Câmaras querem acabar com o perigo
Transcrição
Câmaras querem acabar com o perigo
esta N.º 9 . Ano 4 . sexta-Feira, 31 de março de 2006 visita pastoral www.esta.ipt.pt D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s J O R N A L jornal laboratório do curso de comunicação social da escola superior de tecnologia de abrantes Bispo D. José Alves p. 6 e 7 instituto politécnico de tomar joão lobato Câmaras querem acabar com o perigo - Jorge Santos - A paixão pelos táxis e futebol Taxista há 27 anos, o novo director desportivo do Abrantes Futebol Clube reparte o seu tempo entre o volante do seu táxi e o estádio municipal. “Sou puro benfiquista mas se calhar agora tenho uma queda maior pelo Abrantes” — afirma. p. 15 - Abrantes - Obras vão mudar concelho Requalificação da Av. Farinha Pereira, edifício do Centro Tecnológico Alimentar, instalação de empresas no Parque Industrial, requalificação da rua de acesso ao cemitério de Sta Catarina, as obras do campo de Basebol da Cidade Desportiva e do Açu- de e, no Tramagal, a inauguração da piscina municipal e as obras do Parque Industrial, contrariam, segundo Nelson de Carvalho, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, o cenário de estagnação económica que o país atravessa. p. 10 e 11 Tomar, Abrantes e Entroncamento procuram soluções para a segurança rodoviária dos peões. Passadeiras sobrelevadas ou cromáticas, bandas sonoras e barreiras físicas são algumas das alternativas. A dificuldade reside na falta de critérios e de normas técnicas para regular a localização das travessias pedonais p. 4 e 5 - Conto - O projecto final A mudança estava finalmente terminada. Tudo estava em ordem, tudo tinha encontrado o espaço a que estava destinado. Na estante que se situava ao lado da porta, os livros, meticulosamente ordenados por épocas, revelavam a sua paixão: o cinema. Nas paredes forradas com um papel florido, já gasto pelo tempo, tinha colado alguns cartazes que faziam alusão aos grandes clássicos. Fora esta a forma que encontrara para esconder as manchas acastanhadas das paredes. p. 19 | ESTA JORNAL • 3 de Abril de 2006 Editorial Chamar a atenção para causas, direitos, deveres e o que mais houver ESTAJornal errou Na última edição do ESTAJornal, na secção de Vox Pop, por lapso, não foi incluída a referência ao curso de Engenharia Mecânica, que existe na ESTA desde a sua fundação. Fundado a 13 de Janeiro de 2003 propriedade da escola superior de tecnologia de abrantes Morada: Rua 17 de agosto de 1808 2200-370 abrantes telefone: 241361169 fax: 241361175 E-mail: [email protected] deu uma lição que entrelaçou a teoria com a prática, falando da legislação e aplicando-a a casos concretos. Não foi só a posição do Governo que esteve em causa. Foi sobretudo uma visão global de um conjunto de problemas que estão na ordem do dia. Nem só de direitos e de deveres dos jornalistas se fala nesta edição. Também as mais simples actividades de um comum consumidor ou de um utente são visadas nas páginas que se seguem. Reclamar é um direito, nem sempre possível de concretizar. É mais um grito de alerta que fica. Onde estão os Livros de Reclamações? E o onde estão as coisas boas? A resposta é demasiado pronta: sobretudo na cultura… E o destaque vai para um grupo de estudantes que quiseram mostrar (e bem) que há tempo para tudo. Palmas para os JIMEHL, banda de ritmos cabo-verdianos. Hália Costa Santos • O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. •O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta independência e de pluralismo dos pontos de vista a que dá expressão. •O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar os mais diversos campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante a sociedade e o Mundo. •O ESTA Jornal considera como parte da sua missão contribuir para a formação de uma opinião pública informada, emancipada e interveniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante. • A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo. •O ESTA Jornal considera-se responsável única e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e perante o público a que se dirige. O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e empenhado com os leitores, comprometendose a manter canais de comunicação abertos com quantos connosco queriam partilhar as suas ideias e inquietações. um carto on Ângel a P ereira Fazer jornalismo é, sobretudo, chamar a atenção. A primeira página desta edição – com uma passadeira a toda a largura – é quase um grito de alerta. A situação dos atropelamentos – dentro e fora das passadeiras – continua a ser inexplicável. O problema não é novo, mas as soluções tardam. No caso da segurança rodoviária, nomeadamente quando se trata de peões, vale tudo o que puder ser feito. Dar voz ao Observatório de Segurança das Estradas e Cidades (OSEC) é contribuir para um certo jornalismo de causas. A causa da segurança nas estradas e ruas é tão importante como a causa das minorias, para falar simplesmente de uma outra. Os membros do OSEC trabalham sem qualquer retorno financeiro. Fazem-no com um certo sentido de serviço público. Talvez lhes dê vontade de desistir, de vez em quando. Talvez sintam que estão a remar contra a maré. Mas a sua causa é nobre. “As pessoas não gostam de andar de carro aos saltos”, diz-se em determinado ponto do trabalho apresentado nesta edição. Mas gostarão muito menos se forem vítimas da ausência de passadeiras, da má sinalização ou de falta de civismo. Neste número do ESTAJornal fala-se muito de causas, de direitos e de deveres. Desde logo, estão em foco os jornalistas. O próprio ministro da tutela, Augusto Santos Silva, veio falar deste assunto aos estudantes de Comunicação Social. Como professor que é, E statuto Editorial direc tora: Hália Costa Santos Direc tora-adjunta: Raquel botelho redacç ão: Ana Catarina brandão, ana neves, ana raquel ferreira, andré canoa, catarina machado, ana catarina marques, charlene izaque, cláudia costa, cláudio monteiro, cristina santos, emanuel teixeira, eunice pinto, jefferson gomes, joão lobato, liliana séca santos, maria joão cardador, maria josé vaz, nelly caetano, nuno carola, pedro nicolau, rafaela santos, sofia macedo, tânia pissarra, vânia palminha Colaboradores: Ana Santos, ângela pereira, bruno sousa ribeiro, liliano pucarinho, tiago lopes, vera agostinho, vera inácio Revisão : Maria romana, marta azevedo e Sofia mota Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira impressão/gráfic a: gráfica almondina, torres novas tiragem: 1000 exemplares opinião 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | Jornalismo: definir direitos e deveres “Todos os indivíduos têm direito a …” E U ntre as alterações previstas ao Código Penal encontra-se a inclusão do “crime de perigo”, ou seja, o jornalista pode ser acusado deste crime se publicar informação sob segredo de justiça, quando a sua conduta for considerada como um perigo para a investigação criminal e para a realização da justiça. À primeira vista, esta medida pode parecer a forma mais simples e eficaz para pôr fim às quebras do segredo de justiça. O pensamento é lógico… Se não é possível culpabilizar as fontes porque os jornalistas têm o direito de não as revelar, então que se culpabilize os jornalistas. Como em tantas outras questões, também esta pode ter dois caminhos. Por um lado, a intenção pode ser a melhor. Por outro lado, “de boas intenções está o inferno cheio”. Se esta alteração à lei conseguir pôr cobro às notícias e informações que não servem o interesse público e que apenas conseguem denegrir a imagem de pessoas inocentes ou servir o interesse de fontes duvidosas, então que seja bem-vinda. Porém, se esta lei vier para servir de Cláudia Costa camuflado, escondendo e omitindo informações de real interesse público, então que fique onde esteve até agora… no fundo de uma gaveta. E de preferência que seja uma gaveta bem funda. Para que o interesse público seja servido, é importante que os jornalistas definam os limites dos seus direitos e deveres, mas não deixa de ser igualmente importante que os limites entre o que pode e o que não pode constituir perigo para a realização da justiça se encontrem bem definidos. ma série de caricaturas do profeta Maomé publicadas por um diário dinamarquês serviram de mote para reforçar as ténues e hostis relações do mundo islâmico para com o ocidente. Liberdade de religião versus liberdade de expressão. “Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião” e “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão”, segundo os artigos 18º e 19º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, elaborada como reconhecimento da dignidade humana e que se constitui como “fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Mas o mundo, na sua pluralidade de culturas, não consegue evitar o choque das mesmas. E na defesa dos “nossos” direitos, esquecemos os direitos dos outros. A “nossa” liberdade acaba quando, de facto, começa a liberdade do outro! Neste duelo em que se constrangem uma ideologia fundamentalista cega e um princípio democrático, ao qual muitas vezes se esquece de impor limites, mas que é um valor essencial da civilização, o que passa a estar em causa não é o que os primeiros Maria José Vaz reclamam como «blasfémia», mas sim a dimensão que este “incidente” poderá assumir no futuro. O que está em causa não é o desrespeito pela religião, mas a abertura do caminho para a legitimação do fanatismo islâmico (qual tabu!) e o sentimento de intolerância. Ameaças, ataques, boicotes, pressões diplomáticas, queima de bandeiras e “morte para os que insultam o Islão” será aceitável? Deve-se entender como uma derrota à liberdade de expressão? A resposta, essa, só virá com o tempo! Quando as claques Muda-se o ser, deixam de fazer claque muda a confiança O futebol é considerado o desporto rei! Os 22 jogadores são os protagonistas (ou deveriam ser na maioria das vezes), mas existem outros elementos fundamentais, como os treinadores, os árbitros, os dirigentes e, sobretudo, os ADEPTOS. Sem adeptos, o futebol não faria sentido, pois são eles que fazem do futebol rei, são eles que vibram com os jogadores e com as jogadas, são eles que enchem estádios e pressionam dirigentes a despedir treinadores… Portanto, o futebol sem adeptos não é mais que um jogo de matraquilhos sem jogadores a fazer mexer os bonequinhos. As claques são um exemplo de adeptos que têm como característica principal estarem organizadas, deslocarem-se a todos os jogos, terem cânticos, serem máquinas de marketing e estarem incondicionalmente ligados ao clube. O facto de Sporting Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto se terem desvinculado das suas claques (FCP dos Super Dragões e SCP dos Ultra XXI, Juveleo e Torcida Verde) é uma grande perda para o futebol. As claques são as principais animadoras das bancadas, com os seus cânticos e gritos de guerra, normais na rivalidade entre emblemas, deixam os outros adeptos ainda mais entusiasmados e até mesmo os jogadores. No entanto, quando se fala delas, M Ana Raquel Ferreira é sempre num sentido negativo: roubos e desacatos em estações de serviços ou nas imediações dos estádios, violência entre claques adversárias… e esquece-se sempre das coisas boas destes adeptos. É certo que as claques têm de estar oficialmente ligadas a um clube e que a maioria dos casos não é este. Porém, o SCP, por exemplo, tinha um protocolo com as principais claques afectas ao clube, mas desvinculou-se dela. O que levanta uma questão: a manutenção destas claques, por ser dispendiosa para os clubes, acaba por ser mais fácil descartar responsabilidades, acabando por prejudicar o espectáculo do futebol vivido num estádio. udam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança…” 9 de Março. Cavaco Silva, actual Presidente da República, eleito em Janeiro, tomou conta oficialmente do Palácio de Belém. Jorge Sampaio, o Cessante, abandonou aquela que fora a sua moradia durante dez anos. Exerceu uma presidência activa. Dotada de uma forte “dedicação e sentido de Estado”. Os episódios políticos mais caricatos talvez sejam a “fuga” de Durão Barroso para a “Europa”, a dissolução da Assembleia da República e o excêntrico Governo de Santana Lopes. Que chalaça, mas nem tudo foi piada… Na economia tivemos e temos, essencialmente, a recessão económica. Aderimos ao Euro. Uau! Inflação dos preços e desemprego. Grande novidade! Contudo, a palavra de ordem foi sempre o “progresso”. Crescimento e produtividade. Inovação e competitividade. Sob o signo do Cessante, celebrou-se primeiro a Expo’98 e, mais recentemente, o Euro 2004. Portugal fervilhou. Eclode a bomba Casa Pia. Imprensa de todo o mundo unida. Projecção de Portugal a Liliana Séca Santos nível internacional… Muito me aprouve Sampaio. Por detrás do ar discreto, insurgiu um Sampaio atento. Atento a todos os portugueses. De tanta atenção, foi o presidente que mais vetou preceitos legais. Grande Sampaio! Coube-lhe eficácia. Eficácia ao saber gerir um Portugal decadente e em vias de extinção. Porém, é tempo de mudança! Cavaco Silva parece ser a solução. Assim, continuamente “veremos” novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal, ficam as mágoas na lembrança, e do bem, se algum houve, as Saudades. | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 destaque joão lobato Tomar, Abrantes e Entroncamento procuram soluções para a segurança rodoviária Câmaras querem a tranquilidade dos peões Em todas as cidades, um dos problemas que urge resolver é o da segurança rodoviária. Abrantes, Tomar e Entroncamento tentam inverter um diagnóstico geral, pouco favorável, ao nível da segurança dos peões. Passadeiras sobrelevadas ou cromáticas, bandas sonoras e barreiras físicas são possíveis soluções para o problema Emanuel Teixeira e João Lobato Em finais de Fevereiro deste ano, o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC) divulgou um relatório em que faz uma análise do panorama nacional. A principal denúncia é a falta de critérios e de normas técnicas para regular a localização das travessias pedonais. No documento exorta-se o Governo para que legisle urgentemente sobre os critérios a adoptar. Mas qual é então a realidade na zona do médio Tejo, em cidades como Abrantes, Tomar e Entroncamento? No que se refere à existência de critérios e normas, os responsáveis por todas estas cidades são unânimes em referir que eles realmente existem. Segundo Fernando Côrvelo, vereador em Tomar na área do Planeamento Físico, “há normas quanto à colocação de passadeiras nas vias”. Estas resultam de “legislação como o Código de Estrada, portarias e outros diplomas provenientes fundamentalmente do Ministério das Obras Públicas, através das direcções gerais de viação e dos transportes terrestres”. Uma informação também avançada por quem tutela estas questões em Abrantes e Entroncamento. “As passadeiras são devidamente estudadas, quer em termos de segurança para o peão, quer de visibilidade dos próprios veículos”, explica Pina da Costa, vereador em Abrantes com a pasta da Gestão do Trânsito. A falta de recursos técnicos e financeiros para garantir a manutenção das passadeiras, a iluminação e correcta sinalização nas suas áreas envolventes, é uma situação confirmada pelas câmaras de Abrantes e Entroncamento. Em Abrantes, Pina da Costa admite mesmo a falta de “meios técnicos ideais para responder a essas situações”. O vereador adianta ainda que, “por uma questão de opção”, pode decidir-se “repintar uma passadeira, mas será uma situação pontual”. No caso de essa ser a opção, são contratadas empresas externas. Em Tomar a câmara decidiu-se por passadeiras em empedrado, já que “as passadeiras pintadas têm o grande inconveniente de desaparecerem rapidamente, significando um custo elevadíssimo na reposição da pintura”, diz Fernando Côrvelo. Duas soluções para o problema estão a ser levadas em conta nestes concelhos: a criação futura de passadeiras sobrelevadas e de barreiras físicas para levar os peões a atravessar em locais seguros. Segundo Pina da Costa, “os técnicos gostam muito das passadeiras sobrelevadas”, dando como exemplo, em Abrantes, a zona do Parque de S. Lourenço. “Estamos a aplicar esse tipo de passadeiras porque são mais eficazes.” No entanto, também refere que “tem custos mais elevados”, havendo sobretudo algumas reticências na sua utilização, dado que prejudicam “a passagem de ambulâncias e pesados em determinadas situações”. No caso de Tomar, a autarquia avançou pela mesma solução, em- bora tenha existido “uma reacção forte” por parte da população, tal como confessa Fernando Côrvelo. “As pessoas não gostam de andar de carro aos saltos. Manifestamente a solução é incómoda para quem circula, mas é uma solução eficaz.” Argumenta, ainda, como defesa desta decisão, o facto de que este tipo de passadeiras obriga a “reduzir a velocidade e em consequência os acidentes diminuíram consideravelmente”. A resolução dos problemas de mobilidade dos peões na cidade do Entroncamento tem passado igualmente pela utilização das passadeiras sobrelevadas, mas não só. Tal como refere Monteiro Figueira – técnico da