a ofertar não só uma visão das especificidades
das estratégias e elementos mobilizados por cada candidato, mas também para
permitir comparações e generalizações a partir destas especificidades.
Organizamos, então, nosso trabalho em três grandes partes compostas
de capítulos específicos. Na primeira nos ocupamos de refletir sobre a
ascendência da mídia como elemento de estruturação da esfera pública de debates,
os fenômenos e elementos que este processo coloca para os processos políticos e
democráticos contemporâneos.
No primeiro capítulo desta parte primeiramente conceituamos campos
sociais e identificamos os campos envolvidos num processo eleitoral, centro de
nosso trabalho. A seguir enfocamos as formas e processos de relação destes
campos nesta esfera pública e a interferência da mídia nos processos de interação,
negociação e visibilidade política que circulam e se fazem na sociedade.
No capítulo seguinte analisaremos as especificidades da mídia como
operadora das visibilidades da política, as tensões, relações e interações que se
formam pela sua ascendência nas sociedades contemporâneas. Já no capítulo três,
colocamos as especificidades das eleições como elemento e processo da política
midiatizada e os desafios que assim surgem, identificando as operações
estratégicas, discursivas e acoplamentos que este opera dentro da marca temporal
da eleição.
Na parte dois, através da visita e debate entre autores e teorias que
analisam os processos e fenômenos da Internet, buscamos compreender a
evolução e articulação desta tecnologia ao campo midiático, e seu papel enquanto
instância dos processos de midiatização, mediação e interação dos processos
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políticos. Nos propomos a olhar o meio na ótica de fenômenos e processos
comunicacionais e discursivos, passando ao largo de determinismos tecnológicos
que, em nossa opinião, apenas embaçam a visão e atrapalham a compreensão dos
processos que ocorrem no meio.
No capítulo um desta parte nossa análise passará por conceitos como
ciberespaço, interação e interatividade, onde buscamos demarcar conceitualmente
um novo elemento e componente dos processos de midiatização que se forma na
esfera pública contemporânea, o espaço digital.
Já no capítulo dois buscamos identificar e conceituar os novos
protocolos e fenômenos comunicacionais que este espaço digital oferta ao campo
político em sua relação com os demais campos sociais. No capítulo três, que
encerra esta parte, levantamos os possíveis benefícios e efeitos de mobilização do
espaço digital num processo eleitoral, e os acoplamentos operados pelo campo
político neste processo de adentramento ao mesmo.
A
terceira
parte
desta
dissertação
contempla
procedimentos
específicos de descrição e análise, onde apresentamos nosso trabalho empírico, ou
seja, os elementos colhidos e verificados nos websites dos candidatos a
Presidência da República no pleito de 2002.
Nos apoiamos, neste bloco, em uma variedade de dados e informações
referentes a este pleito colhidas junto à mídia, à instituições como o TSE e,
principalmente, nos websites dos candidatos, materiais estes onde buscamos uma
leitura das características e especificidades deste novo meio de comunicação
política.
Para tanto inicialmente apresentamos algumas dimensões contextuais
do pleito de 2002, fazendo referência ao cenário geral levantando informações,
como candidaturas que se apresentaram mas não tiveram seqüência, alianças
efetuadas, os valores arrecadados e gastos pelos candidatos e também as
regulações da legislação eleitoral. Objetivamos, com isto, traçar um quadro geral
da campanha Presidencial, onde destacaremos o tratamento e papel da Internet
neste pleito.
A seguir, no capítulo dois, apresentamos nossa estratégia de leitura
dos materiais, colocando desde mais detalhes e informações sobre nosso processo
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de pré-observação como também nossos objetivos com estas análises, recortes
temporais e as seleções e categorizações efetuadas e de onde estas surgem.
Isto posto, passamos as análises dos websites propriamente ditas,
organizadas em capítulos que contemplam dos dois conjuntos de análise já
citados. Nestes, primeiramente tratamos cada candidato individualmente, pois
desejamos o máximo aprofundamento e compreensão das especificidades,
estratégias e elementos de cada website. A seguir, efetuamos alguns comentários e
comparações gerais que demonstrem e apresentem as diferentes estratégias e
recursos destes websites.
Caba ressaltar que, como pode ser notado em nosso sumário,
dividimos as análises destes dois conjuntos em primeiro e segundo turno.
Tomamos tal decisão pois entre estes ocorre um re-ordenamento das forças e
processos políticos que deve, assim, ser identificada e compreendida.
Entretanto, uma vez que muitos processos e elementos observados nos
websites durante o primeiro turno se repetem no segundo, evitamos efetuar tais
repetições para evitar redundâncias e mesmo um excessivo alongamento do texto,
focando nos elementos que são alterados, adicionados ou redesenhados neste novo
turno.
Encerramos a parte três traçando comparações gerais sobre as
estratégias de uso da Internet pelos candidatos no pleito de 2002, identificando
elementos em comum, conteúdos e estratégias específicas, elementos relevantes e
experiências identificadas, de forma a compreender, de forma geral, o papel deste
meio como elemento de midiatização da campanha eleitoral de 2002. Neste
capítulo nos permitiremos inclusive apresentar elementos que fogem as
categorizações criadas, mas que apresentam relevância para o processo de análise
e compreensão, fato que será explicitado no texto.
Estas três partes se articulam dentro de um estratégia metodológica de
construção, que visa explicitar as questões, processo e fenômenos da midiatização
da política contemporânea.
Os dois primeiros blocos formam o eixo teórico-conceitual do
trabalho, evidenciando as relações e fenômenos da midiatização da política, sendo
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que a segunda parte espelha esta primeira em sua estrutura, porém focando nas
questões específicas da midiatização da política no meio Internet.
Já o terceiro bloco, que traz o processo de leitura e análise dos dados
obtidos e coletados nos websites dos candidatos à Presidência no pleito de 2002,
tem sua construção embasada e balizada pelas reflexões apresentadas nestas duas
partes.
Estas três estruturas se somam em nossa conclusão, onde recuperamos
os elementos anteriormente tratados e apresentamos os conceitos, visões e
percepções que ficam para nós deste processo de pesquisa e dissertação> Neste
momento nos permitiremos construir, a partir dos elementos destes três blocos,
generalizações sobre websites e suas funções, processos e procedimentos não só
para ao campo político mas para a sociedade como um todo.
Ao final de cada parte inserimos as referências bibliográficas, de
forma a facilitar o manuseio e a utilização do texto por parte do leitor. Em anexo
colocamos alguns dados e informações gerais, como um glossário de termos
técnicos da Internet, que pode ser consultado em caso de dúvidas, as leis e
resoluções que regularam o pleito de 2002, pesquisas utilizadas, e demais
informações que acreditamos ser de interesse do leitor.
Durante o texto muitos dados e informações de grande valor e
relevância para a pesquisa e para a compreensão do processo eleitoral de 2002
estarão citadas em nota de rodapé. Trata-se de uma decisão processual, na medida
em que o tratamento e aprofundamento de tais informações não só levaria a um
aumento do volume dos textos como um todo, mas principalmente poderia levar a
uma perda de foco, com o risco de tornar a leitura confusa.
Assim, tais elementos estarão presentes, acompanhando o texto, na
posição de coadjuvantes, o que não quer dizer que sejam menos importantes ou
menos relevantes para a compreensão do processo, mas apenas que nossa
estratégia de construção do texto os coloca em tal posição.
Cabe ressaltar também, neste ponto, que efetuamos um estudo de
produção, ou seja, dos atos, estratégias e processo mobilizados pelo campo
político nos websites. Não nos furtaremos, quando possível e mesmo viável, a
fazer inferências sobre os possíveis objetivos e estratégias de recepção que se
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19
A Política nos espaços digitais
encontram e se apresentam nos diversos conteúdos e espaços produzidos, mas
focamos nossos esforços nas lógicas de produção.
Adiantamos, desde já, que frente ao objeto e aos objetivos de
pesquisa, e devido à amplitude do tema, assumimos o risco da generalização que
pode resultar desta análise, pois cremos que, nesta fase de estudos sobre o tema
Internet, política e eleições ainda faz-se necessário uma visão aberta e abrangente,
porém não menos cuidadosa, sobre os processos e fenômenos que ocorrem.
Buscaremos, no mínimo, fornecer elementos e provocações para novos e
aprofundados debates sobre o tema em pesquisas futuras.
Adiantamos que não pretendemos valorizar ou desvalorizar a Internet,
mas apenas e tão somente analisar e compreender o papel desta mídia num
processo político-eleitoral, e que não ignoramos a existência de outros espaços de
interação e comunicação, como e-mail, salas de chat, etc., que mesmo brevemente
estarão comentados e analisados em nosso quadro teórico, mas nos focaremos nos
websites de campanha eleitoral.
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I – A midiatização da política na esfera pública
contemporânea
"A liberdade precisa da companhia de outros homens que
partilhem o mesmo estado e de um espaço público comum
onde encontrar-se."
Hannah Arendt
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1. Esfera Pública como uma instância de mediação midiatizada
Compreender os processos políticos nas sociedades democráticas
modernas, cada vez mais fragmentadas, verticalizadas em seus processos, ações,
relações e fenômenos é buscar compreender uma dinâmica de interação, troca e
tensão que se faz presente na esfera pública através dos seus diferentes
constituintes e promotores.
Isso nos leva a noção de campos, que permite demarcar os limites de
competências e fazeres dos envolvidos no processo eleitoral, foco desta pesquisa,
de forma a identificar as interações, trocas e mesmo competições que se
estabelecem, generalizando assim suas relações e processos.
Antes de colocar a especificidade desta noção é importante abrir
espaço para diferenciar espaço público e esfera pública, uma vez que tais
conceitos são bastante próximos e mesmo textualmente assemelhados, podendo
facilmente gerar problemas em sua perfeita compreensão. Neste aspecto seguimos
Rodrigues, que conceitua espaço público o “conjunto de territórios abertos à
circulação de todos não apropriáveis por indivíduos nem por entidades
particulares” (RODRIGUES, 2003:s.p.).
Já por esfera pública o autor entende o “conjunto dos discursos e das
acções que têm a ver com o domínio da experiência dos todos, que interferem
com a experiência da interacção e da sociabilidade” (idem). O autor também
traz, neste mesmo trabalho, a noção de dimensão pública, que corresponde “a
relação que cada um dos campos sociais possui com os restantes campos (idem
ibidem)”, mas esta não nos é importante neste momento.
Logo, temos por espaço público os espaços físicos de circulação e
sociabilidade, enquanto por esfera pública temos as trocas discursivas que
ocorrem e circulam tendo em vista os processos de cada campo social, que tem
seus processos visíveis em uma dimensão pública de seus fazeres.
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22
César Steffen
Nos concentraremos, neste trabalho, na noção de esfera pública, uma
vez que esta contempla um espaço simbólico de circulação e visibilidade de
discursos e processos de comunicação, gerando e dando sentido aos processos dos
diversos campos sociais. Nesta esfera publica os diferentes e diversos atores
circulam seus processos, fazeres e fazem visíveis suas demandas tendo em vista
os demais integrantes do tecido social. Isto nos leva, para fins de efetuar um
recorte e identificar claramente os diferentes atores e suas competências que
circulam nesta esfera, à noção de campos sociais.
Para entender a que nos referimos quando citamos campos sociais
devemos retomar a contribuição de Bourdieu. Este autor afirma que a sociedade
moderna é constituída de uma grande diversidade de campos, de várias
dimensões, que se caracterizam e se organizam em torno de uma especialidade,
uma identidade e uma temporalidade.
Os campos sociais sustentam sua existência a partir de atores que
desenvolvem no seu interior capacidades, competências, ideologias e valores
necessários aos fazeres, poderes e saberes do campo, e compartilham elementos
identitários, processuais, estratégicos e mesmo ideológicos comuns. Estes operam
em concordância com determinadas estratégias e valores simbólicos, e
manifestam os conflitos, processos e fazeres dos mesmos. Como coloca Rodrigues
(2003:s.p.):
“As entidades detentoras da competência legítima de um
campo formam o seu corpo social. No exercício, tanto da
sua competência discursiva, como da sua competência
pragmática, o corpo social tende a ostentar as marcas
simbólicas da sua competência, no caso dos campos que
possuem uma simbólica formal, ou a ostentar a ausência
dessas marcas, no caso dos campos que possuem uma
simbólica informal.”
O compartilhamento de processos e a concordância de identidades dos
diferentes atores, manifestadas nos processos e “regras” discursivas mobilizadas
nas suas interações, mediações e visibilidades, permitem o reconhecimento de um
campo, tornando assim possível a circulação de seus saberes, processos,
ideologias e estratégias para os demais campos e setores.
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A Política nos espaços digitais
Um campo possui uma especialidade, um elemento de coesão e
formatação que o configura, destaca e identifica, que se faz visível e reconhecível
a partir de seus especialistas. Isto permite ao campo trocar, interagir e competir
com os demais campos ou, na visão de Rodrigues (2003:s.p.) um campo possui
um domínio de uma experiência, um saber ou um valor específico que o distingue
dos demais integrantes e que forma seu reconhecimento.
Podemos inferir, assim, que um campo cria e valida suas
competências, valores, identidades e capacidades processuais, aspecto em que
reside sua autonomia, mas não possui auto-suficiência, não existindo campo
isolado, mas sim uma relação de interação, troca, competição e complementação
entre campos que se formam em relação uns aos outros.
Um campo torna-se social por cultura, história e expectativas que só
podem realizar-se caso seus especialistas dêem conta de processos e fenômenos
de identificação junto à sociedade em geral, ou seja, se seus atores derem conta de
se fazer identificáveis, reconhecíveis e visíveis através de regras e estratégias
discursivas comuns que marquem seus fazeres e competências, construindo a
identidade do campo frente aos processos sociais.
“A formação de um campo social dá origem a um fluxo
regular de relações sociais, em torno das quais se
estabelece a ordem normativa do próprio campo.
(ESTEVES, 1998:s.p.) “
Assim, um campo social necessita de habilidades comunicacionais
para ser identificado, ou seja, para que suas competências e valores sejam
reconhecidos e para que possa relacionar-se com os demais seus fazeres devem
ser fundados sobre habilidades simbólicas, processos comunicacionais e regras
discursivas que permitam aos demais campos identificar, reconhecer e interagir
com este numa troca permanente que se dá no interior da esfera pública de uma
sociedade.
“Culturas são formadas por processos de comunicação. (..)
em todas as sociedades, a humanidade tem existido em um
ambiente simbólico e atuado por meio dele.”
(CASTELLS, 2000:395)
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César Steffen
Interessante neste ponto dialogar com Luhmann, sociólogo alemão
que busca compreender a sociedade moderna concentrando-se nas questões
referentes aos sentidos sociais que se constroem a partir das comunicações e seus
valores simbólicos. Embora tenha uma visão bastante diferenciada de Bourdieu,
nos arriscamos aqui a aproximar tais autores na busca de um aprofundamento da
visão dos processos de troca simbólica e discursiva dos diversos elementos
integrantes da sociedade.
Em sua obra “La realidad de los medios de masas” (2000) Luhmann
afirma que uma sociedade é um universo de todas as comunicações possíveis
entre seus integrantes, sendo estas elemento estruturador pois permite a seus
atores se reconhecer, se fazer identificáveis e visíveis.
O autor parte – ou usa - da teoria dos sistemas para analisar a
formação e os processos sociais contemporâneos, numa visão diferenciada de
Bourdieu por considerar a sociedade e seus elementos – que Bourdieu coloca
como campos – como um todo integrado em um sistema maior.
Interessa-nos, porém, ressaltar que Luhmann coloca cada sistema
componente da sociedade tem um código próprio, interno, que filtra, processa e dá
sentido a suas comunicações. Isto nos permite reforçar a idéia das estratégias
discursivas e das identidades como elementos fundadores dos diversos
constituintes da sociedade, os campos sociais, que se constroem e se reconhecem
a partir de suas interações e mediações simbólicas e discursivas.
Assim, aproximando a visão de Luhmann que a comunicação funda a
sociedade da visão dos processos discursivos como elementos propagação da
identidade dos campos de Bourdieu, podemos inferir que são as estratégias e
competências discursivas que fundam os diversos campos, e as mediações e
interações destes que dão status, sentido e vivência ao tecido social desta
sociedade.
Retomando a noção de campos podemos citar vários deles, que se
mostram, circulam e co-existem na contemporaneidade (educacional, da saúde,
científico, militar, político, jurídico, midiático, etc.), cujas relações de troca,
interação e competição formam, dão status e sentido a esfera pública das
sociedades em que se inserem.
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25
A Política nos espaços digitais
No tocante aos processos eleitorais, elemento e objeto de análise do
presente trabalho, nota-se uma preponderância das interações e competições entre
os campos político, midiático e jurídico, que nos cabe então definir.
Por político entendemos um campo constituído pelas instituições e
atores vinculados e regulados pelas instâncias de poder, sendo formado por
estruturas que operam conjuntos de valores vinculados à regulação e
regulamentação dos fluxos e processos no tecido social.
Para Bourdieu (2000) as relações de poder, seja material ou simbólico,
estruturam e
são
estruturadas
pelas
comunicações,
que
asseguram o
reconhecimento e a validação do papel de um ator ou campo no conjunto da
sociedade.
Logo o poder está diretamente associado a capacidade de manipulação
de estratégias discursivas e comunicacionais inerentes a um processo social ou
histórico, sendo as disputas de poder relações de competição simbólica que
conferem a determinado ator ou campo maior ou menos força frente as demandas
e questões do tecido social.
"O reconhecimento do poder simbólico só se dá na
condição de se descreverem as leis de transformação que
regem a transmutação das diferentes espécies de capital
em capital simbólico e, em especial, o trabalho de
dissimulação e de transfiguração (numa palavra, de
eufemização)
que
garante
uma
verdadeira
transubstanciação das relações de força fazendo ignorarreconhecer a violência que elas encerram objetivamente e
transformando-as assim em poder simbólico, capaz de
produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia."
(BOURDIEU:2000:15)
O poder do campo político coloca-se na esfera macro-social, tratando
das questões gerais de regulação da sociedade em geral, disputando seus atores a
capacidade de mobilizar e integrar forças, simbólicas ou reais, materiais, para
validar suas estratégias e fazeres tanto no interior do campo como em relação a
campos externos. Logo seu poder está vinculado ao manejo das demandas e aos
processos ideológicos presentes nesta sociedade e seu reconhecimento dá-se – ou
se faz – por sua identificação a estas questões sociais.
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César Steffen
Esteves (1998:s.p.) considera a política como o legítimo controle dos
cidadãos. Assim, temos que campo político desenvolve uma atividade de
manutenção, controle e negociação dos valores maiores de uma sociedade.
Ou seja, no interior do campo político circulam as negociações e os
processos decisórios que direcionam, balizam e influem nos destinos de várias
instâncias de um estado-nação, desde um bairro ou município até o poder
federativo, sendo assim o campo envolvido – ou responsável – pelas questões e
processos decisórios, de validação e coesão do poder das sociedades.
Podemos notar então - de forma bastante didática - que são integrantes
do campo político as instituições legislativas e executivas nos mais variados
níveis – prefeituras, assembléias, deputados, – seus atores e também instituições
que usam ou buscam estes espaços para afirmar suas identidades e valores.
Da mesma forma integram o campo político grupos de pressão, como
ONG´s, partidos e agremiações políticas, sindicatos, entidades empresariais, etc.,
que atuam, negociam e interagem dentro do campo promovendo os fazeres e
processos de e para a sociedade. Nas palavras de Bourdieu (2000:164):
“o campo político é o lugar em que se geram, na
concorrência entre os agentes que nele se encontram
envolvidos, produtos políticos, problemas, programas,
análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os
quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de
‘consumidores’, devem escolher, como probabilidades”.
Nesta colocação do autor notamos um certo julgamento do campo
político quanto a sua função, que se vê na passagem onde compara cidadãos a
consumidores. O autor parece comparar o fazer do campo político e suas ações
com uma “relação comercial”, de conquista e sedução, e chega a considerar a
política como uma prática profissionalizada, o “monopólio dos profissionais
(idem)”, limitada e mesmo fechada a um pequeno grupo representante de parcelas
da sociedade com “poder” para atuar dentro do jogo do campo político.
Em nossa visão o principal capital, valor e até mesmo elemento de
troca para os atores do campo político é o apoio e aderência dos demais campos e
cidadãos às suas demandas e ofertas, que ampliam ou reduzem o espaço e a força
de cada um nos conflitos internos do campo.
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A Política nos espaços digitais
Logo pautar, induzir o debate sobre as questões com potencial para
ampliar o poder de determinado ator integrante pode ser considerado um processo
natural, inerente ao fazer do campo. Como o próprio Bourdieu (2000:56) dispõe
em outra passagem:
“As estratégias discursivas dos diferentes actores, e em
especial os efeitos retóricos quem têm em vista produzir
uma fachada de objectividade, dependerão das relações de
força simbólicas entre os campos e dos trunfos que a
pertença a esses campos confere aos diferentes
participantes ou, por outras palavras, dependerão dos
interesses específicos e do trunfos diferenciais que, neste
situação particular de luta simbólica pelo veredicto
‘neutro’, lhes são garantidos pela sua posição nos sistemas
de relações invisíveis que se estabelecem entre os
diferentes campos em que eles participam.”
Ou seja, é natural ao fazer do campo político buscar mobilizar e influir
os demais campos para suas demandas e processos. Assim, reduzir a atuação do
campo a uma relação de conquista e sedução é ignorar a própria natureza
conflitiva dos campos sociais, não somente interna mas também externa, com os
demais campos.
Neste processo de conflito e busca de capital simbólico e,
conseqüentemente, poder, o apoio e adesão da sociedade às suas lutas, bandeiras e
ideologias vão permitir a um ator ou integrante ampliar sua esfera de influência e
poder sobre o campo como um todo.
Assim, por político podemos entender um campo cuja concorrência
interna entre seus atores se faz principalmente através do apoio e conquista dos
demais campos, que se traduz na força, competência e mesmo visibilidade de seus
atores.
No campo jurídico identificamos as estruturas de regulação e controle
das demandas, fluxos e processos sociais no tocante às leis, legislações e sua
aplicação. O campo jurídico, composto, de forma genérica, pelos tribunais,
ordens, profissionais do direito e aqueles que dão suporte às suas atividades, é:
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César Steffen
“um universo social autônomo, capaz de produzir e de
reproduzir, pela lógica de seu funcionamento específico,
um corpus jurídico relativamente independente dos
constrangimentos externos. (BOURDIEU, 2000:210).”
Este campo tem por missão, valor e função conceber as formas e
manter as estruturas de regulação dos vários atores e campos sociais, sendo o
responsável pela manutenção e alteração das regras e processos de conduta social
e da punição dos infratores.
Os campos político e jurídico têm uma vinculação direta com as
estruturas de poder das sociedades, na medida em que seus atores e processos
executam e tensionam as questões relativas às relações de manutenção, validação
e alteração das leis e regras que conformam, orientam e conduzem o
funcionamento dos sistemas, processos e interações entre os diversos campos
sociais dentro do tecido social.
O campo jurídico possui uma forte e visível função política,
vinculando-o de forma muito próxima ao campo político, pois ambos tratam dos
processos de regulação das atividades da sociedade em geral. Não raro o campo
jurídico é acionado ou mesmo interfere sobre o campo político, não somente sobre
os atores deste mas também sobre os processos macro-sociais que deste emanam.
Há de se considerar como diferença entre estes os fatos que, nas
sociedades democráticas, os atores do campo político são submetidos a processos
regulares de validação, alteração e competição para manter seus poderes, que
conhecemos como eleição. Já os integrantes do campo jurídico não somente não
passam por este processo como ainda têm a capacidade - ou função ou mesmo
tarefa - de regular os procedimentos eleitorais.
Nota-se assim, uma diferença primordial entre o campo político e o
campo jurídico, que se põem em posição de interferência e conflito permanente,
sendo este elemento de verificação, validação, controle e até mesmo – em casos
maiores - coerção sobre os fazeres do campo político.
Já o campo midiático se faz presente e ocupa um espaço estratégico
numa modernidade relativamente recente através de procedimentos técnicos e de
linguagem que fazem publicizar os fazeres da sociedade, tornando-se operador da
visibilidade e circulação dos fazeres dos demais campos junto à sociedade.
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A Política nos espaços digitais
Os meios de comunicação operam e articulam tecnologias de
transmissão e modalidades de produção e de recepção de mensagens, operando
linguagens e técnicas que servem de suporte à exposição, circulação e negociação
das demandas e processos dos vários campos. Diz Rodrigues (1990:152):
“campo dos media é a designação que utilizamos para dar
conta da instituição de mediação que se instaura na
modernidade, abarcando, portanto todos os dispositivos,
formal ou informalmente organizados, que tem como
função compor os valores legítimos divergentes das
instituições que adquirem nas sociedade modernas o
direito de mobilizarem autonomamente o espaço público
(grifo nosso).”
É função, processo e mesmo razão de ser do campo midiático operar e
tornar visíveis os fazeres e demandas dos demais campos, publicizando-os em
larga escala e, assim, mobilizando e posicionando os demais campos frente a
estes.
No interior do campo midiático, estruturado, nas sociedades
capitalistas democráticas, principalmente em torno e através de empresas e grupos
empresariais, ocorrem disputas na ordem da audiência da sociedade. Esta
audiência é determinante do “poder” e influência dos meios não somente dentro
do campo, mas também sobre os outros campos, na medida em que através dos
seus atores e espaços a sociedade divide experiências, processos, conflitos e
demandas.
Pode-se argumentar que o campo midiático acelera ou reforça os
processo de fragmentação social, pois a exposição pública das demandas e
questões sociais substituiria as interações e relações diretas entre os campos no
espaço público, visão que pode ser notada no comentário de Virilio (1989):
“(...) a imagem televisiva do jornal das oito está se
transformando num espaço público. (Antes), o espaço
público era a praça, era a esquina onde os homens se
encontravam para dialogar, para se manifestar
publicamente, para lutar ou para festejar. Hoje em dia, é
visível que o cruzamento, o espaço em que os homens se
encontram é o jornal das oito. (...). Hoje em dia, é a
imagem que se torna pública. No caso da televisão, há
unidade de tempo, no jornal das oito, mas não há unidade
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César Steffen
de lugar. Estamos, pois, juntos diante de uma imagem
pública, que substitui a praça pública, mas separados, cada
qual em sua casa”.
Entretanto, há de se considerar o crescimento e ascendência do campo
midiático como emblema ou sintoma de uma sociedade que se fragmenta e, por
isso, necessita e mesmo dá valor a este campo por seu potencial de integração.
Como afirma Jacques Perriault (1991), uma tecnologia só ganha
sentido através dos usos que a sociedade faz delas, o que nos leva a considerar que
o campo midiático e seus integrantes somente ganham relevância pelo valor dado
ou atribuído a seus fazeres pela sociedade em que se inserem, logo sendo seu
papel e relevância um emblema dos processos e culturas das sociedades.
Ou seja, na medida em que a sociedade cresce e tem seus processos e
interações diminuídas ou dificultadas pelas suas dinâmicas e lógicas o campo
midiático passa a assumir, gradativamente, o papel de mediador dos processos e
fazeres dos diversos integrantes da sociedade, realizando os contatos e
negociações entre os campos através de suas redes técnicas e linguagens.
Para Esteves (1998) as interações e circulações de discursos fazem e
geram a competência da mediação midiatizada. O autor afirma que as trocas
discursivas que se realizam em torno de questões de interesse comum formam um
compromisso entre os integrantes de um campo e mesmo entre os campos
envolvidos nesta mediação.
Assim, através da comunicação e da circulação de discursos formamse os processos de negociação. Ora, se é função e natureza operativa do campo
midiático circular discursos dos diversos campos há de se considerar que forma-se
assim sua competência como instância de mediação social.
Claro que os campos e instituições mantêm relações diretas e
autônomas entre si, negociando suas demandas e resolvendo seus conflitos.
Entretanto, nas sociedades modernas e contemporâneas, com o crescimento
populacional, a concentração urbana e a assíncronia das dinâmicas individuais, e
devido a sua natureza simbólica e conseqüente atividade de circular os processos,
demandas e fazeres dos campos na esfera pública, o campo midiático ascende
como instância maior - e até mesmo central - do processo de mediação, interação
e visibilidade dos diversos campos.
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A Política nos espaços digitais
Luhmann (2000:96) propõe que a mídia cria uma realidade de fundo
onde se formam as opiniões, realidade em sua visão não necessariamente
consensual, mas compartilhada por aqueles que dela fazem uso. Nesta realidade
de fundo irão circular e se fazer os processos dos campos sobre e para os demais
campos sociais, ocorrendo uma troca ou debate que gera, acelera e mobiliza estas
interações.
Assim, o campo midiático torna-se importante elemento de
organização da esfera pública, exercendo um papel de forte influência ou mesmo
de preponderância nos processos políticos. A mídia deve ser encarada como
sujeito, como elemento que dá a ação e faz a ação, que expõe e faz exposto, que
media e se faz mediador e opera a visibilidade do processo dos campos nas
sociedades contemporâneas.
Os campos assim se acoplam ao campo midiático, ou seja, se unem
por um fazer, uma estratégia ou um elemento comum aos seus interesses
(LUHMANN, 2000:93) para se fazerem visíveis na esfera pública e cumprirem
suas agendas e intenções junto aos demais campos.
Claro que para falar em espaço público e esfera pública devemos citar
Habermas, que em seu célebre “Mudança estrutural na esfera pública” (1984)
considera o espaço público como um espaço homogêneo de sujeitos e ações
simbólicas que se operam e se encontram em condições e relações igualitárias,
simétricas, gerando ou sendo feitas consenso através de sua circulação, debate e
validação entre os diversos e diferentes públicos e opiniões.
Na visão de Habermas vemos uma clara, fundamental ou mesmo
inerente função política na sociedade, pois segundo o autor a publicização, ou
seja, a visibilidade dos diversos e diferenciados atores e campos funciona como
dimensão constitutiva das sociedades burguesas, servindo ao debate entre diversas
camadas constituintes desta sociedade na busca da hegemonia sobre as demais
camadas.
Interessante notar o destaque que Habermas dá a questão da
publicização, da visibilidade dos processos através dos meios, intimamente ligada
ao surgimento e formação do campo midiático nas sociedades, colocando este
como fator de formação dos debates e negociações neste espaço e constituindo e
construindo, assim, as esferas e processos de debates sociais entre os campos.
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César Steffen
Miranda (1997), por sua vez, mostrando uma certa coerência com
Habermas, informa que a esfera pública moderna se dá na ordem do aparecer, ou
seja, do fazer visível os processos, demandas e fazeres, buscando ao máximo a
antecipação de fatos e fatores que possam influir na formação da opinião pública.
Assim a esfera pública mostra-se como um espaço simbólico
essencialmente político, onde as visibilidades, debates, negociações e resoluções
se formam e “acontecem” enquanto processo de interação, mediação, visibilização
e produção de sentidos entre os campos nas sociedades contemporâneas.
Trata-se, então, de um espaço simbólico de relação que se dá e se faz
na ordem das interações, mediações e visibilidades dos processos e fazeres dos
diversos campos na busca da ascendência e prevalência sobre os demais campos.
Nas sociedades contemporâneas este processo, como afirmam os
autores, se estrutura principalmente ao redor das redes de comunicação midiática,
pois estas têm o poder de atingir uma ampla gama de receptores, fazer visíveis os
processos, mobilizar a opinião pública e negociar as demandas com os diversos e
diferentes campos e atores constituintes da sociedade, assumindo ou colocando-se
na condição e posição de mediador destes processos.
Assim, retomando e dando novo tratamento à noção citada
inicialmente neste capítulo, argumentamos ser a esfera pública um espaço que se
dá, se forma e “acontece” enquanto processo de visibilização e mediação entre os
campos nas sociedades contemporâneas.
Nas sociedades contemporâneas se estrutura principalmente ao redor
das redes de comunicação e dos processos midiatizados, e se mobiliza a partir das
ações de cada campo em conjunto ou através dos atores constituintes do campo
midiático.
Este campo midiático, por sua vez, ocupa posição de destaque neste
processo contemporâneo, organizando e estruturando o espaço público como uma
nova ágora, onde os campos e seus integrantes “se reúnem” para discutir e buscar
resolver suas demandas sem uma conexão ou ligação física, sem uma integração,
levando as pessoas a um viver junto estando separados, integrados
geograficamente mas afastados pessoalmente.
Esta ascendência do campo midiático como elemento integrador e
mesmo estruturador das relações do campos faz emergir o fenômeno da
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A Política nos espaços digitais
midiatização da sociedade, ou seja, da colocação da mídia, suas linguagens e
estratégias como operadora das instâncias e processos de mediação, interação e
visibilidade dos diversos campos.
A midiatização não trata de uma mediação ou negociação pura, ou
mesmo de um processo meramente instrumental e técnico, mas sim de um
processo de troca e convergência, um acoplamento estrutural (LUHMANN,
2000:93) entre os diversos campos e o campo midiático a partir de interesses
comuns.
Cabe aqui abrir espaço para mostrar o que entendemos por mediação.
Martín-Barbero (1997), ocupado com o uso social da mídia - especialmente a
televisão - e com questões culturais da comunicação, considera as mediações
como lugares de onde provêm e onde se forma a sociabilidade e se expressa a
cultura, uma dimensão onde se pode compreender as interações que se dão e se
fazem entre os diferentes atores e integrantes de uma sociedade.
Para o autor neste “lugar” pode-se compreender os processos e efeitos
de produtores e receptores da comunicação social, constituindo ambos como
elementos essenciais, fundamentais para analisar os campos da comunicação e
midiático, os sentidos e efeitos produzidos ou gerados por estes.
Há de se ressaltar na visão do autor o foco na questão da mediação
como elemento comunicativo que - abstendo-se a questão de “lugar” de análise,
estratégia metodológica que se afasta do objeto deste trabalho - nos permite ver a
mediação como processo eminentemente comunicacional, como elemento da
negociação simbólica entre atores de processos sociais nas mais variadas
dimensões, que gera sentidos sobre e a partir das diferentes identidades
envolvidas. Como informa Sodré (2002:21):
“Com efeitos, toda e qualquer cultura implica mediações
simbólicas, que são linguagem, trabalho, lei, artes, etc.
Está presente na palavra mediação o significado de ação
de fazer ponte ou fazer comunicarem-se duas partes (...)
mas isso é na verdade decorrência de um poder originário
de discriminar, de fazer distinções, portanto de um lugar
simbólico, fundador de todo o conhecimento.”
Assim, por mediação podemos entender o processo comunicacional
que permite estabelecer contatos e produzir efeitos, trocar e negociar produzindo
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César Steffen
sentidos entre atores e campos, gerando vínculos e estabelecendo processos
sociais.
Luhmann (2000) considera que a comunicação estrutura a sociedade,
o que reforça a idéia das mediações como elemento e processo de coesão e
manutenção social. Claro, tal percurso conceitual pode levar a confundir mediação
com interação, e adiantamos que vemos tais conceitos muito próximos, porém não
correlatos.
Se pensarmos a mediação como derivada de mediar, ou seja, negociar,
estar no meio, articulando a produção de sentidos, a temos então como um
processo de troca simbólica, comunicacional, que abarca, mobiliza elementos
identitários e culturais dos diferentes atores envolvidos. Estes trocam, agem um
sobre o outro através de um elemento externo a ambos na busca do cumprimento
de suas metas, objetivos e efeitos.
Já interação, de interagir, agir sobre, para, prevê ou pressupõe uma
ação recíproca entre dois ou mais atores que agem sobre e para o(s) outro(s) de
forma direta, dialógica, gerando sentidos entre os atores presentes e construtores
do processo.
Braga (2001: 110-117), buscando construir uma reflexão sobe o
conceito de interatividade, e focado nas relação que se formam em torno dos
meios, alerta para a importância das construções trazidas pelos interlocutores para
a interação. O autor diz que as interações ocorrem e dependem de situações
sociais concretas, sendo a interatividade uma construção social onde a cultura e as
subjetividades presentes são elementos determinantes das mesmas.
Observa-se,
assim,
que
interação
e
medição
aproximam-se
conceitualmente, na medida em que ambos se constroem e se manifestam sobre e
a partir das culturas presentes no processo, gerando sentidos, novos processos,
leitura e mesmo desvios.
Entretanto interação aproxima-se mais de uma questão dialógica,
relacional, recíproca entre atores diretamente conectados, enquanto mediação
pressupõe a participação ou presença de um elemento terceiro ou externo ao
processo de produção e circulação de enunciados e de geração de sentidos.
Assim, falar em midiatização do espaço público e das relações e
processos dos campos sociais é referir a um processo de interação e negociação
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A Política nos espaços digitais
que se dá pelas relações com e através da mídia, é se referir a uma mediação
midiatizada entre atores e instituições sociais que se dá pela predominância das
técnicas e linguagens do campo midiático na esfera pública.
Este processo de midiatização coloca a mídia como condição para os
processos políticos e democráticos modernos. Na medida em que é –
principalmente - através das redes midiáticas que as questões sociais se fazem
negociáveis e tensionam os processos dos demais campos, influenciando as
resoluções necessárias ao desenvolvimento e à sustentação das lógicas sociais e
democráticas onde se inserem, a mídia mostra-se como elemento fundamental da
política contemporânea.
A democracia contemporânea se dá, se faz e se promove pela e através
da midiatização da esfera pública devido a necessidade da ampla audiência que os
processos e as redes midiáticas alcançam, tendo então o campo midiático um
fundamental papel político nos processos democráticos (WOLTON, 2000). Basta
lembrar da censura e dos instrumentos restritivos à liberdade do fazer da mídia
normalmente – se não sempre – impostos e praticados por regimes autoritários
que podemos observar a importância da mídia para a democracia moderna1.
O campo midiático converte-se, então, num ponto de encontro, num
espaço de convergência e negociação, onde as demandas da sociedade se fazem
presentes, provocando o debate público e pautando os processos sociais. Estes,
por sua vez, irão influenciar e pautar a mídia, onde as relações autônomas, diretas
entre os campos acoplam-se e ascendem ao campo midiático, à esfera de
visibilidade pública, e tensionam os processos dos demais campos sociais.
Assim, as relações entre os campos influem, tensionam o fazer da
mídia que, por sua vez, interfere e influencia os processos sociais que irão retornar
à mídia, num fenômeno circular de interferência, influência e re-alimentação entre
os diversos campos e o campo midiático que se dá e se faz nas sociedades
contemporâneas.
É claro que cada campo tem suas características, suas identidades,
operações, planos e intenções frente aos processos, que formam suas agendas
operativas e de relação com os demais campos. Assim, a agenda de cada campo e
1
Como exemplo podemos citar a constante presença de censores dentro das redações dos jornais durante o regime militar
Brasileiro, que ainda hoje gera debates, traz novos fatos a público e é permanente fonte para o cinema e a literatura de
nosso país.
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César Steffen
a agenda da mídia se cruzam, se somam e se confrontam na busca do
cumprimento dos objetivos e processos dos campos.
Eventos são produzidos para se atingir e ocupar espaço na mídia;
reuniões públicas são dirigidas, direcionadas para gerar boas imagens para a
mídia; agendas são definidas em função da agenda da mídia, e a sociedade assiste
cada vez mais a uma espetacularização2 do seu dia-a-dia.
“O espaço de visibilidade midiática promove uma
complexa relação entre os atores das instâncias formais do
sistema político e aqueles da sociedade civil, bem como
entre a política e a cultura”.(MAIA, 2002:s.p)
Analisando estes fenômenos e processos interacionais oriundos da
midiatização Verón indica três fontes geradoras e recebedoras de processos de
interação e negociação simbólica, sendo estes o campo midiático propriamente
dito, os campos não-midiáticos como, por exemplo, os campos político, jurídico e
os demais campos e atores componentes da sociedade. Nesta análise, o autor
identifica quatro zonas de interação:
“la relación de los medios com las instituciones de la
sociedade (...), la relación de los medios com los actores
individuales (...), la relación de las instituciones com los
actores (...) y la manera em que los medios afectam la
relacción entre las instituciones y los actores.3” (VERÓN,
1987:15)
Com isto Verón desenvolve o seu esquema de análise da midiatização
(fig. 1.1), onde vemos graficamente estes fluxos de interação e interferência entre
os campos e atores citados.
2
Guy Debord cria este conceito em seu “A sociedade do espetáculo”, onde a imbricação de capitalismo, mercadoria e
espetáculo são emblemas de uma sociedade mercantilizada e comercial em suas instâncias. Não aprofundamos estes
conceitos neste trabalho na medida em que compreendemos ser um eixo teórico afastado de nossa problematização, além
do fato de que, em nossa opinião, reduzir o espetáculo a uma relação mercantilista e capitalista nos parece ignorar a função
do espetáculo enquanto fato e fator de sedução, mobilização e de visibilidade, necessário a inserção e circulação dos
processos e fazeres de cada campo no espaço público midiatizado.
3
A relação dos meios com as instituições da sociedade (...) a relação dos meios com os atores individuais (...) a relação das
instituições com estes atores (...) e a maneira como os meios afetam a relação entre as instituições e os atores.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 1.1 (VERÓN, 1987:15)
Verón adverte para a simplificação deste esquema, comentando que
não dá conta de todos os processos e fenômenos, mas permite uma visão clara do
que ele entende por midiatização, ou seja, o atravessamento e relacionamento dos
campos por parte da mídia.
Claro que, como já referimos, os campos mantêm relações
independentes entre si dentro, que influem nas relações midiatizadas entre
campos, o que pode ser notado nas setas que se dirigem aos meios no esquema
gráfico do autor.
Esta perspectiva pode deixar perceber uma visão excessivamente
funcionalista da mídia, ou seja, fixada nas funções dos meios e do campo
midiático na sociedade contemporânea. Por isso, ressaltamos que a midiatização
se manifesta de forma relacional, ou seja, pelas interações dos campos com a
mídia, e se traduz e se manifesta enquanto processo técnico/lingüístico que surge
e se reforça pelas ações dos meios.
Há de se considerar então que, como já dissemos, a mídia influi e é
influenciada pela sociedade em que se insere, pois não existe campo isolado ou
mesmo auto-suficiente, onde a simples necessidade de manutenção econômica dos
meios através de variadas operações – venda de publicidade, financiamento
público, etc. – torna-se um exemplo.
Logo a midiatização trata de um triplo fenômeno: a questão técnica,
de conformação dos processos dos campos pelas linguagens da mídia; o papel
social das demandas dos campos que se midiatizam buscando gerar seus efeitos
em larga escala; e as relações que se estabelecem entre o campo midiático, os
demais campos e destes entre si através da mídia.
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César Steffen
Podemos assim notar que a midiatização amplia a área de conflito dos
atores dos diversos campos, na medida em que além dos processos internos ao
campo estes devem também estar em permanente negociação e mesmo
“atravessamento” pela mídia para buscar cumprir suas metas e efeitos junto aos
demais campos.
No espaço deste trabalho, focado num processo eleitoral, podemos
reconhecer o esquema de análise de Verón como as interações e tensionamentos
entre os campos político, midiático e a sociedade em geral.
Com base nas definições trazidas anteriormente, e de forma a clarear
nossa base de análise, podemos entender neste esquema as instituições como o
campo político, os atores individuais como os cidadãos, indivíduos que compõe a
sociedade, e os meios como o campo midiático. Assim, o esquema de análise
deste trabalho se configura da seguinte forma (ilustração 1.2).
Ilustração 1.2 – esquema de análise
Ou seja, o tensionamento dá-se na ordem dos fluxos de passagem,
predominantemente, entre os campos político e a sociedade, tendo o campo
midiático o papel central de circulação e negociação dos fluxos e processos
simbólicos entre outros campos, sendo operador e operado dos processos de
interação e negociação, mas não devemos esquecer da influência do campo
jurídico sobre estas ações e procedimentos4.
Temos que ressaltar que este esquema é um ponto de partida, um
“marco conceitual” que nos permite estabelecer uma estratégia de análise da
questão das tecnologias, suportes, influências e acoplamentos dos meios, do
campo midiático nos processos políticos em nosso trabalho.
4
Nos capítulo de análise do contexto da campanha aprofundaremos a análise da função do campo jurídico no meio.
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A Política nos espaços digitais
Concordamos com Verón quando ressalta a pouca complexidade do
esquema, pois em nossa visão a midiatização trata, além de um processo técnicolinguístico-estratégico, de um processo sócio-cultural de uso e relevância dos
meios, cujo papel e importância se dá na ordem dos usos, apropriações e
incidências dos diversos campos sobre e com os meios, além dos fenômenos e
efeitos que se geram nestes processos.
A midiatização não trata, pois, de um processo meramente
instrumental ou técnico, mas sim de um complexo conjunto de negociações,
diretas ou indiretas, entre vários campos no tecido social, uma conexão ou um
acoplamento entre os diversos campos e o campo midiático que gera e manifesta
os processos sociais e de visibilidade em larga escala.
Permitindo-nos citar um exemplo desta complexidade dos processos
de midiatização, podemos nos referir às propagandas de cigarros e bebidas, que
sofrem forte regulação por parte do campo jurídico, determinando regras,
horários, formatos, e mesmo mensagens que devem ser veiculadas junto aos
anúncios.
Logo a midiatização destes produtos ou empresas com vistas a
resultados comerciais não se resume apenas à exposição do mesmo pela mídia,
mas sim uma complexa construção discursiva e de relações entre diversos atores e
campos que formam e conformam a visibilidade destes.
Colocados, então, o papel, fenômenos e processos da mídia e da
midiatização enquanto instância processadora e articuladora das demandas dos
campos na esfera pública, a seguir nos ocupamos de analisar as especificidades da
midiatização e suas influências nos processos políticos contemporâneos.
2. A midiatização da política e as questões operativas
Falar então de midiatização da política é referir um processo de busca
de espaços e visibilidade que se dá numa tensa relação entre o campo político e o
campo midiático. Este se torna co-operador dos processos discursivos do campo
político, contaminando seus atos com suas linguagens e regras enunciativas.
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César Steffen
Antes de discutir as especificidades das formas discursivas dos
campos político, midiático e suas correlações permitimos-nos introduzir e definir
discurso. Temos por discurso um processo enunciativo que criamos para
referenciar e representar as experiências, fatos e dinâmicas por que passamos e
que vivemos. Criamos ou manipulamos discursos para transformar tais
experiências em sentido para um outro em que desejamos criar um determinado
efeito.
Logo, um discurso é, além de um processo lingüístico e enunciativo,
um complexo investimento de um ator ou campo na busca da produção de efeitos
em um outro ator ou campo. Então, a identidade do campo que emite um
determinado discurso torna-se base para a construção deste, operando as
características e determinando os elementos que vão permitir a identificação deste
campo e a construção dos efeitos junto aos receptores.
Isto reforça a idéia de que cada campo gera, mobiliza diferentes tipos
e estratégias discursivas que visam formar o seu reconhecimento enquanto campo,
da mesma forma em que,ao investir, reforça as identidades e processos dos demais
campos com quem se articula, relaciona ou compete.
Verón (1997a), ocupado em entender os processos de geração de
sentidos nas sociedades, ressalta que o sentido de um discurso é dado no tecido
social. O autor coloca que, se nos propomos a entender um discurso social,
devemos ter em mente que este integra um sistema produtivo cujas regularidades
de funcionamento compõem os processos significantes, enquanto os processos
históricos cercam e engendram as condições de produção e reconhecimento deste
discurso.
Desta forma podemos inferir que a construção de um discurso se dá
dentro de um processo em que as estratégias e intenções do campo somam-se às
condições sociais e ao momento histórico em andamento. Estes fatores são
influentes e até mesmo determinantes de sua construção, o que nos permite notar
um processo de troca constante entre o emissor do discurso e o processo social em
que está inserido.
Vemos então um processo construtivo que se dá dentro do tecido da
sociedade através da relação entre produtores e receptores, circulando pelos
diferentes lugares da esfera pública, gerando, operando e construindo efeitos.
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“Como os estudos sobre os news making ou aqueles do
enquadramento no jornalismo há muito vêm apontando, os
eventos são construídos pelos discursos que os
apresentam, e são, assim, dependentes da percepção do
enunciador e de suas estratégias enunciativas.” (MAIA,
2002: s.p)
Assim, compreender um discurso é compreender as estratégias do
campo que o gera e mobiliza dentro do processo histórico-social em que está
emitido, sendo marcado e deixando marcas em sua circulação e promovendo as
interações e negociações com outros campos.
Retomando o que dissemos anteriormente, a esfera pública
contemporânea, encontra-se fortemente midiatizado, ou seja, sob influência das
lógicas e linguagens do campo midiático. Logo as lógicas processuais, técnicas e
lingüísticas do campo midiático tornam-se fator de influência na construção e
manipulação dos discursos dos campos, no que podemos denominar de
midiatização dos discursos, isto é, a contaminação e conformação destes pelas
lógicas tecno-lingüísticas e operativas oriundas do campo midiático.
Cabe citar que o discurso é a natureza operativa do campo político. É
através do discurso que os atores do campo político destacam seu papel social e se
fazem reconhecer como integrantes das estruturas de poder e decisão da sociedade
e são relevados em seus papéis sociais.
O discurso político é o discurso da sedução, da conquista e da
mobilização, causa, efeito e razão de ser do campo político. Através do discurso o
capo político busca a conquista do outro, seja este um campo, eleitor ou mesmo
um adversário, processo em que as ideologias, processos e fazeres do ator político
são condições de formação, formatação e enunciação deste.
Da mesma forma, o discurso é o principal dispositivo do campo
midiático, e se faz, se constrói a partir de várias linguagens e elementos inerentes
ao campo e suas técnicas.
Exemplificando, na televisão podemos dizer que o discurso se formata
como imagem, som, texto e seus desdobramentos: enquadramento, planos,
iluminação, trilha sonora, efeitos, etc. Estes elementos formam um conjunto
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César Steffen
significante, uma “gramática” de produção necessária às operações discursivas e
de visibilidade do campo político através da mídia.
“Ao contrário dos outros discursos, o discurso mediático é
antes um discurso de natureza exotérico, isto é,
compreensível
independentemente
da
situação
interlocutiva particular.” (RODRIGUES: 2003:s.p.)
Nesta passagem de Rodrigues vemos uma característica do discurso
midiático, a sua facilidade de compreensão e percepção, a generalidade de
interesses que gera nos receptores e mesmo sua facilidade de acesso, elementos
que somados geram a onde encontramos a sua força e mesmo a natureza
verossimilhança.
A comunicação midiática, através dos atores e agentes do campo
midiático, atinge uma ampla cobertura geográfica e social. Isto nos permite falar
em uma ampla mas fragmentada audiência, integrada por diferentes e
diferenciados atores e campos que assim se vêem, reconhecem-se, comunicam-se
e se influenciam mutuamente.
Esta amplitude de receptores, com suas diferentes formações, anseios,
expectativas e interpretações gera a necessidade de manipulação de linguagens no
sentido de contemplar essas múltiplas leituras, reduzindo ou redirecionando os
discursos específicos de cada campo para modalidades e formatos que facilitem o
seu reconhecimento.
Assim, os discursos e processos midiatizados dos campos sofrem uma
interferência, “contaminação” pelas lógicas lingüísticas e operativas do campo
midiático, pois para se inserir nos seus espaços, circular e gerar seus efeitos um
discurso deve estar construído em conformidade com as estratégias e linguagens
que mobiliza. Ou seja, um campo que deseje se fazer visível através da mídia deve
estar em conformidade com as linguagens, processos, agendas e formatos do
campo midiático. Como afirma Fausto Neto:
“... diante da emergência dos processos midiáticos e da
importância de suas operações e de suas estratégias,
redesenha-se a própria natureza do discurso político. Esta
se requalifica não só a partir dos desafios que o espaço
público coloca, hoje, para sua inteligibilidade, mas
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A Política nos espaços digitais
também pelos efeitos desta relação complexa que trava
hoje com o campo midiático.” (NETO, 2001:06)
Podemos, com isso, seguindo a trilha de Verón (1997a e 1997b),
quando coloca a existência de diferentes gramáticas de produção e de
reconhecimento de discursos, considerar a mídia e suas linguagens como
elementos construtivos e constitutivos do discurso político.
A mídia torna-se uma condição de produção de discursos, que afeta
formatos, processos, linguagens e até mesmo demandas do campo político, na
medida em que ambos se articulam, competem e negociam dentro de suas
especificidades, buscando cumprir e manter suas agendas, intenções e processos.
Assim temos a midiatização não somente como um fenômeno de
interação e negociação surgida com o advento e crescimento do campo midiático
nas sociedades contemporâneas, mas também como elemento de interferência
sobre os processos discursivos dos diferentes campos, que devem se adequar à
gramática da mídia para serem visíveis e negociáveis na esfera pública.
Vemos, pois, a especificidade da midiatização da política, onde a
formatação de suas linguagens e processos são produzidos em conformidade - ou
atendendo - as estratégias e lógicas do campo midiático. Este, por sua vez, insere
a política em seus espaços, dando visibilidade e possibilitando a geração de
efeitos sobre os demais campos.
Neste acoplamento entre o campo político e o campo midiático
operam-se lutas e disputas de sentido onde ambos buscam cumprir suas agendas,
gerar seus efeitos e ressaltar seus interesses e intenções. Através de negociações e
interações os campos trocam, competem e se influem mutuamente, mas nestes as
lógicas e linguagens midiáticas se colocam como elementos condicionantes.
Entretanto não devemos entender este processo somente como troca e
competição entre estes campos, um processo linear de influência ou conformação,
mas como uma complexa ordem de tensões e cruzamentos estratégicos que
resignifica e tensiona o fazer do campo político. Este torna-se cada vez mais
dependente do campo midiático para suas operações de visibilidade, o que leva
Rubim (2000:50) a falar, por exemplo, em telepolítica, ou seja, na política
realizada em redes eletrônicas.
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César Steffen
Argumentando que vivemos na “idade mídia”, numa época em que a
mídia tem a centralidade na operação dos processos sociais, Rubim (2000:51)
argumenta que a comunicação midiática torna-se lugar essencial da luta política
por poderes, onde o papel da mídia se revela e manifesta pelos contatos e debates
políticos através de suas redes e espaços.
Cabe ressaltar que não cremos num campo midiático operado como
instrumento da política, nem numa política operada pelo campo midiático, mas
sim numa complexa relação de estratégias que se faz no espaço público moderno
e se dá na ordem da busca de preponderância e concorrência entre estes campos.
Isto determina não só a visibilidade da política e seus fazeres junto aos demais
campos, mas também promove o debate público e, assim, influi na formatação das
democracias contemporâneas.
Não existem dissoluções ou desmembramentos de campos, ou seja,
um campo não toma o lugar ou mesmo absorve o outro. Existem, sim, relações de
interação, troca, competição e complementação entre campos na busca do
cumprimento de suas estratégias e agendas, mas estes mantêm suas fronteiras e
suas competências específicas.
Isso nos leva a considerar dois tipos, duas instâncias e lógicas de
visibilidade política, sendo uma eminente e propriamente política, oriunda da
relação do campo político com a sociedade, suas bases e militantes, e de uma
visibilidade política midiática, operada e mediada pelo e através do campo
midiático.
Tomando
emprestados
os
conceitos
de
auto-referência
e
5
heteroreferência de Luhmann (2000:14-21) podemos colocar que a visibilidade
política constitui uma forma de auto-referência do campo político, na medida em
que seus processos se dão e se fazem internamente ao campo. Já a visibilidade
midiática se constitui numa heteroreferência, possibilitando a seus atores a
verificação, validação e condução de suas agendas fazendo-as visíveis na mídia.
Interessante observar, sob outro enfoque, que o campo político busca
se adequar a midiatização da sociedade criando instâncias próprias de
midiatização, manipulando linguagens e apropriando-se de gêneros e elementos
5
Resumidamente, os conceitos de auto-referência e heteroreferencia de Luhmann tratam das operações de observação e
verificação que um sistema – que aqui compreendemos como campo – realiza em seu interior e seu exterior.
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A Política nos espaços digitais
oriundos e eminentes do campo midiático para buscar construir suas visibilidades
midiática própria.
Veículos como, dentre outras, a “TV Câmara” e a “TV Senado”,
transmitem imagens, sessões, entrevistas e programas gerados pelo campo político
através de TV a cabo, sendo já importante fator de mobilização de discursos e
processos nos plenários6, mas não podemos esquecer, também, do Horário de
Propaganda Eleitoral Gratuito – HPEG.
Nota-se que o campo político gera e mobiliza estratégias e processos
para usar os canais, recursos, gêneros e linguagens da mídia para se fazer visível,
buscando assim “escapar” da agenda, processos e filtros oriundos do campo
midiático para a construção de sua visibilidade.
Temos que considerar assim uma nova lógica de visibilidade política,
uma visibilidade midiatizada, ou seja, conduzida e operada pelas lógicas, regras e
regimes discursivos do campo político, porém formatada em conformidade com
as linguagens e lógicas midiáticas, onde reside o cerne e a essência do que
denominamos de midiatização da política.
Assim consideramos três lógicas de visibilidade política: uma
visibilidade política, fruto ou oriunda das relações do campo político com os
demais campos; outra uma lógica de visibilidade midiática, gerada pela relação
entre o campo político o campo midiático; e finalmente uma lógica de visibilidade
midiatizada, produto das ações e instâncias próprias de midiatização criadas pelo
campo político.
Estas pistas nos levam a supor que as visibilidades midiática e
midiatizada são mais efetivas para os fazeres do campo político na medida em
que, como já dissemos, alcançam uma coletividade e expõem processos e fazeres
para uma ampla audiência, uma grande parte da sociedade, com a possibilidade de
gerar efeitos e resultados de forma mais rápida e efetiva.
Assim, recordamos Rubim (2000) quando conceitua “efeitos de
mídia”, um processo de geração de efeitos políticos pela inserção de seus atores
no espaço midiático como elemento constituinte e efetivo das práticas políticas
6
Em 23 de maio de 2003 uma sessão da câmara federal chegou a ser suspensa quando um deputado percebeu que os
pronunciamentos não estavam sendo transmitidos pela TV Câmara devido a uma entrevista com o deputado Agnelo
Queiroz, fato que gerou revolta e protestos. (fonte: http://www.estado.estadao.com.br/jornal/03/05/24/news135.html)
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contemporâneas, o que gera ações políticas pautadas por uma busca de espaço
midiático e seus efeitos.
Devemos lembrar, entretanto, que as relações diretas entre política e
sociedade são importante fator de formatação e determinação dos processos
políticos midiáticos e midiatizados, na medida em que, como já foi dito, ocorre
uma interferência circular entre os processos dos campos e da mídia.
Nesta perspectiva, compreendemos o conceito de efeitos de mídia, ou
seja, num processo de interferência e realimentação que se dá entre as instâncias e
lógicas de visibilidade política. A mídia pode ter a capacidade ou natureza de
atingir grandes audiências, motivo que a torna importante elemento para a
política, mas suas redes não substituem ou atrofiam as instâncias políticas e sua
relação direta com os demais campos.
Por trás desta questão geral reside um importante conceito que ainda
não referimos: a negociação, que trata dos processos de relação e interferência
entre campos fora das instâncias de visibilidade, onde são determinadas e
negociadas as agendas, os processos estratégicos e estabelecidos os padrões de
relação entre os campos político e o campo midiático.
Nota-se que no conceito de negociação está aquilo que não se
midiatiza ou é feito visível, mas sim os contatos entre campos que se fazem nos
bastidores dos processos midiatizados que conduzem, conformam e mesmo geram
as lógicas e efeitos, e onde cruzam-se e confrontam-se as agendas dos campos.
No caso específico deste trabalho temos uma negociação entre o
campo político e o campo midiático, que convergem e acertam pontos e etapas
que atendam ou satisfaçam as demandas de cada um.
Para esclarecer este conceito tomamos como exemplo um debate
eleitoral. Nestes as datas, tempos e demais regras são acertados entre as emissoras
e as assessorias dos candidatos em conjunto dias antes da realização do mesmo,
processo cujos detalhes raramente são conhecidos da audiência. Entretanto estas
negociações formatam o lado visível da operação, sendo muitas vezes decisivos
para a participação ou não de um candidato7.
7
Cabe recordar da eleição presidencial de 1998, quando o candidato e re-eleição Fernando Henrique Cardoso, orientado
por sua assessoria de campanha, não participa dos debates. Outro exemplo pode ser a debate eleitoral no segundo turno de
2002, onde o “novo” formato proposto pela rede Globo, mais aberto e com participação popular, foi aceito pelas assessorias
de Lula e José Serra.
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A Política nos espaços digitais
Assim as negociações ocorrem nos bastidores, nos corredores do
processo, influindo nos processos de midiatização, raramente se midiatizando ou
se fazendo visíveis aos receptores.
Por isso a midiatização da política não pode ser entendida somente
como processo de troca e competição ou troca entre os campos político e
midiático, mas como um complexo processo de entrecruzamentos entre os
processos dos campos político e midiático, e como uma realimentação e
agendamento entre ambos.
Neste “grande palco midiático” o campo político luta para que as
luzes se voltem e estejam sempre focadas em seus processos e fazeres, aliando-se
a mídia, ou usando de suas linguagens e estratégias, como forma necessária e
efetiva de circular seus processos e fazeres junto à sociedade. Nesta busca a
presença de assessores especialistas nas linguagens e processos da mídia é
elemento constante, às vezes tão importantes quanto o próprio político ou
candidato.
“Esta migração dos políticos para os 'frames' midiáticos,
se corporifica neste âmbito, mas requer a operação de
outras práticas e de procedimentos, especialmente a
intervenção de saberes especializados, ou de seus experts,
espécie de ‘atores estratégicos’ que se ocupam dos
processos de formatação dessa nova modalidade de
discurso.” (NETO, 2001:05)
O campo político e seus atores deixam de agir e atuar por si só, mas
passam a necessitar da presença e auxílio constante de profissionais
especializados nas regras e linguagens midiáticas para ocupar espaços e cumprir
suas agendas. Um processo eleitoral é um importante representante deste processo
em todas as suas variáveis e variações, mas sobre isto nos debruçaremos no
próximo capítulo.
3. As eleições e a política midiatizada
Os processos eleitorais surgem nas democracias modernas como
manifestação não só das necessidades de alternância de poder, mas também como
emblema da relação entre a sociedade e suas estruturas de regulação, na medida
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em que oferece a todos os seus integrantes a possibilidade de participar e interferir
nos processos decisórios através da escolha de seus representantes.
Neste momento vários campos e operações convergem para o
processo. Os atores do campo político disputam. O campo jurídico regula,
controla e, quando necessário, pune. E o campo midiático faz visíveis as
operações, demandas e agendas destes, tornando-se elemento necessário e até
mesmo indispensável ao fazer político-eleitoral.
As amplas audiência e visibilidade da mídia torna-se elemento e
mesmo ferramenta das democracias contemporâneas. Dando visibilidade aos
processos políticos e eleitorais, expondo demandas, falas e atos, pautando os
debates ou sendo pautado pelas demandas sociais os atores do campo midiático
processam e tornam-se canais das questões sociais, tornando-se assim elementos
de formação da opinião pública.
O fazer político-eleitoral torna-se um fazer midiático e midiatizado,
um estar na mídia, um estar expondo e em exposição nos espaços midiáticos ao
alcance e alcançando coletividades, circulando e negociando processos e fazeres
com os demais campos na permanente busca da construção dos efeitos de mídia,
de influência na formação da opinião pública e, claro, nas decisões de voto,
objetivo maior do campo político na eleição.
Os processos eleitorais são um momento de alta visibilidade para a
política devido principalmente a sua relevância para as estruturas e fazeres das
democracias contemporâneas, visibilidade esta exacerbada pela exposição e
espaço dedicados pela mídia.
Os atores e integrantes do campo midiático intermediam e tensionam
aqueles que disputam a eleição, criando o palco e o cenário – ou a arena - onde os
candidatos irão confrontar seus discursos, propostas, biografias, ideologias, etc.,
buscando atingir e conquistar o máximo de eleitores e votos.
Em nossa visão, não é possível pensar a democracia moderna sem as
redes midiáticas - especialmente as eletrônicas - na medida em que, como já foi
dito, através da mídia a sociedade se vê, se reconhece e se processa. Da mesma
forma, a mídia mostra-se importante na medida em que possibilita ampla
audiência e visibilidade aos processos dos diversos campos envolvidos nos pleitos
e nas questões de fundo da sociedade.
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A Política nos espaços digitais
Ora, se a base ou mesmo essência dos processos democráticos reside
no debate pluralista de idéias e no confronto de projetos e valores dos diferentes
campos notamos que as redes midiáticas, podendo gerar, pautar, conduzir e
mediar debates variados em larga escala, têm papel fundamental na construção e
afirmação da democracia. Wolton (2000:69) chega a considerar a comunicação
política como condição essencial para a democracia moderna.
Cabe considerar também que, como já colocamos, nas eleições o
campo político se midiatiza em espaços compulsórios regulados, determinados e
mesmo controlados pelo campo jurídico nos diversos meios no que conhecemos
como Horário de Propaganda Eleitoral Gratuita – HPEG.
Estes espaços se apresentam como elemento de concorrência entre o
campo político e o campo midiático, na medida em que os atores do campo
político ocupam tais espaços expondo suas propostas, idéias e projetos para a
ampla audiência e construindo a sua visibilidade frente aos demais campos.
Logo, além das ações do campo midiático e seus atores, há também
ações midiáticas dos partidos e candidatos através da mídia construindo sua
imagem e expondo seus processos, onde ambos se influem e se tensionam
mutuamente, operando seus processos e agendas frente às questões em pauta na
sociedade.
Assim, os processos eleitorais se fazem e se constroem num amplo
cruzamento de operações estratégias e lógicas de diversos campos, que influem
nas questões e nos elementos em pauta, cruzando agendas e estratégias e operando
as visibilidades e discursos dos diversos atores envolvidos.
Devemos então levar em conta a credibilidade dos campos frente ao
processo. Se é interesse do campo político conquistar o apoio dos demais campos
para suas demandas e fazeres, há de se considerar que esta intenção seja percebida
pelos receptores. Logo, a credibilidade do campo político estaria vinculada às suas
intenções e interesses no processo, que assim se mostram como fatores de
influência nos resultados destes esforços midiatizados da política.
Neste aspecto pode-se considerar que o campo midiático tem maior
credibilidade por sua – pretensa - isenção ou deslocamento de interesses nos
resultados do processo. Disso deriva o poder da mídia sobre as eleições, pois sua –
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César Steffen
pretensa - isenção aumenta a sua credibilidade, somada a sua alta visibilidade e
abrangência, colocando-o como fator de influência nos processos eleitorais.
Entretanto, como vários momentos do passado indicam – onde o
maior emblema em termos de eleições no Brasil talvez seja a edição do debate
Lula-Collor em 1989 – nem sempre o campo midiático atua de forma isenta, o que
representa um perigo pela relevância de sua agenda.
Entretanto algumas pesquisas indicam que os receptores percebem
estes movimentos da mídia, e os levam em conta em sua tomada de posição, o que
reforça a idéia dos cruzamentos de agendas e estratégias durante o processo
eleitoral.
Claro, esta questão da influência da agenda da mídia nas eleições é
motivo de amplos debates e estudos acadêmicos que a cada eleição se renovam
frente aos novos processos e ações do campo8. Longe de querer encerrar o assunto
ou mesmo de manifestar uma posição – pessoal - definitiva, até porque os
cenários mudam constantemente, não cremos que se possa falar ou citar de
preponderância de mídia ou política no período eleitoral.
Podemos sim supor que, por sua pretensa isenção, a mídia tenha maior
credibilidade e influência, mas assumir tal posição seria um risco para o trabalho
como um todo. Cremos, sim, que há um processo de forte tensão, agendamentos,
uma “queda de braço” entre os campos midiático e político que disputam a
credibilidade frente aos demais campos e buscam influir no processo eleitoral.
Neste aspecto também há de se considerar que a midiatização da
política no HPEG ocorre num cenário onde vários atores, campos e demandas
circulam, se fazem presentes e influem nos processos sociais. Logo, ocorre um
cruzamento de agendas e processos que se influem mutuamente ao qual a política
deve se adequar e conformar.
A midiatização da política não se dará simplesmente pela lógica,
ideologias, projetos ou anseios dos atores do campo político, mas se dará num
cruzamento de negociações e tensões que irão estimular, balizar, pautar ou mesmo
conduzir este fazer político midiatizado em todas as instâncias.
8
Sobre esta questão sugerimos ver o texto “Das visibilidades das eleições de 2002”, de Albino Rubim, onde mostra as
diferentes maneiras e processos de tratamento dos candidatos nas eleições presidenciais de 1998 e 2002 pela mídia,
denunciando um tratamento diferenciado ao processo devido à agenda das empresas.
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A Política nos espaços digitais
Então, podemos inferir que os fazeres político-eleitorais se fazem e
têm sua visibilidade construída numa relação de troca, competição e
complementação entre o campo político e os vários campos. As edições e
agendamentos mútuos mostram-se constantes e permanentes, e onde as ações do
campo midiático, voltadas para amplas audiências, causam uma aceleração do
processo político-eleitoral.
Consideramos importante abrir espaço para esclarecer este conceito de
aceleração, pois vemos que o mesmo é pouco trabalhado academicamente, mas
possui uma relevância estratégica em nosso trabalho.
Quando falamos em processos de interação, negociação e mediação
entre campos - que pautam e conduzem os processos eleitorais - referimo-nos as
trocas que tem em vista um determinado objetivo. Nestes processos há momentos
em que um campo tem seus fazeres internos aumentados por fatos ou fatores
externos, passando assim a ser mais solicitado, catalisado pelos demais campos na
busca do cumprimento de uma demanda que se forma no tecido social, obtendo
maior visibilidade e relevância frente aos demais campos.
Logo, por aceleração compreendemos um aumento das visibilidades e
negociações dos processos e fazeres de um campo pelos demais campos em uma
marca temporal, ou seja, uma maior quantidade de trocas e interações entre
campos que marca e é marcado por um processo interno ou externo a este campo
dentro de uma temporalidade específica.
Um exemplo de aceleração de campos que podemos citar é uma
epidemia, como as da dengue e da pneumonia asiática, quando os processos e
questões internas do campo da saúde foram acelerados pelos demais campos e
tiveram sua visibilidade aumentada, exacerbada pela sua importância e urgência.
