INTRODUÇÃO – P Hugh Seenan MAfr, Director do Centro de Nazaré

Transcrição

INTRODUÇÃO – P Hugh Seenan MAfr, Director do Centro de Nazaré
XXª SEMANA TEOLÓGICA DA BEIRA: 15-19 de Junho, 2015
A Vida CONSAGRADA
EVANGELHO, PROFECIA, ESPERANÇA
INTRODUÇÃO
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da Beira
Reverendos Padres e Diáconos
Reverendos Irmãos e Reverendas Irmãs
Ilustríssimos Convidados de outras Igrejas
Senhores e Senhoras Leigos
Boas vindas à vigésima semana teológica. Como um homem de
matemática tenho que insistir que só em 2016 que vamos completar,
se Deus quiser, 20 anos das semanas teológicas que tiveram o seu
início em 1996. Normalmente dá dores de cabeça, a escolha de tema
duma semana. Não posso dizer que foi fácil mas o Santo Padre,
Francisco, nos ajudou muito ao declarar 2015 o ano da vida
consagrada.
Esta tarde, não vou dar um tratamento exaustivo deste tema. Deixo-o
nas mãos dos ilustres convidados e vocês mesmos com larga
experiência e sonhos da vida consagrada que tendes. Eu só vou
oferecer uns petiscos, espero saborosos, para aumentar a sede e a fome
para os outros as satisfazer.
Estamos contentíssimos por ver um número significativo de padres
diocesanos connosco este ano. Espero que não estão afectados como o
meu confrade P Fernando que entra em apoplexia quando é convidado
a uma reunião de pessoas da vida consagrada. Como o Santo Padre
falou no seu discurso aos Bispos de Moçambique na visita ad limina
no mês de Maio: a vida consagrada numa diocese não é um grupo às
margens da diocese mas um estilo de vida essencial e integral na vida
da diocese para a diocese ser Igreja. Os consagrados são os vossos
cooperadores em construir o Reino aqui nas dioceses de Moçambique.
As pessoas da vida consagrada precisam de vocês, precisam das suas
eucaristias dominicais, precisam das suas missas e conferências nas
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suas casas, precisam da sua direção espiritual, precisam de trabalhar
em cooperação com vocês e especialmente precisam da sua amizade.
Espero que a sua participação esta semana contribui para aprofundar
esta relação simbiótica.
Voltando para os meus petiscos tenho que fazer a minha confissão da
sua origem. Por acidentes de geografia e biologia sou da expressão
inglesa, evidentemente um mundo sob grande influência dos Estados
Unidos, para nós a terra prometida. Na Igreja não é diferente. A Igreja
dos Estados Unidos tem tido uma influência muito positiva desde o
fim da segunda guerra mundial na área teológica, especialmente nos
estudos bíblicos e na área de formação e vida consagrada. Tenho uma
assinatura à esta revista, HUMAN DEVELOPMENT durante muitos
anos começando a ler no seminário. Os meus petiscos vêm de lá e
autores que eu encontrei pela primeira vez, por exemplo:
 Para mim o pioneiro na reflexão sobre a vida consagrada é
Gerald Arbuckle, um padre marista de Nova Zelândia e o seu
livro, Arbuckle, G. A. Out of Chaos: Refounding Religious
Congregations. Mahwah, NJ: PaulistPress, 1988.
 Diarmuid O’Murchu, irlandês, Dehoniano como o Arcebispo e o
seu livro
O’Murchu, D. Reframing Religious Life: Na Expanded Vision
for the Future. The Guernesy Press Co.: St. Pauls (UK), 1998
 Sandra Schneiders
Selling All: Commitment, Consecrated Celibacy, and
Community in Catholic Religious Life (2001)
Finding the Treasure: Locating Catholic Religious Life in a New
Ecclesial and Cultural Context (2000)
 Joan Chittister OSB,
Chittister, J. D. Remembering the Vision: Embracing the Dream
. LCWR Assembly Keynote Address. Atlanta, Georgia, 2006
 Sean Sammon, antigo superior geral dos Irmãos Maristas
Sammon, S. D. Creating a Religious Life for the 21st Century.
Forthcoming, 2014
 e vários outros e muitos artigos em HUMAN DEVELOPMENT
Ninguém pode negar que a vida consagrada está em crise, mesmo aqui
em Moçambique. Não há nenhum grupo que tem vocações em
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abundância. Mas ao mesmo tempo a vida consagrada não vai
desaparecer. Nunca houve uma época de ouro na vida consagrada
enquanto o tempo entre o fim da segunda guerra mundial e Vaticano
Segundo foi um tempo com uma abundância.
Aproveitando de teorias do mundo de sociologia e comércio sobre o
crescimento e declínio de organizações e os ciclos, O´Murchu e outros
propõem na vida religiosa um ciclo de 300 anos. Hoje estamos ao fim
de um destes ciclos. Calculam que 75% das congregações
desaparecem durante o ciclo ou melhor digamos que 25% conseguem
entrar no novo ciclo. Conseguem uma refundação da congregação
para continuar com vigor renovado. O declínio até a morte não é para
desprezar ou negar o grande trabalho feito. Ser membro dum grupo
assim é ser membro da maioria. Com fé só podemos dizer, outros
tempos precisam de outros grupos. Dão os exemplos dos
Franciscanos, Jesuítas e Ursulinas como uns grupos que conseguiram
passar dum ciclo para o seguinte. Evidentemente há muitos outros.