CEIT, empresa de consultoria para a resolução de problemas da circulação e segurança rodoviária (e que tem como cliente a Câmara Municipal do Entroncamento) – a cidade “tem actualmente em curso uma candidatura para as questões da mobilidade”. Outros aspectos, como a criação de passadeiras cromáticas, bandas sonoras e barreiras físicas estão também incluídos. O mesmo aponta ainda para a prática da autarquia, que “tem sido, até hoje, de assegurar a tranquilidade para todos os utentes da via pública, incluindo os que têm mobilidade reduzida”. Como exemplo apresenta “o rebaixamento de passeios e rampas de acesso”. Apesar de todas as medidas e intenções por parte destes municípios, muito falta ainda fazer. Fora dos centros urbanos ou apenas nos próprios centros históricos, não é raro o comum cidadão queixar-se do estado de conservação ou localização das passadeiras e, por vezes, até da sua falta. Casos em que, na mesma rua, num cruzamento ou rotunda coexistem travessias para peões em más condições com outras em boas ou excelentes condições também se sucedem. Para agravamento da situação, em Portugal, tal como afirma Pina da Costa, “não há muita cultura cívica em termos de trânsito, quer por parte dos peões, quer por parte dos condutores”. destaque 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | Observatório de Segurança de Estradas e Cidades denuncia erros na construção e manutenção das estradas O panorama da sinistralidade urbana “é devastador” Portugal é um país que vive sobre o estigma da insegurança nas estradas, juntando-se a este problema os acidentes de viação e o mau estado das vias e estradas, bem como a sinistralidade urbana. Com a intenção de denunciar os erros cometidos na construção e manutenção de estradas e a consequente responsabilidade nos acidentes rodoviários, surgiu, em 2004, o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC). Nuno Salpico, juiz do Tribunal da Moita e presidente do OSEC, explica que esta é uma organização não governamental, “facto que lhe atribui uma certa independência”. Composta por juízes conselheiros, embargadores de direito, procuradores adjuntos do Ministério Público, engenheiros, alguns docentes universitários de engenharia, bem como o Comandante da Brigada de Trânsito da GNR, “apenas tem como orientação o serviço público”. Afastado de qualquer orientação partidária – o seu estatuto de independência assim o exige – o observatório vive alheado do orçamento de Estado e os seus membros não recebem qualquer tipo de remuneração. “Nem queremos ter” – frisa Nuno Salpico, salientando ainda que “muitas vezes as despesas são suportadas pelo bolso dos próprios membros”. Sendo uma instituição que não se encontra sob a alçada do Governo, o OSEC, nas suas intenções de garantir a segurança da comunidade, chega a ser confrontado com os interesses do executivo, sendo a sua actuação, por vezes, mal entendida. O resultado pode traduzir-se em algumas renitências por parte de quem governa relativamente a “um trabalho que pretende o bem”, lamenta Nuno Salpico. O juiz refere ainda que o principal problema que se coloca prende-se com aspectos de responsabilidade criminal. Este é um problema nacional, uma lacuna social no que à segurança diz respeito, uma falta de bom senso que, nas palavras do juiz, “só nasce a partir da responsabilidade”, uma responsabilidade forjada nos termos da lei, pois a sociedade não pretende que seja feito de outra forma. O espectro da responsabilidade é cada vez mais uma realidade e, sendo esse o caso, “temos que suscitar a tutela da responsabilidade criminal”, remata Nuno Salpico. Mas a conversa do ESTAJornal com o juiz não fica construída apenas por críticas ao modo como a sociedade abraça a causa da segurança nas estradas. Não é essa a sua função, nem o principal objectivo do OSEC. A real intenção do observatório é alertar para que se corrijam os defeitos da via provocadores de acidentes. Feito esse alerta, se a entidade que tem a seu cargo a manutenção e construção da via “continuar a mantê-la perigosa”, aumentando assim o risco de acidente, o OSEC “O caso de Tomar é um caso notável” terá a seu cargo o papel de atribuição de participação criminal. Acerca do elevado grau de sinistralidade urbana existente no país, Nuno Salpico diz que “o panorama é devastador”, realçando que esta situação se deve “ às violações das normas técnicas”. Mas nem tudo é negativo. Segundo o juiz, vem-se notando uma melhoria na travessia pedonal (entendase passadeiras). Apesar de insuficiente, é uma melhoria. O presidente refere que, por vezes, os municípios não possuem os meios técnicos para garantir a segurança das vias, situação esta que não augura nada de positivo. Prenúncio negativo que toma esta forma quando Nuno Salpico acautela que “o Observatório é a única entidade que faz esta abordagem”. Por isso, alerta para os perigos e para as violações existentes nos meios urbanos, sendo esta uma abordagem constituída por um conjunto de saberes jurídicos e técnicos que permitem um melhor entendimento da gravidade deste problema. Um exemplo a ter em conta A sinistralidade urbana não é só um problema dos grandes centros nacionais. Esta situação afecta outros municípios e as posições a serem tomadas por parte das câmaras municipais, para inverter esta prática de costumes, têm que ser uma realidade. O trabalho exercido pela Câmara Municipal de Tomar chegou ao conhecimento de Nuno Salpico através da imprensa regional. Ao entrar em contacto com este exemplo de planificação urbana, no que à segurança pedonal diz respeito, foi do interesse do observatório entrar em contacto com Tomar. O resultado foi a marcação de uma reunião com os representantes da Câmara Municipal. Tal como confirma Fernando Côrvelo, vereador na área do Planeamento Físico de Tomar, “no fundo, aquilo que nos transmitiram foi apenas o desejo de informação sobre o procedimento na cidade”. O presidente do Observatório considera que “o caso de Tomar é um caso notável, na medida em que avançámos para uma solução que é politicamente complicada”, referindo-se, nomeadamente, à contestação dos condutores em relação à introdução de passadeiras sobrelevadas. Para Nuno Salpico, o encontro não podia ter sido melhor, ficando satisfeito com algumas medidas que estão a ser incrementadas na cidade. Discorda apenas da colocação das passadeiras sobrelevadas, pois não as considera a melhor solução. Explica que “foi a posição deles”. E acrescenta: “É uma extensão do passeio, é território do peão e reduz a sinistralidade”. È preciso remar contra a maré pois, como considera Nuno Salpico, “num estado de direito democrático esta situação é totalmente inaceitável”. Duas histórias reais de atropelamentos em Abrantes “Os bons também apanham” É difícil imaginar como alguns passos dados em frente podem mudar radicalmente toda a vida de uma pessoa, incluindo daquelas que a rodeiam. Os casos de vidas desfeitas ou de mazelas que ficam no corpo para toda a vida são reais. A nível nacional, os atropelamentos são frequentes. Tanto em passadeiras como por falta delas. Ora por distracção do peão, ora por distracção do condutor, estes incidentes continuam a suceder diariamente, levantando uma terrível sombra sobre a segurança pedonal. Ensombrada e sem alegria, foi assim que ficou a vida de Alsínia e Albano Ribeiro depois de verem a sua filha de 12 anos ser vítima de um atropelamento, há 20 anos atrás. Fátima, saía da Escola Solano de Abreu, em Abrantes, e como muitas outras crianças preparava-se para atravessar a estrada junto ao portão de saída. Na época não havia passadeiras junto ao estabelecimento de ensino, pelo que o perigo de atropelamento existia realmente. Bastaram alguns passos em frente, para que Fátima fosse atropelada por um autocarro de passageiros, dando início a um pesadelo que só iria finalizar cinco anos mais tarde, com a sua morte. Como nos relata amarguradamente Alsínia Ribeiro, “Fátima esteve em coma durante três semanas no Hospital de S. José, em Lisboa”. Confessa que após este acidente a sua filha nunca mais foi a mesma. Sem ter qualquer tipo de ajuda financeira, a vida desta família, que incluía mais dois filhos, teve que se adaptar às circunstâncias. “Apenas nos pagaram as despesas hospitalares, mais nada”. Fátima tornou-se numa criança agressiva e triste. As mazelas psicológicas estavam lá e ninguém as podia sarar. O insucesso escolar e a forte medicação a que estava sujeita retiraram-lhe a alegria própria da sua juventude. À medida que o tempo passava, Alsínia e Albano desesperavam com o estado da filha, mas o pior aconteceu quando em 1990 lhe diagnosticaram leucemia. Fátima acabou por falecer no mesmo ano. Ao fim de tanto tempo a dor ainda persiste no seio deste casal. “Nos primeiros 15 anos fui todos os dias à campa dela, agora sou vou uma vez por semana” – confessa Alsínia enquanto mostra fotografias da filha. Por Deolinda Gil fim, desabafa: “Os bons também apanham”. Deolinda Gil, 53 anos, também foi vítima de um atropelamento, mas neste caso numa passadeira. O incidente ocorreu nos primeiros dias de 2002, junto da Biblioteca Municipal de Abrantes. “Era já noite e não havia luz. Estava a chover muito”, conta esta ex-aluna da ESTA. “Atravessei a passadeira e já no fim dela vem um carro em sentido contrário que me apanhou e tombei. Bati com a cabeça no sinal de passagem para peões e fiquei ali um bocado sem respirar”. Deolinda Gil confessa que tanto ela como o condutor estavam distraídos, mas que a luminosidade era muito pouca tendo em conta que estava junto de uma passadeira. “Fiz um traumatismo craniano e várias rupturas na coluna que me deixaram mazelas”. Como resultado esteve três meses de baixa. Este incidente alterou a sua vida, já que na altura encontrava-se a estudar e viu-se forçada a “estar bastante tempo em repouso absoluto”. Mas a vontade de contrariar este revés era muita. “Fui levantar a baixa porque já estava farta” – desabafa. As dores eram insuportáveis, mas Deolinda acrescenta que sempre que podia ia às aulas. Quatro anos após o acidente as mazelas físicas não a deixam esquecer, mas a vontade de seguir em frente é maior do que a lembrança. | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 sociedade ENTREVISTA | D. José Alves, Bispo de Portalegre-Castelo Branco a FORMAÇÃO “Há uma certa onda de laicismo na sociedade” Atendendo aos novos desafios que se apresentam à Igreja, a Diocese de Portalegre-Castelo Branco está a promover um Curso de Aprofundamento da Fé em três patamares distintos. “Surpreendeume o facto de quase duzentas pessoas terem aderido à frequência deste curso” - afirma D. José Alves, referindo-se ao mais elevado patamar deste curso, próximo do nível académico. O segundo nível do curso, destinado a grupos paroquiais, compreende mais de 3.500 participantes, o que, para o prelado, representa “que as pessoas estão desejosas de uma fé mais esclarecida”. O nível básico do curso é ministrado a par da catequese, junto das crianças e jovens. Este Curso de Aprofundamento da Fé pretende preparar a Diocese para a Nova Evangelização, tão propalada pelo Papa João Paulo II. “Hoje pretendemos que os cristãos não só tenham devoção e sejam frequentadores de actos religiosos, mas que saibam, como diz S. Pedro, dar razões para a sua vivência cristã”, conclui D. José. D. José Alves está a fazer a sua primeira Visita Pastoral ao Arciprestado de Abrantes. Objectivo? “Dar alento às pessoas, fortalecer a fé, esclarecer e ajudar as comunidades a renovarem-se interiormente”. O Bispo fala da Diocese, da Devoção Mariana e da Nova Evangelização. “A Igreja tem que fazer um esforço notório e completo para ir de encontro à mentalidade das pessoas do nosso tempo” nuno carola Nuno Carola Como é que um Bispo habituado à vivência religiosa da Grande Lisboa se sente à frente dos destinos de uma Diocese do interior e com uma vivência religiosa completamente diferente? Sinto-me bem. Sinto-me à vontade porque eu tenho experiência de vida num ambiente mais interior e rural. Eu vivi a maior parte da minha vida no Alentejo e, nesse sentido, a transição para a Diocese de Portalegre não me trouxe grandes surpresas. O ambiente alentejano e o ambiente da Beira e do Ribatejo, de alguma forma, eram-me familiares. Nesse sentido, estou-me a adaptar muito bem, embora não conheça a realidade… Isso é o que estou a fazer agora!.. A conhecer as realidades. Mas não tenho encontrado grandes surpresas. Como analisa, em termos religiosos, a dispersão geográfica e populacional da Diocese? Penso que há alguma diferença de uma região para outra, mas não são diferenças muito substanciais. Há aspectos que se diferenciam, por exemplo, no que diz respeito à prática de vida cristã. É certo, e toda a gente reconhece isto, que no Alentejo a prática dominical é menor que na Beira Baixa. No aspecto de crença, de fé, de religiosidade, não é tão grande, porque, mesmo as pessoas que vivem no Alentejo, são pessoas muito crentes, têm uma religiosidade muito arreigada no seu interior e até na própria sociedade, mas a maneira de exprimir essa religiosidade é diferente. Enquanto no ambiente da Beira a religiosidade se exprime por uma frequência habitual da Igreja, no Alentejo a frequência da Igreja é menor. No entanto, as pessoas não deixam de ter manifestações de fé que se traduzem, por exemplo, na participação nos funerais, na participação nas procissões e certos actos religiosos, e também a presença de imagens religiosas nas suas próprias casas. Porventura os alentejanos terão mais imagens em casa do que os espanhóis, embora eu nunca fosse medir!... Mas noto que há uma presença de objectos e de imagens religiosas nas casas, e isso significa que a fé está presente. Qual é o objectivo desta Visita pastoral ao Arciprestado de Abrantes? Os objectivos de uma Visita Pastoral são vários. No meu caso concreto, o primeiro objectivo é tomar contacto directo com a realidade, uma a COMUNICAÇÃO SOCIAL Media. “Serão as causas assumidas pela Comunicação Social que mais facilmente poderão avançar” Perfil Natural da Diocese de Guarda. D. José Francisco Sanches Alves nasceu a 20 de Abril de 1941, na freguesia de Lageosa (Sabugal). Estudou Filosofia e Teologia nos seminários da Diocese da Guarda. Em 1966, foi ordenado presbítero na Catedral de Évora. Em Roma fez o Curso de Ciências da Educação, na Pontifícia Universidade Salesiana, onde obteve o doutoramento em Psicologia. De 1988 a 1998 foi Vigário Geral da Diocese de Évora. A 7 de Março de 1998 foi nomeado Bispo auxiliar de Lisboa, com o título de Gerpiniana. A ordenação episcopal celebrou-se em Évora, a 31 de Maio de 1998. Desde 11 de Abril de 2002 preside à Comissão Episcopal de Acção Social e Caritativa. A 30 de Maio de 2004, Domingo de Pentecostes, tomou posse como XXIX Bispo de PortalegreCastelo Branco, na Sé Catedral de Portalegre, sucedendo a D. Augusto César Alves Ferreira da Silva. vez que eu estou há pouco tempo na Diocese, pouco mais que um ano e meio. Conhecia a zona genericamente, de passar por aqui. Agora estou a conhecê-la em pormenor, no contacto com as pessoas, com as situações concretas, com as instituições e colectividades. Isso tem-me trazido uma grande satisfação, no contacto com as pessoas. Ao mesmo tempo, um conhecimento pormenorizado. Por outro lado, a visita do Bispo às comunidades dirige-se, em primeiro lugar, às comunidades cristãs e àquele grupo de pessoas que formam a comunidade cristã em cada uma das localidades. O Bispo vem, na sua missão de pastor, em nome de Jesus Cristo, para dar alento às pessoas, fortalecer a fé, para esclarecer e para ajudar as comunidades a renovarem-se interiormente. Qual a razão de se fazer acompanhar pela Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima? O Povo Português tem uma grande devoção a Nossa Senhora. Portugal é mesmo um País Mariano. Desde a nacionalidade que Portugal está ligado à devoção a Nossa Senhora, de modo particular com a invocação de Nossa Senhora da As pessoas que vivem no Alentejo são muito crentes, têm uma religiosidade muito arreigada no seu interior e até na própria sociedade Conceição, que tem o seu solar em Vila Viçosa. Desde D. João IV, com a Restauração da Nacionalidade, em 1640, os nossos Reis proclamaram Nossa Senhora como Rainha e Padroeira de Portugal e, simbolicamente, deixaram de usar a coroa, porque consideravam que Nossa Senhora era Rainha. Daqui, está presente esta devoção do Povo Português. No nosso tempo, temos as aparições de Nossa Senhora em Fátima, que se tornou o pólo dinamizador Com uma experiência de seis anos como Bispo Auxiliar do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Alves é um Prelado aberto à modernidade e às circunstâncias que o rodeiam, atribuindo primordial importância ao papel da Comunicação Social na sociedade civil: “Habituámo-nos a viver de tal maneira, que já não conseguimos viver sem a Comunicação Social”. O Bispo de Portalegre-Castelo Branco reconhece que os media exercem uma influência determinante na opinião e na construção da própria sociedade, porque, sublinha, “serão as causas assumidas pela Comunicação Social que mais facilmente poderão avançar”. Ainda segundo D. José Alves, será possível construir uma sociedade mais justa e mais equilibrada, onde haja mais paz. Isto “se também a Comunicação Social, como eu espero, se empenhar na defesa da justiça e da verdade, para que a sociedade assim seja”. a A VIDA NASCE O projecto “A VIDA NASCE” consiste numa instituição de acolhimento e apoio a adolescentes que se vêem a braços com a maternidade.