Outro exemplo é um período de guerra, onde a mídia é acelerada para dar conta de
cobrir e informar a opinião pública dos fatos, como pôde ser visto recentemente
no conflito EUA versus Iraque.
Esta conceituação pode levar a confundir aceleração com expansão,
mas é preciso esclarecer que a aceleração sempre irá gerar uma maior visibilidade
de um campo frente aos demais dentro de um recorte temporal. Já expansão
compreenderia uma preponderância, aumento ou mesmo derrubada das fronteiras
entre os campos, mesmo que temporária, que ampliaria o poder de um campo
sobre outro(s).
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César Steffen
Os processos eleitorais possuem marcas temporais específicas,
perceptíveis, que estruturam e identificam o mesmo junto ao tecido social. Esta
marca temporal estimula o campo político e os demais campos a empreender e
executar ações e estratégias vinculadas ao mesmo, de forma a cumprir seus
objetivos no menor espaço possível. Assim esta temporalidade, ou seja, o
calendário eleitoral, mostra-se como causa e efeito da aceleração dos campos.
Entretanto, esta aceleração do campo político tem uma característica
específica, uma marca dual, na medida em que este se acelera em busca das
visibilidades necessárias ao seu fazer dentro da marca temporal do processo, e é
acelerado pelos demais campos pela relevância do processo nas sociedades
democráticas.
Assim, num processo eleitoral a aceleração se dá e se mostra pelo
aumento real e mesmo perceptível das interações e visibilidades do campo
político na busca de perfazer e cumprir as agendas e estratégias inerentes ao
momento eleitoral.
Esta aceleração desperta e estimula a atenção das demais camadas da
sociedade, seduz a audiência da mídia e coloca o campo político na posição – ou
obrigação - de estar permanentemente gerando fatos que ocupem estes espaços
midiáticos e midiatizados para se fazer visível a estes receptores.
Dessa forma o campo midiático, suas ações e fazeres frente ao
processo eleitoral, torna-se um dos fatores e dispositivos desta aceleração, dando
visibilidade e gerando ações políticas que buscam ocupar seus espaços.
Os espaço midiáticos não reduzem ou anulam a importância das
máquinas partidárias e dos eventos políticos, mas fazem com que estas se
mobilizem e organizem para a busca de espaços na mídia. Isto traz a necessidade
de profissionais especializados nas linguagens, estratégias e relações midiáticas
para estar em exposição nestes espaços e gerar seus efeitos, adaptando o campo
político à lógica da aceleração do processo eleitoral.
A televisão, atualmente talvez a principal mídia do campo midiático,
durante o período eleitoral é ocupada pelo campo político em horários e tempos
determinados pela legislação eleitoral no que conhecemos como Horário de
Propaganda Eleitoral Gratuita – HPEG.
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A Política nos espaços digitais
Este mostra-se como um espaço midiático operado pela agenda do
campo político, ou seja, uma operação política midiatizada. Não podemos
esquecer, entretanto, do espaço dedicado pela mídia, em sua programação, ao
processo eleitoral, elemento que, como já comentamos, somam-se para formar a
visibilidades dos atores envolvidos.
Nestas operações midiáticas e midiatizadas o campo político expõe
suas ações, propostas, projetos, acusações a adversários, e todos os elementos
necessários ao cumprimento de seus objetivos dentro do processo, buscando assim
formar uma opinião pública favorável ao candidato e, claro, votos dos cidadãos.
A mídia, por seu turno, insere e cede espaço aos candidatos para
cumprir sua agenda de audiência, acelerando e sendo acelerada pela eleição,
processo eminentemente político, e colocando-se na posição de mediadora entre
candidatos e sociedade na medida em que dá visibilidade a estes, pauta o processo
de debate e discussão publica e mesmo promove atos e ações relevantes, como
debates entre os candidatos.
Assim o somatório do que circula, é exposto e se faz visível nos meios
do campo midiático e no HPEG somam-se e influem na formação da opinião
pública durante o pleito, tornando-se fatores no processo de decisão do voto pelo
eleitor.
Comentando o processo eleitoral de 1994, Chico Santa Rita9
(2001:139), ressaltando o complicado cenário em que ocorria o pleito, mostra
onde os eleitores iriam buscar informações para tomar suas decisões de voto:
“Na televisão, ora. A resposta dos pesquisadores era quase
unânime: quando chegar a hora haverá o horário eleitoral,
os candidatos se mostrarão, apresentarão seus propostas e
aí um deles será escolhido. É assim, aliás, que tem
acontecido nas eleições, desde que elas foram
restabelecidas após a ditadura.”
Os efeitos deste somatório de processos, negociações, tensões e
visibilidades podem ser medidos, observados ou mesmo aferidos através
pesquisas de intenção de voto, elemento presente e constante nos processos
político-eleitorais modernos.
9
Chico Santa Rita é profissional do marketing político tendo participado de importantes campanhas eleitorais nos mais
diversos níveis em todo o país.
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César Steffen
Aqui recordamos Walter Lippmann, que em seu célebre “Public
Opinion” desconfiava de uma opinião pública informada, e dizia que a maioria
das decisões das pessoas se baseava no que ele chamava de “imagens em nossas
cabeças” (DIZARD apud SODRÉ, 2002:43).
Ou seja, as opiniões e desejos manifestos e captados pelas pesquisas
baseavam-se menos numa racionalidade crítica ou analítica e mais numa projeção
de expectativas sobre um determinado elemento ou ator, baseadas principalmente
nas subjetividades dos entrevistados influenciadas pelo cenário em que estes se
inserem.
Já Sartori (1998) comenta que as pesquisas na verdade mostram - ou
demonstram - a influência da mídia nas decisões e avaliações das pessoas, e
ressalta a influência da formulação das perguntas nos resultados das pesquisas.
Este assunto também é comentado por Almeida (2002), que coloca a importância
da formatação do questionário e da formulação das perguntas na construção de
uma pesquisa10.
Este
autor
(2002:37),
citando
alguns
estudos
e
pesquisas
internacionais, lembra que as pesquisas apresentadas nos noticiários da televisão
influem na decisão do eleitor, onde é interessante observar o destaque ou
importância que os campos político e midiático dão as pesquisas de opinião,
sendo estas muitas vezes o elemento articulador e condutor de suas cobertura e
ações.
Devemos levar em conta que uma pesquisa, naturalmente, capta
opiniões, visões e posições dos eleitores frente ao processo eleitoral em
desenvolvimento através de uma amostra representativa da população. Logo
podemos inferir que seus resultados refletem tendências e processos que ocorrem
ou se fazem presentes junto a esta população, que nelas reconhecem a si e a seus
próximos e semelhantes.
Neste aspecto reside o potencial manipulador destas pesquisas. Na
medida em que a população pode “se ver” nos resultados e, assim, mudar sua
opinião - no que um profissional da psicologia denominaria de “medo da
10
Um exemplo citado pelo autor é as pesquisas de opinião que normalmente perguntam o voto do eleitor se a eleição fosse
no dia o que, segundo ele, permite formar um cenário das intenções de voto no dia em que a pesquisa foi realizada, mas não
a extrapolação destes resultados para o dia da eleição. Segundo o autor, o correto seria perguntar ao eleitor em que ele
pretende votar no dia da eleição.
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A Política nos espaços digitais
diferença” - as pesquisas podem tornar-se elementos de interferência no processo
eleitoral, conduzindo e influenciando as decisões de voto.
Claro, não é possível afirmar a influência das pesquisas nas decisões
de voto, e a cada eleição as polêmicas e debates se renovam, se acirram e seguem
inconclusas. Podemos, no máximo considerar as pesquisas como uma dentre a
ampla gama de vários fatores ou elementos de influência, onde a própria
obrigatoriedade do voto – em termos de Brasil – deve ser considerada.
Cabe ressaltar, entretanto, que as pesquisas refletem ou captam
retratos, “instantâneos” dos movimentos da opinião pública frente ao pleito no
momento em que são realizadas, das quais se pode obter sinais indicativos, não
verdades ou realidades imutáveis ou absolutas como muitas vezes apresentadas
pela mídia11.
“Eleição é uma atividade muito dinâmica. Novos fatos e
situações se alteram com muita facilidade. O grande
segredo é se antecipar a estas alterações (RITA,
2001:31)”.
Consideramos importante notar as pesquisas também como fator de
influência nas decisões estratégicas de campanha, quando metodologias
qualitativas e quantitativas são utilizadas para verificar a imagem e o
posicionamento do partido ou candidato percebidos pela população. Isto influi não
só na abordagem e a construção da campanha do candidato mas também o
candidato a ser posto em cena12.
Chico Santa Rita nos permite perceber, através dos vários casos e
experiências que narra em seu livro “Batalhas Eleitorais” (RITA, 2001), a
importância das pesquisas qualitativas e quantitativas como elemento de
verificação das expectativas e processos dos eleitores sobre o candidato e de
condução das estratégias pelas assessorias.
Não nos interessa, neste trabalho, discutir detalhes ou reproduzir as
experiências do autor, mas sim notar nos diversos casos que narra, nas mais
11
Interessante colocar, neste ponto, que na eleição para governador gaúcho de 2002 houve uma grande disparidade entre os
resultados das pesquisas de boca-de-urna e a contagem oficial. Este fato que gerou grande polêmica e levou a RBS a
constituir uma comissão de notáveis para avaliar o caso e discutir a questão das pesquisas. Isto resultou num seminário com
atores dos campos político, jurídico e midiático, onde a conclusão foi de que as pesquisas de opinião não deveriam ser
usadas como elemento condutor da cobertura da mídia, havendo a recomendação para não destaca-las em manchetes ou
espaços privilegiados nas capas dos veículos impressos.
12
Cabe lembrar que Celso Pitta foi selecionado candidato a prefeito de São Paulo em um teste de vídeo realizado pelo
marketeiro Duda Mendonça, que testou e considerou várias possibilidades até escolher Celso pelo seu bom desempenho
frente às câmeras.
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César Steffen
diversas eleições e com os mais variados candidatos, a relevância das pesquisas
como elementos condutores das estratégias de campanha, onde também
transparece a amplitude do trabalho de planejamento e execução de uma
campanha.
Conduzido por especialistas nas linguagens, estratégias e processos
midiáticos que atuam junto aos candidatos e seus assessores, uma campanha
eleitoral tem uma abrangência holística. Seu planejamento envolve inúmeras
variáveis que vão desde a história, processos e ideologias do partido ou candidato
até o quadro ou cenário em que a eleição ocorre.
Não caberia aqui aprofundar todas estas variáveis, mas cabe esclarecer
que o marketing político e eleitoral não constrói candidatos do nada, mas sim
opera a partir da história e imagem formada do político junto aos eleitores, não
existindo uma receita pronta para o sucesso. Como afirma Pacheco, o marketing é
uma “arte de ajustamento” do sujeito/produto ao meio ambiente.
“Gosto da analogia do surfista que parece dominar as
ondas. Na realidade ele apenas ajusta-se, em plena
harmonia e interação, às forças do oceano. Oceano e
Mercado são poderosos demais para serem dominados
pela fragilidade relativa do indivíduo, a quem cabe, isto
sim, integrar-se inteligentemente ao sistema das forças
ambientais, tão mais poderosas do que as suas - e usá-las a
seu favor. (PACHECO, 1994:149)”.
O autor chega a afirmar que “voto é marketing, o resto é política”.
Entretanto há de se considerar que todo candidato tem uma história, um percurso
político já percorrido que deve ser levado em conta na construção de sua imagem,
logo “o resto” da política mostra-se como importante elemento na condução das
ações de marketing na busca do voto.
A política, o fazer político, em diferentes formas e processos, é um
fazer diário, um elemento presente e constante no espaço público. Ao marketing
político cabe conduzir ou aproveitar-se destas ações para formar a imagem deste
político e fazê-lo presente numa eleição dando roupagem, exposição e visibilidade
ao mesmo.
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A Política nos espaços digitais
Chico Santa Rita afirma que um dos princípios de construção de uma
campanha é “trabalhar com propriedade os três conceitos primários – passado,
presente e futuro – que personalizam um candidato” (RITA, 2001:73).
Logo a construção da imagem de um político-candidato não se dá
somente no momento eleitoral, mas é um processo constante, diário de ações
políticas e midiáticas que irão se somar e formar esta imagem13. Alguns
especialistas falam na “campanha permanente”, ou seja, em processos políticos
diários que buscam fazer o ator político visível frente à sociedade, formando e
construindo gradativa e paulatinamente sua imagem deste.
A história e processos de um político se colocam como elemento
fundantes dos fazeres eleitorais deste, elemento fundamental na construção das
estratégias de imagem e das visibilidades deste. Novamente Pacheco (1994)
informa que o voto é influenciado por três componentes distintos: o ideológico, o
político, e o eleitoral.
Em uma eleição o componente eleitoral faz-se mais presente, e
influencia os processos de formação da opinião pública, e o marketing eleitoral
forma, constrói a imagem do político-candidato a partir do percurso, dos
processos deste frente aos outros dois componentes citados.
Acusa-se o marketing e os “marketeiros” de construir candidatos e de
vender políticos como se vende sabonete, argumento onde se esconde uma visão
linear do processo de construção das imagens dos políticos, no sentido de que
bastaria construir uma oferta de discursos e elementos para que esta seja
prontamente aceita e gere os efeitos desejados nos receptores (eleitores).
Claro que o processo não ocorre desta maneira, como já temos nos
referido, mas se faz sobre um tecido social engendrado por uma ordem de forças e
processos dos diversos campos sociais e mesmo candidatos, que irão formar e
influenciar as reações dos eleitores frente ao processo.
Não existe marketing ou profissional de comunicação que fabrique um
candidato do nada – apesar do que muitos profissionais da área gostam de deixar
transparecer em entrevistas, palestras e livros. Fazer política é negociar, se expor
13
Caso como a recente ascensão e queda da candidatura da então governadora do Maranhão Roseana Sarney à Presidência
da República demonstra bem este processo, pois o “marketeiro” Nizan Guanaes utilizou fortemente a mídia para formar a
imagem da candidata a presidência, o que logo se refletiu nas pesquisas de intenção de voto, colocando a mesma como
favorita a vitória no pleito. Entretanto, denúncias de corrupção veiculadas nos noticiários da mídia derrubam a candidatura
(RUBIM, 2002) o que, em nossa opinião, confirma a formação da opinião pública sobre a política como um processo
constante que se dá pelo somatório das vozes da política e da mídia na esfera pública midiatizada.
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César Steffen
não somente ao cidadão-eleitor principalmente através da mídia, ocupando com
oportunidade, clareza e levando em conta as expectativas dos eleitores, da opinião
pública, os espaços midiáticos e construindo, assim, a sua visibilidade, sua
imagem e seu processo de luta pelo voto.
Ao marketing político cabe fazer-se presente como elemento de
construção e ajuste das imagens, ações e fazeres dos candidatos no processo
eleitoral, estabelecendo a ponte, a ligação entre o campo político, a mídia e os
demais campos, ajustando ou conformando os atores políticos às regras operativas
do campo midiático.
Podemos notar, então, que o marketing político e eleitoral – e seus
especialistas – irão influenciar, balizar ou mesmo conduzir as ações e estratégias
dos candidatos no pleito, sendo elemento decisivo na formatação e construção do
discurso do candidato, suas propostas, enunciados e ações.
Assim, além das propostas, agendas e ações o discurso políticoeleitoral deve ser considerado em seus elementos estéticos, em seu
enquadramento ou adequação às linguagens midiáticas: a foto bem iluminada, o
jingle que repete o nome do candidato e o mote da campanha; a roupa esportiva
para o comício ou o paletó na cadeira, as mangas da camisa arregaçadas e o nó da
gravata solto num “escritório” bem iluminado cercam, emolduram a exposição do
candidato e seu discurso, estilizando sua imagem e se colocando como um
elemento de formação dessa imagem, ocasião em que o especialista em mídia
mostra sua supremacia sobre a política.
Neste ponto cabe destacar a interferência do campo jurídico no fazer
político e midiático durante o processo eleitoral. No Brasil, através dos Tribunais
Eleitorais, o campo jurídico instala as regras e processos que controlam e até
mesmo limitam o fazer político-eleitoral junto à sociedade e à mídia, de forma a
proporcionar a máxima liberdade e segurança para os eleitores e garantir que
práticas ilícitas ou constrangedoras sejam coibidas.
Se, durante os períodos do regime militar a lei eleitoral ofertava
espaço compulsório na mídia para o campo político durante o processo eleitoral,
mas impedia o uso dos recursos técnicos e linguagem da mídia14, atualmente a Lei
14
Para fins de recordação cabe colocar que a chamada “Lei Falcão”, que leva o apelido do seu elaborar, o então ministro
da Justiça Armando Falcão, foi promulgada pelo regime militar após a derrota nas eleições legislativas de novembro de
1974, limitando drasticamente o acesso de candidatos ao rádio e à televisão, com o fim de evitar mais uma vitória
oposicionista nas eleições municipais de 1976. Esta lei permitia aos partidos apenas mencionar a legenda, o curriculum
vitae e a foto do candidato nos horários de propaganda eleitoral obrigatória, e perdurou até o pleito de 1982.
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A Política nos espaços digitais
9504, de 199715, mantém este espaço compulsório não somente durante as
eleições, determinando tempos, regras, prazos e até mesmo espaços em mídia
externa – outdoor – que podem ser ocupados pelos atores políticos, além de
distribuir espaços gratuitos na mídia em outros períodos, não-eleitorais, com
tempo proporcional a representatividade de cada partido no congresso nacional.
No caso específico das regulações do processo eleitoral, o não
cumprimento de tais regras pode levar a multas, cassação da candidatura ou
mesmo do mandato em caso do infrator ter sido empossado durante o processo
investigatório. Não podemos deixar de mencionar a regulação quanto às pesquisas
eleitorais, prevendo pesadas penas e multas em casos de não-cumprimento das
regras ou mesmo a divulgação de pesquisas fraudulentas.
Nota-se na lei a preocupação em garantir equilíbrio tanto no acesso da
política à mídia, buscando evitar que os espaços regulares se transformem em
palanques para candidatos e partidos, quanto evitar que a agenda de interesse da
mídia interfira no processo e na lisura dos elementos que podem neles influir,
como a(s) propaganda(s) e as pesquisas eleitorais.
Vemos, então, uma política, um fazer político-eleitoral influenciado,
tensionado e construído não só enquanto processo eminentemente político, mas
principalmente como processo midiático.
Influenciado, pois as linguagens e processos da mídia se impõem às
lógicas e aos processos políticos como elemento formatador de suas estratégias e
fazeres. Tensionado porque o campo político está em permanente negociação com
o campo midiático para se fazer visível, gerar e manipular seus efeitos. Construído
porque a mídia ergue e forma seus processos e suas relações com os demais
campos, sendo neste “local” feitas as suas possibilidade de efeitos e mobilização,
qualificações que ilustram toda a interferência que o campo político sofre por
parte do campo midiático no momento eleitoral.
Assim, temos uma política que busca permanentemente a construção
de suas visibilidade nos espaços midiáticos, e tem nas suas linguagens e seus
especialistas os principais componentes, não somente na exposição e circulação
dos fatos e demandas mas também na formação da opinião pública, onde se dá e
se forma a identidade, o reconhecimento e onde circulam os processos políticos
contemporâneos.
15
Copiado via Internet em www.tse.gov.br [03/2002] Texto completo encontra-se nos anexos deste trabalho.
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Nota-se um cruzamento de campos, estratégias, linguagens e
processos discursivos nos fazeres político-eleitorais. A mídia busca audiência para
si, a política gera e usa essa audiência para construir seus efeitos, os especialistas
auxiliam ou conduzem estas ações e fazeres dos candidatos, a mídia pauta o
processo e é pautada pela política, numa ampla conexão e cruzamento de agendas
que faz as visibilidades dos processos eleitorais modernos.
O espaço midiático configura-se então como o lócus onde são
divididas, debatidas, tensionadas e até mesmo resolvidas as diversas demandas,
fazendo circular discursos e processos do campo político, agendando, verificando
ou aprofundando as questões em pauta e sendo elemento indispensável à
democracia, ao fazer político e aos processos eleitorais contemporâneos.
O advento da tecnologia da Internet traz um novo elemento a este
processo na medida em que sua tecnologia passa a inserir-se e fazer circular
processos comunicacionais na sociedade. A chamada “telepolítica” ganha a
companhia dos espaços digitais de comunicação, sobre o qual dissertaremos nos
próximos capítulos.
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A Política nos espaços digitais
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A política nos espaços digitais
1. Espaço digital, um novo componente da esfera pública
Neste capítulo caracterizamos e conceituamos o espaço digital de
interação surgido com o advento da Internet , e identificamos os processo e
fazeres que este elemento traz aos processos políticos contemporâneos.
Sabe-se que o desenvolvimento da Internet nasceu da necessidade de
um sistema de comunicação militar durante o período da guerra fria, levando a
uma tecnologia que permitisse as mensagens circular por caminhos diferenciados,
chamados “nós”, sendo então os pedaços remontados no ponto de destino,
processo que só cessaria com a destruição total da rede.
A Internet desenvolveu-se sobre uma tecnologia então restrita, os
computadores, grandes máquinas que ocupavam salas especiais e realizavam as
mais complexas operações de cálculo e armazenamento de dados. Nesta época tais
máquinas eram manipuladas apenas por especialistas em seus processos e
procedimentos em poucas instituições que possuíam a capacidade financeira,
técnica e de pessoal para mantê-las.
A tecnologia evolui e estas máquinas ficaram gradativamente
menores, mais baratas e de uso mais intuitivo, permitindo a manipulação por não
especialistas, onde o “Machintosh”, lançado na primeira metade da década de 80,
é o grande emblema.
O sistema do “Machintosh” permitia a manipulação da máquina
através de interfaces gráficas e ícones, retirando do usuário a necessidade de
compreender, decorar e manipular complexas linhas de comando ou realizar
extensas e complexas operações de programação, bastando apenas acessar os
recursos através do mouse ou de atalhos via teclado em telas gráficas
(FRAGOSO, 2002:s.p.).
Este sistema e outros, como o Microsoft Windows, evoluem
adicionando recursos de som e imagem em movimento, aproximando o
computador da experiência midiática-sensorial de meios como o rádio, a televisão
e o cinema proporcionam.
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César Steffen
Assim o computador torna-se uma peça atraente aos olhos dos nãoespecialistas, inserindo as máquinas nos lares e acelerando a evolução da
tecnologia para contemplar os usos e necessidades destes novos usuários. O
computador transforma-se assim num elemento de entretenimento, diversão e
informação manipulada conforme os objetivos e usos que cada usuário dá à
máquina.
A chegada da Internet em si não chega a ser um elemento de interesse
imediato para a indústria de computadores e softwares. Desenvolvida dentro dos
laboratórios de pesquisa e dos centros acadêmicos, essa tecnologia evoluiu
conforme as demandas, exigências e desejos dos usuários do sistema, mas segue
restrita.
Com o surgimento das interfaces gráficas e da “WWW”, criada por
Tim Berners-Lee na primeira metade da década de 1990, a rede torna-se
comercialmente atraente e ganha espaço na mídia. Neste momento, da mesma
maneira que os sistemas gráficos dos computadores, a “WWW” e o seu protocolo
de suporte, “http”, torna a Internet uma experiência acessível aos usuários leigos.
Basta digitar um endereço, apontar o “mouse” e clicar numa figura ou
“link” para que os processo de contato e navegação desejado se produza,
permitindo acesso a conteúdos, imagens, gráficos e animações que tornam a rede
um “produto” atraente.
Este “produto” gera uma corrida pelos seus espaços, onde
empreendedores e empresas passam a disponibilizar acesso e usar seus recursos
dentro de variadas estratégias comunicacionais e comerciais, mas a quebra da
bolsa de tecnologia norte-americana “NASDAQ” resfria os ânimos.
Nota-se que a tecnologia digital da Internet serve a trocas simbólicas e
discursivas entre pessoas conectadas em e por meio de seus dispositivos,
suportando uma prática de interação que nos permite reconhecer esta tecnologia
como meio de comunicação. Consideramos então o que faz desta tecnologia um
meio de comunicação social, uma mídia, elemento integrante e operador do
campo midiático.
Segundo Alsina (2001:62), a comunicação social sofre a intervenção
tecnológica na mediação de uma mensagem, havendo uma separação entre os
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A política nos espaços digitais
sistemas de produção e recepção, ou seja, há um separação física entre instâncias
de produção e recepção que se comunicam por via de uma tecnologia.
Já para Verón (1987:12), para ser considerada como meio de
comunicação social, uma tecnologia deve satisfazer um critério de acesso plural às
ofertas de mensagem, um critério sociológico de produção, circulação e
reconhecimento de mensagens e enunciados que cria o que denomina de
“mercado discursivo” das sociedades modernas.
Jacques Perriault (1991), levantando a hipótese de que as pessoas que
utilizam as “máquinas de comunicação” fazem-no por e a partir de uma estratégia
própria, foca-se no conjunto de práticas de comunicação que condicionam os usos
e valores dos meios, buscando entender o modo pelo qual se fazem os usos dos
objetos técnicos como elementos comunicacionais.
Para o autor as máquinas de comunicar - que aqui entendemos como
os meios, as mídias, apesar de o texto do autor tratar das máquinas num sentido
muito mais amplo - têm marcado seus usos por um desejo ou necessidade de
simulação do real por parte do ser humano, pela necessidade de recordação e
projeção da suas subjetividades intrínsecas para outro(s) ser(es) humano(s).
Ou seja, o uso dos meios passa pela subjetividade intrínseca de cada
ser, que seja própria da técnica e dos discursos presentes no meio a partir de seus
objetivos e estratégias.
Estas máquinas só adquirem sentido e valor a partir destes usos
sociais. Assim, afirma que a apropriação das máquinas tem duas dimensões, sendo
estas a técnica, a capacidade de manipular o objeto, e a simbólica, a subjetividade
que se projeta sobre esta máquina, de onde percebemos que se fazem os processos
e desvios que geram novos usos ou recursos às máquinas.
Nestas perspectivas percebemos que um meio de comunicação social
não deve ser entendido somente como suporte técnico ou processo simbólico em
ampla escala, mas como um dispositivo de comunicação a serviço de
subjetividades e identidades que deste se utilizam para projetar para outro
mensagens e enunciados conduzidos através de uma tecnologia.
Assim, temos que a tecnologia ou a técnica é a base de um meio de
comunicação social, influindo diretamente em suas linguagens e processos, mas
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sustenta sua existência ou tem valor social através dos usos para os processos
estratégicos e simbólicos dos diversos e diferenciados atores e campos.
Podemos dizer então que uma tecnologia só irá se desenvolver como
meio de comunicação se a ela for dado valor e sentido pelos usuários. Logo, um
meio de comunicação social só irá se caracterizar como tal pelos usos,
apropriações, interações e mediações que os diversos campos promoverem através
desta tecnologia.
Da mesma forma, não é possível falar de comunicação sem pensar,
como Winkin (1998) numa orquestração, numa rede de relações e apropriações
que se forma em torno dos meios.
Para Winkin pensar a comunicação midiática é olhá-la sob a ótica dos
contextos e das relações que se formam pelas apropriações das técnicas e pelas
várias e diferenciadas estratégias de uso e manipulação dos meios. Ou seja, é
pensar a abordagem social de uso dos meios como elemento de interação,
comunicação e visibilidade entre diferentes atores e campos.
Seguindo estas trilhas temos um meio de comunicação social como
uma tecnologia que se insere e forma o contexto das comunicações sociais, e sua
caracterização surge a partir dos usos, incidências e apropriações dos diversos
campos. Estes, através da tecnologia, se comunicam, constroem relações, mediam,
interagem e se fazem visíveis.
Porém, a caracterização dos meios não pode deixar de levar em conta
as gramáticas de produção, ou seja, as lógicas e protocolos de uso e os elementos
de linguagem que surgem ou são criados para este meio, marcando as suas
especificidades, benefícios e limitações.
É claro que um meio de comunicação irá suportar ou ser reconhecido
por sua linguagem intrínseca, ou seja, pelas formas de uso e recursos estéticos,
visuais e textuais que devem ou podem ser manipulados por aqueles que desejam
projetar-se sobre outros. Torna-se, então, necessário a um individuo que deseja
fazer uso do meio reconhecer e manipular os recursos para obter os efeitos que
deseja a partir de uma técnica específica.
Linguagem e técnica condicionam-se mutuamente num processo de
troca e evolução e mesmo quebra de regras permanente que gera novos usos,
sentidos e desdobramentos a um meio. Planos, enquadramento, diagramação,
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A política nos espaços digitais
iluminação, foco, etc. são elementos das linguagens das várias mídias que
condicionam os processos de comunicação através delas, permitindo o
reconhecimento, validação e projeção da experiência por ela registrada e
projetada.
Assim um meio de comunicação comporta uma tecnologia, gramáticas
de produção e reconhecimento de mensagens condicionadas ou balizadas por esta
técnica, para a qual os diferentes campos e atores convergem e se conformam para
circular, processar e evidenciar suas comunicações, e onde as culturas e os
processos simbólicos destes campos e atores são o elemento base na construção
destes processos.
O próprio surgimento da Internet, tecnologia desenvolvida para suprir
uma necessidade militar num contexto de forte tensão e conflito bélico iminente,
que evolui pelas apropriações dos diversos integrantes de outros campos,
especialmente o campo acadêmico, demonstra e reforça a idéia que uma
tecnologia ganha sentido através de seu uso social.
Dessa forma, a caracterização da Internet como meio de comunicação
social surge do somatório entre a sua tecnologia, a linguagem que se desenvolve
desta e dos usos, incidências e valores dados a estes pelos diversos e diferenciados
usuários, atores e campos. Estes, assim, podem interagir, trocar, inserir e ofertar
os mais diversos conteúdos, fazer visíveis e colocar em pauta suas visões e
opiniões e circular seus fazeres e processos de e para os demais usuários e campos
em larga escala.
Notamos então que a Internet não é um meio de comunicação isolado
ou que surge com uma linguagem totalmente própria ou inédita. Pelo contrário, a
Internet soma-se aos processos comunicacionais da sociedade que a ela
convergem linguagens e técnicas de outras mídias, que num mesmo suporte
técnico circulam e se efetivam.
Wilson Gomes (2001:s.p.) comenta que a “Internet compreende três
fenômenos interligados: um ambiente de conexão, um complexo de conteúdos e
um sistema de interação.”
Por ambiente de conexão compreendemos a tecnologia informatizada
que sustenta o(s) sistema(s) de comunicação, possibilitando aos usuários interagir
sobre e a partir das ferramentas disponíveis.
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Por complexo de conteúdo compreendemos os diferentes e
diferenciados enunciados e discursos que circulam sobre este ambiente de
conexão, que também permitem aos usuários se conectar diretamente através das
máquinas, onde notamos o sistema de interação.
Logo técnica, linguagem e processos dos usuários somam-se para dar
existência e valor a este novo meio de comunicação social enquanto lugar e
processo de produção e geração de novos sentidos.
Mostrando um alto grau de inovação tecnológica e comunicacional
somado a um grande potencial integrador para os usuários, a Internet se
configurou como a grande promessa das tecnologias de comunicação.
Este potencial atraiu a atenção de empresas e empreendedores dos
mais variados ramos, que apostaram no potencial desta mídia como canal de
comunicação e de geração de novos modelos de negócios com a promessa de alto
retorno. Mais recentemente grandes grupos e “players” de mídia – como exemplo
podemos citar Time-Warner, Disney, Globo, dentre tantos outros - adentram e
apostam no meio dentro de sua estratégias empresarias. Como se lê em Castells:
“Na segunda metade da década de 90, um novo sistema de
comunicação eletrônica começou a ser formado a partir da
fusão da mídia de massa personalizada globalizada com a
comunicação mediada por computador.” (CASTELLS,
2000:387)
Assim, configurando-se como meio de comunicação social, promotor
e suporte de processos comunicacionais e de visibilidade entre os diferentes atores
e campos sociais, sobre e a partir dos elementos e tensões de uma sociedade ou
cultura, vemos a Internet como mais um elemento constituinte, integrante e
promotor da esfera pública contemporânea, um espaço digital de comunicação.
Estes espaços surgidos com o advento da Internet, cuja tecnologia e
suporte permitem a múltipla conexão e trocas entre usuários nos mais diversos
pontos, criam novas formas de contato, eliminam distâncias físicas e geográficas que não mais são uma barreira para o contato e a conexão entre as pessoas.
Surge uma nova geografia, uma geografia digital, sem território físico,
onde se fazem processos de comunicação entre os diversos usuários de diferentes
formas e em diferentes medidas.
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A política nos espaços digitais
Os espaços digitais surgidos com a Internet se apresentam e se
constituem através de metáforas de lugares – ou não-lugares como diria Marc
Augé (1994) – de espaços geográficos promovidos pela tecnologia informática e
digital, onde o contato insere os usuários em diferentes e diferenciados fluxos de
informação.
Nestes espaços a sensação de deslocamento através de caminhos se
apresenta através das diferentes interfaces construídas e se faz presente como uma
topografia peculiar, uma “localização espacial” no espaço de interação num
mundo digital, onde a lógica deste deslocamento se constrói através de
hipertextos1 e processos interativos informatizados.
A própria denominação website, lugar na web, na Internet, sala de
chat ou mesmo a denominação de “navegação” ou “surf” para o processo de
acesso aos diferentes espaços demonstra e reforça a metáfora dos espaços digitais,
onde novos protocolos e processos comunicacionais são e fazem marcas no uso e
contato.
Os espaços digitais de interação extrapolam a “privatização” da esfera
pública, na medida em que aceleram e catalisam o descolamento das relações
sociais físicas e presenciais para relações de interação tecnológica, dando novo
elemento a “bios virtual” (SODRÉ, 2002:27), a formas de vida e relação via
tecnologia sem o contato pessoal.
A máquina, o computador e seus elementos – tela-teclado-mouse-etc. insere o usuário-cidadão num ambiente de contato e interação, onde o seu eu se
projeta numa metamorfose digital interativa. Manifestando e dando roupagem a
suas subjetividades, que se projetam e se manifestam em estratégias de uso e
manipulação das tecnologias, o espaço digital transforma-se num ponto de
encontro e convergência de várias operações e suas representações simbólicas.
Assim os espaços digitais configuram-se como um espaço plural de
deslocamento, contato e acesso onde a lógica de cada ator integrado ao processo
faz-se presente e constante alterando, redirecionando e gerando novas
configurações e novos fenômenos a cada instante.
1
Por hipertexto entendemos, conforme Landow (apud FRAGOSO, 2002a:s.p.) “uma escritura não-sequencial, um texto
que se bifurca, que permite que o leitor escolha e que leia melhor em uma tela interativa. De acordo com a noção popular,
trata-se de uma série de blocos de texto conectados entre si por nós, que formam diferentes itinerários para o usuário" Esta
construção e navegação por hipertextos se dá e se faz através de links, a que entendemos como “um instrumento de
construção de relações semânticas, um modo de construir conexões entre coisas.” (Johnson, 1997, p. 111 apud
FRAGOSO, 2002).
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Os espaços digitais da Internet não se configuram como uma esfera
autônoma ou desconectada dos processos sociais em que se insere. Ao contrário,
se conecta aos processos dos atores e campos, dando novas características e nova
roupagem aos processos comunicacionais e interacionais e mesmo às identidades
daqueles que dele se utilizam e nele se projetam, tornando-se assim fator de
tensionamento e aproximação entre atores e campos sociais.
Os espaços digitais abolem as noções usuais de tempo e espaço,
tratando e promovendo uma distorção, um alargamento de fronteiras onde a
realidade faz-se ou não presente, dependendo de quem esta promovendo e
utilizando o mesmo, transformando-se num elemento complexificador desta
realidade e das relações sociais.
Assim, os espaços digitais se agregam aos processos e tensões que
ocorrem na sociedade, sendo um novo elemento de promoção e circulação dos
diferentes processos de interação e comunicação, onde através das diversas
tecnologias e ferramentas os usuários se encontram, se fazem presentes e visíveis.
Logo, o espaço digital trata de um espaço de comunicação e mediação
através de redes tecnológicas informatizadas onde as subjetividades e processos
dos diversos atores e campos se projetam para construir processos e elementos
comunicacionais, e estes ocorrem dentro da esfera digital da Internet.
Cabe, para clarear ao máximo os conceitos aqui propostos e utilizados,
diferenciar espaço digital de ciberespaço. Muitas vezes confundido com Internet,
o termo ciberespaço foi cunhado em 1984 pelo escritor de ficção científica
William Gibson no livro “Neuromancer”, onde o autor fala de um espaço nãofísico, não-geográfico e não-territorial, promovido pelas redes tecnológicas
informatizadas onde a informação circula e o ser humano faz contato, conecta-se a
outros seres humanos.
Gibson fala de uma “alucinação consensual” criada e promovida pelo
contato, conexão e ampliação dos limites seres humanos com os espaços
tecnológicos de interação, a que denomina de “Matrix”, a matriz tecnológica de
circulação e contato.
Este termo passou a estimular, balizar e se fazer presente em uma
série de estudos sobre os processos comunicacionais e as redes digitais, notandose uma forte ligação do conceito de ciberespaço com a Internet, às novas mídias e
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A política nos espaços digitais
as novas tecnologias de comunicação informatizadas, gerando até mesmo uma
confluência entre os dois conceitos. Como informa Cardoso (2002:s.p.):
“A noção mais usual do termo ciberespaço refere-se
basicamente ao conjunto formado pelas "novas mídias".
No entanto, o ciberespaço, enquanto fenômeno da cultura
contemporânea, vai muito além da simples utilização
destas ferramentas de comunicação, ao promover o
aparecimento de um novo e profícuo espaço sóciocultural.”
Entende-se por ciberespaço um elemento de conexão, interação e
sociabilidade surgido com o advento das tecnologias informatizadas. Entretanto
consideramos que o conceito de ciberespaço é maior, vai além da Internet, das
redes de computadores e o espaço digital.
Como o próprio Gibson afirma, o ciberespaço é um espaço que existe
e é promovido pelas tecnologias enquanto processo de comunicação e interação,
permitindo ao ser humano projetar-se além dos seus limites físicos e geográficos,
conectando-se e interagindo com outros seres humanos através de redes técnicas.
Podemos então considerar que qualquer meio que promova uma
interação entre pessoas e uma projeção das subjetividades, do “eu”, a partir de
recursos tecnológicos pode ser considerado um promotor do ciberespaço, onde
incluímos então telefones fixos, celulares e até mesmo, em menor escala, meios
como o rádio e a televisão. Logo, diferencia-se do espaço digital pela amplitude
de recursos e processos que suporta.
O espaço digital não existe enquanto lugar, enquanto materialidade,
mas acontece, se faz presente como um ponto de encontro, um lugar onde ocorre
um processo de interação por via tecnológica, formando uma topografia através
dos contatos que nele se estabelecem.
Para buscar esclarecer ao máximo esta noção, exemplificamos: uma
sala de chat onde usuários “conversam” via teclado é um espaço digital; um email levando mensagem de um usuário para outro se forma e se mostra num
espaço digital; um website de uma empresa com informações sobre seus produtos
e serviços demarca o espaço digital desta, e todos estão presentes e atuantes
dentro desta nova integrante e promotora do espaço e esfera públicas, a esfera
digital da Internet.
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Os espaços digitais podem ser públicos ou privados, fechado ou
abertos, e são promovidos enquanto fenômeno e processo cultural de conexão e
comunicação entre pessoas que se utilizam destas tecnologias para circular e se
fazer presente para outros usuários.
Nota-se que o papel de promotor e usuário se confundem e se somam
nos espaços digitais, na medida em que não há promoção sem uso, ou uso sem
promoção ou mesmo comunicação e troca sem conexão.
Aqui reside um importante conceito para compreendermos o papel
destes espaços: a circulação dos enunciados e discursos. Como já referido os
espaços digitais refletem as culturas em que se inserem e deles se utilizam. Logo
podemos considerar os processos discursivos e estratégicos dos campos que
adentram ao espaço digital serão elementos formatadores do mesmo.
Assim, se temos um campo que adentra ao espaço digital com uma
estratégia podemos supor que esta será o elemento condutor e formatador dos
conteúdos e enunciados deste espaço. Entretanto, esta formatação se dá dentro de
um processo social maior, onde várias forças externas ao campo se coadunam.
Da mesma forma há um receptor – presumido, antecipado – que
seleciona os elementos inseridos com que deseja travar contato. Assim, a
circulação dos discursos se dá na ordem das ofertas estratégicas do campo que são
selecionadas pelos receptores.
Temos então que os espaços digitais da Internet são um dos elementos
promotores e realizadores do ciberespaço, na medida em que promovem
processos de interação, mediação e negociação por via tecnológica digital,
ampliando os limites físicos dos seres humanos. Entretanto, não contemplam ou
promovem toda a variedade e complexidade dos processos comunicacionais do
ciberespaço.
Os espaços digitais se manifestam em pontos de comunicação, troca e
visibilidade que se formam sob uma camada de tecnologia onde as funções,
tarefas e processos de cada ator e campo são construídos conforme suas
estratégias, desejos e necessidades e as expectativas do outro que acessa e interage
com o espaço.
Exemplificando: um banco na Internet simula um banco físico em
suas funções e operações, ampliando as possibilidades de relação deste com seus
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A política nos espaços digitais
clientes e quebrando com algumas marcas temporais presentes nas agências e
espaços físicos; uma sala de chat emula uma conversa presencial, que se projeta
sobre um espaço, uma camada de tecnologia digital que amplia uma relação física.
Um exemplo final: uma sala de aula virtual insere os usuários – alunos
e professores – numa relação de troca e experimentação na busca do
conhecimento onde cada um, em seu espaço físico individual se projeta, se
conecta e interage com os demais construindo e operando uma relação de ensino.
É semelhante a uma sala de aula física: há leituras a fazer, há trabalhos a realizar,
há debates a participar, interferir e mediar, ações que se fazem e se dão sobre uma
camada tecnológica de comunicação.
O espaço digital ajusta-se, é formado, assim, pelas culturas que nele
adentram, formando seus caminhos, sua topografia. Torna-se assim mais um
elemento para formação de imagem, circulação, negociação e visibilidade dos
processos de funcionamento, interação e negociação dos campos em sua relação
com os demais atores e campos caracterizando-se, então, como mais uma
instância dos processos de midiatização das relações sociais.
“In the grand narrative of modernity, the Internet is an
efficient tool of communication, advancing the goals of its
users who are understood as preconstituted instrumental
identities.2” (POSTER, 2003:s.p.)
Disto até agora posto temos um novo espaço de interação e mesmo
competição entre os diversos e diferenciados campos sociais, onde suas
identidades, valores e estratégias serão os elementos de demarcação e construção
dos processos de interação e visibilidade.
Assim, pensar a política no espaço digital é colocá-la à luz das lógicas
dos atores e processos do campo político e demais campos sociais que se acoplam
a estes para, então, compreender o papel deste espaço nas democracias
contemporâneas. Neste aspecto é interessante citar Wilson Gomes (2001:s.p.):,
“a) qualquer sujeito pode tornar-se emissor; b) qualquer
receptor possa tornar-se emissor e vice-versa; c) qualquer
receptor possa transformar-se em provedor de informação,
produzindo informação e distribuindo-a pela rede, ou
2
Na grande narrativa da modernidade a Internet é uma eficiente ferramenta da comunicação, avançando nos ou os
objetivos dos usuários, entendidos como identidades pré-existentes
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César Steffen
simplesmente repassando informações produzidas por
outros.”
Nesta visão do autor reside um dos potenciais promotores da
participação política e da democracia no espaço digital. Argumenta-se que a
conexão aos sistemas da Internet, o potencial para a livre emissão e recepção
somados à facilidade de acesso à maior variedade de fontes de informação,
poderiam aprofundar o conhecimento dos fatos e fatores, qualificando as opiniões,
a formação política dos cidadãos e a relação destes com as estruturas de regulação
e poder da sociedade.
Celso Cândido (1999) menciona a possibilidade da criação de uma
“Ágora Virtual”, semelhante as Ágoras Gregas, onde através dos sistemas digitais
os cidadãos poderiam se reunir para resolver debater e decidir as demandas
sociais.
“Em sociedades de massas, obviamente, uma cidade ou
Estado não pode reunir todos os seus três, quatro ou dez
milhões de cidadãos em praça pública para ouvirem os
oradores e, então, deliberarem revelando os seus votos.
Isto é, claro, materialmente impossível. No entanto, parece
não menos evidente que os meios de comunicação digitais
multimídia interativos, os computadores, poderiam
simplesmente ocupar (e com infinitas vantagens
"cibernéticas") desterritorializadamente o lugar do Ágora
antiga. (...). Quer dizer, poderíamos ter, a qualquer
momento em que houvesse necessidade uma verdadeira
assembléia geral virtual, desterritorializada, na qual a
participação de todos os cidadãos, por estes meios, estaria
assegurada. Os cidadãos poderiam, trocar intensamente
suas opiniões através destes meios de comunicação, os
computadores, ligados em rede; poderiam se articular,
negociar posições, refletir. A antiga praça pública grega se
transformaria, se desterritorilizaria e penetraria na casa de
cada pessoa. (CANDIDO, 1999:s.p.)”
Lévy (1999), comentando o potencial democrático da Internet, fala em
“e-democracia”, que trataria da organização, do debate e resolução das questões
macro-sociais a partir e pelos próprios cidadãos.
Outros autores, como Clift (2002) e Grönlund (2001) também citam a
“e-democracia” como uma democracia promovida e patrocinada pelo espaço
digital com um novo elemento de integração e participação política, mas advertem
para que os conceitos e esforços não se foquem excessivamente no “e”, na
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A política nos espaços digitais
construção e promoção do espaço digital, e relevem ou coloquem em segundo
plano a democracia.
Para Clift a “e-democracia” trata de um processo participativo cujo
desafio reside justamente na participação, ou seja, na construção de uma relação
mais direta e recíproca entre instâncias de poder da sociedade e os cidadãos
através da conexão, integração, interação e participação em debates e deliberações
sobre as questões em pauta através do espaço digital.
Em sua argumentação Clift (2002:s.p.) cita que a e-democracia
envolve ou envolveria os cidadãos como indivíduos, que poderiam se conectar e
se associar criando novas instâncias e processos de participação política,
ressaltando a importância da convergência entre Internet e as instituições da
sociedade física, “real”, como elementos mobilizadores desta participação.
Logo, se falamos em “e-democracia” nos referimos a um processo de
troca, mediação e interação onde, a partir do contato através dos espaços digitais
os diversos processos, elementos e fenômenos da democracia ganham novas
características, velocidade e roupagem. Logo, os processos da diversas mídias e os
processos midiatizados dos diversos campos tornam-se elementos de influência
nesta “e-democracia”.
Como já afirmamos as agendas, intenções e processo destes campos
são elementos presentes e constantes na exposição e mobilização das questões
sociais, pautando os debates e a resolução das demandas. Claro, estes campos não
existem isolados, mas se fazem presentes num tecido social onde as tensões e
pressões dos vários campos são elementos relevantes neste agendamento.
Assim vemos a “e-democracia” inserida enquanto um elemento e
processo das democracias modernas, de um processo maior, geral, que trata,
conduz e mesmo regula os processos das sociedades modernas. Por isso, citar um
processo como elemento vindo ou advindo de uma camada da população em
nossa visão é ignorar a complexidade dos fatores de formação e tensão que se
fazem presentes a conformam as democracias modernas, além de supervalorizar a
capacidade mobilizadora desta população frente as questões e debates sociais.
Cabe referir também, como nos diz Maia (2002), que a tecnologia não
determina a interação nem garante a crítica ou a reflexão, ou seja, a simples
promoção de espaços tecnológicos de interação não garante a necessária
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negociação entre os atores ou a reflexão por parte dos receptores. A autora
(MAIA, 2002:56) cita uma série de estudos empíricos que demonstram que as
pessoas conectadas através do espaço digital expressam as próprias opiniões,
buscam e disponibilizam informação sem que se vincule a um debate
propriamente dito.
Assim temos que a participação nos espaços digitais de interação se dá
e se faz mais na ordem da inserção e disponibilização de visões e opiniões do que
na configuração de uma troca e deliberação, características e constituintes de um
debate democrático.
Tomando esta posição como eixo argumentativo podemos considerar
que, se não há debate ou negociação, mas sim difusão e busca de visibilidade,
onde cada um insere seus processos e visões sobre um tema em pauta sem trocar
com os demais, há na verdade uma busca de influência sobre o processo que parte
de uma individualidade que se projeta sobre um todo podendo gerar maiores ou
menos efeitos.
Assim, deve-se levar em conta que, como já foi dito, o espaço digital
se insere na sociedade e reflete os seus processos culturais. Neste aspecto
referimos o exemplo da cidade de Bolonha, citado por Rousiley Maia (2002:53),
onde foi implantado um sistema que garantia a universalidade de acesso a Internet
e a espaços de interação e troca, mas estes se mostraram mais utilizados para
assuntos gerais, como esportes, televisão, novelas, etc., do que para questões
políticas.
Analisando o mesmo caso Guidi (2002), adotando uma perspectiva
aparentemente mais quantitativa, considera a experiência de Bolonha como
positiva pela constituição de um espaço e de ofertas de tecnologia – salas com
computadores conectados, liberdade de uso e acesso, treinamento, etc. - que
facilitaram o acesso às mais variadas camadas da população o que, somado ao
retorno obtido através do cadastramento e procura tornaria a experiência de
Bolonha positiva.
Guidi adverte para os perigos de iniciativas como estas gerarem novas
estratificações sociais, mostrando uma visão bastante diferenciada da de Maia
que, focada nos usos e apropriações do espaço por parte dos usuários, avalia a
experiência de Bolonha como exemplo e emblema de um fazer político
desgastado e cada vez mais afastado dos cidadãos.
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A política nos espaços digitais
Interessante observar neste caso a forte vinculação que o uso e a
manipulação dos espaços digitais possui, como já afirmamos, com as
individualidades, subjetividades, anseios e expectativas daqueles que dele se
utilizam, sendo estas os condutores, balizadores e formatadores do processo de
conexão e interação.
Assim, a “e-democracia” trata do estabelecimento de novas formas de
relação entre cidadãos, instâncias políticas e mesmo o poder público através dos
recursos da tecnologia digital e interativa, apresentando-se como um novo
elemento de tensão e re-ordenamento das democracias contemporâneas. O desafio
da e-democracia, segundo Clift, reside em mobilizar os cidadãos para participar, e
que não deve excluir ou estratificar seus cidadãos – posição com a qual temos
total concordância.
Lembrando que a esfera pública contemporânea encontra-se
fortemente midiatizada, e que o campo midiático é fator de grande influência e
agendamento das questões em pauta vemos que a “e-democracia” se faz num
processo de integração e mobilização através dos vários campos e,
principalmente, das várias mídias.
Estas, somando seu potencial de integração, exposição, debate,
visibilização e, principalmente, mobilização, tornam-se elementos de promoção
da democracia e integração dos cidadãos aos processos políticos, onde os espaços
digitais trazem como novidade a maior possibilidade de interação e aproximação
entre cidadãos, atores e campos e um suporte atemporal de conteúdos, discursos e
processos.
Assim “e-democracia” não é apenas a conexão, difusão e relação
política via espaço digital, mas também um processo complexo de interação,
mediação e negociação entre campos que formam, conduzem e tensionam os
debates democráticos através de processos tecnológicos midiatizados, e onde o
potencial de visibilização de uma mídia e o poder de um campo se tornam
elementos-chave no aprofundamento das questões.
Devemos então pensar a Internet e seus espaços digitais em termos de
uma nova instância de interação, cruzamento e acoplamento entre campos e de
promoção das questões políticas das democracias modernas.
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César Steffen
Como já referimos, a Internet não é uma mídia isolada, mas que
existe, ganha sentido a partir dos usos sociais que dela é feito. Logo, os processos
dos usuários no espaço digital, tensionados e influenciados pelos diversos
processos e instâncias sociais, irão se projetar e se fazer presentes neste espaço,
refletindo a cultura e os fazeres destes usuários e campos. Podemos inferir que os
espaços digitais só ganham ou traduzem processos políticos pelos usos que o
campo político ou seus apoiadores e correlatos fazem dele.
A função política se dará na ordem dos processos do campo político
no espaço digital, o que nos permite identificar um ponto de pressão e tensão
sobre o campo político, na medida em que as mediações e interações promovidas
nos espaços digitais do campo se projetam sobre e para a esfera pública através
daqueles que dele se utilizam e nele se projetam.
Compreender a política e seu fazeres nos espaços digitais é
compreender a complexidade dos processos, fenômenos e interações que esta
promove e insere no espaço público, sendo o espaço digital um elemento de
visibilidade e manipulação de seus processos, discursos e estratégias frente aos
demais campos.
Mas este espaço digital e suas tecnologias trazem novos elementos e
processos de comunicação e interação que podem possibilitar a criação de novas
relações políticas. Sobre isto dissertaremos no próximo capítulo.
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A Política nos espaços digitais
2. Relações políticas no espaço digital
Entendidos então o surgimento, a ascendência e os processos do
espaço digital nas democracias contemporâneas consideramos agora os elementos,
processos, lógicas operativas e simbólicas que o campo político – e os demais
campos - pode mobilizar para se promover, se fazer visível e “interativo” neste
meio.
O espaço digital estabelece, traz novos protocolos comunicacionais,
disponíveis para os diversos e diferenciados usuários e campos que os utilizam em
seus processos de comunicação e interação, buscando, assim, circular seus
discursos, enunciados e construir seus efeitos. Nestes espaços coloca-se a
interatividade como a nova revolução da comunicação surgida com a Internet, a
comunicação mediada por computador (CMC) e a midiatização das redes digitais
informatizadas.
Lucien Sfez (1992) critica esta chamada interatividade considerando
que ela insere os receptores em uma ilusão de expressão e participação no meio
levando a um processo solitário, autista e autoritário que a dá o nome de tautismo.
Para o autor “interatividade” é jargão mercadológico, argumento de venda e
sedução e não reflete a realidade ou se realiza através dos processos via Internet.
Em nossa visão, se analisarmos de forma mais aprofundada, podemos
dizer que todas as comunicações midiáticas, de diferentes maneiras e com
diferentes suportes, promovem a interatividade.
A interação midiática se dá na ordem da circulação de discursos e
processos onde, através do uso dos meios nas várias escalas possíveis – ou
coletiva e plural nas palavras de Verón e Alsina - instâncias de produção e de
recepção, que estão fisicamente separadas, se conectam, trocam, “falam” através
dos diferentes meios. Assim, uma mensagem formatada e inserida pela instância
de produção em um meio é acessada pelo receptor que a “interpreta, lê, seleciona,
recusa, edita” (BRAGA, 2001:117), conforme sua subjetividade, suas expectativas
e suas formações.
Dessa forma, podemos ver que todos os meios de comunicação, de
diferentes formas e através de variados processos, possibilitam a interação e a
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César Steffen
interatividade, posto que através de seu uso ocorre uma negociação de sentidos
entre instâncias de produção e recepção, que agem e reagem sobre e para a outra.
Assim a interação ocorre através dos meios, dos suportes das
mensagens e enunciados, e a interatividade sobre e através dos enunciados,
conteúdos e discursos criados e disponibilizados pela instância produtora, pois
estes contêm uma intenção e pressupõem uma reação em sua construção.
“A comunicação envolve, de certo, o transporte de
informações, mas isso não significa que o conteúdo das
mesmas permaneça inalterado durante todo o processo, na
medida em que a própria identidade do receptor se
modifica, ao receber as mensagens.” (RUDIGER,
1998:25)
Temos então que a interatividade está condicionada por estas ofertas,
construídas a partir das estratégias e necessidades da instância produtora. Isto nos
permite afirmar que interatividade midiática se faz, se constrói a partir das reações
dos receptores sobre os elementos e discursos inseridos e presentes nos meios, que
podem ser verificadas de diferentes formas: pesquisas de audiência, pesquisas
qualitativas de recepção, cartas enviadas aos veículos, etc.
Notamos que a interatividade se configura como a qualidade da ação
recíproca que se manifesta na instância receptora do produto midiático em seu
processo de seleção e reação frente aos discursos e conteúdos ofertados, agindo e
criando um texto ou discurso próprio, específico, construído e condicionado pela
sua subjetividade.
Nos espaços digitais a relação de interação constrói-se na interface
software-indivíduo, ou seja, na utilização e manipulação dos recursos dos
softwares e sistemas informáticos inerentes ao meio. Ambos são partes integrantes
e indispensáveis ao processo comunicacional. Logo na Internet a interação e a
interatividade manifestam-se no uso, necessário, das interfaces de software no
processo de recepção. Conforme Murray:
“o que é chamado de interatividade é na verdade a
combinação de duas funções dos softwares – a função
‘processual’ que diz respeito ao seu funcionamento por
regras codificadas; e a função participatória que diz
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83
A Política nos espaços digitais
respeito à requisição da atividade para que as regras
funcionem”. (MURRAY apud SÁ, 2002:s.p.)
Torna-se então impossível falar de interação via Internet sem falar em
interatividade, da mesma forma que não podemos falar em interatividade sem
interação. Por tal razão, acreditamos que, em se tratando de Internet, as
expressões interação e interatividade contemplam duas noções indissociáveis.
Logo, ao referirmos à interação ou a interatividade, estamos referindonos a dois processos interdependentes e indissociáveis que ocorrem num mesmo
canal e sobre uma mesma base tecnológica.
Nota-se que a interatividade está longe de uma simples relação
homem-máquina ou reação frente ao um conteúdo colocado numa tela, mas se
apresenta como uma complexa relação entre usuários e atores através das
máquinas informáticas, onde os valores e culturas de ambos se cruzam e acoplam,
gerando os processos de sentidos no meio.
Lembrando de Bourdieu (2000), a autoridade, o poder de um discurso
está intimamente ligado e surge da legitimidade de quem o emite, de sua
competência prática e simbólica, somado às situações em que é proferido, ou seja,
do contexto em que circula e é reconhecido.
Isto também irá se manifestar na relação entre produtores e receptores
nos espaços digitais. Nestes há, sim, uma maior aproximação entre estas
instâncias, um acoplamento entre ambos, pois os receptores têm suas
possibilidades de construção de texto e de interferência sobre os conteúdos e
discursos ampliado, além de selecionar o espaço de interação frente aos variados –
ou quase infinitos – espaços disponíveis.
É claro que os caminhos, percursos, recursos e conteúdos a ser
selecionados estão previstos, foram criados e disponibilizados pelo produtor frente
as suas necessidades e estratégias, cabendo ao receptor selecionar o que deseja
criando um “texto midiático que apesar de previsível não foi necessariamente
previsto” (FRAGOSO, 2001:93).
Mas esta seleção não trata de um processo de mera aceitação ou
recusa a determinados conteúdos, num mero binarismo positivo-negativo, aceitorecusado, mas de um complexo processo de leitura, análise e contato permeado,
atravessado por uma ampla gama de expectativas, anseios, desejos e necessidades.
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César Steffen
Lembramos então dos conceitos de auto e heterorreferencia de
Luhmann (2000:14-22), pois vemos que as regras do meio, ou seja, as técnicas e
linguagens do meio formam suas leis, suas estratégias e regras operativas.
Aqueles que do meio se utilizam valem-se de valores e elementos externos para,
usando e manipulando estas regras, formar os sentidos no meio.
Assim a seleção realizada pelo usuário é atravessada por mediações de
todas as ordens e manifesta, conforma e forma um cenário numa amplitude de
cruzamentos, tensões, agendamentos e estratégias.
O processo de interação via Internet aproxima-se, pois, da noção de
acoplamento (LUHMANN, 2001:93) entre produtores e receptores, na medida em
que as individualidades, subjetividades e necessidades de produtores e receptores
se mantêm, mas se influenciam, reciprocamente.
O produtor formata o espaço, seus conteúdos e elementos, conforme
suas estratégias e necessidades. Este é “invadido” pelas demandas e expectativas
dos receptores que “clicam” e selecionam aquilo que desejam. Configura-se assim
um processo de troca midiatizada, onde ambos não estão diretamente presentes,
mas podem se conhecer e reconhecer de várias formas, formando o que podemos
chamar de contrato de leitura do espaço digital.
É importante mencionar que, ao acessar o espaço digital, o usuário é
permanentemente interpelado, solicitado a agir sobre a oferta construída, sobre os
elementos e recursos disponíveis - sejam eles textuais, visuais, sonoros, etc. através dos recursos técnicos e softwares para seguir e dar sentido a seu processo
de interação.
Ou seja, podemos dizer que o usuário espera, deseja ou mesmo
necessita ser interpelado, agir sobre uma interface sendo estimulado por diferentes
e diferenciados elementos para construir seu processo de interação.
Assim se configura, se manifesta e processa o “contrato de leitura”
entre as instâncias de produção e recepção no espaço digital. Na medida em que
há uma expectativa do receptor, formada por sua cultura e seus objetivos, e uma
intenção ou processo do produtor ao construir este espaço, que manifesta suas
agendas e estratégias formatando os conteúdos e a topografia, forma-se um
contrato entre ambos através do espaço digital.
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A Política nos espaços digitais
O receptor torna-se então parte mais ativa e influente no processo de
interação, na medida em que seleciona o elemento e o espaço onde irá interagir,
em que constrói o fluxo de informações e o discurso através da seleção das ofertas
de conteúdo neste espaço e que organiza os sentidos num feixe de relações.
Há, sim, uma construção, uma estratégia de exposição e formatação de
conteúdos por parte do produtor que será selecionada pelo receptor formando os
sentidos, mas estes estão e se formam fora do espaço digital, pois as estratégias e
seleções são elementos inerentes as culturas, expectativas, estratégias e anseios de
cada ator e campo.
Temos assim uma comunicação de característica massiva, pois os
espaços de interação e seus conteúdos estão disponíveis ao vasto público usuário
nos quatro cantos do mundo, com recorte interativo, pois cabe à instância de
recepção à seleção do espaço aonde irá se fazer presente e a construção do
discurso neste espaço. Como coloca Marcos Palácios, “a explosão telemática está,
pela primeira vez, fazendo a junção entre comunicação massiva e interatividade”.
(PALÁCIOS, 1999:s.p.)
Entretanto, há de se considerar que a lógica do receptor, do usuário
conectado ao espaço digital, ganha maior relevância no processo de interação. Ao
contrário de meios como a televisão e o rádio, na Internet a circulação de
conteúdos e a visibilidade de processos e fazeres dos diversos campos será
determinado pela relação entre produtores e receptores, cabendo a estes últimos
selecionar não somente os conteúdos, mas também o espaço de interação com que
manterá contato.
Recordamos que não existem campos isolados, mas sim relações de
interação e negociação que fundam e permitem o reconhecimento de um campo
através de suas especificidades discursivas.
Podemos então inferir que a identidade e as estratégias do campo que
constrói e disponibiliza o espaço serão elemento de ressignificação de discursos,
sendo influenciados pelas interações e negociações que este trava com os demais
campos e pela tecnologia e linguagem do meio.
Da mesma forma, lembramos que uma tecnologia somente se converte
e ganha status social através dos usos que os atores e campos fazem, mobilizandoa segundo suas lógicas e estratégias.
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César Steffen
Podemos então inferir que a identidade, os valores e fazeres do campo
serão elementos centrais na construção do espaço, mas este refletirá os processos
de troca, interação e competição que ocorrem na esfera pública, sendo estes
importantes elementos na formação e caracterização do espaço digital de um
campo.
Por outro lado, na medida em que serão os processos e estratégias de
um campo que permitirão o seu reconhecimento devemos considerar que os
demais campos têm seus próprios processos, expectativas e anseios frente a este,
expectativas estas cuja variedade deve ser atendida ou reforçada de forma a
estimular e gerar os efeitos pretendidos por este campo produtor.
Os discursos, formatos, conteúdos e recursos do espaço digital serão,
pois, determinados pela combinatória das estratégias e desejos do campo
construtor e promotor, buscando antecipar ou atender as necessidade e desejos dos
demais campos.
Entretanto, a lógica do construtor, no caso deste trabalho o campo
político, estabelece o filtro, as estratégias e as táticas e mesmo condiciona os
processos que serão presentes e visíveis no espaço, na medida em que o campo
político e seus espaços digitais se inserem nos processos que se dão no tecido
social.
Da mesma forma, há de se considerar que o campo midiático,
especialmente num momento de alta visibilidade política como uma eleição,
torna-se elemento de constante pressão e agendamento do campo político. Além
disso, nos demais meios, como já colocamos, ocorre uma contaminação, uma
adequação ou mesmo redução dos discursos para adequá-lo a massa de receptores.
Nos espaços digitais isso ocorre através do suporte tecnológico, que
condiciona sua construção e a configuração dos discursos e conteúdos oferecidos,
possibilitando também a oferta, num mesmo espaço, de conteúdos nos mais
variados formatos que se somam como elementos para a seleção pelo receptor.
No espaço digital ocorre, então, uma antecipação dos movimentos do
receptor que se configura, se manifesta e se materializa em amplas ofertas com os
mais diferentes conteúdos e discursos nos mais variados formatos, que ficam
disponíveis para interação pelo receptor no espaço-tempo que este desejar.
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A Política nos espaços digitais
O usuário “interpreta, lê, seleciona, recusa, edita” (BRAGA,
2001:117), mas a tecnologia do meio e as várias linguagens que suporta permitem
ao produtor efetuar operações estratégicas de apropriação destes possíveis
movimentos e necessidades do receptor, antecipando aquilo que este pode agregar
ao processo de interação à construção das ofertas do espaço digital.
A este processo de configuração do espaço digital pelo cruzamento
das lógicas do campo político, na tentativa de antecipar as lógicas do(s)
receptor(es), denominamos ampliação do discurso político, ou seja, o processo de
construção de amplas e variadas ofertas com diferentes linguagens, formatos e
elementos com o objetivo de atender e antecipar o máximo de expectativas dos
demais campos.
Por outro lado, devemos considerar que o suporte técnico do espaço
digital permite a exposição e manipulação de enunciados e discursos nos mais
variados formatos - áudio, vídeo, imagem, etc. – provenientes de diferentes
origens, sendo algumas delas outras instâncias de midiatização da política e o
próprio campo midiático.
Como refere Rubim (2000), a política busca os efeitos de mídia, que
nos demais meios eletrônicos possuem uma marca temporal condicionada por
uma ampla combinatória de lógica e tensões.
Nos espaços digitais está marca temporal desaparece, na medida em
que o espaço-tempo de interação é determinado pelo usuário. Logo um enunciado
ou conteúdo oriundo do campo midiático transposto pelo espaço digital pode
gerar amplos efeitos, conforme as expectativas do(s) receptor(es).
A esta possibilidade de geração de efeitos dentro da marca temporal
determinada pelos usuários, denominamos expansão dos “efeitos de mídia”1.
Colocamos possibilidade, realçando o condicional do processo, porque o acesso
ao conteúdo será determinado pelo receptor cujas expectativas o produtor busca
antecipar, e porque o efeito de mídia só se cumpre quando um enunciado ou
discurso é visto pelo eleitor. Logo há uma possibilidade de ampliação de um
possível efeito de mídia no espaço digital, que se cumpre ou faz presente pela
manifestação e interação do usuário-receptor.
1
Como exemplo deste conceito podemos citar o mote da campanha publicitária do portal “Globo.com”, que propõe a
possíveis usuários a possibilidade de assistir programas da emissora Globo, como o Jornal Nacional, no horário que
desejarem, através do portal.
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César Steffen
Retomando, então, a questão das lógicas de uso dos meios, podemos
inferir que a lógica de formatação do espaço digital de interação se dá na ordem
do campo que o constrói e promove, dando maior ou menor relevância aos
diversos elementos oriundos dos demais campos.
Ou seja, o espaço digital ganha status, forma e sentido pela
mobilização e lógica de um campo em sua relação com as demais instâncias da
sociedade, assumindo o papel de condutor, de filtro do espaço digital. Ou seja, no
caso desta pesquisa quem formata o espaço digital é o campo político, buscando
antecipar e suprir as necessidades dos possíveis receptores.
Frente a estas questões nos propomos, seguindo a trilha de Verón e
retomando nosso esquema de análise, citado em capítulo anterior, a entender o
processo de midiatização do campo político no espaço digital de forma gráfica e
esquemática. Neste (ilustração 2.1) o espaço digital mostra-se como o elemento
midiático, configurando o esquema da seguinte maneira:
Ilustração 2.1
Entretanto, há de se considerar que nesta entrada ocorre uma reformatação técnica e operativa, influenciada pela tecnologia e linguagens do meio,
que se coloca sobre os processos e discursos do campo.
Assim, podemos dizer que o espaço digital invade o campo político
com suas operações tecno-simbólicas, que balizam a formatação dos conteúdos, e
é invadido por este por seus processos discursivos. O esquema, então, evolui da
seguinte forma (ilustração 2.2):
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 2.2
Logo, as lógicas e processos do campo político, sua cultura e seus
agendamentos e suas tensão com os demais campos mostram-se como elementos
de formatação e construção do espaço digital.
Da mesma forma devemos recordar o acoplamento do receptor, que se
faz presente sobre as lógicas do campo construtor e promotor. Assim, há um
atravessamento das demandas do campo político e dos demais campos
(receptores) dentro do espaço digital, que nele adentram com seus processos e
fazeres e estabelecem seus contatos (ilustração 2.3), gerando interseções entres
estes e o espaço digital.
ilustração 2.3
Assim, no espaço digital a midiatização se dá num processo
permanente de tensionamento, agendamento e atravessamento de um campo sobre
outro(s) através das tecnologias e linguagens do meio. Trata-se de uma
midiatização por acoplamento que leva ao máximo efeito o conceito de mediação
midiatizada.
Temos então o espaço digital como uma nova instância de visibilidade
e interação do campo político com os demais campos, que se dá e se faz numa
combinação e cruzamento das lógicas do campo político com as lógicas, anseios e
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César Steffen
expectativas dos receptores e pelos processos que ocorrem e se formam no tecido
social, sendo esta balizada pelas técnicas inerentes ao meio.
A distinção entre estas diversas lógicas e processos, assim como o
reconhecimento de um campo no espaço digital, se dá por suas identidades,
estratégias e processos, que se apresentam como elementos condutores e
construtores do processo de interação.