Sempre em cada ciclo há novos movimentos e não faltam hoje.
Há várias estratégias para sobreviver dum ciclo para o outro. Entre
elas são:
1. Reconfiguração: se juntam duas ou mais congregações,
tipicamente de um carisma ou fundador semelhante, de uma
maneira mais inclusiva (i.e., formando uma estrutura nova).
Reconfiguração poderia envolver fusão, união, federação ou
aliança.
2. Reestruturação: é um esforço feito por uma comunidade para
modificar suas estruturas organizacionais existentes para
enfrentar melhor realidades actuais e o modo desejado de
organizar a comunidade. Reestruturando esforços poderia
resultar num grupo menor ou a simplificação de modelos de
governação existente ou criando novos modelos de governação
(por exemplo, de hierárquico a modelos circulares de
governação).
3. Refundação: é um esforço para mudar a paradigma mesma de
vida religiosa. É uma decisão que salta da convicção que tal
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mudança radical em valores operacionais, atitudes prevalecentes
e comportamentos interpessoais normativos têm que acontecer
para que uma comunidade dar parto a uma vida nova no futuro.
Isto poderia envolver processos como: reconciliação e
conversão; imaginação transformativa; criando uma consciência
nova; reautenticação da voz interna da comunidade; aprendendo
modos novos para viver comunidade e levando a cabo sua
missão.
Agora temos a pergunta exactamente o que queremos reconfigurar,
reestruturar ou refundar. Quero oferecer duas definições de Joan
Chittister a Sandra Schneiders para despertar ideias que vamos
desenvolver durante a semana.
JOAN CHITTISTER OSB
«A vida consagrada tem que se ocupar de ver o que outros não veem
ou de se ocupar de dizer o que outros não podem dizer, por qualquer
razão, a qualquer preço.»
SANDRA SCHNEIDERS IHM
«Consagrados são chamados para ser cidadãos de qualquer lugar onde
eles habitam, crianças do cosmo que não reconhecem nenhuma
reivindicação absoluta excepto de Deus e consequentemente podem
transcender os limites artificiais que seres humanos introduziram para
dividir terra, recursos, povos e mesmo a religião.»
Com certeza todos vocês têm a sua própria visão e definição e com
certeza vamos ouvir outros durante a semana.
Os nossos convidados vão desenvolver os petiscos.
Começamos amanhã com Anna Maria Berta membro do Instituto
Secular, Companhia Missionária do Coração de Jesus trabalhando em
Nampula que vai nos iluminar sobre a vida consagrada desde as suas
origens na vida de Jesus até hoje. É um caso de não ter presente ou
futuro sem assumir o passado. Vamos ter também um tempo para uma
feira vocacional onde as congregações envolvidas têm a oportunidade
de nos falar do carisma fundacional e a actualidade da congregação.
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Na quarta-feira sobre a situação do consagrado no mundo actual, E e
em particular Moçambique teremos o P. Victor Hugo Garcia,
Comboniano Mexicano, Director da revista VIDA NOVA.
À tarde o Padre Fidel Salazar vai orientar uma mesa redonda com
pessoas de vários tipos de vida consagrada.
Na quinta-feira para despertar novos sonhos para o futuro teremos
Dom Luís Fernando Lisboa, passionista brasileiro e Bispo de Pemba.
Acabamos na sexta-feira com a síntese da semana e plano de acção
com P Jeremias dos Santos da Diocese de Inhambane.
Como pode ler no programa há mais oração do que normal, em
quantidade, em variedade e esperamos qualidade todo ligado a vida
consagrada. Não vamos escapar o famoso churrasco. Também durante
a semana queremos lançar o nosso WEBSITE, o nosso www.
Quero concluir com uma citação do Irmão Sean Sammon antigo
Superior Geral dos Irmãos Maristas.
«A vida consagrada nunca tinha o papel de ser uma mão-de-obra
eclesiástica. Antes, seus membros professam a viver publicamente e
radicalmente o plano de evangelho como o significado e propósito das
suas vidas. Bem-vivida e guiada pelo Espírito, a vida consagrada é a
memória viva da igreja, do que pode e deve ser. Pela maneira de viver
e os ministérios assumidos. As irmãs, irmãos e padres consagrados
fazem a comunidade alargada lembrar que nós pertencemos a uma
igreja de comunhão, uma igreja baseada no evangelho, constituída por
iguais, e uma igreja na qual todo o mundo tem um dom para o bem de
todos. Vivida ao máximo, a vida consagrada serve como uma
consciência para a igreja, fazendo a igreja lembrar continuamente da
sua verdadeira natureza.»
Que a semana seja uma semana deste Espírito.
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