“Tem um significado particular na zona onde está implantado, porque em todo o distrito de Portalegre não existe nenhuma instituição que dê resposta ao problema das adolescentes grávidas e das mães solteiras”, explica D. José Alves. Para o BIspo, o projecto constitui um instrumento que permite“ter um gesto significativo para ir ao encontro destes problemas”. Numa altura em que, refere o prelado,“estamos a viver um crise em torno da vida, o facto da Diocese se posicionar a favor da vida, e da vida que está em condições mais difíceis, significa que a Igreja é, fundamentalmente, a favor da vida, e não apenas por princípios teóricos.”Iniciado pelo antecessor de D. José Alves na cátedra da Diocese, D. Augusto César, o Projecto “A VIDA NASCE” encontra-se em fase de construção, tendo beneficiado de apoios governamentais, comunitários, e, mais recentemente, de uma campanha promovida pela Rádio Renascença, que conseguiu angariar mais de cem mil euros. sociedade da devoção mariana, não só de Portugal, mas também do mundo. Por isso já alguém chamou a Fátima o Altar do Mundo. Ao pensar na Visita Pastoral, eu quis dar também um significado mariano a esta Visita, e a outras que vou fazer, e ter um gesto que signifique a devoção do Bispo a Nossa Senhora, que corresponde à devoção do Povo Português. Tem-se verificado exactamente aquilo que eu pensava: com a presença da imagem de Nossa Senhora nas paróquias há uma afluência extraordinária de pessoas e, no dizer de alguns párocos, essa afluência tem duas características: primeiro, vem muita gente, há uma afluência muito numerosa de pessoas; segundo, o tipo de pessoas que vem, são pessoas que habitualmente não frequentam a Igreja, ou que frequentaram e deixaram de frequentar, e agora recomeçaram. Dizia um pároco: «Admirei-me que houvesse tanta gente, e aquela gente, que não costuma vir.» Por outro lado, não vieram só como observadores, mas vieram também como participantes. Eles próprios se incluíram no número dos que participaram nas procissões, e inclusivé que participaram nos actos religiosos. Portanto, Nossa Senhora tem para com os cristãos, uma grande força atractiva, e é essa a razão também porque Nossa Senhora me acompanha na Visita pastoral, e penso que com muito proveito espiritual para as populações. Temos cada vez mais lugares vazios nas igrejas… Eu penso que o facto de haver Portalegre - Castelo Branco A 21 de Agosto de 1549, o Papa Paulo III, pela Bula Pro Excellenti Apostolicae Sedis, criou a diocese de Portalegre, cujo território era desmembrado da diocese da Guarda (Egitânia), integrando as povoações a Sul do Tejo, com excepção de Arronches. Pelo mesmo documento lhe foi dado o seu primeiro bispo, D. Julião d’Alva. A dita Bula teria a sua execução prática em 2 de Abril do ano seguinte. Criada a diocese, D. João III eleva a cidade, então vila de Portalegre, por carta régia de 23 de Maio de 1550. Estes acontecimentos foram agora celebrados, ao longo de um ano, no seu 450.º aniversário, pela acção conjunta da Diocese e da Câmara Municipal de Portalegre. A sua Catedral foi erguida no espaço que rodeava então a igreja de Santa Maria do Castelo: a primeira pedra foi lançada no dia 14 de Maio de 1556. É seu actual bispo, D. José Francisco Sanches Alves (29.º, desde a sua criação). A criação da diocese de Castelo Branco data de sete de Junho de 1771, sob o pontificado de Clemente XIV, que, pelo mesmo documento, indicou para Catedral a igreja de S. Miguei Arcanjo, eximindo-a à jurisdição da Ordem de Cristo. Dada a vastidão do território da diocese da Guarda, a diocese de Castelo Branco é criada com o parecer de D. Bernardo António de Melo Osório, último bispo da Guarda com jurisdição em Castelo Branco. A nova diocese integrava os arcediagados de Castelo Branco, Monsanto e Abrantes. Por sua vez, o rei D. José elevou a notável vila a cidade, por alvará de 20 de Março e Carta Régia de 15 de Abril do mesmo ano. Foi seu primeiro bispo, D. Frei José de Jesus Maria Caetano (1772-1782). Sucedeu-lhe D. Frei Vicente Ferrer da Rocha, também dominicano (1783-1814). O terceiro e último bispo de Castelo Branco foi D. Joaquim José de Miranda Coutinho (1820-1831). De 1814 a 1820 e a partir de 1831 até à sua extinção, foi governada apenas por Vigários Gerais. A sua extinção foi determinada por carta apostólica de 30 de Setembro de 1881, sob o pontificado de Leão XIII, e pelo decreto régio de 14 de Setembro de 1882, sob o pretexto de dificuldades económicas. Consumada a extinção, pela carta apostólica Gravissimum Christi, o seu território foi incorporado na diocese de Portalegre. D. Agostinho Joaquim Lopes de Moura 27.º bispo de Portalegre, atendendo à satisfatória prosperidade alcançada na cidade de Castelo Branco e “para promover mais eficazmente o bem das almas, pediu à Sé Apostólica seja elevado à dignidade de Catedral o templo que existe na referida cidade, a Deus dedicado, em honra de S. Miguel Arcanjo”, o que foi consentido por decreto da Sagrada Congregação Consistorial, datado de 18 de Julho de 1956. E acrescenta o dito decreto: “Por isso, o Santo Padre impõe ao bispo de Portalegre o ónus, sobretudo quando for construído Paço Episcopal condigno, de residir algum tempo, em cada ano, na cidade de Castelo Branco. O Santo Padre a graça da Diocese de Portalegre e o seu Bispo “pro tempore” poderem e deverem, de futuro, acrescentada a denominação de Castelo Branco, chamar-se de Portalegre e Castelo Branco”. 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | menos gente a frequentar as Igrejas pode explicar-se de muitas maneiras. Uma delas é porque a população também tem dimuído, de forma drástica e, curiosamente, até nas zonas talvez mais praticantes, como são as zonas do interior. Hoje a população está muito reduzida, não só em número, mas também em qualidade, ou seja, os habitantes actuais, aquela população mais envelhecida e com menos possibilidades de participação. Há zonas onde até a frequência tem aumentado, mas porque também aumentou a população. Estive na área de Lisboa seis anos como Bispo Auxiliar, e aí não encontramos Igrejas vazias, aí encontramos as igrejas cheias, e algumas super cheias de gente, mas não quer dizer que toda a gente vá lá. Mas como lá há muita gente, as igrejas até se tornam pequenas. Não podemos também escamotear uma outra situação: é que há uma certa onda de laicismo que tem alastrado na nossa sociedade, e que continua a alastrar, e nalguns ambientes essa cultura do laicismo tem influenciado a frequência. Isso tem contribuído para diminuir. Quanto ao facto de a Igreja ser ou não ser responsável por essa menor frequência, provavelmente alguma responsabilidade terá. Pelo menos a Igreja tem que fazer um esforço notório e completo para se actualizar nos seus métodos de trabalho, e para ir de encontro à mentalidade das pessoas do nosso tempo, porque se não der resposta às interrogações das pessoas, naturalmente que as pessoas se afastarão. Mas a preocupação da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II que quis renovar e actualizar, continua nesta atitude de actualização e de renovação para dar resposta aos problemas da nossa sociedade. Eu penso que isso será possível. Pelo menos há sintomas em certos aspectos de que a actualização da Igreja tem sido notória. E qual é o papel dos leigos neste processo? Haver um papel dos leigos, já é significativamente melhor do que era há uns anos atrás, mas precisa ainda de ser muito mais implementado. Ouve-se muito falar na falta de clero, e isso é um facto, uma verdade. Também se ouvia falar numa Igreja Clericalizada e isso terá uma razão de ser, mas não pode ser só clericalizada, nem só laical. Segundo uma expressão de um documento da Igreja, «nem os leigos devem ser clericalizados, nem os clérigos devem ser laicizados», cada um terá de tomar a sua posição e desempenhar o seu papel. E penso que o papel dos leigos na Igreja é fundamental, até porque os leigos são a grande força da Igreja e são, numericamente, a quase totalidade com que se constituem as comunidades cristãs. Se os leigos assumirem a sua responsabilidade de baptizados, mesmo havendo menos sacerdotes, as comunidades podem crescer, podem melhorar a sua actuação e penso que as comunidades se poderão renovar, até pastoralmente. sociedade | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 Clientes e utentes têm o direito de se queixar, num livro novo, próprio e obrigatório Livro de reclamações em Abrantes é “só para alguns” Uma ronda pela cidade de Abrantes mostra que nem todas as instituições com a porta aberta ao público têm o novo livro de reclamações. A falta pode dar origem a coimas. Não havendo o verdadeiro livro, os clientes e utentes podem sempre reclamar online, directamente para o Ministério da Economia Nelly caetano Maria João Cardador e Nelly Caetano “O s consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos”. Excerto do Artigo 60.º da Constituição da República Portuguesa. Cada vez mais se discute a questão da “publicidade enganosa”, do direito do consumidor e da possibilidade que este tem de reclamar por algo que é seu por direito: pagar por um serviço de qualidade. Qual a forma de o fazer? No Livro de Reclamações, que, segundo a lei (ver caixa), estará disponível em qualquer local onde é efectuado o atendimento ao público. A sua existência deve ser divulgada aos utentes através de um documento identificativo e num local perceptível de imediato. Mas nem sempre o Livro de Reclamações está disponível. Em alguns casos, quando existe, está pouco visível. É o que acontece, por exemplo, na estação dos Correios de Abrantes. Numa primeira tentativa, é impossível saber se este estabelecimento possui o denominado “livro amarelo” (agora vermelho para este género de estabelecimentos, mas cujo objectivo é o mesmo, sendo tudo uma questão cromática). Só com a devida chamada de atenção feita por uma funcionária é que é possível constatar que ele está lá. Um pouco “escondido”, mas está. Aparentemente, segundo a mesma funcionária, “o livro não é muito solicitado”, sendo que grande parte dos utentes dos CTT optam por fazer sugestões e/ou queixas num local próprio para o efeito. Uma pequena caixa, estrategicamente colocada perto de um dos balcões, é o depósito de tudo o que apraz aos clientes dizer. No entanto, a questão da visibilidade do documento que informa que “Este estabelecimento dispõe de livro de reclamações” é algo que não parece estar muito esclarecida em inúmeros postos comerciais. Nem o documento, nem a própria existência do livro. O facto do dístico de identificação não ser visível pode ser, por si só, facto de reclamação, podendo ainda ser objecto de coima. Segundo a funcionária da reprografia da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, neste estabelecimento não existe o livro de reclamações oficial e obrigatório. À Obrigatório. As queixas devem ser registadas nos livros oficiais e ter a resposta “mais correcta e coerente possível” disposição dos clientes está apenas um mero caderno de argolas, igual a muitos outros que se encontram na mochila de um qualquer estudante. É aí que as queixas podem ser escritas. Assim sendo, a única pessoa a receber a informação será o proprietário do estabelecimento, não existindo a certeza do envio de qualquer reclamação a uma entidade competente. No que se refere à autarquia abrantina, Marisa Fábrica, do Gabinete de Apoio ao Consumidor, explica como se processa a existência do livro de reclamações na Câmara Municipal de Abrantes. Esta autarquia tem um livro comum a todos os gabinetes, mas ainda o livro antigo. Isto porque o novo livro de reclamações (o “livro vermelho”) apenas é obrigatório “para tudo o que seja negócio, venda de algo”, enquanto que “para os serviços públicos permanece o livro amarelo”. Quanto à sua utilização, a funcionária reconhece que é frequente. E acrescenta que a grande maioria das queixas está relacionada com “a documentação que é solicitada e que é entregue para junção a processos relativos a obras ou ainda quanto ao tempo de demora que normalmente acontece com os despachos finais desses mesmos projectos”. Ao realizar a queixa, explica Marisa Fábrica, a pessoa leva uma “cópia da reclamação que efectuou e o resto fica anexado ao livro”. A autarquia tem posteriormente cinco dias para enviar a reclamação para a instância competente da tutela, que é a administração, e é dado conhecimento ao reclamante do resultado da sua queixa. “As respostas”, reconhece a funcionária da Câmara, “têm de ser dadas de forma mais correcta e coerente possível”. Enquanto que, na Câmara Municipal, Marisa Fábrica ajudava a compreender a realidade do livro de reclamações, os clientes continua- Cinco dias para enviar a queixa Foi recentemente alterada a legislação relativa à obrigatoriedade de disponibilização de Livro de Reclamações. A legislação em vigor (desde 1 de Janeiro de 2006) – Decreto-Lei nº 156/2005, de 15 de Setembro, e Portaria nº 1288/2005, de 15 de Dezembro – alarga o âmbito dos fornecedores de bens e prestadores de serviços que passam a estar obrigados a deter Livro de Reclamações, aprovando, simultaneamente, um novo modelo. A legislação actualmente em vigor determina que os fornecedores de bens e prestadores de serviços têm a obrigação de destacar do Livro de Reclamações o original, após o seu preenchimento pelo reclamante, e remetê-lo, no prazo de cinco dias úteis à entidade reguladora do sector. Os Livros de Reclamações passaram a ser exclusivos da Casa da Moeda, sendo editados, conjuntamente, por esta entidade e pelo Instituto do Consumidor. O preço unitário do livro de reclamações é, actualmente, de 18 euros. vam a sair e a entrar do café Chave D’Ouro, o ponto de encontro de muitos abrantinos e um dos locais mais característicos da cidade de Abrantes. Também este estabelecimento tem livro de reclamações, mas, tal como afirma o seu proprietário, Filipe Gomes, “o livro não é nada solicitado”. É o próprio que reconhece que “logo ao início, quando o livro saiu e era novidade”, foi por uma ou duas vezes solicitado, mas as reclamações não tinham “importância”, sendo apenas uma questão das pessoas “experimentarem a novidade”. Noutro ponto da cidade, no Hospital de Abrantes, a azáfama também é constante e são inúmeras as pessoas que procuram os serviços desta unidade hospitalar. Assim sendo, também este local é obrigado a ter livro de reclamações, sendo que existe um por cada serviço, como explica Margarida Pita, do Gabinete do Utente deste hospital. Grande parte das queixas concentram-se no serviço de urgências. Segundo o relatório de 2005, “a maior incidência” de reclamações “diz respeito aos médicos, à parte relacional e ao tempo de espera”. O Gabinete tenta responder de imediato a qualquer reclamação que possa surgir, evitando assim a utilização do livro, que resulta muitas vezes num “longo processo burocrático”. Quando tal não acontece, “as pessoas são incentivadas e estimuladas a reclamar”, reclamação essa que é discutida posteriormente por uma equipa que se reúne uma vez por semana. Aqui é feito a análise e “o encaminhamento das exposições”, que são enviadas para “o director do serviço sobre o qual incidem as mesmas”. É “ele que faz uma averiguação sobre o que se passou e responde ao Gabinete do Utente”, que por sua vez responde ao reclamante (no prazo de 30 dias), mas sempre com assinatura da direcção. Parece que o direito de reclamar de qualquer prestação ou de qualquer serviço já foi bem assimilado pelo comum cidadão. Quem o solicita não pode ver esse seu pedido negado, mas existe uma alternativa para quem não consegue aceder ao livro de reclamações num estabelecimento. Tal alternativa encontra-se em http://www.min-economia.pt e é o livro de reclamações on-line do Ministério da Economia. O Livro de Reclamações está aí. E para durar. sociedade Por uma ética da comunicação eunice pinto Eunice Pinto Tal como num jogo onde existem jogadores e peças, actualmente, na esfera da comunicação social, existem grupos empresariais, jornalistas e públicos que estabelecem relações de oferta e de procura. Muitas vezes esquecem-se sobre quem falam e para quem se dirigem. Estereótipos sociais, personagens moldadas, modelos civilizacionais fechados, minorias raciais. Estas são as cartas de um jogo que cada vez mais se distancia da realidade. Os jogadores em desespero procuram soluções impetuosas, as peças parecem estar conformadas. É um jogo sem regras onde o que interessa é ganhar a qualquer custo. Não existe o socialmente correcto, as partes são esquecidas. O 5º Congresso Cais, realizado nos dias 20, 21 e 22 de Março na Fundação Luso-Americana, teve como tema principal “Por uma ética da Comunicação Jornalismo Social”. O alargamento da prática jornalística, tendo em conta novos