Logo, se pensarmos na promoção e visibilidade de um candidato em
uma campanha eleitoral teremos um espaço digital formatado por suas estratégias,
feitos e discursos, mas estes contemplarão uma ampla gama de ofertas de
conteúdos de forma a antecipar os anseios dos possíveis receptores.
Poder-se-ia aqui entender estas distinções próximas ao conceito de
binarismo de Luhmann (2000), que afirma que o meio opera selecionado o que e
informável e o que não é informável. Nesta perspectiva podemos colocar que o
campo que constrói o espaço digital seleciona o que é informável a partir de suas
estratégias e valores, sendo que o receptor, ao selecionar, valoriza ou desvaloriza
aquilo que o campo considerou informável, gerando um cruzamento direto das
estratégias de ambos.
Não consideramos o processo de comunicação midiática e midiatizada
um mero binarismo, na medida em que esta seleção de que fala Luhmann sofre
toda uma complexidade de interferências e processos de outros agentes, campos e
atores.
Entretanto, cabe esclarecer que cada ator possui o seu sistema de
valores, a sua subjetividade, que irá se mostrar nesta lógica de seleção. Logo, a
visibilidade de um campo no espaço digital se faz pelas lógicas e estratégias deste
frente, ou em confronto, com os demais campos e atores.
Há de ser ressaltada, no esquema anterior, a presença da seta externa
ao espaço digital, que aponta as influências, tensões, processos e agendamentos de
outros campos e atores que influenciam nas ações e nas estratégias do campo
político no espaço digital e mesmo as ações dos receptores neste.
Lembramos que não se trata de um contato direto entre campos, mas
de um complexo processo de negociações, agendamentos, influências e tensões
que vão além do espaço digital e deste se projetam e se manifestam na esfera
pública.
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A Política nos espaços digitais
Nota-se então que a construção e os processos que ocorrem no espaço
digital possuem uma alta complexidade que resiste a qualquer esquematismo,
mesmo o mais básico ou simplificado ou meramente ilustrativo como os que nos
propusemos anteriormente.
Cremos que os processos de relação, mediação, negociação e
visibilidade se dão e se fazem num permanente cruzamento e re-ordenamento
entre campos cujas relações vão além das redes ou técnicas midiatizadas.
Assim a visibilidade do campo político no espaço digital se faz pela
combinação das estratégias de sentido, intenções e lógicas do campo e seus atores,
que adentram ao espaço digital, com a lógica das expectativas, anseios e processos
do(s) receptor(es) que se faz(em) presente(s) nestes espaços.
Nisto reside o conceito do que chamamos de adentramento, pois não
há uma simples entrada ou manipulação do meio, mas sim uma penetração do
campo no espaço digital dentro de um somatório de várias tensões e
agendamentos. Entre estas podemos citar as questões técnicas inerentes ao meio e
as identidades dos atores, que fazem com que um campo esteja presente e seja
reconhecido no meio.
As pré-configurações, as estratégias, valores e identidades do campo
se transformam e os processos deste com os demais campos são manipuladas
dentro da lógica da técnica do meio, moldando o espaço digital conforme o campo
que adentra ao mesmo.
Podemos, com estas questões, colocar o espaço digital da política
como um reflexo, uma manifestação dos processos políticos, moldado e
formatado pela cultura e processos políticos contemporâneos. Se, historicamente,
a democracia moderna se faz como um sistema representativo através da
delegação de poder, há de se imaginar que este modelo de representação irá se
projetar nos espaço digital.
Retomando, então, brevemente a questão da “e-democracia” antes
discutida, vemos que não se trata de uma nova forma de organização social via
Internet, mas sim de processos políticos e de interação que se fazem dentro e a
partir de uma cultura, que se projeta no espaço digital por este ser um elemento de
contato, de aumento de velocidade, quebra de fronteiras e marcas temporais e
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92
César Steffen
ampliação de relações físicas, acelerando e ampliando relações e radicalizando as
possibilidades de contato entre os diversos integrantes da sociedade.
Neste aspecto vemos que o espaço digital promove a formação das
mais variadas relações e processos. As comunidades virtuais nasceram com a
própria Internet, e já no início da década de 90 Howard Rheingold (1999)
identificou e analisou este fenômeno de interconexão entre pessoas e grupos com
interesses semelhantes, numa prática de comunicação que Lévy (1999B) define
como interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária. Para Rheingold2 as
comunidades virtuais são agregações de indivíduos que surgem na Internet
quando estes se dedicam a discutir, debater e trocar experiências por um tempo
relativamente longo, formando e estabelecendo relações diretas e recíprocas.
O termo comunidade virtual pode sugerir agregações que surgem ou
se formam somente no espaço digital, mas aplica-se também a relações físicas ou
locais que têm neste um novo elemento de contato e aproximação, expandindo
assim o próprio conceito de comunidade.
Os contatos através do espaço digital irão, ou poderão, se refletir na
identidade do integrante, explorando e dando nova forma e sentido aos processos
e práticas sociais do mesmo, explorando e ofertando novas estratégias de
associação e formação de opinião. Segundo Stockinger (2001:113):
“ambientes virtuais de informação, quando conectados
com sistemas sociais, influem nestes no sentido de
reforçar e aumentar instabilidades em comportamento e
pensamentos, que estão permanentemente sujeitos a serem
selecionados de maneira auto-organizada.”
Estas relações no espaço digital vão das mais simples às mais
complexas. De um usuário doméstico conectado numa sala de chat, que aproveita
o anonimato da tela para criar um personagem e brincar com os outros usuários a
um alto executivo de uma multinacional, que gerencia uma reunião por telepresença com executivos nos mais variados lugares do mundo, passando por um
grupo de discussão e troca de informações sobre botânica, o espaço digital
apresenta-se como uma nova possibilidade de troca e interação entre os vários
atores de uma sociedade.
2
Ressaltamos que os estudos de Rheingold ocorrem na primeira metade da década de 90, num período em que os players
de mídia começavam a entrar na rede.
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A Política nos espaços digitais
A formação de uma comunidade virtual irá se basear, construir-se a
partir das identidades, processos e subjetividades daqueles que nela se conectam e
dela participam ou para ela contribuem. Ou seja, são os interesses convergentes e
as concordâncias de identidades que irão facilitar e promover a criação e
manutenção de uma comunidade virtual.
Logo, uma comunidade virtual de cunho político será integrada, criada
e mantida pelos interesses de seus participantes nas questões oriundas do campo
político, onde a mobilização e estímulo a formação destas comunidades por parte
do campo pode trazer benefícios e novos processos a política, integrando os atores
do campo político aos de diversos outro campos.
Entretanto, é importante lembrar que várias pesquisas (ver MAIA,
2002) indicam que as pessoas que se fazem presentes e utilizam o espaço digital
como forma de intervenção e atuação política apenas expressam as próprias
opiniões ou buscam elementos, espaços e enunciados que reforcem e validem
estas.
Isto não só reforça a forte vinculação do espaço digital com a
identidade dos usuários e com os processos sociais em que se insere, mas também
permite supor que a formação de comunidades virtuais de cunho político se dará
ao redor ou através de elementos de tensão e formação de identidade política que
se projetarão sobre o espaço digital.
Fazendo um breve contraponto, é interessante mencionar estudo
realizado pelo antropólogo Julian Orr, (AGRE, 1989), em que observou que os
empregados de uma empresa de manutenção de copiadoras desenvolviam suas
capacidades técnicas menos nos treinamentos e muito mais nos horários após
expediente quando, reunidos com os colegas, bebiam e trocavam “histórias de
guerra”.
Neste ambiente foi introduzida, para uso dos técnicos, uma central de
telefonia móvel totalmente livre e sem controle, de forma que os técnicos
pudessem falar entre si a qualquer momento.
Por outro lado, Agre (idem) cita o caso de uma empresa de
contabilidade global em que foi feito um enorme investimento em tecnologia
informática, colocando computadores, servidores, softwares e tudo o necessário
para que os funcionários pudessem trocar informações instantaneamente.
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94
César Steffen
Entretanto tal sistema não era utilizado devido a forte concorrência
entre estes, onde qualquer pequena informação era utilizada para superar a pessoa
ao lado e subir de posto.
A conclusão de Agre é que a tecnologia não é substituta de uma boa
relação física, no mundo real, mas sim um meio complementar de troca entre as
pessoas de uma rede ou grupo já bem organizado e estruturado, onde notamos o
que Perriault (2000) chama de lógicas dos usos, ou seja, as apropriações e
manipulações que se fazem dentro das estratégias específicas, embasadas e
construídas por fenômenos e processos culturais.
Logo, uma comunidade virtual de cunho político terá tanta ou maior
possibilidade de gerar alteração e novas configurações a processos do campo
quanto mais próxima e integrada estiver do mesmo, seus atores e instituições.
Claro, não se pode afirmar quais as possíveis influências da formação
de comunidades desta natureza nos processos do campo político mas, de acordo
com Howard Rheingold, as comunidades virtuais têm o potencial de refletir e se
refletir nas identidades de seus membros, logo pode-se supor que trazem ou
trariam novos elementos de tensão e novas instâncias de influência sobre e para o
campo político.
Podemos afirmar que uma comunidade virtual promovida, estimulada
por um ator ou instituição do campo político terá mais chances de mobilizar os
usuários para nela participarem e também maiores possibilidades de gerar efeitos
e re-configurações aos processos do campo político.
“The question that needs to be asked about the relation of
the Internet to democracy is this: are there new kinds of
relations occuring within it which suggest new forms of
power
configurations
between
communicating
individuals? In other words, is there a new politics on the
Internet?3” (POSTER, 2003: s.p.)
Acreditamos que o espaço digital do campo político, em um período
eleitoral, irá refletir o processo como um todo, ou seja, as intenções, propostas e
3
A questão que precisa ser respondida sobre a relação da Internet com a democracia é: há novas formas de relação
ocorrendo que sugiram novas formas de configuração de poder entre os indivíduos que se comunicam? Em outras palavras,
há novas formas de política na Internet?
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95
A Política nos espaços digitais
as estratégias do(s) candidato(s), as visibilidades dos mesmos nas diversas
instâncias de campanha, as diversas influências e tensões e os processos e
fenômenos que se fazem presentes nesta4.
Não se trata de um processo puramente tecnológico ou – se assim
podemos dizer - “internético”, uma entrada pura no meio, mas sim um somatório
de estratégias, tensões e agendamentos, uma heterorreferencia política
(LUHMANN, 2001:17) que se dá pelo adentramento e acoplamento dos diversos
campos e atores que se fazem presentes, visíveis e influenciáveis frente ao
processo eleitoral mediante suas enunciações.
Além disso, podemos inferir que é preciso fazer com que os espaços
sejam conhecidos e reconhecidos pelos receptores, trazendo ou adicionando
algum valor para os mesmos de forma a estimular as interações e gerar os efeitos
pretendidos. Sobre esta e outras questões trataremos no próximo capítulo.
3. O espaço digital e os processos eleitorais
Neste momento de nosso trabalho cabe levantar as possibilidades de
uso, benefícios e efeitos dos espaços digitais num processo eleitoral.
Para o campo político, seus atores e integrantes, o maior capital é a
fidelidade, a atenção, o apoio dos demais campos e, num processo eleitoral, o voto
do eleitor. Para obter isto a política mobiliza uma série de estratégias
inerentemente políticas e também – se não principalmente - comunicacionais e
midiáticas, que buscam e tornam visíveis seus processos junto aos demais
campos.
“Except for the perhaps the last days before an election,
the web is not like a television ad geared at undecided
voters. You do need to help active undecided voters decide
by providing extensive issue position information.5”
(CLIFT, 2002:s.p.)”
4
Em nossa análise do websites dos presidenciáveis demonstraremos este processo de forma empírica.
A exceção do último dia antes da eleição a Internet não funciona com um anúncio de televisão para estimular eleitores
indecisos. Você precisa ajudar os indecisos que estão ativos (atrás de informação) fornecendo extensivas informações sobre
suas posições.
5
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96
César Steffen
Como já dissemos, na contemporaneidade a Internet soma-se como
integrante e promotora da esfera pública, apresentando-se como uma nova
instância de comunicação e visibilidade dos processos dos diversos campos
sociais.
Os partidos políticos adentram este espaço adequando suas lógicas,
estratégias e processos discursivos através de uma série de operações internas e
externas ao campo, das linguagens, dos recursos comunicacionais e dos elementos
do espaço digital para seus processos de contato e conquista dos eleitores.
Leda Guidi (2002:166) critica o uso político da Internet por notar que
a maioria das experiências com que teve contato baseava-se num modelo de
difusão, ou seja, o campo político adentra o espaço digital inserindo e
disponibilizando informação para muitos usuários acessarem e interagirem – ler,
ver ou ouvir.
Este é um dos modelos de estratégia de adentramento ao espaço
digital que pode ser mobilizados pelo campo político, um modelo baseado na
utilização e mobilização dos recursos e processos da Internet para expor, circular
e dar visibilidade a conteúdos, discursos, fatos e informações oriundas,
selecionadas e editadas conforme as intenções do partido e candidato frente aos
processos que ocorrem e se formam no tecido social.
Adotando este modelo, o campo político pode driblar as estratégias e
limitações de tempo e espaço em suas instâncias de midiatização e mesmo
oriundas do campo midiático. Além disso – como veremos em capítulo seguinte as regulações jurídicas se fazem menos presentes no meio, aproveitando o suporte
atemporal e as várias linguagens suportadas pela Internet para expor seus projetos,
gerar seus efeitos e, assim, ampliar sua capacidade discursiva.
Um outro modelo de estratégia de adentramento é o de integração, em
que o espaço é construído buscando aproximar o usuário dos processos do partido
ou candidato através da disponibilização e mobilização de uma série de recursos
tecnológicos, ferramentas e táticas gerando, novas instâncias de relacionamento
para o campo político.
Neste modelo o campo político não apenas insere conteúdos e
discursos, mas lança mão de diversos recursos comunicacionais e de interação –
como fóruns, salas de chat, etc. - no sentido de aproximar, de trazer o usuário-
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97
A Política nos espaços digitais
cidadão-eleitor para “mais perto” dos processos políticos, estimulando e
mobilizando o mesmo em ações e táticas de campanha dentro, é claro, das
intenções do candidato.
Um terceiro modelo de estratégia de adentramento que devemos
considerar é o de formação de comunidade, em que o espaço digital é formatado
buscando promover e incentivar as relações entre o campo político e os usuários e
também – se não principalmente - destes entre si.
Através de um processo de troca, debate, deliberação ou mobilização
faz-se uma aproximação entre os diversos usuários, sendo desta forma possível
não somente mobilizar e estimular os mesmos a se integrar aos processos de
campanha, como também identificar demandas que podem ser agregadas.
Cabe observar que estes modelos estratégicos não são estanques ou
excludentes mas, pelo contrário, podem ser acionados e utilizados em sinergia
dentro de um mesmo espaço, construindo e operando a relação do políticocandidato com os diversos e diferenciados campos, atores e instituições
envolvidos no processo eleitoral.
Neste ponto é interessante citar a visão de Roberto Grandi (2001:91)
que, analisando as eleições Italianas e focando-se nas táticas de uso políticoeleitoral, coloca cinco possíveis usos e funções para o espaço digital como
instrumento de campanha eleitoral:
• criar uma relação direta com os eleitores, “escapando” da mediação
do campo midiático;
• ativar novos mecanismos de recrutamento e de mobilização de
militantes e inaugurar uma comunicação interna mais eficiente;
• criar novos mecanismos de captação de fundos;
• criar uma fonte direta de informação para a imprensa;
• contribuir para a construção da própria imagem com uma
conotação de inovação.
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98
César Steffen
Esta série de modelos estratégicos, táticas, fenômenos e processos,
cuja prevalência ou relevância é de difícil determinação, somam-se como
elementos na formação do espaço digital de cunho político-eleitoral. E, se
podemos falar de um espaço síntese das tecnologias de interação da Internet, este
é o website.
Nestes espaços, através de uma mesma tecnologia – o protocolo http6
– podem ser inseridos e ofertados vários elementos de interação – chat, e-mail,
hipertexto, etc. – e diferentes tipos de conteúdos em diferentes formatos e
linguagens – texto, áudio, vídeo, animação, ilustrações, etc. – que se somam para
fazer visíveis as estratégias, processos e fazeres do campo político.
A variedade de recursos e a facilidade de acesso às várias fontes no
meio requerem um pensamento estratégico para manter o usuário – receptor - no
espaço que foge ao escopo dos processos de marketing e comunicação “normais”,
exigindo equipes e especialistas na área para desenvolver e manter os espaços e
cumprir os objetivos propostos.
“Quando estamos desenvolvendo o conteúdo de um
website, queremos alcançar pelo menos três grandes
objetivos: (a) atrair e segurar dentro dele visitantes, (b)
convence-los de que nossa empresa possui os
conhecimentos adequados e a competência para fornecer o
que buscam comprar e (c) contar-lhes algo sobre o
negócio.” (VENETIANER, 1999:167)
Segundo o mesmo autor, existem quatro grandes motivos que levam o
usuário a acessar um website e interagir com seus conteúdos e informações, sendo
estes curiosidade, busca por lazer, por informações e procura de conveniência
(VENETIANER, 1999:30).
No tocante a política e a um processo eleitoral, estes quatro grandes
motivos mostram-se válidos, e pesquisas junto aos usuários tem demonstrado que
os usuários vêem muitos benefícios no acesso a estes espaços e no tocante a sua
relação com os partidos políticos e candidatos7.
É importante lembrar que as campanhas eleitorais produzem um
grande e constante volume de informações, que nem sempre são merecedoras de
6
Hipertext Transfer protocol – protocolo de transferência de hipertexto, que suporta e fez surgir a www, ambos criado pelo
cientista Tim Berners Lee na primeira metade da década de 1990.
7
Ver dados da pesquisa OPINIA no próximo capítulo.
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99
A Política nos espaços digitais
espaço e tempo para os atores campo midiático, devido principalmente às agendas
e a seleção efetuada por estes.
Nos websites a velocidade de circulação e atualização torna-se
elemento de relevância na circulação e exposição de fatos e informações, sendo
possível disponibilizar toda a informação referente às ações do candidato, suas
propostas, agendas, etc., de forma permanente, desintermediando a relação entre
candidato e eleitor(es).
Já para o usuário é possível recuperá-las no espaço-tempo de
necessitar ou desejar. Não cabe aqui discutir critérios de qualidade, pertinência ou
relevância da notícia, dado ou informação, mas apenas citar que, nos websites
estas podem ser editadas conforme a agenda de intenções do candidato e ficar
disponíveis para interação, pelo usuário, no horário e pelo tempo que este dispuser
ou desejar.
Uma outra possível função dos websites é a distribuição de materiais
de campanha, desde santinhos, cartazes e demais peças gráficas, passando por
releases e mesmo os projetos e propostas do candidato, para os diversos comitês
localizados nos mais diversos e variados locais, que podem produzir e distribuir
estes materiais no local.
Outra que podemos citar é como canal de troca direta entre filiados,
comitês e seções dos partidos, que podem trocar informações, experiências e
dados numa rede de monitoramento não só dos resultados e efeitos da campanha
junto ao eleitorado como também das ações dos adversários, aproveitando a
agilidade e velocidade do meio como forma de “somar forças” para gerar
resultados.
A Internet também pode ser utilizada no desenvolvimento de uma
relação direta entre o candidato e o cidadão-eleitor, seja através do uso de e-mail,
respondendo diretamente a questões e interesses individuais manifestados ou
enviados ao candidato, como através de um canal de chat, debatendo com vários
eleitores ao mesmo tempo, como já foi visto, timidamente, em campanhas
recentes8.
Mesmo o envio de mala-direta eletrônica, o chamado spam, que não
goza de muita popularidade entre os usuários do meio, pode ser mais uma forma
8
Em 1994 o então candidato ao governo do Rio Grande do Sul Antonio Britto praticamente iniciou sua campanha
promovendo um chat aberto com eleitores através do já extinto provedor HotNet.
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100
César Steffen
de comunicação com o eleitor-internauta trazendo benefícios, visibilidade e
efeitos para o candidato.
Por outro lado, o envio consentido ou solicitado de boletins e
informações de campanha - chamado pelos profissionais de marketing de
permissão - para o eleitor através de e-mail pode não só ser um instrumento de
garantia do voto, como também uma forma de transformar o mesmo num
propagador de informações, na medida em que pode encaminhar estes boletins
para sua rede de relações, ampliando os possíveis efeitos da informação.
Já os recursos e sistemas de comércio eletrônico e de segurança em
transações eletrônicas podem ser utilizados para a captação de recursos e no
financiamento direto da campanha pelos filiados e eleitores, tanto através da
venda de produtos como através de doações diretas aos comitês, dando agilidade
ao processo e mesmo permitindo maior acompanhamento por parte dos
responsáveis pelas finanças e pelos próprios Tribunais Eleitorais.
Outro fator importante a ser considerado é que um website ou mesmo
a criação de um boletim via e-mail são efetivamente mais baratos9 em sua
construção e manipulação do que meios como rádio ou televisão, permitindo
ainda a já citada utilização e manipulação de várias linguagens e técnicas sob um
mesmo suporte tecnológico.
A antecipação dos movimentos dos usuários, que se configuram como
a já mencionada ampliação dos discursos, permite ao candidato explorar e
aprofundar os assuntos, propostas e demandas, maximizando também os possíveis
efeitos destes elementos no usuário-receptor-eleitor.
Além disso, o website não pode ser fixo ou imutável, mas sim tratado
num processo dinâmico constante em todos seus recursos e processos, que se
reflita nos textos, fotos, estrutura e design, etc.
Neste ponto é importante lembrar que a construção do discurso, do
texto para a Internet exige um tratamento diferenciado das demais mídias, não
somente pela questão da tela do computador, que torna a leitura e acesso mais
cansativo para o receptor, quanto pela própria lógica do hipertexto, que necessita
de uma visão estratégica em sua construção, gerando uma estrutura e uma
9
Observando os relatórios de prestação de contas dos presidenciáveis em 2003 pudemos observar que apenas Lula e Serra
Lula informam gastos específicos com Internet. Esta questão será tratada em mais detalhes no próximo capítulo.
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101
A Política nos espaços digitais
organização que facilite a localização e recuperação das informações de forma
rápida.
A isto se alia um design que privilegie e possa transmitir de forma
clara, objetiva e mesmo direta as intenções, os objetivos e os processos de quem
constrói e promove o espaço10. Assim, vemos que o produtor necessita de um
conhecimento específico, de uma competência estratégica vinculada ao meio, de
forma a construir seus objetivos e perfazer seus efeitos no espaço digital.
“O que conta na Internet não é tanto ser diferente dos
concorrentes. O principal fator de sucesso da nossa
presença depende da capacidade de concebermos e
oferecermos ao nosso público-alvo conteúdo de valor.
(VENETIANER, 1999:25. Grifo do autor)”.
Cabe também referir que o público na Internet no Brasil é bastante
qualificado, os chamados “formadores de opinião”, que no espaço digital dos
websites podem aprofundar e qualificar suas opiniões e mesmo esclarecer suas
dúvidas, aumentando as chances de o mesmo tornar-se um propagador, um “cabo
eleitoral” do candidato.
Devemos considerar também que o acesso aos espaços de campanha
na Internet é opcional, ou seja, quem procura o website tem boas chances de estar
realmente interessado e mobilizado - ou no mínimo curioso - pelo processo
eleitoral.
Logo, há maior possibilidade deste ser conquistado e mobilizado pelo
partido e candidato, e de usar os conteúdos presentes como elemento de
construção de debates em um outro lugar, interno ou externo à Internet.
Quanto mais se aproxima a eleição mais importante é a presença na
mídia, estando exposto e em exposição e influindo nos processos dos eleitores.
Um website disponível sem determinação de espaço e tempo, ou seja, uma forma
permanente de divulgação própria, onde o receptor tem a liberdade de acessar no
seu horário, selecionando os elementos que mais deseja, pode tornar-se um
instrumento imprescindível para se aproximar dos cidadãos e conquistar os votos
destes eleitores.
10
Tom Venetianer, Patricia Seybold, Evan I Schwartz e Sigel observam, de formas diferenciadas e com diferentes
argumentos, a importância do design e da construção dos textos como elementos condicionantes ou mesmo determinantes
do sucesso ou fracasso de um website e de uma estratégia de comunicação via Internet.
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102
César Steffen
Entretanto, e ainda que não nos ocupemos de estudos de recepção
neste trabalho, não podemos deixar de ponderar que a interação é um processo de
leitura, uma interpretação, uma negociação de sentidos que vai gerar novos
sentidos e valores, onde a simples existência de um website por si só não garante
os efeitos desejados pelo produtor.
Os profissionais de marketing colocam a Internet como o espaço ideal
para o chamado marketing “one-to-one”, para o atendimento e criação de
estratégias personalizadas mas também automatizadas, ou seja, de característica
massiva mas gerenciada individualmente, cliente a cliente, contato a contato,
eleitor a eleitor.
Adentrar o espaço digital e mobilizá-lo como instrumento de
campanha eleitoral, exige um processo de verificação de expectativas e
necessidades que irá se refletir na construção das ofertas. Além disso, exigirá o
estabelecimento de novas instâncias processuais e estratégias de atendimento e
formação de relacionamento diferenciados da simples difusão dos demais meios.
Por outro lado os websites inauguram, possibilitam para o campo
político uma forma mais direta, ativa e permanente de verificar expectativas e
resultados dos enunciados, discursos, conteúdos ofertados e mesmo de suas
estratégias gerais.
As
ferramentas
tecnológicas
dos
websites
permitem
o
acompanhamento, de forma quase instantânea, dos movimentos do(s) receptor(es)
frente aos conteúdos e discursos ofertados e, conseqüentemente, os resultados de
seus esforços e a validade de suas estratégias comunicacionais não somente para o
meio como também para as demais mídias.
Os sistemas de administração e manutenção dos websites possuem
uma série de ferramentas tecnológicas que possibilitam acompanhar o processo de
navegação e interação do usuário.
Estes dados são – ou podem ser - gravados pelos servidores e podem
ser acessados e analisados com vários softwares11, indicando desde a quantidade
total de usuários que acessaram o espaço até a duração e tempo médio de
permanência, passando pelas áreas e as seções mais acessadas, o ponto de origem
do usuário e como localizou o espaço, etc.
11
Um destes softwares é o “WebTrends Log Analyzer”. Para maiores informações sugerimos acessar o website
http://www.netiq.com/solutions/analytics/default.asp
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103
A Política nos espaços digitais
Além disso, é possível que o usuário seja identificado, de forma a
verificar quando ele acessou o espaço pela primeira vez, quando voltou, quanto
tempo permaneceu e mesmo a que conteúdos deu maior valor.
Assim, ao navegar, ou seja, ao procurar um determinando espaço
digital, acessá-lo e interagir com os conteúdos, discursos e ofertas inseridas no
mesmo os receptores estão produzindo sentido para o campo político a partir de
sua leitura.
A navegação e interação não somente constrói o texto ou processo
midiático do espaço digital conforme as expectativas do receptor, mas ao mesmo
tempo indica para os produtores o que lhes é mais atraente, importante e
relevante, gerando informações sobre seus anseios e expectativas de forma direta.
O processo de navegação transforma-se num instrumento direto de
pesquisa sobre a campanha, e também revelando importantes dados e informações
sobre os eleitores.
“A imagem clássica dos aparelhos de divulgação no topo
da pirâmide e dos receptores confinados na base está se
rompendo na arquitetura dos espaços multipontais da
web.” (MORAES, 2002:68)
Nota-se que a política, ao adentrar o espaço digital, tem a necessidade
de novas estratégias e competências que irão além da simples manipulação e
adequação de linguagens e discursos, e envolve uma capacidade estratégica de
construção que se dá durante todo o processo de existência e disponibilização do
espaço.
Podemos garantir que o assessor em marketing, o “marketeiro”,
especialista na construção, formatação e visibilidade dos discursos e processos
políticos na mídia ganha a companhia do especialista nas estratégias e técnicas
para o espaço digital, ou seja, daquele profissional capaz tanto de manipular as
tecnologias quanto de conduzir os processos na Internet.
“O marketing de massa não vai funcionar na World Wide
Web. A idéia de que os agentes de marketing podem polir
uma imagem de marca nas mentes de milhões é boa para
uma propaganda de TV ou uma campanha impressa, mas é
uma fantasia irreal nesse novo meio. O que a web pode
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104
César Steffen
fornecer para os agentes de marketing é potencialmente
mais eficiente.” (SCHWARTZ, 1998:23)
Se nos primórdios da Internet as técnicas e elementos eram de certa
forma acessíveis somente aos informatas, aos especialistas em computadores, com
o desenvolvimento dos softwares de programação e a evolução da linguagem do
meio estas técnicas e recursos avançaram, tornando-se mais intuitivas e de fácil
acesso.
É claro que, conforme a estratégia construída no espaço, serão
necessários
diferentes
recursos
informáticos
e
tecnologias
para
sua
implementação, sendo assim maior ou menor a influência do especialista no
espaço digital no processo de entrada e manipulação do campo político na
Internet.
Entretanto o foco do espaço continuará sendo a promoção do
candidato e de sua relação com o receptor-eleitor ao qual o espaço digital se alia,
se soma como novo e importante elemento. Assim surge um novo ator na
campanha, cujo papel e relevância será dado pelo papel do meio Internet na
estratégia global da campanha.
Lembrando que a Internet reflete os processos em que se insere, as
estratégias e o foco do espaço digital será fortemente influenciado pelas
estratégias de comunicação e visibilidade do partido ou candidato. Isto nos
permite afirmar que não há preponderância ou dominância do especialista em
marketing ou do especialista no espaço digital, mas sim numa relação de sinergia
e complementação que levará a efeito as estratégias do candidato na Internet.
Tendo estas questões em vista vemos que a Internet se configura
como mais um elemento dos processos de midiatização da esfera pública
contemporânea, promovendo e suportando processos de interação entre os
diversos campos sociais que passam a necessitar de competências específicas para
dar conta de suas estratégias simbólicas.
Neste processo fazem-se e ocorrem acoplamentos estratégicas entre
campos, tanto para dar conta da visibilidade dos produtores como para atender as
expectativas dos receptores, que assim interagem dentro do cenário cultura e
social em que estão presentes.
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A Política nos espaços digitais
Lembramos de Perriault (2000) e Winkin (1998), que falam das
lógicas de usos dos meios e das orquestrações que fazem e se fazem dentro dos
processos de comunicação, e temos o adentramento da política ao espaço digital
como um processo construído dentro da cultura e das intenções dos atores e
instituições do campo, mas influenciado pela ampla ordem de processos
estratégicos e simbólicos que se fazem na sociedade em que se inserem.
Devemos assim ver o adentramento da política ao espaço digital como
um novo processo ou procedimento da ordem das midiatizações do campo, ou
seja, como um novo elemento de manifestação e projeção de suas estratégias e
fazeres, tendo em vista as identidades e objetivos específicos do campo, que se
fazem e se dão dentro de um processo social maior.
Entretanto, não podemos esquecer que no espaço digital as estratégias,
processos e fazeres dos atores do campo – no caso específico deste trabalho, os
candidatos – ganham maior força e relevância, na medida em que os espaço são
gerenciados por seus valores, suas estratégias e seus processo comunicacionais.
Ou seja, podemos colocar que o espaço digital político se constrói e se
mostra sobre e a partir das diferentes identidades políticas e estratégias
comunicacionais, inerentes aos atores envolvidos no seu desenvolvimento.
Estes conceitos são fundamentais para entender o desenvolvimento
desta nova instância de midiatização da política, que amplia e dá nova roupagem
as estratégias e agendas do campo político frente ao processo eleitoral. Além
disso, aí reside o provável papel e valor do meio num pleito, onde cada candidato
busca se diferenciar para conquistar o máximo de eleitores e apoiadores, como
ocorreu no pleito Presidencial de 2002. Isto será tratado com maiores detalhes na
próxima parte, onde efetuaremos a análise empírica dos websites dos candidatos a
Presidência neste pleito específico.
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César Steffen
III- A midiatização da campanha Presidencial de 2002 via
Internet
“Para a ‘teoria democrática’ moderna, o papel do
público – a ‘horda perplexa’, nas palavras de Lippman –
é o de espectador, não de participante. Espera-se que ele
se manifeste a cada dois anos para ratificar as decisões
tomadas por outras pessoas, ou que selecionem seus
representantes, no que conhecemos como ‘eleição’, dentre
os membros dos setores dominantes da sociedade. Isso
ajuda, porque legitimiza.”
Noam Chomsky - Segredos, Mentiras e Democracia
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111
A Política nos espaços digitais
1. A eleição Presidencial 2002 em quatro dimensões contextuais: o
jurídico, o comunicacional, o econômico e o tecnológico
Neste capítulo iniciamos nossa leitura do processo eleitoral de 2002
através da análise de algumas dimensões e alguns elementos que formam e
regulam o cenário da campanha. Focamos, claro, na Internet, onde primeiramente
cabe observar a legislação eleitoral e a forma como trata este meio.
Como já dissemos, as eleições são reguladas por regras e processos
estabelecidas pelo campo jurídico, que controlam e até mesmo limitam o fazer
político-eleitoral junto à sociedade, buscando garantir que práticas ilícitas ou
constrangedoras sejam coibidas e também regulando o acesso dos candidatos e
atores políticos aos espaços da mídia.
Após a promulgação da anteriormente comentada “Lei Falcão”,
durante o regime militar, a lei eleitoral ofertava espaço compulsório na mídia para
o campo político, mas impedia o mesmo de usar seus recursos técnicos e
linguagem. Atualmente a Lei 9504, de 19971, mantém este espaço compulsório
por prazo determinado e com tempo distribuído proporcionalmente aos partidos
conforme sua representatividade no Congresso Nacional.
O uso de recursos técnicos e linguagens dos meios é liberado, mas
esta lei determina também regras, prazos e até mesmo espaços em mídia externa –
out-door – que podem ser ocupados pelos atores políticos, regras cujo nãocumprimento pode levar a multas, cassação da candidatura ou mesmo do mandato
em caso de o infrator ter sido empossado durante o processo investigatório e de
julgamento.
Nesta a Internet é citada apenas duas vezes, sendo a primeira no artigo
26, que versa sobre a prestação de contas da campanha, e no artigo 45, que
regulamenta o acesso à mídia antes citado.
1
Copiado via Internet em www.tse.gov.br [03/2002] Texto completo encontra-se nos anexos deste trabalho.
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112
César Steffen
“Art. 26. - são considerados gastos eleitorais, sujeitos a
registro e aos limites fixados nesta Lei, dentre outros:
(...)
XV – custos com a criação e inclusão de sítios na Internet;
(...)
Art. 45, § 3o - As disposições deste artigo aplicam-se aos
sítios mantidos pelas empresas de comunicação social
na Internet e demais redes destinadas à prestação de
serviços de telecomunicações de valor adicionado (grifo
nosso)”.
Ou seja, a lei eleitoral prevê que os custos com Internet sejam
declarados nas prestações de contas e que os espaços do campo midiático neste
meio sofram as mesmas regulamentações dos demais espaços, mas não coloca
limitações aos espaços digitais dos candidatos.
Entretanto, cabe destacar que a Resolução 20988, de 21 de fevereiro
de 2002, que “dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas aos
agentes públicos em campanha eleitoral nas eleições de 20022”, manifesta que:
“Art. 1° - a propaganda eleitoral nas eleições de 2002,
ainda que realizada pela Internet ou outros meios
eletrônicos de comunicação, obedecerá ao disposto nesta
Instrução.
Art. 2° A propaganda eleitoral somente será permitida a
partir de 6 de julho de 2002 (Lei n° 9.504/97, art. 36,
caput).
§ 1° Ao/À postulante a candidatura a cargo eletivo é
permitida a realização, na quinzena anterior à escolha pelo
partido político, de propaganda intrapartidária com vista à
indicação de seu nome, vedado o uso de rádio, televisão,
Internet e out-door. “(Lei n° 9.504/97, art. 36, § 1°.
Grifos nossos)
Esta mesma Resolução proíbe a veiculação de propaganda eleitoral no
meio a partir de 48 horas antes do pleito (art. 3), prevê que as mesmas disposições
se aplicam aos sítios3 (websites) das empresas de comunicação e aos provedores
2
Resolução 20988 de 21/02/2002 – copiada via Internet em www.tse.gov.br [03/2002]
Neste ponto nos referimos a sítios, não websites, para nos mantermos fiéis ao texto das leis. Nos próximos capítulos
retornaremos ao uso da denominação website.
3
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113
A Política nos espaços digitais
de Internet (Art. 19, § 4º), proíbe às emissoras veicular programa apresentado ou
comentado em qualquer meio, inclusive Internet, por candidato escolhido em
convenção partidária (art. 20, § 2°).
Da mesma forma, faculta às emissoras transmitir e promover debates
com os candidatos com representação no Congresso Nacional (Art. 21), prevendo
que as mesmas regras devem ser observadas em caso de debates e transmissão via
Internet (§ 4°), dentre outras regulamentações gerais.
Nota-se que esta Resolução iguala a Internet a outras mídias e
espécies de propaganda eleitoral, possibilitando o uso e a veiculação de
mensagens a partir de seis de julho do ano do pleito. Ou seja, juridicamente e em
termos de campanha eleitoral a Internet recebe reconhecimento como mídia,
passando a sofrer regulações e restrições por parte do campo jurídico.
O artigo 70 oferta aos candidatos a possibilidade de registrar,
gratuitamente, um domínio4 com extensão “.CAN.BR”, colocando os custos de
manutenção e hospedagem a cargo dos candidatos, e informa que tal domínio
seria cancelado após o primeiro turno da eleição para aqueles que não viessem a
disputar o segundo turno. Este mesmo artigo obriga a configurar o domínio com o
nome e número do candidato, acrescido da sigla da unidade federativa da disputa.
Esta lei estende as regulações das demais mídias aos websites das
empresas de comunicação e aos provedores de acesso à Internet e prevê algumas
limitações ao uso do meio para propaganda eleitoral.
Porém, em nenhum momento define, qualifica o que se trata de espaço
de campanha no meio: o website do partido com informações e notícias da
campanha, um website com endereço vinculado ao nome do candidato ou sigla,
uma sala de chat exclusiva sobre a campanha, um fórum de debates sobre as
propostas de um candidato, um boletim informativo via e-mail, etc.
A prestação de contas prevê a “criação e manutenção de sítios” já
citada e a lei abre a possibilidade de domínios “.CAN.BR”, mas estes itens
certamente não contemplam toda a amplitude de processos privilegiados pelo
meio.
Da mesma forma a lei também não prevê direito de resposta no meio a Resolução 20951, ou o art. 96 da lei 9504/97, que tratam do direito de resposta,
4
Cabe esclarecer que domínio refere-se aos endereços dos espaços locados por empresas e cidadãos na Internet. Para
maiores informações sugerimos acesso ao website http://registro.br/info/dpn.html.
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114
César Steffen
sequer citam a Internet em seu conteúdo - ou mesmo a eventual retirada de
circulação de website em caso de acusação inverídica, como ocorre com panfletos
apócrifos e outros materiais normalmente recolhidos por ordem dos Tribunais
Eleitorais, mas proíbe a veiculação de banners e mensagens publicitárias dos
candidatos e partidos nos provedores de acesso.
Nessas lei e resoluções do TSE para o pleito5 não notamos regulações
ou limitações quanto a boletins informativos impressos, jornais ou mesmo
reuniões e outros elementos de comunicação dos partidos e candidatos. Logo, a
não qualificação dos espaços de campanha na Internet pode ser reflexo desta
desregulação ou liberação de alguns processos.
Por outro lado, a proibição de banners e outras formas de propaganda
político-eleitoral em websites e portais mostra um alcance ou antecipação por
parte do campo jurídico, que assim limita parcialmente as possibilidades de
visibilidade e interações da política com os eleitores através do meio.
Devemos recordar que um website necessita, mais que qualquer outro
meio, de uma ação por parte do receptor, que o usuário o procure, digite o
endereço ou clique em algum link para a ele se dirigir, e um boletim informativo
precisa do endereço de e-mail do usuário, podendo ser cancelado ou bloqueado.
Este processo é bastante diferenciado de meios como out-door ou TV,
onde não resta ao receptor a opção de escolher ser ou não exposto as mensagens
políticas, principalmente se lembramos dos spots de trinta segundos na televisão
previstos na lei.
Logo a proibição de banners publicitários nos players de mídia na
Internet já se coloca como elemento suficiente para regular as atividades dos
partidos e candidatos, tornando desnecessária a regulação de outros elementos de
campanha na Internet.
É claro que a divulgação dos endereços do websites em spots e
programas do HPEG pode ser argumento contra esta liberação, mas lembrando
que os mesmos têm limitações de tempo e espaço reguladas pelos Tribunais
Eleitorais vemos uma não necessidade de controle sobre os websites.
Vemos, assim, que na Internet a legislação prefere o risco do abuso de
poder econômico – difícil de medir – ou a troca gratuita de acusações – com o
5
Resoluções 20890, 20986 20950, 20987, 20988, 20994, 20995, 20996, 20997, 20998, 20999 e 21000, disponíveis em
www.tse.gov.br.
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115
A Política nos espaços digitais
risco de comprometimento da veracidade - a um discutível cerceamento das
liberdades que pode criar jurisprudência para outros casos e instâncias, deixando
para os usuários o processo de regulação do meio.
Notamos também que em nenhum momento a legislação cita ou
institui mecanismos de controle ou regulação - além da data inicial de seis de
julho de 2002 - dos espaços dos partidos ou dos candidatos que utilizem extensões
diferentes de “.CAN.BR”, como “.COM.BR” ou “.ORG.BR”, que foram
utilizados pelos candidatos à Presidência no pleito de 2002, e cujas características
merecem maior investigação de nossa parte.
Os procedimentos e noções legais inerentes à configuração do
endereço na Internet, os domínios, são bastante imprecisos. Segundo as regras da
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - pioneira no
uso da rede e responsável pela administração dos domínios no Brasil6 através do
sistema “Registro.br”, para registrar um domínio:
“é necessário ser uma entidade legalmente representada ou
estabelecida no Brasil como pessoa jurídica (Instituições
que possuam CNPJ) ou física (CPF) que possua um
contato em território nacional7.”
Uma empresa, ou entidade8 como é tratada nos textos e informações
contidas no website “Registro.br”, pode registrar e administrar vários domínios
com extensões diferentes, desde que adequadas à categoria a que pertencem,
bastando para tanto possuir um Cadastro Nacional de Pessoa jurídica – CNPJ –
Cadastro de Pessoa Física – CPF – ou registro de entidade de classe válido para
registrar um domínio9.
Para efetuar o registro do domínio a entidade deve ter um servidor
DNS10 que responda pelo mesmo, o que pode ser contratado em um provedor
acesso à Internet, seja público ou privado, e uma pessoa responsável, que deve
6
Para maiores informações sobre a regras de registro e o acordo entre a FAPESP e a empresa detentora do domínio
sugerimos a leitura do sugerimos a leitura do texto completo em anexo ou o acesso à página do “Registro.br”, disponível
em http://registro.br/acordo/acordo.html [11/2002].
7
http://registro.br/info/dicas.html
8
Entidade é usada pelo “registro.br” para denominar as empresas e/ou usuários cadastrados no sistema, com username e
senhas próprios e intransferíveis, que satisfazem as exigências e regras para operar, registrar e manter de um domínio
virtual
9
O CPF só pode ser usado para registros de domínios com extensão “.NOM.BR.”, vinculados a uma pessoa física, ou
domínios vinculados a profissionais liberais, como “.ADV.BR” para advogados ou “ODO.BR” para dentistas.
10
Sobre DNS e Servidor DNS ver glossário.
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116
César Steffen
estar cadastrada no website “Registro.br” e possuir um nome do usuário e senha
de acesso ao sistema, sendo esta a única a responder pelas atividades de registro e
mesmo eventuais alterações e correções.
Existem vários tipos de domínios com extensões diferentes, voltados
aos mais variados tipos e qualificações de empresas como, por exemplo:
“IND.BR” para indústrias, “NET.BR” e “PSI.BR”para empresas provedoras de
meios físicos de acesso à Internet, como as operadoras de telecomunicações,
“JOR.BR” para profissionais do jornalismo, etc11.
A
criação
destas
extensões,
processo
em
permanente
desenvolvimento, deve-se à necessidade de evitar conflitos no uso de domínios
por empresas de mesmo nome, mas que operam em segmentos diferentes, num
processo semelhante ao que ocorre com o registro de marcas em categorias
diferentes no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
A extensão de um domínio é diretamente vinculada à atividade e aos
fazeres, ou seja, a identidade de quem registra, o que nos permite citar que se
vinculam ao campo em que esta insere-se. Cabe ressaltar que nenhuma destas
extensões é específica para o campo político, sendo este enquadrado na categoria
“ORG.BR”, o que mostra que o mesmo tem tratamento semelhante aos vários
outros campos no meio.
Não podemos afirmar se isto se trata de uma miopia do campo político
frente ao meio, mas pode ser ilustrativo da perda de força dos campos político e
jurídico na Internet, na medida em que um dos campos diretamente vinculados às
regulações sociais, que pode criar regulações e instâncias próprias de midiatização
através de lei, não consegue alcançar – ainda – o espaço digital da Internet para
marcar e reservar sua presença.
“É importante lembrar que, enquanto tudo na Internet é
abundante e facilmente copiável, domínios são bens
escassos. Uma vez registrado, torna-se um bem exclusivo.
“ (Era uma vez um domínio – Revista Internet Business
Ano 3, nº 33, maio de 2000, p58-60)
11
Para maiores esclarecimentos sobre os documentos necessários ao registro de domínios específicos sugerimos acessar o
endereços http://registro.br/faq/faq3.html#3.
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117
A Política nos espaços digitais
No caso dos domínios “.COM.BR” ou “.ORG.BR”, tais limitações
não se impõem, na medida em que basta estar cadastrado no sistema e cumprir as
normas e regulações do “Registro.br” para registrar um domínio nesta extensão.
Os domínios do tipo “.COM.BR” podem ser considerados os mais
nobres da Internet, pois foram os primeiros a serem liberados às empresas para
registro, ficando consagrados junto aos usuários e sendo até mesmo responsáveis
pela denominação das empresas de Internet de “empresas .com” pela mídia.
Assim podemos supor que uma fórmula de endereços de um website que adote um
formato do tipo “www+ [empresa] [entidade] [pessoa] [ ... ] +.com.br” terá
maiores chances de ser localizado e acessado diretamente pelos usuários do que os
demais domínios.
Uma boa demonstração da importância dos domínios deste tipo pode
ser notada na pesquisa disponibilizada pelo “Registro.br” sobre as quantidades de
domínios registrados em cada categoria, que revela que aproximadamente 92%
(noventa e dois porcento) são do tipo “.COM.BR” 12.
É importante destacar que, no caso de domínios do tipo “.COM”,
“.ORG”, sem a extensão “.BR”, o processo de registro é mais simples, pois são
exigidos apenas um servidor DNS e um cartão de crédito internacional para
cobrança. Estes domínios são registrados nos Estados Unidos através de
prestadoras terceirizadas13, sendo livre o registro de domínios de ou em todas as
extensões.
Vemos então que, na Internet, o campo político não recebe ou
consegue reservar para si privilégios ou vantagens que as leis e regulações
garantem em outras mídias e mesmo em outros processos sociais, sendo colocado
em posição de igualdade aos demais campos.
Esta impressão se reforça quando recordamos que vários outros
campos recebem tratamento específico através de domínios próprios, como os já
citados para indústrias, jornalistas e outras classes profissionais e campos.
Entretanto, com seu crescimento e desenvolvimento a Internet passa a
ganhar relevância como instância de midiatização, sendo manipulada dentro das
12
http://registro.br/estatisticas.html [30/01/2003] Cabe ressaltar que buscamos, junto ao “registro.br”, informações
estatísticas sobre o domínios durante o período das eleições de 2002, mas estes não nos foram fornecidos sob a alegação
que os dados constantes no endereço citado são os únicos disponibilizados.
13
Para maiores informações sobre registro no Estados Unidos sugerimos acesso ao website www.networksolutions.com
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118
César Steffen
estratégias político-eleitorais dos candidatos e partidos e já apresentando impacto
nas despesas gerais de campanha.
Para compreender esta questão cabe verificar as receitas e despesas
dos diversos candidatos nos pleito de 2002. Através do sistema de prestação de
contas do TSE14, obtivemos os seguintes dados gerais referentes à campanha
Presidencial de 200315 (tabela 3.1):
Receitas e despesas dos candidatos na campanha Presidencial 2002
Candidato
Receitas (R$)
Despesas (R$)
Lula 1316
39.460.802,00
39.454.578,55
36.575,33
36.566,30
16.338.149,75
16.312.102,00
Nenhum lançamento
Nenhum lançamento
encontrado
encontrado
Garotinho 4020
3.279.077,00
3.211.433,75
Serra 4521
28.540.266,00
34.732.880,00
Total
87.654.870,08
93.747.560,60
Zé Maria 1617
Ciro Gomes 2318
Rui Costa Pimenta 2919
Tabela 3.1 – receitas e despesas dos candidatos22
14
Os dados aqui apresentados foram obtidos junto Seção de Análise e Desenvolvimento - SAD - da Coordenadoria de
Sistemas Administrativos - CSA - da Secretaria de Informática - SI do TSE, e podem ser conferidos em
http://www.tse.gov.br/eleicoes/eleicoes2002/prestacao.
15
Cabe referir que o sistema do TSE prevê receitas e despesas tanto dos candidatos como dos comitês para campanha
presidencial dos partidos. Os dados apresentados nesta tabela são totalizações dos dados e informações tanto dos candidatos
quanto os comitês dos partidos coligados aos mesmos.
16
Receitas e despesas do candidato e dos comitês dos partidos coligados, a saber, PT, PMN, PC do B e PL, sendo que cabe
observar que os dois últimos não apresentam dados.
17
Somatório das despesas do comitê financeiro nacional para a presidência do PSTU e lançamentos do candidato José
Maria de Almeida.
18
Dados somados dos lançamentos dos comitês de campanha à presidência do PPS, partido de Ciro, e do PTB. O PDT,
também integrante da “Frente Trabalhista”, não apresenta formação de comitê ou lançamentos no sistema do TSE.
19
Cabe observar que tanto o candidato como o comitê financeiro nacional do PCO não apresenta lançamentos de receita ou
despesa.
20
Dados do comitê financeiro nacional para a presidência do PSB.
21
Dados do comitê do PSDB, pois o partido coligado, PMDB, não criou comitê ou apresentou lançamentos.
22
Compilação de dados fornecidos pela Seção de Análise e Desenvolvimento (SAD) da Coordenadoria de Sistemas
Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de Informática do TSE.
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119
A Política nos espaços digitais
É claro que os dados acima são brutos, totais, abrangendo uma série
de receitas e despesas variadas, desde doações privadas e verbas do partido a
gastos com transporte e alimentação passando pela campanha midiatizada, mas
nota-se os altos custos que a campanha impõe – ou gera - ao campo político,
chegando a casa dos oito dígitos e apresentando grande variação ou diferença
entre os diferentes candidatos.
De um total de receitas superior a R$ 87 milhões (oitenta e sete
milhões de reais) cerca de R$ 67 milhões (sessenta e sete milhões), ou seja, mais
de 75% ou três quartos do volume total, ficam no caixa de apenas dois candidatos,
Lula e Serra.
As despesas de Lula e Serra correspondem a quase 80% (oitenta
porcento) do total de despesas da campanha, mostrando uma alta concentração de
doações e mobilização de recursos em apenas dois candidatos, e observa-se
também que Lula tem receita quase 50% (cinqüenta porcento) superior a José
Serra, mas as despesas de ambos estão bastante próximas.
Entre os demais Ciro Gomes, que iniciou a campanha com amplas
chances de chegar ao segundo turno, mas acabou em quatro lugar na votação,
destaca-se pela captação de recursos e despesas, mas Garotinho, que demonstra
ter uma campanha com poucos recursos, ultrapassando em pouco a marca de R$ 3
milhões (três milhões de reais), ou menos de 5% (cinco porcento) do volume total,
chega em terceiro lugar na votação.
Já Zé Maria, do PSTU, não chega a 0,05% (zero vírgula zero cinco
porcento) do total de receitas e despesas da campanha, aparentemente contando
mais com verbas do partido do que de doadores, e chama especialmente a atenção
a ausência de receitas e despesas de Rui Costa Pimenta, do PCO, ficando a
impressão de que as aparições do mesmo no HPEG terem sido produzidas por
apoiadores da campanha ou mesmo pelo próprio partido.
Entre os principais financiadores de Lula figuram empresas como o
Banco Santander, que doou R$1,4 milhão (um milhão e quatrocentos mil reais) e
a COTEMINAS, empresa do vice José Alencar, que contribuiu com R$ 2,3
milhões (dois milhões e trezentos mil reais).
O BANESPA, banco estatal adquirido pelo mesmo Santander no
processo de privatização, doou para José Serra R$ 1 milhão (um milhão de reais),
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120
César Steffen
e o banco Itaú, cujo presidente Olavo Setúbal apareceu na capa da revista Época
como eleitor do candidato, figura como o maior doador de Serra com R$ 2,2
milhões (dois milhões e duzentos mil reais), acompanhado de empresas como o
grupo Votorantin, Empresas de Petróleo Ypiranga, dentre outras
É interessante observar que as instituições bancárias, vinculadas
diretamente as questões econômicas do país, e que historicamente tem obtido
grandes lucros com as políticas de juros praticadas pelas administrações federais,
figuram como os maiores financiadores das campanhas.
Afirmar que há uma relação direta entre estes dois fenômenos seria
perigoso em vários aspectos, mas mostra que os maiores interessados nos
resultados e decisões do presidente eleito também são os que mais investem em
suas eleição.
Por outro lado vemos uma certa correlação entre a captação de
recursos e os índices apresentados nas pesquisas de intenção de voto. Lula, que
desde as primeiras pesquisas aparecia como favorito, tem a maior captação de
recursos e as maiores despesas, seguido por Serra, único que apresenta déficit
financeiro.
Ciro Gomes, que cai da terceira para quarta posição durante o HPEG
tem maior volume de recursos que Garotinho, que na votação em primeiro turno
termina na terceira posição.
Observando esta mesma questão no pleito de 199823 notamos que os
partidos coligados à candidatura FHC arrecadaram mais de R$ 43 milhões
(quarenta e três milhões de reais) nos primeiros meses da campanha, quando as
pesquisas apresentavam o candidato como franco-favorito à vitória que se
confirmou no primeiro turno, mas encerra com déficit de mais de R$ 2 milhões
(dois milhões de reais) no caixa.
Neste mesmo pleito Lula não gastou mais de R$ 4 milhões (quatro
milhões de reais), e as doações ficam pouco acima de R$ 3,2 milhões (três
milhões e duzentos mil reais), gerando um déficit de cerca de R$ 750 mil
(setecentos e cinqüenta mil reais).
Em 2002, ao inverso, Lula aparece na pesquisas como favorito e fecha
a campanha com superávit de pouco mais de R$ 6 mil (seis mil reais), enquanto
23
Fonte: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A417315-2032,00.html
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121
A Política nos espaços digitais
Serra, candidato do partido do então presidente FHC, que aparece nas primeiras
pesquisas disputando o segundo lugar com Ciro e Garotinho e chega ao segundo
turno, encerra a campanha com déficit superior a R$ 6 milhões (seis milhões de
reais).
Estes dados nos permitem observar uma forte vinculação entre os
resultados ou prognósticos das pesquisas e a geração de recursos para as
campanhas, sendo demonstrativos da possível influência destas nas campanhas
eleitorais.
Se a mídia citava as pesquisas como elemento de especulação
financeira dos players econômicos24 durante o pleito, há de se considerar uma
possível influência destas no financiamento das campanhas dos candidatos, que
observa-se nos dados e elementos acima.
Tecer comentários ou hipóteses aprofundadas sobre este processo
seria perigoso em vários sentidos, principalmente porque a complexidade de uma
eleição é maior que os resultados das pesquisas demonstram ou podem captar.
Além disso, poderíamos estar ignorando a própria validade e capacidade de
mobilização dos projetos e propostas políticas de cada candidato e mesmo a
capacidade de autofinanciamento dos partidos.
Aparentemente, sim, os dados levantados sobre os pleitos de 1998 e
2002 demonstram que o candidato com maiores chances de vitória nas pesquisas
recebe mais recursos, tendo seu poder de participação e mobilização nas várias
instâncias da campanha aumentado - o que os déficits de Lula em 1998 e Serra em
2002 parecem demonstrar.
Levando em conta a questão da midiatização e seu impacto sobre as
despesas da campanha levantamos dados de alguns itens de lançamento previstos
na Resolução 20987 vinculados diretamente à divulgação e propaganda da
campanha25, que se encontram na tabela abaixo (tabela 3.2).
24
Ver,
como
exemplo,
matéria
“Pesquisas
comandam
especulação
no
mercado.”
em
http://www.estado.estadao.com.br/jornal/02/07/07/news212.html
25
Selecionamos estes lançamentos por estarem diretamente ligados a questão da campanha midiatizada, e por outro itens,
como “cachês para artistas e animadores” , não permitirem especificação de sua realização ou utilização.
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122
César Steffen
Gastos específicos na campanha Presidencial de 2002
Candidato
Lula 13
Zé Maria 16
Ciro Gomes 23
Produções
Despesas (R$)
Criação de Sítios
Propagandas e
Audiovisuais
na Internet26
Publicidade
7.100.000,00
25.000,00
5.339.685,23
Não há
Não há
lançamentos
lançamentos
20.000,00
3.774.163,94
Rui Costa Pimenta 29
Não há
lançamentos
3.263.798,60
Não há lançamentos
Não há
Garotinho 40
750.000,00
José Serra 45
6.800.945,00
163.095,00
3.125.322,18
Total
18.445.108,94
188.095,00
12.700.375,37
lançamentos
971.569,36
Tabela 3.2 – gastos específicos das campanhas27
Novamente nota-se que os candidatos com maior e receita apresentam
os maiores volumes de gastos, chegando a mais de 70% (setenta porcento) do
volume total de gastos no tocante a “produções audiovisuais” e “propagandas e
publicidade”. Considerando as despesas totais da campanha informadas na tabela
1, temos estes valores como os seguintes dados percentuais (tabela 3.3):
26
Usamos, neste ponto, o termo “sítio” no lugar de website para nos mantermos fiéis ao texto da resolução 20987.
Dados compilados a partir de informações obtidas junto a Dados fornecidos pela Seção de Análise e Desenvolvimento
(SAD) da Coordenadoria de Sistemas Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de Informática do TSE.
27
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123
A Política nos espaços digitais
Percentuais de gastos específicos da campanha Presidencial 2002
Produções
Despesas (%)28
Criação de Sítios
Propagandas e
Audiovisuais
na Internet
Publicidade
Lula 13
17,99%
0,063%
13,53%
Zé Maria 16
54,70%
Não há
Não há
lançamentos
lançamentos
Ciro Gomes 23
23,13%
Candidato
Rui Costa Pimenta 29
Não há
lançamentos
20,00%
Não há lançamentos
Não há
Garotinho 40
23,35%
José Serra 45
19,58%
0,46%
8,99%
Total
19,67%
0,20%
13,54%
lançamentos
30,25%
Tabela 3.3 – percentuais dos gastos da campanha29
Observa-se que apenas dois itens – produções audiovisuais e
propagandas e publicidade - que compreendem desde o planejamento até a
execução e visibilidade da campanha, abarcam entre 30% (trinta porcento) até
50% (cinqüenta porcento) do volume total de recursos dos candidatos,
independente do volume financeiro.
Apenas o item “produções audiovisuais” – que imaginamos ser
principalmente o HPEG na TV e Rádio – representam quase ou mais de um quinto
das despesas totais dos candidatos, sendo superiores as despesas com
deslocamento e hospedagem para atos e ações da campanha em todo o país30, o
que demonstra a ênfase da campanha na gestão e apresentação da imagem dos
candidatos.
28
Para facilitar a visualização e inserção dos dados consideramos apenas as duas primeiras casas após a vírgula, sem
arredondamentos.
29
Percentuais calculados em relação às despesas totais de campanha informadas na tabela3.1.
30
A título de ilustração cabe colocar que, nos lançamento de Lula, os gastos com deslocamentos e viagens ficam em torno
de R$ 2,5 milhões. Serra apresenta gastos em torno de R$ 3 milhões, enquanto Zé Maria apresenta lançamentos num total
de pouco mais de R$ 8mil reais.
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124
César Steffen
Os percentuais de gastos com “Propagandas e Publicidade”, em que se
incluem os assessores em mídia – apesar do texto da Resolução não conter tal
especificação31 - no quadro geral representam menos de 15% (quinze porcento)
dos gastos, mas nas especificidades dos candidatos oscilam fortemente,
aparentando ter diferentes papéis dentro da campanha.
Chama a atenção o fato de uma das campanhas com menos recursos,
Zé Maria, ter no item “Propaganda e Publicidade” o maior impacto percentual
respondendo por mais da metade das despesas da campanha, enquanto que a de
Lula, no mesmo item, apresenta o menor impacto percentual.
Independente das diferenças, observamos que a campanha injeta mais
de R$ 30 milhões (trinta milhões de reais) diretamente no mercado publicitário,
ou seja, na agências de propaganda e produtoras de áudio e vídeo, em um período
inferior a seis meses.
Segundo a ABAP32, citando dados do IBGE, o mercado publicitário
Brasileiro movimentou, levando em conta todos os veículos do país, R$ 13,218
bilhões (treze bilhões, duzentos e dezoito milhões de reais) no ano de 2002.
Se tomarmos a remuneração de uma agência levando em conta as
comissões de mídia, que oscilam entre percentuais de 10% e 20% (dez e vinte
porcento) temos que as agências faturaram33 entre R$ 1,3 bilhão (um bilhão e
trezentos milhões) e R$ 2,6 bilhões (dois bilhões e seiscentos milhões).
Vemos então que a campanha Presidencial representa entre 1% a 2%
(um e dois porcento) dos ganhos brutos projetados para o mercado publicitário,
um impacto significativo, principalmente se levarmos em conta não só o curto
período da campanha, mas também o fato destes dados referirem-se somente à
campanha Presidencial, sem levar em conta as eleições para governadores ou
mesmo os cargos proporcionais.
De todos os candidatos apenas Lula e Serra apresentam lançamentos
de “Criação e manutenção de sítios na Internet”, prevista na Resolução 20987.
Serra gasta seis vezes mais do que Lula, mas não podemos afirmar se estes
31
Cabe ressaltar que não é especificado ela lei em que item deve ser lançado os gastos com assessores de mídia, e que o
TSE, consultado por e-mail, não esclareceu ao pesquisador esta questão.
32
http://www.abap.com.br/noticias/investimentosaumentam2002.doc
33
Solicitamos a ABAP dados específicos sobre o faturamento das agências de propaganda mais nos foi informado que
estes dados não existem.
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125
A Política nos espaços digitais
valores contemplam o desenvolvimento ou também a manutenção e atualizações,
uma vez que a lei não faz tal distinção.
Supomos,
através
das
cifras,
que
Lula
tenha
apenas
o
desenvolvimento, sendo as atualizações realizadas pela equipe do candidato, e
Serra tenha um modelo misto ou com as atualizações realizadas pela empresa
responsável pelo website.
Isto significa, caso esteja correto, que Lula adota um modelo que
privilegia sua assessoria direta, o pessoal do partido, nas atualizações do website.
Serra, ao contrário, busca profissionais externos, mais vinculados ou treinados
para o uso do meio.
Independente deste fator é interessante observar que os valores das
despesas de ambos com Internet representam impacto inferior a 0,5% (meio
porcento) do custo total da campanha, e somados representam cerca de 0,2% (zero
vírgula dois porcento) do total geral, índice muito pequeno, principalmente se
comparado ao custo notado nas demais ações e elemento midiatizados de
campanha.
Ou seja, apesar de ganhar relevância e destaque na sociedade,
mostrando-se como importante elemento nas estratégias comunicacionais dos
candidatos e partidos, os custos da visibilidade via Internet representam um
impacto baixíssimo no quadro geral da campanha, processo facilitado
principalmente pelas tecnologias e pelo espírito livre e desregulado do meio.
Já quanto aos demais candidatos, que não apresentam lançamentos de
despesas com “criação e manutenção de sítios na Internet”, podemos supor que os
websites tenham sido desenvolvidos ou gerenciados pelas agências de propaganda
ou mesmo assessores diretos das campanhas, mostrando a forte vinculação do
meio com a questão midiática e comunicacional dos partidos e candidatos.
Este uso da Internet como instrumento de comunicação num processo
eleitoral não chega a ser um fenômeno novo, principalmente se levarmos em
conta o curto espaço de tempo entre o surgimento da Internet comercial e a
entrada dos primeiros partidos na rede.
A Internet comercial, ou seja, ligada a empresas provedoras
particulares, não vinculada a instituições de ensino e pesquisa, surge no Brasil
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126
César Steffen
entre 1994 e 1995, e já em meados de 1996 o PT e o PDT que entraram para a
rede, sendo seguidos pelo PMDB, que confeccionou seu website em 1997.
Mas foi em 1998, na primeira eleição após o surgimento do meio, que
os candidatos pela primeira vez utilizaram a Internet em suas estratégias
eleitorais. Para citar alguns exemplos34:
a) Antônio Britto, candidato ao governo gaúcho, disponibilizou um website
contendo desde sua plataforma e propostas até notas e informações sobre a
campanha;
b) o PDT gaúcho desenvolveu um website para cada um de seus candidatos, de
governador a senador, em 1998;
c) o então candidato a reeleição Fernando Henrique Cardoso disponibilizou um
website com suas propostas e projetos neste mesmo ano.
Da mesma forma nos Estados Unidos, onde a Internet comercial se
desenvolveu no início da década de 90, o meio foi usado pela primeira vez em
uma campanha na primeira candidatura de Bill Clinton à Presidência em 1992
(Internet Business nº12, ago/98).
Em 1998, quando o meio passa a mostrar os primeiros sinais de uso
em uma eleição no Brasil, a candidatura Jesse Ventura à governança do Estado
norte-americano de Minnesota é descrita por Steven Clift (2002:s.p.) como a
primeira eleição que não poderia ter sido vencida sem a Internet.
Perriault (2000:83) conta que no início de uso do telégrafo alguns
jornais norte-americanos usavam a quantidade de informações obtidas através
deste meio como argumento de venda, uma forma de se diferenciar e se colocar a
frente de seus concorrentes. Assim, numa época em que uma nova tecnologia
toma conta da mídia, ganha relevância social e passa a ser objeto de disputa e
concorrência entre empresas de várias áreas – software, mídia, etc. –podemos
questionar o que significa não se fazer presente no espaço digital, ou seja, não
estar na Internet neste estágio de evolução e crescimento do meio.
Ícone da evolução da(s) tecnologia(s) a Internet pode ser considerada
hoje um símbolo de modernidade e mesmo da democracia graças ao franco uso e
34
Estes exemplos são baseados em nossa observação e contato com estes espaços de campanha. Sobre os websites dos
presidenciáveis em 1998 sugerimos o artigo “Eleições 98: a campanha dos partidos e dos candidatos à presidência na
Internet”, de Claudine Carvalho, presente no livro “Mídia e Eleições 1998” organizado por Albino Rubim.
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127
A Política nos espaços digitais
a abertura dos processos que mobiliza e disponibiliza para seus usuários das mais
diversas formas e nas mais variadas instâncias.
Em termos políticos a Internet surge e se afirma num momento de
forte crise dos sistemas de representação política, marcada por denúncias de
corrupção e de manipulação da opinião pública pela mídia. Neste contexto um
meio que surge sob a égide da liberdade, da democracia e da auto-regulação, livre
das limitações físicas e temporais presentes e marcantes nos outros processos
ganha força pela busca de liberdade que o espaço público midiatizado parece não
mais oportunizar.
Interessante citar novamente Perriault (2000:55) quando comenta que
os meios de comunicação se desenvolvem em situações de desequilíbrio em que
há necessidade de algo que re-equilibre as forças. Numa situação de desequilíbrio
de forças e de amplo conflito dos campos com o campo midiático, a Internet surge
e se afirma como uma tecnologia midiática que rompe fronteiras e abre a
possibilidade de todos manifestarem suas opiniões.
Novamente Perriault argumenta que as máquinas de comunicar agem
no sentido inverso da sociedade: se esta está se fragmentando ela surgem para
integrar, se esta ruindo sobre si mesma surge para reforçar as bases. Assim
notamos que o campo político adentra o meio na busca de equilibrar a força e a
capacidade de mobilização perdidas para o campo midiático nas questões
políticas, buscando livrar-se das amarras da agenda, intenções e estratégias deste
para construir suas imagem e processos junto a sociedade.
Da mesma forma a questão da prevalência da agenda do campo
político como elemento construtor dos seus espaços digitais surge como emblema
da busca dos atores e integrantes destes campo em desligar-se das amarras e
tensões oriundas da agenda do campo midiático,construindo assim uma relação de
agendas mais direta com o eleitor, facilitando a experiência destes em diferentes
espaços e suportes.
A criação de meios como a “TV Câmara” e mesmo a disponibilização
de telefones com prefixo 080035 (gratuitos) com as mais diversos funções e
recursos se mostram como outros elementos deste processo.
35
Lula e José Serra disponibilizaram na campanha de 2002 telefones 0800. O de Lula continha mensagens pré-gravados do
candidato sobre vários assunto, selecionados pelo teclado do aparelho. Uma das opções era para manifestar desejar
o
participar da campanha, que gerou uma ligação gravada do candidato na véspera do 1 turno. Já Serra possuía um
atendimento personalizado ao estilo “telemarketing” para esclarecimento de dúvidas e recebimento de sugestões.
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128
César Steffen
Devemos ressaltar, entretanto, que nos websites o campo político
“escapa” da agenda da mídia, ou seja, do filtro que esta estabelece na exposição
dos fatos e processos. Entretanto, não foge a lógica de midiatização da sociedade,
ocupando espaços midiáticos para construir sua visibilidade frente aos demais
campos.
Outro fator que devemos também levar em conta é o crescimento da
rede no Brasil. Um dado demonstrativo é o número de websites vinculados a
extensão ".BR" que, segundo pesquisa da norte-americana “Network Wizards“,
quadruplicou do ano 2000 até 2002, como pode ser vista na tabela abaixo (tabela
7).