públicos e dando especial atenção as causas sociais, foi um dos assuntos mais questionados. Comunicação, atitude, consciência ética e responsabilidade social foram alguns das questões debatidas ao longo dos três dias de Congresso. Entre os presentes estavam estudantes, curiosos, fotógrafos, professores e poucos jornalistas. Na sessão de Abertura, Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, apelou ao bom senso dos jornalistas. O titular da pasta da Comunicação Social referiu que a não existência de liberdade de expressão pode dar lugar à censura e que neste sentido os meios de comunicação assumem um Causas. Dar uma atenção especial a assuntos e públicos especiais papel central. “Cada indivíduo deve ter direito à cidadania”, disse o ministro. Ao longo do seu discurso, Augusto Santos Silva mostrou-se preocupado e apelou à existência de uma atitude crítica na comunicação social. Joaquim Vieira, presidente do Observatório de Imprensa, afirmou que a concentração dos media traduz-se, cada vez mais, numa tendência para conquistar novos públicos. Segundo O’Meeting 2006 em Abrantes Cláudia Costa Abrantes recebeu, entre os dias 25 e 28 de Fevereiro, o Portugal O’Metting 2006, que juntou nesta cidade cerca de 1.300 participantes nacionais e estrangeiros, oriundos de mais de 20 países. Este evento, que consta de um conjunto de provas de orientação, é um dos mais importantes a nível nacional, uma vez que os seus resultados contam tanto para o ranking da Taça de Portugal como para o mundial de elite. A prova, que teve a duração de quatro dias e que se dividiu em três percursos rurais e um urbano, trouxe à cidade de Abrantes atletas da modalidade de renome internacional, como foi o caso do francês Thierry Gueourgiou, campeão do mundo. A organização desta edição do Portugal O’Meeting esteve a cargo do Clube de Orientação e Aventura (COA), de Rio Maior, e contou com a parceria da Câmara Municipal de Abrantes. A realização desta prova na cidade de Abrantes é o resultado de uma candidatura apresentada em 2002 por ambas as entidades. Além dos percursos, que integraram a prova, os atletas tiveram ainda a possibilidade de participar em actividades culturais, algumas integradas na Feira de São Matias, e de fazerem uma visita guiada à Central Termoeléctrica do Pego. Além dos possíveis reflexos na economia e no turismo, a cidade de Abrantes passa também a dispor dos mapas utilizados neste evento, cuja produção esteve a cargo da TAGUS, e que poderão ser usados noutras iniciativas do género. o presidente, compete aos jornalistas estabelecer a diferença entre o interesse público e o interesse do público. Na opinião de Emídio Rangel, a existência do sindicato dos jornalistas e a inexistência de uma ordem competente são uma das lacunas do jornalismo português. Olh’á revista Cais! Nos autocarros…no metro, nas esquinas da baixa Lisboeta. Eles estão 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | por todo lado. São homens e mulheres que vivem à margem, numa sociedade feita de modelos civis fechados. É pelos becos de Lisboa onde se perdem e onde se acham diariamente, que vendem aquele que é, um produto feito por si e para si…a revista Cais, a mesma que organizou mais um Congresso para discutir questões do jornalismo. A associação de solidariedade Social Cais, sem fins lucrativos, existe há 12 anos e desde o seu início tem levado a cabo a resolução de problemas sociais. Actualmente, a Cais tem como principais objectivos dar apoio aos que mais necessitam e reinserir socialmente a população sem abrigo. A criação da revista veio permitir e reforçar as relações interpessoais e ajudar a introduzir homens e mulheres no mercado de trabalho. A Cais é vendida exclusivamente pelos sem abrigo e de momento assume um papel de moralizador social. A Associação Cais procura através da publicação, não só apelar a consciências, como também informar e sensibilizar os agentes políticos e o público em geral. Com a finalidade de intensificar as relações de cooperação, a rede Cais tem tentado aumentar o apoio à população marginalizada e criar centros de distribuição qualificados. Em parceria com outras instituições, tais como a fundação Ami a Caritas Diocesana e os vários Albergues nocturnos espalhados por todo o país, a Cais tem ao longo dos anos promovido e fomentado o estudo e consequente discussão de questões sociais e políticas que afectam Portugal. Algumas das instituições colaboradoras seleccionam cuidadosamente os vendedores da revista e prestam especial atenção ao sector editorial da publicação. Apoio social, sistemas de aquisição, financiamento de ajudas técnicas para emprego e formação e assistência médica são algumas das ajudas facilitadas por estas instituições. Todos os anos são várias as actividades desenvolvidas pela associação social Cais para Grupos excluídos e para todos os interessados. Os Três Mosqueteiros no mundo do Desporto Catarina Véstia O Centro Nacional de Exposições (CNEMA), em Santarém, voltou a acolher a maior festa da criança – a Expocriança – que decorreu entre os dias 15 e 19 de Março. Cerca de 2.500 crianças, a maior parte através dos infantários e escolas, visitou o certame, subordinado ao tema “Os Três Mosqueteiros no mundo do desporto”. Para além de um espaço de divertimento, esta feira contou ainda com vários Workshops e Ciclos de Conferências, aliados a uma Feira Professional de equipamentos e produtos para a Criança. No primeiro dia da Expocriança realizou-se um seminário intitulado “Europa através da Educação: impulsos, mudanças e perspectivas”. “Através do movimento cresço e aprendo” foi o tema de uma outra conferência, onde se abordou o desenvolvimento através das artes e desporto. A encerrar a Expocriança, teve lugar um painel dedicado a “Pensar a Primeira Infância”, onde os novos projectos e as novas políticas foram o objectivo a alcançar. Quanto a workshops, foram três as temáticas abordadas: “Educação e Formação Parental”, “Musicoterapia” e “Knowing the Child Build a Relationship”. A feira contou ainda com vários espectáculos e actividades permanentes como Ludotecas, Jogos, Insufláveis, Desportos Radicais. De realçar a cidade “Lego” que esteve em exposição nesta feira, que reuniu o maior número de construções alguma vez realizado no nosso país. Brincopolis, uma aposta na tecnologia Sofia Macedo O Brincopolis é um espaço nacional dedicado aos brinquedos. A funcionar há três anos, o projecto pretende chegar aos mais novos, mas também aos menos novos. Um dos pontos fortes deste espaço é o Laboratório Pedagógico Didáctico, situado no Tecnopolo de Abrantes. Nascido no Centro de Incubação de Empresas Tecnológicas do Tagus Valley, o Brincopolis é um projecto pluridisciplinar orientado para a interactividade com os utilizadores dos jogos e dos brinquedos por si produzidos, que resultou de uma culminação criativa de Luís Lacerda, gerente da Brincopolis – jogos e brinquedos. Segundo este, o projecto contou com um investimento inicial de 70 a 80 mil euros e com a preciosa ajuda da PME Investimento, que completou a verba necessária para que se pudesse avançar. O brinquedo Brincopolis surge com a máxima de imaginar, inovar e construir. Assim sendo, em primeiro lugar, há que ter uma noção precisa do que se pretende fazer e só depois se poderá imaginar recorrendo a softwares de desenho assistidos por computador. Para a realização destes brinquedos, a Brincopolis dispõe de um Laboratório Pedagógico-Didáctico, onde as crianças e adultos são convidados a testar e dar a sua opinião sobre os produtos. Actualmente, o Brincopolis conta com a colaboração de dois funcionários. No entanto, prevê-se que dentro de poucos meses a equipa aumente para três, e que, com o andamento do projecto, se recorra à contratação de especialistas em design. Foi já a pensar numa futura colaboração de designers, que no passado dia 8, a turma do 1º ano do Curso de Design e Desenvolvimento de Produtos da Esta visitou as instalações da Brincopolis. A aquisição dos brinquedos, nesta fase inicial, pode ser feita na própria Brincopolis ou em lojas especializadas de brinquedos situadas na grande Lisboa e Grande Porto e rondarão os 20 euros. A primeira colecção, comercializada desde Dezembro de 2005, é indicada para crianças entre os cinco e os dez anos, tendo em conta as suas características pedagógico-didácticas e por apresentarem como tema as histórias do Porto Velho. Nesta colecção, as figuras utilizadas são animais, e cada brinquedo não apresenta mais do que dez peças, o que facilita a sua montagem e incentiva as crianças a montar as peças de acordo com o seu gosto. Ao fim dos primeiros três anos de fabricação de jogos e brinquedos, o objectivo do projecto Brincopolis é possuir utilizadores seus em Portugal, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido. Para os apreciadores do projecto, fica a indicação de que novas colecções estão já em perspectiva. Basta apenas aguardar e deixar que se possa imaginar, inovar e construir. centrais 10 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 Presidente da Câmara mostra as obras que vão mudar o concelho Abrantes tem roteiro de desenvolvimento São oito as obras que estão a mudar Abrantes. Reabilitam-se estradas. Investe-se na Tecnologia Alimentar e em melhores condições para a indústria. Aposta-se no desporto, no lazer e no bem-estar da população e dos visitantes. O Plano de Água, um dos maiores do país, promete mudar os dias de bom tempo Jefferson S. Gomes A conteceu no dia 26 de Janeiro último. A Câmara Municipal de Abrantes (CMA) convidou jornalistas de órgãos de comunicação social locais para uma visita guiada às zonas onde decorrem as obras de relevo para este ano. Trata-se de uma iniciativa que acontece todos os anos e que visa, através dos media, pôr os munícipes a par das actividades camarárias. A visita conduzida pelo edil abrantino, Nelson de Carvalho, contou com o acompanhamento de um elenco que incluía o vereador do pelouro de Ordenamento do Território, Planeamento e Gestão Urbanística, Albano Santos. São vários os milhões de euros a serem empregues nas oito obras apresentadas e que fazem parte do programa de desenvolvimento da cidade, do concelho e da região. Algumas são comparticipadas e outras, na sua grande maioria, são financiadas pelo próprio município. O roteiro começa na Avenida Farinha Pereira, alvo de uma reabilitação. A primeira fase contempla o troço que liga as rotundas do Olival e dos Plátanos e tem como fim melhorar a “articulação de Alferrarede ao resto da cidade”, relata Nelson de Carvalho. Mas, reforça, a intenção é “construir uma avenida com todas as infra-estruturas urbanas”, numa zona bastante movimentada e condicionada pelo trânsito. A segunda etapa situa-se também em Alferrarede, onde decorrem as obras de adaptação do edifício que vai albergar o Centro Tecnológico Alimentar. Trata-se de um projecto previsto na estratégia do Tecnopolo e que, para o autarca, representa “um esforço para a modernização do agro-alimentar”. A relevância do Vale do Tejo na matéria impõe que se potencie “novos produtos alimentares, com melhores condições no que respeita à segurança alimentar e ao cumprimento de todas as normas comunitárias e nacionais”, conclui o presidente da Câmara Municipal. A adopção, por parte do concelho, da capacidade de acolhimento de projectos empresariais tem trazido muitas empresas nacionais e ALFERRAREDE 1 4 5 7 estrangeiras a Abrantes. Prova disso é o Parque Industrial, terceira etapa do itinerário. Para já, são seis as empresas em fase de instalação ou de expansão, todas contribuindo com a média de 50 novos postos de trabalho cada. Um cenário inverso ao momento de estagnação económica que o país atravessa. Nelson de Carvalho afirma que “há claramente uma valorização de Abrantes e do seu Parque Industrial como área de investimento”, crendo que “isso corresponde a uma tendência” de igual forma devida à valorização do Médio Tejo na linha da A23. A requalificação da rua de acesso ao Cemitério de Santa Catarina, já concluída, foi mais uma das etapas. Mais uma fase do roteiro das obras que o edil, em tom de brincadeira, disse não ter pressa em inaugurar. Do cemitério, o grupo de jornalistas e o elenco camarário foram espreitar o andamento das obras do Campo de Basebol na Cidade Desportiva, já em fase de conclusão. “Com alguma dificuldade de 8 3 ABRANTES 6 TRAMAGAL 2 PEGO compreender as tácticas que aquela coisa toda tem”, citando o presidente, os jornalistas assimilaram os objectivos que a Câmara tem para com o espaço que se afigura como o primeiro campo de basebol do país, a destacar: funcionar como espaço desportivo alternativo; acolher a Federação Portuguesa de Basebol e um conjunto de acontecimentos nacionais; posicionar-se no contexto europeu como um centro de estágio, isto é, promover o turismo desportivo em Abrantes. De todas as obras visitadas a que se destaca é a do açude. A obra que dará origem ao Plano de Água, um dos maiores do país, é a mais complexa “pelo volume, pelas exigências financeiras e humanas, mas também pela sua concepção”, realça o responsável máximo da CMA. Em Portugal, este será o pioneiro a contemplar uma tecnologia de insufláveis japoneses. Para o autarca, o açude significa ainda um investimento de maior impacto pelo “reordenamento, pela imagem e 1 Requalificação da Av. Farinha Pereira 2 Centro Tecnológico Alimentar 3 Parque Industrial 4 Requalificação da Rua de acesso ao Cemitério de Sta Catarina 5 Cidade Desportiva - Campo de Basebol 6 Açude 7 Piscina Municipal do Tramagal 8 Parque Industrial do Tramagal pelo conjunto de oportunidades que proporcionará” aos abrantinos e à região na vertente económica. O que a Câmara Municipal pretende é, explica Nelson de Carvalho, “centrar no Plano de Água uma importante parte da vida de recreio, do lazer, do turismo” nas estações da Primavera e do Verão. Do lado sul do concelho, o realce do roteiro recai sobre a piscina e o Parque Industrial do Tramagal. A primeira foi inaugurada em Janeiro e evidencia-se pelo inovador sistema ultravioletas que permite obter melhores resultados no tratamento da qualidade da água, quanto ao cloro, o que, por exemplo, possibilita a realização de sessões de natação com bebés. A segunda, com todos os lotes de terreno já entregues a empresas, quase todas do Tramagal, foi a solução encontrada para “se reorganizarem, se modernizarem e para responderem às exigências do mercado”, dado que, de acordo com o presidente da Câmara Municipal, se encontravam mal organizadas e com dificuldades em se desenvolver. Acrescenta-se ainda às iniciativas camarárias a requalificação do pavimento de toda a cintura urbana da Estrada Nacional 118 na mesma localidade. Nelson de Carvalho defende que “as obras não funcionam por mandato”, mas por “um plano de actividades estratégico”, umas e outras em fases diferentes de andamento, mas no horizonte deste ano. centrais a AÇUDE Localiza-se a cerca de um quilómetro a jusante da ponte rodoviária de Abrantes. Será constituído por quatro comportas insufláveis. O comprimento de margem a margem é de aproximadamente 200 metros, com mais de 18 metros de largura. Integra uma passagem de peixe localizada na margem esquerda sobre a plataforma rochosa aí existente, permitindo a circulação de diversas espécies piscícolas. Na margem direita integra-se a torre de manobras, no topo do qual se instala a casa de comando e controlo. Valor da adjudicação: 9.450.290,28 euros Adjudicatório: Consórcio MSF Moniz da Maia, Serra & Fortunato Empreiteiros, S.A./Construtora do Lena SA/SETH Sociedade de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos, SA. Total da candidatura: 10.404.060,82 euros Total comparticipação FEDER aprovada: 4.681.827,37 euros Total comparticipação PIDACC aprovada: 2.601.015,21 euros Prazo de execução: 670 dias Ponto de situação: em execução Conclusão prevista: Janeiro de 2007 Tendo em conta o cumprimento das normas técnicas oficiais, é construído um muro em betão que envolve todo o recinto suportando a vedação de protecção para todo o campo. Serão construídos passeios na parte exterior e 17 lugares para estacionamento. Valor da adjudicação: 545.000 euros + IVA Adjudicatório: Lena Engenharia e Construções, SA Prazo de execução: 180 dias Ponto de situação: em fase de conclusão 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 11 (previsão para o arranque da empresa) Ponto de Situação: fase final de instalação OKE Tillner Perfis, Lda. Ramo: produção e comercialização de perfis de plástico para a indústria automóvel. Expansão com a construção de um pavilhão para armazenamento e produção que permitirá duplicar a capacidade de produção. Ponto de Situação: fase final de instalação (3 fases) Funcionários: 50 actualmente + 60 novos postos de trabalho em regime de turnos rotativos, faseado. Indaver NV Portugal Instalação de uma unidade industrial de transferência de resíduos industriais. Ponto de Situação: em construção Manuel Oliveira Marques 2, Construções Metálicas, SA Instalação de uma unidade de fabrico de produtos forjados, estruturas metálicas, estampilhagem e laminados. Ponto de Situação: em construção CTT – Correios de Portugal Instalação do novo Centro de Distribuição Postal. Tem como objectivo desanuviar, em matéria de circulação e especialmente na componente do estacionamento, uma vez que a empresa passará a fazer o parqueamento das suas viaturas de distribuição postal. Ponto de situação: em projecto a REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA FARINHA PEREIRA – 1ª fase (entre as rotundas do Olival e dos Plátanos) a CENTRO TECNOLÓGICO ALIMENTAR (CTA) – TECNOPOLO Adaptação do pavilhão dez do Tecnopolo. O pavilhão será utilizado como nave oficial, onde ficarão localizados os equipamentos piloto. No geral, serão criados gabinetes de trabalho, laboratório para pesquisa, áreas de armazenagem, áreas técnicas e nave de equipamentos piloto. O CTA tem como essenciais objectivos: - Funcionar como o principal pólo de suporte de desenvolvimento na Indústria Agro-Alimentar de Portugal, focando as que utilizem métodos produtivos e matérias-primas específicas do país; - Ser guardião dos sabores regionais tradicionais; - Realizar acções de formação de quadros e operadores; Promotores: Município de Abrantes; Nersant; ESTA – Escola Superior de Tecnologia de Abrantes; A. Logos; empresa STI e empresas do sector. Valor: 796.123,26 euros + IVA Adjudicatório: Tecnorém Construções Civis e Obras Públicas, Lda. Financiamento: Apresentada candidatura ao Valtejo. Prazo de execução: 240 dias Ponto de situação: em execução Conclusão prevista: Julho de 2006 Alargamento da Avenida e algumas rectificações do troço, trabalhos de pavimentação, construção de passeios, melhoria de iluminação pública, colocação de sinalização horizontal e vertical, melhoramento das redes de abastecimento de água, águas residuais e pluviais. A empreitada contempla ainda a plantação de árvores e a construção de mais um abrigo de passageiros. Valor da adjudicação: 462.531 euros + IVA Adjudicatório: Cerviter Vias e Terraplagens, SA Prazo de execução: 180 dias Ponto de situação: em execução Conclusão prevista: Abril de 2006 a PISCINA DO TRAMAGAL Equipamento composto por uma piscina aquecida e coberta, com tanque de aprendizagem. Dispõe de instalações sanitárias individualizadas para os dois sexos, ambas equipadas para deficientes motores e um pequeno espaço destinado a bar com sala de estar e vista para a piscina. Classes: natação para bebés (até à sua inauguração inexistente em Abrantes); natação para crianças e adultos; hidroginástica e hidroterapia. Valor da adjudicação: 890.000 euros Adjudicatório: Sociedade Socoliro Construções SA Total da candidatura: 1.047.423,68 euros Total comparticipação FEDER Aprovada: 680.818,89 euros Ponto de situação: concluída a REQUALIFICAÇÃO DA RUA DE ACESSO AO CEMITÉRIO DE SANTA CATARINA A intervenção começou na rua de São Jerónimo e desenvolveu-se até ao Cemitério. A estrada foi asfaltada, tendo sido colocado um conjunto de árvores que possam sugerir um “túnel” para conduzir os cortejos fúnebres até ao local. O arruamento é dotado de rede de esgotos pluviais e foi colocada sinalização vertical e horizontal. Valor: 102.105 euros + IVA Adjudicatório: João Salvador, Lda. Ponto de Situação: concluída. a PARQUE INDUSTRIAL – NOVAS EMPRESAS EM FASE DE INSTALAÇÃO OU EXPANSÃO a CIDADE DESPORTIVA – CAMPO DE BASEBOL Espaço polivalente que, para além do basebol, estará apto para receber outras modalidades desportivas quer para treino, quer para competição, a nível do futebol, râguebi e atletismo. SD – Sociedade de Decoração de Jardins, SA Instalação de uma unidade de fabrico de artigos em arame para decoração de varandas e terraços. Nº de trabalhadores: 50 (previsão para o arranque da empresa) Ponto de Situação: fase final de instalação Vieira & Alves Metalomecânica Lda. Instalação de uma unidade de serralharia civil com o objectivo de produzir torres para aerogeradores. Nº de trabalhadores: 50 a PARQUE INDUSTRIAL DO TRAMAGAL Instalação da empresa Irmãos Lemos Lda. Com sede em Tramagal, é uma Sociedade de Transportes Rodoviários de Mercadorias por conta de outrem e por conta própria. A empresa dedica-se à prestação de serviços de serralharia mecânica com representações industriais, montagens e manutenção industrial. Fonte: Câmara Municipal de Abrantes Fotos: Serviço de Divulgação e Informação/CMA 12 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 esta ESTA organiza ’05 Encontro de Comunicação liliano pucarinho “O IPT está em festa”. Foi assim que o director do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), António Pires da Silva, caracterizou o espírito vivido durante o ’05 Encontro de Comunicação da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, integrado na Festa da Ciência, Cultura e Tecnologia. O responsável pela instituição aproveitou a oportunidade para realçar as alterações que se têm verificado na Imprensa Regional, algumas delas como consequência da participação dos alunos da ESTA. Nelson de Carvalho, presidente da Câmara de Abrantes, lembrou que considera a ESTA como a sua escola. Deixou também, como mensagem política, a necessidade de cooperação entre as instituições de ensino superior e as empresas. Tudo em nome do desenvolvimento da região. Concordando com o autarca, o director da ESTA, Miguel Pinto dos Santos, disponibilizou a escola para essas parcerias. Por seu turno, a directora do departamento de Comunicação Social, Maria Romana, optou por um discurso informal, descrevendo os bastidores deste encontro. A palestra de abertura foi proferida por Eduardo Prado Coelho, que se centrou na evolução dos meios de comunicação, salientando a importância de cada um deles. uns e de outros jornais. No entanto, Landerset Cardoso argumenta que na imprensa gratuita não há análise, não há reflexão, não há investigação profunda, não há contextualização. No último painel do 05’Encontro, dedicado ao tema “Responsabilidade Social: Comunicação ou Intervenção?”, discutiu-se a crescente valorização e a construção do valor de uma empresa. “A comunicação ao serviço da gestão” é, para Ricardo António, da agência “Companhia do Texto”, o principal papel das agências de comunicação. “É necessário criar pontes entre as empresas e os seus públicos”, afirmou ainda, referindo-se à importância das empresas em gerir riscos. Sabe-se que não há responsabilidade social se também não houver ganhos entre as empresas e o público-alvo. “O sucesso do desenvolvimento sustentável, está dependente da sensibilidade dos grande públicos”, afirmou Maria Vasconcelos, Debates. “Os jornalistas são viciados em novidade, sem memória política e deslumbrados pelo poder” da agência “Sair da Casca”. Os oradores concluíram que não há com o jornalismo”, e o apoio prestado estratégia política direccionado para o director do jornal Metro, sublinhou responsabilidade social sem comunitem vindo a ser essencial ao desenvol- combate e não exclusivamente para a que o objectivo dos jornais gratuitos cação e sem transparência. Cabe aos vimento deste projecto. “Se não fosse vitória”. O bloquista considera que “os não é concorrer com a imprensa paga, media educar, informar, dar destaque o apoio da imprensa não seríamos o jornalistas são viciados em novidade, como o Público, mas sim captar outros a determinados conteúdos no sentido que somos hoje”, defendeu o presi- sem memória política e deslumbrados leitores: “O Metro não quer ser igual de uma mudança, para padrões de dente. Opinião diferente expressou pelo poder”. José Diogo, director-geral ao Público, o Metro quer ser igual ao produção e consumo mais sustentáJorge da Costa Rosa, presidente da da agência Agenda-Setting, alertou Metro”. João Manuel Rocha, jornalista veis. Essa comunicação, que terá de Real Associação do Ribatejo. Na sua para a necessidade de se praticar mais do Público, acrescentou que os jornais ser permanente, ajuda a criar uma opinião, existe uma “ditadura jorna- Marketing Político e menos Marketing gratuitos incentivam as pessoas a ler, reputação. Embora se saiba, segundo Quatro painéis, lística” condiciona o tratamento da Eleitoral. “Os políticos têm a obrigação aumentando desta forma hábitos de os intervenientes, que existem emquatro temas actuais causa monárquica em Portugal. Jorge de explicar às pessoas o que estão a leitura. Na sua opinião, o surgimento presas que o fazem para “um lavar de No primeiro painel do encontro, da Costa Rosa deixou ainda a certeza fazer ao longo do seu mandato e não deste novo meio não implica o fim fachadas”, facilmente “desmontáveis” Henrique Botequilha, assumidamente de que os meios de comunicação de apenas quando se querem reeleger”. dos jornais tradicionais. “Obriga o pois “tudo se descobre”. “Ainda são um “jornalista de causas”, deixou o seu pendor regional são mais aptos a faA “Imprensa Gratuita” foi o tema do último a evoluir, a repensar a sua po- poucos os exemplos de acção abrantestemunho como enviado especial da cilitar a divulgação de informação, do terceito painel do encontro organizado lítica editorial, podendo haver até uma gente integrada no plano estratégico Visão a Timor, no seu percurso de in- que os de pendor nacional. pelo Departamento de Comunicação complementaridade”, explicou João das empresas”, concluiu Maria Vasdependência, entre 1999 e 2002. A sua O segundo painel do 05’ Encon- da ESTA. Enquadrando a discussão, Manuel Rocha. concelos. experiência leva-o a nomear a causa tro de Comunicação foi dedicado ao Paulo Ferreira, subdirector do Público A palestra contou ainda com a O ’05Encontro de Comunicação da Timor como “invulgar” e confessa a “Marketing Político”. O dirigente do e docente da ESTA, defendeu que “se a presença de Luís Landerset Cardo- ESTA foi ainda marcado por outras influência que o factor “emoção” tem Bloco de Esquerda, Daniel Oliveira, imprensa gratuita começar a marcar a so, do Obercom, que explicou que a componentes, incluindo a presença do sobre os jornalistas. “Apesar dos limites considera que é um erro pensar que agenda política do dia, então os jornais imprensa gratuita tem características professor Eduardo Prado Coelho e a éticos, é importante que o jornalista o Marketing Político é que ganha pagos deverão começar a preocupar- semelhantes às da imprensa tradicio- realização de quatro workshops: Técnão deixe que estes lhe silenciem o eleições. “Esta é apenas uma parte da se”. Por sua vez, Nuno Henrique Luz, nal. Exemplo disso são as secções de nicas de Pivot, certificado pelo Centro direito que qualquer cidadão de Formação de Jornalistas tem: o de se indignar e de(CENJOR); Estudos de Mernunciar”. Porém, evidenciou cado, certificado pela emprea importância de não sobresa Metris GfK; Técnicas de por emoções pessoais ao deApresentação, certificado pela sempenho profissional: “O “A liberdade de imprensa tem como condição de liberdades, direitos e garantias”, reforDynargie, empresa suíça de jornalista pode usar os meios essencial uma regulação independente”. Este çando a ideia de que a ERC – que tomou consultoria e formação; Clipfoi o mote da palestra de encerramento do ’05 que tem para forçar agendas posse no dia 17 de Fevereiro na Assembleia ping: Monitorização, Gestão e em nome de uma causa que Encontro de Comunicação da Escola Superior de da República, numa cerimónia envolta em Análise de Informação Noticonsidere justa, mas não Tecnologia de Abrantes (ESTA), dado pelo minispolémica devido à ausência do Sindicato ciosa, certificado pela agência tem o direito de omitir nem tro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos de Jornalistas (SJ) – deve ser eficaz para de comunicação Manchete. manipular a realidade com Silva. O responsável pela tutela da comunicação “não ficarmos diminuídos na liberdade de Na sessão de encerramenvista ao seu próprio fim”. Pasocial dirigiu-se a uma plateia de estudantes da expressão”. O ministro explicou, ainda, que to, Miguel Pinto dos Santos, ra Henrique Botequilha, o área, chamando a atenção para os artigos da a regulação é a outra face da liberdade de director da ESTA, deixou o jornalismo de causas é uma Constituição da República que consagram os expressão. A isenção e independência do desafio para o próximo ano: realidade subjectiva, mas há deveres, direitos e liberdades dos jornalistas. jornalista mereceram também a atenção de “Voltaremos a encontrar-nos que não ignorar a objectiviCom uma palestra que abordou questões da Santos Silva, para quem o sigilo profissional para o ‘06 Encontro de Codade dos factos no exercício actualidade – como a liberdade de imprensa, o sigilo profissioé um dever deontológico, “só quebrável nos casos previstos no municação, ainda melhor”. A da profissão. nal dos jornalistas e a recém-criada Entidade Reguladora de Processo Penal”. última intervenção coube ao Neste painel, a causa da soComunicação (ERC) –, o ministro dos Assuntos Parlamentares O ministro apresentou três “antídotos” para combater “o vírus da presidente do IPT, que consilidariedade social foi repreencerrou um encontro que, ao longo de três dias, proporcionou parcialidade e da dependência jornalísticas”: separação do facto derou a presença do ministro aos 200 participantes (incluindo 40 exteriores à ESTA) um consentada por Jorge Oliveira, enquanto objecto de notícia e enquanto consequência políticocomo apoio e incentivo, e ao Presidente do Espaço T, uma junto de quatro painéis, quatro workshops, uma sessão de cinesocial; separação entre informação e entretenimento; separação mesmo tempo responsabiliorganização que se dedica à ma seguida de debate, a apresentação de comunicações livres e da informação e espectáculo. Para um exercício salutar da futura zação para esta instituição de integração social. Segundo o uma exposição de fotojornalismo. profissão, Santos Silva recomendou aos estudantes uma leitura ensino, num momento conorador, esta associação “tem Doutorado em Sociologia da Cultura e da Comunicação, Santos imparcial e um cumprimento isento do Código Deontológico siderado difícil para o ensino uma relação muito pacífica Silva considera que a informação “deve respeitar os conjuntos dos Jornalistas. superior. Ministro reforça direitos dos jornalistas esta 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 13 Marcelo entrevistado por alunos liliano pucarinho presente situação do canal, considerando que o mérito da estação pública se deve ao saneamento da situação financeira e à valorização do serviço público. No entanto, alertou para a necessidade daquele serviço ser acompanhado de audiência. O polémico caso Envelope 9 do jornal “24 horas”, o serviço público e a influência da televisão na nossa sociedade foram outros dos temas falados. Ainda acerca dos media, o entrevistado defendeu que “a televisão é um instrumento muito poderoso” e que os governos, “sempre que pode, intervêm”. Por outro lado, “os governos são hipersensíveis” e “quanto mais fracos, mais sensíveis são”. Mas nem tudo é, aparentemente, mau: “Há um lado pedagógico da televisão. Deve dar às pessoas o que gostam, mas também levá-las a conhecer novos conteúdos”. E porque o cenário foi montado numa escola superior, a educação não foi descorada. No que toca ao ensino em geral, o ex-deputado opinou sobre a “medida impopular por parte do Estado quanto ao encerramento de escolas”. Contudo, foi no Tratado de Bolonha que Marcelo Rebelo de Sousa mais insistiu, considerando os politécnicos mais flexíveis ao novo sistema de ensino. Como aspectos “complicados”, o professor apontou as condensações das formaturas, onde as licenciaturas podem vir a ter a duração de três ou quatro anos. “Um sinal dos tempos é a convergência entre politécnicos e universidades”, rematou. André Canoa Em vez de uma tradicional conferência, Marcelo Rebelo de Sousa protagonizou, na ESTA, a 22 de Fevereiro, um novo formato de debate de ideias. Os alunos Vera Agostinho e Bruno Ribeiro, ambos estudantes do 5ºano do curso de Comunicação Social da instituição, foram os jornalistas/moderadores que conduziram a entrevista, com público, ao exlíder social-democrata. Tudo isto foi realizado num cenário simulado de estúdio televisivo. Os estudantes iniciaram o programa descrevendo o perfil do entrevistado. Só depois partiram para a entrevista, que teve como base assuntos relacionados com os media, educação, choque de culturas e eleições presidenciais. O jurista abriu a sua intervenção reportando-se à TV Digital e à crescente importância da televisão por cabo no panorama audiovisual. O aproveitamento político através deste meio de comunicação foi outro motivo de abordagem. O professor deu como exemplo o caso italiano, delineando fronteiras entre Romano Prodi e Sílvio Berlusconi. “Berlusconi tem a favor o facto de ser um magnata da televisão, utiliza o meio televisivo de forma agressiva” – frisou o convidado. Por oposição, “Prodi é um racional, um anti-show, um tecnocrata”. Segundo o professor, esta situação coloca novos problemas à democracia. O actual comentador da RTP pronunciou-se sobre a O testemunho de Vera Agostinho “Entrevistar o Marcelo Rebelo de Sousa? Eu?” A falta de confiança não me impediu de dizer logo que sim. O objectivo era simular um programa de televisão do género “As Escolhas de Marcelo”, a que eu, confesso, nunca tinha assistido. Faltava uma semana e era preciso preparar a entrevista. Escolher os temas que seriam mais importantes, mais interessantes. E logo numa altura em que tudo parecia estar a acontecer. Saber que ia trabalhar com o Bruno deixou-me mais segura. Se há alguém que não gosta O testemunho de Bruno Ribeiro À conversa com o professor Um sonho tornado realidade? de falhar é ele. Estudávamos de noite. Líamos todos os jornais e revistas. Pesquisávamos na Internet. Foi um trabalho fácil porque quando duas pessoas se entendem as coisas tendem a correr bem. E o dia chegou. Estávamos, mais do que nervosos, ansiosos. Almoçámos juntos para descontrair e acho, sinceramente, que foi o melhor que podíamos ter feito. O programa começou. A sala estava cheia mas, como não tínhamos que olhar de frente para a assistência, isso era o menos intimidante. O pior era concentrar-me nas respostas do professor, estar atenta e O telemóvel, personalizado com uma melodia de Chopin, tocou baixinho… “Não está interessado entrevistar Marcelo Rebelo de Sousa, na próxima semana?”