Domínios registrados no Brasil
ANO
Quantidade de Domínios
Janeiro
Julho
2000
446.444
662.910
2001
876.596
1.025.067
2002
1.644.575
1.988.321
Tabela 3.4 – evolução dos domínios ”BR”36
Entretanto o número de provedores de acesso à Internet tem
diminuído, o que é provavelmente causado pela forte concentração do meio nas
mãos de grandes grupos financeiros e de telecomunicações, que têm condições de
financiar as empresas e mesmo de suportar prejuízos em prol de estratégias de
longo prazo37.
Isto pode ser observado nos dados da pesquisa do IBGE38 sobre os
municípios, realizada em 2001, que apontava um crescimento médio de 53%
(cinqüenta e três porcento) no número de provedores nas cidades, mas onde
apenas 23% (vinte e três porcento) dos municípios possuíam este serviço.
36
Fonte: http://www.cg.org.br/indicadores/.
Como exemplo podemos citar o caso do provedor Voyager, empresa nascida e desenvolvida no Rio Grande do Sul que
foi adquirida pelo provedor Terra como forma de expansão de sua base de clientes, fato que se repetiu com outro
provedores como a Easy Way
38
Fonte: http://www.executivosfinanceiros.com.br/materias/3334.html
37
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A Política nos espaços digitais
Já pesquisa da ABRANET39 – Associação Brasileira dos Provedores
Acesso, Serviços e Informações da Rede Internet – indica que o número de
provedores diminuiu 1,77% (um vírgula setenta e sete porcento) entre julho de
2001 e janeiro de 2002, crescendo apenas nas regiões sul e norte e diminuindo nas
demais áreas.
Na contramão deste processo pesquisas do IBOPE40 têm demonstrado
que o número de internautas Brasileiros vem crescendo exponencialmente. Em
maio de 2002, alguns meses antes do início do HPEG, o Instituto apontava o
número de usuários domésticos de Internet como sendo de 11.100.000 (onze
milhões e cem mil), num aumento de 6.8% (seis vírgula oito porcento) em
comparação com o mês de novembro do ano anterior e representando menos de
10% (dez porcento) da população do Brasil.
Nota-se nestes dados um sinal ou reflexo da forte concentração e
mesmo de um re-ordenamento do meio, em que a quantidade de usuários e de
domínios aumenta exponencialmente, mas o número de provedores diminui
sensivelmente em várias regiões.
Em novembro de 2002 a mesma pesquisa registrava 14.300.000
(quatorze milhões e trezentos mil) usuários, notando-se uma tendência de
aumento de participação das classes “B” e “C”.
Neste mesmo relatório o Instituto informava que 1,7 milhão (um
milhão e setecentos mil) de usuários residenciais, ou menos de 0,1% (zero vírgula
um porcento), apontavam a Internet como “fonte de informação sobre o pleito”.
Outra pesquisa, realizada meses antes do pleito de 2002 pelo Instituto
Opinia41, com 1.911 (mil novecentos e onze) entrevistados, mostrou que 50%
(cinqüenta por cento) dos que responderam não se opõem à propaganda política
via Internet, mas 48% (quarenta e oito por cento) não acham que a Internet poderá
ser um canal de comunicação para partidos e candidatos42, e 41% (quarenta e um
39
http://www.s2.com.br/scripts/release.asp?clienteId=346&releaseId=15535
Dados obtidos em datas variadas no website do Instituto - www.ibope.com.br.
41
Pesquisa completa gentilmente cedida pelo instituto OPINIA - http://www.opinia.com.br. Cabe citar que, por questões
de direitos autorais, podemos apenas comentar os resultados da mesma, sem citar textos ou gráficos.
42
A primeira pergunta da pesquisa colocava “Existe um lei (9504/97) que proíbe propagandas (banners, pop-ups, etc.)
políticas de partidos e candidatos através da Internet. Na sua opinião:” seguida por quatro opção. As demais perguntas se
referiam aos websites de forma indireta, citando recursos como chats, fóruns, etc que poderiam ser utilizados nos websites.
Logo, nota-se que é possível que as respostas negativas a propaganda política vinculem-se as propagandas presentes nos
portais e sites de conteúdo, não contemplando os websites do candidatos, o que pode ser considerado um elemento de
influência nestes resultados.
40
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130
César Steffen
por cento) disseram que buscariam informações nos sites destes partidos e
candidatos.
No tocante a conteúdos, os usuários que responderam à pesquisa
manifestaram privilegiar os projetos e programas, bem como considerar
importantes espaços de debate e discussão com os candidatos, colocando o meio
não só como espaço de busca de informações, mas também de aproximação com
candidato e partidos. Entretanto, a Internet é citada apenas em 6o lugar como fonte
de informação sobre a campanha, onde a televisão tem preferência absoluta.
Estes dados mostram – ou demonstram - que não estar na Internet
pode significar estar na contramão deste processo de evolução e integração social,
e mesmo frustrar a expectativas dos cidadãos quanto a sua relação, integração e
mobilização frente e com o campo político.
Da mesma forma o adentramento da política ao espaço digital
conforma-a a estas lógicas presentes na sociedade, podendo também ser entendido
– ou considerado - como elemento de formação da imagem dos atores do campo,
na medida em que se vinculam a um espaço aberto, democrático e desregulado
recebendo o bônus por sua inserção e participação no meio.
Observa-se assim, de forma geral, que a Internet ganha relevância e
papel social por e a partir dos usos que os diversos campos fazem de sua
tecnologia dentro de estratégias e processos comunicacionais, passando a receber
e formar, em seu entorno e por seu funcionamento, regras jurídicas específicas,
alem de regras operativas e discursivas específicas.
Assim, na medida em que diversos e diferentes campos passam
investir no meio a partir de diferentes óticas, gerando regulações jurídicas para os
diversos processos que surgem em seu entorno, recebendo investimentos
financeiros e discursivos na busca do cumprimento de diversas estratégias, e
mesmo tendo sua tecnologia desenvolvida e evoluída a partir de demandas de
diferentes atores e campos, a Internet coloca-se na posição de um meio de
comunicação, um elemento de troca e tensão que se insere nos processos sociais e
gera demandas, processos, procedimentos específicos para seu funcionamento.
Aí reside, em verdade, um processo dual, pois a Internet recebe valor
social a partir do investimentos nela feitos pelos diversos e diferenciados campos
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131
A Política nos espaços digitais
sociais, e a partir desse momento surgem novos elementos e procedimentos que
requerem novas visões e processos.
Claro que o tempo de reação de cada campo frente ao meio se dará a
partir de suas estratégias, de sua capacidade de reação e mesmo das demandas que
o meio trará para este, gerando novos e diferentes elementos a cada movimento
dos campos.
Devemos ressaltar, entretanto, que em se tratando da campanha
eleitoral, o impacto em termos financeiros do meio é mínimo se comparada a
outras mídias, como o quadro de despesas dos candidatos demonstra.
Isto reforça a gama de benefícios do meio numa campanha eleitoral,
onde o suporte atemporal de discursos das mais diversas mídias e de elementos e
discursos do campo político mostra-se como maior recurso, mas isto por si só não
é suficiente para compreender o papel da Internet neste pleito.
Uma questão ilustrativa dos processo e elementos dos websites é a
tecnologia de construção dos mesmos, ou seja, os sistemas informáticos de
construção, administração e manutenção destes espaços.
Observamos que uma característica geral e coincidente entre os
diversos websites analisados foi o uso de tecnologias dinâmicas de construção dos
websites. Lula, Serra, Ciro, Garotinho e Zé Maria utilizam tecnologia ASP, Active
Server Pages, enquanto que o PCO de Rui Costa Pimenta combina recursos de
PHP com páginas em HTML. Cabe então nos aprofundarmos em suas
características.
ASP é um ambiente de aplicação, desenvolvido pela Microsoft, que
gerencia conteúdo dinâmico para a websites, funcionando em conjunto com um
servidor de Internet capaz de interpretar os códigos gerados e com sistemas de
arquivos ou bancos de dados. O processo começa quando o servidor de web43
recebe a requisição da página de um website presente em seus arquivos, fazendo a
interpretação do código contido e retornando, ao usuário, uma página com os
elementos gráficos e textuais que compõem a mesma.
Esta tecnologia apresentando três vantagens básicas para o produtor,
ou seja, aquele que disponibiliza o website. Primeiramente, permite que sejam
geradas rotinas de atualização automatizadas. Assim, o profissional envolvido na
43
Servidor de páginas WWW, que rodam protocolo http. Para maiores detalhes ver glossário.
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132
César Steffen
inserção e atualização dos dados e informações não necessita lidar com o códigofonte ou dominar as tecnologias do website e do servidor, nem mesmo ter grandes
conhecimentos das linguagens de programação da Internet, pois a inserção e
formatação das informações é feita automaticamente pelo sistema.
Exemplificando: para adicionar uma notícia um repórter de campanha
pode acionar o sistema, e através de um formulário único, padronizado, digitar a
manchete e o texto e inserir a imagem correspondente. A partir disso o sistema
cria as páginas correspondentes e adiciona os elementos automaticamente no
website, conforme os parâmetros e configurações de formatação prédeterminados.
Ou seja, basta dominar o uso dos recursos do computador e manejar
alguns elementos básicos de um banco de dados, como um formulário de inserção
pré-definido (bastante semelhante aos formulário de contato muito utilizados nos
websites) para que um profissional possa efetuar a atualização.
Outra vantagem é a alteração geral e automática de dados em todas as
páginas e seções, ou seja, se houver uma alteração numa foto ou o título de um
link for mudado o sistema altera automaticamente em todas as seções e páginas do
website onde o mesmo estiver presente, economizando tempo e agilizando
processos de produção.
Finalmente, o sistema ASP gera as páginas para o usuário no
momento da visita, ou seja, quando o usuário a seleciona e solicita, garantindo –
ou dando maior segurança – que será apresentada a última atualização da página
ou seção.
Já a tecnologia PHP, utilizada pelo PCO de Rui Costa Pimenta, é
bastante semelhante ao ASP, mas ao contrário deste interage com o sistema de
banco de dados ou mesmo com as diversas páginas de um website gerando uma
página HTML pura, tendo como única desvantagem não gerar a página no
momento da visita ou solicitação.
Os recursos de PHP eram manipulados basicamente nas páginas
iniciais das diversas seções, que se remetiam a páginas HTML, estáticas,
mostrando ter uma estratégia ou mesmo uma menor preocupação com as
atualizações e mudanças.
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133
A Política nos espaços digitais
Assim, o uso das tecnologias dinâmicas mostra-se como um elemento
facilitador dos processos de alteração e atualização dos websites, na medida em
que automatizam processos aumentando a velocidade e a praticidade para os
produtores, apresentando-se assim como fator determinante das marcas de
atualização presentes nestes espaços.
Da mesma forma, tais recursos aumentam as chances de visualização
das últimas versões pelo usuário, o que também aumenta a probabilidade deste se
sentir estimulado a interagir e travar contato com os diferentes conteúdos,
permanecendo em contato com os conteúdos e recursos disponíveis.
Observa-se nisto que os candidatos investem em suas assessorias
como elemento de geração de dados e inserção de informações. Mobilizando
recursos tecnológicos que facilitam as atualizações e, assim, o acompanhamento
da campanha, os atores do campo político buscam se aproximar de uma
velocidade jornalística, midiática nos websites, tornando-se fontes de informação
e mesmo pautando a campanha a partir de suas agendas, estratégias e intenções.
Devemos destacar, entretanto, que a tecnologia não se mostra como
diferencial na construção dos websites. Na medida em que as tecnologias de
construção são as mesmas, ou assemelhadas, vemos que as estratégias e elementos
de construção manipulados e inseridos tornam-se o verdadeiro diferencial e
elemento de atração destes espaços.
Ou seja, podemos dizer que o que torna os websites políticos atrativos
para os usuários são os conteúdos, discursos e elementos suportados pela
tecnologia, do meio, não a tecnologia em si.
Assim, os candidatos no pleito de 2002 conformam-se a este processo
e adentram ao espaço digital configurando-os com diferentes elementos,
conteúdos e formatações, aproveitando das brechas legais e dos benefícios
estratégicos do meio.
Nos próximos capítulos nos debruçaremos sobre a análise das
especificidades dos websites da campanha Presidencial de 2002, momento em que
buscaremos compreender o papel, os elementos e estratégias de comunicação
específicos de cada candidato. Antes, porém, apresentamos nossa metodologia de
leitura e análise.
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134
César Steffen
2. Uma leitura da campanha política nos espaços digitais
Neste capítulo explicitamos nosso processo metodológico de seleção
de objetos, obtenção e análise de dados, onde buscamos compreender as
formulações, funções e valores da Internet como elemento de campanha políticoeleitoral, tendo como referência empírica os websites dos candidatos ao pleito
Presidencial Brasileiro de 2002.
Conforme nosso quadro teórico temos a Internet como um meio de
comunicação em que os diversos campos podem construir suas relações e
visibilidades com outros campos, mobilizando diferentes recursos técnicos e
elementos discursivos.
Tomamos então a Internet não como ambiente, suporte técnico ou
mesmo tecnologia midiática, mas sim como lugar de construção da política, como
uma dimensão discursiva e de visibilidade, expansão e mobilização de ações
eleitorais. Essa visão contempla e contém muito de nossa prática enquanto
usuários do meio Internet e profissionais envolvidos com sua linguagem e
tecnologia.
Nosso contato freqüente e diário para os mais diversos usos e
processos, tanto buscando quanto inserindo informações e criando espaços no
meio, somada ao destaque e espaço obtido pelo meio nas várias mídias, onde se
observavam muitos ufanismos com as possibilidades e recursos advindos com seu
surgimento, nos levou a questionar qual o real papel deste meio frente aos
processos sociais.
Com esta questão em vista nos propusemos a visitar a Internet a partir
de um olhar mais crítico, analítico e o mais possível isento. E neste momento nos
pareceu, como já referido anteriormente, que um bom elemento para identificar ou
obter pistas que solucionem tais questionamentos seria observar o uso do meio
pelo campo político durante um processo eleitoral, quando ocorre uma forte
aproximação e tensionamento entre os diversos e diferenciados campos sociais.
Por isso já no segundo trimestre do ano de 2002 demos os primeiros
passos desta pesquisa, localizando pontos de presença do campo político na
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135
A Política nos espaços digitais
Internet, abrangendo desde os websites dos partidos em nível nacional até os
espaços dos comitês gaúchos44.
Nesta fase de pré-observação, quando ainda procurávamos selecionar
espaços, materiais e tirar primeiras impressões e inferências, observamos que a
maioria dos partidos – para não dizer todos – ocupavam espaços na Internet com
diferentes construções e estratégias, mas nem todos vinculavam ou davam
destaque ao processo eleitoral que já começava a se apresentar na mídia em geral.
Entretanto, alguns pré-candidatos à Presidência já davam seus
primeiros passos e mostravam sinais indicativos de como poderia se configurar a
campanha Presidencial neste meio, onde o website de Ciro Gomes, cujo primeiro
contato efetuamos já no mês de fevereiro, mostrava-se como maior expoente.
Somando este fator à maior relevância que a mídia mostrava dedicar a
corrida Presidencial e a necessidade de obter o máximo de foco nesta pesquisa,
optamos por concentrar nossos esforços nas dimensões estruturais e estratégicas
dos websites dos Presidenciáveis no período eleitoral, especialmente no período
marcado pelo HPEG no rádio e na televisão, momento quando os campos político
e midiático são fortemente acelerados pelo pleito.
Tendo, então, definidas as fontes primárias de pesquisa, mas ainda em
fase de pré-observação, passamos ao acompanhamento dos websites dos
Presidenciáveis, adotando como procedimento metodológico de coleta de dados a
interação com estes espaços e a captura de telas, efetuando relatos sistemáticos
das mudanças e atualizações observadas a cada visita.
Nesta fase notamos que os websites acompanhados se constituíam
como espaços essencialmente do campo político, ou seja, cujos conteúdos,
elementos, agendamentos e processos são determinados por estratégias e
processos do campo e seus atores-candidatos.
Além disso, os websites se mostravam como elementos vinculados às
posições, posturas, agendas e estratégias destes candidatos, que se manifestava
através e a partir de uma variedade de ofertas de conteúdos e discursos que se
somavam e se articulavam num mesmo espaço.
44
Em nível nacional, observamos os websites do PT, PSDB, PMDB, PSB, PDT e PPS, além do website do então précandidato Ciro Gomes que estava disponível desde fevereiro de 2002. Em nível de Rio Grande dos Sul acompanhamos os
websites do PT, PMDB, PTB, PPS, PSB, PPS e PPB, todos partidos com representatividade e potencial para influir e gerar
candidatos próprios no pleito de 2002.
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136
César Steffen
Uma breve ilustração desta questão incluiria desde biografias e
história dos candidatos e partidos até propostas, projetos e questões em pauta na
sociedade, passando por espaços para relação com os partidários e filiados.
Nesta amplitude e variedade de ofertas notamos a busca de
estabelecimento ou mesmo reforço de relações com os mais diversos campos
sociais, onde podemos tomar como exemplo o campo midiático através de ofertas
de pauta e materiais – fotografias, releases, etc. - para os diversos veículos45.
Observamos também que mesmo – como já referimos – sendo espaços
vinculados diretamente ao campo político, suas intenções e estratégias, estes
websites se construíam dentro de um processo maior, eram engendrados por
ações, fatos e fenômenos externos não só aos websites como também ao campo
político, que influíam, movimentavam e pautavam os mesmos. Este processo
podia ser observado nas páginas iniciais destes espaços, onde determinados
conteúdos e elementos eram apresentados e ganhavam “força” dentro da estrutura
geral46.
Tendo estas questões em vista iniciamos nossa fase de observação e
coleta de dados para análise, quando não somente seguimos com o processo de
contato e captura de telas como também gravamos aleatoriamente vários
programas na televisão, recolhemos materiais gráficos (folders, santinhos, etc.)
nos comitês de campanha gaúchos. Também pesquisamos dados e informações
sobre estes websites em várias fontes secundárias, como jornais, revistas e
websites de players de mídia, que fornecessem elementos, dados e informações
sobre estes espaços e suas funções na campanha.
Além disso, buscamos textos e teorias que analisassem e contemplem
os fenômenos e processos políticos oriundos com o surgimento e ascensão da
Internet na sociedade contemporânea, onde identificamos alguns estudos e
pesquisas em nível internacional, mas poucos e ainda incipientes processos de
pesquisa acadêmica em termos de Brasil.
Esta percepção somada ao fato de tratar-se de um objeto de pesquisa
novo, com alta complexidade de processos e fenômenos levou-nos a optar por
utilizar uma combinatória de técnicas de descrição e análise que nos permitisse
extrair o máximo de elementos e resultados dos objetos selecionados.
45
46
Esta questão será aprofundada e esclarecida nas análises dos websites.
Estes saltos estarão explicitados durante nossas análises.
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137
A Política nos espaços digitais
Assim, decidimos adotar uma estratégia que não privilegiasse a
análise de discurso propriamente dita, num sentido estritamente semiótico, mas
sim que nos permitisse uma visão dos textos, formas, estruturas, conteúdos e suas
funções, relações e representações dentro destes objetos, de forma a esclarecer e
compreender
os
elementos,
recursos,
construções
estratégicas
e
suas
manifestações neste meio.
Para tanto estabelecemos dois conjuntos de materiais para análise, que
serão tratados em capítulos específicos e seqüentes, recebendo títulos oriundos
das características, especificidades e elementos observados em cada website. Esta
decisão surge das percepções obtidas na pré-observação quanto a diversidade de
conteúdos dos websites e o agendamento presente nas páginas iniciais dos
mesmos, e que nos permitiram observar a variedade e multiplicidade de processos
e estratégias presentes nos objetos.
É importante citar, antes de descrever as especificidades de tais
conjuntos, que estes são oriundos dos mesmos objetos, ou seja, são elementos
constituintes dos websites dos candidatos e da campanha como um todo.
Efetuamos tal divisão tendo em vista a percepção da necessidade de
observar os diferentes e diferenciados processos e estratégias que se mostram
nestes espaços, percepção surgida durante nossa pré-observação, que estará
explicitada nos textos. Ou seja, examinaremos em cada conjunto processos e
elementos diferentes, apesar de serem ambos oriundos de uma mesma campanha.
Dos menus de navegação dos websites surge o primeiro conjunto, a
que denominamos de “Mapeamentos, caracterizações e representações”, onde
buscamos uma visão geral dos recursos, conteúdos e discursos presentes nos
websites, ou seja, a diversidade de elementos, conteúdos e linguagens presentes
nestes espaços.
Neste conjunto atentamos não só para a posição hierárquica destes
elementos, mas também para os benefícios e estratégias que manifestam. Assim
nos ocupamos de descrever não somente as páginas e seções, mas também a
forma de acesso a estas, observando mensagens textuais e mensagens na forma de
imagens que se apresentam nos links, bem como as possíveis funções que se
manifestam nestes.
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138
César Steffen
Ao
segundo
conjunto
denominamos
“Agendamentos
e
Cruzamentos”, sendo este formado pelas páginas iniciais dos websites, pois estas
se configuram como o primeiro elemento de contato com o espaço, estabelecendo
o contrato de leitura, o processo de troca midiatizada, não presencial, entre as
estratégias dos produtores e a seleção efetuada pelos receptores.
Assim demonstra os elementos mais relevantes para as estratégias do
campo político, num processo semelhante as capas de revistas e jornais que,
segundo Verón (1989) é o lugar onde este contrato deve mostrar-se da forma mais
clara possível.
Neste conjunto, lembrando que os fatos e processo políticos não se
fazem por si, isolados, mas por e através de um amplo e complexo cruzamento de
operações, influências e estratégias de diferentes campos, buscamos identificar
não somente conteúdos e elementos das estruturas gerais que recebem destaque e
espaço, mas também outros campos que se acoplam ou são acoplados pelo campo
político, sendo assim elementos de sustentação e construção das estratégias e
visibilidades destes nos websites.
Para tanto surgiu a necessidade de efetuar recortes e agrupamentos
entre os elementos destas páginas, estabelecendo relações comuns aos diversos
websites. Criamos, então, quatro categorias de análise, oriundas das percepções
obtidas na fase de pré-observação, sendo estas:
1) Fragmentos de Campanha – compreende as áreas dedicadas às
informações, ao dia-a-dia e ao acompanhamento dos fatos e fatores da campanha,
com característica fortemente jornalística e sendo normalmente a área de
atualização mais freqüente no website. Estes fragmentos serão analisados tendo
em vista a sua estratégia de atualização e os conteúdos de inserção mais
freqüentes, podendo ser de três tipos distintos, que denominamos:
•
Manchetes, os elementos ou informações de maior destaque e
privilegiados em sua posição espacial, acompanhadas de imagem
título e lead apresentando ou resumindo seu conteúdo;
•
Notícias, semelhante às manchetes, mas em posição de menor
destaque e sem o lead, composta apenas de titulo e imagem;
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139
A Política nos espaços digitais
•
Notas são apenas os títulos das notícias inseridos nas páginas
iniciais.
2) Banners – compreendemos por banners imagens, animadas ou
estáticas, que se vinculam visualmente às propostas, projetos e elementos da
campanha. Estes banners podem ser principais ou secundários, dependendo de sua
posição na página, ou seja, do ponto de leitura e da possibilidade de visualização
direta ou não do mesmo na página.
3) Pop-ups – pequenas janelas que se sobrepõem a tela principal
destacando conteúdos, recursos ou elementos do website. Estas janelas e serão
analisados em sua função e conteúdo no momento em que são apresentados;
4) Itens – por itens compreendemos elementos textuais ou visuais
individuais, “soltos” que não se identificam com as categorias anteriores. Estes
serão analisados em sua posição e ao conteúdo que remetem e suas possível
função estratégica.
Cabe ressaltar novamente que estas categorias e denominações são
frutos de nosso processo de pré-observação dos websites, em que identificamos as
áreas, funções e recursos principais das páginas iniciais, permitindo-nos assim
generalizar funções e elementos da páginas iniciais dos websites.
Neste processo de análise estaremos acompanhados, se não formal
mas, no mínimo, implicitamente, de vários conceitos e teorias que discorremos em
nossos blocos teóricos, como a noção de campos sociais e as competências e
especificidades dos campos político e midiático, a partir das quais identificamos
os campos presentes e envolvidos no processo de construção e evolução destes
espaços.
Outros que podemos citar são os conceitos de midiatização e suas
especificidades discursivas, assim como os efeitos de mídia de Rubim, uma vez
que estamos analisando o discurso político midiatizado na Internet. Da mesma
forma a noção de acoplamento, auto e heterorreferencia de Luhmann nos apóiam
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140
César Steffen
no sentido de identificar os processos de construção de tais discursos, sendo todas
perpassadas pelas definições, por nós propostas, de espaço digital e de ampliação
e expansão de discursos.
Frente a amplitude de elementos destes dois conjuntos, e tendo em
vista a velocidade de mudanças no cenário da campanha, percebemos a
necessidade de limitar o período de análise, de forma a não só obter o máximo de
foco nos resultados mas também evitar uma maior extensão dos textos das
análises.
Selecionamos, então, um período de tempo que se iniciou na data de
seis de agosto de 2002, duas semanas antes do início do HPEG no rádio e na
televisão. Nesta data não só já havíamos encerrado a fase de pré-observação como
também os principais candidatos47 já faziam uso dos websites.
Este período se encerra no dia da votação em segundo turno, que
encerrou o pleito em vinte e sete de outubro de 2002, período que nos permite
observar o máximo de processos e feitos na campanha devido principalmente a
alta visibilidade política gerada pelo HPEG.
Neste período sorteamos datas dentro de intervalos de sete dias
contados a partir da data inicial já citada, obtendo assim recortes temporais onde
podemos observar não somente os diversos conteúdos mas também a influência e
agendamento do cenário geral da campanha nos websites. Neste sorteio obtivemos
as seguintes datas:
47
Neste período Lula, Serra, Ciro e Garotinho já disponibilizavam websites próprios vinculados à campanha. Zé Maria
coloca seu “hot website” em período posterior ao início do HPEG, e Rui Costa Pimenta vincula seu campanha ao website
do partido, inserindo dados e informações de forma gradual.
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141
A Política nos espaços digitais
Turno
1o Turno
Votação
06 de outubro
Agosto
Setembro
Outubro
10
06
18
12
05
21
16
06
30
26
08
2o Turno
27 de outubro
XX
XX
16
25
27
Nota-se nas tabela acima que as datas de eleição nos dois turnos não
foram consideradas no critério de sorteio, mas incluídas como datas de análise por
sua – óbvia - relevância no processo eleitoral.
Quando relevante, ou seja, quando a data de observação de um
fenômeno mostrar-se importante frente ao cenário geral da campanha citaremos a
mesma. Porém adiantamos que não nos ocuparemos dos processos ou fatos
observados em detalhes, a cada data, mas sim descreveremos e analisaremos de
forma geral, tomando cuidado com o processo evolutivo dos mesmos e com as
marcas temporais, onde as datas sorteadas tornam-se marcos referenciais ao
processo.
No caso de algum candidato não disponibilizar website no período
contemplado, efetuaremos as análises nas mesmas datas sorteadas, porém
contando a partir do momento de entrada do mesmo, fato que estará explicitado
no texto.
Cabe ressaltar que dividimos as datas de análise em primeiro e
segundo turno porque entre estes há um re-ordenamento das forças políticas
envolvidas que afeta e se reflete no processo como um todo, devendo sua
influência nos websites ser compreendida, o que também se reflete na organização
dos capítulos, divididos em primeiro e segundo turno.
Da mesma forma, e para facilitar a percepção e as comparações entre
as estratégias dos candidatos dentro destes turnos, organizamos cada conjunto em
capítulos distintos, separados.
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142
César Steffen
Nestes primeiramente analisamos cada website individualmente, em
sub-capítulos, onde tratamos das especificidades, características, recursos e
estratégias de cada um, sendo cada capítulo encerrado com algumas observações
comparativas que nos tragam uma visão geral das semelhanças e diferenças dos
processos e fazeres dos mesmos.
Encerradas as análises dos dois turnos nos ocupamos de comparações
e observações gerais, onde efetuamos uma análise das diferentes estratégias e
processos identificados no espaço de cada candidato pois, obviamente, estes
concorrem entre si e suas estratégias buscam sobrepor o candidato aos demais.
Logo a comparação objetiva justamente compreender esta busca de supremacia,
bem como ressaltar pontos e elementos de destaque.
No decorrer das análises inseriremos imagens (telas capturadas nestes
websites) como forma de reforçar, apresentar e descrever os elementos,
fenômenos e processos a que nos referimos. Estas imagens estão numeradas em
seqüência contada dentro de cada capítulo, pois cremos que assim facilitamos o
processo de identificação e localização das mesmas junto aos conteúdos.
Ressaltamos, entretanto, que a função dominante destas é apenas ilustrar o que
nos referimos nos textos, recordando que, frente as estratégias e recortes citados,
nem todos os elementos presentes nas mesmas são cabíveis de análise, segundo
nossos objetivos.
Pode-se notar que esta perspectiva metodológica pode levar a uma
generalização da análise. Adiantamos que assumimos tal risco, na medida em que
notamos uma ausência de metodologias específicas para análise e caracterização
da política na Internet. Isto nos leva a investir numa experimentação metodológica
que nos oferece o máximo de diálogo com o(s) objeto(s) empírico(s) permitindo,
assim, buscar a máxima compreensão das estratégias e influências que o campo
político recebe ao mobilizar a Internet como elemento de campanha eleitoral no
processo de 2002.
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143
A Política nos espaços digitais
3. 1o turno: os websites no HPEG
Neste capítulo apresentamos o trabalho de análise da campanha
Presidencial de 2002. Inicialmente buscamos construir o cenário em que se faz tal
pleito, efetuando um resgate histórico dos movimentos dos principais partidos e
candidatos para, então, colocar algumas considerações gerais sobre os websites e,
a seguir, em capítulos específicos, adentrar as especificidades destes espaços de
campanha.
Num processo eleitoral marcado pelo que Rubim (2002) chama de
uma superexposição na mídia, em contrapartida a um silenciamento quase
constrangedor de 1998, o pleito Presidencial de 2002 começou a se configurar no
encerramento e apuração do pleito municipal de 2000.
Neste o desempenho do Partido dos Trabalhadores, obtendo vitórias
em 182 municípios e 5 capitais, somado às administrações petistas nos estados
apresentava a possibilidade de uma nova candidatura de Luís Inácio Lula da Silva
que, caso confirmada, seria a quarta tentativa de alcançar o cargo máximo da
nação.
A situação econômica do país, fragilizado pela perda de força do Real
frente ao Dólar, a grave crise econômica e política da vizinha Argentina, que
trazia reflexos diretos para a economia Brasileira, somados aos altos índices de
desemprego, aumentavam as expectativas e reforçavam os debates sobre as
possíveis alianças e candidatos que se lançariam frente a opinião pública no pleito
de 2002.
No contexto das convenções partidárias, o PT realiza prévia entre
Suplicy e Lula, sendo este novamente sagrado candidato pelo seu partido. Com o
apoio do então presidente do PT, José Dirceu, Lula costura alianças com partidos
de esquerda e um de centro-direita, o PL, que indica o candidato a Vice, o
Senador e empresário mineiro José Alencar.
Mostrando estar disposto a não promover rupturas com o projeto
econômico da administração que buscava suceder, grande temor do mercado
financeiro e mesmo da população, e efetuando várias ações de alto impacto e
visibilidade midiática, como a visita à BOVESPA (Bolsa de Valores do Estado de
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144
César Steffen
São Paulo) e a reunião com empresários na FIESP (Federação das Indústrias de
São Paulo), Lula contrata o “marketeiro” Duda Mendonça que, juntamente com
personagens como José Dirceu, o ajuda a construir uma nova imagem que lhe
rendeu o apelido de “Lula light” ou “Lulinha paz e amor” dos adversários e o
apoio de ex-adversários como José Sarney e Itamar Franco.
Nas primeiras semanas do HPEG Lula divulga o endereço
“www.programalula.com.br” em vinheta animada acompanhada de locução
feminina interpretada: “Agora mande pra gente a sua opinião sobre o programa”
(ilustração 3.1), mostrando um pedido de interação por parte do usuário.
Ilustração 3.1 – vinheta de divulgação
Esta vinheta foi divulgada por cerca de duas semanas sempre no final
do programa, convidando os espectadores a manifestarem sua opinião sobre o
programa de TV através de um questionário fechado48.
Este domínio divulgado remetia ao website do candidato sob o
domínio “lula.org.br”, contendo várias seções e conteúdos sobre o candidato e
suas propostas.
Construído com tecnologia ASP – Active Server Pages – a
programação visual do website de Lula foi formatada em concordância com a
programação visual da campanha, explorando amplamente os materiais gráficos
como cartazes, adesivos, outdoors, etc.
A escala de cores utilizada no menu e nas páginas seguia a identidade
da logotipia do PT, predominantemente vermelha e branca associando fortemente
o website ao partido, mas também foi criada uma linguagem visual própria, com a
48
Sobre este questionário de pesquisa nos debruçaremos em detalhes na análise a seguir.
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145
A Política nos espaços digitais
adoção de imagens e ícones como elementos de diagramação nas capas das seções
e nas páginas internas.
O primeiro elemento do menu de navegação, que se situava na parte
superior da tela e era imutável em todas as páginas, apresentava foto do candidato
ao lado da frase “Bote fé e clique Lula”, um jogo ou brincadeira com o jingle da
campanha “Bote fé e diga Lula”, num sentido confiabilidade, união ou mesmo
integração quase religioso, que pode ser notado no uso da palavra “fé”. Este menu
era constituído de elementos em fundo cinza, trocando a imagem para cor
vermelha com a passagem do mouse sobre o mesmo.
Através deste menu o usuário acessava as várias seções do website,
como “A vida de Lula” e “Eleitor de Carteirinha”, que buscavam deixar bem claro
seus conteúdos, elementos e recursos para o usuário. As capas destas seções
apresentavam os diversos conteúdos das mesmas, seguindo um conceito básico e
coerente.
Os conteúdos e elementos eram distribuídos em 3 colunas, tendo
sempre a coluna central os conteúdos principais da seção. A exceção era a seção
“O Brasil que a Gente quer”, que continha o Programa de Governo do candidato,
diagramada em apenas duas colunas.
A estratégia do candidato amplia-se através de vários conteúdos,
abrangendo desde sua biografia, depoimentos e propostas até recursos para
receber doações e distribuir peças gráficas de campanha, mostrando o foco do
website nos atos, discursos e ações do candidato principal, suas propostas e no
apoio de vários outros campos que suportam e validam suas posições.
Os ataques dos adversários ou mesmo eventuais polêmicas e questões
levantadas por outros campos eram respondidos por aliados e apoiadores através
de entrevistas ou matérias em formato jornalístico, mantendo Lula afastado de
polêmicas e sustentando a sua imagem “light”. Entretanto a construção dos textos
mostrava certa incoerência com o meio Internet, sendo os mesmos muito extensos
e formatados em blocos, cuja leitura exigia muito tempo e atenção do usuário.
O campo midiático, importante ator no processo por sua capacidade
de influir na opinião pública e pautar os debates, era tratado no website como
coadjuvante do processo eleitoral. As aparições e ações do candidato na mídia e
os atores do campo – entrevistas, como as realizadas pelo Jornal da Globo, ou
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146
César Steffen
debates com outros candidatos – são apresentados não como um evento, mas
como um espaço onde o candidato apresenta e faz visíveis suas propostas e
discursos.
Por outro lado, cabe destacar que o website também é usado como
elemento de aproximação com o campo midiático, onde a entrevista de José
Dirceu para jornalistas de várias cidades, transmitida em áudio e vídeo em uma
área restrita, mostra-se como maior emblema, por ter usado da tecnologia e do
potencial de livre acesso do meio como forma de integrar veículos que não tinham
condições de acompanhar o dia-a-dia da campanha49.
Os partidos integrantes da coligação que sustentava o candidato - PL,
PC do B e PMN50 - não recebem espaço ou são citados, tendo o PT predominância
não somente no tocante à identificação do candidato, mas também na
programação visual do website. Da mesma forma o candidato a Vice recebe muito
pouco espaço e destaque, mostrando o foco do website no partido de Lula e no
candidato.
José Serra, o mais visível dos ministros da administração de FHC
depois dos envolvidos com a área econômica por sua luta pela lei dos remédios
genéricos e pela saúde pública, entra no pleito de 2002. Ladeado pela vice Rita
Camata, deputada criadora do projeto de responsabilidade fiscal cuja imagem
moderna e simpática busca equilibrar a sua face séria e um tanto fechada, Serra
entra no pleito apoiado pela máquina partidária da coligação PSDB-PMDB,
denominada de “Grande Aliança”.
Assessorado pelo publicitário Nizan Guanaes, Serra aproveita o maior
tempo no HPEG de todos os candidatos no primeiro turno para divulgar sua
principal proposta, o “Projeto Segunda-feira”. No HPEG divulgava o endereço
“www.joseserra.com.br”, construído e vinculado ao seu nome, mostrando ser um
espaço do candidato e suas propostas, mas sempre junto aos apresentadores ou em
clipes de campanha, aparentando vincular o website à sua campanha, não a sua
candidatura (ilustração 3.2).
49
Apresentaremos mais detalhes deste processo no decorrer da análise.
Cabe lembrar que, em entrevista ao Jornal Nacional, ao ser questionado por Wiliam Bonner sobre a coligação do PT com
um partido de direita, o PL, Lula começa sua resposta citando os demais partidos integrantes da coligação.
50
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147
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.2 - Divulgação website José Serra
Também usando tecnologia ASP, o website de José Serra era bastante
simples, leve e funcional, com navegação direta, clara e rápida. Isto podia ser
notado tanto nos menus como nos conteúdos, construídos com textos curtos e
diretos, mantendo uma coerência na diagramação e na disposição espacial dos
elementos em todos o website. Isto demonstra preocupação em facilitar a
experiência do usuário e agilizar o contato com os diferentes recursos envolvidos.
Na fase de pré-observação até o início do HPEG as cores usadas
apresentavam-se dentro de uma escala de azul, verde e amarelo idênticas às da
bandeira Brasileira e condizentes com o logotipo do PSDB, porém sem
predominância de nenhuma delas. A barra superior apresentava-se semelhante a
um banner, valorizando o logotipo da campanha e as fotos dos candidatos e dando
destaque à foto da candidata a Vice-Presidência.
O conteúdo concentrava-se – ou era resumido – no menu de
navegação, estruturado como uma barra vertical no lado esquerdo das páginas, e
evolui junto com a campanha mostrando foco nas propostas de Serra, que
recebem vários tratamentos visuais e textuais diferenciados, e nas biografias dos
candidatos, onde a Vice recebe destaque e espaço relevante, demonstrando uma
preocupação da valorização da mulher.
Os textos, principalmente nas áreas referentes a fragmentos de
campanha, utilizavam amplamente recursos de hipertexto ofertados pelo meio,
remetendo a outras seções do website com maiores detalhes e informações sobre
propostas e projetos citados, mostrando um aproveitamento estratégico dos
recursos técnicos do meio para a apresentação e o aprofundamento dos conteúdos
e discursos de Serra.
Assim como os demais candidatos o Programa de Governo de Serra
era encontrado completo no website, podendo ser copiado em formato “.PDF”.
www.bocc.ubi.pt
148
César Steffen
Mas Serra inaugura novas práticas de interação com os usuários, tanto através da
disponibilização de recursos de envio das notícias por e-mail como,
principalmente, através do “Pelotão 45”, usuários cadastrados que recebiam
“missões” de campanha através do e-mail.
Além disso, no período mais próximo a votação no primeiro turno
passa a inserir mensagens de apoio enviadas pelos usuários, tornando-os
propagadores e mesmo sustentáculos do posicionamento e ações da candidatura.
No início do HPEG, quando Serra apresenta sua principal proposta, o
“Projeto Segunda-feira”, o website muda, adotando como cor predominante o azul
da carteira de trabalho, elemento de destaque na programação visual de sua
campanha em todos os meios. Este destaque passou a ser notado também nos
banners e no menu, que privilegiavam o programa de geração de empregos que
permeava todos os elementos e conteúdos do website.
Até a votação em primeiro turno a página inicial privilegiava os
fragmentos, através de informações sobre o dia-a-dia da campanha e de
depoimentos/falas dos candidatos e seus apoiadores, que ocupavam os principais
pontos de leitura.
Havia sempre espaço para uma manchete relacionada diretamente à
campanha ou ao candidato e, ao lado, espaço para notícias e notas relacionadas a
fatos como eventos realizados por entidades apoiadoras, apoios recebidos de
outros campos ou mesmo do campo político, citações na mídia, etc, onde notamos
que o website se utiliza das lógicas e estratégias do jornalismo na construção de
seu website.
Através destas notas e notícias Serra ataca seus adversários,
ressaltando falhas ou fazendo cobranças de atos dos adversários e também usando
de toque de humor ou ironia, criando jingles específicos contra Ciro e Lula,
mostrando uma manifestação ou inserção de um discurso eminentemente político,
cruzado com linguagens e elementos estratégicos de outras mídias dentro do
suporte tecnológico do meio Internet.
Destacamos, também, que o website de Serra se une de várias formas
a vários campos, principalmente o campo midiático, aproveitando suas ações,
falas, atos e estratégias para construir a imagem e as visibilidades do candidato.
Além disso, o website utilizava-se amplamente de materiais e enunciados da
www.bocc.ubi.pt
149
A Política nos espaços digitais
mídia, sendo até mesmo por ele pautado, dando a tal campo o poder ou o valor de
verdade sobre sua campanha e candidatura.
Neste ponto cabe citar a relevância dos atores do campo midiático,
especialmente os televisivos, que ganham destaque e permanência em diversas
páginas e seções, sendo alçados à posição de analistas e interpretes das demandas
e realidades da sociedade. Auxiliando com suas falas e imagens a construção da
candidatura de Serra, repete-se no website um jogo de transferência de
credibilidade muito comum e presente nas campanhas políticas midiatizadas.
Ciro Gomes, que no pleito de 1998 havia obtido o terceiro lugar com
pouco mais de 10% (dez porcento) dos votos válidos lança-se novamente numa
coligação entre seu partido, o PPS, o PDT de Leonel Brizola e o PTB, chamada de
“Frente Trabalhista”.
Pautando os programas do HPEG com fortes críticas a gestão de FHC
e propostas de reforma tributária e mudanças na economia, Ciro dá a sua
campanha um tom levemente nacionalista e integrador, aproveitando sua
experiência político-administrativa como prefeito, governador e ministro para
buscar destacar-se frente a seus adversários, principalmente Serra e Lula, que são
atacados frontal e diretamente em suas propostas, histórias e projetos.
No HPEG Ciro divulga, sempre junto de suas falas e aparições, o
endereço www.ciro23.com.br (ilustração 3.3), mostrando ou legitimando o
mesmo a partir e através de suas ações.
Ilustração 3.3 – HPEG de Ciro Gomes
Travamos o primeiro contato com este espaço em fevereiro de 200251,
antes mesmo do prazo para as convenções partidárias determinado pelo TSE, e
51
Tomamos conhecimento do lançamento no dia quatorze de fevereiro através de um spam.
www.bocc.ubi.pt
150
César Steffen
identificamos alterações significativas no mesmo no dia trinta de julho, pouco
antes do início do HPEG, quando a programação visual e a estrutura do menu
foram alteradas.
Até esta alteração, o website tinha como característica uma
programação visual simples. As cores eram basicamente sólidas, observando-se a
predominância de tons de azul e vermelho.
A barra superior continha foto e nome do candidato, sendo que o
menu continha poucos itens, utilizando recursos de javascript para a geração de
menus secundários com a passagem do mouse, e continha grupos de discussão
para usuários cadastrados, que eram acessados a partir de um pequeno banner
abaixo do menu52.
No dia trinta de julho o website passou por uma série de alterações
estruturais. A escala de cores foi alterada, passando a integrar a programação
visual das peças de campanha do candidato, e o logotipo oficial foi acrescentado
ao lado da foto do candidato. Neste mesmo momento os itens secundários passam
a integrar o menu de forma direta.
As páginas referentes à história e à experiência administrativa do
candidato (“Ciro governador”, “Ciro Prefeito”, etc.), antes sub-itens da biografia,
passaram a integrar o menu principal a partir do topo, resumindo e apresentando,
de forma clara e direta, o currículo político de Ciro Gomes.
Nas páginas internas, os títulos dos textos aumentam de tamanho e
passam a ocupar mais espaço na tela, muitas vezes operando quase como um lead
do texto. As páginas ganham nova formatação, distribuindo os conteúdos de
formas diferenciadas. A galeria de fotos recebeu maior quantidade de imagens,
todas com legenda do local, ato e data de realização.
Surgiram páginas e seções dedicadas às aparições do candidato na
mídia e materiais de campanha, como jingles e peças publicitárias, e o Programa
de Governo do candidato em formato “PDF”.
A página inicial passa a inserir fragmentos de campanha diariamente,
porém sem uma estratégia de atualizações fixa, mas sempre acompanhando o
ritmo dos fatos, notícias e informações da campanha, sendo que observamos que
nos finais de semana estas atualizações eram menos freqüentes.
52
Cabe observar que não travamos contato com estes grupos pela necessidade de cadastro.
www.bocc.ubi.pt
151
A Política nos espaços digitais
Nesta o espaço de maior visibilidade era reservado para atos do
candidato e ataques aos adversários, elementos tipicamente políticos de uma
campanha, sempre com título negritado acompanhado de imagem ilustrativa,
reservando espaço para o logotipo da Frente Trabalhista, coligação que apoiou o
candidato.
Em termos de estrutura e programação visual o website de Ciro
apresentava-se mais blocado, com linhas mais retas e com textos mais longos. Já
em termos de conteúdo podemos observar uma boa variedade de ofertas, onde a
biografia do candidato e a mídia recebem destaque e lugar privilegiados.
De forma geral, no website de Ciro o eleitor encontrava tudo que
porventura tivesse perdido na mídia convencional, bem como o agendamento do
candidato com as outras mídias e assuntos que o espaço da mídia convencional
não permitem tratar ou aprofundar eram detalhados ao máximo.
Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro e político oriundo
do campo midiático, onde havia atuado no rádio e na televisão, entra no pleito
como candidato de seu partido, o PSB.
Com pouco tempo na televisão e numa campanha com falta de
recursos financeiros, que o leva inclusive a lançar bônus de um R$ 1,00 (um real)
para captação de doações junto a população, Garotinho mostra-se com um tom
mais populista, pautando seus discursos pelo aumento do salário mínimo e pelas
ações sociais.
No
HPEG
Anthony
Garotinho
divulgava
a
URL
“www.garotinho40.com.br” em momentos aleatórios, acompanhando suas falas
ou em clipes de campanha (ilustração 3.4).
www.bocc.ubi.pt
152
César Steffen
Ilustração 3.4. – divulgação do website no HPEG
Essa apresentação só foi notada após o primeiro mês do HPEG,
quando o candidato começou a subir nas pesquisas de intenção de voto, indicando
a possibilidade de ultrapassar Ciro Gomes e assumir a terceira posição no pleito,
momento em que também executa uma série de alterações na programação visual
do website.
Durante toda a campanha a página inicial do website era organizada
em 03 colunas, sendo a da direita e da esquerda reservadas aos menus e a central,
maior, ao conteúdo como fotos, manchetes, notas, etc.
O menu à esquerda era composto de seções do website dedicadas ao
candidato, e o menu à direita era reservado para materiais e conteúdos referentes
ao PSB, Partido Socialista Brasileiro.
Acima destas colunas havia uma barra formada pelo logotipo da
campanha e foto do candidato, ao lado de mensagens que se revezavam
apresentando as propostas de Garotinho, sendo que abaixo havia três botões em
azul escuro.
Na primeira fase, a escala de cores utilizada no website apresentava-se
desvinculada da logotipia do partido ou mesmo da campanha. Enquanto estes
usavam basicamente as cores vermelha, amarela e verde, o menu lateral esquerdo
utilizava azul claro de fundo, azul escuro nos botões e preto nos links e textos,
demonstrando um aparente descuido com a identidade político-partidária na
Internet.
Já o menu lateral direito, dedicado ao partido do candidato, utilizava
amarelo claro como cor de fundo, vinculados diretamente a identidade visual do
mesmo.
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153
A Política nos espaços digitais
Na segunda fase a estrutura básica foi mantida, mas mudaram as cores
das barras de navegação. O azul do menu a direita foi trocado por um tom de
verde mais próximo ao usado nos materiais gráficos, e o amarelo do menu à direta
foi levemente escurecido, ficando mais forte.
A imagem da barra superior adotou a logotipia e a foto oficial da
campanha, ganhando um fundo avermelhado seguindo assim a escala de cores e a
programação visual da campanha.
A página inicial do website destacava notícias e fatos recentes da
campanha, trazendo um breve resumo logo abaixo da chamada, que levava para
página com texto completo. Logo abaixo eram inseridos conteúdos diversos como
frases, comentários do candidato, enquetes, etc.
Isto levava a formação de uma extensa barra vertical de rolagem
causando certo desconforto e mesmo desorientação no acesso, devido
principalmente a ausência de divisões ou elementos gráficos que marcassem e
delimitassem os diferentes conteúdos.
Esta mesma rolagem era observada na maioria das páginas internas,
que apresentavam textos extensos, blocados. Nos conteúdos predominavam
materiais próprios produzidos pela assessoria ou pelo próprio candidato, o que
notava-se pela quase absoluta ausência de créditos para os textos.
Havia também muito material obtido na mídia, como entrevistas,
matérias de jornais, rádios e emissoras de televisão, etc., sendo estes, a exceção
dos demais, creditados, porém os materiais próprios mostravam-se predominantes.
O website aparentava ser um complemento da campanha, sendo
bastante focado no candidato e nos fragmentos de campanha, reservando amplo
espaço as declarações, discursos e ações de Garotinho.
Além disso, vários conteúdos como o Programa de Governo, eram
apresentados de forma completa e detalhada, ganhando espaço e destaque e
possibilitando, para o usuários, o contato e aprofundamento com elementos que
não podemos eram aprofundados pelas marcas temporais das demais mídia.
Já a preocupação com informações sobre o partido, no menu à direita,
demonstra uma estratégia de aproveitamento do espaço da candidatura em prol do
partido, ou seja, da captação de simpatizantes, filiados e divulgação programática
que não foi notada na maioria dos demais websites.
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154
César Steffen
Dois outros candidatos, Zé Maria de Almeida e Rui Costa Pimenta,
apresentam-se como candidatos por seus partidos, respectivamente o PSTU e o
PCO. Com apenas trinta segundos na televisão Zé Maria pauta seu discurso pela
oposição à ALCA e a dívida externa, cobrando compromissos de Lula, de quem
foi companheiro de cela quando presos pelo regime militar em 1980, com os
trabalhadores.
Apresentando de forma simples, sempre em fundo preto e usando
roupas comuns, sem o tratamento estético usado por outros candidatos, no HPEG
o candidato Zé Maria divulgava o endereço do website “www.pstu.org.br” e o email [email protected], tanto acompanhando suas falas quanto em clipes e
matérias do programa, mostrando uma ênfase na sigla e na identidade do partido
(ilustração 3.5), e não na sua pessoa.
Ilustração 3.5 – divulgação do website do PSTU no HPEG
Durante a fase de pré-observação, o website do PSTU apresentava
grande quantidade de material produzido pelo próprio partido. Na página inicial
destacavam-se chamadas para matérias como “Plebiscito ALCA – diga não”,
“PSTU recebe O´Neill com protestos no Rio e em Brasília”, que mostravam
claramente o posicionamento ideológico do partido e demonstravam a intenção de
utilizar este espaço como um canal de propagação de suas idéias e ideologias.
Além disso, várias imagens destacavam as ações, manifestações,
projetos e mesmo veículos do partido, e o seu presidente Zé Maria recebia
destaque num banner superior intitulado “Fala Zé Maria”.
No dia quatorze de outubro, cerca de uma semana antes do início do
HPEG, surgiu sobre a página inicial do website do partido uma grande janela tipo
“pop-up”, que cobria praticamente toda a tela, com conteúdos referentes ao
www.bocc.ubi.pt
155
A Política nos espaços digitais
candidato Zé Maria, à Vice Dayse de Oliveira e ao pleito de 2002. Este hotsite
carregava automaticamente ao acessar o endereço www.pstu.org.br, mas também
podia ser acessado a partir de um banner na página inicial do website do partido.
Construída com as cores do PSTU, vermelho e amarelo, o hotsite
destacava o candidato e o logotipo do partido, junto ao qual era inserido o número
16, identificando-se com as eleições, destacadas abaixo do logotipo do partido,
mas mostrava uma forte marca doutrinária, ideológica, que permeava a construção
dos diversos conteúdos e elementos apresentados.
A formatação das diversas páginas e seções mostrava uma coerência,
tanto na escala de cores das imagens e textos, basicamente nas cores vermelha e
preta, vinculadas diretamente à logotipia e à programação visual do diferentes
materiais de campanha, quanto nos conteúdos, onde as ideologias e doutrinas do
partido se sobrepunham à questão eleitoral, apesar do hotsite se identificar com a
eleição.
Valorizando os discursos e falas dos candidatos, o hotsite apresentava
as agendas e bandeiras de luta do partido, que eram colocadas não só como
propostas e projetos, mas também através de atos, notícias e mesmo discursos dos
candidatos.
Além disso, abria amplo e destacado espaço para as campanhas e
candidatos do PSTU nos Estados, através de um mapa do Brasil que permitia
rápido acesso às informações sobre a campanha do partido nas várias Unidades da
Federação.
Isto nos permite afirmar que o hotsite se apresentava como um
elemento vinculado a campanha, não ao candidato, apesar de este receber
destaque e espaços privilegiados na programação visual e nos conteúdos.
A programação visual mostrava fortes marcas do discurso e de
estratégias publicitárias muito presentes no meio, como o uso de recurso de
tecnologia “Flash” na construção do mapa o Brasil e mesmo nos elementos da
barra superior.
Ao mesmo tempo os textos e conteúdos, com fortes marcas
ideológicas, se apresentavam num formato jornalístico, demonstrando um
cruzamento de lógicas presentes e oriundas do campo midiático que influem e
permeiam a construção da visibilidade do partido na Internet.
www.bocc.ubi.pt
156
César Steffen
Já Rui Costa Pimenta, assim como Zé Maria, mostrou-se no HPEG
sempre em estúdio e vestido de forma simples, aparentemente buscando reforçar
sua imagem de trabalhador. Observamos um equilíbrio na exposição do candidato
e do partido (ilustração 3.6), que ocupavam espaços equivalentes na tela, sendo
inclusive o candidato deslocado no enquadramento enquadrado para reservar
espaço para o logotipo do PCO (ver ilustração 3.6).
Seu discurso de campanha apresentava-se mais intelectualizado, se
colocando como o único candidato genuinamente dos trabalhadores e pautando
suas aparições no HPEG pela discussão de questões de fundo da sociedade
brasileira, como as reforma da previdência, mostrando uma leitura fortemente
ideológica e esquerdista da campanha.
Os trinta segundos do Partido da Causa Operária no HPEG se
encerravam com uma vinheta contendo o logotipo do partido, onde o “O” era uma
roda dentada de engrenagem, imagem fortemente vinculada à metalurgia, o
endereço “www.pco.org.br” e o e-mail “[email protected]”, mostrando uma forte
vinculação com a identidade, com a “marca” do partido (ilustração 3.6).
No último mês de campanha, mais próximo ao final do HPEG, o
endereço do website passa a ser apresentado também junto aos candidatos, abaixo
do e-mail, do telefone e do número do partido.
Ilustração 3.6– divulgação do website do PCO no HPEG
O endereço gerava acesso a uma página em fundo preto onde, no
centro, se inseria uma montagem das fotos do candidato a Presidência Rui Costa
Pimenta e do Vice Pedro Paulo de Abreu Pinheiro.
Os nomes dos mesmos escritos em cor azul ao redor da mensagem
“Quem é de luta, que é trabalhador, vota em partido e candidatos revolucionários,
www.bocc.ubi.pt
157
A Política nos espaços digitais
operários e socialistas”. Ao lado a sigla e o nome do partido ladeavam uma
fotografia de Leon Trotski (ilustração 3.4.2).
Caracterizando-se como o que se denomina de corredor de abertura ou
de apresentação esta imagem, ao clicada, carregava a página inicial do website
propriamente dita, onde eram apresentados os diversos conteúdos, recursos e
elementos do website (ilustração 3.4.3). Nota-se ai que na apresentação, ou seja,
no primeiro elemento de contato o partido apresenta-se com uma imagem e
formato fortemente marcados pelo discurso político e pela identidade do partido.
Esta forte e constante marca ideológica transparece em outros
elementos do websites, através do uso de imagens de personagens como Trotski,
Lênin e Che Guevara, ícones revolucionários da esquerda que marcaram as lutas
ideológicas entre classes dominantes e dominadas em épocas passadas.
As páginas não mostravam uma organização ou mesmo coerência na
formatação e diagramação dos diversos conteúdos, utilizando cores fortes, sólidas,
e textos em branco extensos e blocados, fatores que somados prejudicavam e
tornavam a leitura demorada e cansativa.
O website tinha vários níveis de navegação, chegando a ser
necessários cinco ou seis cliques do mouse para acessar alguns conteúdos, e vários
itens prometiam elementos mas não possuíam link, causando desconforto e
mesmo frustração pela experiência não cumprida, mostrando uma formalidade na
organização do conteúdos e discursos e mesmo, se não principalmente, uma falta
de domínio da linguagem, estratégias e formatos do meio.
No tocante à área dedicada à eleição, acessada a partir de um item
com este título no menu, este processo se repete. Notamos também uma
incoerência na estrutura de navegação, pois não só o menu desaparecia em muitas
páginas como também muitos itens apresentados não geravam ou continham links,
o que nos leva a questionar sua função ou presença na estrutura geral.
Da mesma forma notamos um foco constante no candidato Rui Costa
Pimenta, mas este apresenta e debate temas e propostas desvinculadas da eleição e
do cenário nacional, insistindo mais em questões ideológicas como a “luta contra
o imperialismo norte-americano”.
Vemos assim que o partido usar a eleição para apresentar seus
discursos e visões políticas e não estar interessado em conquistar votos, falando
www.bocc.ubi.pt
158
César Steffen
para seus simpatizantes e correligionários, visão esta reforçada pela percepção que
o número do candidato, elemento de efetivação da votação na urna eletrônica, ser
apresentado apenas em uma imagem, desaparecendo nas seções e páginas.
Estes dois candidatos, Zé Maria e Rui Costa Pimenta, foram visível e
sistematicamente ignorados pelo campo midiático, recebendo pouco ou nenhum
espaço nas coberturas diárias nos telejornais, menos espaço na mídia impressa. Da
mesma forma não foram convidados a participar dos três debates promovidos
pelas emissoras de televisão entre os candidatos - respectivamente nas emissoras
Band, Record e Globo – e nas entrevistas realizadas nos diversos programas.
Em função disso o candidato Zé Maria encaminhou ao TSE
reclamação por não ter sido convidado para as rodas de entrevistas na Rede
Globo. Em resposta o ministro do TSE Fernando Neves comentou ser
“perfeitamente admissível e coerente” que os candidatos com maior
representatividade ocupem mais espaço na mídia, e que o pedido de
obrigatoriedade da emissora ceder espaço não era cabível porque não era da
alçada da Justiça Federal legislar sobre as ações da mídia53.
Observamos neste fato que o campo midiático se coloca na posição de
filtro e mesmo agenda do processo eleitoral, determinando espaços e mesmo
censurando
as
falas
e
discursos
de
dois
candidatos
“com
menos
representatividade”.
Não podemos deixar de comentar a resposta do ministro, que coloca a
representatividade de cada partido como elemento de determinação de espaço na
mídia, argumento aparentemente vinculado a forma de distribuição de tempo do
HPEG presente na lei eleitoral.
Devemos ressaltar também que a instituição responsável por regular e
controlar a lisura e equilíbrio da eleição evita atuar sobre as ações do campo
midiático, elemento que por si só mostra a força do campo e demonstra o risco de
manipulação e condução do processo por sua agenda.
Isto não se repete nos websites, onde os candidatos e suas assessorias
tinham o “poder” de gerar a pauta de gerenciar os conteúdos presentes.
Interessante observar, antes de entramos nas análises específicas, a formatação
dos endereços dos websites, sendo a maioria formatada com extensão “.COM”.
53
fonte: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A340273-476,00.html
www.bocc.ubi.pt
159
A Política nos espaços digitais
Como já colocamos os domínios com esta extensão tornaram-se
sinônimos de Internet, sendo os mais reconhecidos e os de maior probabilidade de
uso por empresas, corporações e instituições. Assim, o uso de endereços com esta
extensão facilita a localização aleatória por parte do usuário, que usando de uma
combinação de nomes e números poderia acessar o website do candidato.
É importante observar que o uso dos domínios “.COM.BR” ou
“.ORG.BR” não é limitante ou excludente, na medida em que o partido pode
registrar vários domínios com extensões diferentes. Tendo isto em vista efetuamos
uma pesquisa no sistema de “Registro.br”, durante as eleições, por domínios
semelhantes aos divulgados no HPEG ou aos nomes dos candidatos, cujos dados
encontram-se na tabela abaixo (tabela 6.1).
www.bocc.ubi.pt
160
César Steffen
Domínio
joseserra.org.br
entidade detentora
UF
Observação
PSDB
DF
Pertencia ao candidato e
partido
e
remetia
ao
website
serra45.com.br
livre
- - - Não pertencia ao candidato
ou partido
cirogomes.com.br
Larr Wess
SP
Não pertencia ao candidato
ou partido
ciro23.org.br
garotinho.com.br
---
- - - Domínio livre
MM Agenciamento
SP
Patrimonial S/C Ltda.
Website
não
disponível
para acesso no dia da
pesquisa, mas não pertencia
ao candidato ou partido
garotinho.org.br
lula.com.br
---
- - - Domínio livre
Lengnet Tec
SP
Não pertencia ao candidato
ou partido
lula13.com.br
Em processo de
X
liberação54
Website
não
disponível
para acesso no dia da
pesquisa
lula13.org.br
Partido dos
SP
Trabalhadores -
Pertencia ao candidato e
partido
Diretório Nacional
Ritacamata.com.br
PSDB
DF
Pertencia ao candidato e
partido, mas não gerava
acesso a nenhum website
Zemaria.com.br
Livre
- - - Não pertencia ao candidato
ou partido
Tabela 3.1 – domínios vinculados aos candidatos pesquisados durante o período
da eleição.
54
Significa que a entidade detentora não cumpriu com alguma da regras do acordo ou cancelou o domínio, e o mesmo
poderá ser registrado em breve por outra entidade após o processo de liberação ser finalizado.
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161
A Política nos espaços digitais
Interessante observar que alguns domínios estavam registrados por
atores não vinculadas ao campo político, como os casos de Ciro e Garotinho com
extensão “.COM”, mostrando que na Internet os candidatos e partidos estão
sujeitos a operações de várias ordens e de vários outros campos.
Poderia-se suspeitar ai de uma tentativa de adversários em bloquear a
presença dos candidatos na Internet registrando seus domínios, formando assim
uma barreira ao fácil e livre acesso aos websites dos mesmos, impressão reforçada
diante dos inúmeros casos de registro indevido de domínios por empresas ou
pessoas interessadas em obter lucro financeiro55, mas esta hipótese é de difícil
verificação e comprovação.
Destacamos alguns pontos nestes endereços. Primeiramente o uso, por
Ciro e Garotinho, de uma combinação de nome e número do candidato na
formatação de seus endereços, este último elemento de efetivação da votação na
urna eletrônica, numa forma ou busca de aumento de recall de suas campanhas.
Por outro lado, a presença dos nomes dos candidatos em detrimento
das siglas partidárias, demonstra a forte personalização da campanha e também se
colocam como elemento de reforço de suas “marcas” políticas. Além disso, tais
endereços demarcam o espaço, o território de cada candidato no meio, sendo uma
marca da presença e estratégias dos mesmos no espaço digital.
Com estes atores e websites formamos o cenário geral do pleito
Presidencial de 2002. Nos próximos capítulos efetuamos nosso trabalho de análise
dos fenômenos e processos empíricos observados nos websites dos candidatos a
Presidência no pleito de 2002. Usamos como base para apresentação os números
dos candidatos, elemento de efetivação da votação nas urnas eletrônicas.
3.1.Mapeamentos, caracterizações e representações
Neste ponto iniciamos o trabalho de leitura e análise do primeiro
conjunto de elementos durante o primeiro turno, onde recordamos que buscamos
55
Recordamos no caso do domínio “globo.com”, que havia sido registrado nos EUA por um particular e só foi
retomado pela Rede Globo através de medidas judiciais.
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162
César Steffen
uma visão geral dos conteúdos, elementos e recursos disponibilizados pelos
candidatos em seus websites.
3.1.1.Lula 13: “Bote fé e clique Lula”
De forma geral o website de Lula privilegiava três tipos de conteúdos
e recursos: o candidato e suas propostas, fragmentos de campanha e recursos de
integração e aproximação com o usuário, que se observam nas seções “A vida de
Lula", “Notícias”, “O Brasil que a Gente Quer”, “Eleitor de Carteirinha” e
“Participe”.
A seção “A vida de Lula” era, como é possível perceber título,
dedicada à biografia do candidato, composta pela história política do mesmo
detalhada em fotos e textos, opiniões de Lula sobre temas como corrupção,
agricultura e energia e as posições do mesmo relativas a vários temas e ao
programa do PT, num foco na personalidade, nas ações e nos feitos do candidato.
Os links e as imagens desta capa giravam em torno de Lula e sua
história (ilustração 3.7), tanto no sentido político como no sentido pessoal e
familiar, valorizando o passado e o crescimento do retirante nordestino que
fundou um partido e tornou-se candidato a Presidência do país.
No centro havia uma foto do candidato de terno e gravata fazendo
embaixadas com uma bola de futebol. Outrora usada de forma pejorativa56, esta
imagem mostrava um lado popular, simples, quase brincalhão e lúdico, porém
tendendo a um certo populismo.
Abaixo desta imagem um texto convidava o usuário a conhecer o
candidato e seu Vice, José Alencar, que levava para a biografa do mesmo. Esta
era bem menos extensa – apenas uma página - que a de Lula, hierarquia e espaço
que o colocam como elemento secundário ou mesmo coadjuvante na seção e
mesmo na campanha.
56
Imagem semelhante a esta foi usada pelo jornal Folha de São Paulo, na campanha de 1998, como forma de desconstruir
a imagem de Lula.
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163
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.7 - “A vida de Lula”
Os demais elementos ao redor remetiam a Lula e sua história,
reforçando o foco no candidato. A biografia completa estava inserida no item
“Roteiro de uma vida”, localizado no primeiro ponto de leitura, logo abaixo da
imagem do candidato no menu e ilustrada por uma fotografia antiga de Lula ao
lado de uma de suas irmãs.
O primeiro bloco de texto desta página, diagramada horizontalmente,
lado-a-lado, causando desconforto na navegação e visualização de textos e
imagens somada a extensão do conteúdo da mesma, explicava que as sandálias
usadas por Lula foram emprestadas pelo fotógrafo, pois a família não tinha
condições financeiras de adquirir calçados.
Notava-se nesta página uma valorização da história de retirante do
candidato e de sua vida em São Paulo, onde o mesmo trabalhou como engraxate,
torneiro mecânico e construiu sua família. Repetiam-se ai estratégias apresentadas
não só no HPEG mas também em programas anteriores do partido na televisão,
que buscavam mostrar um outro Lula, diferente da imagem apresentada pelos
adversários nas campanhas anteriores.
A partir da década de 1980, após a fundação do PT, a história do
político-candidato e do partido é sempre tratada em paralelo, mostrando as ações
de Lula e os atos do partido, mostrando a intenção de vincular o crescimento do
partido à ilustração e às ações do candidato.
Abaixo havia uma foto de Lula acompanhado da esposa e dos filhos
ainda pequenos ilustrando o link “A Família”. Esta remetia à entrevista com a
esposa do candidato Marisa Letícia, onde fala de sua vida e das lutas ao lado do
político e candidato.
Já na área da esquerda uma montagem imitando três bottons, sendo
um com a foto de Lula, um com uma estilização da bandeira do Brasil e, ao
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164
César Steffen
centro, um botton vermelho com a estrela do PT em branco, ilustram – e mesmo
redundam - o link para a seção “Um líder, um partido, um país”.
Dividido em “Lula no sindicato”, “A fundação do PT” e
“Compromisso com o Brasil” esta seção apresentava mais conteúdo sobre a vida e
a história política do candidato, porém mais focado nas questões políticas
propriamente ditas, seguindo com a estratégia de construir uma nova imagem para
Lula.
Na base, uma tecla de computador solta, “sozinha”, com um ponto de
interrogação ao lado do link “Perguntas e Respostas” conduzia a uma seção
semelhante a uma FAQ – Frequently Asked Questions, perguntas feitas
freqüentemente.
Elemento muito comum e presente em websites de diferentes campos,
e que pode inclusive ser considerado uma tradição do meio, colocava um menu
“Pull-Down” com vários temas da campanha, como “custo de vida”, “dívida
externa”, etc. Ao selecionar o um item no menu era carregada página com uma
pergunta ao candidato, como “O que o Sr. Pretende fazer com a dívida externa?”,
com a resposta de Lula abaixo.
Vemos nesta seção um foco absoluto no candidato, sua história e
propostas, unindo várias estratégias e estilos de conteúdo para a formação da
imagem do candidato. Chama a atenção especialmente a seção “perguntas e
respostas”, que usa um recurso e estilo tipicamente da Internet como forma de
esclarecimento e propagação das propostas do candidato.
Ilustração 3.8 - “Notícias”
A seção “Notícias” (ilustração 3.8) destacava os fatos e processos da
campanha e a cobertura de questões nacionais como economia e saúde, mas
sempre focadas no candidato Lula, seus apoiadores, parceiros e atos.
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165
A Política nos espaços digitais
Mostrando-se claramente como um espaço focado na conjuntura
nacional, buscava informar os eleitores e usuários do website sobre a campanha
tangenciando o filtro do campo midiático, na barra de direita duas imagens de
câmaras fotográficas levavam a páginas com conteúdos diferentes.