. Subitamente, um arrepio tomou conta de mim… não pelo facto de me estar a ser dada a oportunidade de entrevistar uma alta personalidade da vida política nacional, mas antes fazer uma das coisas que mais gosto: televisão. A minha cabeça foi invadida por ideias, deu voltas e mais voltas. A minha primeira preocupação foi ver “As escolhas de Marcelo”. Os objectivos primordiais foram saber algo mais acerca dele, perceber a sua persona- perceber o seu raciocínio acelerado. Às vezes a minha vista parecia começar a desfocar de olhar tanto para ele. Outras parecia que eu nem estava ali, estava a assistir a tudo de cima. Mas ele facilitou-nos o trabalho. Foi simpático, acessível. E quando entrámos no ritmo foi tudo mais fácil. Eu e o Bruno arranjámos maneira de comunicar através de bilhetes discretos. Depois já bastava olhar um para o outro para nos entendermos. Acho que no fim correu tudo bem. Há sempre coisas que falham, é natural que assim seja. A primeira vez é sempre a mais difícil, já se sabe. lidade. Depois, era necessário estar preparado no domínio da actualidade. A partir daí – confesso – da minha cabeça não mais saiu o Professor Marcelo, nem o dia que me iria colocar frente a ele. As noites, até à entrevista, foram mal dormidas. Em qualquer hora da noite, estando mergulhado num sono profundo ou não, lá saía uma ideia para o papel. Já no dia, um stress completo. Quando a hora da “esgrima” chegou, perante uma audiência bem composta, as câmaras ligaramse, os micros afinaram-se. Tudo de olhos postos, também, em dois amadores. Duas pessoas que pouco viveram na prática o universo televisivo (deixo aqui um elogio pela forma fácil como foi trabalhar com a Vera). Eis que começa o “gladiar”!!! O carismático entrevistado está à vontade. Trata-se, pelo menos naqueles instantes iniciais, de uma pressão, uma tensão sem tréguas… mas bom de sentir. Seria adrenalina? Não sei. Muita coisa falhou… muita coisa faltou… muito teremos que aprender com certeza. Quem não o tem? Será que tivemos a nossa oportunidade ou outras irão surgir ainda? Trabalho todos os dias de forma a alcançar os objectivos que me propus atingir. Eu estou aqui… mal posso esperar. 14 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 emprego UNIVA um projecto de emprego Ana Raquel ferreira Elaborar currículos, redigir cartas de apresentação, saber responder a um anúncio de oferta de emprego, saber comportar-se numa entrevista. Estas são algumas das ajudas prestadas pela UNIVA Ana Brandão e Ana Raquel Ferreira A UNIVA (Unidade de Inserção na Vida Activa) é um projecto que nasceu de uma parceria entre a Câmara Municipal de Abrantes e o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), da mesma cidade. Este projecto tem como objectivos “ajudar a população, essencialmente os jovens, em termos de procura de emprego, formação e orientação vocacional. Ou seja, tudo o que tenha a ver com o apoio à inserção escolar e profissional”, esclarece Renata Almeida, animadora deste projecto. Apesar de ser um serviço ainda recente em Abrantes passou, já, “por um processo de divulgação nos órgãos de comunicação social”. Este é o veículo utilizado para fazer chegar a UNIVA junto da população em geral. Para além disso, é feito um contacto mais directo nas escolas e instituições através de cartões e folhetos, cartas e e-mails enviados às empresas. Jovens à procura de pri- meiro emprego, desempregados ou em risco de desemprego, após tomarem conhecimento deste projecto, dirigem-se à UNIVA onde será feita uma entrevista de forma a conhecer melhor o candidato relativamente às suas expectativas, às suas qualificações e ao “local do país onde gostaria de trabalhar”. Porque, hoje em dia, encontrar emprego não é uma tarefa fácil, “não basta fazer um currículo; é preciso saber estar numa entrevista de emprego e conhecer as empresas que estão interessadas no seu perfil profissional”. De acordo com as ofertas que têm, os candidatos serão encaminhados para as devidas empresas. As UNIVA’s são financiadas pelos IEFP’s, uma vez que “são eles que aprovam e apoiam tecnicamente os projectos”. Para além disso, asseguram e comparticipam a remuneração de animadores e de equipamentos. Uma vez recebidos os fundos, estes serão investidos, maioritariamente, em pessoas com menor nível de formação ou sem qualquer qualificação. “Como estamos num período de crise, há que distribuir Formação. A região de Lisboa absorve a maior parte dos apoios comunitários, mas a UNIVA de Abrantes prevê negociações esses mesmos fundos”. Existe uma questão importante relativamente a esta região que diz respeito ao presente quadro comunitário de distribuição dos fundos para a formação profissional. Renata Almeida explica que Abrantes se insere na “região de Lisboa e Vale do Tejo e, como tal, os fundos para esta região são deficitários porque Lisboa absorve mais fundos”. Para fazer face a esta situação, serão efectuadas negociações dos fundos para ter um tratamento diferente daquele que existe neste momento. A população não tem tido os mesmos mecanismos de apoio em termos comunitários. “Não havendo formação financiada, diminui a oferta”, salienta a animadora. A UNIVA tem uma parceria com um outro projecto “Crescer Cidadão”, que disponibiliza um portal, www. portalemprego.pt, onde Renata Almeida coloca algumas ofertas. A área das vendas é a que mais oferece a possibilidade de emprego. “Uma boa iniciativa” Ana Margarida Marques, 29 anos, com o 12º ano de escolaridade na área de Contabilidade e desempregada até há pouco tempo, procurou a UNIVA. “Fiquei bastante contente com o apoio que obtive”. Realça o trabalho desempenhado pela animadora que dispo- nibilizou muita informação, mantendo um contacto constante. Recentemente foi colocada na Câmara Municipal de Abrantes na área de Arquivo. Firminio Simplício, 45 anos, Engenheiro Químico, era responsável de uma secção numa empresa agroindustrial. Neste momento está desempregado e também procurou a UNIVA. Tem boas expectativas de encontrar emprego: “Espero que até ao final do mês a minha situação esteja resolvida”. Considera “uma boa iniciativa” por parte da Câmara Municipal de Abrantes e aconselha o projecto. UNIVA Edifício Pirâmide – Alto de Santo António 2200 Abrantes 241366464 / 241363165 [email protected] Horário de funcionamento 2ª, 3ª, 5ª e 6ª feiras - 10h00 – 12h30 / 14h30 – 17h30 4ª feira – 14h30 – 17h30 Animadora: Renata Almeida desporto 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 15 O novo director desportivo do AFC é Jorge Santos, 45 anos, taxista Entre o táxi e o balneário Uma vida inteira dedicada à sua profissão que, garante, ensina “a ver a vida com outros olhos!” Sempre alegre e bem-disposto, abre a porta do seu táxi como quem abre as portas de sua casa. Recentemente convidado para assumir o cargo de director desportivo do Abrantes Futebol Clube (AFC), apenas deixa um pedido a todos os que o conhecem: “Acreditem em mim!” liliana séca santos Maria José Vaz Q uem se dirige à praça de táxi dificilmente se deixa enganar. Ar jovial, leve e descontraído. Um tom de voz afável, amistoso e genuíno. As linhas do rosto marcadas por vivências e saberes que não foram mais do que lições de vida. Ao abrir as portas do seu táxi, “Jó” (como é carinhosamente tratado) é mais do que um simples taxista. É um ouvinte. Um conselheiro. Um amigo! Ser taxista não se tratou de uma opção. O seu bisavô tinha charretes com cavalos para transportar pessoas. O avô tinha táxis. O pai herdou-os. Mais tarde o empregado adoeceu e reformou-se. Quando o pai lhe pediu ajuda, Jorge Santos não recusou. Como o próprio afiança: “Fui ficando.” Até hoje! “Quando comecei, adorava esta profissão” – diz Jorge Santos. Como taxista, considera ter tido uma vivência fabulosa. E explica que os taxistas são um pouco de tudo: “Somos médicos, padres, advogados”. Tudo isto em resultado das relações que estabelecem com os clientes e para os quais é preciso ter uma palavra de conforto, pois muitos levam para o táxi as frustrações e desilusões do diaa-dia. E, na sua opinião, é importante fazer ver às pessoas que nem sempre as coisas são como elas pensam. “Esta é uma das profissões que mais nos ensina o que é a vida!” – defende. Por experiência própria sabe que “neste meio” se lida constantemente “com todo o tipo de pessoas”. Os problemas pessoais deixam de ter relevância face aos dramas dos que transporta no táxi e que nele encontram um ombro amigo.”Lidamos com criminosos, traficantes, prostitutas, gente com as maiores formações, juízes, médicos, engenheiros, estudantes”. Mas, apesar de tudo ressalva,“ é uma experiência gratificante!” Situações caricatas? Esboça um sorriso e parece não ter dúvidas: “É uma profissão de risco, sabe? Uma vez fui assaltado em Proença-a-Nova por três indivíduos evadidos da prisão de Leiria.” Na altura foi um valente susto. “Tinha cerca de 22 anos e julgava que não tinha medo de nada e que ninguém me podia fazer mal.” Para este taxista, o dia começa por levar os filhos à escola e dirigir-se à praça de táxis, onde, de resto, permanece o dia todo, atendendo aos telefonemas de clientes, do presidente ou de outros elementos da direcção do AFC com os quais está permanentemente em contacto. No final do horário de trabalho, dá “um pulinho até ao estádio”, para ver e falar com o presidente, equipa técnica e jogadores. “Sou puro benfiquista, mas se calhar agora tenho uma queda maior Orgulho. Jorge Santos, desde sempre envolvido com o AFC, está feliz com o voto de confiança que lhe foi dado pelo Abrantes!” – diz, convicto de que o facto de ter assistido ao nascimento do clube, a proximidade e amizade que sempre manteve com os seus fundadores faz com que viva a sua realidade mais intensamente. Apesar de “saber que anda aí gente a tentar minar e a fazer pressão” em sentido contrário, Jorge Santos acredita na direcção “Em sete anos se faltei a quatro jogos foi muito!” – conta. Quando o anterior director desportivo, Nuno Pedro, se demitiu do clube, o actual presidente, Alberto Lopes, recorreu a Jorge Santos. “Quando me pediu que o ajudasse, eu disse que sim, mas nunca pensei que fosse para substituir quem quer que fosse” – explica. Na verdade, só teve conhecimento do cargo que ia ocupar quando foi oficialmente apresentado à comunicação social como director desportivo. Feliz pelo voto de confiança que lhe foi dado, Jorge Santos acredita que “com esta direcção e com o empenho que tem tido podemos levar isto a bom porto.” Isto, apesar de “saber que anda aí gente a tentar minar e a fazer pressão contra a mesma” – remata. Sempre frontal, Jorge Santos acredita em valores como a honestidade e a dignidade e mostra-se profundamente magoado e revoltado com as pessoas que desde a primeira hora abraçaram o projecto “AFC e que disseram que amavam este clube e que só actuariam em prol dele, mas que agora tudo fazem para o prejudicar”. A equipa de futebol do Abrantes é, na sua opinião, “composta por homens muito sérios e profissionais”. E acrescenta: “É uma equipa da qual temos orgulho!” Admite que actualmente o clube atravessa um período de dificuldades económicas, mas entrega-se de corpo e alma à sua nova tarefa, que exerce sem que dela aufira qualquer remuneração. Acredita que parte da experiência que teve enquanto jogador de futebol, a maneira como lida com o balneário, os jogadores e com toda a orgânica que envolve o próprio futebol são mais valias que põe ao serviço do clube. Nos seus tempos livres, adora xadrez e tudo o que envolva jogos de cartas. Adora jantar e sair com os amigos. “São aqueles amigos que vêm desde os cinco anos e que nos encontramos ao fim da tarde para jantar e beber uns copos até às cinco da manhã. Para nos abrirmos uns com os outros, para recordarmos, para nos ajudarmos e para mantermos o espírito jovem!” E o espírito jovem só se mantém se as pessoas acreditarem todas umas nas outras. “Tenho muitos amigos que me conhecem e sabem que sou sincero e honesto no dia-a-dia, nas relações, nunca quis o mal de ninguém” – assegura. A viagem de táxi não pode terminar sem uma última pergunta. Como acha que as pessoas lidarão consigo agora que também é director desportivo? A resposta não poderia ser mais objectiva: “É tudo uma questão de esforço, dedicação, empenho e disciplina. De resto, continuo o mesmo de sempre!” Perfil Jorge Santos nasceu em Abrantes há 45 anos. É taxista desde os 18 e diz que não trocava esta vida por nada. Amante confesso do desporto-rei, guarda ainda na memória o Mundial de ’66 e a figura de Eusébio. São momentos que acredita terem sido fulcrais no seu amor pelo futebol. Tinha então quatro anos. Enquanto jogador de futebol, alinhou em todos os escalões e passou por clubes de Abrantes, Tomar, Tramagal, Ponte de Sôr. Deixou de jogar aos 30. Ainda frequentou o antigo liceu, mas porque se sentia “preso” na escola e na altura já ganhava dinheiro com o futebol, decidiu abandonar os estudos. Hoje acredita que poderia ter optado por estudar e por tirar um curso relacionado com desporto. O que conseguiu foi conciliar a vida de jogador de futebol com a profissão de taxista, que considerava fazerem parte do seu bem-estar e equilíbrio. Desde sempre se envolveu no projecto do Abrantes Futebol Clube e foi com orgulho que aceitou o convite para ser director desportivo. cultura 16 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 Ano de homenagem Compositor Lopes Graça recordado em Tomar Nasceu em Tomar e este ano é homenageado pela cidade. Lopes Graça, um compositor que marcou o país, terá uma Casa Memória na sua cidade natal. Precisamente o edifício onde nasceu. As comemorações passam também, naturalmente, por concertos rafaela santos Rafaela Santos Já se ouvem os acordes. É mais um concerto de homenagem a Fernando Lopes Graça. Este tomarense de gema é homenageado durante este ano pelos seus concidadãos. António Paiva, presidente da Câmara Municipal de Tomar, em declarações ao Boletim Informativo de Tomar (edição de Janeiro), explica que “este ano deverá ser mais do que um tributo, uma oportunidade de dar a conhecer aos seus conterrâneos a vida exemplar deste homem”. Sintonizamos 90.5, Rádio Cidade de Tomar, ouvimos uma voz feminina que conta “Breves sobre Lopes Graça”. Percorrendo a rua Dr. Joaquim Jacinto, entre a Sinagoga e a Casa das Ratas, fica situado o edifício que viu nascer um dos mais importantes homens da música do século XX. Na lápide afixada pelos seus conterrâneos a 5 de Março de 1977 leêm-se os seguintes dizeres: “Aos 17 de Dezembro de 1906 nasceu nesta casa Fernando Lopes Graça. Musicólogo e compositor de projecção e prestígio internacional.” A casa que agora parece abandonada e deixada no rasgo do tempo vai ganhar nova vida. Pouco a pouco, irá tornar-se Casa Memória Lopes-Graça. Que ruas, avenidas e estátuas homenageiam Fernando Lopes Graça? Em Tomar não se conhecem ruas e avenidas que imortalizem o homem e o músico. “Não conheço nenhuma rua com esse nome” – diz Patrícia Ferreira, 22 anos, com um ar de espanto e admiração perante a questão colocada. “Não conheço nenhuma rua ou travessa com o nome de Lopes Graça” – afirma surpreendida Josefina Rodrigues, 60 anos, continuando a caminhar pela Corredora. “Sou de Tomar, nascido e criado, mas não conheço nada com esse nome! Só se nessas novas ruas da cidade, alguma tenha o nome de Lopes Graça” – explica Ricardo Gomes, 65 anos, com um olhar de quem fica com a “pulga atrás da orelha”. Nasceu a 17 de Dezembro de 1906 em Tomar. Quis o acaso que o menino Fernando tivesse na sua meninice a oportunidade de brincar com as teclas de um velho piano, que existia no hotel que o seu pai comprou. Entre brincadeiras, descobriu o gosto pela música e o talento que já se adivinhava. Começou a ter lições de piano com Imaculada Conceição Guimarães. Com apenas 14 anos, era já pianista no CineTeatro de Tomar. O jovem Fernando tocava as composições musicais de grandes autores russos contemporâneos. Aos 17 anos, ingressou no Conservatório Nacional de Lisboa. Em 1927, apareceu pela primeira vez como compositor interpretando as Variações sobre um tema popular português para piano solo. Entretanto, criou em Tomar o semanário republicano «A Acção». Em Música. Na Biblioteca Municipal está o piano de Lopes Graça A vida e a obra de Lopes Graça 1929, com Pedro Prado, publicou no Conservatório de Lisboa a revista «Música». Com apenas 25 anos terminou o Curso Superior de Composição. Entretanto, foi preso e desterrado para Alpiarça. Em 1934, foi-lhe atribuída uma bolsa de estudo em França, que lhe foi negada por razões políticas. Lopes Graça, nessa altura, afirmou: “Revolução e Liberdade são sinónimos, são equivalentes. São leis imutáveis gravadas na face do Cosmo, eternas e divinas como ele.” Em 1937, foi para a cidade da luz. A 2ªguerra mundial estava quase a irromper. Passados dois anos, o músico alistou-se no corpo de voluntários dos “Amis de la République Française”. Em Outu- bro de 1939, foi obrigado a regressar a Portugal, mas estabeleceu-se em Lisboa. A partir de 1940, vários serão os prémios atribuídos ao compositor nabantino. Ganhou o prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical (CCM) com o 1º Concerto para Piano e Orquestra. Em 1942, obteve o prémio do Círculo de Cultura Musical com a «História Trágico-Marítima». Dois anos depois, ganhou pela terceira vez o Prémio de Composição do CCM com a «Sinfonia». Em 1954, por razões políticas, foi-lhe retirado o diploma do Ensino Artístico Particular. Ficou sem meios para sobreviver. Passados sete anos conheceu o francês Michel Giacometti, com quem Teatro de sensibilidades Charlene Izaque O IV Festival Nacional de Teatro Especial realizado em Abrantes, no Cine-Teatro S. Pedro, conheceu a sua sessão de abertura no dia 24 de Março encerrando dois dias depois. A ideia de promover o encontro surgiu no 25º aniversário do Centro de Recuperação Infantil de Abrantes (CRIA). O objectivo foi o de promover e motivar a autonomia de crianças e jovens portadores de deficiência na família, sociedade e emprego. O teatro funcionou como ferramenta pedagógica e terapia não formal. O evento resultou da interacção do CRIA com quatro instituições na área do apoio à deficiência (APPACDM de Santarém, APPC do Porto, APPACDM de Setúbal, grupo de apoio ao ensino especial da Madeira) e com a associação Palha de Abrantes. O primeiro dia do encontro contou com a presença de Humberto Lopes, presidente da direcção do CRIA, Manuel Valamatos, vereador do Desporto Apelo. “Estas são pessoas com valor profissional” vânia palminha Ao percorrermos a cidade encontramos, na Biblioteca Municipal de Tomar, um piano. Dizem tratar-se do piano onde Lopes Graça tocava. Por instantes, interiorizamos a figura do músico e conseguimos escutar ainda ecos da sua música. Os seus conterrâneos recordam-no como um homem de Tomar e vivendo muito à frente do seu tempo. “Ainda me lembro de ver Lopes Graça aqui em Tomar” – conta Júlio da Conceição dos Santos, 75 anos, com um brilho de saudade de quem recorda o homem que vinha a Tomar para tocar. A Câmara Municipal de Tomar, desde Janeiro que dá relevância ao tomarense e ao cidadão do mundo. Através do Boletim Informativo/ Agenda Cultural, dá a conhecer o homem que marcou o panorama musical português. Até ao dia 17 de Dezembro, vamos continuar a ouvir falar de Lopes Graça em Tomar. Até porque no termo do ano será realizado o concerto de encerramento. publicou o 1º volume da “Antologia de Música Regional Portuguesa”. Mais tarde, sobre ele dirá Michel: “Para ele, a música é uma coisa tão necessária como respirar, comer, amar, pensar”. Em 1974, assumiu a presidência da Comissão para a Reforma do Ensino Musical criada pelo Governo Provisório da Revolução de Abril. No ano seguinte foi condecorado com a Ordem da Amizade dos Povos pelo Soviete Supremo da URSS. Passados cinco anos, compôs o «Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal». Em 1980, foi-lhe atribuído o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada. Faleceu 14 anos depois, próximo de Cascais. A Câmara de Cascais editou, juntamente com o Museu da Música Portuguesa, o Catálogo do Espólio Musical de Lopes-Graça. da Câmara de Abrantes, e Luísa Portugal, secretária nacional da reintegração e integração da pessoa com deficiência. O grupo “Teatro Fantasia”, da APPACDM de Santarém, foi quem abriu o festival, com a peça “Chapéus há muitos”, de Carlos Manuel Rodrigues. Segundo Joaquim Montez, encenador, a dramatização é uma forma de despertar mentalidades: “Este é um trabalho que tem servido para sensibilizar a comunidade quanto à problemática da deficiência”. O presidente do CRIA de Abrantes evidencia a importância e valor que estas pessoas têm na sociedade, deixando um apelo aos empresários portugueses: ”Estas são pessoas com valor profissional e há que aproveitar as suas capacidades”. Para Luísa Portugal, as crianças, jovens e adultos portadoras de deficiência têm a capacidade de nos fazerem sorrir, divertir e emocionar. “O paternalismo não chega, é preciso uma atitude séria de igualdade de oportunidades, para uma sociedade melhor e mais justa”. A secretária nacional de reintegração e integração admitiu ainda que, apesar da ajuda à pessoa deficiente estar na agenda política do Estado, os resultados não se avizinham imediatos, mas a longo prazo. cultura 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 17 Banda de música cabo-verdiana lança os primeiros acordes em Abrantes “Estou com vontade de cantar!” Ouvem-se os tambores…. O som deixa adivinhar o sabor a África. O ritmo envolve-nos e o calor que se faz sentir no frio da estação vem da voz da alma… “Yô, yô, somos os Jimehl, estamos aqui a cantar só para ti”! Afinam-se guitarras, soltam-se gargalhadas. No ensaio, a energia do palco já se faz sentir Ana Neves e Tânia Pissarra O desejo de formar uma banda não era novidade para José Pinto e Herlander Santos: “Começámos a tocar lá em casa”. E quando a vontade de ir para a rua falou mais alto, foram-se apercebendo de que “era necessária uma voz e mais instrumentos”. O que começou por ser um projecto a dois, é hoje o sonho de sete jovens. Juntos há sensivelmente um ano, entre o corrupio das aulas e outras actividades, José, Ivandry, Maurício, Eunice, Herlander, Luís e Lévi, abraçam o pouco tempo de que dispõem e as suas iniciais dão nome aos JIMEHL. Seis dos elementos são alunos da ESTA. Eunice, a “menina” do grupo, não pára. Numa energia que a caracteriza, diz: “Vamos cantar, estou com vontade de cantar” A sala deixa-se preencher pelos elementos da banda, na casa de amigos cabo-verdianos, à qual o grupo carinhosamente chama de “Senzala”. É lá que se dá corpo à vontade de cantar. “A formação musical não é muito importante. O que interessa é gostar de música e isso não falta no nosso grupo” – afirma Herlander. “Tens de seguir o tom do baixo ou o da guitarra, Eunice!”. Os olhos fecham-se…a voz está lançada. Onde a morna e o “reggae” imperam, o eco já se faz sentir nos cantos do espaço e entre sorrisos a música pára: “Não estás no tom!”. “Padoce de céu azul”, de Tito Paris, ganha uma nova vida e envolve o olhar à procura das notas que deixam na pele o arrepio de quem sente o que ouve. Toca a tumba e os pés mexem como se a terra os movesse. Cabo Verde está ali! Zé, apesar de ser o único sem ascendência africana, partilha dessa paixão: “A música africana faz parte do meu gosto pessoal. Não é só uma questão de origens”. Com apenas um espectáculo no curriculum, a banda deixou ao rubro um palco de Tomar, no Encontro de Estudantes Cabo Verdianos. E é com satisfação que recordam os momentos da actuação: “O público até cambalhotas deu no palco”. Entra um dos residentes na sala, com um “look” descontraído, como se estivesse em pleno Verão. O sangue africano não deixa mentir quando o corpo reage ao som com a satisfação e energia que só eles têm. Treina-se mais uma música. Ivandry e Eunice cantam num jogo de palavras que transmite sensualidade e vontade de dançar… Num ambiente caracterizado por unanimidade, os elogios vão-se soltando. “Muito bom”! E descobrem-se as diferenças que os unem. “O Levi está sempre a rir”, diz a Eunice que, sendo a única rapariga da banda, lança o discurso com a descontracção de quem nasceu para viver no palco: “ Sou a mais faladora do grupo, eles aturam-me imenso… são como irmãos, mas é o Herlander que consegue impor respeito”. Maurício, o percussionista, nem sempre pode marcar presença na sala de ensaios. Mas a distância geográfica que o separa dos restantes não afecta a cumplicidade que o une aos instrumentos. Fazendo também parte dos C4 (um grupo cabo-verdiano), juntamente com Luís Carlos, é considerado um bom músico pelos restantes elementos: “Ele ouve a música uma vez e tem bastante facilidade em apreendê-la! Nos espectáculos está sempre connosco!” Trocam-se posições… De tranças e olhos brilhante, Luís Carlos, outrora sentado com a viola na mão, pula num rasgo de energia. Num cruzamento de vozes com a vocalista, o ritmo é contagiante. Brilha mais uma música do reportório, desta vez um tema original da banda que fala de Cabo Verde e da saudade: “A primêra vez”. Batem-se palmas ao som do batuque, e o espaço vazio que os rodeia transforma-se por instantes numa multidão. Todos vibram naquela sala onde se improvisa um estúdio e onde os sonhos e o divertimento de dar voz às palavras se concretiza. A agenda vai sendo preenchida. Entre convites para espectáculos, nomeadamente de Viseu e da Guarda, a Câmara Municipal de Abrantes parece apoiar também a iniciativa destes jovens estudantes. Herlander, “o mais equilibrado” segundo os elementos dos JIMEHL, afirma com ponderação: “Em princípio estamos cá para estudar. É complicado conciliar o tempo”. Na estrada da fama, não pretendem deixar os estudos para trás. O destino, esse, vai sendo marcado sem pressas: “O objectivo da banda hoje é estar aqui a tocar, amanhã Deus é quem sabe…” JIMEHL Eunice Pinto Vocalista 20 anos (6 de Maio de 1985) Natural de Lisboa Estudante de Comunicação social na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA) Interesses: dança, cultura africana, rádio, trabalhar em África como jornalista Música: Dulce Pontes, Sara Tavares, Whitney Houston, Michael Bublé, Missy Eliot, U2 e Lura José Pinto Baixo e voz 20 anos (27 de Julho de 1985) Natural de Lamego Estudante de Comunicação Social na ESTA Interesses: documentários, música, desporto e jornalismo Música: U2, Café del Mar, Jazz, Bem Harper, Madredeus, Pedro Abrunhosa, Cesária Évora Lévi Soares Tumba 20 anos (8 de Maio de 1985) Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde) Estudante de Engenharia e Gestão Industrial na ESTA Interesses: cinema, desporto e música Música: todo o tipo de música Ivandry Voz 21 anos (1 de Fevereiro de 1984) Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde) Estudante de Engenharia e Gestão Industrial na ESTA Interesses: dança, música e desporto Música: R n´B Luís Carlos Évora Viola 19 anos (5 de Agosto de 1986) Natural da Ilha do Sal (Cabo verde) Estudante de Engenharia Mecânica na ESTA Interesses: música e desporto Música: reggae, música tradicional Cabo Verdiana e Hip Hop ana neves Maurício Ramos Percussão 19 anos (28 de Maio de 1986) Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde) Estudante de Turismo em Viana do Castelo Interesses: música e desporto Música: Rock, Hip Hop, Linkin Park Herlander Santos Guitarra 26 anos (10 de Junho de 1979) Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde) Estudante de Comunicação Social na ESTA Interesses: música Música: todo o tipo de música Ensaio. “A formação musical não é muito importante. O que interessa é gostar de música e isso não falta no nosso grupo” conto 18 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006 A mudança estava finalmente terminada. Tudo estava em ordem, tudo tinha encontrado o espaço a que estava destinado. Na estante que se situava ao lado da porta, os livros, meticulosamente ordenados por épocas, revelavam a sua paixão: o cinema. Nas paredes forradas com um papel florido, já gasto pelo tempo, tinha colado alguns cartazes que faziam alusão aos grandes clássicos. Fora esta a forma que encontrara para esconder as manchas acastanhadas das paredes. Filipe encontrava-se exausto! Sentou-se na poltrona, junto à janela, e lá permaneceu durante algum tempo, vendo o movimento da cidade. Passados quatro anos as fachadas do centro ainda o fascinavam. Sentia ainda aquela paixão que o levara a candidatar-se à Faculdade de Letras do Porto. O Porto era um lugar mágico: acarretava consigo todo um misticismo, uma bagagem histórica e cultural inegável, com costumes e modos de ser muito característicos. Acreditava que a sua estada no Porto tinha sido uma oportunidade única para conhecer a cidade que o encantava. Enquanto o seu olhar percorria a zona ribeirinha, o seu pensamento continuava na antiga casa. Estava triste por ter abandonado a República do Dick, mas sabia que tinha tomado a melhor opção. Nunca iria conseguir concentrar-se naquela casa. A confusão característica de oito rapazes nunca o deixaria terminar o seu projecto de final de curso. Tinha pela frente um árduo ano de trabalho e não podia deixar-se levar pelos copos e noitadas. Estava Filipe absorto nos seus pensamentos quando os seus olhos se fixaram num pequeno armário que se encontrava junto à poltrona. Pensou que seria um bom sítio para guardar alguns projectos inacabados. Tentou abrir a gaveta, mas esta ofereceu alguma resistência. Reparou que tinha uma fechadura. Forçou um pouco, mas não obteve qualquer resultado. Decidiu que no dia seguinte iria falar com a senhoria e pedir-lhe a chave. Depois de ter comido uma lasanha que a mãe lhe tinha preparado voltou para o quarto para descansar. Fez ainda uma última tentativa para abrir a gaveta, mas em vão. Começava a sentir uma certa curiosidade. “Será que aquela fechadura esconde algo? Ou seria apenas um esquecimento da D. Rosa?” O dia amanheceu cinzento. Na Faculdade de Letras do Porto os novos caloiros obedeciam às ordens dos veteranos, que os levavam a fazer figuras ridículas. Filipe juntou-se aos seus amigos. Já não os via desde Agosto e havia muitos assuntos para pôr em dia. Sentados na esplanada do bar, a aproveitar os raios de sol que passavam por entre as nuvens, os rapazes falavam das aventuras do Verão. Ficou combinado que Filipe passaria aquela noite na república para festejar o recomeço das aulas. Havia uma certa nostalgia quando se falava na República do Dick, os rapazes não percebiam a decisão tomada por Filipe e tentavam, a todo Nunca o anfiteatro da escola se enchera daquela forma para o visionamento de uma película baseada no argumento de um aluno de cinema e televisão. Todos queriam conhecer a estória da “Menina Sorridente”. Uma história que misturava ficção e a realidade, na procura de uma morada desconhecida. Ninguém queria perder! O projecto final por Ana Santos 1ª parte o custo, fazer com que voltasse. Convicto que tomara a opção certa, Filipe argumentava, dizendo que apenas iria mudar de casa e que iriam continuar a passar bons momentos juntos. O primeiro dia de aulas estava a chegar ao fim. Antes de abrir a porta do prédio, Filipe entrou na lojinha da D. Rosa e falou-lhe do armário. Ela explicou-lhe que tinha comprado aquele apartamento ao banco, com todo o recheio incluído e que faltavam algumas chaves que os antigos proprietários deveriam ter esquecido de entregar. - A arrecadação do apartamento que era deles também está trancada. Ao chegar a casa, Filipe dirigiu-se apressadamente para a despensa. Tirou de lá algumas ferramentas e levou-as consigo até ao quarto. Deteve-se alguns instantes a olhar para a gaveta. Depois de algumas tentativas conseguiu abri-la com uma chave de fendas. Dentro da gaveta encontravamse várias fotos. Eram fotos a preto e branco de uma menina de cabelo claro, com um sorriso terno e doce. Pareciam tiradas há vários anos, numa aldeia do interior. No fundo da gaveta um diário. Era rosa, provavelmente pertencia à menina das fotos. Filipe começou a folheá-lo. A menina era já uma mulher! Fechou-o rapidamente. Recordando-se das discussões que tinha com a irmã mais velha quando, em miúdo, lhe lia o diário às escondidas. Esvaziou a gaveta. Colocou as fotos e o diário numa caixa e desceu as escadas. Voltou a entrar na loja de flores da D. Rosa. Pensou que talvez ela, através do banco, pudesse devolver aquelas recordações à menina sorridente. A senhoria ao ver o que se encontrava na caixa, olhou para Filipe e sorriu. - Ó filho, não tenho tempo para isso. Já foi há muitos anos, provavelmente o banco já nem tem essa informação. A tua intenção é boa, mas o melhor é deitares isso fora. Se fosse importante eles teriam levado. Filipe voltou a subir as escadas com um ar desanimado. Pôs a caixa em cima da poltrona e saiu para se encontrar novamente com os rapazes, como ficara combinado. Na república todos o acharam um pouco ausente. Não bebia, não participava nas brincadeiras… os repúblicos sentiam falta da sua gargalhada sonora que enchia toda a casa. - O que tens miúdo? A comida caiu-te mal? Não, a comida não lhe tinha caído mal, mas Filipe não conseguia deixar de pensar naquele sorriso. Teria de fazer qualquer coisa. Teria de descobrir