“Repórter de Campanha” acompanhava a campanha dia-a-dia em
extensas matérias abrangendo os vários aspectos dos atos do candidato e do
partido, num estilo jornalístico aprofundado bastante semelhante à cobertura de
revistas semanais como Veja e Istoé.
“Álbum de Fotos” continha um arquivo de imagens da campanha em
baixa definição, que, ao clicadas, abriam fotos em alta definição com qualidade
técnica passível de uso pela mídia. Todas as imagens eram acompanhadas de
crédito ao fotógrafo e informações sobre local e evento de captação da mesma, o
que permite supor um objetivo dual, tanto informar os usuários domésticos como
pautar ou suprir as necessidades de imagens e informações do campo midiático.
A imagem de uma agenda aberta conduzia à página com os eventos
programados da campanha e os atos do candidato, permitindo a busca por data. Já
a página “Sala de Imprensa”, acessada a partir de uma imagem de um bloco de
notas ao lado de um xícara de café, ícone do jornalismo, era voltada
exclusivamente para a imprensa e os profissionais de mídia, criando um canal
direto de relação com estes através do website, que exigia cadastro para acesso.
No dia seis de setembro notamos a inserção da “Rádio 13”, ilustrada
por um microfone de estúdio antigo, onde se nota que o website remete a uma
outra mídia para construir a imagem e facilitar a percepção, pelos usuários, dos
recursos e elementos presentes nesta área.
Inicialmente a “Rádio 13” inseria basicamente trechos de discursos de
Lula em eventos de campanha ou mesmo nos programas de rádio através de notas
que resumiam seu conteúdo, acompanhados de links para arquivos de áudio.
Nestas seções observamos uma intermidiatização, onde linguagens,
formatos, estratégias e elementos de diversas mídias são manipuladas e inseridas
como forma de apresentar e dar valor aos diversos conteúdos inseridos. Vemos,
nisto, uma busca de referencialidade para o website, ou seja, a valoração e
validação do mesmo através e a partir de outras mídias e outros “lugares”,
externos ao website.
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166
César Steffen
Com o decorrer da campanha abre-se espaço para apoiadores e
articuladores, como José Dirceu e Aloísio Mercadante e mesmo colaboradores do
website, como Flávia Rodrigues e Fábio Pereira - citados na página como
repórteres da campanha - que enviam boletins e matérias em formato de áudio.
Isto que reforça o sentido jornalístico e informativo da seção e mesmo
a adoção de uma lógica operativa do meio rádio, apoiando-se somente na voz, nos
relatos dos repórteres, na construção e circulação de conteúdos.
É interessante observar que as aparições do candidato na mídia em
geral eram sempre transcritas e editadas pela assessoria, destacando as falas do
candidato e suas ações, mas dando menos espaço a ações ou intervenções do ator
midiático presente, colocando-o numa posição de mero apresentador ou
coadjuvante e tratando a mídia como mais um elemento ou espaço para a
apresentação do candidato e seus discursos.
Ilustração 3.9 – capa da seção “O Brasil que a gente quer”
A seção “O Brasil que a Gente quer” (ilustração 3.9) , diagramada em
duas colunas que facilitavam a leitura e contato com os textos e elementos do
website, apresentava, ao ser carregada, texto intitulado “Carta ao povo Brasileiro”,
uma extensa carta de Lula em tom bastante pessoal mas eminente e claramente
político, com tom de discurso de campanha, sobre sua percepções e projetos para
o Brasil.
No topo da área ao lado deste texto havia a imagem da capa de um
livro acima do texto “Carta ao povo Brasileiro” que, ao clicado, carregava texto
sobre a campanha e o Brasil assinado pelo candidato,
Nota-se novamente a centralização do website sobre o candidato,
sendo importante destacar o formato adotado, uma carta, elemento e prática
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A Política nos espaços digitais
bastante pessoal, coloquial e mesmo intimista, inserido no website como reforço
das propostas e projetos do candidato.
Dois outros links, “Programa de Governo” e “Documentos do
Programa de Governo”, inseridos abaixo do link anterior, sendo estes menos
importantes por sua posição e por não estarem acompanhados de imagens e
ilustrações.
Estes links carregavam arquivos sobre vários temas e propostas de
campanha, como “Emprego” e “Inclusão Social”. No item “Documentos do
Programa de Governo” havia arquivos “.PDF” com os textos completos que
podiam ser copiados pelo usuário.
Nota-se uma certa redundância entre alguns conteúdos destas seções,
que se repetem nas diversas páginas recebendo tratamento ou construções
diferenciadas, tanto gráfica quanto textualmente.
A fusão da história do partido com a do candidato demonstra, em
nossa visão, uma personalização e valorização da candidatura colocando o
candidato como construtor e realizador dos feitos do partido, colocando as
identidades de ambos lado-a-lado57.
Ilustração 3.10 - “Eleitor de Carteirinha”
A seção “Eleitor de Carteirinha” (ilustração 3.10) continha elementos
e peças de campanha para manipulação, pelo usuário, sendo aparentemente criada
para os eleitores de Lula e filiados do PT, impressão causada pelo título e pelo
conteúdo que apresentava.
O item “Faça Você Mesmo”, convite ou proposta ao usuário ilustrado
por uma impressora com o nome de Lula sendo impresso, continha diversas peças
de campanha, como faixas e adesivos, para impressão direta a partir do browser
de navegação.
57
Informações passadas informalmente por pessoal do partido dão conta que pesquisas indicam que Lula e o PT não se
desvinculam, para os eleitores, em termos de imagem e posição política, o que esta construção parece demonstrar.
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168
César Steffen
Observamos aí o objetivo de transformar o usuário num propagador da
campanha, utilizando seus recursos de impressão para a produção e distribuição
de materiais do candidato.
Pode-se questionar a qualidade do material que poderia ser produzido
pelos usuários, tendo em vista as limitações técnicas presentes nos equipamentos
de impressão domésticos, sem contar os risco de manipulação e alteração destes
materiais. Independente disto, nota-se que esta área torna o usuário um aliado
importante, que merece a confiança do candidato e da campanha.
Abaixo desta estava inserido o link para uma página de envio de
“Cartões Eletrônicos”, onde havia cinco modelos com imagens e temas de
campanha que eram enviados para quem o usuário indicasse, seguido por uma
página com brindes eletrônicos, como papéis de parede e protetores de tela para
decorar o computador do usuário com elementos da campanha e do partido.
No centro da página inicial desta seção estava o link para a loja virtual
(ilustração 3.11), onde o usuário podia adquirir produtos da “griffe PT”,
abrangendo desde canetas, chaveiros e bottons do partido até camisetas, fitas de
vídeo sobre o candidato passando por brincos de ouro puro.
O website da campanha de Lula vincula-se assim a uma estratégia
comercial, de vendas e mesmo de manifestação da identidade política do usuário
que, através dos produtos á venda, pode manifestar sua ideologia e vinculação ao
candidato e partido.
Ilustração 3.11 - “Lojinha do PT”
A capa da “lojinha” reforçava esta questão política, sendo construída
se não totalmente mas com muito elementos em vermelho, cor predominante do
partido, e apresentando a estrela do PT. Assim, através da venda reforça-se a
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169
A Política nos espaços digitais
identidade política do website, e do usuário, dentro de um espaço de campanha
eleitoral.
Segundo a revista “Isto É” de 25 de outubro de 2002, até aquele
momento a loja virtual já havia vendido mais de um milhão e duzentos mil reais
em produtos. Entretanto, não fica claro nesta página qual a destinação dos
recursos obtidos com as vendas, mas sua presença no website do candidato numa
seção voltada aos apoiadores mostra tratar-se de um elemento de captação de
recursos para a campanha.
Presumimos, diante da série de dados solicitados dos usuários
atendendo as regras de legislação eleitoral, que os recursos fossem considerados
doações de campanha, mas os dados presentes no sistema do TSE58 não permitem
efetuar tal afirmação.
Independente deste fator os valores captados demonstram o potencial
do meio para geração de receita para a campanha e o partido. E não podemos
deixar de comentar a chamada “griffe PT”, uma marca político-partidária
transformada em marca de uso diário por seus simpatizantes e filiados.
A seção “Participe” era composta por cinco itens, sendo o primeiro
uma imagem de uma pasta metálica contendo matérias gráficos da campanha, que
remetia à seção anteriormente comentada, “Eleitor de Carteirinha”. Abaixo desta
encontrava-se o item “Urna sem Mistérios”, ilustrada pela imagem de uma urna
eletrônica, que conduzia a uma pagina com instruções para a votação.
No centro, ilustrada por um calendário com as folhas virando estava
colocada a “Sua Agenda de Campanha”, com conteúdo idêntico ao da agenda
presente na seção “Notícias”.
Na barra da esquerda o item “Quero participar”, acessado pela
imagem de uma camiseta com a estrela do PT, que parece sugerir ao usuário
“vestir a camiseta” da campanha, continha os endereço e telefone do comitê
nacional e um mapa do Brasil que permitia acesso aos dados sócio-econômicos do
Estado, às informações de contato dos comitês estaduais e os coordenadores
estaduais.
58
Dados
consultados
no
sistema
http://www.tse.gov.br/eleicoes/eleicoes2002/prestacao
de
prestação
www.bocc.ubi.pt
de
contas
disponível
em
170
César Steffen
Abaixo deste o item “Quero Contribuir” continha uma transcrição dos
artigos da lei eleitoral para doações de campanha e explicações detalhadas sobre
os limites de doações para pessoas físicas e jurídicas.
Acessada através da imagem de um galão de combustível com um
símbolo monetário - “$” – na base da página havia um botão com a inscrição
“Concordo e quero fazer minha doação agora”, levando a um formulário
eletrônico para doação através de boleto bancário, possibilitando efetivar a doação
– mesmo por impulso - no momento e através do website.
Até onde observamos, esta página não continha criptografia ou
protocolo de segurança para transações on-line, mas solicitava informações
específicas do doador em conformidade com a lei eleitoral, mostrando uma
influência do campo jurídico no website.
Estas seções eram claramente voltadas aos filiados e militantes, com
recursos que possibilitavam auxiliar o partido e a candidatura, oferecendo desde
doações até impressão própria de materiais, mostrando uma estratégia de
aproximação e mesmo educação do eleitor para o pleito frente às estratégias e
objetivos da campanha.
Além disso, apresenta algumas experimentações estratégicas que
aparentam buscar conquistar o usuário através de uma abertura de processos
bastante próxima ao espírito livre a Internet. Entretanto nota-se uma certa
redundância entre estes elementos e outras seções, sendo repetidos ou recebendo
outras características.
Na barra inferior o botão “Links” carregava uma página com atalhos
para websites de parceiros e apoiadores da campanha, como a fundação Perseu
Abramo, o Partido Liberal e o Partido Comunista, integrantes da aliança que
suportou a candidatura Lula.
“Indique para um amigo” apresentava uma estratégia de rede, e abria
um formulário eletrônico em uma janela secundária com campos para o usuário
informar seu nome e e-mail e do amigo que receberá a mensagem, além de um
campo para enviar textos e comentários.
Ao lado deste link ficava o botão “Cadastre-se e fique bem
informado”, onde o usuário inseria seu nome, e-mail e Estado de origem para
receber informações de campanha. O boletim não chega a ter uma periodicidade
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171
A Política nos espaços digitais
definida, mas o pedido do Estado demonstra uma estratégia – que não podemos
afirmar que se efetivou – de busca de apoio para as candidaturas estaduais.
O último elemento desta barra era “Fale com a campanha” (ilustração
3.12) que, assim como o link de indicação, abria uma janela secundária para entrar
em contato com a campanha. Este formulário era composto de um menu tipo
“pull-down” com as várias seções do website, dois campos para o usuário
informar seu nome e e-mail e um campo para inserir sua solicitação.
Ilustração 3.12 - janela do formulário de contato
Este formulário era o único espaço para interação direta com a
campanha, enviando sugestões ou informações, e ficava colocado em posição que
impedia a leitura imediata, com alto risco de não ser visualizado imediatamente
pelo usuário.
Cabe dizer que enviamos mais de dez mensagens através deste
formulário, abrangendo desde solicitações de dados para pesquisa e cadastro nas
áreas de acesso restrito até enviando sugestões e elogios, não tendo recebido
resposta para nenhuma delas. Mesmo mensagens enviadas com e-mail diferente
ou por amigos deste pesquisador, que se dispuseram a apoiar o processo de
pesquisa, não foram respondidos
Estes fatores somados nos permite supor uma intenção de não
interagir ou receber elementos dos usuários e eleitores através do website,
configurando o mesmo como um espaço informativo, discursivo e de integração
as estratégias de campanha, mas não interativo no sentido de troca entre o
candidato, sua assessoria e os eleitores. Repetia-se, assim, um jogo ou estratégia
de difusão e sedução já clássico nas demais mídias.
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172
César Steffen
Muito destes conteúdos eram valorizados, ganhavam força, destaque e
mesmo permanência nas páginas iniciais, demonstrando aquilo que é de maior
relevância para as estratégias do candidato no meio e também convidando e
mesmo conduzindo o usuário sem eu processo de navegação. Sobre isto
trataremos na análise do próximo conjunto.
3.1.2- Zé Maria 16: Candidatos-comentaristas e suas bandeiras de luta
O menu de navegação do hotsite de Zé Maria situava-se na barra
superior do hotsite, entre o logotipo do partido, a esquerda, e a foto e logotipo da
campanha, a direita. Formando uma barra inclinada em fundo vermelho - cor
predominante do partido fortemente vinculada a ideologia comunista, sendo
inclusive a cor predominante da bandeira da hoje extinta União Soviética levemente mais claro que o fundo da barra, dividido ou separado desta por duas
pequenas e sutis linhas em preto, contendo links em cor amarela (ilustração 3.13).
Ilustração 3.13 – página inicial do hotsite
O primeiro link “Fala Zé Maria”. Ao contrário do que o título deixa
perceber, a página era dedicada às falas, aos discursos e aos atos dos candidatos
Zé Maria e Dayse. No topo apresentava o título em letras vermelhas fundeado por
uma barra em cor amarela, as cores do PSTU.
Abaixo havia uma lista com títulos de textos em negrito, sendo que
alguns eram acompanhados de subtítulos, resumindo ou apresentando o conteúdo
geral, e todos apresentavam a data de inserção (ilustração 3.14).
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.14 – Fala Zé Maria
“Queremos cotas e muito mais!”, “Unir os socialistas e construir um
novo partido”, “Precisamos derrotar esse sistema que coloca o lucro acima da
vida” são alguns dos títulos apresentados, mostrando a ênfase doutrinária e onde
Zé Maria e Dayse atacam os adversários, criticam a conjuntura e as posturas do
governo Brasileiro e proclamam as bandeiras, lutas e ideologias do partido frente
ao cenário geral do país.
Os textos e conteúdos apresentavam uma forte marca doutrinária,
onde Zé Maria e Dayse aparecem e se identificam não como candidatos,
apresentando propostas, mas sim na posição de comentaristas, críticos das ações,
da realidade brasileira e do cenário geral da eleição, aparentemente investindo na
conjuntura da eleição como forma de propagação ideológica do PSTU em
detrimento de uma estratégia propriamente eleitoral, de conquista de votos.
Claro que esta postura, por si só, já se mostra como um elemento de
conquista e sedução de eleitores e votos através de uma identidade ideológica, e
na medida em que se relaciona com o cenário geral do país e das eleições, mas
mostra uma marca partidária, doutrinária mais forte, mais clara e aberta, que só foi
observada no website do PCO59.
O link “Notícias” abria uma página bastante semelhante à anterior,
contendo lista de notícias e informações referentes ao partido e às ações e
propostas de campanha. Ao lado de uma pequena bandeira do PSTU era
apresentado título da notícia em negrito, acima de resumo e data.
59
Sobre o website do PCO e seu candidato, Rui Costa Pimenta, dissertaremos em capítulo seguinte.
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174
César Steffen
Ilustração 3.15 - Notícias
“Seminário no Rio debateu programa socialista” e “PSTU lança
cartilha contra a ALCA” são alguns dos títulos apresentados que, ao clicados,
levavam para página com conteúdo completo num formato bastante jornalístico,
acompanhado de imagens creditadas. Além disso, esta seção repetia alguns
conteúdos da seção “Fala Zé Maria”, como “Queremos cotas e muito mais!”,
reforçando a marca doutrinária dos conteúdos e elementos do hotsite e a
tematização da campanha pelas marcas ideológicas do partido.
O link “Biografia” abria uma página formatada de forma semelhante
às anteriores, porém contendo apenas dois links (ilustração 3.16). O primeiro, “A
trajetória de luta de José Maria de Almeida”, levava à biografia do candidato que
apresentava sua trajetória sindical e suas ações desde a década de 70, quando foi
preso e torturado por fazer panfletagens no dia 1o de maio, até a fundação e as
ações do PSTU, partido que presidia.
Ilustração 3.16 – Biografia
Observa-se no conteúdo desta página uma forte valorização da
trajetória sindical e de luta de Zé Maria contra a ditadura, ou seja, sua história e
passado político, sendo reforçada pela presença de uma foto antiga do candidato,
em preto e branco, da época em que atuava no sindicato dos metalúrgicos e havia
sido preso. Constrói-se assim uma imagem de engajamento político e sindical que
se mostra nos diversos conteúdos do espaço.
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175
A Política nos espaços digitais
O hotsite evoca assim o passado de lutas e conquistas de Zé Maria
como elemento de construção da imagem do mesmo e também do partido,
destacando a coerência e o posicionamento político-ideológico de ambos.
O segundo link, “Uma mulher negra e socialista na luta contra a
opressão”, com forte associação étnica, racial, levava à biografia da candidata a
Vice-Presidência (ilustração 3.17).
Ilustração 3.17 – Biografia da candidata a Vice Dayse Oliveira
Ilustrado por uma foto colorida onde a candidata sorri, o texto
valorizava a luta de Dayse junto ao movimento negro, colocando a escolha da
mesma como tendo “um significado especial para o PSTU” por marcar a postura
política do partido de luta contra as opressões, sejam contra os negros, as
mulheres ou os homossexuais (o texto citava a “opressão homofóbica”).
O texto deixa transparecer que a escolha de Dayse é fruto de uma
postura do partido de luta contra a opressão e a discriminação, onde uma
professora negra, “á primeira mulher a concorrer a este cargo” - que parecia
ignorar a escolha e a presença de Rita Camata na chapa de José Serra - demonstra
a estratégia do PSTU de usar a própria composição da chapa como forma de
construção e propagação das ideologias e bandeiras do partido, reforçando assim
sua imagem e sua posição política.
O link seguinte, “Programa”, era formatado da mesma maneira que as
páginas anteriores, apresentando uma lista de tópicos do Programa de Governo do
partido. Um dos tópicos permitia o download do programa completo em formato
“DOC” (Microsoft Word), com quarenta e oito páginas onde eram discutidas
questões de fundo da sociedade Brasileira e apresentadas as propostas do PSTU
para este cenário.
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César Steffen
Ilustração 3.18 - página da seção Programa
O cenário mundial após os ataques terroristas de onze de setembro e
romper com a ALCA e o FMI eram alguns dos itens apresentados no texto, que
ressaltava os seminários e eventos promovidos para o debate e a criação do
programa, mostrando novamente a forte marca ideológica presente nos conteúdos
do hotsite.
Outro link, “Um programa dos trabalhadores para mudar o Brasil”,
abria uma página onde os diversos tópicos do programa eram apresentados em
parágrafos entre cinco e 10 linhas (ilustração 3.18). Abaixo havia um terceiro link,
que levava para matéria sobre o seminário, no Rio de Janeiro, que discutiu o
programa apresentado, onde Zé Maria era mostrado em foto dirigindo-se aos
presentes num púlpito, alçando ou reforçando a imagem de liderança e condução
do mesmo.
A “Agenda” apresentava uma pequena lista de eventos programados,
onde a questão da ALCA merecia destaque. “Dia 31 tem mobilização contra a
ALCA” era um dos títulos, e abria a página com informações sobre o dia de
mobilização que ocorreria em toda a América Latina (ilustração 3.19).
Ilustração 3.19 - Agenda
Observa-se que, ao contrário do que ocorre com outros candidatos, a
agenda não se foca nos atos e na programação de Zé Maria ou Dayse, mas nos
eventos e lutas do partido. A agenda, assim, trata de elementos que o partido e os
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177
A Política nos espaços digitais
candidatos buscam colocar em debate, temas de fundo da sociedade Brasileira que
são apresentados, discutidos e, assim, agendados frente à sociedade, o que ressalta
e reforça a marca político-ideológica do hotsite.
“PSTU na TV” primeiramente não cotinha conteúdo, mas apenas uma
explicação de que o mesmo estava em desenvolvimento ao lado de uma ilustração
de uma pequena TV vermelha com a tela em amarelo.
Notamos novamente a identidade político-ideológica do PSTU, pois a
imagem de um aparelho receptor de televisão é mostrada em vermelho (ilustração
3.20), colocando-a como um elemento vinculado ao partido. Ou seja, a imagem
colocada a TV do website como uma TV do PSTU, vinculada a suas estratégias e
ideologias.
Durante a campanha surgiram dois links ao lado desta mesma
ilustração. O primeiro era “Programa de TV Nacional”, acima de um breve
resumo ressaltando que “Zé Maria denuncia a ALCA e convoca plebiscito”. Ao
clicado era possível assistir ao programa de TV onde Zé Maria denuncia os
prejuízos que a ALCA traria à vida dos cidadãos, e convoca todos a auxiliar na
organização do plebiscito contra a ALCA.
Ilustração 3.20 – PSTU na TV
Abaixo um link abria o jingle da campanha em formato MP3, onde
novamente não pagar a dívida externa, barrar a ALCA e o FMI são os lemas e
elementos apresentados. Cabe destacar que ao lado destes links estavam inseridos
os logotipos do Windows Media Player e RealOne Player, programas próprios
para executar os arquivos presentes, onde aparentemente o partido busca ofertar e
facilitar o acesso dos usuários a tais materiais.
O link “Entre na campanha” abria uma nova janela contendo um
formulário eletrônico para cadastro no boletim eletrônico do PSTU. O formulário
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César Steffen
era composto de aproximadamente 10 campos, solicitando informações como
nome, e-mail, idade, etc., e inseria o usuário na lista de informações do partido.
Como parte da pesquisa nos inscrevemos neste boletim, passando a
receber por e-mail notícias e convocações do partido. Este boletim repetia a marca
político-doutrinária do hotsite, e chegava a produzir três edições diárias com
conteúdos diversos, o que nos causou desconforto não só pelo volume de dados
enviados como, principalmente, pela impossibilidade de leitura causada pela
extensão e aprofundamento dos dados remetidos.
O último link, “Deu na Imprensa”, continha uma lista visual e
estruturalmente semelhante as outras, apresentando títulos de matérias e veículos
onde o candidato Zé Maria havia sido citado (ilustração 3.21). “Candidato do
PSTU em Pernambuco ataca político do PT” e “O metalúrgico mais radical”,
ambos do Jornal do Brasil, são dois exemplos de links, que eram sempre
acompanhados da matéria completa, numa espécie de clipagem digital das
citações do candidato na mídia, onde novamente a marca doutrinária se mostra
como elemento de formatação, seleção e apresentação dos conteúdos e mesmo na
relação do candidato com a mídia.
Ilustração 3.21 – Deu na imprensa
Não podemos deixar de comentar o título desta seção, “Deu na
imprensa”, que se por um lado busca colocar de forma clara e direta o tipo de
conteúdo presente, por outro nos permite inferir uma busca de validação e reforço
dos conteúdos apresentados por terem sido veiculados na imprensa, dando-lhes
força e valor frente a campanha e as propostas do candidato e seu partido.
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A Política nos espaços digitais
3.1.3. Ciro 23: EU no menu
Na fase de pré-observação o menu do website de Ciro Gomes era
composto (ilustração 3.22) dos itens “Quem é Ciro”, “Opiniões”, “Vídeos”,
“Galeria de Fotos”, “Você Sabia?”, “Cadastre-se e Participe”, “Doações”, “Peças
Publicitárias” e “Fale com Ciro”.
Abaixo, dois pequenos banners apresentavam, respectivamente, “Leia
o Programa de Governo” e “Grupos de Discussão”, eram seguidos de um campo
de busca, um banner sobre doações de campanha que redundava o link anterior e
um campo com formulário identificado como “Enquete”.
Ilustração 3.22 - página inicial em 17/07/2002
Próximo ao início do HPEG, quando o website passou por alterações.
O menu foi ampliado. Os itens secundários desaparecem sendo colocados como
itens diretos do menu. O “Programa de Governo” é deslocado ao lado da foto e do
logotipo da campanha, formando uma pequena barra com “Agenda” e “Grupos de
Discussão”, sendo que abaixo destes havia um pequeno campo para buscas no
website.
O botão “Agenda” continha os compromissos de Ciro em cada dia de
forma bastante detalhada, podendo tanto servir de elemento para os usuários como
pauta para a mídia. Já o “Programa de Governo” (ilustração 3.23) conduzia a uma
página com o índice dos tópicos do programa de Ciro.
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César Steffen
Ilustração 3.23 – Programa de Governo – 30/07/2002
Ilustrada por uma foto posada do candidato, semelhante à usada nos
demais materiais de campanha, num formato bastante jornalístico (título, lead e
texto blocado) a página valorizava o fato de Ciro ser o primeiro candidato a
apresentar o Programa de Governo, convidando o usuário a ler e enviar suas
colaborações, porém, sem mostrar como as mesmas deveriam ser enviadas.
Abaixo uma lista dos tópicos permitia a leitura dos textos completos (ilustração
3.24), que também podiam ser copiados em formato PDF.
Ilustração 3.24 - texto do Programa de Governo
O item “Grupos de discussão” apresentava-se como um fórum de
debates sobre três temas, sendo estes “Debate Nacional”, “Fórum Livre” e
“Federalização de vários tipos de crime”, que solicitavam ou convocavam o
usuário a dar sua opinião. Estes fóruns exigiam cadastro para acesso, fato que nos
impediu de travar contato com os mesmos60 e, assim formular maiores
considerações sobre o processo.
O menu seguia na barra à esquerda, sendo o primeiro item “Página
Inicial” que conduzia à primeira página do website. Os itens seguintes resumiam a
biografia de Ciro, “Quem é Ciro”, “Ciro Deputado”, “Ciro Governador”, “Ciro
60
Solicitamos, atrás de formulário e de e-mail, inscrição nestes grupos. Mesmo nos identificando como pesquisadores e
colocando documentos da universidade a disposição não recebemos resposta.
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A Política nos espaços digitais
Prefeito” e "Ciro Ministro”, numa forte e destacada auto-referência e mostrando
um foco na personalidade e nas realizações do candidato e uma estratégia de uso
do menu para apresentar, de forma resumida, o currículo do candidato.
Isto se repetia nas páginas que desatacavam a história política do
candidato, mostrando fotos de Ciro e atos e realizações de suas administrações,
ressaltando e valorizando os benefícios sociais decorrentes (queda da mortalidade
infantil, por exemplo) e sua luta parlamentar em prol da gestão de recursos
públicos.
Destacavam-se aí a formatação dos títulos e a posição das imagens,
pois além de também usar um corpo maior que o texto completo, os títulos eram
negritados chegando a ocupar quatro linhas na área principal de leitura resumindo
o conteúdo da página e sendo seguida por uma fotografia do candidato que
separava o título do texto completo.
“O Vice Paulinho” apresentava a biografia do sindicalista candidato à
Vice na chapa de Ciro Gomes. Em apenas uma página mostrava a história de luta
sindical do candidato, usando da mesma estratégia de formatação de texto e
posicionamento da imagem na biografia de Ciro.
Se, por um lado se ressalta o benefício da leitura dos títulos, por outro
esta formatação, que colocava o texto completo fora da área de leitura inicial
mostra uma estratégia de apresentar apenas os itens e atos de interesse dos
candidatos nos títulos, tirando ou diminuindo a importância dos demais elementos
destas páginas.
O item “Artigos” (ilustração 3.25) apresentava uma lista de artigos
produzidos pelo candidato e publicados na mídia, acompanhados de breve resumo
abaixo do título, onde se encontrava o link para acesso ao texto completo.
Nestes artigos destacam-se as opiniões, visões e projetos de Ciro para
o Brasil, bastante semelhante ao item “Entrevistas”, que apresentava aparições e
espaços na mídia dados ao candidato.
Vemos ai que Ciro mostra não ser apenas um candidato, mas também
um intelectual com opiniões que merecem espaço e destaque nas mídias. Da
mesma forma, notamos um jogo de troca ou busca de credibilidade para as
propostas do candidato, que ganham força, valor e credibilidade por obter espaço
em veículos de grande circulação.
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César Steffen
Ilustração 3.25 – Artigos em 17/07/2002
“Outras opiniões” abria espaço para entrevistas, artigos e opiniões de
colaboradores da campanha, como o cientista político Mangabeira Unger,
ideólogo dos projetos e principal estrategista da campanha de Ciro Gomes, o
candidato a Vice Paulinho e outros apoiadores de diversos campos sociais.
Assim como Ciro, estes se colocam na posição de analistas e
comentaristas da realidade Brasileira fornecendo elementos para a sustentação das
propostas e projetos do candidato.
O Item “Jornal do Ciro” (ilustração 3.26), que se apresentava como
uma mídia dentro do espaço midiático do website, apresentava conteúdo variado,
de notícias, atos e informação de campanha a espaços obtidos na mídia e
lançamentos de livros por colaboradores.
Formatado como um jornal impresso, trazia link para o website abaixo
do título e a foto oficial do candidato no canto superior esquerdo, mas não trazia
identificação da edição do jornal – número, período, data, etc.
No topo, ao lado da foto do candidato, havia um “box” arredondado,
semelhante a um botton, com o texto “Assine aqui o Jornal do Ciro”, que ao
clicado abria um formulário eletrônico para recebimento do jornal. Fizemos várias
tentativas de inscrição, sendo todas infrutíferas por erros no sistema do website.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.26 – “Jornal do Ciro” em 17/07/2002
O item “Sala de imprensa” (ilustração 3.27) continha material para a
mídia sobre os atos e ações do candidato, apresentados através de fotos
acompanhadas de títulos e resumos, como “Primeiro Comício de Ciro reúne mais
de 60 mil pessoas”.
Nestas fotografias observamos um foco absoluto em Ciro. Como pode
ser vista na ilustração abaixo (ilustração 3.27), das quatro imagens apresentadas
Ciro aparece direta e claramente em três, sendo que na outra mostra-se uma
multidão ouvindo discurso do candidato em ato de campanha. Vemos, assim, que
o elemento principal, condutor e central do website era o candidato e seus atos.
Ao clicados, conduziam à página com imagens em alta definição e
release para a imprensa, mostrando ser claramente um espaço de relação e
alimentação para a mídia, onde o website torna-se aliados as estratégias de
visibilidade em outros meios.
Além disso esta área mostra-se como uma assessoria de imprensa
deslocada do mundo físico, onde a Imprensa pode busca elementos, dados e fatos
com a vantagem cibernética de estar sempre aberta e a disposição de suas
estratégias e necessidades.
Ilustração 3.27 - Sala de Imprensa em 30/07/2002
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César Steffen
O item “Você sabia” voltava-se ao ataque a adversários políticos,
especialmente os integrantes da administração de FHC e o candidato José Serra.
Através de pequenas notas com perguntas e respostas lembrava ex-integrantes da
administração Collor de Melo que integravam a equipe de FHC, atacava ações e
feitos de José Serra no Ministério da Saúde e criticava a política econômica,
dentre outros assuntos, usando de uma linguagem clara, leve, coloquial e até
mesmo jocosa para atacar seu principal adversário.
“Vídeos” conduzia a uma página com as peças da campanha para o
HPEG e as participações de Ciro em programas e TV, rádio e de várias outras
mídias numa intermidiatização em que podiam ser vistas ou ouvidas no mesmo
espaço.
As participações do candidato na televisão eram destacadas, sempre
acompanhadas de uma imagem ilustrativa (ilustração 3.28) e de texto resumindo a
principal proposta apresentada pelo candidato, onde observamos a ampliação dos
efeitos de mídia no website.
Da mesma forma que a seção “Sala de Imprensa”, as imagens giram
em torno do candidato, mostrando não só que este é o centro do website, mas
também permitindo uma leitura de ser ele o centro das atenções da mídia.
Ilustração 3.28 - página “vídeos” em 21/08/2002
O item “Galeria de fotos” conduzia à uma página com imagens
vinculadas a algum fato ou notícias de campanha, sempre acompanhadas de
legenda que possibilitava o acesso à imagem em alta definição e ao release do ato.
De forma bastante semelhante a “Sala de Imprensa”, e também
destacando e centralizando Ciro, esta seção se coloca como mais um elemento de
alimentação e pauta do campo midiático, cabendo destacar que nesta área as
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A Política nos espaços digitais
legendas eram mais extensas, apresentando-se como um lead da notícia
(ilustração 3.29).
Ilustração 3.29 - Galeria de fotos em 30/07/2002
O item “Doações” continha uma reprodução de um folheto ou panfleto
com a imagem de Ciro, intitulado “Doações, um assunto tão delicado que
resolvemos tratar em público”. Abaixo havia um texto explicando a posição de
Ciro quanto a este tema e os procedimentos para efetuar as doações de campanha,
tanto através de depósitos em conta bancária quanto diretamente nos comitês do
candidato, acompanhado do texto da legislação do TSE.
Observa-se que não só o candidato usa um espaço do website como
forma de arrecadar fundos, mas de uma forma indireta, sem uso de recursos de
transação eletrônica facilitados pelo meio, como também como forma de construir
sua imagem, na medida em que através do texto e da legislação discute o tema
doações com os demais campos sociais.
Na página acessada através do link “Entre na Campanha” havia um
formulário eletrônico para o usuário, convidado a se cadastrar como colaborador
da campanha. Se o usuário já era cadastrado bastava preencher os campos
“USER” e “SENHA” para entrar, caso contrário era necessário preencher um
extenso formulário, que solicitava desde o nome e endereço até o número do título
de eleitor, onde observamos uma busca ou tentativa de integrar os usuários à
campanha.
Preenchemos o formulário buscando identificar as especificidades
desta página, mas não recebemos retorno o que nos impossibilita tecer maiores
comentários além de ressaltar que, em nenhum momento, esta página informava o
que ou como seria feito
Da mesma forma não qualifica, esclarece o que é considerado um
colaborador de campanha, deixando uma lacuna e ficando a impressão de estar
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César Steffen
voltada apenas para filiados do partido e colaboradores cadastrados em outras
instâncias.
O penúltimo link do menu era “Peças Publicitárias” (ilustração 3.30)
trazia o usuário para “dentro da campanha”, contendo fotos do candidato e peças
gráficas da campanha, nos formatos JPG e TIFF, para o usuário copiar, além dos
jingles em formato MP3 e do arquivo da fonte usada nas peças gráficas.
Nota-se que uma função dos comitês de campanha, a distribuição de
material, é facilitada pela tecnologia do meio, onde cabe destacar que muitos
arquivos eram versões finais em tamanho real, finalizadas com cores corrigidas e
prontos para impressão e distribuição, demonstrando cuidado com a programação
visual e a qualidade dos materiais impressos.
Ilustração 3.30 - peças publicitárias
“Fale com Ciro”, último item do menu, conduzia a um pequeno
formulário para envio de sugestões, críticas ou pedidos de informação. Assim
como em outros websites enviamos vários pedidos de informação, elogios e
críticas. Um dos primeiros contatos solicitando informações, ainda antes do início
do HPEG, foi respondido pela assessoria, que informava que a mensagem havia
sido encaminhada à pessoa responsável para a resposta, que não foi recebida.
Alguns destes conteúdos eram merecedores de destaque na página
inicial do website. Sobre isto nos debruçaremos em capítulo específico na
seqüência deste trabalho.
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A Política nos espaços digitais
3.1.4 – Rui Costa Pimenta 29: Lênin, Che Guevara, ... os ideólogos
O website do PCO continha dois menus, sendo um horizontal, inserido
quase no centro da página abaixo de três banners, e outro vertical, colocado no
lado esquerdo da página.
Neste, abaixo de dois links ilustrados por imagens de Che Guevara e
Lênin, uma foto de um grupo de pessoas carregando uma faixa com o logotipo do
partido abria a seção referente às eleições 2002 (ilustração 3.31).
Ocupando a maior área da página no ponto de leitura mais
privilegiada, a partir do canto superior esquerdo, ficava a montagem com as fotos
dos candidatos em frente à bandeira do partido.
Semelhante à imagem presente no corredor de abertura, esta imagem
diferenciava-se por usar textos em cor branca e dar mais destaque ao logotipo do
partido, além de apresentar pela primeira vez o número 29 do candidato
(ilustração 3.4.4).
Ilustração 3.31 – página inicial da seção “Eleições”
Ao lado desta imagem e sobre o fundo verde-escuro da página estava
inserido o menu de navegação da seção, composta dos links “Campanha
Presidencial”, “Eleições 2002”, “Eleições Anteriores”, “Marxismos, eleições e
parlamentarismos (textos)”, “Causa Operária Online” e “Breve história da
participação eleitoral do PCO” (ilustração 3.32), textos conceituais aparentemente
mais voltados para a militância e simpatizantes do partido.
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César Steffen
Ilustração 3.32 - página acessada a partir de “Campanha Presidencial”
O link “Campanha Presidencial” abria uma página em fundo
vermelho, cor já comentada neste trabalho, e textos em branco. Ao centro uma
foto de Rui Costa Pimenta em sala de aula conduzia a biografia do
“companheiro”, onde o texto apresentava a origem de sua família de emigrantes,
sua vida acadêmica e idéias políticas. Tratando Rui Costa como “o companheiro”
ou “o candidato”, a página apresentava fotos de familiares do candidato, como o
avô João Jorge (ilustração 3.33).
Um ponto ressaltado – e mesmo valorizado, por sua extensão - era a
fundação do PCO, fruto de conflitos da tendência Causa Operária, cujos
integrantes fundaram o partido após divergências com a então direção do PT, da
qual eram membros.
Ilustração 3.33 – “Biografia”
Abaixo desta imagem um texto apresentava um trecho de discurso de
Rui Costa Pimenta, proferido no “ato nacional de 31 de maio”. Intitulado “Quem
bate cartão não vota em patrão”, neste discurso o candidato alerta para o
“momento privilegiado” representado pelo pleito que se iniciava, alertando as
manipulações burguesas contra as “massas populares”.
Lembrando
episódios
políticos
recentes
como
exemplo
do
amadurecimento democrático do país e os “companheiros revolucionários” que se
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A Política nos espaços digitais
lançavam na campanha, mostrando o tom programático, quase dogmático, do
partido frente às eleições.
Ao redor desta imagem duas barras se apresentavam como menus de
navegação. Na barra da esquerda o primeiro link era “Programa de Governo”
(ilustração 3.32), ilustrada por uma foice e um martelo vermelhos que
demonstram a identidade política vinculada à extinta União-Soviética e a visita de
temas ideológicos ao website.
Este link conduzia a uma página também em fundo vermelho e letras
brancas contendo um extenso texto com as propostas do PCO para vários temas,
como “Educação” e “Agricultura” (ilustração 3.34).
Nestas críticas aos modelos e realidades Brasileiras se misturam a
análises e propostas de mudanças, aparentando ser uma seleção de trechos de
discursos e opiniões de Rui Costa, e não um Programa de Governo no sentido
estrito.
Ilustração 3.34 - “Programa de Governo”
O link seguinte, “Artigos e Entrevistas” apresentava uma longa lista
de matérias, artigos e entrevistas na mídia com citações de Rui Costa Pimenta e as
propostas do PCO, que ao clicadas podiam ser lidas na íntegra, mostrando uma
forte auto-referência.
O link seguinte, “Entrevista exclusiva”, ilustrada por uma foto do
candidato falando ao microfone, não gerava link, parecendo ser apenas um item
ilustrativo da página. Observa-se que um candidato que foi sistematicamente
ignorado pela mídia eletrônica aproveita-se do espaço e citações na mídia
impressa como forma de apresentação e reforço de suas propostas e discursos.
Abaixo deste uma imagem de um grupo de pessoas carregando a
bandeira do PCO levava à “História do PCO”, uma página também em fundo
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César Steffen
vermelho e letras brancas (ilustração 3.35) ressaltava as origens trotskistas de seus
integrantes, os movimentos e partidos ao qual foi aliado e as causas de suas
rupturas com tais elementos.
Destacava-se nesta página crítica ao PT, de onde se origina o PCO, em
que “segmentos burgueses” teriam se colocado no caminho da formação de um
partido genuinamente de trabalhadores.
Ilustração 3.35 - “História da PCO”
Na barra à direita da imagem principal o primeiro item, “Perfil do
Candidato” também ilustrado por foto de Rui Costa Pimenta, apresentava um
breve perfil do candidato, como filiação, data de nascimento, etc., parecendo mais
um curriculum vitae ou ficha de filiação do que propriamente um perfil.
Abaixo deste o “perfil do Vice” era acompanhado por imagem de
Pedro Paulo, mas ao contrário do anterior este link não carregava nenhuma
página, o que demonstra um descuido ou mesmo a pouca importância do Vice na
seção.
“Álbum de Fotos”, último link desta barra, levava a uma página com
fotografias de vários momentos da vida de Rui Costa Pimenta – com o padrasto,
estudando no exterior, discursando para camponeses, etc. - estavam expostas
como em um mural, “presas” por alfinetes (ilustração 3.36).
Ressaltava ai a história e a família de Rui Costa numa página onde a
tecnologia ao mesmo tempo serve de suporte (ou é ilustrada) para uma antiga
prática, além de construir a imagem do candidato, que se coloca assim como o
elemento central e foco desta seção.
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191
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.36 - Álbum de fotos
No topo desta página estava inserida a foto de Rui Costa Pimenta e o
logotipo da campanha, tendo abaixo três pequenos itens. “Fale Conosco” abria um
link para o e-mail “[email protected]”, mas “Contribua com a campanha” e “Filiese” não continham link. Abaixo da barra da direita um box quadrado com a
imagem de uma escala musical gerava acesso à letra e ao jingle da campanha, que
podia ser copiado em formato MP3.
O segundo item da página inicial era “Eleições 2002”. Este link
carregava uma página em fundo verde escuro, contendo três colunas com
conteúdos (ilustração 3.36). Na coluna à esquerda um menu com imagens
apresentava os conteúdos da seção.
Ilustração 3.36 – página inicial do link “eleições 2002”
O primeiro link, “Programa”, era ilustrado pelo logotipo do PCO em
vermelho e amarelo (ilustração 3.36), ficando acima de link com as fotos dos
candidatos, mostrando ser o partido mais importante que as personalidades da
campanha.
Este link abria a página com o Programa de Governo do PCO.
Organizada em tópicos numerados, esta página era bastante semelhante ao
“Programa de Governo”, mas apresentava alguns temas de formas diferentes,
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192
César Steffen
como “Não ao salário mínimo de fome ...”, “Não ao banco de horas ...” e “Que os
patrões arquem com o custo da crise”, aparentando ser uma peça de discursos e
elementos do partido, ao contrário da anterior que aparentava estar ligada a falas e
discursos do candidato.
“Candidatos” abria uma página com o mapa do Brasil. Em fundo
branco, diferente da página de origem do link, neste mapa as várias unidades da
federação, ao clicadas, abriam página com dados dos candidatos regionais do
PCO em todos os níveis (ilustração 3.37).
Ilustração 3.37 – página do candidato ao governo do Rio Grande do Sul.
Com cor, formato e diagramação diferenciados, aparentando mais um
cadastro comercial ou mesmo uma ficha policial do que uma peça de campanha
eleitoral, nesta página viam-se fotos e um breve perfil de cada candidato sendo
que, ao lado bandeiras dos Estados, permitiam acesso aos candidatos nas demais
unidades federativas.
Observa-se ai uma quebra na lógica da navegação e um descuido com
a estrutura do website, pois não só a mudança das cores desvincula as páginas dos
candidatos do website do partido como também desaparecem os itens de
navegação, exigindo do usuário o uso de recursos do browser para retornar à
página de origem e acessar os demais conteúdos.
O quarto link, “Comitês eleitorais”, não se relacionava com nenhuma
página, e o link seguinte, “Textos de Campanha” apresentava três itens. “As
divergência fundamentais entre os partidos de esquerda” apresentava, no topo, o
slogan da campanha do PSTU, “Quem bate cartão não vota em patrão”, acima de
três colunas onde eram apresentados lado-a-lado o PCO, PSTU e PT (ilustração
3.38).
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193
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.38 - textos da campanha
O primeiro era considerado como de tendência à esquerda, fato que se
justificava por seu programa, a ausência de alianças na campanha e slogan. Ao
lado o PSTU era colocado como um partido de centro, com um programa,
imagem e slogan ambíguos.
A última coluna citava o PT como um partido de direita por ter
empresários entre seus integrantes, por defender garantias às empresas e por
diminuir o poder dos trabalhadores em sua estrutura.
Observa-se ai novamente a marca doutrinária e ideológica do website,
onde conteúdos e formatos são inseridos e organizados de forma a demonstrar e
ressaltar a coerência e os compromissos do PCO. Além disso, o PT, de onde os
integrantes do PCO forma expulsos e fundaram o partido, é situado como de
ideologia à direita, e os também ex-integrantes do PT.
Os candidatos do PSTU eram citados como de centro, mostrando uma
tática de ataques, combativa e ideológica que ao mesmo tempo em que constrói a
imagem e identidade do PCO coloca em dúvida as imagens e identidades dos
demais.
O último link, “Agenda”, abria uma página com um calendário
mensal, onde algumas datas possuíam link que abria página com os compromissos
e eventos do partido e do candidato.
No centro da página inicial desta seção um box delimitado por linhas
brancas, intitulado “PCO na Imprensa”, abria página com conteúdo semelhante à
lista presente na seção anterior. Na área abaixo algumas notas “corriam” de baixo
para cima.
“Candidato do PCO no Espírito Santo tem 1%” e “Candidato do PCO
na Bahia está com 4% e empata com PT em segundo lugar” são algumas das notas
apresentadas, que apresentam elementos e informações da campanha relevantes
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194
César Steffen
para o partido e demonstram o uso da mídia para a construção da campanha do
partido.
Ao contrário das notas presentes nos websites dos demais candidatos
estas não geravam link ou estabeleciam relação com nenhuma outra página ou
seção, sendo estanques, ou seja, apresentavam e resumiam em si o conteúdo que o
partido desejava tornar visível.
Na terceira e última barra, o primeiro item, “Contribua com a
campanha do PCO”, não possuía link, e o item abaixo, um mapa do Brasil
contendo as fotos de Rui Costa e Pedro Paulo, abria a seção anterior, “Campanha
Presidencial”.
Retomando agora a página inicial do link “Eleições” da página inicial
do website do PCO temos outros cinco links, sendo estes, na ordem, “Eleições
Anteriores”,
que
não
apresentava
conteúdo,
“Marxismo,
eleições
e
Parlamentarismo (textos)”, “Causa operária Online”, “Breve história da
participação do PCO em eleições” e “Textos de análise e polêmica sobre a
questão eleitoral e parlamentar”, este último sem conteúdo vinculado.
“Marxismo, eleições e Parlamentarismo (textos)”, ilustrada por uma
pintura de Lênin, apresentava uma “Biblioteca” (ilustração 3.39) com textos e
transcrições de discursos de líder revolucionário Russo. Ao lado da reprodução de
uma pintura de Lênin discursando para uma grande massa de pessoas uma lista
com cinco textos abria páginas com textos completos, todos creditados a Lênin e
versando sobre eleições diversas, mas nunca citando o local ou mesmo o contexto
de realização dos mesmos.
Observamos que o PCO busca reforçar sua imagem esquerdista e
revolucionária através da reprodução e circulação de discursos do líder da
revolução Russa, que instaurou o primeiro e maior regime comunista e operário
no mundo.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.39 - “Marxismo, eleições e Parlamentarismo (textos)”
“Causa Operária Online” apresentava a versão digital - ou reprodução
- do veículo de divulgação e informação do partido, onde matérias como
“Derrotar a agressão imperialista contra o Iraque e seu povo oprimido” analisam o
cenário mundial e apresentam as posições do partido frente a tais fatos, reforçando
suas posições político-ideológicas dentro de um formato e discurso mais
jornalísticos, quase midiáticos.
O último item, “Breve história da participação do PCO em eleições”,
abria uma página com texto extenso e pesado, onde as participações e resultados
do PCO nas várias eleições, desde quando era uma corrente do PT, eram listadas e
comentadas frente ao cenário geral da eleição e em seu impacto para o partido.
Ilustração 3.40 - Breve história da participação do PCO em eleições
Interessante observar que o website do PCO, primeiramente, que o
título da página era ”Participação Eleitoral do PCO”, diferente do conteúdo do
link, e que a página citava os resultados obtidos por seus membros nos pleitos que
participa com o PT. Entretanto o PT não é citado o que, somado as criticas
colocando o partido como de direita, mostra o conflito e mesmo oposição aos
antigos companheiros.
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César Steffen
Observa-se que as diversas páginas acessadas através do menu da
seção “eleições” formam uma área temática diferente, onde diversos, textos e
imagens se somam na apresentação das propostas do candidato.
Da mesma forma as imagens presentes junto aos links tematizam,
ilustram os conteúdos das páginas e seções, onde notamos três características
comuns: o uso de cores fortes e sólidas de fundo; texto blocados, extensos e
pesados, com uma forte marca ideológica, doutrinária; e, principalmente, a
irregularidade dos menus, que desaparecem em muitas páginas internas causando
uma sensação de desorientação.
Esta “desorganização” dos conteúdos se repete na página inicial do
website, que apesar de não estar vinculada às eleições, mas às propostas e
doutrinas do partido, mostra-se com uma série de conteúdos políticos que buscam
construir a posição política do partido e, conseqüentemente, do candidato. Sobre
isto dissertaremos em capítulo posterior.
Assim, para fins de concluir este trecho da análise, devemos
primeiramente observar que as páginas internas do website não continham título
(os textos que são apresentados pelo browser de navegação) permanecendo a
inscrição “Untitled Document” (documento sem título), demonstrando o descuido
e mesmo descaso com o website.
Chama nossa atenção, negativamente, a quantidade de conteúdos
inseridos, gerando até cinco níveis de navegação, além do tamanho dos textos,
que somados ao freqüente “desaparecimento” dos menus das seções e à constante
quebra na programação visual gerava desconforto e mesmo desorientação,
atrapalhando e desestimulando o contato com o espaço.
Isto nos leva a crer que os elementos de navegação estavam inseridos,
apresentados sem preocupação com a experiência do usuário, o que afetava a
formatação e a construção deste trecho. Sim, podíamos ter organizado melhor
nossa análise, mas propositadamente deixamos desta maneira para buscar ilustrar
os possíveis processos de interação dos usuários neste website.
Encerramos esta parte esclarecendo que, se o texto desta análise se
torna em alguns momentos confuso, recortado ou mesmo dá a sensação de saltos,
é porque ele é retrato e mesmo fruto da própria desorganização do website.
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A Política nos espaços digitais
3.1.5.Garotinho 40: O partido pegou uma carona
O website de Garotinho apresentava três menus com construções
diferentes. Abaixo da foto e do logotipo da campanha havia três botões em fundo
azul. O primeiro, “Fale com Garotinho”, ao clicado gerava automaticamente uma
mensagem eletrônica endereçada para o e-mail “[email protected]”.
Nota-se ai uma estratégia diferenciada dos demais candidatos, pois ao
invés de inserir formulários com campos e assuntos determinados o website de
Garotinho gera link para e-mail direto, onde o usuário ganha maior liberdade para
se manifestar.
Entretanto devemos lembrar que tecnicamente tal estratégia apresenta
um ligeiro risco, uma vez que se apóia em recursos e elementos técnicos externos
ao website, aumentando a probabilidade de erros e problemas em sua execução.
Ao lado deste, o botão “Agenda” abria a agenda de compromissos e
eventos programados para Garotinho, mostrando sem muitos detalhes os
movimentos do candidato na campanha.
“Notícias”, por sua vez, abria página com uma lista de notas contendo
as informações mais recentes da campanha, que ao clicadas conduziam à página
com o conteúdo completo da mesma.
Nesta página as aparições e citações do candidato na mídia eram
conteúdo freqüente, tornando o campo midiático referência para a construção da
imagem do candidato, mostrando uma ampliação dos possíveis efeitos de mídia e
mesmo a utilização desta como elemento de alimentação, atualização e condução
do website.
Além disso, observamos neste processo a pouca ou quase ausência de
materiais próprios, gerados pela assessoria, colocando o campo midiático como
importante, se não principal, fonte de materiais e atualizações nos conteúdos do
website.
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César Steffen
Ilustração 3.41 - Plano de Governo em 17/07/2002
O último botão desta barra, “Plano de Governo” (ilustração 3.41),
apresentava uma página com índice de tópicos que, ao clicados, abriam nova
página com as propostas completas do candidato. Esta página era organizada por
assunto, como “Economia”, “Minas e Energia”, etc., mostrando com
detalhamento as propostas e projetos do candidato, mas gerando extensa barra de
rolagem para acesso e leitura do conteúdo completo.
Nesta página observamos que as propostas e projetos do candidato,
itens muito comentados mas muitas vezes apresentado apenas de forma resumida
e mesmo publicitária nas demais mídias, no website se apresenta de forma
completa, estruturada e organizada de forma a facilitar o acesso, contato e
compreensão, onde os elementos, análises e propostas do candidato se fazem
visíveis em toda sua extensão.
Neste conjunto de itens destacamos o tópico “Economia” pois
estruturalmente se assemelhava aos demais, apresentando uma introdução ao tema
– onde constavam fortes críticas à gestão e aos modelos econômicos de FHC,
muito presentes em outras páginas – seguida dos tópicos do projeto do candidato.
Esta era a única que citava local e data, “Brasília, 11 de abril de
1
2002 ”, o que nos leva a supor tratar-se de um discurso proferido pelo candidato
em ato partidário ou de campanha, o que em sendo correto coloca o candidato na
posição de proprietário, de criador e condutor do programa.
Da mesma forma cabe destacar que a maioria das páginas apresentava
textos construídos na terceira pessoa – “cresceu substancialmente”, “No tocante a
...” - mas algumas, como o item “Economia” , encerrava com as propostas
apresentadas na primeira pessoa – “Vou criar ...”.
1
Fonte: http://www.garotinho40.com.br/scripts/detalheplanogoverno.asp?id=1
www.bocc.ubi.pt
199
A Política nos espaços digitais
Construía, assim, uma estrutura de discurso de oferecimento, de
proposta, reforçando o foco na personalidade do candidato e mesmo o seu
compromisso com o conteúdo apresentado e caracterizando-se como um discurso
político, com valor e estatuto de compromisso de gestão.
O menu à esquerda era formado por uma série de botões nas mesmas
cores, que dividiam os diferentes conteúdos. O primeiro botão “Na TV” era
seguido de uma imagem de uma tela de TV com Garotinho discursando frente a
vários microfones. Abaixo desta imagem havia o texto “Governo do PSB no Rio
de Janeiro estabelece piso salarial de R$ 240,00”, que ao clicado, abria vídeo com
o candidato numa janela tipo pop-up junto com pequeno texto explicativo do
conteúdo do mesmo.
No HPEG a principal proposta e discurso que o candidato apresentava
era o salário mínimo de R$ 280,00 (duzentos e oitenta reais), e o primeiro link do
menu, que permanece imutável durante todo a campanha, ressaltava o valor do
piso salarial estabelecido no governo do candidato construindo e mesmo
aprofundando assim tal proposta, mostrando o acoplamento do website a
campanha como um todo.
Entretanto, no HPEG Garotinho falava que aumentara o salário
mínimo regional no Rio de Janeiro, enquanto o texto abaixo da imagem do
website citava “piso salarial”, dois elementos que apesar de semelhantes
apresentam diferenças sutis, uma vez que o aumento do salário mínimo beneficia
todos os trabalhadores enquanto o piso salarial é, normalmente, referente a uma
categoria.
Este aumento citado veio na esteira de uma lei federal que abriu a
possibilidade de os Estados da Federação instituírem valores regionais para o
salário mínimo, vinculados a realidade econômica regional. Assim não fica claro,
no website, se o “piso salarial” citado é o salário mínimo ou um piso propriamente
dito, mostrando uma incoerência ou um erro na construção dos discursos nos dois
meios.
O botão seguinte, “No Rádio”, era seguido de links em texto para
entrevistas do candidato na mídia, como a concedida à rádio CBN. Ao clicado
este link iniciava o download de arquivo “WAV”, formato de áudio digital padrão
do sistema Windows, que rodava automaticamente ao final do processo de cópia.
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200
César Steffen
A entrevista podia ser ouvida na íntegra, sem cortes, mas os arquivos
apresentados eram de grande tamanho, superando um megabyte, o que gerava um
longo tempo de espera e aumentava consideravelmente as possibilidades de erro
no processo.
O botão seguinte, “Arquivo”, era seguido de cinco links de texto,
sendo estes “Textos”, “Fotos”, “Vídeo”, “Áudio” e “Materiais de Campanha”. O
link “Textos” abria página com campo de busca de entrevistas, artigos, notícias,
etc., por palavra-chave, por data de publicação ou cruzando estas, o que
possibilitaria a rápida localização de conteúdos no website.
Entretanto, havia um erro de programação no formulário que impedia
o preenchimento de alguns campos, impossibilitando assim a efetivação da
pesquisa, o que demonstra um descuido na construção do website.
“Fotos”, “Vídeo” e “Áudio” continham um formulário de pesquisa
semelhante, mas que não gerava erro, apresentando o resultado das buscas em
uma lista e possibilitando rápido acesso ao conteúdo localizado, que era
apresentado em nova página.
Isto nos leva a supor, uma vez que a tecnologia de buscas destes
formulários é a mesma, uma estratégia de apresentar e mesmo facilitar a
localização de materiais para e da mídia em detrimento de textos e outros
materiais próprios.
É claro que se trata de uma suposição, já que a construção de um
sistema de pesquisa envolve uma amplitude de variáveis, mas a própria nãocorreção do formulário de textos durante a campanha, mantendo o erro, demonstra
a não preocupação ou cuidado com este tipo de conteúdo.
O link seguinte, “Materiais de Campanha” (ilustração 3.42) abria uma
página com reproduções das peças gráficas da campanha que, ao clicadas,
iniciavam o download das mesmas. Estas peças, desde a foto oficial do candidato
até banners, volantes e mesmo out-doors, eram disponibilizadas no formato
“JPG”, que impede ou dificulta alterações e adulterações, em versão final para
impressão, transformando o website num comitê de campanha aberto 24 horas por
dia.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.42 – Materiais de Campanha
O botão seguinte era intitulado “Conheça o Garotinho”, que
apresentava uma pequena foto do candidato em ato de campanha e cinco links.
“Perfil” continha a história política do candidato, focando e valorizando sua
administração como Governador do Rio de Janeiro. “Política” assemelhava-se a
este, mas continha a história geral, antes do candidato ser Governador.
“Governo”, por sua vez, era bastante semelhante, estruturalmente e em
conteúdo, ao “Plano de Governo”. Dividido em tópicos como “Ação Social”,
“Cultura”, etc., listava e apresentava as realizações de Garotinho na administração
carioca com o máximo de detalhamento.
Os dois últimos links abaixo deste botão focavam-se na história
pessoal do candidato. “Família” contava a história da família do candidato desde
sua infância, enquanto “Fé” contava a conversão religiosa de Garotinho após um
acidente de carro e sua relação com a Igreja Evangélica, sendo que entre estes
havia uma pequena imagem de Garotinho.
O último botão desta barra era “Discurso”, seguido do texto “Há quem
deve servir um governo”, que continha a reprodução completa, em texto, do
discurso proferido por Garotinho no dia cinco de abril de 2002, quando se
desvinculou da governança do Estado do Rio de Janeiro para candidatar-se a
Presidência da República.
Esta seqüência, que em sua própria construção mostra uma estratégia
de argumentação em prol do candidato, permanece, com algumas – poucas alterações na foto, durante toda a campanha, onde notamos foco absoluto no
candidato, sua biografia, atos e ações na mídia.
Cabe destacar o uso de fotografias e imagens capturadas diretamente
no menu, apresentando atos e discursos do candidato, e o agrupamento temático
www.bocc.ubi.pt
202
César Steffen
dos elementos através de botões com títulos, facilitando a localização e acesso aos
diversos conteúdos.
O menu à direita, por sua vez, era reservado ao partido de Garotinho,
PSB, e apresentava, no topo, o logotipo do mesmo, uma pomba branca carregando
um ramo de oliveira no bico. Abaixo vários botões idênticos ao da barra da
esquerda apresentavam vários links.
O primeiro botão era “Os candidatos”, seguido pelo texto “Conheça
nossos candidatos” que abria uma página com lista, em ordem alfabética, dos
Estados do Brasil, acompanhados de dados gerais como área, população e número
de eleitores (ilustração 3.43). Em cinco de outubro, véspera da eleição, estes link
muda para “Eleições 2002”, mas mantém o mesmo conteúdo.
Ilustração 3.43 - Os candidatos
Nos Estados onde o PSB concorria com candidatos próprios havia
link, que carregava nova página com o perfil do mesmo (ilustração 3.44), sendo
que onde havia candidatos a Senador o mesmo também era apresentado. Em
apenas dois Estados, Acre e Sergipe, não havia links.
Ilustração 3.44 – página do candidato do PSB ao governo do RS
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203
A Política nos espaços digitais
O botão seguinte era “Coligação Nacional”, abaixo do qual havia o
texto “Protocolo de Compromisso”, que levava a um texto eminente e
explicitamente político, ressaltando os compromissos e estratégias da coligação
PSB nos vários níveis, e deixando clara a posição do partido frente ao cenário das
eleições e ao quadro social Brasileiro.
Na base desta página havia dez links para os websites dos partidos
integrantes, sendo que destes apenas três funcionaram corretamente, novamente
mostrando um descuido com a construção do website.
“O partido” era composto de 12 links de textos. O primeiro, “No
Congresso”, apresentava a nominata dos Senadores e Deputados Federais do
partido, com endereço do gabinete, cidade e estado de origem, telefone e texto
sobre a atuação política do mesmo.
“Governadores” abria página citando três nomes, mas dava detalhes e
dados apenas do governador de Alagoas Ronaldo Lessa, permitindo uma leitura
de valorização e mesmo sobreposição deste sobre os demais.
"Prefeitos” apresentava lista com nomes, cidades, Estados e CEP dos
Prefeitos eleitos pelo partido, bastante semelhante a página “Dep. Estaduais”. Já a
página “Vereadores” abria um menu tipo pull-down com a lista de Estados do
Brasil que, ao selecionadas, carregava página com a lista de vereadores e
respectivas cidades de atuação.
Estes links seguiam com “História”, que apresentava a história e
ideologia do partido, “Estatuto”, que carregava arquivo “PDF” em uma janela
secundária2 com os princípios que regem o partido, “Fundação Mangabeira” em
que se encontravam textos sobre os objetivos e realizações da Fundação João
Mangabeira, advogado baiano fundador do PSB.
“Diretórios Estaduais” trazia lista dos diretórios do PSB em cada
Estado, sendo seguido por “Filiação”, que abria formulário eletrônico para filiação
no partido através da Internet, onde observamos a forte valorização do partido
nesta barra, e “Fale com o PSB” que gerava e-mail para o endereço
“[email protected]”.
O último item era “Fórum”, página que trazia texto “área restrita aos
participantes do fórum” e os campos SIGLA e SENHA. Não era explicado como
2
Cabe observar que não se tratava de uma janela pop-up, mas uma janela completa do browser.
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César Steffen
participar do fórum, fato que nos leva a supor ser o mesmo fechado aos militantes,
filiados ou pessoas cadastradas e também nos impediu de travar contato com seus
conteúdos e, assim, tecer comentários mais aprofundados.
Observa-se aí que o usuário é limitado em seu contato, ficando um
espaço de possível troca entre os usuários e a campanha restrito a pessoas
conhecidas ou a filiados do partido.
Vemos, nesta seqüência de links, a utilização do website do candidato
como forma de apresentação e mesmo construção da imagem política do partido,
que se mostra não somente através de suas idéias, programa e ideologia, mas
principalmente, se notarmos a ordem dos links, pelos atores políticos que integram
e atuam em seus quadros.
Ilustração 3.45 - “Leia” em 19/07/2002
O último botão desta barra era intitulado “Leia”, e era seguido de
imagem da capa de um jornal ou boletim informativo que abria página com as
matérias do jornal “RIO40”. Cada página era apresentada em uma pequena
imagem e breve resumo ao lado.
As imagens geravam link para arquivo “PDF” que abriam em janela
tipo pop-up, contendo matérias sobre realizações da administração de Garotinho
nas diversas e diversificadas áreas, como o aumento de expectadores nos teatros e
espetáculos patrocinados pelo Governo.
A segunda e última imagem, que fechava este menu, era a capa do
livro “O carro virou minha vida”, ilustrada por foto de Garotinho tendo uma
bandeira do Brasil ao fundo, onde Anthony narra sua história de vida e o acidente
de carro que o converteu a religião.
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A Política nos espaços digitais
Nos menus observamos que os botões se comportam como divisores,
criando áreas temáticas para os links e facilitando, assim, a localização do usuário
e sua permanência no website, onde não podemos deixar de destacar a presença do
partido como elemento de campanha.
Observa-se uma certa mistura entre conteúdos do partido e do
candidato, onde a administração carioca e a biografia misturam-se aos dados do
partido. Entretanto, a posição destes últimos conteúdos coloca-os em posição
inferior em relação aos demais, principalmente se notarmos que somente eram
visíveis a partir da rolagem da página.
Neste ponto está a maior especificidade do website de Garotinho, pois
dando espaço ao partido mostra uma estratégia de uso deste espaço para a
propagação ideológica, para a captura de simpatizantes e filiados e mesmo para as
campanhas regionais, permitindo uma leitura de dubiedade entre o uso do website
para o candidato ou no partido. Entretanto, a posição destinada ao partido na
página é hierarquicamente menor, reforçando o foco na candidatura de Garotinho.
Os elementos inseridos na página inicial do website de Garotinho
demonstrava uma estratégia diferenciada dos conteúdos gerais, que será detalhada
em capítulo a seguir.
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3.1.6. Serra 45: “Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho ... pra
gente!1”
Na fase de pré-observação o menu do website de José Serra era
composto de cinco links, que priorizavam as notícias e biografia do candidato e
sua vice (ilustração 3.46).
Ilustração 3.46 – página inicial de 17/07/2002
O primeiro link do menu, “Todas as Notícias”, conduzia a uma página
contendo os títulos das notícias e informações listadas em ordem decrescente por
dia e hora de inserção, evocando a atualidade dos fatos e a própria velocidade do
website.
Ao clicados, os títulos conduziam às notícias completas em telas
individuais dentro do website, onde se observava o foco nos fragmentos de
campanha, nos atos e ações do candidato e nos atos de campanha em geral:
decisões jurídicas, materiais oriundos da mídia, respostas aos adversários, etc.
Bastante clara e organizada, esta seção tratava de construir um espaço
de informação com lógica e formato jornalísticos, posicionando o usuário sobre os
fazeres do candidato e o cenário da campanha e criando com ele uma relação
direta através de um serviço – ou conteúdo - de valor, mas ligado às estratégias de
campanha e obviamente filtrado pela assessoria do candidato.
“Programa de Governo” se dividia em vários links, dando ao mesmo
um tratamento bastante publicitário. “Oportunidades de trabalho, o grande
1
Refrão do jingle principal da campanha de Serra no primeiro turno.
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A Política nos espaços digitais
desafio” era o primeiro link, mostrando o foco do candidato em seu programa de
geração de empregos.
Seguido por “acelerar o crescimento com estabilidade”, “ofensiva
contra o crime”, “igualdade de oportunidades”, tematizava um discurso político
do candidato pelas propostas da campanha e apresentando um cruzamento entre as
tecnologias do meio e as estratégias da campanha.
Os textos destas páginas não transcreviam o conteúdo do programa ou
mesmo o apresentavam completo, mas resumiam os tópicos e elementos
principais do programa de Serra de forma curta, adequada ao meio, e bastante
jornalística, informativa, facilitando a compreensão do mesmo para o usuário.
Interessante observar que os conteúdos destas páginas podiam ser
copiados pelo usuário em formato “.PDF” através de links colocados na barra a
direita do conteúdo, configurando-se claramente como elemento de difusão que
busca facilitar o contato do usuário com este elemento e antecipar suas
necessidades e expectativas.
Os links “José Serra” e “Rita Camata” apresentavam, inicialmente, as
biografias dos candidatos resumidas em cerca de 25 linhas e ladeadas pelas suas
fotos (ilustração 3.47).
No decorrer da campanha estas seções foram ampliadas, sendo
inseridas novas páginas com detalhamento das biografias formando um menu
secundário com links como “O Jovem Serra”, sobre o passado de estudante e
militante do candidato, e “Rita Mulher e mãe”, sobre a vida familiar da candidata.
Ilustração 3.47– biografia de José Serra
Cabe aqui destacar o equilíbrio no tratamento de ambas as biografias,
valorizando as várias faces e ações dos candidatos em sua vida política e pessoal,
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208
César Steffen
o que mostra um equilíbrio na apresentação e visibilidade de ambos não
observado em outros websites.
Da mesma forma as diferenças nas construções, pois Serra recebe foco
em sua história política desde os tempos de militância no movimento estudantil,
enquanto Rita é apresentada em sua vida pessoal e familiar, deslocada da política
e mostrando uma tematização da questão feminina na campanha.
A “Agenda” abria página indicando os compromissos públicos dos
candidatos e com possibilidade de participação dos usuários ou os compromissos
políticos, detalhando horário, local e cidade de sua realização.
Notamos que, no caso de eventos onde apenas um dos candidatos se
faria presente, esta página exibia sempre os compromissos de José Serra,
ofertando a possibilidade de acesso à agenda de Rita em link abaixo do banner
superior.
A “Campanha Virtual”, em seu título já demonstra sua intenção de
construir-se como espaço de interação para o usuário. Ao clicado este item abria 3
links secundários: “Cartões Virtuais”, que possibilitava o envio de cartões com
temas da campanha por e-mail, “Jingles”, contendo as letras e jingles em formato
MP3 para cópia e “Papéis de Parede” que o usuário podia copiar e instalar em seu
computador.