onde estaria aquela mulher e entregar-lhe o que lhe pertencia. Tentou explicar-lhes o que tinha acontecido, na esperança que algum deles lhe desse uma ideia. Mas, ao invés, chamaram-lhe louco. - Deita mas é essa tralha fora. Agora estás a preocupar-te com isso porquê? Também ele não sabia porquê, mas algo dentro dele dizia que a tinha de encontrar. “Mas como?” No dia seguinte, depois das aulas, passou pelo banco, que a D. Rosa lhe indicara, para pedir informações A resposta, como a senhoria previra, foi negativa. Alegavam que já tinham decorrido os anos obrigatórios para o processo estar em arquivo e como na altura ainda não procediam à informatização dos dados, era impossível encontrar essa informação. Já em casa, sentado à secretária, Filipe começava a esboçar o seu projecto, no entanto o sorriso daquela menina de cabelos claros preenchia-lhe o pensamento. Tinham passado já duas horas e a folha à sua frente permanecia em branco. As ideias não fluíam e a caneta impaciente começava a rabiscar uns desenhos nas margens. “Desta forma o meu filme acabará por ser uma tela negra”, pensava. Decidiu deitar-se. A mãe costumava dizer que a almofada era uma boa ajuda nessas alturas. Quem sabe se o seu sonho não daria um bom argumento? Deu voltas e voltas na cama, mas não conseguiu pregar olho. Levantou-se, vestiu uma swetshirt e sentou-se na poltrona a olhar através da janela. Não conseguiu conter-se mais. Abriu a caixa e retirou de lá o diário. Abriu numa página ao acaso e começou a ler. “São já duas da manhã… Não consigo dormir! Acendo um cigarro e sento-me no meu velho cadeirão, enrolada no cobertor azul. O cadeirão parece moldar-se ao meu corpo. É um sítio só meu, onde me sinto protegida. Lá fora as luzes, os sons de uma cidade que já não reconheço, uma cidade que não é a minha. Sinto-me como uma estranha nesta cidade. Uma estranha, na minha própria casa. Nada disto é meu, nada disto me pertence. Nada disto corresponde ao que sonhei. Através do vidro vejo jovens aos pares, que embriagados pelo desejo, ou pelo álcool, procuram um recanto escuro e reservado. Será que eles também têm sonhos? Espero que não façam como eu. Espero que não escolham o pesadelo!” Filipe sabia que não era correcto o que estava a fazer, mas não conseguia parar de ler. Cada palavra fazia-o crer que tinha mesmo de encontrar aquela mulher. Começou a pensar que o que o tinha levado a abrir a gaveta era mais que mera curiosidade. Algo o determinava a procurá-la. “Estará escrito nalgum sítio? O destino existe mesmo? O que quererá ele de mim?” Acabou por adormecer na poltrona, com o diário na mão e várias dúvidas na cabeça. Quando acordou eram já onze horas. Tinha perdido as primeiras horas da manhã. Estava dorido e cansado. Acabou por petiscar qualquer coisa na cozinha e saiu apressado. Ao ver aquela agitação, a senhoria começou a ficar preocupada. Já o conhecia do tempo em que estava apaixonado por Beatriz e lhe oferecia uma rosa todos os dias. Muito antes de se mudar para o apartamento por cima do dela. Era um rapaz organizado, responsável, calmo e muito observador. No entanto, agora andava sempre agitado, com a cabeça nas nuvens e quase nunca sorria. À tardinha, quando regressava a casa, a D. Rosa chamou-o. Convidouo para ir jantar a sua casa. Aquele jantar não estava nos seus planos. Tinha vindo directamente da escola, para tentar descobrir alguma coisa no diário, mas não podia recusar tal convite. A D. Rosa tinha feito bacalhau com natas, um dos seus pratos preferidos. Filipe deliciou-se com o banquete. Andara a semana inteira a comer sandes e massa com atum. Aquela refeição recordava-lhe a comida que a sua mãe fazia quando ia passar o fim-de-semana a casa. Quando estavam a tomar café na salinha, a D. Rosa perguntou-lhe porque é que ele andava tão distraído. - Tens algum problema, filho? Já sabes que, se precisares de alguma coisa, podes falar comigo. Não nos conhecemos de agora. O teu namorico com a Beatriz não correu pelo melhor, mas pelo menos ficou a nossa amizade… Filipe acabou por contar que andava intrigado com aquele diário. Que só pensava em resolver aquele mistério. - No início apenas queria devolver-lhe as fotos e o diário, mas agora acho que estou a ficar um pouco paranóico com esta história. Imagino o que lhe terá acontecido, onde poderá estar… Nisto, a mãe da D. Rosa, uma velhinha de cabelo branco e mãos trémulas, que se encontrava sentada junto à lareira, interrompeu-o. - A esta hora deve estar morta. O marido era um cão! Batia-lhe a toda a hora. Era uma gritaria todas as noites! A D. Rosa tentou minimizar a sua intervenção, dizendo que sofria de Alzheimer. - Já não diz coisa com coisa, coitadinha! Devem ter simplesmente mudado de casa. Já em casa, Filipe não conseguia esquecer aquelas palavras. Ecoavam no seu ouvido. Deitou-se na cama e abriu o diário. “Depois de tantos anos juntos, de tantos anos a partilhar a minha vida contigo, não consigo entender. Olho-te, deitado na minha cama, e não sinto nada. Não sou capaz de sentir nada! Apenas o vazio que me percorre a alma.” Continua na próxima edição humor 31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 19 Bjéca puxa bjéca, aquilo sobe-lhe ao cérve e puxa da mão e toca de dar um “miminho” à patroa… C om tantos dias por ano tornouse evidente que seria necessário festejá-los sempre de maneira diferente… mas também não é preciso exagerar… Festejar no dia 14 de Março o Dia Nacional da Incontinência Urinária é demais! Agora fica a questão no ar: como será festejado este dia? A Tena Lady vai fazer uma festa onde é obrigatório usar fralda? E onde a entrada só é permitida mediante a apresentação de cuequinha ensopada? Diz que há pr’ái muito bom tuga que não gosta de fazer nenhum, e aquele que faz, passa o tempo a queixar-se, ou é porque faz “muito” ou é porque não há pontezinha pó patrão. Quando as têm, o que fazem? Nada mais típico. Vá de juntar a família toda e toca de encher o bucho! Sim, porque tuga que é tuga arranja sempre uma boa desculpa pra dar ao dente e regar o fígado. Ah! Malandro… Viva a chouriçada no pão e o belo do tintol. Outra coisa típica deste país à beira mar plantado é o facto de que cada vez mais se verem pr’ái tipos sem jeito nenhum a escrever livros. Desculpem o equívoco! A vomitar livros! Hoje em dia qualquer “borra-botas” rabisca folhas. Ou é porque entrou num programa qualquer e tem pinta (e o livro é tão bom que até vai preso). Ou é porque é magra(o) e diz ter dicas milagrosas. E depois existem outros, tipo o conde princezinha, que não sabe bem o que diz e o que é. Mas o povo gosta. É isto que alimenta a alma. Bora lá encher os bolsos àqueles que não fazem peva, se não fazer figuras de urso. Pelo andar da carruagem qualquer dia temos analfabetos a escreverem livros. Vá de comemorar mais um feriado: Dia Nacional dos Livros Feitos por Analfabetos. E o que acontece? Mesa e ceia. Mais uma vez se vai encher o bandulho até cair pó lado. Sim! Porque a balança a menos dos 130 kg não pode estar. O português gosta muito de ser roliço e torneado. Tã jolie que até arrepia os pêlos do sovaco! Falando em macacadas… É sabido por todos que os media dos Texto de Ana Neves, Ana Catarina Marques, Catarina Machado, Charlene Izaque e Vânia Palminha Ilustração de Vera Inácio nossos dias são uma indústria, um comércio para esquizofrénicos, que só sabem amarrotar o sofá da sala, cultivar hemorróidas e coçar a bela da micose. E, como tal, têm em conta os sedentos espectadores, loucos por saber da vida alheia. Oh pá! É giro saber o número de pérolas que o conde esconde na sua “mina”… É mina não é?! Agora até vão para o circo. É bom estar em casa! Quem não gosta? São eles próprios que vão chafurdar no campo, tratar de animais e até são eles que, por iniciativa própria, fazem figuras de palhaços. É só voluntariado na televisão! Citando o meu amigo conde princezinha ou namoradinha da tvi, na primeiríssima e entusiástica noite do “circo das bestas”: “A Anita vai à quinta; A Anita vai à tropa; e a Anita vai ao circo”. Óh colega! Se a Anita for como tu é parva comó caraças! Voltemos ao tempo do Big Show Sic. Já tenho xaudades do recorde em cambalhotas que o rapazola dava em directo. Momentos raros em televisão. O México também nos aquece o corazón! Aaaaaiii! As telenovelas mexicanas. A fantástica dicção, a cútis impecavelmente limpa logo pela manhã e um timing dos melhores: a porta fecha e 30 segundos depois é que se ouve bater. Provouse que a gravidade no México é diferente. Diz que tá lá no alto! Eu que não sou nada dada a religiões aprendi muito com o puritano programa Fiel ou Infiel… Estas novas religiões até prá bunda têm reza! “Táca ái sauvadô!” E quem está lá para nos salvar? O Rambinho, claro! Pena é não haver nada que nos salve destes programas! Passando para um assunto mais sério, Portugal parece aquele da auto-estrada: 83 anos, em contra mão, multado e atabalhoado. Mas atabalhoado não é só este. Sei de fonte segura e quem mo disse não é de mentiri, que o Toino dos Azeites ganhou uma viagem a jogar à malha. Fim-de-semana completo, tudo pago, na pensão “Cátequero” em Carcavelos. Mal se adivinhava o trágico finali. Vai daí, pega na marmita, taparuere, geleira, meia coxa de frango pa cada, cocretes, a fresca da bjéca, Grudulina Marlene (esposa), Zé Angusto, Michel, Fitipali, Rute Carla e Andreia Priscila (filhos). Tudo às costas! Foi a rambóiada total! Bjéca puxa bjéca, aquilo sobe-lhe ao cérve e puxa da mão e toca de dar um “miminho” à patroa… Com os miolos a ferver de raiva, vai de agarrar no carro e zumba pa casa. Diz que o destino tem coisas que nem ao diabo alembra. E olha que eu sou uma pessoa muito ádvertida. Mas que isto não tem piada, não tem… Não é que o magano à entrada na curva da bicha me atropela a sogra?! Vendo-se com eles encarquilhados de medo, desata em fuga pela A8 a dentro não reparando que vai em contra mão. Ele bem viu que as placas estavam ao contrário, mas pensou que Portugal tivesse aderido àquelas modernices europeias. Atão começa a ouvir uma serene. E alembrou-se: “Aquele não é o Zé Multão, o bófia que morava ao pé da Maria Coxa, viúva do João das Nêsperas e prima afastada do coveiro?!” E foi então que o Zé Multão, também em contra mão e arreliado, toca de pôr o megafone nos beiços e grita: “Pare faxavor. Terá de xe aprejentar à autoridade mediante a beira da estrada, xem xaire do traxejado”. História contada em pranto pelo Toino abala Zé Multão de tal jeito que ele só conseguiu grunhir: “Oh hóme! A vida xão dois dias e mais um do Carnabal. Bêbado e em contra mão não faz mal. Xiga o xeu coração! Vá ter com a xua dona!”. Continuando a sua rota, já no sentido certo, volta a Carcavelos, dirige-se pá sua Marlene e lá se redime: “Gruma (Grudulina + Marlene), ê nã te queria bateri, mulheri. Mas é que tú tinhas uma ábêspera nas fuças e como tú és alérgica ê nã queria que ela te picasse. És a flor do mê jardim”. Gruma comovida responde-lhe em tom romântico, como só há ela: “Oh home! Desculpa-me tu. Eu nã tinha nada que te dizeri à 40ª cervêja pa parares de emborcari.” Pazes feitas, estoingamo vazio, vai de afiar o dente na sardinha. Moral da história: Somos um país de gente feliz, instruída, altruísta e a caminhar de mãos dadas com o progresso. É este o nosso país. É este o nosso Portugal. Vá fazer um chichizinho e não perca o próximo Esta Jornal. Haverá mais progresso que este? ÚLTIMA Sexta-Feira, 31 de Março de 2006 Liliana séca santos Zodíaco Egípcio Previsões por Tiago Lopes Rá (Deus do Sol) 16 de Julho a 15 de Agosto Carta: Força Período favorável a vencer obstáculos. Não conte com a sorte, conte apenas consigo. Seja mais romântico/a. Mostre determinação no seu grupo de amigos. Neit (Deusa da Caça) 16 de Agosto a 15 de Setembro Carta: Herança A sua vontade é festejar, mas este é um período fértil em trabalho. Sacrifique algum do seu tempo livre! Irão surgir proventos, de negócios anteriores. Maat (Deusa da Verdade) 16 de Setembro a 15 de Outubro Carta: Arrependimento As escolhas de… Continua a não cultivar a sua auto-estima? É hora de mudar! Distraiase com os seus amigos. Descubra o lado positivo da sua profissão… Ou mude de profissão. Arrisque! Fátima Lopes Osíris (Deus da Renovação) 16 de Outubro a 15 de Novembro Carta: Compenetração Irreverente e simpática. Uma das mulheres mais glamourosas e carismáticas da televisão nacional. Fátima Lopes. Actualmente, uma referência para a mulher portuguesa. A apresentadora e embaixadora revela em cada palavra um traço da sua personalidade e levanta diariamente o véu para uma aventura na estação de Carnaxide. Em conversa com o EstaJornal, a apresentadora do programa “Fátima” confessa algumas das suas maiores paixões da vida. missão humanitária. Exactamente por esse carácter humanitário, a maneira como as crianças me receberam e a relação que criaram comigo, foi muito especial. Música – Adoro Rodrigo Leal. É uma sonoridade muito especial. Ele faz uma combinação de vários estilos, cuja sonoridade apela um bocadinho ao lado espiritual. Transmite-me muita tranquilidade. A pessoa que mais a marcou – A minha mãe. Defeitos – Ser, às vezes, muito impulsiva e, por vezes, um tanto inflexível. Virtudes – Ser uma boa amiga e boa ouvinte para com as pessoas que me procuram. por Cláudio Monteiro Filme – “Na terra do Nunca”. Um filme que vi há pouco tempo. Um filme muito especial, tocante. Cruza os universos dos mais pequenos com o nosso universo e mexe com as afectividades que existem entre pais e filhos. Foi o filme que mais me tocou até hoje. Comida Favorita – Gosto de tudo que é comida tradicional portuguesa. Mas um bom cozido à portuguesa e uma boa feijoada, coisas leves, são os meus pratos favoritos. (risos) Bebida Favorita – Tudo o que seja light. Viagem – Já fiz viagens muito boas, que me deixaram boas recordações. Mas a que mais me marcou foi a visita ao Senegal, numa VOX POP ? Livro – “Aprender a Ser” de Christiane Águas. por Pedro Nicolau e Cláudio Monteiro 1. E m que ediç ão vai o E ncontro de 2. Q uem foi 3. Q uem é o novo C omunic aç ão da ESTA? D uar te F erreira ? direc tor despor t i vo d o A b r a n tes F u te b o l C l u b e ? Vânia Vieira, 23 anos, Empregada de Mesa 1. Não sei. 2. Não sei. 3. Jorge Santos. João Casaca, 18 anos, Estudante 1. Não sei. 2. Não sei. 3. Não sei. Marília Loreiro, 29 anos, Montadora de Peças 1. Não sei. 2. Não sei. 3. Não sei. Isabel Santos, 30 anos, Conservadora e Restauradora 1. Não sei. 2. Fundador da Fundição Duarte Ferreira no Tramagal. 3. Não sei. Fernando Pereira, 51 anos, Mediador Imobiliário 1. Não sei. 2. Foi o Comendador que fundou a Metalúrgica Duarte Ferreira no Tramagal. 3. É o Alberto, não é? José Lourenço, 60 anos, Reformado 1. Não sei. 2. Foi o fundador da empresa Duarte Ferreira no Tramagal. 3. Não sei. Nem tudo o que luz é ouro. Será que vive uma paixão intensa? Ou uma amizade confusa? Pondere! Reveja os seus objectivos de 2006. Invista algumas horas com os familiares. Hator (Deusa da Adivinhação) 16 de Novembro a 15 de Dezembro Carta: Tristeza Um acontecimento imprevisto não deve deitá-lo abaixo. Reaja de forma positiva. Recordar é bom, mas não sofra com o que não fez. Viva o seu presente. Ouça música ligeira. Anúbis (Guardião dos Mortos) 16 de Dezembro a 15 de Janeiro Carta: Desespero Tanto para fazer e tão pouco tempo? Se planear mais e desesperar menos tudo se resolverá. Pense sempre a longo prazo. Não exija de mais aos seus amigos. Leia para descontrair! Bastet (Deusa Gato) 16 de Janeiro a 15 de Fevereiro Carta: Dispensador Será recompensado pelo trabalho árduo. Não se deixe iludir pela fama. Escolha bem as suas amizades, pois irá precisar delas! Explore as paixões com cautela. Tauret (Deusa da Fertilidade) 15 de Fevereiro a 15 de Março Carta: Ajuda As promessas surgem em catadupa, mas nada mais do que isso? Começa a ficar farto/a de esperar? Hora de investir a solo nas suas ambições. Este é o momento de lutar! Sekhmet (Deusa da Guerra) 16 de Março a 15 de Abril Carta: Estudo Os nativo de Sekhmet entram no segundo trimestre do ano de forma positiva. Finalmente irá fazer uso das suas emoções, nas tomadas de decisão. Declare o seu amor… Ptah (Criador Universal) 16 de Abril a 15 de Maio Carta: Aopstolado Época áurea para mudar a sua economia doméstica. Invista, com inteligência, usando os seus palpites. Faça pequenos sacrifícios, que poderão dar grandes reusltados! Tot (Deus da Escrita) 16 de Maio a 15 de Junho Carta: Trabalho Boa carta, sobretudo para os nativos de Tot, que adoram desafios. Desenvolva as suas competências intelectuais. Se quer ser muito bom, comece por ser mais sagaz! Ísis (Deusa da Magia) 16 de Junho a 15 de Julho Carta: Infidelidade Não se envolva em escândalos, que poderá não conseguir controlar. Deixe de lado as birras com os seus amigos! Está na hora de ouvir os avisos… Tenha atenção!!! Respostas: 1. Quinta Edição; 2. Comendador Duarte Ferreira, Fundador da Metalúrgica Duarte Ferreira; 3. Jorge Santos
Documentos relacionados
a loucura do Japão - Instituto Politécnico de Tomar
por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. • O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de a...
Leia mais