Já os cartões virtuais (ilustração 3.48) eram enviados diretamente para
o e-mail indicado, e continham temas como trabalho, agricultura e exportação
apresentados em textos resumindo as propostas de Serra ao lado de imagens
ilustrativas sempre, em que o logotipo da campanha era o elemento central e
destacado.
Ilustração 3.48 - página para envio de cartões postais
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209
A Política nos espaços digitais
Nos “jingles” havia, abaixo do convite “cante com a gente”, a letra do
jingle oficial da campanha e uma lista de arquivos MP3 para download mostrando
a mesma letra em vários estilos musicais, como country, forró, gaudério, etc.
Já o link “papéis de parede” ofertava três modelos de imagem, cada
um com duas definições diferentes, para o usuário decorar seu computador. Notase nesta seção uma estratégia de integração do usuário a campanha, buscando
torna-lo um difusor das propostas e projetos do candidato.
A seção “Material de Campanha” também se apresentava com esta
característica, inserindo arquivos dos materiais gráficos da campanha – santinhos,
adesivos, etc. – para download tanto em formato PSD - Adobe Photoshop – como
CDR – Corel Draw - ambos com possibilidade de edição pelo usuário, em que
notamos uma estratégia de facilitar e aproximar a integração do usuário a
campanha.
“Fale com o Serra”, título que deixa bem claro sua intenção e função
na estrutura geral do website, conduzia a um formulário de contato onde o usuário
podia enviar uma mensagem de apoio, sugestões para o plano de governo, pedidos
de material, fazer uma crítica, entre outros.
Era necessário estar cadastrado no website para utilizar este recurso,
onde se nota não só uma tentativa de conduzir ou mesmo limitar os movimentos
do usuário, gerando assuntos ou categorias de mensagens, mas também uma
estratégia de identificar a origem dos contatos, de onde seria possível extrair
dados e informações para as estratégias gerais de campanha.
A seção “Sala de Imprensa” continha materiais relativos à campanha
voltados para o campo midiático, mostrando uma estratégia ou espaço de contato
e interação específico dentro do website. Organizada em “Matérias”, página com
relatos e releases das atividades dos candidatos, “Banco de Imagens”, contendo
fotos dos atos da campanha, e “Áudios”, composta de depoimentos, discursos e
falas de Serra e Rita.
Não era necessário cadastro para acessar esta área, mostrando
claramente uma estratégia de assessoria à imprensa através do fornecimento de
elementos para suprir as necessidades dos veículos, possibilitando inclusive a
busca de materiais em campo específico localizado à direita do conteúdo.
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210
César Steffen
Interessante ressaltar que somente as fotografias eram creditadas,
sendo os demais materiais citados apenas em sua hora e local de realização. Ou
seja, os fotógrafos eram citados em seu trabalho, mas o demais elementos apenas
localizados no tempo-espaço da campanha, sem citar sua origem, fonte ou
profissional que gerou.
A “Galeria de fotos” era composta de imagens da campanha do
candidato, da Vice e de apoiadores, como a esposa de José Serra, Mônica, em
ações sociais. Em tamanho pequeno, estas fotos ao clicadas abriam as mesmas em
tamanho e definição próprias para uso pela mídia, e eram sempre acompanhadas
de informações sobre o local ou ato da campanha em que foram produzidas, mas
estranhamente deixam de ser creditadas.
O link “Artigos” conduzia a uma página com uma listagem de várias
matérias e textos de e sobre a campanha, abrangendo desde palestras e discursos
de Serra até matérias publicadas em jornais sobre temas da campanha, como
saúde e emprego. Notamos a predominância de artigos produzidos pelo candidato
e publicados tanto na mídia – jornais, como Folha de São Paulo ou revistas, como
Veja – como em veículos segmentados, como a revista do PSDB.
Esta seção apresenta-se, mesmo que estruturalmente afastada, como
um elemento de aprofundamento da biografia do candidato, além de demonstrar e
ressaltar a competência e a capacidade do mesmo por sua inserção e conquista de
espaço em renomados veículos de comunicação.
Ilustração 3.49 - página do “projeto segunda-feira”
O “Projeto Segunda-feira” (ilustração 3.49) conduzia a uma seção
voltada à principal proposta do candidato no primeiro turno. Estruturada como um
folder com várias telas em seqüência, evocando uma linguagem e formato
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211
A Política nos espaços digitais
publicitários, apresentava a proposta de geração de oito milhões de empregos e
sua forma e ações de implementação.
Na barra da direita desta seção surgia um menu secundário intitulado
“Tudo sobre o projeto” com os principais tópicos, como “Exportar mais e
importar menos” e “Mais de 600 mil empregos na construção civil”.
Observamos nesta seção um foco na publicidade da campanha na
medida em que, usando de uma linguagem simples e bastante clara, transforma
um item do Programa de Governo e a principal proposta do candidato num
roteiro, num mapa de ações e estratégias tornando-a facilmente compreensível
para todos receptores. Esta percepção é ressaltada de esta seção surgir no dia
seguinte ao início do HPEG, quando Serra muda a programação visual do website
em função do mote da campanha.
Poder-se-ia questionar o fato deste link ocupar a sétima posição na
hierarquia do menu, mas a presença do conteúdo em todo o website através de
vários outros elementos, conferia-lhe alta visibilidade e relevãncia, possibilitando
a inserção após as biografias e os artigos do candidato no menu.
O link “Você sabia”, que convidava o usuário à interação, mas
estranhamente não inseria o ponto de interrogação na pergunta, o que nos leva a
supor tratar-se mais de um desafio à memória do usuário do que propriamente
uma questão, abria uma página com perguntas e respostas sobre vários assuntos,
como “Você Sabia que 3.041 professores indígenas...”, ofertando diferentes e
variadas informações e dados para os usuários.
Estas perguntas eram atualizadas freqüentemente, sempre focando
alguma realização do governo de FHC, como a modernização dos portos ou a
construção de uma ponte, porém sem nunca cita-lo diretamente.
Abaixo de cada elemento - pergunta/resposta - havia um link “Enviar
para um amigo”, que possibilitava ao usuário remeter a nota à sua rede de
contatos, mostrando mais um elemento de transformação do usuário num
propagador da campanha.
O link “Pelotão 45” (ilustração 3.50), ilustrado por um distintivo em
azul e amarelo ao lado do título “Quer ajudar na campanha?”, conduzia para uma
página para cadastro no pelotão.
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212
César Steffen
O “Pelotão” agia sobre o eleitor através do envio, via e-mail, de
missões diárias vinculadas à campanha, como “convencer três eleitores a votar em
Serra”, “falar com cinco eleitores sobre as propostas de geração de emprego de
Serra”, etc.
Ilustração 3.50 - tela de cadastro no “Pelotão45”
Recurso e estratégia única em toda a campanha, o “Pelotão 45”
chegou a enviar duas missões por dia2, sendo mais um recurso de mobilização do
usuário para as propostas, projetos, estratégias e ações do candidato.
A “Rádio 45” comentava diariamente o programa de rádio de Serra e
as falas não só do candidato mas também, se não principalmente, as participações
especiais de atores, cantores e apoiadores da campanha oriundos do campo
midiático. Abaixo destas notas havia links para acesso a arquivos MP3 e Windows
Media Player, permitindo ouvir o programa na Internet.
O menu permanece com esta estrutura até o dia doze de setembro,
terceira semana da campanha no HPEG, quando na primeira posição do menu
surge o link “O Brasil se une a Serra”. Outros links, “TV Serra” e “Dito e feito”
são adicionados, e o link “Projeto segunda-feira” é alterado para a segunda
posição. Também foram acrescentados também links diretos para as páginas
internas da seção “Campanha Virtual”, que foi deslocado para antes do link “Fale
com Serra”.
Observamos neste movimento que Serra busca dar destaque, no
website, a vários outros campos e elementos, somando-os a suas propostas e
discursos como forma de construção de sua imagem, o que pode ser notado nos
conteúdos disponibilizados nestas nova seções.
“O Brasil se une a Serra” (ilustração 3.51) conduzia a uma página com
título “quem está com Serra”, apresentando os apoios e vínculos do candidato
2
Cabe observar que nos cadastramos no pelotão para compreender a função e valor do mesmo para a campanha de Serra.
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213
A Política nos espaços digitais
com outros campos. Composta de uma listagem com fotos de personalidades que,
ao clicadas, abriam uma janela tipo pop-up com as razões de seu apoio a Serra e
as opiniões dos mesmos frente a campanha.
Esta página configurava-se como uma galeria atores de vários campos,
como as atrizes Irene Ravache e Beatriz Segall, a dupla sertaneja Chitãozinho e
Xororó, o senador Pedro Simon e o empresário Antonio Ermírio de Moraes, que
em vídeo apresentam seu apoio a Serra.
Ilustração 3.51 - “O Brasil se une a Serra”
Notamos nesta página uma preponderância de atores do campo
midiático, não somente em termos quantitativos mas também qualitativos, no
sentido de que ocupavam posições privilegiadas na estrutura, possibilitando a
rápida visualização e leitura direta dos mesmos.
Vemos aí uma estratégia de apela a autoridade e transferência de sua
credibilidade para o candidato, mostrando que os atores midiáticos têm mais força
e credibilidade de que os atores políticos na campanha, posição reforçada pela
própria posição e relevância que a seção recebe no menu de navegação.
“Dito e Feito” arrolava as realizações de Serra como Ministro da
Saúde, que ocupavam as primeiras posições na lista. Da mesma maneira procedeu
em relação aos demais cargos político-administrativos que ocupou, mostrando
assim o compromisso do candidato com a palavra que empenhava e tornando-se,
assim, elemento de propagação da campanha e da construção da biografia do
candidato. Assim como a seção “Você Sabia”, esta permitia o envio da nota para
e-mails inseridos pelo usuário, construindo um novo espaço de interação para o
usuário.
“TV Serra” continha vídeos da campanha, clipes com artistas,
entrevistas realizadas e depoimentos do candidato sobre vários assuntos, para
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214
César Steffen
conexões “56k” e “Alta Velocidade”. Esta seção aparentava ter conteúdos inéditos
e específicos, mas muitos elementos eram partes retiradas do HPEG.
A estrutura do menu segue assim até o dia vinte e seis de setembro,
quando surgem dois novos links. “Veja como Serra fará o que promete”
convidava o usuário a acessar uma página com uma lista de links, como “Veja
como Serra vai melhorar o transporte urbano nas grandes cidades”, que
conduziam a texto com as propostas de Serra para o tema.
Composta de cinqüenta links sobre os mais variados temas, da saúde à
educação, passando por política econômica, onde chama a atenção construção
afirmativa dos textos através do uso de palavras como “Serra fará”, “Serra vai
melhorar” e “Serra vai dar apoio”, ressaltando a ação e o compromisso do
candidato com as várias questões em pauta na campanha.
Bastante semelhante à seção anterior, organizada em uma lista por
tópicos, “10 Razões para votar em Serra” apresentava motivos para diferentes
classes, movimentos e campos votarem ou buscarem votos para Serra, enfocando
seus projetos, não pelo conteúdo ou área mas sim pelos campos a que se destinam.
Para termo uma exemplo, destacamos dois títulos: “10 razões para o exportador
votar em Serra” e “10 razões para o agricultor votar em Serra”, que demonstram
um acoplamento simbólico na construção e estruturação do website e das
visibilidades dos projetos do candidato.
O foco do website na proposta de empregos era reforçada pela
importância deste conteúdo nos vários elementos da página inicial, que estarão
descritos e detalhados em capítulo na seqüência desta trabalho.
3.1.7 – Cruzamento entre estratégias políticas e a linguagem dos websites
Neste capítulo apresentamos algumas comparações gerais sobre os
conteúdos e recursos disponibilizados nos websites de cada candidato, conforme
nossos objetivos com o primeiro conjunto de análise.
Primeiramente é interessante observar a diversidade de conteúdos
presentes nestes espaços, que demonstram a ampliação dos discursos dos
candidatos. Da biografia aos Programas de Governo completos, passando por
elementos de interação com o campo midiático e apoiadores, os websites
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215
A Política nos espaços digitais
contemplaram uma ampla gama de elementos, aliados e integrados às estratégias
gerais de campanha.
Lula, que no HPEG mostrava as habilidades e competências dos
diferentes integrantes de sua – provável – equipe, no website abre espaço para sua
família e atores de diversos campos sociais, que analisam e investem sobre a
conjuntura nacional suportando as propostas e projetos do candidato para o cargo
em disputa.
Serra também busca atores de vários outros campos sociais,
principalmente o midiático, que através de depoimentos buscam validar e dar
suporte a sua candidatura. Ciro Gomes, ao contrário, busca validar a campanha
por si, ou seja, por sua biografia, atos e propostas numa forte e constante autoreferência.
Garotinho, por sua vez, mostra construir sua campanha a partir de seus
discursos e propostas ao lado do PSB, mostrando uma simetria, mas não mescla,
entre partido e candidato que também pudemos notar nas campanhas de Zé Maria
e Rui Costa Pimenta, ambas fortemente ideologizadas.
Entretanto, Garotinho apresenta mais suas propostas e projetos, ou
seja, mostra elementos vinculados a sua posição de candidato, enquanto Zé Maria
e Rui Costa mostram-se mais vinculados as bandeiras, propostas e projetos de
seus partidos.
Serra utiliza várias linguagens – textos, fotos, animações, etc. – para
mostrar uma propostas, apresentando até mesmo certa redundância entre estes
elementos, enquanto os demais investem mais na apresentação textual, onde
observamos uma forte marca coloquial nas construções.
Lula não fala no website, ou seja, é apresentado em textos gerados
pela sua assessoria. Fortemente marcados pelos uso de coletivos em sua
construção, estes textos assemelhavam-se estruturalmente a Zé Maria, cujos
títulos ao mesmo tempo em que mostram uma forte marca coletiva em sua
construção – “Queremos cotas...”, etc. – também apresentam uma forte marca
ideológica e partidária. Rui Costa também mostra-se desta maneira, onde “Um
programa dos trabalhadores...” talvez seja o melhor exemplo da construção
apresentada.
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216
César Steffen
Serra, Ciro e Garotinho já apresentavam textos mais marcados pelo
uso da primeira pessoa, ou seja, mais vinculados ao candidato. O Programa de
Governo de Garotinho mostrava-se bastante propositivo e direto, usando de
expressões como “Vou fazer ...”, “Vou criar ...”, enquanto os demais programas
de governo, ao contrário, apresentavam as propostas de forma geral, aberta, mas
sempre vinculados a conjuntura e ao cenário social Brasileiro.
No tocante as formatações dos websites vemos que o PCO de Rui
Costa mostra uma falta de domínio do meio, que se manifestava pela falta de
continuidade na navegação pelas seções e nas diferentes formatações adotadas, o
que gerava desconforto e mesmo desorientação durante o processo de navegação e
contato.
Os demais websites, ao contrário, mostravam uma continuidade e
lógica na construção das diferentes páginas e seções, aproximando-se muito dos
formatos presentes em portais e websites comerciais.
O website de Serra utilizou mais amplamente das várias linguagens
suportadas pelo meio Internet. Áudio, vídeo, texto, imagens e animações foram
manipulados nas várias e diferentes seções, relacionando-se entre si não só através
do menu, mas também através de recursos de hipertexto, mostrando um
aproveitamento estratégico da tecnologia do meio na construção dos textos e
elementos do website.
Os demais candidatos não aproveitaram deste recurso, aparentemente
confiando mais na construção dos menus como forma de convite a interação.
Entretanto, cabe ressaltar a redundância observada entre algumas seções do
website de Lula, repetindo conteúdos e elementos entre as diversas páginas do
website.
Dos websites de Lula e Serra também cabe destacar a forte
intermidiatização observada, onde conteúdos e elementos das várias mídias eram
inseridas, apresentando ou reforçando diversos conteúdos e discursos dos
candidatos.
Ciro e Garotinho também usavam de materiais de outras mídias,
porém sem o mesmo destaque e espaço, e Zé Maria e Rui Costa pouco utilizaram,
mas quando apresentavam era sempre vinculado a suas propostas, bandeiras e
ideologias.
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217
A Política nos espaços digitais
Devemos destacar a forte vinculação entre a imagem de Lula e do PT
no website, uma marca que se mostra também com Rui Costa Pimenta e Zé Maria,
ao contrário dos demais candidatos. Garotinho dá espaço para o partido, mas a
formatação dos menus e a própria construção das propostas mostra, ao mesmo
tempo, uma simetria e uma separação ou desvinculação de ambos, enquanto que
Serra e Ciro dão pouco ou nenhum destaque aos partidos.
Zé Maria, por sua vez, mostra uma ênfase no partido, mesclando suas
falas às da vice Dayse, que recebe espaço para falar e apresentar propostas no
website principalmente no tocante a questões étnicas. O vice de Rui Costa
Pimenta ganhou espaço nas imagens e no website, mas o espaço de sua biografia e
suas ações mostra-o como elemento secundário da campanha.
Rita Camata, vide de Serra, é destacada em imagens ao lado do
candidato, mas recebe pouco ou nenhum destaque nos conteúdos além de sua
biografia e agenda de compromissos, aparentando ser uma alegoria da campanha.
Já o vice de Lula recebeu apenas uma página de biografia, e seus atos, propostas e
discursos foram pouco apresentados no website, enquanto que Garotinho sequer
cita o seu vice no website.
Vemos então que os websites suportam os mais diferentes e
diferenciados recursos técnicos e linguagens para suporte de discursos. Textos,
imagens estáticas, animações, áudio, vídeo e jogos interativos foram inseridos
como elementos de apresentação das biografias, propostas, projetos e ações dos
candidatos, cruzando as estratégias de visibilidade e construção discursiva destes
candidatos com a linguagem e suporte do meio.
Mas este processo era engendrado pela cenário da campanha eleitoral,
que se manifestava nas páginas iniciais dos websites. Sobre isto nos debruçaremos
nos capítulos a seguir, quando apresentaremos as análises do segundo conjunto,
onde buscamos compreender os elementos e processos que pautam e influem na
inserção e formatação dos conteúdos na páginas inicial dos websites.
3.2.Agendamentos e cruzamentos
Nos capítulos que seguem apresentamos a leitura e análise do segundo
conjunto, formado pelas páginas iniciais dos websites nas datas sorteadas.
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218
César Steffen
3.2.1. Lula 13: Marcas da publicidade e do discurso jornalístico
A página inicial do website de Lula evolui gradativamente.
Inicialmente uma reprodução ou adaptação das peças publicitárias da campanha,
focadas na imagem do candidato e nos demais elementos visuais, a página ganha
recursos aproximando-se de um formato mais jornalístico, informativo.
As ações e atos do candidato, seus apoiadores e parceiros, são
apresentados quase simultaneamente a sua execução, mostrando agilidade e
velocidade semelhantes a dos players de jornalismo no meio.
De políticos como Itamar Franco, ex-adversários como Delfim Neto a
intelectuais como Antonio Candido e familiares, como sua esposa Marisa Letícia,
nota-se atores oriundos de vários campos. Estes demonstram, através de
entrevistas onde comentam e debatem as questões nacionais, seu apoio a Lula,
porém eram sempre apresentados em banners secundários do website.
Inicialmente, na fase de pré-observação, a página inicial do website
constituia-se de um banner principal e quatro secundários. O banner principal
ocupava a maior parte da tela reproduzindo um outdoor de campanha com a foto
do candidato fundeada por uma imagem da bandeira estilizada ao lado de frase
“Quero um Brasil decente” (ilustração 3.52).
Nota-se que o website usa de uma linguagem e formatação
publicitárias para tematizar a campanha e expor suas propostas e projetos.
Devemos destacar a construção da frase, “Quero um Brasil decente”, que mostra
que o país precisa de rumo, de ação e, claro, de Lula para tornar-se um lugar
digno, “decente”.
Nas datas sorteadas a imagem é substituída freqüentemente por outras,
sempre num sentido leve e quase lúdico: um menino abraça a estrela do PT como
se abraçasse seu urso de pelúcia ao lado do texto “Agora é Lula” (ver ilustração
3.56). Um adolescente negro - menos observado nas datas sorteadas - sorri e
abraça a estrela como um escudo de proteção, e ao seu lado lê-se “Brasil sem
racismo”.
Interessante observar que a frase “Agora é Lula” foi usada pelo
partido no segundo turno da eleição de 1989 como forma de convocar o voto das
esquerdas em Lula. Neste momento, entretanto, ela foi inserida num contexto
lúdico, onde ao lado de uma criança que parece sonhar com o PT no governo.
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A Política nos espaços digitais
Nota-se que o banner apela ao lúdico e recorda de um mote antigo para reforçar o
momento da campanha e a oportunidade de colocar Lula como governante do
Brasil.
O último modelo de banner observado apresentava um agricultor
usando um chapéu. Seu rosto estava bem iluminado pelo sol, e ele mostrava sua
produção quase fora de quadro ao lado da frase “Vida digna no campo”, imagem
que tematiza a campanha e apresenta as propostas e objetivos do candidato de
forma bastante clara e direta.
Ilustração 3.52 - página inicial em 10 de agosto de 2002
Quando faltavam dez dias para o início do HPEG (ilustração 3.52) o
banner principal foi reduzido para inserir, ao lado, um outro menor, porém não
secundário, com chamada para a entrevista da esposa do candidato, Marisa Letícia
Lula da Silva, tematizando o website e a imagem de Lula a sua família.
Efetuada por Cláudio Cerri, citado como “o repórter da campanha
Lula presidente”, Marisa fala de sua vida com o candidato, de sua atuação ao lado
do político e como encara a vida pública.
Bastante pessoal e intimista, ilustrada por foto da primeira bandeira do
PT - que ela mesma costurou - o conteúdo abriu espaço para a vida de Marisa
desde a infância, passando pelo primeiro casamento, pelo namoro com o
candidato, o surgimento do PT e os filhos do casal, misturada com fatos e
processos políticos como a prisão de Lula em 1980 e a relação com Fernando
Henrique Cardoso.
Nota-se uma estratégia específica de valorizar a vida privada do
candidato e sua relação com a família, mostrando o impacto de sua história
política e suas ações naqueles que o acompanhavam, também passando uma idéia
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220
César Steffen
de simplicidade e união do casal, que enfrenta a política e a repressão de mãos
dadas.
Entretanto, é interessante observar que Marisa acaba situada na
posição de sustentáculo da família, e que em nenhum momento é feita referência à
campanha de 1989, quando Lula foi acusado por Collor de ter tentado obrigar uma
amante a encerrar uma gravidez com um aborto, fato que gerou grande polêmica
naquela campanha, ou mesmo aos pleitos de 1984 e 1988 quando o candidato foi
derrotado nas urnas.
Posteriormente esta entrevista é deslocada para os banners
secundários e é substituída por outras personalidades como Antonio Candido,
critico literário e intelectual, o ex-Presidente Itamar Franco, José Luiz Fiori,
professor de economia política da UFRJ, a filósofa Olgária Matos, a exapresentadora Soninha, dentre vários outros.
Estas entrevistas contemplavam uma variedade de atores dos mais
diversos campos. De intelectuais a políticos passando por atores da mídia, que
através de entrevistas e opiniões ancoram, suportam, destacam e dão legitimidade
à candidatura Lula, se não declarando seu voto mas no mínimo discutindo
assuntos referentes à campanha e ao cenário nacional. Para exemplificar e
aprofundar o que afirmamos destacamos as entrevistas de Fábio Wanderley Reis,
Soninha e Itamar Franco.
Analista político e professor emérito da Universidade Federal de
Minas Gerais, em entrevista à revista Época3 Fábio Wanderley Reis cita que Lula
não é um candidato consistente e duvida de sua capacidade de governar o país,
mas no website a entrevista é intitulada “Lula pode representar uma liderança
inspiradora”.
Sem negar suas criticas ao PT e ao candidato, Fábio é citado como
critico veemente de FHC e relevado em seus artigos e produções intelectuais. A
entrevista versa sobre várias questões em pauta no pleito como a força do
mercado e a dependência externa do país, bem como o modelo econômico
adotado nos oito anos da gestão que se encerrava.
3
Revista Época nº 226, 19 de setembro de 2002, p.21. Cabe dizer que, em contato com o prof. Fábio através de e-mail, este
manifestou discordância com a forma com que a entrevista foi apresentada pela revista Época, afirmando ter remetido carta
à redação manifestando tal posição.
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A Política nos espaços digitais
Mostra-se uma estratégia específica não somente na condução do
assunto mas também – se não principalmente – na escolha do entrevistado, que é
sutilmente cobrado em suas críticas ao PT e até mesmo forçado a direcionar seu
foco a outros lados e atores envolvidos na campanha, demonstrando a força da
pauta estabelecida pela assessoria.
Ex-apresentadora da MTV e apresentadora demitida da TV Cultura
por ter declarado abertamente que havia consumido drogas, Soninha falava sobre
a situação sócio-política-econômica atual e como isto se reflete no comportamento
dos jovens, público-alvo dos programas que apresentava na MTV e na TV
Cultura.
Mãe de três filhos, um pré-adolescente, Soninha fala que considera “o
apelo ao consumo a principal droga que vicia a juventude”, elemento que intitula
a entrevista, onde também é comentada uma certa letargia na juventude e um
cenário social que se agrava a cada dia, fonte e possível causa da vinculação e
aliciamento dos jovens para as drogas e o consumo.
Já Itamar Franco, político, ex-Presidente e ex-adversário político, diz
que estará com Lula no comício final da campanha. Citado como “aliado de
primeira hora de Lula”, Itamar centra fogo no seu ex-Ministro e então Presidente
FHC.
Discutindo e demonstrando os problemas e efeitos das decisões da
gestão FHC sobre o Estado que governava, Minas Gerais, ressaltando que Lula
devia buscar colocar o país no rumo do crescimento econômico, pauta presente e
constante na campanha.
Estranhamente estas entrevistas não são incluídas ou recebem
destaque na seção de notícias, ficando misturadas a outros conteúdos da seção
“Repórter de Campanha”. Por outro lado ganham força ao serem apresentadas nos
banners secundários da página inicial e tratadas como notícias e elementos gerais.
Nota-se que um ator do campo acadêmico, um ator do campo
midiático e um ator do campo político somam-se, discutindo questões e elementos
da campanha, ancorando e dando sustentação ao candidato e suas propostas.
Somando a estas a entrevista de Marisa Letícia vemos que o website
mescla vários campos e angula vários temas nestas entrevistas, buscando construir
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a imagem e visibilidade do candidato apoiando-se ou aliando-se a vários campos
sociais.
Observamos também nas entrevistas críticas diretas e mesmo frontais
à administração da época, que não se faziam tão presentes no website em geral.
Isto nos permite concluir que Lula prefere criticar FHC através das entrevistas de
apoiadores, ou seja, os atores oriundos de diversos campos, que expõem seu apoio
ao candidato comentando o cenário da campanha e a realidade Brasileira.
Desta forma o website de Lula provoca o debate sobre estes temas e
fatores, mas não envolve o candidato diretamente, mantendo-o alheio a polêmicas
ou ataques diretos como forma de reforçar e construir sua imagem mais “light” ou
menos radical.
Ilustração 3.53 - página inicial às 12:30 horas de 20/08/2002
No dia do início do HPEG o banner principal passa a inserir imagens
convidando os usuários a dar sua opinião sobre o programa, como divulgado em
vinheta no final do programa na TV. Nesta banner Lula é apresentado numa tela
de um aparelho de televisão, tendo ao fundo a estilização da bandeira Brasileira
usada na campanha (ilustração 3.53).
A imagem mostra, em si, uma intermidiatização, pois o candidato
convida, da televisão, o usuário a manifestar sua opinião no website, reforçando
assim o convite efetuado no HPEG. Da mesma forma vemos que Lula não fala
diretamente através do website, mas é sempre apresentado em algum elemento
externo a este.
A pesquisa solicitava a opinião dos usuários quanto ao conteúdo,
formato e propostas apresentadas no programa, sendo inseridas durante o horário
de veiculação do programa e ficando disponíveis por cerca de duas horas após o
término do mesmo.
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A Política nos espaços digitais
Configuradas como um questionário fechado, estas pesquisas mostram
uma sinergia entre o HPEG e o website, que neste momento da campanha passam
a remeter-se e apoiar-se um no outro maximizando as possibilidades de efeitos e
validando – ou não – as estratégias utilizadas em cada meio.
Além dos horários de inserção acompanharem o programa na TV, esta
pesquisa fornecia dados, informações e opiniões sobre o mesmo, permitindo até
mesmo alterações ou correções de rumos4.
Claro, pode-se suspeitar do uso desta enquete como instrumento para
atrair usuários para o website e gerar tráfego para as demais seções do mesmo,
impressão reforçada pelo fato de estas pesquisas deixarem de ser apresentadas
cerca de duas semanas após o início do HPEG, mas sua inserção inaugura uma
nova instância de relação entre o campo político e os receptores do HPEG.
Ilustração 3.54 - página inicial em 12/09/2002
No dia 12 de setembro, quando as enquetes não mais eram inseridas o
banner principal apresenta chamada para entrevista on-line do presidente do PT
José Dirceu (ilustração 3.54). Esta entrevista foi concedida com áudio e vídeo em
tempo real, transmitida em uma área do website fechada a imprensa, mostrando o
website como suporte a uma prática de interações entre campos.
Mediados por André Singer jornalistas de 150 veículos que não
tinham condições de acompanhar a campanha, atuantes em 62 cidades com mais
de 200 mil eleitores, puderam interagir, enviar perguntas e debater com o então
presidente do PT e principal articulador da campanha.
Mostra-se uma estratégia de uso do website como instrumento de
aproximação, interação e busca de visibilidade midiática, facilitando o contato dos
4
Ressaltamos que solicitamos, tanto através do website como diretamente a assessoria de imprensa do PT, dados sobre
estas enquetes, não obtendo resposta.
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atores do campo midiático com a campanha e, assim, abrindo espaços na diversas
mídias em locais com relevância estratégica para a candidatura.
Devemos ressaltar a construção visual do banner desta entrevista
(ilustração 3.54), pois nele José Dirceu parece sair da tela, projetar-se além da
televisão e do próprio website, diferentemente da apresentação do candidato Lula
no banner da pesquisa.
Por uma lado podemos inferir uma leitura de projeção do presidente
do partido sobre o website e sobre as mídias envolvidas na campanha. Por outro,
esta imagem reforça a busca de espaço na mídia através de tal entrevista, na
medida em que o político “sai”da tela para se colocar em outros espaços.
Na fase mais próxima ao dia da votação no primeiro turno Lula volta a
aparecer no banner principal segurando a estrela do PT, fundeado pela imagem da
bandeira estilizada e ladeado por uma animação da urna eletrônica onde os
números 1 e 3 são acionados, respectivamente, formando o 13 do candidato, que
também aparece dentro da estrela vermelha no canto inferior direito da imagem
animada.
Dois dias antes do início do HPEG observamos que na área então
ocupada pela chamada para a entrevista de Marisa Letícia surge a barra de
“Últimas Notícias”. Apresentando os fragmentos de campanha, os fatos e notícias
mais recentes da campanha.
Nesta área a assessoria do candidato mostra sua força, apresentando a
campanha através da cobertura de fatos e ações do candidato de forma bastante
semelhante as estratégias de edição e acompanhamento dos players de mídia no
meio e mesmo a outros meios como o rádio.
A seção de notícias acompanhava estas atualizações, sempre inserindo
e editando fragmentos e atos de campanha configurando-se como um espaço de
difusão semelhante as ações do campo midiático, porém, obviamente, editadas
pela assessoria do candidato e suas estratégias.
Pelos créditos das fotos e textos destes fragmentos - quando citados notamos que o website privilegiou materiais gerados pela assessoria de campanha
do candidato, mas também havia uma forte presença de conteúdo de outros meios
e veículos de comunicação, sempre editados pela mesma assessoria.
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225
A Política nos espaços digitais
Foi ofertada também uma área denominada “Imprensa”, que
acompanhava e informava sobre as inserções e espaços dedicados aos vários
candidatos e partidos nas diferentes mídias através de gráficos e análises, o que
demonstra não só uma intermidiatização mas também o uso do espaço como
forma de monitoramento e tensionamento da mídia na questão eleitoral.
Abaixo da barra dos fragmentos havia um link denominado “Diálogo
com a imprensa”, em que eram inseridas notas, informações e análise sobres as
ações do campo midiático nas eleições focando-se principalmente no espaço e
cobertura dedicados à candidatura Lula, criando dentro do website um novo
gênero de relação e acompanhamento e mesmo propagação do discurso
jornalístico, repetindo ou aprofundando o anterior.
Através de gráficos e relatórios bastante específicos esta seção
apresentava a cobertura da mídia, apontando falhas e denunciando desequilíbrios
na cobertura, tendo por base o tratamento dado a Lula e aos demais candidatos
nos diversos veículos. Estranhamente estes relatórios nunca estavam creditados,
ou seja, não apresentavam seus produtores, o que facilita a identificação dos
mesmos com a campanha e o candidato, mostrando-se como uma área de controle
e conflito com o campo midiático através do website.
Nota-se a valorização da campanha e dos atos do candidato, que
ocupam espaço privilegiado e ganham destaque pela velocidade da cobertura,
além do estabelecimento de novas instâncias de conflito com o campo midiático,
na medida em que as estratégias de atualização e inserção de notícias são muito
semelhantes às estratégias de players de mídia do meio.
Devemos lembrar que estas atualizações e inserções eram efetuadas
pela assessoria do candidato, pelos repórteres e assessores de campanha,
tornando-se um espaço jornalístico próprio que expande as estratégias discursivas
do candidato e tangencia as estratégias, limitações e mesmo agendas da mídia
frente à cobertura e ao candidato.
Já abaixo da imagem principal e da barra de notícias estavam
inseridos os banners secundários, destacando e gerando link direto para as páginas
internas como “urna eletrônica”. Esta conduzia a uma página com instruções
sobre como votar, “Carta ao povo Brasileiro”, primeiro texto da seção com o
Programa de Governo, “Conheça a vida de Lula em detalhes”, que remetia o
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226
César Steffen
usuário à página sobre "A vida de Lula” e “Últimas Notícias”, que leva para a
página de ”Notícias“.
No início do HPEG estes banners passam a ser utilizados para
divulgar as entrevistas com pessoas de várias áreas. Primeiramente a entrevista de
Marisa Letícia ocupa tal espaço, sendo posteriormente substituída pela entrevista
com personalidades.
Mas estas não permanecem fixas, sendo alteradas freqüentemente e
substituídas por outros conteúdos, onde o telefone “0800” da campanha era
presença constante, remetendo a um elemento externo de campanha.
Abaixo destes eram imagens de produtos como CD´s, bonés e
acessórios à venda na lojinha do PT, que se configuram como banners apesar de
visualmente estarem configurados de forma diferenciada dos demais além de
serem fixos em sua inserção e posição hierárquica.
Ilustração 3.55 - página inicial em 26/09/2002
A constante presença do candidato e as imagens publicitárias da
campanha reforçam a idéia de foco na divulgação da campanha, mas as chamadas
para a enquete e para a entrevista de José Dirceu mostram uma estratégia de
integração através do website, pois vários campos são convocados a se fazer
presentes, interagir e opinar neste espaço.
Claro que, como já observamos, não se trata de um processo aberto,
mas que passou pela seleção e pelo foco estratégico da campanha em geral, mas
apresenta sinais de novas estratégias e efeitos de relação entre campos que o meio
pode proporcionar.
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227
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.56 - página inicial com banner pop-up (23 de agosto de 2002)
No tocante aos pop-up´s o website de Lula utiliza apenas em algumas
datas, sem um freqüência fixa ou definida, mas com três estratégias bem
definidas: remetendo à “lojinha do PT” (ilustração 3.56) , à “doações de
campanha”, sendo ilustrado pela imagem do galão de combustível, ou à pesquisa
sobre o HPEG, utilizando a mesma imagem que ocupava a área principal, porém
reduzida.
No dia da votação o website mantém suas características. O banner
principal segue com a imagem do candidato junto a animação da urna eletrônica.
A barra de últimas notícias acompanha o candidato, o Vice e suas declarações,
mas Lula e as pesquisas recebem mais atenção.
Os banners inferiores foco total no pleito, remetendo desde aos
candidatos nos Estados, ao Programa de Governo do PT, às entrevistas realizadas
– onde notamos que Fábio Wanderley Reis não é citado – e à última entrevista
inserida, realizada com a escritora Lygia Fagundes Telles.
Mulher reconhecida no campo literário e acadêmico, sua foto ladeava
o título “Por que Lula?”, (ilustração 3.57). Esta pergunta traz, em si, uma espécie
de chamamento, de convocação ao usuário que, somada à animação da urna
eletrônica, apresenta uma estratégia de sedução e conquista dos votos de eleitores
indecisos.
Não podemos deixar de inferir a presença de uma mulher neste
momento, que parece contrapor e equilibrar a presença de Rita Camata na chapa
do adversário José Serra, e da própria inserção da pergunta “Por que Lula?”
abaixo da imagem do candidato e da urna eletrônica, que busca esclarecer as
últimas dúvidas dos eleitores antes de efetivar o voto no candidato.
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228
César Steffen
Ilustração 3.57 - página inicial em 06/10/2002
No espaço abaixo destes banners a lojinha do PT permanece, mas
surgem links para instruções sobre a fiscalização e convite para acompanhar os
resultados das eleições através do website.
Encerrada a votação, em horário condizente com as regras impostas
pela lei eleitoral e muito próximo à cobertura das diversas mídias, é inserida a
imagem de uma mulher vestida de branco – mesma cor usada pelo candidato e sua
esposa para votar – segurando a estrela do partido (ilustração 3.58).
Ao lado, abaixo de uma pequena imagem da urna eletrônica, foram
inseridos os resultados da apuração minuto a minuto, informando os candidatos,
número absoluto de votos e percentual de votos válidos obtidos pelos mesmos.
Ilustração 3.58 - página inicial as 18 horas do dia da votação
Os banners inferiores chamam para os resultados das pesquisas de
boca-de-urna e as apurações nos estados. Ao lado o item “Rádio 13” transmitia
boletins diretos do TSE e da imagem do Programa de Governo. Abaixo segue a
divulgação da loja e banner sobre a fiscalização, mas convite para
acompanhamento da contagem vira link para a seção “eleitor de carteirinha”.
Nota-se uma forte influência do campo jurídico sobre as operações do
website, que se conforma aos horários e prazos estipulados pelas regras e
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A Política nos espaços digitais
Resoluções do TSE, e uma influência da campo midiático, que é mimetizado
através de uma edição jornalística com alta velocidade e agilidade.
De forma geral podemos observar que o website de Lula se constrói,
em termos de conteúdos, a partir e dentro das estratégias do candidato e seus
assessores, mas sua(s) forma(s) e processos são construídos de forma bastante
semelhante aos players de mídia do meio.
Lembramos assim de Luhmann (2000) e vemos que o website repete
um jogo e auto e heteroreferência da política com a mídia na construção das
visibilidades do candidato, na medida em que repete estratégias em outro meios e
valoriza apoios e discursos de outros campos sempre ao redor e em torno do
candidato e suas propostas.
Já o usuário contava com um espaço diferenciado da mídia para
informar-se sobre o candidato, suas propostas e ações, e tem sua participação
facilitada integrando-se através da utilização das diversas ofertas de conteúdos
inseridas.
Entretanto, a notada ausência de retornos das mensagens eletrônicas
enviadas causa desconforto na medida em que demonstra um certo afastamento
entre o candidato e o eleitor.
Finalizando, notamos no website vários gêneros, linguagens e
estratégias em cruzamento, desde a captação de recursos na “lojinha do PT” até a
apresentação e oferta para download de conteúdos específicos como o Programa
de Governo. Recordamos do acompanhamento da mídia, bem como que vários
conteúdos ganham força e destaque na página inicial, que promove saltos dos
conteúdos nos menus.
Assim o website amplia as estratégias e táticas do candidato e seus
apoiadores, suportando diversas práticas estratégicas que buscam não só construir
a imagem e visibilidade do candidato mas também, e num cruzamento entre
ambos, atender as demandas e necessidades dos usuários.
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230
César Steffen
3.2.2. – Zé Maria 16: retorno ao discurso político dos anos 70
A página inicial do hotsite de eleições do PSTU dividia-se em três
áreas principais (ilustração 3.59). Na barra superior, que ocupava cerca de trinta
porcento da área total do hotsite, dois banners ladeavam o menu de navegação.
No lado direito sobre um fundo vermelho a silhueta de um grupo de
pessoas empunhando e agitando uma bandeira, ilustrava o logotipo do PSTU ao
lado do número 16. O texto “Eleições 2002” no centro, mostrando a eleição e o
partido como um elemento de aglomeração e aglutinamento popular.
Ilustração 3.59 – página inicial do hotsite em 06/10/2002
No outro lado estava inserida a foto do candidato Zé Maria, ladeado
pelo slogan da campanha, “Não pagar a dívida externa, fora a ALCA e o FMI”
acima do nome do candidato. Ai notamos que a Vice Dayse recebe alta
visibilidade, não só pelo tamanho do texto, mas também por estar em cor branca,
que se destaca do fundo vermelho e das letras amarelas dos demais elementos.
Esta barra se mostrava como um banner publicitário, além de ser
bastante vinculado à logotipia e à identidade do partido, onde o uso do vermelho,
cor identificada com os movimentos e ideologias de esquerda, se faz
predominante.
Abaixo do logotipo do PSTU e ao lado da área de conteúdos um mapa
do Brasil contendo também a fotografia do candidato e o logotipo do PSTU. Este
mapa visualmente aparentava ser um banner, mas configurava-se como um menu
secundário que ficava presente em todas as páginas e seções do hotsite.
Devemos destacar a construção visual deste mapa (ilustrações 3.59 e
3.60), onde o Brasil e suas unidades federativas são apresentados em vermelho,
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231
A Política nos espaços digitais
como se fossem um território ou mesmo elementos aliados a ideologia e preceitos
do partido.
Ao lado da foto espelhada de Zé Maria, e também em cor vermelha, o
mapa apresentava os Estados delimitados por linhas amarelas. Utilizando
tecnologia Macromedia Flash para construir um efeito que mudava a cor do
estado com a passagem do mouse sobre a ilustração, destacando a mesma com cor
amarela e apresentando a sigla do Estado (ilustração 3.60).
Ilustração 3.60 – página do hotsite com a candidatura no Rio Grande do Sul
Ao clicar sobre o Estado destacado ocorria uma mudança na página. A
foto de Zé Maria na barra superior era substituída pela foto no candidato no
Estado (ilustrações 3.60), assim com o nome ao lado, mas os candidatos a Vice
não recebiam destaque.
Os conteúdos da página inicial também mudavam, apresentando
elementos referentes à esta candidatura, e no menu, o item “Fala Zé Maria” era
substituído por “Candidatos [Uf]”, sendo que os demais links acompanhavam esta
mudança, apresentando as biografias, agendas e programas específicos nos
Estados.
Algumas páginas, como a do candidato de Minas Gerais (ilustração
3.61) apresentavam amplo conteúdo, discursos e elementos, assemelhando-se à
página inicial de Zé Maria. Outras, como a de Júlio Flores, do Rio Grande do Sul
(ilustração 3.60), apresentavam apenas a biografia do candidato a governador e
Vice, mas é importante observar que todos os candidatos usavam, ao lado da foto,
o slogan contra a dívida externa, a ALCA e o FMI.
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232
César Steffen
Ilustração 3.61 – página do candidato em Minas Gerais
Observa-se uma variação nestes conteúdos uma decorrência direta das
campanhas dos candidatos, assessorias e mesmo mobilização nos Estados, além
de uma forte coesão e mesmo sinergia entre a campanha em nível nacional e as
campanhas nos Estados, que ocupam um mesmo espaço, ofertando tipos
semelhantes de conteúdos e discursos e, assim, propagando a ideologia e o
programa do PSTU em nível nacional.
Na área ao lado do mapa e abaixo da barra, inseriam-se os fragmentos
de campanha, organizados em duas barras, sendo a da esquerda, de leitura
privilegiada, mais larga. Diretamente abaixo da barra superior, na área de primeira
leitura, havia uma manchete em letras pretas onde, nas datas sorteadas
observamos apenas dois conteúdos.
O primeiro e predominante foi “Programa do PSTU para as eleições”,
que gerava download do arquivo com o programa completo, e chamada para
entrevista do candidato Zé Maria no jornal “Opinião Socialista”, veículo do
PSTU.
Nesta entrevista, cuja chamada destacava “Voto útil é voto contra a
ALCA” (ilustração 3.62), Zé Maria fala sobre as propostas e projetos do PSTU,
ressaltando a necessidade de o governante romper com os modelos econômicos
em uso, principalmente com o Fundo Monetário Internacional e a ALCA, sendo
assim um elemento de reforço e redundância do slogan e principal do partido no
processo eleitoral.
Ilustração 3.62 – página inicial do hotsite de Zé Maria em 30/08/2002
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A Política nos espaços digitais
Uma fina linha vermelha separava esta manchete da área abaixo, onde
Zé Maria e Dayse se revezavam. “Fala Zé Maria” era a chamada que repetia o
primeiro item do menu de navegação, onde ao mesmo tempo Zé Maria mostra que
tem o que dizer, mas parece ter no hotsite o seu único espaço de manifestação.
Nas datas sorteadas, notamos apenas uma inserção de Dayse,
intitulada “TSE, Serra, Ciro e Paulinho: histórias de desmandos, discriminações e
preconceitos”. Neste texto, que internamente foi inserido na seção “Fala Zé
Maria” - apesar de na página inicial ser apresentada como “Fala Dayse” - a
candidata questionava a isenção do TSE no pleito, por ter negado direito de
resposta ao PSTU no programa de José Serra que apresentou Rita Camata como a
única candidata no pleito.
Ressaltando que o PSTU havia apresentado a chapa completa já no
primeiro programa do HPEG, Dayse contra-argumentava a posição do ministro do
TSE, Caputo Barros, que colocava a culpa da confusão no próprio partido,
questionando a isenção do mesmo frente ao pleito e lembrando da derrota do
PSTU na reclamatória quanto à participação dos debates e entrevistas na Rede
Globo.
Além disso, Dayse acusava Ciro de discriminação e apresentava
suspeitas quanto ao candidato a Vice na chapa de Ciro, Paulinho, por seu
envolvimento em suspeitas de corrupção e propinas, “abrindo fogo” contra vários
atores envolvidos no pleito, tanto os demais candidato quanto a instituição
jurídica.
Nas demais edições analisadas Zé Maria aparece absoluto, sempre
com a marca doutrinária e ideológica. “Queremos cotas e muito mais!” é o título
de matéria onde Zé Maria ataca Ciro, acusando-o de racismo e segregação por ser
contra as cotas para negros nas universidades.
Em outra, “Um programa para os trabalhadores”, Zé Maria ataca o PT
no website, repetindo cobranças que colocava no HPEG através de seu programa e
suas propostas, apresentando críticas implícitas aos demais candidatos. Cabe
destacar que estas são as duas únicas matérias apresentadas em todas a datas de
análise.
Neste ponto devemos lembrar que Zé Maria foi preso junto com Lula
em 1980, com quem dividiu a cela, além de ser parceiro do movimento sindical e
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234
César Steffen
mesmo ex-membro do PT, o que daria a ele status e elementos para se posicionar
e cobrar posições de Lula.
Entretanto Zé Maria não constrói ou apresenta tais credenciais, o que
somado às fortes criticas dirigidas a Serra e Ciro nos permite colocar que o
mesmo poupar o antigo aliado, preferindo pautar questões de fundo da sociedade
a prejudicar a construção da imagem “light” de Lula.
Ilustração 3.63 – página inicial do hotsite em 06/10/2002
Abaixo, uma linha curva demarcava a área da “Agenda”. Com letras
em vermelho sobre uma barra amarela, esta área apresentava notas como “Entre
na campanha contra a ALCA” (ilustração 3.63), votação promovida pelo partido
em associação com sindicatos e entidades civis, e “O dia-a-dia da campanha” que
redundavam elementos do item de mesmo nome do menu superior.
A coluna da esquerda apresentava, no topo, o item “Informativo”,
onde um texto convidava o usuário a cadastrar-se e receber o boletim do PSTU.
Ao clicar no botão “OK” era carregado o formulário de cadastramento do item
“Entre na campanha”.
Abaixo o item “Notícias” apresentava pequenas notas que, ao
clicadas, levavam para o conteúdo completo na seção “Notícias”, repetindo
conteúdos das diversas seções e páginas.
Ao lado destas notas havia a data de inserção das mesmas. Notamos
intervalos de três a cinco dias entre as inserções, o que somado aos demais
elementos demonstra a baixa freqüência de atualização do hotsite e a estratégia de
propagação ideológica através da repetição dos elementos na página inicial e no
menu de navegação.
Chegado o dia da votação o hotsite apresentava-se sem mudanças. As
barras superior e lateral apresentavam os mesmo conteúdos anteriores. O “Voto
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235
A Política nos espaços digitais
útil contra a ALCA” e “Fala Zé Maria” ocupavam a área de maior leitura e
visibilidade na página inicial, onde o mote da campanha de Zé Maria busca não só
reforçar sua posição, mas também conquistar votos reforçando sua identidade
política no “voto contra a ALCA”.
Ilustração 3.64 - Página inicial em 14/10/2003
Passada a eleição a manchete principal destacava o apoio do PSTU a
Lula (ilustração 3.64). “PSTU chama voto em Lula, mas alerta: não haverá
mudança sem ruptura com a ALCA e o FMI”, apresentando uma dupla questão
onde a campanha se desdobra, pois ao mesmo tempo em que o partido declara seu
apoio a Lula destaca as diferenças ideológicas e programáticas com o candidato,
mais uma vez propagando sua agendas, propostas e bandeira no pleito.
Tendo estes elementos em vista podemos dizer que o hotsite se
configura como um elemento de campanha partidária dentro do cenário das
eleições, onde as questões ideológicas e doutrinárias do PSTU têm destaque e
permeiam todas as ações, buscando assim pautar o debate de questões de fundo da
sociedade Brasileira no cenário do pleito.
O candidato à Presidência e presidente do PTU, Zé Maria de Almeida,
recebe destaque ao ser o primeiro apresentado no hotsite numa forte e permanente
auto-referência tanto ao candidato quanto ao partido.
A presença do mapa do Brasil, ofertando acesso a conteúdos das
candidaturas estaduais, cujos candidatos passam a ocupar o espaço de Zé Maria,
somada ao destaque à questão da ALCA e do FMI, coloca o hotsite como uma
peça de campanha do partido, suas doutrinas e agendas, não do candidato, que se
mostra na posição de porta-voz, de rosto e imagem do partido, quase como um
garoto-propaganda.
Não podemos deixar de comentar a ausência de um link para contato
no hotsite, seja através de e-mail ou formulário, e o cadastramento do boletim do
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César Steffen
partido, com extenso conteúdo enviado diariamente. Observamos ai que o PSTU
usa o hotsite como forma de propagação ideológica e partidária, mas não busca
estabelecer relação direta com os eleitores.
Entretanto, a divulgação do e-mail no HPEG mostra-se contrária a
esta visão, mostrando que os contatos deveriam ser estabelecidos através do
website do partido. Da mesma forma devemos destacar a presença e espaço
dedicados a candidata a Vice, Dayse Oliveira, que se coloca ao lado e como
parceira de Zé Maria.
Assim o hotsite, usando e cruzando linguagens e elementos
publicitários com estratégias e marcas do discurso jornalístico na construção e
apresentação dos diversos conteúdos, parece falar, se dirigir aos seus filiados,
apoiadores
e
aos
adversários
de
campanha,
buscando
através
desta
heterorreferencia politizar, ideologizar a campanha eleitoral através de seu portavoz Zé Maria e de sua parceira Dayse.
3.2.3. Ciro 23: discurso associando à mudança com segurança
Já na fase de pré-observação a página inicial do website de Ciro
Gomes mostra-se como um misto de publicidade, nos formatos e estruturas, e
jornalismo, através da inserção de fragmentos de campanha.
A barra superior configurava-se como um banner, onde a foto do
candidato ocupava o primeiro ponto de leitura à esquerda. Ao lado uma área com
cor sólida onde textos, propostas e realizações de Ciro eram apresentadas e se
revezavam através de um efeito de fade (ilustração 3.65).
Ilustração 3.65 – página inicial em 24/07/2002 (pré-observação)
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237
A Política nos espaços digitais
Na mudança realizada próximo ao HPEG este banner passa a
acompanhar a programação visual da campanha. A foto passa a ser a oficial de
campanha, ocupando mais espaço e em plano mais fechado, destacando o rosto do
candidato.
Ao lado foi inserido o logotipo oficial, onde o “O” de Ciro estilizava o
centro da bandeira do Brasil ao lado do número 23. As propostas e realizações de
Ciro seguem sendo apresentadas ao lado, mas o fundo passa a ser azul claro e o
texto azul marinho.
Dois outros banners foram adicionados abaixo da barra do menu. O
primeiro usava uma imagem de um pedaço da bandeira do Brasil em movimento
para tratar das “Doações de Campanha”, dando um tom nacionalista ao
financiamento da campanha e permitindo uma leitura de que, ao doar para a
campanha de Ciro o usuário estaria ajudando o Brasil como um todo.
Este link conduzia à mesma página acessada pelo link “Doações”
presente no menu, que assim recebe destaque, mesmo estando situada num ponto
de leitura pouco privilegiado, no canto inferior esquerdo (ilustração 3.66).
Ilustração 3.66 – página inicial de Ciro em 21/08/2002
Abaixo deste, um banner de mesmo tamanho, em fundo azul, continha
o logotipo da campanha “Ciro23” e o texto “Entre na Campanha” em cor branca.
A palavra campanha recebia destaque por estar em maior tamanho que o logotipo.
Da mesma forma que o anterior, este banner conduzia à página “Entre na
Campanha” presente no menu, reforçando este conteúdo.
Dois outros banners eram inseridos na área denominada “Sala de
Imprensa”. O primeiro continha uma imagem da bandeira do Brasil, em plano
mais aberto, e conduzia ao Programa de Governo de Ciro.
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César Steffen
Ao lado deste, três balões coloridos, semelhantes aos usados nas
histórias em quadrinhos para inserir e identificar as falas dos personagens permitia
acesso aos “grupos de discussão”, reforçando o papel de fala e troca deste espaço.
Em trinta de agosto notamos que este banner foi substituído pela
imagem de um microfone antigo acompanhado do texto “Rádio Ciro23”
(ilustração 3.67), formada pela palavra rádio em vermelho somada ao logotipo da
campanha.
Este banner conduzia à página com programas de rádio do HPEG e
entrevistas de Ciro nas principais emissoras, permitindo rápido acesso à área do
menu. Interpretamos esta mudança como uma forma de propagação da campanha
e também como elemento de contato e busca de espaço no campo midiático, visão
reforçada por estar posicionada na área de imprensa da página inicial.
Ilustração 3.67 - página inicial em 30/08/2002
Os banners pop-up foram observados em cinco momentos diferentes,
mas sempre com a mesma função. Em seis de setembro um pop-up em fundo
vermelho (ilustração 3.68) perguntava “Você sabe em qual dia da semana caiu o
primeiro de abril?”.
Ao clicada esta pergunta carregava uma imagem em fundo azul
(figura3.69) com um homem com o nariz esticado, semelhante ao personagem da
fábula infantil Pinóquio, ao lado do texto “Nesta ano o 1o de abril dia da mentira
caiu em um segunda feira”, num ataque claro e direto a José Serra e sua principal
proposta, o “Projeto Segunda-feira”.
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A Política nos espaços digitais
Ilustrações 3.68 e 3.69 - pop-ups em 06/09/2002
Os ataques a Serra se repetem, de diferentes formas, nas demais datas,
tanto provocando o usuário a testar sua memória com os compromissos de FHC e
os erros de Serra, quanto usando de discursos de Serra que manifestavam apoio a
Ciro como forma de construção da imagem deste, mesclando a tecnologia do meio
Internet com o discurso claramente político.
A exceção a isto notamos em dezoito de setembro, quando um grande
pop-up em fundo azul ocupa grande parte da tela com o título “Mudança com
segurança” (ilustração 3.70). Em um texto bastante direto, construído com frases e
parágrafos curtos, Ciro ataca Serra afirmando que sua candidatura não traria
mudanças ao país.
Abaixo comparava a seriedade e honestidade de Lula colocando-se ao
lado deste como opção viável, mas a seguir mostrava-se como o único “sério,
experiente, trabalhador e bem intencionado”. Mais abaixo assinava em destaque
“Ciro Gomes a mudança com segurança. O resto é briga de marqueteiro”.
Ilustração 3.70 – página inicial com pop-up em 18/09/2002
O website, através do pop-up, vira espaço e lugar de fala do candidato
e seus ataques aos adversários, onde até mesmo os assessores dos candidatos são
atacados em seus papéis e ações.
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César Steffen
Primeiramente cabe comentar o tom forte e agressivo usado contra
Serra e Lula, que são apresentados como continuístas e inexperientes, e a
construção de Ciro como o único candidato de oposição com experiência e
capacidade, num discurso claramente político que se constrói e se manifesta nos
diferentes recursos visuais do pop-up.
Cabe destacar também, neste banner, a frase final, que ressalta a forte
presença e influência dos profissionais de marketing político nas campanhas dos
adversários, uma forma de desqualificar as mesmas.
Em quatro de outubro, próximo ao dia da eleição em primeiro turno,
um pop-up com fundo verde-amarelo convidava “Ouça a mensagem de Ciro ao
povo Brasileiro” (ilustração 3.2.10), que ao clicado conduzia a uma mensagem
gravada em áudio.
Nota-se assim que Ciro utiliza os pop-up’s como forma de manifestar
e dar destaque a um discurso clara e abertamente político, que ataca os adversários
em seus pontos fracos, buscando desconstrui-los em suas propostas, projetos,
biografias e mesmo campanhas. É importante notar que Garotinho não é citado ou
atacado, aparentando não ser considerado uma ameaça ou mesmo à altura dos
ataques de Ciro.
Já os fragmentos de campanha são apresentados de três formas
distintas, mas assemelhadas. Na área principal são apresentadas manchetes sobre
os atos e fatos de campanha, as propostas do candidato, suas falas e aparições na
mídia, sempre acompanhadas de foto. Abaixo desta um box inseria as chamadas e
notas, que também se apresentavam na área denominada “Sala de Imprensa”.
Nas manchetes, observamos o foco e mesmo evocação das questões e
atores do campo político, numa estratégia de construção da candidatura pelos atos
do candidato, suas aparições na mídia e seus apoiadores, numa característica
bastante jornalística e informativa.
Em vinte e um de agosto a imagem mostrava Ciro ao lado do técnico
da seleção Brasileira Luis Felipe, o Felipão, e dos jogadores da seleção Cacá e
Cafu, que deram ao candidato uma camiseta da seleção com o número 23, mas o
texto colocava a proposta de “300 mil casas populares”. Na imagem Ciro , ao
mesmo tempo parece “vestir a camiseta do Brasil” e ser colocado, pelos atores da
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A Política nos espaços digitais
foto, como jogador um jogador Brasileiro, num apelo ao esporte mais popular no
país.
No dia vinte e cinco Ciro é mostrado em visita ao túmulo de Getúlio
Vargas, num ato eminentemente político, e a manchete apresentava proposta para
as escolas públicas. Já em trinta de agosto foto e manchete destacavam Itamar
Franco, e em 4 de setembro a manchete e a foto versam sobre Ricardo Sérgio
Oliveira, citado no debate na Rede Record.
Ilustração 3.71 – matéria de Veja no website de Ciro
Neste último Ciro toma um evento na mídia eletrônica como
referência para a construção do website numa estratégia de ataque a Serra,
aproveitando-se de um momento ou ponto de fraqueza do adversário.
Entretanto usa de uma matéria da mídia impressa, mais precisamente a
revista Veja (edição 1750, de 08 de maio de 2002) que apresentava denúncias de
comissões e negociatas envolvendo o processo de privatização da Companhia
Vale do Rio Doce onde Sérgio estaria envolvido.
Interessante observar que o subtítulo colocava “Aqui não há truques
nem montagens” (ilustração 3.71), aparentemente numa referência ao caso da
edição do debate Lula-Collor em 1989, e colocava a matéria da revista e o website
na posição de denunciadores dos apoiadores de Serra e mesmo antecipando
possíveis movimentos de resposta do candidato.
Outro exemplo de uso do website com a estratégia de ataque a Serra
pode ser observada no dia seis de setembro, quando a imagem e a manchete
versavam sobre o caso das urnas eletrônicas falsas, descobertas no Distrito
Federal.
A manchete (ilustração 3.72) indiciava Serra como suspeito de
envolvimento no caso, e o texto destacava as suspeitas do procurador do TRE
local de envolvimento de políticos no caso. Ao lado imagem mostrava as urnas
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César Steffen
falsas apreendidas, ao mesmo tempo atacando o adversário Serra e pautando a
mídia com elementos importantes para o quadro da eleição.
Ilustração 3.72 - página inicial em 06/09/2002
Em dez de setembro, após declarações na mídia de que o papel de sua
companheira, a atriz da Rede Globo, Patrícia Pillar, era de dormir com ele, a
manchete destacava que Patrícia era “um presente que Deus me deu”, ao lado de
foto do candidato abraçado à esposa (ilustração 3.73).
Ilustração 3.73 - página inicial em 10/09/2002
Observa-se neste momento uma intenção de usar a página inicial para
aclarar a polêmica instaurada após tais declarações, num movimento pautado e
gerado pela ações do campo midiático na campanha.
O website vira elemento de referência para a política e para o campo
midiático. Não podemos deixar de comentar o fato de a imagem de uma mulher
somente ser apresentada para justificar, ou contrabalançar, declarações de Ciro.
Um fato que deve ser destacado é a manchete de dezoito de setembro,
quando Ciro constrói sua imagem e discurso no website usando a imagem de um
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243
A Política nos espaços digitais
quadro preto com o texto, nas cores branca e vermelha, “Ciro, problema para os
corruptos, mudança para você”, num movimento pautado e ilustrado pela
campanha do candidato no HPEG.
Cabe destacar também a manchete de vinte e três de setembro, que
versa sobre debate na mídia, pois esta é acompanhada de imagem conceitual do
candidato, num movimento de auto-referência tendo a mídia como base,
colocando-a como elemento relevante para a construção do discurso e da imagem
do candidato.
Observa-se nesta área, de forma geral, um foco nas questões, atos e
discursos políticos, colocando o website como forma e elemento de construção do
discurso do candidato. Entretanto, observamos uma certa incoerência ou
descolamento entre imagens e textos, que nem sempre se remetem ao mesmo ato
ou fato.
Além disso vemos a construção da política num formato claramente
jornalístico, onde vários campos – esportivo, político, midiático – são inseridos e
apresentados junto as propostas do candidato, transferindo e conferindo
credibilidade ao mesmo.
Cabe destacar a relevância do campo midiático como elemento não só
de influência na pauta do website, mas também, e se não principalmente, como
lugar de fala do candidato e de acontecimentos políticos.
Abaixo desta manchete principal situava-se uma área, sem título ou
denominação, onde várias chamadas sobre a campanha eram apresentadas. Nesta
área o perfil e a biografia do candidato recebiam destaque, e o campo midiático
recebia espaço quando citava ou abria espaço para Ciro.
Neste mesmo espaço a coligação e seus integrantes recebiam espaço
freqüente, principalmente no tocante a ações e discursos de ataque aos
adversários.
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César Steffen
Ilustração 3.74 - 04/10/2002 - página inicial com pop-up
Interessante observar que no dia quatro de outubro esta área
apresentava uma imagem com duas barras emoldurando o texto “O que Serra
pensa dos nordestinos”, ressaltando um ataque direto a Serra por sua visão da
região onde Ciro construiu sua história política, num discurso clara e abertamente
político que se manifesta e é feito visível na página inicial.
Abaixo desta ficava uma imagem da galeria de fotos, que era
atualizada com freqüência quase diária, e ao lado a “Sala de Imprensa”, onde uma
barra que corria verticalmente apresentava pequenas notas da campanha.
“Governador Itamar Franco chama Serra de mentiroso”, “Ninguém
quer aparecer ao lado de José Serra” e “Colunista Elio Gaspari desmascara em sua
coluna proposta de geração de empregos de Serra” são alguns exemplos das notas
que são inseridas.
Abaixo desta barra estavam inseridos os banners já citados, sendo
seguidos de link para o jingle de Ciro e frases do candidato, elementos certamente
de interesse seu, mas fica a dúvida de sua validade como elemento para a mídia,
como constituinte de uma sala de imprensa propriamente dita. No decorrer da
campanha esta área passa a apresentar a “Rádio Ciro 23”, que conduzia a áudios
com entrevistas e discursos do candidato.
Por seu título esta área mostra ter a função de ser fonte para o campo
midiático, mas os conteúdos observados, principalmente o forte uso de materiais
da mídia, mostra ser mais um espaço que usa das ações, matérias e comentários da
mídia como forma de ataque aos adversários.
Em cinco de outubro, véspera da votação, esta área, assim como as
chamadas, desaparece ficando em seu lugar notas com o título “Veja a
repercussão do “Debate Presidencial da Globo” (ilustração 3.75).
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245
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.75 - página inicial em 05/10/2002
Através de notas com hora de inserção, elemento que não havia antes
sido utilizado no website, esta área apresenta as repercussões positivas, para a
candidatura Ciro, do debate realizado na Rede Globo.
Estas notas tinham um tom mais pessoal, direto e dirigido ao
candidato, aparentemente sendo oriundas de usuários do website ou eleitores que
manifestaram apoio em outros meios.
“No meu trabalho você tirou votos de Lula” e “Nosso filho de quatro
anos é seu fã. E nós também” são apenas dois exemplos dos títulos das notas,
mostrando pela primeira vez a voz do eleitor no website.
Até o dia dez de setembro notamos, abaixo do menu, enquetes sobre
temas e pontos da campanha, como o que o usuário considera mais importante na
escolha de seu candidato (ilustração 3.76).
Na hora de escolher o
seu candidato, o que
você mais leva em
consideração?
Propostas
Experiência
Honestidade
Partido
Ilustração 3.76 – enquete em 17/07/2002
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246
César Steffen
Ao ser respondida esta enquete apresentava, na mesma área da página
inicial, os resultados percentuais parciais, aparentemente permitindo ao usuário
comparar sua resposta com as dos demais usuários.
Chegado o dia da votação o website mantém a mesma estrutura. O
banner abaixo do menu vira vermelho, em tom muito próximo ao do logotipo do
PT, e convoca os usuários a votar em Ciro para mudar o Brasil, acima de banner
com o logotipo da frente trabalhista (ilustração 3.77).
Ilustração 3.77 - página inicial em 06/10/2002
A manchete apresentava um convite ao voto em Ciro, ressaltando a
”mudança com segurança”, num sutil ataque ou confrontação com Lula. Ao lado a
foto oficial de Ciro ganha plano mais aberto e fundo com a bandeira do Brasil,
ficando ao lado do rosto do candidato o número 23 destacado em cor vermelha.
Abaixo segue área intitulada “veja a repercussão do debate”, onde as
notas se caracterizam por um tom pessoal e até mesmo intimista, mostrando
simpatias e apoios ao candidato, suas propostas e idéias.
Encerrada a votação e a contagem a manchete destacava a vitória de
Ciro em seu Estado de origem, sendo ladeada pela mesma imagem anterior
(ilustração 3.78).
Ilustração 3.78 - página inicial em 07/10/2002
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247
A Política nos espaços digitais
Assim vemos que o website de Ciro Gomes se constrói numa lógica
jornalística, informativa, com atualizações freqüentes e usando formatos
jornalísticos na construção dos textos, que suportam o discurso político do
candidato dentro, numa moldura publicitária, lincada diretamente as construções
visuais e aos elementos gráficos da campanha nas demais mídias.
Cabe ressaltar a força que os meios e atores do campo midiático
receberam dentro do website, sendo destacados como lugares de análise da
realidade e de inserção e validação dos discursos do candidato e seus apoiadores,
sem esquecer do uso de materiais e discursos da mídia como forma de ataque aos
adversários.
Da mesma forma temos que destacar também a formatação as
manchetes e dos títulos das páginas, resumindo o conteúdo e elementos das
mesmas. Se por um lado isto facilita a experiência do usuário por outro dá força às
intenções e estratégias dos construtores, apresentando os elementos de maior
relevância e, de certa forma, escondendo – ou buscando esconder – elementos
mais aprofundados.
Destacamos também a pouco presença e freqüência de convites para
interação, que se manifestam praticamente somente nos pop-up’s e em ataques aos
adversários, o que demonstra que o website era um espaço de discursividade para
o candidato e seus apoiadores.
Não podemos deixar de citar a mudança feita próxima ao HPEG,
quando o currículo de Ciro é ressaltado e resumido no menu, mostrando uma
construção textual que foca-se na personalidade, atos e feitos do candidato que
permeia toda a construção do website.
Podemos então colocar que o website de Ciro constrói de forma autoreferencial ao candidato e seus discursos, mas acopla-se e utiliza-se de lógicas,
discursos e estratégias de outros campos para construir e mesmo validar esta autoreferencialidade.
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César Steffen
3.2.4. Rui Costa Pimenta 29: formato anos 70 com tecnologia anos 90
A página inicial do website do PCO apresentava quatro áreas distintas.
Na parte superior, acima do que aparentava ser o menu principal, estavam
inseridos três banners com conteúdos distintos (ilustração 3.79).
Ilustração 3.79
O primeiro, à esquerda, apresentava em fundo vermelho o
“Suplemento Cultural a cada dois meses”, que apesar de ter, ao seu lado, um texto
“clique aqui” não gerava link ou relação com nenhum conteúdo do website.
Ao lado, ocupando o centro da área, um banner em fundo amarelo
destacava “PCO lança candidaturas operárias e socialistas contra a burguesia e
seus partidos”, que levava à área de eleições descrita no capítulo anterior. O
terceiro e último banner apresentava “Construindo um verdadeiro partido de
trabalhadores”, que lincava com conteúdos referentes às propostas e programas do
PCO.
Abaixo destes banners, uma faixa com uma seqüência de imagens
apresentava uma função dual, pois visualmente apresentava-se como banner, mas
estruturalmente como um menu. “Causa Operária”, “Juventude Operária”, "João
Cândido”, “Mulheres” e “Textos” eram os links apresentados, que levavam a
páginas do website do partido com conteúdos diversos.
Na área à esquerda estava o menu de navegação propriamente dito,
onde o link para a seção “Eleições 2002” ocupava a quarta posição, abaixo de
imagens de Trotski, Lênin e Che Guevara, que ilustravam chamadas para
diferentes conteúdos. Ao lado deste menu a maior área do website inseria o que
poderíamos denominar de fragmentos de campanha.
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A Política nos espaços digitais
“Derrotar a agressão imperialista ao Iraque e seu povo oprimido” é a
manchete que se destaca diretamente abaixo dos banners secundários, e que se
mostra presente durante todo o período da campanha.
Ao clicada esta manchete abria uma área especial, com vários
conteúdos referentes à posição do PCO e de seus candidatos sobre o ataque dos
Estados Unidos ao país árabe, tematizando na campanha, uma doutrina
antiimperialista e antiamericana típica dos discursos esquerdistas dos anos 70.
Abaixo, duas notas diagramadas lado a lado se referiam,
respectivamente, ao congresso que aprovou as candidaturas de Rui Costa Pimenta
e Pedro Paulo à Presidência, e ao discurso de Rui Costa neste congresso, onde se
destaca o slogan da campanha “Quem bate cartão não vota em patrão”, abaixo da
foto do candidato discursando.
Estas permaneceram durante todo o primeiro turno da eleição,
mostrando uma ausência de atualizações que, se por um lado desestimularia o
contato dos usuários pela ausência de novidades, por outro reforça o descaso
causada pela desorganização das seções internas.
Diretamente à direita desta área de conteúdo estava inserido outro
banner, este em formato vertical (ver ilustração 3.79). Em cor preta continha a
imagem de uma mesa de jantar fartamente servida e decorada, com candelabros
de cristal e quadros, mas sem cadeiras ao redor, convidava para o “jantar de apoio
às candidaturas do PCO” acima de “confira as datas e locais”.
Ao mesmo tempo em que convida para um evento da campanha este
banner apresenta uma imagem luxuosa, burguesa, aparentemente não condizente
com as propostas e posturas do partido.
Relevando esta aparente incoerência entre a imagem do banner e as
proposta do partido, vemos que os banners mostram-se como elementos
ideológicos, de apresentação de conteúdos e elementos relevantes para o partido,
ao mesmo tempo em que resumem em si mesmos os elementos apresentados nas
seções a que se vinculam.
Abaixo, em área visível apenas através da rolagem da página, várias
imagens e textos pareciam espalhados, soltos, sem link ou relação com conteúdos
das seções internas. Não nos aprofundamos nestes elementos primeiramente por
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César Steffen
estarem em área de pouca visibilidade, mas principalmente por não se
relacionarem com os conteúdos, parecendo estarem ali para preencher espaços.
O website do PCO mantém-se sem alterações na página inicial e nas
seções referentes a eleição 2002, que apresentam os mesmo conteúdos, imagens e
recursos. No tocante aos conteúdos e formatos, observamos uma vinculação com
discursos e ideologias que tinham força e presença política na década de 70. Já os
formatos e diagramações adotados em vários momentos no lembraram jornais e
panfletos sindicais, partidários, muito usados como elemento de propaganda de
sindicatos e movimentos estudantis até hoje.
Assim, de forma geral o website propaga elementos e conteúdos
diversos sem se vincular a eleição, onde o HPEG se coloca como elemento de
geração de acessos a estes espaços. O website mostra, assim, ser uma peça
absoluta e totalmente autoreferente, que se manifesta até mesmo na programação
visual das páginas e (des)organização dos conteúdos, sendo construído por e a
partir das propostas, ideologias do partido e das falas do candidato Rui Costa
Pimenta. Referências e utilização de outros campos existem, principalmente o
midiático, mas têm menos força e são sempre utilizadas como forma de reforço
das propostas.
3.2.5. Garotinho 40: quem é o vice?
No período de análise a página inicial do website de Garotinho
mostrou-se bastante focada nos fragmentos de campanha. Destacava, na área
central, notícias e fatos recentes da campanha sempre acompanhadas de um breve
resumo logo abaixo da chamada, que leva para página com texto completo e com
uma foto no topo da página.
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251
A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.80 - página inicial em 10/08/2003
A barra superior do website configurava-se como um banner, que
apesar de visualmente coerente, unido, apresentava dois elementos ou funções
diferenciadas. A área à esquerda, no primeiro ponto de leitura, apresentava o
logotipo da campanha com o nome do candidato em vermelho abaixo do número
40, destacado por seu tamanho, num tom indefinido entre o verde e o amarelo,
acompanhado da foto em close do candidato.
Ao lado do número e acima do nome do candidato uma pequena
pomba, símbolo do PSB, aparecia de forma suave e sutil, usando um efeito de
relevo sobre o fundo (ilustração 3.81).
Ilustração 3.81 - página inicial em 18/08/2002
Na área à direita várias imagens e textos se revezavam, propagando as
realizações e propostas do candidato. Um exemplo é o texto em amarelo “Projeto
Nova Escola beneficiou 83 mil profissionais” ao lado de foto de criança sorrindo
com o que aparentava ser um copo de leite na mão.
Vários outros elementos se revezavam nesta área do banner, como
propostas de reforma da polícia e criação de restaurantes populares com refeição a
um Real, apresentando de forma resumida e bastante clara, através de uma
linguagem publicitária, as propostas e projetos de Garotinho.
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César Steffen
Ilustração 3.82– página inicial em 21/08/2002
Abaixo deste banner uma barra mais fina em fundo amarelo e letras
vermelhas destacava o “Partido Socialista Brasileiro”, do candidato, respeitando a
escala de cores e a logotipia do partido, que recebe assim destaque e alta
visibilidade no website e separa visualmente o banner das demais áreas da página
inicial.
No dia seis de setembro notamos mudanças no banner. O fundo
recebe uma textura, semelhante a um tecido em movimento ou enrugado, em tons
de amarelo e vermelho, sendo este predominante.
O logotipo oficial da campanha foi inserido, tendo uma estilização da
bandeira do Brasil com um coração azul no centro, acima do nome e do número
do candidato. O nome passou a ocupar área de maior destaque e visibilidade. Já o
número, elemento de efetivação da votação na urna eletrônica, perde importância
ficando abaixo do nome (ilustração 3.83), mostrando que a propagação e
visibilidade do nome do candidato eram prioritárias.
A foto do candidato também foi alterada. O tom informal e o plano
fechado da foto anterior, passado pela camisa aberta e sem gravata, substituída por
uma foto ligeiramente mais aberta, onde o candidato se mostra com terno e
gravata, uma mudança de forma que identifica Garotinho com a imagem esperada
de um presidente.
Ao lado estava inserido o slogan da campanha, “O Brasil que faz”,
sendo que a área à direita seguia apresentando as propostas e realizações, mas
usando apenas de textos colocados entre aspas, reproduzindo ou citando
afirmações e falas de Garotinho (ilustração 3.84).
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.84 - página inicial do site em 07/09/2002
Observa-se neste movimento de alteração que o website recebe o
mesmo tratamento visual dos demais materiais gráficos, adquirindo status de peça
de campanha. Este movimento ocorre num cenário onde Garotinho começava a
apresentar crescimento nas pesquisas de intenção de voto, mostrando-se com
possibilidade de superar Ciro Gomes, cuja campanha e imagens apresentavam
sinais de desgaste.
Não podemos afirmar ser este movimento um reflexo dos resultados
das pesquisas, de uma melhoria nas condições de financiamento da campanha de
Garotinho ou mesmo de um somatório de ambas, mas apresenta sinais, reflexos da
força das pesquisas como elemento de pauta e condução da campanha que se
reflete e manifesta no website.
Ilustração 3.85 - página inicial em 12/09/2002
Entre este banner e as manchetes havia uma pequena área onde
rolavam pequenos textos e frases sobre a campanha. “Redução da taxas de juros
garante salário mínimo mais justo”, “Programa do PSB no rádio e na TV se
transforma num marco da campanha” e “TRE dá a Garotinho direito de resposta
contra acusações de Serra” são alguns exemplos de textos apresentados,
configurando-se como notas sobre o processo eleitoral.
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254
César Steffen
Estas notas não geravam link ou relação com nenhuma outra área do
website, contendo em si os elementos e conteúdos a serem apresentados e
mostrando, de forma resumida, elementos de interesse e relevância para o
candidato e a campanha.
Nas laterais da página inseriam-se os menus de navegação, sendo o da
esquerda dedicada ao candidato e o da direita ao partido. Entre estes eram
inseridos os fragmentos de campanha, elementos diversos centrados nos atos e
ações de campanha, como comícios promovidos, entrevistas, falas do candidato,
etc.
O ponto privilegiado de leitura desta área, mais acima e visível
diretamente, era reservado às manchetes, que se alimentavam das mais diversas e
variadas fontes: pesquisas eleitorais divulgadas da mídia, matérias na mídia, atos e
propostas do candidato na campanha, etc.
Interessante ressaltar a imagem apresentada em doze de setembro,
reprodução da capa da revista “Istoé” que apresentava Garotinho como “O francoatirador”, imagem sem relação ao texto da manchete que versava sobre as
pesquisas eleitorais, momento em que o website acopla-se duplamente na mídia
como forma de construção de sua candidatura.
Poderíamos questionar a validade do uso de uma capa que colocava o
candidato numa posição agressiva e até mesmo inferior aos demais candidatos.
Entretanto o somatório desta com os resultados da pesquisa alça, reforça o papel
de Garotinho na campanha e nos permite colocar que o candidato busca validar,
dar força e mesmo repercussão a sua imagem através dos discursos da mídia.
Por outro lado devemos destacar a relação que o website estabelece
entre seus conteúdos em seu processo de evolução. Observando algumas
ilustrações vemos que a manchete apresentava “Pesquisas devem registrar subida
de Garotinho”.
Noutra data vemos a manchete “Garotinho em alta embola a disputa
o
pelo 2 lugar”, que num período de cerca de uma semana constroem e informam o
crescimento de Garotinho ao mesmo tempo pautando e sendo pautado pelo campo
midiático. Este movimento também pode ser observado quando a manchete
destacava que o candidato já estava em segundo lugar, e ao mesmo tempo ataca
José Serra por ter o “maior índice de rejeição”.
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255
A Política nos espaços digitais
Observa-se que ao mesmo tempo em que Garotinho usa das pesquisas
para construir sua candidatura e atacar seus adversários, tenta pautar a divulgação
das mesmas colocando-se como segundo colocado, informação esta não
confirmada pelos dados apresentados, usando uma linguagem simples e mesmo
coloquial, onde expressões como “embola” e “subida” são os melhores exemplos,
para se destacar e atacar seus adversários.
Ilustração 3.86 - página inicial em 18/09/2002
Estes ataques aos adversários foram constantes nestas manchetes. No
dia cinco de outubro, véspera da eleição, a manchete principal atacava Serra
através de projeto de emenda à Constituição que o mesmo havia apoiado quando
Ministro do Planejamento.
Outra manchete preparava para a eleição: “É dia de 40: Garotinho no
2o turno” abaixo de fotografia de Garotinho e sua esposa, Rosinha Mateus,
candidata ao Governo do estado do Rio de Janeiro, em comício na capital onde
ambos estão com os braços levantados em gesto de vitória.
Esta relação direta entre a imagem e o texto não foi observada com
freqüência, sendo a regra geral – se podemos dizer que havia – um deslocamento
ou mesmo incoerência entre ambos, pois as imagens permaneciam mais tempo
que os textos.
Se por um lado isto nos permitiria falar nas manchetes como elemento
principal, mais valorizado da página inicial, por outro a posição e tamanho das
fotos e imagens em relação ao texto se apresentam como contrários a este
argumento. Fica assim uma sensação de permanência, de não atualização da
página, o que poderia desestimular o usuário a navegar pelo website.
Devemos considerar então as fotos com uma função não meramente
ilustrativa, uma vez que não se vinculam às manchetes, mas sim de facilitação de
leitura da campanha, uma vez que apresentavam atos e ações do candidato sempre
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256
César Steffen
em multidões ou acompanhado de grande número de pessoas, colocando o mesmo
numa posição favorável frente ao cenário do pleito.
Ilustração 3.87 - página inicial em 23/09/2002
As manchetes expunham, de forma jornalística, as propostas, projetos
e atos e também atacavam adversários, ressaltando o papel e os feitos de
Garotinho na campanha. Notamos um foco absoluto no candidato, que chega a
aparecer ou ser citado no texto, na imagem, nos créditos das imagens e no lead da
informação.
Somando isto às imagens e links presentes nos menus, vemos uma
forte heterorreferencia na página inicial, que se dá, se faz e se manifesta a partir da
mais diversas fontes, atos e elementos como forma de construção da visibilidade
do candidato.
Estas manchetes sempre conduziam a uma página com a matéria
completa, mas não geravam relação ou mesmo link direto com os conteúdos
presentes nos menus, tornando a página inicial um elemento de cunho e forma
jornalística e informativa, mas sempre construída por e a partir de um discurso
político.
Não podemos deixar de comentar também os textos inseridos abaixo
destas manchetes, que se apresentavam como um lead da mesma, resumindo o
conteúdo completo, destacando e aprofundando o elemento apresentado de forma
direta para o usuário que ficava, assim, “dispensado” de acessar a matéria
completa.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.88 - página inicial em 05/10/2002 – 22:15
Além destes elementos, que ocupavam a área de maior visibilidade, a
página inicial continha outros conteúdos, que geravam uma extensa barra de
rolagem vertical. Frases do candidato, o livro de sua biografia, ataques a mídia,
como a Rede Globo5, e resumos de discursos do candidato são inseridos e
organizados em duas colunas, não havendo relação estrutural ou mesmo
conceitual entre os mesmos.
Abaixo das manchetes uma área denominada “Rápidas” continha
pequenas notas sobre vários temas, desde falas do candidato até citações da
imprensa. Estas notas eram estanques, ou seja, continham a matéria que se
desejava apresentar sem link para outros elementos ou áreas, sendo assim
elemento de informação e formação de imagem. Ao lado desta um box inseria
frases de Garotinho sobre a campanha ou suas propostas porém, sem citar o local
ou contexto em que aconteceram.
Cabe ressaltar que estes diversos conteúdos também não geravam link
ou tinham relação com os demais elementos do website, encerrando em si todo o
conteúdo que ficava “solto” dentro da página, mas recebendo permanência por
longo período de tempo, ou seja, sendo pouco atualizado.
Ilustração 3.89 – parte inferior da página inicial do website
5
Garotinho colocou na página inicial uma nota “a Rede Globo mentiu”, referindo-se a matérias veiculada no
Jornal Nacional envolvendo gravações de conversas de assessores quando era governador do Rio de Janeiro.
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César Steffen
Alguns permaneceram iguais, no mesmo ponto, por toda a campanha,
e se apresentavam hora como notas, hora como itens, o que por um lado reforça o
foco na personalidade e nos feitos do candidato e, por outro, mostram o foco
jornalístico da página e mesmo valorizam os conteúdos inseridos nas manchetes.
Ilustração 3.90 - página inicial em 06/10/2002
No dia da eleição o website mantém as mesmas características
(ilustração 3.90), e os menus permanecem com suas configurações. O primeiro
item do menu a direita, do PSB, segue sendo “Eleições 2002” e apresentando os
candidatos do partido no diversos níveis e Estados.
A manchete principal, em negrito, ataca Serra através do PEC, ao lado
da mesma foto de Garotinho e Rosinha em comício no Rio de Janeiro. Abaixo
desta imagem a manchete destacava, com texto, em caixa alta, “Não esqueça, é
dia de 40: Garotinho no 2o turno”.
Ilustração 3.90 - página inicial as 18:10 de 06/10/2002
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A Política nos espaços digitais
Encerrada a votação a página é atualizada (ilustração 3.90). A imagem
mostrava Garotinho e Rosinha numa sacada acenando em gesto de vitória6. A
manchete principal versa sobre a preocupação de Garotinho com “problemas com
urnas antigas no Rio”, mostrando a desconfiança do candidato quanto à contagem
dos votos nas urnas com voto em papel.
A manchete abaixo da imagem falava sobre Garotinho votando
confiante “na ida ao 2o turno”, mostrando uma tentativa de conquistar votos e
adesões na reta final através de uma leitura das pesquisas e do cenário da eleição,
que ocorre num momento em que os eleitores já não mais tinham a possibilidade
de votar.
Neste momento a página, assim como os demais conteúdos, é
“congelada”, não passando por novas alterações até sair do ar cerca de três
semanas após a votação.
A página inicial do website de Garotinho apresenta-se como uma peça
de campanha em formato jornalístico, focada nos fragmentos de campanha numa
constante auto-referência ao candidato, suas falas, propostas e ações, apesar das
atualizações serem menos freqüentes e mesmo irregulares, onde a mídia é uma
importante, se não principal, elemento de apresentação, condução e mesma
formação da pauta e dos conteúdos do website.
Destacamos, finalmente, a total e absoluta ausência de citações ao
candidato a vice em todo o website. José Antonio Figueiredo de Almeida Silva7
não aparece no logotipo da campanha, não é citado nos fragmentos, não recebe
espaço nos menus ou mesmo página dedicadas a sua biografia ou sequer é citado
em seus atos e falas, aparentando ser colocado como um mero coadjuvante, um
ator secundário cujo papel parece ser apenas o de cumprir com a legislação do
TSE.
6
Cabe recordar que a esposa de Garotinho, Rosinha Mateus, foi eleita governadora do estado do Rio de
Janeiro em primeiro turno.
7
Obtivemos este nome no sistema de registro do TSE.
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César Steffen
3.2.6. Serra 45: o HPEG na Internet
Durante a pré-observação e nas primeiras datas de análise a página
inicial do website de Serra mostrava-se bastante simples. Apresentando propostas
em formato jornalísticos através de manchetes, notícias e notas ilustradas ou
redundadas por fotos do ato ou imagens conceituais, num formato muito
semelhante aos players de jornalismo no meio (ilustração 3.91).
A barra superior das páginas configurava-se como um banner,
contendo o logotipo oficial da campanha, o título “Campanhaonline” evocando o
espírito ou características do meio de suporte da campanha e as fotos do candidato
e da Vice.
Eles estavam de mãos dadas e braços erguidos num gesto de vitória,
fundeados por uma estilização da bandeira brasileira acima dos nomes de ambos,
onde ao mesmo tempo vemos que ambos confiam na vitória, que seria trazida pela
“Campanha online”.
Ilustração 3.91 - página inicial em 08/08/2002
Com tom predominantemente amarelo, colocando o logotipo da
campanha no ponto mais privilegiado de leitura, o banner destacava também a
“Coligação Grande Aliança” e os partidos que a compunham, onde havia link
direto para os websites do mesmos.
A área central da página apresentava os fragmento de campanha
construindo a noticiabilidade do candidato e as estratégias do website de três
formas distintas. A manchete era sempre acompanhada de foto e focando-se nos
atos e ações de Serra.
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A Política nos espaços digitais
O título desta manchete destacava-se pelo uso da cor verde, sendo
posicionado ao lado da fotografia, destacando-se do fundo e tornando-se elemento
de destaque no processo de leitura.
Ao lado desta manchete havia sempre três ou quatro notícias ilustradas
por fotos conceituais, ou seja, imagens não do ato ou das ações, mas ilustrações
ou projeções do candidato e de seus apoiadores.
Estas notícias destacavam os apoios recebidos pelo candidato e suas
propostas, redundando ou reforçando conteúdos de páginas internas e seções.
Abaixo desta área inseria-se a barra de “Últimas Notícias”, composta de notas
acompanhadas da hora de inserção que, ao clicadas, conduziam a página contendo
detalhes.
Esta parte ocupava a maior área da página inicial, comportando uma
série de elementos visuais e textuais que buscavam destacar os fragmentos da
campanha mostrando uma estratégia jornalístico-informativa no website
(ilustração 3.92).
Ilustração 3.92 - Página Inicial em 24/07/2002
No dia 10 de agosto notamos mudanças. O campo de busca, antes
deslocado, “solto” espacialmente dentro da estrutura do menu, é inserido dentro
de um box retangular ganhando destaque e, assim, relevância no conjunto de
conteúdos da página. O menu foi aumentado para nove links, e na barra lateral
direita da página apresentava-se um segundo menu redundando algumas das
opções do menu da esquerda.
O box “Fale com o Serra”, convite à interação para o usuário que
continha opções como “Mensagem de Apoio”, “Enviar uma sugestão”, etc.,
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262
César Steffen
conduzia para a página de contato do website, cuja posição nos permite observa-lo
como menos importante, sendo colocados em área de leitura menos privilegiada.
No início do HPEG, quando Serra apresenta o “Projeto SegundaFeira” e adota o tom azul como cor predominante na campanha, o website passa
por uma mudança profunda vinculada a esta estratégia de campanha, abrangendo
desde a programação visual até a disposição espacial dos elementos, espaços
ocupados e novos banners, que refletem a nova estratégia de campanha na
Internet.
O banner superior adquire o tom azul da campanha, mantendo a
posição e dimensão do logotipo. As fotos oficiais dos candidatos são inseridas em
plano mais fechado, próximo a um close, valorizando os rostos, os sorrisos e
colocando Rita Camata ligeiramente à frente de José Serra. A imagem adquire
assim uma maior simetria, equilíbrio, denotando também um certo cavalheirismo
e valorizando o papel da mulher na campanha.
A “Coligação Grande Aliança” e os partidos têm seu espaço
diminuído, e ao fundo surge um céu azulado com nuvens finas e suaves que
emolduram fotos de pessoas. São quatro homens e duas mulheres de várias idades
usando capacetes de proteção azuis e amarelos, um dos elementos da programação
visual da campanha que ilustra a proposta de emprego.
O único negro neste banner estava separado do grupo pelas fotos dos
candidatos, segurando um cartaz amarelo com o número 45 que esconde
parcialmente o seu rosto. Isto, por um lado, o coloca na posição de apresentador
do número do candidato mas, por outro, nos permite relacionar sua posição à um
papel secundário dos negros na campanha via website, ao contrário do HPEG
onde havia um negro como apresentador (ver ilustração 3.2).
Na véspera da votação este banner foi alterado. O logotipo e as fotos
dos candidatos permanecem iguais, mas os adultos de capacete são substituídos
por pessoas de várias idades, incluindo uma criança e um adolescente
possivelmente sem idade para votar. Ao lado de Serra apenas um casal de jovens,
onde um rapaz negro também tem seu rosto encoberto pelo cartaz com o número
do candidato (lustração 3.93).
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263
A Política nos espaços digitais
O texto “A hora do Voto” ocupa o principal ponto de leitura,
remetendo ao momento decisivo da campanha, quando as pesquisas davam
margem a dúvidas sobre a efetivação ou não do segundo turno.
Ilustração 3.93 - página inicial em 21/08/2002
No topo do menu, acima de todos os links, surgiu um pequeno banner
para o “Programa de Governo” ilustrado pela imagem de um livro. A capa
continha fotos de pessoas usando capacetes azuis mas que em função de seu
tamanho não podemos afirmar serem os mesmos do banner, ilustrando de forma
publicitária para um importante elemento da campanha de Serra.
Abaixo do menu estava inserido um banner com o número do telefone
da central de atendimento de Serra, ligação gratuita onde os eleitores eram
atendidos por operadores que esclareciam dúvidas sobre a campanha e as
propostas dos candidatos.
Neste mesmo momento, início do HPEG, a barra de notícias mudou
sua estruturação. A manchete, antes diagramada horizontalmente, passa a ocupar a
área vertical do centro da página, onde a imagem merece mais espaço que o texto,
que segue na cor verde.
No dia 21 de agosto a manchete destacava “Na TV, Serra explica
como vai mudar a vida das pessoas com emprego e segurança” ao lado de imagem
do candidato na televisão segurando o livro do “Projeto segunda-feira” em
primeiro plano, acompanhado da assinatura “José Serra Presidente” e do logotipo
da campanha no canto da tela.
Nota-se aí uma multiplicidade de linguagens num mesmo espaço
midiático, somando texto, logotipo da campanha e o candidato numa mesma
imagem co-determinada pelo enquadramento da televisão, que é “congelado” e
inserida no website como elemento de propagação campanha. Mostra-se aí uma
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264
César Steffen
estratégia de uso da Internet para aprofundar ou validar a proposta em um outro
meio.
Esta estratégia de evocação do discurso eminentemente midiático foi
observada na absoluta maioria das datas de análise, onde a manchete se remete
constantemente ao programa de TV, a atores do campo midiático e a eventos ou
matérias do campo midiático.
Para citar alguns exemplos Glória Perez, escritora, autora de novelas e
mãe da atriz assassinada Daniella Perez, dá depoimento sobre segurança
empenhando seu apoio a Serra no HPEG e é manchete no website.
O debate na Rede Record é acompanhado minuto a minuto nas notas e
vira manchete no website, convidando os usuários a acompanha-lo. Programa
sobre Minas Gerais ilustrado por foto de Juscelino Kubitscheck, um ícone da
política brasileira, lembrando as grandes ações do ex-presidente também mereceu
destaque nesta área.
Na véspera da votação o candidato aparece fotografado com os braços
erguidos, em gesto de vitória, tendo o Cristo Redentor ao fundo, ao lado de
manchete sobre as pesquisas indicando o segundo turno, apresentando assim um
cruzamento entre o campo político, as pesquisas de intenção de voto, as ações e
atores do campo midiático que se tornam visíveis no website e operam as
estratégias de Serra na Internet.
Estes são alguns - dentre muitos outros possíveis - exemplos do
acoplamento que o website opera com o campo midiático e com a campanha
midiatizada na televisão, em que notamos que vários campos são situados acima
do campo político e do próprio candidato, impondo leituras e mesmo ganhando
status de apresentadores e analistas da realidade.
As notícias, por sua vez, passam a ser inseridas abaixo desta manchete
mas mantém-se a estratégia de uso para informações ou ataques aos adversários
ilustrados por imagens conceituais.
As demais mídias de campanha, principalmente a campanha no rádio,
têm espaço freqüente nesta área, sempre ilustrada por ícones verde-amarelos ou
imagens em tamanhos pequenos, como um ponto de exclamação ao lado de
ataque a Ciro ou de uma nota musical ao lado de nota sobre o programa de rádio,
cujos formatos se destacam das demais imagens.
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A Política nos espaços digitais
Observa-se que os atores e a campanha midiatizada na TV merecem
destaque nas manchetes, enquanto o rádio ocupa apenas espaço secundário dentro
dos fragmentos, sendo inseridos sempre nas notícias. Muitas seções internas,
principalmente as voltadas à biografia e as propostas do candidato, também tem
presença constante, notando-se também os apoios políticos, como do senador
Pedro Simon.
Abaixo desta área permanece a barra de “Últimas notícias”, área das
notas de atualização mais freqüente do website, mas que não possui um foco único
e específico, apenas acompanhando os fatos da campanha em geral e do candidato
e apoiadores.
Ao lado da barra de notícias surge um banner animado com o texto
inicial “O nome da mudança é emprego” (ilustração 3.94) seguido de uma
seqüência de fotos de rostos de homens e mulheres de várias idades e raças
diferentes, que se alternam rapidamente abaixo de um capacete com o logotipo do
“Projeto Segunda-feira”.
Esta animação encerrava com o logotipo da campanha e o número 45,
e o capacete não mudava sua posição, ficando sempre em fundo branco, enquanto
os rostos estavam sempre em num mesmo fundo azulado e indefinido.
Ilustração 3.94 - quadros do banner “Trabalho”
Interessante observar esta construção visual, utilizando elementos que
remetem, representam e evocam o mundo do trabalho em obras e fábricas em
fotos de pessoas comuns usando o capacete, como se já estivessem empregadas,
num meio onde os usuários – atualmente - possuem alta qualificação e formação
acadêmica e profissional.
Se por um lado se poderia apontar uma incoerência entre o meio e a
construção da mensagem do candidato, há de se considerar que este elemento
recebeu destaque e relevância nos demais meios, especialmente nos clipes para a
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266
César Steffen
TV, se configurando assim como um logotipo do projeto, demonstrando uma
coerência do website com a construção estratégica da campanha em todos os
meios.
Este banner se mantém nesta posição em grande parte das datas
analisadas, mas no dia doze de setembro notamos que na sua posição inseria-se o
banner “8 ou 10”. Divido ao meio entre as cores azul, sobre a qual estava o
número oito, e vermelho, sobre o qual via-se o número dez, o texto convidava
“novo megahit para você cantar com seu amigo petista!!!”, e levava a um jingle
específico – que só notamos no website - comparando as propostas de geração de
emprego de Lula e Serra.
Nota-se ai que Serra usa um discurso tipicamente político em tom
irônico para atacar e desconstruir o adversário através de um cruzamento entre as
linguagens e técnicas da Internet, do rádio e da televisão.
Tal banner surge menos de um mês antes da votação em primeiro
turno, quando as pesquisas começavam a indicar Serra na segunda posição e o
candidato começa a “centrar fogo” sobre Lula, em que o website suporta um
material específico de ataque com tom irônico e irreverente.
Também é interessante observar a construção do banner, usando as
cores principais da campanha de Serra e Lula, e o uso de três pontos de
exclamação, reforçando o tom afirmativo e mesmo provocativo do elemento, que
permite a percepção de sua intenção mesmo sem o contato com o jingle.
Cabe destacar ainda que no dia vinte e seis de setembro, abaixo do box
“Pelotão 45”, surge o banner “Clique e veja quem mais esta com Serra”, um
convite para interação do usuário que também usava como fundo o azul da
campanha.
Este conduzia a seção “O Brasil se une a Serra”, com depoimentos de
apoiadores da campanha, em que notamos um aprofundamento da manchete
principal e das notas secundárias, que com freqüência dão destaque aos apoios
recebidos pelo candidato, além de redundar o então segundo item do menu de
navegação, demonstrando a relevância desta seção e seus conteúdos para a
estratégia do candidato.
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267
A Política nos espaços digitais
Na véspera da votação o banner “emprego” foi novamente substituído
por uma animação com o número do candidato que conduzia a uma página com
“cola” da votação para impressão.
Já abaixo do “Pelotão 45” outro banner mostra fotos de celebridades,
como Nana Caimi, que apóiam Serra, evocando apoios de outros campos para
construir suas visibilidade e credibilidades sem a necessidade de acesso à página,
o que demonstra a importância da mídia e seus midiáticos como elemento na
campanha de Serra no website.
No tocante aos banners pop-up observamo-los apenas quatro
momentos da análise. No dia trinta de agosto uma janela pop-up apresentava nota
“Compostura Candidato” (ilustração 3.95), respondendo a Ciro Gomes que havia
chamado Serra de covarde.
Ressaltando a “postura coronelesca e destemperada”, a nota chama
Ciro de “reizinho da paróquia” e de “mauricinho mimado que está perdendo a
discussão”, adotando um tom duro, forte e direto contra as declarações do
adversário, manifestando um discurso tipicamente político num ponto ou
elemento de alta visibilidade do website.
Ilustração 3.95 - nota em 30/08/2002
Em seis de setembro um grande pop-up transcreve texto do
economista José Pastore publicado no jornal “O Estado de São Paulo” sobre o
“Programa Trabalhista de Serra”, elogiando as propostas e a clareza de
apresentação do programa do candidato.
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268
César Steffen
No dia doze de setembro um pop-up semelhante apresenta pequena
matéria da revista Veja comparando, lado-a-lado, as propostas de emprego de
Serra e Lula e é inserido como imagem capturada no website da revista, em que o
candidato convoca as mídias e seus especialistas para dar validade e sustentação a
suas propostas.
Cabe esclarecer que os pop-ups configuram-se estruturalmente como
banners por sua posição e formatação, mas seu conteúdo coloca-os junto à
categoria de fragmentos de campanha, mostrando um cruzamento entre as seções
do website e, principalmente, entre os campos econômico, midiático e político e a
própria Internet que se faz visível no website como forma de reforçar as proposta
do candidato.
Já em dezesseis de setembro surge um pop-up que ocupa praticamente
toda a tela (ilustração 3.96), cobrindo o banner principal e a área de notícias. Em
fundo azul, o banner destacava “Dizem que Brasileiro não tem memória” acima
de texto em tamanho menor “clique aqui e teste a sua”, buscando assim gerar o
acesso a este recurso e relevando o mesmo frente aos demais conteúdos e recurso
do website.
Ilustração 3.96 - página inicial com janela pop-up aberta - 16/09/2002
Configurando um desafio ao usuário, o banner carregava um jogo de
memória eletrônico onde as cartas apresentavam as propostas e características de
Serra, como “competência” e “empregos” (ilustração 3.97).
Ilustração 3.97 - anelas com jogo ativado
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269
A Política nos espaços digitais
Fruto de um cruzamento entre a tecnologia do meio – o jogo foi
construído com tecnologia Macromedia Flash – e as estratégias de campanha, este
recurso dá nova roupagem a um antigo jogo infantil que busca estimular as
funções cognitivas e associativas, e de uma forma desafiadora torna-se um
elemento de reforço e aumento de recall1 das propostas de Serra, demonstrando
um novo recurso de campanha no meio.
Mesmo não se enquadrando nas categorias criadas, cabe destacar um
elemento do website observado na última semana de setembro. Acima da barra de
“Últimas Notícias” foi inserida uma barra intitulada “Depoimentos”, onde
mensagens de apoio, a favor das propostas ou elogiando a atuação e posturas de
Serra, enviadas por e-mail por usuários corriam lateralmente, citando sempre o
autor e a cidade.
Se por um lado se nota o aproveitamento dos e-mails dos usuários que
enviam mensagens através do website, por outro se nota uma nova estilização à
antiga prática de depoimentos, enquetes e entrevistas muito comuns na campanha
da TV.
No entanto, ao invés de serem capturados e enquadrados na rua, por
câmeras, microfones, repórteres ou apresentadores, são capturados em seu próprio
ambiente, ou seja, em sua casa, local de trabalho, em seu computador, pela
estrutura e recursos do website, sendo estimulados ou podendo assim agir próativamente a favor do candidato, tornando-se elemento de validação da
candidatura.
Interessante observar que enviamos várias mensagens através do
formulário de contato, solicitando informações ou enviando sugestões, não
recebendo nenhuma resposta ou manifestação por parte dos produtores do website
ou da assessoria do candidato, mostrando um processo de filtragem das
mensagens que seleciona quem tem o direito de aparecer ou de ser respondido.
Por outro lado as mensagens de apoio são inseridas na página inicial
em ponto privilegiado de leitura, mostrando um aproveitamento de recurso de
interação e integração em prol da construção da imagem e visibilidade do
candidato, mas não estabelecendo uma relação de troca e reciprocidade com estes
usuários.
1
Recall é um termo usado no mercado publicitário para referir a memorização ou conhecimento de uma marca, produto ou
serviços pelos consumidores.
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270
César Steffen
Esta estratégia geral de construção, ou seja, reservando ou ocupando a
área mais nobre da página inicial do website para a campanha no HPEG da TV e
inserindo com freqüência diária – ou mesmo horária - notas e informações de
campanha, alterando banners conforme o momento da campanha, permanece
durante todo o primeiro turno.
Recordamos, então - como consta em nosso quadro teórico - que na
Internet o tempo de contato com o meio é determinado pelo usuário, que de forma
mais ativa seleciona o espaço-tempo de interação.
Isto pois nos permite afirmar que por trás deste processo de relação
entre os meios pode estar uma estratégia de captura e mesmo exploração do
usuário oferecendo conteúdo e elementos de valor de meios onde a marca
temporal impede o contato, além de se configurar como um processo de troca e
sinergia dentro da campanha que acelera e dá nova velocidade e agilidade a
mesma , os quais se manifestam em todas as dimensões e processos do website.
Por outro lado, a alta freqüência de conteúdos referentes às ações de
campanha ou redundando elementos do menu em área privilegiada de leitura,
somado aos ícones e às imagens ilustrativas que se tornam elementos de destaque
e deslocamento da atenção do usuário, mostra o website como elemento de
ampliação da campanha, na medida em que permite o aprofundamento das
estratégias de visibilidade do candidato e se torna uma fonte alternativa de
informações para os eleitores.
No dia da votação a estrutura geral permanece sem alterações,
mantendo a hierarquia dos links e seções (ilustração 3.98). O banner principal
mantém a imagem com as cinco pessoas. O texto “a hora do voto” mudou para
“vote”, um convite a ação em prol do candidato na eleição, mostrando uma
mudança do discurso político no meio onde o “O” do “vote” era formado pelo
logotipo da campanha com o número 45, reforçando ou mesmo redundando o
número do candidato.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 3.98 - página inicial em 06/10/2002
O banner de empregos, presença constante durante a campanha,
desaparece deixando uma área em branco, vazia, e abaixo do box do “Pelotão 45”
inseria-se o banner com link para as mensagens de apoio de midiáticos e políticos,
mostrando a relevância desta seção para a estratégia do candidato.
Durante o horário de votação a manchete principal, ao lado de imagem
do programa de TV de Serra com o logotipo e o número ao fundo, destacava que
as pesquisas confirmavam o segundo turno da eleição, acima de quatro notas
menores.
Ilustrada por um ponto de exclamação o titulo provocava “Quem
venceu o debate!”, ataca sutilmente os adversários (especialmente Lula que neste
momento apresentava chances de vitória no primeiro turno) através dos
comentários de quatro analistas de diversos campos – político, midiático, etc. que colocam Serra com a melhor postura e vitorioso daquele ato de campanha.
Ao lado deste box uma foto de Serra e Rita convida o usuário a ler
artigo de Serra na Folha, e abaixo foto montagem com as fotos oficiais de Lula e
Serra destacava, no texto, que Serra “mostra que tem propostas e deixa Lula sem
resposta”.
As
“Últimas
Notícias”
destacam
fatos
do
dia
e
inserem,
aleatoriamente, artigos e notas anteriores sobre as propostas de Serra das mais
variadas fontes, desde as do próprio website até matérias de jornais e apoios de
midiáticos.
Nota-se que durante a votação Serra diminui a importância da
principal proposta, o “projeto segunda-feira”, e concentra-se em desconstruir seu
provável adversário a partir dos debates e de suas propostas, num discurso ou
estratégia eminentemente político. Além disso valoriza as pesquisas que
indicavam segundo turno, permitindo inferir uma estratégia de influência sobre
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272
César Steffen
eventuais eleitores indecisos e busca de cumprimento da chamada “lei da
procrastinação”.
Ilustração 3.99 - página inicial em 06/10/2002 as 18:15
Encerrada a votação a manchete destacava “Serra na hora do voto”,
ilustrada por foto do candidato na sua seção eleitoral acompanhado pelo candidato
ao Governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e fazendo o “V” na vitória
com os dedos (ilustração 3.99).
A manchete anterior virou nota secundária, mantendo a mesma
imagem em formato menor, ao lado de outra foto destacando que um ator do
campo empresarial, Antonio Ermírio de Moraes, “vota 45 e se enche de
confiança”.
A atualização e os conteúdos inseridos nos permitem inferir que Serra
considera uma vitória para sua candidatura a realização de segundo turno e sua
presença na disputa, usando de um amplo cruzamento entre apoios de outros
campos, pesquisas eleitorais, conteúdos da mídia e ações do candidato para
reforçar sua visibilidade e construir sua campanha.
Causa estranheza, entretanto, a supressão do banner de emprego, o
que demonstra que a proposta perde força e importância na reta final da campanha
do candidato. Poder-se-ia observar nisto uma influência da legislação eleitoral que
proíbe propaganda quarenta e oito horas antes do pleito, função do banner, mas a
manutenção deste conteúdo no menu e o espaço em branco no lugar do mesmo
mostram a busca de reforço da proposta por sua ausência.
Tendo em vista as questões expostas lembramos de Perriault (2000)
quando cita as orquestrações e estratégias que se formam em torno dos meios de
comunicação. Vemos então no website de Serra uma conjugação de operações
estratégicas na construção da visibilidade de Serra no meio, tanto no tocante aos
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273
A Política nos espaços digitais
formatos, como nas estratégias de atualização, usando o website como elemento
de propagação e informação para os diversos campos.
Por um lado os menus e páginas iniciais contemplavam uma série de
propostas de interação para o usuário, buscando conduzir e pautar o processo de
navegação deste pelos conteúdos e recursos do website. Por outro vemos uma
forte vinculação do website com o HPEG e um acoplamento com vários outros
campos, cujas operações discursivas são inseridas de forma a sustentar e suportar
as propostas, projetos e mesmo a biografia do candidato.
Não podemos deixar de ressaltar a candidata a Vice, que recebe
destaque na imagem e nos banners, nos conteúdos mas é menos valorizada ou
recebe menos espaço. Da mesma forma, chamou-nos a atenção o pouco espaço ou
a posição menos privilegiada dada aos atores do campo político, mostrando a
relevância dos demais campos como elementos de sustentação da candidatura.
Assim, podemos colocar que Serra constrói seu website num amplo
cruzamento e acoplamento com vários campos, mas a mídia e seus atores recebem
espaço e relevância, sendo alçados ao papel de analistas e comentaristas da
realidade.
3.2.7 – As diferentes construções de campanha se mostram nas páginas
iniciais
Nesta parte nos propomos a efetuar recortes comparativos entre as
estratégias de construção das páginas iniciais dos websites e seus elementos
construtivos, conforme nossa proposta de leitura e análise do segundo conjunto de
elementos.
Como referido anteriormente Serra foi o único a usar dos recursos de
hipertexto proporcionados pelo meio Internet dentro dos textos e elementos do
website. Através dos fragmentos de campanha o usuário tinha a possibilidade não
só de tomar conhecimento dos atos e ações do candidato nas diversas instâncias
da campanha, mas também de travar contato direto com outros conteúdos do
website vinculados àquele ato, conteúdo ou ação.
Os banners repetiam, de certa forma, esta estratégia, resumindo os
elementos da principal propostas de Serra, o “Projeto Segunda-feira”, remetendo a
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274
César Steffen
seções com detalhamento e aprofundamento da proposta, onde a linguagem
publicitária mostrava-se de forma mais forte e presente.
Nos pop-up´s, entretanto, manifestava-se mais fortemente o discurso
político, sendo este recurso manipulado para responder ataques ou apresentar
acusações aos adversários.
Observava-se, nesta pagina inicial, a força dos atores, elementos e
discursos do campo midiático, sendo estes elementos não só de pauta, condução e
apresentação dos fragmentos de campanha como também de construção das
propostas e projetos, validando e dando suporte a postura do candidato, suas ações
e discursos.
Lula mostrava, na página inicial, uma ampla mescla de campos. Se os
fragmentos se focavam nos seus atos e ações, colocando o candidato como centro
da campanha - mas sempre falando através de sua assessoria - os banners
mostravam e davam força as entrevistas dos apoiadores oriundos de diversos
campos sociais, numa presente e constante heterorreferencia que construía a
imagem de Lula pelas relações que se apresentam no website.
O único pop-up observado apresentava uma função comercial, que
buscava gerar receita para a campanha, onde se observa uma estratégia única, o
uso do recurso de comércio eletrônico do meio para o financiamento da
campanha, onde cabe destacar a influência das regras do campo jurídico na
formatação e condução do processo.
Ciro repete, na página inicial, a forte auto-referência observada no
menu de navegação, focando e apresentando seus atos, ações, propostas e agenda
numa constante auto-referência.
Esta lógica só foi quebrada em momentos específicos e por influência
do cenário geral da campanha como, por exemplo, quando Ciro busca o apoio de
sua esposa, Patrícia Pillar, para apoiá-lo frente a uma ação infeliz numa entrevista.
Com foco bastante informativo, mas com atualização menos freqüente
que os anteriores, a página inicial de Ciro mostra uma mescla do discurso político
com uma construção, formatação jornalística, bastante vinculada às estratégias e
lógicas e construção dos players de mídia no meio.
Mas o discurso político manifestava-se mais fortemente nos pop-up´s
que, quando usados, traziam acusações e suspeitas quanto os demais candidatos.
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A Política nos espaços digitais
A página inicial do website de Garotinho, com atualizações ainda
menos freqüentes que observada em Ciro, mostrava uma forma mais publicitária.
A imagem Presidencial do candidato era destacada na barra superior, ao lado de
seus atos, ações e propostas.
Já os fragmentos de campanha mostravam os atos, ações e discursos
do candidato, mas as imagens tinham maior permanência, apresentando uma
leitura auto-referente da campanha.
Garotinho não usava pop-up e poucos banners, mostrando uma mescla
de construção jornalístico-informativa com discurso político e linguagem
publicitária numa constante auto-referência, onde elementos externos como mídia,
pesquisas e adversários eram inseridos apenas como forma de validar, construir e
destacar a imagem e as proposta do candidato.
Zé Maria já apresentava uma forte vinculação com a identidade
político-ideológica do PSTU. Apesar de apresentar sua imagem em pontos
destacados desta página e de mostra uma forte referência midiática na formatação
da página, numa construção bastante assemelhada a seus concorrentes.
Nos textos observamos o uso de coletivos – “Queremos cotas ...”, etc.
– e as bandeiras contra a ALCA e o FMI como elemento de constante pauta dos
elementos e conteúdos.
No website do PCO cabe estacar que a eleição é hierarquicamente
menor que as questões político-ideológicas do partido. Fortemente ideologizado, a
página inicial do website é pautada pela luta anti-imperialismo norte-americano,
num discurso característico dos anos 60 e 70 que se faz presente.
A disposição dos elementos na página, desde os menus e sub-menus
até os (poucos) banners mostravam uma forte desorganização e mesmo descuido
com a relações entre os elementos.
O uso e cores vivas e com forte contraste entre si prejudicava a
identificação dos elementos, e o uso de imagens de personagens como Trotski,
Che Guevara, Lênin e outros reforça o papel e o caráter de propagação ideológica
do website, mostrando ser este um elemento direcionado mais a militância do
partido do que aos eleitores em geral.
Observa-se, assim, nestas diferentes construções das páginas iniciais,
diferentes estratégias de apresentação de discursos, conteúdos e também de
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César Steffen
manipulação dos recursos do meio, sendo as estratégias, intenções e fazeres dos
candidatos e partidos os elemento de construção e condução destas páginas.
4. 2o Turno: novas estratégias nos espaços digitais
O primeiro turno encerra lançando Lula e Serra a um novo “round”,
obtendo respectivamente 46,4% dos votos válidos (39.444.010 em números
brutos) e 23,2% (19.700.549). Garotinho fica na terceira posição com 17,9%
(dezessete vírgula nove porcento, ou 15.175.776 votos) e Ciro com 12% (doze
porcento, equivalentes a 10.167.650 votos).
Ignorados pelas emissoras nos debates e recebendo menos espaços na
mídia regular, Zé Maria do PSTU recebe 402.038 (quatrocentos e dois mil, trinta e
oito votos, ou cerca de meio porcento dos voto válidos), Rui Costa Pimenta trinta
e oito mil, seiscentos e oito votos, e ambos desaparecem do cenário da campanha.
Garotinho manifesta seu apoio a Lula em depoimento gravado em seu
escritório político, mas não aparece em manifestações, atos de campanha ou ao
lado do apoiado, e “congela” seu website, que apenas comemora a eleição de
Rosinha no Rio de Janeiro2.
Ciro Gomes apóia Lula e aparece no HPEG ao lado e de mãos dadas
com este já no primeiro programa, onde além de agradecer aos eleitores que nele
confiaram pede votos para Lula. No website os conteúdos diretamente ligados a
campanha – Programa de Governos, peças publicitários, etc. – são retirados,
mantendo basicamente a biografia do candidato. A página inicial, entretanto,
segue sendo atualizada, mostrando o apoio de Ciro a Lula e concentrando ataques
à campanha, propostas e imagem de Serra.
Lula não muda sua estratégia geral de campanha, mostrando os apoios
e valorizando seus projetos e propostas, o que se reflete em poucas mudanças no
website, onde apenas o título de uma das seções e a disposição dos elementos da
página inicial, dando mais espaço para os fragmentos de campanha, são alterados.
2
Cabe observar que notamos mudanças e novos movimentos de atualização no website de Garotinho somente no mês de
março de 2003, mas não podemos precisar em que momento este recomeça suas ações no meio.
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A Política nos espaços digitais
Serra, por seu turno, efetua mudanças em seu comando de campanha e
passa a exigir debates com seu adversário, argumentando ser a única forma de se
conhecer realmente o candidato mais preparado.
Adotando um tom mais nacionalista, contrapondo o verde-amarelo da
bandeira Brasileira - e do logotipo do PDSB – a bandeira vermelha, Serra aparece
no HPEG debatendo com auditórios das mais variadas formações, explicando suas
propostas e esclarecendo dúvidas sobre seus projetos. Esta estratégia se traduz
numa re-organização geral do website, que recebe fóruns para debate e mudança
na disposição dos links do menu de navegação.
Iniciado o HPEG do segundo turno, o website sofre uma mudança
profunda em sua estrutura. A cor predominante muda do azul da carteira de
trabalho para o verde da bandeira, associando ao tom mais nacionalista da
campanha e a oposição a “bandeira vermelha” do PT.
Surge com destaque, ocupando boa parte da área central da página,
um fórum de debates sobre temas da campanha, apresentando um cruzamento das
estratégias de campanha com as tecnologias e recursos técnicos do meio que se
somam para a construção e conformação das estratégias gerais do candidato.
Novamente a polarização da campanha se apresenta através do
website e do fórum manifestando a valorização dos discursos e estratégias
políticas. Serra busca, através dos debates, questionar a competência e as
propostas do adversário Lula, mas este questionamento é direto, feito sempre pelo
candidato, onde a Vice perde espaço assim como os atores de outros campos que
depunham a favor de Serra no primeiro turno.
4.1. Mapeamentos, caracterizações e representações
Nos dois capítulos que seguem apresentamos as especificidades do
primeiro conjunto de análise dos websites dos candidatos ao segundo turno do
pleito de 2002.
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278
César Steffen
4.1.1. Lula 13: “Programa de Governo”
Passada a votação no primeiro turno a estrutura geral do website não
se altera, mostrando a continuidade das estratégias do candidato neste novo
momento da campanha.
Da mesma forma podemos ver neste fato a avaliação positiva do
esforços e estratégias gerados, cuja manutenção seria elemento de reforço da
imagem e candidato. Ou seja, resumidamente podemos comentar que Lula não
mudou, continua o mesmo, apesar da mudança do cenário da campanha e mesmo
das mudanças estratégicas de seu adversário.
Os links do menu permanecem inalterados, mantendo a seqüência “A
vida de Lula”, “Notícias”, “O Brasil que a gente Quer”, “Eleitor de Carteirinha” e
“Participe”.
Ilustração 4.1 - página inicial em 08/10/2002
Os conteúdos das seções permanecem os mesmos, sem alterações ou
adições, sendo a exceção a seção “Notícias”. Esta mantém a sua estrutura,
diagramação e conteúdos, segue acompanhando os atos e ações de campanha na
parte central da página, mas ganha novas entrevistas com personagens como
Delfin Neto, que comenta o cenário econômico do país e faz fortes críticas a FHC.
No dia dezesseis notamos uma mudança significativa. O título do link
“O Brasil que a gente quer” foi mudado para “Programa de Governo” (ilustração
4.2), mas os conteúdos e elementos não seguem esta alteração.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 4.2 - página inicial em 16/10/2002
Interessante observar que já as primeiras pesquisas após o primeiro
turno mostravam Lula como franco favorito no pleito. Assim, a mudança de título
desta seção, por um lado, indica a confiança do candidato e seus assessores na
vitória e, por outro, efetiva um compromisso com o eleitor, pois o que antes era
uma proposta, um desejo ou sonho, “O Brasil que a gente quer”, passa a ser um
“Programa de Governo”, um compromisso quase com valor de um contrato com a
sociedade Brasileira.
Por um lado nota-se nesta mudança um ajuste estratégico do website
ao cenário da campanha, conformando-o a vitória indicada pelas pesquisas
eleitorais. Entretanto, não podemos deixar de notar neste movimento um clima de
“já ganhou” presente na campanha do candidato.
4.1.2. Serra 45: é verde-amarelo
Até dezesseis de outubro o website de Serra mantém-se sem
modificações significativas em sua estrutura e conteúdos. O menu permanece com
os mesmos links, na mesma formatação que encerrara o primeiro turno, mantendo
a estratégia e os conteúdos inalterados.
No início do HPEG o website passou por alterações significativas. O
menu, antes uma barra lateral à esquerda, passa a ser formatado em quatro colunas
na página inicial, sendo o fórum posicionado com primeiro link na quarta coluna,
mas os demais conteúdos permaneceram.
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280
César Steffen
Nas páginas internas, entretanto, o menu segue formando uma barra
única, onde o novo elemento adicionado, “Fórum – área de debates”, foi inserido
como primeiro link, abaixo apenas do pequeno banner do Programa de Governo.
Este novo link conduzia a uma página que continha, no topo, foto da
bancada do programa de Serra no HPEG vazia (ilustração 4.3), sem
apresentadores ou sem os candidatos, mostrando que o debate está em aberto, ou
seja, de que há um espaço a ser ocupado pelo usuário do website.
Ilustração 4.3 - Seção “Fórum – área de debates”
Abaixo, o texto ressaltava a importância do debates no segundo turno,
apresentando os vários temas propostos aos usuários. “Trabalho”, “Mulheres” e
“Agricultura” foram adicionados gradativamente em boxes abaixo deste texto,
acompanhando a página inicial – ou sendo acompanhados por esta – acima de
pequenos textos provocativos.
Destes destacamos que apenas um, sobre agricultura, não citava o PT
ou o candidato Lula diretamente, mas questionava “qual dos candidatos esta mais
preparado para defender o Brasil no exterior?”, escancarando os ataques e
questionamentos de Serra a competência e projetos de Lula e mostrando uma nova
configuração – ou suporte – para o discurso político.
Não era necessário cadastro no website para inserir ou responder
comentários - prática bastante comum em fóruns promovidos por websites
comerciais - mas apenas informar nome e e-mail (ilustração 4.4).
Ao final da inserção era apresentado aviso de que o fórum respeitava a
legislação eleitoral (no tocante a ofensas pessoais e à honra) e à constituição
vedando o anonimato dos participantes, mas este aviso era apresentado apenas
quando o usuário não tinha mais a opção de retirar ou desfazer sua ação.
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A Política nos espaços digitais
Ilustração 4.4 - mensagem escrita pelo pesquisador para o fórum “Empregos”
Nos fóruns propriamente ditos as notas não apresentavam o nome ou
e-mail do seu criador, possibilitando apenas respondê-la. As notas que inserimos
como parte de nossa pesquisa, tanto apresentando comentários como criticando
comentários de usuários, foram publicadas, mas não observamos respostas dos
usuários.
Em nossa opinião a configuração e características deste fórum não
suportam um debate propriamente dito, a troca de opiniões, sustentando ou
suportando apenas práticas de inserção de opiniões como sustentado por Rousiley
Maia (2002), citada anteriormente neste trabalho.
Esta visão é reforçada pela limitação dos temas às propostas e
intenções do candidato. Entretanto estes não se configuravam como uma barreira,
na medida em que observamos, neste fórum, muitas mensagens de apoio e mesmo
críticas ao candidato e sua postura.
A estrutura e recursos ofertados nos permitem inferir a sua criação
como elemento de estratégia de posicionamento do candidato, vinculando o
website a campanha, a sua pauta de debates e, logo, a construção de sua imagem.
Cabe destacar que no dia 25 observamos – como pode ser notado na
ilustração 4.3 – quatro temas. Além dos três citados na página inicial surge o tema
“Educação”, cujo texto acusava o PT de barrar projetos de incentivo à educação e
defendia propostas da gestão FHC.
Em nenhum momento este tema foi apresentado na página inicial
(ilustração 4.5) ou recebeu qualquer destaque além de sua inserção nesta página.
Isto nos leva a desconfiar de sua pouca relevância nas estratégias do candidato, e
de sua inserção ser apenas um elemento para atender possíveis demandas do
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282
César Steffen
público da Internet, altamente qualificado, ou mesmo apenas ser um elemento de
equilíbrio dos fóruns.
Ilustração 4.5 - página inicial em 25/10/2002
4.1.3 – A continuidade versus as mudanças
Neste momento efetuamos algumas observações comparativas das
estratégias de Lula e Serra no segundo turno, tendo em vista os dados de nosso
primeiro conjunto de análise e as análises dos mesmos candidatos no primeiro
turno do pleito.
Observamos que Lula não muda os conteúdos, recursos e formatos de
seu website, sendo isto aparentemente reflexo de uma continuidade na campanha
como um todo.
A única alteração notada foi o título da seção “O Brasil que a gente
quer”, que passou a ser denominada “Programa de Governo”, transformando os
conteúdos menos numa promessa e mais num compromisso, um projeto para o
país.
Serra, por outro lado, efetua mudanças bastante significativas. Além
de manter os conteúdos e elementos dos website no primeiro turno é adicionado
no website, um fórum de debates, e a cor azul predominante é alterada para o
verde-amarelo da bandeira.
Reflexo da nova estratégia do candidato, que busca debates com o
único adversário, é interessante observar que quem passa a pautar e exigir debates
neste momento é o campo político, ao contrário de pleitos passados onde o campo
midiático buscava pautar e realizar tais eventos, mas nem sempre contava com o
apoio e presença dos candidatos.
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283
A Política nos espaços digitais
Reforça-se assim a já comentada idéia de que os websites suportam
diferentes e diferenciados recursos de interação e integração entre os candidatos e
os diversos campos envolvidos no pleito.
Da mesma forma, vemos que as alterações nos conteúdos estão intima
e diretamente ligados às estratégias gerais de campanha dos candidatos,
manifestando, através dos recurso técnicos e discursivos do meio Internet, os
processos e fazeres destes no cenário geral da campanha.
Analisaremos isto em maiores detalhes nos capítulos a seguir, quando
nos focaremos nas páginas iniciais destes espaços durante o segundo turno.
4.2.Agendamentos e Cruzamentos
Este capítulo contém os elementos oriundos de nosso segundo
conjunto de análise dos websites dos candidatos no segundo turno da corrida
Presidencial Brasileira de 2002.
4.2.1. Lula 13: co-determinado por outros discursos
No período do segundo turno a página inicial do website de Lula passa
por alguns ajustes. Primeiramente, no momento imediatamente após o
encerramento da contagem dos votos do primeiro turno, o banner principal mostra
Lula segurando a estrela do PT ao lado dos textos “Mais de 39.000.000 de votos”
e “Obrigado Brasil”, que se revezam em efeito de fade agradecendo aos eleitores a
votação.
Já iniciado o HPEG este banner foi reduzido, ficando com uma
proporção mais próxima a tela de televisão, apresentando foto de Lula animada
em plano aberto mudando, e efeito de fade, para um close.
Esta imagem foi posteriormente substituída pela animação da urna
eletrônica já apresentado no primeiro turno, que permanece nas demais edições
analisadas até o dia da votação.
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284
César Steffen
A barra de “Últimas Notícias” amplia seu espaço graças a esta
redução, ganhando o mesmo espaço da imagem e inserindo imagens dos fatos e
ações de campanha. As imagens ilustrativas dos fatos e entrevistados ganham
maior espaço (ilustração 4.1.2), mostrando uma valorização dos apoios e fatos da
campanha e ampliando o espaço da política na página, ou seja, reduzindo o espaço
dos elementos publicitários para valorizar elementos mais vinculados a ações ou a
propostas e análises políticas.
Os itens “Diálogo com a Imprensa” e “Busca em notícias” são
deslocados para abaixo da imagem principal, perdendo parte de sua força dentro
da estrutura geral. No seu lugar anterior surge o link “Desfazendo Intrigas” e, ao
lado, link direto para a “Rádio 13”.
“Desfazendo Intrigas” surge num momento em que circulam
mensagens na Internet levantando suspeitas sobre a intenção do plano de governo
do PT de acabar com o direito à sucessão (ilustração 4.6).
Ilustração 4.6 - página inicial em 25/10/2002
A resposta surge nesta seção do website com o título “Nota sobre
crimes na Internet”, remetendo ao Programa de Governo constante no website
para esclarecer a não procedência de tal informação. Interessante observar que não
só o website é usado para esclarecer questões que circulam na Internet como
também p uso de conteúdos presentes desde o primeiro turno – no caso o
Programa de Governo – para responder a um ataque dos adversários.
Com o decorrer da campanha outras notas são adicionadas, uma ainda
sobre o tema sucessão, desta vez envolvendo a administração petista e os projetos
habitacionais de Porto Alegre, e outra esclarecendo a não ligação do PT com as
FARC, forças guerrilheiras da Colômbia acusadas de apoiar o tráfico de drogas.
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285
A Política nos espaços digitais
Esta nota foca-se não só em demonstrar que o PT não tinha relação
direta com as FARC mas, principalmente em pautar a discussão sobre o papel do
Brasil nos problemas do país vizinho e no tráfico de drogas, aproveitando para
criticar a política externa adotada por FHC.
As duas últimas notas inseridas versam sobre elementos da campanha,
sendo que uma se aproveita de matéria do jornal “Valor Econômico” para
esclarecer questões relativas aos diretores das agências reguladoras.
A última, intitulada “Serra, as verdades e as mentiras”, responde a
acusação do adversário sobre a administração petista no Rio Grande do Sul, onde
notamos que esta seção surge num momento de alta polarização da campanha para
responder ataques e suspeitas do adversário através do website.
Os banners secundários seguiam com sua função de apresentar ou
reforçar conteúdos internos das seções. “A força do PT nos estados”, que remetem
aos resultados do partido nas eleições estaduais, muda freqüentemente de posição
junto com o “Programa de Governo” e as entrevistas com as personalidades.
Ciro Gomes e Garotinho, que declaram seu apoio a Lula, são
primeiramente apresentados com fotos e depoimentos na área da imagem
principal, sendo depois deslocados para os banners inferiores, alterados – ou
revezados – com os demais conteúdos.
Neste espaço é inserida chamada para entrevista exclusiva com
Delfim Neto, logo acima do banner “eleitor de carteirinha”. Ex-Ministro da
Fazenda no período militar, signatário do AI-5, que instituiu a repressão, e
adversário histórico do PT, Delfim observa a eleição de 91 Deputados Federais
pelo PT como emblema de uma necessidade de mudança, e opina que Serra
estaria “mobilizando o velho” em sua campanha.
Sem abrir ou garantir seu voto, Delfim indica que não vê motivos para
não votar em Lula, mantidos os compromissos de campanha, sendo interessante
observar que a seção de notícias já havia transcrito entrevista do economista ao
jornal Folha de São Paulo, em que fazia fortes criticas a administração de FHC
indicando seus erros como causadores da crise econômica em que corre a eleição.
Observa-se a seqüência da estratégia de acoplamento a vários campos, que são
convidados a dar sustentação e validade à candidatura e as propostas de Lula.
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286
César Steffen
No dia da votação em segundo turno o website seguia com suas
funções. As “Últimas Notícias” acompanham o pleito e as ações do candidato. Os
aliados, assim como os candidatos estaduais, aparecem nos banners inferiores,
abaixo dos quais a fiscalização do primeiro turno reaparece.
Ilustração 4.7 - 27/10/2002 - página inicial do site de lula as 21:45h
Passada a eleição, assim como no primeiro turno a imagem principal
acompanha os dados da apuração. Quando encerrada, confirmada a vitória do
candidato, surge animação com o candidato vestindo a faixa Presidencial ao lado
do texto “Junto faremos um Brasil decente” e fogos de artifício estourando,
empossando Lula no cargo e mostrando fotos e informações das festas da vitória.
Luís Inácio Lula da Silva recebe a faixa e é “empossado” no cargo de
Presidente no website. Ou seja, não é o TSE ou o Congresso Nacional quem dão
ao candidato o status de candidato eleito, mas sim o apoio dos eleitores que vêem
seu candidato empossado, por sua assessoria, no espaço digital da campanha.
É interessante observar que, para ser inserida no website naquele
momento, a foto de Lula com a faixa Presidencial já devia ter sido obtida algumas
horas antes, mostrando que o PT confiava na vitória de Lula mesmo antes do
encerramento da votação, num possível reflexo ou influência dos resultados das
pesquisas de opinião.
4.2.2.Serra 45: Foco no debate
Na primeira data de análise do segundo turno o website de Serra
mantinha-se sem mudanças. A manchete mostrava foto de Serra, aparentemente
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287
A Política nos espaços digitais
captada em uma tela de TV, ao lado de manchete pedindo debates, foco da
estratégia de Serra nesta fase da campanha.
As notas inferiores remetiam ao candidato, suas falas e apoiadores,
sendo que uma delas mostra Serra no programa do HPEG, colocando o segundo
turno como “oportunidade para Serra debater soluções para o país”, mostrando a
força e o foco da nova estratégia do candidato.
No dia dezesseis de outubro, onze dias antes da votação, notamos
grandes mudanças na página inicial, apresentando os reflexos da estratégia geral
de Serra no website.
O tom azul predominante do primeiro turno foi substituído pela cor
verde em todo o website, acompanhando o programa do HPEG na TV. As fotos
dos candidatos foram deslocadas para a esquerda, ficando no primeiro ponto de
leitura. O logotipo da campanha para a direita, ficando aplicado dentro de um
losango amarelo que remetia diretamente à bandeira Brasileira.
As “Últimas Notícias”, que antes ocupavam a área central da página,
viram apenas “Notícias” ganhando um fundo amarelo suave e sendo deslocadas
para uma barra à esquerda da página, mantendo a estratégia de destacar uma
informação em forma de manchete no ponto superior, mas agora se focando
sempre no candidato e suas ações.
As notícias foram reduzidas de quatro para duas, sempre
acompanhadas de ícones ilustrativos, sendo seguidas diretamente abaixo pelas
notas, sem a separação visual entre ambas que havia na versão anterior.
Nas datas de análise, nota-se a manutenção da relação com a
campanha na TV. No dia oito, ainda no formato do primeiro turno, a manchete
apresentava foto de Serra em matéria na mídia, ao lado de texto colocando a
proposta de debates.
O dia 16 foi a única exceção, quando Serra aparece ao lado de Tasso
Jereissati, aliado de Ciro no primeiro turno que havia criticado duramente a
campanha de Serra3, em carreata no Ceará.
No dia 25, data do único debate do segundo turno, uma manchete
mostrava imagem de Serra no programa do HPEG acompanhado da assinatura da
campanha. O texto convidava usuário a assistir o debate na Globo, e o lead
3
Para mais detalhes sugerimos http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A354556-476,00.html
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288
César Steffen
destacava “É melhor do que nada! Veja (...) por que Serra é o candidato capaz de
mudar o país, mas mudar para melhor. Assista ao debate na Globo!”.
Interessante observar não só que o candidato aparece em foto do
HPEG onde estava sozinho, isolado, como se falasse ou se dirigisse diretamente
ao usuário do website em busca de apoios, mas também a construção do texto,
usando duas vezes o ponto de exclamação, dando um tom provocativo e mesmo
indignado ao lead.
Além disso o texto dizia que Serra mudaria o país “mas para a
melhor”, mostrando o clima polarizado da campanha e mesmo a estratégia de
ataques ao adversário Lula.
No início do HPEG na área diretamente abaixo do banner principal,
antes ocupada pelos fragmentos de campanha, surge novo banner, chamando para
debates no website. Ilustrada por uma foto de carteiras de trabalho saindo da
máquina de impressão, o título destacava “José Serra debate suas propostas para:
gerar empregos”.
O subtítulo dizia que “a partir de hoje, estaremos abertos para o debate
sobre as propostas de José Serra para um Brasil melhor”, e a legenda da foto
“Conheça as propostas de Serra para a área de debate no nosso fórum de idéias.”.
O menu recebe também link para “Fórum – área de debates”,
aparecendo como primeiro item da quarta coluna ao lado de “10 razões para votar
em Serra”, deixando a impressão de que o fórum pode ser a décima primeira.
Nota-se o mote ou discurso principal da campanha no segundo turno
refletindo-se no website. O candidato pauta sua ações e discursos por pedidos e
convocações de debates, e coloca na área mais privilegiada de leitura, ocupando o
maior espaço da página inicial, este desafio a Lula, ao mesmo tempo configurando
uma estratégia de integração do candidato e dos eleitores a partir do website.
Poderíamos até mesmo dizer que houve vários debates no segundo
turno, mas entre os usuários do website de Serra e nas propostas e assuntos que
este inseriu, buscando assim pautar a campanha em geral.
Isto é reforçado pela construção dos textos deste convite.
Primeiramente o convite mostrava que “José Serra debate” (ilustração 4.8), mas
cabe destacar que o candidato não se fazia presente diretamente no fórum além de
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289
A Política nos espaços digitais
suas propostas ou mesmo da pauta de assunto, sendo os mesmos apresentados por
atores de diversos campos.
Entretanto, destacamos que o subtítulo “A partir de hoje (...)” deixava
demonstra que, até aquele momento da campanha, o candidato não estava aberto a
sugestões ou idéias dos eleitores ou de outros campos, tendo apenas a intenção de
divulgar suas propostas.
Ilustração 4.8 - página inicial em 16/10/2002
Com o decorrer da campanha este fórum foi ampliado para três
assuntos, adicionando “mulheres” e “agricultura”, este último merecedor de
destaque por ser tema da foto ilustrativa, valorizando e mesmo conduzindo o
usuário nesta área.
Constrói-se assim um debate através do website, mas um debate
dentro daquilo que a campanha, as propostas e estratégias de Serra valorizam ou
desejam, buscando aparentemente limitar as ações do usuário.
Ilustração 4.9 - página inicial do hotsite empregos
A área de debates se configurava como um hotsite dentro do website
(ilustração 4.9). O hotsite de empregos apresentava entrevista com Antonio
Ermírio de Moraes, empresário que já no primeiro turno era apresentado como
apoiador de Serra, que discutia questões relativas à economia e às propostas de
Serra.
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César Steffen
O hotsite sobre mulheres era apresentado por um depoimento da
jornalista Silvia Popovic, e o hotsite sobre agricultura por depoimento do
professor titular da FEA-USP José Eli da Veiga, nos quais observamos que Serra
segue buscando a credibilidade de outros campos, como o empresarial, o
midiático e o acadêmico para validar e sustentar suas propostas mesmo no debate
com os usuários.
Entre a área destinada ao fórum e o menu de navegação segue a barra
com depoimentos de eleitores, e o banner animado de empregos ressurge, porém
agora situado abaixo das colunas do menu, ao lado do box do “Pelotão 45”, cuja
chamada ganha maior tamanho e cores condizentes com o contexto do website.
Observa-se que estes elementos são deslocados para pontos menos
privilegiados de leitura, mostrando que perdem força e função dentro do website e
reforçando a importância do fórum de debates para este momento da campanha,
que virou o primeiro item do menu de navegação.
Chegado o dia da votação o website de Serra mantém a mesma
estrutura e conteúdos (ilustração 4.10). O fórum segue ativo e recebendo
mensagens, mas o banner de empregos novamente é retirado da página inicial, ou
seja, a promessa principal do candidato no primeiro turno, que no segundo havia
sido deslocada para ponto de leitura menos privilegiado, desaparece novamente.
Ilustração 4.10 – página inicial em 27/10/2002 – 17:30h
Assim como no primeiro turno os fragmentos de campanha resumemse ao acompanhamento dos atos e ações do candidato, que desta vez aparece em
uma foto aparentemente capturada durante o debate na Rede Globo. Ele está
sozinho em uma sala ou espaço com fundo escuro fazendo o “V” da vitória,
novamente permitindo uma leitura de isolamento.
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A Política nos espaços digitais
Abaixo a manchete provocava “Estelionato ou ruína: Lula esconde do
eleitor o que faria no governo”, mostrava a leitura - ou edição - do debate na
Globo, além de se configurar como um tipo de denúncia dos atos do adversário na
campanha. Interessante observar que o debate da Rede Globo é editado não pela
emissora ou pela mídia, mas pelo campo político, ou seja, pelas propostas, ações e
posturas do candidato e por sua estratégia de ataques a Lula, elemento que já se
fazia presente em momentos anteriores no website.
As notícias remetem-se à “45 razões” e a uma declaração de Serra de
que “Eleição se decide na urna”, enquanto as notas inserem aleatoriamente
proposta de Serra, jingles, pesquisas antigas, etc., aparentemente sem critério de
seleção.
4.2.3 – As estratégias redesenham os websites
Neste capítulo efetuamos algumas comparações entre as estratégias e
elementos observados nas páginas iniciais dos websites de Lula e Serra durante o
segundo turno da eleição, tendo em vista o que foi observado e analisado no
primeiro turno.
Observamos que, assim como os conteúdos em geral, a página inicial
do website de Lula passa por poucas alterações. O espaço dos banners passa a dar
mais destaque para as imagens dos fragmentos de campanha, mas também segue o
foco no candidato, seus atos e ações, sendo este comentado e retratado por seus
assessores num formato jornalístico.
Num momento de forte polarização do pleito, as crônicas e análises de
atores de vários campos, muito presentes durante o primeiro turno, perdem espaço
para um discurso mais fortemente político, marcado por propostas e análises de
cenário.
Lula não responde aos ataques e acusações do adversário, mantendo
sua imagem “light” e aparentando um clima de “já ganhou”, sendo interessante
destacar que os pop-ups da “lojinha do PT” não foram observados durante este
processo.
Serra, ao contrário, efetua alterações radicais. O elemento central de
formatação e condução do website no primeiro turno, a proposta de empregos,
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292
César Steffen
perde força, sendo o banner deslocado para pontos de leitura menos privilegiada.
O fórum de debates, que surge vinculado ao principal discurso do candidato neste
momento, ganha força e destaque junto aos ataques a Lula, que permeiam todas as
áreas, dos fragmentos aos banners.
O website de Serra foca-se nos atores e apoiadores dos diversos
campos, principalmente o midiático, apesar de mantidos nas várias seções e
páginas, recebem menor destaque na página inicial em comparação com o
primeiro turno, mostrando uma re-organização estratégica e reforçando a
relevância do fórum de debates neste novo momento da campanha
Vemos, assim, novamente a vinculação dos websites com o cenário
geral da campanha e com as estratégias dos candidatos manifestando, através das
linguagens e tecnologias do meio, os fazeres e processos da campanha como um
todo.
5. Encerrada a contagem, a posse no espaço digital
Passada a votação e encerrada a contagem Lula é declarado vencedor
e “empossado” em seu website onde aparece em uma foto com a faixa
Presidencial (ilustração 5.1), que segue em sua função informativa.
Vários conteúdos, como as peças gráficas da campanha, são retirados,
mas as entrevistas, Programa de Governo e vários conteúdos da seção “Notícias”
permanecem disponíveis.
Ilustração 5.1 – Página inicial do website de Lula – 19/11/2002
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A Política nos espaços digitais
Instaurada a transição de governo com FHC o website é retirado do ar.
Permanece a imagem de Lula com a faixa Presidencial ao lado de texto dando
conta que 1,3 milhão de usuários efetuou mais de 12 milhões de visitas ao website
(ilustração 5.1).
Na mesma área é divulgado o endereço do website oficial do PT e do
website da transição, que informa sobre os atos e ações da equipe de transição
num formato semelhante ao do website candidato.
Serra convoca as emissoras de rádio e televisão, agradece os votos e
deseja boa sorte ao vitorioso. Os conteúdos das diversas seções, bem como os
textos e fotos da página inicial do website de Serra desaparecem, são retirados do
ar, sendo substituídos por uma carta de agradecimento aos eleitores intitulada
“Obrigado Brasil” (ilustração 5.2).
Ilustração 5.2 - website de Serra em 28/10/2002 00:30h
Num tom bastante pessoal, próprio de uma carta, Serra ressalta a
soberania das urnas, deseja boa sorte ao vencedor – sem citar o nome de Lula – e
saúda FHC por sua imparcialidade.
A tecnologia da Internet, antes suporte de várias práticas e operações
estratégicas, resume-se ou conforma-se a uma antiga prática epistolar digitalizada,
onde a própria fonte do texto – em tipo itálico - remete a um texto manuscrito.
6. Websites: um novo suporte para as (diferentes) estratégias de campanha
Neste capítulo, que encerra este bloco, apresentaremos considerações
e comparações gerais sobre as características, usos e estratégias de manipulação
dos websites dos candidatos a Presidência no pleito de 2002.
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César Steffen
Primeiramente devemos comentar o vínculo observado com as
identidades políticas dos partidos e candidatos nos websites, que mostram-se
como fundantes e determinantes não só da programação visual mas também da
construção dos textos e demais conteúdos. Isto demonstra, como nos referimos em
capítulos anteriores, que os espaços digitais se fazem e se constroem pelas
identidades dos campos.
Por outro lado, devemos comentar a divulgação dos endereços do
websites no HPEG, o que demonstra e reforça a sinergia entre as mídias que
forma e conforma o espaço digital de interação da Internet, colocando o mesmo
como um elemento e instância dos processos de midiatização da política.
Da mesma forma, a ausência de registros ou links com os nomes dos
candidatos a vice, que são assim colocados numa posição absolutamente
secundária se não na campanha como um todo, mas certamente como elemento de
acesso e mobilização do espaço digital.
Somando a isto a presença das fotografias dos candidatos e os
logotipos de campanha em pontos privilegiados de leitura, além do amplo espaço
dedicado as biografias dos candidatos, vemos que os websites buscam situar
claramente o lugar e espaço de contato em que o usuário se encontra, ou seja, a
quem pertence o espaço e com quem ele está falando (ou, no caso, clicando).
Se, por um lado, isto facilita o reconhecimento e identificação por
parte do usuário, por outro se pode colocar ai um reflexo daquilo que Bourdieu
(2000:164) denomina de “domínio dos profissionais”. Ou seja, da personificação e
personalização da campanha em detrimento das siglas partidárias, que se
manifesta também no espaço digital de campanha. Esta percepção é reforçada
pelas posições menores ou menos destacadas dos partidos, que pudemos observar
principalmente nos websites de Lula, Ciro e Serra.
A exceção desta lógica são os websites de Garotinho, que reservou
amplo e destacado espaço ao PSB, e os de Zé Maria e Rui Costa Pimenta, cujas
campanhas tem uma forte marca ideológica, com ênfase na identidade partidária.
Estes divulgavam no HPEG os endereços dos websites dos partidos, com extensão
“.ORG”, mostrando ser eles, candidatos, divulgadores e propagadores não das
propostas deles, candidatos, mas sim das propostas e bandeiras dos seus partidos.
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A Política nos espaços digitais
Assim, vemos que os websites são diretamente vinculados as
identidades dos atores e partidos que nele investem, tornando-se uma instância de
projeção e propagação de suas estratégias, agendas, projetos e propostas.
Entretanto, isto não se repete no tocante a formatação dos websites,
que se são vinculados a programação visual desenvolvida nas diversas mídias,
mostrando uma forte influência dos players de mídia na Internet, como pode ser
observado nas telas colocadas a seguir (ilustrações 6.1, 6.2, 6.3, 6.4, 6.5 e 6.6).
Ilustrações 6.1 e 6.2 – páginas iniciais de Terra e de Serra
Primeiramente, os logotipos das campanhas são colocados no canto
superior esquerdo, no primeiro ponto de leitura e na mesma posição dos logotipos
dos portais. Em segundo lugar os menus são formatados como barras com tópicos
organizados hierarquicamente, e as notícias e informações mais recentes são
apresentadas no centro da tela ao lado dos menus, da mesma forma que Terra e
UOL.
Ilustração 6.3 e 6.4 – páginas iniciais do UOL e de Ciro
Em terceiro lugar observa-se o uso de imagens ao lado das notícias
como elemento de ilustração e reforço das informações, mas sem uma constante
ou obrigatória vinculação as mesmas.
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César Steffen
Da mesma forma a posição e tamanho dos títulos e sub-títulos dos
fragmentos, um formato que repete não só os padrões destes portais, mas também
as lógicas do jornalismo impresso, o que também observamos no uso de boxes
como forma de destaque de certos conteúdos.
Finalmente, observamos que os websites são formatados para telas de
computador com dimensão oitocentos por seiscentos pixeis, padrão dos softwares
e sistemas da indústria de informática, gerando áreas em branco a direita ou os
dois lados, garantindo ou forçando a organização e visualização dos elementos
conforme as estratégias e intenções do produtor.
Ilustrações 6.5 e 6.6 – Páginas iniciais da AOL e de Lula
Destas observações vemos os websites dos candidatos como uma
instância de midiatização e visibilidade onde o campo político conforma-se aos
formatos, lógicas e processos criados, oriundos dos players de mídia no meio.
Isto reforça a idéia que a Internet hoje configura-se como meio de
comunicação, onde formatos, lógicas e linguagens de determinados players se
cristalizam e afirmam, influindo diretamente nas lógicas e estratégias de outros
campos em seus espaços no meio.
Ou seja, os websites repetem um jogo de adequação da política as
linguagens, formatos e mesmo estratégias midiáticas para construir sua
visibilidade e se fazer reconhecida no meio, mantendo processos de
intertextualidade e interdiscursividade, de relação com outras mídias, cujos
elementos e agendamentos se fazem presentes como elementos de alimentação,
sustentação e mesmo validação do espaço digital.
Pode-se colocar nesta questão uma forma de conquistar, manter o
usuário presente e constante no espaço de interação através de formatos que estes
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297
A Política nos espaços digitais
conhece ou domina e que, por isso, são mais confortáveis, mas fáceis de manejar
ofertando mais segurança ao mesmo.
Entretanto é importante ressaltar que, ao contrário destes portais, os
websites mantém suas características e formatos por todas as páginas e seções. Se
isto pode ser creditado a menor quantidade de conteúdo dos websites dos
candidatos, se comparado aos portais, por outro insere o usuário numa moldura,
num ambiente de contato coerente, lógico, que assim facilita a experiência e
mesmo permanência deste no espaço.
Além disso, se observarmos a amplitude de conteúdos e recursos
presentes nos websites dos candidatos vemos que estes são construídos para uma
multiplicidade de usuários, de leitores, cujas variadas expectativas e anseios frente
a campanha são – ou pretendem ser – atendidas - possibilitando assim uma
multiplicidade de leituras e construções discursivas.
A título de exemplo, e retomando as descrições contidas nos capítulos
anteriores desta parte, podemos citar desde a mídia e seus atores, que tem nos
websites uma fonte de informações e contato com os candidatos e suas
assessorias, quanto os eleitores, que nestes espaços podem aprofundar suas
opiniões e esclarecer suas dúvidas, e mesmo outros partidos e até adversários na
campanha.
Ou seja, os websites se configuram como espaços de oferta plural,
universal, cujos conteúdos para interação são construídas de forma a antecipar e
atender o máximo de expectativas dos possíveis usuários, e onde estas estruturas,
presentes e permeando todas as páginas e seções, mantém e demonstram uma
coerência na apresentação e formatação dos diversos conteúdos e recursos, que
pode ser interpretada como um coerência no discurso político que se manifesta e
adentra o espaço digital.
No tocante aos conteúdos dos websites podemos notar alguns pontos
em comum. Além do foco nos candidatos e dos fragmentos de campanha, todos
apresentavam o Programa de Governo completo em diferentes formatações,
cruzando desde os textos das propostas propriamente ditos com discursos dos
candidatos e linguagens publicitárias, trazendo para perto do usuário-eleitor, em
sua tela, o conjunto e a complexidade das análises e posições do candidato.
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298
César Steffen
Os websites continham também, de diferentes formas, as biografias
dos candidatos e os materiais de campanha para cópia e produção local,
facilitando o processo de integração da campanha para o usuário.
Por outro lado, é interessante recordar a localização do usuário nos
convites para interação, sempre na segunda pessoa. “Clique aqui e ...”, “Fale com
...” são dois exemplos de formatação dos convites para interação. Repetem-se
estratégias de convocação e mobilização política usadas nos outros meios, onde os
eleitores são convocados a participar e se integrar eventos de campanha,
mostrando uma repetição de padrões discursivos nos websites que mostram o
quanto estes estão vinculados as culturas e processos que se dão e se fazem na
sociedade e no campo político.
Devemos destacar a absoluta ausência da palavra “vote” nos websites,
apesar da presença dos números e de instruções de uso da urna eletrônica e
mesmo “colas” para votação. Vemos assim que os candidatos buscam, através dos
websites, informar, educar e seduzir mas não convocar os usuários a votar,
apostando na informação e nos conteúdos para a formação de sua imagem,
visibilidade e conseqüente conquista dos votos.
Tomando agora a questão comparativa a partir das categorias de
análise propostas e expostas em nosso capítulo metodológico, vemos diferentes
estratégias de manipulação e exposição dos conteúdos e ações dos candidatos.
Todos os candidatos apresentam os fragmentos de campanha nas
páginas iniciais, reforçando e referindo-se ao cenário da campanha, mas de
diferentes formas e com diferentes estratégias.
Se Lula evita efetuar ataques diretos aos adversários nesta área,
reserva-os para si e seus apoiadores, colocando atos, fatos, discursos e ações de
campanha colocando em si, no seu partido e na sua equipe a capacidade, valor e
efetividade de pautar e acompanhar a campanha em geral, numa constante autoreferência.
Observa-se ai um reflexo da estratégia geral da campanha, onde Lula
buscou não só mostrar-se de forma mais “light”, mas também que não iria
governar sozinho, antecipando criticas e elementos de ataque usadas pelos
adversários em campanhas anteriores. Processo semelhante é observada nos
websites de Serra, Ciro e Garotinho.
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299
A Política nos espaços digitais
Serra pauta sua falas no primeiro turno pela programa de emprego, e o
website apresenta em amplos formatos e materiais esta proposta, utilizando
inclusive a cor da carteira de trabalho como elemento predominante. Já no
segundo turno Serra passa a provocar Lula para debates, e o website é
reformulado ganhando um fórum de debates.
Ciro apresenta seu plano de governo, suas propostas, e ataca
fortemente os adversários das mais variadas formas, o que se mostra nos
fragmentos de campanha inseridos no website e mesmo nos banners e pop-up´s.
Já Garotinho propõem o aumento do salário mínimo, cujo vídeo fica
presente no menu durante toda a campanha, e “dispara” críticas a todos os
adversários, que se fazem presentes e freqüentes nos fragmentos de campanha.
Zé Maria, por seu turno, que no HPEG chama Serra, Ciro e Garotinho
de “candidatos da burguesia” e cobra de Lula posições em prol dos trabalhadores,
apresentando e discutindo questões de fundo da sociedade, no website constrói os
fragmentos de campanha a partir de seus discursos e falas numa constante autoreferência onde o website serve de suporte, apoio e mesmo elemento de
visibilidade dos discursos, bandeiras e ideologias do mesmo.
Já Rui Costa Pimenta parecia não estar preocupado com a campanha,
pois os fragmentos não só apresentavam a campanha como eram estáticos,
colocando e debatendo questões até mesmo desvinculadas do cenário nacional,
como a invasão norte-americana ao Iraque.
Entretanto observa-se neste mesmo website uma valorização constante
da biografia, da personalidade do candidato, que recebe o status de líder condutor
das questões e debates do partido de forma bastante semelhante aos demais
candidatos.
Um ponto em comum entre Serra, Ciro e Garotinho é que em seus
websites o campo midiático recebe destaque como fonte não somente da pauta dos
assuntos, mas principalmente como fornecedor de elementos e argumentos a favor
do candidato ou contra os adversários.
Repetiam-se, assim, estratégias de aproveitamento e mesmo
cruzamento das pautas e agendas dos candidatos com elementos e materiais
oriundos do campo midiático para a construção e sustentação dos discursos,
propostas e projetos dos candidatos.
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300
César Steffen
Além disso foi possível observar fortes marcas dos discursos
jornalístico em todos os websites, onde a permanente localização do candidato em
terceira pessoa – “Lula esteve...”, “Ciro fala...“, “Serra propõem...”, etc. – e as
constantes referências dos mesmos ao cenário e elementos da campanha, somada
a adoção de títulos e leads jornalísticos na construção, mostram-se como maiores
emblemas.
Assim, além de se adaptar e apresentar em formatos e padrões
midiáticos os websites também se utilizam, ou são construídos, por lógicas do
campo midiático, demonstrando a força e valor deste no cenário da campanha
eleitoral.
Os fragmentos de campanha mostram-se, de forma geral, como
elemento e espaço de competição do campo político com o campo midiático, pois
os candidatos usavam de lógicas, linguagens e estratégias midiáticas para
apresentar e dar visibilidade a seus elementos, estratégias e discursos. Ou seja,
repetem-se no meio lógicas de cruzamentos, acoplamentos e conflitos entre o
campo político e o campo midiático como forma de construção da imagens e
fazeres dos candidatos.
Os banners, por sua vez, apresentavam-se fora dos padrões de
formato, dimensão e peso (em bytes) usados e propostos pelos players de mídia, e
se mostram mais presentes e fortes nas páginas iniciais dos websites, dando força,
destaque e maior visibilidade as determinados conteúdos.
Primeiramente devemos lembrar as barras superiores dos websites,
que apesar de não gerar link para conteúdos apresentavam as imagens dos
candidatos e os logotipos de campanha, sempre em conformidade com a
programação visual criada, onde notamos novamente o foco na personalidade dos
candidatos nos websites, usando de linguagens e estratégias eminentemente
publicitárias.
Já os banners menores, com link, permitiam “saltos” dentro dos
conteúdos dos websites, pautando a navegação do usuário ao evitar desvios que
poderiam se formar durante a navegação.
Para esclarecer esta noção desenhamos uma ilustração esquemática da
navegação do website de Lula, levando em conta as entrevistas apresentadas no
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301
A Política nos espaços digitais
banners secundários e sua posição dentro das estruturas dos conteúdos (ilustração
6.7).
Ilustração 6.7 – percurso de acesso as entrevistas do website de Lula.
Observa-se que os banners das entrevistas conduzem o usuário de
forma direta as mesmas, evitando a passagem por duas seções e páginas onde os
demais conteúdos poderiam prender ou desviar o usuário. Nota-se assim que os
banners apresentam elementos de maior relevância para as estratégias dos
produtores.
Vemos então que Serra foca o uso dos banners para apresentar os
conteúdos referentes a sua principal proposta, o “Projeto Segunda-feira”, que foi
elemento determinante também da escala de cores e formatos adotados não só no
website mas também nos demais materiais e instâncias de campanha. Além disso,
dá amplo espaço para atores do campo midiático, que comentam e reforçam suas
propostas, acoplando-se a estes para construir sua imagem e visibilidade.
Lula, por sua vez, no HPEG apresentava suas propostas e seus
apoiadores, buscando mostrar que não governaria sozinho, e os banners do
website focavam-se em sua imagem e suas propostas, além de mostrar os apoios
que recebe de diversos campos, buscando assim construir sua imagem como
candidato capaz de governar através dos apoios que recebe.
Ciro, diferentemente, usa o banner superior e os banners junto ao
menu para reforçar suas propostas e itens de seu Programa de Governo,
manipulando os mesmos como elementos de apresentação do discurso político,
vinculados ao candidato e sua propostas, bastante semelhante a sua falas e
aparições no HPEG.
Já Garotinho, da mesma forma, reserva o banner da barra superior
para sua imagem e propostas e os demais – se podemos denomina-los de banners
– para seu partido, numa estratégia de integração e visibilidade para o partido.
Finalmente, Zé Maria dedica os banners a sua falas contra a ALCA e
o FMI, e o maior de todos, com a imagem da bandeira do Brasil, para os
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César Steffen
candidatos nos estados, mostrando uma estratégia de propagação ideológica que
repete as estratégias, falas e discursos do HPEG.
Temos então os banners mostrando-se como a linguagem publicitária
dentro dos websites, identificados com as estratégias gerais dos candidatos, como
forma de conduzir os usuários dentro da estrutura, apresentando e reforçando
visualmente elementos estratégicos para os candidatos.
Os pop-up´s repetem este processo, mas se apresentam com menor
freqüência, o que acreditamos ser fruto da impopularidade deste recurso junto aos
usuários4. Lula usa este recurso remetendo-se sempre a loja virtual de venda de
produtos com a marca do PT, mostrando uma estratégia de valorização e captação
de recursos pra a campanha. Serra e Ciro, por sua vez, usam os pop-up´s como
suporte a discursos eminentemente políticos, atacando aos principais adversários.
Os demais candidatos não utilizam pop-up´s, e nas edições onde estes
foram observados notamos uma forte vinculação com o cenário da campanha, ou
seja, sendo utilizados como forma de destacar e apresentar discursos referentes a
fatos e fenômenos diretamente ligados a temporalidade da campanha Presidencial.
Os “itens” foram a categoria menos observada, sendo presentes junto
e complementando os fragmentos de campanha através de campos de busca ou
destacando conteúdos de seções internas que não eram merecedoras de espaço nos
banners, como “Diálogo com a imprensa” do website de Lula.
Tendo estas questões em vista podemos colocar que os websites de
campanha são construídos a partir das lógicas do campo político operados com
estratégias, linguagens e formatos que gradativamente parecem estar se
cristalizando no meio Internet, oscilando entre processos auto e heteroreferenciais
(LUHMANN: 2000:14-22) na construção de seus discursos e visibilidades.
Ou seja, da mesma forma que pode ser observado no HPEG a política
configura, “veste” seus espaços com as características, elementos de linguagem e
da própria gramática do meio que opera a partir de sua agenda de intenções, ou
seja, dos efeitos que busca construir e os resultados que deseja obter mas sempre
relacionando-se ao cenário da campanha e aos demais atores envolvidos.
Com isto vemos que o campo político se efetiva e se valida através de
várias operações estratégicas e discursivas que passam e são suportadas pelas
4
Recordamos, aqui, que o provedor UOL divulga como diferencial frente aos demais provedores de acesso, o “Anti PopUp UOL”, recurso que bloqueia automaticamente a apresentação destas janelas para o usuário.
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A Política nos espaços digitais
linguagens, técnicas e formatos midiáticos, colocando-se como um campo em
avançado estágio de midiatização, que se relaciona, constrói e legitima não
somente, mas principalmente, por e através de lógicas, processos e linguagens
midiáticas.
Vemos ainda que nos espaços digitais dos websites continuam valendo
os “códigos da política”: o candidato, sua imagem, suas propostas, seus discursos,
a identidade partidária, os atos e ações de campanha, etc., que se moldam, se
adaptam e se conformam a uma moldura tecno-midiática.
Temos então os websites do campo político como o somatório de uma
complexidade de operações estratégicas, técnicas, discursivas e de linguagem que
somam e articulam diferentes e diferenciadas funções, conteúdos e discursos
coligados, que são engendradas pelas relações entre campos e pelo cenário social
em que se inserem.
Referências Bibliográficas
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estudos. Rio de Janeiro, FORENSE, 2002.
PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: liberdade de informação,
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PERRIAULT, Jacques. Las maquinas de Comunicar, y su utilización lógica.
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BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977.
LUHMANN, Niklas. La realidad de los médios de masas. Anthropos Editorial:
México : Universidad Iberoamericana, 2000
VERÓN, Eliseo. Que voit-on du monde? Images dans le discours de
l´information. La Recherche Photographice – Histoire – Esthétique. Hazane, num.
Especial, 7, 1989 (tradução de Maria Lília de Castro)
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_____________. La semiosis social. Barcelona, GEDISA, 1997
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Das visibilidades das eleições de 2002 : uma
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política. Rio de Janeiro Vol. 9, n.3 (set./dez. 2002), p. 189-207
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Entrevista com Edgar Morin.
http://www.ambafrance.org.br/abr/label/Label28/Sciences/morin.html [05/2002]
http://www.tse.gov.br
http://www.ibope.com.br
http://www.datafolha.com.br
http://www.globonews.com
http://noticias.uol.com.br/eleicoes/
http://noticias.terra.com.br/eleicoes
http://www.programalula.com.br e http://www.lula.org.br
http://www.joseserra.com.br e http://www.joseserra.org.br
http://www.ciro23.com.br
http://www.garotinho40.com.br
http://www.pco.org.br
http://www.pstu.org.br
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305
A Política nos espaços digitais
IV – Conclusão
“A Internet é uma tecnologia que não é nem boa nem má
em si. Só o uso que se fará dela é que nos conduzirá a um
julgamento. É por isso que a razão hoje, mais do que
nunca, não pode adormecer.”
José Saramago1
Ao iniciarmos este trabalho nos propusemos a entender os recursos
mobilizados pelo campo político nos websites da Internet, bem como as tensões,
negociações, agendamentos, cruzamentos e mesmo conexões que se colocavam
nestes espaços de campanha.
Objetivávamos examinar e identificar as formulações e funcionamento
das estratégicas tecno-midiáticas construídas pelos candidatos na eleição
presidencial de 2002 nos websites da Internet. Por exemplo: como se
manifestavam tais elementos, tais estratégias, e como influíam na construção e
reconhecimento da política e seus atores na sociedade Brasileira? Estas perguntas
nos acompanharam em todo o processo de pesquisa, estimulando a buscar
caminhos que permitissem construir respostas para elas.
Se colocássemos o foco na tecnologia da Internet, como o objeto
suscitava e mesmo atraía, estaríamos de partida sendo injustos com os objetos.
Isto porque a tecnologia mostrava-se como um elemento condutor, formatador,
um sustentáculo para as operações estratégicas e elementos que observávamos.
1
http://www.oficinainforma.com.br/semana/leituras-991218/12.htm [10/2003]
www.bocc.ubi.pt
306
César Steffen
Entretanto não era determinante dos processos e procedimentos que
vimos em nossa pré-observação, o que as diferentes construções visuais e
discursivas nos menus dos websites dos presidenciáveis, em si, já indiciavam.
Assim, os websites nos pareciam ser fruto, resultante das estratégias e
características dos atores políticos que investiam no meio. Ou seja, os websites se
mostravam construídos e caracterizados em torno das identidades e processos
daqueles que nele investiam usando da tecnologia.
Tendo tal percepção clara a nossa frente buscamos um rumo que
permitisse uma visão do meio a partir dos investimentos dos atores do campo
político e dos efeitos que buscavam extrair. Focamo-nos então nas operações
discursivas e suas estratégias.
Visando enfrentar estas indagações estruturamos as três partes deste
trabalho, onde trabalhamos os conceitos e teorias que nos auxiliaram a olhar os
objetos, suas características, processos e fenômenos que manifestavam.
Na primeira parte buscamos compreender as razões e processos que
midiatizam a política. Na segunda parte estabelecemos uma visão da midiatização
política via Internet, que somadas e articuladas nos permitiram construir a terceira
parte, onde contemplamos as descrições, leituras e análises dos websites dos
presidenciáveis.
Afastando-nos da idéia de que a tecnologia é fator determinante, que
fatores outros ocorriam para que a política fosse midiatizada via Internet? A
noção de campos surgiu para nos auxiliar a responder esta demanda, nos
permitindo demarcar claramente as fronteiras e competências do campo político,
bem como os demais campos que operavam sobre o processo eleitoral.
Assim surgia a necessidade de uma visão sobre os processos e
especificidades dos meios de comunicação na sociedade atual. Tomamos
emprestada, então, a noção de midiatização, por entender que ela seria
esclarecedora para compreendermos o papel que desempenham as lógicas
midiáticas sobre o processo eleitoral, onde temos o campo político em ampla e
permanente negociação com a mídia para ter seus processos e fazeres visíveis
junto à sociedade.
Sabe-se que a mídia acelera os processos sociais em geral. Atingindo
amplas audiências a mídia pauta os processos sociais e gera novas velocidades e
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A Política nos espaços digitais
visibilidades para os campos, colocando-os na esfera pública e influindo sobre os
processos que se colocam e se mostram em suas operações.
O campo político, em cujo interior ocorrem permanentes disputas pelo
apoio e alianças de outros campos, acopla-se à mídia para perfazer seus processos
e cumprir suas agendas. Ou seja, para através da ampla cobertura e visibilidade da
mídia obter o necessário apoio de outros campos, que num período eleitoral
manifesta-se através do voto.
Por isto o campo político lança mão de seu poder regulador e cria
instâncias próprias de midiatização como, por exemplo, jornais de partidos ou a
“TV Senado”, que trazem a possibilidade de gerar e gerenciar sua própria
visibilidade midiática, configurando ofertas vinculadas diretamente a suas
estratégias, desejos e processos e colocando-se como competidor pela audiência
da mídia. O principal exemplo disto, num processo eleitoral, quando o campo
político deve conquistar em curto espaço de tempo o máximo apoio dos demais
campos sociais, revela-se na experiência do Horário de Propaganda Eleitoral
Gratuita.
Esta midiatização impõe para o campo político a necessidade de novas
habilidades e procedimentos não-inerentes a sua experiência e competência,
moldando-os aos formatos midiáticos e adequando-o às linguagens, estratégias e
processos destes para construir sua visibilidade no pleito. Mas este processo não é
linear, mas sim se dá através de amplas e constantes negociações, que manifestam
o conflito e a disputa, inerente a relação entre os campos sociais.
Surge aí o primeiro delineamento conceitual do trabalho. Se o campo
político necessita do apoio de outros campos para obter poder, e se através da
mídia obtém uma ampla audiência e faz seus processos visíveis para uma boa
parcela dos outros campos num curto espaço de tempo, estaria ai o cerne do
investimento dos atores políticos na Internet.
Ou seja, a aceleração causada pela mídia sobre os processos do campo
político, somada a própria marca temporal do processo eleitoral traz a necessidade
de mobilizar o máximo de instâncias, elementos e linguagens midiáticas. Vemos,
aí, a motivação para o investimento dos atores políticos e instituições partidárias
nos websites.
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Mas a midiatização do campo não se trata, como já referimos, de um
processo linear. A mídia e suas tecnologias têm características, operações e
linguagens específicas que precisam ser manipuladas por aqueles que se desejam
fazer visíveis em suas redes. Ou seja, um campo que deseje se expor através da
mídia deve estar em conformidade com as linguagens, processos e estratégias
desta para cumprir suas agendas e gerar seus efeitos.
Surge aí o papel do especialista em mídia, presença constante ao lado
dos candidatos formatando estratégias e discursos e adequando-os as lógicas dos
meios de comunicação. Assim, auxiliam na visibilidade, no reconhecimento
destes dentro do processo eleitoral e, claro, na possível e desejada conquista dos
eleitores.
Os especialistas trabalham sobre os “códigos políticos”, ou seja, as
identidades, estratégias e elementos inerentes aos atores e instituições,
formatando-os dentro da lógica da midiatização para formar e facilitar o
reconhecimento e validação destes por parte dos eleitores.
Os “códigos políticos” mostram-se como auto-referenciais, vinculados
a elementos e processos internos ao campo, ou seja, às identidades do atores e
instituições. Mas estes se moldam e são formatados em conformidade com
linguagens e processos do campo midiático, sofrendo também regulações oriundas
do campo jurídico, em movimentos heterorreferenciais.
Nestas auto e heterorreferencias travam-se complexas negociações
entre os atores e campos envolvidos, que estão em permanente troca e interação
para validar os processo e verificar os cumprimento da regras inerentes ao
processo eleitoral. Da mesma forma os especialistas negociam, simbolicamente,
com os meios, recebendo destes os elementos e linguagens para a formatação da
visibilidade dos candidatos.
Vemos, assim, que a linguagem do meio influi sobre os processos dos
campos. Mas o meio também é influenciado por aquilo que o campo político
deseja expor, sendo construída em conformidade com o meio, numa negociação
simbólica e estratégica para os objetivos do campo.
Nota-se assim que a midiatização da política não se trata de um
processo unívoco, unilateral ou mesmo unidirecional, mas sim de um conjunto de
complexas negociações entre os campos, os meios e seus atores que se influem e
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A Política nos espaços digitais
tensionam mutuamente dentro do cenário social, surgindo aqui outra demarcação
conceitual para o trabalho.
Estas negociações também podiam ser notadas nos websites. Os
candidatos investiam sobre o meio para perfazer suas estratégias e objetivos, e
deste recebem influências de várias ordens, adequando-se a lógica da Internet.
Recordando a diversidade de elementos discursivos e linguagens presentes nos
websites, explanada na terceira parte deste trabalho, vemos claramente estas
negociações e suas diferentes e variadas manifestações.
Ou seja, a partir da diversidade e das diferentes construções visuais e
textuais dos websites vemos as diferentes estratégias de investimento no meio por
parte dos candidatos, reforçando a impressão de que a tecnologia e a linguagem
são elementos de sustentação moldados em torno das identidades e propósitos
daqueles que investem no meio.
Alguns exemplos ilustrativos deste processo de negociação entre as
estratégias dos candidatos e o meio são a formatação das páginas antecipando
configurações de telas, buscando garantir a visualização dentro das estratégias dos
candidatos e repetindo formatos amplamente usados pelos players de mídia do
meio; a programação visual dos websites em conformidade com as estratégias
gerais de campanha; a construção discursiva dos menus de navegação e sua
presença em todas as áreas do websites. Da mesma forma são exemplos a inserção
dos planos de governo em diferentes formatos e com diferentes tecnologias, a
presença de formulários de contato com o candidato, onde alguns buscavam
limitar, enquadrar as manifestações dos usuários, a freqüência de atualizações e o
destaque a fatos recentes nas páginas iniciais.
Uma das conclusões que extraímos disto é que a Internet é,
efetivamente, uma mídia. Restava, entretanto a pergunta: o que a caracteriza,
quais os processos e procedimentos que permitem que seja vista como um meio
de comunicação social?
Recordamos aqui brevemente o que nos mostram Verón e Alsina,
quando se referem ao acesso plural e a formação de um mercado de mensagens
para o reconhecimento de uma tecnologia com meio de comunicação. Em mesmo
sentido devemos recordar de Perriault, que cita as lógicas dos usos e dos
investimentos dos usuários dando sentido e novos desenhos a uma tecnologia e
fazendo com que esta seja reconhecida como meio de comunicação.
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Ora, a tecnologia da Internet evoluiu pelas incidências de diferentes
atores e campos. De um meio para armazenamento, circulação e recuperação de
dados e informações a Internet evoluiu para suportar diferenciadas práticas
simbólicas e discursivas, necessárias a estes atores e campos em suas estratégias.
A Internet ganhou, então, elementos que suportam a troca discursiva
entre atores através de sua tecnologia, formando e suportando práticas
interacionais e discursivas, o mercado de mensagens a que se referem os autores.
Os diversos campos sociais passam a se organizar em função do meio,
investindo no mesmo para o cumprimento de seus processos e suas estratégias
simbólicas. A tecnologia ganha, então, valor e sentido social, formalizando e
operando interações e negociações sobre suas redes técnicas, tornando-se meio
pela qualificação conferida por processos sociais e políticos concretos.
Vemos que a Internet se apresenta realmente como um meio de
comunicação, somando-se ao campo midiático e mostrando-se como uma
instância dos processos de midiatização da sociedade, recebendo investimentos
discursivos, processos simbólicos e interacionais efetuados por atores de
diferentes campos dentro de suas estratégias, processo que ocorre sobre uma
tecnologia.
Os candidatos a Presidência no pleito de 2002 reforçam esta nossa
percepção ao investir no meio dentro e a partir de suas estratégias
comunicacionais e discursivas, criar espaços demarcados e vinculados as suas
identidades, conferindo ao meio status de mídia político-eleitoral. Destaca-se, aí,
mais um importante conceito para nosso trabalho.
Esta percepção é reforçada quanto recordamos das diferentes
construções visuais, discursivas e estratégicas desenvolvidas por Lula, Serra,
Garotinho, Ciro, Zé Maria e Rui Costa Pimenta, mostrando uma forte vinculação
com as identidades políticas, processos e propostas dos mesmos.
Ou seja, os websites se mostravam construídos a partir de elementos e
estratégias de outros lugares, apresentando e remetendo também a elementos de
outras mídias, como o HPEG. Isto se manifestava não somente na programação
visual dos espaços, no privilégio das imagens em detrimento das siglas
partidárias, mas também nos endereços dos websites, os domínios, elementos de
demarcação dos espaços digitais.
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A Política nos espaços digitais
Nesta demarcação pelos campos reside uma característica marcante
dos espaços digitais: a demarcação territorial que os campos formam para facilitar
o seu reconhecimento pelos usuários e construindo, assim, seus processos e
visibilidades no meio. Ou seja, podemos dizer que a Internet é uma mídia
territorial.
Para explicitar esta idéia recordamos a terceira parte deste trabalho,
onde colocamos que os websites são acessados a partir de endereços, os domínios
virtuais, regulados no Brasil pelo “Registro.br”. Estes domínios são diretamente
ligados a uma lógica de campos, pois a sua configuração se constrói a partir dos
fazeres, competências e, principalmente, identidades do que neles investem.
Os domínios demarcam os espaços de interação, identificando aqueles
que nele estão investindo, onde a própria denominação “domínio” para os
endereços mostra a questão territorial, de posse, demarcação e identificação que
se forma nos espaços digitais dos websites. Demarcam, assim, os espaços digitais
como territórios, uma área de posse de um campo onde se manifestam suas
identidades e processos.
Da mesma forma estes espaços manifestam as identidades, os fazeres
e as estratégias do ator e campo, que se projetam sobre o meio formatando e
conduzindo os processos interacionais e permitindo – e até mesmo facilitando – o
reconhecimento de um capo no meio.
Domínios e identidades dos atores se somam e articulam na
formatação das fronteiras dos espaços digitais, onde ocorrem, operam e se fazem
processos de comunicação e interação entre diferentes atores por cia tecnológica.
Assim, temos os espaços digitais como territórios criados e formatados pelos
diferentes atores do campo político para efetivar seus processos comunicacionais
no meio Internet, onde suas identidades são o elemento condutor, formatador e
delineador dos mesmos.
Isto pode ser notado nos websites dos candidatos, cujos endereços não
só estavam vinculados diretamente ao candidato ou partido em campanha, mas
manifestava as identidades políticas, estratégias e processos comunicacionais
destes nas diversas ofertas presentes nestes espaços. Se recordarmos do uso dos
números por dois candidatos na formatação de seus domínios e da própria
divulgação, no HPEG, dos endereços dos websites teremos esta percepção
reforçada.
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César Steffen
Vemos assim que os espaços digitais sustentam e manifestam, em si,
processos auto e heterorreferenciais do campo político na construção e
configuração dos elementos constituintes dos mesmos.
Tal demarcação conceitual mostra-se relevante no momento em que
nos leva a compreender a principal diferenciação da Internet das demais mídias, a
territorialidade dos campos formam dentro de seus espaços, demarcando
competências, processos e fazeres. Isto é, a Internet não deixa de ser mídia, mas
tem uma especificidade face às demais quando ela permite demarcações
territoriais para os campos a partir de suas diferentes identidades, processos e
fazeres.
Entretanto, devemos lembrar que a Internet não possui fronteiras, ou
seja, não há – a priori - limitações para a circulação do receptor pela quase
infinidade de espaços digitais construídos no meio. Reside ai o que consideramos
o maior desafio para o campo político neste meio: lidar com as condições de
recepção de suas mensagens, visando a efetivação de suas estratégias.
Muitos manuais com regras sobre a construção de processos de
comunicação na Internet, onde podemos lembrar de Venetianer (1999), citam que
na Internet devemos ofertar conteúdo de valor. Devemos lembrar, então, que
conteúdo de valor é aquilo que o receptor deseja ter contato, ou seja, aquele
elemento que satisfizer suas necessidades de informação, entretenimento, etc.
Isto demonstra a alta complexidade do processo de formatação e
construção dos espaços digitais, pois assim como nas outras mídias é preciso
estipular, antecipar não só as expectativas do receptor mas principalmente as suas
ações e os percursos que pode construir, seus movimentos, buscando assim
mantê-lo no espaço ou em certas e presumíveis condições de recepção.
Assim podemos inferir que a oferta é construída pelo produtor
antecipando as possíveis expectativas e necessidades do receptor. Este é
interpelado e age sobre estas ofertas formando o seu processo discursivo através
do contato com estas ofertas. Forma-se ai o que denominamos de contrato de
leitura dos espaços digitais.
O discurso político presente no meio deve ser, então, formatado e
planejado para perfazer todas as estratégias do campo e atender o máximo de
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A Política nos espaços digitais
necessidades dos usuários, desafios que como em todas as mídias não se impõe
linearmente.
Amplia-se assim o discurso do campo político, ou seja, manifestam-se
estratégias e são feitos movimentos no sentido de buscar antecipar os movimentos
do receptor configurando uma ampla oferta de conteúdos. As possibilidades de
construção das estratégias são múltiplas, e algumas delas até oferecem a sensação
de atendimento de suas expectativas junto ao receptor. Entretanto persiste uma
zona de interrogação sobre os manejos que a recepção faz destas, uma vez que
imaginamos que os receptores, assim como os candidatos e partidos, têm
estratégias e objetivos específicos dentro do pleito e, assim, valorizam aquilo que
lhe for mais importante ou relevante frente ao cenário geral da campanha.
Devemos lembrar que notamos que as páginas inicias pautavam,
buscavam conduzir o receptor em seu processo de interação, além de refletir os
cenário geral da campanha. Ora, como todos os meios de comunicação a Internet
está inserida no tecido social e no contexto das diversas mídias em seu entorno,
que influem, tensionam e, em determinados momentos, determinam a construção
e formação das ofertas comunicacionais e discursivas em seus espaços.
Ou seja, a Internet existe e recebe investimentos engendrada por um
contexto maior que seus espaços, o que gera estratégias e necessidades de
produção e expectativas dos receptores. Manifestam-se, assim os acoplamentos
efetuados pela política nas demais instâncias e os entrecruzamentos com outros
campos durante a campanha.
Logo, o processo de construção e formatação dos espaços digitais
mostra-se semelhante ao que ocorre nas demais mídias, ou seja, a identidades,
estratégias e intenções políticas dos atores e integrantes do campo se colocam
como elementos fundantes do processo, sendo moldadas a tecnologia, às
linguagens, recursos e processos da Internet.
Nota-se a repetição de estratégias usadas nas demais mídias. A
política parte de sua identidade, fazeres e projetos – auto-referência – para, sobre
as demandas e processos do tecido social - - heterorreferencias - agir em busca de
apoio dos demais campos e da sociedade em geral.
Observa-se, assim, que na Internet a política mantém o mesmo grau
de autonomia das demais instâncias de midiatização. Por um lado os websites
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314
César Steffen
eram construídos a partir da política, suas estratégias, processos e identidades. Por
outro eram formatados em conformidade com as linguagens, ferramentas,
recursos e elementos do meio, onde devemos lembrar do necessário apoio de
outros campos para a construção e formatação e seus espaços digitais, além de
estar em constante referencia ao cenário do pleito.
Ou seja, longe dos ufanismos e revoluções muito presentes em alguns
estudos e na maioria dos manuais, a Internet repete o jogo de construção e
influência que se dá e se faz nas demais mídias. Nota-se, então, uma articulação
entre identidades, culturas, estratégias, meios, técnicas e linguagens que formam e
entornam o espaço digital dando sua forma, sentido e valor, articulação que surge
de e através das estratégias e fazeres do campo que passa a mobilizar o espaço
digital, desenhando os fluxos e processos comunicacionais para cumprir sua
agenda.
Assim o reconhecimento da política nos espaços digitais se dá e se faz
pelo cruzamento de três variáveis principais. Primeiramente a demarcação
territorial do meio. Em seguida a vinculação destes espaços às identidades dos
atores que os constroem e promovem. Em terceiro lugar - e principalmente - o
reconhecimento se dá através das operações discursivas, das estratégias gerais de
comunicação visíveis e moldados nas demais mídias que manifestavam nos
websites.
Como exemplo deste processo podemos citar a área de debates
inserida no website de José Serra no segundo turno, que manifestava a nova
estratégia discursiva do mesmo naquele momento da campanha. Da mesma forma
podemos citar a página inicial do website de Ciro Gomes, respondendo a fala
sobre as mulheres, e o website do PCO, que se vinculava menos a eleição e mais
as doutrinas do partido.
Por detrás destas variáveis, estão novamente os “códigos políticos”,
ou seja, os elementos oriundos, inerentes aos atores do campo, que se manifestam
por uma variedade de operações estratégicas e discursivas onde se somam várias
linguagens, recursos e elementos.
Ou seja, os espaços digitais do campo político são o reflexo e o
produto de uma multiplicidade de linguagens, do cruzamento e acoplamento de
várias operações estratégicas de diversos campos, e também das múltiplas tensões
que se somam e influem sobre o campo político dentro da campanha eleitoral.
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A Política nos espaços digitais
Assim, os espaços digitais se mostram como um somatório de vários
códigos de vários campos. Temos, assim, uma re-caracterização, uma remontagem das estratégias do campo político, que se não são independentes ou tem
total autonomia recebem novos espaços, novos elementos e novas possibilidades
técno-discursivas.
Multiplicam-se espaços, somam-se linguagens e se redesenham
estratégias discursivas e persuasivas que se formam e conformam nos diversos
meios envolvidos e mobilizados para os processos comunicacionais do campo.
Geram-se fluxos constantes, ininterruptos e variados de comunicação e
informação, que desenham e são desenhados pelas demandas e identidades dos
candidatos que no meio investem.
Podemos, então, falar em uma multi-articulação e em multiacoplamentos estratégicos entre os vários e diferentes campos sociais que se
fazem sobre uma mesma camada de tecnologia comunicacional, e refletem a
cultura e os processos sociais em geral. Inaugura-se a era da multidiscursividade,
que passamos a esclarecer sua caracterização, especificidade e quais os seus
efeitos para o campo político.
Como nos referimos no espaço digital da Internet somam-se
linguagens, técnicas e elementos dos mais variados meios, campos e culturas que
agem e se mostram dentro de um mesmo suporte, fazendo visíveis operações
estratégias das mais variadas ordens e com os mais variados fins.
Texto, áudio, vídeo, links de hipertexto, imagens estáticas e animadas,
além de uma série de outros recursos tecnológicos e elementos comunicacionais,
se somam e agem em sinergia dentro de um mesmo meio de comunicação.
Já a inserção e manipulação destes se faz por vários cruzamentos de
intenções e estratégias de produtores e receptores dentro do cenário social em que
o processo ocorre, sendo mobilizados não somente por si, seus recursos e valores,
mas também – e talvez principalmente – pela possibilidade de efeitos que pode
gerar nas instâncias de recepção.
Estas, por sua vez, se apropriam desta oferta dentro de suas
expectativas, anseios e processos que deseja cumprir. Formam-se, assim, amplos,
múltiplos cruzamentos e acoplamento entre linguagens de vários meios,
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316
César Steffen
estratégias de produção e expectativas de recepção que multiplicam possibilidades
apresentação de discursos e conteúdos.
Temos, assim, uma multidiscursividade que ocorre em todos os lados
do processo de comunicação e se manifesta não somente como múltiplas
linguagens e recursos técnicos, mas principalmente por amplas operações
estratégias, simbólicas e negociações que se dão no tecido social e nos processos e
fenômenos a que se refere.
Pode-se questionar até que ponto a noção de multidiscursividade
reflete as especificidades dos processos do meio, na medida em que a própria
construção da campanha se fez através de múltiplos cruzamentos e acoplamentos,
como nos referimos em nossos capítulos teóricos.
Sim, podemos argumentar que as várias mídias e as múltiplas
estratégias mobilizadas pelo campo político na campanha mostram múltiplos
acoplamentos e articulações, que constroem a visibilidade dos atores envolvidos
no processo. Entretanto, devemos ressaltar que, na Internet, estes acoplamentos
articulam e somam saberes, recursos e elementos das várias mídias, atores e
campos presentes no cenário social, que se manifestam sob um mesmo suporte e
dentro de uma mesma tecnologia comunicacional.
Aí reside o cerne da noção de multidiscursividade, pois sob um
mesmo suporte várias linguagens, recursos, estratégias e elementos e somam, se
acoplam e articulam para criar os sentidos e gerar os efeitos da política no pleito,
gerando múltiplos discursos construídos a partir de várias estratégias.
Elementos discursivos como o programa de governo, além de análises
e opiniões dos próprios candidatos sobre as mais variadas questões, linguagem
jornalística, publicitária e política, bem como demandas oriundas de vários
campos se somam dentro dos espaços digitais, propagando com várias linguagens
e estratégias diferentes os elementos discursivos, propostas e projetos de cada
candidato.
Ou seja, os espaços digitais de campanha eleitoral somam, em si,
vários elementos que formam e influenciam a campanha como um todo,
resumindo e contendo os elemento-chave de propagação e formação da imagem
de cada candidato, referindo-se e sendo influenciados – ou pautados, para usar um
termo jornalístico – pelas mais variadas fontes.
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A Política nos espaços digitais
As discussões de fundo das questões sociais que influem na
formatação das propostas políticas dos candidatos ganham novos espaços de
manifestação, podendo ser tratada de forma mais analítica e aprofundada que as
construções nas demais mídias.
Além disso, há uma maior velocidade de atualização e de resposta a
demandas e fatos, que pode ser considerado elemento de estímulo ao tempo de
contato pelo receptor.
Assim, o espaço digital dos websites mostra-se como um novo
elemento midiático a disposição das estratégias políticas, inaugurando algumas
novas práticas e ofertando novos recursos estratégicos, elementos discursivos,
enfim, novos sentidos para a política e para a sociedade em que se insere.
Isto nos leva a refletir sobre a confluência de processos e
procedimentos que se dão sobre o espaço digital. Se por um lado a
multidiscursividade manifesta uma amplitude de elementos comunicacionais, que
podem facilitar o contato e as interações, por outro seu surgimento reflete um
processo de fragmentação e afastamento social que ocorre nas sociedades
contemporâneas, mostrando também o alto grau de midiatização do campo
político.
A Internet e seus espaços digitais ampliam, por si, a noção de meio de
comunicação, pois um meio passa a ser compreendido não só pela formação de
um mercado discursivo com possibilidade de acesso plural, mas também pelos
investimentos e estratégias dos campos sobre os meios.
Ou seja, uma mídia não é somente, como dizem Verón e Alsina, uma
tecnologia que forma processos amplos processos de comunicação e interação em
seu entorno, mas também, se não principalmente, um elemento de tensão, conflito
e negociação para os campos sociais que devem investir nestes meios para suas
estratégias e fazeres.
Assim um meio deve ser compreendido com um tecnologia e um
conjunto de códigos, linguagens e estratégias que recebe investimentos de um
campo na busca do cumprimento e efetivação de seus processos e fazeres sobre os
demais campos.
Amplia-se também, assim, a noção de campo político, pois este se
encontra em alto grau de midiatização, fragmentando suas operações estratégicas,
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318
César Steffen
simbólicas e discursivas através das diversas linguagens, técnicas e operações
midiáticas para se fazer visível, reconhecido e construir seus efeitos.
Ora, um campo é reconhecido através de suas operações simbólicas e
discursivas. Se o campo político faz suas operações visíveis e busca construir seus
efeitos se midiatizando, devemos então tomar tais operações com integrantes do
campo. O campo político não pode, então, ser compreendido somente em suas
operações discursivas, mas sim no somatório de seus processos e identidades e na
articulação midiática que promove para validar-se e se fazer visível.
Os websites da campanha presidencial de 2002 em seu todo
demonstram e reforçam esta percepção. Além de demonstrar o forte investimento
que o campo promove nas mídias em geral, os mesmos continham e
contemplavam amplos e variados recursos na construção e apresentação das
visibilidades dos candidatos.
Da mesma forma apresentam os acoplamentos estratégicos efetuados
pelo campo político com outros campos, que não só auxiliam com saberes
específicos para a construção dos espaços, mas também são apresentados como
forma de reforço e validação das estratégias e elementos dos candidatos.
Assim, o campo político amplia suas fronteiras acoplando-se a outros
campos como forma de construir suas visibilidade de circular seus discursos e
processos através dos vários meios de comunicação.
Esta campanha mostra-se como um grande marco do investimento da
política sobre a Internet. Claro que esta pesquisa investiu e esclareceu alguns
aspectos das estratégias de produção dos websites, onde as construções gerais, ou
seja, as estratégias e fazeres que conduziam a construção destes espaços não
foram contemplados. Da mesma forma as perspectivas de recepção, os efeitos
gerados por estes conteúdos e estratégias nos usuários dos websites não foram
aqui observados.
Como comentário final, vemos que ainda há muito espaço para
experimentações e desenhos estratégicos, que apenas os próximos pleitos poderão
– e deverão – mostrar, principalmente se levarmos em conta não só que as
linguagens e recursos estão em permanente evolução mas também as perspectivas
e demandas dos receptores, que trarão novos elementos para as estratégias do
campo político. Mas se podemos colocar uma certeza é que a Internet já se mostra
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A Política nos espaços digitais
como um importante elemento para a política e, certamente, irá gerar novos
sentidos e desenhos aos processos eleitorais.
...
Desse processo de pesquisa e dissertação que se encerra ficam ainda
uma série de questões, que se focam nas visões e efeitos destes espaços de
campanha junto aos receptores, ou seja, como estes espaços são apropriados pelos
usuários e que valores são dados às suas construções.
Uma pista deixada por esta pesquisa se encontra nos já citados
elementos das páginas iniciais, que não só conflitavam diretamente com as
estratégias e fazeres do campo midiático, mas também buscavam pautar e
conduzir o usuário em sua interação.
Se pudermos formular, neste momento, hipóteses, direcionamos as
mesmas no sentido de que o receptor percebe esta tentativa de condução.
Entretanto, da mesma forma que os candidatos, valoriza mais os elementos
referentes ao cenário da campanha, ou seja, os elementos em destaque na marca
temporal em que trava contato com os websites.
Estas questões ficam presentes e nos estimulam a efetuar novos
movimentos de pesquisa no futuro, para evoluir e aprofundar o tema, pois este
trabalho nos trouxe um grande aprendizado não só no sentido de compreender a
Internet como mídia, seus processos e fenômenos dentro de um determinado
contexto social, mas principalmente no sentido de tomar uma posição mais
analítica frente à mesma.
Além disso, compreendemos novos procedimentos e estratégias de
captação de dados e análise, que não somente nos trouxeram uma nova visão
sobre os processos construtivos das mídias, mas também nos fornecem elementos
para aprofundar nossas atividades profissionais e acadêmicas.
Observando o trabalho como um todo vemos os desafios que o
surgimento e crescimento desta mídia traz para a sociedade, bem como as
diferentes construções estratégicas e discursivas que os campos podem lançar mão
em seus investimentos no meio. As possibilidades nos parecem quase infinitas,
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320
César Steffen
mas sempre haverão elementos construtivos embasados nas estratégias,
identidades e processos daqueles que investem no meio.
Crescemos, assim, como acadêmicos e profissionais, mas certamente
ainda temos muito a crescer. Se o meio evolui, e está evoluindo, os
questionamentos devem acompanhar esta evolução. Por isto buscaremos novos
desafios para manter este crescimento e construir novas respostas.
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331
A Política nos espaços digitais
Anexo I - Glossário1
-AArpanet - Rede de computadores criada em 1969 pelo Departamento de Defesa
norte-americano, interligando instituições
militares. Em meados dos anos 70 várias grandes universidades americanas
aderiram à rede, que deu lugar à atual Internet.
ASCII - Norma para a codificação de caracteres através de números binários,
utilizada em diferentes computadores. Define a codificação dos caracteres com
códigos de 0 a 127.
Aplicações Internet - Também conhecidas como aplicações TCP/IP, são os
programas de aplicações que utilizam os protocolos da rede conhecidos como:
FTP (File Transfer Protocol) para transmissão de arquivos; SMTP (Simple Mail
Transfer Protocol) e POP (Post Office Protocol) para correio eletrônico (e-mail);
HTTP e HTML em navegadores (browsers).
ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) - rede de longa
distância criada em 1969 pela Advanced Research Projects Agency (ARPA,
atualmente Defense Advanced Projects Research Agency, ou DARPA) em
consórcio com as principais universidades e centros de pesquisa dos EUA, com o
objetivo específico de investigar a utilidade da comunicação de dados em alta
velocidade para fins militares. É conhecida como a rede-mãe da Internet de hoje e
foi colocada fora de operação em 1990, posto que estruturas alternativas de redes
já cumpriam seu papel nos EUA.
-BBrowser - programa de aplicação cliente que permite acessar, por meio de uma
interface gráfica, informações diversas, contendo textos, imagens e gráficos, sons,
1
Seleção e compilação de termos e significados obtidas em várias fontes, como o website Wepopedia
(www.webopedia.com),
o
Mutirão
(http://www.mutirao.futuro.usp.br/glossario/glossario.htm)
e
a
NetDs
(http://www.netds.com.br/portug/glossario.htm) dentre outros.
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332
César Steffen
etc. O acesso ao servidor remoto, que pode ou não estar ligado à Internet, pode ser
feito via rede local ou modem.
BTW - Sigla do inglês "By the Way" (por falar nisso). Usada em textos de correio
eletrônico, artigos de news, etc.
-CCGI (Common Gateway Interface) - aplicação servidora utilizada geralmente
para processar solicitações do navegador (browser) através de formulários HTML,
enviando o resultado em páginas dinâmicas HTML. Também pode ser utilizado
para conexão (gateway) com outras aplicações e bancos de dados do servidor.
Exemplo de linguagens são: Perl, C e C++.
Cliente - é o computador que envia as solicitações ao servidor no contexto
Cliente/Servidor. Cliente é um programa que pede um determinado serviço (por
exemplo, a transferência de um arquivo) a um Servidor, outro programa. O
Cliente e o Servidor podem estar em duas maquinas diferentes, sendo esta a
realidade para a maior parte das aplicações que usam este tipo de interação.
Cookies - permitem que servidores gravem informações de seu interesse,
geralmente de configuração, no lado cliente (browser).
Correio eletrônico - o mesmo que e-mail, é um meio de comunicação baseado no
envio e recepção de textos, chamados de mensagens, através de uma rede de
computadores. Cada usuário de e-mail possui um endereço Internet para
corresponder-se.
Conexão - Ligação entre dois computadores.
Criptografia - é a técnica de converter (cifrar) uma mensagem ou mesmo um
arquivo utilizando um código secreto. Com o propósito de segurança, as
informações nele contidas não podem ser utilizadas ou lidas até serem
decodificadas.
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333
A Política nos espaços digitais
-DDNS - sigla de Domain Name Server, designa o conjunto de regras e/ou
programas que constituem um Servidor de Nomes da Internet. Um servidor de
nomes
faz
a
tradução
de
um
nome
alfanumérico
(p.
ex.
www.mutirao.futuro.usp.br) para um numero IP (p. ex. 143.107.91.17).
Domínio - nome que descreve a organização com a qual um endereço na Internet
está vinculado. Faz parte da hierarquia de nomes de grupos ou hosts da Internet,
identificando as instituições na rede. Exemplo: netds.com.br, onde netds indica a
organização, com indica comercial e br indica do Brasil.
Download - processo de se transferir uma cópia de um arquivo em um
computador remoto para outro computador através da rede; o arquivo recebido é
gravado em disco no computador local. O computador de onde os dados são
copiados é subentendido como "maior" ou "superior" segundo algum critério
hierárquico, enquanto o computador para o qual os dados são copiados é
subentendido "menor" ou "inferior" na hierarquia. O sentido literal é, portanto
"puxar para baixo".
-EEndereço
eletrônico
-
É
um
conjunto
de
caracteres,
como
[email protected], que identifica um determinado usuário dentro da
Internet e, em particular, a sua caixa de correio eletrônico. Qualquer envio de
correio eletrônico para esse usuário deve ser feito para o seu endereço eletrônico.
-FFAQ - arquivo contendo uma lista de perguntas mais freqüentes relativas às
dúvidas mais comuns sobre determinado assunto. As respostas destas perguntas
são fornecidas por usuários mais antigos, experientes ou pelo responsável por
determinado serviço. As FAQ's em geral são dirigidas para leigos ou neófitos.
Contrapõe-se a RFC's.
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334
César Steffen
Freeware - Software distribuído em regime gratuito mas segundo alguns
princípios gerais como a impossibilidade de alteração de qualquer parte para
posterior distribuição, impossibilidade de venda, etc.
FTP ( File Transfer Protocol) - protocolo de transferência de arquivos usado na
Internet, ou então um programa que usa esse protocolo.
-GGIF (Graphic Interchange Format) - formato para arquivos de imagem, muito
utilizado, por oferecer boa compactação de dados e possibilidade de animação
com imagens.
Grupo de Discussão - em inglês, newsgroup. Num forum de discussão, ou seja,
grupo de news da Usenet, escreve-se sobre o tema indicado pelo nome do grupo.
-HHacker - Uma pessoa que sente prazer em ter um entendimento mais profundo do
funcionamento de um sistema, de um computador e de redes de computadores, em
particular. O termo tem sido usado equivocadamente como sinônimo de cracker.
Hiperlink – ver link.
Home page - Pagina de uma instituição ou indivíduo na WWW. A home page é
uma espécie de ponto de partida para a procura de informação relativa a essa
pessoa ou instituição.
Host - também chamado de servidor ou nó, é o computador que lhe dá acesso à
Internet no seu provedor de Internet.
HTML (Hypertext Markup Language) - é uma linguagem de descrição de
páginas de informação, padrão na WWW. Com essa linguagem (que, para além
do texto, tem comandos para introdução de imagens, formulários, modificação de
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335
A Política nos espaços digitais
fontes, etc.) pode-se criar páginas que contenham informação nos mais variados
formatos: texto, som, imagens e animações.
HTTP (Hypertext Transport Protocol) - protocolo padrão que define a
transferência de dados na WWW.
-IInternet - A Internet é uma imensa rede de redes que se estende por todo o
planeta e praticamente todos os países. Os meios de ligação dos computadores
desta rede são variados, indo desde rádio, linhas telefônicas, ISDN, linhas digitais,
até satélites, fibras-ópticas, etc. Criada em 1969 pelo Departamento de Defesa dos
EUA como um projeto pioneiro de constituição de uma rede capaz de sobreviver a
ataques nucleares, foi-se expandindo até chegar ao tamanho e importância que
hoje tem (varias dezenas de milhões de usuários).
IP (Internet Protocol) - protocolo responsável pelo roteamento de pacotes entre
dois sistemas que utilizam a família de protocolos TCP/IP desenvolvida e usada
na Internet. É o mais importante dos protocolos em que a Internet é baseada.
-JJPEG (Joint Photographic Experts Group) - algorítimo para comprimir
imagens, criado pela associação que lhe dá nome. Existe também o Motion JPEG
(MPEG), usado para comprimir imagens animadas.
Java - linguagem orientada a objetos, com sintaxe similar a C++, porém com
biblioteca bastante distinta, que permite o desenvolvimento de aplicações e
applets java. Gera código intermediário (byte codes) que são interpretados em
tempo de execução, o que, juntamente com a sua biblioteca, torna a liguagem
multi-plataforma, permitindo que seu código seja executado nas mais diversas
máquinas e sistemas operacionais, sem a necessidade de adaptação.
-K-
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336
César Steffen
-LLink - Na WWW, uma palavra ou frase sublinhada indica a existência de um link,
que é uma espécie de apontador para outra fonte de informação. Escolhendo esse
link, obtém-se a página de informação correspondente que pode, por sua vez, ter
também vários links.
Lista de discussão - lista de assinantes que se correspondem por correio
eletrônico. Quando um dos assinantes escreve uma carta para um determinado
endereço eletrônico todos os outros a recebem, o que permite que se constituam
grupos de discussão através de correio eletrônico.
Login - identificação de um usuário perante um computador. Login também pode
ser chamado de username. Fazer o login é o ato de dar a sua identificação de
usuário ao computador.
-MMail - ver correio eletrônico.
Mail server - Programa de computador que responde automaticamente (enviando
informações, arquivos, etc.) a mensagens de correio eletrônico com determinado
conteúdo.
MPEG (Motion Pictures Experts Group) - algorítimo de compressão de
arquivos de áudio e vídeo.
-NNavegar - Na Internet significa perambular, passear, procurar informação,
sobretudo no WWW. Também pode-se dizer surfar.
Net - Rede (de computadores, neste contexto).
Network - Rede de computadores.
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337
A Política nos espaços digitais
Newsgroup - Um grupo de news, um fórum ou grupo de discussão na Usenet.
-OOffline - significa que nenhuma conexão está ativa no momento, não permitindo a
navegação interativa na Internet, pois o computador não pode enviar comandos e
receber dados em tempo real.
Online - antônimo de offline, online significa "estar em linha", estar ligado em
determinado momento à rede ou a um outro computador.
-PProtocolo – conjunto de regras padronizado que especifica o formato, a
sincronização, o seqüenciamento e a verificação de erros em comunicação de
dados. Uma descrição formal de formatos de mensagem e das regras que dois
computadores devem obedecer ao trocar mensagens. É, para os computadores, o
que um idioma é para os humanos. Para poderem transferir informações entre si,
dois computadores devem utilizar o mesmo protocolo (ou ter um terceiro que
perceba os dois protocolos e faça a tradução).
Protocolo. O protocolo básico utilizado na Internet é o TCP/IP.
-Q-R-SServidor - numa rede, é um computador que administra e fornece programas e
informações para os outros computadores conectados. No modelo clienteservidor, é o programa responsável pelo atendimento a determinado serviço
solicitado por um cliente. Serviços como archie, Gopher, WAIS e WWW são
providos por servidores; Referindo-se a equipamento, o servidor é um sistema que
prove recursos tais como armazenamento de dados, impressão e acesso dial-up
para usuários de uma rede de computadores.
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César Steffen
Site – ver website.
-TTCP/IP - conjunto de protocolos da Internet que definem como se processam as
comunicações entre os vários computadores. Pode ser implementado em
virtualmente qualquer tipo de computador, pois é independente do hardware.
-UUpload - ato de transferir o arquivo do seu computador para um computador
remoto.
URL (Universal Resource Locator) - identificam unicamente ítens na Internet,
sejam eles sites Web, páginas Web ou partes de páginas, sites ftp ou caixas de
correio (mailboxes). Quando você clica em um link, seu browser irá inspecionar a
URL para determinar o que deve ser feito: carregar uma nova página, recuperar
um arquivo, enviar uma mensagem, etc. No seguinte exemplo de URL, a primeira
parte "http://" indica que deverá ser acessado um site de web; a segunda parte
indica qual o site a ser acessado: http://www.bibvirt.futuro.usp.br
User – ver usuário.
Usuário – pessoa que utiliza serviços de um computador, normalmente registrado
através de um login e uma senha.
-V-W.wav - Tipo de formato de arquivo de som do Windows.
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A Política nos espaços digitais
Website - website é um espaço virtual que oferece informações sobre
determinada pessoa, empresa, instituição ou evento, ou também pode oferecer
serviços .
WWW (World Wide Web ou Web ou W3) - Literalmente, teia de alcance
mundial. Baseada em hipertextos, integra diversos serviços Internet que oferecem
acesso, através de hiperlinks, a recursos multimídia da Internet. Responsável pela
popularização da rede, que agora pode ser acessada através de interfaces gráficas
de uso intuitivo, como o Netscape ou Mosaic, a Web possibilita uma navegação
mais fácil pela Internet.
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340
César Steffen
Anexo II – Conteúdo do CD
O Cd de anexos está estruturado em sete seções, acessadas a partir do menu
lateral, sendo composto por:
- Artigos – artigos e Entrevistas obtidos na Internet e citados neste trabalho
- Contas – planilhas Microsoft Excel com dados da prestação de contas do
candidatos, fornecidos pela pela Seção de Análise e Desenvolvimento (SAD) da
Coordenadoria de Sistemas Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de
Informática do TSE
- Eleitorado – quadro geral do eleitorado Brasileiro, obtido no website do TSE;
- Legislação – leis e resoluções que regularam o pleito de 2002, obtidas junto ao
TSE;
- Pesquisas – pesquisas citadas no trabalho, obtidas em fontes diversas;
- Registro – textos e dados sobre registro de domínios, obtidos no website do
“Registro.br”.
- Telas – apresentações “Microsoft Power Point” com telas do websites em
grande formato para visualização.
Para acessar, insira o CD na unidade. Caso não rode automaticamente, siga as
seguintes instruções:
-
Clique no botão “Iniciar”, depois “Executar”
-
No quadro digite “D:\index.htm”, onde “D:\” é a letra da unidade de CDROM
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341
Observações:
-
é necessário ter um browser de navegação para a visualização dos dados;
-
da mesma forma é necessário ter softwares instalados no computador para
acessar as planilhas e as apresentações;
O uso não-comercial dessas informações é livre e aberto a todos, devendo as
fontes ser citadas conforme os modelos e padrões adotados.
O uso comercial destas informações é totalmente vedado.
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